Monografia 1
Monografia 1
Monografia 1
CURSO DE PORTUGUÊS
Quelimane
2021
ROSA ANTÓNIO GASPAR
Quelimane
2021
3
Índice
Lista de Tabelas.........................................................................................................................iii
Lista de Abreviatura...................................................................................................................iv
Declaração...................................................................................................................................v
Agradecimentos........................................................................................................................vii
Resumo....................................................................................................................................viii
Abstract......................................................................................................................................ix
Introdução.................................................................................................................................10
CAPÍTULO I – CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA....................................................11
1. Tema.....................................................................................................................................11
1.1. Delimitação do tema..........................................................................................................11
1.2. Objectivos..........................................................................................................................11
1.2.1. Objectivo Geral...............................................................................................................12
1.2.2. Objectivos Específicos....................................................................................................12
1.3. Justificativa........................................................................................................................12
1.4. Problematização.................................................................................................................13
1.5. Hipóteses............................................................................................................................14
1.6. Metodologias......................................................................................................................14
1.6.1. Tipo de Pesquisa.............................................................................................................14
1.6.2. Quanto a Abordagem......................................................................................................14
1.6.3. Quanto aos Objectivos....................................................................................................14
1.6.4. Quanto ao Procedimento.................................................................................................15
1.6.5. Método de Abordagem...................................................................................................15
CAPÍTULO II: REFERENCIAL TEÓRICO............................................................................16
2. Língua e Sociedade...............................................................................................................16
2.1.1. A Língua e os Reflexos da Posição Social do Falante....................................................21
2.2. Factores que Contribuem para a Organização Social Linguística.....................................22
2.2.1. Calão...............................................................................................................................22
2.2.2. Gírias...............................................................................................................................22
2.2.3. Jargão..............................................................................................................................23
2.3. Variação Linguística..........................................................................................................24
2.3.1. Tipos de variação............................................................................................................25
2.3.2. A Variação Dialectal.......................................................................................................25
4
Lista de Tabelas
Tabela 1: Dados referentes a identificação da população.....................................................29
Tabela 2: Dados referentes a instituição que trabalha..........................................................30
Tabela 3: Dados referentes a proveniência/Naturalidade.....................................................30
Tabela 4: Dados referentes a Língua usada para comunicação............................................31
Tabela 5: Dados referentes Frequência de conversa no bairro Saguar.................................32
Tabela 6: Dados referentes a Faixa etária com quem gostas de conversar...........................32
Tabela 7: Dados referentes a Nível de escolaridade com quem mais conversas..................33
Tabela 8: Dados referentes a Profissão.................................................................................34
Tabela 9: Se conversa com pessoas da sua profissão...........................................................35
Tabela 10: Se conversa/passa mais tempo com os conterrâneos..........................................36
Tabela 11: Se conversa mais com pessoas do mesmo sexo..................................................37
iv
Lista de Abreviatura
I – Individuo
F – Feminino
M - Masculino
Declaração
Declaro que a presente monografia intitulada Organização Social Linguística dos
Moradores do Bairro Saguar – Quelimane, foi por mim produzida e que não foi apresentado
em nenhuma outra instituição.
vi
Dedicatória
Dedico a presente monografia aos meus pais António Gaspar e Maria Amélia da Silva.
vii
Agradecimentos
Ao meu supervisor, Dr. João Samuel, pela atenção, paciência e dedicação que tem como
docente, e pela disponibilidade demonstrada na orientação deste trabalho de pesquisa.
Aos moradores do Bairro Saguar, por permitir que a pesquisa fosse desenvolvida.
Aos meus pais, António Gaspar e Maria Amélia da Silva que sempre deram o seu
contributo na minha vida académica.
viii
Resumo
A presente monografia de pesquisa tem como tema: Organização Social Linguística dos
Moradores do Bairro Saguar – Quelimane – 2021. E tem como objectivo geral: Identificar os
factores linguísticos que influenciam na organização social dos moradores do Bairro Saguar,
em Quelimane. Desta feita, durante a colecta de dados, verificou-se que são vários os factores
que influenciam na organização social linguística dos moradores do Bairro Saguar, como a
questão de idade, isto é, vimos que muitos gostam de conversar com pessoas da mesma idade
ou pessoas com idades acima deles; sexo, referente a sexo, concluímos que muitos gostam de
conversar com pessoas de sexo oposto; língua, vimos que muitos usam a língua portuguesa
para se comunicar; origem, isto é, muitos gostam de conversa com pessoas de mesma origem,
por partilharem os mesmos hábitos, costumes, e língua; e profissão, visto que estão em
constante contacto no local de trabalho, o que seria muito estranho, se não conversassem
juntos. No que diz respeito a estrutura, de salientar que a monografia encontra-se estruturada
em capítulos, isto é, apresenta três capítulos, sendo o primeiro, de contextualização da
pesquisa, o segundo, é o referencial teórico, que apresenta os subsídios teóricos, com base em
conceitos de vários autores, e por fim, o terceiro capítulo, que é o de análise e interpretação de
dados.
Palavras-Chaves: Sociolinguística, Língua, Sociedade e Variação.
ix
Abstract
This research monograph has as its theme: Social Linguistic Organization of the
Residents of Bairro Saguar – Quelimane – 2021. And its general objective is: To identify the
linguistic factors that influence the social organization of the residents of Bairro Saguar, in
Quelimane. This time, during data collection, it was found that there are several factors that
influence the linguistic social organization of the inhabitants of Bairro Saguar, such as the
question of age, that is, we saw that many like to talk to people of the same age or people
above them; sex, referring to sex, we concluded that many like to talk to people of the
opposite sex; language, we saw that many use the Portuguese language to communicate;
origin, that is, many like to converse with people of the same origin, as they share the same
habits, customs, and language; and profession, as they are in constant contact in the
workplace, which would be very strange if they didn't talk together. With regard to the
structure, it should be noted that the monograph is structured in chapters, that is, it has three
chapters, the first being the contextualization of the research, the second is the theoretical
framework, which presents the theoretical subsidies, with based on concepts from several
authors, and finally, the third chapter, which is the analysis and interpretation of data.
Keywords: Sociolinguistics, Language, Society and Variation.
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Introdução
A comunicação é uma das principais funções da língua. Através dela os homens se
desenvolvem, argumentam, perguntam, ensinam e instruem outros. A língua faz parte da
nossa identidade e da nossa cultura e está presente nas experiências do nosso quotidiano. Com
a invenção da escrita, a humanidade deixou o período da pré-história e passou a fazer
História. Foi um divisor de águas, pois com o uso da escrita pôde perpetuar-se o
conhecimento já adquirido e multiplicá-lo para que outras pessoas aprendessem.
No entanto, muitas coisas mudaram nesses cinco séculos, e a Língua Portuguesa ganhou
novas palavras, perdeu outras, por ocasião de desuso, e recebe constantemente a influência
dos empréstimos linguísticos de outras culturas. Porém, um país com dimensões continentais
e com tamanha diversidade cultural, é acometido também por diferenças marcantes que vão
desde as diferentes classes sociais até àquelas ligadas às relações étnico-raciais. Portanto,
seria impossível que não existissem variações que acompanhassem essa evolução da
sociedade e, sobretudo, da língua, e daí o surgimento das mais diversas variedades
linguísticas, tal como aconteceu com a Língua Portuguesa, que surgiu depois de inúmeras
reformulações do Latim.
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1. Tema
A Organização Social Linguística.
1.2. Objectivos
Como é comum, quando se pretende realizar um certo trabalho de pesquisa, há que ter
em conta em primeiro lugar, um fim a atingir, uma meta de pesquisa, propósito de pesquisa,
ou seja, o objectivo que nos leva a fazê-lo.
Olhando para a ideia acima citada, o objectivo de uma pesquisa não foge da finalidade
que leva o pesquisador a fazer o seu estudo. Portanto, o objectivo geral expressa resultado,
indicando outros fenómenos que permitirão uma especificidade a fim de tornar o estudo ainda
explícito.
Neste contexto, toda pesquisa deve ter um objectivo determinado para saber o que se
vai procurar e o que se pretende alcançar. Assim, definir objectivos de pesquisa é um requisito
para desenvolver um estudo científico. Portanto, os objectivos de uma pesquisa têm o papel
de nortear, pois, direcciona a leitura do texto, bem como, permite entender o que o
pesquisador fez em seu trabalho, tornando claro o problema de pesquisa, possibilitando ao
pesquisador aumentar seus conhecimentos sobre o assunto ou tema tratado. Assim, em
seguida, presenta-se os objectivos da pesquisa.
12
1.3. Justificativa
A escolha do tema baseia-se no interesse de investigar a interferência da oralidade e do
meio social no processo de organização social.
Não obstante, um dos factores que nos motivou a escolha do tema foi pela observância
nas diferentes sociedades que o falante não muda por si só sua maneira de falar, isto é, não é a
fala em si que faz com que o falante mude de posição social, mas, ao contrário, é a mudança
de posição social que faz o falante mudar sua maneira de falar. Porém essa mudança é
relativa, pois mesmo que o falante mude de posição social, sua língua não muda por
completo. Há marcas linguísticas que permanecem e fazem com que se perceba a sua origem
social.
De forma geral, pretendemos com o presente trabalho fazer compreender que não se
pode dissociar a forma linguística da posição social do falante, pois uma se reflecte na outra.
Numa sociedade de classe, as mobilidades sociais se reflectem na língua, muito embora, numa
análise mais apurada, seja possível identificar a origem social do falante que ascendeu a uma
classe de status mais elevada. As marcas linguísticas não se resumem à posição de classe, mas
também às relações de género e etnia, entre outras.
Não obstante, pretende-se também com o mesmo trabalhar fazer perceber que a
organização social linguística não é feita de forma voluntária, no entanto, o tal processo pode
ser considerado normal.
1.4. Problematização
A mudança social não é autónoma, há sempre um movimento que a impulsiona. Uma
vez que a sociedade não é homogénea, os interesses dos grupos sociais que a compõem não
convergem para o mesmo fim e, devido à estratificação social, são por vezes conflitantes.
Importa aqui salientar que uma mudança linguística que se estabelece não ocorre por si
só, mas tem relação com o grupo social que a desencadeia. A força social do grupo
impulsiona a consolidação da mudança linguística. Se o grupo não consegue ascensão social,
sua forma linguística se torna estigmatizada. Então, a organização social linguística está
relacionada com a mudança do grupo, originário da forma linguística, na estrutura social.
para perceber a relação que se estabelece entre as pessoas tendo em conta as línguas que
convivem com elas no seu quotidiano, considera-se inerente formular a seguinte questão:
Como se organizam social e linguisticamente os moradores do bairro Saguar, na cidade
de Quelimane?
1.5. Hipóteses
No Bairro Saguar encontra-se diferentes níveis sociais e linguísticos organizados
dependendo das diferenças de interesses e ocupações de seus falantes;
Há diferenças sociais, delimitadas por níveis educacionais, etárias, económicos e
étnicos dos falantes;
No Bairro Saguar a organização linguística é feita tendo em conta as diferenças
regionais.
1.6. Metodologias
1.6.1. Tipo de Pesquisa
1.6.2. Quanto a Abordagem
A presente pesquisa é qualitativa. Pois considera-se que há uma relação dinâmica entre
o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objectivo e a
subjectividade do sujeito que não pode ser traduzido em números.
Assim, pesquisa não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural
é a fonte directa para colecta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. É descritiva. Os
pesquisadores tendem a analisar seus dados indutivamente. O processo e seu significado são
os focos principais de abordagem.
Torna-se pertinente aferir que este tipo de pesquisa envolve levantamento bibliográfico;
entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado;
análise de exemplos que estimulem a compreensão. Assume, em geral, as formas de Pesquisas
Bibliográficas e Estudos de Caso.
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2. Língua e Sociedade
A linguística, a ciência que tem como foco e objecto de estudo descrição das línguas,
durante muito tempo não demonstrou interesse pelos aspectos da natureza social que
envolvem a língua. Assim, a linguística do século XX, tendo como molde de estudos o
estruturalismo liderado por Saussure, traça os limites entre a língua e os aspectos sociais.
Para Faria et al (1996, p.482), língua no uso mais comum, é uma noção político-
institucional. Corresponde a um sistema linguístico abstracto, que por razões políticas,
económicas e sociais adquiriu independência tanto funcional como psicológica para os seus
falantes.
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Numa segunda acepção o termo ‘língua’ é usado numa perspectiva histórica, e está
relacionada com a noção de dialecto.
A fala ocorre através de um processo natural, é apreendida por meio da tradição oral e
tem carácter funcional, é inovadora por suas tendências livres.
Alguns autores defendem a ideia de que a fala apresenta características distintas, como
ser incompleta, não planificada, fragmentária, pouco elaborada, ter predominância de frases
curtas, e com pouco uso de passivas. Porém, a fala é estigmatizada e marginalizada por não
obedecer sempre à norma padrão, principalmente quando falada pelas classes populares.
A língua não se realiza num vácuo social. Ela não existe fora da sociedade, da mesma
forma que a sociedade não existe sem ela. A relação entre língua e sociedade não é uma
relação em que uma determina a outra, mas de interacção entre elas, em que uma se refracta
na outra, num sistema de influências.
Labov (2008, p.19), argumenta que numa sociedade estratificada, a língua não foge à
estratificação. Ela não é um corpo à parte, ela refracta a estrutura estratificada da sociedade,
pois “correlacionando-se o complexo padrão linguístico com diferenças concomitantes na
estrutura social, será possível isolar os factores sociais que incidem directamente sobre o
processo linguístico.
A língua é um espelho pelo qual se pode observar o desenho da sociedade. Esta não é
estática, da mesma forma que a língua também não é, ambas evoluem constantemente num
processo de interacção.
A evolução linguística não ocorre por si só. A mudança linguística não é autónoma, ela
não engendra a si mesma, ela faz parte de um processo de interacção social.
Face a isso, Bakhitin (2009, p.67),corrobora o seguinte: “sabemos que cada palavra se
apresenta como uma arena em miniatura onde se entrecruzam e lutam os valores sociais de
orientação contraditória. A palavra revela-se no momento de sua expressão, como um produto
da interacção viva das forças sociais”.
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O desenvolvimento linguístico de uma comunidade tem relação com a sua vida social,
as pressões sociais operam também sobre a língua. Toda mudança social se propaga também
na língua da comunidade, há uma inter-relação entre uma e outra, sendo que tanto uma como
a outra vivem continuamente em processo de transformação, que não são autónomos, mas
interdependentes. Se a língua muda, não pode ser por si só. Se ela surge por necessidade
social, também é necessário que ela se transforme em decorrência dela.
parte constitutiva do próprio sujeito. Assim, através do discurso, o sujeito não só revela algo,
como também a si mesmo e ao contexto sociocultural no qual ocupa determinadas posições
sociais.
O contexto espacial no qual está inserido o sujeito representa a influência que o espaço
exerce sobre ele. O desenvolvimento linguístico de um falante é influenciado pelos factores
sociais. Foucault diz que a linguagem mantém relação estreita com o espaço. Ela não é
desenvolvida no interior de cada ser humano, mas influenciada pelo meio exterior a si mesma,
“desde o fundo dos tempos, a linguagem se entrecruza com o espaço” (Foucault, 2000, p.12).
Da mesma forma, Labov diz que toda mudança linguística é influenciada pelo contexto
em que o falante vive, sendo que “nenhuma mudança ocorre num vácuo social. Até mesmo a
mudança em cadeia mais sistemática ocorre num tempo e num lugar específicos” (Labov,
2008, p.20).
O contexto sociocultural influencia o discurso, pois este não é um ato livre do sujeito ou
de sua consciência, mas influenciado pelos determinantes socioculturais do contexto de vida
do sujeito.
A língua é um código que se materializa na fala e na escrita, tanto uma como a outra se
inserem num sistema linguístico, porém esse sistema não pode ser considerado em si mesmo,
porque em si mesmo ele não existe. Ele só existe em função de uma realidade sociocultural na
qual o falante da língua está inserido.
Não se pode dissociar a língua do falante que a utiliza, como não se pode deslocar o
falante de seu contexto de vida. Um está no outro de uma forma indissociável: língua e
falante, falante e contexto de vida. Dessa forma, a língua se relaciona com o contexto de vida
do falante com todas suas nuances (sociais, culturais, económicas, históricas, artísticas,
religiosas etc). Assim, a língua não pode ser analisada como um sistema formal isolado de
significações socioculturais. Este entendimento se afasta da concepção saussuriana, que
compreende que a “língua previamente realiza conceitos isolados, que esperam ser
relacionados entre si para que haja significação do pensamento” (Saussure, 1978, p.04).
Assim, (Labov, 2008, p.290), afirma também que “os valores sociais são atribuídos a
regras linguísticas somente quando há variação”, isto porque os falantes não aceitam que
variantes linguísticas diferentes tenham o mesmo significado e quando um grupo social tem
uma variante diferente, os valores sociais desse grupo são transferidos para essa variante.
Com isso, o contexto social em que se produz uma forma linguística influencia no valor que
se atribui a ela. Daí a impossibilidade de se negar a relação entre língua e sociedade.
Dessa forma, não há elemento interno na forma verbal que justifique o seu valor de uso,
mas, ao contrário, são elementos extralinguísticos que lhe conferem a supremacia em relação
às formas linguísticas concorrentes. Dessa forma, uma forma linguística é valorizada ou
desvalorizada em função da classe ou do grupo social que a realiza. Ela em si não possui valor
social; este se agrega a ela a partir da posição social de quem a realiza.
De acordo com Meillet, 1921 apud (Calvet, 2002, p.16), pelo simples facto da língua
ser um fato social resulta que a linguística e uma ciência social, e o único elemento variável
ao qual se pode recorrer para dar conta da variação linguística e a mudança social”
Como se pode notar nessa citação, do ponto de vista de Meillet, toda e qualquer
variação na língua é motivada estritamente por factores sociais.
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Por ora, a língua é um instrumento de uso dos falantes de um grupo social, sendo que o
contexto sociocultural dos falantes muda em decorrência do grupo social ao qual o falante
pertence, então, inevitavelmente há formas linguísticas inerentes a cada grupo social, sendo
que existe um núcleo linguístico comum, mas também um núcleo diversificado dentro de uma
sociedade de classe. Em relação ao núcleo comum não há valor social explícito, porém em
relação ao núcleo diversificado, a estratificação social é reflectida na língua. A partir da fala
se identifica o grupo social ao qual o falante pertence.
São as classes que agrupam as profissões e as separam. A língua regista essa separação:
as funções exercidas por artesões não se chamam profissões e sim ofícios” (Goblot, 1989,
p.38).
A simples distinção entre profissão e ofício demarca uma divisão de classe que se
concretiza também na língua. Não é a partir da língua que se supera a estratificação social. Ela
por si só não é capaz de desencadear mudanças radicais na estrutura social, mas é a partir dela
que se transmitem valores e ideias, ou seja, o conteúdo ideológico que alicerça e constrói os
fundamentos da sociedade.
Assim, e de acordo com Cândido (1996), o calão tem origem no castelhano caló e é um
“nível de língua usado em determinadas situações de comunicação”. Numa segunda acepção
surge como sinónimo de “boémia” e, por fim, numa terceira acepção consta como sinónimo
de “gíria”. Aqui, introduz-se a noção de nível/registo de língua, bem como a questão da
variação situacional, ou seja, em que o calão é usado apenas em certas situações.
Face a definição, podemos definir calão como sendo uma “linguagem especial, usada
pelos grupos marginais, por criminosos, recluso, portanto, caracterizada pelo uso frequente de
termos grosseiros e obscenos; gíria de marginais.
2.2.2. Gírias
A gíria é o tipo de linguagem que surge restrita a um determinado grupo, como um
código, que com o passar dos tempos invade a sociedade sendo utilizada pelas pessoas até de
forma inconsciente, independentemente da idade ou nível social da qual fazem parte, tornando
o seu uso muito frequente em qualquer situação de interacção.
Sobre essa utilização cada vez maior da gíria, Patriota (2009, p.8) diz: “É essa
generalização de uso, que desconhece barreiras etárias, sociais, económicas e culturais, que
garante a gíria um lugar de destaque entre as outras variedades da língua”.
Ainda sobre o mesmo assunto, Preti (1984), salienta que a forma ou norma linguística
adoptada por uma determinada sociedade influencia a maneira de pensar dos indivíduos.
Salienta ainda que a forma de comunicação utilizada pelos indivíduos torna-se linear na
medida em que grande parte do grupo a adopta na comunicação.
Sobre isto podemos dizer que essa forma de comunicação escolhida pelas sociedades
pertencente as sociedades urbanas, com os regionalismos, e é transmitida por meio da
comunicação.
Labov (1977), afirma que quando o falante do interior chega a capital, ele normalmente
acha que o seu jeito de falar é ridicularizado. Entretanto, para o autor, a linguagem urbana é
tão dominante na sociedade que as próprias pessoas oriundas de cidades menores acabam por
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adoptar esse linguajar. A linguagem urbana torna-se uma norma comum, e os indivíduos
utilizam-na para mostrar a pertença de um grupo.
Esse tipo de grupo denomina-se gíria, que segundo Preti (1984, p.03), é um vocabulário
criptológico, um identificador da vida e da cultura de determinado grupo:
Assim sendo, podemos definir as giras como sendo a linguagem de uma classe,
caracterizando-se por se manter intencionalmente secreta, sendo ininteligível aos profanos e
funcionando como arma de defesa contra os demais elementos da sociedade.
2.2.3. Jargão
Antes de avançarmos quaisquer subsídios sobre este pequeno tema, vale de antemão
salientar que o jargão já era utilizado nos séculos XII e XIII para definir uma fala inteligível.
Mais tarde, no século XIX, o jargão ocupou espaço na linguagem dos desportistas com a
formação e comercialização de diversos desportos.
24
Percebe-se que o jargão era um termo utilizado de forma abrangente, não havia uma
diferença consistente entre gíria e jargão. Com o passar do tempo, houve uma especialização
do termo jargão, e hoje, sua distinção tornou-se mais clara:
Percebe-se que a especialização sofrida pelo termo jargão fez com que outros termos
assumissem a função de designar a linguagem do submundo. Dessa forma, os termos
utilizados para definir a linguagem secreta dos grupos sociais marginalizados também se
tornaram um pouco mais específicos. Muitos desses termos já existentes desde o século XVI
quando ainda era registados como sinónimos do jargão.
Assim sendo, Preti (1984), define jargão como sendo uma linguagem técnica
banalizada, pelo uso largamente ampliado e pelas formações neológicas abusivas, visando a
certos efeitos, em particular aqueles decorrentes de prestígio linguístico do vocábulo. Em
muitos casos, os jargões se enriquecem pela criação individual, de pouca duração, que não
chega a passar para o grupo.
Olhando para esta definição, podemos constatar que o jargão se trata de uma linguagem
técnica banalizada de pouca duração.
De acordo de Borba (1998), as línguas técnicas são uma variante do registo formal,
respondendo à necessidade de designar-se cientificamente, com um valor semântico
especifico. Elas ocorrem quando a profissão ocupa um lugar muito importante na vida de um
individuo tornando-se fonte inesgotável de enriquecimento lexical.
Em fim, podemos dizer que o jargão é entendido apresenta-se sob uma carga semântica
negativa, algo incorrecto ou de difícil de compreensão.
Eles também não são nítidos e precisos, mas graduais, na medida em que se encontram
certas áreas de maior ou menor concentração de determinadas características pertencentes a
determinados dialectos.
As variações sociais ou diastráticas têm também como factores a idade, o sexo e o grau
de escolaridade dos falantes, que serão tratados à frente em item separados.
Assim, podemos dizer que para este tipo de variação, cada falante adequa a língua `a
situação de comunicação, `a relação que tem com o seu interlocutor, o assunto a tratar. Estas
variações são geralmente designadas por registos da língua.
Exemplo disso, podemos verificar que a fala é mais variável que a escrita e é preciso ter
em conta a variação diafásica. Ao escrever um trabalho académico, redacção o aluno tem de
colocar a concordância sim. Mas ao escrever para um amigo pode escrever o jeito que quiser,
isso não fará nenhuma diferença.
p.122) “uma mudança no ritmo, uma mudança na altura da voz, uma mudança no volume ou
intensidade da respiração forma sinais socialmente significativos de uma alteração rumo a um
estilo de fala mais casual ou espontâneo.”
Assim a variação diafásica é uso individual da fala/escrita realizada com ou sem grau de
monitoramento.
“Para alguns autores, a linguística histórica é a história da língua escrita, mas sem a fala
não se escreve, pode-se entrever ou entreouvir a voz através dos textos: tarefa difícil e apenas
aproximativa, ouvir o inaudível”. (Mattos & Silva, 2008, p.20).
A respeito disso, percebe-se que as LB moçambicanas por ter sido ágrafas desde a
origem é quase impossível estudar como era a língua no séc. XIV, por exemplo. A obtenção
de fontes, segundo Barbosa (2008, p.170) é um dos grandes problemas que os pesquisadores
de língua enfrentam nos seus trabalhos.
Assim, de referenciar que a transmissão da cultura africana foi feita através da oralidade
sendo que houve perda de muitos traços linguísticos da antiguidade. Em outras palavras,
podemos estudar a língua baseando em fontes orais disponíveis mesmo havendo sempre a
necessidade de se investigar a confiabilidade da fonte. Podemos sim, fazer um estudo
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Esta corresponde a terceira e a última parte do trabalho, que como o nome diz, é onde
foi feita a análise e interpretação de dados colhidos no bairro Saguar, em relação ao tema de
pesquisa.
Importa aqui salientar que os dados aqui apresentados, é fruto da entrevista dirigida aos
moradores do bairro Saguar, no ano corrente.
Para a apresentação dos dados colhidos, recorreu-se a codificação que segundo Marconi
e Lakatos (2001:126), “nesta técnica os dados são categorizados e transformados em símbolos
ou números, e, este processo engloba classificação e atribuição de códigos”. Assim, o
processo de codificação do questionário sobre o tema: A Organização Social Linguística, caso
do Bairro Saguar, na Cidade de Quelimane, obedece a seguinte codificação: I – que
corresponde aos Indivíduos, onde será (I1; I2, I3… I40).
0 5 3 8
Fonte: (Autora, 2021)
Assim sendo, constata-se, através desses dados, que a maior parte dos entrevistados, são
desempregados, correspondendo um número de (16) indivíduos.
Olhando para estes dados, constata-se que os indivíduos do bairro Saguar, usam várias
línguas para se comunicar, sendo a mais usada o português, seguido do chuabo e sena.
33
Perguntado sobre a frequência de conversa com pessoas do bairro Saguar, a tabela 5 nos
diz que (11) indivíduos conversas as vezes com pessoas do bairro Saguar, e (29) indivíduos
responderam conversar sempre com pessoas do bairro Saguar.
Como ilustra os dados, nenhuma pessoa respondeu não conversa com pessoas do bairro
Saguar.
No Código Respostas
5 I7; I8; I9; I28; I29. Mais novas
I2; I3; I4; I5; I6; I16; I19; Mesma faixa etária
11 I21; I30; I31; I32.
I17; I18; I20; I22; I23; Mais velhas
16 I24; I25; I26; I27; I30;
I33; I34; I36; I37; I39;
I40.
I1; I10; I11; I12; I13; Qualquer/todas faixas
8 I14; I15; I38.
Fonte: (Autora, 2021)
34
Como podemos ver na tabela 6, que diz respeito a faixa etária com quem mais gostas de
conversar, os dados dizem que: (5) pessoas gostam de conversar com pessoas mais novas,
(11) pessoas gostam de conversar com pessoas da mesma faixa etária, (16) gostam de
conversar com pessoas mais velhas, e (8) indevidos responderam gostar de conversar com
pessoas de todas faixas etárias, isto é, com pessoas de idade inferior, mesma idade e superior.
Importa aqui salientar que para esta questão houve várias justificativas, uma delas foi
daqueles que responderam gostar de conversar com pessoas mais novas, justificando, no
entanto, por elas não criarem muitos problemas na conversação. Dos que responderam gostar
de conversar com pessoas da mesma faixa etária, justificaram por partilhar da mesma
experiencia de vida e sentirem-se mais à-vontades. Não obstante, os que gostam de conversar
com pessoas mais velhas, disseram por gostar de adquirir novas experiencias de vida, receber
bons conselhos, por eles apresentarem uma visão ampla das coisas.
De salientar que houve também um número não insignificante, de pessoas que gostam
de conversar com pessoas de idades inferiores, iguais e mais velhas a delas, por simples razão
de não fazer nenhuma diferença, isto é, muitos deles disseram por gostar de vivenciar e
adquirir diferentes experiencias de vida, de pessoas mais novas, da mesma idade, assim como
de pessoas mais velhas.
Dos que gostam de conversar com pessoas do mesmo nível de escolaridade, disseram
por partilhar da mesma experiencia e pensar quase da mesma maneira.
Os que gostam de conversar com pessoas de nível superior, disseram por elas
transmitirem boas ideias e acabam de certa maneira, adquirindo novas competências
linguísticas, sem se esquecer de novos vocábulos.
Há ainda outros que responderam gostar de conversar com pessoas de todos os níveis de
escolaridade, alegando, no entanto, por gostar de aprender com todos os níveis, visto que
somos seres humanos e estamos em constante aprendizagem.
Vale também destacar que outros responderam gostar de conversar com pessoas de
níveis inferiores e superiores, por gostar de transmitir conhecimentos aos de nível inferior e
aprender com os do nível superior.
Como comprovam os dados da tabela 8, a maior parte dos entrevistados são estudantes,
seguido de camponeses.
Como podemos ver na tabela acima, dos que conversam com pessoas da mesma
profissão, justificaram por poder fazer troca de conhecimento facilmente, pois acreditam
aprender mais com colegas da mesma profissão. Outros, justificaram por não ter escolha, pois,
estão quase sempre juntos.
Dos que responderam não gostar de conversar com pessoas da sua profissão
justificaram por não ter bom relacionamento com os colegas de trabalho.
E há ainda aqueles que responderam nem sempre, ou seja, que poucas vezes conversam,
pois, não faz nenhuma diferença no seu dia-a-dia de trabalho.
Dos que responderam sim à questão acima apresentada, justificaram por muitos deles
serem naturais de Quelimane, e por poder conversar na sua língua materna e dialectos, o que
facilitaria a comunicação entre eles.
38
Dos 11 que responderam não passar muito tempo com os conterrâneos, justificaram por
eles serem das outras regiões do país, e estão distantes dos conterrâneos, tendo-se mudado
para Quelimane recentemente, e muitos deles, por motivo de trabalho ou estudos.
I24.
6 I1; I2; I3; I4; I5; I39. Todos
Fonte: (Autora, 2021)
Isto é, dois homens responderam gostar de conversar mais com mulheres, três mulheres
responderam gostar de conversar com pessoas de ambos os sexos, e, dez mulheres
responderam gostar de conversar com pessoas de sexo oposto, isto é, conversar com homens.
Importa aqui salientar, que as mulheres que responderam gostar de conversar com
outras mulheres, justificaram, no entanto, por entre elas terem fácil entendimento. Não
obstante, mulheres que responderam gostar de conversar com homens, justificaram por se
sentirem bem e evitar fofocas, o que acontece geralmente nas conversas de mulheres.
39
Dos seis que responderam gostar de conversar com pessoas de todos sexos, ou seja, com
homens e mulheres, 3 são mulheres e 3 são homens, tendo quase todos justificado da mesma
maneira: por querer saber questões que só homens podem explicar e no caso dos homens, por
querer perceber questões que só mulheres seriam capazes de esclarecer, como a questão da
menstruação, do aleitamento, entre outras coisas que só dizem respeito a mulheres.
Conclusão
Chegado a este ponto da pesquisa, vale aferir que no Bairro Saguar, as pessoas
organizam-se, social e linguisticamente, devido a vários factores, como a questão de idade,
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sexo, status social, nível de escolaridade, emprego, origem e sem se esquecer do factor mais
importante, que é a língua.
Como os dados evidenciam, as pessoas do bairro Saguar, não difere dos outros lugares da
nossa sociedade, isto é, dos indivíduos entrevistados, encontram-se pessoas desde
desempregadas, aqueles que optam em empregos pessoais, até aqueles que trabalham no
Aparelho do Estado, como professores, guardas, enfermeiros, entre outros.
Verificou-se ainda, partindo dos dados acima apresentados, que muitos deles gostam de
conversar com pessoas da mesma faixa etária, alegando, no entanto, por partilharem da
mesma experiencia de vida; não obstante, os que gostam de conversar com pessoas de idades
inferiores, a maria deles disseram, por sentirem-se bem e pelo facto de os mais novos não
induzirem ao erro; já os que gostam de conversar com pessoas de idade mais avançadas, é
pelo facto de, durante a comunicação, serem mais formais, que difere nas conversas de
pessoas com idades inferiores.
Conclui-se ainda que muitos gostam de conversar com pessoas da mesma profissão, pelo
simples facto de partilharem experiencias referente a área de trabalho. Os que não gostam, é
pelo facto de não ter boa relação com os colegas, o que é extremamente errado.
Perguntados se gostam de conversar com pessoas de mesmo sexo ou não, concluímos que
a maioria dos homens responderam gostar de conversar com homens, e muitas mulheres
responderam gostar de conversar com homens, alegando ser bom e evitar problemas e
fofocas, que é algo que se nota maioritariamente, entre mulheres.
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Apêndices
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Anexos