Cuidado Com o Corpo
Cuidado Com o Corpo
Cuidado Com o Corpo
*
Graduada em História pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Pesquisadora
colaboradora no Programa de Arqueologia Urbana de Porto Alegre – Museu Joaquim José
Felizardo. E-mail: [email protected]
MÉTIS: história & cultura – BARETTA, Jocyane R. – v. 8, n. 16, jul./dez. 2009 157
Introdução
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Corbin (1987, p. 54), ao abordar assuntos referentes aos odores, ao
uso da água e aos humores, enfatiza os perigos da água para com os
humores. Os odores emanados dos órgãos e dos humores deveriam ser
mantidos ou eliminados com cautela. “A intensidade dos eflúvios, sinal
de uma intensa animalização, atesta o vigor do indivíduo e da raça.” Ou
seja, era importante manter certos odores nos corpos, pois eles, os odores,
poderiam servir como demonstração de força, de vitalidade, de indivíduos
saudáveis.3
A água somente voltou a ser utilizada com mais intensidade, a partir
da segunda metade do século XVII. Os banhos, objeto de estudo de
médicos e higienistas, passaram a ser defendidos por trazerem benefícios
ao corpo, “como o banho quente que alivia porque faz circular os
humores”. A aristocracia francesa começou a construir, em suas
residências, cômodos e objetos apropriados para os banhos, como a
“cadeira de abluções ou bidê”. (VIGARELLO, 1985, p. 87).
Os objetos e adereços utilizados para higiene corporal e dos espaços
constituem elementos importantes para o entendimento do processo e
das mudanças pelas quais passou a questão da higiene na Europa
moderna. O uso da água, as mudanças no vestuário como a substituição
de tecidos impermeáveis pelos que absorviam o suor, as pinturas no
rosto que eram utilizadas por homens e mulheres, a fim de deixar a tez
branca, o hábito de fazer bochechos com água e canela para melhorar o
hálito, o uso de pentes e pós nos cabelos, bem como a utilização de
perfumes com diferentes finalidades, compõem o que Corbin (1987)
chama “ritual da toalete”, enquanto para a higiene dos espaços se
utilizavam incensos, perfumes nos objetos e na mobília, o hábito de
ventilar a casa e a construção de jardins nos arredores das residências.
(VIGARELLO, 1985).
A nova organização das práticas de higiene valorizou a limpeza dos
corpos e a aparência. Esses novos critérios consistiam na “retirada das
sujidades da pele”, evitando que o “cascão” causasse o desequilíbrio dos
humores. “O cascão obstrui os poros, retém os humores excrementiciais,
favorece a fermentação e a putrefação das matérias e, pior que tudo,
facilita o rebombeamento das imundícies de que a pele está carregada.”
(CORBIN, 1987, p. 97).
No século XIX, os médicos recomendavam que se praticasse o ritual
da toalete, que consistia na lavagem das mãos, dos pés, das axilas, das
virilhas e dos órgãos genitais. Tal ritual poderia ser regulado ou
organizado, para o caso feminino, conforme seus períodos menstruais.
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além de favorecer a higiene e a saúde. A aparência e a estética eram
fatores importantes, deixando claro que estar perfumado fazia parte de
uma espécie de “ritual do disfarce”.
Os perfumes também eram utilizados como fator de diferenciação,
segundo Vigarello (1985) e Corbin (1987), ao se referirem ao uso de
odores requintados (os de origem vegetal e floral), distanciados de odores
comuns (os de origem animal). A variedade de essências de origem vegetal
e floral, que entrava e saía de moda, era percebida pelo uso de lenços
perfumados.
Os perfumes, consequentemente, valorizavam as questões estéticas,
num período em que a aparência e a decência eram fundamentais para
a vida da aristocracia francesa. Essas regras e a moda eram ditadas pelos
manuais de conduta e civilidade. Outro motivo pelo qual as pessoas
utilizavam perfumes era o fato de haver restrições quanto ao uso de
água, fazendo com que os corpos fossem impregnados de perfumes, até
mesmo de modo exagerado, tornando o ar à sua volta irrespirável, pois
“a higiene era daquilo que se vê e sente”. (VIGARELLO, 1985, p. 75).
Somente a partir da segunda metade do século XVIII, que se
percebeu o início das mudanças nas práticas com relação ao uso de
perfumes. Com o retorno do uso de água e banhos por ablução, já não
havia necessidade de esconder as moléstias do corpo e o mau cheiro por
elas provocado, uma vez que o sabão também contribuía para a cura. E,
ainda, o excesso de perfumes também poderia fazer mal.
Os discursos higienistas reforçavam a importância das abluções para
a eliminação das impurezas depositadas sobre a pele. Se a pele
permanecesse impregnada de sujeira, essa obstruiria e alteraria os
humores, causando doenças. Mesmo com as descobertas em relação ao
uso de água e os discursos de médicos e higienistas, favoráveis aos banhos,
os perfumes não deixaram de ser utilizados. Pelo contrário, o que se
percebeu pela própria história do perfume é um aumento no consumo
durante a Era Moderna e o aparecimento de novas fragrâncias. Todavia,
o que mudou foram os motivos pelos quais os perfumes eram/são
consumidos. Além da vaidade, da estética e da aparência, os perfumes
adquiriram fins terapêuticos.
A utilização dos aromas para “purificar” os corpos e ambientes se
tornou uma prática comum nas cortes europeias, advinda dos mais
variados discursos divulgados via manuais de conduta, retórica de médicos
e mesmo pelo contato entre pessoas, que poderiam fazer recomendações
umas às outras.
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No Rio de Janeiro, as elites da capital do Império buscavam se
espelhar no “modelo parisiense” de cidade moderna, absorvendo os
paradigmas europeus como sinônimo de porte, urbanidade, civilidade,
requinte e bom gosto. No Brasil, os costumes, as práticas e os hábitos
da sociedade carioca serviam como referência a outras cidades brasileiras
no século XIX. (PESAVENTO, 1999).
Lima (1989) refere que, a partir da cultura material exumada em
sítios arqueológicos históricos no Rio de Janeiro, as práticas foram se
modificando ao longo do tempo e profundamente alteradas após a
chegada da Coroa portuguesa. A autora coloca que, mesmo antes da
chegada da família real no Brasil, a população carioca já tinha hábitos
de higiene pessoal, possivelmente em virtude da influência indígena. “A
água era apanhada pelos escravos aguadeiros nas bicas e aquedutos
públicos, consistindo o asseio em abluções feitas em bacias e baldes,
não raro perfumadas com essências naturais.” (p. 207). Além disso, o
calor dos trópicos talvez fosse outro fator importante que reforçava o
hábito de tomar banhos. Isso pode ser demonstrado pela utilização de
práticas com relação ao uso de água, “causando espanto aos europeus o
apreço que os brasileiros tinham por esse costume”. (p. 80).
A Corte portuguesa, ao se instalar no Brasil, não tinha o hábito de
tomar banho regularmente e trocava suas camisas uma vez a cada mês.
As pessoas estrangeiras, que não faziam parte da Corte, aderiram às
práticas locais de banho com mais facilidade, inicialmente com abluções
parciais – lavando somente os pés. Com o passar do tempo, os banhos
nos rios e no mar se tornaram comuns, pois eram neles que lavavam o
corpo, as roupas e as louças. O Rio de Janeiro recebeu o benefício da
água encanada no século XIX, sendo a primeira cidade brasileira a dispor
dessa benesse. (BANHOS NO BRASIL, 2009).
Em Porto Alegre, no sítio Pinacoteca Municipal – RS.JA-66, foi
encontrada uma cisterna no pátio da casa, provavelmente construída no
século XIX, uma novidade em relação aos outros sítios da cidade,
revelando a preocupação dos ocupantes da casa com relação ao
armazenamento de água e denunciando a possibilidade de haver
problemas com abastecimento de água.
As práticas de asseio pessoal foram notadas no Rio de Janeiro pelo
aparecimento de artefatos relacionados a produtos de beleza, como “vidros
de ungüentos e óleos para cabelo, produzidos na Inglaterra; frascos de
perfume e cosméticos; travessas para o cabelo [e] escovas de dente feitas
em osso”, recuperados nos sítios arqueológicos cariocas. No decorrer do
Sítios arqueológicos
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Figura 1: Localização dos sítios arqueológicos
Fonte:
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Tabela 2 – Materiais encontrados nas lixeiras coletivas: Mercado Público – RS.JA-05;
Praça Rui Barbosa – RS.JA-06 e o Paço Municipal – RS.JA-20
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produto para lavar os cabelos e a pele, identificada pelas inscrições no
frasco: “TRICOFERRO DE BARRY”, que corresponde à categoria frasco de
xampu.
Para os materiais em louça, relativos aos cuidados com o corpo,
foram selecionados aqueles recipientes em formato de pote, que poderiam
conter cremes de beleza. No caso de cremes para o rosto, foram
identificadas10 três variações: cold cream; powder ou pomadas. Esse tipo
de produto poderia ser utilizado pelas pessoas independentemente do
sexo, pois servia como cremes que embelezavam e perfumavam a pele.
Foi encontrado no Sítio Santa Casa – RS.JA-29 um pote em louça com
inscrição na tampa: “COLD CREAM”. Houve o caso de produtos de uso
específico masculino, encontrados no sítio Casa Riachuelo – RS.JA-17,
que foram identificados pelas inscrições como sendo potes de creme
para barba “CRÊM... AMAND... pour... de la barbe... L. T... PARI...” e “CRÊME
DE S... AUX...” (figura 7).
Os potes de louça variaram entre dois tipos de pasta: ironstone e
faiança fina,11 decorados, ou não, correspondentes às seguintes categorias:
possíveis potes de creme; tampas de possíveis potes de creme; tampa de pote de
creme para barba e possível pote de creme com tampa. A palavra possíveis foi
utilizada nessas categorias, porque a maioria dos potes não traz nenhuma
informação quanto ao produto ou à sua procedência, salvo duas exceções
que são as tampas de potes de creme para barba, exumados no sítio Casa
Riachuelo – RS.JA-17.
A hipótese de os potes serem de creme, mesmo sem indicação de
uso ou procedência, foi considerada, porque, segundo Pot Lids (2009),
foram encontrados potes utilizados para creme e saboneteiras bastante
semelhantes aos encontrados nos sítios arqueológicos em questão.
Também foram recuperadas, no sítio Mercado Público – RS.JA-
05, duas saboneteiras que indicam a realização de práticas relativas ao
ritual da toalete e de uso de água pelas pessoas da cidade.
O pente de cabelo recuperado no sítio arqueológico Pinacoteca
Municipal – RS.JA-66 – foi produzido com um material chamado
baquelite12 (anterior ao plástico), inventado na primeira década do século
XX. Esse artefato (pente), juntamente com uma lixa de unha com marcas
de uso, foram inseridos na amostra por terem relação com os cuidados
com o corpo, no caso, cabelos e unhas, apesar de ser um sítio inédito
ainda não datado.
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Figura 3: Frasco do perfume Lubin Paris, encontrado
nos sítios Santa Casa de Misericórdia – RS.JA-29 e
Casa Riachuelo – RS.JA-17
Fonte: Material coletado pela pesquisadora Birnfeld
(2009).
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e a beleza, aliviavam dores, perfumavam hálitos”. (LIMA, 1996, p. 79).
Era costume aspergir fragrâncias em ambientes e nos objetos, passadas
sobre a roupa e a pele, inaladas em lenços e até ingeridas. A afirmação
feita por Lima (1996) reforça os propósitos desta pesquisa no que diz
respeito aos motivos pelos quais as pessoas usavam perfumes. Eles vão
além da questão terapêutica, fundamentando-se na intenção dos
indivíduos de permanecerem jovens e bonitos, pois os aromas “preservam
a juventude e a beleza”.
O consumo de perfumes está relacionado à apropriação de discursos
e práticas advindos de outros locais – Rio de Janeiro ou Paris – que,
possivelmente, foram ressignificados, carregados de elementos internos
e externos, 13 que compõem as particularidades locais, como colocou
Tocchetto (2004). Também diz respeito às relações humanas entre grupos
(sociedades), às relações comerciais e aos paradigmas existentes na
mentalidade do século XIX.
As pessoas, possivelmente, tinham a necessidade de demonstrar aos
outros o quão chiques e civilizadas eram ou haviam se tornado. Isso se
dava pela apropriação de práticas e discursos ligados à modernidade, ou
seja, pela absorção dos paradigmas modernos. Tais paradigmas abrangem
os discursos higienistas trabalhados em toda a Europa, os quais pregavam
a limpeza e a higienização dos corpos e espaços, e os manuais de civilidade
e conduta que ditavam as regras de etiqueta e moda, como outros fatores
importantes, além daqueles ligados à política e à economia, envolvendo
os avanços da ciência e do capitalismo.
A higiene bucal
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Figura 6: Escovas de dentes encontradas no sítio Santa Casa de Misericórdia – RS.JA-29
Fonte: Material coletado pela pesquisadora Birnfeld (2009).
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louça de chá, de mesa e a peças de vidro não relacionadas com o tema
desta pesquisa, recuperadas nos sítios arqueológicos de Porto Alegre.
Esse fato se justifica pela menor necessidade de aquisição de produtos
(para manter os cuidados com o corpo) em relação ao consumo de
bebidas, peças e/ou louça. Talvez essa minoria em relação a outros
produtos esteja atrelada ao processo de aquisição, uso e descarte de
perfumes, cremes e escovas de dentes, o descarte, no século XIX, não
tinha a mesma conotação que se tem hoje. Esse tipo de produto poderia
ser de difícil acesso ou muito caro, aumentando a sua vida útil. No caso
dos frascos, muitos continham adornos e, mesmo que acabasse seu
conteúdo, as pessoas poderiam guardar o frasco.
Nas unidades domésticas, os materiais recuperados dizem respeito
a contextos bem-específicos de pessoas que faziam parte da elite porto-
alegrense do século XIX, e os materiais oriundos desses locais informam
a incorporação de práticas de cuidado com o corpo por seus usuários,
independentemente do sexo.
Quanto às lixeiras coletivas, locais que recebiam lixo de vários pontos
da cidade, é impossível saber quem foram as pessoas que formaram esses
depósitos. Sabe-se que são ocupantes da cidade, pessoas que aqui viviam
e, portanto, dizem respeito aos “modos das pessoas da cidade”, de
maneira ampla, generalizante. Também, por meio das unidades
domésticas se podem abstrair informações de maneira mais generalizante,
uma vez que esses sítios encontram-se inseridos na cidade, e os seus
moradores também são “pessoas da cidade”. O mesmo serve para a lixeira
da Santa Casa de Misericórdia, que está localizada na cidade e também
conta a história das “pessoas da cidade”.
Quanto ao sítio arqueológico Chácara da Figueira – RS.JA-12 –,
não foram encontrados materiais relativos aos cuidados com o corpo, e a
ausência desses pode servir como indicador de uso, práticas ou acesso
em uma área rural da cidade. Isso não significa que os ocupantes do
sítio não realizassem práticas de higiene e cuidados com o corpo. Por
outro lado, a ausência pode ser resultado da dificuldade de acesso a esse
tipo de produto, semelhantemente aos encontrados na área central da
cidade (figura 1).
Apesar da distância entre Porto Alegre e Rio de Janeiro e entre Rio
de Janeiro e Paris, os valores modernos circulavam pelas grandes cidades
(guardadas as devidas proporções), e as pessoas se apropriavam desses
discursos, atribuíam significados a eles e agiam de modo particular.
Como a questão dos banhos, que, na Europa do século XIX, estavam
Considerações finais
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hábitos que acabavam sendo exteriorizados pelos indivíduos da
comunidade local, verificadas e interpretadas por meio da cultura
material e das relações sociais e de consumo.
As análises e interpretações levaram a novos questionamentos,
demonstrando o potencial do tema para pesquisa. Como exemplo,
citam-se as reflexões feitas com relação às possibilidades de falsificação
de produtos, que surgiram a partir da pesquisa em propagandas de
almanaques, as quais normalmente continham frases alertando os
consumidores quanto às falsificações, como uma propaganda de óleo
para motores automotivos, encontrada no Almanach Correio do Povo, de
1920. Por que os anunciantes (dos mais variados tipos de produtos)
colocariam esse tipo de informação em seus anúncios?
Outros elementos foram percebidos a partir da análise em materiais,
que possibilitaram ver algumas discrepâncias entre os frascos e seus
fabricantes, como é a data. A data de fabricação da embalagem que
combina com o início da produção da marca ou o produto informado
no frasco não corresponde aos produzidos pelo fabricante. Por que
ocorreram essas divergências quanto às datas? É possível que o frasco
não tenha sido produzido na França pelo “fornecedor oficial” da marca,
uma vez que, nos arredores de Porto Alegre, no século XIX, existiam
algumas fábricas produtoras de vidro. Isso, possivelmente, explicaria o
tipo de molde utilizado para produção daquele vidro que, segundo a
bibliografia especializada, já estava em desuso quando surgiu a marca.
Isso também explicaria o fato de não se ter encontrado esse produto
específico dentre os produzidos pela marca francesa. Seria prudente
considerar produtos como originários da França só por conterem
informações em francês no frasco? Não poderia ser apenas uma maneira
encontrada pelos produtores locais para aumentar a venda dos seus
produtos?
Se observarmos as relações de consumo atuais, perceberemos que
muitas pessoas consomem produtos de beleza pela fragrância, pelo
formato do frasco, pela marca, pela propaganda, dizendo que o produto
é bom, etc.
No século XIX, as relações de consumo talvez não fossem diferentes;
talvez as pessoas buscassem um determinado produto, porque ouviram
dizer que tal perfume estava em moda, na França, e que o seu frasco
tinha um determinado formato. A pessoa poderia comprar o produto
sem conhecer o seu cheiro e sem conferir se, de fato, era bom ou não.
Ou ainda: consumia um produto acreditando ser de origem francesa,
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cidade. Por que as pessoas tinham que estar sempre limpas, cheirosas,
bem-vestidas e com a aparência impecável? O que acontecia com aqueles
que não conseguiam, por algum motivo ou outro, adotar esses costumes?
O que “restava” para essas pessoas? Por que as pessoas começaram a
consumir produtos para o cuidado com o corpo? Para que se possa chegar
a tais respostas, este trabalho, como um exercício interpretativo, pode
ser aprofundado futuramente, ampliando os contextos arqueológicos e
pesquisas em fontes primárias.
A possibilidade de entender essas práticas, a partir de diferentes
contextos arqueológicos, como lixeiras coletivas, unidades domésticas e
a lixeira de um hospital, em uma visão geral sobre esses costumes na
cidade de Porto Alegre, foi uma abordagem diferente, que revelou o
potencial para estudos sobre esse tema, confirmando a proposta desta
pesquisa.
Agradecimentos
Dedico este estudo e agradeço profundamente às minhas orientadoras, Gislene
Monticelli e Fernanda Tocchetto a confiança e a ideia do tema, por me ensinar a
“pensar” e a questionar a cultura material, a ajuda nas análises, por me mostrarem os
caminhos de um “fazer” arqueológico. A toda equipe de trabalho do Museu Joaquim
José Felizardo o apoio e compreensão e os materiais pesquisados para este trabalho.
Agradecimento especial faço ao meu esposo Heitor Birnfeld pela compreensão e carinho,
pelos papos e reflexões sobre o trabalho e pela ajuda batendo fotografias dos materiais.
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Referências
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