Alteridade - Emanuel Levinas
Alteridade - Emanuel Levinas
Alteridade - Emanuel Levinas
1
Quanto a divisão entre modernidade e pós-modernidade nos remetemos ao que diz Boaventura de
Souza SANTOS: “Afirmar que o projeto da modernidade se esgotou significa, antes de mais nada,
que se cumpriu em excessos e déficits irreparáveis. São eles que constituem a nossa contempora-
neidade e é deles que temos de partir para imaginar o futuro e criar as necessidades radicais cuja
satisfação o tornarão diferente e melhor que o presente. A relação entre o moderno e o pós-
moderno é, pois, uma relação contraditória. Não é de ruptura total, como querem alguns, nem de
linear continuidade, como querem outros. É uma situação de transição em que há momentos de
ruptura e momentos de continuidade.” (Pela mão de Alice: o social e o político na pós-
modernidade. p. 102/103)
2
Emmanuel Lévinas irá dizer que a ética é a filosofia primeira, sendo as demais filosofias seus
ramos. Para ele a ética é o ordenamento que vem a mim no encontro face a face com o outro, e não
um código moral ou uma lei. Ela se traduz em movimento ‘para-o-outro’.
40
cial para o que o outro me apresenta de diferente, de desigual, que merece ser res-
peitado exatamente como se encontra, sem indiferença, descaso, repulsa ou exclu-
são pelas suas particularidades.
3.1
O desenvolvimento do pensamento de Emmanuel Lévinas
pensamento de que o Ser encontra seu verdadeiro sentido é na sua relação com o
outro, uma relação baseada na responsabilidade5, de modo a não reduzir o outro
ao mesmo.
A elaboração de seu pensamento aparece em obras sistematizadas e artigos
diversificados dentro de sua temática, que é profundamente entrecortada pela sen-
sibilidade aos sofrimentos humanos, algo não muito comum aos denominados
“grandes filósofos”6.
3
Emmanuel Lévinas denomina de alteridade a relação com o outro em que esse não é passível de
intelecção e compreensão. É o que do outro escapa ao sistema englobante da razão e, portanto, está
fora da totalidade.
4
“Do ponto de vista filosófico, a tarefa de Lévinas não foi a de escrever uma nova ética, mas de
mostrar que a perspectiva ética deve ser o ponto de partida de toda a filosofia. A descoberta de que
eu sou um sujeito infinitamente responsável pela vida do outro é o início de uma meditação em
torno da pergunta sobre o ser. A tomada de consciência de minha responsabilidade é o início de
cada conhecimento geral, pois cada conhecimento deve ser purificado de sua tendência natural ao
egocentrismo. A base da consciência de si não é a reflexão, mas a relação com o outro. Lévinas
recusa conceder a dialética hegeliana do senhor e do escravo, à guerra das consciências, o privilé-
gio da origem da consciência de si. Esta é mais o fruto do milagre da saída de si mediante a abertu-
ra ao outro, que, antes de ser uma força alienadora que me ameaça, me agride e me esvazia, pode
ser uma possibilidade de abertura que rompe as correntes que me prendem a mim mesmo.”
(BORDIN, L. Judaísmo e filosofia em Emmanuel Lévinas. À escuta de uma perene e antiga sabe-
doria. p. 555)
5
Para Emmanuel Lévinas responsabilidade é a conseqüência do estar em face do outro e o que
revela a humanidade do homem.
6
Segundo Pergentino Stéfano PIVATTO, na palestra intitulada “A ética em Lévinas”, proferida
em 15 de setembro de 2005, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Lévinas
não é um filósofo nato, ele é um autor que ao longo de sua obra foi mudando o sentido dos termos
41
relação ao outro; o conceito chave é o infinito8; c) fase ética (1961-1995): “se ca-
racteriza por uma intensa e rigorosa reconsideração da questão da subjetividade
esvaziada de sua auto-suficiência ontológica”; o conceito chave é o Bem-além-do-
Ser.9
Outros, dizem que o pensamento de Lévinas é delimitado em quatro mo-
mentos10. O primeiro, encerrado em 1930, se caracterizaria por um diálogo com o
pensamento de Husserl (fenomenologia) e de Heidegger (ontologia), onde a temá-
tica ética ainda não aparece. Referido diálogo é composto por comentários expli-
cativos e críticas internas aos sistemas desses pensadores.
Em 1932 teria iniciado uma nova etapa do pensamento de Lévinas que se
encerrou em 1960. Trata-se de uma etapa caracterizada pelo afastamento e distan-
ciamento da filosofia de Heidegger, ainda que continuasse a manter um diálogo
anteriormente utilizados em sua produção, chegando, inclusive, a utilizar termos clássicos da filo-
sofia com uma significação diferenciada.
7
Ricardo Timm de SOUZA in Fulcro da história, urgência do pensamento – sobre a compreen-
são do conjunto da obra de E. Levinas, p. 9, esclarece que a obra de Emmanuel Lévinas é muito
variada, abrangendo “desde estudos filosóficos estritos de variado teor e comentários talmúdicos
até artigos sobre acontecimentos históricos específicos, crônicas pessoais, conferências proferidas
em contextos diversos e, posteriormente, publicadas, etc.”.
8
No pensamento de Emmanuel Lévinas infinito é o que escapa ao pensamento e vem à mente pelo
rosto do outro no encontro face a face, na transcendência, mas que não pode se reduzir a uma idéi-
a, sob pena de retorno à totalidade ontológica. O infinito inaugura a ordem de Bem no mundo.
9
SOUZA, R. T. Fulcro da história, urgência do pensamento. p. 19-20.
10
Por exemplo, Márcio Luiz COSTA in Lévinas, uma introdução. Petrópolis: Vozes, 1999.
42
11
Essa obra pode ser considerada como o ápice da produção de Lévinas e, certamente constitui
ponto de referência para a compreensão das obras anteriores.
12
Emmanuel Lévinas entende que o outro se mostra a mim como um rosto, que não se reduz à
forma plástica, e sim representa a alteridade do outro, sua infinita transcendência.
13
LÉVINAS, E. Totalidade e Infinito. p. 173.
43
3.2
A crítica de Emmanuel Lévinas à filosofia ocidental
14
SOUZA, J. T. B. Emmanuel Lévinas: o homem e a obra. Publicação eletrônica, p. 4.
15
“A anterioridade metafísica da relação ética, segundo Levinas, põe em cheque o pensamento que
se quer fundar a partir do conhecimento ontológico, que submete o ser à idéia, que submete o su-
jeito aos esquemas lógicos, transformando o homem e Deus em conceitos. A ética da Alteridade,
segundo sua visão, liberta o homem e Deus das cadeias estabelecidas pela ontologia e pela teologi-
a.” (MELO, N. V. de. A ética da alteridade em Emmanuel Lévinas. P. 120)
16
“A proposta levinasiana é muito clara e se inscreve numa direção oposta a toda investida até
então implementada. Diz ele: ‘É preciso inverter os termos. E, por isso, opõe-se ao anonimato, à
impessoalidade, às abstrações conceituais, à indeterminação de idéias, à violência do poder, à ver-
44
Mas a violência não consiste tanto em ferir e aniquilar como em interromper a con-
tinuidade das pessoas, em fazê-las desempenhar papéis em que já se não encontram, em
fazê-las trair, não apenas compromissos, mas a sua própria substância, em levá-las a co-
meter actos que vão destruir toda a possibilidade de acto. Tal como a guerra moderna,
toda e qualquer guerra se serve já de armas que se voltam contra quem as detém. Instaure-
se uma ordem em relação à qual ninguém se pode distanciar. Nada, pois é exterior. A
guerra não manifesta a exterioridade e um outro como Outro; destrói a identidade do
Mesmo.17
Para Lévinas a filosofia, desde os gregos, se assentou num discurso de do-
minação18. A Antiguidade e a Idade Média foram assinaladas pelo Ser e a partir da
Modernidade este Ser foi substituído pela idéia do Eu, sem se perder a tônica das
idéias totalizantes que excluem a diversidade – entendida como abertura para o
outro – e impõe a massificação. “A filosofia ocidental foi, na maioria das vezes,
uma ontologia: uma redução do Outro ao Mesmo, pela intervenção de um termo
médio e neutro que assegura a inteligência do ser.”19
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0613172/CA
dade enquanto abstração lógica ou teórica’.” (SOUZA, J. T. B., Emmanuel Lévinas: o homem e a
obra, p. 7)
17
LÉVINAS, E. Totalidade e Infinito, p. 9-10.
18
“A ‘dialética’ suprassumidora da diferença e/ou alteridade foi flagrada como nunca no século
XX, ao desnudar-se a dinâmica do saber ligada ao ‘desenvolvimento’ da história dos vencedores,
seja na forma gritante da teoria como justificação do Mesmo e da exclusão, seja na forma da ocul-
tação de seu lado não-consciente (também objetificador), seja ainda na forma sutil, que, mesmo
falando da diferença, relega o Outro à indiferença ética.” (PELIZZOLI, M. L. A tradição filosófica
e o discurso da alteridade – Lévinas e o Infinito mais além da Totalidade, p. 74)
19
LÉVINAS, E. Totalidade e Infinito. p. 31
20
Entende Emmanuel Lévinas que subjetividade é o Eu se afirmar em ser-para-o-outro, é receber o
outro e tornar-se seu refém pela afetação da alteridade.
21
“Se conhecer quer dizer tomar posse, dar forma, reconduzir ao uno, comandar significa ‘agir
sobre uma vontade’, ainda que violentamente, até manipular e aniquilar por meio da guerra”.
(ROLANDO, R. Emmanuel Lévinas: para uma sociedade sem tiranias. p. 76)
22
“No âmbito do Mesmo tem-se a possibilidade de uma consciência cingida nos meandros da pos-
se, da captação. O Eu movimenta-se para um encontro de si, na incessante busca de encontrar algo
45
não distinto de si mesmo. No movimento de saída de si encontra algo não integrado na consciên-
cia, algo exterior que deve ser absorvido e interiorizado pelo Mesmo. O Mesmo revelado pelo Eu
implica o todo abarcado pela consciência. E tal implicação consiste uma determinação do Outro,
atribuída pelo Eu. O Outro possui uma significação, um sentido atribuído pelo Eu, o Outro não é
exterior ao Eu, mas interiorizado pela consciência, pela identificação que eu faço dele. Assim, en-
vereda-se para um primado que afasta o reconhecimento do Outro como diverso, como estranho a
mim. O Outro será sempre interiorizado pelo sujeito através da consciência de si e a consciência
do todo. E, por conseguinte, tem-se a tematização que o Eu faz do Outro. O Mesmo se apropria do
Outro e o tematiza, tornando-o conteúdo.” (GOMES, D. R. M. Alteridade como fundamento da
justiça: um estudo da alteridade no âmbito da filialidade. p. 38-39)
23
“A totalidade que emerge da razão detentora do absoluto implica também o envolver do Outro
como objeto e não como diverso do Eu. O Outro não é acolhido como algo exterior ao eu, mas
interiorizado pelo sentido que a razão lhe atribui. Consequentemente, o Outro é compreendido
como objeto de uma razão em busca de si mesma.” (GOMES, D. R. M. Alteridade como funda-
mento da justiça: um estudo da alteridade no âmbito da filialidade. p. 24)
24
Nas palavras do Professor e Filósofo Ricardo Timm de SOUZA, “A obra levinasiana apresenta
uma crítica profunda e sempre recorrente à pretensão da Totalidade ontológica em abarcar e esgo-
tar todo o sentido possível da realidade. Chamou-se esta colocação em questão do sentido absoluto
de ‘dúvida subversiva’. Somente é possível que essa dúvida se mostre, porque a Filosofia, às vol-
tas com suas crises do século XX, encontra-se postada em suas próprias fronteiras. Tecnicamente,
a dúvida é oportunizada pela Ontologia Fundamental, tentativa derradeira de interpretação do Ser
em mostração, desveladora da dinâmica interna de desdobramento abstrato da Totalidade na con-
cretude pregressa e presente da história da humanidade.” (SOUZA, R. T. Sujeito, Ética e História.
p. 77)
25
O Professor Márcio PAIVA bem sintetiza o móvel de Emmanuel Lévinas quando diz: “Daí sur-
ge a necessidade de uma evasão, sair da ontologia, vista por ele como a metafísica da violência que
constrói verdades a partir da consciência, do Eu autoritário que tudo quer capturar, tematizar, fazer
seu na absoluta identidade do Uno-ser, esquecendo toda diferença. Lévinas se opõe à filosofia da
consciência trabalhando a alteridade absoluta, da evasão rumo a uma terra prometida, aquela de
Abrão que exclui qualquer retorno ao lar, todo retorno do Eu sobre Si, segundo o movimento dia-
lético do idealismo que quer edificar um eu autônomo.” (PAIVA, M. Subjetividade e Infinito: o
declínio do cogito e a descoberta da alteridade. p. 216)
46
Filosofia do poder, a Ontologia, como Filosofia primeira que não coloca o Mesmo
em questão, é uma filosofia da injustiça. A ontologia heideggeriana, que subordina a rela-
ção com Outrem à relação com o ser em geral – mesmo que ela se oponha à paixão técni-
ca, surgida do esquecimento do ser ocultado pelo ente -, permanece na obediência do a-
nônimo e tende, fatalmente, a uma outra potência, à dominação imperialista, à tirania (...).
O ser antes do ente, a Ontologia antes da metafísica – é a liberdade (mesmo aquela da
teoria) antes da justiça. É um movimento no interior do Mesmo antes que uma obrigação
com relação ao Outro.26
Uma vez que todo o pensamento ocidental é ontológico, o ocidente não pos-
sibilita a alteridade e se reduz à mesmicidade, pois a identidade do outro é redu-
zida à identidade do Eu, abolida qualquer exterioridade. A “filosofia do poder, a
ontologia, como filosofia primeira que não põe em questão o Mesmo, é uma filo-
sofia da injustiça”.27
Na visão de Lévinas,
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0613172/CA
O primado do Mesmo foi a lição de Sócrates: nada receber de Outrem a não ser o
que já está em mim, como se, desde toda a eternidade, eu já possuísse o que me ve-
nha de fora. Nada receber ou ser livre. A liberdade não se assemelha à caprichosa
espontaneidade do livre arbítrio. O seu sentido último tem a ver com a permanência
no Mesmo, que é a Razão. O conhecimento é o desdobramento dessa identidade, é
liberdade. O facto de a razão ser no fim de contas a manifestação de uma liberdade,
neutralizando o outro e englobando-o, não pode surpreender, a partir do momento
em que se disse que a razão soberana apenas se conhece a si própria, que nada mais
a limita. A neutralização do Outro, que se torna tema ou objecto – que aparece, isto
é, se coloca na claridade – é precisamente a sua redução ao Mesmo.28
26
LÉVINAS, E. Totalidade e Infinito. p. 34.
27
LÉVINAS, E. Totalidade e Infinito. p. 34.
28
LÉVINAS, E. Totalidade e Infinito. p. 31.
29
“A originalidade de Lévinas se manifesta no deslocamento do ético à posição de ‘filosofia pri-
meira’. Não funda a ética, como na tradição cristã-ocidental, como um edifício especulativo-
dedutivo-sistemático. Não a funda, como Kant, em um ideal de humanidade comum a mim e aos
outros, ou, como Apel e Habermas, na estrutura transcendental de um agir comunicativo, pois,
segundo ele, estas propostas mantêm ainda a centralidade do eu como portador de responsabilida-
de. A proposta é outra. Não a de uma ética da responsabilidade, mas como responsabilidade, cuja
dedicação ao outro é a própria estrutura que nos constitui enquanto sujeitos.” (BORDIN, L. Juda-
ísmo e Filosofia em Emmanuel Lévinas. À escuta de uma perene e antiga sabedoria. p. 559)
47
ente – o outro – e o Ser, onde o ente fica reduzido ao Mesmo. À ontologia ele
contrapõe a metafísica para tratar filosoficamente o sentido da subjetividade hu-
mana, e como linguagem para tanto, propõe a ética. Tomando por ponto inicial a
subjetividade erigida sobre a radicalidade ética, Lévinas introduz a idéia de Deus
como caminho para superação da mesmicidade, da totalidade e aponta para a aber-
tura ao infinito (exterioridade). O mais-além-do-Ser, a transcendência, o infinito,
se realiza na ética. O Eu não é mais o ponto de partida, e sim o que recebo da ex-
terioridade do outro31.
Enquanto o ocidente cuidou de tentar compreender as relações do sujeito a
partir do Ser, Lévinas argumenta que é na própria relação humana, especificamen-
30
Nélio Vieira de MELO, no livro A ética da alteridade em Emmanuel Lévinas esclarece que críti-
ca formulada por Emmanuel Lévinas à filosofia ocidental, “A Odisséia de Homero é usada como
ponto de referência: Ulisses representa o eu da filosofia ocidental; a sua meta é retornar para sua
pátria, reencontrar a si mesmo, sua família, seu reino. Seu supremo desejo é realizado com a sua
volta. Levinas propõe outro modelo para a filosofia: o modelo abraâmico, que diverge do modelo
epopéico. Na sua proposta, o eu, interpelado pelo outro, não tem retorno, nem repouso, nem reen-
contro. O eu, como Abraão, é total escuta, é completa atenção à convocação do outro; abandono de
si mesmo, interpelação para partir, sabendo que o itinerário é sem volta. A presença daquele que
convoca é sentida como uma ausência, como o Outro, como liberdade, como significado, como
impossibilidade de totalização.” (p. 57)
31
“A transcendência a partir da subjetividade acolhedora de Outrem é o encontro com a Ética. (...)
a subjetividade trazida por Lévinas não é oriunda de uma consciência de si, mas advém do Outro.
O desejo é o marco da subjetividade com a abertura do infinito: o fundamento da realidade se dá
no próprio sujeito humano, no Outro que me convoca a ser responsável por ele.” (GOMES, D. R.
M. Alteridade como fundamento da justiça: um estudo da alteridade no âmbito da filialidade. p.
44)
48
A relação com o ser, que se dá como Ontologia, consiste em neutralizar o ente para
o compreender ou captar. Não é, portanto, uma relação com o outro como tal, mas a
redução do Outro ao Mesmo. Tal é a definição da liberdade: manter-se contra o ou-
tro, apesar de toda a relação com o outro, assegurar a autarcia de um eu. A temati-
zação e a conceptualização, aliás inseparáveis, não são paz com o Outro, mas su-
pressão ou posse do Outro. A posse afirma de facto o Outro, mas no seio de uma
negação da sua independência. ‘Eu penso’ redunda em ‘eu posso’ – numa apropria-
ção daquilo que é, numa exploração da realidade. A ontologia como filosofia pri-
meira é uma filosofia do poder.32
desvela o referencial da filosofia ocidental, ou seja, a “egologia” que pode ser sin-
tetizado na seguinte máxima socrática: “nada receber senão o que de algum modo
já está em mim”. Para ele o pensamento ocidental incorporou e distribuiu uma re-
sistência ao outro como outro, provocando o retorno do Ser a si mesmo; a razão
envolveu este outro e tornou-o um objeto conceituado.33
Lévinas aponta para uma desconstrução do sujeito apropriador e voltado pa-
ra os próprios interesses, reafirmado desde o período clássico até a modernidade,
um sujeito que deseja sua liberdade de Ser, ainda que a custa do sacrifício do ou-
tro e propõe a descoberta do outro como ruptura com a totalidade, em busca da
diversidade e, consequentemente, da humanidade.34
O pensamento de Lévinas se mostra como importante orientação na busca
de uma relação em que os seres humanos preservem e respeitem a irredutibilidade
do outro, com base na crítica ao totalitarismo e isolamento do Ser-em-si-mesmo.
32
LÉVINAS, E. Totalidade e Infinito. p. 33.
33
“Ao captar e neutralizar o Outro, a alteridade é atingida e, assim, esvaecida: o eu – sustentado na
razão – domina o Outro, gerando totalidade.” (GOMES, D. R. M. Alteridade como fundamento da
justiça: um estudo da alteridade no âmbito da filialidade. p. 34)
34
“O abrir para a exterioridade ou a transcendência enunciada no conceito de infinito rompe com a
premissa da totalidade. A ruptura da totalidade em Lévinas deve-se a um experienciado irredutível
aos domínios da consciência de si.” (GOMES, D. R. M. Alteridade como fundamento da justiça:
um estudo da alteridade no âmbito da filialidade. p. 36)
49
O Outro metafísico é outro de uma alteridade que não é forma, de uma alteridade
que não é um simples inverso da identidade, nem de uma alteridade anterior feita de resis-
tência ao Mesmo, mas de uma alteridade anterior a toda a iniciativa, a todo o imperialis-
mo do Mesmo; o outro de uma alteridade que constitui o próprio conteúdo do Outro; o
outro de uma alteridade que não limita o Mesmo, porque nesse caso o Outro não seria
rigorosamente Outro: pela comunidade da fronteira, seria, dentro do sistema, ainda o
Mesmo.35
Longe de ser uma mera disputa filosófica de pensamento lógico e teórico, a
crítica formulada por Lévinas à filosofia ocidental deve ser compreendida no de-
senrolar dos acontecimentos trágicos da história da humanidade no século XX e
limiar do século XXI, como uma reconstrução do sentido do humano.
3.3
O outro e a alteridade
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0613172/CA
35
LÉVINAS, E. Totalidade e Infinito. p. 26.
50
3.3.1
Da impessoalidade do ser à substituição pelo outro
36
“Comenta Lévinas a François Poirié que ao voltarem dos campos de trabalho forçado, ele e seus
companheiros, eram observados das janelas pelos alemães em silêncio com judeus, entes manipu-
láveis de um mundo fundado num projeto alemão geopolítico de assegurar o lebensraum, o espaço
vital. Aqueles homens eram apenas mediação de um projeto, momento de uma totalidade; sob os
olhares da janela ali não havia alteridade alguma. O outro era negado em sua alteridade e afirmado
em sua diferença a partir do sentido que recebiam em função do projeto alemão.” (MANCE, E. A.
Emmanuel Lévinas e a Alteridade. Revista Filosofia, Curitiba: PUC, vol. 7(8), p. 23-30, abr.,
1994.)
37
Nas palavras de Nélio Vieira de MELO: “O il y a é a experiência da escuridão da noite que pre-
enche todos os espaços e invade todas as possibilidades de ser. É a noite do ser irremissível, sem
perspectiva de determinar-se. As trevas da noite do ser são o horror do ser e não para ser: o hor-
ror que executa a condenação àquela realidade perpétua, sem saída da existência. O horror da noite
é sem dúvida o momento inevitável, o instante do nada de ser.” (A ética da alteridade em Emma-
nuel Lévinas, p. 36)
51
pode experimentar também quando se pensa que, ainda se nada existisse, o facto de que
‘há’ não se poderia negar. Não que haja isto ou aquilo; mas a própria cena do ser estava
aberta: há. No vazio absoluto, que se pode imaginar, antes da criação – há.38
Esse il y a (há) é o Ser em geral consagrado na ontologia, ou seja, um Ser
impessoal que sempre retorna a si-mesmo, ao humano como um nada, desprovido
de sentido e que, portanto, pode ser destruído.
A indeterminação desse ‘alguma coisa ocorre’ não é a indeterminação do sujeito,
não se refere a um substantivo. Ela designa como o que o pronome da terceira pessoa na
forma impessoal do verbo... essa ‘comunicação’ impessoal, anônima, mas inextinguível
do ser, aquela que murmura no fundo do próprio nada, fixamo-la pelo termo há (il y a). O
há, em sua recusa de tomar uma forma pessoal, é o ‘ser em geral’. 39
A pergunta é: como fazer para sair desse não-sentido, do il y a? Se a ontolo-
gia tradicional é a porta de entrada para o Ser, é necessário agora achar a porta de
saída para o Ser, afim de que ele seja o que ele é.
Assevera Lévinas, portanto, que não basta conferir um significado aos entes
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0613172/CA
do mundo, pois na medida em que assim ajo, acabo por reduzir o outro a terceiro,
isto é, a um conceito dominado pelo meu Ser. Antes e sobretudo, é preciso deixar
o Eu de lado e Ser-para-o-outro – assumir a responsabilidade ética por ele -, pois
quando o Eu é para o outro, ele emerge da condição de il y a e ressurge desatrela-
do do Ser.
Daí outro movimento: para sair do ‘há’ não é necessário pôr-se, mas depor-se; fa-
zer um acto de deposição, no sentido em que se fala de reis depostos. A deposição
da soberania pelo eu é a relação social com outrem, a relação des-inter-essada. Es-
crevo-a com três palavras para realçar a saída do ser que ela significa.40
Percebe-se, assim, que Lévinas aponta como solução para a saída do Ser o
momento em que o Eu suspende a sua existência, onde ele despoja-se de seu Eu e
caminha em direção ao outro, que é diferente do si-mesmo. Quando isso ocorre, a
consciência rompe com o horror do il y a e passa a Ser-para-o-outro. A sociabili-
dade, portanto, é condição de saída do ensimesmamento do homem contemporâ-
neo.
38
LÉVINAS, E. Ética e Infinito. p. 39-40.
39
LÉVINAS, E. Da existência ao existente. p. 93-94.
40
LÉVINAS, E. Ética e Infinito. p. 43.
52
Outrem, enquanto outrem, não é somente um alter-ego. Ele é o que eu não sou: ele
é fraco enquanto eu sou forte; é o pobre, é a viúva, e o órfão (...) Ou então é o es-
trangeiro, o inimigo, o poderoso. (...) O espaço intersubjetivo é inicialmente assi-
métrico.42
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0613172/CA
41
Alter-ego (do latim alter = outro, ego = eu) pode ser compreendido em sua literalidade como
outro eu.
42
LÉVINAS, E. Da existência ao existente. p.
43
LÉVINAS, E. Totalidade e Infinito, p. 26.
44
“À primeira vista, pode parecer simplista individuar o rosto humano como referencial do discur-
so ético. O rosto, como parte do corpo humano, é privilegiado pelo fato de concentrar em si os
sentidos superiores, fatores principais da comunicação e das relações interpessoais: a visão, a voz,
53
a escuta e um outro sentido importante, que é o paladar. Mas não é isso que caracteriza o rosto,
segundo Levinas. Sua importância não seria por esse motivo. A epifania do rosto não teria nada de
perceptivo, enquanto é entendido como relação ética. O rosto não é um fenômeno; ele não é uma
oferta de dados a serem considerados, compreendidos dentro de uma lógica e concebidos dentro da
dimensão conceitual. O rosto é o que mostra, o que fala e o seu silêncio, também. Este é, enfim,
lugar de transgressão da diferença radical da visibilidade e da invisibilidade do indivíduo.” (ME-
LO, N. V. de. A ética da alteridade em Emmanuel Lévinas. p. 90-91)
45
“A epifania do rosto marca a novidade da reflexão ética levinasiana e inscreve-a entre os filóso-
fos da alteridade. O rosto não é um fenômeno, não é ‘qualquer coisa’ que se dá, que é possível de
ser visado. O rosto se manifesta no Vestígio, como Mistério; sua manifestação me desconcerta e
me desassossega, põe em questão a soberania da minha consciência. O rosto é uma epifania do
Totalmente Outro.” (MELO, N. V. de. A ética da alteridade em Emmanuel Lévinas. p. 108-109)
46
LÉVINAS, E. De Deus que vem a idéia. p. 15.
47
LÉVINAS, E. Ética e Infinito. p. 69.
54
completar, satisfazer. Este Desejo é que será responsável por mover o Eu-em-
mim-mesmo para o outro face a face. É nesse momento que a ética surge como
fundamento da relação entre o Eu e o outro. A ética é a experiência do outro, é
sentir no Eu a infinitude do outro50.
48
“Na impossibilidade de apreensão do Outro pelo Eu, uma vez que o infinito do Outro arrebata a
posse, tem-se na perspectiva filosófica de Lévinas o reclame por uma tarefa reflexiva acerca do
redimensionamento das questões humanas, tais como: a realidade dos oprimidos, dos abandona-
dos, dos estrangeiros, das viúvas, das crianças etc, sob o fundamento ético a partir do Outro. Tem-
se o abandono de um Eu centrado em si mesmo para a construção de um tecido humano a partir do
outro, fundado no desejo metafísico.” (GOMES, D. R. M. Alteridade como fundamento da justiça:
um estudo da alteridade no âmbito da filialidade. p. 39)
49
É um desejo que não parte de mim, vem do outro, e é impossível de ser satisfeito exatamente em
razão da infinitude desse outro.
50
“O Desejo do Outro enquanto Outro é considerado por Lévinas tanto como o Desejo do Invisí-
vel: pois deseja o outro que como tal não pode ser visto sob a fenomenologia do olhar, sob a luz da
razão, que permanece um mistério não profanado; quanto como Desejo do Infinito: pois o outro
como outro revela-se infinitamente outro não podendo ser aprisionado em um conceito com suas
determinações imanentes, manifestando-se sempre como surpresa e novidade; ou ainda como De-
sejo Metafísico: pois deseja o outro para além da totalidade ontológica de um sentido que a ele se
estabeleça previamente em nosso mundo. Este Desejo move o Eu e o Outro ao face a face, que se
realiza como proximidade em uma relação interpessoal de responsabilidade aberta ao Infinito. Tal
Desejo não se conclui no gozo, pelo contrário o desejado não satisfaz o Desejo, mas o aprofunda.
A metafísica, conforme Lévinas, deseja o outro para além das satisfações.” (MANCE, E. A. Em-
manuel Lévinas e a Alteridade. p. 27)
55
O Desejo não pode ser satisfeito; que o Desejo, de alguma maneira se alimenta
com as próprias fomes e aumenta com a sua satisfação; que o Desejo é como um
pensamento que pensa mais do que não pensa, ou do que aquilo que pensa.51
É, portanto, o Desejo metafísico que impulsionará o Eu a se relacionar com
o outro e realizar a alteridade, na medida em que ele se revela como uma abertura
ao desconhecido, ao novo, ao diferente, ao mistério.52
infinito, este será responsável por provocar nele ainda mais Desejo de infinito pelo
outro54. Esse outro oriundo do Desejo metafísico não provoca a totalidade do Eu
porque este nunca se sacia.
Também é importante destacar que esta relação que se estabelece no
encontro do Eu com o outro se dá na linguagem. Nela o outro não apenas se
expressa como também se faz presente como absolutamente outro, como
exterioridade. Nas palavras de PIVATTO55, o Eu é separado do outro por um
abismo e, para transpor esse ‘abismo’ é necessária a construção de uma ‘ponte’
51
LÉVINAS, E. Ética e Infinito. p. 83-84.
52
“Assim, o sentido metafísico do desejo é desejar a alteridade. A análise do desejo metafísico
desencadeia as rupturas necessárias para o surgimento da alteridade, anunciando o afastamento da
subjetividade centrada na razão moderna ocidental.” (GOMES, D. R. M. Alteridade como funda-
mento da justiça: um estudo da alteridade no âmbito da filialidade. p. 41)
53
LÉVINAS, E. Totalidade e Infinito. p. 3.
54
“Se a necessidade é a abertura e a defasagem para a plenificação no gozo e na felicidade, o dese-
jo é abertura pura em direção a uma promessa pura: no desejo, a subjetividade não apenas se sente
rompida, como fome incurável mesmo de quem teria suficiente pão da mundaneidade, não só vê
reluzir a promessa de uma riqueza diante da qual se sente miserável apesar de toda a riqueza do
mundo, mas o desejo mesmo é o surplus e energia sem ardor de necessidade e de eros, surplus
puro que provém do infinito e do bem como condição de possibilidade de deportação e de êxodo
ao absolutamente além, um movimento que se orienta à altura do Ideal e à humanidade de quem é
nada neste meu rico mundo.” (SUSIN, L. C. O homem messiânico: uma introdução ao pensamen-
to de Emmanuel Lévinas, p. 266)
55
Palestra proferida em 15 de setembro de 2005 na Pontifícia Universidade Católica do Rio Gran-
de do Sul.
56
para a comunicação, lembrando, porém, que essa ponte não é construída para se
buscar o complemento no outro, ou uma troca, e sim, o diálogo.
pelo outro mas não lhe confere o poder de comando, o outro intima o Eu a ser por
ele responsável, independentemente da escolha do Eu.
Importante pontuar, ainda, que para Lévinas a morte demonstra a
impossibilidade de fuga, é algo que escapa do nosso alcance, que não é passível
de apropriação, que nem mesmo se pode compreender. Ela é um convite para se
pensar o humano além do Ser.
56
LÉVINAS, E. Totalidade e Infinito. p. 276.
57
LÉVINAS, E. Entre Nós. Ensaios sobre a alteridade. p. 237.
58
“A responsabilidade pelo Outro é tratada, neste último livro, como estrutura fundamental da
subjetividade. Afirma-se que a percepção do rosto não é da ordem da intencionalidade que ruma
para a adequação. Assim, ao emergir o rosto do outro em meu mundo, desde que o outro me olha,
sou por ele responsável. Como vimos, somente no exercício de tal responsabilidade é estabelecida
a proximidade. Perante o outro a atitude humana é dizer Eis-me aqui!. Esta disposição de fazer
57
alguma coisa por outrem, esta dia-conia é anterior ao dia-logo. O rosto, que emerge no mundo,
simultaneamente nos pede e nos ordena, isto é, interpela-nos, pede-nos na condição ética de nos
ordenar. Contudo, por mais que o eu assuma a sua responsabilidade pelo outro, não se pode exigir
reciprocidade, pois a responsabilidade do outro é problema dele.” (MANCE, E. A. Emmanuel Lé-
vinas e a Alteridade. p. 29.)
59
“A relação ética ou a nova ordem do pensar é a inversão da ordem totalitária da razão e o resgate
do humanismo do outro homem. A filosofia se torna a sabedoria do amor, sabedoria mais antiga
que o conceito, revelação apofântica, mistério inapreensível. A alteridade do outro é a única via de
imersão no mistério da criatura e do Criador, e a redenção se realiza na imediatidade da relação
ética. No amor do homem pelo outro se revela o amor de Deus, e se descortina o novo modo de ser
do humanismo.” (MELO, N. V. de. A ética da alteridade em Emmanuel Lévinas. p. 21)
60
LÉVINAS, E. Ética e Infinito. p. 107.
61
“A substituição não um ato voluntário, altruísta ou desesperado, fundado na liberdade ou na au-
todeterminação de um sujeito que faz a escolha heróica de dar a vida por alguém. A substituição é
pré-originariamente constitutiva da subjetividade, anterior a toda decisão livre de pôr-se em lugar
de outro e condição de possibilidade e sentido último de uma tal atitude altruísta. O sentido último
58
3.3.2
Da responsabilidade pelo outro a uma noção da justiça em
Emmanuel Lévinas
do ato está na passividade pré-originária da subjetividade que atua.” (COSTA, M. L., Levinas:
uma introdução, p. 179)
62
“Levinas parte, portanto, da impossibilidade da racionalidade ética ser fundada no sujeito, no
nominativo do Eu penso – Eu -, para a possibilidade ética centrada num outro modo de ser, além
da essência -, no Outro, no acusativo – Me – da resposta: eis-me-aqui.” (MELO, N. V. de. A ética
da alteridade em Emmanuel Lévinas. p. 202)
63
“A idéia que se pode ter ao ler Autrement q’être é que o autor inverteu todo o caminho da des-
coberta da subjetividade, pondo o sujeito pelo avesso. O sujeito levinasiano é invertido, necessita
de outrem para se entender como sujeito. O Eu existente sem tempo e sem repouso no conceito. A
relação ética é o ponto de partida e de chegada da reflexão levinasiana. Pensar autrement é uma
tarefa exigente e complicada. Exige o abandono do Mesmo da condição de condutor da racionali-
dade; exige que o Eu abandone o seu lugar privilegiado e se torne responsável, servidor, incapaz
de matar ou de reduzir o outro num conceito. Toda complicação do pensar autrement está na con-
dição de pensar outro modo de ser do sujeito.” (Nélio Vieira de Melo, A ética da alteridade em
Emmanuel Lévinas, p. 18)
59
concepção da filosofia, ela deixa de ser quem tem a última palavra e passa a ser
fruto da relação entre Eu e o outro. Dessa relação do Eu com o outro surge a ética
levinasiana, a chamada ética da alteridade, que preconiza uma responsabilidade
pelo outro não dependente de justificação normativa e que é a porta de saída do
Ser.
O Rosto, como eminência do outro, convida o Eu a uma relação em que o
poder não se faz presente, mas reclama uma responsabilidade incondicional sem
qualquer contorno jurídico, pois não será a lei que a determinará e sim a simples
epifania do Rosto.
A dificuldade surgirá quando aparecer o terceiro. Para Lévinas, enquanto
entre Eu e o outro se estabelece uma relação de socialidade, decorre a
responsabilidade traduzida pela alteridade ética. Mas se há um terceiro, a justiça
aparece como multiplicadora da responsabilidade entre os homens na sociedade.
As inúmeras relações humanas formam uma vivência plural onde se tornam
necessárias a elaboração de leis e o estabelecimento da justiça institucional para
que a responsabilidade do Eu para com o outro se estenda a todos os outros.
Como é possível haver uma Justiça? Respondo que é o facto da multiplicidade dos
homens e a presença do terceiro ao lado de outrem que condicionam as leis e
60
64
LÉVINAS, E. Ética e Infinito. p. 81.