Artigo - Estado e Educação Rural No Brasil - Balanço Historiográfico e Visão Crítica - Sônia Mendonça

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ESTADO E EDUCAO RURAL NO BRASIL: BALANO

HISTORIOGRFICO E VISO CRTICA.


Sonia Regina de Mendona
Apresentao
1
O ensino agrcola de nvel elementar, mdio e especial foi implantado no Brasil pelo
Ministrio da Agricultura (MA), ao longo da dcada de 1910, quando a conjuntura ps-
abolicionista tornou premente redefinir as formas de controle/tutela sobre a populao rural,
agora integrada por ex-escravos e seus descendentes, em pleno processo de formao do
mercado de trabalho. Da surgiram as primeiras instituies dedicadas ao ensino agrcola,
pautadas pela fixao a terra de jovens filhos de lavradores e da infncia desvalida das
cidades, a serem dotados das noes elementares de um saber prtico (MENDONA &
MOTTA, 2002, 127-147). Entre 1920 e 1930, os debates sobre tal ramo de ensino
complexificaram-se mediante a ingerncia de novos atores que polarizaram a disputa sobre as
polticas educacionais agrcolas em torno a dois eixos: 1) a escola rural como instrumento de
alfabetizao e 2) a escola rural como instrumento de qualificao para o trabalho. At os
anos 1940 o elemento viabilizador de ambas as vertentes seria a escola. O contexto da Guerra
Fria, entretanto, favoreceu a multiplicao de acordos entre os governos brasileiro e
estadunidense, promovendo uma inflexo nesse quadro. Este trabalho visa elucidar este
processo, tendo como norte a anlise das iniciativas estatais destinadas formao, escolar ou
no, de trabalhadores rurais na primeira metade do sculo XX, partindo de um balano
historiogrfico que situe o estado da arte sobre o tema.
Educao Rural no Brasil: Balano Historiogrfico
Dois aspectos se destacam na historiografia especializada no estudo da educao rural
primria e mdia. O primeiro o fato dela provir, em grande parte, de profissionais da rea de
Educao/Pedagogia, dotados de um habitus peculiar. O segundo, remete lacuna sobre o
objeto em perodos anteriores dcada de 1970, onde preponderam analises relativas a
programas pblicos em perodos mais recentes (BARRETO, 1983: 23-49). Do ponto de vista
historiogrfico verifica-se que, tanto obras seminais sobre a temtica produzidas desde incios
do sculo XX (AZEVEDO, 1944), AMARAL, 1939, FREITAS, 1934, etc.), quanto estudos
contemporneos (CARVALHO, 2003:225-251; CALAZANS, 1993: 15-40), partilham de
duas caractersticas: a ausncia de uma perspectiva analtica histrico-processual e a pouca

PPGH UFF, doutora em Histria, CNPq.


1
Utiliza-se o itlico para termos e citaes extrados das fontes consultadas.
1

ateno conferida a este ramo do ensino pelos especialistas que se dedicam a pesquisa-lo em
sua dimenso urbana e, mesmo assim, com nfase para a gesto de Gustavo Capanema junto
ao Ministrio da Educao e Sade (MES).
Poucas so as excees, como os casos de CALAZANS,1981; SZMRECSNYI & QUEDA e
PAIVA, 1983), que tratam da educao rural em perspectiva efetivamente histrica. Todavia,
ao faz-lo, visam histria do campesinato ou do desenvolvimento capitalista no pas, com
destaque para o perodo 1930-1950. Apesar de sua contribuio vinculam, mecanicamente, a
educao rural educao popular (Paiva) ou ento a focalizam como um captulo da histria
da Cincia no Brasil (Szmerecsnyi & Queda), sem inquiri-lo como tema poltico ou como
fruto de polticas pblicas conflitantes. Logo, o primeiro aspecto a reter a tmida
problematizao sobre a relao entre Estado e Educao Rural, realizando os autores
reconstituies parciais da histria deste ramo de ensino, distantes das mltiplas
determinaes que o imbricaram ao Estado restrito. Esclareo que concebo o Estado como
relao social, objeto de disputas entre grupos e faces, pela imposio de um projeto
hegemnico sobre a matria, deixando claro que a relao Sociedade Civil-Sociedade Poltica
no prepondera na literatura consultada.
Nesse registro, a Educao Rural tratada de perspectiva instrumental revelando que, muitas
vezes, a historiografia respalda a viso do ensino agrcola como meio para atingir objetivos
scio-polticos e no como um fim em si mesmo, posto identificar o trabalhador rural como
carente (ARROYO, 1982:1-17). Ratifica-se uma percepo da escola rural como instituio
especial, ignorada como construo histrica, fruto de embates e disputas. A visibilidade
destes ltimos exige que se desconstrua o que encoberto sob frmulas culturalistas atraentes:
os problemas estruturais que perpassam a relao cidade-campo. Subestimar a conflitividade
inerente dinmica de funcionamento do Estado na configurao de suas polticas pouco
contribui para o avano do conhecimento histrico.
Por isso parto da premissa de que a relao Saber/Poder parte instituinte e instituda do
prprio Estado, aqui tomado em seu registro gramsciano, como Estado Ampliado
(GRAMSCI, 2000), espao de permanentes tenses entre grupos organizados na sociedade
civil e inseridos em agncias da sociedade poltica, para intervir na definio/redefinio das
polticas pblicas em geral. Chamo ateno para a necessidade de analisar as mltiplas
determinaes das polticas voltadas ao ensino rural j que, muitas delas, nem sempre
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corresponderam a interesses imediatos dos grupos dominantes agrrios. Ignorar tal aspecto
leva certos autores a explicar o papel subalterno do ensino agrcola no Brasil mediante a
constatao de que (...) as classes dominantes brasileiras, especialmente as que vivem do
campo, sempre demonstraram desconhecer o papel fundamental da educao para a classe
trabalhadora (CALAZANS, op. cit.: 16, grifo meu). Outro equvoco frequente a atribuir a
origem da Educao Rural primria e mdia s iniciativas perpetradas no decorrer do Estado
Novo quando se consolidou, sob a gide da ditadura, o novo bloco no poder esboado a partir
do golpe de 1930. Segundo alguns, somente a se teriam iniciado programas de escolarizao
considerados relevantes para as populaes do campo (...), cujo surgimento se deu sob o
patrocnio do Ministrio da Agricultura do governo Vargas (Id., ibid: 16-17, grifo SRM).
Nada mais enganoso do que tomar 1930 como marco inaugural das polticas educacionais
agrcolas e, mais ainda, atribu-las ao Ministrio da Agricultura varguista, posto que a Pasta
j contemplava iniciativas destinadas ao ensino elementar rural desde a dcada de 1910,
atravs de instituies como os Aprendizados e Patronatos e Agrcolas (MENDONA, 1997:
69), estes ltimos correspondentes profilaxia social proposta por grupos urbano-industriais,
destinada
assistncia infncia desvalida das cidades, visto que em todos os centros
populosos cresce, dia a dia, o sombrio exrcito de meninos abandonados,
criminosos e malfeitores de amanh (...) Dar a mo a essas crianas (...) prend-las
fecundidade da terra ou habilit-las na tenda da oficina ou de uma profisso
transformar cada uma delas em fator de engrandecimento coletivo (RELATRIO
MAIC, 1918: 137).
Outro reparo historiografia refere-se ao continusmo das polticas de ruralizao do ensino
no ps-30, fossem perpetradas pelo MA ou pelo MES. Tal continusmo no deve ser
interpretado de uma perspectiva economicista voltada apenas para o combate ao xodo rural,
numa sociedade em vias de urbanizao/industrializao. Alm deste aspecto, a
documentao revela existir um projeto poltico destinado a disseminar, via ensino agrcola,
cdigos de comportamento que disciplinassem a fora de trabalho do campo e o consenso
em torno identificao de uma nica liderana nacional, opondo-se ao localismo poltico
(CARVALHO, op. cit.: 225-251). Mas a maior lacuna historiogrfica sobre o tema consiste
na ausncia de abordagens que o politizem, investigando os projetos em disputa, para dar
conta de seus argumentos, agentes e agncias envolvidos, alm de sua traduo em polticas
efetivas. Somente identificando pontos consensuais e divergentes neles contidos se tornam
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evidentes os sistemas de representaes sobre o homem do campo e as formas de ao do


Estado por elas respaldadas. A encontram-se projetos de ensino agrcola que oscilavam entre
tomar a escola como instituio de trabalho ou de ensino. Outra polarizao verificada
nos anos 1950 remete proliferao de movimentos sociais rurais como condicionantes da
redefinio das polticas educacionais, tornando a escola suplantada pelo Extensionismo
Rural. Assim, o perodo compreendido entre a criao do MES (1931) e a Lei de Diretrizes e
Bases (1961) implicou na complexificao dos interesses em disputa, j que as vrias
modalidades de ensino agrcola foram subordinadas, simultaneamente, a duas agncias
estatais: o MA e o MES, o que no considerado pela historiografia.
Face ao exposto, a literatura especializada trata as iniciativas do MA como fracassos
retumbantes, mesmo sem t-las analisado. Em outro trabalho demonstrei que a Pasta da
Agricultura surgiu da disputa movida por setores da classe dominante agrria menos
dinmicos, hegemonia da grande burguesia cafeeira paulista (MENDONA, 1997).
Todavia, a historiografia insiste em afirmar que a educao rural de inicios do sculo XX
pouco diferiu da vigente em fins do Imprio, pois a populao do campo (...), ligada pelos
laos paternalistas s oligarquias estaduais, no sentia a instruo como necessidade
imediata, nem pressionava no sentido de sua difuso (PAIVA, op. cit.: 79, grifo SRM).
Tal assertiva parece ignorar que a presena do Estado junto ao disperso contingente de mo-
de-obra rural s seria vivel a partir da interveno definida pelos grupos no poder e, nunca,
pelos que seriam seus objetos.
Polticas Estatais de Ensino Agrcola.
Alm da contraposio ensino profissionalizante versus ensino regular, outra preocupao
evidente na documentao o analfabetismo da populao rural, mormente ps-1. Guerra,
quando grupos de interesse urbanos e rurais imputaram a responsabilidade pelos problemas
nacionais escassa difuso do ensino no pas. Esboava-se o movimento de entusiasmo pela
educao, que envolveria segmentos como militares, Igreja e representantes de grupos
agrrios tradicionais, visando ao soerguimento moral da sociedade e mudana da
mentalidade dos homens.
No por acaso isso ocorreria em meio crise intraclasse dominante, com a emergncia de
novos atores, em busca de capitalizar dividendos polticos: os educadores profissionais da
4

Associao Brasileira de Educao (ABE) 2. Os especialistas se autodefiniam como aptos a


intervir nas rotinas escolares e reformar sistemas estaduais de instruo pblica, disputando
com outros agentes a imposio de seu projeto de escola integral, contraposta proposta de
escola alfabetizante, o que asseguraria mercado de trabalho para os novos profissionais,
sem vincul-los a projetos polticos (NAGLE, 1976: 263).
A polarizao escola desanalfabetizadora X escola integral afirmaria a escola como
agente de trabalho, respondendo pela aproximao de escolanovistas ditadura varguista 3.
Tal vitria seria construda pela ampliao de sua visibilidade poltica junto opinio pblica
atravs da imprensa, competies escolares, alm das Conferncias Nacionais de Educao 4,
vulgarizadoras dos preceitos da Escola Nova, dentre eles uma poltica nacional de Educao.
O embate entre profissionais da educao e seus antagonistas - empresrios industriais,
educadores catlicos e segmentos da classe dominante agrria pr entusiasmo pela educao
se acirrou entre fins dos anos 1920 e o Estado Novo, ainda que as polticas educacionais
rurais, permanecessem sob alada do MA. No alvorecer da dcada de 30, trs posies
postulavam legitimidade para tratar do ensino agrcola: os catlicos; os tcnicos do MA e os
profissionais da educao. A decretao do Estado Novo alteraria o eixo das polticas
desenvolvidas, atravs da revalorizao do entusiasmo pela educao em sua verso
ruralizada. Doravante, os grupos ligados ao MA e propriedade da terra seriam re-
prestigiados pois, apesar da criao da Pasta da Educao, seria quele que continuou
subordinado o ensino agrcola, preservando-se a dualidade de sistemas de ensino no pas.
Vale notar que a grande novidade do Estado Novo - o MES deteve posio ambgua
quanto ao ensino rural, dele se aproximando somente atravs da rede de ensino primrio
regular. Por outro lado, dele se distanciou na medida em que propostas de ensino agrcola
materializaram-se em escolas especiais ou paralelas, a ele antagnicas. A ambiguidade do
MES quanto escola rural corresponde ambiguidade formal que a sobredeterminava,
tratando-se de um ramo de ensino tutelado, simultaneamente, por duas agncias estatais,
cabendo a uma o ensino agrcola elementar (aprendizados agrcolas, centros agrcolas e

2
A Associao Brasileira de Educao foi fundada na Capital Federal em 1924.
3
Dentre os escolanovistas que se aproximaram da ditadura e emprestaram legitimidade s polticas pblicas
educacionais figuram Fernando de Azevedo; Loureno F e Francisco Campos.
4
A ABE patrocinou, entre 1927 e 1967, 14 Conferncias Nacionais, congregando professores de todos os nveis
de ensino e de todos os estados do pas. FREIRE FILHO, 2002: 14.
5

escolas profissionais rurais) e outra, o ensino de nvel secundrio e superior. Diversamente


do ocorrido na 1 Repblica, a partir de 1930 o debate sobre a educao rural ressurgiria
materializado em polticas que compatibilizavam o projeto de educao nacionalizante do
MS, com os interesses regionalistas dos estados. So exemplos dessas polticas: a) a criao
do Fundo Nacional do Ensino Primrio (FNEP) 5; b) a fundao do Instituto Nacional de
Estudos Pedaggicos (INEP), pea-chave das polticas do MES; c) a implantao da
Radiodifuso Rural e d) a criao do Conselho Nacional de Educao Primria (CNEP).
Malgrado as contradies inerentes a tais iniciativas verificou-se inegvel ampliao da rede
escolar rural do pas 6, consagrando a vertente da escola rural tpica, i.e., acomodada aos
interesses/necessidades da regio em que se inseria (como o apregoaram os escolanovistas),
porm impregnada do esprito do brasileiro, capaz de lhe nortear a ao para a conquista da
terra dadivosa, em oposio 'escola literria' que desenraizava o homem do campo
(CALAZANS, 1981: 18, grifo meu).
Estado e Ensino Agrcola: Inflexes.
As antinomias do Ensino Rural durante o Estado Novo perpetuaram-se aps o seu trmino, j
que, tanto a Lei Orgnica do Ensino Primrio, quanto a Lei Orgnica do Ensino Agrcola
seriam aprovadas somente em 1946. Esta ltima, ademais, foi aprovada em separado,
consagrando o ensino rural como especial - destinado ao trabalho - e apartado da rede
primria regular. Consagrou-se, tambm, a tutela simultnea sobre esse ramo de ensino,
exercida pelo MES que fixava suas diretrizes nacionais e pelo MA que o geria. Ficava
claro que, entre as prprias agncias do Estado restrito, estabeleceu-se uma diviso scio-
poltica do trabalho, resultante na manuteno do status quo das classes sociais na
agricultura brasileira.
A complexidade deste processo resultou na dupla dualizao dos sistemas de ensino no pas,
referindo-se a primeira dualidade consagrao do ensino primrio como da alada de
estados/municpios e do ensino secundrio/superior, como da Unio. J a segunda, ratificava o
ensino agrcola primrio e mdio como modalidades de ensino especial, profissionalizante e
parte da rede regular. Assim, enquanto no espao urbano a precedncia da escolarizao no

5
Criado em 1945, o Fundo era gerido pelo INEP e propiciou o aumento do nmero de escolas e das matriculas
primrias. CALAZANS, 1981: 146.
6
Segundo PAIVA, a destinao de 70% das verbas do FNEP para a construo de prdios escolares, abriu novas
oportunidades de expanso da rede elementar de ensino em todo o pas. Op. cit. p 148-9.
6

impediria o afloramento da situao de classe, apenas encobrindo-a, no espao rural a


concomitncia entre escolarizao e trabalho produtivo no foi apenas uma marca distintiva
do papel desempenhado pela escola na vida da sua populao. Ela se deu, igualmente, pela
imposio das condies de existncia e das representaes que passaram a integr-la num
dado modo de vida, consolidado nas dcadas de 1940 e 50. Segundo Martins, quando a escola
admitida como forma de ocupao do tempo da criana no mundo rural ela o faz, sobretudo,
como equivalente de trabalho. Nesse registro, a escola instrumento de adestramento pelo
trabalho (MARTINS, 1982: 7-17), significando que o contedo de classe da escolarizao
rural dado por tudo que esta experincia guarda de significativo no prprio modo de vida da
populao, alm de disseminar valores e concepes dominantes. As escolas rurais
afirmaram-se como produtoras/reprodutoras das hierarquias sociais vigentes, mormente
aquela que consagrava a subalternidade do trabalhador do campo em relao aos demais
trabalhadores, em especial nos anos 1950, quando foram apropriadas, ressignificadas e postas
em prtica como polticas pblicas nacionais.
Logo, desde o Estado Novo quando o capitalismo avanou a passos cleres, consolidando a
indstria de bens de produo sob patrocnio estatal e mesmo depois dele, na dcada de
1950 quando se afirmou o capitalismo brasileiro - a populao rural permaneceu como
objeto de incorporao atravs de escolas primrias agrcolas especiais 7, tidas como clulas
da vocao histrica para o ruralismo que h neste pas (LEO, 1926: 18). Seria em nome
desta vocao, transmutada em controle social, que novas polticas educacionais se
concretizariam, ratificando hierarquias que negavam a existncia da luta de classes no espao
agrrio. O sentido amalgamador de todas essas medidas foi a transmutao na prpria noo
de Educao Rural, que chegou aos anos 1960 sob modalidades dspares, transcendendo a
dimenso escolar. Das novas iniciativas destacaram-se aquelas decorrentes de acordos
bilaterais firmados entre os governos brasileiro e estadunidense, tais como: 1) a Comisso
Brasileiro-Americana de Educao das Populaes Rurais (CBAR), criada em 1945 por
acordo entre o MA e o Institute of Inter-American Affairs, que operaria atravs de um trip

7
O Decreto-Lei N 9.613, de agosto de 1946, instituiu a Lei Orgnica do Ensino Agrcola em separado do
Ensino Primrio consagrando, em seu artigo 1 o., que esta lei estabelece as bases e organizao e de regime do
ensino agrcola que o ramo do ensino at o segundo grau, destinado essencialmente preparao
profissional dos trabalhadores da Agricultura. BRASIL. LOEA, 1946, p. 1, grifos meus.
7

composto por Clubes Agrcolas 8; Centros de Treinamento 9


e Semanas Ruralistas 10
; 2) o
Curso Escola para o Brasil Rural, patrocinado por acordo entre INEP e o Foreign Office,
ministrado no Rio de Janeiro, em 1949, por docentes norte-americanos e 3) a Campanha
Nacional de Educao Rural (CNER), inaugurada em 1952 em pleno contexto nacional-
desenvolvimentista, visando preparar tcnicos que atendessem s necessidades da educao
bsica, agora relida como destinada a adolescentes e adultos sem acesso prvio escola.
A ratificao do ensino rural como experincia especial ampliou-se mediante redefinies
paulatinas operadas ao longo dos anos 1940-50, atravs de vrias agncias/agentes a ele
destinados. Alm das mencionadas cito a Campanha de Educao de Adolescentes e Adultos
(CEAA), implantada em 1947 (vigente at 1963) tendo por lastro uma rede de Misses Rurais
que percorriam o interior, alfabetizando e difundindo a nova noo de desenvolvimento
comunitrio, com o objetivo de combater o marginalismo e educar os adultos, antes de
tudo para que o pas possa ser mais coeso e solidrio (RBEP, 1947: 67). Outras iniciativas
foram a Campanha Nacional de Erradicao do Analfabetismo (CNEA, 1958) e a criao da
Associao de Crdito e Assistncia Rural (ACAR), embrio da Associao Brasileira de
Assistncia Tcnica e Extenso Rural (ABCAR), patrocinadas por agncias estadunidenses,
pblicas e privadas.
Esse conjunto de iniciativas evidencia dois aspectos. De um lado, que a educao agrcola
adquirira novos contornos, voltando-se para a qualificao de mo-de-obra rural adulta, em
detrimento da criana, sem a mediao da escola, substituda pelo Extensionismo Rural. A
paz no campo e a preveno contra a invaso das cidades por migrantes rurais formaram
o binmio a ser conjugado por este ensino rural redefinido num trplice papel: o de
imobilizador da fora de trabalho no campo; o de neutralizador dos conflitos sociais
rurais e o de qualificador de mo-de-obra mediante a assistncia tcnica, consagradora da
segmentao trabalho manual versus trabalho intelectual
Referncias Bibliogrficas

8
Dentre os objetivos dos Clubes Agrcolas figuravam: a) incluir na conscincia de seus scios o amor a terra;
b) dignificar o trabalho manual, elevar a vocao e a profisso do agricultor; c) mostrar os perigos do
urbanismo e do abandono dos campos, dentre vrios outros com teor semelhante. Cabe destacar que, em anexo
a cada escola agrcola, deveria ser fundado um Clube, regido pelo MA. LIMA, BUHR & LAVOR, 1945: 35-6.
9
Os Centros de Treinamento para Professores visavam substituir as arcaicas professoras leigas.
10
As Semanas difundiam junto a produtores rurais locais informaes sobre o exerccio de sua atividade,
fornecidas por tcnicos especializados. Id, Ibid., p. 89.
8

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