® (Riva) Cruzoé 173 20-08-2021
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Ricardo Barros terá seus sigilos revirados pela comissão de inquérito
O dono da Saúde
Agora investigado pela CPI, o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, é o cabeça de uma rede
que negocia e facilita contratos milionários, com especial atuação no Ministério da Saúde – quase sempre, com
suspeitas graves de desvios e superfaturamento
20.08.21
FABIO LEITE
HELENA MADER
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Um deles, como mostrou Crusoé em julho, colocou o ex-ministro entre os
alvos de uma ação de improbidade administrativa por causa do
pagamento antecipado de quase 20 milhões de reais para aquisição de
remédios para doenças raras que nunca foram entregues. A empresa
beneficiada pertence a Francisco Maximiano, o sócio da Precisa
Medicamentos, investigado juntamente com o líder do governo na CPI por
ser o intermediário da vacina indiana Covaxin, que custaria 1,6 bilhão de
reais ao ministério. O acerto contou com o poderoso lobby de Barros e só
foi suspenso após as denúncias de irregularidades feitas à comissão pelo
deputado Luis Miranda e por seu irmão, o servidor Luis Ricardo Miranda.
Em depoimento à CPI nesta quinta-feira, 19, Max, como é conhecido,
admitiu conhecer Barros e confirmou que a emenda apresentada pelo
líder do governo no início do ano para permitir a importação da Covaxin
apenas com a aprovação da agência sanitária indiana, sem a necessidade
do aval da Anvisa, era de interesse da Precisa. O empresário, contudo,
negou ter tratado do assunto com o parlamentar e preferiu permanecer
em silêncio ao ser indagado sobre o nível do relacionamento que mantém
com o líder do governo.
Ao mesmo tempo que tenta se desvencilhar das acusações envolvendo a
compra da vacina indiana, Ricardo Barros é alvo de outra investigação
conduzida pela Polícia Federal, que revela um modus operandi muito
semelhante dentro do Ministério da Saúde, para direcionar um contrato
milionário e com forte suspeita de superfaturamento a um instituto do
Paraná no qual ele e a mulher, a ex-governadora Cida Borghetti, tinham
influência política — e, assim, beneficiar também empresários que já
foram presos por corrupção no Rio de Janeiro. Crusoé teve acesso com
exclusividade a relatórios da Controladoria-Geral da União que foram
enviados à PF nos quais os auditores apontam “irregularidades graves” e
“risco de superfaturamento” de até 133,2 milhões de reais em uma PDP,
sigla para Parceria para o Desenvolvimento Produtivo, assinada pela
gestão de Barros em 2017 com o Instituto de Tecnologia do Paraná, o
Tecpar, vinculado ao governo paranaense, e com um laboratório
brasileiro chamado Axis Biotec.
Divulgação/TECPAR
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O Tecpar, no
Paraná: remédio que deveria sair mais em conta ficou 44% mais caro para
o Ministério da Saúde após ação de Barros como ministro
As PDPs são um instrumento criado há mais de dez anos pelo Ministério
da Saúde, para estimular a transferência de tecnologia de empresas
privadas para laboratórios públicos produzirem medicamentos para o
SUS. Pelo acordo, a farmacêutica tem até um ano para passar o registro
sanitário do remédio à instituição estatal e cinco anos para capacitá-la a
produzir o seu produto. Como contrapartida, a empresa ganha
exclusividade de fornecimento do medicamento ao SUS durante todo
esse período, com compromisso de compra pelo ministério por
intermédio do laboratório público parceiro. Até 2019, a pasta já havia
despendido 16,8 bilhões de reais com compra de remédios apenas por
meio das PDPs, que eram mais de 90 na ocasião.
As suspeitas sobre a PDP do Tecpar começaram logo após Ricardo Barros
assumir o ministério, em maio de 2016, ainda no início do governo Temer.
Já havia uma série de propostas de parcerias em tramitação no ministério,
com a especificação da instituição pública, da empresa privada e do
medicamento que seria produzido, mas Barros decidiu fazer uma
redistribuição. Para a missão, ele convocou um funcionário que estava
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lotado no Tecpar — à época, a mulher de Barros, Cida Borghetti, era vice-
governadora e o casal tinha influência política no instituto
paranaense. Documentos mostram que o então ministro se empenhou
pessoalmente para favorecer o Tecpar. Em ofício enviado ao ministério
em outubro de 2016, uma dirigente de outra fundação interessada na
parceria afirma ter recebido um telefonema de Barros dias antes, no qual
ele afirmava que a instituição dela estava fora dos planos do ministério e
que o então secretário da área, Marco Fireman, homem de confiança do
Progressistas, havia dito que o acordo seria fechado com o Tecpar, como
acabou ocorrendo. Ao todo, a gestão de Ricardo Barros fechou seis PDPs
com o instituto do Paraná, mas um deles chamou mais a atenção dos
órgãos de controle, por causa da gravidade das irregularidades
encontradas.
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conhecido paraíso fiscal dos Estados Unidos, para autoridades brasileiras
ocultarem dinheiro ilícito. Ele nega.
Quase R$ 5
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milhões foram parar em empresa ligada a lobista amigo de Barros
A proposta de PDP recebeu pareceres contrários das áreas técnicas do
Ministério da Saúde por uma série de inconsistências, como falta de
experiência — o Tecpar era especializado na produção de vacina
antirrábica e outros produtos veterinários, enquanto a Axis atuava com
farmacêuticos dermatológicos e cosméticos — e falta de uma fábrica onde
o instituto paranaense pudesse produzir o medicamento para o câncer de
mama após receber o aval para a transferência de tecnologia. Mesmo
assim, o então ministro Ricardo Barros fechou o acordo com o instituto do
Paraná, liberando 374,7 milhões de reais para comprar o medicamento
apenas no primeiro ano da parceria, e ainda assinou um convênio de 82
milhões de reais para o Tecpar construir um centro tecnológico para
produzir o insumo em Maringá, sua cidade natal.
A trama prosseguiu, acompanhada de suspeitas, depois que Barros
deixou a cadeira de ministro. Em abril de 2018, quando se desligou do
ministério para concorrer à reeleição a deputado, ele foi acompanhado
por um funcionário do próprio Tecpar que havia levado a tiracolo para
Brasília — e que havia trabalhado na costura do acordo. Rodrigo Silvestre
foi realojado no Tecpar, desta vez com status de diretor, e passou a gerir a
verba milionária repassada pelo ministério via PDP. Uma parte do
dinheiro foi destinada à empresa parceira do Rio de Janeiro — aquela
ligada ao Iabas, que por sua vez tinha como “operador” um lobista da
confiança do próprio Ricardo Barros e de seu partido, o Progressistas.
Uma nota fiscal obtida por Crusoé mostra que, em julho de 2018, o Tecpar
pagou 4,9 milhões de reais para a Axis. Quando o pagamento foi feito, o
dono da empresa tinha acabado de ser preso pela primeira vez pelas
suspeitas de corrupção envolvendo a entidade que dirigia. “Como ele
estava preso, nós consultamos o compliance e o pagamento foi feito
porque não havia nada de errado”, diz Silvestre, que nega ter havido
qualquer favorecimento ou superfaturamento na PDP. Segundo ele, o
valor pago a mais se referia à “transferência de tecnologia”.
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que apontaram um sobrepreço de 44% no remédio vendido por quase 1,3
mil reais a unidade pelo Tecpar ao Ministério da Saúde, bem acima dos
valores propostos por outros laboratórios oficiais que também tinham
parceria privada, como o Butantan e Biomanguinhos, com preços abaixo
dos 940 reais. No fim de 2018, o TCU suspendeu liminarmente a PDP
assinada por Ricardo Barros com o instituto paranaense e determinou
que o ministério comprasse o remédio diretamente do laboratório suíço
Roche pelo valor de mercado. A providência obedecia a uma lógica
bastante compreensível: a parceria que tinha por objetivo reduzir os
gastos do governo federal com a aquisição do medicamento acabou por
deixar a conta ainda mais salgada. Mesmo com a suspensão da parceria, a
investigação prossegue. Há suspeitas de direcionamento e de desvios em
outros acordos de transferência de tecnologia semelhantes, cujos
beneficiários foram redirecionados na gestão de Ricardo Barros no
Ministério da Saúde. Em 2016, em outra decisão em que também
atropelou a área técnica e só foi revertida por ação do Ministério Público
Federal, Barros decidiu substituir um medicamento para leucemia
produzido por uma empresa japonesa em parceria com um laboratório
alemão. por um produto chinês que não tinha autorização para uso em
humanos nem na China e só havia sido testado em macacos e roedores.
O pagamento pelo medicamento seria feito por meio de uma offshore no
Uruguai, em um esquema semelhante ao apresentado pela Precisa
Medicamentos para a vacina indiana Covaxin — com antecipação de 45
milhões de dólares por meio de uma conta em Singapura.
Reprodução/redes
sociais
®IVA® Barros com
Bolsonaro: apesar do “rolo” da Covaxin, o presidente afaga o líder
Embora só tenha assumido o Ministério da Saúde em 2016, com a
redistribuição de cargos feita por Temer após o impeachment de Dilma
Rousseff, Ricardo Barros tem um longo histórico de influência na pasta,
uma das mais cobiçadas pelos políticos por deter um orçamento
bilionário e lidar com interesses de grandes empresários. As indicações
políticas do atual líder do governo ocorrem desde o primeiro mandato
dele como deputado federal, em 1995, ainda no governo Fernando
Henrique Cardoso. À época, Barros atuava como uma espécie de aprendiz
do então cacique do PP, José Janene, seu conterrâneo. Um dos ícones do
escândalo do mensalão petista e, depois, do petrolão, Janene tinha o
mesmo lobista Roberto Bertholdo como parceiro e advogado. Após a
morte do ex-deputado de Londrina, seu mestre, Barros expandiu seus
tentáculos dentro do latifúndio da Saúde, com a ajuda de Bertholdo. Entre
os nomes apadrinhados por Barros dentro do ministério está Roberto
Dias, o ex-diretor de logística que foi demitido após ser acusado pelo
policial militar Luiz Paulo Dominghetti de cobrar propina em troca da
compra de doses inexistentes da vacina AstraZeneca. Antes de assumir o
cargo no ministério, Dias foi assessor no governo de Cida Borghetti,
mulher de Barros, no Paraná. A influência na área de saúde, que incluía a
Anvisa e a ANS, as agências federais que regulam o setor de
medicamentos e o de planos de saúde, ajudava a atrair interessados em
contribuir financeiramente com as campanhas eleitorais de Ricardo
Barros.
Embora exiba força na área da saúde, o atual líder do governo na Câmara
também tem interesses em outros setores. Barros e sua mulher são
sócios em empresas com atuações em ramos diversos. A lista tem
emissora de rádio, locadora de carros e até uma escola particular.
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Também há negócios imobiliários aos quais estão ligadas outras práticas
heterodoxas de Barros destinadas a viabilizar obras públicas em sua terra
natal. Um dos casos mais escandalosos envolve a construção de uma
milionária obra viária em Maringá. Barros fez lobby pelo empreendimento
nos governos Dilma, Temer e Bolsonaro e, nas três gestões, usou seu
poder político para tentar liberar recursos para o chamado Contorno Sul
Metropolitano. À primeira vista, o esforço pode parecer republicano, com
o objetivo de beneficiar os moradores da cidade. Mas, segundo o
Ministério Público Federal, Ricardo Barros e sua mulher, a ex-governadora
Cida Borghetti, “se aproveitaram imoralmente de seus mandatos
eletivos” para “a obtenção de vantagem patrimonial”. Além de desafogar o
trânsito, a construção do conjunto de viadutos vai trazer uma exponencial
valorização imobiliária de terrenos vizinhos, entre eles uma grande área
onde Barros e outros empresários pretendem implantar um condomínio
residencial de luxo. O loteamento do deputado se tornaria
comercialmente atrativo graças aos recursos federais investidos na obra.
Para viabilizar a empreitada, sustentam os procuradores, o líder do
governo usou de seu “capital e prestígio políticos”. A mobilização não
incluiu apenas a destinação sistemática de emendas federais para a obra,
mas também uma ação sobre autoridades municipais para aprovar o
condomínio. O projeto existe há mais de uma década, mas foi por causa
das pressões de Barros que pôde avançar nos últimos anos. Em
novembro do ano passado, o deputado conseguiu emplacar um aliado no
comando da gerência estadual do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transporte, o DNIT. Dois dias depois, o governo federal
publicou o edital de licitação da obra viária, com custo estimado de 270
milhões de reais. O assunto foi tratado em reuniões de Barros com o
ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, e com o próprio presidente
Jair Bolsonaro. Por causa de problemas no edital, a área técnica do DNIT
recomendou o cancelamento da licitação — ainda não há ainda previsão
para a retomada do processo. Barros segue na pressão para que a obra
comece o quanto antes.
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Congressistas que acompanharam as tratativas contam que, para
conseguir dinheiro para a obra, o líder do governo usou métodos que
incluem um jogo de troca. Barros levou a bancada do Progressistas a
apoiar um controverso projeto de lei, considerado prioritário por
integrantes do governo, de estímulo ao transporte por cabotagem,
conhecido como BR do Mar. A proposta passou pela Câmara no começo
de dezembro, poucos dias após a licitação para a obra do Contorno Sul
em Maringá, que beneficiará o condomínio do qual é sócio. O negócio é
cercado de suspeitas desde a origem. Em 2017, a Folha de S.Paulo revelou
que o deputado comprou metade do terreno do empreendimento por 56
milhões de reais, apesar de ter patrimônio declarado de 1,8 milhão de
reais. Segundo o MPF, o líder de Bolsonaro cedeu recentemente a outras
empresas suas ações relativas ao empreendimento paranaense e sua
participação no lucro do negócio, fixada em 47,5%, mas manteve válido
um acordo para receber 1% do total de lotes.
Jefferson Rudy/Agência
Senado Maximiano
na CPI: ele admitiu que conhece Barros, mas se recusou a ir além
Barros afirma que a participação no negócio imobiliário é “legítima” e que
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há mais de 30 anos exerce atividade empresarial imobiliária. Ele e Cida
Borghetti alegam ainda que “não há qualquer conexão entre a
participação de suas empresas no loteamento e o exercício de mandatos
ou cargos públicos”. O MPF argumenta que o líder do governo atuou
como “promotor do empreendimento” e que a ação de improbidade
indicou de forma detalhada todas as condutas do deputado em defesa do
projeto. A ação dos procuradores contra o casal está sob análise no
Tribunal Regional Federal da 4ª Região. Em primeira instância, a Justiça
Federal não viu conexões entre o lobby em favor da obra e o mandato de
deputado e enviou o caso para a Justiça estadual. Sobre a investigação em
curso acerca da PDP firmada com a suíça Roche e a carioca Axis, Barros
afirmou em nota enviada a Crusoé que “não houve esquema, tampouco
superfaturamento” e que “tudo está sendo esclarecido nos órgãos de
controle”. O deputado disse ainda que o valor pago pelo medicamento
usado para combater câncer de mama tem preço “compatível” com o
praticado no mercado mundial. “Não houve sobrepreço. O medicamento
foi adquirido pelo critério da PDP, incluindo transferência de tecnologia,
absorção do conhecimento, geração de emprego, formação de capital
intelectual, entre outros benefícios. Não é um simples contrato de compra
e venda, sendo o recurso repassado para um laboratório público”,
defende Barros.
Outros empreendimentos privados do deputado federal também
representam conflito com sua atividade pública. Até o ano passado, o
líder do governo era sócio de uma emissora de rádio no Paraná, o que é
vedado pela Constituição, já que o serviço é uma concessão pública e as
outorgas são apreciadas pelo Congresso. No final de 2020, a Justiça
Federal determinou, em segunda instância, que a União cancelasse a
concessão e fizesse uma nova licitação do serviço. Procurado pela
reportagem, o Ministério das Comunicações informou que vai aguardar a
intimação do trânsito em julgado do processo para cumprir a
determinação judicial. Enquanto isso, a rádio continua operando, mas
agora sem a participação formal de Barros, que deixou a sociedade nas
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mãos de sua mulher e de outros empresários.
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As correspondências poderiam trazer Bolsonaro à realidade, mas ele parece viver em um universo paralelo
PATRIK CAMPOREZ
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enfrentam problemas tangíveis. Crusoé obteve cópia de uma centena de
cartas enviadas ao presidente por cidadãos comuns que, juntas, formam
um retrato do drama de quem vive fora da bolha do poder. Eis algumas
das súplicas.
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com um empréstimo para montar o próprio negócio. “Quero ajudar a
minha família, ter um teto para morar e ter alimento na mesa.”
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com o presidente porque está indignado com o fato de precisar de uma
casa e não conseguir. Meu pai continua com esperança. Ele sempre me
pergunta se o presidente respondeu”, diz Vinícius.
Não são só adultos que escrevem ao presidente. Olga Benário Souza da
Silva tem apenas 11 anos e escreve de Blumenau, Santa Catarina. “Sei que
o senhor é um homem muito ocupado e que meus problemas não
passam de simples grãos de areia diante de tantos que vossa excelência
tem que resolver. E não quero lhe ocupar, mas acho necessário, antes de
escrever o propósito desta carta, contar um pouco da minha história”,
inicia ela, caçula de quatro irmãs. Olga nasceu com uma patologia e, nos
primeiros meses de vida, teve que passar por cirurgias que lesionaram
suas vértebras. Uma de suas irmãs enfrentou o mesmo problema e
ambas usam cadeira de rodas. “Já operamos os calcanhares, a bacia, a
bexiga, o intestino, os rins. Moramos em Blumenau e tem sido muito
difícil a vida aqui. O estado negou transporte para hospitais. Negou
também uma prótese e, por fim, o auxílio que recebíamos”, diz. Em
seguida, Olga fala do sonho da família: a casa própria. “No momento em
que escrevo essa carta estamos com aviso de corte de água e energia,
com aluguel atrasado, sem material escolar. O que eu preciso é de sua
ajuda para que, assim como tantas outras crianças, tenhamos acesso a
moradia, escola e saúde, que são meus problemas diante de tantos que o
Brasil enfrenta”.
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“Estamos abandonados”
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empréstimos.” Edna recorreu, sem sucesso, a estratagemas contábeis.
“Sempre que o salário mínimo aumentava, eu refinanciava (a dívida), pois
eu conseguia um dinheiro extra. Só que, para minha surpresa, eu já não
conseguia mais essa renda extra porque os bancos desonestos já haviam
me antecipado”, diz. A carta, escrita em letras azuis em uma folha de
caderno, foi acompanhada de comprovantes dos empréstimos feitos.
Edna solicitou um crédito de 10,4 mil reais, a serem pagos em 72 parcelas
de 287 reais – juros de 28,2% ao ano. O valor final, de 20,6 mil, não foi
pago e ela precisou fazer outros financiamentos para tentar finalmente a
quitação. Entrou em uma bola de neve. Edna conclui com o desenho de
três corações e um pedido de desculpas por tomar o tempo do
presidente. “Sei que o senhor tem problemas sérios para resolver e eu, na
minha pequenez, fico te incomodando. Costumo me expressar melhor, é
que eu estou idosa e bem doente.”
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renda. Sobram apenas 400 reais para comprar comida e pagar contas. Em
uma página, ele aproveita para pedir ao presidente “compaixão” com os
aposentados.
“Serei obrigada a parar com minhas atividades”
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arquitetura, tenho 22 anos. Já edifiquei um empreendimento totalmente
com recursos próprios, mas, devido à conjuntura financeira que
atravessamos, sou obrigada a pedir vossa ajuda” , diz Giovana Pereira, que
escreve de São José, Santa Catarina. Ela pede que o presidente interceda
junto aos órgãos competentes para viabilizar crédito para os pequenos
empresários.
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de ter meu próprio negócio. O que eu ganho é para o sustento da minha
casa, não sobra nada para investimento e lazer.” Alexandre revela que seu
sonho é ter uma Kombi para trabalhar por conta própria com vendas e faz
um pedido: “Eu sei que é difícil esse pedido, mas quem sabe Deus toque
no coração? Sei também que estamos vivendo tempos difíceis, nosso país
está com problemas, mas eu creio que Deus está no controle” .
Na vida real, o país grita, como sempre gritou, mas Brasília não consegue
– ou não quer – ouvir.
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Os talibãs assumem o controle do gabinete presidencial do Afeganistão
DUDA TEIXEIRA
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Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan (2,5 mil militares
mortos). É um histórico assombroso, que faz com que nenhuma nação
minimamente sensata hoje esteja disposta a mandar soldados para o
país.
House/YouTube
Biden, ao discursar sobre a queda de Cabul: ele tem certeza de que fez o
certo
A China foi a primeira a se manifestar. O Ministério de Relações Exteriores
do país declarou que “respeita as escolhas do povo afegão”, apesar de
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não ter ocorrido nenhuma eleição, e que pretende estabelecer relações
amistosas e de cooperação. Desde 2014, delegações do Talibã têm
visitado a China para conversar com funcionários do Partido Comunista,
embora haja divergências claras entre as partes. Enquanto o estado
chinês é laico e encarcera uigures muçulmanos em campos de
concentração na província de Xinjiang, o Talibã promete declarar o
Emirado Islâmico do Afeganistão e implementar a sharia, a lei islâmica.
A aproximação entre esses dois opostos se dá em nome do pragmatismo.
Para o Partido Comunista chinês, a questão central é impedir ataques de
terroristas muçulmanos contra o regime. Nos anos 1990, uigures
muçulmanos e radicais mudaram-se para o Afeganistão e criaram o
Movimento Islâmico do Turquestão Oriental. Quando o Talibã controlou o
Afeganistão pela primeira vez, entre 1996 e 2001, em um acordo informal
firmado com os chineses ele se comprometia a impedir que os uigures
planejassem e realizassem atentados na China. Um acordo semelhante
deverá acontecer agora.
Para convencer o Talibã a fazer sua parte, a China oferece investimentos.
“O Afeganistão é uma importante via de acesso aos mercados europeus e
faz parte da Nova Rota da Seda. Desde 2015, há um enorme projeto de
energia e infraestrutura, que inclui a construção de ligações ferroviárias e
rodoviárias”, diz o advogado Marcos Vinícius de Freitas, professor visitante
na Universidade de Relações Exteriores da China, em Pequim. Estatais
chinesas já ganharam concessões para explorar uma mina de cobre em
Aynak, a segunda maior do mundo, e petróleo no norte do Afeganistão. O
país tem reservas avaliadas em mais de um trilhão de dólares em metais
raros, mercado já dominado pela China.
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Reprodução
Afegãos invadem pista do aeroporto e se agarram em aviões: tentativa
desesperada de fuga
A Rússia também tem cortejado o Talibã, apesar de a União Soviética ter
sido expulsa do país no passado. Em 2011, o presidente Vladimir Putin
enviou um representante especial para falar diretamente com o então
líder do Talibã, o mulá Omar. O principal ponto de interesse dos russos na
relação com os extremistas afegão é o tráfico de heroína e opioides — a
Rússia é um dos países que mais sofrem esses dois tipos de narcóticos no
mundo, e o Afeganistão concentra 85% da produção mundial. Também há
muita preocupação com o Estado Islâmico, que tem recrutado cidadãos
russos. Para as autoridades de Moscou, o Talibã combate o Estado
Islâmico, o que explicaria as relações amigáveis com os mulás.
O risco de fazer qualquer acordo com o Talibã é que não há garantias de
que os terroristas respeitarão o combinado. Após negociar um cessar-
fogo com os Estados Unidos no ano passado, eles nada fizeram para
conter a violência e seguiram realizando assassinatos seletivos. Além
disso, seguem tendo laços fortes com a Al Qaeda, o grupo terrorista que,
comandando por Osama bin Laden, morto pelos americanos, realizou os
atentados em Nova York, Washington e Pensilvânia, em setembro de
2001– o que motivou a ocupação americana. Quando se acertaram com a
China, os talibãs de fato não permitiram que os uigures atacassem
Pequim, mas também não os expulsaram. “A China pode até nutrir
esperanças de que os líderes do Talibã cumprirão suas promessas. No
entanto, o grupo é muito descentralizado e é provável que seus líderes
não consigam controlar todas as suas diferentes facções ”, diz Sean
Roberts, professor da Universidade George Washington e autor do livro A
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guerra contra os uigures. Quanto ao movimento dos russos de tentar
conter os radicais no Afeganistão, as chances de sucesso também são
baixas. “Considerando o papel ativo que os russos tiveram em ajudar
Bashar Assad na guerra contra militantes na Síria, hoje há um número
muito grande de jihadistas querendo se vingar da Rússia ”, diz Roberts.
O fato é que a palavra dos talibãs vale muito pouco. Mesmo com o grupo
prometendo manter a ordem, embates entre suas diferentes facções e
aliados são muito prováveis, o que prejudica os investimentos. Nos
últimos anos, incertezas na área de segurança levaram ao fechamento da
mina de cobre. O projeto petrolífero com os chineses também permanece
parado. Outro ponto é que qualquer pedido para conter o tráfico de
drogas seria inócuo, uma vez que a maior parte da renda do grupo vem
daí.
Reprodução/redes
sociais O
presidente chinês Xi Jinping: Pequim faz aceno perigoso aos radicais
Um cenário bem provável é aquele em que vai sobrar para todo mundo.
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Mesmo países que hoje estão estendendo a mão para o Talibã poderão se
tornar vítimas. O Paquistão financiou o Talibã e hospedou seus líderes,
mas um dos bandos extremistas hoje no Afeganistão, o Talibã
Paquistanês, ou TTP, tem como alvo justamente o Paquistão. O Irã, outro
vizinho, festejou a tomada de poder do Talibã, contente com o fracasso
dos americanos, mas facções do sunita Talibã nutrem um forte ódio
contra os xiitas.
Entre as demais organizações terroristas com atuação por lá, está a já
citada Al Qaeda, que tem vários de seus membros casados com mulheres
de famílias de talibãs. A organização festejou a tomada de poder em
Cabul. Desde então, vários de seus integrantes que estavam presos foram
libertados. Por tudo isso, é fácil entender a agonia de afegãos no
aeroporto de Cabul.
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"Parece inevitável que ocorra um choque de trens entre Jair Bolsonaro e Lula nas próximas eleições"
Os cadáveres ideológicos
Referência no debate sobre relações internacionais, o escritor Moisés Naím diz que políticos da América Latina
têm fixação por ideias fracassadas. Para ele, apesar das tentativas de demonstração de poder, presidentes
nunca estiveram tão fracos
20.08.21
DUDA TEIXEIRA
Outro conceito apregoado por Naím, que por 14 anos foi editor-chefe da
prestigiosa revista Foreign Policy, é o de necrofilia ideológica, que ele diz
estar presente tanto na esquerda quanto na direita da América
Latina. Doutor em relações internacionais e economista, o venezuelano,
hoje com 69 anos, toma emprestada a definição da atração sexual por
cadáveres para falar do amor que os políticos da região costumam nutrir
por ideias que já se comprovaram um fracasso. Um exemplo disso é o
saudosismo da ditadura militar manifestado por autoridades brasileiras,
como o presidente Jair Bolsonaro. A partir dos Estados Unidos, onde vive,
Naím concedeu a seguinte entrevista a Crusoé:
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Em seu livro O fim do poder, o sr. fala que ficou mais difícil para todos os
governantes se manter no poder. Algum líder da América Latina hoje está
em situação mais confortável?
Todos os governos da América Latina hoje estão em situação precária.
Mesmo quando algum presidente aparece com 70% de aprovação
popular nas pesquisas, sabemos que esse índice é muito volátil e frágil,
podendo despencar a qualquer momento. Até a ditadura de Cuba está
sendo sacudida. Os governos hoje precisam lidar com múltiplos
problemas, como a pandemia, a economia, a fome, a desigualdade e a
pobreza. Ao mesmo tempo, eles têm um poder limitado para lidar com
tudo isso. Então, é muito difícil que algum governo consiga se manter
forte por muito tempo em uma situação como essa. Quem acompanha as
notícias sabe disso. Está bem claro que, nos tempos modernos, ficou mais
fácil conquistar o poder, mais difícil usá-lo e mais fácil perdê-lo. Quem
tiver dúvida disso que pergunte a Donald Trump.
Mas algum presidente latino poderia ao menos servir de inspiração para
os demais?
O peruano Pedro Castillo poderia servir de inspiração, só que ao
contrário. Ele é um símbolo do que não se deve fazer. Castillo é o
representante de um conceito que eu tenho usado bastante, o de
necrofilia ideológica. Necrofilia é a perversão sexual que algumas pessoas
têm por cadáveres. Esse conceito também tem sua versão ideológica, que
é uma atração por ideias ruins. Apesar de já terem demonstrado que
fracassaram no mesmo país ou em outras nações, esses conceitos
continuam tendo um apelo surpreendente entre políticos. Mas essas
histórias sempre terminam mal, de maneira desastrosa. É muito claro que
Castillo é controlado por Vladimir Cerrón, o chefe do partido Peru Livre.
Essa agremiação tem uma base de comunistas radicais que parece
disposta a fazer todo o possível para colocar em prática suas políticas de
necrofilia ideológica.
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Divulgação
“Ninguém tem o monopólio da adoração por ideias fracassadas”
O futuro da esquerda não poderia ser algo parecido com o que estamos
vendo na Assembleia Constituinte do Chile, onde os representantes falam
principalmente em questões de gênero, racismo e representação
indígena?
A questão é que não se pode ir a um restaurante chinês e pedir comida
italiana. Em outras palavras, ninguém faz política escolhendo sobre o que
quer falar, qualquer coisa. Todos esses temas são legítimos, mas não se
pode fugir dos assuntos inerentes à política. A esquerda, para avançar,
precisa dar resposta aos fatos que estão ocorrendo no continente, como
o sofrimento humano, a desigualdade e a corrupção na Nicarágua, em
Cuba e na Venezuela. Todas essas coisas estão sendo feitas pela esquerda
no poder. E não se pode simplesmente ignorá-las porque elas são
incômodas. Então, os jovens de esquerda querem lutar contra a
discriminação racial, mas não querem se pronunciar sobre as torturas na
Venezuela? Querem defender direitos humanos, mas preferem não se
pronunciar sobre os 60 anos de repressão em Cuba? Isso é uma
enganação.
O ex-presidente Lula segue apoiando as ditaduras de Cuba e da
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Venezuela. Como explicar que ele tenha boas chances de vencer a eleição
do ano que vem?
Parece inevitável que ocorra um choque de trens entre Jair
Bolsonaro e Lula nas próximas eleições. Lamento que os brasileiros só
tenham essas duas opções neste momento. Mas ainda falta mais de um
ano para as eleições, o que em política brasileira é uma eternidade. Muita
coisa ainda pode acontecer. Bolsonaro pode se beneficiar de um aumento
dos preços de exportações e de uma dinâmica que gere empregos. Se isso
acontecer, ele chegará às eleições com uma economia favorável. Ou tudo
pode simplesmente entrar em colapso. Não dá para saber. É prematuro
especular sobre os resultados do ano que vem.
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O desfile seria um sintoma da necrofilia ideológica sobre a qual o sr. tem
falado?
A necrofilia ideológica é praticada tanto pela direita como pela esquerda,
por políticos, empresários, professores universitários e jornalistas.
Ninguém tem o monopólio da adoração por ideias fracassadas.
Wikimedia
Commons “A
Venezuela hoje é um país ocupado”
Nos anos 1990, o ex-presidente do Peru, Alberto Fujimori, realizou um
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autogolpe e mandou tanques para o Congresso. O sr. vê alguma
semelhança com a cena brasileira?
Naquela ocasião, Fujimori fechou o Congresso e assumiu o controle do
Judiciário. Ele tomou todas as instituições que eram a base da democracia
peruana. Não parece ser o caso do Brasil, onde o Legislativo e o Judiciário
seguem como poderes independentes. É preciso acompanhar como essas
forças irão se comportar. Provavelmente, será preciso tomar algumas
decisões para frear as diversas iniciativas antidemocráticas, para garantir
que o sistema ofereça os freios e contrapesos necessários para a
democracia.
Se a ditadura de Cuba cair, que impacto isso poderia ter na região?
Depende muito de quem vai substituir o regime. Em muitos países da
antiga Europa Oriental, a ‘nomenklatura’ soviética não foi substituída por
pessoas com princípios democratas, mas sim por cartéis criminosos. Além
disso, há muito tempo se fala que a ditadura cubana vai acabar, mas esse
prognóstico nunca se concretizou.
A tendência é que Cuba siga tendo muita influência em seu país, a
Venezuela?
Além de ser um estado falido e ter um governo criminoso, a Venezuela
hoje é um país ocupado. Há uma potência estrangeira, Cuba, que toma as
decisões de governo. Há vinte anos eles saqueiam a Venezuela. O
resultado é que hoje a Venezuela está mais destruída do que se tivesse
lutado em uma guerra. O colapso foi executado a partir de Caracas, mas
foi desenhado em Havana. A melhor imagem que mostra essa ocupação
foi o navio cheio de comida que o governo venezuelano enviou para os
cubanos após os protestos que ocorreram na ilha no dia 11 de julho. O
governo fez isso em um momento em que a população venezuelana está
morrendo de fome.
Qual é a importância que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, tem
dado para a América Latina?
Joe Biden, o atual governo americano e o Partido Democrata estão
voltando toda a sua atenção para as eleições legislativas que ocorrerão
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em novembro do ano que vem. Os resultados das urnas determinarão
qual partido terá o controle da Câmara dos Deputados e do Senado. E os
democratas querem garantir que dominarão as duas casas no futuro.
Então, antes de fazer qualquer coisa, eles se perguntam se isso vai ajudá-
los ou não a atingir esse objetivo. Acontece que a América Latina não tem
peso suficiente para contribuir para esse propósito. Repare que, na visita
do conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, ao Brasil, no último
dia 5, praticamente só se falou de China. Embora as autoridades não
admitam isso, esse foi o único tema dos encontros. A América Latina só
ganha importância na questão migratória. Para Biden, a região começa e
termina na fronteira com o México. Cuba é uma questão circunscrita à
política doméstica da Flórida, e Biden não fará nada que possa entrar no
debate eleitoral e dar fôlego aos republicanos.
DIOGOMAINARDINA ILHA DO DESESPERO
‘Perdidinhos’
20.08.21
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OAntagonista reproduz todas as bestialidades que Jair Bolsonaro dispara
nas redes sociais, nas rádios do interior, no cercadinho do Palácio da
Alvorada. Cada uma de suas frases é escrupulosamente transcrita e
estampada no site. Considerando que o sociopata usa a imprensa para
enchiqueirar seus aloprados, há quem pense que talvez fosse melhor
ignorá-lo. Eu penso o contrário. Eu penso que suas aspas asquerosas, por
mais que elas emporcalhem nossas páginas, acabam por isolá-lo ainda
mais. As pesquisas mostram isso: o eleitor, depois de ingurgitar
bolsonarismo por dois anos, aprendeu a excretar sua propaganda
apodrecida. Eu tenho um lado panglossiano. Acredito que, diante de 570
mil cadáveres, nem o mais perfeito imbecil é capaz de ser ludibriado.
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militares golpistas com meia dúzia de tanques fumacentos. A impostura
sobre o “poder moderador” do Exército, repisada por Augusto Heleno, é a
prova de que o bolsonarismo aposta todas as suas fichas no delírio do
contragolpe. É o maior risco que corremos: diante da certeza de derrota
em 2022, o bolsonarismo pode vandalizar a democracia em 2021. Se ele
conseguir fazer isso, o Brasil estará perdidinho.
MARIOSABINO
A norueguesa de Cabul
20.08.21
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ditas sobre o Afeganistão e o Talibã também contribuiu para a minha
indignação. Como vacina para a idiotice, resolvi ter uma segunda dose de
um livro extraordinário — estou relendo O Livreiro de Cabul, da jornalista
norueguesa Åsne Seierstad (pronuncia-se Ósne Zaiershtad).
Conheci Åsne em 2007, quando ela esteve no Brasil, para lançar o seu
livro aqui. Jantamos juntos no Rio de Janeiro, em mesa da qual o Diogo
Mainardi fazia parte. Ela se mostrou interessada em saber sobre Lula e as
suas bebedeiras, mas tenho certeza de que foi por cortesia. Não poderia
haver nada mais desinteressante do que Lula e as suas bebedeiras para
uma jornalista que chegara a Cabul em novembro de 2001, praticamente
ao lado dos soldados americanos, depois de passar seis semanas com os
comandantes da Aliança do Norte, no deserto próximo à fronteira com
Tadjiquistão, nas montanhas de Hindu Kush, no vale do Pashir e nas
estepes ao norte da capital afegã. Como ela própria relata no seu livro,
Åsne estava na linha de frente dos ataques da Aliança do Norte contra o
Talibã, “dormindo em chão de pedra, em cabanas de barro e viajando na
boleia de caminhões, em veículos militares, a cavalo e a pé” .
Nos primeiros dias em Cabul, depois da queda do Talibã, a jornalista
conheceu um livreiro, Sultan Khan, que lhe foi um oásis. “Após semanas
entre pólvora e cascalho, ouvindo conversas sobre táticas de guerra e
avanços militares, foi renovador folhear livros e conversar sobre literatura
e história”, escreveu. Também deve ter sido renovador para Sultan Khan,
tanto que o afegão aceitou que Åsne, de uma escandinavidade exemplar,
morasse com ele e sua família durante algum tempo. O Livreiro de
Cabul é exatamente isto: o relato da jornalista sobre o período em que
viveu com a família Khan, num conjunto habitacional em ruínas, com as
paredes crivadas de balas da guerra civil, construído sob os auspícios dos
soviéticos.
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(para os padrões afegãos) de um homem culto, como Sultan Khan, elas
não são nem mesmo locatárias de si próprias e são vendidas a quem
pagar mais para tê-las como esposas inteiramente submissas — e que
podem ser mortas pelos próprios pais, se infringirem os códigos arcaicos
que lhes regem. “Eu era hóspede, mas não demorei a sentir-me em casa.
Cuidaram de mim de maneira excepcional, a família era generosa e
aberta. Passamos muitos momentos divertidos juntos, mas poucas vezes
na vida fiquei com tanta raiva como da família Khan, poucas vezes briguei
tanto ou tive tanta vontade de bater em alguém. O que me revoltava era
sempre a mesma coisa: a maneira como os homens tratavam as
mulheres. A crença na superioridade masculina era tão impregnada que
raramente era alvo de questão. Em discussões ficava claro que, para a
maioria deles, as mulheres são de fato mais burras que os homens, que o
cérebro delas é menor e que não podem pensar de maneira tão clara
quanto os homens”, escreve Åsne. Por breves intervalos, um deles a
ocupação soviética, o que é ilustração suplementar da desgraça intrínseca
ao Afeganistão, as mulheres tiveram chance de usufruir de alguma
liberdade.
A jornalista experimentou a burca em diversas ocasiões. Somos
informados de que essa prisão de tecido foi criada por ricos, para
esconder as suas lindas mulheres. Um símbolo de status que, com o
tempo, viria a se disseminar pelas classes populares, como concretização
e símbolo da opressão masculina. Com o raio de visão limitado para a
frente, como se fossem cavalos que puxam carroças, as mulheres são
obrigadas a virar a cabeça para olhar para os lados — o que funciona
como instrumento de controle, uma vez que lhes é tolhida a possibilidade
de observar algo ou alguém sem que isso seja imediatamente
percebido. “Também vestia a burca para saber como é ser uma mulher
afegã. Como é espremer-se num dos três bancos traseiros de um ônibus
quando há bancos livres na frente. Como é dobrar-se no porta-malas de
um táxi porque há um homem no banco de trás. Como é ser olhada como
uma burca alta e atraente e, ao passar pela rua, receber o primeiro elogio
‘burca’ de um homem. Com o tempo comecei a odiá-la. A burca aperta e
dá dor de cabeça, enxerga-se mal através da rede bordada. É abafada,
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deixando entrar pouco ar, e logo faz suar. É preciso tomar cuidado o
tempo todo onde pisar, porque não podemos ver nossos pés, e como
junta um monte de lixo, fica suja e atrapalha. Era um alívio tirá-la ao
chegar em casa”.
Por 316 páginas, o leitor convive com Sultan Khan, as suas mulheres
Sharifa e Sonya, as irmãs Shakyla, Leila e Bulbula, o irmão Yunus, a
matriarca Bibi Gul, os filhos do livreiro, Mansur, Eqbal e Aimal, as filhas
Shabnam e Latifa, todos morando juntos num pequeno apartamento
praticamente sem móveis, com eletricidade e água escassos e fragmentos
de privacidade guardados em caixas, muitas caixas, o ambiente envolto
em poeira permanente suspensa no ar e depositada na pele. Mas o
assunto de Åsne não é a pobreza material, e sim a miséria existencial de
um povo que, refletido naquele universo doméstico, só conhece o
imobilismo secular. Vidas secas aprisionadas numa imensa caixa
etiquetada com o nome de Afeganistão — inclusive os homens, eles
também prisioneiros no seu papel de eternos dominadores.
O Talibã, como já dito, aprofundou essa não-existência que o precedia.
Quando a chusma de fanáticos assumiu o poder, em 1996, dezesseis
decretos foram transmitidos pela Rádio Sharia. Faço um resumo da lista
que consta do livro de Åsne:
3. É proibido barbear-se.
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8. É proibido reproduzir imagens.
Eles voltaram.
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Alá é grande; Joe Biden é pequeno.
CARLOS FERNANDODOS SANTOS LIMA
Aras e a destruição do Ministério Público
de 1988
20.08.21
“Enquanto houver bambu, vai ter flecha!” Assim Rodrigo Janot, então
procurador -geral da República, definiu seus últimos dias de mandado na
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chefia do Ministério Público Federal. Ainda nessa declaração de setembro
de 2017, Janot reiterou os termos de sua denúncia contra o então
presidente Michel Temer, ocorrida meses antes: “Faria tudo de novo”.
Para ser justo com o atual “far niente” de Augusto Aras, o seu
comportamento submisso aos interesses políticos é historicamente o
mais comum. É só lembrar de outro procurador-geral famoso por um
epíteto também pejorativo, o “engavetador-geral da República” Geraldo
Brindeiro, que ficou à frente da PGR durante os oito anos do governo
Fernando Henrique Cardoso, sem nunca incomodar seu “patrono”,
mesmo diante de sérias notícias de irregularidades nas privatizações e na
própria tramitação da emenda constitucional da reeleição.
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Além disso, Inocêncio Mártires Coelho, talvez na maior mancha de seu
mandato, em vez de apoiar o procurador da República Pedro Jorge de
Melo e Silva nas investigações de crimes em financiamentos agrícolas do
Banco do Brasil em Pernambuco, conhecido como “escândalo da
mandioca”, determinou o seu afastamento das investigações. Pedro Jorge
foi assassinado por envolvidos nesses crimes um dia após essa
determinação.
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Será que esse tipo de dualismo oportunista é uma característica da
função do procurador-geral da República, ou é uma deformação da
atuação de alguns deles por suas características pessoais? Certo é que a
concentração de poder ainda existente na função de procurador-geral
acaba por levar a uma excessiva dependência do caráter e personalidade
do escolhido para o cargo. Isso, por si só, já demonstra um problema do
desenho constitucional desse órgão. Diz-se que a melhor maneira de se
descobrir o real caráter de um homem é lhe dar poder, mas, em uma
República, nenhum poder é incontrastável.
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deveria ser controlado por uma escolha de pessoas com interesses
alinhados com o poder. Assim, podemos ver que FHC escolheu para o STF
o nefasto Gilmar Mendes, seu subserviente advogado-geral da
União. Lula, por sua vez, escolheu “in pectore” os não menos
inapropriados Lewandowski e Toffoli, este último seu advogado
eleitoral. Agora, já neste governo, a escolha recaiu em um apadrinhado do
Centrão, Kássio Marques, enquanto o advogado de interesses autoritários
de Jair Bolsonaro, André Mendonça, aguarda a sabatina para a vaga
decorrente da aposentadoria do Ministro Marco Aurélio.
Fica claro, com tudo isso, que temos que repensar diversas questões a
respeito da escolha e do mandato dos ministros do Supremo Tribunal
Federal, bem como da constitucionalização da lista tríplice e do controle
sobre o excessivo poder do procurador-geral da República – para não
dizer também das diversas questões similares de excesso de poder dos
ministros do Tribunal de Contas da União e do presidente da Câmara dos
Deputados.
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É bom que se diga que os paradigmas constitucionais de outros países
para esses cargos não atribuem o poder que seus derivados aqui
possuem. No Brasil, a função de acusar o presidente da República e
parlamentares é entregue com exclusividade a uma pessoa normalmente
escolhida pelo próprio chefe do Executivo e sabatinada pelos senadores.
Nos Estados Unidos, esse tipo de investigação fica tradicionalmente sob
responsabilidade de um promotor independente, escolhido para o caso.
Não fosse só isso, existe ainda a manipulação da ambição de alguns pelo
cargo vitalício no STF. Aí está a receita perfeita para um desastroso
“procrastinador-geral da República”, ou pior.
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ALEXANDRESOARES SILVA
Meu Imbecil Pessoal
20.08.21
“É uma ideia que tive faz tempo, mas só recentemente consegui colocar
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em prática. É ótimo, e aconselho todo mundo a conseguir um.
Sempre tive um conhecido um pouco burro que, sem querer, fazia isso
comigo. Ele me apoia sempre, só que de um jeito cretino, e isso me faz
muito bem porque acabo percebendo minhas próprias cretinices e me
emendando. Então, na semana passada, tomei uma decisão e fiz uma
oferta para o meu conhecido um pouco burro: ele vai receber um salário
para andar comigo o tempo todo. É o meu Imbecil Pessoal.
Claro que não falei pra ele que o nome da sua nova profissão é Imbecil
Pessoal (isso estou falando só pra você). Para ele, disse que precisava de
uma companhia para estimular o meu intelecto. Ele ficou orgulhoso e
aceitou o emprego. Até agora esse esquema está funcionando muito bem,
e dou a ideia para você caso você queira copiar.
Por exemplo: numa discussão que tive outro dia em uma festa, perdi o
controle e fui mal-educado com alguém. Alguns minutos depois o meu
Imbecil Pessoal se aproximou de mim pedindo um high-five, TOCA AQUI!,
e disse algo do tipo:
— É isso mesmo, fez muito bem! Tem que falar na cara. Polidez é coisa de
viado ou de “intelequitual”.
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desculpas para a pessoa que havia ofendido.”
Claro que até do excesso de ponderação ele me protege. Porque outro dia
deixei escapar um desses “nem tanto à esquerda nem tanto à direita” que
as pessoas que não pensam muito usam quando querem afetar
moderação, e o meu Imbecil Pessoal logo disse: “Claro! A verdade NUNCA
está em nenhum dos extremos!”.
Ao ouvir isso, percebi a tolice do que tinha dito, e perguntei: “Nunca? Entre
duas pessoas com posições em extremos opostos, digamos Fulano que
quer porque quer bater numa velhinha que está andando na rua, e
Sicrano que é veementemente contra bater na velhinha, os dois estão
igualmente errados?”.
***
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Talvez vocês tenham visto que, segundo o relatório de fevereiro de 2021
do departamento oficial do governo americano para a reconstrução do
Afeganistão (o famigerado SIGUR), os Estados Unidos gastaram quase um
bilhão de dólares tentando ensinar teoria de gênero aos afegãos.
Isso me fez imaginar como deve ter sido uma aula dessas.
— Achei bacana, mas… Você entendeu quem é que é pra gente estuprar?
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Mistura perigosa
20.08.21
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que era pago a outros fornecedores. Thaís e o funcionário da empresa
estiveram na sala do secretário-executivo adjunto do ministério. Ela voltou
ao prédio em 5 de março deste ano, quando já trabalhava no Planalto,
para um encontro com o chefe da assessoria parlamentar. Quando da
descoberta de que era a autora de requerimentos apresentados à CPI por
parlamentares bolsonaristas, Thaís Moura foi apresentada como
namorada de Frederick Wassef, advogado da família presidencial – os dois
negam o relacionamento. Gente do próprio governo diz que ela também é
bastante próxima do senador Flávio Bolsonaro, o filho 01 de Jair
Bolsonaro.
Reprodução Thais
Moura fez visitas suspeitas ao Ministério da Saúde
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A garantia dos generais
20.08.21
Agência
Brasil
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O
QG do Exército: generais sinalizam que não vão embarcar em aventura
golpista
Campanha suprema
20.08.21
Adriano
Machado/Crusoé
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O STF vai
investir em publicidade para defender a própria imagem
Os favoritos
20.08.21
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Divulgação Zúniga
é um dos cotados para comandar a embaixada
Candidato de Kassab
20.08.21
Em conversas com aliados, Gilberto Kassab tem dito que Rodrigo Pacheco
já topou disputar o Planalto no ano que vem por seu partido, o PSD. Ex-
ministro de Dilma e Temer, Kassab assegura que o presidente do Senado
deixará o DEM para se apresentar ainda neste ano como candidato da
chamada terceira via. Ele diz também que, para não queimar muito
dinheiro do caixa do PSD, Pacheco está disposto a bancar uma parte da
campanha com recursos próprios. Na terça-feira, 17, o senador participou
de um convescote em Brasília para comemorar o aniversário de Kassab.
Adriano
Machado/Crusoé
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Pacheco
promete bancar parte da própria campanha para não onerar o PSD
O guia do Centrão
20.08.21
Foto: Isac
Nóbrega/PR
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A posse
de Ciro: discurso encomendado ao consultor
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RUYGOIABA
Que saudade daquele bar horrível
20.08.21
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Escrevi “suposto” porque há controvérsias: um dos sócios disse que vai
fechar, mas o irmão dele, também sócio, negou. Diga-se, aliás, que nunca
achei a Mercearia ruim: só superestimada, graças à turma de escritores
(invariavelmente autocongratulatórios, geralmente medíocres) que
transformou o lugar em point e permitiu aos seus donos vender por 15
reais cerveja meia-boca que você encontra em qualquer mercado por 6.
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A GOIABICE DA SEMANA
Reprodução/TV
Brasil
Exército em ação: ainda bem que Snoopy e Woodstock não ofereceram
resistência
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