TCC Patrícia
TCC Patrícia
TCC Patrícia
Instituto de Artes
SUMÁRIO
1 Introdução 3
2 Objetivos 4
3 Justificativa 5
4 Metodologia 6
5 Análise /Discussão 7
6 Considerações Finais 8
7 Referências 9
ANEXOS..............................................................................................................................10
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PROJETO FINAL DE GRADUAÇÃO – MU999
TCC.
Resumo?
1 Introdução
Nosso país possui uma diversidade musical singular e bastante complexa que é alvo de
constante discussão e análise entre etnomusicólogos, antropólogos e muitos outros estudiosos
que dedicam-se a decifrar a intrigante relação da música com o ser humano e seu contexto
social.
Por um outro lado, e ainda pensando no aspecto social que a música exerce sobre as
pessoas, faz-se fundamental utilizá-la também como uma ferramenta que viabilize o acesso a
outros universos culturais/musicais além daquele onde se está inserido e além daquele que
circula na mídia de massa a fim de que, tendo acesso a outras realidades culturais e sociais,
consequentemente, se torne possível desenvolver, ampliar e transformar o seu próprio
universo, assim como “o potencial musical de que todo sujeito é capaz e produzir o devir
ouvinte e o devir executante” (SANTOS, 2010). Não entendi.
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2 Objetivos
Essa pesquisa?
Esse projeto tem por objetivo principal trazer uma discussão de natureza reflexiva
sobre a importante relação entre educação musical e cultura popular, analisando as diferentes
perspectivas tanto do ensino quanto da aprendizagem da música no âmbito social.
Visto que existe uma demanda para uma educação musical que contemple diferentes
universos musicais dentro de uma contextualidade cultural e social.
explicar melhor, referenciar.
E a reflexão sobre o ensino de música pensada a partir dos aspectos culturais e seus
significados estabelecidos – o grande código de cada sociedade – visa estabelecer uma ponte
entre contextos culturais, podendo trazer inúmeras contribuições para o processo educacional.
Dentre as quais:
Interação?
● interagir com a realidade cultural por meio de experiências educativas;
● contextualizar os diferentes universos musicais da vida cotidiana no ensino;
● possibilitar experiências significativas através de práticas e vivências musicais para cada
indivíduo do processo educativo;
● ampliar os conhecimentos sobre os valores culturais/musicais da sociedade;
● possibilitar ao indivíduo inserido em um determinado contexto que tenha vivências
musicais distintas a fim de que (re)conheça diferentes “sotaques” culturais, incluindo o
seu próprio; falta algo.
● possibilitar a ampliação estética e artístico-musical através do conhecimento e da
experiência com diferentes aspectos de diferentes culturas;
● estimular a valorização e o aproveitamento do aprendizado musical proporcionado
através de diferentes meios e agentes existentes no processo musical de cada cultura;
● contribuir para um pensamento reflexivo sobre a prática pedagógica da música
popular.
A música, assim como outras artes, é reconhecida como parte fundamental da história
da civilização e sempre esteve presente nas mais variadas tradições e culturas de cada época,
como ferramenta para o desenvolvimento de inúmeras capacidades humanas, além de fazer
parte do cotidiano das pessoas, “sendo socialmente incorporada em seus diferentes usos e
funções e nos mais distintos meios sociais” (SOBREIRA, 2012, p.9).
[...] a música não é tratada como um tipo de conhecimento a ser ensinado, estudado,
compreendido e recriado... mas por outro lado, está sempre presente nos rituais do ambiente
escolar, seja nas festas e celebrações, seja na organização e validação do tempo e do espaço das
ações que acontecem no dia-a-dia escolar (MATEIRO, 2000, p.2).
Em cada momento se concebeu uma proposta para a música na escola, estabelecendo valores e
conceitos que se completam ou se contrapõem. Assim, conceitos que ainda sobrevivem até
hoje são, de certa forma, resultado de práticas educacionais anteriores que consolidaram
formas de pensar e agir sobre o currículo escolar (FIGUEIREDO, 2011, p.6). a citação não se relaciona
com o parágrafo anterior.
A música esteve presente nos mais diversos momentos da história da educação
brasileira e “com finalidades específicas, refletindo diferentes concepções de mundo e da
função da música na formação dos indivíduos” (MARIANAYAGAM e VIRIATO, 2010, p. 2).
A Educação Musical tem sido incluída e subtraída do currículo escolar brasileiro a cada reforma
educacional. Ora foi elencada como componente curricular, ora como conteúdo vinculado ao
ensino de Artes. Esta trajetória histórica é clarificada por MATEIRO (2000), FONTERRADA (2005),
JARDIM (2008), GUIMARÃES (2008) e DIAS (2010). Contudo, por diversos fatores, ainda que
presente nos Referenciais Curriculares e nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os conteúdos
de Educação Musical ainda estão ausentes do cotidiano escolar, o que se evidencia nas
pesquisas de HENTSCHKE (1993), PENNA (2002), ARROYO (2003), HIRSCH (2007) e AHMAD
(2011), as quais tinham como objetivo investigar as realidades musicais nos contextos escolares
da Educação Básica e apontam resultados que refletem a carência do ensino de Música
enquanto prática curricular e sequencial neste nível educacional (MARIANAYAGAM e VIRIATO,
2010, p. 2-3).
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Até o século XVIII, as escolas mantidas pelos jesuítas incluíam a prática da música no
currículo, claro, com a finalidade religiosa. A partir de 1808, com a chegada da família e da
corte real portuguesa ao Brasil, “modelos musicais europeus foram trazidos e aplicados, muitas
vezes ignorando ou impedindo práticas musicais das culturas que aqui estavam” (FIGUEIREDO,
2002, p. 45).
O que era para ser uma tentativa de inserir educação musical nas escolas foi, na verdade, uma
forma de enaltecer o governo de Getúlio Vargas, “que utilizou a música para desenvolver a
coletividade, a disciplina e o patriotismo” (MATEIRO, 2000, p.1). Acerca desta questão, SOUZA
(1992, p.13) pontua: a ideia sobre a educação musical na literatura dos anos trinta é muito
diferenciada e por vezes contraditória. Especialmente são colocados objetivos sócio-políticos
muito gerais como educação musical a serviço da coletividade e unidade nacional, o despertar
do sentimento de brasilidade ou ainda disciplina social (LIMA, 2010, p. 4).
O Canto Orfeônico foi praticado nas escolas brasileiras até a década de 1960, quando
pela Lei Federal nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961, foi instituída a Educação Musical como
resultado de “princípios escolanovistas calcados na ideia do desenvolvimento expressivo da
criança em sua individualidade buscando substituir os fundamentos do Canto Orfeônico e da
teoria musical pelas práticas rítmico-sonoras” (SUBTIL, 2011, p. 246).
LAVAL (2004, p. 43), ao analisar o contexto europeu, critica que, nesta lógica, os novos homens
a formar são os trabalhadores e os consumidores do futuro, e explana: “a industrialização e a
mercantilização da existência redefinem o homem, como um ser essencialmente econômico”
(MARIANAYAGAM e VIRIATO, 2010, p. 5-6).
Nesse contexto e sob essa ideologia, o artigo 7º da Lei Federal nº 5692/1971 trouxe a Educação
Artística para o currículo escolar, estabelecendo a prática da polivalência para as artes – um
professor responsável por todas as áreas artísticas. Esta experiência trouxe resultados
problemáticos e não contribuiu para o estabelecimento de uma proposta consistente para as
Artes na educação. Uma das consequências foi a superficialização de conteúdos artísticos na
escola, e outra foi o desaparecimento da Música na escola, já que as Artes Plásticas
estabeleceram-se como área hegemônica nos sistemas educacionais, em detrimento das outras
manifestações artísticas. Assim, a falta do ensino da música na escola aumentou ainda mais o
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caráter elitista de acesso à educação musical, passando esta a ser experienciada por uma
pequena parcela da população com condições de pagar pelo ensino da música, como aponta
BEYER (1993, apud MATEIRO, 2000, p. 2): A educação musical tornou-se, então, privilégio de
uns poucos, pois a maioria das escolas brasileiras aboliu o ensino de música dos currículos
escolares devido a fatores como a não obrigatoriedade da aula de música na grade curricular e
a falta de profissionais da área, somando-se a isso os valores culturais e sociais que regem a
sociedade brasileira (MARIANAYAGAM e VIRIATO, 2010, p. 6).
Por consequência, o papel do Estado foi redefinido. Se antes ele incluía políticas sociais
e participava do mercado com suas empresas estatais, agora passa a girar em torno das
necessidades do capital. A partir da reforma, o Estado “deixa de ser o responsável direto pelo
desenvolvimento econômico e social pela via da produção de bens e serviços, para
fortalecer-se na função de promotor e regulador desse desenvolvimento” (BRASIL, 1995, p. 12).
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Discursos de Organizações Internacionais, como UNESCO, CEPAL, BM, “os quais, por
meio da sua assistência técnica, passaram a priorizar as séries iniciais da Educação Básica como
fatores de desenvolvimento do capital humano na busca do desenvolvimento econômico das
nações periféricas”, incluindo a América Latina (MARIANAYAGAM e VIRIATO, 2010, p. 8).
A UNESCO defende a “educação para todos”, educação essa que está pautada nos conteúdos
mínimos: ler, escrever e contar. O Banco Mundial conceitua a educação como fator responsável
pela redução da pobreza e para o desenvolvimento econômico e do capital humano. A Cepal
que, mesmo não sendo agência especializada na questão da educação, discute os rumos
econômicos e da educação para a América Latina, visando à transformação produtiva dos países
da região (DIAS, 2010, p.199).
A partir de então, alguns conteúdos mínimos foram priorizados, “ler, escrever e contar,
os conteúdos de artes, de maneira geral, e de música, em especial, são deixados em segundo
plano” (MARIANAYAGAM e VIRIATO, 2010, p. 9). Assim, pode-se constatar que:
a legislação brasileira para o ensino de Artes, em especial da música, não pode ser explicada por
si mesma, mas como resultante de um todo social nas suas determinações políticas e
econômicas, pois essa legislação decorre das representações de uma sociedade num período
histórico, com significações e com aspectos ideológicos do seu momento, expressando uma
realidade social (DIAS, 2010, p.16).
Embora possa parecer exagero fazer todo um trabalho de análise de política educacional em
função de apenas um pequeno acréscimo ao artigo nº 26 da atual LDB, afirmo o contrário: tal
inserção foi fruto da mobilização de um grupo advindo da sociedade, que com apoio
fundamental de músicos e da atuação da ABEM, tornou possível a modificação do dispositivo
legal (SOBREIRA, 2012, p.5).
diante da realidade multifacetada dos contextos educacionais deste nosso país de dimensões
continentais, são mais eficazes e produtivas as ações que refletem as possibilidades locais, do
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que atos legais de alcance nacional, mas que correm o risco de não resultarem em efeitos
palpáveis sobre a prática pedagógica nas escolas. Pois ações da sociedade política, “descoladas”
da sociedade civil, podem ser simplesmente inócuas (PENNA, 2008, p. 63).
Segundo Penna (2012), as leis e demais dispositivos oficiais que encontramos sobre
legislação e regulamentação refletem contradições entre a situação desejável e a realidade. A
Lei 5692/71, sendo vista como responsável pelo desaparecimento do ensino de música nas
escolas, e a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) 9394/96, responsável
pelo resgate do ensino de música, são muitas vezes colocadas em oposição.
Vale lembrar que a Lei 4024, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que
precede às leis citadas, promulgada em 1961 após longo processo de gestação iniciado em
1946, foi a primeira lei de alcance nacional em decorrência da Constituição estabelecida nesse
mesmo ano e foi alterada uma década depois, sob o regime militar. O tecnicismo é uma
tendência liberal?
A Lei 5692/71 alterou várias determinações liberalistas da Lei 4024 para uma tendência
tecnicista. Antes dela, “as escolas ofereciam, eventualmente, 'Desenho' – muitas vezes
centrado na geometria – ‘Trabalhos Manuais’ ou 'Música' – principalmente através da prática
do Canto Coral, seguindo a tradição do canto orfeônico” (Wisnik, 1983). Foi estabelecida a
inclusão obrigatória da Educação Artística para os 1º e 2º Graus, embora não se defina com
clareza quais as linguagens artísticas contempladas. Dessa forma, a polivalência marcou a
implantação da Educação Artística, contribuindo para a diluição dos conteúdos específicos de
cada linguagem – Artes Plásticas, Artes Cênicas, Música e Desenho. Essa polivalência se
estendia à formação dos professores.
Assim, segundo Penna (2012), a prática da Educação Artística, diferente de escola para
escola, acabou sendo dominada pelas artes plásticas, até em função da formação dos
professores, uma vez que o campo das artes é muito amplo e é impossível se aprofundar em
tudo em dois ou quatro anos de curso. Infelizmente, em muitas escolas a opção pelo ensino
exclusivo das artes plásticas predomina até os dias de hoje.
Na Lei 9394, homologada em 1996, o termo Educação Artística perdeu lugar para o
termo “Ensino de Arte” a favor de se recuperar o ensino específico de cada tipo de arte.
Também, os Parâmetros Curriculares Nacionais elaborados pelo MEC incluem a Dança como
área específica e expandem as Artes Plásticas para Artes Visuais, incluindo cinema, fotografia e
vídeo, entre outros (PENNA, 2012).
Contudo, no ensino público pouca coisa mudou na prática: ainda temos uma única
disciplina de artes com um único professor para ensinar várias linguagens artísticas. A proposta
pedagógica – ou projeto político pedagógico – permite que cada escola utilize seus recursos
humanos e materiais disponíveis para definir o melhor modo de direcionar o trabalho de Arte,
tornando possível a existência de projetos curriculares diferenciados de escola para escola, que
podem ou não incluir um trabalho específico de música. E não podemos ignorar que a
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superficialidade no ensino das diferentes linguagens artísticas, ano após ano, contribuiu para a
desvalorização da área de artes por parte de diretores de escolas, colegas professores e mesmo
por parte dos alunos por não conhecerem ou não considerarem “o papel que o ensino de arte
pode e deve ter na democratização da cultura. Pois cabe à arte, por excelência, desenvolver no
espaço escolar uma ação efetiva no sentido de ampliar o universo artístico-cultural do aluno”
(PENNA, 1999).
Em 1871, Tylor (1832-1917) “caracterizou cultura como um todo complexo que inclui
conhecimentos, crenças, artes, moral, leis, costumes e qualquer outra capacidade ou hábitos
adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade” (QUEIROZ, 2004, p. 2). Ao longo do
tempo esse conceito sofreu diferentes conotações, dependendo da corrente antropológica,
mas todos concordam que “a cultura é fator determinante na vida do homem e, portanto,
ponto crucial para entendimento do mesmo e suas relações em geral” (QUEIROZ, 2004, p. 2).
Merriam (1964), a princípio definiu etnomusicologia “como a área que estuda a música
na cultura, ampliando posteriormente o conceito para o estudo da música como cultura”.
Segundo essa perspectiva “a música é, ao mesmo tempo, determinada pela cultura e
determinante desta” e “podemos conceber a educação musical como um universo de
formação de valores, que deve não somente se relacionar com a cultura, mas, sobretudo,
compor a sua caracterização, ou seja, desenvolver um ensino da música como cultura”
(QUEIROZ, 2004, p. 2).
Contudo, de acordo com Lühning (1991), “a busca de um conceito único para o que
seja etnomusicologia é uma tarefa difícil devido às diversas definições que variam de acordo
com a época e a vertente epistemológica” (QUEIROZ, 2004, p. 2).
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Myers (1992) aponta para a busca de discussões conceituais como algo característico
da etnomusicologia – como por exemplo, a origem da música, composição e improvisação,
música como símbolo, a função da música na sociedade, comparação de sistemas musicais e as
bases biológicas da música e dança, entre outros – a fim de que seja possível compreender
“diferentes aspectos da música em seus diferentes contextos e em suas distintas relações com
o ser humano e suas interações sociais” (QUEIROZ, 2004, p. 3).
A música é e sempre foi utilizada pelos mais diversos grupos culturais como forma de
expressão e comunicação. Segundo Nettl, em relação à cultura, pode-se considerar a música
como um veículo “universal” de comunicação (Nettl, 1983). Não como uma "linguagem
universal”, uma vez que, cada cultura possui seus próprios códigos culturais e suas próprias
formas de elaborar, transmitir e compreender a sua música. Dessa forma, mesmo não sendo
possível compreender “universalmente todas as músicas do mundo”, por “ser a linguagem
musical de cada cultura adequada ao seu sistema singular de códigos”, é possível proporcionar
uma interação com a música de diferentes culturas através da educação musical, visando
ampliar a dimensão, a percepção musical e discurso musical do aluno, a partir desse contato
com outras linguagens musicais (QUEIROZ, 2004, p. 3).
A música, por sua forte e determinante relação com a cultura, ocupa dentro de cada grupo
humano um importante espaço com significados, valores, usos e funções que a particularizam
de acordo com cada contexto sociocultural (Hood, 1971; Nettl, 1983; Nettl et al., 1997;
Merriam, 1964; Myers, 1992; Queiroz, 2002). Assim, para buscar um entendimento de uma
cultura e/ou grupo social é de grande relevância considerar quais os tipos de música existentes,
e como eles são vivenciados pelos membros dessa cultura e/ou desse grupo (QUEIROZ, 2004, p.
3).
A ideia de “mundos musicais" surge com Finnegan e é citada por Arroyo (2002),
entendendo essa concepção “como mundos diferentes pelos seus códigos culturais” e não
definidos e/ou diferenciados por linhas geográficas. Visto que, esses mundos “podem ser
distintos dentro de um mesmo território, dentro de uma mesma sociedade e/ou até dentro de
um mesmo grupo” (QUEIROZ, 2004, p. 3).
[Mundos] distintos não apenas por seus estilos diferentes, mas também por outras convenções
sociais: as pessoas que tomam parte deles, seus valores, suas compreensões e práticas
compartilhadas, modos de produção e distribuição, e a organização social de suas atividades
musicais (Finnegan apud Arroyo, 2002, p. 99).
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Para Swanwick (2003, p. 15), “o discurso musical [dentro de qualquer processo educacional]
tem que ser visto como uma pluralidade.” Pois somente assim a educação musical “formal”,
estabelecida dentro das instituições de ensino, poderá adaptar-se a um mundo em mudanças,
numa situação em que os sistemas de comunicação se expandem rapidamente e
desordenadamente dentro de cada meio cultural, proporcionando processos de aculturação
que fogem, atualmente, de qualquer controle social (QUEIROZ, 2004, p. 3).
Por esse motivo e dentro dessa perspectiva, estudos atuais de educação musical e de
etnomusicologia têm focado a “relação música e sociedade” (Arroyo, 2002; Barenboim, 2003;
Carvalho, 1999).
Assim, essa infinidade de músicas às quais uma sociedade está naturalmente sujeita,
veiculadas pelos mais diversos meios que ultrapassam as barreiras territoriais, invadem e
misturam valores de diferentes grupos, “exercendo um impacto maior ou menor, benéfico ou
maléfico, unicultural ou multicultural, de acordo com o grau de consciência e formação
estética, artística e cultural de cada contexto social”. E também “influenciando culturas e
efetivando, muitas vezes, uma dominação das mais priorizadas e divulgadas pela mídia e pela
indústria cultural” (QUEIROZ, 2004, p. 4).
A educação musical não pretende ser a responsável por “salvar a sociedade das
manipulações” impostas pelos meios de comunicação de massa ou a mídia, mas pode atuar
como uma alternativa para “ampliação da visão musical dos indivíduos” (QUEIROZ, 2004, p. 4).
Segundo Swanwick (2003), “um dos princípios básicos da educação musical deve ser o de
considerar e compartilhar do discurso musical dos alunos, propiciando uma ampliação das
relações que eles já têm com a música, conduzindo os a novas experiências, para que assim
sejam capazes de estabelecer uma relação real entre música e cultura – música e vida”
(QUEIROZ, 2004, p. 5).
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Pois, no ensino da música dentro do ambiente escolar (ou não), a educação musical
tem que lidar constantemente com diferentes mundos musicais que se confrontam e
interagem ao mesmo tempo.
A educação musical acaba indo além das atividades institucionais, já que está inserida
também em outros diversos processos culturais, uma vez que “o ensino de música se
estabelece também a partir do trabalho de outros profissionais da música, que não são
necessariamente professores com a finalidade específica de ensinar” (QUEIROZ, 2004, p. 5).
Segundo Swanwick (2003), a educação musical deve abranger não somente o ensino da música
em escolas, universidades e aulas específicas em instituições não formais, mas também deve
contemplar o trabalho de outras pessoas que facilitam o acesso da sociedade à música, sem
necessariamente se conceberem como professores: produtores, compositores, performers,
críticos, pessoas da TV, de cinema e rádio, organizadores de festivais, examinadores e os que
fazem música informalmente e são ativos nas comunidades (QUEIROZ, 2004, p. 5).
Assim como existe a diversidade musical é necessário que exista também uma
diversidade de estratégias para ensinar música. Porém, obviamente, nenhuma proposta de
educação musical seria capaz de contemplar todos os diferentes universos musicais que
existem dentro de uma cultura.
Nesse sentido, temos muito que aprender com os processos informais praticados nos diferentes
espaços e contextos da sociedade, não no intuito de transplantá-los para as instituições formais,
mas sim com o objetivo de, a partir deles, entender diferentes relações e situações de ensino e
aprendizagem da música. […] Entender processos de transmissão de música em diferentes
situações, espaços e contextos culturais permite a realização de propostas coerentes para o
ensino musical. Assim, acreditamos que a partir do conhecimento de distintas perspectivas do
ensino e aprendizagem da música, o educador estará mais apto para a (re)apropriação e/ou a
criação de estratégias metodológicas capazes de abarcar diferentes dimensões da educação
musical (QUEIROZ, 2004, p. 5).
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Segundo Nettl et al. (1997, p. 8, tradução minha), “[…] uma das coisas que determina o curso
da história de uma cultura musical é o método de transmissão”. Ainda segundo o autor, na
maior parte das culturas a música é transmitida de forma oral e aural. Nettl (1983) concebe o
conceito de “aural” como algo vinculado a uma percepção global do indivíduo, no que se refere
à apreensão dos elementos transmitidos (QUEIROZ, 2004, p. 5). seria um apud?
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Nesse ponto, faz-se necessário – ao menos tentar – clarificar o que seriam os múltiplos
espaços e contextos de ensino e aprendizagem musical. Até então, o foco deste trabalho esteve
nos ambientes de ensino formal. Porém, e especialmente quando se trata de música popular, é
necessário abranger o cenário informal ou não-formal. Portanto, observa-se no mínimo, duas
vertentes: o ambiente formal, ou seja, as escolas de ensino regular, de ensino específico de
música e o universo acadêmico; e o ambiente informal ou não-formal que contempla as
situações cotidianas, alternativas, não intencionais – termo utilizado por Libâneo (2000) – e,
obviamente, plurais e complexas.
Segundo Arroyo (2000), ao utilizarmos o termo “formal” para qualificarmos a educação musical
diferentes significados poderão ser destacados, pois esse termo pode ter significações tais
como: escolar, oficial, ou dotado de uma organização. Assim, a educação musical “formal” pode
ser considerada tanto aquela que acontece nos espaços escolares e acadêmicos, envolvendo os
processos de ensino e aprendizagem, quanto aquela que acontece em espaços considerados
alternativos de música. A autora coloca, ainda, que podem ser considerados não somente os
sistemas regulamentados, mas também as práticas que ocorrem no contexto da cultura
popular, pois estudos já realizados revelaram que existem formalidades características dessas
práticas (Arroyo, 2000; Müller, 2000; Prass, 1998) ]...[ Arroyo (2000, p. 79), ao discutir sobre o
termo “informal”, esclarece que o mesmo pode ser visto como “não-formal”, sendo considerado
algumas vezes como educação musical não oficial e outras não escolar, utilizado para referendar
o ensino e a aprendizagem de música que podem ocorrer nas situações cotidianas e entre as
culturas populares (WILLE, 2014, p. 2). apud.
Arroyo (2000, p. 79) afirma “particularmente, estamos à procura de denominações
mais precisas que dêem conta de contemplar toda essa diversidade” (WILLE, 2014, p. 2). Já que
a educação informal transcende as “modalidades de educação formal e não-formal, pois o
contexto da vida social, política, econômica e social, bem como a família e a rua, também
produzem efeitos educativos sem constituírem instâncias claramente institucionalizadas”
(WILLE, 2014, p. 3).
Green (2006, p. 114) afirma que apenas recentemente as estratégias de ensino estão
efetivamente mudando. Compreender os contextos nos quais a música popular acontece, bem
como suas formas de transmissão de conhecimentos, práticas, valores, filosofia e conceitos,
torna-se de suma importância para que o trabalho do professor e o uso dessa música sejam
significativos (COUTO, 2009, p. 2).
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ambientes de ensino formal. O que não significa que ainda hoje deixe de sofrer um certo
preconceito. Será que esse preconceito existe na maioria das escolas? Pode
ser uma questão mais da educação consevatorial.
O modelo de ensino tradicional de música que se difundiu pelo Ocidente enfatiza o domínio da
leitura e escrita musicais, assim como a aquisição de informações históricas e teóricas e a
técnica para a execução de um instrumento, privilegiando quase sempre o repertório dos
grandes compositores do universo clássico (GREEN, 2001; DUNBARHALL; WEMYSS, 2000). Para
Feichas (2006), esse tipo de aprendizagem favorece o individualismo e geralmente o
conhecimento musical é transmitido de maneira compartimentada e mais abstrata, de forma
que muitas vezes o aluno não faz relação entre o que aprende e sua vida cotidiana (COUTO,
2009, p. 3).
Quando um sistema educativo está habituado a lidar com identidade musical, técnica,
originalidade, estilo e qualidade nos termos da música clássica, existe a necessidade de se
atentar para o fato de que usar dos mesmos critérios para julgar tais elementos dentro da
música popular não seria adequado. Alguns autores argumentam que, assim como é o caso das
músicas pré-tonais, pós-tonais, e atonais, a música popular requer outros modelos analíticos,
distintos daqueles empregados pela clássica (DUNBAR-HALL; WEMYSS, 2000). (COUTO, 2009, p.
3).
Arroyo (2001, p. 65), ao considerar que a música popular pertence a uma cultura
diferente da música clássica, argumenta que “é possível considerar que a notação musical
ocidental é um aspecto crítico na cultura musical erudita europeia, por ser indispensável à sua
produção e aprendizagem”. No entanto, “para a cultura da música popular, a notação seria
desejável e até mesmo casual, por não ser determinante na sua produção e aprendizagem”.
Assim, para a música popular, “o crítico é a oralidade, que, por sua vez, na música erudita é
desejável” (ARROYO, 2001, p. 65).
Björnberg (1993) afirma que a ideia de que todas as músicas podem ser ensinadas, avaliadas e
julgadas pelos mesmos critérios, considerando os conceitos musicais isoladamente de seus
contextos culturais, é característica de um conflito imposto pela tradição do Conservatório.
Dunbar-Hall e Wemyss acreditam que esta atitude se equipara ao imperialismo cultural.
Similarmente, o uso de caminhos não ortodoxos, comuns à prática de música popular, os quais
sejam divergentes daqueles praticados para o repertório clássico, poderia gerar experiências de
aprendizagem que pareceriam “enganosas” aos olhos de quem os desconhece (DUNBAR-HALL;
WEMYSS, 2000, p. 24). (COUTO, 2009, p. 3). será só na música popular?
Além disso, na cultura da música popular ainda existe a crença equivocada de atribuir
as habilidades musicais ao talento ou ao dom divino no lugar de atribuir a necessidade de
estudo para a sua aprendizagem e a aquisição de conhecimentos teóricos juntamente com os
conhecimentos práticos – “principalmente por ser um repertório marginalizado durante muito
tempo por instituições de ensino formal de música”. Segundo Sandroni (2000), “tal fato
dificultou a visualização de seus processos de aprendizagem, mas isso não significa que não
existam” (COUTO, 2009, p. 3).
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Assim, inaugura-se uma nova maneira de ver a “pedagogia da música popular”, na qual as
práticas de aprendizagem informal se fazem indispensáveis ao trabalho do professor com esse
repertório, tornando isso algo coerente e significativo (COUTO, 2009, p. 4).
Para uma prática pedagógica de música popular autêntica é fundamental o uso das
práticas de aprendizagem informal e também “que as formas de produção e transmissão do
meio cultural, onde esse repertório vive, conduzam a aprendizagem e não apenas que sejam
incluídos como recurso pedagógico” (COUTO, 2009, p. 4).
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professores como mais importante, ou seja, como um meio de levá-los à música clássica, não
considerando a música popular como um repertório digno de grande atenção (CROSS, 1988;
GREEN, 2001, 2006; TRIMILLOS, 1988)” (COUTO, 2009, p. 5).
O professor, ao selecionar o repertório a ser trabalhado em sala de aula, deve ter essa
consciência, a fim de melhor compreender a complexidade de acontecimentos que permeiam
seu trabalho (GREEN, 2006, p. 114). Segundo Small (2003), o trabalho com o repertório popular
“deve envolver as músicas que são importantes para os alunos e não apenas para o professor”
(COUTO, 2009, p. 7).
Os tipos de respostas para cada um dos significados musicais influenciam a “educação musical”
no sentido em que “a resposta para um aspecto do significado pode se sobrepor, influenciar ou
até mesmo alterar o outro” (GREEN, 2006, p. 103). Muitas vezes as inclinações negativas aos
significados delineados são tão fortes para o indivíduo que tornam difícil seu acesso à
linguagem para determinados estilos musicais. Para Green, as reações das pessoas não estão
relacionadas apenas com suas habilidades musicais; elas seriam resultados de uma “série de
precedentes sociais e afiliações a uma variedade de diferentes grupos sociais” (GREEN, 1997, p.
34). (COUTO, 2009, p. 7)
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Transformar esse tipo de notação, que é pouco exato, numa performance requer dos músicos
diversas habilidades: eles necessitam conhecer regras, limitações de seu instrumento, exercitar
quais decisões tomar em relação à inversões, encadeamentos, bem como estruturar a peça,
criar inflexões rítmicas entre versos, assim como fraseados. Essa prática desenvolve diversos
benefícios como a confiança na improvisação, a vivência da música como som mais do que
como notação, atividade mais do que passividade, conhecimento e manipulação estilísticos
(DUNBAR-HALL; WEMYSS, 2000). Por essa razão, o tratamento dado às partituras é outro
elemento importante (COUTO, 2009, p. 9).
Para Lilliestam (1995, p. 196-198), “dever tocar assim como as notas dizem” é característica de
uma má pedagogia. Considerando os aspectos inerentes ao fazer musical popular, existem
aqueles como, por exemplo, “sonoridade e timbre, micro intervalos e ‘blue notes’, e sutilezas
rítmicas que não podem ser capturadas pela notação” (COUTO, 2009, p. 9).
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4 Análise e Discussão
De acordo com Queiroz, considera-se como educação musical formal aquela que
acontece em escolas especializadas da área ou outras instituições de ensino regulamentadas
pela legislação educacional. Os espaços não formais são constituídos por ONGs, projetos
sociais, associações comunitárias e espaços diversos que oferecem cursos livres de música e
são aqueles que muitas vezes abraçam manifestações da cultura popular em geral. Contudo,
vale lembrar que o ambiente da escola regular é um espaço altamente diversificado que
abrange e congrega diferentes pessoas e culturas, sendo um verdadeiro desafio aos
educadores, especialmente quando a conjuntura político-social-cultural não visa construir
pontes, mas sim, estabelecer limites e barreiras.
Apesar disso e de todos os avanços já citados, ainda existe uma distância visível entre a
aceitação do ensino de música popular e erudita, talvez em razão da música popular ainda ser
vista como algo “novo” (e, portanto, não tradicional) se comparada à música erudita num
contexto histórico e também por ter pouca documentação. Resumidamente, no Brasil a música
popular ganhou maior importância e destaque há pouco mais de 100 anos, principalmente em
virtude do surgimento da indústria fonográfica, que instituiu o fim das composições antes
coletivas, além do registro em partituras, com a posterior difusão por rádio e televisão. Antes
disso, possuíamos basicamente os registros dos padres jesuítas sobre a observação e/ou
prática da música popular.
Encarar a música como uma forma de linguagem, permite uma perspectiva de ensino
mais abrangente. Ao fazer uma analogia entre linguagem verbal e música, nota-se que o aluno
aprende a linguagem verbal a partir do nível discursivo para só mais tarde aprender as regras
gramaticais. Na música, fazendo uma comparação inicial, quando existe o foco na percepção
estética, o aprendizado técnico faz mais sentido. me parece que não tem relação com a
bibliografia.
No entanto, é preciso fornecer aos alunos amplas referências musicais para que seja
possível ampliar seu repertório e sua percepção estética e não simplesmente reproduzir o som
de forma mecânica, independente da cultura em que estejam inseridos.
Porém, tendo em vista que é muito difícil para um aluno aprender o que não faz
sentido para ele ou que está muito distante da realidade em que vive, no contexto musical não
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seria diferente. Cabe ao professor buscar, conhecer e avaliar o que pode ser usado de forma
didática a fim de possibilitar uma vivência significativa para que torne o aluno capaz de
desenvolver sua musicalidade, abordando a diversidade cultural no processo pedagógico,
especialmente, no que se refere ao ensino de música e às diversas formas de manifestação
musical, tendo em vista que existem várias formas de musicalidade, especialmente se
considerarmos o ambiente social e cultural onde o aluno está inserido.
Tendo por base os estudos já apresentados, acredito que deve-se trabalhar tanto a
música popular quanto a música erudita em sala de aula, porém, não com o intuito de usar a
música popular de forma deturpada ou como um degrau para se chegar na música erudita,
dentro dos moldes europeus.
Em sala de aula, também é importante usar essas tecnologias de forma positiva, para
facilitar a transmissão de conhecimento aos alunos, sempre visando facilitar e estimular o
alunado. Porém, muitas vezes, são meus alunos, principalmente, em idade pré-adolescente,
que me ensinam como manipular as novas tecnologias. a pesquisa
O projeto defende uma educação para as massas considerando a música uma parte
integrante deste olhar sobre a educação, despertando a cidadania e a capacidade recreativa.
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emoção artística e ter uma prática artística, mesmo se, como nas outras matérias, diferentes
indivíduos progridam por caminhos diferentes. (SNYDERS, 1992, p. 114).
De forma geral, durante minha vivência no aprendizado de canto popular, posso dizer
que foi fundamental ouvir e conhecer vários estilos e intérpretes de várias épocas e também,
ter professoras que trabalharam como interlocutoras, de fato, exemplificando a forma correta e
a incorreta, ou seja, prejudicial para a voz. Como todo músico ou musicista popular, a parte
prática sempre acaba se tornando mais fácil de ser assimilada devido ao grande estímulo que
se recebe desde cedo no que se refere ao uso da percepção auditiva.
Meu primeiro contato com um instrumento musical, no caso um violão Gianinni ano
1978, aconteceu ainda na primeira infância. Mas, nessa época, meus braços não eram tão
grandes quanto o meu fascínio pela música. Passados alguns anos, isso já não era mais
problema e eu comecei a estudar sozinha, por métodos, revistinhas – visto que a internet não
era acessível. Posteriormente, na fase da adolescência, pude contar também com a ajuda dos
amigos e tive a experiência de tocar em grupo. Tudo acontecia de forma muito despojada e
sempre visando a diversão.
Vale a pena citar que esse meio musical era majoritariamente masculino. Era muito
comum que eu fosse a única ou uma das pouquíssimas meninas entre os meninos e é assim até
hoje. Nas escolas onde trabalhei e trabalho atualmente, as únicas figuras femininas são: a
secretária, a(s) professora(s) de piano e de canto, tanto erudito quanto popular.
Quando finalmente busquei por um ensino formal, já na fase adulta e com a intenção
de me profissionalizar, me deparei com as dificuldades de estudar em um conservatório
tradicional e aprender teoria – harmonia, leitura e escrita musical, além de rítmica e
percepção. Nunca na minha vida de musicista amadora eu “atravessei” uma música, mas foi
especialmente difícil criar links entre a leitura rítmica e a minha vivência dentro da música
popular.
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E eu só não sofri tanto na atual graduação por já ter sofrido muito no conservatório.
Mas isso faz parte da busca por constante especialização e aperfeiçoamento como musicista e
professora. A harmonia erudita, assim como as demais disciplinas que possuem um viés mais
erudito, também são um desafio muito grande. Contudo, possível de se transpor com muito
estudo, dedicação, recorrendo a quem sabe mais quando necessário e, sempre, recorrendo às
minhas origens, ou seja, ao uso da percepção auditiva. Inclusive como professora de música e
de canto popular, comumente estimulo meus alunos a desenvolver a percepção auditiva, até
porque, muitos não se interessam em aprender teoria.
5 Considerações Finais
Tendo por base alguns pontos que foram apresentados neste trabalho de conclusão de
curso, pode-se concluir que, conforme aponta Queiroz (2004), “a relação entre educação
musical e cultura é estabelecida pelas próprias relações do homem com a música”. Assim, é
essencial pensar em um processo de educação musical que a vincule aos aspectos da “cultura
particular de cada grupo social” (QUEIROZ, 2004, p. 7).
Da mesma forma, espera-se da educação musical não somente uma conformidade com o
sistema cultural de uma sociedade, mas sim uma interferência neste, possibilitando a
autonomia dos seus sujeitos para configurar novas concepções de música e suas relações. Partir
da realidade cultural dos alunos não significa ficar nela. É importante que sejam oferecidas
novas opções e descobertas para que a música seja experimentada, (re)criada e (re)vivida de
forma musical, significativa para a própria experiência de vida de cada ator envolvido no
processo de educação musical (QUEIROZ, 2004, p. 7).
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Fato que nos faz repensar as concepções que embasam a educação musical brasileira,
demonstrando que só uma prática educacional contextualizada com a realidade do nosso país
vai poder proporcionar processos de ensino-aprendizagem da música capazes de abarcar e se
enriquecer com as variadas possibilidades musicais existentes no Brasil e no mundo (QUEIROZ,
2004, p. 7).
Tão importante quanto ter a consciência de que a música não é uma linguagem
universal, é ter a consciência de que os seus processos de transmissão, ou seja, de ensino e de
aprendizagem, também não são. Saber que existem diferentes mundos musicais dentro de
uma mesma cultura e reconhecer que cada um deles possui a sua importância e significado
característico, é preciso para que a educação musical desenvolva processos de transmissão, em
qualquer que seja o contexto que busque a formação musical do indivíduo, contemplando
diferentes abordagens educacionais. “Abordagens que devem ser adequadas a cada situação
cultural e que consigam dialogar com os múltiplos contextos em que se ensina, aprende e vive
música” (QUEIROZ, 2004, p. 7).
A abertura para temáticas que reconhecem a existência de uma variedade de culturas musicais,
sobretudo as populares, nos faz perceber que o educador musical está diante de questões
complexas que necessitam ser discutidas e compreendidas, o que somente é possível através
do diálogo com outros campos do conhecimento. Nesse sentido as abordagens educacionais
ganham dimensões amplas, com o intuito de, a partir de distintas correntes epistemológicas,
poder contemplar a complexidade do seu campo de estudo. Dessa forma, a educação musical
precisa pensar a disciplinaridade como base na interdisciplinaridade (QUEIROZ, 2004, p. 7).
Os múltiplos contextos musicais exigem do educador abordagens múltiplas nas suas formas de
ouvir, fazer, ensinar, aprender e dialogar com a música. Essa perspectiva de educação musical,
que tem afetado diretamente os processos educativos e as competências necessárias para a
formação do professor de música, tem possibilitado também uma ressignificação dos valores
musicais do ensino formal. Tal fato tem favorecido novas perspectivas do ensino
institucionalizado da música, acabando, ou pelo menos diminuindo, com a dominação exclusiva
de repertórios tradicionais da cultura ocidental, concebidos como “erudito”, e até pouco tempo
privilegiados demasiadamente no ensino musical. Já se comprovou que qualquer processo que
enfoque uma única visão cultural acaba acarretando uma dominação inapropriada, dominação
que tende a favorecer uma prática educacional unilateral, que privilegia um sistema cultural em
detrimento de outros (QUEIROZ, 2004, p. 7).
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estética, e de respeito aos diferentes discursos e expressões da música nesse país” (QUEIROZ,
2004, p. 7).
É evidente que a educação musical, assim como os educadores musicais, estão diante
de contextos plurais, culturais e sociais, que demandam a criação de estratégias também
plurais e que possam contemplar esses diferentes universos musicais, considerando seus
valores, sentidos e significados, a fim de construir pontes entre educação musical e cultura que
sejam capazes de adentrar no discurso musical de cada grupo e/ou contexto social.
6 Referências
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Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
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