Ana Virgínia Lima Da Silva: A Intertextualidade Na Produção de Resenha No Ensino Superior
Ana Virgínia Lima Da Silva: A Intertextualidade Na Produção de Resenha No Ensino Superior
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2009
Ana Virgínia Lima da Silva
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2009
Dissertação aprovada em 18 de fevereiro de 2009 pela banca examinadora constituída pelos
professores abaixo mencionados:
______________________________________________________
Profª Drª Regina Lúcia Péret Dell’Isola
(Orientadora)
______________________________________________________
Profª Drª Sidnei Cursino Guimarães Romão
(UNIPAM - Centro Universitário de Patos de Minas)
____________________________________________________
Profª Drª Eliana Amarante de Mendonça Mendes
(Universidade Federal de Minas Gerais)
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2009
Dedico este trabalho
Ao meu Senhor,
que sustentou na FÉ as mãos que produziram esta dissertação
e amorosamente conduziu estas mãos a materializar a RAZÃO.
À ossa Senhora das Graças, por caminhar ao meu lado e cuidar de mim com carinho
materno e fortalecedor;
À minha mãe-avó, azareth, pelo abraço intenso de apoio e fortaleza, sem a necessidade
de entender minhas escolhas;
À minha mãe, Vânia, por refletir o amor que me move e a segurança que preciso;
Aos meus irmãos, Viviany e Helton, pela torcida revelada nos momentos mais importantes;
Aos alunos da Faculdade de Letras que participaram desta pesquisa, pelo envolvimento
com o trabalho, por permitirem a análise e divulgação dos dados e por, mesmo
inconscientemente, me levarem a visualizar o processo de ensino-aprendizagem de forma
mais profunda;
Aos amigos de longe (a estrada tão longe, na alma tão perto...), em especial:
À prima e amiga Carol Lopes, pela presença e doação irrestrita nos momentos mais
importantes;
Aos amigos e irmãos do Grupo Shalom, pelo amor e pelo carinho que sempre me
fortaleceu;
À Clarissa Costa, pelas partilhas da vida e das experiências acadêmico-profissionais desde
a graduação;
À Fernanda Moura e a Vinícius Leão, pelo carinho e atenção que encurtam a distância;
A Bruno Alves, pela amizade, atenção e pelos momentos de reflexões sobre os gêneros e o
ensino;
À Profª Drª Williany Miranda da Silva, orientadora durante graduação, pela amizade, pela
motivação em todo o processo de seleção e curso do mestrado e por ter me ajudado,
competentemente, a dar os primeiros passos nos caminhos da linguagem.
RESUMO ............................................................................................................................. 10
ABSTRACT ......................................................................................................................... 11
ITRODUÇÃO ................................................................................................................ 12
2. METODOLOGIA
2.1. PARTICIPANTES DA PESQUISA ............................................................................. 59
2.2. COLETA DE DADOS ............................................................................................... 59
2.2.1.PRÉ-TESTE E OBSERVAÇÃO ... ................................................................ 59
2.2.2. SEQUÊNCIA DIDÁTICA............................................ ................................... 61
2.3. CATEGORIAS E PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ............................................ 65
2.3.1. CATEGORIAS DE ANÁLISE ........................................................................ 65
2.3.2. PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE ............................................................... 66
COSIDERAÇÕES FIAIS
1. RETOMADA DAS QUESTÕES E OBJETIVOS ..................................................... 158
2. REFLEXÕES E DIRECIONAMENTOS FUTUROS .............................................. 160
AEXOS
Anexo 1: Pré-Teste
Anexo 2: Questionário de Sondagem
Anexo 3: Sequência Didática
Anexo 4: Atividades Realizadas durante a Sequência Didática
Anexo 5: Exemplos de Resenhas e Atividades dos Participantes
Anexo 6: Quadro de Avaliação do Gênero Resenha
Anexo 7: Entrevistas
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE GRÁFICOS
In the present research we analyze the intertextual strategies present in reviews done
by undergraduate students, the relationship between these strategies and argumentation, and
their contributions to the function of the genre under investigation. We seek therefore to
offer an integrated view between intertextuality and the construction of viewpoint in
reviews, in enabling undergraduate students to become active members in the academic
environment. The theoretical assumptions are based mainly on authors of Textual
Linguistics and of North-American socio-rhetoric regarding genre, characterization of
reviews and intertextuality. Our corpus is constituted of fifty (50) reviews produced by
undergraduate students of Languages of the Faculty of Languages of the Federal University
of Minas Gerais (UFMG). The analysis shows that intertextual strategies are linked to the
rhetorical organization of the productions and that this rhetorical organization tends to
evidence the appropriation of the genre produced. Furthermore, the analysis shows that, for
the function of the review, intertextuality plays a fundamental role, provided that it is
articulated with the argumentation. This articulation, however, is not enough for the function
of the review, once the mastering of this genre depends also on the ability of textualizing the
language operations necessary to its production.
ITRODUÇÃO
Tem hora que parece que mistura um pouco. Tem que estar atento, não é, à
leitura, senão confunde. Por isso que é importante o texto estar bem construído,
senão você confunde e acha que é o autor da resenha que está falando, enquanto é
o autor do livro (...) Você pensa assim, como você falou hoje, você lê as ideias do
autor, mas depois você não pode trancrevê-las, não é? Você tem que pensar uma
forma de você dizer ligando, relacionando. Tem uma hora que é complicado e
você diz: “será que eu estou falando ou eu estou repetindo o que o autor já disse?”.
Eu fiz resenha aqui na Faculdade. Eu fiz para uma disciplina que tive que fazer
três resenhas, por sinal bem diferentes dessas resenhas, o modo como foi
trabalhado. A professora não deu orientação sobre a resenha. Na verdade, eu não
tinha ideia do que era uma resenha e aí a professora falava assim: “Faça um
resumo e ponha um comentário no final”. Tanto que acho que minhas resenhas (as
analisadas) não ficaram muito boas por causa disso (...) Eu comecei mesmo a ver o
que era uma resenha agora.
Ex1: Cláudio não aceita a ideia do construtivismo, porque segundo ele os livros
não devem ser queimados, mas substituídos por conteúdos melhores, que ajudem
os professores, porque não se pode esperar que queimando os livros cada professor
crie sua própria pedagogia1.
Ex2: Fazendo uma análise do livro didático (os quais são de fundamental
importância na construção do saber do individuo) e do método construtivista que
prega o abandono ao livro didático, é proposto para os livros que nada têm a
oferecer de criativo que sejam substituídos por outros que se mostrem com ideias
novas (criadas e realizadas por alunos e professores através de suas experiências),
e que realmente ajudem o professor na transmissão e construção do saber junto ao
aluno, sendo essas ideias colocadas de forma clara e arquitetadas.
1
Resumo elaborado com base no artigo de opinião Queimamos os livros?, de Cláudio de Moura Castro e
publicado na Revista Veja em 31 de maio de 2000 ( Edição 1651, ano 33, nº 22, p.22).
A opção por pesquisar um gênero presente na esfera acadêmica se deu pelo fato de as
produções nas quais observamos as dificuldades apontadas na introdução pertencerem a
discentes universitários ou candidatos a tal, além da importância da resenha no contexto
universitário e de sua pertinência para o tema que propomos investigar. Uma vez que o
aluno de Letras será um profissional cujo objeto de trabalho consistirá essencialmente na
A ideia de contínuo entre texto e discurso defendida por Marcuschi (2008) nos faz
compreender os limites e dependências entre esses dois elementos presentes na atividade
linguística. Também é importante percebemos, conforme o autor, que o gênero deve ser
pensado considerando o texto e o discurso. Coutinho (2004) apresenta um esquema que
esclarece as relações entre discurso, texto e gênero. O texto é um objeto empírico. Entre ele
e o discurso está o gênero, que condiciona a atividade linguística, como representado na
Figura 1:
(objeto de
Figura)
Para Coutinho (2004), os três elementos – discurso, texto e gênero – são categorias
descritivas necessárias ao texto. Esse, por sua vez, engloba todos os elementos (tipológicos,
semânticos, pragmáticos, etc) constitutivos da unidade textual Assim sendo, entendido como
uma disposição retórica, diferentes formas organizacionais podem ser elaboradas e ligadas
umas às outras na Figura textual
Como um objeto de Figura empírico, o texto é configurado em um gênero e, por
meio desse, realiza o discurso conforme a situação institucional, histórica, social e
2
Consideramos esfera discursiva uma instância da produção discursiva (MARCUSCHI, 2002), a exemplo da
universidade, do jornal, da TV, do comércio, etc. Esta noção está detalhada em 1.2.3.1., ao tratarmos da
comunidade discursiva, noção equivalente à de esfera discursiva.
Preocupado com o ensino de inglês como segunda língua, Swales (1990) postula que
os gêneros constituem uma classe de eventos comunicativos. Os eventos comunicativos
dizem respeito ao papel do discurso e ao envolvimento dos participantes na produção e na
reação, incluindo os aspectos históricos e culturais. Nesse sentido, nas várias esferas
discursivas, os discursos produzidos em seu interior possuem funções que são realizadas
através de um conjunto de eventos, isto é, gêneros textuais cujos produtores têm o papel de
compreender, analisar e opinar sobre os discursos. Na esfera acadêmica, os alunos devem
exercer seu papel como forma de aprendizagem e inserção efetiva nessa esfera, participando
da construção do saber. Os professores, por sua vez, produzem os gêneros para divulgar o
saber e também para assegurar sua posição na esfera discursiva acadêmica.
Os gêneros estão condicionados às convenções e à função dos discursos na
comunidade/esfera discursiva em que eles ocorrem. As convenções dos gêneros e as funções
dos discursos influenciam o comportamento dos participantes da comunidade. Tais ideias
são apresentadas por Swales (1990), cujos estudos têm por base o pressuposto de que os
3
Diferentemente de Van Dijk e Kintsch (1983) entendemos que sumarização e resumo não possuem o mesmo
conceito. Um se refere a um processo cognitivo realizado na leitura e na produção de diversos gêneros,
enquanto o outro se refere a um gênero textual que é materializado, a partir de vários processos cognitivos,
dentre os quais está a sumarização.
4
DOLZ, J. et al L’aquisition des discours: emergence d’une compétence ou apprentissage de capacites
langagières diverses? Etudes de linguistique appliquée. 89. p. 25-35, 1993; DOLZ, J. & SCHNEUWLY, B.
Pour un enseignement de l’ óral: initiation aux genres formels à l’ècole. Paris: ESF, 1998.
Nesse exemplo o resenhista cita autores que possuem trabalhos conhecidos sobre o
assunto abordado no TF, confirmando uma avaliação positiva. A referência a outros autores
é observada em resenhas mais extensas, escritas por professores universitários e que pode
apresentar, ainda, ideias de trabalhos relacionados ao tema do TF, conforme a seguir:
RES 02: Dado que a maioria dos estudiosos (incluindo Bronckart) defendem [sic]
a ideia de que as tipologias de gênero são artificiais e infrutíferas, o trabalho
ganharia mais caso o autor tivesse aproveitado esse espaço para aprofundar as
relações do termo competência discursiva com o aporte teórico do interacionismo
sóciodiscursivo6.
5
PENHAVEL, E. Caderno de Estudos Linguísticos, Campinas, 48 (1): 145-149: 2006. Resenha de:
MONDADA, L. Des topics aux objets de discours. In: Verbalisation de l’espace et fabrication du savoir:
Approche linguistique de la construcion des objets de discours. Lausanne: Université de Lausanne, 1994, p.
27-66.
6
BONINI, A. Linguagem em (Dis)curso, volume 5, número 2, 2005. Resenha de: BALTAR, Marcos.
Competência discursiva e gêneros textuais: uma experiência com o jornal de sala de aula. Caxias do Sul, RS:
EDUCS, 2004. 173 p.
7
TRINDADE, Z. do S. P. T. DELTA vol.22 no.1 São Paulo, 2006. Resenha de: NEVES, M. H. de M. Que
gramática estudar na escola? orma e uso na Língua Portuguesa. São Paulo: Contexto, 2004.
RES 01: A discussão dessas duas abordagens vai esclarecendo o modo como a
noção de tópico discursivo será colocada pela autora. [grifo nosso]
8
PAIVA, V. L. M. de O. DELTA. v.22 no.2 São Paulo 2006. Resenha de: MARI, Hugo; WALTY, I.;
VERSIANI, Z. Ensaios sobre leitura. Belo Horizonte: PUCMinas, 2005.
9
Os periódicos são: DELTA, Estudos de Linguística Aplicada e Linguagem e Ensino.
10
RÚBIO, C. F. DELTA, São Paulo, EDUC, v. 22, n. 1. p. 223-225, 2006. Resenha de: SCHERRE, M. M. P.
2005. Doa-se Lindos Filhotes de Poodle: Variação Linguística, Mídia e Preconceito. São Paulo: Parábola
Editorial
11
FRAGA, L. Linguagem & Ensino, v.9,n.2,p.265269, jul./dez. 2006. Resenha de: BORTONI-RICARDO, S.
M. Educação em língua materna: a sociolinguística em sala de aula. São Paulo: Parábola, 2004.
12
MILLER, C. R. Rethorical Community: the Cultural Basis of Genre. In: FREEDMAN, & MEDWAY, P.
(Orgs.). Genre and the ew Rethoric. London: Taylor & Francis, 1994.
MOVIMETOS E SUBFUÇÕES
Movimento 1: APRESENTAÇÃO E AVALIAÇÃO INICIAL
Subfunção 1: Informar a referência bibliográfica no topo da página
Subfunção 2: Informar o tema do livro
Subfunção 3: Definir o público-alvo
Subfunção 4: Fornecer informações sobre o autor
Subfunção 5: Inserir o livro na área
Subfunção 6: Apresentar uma avaliação geral e concisa
Movimento 2: DESCRIÇÃO
Subfunção 7: Descrever a organização geral do livro
Subfunção 8: Especificar o conteúdo de cada parte
Subfunção 9: Citar outros materiais
Movimento 3: AVALIAÇÃO DE PARTES
Subfunção 10: Avaliar partes específicas E/OU
Criticar partes específicas do livro
Movimento 4: AVALIAÇÃO FINAL
Subfunção 11: Avaliar o livro de forma geral E/OU
Criticar o livro de forma geral
Subfunção 12: Recomendar ou não do livro OU
Recomendar o livro com restrições
13
BAZERMAN, C. Systems of Genres and the Enactement of Social Intentions. In: FREEDMAN, &
MEDWAY, P. (Orgs.). Genre and the ew Rethoric. London: Taylor & Francis, 1994.
1. 2.
FUNÇÃO FORMA
3.
FUNÇÃO
14
Texto originalmente publicado em Documentation et Recherche em Linguistique Allemande, Vincennes.
Paris: Université de Paris VIII – Vincennes. 1982, n.26.
Meurer (1997), cuja parte dos trabalhos insere-se na perspectiva da Análise Crítica
do Discurso, defende o texto é produzido a partir dos parâmetros de textualização, os quais
são influenciados pela história discursiva individual do escritor (o autor enfoca a produção
escrita), pelos discursos institucionais e pelo contexto de práticas sociais de elaboração e
utilização dos textos. Portanto, os parâmetros de textualização são constituídos pela
subjetividade do produtor do texto (oral ou escrito), pela esfera discursiva e pelo contexto de
produção.
Os parâmetros apresentados por Meurer (1997) se assemelham ao que Beaugrande e
Dressler (1981) e Beaugrande (1997), no campo da Linguística Textual e do processamento
cognitivo dos textos, classificam de fatores de textualidade, cujo papel é fazer com que um
texto seja considerado como tal Dentre esses fatores está a intertextualidade (em sentido
estrito). A textualidade é
Segundo Koch et alli (2007), há diversos tipos de intertextualidade, alguns dos quais
são: a intertextualidade temática (entre textos de uma mesma esfera discursiva); a
intertextualidade estilística (quando um texto é produzido a partir do estilo de outro texto); a
intertextualidade explícita (citação de trechos de um ou mais intertextos); a intertextualidade
implícita (o produtor utiliza o TF sem mencioná-lo, com o intuito de apresentá-lo, concordar
ou discordar dele); a intertextualidade intergenérica (entre gêneros); a intertextualidade
tipológica (entre tipos textuais). Os quatro primeiros tipos dizem respeito à intertextualidade
em sentido estrito.
A intertextualidade que focalizamos neste trabalho é aquela que pode ser recuperada
por meio de marcas discursivas e linguístico-discursivas, ou, como denomina Koch et alli.
(2007), a intertextualidade em sentido estrito, recorrente no gênero resenha. A classificação
de Koch et alli (2007) revela diferentes modos de construção da intertextualidade e nos
ajuda a identificar o fenômeno nos textos, mas não é utilizada na análise. Tal classificação é
limitada ao plano textual, pois falta a ela uma relação mais clara entre a forma intertextual e
a função do gênero.
Bazerman (2006) apresenta importantes reflexões sobre a intertextualidade,
relacionado-a com o produtor do texto e com o contexto de produção. Semelhante a Koch et
alli (2007), Bazerman (2006) considera que a intertextualidade corresponde às relações
explícitas e implícitas que um texto estabelece com outros textos anteriores ou futuros. Ela
pode servir para criticar ou dar autoridade ao que dizemos e busca criar uma compreensão
compartilhada entre o que já foi dito e a situação atual
Com base em Bazerman (2006), entendemos que a construção da intertextualidade
fornece meios para a compreensão de textos anteriores ao texto produzido e, a partir dessa
2. METODOLOGIA
15
Gravamos em áudio este encontro em uma das turmas investigadas. Nossa intenção era gravar todas as aulas,
nas duas turmas, o que não foi possível por problemas técnicos.
Coletamos sessenta e três (63) produções do gênero resenha nas turmas investigadas,
produzidas em primeira e segunda versão. Selecionamos cinquenta (50) resenhas para
análise, reescritas a partir da primeira versão, devido ao fato de seus produtores haverem
participado de todo o processo da sequência didática ou da maior parte desse processo. Os
produtores das treze (13) produções desconsideradas para análise não participaram da maior
parte das atividades realizadas e da sequência didática.
Dentre as resenhas coletadas, vinte e oito (28) se referem a resenhas do TF1 e vinte
e dois (22) a resenhas do TF2, conforme o Gráfico 1:
CORPUS DA PESQUISA
22; 44%
28; 56%
Resenha TF1
Resenha TF2
MOVIMETOS E SUBFUÇÕES
X
AÇÕES
PREDOMINANTES
Descrever e
avaliar
Descrever e
tentar avaliar
Descrever
Y
Domínio insuficiente Domínio parcial Domínio satisfatório
NÍVEIS DE
DOMÍNIO
Gráfico 2: íveis de Domínio do Gênero Resenha
16
Denominamos ambiguidade de autoria de ideias o fenômeno causado pela falta de delimitação clara da
autoria de ideias apresentadas no texto. Alguns autores chamam esse fenômeno de confusão de vozes.
Acreditamos que a noção de vozes é muito ampla e que a expressão ambiguidade de autoria das ideias deixa
mais claro que o texto possui uma autoria – a do sujeito que o produz - e que essa autoria é construída
ativamente a partir de outros discursos, pois o sujeito seleciona os discursos que o constituem, como destaca
Bronckart (1999).
PRODUÇÕES-DIAGÓSTICO
9; 32%
11; 39%
Domínio pleno
8; 29% Domínio parcial
Domínio insuficiente
Gráfico 3: Produções-Diagnóstico
RI1-P1217:
Com habilidade e bom humor, Marcos Bagno apresenta ao leitor o fascinante processo
l1
de se conduzir uma pesquisa na escola. A linguagem é a mais leve possível, tornando a leitura do
livro acessível tanto a professores quanto a alunos.
O autor desconstrói a errônea ideia de que o papel do professor ao pedir uma pesquisa
se resume a dar um título e um prazo para a entrega, com quanto diz na p. 21: “Se quisermos que
l5
nossos alunos tenham algum sucesso na sua atividade futura – seja ela do tipo que for: científica,
artística, comercial, industrial, técnica, religiosa, intelectual.. –, é fundamental e indispensável
que aprendam a pesquisar. E só aprenderão a pesquisar se os professores souberem ensinar”.
Então, o papel do professor, antes de tudo, é ensinar a pesquisar.
Bagno apresenta, passo-a-passo, as etapas de uma pesquisa e explica detalhadamente,
l 10
desde a formulação do título até a organização da bibliografia. Até mesmo as formas de se
apresentar o produto final de uma pesquisa são tratadas no livro.
Como já era esperado, sendo Bagno o notório linguista que é, o autor mostra, na
segunda parte do livro, um modo simples e criativo de conduzir os alunos pelo estudo de
questões, muitas vezes, problemáticas do português, como o uso da crase.
l 15
“Pesquisa na escola: o que é, como se faz” é um livro extremamente útil para quem
deseja se aventurar pelo caminho da educação no Brasil.
17
Todos os exemplos de resenhas apresentados nesta dissertação foram reproduzidos tal como nas versões
originais, com pequenas alterações apenas na ortografia. As versões originais se encontram nos anexos.
Como já era esperado, sendo Bagno o notório linguista que é, o autor mostra, na
segunda parte do livro, um modo simples e criativo de conduzir os alunos pelo
estudo de questões, muitas vezes, problemáticas do português, como o uso da
crase. (l 15-17).
Vale ressaltar que faltam informações mais precisas sobre as etapas de pesquisa e
sobre a segunda parte do TF1. Entretanto, isso não interfere na qualidade do texto
produzido, visto que o leitor pode adquirir uma visão geral do TF1 a partir da resenha
apresentada.
O emprego das operações discursivas e linguístico-discursivas na RI1-P12 apontam
o atendimento às condições de produção. Considerando o produtor dessa resenha como um
aprendiz na esfera acadêmica, sua produção demonstra apropriação do conceito das
principais características e das habilidades de textualização da resenha, assim como ocorre
com as demais produções-diagnóstico de domínio satisfatório.
A RI1-P12 demonstra compreensão e apropriação adequada não só dos propósitos
comunicativos da resenha, como também dos propósitos da esfera acadêmica, pois o
produtor assume sua posição como membro dessa esfera que se dirige a outros membros
com uma finalidade específica: convencê-los a ler o TF1.
Como declaramos anteriormente, os membros de uma dada esfera têm noção acerca
dos gêneros que nela circulam. Nesse sentido, provavelmente os participantes dessa
investigação sabiam que um dos objetivos da resenha é opinar de maneira a convencer o
RI1-P11:
A obra de Marcos Bagno, “Pesquisa na escola”, trata de uma série de tópicos para
l1
auxiliar o professor a elaborar uma pesquisa.
Ao iniciar a obra, o autor passa a definição e origem da palavra pesquisa e exemplifica-a
nas atividades do cotidiano como, por exemplo, ler uma bula ou receita de bolo. Também
explica a importância da pesquisa para empresas evoluírem e serem mais eficazes.
l5
Bagno ensina como deveria ser a postura de um professor frente a uma pesquisa. Para
ele, o mestre precisa a todo momento interagir com seus alunos e estar aberto para possíveis
sugestões ou alterações do trabalho. Além disso, o professor, ao passar a pesquisa, deve indicar
diversas fontes de consulta, montar um projeto e realizar um cronograma. E um problema
constante nas escolas diz respeito à finalidade do trabalho que em muitos casos os alunos não
l 10
lêem a pesquisa do outro colega, não discutem sobre o assunto e não são expostos os melhores
trabalhos, por exemplo, em um mural O [autor] sugere também a participação da comunidade
na escola, no sentido de os pais irem passar conhecimentos em forma de palestras para os
alunos.
Na segunda parte do livro, o assunto passa a ser mais importante por tratar sobre a
l 15
questão da metodologia de ensino gramatical De maneira que ele propõe a forma como o
conteúdo deve ser passado aos alunos e não admite a utilização dos “macetes”.
Ao final, são apresentadas [informações sobre a vida] de Monteiro Lobato em diversas
fontes. Sendo assim, fica aberto para o leitor refletir que, ao realizar uma pesquisa completa,
faz-se necessário ter contato com diferentes fontes, pois cada uma delas terá algo diferente que
l 20
fará acrescentar o conhecimento.
Portanto, a obra amplia a visão do professor frente aos conteúdos que irão passar para
seus alunos.
tem por base uma ideia do TF1 – a de que se deve recorrer a diversas fontes para a pesquisa
na escola – e reelabora essa ideia, explicando-a (“pois cada uma delas terá algo diferente que
fará acrescentar o conhecimento”). Do ponto de vista do conteúdo, esse trecho é uma
descrição, o que o torna avaliação é a interferência do produtor através da expressão “fica
aberto para o leitor refletir”.
De maneira semelhante ocorre no parágrafo final, o qual consiste em uma avaliação
que, retomando o objetivo expresso no TF1 - oferecer um manual de instruções para ensinar
a pesquisar – limita-se a sinalizar o alcance desse objetivo, através da forma verbal “amplia”
(l 25). Essa avaliação contradiz o sentido original, pois o TF1 não focaliza os conteúdos
ensinados em sala de aula, mas sim as atividades escolares de pesquisa. Há um equívoco
quanto ao sentido original também no trecho “O [autor] sugere também a participação da
comunidade na escola, no sentido de os pais irem passar conhecimentos em forma de
palestras para os alunos” (l 13-15). O TF1 sugere a participação dos familiares dos
estudantes e dos demais envolvidos na comunidade escolar no processo de ensino-
aprendizagem, e não apenas a participação dos pais, como afirma a RI1-P11.
Na RI1-P11 o conteúdo é praticamente todo reelaborado do TF1, com pouca
intervenção do produtor. No Questionário de Sondagem o produtor reconhece sua
dificuldade em expor uma opinião:
MOVIMETOS E SUBFUÇÕES
7; 32%
12; 54%
Domínio pleno
Domínio parcial
Domínio insuficiente
3; 14%
RI2-P06:
O livro “Gênero, agência e escrita”, do autor Charles Bazerman, trata da escrita, gênero
l1
e leitura no meio escolar. Tais temas são desenvolvidos e caracterizados ao longo de dez
capítulos (contando com a introdução) que não possuem uma continuidade, podendo, portanto,
serem lidos em uma ordem aleatória.
A introdução do livro define o que é agência e o seu papel na escrita escolar. O autor
l5
ainda ressalta a importância da abordagem social do gênero como uma ferramenta para a
construção da escrita. O capítulo 1 relaciona os diversos tipos de gêneros como a forma de cada
um reflete o pensamento do seu autor. Bazerman também sugere maneiras de se trabalhar a
complexidade dos gêneros na sala de aula. Já no capítulo seguinte, o modelo conversacional na
escrita e suas características são o assunto principal merecendo destaque ainda o apontamento do
18
Os grifos nos trechos de resenhas e de atividades apresentadas neste e no capítulo seguinte foram realizados
por nós.
RI2-P18:
O livro de Bazerman aborda temas importantes sobre a leitura e produção de textos, traz
l1
conceitos importantes como gênero, o aluno como agente e sua relação com a escrita.
No texto, o autor expõe sua opinião de forma clara dizendo a importância do professor
como um apoio e guia para que o aluno consiga adquirir sua maneira de escrever, sem ter que,
necessariamente, seguir um padrão autoritário e que desperte e impulsione sua criatividade, sem
l5
uma cobrança perfeita para que o aluno não acabe se tornando uma cópia de textos já existentes.
Esses seriam apenas uma base.
Bazerman conceitua vários termos importantes e fundamentais para que a pessoa se
torne um bom leitor e escritor. Um desses termos é a intertextualidade, que são textos baseados
em outros textos. O autor expõe esse conceito exemplificando para que o professor saiba ensinar
l 10
ao aluno a maneira de se fazer e de se reconhecer a intertextualidade presente em um texto.
Para Bazerman, “Gêneros não são apenas formas. Gêneros são formas de vida, modos
de ser. São os lugares familiares para onde nos dirigimos para criar ações comunicativas
inteligíveis uns com os outros e são os modelos que utilizamos para explorar o não-familiar”.
Conceito que mostra que a escola não é apenas para fins de escolarização, mas sim em todos
l 15
aspectos da vida, para saber que posição e atitude são apropriadas para o mundo no qual se está
engajado naquele momento.
Outro tema bastante interessante discutido no livro é o conceito de retórica e sua
importância na escrita. A principal preocupação da retórica é “determinar um enunciado eficaz,
apropriado para qualquer circunstância particular, O conceito retórico de gênero associa desde a
l 20
tradição clássica, a forma e o estilo do enunciado com a ocasião ou situação e a ação social
realizada no enunciado”.
Bazerman está bem alerta para o detalhe de que, assim como as ações, intenções e
situações humanas, uma teoria de gênero precisa ser dinâmica, versátil e estar sempre se
transformando de acordo com a necessidade.
l 25
O livro dá ênfase em seu capítulo final ao mistério de como as ações podem ser criadas
à distância através de significados criados em um texto. Afirma que, quando os alunos
conseguem a compreensão de seus textos por leitores que não fazem parte do seu convívio nem
do meio social em que vivem, eles terão alcançado a agência mais profunda da escrita.
A obra de Bazerman certamente é indicada para estudantes e pesquisadores nas áreas de
l 30
Educação e comunicação. Contém algumas informações desnecessárias que podem ser
descartadas, mas, sem dúvida, apresenta muitos conceitos relevantes para futuros professores
apresentarem em sala de aula e para pessoas que querem escrever bem e se fazer entender.
Conceito que mostra que a escrita não é apenas para fins de escolarização, mas
sim, em todos os aspectos da vida, para saber que posição e atitude são
apropriadas para o mundo no qual se está engajado naquele momento. (l 15-17).
RI1-P18:
A leitura da resenha inicial RI1-P18 provavelmente não permite ao leitor ter uma
noção real do que é defendido no TF1, o que é causado pela ambiguidade de autoria das
ideias e pela reelaboração de algumas informações contraditórias quanto ao sentido do TF1.
Portanto, o objetivo da resenha em apresentar um TF não se efetiva na RI1-18. O mesmo
Esse projeto permite que o aluno se organize e tenha em mente o que deve
priorizar, como: título, objetivo, justificativa, metodologia, produto final, fontes de
consulta e cronograma, por exemplo. Com o projeto já montado, busca-se o
conteúdo da pesquisa, através de enciclopédias, internet, CD-ROM, em biografias,
etc. (l 13-17).
19
RÚBIO, C. F. DELTA, São Paulo, EDUC, v. 22, n. 1. p. 223-225, 2006. Resenha de: SCHERRE, Maria
Marta Pereira. 2005. Doa-se Lindos Filhotes de Poodle: Variação Linguística, Mídia e Preconceito. São
Paulo: Parábola Editorial
RES:
RI2-P16:
Quando questionados sobre o porquê de não escreverem, alunos e até mesmo adultos
l1
norte-americanos respondem: “Eu não sou Shakespeare. Eu não sou Heminglelay”. Parece que é
a partir dessa resposta que Charles Bazerman lança uma interessante discussão acerca de
“Gênero, agência e escrita’, nome que recebe o livro. E é em meio a essa discussão que
Bazerman propõe novas formas, tanto de ensinar quanto de aprender, aprender a ler, a escrever e
l5
diria mais, o autor propõe que aprendamos a ser autênticos no momento da escrita, que nos
permitamos ter esta “ousadia”.
Primeiramente, Bazerman diz que “a distância entre a escrita estudantil e o que lêem
obscurece a agência do aluno”, isto é, lêem textos tão autoritários, tão além do seu nível de
escrita, que isso os inibe a se portar como verdadeiros agentes no momento em que escrevem. E
l 10
a culpa disso estaria na tradição, que elege sempre um ou alguns como o(s) melhor(es)
escritor(es), melhor(es) texto(s). Enfim, tradição que coloca o melhor como padrão, ocupando,
portanto, um verdadeiro pedestal, e deixando assim os demais como sendo à parte, apenas como
os demais. E é esse distanciamento que a tradição impõe de geração em geração que, segundo
Bazerman, dificulta a agência.
l 15
Na obra, por exemplo, discute-se o fato de como o aluno tem aprendido a escrever e a
ler, de como tem sido esse primeiro contato do aluno com a escrita e a leitura.
Preponderantemente, na escola, não se tem uma liberdade de escrita ou de leitura, lê-se ou
escreve-se pura e simplesmente por obrigação, para agradar a um superior, ou ainda, pior, para
ser avaliado e obter-se, no fim, uma nota. É dessa metodologia antiquada que parte todo o
l 20
problema e que os alunos, portanto, são tão cedo abdicados da maravilha que é se tornar um
escritor agente no meio social em que vive.
Daí vem uma proposta de Charles Bazerman para os professores. O aluno, ao ler, ao
escrever, precisa de autenticidade, de liberdade, liberdade para discordar, para concordar,
liberdade para acrescentar opiniões novas, enfim, liberdade para se portar como verdadeiro
l 25
agente, engajado no seu meio social Só assim, obter-se-á um resultado eficaz no ensino.
Logicamente, isso não quer dizer que o aluno tem que ler e escrever somente o que gosta, mas
que pelo menos ele tenha a chance de desenvolver o senso crítico, não apenas concordar com
tudo o que lhe diz o mestre e ser inibido até mesmo de errar [sic], com receio dos que corrigirão.
Enfim, concluindo com as brilhantes palavras de Bazerman: “Evidentemente, é dentro
l 30
dos alunos que o processo de aprendizagem acontece, mas é dentro do professor, o qual se
posiciona na conjunção de forças acima e abaixo e ao lado, que as situações de aprendizagem
são estruturadas” (p. 56). Está, portanto, na sala de aula e, especificamente, nas mãos do
professor, o caminho para se formar agentes verdadeiros, escritores autênticos e conhecedores de
que o gênero é contexto, é social E, humildemente, pedindo licença ao ilustríssimo Charles
l 35
Bazerman, colocaria um adendo no título da tradução: Gênero, Agência e Escrita, quebrando
paradigmas”; leia e verá.
A retomada é a estratégia mais empregada nas resenhas iniciais, o que pode ser
explicado pela inexperiência dos participantes com a produção de resenhas e com a leitura
realizada para fins de comprovação em um gênero escrito. Nas produções de domínio
satisfatório, a retomada introduz ou justifica o ponto de vista, combinada com a avaliação,
ou desenvolve o pensamento do TF, combinada com outras estratégias. É comum também a
ocorrência da retomada em conjunto com a avaliação nas produções de domínio parcial
Segue um exemplo da estratégia de retomada em produções de domínio satisfatório:
Na segunda parte do livro, o assunto passa a ser mais importante por tratar sobre a
questão da metodologia de ensino gramatical. De maneira que ele propõe a forma
como o conteúdo deve ser passado aos alunos e não admite a utilização dos
“macetes”. (RI1-P11).
Para Bazerman, “Gêneros não são apenas formas. Gêneros são formas de vida,
modos de ser. São os lugares familiares para onde nos dirigimos para criar ações
comunicativas inteligíveis uns com os outros e são os modelos que utilizamos para
explorar o não-familiar”. Conceito que mostra que a escrita não é apenas para fins
de escolarização, mas sim em todos aspectos da vida, para saber que posição e
atitude são apropriadas para o mundo no qual se está engajado naquele momento.
(RI2-P178).
100%
80%
11
9
8
60%
40%
12
20% 7
3
0% Texto-fonte 1
Domínio insuficiente Domínio parcial Domínio satisfatório Texto-fonte 2
Gráfico 5: íveis de Domínio e Resenhas Iniciais
DOMÍIOS
Domínio satisfatório 10 8 17 18 17
Domínio parcial 4 7 7 14 14
Domínio insuficiente 6 6 11
Expressões
Citação
Gráfico 6: Estratégias0%
Intertextuais Reformulação
20%e íveis 40%
de Domínio 60% 80% 100% Síntese
ESTRATÉGIAS Retomada
As estratégias intertextuais são mais variadas nos textos de domínio satisfatório. Elas
integram os movimentos de descrição e avaliação, seja predominantemente na forma
(princípio de coesão), seja predominantemente no conteúdo (princípio da coerência).
Chamamos de “predominantemente” porque esses princípios se complementam
(MARCUSCHI, 2008).
No domínio parcial as estratégias intertextuais ocorrem em conjunto, mas em um
mesmo movimento retórico: a descrição. Isso é comprovado pelo uso da retomada e da
A Intertextualidade na Produção de Resenha no Ensino Superior 106
Ana Virgínia Lima da Silva
síntese em detrimento da reformulação, contribuindo para que o movimento de descrição
seja sobreposto ao de avaliação.
Nas produções de domínio insuficiente as estratégias ocorrem de maneira estanque,
como já aponta a sua organização retórica.
Neste capítulo, percebemos que a qualidade das produções está intrinsecamente
ligada à organização do conteúdo, constituído pelo diálogo entre o TF e o produtor da
resenha. Tal organização se revela nos movimentos retóricos, através dos quais podemos
identificar as estratégias intertextuais, analisar a relação das estratégias com a argumentação
e, desse modo, analisar também o papel dos modos de construção da intertextualidade para a
função do gênero resenha. Podemos ainda refletir sobre o posicionamento do estudante
como membro da esfera acadêmica e sobre o diálogo que ele estabelece com os demais
membros desta esfera, quase sempre numa relação assimétrica. Isso fornece bases para
visualizarmos de modo mais profundo o contexto de ensino-aprendizagem do gênero
resenha na universidade, em que uma visão integrada da intertextualidade e da construção
do ponto de vista no gênero resenha podem contribuir para o desenvolvimento do estudante
como membro ativo na esfera acadêmica.
Considerando o nível de domínio do gênero inicialmente apresentado nas produções,
a identificação e análise da intertextualidade se encontram no próximo capítulo, com base na
organização retórica das resenhas finais do TF1 e do TF2, reescritas a partir das resenhas
iniciais desses textos.
CATEGORIAS DE AÁLISE
14; 28%
IM
25; 50% SM
AM
11; 22%
IM1-P03:
BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. São Paulo: Edições Loyola, 1998.
IM2-P05:
Eu acho que a citação pode te ajudar a desenvolver. Por exemplo: Você faz a
citação, você tem que comprovar. Talvez a citação possa te ajudar um pouco. (EN-
P05)
Quando eu quero colocar a ideia do texto e não sei como parafrasear eu acho que a
citação delimita melhor (EN-P05 – Anexo 7).
AVALIAÇÃO
DESCRIÇÃO
AVALIAÇÃO GERAL
AVALIAÇÃO DE PARTES
DESCRIÇÃO
Como ocorre nas resenhas apresentadas nessa seção, a reformulação e a síntese são
as estratégias mais comuns dentre as produções da categoria integração de movimentos. Elas
introduzem, justificam uma opinião, avaliam o TF enquanto o descrevem, no caso da
reformulação ou reafirmam o mesmo, no caso da síntese. As estratégias mencionadas
ocorrem quando o produtor seleciona as ideias centrais do texto resenhado e reconstrói essas
ideias, demonstrando compreensão e envolvimento com o TF. A reformulação e a síntese
exigem um trabalho cognitivo mais complexo, como dissemos no capítulo três. Portanto, é
de esperar que essas estratégias sejam empregadas em resenhas caracterizadas pela
articulação entre o pensamento do autor do TF e do produtor, articulação que depende do
uso adequado de mecanismos enunciativos e de textualização, tendo em vista os parâmetros
específicos para a ação comunicativa.
A retomada e a citação, por sua vez, são menos empregadas nas resenhas
organizadas por integração de movimentos. É interessante observar que nessas resenhas,
além de ilustrar uma opinião, a retomada descreve e reafirma o TF. Já a citação, bem como
as expressões, assegura a veracidade do conteúdo descrito em sínteses.
O Gráfico 9 demonstra a quantidade de resenhas da categoria integração de
movimentos que apresenta cada uma das estratégias intertextuais:
20
QUATIDADE
16
15
15
10
7
5
Reformulação
Síntese
0 Citação
ESTRATÉGIAS Retomada
Expressões
Gráfico 9: Estratégias Intertextuais – Integração de Movimentos
4.1.1.1. Retomada
A síntese, nesse caso, desenvolve a opinião “Cada item é explorado com detalhes”.
Essa estratégia pode, ainda, servir para desenvolver o conteúdo expresso em uma
reformulação, através da qual o produtor avalia o TF, como no exemplo a seguir:
4.1.1.3. Reformulação
Eu tinha um receio quando fiz as resenhas, achei que tinha de ser mais objetivo.
Eu não sabia que eu podia ir mais além, argumentar mais, manifestar um ponto de
vista explícito mesmo. (IM-P05).
O produtor defende que a abordagem do TF2 confere ao “gênero” “um caráter menos
formal”. Ele classifica a abordagem como “sistemática” e a critica, classificando-a de
“repetitiva”. Mesmo criticando, o trecho revela em “a necessidade de se abordar o gênero”
que o produtor considera necessário o enfoque dado ao “gênero” no TF2. Há, portanto, uma
estreita articulação entre a descrição e a opinião, de maneira que ambas são inseparáveis no
trecho da IM2-P03, contribuindo assim para que o produtor atue por meio da sua escrita na
esfera acadêmica.
4.1.1.4. Citação
A citação serve para ilustrar uma ideia do texto original, geralmente apresentada em
uma síntese, a exemplo do trecho:
O contraste entre “as atitudes dos gramáticos tradicionalistas” e “as dos linguistas” é
comprovado nas citações do TF2 que explicitam esse contraste. Nas resenhas organizadas
A Intertextualidade na Produção de Resenha no Ensino Superior 126
Ana Virgínia Lima da Silva
pela integração de movimentos, as citações também desenvolvem a opinião do TF, como
vemos a seguir:
4.1.1.5. Expressões
Durante todo o livro, o autor reitera o seu ponto de vista, exaltando mais um vez o
que ele mesmo chama de caráter “sociopsicológico” do gênero em detrimento da
estrutura formal que o compõe. (IM2-P07)
No trecho apresentado é destacado um termo que, pode ser novo para o produtor
(estudante do terceiro período, na época da coleta de dados) ou pode também ser
reconhecido por ele como um conceito-chave do TF2.
Nas produções cujos movimentos retóricos são integrados, predomina o emprego de
estratégias intertextuais relacionadas, principalmente, ao ponto de vista do produtor que
revela nessas estratégias uma posição ativa como membro da esfera acadêmica.
SM1-P11:
A introdução “Pesquisa na escola”, de Marcos Bagno, tem como objetivo sugerir uma
l1
série de ideias para transformar a pesquisa em acervo de conhecimento e aprendizagem.
Na primeira parte, logo nas primeiras páginas, o autor diz ao leitor que sua obra é
resultado de muito cansaço e indignação, devido ao estresse gerado em sua filha, Júlia, com os
trabalhos de pesquisa solicitados pelos professores na escola. Com isso, Bagno sugere como
l5
deveria ser abordado a pesquisa na escola. Segundo o autor, a pesquisa é a base para qualquer
ciência, por isso ela deve ser tratada nas escolas com cuidado e precisão. Para desenvolver uma
pesquisa, é necessário elaborar um projeto que tenha como itens: título, objetivo, justificativa,
metodologia, fontes de consulta e cronograma. Caso falte algum desses itens a pesquisa torna-se
incompleta. Por exemplo, o produto final de um trabalho é primordial para transmitir
l 10
conhecimentos. Se o professor elaborar uma aula expositiva sobre o tema da pesquisa para que
os alunos possam trocar informações e montar um mural para mostrar os trabalhos a toda escola,
a pesquisa será divulgada e o conhecimento não se restringirá ao professor e ao aluno. Outro
elemento que contribui para a pesquisa é o questionário, o qual induz os alunos a pesquisarem
mais para responder o máximo de perguntas. Fazer um fichamento de dados coletados e,
l 15
posteriormente, uma síntese, também ajuda o aluno a organizar-se durante a realização da
pesquisa. Em resumo, para o professor elaborar uma pesquisa é preciso, como o autor diz
“ensinar a aprender, então, é não apenas mostrar os caminhos, mas também ‘orientar’ o aluno
para que ele desenvolva um olhar critico que lhe permita desviar-se das ‘bombas’ e reconhecer,
em meio ao labrinto, as trilhas que conduzem às verdadeiras fontes de informação e
l 20
conhecimento” (p. 15).
Na segunda parte, Marcos Bagno trata de uma pesquisa específica, a pesquisa m língua
portuguesa. Ele mostra a oposição entre linguistas e gramáticos tradicionais no estudo da língua.
Assim, apresenta como o ensino didático poderia melhorar nas escolas de gramática tradicional
estudando a linguagem.
l 25
Ao final, são apresentadas informações sobre a vida de Monteiro Lobato em diversas
fontes. Sendo assim, fica aberto para o leitor refletir que, ao realizar uma pesquisa completa, faz-
se necessário ter contato com diferentes fontes, pois cada uma delas terá algo diferente que fará
acrescentar o conhecimento.
Ao terminar de ler a obra de Bagno, o professor compreenderá que o papel mais
l 30
importante do professor, como também diz Bazerman, é ser um orientador e ensinar a aprender.
Com isso, o professor pode vir a descobrir qual é a sua missão em sala de aula, além de passar
regras e conhecimentos acadêmicos.
O produtor declara, em outras palavras, que não consegue textualizar sua opinião, o
que é apontado também por outros exemplos constituídos pela separação de movimentos em
que há uma tentativa de explicitar um ponto de vista. A dificuldade dos estudantes em
apresentar um ponto de vista justifica a necessidade de que o ensino-aprendizagem de
resenha focalize as estratégias intertextuais em relação ao posicionamento sobre o TF, de
maneira a contribuir para a função desse gênero.
Na resenha SM1-P11 o movimento de apresentação começa pela síntese, em que é
expresso o objetivo do TF1, o que pode facilitar para o leitor a leitura da resenha e a
compreensão do assunto abordado no TF1. O movimento de descrição, por sua vez, é
introduzido pela retomada do primeiro parágrafo do TF1, conforme o quadro:
O produtor apaga o “Não”, substitui a forma verbal “podemos” de (1a) por “deve
ser”, em (1b), reforçando a ideia defendida no TF1. Ao “menosprezo” (2a) mencionado no
TF1 o produtor opõe o “cuidado” (2b) e ao “pouco caso” (2a) ele opõe a “precisão”. Após a
retomada (l 7-17), são apresentadas informações elaboradas a partir de sínteses. A autoria
do TF1 não é indicada e, assim, há uma justaposição de ideias que, embora contemple
diferentes momentos do TF1, não interliga esses momentos. Além disso, a citação (18-21) a
partir da qual o produtor busca resumir a primeira parte do livro é insuficiente em relação ao
conteúdo anteriormente descrito.
A descrição sobre a segunda parte e sobre o final do livro (l 22-25) é constituída
também por sínteses. Na resenha final SM1-P11, há um número maior de informações do
TF1 do que na versão inicial (Anexo 5). Porém, dada a ausência de mecanismos de inserção
de vozes em alguns momentos da resenha final, essas informações tornam-se confusas para
o leitor que não conhece o TF1.
O movimento de avaliação final é parcialmente mantido como na primeira versão da
resenha. Ele é constituído pela síntese (l 26-27), cujo conteúdo é explicado pelo produtor a
partir de uma inferência gerada com base na leitura do TF1. O produtor torna a ideia do TF1
própria. A síntese mencionada possui estrutura de avaliação devido à presença do
comentário “fica aberto para o leitor refletir”, mas, na verdade, essa síntese apenas descreve
o TF1. Como uma pretensa avaliação, a ideia expressa na síntese não pode ser comprovada
na resenha.
A síntese ocorre também no parágrafo final que encerra a SM1-P11, como tentativa
de avaliação que, mais uma vez, é limitada ao conteúdo do TF1.
No exemplo analisado, a retomada e a síntese são as estratégias predominantes e
revelam a dificuldade tanto de descrever quanto de apresentar um ponto de vista de maneira
mais autônoma em relação ao TF1.
A SM1-P11 possui estrutura composicional e linguagem de resenha, mas sua função
se aproxima mais do gênero resumo do que do gênero resenha, pois os conteúdos que
Função de resumo
resumo no formato de
resenha
resenha
SM2-P22:
O trecho (1b) reproduz (1a), ao passo que (2b) acrescenta um novo significado ao
sentido do texto original, pois transforma a modalização “pode” (2a) em uma expressão
categórica no contexto do SM2-P22: “essencial”. Tal transformação indica envolvimento do
produtor com o conteúdo do TF2. Já o trecho (3b) resume (3a). O TF2 é retomado com
indicação de autoria, ao contrário da síntese (l 4-7) que aparece após a retomada, em que a
10 9
8
8
6 5
4
2 Síntese
Retomada
0 Reformulação
ESTRATÉGIAS Citação
Expressões
Em primeiro lugar, “alunos” (1a) é substituído por “produtor do texto” (1b); o verbo
“podem” (1b) é substituído por “deve” (1a), tornando a ideia do TF2 categórica. A ideia de
identificação das “questões que desejam investigar”, presente no texto original, é substituída
pelo “tópico que está a tratar”; além de “investigar” ser substituída por “informar”, verbo
que pode ter sido influenciado pela expressão “visões informadas” (1a). Interessante
perceber que o participante interpreta a ideia do autor do texto original e acrescenta o
comentário “de forma a fazê-lo bem”, o que é, por um lado, positivo, pois retoma um
assunto abordado no TF2 e demonstra compreensão. Por outro lado, a interpretação consiste
em uma ambiguidade de autoria das ideias, pois ela possibilita o entendimento que o autor
do TF2, no momento em que defende a ideia apresentada em (1a), argumenta que ela é
importante para escrever “bem”, o que não ocorre.
Nesta obra o autor aborda um dos grandes problemas da educação no país: a falta
de preparo dos professores em orientar os seus alunos na busca do conhecimento
científico. (SM1-P25).
4.1.2.3. Reformulação
Bagno mostra neste livro, de uma maneira clara, simples e direta, a importância
real de uma pesquisa, que muito mais que receber pontos e ser avaliado, o aluno
irá adquirir mais conhecimento com relação ao tema estudado e poderá, também,
passar isso adiante. Bagno mostra que pesquisa não é só dentro da sala de aula,
mas para toda a vida do estudante. (SM1-P18).
4.1.2.4. Citação
4.1.2.5. Expressões
Bagno faz um paralelo sobre duas posturas que podem ser adotadas pelo professor
ao pedir a seus alunos que façam uma pesquisa: uma postura, segundo ele, “ruim”
(em que o professor apenas pede uma pesquisa sobre o tema X e marca uma data
de entrega Y) e uma postura “ideal” (na qual o professor, em linhas gerais, tem a
tarefa de orientar ativamente métodos para a pesquisa). (SM1-P26).
Nesse caso, as expressões estão no interior de uma síntese. Elas destacam ideias do
TF1 e podem marcar o distanciamento do produtor. As expressões são empregadas também
no interior da retomada, como no trecho:
AM2-P19:
DESCRIÇÃO AVALIAÇÃO
DE PARTES
AVALIAÇÃO
GERAL
7
5 5
5
1 Síntese
Retomada
-1 Reformulação
ESTRATÉGIAS Citação
Expressões
Gráfico 13: Estratégias Intertextuais – Alternância de Movimentos
A retomada está ligada à opinião que lhe antecede, servindo como suporte para essa
opinião. O trecho sublinhado da resenha retoma o TF2. A ideia de “leitura interessante”,
apresentada pelo TF2, é substituída pela ideia de “sentir-se motivado”, apresentado na
resenha. Além disso, a “relação entre as ideias apresentadas e os pensamentos e vivências
dos leitores” (1b) se refere à “conexão entre o texto e alguma tarefa em que estão engajados
ou entre o texto e algum assunto sobre o qual estão pensando no momento” (1b).
4.1.3.2. Síntese
O livro inicia-se com a discussão a respeito dos gêneros, focalizando sua discussão
central no modo como esses gêneros são selecionados e na reflexão a respeito do
interesse do aluno pelo aluno frente a essa seleção. O autor propõe que o
verdadeiro interesse pela leitura inicia-se no interesse pelo próprio tema ou, de
uma maneira mais geral, pelo gênero selecionado. (AM2-P14).
4.1.3.3. Reformulação
Após essa introdução. Bazerman apresenta nos próximos capítulos da obra temas
relacionados aos trabalhos de leitura, compreensão e escrita e propõe reflexões
bastante interessantes em alguns desses capítulos. Digo alguns pois, apesar de cada
capítulo oferecer sua parcela de contribuição ao livro como um todo, muitas vezes
deixa que o “fio da meada” seja perdido por “rodeios’ em demasia. (AM2-P14).
A citação tem por objetivo destacar algum conceito do TF2 e é relacionada à síntese
nas resenhas em que há alternância de movimentos retóricos, como nesse exemplo:
No outro exemplo a seguir, a citação apresenta uma ideia que é própria do TF2 e,
desse modo, provavelmente difícil de ser reelaborada.
Sua abordagem critica a pedagogia do ensino formal dos gêneros, a qual não
considera a importância desse elemento para dar “forma a nossas ações e
intenções”. (p.10) (AM2-P13).
4.1.3.5. Expressões
Tudo isso demonstra que, em uma pesquisa feita assim, não se tem a evidência do
“fantasma de Procusto”, exposto na segunda parte do livro. (AM2-P20).
O autor estrutura suas ideias em nove capítulos, além de uma relevante introdução
a respeito do “estudante como agente”. (AM2-P13).
Com base nesse quadro, percebemos que as estratégias intertextuais empregadas nas
resenhas organizadas pela integração de movimentos e nas resenhas organizadas pela
alternância de movimentos contribuem para a argumentação, ao contrário das resenhas
organizadas pela separação de movimentos. Não queremos dizer que as estratégias
intertextuais em si fazem com que as produções funcionem como resenha, mas sim a
efetivação, nessas produções, do objetivo do produtor, objetivo esse que é reconhecido
através das ações reveladas nas estratégias intertextuais.
O autor ilustra seu raciocínio por meio de uma pesquisa biográfica sobre
Monteiro Lobato. De forma simplificada, ainda é esclarecido o que fazer com o
produto final, como trabalhar as fontes (citações e bibliografias) e a necessidade de
um cronograma realista que preze mais pela qualidade do que pela quantidade.
(IM1-P07)
Esse trecho consiste em uma síntese. No emprego da forma verbal “ilustra” está
implícita uma avaliação positiva do TF1. O mesmo ocorre com o emprego de “esclarecido”,
que indica uma apresentação clara pelo TF1 do conteúdo descrito no trecho. É importante
ressaltar que o emprego do substantivo “necessidade” também revela um posicionamento do
produtor, que demonstra concordar com o texto resenhado.
Quanto aos mecanismos enunciativos, eles remetem tanto ao autor quanto à obra.
Esses mecanismos são responsáveis, ainda, por delimitar a descrição e a avaliação,
contribuindo para a coerência da resenha, a exemplo do trecho em que predomina a síntese:
Os primeiros capítulos são, de fato, uma discussão a respeito da sala de aula; mas,
a partir do capítulo cinco, os temas abordados se tornam muito amplos, incluindo a
escrita científica, a escrita tecnológica, questões metodológicas e conceituais do
fenômeno da intertextualidade. (IM2-P02).
O conector “mas” opõe a avaliação dos primeiros capítulos do TF2 aos últimos
capítulos do mesmo, configurando uma crítica.
O emprego das operações de linguagem nas produções da categoria integração de
movimentos revela a capacidade de textualizar os objetivos do gênero produzido (descrever
e avaliar). Tal capacidade propicia aos indivíduos agir por meio da sua escrita na esfera
acadêmica.
Bagno mostra neste livro, de uma maneira clara, simples e direta, a importância
real de uma pesquisa, que muito mais que receber pontos e ser avaliado, o aluno
irá adquirir mais conhecimento em relação ao tema estudado e poderá também
passar isso adiante. Bagno mostra que a pesquisa não é só dentro da sala de aula,
mas para toda a vida do estudante. (SM1-P18).
Bagno sugere maneiras de usar o produto final, um texto. Poderia ele ser colocado
no jornal da escola, ou usado numa palestra, por exemplo.
O autor adverte quanto à necessidade de se evitar o preconceito e a intolerância
para com o diferente. (SM1-P09).
O emprego da forma verbal “sugere” marca o distanciamento do TF1, uma vez que a
ação de “sugerir” é atribuída totalmente ao autor desse texto. Diferentemente, o emprego de
“adverte”, juntamente com o substantivo “necessidade”, reafirma o pensamento do autor do
TF1.
Em relação aos mecanismos enunciativos, eles sinalizam a autoria das ideias.
Todavia, em algumas das produções dessa categoria, há ideias que são justapostas ao
conteúdo descrito, sem indicação de autoria. Mesmo que o leitor possa inferir que a autoria
se refere ao TF, a ausência de mecanismos enunciativos prejudica a coesão e a coerência
textual, a exemplo do seguinte trecho, constituído por uma síntese e por uma retomada:
O livro de Charles Bazerman é uma boa indicação para professores e alunos que
desejam aprender ou aperfeiçoar a escrita de textos. [O livro] Também é
interessante para os professores tradicionais que querem mudar sua forma de
passar as disciplinas, pois o autor traz sugestões para um ensino moderno. (SM2-
P09).
Os pontos abordados por ele são minuciosamente explicados, de forma que não há
margem para dúvidas na execução de suas propostas. Além disso, seus
argumentos são pautados em exemplos práticos e cotidianos, o que tende a
provocar no leitor uma fácil aceitação ao que é questionado ou proposto no livro.
(AM1-21)
O conector “Além disso” reforça a avaliação positiva do TF1. Vale destacar nesse
trecho a presença do advérbio de modo “minuciosamente” e dos adjetivos “práticos e
cotidianos”, recorrentes nos movimentos de avaliação. A adjetivação é recorrente também
no movimento de descrição, em que fica implícita a concordância com TF, a exemplo do
trecho:
Indignado com as pesquisas escolares de sua filha (...) denuncia que, muitas vezes,
a pesquisa funciona para livrar o professor de ensinar uma matéria, ou como
simples instrumento de avaliação. (AM1-P10)
COSIDERAÇÕES FIAIS
BEAUGRANDE, R. de. ew Foundations for a Science of Text and Discourse: Cogniton,
Comunication and Freedom of Acesss to Knowledge and Society. Norwood, Nova Jersey:
Ablex Publishing Corporation, 1997. p. 1-20; 180-294.
CARVALHO, G. Gênero como ação social em Miller e Bazerman: o conceito, uma sugestão
metodológica e um exemplo de aplicação. In: MEURER, J. L. et al; (Orgs.). Gêneros:
teorias, métodos, debates. São Paulo: Parábola, 2005. p. 130-149.
KLEIMAN, A. Texto & leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas, SP: Pontes, 2002.
MOTTA- ROTH, D. A construção social do gênero resenha acadêmica. In: ______ &
MEURER, J. L. (Orgs.) Gêneros textuais e práticas discursivas: subsídios para o ensino da
linguagem. Bauru, SP: EDUSC, 2002. p. 77-116.
PLATÃO, F. S. & FIORIN, J. L. Resumo. In: Para entender o texto: leitura e redação. São
Paulo: Ática, 2000.
Responda com fidelidade as perguntas abaixo. As respostas desse questionário servirão apenas
como dados para uma pesquisa sobre a produção textual na universidade. Não é necessário se identificar.
• 1º encontro
( 25 / 03 /2008 – Tópicos em LA; 27/03/2008 – IEL) – aprox. 90':
Momento I:
a) Conteúdo: Produção textual
b) Objetivos (para o aluno):
Produzir uma resenha a partir de conhecimentos prévios sobre o gênero;
Reconhecer-se como membro da comunidade acadêmica, de quem são
exigidas atividades específicas para a inserção efetiva nessa comunidade,
como a produção textual;
Na resenha, espera-se que o aluno apresente resumidamente o livro A
pesquisa na sala de aula (Marcos Bagno), bem como o seu conteúdo;
Na resenha, espera-se também que o aluno tente analisar o livro,
destacando seus aspectos positivos e/ou negativos.
c) Objetivos (para a pesquisa):
Verificar, por meio da resenha-diagnóstico produzida, qual a representação
que os alunos têm desse gênero;
Analisar os aspectos predominantemente positivos e negativos nas
resenhas produzidas, de forma a orientar o planejamento.
d) Procedimento:
Distribuição da proposta de produção de uma resenha do livro A pesquisa
na sala de aula, de Marcos Bagno.
e) Bibliografia
Para a produção da resenha:
BAGNO, Marcos. Pesquisa na escola: o que é, como se faz. São Paulo:
Loyola, 1998.
Para a coleta de dados:
MACHADO, A. R. Os textos de alunos como índices para avaliação das
capacidades de linguagem. In: MARI, H. et alli. Análise do Discurso em
perspectivas. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2003. p. 215-229.
________________; LOUSADA, E. & ABREU-TARDELLI, L. S.
Resenha. Coleção Leitura e produção de textos acadêmicos. v. 2. São
Paulo: Párábola Editorial, 2004.
SWALES, J. Genre analysis. New York: Cambridge University Press,
1990.
Momento II:
a) Conteúdo: Avaliação
b) Objetivos (para o aluno):
Espera-se que o aluno avalie a produção do colega, observando aspectos
que podem contribuir para a melhoria do seu texto;
Espera-se que o aluno assuma um olhar crítico sobre a produção da
resenha, por meio da avaliação do texto do colega;
Espera-se, ainda, que o aluno perceba que a avaliação é uma prática
necessária para o desenvolvimento da escrita de resenhas.
c) Objetivos (para a pesquisa):
Constatar o que os alunos pensam e sabem sobre o gênero resenha;
Verificar se os alunos conseguem perceber, no texto do colega, possíveis
problemas quanto à construção de relações intertextuais;
Constatar quais aspectos os alunos priorizam na avaliação e quais aspectos
eles não conseguem perceber, obtendo assim informações úteis para o
planejamento.
d) Procedimentos:
À medida que os alunos terminarem as produções das resenhas, solicitação
para que eles troquem seus textos e avaliem (aleatoriamente) o texto do
outro;
Recolhida dos textos.
e) Bibliografia
Para avaliação das resenhas:
EVANGELISTA et alli. Professor-leitor, aluno-autor: reflexões sobre
avaliação do texto escolar. Intermédio: cadernos CEALE. v. III, ano II.
Belo Horizonte: CEALE/ Formato, out. 1998.
Para análise dos dados
KOCH, I. V. et alli. Intertextualidade: Diálogos Possíveis. São Paulo:
Cortez, 2007.
MACHADO, A. R. Os textos de alunos como índices para avaliação das
capacidades de linguagem. In: MARI, H. et alli. Análise do Discurso em
perspectivas. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2003. p. 215-229.
________________; LOUSADA, E. & ABREU-TARDELLI, L. S.
Resenha. Coleção Leitura e produção de textos acadêmicos. v. 2. São Paulo:
Párábola Editorial, 2004.
• 2º encontro (08/04/2008):
Momento I (aprox. 90'):
a) Conteúdo: Estudo do gênero resenha
b) Objetivos (para o aluno):
Apresentar um levantamento das características principais do gênero
resenha;
Perceber o objetivo do gênero resenha, através da discussão sobre as
condições de produção, os movimentos retóricos e as principais
características lingüístico-discursivas desse gênero;
Reconhecer a funcionalidade da resenha, bem como as marcas formais
típicas no gênero que contribuem para essa funcionalidade;
Saber que a produção de resenhas exige uma leitura atenta e crítica do
texto-base.
c) Objetivos (para a pesquisa):
Instrumentalizar os alunos para a produção de resenhas, através de um
processo de ensino-aprendizagem interativo.
d) Procedimentos:
Apresentação (digitado e em slide) de uma resenha, dentre as produzidas
em sala, que atenda aos princípios norteadores desse gênero, apresente
uma argumentação mais detalhada em relação às resenhas dos colegas,
mas que apresenta problemas quanto à seleção e construção de
informações e à consistência argumentativa, preservando a identidade do
autor;
Questões acerca do texto:
- Qual o objetivo do gênero resenha?
- O resenhador atendeu ao objetivo do gênero? Que sinais há no texto que
indicam que ele atendeu ou não atendeu ao objetivo?
- O texto contém todas as partes que são necessárias em uma resenha? Se
não contém, isso interfere para que ele seja considerado uma resenha?
- Caso alguém que não conhece o livro de Bagno leia esse texto, as
informações apresentadas ajudam a saber o que realmente Bagno defende
em seu livro, o assunto que ele aborda e como aborda?
- O resenhador avalia suficientemente o livro? Ele faz avaliações gerais
e/ou localizadas?
- O texto convence a você, leitor, sobre o que é nele defendido?
- Que elementos morfológicos e sintáticos são mais recorrentes nesse
texto? Qual o papel desses elementos para o gênero resenha?
- Posso considerar esse texto uma resenha? Por quê?
OBS: A ordem das questões se dará de acordo com o enfoque que será
dado em cada um dos exemplos.
Apresentação (em slide e digitado) de uma resenha que apresenta alguns
princípios norteadores desse gênero, mas que possui uma argumentação
insuficiente para o gênero;
OBS: Questões como no texto anterior.
Apresentação (em slide e digitado) de um texto pouco adequado ao gênero,
em que o autor apenas avalia o texto-fonte e não delimita claramente a voz
dele e a do autor desse texto;
OBS: Questões como no texto anterior.
e) Bibliografia
Para avaliação conjunta das resenhas:
EVANGELISTA et alli. Professor-leitor, aluno-autor: reflexões sobre
avaliação do texto escolar. Intermédio: cadernos CEALE. v. III, ano II.
Belo Horizonte: CEALE/ Formato, out. 1998.
MACHADO, A. R. Os textos de alunos como índices para avaliação das
capacidades de linguagem. In: MARI, H. et alli. Análise do Discurso em
perspectivas. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2003. p. 215-229.
________________; LOUSADA, E. & ABREU-TARDELLI, L. S.
Resenha. Coleção Leitura e produção de textos acadêmicos. v. 2. São Paulo:
Párábola Editorial, 2004.
MOTTA-ROTH, D. Redação acadêmica: princípios básicos. Santa Maria,
RS: UFSM/ Imprensa Universitária, 2001.
Para casa:
a) Conteúdo: Reescrita e Auto-avaliação
b) Objetivos (para o aluno):
Utilizar os conhecimentos sobre o gênero e sobre a intertextualidade;
Desenvolver a capacidade de produzir resenhas a partir da reescrita.
c) Objetivos (para a pesquisa):
Analisar os possíveis efeitos do processo de ensino-aprendizagem da
resenha para a proficiência do aluno nesse gênero, mais particularmente os
efeitos quanto à construção de relações intertextuais.
d) Procedimentos:
Distribuição da proposta de reescrita do livro Pesquisa na escola: o que é,
como se faz, de Marcos Bagno, juntamente com a primeira versão do texto
dos alunos.
e) Bibliografia
EVANGELISTA et alli. Professor-leitor, aluno-autor: reflexões sobre
avaliação do texto escolar. Intermédio: cadernos CEALE. v. III, ano II. Belo
Horizonte: CEALE/ Formato, out. 1998.
MACHADO, A. R. Os textos de alunos como índices para avaliação das
capacidades de linguagem. In: MARI, H. et alli. Análise do Discurso em
perspectivas. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2003. p. 215-229.
________________; LOUSADA, E. & ABREU-TARDELLI, L. S. Resenha.
Coleção Leitura e produção de textos acadêmicos. v. 2. São Paulo: Párábola
Editorial, 2004.
KOCH, I. BENTES, A. C. & CAVALCANTE, M. M. Intertextualidade:
Diálogos Possíveis. São Paulo: Cortez, 2007.
RUIZ, E. Como se corrige redação na Escola. Campinas-SP: Mercado de
Letras, 2001.
SAUTCHUK, I. A produção dialógica do texto escrito: um diálogo entre
escritor e leitor interno. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
OBS: Ao final do semestre, foi realizado um retorno geral com os resultados parciais da
análise nas duas turmas investigadas.
AEXO 4:
Atividades Realizadas durante a Sequência Didática
Faculdade de Letras
Disciplina: Introdução aos Estudos da Linguagem
Estudo Dirigido
4) Em tópicos, especifique a estrutura dos textos, relacionando cada tópico a um objetivo para a construção do texto.
T 1:
ESTRUTURA OBJETIVO T 2:
ESTRUTURA OBJETIVO
5) Responda: as idéias apresentadas nos trechos abaixo pertencem aos autores dos textos e/ou aos autores dos
livros a que eles se referem? Justifique.
a) “Através de uma linguagem objetiva, a autora discute a necessidade de se estabelecer um tratamento escolar
mais científico às atividades de linguagem, especialmente às atividades relacionadas à gramática da Língua
Portuguesa.” (TEXTO 1, linha 4-6)
b) “ (...) a fim de opor-se à desmedida aversão da mídia às formas não-gramaticais – aqui no sentido normativo do
vocábulo – faz-se necessário apresentar os inúmeros exemplos de variação no uso das construções com a partícula
se, inclusive em comunicação escrita monitorada.” (TEXTO 2, linha 36-39)
c) “A mídia expõe um paradigma bilateral entre linguagem padrão e linguagem coloquial, atribuindo à última, rótulos
de pobreza, simplicidade e mesmo de incoerência, revelando uma confusão entre língua e gramática normativa,
entre língua falada e língua escrita.” (TEXTO 2, linha 22-24)
6) Os termos e expressões a seguir influenciam no sentido das idéias que no trecho que são expressas? Justifique.
a) “ (e operacionalizável)” (TEXTO 1, linha 10)
§1 Dentre diversas outras, Que gramática estudar na escola? Norma e uso na Língua Portuguesa é mais
uma contribuição valiosa de Maria Helena de Moura Neves para as áreas de Lingüística, Lingüística Aplicada
e Língua Portuguesa, indicada para aqueles que se ocupam com questões relacionadas ao ensino de língua
materna e, mais especificamente, com o ensino de gramática. Através de uma linguagem objetiva, a autora
discute a necessidade de se estabelecer um tratamento escolar mais científico às atividades de linguagem,
especialmente às atividades relacionadas à gramática da Língua Portuguesa. A reflexão sobre a linguagem e
sobre o uso lingüístico, a partir de uma perspectiva funcional, é o foco do livro.
§2 Além da apresentação, a obra compreende três partes. Na primeira, Introdução, a autora traça um
panorama da natureza do ensino de Língua Portuguesa que as escolas oferecem e defende o
estabelecimento de um tratamento escolar cientificamente embasado (e operacionalizável) da gramática de
língua materna.
§3 Na segunda parte, Gramática, uso e norma, Neves faz uma reflexão sobre a natureza da disciplina
gramatical com a qual temos convivido. Para isso, apresenta uma visão histórica da tradição gramatical do
Ocidente, das origens (com a Téchne Grammatiké, de Dionísio o Trácio) aos nossos dias e discute as
relações entre a dicotomia uso x norma e a disciplina gramatical.
§4 Na terceira parte, Norma, uso e gramática escolar, a autora faz uma avaliação sobre o espaço e a
natureza que o tratamento da linguagem tem nas escolas; discute a necessidade de se relativizar as
dicotomias língua falada x língua escrita, língua-padrão x língua-não-padrão e enfatiza a necessidade de
valorização dos usos lingüísticos, defendendo que a gramática da língua se efetiva no uso, nas situações
interlocutivas, na criação de textos. O ponto de destaque, nessa parte da obra, é que a disciplina gramatical
escolar não pode alhear-se do real funcionamento da linguagem.
§5 Temos, portanto, disponível mais uma importante contribuição para os que desejam ampliar questões
acerca da natureza da disciplina gramatical escolar sob uma nova perspectiva e revisitar, sob tal perspectiva,
'velhas' dicotomias que há muito tempo acompanham a tradição gramatical. Sem dúvida, essa obra é uma
fonte de reflexão sobre como ensinar a língua em uso sob uma perspectiva mais realista e próxima do
cotidiano.
TEXTO 2
§1 Apesar de já se ter avançado muito nos estudos sobre concordância de número no português,
principalmente em sua variedade coloquial, até então, não se havia conseguido reunir em um único volume, o
que há de mais recente sobre o estudo da regra variável de marcação de plural, de forma crítica e
comparativa. Temos agora Doa-se lindos filhotes de poodle: variação lingüística, mídia e preconceito, uma
obra oferecida por uma das mais experientes sociolingüistas do Brasil, a Profa. Maria Marta Pereira Scherre,
atualmente membro do Programa de Estudos sobre o Uso da Língua/UFRJ e pesquisadora associada sênior
da Universidade de Brasília, atuante na áreas de sociolingüística e dialetologia, teoria e análise lingüística e
língua portuguesa.
§2 A obra, uma luta exemplar contra o preconceito lingüístico por parte da mídia brasileira, traz em seus
quatro capítulos, reescritos de textos publicados entre 1993 e 2003, a análise de trabalhos de pesquisa da
autora e de lingüistas brasileiros e europeus, os quais corroboram a concepção de que a concordância de
número no português é um fenômeno variável, mesmo em sua variedade escrita monitorada, o que faz o leitor
repensar sua posição em relação às verdadeiras funções da comunicação e refletir sobre os conceitos de erro
exacerbados pelos gramáticos normativos.
§3 O capítulo 1 nos mostra o preconceito lingüístico da mídia em relação à variedade popular do
português. O que foge ao padrão é considerado equivocado. É-nos evidenciado, porém, que as concepções
de certo e errado podem ser relativizadas se forem considerados outras línguas e contextos. Assim, a leitura
de dados lingüísticos, tema central do capítulo, revela as verdadeiras regras seguidas pelos falantes da língua
portuguesa. A variação é apontada tanto na língua falada quanto na língua escrita. Diversos fatores de
natureza lingüística e extralingüística podem influenciar a aplicação da regra de marcação de plural, o que
pode ser percebido com maior clareza na vasta bibliografia citada ao final do capítulo.
§4 No segundo capítulo, podemos comprovar que o preconceito lingüístico é facilmente perceptível em
renomados jornais e revistas de circulação nacional. A mídia expõe um paradigma bilateral entre linguagem
padrão e linguagem coloquial, atribuindo à última, rótulos de pobreza, simplicidade e mesmo de incoerência,
revelando uma confusão entre língua e gramática normativa, entre língua falada e língua escrita e, nas
palavras da própria autora, "as deprimentes associações entre língua e inteligência/burrice,
competência/incompetência, beleza/feiúra; sucesso/insucesso", um desserviço que só vem a reforçar "um dos
aspectos mais sórdidos do ser humano: a divisão entre classes e a exclusão social" (p.88 e 89).
§5 Ao revelar os resultados das mais recentes pesquisas realizadas com amostras de fala e de escrita,
tanto do português brasileiro quanto do português europeu, a autora comprova que a variação é inerente a
todas as produções lingüísticas e, assim sendo, fatores de natureza social e/ou lingüística podem influenciar a
variação na concordância de número. Textos extraídos de jornais impressos, ao final do capítulo, permitem ao
leitor refletir sobre a intolerância da mídia, observada contra a linguagem coloquial.
§6 Partindo-se do pressuposto de que a análise da transitividade verbal deve deter a vista em toda a
cadeia sintagmática, e não apenas no elemento verbal isolado, o capítulo 3 explicita e justifica o título da obra,
demonstrando que as construções consideradas passivas sintéticas pela gramática normativa
preferentemente aproximam-se das construções classificadas como ativas de sujeito indeterminado.
Novamente, a fim de opor-se à desmedida aversão da mídia às formas não-gramaticais – aqui no sentido
normativo do vocábulo – faz-se necessário apresentar os inúmeros exemplos de variação no uso das
construções com a partícula se, inclusive em comunicação escrita monitorada. É de fundamental importância,
nesse ponto, a menção às palavras do lingüista americano Noam Chomsky, em consideração à aquisição da
língua materna pela criança e às reais regras seguidas pelos falantes de uma língua.
§7 No último capítulo, encontramos referência às duras críticas feitas aos lingüistas, especialmente, aos
sociolingüistas, por atuarem na defesa das manifestações lingüísticas populares e por considerarem a língua
um instrumento de comunicação vivo e mutante. Ao apontar a variação existente no imperativo e na
concordância de número no português brasileiro, chega-se à conclusão de que o conceito de erro ou pobreza
é extremado em produções lingüísticas que denunciam classe social, como é o caso da aplicação da regra de
marcação de plural do português. Em contrapartida, produções que não denunciam classe social, como a
variação no imperativo, ainda que não se projetem de acordo com as regras normativas, não são, ou são
muito menos estigmatizadas pelos meios de comunicação. Este último capítulo se encerra com uma reflexão
da autêntica concepção de língua materna: aquela adquirida naturalmente, a qual todo indivíduo falante nativo
domina plenamente, diferentemente da variedade normativa, ensinada na escola.
§8 A obra se conclui com um convite a toda a classe de lingüistas e interessados pela língua portuguesa,
para que se conheça a real dimensão do preconceito lingüístico, o qual reside, antes de qualquer coisa, no
preconceito social e na "subjugação do outro". Aos interessados em travar contato de forma aprofundada com
o tema enfocado na obra, uma vasta referência bibliográfica anexa-se ao compêndio.
§9 Doa-se lindos filhotes de poodle: variação lingüística, mídia e preconceito não é apenas uma reunião
de trabalhos de pesquisa sociolingüística sobre variação no português; mais do que isso, é uma obra de
reflexão que, apoiada no conhecimento científico, propõe-se, em primeiro lugar, a refutar as idéias e atitudes
imponderadas, que, infelizmente, perduram nos órgãos de imprensa, fazendo com que o preconceito se
difunda, impedindo a livre manifestação lingüística. Em segundo lugar, o livro procura despertar o
discernimento crítico na sociedade, a fim de minimizar o preconceito social.
Faculdade de Letras
Disciplina: Tópicos em Lingüística Aplicada: parâmetros atuais para o ensino de Língua Portuguesa
Aluno (a): _____________________________________________________
Data: / /2008
Atividade
1) Com base no seu conhecimento sobre o gênero resenha e sua importância, construa um argumento
contrário ou favorável) à seguinte afirmação:
A produção de resenha é uma oportunidade para que os escritores inexperientes [os graduandos]
sejam iniciados no debate acadêmico (MOTTA-ROTH, D. Same genre, different discipline: a genre-based
study of book reviews in academic. The ESPecialist, São Paulo, v. 17 n 2, p. 99-131, 1996. p. 100).
Não se pode dizer que o sentido de um texto já está dado pelos recursos lingüísticos pelos quais esse
texto é construído (BRASIL. Orientações curriculares para o Ensino Médio: linguagens, códigos e suas
tecnológicas. v 1. Brasília: Ministério da Educação/ Secretaria de Educação Básica, 2006.p. 25 )
ARGUMENTO:
Redija um pequeno texto. Seu texto deverá ter, NO MÁXIMO, sete linhas. Nele você deve relacionar a
afirmação ao seu argumento. Não esqueça de mencionar a fonte do seu argumento.
3) Construa dois argumentos (favoráveis e/ou contrários) à afirmação em destaque apresentada abaixo. Você
pode utilizar informações dos três fragmentos retirados de livros diferentes, não esquecendo de mencionar a
fonte dos argumentos.
[...] “os textos, como resultantes da atividade discursiva, estão em constante e contínua relação uns
com os outros, ainda que, em sua linearidade, isso não se explicite. (BRASIL. Parâmetros Curriculares
Nacionais de Língua Portuguesa: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental. Brasília: Ministério da Educação
/ Secretaria de Educação Fundamental, 1998. p. 21)
Fragmentos:
• De um texto “fazem parte outros textos que lhe dão origem, que o predeterminam, com os quais
dialogam, que ele retoma, a que alude ou aos quais se opõe” (KOCH, I. V. BENTES, A. C. &
CAVALCANTE, M. M. Intertextualidade: Diálogos Possíveis. São Paulo: Cortez, 2007. p. 9).
• Nós criamos nossos textos a partir do oceano de textos anteriores que estão à nossa volta e do
oceano de linguagem em que vivemos. E compreendemos os textos dos outros dentro desse mesmo
oceano (...) Algumas vezes as palavras estão tão misturadas e dispersas dentro desse oceano que
não podem mais ser associadas a nenhum tempo, espaço,grupo ou escritor específico. (BAZERMAN,
C. Gênero, Agência e Escrita. HOFFNAGEL, J. C. & DIONÍSIO, A. P. (Orgs.). São Paulo: Cortez, 2006. p.88).
• A intertextualidade compreende as diversas maneiras pelas quais a produção/recepção de um dado
texto depende do conhecimento de outros textos por parte dos interlocutores (KOCH, I. V. Introdução à
Lingüística Textual. São Paulo: Martins Fontes, 2004. p.42).
ARGUMENTO 1:
ARGUMENTO 2:
Redija um pequeno texto de, NO MÁXIMO, dez linhas, relacionando a afirmação aos seus argumentos.
As questões 4 a 8 são baseadas em trechos retirados das resenhas produzidas em sala de aula.
4) O trecho a seguir é o último parágrafo de uma das resenhas produzidas, em que o resenhista busca
apresentar sua opinião.
O livro de Bazerman é, enfim, uma tentativa de levar o ensino de gênero para além de um exercício
de formas e transformar os alunos em verdadeiros agentes através de sua escrita.
Esse trecho mantém uma relação de intertextualidade com uma idéia de Charles Bazerman, autor do texto-
fonte, expressa no verso e na introdução do livro, conforme percebemos em:
A abordagem de gênero apresentada vai além do gênero como um constructo formal (...) O truque na
sala de aula é tornar viva aquela agência para os alunos, para que eles percebam que a escrita é uma
poderosa ferramenta para a formação e o desempenho de intenções m todas as esferas da atividade
(BAZERMAN, C. Gênero, Agência e Escrita. HOFFNAGEL, J. C. & DIONÍSIO, A. P. (Orgs.). São Paulo: Cortez,
2006).
Considerando que o trecho da resenha pretende expressar a opinião do resenhista, você acha positiva e/ou
negativa a relação de intertextualidade estabelecida com o texto-fonte? Justifique.
5) Observe:
A obra trata de um tema muito interessante, mas é seriamente prejudicada pela qualidade da
tradução. Alguns termos utilizados pelo autor perdem quase completamente o sentido no
português, como agência, que é utilizada de maneira bem diferente no nosso cotidiano.
O trecho sublinhado é um argumento que sustenta a tese defendida pelo resenhista: a obra analisada “é
seriamente prejudicada pela qualidade da tradução”. Em um parágrafo, construa uma nova tese que seja
sustentanda pelo argumento em destaque, parafraseando-o.
O livro levanta questões importantes sobre gêneros e estudos discursivos em sala de aula. Ademais,
cabe comparar as idéias de Bazerman com estudos práticos do tema em sala de aula.
7) Temos abaixo a descrição de uma idéia expressa no texto-fonte, o livro Gênero, Agência e Escrita, de
Charles Bazerman. Reescreva o trecho, acrescentando, em meio a ele ou ao final, uma possível opinião sua
sobre o que é expresso.
No primeiro capítulo, Charles Bazerman trata os gênero como 'frames para a ação social' (p. 23). Os
gêneros, portanto, apresentam ambientes de percepção e ação e, por isso, na sala de aula o ensino
desse conteúdo deve envolver os alunos em situações discursivas conhecidas e novas.
8) Caso você concorde com a opinião expressa abaixo, desenvolva-a, completando o trecho. Caso discorde,
utilize a citação do texto-fonte apresentada para expressar sua opinião.
Obviedades como 'os estudantes usam as leituras, embora de forma pessoal e original, para poderem
escrever em suas disciplinas acadêmicas' (Bazerman, 2006, p. 37) são ditas e explicadas
prolongadamente, ocupando, desnecessariamente, o tempo de leitura.
Bom trabalho!
AEXO 5:
Exemplos de Resenhas e Atividades dos Participantes
P03 – 1ª versão
P03 – 1ª versão
P03 – 2ª versão
P05 – 1ª versão
P05 – 1ª versão
P05 – 2ª versão
P05 – 2ª versão
P05 – 2ª versão
P05 – 1ª versão
P05 – 1ª versão
ED – P06
P11 – 1ª versão
P11 – 1ª versão
P11 – 2ª versão
P11 – 2ª versão
QS – P11
P12 – 1ª versão
P12 – 1ª versão
QS – P12
P16 – 1ª versão
P16 – 1ª versão
P18 – 1ª versão
P18 – 1ª versão
P18 – 1ª versão
P18 – 1ª versão
QS – P18
P19 – 1ª versão
P19 – 1ª versão
P19 – 2ª versão
P19 – 2ª versão
P22 – 1ª versão
P22 – 1ª versão
P22 – 2ª versão
P22 – 2ª versão
AEXO 6:
Quadro de Avaliação do Gênero Resenha
QUADRO DE AVALIAÇÃO DO GÊERO RESEHA
CRITÉRIOS BOM REGULAR INSUFICIENTE NÃO HÁ OBSERVAÇÕES
1. Delimitação clara entre a voz
do autor e a própria voz
2. Relações de intertextualidade
na descrição do texto-fonte
3. Relações de intertextualidade
na opinião sobre o texto-fonte
4. Relação entre o resumo e a
avaliação do texto-fonte
5. Avaliações gerais
6. Avaliações localizadas
7.Argumentação detalhada e/ou
com justificativas
8.Adequação à estrutura do
gênero
9.Indicação do tema central
e/ou objetivo do texto-fonte
10.Apresentação do autor do
texto-fonte
11.Seleção de informações do
texto-fonte
12.Construção de informações
do texto-fonte
13. Sugestões para o texto-fonte
14. Indicação de leitura
15. Coerência
16 Articulação de idéias
17.Uso de verbos que
expressam opinião
18.Uso de adjetivos e
modalizadores
19. Uso adequado de conectores
20. Adequação ao objetivo do
gênero
21. Adequação ao leitor do
gênero
22.Adequação ao gênero
23. Linguagem formal
24. Paragrafação
25. Pontuação
Comentários:
AEXO 7:
Entrevistas
ETREVISTA – P03
PESQ: Você já tinha feito resenha (fazia com freqüência) antes de fazer essas resenhas? Seja no
Ensino Médio, seja na escola, seja na universidade, aqui na Faculdade?
P05: Na escola eu não fiz muito não. Eu fiz resenha aqui na Faculdade. Eu fiz para uma
disciplina que tive que fazer três resenhas, por sinal bem diferentes dessas resenhas, o modo
como foi trabalhado. A professora não deu orientação sobre a resenha. Na verdade, eu não tinha
ideia do que era uma resenha e aí a professora falava assim: “Faça um resumo e ponha um
comentário no final”. Tanto que acho que minhas resenhas (as analisadas) não ficaram muito
boas por causa disso (...) Eu comecei mesmo a ver o que era uma resenha agora.
PESQ: E resumo, você fazia?
P05: Fiz vários em escola e também para estudar, mais é para estudar mesmo.
PESQ: Eu pergunto porque o resumo pode ajudar você a fazer resenha.
P05: Ainda mais numa prova, como no caso. A gente teve que fazer no horário de aula que era
um tempo mais curto, um resumo talvez ajudasse mais.
PESQ: Quando você foi reescrever, tanto a resenha do livro de Bagno, quanto a de Bazerman,
você voltou aos livros?
P05: Sim, a do Bagno eu reli e a do Bazerman eu fiz nos pontos, nos pontos que tinham
problema na primeira resenha. Eu voltei no livro e reli esse ponto que tinha falado... Do Bagno
não, do Bagno eu reli ele quase todo...
PESQ: Você fez muita citação aqui nos textos, isso é do seu estilo... Nas outras resenhas, por
exemplo, que você fez na outra disciplina, você fazia muito isso, é próprio do seu estilo, ou você
achou que poderia ficar mais adequado ao gênero resenha?
P05: Eu acho até que depende da resenha que você está fazendo. Porque eu achei, quando eu fui
refazer, quando eu vi que tinha alguns, muitos problemas de articulação minha mesmo, então era
um problema que eu tinha que reestruturar, a minha escrita. Eu acho que a citação pode te ajudar
a desenvolver. Por exemplo: Você faz a citação, você tem que comprovar. Talvez a citação possa
te ajudar um pouco. Em outras resenhas que eu fiz eu já citei. Por sinal as que eu citei menos, da
outra disciplina, a professora teve um pouco de dúvida com o que eu tinha colocado.
PESQ: Se era seu ou se era do autor?
P05: Eu acho que delimita. Quando eu quero colocar a ideia do texto e não sei como parafrasear
eu acho que a citação delimita melhor.
PESQ: Mas, você acha que as citações são essenciais ao gênero resenha ou são opcionais?
P05: Pra mim, quando eu escrevo, eu acho quase que essencial, mas pode ser opcional. Eu li
algumas resenhas para refazer e algumas não tinham citações. E eu li “de boa” as resenhas. Eu
peguei daquela revista Delta, até pra refazer, pra ter uma referência.
PESQ: Você leu a resenha lá?
P05: Li, li a resenha da Delta. Li em inglês e li em português. Até porque eu trabalho com inglês,
para ver se tinha muita diferença. Eu procurei pegar referência para ver como que faz. E eu vi
que não tinha citação. Então, eu concluo que talvez depende do modo como você escreve, talvez
do estilo da pessoa, não sei...
PESQ: Pelo que você lembra, do que você escreveu, você acha que tem diferença nas citações
que você fez aqui na resenha de Bagno e nessas que você fez na resenha de Bazerman? Quanto
ao objetivo, por que você citou?.
P05: Eu nem lembro muito bem, atualmente o que eu... Eu teria que reler o texto para lembrar.
Mas, eu lembro que eu fiz de formas diferentes, até porque quando eu fiz Bagno, ainda não tinha
tido resultado dessa avaliação aqui do Bagno para fazer a de Bazerman. Quando eu fiz a de
Bazerman eu já tinha relido os critérios, procurei manual de norma acadêmica para ver se tinha
alguma coisa sobre resenha. E, reli, li outras resenhas. Então, com certeza foi diferente sim, o
meu olhar pra fazer a citação na do Bagno, e depois na do Bazerman, com certeza foi diferente.
Eu teria que olhar aqui para lembra em quê, mas foi diferente sim, isso eu mesmo senti quando
eu fiz.
PESQ: É, porque eu pergunto porque quando você cita a do Bagno, as citações que você faz,
basicamente você as usa para descrever o que o autor disse, para ilustrar o pensamento do autor,
na de Bazerman, você vai um pouco além, você cita e a partir dessa citação você desenvolve a
sua opinião. Percebemos aí um certo avanço.
P05: Com certeza, deve ser devido a essa avaliação aqui, porque eu pude ver o quanto que podia
ser melhorado. Até tinha um respeito, quando fazia a resenha, aquela coisa de ser muito objetivo
e eu não sabia que eu poderia ir mais além, argumentar mais, manifestando um ponto de vista
explícito mesmo com relação a um tema, isso eu não sabia que podia.
PESQ: Aquelas discussões na sala, sobre intertextualidade, sobre resenha, você acha que
contribuiu de alguma forma para sua produção dos seus textos?
P05: Sem dúvida. Contribuiu muito. Primeiro, porque como eu já falei, eu não tinha muita noção
da resenha, então, acho que tudo ficou claro até quando mostrou outras resenhas, porque você vê
o erro do outro, não é? Então você começa a ver como o seu texto também poderia ser...
Uma coisa, a resenha deve ser bem interessante para você ler. Quando você vê o
desenvolvimento do argumento, não deixar para começar só no final, talvez fique mais
interessante. Com certeza eu procurei rever sim.
PESQ: E, comparando cada um desses textos assim, pelo que você lembra, porque eu sei que já
tem muito tempo, você considera cada um delas, cada uma das quatro versões, você considera
cada uma como resenha?
P05: O primeiro eu não considero. Eu não considero mesmo! O primeiro do Bagno, e o primeiro
do Bazerman, quando eu acabei de fazer eu falei - até porque eu tive uma dificuldade com o
tempo pra escrever – “Eu não finalizei muito bem” - eu senti. Quando eu saí da prova eu falei
assim “Eu acho que eu não fiz uma resenha”. Eu teria que reler para lembrar, mas eu acho que
não. Eu acho que faltou muito para ser uma boa resenha. O primeiro eu não considero, não
consideraria porque tem muitas falhas para ser a resenha, depois que eu li as outras eu acho que
falta. Talvez o último, quem sabe, eu acho que poderia ser, porque seria a última versão do
Bazerman. Eu me esforcei o máximo para tentar...
PESQ: E a segunda do Bagno?
P05: A segunda do Bagno, eu não me lembro muito bem dela, mas eu já procurei assim, adequar
bastante aos critérios. Talvez tenha, porque atendeu, não é, pela avaliação que está aqui? Mas
mesmo que não seja a resenha ideal para se ler, para se publicar, talvez consiga aproximar um
pouco mais dos critérios de uma resenha, eu acho que pelo menos isso dê.
ETREVISTA – P11
PESQ: Antes de você fazer essas resenhas, você já tinha feito resenha? Você está no primeiro
período?
P11: Primeiro período.
PESQ: No Ensino Médio, cursinho, ou aqui na faculdade já, mesmo, em outras disciplinas, você
já tinha tido contato com esse gênero?
P11: Não, eu ainda não tinha tido contato não. Tanto é que no dia que você passou a resenha,
muita gente perguntou, “resenha é o que?” aí, você falou: “faz do jeito que você achar”. E eu fiz
mais para o lado do resumo.
PESQ: Foi. Então você nunca tinha feito resenha de nada, nem de livro, nem de filme?
P11: Não. De nada
PESQ: E resumo?
P11: Resumo já, já tinha feito.
PESQ: Era língua portuguesa mesmo? Porque às vezes a gente faz em outras disciplinas, não é?
P11: Era. Mas assim, ressumo na escola. Agora, aqui na faculdade o professor não tinha passado
nenhum texto para a gente fazer.
PESQ: Sobre a produção de textos de uma maneira bem geral, quando você escreve textos que
precisa argumentar, você tem dificuldade em colocar a sua opinião?
P11: Tenho. Muita. Eu não consigo deixar [no papel] o que eu estou querendo dizer, ou não
confirmar.
PESQ: Colocar aquilo no papel?
P11: Isso.
PESQ: Você tem a ideia e não sabe como colocar no papel? E o que você acha que poderia ser
feito em sala de aula para aprender, conseguir assim colocar no papel aquilo que você está
pensando?
P11: O que eu tentei para fazer melhorar isso, durante o cursinho que eu estava fazendo para
passar no vestibular, foi ler muito, principalmente notícias, de jornal, para eu tentar fazer,
dependo de um texto que for fazer lá. Se eu for fazer um texto argumentativo, eu ter, naquele
assunto mais coisas pra dizer e aí, tendo conhecimento maior acaba que você tem mais
argumentos, não é? Consegue passar algum...
PESQ: A correção das resenhas, elas ajudaram você, quando você foi reescrever?
P11: Acho que assim, bastante, principalmente na do Bazerman.
PESQ: Mas em que, especificamente? Você lembra algum aspecto, algo que você não conseguiu
fazer na primeira e conseguiu na segunda versão? Alguma coisa específica?
P11: Eu acho que eu consegui assim, para mim... Aqui você fala que faltou algumas coisas
importantes da primeira parte do livro que eu deixei de colocar na segunda versão. Mas eu achei
que na segunda versão eu consegui absorver mais as partes principais do que o autor estava
querendo dizer no todo do livro.
PESQ: Hum...bom. Na verdade, você parece que tirou uma ideias daqui e colocou aqui. Na
verdade, eu acho que você tentou ser um pouco mais objetiva, relacionando ao geral? É isso que
você está querendo dizer?
P11: Isso.
PESQ: E na de Bagno, a resenha te ajudou na reescrita, nas orientações?
P11: Claro, ajudou sim!
PESQ: Você faz, ou já fez, tanto no Ensino Médio, quanto aqui na faculdade, resumo?
P19: Sim, eu fazia bastante resumo no Fundamental. Eu tinha um professor de história bem
aquém do ideal. Ele sempre dava resumo dos capítulos do livro de história. Quando chegava na
prova ele cobrava tudo igual.
PESQ: E você sentia dificuldade?
P19: Ah, não muita! Eu conseguia assim achar o principal de cada coisa... Eu só achava muito
maçante, porque era muito maçante! Eu tenho até essa coisa meio traumática com resumo por
conta disso, porque me marcou. Eu achava muito maçante, porque era.como dizer assim: eu
sabia do que estava ali, já tinha lido o texto e ficar copiando era meio “chover no molhado”. Eu
achava aquilo um pouco maçante. Mas, é uma atividade válida, eu acho, até certo ponto, porque
ou pela raiva, ou pelo (...) Mas aquilo marcou, eu lembro disso.
PESQ: E resenha, você?...
P19: Resenha, eu fui entender bem o que era nessa disciplina. Porque eu cheguei até a olhar no
dicionário, essas coisas tipo “uai”, e o que falava de resenha era praticamente o que falava de
resumo. Era um pouco diferente, mas eu não vi tanta diferença assim, não! Depois que eu fui ver
a coisa mais forte do posicionamento, todas as características que foi apresentado para gente
dentro da sala. Dá uma olhadinha lá no dicionário depois, para você ver. Não é muito clara não,
sabe, a distinção, eu achei um pouco confuso! Acho que no senso comum é muito próximo um
do outro.
PESQ: E quando você foi reescrever, tanto uma resenha do livro do Bagno quanto a resenha do
livro do Bazerman, você voltou aos livros, alguma parte, releu ou conferiu alguma coisa?
P19: Sim, eu voltei aos livros, mas como foi frisado que não era para escrever outra resenha, que
era para preocupar com aquela ali, eu voltei aos livros quando foi necessário. Mas usei o original
por guia para não alterar tanto. Mas teve coisa que eu tive que mexer muito. Eu tive que alterar,
tive que mexer muito, tive que mexer, tive que alterar, principalmente na primeira, na primeira
eu estava muito pouco estimulado!
PESQ: Você gostou mais de algum dos dois livros?
P19: O primeiro é uma leitura assim mais fluida e até um pouco divertida, assim... Ele te
empolga, não é, o Bagno? Acho que eu li 80 páginas num dia dele, foi tranqüilo, assim, ele é
bem.... Agora, o segundo foi bem pesado, mas eu acho que as ideias do Bazerman, sobre aquela
questão de agência, e o capítulo de intertextualidade me acrescentou muito. Até a gente como
professor do Ensino Fundamental e Médio. Achei muito bacana aquilo ali, achei interessante.
PESQ: Lembrando pelo que você fez da segunda versão do Bagno e a primeira, você considera
que teve avanço?
P19: Ah! Considero sim. Considero que teve um avanço, mas eu acho que poderia ter ficado
melhor, se eu abandonasse a primeira.
PESQ: Mas você diz em relação a que aspecto? Tudo? Algum específico?
P19: É o seguinte: eu acho que quanto à estrutura mesmo, eu poderia ter feito um pouco mais,
detalhado um pouco mais e, eu quis fazer assim mais sucinto, então eu acho que eu podia ter
detalhado um pouco mais, acho que ficou muito sucinto a primeira parte, eu podia ter detalhado
mais as partes do livro.
PESQ: E a do Bazerman?
P19: A do Bazerman eu acho que eu falei o principal, eu consegui falar o principal de cada coisa
assim...