Cuidado Com o Corpo

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 29

Beleza, vaidade e estética por meio da cultura

material na Porto Alegre oitocentista


Beauty, vanity and aesthetics th rough the material
culture in nineteenth century Porto Alegre
Jocyane R. Baretta*

Resumo: As práticas cotidianas de Abstract: The everyday practices of body


cuidados com o corpo, bem como sua care, as well as their aesthetic valuation
valorização estética são, neste trabalho, are, in this work, interpreted through the
interpretadas a partir da cultura material exhumed material culture in historical
exumada em sítios arqueológicos archaeological sites of Porto Alegre, Rio
históricos de Porto Alegre, Rio Grande Grande do Sul. The archaeological
do Sul. O material arqueológico é oriundo material stems from areas of domestic
de áreas de descarte de lixo de unidades garbage discarding, collective dumpsters
domésticas, lixeiras coletivas e de uma and from the premises of a hospital. One
lixeira no terreno de um hospital. Buscou- sought to understand habits of body care
se entender hábitos de cuidado com o in a context of the second half of the 19th
corpo, em um contexto da segunda century, relating to daily anonymous
metade do século XIX, que diz respeito practices of Porto Alegre society.
às práticas cotidianas anônimas da Ever ydayness of the “city people,”
sociedade porto-alegrense. O cotidiano changes in their habits and their
“das pessoas da cidade”, as mudanças nos appropriation or not of such practices,
hábitos e a apropriação ou não de práticas are contextualized in the process of
estão contextualizados no processo de construction of Brazilian modernity and
construção da modernidade brasileira e analyzed in the different types of speech
analisadoas de acordo com os diferentes relating to the body care.
tipos de discurso relativos aos cuidados com
o corpo.

Palavras-chave: Cuidados com o corpo. Keywords: Body care. Material culture.


Cultura material. Porto Alegre no séc. XIX. Porto Alegre in the 19th century.

*
Graduada em História pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Pesquisadora
colaboradora no Programa de Arqueologia Urbana de Porto Alegre – Museu Joaquim José
Felizardo. E-mail: [email protected]

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 157
Introdução

Este artigo pretende mostrar o potencial arqueológico dos sítios


históricos urbanos de Porto Alegre no que diz respeito às práticas de
cuidado com o corpo, voltadas à questão da estética e da beleza. A partir
de um exercício interpretativo, buscou-se compreender como se davam
as práticas de asseio pessoal em um contexto de construção da
modernidade brasileira, por meio da contextualização das mudanças
nos hábitos e da apropriação de novas práticas, que circulavam em
diferentes formas de discurso, bem como das relações de consumo na
sociedade porto-alegrense oitocentista. O recorte temporal compreende
a segunda metade do século XIX e o início do século XX. Optou-se por
incluir, na pesquisa, materiais recuperados em dois sítios cuja ocupação
adentrou o século XX com a finalidade de verificar o potencial para estudo
dessa temática. A cultura material foi selecionada dentre diferentes tipos de
artefatos históricos em louça, em vidro e em ossos, cujos atributos
apresentaram alguma relação possível com os cuidados com o corpo.
Foram escolhidos sítios arqueológicos de diferentes pontos da cidade,
compreendendo áreas de descarte de lixo de unidades domésticas, lixeiras
coletivas e de uma lixeira de um hospital. As interpretações foram
realizadas considerando um contexto que diz respeito às práticas
cotidianas da sociedade porto-alegrense em relação ao cuidado com o
corpo como um todo, não se atendo a cada sítio arqueológico em
específico.1

Contexto histórico: cuidados com o corpo e seus adereços

No cenário europeu, mais especialmente na França moderna, as


noções de higiene e os cuidados com o corpo se davam não como os
concebemos hoje pela ablução (banhos por imersão), mas, inicialmente,
a seco, com a fricção, na pele, de um pano perfumado. (VIGARELLO, 1985).
As noções de higiene estavam ligadas à aparência e eram evocadas
nos manuais de conduta. Erasmo de Rotterdan, em 1530, já abordava
a limpeza do rosto e das mãos. Jean Baptiste de La Salle, em 1736, “não
dispensava os cuidados com os cabelos que deveriam ser curtos, penteados
e regularmente limpos com pó e farelo. Insistia na higiene da boca, que
deveria ser lavada todas as manhãs, e as unhas cortadas a cada oito dias”.
(VIGARELLO, 1985, p. 23).

158 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


No século XV, antes das restrições quanto ao uso da água, os banhos
estavam ligados aos “prazeres da água” e não a noções de higiene. No
âmbito privado, os banhos eram sinônimo de ostentação e riqueza, sendo
utilizados para diversões e recepções na corte francesa. As restrições ao
uso da água iniciaram somente no século XVI. Isso é percebido pelo
desaparecimento dos banhos e das estufas públicas por toda a Europa.
Os motivos para tal desaparecimento estavam ligados à proliferação de
pestes, ao medo da “invasão” da água através dos poros e, ainda, “à
promiscuidade e excessos que ofendiam a moral”. Também se acreditava
que a água, ao entrar em contato com a pele, poderia levar consigo a
peste, causar alterações nos humores2 e enfraquecer órgãos vitais, por
isso a água deveria ser manuseada com cautela. (VIGARELLO, 1985, p.
27).
Como as pessoas não tomavam banho, faziam uso de artifícios que
melhoravam a aparência, como camisas íntimas de tecidos impermeáveis
para esconder os odores, as feridas e o demasiado número de parasitas
de toda espécie de que ficavam impregnados os corpos. Essas camisas
eram trocadas ou lavadas de tempos em tempos. (VIGARELLO , 1985,
p. 27).
Os higienistas do século XVII associavam a grande quantidade de
parasitas nos corpos ao excesso de humores, demonstrando não estarem
diretamente ligados à higiene, pois “são as substâncias humanas
degradadas que lhes dão vida e reduzir os humores ajudaria a suprimir
tal proliferação”. (VIGARELLO, 1985, p. 42).
Segundo Lima (1995, p. 49), a Teoria dos Humores, ou Teoria
Humoral, advém da medicina hipocrática no século V antes da Era
Cristã. Essa teoria foi baseada na Physis [a natureza] e corresponde aos
quatro elementos: água, ar, fogo, e terra. Esses elementos foram associados
a quatro qualidades: quente; frio, úmido, e seco. Todos esses elementos,
por sua vez, foram relacionados aos humores presentes no corpo humano,
que correspondem ao sangue, ao fleuma ou catarro, à bile amarela e à
bile negra. A Teoria Humoral consistia em manter o equilíbrio dos
humores no corpo, para que o indivíduo gozasse de boa saúde.
Em função das restrições quanto ao uso da água até meados do
século XVII, a limpeza da parte externa do corpo, segundo entendemos
hoje, estaria comprometida e, certamente, causaria males. Mas, naquele
período, a alternativa utilizada para eliminar as moléstias do corpo
consistia em tratar dos humores, fazendo uma “limpeza interior” ao
invés de tomar banho.

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 159
Corbin (1987, p. 54), ao abordar assuntos referentes aos odores, ao
uso da água e aos humores, enfatiza os perigos da água para com os
humores. Os odores emanados dos órgãos e dos humores deveriam ser
mantidos ou eliminados com cautela. “A intensidade dos eflúvios, sinal
de uma intensa animalização, atesta o vigor do indivíduo e da raça.” Ou
seja, era importante manter certos odores nos corpos, pois eles, os odores,
poderiam servir como demonstração de força, de vitalidade, de indivíduos
saudáveis.3
A água somente voltou a ser utilizada com mais intensidade, a partir
da segunda metade do século XVII. Os banhos, objeto de estudo de
médicos e higienistas, passaram a ser defendidos por trazerem benefícios
ao corpo, “como o banho quente que alivia porque faz circular os
humores”. A aristocracia francesa começou a construir, em suas
residências, cômodos e objetos apropriados para os banhos, como a
“cadeira de abluções ou bidê”. (VIGARELLO, 1985, p. 87).
Os objetos e adereços utilizados para higiene corporal e dos espaços
constituem elementos importantes para o entendimento do processo e
das mudanças pelas quais passou a questão da higiene na Europa
moderna. O uso da água, as mudanças no vestuário como a substituição
de tecidos impermeáveis pelos que absorviam o suor, as pinturas no
rosto que eram utilizadas por homens e mulheres, a fim de deixar a tez
branca, o hábito de fazer bochechos com água e canela para melhorar o
hálito, o uso de pentes e pós nos cabelos, bem como a utilização de
perfumes com diferentes finalidades, compõem o que Corbin (1987)
chama “ritual da toalete”, enquanto para a higiene dos espaços se
utilizavam incensos, perfumes nos objetos e na mobília, o hábito de
ventilar a casa e a construção de jardins nos arredores das residências.
(VIGARELLO, 1985).
A nova organização das práticas de higiene valorizou a limpeza dos
corpos e a aparência. Esses novos critérios consistiam na “retirada das
sujidades da pele”, evitando que o “cascão” causasse o desequilíbrio dos
humores. “O cascão obstrui os poros, retém os humores excrementiciais,
favorece a fermentação e a putrefação das matérias e, pior que tudo,
facilita o rebombeamento das imundícies de que a pele está carregada.”
(CORBIN, 1987, p. 97).
No século XIX, os médicos recomendavam que se praticasse o ritual
da toalete, que consistia na lavagem das mãos, dos pés, das axilas, das
virilhas e dos órgãos genitais. Tal ritual poderia ser regulado ou
organizado, para o caso feminino, conforme seus períodos menstruais.

160 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


(CORBIN, 1987). No século XIX, os avanços da medicina e da ciência
com relação aos estudos do ar (a química pneumática), as preocupações
também se centravam nos espaços públicos e privados. A higiene
começava a ser vista além dos cuidados com o corpo. Os autores Vigarello
(1985) e Corbin (1987) abordaram a questão da higienização das cidades
e dos espaços, falando dos avanços da canalização dos esgotos, do uso de
ventilação, das técnicas de engenharia, da reestruturação dos centros
urbanos e dos cuidados com o lixo.
Desde o século XVIII, na França, essas medidas, segundo Foucault
(2001), se tornaram questão de política pública com o objetivo de “elevar
o nível da saúde do corpo social em seu conjunto”. Os avanços da
medicina contribuíram para “a elaboração de políticas públicas, através
das medidas higienistas, desempenhando um papel de polícia médica,
com suas obrigações e serviços”. O objetivo era manter o “corpo social”
saudável, porque estavam envolvidas outras questões de ordem político-
econômica, além das epidemias bastante recorrentes na época. (FOUCAULT,
2001, p. 198-199).

O olfato e as novas representações


da elegância: o uso de perfumes

As práticas do uso de perfumes vêm desde o antigo Egito, como


parte de rituais religiosos mediante a queima de incenso e a aplicação de
bálsamos e unguentos. Óleos perfumados eram aplicados à pele com
propósitos cosméticos, medicinais ou, ainda, espirituais.
Durante o período do Império Romano, o uso de perfumes entrou
em declínio, sendo retomado na Era Moderna. Os perfumes começaram
a fazer sucesso durante o século XVII, com o uso de objetos perfumados,
como luvas e sachês. A partir de 1656, os perfumes começaram a ser
utilizados com frequência, sendo aplicados na pele, nas roupas e nas
mobílias. (HISTÓRIA PERFUME, 2009).
Nesse período, o uso de perfumes estava ligado à intenção de
esconder ou disfarçar os maus odores do corpo. O nariz desempenhava
um papel importante, por meio do olfato, se era capaz de definir o “são
do mal são”. (CORBIN, 1987, p. 31). Daí a importância de encobrir
maus odores causados por feridas e parasitas. Segundo Vigarello (1985),
os perfumes tornaram-se bastante utilizados e com diferentes finalidades,

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 161
além de favorecer a higiene e a saúde. A aparência e a estética eram
fatores importantes, deixando claro que estar perfumado fazia parte de
uma espécie de “ritual do disfarce”.
Os perfumes também eram utilizados como fator de diferenciação,
segundo Vigarello (1985) e Corbin (1987), ao se referirem ao uso de
odores requintados (os de origem vegetal e floral), distanciados de odores
comuns (os de origem animal). A variedade de essências de origem vegetal
e floral, que entrava e saía de moda, era percebida pelo uso de lenços
perfumados.
Os perfumes, consequentemente, valorizavam as questões estéticas,
num período em que a aparência e a decência eram fundamentais para
a vida da aristocracia francesa. Essas regras e a moda eram ditadas pelos
manuais de conduta e civilidade. Outro motivo pelo qual as pessoas
utilizavam perfumes era o fato de haver restrições quanto ao uso de
água, fazendo com que os corpos fossem impregnados de perfumes, até
mesmo de modo exagerado, tornando o ar à sua volta irrespirável, pois
“a higiene era daquilo que se vê e sente”. (VIGARELLO, 1985, p. 75).
Somente a partir da segunda metade do século XVIII, que se
percebeu o início das mudanças nas práticas com relação ao uso de
perfumes. Com o retorno do uso de água e banhos por ablução, já não
havia necessidade de esconder as moléstias do corpo e o mau cheiro por
elas provocado, uma vez que o sabão também contribuía para a cura. E,
ainda, o excesso de perfumes também poderia fazer mal.
Os discursos higienistas reforçavam a importância das abluções para
a eliminação das impurezas depositadas sobre a pele. Se a pele
permanecesse impregnada de sujeira, essa obstruiria e alteraria os
humores, causando doenças. Mesmo com as descobertas em relação ao
uso de água e os discursos de médicos e higienistas, favoráveis aos banhos,
os perfumes não deixaram de ser utilizados. Pelo contrário, o que se
percebeu pela própria história do perfume é um aumento no consumo
durante a Era Moderna e o aparecimento de novas fragrâncias. Todavia,
o que mudou foram os motivos pelos quais os perfumes eram/são
consumidos. Além da vaidade, da estética e da aparência, os perfumes
adquiriram fins terapêuticos.
A utilização dos aromas para “purificar” os corpos e ambientes se
tornou uma prática comum nas cortes europeias, advinda dos mais
variados discursos divulgados via manuais de conduta, retórica de médicos
e mesmo pelo contato entre pessoas, que poderiam fazer recomendações
umas às outras.

162 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


A partir da segunda metade do século XVIII, os médicos começaram
a “justificar cientificamente as virtudes terapêuticas de certos arômatas”,
que auxiliavam no combate aos miasmas4 pútridos de forma eficaz. A
aceitação da comunidade médica, com relação aos efeitos terapêuticos
dos odores, se deu antes dos avanços da química pneumática,5 pois,
após essas descobertas, os discursos se tornaram contrários, privando os
odores e arômatas do “seu álibi terapêutico”, afirmando que o uso de
incensos servia apenas para mascarar os maus odores. (QUÍMICA, 2009).
O uso de perfumes serviu como fator indicativo de práticas e hábitos
que, apesar de os discursos higienistas terem mudado ao longo do tempo,
o seu uso permaneceu, porém, com significados incrementados com
novos propósitos. E, ainda, continuaram atrelados ao uso de perfumes,
a sentimentos de beleza, de estética e de vaidade. Assim como percebeu
Lima (1995, p. 55) no que diz respeito às práticas da medicina humoral
que, segundo ela, “penetrou profundamente nas mentalidades, exercendo
uma influência decisiva e duradoura”.
A análise de Lima (1995, p. 52) mostra que os “avanços da medicina
e o desenvolvimento da ciência e tecnologia, paralelos ao crescimento
da indústria e do capitalismo”, de maneira mais acentuada a partir da
segunda metade do século XIX, foram fatores que contribuíram para o
“advento da medicina efetivamente científica, moderna”. Porém, o ideário
hipocrático, no qual se baseava também a terapia com aromas, “permanece
arraigado nas mentalidades, contribuindo fortemente para a formação
da consciência médica popular e impregnando hábitos e práticas da
vida cotidiana”. (LIMA, 1995, p. 27).

Cuidados com o corpo no Brasil

Segundo Lima (1989), a chegada da Coroa portuguesa ao Brasil,


em 1808, marcou o início de um período de profundas transformações
políticas, econômicas, sociais e culturais. Esse período iniciou o processo
de “construção da modernidade [brasileira], com a entrada dos valores
modernos a partir de condições propiciadas com a constituição das duas
instituições [...] do mundo moderno – o mercado e o Estado”.
(T OCCHETTO , 2004, p. 156-159). Essa absorção da modernidade
europeia aconteceu de maneira profunda, a partir de um somatório de
elementos “imitativos” e de elementos próprios de “assimilação e
aprendizado cultural”. (p. 156-159).

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 163
No Rio de Janeiro, as elites da capital do Império buscavam se
espelhar no “modelo parisiense” de cidade moderna, absorvendo os
paradigmas europeus como sinônimo de porte, urbanidade, civilidade,
requinte e bom gosto. No Brasil, os costumes, as práticas e os hábitos
da sociedade carioca serviam como referência a outras cidades brasileiras
no século XIX. (PESAVENTO, 1999).
Lima (1989) refere que, a partir da cultura material exumada em
sítios arqueológicos históricos no Rio de Janeiro, as práticas foram se
modificando ao longo do tempo e profundamente alteradas após a
chegada da Coroa portuguesa. A autora coloca que, mesmo antes da
chegada da família real no Brasil, a população carioca já tinha hábitos
de higiene pessoal, possivelmente em virtude da influência indígena. “A
água era apanhada pelos escravos aguadeiros nas bicas e aquedutos
públicos, consistindo o asseio em abluções feitas em bacias e baldes,
não raro perfumadas com essências naturais.” (p. 207). Além disso, o
calor dos trópicos talvez fosse outro fator importante que reforçava o
hábito de tomar banhos. Isso pode ser demonstrado pela utilização de
práticas com relação ao uso de água, “causando espanto aos europeus o
apreço que os brasileiros tinham por esse costume”. (p. 80).
A Corte portuguesa, ao se instalar no Brasil, não tinha o hábito de
tomar banho regularmente e trocava suas camisas uma vez a cada mês.
As pessoas estrangeiras, que não faziam parte da Corte, aderiram às
práticas locais de banho com mais facilidade, inicialmente com abluções
parciais – lavando somente os pés. Com o passar do tempo, os banhos
nos rios e no mar se tornaram comuns, pois eram neles que lavavam o
corpo, as roupas e as louças. O Rio de Janeiro recebeu o benefício da
água encanada no século XIX, sendo a primeira cidade brasileira a dispor
dessa benesse. (BANHOS NO BRASIL, 2009).
Em Porto Alegre, no sítio Pinacoteca Municipal – RS.JA-66, foi
encontrada uma cisterna no pátio da casa, provavelmente construída no
século XIX, uma novidade em relação aos outros sítios da cidade,
revelando a preocupação dos ocupantes da casa com relação ao
armazenamento de água e denunciando a possibilidade de haver
problemas com abastecimento de água.
As práticas de asseio pessoal foram notadas no Rio de Janeiro pelo
aparecimento de artefatos relacionados a produtos de beleza, como “vidros
de ungüentos e óleos para cabelo, produzidos na Inglaterra; frascos de
perfume e cosméticos; travessas para o cabelo [e] escovas de dente feitas
em osso”, recuperados nos sítios arqueológicos cariocas. No decorrer do

164 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


século XIX, esses produtos estavam “difundidos nos estratos pequeno-
burgueses” da sociedade carioca. (LIMA, 1989, p. 222). A entrada desses
produtos de maneira maciça no Brasil, após a abertura dos portos às
nações amigas, em 1810, e as alianças comerciais feitas com a Inglaterra
colaboravam para que o seu consumo se popularizasse. A “ânsia de copiar
os costumes, o bom gosto e o requinte europeu é canalizada [...] para o
uso de acessórios e cosméticos, em grande parte, inadequados ao clima
tropical”. (p. 207).
Os produtos para o cuidado com o corpo, encontrados nos sítios
arqueológicos históricos de Porto Alegre, são, em grande parte, de
procedência europeia, ou pelo menos rotulados6 em língua estrangeira.
Provavelmente, isso demonstra que o uso de tais produtos, pela
população local, era feito com a intenção de imitar os costumes europeus
e como um modo de se sentir inserida nesse contexto de modernidade.

Sítios arqueológicos

Os sítios arqueológicos pesquisados7 compreendem áreas de descarte


de lixo em três situações diferentes: lixeiras domésticas; lixeiras coletivas;
e uma lixeira no terreno de um hospital. As lixeiras domésticas
correspondem aos sítios arqueológicos Solar da Travessa Paraíso – RS.JA-
03, Solar Lopo Gonçalves – RS.JA-04, Casa Riachuelo – RS.JA-17,
Chácara da Figueira – RS.JA-12 e Pinacoteca Municipal – RS.JA-66.
As lixeiras domésticas são entendidas como o depósito de refugos ou
como áreas de descarte de lixo nos espaços compreendidos pelas unidades
domésticas, fruto de atividades cotidianas. As lixeiras coletivas
compreendem o depósito de lixos em áreas públicas, onde os refugos
eram descartados por parcelas da população e correspondem aos sítios
Mercado Público – RS.JA-05, Praça Rui Barbosa – RS.JA-06 e Paço
Municipal – RS.JA-20. A área de descarte de lixo no terreno do Complexo
Hospitalar Santa Casa de Misericórdia, de Porto Alegre, corresponde a
uma das estruturas do sítio arqueológico Santa Casa de Misericórdia –
RS.JA-29.

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 165
Figura 1: Localização dos sítios arqueológicos
Fonte:

Uma das intenções deste artigo é mostrar a distribuição espacial


desses sítios arqueológicos no espaço da cidade, a fim de que se tenha
uma ideia abrangente dos locais onde foram encontrados, ou não,
materiais relacionados com os cuidados com o corpo. A intenção foi
fazer um exercício interpretativo sobre as práticas de asseio pessoal e
cuidados com o corpo das pessoas da cidade, ou seja, práticas cotidianas
e anônimas da sociedade porto-alegrense.

Considerações sobre a amostra material

Para a viabilização desse exercício interpretativo, a amostra material


foi trabalhada com o objetivo de discutir questões relativas à forma e à
função dos materiais. Foram preenchidas fichas contendo a quantidade
de fragmentos de cada categoria material, a fim de determinar o Número
Mínimo de Peças (NMP).
Para que não houvesse distorções quanto à quantificação por NMP,
foram selecionados, em sua maioria, objetos inteiros e outros com
inscrições que possibilitassem sua identificação. No caso dos
fragmentados, foram considerados os que apresentavam características
discrepantes em relação aos demais (bases, coloração, terminações), que

166 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


indicassem peças, alcançando, assim, dados quantitativos mais confiáveis
para o estudo em questão.
A amostra de materiais foi dividida em categorias conforme a forma
e a função de cada objeto. No caso dos materiais vítreos, foram
estabelecidas as seguintes categorias: frascos de perfume, que são os
recipientes identificados via inscrições no próprio frasco, o que em sua
maioria, possibilitou a identificação da marca dos produtos.
Os possíveis frascos de perfume são aqueles materiais em que os frascos
contêm algum tipo de adorno típico de frascos de perfumes,8 mas que
não possuem inscrições indicando a procedência. Esses frascos não
poderiam ser considerados de medicamentos, porque os recipientes com
remédios não receberiam adornos com formatos de gota ou do corpo de
uma mulher como os encontrados.

Tabela 1 – Materiais encontrados nas lixeiras domésticas: Solar da Travessa Paraíso


RS.JA-03; Solar Lopo Gonçalves RS.JA-04; Sítio Casa Riachuelo RS.JA-17; Sítio
Pinacoteca Municipal RS.JA-66

Fonte: Material coletado pela pesquisadora

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 167
Tabela 2 – Materiais encontrados nas lixeiras coletivas: Mercado Público – RS.JA-05;
Praça Rui Barbosa – RS.JA-06 e o Paço Municipal – RS.JA-20

Fonte: Material coletado pela pesquisadora

Tabela 3 – Materiais encontrados no sítio arqueológico Santa Casa – RS.JA-29

Fonte: Material coletado pela pesquisadora

No caso do Sítio Solar Lopo Gonçalves – RS.JA-04, apareceram


frascos em azul cobalto, identificados por Symanski (1998) como
possíveis recipientes de Florida Water, uma espécie de água de colônia
que, segundo Lima (1996, p. 79), foi utilizada até meados do século
XX e frascos com inscrições em Espanhol, possivelmente tenham sido
produzidos para exportação para a América Latina, visto que, segundo
ela, somente foram encontrados em sítios arqueológicos nessas regiões
(América Latina).
A outra categoria, ainda dentro dos materiais vítreos, representa os
possíveis frascos de perfumes ou medicamentos que são aqueles frascos
“simples”, sem inscrições ou decoração que poderiam receber uma tampa
de vidro ou rolha de cortiça, semelhantes aos recipientes utilizados em
farmácias. Para esse tipo de frasco foi considerada a possibilidade de
serem de perfume, porque são parecidos com os frascos identificados
como de perfumes sem inscrições que indicassem a procedência. Por
isso, existe a possibilidade de haver materiais das coleções dos sítios aqui

168 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


estudados, inseridos nessa categoria, que não foram incluídos na amostra
por estarem bastante fragmentados, não sendo possível sua identificação.
Também foi criada uma categoria para as tampas feitas de vidro
para os frascos, indicadas na bibliografia como “glass stoppers” (figura 2).
Essas tampas eram utilizadas em frascos que continham substâncias
gasosas ou voláteis, encontradas nos sítios Pinacoteca Municipal – RS.JA-
66, Casa Riachuelo – RS.JA-17 e Santa Casa de Misericórdia – RS.JA-
29. Poderiam receber algum tipo de adorno que era feito durante o
processo de fabricação no próprio molde (POLAK, 2000) ou as tampas
mais antigas, que eram decoradas manualmente. (JONES, 2000a).

Figura 2: Glass stoppers – tampas para frascos


de vidro, encontradas nos sítios Pinacoteca
Municipal – RS.JA-66, Casa Riachuelo –
RS.JA-17 e Santa Casa de Misericórdia – RS.
JA-29.
Fonte: Material coletado pela pesquisadora
Birnfeld (2009).
Foram incluídas, na amostra, duas peças em vidro leitoso (JONES,
2000a) oriundas do sítio Solar Lopo Gonçalves – RS.JA-04 – que, pelo
seu formato, podem ter sido utilizadas como potes de creme.
No caso do sítio do Mercado Público – RS.JA-05 – foi criada a
categoria frasco de perfume ou tinteiro para um frasco que pode ter sido
recipiente de tinta, mas que não foi descartada a hipótese de ter sido
contentor de perfume, por ser um frasco decorado (durante o processo
de fabricação com um tipo de molde não identificado), parecido com
alguns frascos de perfume encontrados na internet.9
Na lixeira do hospital, foram encontrados frascos de líquidos
dentifrícios, que serviam para higiene bucal, identificados via inscrições
nos frascos: “DENTIFRÍCIO DR. PIERRE”. Também a embalagem de um

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 169
produto para lavar os cabelos e a pele, identificada pelas inscrições no
frasco: “TRICOFERRO DE BARRY”, que corresponde à categoria frasco de
xampu.
Para os materiais em louça, relativos aos cuidados com o corpo,
foram selecionados aqueles recipientes em formato de pote, que poderiam
conter cremes de beleza. No caso de cremes para o rosto, foram
identificadas10 três variações: cold cream; powder ou pomadas. Esse tipo
de produto poderia ser utilizado pelas pessoas independentemente do
sexo, pois servia como cremes que embelezavam e perfumavam a pele.
Foi encontrado no Sítio Santa Casa – RS.JA-29 um pote em louça com
inscrição na tampa: “COLD CREAM”. Houve o caso de produtos de uso
específico masculino, encontrados no sítio Casa Riachuelo – RS.JA-17,
que foram identificados pelas inscrições como sendo potes de creme
para barba “CRÊM... AMAND... pour... de la barbe... L. T... PARI...” e “CRÊME
DE S... AUX...” (figura 7).
Os potes de louça variaram entre dois tipos de pasta: ironstone e
faiança fina,11 decorados, ou não, correspondentes às seguintes categorias:
possíveis potes de creme; tampas de possíveis potes de creme; tampa de pote de
creme para barba e possível pote de creme com tampa. A palavra possíveis foi
utilizada nessas categorias, porque a maioria dos potes não traz nenhuma
informação quanto ao produto ou à sua procedência, salvo duas exceções
que são as tampas de potes de creme para barba, exumados no sítio Casa
Riachuelo – RS.JA-17.
A hipótese de os potes serem de creme, mesmo sem indicação de
uso ou procedência, foi considerada, porque, segundo Pot Lids (2009),
foram encontrados potes utilizados para creme e saboneteiras bastante
semelhantes aos encontrados nos sítios arqueológicos em questão.
Também foram recuperadas, no sítio Mercado Público – RS.JA-
05, duas saboneteiras que indicam a realização de práticas relativas ao
ritual da toalete e de uso de água pelas pessoas da cidade.
O pente de cabelo recuperado no sítio arqueológico Pinacoteca
Municipal – RS.JA-66 – foi produzido com um material chamado
baquelite12 (anterior ao plástico), inventado na primeira década do século
XX. Esse artefato (pente), juntamente com uma lixa de unha com marcas
de uso, foram inseridos na amostra por terem relação com os cuidados
com o corpo, no caso, cabelos e unhas, apesar de ser um sítio inédito
ainda não datado.

170 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


Quanto às escovas de dentes, todas são feitas com osso, com cerdas
possivelmente de pelo de porco ou crinas de cavalos (SANT’ANA, 2000),
que serviam para a higiene bucal. No sítio arqueológico da Pinacoteca
Municipal – RS.JA-66, a escova dental encontrada foi identificada como
de origem francesa devido às inscrições no próprio cabo: “MAUREY
DESCHAMPS – PARIS FRANCE – CASA POSTAL ... OUVIDOR – RIO DE JANEIRO”.
No sítio arqueológico da Santa Casa – RS.JA-29, foram recuperadas
sete escovas: uma escova de origem francesa “... PR... DE DE PARIS”; uma
inglesa “J. HALLAWELLE & Co – G.B KENI & SONS – LONDON” e outras
cinco escovas sem inscrição.

Os perfumes e seus usos

Os frascos de perfumes, identificados na amostra de materiais


selecionados para este estudo correspondem, em sua maioria,
possivelmente, a produtos de origem francesa (oito), uma peça de provável
origem inglesa e dois frascos miniatura de perfume, cuja procedência
não foi reconhecida.
A presença de materiais de origem francesa, identificados a partir
de fábricas situadas na França e encontrados nos sítios arqueológicos de
Porto Alegre, reforça aquilo que Pesavento (1999) aponta como tendo
relação com a busca de paradigmas modernos europeus, e que Lima
(1989) revela pela entrada maciça de produtos importados e o consumo
deles pela sociedade carioca com a mesma intenção. Quanto à marca
dos perfumes, identificada na amostra, essa corresponde a perfumistas
franceses muito famosos do século XIX. Inclusive, existe a repetição de
produtos da mesma marca em sítios arqueológicos diferentes, como foi
o caso do Perfume Lubin (figura 3), que apareceu no sítio arqueológico
da Casa Riachuelo – RS.JA-17, e na lixeira do Hospital da Santa Casa
de Misericórdia – RS.JA-29. As evidências materiais oriundas desse sítio
arqueológico estão em processo de análise, e as interpretações ainda não
são conclusivas.

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 171
Figura 3: Frasco do perfume Lubin Paris, encontrado
nos sítios Santa Casa de Misericórdia – RS.JA-29 e
Casa Riachuelo – RS.JA-17
Fonte: Material coletado pela pesquisadora Birnfeld
(2009).

Nos sítios arqueológicos do Solar Lopo Gonçalves – RS.JA-04 – e


Pinacoteca Municipal – RS.JA-66, foi identificado o mesmo produto:
“ORIZA OIL LE GRAND”. O perfumista Oriza fabricava perfumes na França
(ORIZA P ERFUMARIE). Ambos os sítios arqueológicos correspondem a
residências de pessoas de elevadas posses.
Dois fatos importantes foram descobertos no decorrer das pesquisas
e análises com relação à marca acima. Primeiramente, a data da produção
do frasco corresponde ao intervalo entre os anos de 1857 e 1870 devido
ao uso de snap case – ferramenta para segurar o objeto durante a
fabricação – e o tipo de molde. (BAUGHER-PERLIN, 1982). A data da
marca ORIZA PERFUMARIE corresponde ao ano de 1879 para o início da
produção dos perfumes Oriza e foi patenteada somente em 1887. (ORIZA,
2009). Segundo: não foi encontrado nenhum produto com esse nome
“ORIZA OIL LE GRAND” fabricado pelo perfumista Oriza, pelo menos nas
fontes pesquisadas (via internet e na bibliografia especializada). As
discrepâncias entre as datas de produção do vidro e da marca ORIZA
PERFUMARIE podem ser indicativas de que esse produto não tenha sido
produzido pelo fabricante indicado no frasco.
Com outro frasco de perfume, do sítio da Santa Casa de
Misericórdia – RS.JA-29 –, com as inscrições “ESSENCE MYSTERIOUSE”,
da marca “L.T. PIVER P ARIS”, ocorreu fato semelhante, visto que foi
encontrado o fabricante, mas nenhum produto com o nome “Essence
Mysteriouse”.

172 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


Figura 4: Perfume Parfumeur Paris, com tampa (à esq.); Perfume Phonore
Paris (no meio, atrás); Perfume E. Coudray (no meio, na frente); Perfume
Essence Mysteriouse (à dir.) e o Perfume em miniatura (na frente).
Encontrados nos sítios Santa Casa de Misericórdia – RS.JA-29 – e da
Pinacoteca Municipal – RS.JA-66
Fonte: Material coletado pela pesquisadora Birnfeld (2009).

O único perfume, identificado na amostra, como sendo,


possivelmente, de origem inglesa, corresponde ao fragmento de um
frasco exumado no sítio arqueológico do Paço Municipal – RS.JA-20,
com as seguintes inscrições: “SOCIETE E... ou SOCIETY E...”. Possivelmente
seja de água de colônia, ou seja, “SOCIETY EAU DE COLOGNE” fabricado a
partir de 1907, tendo em vista a semelhança dos frascos. (IDENTIFICAR
FRASCOS, 2009).
Os sítios arqueológicos da Santa Casa de Misericórdia – RS.JA-29
– e da Pinacoteca Municipal – RS.JA-66 – também apresentaram
minifrascos bastante semelhantes. Possivelmente, sejam de um perfume
em miniatura ou uma amostra de perfume, que tem inscrições no ombro
do minifrasco: “KISS LISS” ou “KISS KISS”, “...PARIS...”, difíceis de identificar
devido ao seu tamanho, com, aproximadamente, 2 centímetros de
largura, e pelo avançado processo de decomposição. Não foi encontrado
nenhum produto ou marca com esse nome (figura 4).
A partir da segunda metade do século XIX, no Brasil, as águas
aromatizadas e as essências perfumadas eram utilizadas por homens e
mulheres. Acreditavam no poder curativo e terapêutico dos aromas que
eram considerados “verdadeiros ‘elixires da vida’, preservavam a juventude

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 173
e a beleza, aliviavam dores, perfumavam hálitos”. (LIMA, 1996, p. 79).
Era costume aspergir fragrâncias em ambientes e nos objetos, passadas
sobre a roupa e a pele, inaladas em lenços e até ingeridas. A afirmação
feita por Lima (1996) reforça os propósitos desta pesquisa no que diz
respeito aos motivos pelos quais as pessoas usavam perfumes. Eles vão
além da questão terapêutica, fundamentando-se na intenção dos
indivíduos de permanecerem jovens e bonitos, pois os aromas “preservam
a juventude e a beleza”.
O consumo de perfumes está relacionado à apropriação de discursos
e práticas advindos de outros locais – Rio de Janeiro ou Paris – que,
possivelmente, foram ressignificados, carregados de elementos internos
e externos, 13 que compõem as particularidades locais, como colocou
Tocchetto (2004). Também diz respeito às relações humanas entre grupos
(sociedades), às relações comerciais e aos paradigmas existentes na
mentalidade do século XIX.
As pessoas, possivelmente, tinham a necessidade de demonstrar aos
outros o quão chiques e civilizadas eram ou haviam se tornado. Isso se
dava pela apropriação de práticas e discursos ligados à modernidade, ou
seja, pela absorção dos paradigmas modernos. Tais paradigmas abrangem
os discursos higienistas trabalhados em toda a Europa, os quais pregavam
a limpeza e a higienização dos corpos e espaços, e os manuais de civilidade
e conduta que ditavam as regras de etiqueta e moda, como outros fatores
importantes, além daqueles ligados à política e à economia, envolvendo
os avanços da ciência e do capitalismo.

A higiene bucal

As práticas de higiene bucal com o uso de escova de dentes, segundo


a autora Lima (1989, 1996), somente são percebidas a partir da chegada
da Corte portuguesa. Foram encontrados, nos sítios arqueológicos do
Rio de Janeiro, objetos como escova de dentes em osso e potes em faiança
de pós-dentifrícios.
Artefatos semelhantes foram encontrados em Porto Alegre, também
demonstrando o interesse da população local em fazer o asseio da boca
e eliminar o mau hálito. Os objetos usados para esse tipo de cuidado,
encontrados nos sítios arqueológicos de Porto Alegre, correspondem a
escovas de dentes e embalagens de líquidos dentifrícios – uma espécie
de creme dental, de origem francesa (figuras 5 e 6).

174 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


No sítio arqueológico da Pinacoteca Municipal – RS.JA-66 –, foi
exumada uma escova de dentes de origem francesa, importada via Rio
de Janeiro, porque possivelmente foi comercializada na Rua do Ouvidor.
O objeto contém inscrições fazendo referência à procedência, pois contém
a marca do fabricante no cabo “MAUREY DESCHAMPS – PARIS FRANCE –
CASA POSTAL... O UVIDOR – RIO DE JANEIRO ”. Ao chegar ao Brasil, o
comerciante da Rua do Ouvidor também deixou sua marca no cabo da
escova. E, ainda, revela que os ocupantes desse sítio arqueológico
adquiriam objetos do Rio de Janeiro, reforçando a ideia de absorção de
paradigmas modernos da capital imperial.
Qual era o significado de fazer o asseio da boca no século XIX?
Manter a higiene bucal, antes de qualquer coisa, era uma questão estética.
As propagandas encontradas sobre o produto “Dentifrício Dr. Pierre”
(A NÚNCIO D ENTIFRÍCIO , 2009), exumado no sítio Santa Casa de
Misericórdia – RS.JA-29 – (figuras 5 e 6), remetem a essa questão da
aparência, pois o mau hálito podia ser sentido por qualquer pessoa que
se aproximasse do indivíduo, enquanto uma dor de dente era sentida
apenas pelo sujeito, ou seja, é evidente que a higiene bucal colaborava
na prevenção de possíveis moléstias bucais, porém a limpeza da boca era
feita com a principal intenção: ter bom hálito.

Figura 5: Frascos Dentifrícios Dr. Pierre, encontrados nos sítios Santa


Casa de Misericórdia – RS.JA-29
Fonte: Material coletado pela pesquisadora Birnfeld (2009).

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 175
Figura 6: Escovas de dentes encontradas no sítio Santa Casa de Misericórdia – RS.JA-29
Fonte: Material coletado pela pesquisadora Birnfeld (2009).

Outros apetrechos de toucador

Os objetos que dizem respeito ao ritual dea toalete, encontrados


em Porto Alegre, correspondem a potes de creme, saboneteiras, pentes e
produtos para lavar os cabelos.
No sítio da Santa Casa de Misericórdia – RS.JA-29 –, foi encontrada
uma tampa de pote de creme para o rosto tipo cold cream. Esse tipo de
produto era fabricado por vários estabelecimentos e em diferentes países
da Europa e dos EUA. (POT LIDS, 2009). As práticas de cuidado com o
corpo são confirmadas pela presença desses objetos nos sítios
arqueológicos, com maior ou menor intensidade, podendo informar
preferências e aceitação de produtos no mercado, como é o caso dos dois
potes de creme para barba, exumados no sítio arqueológico da Casa
Riachuelo – RS.JA-17 –, indicando a preferência do(s) ocupante(s)
daquela residência pelo uso de creme francês para barba, possivelmente
do mesmo fabricante (figura 7).

176 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


Figura 7: Potes de creme para barba. Sítio Casa Riachuelo – RS.JA-17
Fonte: Material coletado pela pesquisadora Birnfeld (2009).

Outro elemento importante refere-se ao uso de sabão ou sabonete


em barra, percebido pelos anúncios em almanaques, também de
produtos líquidos para lavar os cabelos e a pele (xampu), como o
“TRICOFERO DE BARRY”, encontrado no sítio Santa Casa de Misericórdia –
RS.JA-29. Esses produtos demonstram o interesse das pessoas pelo trato
da pele e dos cabelos que, por sua vez, necessariamente, deveriam fazer
uso de água, seja para abluções parciais, seja para totais.
No sítio da Praça Rui Barbosa – RS.JA-06 –, foi encontrado um
produto com as inscrições “LOND...OPODEL”, o qual pode ser uma espécie
de sabonete líquido de linimento canforado ou emplasto, possivelmente
da marca “OPODEL’ DOC”. Esse produto também era indicado para o
tratamento de reumatismos e, possivelmente, utilizado como sabão, capaz
de limpar e tratar. Esse também foi encontrado por Lima (1989) em
sítios do Rio de Janeiro, indicando sua popularidade no Brasil.

Algumas considerações sobre as análises

Os materiais relativos aos cuidados com o corpo, analisados neste


estudo, correspondem a um número pequeno de peças em relação à

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 177
louça de chá, de mesa e a peças de vidro não relacionadas com o tema
desta pesquisa, recuperadas nos sítios arqueológicos de Porto Alegre.
Esse fato se justifica pela menor necessidade de aquisição de produtos
(para manter os cuidados com o corpo) em relação ao consumo de
bebidas, peças e/ou louça. Talvez essa minoria em relação a outros
produtos esteja atrelada ao processo de aquisição, uso e descarte de
perfumes, cremes e escovas de dentes, o descarte, no século XIX, não
tinha a mesma conotação que se tem hoje. Esse tipo de produto poderia
ser de difícil acesso ou muito caro, aumentando a sua vida útil. No caso
dos frascos, muitos continham adornos e, mesmo que acabasse seu
conteúdo, as pessoas poderiam guardar o frasco.
Nas unidades domésticas, os materiais recuperados dizem respeito
a contextos bem-específicos de pessoas que faziam parte da elite porto-
alegrense do século XIX, e os materiais oriundos desses locais informam
a incorporação de práticas de cuidado com o corpo por seus usuários,
independentemente do sexo.
Quanto às lixeiras coletivas, locais que recebiam lixo de vários pontos
da cidade, é impossível saber quem foram as pessoas que formaram esses
depósitos. Sabe-se que são ocupantes da cidade, pessoas que aqui viviam
e, portanto, dizem respeito aos “modos das pessoas da cidade”, de
maneira ampla, generalizante. Também, por meio das unidades
domésticas se podem abstrair informações de maneira mais generalizante,
uma vez que esses sítios encontram-se inseridos na cidade, e os seus
moradores também são “pessoas da cidade”. O mesmo serve para a lixeira
da Santa Casa de Misericórdia, que está localizada na cidade e também
conta a história das “pessoas da cidade”.
Quanto ao sítio arqueológico Chácara da Figueira – RS.JA-12 –,
não foram encontrados materiais relativos aos cuidados com o corpo, e a
ausência desses pode servir como indicador de uso, práticas ou acesso
em uma área rural da cidade. Isso não significa que os ocupantes do
sítio não realizassem práticas de higiene e cuidados com o corpo. Por
outro lado, a ausência pode ser resultado da dificuldade de acesso a esse
tipo de produto, semelhantemente aos encontrados na área central da
cidade (figura 1).
Apesar da distância entre Porto Alegre e Rio de Janeiro e entre Rio
de Janeiro e Paris, os valores modernos circulavam pelas grandes cidades
(guardadas as devidas proporções), e as pessoas se apropriavam desses
discursos, atribuíam significados a eles e agiam de modo particular.
Como a questão dos banhos, que, na Europa do século XIX, estavam

178 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


apenas sendo retomados devido aos discursos médicos, que afirmavam
que os banhos não faziam mal, como anteriormente se acreditava. No
Brasil, os banhos eram comuns entre os povos que aqui viviam e causavam
espanto aos que aqui chegavam, o tamanho do apreço pela água.
Motivado pelas trocas culturais, os costumes e hábitos foram sendo
moldados e adaptados de acordo com as especificidades locais.
Essas relações de absorção dos paradigmas modernos não
aconteceram de modo simples, como uma conexão entre Porto Alegre –
Rio de Janeiro – Paris. Aqui no Rio Grande do Sul, os produtos chegavam
de diferentes maneiras: em navios vindos diretamente da Europa, da
América do Norte e de outros locais do mundo, de maneira legal ou
não.

Considerações finais

Apesar do contexto europeu do século XIX (a respeito dos cuidados


com o corpo) estar intimamente ligado à questão da saúde, a cultura
material dos sítios arqueológicos de Porto Alegre possibilitou também
reflexões sobre os valores de beleza e estética, que permaneciam intrínsecos
nos motivos que levavam as pessoas a adotarem práticas de asseio pessoal.
A Porto Alegre do século XIX, apesar de distante geograficamente
dos grandes centros nacionais como a capital do Império, São Paulo e
Recife, não estava alheia às transformações que estavam ocorrendo. A
cultura material afirma essa participação e, ainda, revela informações
sobre os agentes que fizeram parte desse processo, o que torna viáveis
estudos dessa natureza. A formação de depósitos arqueológicos com
objetos de cuidado com o corpo demonstra que os ocupantes da cidade
tinham preocupação com o asseio pessoal, impregnados dos valores
ligados à aparência como a beleza, a vaidade, a estética e as boas maneiras.
Os motivos que os levavam a fazer uso de produtos como cremes,
xampus, escovas de dentes, pós-dentifrícios e perfumes envolviam
questões que fizeram parte dessa modernidade que foi sendo construída
paulatinamente.
Os produtos para o cuidado com o corpo, utilizados pelas pessoas
que ocupavam a cidade (Porto Alegre), indicam hábitos e práticas de
asseio pessoal. Essas relações humanas compreendem, também, a
apropriação de paradigmas modernos, a atribuição de significados a
objetos, pessoas ou eventos e, ainda, a particularização dos costumes e

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 179
hábitos que acabavam sendo exteriorizados pelos indivíduos da
comunidade local, verificadas e interpretadas por meio da cultura
material e das relações sociais e de consumo.
As análises e interpretações levaram a novos questionamentos,
demonstrando o potencial do tema para pesquisa. Como exemplo,
citam-se as reflexões feitas com relação às possibilidades de falsificação
de produtos, que surgiram a partir da pesquisa em propagandas de
almanaques, as quais normalmente continham frases alertando os
consumidores quanto às falsificações, como uma propaganda de óleo
para motores automotivos, encontrada no Almanach Correio do Povo, de
1920. Por que os anunciantes (dos mais variados tipos de produtos)
colocariam esse tipo de informação em seus anúncios?
Outros elementos foram percebidos a partir da análise em materiais,
que possibilitaram ver algumas discrepâncias entre os frascos e seus
fabricantes, como é a data. A data de fabricação da embalagem que
combina com o início da produção da marca ou o produto informado
no frasco não corresponde aos produzidos pelo fabricante. Por que
ocorreram essas divergências quanto às datas? É possível que o frasco
não tenha sido produzido na França pelo “fornecedor oficial” da marca,
uma vez que, nos arredores de Porto Alegre, no século XIX, existiam
algumas fábricas produtoras de vidro. Isso, possivelmente, explicaria o
tipo de molde utilizado para produção daquele vidro que, segundo a
bibliografia especializada, já estava em desuso quando surgiu a marca.
Isso também explicaria o fato de não se ter encontrado esse produto
específico dentre os produzidos pela marca francesa. Seria prudente
considerar produtos como originários da França só por conterem
informações em francês no frasco? Não poderia ser apenas uma maneira
encontrada pelos produtores locais para aumentar a venda dos seus
produtos?
Se observarmos as relações de consumo atuais, perceberemos que
muitas pessoas consomem produtos de beleza pela fragrância, pelo
formato do frasco, pela marca, pela propaganda, dizendo que o produto
é bom, etc.
No século XIX, as relações de consumo talvez não fossem diferentes;
talvez as pessoas buscassem um determinado produto, porque ouviram
dizer que tal perfume estava em moda, na França, e que o seu frasco
tinha um determinado formato. A pessoa poderia comprar o produto
sem conhecer o seu cheiro e sem conferir se, de fato, era bom ou não.
Ou ainda: consumia um produto acreditando ser de origem francesa,

180 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


quando, na realidade, havia sido produzido numa botica da cidade.
Outra possibilidade quanto às relações de consumo corresponde ao desejo
e à cobiça por determinados produtos famosos que, por isso, se tornavam
de alto custo. A probabilidade de haver falsificação desses produtos
aumentava, porque muitos desejavam, e poucos eram os que tinham
acesso.
Outras reflexões são pertinentes com base nos materiais e na
produção de frascos e recipientes de produtos para os cuidados com o
corpo. Primeiramente, alguns frascos de perfume se destacaram na
amostra por serem diferentes de outros e por conterem adornos e formas
distintas. Qual é a intenção do fabricante ao colocar no mercado produtos
em embalagens excêntricas? Seria em razão da beleza e do requinte,
representados nos seus produtos? Para se diferenciar dos demais? Para
marcar visualmente a sua marca e o seu produto, uma vez que, no século
XIX, muitas pessoas não sabiam ler?
Essas relações de consumo, entendidas a partir da cultura material,
possibilitam demonstrar as relações entre pessoas e objetos e informam
sobre o uso das “coisas”. Esses usos envolvem questões como motivos,
gostos, preferências, regras locais, inclusão, exclusão, fatores de
diferenciação, etc. Consumir simboliza uma atividade ritual a partir do
momento em que as pessoas fazem uso da cultura material para julgar
pessoas e eventos. (DOUGLAS; ISHERWOOD, 2006).
Os valores individualistas advindos das relações capitalistas
contribuíram para o aumento do consumo de bens ligados aos cuidados
com o corpo, no sentido da valorização do supérfluo, da individualização
dos espaços das casas, construção de locais apropriados para o ritual de
toalete, além da valorização da aparência.
Os discursos presentes em almanaques, em manuais de civilidade e
conduta, as normas higienistas e o próprio Estado podem ser
considerados propulsores das transformações acerca das práticas de asseio
pessoal, uma vez que a comunidade urbana porto-alegrense do século
XIX estava cotidianamente em contato com esse tipo de informação, via
rádio, almanaques, jornais, manuais de bom-tom, notícias sobre pessoas
influentes da sociedade e mesmo pelo contato entre as pessoas.
A preocupação por parte das pessoas em se manterem limpas,
decentes e civilizadas ante as exigências da sociedade oitocentista, se
confirma pela presença de produtos destinados a esse fim nos sítios
arqueológicos de Porto Alegre. Porém, a parte interessante dessa “história”
consiste em tentar descobrir o que isso significava para os ocupantes da

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 181
cidade. Por que as pessoas tinham que estar sempre limpas, cheirosas,
bem-vestidas e com a aparência impecável? O que acontecia com aqueles
que não conseguiam, por algum motivo ou outro, adotar esses costumes?
O que “restava” para essas pessoas? Por que as pessoas começaram a
consumir produtos para o cuidado com o corpo? Para que se possa chegar
a tais respostas, este trabalho, como um exercício interpretativo, pode
ser aprofundado futuramente, ampliando os contextos arqueológicos e
pesquisas em fontes primárias.
A possibilidade de entender essas práticas, a partir de diferentes
contextos arqueológicos, como lixeiras coletivas, unidades domésticas e
a lixeira de um hospital, em uma visão geral sobre esses costumes na
cidade de Porto Alegre, foi uma abordagem diferente, que revelou o
potencial para estudos sobre esse tema, confirmando a proposta desta
pesquisa.

Agradecimentos
Dedico este estudo e agradeço profundamente às minhas orientadoras, Gislene
Monticelli e Fernanda Tocchetto a confiança e a ideia do tema, por me ensinar a
“pensar” e a questionar a cultura material, a ajuda nas análises, por me mostrarem os
caminhos de um “fazer” arqueológico. A toda equipe de trabalho do Museu Joaquim
José Felizardo o apoio e compreensão e os materiais pesquisados para este trabalho.
Agradecimento especial faço ao meu esposo Heitor Birnfeld pela compreensão e carinho,
pelos papos e reflexões sobre o trabalho e pela ajuda batendo fotografias dos materiais.

182 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


Notas
1 6
Maiores detalhes quanto ao contexto Rotulados não significa que os produtos
do material nos sítios arqueológicos, tinham rótulos de papel, mas que foram
consulta-se Tocchetto (2004); Santos identificados a partir de inscrições no
(2005) e Symanski (1998). próprio recipiente.
2 7
Humores e Teoria Humoral confira-se Os sítios foram pesquisados no âmbito
em LIMA (1995). do Programa de Arqueologia Urbana do
3 Museu de Porto Alegre Joaquim José
Entenda-se aqui como indivíduo
Felizardo, entre os anos de 1994 e 2007.
saudável aquele que tem uma aparência
8
vistosa, forte e viril, independentemente Utilizei a expressão: “adornos típicos
da saúde interna do corpo. de frascos de perfumes”, porque nas
4 pesquisas realizadas em bibliografia
Miasma é sinônimo de mau cheiro
especializada e em sites de garrafas antigas
provocado pela decomposição de matéria
aparecem frascos decorados (com molde)
orgânica. (VIGARELLO, 1985).
usados como embalagem de perfumes.
5
Química pneumática: também 9
Veja-se mais em Museu do Perfume
chamada química dos ares, é o estudo
(2009).
sistemático dos gases. O desenvolvi-
10
mento da Química pneumática, levou Veja-se mais em Pot Lids (2009).
ao conhecimento de numerosos gases e 11
Tipo de pasta correspondente ao tipo
ao estudo do seu papel nas reações
de matéria-prima utilizado para a
químicas e a introdução da quantificação
fabricação da louça. Consulte-se mais em
em Química, com o emprego sistemático
Tocchetto et al. (2001).
da balança e a lei de conservação da
12
massa, foram os vetores de uma profunda Confira-se mais em Baquelite (2009).
transformação na investigação e no 13
Interno quer dizer valores locais, e
conhecimento químico. (Q UÍMICA ,
externos, valores advindos de outros
2009).
lugares.

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 183
Referências

ANÚNCIO DENTIFRÍCIO. Dentrifice HISTÓRIA PERFUME. História do


Dr. Pierre. Disponível em: <http:// perfume. Disponível em: <http://
w w w. f l i c k r. c o m / p h o t o s / g a t o c h y / www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/
274401382/.>. Acesso em: 19 de nov. historia-do-perfume/historia-do-perfume-
2009. 7.php>. Acesso em: 2 nov. 2009.
ALMANACH DO CORREIO DO HODDER, Ian. Interpretive archaeology
POVO. Porto Alegre, V Anno, p. 268, and it’s role. American Antiquity, n. 56,
1920. v. 1, p. 7-18, 1991.
BANHOS NO BRASIL. História do ______. Interpretación en arqueologia:
banho no Brasil. Disponível em: <http:// corrientes actuales. Barcelona: Crítica,
historia.abril.com.br/comportamento/ 1994.
aguas-tempo-historia-banho-
435136.shtml>. Acesso em: 24 nov. 2009. IDENTIFICAR FRASCOS. Identificar os
frascos. Disponível em: <www.gosnell.
BAQUELITE. O que é. Disponível em: org.uk>. Acesso em: 19 nov. 2009.
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Baquelite>.
Acesso em: 11 nov. 2009. JONES, Olive R. Glass bottle push-ups and
pontil marks: historical archaelology:
BAUGHER-PERLIN, S. Analysing glass approaches to material culture research
bottles for chronology, function, and trade for historical archaeologists. 2nd edition.
networks. In: DICKENS, JR; ROY, S. California; Pennsylvania: R. Michael,
(Eds.). Archaeology of Urban America. New 2000. p. 149-188.
York; London: Academic Press, 1982. p.
259-290. ______. A guide to dating glass tableware:
1800 to 1940: historical archaelology:
BIRNFELD, H. Fotografia dos materiais studies in material culture research.
arqueológicos, 2009. California; Pennsylvania: K. Karklins,
CORBIN, Alain. Sabores e odores. São 2000a, p. 141-233.
Paulo: Cia. das Letras, 1987. LIMA, Tânia Andrade et al. A tralha
DOUGL AS, Mary; ISHERWOOD, doméstica em meados do século XIX: reflexos
Baron. O mundo dos bens: para uma da emergência da pequena burguesia no
antropologia do consumo. Rio de Janeiro: Rio de Janeiro. São Paulo: Dédalo, 1989.
Ed. da UFRJ, 2006. (Coleção Etnologia). p. 205-230. v. 1.

ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma ______. Humores e odores: ordem corporal
história dos costumes. Rio de Janeiro: J. e ordem social no Rio de Janeiro, século
Zahar, 1990. v.1. XIX. História, Ciências, Saúde,
Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3,
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: o p. 46-98, 1996.
nascimento da prisão. 29. ed. Petrópolis:
Vozes, 2004. MUSEU DO PERFUME. Identificar os
frascos. Disponível em: <www.museudel
______. Microfísica do poder. 16. ed. Rio perfum.com>. Acesso em: 10 out. 2009.
de Janeiro: Graal, 2001.

184 MÉTIS: história & cultura – v. 8, n. 16, p. 157-185, jul./dez. 2009


OLIVEIRA, Alberto Tavares Duarte de. ARQUEOLOGIA BRASILEIRA, 2000,
Um estudo em arqueologia urbana: a carta Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro,
de potencial arqueológico do centro 2000. (CD ROM).
histórico de Porto Alegre. 2005.
SHANKS, M.; HODDER, Ian. Processual,
Dissertação (Mestrado em História) –
postprocessual and interpretive
PPG/PUCRS, 2005.
archaeologies. IN: HODDER, Law et al.
ORIZA. Vintage Oriza L. Legrand (Orgs.). Interpreting archaeology: finding
perfumes. Disponível em: <http:// meaning in the past. London: Routledge,
reviews.ebay.com/Vintage-Oriza-L- 1995.
Legrand-Perfumes_W0Q
SOUTH, Stanley. Evolution and horizon
QugidZ10000000004 397625>. Acesso
as revealed in ceramic analysis in historical
em: 19 nov. 2009.
archaeology. The conference on Historic Site
PESAVENTO, Sandra J. O imaginário da Archaeology Papers, Institute of Archaeology
cidade: visões literárias do urbano – Paris, na Anthropology, Columbia: Univ. South
Rio de Janeiro, Porto Alegre. Porto Alegre: Carolina, n. 6, p. 71-116, 1972.
Ed. da UFRGS, 1999.
SYMANSKI, Luis Cláudio P. Espaço
POLAK, Michel. Bottles identification and privado e vida material em Porto Alegre no
price guide. 3. ed. New York: Third Edition, século XIX. Porto Alegre: Ed. da PUCRS,
2000. 1998.
POT LIDS. Identificar os potes. ______. Bebidas, panacéias, garrafas e
Disponível em: <www.deantiques.com>. copos: a amostra de vidros do Solar Lopo
Acesso em: 19 nov. 2009. Gonçalves. Revista da Sociedade de
Arqueologia Brasileira, n. 11, p. 71-86,
QUÍMICA PNEUMÁTICA. O que
1998a.
significa. Disponível em: <http://
cvc.institutocamoes.pt/ciencia/d8.html>. ______. Relatório Técnico Final. Projeto
Acesso em: 4 nov. 2009. Arqueologia Urbana de Porto Alegre: Solar
Lopo Gonçalves. Porto Alegre: Museu
SANTOS, Paulo da G. Contentores de
Joaquim José Felizardo, 1998b.
bebidas alcoólicas: usos e significados na
Porto Alegre oitocentista. 2005. 242 f. TOCCHETTO, Fernanda et al. A faiança
Dissertação (Mestrado em História) – fina em Porto Alegre: vestígios arqueológicos
PPG/PUCRS, 2005. de uma cidade. Porto Alegre: Unidade
Editorial/PMPA, 2001.
SANTOS, Paulo da G.; TOCCHETTO.
Fernanda B. Arqueologia no Paço ______. Fica dentro ou joga fora? Sobre
Municipal. Rev. CEPA, Santa Cruz do Sul, práticas cotidianas em unidades
v. 27, n. 38. p. 19-38, jul./dez. 2003. domésticas na Porto Alegre oitocentista.
2004. 330 f. Tese (Doutorado em
SANT’ANA, Valéria B. Hábitos de higiene
História) – FFCH/PUCRS, 2004.
bucal discutidos a partir de vestígios
materiais – século XIX. IN: VIGARELLO, Georges. História da
CONGRESSO DA SOCIEDADE DE beleza. Rio de Janeiro: Ediouro, 1985.

MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 185

Você também pode gostar