PR 2003 56

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Projeto

PERGUNIE
E
RESPONDEREMOS
ON-LlNE

Apostolado Veritatis Splendor


com autorização de
Dom Estêvão Tavares Bellencourt. osb
(in mamoriam)
APRESENTAÇÃO
DA EDiÇÃO ON-LINE
Diz São Pedro que devemos
estar preparados para dar a razao da
nossa esperança a todo aquele que no-Ia
pedir 11 Pedro 3.15).
Esta necessidade de darmos
conla da nossa esperança e da nossa fé
hoje é mais premente do que outrora.
, .' visto Que somos bombardeados por
numerosas correntes filosóficas e
religiosas contrárias à fé católica. Somos
assim incitados a procurar consolidar
nossa crença católica mediante um
aprolundamento do nosso estudo.
Eis o que neste site Pergunte e
Responderemos propõe aos seus leitores:
aborda questões da atualidade
controvertidas, elucidando-as do ponto de
vista cristão a 11m de que as dúvidas se
. dissipem e a vivénda católica se fortaleça
_. • no Brasil e no mundo. Queira Deus
abençoar este trabalho assim como a
equipe de Verttalls Splendor qUIJ se
encarrega do respectivo sita.
Rio de Janeiro, 30 de julho de 2003.
Pe. Estevão Bettencollrt, OSB

NOTA DO APOSTOLADO VERITATIS SPLENDOR

Celebramos convênio com d. Estevão Benencourt e


passamos a disponibilizar nesta área . o excelente e sempre atual
conteúdo da revista teológico - filosófica ·Pergunte e
Responderemos ·, !:lua conta com mais de 40 anos de publicação.
A d. Estêvão Bellencourt agradecemos a confiaÇ8
depositada em n05SO trabalho. bem como pela generosidade e
zelo pastoral assim demonstrados.
! ..

,. ,;

281

"Podemos Confjlf no
Novo lenamemo?"

Por qltlll,lm Católico nIo pode


Itr Ma90nl

1 Contr04. da NI,.nd.de:
i Cbm que Meios?

Psicoterapia e Sentido da VidI"

"Suiddi:O : Modo de Usar"

" Quando as CoiYI RuiM Aconlecem


às Peuoat Boti"

JULHO -AGOSTO - 1985


PERGUNTE E RESPONDEREMOS Julho· Agosto - 1985
PubIfca9lo blrneatral N9281

Dir'eIor·R...-.... : SUMARIO
D. Esltvlo senencourt OSB
AutO!' • Red ator de todl • mat6 rla
publicada neste periód ico E)lortaQio Aport6liCII P6s-sinodal:
Ontor-Ac:tminlatrador RECONCILIAÇÃO E PEN ITtNCIA ..•210
D. Hlldebrando P. Martln. DSB
Um liVT"O prtclOM:
" PODEMOS CONFIAR NO NOVO. TESTA·
AdmIIIiItnlçlo • dlRrftlulfjo:
MENTO?" Jonl'l A. T. Robi nson ••.•.. 284
Ediç6es Lum6n Cl'lrisll Aind. a M~nwil:
Dom Gerardo, 40 • 5' andat, SJ 501 POR aUE UM CATÓLICO NÃO PODE SER
Tel.: (021) 291-7122 t..IAÇ:OMl .••.•.••...•••..•.••300
calo postal 2G66 Midlcol f.lam :
20001 • Rio de Janeiro · RJ CONTROLE DA NATALIDADE : COM
QUE MEIOS? . . ...............308
Um cl.rão de luz:
Para pagamento da assinatura "PSICOTERAPIA E SENTIDO DA VIDA"
de 1985 queira depositar a im- por Viktor Frankl .. . . . ......... .329
portância no Banco do Brasil Um livro revolucionirio:
"SUICrOIO : MODO DE USAR" por CI.
para erédllo na Conta Corrente
Guillon li! Y. le Bonnlec •.•••......34 1
M' 0031 .304-1 em nome do Mos·
Um livro sobre. dor:
telro de São Bento do Rio de
" CUANDO AS COISAS RUINS ACONTE·
Janeiro, pagAvel na Agência da CEM As PESSOAS BOAS" por Harold
Pra'r8 Mau' (n9 0435) ou VALE Kushner . • . • .•. • . • . . .•...•••.•347
POSTAL na Agê ncia Ce ntral do livros em Estante ;•... . . . . .. ....• 354
RiO de Janeiro.

NO PROXlMO NOMERO
RENOVE QUANTO .....rEI
A SUA ASSINATURA 282 - Setembro·Outubro -1985
"Aos iOvtnt • k jo_ do mundo" IJoIo ".ulo
1Il. - A R'novaçio Carbm6tlct. - A III~j. proIbiu
• I,ill'" d. Bfbli. ? _ O 01..110 10 Foro Intimo. -
COMUNlQUE-N08 QUA.LQUER " O e 'tldO do VuK:.no", - ';O q ue , Rellgllo"
MUDANÇA DE ENDEREÇO IRublos AtVlSI. - "VId. Pulor&! : M.rla, Mft d.
J.sul·',
CompoIIçIo • Im."...1o:
MMlI'quel Sar.lv. ~
Santos Rodrlsu •• , 240
Rio de Janeiro Com aprovação ec lesiástica
DISCUTE-SE A FÉ •••
Os assunt9s concernentes à fé estão na ordem do dia . _.
Mas que é propriamente a fé?
- 1: a resposta do homem a Deus que lhe manifesta o
mistério de sua vida e o seu plano de salvação. t; wn diálogo,
no qual Deus oferece ao homem o acesso ao que Ele tem de
mais lnthno, e abre o col"ação da criatura para que acolha a
Palavra e os desIgnios do próprio Deus.
No centro desse diálogo estâ .)esUs Cristo. ~ a palavca
plena, encarnada. enviada pelo Pai., que nos leva consigo de
volta ao PaJ. Recebemos o Espírito, que nos faz filhos e nos
impele a Clamar com o b' Uho: cAbá. PaU.,
A pessoa de Jews Cristo é inseparável do seu Corpo pro·
langado que é a igreja lei 1.24; lCor 12.12·;"!1J •. _. Igreja
Limes, por l:i:le funaada e entregue a Pedro. Por isto não potJe
haver adesao a Cristo e â Pa18.vra do Pai se nào n a Igreja .
t;sta, vivlticada pelo Esplrito Santo, é o sacramento no qual
se torna poSSlVel e fecundo o nosso encontro com o Cristo e
o Pai. Ê na Igreja que, pelo Batismo, renascemos para a vida
etel'na.
Estas reflexões ajudam.nos B compreender as atitudes da
Igreja no tocante li. preservação da fê. Esta não é uma men·
sagem de filosofia ou de ciências humanas.,. 1.: a PBlavra da
Vida comunicada misericordiosamente por Deus aos homens
para que tenham vida em abundincia (cf. Jo 10.10); foi ron--
fiada à Igreja como Mãe e Mestra, A Igreja não é senhora
dessa Palavra. mas responsâvel diante do Pai e de J esus Cristo
pela fiel transmissão da mesma (d. Mt 28.18-20), Dal o papel
ingrato. mas necessário. que a Igreja cumpre, com abnegação.
em prol da Incolumidade das verdades da fé. Tal tarefa é um
serviço prestado aos homens; estes são espontaneamente leva·
dos a identificar Palavra de Deus e palavra do homem. cJgreja.
Coq>O de Cristo» e _sociedade de pessoas retas, que valem
quanto valem seus. membros:.. Se a Igreja se furtasse covarde-
mente à sua missão transcendental para agradar aos homens,
trairia o Cristo (cf. Gll.lO) e os próprios homens, talvez sob os
aplausos de quem não entende do assunto. A Igreja, porêm,
prefere enfrentar a contcstacão a deixar de ser fiel; é o Espi ~
rito que a guia através dos escolhos desta caminhada.
O fiel católico compreende este deslgnio de Cristo a res-
peito da sua Igreja. E. ao dizer o seu Sim ao Senhor, diz um
Sim filial à Igreja, pois sabe que cnão pode ter Deus por Pai
no céu quem não tem a rgreja por Mãe na terra:. (5. Cipriano,
11& Wlidode ela Igreja, <. 4).
E.B.
·PERGUHTE E RESPOHDEREMOS.
Ano XXVI - Nt 281 - Julho-ggOSlc de 1985

Exortaçio Apostólica pó...lnodal:

"Re(onciliação e Penitência"
fIn ,ln1ne: A Exortaçao Aposlóllca "'Reconcll laçAo e Penitência-
apresenla • doutrina da 'greja *Obre o assunto reesluoaoa no 510000 00.
Bispo ele 1983. V.rlllca li perda do sentido do pecado em nos los. dias,
em conseqUncla da perda do Ilnlldo de Oeus. Chama a .Iançao par.
a Irlsle rBalldade do pecado, que, em úlllma análise, é 11. causa das dlvlsOes
e dllaceraçOca da que solre a humanldada. E apresenta -. mlsslo raço"çlll.-
dor. da IG,eJa, mlnlo que se exerce através do diálogo, da catequese e dOI
Jlcramentos. especialmente o ••cfamenlo da PenU t ncl•. Este é considerado
com detida atençlo, principalmente por ca\J$& de equlvocos que hoje em
dia obnubll.m li doutrina da Igrela relativa 11. Penitência; o DocumentG desce
e ponderalj6es multo pr6tlcas e concretu, que ° tornam preclolo par••
orlentaljlo doi 1161a em gera' (c'érlgos e lelgosl.

• • •
Com a data de 2/12/ 84. o S. Padre João Paulo li publi-
cou a Exortação Apostólica Pós-slnodal Intitulada cReconcl-
liação e Penitência., Neste documento o Sumo PonUfice, na
base dos estudos do Sinodo Mundial dos Bispos de 1983. e das
proposlç6es dai decorrentes. formula de manel.ra abalizada a
doutrina católica: cO documento . . . pretende ser a resposta
que se Impõe a tudo aquilo que o Sínodo me pediu. Entre-
tanto, é ele também . .. obra do mesmo Sinodo:t (n' 4).
A Exortação Apostólica consta de Introducão e três partes.
A Introdução expõe a origem e o propósito do documento;
o mundo dilacerado anseIa profundamente por reconciliação
_ reconciliação dos homens com Deus e entre si; esta recon-
ciliação 86 serA vlâvel e duradoura se for baseada na penitên-
cia e n8 conversA0 dos corações.
- 270-
. RECONCILlACAO E PENITt.NCIA1> 3

A primeira parte apresenta cConversão e reconciliação


como tarefa e compromisso da Igreja... Desenvolve a pará-
bola do filho prõdigo (Lc 15,11-32), onde duas figuras apare-
cem em relevo: o filho que se afasta do pai (Deus), e o filho
que se aparta do irmão; consid~ra também a figura do SaJ-
vador, que confiou à Igreja a missão de reconc1liar.
A segunda parte tem por titulo «O amor maior do que o
pecado»: detém-se sobre o Mistério do Pecado (com observa~
ções de ordem pastoral muito precisas), ao qual se contrapõe
o Mistério da Piedade. que é o próprio Cristo (cf_ 2TJI 2,7;
lTm 3,15).
A terceira parte prop6c cA Pastoral da Penitência e da
ReconcilIação», Indica os diversos meios que promovem wna
e ~utra: o diálogo, a catequese e os sacramentos, sendo que
o sacramento da Reconciliação merece atenta consideração,
voltada para a práUca pastoral.
O documento é rico em proposleões; doutrinárias e normas
de aplicação concreta. Nas págjnas subseqüentes, apresenta-
remos com ênfase especial os tópicos que interessam direta-
mente 'à vivência cristã e à experiência pastoral.

1. O Mistério do Pecâdo (n.ol 14-181


A B!blla nos apresenta o pecado em dois textos Uplcos,
colocados logo no inicio do Livro Sagrado: Gn 3,1-24 e Gn
11,1-9. Trata-se do pecado dos primeiros pais e do da torre
de Babel. &tes casos típicos apresentam os dois momentos
constitutivos de todo pecado:
- ruptura com Deus, que pode chegar a ser negaçlo
explícita no fenômeno chamado catelsmo»;
- ruptura com os irmãos, desagregação da famllia hu-
mana; após o primeiro pecado, o homem e a mulher se acusam
mutuamente (cf. Gn 3,12) e o irmão, hostli ao irmão. acaba
por tirar-Ihe a vida (cf. Gn 4,8). Após o pecado de Babel,
a divisão chega a~ extremo na sua forma social.
c O mlstêrio do pecodo , formada por esto duplo ferido, que a
pecador obre no HU pr6prio selo e na ,elação com ° pr6xlmo. Por
isto ptlde falar-UI de pecodo p.uool e lociol; todo pecado, 101. um
OlpKltI, é ",ciol, enquanlo e porque tem tClmbém conl•.qOAndol
5O(iaiu (n' 151.

- 271-
" cPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 281/1985=-_ _ __

1 .1. Pecado peuoal fn' 16)

o pecado, no sentido próprio, é sempre um ato da pessoa


individualmente considerada. Esta pode ser condicionada por
fatores externos como também por tendências e hábitos Ine-
rentes à sua individualidade ; tais elementos atenuam, em grau
maior ou menor, a liberdade c, conseqüentemente, a responsa-
bilidade e a CUlpabilidade. Não se julgue, porém, que o ser
humano é tão condicionado que careça de livre arbitrio; resta
sempre fl cada Indivíduo sadio a capacidade de opção, a ser
mais e mais afirmada em meio às pressões de cada dia. Nio
se pode Ignorar esta verdade atribuindo os pecados às estrutu-
ras e aos sistema", como se não fossem atos de pessoas. cEm
todo homem nada há de tão pessoal e intransferivel como o
mérito da virtude c a responsabilidade da culpa~ (n9 16) .
Como ato pessoal, o pecado tem as primeiras e mais 1m.
poctantes conseqüências no próprio pecador, pois o afasta de
Deus, lhe enfraquece a vontade e obscurece a inteligência.
Pcrgunla-se então: que entender por cpecado socjal ~ , de
que falaram os padres slnodals?

1 .2 . Pecado sodal Cn' 161

1. A expressão ..pecado social. pode ter três acepções.

a) cPecado social. será o fato de que todo pecado tndl~


vidual tem repercussão sobre os outros em virtude da miste-
riosa solidariedade que une os homens entre sI. Em linguagem
teológica, esta solidariedade pode ser chamada cComunhão dos
Santos" graças Q qual doda alma que se eleva, eleva o mundo
inteiro~; a esta lei da elevação corresponde, infelizmente, a lei
da descida. de tal modo que se pode falar de uma comunhão
no pecado. em virtude da qual uma alma que se rebaixa pelo
pecado alT8St.a .conslgo a Igt'eja e, de certa maneira, o mundo
inteiro. Na verdade, nenhum pecado, por mais Intimo e secreto
que seja. diz respeito apenas à pessoa que o comete.
b) P<lr cpecado soclab pode-se entender também aquele
que constitui, por seu próprio objeto, uma agressã.o direta 80
próximo. 1: social. portanto, o pecado cometido contra o amor
ao irmão ou contra a jusUça, seja nas relações de pessoa a
pessoa, seja nas da pessoa L'Om o. comunidade, seja ainda nas

-272 -
~RECONCILlAÇÃO E PENITt:NCIA,. 5

da comunidade com a pessoa. Exemplificando, podemOs arr0-


lar entre OS pecados sociais toda violacáo dos direitos da pes.
soa humana, a começar pelo direito à vida, inclusive a do nas·
clturoj toda sufocação da liberdade alheia, especialmente a de
crer em Deus; toda omissão da parte dos dirigentes poUticos,
econômicos e sindicais que, embora podendo, não se empenhem
no melhoramento da sociedade, como também da parte dos
trabalhadores que faltem aos seus deveres de presença e oola-
boração para Que as empresas possam servir a eles próprios,
às suas tamitias e li sociedade.
c) cPecado social. pode ser tambêm o que afeta as reta-
eões entre as vârias comunidades humanas; estas nem sempre
estão em sintonia com o designio de Deus, que quer no mundo
justiça, liberdade e paz entre os indivíduos, os grupos e os
povos. Assim a Juta de classes é um mal social; da mesma
forma, a luta obstinada de blocos de nações ou de uma nação
contra outra(s). Em tais casos, é certo que se torna dificil saber
quais as pessoas a quem toca a responsabilidade de tais males
e, por conseguinte, o pecado. Tais lutas e as situações dai
resultantes podem agiganlar-se como fatos sociais a ponto de
não se conseguir discernir as suas ausas; têm-se então reali-
dades canônlmas.. Em tais circunstâncias, só se pode admitir
pecado social em sentido analógico ou menos próprio.
Em todo aso, falar de pecados sociais, m esmo em sentido
analógico, não deve induzir-nos a subestimar a responsablll·
dade individual das pessoas. Ao contrârio, esta expressão é
sempre uma alerta para que cada um assuma as próprias res-
ponsabilidades de trabalho por modificar as situações iníquas
e intoleráveis.
2. Dito Isto, é preciso observar ainda que não se deve
diluir a noção de pecado pessoal para só admitir culpas e res-
ponsabilidades sociais. Segundo esta atitude, que se deriva d e
sistemas não cristãos, todos os pecados seriam Imputáveis nAo
tanto a uma pessoa quanto a uma coletividade vaga ou anô-
nima (a situação, o sistema, a sociedade, as estruturas, a ins-
tituição, etc.).
Quando a Igreja fala de situaçÕeS de pecado ou de peca-
dos sociais. quer dizer que tais males resultam da acumulação
de muitos pecados pessoais. cTrata-se dos pecados de quem
gera ou favol"CW a iniqWdade . . " de quem, podendo fazer algo
para evitar... ou pelo menos limitar certos males soclals,
- 273-
-6 .PERGUNTe E: RESPONOEREMOS~ 281/1985

deixa de o fazer por preguice», por medo ou por conivência


temerosa, por cumplicidade disfarçada ou por indiferença; de
quem procura desculpas na pretensa impossibilidade de mudar
o mundo; e, alnda, de quem pretende esquivar-se ao cansaço
e ao sacri.f'lcio, aduzindo razões especificas de ordem superior.
As verdadeiras responsabilidades, portanto, são das pessoas:t
(n9 16).
Uma situação. uma estrutura. uma instituição não é. de
per si, sujeito de atos moraIs; SÓ a pessoa o é. Por isto, no
fundo de cada. situaÇão de pecado se encontram indivíduos
pecadores. Por conseguinte, caso se mudem as estruturas por
força da lei ou pela lei da força, sem transfonnar as pessoas
responsáveis por tais Instituições, as mudanças revelam-se ine-
ficazes ou mesmo contraproducentes. A conversão dos cora-
ções é indispensável para que ~ tornem mais justas as estru-
turas e sltuacÕCS.
Outro ponto discutida, sobre o qual O S. Padre prorere
abalizada palavra, é o seguinte:

1 .2 . P. todo ,"ortal. pec:ado veniol In f 17)

1. A Teologia Moral costuma distinguir os pecadOS em


graves ou mortais e leves ou veniais. Verdade é que se torna
por .vezes dificll estabelecer nítidas fronteiras entre aqueles e
estes.
Tal dlsUncão é baseada tanto na S. Escritura como na
Tradicão da Igreja.
Com efeito; lá no Antigo Testamento os pecados de impu-
reza (cf. Lv 18,26-30), idolatria (cf. Lv 19,4), culto de falsos
deuses (Lc 20,1-7) ... faziam que o pecador fosse «eliminado
do' Seu povO:t OU mesmo condenado à morte (cf. Ex 21,17;
Nm 15,31). O livro dos Números distingue também entre fal-
tas comeUdas por erro ou ignorância e faltas deliberadas (cf.
Nm 15.22-31; Lv 4.2; 5,25). No Novo Testamento são apon-
tados pecados que merecem especial condenação, como homi-
cidio, adultério, prostituição, roubo, falso testemunho, injúrias
(cf. Mt 15,19), longa série de déprava93es encabecadas pela
Idolatria e as perversões sexuais (cf. Rm 1,18-32), as faltas
grosseiras de temperanca (cf. Rm 13,13). A gradação dos
pecados aparece em Mt ~,22-24.

-274-
..RECONCILIAÇAO E PENIT:eNCIA. 1

Em conseqüência, S. Agostinho (t 430) falavra dos letaIla


ou mortUora. ' crmuna em oposiCã,o a venia.lia., Ievia ou quoU·
dia.na. $, Tomás de Aqulno (t 1274) retomou esta distincão
e a fonnulou de modo deCinitivo para os seguintes séculos.
O Concilio de Trento, por sua vez, confirmou a Tradição e lem-
brou que, para haver pecado grave ou mortal, se requer o
preenchimento de três condicões: 1) haja matér1a grave;
2) . . . conhecimento de causa e 3) vontade deliberada. Além
disto. explicitou que existem pecados cuja matéria é Intrinse-
amente grave ou mortal ou, ainda, atos que são sempre gra.
vemente Uicitas por moUvo do seu objeto; caso sejam come-
tidos com advertência e liberda de plenas, são sempre culpa
grave.

Esta doutrina, tão fundamentada nas Escl'iluras e na Tra-


dição, é comprovada pela experiência: o homem percebe que,
na sua caminhada para Deus, pode parar ou distrail"'Se. sem
todavia abandonar o rumo de Deus; neste caso há pecadO venial
(o qual. por não ser mortal, não deve ser tido como . algo de
pouca monta :. ou negligenclável). A criatura também percebe
que, com um ato consciente e livre da sua vontade, pode inver-
ter a marcha, caminhando em sentido oposto à vontade de
Deus, o que quer dizer: . .. afastando-se da vida e escolhendo
a morte; dai o pecado mortal. Este implica sempre aversão
de Deus e conversão para a criatura - atitudes estas que
podem ocorrer ou de modo direto e expliCito. como nos peoados
de apostasia, ateísmo e idolatria, ou de modo Indireto e lmpli-
cito como em toda transgressão grave dos mandamentos de
Deus (adultério, latrocinio, homicídio, perversão Rexual . . . ).

Quanto ao pecado para n morte, de que fala São João,


em oposição ao pecado que não leva à morte (lJo 5,16-21),
trata-se da culpa que leva à perda da verdadeira vida (que é
eterna); no contexto de lJo 5, parece significar a negacão do
Filho ou o culto de falsas Divindades; é a recusa de Deus que
$f! exerce na apostasia e na Idolatria.

Em outra página do Novo Testamento (Mt 12.315) . Jesus


faJa de ..blasfémia cOntra o Espírito Santo:. como pecado lrre-
missivel, pois é a recusa da própria remissão ou do perdão; é
a obstinação final na Impenitência. Só não encontra perdão
porque o pecador não o quer, e não porque falte a Deus 8
misericórdia para o conceder. Este, na verdade, está sempre
pronto para receber o pecador arrependido.

-275 -
8 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS:!o 281119B5

2. Ora durante o Sinodo de 1983 foi proposta nova ma-


neira de distinguir os pecados: haveria as laltas leves, as gra-
ves e e.s mortais. As leves seriam as cJássicas faltas venialsi
as graves seriam as que poriam em sério perigo a vida da
graça, as mortais extinguiriam por completo a vida sobrena-
tural Estas últimas estariam associadas à mudança de opção
fundamental; o que quer dizer que SÓ haveria pecado mortal
quando o cristão trocasse explicitamente a sua opeão báslea,
escolhen(Jo consciente e voluntariamente, em lugar de Deus,
wn bem críado como regente de toda a sua conduta. Assim
entendido, o pecado m<ortal seria algo de relaUvamente raro,
pois a maioria das pessoas cristãs que matam ou roubam ou
adulteram, MO tenciona deixar de ser cristã (mas talvez até
peçam a Deus que as ajude a ser bem sucedidas no seu ato
crimlnoso!).
A propósito observa o S. Padre João Paulo ll:
<l A Iriportldo distinção dos petados. poderia põr em relevo o fato
de quo enlre os pecados graves exisle uma gradação. Mas permanece
sempre verdgdeiro que 1;1 dislintão euencial e d«iliva 4 a que ellisle
entre pec=ados ,q lN dellroe", a caridade e pecados que não moto",
a vida sobrenaturnl; entre a vida e o morte não há 1\I;or pato meio·
-lermo » (nt 171.

Mais ainda: não se pode reduzir o pecado mortal e. um


ato de opção fundamental explícita contra Deus. O pecado
mortal jã existe, quando o homem, sabendo e querendo, esco-
lhe alguma coisa gravemente desordenada. pois em tal esc0-
lha j' e;:tão incluidos o desprezo da vontade divina e a rejei-
cão do amor de Deus; não é, pois, necessârio que o homem, ao
fazer tal <opção, diga expressamente 1rao a Deus. Por conse-
guinte, a opção fundamental pode ser radicalmente mQdlflcada
por atos particulares (coma o adultério, O roubo, <o morticí-
nio, . _). - AJiâs, estas ponderações jã haviam sido propostas
na Declaração ePersona Humana:. da S. Congregação pa.r a a
Doutrina da Fé sobre quest~ dt! ~ea aOS 29/ 12175.
Na base destas considerações, a Exortacão Apostólica
deixa de lado a nova nomenclatura e reafirma a clãsslca,
fazendo ainda notar o seguinte:
c Emboro mereçam opr.<:o lodol OI tenlolivos IinCer05 • prudente,
d. clclarecer o mistirio plicol6gico e teológico do pecado. o Igrela
lem, no enlonlo, o dever de recordar o todos OI .. sludiolol de"'"

- 276-
cRECONCILIAÇAO E PENITWCIA.. 9

mal~ria a necessidade. por um lado. de serem fiéis & PalevrCl de Deu ••


qve nos elucido tambêm sobre o pecodo e, por oUlro, o risco de
atenuar, ainda mail, no mundo contemporóneo, o senlfdo do 'Pecado»
In' 17' .

Assim se coloca logicamente novo aspecto do tema:

1 .3 . A perda do sentido do p.eado In' 18'


O contato com o Evangelho inspirou aos cristão~ no decor-
rer dos séculos, uma fina sensibilidade para os fermentos de
morte que estão contidos no pecado e para perceber os mil
matizes com que ele se apresenta. ;t a isto que se costwna
chamar sentido do pecado.
Este tem a sua raiz na consciência moral do hemem. Está
ligado 80 sentido de Deus, pois só o percebe quem percebe a
santidade de Deus. Ora, como não se pode apagar por com·
pleto o sentido de Deus, também nunca se pode dissipar intei-
ramente O sentido do pecado.
Todavia em nossos dias parecem gravemente obscurecidas
a consciência moral dos homens e a sua capacidade de rec0-
nhecer o pêCado, pois o próprio sentido de Deus se acha empa-
lidecido. Foi o que levou o Papa Pio XII a dizer que cO peeado
do século é a perda do sentido do pecado:t.
Pergunta-se: quais as causas de tal atenuação!
- São praticamente as: mesmas que motivam a obnubi-
lação do sentido de Deus, a saber:
1) O secularismo, Isto é, o humanismo que abstrai de
Deus, interessado apenas em produzir e consumir. sem se
preocupar com o perigo de cperder a própria almu. Nlo pode
deixar de minar o sentido do pecado. Acontece, porém. que o
mundo construIdo pelo homem sem Deus acaba por voltar-se
contra o próprio homem, pois Deus é 8 orJgem e o fim supremo,
que desvenda ao homem o mistério do homem. Os meios de
comunicação de massa e mesmo as insUtulções civis em nos·
50S dias apresentam modelos de vida que prescindem comple-
tamente de Deus; exibem padrões éticos que tendem a se
impor, mesmo l revelia das consclênctas Indlvtduais (duas ou
mais uniões conjugais slmultAneas, aborto, venaIldade, ne~
tismo, etc.).

-'n7-
10 ..PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 281/1985

2) Certas escolas de ciências humanas contribuem para


o esvaecimento do sentido do pecado. Com ereito, há. cor-
rentes de psicologia que pretendem eliminar a noção de culpa
e preconizam liberda de indiscriminada para o comportamento
do homem. Há também teorias de sociologia que descarregam
sobre 8 sociedade todas as culpas. inocentando sempre o indi-
viduo. Mais : uma certa antropologia cultural tanto enfatiza os
condicionamentos do ambi~nte (aliás, incgãveis) que já não
reconhece ao homem a responsabiUdade de seus atos e a pos-
slbUldade de seus atos e a possibilidade de pecar.
3) O relativismo historicista também desgasta o sentido
do pecado, pois afirma que as nonnas morais são mutãvels de
acordo com as diversas épocas da história, de modo que todo
principio ético tem valor meramente relativo; o que seria con-
denável outrora, poderia hoje ser perfeitamente aceito, e
vice--versa.

4) Também certa rorma de apresentação do pe<:ado deve


ser mencionada: hâ quem o identifique com um doentio senti-
mento de culpa. ou com a transgressão de preceitos legais, "de
foro externo. Tais caricaturas do pecado só pOdem provocar a
repulsa do conceito mesmo de pecado. Infelizmente podem
ocorrer em certas form as de ensino e educação como também
nos programas dos meios dê comunieacão de massa (televisão,
revistas, cinema, etc. ).

5) Até mesmo dentro da Igreja algumas lendéncias favo-


recem o declinlo do sentido do pecado. Assim, por exempJo,
em replica ao rigorismo do passado, muitos há que não que-
rem reconhecer culpa em comportamento algum.; ê. prep.çâo
demasiado enfática sobre a condenação eterna se substitui 8
de um amor de Deus que dirlamos cbonachão::t ; à severidade
das correções outrora ministradas se contrapõe um pretenso
respeito pelas conscléncias, que se omite e não diz a verdade
quanclo ela deveria ser proterida. Na teologia, na catequese,
.na pregação e na dIreção espiritual, são tantllS as opiniões e
drientaç6es propostas de maneira confusa ou leviana que os
fiéis acabam por não crer mais que exista o pecado. Menclo-
-néql<6e' ainda o Individualismo, que reduz o pecado a gestos
meramente"pessoa.is (que não afetam a comunidade), e o cole-
üviamÓi lqu8;JiliÓ contri.rio. ulrne de culpa os Indivlduos e acusa
ilDq:oletlV:ldllile!·lmpessoal. - Além do mais, o rltueJismo roti-
neiro tira ao sacramento o seu signifIcado pleno.
- 278 -
11

::t necessãrio, pois, restaurar nos homens o reto sentido


do pecado mediante uma boa catequese, a fidelidade ao magJs-
tério da Igreja e a treqüentacão cada vez mais C<lnsciente do
sacramento da Penitência.
Uma vez afirmada a realidade do pecado no mundo, o
documento apresenta, na sua terceira Parte, os meios de que
a Igreja dispõe para promover a penitência e a reconclllação.
Passamos a realçar alguns traços importantes desta parte
final da Exortaçã(l.

2. Pastoral da Penitência
O ministério ou serviço que leva à prática concreta ~~
penitência e da reconclllação, é chamado Pastoral da Penitên-
cia. Esta conta com diversos recursos, entre os quais a cate-
quese e o sacramento da Penitência.

2 .1 . Ccrtequele (n' 26)

A catequese hã de se tornar instrumento de eficaz peni-


tência, se ~la não se desligar do conteúdo doutrinai ensinado
pela Igreja; a ação pastoral não se opõe ao cultivo da doutrina
sagrada.
A catequese hã de mostrar, entre outras coisas, o valor da
prática da penitência; esta implica restabelecer o equilíbrio e a
harmonia violados peJo pecado mesmo à custa de sacrifícios.
Tal panorama encontra obstáculos na mentalidade incutida por
correntes de pensamento contemporâneos: o homem de hOje
parece encontrar dificuldades em reconhecer os seus próprios
erros e em retificar a sua marcha; parece recusar Instintiva-
mente todo sacrifício necessãrlo para se afastar do pecado.
Ora a disclplina penitenciaI da Igreja, embora multo mitigada,
não pode ser abandonada sem grave prejuizo para os cristãos
e para o mundo. c:Não é raro que alguns não cristãos fiquem
surpreendlcJos com o . fraco testemunho de verdadeira penitên-
cia da parte dos dlscipulos de Cristo~ (n 9 26). A catequese
sobre a penitência deverá pôr em relevo especial os seguintes
pontos:
- o sentido do pecado;
- as tentacões como ocasiões de crescer na fidelidade e
na coerência mediante hurnlldade e vigilância;
- 279-
12 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 281 / 1985

- O jejum como sinal de conversão e de união a Cristo


cru.c1ficado õ
- a esmola, qual meio de t ornar efetiva a caridade;
- o nexo existente entre a reconciliação elos homens entre
si e a reconciliação dos mesmos com Deus;
- as quatro reconcilia~ que consertam as quatro fra-
turas CWldamenlals: reconciliação do homem com Deus, con·
sigo mesmo, com os irmãos c com o mundo criado.
A catequese dedicam também especial atenção aos cha-
dos c:novissimos. do homem: morte, juizo (particular e uni-
versal), inCemo e para(so (não raro preoedldo pelo purga~
rio). SOmente à luz destas realidades definitivas é que se pode
ter a medida exata do pecado e o estimulo adequado para a
penitência.

Eficaz instrumento de catequese têm sido as missões popu-


lares, plenamente válidas em nossos dias desde que adaptadas
às peculiares exigências dos tempos atuais.
l!; digna de menção outrossim 8. doutrina social da Igreja,
que, • luz da Palavra de Deus, propõe elementos aptos à solu-
ção pacifica d03 conflitos sociais e à rcconcJliação universal.

2 ,:1 , O $ocramento da •• condlia~ão: doutrina In t 311

Entre outros tópicos, o documento proCessa a lgumas con~


vicçóes fundamentais, que perfazem uma sint.ese da doutrina
da Igreja.

1) Para um cristão. o sacramento da Peniténeia é a via


ordinária para obter o perdão dos pecados graves cometidos
depois do Batismo. Estâ claro que o Senhor Deus pode reali-
zar a salvação Cora e acima dos sacramentos; mas Ele quis
servlr-.se dos sacramentos como meio de santificação dos ho-
mens (cf. Jo 20,22). Por isso seria presunçoso pretender rece-
ber o perdão pondo de lado o sacramento Instituído por Cristo.
Aliás, não só a quem estA em pecado grave, mas tatnbém aos
fiéis que só tenham pecados leves, a Igreja recomenda o recurso
periódiCO e regular ao sacramento da Penitência. pois é sempre
um melo útil para a santificação de todos.

-280 -
_ _ _ _ _-'."R"ECO"""N"C"I"'LlA""'CAO E PENIT'tNClA~ 13

2} O sacramento da Penitência tem caráter judicial. To-


davia Supõe ' um tflDunaJ, que ê mais ae misencordia do que
de rigorosa jasti\,'8. Além disto. tal sacramento tem tambem
seu caráter terapêutico ou medicinal, pois o próprio Cristo :se
apresenta como médico (Lc 5.3lSi cf. Is 53,48). Para que a
medicina espirltuaJ se torne eficaz, requer-se, da parte do peni.
tente, acusação sincera e completa dos pecados.
3) O sacramento da Penitêncla procede por etapas, a
saber:
- exame de eouseIên_ que nada tem de ansiosa intros·
pecção psicológica, mas ê um confronto sincero da. conduta do
lnclividuo com as leis evangélicas propostas pela IgreJaj
- oontrteio. que 6 decidido repúdio do pecado com o pro--
pósito de não o tomar a cometer;
- ~ dos pecwtOl ao ministro habilitado; é o sinal
do encontro do Pé!cador com a Igreja e com o próprio Deus;
é o gesto do filho pródigo que volta ao pai e é por ele acolhido
com o ósculo da paz. Compreende-se que a acusação deva ser
individual e não coletiva, pois o pecadO é um fato profunda-
mente pessoal (que certamente lesa também a comunidade).
Esta confissão deve declarar todos os pecados graves o>m as
suas clrcunstincias próprias e o número de suas ocorrências;
_ .absolvição: é o perdão que o Pai. por melo do ministro
(também ele pecador" concede ao penitente;
_ satisfaçio: consiste em obras meritôrias. como orações
e mortlficaeões. que significam o compromisso, do cristão, de
começar uma vida nova e de procurar apagar todas as raizes
c as conseqüências do pecado em sua alma. Em vista disto é
p.1ra desejar que os atos dê satisfacão sacramental não se redu-
zam a fórmulas, mas impliquem obras de culto, de caridade,
de miserlcõrdla e de reparação.
4) A preparação e os predicados do ministro do sacra-
mento são de alta Importáncia. para o frutuoso ministério da
reconciliação; I! neeessa.rio, aliás, que o próprio sacerdote re-
<:orn periodicamente ao sacramento da Penitência para revi-
gorar-se ele mesmo na fonte da graça.
Tennlna O S. Padre estas considerações com wn apelo:
«Quero dIrigir UI'II indClnle apelo (I todo$ 0$ sacerdotes cio
mundo ... para .que fovor8f;:am (:om todas OI veral o freqüinda dOI
fiéil (I elle locromento, ponham em prótica todOI OI meios pouiv.il

-281-
14 cPERCIJNTE E RESPONDEREMOS. 281/1985

e convenlenles .. . para foul chegar .ao maior número de Irmaos


nos,os a graça que na, foi dada mediante a penitência poro a recon-
citlClção de cada Clima e de lodo o mundo com Deu, em Cristo~ (n' 31).

1 .3 . O saCl'flnl.~O do .eC'Ondliaçlio: celebração In." 32-331

Três são as maneiras de se celebrar o sacramento da Peni-


tl!ncia:

1) _dll~ Indlvlclual dos penilenles, único modo


normal e ordinâriOj

2) ReooDclr"aÇão de vários pen.itelltes com preparação


comunitária e confissão e tlbsolvição individuais; pode ser equi-
parada à primeira forma. pois Inclui a acusação auricular e a
absolvição pessoal;

3) Reconciliacão de vários penitentes com a. oonfissio e


... absolvição gerais. Revest:e-se de caráter excepcional, pois
supõe multidão de penitentes, insuficiente número de confes-
sores e o perigo de que, se não farem atendidos todos no mesmo
dia, tenham de ficar muito tempo sem os sacramentos. Com-
pete tão somente ao Bispo verificar se tais circunstâncias ocor-
rem em sua diocese, e estipular os dias em que, preenchidas as
condições, se poderá conceder a absolvição coletiva. Esta supõe
necessariamente, da parte dos fiéis. o propósito de se confes-
sarem na primeira oportunidade; não lhes é licito receber nova
absolvição sem terem previamente confessado os pecados ainda
não acusados. Os fiéis devcem ser instruidos pelos ministros a
respeito desta norma, antes da absolvição. o S. Padre enfa-
tizo Que a consciência dos pastores fica gravemente onerada
por estas disposições, Que o Sínodo e o Direito Canônico rea-
firmanun explicitamente:
cAo 'lKordor ol5im a doutrino e o lei da Igreja, é minha jntençóo
inculcor em todos o vivo sentido de responsabilidade que sempre nOI
deoq Siluiar 00 trotar dOI coisas logrados; estai não s(io prop,jedode
nosso, como " o caiO dOI sacramental; ou enlóa 11m direito o n óo
serem deixados na Incerteza e na confulôo, como ,ao os consciências.
Caisal lQ,CIrodos - repilo - são uns e oulras: OI sauamenlol e ai
consciências; e exigem do nouo parte serem servidos com verdade.

Ella • a razão da lei da Igreia~ (n' 331.

-282 -
.]lECONCILLAÇ..\O E PENrrnNCIA,. 15

2 .3 . ~ns casos incM delicados In' 341


Por úlUmo, o documento consIdera a situação daquelas
pessoas que desejam continuar a freqüentar os saaamen.tos,
mas levam um tipo de v:lda irregular, especialmente no plano
conjugal. J::: preciso que haja para com elas compreensão, que
não extingue o pavio ainda fumegantej mas também. não é
menos necessário que se observe o principio da verdade e da
coerência, pelo qual a Igreja não aceita chamar bem ao mal e
mal ao bem.
c.Baleondo-se neltes doil principiol complementore', a lareio
nao pode senCio convidar OI leUI filhol, que 5e encontram neslOs
tlluoç68$ dotoros"s, o aproximarem-.e da misericórdia divino por oulr,"
vias, mas não pela "io dos SGcramenlOI . _. olé que t."ham podido
alcanoar as co"diçÕ81 re~.rid(lu t n' 3<4 I_

Desta maneira é reafinnada e. narma clássica segwulo a


Qual tais pessoas não podem receber a absolvição sacramental
enquanto não mudarem de vida, nem, conseqUentemente-, a C0-
munhão Euoatistlca (aliãs, esta jamais deve ser recebida por
quem esteja em pecado gravej 11" 27). Todavia esses fléJs são
exortados a participar da S. Missa (sem Comunhão) I a reali-
zar seus atos de piedade e praticar a caridade, preparando assim
co caminho para uma plena reconclllação no momento que só
a Providência conhece_ (n' 34).
Assim se encerra o notável Documento do S. Padre João
Paulo Ir, que merece todo o apreço e a reverência dos fiéis,
pois dissipa concepções c atitudes que jâ não condizem com a
fé católica, e ajudam o povo de Deus (clero e leigos) 8. viver
de manei'r a Integra e pura a Boa Nova de Jesus Cristo.

-283-
Um Ilwo procIooo:

"Podemos (onfiar no Novo Testamento? /I


por John A. T. _ _

Em .lftl"l: John Roblnaon, bispo anglicano de WoolwJch (Inglaterra) ,


la l i tomou conhecidO' na 8r•• 11 por lU.. obra!- crltleas; · Um DeuI Dlterent.-
• lO", Fac. Hwnllnl de Deue-, Publicou mais recenlemenle 05 resultados do
mlnlUclou p. .qulu. cr.ntlllea re l.rante aOI .. crltOI do Novo Testamento ...
raulladOl que lhe pareçam corroborar plenamente a autenticidade da men-
ugem crbtl : OI 11'1(01 neotestamanttrios nos tranamltlram "'OI hltt6dco•
...Im como o genulno penumenlo da Cristo (Evangelhos ) e dos Apó.lolo.
(Iprstol•• ): • hlpóteae de qUI tenhl m fal.llleado o lenOmeno "Jaus", ,trl·
bulndo-lhe Indevidamente dlmen!IÕes divinas, é afastada; com aleito, o len(!·
meno " Crblillnlsmo· exige em IUaI bases. realluçlo de Iventoa qUI ullr.-
pUMm ai dlme • • oe. doa acontecimentos histórico, comun,: ou Cristo
rl.suscltou e o CrllUan/smo p6de lurglr 8 p8r'$lltlt; ou edsto nlo reu uICI-
tou . . . , mas em tat caso nem o Cristianismo teria surgido, pois nllo se pode
facil mente Idmltlr que vinte ACUrOS de Cristianismo tenham por base a
menllta, a fraudul'ncla ou a doença mental d e 'Imples plScadorel da
Galll4lla.
o 111110 • de leitura agrad'vel fi altamente enrlquecedora. Eis por que
vai rasumldo nu pAginas sellulnles.

• • •
John Robinson é bispo anglicano de Woolwich (Ingla-
terra), que se tornou famoso no Brasil por suas obras . Um
Deus Diferente. e cA Face Humana de Deus. (cf. PR 99/1968,
pp. 101; 174/ 1974, pp. 232) . Pertence à corrente seçularimnte
da teologia anglicana, a ponto que o seu livro cHonest to Goch
pôde ser traduzido para o francês com o titulo eDleu sans
Dieu. (Deus sem Deus).
Tal autor escreveu tamMm uma obra critica a respeito
do Novo Testamento: cCan we trust lhe New Testament1.
(Podemos confiar no Novo Testamento'?), que se destina 80
ptlbllco leigo de cultura média. O au tor conclui as suas pes-
QUisas de maneira muito positiva - o que é tanto mais slgni-
flcativo quanto se sabe que .rohn Rabinson defende posIções
- 284 -
..PODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO?:t 17

teológicas assaz liberais. Eis por que, a seguir, apresentare-


mos uma siritese da obra em foco, baseando-nos na respectiva
tradução francesa: cPeut~n se fier au Nouveau Testament!:t 1,

1. Os manuscritos do Novo Testamento e a critica


1 . Jesus falou aramaico, ao passo que os escritos do
Novo Testamento conservados até hoje se acham em grego.
Terá havido fidelidade no tradução do aramaico para o grego?
- Em resposta, observemos que a linguagem grega do Novo
Testamento está cheia de vocábulos e construções aramaJcas:
o paralelismo semita, o ritmo e 8 cadência das frases são mul-
tas vezes percepUvels; cf. Mt 5.3-12; 6,1-6.16-18; Me 14,36 ...
O grande estudioso Joachlm Jeremias esmerou-se por detec-
tar em numerosas passagens do Evangelho lpdU1mB verte
0hrtsU, as próprias paJavras de Cristo (d. Mt 16,16~19 ; Lc
12.35-47; 23,.34; o apelativo .. Filho do Homem:t, que só ocorre
nos liblos de Jesus e em At 7,56 : .. ). Ademais é de notar
que o grego era a segunda IIngua da Palestina; vInha após o
aramaico. e era falado até por pessoas de pouca Instrução na
terra de Jesus; Pilatos, por exemplo, terã interrogado Jesus e
discutido com os judeus em grego. Está claro, porém, que os
evangelistas, ao transmitirem os discursos de Jesus, devem ter
procurado adaptar um ou outro t ópico à compreensão dos gre-
gas gentios: assim em Lc 5.19 o terraço palestlnense de Me 2.4
toma-se o telhado de uma casa greeo-romana ... Em Mt 1,23
a profecia de Is 7,14 é citada de arordo com o texto grego
dos LXX e nAo segundo o hebraico. Estas adaptacões não af.-
tam o sentido da mensagem de Jesus.
2. O texto autógrafo (de próprio punho) dos evangelis-
tas se deteriorou e perdeu. Só temos cópias do mesmo. Donde
a pergunta: serão fiéis e flcledlgnas?
Observa-se que os antigos eram, muito mais do que hÓS,
exercitados na arte de copIar; eram meticulosos. chegando a
contar linhas, palavras e letras dos textos Que eles tinham que
transcrever. Isto não quer- dizer que não haja variantes ou
diterenças a respeito do mesmo trecho nos diversos manuscri-
tos do Novo Testamento (se não os houvesse, estaríamos diante
de um milagre) . Tais variantes, porem, não afetam o sentido
da mensagem; eis alguns exemplos:

I Tr.dt.lçlo d. G~rg.s PU'''.cq. Ed. L.ethl.II.UIC, Pari. 1810.


151 .. 220 mm. 157 PJI.

-285-
18 ..PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 281/ 1985

Em Jo 3,25 estã dIto que surgiu uma discussão entre os


disclpulos de João e um certo judeu ou certos judeus. Talvez
se lesse originariamente, em lugar de cjudeu(s)~, IfIRIS ou
.. discípulos de Jesus.
Em Jo 19,29 Iê-se que ofl!receram a Jesus uma esponja
embebida em vinagre, e colocada na ponta de uma vara de
hIssopo; ora tal haste era frágil demais para sustentar a
esponja; conjetura-se que se tratava de uma haste de lanca:
~ em lugar de ~ em grego.

Em. Rm 5,1 São Paulo diz: .. Uma vez justificados ... temos
a paz com Deus~. texto que alguns manuscritos transmitem
diversamente: c: ... tenhamos 8 paz ..• :to - o que é menos c0n-
dizente com o contexto. A variante se expllca pela troca do
o breve por o longo: échom.ea tomou-se édhoomen.
Para dirimir as dúvidas deixadas ao leitor pelas tópiai do
Novo Testamento. existem milha1'K de mam.lSCI'Jtos: quem os
confronta entre si, pode explicar o porquê de certas modlfíca~
ções do texto e pode, com segurança, chegar à reconsUtu1çio
da face origInária do texto sagrado. Ademais alguns desses
manuscritos são de grande antigUidade: existe, por exemplo,
um fragmento de Jo 19 datada de 120/130 - o QUe supõe a
distância de trinta anos apenas ou menos em relação ao autó-
grafo (tal manuscrito encontra-sl! em Manchester, Inglat~rra,
na John Rylands Library) .
Em suma, a transm.lssã.o do texto do Novo Testamento é
garantida por testemunhas de quantidade e qualidade tais que
não ocorrem no caso de outros textos antigos: as obras de Cf-
cera, Tito Lívio, Virgillo, Horácio, Platão, TucididéS, X~no­
fonte. .. nos chegaram através de um ou de poucos mamD-
critos, cujas deflc1ências é Impossivel corrigir por não haver
termos adequados para confrontos.
Quanto As traduções modernas, são cada Ve2. mais elme-
ndas. de modo a oferecer 8C). leitor um texto verné.cu1o que
seja o eco fiel dos orlgino..l.s. Entre todas, dlstlngue-se a cha-
mada cBlblla de Jerusalém:.-.

2. A critica do oonleúdo do texto


Uma vez estabelecida a fidelidade llterirla do texto que
até nós chegou, põe-se a questão: o conteúdo das pAgInas do
Novo Testamento é fiel aos acontecimentos históricos! OS EvaJl.
-286 -
ePODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTQ:h 19

gelhos sAo relatos concordes com os feitos e dizeres de Jesus?


- Para resPonder a estas perguntas. a critica tem--se apliado
ao cstudo das fontes, das formas e da redação do texto sagrado.

Z . 1. O flhHIo dos fontes

Os três Evancelhos sin6t1cos (Mt, Me, Lc::) apresentam-se


muito próximos entre sl, a ponto Que os podennos ler de relance,
colocando-os em três colunas paralelas. Tal fato sugere três
rupóteges: ou existe entre eles dependência mútU1l ou hauriram
das mesmas fontes ou deu-se uma coisa e outra.
A discussão entre os autores tem sido longa e sutll, a
ponto de não permitir tlnnar alguma explicação em caráter
det1ni t!vo. Multo provável é a sentença que admite a mutua
dependência dos sin6ticos e a existência de fontes (entre as
quais a QuoUe. Q. coletânea de dizeres de Jesus) .

2 ,2. Crítica das formas

Chama-se etonna litemria~ a fonnulacão da mensagem


tal como se encontra hoje nos Evangelhos. Tal fonnulaçAo
depende da tradição e das circunstâncias históricas dentro das
quais a Boa-Nova de J esus Cristo foi sendo apregoada; sem
dúvida, os interesses das primeiras comunidades cristãs influen-
ciaram na maneira como se transmitiu a mensagem de Jesus 1.
Isto se -entende bem, pois também em nossos dias a mensa-
gem do Evangelho é pregada segundo fónnulas literárias diver-
sas, de acordo com o tipo dê auditório a que se destina: crian-
ças, jovens, operários, casais, intelectuais .. .
O reconhecimento deste fato levou alguns criticas, como
Rudolf Bultmann, ao ceticismo em relação ao texto dos Evan-
gelhos; estes seriam o eco daquilo que os primeiros cristAos
pensavam e professavam, e não o eco. daquilo que Jesus disse
e fez; tais criticas distinguiram entre o desus da hlst6ria~
(o Jesus real, que ficaria Impenetrável aOs cristãos de hoje)
e o cJesus da réJ (o Jesus como era concebido pelos cristãos,

1 Ta. Jnteret:Ql, motiy!ldos pal'l elreansltnel'l hl.t6r1eu, IIrlam: •


neeasaldada da ea ••ql.l'" dllerenclada par. os Judeus e para OI ~gI(18
eonwrtldol; • n_ldada da r'lponder iIIs obleçGe$ levantadas pelol Judeo
bêbado ou domingo? divórcio, 11m ou nIo?, ressurrelçlo dOI mort"?
teJum? .• l,

-287 -
20 cPERClJNTE E RESPONDEREMOS. 281/1985

única realidade que os evangellstas nos transmitiram) . ao-


blnson julga que tal distinção não encontra justificativa ou ê
inaceitável: a pregação da Boa-Nova. embora se tenha adap-
tado a auditórios diversos em diversas circunstAncias históri-
cas, conservou-se sempre a mesma; cf. pp. 57s. 61s. I
Encontram-se, sem dúvida, nos Evangelhos vesUgios de
sistematização da mensagem em vista da eatequese: Mt 5-7,
por exemplo, é um longo sermão que o evangelista compUou
a partir de diversos episódios da vida de Jesus; O mesmo se
diga 8 respeito das coletâneas de parábolas ocorrentes em Mt
13 e Lc 15. A parábola de Mt 22,1-14 parece resultar da fusão
de duas ou três paribolas de Jesus (comparemo-Ia com Lc
14,16-24). Nada disto, porém. implica que se tenha alterado
a doubina de J~s no decorrer dos primeiros decênios.

2.3 . Critica da reda~

Os criticos julgam que os evangelistas também contribui-


ram para a redação do texto do Evangelho, lnsplrando-se em
suas concepções teológicas. Alguns exageraram o cunho te0-
lógico dado por Matew. Marcos, Lucas e João ao texto res-
pectivo, a ponto de considerarem os Evangelhos como livros
de teologia e não de história. Nesta atitude existe fone dose
de hipóteses e de subjetivismo não fundamentados. Isto, po-
rém. não quer dizer que não haja um enfoque próprio de cada
evangelista sobre a ·pessoa e os dizeres de Jesus; é, sim, usual
falar do «Evangelho segundo Mateus, ... segundO João., .:a.
Tal fato, porém, não se opõc à fidelidade dos evangelistas à
história e à mensagem de Jesus. Cf. Robinson pp. 60s.

3. O intervalo de uma geração


Após ter examinado a maneIra como trabalharam os evan-
gelistas, Roblnson considera a questão das datas em que tive-
ram origem os nossos Evangelhos. $crã que, quando (oram
escritos definitivamente. ainda havia alguma testemunha ocular

1 Um llel calóUeo subsere.... a llta sn,maçlo de Roblnaon, I leres-


eanla-lhl a devida lundamantaçio: numerosos 1extos d~s At~s e de SIo
Paulo mostram como os Ap6tlolol aram ckllOl de guardar a identidade c1a
man.agem (e!. Ot 1,88; 2TI 2,15; 3,6; ICor 15,1-3). AI6m do quê, a '6
católica prolessa a auls16nela do Eapltl10 Santo li IgreJa a 11m de qUI nunca
..)a dlturpada a Boa Nov. d., Jesus.

-288 -
.. PODEMOS CONFIAR NO NOVO TES'rAMEN'!'O'h 21

e auricular da vida de Jesus, de modo a poder confrontar os


escritos com· a realidade histórica? Quanto maior for a dis·
tância entre as datas de redação e os aconteciment()S históricos
concernentes a Jesw, tanto menos acreditâvel será o texto
de tais escritos.
Portanto, Quando foi escrito o Nova Testamenta?
- No século passado, a critica racionalista, movida por
preconceitos ou pelo desejo de desvalorizar tais escritos, assina·
Iava·lhes o séeu10 U. No come('O do sécu.Io :XX, os dadOs foram
recuando, de modo a se indicarem os anos de 50 a 150; em
meados do sécUlo XX, já se admitia o penado de 50 a 100.
Ora, segundo John Roblnson. é preciso retroceder ainda. para
ficar entre os anos de 47 e 70; o autor inglês tem consclêncla
de que muitos especialistas do Nova Testamento não o acom·
panham neste ponto; acrescenta, porém: «Creio que a minha
posição representa a direção que os estudos vão tomando ..
(p. 74).
Mais precisamente, Robinson atribui as principais episto-
las de São Paulo à década de 50 ti. 60. A carta aos Hebreus
seria do ano de 67 aproximadamente. O Apocalipse é datado
dos anos de 68 a 89. Os Atos dos Apóstolos, de 62. Os Evan·
gelhos sinótlcos são colocados em torno do ano de 60. sem
grandes Intervalos entre eles; o quarto Evangelho seria de 65
ou pouco posterior.
Adotando estas datas, Roblnson reduz a trinta anos apro·
ximadamente a distAncia entre a cruelfiea~ão de Jesus e os
relatos evangélicos; se se leva em oonta que os evangelistas
utilizaram fontes orais e escritas referentes a Jesus, pode-se
dizer que não hâ hiato. mas continuidade -entre o Jesus htat6-
rico e a redação dos Evangelhos ; a mesma geração pode ler,
de um lado, visto e ouvido Jesw c, de outro lado, lido a men·
sagem dos Evangelhos. Em tão breve espa(;O de tempo, é
pouco verosslmil Que lendas se tenham introduzido na mensa·
gem evangélica.

4 . Retrato de Jesus por São JoãO


No século passado e no começo do presente, o Evangelho
segundo S. João foi menospremdo como sendo obra de teologia
subjetiva e não um relato histórico; datado do ana de 170,
apresentaria Jesus dentro das categorias da flIosofta núsUca
helenIstlca.

-289 -
22 _PERGUNTE E RESPONDEREMOS, 281/1985

Tal teoria foi bruscamente dissipada pela dl!SCOberta do


papiro R.Ylands Greek 457 (P"), escrito por volta de 120/130
e encontrado DO Egito em 1935, Este texto supõe necessaria-
mente a redação do autógrafo por volta do ano 100 em 1:fe:w
(admita-se o intervalo de trinta. anos para que passasse da
ÁSia Menor para o Egito) .

Nos últimos decênios, muito evolulram OS estudos joaneusj


tornou-se daro que João é multo mais fiel li. história do que
se pensava. Admite-se que o texto de João seja o eco de uma
tradição Independente. que pode estar tão próxima da fonte
JESUS quanto as tradições dos sinóticos. A linguagem utili·
zada por Jesus em Jo. embora dlf1ra da que ocorre nos 6ln~
ticos, jã nlo é tida como helenista nem tardia, pois em 1947
foram descobertos os marruscrl.tos de Qumran a N .0. do Mar
Morto, que revelam o Ilnguajar de wna comunidade monástica
judaica multo semelhante ao de Jesus no quarto Evangelho.
Light100t chegou mesmo a considerar o Evangelho de João
como o livro cmais hebraico~ do Novo Testamento.

Desenvolvendo um raciocinio complexo, Robinson julga que


Jo é anterior à destruição de Jerusalém ocorrida em 70; com
efeito, nâo faz a1usão li. destruição do Templo; ora se o autor
do quarto Evangelho escrevesse após este tato, tê-lo-ia men-
cionado no seu texto; ~m 11, 48. Caifis refere-se a ela como
algo de futuro. Em conseqüência, Robinson atribui a origem
de Jo ao ano d~ 65 ou a data pouco posterior. Cf. Robinson
p.l00.

Quanto às epistoJas de João, são colocadas no Inicio da


década de 60; d. Roblnson p. 101. Robinson as atribui 80
Apóstclo João, como também o quarto Evangelho; cf. Iülbin·
50n pp. 101. 1048.

João afinna solenemente que o seu testemunho é verda-


deiro (19,34s). Todavia ele refere a verdade histórica nAo
tanto para registrar acontecimentos passados, mas principal-
mente para suscitar a fé nos leitores (d. Jo 20,31) . Versa
sempre sobre dois pIanos: o histórico e o teológico, de modo
que só o compreende bem quem veja em Jesus a Palavra
(preexistente, eterna) feita carne (â semelhança dos homens
frágeis).

- 290-
cPODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO?»

5. Quem' este homem?


Tal é a questão que se coloca desde a primeira página do
Novo Testamento.

5 .1. As origens de JftU$

Mateus e Lucas nos falam da genealogia e do nasclmento


de Jesus nio no estilo das biografias modernas, mas de modo
a pennitlr ao leitor perceber o sentido divino ou teológico da
histOria. Por isto não entende Jesus quem considera apenas a
história humana de Jesus; também não o entende quem des-
preza a história ou dela abstrai, mas só quem. aceitando a his-
torlc1dade da anunciação, do nascimento virginal. dos magos
e pastores, do massacre dos inocentes, da fuga para O EgIto . ..•
verifica que esses episódios foram narrados para mostrar que
assim se cumpriu o plano de Deus e que todos os fatos histó-
ricos trazem em filigrana 8 assinatura de DeUs.
A identidade do homem Jesus só pode ser percebida por
quem ultrapasse o desenrola r da história humana. A origem
de Jesus, em última anãlise, está na eternidade ou no seio
do Pai: Ele é Deus e estA voltado para o Pai (Jo 1,1) .
A Igreja nascente atribuiu a Jesus vários títulos para
designar a sua identidade: cum Salvador, que é o Cristo, o
SenJ:aor» (Lc 2,11), cJesus, o Cristo e () Senhor:. (At 2,36),
cO Filho de Deus. o Rei de Israel:. (Jo 1.49), cO Messias ou
Cristo» (Jo 1,41); cf. 2Cor 4,4; F1 2,5-11; Cl1.15-20 ... - Per-
gunta-se. porem: que relação têm esses titulos com aquUo que
Jesus declarou a seu respeito m~mo? Será qtN! os dlselpuloa
compreenderam bem o pensamento de Jesus quandO Ele se
identificava? - ~ o que vamos ver.

5 .2 . A ... enWIIgem d. JMUS

Poder-se-ia julgar que os dlscipulos e evangelistas tenham


atribuído slmplesmente a Jesus o que eles mesmos pensavam
a respeito do Mestre. - Ora não foi isto Que eles f.lzeram.
Com efeito. A mensagem de Jesus, segundo os evange-
listas. se resume na proclamacão da vinda do Reino de Dell5;
d . Me 1,145. Ets, porém. que a expressão cReIno de Deus» é
- 291 -
.24 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 281/1985

rara no judalsmo pré-cristão, se bem que se inspire do ensi-


namento vétero-testamentârlo relativo à realeza de DeUSj cf.
51 95.96.97.98.99. Notemos. por exemplo, que a Iocucão «ReIno
de Deus~ não se encontra nos manwcrltos do Mar Morto, que
expressam a esplrltualldade israelita dos séculos n/I a. C. Não
obstante, essa locução estava constantemente nos lãbios de
Jesus. Quantas paribolas começam por: cO Reino de Deus é
semelhante a .. . _! Ê a vinda do Reino que explica o compor-
tamento de Jesus : cSe é pelo dedo de Deus que .. . expulso
os demôlÚOS. sabel que o Reino de Deus chegou até vós-
(Lc 11,20). O cerne da oração ensinada por Jesus reza: cVe-
nha o teu Reino» (Mt 6,10). Seria, pois. presum1vel que a
noção de Reino aparecesse freqUentemente na pregação da
Igreja. Ora ela não ocorre uma só vez nos primeiros discursos
dos Atos, que parecem supor fontes anteriores e S. Lucas.
Poucas vezes ocorre nos escritos de São Paulo e São João - o
que mostra que a noção de Reino era algo de muito acessório
na pregação e na doutrina dos primeiros cristãos. Falavam
da Igreja. mais do que do Reln'O; a palavra Igreja só aparece
d..... vezes nOS Iãblos de Jesus (c!. Mt 16,1&-19; 18,17.) . O
que os Apóstolos anunciavam era não a irrupção do Reino de
Deus. mas Jesus e a ressurreição (cf. At 17,18). Isto não
quer dizer que não haja liame e continuidade entre o Reino
de Deus e a Igreja; esta é o começo do cumprimento das pro-
messas referentes ao Reino de Deus. Mas o que importa obser-
var, é que OS dIscipuJos souberam respeitar a llnguager.l, os
atos e a pessoa de Jesus, de modo que não colocaram palavras
dos disclpulos sobre os lábios do Mestrej guardaram incólumes
os dfzerq do Senhor, sem ceder à tentàção de fazer deste um
simples porta-voz das primeiras comunidades cristãs.
Semelhante re5f)elto ocorre com relaeão ao que Jesus disse
a prop6s1to de s.i m~mo. Os dlsclpulos poderiam ter apresen-
tado Jesus a declarar aquilo que eles professavam no tocante
a Jesus. Mas tal não se dA. Observemos que os primeiros
cristios chamavam Jesus «Senhor_ e «Cristo~, a ponto que,
jâ nas cartas de São Paulo (de 50 em diante), Cristo já 000
é um titulo (;:;; o Messias, o Rei Ungido), mas ê um nome pro-
prio, unido a Jesus: Jesus Cristo. - Ora nos Evangelhos os
títulos cSenhor» e «Cristo_ e.pparecem sobre os lábios dos
outr08 personagens para designar Jesus, ao passo que Jesus,
-292-
«PODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO h ~

a rigor, não os utiliza. Apenas em Mc 9,41 se lê: .Se alguém


vos der wn copo dágua por serdes discipulos de Cristo ..• ~j
ora este apelativo não se encontra nos paralelos de Mateus e
Lucas; donde concluem os estudiosos que não foi Jesus quem
se autodeslgnou como Cristo em Me.

Jesus utilizou, para se apresentar aos dlsclpulos, o titulo


de .Filho do Homem:t. Podemos observar que, no Novo Testa-
mento, tal expressão SÓ ocorre nos Evangelhos (quando Jesus
tala) e uma vez em At 7.56, quando S. ~tévão vê lOS céus
abertos e o Filho do Homem em pé: à direita de Deus», Nunca
a Igreja ant1ga recorreu a esse titulo em sua pregação, em-
bora o conceito de .. Filho do Homem, possa estar subjacente
... doutrina paullna de . homem novO:t ou .. homem celeste:t
(cf. Ef 4,22-24; 1Cor 15,45-49). - Em Jo 1,19-51, depois que
os disclpulos usaram os mais diversos nomes para designar
Jesus, n:te, ao se autodefinir, utiliza a expressão ..Filho do
Homem. (cf, Jo 1,51).
Quanto ao título .Filho do Homem~, é locuCio semIta
que significa chomem:t; assim em todo o livro de Ezequiel. Em
Dn 7.135, a expressão toma significado pregnante, pois designa
o homem 80 qual toca a homenagem de todos os povos e eujo
Relno não teri. fim; designa o Messias t. Ora Jesus aplicou a
si o oniculo de Daniel: .. Verão o Ftlho do Homem vindo entre
nuvens com grande poder e glôna. (Mc 13,26) ; pouco antes
de morrer, ainda declarou: cVereis o Fílho do Homem sen-
tado à direita do Poderoso e vindo com as nuvens do céu:t
(Me 14,62), Nestes termos Jesus se apresentava como o Mes-
sias predito por Daniel, como o Senhor da história e da huma-
nidade; o Senhor usou o titulo .. Filho do Homem:t de prete-
rincla a qualquer outro, porque tal apelaUvo estava Isento de
conotações; poUticas (Jesus quis absolutamente evitar que o
considerassem um rei no sentido politieo da palavra; cf. Jo
6,15; 19,36).

1 r., , o t,)(1o de On 7,131:


-Eu eonllnuaWl contlllmplando nu minha vlaCiel notuflUt, quando
fIOI •• , vindo tobre .. nlMllnt dO C4'1u, um como Filho d. Homem. Ele
adiantou... a" o Anello • • foi I1Itrodtllldo • .ua presença, A • • foi
OUIOtoado o Imp'rlo, e honre. o r.lno, 111 lodoa OI povot" I'\I.~ • • • lIngua
O aervlram, Seu poder' um pod.r .temo. quo Jllmer.
Jam.l...,.. dettruldo·,
PII'''''.•••u ,.Ino
-293 -
26 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 281/1985

A propósito John Robinson fonnula uma pergunta muito


interessante: será que os evangelistas, ao referirem palavras
de Jesus, não colocaram nessas palavras a imagem do Jesus
glorificado pós-pascal? Pode-se crer que são palavras saídas
dos lábios de Jesus antes dos acontecimentos pascais que o
glorificaram? - Em resposta, Robinson afirma que, para os
Apóstolos, o lembrar-se das palavras de Jesus não era um sim-
ples exercício de memória; era, sim, evocação de um passado
que não era considerado como realidade morta e ultrapassada,
mas experiência de um Jesus sempre presente à sua Igreja; as
palavras e os feitos de Jesus rustórico tomavam o seu sentido
pleno na medida em que eram palavras e feitos do Cristo vivo
na Igreja e pela Igreja; JeSUs prometera aos Apóstolos que o
E>plrito Santo lhes lembraria tudo o que Jesus lhes tivesse
dito (el. Jo 14,26); Ele os levaria B verdade plena (d. Jo
16,13), o que quer di2er: o Espírito Santo retomaria as pala-
vras de Jesus e as mostraria aos Apóstolos sob nova luz ou
sob uma luz viva. e o que explica que 8 linguagt'm de Jesus,
nos relatos evangélicos, possa parecer penetrada pelo clarão
pascal.

1: precisamente Isto que ocorre no quarto Evangelho: o


autor vê e apresenta todas as coisas a partir da Páscoa; ele
nAo inventa nem cria, mas situa tudo de modo Que a verda-
deira luz Ilumine cada episódio e na carne de Jesus a~
a glória do Verbo preexistente. São João poderia d.i.zer aos
seus leitores: cO que, à primeir-a vista, os homens Julgavam
que fossem pontinhos luminosos, eu sei agora que são estre-
las.. AliAs, este modo de ver também caracteriza os Evange-
lhos sin6ticos, -embora de maneira menos profunda. - Em
conseqüência, quando a Igreja nascente atribuia a Jesus os
titules gloriosos de 8ettbor, MessI.a8, FIlho de Deus, um eom o
Palt 8azlto do Deus ... Ela estava apresentando OS pontos lwni-
nosos como estrelas (o que eles realmente eram) ; estava expli-
citando o que se achava lmpllcito nos dizeres e nos feitos de
Jesus.

5.3. A p _ de Crhto
Segundo os Evangelhos, Jesus não fazia ostentação de sew
titulas. ]f certo, porém, que Ele morreu por haver- cblasfe-
mado. (cf. Mc 14,63, par.; Jo 19,7) ou por se ter feito Deus
(cf. Jo 10,33-36) . Aliás, Ele falava com autoridade; não usava
a expressA0 dos Profetas: cEis o que di:t o senhor .•• :t, mas,
- 294-
.. PODEMOS CONFIAR NO NOVO 'fESTAMEN'I'O?~ 27

sim, cEm verdade (amen) , eu vos digo ... ,. Ao passo que o


judeu piedoso conclUia suas oraeões com um Amén, expressio
de confiança em Deus, Jesus antepunha o ~n às suas decla-
rações, identificando as suas palavras com a Pa]avra de Deus.
Jesus modlflcou a Lej, usando esta expressão: «Vós ouvls-
tes o que foi dito aOs antigos (por Deus) . .. Eu. porém, vos
digo ... s (cf. Mt 5,21.27.31.33.38.43); legislava com a autori-
dade do próprio Deus. Perdoava os pecados como sã Deus
pode fazer, e, quando O acusaram de usurpar atribuição exclu·
siva de Deus, realizou um milagre como sinal do seu poder
(cf. Mt 9,1-8); Jesus declarou que a atitude que os homens
assumiriam em relação a Ele, seria asswnida por Deus em rela-
ção aos homens (d. Mt 25,31-46). Convidou OS homens a
segui-Lo para ter a vida e o repouso (cf. Mt 10,37-39) . Isto
tudo significa que Jesus não apenas falava como Deus, mas
também agia e procedia como Deus, não porque quisesse colo-
car-se em lugar de Deus, mas porque Ele representava o Pai,
a tal ponto que quem o via, via o próprio Pai; o Pai estava
nele e Ele estava no Pai (cf. Jo 14.9).

Por isto, embora fosse verdadeiro homem, reconhecido


como tal pelos seus interlocutores (cf. Jo 10,33), Ele era a
Encamação da PaJavra etema (d. Jo 1,1.14). Ele já existia
quando se fez homem no seio de Maria, a ponto que Ele era
anterJor a João BaUsta (cf. Jo 1,15), a lsaias (el. Jo 12,41),
a Abraão (el. Jo 8,58) e à propria crlaçâ<l do mundo (cf. 30
1,1-3; 17,5.24) .

Em Jesus, portanto, havia dois planos ou duas l"eallda-


des: o DJvino e o humano. o Eterno e o temporal, que se sobre-
punhàm com efeito dramático.

6. Qu. foi feito det.?


Depol.$ de tennos perguntado: cQuem é este homem ?,
ocorre naturalmente a questão: . E que pro<:edeu dele? Que
houve a partir dele '!.
A resposta há de ser dada não somente no plano da. h1s-
tórta (c houve e há o Cristianismo ... s), mas também no plano
teológico: de Jesw procedem o Espirito, o Corpo de Cristo
prolongado que é a Igreja, a nova criatura, que São Paulo
-295-
28 "PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 281/1985

designava nestes termos: «Se alguém está em CrIsto, é nova


criatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que se fez uma
realidade nova. (2C'Or 5,17).
Esta novidade que procede do Cristo, tem seu ponto de
partida imediato na Pãsooa de lesus, que compreende Paixão,
morte e ressurrelcão do senhor.

6 . 1. Proceuo. MOIt. d. Jnus

Os historiadores. não costumam duvIdar de que Jesus real-


mente foi preso, crucilicado 4! sepultado. O questionamento
tem-se voltado. nos últimos decênios, para as causas de tal
desfecho da vida de Jesus. pois hâ quem diga que o Senhor
morreu como revoluclonârlo poUUCOj a cruclfucão era o cas-
tigo infligido a tal tipo de criminosos, ao passo que o apedre-
jamento é o que tocava aos profetas.
Pergunta-se então: Jesus terá sido um sedicioso naciona-
lista, anti-romano?
O quarto Evangelho é o que mais material nos oferece
para resposta, embora seja de todos o mais teol6gico.
Refere-nos a declaracão categórica de Jesus: cO meu reino
não é deste mundo. Se fosse deste mundo, os meus súditos
teriam combatido para que não fosse entregue aos judew. Mas
o meu reino nio é daqub (Jo 18,36). - Além disto, o evan-
gelista põe em evidência a mA fé dos judeus adversArios de
Jesus. Começaram o diálogo com PUatos pedindo a condena-
ção de Jesus sem apresentar acusação. Donde a pergunta de
Pilatos : «Que acusação traz.els contra este homem? Respon-
deram: «Se nio fosse um malfeitor, não o entregarlamos a
tI. (Jo 18,295). Dado Que Isto não bastava. os judeus acusa-
ram Jesus de alta traição (Jo 18,33). Pilatos, porém, não ju1-
gou a acusacAo sutlclentemente clara; por isto apresentaram
o que para eles era o verdadeiro titulo de acusação: . Ele se
fez Filho de Deus. (Jo 19,7). Mas, visto que também assim
nada conseguiam, voltaram à acusação politica e insinuaram
que eles, judeus, eram mais leais ao Imperador do que o Go·
vemador: cSe o aoltas, não és amigo de César! Todo aquele
que &e faz rei. opõe..se: a César!~ (Jo 19,12). Tal tipo de pre>-
do foi suficientemente forte para quebrar a resistência de
P1Jatos.
-296 -
.PODEMOS CONFIAR NO NOVO TFSTAMENTO?", 29

V~ assim que a acusacão de subversão politica foi um


pretexto para obter da autoridade romana (não interessada em
QUestões religiosas dos jUdeus) a condenacão de Jesus. O ver·
dadeiro motivo ela repulsa dos judeus a Jesus era, sim, de
ordem teológica: Jesus blasfemara, fazendo-se Filho de Deus.
Tal reconstituição dos fatos é corroborada se recorremos ao
Evangelho de Lucas, onde se lê que os judeus acusaram J esus
diante de Pilatos nestes termos: .Encontramos este homem a
subverter nossa nação, Impedindo que se paguem os Impostos
a César e pretendendo ser Cristo Rei ~ (Lc 23,2). A falsidade
desta acusação se depreende das palavras mesmas de J esus:
.Devolvel a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus",
(Lc 20.25) .

Todavia a morte de Jesus não foi um fim. Se o tivesse


sido, não haveria Igreja para contá-la.

Os primeiros cristãos tinham consciência de que tal desen-


lace fora superado pela Ressurreicão do Crucificado: .Se Cristo
não ressuscitou. vazia é a nossa pregação, vazia também é o
vossa fé~ (ICOr 15,14). E quais seriam os testemunhos histó-
ricos em favor da ressurreição de Jesus?

1) O fato do túmulo vuio... Se a noticia do túmulo


vazio fosse invenção para convencer os descrentes, teria sido
inventada sem habilidade; nos sinóticos a noticia é colocada
nos lábios de mulheres, que. conforme a Lei judaica. nã() po-
dJam ter o valor de testemunhas; d. Me 16.7.10s; Lc 24,ll.22s.
Se, apesar de tudo, os eva ngelistas nos referiram o testemunho
das mulheres. que a Tradição antiga julgava pobre ou desnc--
cessAria, Isto só se explica porque se tratava de um testemu-
nho hlstórlco:
.A documenlacõa l uger. que a detcoberlo do lumula yoxio nCIo
foi inven tada pela Igreja nostente; por conseguinte, elo não gerou
a 16 no Rcssurreicão, como tombé", não é o produto do fé. e um dos
elementos .que foram delcoberlos naquela manhã e que fiaJnlm
inap(Jgavehnenle na mem6ria dos fifi,. Por que esse túmulo estava
vazio? e esla uma pergunla poro a qual nen"-uma ellplicoção ded.iva
jamais foi aduxlda, nem no plano nalural, nem no IObr.nalurol~
lRabin.on, p. 1~21 .

- 297-
30 .. PERCUNTE E RESPONDEREMOS" 28111985

Além do mais, A existência do santo Sudârio, metiC!Wosa·


mente investigado nos últimos tempos, não é (ato desprezfveL

2) As aparIoÕeI. .. Seriam a expressão subietiva do


desejo dos disclpulos de rever Jesus? - :e certo que os Após-
tolos e lmedJatos seguidores de Jesus não imaginavam um
Jesus redivivo. Mais: se O tivessem imagjnado mentirosamente.
é de crer que alguém, cristão ou não cristão, teria denunciado
o erroi admitir que o Cristianismo repouse sobre a fraude, sem
que alguém a tenha apontado, é exigir demasiada credulldade.
Algo deve-se ter produzido em correspondência a tantos teste-
munhos, inclusive o de P aulo; este anuncia as aparições do
Ressuscitado como fatos que lhe foram transmitidos e que
ainda podiam ser atestados por muitas pessoas viv.as no ano
de 56; cf. lCor 15,3-8.

3) A oonsclência da comunidade erlstã. .. Na Igreja nas-


cente a crenea na l'essurrelcão de Jesus se baseava sobre _uma
consciência espiritual ~letlva de Cr.lsto,... consciência que
não era apenas uma recordaCáe do passado, mas uma presença
vivificante. Quando Paulo se dirigia aos neófitos, que, como
~le, jamais t inham acompanhado o Cristo, quando ele lhes
falava do conhecimento do CrIsto Jesus, da participação nos
seus sofrimentos e no poder da Ressurreição (FI 3,10). ele
apelava para essa experiência de 'urna nova criatura em Cristo
Jesus'" (Robinson, p. 146). A experiência espíritual coletiva
é o fato sujeito a controvérsia. Com efeito, o historiador que
analise o fenômeno Jesus, se defronta com a realidade da
Igreja, que desde o inicie diz que ela mesma só tem sentido
se Cristo ressuscItou; se Ele não ressuscitou, a Igreja se retira
de cena espontaneamente como algo que não tem significado
(cf. lCor 15,14-17) .

Conclui Robinson: cEstou convencido - ou eu não seria


crlstAo - de que a história, penetrada pela técnica clentitlca
mais esmerada e rigorosa, é c.apaz de comprovar o que a fé
ensina. (p. 150).
- 298 -
cPODEMOS CONFIAR NO NOVO TESTAMENTO'!. 31

7. Uma Religião na qual podemos confiar


Podemos então confiar no Novo Testamento?
cCreio firmemente que podemos .••
Um uiltão nada tem a recear a não Rr a verdade. Pai, sO e,lo
pode mOllror se 'elle movhl'lenlo vem de Deus' (AI 5,38. <401. Mos o
c;rislõo nodg tem o reteor do verdade. Para ele, o verdade. o úi.to
I Jo 1",6) . e grande, moior do que o mundo, e prevaleceria. e tambell1
uma realidade viva e cre.unle» I p. 1551 .
cSei que o esludo do Novo Teslamenlo me levou a condusões " .
que eu não imagInava» Ip. ISS). «Minha cantiant;a nos dacumento5
bô,icos do fi aislã onles foi fortalecido de que abalado. A .rudit;ão
'Rãa me confere a fe, mal elo me ouomenta G convict;60 de quo. minha
fé nôo , despropo5itodo» (p. t 561 .

Eis, em sintese, O conteúdo do livro de Robi.nSon, que


chama a atenção não somente por suas conclusões favoráveis
â autenticidade da mensagem do Novo Testamento, mas tam-
bém por provir de wn críttco não católico, que em outras obras
jã se mostrou multo pouco conservador ou tradieionalista!

•• •
CARTA DE LEI'l'Olt
Equivoco
cEm PR 280/1985, pp. 200-211, houve um equívoco no
artigo sobre as novas técnicas de procriacão. Nenhuma delas
é Engenharia Genética. Esta ê a manipulação ao nível do
genótipo, enquanto as tais técnicas são manipulação ao nivel
de gametas e zigotos. O precursor da Engenharia Genética é
H. J . MUller (Prémlo Nobel). que conseguiu, na década de 20,
fabricar uma linhagem de moscas Drosophlla. mclanog&stcr com
um cromOSSOmO X, que continha uma longa inversão, a dupli·
cação Bar e um gene letal recessivo. FoI uma proeza inimagi~
nâvel para aquela época. Hoje se fazem coisas milhões de
vezes mais inlmaginãveis. - Pror. Dl'. Newton Freire-Maia,
CurItiba (PR)_.
Multo agradeoemos ao Prof. Fr-eiro-Maia estas valiosas
obsel'V~ e pedlmos-l.I:to qae continue a colaborar conosco.
- A RelI .... do 1'11.
- 299-
Ainda a MaÇ'Onaria:

Por que um Católico


não pode ser Ma~om?
Em .IrÜ..: A $. Congfeglllçlo IM,a a DoutrIna da F6 declarou am
aJ1t/a3 que um cal611co pertencenta .. MaÇOnaria a,I! em peRdo grave
111 nIo pode ler acesso * Comunlllo Eucarlstlce. - Ta' tomada di pa"çlo
au:sçllou pedidos do esclarecImento. por pa.tta da numero,a. pasao.. Inl.r....
sedu no assunto. A tala 10tlcltaç6es a me. ma S. Congrogaçla r.pondau
alravés do jornal - L'OUervalore Romano" (edlçio luso-brasllelra de 10103/ 85,
p. TOI . O re.p.ctlvo te"to, publicado na' pAgines que se seguem, fundamenta
a pottçlo da Ig II)8 no 'ato da que e Maçonar1li professa o ,alallvlamo em
tela~'o .. verdade rellQlou, ralallllllmo que la v,l Incullndo na mente d OI
alUII aócloa mediante preceitos morata, rllos e slmbolOl, qLte conattangam
(I IndivIduo meçom. Il to cria ,Uuaçoes Insustentáveis plra o fiei católico,
qUI tem estima *lua!t. Eis por que a Igrala Insls lo em menlar ala.ltldo.
da MaçOnaria OI lIélS CltÓllcos.
A Oeclar.ç1o de $. Congllgaçlo para a Doutrina da F6 nISto particular
• conllrmeda pell avoluçlo do Brendo Orlonta da 11611a, qua, com oulr..
correnl.. lTIIIçOnlc.. , vai prote ..atldo o mesmo relallvlsmo religioso ou
ma.mo o laclon.U. mo a o antlclerlcallsmo .

• • •
Aos 26/11/1983. a Sagrada Congregação para a Doutrina
da Fé pubUcou urna Declaracão referente à Maçonaria: embora,
segundo o novo Código de Direito Canônico, não haja mala
excomunhlo para o catOlIco que entre na Maçonaria, esta con-
tinua sendo vedada aos fiéis católicos; em conseqüência, quem,
dentre estes, se inscreva na Maçonaria está em pecado grave
e nâo 9Qde aproximar-se do sacramento da Eucaristia. - Ver
a propósito o artigo de Frei Boaventura Kloppenburg em PR
275/ 1984, pp. 303-314; o autor, a partir de suas reflexões,
expõe as razões de tal atitude da Igreja.
Após a Declaração de 26/11/84, a Santa Sé recebeu nume-
rosos pertldos de esclarecimentos. Estes finalmenh:! foram pu-
blicados sob forma de arUgo no jornal cL'Qsservatore Romano»
(edlç-io diári... itaUana de 23/02}85 e ed~o luso·brasllelra de
10/03/"5, p. 7).
-300 -
POR QUE NÃO MAçoM? 33

o artigo não é assinado, mas é seguido de três asteriscos.


A importância, porém! de tal matéria ~ a maneira como foi
publicada pennitem conçluir que provém da Sagrada Congre-
gação para a Doutrrna da Fé. De resto, o comunicado da
Rãdlo Va ticana declarou explicitamente: cConfinnada pela
S. Congregação para a Doutrina da Fé a Impossibilidade de
conciliar fé cristã e Maçonaria:.. Trata-se, pois, de documento
apto a dirimir autenticamente as dúvidas existentes sobre o
assunto.
A seguir. publieam<Ho na integra em tradução portuguesa
acompanhada de breve comentário.

INCONC1l1ABIUDADE ENTRE Fê CRISTA E MAÇONARIA

A 26 d<ll! nov<II!mbro de 1983 (I Congrego(go para o Doutrino 00


" publicava uma Declaracão sobre OI ouodocões moc6nka.. I cf.
AAS LXXVI, 1984, 300).

A pouco mais de um ano de distãncia do suo publicaçllo pode


..er útil expllcor brevemente o significodo deste documento.

Desde que a Igreia começou o pronunciar·se o respeito da moca-


°
"oria, S<ll!U luílO negativo foi inspirado por multíplice .. ralõe .., pr6tkcJI
e doutrinais. Elo não jul,oau a maconorla r<ll!sponsQvcl apenas de otiyÍ·
dades IlIbv~rlivos a leu te.p@ito, mal, d@lde OI primeiras documentol
pontiflclas ~bre o auunto e em pcIrticulor na Er1ciclica c Humanum
GenUi::' d e leão XIII 120 de abril d. 18SAI, o Mogist6rio da ltilreja
denvnciou no Maçonaria id' ios filas6ficIII e concepc:6es moroi .. apostas
li doutrino católica. Para leão XIII elas reportavam-Ie e n.encilllmente
Q um naturalismo rllclanallSlo, inspirador dos seus planos .. dai .uo.

fltividade$ (IOnlra a Igreja . No sua (IIrla oa Povo lIellono cCustodi :.


18 de deumbro de 18921 @Ie elcre'f'itl l decordemo-nol de .q ue o
cristianÍlmo e a maçonaria sõo essencialmente inconcilióvels, de modo
que inlCrever·se nUllla ..ignifica separar· .. do outra • •

Nõo lo.podia porlonto deixar de tomor em. consideração as pOil.


côe.. da Macanarlo .ob o ponlo de vista doutrinai, quando na. anas
1970-1980 a Sagrada Congreoa(õo es,gYCI em correspondência com
alguma. Cenferêndfll Epikopai, particularmenle interenodas ne.le
problema, em conleqOinda do di61ago empreendido por parte de
personalidades (016I1co .. çom representantel de algvmol lojas que le
declaro'f'Om -nôo hostis ou até fovoró ....i. ã Igreja,

- 301-
34 cPERCUNTE E RESPONDEREMOS .. 28111985

Agora o estudo mais !!profundado levou ti S.e . D.f. a monter·s.


na convicç60 do inconciliobilidade de fundo enfie os prindploi da
maçonaria o os da fi clista.

Prescindindo portanlo do consideraç ão do atitud. pr6tico elas


diversos laias, de hostilidade ou n60 peno com CI 19reio. o S. e . D.F.,
com ti l ua d.dorocÕo d. 26 / 11 / 83, pre'endeu colocar'Je no nr".I ,"oi.
profundo e, por oulro lodo, essenciol do problema: islo é, sobre O
plano do inconciliobilidod. dos princlpios, o qUe significa no plono
da f6 li dos lUas exigindos 1I'I0fais.

A paltir deste ponto de vista doutrinei I, em continuidade, de rello,


co," ti po siçõo 'rQdic;iOnol do !s,eia, COIl'tO teslemunhgm Of doçv"lenlos
acima citados de L.ão XIII, derivom os neceu Cirias conleqDlncicl1
pr6licol, que são v61idas pora lodos aqueles fiéis que e"lvellem even·
tuolmente Inlu;tos no mac;anaria.

A prop6sito do afirmacão lobre a inconciliobtlldade dos prlnd.,lo,


todavia .... ol-se agora objetando, de alg ... ns lados, qUe o essencial da
maçonaria leria predsomenle o foto de nao impor algum «pnnc1plo»,
no sentido de umo posicao filosófica ou religiosa que selo ....inculo"le
poro todos os SOUl aderentes, mal ontos reunir conj... ntomente, para
Cllêm dos confin. do, diversos religiões <e yi,õel do mundo, home ns de
boa yonlode com base em yalores humanlstiCOI c:ompreens!Y4:b e
oceitóY4:h por todos.

A maçonaria constituiria um elemenlo do coesão para lodos


aquele s Que criem no Arquiteto do Universo e se sentem comprometidos
em re laçõo ôquela' orientações morais fundamentois que eslõo defi·
nldas, por exemplo, no Decálogo; elCl não ClfoslariQ ninguém da
pr6prio reliviõo, mos pelo contrória constituiria um incentiyo a adefir
alndo l'IIah o elo.

N. sto ..de nCio podem ser discutidos OI mulHplices problemos


hirt6ricoI e filos6f1COI que se escondem em tois afirnIGcMs. Que
tambêm o Igrelo Cat611ca estimule no sentido de uma colaboração de
todos os homens de boa voBtode, não é decerto necessário ,alienló -Io
depai, do Candllo Vaticano 11. O associar-se ne maconaria vai tadovio
alé m, decididamente, dedo legitimo colaboraçóo e tem um significado
multo mall loneflf•• determinante do q .... OitO.

Ante' d. tudo, deve 'ecordor-se que o c;omllnidode dos «pedrel.


rOl -livre.,. li OI IUOI obrigac&ts morais se apr.esenlam como 11m nsfetno
plog,...nYQ de ITmbolos do cor6ter extremamente obsOrYent•. A rfglda

-302 -
POR QUE NÃO MAçoM'!' 35

disciplina do arcano que nela predomina reforto ulleriormente o peso


do interoção de sinois e de idéial. este clima de segredo comporto,
o " m de ludo, paro os inscritos o fisco de se tomarem instrumento d e
eslrCllé,gios q ue lhes sõ-o desconhlKidcs.

Embora se afirm e .que o reloliyismo nõo • auumido como dogma,


10dáYio propõe·se de falo uma concepçõo simbólico re loliylstico, e por-
lon'o o Yolor c reloli ... itonle» de uma lal comunidade moral.rltual. longe
de poder ser eliminado, resulla p elo contrário determinonte.

Nesle conledo, as diveuo$ COMunidades rellgiolos, a que pertente


cada um dOI membros das Lojos, nao podem ser consideradas senõo
coma simples insliludonaIÍl::a(ões de uma verdade mais ampla. Incom·
prunslvel. O valor d estas inslituK;ões parece, porlonlo, Inevitov.lm.nt.
relolivo, em relação o ello verdade mais amplo, a qual le manifesto
o nlel no comunidade da boa vontade, isto é, no fraternidade moç&nico.

Poro um cristão cot61ico, todayio , nôo é possivel vi .... r o al,lO


reloçõo com Deua nvma d úpl ic. modalidade, isto ê, dividindo·o numa
formo humonilárlo - svperconfessionol e numa forma int.rior -
crista. Nõo pode cultivor relo(õel de duas e l pécies cOm Deu., nem
elt",imlr a sua relaçõo com o Criador atraltés de formal simb6lico. de
dUal espécies. Isto seria algo de completamente diverso daql.lClo
colaboração, que poro ele é óbvio, com todos aquele. que est&o
empenhados no prótica do bem, embora o partir de principio. d iverso •.
Por outro lado, um cristõo católico nêia pode participa r 00 mesmo
tempo no pleno comunhão do fraternidade cristõ e, por outro lodo,
alho r paro a seu irmão cristão a partir da perspectivo motAnico, como
poro um . profono:. .

Mesmo quando, cOmo ló se di" e, "ão houve.Se umo obrigado


ekpllclto de professor o relatlvlJmo como doutrina, todavia o forço
(relallvizante» de uma tal frCllernldod., pelo suo meSma l6giC:Q intrlri.
leco, tem em .i o capacidade d. transformar a es!rutura do a to d. fé
de modo tão rodi(Ol .q~ não é oc.ltóv.1 por pari. de um crilliSo, .00
qual' caro a suo fé' !leão XIIU.

Ello subversão no estrutura fundamentol do ato t'. fé reolito· ...


oi.", d1no. 9.0Imenle. d e modo '\lave e sem ser adv. rtida : O 161ida
adesão à verdade de OI!!UI, revelCldo na Igre ja, torna· •• ,imples p.r-
lenca de umo In.tituição, considerado coma uma 10rmo exprenlva
partlwlar 00 lodoQ de outros. formal e."reSllvos, mais ou menas IlIIuol-
m81l1. pourvels e válidas, do ori. ntor-•• do hom.m poro o eterno.

-303-
36 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 28111985

A tenlação de Ir nesto direcõo é hale ainda mais forte, enquanto


<arre'pondo plenamente a <c,IOI canvi«6e. prevalecentes nca mentali-
dade con'emporõnea. A opinião de que a verdGd. não pode ser
conhec:idCl é caroclerlllic;a típico do nono época e, 00 me,mo tempo,
.Iemento .".nciol do 11,10 cris. geral.

Precisome"le, c.on,lderando lodol 011., elementos, (I o.doroçÕo


do S. Congregaçõo ofirl'llo que a inlcriçÕo nas anociações moçõniccn
ceifá proibida pelo Igr.lo, e OI fiáis que nelas se inscreverem «estão
em estado de pecodo grave • nõo podem aproximar-Ie do SaGrada
Comunhão.,

Com .sta ultimo upr."ao, o S. Congregaçõo indico ao, fiéis


quo 101 inscrição conllilui objetivomente um pecedo grave e, precisondo
que o, aderentes a uma ollocioçõo maçônico não podem Clproltlmar-Ie
do Sagrado Comunhão. elo quer Iluminar a con.cilncio dOI fi'i ••obre
uma groye con,eqúlncio .que Ihel adyltm da sua adesão a uma laia
moc6nica.

A $, Congregoção decloro por fim que cnCio compete li. autori-


dade. ecle.ió,ticol locolf pronunciorem-'e lobre o noturem dOI
Clllocioçõe. moç6nicoI, com um juizo que implique- derrogClcão d.
quanto acimo e.lobele~do. . A esle propósilo o l"xlo fax lomb4m
refer&riclCl G Oec!orocõo de 17 de fevereiro de 1981, o qual 16 reser-
'YOvo à S6 Apostólico lodo pronunciClmenlo lobre o notureU! de"ol
alSociaclSes qUe livesul Implieado derrogações dCl rei canônico enlõo
em vigor (c6non 2 . 3331 .

Do mesma modo o noyo documento emitido pelo S. C . D.F. em


novembro de 1983 ellprime id6nticos intenções de reservo relalivl:I-
mente o pronunciamenlos que divergis ... m do juizo aqui formulado
,obre o IneondltobiUdode dOI principias. do ml:lçonaria com a fé cató-
lica, lobre O g,avidode do 010 de .e irucrever numa loio e lobr. o
conse.q Undo que dai deriya poro .eaproximar do Sagrado Comunhão.
Esta dispolleão Indico qlJe, opelOr da diversidade que pode subslllir
enlre os obedllnclol moç6niCOI, em porticulor no suo atitude declarado
poro com o I"relo, o 56 Apostólico noto-lhes alguns principiai comunl,
que requerem uma mesmo avaliação por porte de lodo, os autorldad.s
eclesiástica •.

Ao fanr .,10 OedoroeHo, 11 S.C . O .f_ não enlendeu delCOnhec:er


OI e.forço, rooli&Qdos por aquele, que, ~m o devida Clulorl&Qç6Q
desta Dicoltérlo, proevrorom estabelecer um diálogo com reprelentanles
dll Mac;onorio. MOI, desde o momento em que havia o possibilidade de

-304 -
POR QUE NÁO MACOM? 37

Se difundir entre os fiéis o -errada opinião de que (I adl!são o uma


Laia maçônica jã era licita, ela considerou ser seu dever dar-lhes
a conheoer o pensamento autintico do Igreja a .sle propósilo c pô-lol
em "uorda .q uanto a uma pertença incompativel com a fé católica.

Só Jesus Crista é, de foto, o Mes're da Verdade e IÓ n'Ele os


aiSlõOI podem enconlror a luz e ° forço porCl viver :.egundo o delígnio
de Deus, trabalhando poro o verdadeiro bem dos seul irmõos•

• • •
COMENTARIO

o Pe. Glovanni C8prile 8.J., especialista em estudos macõ-


nicc" publicou em . La Civiltà caUoHc•• n' 3.234, de 16/03/85,
pp. 584-586, as seguintes observaÇÕeS, que ajudam ainda me-
lhor a compreender a poslCão da Santa Sé:

Nõo era Inútil illformor OI lei'ore, (I respeito do notável mudonco


de roto ocorrida dentro do Grande Oriente do lIólio (Polona
GllIStinicwllJ. em conseqüõncla da novo Constituiçõo promulgado -
junfame nte com um novo c Regulomento do Ordem :. - pelo Grão-
-Medre Armando Carona. elles documenlos foram sor.donados pelo
decreto n' 86/ AC de 18 de novembro de 1984, correlpondente ÔI
deliberações da GrQnde LojQ btrQordinario de 27·28/1011984 I •

• ,. Â novo Conltituiçâo apresenta algumas mudançol muilo


significotival poro o nono ponto de vi$!o, Com efeito; foi lupr.uo
o artigo 3', no qual se ofirmoV"o explicilomente que Q Comunhijo
mo(6Rico itoliono cobservo o monoteísmo.; no ortigo 4' . emboro
hoia um apelo genérico li obscrvâncKs dOI «Antigos Devereu, que
se referem a oeui -e li nligião, é propugnado com lodo (I c!Qreza
<a liberdade de conKifncia e de penlamento:., com o conlieqüincia
de que c o franco-maçom ,ejeito o dogmoth.mo e nõo oceilo limil.,
à procuro da verdade . (orl. 9' 1.

1 A. C., O,." Lonl. Stt.ordm.rla de 1 • 2. ottobr. 1914 • ROII'L


Approvazlone delle nuova norme cosliluzlonalJ e regO'ilm cnl.r1, em Hlram.
n' e, dezembro 1984. 168. CI. G. C.pruul, Pere". una nuova coe.llIuzJone.
Ib. 169.

- 305-
38 ",PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 281/1985

o alcClnce destol expressá'l, '.petidcn em outros f8l101. é


esclarecido de maneiro abalizado pelo próprio Griio-Meslre Armando
Corono no discurso pronunciado em reuniêio maç6nico ,.servcdo que
se rMllizofl em Flor.nço, 005 5 / 02/ 85, na sede do Circulo do
Imprensa. Ap6s ter afirmado o identidade, onlel do mais, ideolbgico
do MOÇOnaria medinal e do Maçonaria posterior o 1717, Carona
considero a Maçonaria como c uma Instituição li ...,e, que não aceito
dognlos a, pOf conse,guinle, Iror. em si os primeiros marCai do laicismo
e do onlidericoli smos. Pred somenle por COUSCl disto - conlinuovo -
OI mClçonl mediey(li, forom n.comungodol peJa Inquisição, .que
coprlmio e suprimia tod<ll oqueles que não oceitavam a verdade
'e...aladCl; OI dogmas da Igreia~; pelo mesmo motivo .Ies se refugiavam
no Maçonaria , Foram eles os precursores dos c livres pensodores~ que
a Igrela JMr.egue porque desde então Isé<:ulo XIII. exi.te o cconflito
de doutrina :., c o grande luto enlre o Igreja, que quer vender o paraíso,
ensInando o todos os fiéis que IÓ mediante a fé católico se pode
chegar à salvação da olmo, ti a Franco-maçonaria, que afirma que
pode .er solvo quem creio em algo de Ironscendenlu. AquelClI irmãos
de épocas ,eMol(l1 I.rãó sido ós cprlmeiros o contrapor 6 verdade
religiosa a verdade que nasce do rozão'b~ continuaram a conltruir
igrejas, mOI nco aceitorom co elcrovilacão dOI consciências por porte
do Igreja :t. Assim procedendo, ceram ólimos franco· maçons; eram
livres pensadore'i jó eram antidericais •.

Cita dias moi, tarde, oos 13 / 02 / 85, em semelhante r.unraa


realizc:rdo no Hotel AlelUlndr., ainda em Florença, o GrÕa·Mestr.
Incutia substancialmente as lesei afirmadas no dilcuno anterior; usava,
porim, de malilos, e"c:lorecendo melhor o conceito de laicismo. Este
seria cum tipo de conhecimento alternativo e". relação 00 do,gmótica
e fidebta da religião.; comporta o ontic:lericolismo contro o Igreja, que
quer impor OI IUOS próprios verdades, enquanto OI autlnlicos moeon"
rejeitam co autoritorismo do Igreta _ .. e a imposição da verdade
ecle,ióltica .; além do que, c r.ieilam os dogma n. A ,mico difareneo
entre os dois di"curlos é que o primeiro folavo de fe cem olgo de
transcendente», ao p01l0 que o segundo falovo de cfé em Deu n.
Como interpretar 101 diferença? foi -intencionada por motIvo. t6ticos?
Trotor .•e·6 de um Deus pessoal único? Em caso positivo, por que eli.
minar o monolel.mo do Constiluic;õo?

Quaisquer que seiom as respoltos, o que foi dito - • VQi sendo


repl!lIdo, de um modo ou de outro pelo Grco-Mestre em lodas as
Lojas qUe el. visito. em todos as ,euõel que ele preside - j6 é
bastonla eKlaroc-edor paro OI católicos. C problemo do monolebma,

-306 -
POR QUE NÃO MAçoM? 39

porém, suscila algumas questões. O fala de que a Grande O,ienle


'CIo ItáliaS8 aproxima dai pOljçõcs do Grande Oriente da Fronça, scrã
a ceito tranqüilamente pela Grande loja Unido do Inglaterra? PretitO-
mente por.que s.e afastaram do religião, o Grande loja Unida da
Inglalerro dei.ou de reconhecer o G-ande Oriente f,oncls em 1878,
rompeu com o Grande loja do Uruguai em 19.50 e com o Grande
Loja Alpino dCl Suiça em 1971. além disto. dei.ou em qvorenteno por
110 tlnOI - de 1862 a 1972 - o Grande Oriente do 1161io, antes
d. Ih. conceder (I reconhecimento solicitado.

Os maçons do Itália profenam novas posições loicistos 00 • •Iremo


• reivindic.adolas de absoluto liberdade de consciência. de pensa-
mento, admitindo apenas as formulo~es cOlllelolO$ do nOYQ Consti-
tuiçiio e o reconhecimenlo de colgo. de IranKendente ou de um vogo
cAlguélu. Será que os querem " podem conciliar com OI principiai
bcsicoI e intoccYeis, formulados pelo Grande Loja Unida da Inoltlle"a
em 1929 e confirmado, em 1938 e 1949?

Até aqui o Pe. Caprile. Acrescentamos qua a asserção do


Grão-Mestre Corona, admitindo identidade entre a Maçonaria
Medieval e a oriunda em 1717, é artificial. Com efeito i na
Idade Média as corporações de pedreiros se assemelhavam às
de ourives, ferreiros, carpinteiros ... -e professavam a fê atá-
lica comum a t<ldos os povos medievais; tinham interesses pro-
fissionais e artesanais. não se preocupando com disputas ou
contendas fUosófl~. A partir do século XVI, porém, as c0r-
porações de pedreiros (magons, em francês) foram perdendo a
grande importância artesanal ou técnica que tinham na Idade
Média; por isto no sêculo XVllI, para não desaparecer, foram
recebendo em seu grêmio pensadores. conservando. porém, os
simbolos (avental, esquadro. martelo . .. ) das mesmas. Em
conseqUência, podemos dizer que a identidade entre as Lojas
de pedreiros medievais e as de Maçons dos séculos XVllI e
seguintes é meramente simbólica (os sinais e os emblemas são
os mesmos); hã, porém, enormes novidades filosóflco·rellg1osas
(ou anti-religiosas) nas Lojas Maçônicas da época moderna.

- 3fT7-
Controle da Natalidade: com que meios?
Publicamos abaixo valioso trabalho sobre controle da
natalidade, da lavra de sete médicos fluminenses. a saber:
Dr. Demlval da Silva Brandão, Responsável pelo Setor de
Esterilidade Conjugal do INAMPS em Niterói, ex-Conselhelro
do Conselho Regional de Medicina (RJ); Prot. Dr. Herberl
Praxedes, Livre Docente da Universidade Federal do RiQ de
Janeiro, Proressor Adjunto da Universidade Federal Flumi-
nense; DI". Gennano Brasiliense Bretz, Presidente da Academia
Fluminense de Medicina, Patologista Clinico (AMG) i DI". Car-
los Tortelly Rodrigues da Costa, VIce-Presidente da Associação
Médica Fluminensé, Secretário Geral da Academia Fluminense
de Medidoa. ex·Presidente do Conselho Regional de MedIcina
(RJ); Dr. Celso cerquelra Dias, Presidente da Associação Mé-
dica f1uminensej De. Waldenlr de Bragança, Professor TItular
da Universidade Federal Fluminense, Membro do Conselho
UnlversitArlo da Universidade Federal Fluminense. ex-Presi-
dente do ConselhO' Regional de Medicina (RJ); Dr. João Evan-
geLlsta dos Santos Alves, Membro Titular do Colégio Brasi-
leiro de Cirurgiões, Ginecologista do Hospita1 de lpanema do
INAMPS.

Em linguagem técnica e precisa, o estudo evidencia a


nocividade do recurso a métodos artificiais para controle da
natalidade e as vantagens da aplicação dos meIos naturais,
entre os quais sobressai o método de BiIIlngs. Aos sábios auto-
res do trabalho a revista PR. apresenta seus sinceros agracie-
decUnentos.
• • •
o problema do notalidode ultimamenle lem sido auunlo freqGenle
no, meiol de comunl(Qç60 sociol. InformoçÕ>es, as mais contradlt6rlal
passlvel., nem sempre pro"enientes de fontes id6neos, sõo dltlriomenle
transmitidos ao público em "era I. Do emoranhodo de opiniões emerge,
quase tempre, o fol.a id6ia de que a limito(Cio dCl notolidode constitui
rem~dio _ sen80 suRdenl., pelo menos necenário e Indbpens6vel -

_308 -
CONTROLE DA NATAUDADE .,
poro OI malel que afligem a humanidade, coma o extrema pabr&za, a
fome, a yiolfncla fi oulrOI probl&mas humanas. reladonados ou nõo
à falto de recuuos. Não pretendemos, aqui, discutir o. vilrios aspectos
que envolvem e"a .questão, mas a bom senso e o experi8ncta mostram
que não ó passlval resolver problemas humanos com a desvolorizaçõo
do vida, permitindo_se o destruiçõo de um sef humano na ourora de
suo existência, ou impedindo o e leU ellistir :. pelo inlerf.rênàa na.
fonles da vida.

e
inegável, porem, o ocorrência de situações em que uma fomllia
se vi na contingência de controlar o número de filho., a curto ou o
longo pra&Q. Não podemos ignorar inclusive qlU: é grande o número
de famílias que le encontram n.tsas circunJiãncial, pois todas OI
penoos, todos O I familias, comunidades inteiros, sofrem os tensaes
provenientes do ,;tmo do vida atual, conJeqüentes a v6riol fatores
e lambém, em grande porte, a umo mentalidade utilitarista, hedanlsta,
viciada. distorcida, pOI'êm real e Influente.

Vemo-nos, aulm, diant.. do problema do planejamento fQmiliar


e do necastidade de encará-lo objetivamente. Entre o. vórlos aspectos
°
o considerar, surge imediatamente uma questão fundamental: escolha
dos mótodos a serem adotados e as providências perolelol a serem
tornados, de modo a !e atingirem as fins sem produzir efeitos soclail
graves que pOliam denegrir a dignidade humano, criando um circulo
vicioso de conseqüência. impre'tisl....is. O remédio inode,q uado ou mal
formulada, 00 inv's de repretentor uma solução paro Q doença social,
poderá acrescentar mais mis6rias fi o'lili'odo humanidade deste final de
século.
Consid.rando-so o temor de propalado cexploséio demográfico:.
conseqüelllo a crescimento populacional Incontrolado, 6 evidente que
constitui um C01l'rO-len.o a promoção abu.iva do ,ello pelas meio. de
publtcidade, e'llmulada, inclusive, pela difusi50 de milodOI anticonl;ep-
Ctonoi" que são ~laC<l:dos (\ vendo sem a ml"i",o restricão. Cria--se,
assim, uma atmosfera de i"odequada valotlUlcão do .exo, com estimulo
de uniões em lodo. os ombien'&$ li em todas ai klode., mos sobretudo
ontre adolescentes. Estes, sem discernimento lulidonle, são levado.,
pelo prOpcl9ando e pela, facilidades, <I atitudes irrefletidas e Incon-
seqOentel, porém capazes de ,sIeror nav<ls vidas. Os efellol contracep-
tivos dos mitados arlificiois 'o o"ulo,", pelo exogerodo estimulo <lO
praceslo procriador, 'an'o no liSO ordenado do vida conlugal, quanto
no desordenado do sexo $Om compromisso. Então o recuno poSUl o
ser o apelo 00 abertomento provoeado, eliminando-se ai filhos ditai
Indesejados - em número cada vez maior - d. mli" .olteiras •
mesmo d. fomlllas cor..titvldas.

309-
42 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 281119S5

A mentalidade anll·notalisla evolui da contratep<:ão, em si m6,


ao aborlo livre, e Ocl'. Q Clllonéllia poro as pessoas deficiente s em
qualquer idade. E tudo iuo em nome de pseudo.d ire itol nlmco devi·
damenle ex plicados, parêm opoiodol em cha vões amplo mente difun-
didos • que CQnsegllem Cln ulesior os consciências atônitos pelo ritmo
do vida moderna e. por luo meSlnO, pouco olenlas li realidade e
importand o de certos fotos .

e ób... io que uma dos principais e urgentes providêncios o ser


adotados - nõo só por motivol é lico l. mal também CORl vislcn à pro-
clia (go responsó vel • 00 plclI'Ieíaménlo fomitia, - i o de prover,
pelos meio, cobi",eis. 00 sa neomento do ambiente moral e elpiritual
do sociedade.

Mas o problema que desejamos colocar é o leguinte: como fo!:er


um honl:llo I: c;onlcienle phmeiomenlo familiar, ,em atingir a digni-
dade dos côniuges. sem desvolori:r.ar a vida humano, u!!m deturpar a
finolidade inlrln.eco do ato procriador, sem fechar OI portos o vida?
O. métodos proposlo. eai;em crilerioso exame de todos OI ,UOI par-
ticularidades o canseq06ncia. antes de .erem aceitol. A aplicação
do método é matéria eminenlemenlo médico e nôo podo o médico
prostituir-se com o eXérddo profiulonal qUe esvazie a Medicina de
leU conteúdo ético.

Para evi'ar que .as mulhere, brasileiras sejam iludidas e indu-


!:idal por propagando fo,'o e moacCl a usarem medicamentos ( << pllu-
las »1 ou or'.fOIO$ IDIUI nocivos êI saÚd. e d. efeilo aborlivo - d.s-
conhecendo 'olalmenle o que Je posso em seu organismo e a que
perigo estão l ujell0' _ . iulgamos importante tecer algumas con.l- ·
deroCÕ411 quanto o estes produtos; desejamos escloreeer certa s distor_
(60$ e (I proposltol confusão com que seUl o,gendodorol e nvolvem o
uso e o mecanismo de O(ÕO de lois produtos poro Q)nfundi, O I que
d ......"'. pOf' de"' de oficio, condenor e coibir a lua aplicação.

1. D1SPOSmVO lNTRA-UTER1NO (D1Ul

o Dltposi!'ivo Infra-Ulerlne) IOIUI é um arlefale) construido sob


fomatos e tamanhOI diversas, para melkor se adaptar à cayldade
do útero o que .e destino. Existem v6riol modelos, que •• tomorom
conhecidos pelos nomes d. seus aulore" pelos suos formas ou pelo
malerlol ce)m ,q ue 180 fabricados ,

- 310
CONTROLE DA NATALIDADE 43

Em oulras palavras: o r~ferido artefalo - inlenoionalmente colo-


cado -,;fentro do útero e 01 mClntido por tempa indefinida - é um
corpo estranho intra-uterino, que impede, por efeilo de SUQ presença,
o desenvolvimento da gravidez todos as vezes que sua portadora
concebe um filho.
e fato cienlifkamenl4 constatado que o desenvolvimenlo do novo
individvo comeÇa com o fertilizoçóo do óvulo p~lo espermatozóide,
constituindo-se anim novo organismo que ine:.;orovelmente conllnuará
seu desenvolvimento até a morle natural, ocidental ou provocado,
dentro O"foro do ventre molerno.

E: igualmente conhecido que a primeira semana de desenvolvi·


menta do flove individue - do ferliriUJCõ() à implanlaciíc no útero -
é de muito intenso atividade, panando pela fase de segmentação em
brosl6merol qUe formam Q móruloi é iã no f05e do bloltodllo que
que se aloia no endométrio (fenameno conhecido como nidação au
nidificoçõol. E O DIU COUIO O mario do novo ser no fale do breu-
toclslo, juslamente por.q ue interfere no proceuo do nidocãa.

Obviomenle, .q ualqulH .arlelato qlh! provoque o morle do novo


organilma nao pode ser chamado (anticoncepcional», visto não haver
impedido a concepçao, mOI oluado após a mel mo. Pode parcçer
supérfluo chomar o atenção sobre esle falo; mas ida se justifica em
razão do eX1slindo de autores que insistem, erroneamente, em deno-
minar o DIU de ~ onliconcepdonob .

Entre os meconÍlm01 de oeão Cllribuídos ao DIU, rclac;icnam-1e


os lCilllinlell

1 _ Ironllorno da função do miomêtrio, que cousa a e xpulsão


do ovo (óvulo fecundado);

2 oceleracão do tranlporte tubÔlico do ovo;

3 modificoo;:~s bioquimico1 do endométrio que impedem a


correia Ironsformo,50 dedduo\ e a nida(Õo do bloslodsto;

.. - senlibilidade anormalmentll baixa do endom~lrio 00$ estl·


mulas medinicos que se produum no momento da implantacão;

5 _ mobilizocão dOI leucódtos pollmorlonucleClrel com fClrmo-


c50 d. um meio uterina natli! aos bloltocisto$J

ó - aç60 tóxico lobre os espermatozóides. difiaJllando a alcen-


são dOI me. mo.,

-311-
.PERGUNTE E RESPONDEREMOS:> 281/1985

Todos os mecanismos dtadas I com excecãa da 6'1 Clgem ap6'


a fecundação , lendo, portanto, abortivos. Suo ocôo espermatotóxica
eoncomilanto ,. inefico& paro impedir o oscensão das elpermoto&Gi.
des àl IrompOI, onde ocorre o fecundação.

Quanto aos DIUs de cobre, lobe-se que emitem ionl d e cobre


copaus de competir com o zinco, podendo, por il~, inibir a reaçõo
do anidrase catbónico, q~ contém zinco; podem lor"bém interferir
com o metabolismo do glicagênio e com o DNA celular no mucosa
utorina. Euo. fo'?s dificultam °
implonloção do ovo no endométrio.

A inibição que podem exercer sobre (I mOlilidode dos espoermo-


lozóides, não é luficiente par<IJ deler totalmente o ~norme q\lontidade
dellel gamelas .q ue oscend.. em direção OI trompas ck Falópia, eomo
admilem os próprios adeptol do DIU.

Por <:orto, eslel fOIO$ não foram considerados por quem haja
conclurdo pelo inocêncio dos OIUs. Solicitamos o alençõo poro 1,10
relevonle falO . na atualidade não é mais desconhecido a efeito dele-
t6rio do DIU sobre o novo ler humano em seus primeiros dias do
exlslêncio, ou lejo, não le ignora, hoje, Q ação abortivo precocI
deste artefato.

Como se sabe, o Roluruo prodigalizou um grande eJli<:OlIo d.


gometos moS(ulinos para assegurar o reprodução. Vori-ondo entre
2,5 o 5 ml de sêmen, cada ejaculação encerro uma concenlroçéio de
espermotozóides que varia entre 80 a 20Q milhães por ml. Concen-
Iro~~s bem menores são suficientes poro IOSrar o fecundação, sendo
considerado viável até o limite mínimo de 30 milhões cu <llé mesmo
20 mTlh5es de células por ml.
o colo ulerino re'.m. f'lormotmento. quantidade conliderável de
espermotoz6ides, mas eatcvlo-se q ...e, para ocorr. r a fecundação,
boslo que apenai 10 o 12 mil espermoloJ:óides peneirem no cavi.
dade ulerino. Neste Cala, lerá bem menor a quantidade m(nimo d.
céluhu masculinol que devem alcançar OI trompas, poro que ape-
nai UIIIO penetre no 6'1ulo, fecundando-o. No realidade, o número
d. gamelol que a.c.endem ao útero e às trompas é, normalmente,
multo maior .que o mlnlmo nouuário.

e c:cnhec:ido o resistência do simen à 0,60 de substancial qui·


micos esperlllolotóxlcol depos1tadal no f ... ndo vagÍl,al, cuio objelivo
onllcancepcionol é multai 'HUI frustrado, posto quI' suficiente quan-
lidado de espermatozóides perll"lClnece capacllada paro aKend.r ál
,trompol e exer,.r Q "wndoção.
-312-
CONTROLE DA NATALIDADE

Normolmente, a ele'Yodo concentração de célulos reprodutoras


r'ncuculi nclI r~llguQ rda um ponj'Yel desperdício dos m05l"'os, no decoro
rer do proceno gereldor. poro que isto não implique em impedimento
da fertilização do óvulo.

Porton,o, ° 1010 d e o uso do DIU criar condiçõel desfavoróvei'


b videl dos espe'IWolozõidel, dificultando suo oscensõo ôs Irompas,
não constitui molivo ro%06v&1 poro admiti'-se que esle arlefato passo
impedir o concepção.

Sob.-se ler curto o loplo de tem po em que os espermotor.óides


se expõem, no meio uterino, às hostilidades causados pela presença
do DIU, que não impede seu ,rojeta poro os trompos. Já os esper-
molozóides retidos no covjdode ulerino, ficando exposlos por mais
tempo, são agredidos e desoporeum mois rapidamente que o normal.

Vencido. OI dificuldades e ocorrida a fecundação, o novo ler


recém·concebido desce atrovés do luz tubéria com destino a CClvi·
dode uterino poro 01 permanecer e implantar-se no endométrio já
no fase de blollochto. Constitui, portanto, o covidgde uterino não
uma bteye poaagem, maI O chobitot:. do novo se r até o nascimento.
Se os condições noluroi •• fovorõveis 00 seu desenvolvimento, forem
modificados e transformadas em meio hostil, como a conl.ce pelo
'Prelento do OIU, o conceplo cerlamente perecerá antes oU logo apó.
a nidacão.
o .feito abarlivo do OIU, inclusive o de cobre, fica evidenciado,
sobretudo, com o preconizocão .q ue se foz: oluolm."te poro uso p6s-
-coltol, visando impedir °nidoçóo do concepto retullonte de alo
cdelprotegido:. .

AI6m do . feito abortivo, eqrce o OlU ac60 no<:;Í..,o ,obro Q


saúde do mulher em que' (o lo<odo.
A. principal complicação consiste no infecçÕO pelvicQ. palologio
gerolmente grave, podendo 10000r li morte ou deixar seqüelol nem
sempre possíveis de curo, como a esterilidode e dores pélvicos. con-
leqGincias de ad erlnçias inflamolórias englobando OI órgaos pélvicol.

Complicocõo mais froqúenle e não menos desprevvel é o lon·


9rome nlo ulerino anormal, que pode ler intermenstruol, c:onsl,tindo
em perdo, .angüinea! Inlermllente, durante todo o dela, ou inlro-
menstrual, con,istindo em Huxo menstrual mais abundante e mais pra-
IORJado. Ambos 0$ formal d. me!rarrogia pode.., expoliar o, Ulu6·
rias, causando onemio ou agravando anemia pré~.xistente.

-313-
46 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 281/1985

Entre ai complicocãel menos freqüentes de"aca~le a perlvracão


\lterina causado pelo artefato oborti\lO ICIUI , de çonscqüêndas
impr....bivo i"
Ainda qlJe qualquer entidade internacional venl1a, Indevida-
mente, o reconhecer esse llIétodo, não sera i~to moli.,o parCl que, no
Brasil, seio tolerado ~u uso, violando fronlolm ente "OUCI legislação
e t'oindo nOSSOI Itadicões d e . agrado respeito à vida humana. Ao
contrâriD, sefá isto motivo paro que nos afirmemos coda VIII: mais
numa otilude de grandeza, desfrakJando a bandeira do respeito ti
vida humana desdo CI conce~ão, respeito â vida como dom d e Deus,
ao invé, de- co",purcá -Ia e destrui-lo .

2. P(LULAS ANTICONCEPCIONAIS
(anticoncepcionais orais)

Nõo se conhece ainda, com precisão, o mecanismo fntimo de


aeõo das pilulas anticoncepcionais, nem todas a s conseqü!ndas que
seu u.o prolongado pode coular 00 orgClnllmo do mulhor e à .ua
d escend6ncio. (Uma provo de que ,ão imprevislveis o s conseqüênciaJ
mClléfl cos de "rodutos hormonois sintéticos sobre o e'pécie humano
enconlrG-,e no lurpreendonl41 falo, d ivulgado pela Organizacilo Mun-
dial d. Saúde, OMS, 11 pela « Food ond Drug Adminlstralion :t, FDA,
dos Esl<QdO$ Unidos, de que o uso de d ielhylslilbe:5trol pelo mõe durante
o grovidez estã rela cionado a futuro opofll<imento de epitelioma de
vagina na filha) .

2.I . MeCQnlwno de alão dos anov"lotários


Algun~ ospedos sôo conhecidos. Agindo lobre o hipotálGmo e o
hipõfi,e, interferem os . pílulau em toda D delicado li,temo endócrino
feminino, alterando o tnle rrelecionomenlo glandular, çOmondodo que
é por esHmulol prov.nienle, daque las es'ruturos. Repercutem, portanto,
sobre lodo o economia do organismo feminino, alterando-lhe o ,ilmo
normal. Ainda não .e sabe $esuromenle como os coisas ocorrem. E
quclISe cerlo, por'm, que o acõo ptirnofdial ~ verifica sob,e os libera-
dores hipotalõmleoJ, freando conseqüentemente (I liberação do'
horm6nlOlluteinia:ante (LH) e falkulo·e.t;mulonte (FSHI . inibindo-lhes
o pico e mantendo n(vels baixos, impedindo auim o oyuloçÕo. A
suprenão , m6ltima a",6s tris delas d e tratamento e o uso prolongado
pode ter .f.ilo represslYo sobr. oulros falares hipotalamicol d. cen-
trole hipofisá.lo, assim ocorrendo, por exemplo. cem o fator inibldor
-314 -
CONTROLE DA NATALIDADE 41

da Ptolactina IPlFI. que ê freodo e, conseqüentemente, a Pl%dina


é 'iberodo causando em muitos COlOS a sínd,ome de amenotréio-
-soloclorréio, que pode, inclu.ive, ser conseqüência de ",ic;roodonoma
hipofilório, couliodo 01,1 cstimulodo pclol estrógenoli-gellágcnol.

Acfio direlo sob,e o hipófiJe tem sido demonstrado por experiên-


cias em oOnimois, ouim também sobre OI ováriol ti" 50bre todo. os
derivados do condulo de Müller, bem coOmo sobre Clulras glõndulos de
secreção Interna e oulros 6rgãol.

V6-se, ouim, que o efeito anticoncepcional dessas subslanciol 6


COn5c.qüêncio de uma mollol4tia tlÇÕO direta sobre o delicodi5limo
sistema end6crino feminino, altcrando-Ihe o funcionamento normal
e impondo-Ihe um ritmo potol6gito, que pode tornor'se estável e pcr-
sistir ouim alterado, mesmO após a retirado da causo (suspensôo do
uso das eptlulon I.

Compõem-se as epílulol:t da o5$ociaçáo de hormónios estrogê·


n1eO$ fi progestogênkos o não se pOde afirmar qual denes horm6niol
., responsóvel pelos efeito. produ.lidos, pois se lem verificado que uns
e oulros podem interferir slnergicamente e 0$ pro!)esloginlo~ podem
ur mctoboli:z:ados em .stroginios.

~ muito difrcil .elecionar o pllulo onticon<epcianol que ofereco


riscos I!I@nOI &lra.,es. Mesmo os pesquisadores enconlram dificuldade
poro sel@cionar critérios olro'lês dos quais os progeslogênios panam
ser devidamente comparados, pois entralll em jogo v6rias falares nem
sempre fóceis de ser avaliado •. Poro se sen.ir o dificuldodo do pro-
blema, bosta observar o grande número de produtol existentes no
mercado; um mesmo laboratório pouu! dois e até Irls produtos,
variando nos subslôncicu e nOI dosagen •.

Quanto às dosei, nem lemp,. os menores são menos ogreuivos,


pois se trato de estrogênios de 0110 potência, superando I] alividade
biológico dos oulros estrogênios usados em doses mais elevadas. Cada
Iaborat6rio procuro obter a preferincio dos médicos, apregoondo
<:erlOI corocter[slicas dOI seus produtos, apresentando-os como se
fossem os melhores, os menol perigosoS'. No verdade is'o "ao ocorre,
pois, se assim fone, obteria unClnimidade dOI receituórkn e oulrOli
produtOI leriam abandonada.. Alguns produtos utilizado. dUlonte
muitol .anal, no mundo inteiro, por milhões de mulheres, .adios ou
nlio, .ram anunciCldos como sendo os que ofereciam maior segurança,
e foram posteriormente retirado. do mercado por motivai corlamonle
graveI.

- 315-
48 «PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 28Ul985

Sobe-se, por outro lodo. que cada pessoa tem !eUI sblemal
en~imó,ico, co,. alguma. caracterbticcu pt6pri<l$. que metobolilom
melhor certas substáncias e outros nõo, Cada pouoa tem suos idios-
sincrasias, lent seus folores predisponente. a dele rminadcu doenças _,
portanto, o determinados complicac3es. E tudo ;$10 é muito difldl de
ovaliar, de precbar. AI,guêm ió disse, com acerlo, qve lodo mulher que
tomo pílulas onlico,",cepciono;, está s • .submelendo u uma verdadeIro
eXI'eriência em escalo mundial. E a experiência continuo em anda-
menlo, podendo>se ofbmar que, na história da humanidade, em tempo
algum, uma drOgCl, com meconismo d. aeão nao devldomente "clor.-
(ido, • com tontos efeitos colaterai, e complicações poulvei., foi
Ilberolmenle aplicado o tõo grande número de peuool por tempol
lôa prolongado.

2 .2 . Efeito. colaterol. das ,lIulas anovolutórias

A simples análise dos OSpectOI conhecidos do mecan ismo de ação


das pllulas, acima referidos, permitiria conduir pela existindo dCH
numerosos efeitos (olot.rais graves, que a experlênda veio demonslrar.
Inclusive em dexumenlo do Ministério do Soúde sobre gravidez. de alto
riWJ encontrom·le relaciono dOI muitos deues efeitos colaleraisl o
simples leitura daquele documento leria ,uficiente poro, (lgindo sensato·
menle, exclvir (I, pllula s dicmte dOI pacient.s que apresentam fatores
de risco obstétrico; com efeito, o odmin illroção dessas .ubllandos
virio agravar o. referido. fatores de ri.co e ocrescenlor oulro., na
JI'ItIsma paciente.

A seguir, serão enumerados os efeitos colaterais mah imporlonte.,

2 . 2.1. Efeitos .obr. o aparelho cardlovasaJlor

'nfArto do mlac6rdio - emaior a incidência d. infarto d. mloc6r.


dio enlr. OI con ....""dorOI d. pll ... lo, onticancepcionClb. O a ... monto
d. lisco 6 conseqüência d. ambos os componentes do c pllula :.: ellro.
glnio e progesterono, e não apenos do primeiro. como se supunha
antes. QUClnlo mais longo ror a lelllpo de uso da. c pílulan, maiores
..rao os Indices de mortalidade por doençal do aparelho confio·
vOlcular, que persistem .le\lOdos, ainda que a mulher suspenda o seu
UIO. ColcukJ'le .q ue o índice de mortalidade por daenc;o cire... lal6ria
6 J.,7 ve:r.e. molar Itnfre as vluários dos pílulal do que enlr. os que
nunca havfom usado.

- 316-
CONTROLE DA NATAllDADE 49

Hlpertensõo arttriol - Pode surgir ou agrOYtlf-Se no decorrer do


uso dai cpllulas:t em virtude de .alterações no sistema renino-ongios-
tensina-ardas'erana: C".lmenlo da renina p'alm6tica, aumenlo do .feito
preSlOf da an,giotonina li Ciumento da relencao de s6dio proyocodo pelo
oldOllerona.

Alguns fatores de risco, isolodol ou ollociodos, aumentam o


perigo de morte por doença cordiovasculor nos usuários dos pllulas
ClnliconcepeionClis; t1ábila de fumar, hipertensão orierial, diobetes,
obesidade, t1iperlipemi<l, idade aeima d. :15 onOJ.

2 , 2 ,2 , efeito, sobre o toagloltação sangülnea

Observo-se oumenlo no maior porle dos fatoros de coagulaçao


IoOngülneo, diminuindo o tempo d. coaguloc60, rroyovelmenle por
e'.ilo es1rogênico. Os ge1lógeool d iminuem o tônus venoso agindo
diretamente sobre a parede vosculor e produzindo, auim, 8slal.
venOlo da pelve e dos membros inferiores, fovorecendo o formoc:ao
de ttombos.

Pela o(ão dOI onoyulo'6rios ve,ificoJ\"l-se as seguintes alterações,


que inlerferem no mKonismo de produ(ôo dos Iromboses : diminuiC60
do velocidade ,onguinea, aumento do eslose venosa, aumento do laia
de prolrambino, oumenlo do atividade dos folorel VII, VIII, IX, X da
coagulc:u;ao, diminuicõa da anlitrornbino 111 e oumenlo da adesividade
ploqueló,ia e do viscosidode sangüíneo.

Vários estudai realizados no Inglaterra, no SuiclO, na Dinamarco,


no~ E~ ladol Unidos, 'Im comprovado positivo correlacõo entre a uso d •
• "roginlo. e o risco de acidenlol trombo-emb6lkos Ipulmonar, cor.-
brol, ("oronor;ono, rellnu, trombose venOIO profunda, elc. l, aumenlando
do três a oito veus o risco, em mulheres sadios, )em .,enhum oulro
,ranslorno pró_disponenle, sendo que poro os tromboses Juperfidal.
do pernil o aumento de risco oi de 50,.• . ê ",aior o incidência nOI
mulher •• acima dOI 35 anos e nos fumantes .

2 . 2.3 _ Seitas sobre o tnetloboli_o

Ocon. redução nOI nlveis sansuin.al dOI vitaminal hid,assolú-


.....s lsobretlldo piridoxina e ácido fólicol, do côleio, do zinco. do
magn6slo,

-317 -
"PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 281/1985

Verifico·se aumento dos Iriolicerrdios, fosfolipidiol • colestercl.


de grande importôncio no palogenio do arteriosclerose ti do infario do
mioc;Ôrdio.
Obser'la-se queda nos nlveil de aminoácidos e de albumIna.
H6 interferência no metabolismo cerebral do IJlpt6fano, çom
d/minuicSo dai ni'leis de lerolonina no cérebro, podendo prO'locor
dblúrbiol depressivos ti do sono.
Pode ocorrer aumento ponderaI, provClvelmente provoeodo pelo
efeito onobólico dos gellógenol (quimicamente relacionado ao radicol
ondr6genol e pela retcnçao hídrico ligo do aos ondr6Qenol ou olndo
por passivet hipoliroidisma conseqiiente à inibição do horm6nio tlrco·
tr6fico da hipófise.

 diab.eles pode ser agravado ou surgir em pena0' susceptlveiL


foi relolado que 15 a ..O~. das consumidoras d. pílulas anticoncepcio-
nais opresenlam allerocões no leste de lolerância ci Olicol•.
A obesidade constitui fator que aumenta o risca de complicoçiSe,
nas uluórias das «pílulau e par lua os obesas estao mais sujeitos
aos efeitos c;alalerais indeseió'Ieis. Também c;onslitui falar de aumento
de risco o leor de gordura inf.rior a 15 "I. do pelO corporal. logo
~mbém os magras estão mais expostas às complicoções eau$odG' pelas
.. pilulos~.

2 .2 .4 _ Efeitos sobre o ';stemo nervoso untral


Tem sido canslalado CIumento de 6 veles no risco de trombose
c;erebrol em mulheres sadias, sem !rons'ornos pré-disponentes. O
principal ,inol prodrômlco li uma cefaléia que começo Iris meses antes
do bquem'o c;erebrol. Tim sido relolados enfartes cerebrell, maciços,
hemarrá,gicos ou 1'60, eons8euti",os a trombose da eor61ida ou do
cerebrClI.
Relatam-se ainda : c;efal~io. v(!Seulores anólogos ô enxaquec;CI, ou
ogrClvamenla des'o, estado depressivo, c;ansaco, diminuicCio do libido,
oumenlo no incidencia de epileplia e ogravamenlo das disri!mia.
pre-existentes.
Outro acidente grove li a hemorraglo sub·orocnóldeo. Oc;orre
cerco de 6,5 vezes mais entre OI uliuârios das epílulosa que ..,tre ali
nôo usuárias; lambém aqui persilie o aumento de risco mesma após
cenor o uso (o ril~ entre as ex-ulu6rios e 5,4 vezel malOl do que
elnlre as mu lheres que nunca fizerom UIO dos cpllulou I.

- 318-
CONTROlE DA NATAUDADE SI

2 . 2 .5 . Eleitos.sobn o apa~ho d1gestivo

Sintamos gOltfo-inleslinois coma


podem oeorrer,
n6u~etls, vllmitos, ccliles, .'e.,
Poner.otiJe agudo , ocorrência a sef temido em usu6rios dos
pll"los anticoncepcionais, e
pode se' suspeitado pela exislêncio de
níveis ele ltemomente elevados de colesle rol " trigliceridios no plasmo.

Verificam-se alteroçiSes do funçóo hepôtic;a nOI "suônos das


pllulas anovulCltótiCls, bem como ocorrência do ic:lerlcio colestôlica e
aumento no incidincio de calelitlase e colecidit.. Adenomos de
células hepátic.os nõo sóo freqüentes, mos ocorrem em maior númeto
enlre os consumidoras de pilulas onovulot6tios, se ndo r.lotados cosas
de toturtl e hemoperil6nio em pacientes jo ...ens.

2 . 2 .6 . Efeitos oftalmológicos

AlleracÕes dos vasos da relino li do UNO ótico podem ser provO'


cados pelo UIO das ~ pllulou, tais comOl trombose da ~eio central el ou
de seul fOmOS, Irombose arleriol, edema do papila, neurite ótiCCl, perda
da ...i,óo (parcial ou completo, graduol ou repentino I e, lombém,
intolerôncio 00 UlO de lentes de contato, por alte tocóo no $8cre(óo
loaimal.

2.2 .1 . Efellas lobr. a audição

As 4: pilulos:. podem causar hipoacusio e oulten perturbaçÕes


auditivas .

2 . 2 . 8. efeitos sob .... o aparelho urin.á rio


O uso das e pllulas» pode proVOcar nefropatia hiperlensiva e
dilalocóo do u,eler. O ,isco d. ocorrer infecçiio urinário é 25 o 50,..
maiO( .nlre os usuórios dOI epilulol :' do que entre a s não uluórias,
podendo o aftt«õo oco".r de monei,o auintom6tico.

2 ..2 . 9. Efellos ,01H-. QI ót1JÓo. genitais

Sobr. a vag1no - Esf,ego~o hipo.ltrogAnico, canse.q üenl. o


hipotrofia do epitêlia vaginal, inferierinda desfovCM"a .... lmenle no f.lo ·
oonomenlo sexual. Os «corrimentos,. são .50 -I. moi, freqiient.' entre
os usuórias ckI, ep!lutou,

- 319-
52 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 281/1985

Sobre o colo ,,'erino - Relala·se hiperplosia da mU(GICII ."do-


-ce,vif;.ol. com aversão, podendo 1omor aspedo popilar. Existem tro.
balhos mostrando aumenlo no promoção. progreuão deis di1plasio1
a carcinoma « in silu:. do c;olo uterino.

Sobre o corpo arterino _ Alteroçõe, no estruturo histol6g1cg do


endom6trio cousados pelos «pílulas. são bem conhecidas pelai anafo'
mopotolo.gillos. PerdOI longüineol extemporâneos 011 «de eScape. nõo
são lorOI. Amenorréio. geralmente opós o uso prolongado d. pllulol
anticoncepcionais, t conseqüência do inibição hipotolâmico, hipofisõrla
.ou ovariana. Pode estar r.lacionado li golaclo,,~ia. como lá vimo.
anteriormente, por inibição do PIF no hipolálomo e conleqüe"le tib. o

IOCÔO d. proloctina pela hipófise . NU'ea COSOI é nec~uárlo excluir


Q existineia de adenomo hipofi.ório, que pode ser ptovoc.odo ou agra-
vado pelo uso de pUulos Clnticonupcionai" como lá ref.rimos acima,
DO !tolar do mecanismo de 0(60 e dOI efeito I sobre o sistema
endócrino.
o uso dos pllulas pode provocar o aporecimento dO!! miamo ulerlno
em pacientes predilpoltol ou promover o aumen'o de mioma pré-
-existen'e, e tem .ido respon.$abilizado pelo aparecimento de COSOI de
carcinoma do endométrio, sobretudo as pílulas s.eqi;ienciais.
Sobre os ovários - Hipofunciio ou atrofio ovariana podem .er
con$4iqiiêncios do uso prolongado de «pílulas», devido a interferolnda
nos enlimCls ovarianos do e,teroidoginese, cousando amenorléia que
pode .er definitivo.
Sobr. as ftlalNl4 - Além da galadorréio já referido, pode haver
mo.tolgío, aumento de volume, aparecimento de condenlacõo, <tuer
mui las vele, exigem biópsios poro excluir malignidade. As substân-
cias dai «pílulas:. sao encontrode.. em quantidade mensurável no leite
materno, .q uando pre$(:rito ~ durante a lactacao, Ira;r.endo preiui<l:o pOfa
(I críanco. ~iminui o leoeçõo Jôclea e redu .. (I coneenlracao de
proteinol, lipidiol, e algun$ minerais no leile. Na enumerocõa de
fatores de alto risco para côncer da morna, foi incluldo o uso prolon.
gado de estroglnios. Anim, todaJ 0$ mulherel qve ulom pllulol anti-
concepcionais .60 podantes de alto risco poro côncer de ""oma.

2.2.10. Efeitos sobre as daensclS sexualmente transmitidas


Verifico-54I' o aumenlo no incidência dai doenCOI venireo$, em
deeorr!ncia do promiscuidado lexvol couloda pelo uso indilcriminado
dOI cpllulas». Às vezel acompanham-.e de herpes vi,us, que podem
pro'tOCGr QIt"'Q~6e. celvlores no epitêlio do colo uterino, tornondo-o
predisposto (I ncoploliell maligrnu.

- 320
CONTROLE DA NATALIDADE 53

2 . 2. t t . Efeito .. c.ardnogenélico5

À açõo cardnog.nélka deuel produtos tem que ler conliderado


pelo médic:o que penSG em prescreve·lol a luas clientes. Sabe.se quI'
a odministroçõo prolon,9odo d. e ..trogin1ol, lonto naturais como sinlli-
tic:os, o determinodcu elpjciel onimois oumeroto o incidlncio de olvunl
c:orcino",ol. ~ c:erlo que nco le podem tronlporlor euol Condulõel
diretamente poro (I espéc:ie humano, mal não $e pode elquecer que
no homem o tempo de latI ndo é be m mois longo, e OI efeitOI tardios
nõo podem ,.r
exduidOI .

J6 referimos aamo °
5urpreendente divulgoçào f.ilo pe la OMS
e pela f DA dOI Eltodol Unidos, sobre °
aparecimento de epiteliomo,
voginal em moças, cuias mãel fizeram uso de estroglnio.. IdielUstil-
°
bestrol' durante gra ... idez (embora não lejo este o eltroginio usodo
nas c pllulou, o folo ser...e como eKemplo do impre'lislbilidClde quanlo
(I efeitos nacivol futuros pelo uso, a longo prozo, oJe qualquer produto

hormonall.

Ainda recentemente OI pflulol seqüenciais farGm relponsobilizodos


pelo aparecimento de COlOS de cónur de endoméfrio, sendo por i$lo
retirodas do mercado após moi, de on14 anal de 1,110 por milhores de
mulheres no mundo inteiro.

O. lumorel eslr6geno.dependenlu desen ...ol .... m·se em lecidos


cujos mitosel sco ocelerodo$ pelo oçõo estroglnico . Aui m, (I QPQr.-
cimento de câncer el1r6geno·depend6nte InQ mama, por exemplol
pode s.r desenc:adeoda pela uso prolongado de substSncios estfogi.
nicol em PQdentes IUlceptl... eis 00 desen ...olvimenlo dlluel lumores.

2 .3 . Contra-Indica,õ.. médlCG4 ao uso de pllulos ano ... ulatórias


f difldl distinguir entre cQnfrCl.indicaçõe5 re lalivaS e c:onlro-
-indiçQç6es QbsQlulas, pois cada pessoa apreMnta particularidades
d/flcels de aquilatar.
Enumeramos, entre outras, as seguintes:

PortodorQs ou com Qntecedentel familiares 011 pelloQis de~ hiper-


lensao arleriol, diGbetes, tumorel molisnos horm6 nio-dependentes
lcôncer de mOllTlQ. cllnc.r de endomilrio, etc. l.
f'orladorQs 011 <om antecedentel penoail dltl fI,bite , embQJja,
vorlzes, coronoriopOlios, cordiopotlQ cr6111cQ, hiperlipidemia, hepalO-
polias, ".'ropetias, enllOQqueca. epilepsia, psicose, dlslúrbios vilUQi"

321 -
54 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 23l/ 1985

tumor maligno de qualquer órgão ou lipe!. lumor benigno hormônio-


·dependenle (miamo ulerlno, nódulo e displc15ia mamório, etc.) , mos-
lopot.ia funcional, disploslas cervicais, fumor hipofbário, certas endo~
crillopotios, (ologe naMI, anemia folciforme, ele. Mulheres obesos.
Mulhe res lIIogr05. Mulheres fumanle s_ Mulheres com 35 anos de idade
ou mais. Mulher.s com moi, de cinco onos de uso de pllulas, Clm
quaisque r condi(õe.. Adolelcenles. Ele . . .

2 .4 , Controle das podenl••

Pelo exposto, vemos que o uso d. pilulas anliconc;e pc!onals odgo


rigorolo e constante conlrol. médico dOI consumidoras, induindo :

11 Exame ginecol6gico compleJto, eltome dOI mamaI, colpod-


lologio, colposcopio • biópsios nOI casos indicado,.

2) Verificação dCl pressão arlerial e eXClmel d. IClboralório


periodicamente: glicem!u, az.ofemia, coQgulo;roma, lipidogramo, provos
d. função hep61ic:o, alim de outfOS, q\Je os diferentes COlOS exi~m .

3 J Supervisão cllnica, ,ginecológica, neurOlógica, oftolmológica


periódicos, bem como participação de OUIrOI especialistas, .quondo
neceuário, • oindo a necessidade de eAOlnO$ 56 realizô'Ieis.", grandes
cenlrol.

Todol OI efeitol referidos são muilo difkeil de \8 prever e pode ...


provocar grQ'Ie, donol li saúde. caindo a responsabilidade, em último
on6lise, ,obre o médico que pre$creve a epnulo :t, muilol 'Iezes pressio-
nado pelos circundandos_

Portonlo, quando um médico pensar em indicar pllulo anoyulotó-


,10. deve reflelir sobre lodos e".s problemas. Aliós. o termo indlco,õo
não 14! aplico a eues pradufos. pols. em Medicina, quando lndi«UnOi
um produlO para ler usado pela clienle, ,ó o fG:r:emo. apos diagnosticor
uma doença ou conllglor um dhlú,bio orgônicg que nece"ilo I"
corrigido. Nós procuramos, com 0$ medicamentaI, reslabelecer o estado
orgônico normal. Com os ano'lulotório, ocorre exatamente o contrórlo:
5êio produtos hormonai, usados em pacientes endocrinologicamente
sodias, vI.ando alterar-lhes o normal funcionamento endócrino. NCio
podemos I"dicar um produto com CI finalidade de crior umu situoçao
anormal. Se,io um conlrG-Ulnlo. e esttH(amOI controriando Clquele
antigo preceito da medicina: cprimum non nocere. (antes do mel.,
nBa prejudicor J.

- 322-
CONTROLE DA NATAUDADE 55

As implicações 'fica-sociais oi! o própria meconismo de ata0 da.


pllulas anticoncepcionais na supressão da (lvlllac50 - por si ,Ó danClSO
00 organismo f~minino - , os efeitos <ololerai., OI conlra-indicaQÕes
• o exaustivo acompanhomento médico exigido poro oferecer relo,jYG
.eguronça às USUÓrlOI do pllulo, exeluem de seu uso um número tãa
grande de mulh~res, praticamente todo a populgçéia feminino, qUe fias
. urpreenderia ve, tai. produtos serem recomendados e distribuldos por
instituições governamenlols, quando deveriam roprlmir seu uso inde-
vido, para fins contraceptivos.

3. MnODO NATURAL: PATERNIDADE RESPONSÁVa


A paternidade respon.6vel é implícito 00 pr6prio ell.releio do
funcão conjugal. O probt~mo que se cotoco é , como fOJ:~r uma honesta
• con,,!enfe paternidade responsável? O 1;OnsenlO universal nos diz
que exislem aeões honesta. e aeões desoneslas , nem todo. OI atas
humanos sõo bons e honesto •• No modo como se realiza a pol~rni­
dade responsável, ~ importante, sobretudo, salvaguardar a dignidade
da pes$Qo humana. 56 hõ verdadeiramente pragroSSO, só hó o desen-
volYimento do homem ,quando lão delenvolvidas 0$ potencialidades
nolurois de humanizacão. Muito, vezes a ciinda e a técnica, quando
mal empregadas, são desumanil.ontes. Se a fissôo e o fusão nuclear
sóo empregada, poro impor O terror atõmico, ou se conhecimentos de
psicologia .ao ompregados para lavagens cerebrais, nõo se pode
falar de aelcimenlo hUmClno. O homem, no seu agir, não pode ,e.
inconsequente e desorientado. Ele neceuila de nOfmCl. obje-tivas de
comportamento, de critérios objetivos de moralidode, que nôo devem
ser confundidos com costumes luso, conv,nçÔo). Elias devem Jer infor.
modos pelas regrclJ mOfoi s, se .e quer promover a dignidade human(l,
A conroincia moral ' uma neccssidade básica do ser humano, • isto
, muito Importante neste momenlo histórico, .pois que - nao é dillcil
concluir - o crise do humonidode, o crise do nossa mundo, é de
naturelo moral.

A técnica em si é neutra, indiferente, dependendo seu valor.


41ico de cama o homem a ulilizo e para qui. Par exemplo, fazer
aborto, melmo denlro dos melhores técnica. - ainda que ocultomen'e,
nOI primeiro. momentOI após a concepelio, em gravidez clinIcomenle
desconhecida Icamo' o caso do DIU, tl.cnko modernomente oper-
felCClada I - conlisle sempre em matar Seres humanOI inocente. e
Jndele,os. O aborlo continuar6 sendo um aime, melmo se hCluver
ambsão legal de puniçao. N6o" pode falar de progreuo humano
quando .. Institui (I lei do mal. forte.

323 -
56 .PERGUNTE E RE.SPONDEREMOS~ 281/1985

Mas sobemos todos que o problema ético da natalidade não ,.


resume na salvaguarda da vida humana concebida, nem se redu!: o
uma ,q uestão de ticnlçol. O nori;r;onlo dona mal~ria é bem mais
amplo. Antes. mesmo de se con#isl,llor o situaçõo dromólic;o ti extrema
do aborto, o valor da pessoa humano eltige que suo dignidade .eja
'.5-peitado no próPf'io "Ivel dcu fontes de IransminõG do vida.

Ouais sóo, portonlo, os coroclerlsticos de uma poternldClde conh


dente humalll:r.onl.f Considerando que a funciio do médico' (I d.
prevenir e cur.ar as doenços dentro dOI plemluas da S(lúd" e da
normalidade do seu cliente, quais são, para o médico, 0$ linhas-meslros
de umo pot.rnidode «>nlciente, conforme a nQlure~o humana?

Do ponto de vista 6'ico, é neceuário não abrir mao dos valore.


genuinomente humanos, que os solu'\;5el pragm6tlcas desprell:om.
Dentre 8U8S ...olore. ressalto o respeito o inlegridade morlológico,
fisiológico e psicológica do penoo humana. Quanto moi. s. destr6! o
prClceno natural do alo, lonlo menos ele se conformo o lua instltuic30
obJeliw. Os proceuos orlificioi. de plonelomento familiar nao cons!-
der.om eno desnaturacõo do ata. Doi lodos ele. lerem conlra-indica.
ci5e, médicos, algumas de nalure:r;a grave, como é o celSO das c,pllulan;
OUllgl "eloes lI'Iengs graye" como é o CglO dg collo inle"oll'lpldo
e dg cgndon, cujgl perturbações psicológicos PC)l'O a relocignom_nto
conjugol ,ao conhecidos _ não de.prelol,,_;.. Tomb'n. , necell6r5Q
reafirmar, dentro d<l sexualidade humano, <I respeito que se h6 de 'er
pelo oullO - o respeito à dignidade humon.a - e denunciar, vigorosa-
mente, uma lendinda der própria sexualidClde: o ~nstinto de poss. _
domlnoção. HéI uma I.ndindo, car<lc1.r!slica do comporlamenlo II:Ilual,
d. colocar o pr<Gz.r como um fim. em si mesmo, do (110 sexual e nessa
perspediyo o outro' instrumenlolill:odo como objelo do prcrll:er. Isso
é uma c:coisificcrção_ dcr pessoo humana, que olenlo contra IUO di.gnl-
dode pr6prlcr . E a sexUGlidode humoncr perde a suo bondcrde nalural,
deteriorado pelcr busco de anormal exalto'\;ão do prour sexual le.te
é "<Gtural, bom e de,.jóvel no normcrlidtlde de um legitimo relaclona-
menta conJugal) _ Em vez de lib.rtar humanizando, o homem ,
escrovizodo à lua animalidade Inll1nli'l<l, redul.indo a sexualidad. à
.uo dimenlão genital, delpersonali~odora. Cria-s. denQ manelr<r
UIIIo menlalidade fundcrmentolmente anticoncepcional, COUIO e con-
seqOlnda do egoismo e do utilitarismo cotoderl.tlcos do "OUO
momento histórico, cieturpando, desnaturando oquelo bondade fundo-
menlol da sexualidade humana. E o e oal,mo .ex.ucrl nardsldcr, !.noluro
e carader!slic;amenle irresponlável, porq\le voltado poro a pr~rio
prazer .. não voltado poro a dimendio psico-l6cio-biol6gica, inler.
pessoal, humanill:onle, da sexualldodc.

-324 -
CONTROLE DA NATAUDADE 57

Elles valores, oenuinamenle humanos, sãa preservados no planeja-


mento nalural do famllia. Oplamos pelai métodos naturais, enlre
oulros razões, porque os métodos artificiais sõo prejudiciais à sa';de
• têm propOf'cionodo uniões sellluois pré e extro-coniuVais, a pro-
miscuidade se.uol, aviltando a suualidode humana e promo"endo
formos irrelponl6veis de comportamenlo humano, que minam o estru-
tura básica da fOlllília e do lodedade_

Já o plllneiamento natural da famltio impliCCl no respeila básico


aos processos biológicos da reproduçõo humana, respeitando igual-
mente os .eus aspectos psicológicos e sociais, tornando o uniõo
conjugal o e.preuõo responsá ...et de um bom relacionamento humono_

As t6c"icas do planejamenlo natural da família se a.poiam no


foto cientifiCCl de que OI mulheres, 00 longo de sua maluridadc sClIlual,
coffespondente à fase reprOdutivo, tim longos períodos estéreis, alter-
nados com pequenos perlodos de fecundidade_ A. capacidade de o
m"lher ,econhecer quando é fértil ou estéril é "mo corocterlslico
Imporlante da sua maturidade pelo conhecimento de si melma. A
portir desse conhecimenlo, juntamente com o marido, ela é capo:t de,
numa perspectiva humana de crescimenlo com responsabilidade, regu-
lar o seu relacionamento fislco li seluol em vista rio número d. filhos
que pode e deve ler.

o método 8i1lil\Vs (conhecido tambem como . método da avula-


çõo ~ 1 vem alcançando .grande ,bito no ploneiam~nlo natural do
lomilia. E um método verdodetromente cientifico, c:omproyado com
ovaliatões honnonoil e eXames fisicos, e já submetido o provas experi-
mentais. e bastante simples f! prático, aplicâvel Inclusive em âreos
geográficos de: baixo nivel cultural. Experiências bem sucedidos loram
'eitos em países como Filipinos, Irlando, Indi a IBongolorel, São
SalvodO( e Nova Zelândia, lob a orientoçõo do OMS, que, por IUII
"ez, Incluiu o ..,"odo de Billing. enhe os de mois oito eficódo 198,5 -,.) .
e um m"odo oplic6vel a situacões 'IOrióveis do fisiologia femin ino,
loil como o s cicios re9ulores ou ilTegulofes, cidos anavulotõrlos no
amamentaçlio, no Pf'lI e pôs. menOptlUla, ele. Para lua, a mulh.,. deve
aprender a observar O seu próJH'"io padrão de muco, o que não é diffcil,
como já tem sido regillrado por vórios especialislal brasileiros, inclvli...e
no ombulotória de planejamento notural do famltio do Setor de Esteri-
lidade Conjugal do PAM 517 . 051 ,4(03 de Niterói - RJ. neste já vem
sendo aplicada o método que se revelou inócuo e eficiente, e que
respeito o reloçõo sexual em svo plenitude; li simples, prótica e
econamicamenht nodo de.pende, ne.,.. melma exige peuoal e.peciall-
z.crdo, poh os próprios ca,al1 podem propagá-lo, ,q uando orientados
paro 101.
-325 -
58 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» :28L/ I985

4. CONClUSOES
, . Conliderando que o direito à vlda é o primeiro direilo na·
tural. que UI adquire no momento me l mo em que o vIde é conoebido.
li .q ue não elnGnG de simples (onvenCÕI), Mal tonstilui principio fundo -
mlltnlal de direito nolural, sendo, porlanto, uma pr~rrogoli va d. toda
ser hVll'lano desde o c;oncepC;âo, con sistindo em e:conditio lii"e quo non,
de todos OI ovlrO$ direitol;

2 . Considerando que é '010 cientifico",.",. comprovado e


amplamente difundido que o cido de uma novo vida humono tem
in(cio na cone.peão c;om o fecundação do óvulo pe lo lupermolozóld••
cxaliõo em que se .Ilabeleu todo o potendal genético do novo ler
e lem Inicio se u desenvolvimento progressivo e ininterrUpto ofé o morte
"olurClI, addenlol ou provoc.odo, em .qualquer fase d. seu desenvolvi.
menta , dentro ov fora do venl,e materno;

3 . Considerando que há unidod .. e conlinuidodo no desenvolvi-


mento do novo ser, o quol pana por lodos OI fase s genellcomenle
det.rminedtJl no cilula iniciol, sendo, todol, etopns do m~umo vldo:

... Considerando que é foha e perigoso qualquer lenlolivo d,


soludonor problemas humanos desvalorizando e rebaixando a vida
humono 00 nlvel oll lmot, em qualquer fo se de suo existindo, de modo ·
a poder ,.r
destruído impunemente;

5 . Consid.,rgndo que o dispositivo inlro,ulerino IOIUi ~ um


artefotg abortivo ,;slem6tico d isfol"Çodo em anticoncepcional, é um
corpo estranho intencionolmen": colocodo d entro do ut.ro poro impedir
- por forca de lua prese nça - o de'e nvolvimento da gravidez todos
os vezes que suo portadora concebe um filho:

6 . Considerondo .que, em face das grave i e numerosol compU.


coÇae, e conlro-indicações médicos 00 UIO das pllulos .anovuloláricu,
o prescrição denol su bslôncios e xige rlgoloso, conslonte, exaustivo,
e dispendioso controle médico dOI consumidoras. o que, em gerar, não
I! poulvel realizai devidamente;
7 . Considerondo que o uso deues métodos ( . pílulos:' e DIU I
infringe elementa,es principias da ética m'dico e dispositivos da l.gIs.
lo(õó brasileira Covil e penoU , constitui atentado à d ignidade da
mulher . a Inda ofer.ce , llco para sua saúde I lei das ConhovençÕeI
Penais, alr, 20; Código Ovil. ort. 4' ; Código Penal, art,. 124 a 1271
Código de etlco MéclICQ, crt... 4' , ~" e 561 etc. I ~

-326 -
CONTROLE DA NATALIDADE 59

8 . Considerando que OI demois métodos onlieonC6jXionois


artificiais 5ÔO igualmente anti· éticas, ilegais e prejudiciais à saClde,
inclu.ive os cirurgicos lIaquCQdura lubária e vasecromlal. que são
IItutilado,es de órSãos sadios;

9 . Considerando que o ontic:oncepcionolismo, quebrando o


primeiro elo da lei moral de ,espello à vida humana, favorece <li aeei·
locão de métodos cripta-abortivos e, depois, do aborlom,nto livremente
pratlcClda, foto largamente comprovado: sobe-se qUe os cidades do
mundo onde mais se pratica o anticoncepçõo são aquelas em .que mais
~ pratico o aborto,

10 . Considerando os implicatões ético-sociais dos m'lodo. arti-


ficia is de controle do notalidode, bem como os efeitos danosos sobre
o orgonisfllo humol\o e a inda o repercullõo oUame"t. desfavoróvel
sobre o morolidade, contribuindo poro a corrup(ão dos coslumes e
CO"seqü.nl.m."h~ preiudicondo o ordem e harmonia soclall

11. Considerando que o plonejomenlo nat&lrol da fomilio


(opcêio pelos métodos naturoi., implico no respeito básico aos pro-
eelSos biológicos do reprodu(êio humano, respeitando iguolmenle seus
aspectos psicológicos e sociais, manlendo na uniiio coníugol o expres-
sêio responsável de um bom relacioname nto humano.

12 . Conslderol'ldo que o metodo noturol é verdadeiramente


cientifico. comproyodo com avollacões harmonoi. e eltomes frlÍcos e iá
submetido a provos experimentais, e que é bastante simples e prÓlica,
aplicável inclusive em áreas geográficas de baixa nivel (ullural;

13 . Considerando que o Orgonl~(õo Mundial de Saúde (OMSI ,


apó. experiências bem sucedido., incluiu o método nolufol Im'lodo
de BiUings' entre o. de mais alia eficácia {98,S"!.'.

14 . Considerando que o mélodo de Siltings (nolurol), também


chamado método da ovulo(60, é oplicável a situocões varióveis d.a
fisioloVio feminino, lai. como os dclos regulares ou irregulores, no
pu.. p'ria, na omamenloçõo. no pré e pás-mllnopouIO. elc'l

1.$. Considerando que o Medicina, desde as suas moi. remoias


onge"s e em todo. os .uas formos, sempre 111 caraderiltou pelo con-
telKlo fundomenlcllmente moral de .uas inlencõe. 11 d. $tIu. 0'01:

16 . Considerando, finlllmente, .q ue acima de todo lei humano


• acima de todo indicac:õa .r,vU.-le indefectível o lei de Deu s,

-327 -
60 .PERGUNTE E RESPONDERF.MOS:t 281/1985

SUGERIMOS QUE, EM RESPEITO À DIGNIDADE DA


PESSOA HUMANA, SEJAM TOMADAS AS NECEssARlAS
PROVID>':NClAS PARA INTERDITAR, COM A DEVIDA
URGI!:NClA, AS TENTATIVAS DE INSTI'IUCIONAUZAÇÃO
DO ANTICONCEPCIONALISMO E DE >ttrODOS CRIPI'O-
-ABORTIVOS. PARA A PREVENÇÃO DE GRAVIDEZ DE
ALTO RISCO E PARA O PLANEJAMENTO FAMILIAR,
SEGUNDO O PRINCIPIO DA PATERNIDADE RESPONSA-
VEL, SEJAM RECOMENDADOS SOMENTE OS >ttrODOS
NATURAIS.

• ••
NOTA
Com rerer!ncla. 8.0 programa. «FantásticoXl da. TV·Globo de
3/6/8:5, desejo e&cIarcoer que nio l'I.egael .. auunticidade d&s
aparições de Fitima; apenas qü referlr-me ao caegredo de
Fí.tlmu, Interpretando 'O que p&ftOe ser o peDSUneJlito d3
Igrflj& & respeito. OblervamOl que M p&PU nnca talara.m
oriclalment& de tal segredo, nem mesmo quando estiveram em
Fátima. Paulo VI e Joio Paulo 11. A rarão disto é que a Igreja
não pode dar caráter oUclaI .. revel80ÇÕe8 ~'culares; est:u
Ilão podem ser ~ulparad.as i\. rcvela.çiG feita. pela 'l'ndIção
bfbUea e apostónca.. O segredo <10 fttima Dão ttm lmportin·
da doclslva !Iara a salvação dos cr:tstãlos, pois nenhuma. revela-
ção parttcula.r acrescenta algo de essencialmente 1l'OVO àquilo
que já nos foi revelado na. plenitude dos tempos pelo Senhor
.Jesus. lam.eII.tavelmeDte, porém, muitas peuoes, apelando
para o segredo de Fátima, anuaclam proximidade de Te.roein
Guerra. Mundial, fim do mWMIo iminente, cati.strofes c6sm1-
CLt, etc. i ora. Isto, em grando pa.rte, é fantasia" que só serve
para. perturbar sem flmdamellto. Nio se faça de Fátima mo·
tivo de apavoramento, poli na. wr-dade a. menagem de F"-
tima âeYtI despertar um fervor collfiante e alegre DOt fiéis
católicos. - Pe. btêvão Bettenoourt O. S.B.

- 328-
um clarlo de luz:

.. PSi(oterapia e Sentido da Vida"


por Vlldor Frankl

!Em .IRIeM: Vlktor Franld ullrapasla u: cl6nlca.a correnles de psIco-


logia que vêem no comportam.nto humano apenas • •xpreulo de .f.IOI
como o desejo do prazef ou o de.eJo da eutoltlrmaçlo. O p.lC:610go aualrfaco
admlle no ler huma no um plano lupe rlor, que. o do elplrllo, dotado da
vonl. d. ele ..ntldo: lodo homem, por conseguinte, procura espontaneam.nte
o ..ntldo ou o porquê 8 o para Quê da vida; cala tal ansalo Rio _ncanlre
rupoata, da lugar à neurou, O sentido da vida, pari! FrankJ, klva naturtlt·
mente a admitir a IranscencUncla ou Deus; por Islo, tal autor f. .palla e
nlorlza a rellgllo.
A luz: destat premissas, O aulor, no 11.....0 .m foco. considera outronlm
o sentido da morte, o do sofrimento, o do tr.tlalho, o do amor ... , .presen-
tando laCaias d. cade tema 010 explanada. nOl livro. de psicologia Inspira·
doa por ÇQffantu malerlallstas.

• • •
J á se disse que atualmente, no campo do saber, o maior
inimigo dos valores religiosos não são as ciências exatas (quan~
titativas, flsicas, mecAnicas .. . ), mas a psicologia. Na verdade,
esta. cultivada nos últimos decênios por autores materlallstas,
tem-se oposto aos valores religiosos, não .sempre por lhes decla~
lU combate aberto, mas por relatlvJzá~los ou torná-los mera-
mente subjetivos. A pslcologla materlallsta Ignora e. Trans~
cendência; só reconhece expressões religiosas imanentes e sub--
jeUvas ou reduzidas ao subjetivo; dai chamar~se ~psJcologia
reducionista • •

Todavia esta corrente de pensamento já tem sua contra·


-parte em outra linha de estudos psicológicos que levam em
conta' a dimensão espiritual do ser humano e julga só poder
entender a pessoa do paciente se se considera 8 sua abertura
estnltural e congênita para os valores reUgiosos e transcen~
dentais. Uma das expressões mais tipioas desta concepção é o
psJc:610g0 e psiquiatra VDrtor Frankl, professor de Neurologia
e de Pslqulatrta na Universidade de Viena. Em PR 278/1985,
-329 -
62 .PERGUNTE E RESpONDEREMOS~ 281/1985

pp. 61-65 já apresentamos o pensamento deste autor através


de um comentário de João Mohana. Dada. a importância do
seu legado doutrinário, voltamos ao tema neste fascículo, ana-
lisando alguns tópicos do livro «Psicoterapia e Sentido da Vida~
de Vilctor Frankl l •

1. O Sentido da Vida

Viktor Franld parte do principio de que no homem existe,


além do animiro (lOeIi.sch) , o espiritual (gelstig).
cA hora do parto dCl psi<oterapia soou 'quando se com. coram a
ver, por IIos dos sintomas $Omoticos, as causas onímicas, Isto 6, quando
se comecou a delcebrir a sua psicog!nese. Mes ogoro o que importa,
é dor ainda um passo último e, ultrapassando, para além do pslc6geno,
o dinâmico dos ofelol do neurOle, contemplor (I homem no .uo ncc.s-
sidode espiriluol- poro o ajudarmos doI em diantea Ip. 241.

o animico estaria ligado à anima, principio vital respon-


sável pelos apetites sensitivos do ser humano; entre estes seria
predominante o do prazer, segundo Sigmund Freud, ou o da
autoafirmação, segundo AJfred Adler. As escolas psicoterãpicas
costumam reduzir o homem a esse ser em busca de prazer ou .
de autoafirmação, na falta das quais o individuo entraria em
neurose.
Ora V.iktor Frankl ultrapassa. esta perspecUva. Ju1ga que
e. faculdade mais tlplca do homem é a esplrltua1, que tem o
seu apetite próprio, que é o do sentido da vIda 11. Por conse-
guinte, julga que a missão do médico consiste em ajudar o
paciente a alcançar uma escala de valores e uma cosmovislio
(8 própria do paciente, sem interferêncna nem imposição),
Cita o caso doe um professor untversltArio enviado à cllnlea de
Frankl por sofrer de desespero quanto ao sentido da vida; a
conversa entre o terapeuta e o paciente revelou que se tra-

1 Editora Quadranta LIda., Rua lperolg, 804, 1)50t6 S10 Peulo (SP),
• Frllnld nlo entra na qUeltlo: anlrna e ....... Ia dlltfnguem um da
oulto ou nl01 Apenu consIdera a. exp'e.._ ou • fenomenologia do aer
humano. Na verdade, a 11101011& .,colatle.a crlall allrme que a anima (alma)
humana' ..plrftuel. No ser hUmllno h' um KJ prlnclplo vital, que ••lplr1-
tua! (e.plrl1oJ (I que f81pand, .0-18. funç6a1 veQetallvas, aen.ltlvu •
elplrllua. de pe..oa.

- 330-
cPSICOLOGIA E SENTIDO DA VIDA,. 63

taV8 de um estado depressivo. Precisamente as elucubrações


sobre o sentido da vida não assaltavam o paciente quando se
achava em fase depressiva; pelo contrário, nesses momentos
estava tão hipocondrlacamente preocupado que não conseguia
pensar absoJutamente em nada. Só nos intervalos sadJos é
qUe conseguia refletir! _Por outras palavras: entre a neces-
sidade espiritual e a enfermidade animica havia relação de
exclusão». Donde conclui FrankI que a preocupação com o
sentido da vida jamais pode ser expressão de doença ou mor-
bidez, mas, ao contrário, é a manifestação do que há de mais
sadio e autenticamente humano no homem. «Freud era de
outro parecer quando escrevia a Maria Bonaparte: 'Se alguém
pergwlta pelo sentido e o valor da vida, é porque está doente'
(cartas 1873-1939, Francoforte do Meno 1960h (p. 56).

«Podemos perfeitamenle imaginar animais altamente evaluldol


que - como OI obelhos e OI formiga i - em certOI alpeclal de
orgonlzoçijo locial. .. cheguem a superar a sociedade humanaJ mOf
~arnais poderema. imaginar qve Uni animal sela capaI de lusdtar a
problema da .entido do suo pr6pria existência . .. S6 ao homem
como tal é dada . .. ter a vivlncio d e suo existindo como algo
prablem6tico. I p . 's61 .

Na rea1idade. cO problema do sentido da vida é um dos


ma.is pregnantes entre aqueles com que o doente da alma, na
sua luta espiritual, assalta o médico. E não é este quem o
levanta; é precisamente o paciente que, na sua necessidade
esplrltuaJ, Insta com o médico para que lho resolva:o (p. 55).
Por conseguinte, Frankl não compartilha a posição de
Sigmund Freud, que pretendia reduzir a religião a uma fonna
de neurose:

cÁ lenlotivo do reducionismo na farma da pdcologia ... freud


.6 cedeu no momento em que chegou à Jeguinte canclus!lo: 'Para a
rellgiõo já enconlrel u," c6mc.da na !!linha mOdesla cOlinha, de,de que
tropecei com O cale,garia de neuro.e da humanidade'. Aqui é que
Freud te enganou. Ip. "51.

COm efeito; à questão do sentido da vida s6 pode ser


dada resposta cabal se o homem se eleva à Transcen~ncla ou
se põe em demanda do Bem Absoluto ou InfinIto que é Deus.
VDrtor Franld crê explIcitamente em Deus, como se deduz do
oeguInte texto,
- 331-
64 .t:PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 281/1985

cTalY81. a diferença especifica enlre o homem e o animal nao


estefa tanto . .. no fato do cnll1l01 tor In$l1ntOI e o homem in'.lio,".
da • .. ; talvez a diferença essencial .steja, com efoito, em ," tõo
elevada a inteligincia do homem ,q ue - • nisto esl6 em decisivo
contraste com a capacidade do anhnal - pode aperceber. ,. de quO'
tem que ho ....r uma lobedario .. . fundamentalmente superior à sua _
uma sabedoria sabre·humona - que nele enxertou a raú'ío. e nOI
animais cs instintos: uma sabedorio que criou lodo G ,abedoria. tanlo
a sabedoria humano como CI 5óbios instintos deI cnlmall, sinlonll.t1n-
dO-OI, oli6s, com o leu mundo.. I p. 63).

Uma vez enfatizada a necessidade de se conceber o sen-


tido da vida. V. Frankl considera outras modalidades do sen-
tido que algumas facetas da vida vêm a ter.

2. O sentido do morte
1: de notar ainda que cada pessoa tem de definir o sen-
tido da sua vida caracterizada por suas notas pessoais. Se
um repórter perguntasse a um campeão mundial de xadrez
qual é a melhor -jogada de xadrez, o enxadrista nada lhe
poderia dizer, porque a resposta dependeria das cl:rcunstAnclas
concretas de detenninado joSO. Assim também o sentido da .
vida só pode ser definido por cada wn a partir de seu tipo
pessoal Isto quer dizer que o sentido da vida está ligado à
unicidade. singularidade e à lrrepetibilidade de cada vida
humana.
V1ktor Frank1 demonstrou que o sentido de caeJa vida
humana se prende ao que cada qual tem de úruco, singular e
IrrepeUvel. Mas preclsamente unicidade, singularidade e irre-
peUbUldade manifestam a flnitude do homem.
Pergunta-se então: a tinltude ou a limitaçio temporal da
vida ou ainda o tato da morte nfio torna a vIda sem sentido?
Quan~ vezes não se diz que tudo carece de sentido, v1sto
Que a morte, no fhn. tudo destrói!!
1)eve-se responder que não. Com efeito; se O homem
fosse Imortal, poderia acUar Indefinidamente cada uma de lUas
decisões e atitudes; nio telia Importincia o momento presente.
porque outros mUitos momentos se lhe seguir1amj a pessoa
assim poderia adiar sempre as suas opções e os se.UI gestos

-332-
ePSICOLOGrA E SENTIDO DA VIDA»

mais nobres (c, por isto. mais penosos). Ao contrário, quem


sabe que a morte é o limite inexorável de nossas chances e
oportunidades, vê-se obrigado El aproveitar ciosamente cada
um de seus momentos i cada qual ê um kairóa (um tempo
oportuno, deflSQ e preclO$O. que não volta) i se perco o p~
sente, não terei outro Igual e minha realização estará irreme-
diavelmente truncada. - Donde se vê que a finitude ou a
temporalldade não é apenas uma nota essencial da vIda hu-
mana; é também constitutiva do seu sentido. O sentido da
existência humana funda.-se no seu carâter il."l"eversível.
o homem assemelha-se a um escultor que burila com
cinzel e martelo a pedra informe, a fim de imprimir-lhe os
tracos de urna bela imagem. Para reall2ar a sua tarefa, ele
tem apenas um tempo limitado; não sabe, porém, quando ter-
minará o prazo ou quando será exonerado. O que lhe importa,
pois, é aproveitar ao rnãxlmo cada um dos momentos que tem;
não pode perder nenhum destes. Caso. porém, não possa ter~
minar a sua obra como quisera, nem por isto ficará sem valor;
o carâter fragmentário da vida não prejudica o seu sentido.
Nunca poderemos avaliar o. significado de uma vicia hwnana
pela sua duração. Por certo, a vida heróica de um homem
que morra. na juventude, tem mais conteúdo e sentido do que
a de uma pessoa tibia e acomodada que tenha vivido muito
tempo. Quantas sinfonias cincompletas» não hã entre as mais
belas!
c O homem e51':' no ",ido como que submetido o um elUlrne d.
aplidãol moi5 da que um trabalho terminado, inlere'5a oi que o
trobolho leja ",oliolo. Auim como O exominondo lem que e$lo, la
eSaJla do sinal de campainha que Ihl anuncia ter-Ie esgolado 4 tempo
à ,,,a di,pa,lc(lo. anim lambém lemos .q ue .slar na "ida à Isp.ra de
s ... c;hamados a qualquer inllan'e~ (p. 111) '.

1 Estas Idéias aJo ,,'lida. do ponto de vista crllllo, mas exigem com-
plemenlaçAo. lIt certo que I.ta vldl , concedida ao crl,tlo pllra que u
poeq configurar ao Cristo Jasulj há, portento, uma Imagem bem dellnld,
a aer IItnlillda. Todavia aó Deus u'" al60 que ponto cada um de nós •
chemado a fepfQdw.!r em II a InesgotAva! Imagem do Cfisto JIIUS; llta •
tio rica de valores .. pirUua. que PIo hi prazo suficientemente longo para
reprOduz"'" Por isto a Provid6ncla chama cada um pafa a eua do Pai
quando o Julga oponuno.

-333 -
66 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS, 281/1985

Viktor FrankI opõe-se à teoria dos que apregoam a per-


petuação do homem na sua prole ou descendência. A vida de
cada indivIduo carecerIa de sentido em 51; ela &O adquiriria.
valor pelo falo de s.el" um elo numa cadeia que se vai prolon-
gando através dos séeu.los. Tal tese lhe parece falha. porque
- todas as linhagens acabario por morrer; wn dia. toda
a hwnanldade desaparecem pela morte, talvez por uma catá&-
trote cósmica;
- wna vida que não tenha sentido em 51, também não
o tem na sua descendência. Per-petuar algo que não tem sen-
tido em si. é coisa que também não tem sentido, porque co que
carece de sentido não passa a tê-Io pelo simples fato de se per-
petuar» (p. 113). Mesmo que se apague, uma tocha tem
sentido pelo fato de brilhar; «o que não tem sentido, é tomar
uma tocha que não arde e levá-la" por uma fileira de tochel-
ros que nunca mais acabu (p. 113).
A falta de descendência não pode tornar sem sentido a
existência de uma pessoa de valor. Dai vedUcannos que a
propagacão da vida na terra não pode -constituir o sentido
desta vida. Este não se encontra na clongitude:t (na duração
ou na propagação). mas. sim, na altura ou profundidade de
cada existência.
De modo especial, o suicídio carece de justificativa para
Vlktor Frankl. O suicida se parece COm «um jogador de xadrez
que, colocado perante um problema que lhe parece ~ma­
mente difldl; joga fora as pedras do jogo, sem (.'Om isso resol-
ver qualquer problema de xadrez. Com a vida também sucede
assim: nenhum problema se resolve deitando fora a vida»
(p. 89s). O paciente tentado ao suicídio poderá ser recupe-
rado se ele descobrir na sua vida um conteúdo e uma finali·
dade, ou se ele for colocado diante de uma missão. cQuando
se tem na vida algum porquê. diz Nietzsche, qualq,uer como se
pode suportarJo I. De fato, o saber-se incumbido de uma mis-
são na vida tem valor psiCOlerápico e pslco-hlg1ênlco extrao....
dinárlo; tal missão toma o seu titular insubstitulvel e confere
à sua vida o valor de algo único; desde que alguém compreenda
que a sua vida é uma missão, aquela se toma tanto mais plena
de sentido quanto mais dJficil se toma.

1 Com outras p.llvru: -Basta um homem pOr a cl. ro o pon:tUI d•


• ua yjda pt.... pouco .. Importar com o preÇó do seu como" (D.r wm. ~,
Macht, 3 \'OI., .d de Musaedon, MunJquo 1926, GOMlM1ett8 Werb XIX 20$) .

-334-
cPSlCOLOGlA E SENTIDO DA VIDA~ G7

No tocante à eutanásia ativa, entendida como extinção


volWltária da vida de um paciente sofredor, V. Frankl tam-
bém assume posição negativa. Na verdade, cO médico não foi
chamado a julgar do valor ou não-valor duma vida humana:.
(p. 85). cEm nenhwn caso lhe é lícito arvorar-se em juiz
para decidir sobre o ser ou não-ser do paciente, quer por razões
Jlgadas à sua cosmovisão pessoal, quer por puro arbítrio»
(p. 88) .

3. O sentido do sofrimento
Não se pode dizer que o sentido da vida. esteja em gozar
de prazeres; se o fosse, a vida seria absurda, pois está demons--
trado que o homem normal experimenta em média, nos seus
dias, incomparaveltMnk! mais sensações de desprazer do que
de prazer.
Ora a vida humana pode atingir a sua plenitude nio ape-
nas no gQ28.r, mas também no sofrimento.
O sentido do sofrimento está em ser um lembrete. No
plano biológico, por exemplo, a dor faz as vezes de guardlio
e monitor pleno de significado; chama-nos a atenção para o
perigo (a doença) presente, mas talvez ainda latente. Na
esfera espiritual, à dor cabe uma (unção anâlogaj o sofrimento
faz o homem amadurecer e crescer. cO sofrimento, como a
necessidade, o destino e a morte, faz parte da vida . . . PrIvar
a vida da necessidade e da morte, do desUno e do sofrimento,
seria corno tirar-lhe a configuração e a fonna. :t que a vida
só adquire forma e figura com as marteladas que o destino
lhe dã quando o sofrimento a põe ao rubro,. (p. 154) '.
Afiás, o suportar de uma situação dolorosa que não se
pode evitar, jã é uma reali2ação. Dta aflnnação é ilustrada
pelo fato seguinte : alguns anos atrãs, as autoridades quise-
ram prern1ar as mais altas realizações dos escoteiros inglesesj
condecoraram então três rapazes que, em conseqüência de
doenças Incuráveis, estavam internados num hospital e, ape-
sar disto, mostraram valentJa e coragem ao suportarem finne-
mente o sofrimento. Este Col reconhecido como realização mais
alta do que a de muitos outros escoteiros autores de façanhas
mais vistosas. A falta de êxito, estatisticamente computével,
MO significa falta de sentido.
1 A palavra "deatlno·, no caso , nlo quer dizer "força. cega a neutra
que rega a \lIda do homam", mas o cuno masmo dos aconteclmentoll, 'lua
• 16 emll .,Irm1 aar govemadOl pela Providência Divina.

-335-
68 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS. 281/1985

Rã. na verdade, situações em que o homem só se pode


realizar na sofrime nto ou no aparente fracasso. Isto nos ajuda
a compreender 11 sentença de DostoievsJd, que dizia só ter
uma coisa a temer: o não ser digno das suas penas. São
muito dignos de nota os doentes que sofrem e, sofrendo, pare-
cem lutar para ser dignos das suas grandes penas .
Viktor von Weizsãcker afirmou certa vez que o doente
que sofre corajosamente, clã lições ao mêdlco que o trata. Um
médiro que possua certa finura de sensibilidade, terá, diante
de um doente incurável ou um moribundo, a sensação de não
se poder aproximar dele sem uma certa vergonha. Enquanto
o paciente surge como alguém que enfrenta com flnneza a
sua sorte e leva !l. termo uma autêntica realização no plano
espiritual, o médico. no plano físico ou na esfera das realiza-
ções médicas. deve reconhecer a sua Insuficiência.

4. O sentido do. limitações pessoal.


V. FranJd multo Insiste no caráter de único, singular e
lrrepetlvel de cada ser humano e da sua existência. Essa sin-
gularidade resulta de uma dose de predicados positivos llmi-
tados os sujeltos tl deficiências; cada um tem seus vaJores limi-
tadamente. Ora esta limitação própria de todo ser humano,
em vez de ser um absurdo ou um despropósito, contribui ~
dar sentido à vida humana:
c:Se lodos OI home ns fossem p erfeilos, seriom lodos iguols uns
cos outros; qualquer um poderia tcu:er cs vexes de qvolquer outro . ..
No caso, porém, d. ser lodo Individuo limitado e Imperfeito, cada qual
assume ~aráler Indltpensóvel e insubstilurvel, poi.$, embora lodos seiom
Imperfeitos, cada quol a é CI leU medo.
«Num mosoico ... cock. pecha " no 'O<'mll e no cor, 01110 Incom·
pleto e, ao mesmo tempo, imperfeito;- .6 no lodo .•. •igni6<:1I olguma
coila. Se <:ada pedra - o modo de miniatura, digQmo~ - contiveue
16 o .<todo, poderia .er lubstilulda por qual.q uer outra; tal como acontece
com um criuat, que de algum modo pode ser perfeito no sua formo,
mOI precisamente por Isto é substitul.,el por qualquer outro exemplôr
da mesma formal afinal de contas, todos os odoedroJ 560 iguais.
CP. lU'.
Notemos, porém. que o «a'go único, irrepetlvel e singular:.
de cada personalidade só se realln plename nte no conjunto
da comunidade. com o caráter único e singular de cada pedaeo
de mosaico, que só tem sentido se colocado no conjunto da
imagem.
-336-
t:PSlCOLOGIA E SENTIDO DA VlDA~ ..
A comunidade se distingue da massa. Esta não tolera indi-
vidualidades com suas pontas peculiares. A relacão do indI-
viduo com a massa pode comparar-se à relação Que existe
entre um paralelepípedo cortado em série e a rua pavimen-
tada com paralelepípedos na sua grisácea uniformidade; cadll
paraleleplpedo pode ai ser substlluido por outro, jã que todos
são talhadOs do mesmo modo; além disto, «o pavimento de
paralelepípedos, no seu tom uniformê, não tem o valor esté-
tico de um mosaico, mas unicamente o valor do útil - tal
como a massa. que apenas sabe da utilidade dos homens. Dio
tomando conhecimento do valor ou da dignidade de cada WD:t
(pp. 1150) .
A comunidade. ao contrário, não pode prescindir das cara(."
teristicas singulares dos indivíduos que a compõem. Em con-
seqüência, deve-se dizer que o Individuo contribui para dar
sentido à comunidade. e. vice-versa, esta concorre para dar
sentido a cada um dos seus membros.
Mais ainda: uma auténtlca comunidade é essencialmente
composta de pessoas responsãvels, ao passo que a massa é
apenas uma soma de seres despersonalizados e destltuldos de
responsabilidade.

S. A psicologia do campo de concentração


Um dos subtltulos do livro que mais evidenciam a tese
do autor, ê o que se refere ao comportamento dOs prisioneiros
em campo de concentração. Viklor Frankl bem conhece O
assunto por ter feito ele mesmo a flxpenéncla do campo.
1 . A entrada no eampo já significava um choque psico-
lógIco. Tiravam ao encarcerado tudo o que tru.:ia. excetuados
talvez OS óculos, a fim de que esquecesse o seu passado. Dora-
vante estaria numa área cercada de arame farpado de alta
tensão. de modo que qualquer tentativa de fugir seria um sul-
cldlo. A alguns prisioneiros ocorria. nos primeíros dias. a ten-
taCA0 de atirar-se às farpas ou de praticar O sulcldlo.
Passada esta fase iniclal, o prisioneiro cala num estado
de profunda apatia, que é wn mecanismo de auto-proteção do
sujeito. A vida afetiva la declinando na direção do primiti-
vismo: OS interesses dos encarcerados Jbnitavam-se .., neca-
sidades imediatas e mais prementes: todas as aspirações pare-
ciam concentrar-se num único anseio - sobreviver dia por
dia. <là noite, quando OS prisioneiros exaustos, cheios de frio
-337 -
10 c-PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 281/1985

e de fome, eram de novo acompanhados para as barracas pelos


'comandos de trabaJho' aos tropeçôes pelos campos nevados,
sempre se lhe ouvia soltar wn profundo susplro: 'Armal.
agüentamos mais um dia!'. (p. 139) .
.. o primitivismo da vida psíqvica no CQmpo de concentroç5o tinha
I"a •• preu~o nos sonhol Upical dOI prilioneiros. A maioria lanhava
com pão, bolo, cigol'fol • um banho quente. Falavam constantemente
de comida, se se juntassem nOI 'Comandai de trabalho' • o sentlnelo
n80 estive"e perto, OI prisioneiras trocavam entro li receitas d. cozinha
• desueviam uns aOI oulrOI 0$ pralal favoritos que haviam de alerecer
001 colegal quando, uma vez livres do campo, convidauem IIftI aos
outros peito almaçar ... Provovelmente por causa da sub-olimentoção,
"otava'le tombém um surpr.endent. desinteresse p.lol tema$ do con·
verso sexuall . .. n60 se contavam 'porcarias'. Ip, 1391.
Além do mais, uma grande irritabllldade acometia os pri..
• ioneiros. Isto se explica peJa Insuficiência de sono, provocada.
em grande parte, pela praB'a de Insetos, que se multiplicavam
nas barracas super-lotadas de gente.
2. Pergunta então Viktol" Frankl: será que todo homem
está fadado a sueumbril" a tal pl"lmitivismo, desde que se veja
num meio-ambiente selvagem? Seria o psiquJco do homem
mero reflexo do seu ambiente social? - E responde nega-
tivamente: registravam-se exemplos - muitas vezes herólcc.s-
de pessoas que resistiam à pressão do campo e não cediam 8,0
primltivismo de comportamento; tais eram os que haviam cul-
tivado os valores espirituais. t:Nos campos de concentraçio
havia JndivldllOs que conseguiam dominar a sua apatia e sub-
jugar a sua 1rrItablllda~. Eram aqueles bomens admiráveis
que - esquecendo-se de sua pessoa até a renúncia e o sacri-
ncio de sl mesmos - passavam pelas balT8.cas e praças de
revista militar, dizendo aqui uma boa palavra, dando adiante
O 11Itimo pedaço de pão, . (P. 141) . Entre parênteses, seja
licâto lembrar o caso de S. MaximUiano ROlhe, que, além de
doar 6eUS préstimos d.1arlamente aos colegas de campo, deu
sua vida pua salvar um prisioneiro condenado à morte.
O embrutecimento de muitos no campo de concentração
@I'a, em Íllt1ma anAlise, provocado pelo fato de que multos per-
diam o sentido da vida. Sim; o futuro se lhes tornava total..
mente Incerto; a morte os ameaçava a todo momento. cUma
vez que alguém entrava no campo, o fim da incerteza (quanto
às oondicões locais) trazia consigo a ineer1eza do fun . . . Ot-a
RI1l um ponto fixo no futuro não consegue o homem propria-
mente existir. :t em ordem 80 futuro que normalmente todo
-338 -
.PSlOOLOCIA E SENTIOO DA VIDA' 71

o seu presente é configUrado. orlentando-se para ele como a


limalha de ferro se orienta para um polo magnético • . . Quando
o homem perde o seu futuro, jã não vjve, cai na sensação de
vazio e de falta de sentido da existência::. (p. 1435).
A decadência psiquica, proveniente da falta de apolo espl·
ritual, e o abandono à apatia total eram no campo fenômenos
que se produziam rapidamente, levando em pouCQ$ dias os lndi-
vlduos li. catAstrofe tinal. Os presldiãrios qUê se achavam nesse
estado, deixavam-se ficar prostrados nas barracas, recus:ando-se
a responder à chamada ou a ocupar o seu posto nos 'coman-
dos de trabalho'; não se interessavam por rereições nem fre--
qUentavam os sanitários: nenhwna proposta e nenhuma ameaça
era capaz de tirã-Ios da apatia; nada os Intimidava, nem sequer
os castigos, que eles suportavam resignados e embotados. Ja-
ziam às vezes em cima das próprias fezes e urina, Indiferentes
a qualquer perigo.
A prostracáo psIquica e fmoa é ainda Ilustrada pelos se-
guintes <aSOS;
Um dia, um prisioneiro contou aos companheiros que ti-
vera um sonho ~tranho: uma voz lhe -perguntava se ele dese-
java saber algo, pois lhe poderia profetizar o futuro. Respon-
dera entio: "Eu quero saber quando terminari. para mJm
esta segunda gue:.-ra mundlab. A voz retorquiu: cAos 30 de
março de 1945». Quando tal prisioneiro expunha o seu sonho,
este.va o mês de março no começo; ele se mostrava cheio de
esperança e bom humor. Todavia o dia 30 aproximava-se sem-
pre mais e tomava..se cada vez menos provãvel que a voz
tivesse razão. Nos últimos dias do mês, o prisioneiro foi caindo
cada Vf2 mais no desalento. Aos 29 de março, transferiram-no
para a Dlvl$ão dos Doentes, com febre e em estado de dellrlo.
Aos 30 de marco, perdeu a consciência. E no dia seguinte
estave. mario. Morrera de tIfo exantemático. O caso se explica
pelo fato de que a Im\H1idade do organismo depende enonne-
mente dos estadOs afetivos e, por conseguinte, também da von-
tade de viver ou de desilusões e frustrações. Em conseqüência,
pode-se admitir que o desengano de tal prisioneiro, motivado
pela falsa profecia, tenha provoc:ado a queda súbita das for-
ças defenslvas do organismo, fazendo-o sucumbir à infecção
incUbada.
Outro caso, que corrobora o anterior, é o seguinte: em
detenninado campo de concentração, os prialoneJros ooncebe-
ram a esperança de que, no Natal de 1944,. todos estariam em
-339 -
72 .. PERGUNTE E RESPONDEREMOS~ 281/1985

casa com as respectivas fanúlias. Chegou, porém, a noite de


Natal sem que alguma mudança ocorresse na vida daqueles
homens. Em conseqüência, na semana. entre o Natal e o Ano
Bom verificou·se no campo uma mortandade tal como nunca
vista. anteriormente, sem que alguma causa visivel lhe pudesse
ser assinalada; não houvera mudança de condições atmosfé-
ricas, nem aumento d~ trabalho, nem surto de doença infec-
ciosas. .. Na verdade, a causa última de tal desastre era a
depressão psíquica que experimentavam aqueles prisioneiros
frustrados (cf. p. 146).
Prossegue Frank1: caso se pudesse aplicar alguma psicote-
rapia aos Intemos de um campo de concentração, esta deveria
propor um apoio espiritual e um sentido para 8 vida, para o
sofrimento e a luta. «Na prãtlca não era tão difícil soerguer
c ãnlmo de um ou outro prisioneiro através dessa orientatão
voltada para o futuro. Nwna conversa com dois desses prisl~
nelros cujo desespero se agravava até os levar à decisão do
sulcldio, produziu·se certa vez um resultado desse tipo. Am-
bos estavam dominados pela sensaçio de que já nada tinham
a esperar da vida. O que era indicado no cuo, era levá-los
àquela viragem copernicana de que já falamos:.: ... compreen-
dessem que, se eles nada tinham a esperar da vida, a vida
esperava alguma coisa deles, ou que eles ainda tinham uma
missão a cwnprir (cf. p. 146).
A necessidade de refonnular a escala dos valores e de
procurar a força de Animo em vaIores transcendentais, tão
comprovada pelos fatos, leva Vlktor Frankl a terminar o seu
capitulo sobre o campo de concentração com estas palavras:
_São rpultos os que nos campos de concentração e graças aos
campos de concentração voltaram a crer em Deus~ (p. 148) .
Sim; só puderam sobreviver porque ultrapassaram o momento
presente ~m seu negrume a fim de se elevar ao Eterno e
Absoluto, único valor capaz de justificar a paciência heróica
de um ser humano na terra.
Eis alguns tópicos sa1lentes do livro em pauta. A leitura
da obra ê rica em explanações sobre temas congêneres: o sen-
tido do amOr. o do trabalho, a neurose do desemprego, a neu-
rose dominical, dlreçio de almas médica e pastcral. .. O lei·
tor encontra no livro afirmações Que correspondem não s0-
mente l expenênc1a do dentlsta. mas também à fé do homem
reUgloao. :e o que merece para Vlktor Frankl lugar de espe-
cial destaque na Importante âl'ea das clênclas humanas..

- 340-
li SUi(ídio: Modo de Usar"
por Cf. Gulllon e Y. LA Bonnlec

Em alne.,: o IIYfO em paula tenciona ser um protesto contra ••


Injunções da sociedade, que exerce prtt.6es ~br. OI MUI membros desde
tipo e as clrcunstAn-
qUI n•• cem: seja lO menos licito ao Individuo It$colher o
claa de lua mortal " .. Im ent8ndldo, o Il\Ito ass ume carâl.r polllleo; ,IIU,
, 85<:rllo por doi. Jovens a".rqul,tas francel.,.. A fim de assegurar a todo
homem o direito * morte, o livro ••rmlne com um recellu.rio qUI ensina OI
maio. mal. anealel de pOr 11m .t. IIlI'!tfIC1e. terre.tre.
A. obra 6 expressa0 da uma çonçepçlo ImaneoU... , mtlar!at!sta do
mundo e do homem; o lulcldlo 6 .r IlIpllcltamente IPfeMtntlldo como con-
••qli6nçla dai fa"a de esperança li do vazio do coraçlo. A 16. porlm, ensina
a considerar esta vldl como prelmbulo de uma existência p6$tuma, na qual
111 asplraç&ls cong6nllas do homem li felicidade, â Verdade, !lO Amor ...
aerlo totalmente pr eenchidas. Quem tem consciência d'-to. dascobre lentldo
na luta pacJante e teMI de eJIda dia em prol do Bem; a JusUça de Deus
retribuir' o carSl. um o (llJe a JU$tlça dOI homens nlo ê capaz de outorgar.
De lestO, o sulcldlc • antln,atulat ou mesmo uma fuga cova rde, quo
de modo nenhum contribui para ramadllr 001 mel.. da .oclodade exIStente;
multo mais alieu a nobre é o comportamenlo da quem a0811.1 oe deaalfoe
da eada dia li lhes ,esponda vlrllmante, na earteã de que nlo o lu em via,
poli alllsle a R•• potta par. os an..1oI do homem .
• • •
Claude GuiUon e Yves Le Bonnlec são dois jovens autores
franceses que se dizem canarquistasa (cf. orelha do livro) .
Escreveram uma obra, que é apologia e receituário do suicidio.
Publicado em dezenove palses, vem suscitando calorosos deba-
tes. Tendo aparecido recentemente do Brasil I, comentaremos
o seu conteúdo, na certeza de estar tocando em assunto de
primeira Importância.

1. A tese do livro
Os autores afirmam que não qUél1!m incitar ao suicídio.
mas o mundo em que vivemos é que leva a tanto. O que
Guillon e Le Bonniec tencionam, é lanear um brado de revolta
1 "Suk:rdlo: modo da usar·. Traduçlo de Maria Angola Vitral. CotsçJo
-Toatemunho" vot. 8. EMW Editore., SIo Paulo 1984, 140 li 280 mm. 233 pp.
- 341 -
74 . PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 281/1985

contra 8 sociedade atual e afirmar, por isto, algo de chocante:


deve existir liberdade para que o individuo morra ccmo quer,
já que não lhe é dado nascer "nde nem como quer, nem lhe é
permitido viver onde e como queira:
«Se o luiddio fosse umo solutão, nás terlamos °
maior prazer
em empurror as penoclI poro ele .. , Incilar? Mas, mesmo qUe o
quhiuemos, I.rio supérfluo. O mundo que o senh or preza lanto, , o
boslonle poro iuo. Oxalá a energia do desespero que levo ton'ol
humanos poro o lI'Iorle, 5e volte contra es'e mundol. (pp. 217s) .
..Contra a energia nuclear coloquemos a energia da revolto. O
conhecimento de léctlicOI confiáveis de suicidio será um poderoso
eslimulonle. !p. 181.
.. Poderão achar paradoxal falar do morte paro mudar avido.
Aconlece que a nossa morte, a uim como n0550 corpo, nas foi confis-
cado desde nOllo primeira ",pra d ....ida e que mudgr o vida s~ nifico
re(l"iol'-nos lolalmonte. inclusive e sobretudo naquilo que nos amedronto
em nós mesmos, porque nos ens inaram a medo» I Cloude Guillon,
p.226).
c:ê preciso combaler o imundo poder de vida e de morle que os
médicos pre tende conservar sobre nós. ~ prwso acabar com o chon-
ta,gem da sociedode que diz àqueles que querem morrerl 'Bem,
riO final dos conlas, o problema é de voeis, azar seu se SDfrerem e
saibam que, em c:aso de fracasso, faremos tudo paro que c:onlinucm
vivas' " IChlude Guillon, p. 2281 .
Por conseguinte. o livro em foco «não é apenas um ma-
nual de suicldlo, mas um manlCeslo sobre a vida e a digni-
dade», conforme Luiz Fernando Emedialo, que prefacia a obra
(p. 12). O mesmo acrescenta: c:lmportante ... é ter consciên-
da de que escandaloso não é o suicidio, mas o rosto da socie-
dade em que vivemos» (p. 13).
Em conseqüênCia, o livro abre a perspevtiva de pôr um
fim voluntá.rio à própria vida, em sinal de autoafirmaçio con-
tra a sociedade opressora:
c Pode ser que a ...ida da maioria d05 homens se posse no meio
de tanIa opressão e hesitação, com lontos sombras imiscuindo-se na
claridade - em fe1úmo, cOm lonlo ablurdo - que apenas a poui-
bilidode remoIa de dor-lhe um fim eSleja em ~ondicÕe's de liberar a
aleuria .q ue exllfo I,cla~ lpalavras de Robert MUlil, citados à p. 18).
Como se vê, 8 tese dos autores do livro é poUtlca, como
eles mesmos confessam: «Não Incitamos ao suicídio, mas à sub-
versão ... Trata-se de fazer do suic1dio uma ~eaça. (p. 12).
-342 -
cSUICIDIO: MODO DE USAIb

Após expor numerosas teorias e citar fatos atinentes à


prãtica do suicídio em nove capituJos ricos em documenta-
ção I, os autores no capitulo X apresentam cEJementos para
wn Guia do Suicídio:. (pp. 119·210): propõem então receitas.
geralmente de índole química ou fannacêutica, para assegurar
a morte de quem deseja. Aplicando--as. o candidato ao suicIdio
não incorrerá no dissabor de ver sua tentativa frustrada e, por
isto, ser recondm.ido à vida pela assistêncJa módica. Não deixa
de haver também, entre os Mexas do rIm do livro. uma lista
de Associações de Prevenção do Suicídio (cf. p. 234); seja
realçado aqui o Centro de Valorizaçjo da Vida (CVV), que
tem postos em várias capitais brasileiras, podendo seus ende-
~s e telefones-ser facilmente encontrados nas Ustas Telefô-
nicas. No Rio de Janeiro (não mencionado no livro), tais sáo
OS números te1efônicos do CVV: 254-9393 (funciona as vinte é
quatro horas do dia, na Tijuca). 254-9191, 256-4141, 242-9292,
262-4141.
As idêias.mestras do livro assitn propostas sugerem algu-
mas considerações.
2. RefleHndo ...
2.1 . O problema fundamentol
Embora O livro de GuiUon e Le Bonniec pretenda ser wn
livro político, portador de proposta subversiva em matéria sócio-
-politica, ele toca um problema ainda mais profundo, que é o
do sentido da vIda.
O $ulcidio é propugnado como autoafinna cão em réplica a
um mundo que constrange o homem desde o seu nascimento.
Todavia é esta uma pobre ou falsa autoafirmacão, pois o que
os autores propalam, para o cidadão, ê a liberdade de se 000-
denar à. morte em vez de ser (pretensamente) «condenado à
morte» pela engrenagem da sociedade.
Seria preciso pensar numa autoafinnação positiva (para
a vida), em vez de negativa (para a morte). Na verdade, o
homem lol naturalmente feito para a vida, como atesta O ins-
Unto de autoconservação, cOngênito em todo ser humano.
1 . Em última análise, o problema do suIcídio está ligado
ao do sentido da vida: Por que vivemos? Para que vivemos?
Se não há resposta para estas perguntas. compN!ende-se que o
homem experimente o vazio do coração e a falta de esperança
1 O livro lem car61er de dlvulgaçlo. Por 1.10 omite cltaçao "
documentos fi fontes em rod.-pê - o que enfraqueça o vliIOr de mun.. da
suas aflrmaçOes.
- 343-
16 .PERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 281/1985

que levam ao suicídio. «Morrer voluntariamente... jmpUa:t


reconhecer ... a ausência de qualquer razão profunda de viver.
o caráter insensato dessa agitação cotidiana e a inutilidade do
sofrimento. A vida perde o sentldo quando a esperança não
mais existe, quando o sonho acaba» (pp. 11s) .
Estas observações são comprovadas pelo psicólogo Viktor
Frankl; que escreveu um capitulo sobre a «Psicologia do
campo de Concentração:a. Este a utor, referindo-se aos prisio-
neiros do campo, nota que multos se entregavam à morte pêlo
fato de não terem perspectiva de uma salda do Impasse ou
pela falta de esperança ou. ainda pela ausência de uma razão
para aturar os sofrimentos de cada dia:
«Sem um 'Ponto fixo no futuro, nõo coruegue o homem proptio-
IIIente existir. E em ordem ao futuro quo normalmente todo o , ev
presente , configurado, OIientondo-se poro ele como a limolho de
ferro le orienlo poro um paio magnético. Pelo contrário, o tempo
vivendal perde lodo a sua estrutura sempte qve o homem perdo o seu
'futuro', Já não 'e vive . "
Os presldiórios que le achavam neste estado, licavam puta e
simplesmenle no seu lugar, no, beueea,. rol!1:usendO-5e a responder à
chamada o ocupar o seu pClslo nos 'comandos de trabalho'; RCio se
preocupavam com tomor refeieões, deixavam de ir 001 cublculos de
C1sseio; e nenhuma proposto, nenhumo gmeoça era capaz de arrancá-los
do apatia; nado os intimidava, nem ,equer OI castiGOS que suportavol'l
tesignodomenle, embolodos 'li indiferenles " .. E o hé.bito de .e deixa,
rem ficar deitados - às vues em dma das própri<lJ fezes e IJtina _
significClV<l umo am.a~a à vida, não apenas na aspecta disciplinar,
mal tembéln no aspecto direfemenle vilel. Era o que se via claramente
nos casas em que o vivênc;io do 'interminóvel' se opo'sovo sub;lamente
dos prisioneiras:. (Psicoterapia. Sentida da Vida, pp. ''''4sl .
Em outro capitulo, versando diretamente sobre o suicidio,
pondera Viktor Frankl:
c Sá podemos levar os nanai doenle s ( l lomor a vida como um
valor, tomo glva qve tem sempre um sentido, se e,tivermos em condi-
ções de do, à vida um canteúdo, de os levar a encontror no .ua
8.i"'neio uma melo, ume finalidade; com oul"lI palavras: . •. se os
sobemCl' pôr diClFlte de uma miuCio; 'Quendo se tem no vida algum
pIOr "quê, diz Nietz:sche, qualquer «omo pode ser suportado'. ~ fglO,
o lober-se incumbido de uma missão no vida tem um valor psicalerópico
• plico-higifnico extrClordinório:t Ob . p . 901 .
2 . Ora a fé revela ao homem o sentido transcendental
da vida presente com tudo O que elà tenha de espinhOSO e dolo-
roso, A mensagem cristã diz que existe um além, do qual as
difJculdades presentes suportadas com paciência e amor terão
-344 -
cSUIClmo: MOOO DE USAR .. 77

sua compensação e sua recompensa. Não é inútil o sofrimento


depois que Cristo o santificou pela sua cruz, fazendo-o preãm-
bu10 para a ressurreição e a plenitude da vida.
Mas não somente a fê... Também a razão natural nos
assegura Que hâ um além no Qua l o homem, momentanea-
mente frustrado, encontrâ a resposta para as suas aspira';Õe.s
congênitas. Com efeito, <.'Onsideremos o seguinte:
No plano biológico, se existe olho (todo feito para cap-
tar a luz), existe luz; (sem a qual o olho seria um absurdo).
Se existe ouvido (todo feito para captar o som), existe som
(sem o qual o ouvido seria um absurdo) . Se existe pulmão
(todo feito para captar o ar), existe ar (sem o qual o pulmão
seria um absurdo. Se existe estômago (todo feito para captar
alimentos), existe o alimento (sem o qual o estômago seria
um absurdO) . .. A natureza, pois, é sábia: onde ela coloca
wna demanda, providencia tambêm a respectiva resposta.
Ora. se no plano biológico (que o homem tem em conrum
com os restantes animais), existe tal harmonia, muito mais deve
ela existir no plano das aspirações espirituais, que são tipica-
mente humanas. Com efeito, se em todo homem existe uma
congênita aspiração à Vida, à Verdade, ao Amor, à Bondade,
ã Justica. à Felicidade e se tais aspirações não são cabalmente
preenchidas na vida presente, elas deverão ser saciadas numa
outra vida ou no além. Se não fosse tal outra vida, a exis-
tência presente SE'ria, de fato, absurda e frustratlva ; estaria
justificado o suicldio em muitos casos. O homem de fé. em-
bora tenha consciência de não have r escolhido as circunstân·
clas do seu nasclmento e de grande parte do desenrolar de sua
vida, sabe ser criatura de Deus, Que é sãbio e providente (um
Deus QUC! não fosse tal, não seria Deus). A fé transmite a cer-
teza de que, embora todo homem tenha de ca~r uma parte
da cruz de Cristo, hã um reverso da medalha, que a sabedoria
do CrIador antevlu e planejOU.
Diremos, pois: a visão imanentista ou materialista 'C atéia
professada por Guillon e Le Bonniec explica a amargura com
que consideram a vida presente e a facilidade com que apelam
para O sulcldlo. Substitua-se tal cosmovisão pela concepção
cristã do mundo e do homem, e o suicídio aparecerá como
antJnatural e como falsa solução.
2.2. Ultariolft ponderaçõH
1. Os dois autores em foco mostram·se avessos à Igreja
e à religião em geral. ÁS pp. 63-65 confundem a estima do
martírio com suicídio; na verdade, o martirlo significa O teste-
munho (martyrton, em grego) da fé em Cristo até o derrama-
mento do sangue e a morte (se necessário); no martIrio, o
- 345-
78 cPERGUNTE E RESPONDEREMOS» 28111985

cristão não tira a vida a si mesmo, mas entrega-a ao algoz


para não trair O Cristo e os valores transcendentais; pratioa um
ato de heroismo, e não de covardia, sustentado pela convic-
ção de que a morte, em tais casos, é a passagem (ou Páscoa)
para a plenitude da vida.
As palavras de J esus em Jo 10,18 são citadas à p. 63, de
maneira errônea. Com efeito, Jesus não disse: cNinguém me
tira a vida, eu a tiro de mim mesmo», mas sim: cNinguém
me arrebata a vida, mas eu a dou livremente. Tenho o poder
de entregá·la e o poder de retomá·Ia». Jesus não tirou a vida
a si mesmo, mas a entregou livremente como o MArUr por
excelência.
2 . As Injustlcas sociais contra as quais tencionam pro.
testar OS autores do livro em (oco, hão de ser impugnadas e
transformadas não mediante o protesto do sulcidio (que na
realidade parece mais covardia e fuga do que outra coisa),
mas mediante a participacâo na construcão de um mundo
novo; esse novo mundo, QUis, só poderá surgir se, antes do
mais, houver homens novos, conscientes do sentido transcen-
dental da vida e da luta de cada dia.
A orientação confessadamente anarquista dos dois auto.
res leva-os 8 tomar poslcóe5 extremadas, impregnadas de deses-
pero e azedume. Estes podem transmitir-se a leitores comba·
lidos pelos problemas cotidianos, de modo que o livro é apto
a tornar-se, para muitos. um incentivo ao suicídio, apesar do
que observa Luiz Fernando Emediato na apresentação elo
volume: «Refletir sobre essa questão - o direito ao suicídio
e suas cons~üênclas metafísicas e fislcas - pode até mesmo
fazer com que o candidato em potencial ao suicldio mude de
Idéla ~ (p. 14).
Diremos em condado: o livro é uma expressão de sarcasmo
e desespero; a aparente galhardia qu~ ele propõe, não ê senão
fuga e atitude artificial. Talvez esteja provocando a curiosi-
dade do grande pubUco por seu caráter de novidade e inécUto;
alguns leitores já propensos ao desãnJmo poderão ser tremen-
damente contagiados pelo contato com tal obra. Se, porém. o
Uvro cair nas mãos de um cristão de sóUda fonnação, poderá
tornar·se um estimulo a que o leitor mais ainda valorize os
desafios que a vida lhe impõe e, em vez de se sentir obrigado
a autoafinnar·se por morte vOhmtária, mais ainda se veJa
compelido a crer na grandza. da lula fiel e destemida (espe-
cialmente quando sustentada peta fé em Deus).
«A CJVlJm vtlnc.", concederei 'entor-Je comigo no mllu Irono, ol';m
COII'IO eu lomb'm venci ti .,Iou ""Iodo com meu Pai em leu trono»
(Ap 3,211.
-346-
Um Ifvro sobre a dor:

"Ouando Coisas Ruins Acontecem


às Pessoas Boas"
por Harokt KulhMr

Em ain....: o livro deve-$e a um rabloo nor1e·amerlee.no Q..... tendo


5Cl1,kJo duro golpe em sua vida de lemltla, proeUfa de .Igum moOo expUCI!
° problema csa dor; "enl. o Senl\or CIUS da responsabilidade do sofrimlnto
do hMllm. eoloca.ndo I dor lorl dI 11~ld. de Deus; o sofrlmlnto .. deve
lO jogo ele atar OU de ."'0 di natureza". O remédio conlra esae mal
..ria. oreçlo ... - A obra • attamenle Interessante porqul Ilmbr. o con-
teCIdo do livro de J6: nem o Iulor desll livro nem ° Reblno Or. Kushne'
podem apresenlar uma soluçA0 par. o problema do solrlmenlo. porQue
IDnoram a vida póstuma consciente. sem a qual. In6Ui procurar luz" pera
o probllma do sofrlmenlo.

• • •
o problema do sofrimento sempre move profundamente o
aer humano; especialmente a dor de pessoas retas e Inocentes
abala. e desconcerta. As escolas filosóficas e os sistemas reli·
glOSDS sempre procuraram uma certa explicação para tal mis-
tério. Eis que o rabino Dr. l{arold Kushner, de Boston, sofreu
uma dcsgraca que o induziu R escrever o livro . When Bad
Thlngs Happen To Good Peoplel (Quando coisas mãs acon-
tecem às pessoas boas) I. Pai de um menino chamado Aaron.
que, a partir dos oito meses de Idade, se viu atacado de p~
gérla ou de velhice precoce, o autor foi assistindo ao paradoxo
de uma criança em vias de envelhecimento acelerado. F1nnl-
mente, aos quatorze anos de idade, Aaron faleceu, deixando
pai e mãe profundamente impressionados.

O drama sugeriu ao Dr. H. Kushner longas reflexões


sobre a dor. que se cristalizaram na. tese do livro em (oco,

t Traduç" da Fr.ncl.eo de CUlro Alevedo, Revislo de tVlln N6to. -


Edftor. Fundo Edut;flUvo 8,"II,'ro LIda, Slo Paulo 1983-, 138 X 208 mm,
141 pp.

-347 -
80 .PERGUNTE: E RESPONDEREMOS. 281/1985

1. O contelÍdo do liyro

Diante do golpe que acometeu o casal e seu mho Anron.


o autor se recorda do caso de J6; este. inocente. como 14m·
bém eram o rabino. a esposa e seu filho. é ferido de virias
modos. Diante do drama de Jó. os amigos do Patriarca preo·
euparam·se em ressalvar a santidade e a justiça de Deus; por
conseguinte, acusaram J6 de ser pecador, devidamente visi·
tado por um castigo de Deus. Eis, porém, que 16 se debateu
diante da suspeita, afirmando altamente a sua Inocência. De-
ver-se-ã então dizer que

- Deus não é justo, porque feriu um inooonte?

- Ou que Deus não é todo-poderoso e, por isto, não pode


bnpedir o injusto ferimento do Inocente?

Dever-se-ia, em poucas palavras. sacrificar a plena justiça


ou a onipotência de Deus pelo fato do inocente Jó ter sofrido?
Ou pelo fato de tantos Inocentes até hoje sofrerem?

Responde o rabino Kushner negatlvament4!. - Professa


finnemente a justiça impecável e a irrestrita onipotência de
Deus, mas propõe «uma abordagem diferente e, atê certo
ponto, revolucionária. Não é Deus que causa a tragédia, a
doenc:a. o sofrimento. Existe uma 'aleatoriedade' no universo e
a natureza é moralmente cega. Um terremoto não distingue
entre pessoas boas e ruins. Nem o câncer. Nem o derrame
cerebral. Nem a progéria. Não são 'atos de Deus'; são aca-
sos de. natureza. (p. 6). Com outras palavras: os aconteci·
mentos naturai.s não são da alçada racional; Deus não e rei·
ponável, nem indiretamente, por eles.

«Eu entendo que o cotar, o lempo IeCO e l emonOI lem chuva


oumente". o perigo de fogo nOI molol, de modo que uma centelha,
um fó.foro ou melmo a luz solar sobre um pedoto de vidro façam
IDrder uma IloredQ. Que o CUtlo deue fogo seja determinado, enlre
outrOI coisa.s, pela direcCia e m que o ....enlo sopra , também entendo.
Mos qual a explicação roeional poro a cambinacCio entre o venlo • o
tempo, em determinado dia, no sentido de dirigir o fogo da mata
contra certos COla5 ."1 vez de outra" encurralando uns e paupando
o", ..os moradores? Ou 41 openos umo questCio de puro sorte?

- 348 -
cQUAN'DO COISAS RUINS ... s 81

Ouando um hamf!m e uma mulher rarem amor, o hom ~ m eja",lo


der.enas de milhões de espermaloz6idtl, cada um deles pcrtador de
um conjunto ligeiramente diferenciado de carocleri,lit;o, biologiçe.
menle herdadas. Ne"humCl inleligênda morClI decide qual d eles
penelror6 o oyula que osperCl ser ferlilitada . Alg ... ns dos espermatol6i.
de, farão com que a criança nasça com defi ciénçias flsicos, talvez: com
umo doenca falai. Oulras lhe darão não apenos boa saúdo. ~e não
t.(lmbém uma habilidade superior atlética ou musicol, ou uma inleli.oln.
cio criadora. A vida da 'fjanca SfI'Ó moldado em seu lodo e os vial
dos pais e parenles profundamente afeloda, pelo delefmina4ôão co suot
daquela (orridos (pp. 52s1

Mas então, se Deus não pode impedir o sofrimento hu-


mano, por que 'Crer em Deus? P or que não jogar fora a reli·
gião d e uma vez? Eis a resposta de Kushner : c porque é Deus
Que nos dá força, coragem e pad~ncia para enfrentannos os
golpes da vida. Deus náo é nosso adversá rio. mas sim nosso
aliado. Deus é a fonte do nosso poder de suportar, nossa
capacidade de superar e nossa de terminação de çontinuan
(p. 6; palavras do Rabino Henry Sebel, reproduzindo. no Pre-
fâciO. o pensamento do a utor do livro) .

Isto quer dizer que, Quando na desgraça oramos a Deus.


não devemos esperar intenrcnção do Altissimo no curso natu·
ral dos acontecimentos (como, por exemplo. a cura de uma
doenca. o feliz resultado de uma biópsia, o nascimento de uma
cManea do sexo masculino ou do sexo re mlnino ..• ), mas ape-
nas pedimos a Deus que nos dê rorça necessâria para supor-
tannos serenamente o jogo do azar ou do acaso d a natureza.
c Ni:io podemos orar poro que Deus lorne nouos vidas livres de
problemas; isto não acontece rá, e será o mosmo que não orar. Não
podemos pedir.lh • .que nOI livre o nÓI e aqueles que amamo'S, do
doenc;a, porque Ele niio pOde fazer isto. Nêio podemos pedir· lhe que
ellendo uma rede mágico ao nouo redor, de modo que as c:oi5Q~
ruins só atinjam à s oulros pessoos, nunca o nós. As penoos que
re~am por bicicle tas, por boas nolos ou por nomorodos nCio os can-
s.... uem através de suas orocões. Mos oqueles que orom por corogom,
por faflole::r.a poro suporlar O insuportóvel. em ogradecimenlo pelo
que lhes foi doix.odo frente ao que lhes foi tirodo, eslel ",ui lo freqüe n.
temente lim suas aracões otendidos. Eles descobrem q ue têm mais
forco e mois coragem do que jornais pensor<lm ler. Onde o con seguem ?
Penlo que sueli oro4ôõol ajudorom.no, a des.cobrir aquela forca. Suas
oracõlII!!S ajudorom.nos o Irozor à tono aquelas reservas d. li e COrOÇlem

-349 -
82 (PERGUNTE E RESPONDEREMOS. 281/1985

que antes não lhes estoyom disponlyeis. A viúyCl que me pergunta no


dia do funeral do seu marido '0 que me prende à vid<l ogora?', no
CUBO dai .emonas leguintes encontra ro~s poro leYantar'se de
manhã e olhar o diCl pela frente; o homem ~ue perdeu leU emprego
OU fechou leu negócio e me diz: ' Rabino, e5l0u muito velho e cansado
pora começar tudo d. novo·, mas, não obslonte, recomeça novamenle
- de onde tiraram elel o forca, o esperanco. o otimismo qlM!: nôo
tinham "O d ia et1l que me fizeram aquelas pe rguntas? Gostaria d.
acreditar que .eles receberom ludo oquila do contexto de uma CClmu-
nidade intereuoda, de pessoos que Ih.s deram cloramente a enten·
der que le. Importavam com eles e do conhecimento de que DeVI ellá
ao lodo do. aftitol ,. dOI oprimidou tp. 126'1_

Exte texto sugere, em última Instância, a pergunta: seria


a oração, conronne H. Kushner-, mero incentivo psiCOlógiCO ou
reanimador espiritual _que traz â tona reservas de fé e cora-
gem que antes não estavam disponiveis. (p. 126)? Não seria
ela a impetracão da graça de Deus ou de um dom próprio do
Eterno para caminharmos mais firmemente na senda do bem?
- Cremos que no texto atrás transcrito se trate de inade-
quada expressão apenas, pois lHarold Kushner nos diz explicita-
mente: cEncontramos reforço vindo de uma fonte que fica
fora de nós. (p. 130) .

Tal é, em poucas sentenças, a tese do livro em foco. Po-


deri parecer interessante a muitos leitcre5, pois isenta Deus
da responsabilidade do sofrimento dos homens, especialmente
dos justos. e atribui esta ao acaso ou ao azar.

Pergunta-se, porém; seria esta a resposta cristã ao pro-


blema abordado? Seria esta a resposta filosôfica adequada?

- Jt o que passamos a considerar.

:2 . Uma reflexão sobre o assunto

2 .1. AcolO

o acaso é, na linguagem comum, como também na da


obra em questão, entendido quase como um sujeito que expU-
casse o so!rlmento; nem Deus, nem o homem inocente seriam
responsáveis pela dor, mas ... o a.caso.
-350-
...QUANDO COISAS RUINS . .. » 83

Na verdade, o acaso nada é ou não é mais do que o nome


dado por nós a um fenômeno cujas causas ignoramos ou um
fenômeno que tem suas causas reais, causas, porém, que nós
ignoramos; a ignorância, deixando-nos atônitos, leva-nos a fa-
lar de acaso. Assim, por exemplo, quando dlgo que wna onda
de calor e um vento forte ocorreram ao mesmo tempo. provo-
cando forle incêndio de floresta, sou tentado a dizer que o
fenômeno se produziu cpor acaso»; na verdade, porém. o calor.
a seca e o sopro do vento têm causas muito bem definidas
entre os Catores atmosféricos e metereolõgicos; todavia. já que
as ignoro nem tenho meios de as sondar, renuncio a qualquer
explicação e digo que tal fato se deu cpor acaso»; um estu-
dioso dos fenõmenos cUmaterleos me explicaria por que a onda
de vcnlo soprou exatamente no periado da seca . . .
A filosofia ensina que toda ação tem sua razão suficientej
ela pede uma causalidade definida que f32 seja daI acão» e
não dai outra;. ação. Nada acontece sem explicação adequada.
Por conseguinte, para isentar Deus da responsab1lldade do
mal, não diremos que este pertence a uma esfera na qual Deus
não tem penetração ou à esfera do acaso. Ademais é filosofi-
camente impossivel admitir um setor · de criaturas sobre o
qual Deus não tenha dominio: o domínio que eompete ao Cria-
dor e que é Inseparãvel de uma sâbia ação providencial. OU
Deus é Deus e é o Criador, o senhor de todas as criaturas
(cada qual segundo o seu tipo próprio), ou, se existe um
cAcaso» sobre o qual Deus não tem poder nem ingerência, já
não é Deus. A onipotência de Deus. porém, não obedece a
planos de dimc05ÔeS humanas, mas a planos de sabedoria e
amor que ultrapassam as categorias meramente humanas.
como se dirá adiante.
Não há, pois, criatura alguma que não esteja, direta ou
indiretamente, subordinada 'à Onipotência de Deus.
Mas como Lhe estão as criaturas subordinadas?

2 .2 . Deus * o curso das criaJUrCIS

Acontece que Deus, tendo dotado as criatunlS de natu-


reza e leis próprias, pennite que elas ajam de acordo com a
sua indole caracteristica: os irracionais. de maneira cega ou
instintiva j os racionais ou o homem, de maneira livre. Deus

- 351 -
&t "PERGUNTE E RESPONDEREMOS,. 281/ 1985

não quis fazer um mundo de cmarlonetes•• policiado artlfIcLal·


mente, de sorte que tudo ocorra segundo uma charmonla
preestabelecida:.. Ele preferiu deixar a espontanelda<le de ação
às criaturas, aniscando-se a tolerar males neste mundo (fiai.
cos e mOrais), certo de que destes males Ele tiraria bens ainda
maiores. Diz S. AgosUnho: cDeus julgou mais sábio tirar dos
males bens do que não permitir a existência de males» (Enqu1-
rídlo). Assim os homens vão desenvolvendo sua capacidade
artistica e criativa para o bem e para o mal, no mundo, sem
que o Criador necessariamente lhes cause embargo. Deus per-
mite a acão das criaturas, disposto a fazer que o próprio mal
sirva à causa do bem.

~ licito Indagar, porém: que bens pode ter Deus em vista


ao permitir o sofrimento?

2 .3 . Vlcfg p6s111ma

Quem procura uma justificativa ou uma explicação para


o sofrimento dentro dos limites desta vida terrestre, nio a
encontra. Muitas e muitas vezes n60 se vê por que uma criança
sofre ou por que uma mãe de família é vitima da morte, dei.
xando filhos pequenos.. . Em vão os filósofos materialistaS
têm·se esforcado por enquadrar o sofrimento dentro da sua
cosmovisão racional, embora seja posslvel verificar em vários
casos que o sofrimento redundou em bem da pessoa sofredora,
de acordo com o adágio dos antigos gregos: Patbos mathoil
(o sofrimento é escola ou enSinamento); o sofrimento, sem
dúvida, pode educar, engrandecer e nobilitar a pessoa que o
sabe receber com serenidade e amor a Deus.
Somente a certeza de uma vida póstuma é capaz de nos
fazer compreender que o mistério da dor tem sua plena eluci-
dação, .. . elucidação, porêm. no alêm, e não no aquêm. Pre--
cisamente a existência do sofrimento cabsurdo_ neste mundo
postula o além; vem mesmo a ser um dos mais fortes argu·
mentos em favor de outra vida, em que a justiça será plena·
mente Instaurada. Se não existe outra vida. o homem é um
clamor sem resposta em meio a um conjunto de criaturas que
se dJspõetn hannonlosamente (pois, na verdade, o cosmos
resulta do equllibrio e da harmonia de energias fistcas muJto
diversas) .

-352 -
eQUANOO COISAS RUINS ... ~ 8S

A sâ razão, portanto, e mais ainda, a fé cristã afirmam


que Deus reequilibra no além os avançoS do mal existente
neste mundo e faz que as criaturas paci~ntes e tenazes tenham
a justa paga das suas virtudes. Como isto precisamente se
dará, é algo que ao homem peregrino nesta vida não li pos.
slvel esclarecer: cO olho não viu. o ouvido não escutou, o
coração do homem nAo imaginou tudo o que Deus preparou
para aqueles que O amam" (teor 2,9). O inódito do modo da
recompensa não tira ao cristão a certeza do fato dessa rccom·
pensa ou compensação.
Ora é precisamente a incerteza. da vida póstuma <lue difi-
culta ao autor do livro de Jó c, conSI!(Jücntcrnentc, ao Dr. Ha·
fold Kushner a penetração do problema focalizado:
c Nada sabemos, nem eu nem qualquer outro pessoa , 10br. a
realidade delta e$peronço (de vida póstuma I ...
AI pessoas ... devem ficar alentos à possibilidado de que nouoI
vida. continuam de alguma formo depOis do morte, lalvcu: de uma
-forma de qUe o imaginaçõa terrena não pode concebor. Ao mllllr'110
tempo, como nÕo podemos ler certeza, é ocanlelh6vel encararmos
esle mundo com CI maior seriedade! poulvel, para o COlO de não elei,.
tir nenhum outro, buscando sentido e justiça aqui mesmo. (pp. 35.1-
A tradição judaica, da qua l o Rabino Kushner ê respel·
tivel herdeiro. resscntlu·se da cren<'R no chool, segundo a qual
os falecidos após a morte caem num estado de repltatm (ou
sombras), incapazes de consciência lúcida e, por conseguinte,
de recompensa ou outra sanção. Embora o judalsmo contem-
porâneo tenha evoluldo no tocante às mais antigas r.once~
do além, ainda lhe falta a certeza da qual depende .n explica-
ção do mal existente no aquém.
Ademais, o cristão sabe que o Filho de Deus feito homem
assumiu o sofrimento da humanidade, para transflguré·lo em
sua PAscoa, fazendo do patlbulo da ignominia a árvore da vida
e o preâmbulo da ressurreição. Todo homem que carregue a
sua cruz na seqüela de Jesus Cristo, em atitude de penitência
e expiação pelos seus pecados (e pelos do mundo), sem parti-
dpante da ressurreição e do triunfo de Jesus Cristo. Nenhum
c:absurdo~ deixará, um dia, de ser escIarcddo!
A propósito d.....mot citar I mlgt.trl' obftl d. Cherl•• Joumel:
..... Mal". ~cléa de Brouwer 1951.
Estêvão Betteneourt O. S. B.

-353 -
livros em estante
Ortgem d. Rellglilo, POl' Joio Evangellsla MarUns 'Terra S.J. - Ed.
Loyol., Caixa posl31 42335, Aua 1822, 04216 Silo Paulo tSP). 1985,
1<40 I( 210 mm , 130 pp.
Este lhlfo, em poucu p'glnas. sintetiza dlverstlls toorlas Oe es tu-
diosos • respe ito da origem da re llgllo , ti conelul aUrmando que •• 1.11 tem
M U l ... riO no próprio psiquismo hum.no:

• A pessoa humana 6 uma voeaçAo à divini zaçlo . .. comunhlo com


• Divindade. Na própria estrutura do seu ser Intelectual I pessoa humana
encontra • ausa da origem da idéia de Deus. Pois Ieda Intellgtncla é
cap.u de Deus ... Embora Imer.. na mll6rla, nlo se ancontr. s ubmarn
nela. Como esplrlto nAo se MDOI. no corpo, mas se evade par. Deus.
Comporta no leu proprlo ser um a ,eJaçl!o ver1leal a Deus, que o liberta
d. todo desenvolvimento puramente horizontal da espécie. t. o que dizia
Pio XII na 81ocuçlo lOS psicólooos congregados em Aoma em _bfl! de
1953: 'A, pesQuisa cienlUlea Ilral a alençAo sobre um dloaml$mo qua,
enrelzado nas profundezas do psiquismo, Impeliria o homem para o Infi-
nito que o s upera,... por uma gravltaç40 il3cendento &alda dlrelamenle
do lubsllato ontologlco . .. Traler·se-Ie de um dinamis mo . . . - uma força
Independante, a mols fundamental e mais ele mentar dll alm.a. um elo are·
tlvo que levl diretame nte ao Divino - .. . dinamismo que InterO$,a a lodos
0$ homen.s, todos os pcroIOS, lodlS as épocas e todas as cuJlulas . . . Isto
mostra que o .., I plrtlr de outrlm li também, até em SUIS raizes mal,
profundas, um • ., pa,. oulreM, li Que a palavra de $. Agostinho 'Tu nos
Illeete par. TI, e Inqulelo • o nosso COleçlo enquanto nã o repous. em TI'
enconlra uma nova conlirmeçlo nas profundezas do seI pslqulco' (MS XLIII,
1953, 2845) .
Esta dlsposlçlo nlo se clrcun$creve a determi nado, tipos de homens.
mlS lundaoSe na r1. tuleu humana enquanto tal. Contudo preciSa do ser
deallnvotvlda li cultivada por melo da educaçlo, podendo 111011ar-se Ii
esta latta, - (pp. 108sl.
Um livro que racord. 8$las .... rdades com fun<lamenlaçlo clenUncl,
se torna ImpollaO'\to nos dias atuais, em que o malerlali$mo "c;:ienUIlc;:o·
prlteO'\de a llmlar o eontr.rto.

oa HonMns li a MIM'tem do AnIIQo Testamento , por Pe ler F. EIIII.


Traduçlo da fl'vto Cayalca de Castro C . SS . R. - Ed. Sanluárlo, Rua Padre
Claro Monteiro nt 342, Aparec;:fda (SP1, CEp 12510, 1985, 157 li: 21 " mm,
52fi pp.
EI. uma .,.llosa Inttoduçlo lOS IISC rltos do Anllg') Teslamanlo , redl·
Glda .e9undo a. mel . fecenlel pesquba! clentlllcas e em IfdeUdade 1.
norma. do magistério da Igrela , O Pe. EIIIs, ,odentorbtB norte·l!merlc;:.no,
percorrI! I1vro por I/yro ..grado, apre.entlndo o eUlor e as clrc;:un,ltnc;:la.
de origem, • ••Im como a. carac;:lalr. Uc;:a. IU,rátle. , • mensagem doutrl·
Mlla rupec" YI. " fim de Oar 1 eua obre tembtlm um cunho pulor.I,
Pale, ElUa eCI8sc;:enlou·lhe a exegese da 75 .atmos, c;:uJo c;:onte(ldo lha
parece corresponder e.peclalml nte ao dll IIYfoS blbUc:os; c; leitor , ... Im
Iniciado nlo .penas fiO Upecto «:Ienl/lloo da Blblla, mas te.mb'm em au.

-354 -
LIVROS EM ESTANTE 87

tnf",all'fl'\ de fé e na oraçao qUe ela Inspira. Merecem referlneia outro,-


alm .. tabelas cronológicas que o aulor apresen18 e especialmente O gr',
Uco c:olorldo que, de maneira muitO' viva e dld.él lCil, aponla ali fonlll8 do
Penlal'uco diUrib uldas pelos verslculos do texto s.agrado tpp. 6l-67J.
O aulor ass im olerece-nos uma obnl que atende nio somenle Il semina.
ristes e IKtudanle$ de Teologia, como também ao clero e aos leigos dese.
Joso. de aprimorar sua lormaçlo. Ciência e piedade se coadunam no
mIamo Irabalho - o que bem corresPOnde .. Indole mesma da S. Elcr!.
lI"a, que' a Palavra de Deus In.plrada para a Vida dos homert3.

Malllmillllno Kolba, n' 16670, por alno lublçh. Traduçlo da 011'10


C.aca. - Ed. Cidade Neva, Rua Cel. Paullno Carlos, 29, 04006 Slo Paulo
(SP), 130 x 200 mm, 252 pp.

o Pe. Mulmi~ano Kolbe, franciscano convenlual polon", lornOU-H


lamoso por haver dado a vida ne campo de concentra;!ío de AUSIChwitz,
em 'a_ de um colega prisioneiro condenado * morte. Canonizado em
1982 apõs · ha..-er sofridO o m8llfrlo em 14/ 08/1944, o Pol. Kolbe lem slelo
apretentado por numerosos aulores, dos quais um dos mais 'a!lus , o
jornalista Glno lubk:h. Este propõe os dados blográlicos do herói e,
.speçtalmenle, " Iguns dos tr.ços mais car.clertstlcos do campo de COR-
cenlraçio. Os ülUmos tampos do Pa. Kolbe são dascrltos com minúcias
impressionantes, que Ilustram a têmpera forle do ~nto. A leltu r. da vida
da penDas aan,.s é sempre de glande utllid.de, pois é " Ioolog'a vivida";
moalra que o Evangelho nio é ulopia, mas atgo de 'ac live!. "Se estel,
aqueles e aquelas oulros o CDnseglJl,.m, diria S. "'g~linho, como " lo o
conaelluirel também eu1".

"Sempre houve necessidade da santos, e de \o)do tipo de s.nlo.;


I'IOJe, porém, Sê necesslt. dQ um tipo especial. Penso ~m 11, Padre Med·
mUl.no KoIbe, cuja figura exemplar encarne da Inaneira mais profunda a
r.vofuçlo conlr. o elfo do nosso 'tempo, no qual, d lzl. o leu pai Sio
Franclseo, o amor nio é mais . mado. Vejo-Ie mártir da nouo. dias, no
ç.mpo Oe concentraçlo" (Henrl Oanlel Rops , p. 2: do livro) .

YI.. , como Jesua vi.eu, por Pa. Zezinho e Ir. Adriana Suchello. - Ed.
P.uUna., Slo Paulo 1984, 140 x 21() mm, 340 pp.

Est, livro pretende .presontar a doulllna da fé ao' jovens o adultos


com base em "catequese Renov.da - Orlenlaçlo e Conteúdo" do S. Pa·
dra Joio Paulo ti. Infetlzmente, porém, nlo se pode dizer que atingiu a
au. llnalldade, pois, em vez da apresent.r uma vlslo objetiva e serana das
verdades do Credo, considera cada lem. ."evós do prisma d. quesito
aoçlal - o que por vezes desllgura o próprio conleúdo da mensallem da
f'. Por exemplo. logo o capitulo 1q (MOeus .. re .... I. ~) d a a entaneler que
.,. o . ulo XIX os meslr.. deturpar.m • kfela de Deus li do aeu ptano;
for.m OI pelJUdores 8111V1 (Marx li aua allCola) que levar.m OI crisllos •
de.cobrir o autêntico plano de Deus sobre o mundo • • hl,tór!a (d.
pp, 13--15). No capitulo 29 ("oeus vollado para o mundo") a noçAo de
orl.~1o , desenvolvida imprecisa e 1fII9Imenle. O capitulo 3'1 ("O homem
racuu o proJato de Deus·) reduz o pec.do orll1!nal • um pecado qualquer,
que ler' desencade.do os demais pecado!! no mundo, de modo Que hoje
nasçamos num mundo Imal$O no pecado e 10m os, por 1110, propenaos •

-355 -
88 _PERGUNTE E RESPONDEREMOS:. 28111985

peçar; nada a' ao diz sobre a justiça originei, a pecado do Babema dos
prime,",s pais e ai lUas conseqüloclas (perda dos dons orig ina'" para
os descendentes.

Em luma, o livro é pobre em doulrlne propriamente ctna; multo mais


Interessados estio OI aulores em suscitar a pr.IlIiII c rl l ,1 ou apresenlar •
Iillca cristã. A bela manu gem da 16 é assIm dapauperada ; I\a verdade,
para luscMa, aul6nUce consci6ncla morat n(tl crial'os, oadl h4 ® ma"
aUc81 do que apresentar li grandeza e a profundidade d os arllgo. da 16.
E.I .

• • •
AMIGO, TODO CRISTÃO PRECISA DE CONHECER ME·
LHOR A SUA Fé A FIM DE A VIVER E TESTEMUNHAR COM
MAIS PUJANÇA. APROVEITE AS OPORTUNIDADES QUE LHE
OFERECE A ESCOLA ·'MATER ECCLESIAE": CURSO DE INI-
CIAÇAO TEOL6GICA E CURSO BIBLlCO POR CORRESPON·
DêNCIA. INFORMAÇOES PODEM SER SOLICITADAS AO EN-
DEREÇO: CURSOS POR CORRESPONDtNCIA, RUA BENJAMIN
CONSTANT, 23, 39 ANDAR, CAIXA POSTAL 1362, 20241 RIO
DE JANEIRO (RJ). AS INSCRIÇDES PODEM SER FEITAS EM
QUALQUER éPOCA DO ANO. A DURAÇAO DE CAOA CURSO
ESTÁ A CRIT~RIO DO CURSISTA.

•••
A FILOSOFIA ~ O CAMPO EM QUE TODOS OS HOMENS
SE ENCONTRAM DA MANEIRA MAIS NOBRE POSSIVEL, POIS
t O DIÁLOGO DA INTELIGêNCIA.
NO RIO DE JANEIRO (RJ), DE 301V1I A 5/VII1/11185, REA·
LlZAR·SE·" O 16. COLDQUIO INTERNACIONAL DE FILOSO-
FIA SOBRE O TEMA "A ANAUSE SOCIAL NA PERSPECTIVA
FILOSORCO-CRISTA", ORGANIZADO PELO CONJUNTO DE
PESQUISA ALOSOACA (CONPEFIL) E PELA ASSOCIAÇAO
CAT6UCA INTERAMERICANA DE FILOSOFIA (ACIF), SOB O
PATROCINIO DA PONTIFICIA UNIVERSIDADE CATDLlCA DO
RIO OE JANEIRO (PUC/RJ). INSCRIÇDES E INFORMAÇDES
PODEM SER SOLICITADAS AO CONPEFlL, RUA MARQUES
DE SAO VICENTE, 293, 22451 RIO DE JANEIRO (RJ) OU PELO
TELEFONE (021)274-4596. DIRIGIR-SE AO PE. STANISLAVS
LADUS.l.NS S .J. OU AO SEU SECRETARIO.

- 356-
EDIÇOES "LUMEN CHRISTI"
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RLta Dom Gerardo 40, - 59 andar - Sala 501
Caixa Poslal 2666 - Te!. : (021) 291 .7122
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ASSINATURA DE 1985
de março a dezembro: Cr$ 20.000
(esgotado o nC?21B: de jan.-fev.1
Número avul$O •.. . • . • .. • • . • ••••• • •• , . , ....•. Cr$ 4.000
Anos anteriores a 1985:
Número mensal .. . .•.•.•..• •• • •.. • . ...•• . .... Cr$ 1.500
Número bimestral . . . ... . . . . . . .•.. . . • . . ... .. , . Cr$ 3.000
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De 1978.1982 (impresso). .. .... . . • ... • . • ... •• Cr$ 3.000

RITUAIS
Meus 15 anos (14~ed.1 Ritual e texto para a Missa .. . Cr$ 900
Bodas de prata e de ouro (11~ed . ) : Ritual e texto .... Cr$ 900
(capa prateada ou dourada)
liturgia da Missa (24~ed.) :telebração da Eucaristia com o Povo)
em preto-vermelho. letras bem legfveis, contendo as 5 Oraçl5es
Eucarlsticas, 3 para Missas da Crianças e 2 sobre à Reconciliaçio)
. . . . . " , . . ... . . " .. .. . . .. . . , . . . . , . . ", ., .. Cr$ 1,400
Rltos de Comunhlo para Ministros da Comunhão F.ucarlsÜca

(MECEI. 6~ed.: Normas,Ritos,Leituras ...... . . . . . . Cr$ 1.400
Rito do Batismo (contendo bl'9Ve instrução para Pais e Padrinhos
e várias fórmulas sacramentais) . ........... . . . ... Cr$ 700
Rito de Matrimônio (sem Missal • . . .. , , . ", ........ Cr$ 700
Unçio dos Enfermos (Ritual de urgência), Un~o e Viãtico, con·
tendo breves textos para a Liturgia da Palavra) ... , . , Cr$ 1.100
A Missa em latim (para os fiéis) . . . . .. , . , .. , . ..... Cr$ 1.100
Mis.sa da Esperanç,a: para 79 e 309 dia.: 4 páginas letras bem
legíveis, em duas cores. Em preparação a 8~ed.
Atende-se pelo REEMBOLSO POSTAL (Valor m(nimo Cr$
10.000). Os preços poderio ser reajustados sem prévio aviso,
acrescidos das. despesas de remessa,
.~. NOV I DAD E

J. Ratzinger I V. Messori

A FÉ EM CRISE?
o Cardeal Ratzinger se interroga
Uma entrevista in&dita

Poucas vezes a entrevista de um cardeal tem sido noticia na


imprensa mundial. corno a entrevista que o Cardeal Joseph Ralzin.
ger concedeu ao jornalista Vittorio Mes.sori. A entrevista realizou-se
de 15 a 18 de agosto de 1984. em Bressano (Brixen). e foi transcri·
ta neste livro.

Um livro que tem sU5cHado grande expe<:tativa e que em todos


os pa(ses converte-se no centro do debate teológico:
. 1152 p.r formato t'b21 em}, C~$-45.000

Publicldo pel. EDITORA PEDAGÓGICA e UNIVERSITÁRIA Ltda.


Praça D. JOAl Gl$par. 106 - ~ sblj. n~ 15 - 01047 - Slo Paulo _ SP
Eqcontrado nas EdiQ5es "Lumen Chrfnl" IMosuifO d~ S. B.ento. ClJXI
Postal 2666 - 20001 ... Rio de Janeiro - AJ)

RESSURGE O INTERESSE PELA VIDA MONASTICA. graças


à leitura dos primitivos Mestres da Vida 81piritual.
Algumas publicações recentemente divulgadas:

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