ANO XXVIII - No. 296 - JANEIRO DE 1987
ANO XXVIII - No. 296 - JANEIRO DE 1987
ANO XXVIII - No. 296 - JANEIRO DE 1987
PERGUNTE
E
RESPONDEREMOS
ON-LINE
Intercomunháo católico-protestante
Secularizacáfo e secularismo
As traducoes da Biblia
SUMARIO
Diretor-Responsável:
"EIS QUE BATO A PORTA" 1
Estévao Bettencourt OSB
Autor e Redator de toda a materia O Papa aos jovens:
publicada neste periódico
A FÉ, A IGREJA E A VIDA HOJE 2
DiretorAdministrador
D. Hildebrando P. Martins OSB Um testemunho de vida:
"MEU DEUS EM QUEM CONFIO". 12
Administracao e distribuicao:
Em certos lugares do Brasil:
Edicoes Lumen Christi
Dom Gerardo, 40-5° andar, S/501 INTERCOMUNHAO CATÓLICO-PROTESTAN
Tel.:<021) 291-7122 TE 22
Caixa postal 2666
20001 - Rio de Janeiro - RJ Clareando conceitos:
IGREJA, POVO DE DEUS 30
Cornposlcáo a Impronto
Que sao
"MARQUÍS-SARAIVA"
rifAffirCIMfMfOf CIJ/KOI 1 A. SECULARIZACÁO E SECULARISMO? 33
mmíru
Urna questao candante:
AS TRADUgÓES DA BIBLIA 40
ASS1NATURA EM 1987:
NO PRÓXIMO NÚMERO
A partir de Janeiro de 1987 Cz$ 200,00
Número avulso: CzS 20,00 297 -Fevereiro- 1987
Já que a Palavra de Deus tem valor perene e universal, ela fala ainda
hoje a todo cristao abatido pela inclemencia da caminhada. Estamos inician
do novo ano "da grapa de Nosso Senhor Jesús Cristo". Isto equivale a urna
visita do Senhor ao fntimo de cada um dos seus fiéis; Ele pede acolhida ge
nerosa e pronta, para fazer crescer a sementé de vida eterna ai' lanpada pelo
Batismo e alimentada pela Eucaristía..., mas ameapada pelos ventos alheios
da borrasca.
1 E.B
«PERGUNTE E RESPONDEREMOS»
ANO XXVIII - rf? 296 - Janeiro de 1987
1. A Fé
"5. Deus está presente, mas é também verdade que nos podemos estar
ausentes. Nao é Deus que deixa de vir ao encontró de nos, somos nos que
corremos o perigo de nao ir ao encontró d'Ele. Santo Agostinho, convertido
em 386 - acabamos de festejar este aniversario -, confessava a Deus, depois
de ter procurado a felicidade em muitas estradas falsas: "Tarde Vos amei, ó
beleza tafo antiga e tao nova!. . . Vos estáveis dentro de mim, mas eu esteva
fora, e fora de mim Vos procurava... Estáveis comigo, e eu nSo estava con-
vosco". Muitos dos nossos contemporáneos vivem, deste modo, na indiferen-
ca religiosa, no esquecimento de Deus, organizando a própria vida sem Ele;
experimentam todos os caminhos da felicidade, sem ousar crer que Cristo é
a Verdade, o Caminho, a Vida. Oxalá eles se despertem, venha a despertar
se neles o dom de Deus, déem atencffo Áquele que bate á sua porta, ou, an
tes, que é intimo deles mais do que eles sSo de si mesmos! Vos ná*o estáis in
diferentes. Reconheceis que no fundo de vos mesmos tendes sede de Deus,
mas sofreís por causa da ¡ndiferenca atual".
"6. E vos sofreís mais aínda por causa das objecdes, da oposicao, das
zombarias dos outros quando falais de Deus. Os Profetas provaram este mes-
mo sofrimento: "Quem acreditou no nosso anuncio?" (Is. 53,1). Jesús nos
advertiu: "Bem-aventurados seréis quando vos insultarem... por minha cau
sa!" (Mt. 5,11). Todos nos somos chamados á coragem de testemunhá-1'0
sem nos envergonharmos. SSo Paulo viveu estas mesmas tribulacGes. Porven-
tura nao escutastes na Missa de boje como ele advertía o seu discípulo Timo
teo: "Pois Deus ná*o nos deu um espirito de timidez, mas de fortaleza, amor
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
'7. Mas, para dar testemunho, é preciso estar seguro da própria fé. E
acontece que duvidais. As descobertas da ciencia, as possibilidades da técni
ca vos surpreendem, a respeito da eficacia misteriosa da fé. Deveis enfrentar
estes problemas. Oxalá descubráis que Deus é de urna outra ordem, diferen
te do visfvel e do comensurável das ciencias, que Ele nato é nem sequer o in-
cognoscfvel que numerosos filósofos agnósticos tém á parte: Ele está na fon-
te do ser, e é da ordem do amor, como dizia Pascal! Vos sois convidados a
aprofundar constantemente as vossas razSes de crer, e sobretudo a ter co-
nhecimento de Deus tal como Ele se revelou em Jesús Cristo. Este é o objeto
das vossas catequeses, das vossas reunidas, das vossas revisSes de vida, das
vossas leituras, dos vossos retiros, da vossa orac3o. A prova da dúvida pode
levar-vos a urna fé purificada. Entáo estaréis prontos, como dizia o Apostólo
Pedro, "a responder a todo aquele que vos perguntar a razffo da vossa espe-
ranca" (1 Ped. 3,15)".
Eis a última pergunta pungente, que retem muitos dos vossos amigos.
Perguntar-vos-ei antes de mais: de que utilidade falais? Se procuráis instru-
mentalizar diretamente Deus e a religiío como um complemento para reali-
FÉ, IGREJA E VIDA
2. A Igreja
"J. Nao redamo urna Igreja 'toda pronta' ou urna Igreja que domina o
mundo inteiro como um arranha-céus. Desejaría urna Igreja a construimos
¡untos.
2. A Igreja interessa-nos. Para nos, é urna op$ao, um empenbo pessoal.
3. Mas por que tan tos jovens, na Franca, se afastaram déla?
4. Por que tao freqüentemente nSo compreendemos tantas coisas que
E/a diz?
5. Tenho tanta necessidade de que um sacerdote me escute; por que
sSo eles tao poucos?
& A Igreja precisa de nos; nSo é o que parece.
7. Santo Padre, falai-nos da Igreja, mas nao da Igreja que está nos ¡i-
vros ou ñas grandes idéias. Falai-nos de urna Igreja que nos ajude a viver na
nossa vida de cada día".
6 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/19B7
12. Isto nao vos impede de sofrer pelas imperfeicdes que vos parece
afligiremna, sobretudo quando vedes outros jovens afastarem-se déla apre-
sentando esta razáfo. Vos quererieis que ela fosse sempre acolhedora, cheia
de juventude, transparente ao Evangelho. Eu também a quererla assim, e tra-
balho incesantemente para isso, com a grapa de Deus. S3o Paulo dizia: Mari
dos, amai as vossas mulheres, como também Cristo amou a Igreja, e por ela
Se entregou para a santificar.. . para a apresentar a Si mesmo como Igreja
gloriosa sem mancha nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e
imaculada (Ef. 5,25-27).
13. Sem mancha nem ruga. .. Mas a Igreja tem rugas. Alias, pode te
las. Hoje já nao é urna adolescente, é urna Mae que, há dois mil anos, está su-
jeita as agitacSes da historia e as tentacdes do mundo. No decurso dos sé-
culos, ela conheceu perseguicóes, que despertaran! um novo fervor. Mas al
guns dos seus membros também conheceram as seducoes do espirito do mal,
o bem-estar na riqueza, a rotina, ou simplesmente a tentacao dos compro-
mistos no necesario diálogo da salvacSb com o mundo. Jesús tinha implo
rado ao Seu Pai: Ná"o peco que os tiréis do mundo, mas que os tiréis do mal
(Jo. 17,15). A Igreja na"o é um clube de membros que se possam dizer perfei-
tos, mas um conjunto de pecadores reconciliados, em caminho para Cristo,
com as suas fraquezas humanas.
Urna das grandes desgracas da Igreja foi a divisaTo dos seus filhos, e é
urgente procurar a unidade com todos os nossos irmSos separados, como
para isso trabalhava ta"o bem S3o Francisco de Sales, com os meiosdo Evange
lho: o amor e a busca da verdade. Porque a inf idelidade a verdade seria outra
desgraca.
14. Vede, caros amigos, a Igreja permanece santa, porque ela foi san
tificada por Cristo. Mas a santidade efetiva dos seus membros nunca é com-
FÉ, IGREJA E VIDA
pleta, como urna casa da qual se tém as "chaves na mSo". Está sempre parase
construir, para reconstruir, para purificar. E como se hSo-de julgar os defei-
tos dos nossos antepassados, se o pecado nos atinge a nos próprios? Diante
do Senhor todos somos pobres e pecadores. E no entanto a Igreja conduz-
nos para as fontes da santidade desde o nosso batismo. Ela é nossa Mié.
Urna Mae que alimenta e que reconcilia. Urna Mae nSó pode ser criticada co
mo um estranho, porque amamos aqueta que nos deu a vida!
2.2. Vocagoes
2.3. Os sacerdotes
Por que é que há tao poucos sacerdotes, quando eles sao ¡ndisiaensá-
veis para a vida do Corpo? Pergunto-o a vos, caros amigos. Como é possfvel
que do grupo de jovens crentes que vos sois, generosos e ansiosos de cons
truir a Igreja, nao germinem vocacSes sacerdotais e religiosas? Estou certo de
que muitos sentem este apelo. O que é que vos desencoraja? Compete a vos,
caros amigos, ref letir nisto. Eu tenho conf tanca. E vejo que o recrutamento
de sacerdotes conhece um renovamento em muitos países do mundo."
8
FÉ, IGREJAE VIDA
Com os vossos bispos, no nome de Cristo que deu esse mandato aos
Apostólos, envio-vos em missfo!"
3. O Compromisso no Mundo
"5. Um mundo com o seu Terceiro Mundo e o seu Quarto Mundo, tan-
gados como urna culpa sobre os nossos ombros...
12. Por favor. Santo Padre, nao'nos deis sentencas de protbicao, mas
razoes para viver".
"24. Vos, estai lúcidos. Nao viváis por isso na angustia. A superabun
dante difusao de noticias trágicas, de problemas insolúveis, pode por sobre
os vossos ombros um fardo muito pesado a transportar. A vossa angustia nao
levaría nada aos pobres. É porventura necessário que vos sintáis culpados,
que experimentéis em vos a culpa de todos estes males? Nao, vos nío sois,
no sentido estrito, responsáveis destas grandes miserias, mas pouco a pouco
vos tereis urna responsabilidade no contributo a dar para remedíalas. Nao
levantéis com tanta pressa o vosso dedo acusador sobre os 'grandes' deste
mundo, sobre outras categorías de pessoas, sobre outros países. A responsa
bilidade humana existe para muito* destes males, é verdade. Todavía, ela é
complexa, muitos tém parte nisto de maneira solidaria. Deus criou o mundo
solidario, e o mundo faz uso disto, para o melhor e para o pior. Mas esta so-
lidariedade é urna oportunidade; ela permite-nos reagir juntos.
9
10 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
"27. E vos, caros jovens, desde agora, na vossa idade, onde quer que
estojáis, tomai a vossa parte no reerguimento do mundo. Em primeiro lugar,
preparai-vos para asumir nele urna tarefa, urna funcaode servípo, por meio
de todas as competencias humanas, científicas, técnicas que estáis a adquirir
na escola, na Universidade ou no vosso aprendizado. E, sobretudo, fortif ¡caí
em vos os valores moráis de retidSo do coracSo, de lealdade, de pureza, de
respeito aos outras, de espirito de servico, de dom de si, de resistencia no
esforco, sem os quais a transformacá*o material e técnica do mundo ná*o re
sultaría num progresso. Vá-se isto nalguns países que creram progredir ao
mudarem de regime político ou económico, sem elevar o valor moral das
pessoas.
Mas, além desta importante preparadlo, vos deveis desde hoje empe-
nharvos, nao só no apoio verbal e macico das grandes causas mediante a so-
lidariedade com os esforcos dos homens por um mundo melhor, mas tam-
bém nos milhares de gestos concretos que inventáis e realizáis, pessoalmente
ou em grupo, para melhorar a sorte daqueles que vos drcundam e também
dos que estao longe, para ajudar as mentalidades a transformarenvse. De
monstráis entSo que sais de vos mesmos para vos preocupardes dosoutros.
Nao desprezeis estas pequeñas coisas que valem muito diante de Deus, e que
nunca se perdem, porque realizadas na caridade de Cristo. Jesús atribuía
importancia e urna recompensa no céu áquele que oferecia um simples 'co
po de agua fresca' a um dos seus discípulos (cf. Mt. 11,42), áquele que ga-
nhava com esforco alguns talentos (cf. Mt. 25,23). Por qué? Porque Cristo
toma em suas maos o pao e o peixe do jovem. Ele multiplica-os como Lhe
apraz. Vos esbocastes um gesto de amor, de justica, de perdSo. Cristo acolhe
a vossa oferta como sua. Ele chegou, através da Paixao, á sua RessurreicSo.
Ela inaugurou o mundo novo. Sim, o mundo novo é gerado hoje, através dos
vossos gestos de amor e grecas ao sopro do Espirito Santo!"
10
FE, IGREJAE VIDA 11
sua felicidade, a sua human¡dade. Mas Cristo nao nos abandona nunca no
mal. Ao pecador, ao homem débil que n'Ele deposita a sua confianca. Ele
diz: 'Levanta-te e anda!' "
(Continuacáo da p. 29) _
11
Um testemunho de vida:
12
"MEU DEUS, EM QUEM CONFIO"
1. A conversao
1 "Meu Deus em quem confio", por Jacques Loew. Colegio "Agua Viva"
n? 13. Traducio de María Cecilia Duprat. - Ed. Paulinas, Sao Paulo 1986.
160 x 235 mm, 214 pp.
13
14 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
"Assisti, depois, sem ter a menor idéia do que aquelas cerimdnias sig-
nificavam, aos oficios da Semana Santa. Nada compreendia do que se desen-
rolava diante de meus olhos, mas o espetáculo daqueles monges, o rosto
avermethado pelo frió, que permanecíam durante horas a fio naquelas esta
las, impressionava-me intensamente. Esses homens teriam, pois, descoberto
Deus e descobriram-no a ponto de toda a sua felicidade consistir em viver
para sempre com ele, nesta solideo glacial.
14
"MEU DEUS. EM QUEM CONFIO" 15_
Para que lado deveria eu orientar minha vida? Para o lado destas técni
cas, deste comercio e de tudo o que compunha a minha própria vida de ad-
vogado, ou deveria dirigi-la para o lado desta busca permanente de Deus e
sua verdade?"
15
16 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
Como que para confirmar o novo rumo de meus pensamentos, fui sur-
preendido pela carta de uma amiga, estudante em París, aluna do filósofo
Alain. Num curso de admissao á Escola Normal, um de seus meIhores cole
gas acabara de se suiddar por fidelidade - segundo diziam - as idéias de
Gide.
16
"MEU DEUS. EM QUEM CONFIO" V7
reli Gandhi. após ter visitado os Cartuxos. Gandhi elogiava - o que me im-
pressionou grandemente — a pobreza, a castidade e até mesmo urna especie
de obediencia a que se submete um chele que chega a sacrificar-se pelos seus
subalternos. Encontrar tais valores neste homem ¡mpressionoume aínda
mais, pois percebi que estes valores eram o próprio fundamento da vida dos
monges da Cartuxa. Eram pobres, eram castos e eram obedientes."
Urna vez restabelecido, Jacques voltou para a Franca, indo ter com
seus pais, que faziam urna estacao de aguas em Aix-les-Bains.
"No primeiro domingo fui á Missa. Para dizer a verdade, ná*o era pro-
priamente a Missa que me atraía naquela man ha. Postado no fundo da igreja,
o que eu procurava era a maneira de fazer o sinal da cruz. Católico que deci
dirá ser, até entao nao o aprenderá. Vía por onde comecava, mas depois? de-
veria tocar o ombro direito ou o esquerdo? Atento esperava ver que de que
modo os cristaos e aquela élite de Aix-les-Bains o tragavam. Muitos, na entrada
ou na saída da igreja, faziam um gesto circular que partía da testa, mas per-
dia-se em seguida no temo ou no vestido, sem que eu realmente conseguisse
saber como era feito. Por fim, urna pobre velha, trópega e com lenco preto
amarrado na cabeca, saiu por último e vi, tracado por ela, um belo sinal da
cruz. Foí assim que aprendí a fazé-lo.
17
18 "PERPUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
Jacques Loew sabe que a sua conversao nao foi a simples descoberta
de valores novos por parte de um hábil pesquisador. Ele tem consciéncia de
que foi obra da graca, que irmaos conhecidos e desconhecidos impetraram
do Senhor Deus. Por isto refere-se ele á comunhao dos santos, na qual uns
ajudam os outros, sem que o saibam:
"O menor ato nosso. . . Mas, quando este ato é urna oracao, quao
¡mensa é sua repercussao!
18
"MEUDEUS, EMQUEM CONFIO" 19
O homem que langa um apelo a Deus, pensa que sua oracao é solitaria.
Nunca o é. Acontece mesmo, por vezes, descobrimos-lhe a fonte. Esta feli-
cidade foi-me dada; tinha eu mais de quarenta anos. Padre-operário, devia ir
a Roma. Minha mae pediu-me que fosse fazer uma visita e cumprimentar,
em seu nome, uma velha amiga: quando enancas, freqüentaram o mesmo co
legio. Depois, essa amiga entrou no convento e fez-se Irmazinha da Assun-
gao. Residía em Roma.
Para mim, nao há a menor dúvida. E esta certeza tem um nome: Co-
munhao dos Santos".
3. A Igreja
"Instituipao e comunháo, tais sao as duas faces através das quais abor-
dei a Igreja. Deter-me ai seria omitir a palavra que hoje me parece a mais es-
sencial para defini-la, a palavra que une, numa única realidade, estes dois as
pectos — face visível e vida secreta — da Igreja única, palavra que, de modo
especial, é a mais antiga tradipáo dos sáculos cristSos.
19
20 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
cure ter antes a Igreja como mae!' nao é um ¡solado brado de entusiasmo,
mas o condensado de séculos precedentes.,
De Sao Paulo, que fala da 'Jerusalém do Alto, nossa míe', que faz de
nos homens livres, de Sao Joáo que fala 'a Senhora eleita e a seus filhos', ás
testemunhas dos primeiros séculos, Irineu, Orígenes, Basilio, Agostinho.es-
se mesmo pensamento predomina, expresso em termos semelhantes.
Mae, a Igreja gerou-me para Cristo. É ela que me dá sua Palavra. Jesús,
antes de deixar a térra, nao nos legou livro nem código, nem catecismo, mas
urna Igreja na qual nasceram os Evangelhos e que, inspirada pelo Espirito de
Cristo, selecionou, de urna colecao de documentos, os escritos do futuro
Novo Testamento. É ela que hoje me diz: Toma e lé.. .' E foi em seu seio
que o Símbolo dos Apostólos, o auténtico resumo de minha fé, tomou cor-
po. E quem, se nao a Igreja Mater et Magistra, mae e mestra de vida, educou-
me e ensinou-me cada dia a 'viver segundo a fé', a discernir o que é confor
me ao Evangelho?
Ainda mais Mae, a Igreja dá-me vida, através dos sacramentos de Cris
to: os gestos que Jesús realizou durante sua vida terrestre foram confiados a
ela através déla chegaram até mim: alimentam-me curam-me, restabele-
cem-me na amizade de Deus, unem-me aos outros. Mae, ela o é, minha Igreja
e mae de filhos incontáveis! Quanto mais aceito e entro em sua maternidade,
melhor se realiza o meu nascimento nunca terminado em Cristo, e mais me
tomo, para mim, e para os outros, a I greja.
Nao se trata de urna teoria — mae nunca foi teoria! Áquele menino
chinés, tao profundamente compromissado com Deus, ninguém ensinara a
resposta que daria aos guardas vermelhos que haviam fechado a igreja local
e proibido o acesso: 'Vai embora, a Igreja nao existe mais!' disseram eles. 'A
que igreja o senhor se refere? a Igreja sou eu\ Do pequenino chinés deseo-
nhecido aos maiores santos, esta conviccao nossa de ser a Igreja, é fonte de
discemimento, reconhecemos tarefas a cumprir — e fonte de humildade, nao
nos esgotamos em críticas.
20
"MEU DEUS, EM QUEM CONFIO" 21
De onde vem esta forca secreta? De Jesús Cristo, dizem estes servido
res da Igreja, mas o monge cisterciense Isaac da Estrela tembra-nos as tres
presencas atuantes de Jesús: em María, na Igreja e em nossa alma:
4. Conclusao
21
Em certos lugares do Brasil:
22
INTERCOMUNHÁO 23
1. Os Bispos da Suípa
23
24 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
2. A réplica protestante
24
INTERCOMUNHÁO 25
3. Consideracoes teológicas
25
26 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
26
INTERCOMUNHAO 27
3.2. O teor da fé
?7
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
É esta doutrina que está subjacente ao modo de falar dos Bispos suí-
eos. É o próprio ensinamento do Concilio do Vaticano II, que permanece
válido, pois foi reafirmado pelo sinodo dos Bispos reunido em 1985 para re
ver os vinte anos do pós-Concilio.
É certo que o Senhor Jesús anseia pela re-uniao dos seus discípulos nu-
ma só comunhao eclesial; dado, porém, que a Igreja nS*o é obra humana ou
nao se deriva da intuifao e da iniciativa de um chefe humano, mas é fundada
pelo próprio Oeus, nao seria licito á Igreja retocar o patrimonio da fé e da
Moral que Cristo Ihe entregou para facilitar a recomposicao da unidade vio
lada. Antes, compete á Igreja ilustrar esse patrimonio e depurá-lo de toda a
28
INTERCOMUNHAO 29
escoria que Ihe tenha aderido, a fim de que, mais eloqüentemente e sem
equívocos, possa falar aos irmaos separados.
A propósito
NOTA
(Continua na p. 11)
29
Clareando conceitos:
30
IGREJA, PQVQ DE DEUS
sas; originaria um mero clube de debates, urna torre de Babel. Por isto a Teo
logía Política de nossos dias é, em seu cerne, profundamente nao crista, pois
ela foge da ousadia mais auténtica ou ela nao corresponde á exigencia daque-
le que diz: "Procurai primeramente o Reino de Oeus e a sua justíca, e tudo
mais vos será dado por acréscimo" (Mt 6,33). Nao é tarefa da Igreja cons
truir urna sociedade melhor que salve o homem; é, antes, sua missáo levar a
Redencao aos homens, que, conseqüentemente, poderao criar urna socieda
de de paz e de amor fraterno.
31
32 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
32
Que sao
Secularizacao e secularismo?
33
34 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
1. Secularizacao e secularismo
1. Por "secularizacao" entende-se o reconhecimento da relativa autono
mía que as ciencias e as atividades humanas tém em relacáo á religiao. Rela
tiva. . . porque, em última instancia, todo valor humano é aterido, ao menos
negativamente, pela fé e a Moral cristas (nao pode ser verídica qualquer pro-
posicao que contradiga as verdades da fé ou da Moral); se está em contradi-
cao com estas, é falsa. Isto, porém, néfo deve destruir a ¡dentidade dos valo
res humanos. Por conseguinte, a medicina, a economía, a política... h¿fo de
se reger por seus principios próprios, e na*o pelos da religiao; esta nao tem
receitas para curar doencas, nem para o bom éxito nos negocios, ñas viagens,
nos casamentos. . . A medicina que se rege pelos principios da religiao, e
nao pelos seus próprios, é o curandeirismo (que nao é nem medicina nem
religiao); o cidadao que se dirige segundo o horóscopo ou segundo as forcas
"mágicas" dos astros, está cultivando nao a astronomía, mas a astrologia
(que nao é nem ciencia nem religiao). É preciso, pois, que nSo se faca da re
ligiao a chave "mágica" para resolver todos os problemas. Tal conclusao,
apregoada pelos bons pensadores católicos, especialmente em nossos días,
chamase "secularizacSo"1; esta dessacraliza as atividades humanas na medi
da em que estejam impregnadas de supersticSo e magia ñas culturas primiti
vas. Nao exclui, porém, a reverencia a Deus e aos criterios da fé e da Moral;
ao contrario, pode contribuir para que a fé verdadeira seja mais puramente
reconhecida porque dissocíada de suas contrafacSes. O próprío Concilio do
Vaticano II afirmou tais principios nos seguintes termos:
34
SECULARIZACAO E SECULARISMQ 35
35
36 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
36
SECULARIZACAO E SECULARISMO 37
37
38 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
38
SECULARIZAQAO E SECULARISMO 39
Sao estas algumas das cqnsideracoes que nos sugerem a palavra "se
cularismo" e suas expressoes concretas na vida contemporánea.
39
Urna questáfo candente:
As traducoes da Biblia
Ora no tocante a esta tradupao popular da Biblia, o Ir. Israel Nery, as-
sessor nacional de Catequese da CNBB, declarou ao jornal LAR CATÓLICO
que "a Sociedade Bíblica do Brasil, juntamente com a Igreja Católica, está
preparando para daqui a um ano e meio o restante da traducao da 'Biblia na
Linguagem de Hoje'; em 1975 saiu a primeira parte, com o Novo Testamen-
40
TRADUCOES DA BIBLIA
41
42 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/19B7
1) Rm 1,17b; Gl3,1 Ib, onde se l§: "Quemé aceito por Deus pormeio
da fé vivera". O original grego diz simplesmente: Ho de dikaiosek pisteoos
zeesetai - o que, ao pé da letra, significa: "O justo, porém, pela fé vivera".
Com estes termos, que sao retirados da traducSo grega do livro do profeta
Habacuc (2,4) e que nao de ser interpretados á luz do mesmo, Sao Paulo
quer ensinar que "a pessoa reta ou santa vivera (= tem a vida eterna) pela fé,
ou seja, pela f¡delidade a Palavra de Deus".
42
TRADUgOESDABrBLIA 43
to.. .", ou seja, a teoría de que os chamados "irmaos de Jesús" eram filhos
de María e José.
43
44 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
44
TRADUCOES DA BIBLIA 45
Nesta frase aparece duas vezes o radical carto (certeza) para traduzir
vocábufos gregos diferentes, a saber: hypóstasis (garantía, penhor) e élenchos
(demonstrado, prova). Percebe-se, pois, que a traducao é pobre em recursos
de vocabulario, com detrimento da significacfo do texto bíblico traduzido.
45
46 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
46
TRADUgOESDABl'BLIA 47_
— os pronomes vocé, voces nao tém casos obl fquos próprios, de modo
que é preciso recorrer aos pronomes ele, ala, ales, elas (a saber: o, a, os, as;
Ihe, Ihes). Ora isto redunda em ambigüidades; para evitar que estas ocorram,
usa-se o pronome vocé com a preposicao a (a vocé, em vez de Ihe), o que
torna a construíao da frase monótona e enfadonha;
"Nao tenha medo, Maria. Deus está contente com vocé. Vocé vai f icar
grávida, dará á luz um filho e vai chamá-lo de Jesús" (Le 1,30s).
O anjo diz a Zacarías: "Sua mulher vai ter um filho e vocé dará a ele o
nome de Joáo" (Le 1,13 na BLH).
O anjo di? ás mulheres após a ressurreícao: "Sei que voces estao pro
curando Jesús, que foi crucificado. . . Ele ressuscitou e vai adiante de voces
para a Galiláia. Lá voces váfo vé-lo!" <Mt 28,5.7).
47
48 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS" 296/1987
5. Argumentando...
Verdade é que toda língua viva evolui. Mas eremos que os fatores
de evolucao nao devem ser a pobreza cultural, a ignorancia, a mfngua de vo-
cábulos e a falta de lógica ou de raciocinio, a preguica de pensar... Temos a
obrigacao de procurar cultivar a riqueza da mente e fazer que esta seja o
apanágio de todas as classes sociais. Urna vez garantido este valor, deixemos
que a Ifngua evolua; ela evoluirá por si mesma...
UN i«n^ F«F«S
EstévSo Bettencourt O.S.B.
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PRÓXIMO LANCAMENTO DAS EDICÓES "LUMEN CHRISTI":
2a Edicáo de:
DIÁLOGO ECUMÉNICO, Temas controvertidos.
EM COMUNHÁO
Revista bimestral, editada pelo Mosteiro de Sao Bento, destina-se
aos Oblatos e ás pessoas interessadas em assuntos de espirítualídade
monástica. Além da conferencia espiritual mensal de D. Estéváo Betten
cóurt para os Oblatos, contém traducóes de comentarios sobre a Regra
beneditina e outros assuntos monásticos. - Assinatura anual em 1987:
CtSSOJOQ.
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