Dajusticaemnomedelrey
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Dajusticaemnomedelrey
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Ruy Garcia Marques
Vice-reitora
Maria Georgina Muniz Washington
EDITORA DA UNIVERSIDADE DO
ESTADO DO RIO DE JANEIRO
Conselho Editorial
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Glaucio Marafon
Italo Moriconi (presidente)
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Ivo Barbieri (membro honorário)
Lucia Bastos (membro honorário)
Claudia Cristina Azeredo Atallah
Rio de Janeiro
2016
Copyright 2016, Claudia Cristina Azeredo Atallah.
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CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/NPROTEC
ISBN 978-85-7511-383-7
CDU 981”17”
Imagem de capa: “Pelourinho em Ferreira de Aves”. Disponível em:
<http://retratoserecantos.pt/freguesia.php?id=1835#>
Para João Pedro,
luz da minha vida.
Para mamãe,
obrigada por tudo.
Agradecimentos
Prefácio......................................................................................................................................11
Introdução................................................................................................................................15
Conclusão.............................................................................................................................. 249
Fontes e referências............................................................................................................. 255
Este livro consiste num estudo das relações políticas típicas do Antigo
Regime português (1720-1777) pela ótica da atuação dos ouvidores na co-
marca do Rio das Velhas, capitania de Minas Gerais. Procuramos compreen-
der tais relações com base em uma razão política corporativa e jurisdicional,
contemplando a atuação desses homens nomeados pelo Desembargo do Paço
para assumir o cargo de ouvidor-geral na região mineradora e considerando
essa instituição como representante máxima da razão política típica do An-
tigo Regime português, que, segundo o historiador José Subtil, “cumpria a
função mais nobre do príncipe” (2005a, p. 255).
Analisando as práticas políticas cotidianas nas Minas Gerais e os confli-
tos entre os representantes do centro administrativo, foi-nos possível identifi-
car traços que relacionam a administração das minas com a razão maior que
regia todo o Império português. Nesse ambiente, os oficiais régios exerciam
seus espaços de poder, que muitas vezes se confundiam, demarcando de for-
ma híbrida as fronteiras jurisdicionais que os separavam, como acontecia em
todas as regiões coloniais.
Isso reflete bem toda a razão política que caracterizava o Antigo Regi-
me em Portugal.1 A ligação entre o centro e as diversas periferias políticas,
em todo o Império, era deveras marcada por relações clientelares que susten-
tavam o tom das práticas políticas, tangenciadas pela tradição corporativa e
1
Tais relações eram fruto de um pacto político entre o soberano e o povo, que “impunha limites
à atuação dos monarcas, que buscavam o constante beneplácito dos governados ao se apresen-
tarem como reis magnânimos e misericordiosos, o que acabou por conferir à coroa portuguesa
sensação de fragilidade, revelando os limites de mesmo poder” (Furtado, 2009a, p. 121).
16 Da justiça em nome d’El Rey
2
Falamos de centros e periferias com base na discussão proposta por Shils (1992).
Introdução 17
por bem ou à força: tudo mais não tinha importância” (p. 177). Trata-se de
uma interpretação extremamente dependente das relações dicotômicas entre
colônia e metrópole. Tudo o que foge desse viés analítico se apresenta como
disforme para o universo social e político-administrativo da época.3
Nossa abordagem seguirá por outro caminho. Com bases em uma
renovada historiografia, que propõe estudar as características do Antigo Re-
gime português em seu contexto imperial e que vem influenciando inúmeros
trabalhos acadêmicos, julgamos ser possível inserir a região das Minas Gerais,
em especial a comarca de Sabará, numa conjuntura maior, qual seja, o estudo
das relações de interdependência que uniam o rei a seus vassalos e os próprios
vassalos entre si.4 Entendemos que o tom de rebeldia e de contradição, muitas
vezes levantado pela historiografia, torna-se mais compreensível se analisado
como reflexo das práticas políticas cotidianas que alimentavam as relações
clientelares e a busca pela cidadania nesse universo.
Propomos uma análise da política administrativa na capitania de Mi-
nas Gerais como uma abordagem de estudo do Antigo Regime nos Trópicos,
pela ótica da ação da justiça. Assim, conceitos como monarquia pluricon-
tinental, economia do bem comum, economia moral de privilégios, redes
clientelares e políticas, que serão discutidos nos próximos capítulos, ficam
muito a dever às pesquisas que os historiadores do grupo de pesquisa Antigo
Regime nos Trópicos vêm desenvolvendo.
A época que corresponde ao Antigo Regime em Portugal assumiu con-
tornos complexos para os olhares contemporâneos, ainda mais se tratando
do século XVIII. Nesse ambiente, a justiça assumiu um papel preponderan-
te. Os homens formados pela Universidade de Coimbra e nomeados pelo
Desembargo do Paço representavam o cerne da administração monárquica.
A ordem social instituída deveria ser vigiada pela justiça, que tinha impor-
tância nuclear para a organização sociopolítica de então, impregnada que
estava da filosofia neotomista aquiniana, para a qual o monarca representava
o mais célebre executor da justiça e da manutenção da harmonia jurídica. O
3
Tal tradição historiográfica agrega várias gerações de historiadores, responsáveis por grandes
obras sobre a história do Brasil colonial, como Souza (1985) e Novais (1995).
4
Acreditamos que as estratégias utilizadas pela Coroa para cooptar os súditos por todo o Império
atendia à mesma dinâmica governativa do Reino. A garantia legítima dos espaços de poder dos
oficiais régios e das câmaras ultramarinas, bem como a política de concessão de mercês pelos
serviços prestados, faziam parte de uma razão maior, que caracterizava a sociedade e a política
de Antigo Regime europeu e foi transferida para as colônias tropicais.
Introdução 19
ato de governar confundia-se muitas vezes com o ato de julgar, em razão das
implicações que proporcionavam o enraizamento da cultura jurisdicional e
corporativa. Assim, os oficiais da justiça tinham, por legitimidade, influência
sobre o sentido que adquiriam as ações do monarca, exercendo uma força de
ordenamento sobre a razão política do Reino.
Os ouvidores nomeados para ocuparem cargos no além-mar partiam
para as distantes paragens coloniais como legítimos representantes da Coroa
e, imbuídos do poder concedido pelos estatutos e pela monarquia, repre-
sentavam o centro nas diversas periferias em que se desdobrava o complexo
mosaico que era a administração colonial. Fronteiras tênues demarcavam
as jurisdições e as práticas cotidianas desses homens no exercício de seus
cargos. Tais práticas se desdobravam em conflitos por espaços de poder,
conflitos esses frutos de uma razão política corporativa e jurisdicional que
regia todo o Império e que identificava esses homens como legítimos repre-
sentantes da monarquia.
Na região das Minas não foi diferente. Com bases em nossa investi-
gação, foi possível identificar, nas práticas cotidianas que pautavam as ações
dos oficiais régios, as marcas da tradição de Antigo Regime. À centralização
imposta pela monarquia tão defendida pela supracitada historiografia sobre
Minas colonial, opunham-se, para nós e segundo a documentação consulta-
da, os diversos espaços de poder que possibilitavam o governo a distância e
garantiam o domínio português por todo o Império. Redes clientelares que
se desdobravam, sustentando esses homens em seus cargos, também ali se
desenhavam. A região das Minas coloniais estava inserida num contexto que
englobava toda a dinâmica corporativa e jurisdicional da política do Antigo
Regime em Portugal, e a atuação dos homens da justiça nos exercícios de
seus cargos apontava para essa direção. As fronteiras jurisdicionais, tão efe-
meramente demarcadas, colaboravam para que o cumprimento das leis fosse
interpretado de forma subjetiva e, com base nisso, o próprio descumprir des-
sas mesmas leis também se tornava fruto de dúvidas e de consultas ao centro
referencial de poder, a monarquia.
Contudo, se, ao contrário, considerarmos que tenha existido um pa-
radigma de governação imposto pelo Reino à suas partes coloniais, cairemos
numa discussão improfícua, haja vista as inúmeras formas que a Coroa neces-
sitou coadunar para garantir o domínio. Nas Minas, a cooptação dos vassalos
em prol do povoamento dos sertões e da extração do ouro, em que mercês e
20 Da justiça em nome d’El Rey
Essa dinâmica relacional era [...] o meio pelo qual poderes periféricos eram
instituídos e fortalecidos, ao mesmo tempo que vinculados a poderes centrais
que progressivamente iam se instituindo e se sobrepondo ao conjunto social
como um todo (Gouvêa, 2010, p. 166).
5
Utilizamos aqui a expressão “patrimônio simbólico” nos mesmos moldes que José Subtil: “A
construção dessa superioridade régia (culto da imagem) teve, evidentemente, consequências
no plano político, uma vez que criou novas dinâmicas de desenvolvimento e consolidação do
poder régio”. Todo esse aparato buscado durante o reinado de D. João V procurou “afirmar a
ordem social e política tendo como figura central o monarca”, confirmando a dinâmica de uma
sociedade de privilégios e da busca pela afirmação da centralidade régia (Subtil, 2007a, p. 21).
22 Da justiça em nome d’El Rey
6
A mais forte referência que temos acerca do tema é o universo historiográfico da Inconfidên-
cia Mineira. Particularidades interpretativas à parte, a maioria delas ressalta a importância do
movimento para as diretrizes de liberdade traçadas a partir do final do século XVIII. À guisa de
exemplo, podemos citar Jardim (1989), Novais (1995, cap. III) e Maxwell (2009). Para uma
síntese sobre essa historiografia, ver Jardim (1989).
Introdução 23
As Minas setecentistas e o
Antigo Regime: uma discussão
acerca do caráter do poder
Capítulo 1
O caráter do poder no Antigo
Regime português
São tantas as ocasiões e comodidades, que todos têm para manterem seus
filhos nos estudos, que os lavradores tiram seus filhos do arado e do serviço
necessário, assim para ele, como para o proveito comum, e os mandam a estu-
dar; e não há mecânico que queira ensinar a seu filho o seu ofício; desejando
cada um, por meio do filho clérigo, frade ou letrado vir a ser muito mais
honrado (apud Curto, 1993, p. 116).
Com que a mesma Universidade foi tão admirada na Europa até o ano de
1555, no qual os denominados jesuítas, depois de haverem arruinado os Es-
tudos Menores com a ocupação do Real Colégio das Artes em que toda a Pri-
meira Nobreza de Portugal recebia a mais útil e louvável educação, passaram
a destruir também sucessivamente os outros Ensinos Maiores com o mau fim,
hoje a todos manifesto de precipitarem os meus Reinos e vassalos deles nas
trevas da ignorância (marquês de Pombal apud Patrício, 2008, p. 117).
lho que foi encomendado a uma comissão de juristas presidida por Damião
de Aguiar. Atentando para a morosidade das práticas jurídicas em Portugal,
Vásquez sugerira a ampliação da jurisdição do juiz de fora e do corregedor
nas províncias, para evitar o envio de casos em demasia para Lisboa.
Antes de chegar ao Desembargo do Paço, os recursos eram julgados
por três tribunais: a Casa do Cível, em Lisboa; a Relação da Índia, em Goa;
e, numa instância superior, a Casa de Suplicação. Em 1582, Filipe II tratou
de extinguir a primeira, criando, para substituí-la, a Relação do Porto. Ainda
existia a Mesa de Consciência e Ordens, com jurisdição para assuntos relati-
vos à Igreja, e três tribunais do Santo Ofício, sediados em Coimbra, Évora e
Lisboa. Esses, ligados diretamente à Igreja e a Roma, eram quase desvincula-
dos do poder real e agiam em nome da fé.
Em carta régia de 1607 foram estabelecidas algumas pendências relativas
às jurisdições entre o Desembargo do Paço e a Casa de Suplicação. Em outubro
de 1641 as atribuições do Desembargo do Paço foram dilatadas, “ao ser-lhe
conferida capacidade para despachar autonomamente (por ‘provisão’) licenças,
suplementos de idade, petições de perdão e revistas” (Subtil, 1993, p. 243).
A partir do século XVII, a área de administração da Coroa estava ca-
racterizada por essa organização polissinodal. A jurisdição do Desembargo
do Paço abrangia a função mais nobre do monarca: o fazer justiça, conforme
previa a teoria corporativa do neotomismo. Nas mãos do rei estava a função
de garantir o equilíbrio social tutelado pelo direito para a manutenção da paz.
A justiça configurava, desse modo, a arte de governar.
Reforçando a relação visceral com a Universidade de Coimbra, esta
representava o primeiro passo para se ingressar na carreira pública pelo De-
sembargo. A própria universidade remetia ao tribunal as relações dos forma-
dos, bem como as “Informações Gerais”, listas com avaliações detalhadas
de cada bacharel formado. O Desembargo do Paço selecionava os melhores
acadêmicos, que seriam avaliados no exame capital: a leitura de bacharel.
Tal exame consistia numa investigação detalhada da trajetória de vida do
habilitando, ao mesmo tempo em que traçava o perfil dos funcionários que
iriam servir à Coroa. Para isso, era aberto um processo, que geralmente caía
nas mãos do corregedor da comarca de onde o habilitando era natural. O
processo arrolava em média sete testemunhas, que davam informações acerca
de sua vida. Transparecia a importância de questões como limpeza de sangue,
honra e fidelidade. As perguntas versavam a respeito da ascendência familiar
40 Da justiça em nome d’El Rey
para não serem neles admitidos a ler aqueles sujeitos que não primeiro bacha-
réis formados pela Universidade de Coimbra, depois de cursarem oito anos
nas Leis ou Cânones e mostrarem como, de mais de oito anos, residiram nela
dois, ou estiveram de exercício e assistências nas audiências públicas (Decreto
19 jun. 1649 apud Silva, 2005a, p. 169).
A esse artigo respondemos que nossa vontade foi sempre [...] de não ir contra
seus foros e aquilo que em esta razão fizemos foi por que o houvemos por nos-
so serviço em prol da nossa terra, pero querendo fazer mercê ao nosso povo
mandamos que em cada um ano elejam juízes [...] de seu foro aqueles que
entenderem que aguardarão o nosso serviço em prol da nossa terra segundo
As Minas setecentistas e o Antigo Regime: uma discussão acerca do caráter do poder 45
é seu foro e seu costume e façam direito e justiça de guisa que não achamos
razão de tornar a ello pera lhes ser estranhado (Cortes D’Elvas, 1361 apud
Nogueira, 1856, p. 42).
Não podem os corregedores conhecer nenhum caso por ação nova nos luga-
res onde houver juiz de fora, se não dos que por bem da ordenação podem
conhecer. Mais onde os tais juízes não houver, poderão conhecer por ação
nova de todas as coisas de que os juízes ordinários podem conhecer. E dos tais
feitos não pagará dízima, nem outro direito. E as partes poderão escolher o
Corregedor ou Juízes ordinários (Figueiredo, 1790, p. 50).
Havendo respeito que nas outras cidades e vilas e lugares de suas correições
onde não houver juízes de fora se seguiria mais opressão as partes de os cor-
regedores não conhecerem das ações novas pelos juízes não serem letrados
e serem naturais da terra e não poderem com tanta brevidade nem tão li-
vremente fazer justiça nem o direito das partes lhe será também guardado
(idem, p. 197).
46 Da justiça em nome d’El Rey
E o dito Corregedor não conhecerá por ação nova, nem avocará feito algum
crime, nem cível, salvo os feitos e causas dos Juízes, Alcaides, Procuradores,
Tabeliães, Fidalgos, Abades e Priores, nos casos de que a jurisdição diretamen-
te pertence a Nós [...]. E bem assim de outras quaisquer pessoas poderosas, de
que lhe parecer que os Juízes das terras forem suspeitos; porque de todos estes
sobredito poderá conhecer, enquanto estiver no lugar, assim por ação nova,
como avocando-os, se lhe parecer necessário, posto que os Juízes da terra digam
que farão deles justiça, quer sejam autores, quer réus, o que se entenderá, posto
que nos tais lugares haja Juízes de fora (p. 106, grifo nosso).
E como o Corregedor [ou ouvidor, ou juiz de fora] for saído do lugar e os pre-
gões lançados, o Desembargador perguntará por juramento os Oficiais da Cor-
reição, e os Juízes e Oficiais, que serviram no seu tempo, e Tabeliães e alguns
homens mais principais, que tenham razão de o saber, se tem o Corregedor
48 Da justiça em nome d’El Rey
grande cuidado em que os tais Ministros que forem tirar residências aos
Ouvidores dessas Comarcas, não levem por esta comissão, interesse algum e
As Minas setecentistas e o Antigo Regime: uma discussão acerca do caráter do poder 49
constando-vos que algum abusa de sua obrigação e leva por este ato alguma
dádiva, informando da verdade, me dareis conta para eu mandar ter com ele
o procedimento condigno a sua culpa (RAPM, 1979, v. 30, p. 133).
***
1
São elas: Primeira parte: “Cultura e opulência do Brasil na lavra do açúcar. Engenho real mo-
ente e corrente, Livros I, II e III”; segunda parte: “Cultura e opulência do Brasil na lavra do
tabaco”; terceira parte: “Cultura e opulência do Brasil pelas minas do ouro”; e quarta parte:
“Cultura e opulência do Brasil pela abundância do gado e courama e outros contratos reais que
se arrematam nesta conquista”.
54 Da justiça em nome d’El Rey
recer sua simpatia pela cana. Mais ainda, traduzem reflexos do período em
que esteve na América portuguesa: o jesuíta começou a escrever sua obra “na
altura em que teve a oportunidade de passar uma temporada no engenho de
Sergipe do Conde”. Em sua opinião, esse era “um dos mais afamados [enge-
nhos] que há no Recôncavo à beira-mar da Bahia” (p. 43).
Segundo Antonil, a sociedade açucareira era, em tudo, modelo de pros-
peridade para o Reino e suas colônias. As peculiaridades da sociedade do An-
tigo Regime nas possessões já eram visíveis para ele. A autoridade atribuída
em sua obra à figura do senhor de engenho retrata a sua visão da sociedade
colonial: “bem se pode estimar no Brasil o ser senhor de engenho quanto
proporcionalmente se estimam os títulos entre fidalgos do Reino” (p. 79).
Já sobre a mineração, André Antonil não lançou um olhar tão otimista.
Assunto que constitui a terceira parte de seu tratado, sua preocupação foi jus-
tamente apontar os prejuízos que a descoberta das minas teria causado para o
Brasil. Segundo Andrée Mansuy Silva, o jesuíta nunca esteve nos sertões mi-
neiros. As informações contidas em seus escritos têm como fontes conversas
com pessoas que passaram por lá e envolveram-se com a administração das
minas. Para o capítulo XV, sobre as “notícias para se conhecerem as minas
de prata”, a autora propõe “que foram traduzidos do castelhano, como o evi-
denciam o estilo e vocabulário, cheios de hispanismos” (Silva apud Antonil,
2007, p. 40).
A questão relativa à existência de minas de prata nos sertões da Amé-
rica portuguesa é objeto de controvérsia. Para Antonil, não existia dúvidas
acerca disso:
Que haja também Minas de prata não se duvida, porque na serra das Co-
lunas, quarenta léguas além da vila de Outu, que é uma das de São Paulo
ao leste direito, há certamente muita prata, e fina. Na serra de Sabarabuçu,
também a há. Da serra de Guarumê defronte do Ceará, tiraram os holandeses
quantidade dela no tempo em que estavam de posse de Pernambuco. E na
serra de Itabaiana, há tradição que achou prata o avô do capitão Belchior da
Fonseca Dória. E em busca de outra foi além do rio de São Francisco Lopo de
Albuquerque, que faleceu nesta sua malograda empresa (p. 215).
muito maior lucro”. Para o jesuíta, seria necessário que a Coroa mantivesse
“sempre dinheiro pronto para comprar o ouro que os mineiros trazem e fol-
gam de o vender sem detença” (p. 231). Forneceria, desse modo, subsídios
para frear o descontrole do movimento humano e econômico daquela região
e, ainda, aumentar a arrecadação da metrópole.
A historiadora Júnia Furtado (2006) já nos mostrou a grande impor-
tância do comércio na sociedade mineira. O gosto pelo luxo e a ideia de
abundância que o ouro favorecia ajudou a incrementar a dinâmica mercantil
naquela região, até então inóspita. Desde o início, a Coroa se utilizou do
comércio para estender o poder ao distante sertão. Para tal, valia-se da mo-
vimentação de homens de negócio como forma de ocupação do interior. A
corrida pelo ouro proporcionou uma euforia que incentivou, ao menos no
início, o abandono do cultivo da terra. A ideia de que naquela região a terra
era infértil, associada a essa euforia, favoreceu o fortalecimento do comércio
para subsidiar a rápida urbanização que então se processava.
Tais aspectos foram abordados também por Silveira (1997). Com ba-
ses em reflexões de memorialistas mineiros, sua obra contempla a associação
entre a emergência do comércio e a desagregação da ordem colonial institu-
ída pela Coroa, num contexto que favoreceria a formação de uma sociedade
afetada e indistinta, que fugia dos moldes das sociedades do Antigo Regime
europeias, ao mesmo tempo que pretendia imitá-la.
Antonil também trata “da obrigação de pagar a El-Rei nosso senhor a
quinta parte do ouro que se tira das minas do Brasil”. Para nossa análise, essa
é a parte que merece maior atenção. O jesuíta apresenta “dois modos” para
tratar o dever dos vassalos. A primeira forma estava vinculada “ao foro exter-
no” e explicitada nas “Leis e Ordenações do Reino”; a segunda, inscrita na
consciência humana, constituía em obrigação para todos os súditos e vassalos
(p. 243). Portanto, a obrigação de prestar contas ao monarca já estava previs-
ta no estado de natureza do homem e a ultrapassava, figurando também no
ambiente das leis positivas.
Com um olhar mais atento, identificamos aí traços da filosofia neoes-
colástica. Ao propor uma discussão acerca do conceito de sociedade política,
os neotomistas conceberam um universo pautado numa hierarquia de leis. A
dinâmica dessa sociedade política era regida, em primeiro lugar, pela vontade
divina, seguida pela lei da natureza e depois pelas leis humanas e positivas,
estas arquitetadas por cada “república”. Estas últimas seriam um reflexo das
As Minas setecentistas e o Antigo Regime: uma discussão acerca do caráter do poder 57
leis naturais e, mais intimamente, de “uma lei superior que todo homem já
conhece em sua consciência” (p. 238).
Antonil cita uma série de juristas e teólogos que poderiam corroborar
a sua tese, entre eles o padre Molina, filósofo neotomista, jesuíta espanhol
e professor da Universidade de Évora: “foi com base nas aulas que ali
ministrou entre os anos de 1577 e 1582 que Molina compilou seus Seis
livros sobre a justiça e a lei, editados pela primeira vez entre 1593 e 1600”
(Skinner, 1996, p. 416).
Em última instância, a consciência do dever do pagamento dos quintos
reais emanava, segundo nosso jesuíta, da lei divina inata ao ser humano e
estaria acima inclusive das leis positivas. Para afirmar isso, cita outro jesuíta
neotomista:
2
Suarez, espanhol, iniciou seus estudos em Salamanca e lecionou em Évora. É responsável, ao
lado de Molina, por algumas das discussões mais célebres acerca do poder na filosofia neoto-
mista seiscentista.
58 Da justiça em nome d’El Rey
Nesta Corte saiu proximamente um livro impresso nela com o nome su-
posto e com o título de Cultura e Opulência do Brazil, no qual entre outras
coisas que se referem pertencentes às fábricas e provimentos dos engenhos,
cultura dos canaviais e benefício dos tabacos, se expõem também muito des-
tintamente todos os caminhos que há para as minas de ouro descobertas e se
apontam outras que ou estão para descobrir ou por beneficiar. E como estas
particularidades e outras muitas de igual importância que se manifestam no
mesmo livro, convém muito que se não façam públicas nem possam chegar à
notícia das nações estranhas pelos graves prejuízos que disso podem resultar à
60 Da justiça em nome d’El Rey
fundição (p. 204). Dessa vez não era a simples condenação de um assassino
que perturbava a paz e o sossego público, mas poderosos locais que se levanta-
vam contra uma determinação régia. Interesses particulares, redes clientelares
muito bem articuladas, redes mercantis que se estendiam das Minas Gerais
até o Reino, estratégias para o extravio do ouro: características comuns ao
universo político da época, agora associadas à instabilidade socioeconômica
que o ouro inspirava, desafiavam o governador. Toda a contradição que as
minas poderiam sugerir aos seus contemporâneos veio à tona, cabendo ao
governador manter a ordem, tão almejada pela Coroa.
A inoportuna repressão de Assumar ao movimento, condenando suma-
riamente à morte Felipe dos Santos, homem branco e livre, sem recorrer a uma
Junta de Justiça (como havia feito antes), renderia, em longo prazo, um período
de silêncio em sua carreira de serviços prestados. Em curto prazo, porém, o fez
autor do Discurso histórico e político sobre a sublevação que nas Minas houve no
ano de 1720. Apesar de o texto ser anônimo, os historiadores concordam em
atribuir sua autoria ao conde de Assumar. Campos afirma que “a menção ao
fim de seu governo indica que ao menos parte do Discurso histórico foi escrita
depois de o conde de Assumar retornar a Lisboa” (2002, p. 238).
Texto muito bem elaborado, deixa transparecer uma grande erudição e
oferece uma ideia peculiar do que seria um dos modos de governar nas pos-
sessões coloniais. Na tentativa de justificar a sua intempestiva atitude, traça
um retrato negativo daquela sociedade. Seu discurso traz, assim como o de
Antonil, a ideia de desgraça provocada pelo ouro, que havia transformado
aquela sociedade em uma terra decaída e condenada por Deus:
Tantas mudanças, como destas transformações se admiram cada dia nas Mi-
nas. E se os homens assim andam trocados, não é possível que deixe de andar
nelas tudo às avessas, e fora de seu lugar. [...] Se Sua Majestade quer que as
suas Minas não andem sempre tão confusas, tão perturbadas, faça que nelas
se restituam os mineiros a seu lugar, mande que quantos se acham hoje in-
troduzidos, ainda que bem à sua custa nesta república, vá cada um tratar de
seu ofício (p. 65).
Sobre a sentença sumária que foi lançada sobre Felipe dos Santos, o
autor explica que foi intentado “mais para terror que para castigo”. E justi-
fica o ato: “porque os homens de natureza dos destas Minas, que ordinaria-
mente são bárbaros e insolentes, mais temem [...] as circunstâncias e gênero
de morte que a mesma morte”. O mesmo horror inspirado pela pena havia
colaborado na dispersão dos outros envolvidos: “os mais que se achavam cul-
pados, uns ocultar nos confins do governo; outros não se dando, nem aí, por
seguros, se puseram mais ao largo, indo ter e parar no coração dos sertões da
Bahia e Pernambuco” (Discurso histórico, 1994, p. 166).
A repressão pura e simples ao levante havia sido substituída pela sen-
tença exemplar a um réu. O fato de alguns outros fugirem para os sertões
não parecia importar para o autor do documento. O castigo ainda soava,
em alguns momentos da escrita, como estratégia para tornar um pouco mais
eficientes as leis do Reino:
Porque justo era que onde a maldade crescia tanto, algum rigor se acrescen-
tasse às leis [...] e que a maldade tão grande se desse também grande castigo,
principalmente quando nessa chaga já não podia obrar mais remédio que o
ferro e o cautério. Este exemplo, que em outra parte escassamente fora amea-
ço e sombra de justiça, nas Minas, onde as sedições eram naturais e o castigo
estranho, pareceu excesso de rigor e resolução muito sumária (p. 167).
Mas se por todos estes títulos e razões que temos ponderado, disse até aqui
que lhe era ao conde lícito, não sendo possível convocar os ouvidores, pro-
ceder naquela forma ao castigo, agora, digo, [...] não deviam ser ouvidos os
ministros, porque só a ele como lugar-tenente de El-Rei incumbia, no caso
presente, a determinação da pena (Discurso histórico, 1994, p. 69).
Pode ser que algum as conteste pelo que tem lido nos escritores da História
da América, mas esses não tiveram tanto à mão as concludentes provas de que
eu me sirvo; não se familiarizaram tanto com os mesmos que intervieram em
algumas das ações e casos acontecidos neste País; e ultimamente não nasceram
nele, nem o comunicaram por tantos anos como eu (1996, p. 359).
de serem reputados por uns homens sem sujeição ao seu Soberano, faltos do
conhecimento e do respeito que devem às suas leis, são os que nesta América
têm dado ao Mundo as maiores provas de obediência, fidelidade e zelo pelo
seu Rei, pela sua Pátria e pelo seu Reino (Costa, 1996, p. 360).
70 Da justiça em nome d’El Rey
Estes procedimentos lhe adquiriram o nome de tirano nas Minas, mas à sua
constância e resolução deve Portugal a inteira sujeição da Capitania; o exem-
plar castigo acabou de aterrar os ânimos de um povo tantas vezes rebelde e
segurou de uma vez a Real Autoridade (Costa, 1996, p. 372).
Entre esses textos congêneres citados por Caio Boschi, fazemos referên-
cia, pela importância, à obra do governador D. Rodrigo José de Meneses, que
elaborou uma “Exposição [...] sobre o estado de decadência da capitania de
Minas Gerais e meios de remediá-lo” (RAPM, ano 2, v. 2, 1897). Instruído a
buscar meios para aumentar a arrecadação do quinto real, o governador tece
uma exposição das causas que levaram a tal situação e sugere medidas ad-
ministrativas para a recuperação econômica. Pelo seu testemunho, podemos
notar que os conflitos de jurisdição lhe chamavam a atenção.
Parece-nos que o ouvidor percebia o quanto as fronteiras entre os poderes
eram indefinidas e colaboravam para tais conflitos. A ausência ou a ineficácia
de regimentos que pudessem seccionar de forma eficiente os lugares de exercí-
cios do poder foi registrada por ele. No universo letrado de um desembargador,
a falta de conhecimento das leis que regiam a política da Coroa constituía-se em
erro grave e levava alguns oficiais régios a “uma autoridade sem limites, estabe-
lecendo novas práticas sempre arbitrárias” (Coelho, 2007, p. 201).
No capítulo 7 de sua Instrução são feitas algumas reflexões sobre o
estado político da capitania, enfatizando o emaranhado de jurisdições que
caracterizava a governança das Minas. São apontados ainda alguns erros em
que incorreram os governadores da capitania no passado: fala dos excessos
administrativos do conde de Assumar e de D. Lourenço de Almeida e que
***
posto por nós em alguma Cidade ou Vila, quando estiver no lugar de sua
Ouvidoria, conhecerá de todo o que conheceria o Corregedor da Comarca e
usará de todo o que o Corregedor por seu Regimento [...] pode usar, e terá a
alçada que tem no lugar de seu Julgado (p. 112).
sobre os Juízes Ordinários, Juízes dos Órfãos, Juízes das Sizas, Escrivães delas,
Procuradores, Meirinhos, Alcaides, Tabeliães, Coudeis, e quaisquer outros
Oficiais de Justiça e dos Concelhos dos lugares de suas correições, por onde
andarem (Código filipino, 2004, p. 108).
Eu, El-Rey, faço saber aos que este alvará virem que, por ser informado que o
cargo de Ouvidor Geral das partes da Índia, que até agora conhece dos feitos
crimes e cíveis é de tanta obrigação e negócio, que não pode ser bem servido
por uma só pessoa, e para melhor administração da justiça e expediente das
partes, ei por bem e me praz que o dito cargo se divida e haja nele, daqui em
diante, dois ouvidores gerais, um que conheça dos feitos crimes e outro dos
cíveis (apud Rivara, 1866, p. 1.091).
A dinâmica imperial e a comarca do Rio das Velhas no governo de D. João V 85
por que importa muito a boa administração da justiça que os Ouvidores te-
nham a autoridade que convém aos cargos de que lhes faço mercê, e de serem
sujeitos aos Capitães nasciam muitos inconvenientes, e eram oprimidos de ma-
neira que não podiam cumprir com sua obrigação com inteireza e liberdade que
convém ao serviço de Deus e ao meu, querendo nisto prover, ei por bem e man-
do que os ditos capitães não tenham nenhuma jurisdição nem superioridade
sobre os ditos Ouvidores, nem se intrometam em coisa alguma do que a seus
[em]cargos pertence (p. 1.114, grifo nosso).
dos “direitos, foros, tributos e cousas, que se na dita terra hão-de pagar” ao
Reino (Carta de doação a Martim Afonso de Sousa apud Leme, 2004a, p. 109).
Esses homens recebiam do monarca um espaço jurisdicional bastante
alargado, com o direito de exercê-lo nas esferas cível e do crime, tendo o po-
der de nomear o ouvidor e os outros oficiais. Esses poderes alargados estavam
expressos na carta de doação do monarca a Duarte Coelho:
Nos casos crimes, hei por bem que o dito capitão e governador e seu ouvidor
tenham jurisdição e alçada de morte natural, inclusive em escravos e gentios,
e assim mesmo em peões cristãos, homens livres, em todos os casos, assim
para absolver como para condenar, sem haver apelação nem agravo, e nas
pessoas de mor qualidade terão alçada de dez anos de degredo, e até cem cru-
zados de pena, sem apelação nem agravo e, porém, nos quatro casos seguintes,
s., heresia, quando o herético lhe for entregue pelo eclesiástico e traição e
sodomia e moeda falsa, terão alçada em toda pessoa de qualquer qualidade
que seja, para condenar os culpados à morte e dar suas sentenças a execução,
sem apelação nem agravo (Carta de Doação a Duarte Coelho, 1992, p. 340).
poderá por si e seu ouvidor estar à eleição dos juízes e oficiais, e alimpar e
apurar as pautas, e passar cartas de confirmação aos ditos juízes e oficiais,
os quais se chamarão pelo dito capitão e governador, e ele porá ouvidor que
poderá conhecer de ações novas a dez léguas d’onde estiver, e de apelações e
agravos; e conhecerá em toda a dita capitania e governança, e os ditos juízes
darão apelações para o dito seu ouvidor nas quantias que mandam minhas
ordenações; e do que o dito seu ouvidor julgar (Carta de Doação a Martim
Afonso de Sousa apud Leme, 2004a, p. 111).
Eu, o Rei, faço saber a vós Tomé de Sousa fidalgo de minha casa que
Vendo eu quanto serviço de Deus e meu é conservar e enobrecer as capitanias
e povoações das terras do Brasil e dar ordem e maneira com que melhor e
mais seguramente se possam ir povoando para exaltamento de nossa Santa
Fé e proveito de meus reinos e senhorios e dos naturais deles, ordenei ora de
mandar nas ditas terras fazer uma fortaleza e povoação grande forte em um
lugar conveniente para daí se dar favor e ajuda às outras povoações e se minis-
trar Justiça e prover nas coisas que cumprirem a meu serviço e aos negócios de
minha fazenda e a bem das partes (Regimento de Tomé de Sousa Lisboa, AHU,
códice 112, fls. 1-9).
Sentimos que o Ouvidor Geral não pode servir de Provedor Mor as razões são
estas que as ocupações que tem na Judicatura não lhe dão lugar a entender
cada dia nas cousas da Fazenda como é obrigado a entender nem pode ir a ela
como é necessário por essa ocupação que tem e por que também o sentido
que tem nas cousas da Judicatura lhe faz remoto das da fazenda (ABNRJ, v.
27, 1905, p. 240).
da fazenda desfeito e o contador atado que não pode dar fim a conta alguma
nem outro algum negócio” (idem). A despeito das reclamações, o ouvidor-
-geral Fernão da Silva veio a acumular os dois ofícios. Tal situação, segundo
a historiadora Maria Beatriz Nizza, estava associada à escassez de contingente
humano e também da formação necessária aos cargos judiciários (apud Ser-
rão e Marques, 1992, p. 365).
Schwartz afirma que, contrariando as diversas reclamações dos súditos,
o monarca “não se convenceu e os dois cargos [de provedor e ouvidor-mor]
permaneceram unidos pelo século XVII adentro”. À hierarquia judicial so-
mava-se a “burocracia administrativa”, de modo que a aplicação da justiça
ficava dispersa e as atividades dos ouvidores, muito mais “expandidas”. No
entanto, mais do que “má definição das alçadas, intencionalmente promo-
vida pela Coroa com o fim de evitar autonomia excessiva” ou ainda “falhas
acidentais do sistema administrativo”, tais características transpareciam o sis-
tema, e não suas “falhas acidentais” (1979, p. 31).
Nas palavras de Hespanha:
Devia ter mais alçada nesta capitania que há que tem os capitães e que passan-
do delas os feitos se despachassem por desembargo com o governador e juízes
ordinários e com o vereador mais velho desta cidade no qual Vossa Alteza
poderá acrescentar a alçada que lhe bem parecer / porque sendo cinco juízes
A dinâmica imperial e a comarca do Rio das Velhas no governo de D. João V 93
fica fora toda suspeita e suspeição e será menos trabalhos e custas aos homens
que mandarem ou forem com seus feitos ao Reino especialmente os que ficam
em prisão (idem).
somente alçada nos feitos crimes em que alguns escravos, ou gentios, forem
acusados [...] nos casos em que aos peães christãos livres pelo mesmo modo é
posto pena de açoutes e degredo até três anos – e nos casos de pessoas de mais
qualidade terão somente alçada até um ano de degredo fora da Capitania, e
nas penas pecuniárias até vinte cruzados. E em todos os outros casos [...] da-
rão os ditos Capitães e seus Ouvidores, apelação e agravo para Vós” (Colleção
Chronologica da Legislação Portugueza, p. 1.608).
Justificou que não pôde pôr em execução as ordens reais “por não ha-
ver quem a quisesse executar” e por insubordinação do referido ouvidor (que,
como se percebe, tinha o apoio do poder local) e solicitou ao Reino “alguma
providência” no sentido de evitar “as desordens que ordinariamente nascem
de semelhantes novidades” (idem). Dois anos depois, o Conselho Ultramari-
no emitiu uma advertência ao ouvidor:
refeições. Afirmava que para ele “estes postos não devem ter assento na pre-
sença do general”, mas que na época do governo do conde de Assumar tal
prática era comum (AHU/MG, cx. 5, doc. 88).
Caso parecido, porém muito mais complexo, foi o do provedor da
Fazenda Real Antônio Berquo Del Rio, que em 2 de maio de 1725 es-
creveu ao Reino solicitando esclarecimentos acerca de sua jurisdição. Re-
latou que “como não houvesse Regimento algum sobre o que tocava a
jurisdição de Provedor nem achasse neste país, esta ocupação estivesse
repartida pelos Ouvidores das comarcas”. Em sua carta não estão claros
os motivos que incitaram tais dúvidas, mas parece que eram “sobre minas
ou cousas tocantes a elas, sobre datas de sesmarias e águas [...] com cuja
jurisdição ficaram os ouvidores das Comarcas destas Minas” (AHU/MG,
cx. 6, doc. 39). Isso deixa transparecer os conflitos que surgiam entre
provedores e ouvidores, devido, principalmente, ao fato de que ambos
os cargos eram ocupados por homens formados em Leis, nomeados pelo
Desembargo do Paço.
Berquó Del Rio havia juntado uma série de regimentos e enviou-os
anexados à carta. Informou que mandara “a Bahia e mais partes desta Amé-
rica buscar os Regimentos dos Provedores da Fazenda Real e Ouvidores”, a
fim de poder definir quais seriam seus espaços de ação. Afirmou que os ouvi-
dores tomavam “conhecimento das apelações e agravos que se tira[vam] das
determinações dos guardas-mores sobre as contendas de minerar e assisti[am]
com estes a repartição das terras de ouro”. Citou também os regimentos dos
“Provedores da Fazenda Real” de “Castela nas Índias Ocidentais” e ainda
“Solorzano na sua Política Indiana e D. Gaspar de Escalona no seu Gazofhi-
lácio Perúbico”.3 Como homem letrado que era, fez uma profunda pesquisa
acerca dos regimentos, recorrendo a alguns juristas espanhóis do século XVII.
Citou também a Lei de 11 de fevereiro de 1719, que estabelecia as Casas de
Fundição, em que
3
Juan de Solorzano Pereira estudou jurisprudência em Salamanca e em 1609 foi nomeado juiz
da Audiência de Lima, posição que ocupou até 1627. Escreveu uma série de livros sobre as-
suntos jurídicos, sendo o mais importante Indianorum De jure disputatione (Madri, 1629).
Posteriormente adaptado e traduzido, recebeu o título de Política Indiana. Gaspar de Escalona
e Agüero nasceu em Lima em 1598. Estudou na Universidade de San Marcos e foi procurador-
-geral de Cuzco. Escreveu o Gazofilácio Real Del Peru, espécie de tratado político e financeiro
(Disponível em: www.library.nd. Edu/rarebooks).
A dinâmica imperial e a comarca do Rio das Velhas no governo de D. João V 99
V. Maj. foi servido ordenar que os ouvidores das Comarcas levem devassas
dos que descaminham ouro, não os levando as Reais Casas dos Quintos e
poderá entrar em dúvida se os livramentos dos culpados hão de ser perante os
mesmos ouvidores ou se os ditos culpados hão de ser remetidos ao Provedor
da Fazenda Real com as culpas para perante ele como lhe é próprio da Real
Fazenda corram os livramentos (idem, grifo nosso).
4
Ao cargo de vedor da Fazenda Real cabia à administração superior do Patrimônio Real da
Fazenda Pública. Esse cargo surgiu em 1370 e vinha substituir o de vedor da Portaria. A partir
do Regimento dos Vedores, de 1516, os vedores passaram a despachar na Mesa da Fazenda, que
ficava no Paço Real. Tal cargo findou-se em 1822, com a criação do Ministério da Fazenda.
100 Da justiça em nome d’El Rey
partir da década de 1670” (2002, p. 33). A base para tais afirmações consiste,
principalmente, nas “ferramentas e utensílios de minerar” arrolados por in-
ventários de paulistas da época (2003, p. 13).
Adriana Romeiro demonstra que às incertezas que subsidiaram a des-
coberta das minas somaram-se as indefinições acerca da jurisdição sobre elas.
Por não conhecer o que fora descoberto nos sertões da América, Portugal, no
início, demonstrou insegurança quanto ao desbravamento daquelas terras.
Os conflitos entre o governador-geral, D. João de Lencastro, e o governador
da Repartição Sul, Artur de Sá Meneses, foram notórios nesse sentido. De-
fensores de projetos diferentes, divergiam quanto à política a ser implantada e
quais meios deveriam ser cooptados. A despeito da “política de portas fecha-
das” defendida por Lencastro, que visava proteger a agricultura da cana-de-
-açúcar e do tabaco, o controle político-administrativo da região mineradora
foi concedido ao governador da Repartição Sul, atrelando as Minas àquela
jurisdição. Sá Meneses, por sua vez, acreditava que o incentivo irrestrito à en-
trada de forasteiros nos sertões do ouro “buscava promover o povoamento da
região mineradora e incrementar a exploração mineral”. Tal política alcançou
“uma acolhida imediata” em Portugal, salvo as incertezas que ainda perdura-
vam (Romeiro, 2008, p. 53). Artur de Sá, com sua política de povoamento,
foi responsável pela expansão no Rio das Velhas, onde o “sertão descortinava-
-se até a Itacambira”. O governador também “mandava exploradores com
ordem de plantarem cereais e legumes”, procurando meios de estabelecer “a
estabilidade dos arraiais” (Vasconcelos, 1948, v. 1, p. 224).
Com relação à rebeldia dos paulistas, tão citada nos documentos da
época e romantizada por alguns memorialistas, Sérgio Buarque de Holan-
da aponta indícios de que tais características soaram negativas a princípio,
porém isso foi aos poucos se alterando. Para ele “parece inegável” que os
registros da descoberta do ouro, verificados em lugares diferentes dos ser-
tões quase simultaneamente, eram devedores da larga experiência do paulista
bandeirante com aquelas terras. O aprisionamento do gentio conferia “uma
tendência ou prática tradicional” na gente de São Paulo (2004, p. 263).
Paralelamente, o apagar das luzes do século XVII era um tanto com-
plexo para o Império português. As Guerras de Restauração e o envolvimen-
to na Guerra de Sucessão espanhola exauriram os cofres lusitanos bem no
momento em que o açúcar antilhano concorria de perto com o da América
portuguesa. Desse prisma compreende-se o imenso impacto que a notícia da
A dinâmica imperial e a comarca do Rio das Velhas no governo de D. João V 103
num conjunto de instituições [...] com a sua esfera de jurisdição própria e com
uma significativa identidade corporativa” (1996, pp. 80-1).
Com a criação da capitania de São Paulo e Minas do Ouro, nascida
das cinzas da Guerra de Emboabas, foram instituídas as primeiras câmaras
nos sertões auríferos. O primeiro governador, Antônio de Albuquerque Coe-
lho de Carvalho, executou tal empreitada. Para Sérgio Buarque de Holanda,
a intenção da ereção das câmaras era “apaziguar os tumultos e compor os
ânimos”, além da tentativa de estabelecer um controle geográfico dos movi-
mentos humanos (2004, p. 283). Para Boxer, a fundação das vilas foi fruto
de algumas reuniões com os “principais emboabas em Ribeirão do Carmo”,
quando ficaram acertadas outras prerrogativas, como a resolução que taxava
cada bateia “entre oito e dez oitavas anualmente” (1969, p. 104). Tais assun-
tos faziam parte das negociações entre a Coroa e os paulistas, no sentido de
garantir a paz e a ordem pós-emboabas. A partir de então iria o governador
Levantar uma Povoação e Vila neste dito Distrito e Arraial [...] por ser o Sítio
mais capaz e cômodo para ela e que como para essa se erigir era conveniente
e preciso concorrerem os ditos moradores para a fábrica de Igreja e Casa de
Câmara e Cadeia como era estilo e pertencia a todas as Repúblicas deviam
eles ditos moradores cada um conforme suas posses concorrerem para o dito
efeito com aquele zelo e vontade que esperava de tão bons Vassalos (Termo de
ereção de Vila Real de Nossa Senhora da Conceição do Sabará, 1897).
Vila Real de Sabará era destino certo para os viajantes que desciam pelo
Caminho dos Currais do Sertão, vindos da Bahia. Tal passagem era feita pe-
las margens do Rio São Francisco e “possuía diversos atalhos e desvios”, que
facilitavam o contrabando e aumentavam a entrada do gado vindo do norte
(Chaves, 1999, p. 83). “A esta vila vêm parar todas as carregações que saem
da Bahia e Pernambuco pelas estradas dos Currais e Rio de São Francisco, e
nela, antes que em outra parte, entram os gados, comum sustento das Minas
A dinâmica imperial e a comarca do Rio das Velhas no governo de D. João V 111
Este caminho da Bahia para as Minas é muito melhor que o do Rio de Janeiro
[o caminho novo] e o da vila de São Paulo [o caminho velho], porque, posto
que mais comprido, é menos dificultoso por ser mais aberto para as boiadas,
mais abundante para o sustento e mais acomodado para as cavalgaduras e
para as cargas (2007, p. 273).
povoaram o sertão [...] ocupados em criar gados, mais por alta providência
divina que acerto do juízo dos homens, pois é hoje [1750] geral sustento e
mantença do grande povo destas Minas os gados que desde então criaram,
servindo de grande aumento de cabedais para eles e a Sua Majestade nos reais
contratos dos caminhos que abriu Francisco de Arruda Cabral, taubateano,
para entrarem os primeiros gados para estas Minas, ainda que no princípio
impedido para se não extraviar por ele o ouro em pó que na Vila de Taubaté
se fundia e pegava o quinto a Sua Majestade. A necessidade, porém, que havia
dos gados para o sustento das Minas reformou este projeto com outras dispo-
sições que evitassem o dano e franqueassem o proveito (Notícias dos primeiros
descobridores... apud Figueiredo e Campos, 1999, p. 187).
por ser preciso que se castiguem os motins e excessos que cometeram os mora-
dores de Vila Rica o ano passado [...] obrigando ao seu Governador o Conde
de Assumar com armas, a lhes conceder perdão, e várias proposições que
lhe fizeram, sendo algumas delas contrárias às minhas reais ordens e outras
que só dependiam do meu soberano arbítrio, ou da disposição do mesmo
governador, e acrescentando a esses insultos outros que pedem uma grande
demonstração (Cartas régias..., APM, códice 23).
que pode acontecer que os Povos dessas Minas duvidem dar-vos posse desse
governo sem mostrardes confirmado por mim o perdão que lhe concedeu o
Conde Governador e juntamente as proposições que lhe fizeram; neste caso
será preciso que lhes mostreis a minha confirmação, que com essa lhes mando
entregar (idem).
Espero que ponhais nela [na matéria] tão cuidado e advertência e ponderação
que se possa conseguir tudo o que for possível ao sossego, daqueles Povos,
administração da justiça e obediência, e execução das minhas Resoluções e o
aumento da minha fazenda, e pelo tempo adiante podereis prudentemente
tirar das Minas as pessoas que vos parecem inquietas, tomando neste particu-
lar as medidas convenientes e observando as ocasiões mais oportunas (idem).
porar em uma teia os vários fios dos poderes que representavam a Coroa.
Contudo, isso não seria fácil...
1720, sendo o terceiro ouvidor dessa comarca. Essa breve exposição de sua
trajetória política revela o quanto a seleção dos oficiais régios era minuciosa
e prezava pela tradição.1
Considerando todas as incertezas que envolviam um cargo na região
mineradora, D. João V enviou a D. Lourenço de Almeida, em 15 de março
de 1720, uma provisão que ordenava o aumento do ordenado do ouvidor do
Rio das Velhas, José de Souza Valdez. A justificativa era a carestia em que
se encontravam “as Terras das Minas” por estar “caríssimo todo gênero de
mantimento por falta de cultura”. A distância, a dificuldade de transporte,
“os inúmeros intermediários e a cobrança de vários impostos” faziam com
que “os preços das mercadorias atingissem nas Minas preços nunca vistos”.
A partir de então, o ordenado do ouvidor do Rio das Velhas seria pago “em
moeda e não em oitavas de ouro como até aqui se fazia” (APM, códice 17;
Furtado, 2006, p. 198).
Em setembro de 1721, D. Lourenço escreveu ao rei, relatando as in-
conveniências resultantes da tentativa de estabelecer o contrato de corte de
carnes em Vila Real. Acusou a Câmara e o ouvidor-geral daquela comarca,
José de Souza Valdez, de buscarem favorecimento, alegando que “estes con-
tratos das carnes no Brasil sejam sumamente odiosos e prejudiciais aos po-
vos porque sempre redundam em interesses particulares”. Relatou também
a dificuldade em controlar os moradores de Sabará, afirmando que “fizeram
aqueles moradores um princípio de motim pouco antes da minha chegada,
e para se aquietarem foi necessário desvanecer-se inteiramente o dito contra-
to”. Associou as desordens que ocorreram na região ao desejo dos oficiais de
beneficiarem “suas conveniências particulares”, posto que tais contratos “po-
dem ser causa de motins que sejam dificultosos de sossegar” (Sobre o Contrato
das Carnes... APM, códice 23).
Pela análise desse episódio fica clara a existência de uma frágil fronteira
que demarcava as relações de poder entre as autoridades nesse universo. Nas
Minas, os inconvenientes giravam em torno do governador, do ouvidor, José
1
Agradeço ao professor Nuno Camarinhas, principalmente pelas informações acerca do Me-
morial de Ministros, “uma obra do Mosteiro de Alcobaça, feita ao longo do século XVIII,
sobretudo pela mão de um Frei Luis de São Bento (mas continuada e acrescentada por outro
monge, Fr. António Soares), que elege como objeto os magistrados da Coroa, desde os primei-
ros tempos da monarquia”, objeto de suas pesquisas. O historiador prepara agora uma edição
comentada da obra.
A dinâmica imperial e a comarca do Rio das Velhas no governo de D. João V 123
corte da carne bovina, visto que a dinâmica mercantil da comarca devia muito
às práticas agropastoris (2006, pp. 203 e 209).
Como afirma Adriana Romeiro, “o gado que se cortava nas minas era
proveniente, em sua maioria, dos currais” do Rio São Francisco, em função
das redes comerciais e mercantis que se estabeleceram ao longo dos caminhos
que interligavam a capitania à Bahia. A maioria dessas redes ia “dar no arraial
do Sabará, a porta de entrada para as minas”, e passava pelo vale do Rio das
Velhas, “onde havia fazendas destinadas à engorda dos animais” (2008, pp.
139-40). As associações entre os oficiais, e mesmo com alguns produtores lo-
cais, influenciaram diretamente na gestão dos favorecimentos no arremate de
tão precioso contrato, principalmente numa região que tinha como vocação,
além da extração aurífera, a lida com o gado.
D. Lourenço escreveu ao rei, informando-o sobre a arrematação das
passagens do Rio das Velhas feitas pelo ouvidor José de Souza Valdez, “o que
fez sem contradição alguma”. Isso corrobora a complexidade da questão do
abastecimento e do controle de seus rendimentos, relacionada à instabilidade
social e econômica. O medo de motins por causa de crises no abastecimento
era constante, o que levou as autoridades a se posicionarem quase sempre a
favor do bem-estar dos povos, controlando de perto a arrematação dos con-
tratos. Assim, “a fiscalização mais severa estava reservada ao comércio de car-
ne verde”. Por sua vez, “as avultadas quantias auferidas pelas câmaras e pela
Fazenda Real quando da arrematação dos contratos” chamava a atenção, le-
vando os próprios oficiais régios a se envolverem com os lucros. “O mercado
interno de gêneros alimentícios nas Minas Gerais do século XVIII funcionava
de acordo com as regras da oferta e da procura”, e tanto governadores, oficiais
das câmaras, ouvidores, “quanto tropeiros, marchantes de gado, comissários
de mantimentos, atravessadores e roceiros tinham consciência disso” (Sobre a
Passagem do Rio das Velhas..., APM, códice 23).
Em março de 1721, D. João V enviou a D. Lourenço uma carta relati-
va às denúncias de abusos por parte dos oficiais da justiça:
deis chamar perante vós dois ouvidores dos que tiverem acabado os seus luga-
res e com eles fareis uma pauta na qual se trazem os salários proporcionados
ao citado da terra e de sorte que nem os povos sintam o [...] que até agora
o experimentaram, nem os Ministros e oficiais fiquem sem os emolumentos
necessários para a sua sobrevivência e de tudo o que obrarem nesta mesma
me dareis conta com a mesma pauta para haver de a confirmar, ou reformar
como foi servido: porém o que ajustarem com os ditos Ouvidores fareis logo
executar provisoriamente para que se observe, enquanto eu não mandar o
contrário (Sobre o Novo Regimento dos Oficiais, APM, códice 23).
Este regimento se tem observado com geral aceitação dos povos, e os mi-
nistros a todos o fazem observar inviolavelmente, exceto o Dr. José de Sousa
Valdez, Ouvidor Geral do Sabará, o qual fez caso do regimento e leva de salários
e consente que os seus oficiais levam cada qual o que quer (Sobre o Regimento dos
Salários..., APM, códice 23, grifo nosso).
126 Da justiça em nome d’El Rey
E como Vossa Majestade não me dá jurisdição para evitar estas violências que
fazem estes Ministros e eles me não obedecem porque dizem que não [são]
súditos dos Governadores, dou esta conta a Vossa Majestade pedindo que me
queira fazer a mercê de me ordenar o como me hei de haver com eles nestas
matérias que são fora da jurisdição ordinária (Sobre o Regimento dos Salários...,
APM, códice 23).
2
Consta nas Ordenações filipinas que a pena para os oficiais que levassem mais rendimentos
do que determinasse o regimento seria a de degredo, e o lugar a ser determinado para o cum-
primento da pena dependeria da quantia que fosse desviada “e em todos os casos sobreditos
perderão os ofícios, para nunca mais os haverem, e mais pagarão anoveado tudo que levarem
mais do ordenado” (Livro V, título LXXII).
A dinâmica imperial e a comarca do Rio das Velhas no governo de D. João V 127
todos esses povos enquanto são arraiais vivem sossegadamente, por não terem
ambição de entrarem nas governanças, porque em sendo vilas logo se formam
parcialidades sobre quem há de ser juiz e vereadores e o pior é que tomando
o pretexto do bem comum não querem consentir nada que seja em conveni-
ência do serviço de Vossa Majestade e aumento de sua Real fazenda” (Sobre a
Vila do Papagaio, APM, códice 23).
D. Lourenço, “pela parte que vos toca”, evitasse “que os escrivães das mesas
dos despachos e oficiais de justiça de Fazenda lev[em] as partes emolumentos
excessivos contra o Regimento”. Recomendou também que fossem “castiga-
dos esses oficiais, com o rigor da lei”, para que não continuassem “as queixas”
(idem). Contudo, não há referência a nenhum oficial que tenha sido castiga-
do pelo excesso na cobrança dos emolumentos, o que corrobora o caráter de
negociação que marcou o período joanino no lidar com seus oficiais.
As relações entre o ouvidor e a Câmara de Sabará, além de serem estatu-
tárias, posto que reconhecidas pelas Ordenações, também apresentavam nuan-
ces de parcialidade. O ouvidor, como consta nas próprias Leis do Reino, esta-
belecia fortes vínculos com o poder local, em função do poder de fiscalização
que lhe fora conferido, fazendo com que laços de clientela fossem atados entre
ambos. D. Lourenço de Almeida estava ciente disso. Em 5 de dezembro de
1721, escreveu a José de Souza Valdez, informando que se achava “sumamente
queixoso dessa Câmara por ser a única destas Minas que não quer pagar 150
oitavas de ouro que o seu procurador prometeu para pagamento dos Oficiais da
Casa da Moeda” (APM, códice 17). A instalação da Casa de Fundição e Moeda
ainda causava mal-estar. Segundo Teixeira Coelho,
obriguem a fazerem esta remessa porque assim fico eu descansado e eles tam-
bém”. O governador, portanto, tinha ciência das amarrações que prendiam o
ministro da Justiça aos camarários, exigindo sua persuasão para a remessa da
dívida. O governador enviara, um dia antes, uma carta com o mesmo conte-
údo “para os oficiais da Câmara de Vila Rica” (APM, códice 17).
As relações entre o governador e o ouvidor só pioravam. Em carta de
14 de abril de 1722, D. Lourenço de Almeida deu notícias ao monarca da
prestação de contas da Real Fazenda. Relatou que o “Superintendente Geral
Eugênio Freire de Andrada, em virtude das reais ordens de Vossa Majestade,
tem tomado algumas contas [...] e vai continuando em tomar as que faltam”.
Também elogiou os serviços do superintendente e do “Tesoureiro dos De-
funtos e Ausentes da comarca do Rio das Velhas, Manoel Gonçalves Loures,
ao qual alcançou em uma grande soma de ouro” contra os abusos dos prove-
dores. Ainda afirmou, sobre Loures:
E como sei que ele dá conta a Vossa Majestade com toda exação e com toda
aquela verdade com que costuma falar, porque verdadeiramente é um Minis-
tro de Vossa Majestade de grande suposição, a dita conta que ele der a Vossa
Majestade me remeto porque a conferiu comigo (Sobre a Conta de Manoel
Gonçalves Loures..., APM, códice 23).
3
A Junta da Fazenda “era administrada, segundo os regimentos, pelo provedor de Vila Rica e
seu escrivão, sendo ouvido o procurador da mesma Fazenda, e concorrendo o governador com
a sua presença nos atos de rematações e em todos os mais do Juízo Voluntário” (Coelho, 2007,
p. 213). A despeito dos regimentos, a junta convocada por D. Lourenço contava também com
a participação do superintendente geral das Casas da Moeda e Quintos, Eugênio Freire de
Andrada.
A dinâmica imperial e a comarca do Rio das Velhas no governo de D. João V 131
de juízes dos órfãos para a Vila Real do Sabará e para a Vila Nova da Rainha,
“como Vossa Majestade manda pela sua lei que em todas as Vilas e seus ter-
mos que passarem de quatrocentos vizinhos”. Os cargos foram criados para,
respectivamente, Manoel de Mendonça e Lima e Manoel de Afonseca Pe-
reira. Amparado pelas leis régias, denunciou que Valdez, “sem fundamento
algum”, posicionara-se contra a nomeação relativa à comarca de Sabará. Acu-
sava o ouvidor “de ter passado algumas provisões de serventias de ofícios”, in-
terferindo em sua jurisdição, quando “Vossa Majestade, pelo seu regimento,
manda que os seus Governadores passem as provisões de serventia de todos os
ofícios que não tiverem proprietários”. E como os apelos pela jurisdição am-
pliada não estavam surtindo efeito, pediu ao monarca que “me queira fazer
a mercê de mandar que este Ministro se abstenha de se intrometer na minha
jurisdição” (Sobre a Criação dos Ofícios de Juízes dos Órfãos, APM, códice
23). A essa carta D. João respondeu em 1725, ordenando ao governador que
suspendesse tão logo a nomeação para o dito cargo da Vila Nova da Rainha
e que “sirva de Juiz dos Órfãos o Juiz Ordinário, enquanto eu não mandar
o contrário”. Sobre seus sucessos com o ouvidor de Sabará, o monarca mais
uma vez não fez referência... (Sobre se Não Dever Criar o Ofício de Juiz dos
Órfãos..., APM, códice 23).
Conflitos por jurisdição expressavam o pluralismo político do Antigo
Regime e não interferiam na centralidade régia. Esses homens recebiam da
Coroa, via regimentos, “delegação de autoridades e de poderes” que os tor-
nava representantes do poder real. Tal estratégia, ao contrário de aniquilar
o poder real, tornava-o possível nas distantes paragens coloniais da América:
quando os Ministros obram de fato fazendo alguma violência aos povos por-
que neste caso com outros semelhantes estão subordinados aos governadores
para lhe não consentir que façam exceção em prejuízo dos Vassalos de S. Maj.
porque os Governadores destas conquistas pelas ordens deles não só são Rege-
dores da justiça senão também pelas mesmas Reais Ordens estar governando
por El Rey e representando a Sua Real Pessoa [...] e seguro a V. M. que nem
no meu Regimento nem na minha Patente achei ninguém excetuado da mi-
nha jurisdição (Para José de Souza Valdez... APM, códice 21).
por haver notícia que o queriam tirar dela, todas as noites se fazia uma ronda
à cadeia repartindo-se as noites, uma que rondava o Ouvidor José de Souza
Valdez, outra o Capitão-Mor Lucas Ribeiro de Andrade, e outra o Coronel
José Correa de Miranda, Juiz Ordinário da Vila (idem).
Assim, “como se viu a grande cautela com que estava guardado este
preso, por ser tão considerável o alcance que devia à Fazenda dos Defuntos e
Ausentes”, Francisco Bernardo Loures, irmão do preso, intentou libertá-lo.
O planejado deveria ocorrer na noite da ronda do ouvidor, que seria assassi-
nado por Francisco “com outros do seu séquito”. D. Lourenço afirmou que
este teria conseguido o seu intento
se eu que me achava naquela Vila não fosse avisado na mesma noite, dando-
-se-me o ponto e aviso com toda a individuação, por cuja causa logo fiz a
saber ao dito Ministro, mandando-lhe seis soldados que tinha de minha guar-
da e todos os meus oficiais que me acompanhavam, ordenando no mesmo
tempo ao Capitão-Mor da dita Vila, Lucas Ribeiro de Almeida, que puxasse
por soldados da ordenança e fosse com eles para a casa do dito Ouvidor Geral,
tomando com alguns as entradas e saídas da Vila para se prender todos cava-
leiros que entrassem e saíssem depois da meia-noite, porque a essa hora é que
se queria fazer o insulto (idem).
que o governador mandara) “e governou-se antes pelo que lhe pareceu mais
acertado, do que pela ordem com que eu mandei fazer sentinela”. Relatou
que pela madrugada entraram em Vila Real “quatro cavaleiros unidos”, que
logo foram abordados pelo tenente dos Dragões, José de Morais Cabral, que
tentou prendê-los, mas sem sucesso. Os cavaleiros
que havendo respeito ao bem que me tem servido o Bacharel Bernardo Pereira
Gusmão nos Lugares de Letras que ocupou sendo o último o de ouvidor do
Rio das Velhas de que deu boa residência e esperas de lhe que assim o fará daqui
em diante em tudo o de que o encarregar (Registro Geral das Mercês de D. João
V, ANTT, lv. 45, fl. 272; lv. 69, fl. 220, grifo nosso).
Informou que não pudera dar conta na frota de 1722 porque as pes-
soas que lhes passariam as certidões não o haviam feito “com receio do dito
governador”. No intuito de se livrar da acusação de concessão de poder sem
autorização real, o ouvidor atribuiu ao governador a culpa por ele ter tido que
agir com tamanha prudência (e urgência). Agira em auxílio dos povos: dando
o perdão real para que não se amotinassem, já que “passavam de quatrocentos
homens de cavalo” e para que “não descessem a esta vila, pois já se dizia que
o determinavam” a fazer (idem).
A consulta do Conselho Ultramarino pedia explicações quanto ao per-
dão que Valdez havia concedido sem ter jurisdição para tal. De acordo com
o caráter do poder da época e com bases na teoria corporativa de poder, a
função mais nobre do rei era “fazer justiça”. Segundo José Subtil, a justiça
era potencializada por meio da “graça”. Tal concessão não era competência
A dinâmica imperial e a comarca do Rio das Velhas no governo de D. João V 141
faziam muito mal a sua obrigação pelo que toca a Real Fazenda de Vossa
Majestade tanto assim que deixava de cobrar os devedores e só cuidavam em
tomarem aposentadorias para si o que lhes fiz restituir [...] e também cuida-
vam em tirarem ajudas de custo por qualquer jornada que faziam a virem às
Juntas, e tudo sem terem ordem de Vossa Majestade (Sobre a Nova Criação de
Alguns Oficiais da Fazenda).
seus Ofícios [...] Porém tratando-se os feitos sobre os ditos casos ante os Jul-
gadores ordinários, as apelações que deles saírem irão aos Ouvidores dos feitos
crimes e não aos Juízes de nossos feitos (p. 35).
4
Agradeço a Nuno Camarinhas pela indicação dessa referência.
A dinâmica imperial e a comarca do Rio das Velhas no governo de D. João V 147
sua irmã, Dona Francisca de Souza, “para o ter a pessoa que com ela se ca-
sasse” (Registro Geral das Mercês de D. João V, ANTT, liv. 18, fl.122-122v).
D. Lourenço de Almeida tentava atenuar as denúncias contra sua
administração. Porém, antes de findar seu governo nas Minas, viu-se envol-
vido em outro conflito com o então ouvidor do Sabará, Diogo Cotrim de
Souza. Adriana Romeiro analisou o fato ocorrido em março de 1731. O ou-
vidor descobrira e invadira a fortaleza da Serra de Paraopeba, “onde Inácio
de Souza Ferreira havia erigido uma fábrica de barras e moedas falsas, com
o objetivo de fraudar a Fazenda Real, cunhando ouro sem o pagamento
do quinto”. As denúncias apontavam para a complacência do governador,
já que o denunciante, Francisco Borges de Carvalho, relatou que não in-
formara nada antes por temer pela sua vida, pois tinha conhecimento da
“boa vontade” de D. Lourenço de Almeida com o denunciado. Ao saber da
investida, que o ouvidor preparava em segredo, D. Lourenço tratou imedia-
tamente de escrever ao monarca, relatando as suspeitas e informando-lhe
que estava a par de tudo que ocorrera, elogiando inclusive a atuação do
ouvidor (1999, pp. 321-37).
D. Lourenço de Almeida possuía uma boa retórica e isso era um trunfo
na idealização de seu governo nas Minas. Suas correspondências para o Reino
criavam a imagem de uma terra sempre em harmonia, e tudo o que dissessem
ao contrário soaria como calúnia.
Adriana Romeiro registra a infinidade de denúncias que chegavam a
Lisboa contra o governador das Minas, “a maior parte delas versando sobre
a intromissão ilícita do governador nos negócios coloniais e as vexações que
dela resultavam”. Apesar disso, o governador sairia ileso de todas as acusa-
ções. O falsário Inácio de Souza Ferreira foi condenado ao “degredo perpétuo
às galés” e D. Lourenço de Almeida chegaria a Lisboa em 1732, após seu pe-
ríodo como governador das Minas, “envolto numa aura dourada e faustosa”.
Uma de suas bases de apoio nessa sociedade do Antigo Regime era uma rede
muito bem articulada que conseguira traçar entre amigos e parentes ilustres.
Nessa sociedade sustentada por redes clientelares e políticas que
alimentavam o sistema tinha lugar para todos. Diogo Cotrim de Souza
foi agraciado após seu período trienal como ouvidor de Sabará e pelos
serviços prestados ao Reino, “com um lugar na Casa de Suplicação em
Lisboa”, cargo almejado por todos os oficiais que serviam nos lugares de
Letras (1999, pp. 321-37).
148 Da justiça em nome d’El Rey
***
Tensões e conflitos:
a época de Pombal e a
Inconfidência de Sabará
Capítulo 6
O ministério pombalino e as
inovações político-administrativas:
no limiar do Antigo Regime
O terremoto e a política
necessária para administrar o caos sozinho. Segundo Serrão, ele chegou a ad-
mitir a hipótese de abdicar em favor de seu irmão, o infante D. Pedro, “por
lhe faltar coragem para enfrentar a calamidade”, porém não o fez. O autor
afirma ainda que a maioria dos secretários de Estado evadiu-se. Muitos não
puderam cumprir seus afazeres político-administrativos por algum “impedi-
mento físico” ou por receio de uma nova catástrofe (2007, p. 71).
Para José Subtil, esse fator deu a Sebastião José de Carvalho e Melo, o
então conde de Oeiras e futuro marquês de Pombal, uma maior preponde-
rância frente aos acontecimentos: “a inoperância do gabinete de secretários
de Estado seria testada durante a crise gerada pelo terramoto” (2007b, p.
215). O então conde, à frente do Ministério dos Negócios Estrangeiros e
Guerra, respondeu à urgência que a catástrofe exigia, no sentido de combater
“a peste que ameaçava a corrupção dos cadáveres; a fome, devido à falta de
alimentos [...] e a guerra contra os facinorosos e vadios que atacavam a vida
e a propriedade alheias” (BNL, códice 852). De acordo com J. Lúcio de Aze-
vedo, “dos três Ministros, Pedro da Motta, inválido, Diogo de Mendonça,
fugitivo, ele foi só a dispor, agir e mandar” (1909, p. 143).
Nos cinco ou seis dias que sucederam ao terremoto, Carvalho e Melo
tomou uma série de medidas emergenciais com o objetivo de instaurar o
poder de controle. No mesmo dia enviou um aviso ao marquês de Alegrete:
Sendo-me presente que aos ditos Ministros nomeados para Inspetores dos
Bairros da Cidade de Lisboa se lhe não declarou jurisdição alguma e por essa
causa se acham retidos na prisão alguns réus indiciados de ladrões, sem se lhe
fazerem judiciais perguntas e sem se lhe dar o merecido castigo: sou servido
conceder aos sobreditos Inspetores toda a precisa jurisdição para procederem
contra os referidos réus assim com os que atualmente se acham presos como
com os que ao diante prenderem na forma de Direito até os sentencearem em
Relação com os Adjuntos que lhe nomear o Duque Regedor (ANTT, Fundo
MNEJ, mç. 71, cx. 60, n. 4).
uns autos de sequestros feitos em dezembro de 1725 nos bens que ficaram
de D. Pedro Gomes pela quantia de 32:864$665 que devia dos contratos do
tabaco dos anos de 1713 e 1715 e de 1716 e 1717 que se tinha oposto a sua
irmã D. Branca Manoela Gomes com embargos pretendendo mostrar nulo
aquele procedimento por não haver dívida líquida (ANTT, Fundo MNEJ,
mç. 71, cx. 60, n. 2).
Tensões e conflitos: a época de Pombal e a Inconfidência de Sabará 161
conjura palaciana para afastar Sebastião José de Carvalho e Melo foi apoia-
da por um conjunto destacado de nobres. O Decreto de 17 de agosto de
1756 dá conta da gravidade da situação ao mandar abrir devassa perma-
nente em todos os lugares de Lisboa e Reino para investigar o sucedido
(Subtil, 2007a, p. 120).
insulto [...] contra a Pessoa de El Rei”. O documento era um apelo “aos fiéis
vassalos” que não podiam “deixar de padecer a mais sensível quebra enquanto
deles se não separassem os Réus de tão horroroso atentado”. O objetivo era
comover a população em prol do interesse público de buscar e prender os
culpados. No dia 13 do mesmo mês foi editada uma portaria “proibindo sair
pessoa alguma de Lisboa sem se qualificar com passaporte”. A intenção era
impedir que os acusados pelo crime contra o monarca pudessem fugir. Nesse
mesmo dia foi nomeada uma junta para apurar, julgar e punir os culpados
do crime de inconfidência contra o monarca: a Junta de Inconfidência (In
Ius Lusitaniae).
Sem estar previsto nas Ordenações filipinas, a interpretação do crime
de inconfidência esteve, ao longo do Antigo Regime em Portugal, atrelada às
diversidades políticas e aos arranjos administrativos e subentendida no crime
de lesa-majestade:
Lesa-majestade quer dizer traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu real
estado, que é tão grave e abominável crime e que os antigos Sabedores tanto
estranharam que o comparavam a lepra; porque assim como esta enfermidade
enche todo o corpo sem nunca mais se poder curar e empece ainda aos des-
cendentes de quem a tem e aos que com ele conversam, polo que é apartado
da comunicação da gente: assim o erro de traição condena o que a comete e
empece e infama os que de sua linha descendem, posto que não tenham culpa
(Livro V, Título V, p. 1.153).
Reino que o acusava: “garantia-se, desta forma, a sua entrega ao Rei ofendido
quando o requeresse” (Cruz, 2006, p. 583).
Como se pode notar na leitura do título VI das Ordenações filipinas,
citado acima, em muitos casos poderia estar subentendido o crime de in-
confidência, porém o livro não o cita em nenhum momento, o que dava
margem a um leque de interpretações. Num dicionário do início do século
XVIII, Bluteau dá a seguinte definição para o verbete inconfidência: “falta
de fidelidade a seu príncipe” (1712, p. 95). Como se vê, existia uma relação
íntima entre o termo e a figura real, envolvendo principalmente os crimes de
conspiração e traição contra a Coroa. Tampouco existia um tribunal especí-
fico e permanente para julgar tal delito. Foram convocadas algumas juntas,
sendo o primeiro magistrado a presidir uma delas o doutor Pedro Fernandes
Monteiro, anos após a Restauração.
Justiça que El Rey Nosso Senhor manda fazer que as Casas da Residência de
José Mascarenhas, Duque que foi de Aveyro sejam mutiladas arrasadas salga-
das e aradas para que no seu continente senão possam mais edificar em tempo
algum pelo crime do Sacrílego insulto e atentado cometido contra a Sacra e
Real Pessoa de S. Maj. pelo que o dito Réu como um dos chefes traidor foi
condenado exonerado da honra e naturalidade de vassalo deste Reino por
Sentença do Tribunal da Suprema Junta da Inconfidência (ANTT, Fundo
MNEJ, mç. 65, cx. 63, n. 4).
vendeu todos os seus vestidos e mais trastes que tinha para se poder sustentar
na prisão e curar-se de sua doença que nela teve e não ter o suplicante mais de
que se valer que dos ditos trastes e ainda com esses aludiu ao sustento de sua
mãe e três irmãs donzelas que tem a seu cargo as quais sustentava e assim com
o tênue salário que ganhava como oficial de cabeleireiro o qual ficou frustra-
do com a sua prisão por cuja causa e as mais expendidas recorre a piedade de
V. S. se digne mandar soltar ao suplicante fazendo termo da lei para o dito
degredo e sendo necessário dar fiança concedendo-lhe o termo que pede para
se preparar (ANTT, Fundo MNEJ, mç. 65, cx. 53, n. 3).
prir sua pena. O caso revela que a perseguição aos traidores, longe de estar
concentrada nos agentes do governo e na cúpula da nobreza, era destinada
a qualquer um que proferisse blasfêmia ou insubordinação que incomodasse
o governo. Outros ainda foram interrogados e condenados por infidelidade
ao rei, “comunicando-[se] com o exército castelhano”. Em 16 de agosto de
1762, Cordeiro Pereira decretou que
a este Juízo se remeteram pelo governo das Armas desta província o Frei Fran-
cisco Monteiro, Antônio José Duarte, Manuel Francisco e seu irmão José
Francisco os quais foram presos pelas Justiças e Ordenações dos Seus Povos
com o fundamento de serem infiéis a este Reino comunicando-se com o Exér-
cito Castelhano em ódio do mesmo Reino e como pelos Sumários que formei
e vão juntos se prova bastante muito a sua culpa (ANTT, Fundo MNEJ, mç.
66, cx. 54, n. 1).
nas correições que fiz na referida vila conheci a um e outro Bacharel e é certo
que Antônio de Pinto Rebello e Seixas serviu com limpeza e desinteresse: se-
rem sem pouquíssima literatura por ser de uma compreensão muito inferior.
Foi bem quisto porque com menos autoridade se familiarizou com todos
condescendendo aos seus rogos. Não tem gênio nem talento para emprego
literário por ser de ânimo muito frouxo e pouco ativo. E cuido que pelos seus
escritos se fez bem conhecido no Desembargo do Paço a sua inaptidão (idem).
José Caetano Jerônimo, superintendente das fábricas [...] João Soares Girão
Henrique de Novaes, capitão-mor desta Vila, Francisco José Raposo médico
de uns dos partidos da mesma Vila [...] Gabriel de Mira natural do reino de
Castela, clérigo de Missa e morador nesta Vila há anos [...] Antônio Mendes
Seixas, homem de Nação [...] Luiz Agostinho Grilo Ajudante da Ordenança
[desta] Vila de Covilhã (ANTT, Fundo MNEJ, mç. 71, cx. 60, n. 4).
Tensões e conflitos: a época de Pombal e a Inconfidência de Sabará 171
para ser na Vila da Praia exposta em um posto alto até ser consumida pelo
tempo (p. 234).
com mais freqüência [...] o Desembargador José Bernardo da Gama Juiz que
foi de Índia e Mina [...] Antônio da Silva e Sousa, criado do Senhor Infante
D. Pedro e o Desembargador Jorge Manoel da Costa e que também algumas
vezes ia um Francisco da Costa que escrevia em casa do Excelentíssimo Mar-
quês de Pombal (ANTT, Fundo MNEJ, mç. 64, cx. 52, n. 3).
o dito José Bernardo lhe assegurava o grande afeto que o Sereníssimo Senhor
Infante D. Pedro [...] no seu coração aos jesuítas e que o dito Senhor lhe tinha
dito a ele José Bernardo que se governasse Portugal havia de mandar restituir
os que estavam fora e soltar os que se achassem presos (idem).
176 Da justiça em nome d’El Rey
reforma não só do ensino, mas de toda uma estrutura jurídica”. Até então, o
ensino jurídico estava a cargo dos jesuítas e baseava-se no método bartolista,
“no qual o Direito Romano era o modelo” (Grimberg, 1997, p. 46).
À pluralidade das práticas jurídicas do direito consuetudinário vinha
se opor a retidão do direito real, estatal. Bania-se também “a invocação do
direito canônico nos tribunais comuns”, promovendo a propagação de um
direito natural “estável como a própria razão”. Toda essa mudança refletiu-se
na promulgação da Lei da Boa Razão, de 18 de agosto de 1769, pela qual se
codificava o direito racionalista (Hespanha, 1998, p. 165). O direito comum
constituía-se, havia pelo menos três séculos, na doutrina jurídica da Europa,
cujos preceitos unificavam várias fontes de direito, contemplando os direitos
locais, os costumeiros e o canônico. Assim, resumia em suas práticas “todo
o discurso jurídico europeu”. Para esse efeito, os juristas letrados exerceram
grande influência. A tendência universitária desses intelectuais era comum
em toda a Europa centro-ocidental. Aspectos como a utilização do latim e
dos “grandes manuais de lógica e de retórica” nas escolas europeias e a su-
premacia do direito romano e do direito canônico incidiam sobre as univer-
sidades, fazendo com que se ensinasse “o mesmo direito” por toda a Europa
(idem, p. 67).
A partir do século XVIII, as propostas de mudança acompanharam
os estudos ilustrados. A supremacia e o isolamento dos juízes começaram
a ser questionados nas esferas intelectuais. Na França, Montesquieu, com
suas críticas, exerceu influência na “restrição do poder dos juízes” durante o
período revolucionário. Na Itália, Luigi António Muratori expôs os “defeitos
da jurisprudência”, alegando que, por força de uma legislação defeituosa e de
uma doutrina sem disciplina, as decisões ficavam ao “bel-prazer” dos juízes.
Muratori exerceria forte influência sobre a produção intelectual de Luis An-
tônio Verney (idem, p. 165).
Portanto, a promulgação da Lei da Boa Razão, em Portugal, fazia par-
te de um contexto europeu que perseguia as reformas no campo jurídico,
baseando-se nas propostas ilustradas racionalistas dos intelectuais do século
XVIII. Internamente, tal reforma fornecia embasamento à superioridade do
direito do monarca. A partir de então deixava de ter fundamento jurídico o
direito consuetudinário e perdia-se a preponderância das leis canônicas nos
tribunais civis. A aplicação do direito romano foi reduzida, visando ao fim
da supremacia da prática da jurisprudência e da independência dos tribunais.
180 Da justiça em nome d’El Rey
sua licença o Edital de sete de setembro deste ano, do qual costumava ser
o mesmo expedido por esta Mesa”. Portanto, à ordem que o Desembargo
havia dado se sobrepôs a censura da Real Mesa. O Tribunal ainda informou
que o aval para a impressão havia sido dado em segredo e que ao impressor
fora recomendada discrição. Os desembargadores, lembrando que “o trono
de Vossa Majestade [...] é o centro da união de todos”, aludiram à posição
histórica do Tribunal:
Parecia que a referida Mesa apenas considerasse estas razões desistiria logo
do empentio que havia tomado em se fazer superior desta e revisora dos seus
diplomas vendo muito bem que aquele Edital era mandado o imprimir em
segredo que este podia ser recomendação especial de Vossa Majestade e de-
vendo lembrar-se que era factível que assim sucedesse pela matéria que esta
nunca lhe podia pertencer mas sim a esta Mesa em virtude com alguma re-
missão com efeito das muitas pelas quais és Vossa Majestade costuma confiar
desta mesa mas que de nenhuma outra os negócios de maior importância que
enfim a impressão do Edital era uma conseqüência das Ordens demandadas
de Vossa Majestade as quais ninguém deve impedir com pretextos frívolos
(ANTT, Sec. Negócios do Reino, mç. 338).
dores: delegar aos padres inacianos o atraso intelectual que recaíra sobre
Portugal e que naquele momento, com o avanço das outras nações euro-
peias, estava tão evidente. A situação da nação portuguesa contrastava
com “os feitos ilustres e os heroicos progressos dos Portugueses no Con-
tinente, na África, na Ásia e na América” da época dos descobrimentos.
Essa afirmação sustentava a argumentação dos elaboradores do Compên-
dio; era a representação do poder da monarquia sobre quaisquer outras
manifestações (Patrício, 2008, p. 9).
Na introdução do Compêndio, os jesuítas eram acusados da desgraça na
qual caíra o ensino português, em comparação com o passado glorioso:
[A] Universidade [de Coimbra] foi tão admirada na Europa até o ano de mil
quinhentos e cinquenta e cinco, no qual os denominados Jesuítas, depois de
haverem arruinado os Estudos Menores com a ocupação do Real Colégio
das Artes, em que toda a Primeira Nobreza de Portugal recebia a mais útil
e louvável educação, passaram a destruir também sucessivamente os outros
Estudos Maiores, com o mau fim, hoje a todos manifesto, de precipitarem os
meus Reinos e vassalos deles nas trevas da ignorância (Compêndio histórico...,
2008, p. 95).
Cabe lembrar que antes de 1772 a Faculdade de Direito havia sido alvo
das reformas nos estudos maiores. Por Decreto de 19 de maio de 1762, D.
José comunicara e ordenara ao reitor da Universidade de Coimbra, Gaspar
de Saldanha e Albuquerque, “a substituição dos livros que deviam possuir e
usar os estudantes juristas”. Esse decreto foi uma tentativa para racionalizar
os estudos de direito, afastando-os das “extensas glosas” e das diversas opini-
ões (muitas vezes contrárias) dos professores, que causavam desencontros nos
estudos dos alunos (Costa e Marcos, 2013, p. 103). A busca pela clareza e
simplicidade no ensino da jurisprudência retratava o início do esforço em se
instituir o controle do que se ensinava aos homens que, saindo dali, serviriam
ao Reino como oficiais.
186 Da justiça em nome d’El Rey
***
Os oficiais das Câmaras das vilas Rica e do Ribeirão nas Minas Gerais em
carta de 18 e 20 de julho do ano de 1730, representaram a V. M. a grande
188 Da justiça em nome d’El Rey
aos Governadores das Capitanias do Rio de Janeiro, Minas e São Paulo ajus-
tassem com as Câmaras de cada uma das vilas dos seus governos a quan-
tia com que poderiam contribuir para pagamento de 10 ministros que seria
necessário haver na dita Relação e se seria conveniente situar-se no Rio de
Janeiro como se pedia (idem).
residam naquela Relação seis anos e fim do que eles venham para a Relação
do Porto, como é de costume nos da Bahia, por entender ser muito conforme
a boa ordem que estes desembargadores estejam três anos na dita Relação do
Rio e os outros três anos vão completar a Bahia e dali passem para a do Porto
porque com esta ordem verificasse o fim desejado daqueles Povos de terem
Relação no Rio de Janeiro (idem).
por desejar que todos os Meus Vassalos sejam providos com a mais reta e mais
pronta administração da Justiça, sem que para esse efeito sejam gravados com
novos impostos, houve por bem de criar a dita Relação, à que mando dar
este Regimento [...] para se ordenar pelo modo e forma mais conveniente;
fazendo-se por conta da Minha Fazenda e das despesas da dita Relação as que
forem necessárias para a sua criação e estabelecimento [...]
O corpo da mesma Relação se comporá de dez desembargadores, em que se
inclui o seu Chanceler, dividindo os seus lugares de sorte que sejam cinco os
de Agravos, um de Ouvidor Geral do Crime e outro de Ouvidor Geral do
Cível, um de Juiz dos Feitos da Coroa e Fazenda e um Procurador da mesma
Coroa e Fazenda (In Ius Lusitaniae).
Terá essa Relação por seu distrito todo o território que fica ao Sul do estado
do Brasil, em que os compreendem treze Comarcas, a saber, Rio de Janeiro,
São Paulo, Ouro Preto, Rio das Mortes, Sabará, Rio das Velhas, Serro do Frio,
Cuiabá, Guyazes, Pernaguá, Espírito Santo, Itacazes, e Ilha de Santa Catari-
na, incluindo todas as Judicaturas, Ouvidorias e Capitanias que se houverem
criado ou de novo se criarem no referido âmbito, que hei por bem separar
inteiramente do distrito e jurisdição da Relação da Bahia (idem).
têm nos seus países em que há minas não consiste no direito real dos quintos
que delas percebem, mas nos direitos das fazendas que por ocasião das mesmas
minas nelas se introduzem e mais utilidades que por ocasião delas lhe resultam
(Papel acerca dos Danos... apud Figueiredo e Campos, 1999, v. 1, p. 453).
Antes, estou persuadido que o melhor meio de se fazer esta cobrança é o esta-
belecido pelo conde de Galveias em 20 e 24 de março de 1734, que consistia
em segurarem aqueles povos à Fazenda de Sua Majestade cem arrobas de ouro
em cada um ano, livres de todos os gastos e além delas tudo o mais que os
quintos produzissem (Papel acerca dos danos... apud Figueiredo e Campos,
1999, v. 1, p. 432).
Que Sua Majestade haja de contratar seus Reais quintos que lhe são devidos
de todas as outras que se extraírem nas Minas e lavras de todo o continente do
Brasil fazendo de todas as ditas Minas um só contrato para se não fraudarem
198 Da justiça em nome d’El Rey
escrito”. Tal atitude estava em sintonia com as medidas que seriam tomadas
mais tarde, quando assumiria os passos da monarquia de D. José. O incenti-
vo à cobiça dos mineiros com o objetivo de se manterem os rendimentos do
ouro (e não aumentar, pelo menos nesse momento) deixa transparecer que
Carvalho e Melo tinha conhecimento da dinâmica político-econômica impe-
rial. As súplicas dos mineiros contra o método da capitação acompanhavam a
diminuição, havia pelo menos duas décadas, dos rendimentos auríferos. Era
o momento de restabelecer a ordem administrativa e econômica para, no fu-
turo, impor um aumento dos rendimentos, como fruto do próprio trabalho
dos mineiros e da boa governação real.
O desembargador José João Teixeira Coelho também falou sobre a
cobiça dos mineiros. Em sua Instrucção para o Governo da Capitania de Mi-
nas Gerais, aludiu ao incentivo a essa virtude “oficiosa”, dizendo que o Reino
deveria protegê-la e não enervar-se com ela (Coelho, 2007, p. 294).
Considerações à parte, em 5 de dezembro de 1750, D. José I expediu
provisão “suspendendo o sistema de Capitação dos Quintos do Ouro” (In Ius
Lusitaniae). O Regimento para o novo método fora expedido no dia 3 e, já
no início, reconhecia o insucesso do método que estava sendo abolido:
Tendo consideração às repetidas súplicas com que os povos das Minas gerais
me tem representado que em se cobrar por capitação o direito Senhorial dos
Quintos, recebem moléstia e vexação contrárias às pias intenções, com que
El Rey meu Senhor [...] houve por bem permitir aquele método de cobrança
em razão de lhe haver sido proposto como o mais suave e desejando não só
aliviar os referidos povos na aflição que me representaram, removendo deles
tudo o que pode causar-lhe opressão [...] de sorte que experimentem os efei-
tos de minha Real benignidade e do paternal amor com que olho para o bem
comum dos meus fiéis vassalos e o desejo que tenho de fazer mercê aos que
concorrem com os seus frutuosos trabalhos para a utilidade pública do meu
Reino, sendo entre os beneméritos dele dignos de uma distinta atenção os que
se empregam em cultivar e fertilizar as referidas Minas (Regimento para a Nova
Forma de Cobrança dos Quintos Reais. In Ius Lusitaniae).
1
Parte deste texto foi apresentada no X Seminário sobre Economia Mineira, realizado em Dia-
mantina, em junho de 2002, e publicado em boletim eletrônico sob o título “Prudência e
Luzes no cálculo econômico do Antigo Regime: fiscalidade e derrama em Minas Gerais (notas
preliminares para discussão)”. Disponível em http://www.cedeplar.ufmg.br/diamantina2002/
textos.html. Acesso em 12 set. 2010.
Tensões e conflitos: a época de Pombal e a Inconfidência de Sabará 201
ministros das comarcas de Vila Rica, Sabará e São João de El Rei, que se
acharam presentes e os procuradores das comarcas, exceto o de Mariana, que
requeria se esperasse pela resolução de sua majestade. Distribuídas, portanto,
as faltas que no ano 12o das novas fundições se realizaram, pelos povos das
quatro comarcas, tocou pagar a de Vila Rica quatro arrobas de ouro, igual
quantia a do Sabará; 31,2 arrobas a de S. João e 11,2 arrobas, 29 marcos e três
oitavas a de Serro (idem).
sentimos não podermos assistir com tanto como quiseram as nossas vonta-
des porque a penúria, miséria e decadência desta comarca são tão notórias
que fazem que a elas não possam corresponder aos subsídios que quiséramos
saíssem destes povos e do que se precisa para tão glorioso e importante fim;
porém com o que nos for possível, conforme a nossa pobreza, estamos e
estaremos prontos com as nossas vidas e pessoas para servirmos a Vossa Ma-
jestade (idem).
Este feliz princípio das Casas de Fundição bastará a dissipar a falsa ou dema-
siadamente [...] imaginação destes povos e de que todos se deixaram possuir
ou persuadir tão uniformemente que todos se conformaram na mesma ideia
de prejuízo nas mesmas demonstrações e até nas mesmas palavras vendo-se
que as contas de Vila Rica e de São José são as mesmas ou translada uma da
outra (AHU/MG, cx. 59, doc. 12).
Porque esse ouro pode ser tirado nas capitanias de São Paulo ou da Bahia,
onde há minas; ou na do Rio de Janeiro, onde é constante que se está mine-
rando ocultamente [...] esses ministros e essas pessoas que o atestam é porque
seguem nisto as vozes indiscretas dos lisonjeiros, um rumor vago e o caminho
Tensões e conflitos: a época de Pombal e a Inconfidência de Sabará 207
mais fácil de declarar as origens de falta de quinto, sem terem o trabalho de fa-
zer, neste importantíssimo negócio, uma indagação profunda (2007, p. 275).
A inimizade dos Ouvidores ainda é mais voraz. Os escrivães lhe passam cer-
tidões de documentos de quanto imaginam ser-lhes conveniente, e, posto a
majestade tem declarado não tenham fé alguma, enquanto os ministros esti-
Tensões e conflitos: a época de Pombal e a Inconfidência de Sabará 209
verem nos lugares, é sem efeito esta lei, porque os desembargadores dos tri-
bunais que são parentes e amigos e, às vezes, partidistas nos interesses, fazem
valer não só as certidões falsas, mas as cartas que as acompanham (Instrucção
e norma..., p. 730).
que se acha este Estado das Minas”. Esses oficiais evidenciaram que há muito
não se produzia como antes e como estava difícil a vida na região, “pelo esta-
do da terra não permitir lucros com que se possa satisfazer com prontidão o
que se deve” (AHU/MG, cx. 67, doc. 74).
Pouco mais de um ano depois, a Câmara de Vila Rica voltou a se
manifestar sobre o novo regimento. Dessa vez, informou ao monarca “sobre
o escândalo que causa na referida Vila a interpretação divergente que se faz
em torno do novo Regimento das justiças”. Os oficiais observaram que a
Fazenda Real daquela vila continuava a receber os “salários pelo Regimento
antigo”. Ainda explicaram:
Fui Servido ordenar lhe praticassem contra quaisquer Pessoas que se desco-
brirem culpadas no atroz delito de se atreverem a impugnar ou caluniar a
execução das Minhas Leis e Ordens. O que me pareceu participai-vos para
inteiramente a dares a execução nos casos ocorrentes: concedendo-vos a ju-
risdição de nomear os Juízes que vos parecer para sentenciar estes réus de
inconfidência ou sejam Ministros da Apelação dessa cidade ou de fora dela.
O que tudo fareis observar não obstantes quaisquer Leis, Regimentos ou
disposições de Direito em contrário, por que todas e todos ei por bem der-
rogar, para esse efeito somente, ficando, aliás, em seu vigor (AHU/MG, cx.
90, doc. 26).
214 Da justiça em nome d’El Rey
assistiu em casa de seu tio paterno, Francisco Marques de Andrade e Silva, ca-
valeiro na Ordem de Cristo, Secretário naquela Universidade”. Graduou-se
em Leis em 6 de julho de 1765 e, um ano depois, em 1766, leu no Desem-
bargo do Paço, “por 5 muito bem”. Em 24 de março de 1772 foi nomeado,
por decreto de D. José, ouvidor e provedor do Sabará, cabeça da comarca do
Rio das Velhas, na capitania de Minas Gerais. Os seis anos entre a leitura e
a nomeação renderam, ao final, um dos mais importantes cargos da América
portuguesa, sem contar que o bacharel escapava do período trienal como juiz
de fora, o que era a praxe do Tribunal (Memorial de Ministros, BNL; Leitura
de Bacharéis, ANTT).
Chegou à capitania de Minas Gerais como um dos principais homens
da administração colonial na região, imbuído de estabelecer o cumprimento
da justiça em nome do monarca. A época inspirava cuidados. A arrecadação
do quinto diminuía a cada ano e, no final de 1771, D. José enviou ao conde
de Valadares, governador de Minas Gerais, uma carta “estabelecendo normas
para uma melhor administração da referida Capitania”. A preocupação do
Reino era no sentido de evitar “as perniciosas consequências que têm resulta-
do da defeituosa forma com que se tem administrado a Minha Real Fazenda
nessa Capitania”. Para isso, dava instruções ao governador Valadares sobre a
disposição dos cargos e sobre o estabelecimento de “uma Junta da adminis-
tração e arrecadação da Minha Real Fazenda”, da qual o governador seria o
presidente (AHU/MG, cx. 101, doc. 37).
Foi criada essa Junta e sua Contadoria, na forma da dita carta régia, pelo con-
de de Valadares, a 30 de dezembro de 1771, e nela se decidem e determinam
definitivamente todas as dúvidas relativas à administração da Fazenda Real,
ou seja, do Juízo Voluntário, ou do Contencioso, sem outro recurso mais do
que o da apelação para a Relação do Rio de Janeiro, que deve receber-se so-
mente no efeito devolutivo, tudo em virtude da provisão expedida pelo Real
Erário a 14 de setembro de 1771 (Coelho, 2007, p. 215).
Tal junta passaria por uma série de modificações pela década de 1770.
O objetivo era diminuir, senão cessar, os descaminhos e contenciosos que
cercavam a extração do ouro e a arrecadação do quinto real. No mês de junho
de 1772, o conde de Valadares enviou uma carta ao monarca informando
que “é grande o prejuízo dos povos” na inobservância que fazem os provedo-
218 Da justiça em nome d’El Rey
a fim de ir corrigir aqueles Povos que vivem bastante muito inquietos, e quase
a Lei da natureza e ver se estabeleço entre eles a paz e o sossego público, único
Tensões e conflitos: a época de Pombal e a Inconfidência de Sabará 219
conclusos autos de Recursos dois e mais anos e na do Sabará tem havido nesta
matéria alguma omissão” (AHU/MG, cx. 105, doc. 72). Segundo Teixeira
Coelho, fora determinado ao conde de Valadares,
pela carta régia de 12 de agosto de 1771, que criasse uma nova Junta de Jus-
tiças para serem sentenciados nela os réus dos delitos seguintes: de desobedi-
ência formal dos soldados e oficiais aos seus superiores nas matérias do Real
Serviço, ou seja, pagos ou auxiliares e ordenanças; de deserção dos mesmos
soldados e oficiais; de sedição, rebelião e de todos os crimes de lesa-majestade
divina e humana, e dos que são contra o Direito Natural e das gentes, como
homicídios voluntários, rapinas de salteadores e resistências às justiças, sem
distinção de qualidade dos réus [...] à qual presidiria o governador, sendo juiz
relator o ouvidor de Vila Rica e adjuntos cinco ministros letrados ou advoga-
dos em falta deles (2007, p. 217).
do poder local que se envolveria mais tarde, juntamente com seu filho, na
malograda Inconfidência Mineira (AHU/MG, cx. 105, doc. 76).
Desse modo, foi se desenrolando uma complicada trama de interesses
e uma truncada rede clientelar, que envolvia o ouvidor e seus parciais e o
descontentamento dos autores da representação. José de Góes fora acusado
de ser “o maior infrator daquelas mesmas leis [das quais] dever[ia] ser o mais
pronto executor”. Segundo os homens bons de Sabará, Lara de Moraes não
“deliberava com o objetivo da Lei, mas só conforme a razão de sua vontade”.
Tal fato teria se comprovado
quando se fazem as Câmaras são eleitores quem ele quer para que sucedam
nos juizados os seus escolhidos que o conservem na Assessoria, de sorte que
naquela Vila e ainda na circunvizinha do Caeté não se é eleito um só cama-
rista que não seja criatura sua para sempre os ter prontos [nas] nomeações de
fiscais, de tesoureiros e de outros empregos para lhe incumbirem com as capas
Tensões e conflitos: a época de Pombal e a Inconfidência de Sabará 225
os seus procedimentos e as injustiças que diretado por ele obra o dito ministro
[ouvidor] (AHU/MG, cx. 105, doc. 76).
A partir daí, a câmara da vila estaria sob o controle dessa dupla de ofi-
ciais. Como informa Charles Boxer, para o mundo português da época, as
câmaras, juntamente com as casas de misericórdia, representavam “os pilares
gêmeos da sociedade colonial portuguesa do Maranhão até Macau”. Os ar-
gumentos do autor, ao considerar que tais instituições representavam “uma
continuidade que os governadores, os bispos e os magistrados transitórios
não podiam assegurar”, são-nos aqui muito caros. As câmaras municipais
eram legítimas representantes do poder local e sua composição era feita por
“um complicado sistema de votação anual”. Entre os elegíveis (e os eleito-
res) estavam alguns dos homens mais importantes da região, os chamados
“homens bons” ou ainda “povo” (2002, p. 287). Exercer o controle político
sobre tal instituição poderia trazer inúmeros benefícios. Mesmo porque, ape-
sar de o ouvidor ter o poder de supervisão sobre as eleições para as câmaras
municipais, ele precisava da estabilidade social e política que os representan-
tes locais significavam para aquela sociedade. Aí se configurava mais uma das
relações de interdependência que demarcavam a política imperial.
A documentação da Câmara de Sabará existente no Arquivo Público
Mineiro não é muito reveladora quanto a isso. Encontramos poucos registros
da atuação de José de Góes, na prestação de contas anual e no aval em alguns
pagamentos que deveriam ter sido feitos e estavam atrasados. O que salta aos
olhos é a posição de supervisor que o oficial régio tomava frente aos dados
que lhes eram apresentados pelo “Procurador Tesoureiro” da câmara (APM,
Câmara Municipal de Sabará, códice 22).
Em 1772, na Casa do Ouvidor, José de Góes inquiriu o procurador da
Câmara daquela vila: “mandou ao dito Procurador atual lhe apresentasse to-
dos os documentos por donde o [...] Procurador Tesoureiro do ano passado
fizera a sua despesa”. O ouvidor havia encontrado irregularidades na presta-
ção de contas de Antônio Gonçalves, ex-tesoureiro e procurador, e, concluin-
do pelo excessivo gasto da câmara no ano anterior, solicitou ao então atual
procurador e tesoureiro, Francisco da Costa Carvalho, que “cobre logo de seu
antecessor” o que tinha ficado devendo. “Adverte ele dito Doutor Ouvidor
Geral Corregedor e Provedor que senão paguem [as] propinas”, as mesmas
seriam cobradas dos oficiais daquela gestão “estabelecidos por Provisões e lei
226 Da justiça em nome d’El Rey
[...] para serem satisfeitas por despacho de seu antecessor” (APM, Câmara
Municipal de Sabará, códice 22).
Não consta no documento se o pagamento foi feito. O que podemos
afirmar é que, no ano seguinte, foi a vez do então ex-procurador e tesoureiro
Francisco da Costa Carvalho passar pela correição. “E por achar ele dito
Doutor Ouvidor Geral Corregedor Provedor que a receita estava igual com a
despesa”, dera por “quitos e livres da dita conta que julgou por Sentença in-
terpondo para esse efeito sua autoridade” (idem). Assim, as contas anuais de-
pendiam da aprovação do ouvidor por correição. Supomos o quanto tais re-
lações eram delicadas e comprometedoras, ao mesmo tempo que fortaleciam
vínculos estratégicos entre esses homens, comprometendo-os reciprocamente.
Denúncias referentes a negociações dos cargos camarários também fo-
ram citadas na Representação. Manoel Antunes Sarzedas, farmacêutico, teria
sido auxiliado pelo ouvidor e pelo vigário a arrematar o ofício de escrivão da
Ouvidoria, em detrimento do capitão-mor Antonil Gil, que “cobriu sempre
o lance do enviado”. Sarzedas havia assumido o cargo após Góes não aceitar
a nomeação do capitão-mor, que chegou até ele por meio de uma provisão
do Régio Tribunal da Fazenda. O então nomeado escrivão, segundo os recla-
mantes, vinha fazendo “coisas tais que descrevê-las seria uma narração proibi-
da, basta dizer que é homem de pouca fé [...] aladroado e [vil] por natureza”.
Relatavam que o dito Sarzedas exercia o ofício de cirurgião (AHU/MG, cx.
105, doc. 76).
Nas Minas setecentistas o ofício de cirurgião (ou cirurgião barbeiro)
era comum, em função da escassez de médicos formados e da própria inospi-
talidade dos sertões. Tais homens “aliavam a arguta observação dos casos que
assistiam à medicina erudita apreendida nos livros e, dessa mescla, produziam
um novo conhecimento que oscilava entre o popular e o erudito” (Furtado,
2005, p. 96). A existência desse ofício, que não era reconhecido pela legis-
lação portuguesa, tornar-se-ia popular e respeitada pela população minei-
ra. Júnia Ferreira Furtado (2005) lembra que os jesuítas e indígenas tinham
vínculos estreitos com tais práticas. Citando Sérgio Buarque de Holanda,
chama a atenção para as relações estabelecidas entre índios, bandeirantes e os
membros da Companhia de Jesus e a transmissão do conhecimento da flora
local para os europeus.
As acusações não recaíam somente sobre o ouvidor. Segundo a re-
presentação, a “melhor prova” que o ouvidor dera da incapacidade “para
Tensões e conflitos: a época de Pombal e a Inconfidência de Sabará 227
a direção do cargo” fora eleger como seu aliado e “assessor” o vigário José
Correia da Silva:
O ódio dos reclamantes era tanto que o vigário foi descrito como “ví-
bora desumana”. Relatavam inúmeros conflitos dele na região, reforçando
sempre o medo que inspirava naqueles que deveriam fazer cumprir as leis. O
vigário também manejava os cargos camarários a seu gosto. A representação
acusou que Correia conseguira eleger, naquele ano, quase todos os nomes
que havia indicado, portanto “não causou espanto ver como camarista um
sujeito que havia menos de três anos andara de pé descalço por aquela mesma
vila atrás de uma tropa vendendo azeite”, já que esse mesmo vendedor estaria
“entrando em contas com o dito assessor” (AHU/MG, cx. 105, doc. 76).
Os cargos camarários representavam, de forma genuína, a governança
do poder local. As regras sociais da época selecionavam os poucos que eram
aptos a concorrer a tais cargos. Mesmo que as diferenças socioculturais de-
marcassem a concessão de privilégios por toda a extensão ultramarina portu-
guesa, fazendo com que as divergências locais fossem consideradas, a seleção
do corpo governativo para as câmaras procurava seguir o postulado vigente
no Reino de que os cargos concelhios deveriam ser preenchidos pela “nobre-
za da terra”. Ao longo do tempo se estruturaria um grupo social composto
pelos homens bons da localidade aptos a exercer tais cargos, que não faziam
parte da nobreza de sangue do Reino. A cooptação desses homens era parte
integrante das estratégias políticas do Reino para manter o poder num tão
vasto domínio. Formava-se então uma nobreza política1 que também serviria
1
A respeito da “nobreza política”, Ronald Raminelli explica: “De ascensão recente, a nobreza
política era formada por indivíduos de origem humilde que serviam ao soberano, nas guerras
ou na burocracia e receberam honras e privilégios com a condição de terem limpeza de sangue
e mãos” (2010, p. 78).
228 Da justiça em nome d’El Rey
os outros, que supunha o povo mais criminosos e esperava ver punidos foram
os premiados que ficaram exercendo os Cargos da República feitos uns Ca-
maristas, outros Juízes de Órfãos e Ordinários da terra e para isso teve aquele
Ministro dádivas de grande preço e de muito peso e o tal Assessor esmolas de
quinhentas oitavas de ouro para uma Missa (AHU/MG, cx. 105, doc. 76).
E a pessoa que resistir contra algum Corregedor das Comarcas e nosso Reino
e Ilhas ou Ouvidor, que por Nós seja posto [...] e seus Meirinhos e Escrivães
que com eles servem [...] e se resistir com armas posto que o não fira, será
degredado para a África por dez anos. E se lhe resistir, não tirando armas, ou
lhe disser palavras injuriosas sobre o seu Oficio, será degredado para a África
por seis anos (p. 107).
políticas cotidianas. Propõem, com base nisso, uma reflexão acerca do que cha-
mam de economia moral do dom: contemplar análises sobre as áreas remotas das
relações políticas, que mesmo estando aparentemente à parte do processo político
não deixavam de intervir na configuração dessas redes clientelares.
Acompanhando esse raciocínio, mais uma vez nos valemos do conceito
de redes governativas desenvolvido por Maria de Fátima Gouvêa (2010). O
“conjunto de conexões recorrentes” que definiam ou alteravam as estraté-
gias políticas dos oficiais no exercício de seus cargos numa dada época, es-
tabelecido pelos vínculos articulados de indivíduos, demarcava tais relações.
As trajetórias político-administrativas desses oficiais eram o resultado dessas
amarrações, que envolviam homens por todo o Império, que se interligavam
por relações de dependência.
A acusação de crime de inconfidência que recaiu sobre José de Góes
Ribeiro de Moraes estava inserida na trama de uma dessas redes. Girava em
torno da condenação ao degredo por Pombal do então secretário de Estado
dos Negócios do Reino, José de Seabra da Silva. Seabra era amigo íntimo de
Góes e o havia ajudado com a nomeação para o cargo de ouvidor.
Em carta de 2 de fevereiro de 1775, o governador interino, Pedro An-
tônio da Gama e Freitas, comunicou ao Reino a denúncia feita por Manoel
de Figueiredo de Sá e Silva:
Tendo o doutor ouvidor desta comarca [...] a nota certa de que S. Maj. Fi-
delíssima tinha desterrado do Seu Real Serviço e Secretaria de Estado dos
Negócios do Reino José de Seabra por ser assim conveniente ao Real Serviço
do mesmo Senhor, entrou o dito ministro a blasfemar não só contra o dito
Senhor pela injusta deposição do predito Seabra, mas também contra o Ilus-
tríssimo Excelentíssimo Senhor Marquês de Pombal, Primeiro Ministro de
Sua Maj., Inspetor Geral de seu Real Erário e Secretário de Estado pela razão
de que o dito Excelentíssimo Senhor Marquês lhe [...] grande ódio pelo dito
Seabra, dizer a S. Maj. que o dito Senhor Marquês já estava pateta e incapaz
de governar (AHU/MG, cx. 108, doc. 6).
Basta dizer-se que o dito Ministro se recolhia de noite fora de horas da Casa
da Ópera e [...] da casa de seu assessor e também dos seus divertimentos umas
vezes só outras unicamente acompanhado daquele Porteiro, seu privado, e
nunca encontrou quem o ofendesse, porque jamais pela imaginação de algum
passou o ligeiro pensamento de ofendê-lo e menos conspirar-se contra a sua
vida maior (idem).
O ano de 1775 foi decisivo para nosso ouvidor. Como Pedro Antônio
da Gama não mostrou pulso para apurar devidamente as denúncias (e nem
236 Da justiça em nome d’El Rey
que Vossa Senhoria logo que receber esta faça suspender o dito Ouvidor do
Sabará e o faça imediatamente prender e remeter com toda a segurança às
Cadeias da Relação do Rio de Janeiro, sequestrando-se-lhe no mesmo ato da
prisão todos os papéis que lhe forem achados e todos os seus bens para tudo
ser com Ele remetido à ordem do Conselheiro José Antônio de Oliveira Ma-
chado, Juiz da Inconfidência. A mesma prisão e imediato sequestro e remessa
de Vossa Senhoria fazer praticar com o Clérigo José Correa da Silva (APM,
códice 148).
Mais uma vez se faz necessário ressaltar a importância dos agentes po-
líticos que o ministério pombalino construiu para a perseguição aos infiéis.
O Tribunal de Inconfidência agiu sobre esse caso, solicitando a excomunhão
política do ouvidor blasfemo e infiel.
Como tais ordens não chegaram imediatamente à capitania, D. Antô-
nio de Noronha ainda entrou em litígio com José de Góes, que se manteve
como ouvidor até o final de 1775, o que não o impediu de escrever ao Con-
selho Ultramarino recomendando a nomeação do bacharel Filipe José para
a Ouvidoria de Sabará: “este o desejava eu ver no Sabará em lugar daquele
louco que lá está”. O governador recomendava-o explicando que era “pessoa
de muita capacidade”. Porém, o apadrinhado do governador foi preterido ao
então nomeado ouvidor José Antônio Barbosa do Lago, com provisão de 12
de agosto de 1775 (AHU/MG, cx. 108, docs. 49 e 55).
Durante o mês de outubro se configurou mais um conflito entre o go-
vernador e o ouvidor. O fato se referia à cobrança pelos soldos atrasados do
sargento-mor da comarca de Sabará e seu ajudante. D. Antônio de Noronha
recomendou a Góes que empregasse todo o esforço “para que se faça o dito
pagamento nos seus devidos tempos” e lembrou que deveria ser entregue ao
tesoureiro da Real Fazenda a quantia para quitar a dívida com os militares.
O ouvidor, por sua vez, informou que perante “a impossibilidade de poder
fazer” o pagamento em tempo, achara conveniente consignar “as rendas do
Tensões e conflitos: a época de Pombal e a Inconfidência de Sabará 239
Mandei a Vossa Mercê na portaria para que me mandasse por um soldo dessa
intendência todo o ouro e prata que se acham nos Reais Cofres pertencentes
ao Confisco do padre José Correa e como não sei qual seja o motivo desta
tardança querendo eu fazer com brevidade esta remessa logo que Vossa Mercê
receber esta remeterá o conteúdo na dita Portaria sem a menor perda de tem-
po (APM, códice 207).
Não posso deixar de estranhar a Vossa Mercê a frouxidão com que se tem dei-
xado de executar a ordem que lhe dirigi [...] sobre os processos dos criminosos
pertencentes a toda sua comarca para serem sentenciados na Junta da Justiça
[...] ficando Vossa Mercê na inteligência de que o serviço do Rei se deve fazer
dado o que espera Vossa Mercê assim o cumpra (idem).
muitas adornadas com pedras preciosas. Seus autos revelam outra realidade:
muitos deviam ao ouvidor. Alguns desses devedores, à época do sequestro, de-
positaram a quantia devida “no Cofre da Real Intendência”. Foram confiscados
os quatro escravos que tinha. Por fim, o escrivão registrou que “é o que contém
de maior valor entre os referidos bens sequestrados pelos mais serem roupas de
uso de cor e brancas e vários livros e muitos trastes miúdos” (AHU/MG, cx.
109, doc. 1). A acusação de inconfidência recaiu sobre José de Góes com base
nas blasfêmias contra o ministro e, principalmente, nas denúncias de suas atitu-
des. Nos autos, seus livros foram registrados juntamente com os “muitos trastes
miúdos” que possuía. Os dois réus foram enviados presos ao Reino, junto com
os autos e “com os bens que se podem transportar e com os papéis que foram
apreendidos” (AHU/MG, cx. 109, doc. 10).
Em março de 1776, o marquês de Pombal ordenou ao governador das
Minas que desse posse a José Antônio Barbosa do Lago, “sem as cartas na for-
ma do Estilo” (APM, códice 148). Tal atitude retrata a pressa que o ministro
tinha em restituir à comarca um ouvidor nomeado pelo centro.
Em setembro daquele ano, o juiz da inconfidência deu conta ao mar-
quês de Pombal de ter recebido os dois réus. Porém, aí começou mais um pro-
blema. Na mesma carta, Oliveira Machado informou ao ministro de D. José
que “há quatro meses que estes chegaram e que se acham em segredo e ainda
até agora não chegaram os referidos papéis” nem sequer a relação dos bens de
sequestro feito em Minas Gerais. O oficial informou que já havia mandado
“examinar na Alfândega Casa da Índia e todos os navios que tinham chegado
deste Porto do Rio de Janeiro” (APM, códice 211). D. Antônio de Noronha
escreveu ao mesmo tribunal na tentativa de se esquivar da culpa pela demora
na chegada (ou até mesmo sumiço) dos documentos referentes ao sequestro
dos bens dos oficiais condenados. Informou:
Tal falta não pode ser imputada a omissão minha porque sem execução da
ordem que me dirigiu Ilustríssimo e Excelentíssimo Marquês de Pombal
[...] remeti ao Marquês de Lavradio [...] não só aqueles presos, mas também
os bens que lhe foram sequestrados com as suas respectivas relações (APM,
códice 211).
Faço saber que José de Góes de Ribeira Lara de Moraes [...] que fora suspenso
preso, sequestrado arremetido a esta Corte por ordem régia por uma falsa
denúncia de inconfidência que contra ele [...] dera um preso por nome Ma-
noel de Figueiredo cuja falsidade fizera o Suplicante patente na Minha Real
Presença que atendendo a sua notória inocência o mandara soltar e por em
sua inteira liberdade (APM, códice 190).
para constar a V. Maj. não só outra ver a sua inocência, mas o zelo e a
intereza com que se portara no Real serviço a ela se procedera e fora vista
e examinada em esta Mesa e se lhe mandara passar Certidão de Corrente
a qual o Suplicante juntara e como este procedimento com o Suplicante
fundada em falsa informação além de outros detrimentos lhe causara um
notável atrasamento na Sua Carreira e no Serviço de Vossa Majestade fun-
dado o Suplicante na Justiça e incomparável Piedade de V. Maj. pedia a V.
Maj. fosse servida em atenção ao referido de prover o Suplicante em um
lugar de primeiro Banco ou em uma correição ordinária com predicamento
de primeiro Banco (ANTT, Fundo MNEJ, mç. 339).
Concluindo
política” que daria cabo das principais diretrizes políticas iniciadas no minis-
tério de Pombal. O ódio que a rainha nutria pelo marquês, aliado à sua exces-
siva religiosidade, teria facilitado o retorno da influência da Igreja Católica ao
poder e à tradição de outrora (Monteiro e Costa, 2006, p. 84).
Para o historiador José Subtil, entretanto, o período que se seguiu à
queda de Pombal foi marcado muito mais por continuidades do que por
rupturas (ou retorno à tradição). Os principais cargos que determinavam a
“orientação política” do reino continuaram nas mãos dos “principais agentes
reformistas do pombalismo”, dando prosseguimento, inclusive, às reformas
ilustradas, com algumas “novas iniciativas esclarecidas”.1
Refutamos a ideia de Viradeira, pois acreditamos que os processos de
transformação no percurso da história são lentos e de complexa assimilação.
Num curto período, como é o caso do ministério estudado, não se pode
esquadrinhar o alijamento total da velha tradição neoescolástica para atri-
buir a sua volta num período imediatamente posterior. Contudo, o perdão
concedido ao ex-ouvidor José de Góes revela que a Inconfidência de Sabará
apresentou contornos específicos que se encaixavam no contexto conflitante
da época. A tradição política do Antigo Regime ainda estava entranhada nas
raízes daquela sociedade e adentraria pelo século seguinte.
Constituiu-se nossa principal intenção contextualizar os acontecimen-
tos ocorridos em Sabará, em 1775, num ambiente macro, isto é, no processo
de reformas empreendido por Pombal. Ao mesmo tempo, procuramos en-
tender a governança nas Minas como parte integrante da dinâmica política
do Antigo Regime portuguesa, em que a concepção de legitimidade do poder
real passava pela ideia de pacto político, que concedia aos vassalos os espaços
legítimos de poder. Por sua vez, esse mesmo pacto garantia a fidelidade dos
homens que viviam sob a monarquia portuguesa, seja no Reino ou no ultra-
mar. Era um acordo tácito que garantia o domínio nesse vasto império.
1
Podemos citar algumas delas: “durante os primeiros anos do reinado de D. Maria I, a Inten-
dência-Geral da Polícia viu reforçada a sua atuação com a direção de Diogo Inácio de Pina
Manique”, em 1779 “seria fundada a Real Academia de Ciências de Lisboa. [...] Seriam criadas,
entre outras, a Academia do Nú, a Aula Pública de Debuxo e Desenho, a Aula Régia de Dese-
nho, a Real Biblioteca Pública de Lisboa, o Museu de História Natural e a Real Casa Pia. E, na
sequência da Lei da Boa Razão e da Reforma da Universidade de Coimbra (1772), iniciaram-se,
a partir de 1783, os trabalhos destinados à reforma das Ordenações Filipinas através da Junta
Ordinária da Revisão e Censura do Novo Código (1780)” (Subtil, 2008, p. 5).
Conclusão 253
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