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BEDIN, G. A., and NIELSSON, J. G. A crise da década de 1970: observações sobre as ideias
neoliberais e suas consequências. In: COSTA, L. C., NOGUEIRA, V. M. R., and SILVA, V. R., orgs.
A política social na América do Sul: perspectivas e desafios no século XXI [online]. Ponta Grossa:
Editora UEPG, 2013, pp. 27-41. ISBN 978-85-7798-231-8. Available from: doi:
10.7476/9788577982318.0002. Also available in ePUB from:
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A crise da década de 1970: observações sobre as
ideias neoliberais e suas consequências
Gilmar Antonio Bedin; Joice Graciele Nielsson
Introdução
1
A caracterização das sociedades atuais como sociedades pós-modernas significa que ainda não
temos condições de designá-las de forma positiva. É, portanto, uma designação negativa, designa-
ção do que elas não são: sociedades modernas.
2
Esta expressão é utilizada por Viviane Forrester em seu livro disponível no Brasil. Ver, neste senti-
do, FORRESTER, Viviane. O horror econômico. Trad. Álvaro Lorencini. São Paulo: UNESP, 1997.
3
Esta ambiguidade das atuais sociedades capitalistas é melhor analisada por nós em um outro
lugar. Ver, neste sentido, BEDIN, Gilmar Antonio. Estado, cidadania e a globalização do mundo:
algumas reflexões e possíveis desdobramentos. In: OLIVEIRA, Odete Maria (Org.). Relações
internacionais & globalização: grandes desafios. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 1999.
27
Gilmar Antonio Bedin; Joice Graciele Nielsson
4
Com esta expressão, estamos indicando que nas atuais sociedades capitalistas há uma crescente
retomada do status de pura mercadoria como um critério significativo para a análise das várias esfe-
ras da sociabilidade humana. Expressão semelhante – “desmercantilização” – é utilizada por Claus
Offe. Ver, neste sentido, OFFE, Claus. Problemas estruturais do Estado capitalista. Trad. de
Bárbara Freitag. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.
5
Com esta expressão, estamos indicando que nas sociedades capitalistas do período de construção
do Estado de bem-estar social, houve uma crescente relativização do critério do status de pura merca-
doria como sendo algo relevante – o que possibilitou que as pessoas pudessem se manter sem depen-
der, até certo ponto, do mercado. Essa expressão é utilizada por Gosta Esping-Andersen. Ver, neste
sentido, ESPING-ANDERSEN, Gosta. As três economias políticas do Welfare State. Lua Nova
- Revista de Cultura e Política. São Paulo, nº 24, p. 85-116, 1991.
6
Com o presente texto, não temos, obviamente, outra intenção a não ser a de realizar, como o
próprio subtítulo indica, apenas algumas observações. Além disso, é importante destacar que as
principais afirmações existentes no texto sobre o Estado e os direitos humanos têm como referência
principal o desenvolvimento desses fenômenos no continente europeu.
28
A crise da década de 1970: observações sobre as ideias neoliberais ...
que aparecia como uma suposta concessão divina7. Além disso, cada indivíduo
tinha, desde o nascimento, um lugar pré-estabelecido no mundo – alguns nas-
ciam para orar, outros para lutar e outros ainda para trabalhar8.
A organização política moderna, ao contrário, começa por afirmar a
especificidade do fenômeno político e, consequentemente, a necessidade de
separação do poder político e do poder religioso9. Outro pressuposto inicial
importante é a busca da superação dos poderes locais e o estabelecimento de
uma administração centralizada e alicerçada sobre o conceito de soberania do
rei (BODIN, 1992)10. O rei somente será considerado legítimo nesse contexto
quando o seu poder resultar do consenso – revelado na forma de um contrato
social – dos vários indivíduos que constituem o Estado (HOBBES, 1988)11.
Além disso, não podemos esquecer que o Estado moderno pressupõe tam-
bém a liberação dos indivíduos de suas vinculações com a terra, com os seus
senhores e com os seus lugares predeterminados no mundo. Com estas rup-
turas, o indivíduo livre e solitário está pronto para ser o alicerce da sociedade
moderna (BEDIN, 1994)12.
O Estado moderno, delineados esses primeiros passos, vai se consoli-
dar, inicialmente, como centralizado, soberano e absoluto. Em outras palavras,
como Estado absolutista, típico dos séculos XVI e XVII. Vencida essa fase de
afirmação do Estado moderno, caminha-se para uma nova etapa da organiza-
ção política, na qual a dimensão absolutista do estado passa a ser questionada
e, num momento seguinte, refutada, sendo, finalmente, abandonada. Dessa
luta emerge, no século XVIII, o Estado moderno em sua versão liberal, o
qual passa a inspirar-se, entre outras referências, nas conquistas da Revolução
7
Esta é, por exemplo, a concepção de Dante Alighieri. Daí a sua afirmação de que é evidente que a
autoridade temporal do monarca desce sobre ele desde a fonte da autoridade universal, que é Deus.
Ver ALIGHIERI, Dante. Monarquia. Trad. Carlos do Soveral. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
8
Neste sentido, ver DUBY, Georges. As três ordens ou o imaginário do feudalismo. Lisboa:
Estampa, 1982.
9
O primeiro grande autor a compreender e propor tal separação foi Nicolau Maquiavel. Neste senti-
do, ver MAQUIAVEL, Nicolau. O príncipe. Trad. Lívio Xavier. São Paulo: Tecnoprint, s/d.
10
O conceito de soberania é um elemento fundamental no mundo moderno e pode ser compreendi-
do de forma relativa – o poder deve estar submetido às leis naturais e às leis divinas -–, como o faz Jean
Bodin, ou de forma absoluta, como o faz Thomas Hobbes. Ver, nesse sentido, BODIN, Jean. Los seis
libros de la república. Trad. Pedro Bravo Galla. Madrid: Tecnos, 1992; HOBBES, Thomas. Leviatã
ou a matéria, forma e poder de um estado eclesiástico e civil. Trad. de João Paulo Monteiro e
Maria Beatriz Nizza da Silva. São Paulo: Nova Cultural, 1988.
11
Neste sentido, ver também BOBBIO, Norberto. Thomas Hobbes. Trad. Carlos Nelson Cou-
tinho. Rio de Janeiro: Campus, 1991.
12
Ver também, neste sentido, BOBBIO, Norberto. Sociedade e estado na filosofia política mo-
derna. Trad. Carlos Nelson Coutinho. São Paulo: Brasiliense, 1987.
29
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Gloriosa (1688), nas ideias políticas desenvolvidas por John Locke (LOCKE,
1994) e nos extraordinários avanços legais e políticos da Revolução Francesa
(1789). O estado, portanto, continua centralizado e soberano, mas passa a ser
limitado por uma constituição e por uma declaração de direitos. Esta última
constitui-se, como lembra Manuel Gonçalves Ferreira Filho, o seu pacto social
fundamental (1995). Surgem, nesse contexto, os primeiros avanços do consti-
tucionalismo moderno e a luta pelos direitos humanos (BEDIN, 1997)13.
A luta pelos direitos humanos nasce, assim, de uma ruptura com o
Estado moderno em sua versão absolutista e com a arbitrariedade por ele re-
presentada, e está estritamente relacionada, nesse primeiro momento, com o
desenvolvimento das ideias liberais. Essa primeira etapa da luta pelos direitos
humanos deu origem à chamada primeira geração de direitos – denominada
de direitos civis ou liberdades civis clássicas14. Esta geração de direitos abran-
ge os chamados direitos negativos, ou seja, os direitos estabelecidos contra o
Estado. Daí, portanto, a afirmação de Norberto Bobbio de que entre eles es-
tão “todos aqueles direitos que tendem a limitar o poder do Estado e a reser-
var para o indivíduo, ou para os grupos particulares, uma esfera de liberdade
em relação ao Estado” (BOBBIO, 1992, p.32).
Esta primeira geração de direitos, condicionados pelo pressuposto há
pouco referido, estabelece, assim, um marco divisório entre a esfera pública (Es-
tado) e esfera privada (sociedade civil)15. Essa distinção entre as duas esferas
referidas se constitui numa das características fundamentais da sociedade mo-
13
As declarações de direitos de 1776 (Declaração da Virgínia) e de 1789 (Declaração de Direitos
do Homem e do Cidadão) são, nesse sentido, os primeiros grandes marcos dessa batalha pela afir-
mação dos direitos humanos no mundo.
14
A ideia de classificar os direitos humanos em gerações ou fases vem de longa data e possui
uma quase unanimidade entre os diversos pesquisadores, apesar das pequenas diferenças existentes
entre os diversos critérios utilizados na sua apresentação. Uma das poucas vozes discordantes é
a de Antônio Augusto Cançado Trindade. Ver, nesse sentido, a apresentação que o autor faz do
livro de J.A. Lindgren Alves. ALVES, J. A. Lindgren. Os direitos humanos como tema global.
São Paulo: Perspectiva; Brasília: Fundação Alexandre de Gusmão, 1994. Além disso, é importante
informar que, além das três gerações de direitos referidas no texto, é possível pensarmos ainda em
uma quarta geração. Geração essa que abrangeria os direitos humanos no âmbito internacional,
chamados normalmente direitos de solidariedade. Ver, neste sentido, BEDIN, Gilmar Antonio. Os
direitos do homem e o neoliberalismo. Ijuí: Editora UNIJUÍ, 1997. Ao contrário da classificação
em quatro gerações, muitos autores preferem classificar a luta pela cidadania em apenas três fases,
reunindo na mesma geração os direitos civis e os direitos políticos. Este tipo de posicionamento
pode ser encontrado em OLIVEIRA JUNIOR, José Alcebiades. Cidadania e novos direitos. In:
O novo em direito e política. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 1997.
15
Utilizamos a expressão estado e a expressão sociedade civil, neste ponto, no sentido marxiano.
Neste sentido, ver BOBBIO, Norberto. O conceito de sociedade civil. Trad. Carlos Nelson
Coutinho. Rio de Janeiro: Graal, 1982.
30
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16
Esta transformação do Estado moderno é muito importante e está no centro do debate con-
temporâneo sobre a crise do estado. Sobre as transformações do Estado moderno, pode-se ver
GARCÍA-PELAYO, Manuel. Las transformaciones del Estado contemporâneo. Madrid: Alianza
Editorial, 1982. Retomaremos esse tema no próximo ponto.
31
Gilmar Antonio Bedin; Joice Graciele Nielsson
do poder político, mas sim direitos garantidos através ou por meio do estado.
Não se trata, assim, da emergência de um novo deslocamento da noção de
liberdade, por exemplo, como vimos, de não impedimento para autonomia,
mas sim da implementação prática do princípio da igualdade.
Por isso, podemos dizer que esta nova geração de direitos representa
não uma herança do liberalismo ou do pensamento democrático, como no
caso das duas primeiras gerações de direitos, mas sim “um legado do socia-
lismo” (LAFER, 1988, p.127)17. Entre essas prerrogativas, encontram-se duas
ordens de direitos: 1ª) os direitos relativos ao homem trabalhador; 2ª) os di-
reitos relativos ao homem consumidor de bens e serviços públicos. Entre os
primeiros, estão o direito à liberdade de trabalho, o direito ao salário mínimo,
o direito à jornada de trabalho de oito horas, o direito ao descanso semanal re-
munerado, o direito a férias anuais, o direito à igualdade de salários para traba-
lhos iguais, o direito à liberdade sindical e direito de greve. Entre os segundos,
estão o direito à seguridade social, o direito à educação e o direito à habitação.
Assim, com o reconhecimento dessa terceira geração de direito, o Es-
tado moderno se consolidou definitivamente como uma organização política
de profundo conteúdo social, estando entre as suas maiores conquistas a redu-
ção das desigualdades sociais, socialização da educação e o acesso universal à
saúde18. A efetivação dessas conquistas conduziu, por outro lado, a uma gran-
de legitimidade do Estado moderno e a uma acentuada desmercadorização
das diversas esferas das sociedades capitalistas. Além disso, o estado de bem-
-estar proporcionou também uma grande estabilidade ao sistema econômico,
através do planejamento estatal, e impulsionou uma era de grande crescimen-
to econômico (STOFFAËS, 1991; NUNES, 1991; HOBSBAWM, 1995).
17
Esta heterogeneidade de origem das duas primeiras gerações de direito em relação à terceira
tem levado alguns pensadores a afirmar que as referidas gerações de direitos são incompatíveis. Ver,
neste sentido, HAYEK, Friedrich August Von Hayek. Direito, legislação e liberdade. Trad. Henry
Maksoud. 3 v. São Paulo: Visão, 1985. Discordamos desses posicionamentos, pois, como nos diz
Luciano de Oliveira, “...se considerarmos a experiência histórica das democracias europeias, não
somente não havia incompatibilidade entre esses dois gêneros de direitos, mas o que é mais impor-
tante, haveria mesmo complementaridade – os direitos de créditos sendo, de uma certa maneira,
um prolongamento dos direitos-liberdades [direitos civis e direitos políticos], na medida em que a
dinâmica das sociedades democráticas consiste essencialmente em integrar, progressivamente, os
excluídos da liberdade.” (OLIVEIRA, 1992, p.8).
18
Esses tipos de conquistas são típicos dos países europeus desenvolvidos. Portanto, aplica-se
apenas parcialmente (se é que se aplica em muitos casos) à realidade dos países do chamado segundo
ou terceiro mundo.
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A crise da década de 1970: observações sobre as ideias neoliberais ...
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Uma análise mais detalhada desses dados pode ser encontrada na obra Era dos extremos, de
Eric Hobsbawm. Ver, nesse sentido, HOBSBAWM, Eric. Era dos extremos: o breve século XX:
1914-1991. Trad. Marcos Santarrita. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
20
Não podemos esquecer, no entanto, que as ideias de John Maynard Keynes tornam-se impor-
tantes somente a partir da década de vinte do século passado. Sobre a vida de Keynes e o desen-
volvimento de suas ideias, pode ser visto HEILBRONER, Robert. A história do pensamento
econômico. Trad. Therezinha M. Deutsch e Sylvio Deutsch. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
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Gilmar Antonio Bedin; Joice Graciele Nielsson
21
Um dos poucos países desenvolvidos que manteve, durante todo o período mencionado, uma
distância relativamente grande das ideias socialistas foi os Estados Unidos, apesar de que também
teve seu momento socializante com o movimento chamado New Deal.
22
Sobre a evolução do liberalismo, ver MERQUIOR, José Guilherme. Liberalismo Antigo e
moderno. Trad. de Henrique de Araújo Mesquita. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1991.
23
Obviamente esta afirmação é uma metáfora para expressar o consenso dominante. Ela não é,
portanto, utilizada no sentido literal, o que seria em qualquer das hipóteses um verdadeiro absurdo:
havia liberais bastante tradicionais no período de hegemonia das ideias socialistas, como há hoje
posturas muito diversas das posições (neo)liberais dominantes.
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Essa é também a opinião de Cristian Stoffaës: “Do final da Segunda Guerra Mundial à crise
petrolífera de 1973, a economia mundial conheceu um período de crescimento sem precedentes his-
tóricos, quer pela intensidade, que pela duração. Assim, enquanto a taxa média anual de crescimento
econômico, no século XIX, era de apenas de 1,5 a 2% para os países desenvolvidos e, entre as duas
guerras, verificou-se uma situação próxima da estagnação, o crescimento foi de 5% ao ano ao longo
dos trinta anos do pós-guerra” (STOFFAËS, 1991, p.61).
25
Ver, nesse sentido, GARCÍA-PELAYO, Manuel. Las transformaciones del Estado contem-
porâneo. Madrid: Alianza Editorial, 1982.
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26
Um resumo das ideias de John Maynard Keynes pode ser encontrado em MOGGRIDGE, D. E.
As ideias de Keynes. Trad. Octavio Mendes Cajado. São Paulo : Cultrix, s/d. Quanto ao confronto
das ideias de Keynes com as novas ideias monetaristas, pode ser encontrado em NUNES, A. J. Avelãs.
O keynesianismo e a contra-revolução monetarista. Coimbra: Coimbra, 1991.
27
Principalmente Adam Smith. Ver, nesse sentido, SMITH, Adam. Investigación sobre la
naturaleza y causas de la riqueza de las naciones. México: Fundo de Cultura Económica, 1958.
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Assim, a crise em análise não foi mais uma crise conjuntural e passa-
geira como outras tantas que existiram no decorrer do século 20. Ao contrário,
foi uma crise que produziu uma notável virada histórica e uma grande mutação
da tendência dominante nas sociedades capitalistas. No que se refere à grande
mutação, quer se indicar principalmente que ela gerou o desenvolvimento de
um novo padrão tecnológico – baseado nas descobertas da microeletrônica e
nos avanços da informática – e um novo modelo de produção – denominado
modelo toyotista28. Em relação à notável virada histórica, quer se dizer que
a crise referida levou, por um lado, a uma crescente relativização das ideias
socialistas, a uma forte crítica da participação do Estado na economia e à refu-
tação das principais teses desenvolvidas por John Maynard Keynes – ou seja,
conduziu ao abandono de tudo aquilo que estruturou o período histórico res-
ponsável pela construção do estado de bem-estar e pelo reconhecimento dos
direitos econômicos e sociais – e, por outro, à adoção das ideias neoliberais, à
defesa da tese do estado mínimo e à supremacia das ideias monetaristas29. Daí,
portanto, em síntese, a substancial diferença existente entre a crise dos anos
setenta do século 20 e as demais crises conjunturais do mesmo século: ela nos
conduziu a uma nova hegemonia política, econômica e social – designada de
neoliberal – e a um novo modelo de sociedade – chamado de pós-moderno30.
Essa nova hegemonia política, econômica e social, gerada com a crise
dos anos setenta, consolidou-se de forma muito rápida nos anos subsequentes
ao início da crise, devido principalmente à incapacidade do estado de bem-es-
tar social em responder de maneira qualificada aos ataques destrutivos de seus
28
Sobre esses temas, pode ser visto, entre outros, THUROW, Lester C. O futuro do capitalismo.
Como as forças econômicas moldam o mundo de amanhã. Trad. Nivaldo Montingelli Jr. Rio de
Janeiro: Rocco, 1997.
29
As ideias monetaristas se distinguem das ideias keynesianas pelo fato de que ao contrário dessas
“concedem prioridade absoluta ao combate à inflação, privilegiando a estabilidade monetária como
objetivo de política econômica, no confronto com o objetivo do pleno emprego (ou da redução
do desemprego) [presentes nas ideias keynesianas]; procuram combater a inflação essencialmente
com base na redução do crescimento da oferta da moeda; apostam na reanimação da atividade
econômica a partir da redução da intervenção estatal, da liberação da economia e da destruição dos
monopólios sindicais” (NUNES, 1991, p.480).
30
É claro que esse novo modelo de sociedade vinha se desenhando há mais tempo, talvez como
quer Lyotard, desde os anos cinquenta (LYOTARD, Jean-François. O pós-moderno. Trad. Ricardo
Corrêa Barbosa. Rio de Janeiro: José Olympio, 1986). No entanto, o novo padrão tecnológico que
passa a sustentá-la somente adquiriu contornos precisos após os anos setenta. Além disso, é somen-
te nos anos noventa que tomamos consciência de estar vivendo em um novo modelo de sociedade.
Apesar da importância, esse tema, no entanto, não será diretamente abordado nesse texto.
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Considerações Finais
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Referências
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1988.
ALVES, José Augusto Lindgren. Os direitos humanos como tema global. São
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UNIJUÍ, 1997.
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FERREIRA FILHO, Manuel Gonçalves. Direitos humanos fundamentais. São
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HAYEK, Friedrich August von. Direito, legislação e liberdade. 3.v. Trad. Henry
Maksoud. São Paulo: Visão, 1985.
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A crise da década de 1970: observações sobre as ideias neoliberais ...
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