Segurança Do Ultrassom Terapêutico
Segurança Do Ultrassom Terapêutico
Segurança Do Ultrassom Terapêutico
Ana Paula Bezerra Leite1, José Carlos Baldocchi Pontin2, Ana Luiza Cabrera Martimbianco2,
Gisele Landim Lahoz3, Therezinha Rosane Chamlian4
RESUMO
O Ultrassom terapêutico (UST) é um recurso frequentemente utilizado na prática clinica do
fisioterapeuta. Entretanto, não há consenso na literatura em relação à efetividade desse recurso.
Objetivo: Os objetivos do presente estudo foram verificar e sintetizar as informações contidas nas
revisões sistemáticas Cochrane relacionadas ao tratamento das afecções musculoesqueléticas com
o UST. Método: Foi realizada uma busca na base de dados “Cochrane Library” e selecionadas as
revisões sistemáticas que abordavam o UST como modalidade de tratamento. Resultados: Foram
incluídas seis revisões sistemáticas Cochrane que analisaram a efetividade do UST em diferentes
afecções musculoesqueléticas demonstrando redução significativa da dor apenas na osteartrite
de joelho; não há relatos de eventos adversos decorrentes do UST em todas as revisões incluídas,
sendo considerado um tratamento seguro. Conclusão: Os resultados apresentados nesse estudo
devem ser analisados com cautela, pois a baixa qualidade metodológica e a heterogeneidade dos
ensaios clínicos randomizados (ECRs) incluídos nas revisões sistemáticas são fatores limitantes
para a confiabilidade dos dados apresentados.
ABSTRACT
Ultrasound therapy (UST) is a feature often used in clinical practice of the physiotherapist.
However, there is no consensus in the literature regarding the effectiveness of this feature.
Objective: The purpose of this article was to assess and synthesize the information contained
1
Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Motora in systematic reviews Cochrane related to the treatment of musculoskeletal disorders with UST.
Hospitalar e Ambulatorial aplicada a Ortopedia. Method: We performed a search in the database “Cochrane Library” and selected the RS that
2
Fisioterapeuta, Preceptor do Curso de
addressed the UST as a treatment modality. Results: Were included six RS Cochrane who analyzed
Especialização em Fisioterapia Motora Hospitalar
e Ambulatorial aplicada à Ortopedia, Universidade the effectiveness of UST in different musculoskeletal demonstrating significant reduction of pain
Federal de São Paulo. in osteoarthritis of the knee only, there are no reports of adverse events resulting from UST in all
3
Fisioterapeuta, Coordenadora do Curso de revisions included, is considered a safe treatment. Conclusion: The results presented in this study
Especialização em Fisioterapia Motora Hospitalar should be treated with caution because of the low methodological quality and heterogeneity of
e Ambulatorial aplicada à Ortopedia, Universidade randomized controlled trials (RCTs) included in RS are limiting factors for the reliability of the data
Federal de São Paulo. presented.
4
Médica Fisiatra, Professora afiliada da
Universidade Federal de São Paulo. Keywords: Ultrasonic Therapy, Physical Therapy Modalities, Musculoskeletal Diseases, Review
Literature as Topic
Endereço para correspondência:
AACD - Unidade Lar Escola São Francisco/
Departamento de Fisiatria
Therezinha Rosane Chamlian
Rua dos Açores, 310
São Paulo - SP
CEP 04032-060
E-mail: [email protected]
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Efetividade e segurança do ultrassom terapêutico nas afecções musculoesqueléticas: overview de
revisões sistemáticas Cochrane
Quadro 1. Características do estudo de Page et al.8 “Therapeutic ultrasound for carpal Os outros desfechos avaliados pelas
tunnel syndrome”
revisões sistemáticas incluídas, como a
Ano Publicação: 2003/Atualização: 2011 (sem modificações nos resultados) redução do edema, melhora da amplitude de
Objetivo Comparar a efetividade do UST em pacientes com síndrome do túnel do carpo (STC) em relação movimento, a satisfação do paciente, redução
ao placebo, sem tratamento ou qualquer tratamento não cirúrgico.
da parestesia, aumento de força muscular,
Desfechos Primários: Melhora dos sintomas globais e satisfação do paciente (até três meses); Efeitos melhora da capacidade funcional, redução
adversos; Melhora dos sintomas (exemplo: dor, parestesia, função, QV) em menos de três meses.
Secundários: Melhora dos sintomas (dor, parestesia, função, QV) em mais de seis meses. no tempo de consolidação óssea e adesão
Estudos incluídos 11 ECR (total de 443 participantes com diagnóstico de Síndrome do Túnel do Carpo (STC)). ao tratamento, não apresentaram diferenças
entre o grupo que realizou UST e o placebo.
Resultados Foi possível a realização de metanálise de apenas dois estudos, devido à falta de dados
disponíveis dos outros estudos. Cabe ressaltar que os resultados encon-
Comparação: UST x Placebo trados pelo presente estudo devem ser ana-
Desfecho: Dor e Parestesia - Não houve DES entre UST e UST placebo após duas semanas de
tratamento lisados com cuidado, pois a baixa qualidade
Desfecho: Função Motora - Não houve DES entre UST e UST placebo metodológica e a heterogeneidade dos ECRs
Desfecho: Efeitos adversos - Não houve relatos de efeitos colaterais decorrentes do UST.
são fatores limitantes para a confiabilidade
Conclusões Em relação ao placebo as poucas evidências encontradas sobre o UST demonstraram que não
há DES em resultados a curto prazo de melhora dos sintomas de indivíduos com STC. Não há dos dados apresentados nas RS, podendo
evidências que suportem o uso do UST comparado ao não tratamento, sem tratamento ou outras aumentar consideravelmente o risco de viés.
intervenções, bem como padronização dos parâmetros e tempo de aplicação e tratamento.
Outro ponto discutível relaciona-se ao fato de
STC: Síndrome do túnel do carpo; ECR: Ensaio clínico randomizado; UST: Ultrassom terapêutico; DES: Diferença estatisticamente significativa;
RS: Revisão sistemática.
que o tratamento com o UST nem sempre é
realizado de maneira isolada, podendo o efei-
to de uma intervenção associada influenciar o
Quadro 2. Características do estudo de Rutjes et al.9 “Therapeutic ultrasound for osteoarthritis uso do UST.8
of the knee or hip” Corroborando com os resultados apre-
Ano Publicação: 2001/Atualização: 2009 (sem modificações nos resultados) sentados pelo presente estudo, Shanks et al.14
Objetivo Avaliar a efetividade do UST em pacientes com OA de joelho e OA de quadril. publicaram no periódico The Foot no ano de
Desfechos Primários: Dor, Função; Secundário: Efeitos adversos. 2010, uma revisão narrativa de ECRs, que teve
Estudos incluídos 5 ECRs ou quase randomizados (total de 341 participantes) comparando UST com tratamento como objetivo analisar a efetividade do UST
placebo ou nenhuma intervenção. nas afecções musculoesqueléticas do mem-
Resultados Comparação: UST x controle (placebo ou sem intervenção) bros inferiores, e também não demonstra-
Metanálise com cinco estudos apresentou DES no desfecho dor no joelho favorável ao UST. ram diferenças estatisticamente significativas
Desfecho: Dor no joelho (EAV) apresentou DES favorável ao UST.
Desfecho: Função que foi avaliado pelo WOMAC, não houve DES. entre o grupo intervenção e o placebo, em
Desfecho: Efeitos adversos: Não houve relatos de efeitos colaterais decorrentes do UST. relação aos desfechos avaliados, como dor,
Conclusões Resultados favoráveis ao UST em relação à dor no joelho. Não foi encontrado nenhum estudo função, amplitude de movimento, destacando
para o tratamento de OA de quadril com UST. Não há evidências que suportem o uso do
UST comparado ao não tratamento, sem tratamento ou outras intervenções, bem como a baixa qualidade dos ECRs.
padronização dos parâmetros e tempo de aplicação e tratamento. De acordo com a revisão sistemática de Gam
UST: Ultrassom terapêutico; ECR: Ensaio clínico randomizado; DES: Diferença estatisticamente significativa; EAV: Escala analógica visual; et al.15 publicada no periódico Pain em 1995, o
OA: Osteoartrite; WOMAC: Westerm Ontario and McMaster Universities; RS: Revisão sistemática
uso do UST como um tratamento complementar
nas disfunções osteomusculares, é muitas vezes
Quadro 3. Características do estudo de Casimiro L et al.10 “Therapeutic ultrasound for the baseado em opiniões pessoais e experiência
treatment of rheumatoid Arthritis” clinica, e o embasamento científico permanece
Ano Publicação: 2002/Atualização: 2010 (sem modificações nos resultados) carente, enfatizando assim a necessidade de
Objetivo Comparar o UST com placebo ou outras intervenções em pacientes com artrite reumatóide (AR) futuras pesquisas com metodologia criteriosa
Desfechos Primário: Dor; Secundário: Número de articulações dolorosas e edemaciadas, função, força e ADM
que comprovem a real efetividade dessa
intervenção.
Estudos incluídos Dois ECRs (total de 80 participantes) com AR em todas as articulações, exceto coluna, tratados
com UST.
CONCLUSÃO
Resultados Os resultados dos estudos incluídos não puderam ser agrupados em metanálise devido a varia-
ções das análises.
Efeitos adversos: Não houve relatos de efeitos colaterais decorrentes do uso do UST.
Conclusões Não há evidências que suportem o uso do UST comparado ao não tratamento, sem tratamento Diante das revisões sistemáticas anali-
ou outras intervenções no tratamento de pacientes com AR.
As conclusões desta revisão são limitadas pelo baixo número de ECRs incluídos (2) e a baixa sadas, houve redução significativa da inten-
qualidade metodológicas destes. sidade da dor para osteoartrite de joelho
UST: Ultrassom terapêutico; AR: Artrite reumatóide; ADM: Amplitude de movimento; ECR: Ensaio clínico randomizado com o uso do UST, e por não apresentar
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