110503130641filosofia Política de Deleuze e Guattari - As Relações Com Marx - Rodrigo Guéron
110503130641filosofia Política de Deleuze e Guattari - As Relações Com Marx - Rodrigo Guéron
110503130641filosofia Política de Deleuze e Guattari - As Relações Com Marx - Rodrigo Guéron
159-
Filosoa Poltica de Deleuze e
Guattari: as relaes com Marx
Rodrigo Guron
Uma espcie de passagem para poltica, uma passagem que
eu mesmo z com Maio de 68, medida que tomava contato com
problemas precisos, graas a Guattari, a Foucault, a Elie Sambar.
O Anti-dipo foi todo ele um livro de losoa poltica. (...) No
acreditamos (Flix e eu) numa losoa poltica que no seja centrada
numa anlise do capitalismo. (...) Creio que Felix Guattari e eu, talvez
de maneiras diferentes, continuamos ambos marxistas.
Gilles Deleuze
Ao falar da Filosoa de Gilles Deleuze e Flix Guattari, comecemos pela
frase destacada que diz que no h losoa poltica sem que esta seja uma anlise
do capitalismo. Esta frase j nos levaria a Marx mesmo se Deleuze j no tivesse
armado que ele e Guattari, continuaram ambos marxistas. O que vem a ser,
ento, portanto o marxismo destes lsofos?
Para comear, de maneira talvez um tanto genrica, diramos que Marx
interessa a Deleuze e Guattari ali onde eles vem nele a armao da dimenso
autopoitica autoinventiva e autoprodutiva do Ser. Deleuze e Guattari buscam
ento mobilizar a Filosoa de novo nos questionamentos e problematizaes do
marxismo, mesmo que, algumas vezes, no cheguem exatamente s respostas que
Marx chegou. Como um desdobramento deste movimento em Deleuze e Guattari
destacamos, em primeiro lugar, o fato de colocarem em Anti-dipo e Mil Plats
o problema da losoa poltica impreterivelmente ligada a uma anlise crtica do
capitalismo. isso que faz com que faam em Anti-dipo e Mil Plats ambos
os livros com o mesmo subttulo, capitalismo e esquizofrenia tambm uma
espcie economia poltica. Este talvez um primeiro aspecto do marxismo destes
lsofos: recolocar para a losoa a tarefa de fazer uma economia poltica.
Como lsofos que armam ento a dimenso autopoitica, autoinven-
tiva, do Ser e, portanto, tambm como lsofos que armam a imanncia em
oposio a qualquer deciso losca pela transcendncia, Deleuze e Guattari
esto diante de um Marx que coloca no lugar da conscincia, ou de qualquer outro
conceito que aponte para uma transcendncia no centro de seu pensamento, o tra-
172
160 FILOSOFIA POLTICA DE DELEUZE E GUATTARI: AS RELAES COM MARX
balho. Evidentemente o conceito de trabalho no centro do pensamento de Marx
abriu espao para grandes mal entendidos. Estes mal entendidos vm exatamente
do fato de boa parte do marxismo ter tomado o sentido de trabalho exatamente
na maneira como capitalismo o concebe e efetiva. Mas o Marx que interessa a
Deleuze e Guattari um lsofo da produo, produo no sentido mais radical
que se possa dar ao termo e que, se identicada com o conceito de trabalho, nos
parece prxima a interpretao que alguns autores tm do conceito de trabalho
vivo no prprio Marx: trabalho que no seu limite a prpria atividade de produ-
o da vida.
Deleuze e Guattari constroem ento com Marx lsofo da produo uma
identidade entre o sentido de produo e o sentido de desejo. este ltimo concei-
to, como no poderia deixar de ser, que leva os autores a uma discusso imediata
com a psicanlise. De fato, psicanlise, a Freud, e mesmo a Lacan e ao estado
geral em que a psicanlise se encontra no momento que escrevem Anti-dipo a
psicanlise como uma prtica e um pensamento (uma leitura do mundo) que
Deleuze e Guattari querem nos remeter. Essa operao necessria para que os
autores possam dar a dimenso poltica que creem haver no desejo, e que lhes
parece esvaziada, ou at mesmo revertida, na maneira como a psicanlise tem
compreendido este desejo. J logo no incio do Anti-dipo (e, claro, j antes no
prprio ttulo da obra) j temos o incio desta resposta: Marx ser em quase sem-
pre o grande aliado da crtica que os autores constroem e dirigem psicanlise.
Arriscaramos dizer que talvez seja este o momento que Deleuze e Guattari sejam
mais explicitamente marxistas.
citando diversas vezes Marx que eles vo armar que no h qualquer
tipo de intermedirio entre o desejo o socius, isto , no h qualquer tipo de
estrutura psquica intermediria.
Dizemos que o campo social imediatamente percorrido pelo desejo, que o
seu produto histrico determinado, e que a libido no tem necessidade de media-
o ou sublimao alguma, de operao psquica alguma, e de transformao
alguma, para investir as foras produtivas e as relaes de produo. H to
somente o desejo e o social, e nada mais (DELEUZE e GUATTARI, 1972, p. 36).
Evidentemente estamos falando de um dos pontos centrais desta obra,
a saber, a crtica das guras simblicas da estrutura familiar tomadas como uma
espcie de universal da estrutura psquica, crtica esta que parte de uma opo-
sio que os autores fazem a qualquer tipo de psiquismo, ou seja, uma crtica
ideia de que existiria algum tipo de estrutura psquica entre o desejo e o socius.
161 Rodrigo Guron
Em outras palavras, para Deleuze e Guattari o desejo nem remete necessariamente
a uma estrutura familiar nem determinado por nenhuma estrutura psquica que
existiria entre ele e o socius: o desejo remete diretamente ao socius.
verdade, por outro lado, que a psicanlise interessa aos dois autores
pelo valor central que ela d ao desejo. Tambm o conceito de inconsciente inte-
ressa a Deleuze e Guattari, mas no como uma instncia de interpretao, e sim
como parte fundamental da dimenso produtiva do desejo: o inconsciente como
uma usina do desejo, assunto que mereceria um artigo a parte. Por ora, no entan-
to, interessa-nos destacar que a concepo de desejo da qual nos falam Deleuze
e Guattari traz claramente consigo a compreenso nietzschiana de vontade de
potncia, e tambm, claro, para no omitirmos a linhagem identicada por De-
leuze como sendo da Filosoa da Imanncia, compreenses como as que esto
expressas nos conceitos de desejo, potncia e conatus em Espinosa. Compreen-
ses que, evidentemente, tanto em Espinosa quanto em Nietzsche, no querem
dizer a mesma coisa e que pediriam, cada uma delas, um justo esclarecimento,
mas que podem ser aqui assim elencadas para falarmos de uma convergncia de
conceitos chave que chegam ao pensamento de Deleuze e Guattari.
Vejamos ento a importncia da noo nietzschiana de vontade de potn-
cia, na noo deleuziana-guattariana de desejo, e o papel poltico que esta noo
ganha. Neste aspecto notvel o texto de Juan Luis Gastaldi (2009) La politique
avant ltre. Deleuze, ontologie et politique publicado no nmero 40 da revista
Cits, edio especial Deleuze Politique. Neste texto Gastaldi mostra como De-
leuze constri uma das mais ecazes crticas ao liberalismo medida que critica
a concepo liberal de liberdade inspirada na noo kantiana de vontade livre
58
.
a esta noo que Deleuze ope a concepo nietzschiana de vontade de potncia.
como se a compreenso kantiana de vontade livre nos levasse a uma concep-
o puramente formal da liberdade, posto que a liberdade estaria sendo colocada
como condio de possibilidade da criao. De fato, de que nos serviria uma liber-
dade abstrata, dissociada da criao real, e que permanece indiferente a criao, se
pergunta Gastaldi (GASTALDI, 2009, p. 63).
Conceber, no entanto, a liberdade a partir da vontade de potncia nos
levaria a uma inverso desta lgica liberal, ou seja, a criao precederia a liber-
58 Para Kant a vontade deve ser determinada pela forma pura de uma lei universal: a moral.
Ao mesmo tempo, a prpria lei universal que torna real o domnio prtico, o domnio da razo
prtica, a partir da Vontade Livre. A Vontade determina ento o domnio da razo prtica e a
poltica se caracterizaria pela colocao em prtica do direito. A vontade deve ser livre para
poder atender a moralidade que torna real o domnio prtico.
162 FILOSOFIA POLTICA DE DELEUZE E GUATTARI: AS RELAES COM MARX
dade e, portanto, a liberdade s poderia existir como condio de realidade da
criao. A liberdade seria, assim, algo que se daria absolutamente a posteriori e
se efetivaria como o prprio processo de diferenciao, tema central de Deleuze
na sua obra Diferena e Repetio. Mas foi antes Nietzsche que nos indicou
que tal liberdade criadora s poderia ser determinada como potncia. A propsito,
eis a outro aspecto importante que o texto de Gastaldi ajuda a chamar a ateno,
qual seja, a de que desde sempre houve potncia poltica, uma losoa poltica se
maturando e j de certa forma expressa no pensamento de Deleuze, muito antes do
acontecimento 68 que signicou, como Deleuze mesmo disse, a sua passagem
para a poltica.
Se tambm em relao a Marx, a citada aproximao entre o conceito de
desejo, tal como concebem Deleuze e Guattari, e o conceito marxista de produo
(e mesmo de trabalho vivo como a plenitude da produo), poderia sofrer algum
tipo de objeo que chamaria a ateno para ao fato de que a produo em Marx
no tem exatamente este sentido. Destacamos que o que nos interessa para seguir
a reexo aqui proposta compreender o sentido que se constri desta aproxima-
o. Em outras palavras: existe uma criao losca uma criao de sentido
nesta aproximao.
Assim, se dissemos h pouco que o que existe o desejo e o social, que
o campo social para Deleuze e Guattari imediatamente percorrido pelo desejo,
sendo, portanto, produo historicamente determinada (DELEUZE e GUAT-
TARI, 1972, p. 35-36), precisamos nos concentrar sobre o que a origem do
socius para os nosso autores. Eles armam diversas vezes que recusam os pos-
tulados subjacentes s concepes de troca (changistes) da sociedade (ibi-
dem, p. 166). Esto armando ento que a sociedade no em primeiro lugar
um meio de troca onde o essencial seria a circulao: circular e fazer circular.
Antes, a origem do socius est num movimento de marcar os corpos: inscrev-los,
registr-los. Neste momento, a economia poltica de Deleuze e Guattari torna-se
notavelmente nietzschiana, e o livro que a fundamenta, e que no para de ser
citado no Anti-dipo, sobretudo no captulo intitulado Selvagens, Brbaros e
Civilizados, a Genealogia da Moral. Os autores declaram explicitamente que
especialmente na segunda dissertao desta obra de Nietzsche o problema do so-
cius primitivo foi colocado de maneira que jamais fora to aguda (DELEUZE e
GUATTARI, 1972, p. 225).
curioso, mas Nietzsche parece para os autores mais eciente que Marx
para realizar e fundamentar uma operao central do projeto, do pensamento e da
ao poltica do prprio Marx. Ao criticar os pressupostos subjacentes que tomam
163 Rodrigo Guron
a origem do socius como sendo essencialmente a troca, Deleuze e Guattari nos
lembram a tradicional crtica marxista, que Guy Debord, por exemplo, insistia em
frisar no seu Sociedade do Espetculo, qual seja, a de que quando a mercadoria
domina a vida social, a economia domina todo o discurso poltico. Esta parte da
prpria operao do Capital de estar sempre descodicando os uxos, e antes
uma particularidade do capitalismo como mquina social em relao a todas as
outras como veremos. Ou seja, num certo sentido no seio desta operao desco-
dicadora (destruidora dos cdigos) do Capital que se produz este discurso de que
na origem do socius est a troca. Mas antes, as mquinas sociais pr-capitalistas
so para Deleuze e Guattari inerentes ao desejo: Elas codicam o desejo, isto ,
codicam os uxos do desejo. Este seria o negcio do socius:
(...) Mas verdade que as mquinas sociais prcapitalistas so inerentes ao
desejo num sentido muito preciso: elas os codicam, elas codicam os uxos do
desejo. Codicar o desejo e o medo, a angstia dos uxos descodicados ,
este o negcio do socius. O capitalismo a nica mquina social, ns o vere-
mos, que construda como tal sobre os uxos descodicados (no codicados),
substituindo os cdigos intrnsecos por uma axiomtica de quantidades abstra-
tas em forma de moeda (DELEUZE E GUATTARI, 1972, p. 163).
Esta codicao constituda exatamente das marcas sobre os corpos, as
dores, os sofrimentos e mesmo tambm os prazeres, as compensaes devidamen-
te codicadas de que nos fala Nietzsche na Genealogia da Moral. A isto Deleuze
e Guattari chamam repetidamente de registro, inscrio: inscries sobre os
corpos e inscries sobre a terra. A origem do socius a prpria inveno da lei
identicada com a origem da linguagem, da conscincia e da memria, na medida
em que cada uma destas se d como uma codicao de afetos: uma codicao
do que se produz do corpo e para o corpo. Eis a os primeiros critrios de equi-
valncia de que nos fala Nietzsche: a origem da produo do valor que est no
estabelecimento de uma equivalncia entre um grito som emitido pelo animal
homem e determinado objeto (NIETZSCHE, 1974, p. 55). Uma determinada
vibrao do corpo passa a equivaler ento a uma imagem/objeto, e esta a prpria
origem da palavra; e portanto tambm uma marca sobre a terra: a terra como
corpo pleno da produo, como dizem Deleuze e Guattari.
Mas estes critrios de equivalncia se instalam como inscries nos cor-
pos, sobretudo quando se comea a atribuir castigos para determinados atos, puni-
es para cada uma das infraes possveis, e mesmo esquemas de compensao
para a renncia que o homem deve fazer do que Nietzsche chama de instintos,
164 FILOSOFIA POLTICA DE DELEUZE E GUATTARI: AS RELAES COM MARX
ou, em termos usados por Deleuze e Guattari, compensao por no se entregar
a um uxo sem cdigo. De fato, mesmo numa direo aparentemente contrria
a dos castigos e punies tambm se estabelece uma lgica de equivalncias que
se inscrevem no corpo, isto , as alegrias, os prazeres, as boas venturas da vida
seriam uma compensao por algum tipo de obedincia, de boa conduta, de res-
peito a uma lei. como se no pudesse haver nenhum tipo de gratuidade e de
imprevisibilidade nos afetos, isto , todos os afetos deveriam estar justicados
numa articulao entre causa e efeito. a que Nietzsche diz que o homem vai se
constituindo como um animal que faz promessas e por isso imediatamente vai se
constituindo uma memria e um passado. A vida torna-se-ia assim sensorialmente
esquematizada, disciplinada, na medida em que todos estes critrios de equivaln-
cia nos colocariam amarrados a uma ordem historial de causalidade.
A economia poltica seria antes uma economia de afetos, numa compre-
enso que fundamenta a opinio de Deleuze e Guattari de que no h circulao,
no h troca a priori, ao contrrio, a circulao, a troca, s podem acontecer se a
inscrio o permite. De fato, este processo chamado por Nietzsche de mnemotc-
nica nos instala originariamente numa situao de dvida e de culpa (em alemo
os termos so sinnimos: Shuld). A dvida ao mesmo tempo efeito imediato e o
meio da inscrio (DELEUZE E GUATTARI, 1972, p. 225). A dvida no ento
uma consequncia da troca, mas precede o prprio processo de troca.
Neste sentido podemos dizer que a economia se funda a partir de uma
operao de poder expressa na equao dano causado igual dor a suportar
ou, dano = dor. Por isso todo o desviante social um mau devedor um mau
pagador , exatamente porque no teve o seu corpo devidamente marcado; em
outros termos: talvez algum que teve potncia suciente para escapar ao proces-
so da mnemotcnica.
Voltamos aqui a nos aproximar de Marx. Primeiro porque este mau de-
vedor potencialmente a possibilidade de ruptura no socius. Ruptura esta que, se
pensada para alm de um simples processo de individuao, ganha de fato a am-
plitude de uma ruptura social que se d como uma contra-fora a um determinado
poder constitudo enquanto codicao. Ou seja, ela se d como um fracasso e
uma recusa de determinado sistema de inscrio, e a se produz, ou pelo menos
se demanda, uma reestruturao do socius. A ruptura assim a instaurao de um
processo produtivo de um processo ativo do desejo que ao mesmo tempo
resistncia e alternativa a uma organizao produtiva constituda ou, em termos
deleuzianos-guattarianos, a um sistema de codicao dos uxos do desejo.
verdade que para Deleuze e Guattari o que se produz a uma linha de fuga,
165 Rodrigo Guron
enquanto para Marx trata-se da ruptura de classes, o que no a mesma coisa.
Deleuze vai dizer, por exemplo, que se entende muito mais uma sociedade pelas
suas linhas de fuga do que pelas suas contradies (DELEUZE, 2008, p. 212).
Mas veremos logo adiante, ao falar das relaes entre a noo de histria univer-
sal e capitalismo, que os dois autores franceses concordam com Marx em relao
existncia de uma luta de classes quando se v uma classe sempre num papel
negativo daquilo que em sociedades pr-capitalistas seria difcel de determinar
como classe, mesmo sendo evidentes estruturas de poder.
verdade tambm que este movimento produtivo que se constitui como
ruptura pode se constituir mais adiante como uma nova codicao do desejo, isto
, um novo sistema de controle da produo. Deleuze e Guattari j estavam prxi-
mos de Marx quando colocavam a prpria questo da dvida na origem do socius,
a partir de Nietzsche. A eccia da dvida como uma operao de poder signica
a eccia em produzir socialmente a experincia da falta. Marx colocado junto
a Nietzsche aqui para ser um aliado de Deleuze e Guattari em uma das crticas
centrais feitas a Freud e psicanlise, qual seja, uma crtica compreenso da
existncia de uma falta originaria que constituiria essencialmente o desejo. Nos
termos de Deleuze e Guattari:
Como diz Marx, no h falta, o que h paixo como ser objeto natural e
sensvel(...) o desejo est sempre prximo das condies de existncia objetiva,
une-se a elas, segue-as, no lhes sobrevive, desloca-se com elas, razo pela qual
ele , to facilmente, desejo de morrer. (...) No o desejo que exprime uma falta
molar no sujeito; a organizao molar que destitui o desejo de seu ser objetivo
(DELEUZE e GUATTARI, 1972, p. 34, 35).
Para Deleuze e Guattari o desejo no se move graas a uma falta que
supostamente o constituiria. Ao contrrio, a falta uma produo que existe abso-
lutamente a posteriori. E neste ponto em particular a sociedade capitalista e as
sociedades que a antecedem no parecem ter, para Deleuze e Guattari, como tam-
bm para Marx, a diferena fundamental que tm em outros aspectos. A produo
do sentimento da dvida e da falta seriam sempre uma operao primeira e central
do poder; em outras palavras: a falta seria sempre socialmente produzida.
verdade que o dinheiro um instrumento hiper intensicador deste
processo, tanto que os autores vo dizer o que talvez no seja muito marxista ,
que o dinheiro no surge em funo do comrcio, mas em funo dos impostos.
Ele exerce ento a funo de estabelecer em boa parte do corpo social uma sensa-
o permanente de endividamento.
166 FILOSOFIA POLTICA DE DELEUZE E GUATTARI: AS RELAES COM MARX
a arte de uma classe dominante, a pratica do vazio como uma economia de
mercado: organizar a falta na abundncia da produo, despejar todo o desejo
no grande medo da falta, faz-lo depender do objeto de uma produo real
que se supe exterior ao desejo (as exigncias da racionalidade), enquanto a
produo do desejo vinculada ao fantasma. (DELEUZE E GUATTARI, 1972,
p. 35 e 36)
verdade que esta citao se refere explicitamente sociedade capita-
lista na especicidade da sua economia de mercado, mas num certo aspecto o
capitalismo a sosticao e a radicalizao dos meios de produzir o sentimento
social da dvida e da falta. Contudo, se uma dvida nita fosse decisiva para a
constituio do socius, sendo a prpria consequncia do processo de inscrio e
registro por ele gerado, a dvida ter-se-ia tornado innita e transcendente com a
instalao do Estado identicado com o Dspota, e teria se transformado numa
dvida innita imanente com o capitalismo. Nietzsche est mais uma vez presente
neste raciocnio, no s por esta espcie de processo de eternizao e transcen-
dentalizao da dvida por ele descrita, mas tambm pela interiorizao desta ao
longo do cristianismo. famosa a passagem onde Nietzsche arma que o cristo
moderado mais perigoso que o cristo extremista, posto que naquele a culpa j
est denitivamente interiorizada. Alm disso, mais essa apropriao, mas esse
aspecto do original nietzschianismo de Deleuze e Guattari, mostrando o quanto o
cristianismo decisivo para a constituio do capitalismo.
Devemos examinar ento o que esta produo do fantasma, concei-
to que mais uma vez nos remete a Marx (e tambm de certa forma a Plato). O
fantasma uma espcie de agente objetivo da falta, que age exatamente medida
que despeja o desejo no medo da falta; que na sua forma mais radical o medo da
morte. Mas para Deleuze e Guattari a falta vem a posteriori, posto que antes o pr-
prio desejo produz o que vai ser chamado de necessidade. A experincia da falta
se d ento a partir das condies objetivas da realidade: realidade produzida pelo
desejo. esta realidade produzida que, em determinado momento, acaba por des-
tituir o desejo de seu ser objetivo. neste momento que um homem pode se tornar
um agente do contra desejo, tornando-se servil a algo que foi criado no corao
do processo social do desejo, mas que agora se lhe congura, fantasmagorica-
mente, como externo. O desejo vira ento o contra desejo a antiproduo num
processo que nas suas formas extremas se aproxima das descries nietzschianas
do niilismo ativo como, por exemplo, nos processos moleculares de mobilizao
violenta das massas no fascismo. Por isso a pergunta correta a fazer sobre o fas-
cismo era, para Deleuze e Guattari, no a de saber como que as massas teriam se
167 Rodrigo Guron
alienado e se enganado com ele, mas o que as fez desejar o fascismo, como bem
colocou Wilhelm Reich; mesmo que ele no tenha encontrado a melhor resposta
(DELEUZE E GUATTARI, 1972, p. 37). Ou ainda, como colocou Espinosa, o
que faz com que os homens combatam pela sua servido como se tratasse de sua
salvao (ESPINOSA, 2003, p. 8).
O fantasma pode ser o dspota, o pai, mas, aprendemos com Marx que no
capitalismo o fantasma especialmente a prpria mercadoria o carter fantas-
magrico da mercadoria o que dado de antemo que o desejo tem que esco-
lher, ou seja, a antiescolha do desejo: a sua passividade e o seu esvaziamento que
se aprofunda ainda mais numa impotncia que naturalizada pela impossibili-
dade de ter tal objeto. A propsito, numa das explicaes do seu marxismo, De-
leuze diz achar fundamental a maneira como Marx criticou o modo como o capi-
talismo remete e reduz toda a avaliao e produo de valor forma-mercadoria.
Deleuze e Guattari esto mais uma vez de acordo com Marx quando ar-
mam que a produo do fantasma acontece de forma imanente produo social,
isto , parte fundamental da prpria constituio de um determinado sistema
produtivo. Neste sentido o real se constitui, mais uma vez de acordo com Marx,
ao mesmo tempo e num mesmo movimento, tanto de suas formas ditas racionais
quanto irracionais. No h qualquer estrutura psquica entre o plano dito racional
da realidade e um suposto outro plano cheio de fantasmas formado no seio desta
estrutura. Antes, de se supor que pensar assim j parte da prpria produo do
fantasma.
Ao anunciar o sentimento da falta como um de seus universais, ao dar
a ele o carter de uma espcie de transcendental do desejo, a psicanlise estaria
sendo, ela mesma, um agente do processo social singular ao capital de produzir
a sua maneira o sentimento social da falta. Num certo sentido, seria como se a
psicanlise empurrasse os sujeitos para esta experincia da falta que , a maneira
do vocabulrio marxista, naturalizada. Deleuze e Guattari armam que o pr-
prio sujeito que se forma a partir desta falta, e aqui parecem se referir ao sujeito
moderno: ao mesmo tempo fechado e universalizado. Neste sentido a pr-
pria falta neste caso o que falta que remetida como exterior do desejo,
exatamente porque mostrada como parte de uma suposta constituio essencial
deste, no lugar de ser compreendida como a sua produo. E produo aqui como
Deleuze, Guattari e Marx a compreendem, isto , o que se constitui socialmente
e como socius. Noutros termos, os autores esto nos dizendo que o que aciona a
produo do desejo no a falta posto que o desejo absolutamente positivado,
pleno, e a sua realidade mesmo, o sua existncia, a da produo.
168 FILOSOFIA POLTICA DE DELEUZE E GUATTARI: AS RELAES COM MARX
O desejo no sente falta de um objeto e por isso o deseja; o desejo a
mquina produtora de objetos, isto , de realidade. Na verdade, a prpria realidade
produzida como mquina produtora, por isso o desejo e seu objeto constituem
uma mesma coisa: a mquina, e a mquina de mquinas, ou seja, a produo e
a produo de produo. Neste sentido a psicanlise politicamente combatida
pelos autores franceses no esprito do anticapitalismo sessenteioitista, uma vez
que parece a eles como forma de codicao burguesa do desejo; ou, nos termos
da citao, parte do processo da produo do fantasma que constitui a prpria
organizao produtiva do capital.
Deleuze e Guattari chegam a recorrer aqui ao mesmo vocabulrio que
Marx usava para criticar Hegel, chamando esta equivocada concepo do desejo
de idealista. E ela seria assim idealista exatamente porque insiste em colocar o
desejo do lado da aquisio, e no da produo. A vemos um dos aspectos cen-
trais da crtica de Marx ao capitalismo, qual seja, aquela que nos chama a ateno
para as implicaes negativas, para a dimenso de enfraquecimento, sujeio e
despotencializao do ser, que advm deste mecanismo que aliena o homem do
processo de produo de bens do qual ele mesmo faz parte, gerando tambm o que
Marx chamava de estranhamento (MARX, 2010, p. 80) em relao aos prprios
bens produzidos.
verdade que se pode apontar algo de datado na crtica que Deleuze e
Guattari fazem psicanlise, inclusive porque esta j se deixou atravessar pe-
las reexes dos dois autores e no ca, por exemplo, todo tempo remetendo o
processo psicanaltico famlia. Mas a atualidade ou no desta questo deve ser
avaliada, medida que o pensamento psicanaltico, como pensamento poltico e
social, continue reivindicando ou no, movimentos de controle e codicao dos
uxos. Com diculdade de entender a esquizofrenia que est na origem do capita-
lismo e suas operaes de captura, h um pensamento conservador, em particular
na psicanlise brasileira atual, que comea seus equvocos exatamente porque
critica o capitalismo como se este fosse apenas um movimento de liberao dos
uxos, movimento que compreendido basicamente como um problema moral.
verdade que Deleuze e Guattari no param de apontar a necessidade que o capital
tem de mobilizar produtivamente o desejo, ou de ir ali onde o desejo se mobili-
za, mas o fazem denunciando o capital com uma notvel mquina de captura do
desejo na medida mesmo que dilui tudo na forma mercadoria e na forma moeda.
Ao contrrio do que se tem colocado, no entanto, o problema do capita-
lismo no o excesso de liberdade nem o excesso de desejo, nem mesmo o exces-
so de um suposto culto ao corpo e a sensao. A questo so as capturas no s do
169 Rodrigo Guron
que o capital chama de liberdade, de beleza, do que seriam as possibilidades do
corpo, mas, sobretudo, como o capitalismo tenta impor limites e reverter os uxos
que ele mesmo no para de liberar. Reverso esta que opera predominantemente
por uma criao de uma srie de axiomticas que quanticam estes uxos, mas
que tambm pode acontecer por um violento processo de sobrecodicao destes.
Em ambos os casos o Estado tem uma funo decisiva, e inclusive por isso que
Deleuze e Guattari vo dizer em Mil Plats que o capital perpassa o Estado, mas
no passa sem o Estado (DELEUZE E GUATTARI, 2002, p. 153).
O resultado deste processo se nota em corpos e desejos parcialmente pa-
ralisados e/ou capturados diante das escolhas prontas, de subjetividades fechadas,
que so oferecidas nas prateleiras do mercado. Trata-se da ltima estao do
percurso, na contramo da liberdade, da liberal Vontade Livre kantiana. Deleuze
nos chamava a ateno para o fato do capital est sempre nos instigando a denir
fechadamente nossa subjetividade, ou seja, sempre nos chamando a dizer quem
somos, a denir estilos, a ter uma senha, a pertencer a tal grupo, a dizer publica-
mente, quase como que numa espcie de consso: eu sou assim.
Alm disso, o problema da sociedade contempornea no pode ser ca-
racterizado como uma crise da funo do pai, ou sosticada maneira com a qual
alguns psicanalistas fazem coro a ladainha quase religiosa (quando no literal-
mente religiosa) sobre a decadncia de valores da famlia. Evidentemente seria
um tanto impotente e bastante no deleuziano cair no discurso que atribui todo
e qualquer acontecimento histrico a uma operao do capitalismo como poder
constitudo. A suposta crise de valores da famlia tradicional, onde ela existe ou
quando ela existe e/ou existiu, foi antes e em primeiro lugar um resultado da resis-
tncia: uma resistncia que existe antes de qualquer programa poltico. O desejo
como potncia logrou escapar famlia tradicional no seu perverso esquema de
codicao. Onde houve ou h essa crise, o que temos em primeiro lugar uma
conquista social e, de certa forma, uma reorganizao produtiva. Mas evidente
que este processo no escapa s maquinas de captura do capital, ou seja, o capita-
lismo refaz suas contas e coloca, pelo menos em parte, tambm estes movimentos
e reestruturaes para alimentar a sua mquina. Neste sentido, Deleuze e Guattari
nos mostram como os desarranjos, as falhas da mquina, constituem, em especial
no capitalismo, parte fundamental do seu funcionamento. Eles dizem ainda em
1973, data do Anti-dipo, que j no existem mais socialistas que acham que
as contradies do capitalismo iro lev-lo a sua destruio; ao contrrio, estas
contradies so fundamentais para o funcionamento do mecanismo capitalista.
170 FILOSOFIA POLTICA DE DELEUZE E GUATTARI: AS RELAES COM MARX
Nunca uma discordncia ou um disfuncionamento anunciaram a morte de uma
mquina social, ao contrrio, esta se alimenta habitualmente das contradies
que provoca, das crises que suscita (...) o capitalismo aprendeu isso e deixou de
duvidar de si, e at os socialistas deixaram de duvidar de sua morte por natu-
ral desgaste. As contradies nunca mataram ningum. E quanto mais isso se
desarranja, quanto mais isso esquizofreniza, melhor isso funciona, americana
(DELEUZE E GUATTARI, 1972, p.178).
De fato, no se para de lamentar a derrocada dos valores da famlia por
todo lado, do psicanalista catlico patriarcal nostlgico ao cineasta que desanda a
fazer lmes teses e teses ruins com meninos pobres indo atrs da famlia per-
dida, papai ou mame, nova receita milagrosa para resolver os problemas sociais
brasileiros. Com variaes de estilo, esta ladainha vai se repetindo do cardeal e
do pastor, ao apresentador de programas policiais vespertinos, da celebridade do
momento a um candidato qualquer a um cargo eletivo. No s o desarranjo o
suposto fracasso parte do discurso que no para de clamar pelo seu retorno,
como tambm o capitalismo no para de fazer suas famlias modelos estrelarem
os comerciais de margarina. Mesmo que, por exemplo, o nicho de mercado gay
movimente anualmente a economia de So Paulo com as centenas de milhares
de participantes da parada, a esquizofrenia do capital cuidar de produzir casais
homoafetivos mais parecidos com os do comercial de margarina do que qualquer
ncleo familiar modelo, de alguma pequena burguesia, jamais conseguiu ser.
Estamos ento diante da diferena entre o socius primitivo e o capitalis-
mo. O primeiro sempre, como vimos, uma operao de codicao dos uxos.
No capitalismo, ao contrrio, os uxos so diludos, descodicados: este o seu
carter esquizo. Mas esta liberao de uxos (uxos do desejo) precisa ser sempre
revertida numa axiomtica ou, eventualmente, numa violenta sobrecodicao.
O capitalismo libera ento o uxo do desejo, mas em condies sociais que de-
nem seu limite e a possibilidade de sua prpria dissoluo, to bem que ele no
para de contrariar com todas as suas foras exasperadas o movimento que ele
empurra at este limite (DELEUZE E GUATTARI, 1972, p.163).
No toa, dizem Deleuze e Guattari, que no capitalismo que nasce
a noo de histria universal, esta de certa forma parte da prpria descodi-
cao, a destruio dos cdigos, tpica do socius capitalista. Neste caso esta
descodicao se expressa na suposio que toda a produo histrica existiu
como preparao da sociedade capitalista, ou seja, a anulao de toda produo de
singularidade, de todo o processo de diferenciao histrica, no telos dos ltimos
171 Rodrigo Guron
dois sculos e meio do Ocidente. Deleuze a Guattari, no entanto, nos chamam a
ateno para o fato de podemos usar a noo de histria universal se seguirmos as
recomendaes de Marx, a saber, se a criticarmos desde dentro. Trata-se de com-
preender a histria universal exatamente para ver o que lhe escapa: as rupturas,
os limites, os devires, as singularidade que no se deixam assimilar pelo telos que
reduz qualitativamente a histria como uma moeda. Mesmo a noo de classe,
quando usada para toda a histria, deve ser feita deste modo. o que j havamos
dito h pouco: a classe sempre como um negativo, mesmo quando estamos diante
de um fenmeno social que no podemos chamar exatamente de classe, como
as castas por exemplo.
Tambm como j dissemos, o negativo neste caso libera para Deleuze e
Guattari uma linha de fuga, o que, insistimos, uma formulao distinta de Marx.
Aqui, se o tempo nos permitisse, poderamos falar sobre a dimenso produtiva
do que os autores vo chamar de minoria: a minoria como o cada um de todo
mundo que se ope a uma maioria: se ope a uma codicao constituda que
se instala exatamente na medida em que funciona como um agente esvaziador de
toda diferena.
Mas precisamos encerrar, por ora, a nossa reexo, que termina como
uma inevitvel sensao de incompletude diante da imensido que adquire este
tema: Deleuze, Guattari e a Poltica, mesmo que o delimitemos s relaes com
Marx. Por isso s podemos, neste momento, citar alguns pontos sobre os quais
no poderemos tratar, e apenas alguns. Ficou por ser examinado, por exemplo, o
que Deleuze e Guattari armam logo no incio de Mquinas Desejantes, quan-
do, ao descrever o esquizo, falam da prpria natureza como processo de produo
e citam Marx para dizer que as distines natureza-indstria, homem-natureza, ou
ainda, sociedade-natureza so criaes de um determinado processo produtivo e
que condicionam a prpria diviso produo, distribuio e consumo (DELEU-
ZE E GUATTARI, 1972, p. 9). Trata-se de uma evidente referncia fala de Marx
dos Manuscritos Econmicos e Filoscos (MARX, 1974), armando que a
distribuio e o consumo constituem a produo, e que o isolamento destas etapas
da produo uma operao do Capital. Mas, sobretudo, quando falamos do cor-
po pleno da Terra, a unidade primeira da produo, que sofre a inscrio que
est na origem do socius origem tambm da economia cou de fora o conceito
que, exatamente pela sua importncia, foi o grande ausente desta explanao, qual
seja, o conceito de corpo sem rgos e a relao com o materialismo reexaminado
e reinventado por Deleuze e Guattari.
172 FILOSOFIA POLTICA DE DELEUZE E GUATTARI: AS RELAES COM MARX
Rearmamos ento o que dissemos no incio deste texto, que Gilles De-
leuze e Flix Guattari recolocam a losoa, e em especial a losoa poltica,
diante das questes que Marx enfrentou, mesmo que nem sempre tenham sido
encontradas respostas tradicionalmente marxistas. Mas, para Deleuze e Guattari,
como para ns, uma anlise crtica do capitalismo a funo primordial da Filo-
soa: o nico modo de se fazer Filosoa Poltica.
Referncias
DELEUZE, Gilles. Conversaes. So Paulo: Editora 34, 2008.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Flix. LAntidipe, capitalisme et schizophrnie.
Paris: Ls Editions de Minuit, 1972.
______ Mil Plats, capitalismo e esquizofrenia. So Paulo: Editora. 34, 2002.
ESPINOSA, Baruch. Tratado Teolgico Poltico. So Paulo: Martins Fontes, 2003.
FOUCAULT, Michel. Microfsica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1989.
GASTALDI, Juan Luis. La politique avant ltre. Deleuze, ontologie e politique. In:
Cits 40: Deleuze Politique. Paris: PUF, 2009.
MARX, Karl. Manuscritos Econmicos e Filoscos. In: Os Pensadores. Marx. So
Paulo: Abril Cultural, 1974.
MARX, Karl. Manuscritos Econmicos e Filoscos. So Paulo: Boitempo Editorial,
2010.
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da Moral. So Paulo: Companhia das Letras,
2004.
Rodrigo Guron professor adjunto do Instituto de Arte da UERJ. Doutor em Fi-
losoa pela UERJ (Esttica e Filosoa da Arte), mestre e bacharel em Filosoa pela UFRJ.
Membro do Grupo de Pesquisa Pensamento e Experincia do CNPQ e do GT Pensamento
Contemporneo da ANPOF. Recentemente teve aprovado pelo edital de apoio a publicao da
Faperj o seu livro Da Imagem ao Clich, do Clich Imagem. Deleuze, Cinema e Pensamen-
to que sair pela Editora Nau. Diretor e roteirista de cinema e vdeo, dirigiu, entre outros, os
curtametragens Clandestinidade e Eu Estou Bem cada vez Melhor.