TDC. Educação Cidadania

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O DEVER DE EDUCAR PARA A

CIDADANIA NA ESCOLA PÚBLICA


M A R IA H ELE N A D A M I Ã O | R A Q U E L M AT E U S
2024
Questões Prévias - 1
O QUE SIGNIFICA SER “CIDADÃO” NO SÉCULO XXI?
Questões Prévias - 2
NASCEMOS CIDADÃOS OU TORNAMO-NOS CIDADÃOS?

SE NASCEMOS CIDADÃOS,
NÃO PRECISAMOS DE SER EDUCADOS (PARA NOS TORNARMOS CIDADÃOS);
SE NÃO NASCEMOS CIDADÃOS,
PRECISAMOS DE SER EDUCADOS (PARA NOS TORNARMOS CIDADÃOS)
SITUANDO-NOS NO CAMPO
DA EDUCAÇÃO ESCOLAR PÚBLICA,
HÁ QUESTÕES FULCRAIS A COLOCAR…
(ENTRE VÁRIAS OUTRAS…)
Educação para a
Cidadania
A expressão…

© M.H. Damião
Decisões efetivas da escola e do Ministério da Educação foram:
num sentido (passar os alunos de ano)
no sentido contrário (fazê-los voltar atrás anos na escolaridade) e
no sentido contrário ao contrário (ou seja, no sentido inicial), etc.

Muito em virtude de manifestações político-partidárias, pressões de


sectores da sociedade (algumas difíceis de captar), decisões judiciais…

O caso, cedo se tornou,


afirmação de poder(es),
em vez de ter sido
debatido.
Algumas questões e erros
Questões (de uns e de outros)
- Que educação cabe ao Estado e à Família?
- O que é educativo e o que é doutrinal?
- Sobreposição com as disciplinas escolares?
- Abre-se um precedente (a terraplanistas,
criacionistas, negacionistas…)?
- É possível alegar objeção de consciência em relação ao currículo?...

Erros (de uns e de outros)


- A educação para a cidadania tem um programa, um currículo (não tem!)
- A componente curricular é consensual na Europa (não é!)
- Está centralizada na sexualidade, igualdade de género … (não está!)
Em vários países ocidentais, têm
O cenário clássico: ganhado força crescente
(mas, agora, ao contrário!)
posições antagónicas face à
“educação para a cidadania”,
• Esquerda e direita (partidária)
• Progressistas e conservadores como área do currículo escolar)
• Ateus e (certos) grupos da Igreja
• …

Este cenário é muito enganador pois há


Conflito aberto entre defensores
que contar com outros, terceiros, que
e opositores
têm efetivo poder…
PENSAR DE UM MODO DIFERENTE DO ESTABELECIDO

OU SEJA, DE MODO EDUCATIVO,


O QUE REQUER CONHECIMENTOS DE
- DE EDUCAÇÃO e de
- PEDAGOGIA
O que cabe à escola na Educação para a Cidadania?
Especificidade

Racionalização e interiorização de valores éticos


na esperança de que se traduzam em ação (ética)

Instruir e Formar
Conhecer Interiorizar

Desenvolvimento da inteligência/expressão virtuosa


No atual currículo…

… A EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA


(OU SEJA, “CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO”)
REPLICADA DE CURRÍCULOS ANTERIORES
Observe com a maior atenção o seguinte esquema,
detendo-se em cada uma das suas palavras:
“A educação para a cidadania
visa contribuir para a formação de pessoas
responsáveis, autónomas, solidárias,
que conhecem e exercem os seus direitos e deveres
em diálogo e no respeito pelos outros,
com espírito democrático, pluralista, crítico e criativo,
tendo como referência os valores dos direitos humanos.”
In Direção-Geral da Educação, 2012/2013 (anterior reforma educativa)

Como é que esta declaração é perspetivada e concretizada?


NSÃO Os princípios, as matrizes e a sua gestão
IME SAL
D V ER
NS
TRA Cidadania e Desenvolvimento
1.º Ciclo Ensino Secundário
Área transversal Organização é decisão de escola
Objeto de avaliação • Disciplina autónoma
• Em coadjuvação
• Em justaposição
2.º e 3.º Ciclos • Abordagem de temas e projetos sob
Disciplina autónoma coordenação de um dos professores
Objeto de avaliação Registo da participação dos projetos no certificado
Os princípios, as matrizes e a sua gestão
• Direitos Humanos

1.º Grupo
• Igualdade de Género
• Interculturalidade
• Desenvolvimento Sustentável;
• Educação Ambiental
• Saúde

• Sexualidade
2.º Grupo • Media
• Instituições e participação democrática
• Literacia financeira e educação para o consumo
• Segurança rodoviária
O que é
• Risco necessário fazer?
Definir a
• Empreendedorismo
• Mundo do Trabalho Estratégia de
3.º Grupo

• Segurança, Defesa e Paz Educação para a


• Bem-estar animal
• Voluntariado Cidadania de
• Outras, a decidir pela escola Escola
Domínios de Educação
para a Cidadania a
trabalhar em cada ciclo
e nível de ensino (aqui)

Consultar domínio aqui.

Outras - de acordo com


as necessidades
diagnosticadas pela
escola e que se
enquadrem no conceito
de Educação para a
Cidadania (proposto
pelo Grupo).
Qual a
diferença?

O que se segue?
Algumas notas críticas…
…MUITO ÓBVIAS
1. A sociedade / certos sectores da sociedade faz / fazem
reiteradamente solicitações à escola para que resolva,
de modo cabal e com carácter de urgência,
problemas, em geral complexos, globais, eternos… que:
- cria(m),
- não sabe(m) / não consegue(m) / não quer(em) resolver
mas que também lhe(s) interessa
- mistificar
- apresentar como problema
A cada reforma cresce o número de
“áreas de cidadania” no currículo
e outras esperam vez.
São indicadas por quem tem interesse
(próprio) no currículo da escola pública
e poder (ainda que diverso) para tanto.

Porque razão é a escola chamada para tratar/resolver problemas que a


sociedade ou alguns grupos da mesma não são capazes ou não querem
tratar/resolver?
Qual é o limite de áreas que a escola (professores e alunos) suporta?
Um caso interessante…
2. Acontece que para algo entrar no currículo, algo tem de sair do
currículo (F. Savater).
O que tem entrado no currículo?
- O que é mais útil/funcional
- O que é mais concreto

O que tem saído do currículo?


ESCOLA
- O que é mais erudito
- O que é mais abstracto

Afinal, qual é a atribuição da Escola,


aquilo que lhe confere especificidade?
O que nenhuma outra instituição pode fazer do mesmo modo?
3. Assumindo a escola, nessas circunstâncias, a tarefa de “educar para…”

- O que faz? Proporciona “atividades”


Em geral, dispersas, pontuais, lúdicas, doutrinais… pobres (sob o
ponto de vista educativo), em que se intrometem stakeholders.
Atividades consumidoras de tempo e esforço. Sem efeito educativo
ou, pior, com efeito contrário (deseducativo).
- O que se podem/devem os educadores fazer contra isso/além disso?
Depende das suas decisões, que são, na conjuntura, muito difíceis.
Estarem cientes de que a sua ação (educativa) não é comparável à
ação (não educativa ou deseducativa) dos stakeholders.
4. Na verdade, a ação dos stakeholders é (altamente) sofisticada e
sedutora… (começando pela “representação social” que elaboram,
inequivocamente positiva, das “Educações para…”)

- A linguagem usada remete sistematicamente para o “bem-estar”.


- Faz-se crer que as áreas selecionadas são o “cerne” da educação.
- E que os alunos precisam “mesmo” de ser “educados” nessas áreas.
- Porque as famílias não são capazes de tal, não têm competências.
- Porque o mundo está em perigo e só essa educação o pode salvar.
- ...
E apesar de descredibilizarem a escola pública (do seu dever de
informar e de formar) insistem para que forme para a cidadania.
5. Áreas com mais visibilidade

Disponibiliza-se tudo o que é preciso para “educar”:


Legislação / Enquadramento / Referenciais
Protocolos de colaboração / Projectos e parcerias
Recursos: guiões, power-points, “sítios” para consulta Suporte
Planos de formação de professores

+
Divulgação e recompensas (concursos e prémios…)
Especialistas
Ferramentas de avaliação (questionários…)
… “Experts”
Instituições
Certas entidades (em colaboração com
académicos e profissionais) produzem e
facultam graciosamente (?!) a escolas e
a professores/educadores… tudo o que é
preciso para “operar” na área da
cidadania, reduzindo-os a… aplicadores!

Retiram-lhes a possibilidade de estudar,


pensar, decidir e agir de modo autóno-
mo e responsável, ou seja, profissional
(e eles, tacita ou entusiasticamente,
aceitam isso).
https://ensina.rtp.pt/artigo/recursos-de-cidadania/
UMA PERGUNTA QUE SE IMPÕE:

“ESTA” EDUCAÇÃO PARA A CIDADANIA RESULTA?


Um estudo importante… The Smart Way to Teach Children About Money (2015)
Shawn Cole (Harvard Business School) http://www.wsj.com/articles/the-smart-way-to-teach-children-about-money-1422849602

Muitos estudos têm enaltecido a educação financeira e fiscal.

Mas, por que é que aqueles que foram educados se endividam e fogem aos
impostos?

Estudo: Comparação de decisões antes e depois de terem sido implantados


programas de educação financeira/fiscal nas escolas (período de 15 anos)

Resultado: Não se verificam diferenças estatisticamente significativas entre


as decisões dos que passaram por esses programas e dos que não passaram.
OUTRA PERGUNTA NÃO MENOS RELEVANTE

O AMBIENTE SOCIAL INTELECTUAL É


FAVORÁVEL A EDUCAR PARA A CIDADANIA?
• Panaceia (salvífica) – Se… então…
Grandes equívocos

• Banalização – Tudo é… logo, o que é?


• O centro do currículo – Tudo se subjuga a…
• Sobrecarga crescente – Cada vez mais áreas…
• Estilhaçamento – Múltiplas áreas sem unidade
• Esvaziamento – De conhecimento disciplinar e… ético!
• Estatização – Do privado e, até, intimo.
• Demissão – O Estado cede a outrem a responsabilidade…
• Apropriação (para doutrinar) – Financeira, política… religiosa…
• …
Pós-moderno (ou pós-pós-moderno)
Num ambiente intelectual

acentuação / descaracterização (Jean-François Lyotard, 1989)


• “hipermodernidade”, “do ligeiro” (Lipovetsky, 1988, 2016)
• “modernidade líquida” (Bauman, 2001)
• “modernidade gasosa” (Royo, 2017)
• “da pós-verdade” (Tesich, 1992)
• “do desempenho” (Ehrenberg, 2010)
• “do espetáculo” (Debord, 1967)

Relativismo, subjetivismo (grupal, pessoal)


Hedonismo, individualismo, autorreferenciação… “bem-estar”
Afirma-se que cada aluno, cada grupo
própria noção de cidadania descobre / constrói // deve descobrir / construir
os seus próprios valores / valores do seu grupo / cultura
Destruição do sentido da

Valores éticos construídos (apurados) pela humanidade


(são universais – universalidade dos valores)
cada aluno / os alunos, não pode/m
DESCOBRIR/CONSTRUIR OS SEUS PRÓPRIOS VALORES.

Ter em conta que “os valores são racionalmente absolutos


e existencialmente relativos” (Quintana Cabanas 1988, 286).
O DEVER DE EDUCAR PARA A CIDADANIA:

DISTINTO DE DOUTRINAR
O QUE É,
AFINAL, A
CIDADANIA? É, basicamente, a atitude e a ação esclarecida, autónoma,
crítica e responsável da pessoa no mundo.
(Domínio Conduzidas pela consciência de direitos e deveres
público) (políticos, civis, e sociais), assentes em valores éticos,
consagrados em documentos reconhecidos (Declaração
Universal dos Direitos Humanos, Constituição da
República…).

É neste campo e apenas neste campo que devemos responder:


- Que escolha(s) devem as escolas e os profissionais fazer?
- Que obrigação deve a sociedade assumir nessa(s) escolha(s)?
Não podem (escolas e sociedade) deixar de responder,
sob pena de se destruírem padrões civilizacionais
que, a tanto custo, se alcançaram.
Na ponderação da resposta têm de ter em conta
que a “educação para a cidadania” não pode:
- Sacrificar o “conhecimento poderoso”;
- Afastar/mistificar os valores éticos;
- Descurar a construção da inteligência;
- Direccionar opções pessoais (doutrinando);
- Incutir medo (fechando o pensamento);
- Destacar a aprendizagem, descuidando o ensino;
-…
EDUCAÇÃO ESCOLAR
Atribuição

Deve preparar para Não pode direcionar /instru-


a vida pública (da polis), com mentalizar a vida privada
os outros, para o bem comum (família) e doméstica (domus),
(que deve ser partilhado por e muito menos a vida íntima
todos, pois a todos diz respeito). (ainda que inevitavelmente as
toque)
EDUCAÇÃO ESCOLAR
Propósito

Tem de ser “educação”: ação Não pode ser “doutrinamento”:


(altruísta) orientada pelo propósito manipulação exercida sobre
de aperfeiçoamento (humano), de educadores e alunos por quem,
preparar os alunos para exercerem, por interesse próprio e de modo
com responsabilidade, o livre- dissimulado e cativante, os leva a
arbítrio. Para poderem vir a aceitarem o que, previamente, se
escolher, livremente, o que é bem, determinou que aceitassem.
o que é bom, o que está certo.
E CHEGÁMOS AO ESSENCIAL:

EDUCAR PARA A CIDADANIA NA ESCOLA PÚBLICA


COMO DEVER ÉTICO
Na tradição humanista ocidental…
A educação para a cidadania é educação ética
V. Camps

Assenta em valores éticos (universais) que


desejavelmente serão apropriados por cada um
(que lhes atribui valor e que, nessa medida,
desejavelmente pautará a sua ação por eles)

Tradição que se perde no tempo…


Mas que tem, na história mais recente, dois marcos
fundamentais…
Assembleia Nacional Constituinte de França Aprovada em 2 de Outubro de 1789

Os representantes do povo francês


(…) considerando que a ignorância, o
esquecimento ou o desprezo pelos direitos
do Homem são as únicas causas das
infelicidades públicas e da corrupção dos
governos, resolveram expor, numa
declaração solene, os direitos naturais,
inalienáveis e sagrados do Homem.
“A Assembleia Geral proclama a
presente Declaração Universal dos
Direitos Humanos como o ideal
comum a ser atingido por todos
Os povos e todas as nações, com
o objectivo de que cada indivíduo
E cada órgão da sociedade, tendo
sempre em mente esta Declaração,
se esforce, através do ensino e da
educação, por promover o respeito
a esses direitos e liberdades, e, pela adopção de medidas progressivas de
carácter nacional e internacional, por assegurar o seu reconhecimento e a
sua observância universal e efectiva, tanto entre os povos dos próprios
estados-membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua
jurisdição.”
Isso é desejável? Admitimos que é.

É legítimo? Estando em causa um bem, é.

É possível? Não sabemos, mas consideremos que sim..

Por isso, tomando decisões informadas e


prudentes, não podemos desistir, até porque a
responsabilidade face ao mundo (e à vida) que
hoje se coloca à humanidade é a mais séria
que alguma vez se lhe colocou …
“Não é evidente que a humanidade sobreviva.
Ela pode sobreviver, mas apenas por vontade.
E a responsabilidade torna-se objecto de uma ética”.

Não é evidente que a humanidade P. Ricoeur, 1993


sobreviva como…

… civilização que se (re)constrói a partir da transmissão


em virtude das opções educativas
… espécie entre outras num mundo físico-natural
em virtude das suas opções tecnológicas
A expressão “amor mundi” (Santo Agostinho - 354-430)
Ética transgeracional

“A condição humana” “Princípio da responsabilidade”


Hannah Arendt (1906-1975) Hans Jonas (1903-1993)
“Quero levar a minha vida privada como entendo e o Estado não tem de
assumir decisões que só a mim me competem (…)

Não fujo aos impostos, porque acho que numa sociedade civilizada se deve
proteger os mais fracos, e por isso vivo como se a minha cabeça fosse
escandinava (…). Eu vivo em Portugal como se vivesse na Escandinávia. Vivo
como se respeitasse o governo (…). E nunca me importei de pagar impostos. O
que me importo é que depois os serviços não sejam bons.”

Maria Filomena Mónica, 2015.


http://ionline.pt/artigo/409226/maria-filomena-monica-ninguem-me-consegue-amarrar-
PARA, NO FINAL, INTERPRETAR…
“QUERO.
Que deixes de fumar.
Que uses o cinto de segurança.
Que comas legumes.
Que não te ponhas ao Sol.
Que emagreças.
Que garantas a segurança aos teus filhos no banco traseiro.
Que fales de questões raciais.
Que uses preservativo.
Que te ofereças como voluntário.
(Cartaz do Tio Sam apontando um dedo ao leitor (1997).
Que comas menos carne vermelha.” In Jacques Barzun, 2003, 763. © M.H. Damião

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