Questões de Filosofia Da Educação
Questões de Filosofia Da Educação
Questões de Filosofia Da Educação
Michael Batista
[2,5] Questão 1
A partir da leitura dos textos, explique com suas próprias palavras, o significado do
conceito autonomia discutido nos textos. Apresente, em seguida, um trecho de um dos
textos estudados que corrobore sua resposta. Lembre-se: você pode utilizar dicionários e
páginas da internet para ajudar na pesquisa, mas a resposta deve ser apresentada com suas
próprias palavras, e as fontes bibliográficas devem ser sempre indicadas.
R: nos diz autor (a) do “Texto 4” que, “mais importante do que conhecer muitas
teorias é, para o professor, tomar consciência de sua autonomia”1. É salutar, a partir desta
visão, que o exercício da reflexão como ato de uma consciência docente “bem
aparelhada”, sendo o que o senso comum pouco, ou quase nunca faz, entre nós,
brasileiros, parece propor ter como perspectiva uma filosofia da educação que exerça tal
consciência a partir do entendimento co-participado2, isto é, do entendimento que
conduza a uma prática3 do entendimento entre autores, numa democracia de autores, em
que o professor e o aluno tornem possível uma relação sedimentada pela autonomia de
pensamento. Tendo como tarefa a de pensar a perspectiva do outro, a filosofia coloca o
professor, ou até mesmo a escola, com o dever de não só respeitar os saberes de educandos
– saberes os quais estes levam pra escola, comumente derivados da construção popular
e/ou comunitária, mas também o de discutir com os alunos a razão de ser de alguns destes
1
Texto 4 – A Formação Docente: conhecimento como teoria e prática da autonomia. p. 2.
2
CF. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários para a formação docente. Paz e Terra,
1996. p. 20.
3
“Valorizam-se as teorias, os métodos e as técnicas e jamais o ato pelo qual o professor faz existir
educação e o sentido da educação (...). No entanto, é por causa de ato milhares de vezes repetido no
cotidiano que existem as teorias e os métodos e as técnicas, e não o contrário, como se pode imaginar
(...)”. Como se vê, o que a autora diz, em síntese apertada, é que toda teoria sem prática é cega, e toda
prática sem teoria é impotente, pois em referência às autoridades de educação que, por vezes, sem a prática
docente, determinam os caminhos e destinos do processo pedagógico às escolas. Cf. FILOSOFIA DA
EDUCAÇÃO – Texto 4. A Formação Docente, Op., cit. p. 9.
saberes em relação com o ensino e com seus respectivos conteúdos4, a partir de seus
materiais didáticos.
A questão da confiança que deve ser depositada no mestre9, tem como principal
protagonista o professor, a medida que a sua consciência bem aparelhada face aos perigos
4
Idem, p. 17.
5
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 6. O Papel da Filosofia da Educação: elucidação e crítica. p. 8.
6
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Op., cit.
7
Cf. DEMO, Pedro. Politicidade: razão humana. São Paulo: Papirus, 2002. p. 30.
8
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 4. A Formação Docente: conhecimento como teoria e prática da
autonomia. p. 5.
9
Como sustenta Patrice Canivez sobre a elaboração que Rousseau anuncia, isto é, como uma espécie de
“contrato pedagógico” que se efetiva para o aluno como “confiança” que o aluno deve depositar no mestre,
ao passo que para o professor se estabelece como disciplina o compromisso docente de prestar contas de
forma sistemática. Cf. FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 5. O Enigma do Mestre: o saber e a
interrogação. p. 4.
da alienação, por exemplo, hoje derivada das ilusões contemporâneas da indústria
cultural10, quando se trata da questão da autonomia de pensamento. Não se tratando
precisamente de só conscientizar o aluno para a participação, no exercício de sua
autonomia individual e/ou coletiva. O mestre estaria submetido a tal contrato, pois, como
um contrato que, ao torna-lo ético, torna-o capaz de abdicar de seus interesses pessoais
em face de uma lei mais geral, de tessitura docente e formativa, para fazer de sua
autoridade, sobretudo da autoridade do discurso e não da do seu oposto11, a busca ética
de fundamentar decisões e visões12. Neste sentido, se explica o papel que a filosofia da
educação cumpre ao pensar sobre a autonomia de pensamento como critério e como fim
da formação humana13. Por exemplo, a frase popular dita entre nós, brasileiros, a saber,
“seja você mesmo!”, em algum sentido histórico pelo qual não temos como versamos
neste trabalho, não seria um sentido sem sentido do que a educação, desde as origens
arcaicas até à decadência helenística, tem como começo, a saber, uma marca “pela
preferência a uma essência definidora do ‘ser autêntico’”14.
10
Cf. ADORNO, T; HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento.
11
O autor Pedro Demo, consagrado também pelas suas obras de metodologia, possui também variações no
que se refere a prática docente, e neste sentido, uma questão pertinente se encontra na reflexão sobre
autoridade do discurso e paralelamente no discurso de autoridade, ambos na relação ensino-aprendizagem.
Cf. DEMO, Pedro. Metodologia para Quem Quer Aprender. São Paulo: Atlas, 2008.
12
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 4. A Formação Docente: conhecimento como teoria e prática da
autonomia. p. 6.
13
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 6. O Papel da Filosofia da Educação: elucidação e crítica. p. 3.
14
CASTORIADIS, Cornelius. Encruzilhadas do Labirinto V: feito e a ser feito. Rio de Janeiro: DP&A,
1999. p. 30. Apud: FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 6. O Papel da Filosofia da Educação, Op., cit.
p. 2.
15
ADORNO, T. W; HORKHEIMER, M. Dialética do Esclarecimento: fragmentos filosóficos. Tradução
de Guido Antonio de Almeida. 2ª ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1985. p. 117, 119.
de autonomia, se torna importante a medida que traz, em sua originalidade, o
questionamento do conhecimento através da leitura e interpretação da realidade
culturalmente plantada.
[2,5] Questão 2
Em suma, o que os texto 4 apresenta é uma análise sobre questões que envolvem
a formação docente no país, estabelecendo como objetivo questionar alguns
comportamentos sociais e/ou institucionais, face à qualificação docente, em geral,
deliberada por autoridades educacionais, comumente de forma unilateral, a fim de chamar
a atenção para a chamada essência da comunidade; isto é, a fim de nos chamar a atenção
para a formação de uma “consciência viva” referente a normas específicas que regem uma
sociedade, que são derivadas da educação17, a partir da visão dos antigos gregos. Em
nosso caso, a desastrosa PEC 241/201618, a “PEC do congelamento de gastos”, que ao
tratar a educação como custo e não como investimento – carente dos ideais os quais
discutimos aqui, de reflexão e autonomia, mas, ao contrário, corrompidos pela disposição
em servir ao mercado, deliberam diretamente sobre o destino daqueles que precisam de
educação pública gratuita. Destarte, a fim de chamar a atenção para o fato de que
autonomia do pensamento significa tomar em suas próprias mãos o destino, através da
criatividade. Como falamos na questão de número 1, não seria outro o objetivo da
autonomia, a saber, o de formar população consciente e organizada que possa elaborar
garantias efetivas de liberdades, ou, que saiba inventar chefes que tenham como signo
servir a esta disposição humana que a filosofia da educação tem como objeto: autonomia.
16
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 4. A Formação Docente, Op., cit. p. 3.
17
WERNER, Jaeger. Paidéia: a formação do homem grego. Tradução de Artur M. Parreira. 3ª edição. São
Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 4.
18
No Senado Federal a referida PEC, quando recebida para votação, recebeu o desígnio de PEC 55.
[2,5] Questão 3
Nos textos estudados, a autora apresenta diversas definições para a Filosofia, defendidas
ao longo da história. Após a leitura do texto, indique qual definição abaixo está mais de
acordo com a conclusão da autora sobre o papel da Filosofia na Educação. Justifique sua
resposta.
1. Filosofia é metafísica;
2. Filosofia é uma reflexão sobre as ciências – “sobre seu método, sobre sua
coerência interna, sobre a validade de seus argumentos, definições e
deduções”;
3. Um “modo de ser” de um indivíduo ou de um grupo;
4. “Conforme o tipo de experiência de cada um, será a filosofia de cada um”;
5. A filosofia não busca verdade no sentido estritamente científico do termo, mas
valores, sentido, interpretações mais ou menos ricas de vida;
6. A filosofia é a forma sistemática e deliberada de interrogar o homem e suas
criações;
19
CASTORIADIS, Cornelius. O ‘fim da Filosofia’? In: As Encruzilhadas do Labirinto II. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1992. p. 245. Apud: FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 4. A Formação Docente, Op., cit.
p. 11.
20
ARENDT, Hannah. A Condição Humana 8ª edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1997. P. 35.
Apud: FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 4. A Formação Docente, Op., cit. p. 12.
21
CANIVEZ, Patrice. Educar o Cidadão? 2ª edição. São Paulo: Papirus, 1991. Pp. 15, 31. Apud:
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 4. A Formação Docente, Op., cit. p. 13.
22
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 5. O Enigma do Mestre: o saber e a interrogação. p. 4.
23
CASSIRER, Ernest. A Filosofia do Iluminismo e Rousseau. Brasília: Unicamp, 1992. p. 360. Apud:
FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 5. O Enigma do Mestre: o saber e a interrogação. p. 7.
Todavia, é com Jaeger Werner que a definição de filosofia da educação
apresentada pelos textos, que mais próximo se encontra de sua conclusão, nesta análise.
Pois, segundo este autor, teria sido com os antigos gregos que a educação se definia como
um processo de construção consciente24; em que tal parte da história, inclusive, é sugerido
como fundamento do solo histórico responsável pelo aparecimento da filosofia da
educação”. Destarte, como um lento processo cultural que faria convergir todo o mundo
grego antigo para a elaboração da ideia de “homem”, com pretensão de validade
universal, como um ser autêntico. A noção grega de autenticidade, como o “velho” que
preserva sua validade, que encarna uma tradição ou que marca uma presença no tempo,
mantendo-se novo25, aliado ao sentido de filosofia da educação do “Texto 6”, possibilita
ao docente aparelhar a consciência no sentido de intervir de forma com qualificação em
esferas sociais diversas.
Em suma, mais do que qualquer resposta definitiva, o tratamento das questões que
a filosofia da educação exerce, deve qualificar o professor para tipos de questionamento
ético clássico: o que posso saber? O que devo fazer? O que é permitido esperar? Como o
velho que preserva a sua validade, estas questões ainda hoje são fundamentais para o
sentido da filosofia da educação.
[2,5] Questão 4
“Não se pode fazer da educação, tal como está instituída atualmente, uma simples
consequência de leis naturais, ou funcionais, ou científicas, ou sequer econômicas. Não
há explicação, porque não há como isolar o conjunto de causas diretamente responsáveis
pela produção do fenômeno tal como ele é. Por isso, o conhecimento que podemos ter
sobre elas é elucidação – tarefa eminente da reflexão filosófica. E o(s) sentido(s) que
podemos produzir para elas é sempre o resultado de uma deliberação – tarefa
eminentemente política”. (TEXTO 3, p. 3).
R:
24
WERNER, Jaeger. Paidéia: a formação do homem grego. Tradução de Artur M. Parreira. 3ª edição. São
Paulo: Martins Fontes, 1994. p. 13. Apud: FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO – Texto 6. O Papel da Filosofia
da Educação, Op., cit. p. 2.
25
CF. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia, Op., cit. p. 19.