Apostila Processo Penal - Prof. Fábio
Apostila Processo Penal - Prof. Fábio
Apostila Processo Penal - Prof. Fábio
SAUDAÇÃO
2. MINHA APRESENTAÇÃO
3. APRESENTAÇÃO DOS ALUNOS
4. DESPERTAR INTERESSE
5. CRONOGRAMA
6. AVALIAÇÃO
7. BIBLIOGRAFIA
8. DIFERENCIAL DA FMP
9. EXPERIÊNCIA NA FORMAÇÃO
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1. SISTEMAS PROCESSUAIS
2
partes é dado o direito de prova, havendo, com isso, cooperação na busca da verdade
real. O objeto de atividade é a busca da verdade real, sendo o acusado sujeito do
processo.
No sistema acusatório, vigora o princípio oral ou escrito, imediato,
concentrado e público de seus atos. São seus traços marcantes o contraditório (que
gera igualdade em direitos e obrigações entre as partes), o processo público como
regra (fiscalizável pelos cidadãos), as funções de acusar, defender e julgar são
atribuídas a pessoas distintas, e a iniciativa do processo cabe à parte acusadora, que
poderá ser o ofendido ou seu representante legal, a qualquer do povo (crimes de
responsabilidade) ou órgão do Estado (Ministério Público).
No sistema acusatório, vigoram as seguintes garantias constitucionais:
a) da tutela jurisdicional (art. 5º, XXXV);
b) do devido processo legal (art. 5º, LIV);
c) da garantia do acesso à justiça (art. 5º, LXXIV);
d) da garantia do juiz natural (art. 5º, XXXVII e LIII);
e) do tratamento paritário das partes (art. 5º, “caput”, e I);
f) da ampla defesa (art. 5º, LV, LVI e LXII);
da publicidade dos atos processuais e motivação dos atos decisórios (art.
93, IX);
g) da presunção da inocência (art. 5º, LVII).
1
ANDRADE, Mauro Fonseca. Sistemas Processuais Penais e seus Princípios Reitores. Curitiba: Juruá Editora, 2008,
p. 412-13.
3
notitia criminis ou de ofício pelo juiz (elemento fixo pertencente ao sistema inquisitivo); e
a necessária presença de um acusador distinto do juiz (elemento fixo pertencente ao
sistema acusatório
Surgiu após a Revolução Francesa, justamente em razão à resistência
que já se verificava ao processo inquisitivo. O Code d’Instruction Criminalle de 1808
inseriu na França o denominado processo misto. A partir deste marco, praticamente
todas as legislações da Europa continental também o adotaram.
Enquanto no processo inquisitivo as duas ou três etapas eram secretas,
não contraditórias, escritas, e as funções de acusar, defender e julgar concentravam-se
nas mãos do juiz, no processo misto ou acusatório formal somente a primeira ou duas
primeiras eram e continuam sendo secretas e não contraditórias. A fase do julgamento
desenvolve-se segundo as características do processo acusatório, podendo ser escrita
ou oral, ocorre contraditório e por conseqüência igualdade entre as partes, as funções
de investigar, acusar, defender e julgar não são exercidas pela mesma pessoa e
publicidade.
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2. FUNDAMENTOS DA EXISTÊNCIA DO PROCESSO
PENAL
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pelo Estado apenas pode ser obtida com a cominação, aplicação e execução das
sanções previstas para as violações cometidas, identificadas por ilícitos jurídicos.
Evidentemente que há delimitações ao poder estatal de punir os
cidadãos que cometem condutas desviantes. Em países civilizados, há
necessariamente um regramento que limita o próprio poder do Estado (ex.: Constituição
Federal, art. 5º, XXXIX – “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal”).
Desta forma, o Estado, por meio de leis, prevê quais são os fatos
que constituem infrações penais e comina sanções para aqueles que as violarem. Cria-
se, pois, o Direito Penal objetivo, que constitui o conjunto de normas jurídicas que o
Estado estabelece para combater o crime, por meio de penas e medidas de segurança.
Quando violadas essas normas, surge ao estado o jus puniendi, que constitui o poder
de punir aqueles que praticaram condutas violadoras das normas penais
incriminadoras.
O jus puniendi, que consiste no poder estatal de punir os cidadãos
que violaram as normas de direito penal é exercido por meio do processo penal.
Portanto, diante do surgimento de um fato que caracterize
violação às normas de direito penal, surge o conflito de interesses entre o direito do
Estado de punir e o direito do cidadão autor do evento de liberdade. Este conflito não
pode ser resolvido pela autodefesa nem pela autocomposição. Assim, no Estado
moderno a resolução dos conflitos de interesses de natureza penal ocorre por meio da
função jurisdicional do Estado por meio do processo penal.
Vê-se, pois, que em se tratando de lide penal, o Estado se
impõe para a solução dos litígios, por meio dos órgãos da administração da Justiça.
Isso porque quando do cometimento de alguma infração penal há também o
atingimento de interesse público, ao próprio Estado. Este, como Estado-Administração,
assume a iniciativa de assegurar o cumprimento da lei por meio do Estado-Juiz para,
através do processo penal, fazer valer sua pretensão punitiva.
Em nossa Constituição, está consagrada a imprescindibilidade da
atuação do órgão jurisdicional por meio do processo, o que ocorre quando previstos os
princípios do devido processo legal e do juiz natural.
No artigo 5º, LIV: “ninguém será privado da liberdade ou de seus
bens sem o devido processo legal”. A origem deste princípio provém da Carta Magna
inglesa, do ano de 1215, onde havia garantia no sentido de que a aplicação de alguma
sanção apenas poderia ser efetuada de acordo com a lei da terra (by the law of the
land). Mais tarde, o Rei Eduardo III foi obrigado pelo parlamento a aceitar um estatuto
que se referia ao devido processo legal (due process of law). Esta garantia foi passada
para as colônias americanas e, mais tarde, incorporada ao sistema constitucional
federal dos Estados Unidos da América, em 1791 (V emenda) e em 1867 (XIV
emenda).
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No artigo 5º, LIII, da CF: “ninguém será processado nem
sentenciado senão pela autoridade competente”.
No artigo 5º, inciso XXXVII: “não haverá juízo ou tribunal de
exceção”.
Nestes dois dispositivos, materializa-se o princípio do juiz natural
ou do juiz constitucional (nulla poena sine judice). Em essência, pode-se afirmar que o
direito penal não pode ser aplicado senão a partir da observância absoluta às normas
processuais. O direito penal material não pode ser realizado senão pelo caminho do
direito processual penal.
EXCEÇÕES:
O processo não absorveu todas as demais formas compositivas do
litígio. Ainda são verificados resquícios da autocomposição e da autotutela em nosso
ordenamento jurídico, excepcionalmente.
Vejam-se as normas dos artigos 1.210, § 1º, (O possuidor turbado, ou
esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por sua própria força, contanto que o faça
logo; os atos de defesa, ou de desforço, não podem ir além do indispensável à
manutenção, ou restituição da posse.), 1.283 (As raízes e os ramos de árvore, que
ultrapassarem a estrema do prédio, poderão ser cortados, até o plano vertical divisório,
pelo proprietário do terreno invadido.), 664 (O depositário poderá reter o depósito até
que se lhe pague a retribuição devida, o líquido valor das despesas, ou dos prejuízos a
que se refere o artigo anterior, provando imediatamente esses prejuízos ou essas
despesas) e 188 ( Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou
no exercício regular de um direito reconhecido; II - a deterioração ou destruição da
coisa alheia, ou a lesão à pessoa, a fim de remover perigo iminente.), todos do Código
Civil. São casos de autodefesa evidentemente consentida pelo Estado. No Código
Penal, observem-se os artigos 24 e 25, que tratam da legítima defesa e do estado de
necessidade.
Quanto à autocomposição, ainda está prevista esporadicamente.
Veja-se a permissão legal dos juizados arbitrais (Lei n.º 9.307/96), a autocomposição
extrajudicial que é permitida. No âmbito penal, a existência dos Juizados Especiais
Criminais estabeleceu a possibilidade de composição civil dos danos com efeito
extintivo da punibilidade (art. 74, § ún., da Lei 9.099/95), a transação penal (art. 76 da
citada Lei) e a suspensão condicional do processo (art. 89 da citada Lei).
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3. RELAÇÃO DO DIREITO PROCESSUAL PENAL COM
OUTROS RAMOS DO DIREITO
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Relação com o Direito Processual Civil:
Também com este ramo do Direito há íntima relação. Ambos
possuem a mesma finalidade, isto é, possibilitar a aplicação do direito material. Em
essência, o Processo Civil e o Processo Penal distinguem-se apenas pelo conteúdo. No
Processo Penal, o conteúdo se destina a possibilitar a aplicação da pretensão punitiva.
No Processo Civil, a aplicar a pretensão extrapenal.
A relação entre os dois ramos do Direito citados existe, também, na
medida em que há influência recíproca entre as ações e sentenças penais e civis. Veja-
se que é efeito da condenação a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime
(artigo 91, I, do CP), tornando a sentença condenatória penal título para a execução
civil (arts. 63 do CPP e 175-N, inciso II, do CP). Também faz coisa julgada no cível a
sentença penal em que se reconhece ter sido o ato praticado em estado de
necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no
exercício regular do direito (art. 65 do CPP).
Importante, ainda, referir a existência de questões civis prejudiciais
ao julgamento penal. Veja-se que o CPP estabelece em seus artigos 92 a 94 hipóteses
nas quais se suspende obrigatória ou facultativamente a ação penal até a decisão do
processo civil.
O Código de Processo Penal regula, também, questões que seriam
eminentemente civis, a exemplo de posse sobre coisas (art. 120), perda de bens (art.
122), de seqüestro de imóveis (art. 125) e de hipoteca legal (art. 134).
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RELAÇÕES COM AS CIÊNCIAS AUXILIARES
Com a Criminalística:
Trata-se de ciência auxiliar de grande valia para o Processo Penal.
Por meio da Criminalística aplicam-se várias técnicas destinadas a auxiliar na
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descoberta dos crimes, na identificação de seus autores, na apuração de circunstâncias
do fato, enfim, na produção de provas. Como exemplo, pode-se citar a realização de
perícias em arcadas dentárias destinadas à identificação de vítimas (Odontoscopia),
bem como a análise de digitais, caligrafia e outras características para a identificação
de autores de crimes.
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4. PRINCÍPIOS DO PROCESSO PENAL
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a eficácia até final julgamento do artigo 6º e seus incisos
da MP 2.045/2000, que suspendia, até 31.12.2000, o
registro de arma de fogo a que se referia o art. 3º da Lei
n.º 9.437/97, considerando não haver razoabilidade na
norma impugnada, uma vez que ela, apesar de não proibir
a comercialização de armas de fogo, praticamente
inviabilizava a sua comercialização.2
2
STF, Plenário, AdinMC 2290, Rel. Min. Moreira Alves, j. 18.10.2000.
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juiz, na prova e fora da prova. Abrange, assim, as alegações e os arrazoados das
partes.
Importante referir que o princípio do contraditório não se refere ao
inquérito policial, por não se tratar de um processo e por nele não haver “instrução”,
mas sim coleta de elementos que viabilizem a promoção da ação penal.
Questiona-se, hoje, se não há a necessidade de intimar o autor da ação
penal após a defesa prévia a que se referem os artigos 396 e 396-A do Código de
Processo Penal, antes de o juiz decidir se absolve sumariamente o acusado.
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4.4. Princípio do estado de inocência.
Este princípio é decorrência direta do princípio do devido processo legal.
Encontra-se no artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal: ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória.
O precedente histórico inicial deste princípio está na Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, em seu artigo 9º. Também no artigo 26 da
Declaração Americana de Direitos e Deveres de 2.5.1948, bem como no artigo 11 da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, da ONU.
Atualmente, questiona-se muito a utilização da expressão presunção de
“inocência”, isso porque a Constituição não afirma presumir-se a inocência do acusado,
mas sim que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença
penal condenatória. Desta forma, a Constituição garante ao cidadão um “estado de
inocência”, de “não-culpabilidade”. Daí preferir-se afirmar que ninguém será
presumidamente “culpado”, gerando o princípio da “não-culpabilidade”.
Por meio do princípio do estado de inocência ou da não-culpabilidade
reconhece-se um estado transitório de não-culpabilidade, porquanto esta condição
processual permanece pelo período em que ainda não ocorrer o trânsito em julgado da
sentença condenatória.
Esse princípio refere-se aos fatos, pois por meio dele exsurge o ônus da
acusação de demonstrar a ocorrência do delito e demonstrar que o acusado é o autor
da infração penal. Desta forma, não se trata de princípio absoluto, cedendo ante a
prova da autoria do crime e dos elementos suficientes para a sua condenação.
A possibilidade da ocorrência de decreto de alguma das modalidades de
prisão cautelar não fere o princípio da não-culpabilidade ou “presunção da inocência”. A
Constituição, em seu artigo 5º, incisos LXI e LXVI, estabelecem os institutos
processuais da prisão em flagrante e por mandado judicial e da liberdade provisória
com ou sem fiança, respectivamente. Trata-se de medida que pode ser decretada
diante da existência de “fumus boni juris”, ou fumaça do bom direito, além da existência
de risco social em consonância com a adequada previsão legal.
Devido ao princípio do estado de inocência ou da presunção da não-
culpabilidade, pode-se afirmar:
a) a restrição da liberdade do acusado antes da sentença
definitiva é medida cautelar, que deve ser fundamentada a
partir da necessidade ou conveniência devidamente
amparadas por permissivo legal;
b) compete à acusação provar os fatos imputados ao réu,
não necessitando ele provar sua inocência;
c) para condenar, deve o juiz ter a convicção da culpa do réu.
Em caso de dúvida, deve absolvê-lo (princípio do favor rei
ou in dúbio pro reo).
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4.5. Princípio do favor rei ou in dúbio pro reo ou favor libertatis.
Trata-se de princípio decorrente da presunção de inocência ou não-
culpabilidade.
Somente a certeza da culpa surgida após o devido contraditório e a ampla
defesa autoriza o juiz a emitir um juízo condenatório. Havendo dúvida quanto à culpa do
acusado ou quanto à ocorrência do fato criminoso, deve ser absolvido o réu.
Por isso o artigo 386, incisos II, V e VII, do Código de Processo Penal
estabelece que o juiz está obrigado a absolver o acusado nos casos em que não for
provada a existência do fato, não existir prova de ter concorrido o réu para a prática da
infração penal ou não existir prova suficiente para fundamentar um juízo condenatório.
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Da mesma forma, o recolhimento dos jurados em sala secreta para
procederem à votação dos quesitos no Tribunal do Júri não afronta o princípio da
publicidade, porquanto admitido na própria Constituição, art. 5º, inc. XXXVIII.
Há, também, a situação do procedimento previsto pelo art. 3º da Lei n.º
9.034/95, que se destina à preservação do sigilo de elementos de prova obtidos por
intermédio do acesso a dados, documentos e informações fiscais, bancárias,
financeiras e eleitorais, nas infrações penais cometidas por organizações criminosas.
Parte da doutrina insurge-se contra esta previsão.
Justifica-se, também, a partir da ressalva constitucional, a possibilidade de
retirada do réu de audiência quando o juiz verificar que a sua presença poderá influir no
ânimo da testemunha, de forma que prejudique a verdade do depoimento (art. 217 do
CPP).
Por derradeiro, também se justifica exceção à publicidade a possibilidade
de o Presidente dos Tribunais de Justiça, encerrados os debates, limitar a presença no
recinto às partes e seus advogados, ou somente a estes, se o interesse público o exigir,
nos processos de competência originária dos Tribunais de Justiça, conforme determina
o art. 1º da Lei 8.658/93, que estabelece a observância das regras da Lei n.º 8.038/90.
Também é admitida exceção ao princípio da publicidade, a partir da regra
constitucional, quanto ao sigilo dos registros de reabilitação (art. 748 do CPP), após o
cumprimento ou extinção da pena (art. 202 da LEP) ou durante o sursis (art. 163, 2, da
LEP).
Exceções.
1) A decisão de recebimento da denúncia ou queixa não necessita de
fundamentação, por não conter eminentemente carga decisória, uma vez que analisa
apenas em tese a ocorrência de uma ação penal. Ademais, evita-se que o juiz, desde
então, manifeste-se sobre o mérito.3 Entretanto, quando o procedimento processual
penal contiver uma defesa preliminar antes do recebimento da denúncia ou queixa,
decorrência lógica é a manifestação do juiz acerca do acolhimento da defesa e, por
3
STJ: RHC 12.918, RHC 402.638-3/3 e RHC 17.441.
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conseqüência, o não-recebimento ou rejeição da inicial acusatória. Nesses casos, pois,
acaba-se por fundamentar o recebimento da peça acusatória.
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4.18. Princípio da iniciativa das partes (ne procedat judex ex officio).
Significa que o juiz não pode dar início ao processo penal sem a
provocação da parte legitimada. Vejam-se os artigos 5º, LIX e 129 da CF, bem como
artigos 24, 29 e 30 do CPP.
Com base nesse princípio, alguns doutrinadores e até decisões de
Tribunais tem sustentado a insubsistência do recurso ex officio, previsto nos artigos
574, I e II (da decisão que conceder habeas corpus e que proferir absolvição sumária
no processo do júri), e 746 (da decisão que conceder a reabilitação do condenado) do
Código de Processo Penal.
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6. DA APLICAÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LEI
PROCESSUAL PENAL.
25
Par. ún. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos
ns. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.
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6.1.2. DA APLICAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL NO
TEMPO.
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Assim, entrando em vigor uma lei de natureza processual penal, sua
incidência é regulada pelo artigo 2º do CPP: A lei processual aplicar-se-á desde logo,
sem prejuízo dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.
Por isso, a lei processual penal não possui efeito retroativo, para abranger
fatos ocorridos anteriormente à sua vigência, mesmo que se trate de lei mais benéfica.
Exceção:
Quando a norma processual penal tiver conteúdo de direito penal, a
situação é totalmente diversa. Neste caso, apenas interessa a data do fato. Se o fato é
anterior à lei nova, esta somente poderá retroagir em benefício do réu. Se o fato for
posterior à nova lei, esta se aplica sendo benéfica ou maléfica.
As normas processuais penais de caráter ou natureza penal são
chamadas de normas heterotópicas, pois formalmente fazem parte de um diploma
processual penal, mas materialmente dizem respeito ao direito penal.
Consideram-se normas processuais penais de conteúdo penal toda
aquela que afete, de alguma maneira, a pretensão punitiva ou executória do
Estado, criando-a, extinguindo-a, aumentando-a ou reduzindo-a (exemplo: criando
tipos penais e causas extintivas da punibilidade, alterando a natureza de uma ação
penal pública para privada no decorrer do processo). Norma de caráter processual é
aquela que repercute apenas no processo, sem refletir-se na pretensão punitiva (ex.:
cria novo procedimento, disciplina a prisão provisória, que amplia o prazo da prisão
provisória, que determina a necessidade de recolhimento à prisão para poder apelar).
Há corrente, entretanto, que entende ser de natureza heterotópica a norma que
disciplina a prisão provisória, que amplia o prazo da prisão provisória, que determina a
necessidade de recolhimento à prisão para poder apelar. Nesses casos, embora haja
restrição ao direito de liberdade, a prisão se impõe por uma necessidade do processo, e
não devido a um aumento da pena do delito cometido. Guilherme de Souza Nucci,
entretanto, não concorda, entendendo que quando se tratar de prisão cautelar, há nexo
com o direito material. Diz que lidando-se com o tema da prisão, é indispensável que se
considerem tais normas processuais de conteúdo material. Havendo qualquer mudança
legal benéfica ao réu, podem elas retroagir para abranger situações ocorridas antes da
sua existência, desde que isso contribua para garantir a liberdade do réu.
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As normas que regem a execução da pena, como por exemplo a
progressão do regime, o livramento condicional, a substituição da pena, possuem
caráter penal, pois se refletem no direito de punir, tornando-o mais intenso ou menos
intenso.
Em essência, pois, se se tratar de norma processual penal que verse
unicamente sobre conteúdo processual, que não obstaculize a pretensão punitiva ou
executória do Estado, criando-a, extinguindo-a, aumentando-a ou reduzindo-a, terá
aplicação imediata, pouco importando se mais severa ou não, aplicando-se aos
processos em curso.
Métodos:
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2. Quanto aos meios empregados:
a) Gramatical, literal ou sintática: considera-se apenas o sentido literal das
palavras empregadas na lei. É utilizado, hoje, apenas como ponto de partida do
processo interpretativo. A linguagem do direito, embora técnica, não se encontra
desvinculada da linguagem comum. Ex.: queixa refere-se à queixa-crime como inicial
acusatória da ação privada. Não é “queixa” de uma pessoa à polícia sobre fato
delituoso.
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3. Quanto ao resultado:
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4. Método histórico.
Busca o sentido do texto legal a partir da investigação das circunstâncias
históricas nas quais determinado preceito legal foi concebido e positivado. Investiga os
precedentes normativos, legislativos e as discussões que cercaram a elaboração do
dispositivo legal, com o fito de tentar reconstituir o contexto histórico do momento de
sua criação. Ex.: o procedimento dos artigos 519 a 523 do CPP é previsto para os
crimes de calúnia e injúria, pois à época não existia difamação.
5. Método comparado.
Muito utilizado na atualidade, porquanto socorre-se o intérprete da
exploração de ordenamentos circundantes, estrangeiros, promovendo assim uma
interpretação sincrônica, referente ao espaço, mais do que apenas adotar o método
histórico (interpretação diacrônica – temporal). Há um amplo espaço para a adoção
deste método, notadamente diante da valoração intensa dos direitos e garantias
fundamentais que permeiam a quase totalidade das constituições e tratados
internacionais. Dá uma abertura ao exterior para a interpretação das normas, em
especial com ênfase no aspecto constitucional e dos direitos e garantias fundamentais.
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7. INTEGRAÇÃO DA LEI PROCESSUAL PENAL.
Há casos em que existem lacunas na legislação processual penal, diante
da inexistência de norma específica para determinados casos. Nesta situação, haverá
necessidade de ser exercida atividade de integração. Para tanto, o artigo 3º do Código
de Processo Penal dispõe que a lei processual admitirá a aplicação analógica e o
suplemento dos princípios gerais de direito.
7.1. ANALOGIA.
Diante do silêncio da lei, utiliza-se outro preceito legal que rege situação
semelhante. Significa a busca de semelhanças entre situações diferentes. Consiste na
aplicação, diante de um caso concreto, de uma norma originalmente destinada a casos
diversos. Não se amplia o sentido de uma norma para nele caberem casos não
expressamente previstos em sua letra, mas de aplicar a mesma norma a casos que,
embora não previstos, apresentem, em relação àquele previsto, semelhanças
relevantes.
Importante referir que, diante da necessidade de eficácia da persecução
penal, admite-se a analogia in bonam partem e in malam partem, desde que não haja
lesão a direito processual básico, cerceamento da acusação ou defesa.
Não se deve confundir analogia com interpretação analógica. Analogia
consiste na aplicação de uma norma a um caso nela não previsto. Não é, pois método
de interpretação, mas método de integração.
A interpretação analógica é um método de interpretação, que se aplica aos
dispositivos legais que trazem um rol de fórmulas casuísticas que permitem, a partir
delas, inserir outras hipóteses (ex.: art. 121, § 2º, incisos I, III e IV, CP).
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7. FONTES DO PROCESSO PENAL.
4
A classificação será formulada tomando-se por base o conteúdo de diversos autores, na medida em que há várias
classificações verificadas na doutrina nacional, nenhuma muito uniforme. Ao contrário, são encontradas
classificações mais complexas a exemplo de Tourinho Filho, e outras mais simples, a exemplo de Fernando Capez.
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Internos dos Tribunais, os tratados, convenções e
regras de direito internacional, expressamente
admitidas pela Constituição Federal (art. 5º, § 2º),
com destaque para a Convenção Americana de
Direitos Humanos, as Constituições Estaduais
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8. INQUÉRITO POLICIAL
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O Código possibilita, inclusive, diligências da autoridade policial em outra
circunscrição (art. 22 - “No Distrito Federal e nas comarcas em que houver mais de uma
circunscrição policial, a autoridade com exercício em uma delas poderá, nos inquéritos
a que esteja procedendo, ordenar diligências em circunscrição de outra,
independentemente de precatórias ou requisições, e bem assim providenciará, até que
compareça a autoridade competente, sobre qualquer fato que ocorra em sua presença
noutra circunscrição.”)
Exceções:
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militar remeterá, imediatamente, sob pena de responsabilidade, os respectivos autos ao
Procurador-Geral de Justiça, a quem competirá dar prosseguimento à apuração. Da
mesma forma o artigo 18, inc. II, alínea “f”, parágrafo único, da Lei Orgânica do
Ministério Público da União – LC n.º 75/93.
Apesar disso, Tourinho Filho preconiza que deve seguir alguns princípios:
2) Oficialidade - Com a prática de um delito, surge para o Estado o jus puniendi, cuja
pretensão será deduzida por órgãos oficiais. No Brasil, a investigação é, de regra,
conferida à Polícia Judiciária, órgão oficial do Estado destinado à apuração das
infrações penais.
4) Princípio da indisponibilidade - uma vez instaurado o inquérito, ele não pode ser
paralisado indefinidamente ou arquivado. É defeso à autoridade policial determinar o
arquivamento do inquérito (art. 17 do CPP).
5
“(...) O inquérito policial, que constitui instrumento de investigação penal, qualifica-se como procedimento
administrativo destinado a subsidiar a atuação persecutória do Ministério Público, que é – enquanto dominus litis – o
verdadeiro destinatário das diligências executadas pela Polícia Judiciária (...)
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4) Princípio da verdade real - deve a autoridade policial procurar o verdadeiro autor da
infração penal e delimitar sua culpa numa investigação que não encontre limites na
forma ou na iniciativa das partes.
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DIREITO DE DEFESA - No inquérito policial não existe o contraditório e a ampla
defesa. Tourinho Filho “No Direito brasileiro, apenas no inquérito policial é que não
existe a igualdade processual. Se houvesse tal regra no inquérito, a polícia encontraria
obstáculos maiores ainda na colheita de provas, por razões que nos parecem óbvias.”
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CARACTERÍSTICAS DO INQUÉRITO POLICIAL:
A Constituição também prevê, em seu artigo 5º, XXXIII – todos têm direito
a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse
coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do
Estado.
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findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e
tomar apontamentos.
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HC 90232 / AM – AMAZONAS, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Julgamento: 18/12/2006 Órgão
Julgador: Primeira Turma
EMENTA: I. Habeas corpus: inviabilidade: incidência da Súmula 691 ("Não compete ao Supremo Tribunal
Federal conhecer de "habeas corpus" impetrado contra decisão do Relator que, em "habeas corpus"
requerido a Tribunal Superior, indefere a liminar"). II. Inquérito policial: inoponibilidade ao advogado do
indiciado do direito de vista dos autos do inquérito policial. 1. Inaplicabilidade da garantia constitucional do
contraditório e da ampla defesa ao inquérito policial, que não é processo, porque não destinado a decidir
litígio algum, ainda que na esfera administrativa; existência, não obstante, de direitos fundamentais do
indiciado no curso do inquérito, entre os quais o de fazer-se assistir por advogado, o de não se incriminar e o
de manter-se em silêncio. 2. Do plexo de direitos dos quais é titular o indiciado - interessado primário no
procedimento administrativo do inquérito policial -, é corolário e instrumento a prerrogativa do advogado de
acesso aos autos respectivos, explicitamente outorgada pelo Estatuto da Advocacia (L. 8906/94, art. 7º, XIV),
da qual - ao contrário do que previu em hipóteses assemelhadas - não se excluíram os inquéritos que correm
em sigilo: a irrestrita amplitude do preceito legal resolve em favor da prerrogativa do defensor o eventual
conflito dela com os interesses do sigilo das investigações, de modo a fazer impertinente o apelo ao princípio
da proporcionalidade. 3. A oponibilidade ao defensor constituído esvaziaria uma garantia constitucional do
indiciado (CF, art. 5º, LXIII), que lhe assegura, quando preso, e pelo menos lhe faculta, quando solto, a
assistência técnica do advogado, que este não lhe poderá prestar se lhe é sonegado o acesso aos autos do
inquérito sobre o objeto do qual haja o investigado de prestar declarações. 4. O direito do indiciado, por seu
advogado, tem por objeto as informações já introduzidas nos autos do inquérito, não as relativas à
decretação e às vicissitudes da execução de diligências em curso (cf. L. 9296, atinente às interceptações
telefônicas, de possível extensão a outras diligências); dispõe, em conseqüência a autoridade policial de
meios legítimos para obviar inconvenientes que o conhecimento pelo indiciado e seu defensor dos autos do
inquérito policial possa acarretar à eficácia do procedimento investigatório. 5. Habeas corpus de ofício
deferido, para que aos advogados constituídos pelo paciente se faculte a consulta aos autos do inquérito
policial e a obtenção de cópias pertinentes, com as ressalvas mencionadas.
45
6) OBRIGATÓRIO - a autoridade policial, ao tomar conhecimento da notitia
criminis da prática de infração penal que se apura mediante ação penal pública, deverá
instaurar o competente inquérito policial de ofício.
46
Quando houver requisição do Juiz ou do Ministério Público, a autoridade
coatora não é o Delegado, mas o Juiz ou Promotor de Justiça requisitante.
INCOMUNICABILIDADE DO INDICIADO:
47
Art. 18 CPP - “Depois de ordenado o arquivamento do inquérito pela
autoridade judiciária, por falta de base para a denúncia, a autoridade policial
poderá proceder a novas pesquisas, se de outras provas tiver notícia.”
48
EXCEÇÕES:
ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO
49
Dá-se quando o membro do Ministério Público, verificando que o juízo não
é competente para a ação penal, apenas manifestar-se no sentido de deixar de oferecer
a denúncia por se tratar de juízo incompetente, sem requerer a remessa dos autos ao
juízo competente. Para a doutrina, esta hipótese caracterizaria arquivamento indireto,
porquanto o agente do Ministério Público não promoveu diretamente o arquivamento do
inquérito, mas também não requereu a remessa dos autos ao juízo competente.
Art. 5º, § 5º: “Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá
proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.”
Art. 19 CPP: “Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão
remetidos ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu
representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante
traslado.”
50
- Pode o ofendido ou seu representante legal requerer o arquivamento do
inquérito, o que eqüivale à renúncia ao direito de queixa e, portanto, é causa extintiva
da punibilidade.
Art. 5º do CPP: “Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado:
I - de ofício;
§ 5º) Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá proceder
a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.”
51
indícios ou provas que passam pelo crivo do contraditório e da ampla defesa, pode
servir de prova para a condenação.
7
E. Magalhães Noronha Curso de Direito Processual Penal, 28ª ed., p. 29.
52
momento oportuno, poderá contestar a decisão via “habeas corpus” ou recurso
eventualmente cabível.
c) Provas antecipadas ou cautelares produzidas antes do processo. Ex.: coleta de
depoimento antecipada em caso de doença grave de testemunha importante.
d) Provas não-repetíveis. Ex.: escutas telefônicas autorizadas judicialmente durante o
inquérito policial.
INDICIAMENTO
DILIGÊNCIAS INVESTIGATIVAS
Artigos 6º do CPP.
A autoridade policial (delegado de polícia) não pode determinar busca
domiciliar e nem a instauração de incidente de insanidade mental do acusado.
A autoridade policial pode determinar a condução coercitiva do suposto
autor do fato e de testemunhas. Neste caso, possui os mesmos poderes do juiz.
Entretanto, o indiciado não é obrigado a produzir prova contra si mesmo (art. 5º, LXIII,
CF – direito ao silêncio). Quanto à reconstituição do crime, o indiciado não é obrigado a
participar.
Quanto à diligência de reconhecimento do autor do fato (reconhecimento
pessoal), o indiciado não é obrigado a praticar comportamentos ativos (a fazer algum
gesto ou movimento). Neste caso, seu comportamento é passivo. Por isso, não pode se
negar a participar.
53
REALIZAÇÃO DE INVESTIGAÇÕES CRIMINAIS PELO
MINISTÉRIO PÚBLICO
54
Em crimes falimentares ou de recuperação judicial ou extrajudicial não há
mais possibilidade de haver o inquérito judicial, que era previsto apenas no Dec.-lei n.º
7661/45.
Art. 313, inc. IV: Se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher,
nos termos da lei específica, para garantir a execução das medidas protetivas de
urgência. (trata-se de hipótese criada a partir da Lei Mª da Penha).
Prisão temporária:
55
Lei nº 7.960/89, art. 1º:
PRISÃO EM FLAGRANTE:
56
III - é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa,
em situação que faça presumir ser autor da infração penal; (FLAGRANTE IMPRÓPRIO
OU QUASE-FLAGRANTE)
IV - é encontrado, logo depois, com instrumentos, arma, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração. (FLAGRANTE PRESUMIDO)
Art. 69: “Ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente
encaminhado ao juizado ou assumir o compromisso de a ele comparecer, não se
imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança.”
FIANÇA:
Art. 322: “A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração
punida com detenção ou prisão simples.
57
9. AÇÃO PENAL
1. CONCEITO:
2. Interesse de agir.
59
atividade jurisdicional para satisfazer o interesse do autor. A ação penal tem
por objetivo impor pena ao acusado. Se por qualquer motivo essa pena não
mais possa ser imposta (prescrição), então o ajuizamento da ação será
inútil, faltando interesse de agir. Apesar de tema controvertido, existe
posicionamento apregoando a falta de interesse de agir (devido à inutilidade
do processo) quando se projetar a prescrição (prescrição virtual ou
antecipada) em concreto antes do oferecimento da denúncia, podendo ser
promovido o arquivamento8. Outra situação muito controvertida é a situação
dos crimes de bagatela, quando parte da doutrina e jurisprudência apregoam
que não se poderá obter resultado útil da formação de um juízo sentencial
condenatório. A adequação reside no processo penal condenatório e no
pedido de aplicação de sanção penal de acordo com os parâmetros do tipo
penal incriminador. Narrada uma conduta típica, o acusador deve pleitear a
condenação do acusado conforme os parâmetros do tipo incriminador.
O desinteresse de agir pode ocorrer, ainda, pela inexistência de
provas mínimas idôneas a embasar a ação penal. Na medida em que o
processo penal é, por si, causa de constrangimento, deve ser instaurado
diante da existência de mínimos elementos de prova idôneos em torno da
conduta típica. Evidentemente que a admissibilidade da ação penal não
demanda provas robustas. Basta que as provas sejam capazes de despertar
um juízo de suspeita, o suficiente para demonstrar que a acusação não é
fruto de criação cerebrina ou mero capricho.
Também falará interesse de agir quando estiver evidenciada alguma
excludente da ilicitude (art. 397, inciso IV, CPP).
60
a existência de justa causa exige a presença de elementos mínimos de prova
acerca da autoria e materialidade do delito.
A despeito dessa sustentação, críticas são possíveis ao pretendido
conceito, pois a justa causa não representaria então mais do que a
existência, em cada caso concreto, do interesse de agir e da legitimidade
passiva ad causam. Ora, as provas quanto à materialidade demonstram a
necessidade de que seja instaurado um processo para que se apure o fato
narrado. Os indícios de autoria, por sua vez, é que tornarão possível
determinar, mesmo que de forma relativamente imprecisa, a pessoa que
deverá constar no pólo passivo da demanda.
61
de justa causa (inciso III). Assim sendo, parece-nos indubitável que a justa
causa não pode ser entendida como uma das condições da ação,
configurando elemento distinto delas. O legislador, entretanto, perdeu a
oportunidade de conceituar o que significa a justa causa, ou mesmo as
demais condições da ação. Por isso, cremos que a justa causa possa ser
entendida como a existência de elementos mínimos de prova para a
propositura da ação penal. De qualquer sorte, persistirá, certamente, a
discordância doutrinária acerca do verdadeiro sentido ou conteúdo da justa
causa.
As condições da ação não se confundem com as escusas absolutórias,
que atingem diretamente o direito de punir do Estado, fazendo com que a
pena deixe de ser imposta por circunstâncias pessoais do agente. Ex.:
artigos 181 e 348, § 2º do Código Penal e 53 da Constituição Federal
(imunidades parlamentares).
1. Pressupostos subjetivos:
62
Público. Na ação penal privada, do ofendido, seu representante legal ou, na hipótese do
artigo 31 do CPP, cônjuge, ascendente, descendente e irmão. No pólo passivo, a
capacidade diz respeito à figura do réu, que deve ser pessoa que atingiu a maioridade
penal (18 anos).
63
i) Exibição de jornal ou periódico, bem como a notificação do artigo
57, nos crimes de imprensa, conforme art. 43 da Lei 5.250/67.
64
arts. 168-A e 337-A do Código Penal) com a suspensão da
pretensão punitiva durante o período em que as pessoas jurídicas
por meio das quais os agentes tenham cometido os aludidos delitos
permaneçam cumprindo o parcelamento ajustado na forma legal.
Nesse período, não poderá ser proposta a ação penal, sendo
suspensas aquelas que estiverem pendentes. Neste caso, discute-se
se esta hipótese constitui exceção à regra da independência das
esferas administrativa e penal. O que impede a propositura ou o
seguimento da ação penal, nesse caso, não é a mera existência de
procedimento administrativo, mas sim a suspensão da própria
pretensão punitiva do Estado, porquanto suspensa a exigibilidade
do débito tributário.
1) Pública incondicionada;
2) Pública condicionada à representação;
3) Pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça;
4) Privada
5) Privada subsidiária da pública
6) Ação penal popular – crimes de responsabilidade do Presidente da
República, Ministros de Estado, etc. Artigo 14 da Lei 1.079/50.
9
HC 85949/MS, Julgamento em 22/08/2006, Primeira Turma. EMENTA: HABEAS CORPUS.
PENAL. PROCESSUAL PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.
REPRESENTAÇÃO FISCAL. SUSPENSÃO DO CURSO DA AÇÃO PENAL. DECISÃO
DEFINITIVA DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO FISCAL. CONDIÇÃO DE
PROCEDIBILIDADE DA AÇÃO PENAL. LAVAGEM DE DINHEIRO. CRIME
AUTÔNOMO. 1. Denúncia carente de justa causa quanto ao crime tributário, pois não precedeu
da investigação fiscal administrativa definitiva a apurar a efetiva sonegação fiscal. Nesses crimes,
por serem materiais, é necessária a comprovação do efetivo dano ao bem jurídico tutelado. A
existência do crédito tributário é pressuposto para a caracterização do crime contra a ordem
tributária, não se podendo admitir denúncia penal enquanto pendente o efeito preclusivo da
decisão definitiva em processo administrativo. Precedentes. 2. O crime de lavagem de dinheiro,
por ser autônomo, não depende da instauração de processo administrativo-fiscal. Os fatos
descritos na denúncia, se comprovados, podem tipificar o crime descrito na norma penal vigente,
devendo, quanto a este, prosseguir a ação penal. Precedentes. 3. Habeas corpus parcialmente
concedido.
65
Qualquer cidadão poderá propor ação perante a Câmara dos
Deputados. Tourinho Filho e Ada Pelegrini Grinnove a admitem.
Predomina, entretanto, que não se trata de ação penal, pois a
expressão crimes de responsabilidade representam meras infrações
administrativas, a partir do conceito de crime previsto na Lei de
Introdução ao Código Penal. Seriam “crimes” de responsabilidade
impróprios. Somente os crimes próprios, com pena de reclusão ou
detenção, autorizam ação penal (ex. peculato).
7) Ação penal concorrente (Súmula 714 STF).
8) Ação penal secundária.
7.3. Princípios:
66
Público determinar o arquivamento do inquérito policial, devendo
propor o arquivamento ao juiz competente, ficando esta decisão a
critério do magistrado. Havendo divergência, deverá ser observado o
artigo 28 do CPP.
Atualmente, este princípio sofreu sensível mitigação com a regra do artigo 98,
inc. I, da Constituição, que possibilita a transação penal nas hipóteses de infrações
penais de menor potencial ofensivo. Tal possibilidade está também no artigo 76 da Lei
n.º 9.099/95. A partir da transação, pode-se identificar a existência do princípio da
discricionariedade regrada, também chamado de princípio da disponibilidade
temperada, para infrações de menor potencial ofensivo. Pode-se, também, cogitar de
exceção no que se refere ao chamado o acordo de leniência, previsto no artigo 35-
C, da Lei 8.884/94
Art. 35-B. “A União, por intermédio da SDE (Secretaria de Desenvolvimento Econômico), poderá celebrar
acordo de leniência, com a extinção da ação punitiva da administração pública ou a redução de um a dois
terços da penalidade aplicável, nos termos deste artigo, com pessoas físicas e jurídicas que forem
autoras de infração à ordem econômica, desde que colaborem efetivamente com as investigações e o
processo administrativo e que dessa colaboração resulte: (Artigo incluído pela Lei nº 10.149, de
21.12.2000)
I - a identificação dos demais co-autores da infração; e (Incisio incluído pela Lei nº 10.149, de
21.12.2000)
Art. 35-C. Nos crimes contra a ordem econômica, tipificados na Lei n o 8.137, de 27 de novembro de 1990,
a celebração de acordo de leniência, nos termos desta Lei, determina a suspensão do curso do prazo
prescricional e impede o oferecimento da denúncia. (Artigo incluído pela Lei nº 10.149, de 21.12.2000)
68
não precisará aguardar a solução da demanda na esfera extrapenal,
conforme art. 93 do CPP.
É aí que se fala em princípio da suficiência da ação penal. A
demanda penal é suficiente para solver a questão prejudicial não ligada
ao estado de pessoas, sendo desnecessário aguardar a solução no juízo
cível.
Exceções:
7.5. A DENÚNCIA
69
g) e, quando for necessário o rol de testemunhas.
70
Mesmo assim, trata-se de tese muito incipiente. De qualquer
sorte, reafirma-se que o juiz poderá conferir outra classificação
ao delito na sentença (art. 383), abrindo vista ao Ministério
Público para que ofereça, se cabível, a suspensão condicional do
processo.
DENÚNCIA ALTERNATIVA
ADITAMENTO À DENÚNCIA
71
1) Inserção de co-autor ou partícipe não descrito na
denúncia – aditamento pessoal. Se isso ocorrer, é
imperativa a designação de interrogatório do sujeito
ativo incluído. Também é necessária a abertura de
prazo para a defesa arrolar testemunhas e produzir
provas. Deve-se, ainda, ouvir novamente as
testemunhas da acusação que se refiram à conduta do
novo agente incluído na denúncia.
72
Importante ressaltar, entretanto, que o aditamento à
denúncia é facultativo nos casos dos itens “1” e “2”, podendo ser oferecida
uma nova denúncia para a ampliação dos limites objetivos ou subjetivos da
denúncia. Aliás, em se tratando de novo delito conexo ou continente ou
mesmo da inclusão de novo sujeito ativo (co-autor ou partícipe), poderá
ocorrer a separação dos processos (art. 80 do CPP).
No dizer dos artigos 24 do CPP e 100, § 1º, do CP, a ação penal pode
depender de representação do ofendido ou representante legal, de requisição
do Ministro da Justiça.
73
A representação pode ser exercida pessoalmente ou por meio de
procurador, desde que com poderes especiais (art. 39 CPP).
Com o advento do novo Código Civil, a regra contida no art. 34 do CPP
teria caído no vazio, não cabendo a representação legal do ofendido capaz,
maior de 18 anos. Por isso, há que se ter por inaplicável a Súmula 594 do
STF, no sentido de que “os direitos de queixa e de representação podem ser
exercidos, independentemente, pelo ofendido ou por seu representante
legal.”
No caso de morte do ofendido ou quando declarado ausente por
decisão judicial, o direito de representação passará ao cônjuge (hoje
admitem-se os companheiros), ascendente, descendente ou irmão (art. 24, §
1º, CPP). Discute-se se essa enumeração é taxativa. A ordem é de
precedência (por analogia ao artigo 36 do CPP). Somente diante da
inexistência do cônjuge é que o ascendente poderá representar. Por isso, o
curador do ausente, uma vez nomeado no juízo cível, não pode exercer o
direito de representação, apenas as pessoas antes citadas. Há tendência,
entretanto, em reconhecer que o rol é meramente exemplificativo. Em
crimes contra os costumes, tem-se admitido a representação pelo
responsável do menor, ou de quem ele dependa economicamente, ex.:
guardião, padrasto, etc.
Se o ofendido for incapaz, pode o Juiz nomear curador especial
para analisar a conveniência de oferecer a representação.
Também poderá ser nomeado curador se os interesses do incapaz
colidirem com representante (art. 33 CPP). STF HC 76311, DJU 07/08/98, p.
20.
As pessoas jurídicas também poderão oferecer representação, por meio
da pessoa indicada no respectivo contrato ou estatuto social.
74
Se representar apenas com relação a um crime, não se estende ao
outro porventura contido na mesma investigação. É o entendimento
majoritário da doutrina e jurisprudência.
75
de um legitimado (ex.: cônjuge), o direito de representação transfere-se ao
próximo por sucessão (ex.: ascendente), sub-rogando-se o novo legitimado
ao direito do legitimado anterior. Segundo esse entendimento, o prazo
decadencial continuaria a fluir, restando ao novo legitimado apenas a parcela
de prazo que ainda faltava escoar com relação ao legitimado anterior.
76
infração for cometida por mais de um dos agentes (ex.: lesões corporais
leves praticadas por dois ou mais contra a mesma vítima), pode ocorrer
composição civil dos danos somente com algum dos agressores. Neste caso,
a renúncia somente valerá contra este, não ocorrendo contra os demais.
Contra estes, poderá haver representação. Quanto houver várias vítimas, a
composição feita por uma delas não representa renúncia por parte das
demais que não compuseram o dano.
Além disso, com a entrada em vigor da Lei n.º 11.340/06 (Mª da
Penha), há previsão no artigo 16 no sentido de que a renúncia à
representação da ofendida somente poderá ocorrer em juízo, em audiência
especialmente designada para tanto. Por isso, também em crimes de
violência doméstica e familiar contra a mulher, surgiu o fenômeno da
renúncia ao direito à representação, porém somente perante o Juiz. De
qualquer forma, pode-se entender que a expressão renúncia à representação
utilizada nesta Lei é inadequada. Renuncia-se a algo ainda inexistente. Não
se pode renunciar ao direito já exercido (no caso, a representação já
ofertada). Por isso, melhor é entender que a expressão correta na Lei n.º
11.340/06 é retratação da representação, porquanto já teria havido a
representação e a vítima pode retratar-se em juízo, até ANTES DO
RECEBIMENTO DA DENÚNCIA neste caso. É uma exceção.
Portanto, existe no Brasil, o fenômeno da renúncia ao direito de
representação, mas somente nesses casos. Quando ocorrer, extingue a
punibilidade (art. 107, inc. V, do CP)
77
Ocorre em crimes cometidos por estrangeiro contra brasileiro, fora do
Brasil (CP, art. 7º, § 3º, “b”), crimes contra a honra de chefe de governo
estrangeiro e do Presidente da República (CP, art. 141 I, c/c 145, § ún.).
Princípios –
78
d) Quando ocorrer a extinção da punibilidade com relação a um
dos autores do crime e não com referência ao outro.
79
c) Ação penal exclusivamente privada ou propriamente dita (artigos 30
e 31 CPP) – é a ação penal privada tradicional, que pode ser
exercida pelo ofendido se maior de 18 anos e capaz, ou por seu
representante legal, se menor de 18 anos, ou no caso de morte ou
declaração de ausência, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou
irmão.
80
Código Penal). Lá, a regra é que a ação penal seja privada. No
entanto, se a vítima ou seus responsáveis forem pobres, dependerá
de representação. Se o autor do delito abusar da relação do poder
familiar (pai ou mãe), for tutor, curador ou padrasto, a ação penal é
pública incondicionada. Se o estupro ou o atentado violento ao
pudor forem cometidos com violência real, a ação é pública
incondicionada (Súmula 608 STF). Outro exemplo seria crimes
contra a honra (art. 145). A ação penal é privada, mas na injúria
real com lesões é pública incondicionada.
81
O prazo decadencial pode ser exercido pelo ofendido ou representante,
quando menor de 18 anos ou incapaz. Não se cogita mais de relativamente
capaz entre 18 e 21 anos, a partir do Código Civil em vigor. Com isso, os
artigos 34 e 50, § ún., CPP, estão sem efeito. A Súmula 594 do STF, da
mesma forma. Quanto à Súmula, apenas permanece em vigor se a sua
leitura for no sentido de que os prazos são distintos, para o menor de 18
anos inicia-se quando implementar esta idade. Enquanto isso, somente seu
representante pode exercer o direito de queixa.
O artigo 35 do CPP, que exigia autorização do marido para a mulher
casada intentar a queixa, foi revogado pelo art. 226, § 5º, da CF e pela Lei
n.º 9.520/97.
No caso de morte ou ausência do ofendido, o prazo decadencial de seis
meses começará a correr a partir da data em que qualquer dos sucessores
elencados no art. 31 do CPP tomar conhecimento da autoria (art. 38, § ún.,
CPP), salvo se, quando a vítima morreu, já havia se operado a decadência.
O prazo decadencial cessa pelo oferecimento (protocolização) da
queixa, e não da data de seu recebimento (STF RHC 63.665).
O prazo para a propositura da queixa-crime na ação penal privada
subsidiária da pública é de seis meses, contados do esgotamento do prazo
para o Ministério Público, por analogia ao artigo 38 do CPP. Em se tratando
de crimes falimentares ou de recuperação judicial de empresas, o prazo
também é de 6 meses, conforme agora previsto no artigo 184, § ún., da Lei
11.101/05.
O pedido de instauração de inquérito policial não interrompe o prazo
decadencial.
Aliás, o prazo decadencial, por natureza, não se interrompe ou
suspende.
82
Artigo 36 CPP – A ordem do artigo 31 é de precedência.
83
Não existe renúncia em ação penal privada subsidiária da pública.
84
entretanto, para que produza efeito extintivo da punibilidade,
sua ocorrência deverá ser demonstrada nos autos. Por isso, o
art. 59 do CPP estabelece que a aceitação do perdão por parte
do querelado, quando fora dos autos, deverá ser comprovada
por intermédio de declaração assinada pelo querelado, por seu
representante legal ou procurador com poderes especiais. Isso
quando a aceitação for expressa. Quando tácita, ocorrerá se o
querelado deixar de se manifestar no tríduo legal.
Se o querelado for mentalmente enfermo ou portador de
desenvolvimento mental incompleto, e não tendo
representante legal, havendo colidência de interesses entre o
querelado e quem o represente, competirá ao juiz nomear-lhe
curador especial para que decida acerca da aceitação do
perdão (art. 53 CPP).
Perempção:
85
Somente ocorre nas ações privadas exclusivas, inexistindo na ação
penal privada subsidiária da pública.
No artigo 60 do CPP, há quatro hipóteses de perempção:
Decadência:
86
O mesmo se pode dizer para o exercício do direito de queixa crime
subsidiária à denúncia, quando se conta o prazo do dia em que se esgotar o
prazo legal para que o Ministério Público ofereça a inicial acusatória.
Exceções:
87
2) Ocorrem após o início da ação penal – perdão e
perempção.
3) Atuação positiva do ofendido – renúncia e perdão.
4) Atuação negativa do ofendido – decadência e
perempção.
5) O perdão é bilateral. Necessita de aceitação. É expresso
ou tácito.
6) A renúncia é unilaterial. Não necessita de aceitação. É
expressa ou tácita.
a) aditar a queixa;
b) repudiá-la;
c) oferecer denúncia substitutiva.
88
EMENDATIO LIBELLI
MUTATIO LIBELLI
89
inquirição de testemunhas, novo interrogatório do acusado, realização de
debates e julgamento.
§ 3º Aplicam-se as disposições dos §§ 1º e 2º do art.
383 ao caput deste artigo.
§ 4º Havendo aditamento, cada parte poderá arrolar
até 3 (três) testemunhas, no prazo de 5 (cinco) dias, ficando o juiz, na
sentença, adstrito aos termos do aditamento.
§ 5º Não recebido o aditamento, o processo
prosseguirá.
CONSEQÜÊNCIAS:
RATIFICAÇÃO DA DENÚNCIA
90
STF dispensando até a ratificação da denúncia oferecida por membro do
Ministério Público Federal com atuação em seção judiciária diversa.12
NÃO-RECEBIMENTO E REJEIÇÃO DA
DENÚNCIA OU QUEIXA – RECURSO CABÍVEL
12
STF – HC 85.137-MT, Primeira Turma, 13/09/2005.
91
Importante observar que, caso tenha sido
interposto recurso contra a decisão que não recebeu ou rejeitou a
denúncia ou queixa, a intimação do denunciado é obrigatória para as
contra-razões, sob pena de nulidade. Nesse sentido, Súmula n.º 707 do
STF.
92
“No crime de estupro praticado mediante
violência real, a ação penal é pública incondicionada.”
93
LEI n.º 11.340, de 07/08/2006 (VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER)
94
manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria.
Pois bem.
Entretanto.
Art. 41. Aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei no 9.099, de 26 de setembro
de 1995.
95
O artigo12 estabelece que:
Art. 12. Em todos os casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, feito o
registro da ocorrência, deverá a autoridade policial adotar, de imediato, os seguintes
procedimentos, sem prejuízo daqueles previstos no Código de Processo Penal:
I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se
apresentada;
Art. 16. Nas ações penais públicas condicionadas à representação da ofendida de que
trata esta Lei, só será admitida a renúncia à representação perante o juiz, em audiência
especialmente designada com tal finalidade, antes do recebimento da denúncia e
ouvido o Ministério Público.
Ora. Passaram os delitos tipificados como violência
doméstica e familiar a depender de representação da ofendida?
Aparentemente, sim.
97
10. DA AÇÃO CIVIL EX DELICTO.
98
judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia
calculada com base no disposto no § 1º do art. 49 do Código
Penal, sempre que houver prejuízo material resultante do crime”.
De qualquer sorte, importante ter em conta que nem sempre uma prática
delitiva autorizará o direito de indenização a algum particular, na medida em que há
crimes que não ofendem interesses determinados de pessoas e, por isso, não
constituem ilícito civil protegido pelo Direito Civil. Veja-se, por exemplo, o crime de
quadrilha ou bando, que ofende a paz pública e atinge toda a sociedade. Neste caso,
não exsurge o direito de indenização a qualquer do povo pela condenação dos
acusados por tal delito.
99
Ademais, a sentença penal condenatória apenas serve para tornar certo o
dever de indenizar, sem fixar o montante da indenização (quantum debeatur). Este
deverá ser objeto de liquidação no juízo cível. Assim, a sentença penal condenatória
apenas fixará a autoria e materialidade da infração penal, tornando certa a obrigação de
indenizar. Portanto, a sentença é condenatória em relação ao crime, mas é declaratória
em relação ao dever de indenizar. A partir do disposto no art. 63, par. ún., combinado
com o art. 387, IV, do CPP, o Juiz deverá fixar o valor mínimo da indenização civil na
sentença penal, o que não impede a vítima ou quem por ela puder de buscar o restante
da indenização.
Importante referir que muitos Juízes não têm fixado o valor mínimo da
indenização civil na sentença penal afirmando que não dispõe de elementos no
processo penal para apurar o valor da indenização civil. Esta tem sido, aliás, a regra.
O Código Civil, por sua vez, em seu artigo 200, veda a prescrição da
pretensão cível que decorrer de fato que deva ser apurado no juízo criminal enquanto
não for proferida pelo juízo penal a respectiva sentença definitiva.
Com base nessa prejudicialidade do juízo penal com relação ao juízo cível
é que parte da doutrina sustenta a obrigatoriedade de suspensão do curso do processo
civil na pendência do processo penal envolvendo o mesmo fato. Para tanto, invoca-se o
artigo 265, inc. IV, do CPC, que determina ser obrigatória a suspensão do processo na
circunstância em que o juízo do mérito no cível dependa de julgamento de outra causa,
da declaração da existência ou inexistência da relação jurídica, que constitua o objeto
principal de outro processo pendente.
CASOS ESPECIAIS.
100
Se diante de uma sentença penal condenatória é conseqüência legal o
dever de indenizar no âmbito cível, há casos em que não há sentença condenatória ou
mesmo absolutória, senão vejamos:
13
RE 135.328/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, j. 29.6.94, DJ, 20.4.01.
102
Quanto aos incisos II (não houver prova da existência do fato), III (não
constituir o fato infração penal), V (não existir prova de ter o réu concorrido para a
infração penal) e VII (não existir prova suficiente para a condenação), nada impede o
ajuizamento da ação cível. Aliás, o art. 67, III do CPP também refere que não impede a
propositura de ação civil de indenização a sentença que reconhece que o fato imputado
não constitui crime. Neste sentido, ver também art. 66 do CPP.
Quanto ao responsável civil, dispõe o artigo 932 do Código Civil que são
também responsáveis pela reparação civil:
I – os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em
sua companhia;
II – o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas
mesmas condições;
III – o empregador ou comitente, por seus empregados, serviçais e
prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele;
IV – os donos de hotéis, hospedarias, casas ou estabelecimentos onde se
albergue por dinheiro, mesmo para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores
e educandos; V – os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime,
até a concorrente quantia.
Consoante dispõe o art. 64, parágrafo único, intentada a ação penal, o juiz
da ação civil poderá suspender o curso desta, até o julgamento definitivo daquela.
Trata-se de medida necessária para evitar julgamentos conflitantes na
esfera penal e civil.
104
Apesar de haver a expressão “poderá”, entendimento uníssono é no
sentido de que o juiz do processo cível deverá suspender, por cautela, a ação de
indenização.
105
11. JURISDIÇÃO E COMPETÊNCIA
106
Todo juiz enquanto no exercício do cargo tem poder jurisdicional. Quando
recebe o cargo, passa a ter JURISDIÇÃO.
Cumpre ao poder judiciário a tarefa de dizer o direito (= jurisdição), e por intermédio
dessa tarefa o judiciário tem o poder de controlar e examinar os atos administrativos e
legislativos dos demais poderes.
Quando provocado, porquanto a jurisdição é inerte, o Judiciário examina qualquer
atentado, a qualquer direito, de quem quer que seja.
Jurisdição é um poder que tem os integrantes do Poder Judiciário de declarar o
direito a uma situação litigiosa concreta. Todos os juízes têm jurisdição.
Este poder de declarar o direito a uma situação litigiosa concreta é atribuído a todos
os juízes, cada um em particular, a partir do momento em que ingressam na carreira e
entram em atividade. Só perdem este poder quando se afastam do cargo, temporária
ou definitivamente.
Este poder, porque atribuído a cada juiz individualmente, é de natureza subjetiva e
abstrata, pois a jurisdição é ilimitada, não pode sofrer qualquer limitação e, portanto,
não pode ser de maneira alguma discutida em processo, que todos juízes têm poder
abstrato e subjetivo de dizer o direito a uma situação litigiosa concreta.
Jurisdição Competência
Natureza subjetiva e Natureza objetiva e concreta
abstrata
PRINCÍPIOS DA JURISDIÇÃO
108
competente, que é aquela cujo poder jurisdicional já está fixado na
Constituição ou lei no momento do fato (art. 5º, LIII, CF). Por isso, não
haverá juízo ou tribunal de exceção (CF, art. 5º, XXXVII). Portanto, o
juízo competente está previamente previsto legalmente quando da
ocorrência do fato. Há o direito dos cidadãos de saberem de antemão
qual o juízo que será competente para o julgamento da causa. Nada
impede, entretanto, que sejam criados determinados tribunais ou juízos
que atendam à previsão legal ou Constitucional. Ex.: criação de mais
uma vara em determinada Comarca em obediência à lei e à
Constituição.
Pode uma lei posterior ao início do processo alterar a
competência, consoante ocorreu com a Lei n.º 9.299/96, que atribuiu
a competência para processar e julgar crimes dolosos contra a vida
cometidos por militar contra civil ao Tribunal do Júri. Essa lei teve
aplicação imediata, em consonância com o disposto no artigo 2º do
CPP. Tourinho Filho discorda, entendendo que há violação ao princípio
do juiz natural.
CARACTERÍSTICAS DA JURISDIÇÃO
109
Judiciário, por intermédio se seus membros, é incumbido de ditar o
direito, evitando a imposição da vontade de uma das partes sobre a
outra.
2) Definitividade. Encerrando-se o processo, a manifestação do juiz
torna-se imutável. Excepciona-se esta característica por meio da
revisão criminal (artigos 621 a 631 do CPP).
DIVISÃO DA JURISDIÇÃO
a) penal;
b) civil;
c) eleitoral;
d) militar;
e) trabalhista.
COMPETÊNCIA
111
competente para julgar determinado caso concreto, evitando-se, dessa forma, um caos.
Essa é a razão de ser da competência.
A competência é uma delimitação, não um poder, do exercício do
poder jurisdicional, é uma delimitação, uma medida da jurisdição. É o poder de dizer
quem, entre todos, é o juiz que decidirá aquele caso concreto.
Princípio constitucional do juiz natural: as regras de competência
delimitando o exercício do poder jurisdicional servirão para nos dizer quem é o juiz
legal, quem é o juiz natural, quem é o juiz constitucional que deverá julgar o caso.
A competência tem natureza objetiva, pois dirá de forma objetiva quem
será o juiz competente para julgar.
A competência possui natureza objetiva e concreta, já a jurisdição tem
natureza subjetiva e abstrata. Só se pode discutir o que é objetivo e concreto, e não o
que é subjetivo e abstrato, na medida em que todos juízes têm jurisdição, mas somente
um é o competente para determinado processo.
A competência é o limite estabelecido pela lei (em sentido amplo)
dentro do qual o juiz exerce jurisdição, isso define o princípio do Juiz natural.
A Constituição Federal, ao tratar de direitos subjetivos, no artigo 5º,
estabelece dogmas constitucionais, entre eles: LV, - princípio do devido processo legal-;
LV - princípio do contraditório e ampla defesa; LVI- inadmissibilidade de provas ilícitas;
LVII princípio da presunção de inocência; todos esses são complementados pelo LIII- o
princípio do Juiz natural.
É inimaginável a hipótese de haver um conflito de jurisdição, porque
impossível é o conflito de uma coisa que é abstrata. Poderá, sim, ocorrer a discussão
dos limites estabelecidos pela lei, dentro dos quais o juiz exerce sua jurisdição. O QUE
EXISTE SÃO CONFLITOS DE COMPETÊNCIA. Entretanto, Guilherme Nucci entende
poder haver hipótese de conflito de jurisdição, quando magistrados pertencem a
carreiras diversas e cuidam, cada qual, de matéria específica (ex.: entre juiz federal e
juiz estadual). Contrariamente, conflito de competência haveria quando há juízes da
mesma carreira, sem nenhuma especificidade (ex.: entre juízes estaduais). Sua tese
decorre da previsão dos artigos 113 e 114 do Código de Processo Penal que prevêem
sob o título “do conflito de jurisdição” a solução destes conflitos. Em essência, para a
corrente que inadmite conflito de jurisdição, haveria impropriedade terminológica nos
aludidos dispositivos, pois tratam de conflito de competência, na medida em que a
jurisdição é abstrata e subjetiva, inerente a todos os juízes e Tribunais.
O primeiro a fazer o exame da competência em um feito é o
representante do Ministério Público, como fiscal da lei, que deverá analisar se o juiz da
vara em que atua é o competente para julgar aquele feito. Nesse momento estará ele,
também, reconhecendo a sua atribuição para a ação penal.
O juiz, ao fazer o exame de admissibilidade da denúncia ofertada pelo
Ministério Público, analisará sua competência para ação penal e, após, receberá ou
não, ou ainda, poderá rejeitar a denúncia.
112
Só tem competência quem tem jurisdição. Qualquer outra autoridade
não tem competência, tem atribuição. O delegado e o promotor de justiça, por exemplo,
possuem atribuição.
Competência só existe no cenário do judiciário, porquanto é o Poder
Judiciário exclusivamente dotado de jurisdição constitucionalmente. E só para quem
tem jurisdição que existe competência.
Conflito de competência= entre juízes ou Tribunais. A solução
tomada no conflito de competência vincula todos aqueles que atuam perante
determinado juízo, e não só o juiz. O conflito de competência é dirimido pelo próprio
Poder Judiciário. Artigos 113 a 117 do CPP.
Conflito de atribuição = entre promotores de justiça, por exemplo,
tem natureza eminentemente administrativa. E quem decidirá qual é o promotor de
justiça ou procurador de justiça que tem a atribuição para o caso será seu superior
hierárquico, no caso em tela, o Procurador-Geral de Justiça. Essa decisão vinculará
apenas o Ministério Público e não o Judiciário.
Conflito de atribuições entre procurador da república e promotor
de justiça é dirimido pelo Supremo Tribunal Federal, conforme dispõe o artigo
102, I, da CF.
113
Tribunais Superiores e outros Tribunais (ex.: STJ e TJRGS), quem dirime o conflito é o
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (artigo 102, I, “o”, da CF).
A resolução do conflito de competência pode ocorrer na fase pré-
processual, investigatória, e ocorre assim sistematicamente, antes do início ação penal
quando houver a prática de algum ato decisório, nas hipóteses de competência por
PREVENÇÃO (artigo 83, CPP).
Para ocorrer o conflito de competência é necessário que haja no
mínimo dois juízes discutindo a competência nos autos do processo.
ESPÉCIES DE COMPETÊNCIA.
1) Competência ratione materiae. É aquela definida a partir da
natureza da infração penal cometida. Ex.: se crimes dolosos
contra a vida, se infrações penais de menor potencial ofensivo,
etc. (Art. 69, III, CPP).
2) Competência ratione personae. Diz respeito à qualidade da
pessoa que cometeu a infração penal. É definida em razão de
prerrogativa de função exercida pelo agente da infração penal
(art. 69, VII, CPP). Ex.: prefeitos, promotores de justiça, juízes,
etc.
3) Competência ratione lici. Estabelece-se de acordo com o local
onde foi praticada ou consumou-se a infração penal, ou mesmo
o local da residência ou domicílio do réu (art. 69, I e II, CPP).
114
inobservância leva à nulidade relativa. Deve ser demonstrado o prejuízo. A
competência ratione loci (em razão do lugar), por distribuição e por prevenção é
relativa.
Tem-se admitido o reconhecimento de ofício da incompetência
relativa.
Vem-se sustentando, também, na doutrina que em se
tratando de competência constitucional, a sua violação importa na inexistência
do ato e não simplesmente sua anulação. Ex.: processar juiz no juízo de 1º grau e
não no Tribunal.
115
Ada Pellegrini Grinover, Antonio Scarance Fernandes e Antonio
Magalhães Gomes Filho, na obra Nulidades no Processo Penal, página 40, por
exemplo, indicam o seguinte critério para definição da competência:
1) Qual a jurisdição competente? Justiça comum ou justiça
especial?
2) Qual o órgão jurisdicional hierarquicamente competente? O
acusado tem foro privilegiado por prerrogativa de função?
3) Qual o foro territorialmente competente? Competência
ratione loci (lugar da infração ou domicílio do réu?).
4) Qual o juízo competente? Qual a vara competente, de
acordo com a natureza da infração penal? Vara comum ou
vara do Júri? É a chamada competência de juízo.
5) Qual o juiz competente? (competência interna)
6) Qual o órgão competente para julgar o recurso?
116
1. Competência Material – é a competência delimitada tendo em vista a
natureza do litígio, é determinada conforme a causa a ser julgada, conforme será visto
posteriormente.
2. Competência Funcional - competência para a prática de alguns atos na
ação penal, em que o poder de julgar é distribuído de acordo com as fases do
processo, ou o objeto do juízo, ou o grau de jurisdição.
Geralmente, quem tem competência material tem competência funcional para a
prática dos atos processuais. O inverso não ocorre, pois nem sempre quem tem
competência funcional tem competência para ação penal, pois é muito comum que os
atos processuais, ainda que no bojo de um mesmo processo, sejam praticados por
juízes diversos.
A competência funcional é dividida em três aspectos:
a) Distribuição conforme a fase do processo. Neste caso, pode-se
determinar a competência conforme a fase em que se encontra o
processo. É o que ocorre no Tribunal do Júri, quando alguns atos são
praticados pelo juiz singular, enquanto que o julgamento é realizado
pelo Conselho de Sentença.
b) Distribuição quanto ao objeto do juízo. Ocorre quando o órgão julgador
apenas pode atuar no processo em relação a uma parcela específica
de seu objeto (da matéria contida no processo).Novamente, o Tribunal
do Júri serve de exemplo. Veja-se que os jurados somente podem
responder os quesitos relativos às questões controversas alegadas
pelas partes em plenário. Enquanto que o juiz deve dirimir as questões
de direito, lavrando a sentença final a partir da resposta dos jurados
aos quesitos e fixando a pena a ser aplicada ao réu condenado.
c) Distribuição vertical. Significa que podem atuar no mesmo processo
órgãos julgadores de diferentes instâncias. Isso ocorre quando
interposto recurso pela parte, provocando a cessação da competência
do juiz e transferindo a competência ao Tribunal para dirimir a questão
levantada (Veja-se que no recurso em sentido estrito há o juízo de
retratação do juiz prolator da decisão recorrida, assim como no agravo
em execução penal).
1) Competência Material
A competência material se estabelece pela presença concomitante de três critérios
fundamentais, critérios principais fixadores da competência material, pois esta
competência só se realiza com a presença desses critérios. Nesse sentido,
competência material não se confunde com competência ratione materiae. Trata-se de
termo mais amplo.
a. Matéria = Qual o crime?
117
b. Pessoa = Quem praticou? Prerrogativa de função
c. Local = Onde foi praticado?
d. Juízo = Qual a vara competente?
A falta de qualquer um desses critérios principais tornará o juiz incompetente.
1. JUSTIÇA MILITAR
Consoante a Constituição Federal, compete à Justiça Militar federal
processar e julgar os crimes militares definidos em lei, praticados por militar ou civil (art.
124, “caput”).
Quanto à Justiça Militar Estadual, compete-lhe processar e julgar os crimes
militares praticados por policiais militares e bombeiros militares (art. 125, § 4º, da CF).
Há uma classificação dos crimes militares:
a) próprios: ou militares propriamente ditos. São aqueles definidos somente
pela lei penal militar. Não há tipo penal semelhante na legislação penal
comum. Ex.: motim, etc.
b) impróprios: são aqueles crimes que encontram tipos penais similares na
legislação comum (art. 9º do CPM). São também crimes comuns e,
ocasionalmente, encontrados no Código Penal Militar. Ex.: lesões
corporais.
118
São órgãos da Justiça Militar Federal, em tempo de paz, o Superior Tribunal
Militar (STM), órgão recursal de 2ª instância. Também no 1º grau, encontram-se os
Conselhos de Justiça e os Juízes Auditores, que atuam nas auditorias.
119
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem
administrativa militar;
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade
ou assemelhado, ou contra funcionário de Ministério Militar ou da Justiça
Militar, no exercício de função inerente ao cargo;
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância,
observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou
manobras;
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em
função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância,
garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando
legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação
legal superior.
Parágrafo único do artigo 9º, inciso III:
Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e cometidos
contra civil, serão da competência da Justiça Comum (parágrafo inserido pela Lei
n.º 9.299, de 7.8.96). Tal previsão também está estabelecida no artigo 125, § 4º,
da CF.
Observações:
1) Quando um militar cometer crime militar em outro Estado da Federação, a
competência será da Justiça Militar do Estado onde presta serviços, conforme
Súmula 78 do STJ: “Compete à Justiça Militar processar e julgar policial de
corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado em outra
unidade federativa”.
2) A Justiça Militar Estadual não tem competência para processar e julgar civis.
Se um civil comete um crime contra as instituições militares estaduais, o
processo e julgamento ficam afetos à Justiça comum Estadual. Súmula 53 do
STJ, inclusive porque o art. 125, § 4º, da CF determina que a Justiça Militar
Estadual somente processa e julga militares estaduais nos crimes militares.
3) Crimes de tortura não são crimes militares (Lei n.º 9.455/97). São de
competência da justiça comum.
4) Crimes de abuso de autoridade (Lei n.º 4.898/65) não são crimes militares.
Neste sentido a Súmula 172 do STJ: “compete à Justiça Comum processar e
julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em
serviço. ENTRETANTO, esta Súmula não se aplica quando o crime de abuso
de autoridade é praticado por militar contra militar, estando em serviço, nem
se o crime é praticado dentro de dependências militares. Esta conclusão
decorre do fato de os precedentes que motivaram a Súmula serem todos
relativos a fatos de abuso de autoridade praticados contra civil, embora esta
120
circunstância não seja explicitada no texto sumulado. Assim, o delito de
abuso de autoridade, apesar de não ser considerado crime militar à primeira
vista, acaba sendo considerado crime militar pela incidência do art. 9º, II, “b”,
do Código Penal Militar, que define sejam considerados crimes militares os
que encontrem previsão tanto naquele diploma legal quanto na lei comum,
desde que praticados por militar em situação de atividade ou assemelhado,
em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou
reformado, ou assemelhado, ou civil.
5) É vedado à Justiça Militar Estadual processar e julgar civis , ainda que as
infrações por eles praticadas atentem contra as instituições militares
estaduais (Art. 125, § 4º, da CF, que limita de forma absoluta a competência
dessa Justiça ao julgamento de fatos praticados por policiais e bombeiros
militares). Neste sentido, Súmula 53 do STJ: “Compete à Justiça Comum
Estadual processar e julgar civil acusado de praticar crime contra instituições
militares estaduais”.
6) A Justiça Militar Federal é competente para processar e julgar, além dos
processos decorrentes de crimes praticados por militares, também aqueles
decorrentes de crimes praticados por civis, se praticados contra as
instituições militares, não importando se houverem agido isoladamente ou em
concurso com militares. Nesse sentido, Súmula 298 do STF: “o legislador
ordinário só pode sujeitar os civis à Justiça Militar em tempo de paz, nos
crimes contra a segurança externa do País ou as instituições militares”.
7) Acidente de trânsito envolvendo viatura da Polícia Militar é da competência da
Justiça Comum estadual, salvo se autor e vítima forem policiais militares em
situação de atividade. Nesse sentido, Súmula 298 do STF e Súmula 6 do
STJ.
8) Nas hipóteses de conexão e continência entre a jurisdição comum e a militar,
conforme dispõe o artigo 79, I, do CPP, não haverá unidade de processo e
julgamento. Portanto, deve ocorrer a cisão, sendo o militar julgado na Justiça
Militar, e o civil na Justiça Comum. Neste sentido, a Súmula 90 do STJ:
“compete à Justiça estadual Militar processar e julgar o policial militar pela
prática de crime militar, e à Comum pela prática do crime comum simultâneo
àquele.
9) Consoante a Emenda Constitucional n.º 45, artigo 125, § 5º, compete ao juiz
auditor singular da Justiça Militar Estadual julgar os crimes de militares contra
civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares.
10) Consoante a Emenda Constitucional n.º 45, artigo 125, § 5º, nos demais
crimes militares a competência é do Conselho, sob a presidência do juiz de
direito do juízo militar.
11) A Justiça Militar Federal, por sua vez, somente possui competência criminal ,
julgando civis e militares.
121
12)12) Crime doloco contra a vida entre militares é da competência da Justiça
Militar.
13)Lesões corporais entre militares casados (ele contra ela), competência da
Justiça Militar, não da Justiça Comum (Vara da Violência Doméstica ou
Familiar).
JUSTIÇA ELEITORAL
O artigo 121, “caput”, da CF estabelece a competência da Justiça
Eleitoral, definindo que caberá à lei complementar dispor sobre a organização e
competência dos tribunais, dos juízes de direito e das Juntas Eleitorais.
Consoante dispõe o artigo 35, II, da Lei n.º 4.737/65 (Código Eleitoral),
compete aos juízes eleitorais processar e julgar os crimes eleitorais e, também, os
crimes comuns conexos, ressalvada a competência do Tribunal Superior e dos
Tribunais Regionais. Assim, quando houver concurso de competências (conexão),
prevalece a competência da Justiça Eleitoral (art. 78, IV, do CPP).
Dúvida ocorre quando houver concurso entre crime eleitoral e crime
doloso contra a vida (ex.: homicídio). Há divergência na doutrina, ocorrendo duas
correntes. Uma, aduzindo que a Justiça Eleitoral é prevalente e atrai o crime doloso
contra a vida. Outra, prevalente, entendendo que a Justiça Eleitoral somente
processará o delito eleitoral, enquanto que o Tribunal do Júri, por ser competente
constitucionalmente (art. 5º, XXXVIII, “d”, da CF), deve processar e julgar o delito contra
a vida. Neste caso, deverá ocorrer cisão dos processos.
JUSTIÇA DO TRABALHO
A partir da Emenda Constitucional n.º 45/2004, que alterou o inciso IV do
art. 114 da CF, foi conferida a competência à Justiça do Trabalho para julgamento de
ações de habeas corpus, na hipótese em que o ato questionado envolva matéria sujeita
à sua alçada. Ex.: decisão do Juiz do Trabalho que decreta a prisão de depositário infiel
em processo trabalhista. O habeas será julgado na Justiça do Trabalho).
Esta é a única competência em matéria criminal da Justiça do Trabalho.
122
JUSTIÇA FEDERAL
A Justiça Federal é comum em relação às justiças especiais (trabalhista,
militar e eleitoral). No entanto, no que se refere aos critérios de distribuição da
competência, especial em relação às Justiças Estaduais, na medida em que estas
possuem competência residual, ou seja, aquilo que não for da competência da Justiça
Federal, tocará à Justiça Estadual comum.
A competência da Justiça Federal é fixada no artigo 109 da Constituição
Federal. Nesse sentido, competirá aos juízes federais processar e julgar:
a) Inciso IV: os crimes políticos e as infrações penais praticadas em
detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas
ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da
Justiça Militar e da Justiça Eleitoral.
Os crimes políticos são aqueles elencados na Lei de Segurança Nacional
(Lei n.º 7.170/83). Veja-se que quando um juiz federal processa e julga alguém por
crime desta natureza, a parte pode recorrer ao STF mediante recurso ordinário-
constitucional, conforme art. 102, II, “b”, da CF. Pelo que se extrai do Informativo STF
n.º 154, de 30.6.99, o recurso deve ser interposto no prazo das apelações do órgão
prolator da sentença diretamente ao Supremo Tribunal Federal.
Bens da união, de suas autarquias ou empresas públicas são todos
aqueles que compõem o seu patrimônio. Desta forma, crime cometido contra o Banco
do Brasil não é da competência federal, mas da Justiça Estadual Comum, por se tratar
de sociedade de economia mista. Contrariamente, é da Justiça Federal comum a
competência quando a instituição atingida é a Caixa Econômica Federal (é empresa
pública), o INSS, INCRA, DNER, INPI, IBAMA (são autarquias).
Ver Súmula 42 do STJ: “compete à Justiça Comum estadual processar e
julgar as causas cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes
praticados em seu detrimento.”
Crimes de falso relativos a estabelecimentos particulares de ensino,
conforme Súmula 104 do STJ, são da competência da Justiça Comum estadual.
Estelionato mediante falsificação de guias de reconhecimento de
contribuições previdenciárias, quando não ocorre lesão à autarquia federal, conforme
Súmula 107 do STJ, compete à Justiça Comum estadual.
Os crimes ambientais são, em regra, da competência da Justiça Estadual
comum, salvo quando atingirem bens e interesses da União (CF, art. 109, IV), a
exemplo de quando houver pesca ilegal no mar territorial nacional, ou desmatamento
em reserva federal. Está cancelada a Súmula 91 do STJ que fixava a competência da
Justiça Federal comum para os crimes contra a fauna.
Crime contra funcionário público federal, quando relacionados com o
exercício da função, são da competência da Justiça Federal comum, conforme Súmula
147 do STJ.
123
Crimes de falso testemunho cometidos em processo trabalhista são da
competência da Justiça Federal Comum, de acordo com a Súmula 165 do STJ.
Crime de responsabilidade cometido por prefeito municipal por desvio de
verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal são da competência da
Justiça Federal Comum.
No caso de moeda falsa, a competência é da Justiça Federal comum se a
falsificação for apta a ludibriar pessoa de conhecimento comum. Tratando-se de
falsificação grosseira, a competência é da Justiça Estadual comum e o crime é de
estelionato, consoante Súmula 73 do STJ.
EXCEÇÃO. Crimes cometidos por juízes estaduais e do Distrito Federal e
Territórios (se vierem novamente a serem criados) ou membros do Ministério Público
estadual, mesmo quando praticados em detrimento de bens, serviços ou interesses da
União, serão da competência do Tribunal de Justiça do Estado em que servir, em
virtude de expressa determinação prevista no art. 96, inc. III, da Constituição Federal,
que excepciona o inciso IV do artigo 109 da mesma Constituição. Trata-se, pois, de
exceção relevante.
b) Inciso V: Crimes previstos em tratado e convenção internacional. Não
se trata de qualquer crime previsto em tratado ou convenção internacional a que o
Brasil se comprometeu a reprimir que será da competência da Justiça Federal comum.
Apenas aqueles nos quais, iniciada a execução no Brasil, seu resultado ocorreu ou
deveria ter ocorrido no exterior, ou, ainda, aqueles nos quais iniciada a execução no
estrangeiro, seu resultado ocorreu ou deveria ter ocorrido no Brasil. Nesses casos,
conforme o art. 70, §§ 1º e 2º do CPP, a competência será da Justiça Federal comum.
Ex.: genocídio, destruição de cabos submarinos, tráfico internacional de entorpecentes,
etc.
Quanto ao tráfico internacional de entorpecentes, conforme Súmula 522
do STF ”salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando então a competência será
da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados o processo e julgamento dos crimes
relativos a entorpecentes.”
124
Atinente aos crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-
financeira, para que a competência seja da Justiça Federal é preciso que haja expressa
determinação da lei, como ocorre no artigo 26 da Lei n.º 7.492/86 (Crimes contra o
Sistema Financeiro). Não havendo, a competência é da Justiça Estadual comum,
exceto se o delito for praticado em detrimento de bens, serviços ou interesses da União,
suas entidades autárquicas ou empresas públicas federais. Vejam-se as Leis n.ºs
8.176/91, 8.884/94 e 8.137/90, nas quais os crimes são da competência estadual,
porquanto inexiste determinação legal expressa da competência federal.
125
No entanto, o deslocamento dependerá de decisão do Superior Tribunal
de Justiça, por provocação do Procurador-Geral da República.
O incidente de deslocamento poderá ser suscitado em qualquer fase do
inquérito ou processo.
Questões interessantes:
126
Dentre as inovações trazidas pela Emenda 45/04, está no artigo 5º,
parágrafo 4º, da Constituição Federal a submissão do Brasil à jurisdição de Tribunal
Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado adesão.
Conforme o Estatuto de Roma, recepcionado no Brasil pelo Decreto n.º
4.388, de 25.9.02, em seu art. 1º, o aludido Tribunal possui jurisdição sobre as pessoas
responsáveis pelos crimes de maior gravidade com alcance internacional, ou seja,
genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e o crime de agressão (ainda
não tipificado).
Entretanto, tal competência material é subsidiária, pois o Tribunal Penal
Internacional somente será competente se inerte for o órgão originariamente
competente para julgar os aludidos crimes. Por isso, o citado Tribunal apenas exercerá
sua jurisdição sempre que esgotadas, ou falhas, as instâncias internas dos países.
127
Exército e da Aeronáutica nos crimes de responsabilidade conexos com os
crimes praticados pelo Presidente ou pelo Vice-Presidente. Também nas
mesmas infrações os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de
Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente.
Importante referir que o STF já definiu que infrações penais comuns
abrangem crimes e contravenções, inclusive crimes eleitorais e militares.
Também relevante destacar que a Lei n.º 11.036/04 transformou o cargo
de Presidente do Banco Central do Brasil em cargo de Ministro de Estado,
estendendo no parágrafo único de seu art. 2º a competência por
prerrogativa de função aos atos administrativos praticados pelos ex-
ocupantes do cargo de Presidente do Banco Central do Brasil no exercício
da função pública. Há, entretanto, corrente que considera inconstitucional
esta lei, na medida em que a competência originária dos tribunais
superiores está expressamente definida na Constituição Federal, não
podendo o legislador ordinário alterá-la.
128
a) os Prefeitos Municipais pela prática de crimes comuns (art. 1º do Dec.-lei n.
201/67) de competência da Justiça Comum estadual (art. 29, X, CF). Nesse
sentido, a Súmula 702 do STF também define: “a competência do Tribunal de
Justiça para julgar Prefeitos restringe-se aos crimes de competência da
Justiça Comum Estadual; nos demais casos, a competência originária caberá
ao respectivo tribunal de segundo grau”. No mesmo sentido e em
complemento, o STJ, na Súmula 208, também dispõe: “compete à Justiça
Federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a
prestação de contas perante órgão federal”. A Súmula 209 assim refere:
“compete à Justiça Estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba
transferida e incorporada ao patrimônio do município”.
Quando se tratar de crime cometido contra bens, serviços ou interesses
da União, entidades autárquicas ou empresas públicas federais, a
competência será do Tribunal Regional Federal e não do Tribunal de
Justiça. Da mesma forma, tratando-se de crime eleitoral, competente será
o Tribunal Regional Eleitoral. Súmula 702 do STF.
129
constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função
estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual”.
Assim, quando cometido crime de homicídio por deputado estadual,
apesar de algumas Constituições Estaduais lhe conferir foro especial, será julgado
perante o júri.
7) GOVERNADOR DO ESTADO.
Nos crimes de responsabilidade, o órgão competente será definido pela
Constituição estadual.
Nos crimes comuns, consoante já demonstrado, o STJ (art.105, I, “a”, CF).
130
5) Deputados federais e senadores – crime comum – STF (102, I, “b”, CF);
6) Deputados federais e senadores – crime de responsabilidade – Casa respectiva;
7) Ministros do STF – crime comum – STF (102, I, “b”, CF);
8) Ministros do STF – crime de responsabilidade – Senado Federal (52, II, CF);
9) Procurador-Geral da República – crime comum – STF (102, I, “b”, CF);
10) Procurador-Geral da República – crime de responsabilidade – Senado Federal (art.
50, II, CF);
11) Ministros de Estado – crime comum e de responsabilidade – STF (art. 102, I, “c”,
CF)
12) Ministro de Estado – crime de responsabilidade conexo com o de Presidente da
República – Senado Federal (art. Art; 52. I, CF);
13) Ministros de Tribunais Superiores (STJ, TSE, STM E TST) e diplomatas – crime
comum e de responsabilidade – STF (art. 102, I, “c”, CF);
14) Governador de Estado – crime comum ou eleitoral – STJ ( art. 105,I, “a”, CF);
15) Governador de Estado – crime de responsabilidade – depende da Constituição
Estadual (Não previsto no art. 101, “a”, CF);
16) Desembargadores – crime comum e de responsabilidade – STJ (art. 101, “a”, CF);
17) Procurador-Geral de Justiça – crime comum – TJ (art. 96, III, CF);
18)Procurador-Geral de Justiça – crime de responsabilidade – Poder Legislativo
Estadual (Constituição Estadual);
19) Membros do Ministério Público e juízes estaduais – crime comum, de
responsabilidade e doloso contra a vida – TJ (art. 96, III, CF);
20) Membros do Ministério Público e juízes estaduais – crime eleitoral – TRE (art. 96,
III, final, CF);
21) Membros do Ministério Público e juízes federais – crime comum, de
responsabilidade e doloso contra a vida – TRF (art. 108, I, “a”, CF);
22) Membros do Ministério Público e juízes federais – crime eleitoral – TRE (108, I, “a”,
final, CF);
23) Deputados estaduais – crime comum – TJ (Const. Estadual);
24) Deputados estaduais – crime de responsabilidade – Poder Legislativo Estadual
(Const. Estadual);
25)Deputados estaduais – crimes dolosos contra a vida – Tribunal do Júri (Súmula 721
do STF);
131
26) Prefeitos municipais – crime comum e doloso contra a vida – TJ (art. 29, X, CF)
27) Prefeitos municipais – crime federal – TRE (Súmula 702 do STF);
28)Prefeitos municipais – crime eleitoral – TRE (Súmula 702 do STF);
29)Prefeitos municipais – crime de responsabilidade – Poder Legislativo Municipal
OBSERVAÇÕES:
a) Na hipótese de o crime ser praticado por dois ou mais agentes em concurso de
pessoas, se um deles tiver foro privilegiado, todos os co-autores ou partícipes deverão
ser julgados perante o juízo especial, reunindo-se os processos pela conexão ou
continência. Neste sentido, a Súmula 704 do STF: “não viola as garantias do juiz
natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou
conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados”.
EXCEÇÃO DA VERDADE
DELEGADOS DE POLÍCIA
Não possuem foro especial por prerrogativa de função.
132
3. COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA INFRAÇÃO (RATIONE
LOCI)
133
3.1. COMPETÊNCIA PELO LUGAR DA INFRAÇÃO
Consoante dispõe o artigo 70 do CPP, a competência para
processar e julgar uma infração penal será determinada pelo foro do local em que for
consumada a infração penal.
Quando se tratar de crime tentado, a competência será
determinada pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
Portanto, considera-se como local da infração o local em que
houver ocorrido o resultado da prática criminosa.
Com essa opção, quanto à competência, o legislador brasileiro
adotou teoria diversa daquela adotada no Código Penal para definir o local do crime
(art. 6º do CP), na medida em que lá tanto é local do crime onde ocorreu a ação ou
omissão, no todo ou em parte, como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado. Desta forma, no Código Penal, para definir o local do crime, adotou-se a
teoria da ubiqüidade.
No Código de Processo Penal, diversamente, a partir da regra do
artigo 70, “caput”, optou-se pela teoria do resultado. Assim, via de regra, uma vez
ocorrido o delito, cumpre identificar no território de qual comarca ou seção judicial
(Justiça Estadual ou Federal) consumou-se o delito. Se crime tentado, o local onde foi
realizado o último ato de execução.
Importante destacar, também, que há aparente conflito entre o
artigo 70 do CPP com o art. 4º do CP, na medida em que este considera praticado o
crime no momento da ação ou omissão, pouco importando o instante do resultado
(teoria da atividade). Entretanto, o art. 4º dispõe sobre o tempo da infração penal para
efeitos de fixação de outros pontos relevantes (ex.: lei penal no tempo, prescrição, etc.),
mas não a competência, que vem determinada no artigo 70 do CPP.
O art. 70, § 1º, por sua vez, define que, se iniciada a execução no
território nacional, a infração se consumar fora dele, a competência será determinada
pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução.
O art. 70, § 2º, em complemento, assevera que quando o último ato
de execução for praticado fora do território nacional, será competente o juiz do lugar em
que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou deveria produzir seu resultado.
Há casos, entretanto, nos quais não haverá elementos suficientes
para determinar o local da prática do delito no momento do ajuizamento da ação penal.
Nessas situações, consoante determina o artigo 70, § 3º, a competência será definida
pela prevenção.
O critério da prevenção será aplicado quando:
a) for incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições;
134
b) for incerta a jurisdição por ter sido a infração penal consumada ou tentada na divisa
de duas ou mais jurisdições.
Nesses casos, pelo critério da prevenção, serão competentes os
juízos de qualquer dos foros onde se suspeita haja ocorrido o fato, até que a ação penal
seja proposta. Quando ajuizada a demanda penal, o primeiro juízo que conhecer da
causa torna-se prevento, cessando a competência dos juízes das demais localidades
que, em tese, também teriam competência.
Tratando-se de infração penal continuada (art. 71 CP) ou delito
permanente (ex.: quadrilha ou bando – art. 288 CP) praticados nos territórios de duas
ou mais localidades, a competência, do mesmo modo, será definida pela prevenção
(art. 71 do CPP). Na hipótese de serem instaurados diversos processos no caso de
crimes continuados, aplica-se o artigo 82 do CPP, isto é, o juízo prevalente poderá
avocar os demais processos, que serão reunidos sob a sua competência.
Caso não tenha havido a possibilidade de reunião dos processos
perante o juízo prevento, ocorrerá a unificação das penas no juízo da execução (art. 66,
III, “a”, da Lei de Execução Penal (n.º 7.210/84).
Consoante Súmula 706 do STF, é relativa a nulidade decorrente da
inobservância da competência penal por prevenção”.
Também a Súmula 151 do STJ estabelece que a competência
para o processo e julgamento de crime de contrabando ou descaminho define-se pela
prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens.
Além das aludidas regras existentes no Código de Processo Penal,
impende salientar algumas situações relevantes:
1) Crimes falimentares: consoante determina o artigo 183 da Lei n.º 11.101/05, o foro
competente para os crimes falimentares é o do lugar onde for decretada a falência,
concedida a recuperação judicial ou homologado o plano de recuperação
extrajudicial.
2) Crimes plurilocais: crimes plurilocais são aqueles em que a execução e a
consumação ocorrem em lugares diversos. Nessas ocasiões, aplica-se a teoria do
resultado, sendo competente o foro do local em que ocorre o resultado da prática
delitiva.
Entretanto, quanto ao delito de homicídio, que em muitas situações é
plurilocal (tiros desferidos em uma Comarca e a morte do agente – consumação –
ocorre em outra comarca, na qual a vítima é socorrida), a jurisprudência e doutrina tem
definido a competência pelo local onde ocorrem os atos de ação ou omissão, não o
local do resultado. Isso por uma questão de conveniência probatória, porquanto os
elementos de prova são encontrados no local onde o fato ocorreu, não onde se deu o
resultado. Ademais, é no local onde ocorreu o fato que se deu intranqüilidade social.
135
3) Crimes qualificados pelo resultado: são aqueles que possuem um fato-base
definido como crime, acrescido de outro evento superveniente que os qualifica,
aumentando-lhe a pena em novo patamar em razão de sua gravidade (ex.: latrocínio
– art. 157, § 3º, CP). São normas penais que possuem duplo resultado, isto é, o
delito base e o resultado que os qualifica. Nesses casos, fixa-se a competência pelo
lugar onde ocorreu o resultado qualificador. No dizer de Mirabete, entretanto, há
situações nas quais se pode eleger o local da ação ou omissão, por conveniência
probatória, quando a conduta desenvolveu-se totalmente em uma comarca e
apenas o resultado deu-se em outra (ex.: o roubo com os tiros contra a vítima em
uma comarca e a morte em outra, local onde a vítima assaltada acaba morrendo no
hospital). Neste caso, adotar-se-ia a mesma exceção para os delitos plurilocais
contra a vida.
4) Crime de estelionato cometido por meio de fraude no pagamento utilizando
cheque falsificado: a mesma regra vale para a utilização de cheque furtado,
roubado e com conta encerrada quando da emissão. Nessas hipóteses, consoante
Súmula 48 do STJ, a competência é do juízo do local da obtenção da vantagem
ilícita, ou seja, do local onde ocorreu o negócio.
5) Crime de estelionato cometido mediante a emissão de cheque sem suficiente
provisão de fundos em poder do sacado ou frustração do seu pagamento:
diversamente da regra anterior, neste caso, a jurisprudência tem entendido
diversamente. Veja-se a Súmula 521 do STF: “O foro competente para o processo e
julgamento dos crimes de estelionato, sob a modalidade de emissão dolosa de
cheque sem provisão de fundos, é o do local onde se deu a recusa do pagamento
pelo sacado”. No mesmo sentido, a Súmula 244 do STJ: “Compete ao foro do local
da recusa processar e julgar o crime de estelionato mediante cheque sem provisão
de fundos”. Assim, o juízo competente é aquele no qual está a conta corrente, não o
local onde ocorreu o fato, pois é lá que se dará o prejuízo, com a recusa do
pagamento pelo banco sacado.
6) Crimes de uso de documento falso: Consoante a Súmula 200 do STJ, o Juízo
Federal competente para processar e julgar acusado de crime de uso de passaporte
falso é o do lugar onde o delito se consumou.
7) Crime de pedofilia pela internet – art. 241 do Estatuto da Criança e do
Adolescente: Consoante informativo n.º 342 do STJ, de 10 a 14 de dezembro de
2007, a consumação do crime previsto no aludido artigo, para fins de fixação de
competência, dá-se no ato da publicação das imagens. Essa é a solução que mais
se coaduna com o espírito do legislador insculpido no art. 70 do CPP. Por isso, é
irrelevante a localização do provedor de acesso à internet onde as imagens estavam
armazenadas ou mesmo o local da efetiva visualização pelos usuários.
8) Foro competente para os crimes de imprensa: os crimes de imprensa são
definidos na Lei de Imprensa (n. 5.250/67). No seu artigo 42, a aludida Lei
estabelece que o lugar do delito, para a determinação da competência territorial,
será aquele em que for impresso o jornal ou periódico, e o do local do estúdio do
permissionário ou concessionário do serviço de radiodifusão, bem como o da
administração principal da agência noticiosa. No parágrafo único está determinada a
136
utilização do artigo 85 do CPP, isto é, quando da propositura de exceção da verdade
contra pessoa que possui foro especial por prerrogativa de função.
Entretanto, conforme asseveram Tourinho Filho e Mirabete, quando se
tratar de jornal de pequeno porte, que muitas vezes é impresso em um local para ser
distribuído em outro, utiliza-se o foro do lugar onde ele circular.
137
JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS
A Lei n.º 9.099/95, em seu artigo 63, dispõe que será competente o
Juizado do lugar em que foi praticada a infração penal. Desta forma, inovou ao utilizar o
termo “praticada”, que não possui um sentido claro. Com isso, surgiram três correntes
para interpretá-lo:
a) o foro competente seria o local em que se realizou a ação ou omissão,
adotando-se a teoria da atividade;
b) o foro competente é estabelecido pelo lugar da consumação da
infração, conforme regra do artigo 70 do CPP;
c) o foro competente tanto pode ser o da ação ou omissão como o do
resultado, adotando-se a teoria da ubiqüidade.
138
3.2. COMPETÊNCIA PELO DOMICÍIO OU RESIDÊNCIA DO
RÉU.
139
2. Plantão judicial: quem faz plantão apenas no exercício de sua competência
funcional não previne competência, mas se, também tiver competência material,
prevenirá.
Porto Alegre tem mais de um foro regional, estes são divididos territorialmente. No
foro central existem varas especializadas (júri, acidentes de trânsito, por ex.), dessa
forma, todo e qualquer homicídio ocorrer na comarca de Porto Alegre os inquéritos
respectivos serão distribuídos para uma das varas do júri no foro central.
Quando se tratar de crimes que não tenham varas especializadas no foro central,
ter-se-á que verificar o limite territorial do foros regionais.
Importante destacar que a competência territorial é relativa. Por isso, prorrogável
se não argüida oportunamente.
140
PERPETUATIO JURISDICTIONIS EM FACE DA
DESCLASSIFICAÇÃO.
Ocorrendo desclassificação do crime que importe modificação da
competência, o processo, via de regra, deverá ser remetido ao juiz competente em
razão da matéria (ratione materiae). Entretanto, se mais graduada for a jurisdição do
juiz que desclassificou a infração penal, ocorrerá o fenômeno da perpetuatio
jurisdictionis prevista no art. 74, § 2º, do CPP. Neste caso, o juiz de maior graduação
mantém-se competente para o julgamento do feito.
141
1ª corrente: O juiz mais graduado mantém a competência, não devendo
remeter o processo ao Juizado Especial Criminal. Quem pode o mais pode o menos.
Ocorre que, nesses casos, há os benefícios encontrados nos Juizados Especiais
Criminais. Por isso, esta corrente preconiza que o juiz do Tribunal do Júri ou o juiz do
Juízo criminal comum devam proporcionar aludidos benefícios, quando cabíveis
(tentativa de composição civil dos danos e transação – artigos 74 e 76 da Lei n.º
9.099/95).
2ª corrente: Os autos devem ser remetidos ao Juizado Especial da
Comarca, em virtude de que a Constituição Federal, em seu artigo 98, § 1º, determinar
serem os aludidos Juizados competentes para as infrações de menor potencial
ofensivo. Trata-se de corrente mais aceita.
CRIME DE LATROCÍNIO
Conforme dispõe a Súmula 603 do STF, é da competência do Juízo
criminal comum, e não do Tribunal do Júri. Isso porque se trata de delito contra o
patrimônio qualificado pelo resultado morte.
142
COMPETÊNCIA POR DISTRIBUIÇÃO.
Se houver, na mesma circunscrição judiciária pluralidade de juízes
igualmente competentes, a competência será definida segundo o critério da distribuição
(art. 75, “caput”, do CPP).
Consoante dispõe o par. ún. do art. 75 do CPP, a distribuição do inquérito
inconcluso, para o efeito de concessão de fiança ou da decretação de prisão preventiva
ou de qualquer outra diligência, torna prevento o juiz que dele conhecer, fixando-se
desde já sua competência para o processo e julgamento da ação que eventualmente
venha a ser proposta originada do aludido inquérito.
143
COMPETÊNCIA POR CONEXÃO OU CONTINÊNCIA.
Determinados fatos de natureza penal são muito intimamente relacionados
entre si que se torna conveniente, por questões de economia processual, sua reunião
sob a competência de um único juízo. A esses casos se aplicam as regras relativas à
conexão e à continência.
Assim, ocorrendo relação entre duas ou mais infrações penais
independentes entre si, é conveniente em determinadas situações que tramitem
perante um único juízo.
A conexão e a continência são critérios de modificação da competência.
CONEXÃO: é um vínculo que entrelaça duas ou mais ações penais, a
ponto de exigir que o mesmo juiz delas tome conhecimento e as decida.
CONTINÊNCIA: configura-se quando uma demanda penal, em face de
seus elementos (partes, causa de pedir e pedido), esteja contida em outra.
Conexão e continência (art. 79, CPP).
Efeito: sempre que se verifica a existência de conexão e continência poderá haver
unidade de processo para que haja um só julgamento.
Conexão: (art. 76, CPP) estabelece-se entre crimes (dois ou mais) que
determinarão a unidade processual. A conexão pressupõe a prática de fatos delituosos
que estão, de alguma forma ou de outra, ligados por um nexo determinado na lei
processual penal. Dessa forma, só se pode cogitar de conexão havendo dois ou mais
crimes, mas nem sempre que tivermos dois ou mais crimes haverá conexão.
ESPÉCIES DE CONEXÃO:
Artigo 76:
I – Intersubjetiva (art. 76, I, CPP): dois ou mais crimes, praticados por duas ou mais
pessoas, reunidas ou em concurso, ou umas contra as outras.
A conexão intersubjetiva pode ser: - (a) ocasional, por mera coincidência; (b)
concursal, concurso de pessoas; (c) reciprocidade, umas pessoas contra as outras.
A conexão concursal ocorre quando duas ou mais infrações penais são praticadas
por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar. Pode ocorrer
mesmo que as pessoas não estejam no mesmo local ao mesmo tempo, pois o nexo
decorre daquilo que define o concurso lato sensu de pessoas no art. 29 do CP. Nexo
psicológico-subjetivo que leva as pessoas a se unir para praticar crimes. Ela pode,
144
portanto, ocorrer entre pessoas que estejam em local e tempo diversos, pois é
conseqüência ou de um prévio ajuste entre aqueles que vão praticar o crime, ou da
adesão de alguns ao comportamento delituoso de outros.
Em contrapartida, só pode haver conexão ocasional e recíproca entre pessoas que
estejam no mesmo local ao mesmo tempo.
Na conexão ocasional ou também chamada de por simultaneidade ou subjetivo-
objetiva o nexo resulta da presença ocasional de pessoas praticando, cada uma, por si
só, uma infração e, portanto, praticam dois ou mais crimes no mesmo local ao mesmo
tempo. Exemplo: o saque cometido por várias pessoas contra determinado armazém,
ou quando há acidente automobilístico envolvendo caminhão de carga.
A conexão por reciprocidade exige que sejam duas ou mais pessoas, praticando
dois ou mais crimes, umas contra as outras. Precisa-se identificar a presença de dois
grupos distintos e a pluralidade de condutas, ou seja, definir o que cada um fez contra o
outro. Se se instalar um conflito generalizado, haverá um único crime e não haverá
reciprocidade (caso da rixa= crime único – art. 137 do CP).
II – Objetiva ou teleológica ou conseqüencial. É a hipótese do art. 76, II, do CPP.
Nessa conexão o nexo entre dois ou mais crimes parte de uma idéia fundamental, os
motivos determinantes da prática dos dois crimes, isto é, quais foram os objetivos
levados em consideração para a prática dos dois crimes.
Finalidades: (a) facilitar (exemplo: rapto + estupro); (b) ocultar (exemplo: ocultação
de cadáver); (c) vantagem (exemplo: matar o comparsa para ficar com o produto do
crime); (d) impunidade (exemplo: matar testemunha do crime).
III – Probatória (art. 76, III, CPP) ou instrumental. Ocorre quando a prova de um
crime influir na prova de outro crime. Só haverá essa conexão quando a prova de um
crime for fundamental para demonstrar a existência de outro crime, isto é, seja
elementar de outro crime. Exemplo: Receptação e furto.
145
Continência: (art.77, CPP).
Artigo 77:
I – Concursal: ou continência por cumulação subjetiva. Ocorre quando duas ou
mais pessoas concorrem para o mesmo crime.
Exemplo clássico é o crime de rixa, no qual as pessoas que nele participam são ao
mesmo tempo, sujeitos ativos e passivos desse crime, e havendo um lesionado
gravemente, todos responderão inclusive a vítima da lesão grave, por rixa qualificada.
II – Cumulação objetiva: quando a infração (um só crime) for praticado nas
hipóteses dos artigos 70, 73 e 74 CP. São casos em que embora correndo dois ou
mais resultados que seriam crimes, eles são transformados em um só, porque foram
obtidos mediante uma só ação ou omissão. Ocorrerá cumulação objetiva sempre que a
conduta do agente produzir mais de um resultado.
• Artigo 70, caput, CP = concurso formal próprio (exemplo acidente de trânsito com
mais de um homicídio culposo ou lesões culposas). Uma única ação com vários
resultados criminosos.
• Artigo 73, CP = erro de execução (aberractio ictus). O sujeito atinge pessoa
diversa da pretendida, ou mesmo atinge a pessoa pretendida e também terceira
pessoa.
146
• Artigo 74, CP = aberractio delicti. O sujeito quer praticar um crime mas, por erro
na execução, realiza outro, ou, ainda, realiza o crime pretendido e o não
pretendido. Ex.: o sujeito arremessa uma pedra na vitrine para causar dano ao
proprietário da loja, quebra o vidro e, por erro, fere a vendedora.
Exemplo:
• 1 furto qualificado praticado na comarca A.
• 10 receptações praticadas na Comarca B.
Qual o foro competente?
Comarca A, pois o furto qualificado é infração mais grave.
147
a) A Justiça Militar não se mistura com nenhuma outra. Nos casos de
conexão e continência, haverá separação de processos sempre.
b) A Justiça Eleitoral pode julgar crimes conexos oriundos da Justiça
Comum (Federal e Estadual).
c) Nos crimes conexos entre a justiça federal e estadual, prevalece
sempre a federal, independente da pessoa ou do crime (Súmula 122
do STJ). Isso não vale para as contravenção, que não são julgadas na
Justiça Federal (art. 109, inc. IV, da CF).
d) As normas de competência para a justiça militar e eleitoral devem
sempre ser interpretadas restritivamente, pois especiais. O mesmo se
dá com a justiça federal em relação à estadual, na medida em que esta
é residual.
148
Portanto, a reunião de processos nas hipóteses de conexão e
continência não é obrigatória, mas sim facultativa.
149