As Setes Artes Liberais - Paul Abelson
As Setes Artes Liberais - Paul Abelson
As Setes Artes Liberais - Paul Abelson
PAUL ABELSON
Tradução
Nelson Dias Corrêa
As sete artes liberais: um estudo sobre a cultura medieval
Paul Abelson
1ª edição — outubro de 2019 — cedet
Título original:
e seven liberal arts: a study in mediaeval culture, 1906
Editor:
Felipe Denardi
Tradução:
Nelson Dias Corrêa
Diagramação:
Gabriela Haeitmann
Capa:
Brunortega | Projetos Grá cos
Revisão de provas:
Jéssica Cardoso Leite
Luiz Fernando Alves Rosa
Natalia Ruggiero Colombo
Sa ri Linares
Abelson, Paul.
As sete artes liberais: um estudo sobre a cultura medieval / Paul Abelson; tradução de Nelson
Dias Corrêa – Campinas, SP: Kírion, 2019.
ISBN 978-85-94090-32-4
Capa
Folha de Rosto
Créditos
Dedicatória
Introdução
Capítulo I. O desenvolvimento do currículo das sete artes liberais
Capítulo II. Gramática: o estudo prático do latim
Capítulo III. Gramática: o estudo da literatura latina
Escopo
Métodos
Capítulo IV. Gramática: os manuais
O primeiro período
O segundo período
Vocabulários: caráter geral
Dicionários escolares
Capítulo V. Retórica
A. Estudo técnico
Condições gerais
Manuais
B. O estudo do Dictamen
Caráter geral
Manuais
Capítulo VI. Lógica
A. Período pré-universidade
Escopo e livros-texto
B. A época das universidades
Capítulo VII. Aritmética
A. Caráter geral do quadrivium
B. A extensão do conhecimento
Primeiro período
Caráter geral
Obras didáticas
Segundo período
Caráter geral
Livros-texto
Terceiro período
Caráter geral do conhecimento matemático
Escopo
Livros-texto
Capítulo VIII. Geometria
Primeiro período
Segundo período
Terceiro período
Capítulo IX. Astronomia
Primeiro período
Segundo período
Terceiro período
Capítulo X. Música
Caráter geral
Livros-texto
Conclusão
Notas
Bibliogra a crítica
Fontes primárias
Obras secundárias
À minha esposa,
Helen C. Abelson.
Introdução
PAUL ABELSON
Bryn Mawr Park, Yonkers, NY
31 de março de 1906
* Cosmovisão — NT.
CAPÍTULO I
O desenvolvimento do currículo das sete artes liberais
C OMO arte liberal, a gramática teve na Idade Média um alcance muito maior
do que o termo hoje implica. A palavra “gramática” foi introduzida em
Roma no período helenístico, e veio a ter lá o mesmo sentido que então assumira
no mundo grego: o estudo da literatura.1 Naturalmente, foi essa a perspectiva
tomada pelos autores de obras didáticas na Idade Média.2
Essa disciplina fundamental mirava, portanto, o domínio da linguagem
universal daquele tempo, a língua da Igreja e do Estado, laço de união entre as
classes letradas de toda a Europa Ocidental.
Mas não será da amplitude conferida pelos próprios gramáticos à de nição da
disciplina que dependerá a nossa avaliação sobre o peso da gramática no currículo
medieval; o nosso norte, em última instância, serão os verdadeiros objetivos e
resultados da instrução. uais eram, a nal, os seus objetivos? Em primeiro lugar,
o domínio prático da língua latina, rota segura para o alto conhecimento; em
segundo, a apreciação das suas formas literárias.
Este capítulo dedica-se a examinar o real escopo, conteúdo e método do
ensino da gramática. Em outras palavras, tentaremos descobrir como o jovem
aluno de uma escola medieval era instruído em latim, uma língua que não lhe era
a materna, de maneira que, dentro de três ou quatro anos, ele a tivesse como meio
de expressão cotidiana num ambiente de estudos. O próximo capítulo reserva-nos
tarefa mais complicada, isto é, encontrar uma resposta satisfatória à controversa
pergunta: “Até que ponto o ensino da gramática previsto no currículo desenvolvia
a capacidade de apreciação literária?”.
Não há dúvidas de que o objetivo prático, a aquisição do idioma para ns de
comunicação, fosse sempre alcançado.3 Nesse trabalho, porém, o professor
medieval estava à própria sorte, pois o método em voga na Roma Antiga,
qualquer que tenha sido, não tinha a menor utilidade para o ensino do latim
como língua estrangeira — fato esse que torna o problema ainda mais
interessante.
Se carecemos de um registro autêntico e integral do método empregado na
instrução em latim, ainda é possível, em certa medida, reconstituir a vida escolar
nesse período.4 Com base em várias fontes, estabeleceu-se que o menino medieval
já soubesse pronunciar e escrever palavras latinas, bem como dizer as orações em
latim, quando iniciava o estudo da gramática. Três anos de canto e de recitação
dos salmos tinham já fortalecido a sua memória e lhe ensinado as quantidades
latinas, ainda que, àquela altura, ele não soubesse o signi cado das palavras.5
Assim o grammaticus dava início ao trabalho de apresentar o menino à
gramática latina. O seu ponto de partida, claro, eram as partes do discurso. Era
preciso um texto básico, em que as regras elementares viessem ilustradas com
palavras simples. Nos dias de hoje, os problemas com que o professor se deparava
seriam considerados invencíveis; os livros eram escassos, e por vezes nem um
único aluno em toda a sala possuía uma cópia do texto. ue progresso faria um
professor moderno ao ensinar uma língua estrangeira sem o amparo de copiosos
manuais? O mestre-escola, porém, sem se deixar intimidar, tirava o máximo da
sua própria cópia, sempre surrada, não raro imperfeita. Dia após dia, lia em voz
alta uma determinada seção, a qual explicava cuidadosamente, traduzindo para o
vernáculo as palavras mais difíceis; os meninos, nas suas tábuas de cera, copiavam
frases simples e ilustrativas, e na aula seguinte, tendo recitado a lição anterior,
tinham de avançar do mesmo modo sobre outra porção do texto. O processo
continuava, somente variado por freqüentes revisões, até que os alunos tivessem
memorizado um certo número de regras e aprendido o signi cado de várias
palavras do uso diário. Entretanto, ao perceber que os meninos aprendiam
depressa as palavras novas, o professor, nas suas explicações, passava gradualmente
do vernáculo para o latim. A m de facilitar a aquisição de palavras cotidianas, ele
introduzia oportunamente algum colloquium, uma espécie de manual de
conversação. Não havendo um à mão, ajudava-lhe o engenho a compilar o seu
próprio.6
O trabalho do professor só aumentava depois de os seus alunos terem
dominado esses rudimentos, pois aí se fazia necessário um livro adequado para
uma criança de onze anos de idade. Provê-la de tal livro é, sem dúvida, mera
questão de pedagogia. Nos nossos dias, quando o professor, constantemente
achacado por uma pletora de livros, tem-se pasmo ante a variedade de opções ao
seu dispor, a gravidade que o problema tinha para o professor medieval mal pode
ser estimada. E, todavia, a solução encontrada põe à prova a nossa admiração.
Embora as circunstâncias obrigassem cada mestre-escola a compilar o seu próprio
livro, todos utilizaram-se de material similar. Parecem ter partilhado o mesmo
entendimento sobre uma situação pedagógica enfrentada por todos, mais ou
menos da mesma forma.
Nas suas incursões pela lologia, pelos antiquários e pela Kulturgeschichte,* os
historiadores modernos têm lançado luz sobre um sem-número dessas obras.
Algumas, conquanto representem o trabalho de uma vida, jamais atingiram a
popularidade para além da escola onde atuava o seu autor; outras, mais célebres,
foram usadas com certa freqüência aqui e ali; mas poucas foram conhecidas em
toda a cristandade, de maneira que escola alguma pudesse reivindicar distinção
enquanto não se as houvessem estudado intramuros. Esses pequenos livros são
verdadeiros monumentos de habilidade pedagógica. Vindos de tantas partes da
Europa Ocidental, o que reduz ao mínimo as possibilidades de plágio, trazem
notáveis evidências de similitude no que diz respeito à escolha e à abordagem do
material. Lendas e narrativas, provérbios e ditos populares, fatos do cotidiano
particularmente interessantes: disso tudo compunha-se o universo dos pequenos
leitores.
Mas não é esse o único fato impressionante sobre os livros didáticos. Ainda
mais signi cativas são as mudanças e adaptações, tanto no material como no
método, que os autores zeram para adequar-se ao espírito e ao temperamento
das suas respectivas gerações. A nós nos parece natural que o New England
Primer** do século XVIII perdesse o lugar para um livro mais interessante aos olhos
do menino do século XX. Raramente procuramos tais mudanças na Idade Média,
e contudo não só as houve, mas foram tão acentuadas quanto as de hoje. Desse
modo, nos tempos que se seguiram à dissolução do império, os livros utilizados
em sala acusavam grande dependência dos métodos romanos; foram-se ajustando
de geração em geração, e já na alta Idade Média as peculiaridades clássicas haviam
praticamente desaparecido. Diríamos, em palavras modernas, que o mestre-escola
entendeu o “princípio da apercepção”.7
Como é de supor, o espírito da época ditava que jamais a disciplina em si
mesma ofuscasse o objetivo geral da educação, isto é, o bem viver segundo o
cristianismo. Na verdade, todas essas obras didáticas baseiam-se, uniformemente,
em duas idéias: instruir em latim e inculcar, por tabela, princípios éticos e
religiosos. A gura-se, no entanto, que os autores variavam nos seus métodos. Uns
empregavam material de caráter abstrato, outros preferiam o concreto, e por vezes
num só livro combinavam-se as duas coisas.
O modelo da primeira tendência foram os Disticha Catonis. A amplitude da
utilização desse livrinho, datado aproximadamente do século IV, empresta
particular interesse à análise do seu conteúdo. De partida, os 143 dísticos da
versão analisada podem ser classi cados da seguinte maneira:
1. O espírito da religião 17
2. Autocontrole 35
3. Deveres para com os outros 35
4. Máximas prudenciais 35
5. Informações variadas 218
Vê-se logo que esse livro não é de origem pagã, como geralmente se supõe —
algo que uma leitura atenta dos dísticos iniciais sugeriria com nitidez. O texto
pode ser considerado representativo de um período de transição: a primeira Idade
Média, quando era de uso corrente. Sua popularidade em nada foi comprometida
pelo fato de abundar em traços de estoicismo; a Europa Ocidental ainda precisava
da herança clássica, o bastante para não se desfazer de obra tão útil. Assim, essa era
de fé pôs nas mãos dos seus meninos, os botões da Igreja, um livro tão meticuloso
em evitar questões de ortodoxia, que os zelosos suspeitaram ser-lhe o autor um
pagão.
O Liber proverborum de Otlo foi composto no século X, em parte para
suplantar os Discticha Catonis. À sua geração, naturalmente soaria mais
interessante um livro baseado em fontes bíblicas e patrísticas do que outro
qualquer baseado em autores profanos.9
Com Deliciae cleri, de Arnulfo, marca-se mais um passo de afastamento dos
romanos e aproximação de uma perspectiva puramente medieval; a obra assenta
quase que por inteiro nas Escrituras em geral, e em particular nos Provérbios.10
Os Proverbia Wiponis, os chamados Sche larer Proverbia e os Proverbia Henrici
representam ainda outro estágio na evolução das obras desse gênero. Nelas o
material deriva-se de fontes caracteristicamente nacionais — nem de autores
clássicos, nem de autores cristãos.11
Não obstante, a cartilha que mais despertava o interesse de alunos e
professores era a qual se entremeasse de fábulas e narrativas. A doutrina do
mestre-escola moderno, segundo a qual, para as crianças, melhor o concreto do
que o abstrato, parece ter sido a palavra de ordem do seu protótipo medieval.
Nenhuma outra hipótese dá conta da impressionante quantidade dessas coleções.
Embora passassem por obra de autores diversos, todas elas baseavam-se
rmemente nos cinco livros de Fedro, contemporâneo de Tibério, e na obra de
Aviano, autor do século II. No século X, as fábulas de Fedro foram trabalhadas por
um dito Rômulo, e como tais fundamentaram todas as subseqüentes compilações
medievais, tanto em latim como em vernáculo.12 Dentre as coleções em uso no
nal da Idade Média, podem-se destacar o Novus Aesopus e o Novus Avianus de
Alexandre Neckham; nada menos que sete manuscritos da sua obra, e em verso,
foram encontrados por Hervieux.13 O Phaedrus foi parafraseado e posto em
prosa por monges que o quiseram empregar no magistério, e nada menos que 47
desses manuscritos foram já encontrados na França, no sul da Alemanha, na
Inglaterra, na Bélgica e na Itália, ao passo que dos manuscritos em verso já se
descobriram 112 na França, na Espanha, na Holanda, na Alemanha, na Inglaterra,
na Áustria, na Bélgica, na Itália e na Suíça. O corpus diretamente derivado de
Fedro bate a marca de 216 manuscritos.14
Os tipos de obras didáticas descritos até aqui assinalam a tendência geral em
termos de método e abordagem no ensino primário do latim. Mas, do século XI
em diante, houve professores que almejassem combinar o abstrato e o concreto e
adaptar o material aos gostos da sua própria geração ou nacionalidade.15 Esses
esforços encontraram a sua melhor expressão nos 2.473 versos que compõem o
primoroso Fecundia ratis, livro escrito por Egberto, padre e submagister scholae
em Liège, entre 1022 e 1024.16
Na sua exaustiva investigação, Voigt demonstra que o objetivo do autor era a
criação de uma cartilha ideal, que apresentasse o melhor da literatura sem no
entanto extrapolar os limites da compreensão de uma criança. Para tanto, valeu-se
do que era sacro e profano, concreto e abstrato; fábulas e provérbios lado a lado
com os melhores escritos dos Padres da Igreja. ue Egberto dedicou a essa tarefa
um grande zelo vê-se pela quantidade de autores citados, direta ou indiretamente.
O livro contém uma imensidão de informações a respeito da vida de estudos e
assuntos congêneres. uanto à forma, segue uma linha de di culdade progressiva,
começando por sentenças de uma só linha, até chegar, no nal, a parágrafos com
mais de vinte. uanto ao conteúdo, semelhantemente, os 2.473 versos de
Fecundia ratis apresentam-se em graus de di culdade cada vez maiores: os
primeiros 595 são provérbios e epigramas de uma linha; os próximos 400 (596–
1008), dísticos um pouco mais so sticados; os 760 seguintes (1008–1768)
incluem fábulas de extensão variada; e os últimos 600, tópicos teológicos e
bíblicos.17
Não restam dúvidas de que o mestre-escola medieval apreciava
inteligentemente as di culdades pedagógicas em torno do ensino de uma língua
estrangeira que se deveria tornar, para o aluno, o meio de expressão mais
cotidiano. Do mesmo modo, a gradual modi cação e adaptação dos materiais,
sempre em vista das necessidades de cada tempo e da motivação da classe,
demonstra a grande habilidade do professor medieval, que em muitos casos era
impelido a ser o autor da cartilha que os seus alunos haveriam de estudar.
ESCOPO
ue houvesse cultura literária nas escolas da Idade Média pode-se inferir dos
seguintes fatos:
No estudo dos autores clássicos, relatos das suas vidas e das suas épocas eram
muitas vezes disponibilizados aos alunos. Esse material encontrava-se em
livrinhos conhecidos como “accessus ad poetas”.34 Embora a explicação literal
fosse o objetivo elementar da instrução, o fato é que, no mais das vezes, alcançava-
se muito mais do que isso. As formas e expressões idiomáticas eram enfatizadas;
seções inteiras, memorizadas; e o aluno via-se testado com freqüência, tendo de
reformular a idéia do autor em prosa correta, sem barbarismos ou solecismos, para
provar que compreendera o que leu.35
A qualidade desse trabalho dependia principalmente do caráter do professor.
Bernardo de Chartres, por exemplo, que educou João de Salisbury no século XII,
não somente lia os autores junto com os alunos, mas também explicava
construções, apontava equívocos, elucidava questões, pedia aos alunos que
julgassem e criticassem, fazia-os decorar passagens e escrever exercícios originais.
Por mais que esse trabalho represente o que havia de melhor no ensino da
gramática, a prática da composição em prosa e verso era muito comum nas escolas
em geral; o último dos três anos dedicados ao estudo da gramática era reservado a
atividades desse gênero.36 Essa instrução tinha um nome técnico, dictare, e a
habilidade de fazer um dictamen metricum era uma espécie de testamentum
maturitatis em gramática.37 O exercício baseava-se, naturalmente, numa passagem
qualquer de um autor clássico ou das Escrituras; raras vezes algum jovem bem-
dotado entregava como dictamen uma produção poética mais so sticada.38
Tudo o que se disse acerca dos clássicos e da sua presença no programa de
gramática só vale para o período antecedente à era das universidades. O caráter da
instrução modi cou-se, assumindo então feições mais dialéticas — e disso os
livros do período virão dar o próprio testemunho. Era o tempo da disputa entre
“as artes” e “os autores”, sendo “as artes”, como vimos, nada mais que um
tratamento lógico para todas as sete artes liberais. Em vez de textos originais e de
comentários sobre os autores, encontraremos breves antologias; o Floretus e o
Facetus — este erroneamente atribuído ao João de Garlandia — são exatamente o
tipo de material que começava a suplantar os clássicos no terreno do estudo da
gramática.39
É precisamente nessa mudança de método que reside a explicação para o
declínio do gosto clássico e do estilo latino nos séculos XIII e XIV. A situação
contrasta de forma aberrante, e mesmo Hallam o admite, com a prevalência do
clássico no século x, e especialmente no XI,40 a qual se deveu,
inconfundivelmente, à imensa carga de instrução oferecida nas escolas do
período.
A disciplina da gramática encolheu nos tempos da escolástica. Depois de
passar apressado pelos fundamentos do latim, o aluno era empurrado até a
universidade, e de lá para Aristóteles. O abandono da literatura latina fez sofrer
lado a lado autores pagãos e cristãos; com o tempo, entretanto, o declínio do
interesse pelos clássicos causou a própria reação, abrindo espaço para os
humanistas. Não obstante, o propósito central desta investigação é avaliar a típica
instrução medieval, de maneira que um exame detalhado dessa fase de declínio,
além de estranho à nossa investigação, teria mais a ver com um estudo qualquer
sobre o humanismo.
CAPÍTULO IV
Gramática: os manuais
Os manuais do primeiro período vêm quase todos da Itália.2 Muitos deles são em
forma de diálogo, não ao modo socrático, mas na fórmula “pergunta e resposta”.
uanto ao seu valor fundamental, pode-se dizer que eram bastante rigorosos na
abordagem da sintaxe, conquanto inúteis no tratamento das derivações.3
O manual de gramática mais conhecido em toda a Idade Média foi o Ars
grammatica minor, de Élio Donato.4 Não se trata de uma cartilha, como se diz
algumas vezes, mas sim de um plano geral das oito partes do discurso, composto
em cerca de oito páginas. A fonte de Donato foi o hoje perdido Ars grammatica
de Palêmon, autor do século I.5
Totalmente diverso, e bem mais compreensivo, era o Institutio de arte
grammatica, de Prisciano.6 O objetivo dessa obra, conforme exposto pelo autor na
sua carta dedicatória, era assentar o estudo do latim na mesma base cientí ca do
estudo do grego. Prisciano segue o método de Apolônio Díscolo, a quem deve,
com efeito, boa parte do seu material. A obra divide-se em dezoito seções: as
dezesseis primeiras tratam de morfologia, e as duas últimas, de sintaxe — essas
duas, bastantes rigorosas, são por vezes encontradas num volume à parte. A
maioria dos manuscritos ainda existentes contêm apenas as dezesseis primeiras
seções, o que mostra que a sintaxe de Prisciano não foi tão estudada quanto o
resto da sua gramática.
Essa foi a gramática mais avançada da Idade Média, e ainda hoje sobrevivem
mil manuscritos. O texto cobre cerca de 584 páginas in-octavo, das quais 162 são
dedicadas à sintaxe. Prisciano cita nada menos que 255 autores diferentes, entre
eles Aristófanes, Aristóteles, Júlio César, Catão, Cícero, Demóstenes, Heródoto,
Homero (78 vezes), Horácio (158 vezes), Juvenal (121 vezes), Lucrécio (25
vezes), Ovídio (73 vezes), Salústio (80 vezes), Terêncio (225) e Virgílio (a Eneida
por 721 vezes, e outras obras por 146).7 Muitos resumos da obra de Prisciano
foram elaborados para ns escolares, entre eles um da pena de Rábano Mauro.8
Além das gramáticas de Donato e Prisciano, podemos referir, em ordem
cronológica, as seguintes obras:
Instituta artium e Catholica, de Valério Probo, um dos principais
1. gramáticos da segunda metade do século I, responsável pelas linhas gerais
da gramática latina tradicional.9
4. Ars de nomine et verbo, de Focas. Alcuíno inclui este livro entre os títulos
da famosa biblioteca de York. Foram encontradas glosas à obra.12
13. Ars grammatica, de Asper. Breve abordagem das letras, sílabas, partes do
discurso etc. Foi encontrado na biblioteca de São Galo no século IX.21
A posição de destaque ocupada por Prisciano foi mais tarde tomada por
Alexandre de Villedieu, com o Doctrinale de 1199.27
Cabe aqui fazer algumas considerações, que expliquem, do ponto de vista
medieval, a popularidade fenomenal desse livro que, por três séculos, dominou a
maioria das escolas européias. O número de manuscritos ainda existentes chega a
255 — 33 do século XIII, 64 do século XIV, 154 do século XV e 9 do século XVI —,
mas o total de edições impressas certamente ultrapassa marca de 295.28
O livro foi usado em escolas da Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, Itália
e Polônia, bem como nas universidades. As razões para tanto são as seguintes:
A
ESTUDO TÉCNICO
CONDIÇÕES GERAIS
Basta que os jovens dispensem alguma atenção ao estudo da retórica. Mesmo assim, nem
todos que esperam ingressar no sacerdócio, mas apenas aqueles ainda não comprometidos
a dispor do seu tempo na busca do maior benefício deveriam estudar a matéria. De
qualquer forma, quem deseja alcançar a arte da eloqüência pode fazê-lo melhor com a
leitura e a audição dos grandes oradores do que estudando as regras da retórica.3
Isso explica por que o tempo dedicado à técnica retórica era tão pouco em
comparação ao investido na gramática. O número de manuscritos encontrados e o
caráter elementar dos seus conteúdos sugerem a relativa indiferença medieval a
esse ramo do currículo.4
MANUAIS
Cícero e uintiliano foram modelos de retórica para toda a Idade Média. Suas
obras, porém, muito raramente se empregavam como manuais — talvez por conta
da sua extensão considerável.5
De qualquer modo, os princípios desses mestres foram transmitidos à Idade
Média por uma série de manuais, todos compostos na segunda metade do século
IV, e por tratados elementares que se encontram nas obras de Capela, Agostinho e
Cassiodoro, além, claro, do trabalho especial de Alcuíno. Esses tratados, poucos
em número e tamanho, vão desde simples catálogos das guras abordadas por
Cícero e uintiliano até resumos bem elaborados das suas obras principais. Os
mais elementares, formando como que um tecido entre a gramática e a retórica,
são:
CARÁTER GERAL
1. Ao passo que a ars dictandi foi estudada na Itália desde o início do século
VI, o primeiro compêndio de fórmulas de cujo emprego escolar não
restam dúvidas é o assim chamado Salsburg Formularius, datado, pelo
menos, de 821. Sua organização, conteúdo, referências incidentais e
glossários demonstram conclusivamente que ele fora concebido como
obra de referência para cartas modelo, memorandos e documentos
similares. Essa dedução é inevitável, se bem que o volume não contenha as
introduções didáticas sobre a ars mesma. Como se trata da primeira do
seu gênero, passamos agora a uma breve descrição.41
O livro consiste em 126 composições independentes, as quais, juntas,
ocupam cerca de 70 páginas do texto. São 25 fórmulas para transações do
dia-a-dia leigo, como testamentos, anúncios de venda etc; cerca de 10 têm
um caráter estritamente legal; 30 pertencem a relações o ciais — de rei
para rei, de rei para súdito, de arcebispo para rei etc. A coleção traz 8
manuscritos autênticos de cartas de Alcuíno ao seu pupilo, Arno; o
restante é uma variedade inclassi cável de documentos de menor
importância.
5. Rationes dictandi prosaici foi composto por Hugo de Bolonha entre 1119
e 1124. Uma série de manuscritos completos sobrevive ainda hoje. Sob
todos os aspectos, a obra fundamenta-se em Alberico.45
8. Se os quatro últimos livros devem sua origem à Itália, onde, como vimos,
a ars dictandi foi plenamente desenvolvida ao longo do século XI,
deparamos coleções ainda mais elaboradas em solo germânico. A primeira
e mais fundamental desse gênero é a Summa prosarum dictaminis que
passa pelo título Sächsisches Formelwerk. O autor é desconhecido, mas
sabemos que a data da composição não ultrapassa 1230. Os modelos
baseiam-se no material empregado por um professor de nome Gernard,
que, em 1222, tornou-se bispo de Brandembugo. Trata-se de um estudo
minucioso a respeito da ars, com ilustrações especiais de altos privilegia,
ou litterae missiles. O texto abre com um exaustivo tratamento de não
menos que 20 tipos de privilegia; a seguir, uma compilação de 109
documentos autênticos, para ilustrar os princípios enunciados. Atestam o
seu emprego como obra didática o número de manuscritos anda
existentes, as notas de margem encontradas em todos eles e o fato de que
ao menos duas famosas coleções germânicas o têm como base.48
A
PERÍODO PRÉ-UNIVERSIDADE
ESCOPO E LIVROS-TEXTO
3. Sob o currículo das sete artes liberais, a lógica não era senão o que hoje
chamamos de lógica formal.
A
CARÁTER GERAL DO UADRIVIUM
CARÁTER GERAL
• De unciarum ratione.30
A origem desses tratados não pode ser rastreada para além do século X.31
Supõe-se, por conseguinte, que eles indiquem um lento progresso do
conhecimento aritmético. De todo modo, esse mesmo material serviria de base
para as realizações de Gerberto.
SEGUNDO PERÍODO
CARÁTER GERAL
Até o nal do século X, a era de Gerberto, quase que não existia na Europa
Ocidental conhecimento em geometria tal como a de ne o uso moderno da
palavra. Com efeito, parece que o termo se empregava em sentido etimológico, e
não no sentido em que os gregos o entendiam. Dada a negligência dos romanos,
que apenas cuidavam da sua aplicação prática, a agrimensura, o mais provável é
que nenhuma geometria digna do nome de ciência tenha sido transmitida à Idade
Média.1 Disso dão testemunho os livros-texto do tempo de Gerberto. Os mais
usados eram os de Marciano Capela, Cassiodoro e Isidoro de Sevilha.
O texto de Capela, de modo geral, é um breve relatório sobre geogra a, a
localização de sítios históricos e fatos congêneres. Somente no nal da obra
encontramos algumas de nições: linhas, triângulos, quadrângulos, o círculo, a
pirâmide, o cone. Nada há nesse texto de geometria propriamente dita, ou mesmo
de agrimensura.2 O capítulo de Cassiodoro não se sai melhor,3 e o mesmo vale
para o tratamento de Isidoro de Sevilha.4
Conquanto esses tenham sido, ao que tudo indica, os únicos livros-texto de
geometria à época de Gerberto, é bem verdade que os agrimensores do Império
Romano tardio, os gromatici, legaram à Idade Média algum conhecimento sobre
estimar-se a área de um triângulo, de um quadrilátero e de círculo.5
Mas se a ciência da geometria fora negligenciada, a geogra a e a cosmogra a
foram introduzidas para suprir a de ciência. O material sobre essas disciplinas era
farto, e por isso elas foram muito cultivadas. A maioria dos vinte livros das
Etymologiae, de Isidoro de Sevilha, diziam respeito à Naturkunde.6 De uni erso,
de Rábano Mauro, foi outra compilação do mesmo tipo.7 Compêndios baseados
na geogra a de Plínio, entre outros, foram muito numerosos no período, e as
referências ao estudo desses obras como parte do quadrivium são bastante
comuns.8
SEGUNDO PERÍODO
A O longo de toda a Idade Média, a astronomia foi talvez a mais popular entre
as disciplinas do quadrivium. As razões para tanto nada têm de obscuras.
Em primeiro lugar, a astronomia estava intimamente ligada a pelo menos outras
duas disciplinas do quadrivium: aritmética e geometria. Também neste caso, o
dia-a-dia dos homens era mais afetado pelo aspecto prático da disciplina; o
interesse popular pelos movimentos celestes era maior na época do relógio solar
do que o poderia ser hoje, na era do relógio de pulso. Ademais, o peculiar apego
medieval à astrologia ajudou a promover o estudo da astronomia — não se pode
subestimar o alcance dessa in uência. O grande Kepler, no início do século XVII,
chamou a astrologia de “ lha tola da astronomia”, e acrescentou: “mas pela
existência da lha a mãe teria morrido de fome”.1 Outro fator estimulante do
interesse pela astronomia foi a relevância do cômputo da Páscoa, pois se o cálculo
em si podia ser feito mecanicamente, o estudo dos problemas astronômicos mais
profundos, de um modo ou de outro implicados na operação, era contudo
inevitável. Na verdade, o que esses livros apresentavam a respeito do computus
propriamente dito, no mais das vezes, era-lhe apenas remotamente relacionado.2
Aos letrados, o fato de o próprio Aristóteles ter escrito uma obra sobre
astronomia deve ter parecido razão su ciente para manter a disciplina no
currículo superior. Não admira, portanto, que o seu De caelo constasse entre as
obrigações do mestrando na maioria das universidades. Por m, a harmonia entre
a doutrina geocêntrica e os dogmas teológicos da época3 deve ter sido um
estimulante poderoso: num tempo em que a idéia de universalidade, na Igreja e
no Estado, dominava a mente do homem, quão atrativa deve ter sido uma
disciplina de caráter tão universal! O fascínio que hoje nos causam os milagres da
ciência moderna mal se pode comparar com a in uência que as maravilhas da
astronomia, ciência ainda na infância, exerciam sobre a mente do estudante
medieval.
Não surpreende que veri quemos, no curso de toda a Idade Média, uma
atenção contínua para com o estudo da astronomia. As conclusões gerais sobre a
instrução em aritmética e geometria aplicam-se com ainda mais força à
astronomia: abundam as evidências de que a instrução no período pré-
universitário acompanhasse o estado da arte na astronomia; de que a astronomia
elementar e avançada foi pré-requisito em quase todas as universidades entre os
séculos XIII e XV;4 de que a carga de instrução avançada em astronomia foi muito
grande durante toda a era das universidades; de que foram muitos os autores e
professores dedicados à astronomia; de que se deu assimilação do aporte arábico;
de que tábuas astronômicas cada vez melhores foram produzidas continuamente;
e de que idéias originais não foram raras nesse campo. É preciso desfazer-se das
noções tradicionais sobre a cultura medieval para apreciar devidamente a
importância do fato de que a manufatura e comercialização de instrumentos
astronômicos não era um ramo infrutífero ao nal do século XV.5
uanto às proporções do conhecimento astronômico da Idade Média,
podemos, outra vez, distinguir três períodos: o primeiro termina com a virada do
século XII; o segundo compreende o século XII como um todo; e o terceiro se
estende entre os séculos XIII e XVI.
PRIMEIRO PERÍODO
Tal crescimento permitiu uma retomada cientí ca, suplementada, claro, pelo De
coelo de Aristóteles, que então já estava à disposição das universidades européias.
É óbvio que o estudante universitário não poderia ser lançado ao estudo da
astronomia, tanto da árabe como da aristotélica, nem tirar grande proveito das
tábuas astronômicas sem antes ter-se-lhe dado alguma instrução preliminar. Do
ponto de vista do professor medieval, eram necessidades do dia: (1) um breve
tratado introdutório sobre os fundamentos da astronomia; (2) um arrazoado
suscinto, para uso escolar, sobre a teoria ptolomaica; (3) algum tratado sobre o
uso dos vários instrumentos astronômicos.
Essas necessidades foram supridas com sucesso. A demanda por um tratado
elementar de astronomia, que incorporasse “os últimos avanços da ciência”, como
diríamos hoje, e ao mesmo tempo servisse para o uso escolar, foi atendida pelo
histórico Libellus de sphaera de Sacrobosco. O caráter elementar do conteúdo é
sugerido pelo autor na sua própria introdução.17 A imensa popularidade desse
livro, bem como a amplitude da sua utilização ao longo de quatro séculos —
foram encontradas cerca de 60 edições diferentes18 —, têm sido referidas para
rebaixar a carga de instrução em astronomia oferecida nas universidades. Note-se,
porém, que esse livro era usado apenas como volume introdutório, e que a um
curso qualquer sobre “sphaera”, tema do livro de Sacrobosco, seguia-se
invariavelmente, em todas as universidades, um curso avançado sobre teoria
astronômica.19 Como tratado introdutório, o livro cumpriu bem a sua função.
Nem Melâncton, príncipe dos professores da Reforma, já distante o triunfo do
humanismo, pode superá-lo — fato que se prova na sua introdução laudatória a
uma edição de 1531.20
No século XIII, foi suprida a necessidade de um livro-texto avançado, que
incorporasse as reivindicações cientí cas da teoria ptolomaica. Dois italianos,
Geraldo de Cremona e Giovanni Campano de Novara, compilaram adaptações
melhoradas de um grande número de edições árabes, em geral imperfeitas, do
Almagesto. As suas obras intituladas eorica planetarum tornaram-se obrigatórias
em todas as universidades, e equivalia, no âmbito do mestrado, ao curso avançado
de astronomia.21
A terceira necessidade do dia, isto é, a demanda por um livro-texto sobre o
instrumental, foi atendida por uma série de autores. Sacrobosco escreveu o
popular De astrolabio; Roberto Grosseteste, professor de matemática em Oxford,
falecido em 1253, escreveu um tratado homônimo; e Pietro d’Abano foi o autor
de Astrolabium planun. Esses livros tornaram-se o material para a instrução do
astrolábio ou do planisfério nas universidades.22
Os três tipos de livro continuaram em uso nas universidades por todo o século
XIV e cerca de oito décadas do século XV. Durante esse tempo, requereu-se do
graduando medieval a assimilação de textos sobre astronomia elementar e
avançada e sobre o manuseio do instrumental astronômico.
Em astronomia, como nas outras disciplinas do quadrivium, houve o mesmo
desejo de incorporar ao currículo o novo conhecimento. Assim, no nal do século
XV, quando Peuerbach e Regiomontanus, astrônomos famosos na sua geração,
tinham enriquecido a ciência com as suas primorosas traduções do Almegesto e
suas tábuas astronômicas, então as universidades elevaram as condições da
astronomia. eorica planetarum e outros tantos epítomes da ciência foram logo
transformados em textos-padrão da disciplina.23
En m, desta investigação sobre o escopo e o caráter da instrução em
astronomia no currículo medieval, podemos tirar as seguintes conclusões: (1) a
instrução na disciplina seguiu por todo o período; (2) durante a Idade Média, a
carga de instrução, que já não era grande, limitava-se ao ensino dos métodos de
cômputo eclesiástico; (3) o currículo ampliou-se a cada novo incremento da
astronomia, e o novo material incorporava-se aos livros-texto então utilizados; (4)
o estudante medieval conhecia não somente os fundamentos da astronomia, mas
também a base cientí ca das teorias em voga; (5) à falta do telescópio, essas
teorias explicavam a contento todos os problemas astronômicos do dia e
ofereciam boa hipótese de trabalho para todos os fenômenos familiares aos
estudiosos.
CAPÍTULO X
Música
Essa breve análise mostra que as únicas seções adequadas para o uso escolar
são os livros II e IV. Foram esses, provavelmente, os únicos utilizados. O fato de
que esses dois livros, ou pelo menos os seus temas, parecem ter sido a base de toda
uma cadeia derivativa dá razão de ser à nossa suposição.16
Entre esses textos derivativos, destacam-se:
O avanço causado pela emancipação de Boécio foi tão gradual, que é difícil
nomear o primeiro texto que a manifesta. Entretanto, Cita et vera divisio
monochordi, composto por Bernelinus no século X, pode ser considerado um
divisor de época. Os críticos mais competentes acreditam que o livro aborda os
aspectos matemáticos da teoria musical num espírito essencialmente original.20
De Bernelinus em diante, o progresso no sentido de uma teoria musical
medieval seguiu regularmente. O acúmulo de conhecimento foi gradualmente
re etindo-se nos livros-texto, e ao nal do século XIV personi cou-se em Jean de
Murs, professor de matemática na Universidade de Paris. O seu livro foi a obra-
padrão adotada pelas universidades durante os séculos XIV e XV.21
Conclusão
CAPÍTULO I
1. De penas inglesas e americanas, não pôde o autor localizar mais do que
três estudos especí cos sobre o tema: T. Davidson, “ e Seven Liberal
Arts”, e Educational Review, vol. II, pp. 467–73 [consta ainda como
apêndice em Aristotle and Ancient Educational Ideals, do mesmo autor];
H. Parker, “ e Seven Liberal Arts”, e English Historical Review, vol. V,
pp. 417–61; A. F. West, “Seven Liberal Arts”, capítulo de Alcuin and the
Rise of the Christian Schools, pp. 4–27.
3. Platão, Republic (trad. Jowett), livro II, § 374 e ss.; livros III, VI, VII. Cf.
Bosanquet, e Education of the Young in the Republic of Plato, pp. 12–
16.
4. Aristóteles, Politics (trad. Jowett, 1885), cap. VIII, 3, pp. 245 e ss.;
7. Cf. Laurie, Survey of Pre-Christian Education, pp. 287 e ss. Note-se que as
obras de Platão e de Aristóteles sobre educação, embora teoréticas,
representam, na essência, a prática educacional do seu tempo. No tocante
à educação preparatória, ambos parecem ter adotado por completo as
idéias gregas da época. V. Monroe, op. cit., pp. 132–33.
8. Cf. Davidson, Aristotle, p. 240, onde são citadas as autoridades gregas. A
referência omite a ginástica, o que é um erro óbvio — em tempo algum
essa disciplina esteve fora do currículo preparatório dos gregos.
9. Não se suponha que a instrução nesses vários campos, uma vez relegada à
condição de estudos preparatórios, fosse tão completa quanto no caso de
ser elevada a estudos avançados. O ensino superior com freqüência
impõe-se ao básico na escala intelectual, e assim como as faculdades hoje
determinam o currículo da escola secundária, também as escolas retóricas
do período helenístico, na medida em que se equiparavam às faculdades
modernas, determinavam o caráter do ensino preparatório. Daí que a
instrução nos diversos estudos liberais fossem pouco mais do que
elementar nesse período, e decerto não tenha superado a instrução
oferecida nas escolas medievais. Para referências completas a Fílon, v.
Davidson, op. cit., pp. 242–3.
12. Ritschl, “De M. Varronis Disciplinarum libris”, em Opuscula III, pp. 352–
72. West (Alcuin, p. 7) aceita a conclusão de Ritschl, isto é, que esses
foram os temas dos nove tratados, e arrola ainda outras para sustentá-la.
Todas as autoridades concordam que Varrão escreveu sobre gramática,
retórica, dialética, música, geometria e arquitetura. Boissier (Étude sur la
vie et les ou rages de M. T. Varron, pp. 333 e ss.) não crê que Ritschl o
tenha provado quanto às outras três disciplinas, com o que Davidson (op.
cit.) concorda.
14. Sêneca, epístolas 88–9, em Opera (Leipzig, 1882), vol. IV, pp. 38 e ss.
15. uintiliano, Instit., livro I, caps. 8–10, em Watson (trad.), vol. I, pp. 70–
80.
16. uintiliano, Instit., livro II, cap. 1, em Watson (trad.), vol. I, pp. 96–9.
17. Parker data esse livro decisivo em antes 330. V. Parker, English Historical
Review, vol. V, pp. 444–6.
18. Esse livro é uma mistura de prosa e verso, forma de literatura que se
expandiu com Varrão. V. Ebert, Allgemeine Geschichte der Literatur des
Mittelalters im Abendlande, 1ª ed., pp. 459 e ss.
20. Para um tratamento completo do con ito entre ideais cristãos e pagãos, v.
Schmid, Geschichte der Erziehung, II, pp. 48–83; Boissier, La Fin du
paganisme, I, pp. 233 e ss.; O. Denk, Geschichte des gallo- ankischen
Unterrichts und Bildungrwesens, pp. 140–63.
21. Agostinho, Retractationes, I, cap. 6, (PL 32, col. 59); Confessiones, IV, cap.
16 (ibid., col. 704). Discussão completa da relação de Agostinho com o
currículo das sete artes liberais em Parker, loc. cit., pp. 427 e ss.
22. Agostinho, De doctrina christiana, II, cap. 40, PL 34. col. 63.
23. O seu parecer nal sobre a questão encontra-se em uma das suas últimas
obras, De doctrina christiana; nela se expressam as suas visões maduras
sobre a educação cristã. V. loc. cit., esp. II, cap. 18, 40–2.
24. V. Isidoro de Sevilha, Etymologiae lib. XX, I, 2; III, 1 (PL 81, cols. 73, 153).
CAPÍTULO II
1. V. Sandys, History of Classical Scholarship, pp. 6–10. A grande amplitude
atribuída ao termo é vista com clareza nas de nições dos gramáticos. A
gramática de Dionísio Trácio (ca. 166 a.C.), a mais antiga ainda existente,
e com ela todos os congêneres no curso dos treze séculos seguintes,
de nem a gramática assim: “Um conhecimento empírico dos usos da
linguagem tal como corrente entre poetas e prosadores. Divide-se em seis
partes: (1) a boa leitura, atenta à prosódia; (2) a exposição, conforme as
guras poéticas; (3) o reconhecimento de particularidades e alusões
dialéticas; (4) a descoberta das etimologias; (5) a boa interpretação das
analogias; e (6) a crítica das obras poéticas, que é a parte mais nobre da
gramática”. Cf. Davidson, Aristotle, p. 214.
Essa de nição foi adotada quase letra a letra pelos romanos. Varrão, um
dos primeiros gramáticos latinos, atribui à disciplina as seguintes funções:
“(1) emendatio, ou correção; (2) lectio, ou leitura; (3) enarratio, ou
exposição; e (4) judicium, ou crítica”. V. Wilmmans, “Varronis fragmenta”,
p. 208 — citado em Eckstein, “Lateinischer Unterricht”, em Schmid
(org.), Encyklopädie des gesammten Erziehungs und Unterrichtswesens, vol.
IV, pp. 210 e ss.
Não são menos abrangentes as de nições de Cícero e uintiliano. V.
Cícero, De oratore, I, 42, trad. Watson, p. 198; uintiliano, Institutes of
Oratory, I, 4, trad. Watson, vol. I, p. 29.
Diomedes, no século IV, dá à gramática a sua própria de nição: “Tota
autem grammatica consistit praecipue intellectu poetarum et scriptorum
et historiarum prompta expositione et in rect loquendi scribendique
ratione”. V. Keil (ed.), Grammatici latini, vol. I, p. 426.
8. Essa classi cação é apenas nossa; nada no texto sugere tal divisão. A
quantidade relativamente pequena de elementos didáticos puramente
religiosos explica a suposição de que o autor fosse um pagão, embora nada
no texto justi que a rmá-lo. Nossa análise baseia-se na edição bilíngüe,
inglês-latim, publicada em Londres no ano de 1663 — praticamente
idêntica às quatro versões editadas por Zarncke e publicadas em Berichte
über die Verhandlungen der Königlichen Sächsischen Gesellscha der
Wissenscha en, philologisch-historische Classe, vol. XV (duas versões, pp.
23–78), vol. XVII (pp. 54–103) e XXII (pp. 181–92). A quarta versão
procede do famoso manuscrito de Catão mantido na Cambridge
University. Uma quinta versão consta em Peiper, “Beiträge zur
lateinischen Cato-Literatur”, Zeitschri für deutsche Philologie, vol. V, pp.
165–86. Para relações de versões em inglês, v. Hazlitt, “Contributions
toward a History of Earlier Education in Great Britain”, em Antiquary,
vol. XXXV, pp. 205 e ss.; vol. XXXVI, pp. 138 e ss. Para notas bibliográ cas
completas acerca de Catão, v. Teuffel (ed. Schwabe), Geschichte der
römischen Literatur, II, pp. 1002–3.
11. Para o texto e a crítica dos Sche larer proverbia, v. Anzeiger fur Kunde der
Deutschen Vorzeit, vol. XX, pp. 218–20. Dos Proverbia Heinrici, quatro
manuscritos foram encontrados — v. Voigt (ed.), Fecundia ratis, LXIII–V,
nota 4.
14. V. Hervieux, op. cit., vol. I, pp. 78–259; 334–47; 436–445; 461–602;
608–83. O cálculo não inclui as traduções para o vernáculo, cujo exame
não é relevante para o nosso caso. Omitiu-se, da mesma forma, uma
análise das edições impressas, dado que o assunto concerne mais
propriamente a última fase humanismo. Os temas das fábulas de Aviano,
sob o tratamento exaustivo de Hervieux, revelam-se ainda outra vasta
fonte de material para o ensino do latim elementar. V. Hervieux, op. cit.,
vol. III, passim.
17. Entre os autores referidos nessa obra, Voigt identi cou os seguintes
nomes:
1. Prosadores latinos — Varrão, Cícero, Cornifício, Salústio, Sêneca,
Cúrcio, Capela, Boécio, Isiodoro, gramáticos.
2. Poetas latinos — Plauto, Terêncio, Lucílio, Públio, Virgílio, Horácio,
Ovídio, Fedro, Pérsio, Lucano, Juvenal, Aviano, entre outros.
3. Escrituras — Gênesis, Êxodo, Deuteromônio, Reis, Esther, Jó,
Salmos, Provérbios, Eclesiastes, profetas, Atos dos Apóstolos,
epístolas.
4. Teólogos — Lactâncio, Ambrósio, Jerônimo, Crisóstomo, Agostinho,
Sedúlio, Cassiano, Próspero, Pedro, Gregório Magno, Isidoro, Beda,
Rábano Mauro, Ratério.
Cf. Voigt, op. cit., pp. 54–63.
CAPÍTULO III
1. Sandys, op. cit., cap. 32, pp. 594 e ss. A diferença entre o estudo dos
clássicos na Idade Média e no Renascimento seria apenas a diferença entre
os ns pretendidos.
2. Cf. Comparetti, Virgil in the Middle Ages, introdução; H. O. Talyor,
Classical Heritage of the Middle Ages, p. 363.
8. João de Salisbury, Metalogicon, I, cap. 24; II, caps. 9, 10, 17; Polycraticus,
VII, cap. 12 (PL 199, cols. 662–3, 853–6, 866–69, 874–6). Cf. Poole,
Illustrations of the History of Medieval ought, pp. 109–24, 200–8.
Mesmo no tocante às condições educacionais do seu tempo, os escritos de
João de Salisbury não são tão severos quanto geralmente se tem crido. V.
Poole, “Excursus on the Interpretation of a Place in John of Salisbury’s
Metalogicus”, op. cit., apêndice 7, pp. 359 e ss.
11. Dentre os típicos estudos sobre esse tema, podem-se referir: M. Fayet, Les
Écoles de la Bourgogne sons l’Ancien Régime; C. de Beaurepaire de
Robellard, Recherches sur l’instruction publique dans le Diocese de Rouen
avant 1789; C. Stallaret, “De l’Instruction publique au Moyen Âge (VIIme
au XVIme siécle)”, em Memoires couronnées de l’Académie Royale de
Belgique, vol. 23 — sobre as condições nas dioceses de Utrecht, Cambrai
e Tournay —; Sack, Geschichte des Schulwesens zu Braunschweig; K. F.
Krabble, Geschichtliche Nachrichten über die höheren Lehranstalten in
Munster; Meyer, Geschichte des Hamburgischen Schul-und-
Unterrichtswesens des Mittelalters; C. Engel, Das Schulwesen Strassburgs
bis 1538; D. A. Fechter, Geschichte des Schulwesens im Basel; F.
Nettesheim, Geschichte des Schulwesens im alten Herzogthum Geldern; J.
E. Struve, Geschichte des Hochsti s Osnabrück; H. Holstein, “Geschichte
der ehemaligen Schule zu Kloster Berge”, em Neue Jahrbücher für
Philologie und Paedagogik, vols. 132–33; Baring, Beiträge zur Han. Kirch,
u. Schul. Geschichte.
12. Keil (ed.), Grammatici latini, vol. II, prefácio, p. 13. Sobre as bibliotecas
dos mosteiros, v. Montalembert, e Monks of the West, vol. V, pp. 136–
56.
15. Esse tema tem recebido a atenção dos defensores da Idade Média desde os
tempos de Mabillon, cujo Traité des études monastiques (1691) expôs, pela
primeira vez, a grande amplitude dos estudos seculares entre os
beneditinos. V. Hurter, Tableau des institutions et des moeurs de l’Église au
Moyen Âge, vol. III, cap. 35–8; Ziegelbauer, Historia rei literariae Ordinis
S. Benedicti, esp. pt. 1, caps. 1–2. Encontra-se uma admirável síntese em
Montalembert, e Monks of the West, vol. V, pp. 102–169 (uma lista de
escolas famosas, longa, porém incompleta, consta nas pp. 108–9, 132–4).
Specht (Geschichte des Unterrichtswesens in Deutschland, pp. 269–394)
trata em detalhe da obra educacional das principais escolas germânicas.
18. Walter de Speyer, Acta Santi Christophori, I, vv. 96–109, em Pez (ed.),
esaurus Anecdotorum Novissimus, t. 2, III, col. 39.
19. “Cum ad rhetoricam suos provehere vellet, id sibi suspectum erat, quod
sine locutionum modis, qui in poetis discendi sunt ad oratoriam artem
perveniri non queat. Poetas igitur adhibuit, quibus assuescendos
arbitrabatur. Legit itaque ac docuit, Maronem et Statium Terentiumque
poetas; Juvenalem quoque ac Persium Horatiumque satiricos, Lucanum
etiam historiographum. uibus assuefactos locutionumque modis
compositos ad rhetoricam transduxit”. Richer, Hist. libri IV, livro III, cap.
47 (Monumenta Germaniae Historica, Scriptores, t. III, p. 617).
23. Hauréau, Notices et extraits., vol. XXVII, II, pp. 1–86; cf. Sandys, op. cit., p.
528, nota 5.
25. Nicolau de Bibera, Carmen satiricum, vv. 35–45 (edição crítica de Fisher,
em Geschichtsquellen der Provinz Sachsen, vol. I, p. 38). Para mais
evidências desse e, v. Gottlieb, Ueber mittelalterliche Bibliotheken, pp.
439–49.
26. Comparetti, pp. 119–34. Para textos e a crítica das glosas virgilianas em
alemão médio, v. Steinmeyer, “Die deutschen Virgilglossen”, em Zeit. f.
deut. Alterthum, vol. III, pp. 1–96. Algumas glosas dos séculos VIII e IX, a
Virgílio e a Juvenal, constam no Corpus Glossariorum Latinorum, IV, pp.
427–70; 5, pp. 652 e ss. Steinmeyer & Siever, Althochdeutsche Glossen,
vols. II e III.
27. V. Henri d’Andeli, “La Bataille des Sept Arts”, em Notices et Extraits, vol.
V, II, pp. 503–10. Esse famoso poema é geralmente considerado um sinal
da competição, sucedida na França do século XIII, para suplantar os
clássicos pela lógica escolástica. Os protagonistas desse embate são Paris,
representante da “nova” lógica, e Orleans, representante dos “antigos”
estudos clássicos.
28. Ebert, op. cit., vol. I, pp. 115 e ss.; Meier, Die sieben eien Künste im M.
A., p. 20.
29. Cf. Ebert, op. cit., vol. I, pp. 373 e ss. Huemer rastreou até Remígio de
Auxerre a autoria de um glossário sobre Sedúlio. V. Sitz. der Konigl. Akad.
d. Wiss. Philol. Hist. Class. vol. 116, pp. 505–551. Esse fato pode ser
considerado um elo da nossa cadeia de argumentação. Mesmo quando o
entusiasmo do renascimento carolíngio houvera já passado, vemos que
então subsistia o interesse puramente literário num poeta cristão, cuja
distinção residia no fato de ele abordar os temas do Evangelho conforme a
mais estrita versi cação da clássica.
30. Ebert, op. cit., vol. II, 1ª ed., pp. 251–88, esp. 280–88; Glover, Life and
Letters in the Fourth Century, pp. 249–277. Textos: Psychomachia, J.
Bergmann (ed.); Cathemerinon, T. Obbarius (ed.), Tübingen: 1845.
Tradução metri cada por F. G. Smith (Londres & Nova York, 1898).
35. A grande obra de Donato, Ars grammatica major, foi usada para esse m.
A obra cita Virgílio e outros e outros poetas. V. Keil (ed.), vol. IV, pp.
367–402.
36. Metalogicus, livro I, caps. 9, 14, PL 199, cols. 838, 853 e ss. Para provas da
identidade entre Bernardo de Chartres e Bernardo Silvestre, v. Poole, op.
cit., p. 114, nota 9.
37. Specht colheu uma série de referências à prática do dictamen nas vitae de
grandes personagens (op. cit., p. 112).
38. Os três casos mais notáveis são: (1) Visio Wettini, de Valafrido Estrabão,
com seus 900 hexâmetros, escrito no século VIII — em MGH Poet. lat M.
A., vol. II, pp. 303 e ss., e PL 114. (2) O célebre Waltherius de Ekkehardt I
(ca. 973), que, apesar de escrito em alemão, era também um exercício de
dictamen modelado em Virgílio e em Prudêncio — v. Ebert, op. cit., vol.
III, pp. 265 e ss. (3) Acta St. Christophori, de Walther de Speyer, composta
ao nal dos seus estudos em gramática, ele então com 18 anos, durante
cerca de dois meses. A primeira parte contém o “Liber de studio poetae”,
citado nesta monogra a — Pez (ed.), op. cit., vol. III, II, cols. 30–94.
39. Sobre Floretus, v. Hist. Lit. de la France, vol. VIII, pp. 92–4; cf. Sandys, op.
cit., pp. 643–50; Norden, Antike Kunstprosa, vol. II, pp. 688–731. Sobre
os manuscritos dessas obras, v. Hauréau, Notices et extraites, vol. 27, II, p.
15–20, 25–27.
40. Hallam, op. cit., p. 7.
CAPÍTULO IV
1. Vem ao caso estimar o espaço ocupado por cada disciplina nas
enciclopédias:
4. Pouco se sabe a seu respeito além do fato de ter sido um professor de São
Jerônimo. Sobre os relatos fantásticos da sua vida, v. Meier, Die sieben
eien Künste im M. A., p. 12. A Ars grammatica minor é assim chamada a
título de diferenciação da Ars grammatica major, de Donato, que é um
tratado bem mais elaborado.
1. O nome
a. De nição
b. Atributos
i. ualidade: comum, próprio, coletivo, apelativo
ii. Comparação: positivo, comparativo, superlativo
iii. Gênero
iv. Número: singular e plural
v. Figura
vi. Caso: nominativo, genitivo, dativo, acusativo, vocativo
2. Pronome
a. De nição
b. Atributos
i. ualidade: de nido, inde nido
ii. Gênero
iii. Número
iv. Figura: simples, composta
v. Pessoa
vi. Caso — ilustrações (todos os pronomes declinados)
3. Verbo
a. De nição
b. Atributos
i. ualidade: modos (indicativo, imperativo, optativo, conjuntivo,
in nitivo, impessoal) e formas (defectivo, freqüentativo,
incoativo)
c. Conjugações
d. Gênero: ativo, passivo, neutro
e. Número
f. Figura: simples, composta
g. Tempo: presente, passado e futuro
4. Advérbio
a. De nição
b. Relação: lugar, tempo, número, negação, a rmação,
denominação, opção
c. Comparação
d. Figura
5. Particípio
a. De nição
b. Gênero — ilustrações
c. Caso — ilustrações
d. Tempo — ilustrações
e. Signi cado
f. Número
g. Figura — ilustrações (todas as formas de lego)
6. Conjunção
a. De nição
b. Atributos: copulativa, disjuntiva, expletiva, causal
c. Figura: simples, composta
d. Ordem: prepositiva, subjuntiva, comum — ilustrações
7. Preposições
a. Atributos
b. Casos: acusativo e ablativo — lista de preposições, caso a caso
8. Interjeição
a. De nição
b. Atributos: signi cado (júbilo, espanto, medo etc.)
7. As numerosas citações devem tê-lo tornado uma ótima antologia. Até que
ponto as eruditas citações em que abundavam os medievais eram copiadas
de Prisciano, e não dos originais?
10. Cf. Teuffel & Schwabe, op. cit., vol. II, pp. 729 e ss.; Haase, Vorlesungen
über ateinische Sprachwissenscha , p. 11; Keil (ed.), vol. IV, pp. 3–192.
11. Teuffel & Schwabe, ibid.; Keil (ed.), vol. I, p. 17. Texto em Keil (ed.), vol.
I, pp. 7 e ss.
12. Teuffel & Schwabe, op. cit., vol II, pp. 1057 e ss; Specht, op. cit., p. 91.
Texto em Keil, vol. I, pp. 300 e ss.
13. Texto em Keil (ed.), vol. V, pp. 410–41. Cf. Specht, p. 90; “Versus de
Sanctis Eboracensis Ecclesiae”, vv. 1535–1561, citado em West, Alcuin, p.
35. Sobre glosas, v. Steinmeyer & Siever, Althochdeutsche Glossen, vol. II,
pp. 363–5.
14. Specht, p. 91; Teuffel & Schwabe, op. cit., vol. II, pp. 1033 e ss; Sandys, p.
217. Texto em Keil (ed.), vol. VI, pp. 3–184.
15. Cf. Sandys, p. 235; texto em Keil (ed.), vol. V, pp. 329 e ss.
16. Cf. Haase, op. cit., p. 11; Sandys, pp. 224 e ss. Texto (trechos) em Keil
(ed.), pp. 599–655.
17. Sandys, p. 218. Texto em Keil, vol. IV, pp. 405–448. Cf. Sandys, p. 462;
texto em Keil (ed.), vol. IV, pp. 405–48.
18. Teuffel & Schwabe, op. cit., p. 1245; West, Alcuin, p. 35; Steinmeyer &
Siever, op. cit., vol. II, p. 161. Texto em Keil (ed.) vol. V, pp. 442–89.
19. Specht, p. 91; texto em Keil (ed.), vol. V, pp. 490 e ss.
21. Cf. Specht, p. 91; texto em Keil (ed.), vol. V, pp. 525 e ss.
22. Cf. Sandys, p. 453; Ebert, vol. I, pp. 653–59; Bursian, Geschichte der
classischen Philologie in Deutschland, vol. I, pp. 14 e ss. Texto em Mai
(ed.), Classic Auctores e Vat. Cod., t. 7, pp. 475–598.
31. Os versos abaixo, sobre a primeira declinação, dão-nos uma boa idéia do
caráter do livro como um todo:
35. Meier, op. cit., p. 15. O comentário faz parte do Speculum doctrinale de
Vicente de Beauvais. Cf. urot, Notices et extraits, vol. 22, II, p. 2.
41. Schmid, op. cit., vol. II, p. 439. A obra, muito usada, foi reimpressa
diversas vezes por Gutenberg. Cf. Hallam, Lit. of M. A., 4ª ed., vol. I, p.
80.
42. Meier, p. 15. Ludolf é o autor da Ethica Ludolfi, uma adaptação dos
Disticha Catonis. Cf. Peiper, op. cit. (citado acima, p. 24, nota 8). Sobre
algumas outras gramáticas do período, v. urot, op. cit., em Notices et
extraits, vol. 22, II, pp. 1–58; trechos, passim.
44. O famoso codex dos glossários de São Galo contém pelo menos 2,5 mil
palavras em ordem alfabética. V. Corpus Glossariorum Latinorum, IV, pp.
201–98. Sobre os manuscritos preservados, v. op. cit., prefácio, pp. 15 e ss.
Cf. Sandys, op. cit., p. 584, nota.
46. Etymologiae XX, livro X, PL 82, cols. 367–98. Outras partes da obra
incluem material que se aproxima de um glossário.
47. A obra de Paulo Diácono foi publicada três vezes, sendo a última em
ewrewk de Poner, Sexti Pompei festi de verborum significatu cum Pauli
epitome.
52. Análise e crítica em Lowe, op. cit., pp. 243 e ss. Sobre os derivados de
Papias e de Hugotio, v. Lowe, op. cit., pp. 247–59. Para aprofundar-se nas
glosas do nal da Idade Média, v. Lowe, op. cit., pp. 222 e ss.
53. Texto em Wright (ed.), A Volume of Vocabularies, pp. 121–38. Cf. Scheler,
op. cit., pp. 18–83; Eckstein, loc. cit. O mesmo autor compôs Opus
synonimorum e Opus aequivocorum, que, de certa forma, podem
classi car-se como vocabulários. V. PL 150, cols. 1578–90. Para uma crítica
aos vários dicionários manuscritos ainda existentes, v. Hauréau, em
Notices et extraits, vol. 27, II, pp. 38–48.
54. Texto impresso em algum momento entre 1469 e 1483. Cf. Heerdegen,
op. cit., p. 499.
57. V. Haase, Vorlesungen, pp. 13 e ss; Meier, op. cit., p. 17. Para um breve
estudo sobre as glosas na Idade Média, com trechos ilustrativos, v. Babler,
op. cit., pp. 170–88.
CAPÍTULO V
1. O caráter decadente da instrução em retórica no império tardio recebeu
tratamento exaustivo de George Kauffman, “Rhetorenschulen und
Klosterschulen”, em Histor. Taschenbuch (1869), pp. 1–94; O. Denk,
Geschichte des Gallo-Frankischen Unterrichts und Bildungswesens, pp. 40–
163, esp. 140–63; Dill, Roman Society in the Last Century of the Western
Empire, pp. 321–76.
2. Rábano Mauro, De institutione clericorum, III, cap. 19, PL 107, col. 396.
6. Texto em Halm (ed.), Rhetores Latini Minores, pp. 48–58. Virgílio, como
vimos, era considerado uma autoridade retórica no sentido mais estreito
da palavra, isto é, quanto à escolha das palavras. Cf. Comparetti, Virgil in
the Middle Ages, p. 133. Cf. supra, pp. 31–2.
9. Halm (ed.), op. cit., pp. 608–18. Cf. Saintsbury, History of Criticism, vol.
I, pp. 374 e ss. A a rmação de que essa obra de Beda é de “suma
importância” baseia-se na suposição equivocada de que Beda ilustra suas
guras com citações dos clássicos e das Escrituras, sugerindo, assim,
comparações. A fonte mais con ável, Halm, não traz uma só ilustração
procedente dos clássicos.
12. Texto em Halm (ed.), 137, 151; PL 32, 1439 e ss. A superioridade
atribuída aos escritos de Agostinho sobre dialética e retórica baseia-se nas
declarações dos seus editores beneditinos (1679, t. 1, ap. 152). Essa
opinião é aceita por Saintsbury (op. cit., vol I, p. 377) e negada por
Crecilinus (Jahresbericht über das Gymnasium zu Elberfeld, 1857). Cf.
August Reuter, “Augustine’s Rhetoric”, em Kirchengeschichtliche Studien,
pp. 324–51
15. Em Eyssenhardt (ed.), livro V, pp. 138–93; Halm (ed.), 451–92. Cf.
Saintsbury, vol. I, pp. 349 e ss. — “um dos melhores retóricos latinos”.
19. Pode-se ver isso de duas maneiras. A obra, como o título sugere, une as
duas coisas, retórica e virtude. Escrita especialmente para o rei, seu objeto
não é retórico, mas judicial, como se vê nos versos introdutórios: “ ui
roro civiles cupiat cognoscere mores / Haes praecepta legat quae libe riste
tenet”.
A ênfase, portanto, realoca-se. Em Cícero, o objetivo do estudo da
retórica é adestrar o orador, peticionário das causas civis, o qual, claro,
deve ser virtuoso. Em Alcuíno, o propósito é ensinar retórica ao rei, para
que ele seja capaz de julgar. A virtude, também segundo Alcuíno, é
necessária ao orador, mas para outro m. Daí que ele incluísse uma
discussão das quatro virtudes cardeais — prudência, justiça, fortaleza e
temperança — no que é, confessadamente, um livro-texto de retórica. Os
genera causarum dos antigos retóricos, demonstrativum, deliberativum,
judicabile, tornam-se honestum, admirabile, humile etc. Mudança um
tanto curiosa, mas facilmente explicada à luz do propósito da obra. Texto
em Halm (ed.), pp. 520–50; PL 101, cols. 101 e ss.
23. “Huic urbi (sc. rhetorici) subjacent historiae fabulae libri oratorie et
ethice conscripti”. Em Honorii Augustod. libell. de animae exsilio, cap. 3,
Pez (ed.), esaurus Anecdotorum, vol. 2, I, p. 229, citado em Specht, op.
cit., p. 116.
24. João de Garlandia, por exemplo, no século XIII, ao elencar os autores que
um estudante deveria freqüentar, menciona, de Cícero, De inventione, De
oratore e Ad Herennium, além das Declamações e Instituições, de
uintiliano. Cf. Leyser, op. cit., p. 339; Sandys, p. 525. ue as obras
retóricas de Cícero, em particular De inventione, foram
consideravelmente usadas, isso se prova pelos elaborados comentários que
se lhes dedicaram, a exemplo de Fabius Laurentius — v. Halm (ed.), pp.
155–310. Sobre manuscritos congêneres, alguns datados do século VII, v.
Halm (ed.), op. cit., pp. 593 e ss. uintiliano foi provavelmente usado em
partes; só assim se explica a existência de tantas seleções. Essas, em geral,
consistiam de passagens tiradas de Institutiones, e por vezes guravam
como apêndice em textos sobre retórica. Exemplo em Halm (ed.), op. cit.,
pp. 501–4.
25. Cf. Júlio Vítor, Ars rhetorica, em Halm (ed.), pp. 447 e ss. Cf. p. 52.
27. V. Savigny, Geschichte des römischen Rechtes, vol. III, cap. 21, pp. 152 e ss.
A íntima relação entre o estudo da retórica e o estudo dos elementos do
direito foi estabelecida pelas investigações originais de Specht, que reuniu
informações que remontam à Gregório de Tours — v. Specht, op. cit., pp.
١–١٢٠. Trataram do dictamen os seguintes pesquisadores: Savigny,
Geschichte des röm. Rechts im Mittelalter, cap. 21; Eugéne de Rozidre,
Recueil général des formules usitées dans l’Empire des ancs du Vme au Xme
siécle, 3 vols. (1859–1871); L. Rockinger, Ueber Briefsteller und
Formelbucher in Deutschland während des M. A. Muitos formularii
existem pelas universidades européias, e por vezes guram de algum
modo nos periódicos dedicados à história medieval. Assim, por conta do
seu valor histórico, a título de ilustração, muitos textos importantes têm
sido editados e publicados. Diversos códices têm sido publicados em
Archiv für Kunde Oesterreichischen Geschichtsquellen, Neues Archiv für
altere deutsche Geschichskunde e Notices et extraits des manuscrits de la
Bibliotheque Nationale. Cf. e. g. Wattenbach, “Ueber Briefsteller des
Mittelalters”, introdução e textos em Archiv, vol. XIV, pp. 29–67; Otto
Stobbe, “Ein Formelbuch aus der Zeit König Rudolfs I und Albrecht’s I”,
ibid., pp. 305–78; Johannes Voigt, “Das urkundliche Formelbuch des
Könglichen Notars aus der Zeit der Könige Ottokar II und Wenzel II von
Bohmen”, em Archiv, vol. XXIX, pp. 1–185; Karl Zeumer, “Über die
alteren frankischen Formelsammlungen”, Neues Archiv, vol. VI, pp. 1–
115; E. Dümmler, “Zu den carolingischen Formelsammlungen”, Neues
Archiv, vol. VII, pp. 401–3; Karl Zeumer, “Ueber Fragmente eines
Formelhandschri des IX Jahrhunderts”, Neues Archiv, vol. VIII, pp. 601 e
ss.; Idem, “Neue Erörterungen tiber altere frankische
Formelsammlungen”, Neues Archiv, vol. IX, pp. 311–58. Várias coleções de
fórmulas são descritas em Forschungen zur deutschen Geschichte, vol. VIII,
pp. 327–66; vol. X, pp. 642–53; vol. XV, pp. 213–38. Outras são descritas
em C. Langlois, “Formulaires de lettres du xii au xiii et du xiv siécles”,
constituindo-se uma série de artigos em Notices et extraits, vol. 34, I, pp.
1–32; II, pp. 1–29; vol. XXV, pp. 409–34. Manuscritos de formulae
epistolares são descritos em Leopold Deslisle, Notices et extraits, vol. 27, I,
pp. 87 e ss. Dentre as coleções de dictamina em geral, a mais completa é a
de Ludwig Röckinger em Quellen zur Bayerischen und Deutschen
Geschichte, vol. VII, pp. 1–312; vol. IX, pts. 1–2. Ao todo, a sua coleção
contém cerca de 1,2 mil peças separadas, entre formulários e cartas, do
período carolíngio até o século XIV. A coleção de Roziére, apesar de conter
a maior quantidade localizada de epístolas (190, enquanto Röckinger
inclui apenas 78), tem, ao nosso ver, mais valor para o estudante do
direito do que para o investigador das condições sociais como um todo.
As formulae, no entanto, estão bem classi cadas; um terço da obra, com
uma série de tabelas excelentes, oferece ao estudioso um índice valoroso
de todo o tema. Algumas notas bibliográ cas em Langlois, op. cit.,
Notices et extraits, vol. 34, I, p. 7, notas 1 e 2.
28. V. Rashdall, Uni ersities in the Middle Ages, vol. I, cap. 4, pp. 90–127;
Oznam, Documents inédits pour servir a l’histoire littéraire de l’Italie, Paris,
1850; esp. “Ars dictandi in Italien”, em Sitzungsbericht der Königl. Bayer.
Akad. der Wiss. zu München (1861), pp. 98–151.
31. Texto e introdução, Röckinger, op. cit., vol. IX, pp. 201–346.
32. Summula dictaminis de Bernoldo, em Röckinger, op. cit., vol. IX, II, pp.
849–924. O texto de Formularius, de Arnaldo de Protzan, está
reproduzido em Wattenbach, Codex diplomaticus Silesiae, vol. V, Breslau,
1862. Cf. Röckinger, Quellen etc., vol. VII, pp. 38 e ss. Nos primeiros
séculos da Idade Média, também as Variae de Cassiodoro foram muito
populares. Mais tarde, foi a vez das Epistolae de Alcuíno. Ao contrário do
que a rma Meier (Sieben eien Künste, p. 26), a coleção dos dictamina
baseada em Epistolarum libri sex de rebus gestis Frederici, de Petrus de
Vineas, e a coleção dos Summa dictaminis de Tomás de Cápua, cada uma
representando um lado da controvérsia entre o imperador e o Papa, não
podem, ao nosso ver, ter sido utilizadas como livros-texto — o seu caráter
controverso tê-los-ia barrado na sala de aula. Não pudemos encontrar o
dictamen de Petrus na Collectio Historica de J. G. Habnius.
34. V. Röckinger (ed.), Quellen etc., vol. IX, passim, esp. 214–59, 385–98,
749–58.
37. Röckinger (ed.), Quellen etc., vol. IX, pp. 103 e ss.
39. Rationes dictandi Hugutionis Hononiinsis; Röckinger, Quellen etc., vol. IX,
p. 64.
41. Drei Formelsammlungen aus der Zeit der Karolinger, em Quellen und
Forschungen, pp. 47–168. Evidências do seu emprego como livro-texto
em ibid., introd., pp. 24, 43 e ss.
44. Como o seu Rationes dictandi pode ser considerado um marco do ensino
da retórica na Idade Média, faremos aqui uma análise mais detalhada do
seu conteúdo. O volume consiste cerca de 20 páginas (in-octavo), e
divide-se em 13 parte desiguais. Depois de uma breve introdução, o autor
passa à de nição do dictamem e das suas partes, e vai se encaminhando
para a epístola, a qual de ne como forma da oratio. Nomeiam-se, então, as
cinco partes da epístola: a primeira e mais importante, chamada salutatio,
é explicada e ilustrada em pormenores. Na verdade, mais do que um terço
da obra é reservado ao exame da natureza do discurso; mostram-se todas
as formas possíveis — do rei para o Papa, do súdito para o prelado, do
Papa para o mundo, do imperador para o mundo, dos bispos para os
encarregados, de nobre para nobre, de amigo para amigo. Da salutatio o
autor passa para a captatio bene olentiae, e em seguida para a narratio;
petitio e conclusio são abordadas muito brevemente. Discutidas as cinco
partes da epístola, o autor prossegue com uma re exão a respeito da
possibilidade de diminuírem-se essas partes, isso conforme as
necessidades, e chega à óbvia conclusão de que salutatio e narratio não se
podem omitir. Ele parte para outra re exão, agora sobre as possibilidades
de intercâmbio entre as diferentes partes das cartas, e testa vários arranjos
e combinações. Depois de breves considerações, de caráter retórico, sobre
a “questão das cartas”, ele parte para a discussão das variedades das cartas,
abordando as formas pessoal, impessoal etc., para concluir com algumas
observações sobre o uso dos conectivos. Esse breve tratamento do aspecto
prático da retórica medieval é típico a todos os dictamina que pude
examinar. Röckinger, op. cit., vol. 11, I, pp. 9–28.
47. A obra chegou a ser impressa, mas ainda existem muitos manuscritos. Só
em Munique há 7 de cada um dos seus textos. Cf. Röckinger (ed.), op.
cit., vol. VII, p. 178.
49. Ibid., pp. 359–98. Para o cotejo das cartas ilustrativas das duas obras, v.
ibid., pp. 206–7. Para comentários do Mestre Simão a Ludolfo, v. ibid., II,
pp. 973–84.
50. Introdução e texto em Röckinger (ed.), Quellen etc., vol. IX, pp. 405–82.
51. Mari (ed.), Romanische Forschungen, vol. XIII (1902), pp. 183 e ss.
54. Para exemplos dessas tabulae, com diferentes esquemas, v. Johannes Bondi
de Aquileia, Practica usus dictaminis. Röckinger (ed.), op. cit., vol. 9, II,
pp. 956–66.
CAPÍTULO VI
1. Talvez seja preciso esclarecer que lógica e dialética foram sinônimos
durante toda a Idade Média. Isso nota-se em Isidoro de Sevilha — v.
Rémusat, Abelard, vol. I, pp. 300 e ss.
11. “Est enim philosophia genus, species vero eius duae; una quae theoretice
dicitur, altera quae practice id est speculativa et activa”. (Dialogue in
Porphyrium Dialogia Victorino translatus, PL 63, col. 11). É evidente que
os seus escritos não se destinavam meramente à instrução em lógica
formal, a começar pelo seu próprio volume: algo em torno de 900 colunas
de material original. O plano de Boécio ia muito além de escrever um
livro-texto; era legar à posteridade, de uma forma acessível, inteligível, as
investigações dos lósofos seus antecessores. Com efeito, a sua obra
tornou-se uma fonte de lógica e loso a para a produção de livros-texto
(cf. Ueberweg, Geschichte der Philosophie, vol. I, p. 354). Não se a gura
que Boécio tivesse uma visão de nitiva sobre as divergências losó cas de
Platão e Aristóteles; Hauréau não teve sucesso em revelar alguma
inclinação ou parcialidade (cf. Hauréau, op. cit., vol. I, pp. 92–9). V.
Cousin, op. cit., 67–75.
17. Prantl, op. cit., vol. I, pp. 665 e ss. Cf. Agostinho, Retract., I, 6, Opera (PL
32, p. 591, cols. 1409–19). Sobre autenticidade da primeira obra referida,
v. Prantl, loc. cit.; Cf. p. 141, nota 12.
18. Prantl estabelece o caráter espúrio. Entretanto, não resta dúvida de que
data do nal do século IV e que serviu de livro-texto durante a Idade
Média, fato esse que o grande número de cópias e de glosas ampara
tranqüilamente. Prantl chega a considerar que tenha sido ele a base dos
tratados lógicos de Isidoro de Sevilha e de Alcuíno.
21. Ao introduzir o silogismo, Cassiodoro faz o que pode para nos mostrar a
importância ofuscante dessa parte da lógica: “Nunc ad syllogisticas
species formulasque veniamus in quibus nobilium philosophorum jugiter
exercetur ingenium” (PL 70, col. 1174). Ele saía-se melhor do que poderia
saber. Os elementos práticos da lógica, era isso o que ele e as gerações
depois dele queriam, e não na forma exaustiva na qual Aristóteles os
deixou. Por isso a seção de Cassiodoro foi tão utilizada, ao passo que
metade do elaborado aparato que Boécio legou ao mundo logo se perdeu,
sinal de não ter sido recuperado até o m do século XX.
26. PL 101, cols. 949–75. Cf. Prantl, op. cit., vol. II, pp. 14 e ss.
28. Por exemplo: augmari, Vita S. Bernwardi, c. I; Otlo, Vita St. Wolfgang,
c. 28, MG-SS. 4, pp. 538–78, citado em Specht, p. 125. Os escritos de
Notker Labéu permitem identi car o caráter da instrução em lógica
oferecida em São Galo ao longo do século X, ao passo que o grande
número de manuscritos ainda existentes dá testemunho da popularidade
do tema. Para uma edição dos seus comentários sobre as categorias, De
interpretatione e Capela, bem como a sua obra original sobre o silogismo,
v. Hattemer, Denkmäler des Mittelalters, vol. III, pp. 257–559.
31. “Cum ergo sint verae connexiones, non solum verarum; sed etiam
falsarum sententiarum, facile est veritatum connexionum etiam in scholis
illis discere, quae praeter ecclesiam sunt, sententiarum autem veritates in
sanctis libris ecclesiasticis investigandae sunt” (loc. cit.). Essas
considerações de Rábano Mauro, sobre a importância transcendente da
lógica formal para a teologia, podem ser consideradas decisivas na história
do currículo medieval. Aristóteles considerara a lógica apenas como um
meio para a boa compreensão, especialmente em contendas, na medida
em que requeria agudeza no trato das ambigüidades da linguagem, faro
para os signi cados subjacentes a diferentes expressões e capacidade de
apreciação de tudo quanto implica uma proposição qualquer, sem no
entanto de nir concepções ou predileções losó cas. No mesmo espírito,
Boécio, Cassiodoro e Isidoro de Sevilha enxergaram na lógica uma parte
menor da loso a, a qual consideraram “disciplina disciplinarum”. Até os
tempos de Erígena, não se veri ca nenhuma ligação direta entre o estudo
da lógica, tal como empreendido nas escolas, e a teologia ou metafísica.
Rábano Mauro assinalou-o ao chamar a mesma lógica “disciplina
disciplinarum”, e encarou a sua grande importância para o estudo das
Escrituras. Não foi preciso mais do que a experiência, isto é, as acusações
de heresia a Erígena e a Berengário de Tours, para que se revelassem os
perigos ocultos no abuso do silogismo. De um modo geral, regido como
era pelas concepções da Igreja, o educador medieval apreciou a relevância
das palavras de Rábano Mauro. Todavia, se as suas idéias estimularam o
estudo da lógica formal, por outro lado não surtiram efeito sobre o escopo
da disciplina como parte do currículo. Se é verdade, como já dito muitas
vezes, que esse fervoroso esforço dialético não produziu novos dados
cientí cos, também é certo que a intensi cação do estudo da lógica
pavimentou o caminho do renascimento intelectual da era de Abelardo.
Com efeito, foi com o instrumental da lógica escolar que Roscellinus,
Guilherme de Champeaux, Anselmo e Abelardo atacaram com tanto
sucesso os problemas losó cos da Idade Média. O seu bom uso do
método dialético em discussões metafísicas e teológicas causa a impressão
de que o ensino da lógica e o ensino da metafísica tornaram-se idênticos
no período (“Ainsi la dialectique devint la philosophie premiére ou la
metaphysique”, em Haureau, op. cit., vol. I, p. 32. V. Rémusat, Abélard,
vol. I, p. 303: “La scolastique n’a donc pas été la philosophie reduite à la
dialectique, mais aux formes de la dialectique”). Mas não foi isso o que
aconteceu. Aconteceu, na verdade, que o estudo da lógica tomou o lugar
de destaque até então ocupado pela gramática. A prova disso — e aí
divergimos de Hauréau — pode ser encontrada nos escritos dos mesmos
homens. Tanto nas obras escolásticas como nos livros-texto do período, a
separação entre lógica e metafísica parece clara o su ciente, ao menos no
que diz respeito à lógica enquanto uma das sete artes liberais.
A conhecida sátira do combate das artes liberais é um indício tardio
das mudanças que principiaram na França com a virada do século XII,
mais precisamente nas escolas de Paris e arredores, onde a in uência de
Abelardo era tão forte. Foi então que a lógica tornou-se a segunda
disciplina do trivium.
Muitas vezes citado, o dístico: “Gramm loquitur, Dia vera docet, Rhet
verba colorat. / Mus canit, Ar numerat, Geo ponderat, Ast colit astra” não
vem de antes do século X. Da mesma forma, não pode ser lido como se
indicasse a ordem dos estudos sob o trivium nos tempos que antecederam
o período escolástico. Isso, aliás, ca provado pelo fato de que, à exceção
de Marciano Capela, os autores dos livros-texto adotam, invariavelmente,
outra ordem: gramática, retórica e dialética.
34. Cf. Ueberweg, op. cit., vol. I, p. 392; Hauréau, vol. I, pp. 267–86. Texto
em Cousin, Ouvrages d’Abélard, pp. 173 e ss.; Prantl, vol. II, pp. 163–204;
Rémusat, Abélard, vol. I, pp. 361 e ss.
Cf. pp. 65, 66. Se apreciamos o interesse de Boécio pelos dois aspectos da
35. sua “philosophia” à luz da extensão dos comentários que ele produziu
sobre cada uma das lógicas — formal e a especulativa —, vemos que dois
terços dos escritos considerados dedicam-se às partes da lógica que tocam
as raias da metafísica. São dois comentários a Profírio, Isagoge, um às
Categorias e dois a De interpretatione.
36. V. Alcuíno, De dialectica, PL 101, cols. 949 e ss. De Fide Sanctae., ibid.
livro I, cols. 9 e ss.
37. De divisione naturae, PL 122, cols. 870 e ss. Cf. Hauréau, op. cit., vol. I, 12,
pp. 118–9.
38. De divisione naturae, livro I, cap. 22, ibid., col. 469. Cf. Ueberweg, op. cit.,
pp. 358–66. A partir de Erígena, vemos as mesmas questões discutidas,
aparentemente, sob a mesma lógica. O exame super cial dessas obras
mostra que elas não eram livros de lógica para a sala de aula; que não
tratavam de lógica formal, mas de metafísica pura e simples. É bem
verdade que a posição nominalista, entre os comentadores dos tratados do
século IX, manifesta-se discretamente, num primeiro momento, e pouco a
pouco assume contornos cada vez mais distintos. Hauréau mostrou ser
este o caso dos comentários de Erígena e Remígio de Auxerre a Marciano
Capela. Essas breves referências ao problema losó co são feitas como
simples dados da realidade, e, com efeito, prenunciam o nominalismo
vindouro. Assim, eles importam na medida em que remontam à história
da escolástica, mas, vistas à luz do texto mesmo, não provam que a
questão losó ca fosse uma parte da instrução formal em lógica. Para o
comentário de Erígena, v. Notices et extraits. t. 20, pt. II, pp. 8–39, onde
implicações realistas contrastam com a visão aristotélica de Marciano
Capela. Para o comentário de Remígio — texto, introdução e crítica —, v.
Hist. lit. de la France VI, p. 120; Hauréau, op. cit., I, pp. 144 e ss; e Notices
et extraits, XX, pt. II, p. 20; Cf. Ueberweg, op. cit., I, pp. 367–88.
39. V. Richer, Histor. libri etc, vol. III, c. 46–7 (MGH-SS 3, p. 617).
40. Textos de Monologium e Prolologium em PL 158, cols. 141 e ss; 233 e ss.
41. Prantl, op. cit., vol. II, pp. 215 e ss. Cf. Hauréau, vol. I, pp. 298 e ss.;
Ueberweg, op. cit., vol. I, p. 399.
42. A matéria é tratada em detalhe nas obras das autoridades referidas nas
notas 1–5, p. 74, esp. Jourdain. Cf. p. 65. Algumas notas sobre a literatura
concernente em Ueberweg, op. cit., vol. I, p. 430.
44. Essa idéia está expressa na sua Metafísica, IV, 3, VII, 12. Cf. Ueberweg,
System of Logic and History of Logical Doctrines, p. 33.
45. ue esta tenha sido a postura adotada mesmo no auge da escolástica vê-se
pela opinião de Alberto Magno: “Logica una est specialium scientiarum;
sicut in fabrili in quae specialis est ars fabricandi maleum”. Ele a de ne
como “sapientia contemplativa docens qualiter et per quae devenitur per
notum ad ignoti notitiam”. A lógica, ao seu ver, não pertence à metafísica,
ou philosophia prima. Cf. Alberto Magno, De predicab., livro I, trat. I,
caps. 1–3, Opera; cf. Ueberweg, History of Philosophy, vol. I, p. 435.
46. Cf. Ueberweg, op. cit., vol. I, pp. 453–4; Prantl, op. cit., vol. III, pp. 50 e
ss.
47. Entre os autores mais famosos nessa área, podemos mencionar Miguel
Pselo, João Ítalo, Guilherme de Sherwood e Lamberto de Auxerre. Prantl,
op. cit., vols. II–III, discute e analisa os textos de cada um desses autores.
De nada nos valem as suas discussões, porque o que ele busca são teorias
lógicas; Prantl desconsidera a perspectiva de um modesto livro-texto. V.
Prantl, op. cit., II; seção XIII, notas 1 e 3; seção XIX, nota 1.
48. Não pôde o autor garantir para si uma cópia dos textos, motivo por que se
viu obrigado a con ar na análise de Prantl, cujo trabalho, por sua vez, é
excepcionalmente completo. V. Prantl, op. cit., vol. III, pp. 33–74. Cf.
Hist. lit. de la France, vol. XIX, p. 326. A prioridade do conteúdo de
Summulae é reivindicada por Prantl para uma Synopsis de Miguel Pselo,
mas urot e outros sustentam que a chamada Synopsis é, na verdade, uma
tradução da obra de Pedro Hispano; Ueberweg tende à segunda visão.
Ueberweg, System of Logic, p. 41. Nota bibliográ ca completa em
Ueberweg, History of Philosophy, vol. I, p. 404.
CAPÍTULO VII
1. Rashdall, Uni ersities in the Middle Ages, vol. I, p. 35. Laurie, Rise and
Constitution of the Early Uni ersities, pp. 61 e ss. Ambos partilham desse
visão tradicional.
2. Hankel, Geschichte der Mathematik, pp. 304–59, esp. pp. 334, 358.
3. Por exemplo: vida de São Cristóvão, por Walter de Speyer; vida de São
Wolfgang, por Otlo de Saint-Emmeran; vida de Santo Adalberto, por
Bruno de uerfurt. Cf. Specht, op. cit., pp. 89–149, esp. 127 e ss.
11. Foi por meio de Boécio, tradutor e adaptador do texto, que essa forma
particular de aritmética tornou-se conhecida como boeciana. Texto de
Nicômaco na edição R. Hoche, Leipzig (1866). Para uma análise de
Nicômaco, v. Gow, Short History of Greek Mathematics, pp. 89–95.
14. Günther, op. cit., vol. I, pp. 797–809. A palavra “algoritmo” é derivada de
Al-Khwarizmi, nome do primeiro e mais importante matemático árabe
conhecido na Europa.
CC x IV — DCC
XXX x IV — CXX
V x IV — XX
DCCCCXL
19. Eyssenhardt (ed.), livro VII, pp. 254–96. Para um exemplo mais completo
das interpretações metafísicas de Capela, v. Gow. op. cit., pp. 69. e ss.
20. V. Morgan, Arithmetical Books, pp. 3, 4, 10, 11, 13. Referências aos livros
de Boécio impressos em Paris e em Viena, o último datado de 1521. De
arithmetica libri duo (PL 63, cols. 1079–1168).
21. Cf. Günther, op. cit., pp. 82 e ss. Texto em PL 63, cols. 1079–1166 (ed.
Friedlein, 1867). Para um caso divertido de interpretação dos números, v.
Rábano Mauro, De institutione clericorum, PL 107, col. 400, onde se
explica o sentido místico no número 40.
24. PL 90, cols. 294–578. À parte glosas e scholia, restam cerca de 80 colunas
de texto — tamanho moderado.
28. Günther, op. cit., p. 66. Entre os professores medievais que basearam as
suas obras sobre o cômputo inteiramente em Rábano Mauro, são dignos
de nota, porque demonstram a amplitude da sua in uência: Heilpric,
monge de São Galo; Hermano Contracto, Guilherme de Hirsau,
Notquero Labéu e João de Garlandia. Note-se, porém, que as suas obras,
conquanto escritas antes de Gerberto, e por isso mesmo pertencentes, em
princípio, ao segundo período da nossa classi cação, não podem ser
tomadas como índices dos métodos que então se utilizavam. uando
foram compostas, o estudo do cômputo já se havia tornado simplesmente
o estudo técnico para o cálculo da Páscoa; já não signi cava, como no
tempo de Rábano Mauro, o estudo da aritmética.
30. PL 90, cols. 682–709. V. Karl Werner, Beda der Ehrwilrdige und seine Zeit
(Viena, 1875), pp. 107 e ss., citado em Günther, op. cit., p. 5.
39. Cf. Günther, op. cit., pp. 99–110. Cantor, Mathematische Beiträge zum
Kulturleben der Völker, pp. 330–40.
41. Hist. lit. de la France, VII, pp. 89 e ss. Texto e crítica em Nagl, Suplemento
a Zeit. für Math. u. Phys., vol. XXXIV, pp. 129–46, 161–70.
45. Crítica da obra em Steinschneider, Zeit. für. Math., vol. XXV, suplemento,
pp. 59–128.
50. Günther, op. cit., pp. 131–41; Cantor, Vorlesungen, vol. II, pp. 110, 216 e
ss.; F. Unger, Die Methodik der practischen Arithmetik, pp. 1–33.
53. Cantor, op. cit., vol. II, p. 86, localizou manuscritos de Jordano em
Basiléia, Cambridge, Dresden, Erfurt, Munique, Oxford, Paris, Roma,
orn, Veneza, Viena e em diversos pontos no Sul da Alemanha.
54. Impresso em 1534. Por muito tempo essa obra foi erroneamente atribuída
a Regiomantus. Cf. Cantor, op. cit., vol. II, pp. 49–61; Morgan, op. cit., p.
16.
55. Impresso em 1514. Cf. Morgan, op. cit., p. 10; Cantor, loc. cit.
62. Compilado por Günther, op. cit., p. 209, de Aschbach, Geschichte der
Wiener Uni ersität im ersten Jahrhundert ihres Bestehens. V. ibid., I, pp.
137–68, passim.
63. Günther, op. cit., pp. 210–11; Cantor, op. cit., vol. II, pp. 140, 174 e ss.
64. Günther, op. cit., p. 215. Cf. Hankel, op. cit., p. 357. Em Leipzig, podia-
se “ouvir” o algorismo de qualquer bacharelando, mas o mesmo não se
dava com nenhuma outra matéria. V. “Tabula pro gradu Baccalauriatus”,
em Zarncke “Die Urkündlichen uellen zur Geschichte der Univ.
Leipzig”, Abhandl. der Kön. Sachs. Gesell. der Wiss. Phil. Hist. Class., vol.
II, p. 862. Esse fato reforça o argumento de que a instrução no algorismus
fosse apenas uma disciplina elementar.
65. V. De Bianco, “Statua Facultatis Artium”, em Die Alte Uni . Köln, anexo
II, pp. 438–43. Cf. Hankel, op. cit., p. 357; Cantor, op. cit., vol. II, p. 442.
66. Impresso pela primeira vez em Paris, 1496. Entre outros títulos, passou
também por Opusculum de praxi numerorum quod algorismum ocant
(Paris, 1511) e Algorismus domini Joannes de Sacrobosco (Veneza, 1523).
Cf. Morgan, op. cit., pp. 13–4; Günther, op. cit., pp. 176 e ss.
Manuscrito-cópia X510 H74, pp. 211–22, Library of Columbia
University, Nova York.
70. Os três livros da obra são organizados logicamente: o primeiro trata das
de nições de frações em que todas as regras se apresentam em termos
simbólicos; o segundo oferece exemplos concretos e problemas para a
aplicação das regras; e o terceiro lida com proporções geométricas. A
similaridade essencial entre essa obra o Tractatus de proportionibus de
Bradwardinus revela que ambos os autores se utilizaram, e de maneira
idêntica, da mesma fonte: Jordano. Cf. Cantor, op. cit., vol. II, p. 137.
71. Günther, op. cit., p. 183, nota 1. Cf. Morgan, op. cit., pp. 3, 11.
72. Impresso em 1515. Cf. Morgan, op. cit., p. 11. Cantor, Vorlesungen, vol. II,
p. 177; Günther, pp. 232 e ss.
76. No começo do século XVI, era costume publicar tratados aritméticos que
reunissem todos esses textos. Para uma descrição de alguns desses, v.
Morgan, op. cit., pp. 10–1.
CAPÍTULO VIII
1. Cantor, Vorlesungen, vol. I, p. 522. Mais detalhes em Cantor, Die
römischen Agrimensoren und ihre Stellung in der Geschichte der
Feldmesskunst. Leipzig, 1875.
3. PL 70, 1212–16.
4. PL 82, 161–3.
5. Cf. Hankel, op. cit., pp. 312 e ss; Günther, op. cit., p. 14.
7. De uni erso libri vigintiduo, PL 111, cols. 9–612 passim, esp. livros VI–X.
9. Cf. Specht, loc. cit.; Günther, op. cit., pp. 73 e ss., 115 e ss.
10. A geometria de Boécio por anos constituiu uma Streit age entre os
historiadores da matemática. O fato de o uso de apices, do ábaco e da
multiplicação por colunas ser explicado entre o primeiro e o segundo
livros no manuscrito mais antigo, que data do século XI, principiou a
controvérsia em torno da origem do ábaco e da introdução do que
podemos chamar notação hindu-arábica. Nessa controvérsia, os
principais historiadores da matemática, Kastner, Chasles, Martin,
Friedlein, Weissenborn e Cantor, entre outros, tomaram lados diferentes
— alguns chegando ao ponto de negar a Boécio a autoria dos livros sobre
geometria. O peso da autoridade (Cantor, Vorlesungen, vol. I, 540–51)
parece con rmar que Boécio foi o autor da geometria contida nesses
manuscritos. Naquilo que diz respeito a todos, porém, todos concordam:
sendo ou não sendo de Boécio a autoria dos originais, é certo que esses
livros-texto não foram usados nos dias de Gerberto. Texto de Boécio em
PL 63, cols. 1037–64.
11. Chasles, Geschichte der Geometrie, trad. Sohncke, p. 524. O último cotejo
das fontes de Boécio consta em Weissenborn, Zeit. f. Math,u. Phys. vol.
XXIV (1879), e sustenta a opinião de que Boécio lançara mão de um
excerto de Euclides, e não do original.
13. Cf. Günther, op. cit., pp. 115 e ss; Cantor, op. cit., I, 809–824; Gow, op.
cit., pp. 205–6.
14. Cf. Jourdain, Recherches sur les traductions latines d’Aristote, 1ª ed. (Paris:
1819), p. 100; Hankel, op. cit., p. 335. Cf. Weissenbom, in Zeit. f. Math.
u. Phys. vol. XXV, suplemento, pp. 141–66. Essa obra passou pelo século
como uma tradução original de Campano, e foi a primeira das edições
latinas de Euclides, publicada em 1482. Referências a Geraldo em Ball,
op. cit., p. 172.
15. Sobre o texto de Jordano de Nemi, v. Curtze (ed.), orn: 1887. Cf.
Cantor, op. cit., I, pp. 670, 852, notas 1 e 2.
16. Cf. Rashdall, op. cit., I, pp. 250, 442; Hankel, op. cit., pp. 356 e ss.;
Günther, op. cit., pp. 199, 209 e ss., 215, 217, 281. É incorreta a a rmação
de Compayré (Abelard and the Origin, and Early History of Uni ersities,
p. 182), de que apenas o Euclides de Boécio foi ensinado nas
universidades. Os estatutos de Viena para o ano de 1389, aos quais nos
referimos e citamos, dizem claramente: “cinco livros de Euclides”. É óbvio
que isso não pode signi car a geometria de Boécio, que tinha apenas dois
livros. V. Kollar, Statua Uni ersitatis, Vieniensis, I, p. 237, citado em
Mullinger, e Uni ersity of Cambridge, p. 351.
21. Cantor, Vorlesungen, vol. II, pp. 35–40, 73–86, 113–118, 128–137. Cf.
Curtze em Zeitsch. f. Math. u. Phys. XIII, suplemento pp. 79–104.
23. Isso é contestado por Hankel, op. cit., p. 349; e Compayré, op. cit., p. 182.
CAPÍTULO IX
1. Citado em Wolf, Geschichte der Astronomie, p. 82.
4. Suter, Die Mathematik auf den Uni ersitäten des M. A., III, esp. pp. 64, 67,
73, 77, 79, 89; Günther, op. cit., pp. 184–90, 199, 210, 215, 217. Cf.
Barnard, Superior Instruction, pp. 159–60.
5. Suter, op. cit., pp. 65–95, oferece extensas considerações sobre o ensino
da astronomia elementar em todas as mais importantes universidades. Cf.
Günther, op. cit., pp. 146 e ss; Wolf, op. cit., pp. 197–218. Maedler,
Geschichte der Himmelskunde, pp. 113–46, trata da astronomia avançada
no nal do século XIV e no início do século xv. Cf. Hankel, op. cit., p. 349.
10. Ibid., livro v, caps. 38–9; livro VI, cap. 17; livro VIII.
13. Rábano Mauro, De institutione clericorum, III, p. 25 (PL 107, cols. 403).
Seu De uni erso traz muito material astronômico, esp. livro IX, 10. Cf. p.
94.
15. Cf. Günther, op. cit., pp. 75–8; Specht, p. 138; Günther, Didaktik der
mathematischen Geographie, pp. 6 e ss. A obra é: B. Hermanni Contracti
monachi Augiensis de utilitatibus astrolobii libri II, em Pez (ed.), esaurus
anecdotorum no issimus, III, vol. II, cols. 110 e ss. A anedota de Gerberto é
um tradicional lugar-comum. Hermano Contracto também escreveu
alguns outros livros-texto de astronomia — De eclipsis e De computo, por
exemplo. Dentre os escritos menores dessa época, podemos mencionar
Astronomicarum institutiones, de Guilherme de Hirsau (1080), De
computatione temporum, de Clemens Langton, o mesmo autor de De
orbibus coelestibus (v. Maedler, op. cit., vol. I, p. 106). Sobre a obra de
Guilherme de Hirsau, v. Prantl, Sitzungs. der Königl. Bay. Akad. der
Wissen. zu München, vol. I, pp. 1–21.
16. Berry, History of Astronomy, pp. 76–85; Ball, op. cit., p. 172; Wolf, op.
cit., pp. 193–200, 203–8; Günther, op. cit., pp. 146–9.
21. Rashdall, op. cit., I, pp. 250, 442; Suter, op. cit., pp. 76–7.
22. Suter, op. cit., p. 67; Wolf, op. cit., pp. 160–6, onde é traçada a história do
manuseio do astrolábio e do planisfério.
23. Berry, op. cit., pp. 86, 87, 94; Wolf, op. cit., p. 211. Além desse tratamento
teórico da astronomia, outras duas fases da matéria, ambas práticas,
ensinavam-se: seminários sobre o cômputo, para atender à necessidade
prática dos clérigos — esses formavam boa parte do corpo discente —, e
cursos sobre astrologia, especialmente, na Itália, onde a disciplina
realmente fazia parte do currículo.
CAPÍTULO X
1. Cf. Ambros, Geschichte der Musik, vol. II, pp. 119 e ss. A tendência
medieval a classi car a música como ciência teórica, como uma parte da
matemática a ser estudada depois da aritmética, foi meticulosamente
rastreada até romanos como Cícero. V. Schmidt, uaestiones de musicis
scriptoribus Romanis, imprimis de Cassiodoro et Isidore (1899). Essa idéia a
respeito do que a nal constituía um músico não assentava simplesmente
em teóricos como Boécio, o qual, por sua vez, não tinha conhecimento
algum da arte musical. Os professores de música prática, que trabalhavam
para aprimorar os métodos de ensino conforme às necessidades da Igreja,
tinham a mesma visão. Assim Aureliano de Reome (século IX), diz:
“Tantum inter musica distat et cantorum, quantum inter grammaticum et
simplicem lectorem [...]. Is vero est musicus qui ratione per pensa
scientiam canendi non servitio operis sed imperio assumpsit
speculationis”. V. Gerberto, Scriptores de musica sacra, I, pp. 38–9. Outros
professores práticos, como Hucbald, cuja obra representa um passo no
desenvolvimento do sistema de notação, Regino de Prum, Berno
Hermano Contracto, Guilherme Hirsau e Guido d’Arezzo, acompanham
Aureliano. V. Brambach, “Verhältniss zwischen Musik theorie und Praxis
im Mittelalter”, em Die Reichenauer Sängerschule. Cf. Ambros, II, pp. 40 e
ss. A a rmação de Williams (Story of Notation, pp. 73–4), sobre Guido
d’Arezzo citar com freqüência uma estrofe sobre o que faz um músico
(Gerberto, op. cit., I, p. 25), foi feita com sarcasmo — e é insustentável.
3. Por outro lado, a in uência que o estudo teórico da música exerceu sobre
a arte musical não pode ser ignorada. O simples cotejo dos nomes
considerados importantes para o desenvolvimento da arte musical com os
nomes dos teóricos mais famosos revela a presença dos mesmos nomes em
ambas as listas. Esta pode ser tomada como um index da in uência do
teórico sobre a prática. Parece ter havido na Idade Média uma ciência e
uma arte da música, sendo primeira uma parte do quadrivium, e que
muitos professores práticos, como Hucbald, Berno de Reichenau, Odão,
Hermano Contracto, Guido d’Arezzo e João Coto, foram também
teóricos reconhecidos. Cf. Brambach, Das Tonsystem und die Tonarten des
christlichen Abendlandes im Mittelalter, passim. Cf. Riemann, Geschichte
der Musiktheorie, pp. 50–96; Ambros, op. cit., II, pp. 92–216.
5. Nauman, e History of Music, vol. I, pp. 168 e ss.; Langhans, Die Musik
Geschichte, pp. 11–7.
6. Cf. Rábano Mauro, De institutione clericorum, III, cap. 24, cols. 401 e ss.,
PL 107.
7. Cf. Specht, op. cit., p. 140; Ambros, op. cit., vol. II, pp. 96 e ss.
Schubinger, Die Sängerschule St. Gallens, passim, esp. pp. 86 e ss.
8. Brambach, Die Sängerschule zu Reichenau im Mittelalters, passim;
Schubiger, op. cit., passim.
10. Referências detalhas em Rashdall, op. cit., I, p. 443. V. Suter, op. cit., pp.
76– 7, 79–80, 91; Günther, op. cit., pp. 199, 210–11, 215.
15. “Is vero est musicus qui ratione perpensa, canendi scientiam, non servitio
operis, sed imperio speculationis assumit [...]. Isque musicus est cui ad est
facultas secundum speculationem rationemque propositam ac musicae
convenientem de modis ac rythmis de que generibus cantilenarum ac de
permixtionibus ac de omnibus de quibus posterius explicandum est ac de
poetarum carminibus judicandi”. Boécio, De musica, livro I, caps. 43, 63,
cols. 1596.
19. Ibid., pp. 104–52. Cf. Ambros, op. cit., II, pp. 122 e ss. Para os tratados de
Notker e de outros professores de música do período, v. Gerberto,
Scriptoris, I–II, passim.
21. Riemann, Geschichte der Musiktheorie, pp. 235 e ss. As referências citadas
na p. 132, nota 1, mostram que os pré-requisitos eram “aliquis musica” ou
“musica de Muris”. Para o texto de Murs, v. MS. x510-h74, Columbia
University, Nova York.
Bibliogra a crítica
Agostinho, Santo. Ars (grammatica) breviata. Ed. Keil. Grammatici latini, vol. 5.
Gerberto (Papa Silvestre II). Opera Mathematica. Ed. B. Bubnov. Berlim: 1899.
Monroe, P. Sourcebook of the History of Education for the Greek and Roman
Periods. Nova York: 1902.
Compilação de fontes, com introduções e comentários. Organizada para o
m de mostrar a evolução das teorias educacionais.
Notices et extraits de divers manuscripts latins pour servir à l’histoire des doctrines
grammaticales au Moyen Âge. Ed. M. urot. Notices et Extraits des Manuscripts
de la Bibliothdque Nationale. Paris, t. XXII, pt. 2.
Contém material original de grande valor.
Paulo Diácono. Sexti Pompei festi de verborum significatu quae super-sant cum
Pauli epitome. Ed. A. D. ewrevvk. Budapeste: 1889.
Prisciano. Institutio de arte grammatica. Ed. Keil. Grammatici latini, vols. 2–3.
Roziére, E. D. Recueil générel des formules usitées dans l’Empire de France du Vme
au Xme siècle. 3 vols. 1859–1871.
Schä larer proverbia. Em Anzeiger fur Kunde der Deutschen Vorzeit Neue Folge,
vol. 20.
Bianco, F. J. Versuch einer Geschichte der ehemaligen Uni ersität und der
Gymnasien der Stadt Koln. Colônia: 1833.
Pesquisa geral. O seu valor reside principalmente na compilação de
documentos reproduzida como apêndice, a qual compõem quase metade do livro.
Die Musikliteratur des Mittelalters bis zur Blüthe der Reichenauer Sangerschule.
Karlsruhe: 1883.
Estudo comparativo sobre os manuais do período, dedicado a aquilatar a
in uência de Boécio.
________. Abelard and the Origin and Early History of Uni ersities. Nova York:
1902.
Retrato suscinto, baseado em fontes secundárias.
Dill, S. Roman Society in the Last Century of the Western Empire. Londres: 1898
Pesquisa panorâmica. Muito informativa.
________. Die Zahlzeichen und das elementare Rechnen der Griechen und Romer
und des christlichen Abendlandes om 7 ten bis 13 ten Jahrhundert. Erlangen:
1869.
Tratado geral, repleto de informações sobre a história da notação e do cálculo.
Güdeman, M. Geschichte des Erziehungswesens und der Kultur der Juden in Italien
während des Mittelalters. Viena: 1884.
Um dos três volumes de uma extensa obra a educação e a cultura judaicas na
Espanha, na França e na Itália medievais. A maior autoridade nesse campo
especí co.
________. Rise and Early Constitution of Uni ersities. Nova York: 1903.
Idem.
Madler, J. H. Geschichte der Himmelskunde on der altesten bis auf die neueste
Zeit. 2 vols. Braunschweig: 1873.
Leitura fácil, voltada para o estudante. Abordagem super cial do período
anterior a Copérnico.
Marty, Martin (autor anônimo). “Wie man vor tausend Jahren lehrte und lernte”.
Em Beilage-Jahresbericht über die Erziehungsanstalt des Benedictinersti s Maria
Einsiedelen, 1856–57.
Diário imaginário de Valafrido Estrabão, em que os dias de escola do poeta
são revividos em detalhe. O autor demonstra imaginação histórica; os fatos da
vida de Estrabão são bem costurados ao longo da narrativa.
Mullinger, J. B. Schools of Charles the Great and the Restoration of Education in the
Ninth Century. Londres: 1877.
Obra de referência.
Paulsen, F. Geschichte des gelehrten Unterrichts auf den Deutschen Schulen und
Uni ersitaten. 2 vols. Leipzig: 1885.
Trata da história da educação superior na Modernidade. O primeiro capítulo
é uma potente a rmação da importância da universidade medieval.
Peschel, O. Geschichte der Erdkunde bis auf Alexander on Humboldt und Carl
Ritter. 2ª ed. Munique: 1877.
Obra padrão; parte de uma série o cial sobre a história da ciência na
Alemanha. Abundante em referências.
Rashdall, Hastings. Uni ersities in Europe in the Middle Ages. 2 vols. Oxford:
1895.
Livro excelente; talvez a melhor história geral das universidades medievais,
com destaque para o tratamento dos primórdios. Baseado em investigações
seríssimas.
Investigação minuciosa.
Robertson, W. History of the Reign of the Emperor Charles V with a view of the
Progress of Society in Europe. Harpers: 1829.
Muito popular nos seus dias, ou seja, em ns do século XVIII, a obra ilustra
primorosamente o avanço da historiogra a em tempos recentes. O autor faz
imensas generalizações, e em duas páginas sintetiza os “efeitos inevitáveis daquele
estado de coisas sobre as ciências, as letras e a religião”; as “provas e ilustrações”
cobrem duas páginas. No que diz respeito à nossa investigação, pode-se tomar a
obra do Rev. W. Robertson como representativa do olhar enviesado que em geral
se reservava à Idade Média antes do advento da moderna historiogra a.
Stallaret, Ch. & Van der Haegen, P. “De l’Instruction publique au Moyen Age
(VIIme au XVIme siècle)”. Em Memoires couronnées de l’Académie Royale de Belgique,
vol. 23. Bruxelas: 1853.
Trata especialmente da situação dos Países Baixos. Contribuição séria.
Suter, H. Die Mathematik auf den Uni ersitaten des Mittelalter. Zurique: 1887.
Contribuição valiosa, baseada inteiramente em fontes primárias. Notas
bibliográ cas detalhadas.
West, A. F. Alcuin and the Rise of the Christian Schools. Nova York: 1892.
Livro interessante. Popular, porém sério.
White, A. D. History of the Warfare of Science with eology in Christendom.
Nova York: 1901.
Valoroso pela bibliogra a, rico em notas e referências. Tom polêmico.