Parreira Bassitt
Parreira Bassitt
*Enfermeira, Mestranda em Ciências da Saúde pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual, docente no
Departamento de Saúde da Universidade Nove de Julho, **Professora de Pós-Graduação em Ciências da Saúde do IAMSPE,
Preceptora da Residência de Psiquiatria do IAMSPE
Resumo
Trata-se de um estudo de campo que teve como o objetivo investigar a prevalência de depressão em idosos do ambulatório
do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE) por meio da aplicação da escala de depressão
geriátrica (GDS) e correlacionar a presença desta com doenças clínicas e fatores sociodemográficos. A população do estudo
foi composta por 301 pacientes atendidos no ambulatório de geriatria do IAMSPE com idade igual ou superior a 65
anos. Os idosos responderam à GDS com trinta itens e ao questionário sociodemográfico. Verificou-se que os pacientes
do sexo feminino apresentam estatisticamente maior GDS que os pacientes do sexo masculino. Outro dado significativo
é que os pacientes com câncer apresentaram GDS 40% menor que os pacientes sem câncer. A presença de hipertensão
nos pacientes entrevistados também aumentou o GDS em 18%. Sugere-se que outros estudos sejam realizados com o
intuito de incluir ações que sejam direcionadas a esta população com a finalidade de detectar precocemente a depressão
e tratá-la adequadamente.
Abstract
Application of geriatric depression scale in elderly at the clinic of Instituto de
Assistência Médica ao Servidor Público Estadual
This is a field study aiming at investigating the prevalence of depression in elderly who attended the Instituto de
Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE) using the Geriatric Depression Scale (GDS) and correlate
depression with clinical diseases and socio-demographic factors. The study population was composed by 301 patients,
65 years old or older, who attended the Geriatrics Department at IAMSPE. The elderly answered the GDS with thirty
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items and the socio-demographic questionnaire. We observed that the female patients statistically showed higher GDS
scores than the male gender. Another significant datum is that the patients with cancer showed GDS scores 40% lower
than in non-cancer patients. The presence of hypertension in the interviewed patients also increased the GDS in 18%.
Other studies should be carried out aiming at including actions which are directed to this population, in order to early
detect depression and to provide adequate treatment.
Resumen
Aplicación de la escala de depresión geriátrica en mayores del ambulatorio del
Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE)
Se trata de un estudio de campo, con el objetivo de investigar la prevalencia de depresión en personas mayores del
ambulatorio del Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual (IAMSPE) a través de la Escala de Depresión
Geriátrica (GDS) y correlacionar la presencia de estas enfermedades clínicas y factores sociodemográficos. La población
del estudio fue compuesta de 301 pacientes que frecuentan el ambulatorio de geriatría del IAMSPE con edad igual o
superior a 65 años. Los mayores respondieron la GDS con treinta ítems y el cuestionario sociodemográfico. Se ha verificado
que los pacientes del sexo femenino presentaron estadísticamente mayor GDS que los pacientes masculinos. Otro dato
significativo es que los pacientes con cáncer presentaron GDS 40% menor que los pacientes sin cáncer. La presencia de
hipertensión en los pacientes entrevistados también aumentó el GDS en 18%. Se sugiere que otros estudios se realicen
con el intuito de incluir acciones dirigidas a esta población con la finalidad de detectar precozmente la depresión y tratarla
adecuadamente.
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indo das sensações de tristeza que é considerada uma é uma versão curta da escala elaborada a partir dos
resposta comum a eventos da vida, passando pelos itens que mais se correlacionam com o diagnóstico
pensamentos negativos até alterações da sensação de depressão [11]. Conforme os estudos realizados
corporal (dores e enjoos) [3,7]. sobre a validade desta escala no Brasil, nota-se que a
Ao fecharmos o diagnóstico para depressão, GDS de trinta itens é mais sensível e fidedigna que
é necessário termos como base os sintomas que a versão de quinze itens [12]. Outro estudo sobre a
consideramos centrais, ou seja, a perda de energia validação desta escala em um hospital geral mostrou
ou interesse, humor deprimido, dificuldade de con- que, no Brasil, a versão reduzida foi aplicada em
centração, alteração do apetite e sono, sentimento 64 idosos de um ambulatório geral psiquiátrico e o
de fracasso e lentificação das atividades físicas e ponto de corte foi de 5/6, sensibilidade de 85.4%
mentais [3]. Como estamos falando em idosos, estes e a especificidade de 67,7%, portanto para estes
sintomas podem vir acompanhados de queixas so- autores a GDS na versão de quinze itens também
máticas, hipocondria, baixa autoestima, sentimento é válida e confiável comparada a estudos realizados
de inutilidade, humor disfórico, tendência autodes- em Jerusalém onde o ponto de corte foi de 5/6 com
trutiva, ideação paranoide e pensamento recorrente sensibilidade de 72% e especificidade de 57%. Já
de suicídio [3]. Na população idosa, é de funda- nos EUA, estudo mostrou uma sensibilidade de
mental importância registrar o comprometimento 92%, e especificidade de 81% com ponto de corte
nutricional, a dor, a diminuição da autonomia e a de 5/6. Os resultados destes estudos evidenciaram
perda da mobilidade física, pois estes fatores podem que a GDS seja na versão completa ou reduzida é
contribuir para a evolução dos sintomas depressivos. um instrumento válido para o rastreamento dos
Muitas vezes, o medo da piora da doença física, da transtornos do humor podendo ser utilizada na
perda da dignidade, do trabalho que vão dar a seus prática clínica a fim de identificar depressão na
familiares são fenômenos psicológicos que compro- população idosa [11].
metem a condição física deste indivíduo [3]. Tendo em vista o grande interesse pelo tema e
É de fundamental importância que os profis- observado que são poucos os estudos com relação à
sionais de saúde, médicos e enfermeiros conheçam prevalência de depressão na população idosa, faz-se
as características da depressão no idoso e estejam necessário um estudo mais detalhado a essa popu-
preparados para investigar a presença de sintomas lação. Esta pesquisa teve como objetivo investigar a
depressivos nesta população. Neste caso, o uso de prevalência de depressão em idosos do ambulatório
uma escala de depressão facilita a detecção destes do IAMSPE por meio da aplicação da GDS e cor-
casos na prática clínica [3]. relacionar a presença desta com doenças clínicas e
A GDS é um instrumento criado para facili- fatores sociodemográficos [13].
tar o diagnóstico de depressão na população idosa
[5]. Trata-se de uma escala dicotômica na qual os Material e métodos
entrevistados assinalam a presença ou a ausência de
depressão (sim x não). As perguntas são relacionadas Trata-se de um estudo de campo, de natureza
a mudança de humor, sentimento como desesperan- exploratória, descritiva, de abordagem quantitativa.
ça, desamparo, aborrecimento, desinteresse e felici- O tipo de abordagem quantitativa envolveu dados
dade [8]. Muitos estudos mostram que esta escala numéricos, trabalhados a partir de procedimentos
oferece medidas válidas e confiáveis de acordo com estatísticos [14].
os critérios do Manual Diagnóstico e Estatístico dos A pesquisa foi realizada no Ambulatório de
Transtornos Mentais, quarta edição (DSM IV) e da Geriatria do IAMSPE, um hospital de grande porte
Classificação Internacional de Doenças, 10a revisão; localizado na Zona Sul da cidade de São Paulo.
portanto vem sendo utilizada com frequência [3,8]. A população do estudo foi composta por pa-
Foi descrita em língua inglesa por Yesavage cientes atendidos neste ambulatório com idade igual
et al. [10]. A escala original é composta de trinta ou superior a 65 anos. Foram incluídos no estudo
itens, desenvolvida especialmente para rastrear os pacientes de ambos os sexos, com idade igual ou su-
transtornos de humor em idosos. As perguntas são perior a 65 anos, que apresentassem bom nível cog-
fácies, com pequena variação na possibilidade de nitivo e que assinassem o termo de consentimento
respostas e evitam a esfera de queixas somáticas livre e esclarecido. Já os critérios de exclusão foram:
[3,11]. Existe também a versão com quinze itens que pacientes com patologias que pudessem interferir
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na avaliação da escala e que não se predispusessem de modelo linear generalizado (MLG) com distri-
a responder o questionário. buição normal e função de ligação logarítmica [16]
Os dados foram coletados entre os meses de devido à assimetria de distribuição do GDS entre
junho e julho de 2012, nos períodos manhã e tarde os pacientes. Foram introduzidas no modelo todas
em dias alternados, após a aprovação da pesquisa as características que apresentaram níveis descritivos
pelo CEP (Comitê de Ética e Pesquisa) da institui- menores que 0,2 nos testes bivariados (p < 0,2),
ção onde foi realizado o estudo e da assinatura do restando no modelo final apenas as variáveis signi-
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelo ficativas ao GDS.
participante. O estudo não expôs os sujeitos a riscos Os testes foram realizados com nível de signi-
de qualquer natureza. ficância de 5%.
Os dados foram coletados a partir de questio-
nários aplicados aos pacientes que são atendidos no Resultados
ambulatório de geriatria do IAMSPE, um hospital
de grande porte localizado na Zona Sul da cidade Na Tabela I descrevemos as variáveis dos
de São Paulo. entrevistados como: sexo, faixa etária, estado civil,
O instrumento de coleta de dados foi um escolaridade, as principais doenças pré-existentes, a
questionário que teve como finalidade caracterizar média, a mediana, o resultado da GDS e a porcenta-
sócio demograficamente a população do estudo gem em relação ao N. Percebemos que a maioria dos
(idade, sexo, naturalidade, procedência, estado civil, pacientes avaliados era do sexo feminino (79,4%),
profissão, grau de escolaridade e presença de doenças com idade entre 70 e 89 anos (77,7%), a doença
clínicas). A segunda parte tratou-se do registro da mais frequente dentre os idosos foi HAS (71,8%) e
pontuação obtida na aplicação da GDS que avaliou 33,3% dos pacientes apresentaram algum grau de
a sintomatologia depressiva nos idosos do ambula- depressão na escala.
tório. Esta escala é composta por trinta perguntas
contendo duas alternativas (sim e não) com valor Tabela I - Descrição das características pessoais e clíni-
de 1 ponto conforme a resposta. O escore será dado cas avaliadas.
pela somatória total das alternativas. Foi considerado Descrição
Variável
de 0 – 10 ptos: ausência de depressão; 11-20 ptos: (N = 301) / (%)
depressão ligeira e de 21-30 ptos: depressão grave. Sexo
Os instrumentos foram aplicados pela pesquisadora. masculino 62 (20,6)
Após a coleta, os dados foram tabulados no pro- feminino 239 (79,4)
grama de estatística SPSS - versão 20.0, analisados Faixa etária
60 a 69 anos 58 (19,3)
posteriormente e visto a necessidade do aumento da
70 a 79 anos 136 (45,2)
amostra. Inicialmente de 50 pacientes para 301. A
80 a 89 anos 98 (32,6)
nova coleta de dados se deu no mesmo ambulatório 90 anos ou mais 9 (3)
no período de outubro de 2013 a janeiro de 2014. média (DP) 76,5 (7,1)
As características pessoais e clínicas dos pacien- mediana (mín.; máx.) 76 (61; 94)
tes foram descritas com uso de frequências absolutas Estado civil
e relativas para as medidas qualitativas e medidas casado união estável 137 (45,5)
resumo (média, desvio padrão, mediana, mínimo e solteiro 26 (8,6)
máximo) para as medidas quantitativas. divorciado, separado 17 (5,6)
Os valores de GDS foram descritos segundo viúvo (a) 121 (40,2)
cada característica de interesse e comparado entre Escolaridade
as categorias com uso de testes Mann-Whitney ou analfabeto 11 (3,7)
testes Kruskal-Wallis [15]. Para a idade e número 1º à 4º série incompleta (antigo
34 (11,3)
de doenças dos pacientes foram calculadas as corre- primário,1º grau ou E.F.)
4 série completa (Ensino Funda-
lações de Spearman [15] com o GDS para verificar 97 (32,2)
mental)
a presença de correlação.
5° à 8° série incompleta (antigo
Foi ajustado o modelo de regressão linear 15 (5)
ginásio, 1° grau ou E.F.)
múltipla para explicar o GDS dos pacientes segundo
Ensino Fundamental completo
as características avaliadas conjuntamente com uso 19 (6,3)
(antigo ginásio ou 1° grau)
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Tabela III - Descrição da GDS segundo presença de cada doença e resultado dos testes comparativos.
Variável Média DP Mediana Mínimo Máximo N p
Câncer 0,014
Não 9,26 5,82 8 0 26 285
Sim 5,81 3,83 4,5 1 16 16
DM 0,168
Não 8,86 5,88 8 1 26 201
Sim 9,53 5,59 9 0 22 100
HAS 0,106
Não 8,27 5,45 7 1 25 85
Sim 9,40 5,89 8 0 26 216
Tireóide 0,182
Não 9,00 5,81 8 0 26 285
Sim 10,50 5,23 10 2 21 16
Depressão 0,157
Não 8,97 5,71 8 0 26 288
Sim 11,62 6,92 1 0 22 513
Alzheimer 0,861
Não 9,06 5,76 8 0 26 293
Sim 9,63 7,11 8,5 2 26 8
DLP 0,836
Não 9,14 5,98 8 1 26 237
Sim 8,88 5,01 8 0 23 64
Cardiopatia 0,449
Não 9,06 6,09 8 0 26 226
Sim 9,13 4,77 9 1 21 75
Vasculopatia 0,787
Não 9,10 5,81 8 0 26 290
Sim 8,55 5,34 7 2 18 11
Incontinência Urinária 0,684
Não 9,07 5,79 8 0 26 294
Sim 9,43 5,74 12 1 15 7
Osteoporose 0,115
Não 8,76 5,58 8 0 26 244
Sim 10,44 6,46 8 1 26 57
AVC 0,346
Não 9,06 5,83 8 0 26 291
Sim 9,80 4,26 10 1 16 10
Pneumopatia 0,805
Não 9,07 5,74 8 0 26 287
Sim 9,21 6,87 6,5 2 22 14
Artrite/Artrose 0,684
Não 8,96 5,62 8 0 26 266
Sim 10,00 6,89 7 1 26 35
Gastro 0,867
Não 9,07 5,77 8 0 26 294
Sim 9,29 6,95 8 3 20 7
Músculo Esquelético 0,871
Não 9,06 5,73 8 0 26 267
Sim 9,21 6,28 7 1 22 34
Oftalmo 0,758
Não 9,11 5,81 8 0 26 289
Sim 8,25 5,22 8 1 20 12
Prostata 0,477
Não 9,13 5,82 8 0 26 291
Sim 7,50 4,40 6,5 11 5 10
Otorrino 0,486
Não 9,14 5,83 8 0 26 290
Sim 7,55 4,18 7 1 16 11
Outros 0,963
Não 9,07 5,78 8 0 26 268
Sim 9,12 5,86 7 1 22 33
Resultado do teste Mann-Whitney
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prévia aumenta o GDS em 38% e a presença de outros fatores também possam contribuir com esta
osteoporose aumenta o GDS em 18%. diferença de gênero [23]. Além disso, o número
de homens (62) neste estudo é muito pequeno em
Tabela IV - Resultado do modelo de regressão múlti- relação ao número de mulheres entrevistadas (239)
pla para explicar a GDS em função das características impossibilitando a correlação. O que corrobora o
pessoais e clínicas dos pacientes. estudo realizado em Minas Gerais [24]. Portanto
Variável RR IC (95%)
seriam necessários novos estudos, mais específicos
p para que esta correlação possa ser inferida.
Inferior Superior
Câncer 0,60 0,37 0,99 0,045 Outro dado importante encontrado neste estu-
Hipertersão 1,18 1,00 1,40 0,049 do foi a correlação do câncer com a depressão. Em
Depressão 1,38 1,05 1,81 0,020 2004, a depressão foi considerada a terceira causa
Osteoporose 1,18 1,00 1,39 0,049 de doenças no mundo. Esta também pode afetar de
forma adversa o curso e resultados das condições
Discussão crônicas como o câncer. A associação entre o câncer
e as doenças clínicas pode levar a uma evolução
A depressão é uma doença comum entre a ruim tanto do quadro psíquico quanto do clínico.
população idosa, sua prevalência varia de 5% a 35% Nos pacientes oncológicos, podemos associar a
conforme pesquisas. Neste estudo identificamos que depressão com a queda da sobrevida e da aderência
26,6% dos pacientes apresentaram depressão ligeira ao tratamento, levando a piora do diagnóstico [25].
e 4,7% depressão grave conforme GDS. Estes acha- Conforme pesquisa, não temos uma relação direta
dos são elevados quando comparados a estudos in- entre a depressão e o câncer, não existe evidência
ternacionais devido as diferentes escalas empregadas de que a depressão provoque algum tipo de câncer
ou até mesmo pelas diferenças sociodemográficas. [26]. Estudos afirmam que cerca de 10 a 25% dos
Observamos também que o sexo feminino apresen- pacientes portadores de câncer podem apresentar
tou estatisticamente maior GDS do que a população quadro depressivo. São observados com frequência
masculina (Tabela II). Um estudo realizado em Passo sentimentos de descrença, ansiedade, tristeza, irri-
Fundo (RS) também observou maior incidência de tabilidade, alteração do sono e mudança no apetite
depressão entre o sexo feminino. O autor relaciona [25,26]. Estudo revela que os sintomas de depressão
este fato a maior longevidade entre as mulheres de- apareceram nos pacientes submetidos à quimiotera-
vido a menor exposição destas a fatores como álcool, pia em maior escala no meio e final do tratamento
tabaco e a sua menor exposição à morbimortalidade [25]. No presente estudo, os idosos com diagnóstico
por causas externas [17]. A questão da longevidade de câncer não apresentaram sintomas depressivos
das mulheres estaria ligada aos padrões de comporta- podendo ser justificado pelo tempo de doença,
mento e ao estilo de vida mais saudável das mesmas pois estes idosos apresentavam de um (1) a vinte e
[18,19]. Outros estudos colocam que a depressão é três (23) anos entre a descoberta do diagnóstico do
mais comum no sexo feminino, pois estas procuram câncer e a realização do tratamento. Muitas são as
mais os serviços de saúde e admitem e descrevem hipóteses em torno desta relação. Alguns veem os
mais seus sentimentos depressivos do que os homens sintomas depressivos como sintoma da neoplasia.
[20,21]. Um estudo realizado em Fortaleza [22] Outros acreditam que pacientes depressivos tem
também encontrou maior incidência de depressão maior tendência a desenvolver neoplasias. Estudos
no sexo feminino. No Brasil e em outros países do mostram que os sintomas depressivos são de fato
mundo, há um maior número de mulheres idosas mais comuns em pacientes com câncer em tratamen-
o que pode ser explicado pela maior expectativa de to quimioterápico, o que não era o caso de nenhum
vida das mulheres em relação aos homens. Os fatores dos idosos entrevistados neste estudo [25,26].
socioculturais podem estar associados a experiências Um estudo realizado em uma enfermaria
adversas e aos fatores psicológicos associados, sem geriátrica no Estado de São Paulo mostrou que a
contar com a maior vulnerabilidade aos eventos religião/espiritualidade influencia no processo de
estressores que podem contribuir para esta diferença doença/tratamento. Para os idosos, a hospitalização
entre os sexos [22]. Como vimos, a influência de e o diagnóstico podem ser considerados um evento
gênero tem sido alvo de vários estudos. A prevalên- agressor. O medo e a insegurança apresentada por
cia é mais frequente no gênero feminino, embora eles neste momento podem ser amenizados pela
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religião/ espiritualidade, evitando, muitas vezes, um A alta prevalência de depressão nos idosos de-
quadro grave de depressão [27]. A depressão pode monstra a necessidade de uma melhor investigação.
estar relacionada com a falta de aceitação em relação É importante ressaltar que apenas a aplicação da
ao diagnóstico. O significado do adoecer com câncer GDS não é suficiente para diagnosticar o quadro de-
para os idosos muitas vezes provoca medo. Porém pressivo do idoso principalmente se este apresentar
quando a aceitação existe, muitos lutam para dar uma doença pré- existente como a HAS. É de suma
sentido à vida, às mudanças e à deterioração que a importância que os profissionais da saúde estejam
doença provoca [28]. preparados a detectarem o quadro clínico destes
Podemos associar o resultado deste estudo com pacientes para conduzirem de forma adequada o
a espiritualidade/religião e a aceitação destes em tratamento e realizarem um planejamento de ações
relação ao diagnóstico, porém seriam necessárias que possam minimizar os sintomas depressivos dos
novas pesquisas para afirmar esta hipótese. mesmos, a fim de melhorar a qualidade de vida.
Outro dado interessante foi que idosos hiper- Sugere-se que outros estudos sejam realizados
tensos apresentaram um aumento do GDS, esta com o intuito de incluir ações que sejam direciona-
informação corrobora outras pesquisas. Em um das a esta população.
estudo realizado com idosos no contexto da Atenção
Primária em Saúde também apresentou este mes- Referências
mo resultado quando comparados aos valores de
depressão nos idosos em geral [29]. Outro estudo 1. Borges LJ, Benedetti TRB, Mazo GZ. Rastreamento cog-
evidenciou a presença de depressão que pode ser o nitivo e sintomas depressivos em idosos em programas
de exercício físico. J Bras Psiquiatr 2007;56(4):273-9.
maior fator de risco a acidentes vasculares cerebrais 2. Moreno DH, Demétrio FN, Moreno RA. Depressão.
e/ou a maior causa de mortalidade por causas cardio- In: Miguel EC, Gentil V, Gattaz WF, Bottino CNC,
vasculares. Cerca de 30% dos pacientes hipertensos Tavares H, Forlenza OV et al. Clínica Psiquiátrica. São
apresentam sintomas depressivos. Estes pacientes, Paulo: Manole; 2011.p.698-9.
3. Siqueira GR, Vasconcelos DT, Duarte GC, Arruda IC,
por sua vez, colaboram menos com o tratamento, Costa JAS, Cardoso RO. Análise da sintomatologia
pois apresentam falta de energia, desesperança por depressiva nos moradores do Abrigo Cristo Redentor
consequência do quadro depressivo o que afeta seu através da aplicação da Escala de Depressão Geriátrica
nível de funcionamento e a qualidade de vida, difi- (EDG). Ciênc Saúde Coletiva 2009;14(1):253-9.
cultando o controle da doença [29,30]. Em estudos 4. Faria ACNB, Barreto SM, Passos VMA. Sintomatologia
depressiva em idosos de um plano de saúde. Revista
norte-americanos foi observado que a hipertensão Médica de Minas Gerais 2008;18(3):175-82.
pode ser um fator de risco para a função cognitiva, 5. Medeiros JML. Depressão no Idoso [Tese]. Portugal:
aumentando ainda mais o déficit cognitivo quando Faculdade de Medicina do Porto; 2010.
associada à depressão; comprometendo a qualidade 6. Gazelle FK, Hallal PC, Lima MS. Depressão na popu-
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Após a coleta e análise dos dados, verificou- 8. Batistoni SST, Neri AL, Cupertino APFB. Validade
da escala de depressão do Center for Epidemiological
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estatisticamente maior GDS que os pacientes do 2007;41(4):598-605.
sexo masculino, sendo o resultado similar a outros 9. Almeida OP, Almeida SA. Confiabilidade da versão bra-
estudos. Outro dado significativo é que os pacientes sileira da Escala de Depressão em Geriatria (GDS) ver-
com câncer apresentaram GDS 40% menor que são reduzida. Arq Neuropsiquiatr 1999;57(2-B):421-6.
10. Yesavage JA, Brink TL, Rose TL, Lum O, Huang V,
os pacientes sem câncer. Percebemos diante dos Adey M, et al. Development and validation of a geria-
estudos que esta estatística pode ser justificada pela tric depression screening scale: a preliminary report.
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