Os Indios Entre A Antropologia e A Historia - A Obra de John Manuel Monteiro PDF
Os Indios Entre A Antropologia e A Historia - A Obra de John Manuel Monteiro PDF
Os Indios Entre A Antropologia e A Historia - A Obra de John Manuel Monteiro PDF
Cristina Pompa
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Essa potente expresso foi usada por John Monteiro em vrias ocasies.
BIB, So Paulo, n 74, 2 semestre de 2012 (publicada em julho de 2014), pp. 61-79.
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Portuguese Colonization in the Tropics: Afonso de Albuquerques Marriage Plan in Goa. As informaes mais
relevantes relativas ao perodo americano foram extradas do memorial apresentado em 2009 para o concurso de
professor titular no departamento de Antropologia da Unicamp. O memorial ajudou tambm a pensar a trajetria
cientca de John Monteiro seguindo seu prprio desenho, quase em dilogo com ele. Agradeo imensamente
generosidade de Maria Helena P. T. Machado em disponibilizar o memorial para a redao deste artigo.
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de conceitos e teorias, sem por isso contentar-se de apontar para realidades aparentemente
autoevidentes. Ao contrrio, esses fatos, no
descobertos, mas construdos mediante seguros instrumentos de investigao, tornavam-se poderosas corroboraes empricas de
uma nova abordagem, teoricamente forte
porque leitora crtica das elaboraes historiogrcas, elas prprias tomadas como fontes e
articuladas a novos e inusitados documentos,
como no caso de sua originalssima releitura
da narrativa nacional e regional a respeito do
bandeirantismo, um dos temas de sua pesquisa. Foi esse mesmo rigor, fruto de sua vocao,
que, ao desvendar o papel dos povos indgenas
na histria do Brasil, acabou determinando o
rumo de sua prosso de antroplogo, assim
como da prpria maneira de fazer pesquisa
sobre mundo indgena no Brasil.
A forma pela qual John Monteiro incorporou os instrumentos da antropologia na
investigao histrica no seguiu o fascnio
da micro-histria e histria cultural, que desde as dcadas de 1980 e 1990 animavam no
Brasil o debate terico a respeito da histria
colonial. A aproximao de John antropologia se deu a partir de outras vertentes, mais
consolidadas na tradio e no debate norte-americano. o caso da aproximao entre
etnologia, arqueologia e histria; o caso da
etno-histria, cuja produo se organizava
em volta da revista Ethnohistory desde a dcada de 1970; , nalmente, o caso da histria e da historiograa da Amrica espanhola,
na qual a questo indgena se confunde com
a prpria questo nacional.
O risco de se perder nas mincias da micro-histria, paralelo historiogrco de certas idiossincrasias etnogrcas,
est claramente presente em sua resenha dos primeiros dois volumes da Histria da Vida Privada no Brasil. Apesar
de saudar a empreitada, a anlise no deixa de apontar para o corte sincrnico que ameaa perder de vista a relao entre vida cultural, etnogracamente descrita, e os movimentos gerais da histria da Amrica portuguesa,
assim como corre o risco de uso do exemplo singular para tecer um comentrio generalizado sobre a sociedade
(Monteiro, 1998, p. 210 e 212).
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A aproximao de John Monteiro antropologia, ou, melhor dizendo, a aproximao entre antropologia e histria realizada
em seu trabalho, deu-se menos por sugestes
tericas mais ou menos na moda do que pela
prpria natureza do objeto e pelo rigor do
percurso analtico na abordagem das fontes.
A tese em Histria Econmica, defendida
em 1985 na University of Chicago5, encontra-se na base de seu trabalho mais conhecido, Negros da terra (1994). Inicialmente
proposta como um estudo da estrutura da
economia colonial em So Paulo, tema caro
historiograa nacional, a pesquisa acabou
apontando para um campo de investigao
to fecundo quanto desconhecido at ento,
porque ocultado pelo mito regional do bandeirantismo, revelando dinmicas de interao e negociao poltica e econmica entre
atores sociais em luta pelo controle da mo
de obra indgena.
A descoberta da centralidade da captura e da escravizao dos ndios na formao
da economia paulista, a partir da anlise de
fontes at ento pouco ou nada exploradas
(como os inventrios e testamentos, ou os registros de batizados e bitos) ou de um novo
olhar sobre fontes mais conhecidas (como
a correspondncia jesutica, os documentos
dos arquivos portugueses ou das Cmaras
Municipais), levou tese revisionista do
paradigma da colonizao em So Paulo. Por
um lado, o trabalho colocava em cheque a
grande narrativa do bandeirantismo como
forma de povoamento do interior, evidenciando o processo oposto: o desastre demogrco provocado pela retirada de milhares
de ndios e pelas epidemias introduzidas pelos brancos. Por outro lado, Negros da terra
mostrava que as expedies de apresamento
no estavam voltadas para o abastecimen-
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Muitas foram as dissertaes e teses orientadas por John Monteiro, algumas das quais premiadas, compondo
aquilo que John chamava carinhosamente de linhagem. Aqui, lembro apenas alguns dos trabalhos transformados em livros, reconhecendo, no entanto, a relevncia daqueles que, por razes diferentes, ainda no foram
publicados: Metamorfoses indgenas, de Regina Celestino de Almeida (2003), Religio como traduo, de Cristina
Pompa (2003), Civilizao e revolta, de Izabel Missagia de Mattos (2004); Poltica da identidade, de Sidnei C.
Peres (2013); Vilas de ndios no Cear Grande, de Isabelle B. Peixoto da Silva (2005); O vapor e o botoque, de Luisa
Tombini Wittmann (2007),
e nas parquias, tornava-se central na elaborao dos laudos antropolgicos que davam
fundamento jurdico a tais demandas. Por
outro lado, a pesquisa em histria oral mostrava que a memria dos nativos (ou daqueles que estavam redescobrindo-se nativos)
construa formas prprias, regimes peculiares de historicidade.
Nesse momento poltico e nessa altura
do debate acadmico, a pesquisa de histria
indgena de John Monteiro encontrou seu
lugar. A reexo a respeito das transformaes nas modalidades de escravido no quadro da economia paulista dos seiscentos deu
lugar ao estudo da histria indgena, vista
principalmente como o aporte historiogrco questo indgena. Se a documentao
indita encontrada nos arquivos e cartrios
paulistas revelava cada vez mais o papel dos
povos indgenas na formao da colnia,
sugeria tambm uma perspectiva de aprofundamento do campo que comeava a se
chamar, ao arrepio da tradio historiogrca herdeira de Von Martius e Varnhagen, de
histria indgena.
Assim, pela prpria natureza do objeto,
mas tambm pelas inquietaes intelectuais
suscitadas por acontecimentos contemporneos, houve uma aproximao s pesquisas
antropolgicas ligadas vertente da etno-histria, como as de Robin Wright, tambm
atuante no Brasil mas de formao americana,
animador, com Jonathan Hill, da revista Ethnohistory. Entre o nal da dcada de
1980 e a metade da de 1990, John Monteiro
e Robin Wright coordenaram vrias reunies
do grupo de trabalho da Anpocs dedicado
histria indgena. Pertence a esse perodo
Essa crtica foi desenvolvida sucessivamente, encontrando sua expresso mais acabada no artigo Entre o etnocdio
e a etnognese, da tese de livre-docncia do autor: ...os Tupinamb de Florestan s sobreviveriam ao impacto
da conquista atravs da migrao, como haviam feito os grupos egressos de Pernambuco que teriam reconstitudo
a coeso tribal em lugares distantes da presena europeia. Nesse sentido, davam as costas histria para no ser
vtima dela (Monteiro, 2001a, p. 55).
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mentos portugueses, sucessivamente transformado em artigo para uma coletnea organizada por Jill Dias, promotora do evento
(Monteiro, 1991b).
Essa histria, que via os ndios agirem
dentro dela na medida em que a construam,
estava se colocando prepotentemente no
cerne das preocupaes tericas e das pesquisas empricas de antroplogos engajados no apoio ao movimento indgena e na
reivindicao de seus direitos de cidadania,
movimento e direitos que, alm dos fruns
polticos de debate, ocupavam espaos acadmicos, nos GTs da Anpocs e da ABA. O
quadro do processo de democratizao, alm
de cenrio da militncia que levava a pensar
os ndios como sujeitos, e no simplesmente
como objetos de pesquisa ou benecirios de
polticas de Estado, era tambm uma ocasio
para repensar a tradio etnolgica nacional,
marcada pela sincronia do olhar estruturalista. Com efeito, a releitura do estruturalismo
luz do processo histrico e poltico, trazida
por novos expoentes do culturalismo americano, como Sahlins e Rosaldo, ou a reexo
sobre a relao dinmica entre mito e histria,
de etno-historiadores como Jonathan Hill,
abria novas perspectivas tericas e de pesquisa, trazendo para o centro do palco da poltica
e da histria a maneira indgena de faz-las,
em seus prprios termos, para citar uma
frase famosa de Manuela Carneiro da Cunha.
Justamente, o grupo que se juntava em
torno da Manuela Carneiro da Cunha acolheu John em seu debate e se abriu s suas
sugestes, inaugurando novos rumos na maneira de fazer antropologia e histria indgena. De um lado, esse dilogo enriqueceu
enormemente a etnologia brasileira que tinha constitudo frequentemente, at ento,
uma espcie de espelho do discurso historiogrco do ndio sem histria. A dimenso
da histria como perspectiva metodolgica
ultrapassava assim as limitaes dos antece-
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o mesmo nome. Nessa linha, institucionalizou-se, na USP, o Ncleo de Histria Indgena e do Indigenismo, ativo at hoje, que
por sua vez, com a ajuda da Fapesp, daria
origem aos trabalhos mais relevantes da dcada de 1990, referncias at hoje a respeito
da histria indgena: a coletnea Histria dos
ndios no Brasil (1992) e o Guia de fontes para
a histria indgena e do indigenismo (1994).
Da primeira coletnea, organizada pela
prpria Manuela, John Monteiro participou
com um texto marcante sobre a etno-histria
guarani: Os guarani e a histria do Brasil
meridional, sculos XVI-XVII, que trazia
questes incmodas para o to inesgotvel
quanto complexo campo dos estudos guarani, como no caso da projeo etnogrca
que, por exemplo, deixa de atribuir centralidade guerra entre os guarani histricos,
a partir da ideia contempornea da centralidade da religio. Outra questo importante
apontada pelo artigo foi a da demograa, a
partir da qual o artigo tecia uma crtica severa da fragilidade dos pressupostos histricos
das teorias clastrianas.
A questo demogrca, alis, foi um
tema caro ao autor, que a enfrentou em diversos momento de sua trajetria, sempre
repensando e acrescentando novas fontes e
novas reexes sobre os dados da pesquisa
que deu origem a Negros da terra. Lembramos aqui Os escravos ndios de So Paulo
no sculo 17: Alguns aspectos demogrcos, de 1989, e A dana dos nmeros: a
populao indgena do Brasil desde 1500,
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de 1994. O tema, indissoluvelmente articulado aos da escravido e do despovoamento, aparecera j em Escravido indgena e
despovoamento na Amrica portuguesa: So
Paulo e Maranho, na mesma coletnea organizada por Jill Dias citada acima, em que
pesquisa sobre So Paulo acrescentou-se uma
pesquisa original sobre a Amaznia seiscentista. O contedo desse artigo forneceu material para dois outros trabalhos publicados
no Brasil: O escravo ndio, esse desconhecido, no livro ndios no Brasil, organizado
em 1992 por Lus Donisete Benzi Grupioni,
e Colonizao e despovoamento: So Paulo
e Maranho no sculo XVII, publicado em
Cincia Hoje, no mesmo ano.
Voltando ao texto sobre a etno-histria
guarani, mais uma vez a partir das evidncias
histricas e de um olhar crtico para com fceis
heranas da tradio antropolgica e historiogrca, John convidava, fundamentalmente,
a reetir a respeito da dialtica entre tradio
e mudana, que obriga a etnologia e a histria
a levar em conta as dinmicas histricas dos
povos indgenas em situao colonial, antes e
alm de liquidar a questo pelo paradigma da
aculturao ou do desaparecimento.
Da segunda grande empreitada do Ncleo de Histria Indgena e do Indigenismo
da USP, o Guia de fontes, John Monteiro foi,
antes de organizador, o prprio inventor, na
medida em que ele foi capaz de enriquecer
a perspectiva antropolgica a respeito da
histria indgena com seguros instrumentos
de pesquisa de documentos primrios8. A
O Guia de fontes desdobrou-se em outras iniciativas anlogas do Ncleo, relativas regio Nordeste: Documentos
para a histria indgena no Nordeste, (Dantas, Porto Alegre Mariz, 1994) e o Repertrio de documentos para a histria indgena Sergipe (Dantas, 1993). Junto com Beatriz Perrone-Moiss, John foi editor responsvel dessas e de
outras publicaes, todas sobre a histria indgena, como o importante volume Amaznia: etnologia e histria
indgena (org. Manuela Carneiro da Cunha e Eduardo Viveiros de Castro); Mairi revisitada: a reintegrao da
Fortaleza de Macap na tradio oral dos Waipi, de Dominique Gallois; Livro das canoas (org. Mrcio Meira);
Relatos da fronteira amaznica no sculo XVIII, de Alexandre Rodrigues Ferreira e Henrique Joo Wilckens (org.
Marta Rosa Amoroso e Ndia Farage); Fronteiras da Repblica, de Paulo Santilli; e Histrias do Xing, (org. Mariana
Kawall Leal Ferreira).
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A pesquisa sobre temticas brasileiras, como John frisava frequentemente, innitamente mais fcil nos Estados
Unidos que no Brasil. Como exemplo dessa facilidade, entre os mais recentes trabalhos, podemos lembrar o do
Brazilian Government Serials Digitization Project, um banco de dados de cerca de 700.000 pginas de documentos
do governo brasileiro produzidos entre 1821 e 1993, concludo em 2000 pelo The Latin American Microlm
Project (Lamp) e disponibilizado na Internet.
10 O trabalho, apresentado na tese de livre-docncia, de 2001, foi publicado como Raas de gigantes: Mestiagem e
mitograa no Brasil e na ndia portuguesa, em um texto organizado por Bela Feldman-Bianco, Miguel Vale de Almeida
e Cristiana Bastos, publicado em Lisboa (2002c) e sucessivamente no Brasil, pela Editora da Unicamp (2007).
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11 Seja-me permitida, a este ponto, uma notao pessoal que pode elucidar o tipo de desao que o (ainda) nascente
campo da histria indgena encontrava h quinze anos. Uma mesa redonda da qual participei em 1999 em Fortaleza, com Regina Celestino de Almeida, Isabelle B. Peixoto da Silva e John (que ali proferiu a citada palestra Redescobrindo os ndios, trouxe a proposta de pensar a relao entre colonizador e colonizado a partir dos conceitos
de trnsito, negociao simblica e ajuste poltico e conceitual. Isso provocou vivas reaes em uma plateia
de estudantes e professores que viam na ideia de mediao uma sorte de posio revisionista daquilo que Steve
Stern (1992) chama paradigma da conquista, identicando a resistncia indgena colonizao univocamente
nos termos de heroica luta at o martrio pela manuteno da cultura tradicional.
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12 Por exemplo, A descoberta dos ndios e A espada de madeira, em um nmero especial de D. O. Leitura, dedicado aos 500 Anos do Brasil (1999). Outros pequenos textos de divulgao sobre Borba Gato, Tibiri e Jos Arouche
apareceram em publicaes dedicadas histria de So Paulo, introduzindo o papel das lideranas indgenas na
histria de So Paulo, desmisticando o mito do bandeirantismo.
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13 Intuies e sugestes farejadoras a respeito dos catecismos jesuticos foram, por exemplo, o pontap inicial do
trabalho de Adone Agnolin (2007), que atribui a longas conversas com John a origem de sua pesquisa e que aqui
agradeo pela leitura atenta deste texto.
14 www.ifch.unicamp.br/ihb/
15 Foram pouco exploradas, por exemplo, as atividades realizadas durante o perodo de permanncia nos Estados
Unidos, em Harvard, entre 2003 e 2004, durante o qual, alm de se valer da interlocuo cientca com os antigos orientadores e com outros pesquisadores de ponta de histria da Amrica Latina, ele conseguiu levar para
o palco da discusso a questo da histria indgena colonial na Amrica portuguesa, notoriamente excluda at
ento desse circuito acadmico. Dessa interlocuo resultou, entre outras coisas, o texto de Labor Systems, na
Cambridge Economic History of Latin America, (Monteiro, 2006a). Da mesma forma, no me detive na atividade
de organizao de coletneas, como os dois volumes organizados em colaborao com Francisca L. N. Azevedo,
como resultado do grande congresso da USP para o quinto centenrio colombiano, Razes da Amrica Latina e
Confronto de culturas, de 1996 e 1997, respectivamente, e Histria & utopias, de 1996, organizado com Ilana Blaj.
Tambm deixei de comentar as dezenas de verbetes para enciclopdias e dicionrios, as resenhas crticas de livros,
os prefcios e as tradues.
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16 Entre esses aspectos, vale apenas citar a competncia com a qual era abordada a questo iconogrca. Por exemplo,
no artigo que compe a coletnea sobre a coleo fotogrca brasileira de Louis Agassiz, organizada por Maria
Helena P. T. Machado (Monteiro, 2010), cujo objetivo no fazer uma histria das expedies cientcas do sculo
XIX a partir da coleo, mas, antes, desvendar as relaes de poder que marcavam as posies de sujeitos e objetos
e as categorias construtoras desse campo (no caso, a raa, ou o gnero), colocando a historicidade das condies de
produo do conhecimento cientco como pressuposto epistemolgico da prpria anlise.
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Artigo recebido em 21/04/2014
Aprovado em 30/04/2014
5HVXPR
Os ndios entre Antropologia e Histria: a Obra de John Manuel Monteiro
O artigo analisa a trajetria de John Manuel Monteiro (1956-2013) e a centralidade de sua obra na construo do
campo da histria indgena enquanto conjunto de intersees tericas e analticas entre antropologia e histria. Alm
de contribuir para o entendimento da maneira indgena de pensar e fazer a histria, assim como da presena insistente
dos ndios na histria do Brasil, o trabalho de John Monteiro tem constitudo uma ruptura epistemolgica dos saberes
coloniais, implcitos na construo da teoria social no Brasil.
Palavras-chave: Histria Indgena; John Manuel Monteiro; Teoria antropolgica; Historiograa Brasileira.
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The indians between antrhopology and history: the work of john manuel monteiro
The article analyzes the trajectory of John Manuel Monteiro (1956-2013) and the centrality of his work in the
construction of the indigenous history eld as a set of theoretical intersections between anthropology and history.
Besides his contribution to the understanding of the indigenous way of thinking and making history, as well as to the
comprehension of the persisting indigenous presence in Brazilian history, John Monteiros work represented an epistemological rupture from the colonial conventional knowledge implicit in the construction of social theory in Brazil.
Keywords: Indigenous history; John Manuel Monteiro; Anthropological theory; Brazilian historiography.
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Les indiens entre lanthropologie et lhistoire : luvre de John Manuel Monteiro
Larticle analyse la trajectoire de John Manuel Monteiro (1956-2013) et la centralit de son uvre dans la construction du domaine de lhistoire des indiens en tant quensemble dintersections thoriques et analytiques entre
lanthropologie et lhistoire. En plus de contribuer la comprhension de la faon de penser et de faire lhistoire des
indiens ainsi que de leur prsence insistante dans lhistoire du Brsil, le travail de John Monteiro construit une rupture
pistmologique des savoirs coloniaux implicites dans la construction de la thorie sociale au Brsil.
Mots-cls: Histoire des Indiens ; John Manuel Monteiro; Thorie anthropologique ; Historiographie Brsilienne.
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