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Linguagem Neutra

Este documento apresenta uma análise diacrônica e sincrônica do gênero no Português brasileiro. Discute a evolução do gênero no Latim para o Português, com a queda do gênero neutro. Também aborda os conceitos de gênero na gramática normativa e as demandas por uma linguagem neutra diante das novas identidades de gênero. Por fim, analisa o conceito de masculino genérico e sua relação com gênero, língua e poder.
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Linguagem Neutra

Este documento apresenta uma análise diacrônica e sincrônica do gênero no Português brasileiro. Discute a evolução do gênero no Latim para o Português, com a queda do gênero neutro. Também aborda os conceitos de gênero na gramática normativa e as demandas por uma linguagem neutra diante das novas identidades de gênero. Por fim, analisa o conceito de masculino genérico e sua relação com gênero, língua e poder.
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1

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA – UnB


INSTITUTO DE LETRAS – IL
DEPARTAMENTO DE LINGUÍSTICA, PORTUGUÊS E LÍNGUAS CLÁSSICAS –
LIP

LINGUAGEM NEUTRA: A REESTRUTURAÇÃO DO GÊNERO NO PORTUGUÊS


BRASILEIRO FRENTE ÀS MUDANÇAS SOCIAIS

BRASÍLIA
2020
2

LARISSA ROBERTA ROSA PINHEIRO

LINGUAGEM NEUTRA: A REESTRUTURAÇÃO DO GÊNERO NO PORTUGUÊS


BRASILEIRO FRENTE ÀS MUDANÇAS SOCIAIS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para a obtenção do


título de licenciada em Letras-Português e respectivas literaturas
na Universidade de Brasília – UnB.

Orientadora: Profª Drª Cíntia da Silva Pacheco

BRASÍLIA
2020
3

Linguagem neutra: A reestruturação do gênero no Português brasileiro frente às


mudanças sociais.

Larissa Roberta Rosa PINHEIRO (UnB)1


Cintia da Silva PACHECO (UnB)2

Resumo: A Língua Portuguesa passou por diversas transformações até chegar ao que
conhecemos e falamos hoje. Por ser viva, mutável e dinâmica, não é incomum que alterações
em sua estrutura aconteçam de tempos em tempos para acompanhar o desenvolvimento da
sociedade. Nos últimos anos, um movimento em prol da adoção de uma terceira marca de
gênero (neutra) que fosse capaz de representar e incluir as pessoas denominadas não binárias
ascendeu no Brasil e no mundo. Este trabalho objetiva analisar o curso desse movimento, as
transformações linguísticas ocorridas no interior da língua, bem como os impasses
encontrados pelos falantes do Português brasileiro.

Palavras-chave: Língua Portuguesa. Terceira marca de gênero. Pessoas não binárias.


Transformações linguísticas.

Abstract: The Portuguese language has gone through several transformations until it reaches
what we know and speak today. Because it is alive, changeable and dynamic, it’s not
uncommon that changes in its structure happen from time to time to accompany the
development of society. In recent years, a movement in favor of the adoption of a third brand
of gender (neutral), in addition to the existing ones - male and female - that was able to
represent and include the so-called non-binary people has ascended in Brazil and the world.
This work aims to analyze the course of this movement, the linguistic transformations that
have occurred within the language, as well as the impasses encountered by portuguese
speakers.

Keywords: Portuguese language. Third brand of gender. Non-binarian people. Language


transformations.

Introdução

No cenário contemporâneo do Brasil e do mundo, novas formas de ser, estar e se


reconhecer como indivíduo surgem a todo momento. Com o advento da geração Z (primeira
geração que cresceu na era tecnológica, composta por nascidos desde meados da década de 90
até o ano de 2010) e com a chegada do novo milênio, várias demandas sociais surgiram,
requerendo atenção e olhar atento de todos os membros do corpo social. A linguagem neutra,
ou inclusiva, é uma delas. Essa demanda surgiu por meio da fragmentação e do nascimento de
várias identidades não binárias, termo que abarca todos aqueles que não se enquadram no

1
Discente de Letras – Língua Portuguesa e respectiva Literatura – LIP/UnB; [email protected]
2
Profª Drª no Depto. de Linguística, Português e Línguas Clássicas – LIP/UnB; [email protected]
4

sistema binário vigente: o do gênero feminino e masculino. Logo, essas pessoas solicitam
uma linguagem neutra como alternativa atenuante das diferenças geradas pela binariedade de
gênero imposta pelo português padrão.

Em virtude da pandemia do Novo Coronavírus, que impôs severas restrições, inclusive


locomotivas, e por se tratar de um tema relativamente novo, o desenvolvimento deste artigo
seguirá um método de pesquisa com abordagem qualitativa, cujo objetivo é demonstrar, de
maneira geral, os estudos e as pesquisas existentes nesta área e observar o impacto de tais
discussões linguísticas. Por isso, foi realizado apenas um levantamento bibliográfico, sem
investigação de campo.

Segundo Gerhardt e Siveira (2009, p. 32), “na pesquisa qualitativa, o desenvolvimento


da pesquisa é imprevisível. O conhecimento do pesquisador é parcial e limitado. O objetivo
da amostra é de produzir informações aprofundadas e ilustrativas capazes de produzir novas
informações”. Sendo assim, serão trazidos assuntos pertinentes ao estudo do gênero neutro e
da linguagem inclusiva, visando a elucidação dos fatos sem o objetivo de quantificá-los.

Este trabalho, portanto, objetiva analisar o percurso do gênero do Latim até as


implicações atuais, linguística e gramaticalmente falando, os conceitos de gênero e sexo, bem
como as nuances que os separam, as novas formas de representar o gênero no Brasil e no
mundo e ainda destrinchar o conceito de masculino genérico, através da relação entre gênero,
língua e poder.

1. Análise diacrônica e sincrônica do gênero: percursos e apontamentos

Na morfologia nominal do Latim havia três gêneros gramaticais: o masculino, o


feminino e o neutro. Para diferenciá-los, podemos destacar que o feminino e o masculino
eram usados para designar pessoas e objetos animados, enquanto o neutro, que ocupava a
posição mais frágil, era usado para denominar seres inanimados (LUCCHESI, 2000, p. 164,
apud PACHECO 2010, p. 36).

Devido a sua fragilidade, e por ser difícil distingui-lo formalmente dos substantivos
masculinos e femininos, o gênero neutro do Latim, assim como duas das cinco declinações,
desapareceu. A partir daí, os substantivos neutros foram, em sua maioria, transformados em
masculinos de mesma declinação. Esse fato também possibilitou a mudança do gênero das
árvores e de seus frutos, que no latim clássico eram femininos e neutros e, com a queda do
5

neutro, tornaram-se masculinos e femininos, respectivamente: ex. pira por pirum, mala por
malum etc., para frutos, e pirus, malus etc., para árvores (ILARI, 1999).

Após a dialetação do Latim (movimento em que o Latim Vulgar, seja por razões
internas – como mudanças fonológicas – ou externas – como contato entre línguas–, se
diversificou, assumindo características distintas, que dependiam tanto da região em que era
falado quanto do status ou da classe social da população falante) houve um processo de
fragmentação e dispersão dessa língua, que resultou na formação de diversas línguas
românicas, incluindo o português (ILARI, 1999).

Mattos e Silva (2006) aduz que o Português Arcaico (XIII – XV) marca o início da
história da Língua Portuguesa, pois é nesse momento que essa língua surge documentada pela
escrita. Conforme elucida a autora, nesse período linguístico-histórico, o gênero era composto
de três classificações: nomes de gênero único – tipo I, nomes de dois gêneros com flexão
redundante – tipo II e nomes de dois gêneros sem flexão redundante – tipo III:

Como já via claro Fernão de Oliveira, será o artigo masculino ou feminino que
sempre indicará o gênero do nome. Apenas para os nomes de tipo 2 é que se soma
ao artigo a marca flexional do feminino < a > , que se oporá ao Ø, isto é, ausência de
marca do masculino. Ausente o artigo, será a concordância com os determinantes e
qualificadores que indicará o gênero do nome, núcleo do SN. Assim sendo, o
gênero pode ser compreendido como um traço semântico inerente aos nomes
substantivos, nunca será da escolha do falante. É assim hoje, era no período arcaico
e isso herdamos do latim, em que a concordância com os adjetivos da primeira
classe, com determinantes e qualificadores, que tinham flexões diferentes para o
masculino, feminino e neutro, indicava o gênero do nome (MATTOS e SILVA,
2006, p. 102 e 103).

Já no Português Clássico (século XVI-XVIII), houve a publicação da 1ª grammatica


da lingoagem portuguesa de Fernão de Oliveira (1536). Nessa fase, a aplicação do gênero já
se aproximava muito do que conhecemos no cenário contemporâneo. Segundo Oliveira
(1536) apud Freitas (1997), no Português Clássico, admitia-se a existência de quatro gêneros:
feminino, mascuino, indeterminado (que aparecia em frases com o pronome isto) e comum
(que aparecia em frases com as palavras maior e menor). É importante destacar que o
gramático não admitia gênero neutro (OLIVEIRA, 1536, apud FREITAS, 1997).
6

1.1 O gênero para a Gramática Normativa

Conforme aclara a Nova Gramática do Português Contemporâneo, de Cunha e Cintra


(2013), “Há dois gêneros gramaticais em português: o MASCULINO e o FEMININO. O
masculino é o termo não marcado; o feminino o termo marcado” (CUNHA e CINTRA, 2013,
p. 202).

Segundo os gramáticos, pertencem ao gênero masculino todos os substantivos


precedidos pelo artigo definido “o” átono, os nomes de homens ou de funções por eles
exercidas e, ainda, os nomes de animais, lagos, montes, oceanos, rios e ventos. Os
substantivos de gênero feminino, por outro lado, são, em regra, aqueles que terminam em “a”
átono e, ainda, os nomes de mulheres, de funções por elas exercidas, os nomes de animais do
sexo feminino, bem como os nomes de cidades e ilhas (CUNHA e CINTRA, 2013).

Além dessas classificações basilares, há também os substantivos que possuem uma


única forma de apresentação para ambos os gêneros e são distinguidos apenas pelo artigo que
os acompanha, chamados substantivos comuns de dois gêneros, a saber: < o artista; a artista
/o estudante; a estudante> (CUNHA e CINTRA, 2013).

Cunha e Cintra (2013) mencionam, entre outros, os substantivos que tanto podem ser
femininos, quanto masculinos, mas que mudam completamente de sentido a depender da
escolha do artigo, quais sejam:< o cabeça; a cabeça / o capital; a capital>. Por fim, há aqueles
denominados de substantivos de gênero vacilante ou incerto, que causam certa vacilação ou
dúvida na escolha do artigo definido, por exemplo: <gengibre; diabete(s)>.

1.2 O gênero para a Linguística

A linguística pode ser entendida como a análise científica da linguagem humana e tem
a língua como objeto de estudo. No Brasil, diversos intelectuais se dedicam ao estudo da
Língua Portuguesa e de suas estruturas. Analisaremos adiante as contribuições, no que tange
ao estudo do gênero para a linguística, realizadas por Mattoso Câmara Jr.

O importante linguista brasileiro se contrapõe aos estudos feitos pelos gramáticos


tradicionais, pois, em seu trabalho, admite ser inadequado um critério de base sexual para
determinar o gênero gramatical, critério esse tradicionalmente adotado em dicionários,
manuais, livros didáticos e em diversos materiais especializados em língua portuguesa:
7

A flexão de gênero é exposta de uma maneira incoerente e confusa nas gramáticas


tradicionais do português. Em primeiro lugar, em virtude de uma incompreensão
semântica da sua natureza, costuma ser associada intimamente ao sexo dos seres.
Ora, contra essa interpretação falam duas considerações fundamentais: uma é que o
gênero abrange todos os nomes substantivos portugueses, quer se refiram a seres
animais, providos de sexo, quer designem apenas «coisas», como casa, ponte,
andaiá, femininos, ou palácio, pente, sofá, masculinos. [...] Depois, mesmo em
substantivos referentes a animais ou pessoas há discrepância entre gênero e sexo [...]
Assim, testemunha é sempre feminino, quer se trate de homem ou mulher, e
cônjuge, sempre masculino, aplica-se ao esposo e à esposa. Para os animais, temos
os chamados substantivos epicenos, como cobra, sempre feminino, e tigre, sempre
masculino (CÂMARA JR, 2004, p. 87).

Ao definir gênero, Câmara Jr (2004, p. 87) aduz que “o gênero é uma distribuição, em
classes mórficas, para os nomes, da mesma sorte que são as conjugações para os verbos”. Para
o linguista, o gênero é imanente, ou seja, apresenta uma forma não marcada – masculino – e
outra marcada – feminino –, que funciona como uma especialização do masculino. Sendo
assim, para todo substantivo masculino, haverá um substantivo feminino semanticamente
associado a ele: “jarra é uma espécie de «jarro», barca um tipo especial de «barco», como ursa
é a fêmea do animal chamado. urso, e menina uma mulher em crescimento na idade dos seres
humanos denominados como a de «menino»” (CAMARA JR., 2004, p. 87).

John W. Martin (1975), linguista canadense, publicou um artigo intitulado “gênero?”


testificando a tese adotada por Câmara Jr. Nesse artigo, Martin aduziu que a concordância
nominal é fator primordial para a existência do gênero no português brasileiro e negou a
existência de gênero masculino e feminino em nossa língua, trazendo à tona o conceito de
adjetivos marcados e não marcados:

No lugar de "gênero", então, fica o conceito de adjetivos marcados ou não marcados.


Os marcados correspondem aos "femininos" da gramática escolar, e aparecem
somente quando o adjetivo está relacionado a um substantivo marcante. Os não
marcados aparecem EM TODAS AS OUTRAS CIRCUNSTÂNCIAS, haja ou não
um substantivo a eles relacionado. É este último fato que determina que o assunto
não seja uma mera questiúncula terminológica, pois as conclusões dele decorrentes
transformam dum modo essencial nossa maneira de encarar a categorização dos
substantivos e o fenômeno da concordância adjetiva. (MARTIN, 1975, p. 8).

Sabemos que a gramática tradicional da Língua Portuguesa admite concordância em


gênero, ou seja, adota a ideia de que um sujeito feminino exige um predicado feminino e um
sujeito masculino exige um predicado masculino. Contudo, segundo Martin (1975), há frases
que não possuem sujeito e, portanto, tornam-se, automaticamente, masculinas. Sendo assim, o
8

autor entende que as palavras masculinas são não marcadas e que o feminino é marcado e
formado pelo acréscimo da desinência -a a uma palavra não marcada.

Sobre uma possível reestruturação da língua portuguesa para comportar a marcação


neutra de gênero, Schwindt (2020) explica ser possível que o sistema linguístico brasileiro se
sujeite a mudanças demandadas conscientemente pelos falantes e altere a morfologia de
gênero no português, desde que tais alterações observem certo grau de espontaneidade e
naturalidade, critérios indispensáveis para uma mudança gramatical deliberada.

A respeito dos conceitos de espontaneidade e naturalidade, o autor afirma não serem


de fácil caracterização na Linguística. Define naturalidade como sendo um conceito que
sofistica o pressuposto de simplicidade das regras e limitações fonológicas da língua,
acrescentando-lhe plausibilidade fonética. Aponta que, atualmente, o grau de espontaneidade
pode ser medido por meio de redes sociais, blogs e outros expedientes virtuais, que ajudam a
compreender o nível de propagação de tais mudanças linguísticas (SCHWINDT, 2020).

A fim de analisar a densidade do uso de formas inovadoras de gênero em postagens de


redes sociais, o autor buscou no Twitter, rede social conhecida como microblog, pelas formas
linguísticas ‘amiga’, ‘amigo’, ‘amigue’ e ‘amigx’, nos dias 18 a 27 de setembro de 2020. O
gráfico abaixo mostra a densidade total de cada forma de representação (à esquerda) e a
comparação entre a densidade de tweets e retweets (à direita):

Figura 1: Densidade de tweets e retweets amiga, amigo, amigue, amigx

Fonte: Schwindt (2020)


9

Sobre o resultado da análise, Schwindt (2020) destacou que:

Em relação às alternantes padrão, amigas e amigos, observa-se pequena diferença de


frequência em favor da forma feminina, que alcança o limite máximo de 18.000
ocorrências em 6h e 57min, em contraste com a masculina, que alcança esse limite
em 7h e 32min. A distribuição da densidade de amiga é também muito semelhante à
de amigo. Retweets, como mostram os gráficos à direita, acompanham a curva dos
tweets, sem indício de que atuem como impulsionadores do uso dessas variantes
neste recorte de dados. Em relação às variantes inovadoras, amigue supera com larga
vantagem a frequência de amigx, a primeira forma alcançando 15.595 ocorrências
contra 2.483 da segunda em 10 dias. Para as duas variantes observa-se um pico de
densidade entre os dias 24 e 26 de setembro, que pode ter sido impulsionado por
retweets (SCHWINDT, 2020, p. 5 e 6).

A partir da análise dos dados obtidos com o exercício de observação do uso das
formas inovadoras de gênero em postagens de redes sociais, o autor concluiu que o resultado
obtido não é suficiente para contestar ou afirmar o caráter espontâneo de uma possível
mudança para a inclusão de uma marca de gênero neutro no português brasileiro, mas que a
pesquisa serve de reflexão acerca do papel dos formadores de opinião na propagação de uma
mudança dessa natureza (SCHWINDT, 2020).

2. Desmistificando termos: a linha tênue entre sexo e gênero

Gênero e sexo são palavras comumente confundidas e até mesmo fundidas. Muitas
vezes, esses termos são erroneamente utilizados, o que causa incerteza em relação à real
diferença existente entre eles. Para destrinchar esse assunto e trazer à tona os conceitos e as
definições empregadas atualmente, analisaremos os estudos da antropóloga Miriam Pillar
Grossi (1998) e da doutora em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações, Jaqueline
Gomes de Jesus (2012).

As autoras trazem uma concepção de sexo bastante semelhante. Ambas acreditam que
o que define o sexo de um indivíduo são os órgãos genitais e reprodutores que lhe foram
atribuídos ao nascer, sendo assim, o sexo pode ser entendido como um fator puramente
biológico (GROSSI, 1998 e JESUS, 2012). Segundo Grossi (1998), “sexo é uma categoria
que ilustra a diferença biológica entre homens e mulheres” (GROSSI, 1998, p. 12). Jesus
(2012) afirma que “para a ciência biológica, o que determina o sexo de uma pessoa é o
tamanho das suas células reprodutivas (pequenas: espermatozoides, logo, macho; grandes:
óvulos, logo, fêmea)” (JESUS, 2012, p. 8).
10

A categoria de gênero é uma das mais complexas devido às muitas nuances que
possui, estando, ainda, agrupadas nela duas subcategorias: os papeis e as identidades. Dito
isso, o gênero pode ser entendido como um conjunto de expectativas e determinações sociais
pré-estabelecidas, que norteiam como deve ser o comportamento, o pensamento, os gostos, e
até mesmo a personalidade dos indivíduos de acordo com o sexo que nasceram (GROSSI,
1998).

Sobre esse conceito, Grossi (1998) afirma que “gênero é uma categoria usada para
pensar as relações sociais que envolvem homens e mulheres, relações historicamente
determinadas e expressas pelos diferentes discursos sociais sobre a diferença sexual”.
(GROSSI, 1998, p. 5), e, ainda, que “gênero é um conceito que remete à construção cultural
coletiva dos atributos de masculinidade e feminilidade (que nomeamos de papéis sexuais)”
(GROSSI, 1998, p. 12).

Dessarte, podemos entender gênero como uma convenção social volátil e mutável
tanto em tempo quanto em espaço, que é influenciada e determinada totalmente pelo convívio
social, e se diferencia do sexo por ser socialmente definido, enquanto este é definido
biologicamente (GROSSI, 1998).

2.1 Papeis de gênero


Os papeis de gênero definem o que é ser homem e o que é ser mulher em determinada
cultura, época, comunidade ou país. Essas definições, impostas pelo corpo social, funcionam
como uma espécie de script a ser seguido por pessoas dos sexos feminino e masculino.

Na sociedade brasileira, por exemplo, esse script é bem definido. Mesmo antes de
nascer, assim que o sexo de um bebê é revelado, cria-se uma expectativa a respeito de como
essa criança deve ser. Se for menina, ela ganha roupas, presentes, artigos de decoração nas
cores rosa, lilás ou amarelo e os brinquedos também são bem característicos: bonecas, ursos, e
quando começa a crescer, mais boneca, fogãozinho, casinha, entre outros. No caso dos
meninos, isso também acontece: eles ganham roupas e itens de decoração nas cores azul e
verde e os brinquedos são carrinhos, bola, skate, bicicleta, entre outros.

Além de determinar todos esses fatores externos, os papeis de gênero definem também
fatores internos e comportamentais, como o jeito de agir e de se comportar. É socialmente
11

esperado que as mulheres sejam calmas, dóceis, gentis, delicadas, enquanto os homens, por
sua vez, devem ser fortes, ágeis, competitivos e até mesmo hostis.

Sobre esse tema, Grossi (1998) aduz:

Papel é aqui entendido no sentido que se usa no teatro, ou seja, uma representação
de um personagem. Tudo aquilo que é associado ao sexo biológico fêmea ou macho
em determinada cultura é considerado papel de gênero. Estes papéis mudam de uma
cultura para outra. A Antropologia, que tem como objetivo estudar a diversidade
cultural humana, tem mostrado que os papéis de gênero são muito diferentes de um
lugar para outro do planeta (GROSSI, 1998, p. 6).

Jesus (2012) discorre ainda que:

Mulheres de países nórdicos têm características que, para nossa cultura, são tidas
como masculinas. Ser masculino no Brasil é diferente do que é ser masculino no
Japão ou mesmo na Argentina. Há culturas para as quais não é o órgão genital que
define o sexo. Ser masculino ou feminino, homem ou mulher, é uma questão de
gênero. Logo, o conceito básico para entendermos homens e mulheres é o de gênero.
Sexo é biológico, gênero é social, construído pelas diferentes culturas (JESUS,
2012, p. 8).

A partir dos conceitos de papeis de gênero apresentados pelas autoras, podemos inferir
que eles são voláteis e se alteram em algumas circunstâncias. É importante destacar também
que os fatores biológicos que definem sexo devem ser diferenciados dos fatores sociais que
definem gênero, entendendo este como uma representação daquele.

2.2 Identidades de gênero

As identidades de gênero são entendidas como as várias formas de auto-percepção


vivenciadas e sentidas por um indivíduo (JESUS, 2012). A psicóloga Jaqueline Gomes de
Jesus (2012), ao discorrer sobre identidades, traz os conceitos de trans e cisgênero. Segundo
ela, “chamamos de cisgênero, ou de ‘cis’, as pessoas que se identificam com o gênero que
lhes foi atribuído no nascimento” (JESUS, 2012, p. 10). A respeito do conceito de trans, ela
diz “denominamos as pessoas que não são identificam com o gênero que lhes foi determinado
no nascimento como transgênero, ou ‘trans’” (JESUS, 2012, p. 10).
12

A autora discorre ao longo do livro a respeito do conceito de trans supramencionado:


“mulher transexual é toda pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal como
mulher. Homem transexual é toda pessoa que reivindica o reconhecimento social e legal como
homem” (JESUS, 2012, p. 15):

Cada pessoa transexual age de acordo com o que reconhece como próprio de seu
gênero: mulheres transexuais adotam nome, aparência e comportamentos femininos,
querem e precisam ser tratadas como quaisquer outras mulheres. Homens
transexuais adotam nome, aparência e comportamentos masculinos, querem e
precisam ser tratados como quaisquer outros homens. Pessoas transexuais
geralmente sentem que seu corpo não está adequado à forma como pensam e se
sentem, e querem “corrigir” isso adequando seu corpo à imagem de gênero que têm
de si. Isso pode se dar de várias formas, desde uso de roupas, passando por
tratamentos hormonais e até procedimentos cirúrgicos (JESUS, 2012, p. 15).

A antropóloga Miriam Grossi (1998) também discorre sobre o tema:

Um psicólogo norte-americano chamado Robert Stoller (1978), o qual estudou


inúmeros casos de indivíduos considerados à época “hermafroditas” ou com os
genitais escondidos e que, por engano, haviam sido rotulados com o gênero oposto
ao de seu sexo biológico, diz uma coisa impressionante: que é " mais fácil mudar o
sexo biológico do que o gênero de uma pessoa". Para ele, uma criança aprende a ser
menino ou menina até os três anos, momento de passagem pelo complexo de Édipo
e pela aquisição da linguagem. Este é um momento importante para a constituição
do simbólico, pois a língua é um elo fundamental do indivíduo com sua cultura
(GROSSI, 1998, p. 8).

Ainda sobre identidades de gênero, Grossi (1998) complementa que:

Para Stoller (1978), todo indivíduo tem um núcleo de identidade de gênero, que é
um conjunto de convicções pelas quais se considera socialmente o que é masculino
ou feminino. Este núcleo não se modifica ao longo da vida psíquica de cada sujeito,
mas podemos associar novos papéis a esta "massa de convicções". Este núcleo de
nossa identidade de gênero se constrói em nossa socialização a partir do momento
da rotulação do bebê como menina ou menino. Isto se dá no momento de nascer ou
mesmo antes, com as novas tecnologias de detectar o sexo do bebê, quando se
atribui um nome à criança e esta passa a ser tratada imediatamente como menino ou
menina. A partir deste assinalamento de sexo, socialmente se esperarão da criança
comportamentos condizentes a ele. Caso tenha havido um erro nesta rotulação
inicial (em raros casos de intersexualidade ou “hermafroditismo”, como trata
Stoller), será praticamente impossível mudar a identidade de gênero deste indivíduo
após os três anos de idade, uma vez que ele tiver superado a fase do complexo de
Édipo, momento no qual todo ser humano descobre que é único e não a extensão do
corpo da mãe (GROSSI, 1998, p. 8).

Sendo assim, a partir dos aspectos supracitados, podemos inferir que pessoas cis são
aquelas que nasceram em um determinado sexo e se reconhecem com esse corpo, com esse
13

sistema genital e reprodutor e, consequentemente, com o gênero que lhes foi atribuído. As
pessoas trans, por sua vez, nasceram em um sexo, porém não se reconhecem nem se
identificam com o corpo, com os órgãos genitais e respectivos aparelhos reprodutores,
tampouco com o gênero que lhes foi designado. Por isso, na maioria das vezes, as pessoas
trans são submetidas à cirurgia de redesignação sexual. É importante destacar que essa
cirurgia objetiva a mudança para o gênero oposto já existente – feminino ou masculino
(JESUS, 2012).

3. A não binariedade e a teoria do terceiro gênero

A teoria do terceiro gênero nasceu a partir da percepção de que nem todos os


indivíduos se encaixavam em um dos dois gêneros já existentes: feminino e masculino. Há
aqueles que não se identificam com o gênero que lhes foi designado, e, depois de terem
passado por todos os tratamentos hormonais e procedimentos cirúrgicos, conseguem se
reconhecer de acordo com o novo gênero que lhes faz sentir confortáveis e adequadas.

Contudo, existem pessoas que não se identificam totalmente nem com o gênero
masculino nem com o feminino. Roweder (2015) afirma que “o terceiro gênero é uma
alternativa neutralizante das diferenças geradas pelo gênero. Assim, aqueles que não se sintam
estritamente masculinos ou femininos possuem uma terceira margem, denominada de terceiro
gênero” (ROWEDER, 2015, p. 59).

Ainda nessa linha, o autor aduz que “com o terceiro gênero seria possível optar, ainda
que temporariamente, por um gênero neutro, sem as amarras ligadas ao masculino ou ao
feminino” (ROWEDER, 2015, p. 60):

Diferentemente da transsexualidade, que consiste na alternância entre os gêneros já


existentes, a teoria do terceiro gênero pretende abrir possibilidades inteiramente
inovadoras, criando um novo gênero. Esse novo gênero não se identifica
completamente nem com o masculino, nem com o feminino, nem com todas as suas
derivações já vistas neste trabalho. Essa terceira opção, que vai além do masculino e
do feminino, já começa a ser percebida em algumas nações desenvolvidas e denota
uma evolução no conceito de gênero (ROWEDER, 2015, p. 60).
14

REIS e PINTO (2016) analisam gênero como um espectro, o entendem como “flutuante
na linha entre os polos feminino e masculino” (REIS e PINHO, 2016, p. 14) e assumem que,
em alguns casos, o gênero pode até mesmo que abandonar essa linha (REIS e PINHO, 2016):

Figura 2 - Espectro de gênero

Fonte: Reis e Pinho (2016)

O polo vermelho simboliza a identidade 100% feminina e o azul, a 100% masculina.


Nas cores do espectro entre os polos e fora da linha, se localizam os inúmeros gêneros não
binários – meramente representados por alguns ícones já definidos (REIS e PINHO, 2016, p.
14).

Reis e Pinho (2016) conceituam as várias identidades não binárias que ultrapassam o
espectro de gênero:

Para exemplificar a multiplicidade das identidades não-binárias de gênero, podemos


observar casos como (ESPECTOMETRIA não-binária, 2015): bigênero: pessoas
que são totalmente de dois gêneros, sem que haja, entretanto, uma mescla bem
delimitada entre os dois; qualquer combinação de gêneros é possível, não apenas a
combinação feminino com masculino; agênero: identidade onde os indivíduos
vivenciam ausência de gênero; tem sinônimos como não-gênero ou gendergless;
demigênero: termo para vários gêneros onde pessoas leem suas identidades como
sendo parcialmente femininas ou masculinas e parcialmente alguma identidade não-
binária; ou ainda, parcialmente agênero e parcialmente alguma outra identidade não-
binária; pangênero: identidade que se refere a uma grande gama de gêneros que pode
ultrapassar a finitude do que entendemos atualmente sobre gênero; e gênero fluido:
identidade de pessoas que possuirão o espectro de gêneros em constante mudança,
não sendo restrito a dois gêneros apenas (REIS e PINHO, 2016, p. 15).

Os autores, ao definir os não binários, afirmam que eles não serão exclusiva e
totalmente mulher ou exclusiva e totalmente homem, “mas irão permear em diferentes formas
15

de neutralidade, ambiguidade, multiplicidade, parcialidade, ageneridade, outrogeneridade,


fluidez em suas identificações” (REIS e PINHO, 2016, p. 14).

4. O gênero gramatical: novas representações na fala e na escrita

4.1 Ile/dile

“A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a


continuidade da leitura daquele” (FREIRE, 1989, p. 13). Essa frase do pedagogo Paulo Freire
(1989) abre caminhos para o que vamos tratar a seguir. A linguagem é um mecanismo que nos
permite interagir com o mundo ao nosso redor e interpretar a realidade em que vivemos.
Margarida Petter (2007) define a linguagem verbal como “a matéria do pensamento e o
veículo da comunicação social. A linguagem é relativamente autônoma; como expressão de
emoções, ideias, propósitos, no entanto, ela é orientada pela visão de mundo, pelas injunções
da realidade social, histórica e cultural de seu falante” (PETTER, 2007, p. 11).

Como vimos na seção 1.1, “O gênero para a gramática normativa”, os gêneros


gramaticais no português brasileiro são dois: masculino e feminino, sendo o masculino o
gênero não marcado e o feminino marcado pela desinência –a. Esse sistema linguístico que
regula e estabelece as regras gramaticais do país é rígido e tradicional e não costuma ser
influenciado pelas mudanças sociais e pela conduta dos falantes daquela região.

Se, como disse Petter (2007, p. 11), a linguagem é a “expressão de emoções, ideias,
propósitos e é orientada pela visão de mundo, pelas injunções da realidade social, histórica e
cultural de seu falante”, como a gramática normativa pode acolher aqueles que estão à
margem do espectro de gênero? Como as emoções, as ideias e os propósitos de uma pessoa
não binária (bigênera, multigênera, pangênera etc) podem ser representados em uma
linguagem que marca o gênero em “masculino e feminino”, “todas e todos”, “senhoras e
senhores”?

Em 2015, os autores Pri Berlucci e Andrea Zanella publicaram o “Manifesto ILE para
uma comunicação radicalmente inclusiva” como tentativa de implementar uma forma nova e
16

integradora que representasse as especificidades daqueles que não se enquadram no espectro


de gênero. Os autores observaram que, nos últimos anos, surgiu a necessidade de um pronome
em português que seja sem gênero, a fim de evitar que as pessoas fossem separadas ou
definidas por essa classificação. Eles repararam ainda que a língua portuguesa não previu que
tais mudanças ocorreriam e aduziram, portanto, que a norma não é suficientemente flexível
para designar alguém que não se sente nem homem, nem mulher, ou quem vive seu gênero de
uma forma fora do padrão.

A essa altura, já entendemos que os pronomes ele/ela, dele/dela não contemplam todas
as formas de ser, estar, pertencer e se reconhecer no gênero. Por isso, com o objetivo de
incluir o máximo de pessoas possível, os autores do “Manifesto ILE para uma comunicação
radicalmente inclusiva” sugeriram o pronome de gênero neutro “ILE’ como uma alternativa
que fuja da binariedade determinada pela gramática tradicional.

Quanto à escolha do “ILE”, os autores explicam que, no processo de criação e análise,


tiveram como referência o pronome demonstrativo neutro “illud”, do Latim, e constataram
que o “i” no início do pronome daria a sensação de neutralidade juntamente com o “e” no
final, formando, assim, o pronome neutro “ILE”. Segundo eles, essa forma linguística
apresentaria poucos problemas gramaticais, na pronúncia, na escuta, na escrita e na
identificação visual, além de possuir semelhança com os pronomes já existentes no português.

4.2 Elu/delu

Segundo Cassiano (2020), uma alternativa funcional para o uso da linguagem neutra é
o pronome “elu”, que, assim como o “ile”, citado acima, abrange e representa as pessoas não
binárias ou que não se enquadrem no espectro de gênero, substituindo os pronomes “ela” e
“ele”, existentes no português brasileiro, por “elu” e suas variantes “delu”, “nelu”, “aquelu”.

O Guia para “Linguagem Neutra” (PT-BR), de Ophelia Cassiano (2020), traz algumas
alternativas de uso da linguagem neutra, conforme a tabela a seguir:

Quadro 1 - Alternativas de uso da linguagem neutra

 Eu estava pensando nele de manhã. → Eu


Substituição das contrações (preposição + pronome)
“nela(s)” ou “nele(s)” por “nelu(s)”. estava pensando nelu de manhã.
 Sam deu um beijo nela. → Sam deu um
Pronuncia-se como “nêlu” ou “nélu”, semelhantemente
17

ao pronome “elu”. beijo nelu.


Substituição dos pronomes demonstrativos “aquela(s)”  Aquela menina é minha filha.
ou “aquele(s)” por “aquelu(s)”. → Aquelu menine é minhe filhe.
Pronuncia-se como “aquêlu” ou “aquélu”,
semelhantemente ao pronome “elu”.  Aquela moça trans não-binária me
ensinou. → Aquelu moce trans não-
binárie me ensinou.

Substituição dos pronomes pessoais oblíquos “-la(s)”/


“-lo(s)” por “-le(s)” e “-na(s)”/“-no(s)” por “-ne(s)”.  Quando nos revermos, vou abraçá-lo
tanto. → Quando nos revermos, vou
abraçá-le tanto.

 Encontraram-nas plantando árvores.


→ Encontraram-nes plantando
árvores.

Substituição dos artigos definidos “a(s)” e “o(s)” pelo  Eu vi a menina pulando corda. → Eu
artigo “ê(s)”. vi ê menine pulando corda.
 Então, eu sou a dona daqui e ele
é o gerente. → Então, eu sou ê done
daqui e elu é ê gerente.
 O garçom anotou seu pedido? → Ê
garçone anotou seu pedido?

Substituição das contrações (preposição + artigo) “à(s)”  Entregue ao porteiro esses papéis.
ou “ao(s)” por “ae(s) → Entregue ae porteire esses
papéis.
 Realizaram uma homenagem aos
professores. → Realizaram uma
homenagem aes professories.
18

Quando a palavra termina em “-a” ou “-o”, substitui a  Menino(a). → Menine.


desinência por “-e”.  Garota(o). → Garote.
 Moço(a). → Moce (sem“ç”).
 Adulta(o). → Adulte.
 Velho(a). → Velhe.
 Filho(a). → Filhe.
 Tia(o). → Tie.
 Aluno(a). → Alune.
 Todos(as). → Todes.
 Querido(a). → Queride.
 Namorado(a). → Namorade.
 Marido(a) / Esposo(a). → Maride /
Espose.
 Apaixonada(o). → Apaixonade.
 Dona(o). → Done.
 Bem-vindo(a). → Bem-vinde.
 Obrigada(o). → Obrigade.

 Professor(a). → Professore.
Quando a palavra termina em “-r” no masculino e “-ra”  Professores(as). → Professories.
no feminino, substitui a desinência por “-re”.  Pintor(a). → Pintore.
No plural, quando termina em “-res” no masculino e “-  Pintores(as). → Pintories.
ras” no feminino, substitui a desinência por “-ries”.  Trabalhador(a). → Trabalhadore.
 Trabalhadores(as).
→ Trabalhadories.
 Administrador(a).
→ Administradore.
 Administradores(as).
Fonte: Cassiano (2020)

4.3 Uso de caracteres especiais na escrita


Uma das formas usuais de utilização da linguagem neutra é o uso do “x” e do “@”,
substituindo “a” e “o”, como, por exemplo: “amigxs/amig@s”, “meninx/menin@”, ao invés
de “amiga/amigo”, “menina/menino”. Contudo, essas formas de neutralização do pronome
apresentam diversos desafios, principalmente em relação à oralidade.
19

Sobre o uso do X, Juno (2014) diz:

Quanto mais simples e direta for a nossa linguagem, melhor poderemos nos fazer
entender. Quando a intenção é fazer textos fáceis e didáticos, o X pode ser um
constante entrave para quem está lendo. O X não é pronunciável. Nós não podemos,
em voz alta, usar o X. Isso é problemático especialmente para pessoas trans* não-
binárias, para quem essa vocalidade é necessária no dia-adia. O X não transformará
a linguagem. Se o X é restrito à língua escrita, então ele não irá alterar a forma como
falamos! Isso significa que ele não influenciará como, no dia-a-dia, nos referimos às
pessoas, e que no fim das contas nós continuaremos a nos tratar de forma
generificada (JUNO, 2014, p. 3).

Conforme aduziu o autor, essa forma de linguagem não é funcional, pois esses
caracteres dificultam a leitura e a pronúncia das palavras e não são legíveis por tecnologias
assistivas e softwares de leitura, uma vez que os programas, muitas vezes, não conseguem
reconhecer o que está escrito, além de prejudicarem as pessoas com deficiências visuais que
utilizam programas de leitura através de som e os indivíduos com dislexia (JUNO, 2014).

De acordo com o que explicitou Juno (2014), o uso correto da linguagem neutra, por
meio de construções simples e diretas, é essencial para que as pessoas não binárias se façam
entender. Contudo, alguns manuais de linguagem neutra apresentam equívocos que vão de
encontro à proposta de uma linguagem realmente inclusiva, os quais listarei a seguir.

O Home Box Office, mais conhecido como HBO, famoso canal de TV por assinatura
norte-americano, lançou em 2020 a série brasileira “Todxs Nós3”, que retrata a história de
Rafa, jovem pansexual que decide sair do interior para morar na Grande São Paulo.
Utilizando os aprendizados obtidos a partir da realização da série, com o apoio de
especialistas, linguistas e baseando-se no Manifesto ILE para uma comunicação radicalmente
inclusiva (2015), a emissora redigiu o Guia Todxs Nós de Linguagem Inclusiva (2020), com o
objetivo de promover o debate a respeito de práticas discursivas que validem e deem
visibilidade às pessoas não binárias.

O primeiro equívoco do Guia produzido pela HBO diz respeito a quem ele é dirigido.
Segundo a emissora, “este guia é um manual com uma proposta de reflexão para jornalistas e
pessoas influenciadoras. Pessoas que têm na comunicação seu ofício, profissionalmente ou
por paixão” (Guia Todxs Nós de Linguagem Inclusiva, p. 2). O público-alvo do Guia é

3
Série brasileira produzida em 2020 pelo canal por assinatura HBO.
20

restrito e bastante limitado, tendo em vista que seria coerente um guia de linguagem inclusiva
que se destinasse, principalmente, às pessoas não binárias.
Outro aspecto importante a ser observado no Guia da emissora é que ele afirma que a
linguagem neutra produz “reflexões sobre o uso de uma linguagem que promove equidade de
gênero, respeita e inclui mulheres, pessoas negras, pessoas com deficiência e LGBTQIA+
(Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgênero, Queer, Intersexo, Assexuais e Aliades)” (Guia
Todxs Nós de Linguagem Inclusiva, p. 7). Devido à falta de informação concreta e de uma
regulamentação da linguagem neutra, o seu uso tem sido indiscriminado e sem quaisquer
critérios, principalmente no ambiente virtual, causando confusão a respeito do seu uso. A meu
ver, embora mulheres, pessoas negras e com deficiência façam parte da minoria e devam ser
contempladas com políticas públicas que promovam o seu bem-estar, a linguagem neutra não
parece ser uma delas, a menos que essas pessoas sejam não binárias.

5. Políticas públicas de implementação do gênero neutro no mundo


Nos últimos anos, com o advento da geração Z, as demandas que ambicionam o fim de
posturas discriminatórias e desiguais no que diz respeito à diversidade de gênero se
intensificaram. Por esse motivo, governantes de todo o mundo iniciaram um processo de
inserção de políticas públicas que garantam direitos e reconheçam múltiplas possibilidades de
gênero.

Em 2012, a Alemanha, através do seu Conselho de Ética, aprovou a inclusão de uma


terceira categoria de gênero, possibilitando, desse modo, que bebês recém-nascidos sejam
registrados sem sexo definido e que pessoas adultas possam alterar o próprio gênero por meio
da transgenitalização. Além disso, o país adotou linguagem neutra para se dirigir às pessoas
não binárias:

A própria língua alemã já promovia algumas facilidades que auxiliaram na


promoção do novo gênero. Além do pronome masculino (der) e feminino (die), a
língua alemã ainda possui um pronome neutro (das). Assim não surgiram
dificuldades lingüísticas de como se referir às pessoas que não se identificam nem
com o gênero masculino nem com o feminino (ROWEDER, 2015, p. 62).

Na Índia, a questão do terceiro gênero está mais avançada se comparada a outros


países. Isso acontece porque no hinduísmo, religião com mais adeptos no território indiano, os
espectros de gênero são separados por uma linha muito tênue, não existindo muros que os
segreguem. Sendo assim, a Índia adota três variações de gênero: masculino, feminino e neutro
21

– uma mistura dos dois primeiros. De acordo com a dinâmica adotada pelo país, “aqueles que
se identificam na área cinzenta entre o masculino e o feminino são denominados de “Hijras” e
não tendem a agir como um homem ou mulher comum, mas de uma maneira própria”
(ROWEDER, 2015, p. 46). Sobre o terceiro gênero no hiduísmo, nota-se:

[...] O que existe é um forte conceito de terceiro gênero, que é usado para descrever
indivíduos que apresentam fortes elementos tanto de macho como de fêmea em si
mesmos. De acordo com textos sânscritos como o Narada-smriti, o Sushruta
Samhita, etc., esse terceiro sexo ou gênero inclui indivíduos convencionalmente
denominados homossexuais, transgêneros, bissexuais e intersexuais (LGBTI). O
terceiro gênero é descrito em antigos textos Védicos como homens que têm uma
natureza feminina, referindo-se a homens homossexuais ou que se identifiquem com
o gênero feminino (VIULA, 2015 apud ROWEDER, 2015, p. 45 e 46).

A Suécia também adotou um pronome de gênero neutro em seu idioma. Após uma
série de discussões e consultas públicas a respeito da escolha do pronome e suas eventuais
consequências, em 2015 foi inserido na Academia Sueca Glossário (SAOL) o pronome de
gênero neutro “hen” junto aos pronomes de gênero masculino “han” e feminino “hon”
(BÄCK, LINDQVIST e SENDÉN, 2018).

No italiano, ainda não há padronização formal a respeito do uso do gênero neutro.


Contudo, enquanto esperam que um consenso seja estabelecido, usa-se asterisco (*) para
neutralizar frases escritas e “u” para faladas. Também é comum o uso do “loro”, que embora
pareça bastante popular com algumas pessoas de comunidades LGBTQ +, pode soar muito
formal (VITIELLO, 2020).

Os Estados Unidos da América não formalizaram que pronome de gênero neutro deve
ser usado no país. Segundo Aw Geiger e Nikki Graf (2019), colunistas do jornal Pew
Research Center, aproximadamente um em cada cinco adultos americanos conhece alguém
que usa um pronome de gênero neutro. O uso da linguagem não binária, porém, é mais
comum entre os adultos mais jovens. A Universidade de Wisconsin elaborou uma tabela com
as opções mais usadas entre os americanos para neutralizar o gênero:

Figura 3 – Gênero neutro no inglês


22

Fonte: University of Wisconsin (2017)

O Canadá, nação bilíngue cujos idiomas oficiais são inglês e francês, também adotou o
uso de pronomes neutros. No inglês, são usados os mesmos pronomes comuns nos Estados
Unidos, com mais ênfase nos they/their/theirs e ze/hir/hirs (ALLEN, 2016). E no francês, foi
sugerida a utilização da terceira pessoa do singular e a substituição de an por un/une para
representar neutralidade4. O país, que está bastante engajado na luta pela inclusão linguística e

4
AUSSANT, Laurent. Respecter la non-binarité de genre en français. Disponível em:
https://www.noslangues-ourlanguages.gc.ca/fr/blogue-blog/respecter-la-non-binarite-de-genre-fra>. Acesso em:
15 dez 2020.
23

social, recentemente aprovou um projeto de lei que adapta trechos do seu hino nacional para
incluir pessoas não binárias5, além de implementar o terceiro gênero: X6.

No espanhol, a Academia Real Espanhola (RAE), por meio do Observatório de


Palavras, portal que reúne palavras, termos e expressões frequentemente pesquisados, mas
que ainda não estão no Dicionário de Língua Espanhola (DLE), incluiu o pronome de gênero
neutro elle como alternativa para os pronomes el/ella. Contudo, após uma confusão a partir da
inclusão do pronome neutro, o Observatório de Palavras recuou e o excluiu de seu acervo7.

6. Mudanças linguístico-discursivas no português brasileiro


Algumas mudanças linguístico-discursivas vêm sendo implementadas no Brasil em
favor da adoção de uma linguagem politicamente correta. Esse movimento reprova o uso
de termos relacionados negativamente às palavras e propõe a substituição de tais termos
por outros, considerados "neutros" ou "não marcados", a fim de combater o racismo, o
machismo e diversas outras formas de discriminação (BARONAS e POSSENTI, 2006):

O movimento vai além, tentando tornar não marcado o vocabulário (e o


comportamento) relativo a qualquer grupo discriminado [...]. As formas lingüísticas
estão entre os elementos de combate que mais se destacam, na medida em que o
movimento acredita (com muita justiça, em princípio) que reproduzem uma
ideologia que segrega em termos de classe, sexo, raça e outras características físicas
e sociais que são objeto de discriminação, o que equivale a afirmar que há formas
lingüísticas que veiculam sentidos que evidentemente discriminam (preto, gata,
bicha), ao lado de outros que talvez discriminem, mas menos claramente (mulato,
denegrir, judiar, anchorman, history etc). A análise desses fatos, na medida em que
são confrontados com os de uma linguagem que, ao contrário dessa, seria
politicamente correta, permite discutir o que pode significar, em especial para teorias
do sentido, esta atividade "epilingüística" que classifica expressões em politicamente
corretas ou incorretas e que transforma esta qualificação em militância (BARONAS
e POSSENTI, 2006, p. 53).

5
WELLE, Deutsche. Canadá altera hino para respeitar neutralidade de gênero. Disponível em:
<https://g1.globo.com/mundo/noticia/canada-altera-hino-para-respeitar-neutralidade-de-genero.ghtml>. Acesso
em: 22 de out 2020.
6
ZIMONJIC, Peter; ALLEN, Bonnie. Canadians will soon be able to ID gender as 'X' on their passports.
Disponível em: <https://www.cbc.ca/news/politics/transgender-passport-x-identify-1.4261667>. Acesso em: 22
de out 2020.
7
LA REPÚBLICA. RAE elimina pronombre “elle” de su Observatorio de Palabras. Disponível em:
<https://larepublica.pe/cultural/2020/11/08/rae-elimina-pronombre-elle-de-su-observatorio-de-palabras-mdga/>.
Acesso em 15 de out 2020.
24

Resende (1992) acrescenta que em Washington, nos Estados Unidos, os que advogam
pelas causas indígenas pleiteiam pela mudança do nome do time de futebol Redskinks, sob o
argumento de que chamar de “pele vermelha” um jogador de futebol soa como deboche. E
acrescenta que a expressão “rubro negro”, para denominar torcedores do time de futebol
carioca Flamengo, ofenderia negros e indígenas. O autor aduz ainda que, se essa linguagem
for aceita e padronizada, muitas palavras vão ser cassadas.

De fato, se isso acontecer, muitas palavras serão consideradas politicamente


incorretas. Por esse motivo, há certa resistência entre os profissionais da Língua Portuguesa
em reavaliar ou reinterpretar o uso dessas palavras e expressões usadas cotidianamente e que
denotam racismo, antissemitismo ou capacitistismo, como, por exemplo: denegrir, lista negra,
“a coisa tá preta”, criado-mudo, termos considerados racistas; judiar, verbo que remete aos
ataques sofridos pelo povo judeu; demente, termo capacitista que ofende portadores de doenças
mentais.

7. A relação entre gênero, língua e poder no uso do masculino genérico

O masculino genérico ou não marcado é a construção gramatical em que o gênero


masculino é utilizado para se referir a todos os gêneros. Essa representação acontece quando
não sabemos o gênero de quem estamos nos referindo, como em “o homem é um animal da
ordem dos primatas” (MÄDER e MOURA, 2016, p. 34), ou ainda quando há um conjunto de
pessoas de ambos os gêneros, bastando somente uma manifestação do masculino para que
essa regra seja aplicada, como em “os brasileiros formam uma nacionalidade ligada de forma
indissociável ao Estado brasileiro” (MÄDER e MOURA, 2016, p. 34).

O masculino genérico é usado também quando o sujeito é composto por pelo menos
um nome masculino e um nome feminino e o predicado concorda com o masculino, como em
“[...] o homem e a mulher são formados pela cultura e pela sociedade em que vivem [...]”
(MÄDER e MOURA, 2016, p. 34). Por fim, temos a utilização nos casos em que o gênero do
sujeito é indefinido e o predicado concorda no masculino, como em “quais são os direitos de
quem foi demitido?” (MÄDER e MOURA, 2016, p. 34).

Sobre esse assunto, Bagno (2011) aduz que os destinos do idioma são determinados
pelas pessoas que compõem a sociedade, que, desde a pré-história, é norteada pelo
predomínio masculino. Afirma, ainda, que, se uma mulher e seu cachorro são atropelados por
25

um motorista embriagado, os jornais veicularão a notícia como “mulher e cachorro são


atropelados por motorista bêbado”, ou seja, é necessário um cachorro para fazer sumir a
especificidade feminina de uma mulher e inseri-la em uma construção supostamente “neutra”
do masculino.

Embora no português o masculino genérico seja a “regra”, em alguns contextos é


possível observar o uso do feminino genérico, principalmente ao se referir a profissões
estereotipicamente femininas, como enfermeira, secretária, empregada doméstica. Nesses
casos, mesmo que haja pessoas de todos os gêneros exercendo essas funções, o uso do
feminino predomina. Vejamos: “Médicos, enfermeiras e funcionários de saúde necessários
para combater urgentemente o vírus da ébola, afirma a Agência de Saúde da ONU” (MÄDER
e MOURA, 2016, p. 40) e “[...] A maioria das profissionais com esse nível de qualificação já
está empregada, o que faz com que os recrutadores abordem as assistentes, como acontece
na busca por executivos” (MÄDER e MOURA, 2016, p. 40).

Podemos inferir da leitura dos exemplos acima que a escolha do uso do masculino
genérico – e até mesmo do feminino genérico – perpassa o nível social e é direcionada por
estereótipos definidos pelo contexto sócio-histórico. Contudo, esse conceito de masculino
genérico apresenta alguns problemas, entre eles o de que, de acordo com a concepção de
“gênero não marcado”, o masculino teria um status mais importante do que o feminino, pois
sairia de uma categoria básica, masculino e feminino, para uma superordenada, a de ser
humano (MÄDER e MOURA, 2016):

Figura 4 - Modelo metonímico das categorias masculino, feminino e (ser) humano

Fonte: Mäder e Moura (2016)


26

Para propor mudanças que auxiliem na adoção de uma linguagem simétrica do


masculino em relação ao feminino nas construções frasais do português, o Manual para o uso
não sexista da linguagem (2014) elencou alternativas para a utilização de uma linguagem
inclusiva e sem marcação de gênero:

Quadro 2 - Recursos linguísticos não sexistas

Em lugar de: Utilizar:


Os meninos As crianças / A infância
Os homens A população / O povo
Os cidadãos A cidadania
Os filhos A descendência / A prole
Os trabalhadores O pessoal/Os professores/ O professorado/ O
corpo docente/ Os eleitores/ O eleitorado
Os jovens A juventude
Os homens A humanidade
Os jovens que desejem estudar A juventude que deseje estudar
Os gaúchos não querem que A sociedade gaúcha não quer que
Os maiores de idade receberão uma As pessoas maiores receberão uma
O diretor/os diretores A Direção
O coordenador/os coordenadores A Coordenação
Os redatores A Redação
Pediu-se aos juízes Pediu-se ao poder judiciário
Necessitam-se formados em Necessitam-se pessoas formadas em
Há 2.000 anos o homem vivia da caça Há 2.000 anos se vivia da caça
Os leitores do jornal poderão participar do Se vocês leem o jornal poderão participar do
concurso concurso
Fonte: Manual para o uso não sexista da linguagem (2014).

A utilização do masculino genérico é problemática por diversos motivos, mas o


principal deles é a substituição da parte pelo todo, ou seja, homem por humano. Esse recurso
linguístico atribui ao gênero masculino uma característica geral ou universal, que seria capaz
de abranger a totalidade dos seres e das coisas, o que colocaria o homem num patamar mais
elevado que a mulher, contribuindo, dessa forma, para a perpetuação de falas e
comportamentos machistas praticados pela sociedade.
27

Considerações finais

A partir dos aspectos supracitados e levando em consideração a exposição dos fatos a


respeito da reestruturação do gênero no português brasileiro, podemos concluir que ainda há
um longo caminho a ser trilhado no que tange à mudança da gramática normativa para a
inclusão definitiva de uma terceira marca de gênero, visto que qualquer alteração a nível
morfossintático e semântico na Língua Portuguesa apresenta bastante resistência e certa
impermeabilidade.

Contudo, é importante considerar as mudanças sociais ocorridas até aqui. A sociedade


tem se mostrado aberta e disposta a aprender novos conceitos e termos que delineiam as
identidades binárias. Vocábulos como cisgênero, transgênero, papeis e identidades, gênero
não binário e linguagem neutra, que há pouco não existiam, já fazem parte da consciência
coletiva da população brasileira.

Por fim, é importante que os linguistas e gramáticos estejam atentos e preparados para
as mudanças sociais que surgem a todo momento e que impactam diretamente na Língua
Portuguesa, possibilitando a ampliação ou a construção de categoriaslinguísticas que
representem a todos, todas e todes.

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