Enumerabilidade PDF
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Rodrigo Carlos Silva de Lima
Universidade Federal Fluminense - UFF-RJ
rodrigo.uff[email protected]
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1
Sumário
2
Capı́tulo 1
Definição 1 (Conjunto finito). Um conjunto A é dito finito, quando ele é vazio ou existe
uma bijeção f : In → A para algum n. Se o conjunto é vazio dizemos que ele possui zero
elementos e no segundo caso A possui n elementos. No caso de A finito com n elementos,
podemos denotar por |A| = n ou ♯A = n, n é chamada de cardinalidade de A e a função
f é dita ser uma contagem dos elementos de A.
Demonstração.
1. A relação é reflexiva, pois A está em bijeção com A pela função identidade f que
associa x em x.
2. Se A está em bijeção com B então B está em bijeção com A, pois basta tomar a
função inversa.
3
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS ENUMERÁVEIS E NÃO ENUMERÁVEIS 4
3. Se A está em bijeção com B e B está com bijeção com C, então A está em bijeção
com C. Existe função bijetora f : A → B e função bijetora g : B → C, então a
função g ◦ f é uma bijeção entre A e C.
Propriedade 2. Se Ak ∼ Bk então
∏
∞ ∏
∞
Ak ∼ Bk .
k=1 k=1
Demonstração.
⇒). Se f é injetiva ou sobrejetiva então g −1 ◦ f ◦ g : In → In é injetiva ou sobrejetiva,
por ser composição de funções com essas propriedades.
⇐). Seja g −1 ◦ f ◦ g : In → In sobrejetiva vamos mostrar que f também é sobrejetiva.
Dado y ∈ A vamos mostrar que existe x ∈ A tal que f (x) = y. Como g : In → A é
sobrejetiva então existe x1 ∈ In tal que g(x1 ) = y e pelo fato de g −1 ◦ f ◦ g ser sobrejetiva
então existe x2 ∈ In tal que g −1 (f (g(x2 ))) = x1 = g −1 (y) como g −1 é injetiva segue que
f (g(x2 )) = y logo f é sobrejetiva.
Se g −1 ◦ f ◦ g é injetiva então f é injetiva. Sejam x, y quaisquer em A, existem
x1 , x2 ∈ In tais que g(x1 ) = x, g(x2 ) = y. Vamos mostrar que se f (x) = f (y) então x = y.
Se f (x) = f (y) então f (g(x1 )) = f (g(x2 )) e g −1 (f (g(x1 ))) = g −1 (f (g(x2 ))) com
g −1 ◦ f ◦ g segue que x1 = x2 que implica g(x1 ) = g(x2 ), isto é, x = y.
Demonstração.
⇒).
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS ENUMERÁVEIS E NÃO ENUMERÁVEIS 6
Seja f : A → B.
|A ∪ B| = |A \ B| + |B|
|A ∪ B ∪ C|,
|A ∪ B ∪ C| = |A| + |B ∪ C| − |A ∩ [B ∪ C]| =
= |A|+|B|+|C|−|B∩C|−|[A∩B]∪[A∩C]| = |A|+|B|+|C|−|B∩C|−|A∩B|−|A∩C|+|A∩B∩C|
logo
Propriedade 18 (Princı́pio da inclusão- exclusão). Sejam n conjuntos finitos (Ak )n1 , seja
I o multiconjunto das combinações das interseções desses n conjuntos, então
∪
n ∑
| Ak | = |K|(−1)nk
k=1 K∈I
Demonstração.
Propriedade 19. Sejam (Ak )n1 conjunto finitos dois a dois disjuntos, onde |Ak | = mk
∪
n ∑
n ∑
n
então | Ak | = |Ak | = mk .
k=1 k=1 k=1
∏
n ∏
n ∏
n
Propriedade 21. Sejam (Ak )n1 com |Ak | = mk então | Ak | = |Ak | = mk .
k=1 k=1 k=1
daı́
∏
m ∏
m
|F (Im ; B)| = | B| = |B| = nm .
k=1 k=1
No caso geral mostramos que existe uma bijeção entre F (Im ; B) e F (A; B) logo tais
conjuntos possuem a mesma quantidade de elementos.
Demonstração.[2] Por indução sobre m. Para m = 1. A = {a1 } e B = {b1 , · · · , bn },
temos n funções fk (a1 ) = bk , ∀k ∈ In . Suponha a validade para um conjunto A′ qualquer
com m elementos, vamos provar para A com |A| = m+1. Tomamos a ∈ A, daı́ A\{a} = A′
possui m elementos, logo |F (A′ , B)| = nm , podemos estender cada ft′ : A′ → B para
f : A → B de n maneiras diferentes, tomando f (a) = bk , k ∈ In , logo temos no total
nnm = nm+1 funções .
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS ENUMERÁVEIS E NÃO ENUMERÁVEIS 10
Propriedade 26. Um conjunto A é infinito ⇔ possui bijeção sobre uma parte própria.
Demonstração.
⇐).Se existe uma bijeção sobre uma parte própria então o conjunto não pode ser
finito, então ele é infinito.
⇒). Supondo agora que A seja infinito vamos mostrar que existe uma bijeção sobre
um das suas partes próprias . Sejam f : N → A injetiva com f (n) = xn e o conjunto
B = A \ {x1 }. Definimos g : A → B por g(x) = x se x ̸= xn ∀n ∈ N e g(xn ) = xn+1 ,
com isso cada xn+1 e x ∈ A \ {x1 } pertencem a imagem da função, além disso a função é
injetiva, logo temos uma bijeção do conjunto por uma das suas partes próprias.
Corolário 7. O resultado anterior nos garante que um conjunto é finito ⇔ não possui
bijeção com sua parte própria.
∪
∞
A= {xk }
k=1
pois se existisse x ∈ A tal que x ̸= xk daı́ terı́amos x > xk para todo k que é absurdo,
pois nenhum conjunto infinito de números naturais é limitado superiormente. A função x
definida é injetora e sobrejetora. Vamos mostrar agora que ela é a única bijeção crescente
entre A e N . Suponha outra bijeção crescente f : N → A. Deve valer f (1) = x1 , pois se
fosse f (1) > x1 então f não seria crescente. Supondo que vale f (k) = xk ∀ k ≤ n ∈ N
vamos mostrar que f (n + 1) = xn+1 , não pode valer f (n + 1) < xn+1 com f (n + 1) ∈ A
pois a função é injetora e os possı́veis termos já foram usados em f (k) com k < n + 1,
não pode valer f (n + 1) > xn+1 pois se não a função não seria crescente, ela teria que
assumir para algum valor x > n + 1 o valor de xn+1 , a única possibilidade restante é
f (n + 1) = xn+1 o que implica por indução que xn = f (n) ∀n ∈ N.
Demonstração.
como os primos maiores que 2 são ı́mpares e o produto de ı́mpares é um número ı́mpar
então n = 2m (2n − 1). Agora vamos mostrar que a função é injetora seja f (m, n) = f (p, q)
2m (2n − 1) = 2p (2q − 1)
x1 ∈ A0 , A1 = A0 \ {x1 }
x
Corolário 10. Q é enumerável, pois podemos definir An = { , x ∈ N } (para n ∈ N
n
fixo) que é enumerável, daı́ os racionais positivos podem ser escritos como a união
∪
∞
+
Q = Ak
k=1
−x
da mesma forma Bn = { , x ∈ N }, logo os racionais negativos são enumeráveis pois
n
∪
∞
−
Q = Bk
k=1
( )
n n−k
f (1 + k + )=
2 1+k
com k = 0 até k = n − 1. Em especial tomando n − k = p e k + 1 = q temos
(p + q − 1)(p + q − 2) p
f (q + )= .
2 q
Podemos enumerar todos racionais, com a seguinte função g : N → Q dada por
g(1) = 0,
( )
n n−k
g(2 + 2 + k) = k = 0 aték = n − 1 e
2 k+1
( )
n n−k
g(2 + 2 + k + n) = − k = 0 aték = n − 1.
2 k+1
Tais funções não são injetivas, porém são sobrejetivas, logo temos bijeção de um sub-
conjunto de N em Q, o que implica Q ser enumerável.
Figura 1.1: Uma enumeração dos racionais positivos. No esquema da direita, podemos
perceber melhor um padrão da sequência.
Demonstração.
∪
A= f −1 (y)
y∈B
,isto é,
f (x1 , · · · , xs ) = (f1 (x1 ), · · · , fs (xs ))
∏
s
s
como tal função é sobrejetiva e N é enumerável segue que Ak é enumerável.
k=1
√ √ √
a + b p ̸= a′ + b′ p ⇔ a − a′ ̸= (b′ − b) p
a − a′ √
se b′ = b vale pois a − a′ ̸= 0, se b′ − b ̸= 0 também vale pois ̸= p por de um lado
b′ − b
ser número racional e do outro um número irracional. Se b ̸= b′ tem-se
√ √ √
a + b p ̸= a′ + b′ p ⇔ a − a′ ̸= (b′ − b) p
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS ENUMERÁVEIS E NÃO ENUMERÁVEIS 18
a − a′
vale pois da mesma maneira não pode ser irracional. Logo é injetiva. Temos
b′ − b
também que a função é sobrejetora, logo é uma bijeção.
Corolário 13. O conjunto dos números racionais Q é enumerável pois Z×Z ∗ é enumerável
m
e a função f : Z × Z ∗ → Q dada por f (m, n) = é sobrejetiva.
n
Propriedade 38. Toda coleção de intervalos não degenerados dois a dois disjuntos é
enumerável.
Demonstração. Seja A o conjunto dos intervalos não degenerados dois a dois dis-
juntos. Para cada intervalo I ∈ A escolhemos um número racional q e com isso definimos
a função f : A → Q, definida como f (I) = q, tal função é injetiva pois os elementos
I ̸= J de A são disjuntos , logo não há possibilidade de escolha de um mesmo racional q
em pontos diferentes do domı́nio, logo a função nesses pontos assume valores distintos .
Além disso Podemos tomar um racional em cada um desses conjuntos pois os intervalos
são não degenerados e Q é denso. Como f : A → Q é injetiva e Q é enumerável então A
é enumerável.
é uma bijeção. Como Qn+1 é enumerável por ser produto cartesiano finito de conjuntos
enumeráveis, segue que Pn é enumerável.
Sendo A o conjunto dos polinômios de coeficientes racionais, vale que
∪
∞
A= Pk
k=1
Corolário 15. Existem números reais que não são algébricos, pois se todos fossem
algébricos R seria enumerável. Todo elemento de R é raiz de um polinômio de coefi-
x
cientes reais. P (x) = − 1 com c ̸= 0 em R, tem raiz x = c. Em especial 0 é raiz de
c
G(x) = x.
Definição 5 (Números transcendentes). Os números reais que não são algébricos são
ditos transcendentais
Propriedade 42. O conjunto dos números algébricos é denso em R, pois todo racional
b
é algébrico, o racional é raiz do polinômio com coeficientes inteiros
a
ax − b = P (x)
b
ax − b = 0 ⇔ ax = b ⇔ x = . E Q é denso em R.
a
Propriedade 43. Seja A enumerável e B = R \ A, então para cada intervalo (a, b),
(a, b) ∩ B é não enumerável, em especial B é denso em R.
Com esse resultado garantimos que o complementar de um conjunto enumerável é
denso em R.
Exemplo 6. Um conjunto pode não ser enumerável e também não ser denso em R, como
(a, b).
definimos g : Bn → N n como
onde cada pt é o t-ésimo primo. A função definida dessa forma é injetora, pois se vale
g(f ) = g(h) então
Propriedade 45. Todo conjunto infinito se decompõe como união de uma infinidade
enumerável de conjuntos infinitos, dois a dois disjuntos.
Demonstração.
Vamos supor por absurdo que tal conjunto seja enumerável com a enumeração s : N →
X , tal que dado v natural associamos a sequência sv = (xv (n) ). Podemos então tomar
o elemento y = (yn ), definido da seguinte maneira: yn ̸= xn (n) , podemos tomar yn dessa
maneira pois se para n fixo vale xn (n) = 0 escolhemos yn = 1, se xn (n) = 1 escolhemos
yn = 0, daı́ tem-se que y ̸= sv para todo v natural, logo y não pertence a enumeração, o
que é absurdo. Logo a sequência é não enumerável.
Propriedade 48. Existe bijeção entre intervalos fechados. Seja um intervalo A = [a, b] e
(x − a)
um intervalo B = [c, d] (supondo d ̸= c e b ̸= a) então a função f (x) = c + (d − c)
b−a
é uma bijeção entre os conjuntos A e B. Primeiro vamos mostrar que é injetiva f (x) =
f (y) ⇒ x = y
(x − a) (y − a) (x − a) (y − a)
c + (d − c) = c + (d − c) ⇒ (d − c) = (d − c) ⇒x=y
b−a b−a b−a b−a
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS ENUMERÁVEIS E NÃO ENUMERÁVEIS 23
(x − a) (y − c)(b − a)
c + (d − c) =y⇔ +a=x .
b−a d−c
O mesmo vale para intervalos abertos.
Corolário 17. Não existe Bijeção entre A e F (A, B), onde A é um conjunto arbitrário
e B possui pelo menos dois elementos. Pois uma bijeção é uma função que é ao mesmo
tempo injetiva e sobrejetiva, porém não existe função sobrejetiva entre esses conjuntos.
Tomando A = N e B como acima concluı́mos que não existe bijeção entre N e F (N, B),
∏
∞
logo F (N, B) é não enumerável. F (N, B) = B é o produto cartesiano infinito , pois
k=1
∏
∞
F (N, B) é o conjunto das funções de N em B (sequências de elementos em B), B
k=1
é o conjunto das sequências de elementos em B também. Então se B possui mais de 1
elementos o produto cartesiano infinito é não enumerável. Se B é enumerável infinito
segue também que o produto cartesiano infinito é não enumerável.
Propriedade 49. Existe bijeção entre P (A) e F (A, {0, 1}). Os elementos de P (A) são
subconjuntos de A.
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS ENUMERÁVEIS E NÃO ENUMERÁVEIS 24
Demonstração. Seja a função C : P (A) → F (A, {0, 1}), chamada de função ca-
racterı́stica, definida como: Dado V ∈ P (A), CV deve ser uma função de A em {0, 1},
definimos então CV (x) = 1 se x ∈ V e CV (x) = 0 se x ∈
/ V.
Tal função é injetiva, pois sejam V ̸= H elementos de P (A) então CV é diferente de
CH , pois existe, por exemplo, x1 ∈ H tal que x1 ∈
/ V e x1 ∈ A e vale CV (x1 ) = 0 e
CH (x1 ) = 1, logo as funções são distintas.
A função é sobrejetiva, pois dado um elemento y de F (A, {0, 1}), ele deve ser uma
função de A em {0, 1}, então existe um subconjunto V que contém todos x ∈ A tal que
y(x) = 1 e para todo x ∈ L = A \ V tem-se y(x) = 0, tal função é a mesma que CV . Logo
a função é bijetora.
Corolário 18. Não existe bijeção entre os conjuntos A e P (A), pois não existe função
sobrejetiva entre A e F (A, (0, 1)) essa última que está em bijeção com P (A). Em especial
não existe bijeção entre N e P (N ).
Demonstração. Há infinitos racionais no intervalo [0, 1], então tal conjunto não é
finito. Usaremos também que todo real x ∈ [0, 1] admite uma representação da forma
∑
∞
x= ak 10−k
k=1
com ak ∈ A = {0 ≤ s ≤ 9, s ∈ N.}
Suponha uma numeração x : N → [0, 1], onde
∑
∞
xn = a(n,k) 10−k
k=1
∑
∞
y= bk 10−k
k=1
y não possui duas representações decimais e y ̸= xn para todo n, pois possuem repre-
sentações decimais distintas. Logo qualquer numeração omite um número real no inter-
valo, assim [0, 1] não é enumerável.
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS ENUMERÁVEIS E NÃO ENUMERÁVEIS 25
Corolário 19. Qualquer intervalo [a, b] é não enumerável, pois existe bijeção entre [a, b] e
[0, 1]. E da mesma maneira (a, b) não é enumerável, pois se fosse [a, b] = (a, b) ∪ {a} ∪ {b}
seria enumerável.
Da mesma maneira [a, b) e (a, b] são não enumeráveis.
Exemplo 7. Mostrar uma bijeção entre os conjuntos [0, 1] e (0, 1). Definimos o conjunto
1
A={ | n ∈ N } e B = A ∪ {0} ∪ {1}. Definiremos com isso uma função f : [0, 1] →
n+1
1 1 1 1
(0, 1) que seja bijetora . Definimos f |B como f (0) = , f (1) = e f ( )=
2 3 n+1 n+3
para n ∈ N , sua imagem é o conjunto A. Tal restrição é injetora. Definimos também
f |[0,1] \B com f (x) = x, essa restrição também é injetora, como as restrições são disjuntas
e sua união dá [0, 1] tem-se que a função f é injetora. Agora, dado x ∈ (0, 1), se x ∈ A
então existe y ∈ B tal f (y) = x, se x ∈ (0, 1) \ A, então f (x) = x o que mostra que a
função é sobrejetora, logo bijetora.
Como existe bijeção entre [0, 1] e (0, 1) então (0, 1) é não enumerável, pois pelo que
mostramos [0, 1] não é enumerável.
como A e T são disjuntos, tal aplicação é função, sua imagem é A e a função é tal que
sua restrição é injetiva.
Definimos agora f restrita à C \ B como f (x) = x, ela é injetiva e tem imagem C \ B.
Logo fica definida f de (C \ B) ∪ B = C com imagem (C \ B) ∪ A = C \ {a1 , a2 , · · · , ap }
sendo injetiva e sobrejetiva, logo bijetiva.
Com isso conseguimos bijeção entre C e C \ {a1 , a2 , · · · , ap } onde C é infinito. É
necessário que C seja infinito, pois se C fosse finito não terı́amos bijeção do conjunto com
sua parte própria.
Por exemplo, bijeção entre [0, 1] e (0, 1) nesse caso tiramos 0 e 1. Bijeção entre [0, 1]
1 1 1
e (0, 1], tiramos o 0. Bijeção entre [0, 1] e (0, ) ∪ ( , 1) tiramos três pontos 0, e 1.
2 2 2
Daremos outra demonstração de que o conjunto dos números reais é não enumerável.
Demonstração. Existe função injetiva f : N → R, por exemplo a de lei f (n) = n .
Iremos mostrar agora que não existe função sobrejetora de N em R, logo nenhuma dessas
funções pode ser bijetora. Construiremos uma sequência (Ak ) decrescente de intervalos
∩
∞
limitados e fechados tais que f (n) ∈/ An , ∀N , logo dado um número real c ∈ (que
k=1
tem existência garantida pelo teorema de intervalos encaixados), vale que f (n) ̸= c para
qualquer n, pois se fosse f (n) = c ∈ In , implicaria f (n) ∈ In que é absurdo. Nesse caso
f não pode ser sobrejetora. Dado f (1) fixo tomamos A1 tal que f (1) ∈
/ A1 . Supondo
que f (k) ∈
/ Ak , ∀k ∈ In , temos dois casos a considerar, f (n + 1) ∈
/ An , daı́ tomamos
An = An+1 , caso contrário, f (n + 1) ∈ An = [an , bn ], daı́ um dos extremos do intervalo
deve ser diferente de f (n + 1), digamos an , nesse caso podemos tomar an = an+1 e
an < bn+1 < f (n + 1), logo f (n + 1) ∈
/ An+1 = [an+1 , bn+1 ] que concluı́ a demonstração.
Podemos provar de outra maneira que (0, 1) é não enumerável, pois se fosse (n, n + 1)
seria enumerável e daı́ (n, n + 1] também, porém
∪
R= (x, x + 1]
x∈Z
seria união enumerável de enumeráveis, logo R seria enumerável, o que é absurdo, portanto
(0, 1) é não enumerável e qualquer outro intervalo também.
Corolário 21. Existem números que não são racionais. Dado um intervalo (a, b) ele
não pode possuir apenas números racionais, pois se não seria enumerável, portanto tal
conjunto possui uma quantidade não enumerável de números não racionais.
Definição 7 (Números irracionais). Um número real é dito irracional se ele não é racional.
f (Y ) = {f (a2 ) = a3 , f (a3 ) = a4 , · · · , } ⊂ Y
Propriedade 53. Seja f : A → A injetiva, tal que f (A) ̸= A, tomando x ∈ A\f (A) então
os elementos f k (x) de O(x) = {f k (x), k ∈ N } são todos distintos. Estamos denotando
f k (x) pela k-ésima composição de f com ela mesma.
por injetividade de f k segue que f p (x) = x, logo x ∈ f (A) o que contraria a hipótese de
x ∈ A \ f (A). Portanto os elementos são distintos.
Propriedade 54. O conjunto das sequências crescentes de números naturais não é enu-
merável.
vamos mostrar que existe uma sequência crescente que sempre escapa a essa enu-
meração, tomamos a sequência s como
s = (y(1,1) +1 , y(2,2) +y(1,1) +1 , y(3,3) +y(2,2) +y(1,1) +1, y(4,4) +y(3,3) +y(2,2) +y(1,1) +1 , · · · )
∑
t
denotando y(0,0) = 1 o t-ésimo termo da sequência acima é st = y(k,k) , tal sequência
k=0
é crescente e ela difere de cada xt na t-ésima coordenada, portanto ela não pertence
a enumeração, o que é absurdo, portanto o conjunto das sequências crescentes é não
enumerável.
x
Exemplo 10. A função f : R → (−1, 1) com f (x) = √ é bijetora.
1 + x2
Ela está bem definida em R, pois o único problema possı́vel seria o termo dentro da
raı́z no denominador ser não positivo, o que não acontece pois x2 + 1 ≥ 1, ela é injetora
x1 x
pois √ = √ 2 ⇒ x1 = x2 , sua imagem está contida no intervalo (−1, 1)
1 + x21 1 + x22
√ √ x
pois 1 + x2 > x2 = |x| logo | √ | < 1 sendo também sobrejetora, pois dado
1 + x2 √
y2
y ∈ (−1, 1) temos |y| < 1 ⇒ y 2 < 1 ⇒ 0 < 1 − y 2 , podemos tomar x = se x ≥ 0
1 − y2
√
y2
ex=− caso x < 0 e daı́ vale f (x) = y (Podemos perceber pela definição que
1 − y2
x ≥ 0 ⇔ y ≥ 0 e x ≤ 0 ⇔ y ≤ 0 ).
CAPÍTULO 1. CONJUNTOS ENUMERÁVEIS E NÃO ENUMERÁVEIS 30
1.5 Cardinalidade
Definição 10. Dizemos que card(A) < card(B) ( que é dito, a cardinalidade de A é
menor que a cardinalidade de B) quando existe função injetiva f (A) → B, porém não
existe função sobrejetiva f : A → B.
Propriedade 55. Sejam A enumerável e B não enumerável, então card(A) < card(B).
Cv (t) = 1 se x ∈ V
Cx∩y = Cx Cy
Se X ⊂ Y ⇔ Cx ≤ Cy .
CA\X = 1 − Cx .
Demonstração.
se t ∈
/ X ∩ Y podemos supor t ∈
/ Y então
2. Se t ∈
/ X ∩ Y e t ∈ X ( sem perda de generalidade), então Cx∪y (t) = 1,
Cx (t) + Cy (t) − Cx∩y (t) = 1 + 0 − 0 = 1, logo vale a igualdade.
1. t ∈
/Y et∈
/ Y daı́ t ∈
/ x e vale Cx (t) = 0Cy (t).
2. Se t ∈ Y e t ∈
/ x então Cx (t) = 0 ≤ Cy (t) = 1.
⇐). Suponha que X não esteja contido em Y , então existe t tal que t ∈ X, t ∈
/Y
portanto vale cx (t) = 1 e cy (t) = 0 e não se verifica a desigualdade.
CA\X = 1 − Cx .
1. Se t ∈
/ X então CA\X (t) = 1 = 1 − Cx (t).
| {z }
0
Demonstração.
Primeiro mostramos uma função injetora de (0, 1)n em (0, 1) um elemento de (0, 1)n
tem coordenadas
x1 = 0, x11 x12 x13 · · ·
vamos tomar essas representações sem que possuam infinitos noves consecutivos. Associ-
amos a cada uma dessas n-uplas o número real
f é bem definida. f é injetora: suponha que (xk )n1 ̸= (yk )n1 e f (xk )n1 = f (yk )n1 daı́
xk = yk ∀k o que é absurdo! portanto a função é injetora.
Agora construı́mos função g injetora entre (0, 1) e (0, 1)n com g(x) = (x, 0, · · · , 0), real-
mente tal função é injetora pois se tivéssemos x ̸= y e g(x) = g(y) terı́amos (x, 0, · · · , 0) =
(y, 0, · · · , 0), daı́ x = y , absurdo!
Pelo teorema de Cantor-Schroeder-Bernstein existe bijeção entre (0, 1) e (0, 1)n .
Corolário 24. Como existe bijeção entre (0, 1) e R, então também existe bijeção entre
(0, 1)n e Rn , portanto bijeção entre R e Rn .
infinito
O Hotel de Hilbert possui infinitos quartos, em quantidade enumerável (1◦ quarto , 2◦
quarto, etc.)
Certa vez, o hotel estava com 500 quartos ocupados quando chegou um ônibus contendo
uma infinidade enumerável de turistas. O responsável pela excursão se dirigiu a recepção
do Hotel e logo foi atendido pelo recepcionista. O recepcionista informou que haviam
500 quartos ocupados, logo achou que dos infinitos turistas 500 ficariam sem quarto. Por
sorte o gerente do Hotel, David Hilbert, estava por perto no momento , ao ouvir sobre
a situação foi a recepção e disse que não era necessário nenhuma preocupação, haveria
quarto para todos. O esquema que Hilbert elaborou foi o seguinte:
quarto para todos. Para solucionar o problema ele fez uma nova divisão de quartos da
seguinte maneira:
com isso ele consegui que todos fossem hospedados e portanto Hilbert salvou o dia e
todos viveram felizes para sempre. . . Na verdade Hilbert foi um pouco mais precavido, ele
supôs que poderiam chegar outros ônibus lotados de passageiros e decidiu deixar ainda
uma quantidade infinita de quartos vagos, caso chegassem novos hospedes, assim sua
divisão final ficou como
Naquele Verão ainda chegariam outros ônibus totalmente lotados de infinitos passagei-
ros e todos conseguiram um quarto e sempre sobravavam infinitos quartos para possı́veis
novos passageiros.