Aula 05 Ação de Exigir Contas
Aula 05 Ação de Exigir Contas
Aula 05 Ação de Exigir Contas
No CPC/73, sob o rótulo comum de ação de prestação de contas, eram previstos dois
procedimentos especiais distintos, um para dar contas e outro para exigi-las (arts. 914 a 919).
O novo Código manteve nesse rol apenas a ação de exigir contas, regulada nos arts. 550 a
553. Assim, tão somente o credor de contas poderá utilizar-se do rito especial para exigir sua
prestação. Isso não significa que tenha desaparecido a ação de dar contas.
A administração de bens ou negócios alheios gera sempre, para o gestor, o dever de prestar
contas, de sorte que este tem, na perspectiva do direito material, não apenas a obrigação, mas
também o direito de se livrar desse dever.
Assim, coexistem sempre as duas pretensões, a de exigir e a de dar contas. O que a lei nova
fez foi submeter a procedimento especial apenas a pretensão de exigir contas. A de dar contas,
por isso, será processada sob o procedimento comum.
O objetivo da ação é liquidar o relacionamento jurídico existente entre as partes no seu aspecto
econômico, de tal modo que, afinal, se determine, com exatidão, a existência ou não de um
saldo, fixando, no caso positivo, o seu montante, com efeito de condenação judicial contra a
parte que se qualifica como devedora.
O montante fixado no saldo será conteúdo de título executivo judicial, nos termos do art. 552 do
CPC, de modo que poderá ser exigido, nos próprios autos, segundo o procedimento de
cumprimento de sentença (arts. 513 e ss.).
Vê-se, assim, que a demanda sobre contas autorizada pelo art. 550 do CPC só pode partir da
iniciativa de quem tem o direito de exigi-las. No entanto, na composição das verbas reunidas
nas contas discutidas em juízo a iniciativa é bilateral. Ambas as partes podem reclamar
inserção e exclusão de parcelas e podem pretender alterações quantitativas.
Diz-se, por isso, que se trata de ação dúplice, já que qualquer dos sujeitos da relação litigiosa
pode ocupar indistintamente a posição ativa ou passiva da relação processual. Ou, mais
precisamente, durante o desenvolvimento do processo, tanto o autor como o réu pode formular
pedidos no tocante às verbas e respectivos montantes, sem depender de reconvenção.
Exibidas as contas, abre-se uma nova fase procedimental destinada à discussão de suas
verbas e à fixação do saldo final do relacionamento patrimonial existente entre os litigantes.
Descumprida a condenação, incide um efeito cominatório que transfere do réu para o autor a
faculdade de elaborar as contas, ficando o inadimplente da obrigação de dar contas privado do
direito de discutir as que o autor organizou (CPC, art. 550, §5º).
Se, porém, dupla é a pretensão, una é a ação, porque o que se demanda por meio da tutela
jurisdicional é, realmente, o acerto final do relacionamento econômico estabelecido entre os
litigantes. A elaboração e aprovação das contas é apenas o caminho para atingir-se a meta
final.
A NATUREZA DA AÇÃO DE EXIGIR CONTAS
A ação de prestação de contas é uma ação especial de conhecimento com predominante
função condenatória, porque a meta última de sua sentença é dotar aquele a que se
reconhecer a qualidadede credor, segundo o saldo final do balanço aprovado em juízo, de título
executivo judicial para executar o devedor, nos moldes da execução por quantia certa (CPC,
art. 552).
Não há duas prestações jurisdicionais distintas, ou seja, uma de acertamento das parcelas que
compõem o acerto de contas entre os litigantes, e outra para condenar o devedor ao
pagamento do saldo apurado. A demanda é única. Toda a atividade jurisdicional é, a um só
tempo, voltada para adefinição das contas com o propósito de tornar o seu resultado apto a
desaguar nas vias operacionais da execução forçada.
De acordo com o art. 553, as contas devidas pelos administradores judiciais (inventariante,
tutor, curador, depositário etc.) devem ser prestadas em apenso ao processo em que tiver
ocorrido a nomeação. A competência do juízo da causa originária para a prestação de contas é
de natureza funcional, e por isso irrecusável e improrrogável.
Quanto ao aspecto sancionatório, estatui a norma legal que, julgadas as contas, com a
condenação do administrador, a pagar o saldo, e não sendo cumprida a sentença no prazo
legal, sujeitar-se-á a:
Dispõe a lei que as contas devem ser “instruídas com os documentos justificativos” (art. 551,
§2º). Isto não quer dizer que toda conta só possa ser fundamentada em prova documental
préconstituída. A intenção do legislador foi a de determinar o momento da produção da prova
documental por aquele que presta contas em juízo.
A parte deverá, portanto, seguir as regras do procedimento próprio da prova por documentos, e
especialmente deverá cuidar para que seus elementos de prova escrita sejam produzidos
juntamente com as contas.
Não é empecilho à apresentação das contas a inexistência de prova documental para uma,
algumas ou todas as parcelas arroladas. Outros meios probatórios podem existir ao alcance da
parte, e o próprio CPC, refere-se, por exemplo, à possibilidade de perícia contábil (550, §6º).O
que importa é que as parcelas, se não determinadas, sejam pelo menos determináveis no
curso da instrução probatória.
O procedimento da ação para exigir contas acha-se regulado pelo art. 550 e é composto de
duas fases, com objetivos bem distintos: na primeira busca-se apurar se existe ou não a
obrigação de prestar contas que o autor atribui ao réu; na segunda, que pressupõe solução
positiva no julgamento da primeira, desenvolvem-se as operações de exame das diversas
parcelas das contas, com o fito de alcançar-se o saldo final do relacionamento econômico
discutido entre as partes.
I – Petição inicial
O autor deverá especificar detalhadamente, na petição inicial, as razões pelas quais exige as
contas, instruindo-as com documentos comprobatórios dessa necessidade, se existirem (art.
550, §1º). Não se tolerará ajuizamento desse tipo de ação sem que o autor demonstre na inicial
a existência efetiva de relação jurídica material entre as partes, capaz de justificar a pretensão
de exigir contas, de modo, ainda, a delimitar no tempo o objeto da certificação postulada.
Deferida a inicial, realiza-se a citação do réu, assinando-lhe o prazo de quinze dias para que:
1 - Apresente as contas; ou
2 - Conteste a ação (art. 550, caput). Diante do ato citatório, ao réu caberá, na verdade, uma
das seguintes atitudes:
Apresentar as contas;
Apresentar as contas e contestar a ação;
Manter-se revel;
Contestar ação sem negar a obrigação de prestar contas;
Contestar ação negando a obrigação de prestar contas.
Se o réu atende à citação mediante exibição das contas reclamadas pelo autor, opera-se o
reconhecimento do pedido, provocando o desaparecimento da lide quanto à questão que
deveria ser solucionada na primeira fase do procedimento.
Queima-se uma etapa procedimental passando-se, sem sentença, aos atos próprios da
segunda fase, ou seja, aos pertinentes ao exame das contas e determinação do saldo.
Se houver impugnação, deverá ela ser fundamentada e específica, com referência expressa ao
lançamento questionado. Com isso, pretende-se evitar a impugnação genérica, a exemplo do
que se passa com qualquer forma de contestação (art. 336).
Se a matéria ventilada for apenas de direito ou se puder ser deslindada à luz dos elementos já
constantes dos autos, a sentença de mérito será desde logo proferida. Caso contrário, definirá
as provas necessárias, designando audiência de instrução e julgamento (art. 550, §2º).
A lei faz sugerir que o réu deva sempre optar entre contestar ou apresentar as contas. Há,
porém,a hipótese em que a divergência instalada entre as partes diz respeito não ao dever de
prestar contas, mas ao seu conteúdo.
Prestando-as em juízo, lícito será ao réu contestar a ação para demonstrar a injustiça da
atitude do autor na recusa pré-processual das parcelas elaboradas e, em consequência,
pleitear a aprovação de suas contas e a sujeição do demandante aos encargos da
sucumbência, o que será possível independentemente de reconvenção, já que a ação tem o
caráter dúplice por sua própria natureza.
Revelia
A decisão da primeira fase será, então, para impor ao réu revel a condenação de prestar as
contas reclamadas na inicial, no prazo de quinze dias, sob pena de autorizar-se o próprio autor
a elaborá-las, sem que o condenado as possa impugnar (art. 550, §5º, in fine). Trata-se de
decisão interlocutória e, não, de sentença, embora o conteúdo seja de mérito
(reconhecimento do dever de prestar contas).
Se o réu contesta apenas por questões preliminares, ao rejeitá-las, o juiz desde logo
condenálo-á a apresentar as contas, na forma e sob as cominações do art. 550, §§ 4º e 5º.
O novo Código prevê uma única sentença, que de ordinário será aquela que tem como função
apurar o saldo do acerto de contas produzido em juízo (art. 552). Na primeira fase, o
acertamento pode ser de acolhida ou rejeição do pedido formulado na inicial.
Quando se acolhe o pedido de contas, o juiz não mais profere uma sentença, mas uma decisão
interlocutória como se deduz do art. 550, §5º, o qual textualmente dispõe: “A decisão que julgar
procedente o pedido condenará o réu a prestar contas no prazo de 15 (quinze) dias, sob pena
de não lhe ser lícito impugnar as que o autor apresentar”.
Se o pedido é rejeitado, o processo se encerra e não há que se cogitar de qualquer outra fase
procedimental na ação de exigir contas. Sendo, entretanto acolhido, a decisão da primeira fase
tem força condenatória, impondo ao réu a obrigação de formular e apresentar as contas
devidas ao autor, que deverá fazê-lo no prazo de quinze dias (CPC, art. 550, §5º). O caso é,
pois, de condenação a uma obrigação de fazer.
Essa condenação é feita sob forma cominatória, ou seja, deverá ser cumprida no termo
adequado sob pena de perder a faculdade da respectiva elaboração, passando-a para o autor.
Antes, porém, de passar-se a faculdade para o autor, tem o réu duas oportunidades para
cumprir sua obrigação de apresentar as contas devidas: nos quinze dias que se seguem à
citação (art. 550, caput) e nos quinze dias após a decisão condenatória (art. 550, §5º).
(a) abre-se o prazo de quinze dias ao autor para impugná-las (art. 550, §2º);
(b) não havendo impugnação, seguir-se-á, de plano, a sentença de aprovação das contas e
fixação do saldo;
(c) havendo impugnação, caberá ao juiz, à luz do seu conteúdo, fixar prazo razoável para que
o réu apresente os documentos justificativos dos lançamentos individualmente impugnados.
Caso haja necessidade, poderá o juiz determinar a realização de exame pericial. Observará as
regras do procedimento comum, para proferir julgamento antecipado da lide ou determinar a
produção das provas cabíveis e a realização da audiência de instrução e julgamento;
(d) a sentença é condenatória quanto ao saldo fixado e, em virtude do caráter dúplice da ação,
poderá voltar-se tanto contra o réu como contra o autor;
(e) o recurso cabível é a apelação, com efeito suspensivo (art. 1.012). Quanto ao prazo de
quinze dias, que se abre ao réu para cumprir a condenação da primeira fase do procedimento,
terá como termo inicial a intimação da decisão.
SENTENÇA E EXECUÇÃO
Cuidando-se de ação dúplice, não importa de quem tenha partido a iniciativa do processo: a
sentença gerará título executivo pelo saldo apurado contra qualquer dos litigantes que venha a
se colocar na posição final de devedor. O cumprimento da sentença obedecerá ao
procedimento das execuções por quantia certa e dependerá do trânsito em julgado, porquanto
a apelação tem o efeito suspensivo.
Não há, porém, necessidade de propor uma ação executiva; a execução dá-se na sequência
do procedimento cognitivo, como um simples incidente da relação processual em que a
condenação foi pronunciada.
Isto quer dizer que, após o trânsito em julgado e o requerimento da parte beneficiária, o
devedor será intimado a pagar em quinze dias seu débito, acrescido de custas, se houver (art.
523, caput). Não o fazendo espontaneamente, naquele prazo, expedir-se-á o mandado de
penhora e avaliação (art. 523, §3º).
Nessa altura, sujeitar-se-á o devedor à multa legal de 10% incidentes sobre o débito, além de
nova verba advocatícia também de 10%, essa a título de acréscimo devido em razão do
cumprimento forçado da condenação (art. 523, §1º). Os atos expropriatórios seguirão as regras
comuns dos arts.824 e seguintes.