2018 - Espaços Geográficos, Interdisciplinaridade e Uso Da Análise Multicritério

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REVISTA DESENVOLVIMENTO SOCIAL

Universidade Estadual de Montes Claros

ESPAÇOS GEOGRÁFICOS, INTERDISCIPLINARIDADE E USO DA


ANÁLISE MULTICRITÉRIO

GEOGRAPHICAL SPACES, INTERDISCIPLINARITY AND MULTI-CRITERIA


ASSESSMENT

Jean Carlo Laughton Sousa


Bernat Viñolas Prat
Rosana Passos Cambraia

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM


[email protected], [email protected], [email protected]

RESUMO
Em vários olhares da geografia identificamos a facilidade que esta ciência tem em atuar
no campo interdisciplinar. A compreensão integral do espaço possibilita a priorização e
realização de ações interdisciplinares voltadas ao desenvolvimento social. Como
necessitamos de ferramentas de análise e uma delas é a análise multicritério, o estudo
foca no espaço geográfico e no desenvolvimento social sob a perspectiva da
sustentabilidade. O objetivo do texto é discutir de forma interdisciplinar a metodologia
multicritério na análise de espaços geográficos. O trabalho buscou descrever
características de uma avaliação integrada e destacar algumas ferramentas possíveis
com a aplicação multicritério na análise de espaços geográficos. Para isso partimos de
textos e conceitos do que é um espaço geográfico e sua relação com o desenvolvimento
sustentável. Ferramentas foram buscadas para seleção daquelas que levassem em conta
as características do espaço e da sustentabilidade. O texto vislumbra assim uma
idealização da análise multicritério utilizada na análise de espaços geográficos.
Palavras-chave: Análise multicritério, desenvolvimento social, geografia,
interdisciplinaridade.

ABSTRACT
In several views of the geography we have identified the facility that this science has in
acting in the interdisciplinary field. Comprehensive understanding of space enables the
prioritization and implementation of interdisciplinary actions aimed at social
development. As we need tools and one of them is the multicriteria analysis, the study
focuses on geographic space and social development from the perspective of
sustainability. The objective is to discuss in an interdisciplinary way the multicriteria
methodology in the analysis of geographical spaces. The work sought to describe the
characteristics of an integrated evaluation and highlight some possible tools with the
multicriteria application in the analysis of geographic spaces. For this we start with texts
and concepts of what is a geographic space and its relationship with sustainable
development. Tools were searched in the field of study, to select those that took into
account the characteristics of space and sustainability. The text envisions an idealization
of how a multicriteria evaluation would be adapted to the analysis of geographical
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spaces.
Keywords: Multicriteria analysis, social development, geography, interdisciplinarity.
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INTRODUÇÃO

Este texto tem a intenção de discutir de forma interdisciplinar a metodologia


multicritério na avaliação de espaços geográficos. Especificamente, o texto busca
descrever as principais características de uma avaliação integrada do espaço geográfico
e destaca a ferramenta de análise multicritério como uma possibilidade de avaliação dos
espaços geográficos.
Para isso partimos de textos que esclarecem os conceitos do que é um espaço
geográfico e sua relação com o desenvolvimento sustentável. Realizamos um
levantamento de ferramentas existentes no campo de estudo da análise multicritério,
para seleção daquelas que permitissem uma análise tendo em conta as características do
espaço e da sustentabilidade. E por último buscamos a idealização de como seria uma
avaliação multicritério adaptada a avaliação dos espaços geográficos.
No Brasil um dos grandes precursores da geografia regional é Milton Santos,
atribuindo a investigação em geografia a observação de espaços múltiplos constituídos
de análises e leituras do meio social e natural. Para Santos o espaço geográfico é

[...] formado por um conjunto indissociável, solidário e também


contraditório, de sistemas de objetos e sistemas de ações, não
considerados isoladamente, mas como um quadro único no qual a
história se dá. (SANTOS, 1996, p. 51)

Em um entendimento mais prático Suetergaray, concebendo a ideia de Milton


Santos, define o espaço geográfico como um todo uno e múltiplo aberto a múltiplas
conexões que se expressam através dos diferentes conceitos como a paisagem, região,
território, redes e ambientes.
[...] cada um deles enfatiza uma dimensão da complexidade
organizacional do espaço geográfico: o econômico/cultural (na
paisagem), o político (no território), a existência objetiva e
subjetiva (no lugar) e a transfiguração da natureza (no ambiente).
(SUETERGARAY, 2003, p.50).

A interdisciplinaridade surge no diálogo e na tentativa de criação de novas


produções científicas menos fragmentadas e tecnicista-especializadas geradas pela atual
organização disciplinar nas universidades, em que o cientista de determinada área de
conhecimento pesquisa temas relacionados à suas áreas sem levar em conta como as
outras áreas de conhecimento poderiam lhe ajudar e vice-versa. A discussão da temática
interdisciplinar é amplamente aceita e difundida entre os pesquisadores e professores,
contudo de acordo com Leis,

[...] parece prudente evitar os debates teóricos-ideológicos sobre


que é interdisciplinaridade, sendo preferível partir da pergunta
sobre como esta atividade se apresenta no campo acadêmico atual.
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(LEIS, 2005, p. 3)
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Este autor ainda enfatiza que:

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[...] a tarefa de procurar definições ‘finais’ para a


interdisciplinaridade não seria algo propriamente interdisciplinar,
senão disciplinar.” (LEIS, 2005, p. 3)

Partindo da análise do espaço geográfico como objeto de investigação, a


interdisciplinaridade em geografia para Suetergaray (2003) constitui prática coletiva,
surge da organização em grupos, hoje em rede, e tem como objetivo a busca da
compreensão/explicação de um problema formulado pelo conjunto dos investigadores.
O trabalho interdisciplinar vai exigir um rompimento com os problemas específicos de
cada campo, colocando na pauta da pesquisa questões de estruturação mais complexas
não devendo ser confundida com a transdisciplinaridade ou pluridisciplinaridade ou
multidisciplinaridade que possuem conceitos diferentes.
A geografia ao conceber o espaço geográfico (e suas variáveis) como objeto de
estudo sente-se muito privilegiada em realizar práticas e estudos no campo
interdisciplinar - conforme evidencia Monteiro:

esta aptidão dos geógrafos valorizou a sua utilidade social, fazendo


com que tenham começado a surgir, frequentemente, no apoio à
decisão política, social e econômica, à escala local, regional ou
internacional. (MONTEIRO, 2009, p.187)

Além de ser junto com a sociologia precursoras destas práxis, a possibilidade de


mesclar suas variáveis gera pesquisas em diferentes áreas, como: geografia regional,
geografia cultural, geografia crítica, geografia urbana, geografia econômica, geografia
política, geografia física, geografia humanista, geografia do turismo, geografia da saúde
entre outras.
Percebemos com Milton Santos (1998) novas abordagens e conceitos de
território, deixando este de ser percebido como área limítrofe de atuação do Estado, ou
seja, o espaço político, para uma área de apropriação social (econômica e cultural).
Nesta visão entendemos o território como algo em constante construção, além de
possuírem diferentes funções, usos e dimensões espaciais.
No entendimento geral, o conceito de desenvolvimento sustentável pressupõe
um equilíbrio e equidade no desenvolvimento social, econômico e ambiental. Sendo que
cada uma destas esferas possuem seus indicadores de análises.
As principais funções dos indicadores são avaliar as condições e tendências em
relação às metas e objetivos, comparar lugares e situações, prover informações para
tomada de decisões, antecipar tendências e mitigar problemas. E, o seu objetivo, de
acordo com Bellen, é:

[...] é agregar e quantificar informações de modo que sua significância


fique mais aparente. Eles simplificam as informações sobre
fenômenos complexos tentando melhorar com isso o processo de
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comunicação. (BELLEN, 2011, p. 42)

Existem outras ferramentas de análises e procedimentos metodológicos para


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mensuração do espaço geográfico no que tange ao desenvolvimento sustentável. Bellen

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(2011) propõe alguns métodos como o ‘ecological footprint method’, ‘dashboard of


sustainability’ e o ‘barometer of sustainability’. Não é nossa pretensão discorrer sobre
estes estas ferramentas.
Apresentamos aqui um outro método, a ‘Análise Multicritério’, como mais um
procedimento para interpretação do espaço geográfico.

ANÁLISE MULTICRITÉRIO COMO ESTRATÉGIA DE ANÁLISE DOS


DADOS

Compreendemos que indicadores socioambientais podem desvelar o espaço


geográfico e revelar a qualidade de vida de comunidades, levando-se em consideração
uma avaliação integrada que elenque elementos básicos que compõem os requerimentos
de qualidade de vida (ambientais, sociais, educativos e de saúde). Levamos em conta as
particularidades autóctones, que são as relações destas comunidades com o seu meio, ou
seja, a existência destas comunidades no seu território (LAUGHTON, 2014), com
determinação de indicadores socioambientais e de saúde.
Os ambientes favoráveis à saúde podem ser evidenciados mediante ao uso da
análise multicritério, como o realizado no estudo de Laughton et al. (2017), no qual foi
possível registrar problemáticas em vários níveis, como existência de um ambiente
saudável, acesso à educação e condições em relação ao acesso aos serviços de saúde.
A análise multicritério é uma técnica que auxilia na realização de uma análise
integrada. Segundo Jannuzzi, Miranda e Silva (2009) a análise multicritério à decisão
(AMD) compreende um conjunto de técnicas que auxiliam na tomada de decisão em
vários níveis um problema complexo, buscando alternativas para soluções.
Na realidade o ato de decidir, se entende como o de avaliar. Pois para tomarmos
qualquer decisão conscientemente ou inconscientemente temos que avaliar as diferentes
alternativas, conforme esclarece Gomes et al.:

[...] o Apoio Multicritério à Decisão pode ser definido como um


conjunto de técnicas de apoio à tomada de decisão, que têm a
finalidade de investigar um número de alternativas, considerando
múltiplos critérios e objetivos em conflito. É possível gerar soluções
de compromisso e uma hierarquização das alternativas, de acordo com
o grau de atração destas para o tomador de decisão. (GOMES et al.,
2004, p. 21)

Nesta perspectiva da análise multicritério destacamos algumas metodologias que


podem ser usadas, como a teoria de utilidade multiatributo e a modelagem de
preferências. A principal diferença entre estas teorias de acordo com Pomerol e Barba
Romero (1997) é que a teoria de utilidade multiatributo permite a criação de funções
utilidade e cria uma média dos méritos, pressupondo a transitabilidade (quando
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aparecem novas alternativas a avaliar) , a ordem e mérito das alternativas que já foram
avaliadas não fica alterado. Para desenvolvimento deste tipo de estudos é necessária a
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definição de como será avaliado cada critério e conhecimento das características das
alternativas.
Já a teoria modelagem de preferências, possibilita a ordenação das alternativas,
mas sem a indicação de um mérito, o que não pressupõe transitividade. Isto conduz a
duas questões: caso, na avaliação apareçam outras alternativas, o ordenamento das
anteriores pode ficar alterado. Uma das vantagens desta metodologia é que não precisa a
criação de funções utilidade para cada critério avaliado. Isto é, não é preciso definição
de forma estrita da forma como serão avaliados cada um dos critérios estudados.
A metodologia de utilidade multiatributo desenvolve-se de acordo com Franco e
Pandolfo (2010) em fases, conforme elencadas a seguir: 1) Determinação da perspectiva
de análise - a perspectiva desta análise é avaliar de forma integrada a qualidade de vida;
2) Identificação das possíveis alternativas/grupos; 3) Identificação dos atributos ou
critérios; 4) Identificação dos fatores que serão avaliados para cada atributo; 5 )
Estabelecimento de uma escala de utilidade para pontuação cada indicador e avaliação
deles; 6) Determinação da importância de cada atributo e de cada indicador; 7) Cálculo
do valor de utilidade total para cada alternativa; 8) Determinação a alternativa que
obteve o maior valor de utilidade; e 9) Realização da análise de sensibilidade.
A árvore de tomada de decisão é a estruturação em forma ramificada de todos os
aspectos que são considerados na avaliação. Estes se englobam em uma primeira
ramificação (considerando os aspectos mais gerais que são denominados requerimentos,
uma segunda ramificação que considera aspectos mais específicos, os critérios).
Finalmente, os critérios se subdividem nos aspectos mais específicos e quantificáveis do
estudo, denominados indicadores.
Para a seleção final dos indicadores são escolhidos aqueles que cumprem as
seguintes características:
I - Relevância: consideram-se os indicadores que fornecem uma maior
quantidade de informações referente ao estudo. Isto é, que informe de forma objetiva as
condições em termos de saúde, ambiente e aspectos sociais, como exemplos.
II - Mensuráveis: os indicadores têm que ser quantificáveis. Como exemplo, no
caso da avaliação do grau de escolaridade. A escolha do indicador de porcentagem de
alfabetização possibilita a quantificação.
III - Diferenciáveis: os indicadores devem fornecer informação que quando
avaliado em diferentes locais possam apontar as diferenças existentes.
IV - Referência técnica: os indicadores selecionados têm que apresentar uma
justificativa objetiva de sua importância.
Posteriormente, uma vez selecionados os indicadores, são definidos os pesos
(grau de importância relativa destes). Essa definição de pesos pode ser realizada
mediante a metodologia Processo Hierárquico de Análise (SAATY, 1980), baseado em
uma comparação por pares de todos os indicadores entre eles, mediante uma escala de
comparação proposta pelo mesmo autor (SAATY, 1977). Esta metodologia vem sendo
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utilizada amplamente em avaliações multicritério.


A ferramenta multicritério utiliza-se de planilhas eletrônicas, que permitem
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introduzir todas as variáveis existentes de comunidades em estudo. Um programa


calcula o valor de cada um dos critérios fazendo uma soma ponderada de todos os

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indicadores pertencentes a um mesmo critério (a ponderação é realizada tendo em conta


o peso de cada indicador). Posteriormente calcula-se o valor de cada requerimento,
procedendo à soma ponderada de todos os critérios pertencentes ao mesmo
requerimento. Finalmente calcula-se o valor global da comunidade, no contexto do seu
território, efetuando a soma ponderada dos valores dos diferentes requerimentos.
No Brasil, as comunidades tradicionais em geral apresentam níveis sócio
ambientais e de saúde precários e encontram-se em situação de vulnerabilidade social.
Laughton et al. (2017) estudaram a criação de um método de análise multicritério para
cálculo do índice de qualidade de vida em comunidades tradicionais como as
quilombolas, levando em conta a saúde, a educação e o ambiente. O uso multicritério
possibilita visibilidade em escalas, apresentando a situação real de algumas destas
comunidades e alertaram para a priorização de políticas públicas voltadas para
populações no país.
Quanto às hipóteses consideradas para realização de uma avaliação multicritério
do espaço, parece não existir uma única avaliação do espaço. Dependendo das pessoas
que estejam habitando nesse espaço as prioridades serão umas ou outras. Por isso, não
podemos falar que uma avaliação específica seja melhor que outra, o que a metodologia
faz é uma modelização da forma como cada pessoa ou grupo de pessoas irá a avaliar o
espaço.

EXEMPLO DE UTILIZAÇÃO DA FERRAMENTA DE ANÁLISE


MULTICRITÉRIO

Tomamos como hipótese a avaliação de um determinado espaço geográfico.


Para realização desta avaliação pode ser utilizada tanto a pesquisa qualitativa quanto a
quantitativa. Em geral, nas primeiras fases, a pesquisa qualitativa está voltada ao
entendimento do problema abordado e aos critérios que devem se ter em conta. Nas
últimas fases da pesquisa pode ser utilizada em maior medida a pesquisa quantitativa
para avaliação específica dos espaços. Assim, para realização da avaliação de um
espaço geográfico propomos o seguinte:
1) Determinação da perspectiva de análise. Nesta fase é de suma importância
conhecer e aprofundar quais são as pessoas ou grupos de pessoas envolvidas na
avaliação. Ao mesmo tempo, dependendo de cada pessoa ou grupo de pessoas, alguns
aspectos devem ter um destaque maior. Ao mesmo tempo, dependendo do objetivo da
avaliação, alguns aspectos devem se ter mais em conta. Imaginemos que queiramos
avaliar o impacto em espaços geográficos devido a implementação de mineradoras.
Talvez nessa avaliação os aspectos ambientais irão demandar mais importância. Porém,
se queremos avaliar os impactos do uso do agrotóxicos em determinados espaços, então
os aspectos mais relacionados à saúde terão mais importância. Em síntese, nesta etapa
precisamos de um conhecimento aprofundado, das pessoas envolvidas na avaliação e da
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razão pela qual essa avaliação está sendo realizada.


2) Identificação das possíveis alternativas. As alternativas avaliadas são os
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espaços. Esta avaliação pode servir, por exemplo, para comparação de diferentes
cidades, zonas rurais ou outros tipos de espaços. Também pode ser avaliado um mesmo

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espaço, em diferentes temporalidades. Também para avaliar se um mesmo espaço,


devido a alguma ação externa, passa por melhorias ou não. Sendo assim, nesta fase
ainda é preciso seguir aprofundando na avaliação que será realizada. Neste caso,
devemos adquirir um conhecimento do espaço que será avaliado. Parece óbvio que seja
diferente avaliar espaços dos centros urbanos de áreas industriais, ou de locais que
podem se encontrar nas periferias das cidades ou em áreas rurais. Cabe destacar também
que existem diferenças entre os centros urbanos. Por exemplo, é diferente a avaliação de
uma cidade como São Paulo de outra que se encontre na Europa ou na Ásia, pois a
diversidade cultural acentua as características de cada uma.
3) Identificação dos atributos ou critérios.
Partindo das fases 1 e 2, devemos ordenar aqueles aspectos que devem ser
avaliados. Nesta fase, como explicado anteriormente, agrupamos os aspectos a estudar
de forma ramificada.

Indicador 1.1...1

Critério 1.1

Indicador 1.1....p
Requerimento 1

Critério 1.mi

Critério n.1

Requerimento n
Indicador n.mk…1

Critério n.mk

Indicador n.mk…q

Figura 01: Árvore de decisão. Adaptado de Viñolas Prat et al. (2011)

Dependendo do grau de precisão, a ramificação da árvore pode ser mais extensa,


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ou muito simples (somente um nível). Não é aconselhável realizar mais de três ou


quatro ramificações, nem que o número de indicadores seja superior a vinte, pois os
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dados que são realmente importantes podem ficar diluídos com indicadores de menor
importância (ALARCÓN, 2005).
Caso o estudo esteja focado numa avaliação da sustentabilidade, os
requerimentos selecionados na árvore de decisão podem ser o requerimento ambiental,
social e econômico, pois estes são os três pilares da sustentabilidade, se levarmos em
conta o Relatório Bruntland (ONU, 1987). Avaliando um espaço geográfico, os aspectos
considerados podem se agrupar nos requerimentos social, ambiental e saúde, como
realizado na avaliação de algumas comunidades quilombolas na Serra do Espinhaço
Meridional (LAUGHTON et al., 2017). Uma vez realizada a primeira ramificação
(requerimentos) são selecionados aspectos mais específicos da avaliação, até chegarmos
aos indicadores (última ramificação).
Como nesta fase são definidos os aspectos que serão avaliados, uma escolha
incorreta destes pode nos levar a uma avaliação que não evidencie as prioridades das
pessoas ou grupos de pessoas envolvidas na decisão. Por isso, esta fase é determinante
para o que foi analisado nas fases 1 e 2.
4) Identificação dos fatores que serão avaliados para cada atributo e 5)
Estabelecimento de uma escala de utilidade para pontuação de cada indicador e
avaliação deles.
Uma vez selecionados os aspectos que serão avaliados, é preciso comparar estes
tipos de avaliações. Quando se trata de avaliação de conceitos interdisciplinares, como é
o caso de um espaço geográfico, existem aspectos avaliados muito diversos. Por isso, se
deve encontrar uma forma de comparar de forma quantitativa avaliações do tipo
ambiental (qualidade e quantidade da água das nascentes, riscos de queimadas,
biodiversidade, etc.) com avaliações sociais (níveis de escolaridade, acesso à educação,
etc.) com aspectos de saúde, por exemplo.
Uma estratégia para atingir este objetivo é quantificar os diferentes indicadores
mediante algum fator e posteriormente converter esta quantificação numa avaliação
compreendida de 0 a 1. Onde 0 significa satisfação mínima desse fator e 1 satisfação
máxima. Imaginemos o aspecto nível de escolaridade. Para este indicador, devemos
selecionar um fator que possa conferir certa quantificação. Por exemplo, porcentagem
de pessoas maiores de 18 anos com nível de escolaridade médio. Posteriormente
podemos converter, mediante uma função matemática, esta porcentagem numa
avaliação de 0 a 1. 0% de pessoas representaria uma avaliação de 0 (satisfação mínima)
e 100% avaliação de 1 (satisfação máxima). Realizando esta conversão podemos
comparar posteriormente todos os aspectos selecionados na fase 3.
6) Determinação da importância de cada atributo e de cada indicador. Na análise
multicritério é comum que alguns aspectos tenham mais importância que outros. Como
explicado na fase 1 e 2, dependendo do espaço geográfico avaliado, do momento
temporal e das pessoas que habitam este espaço, teremos alguns itens que devem ser
tidos mais em conta na avaliação. Como exemplo, caso se pretenda avaliar as
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consequências do uso de agrotóxicos, os aspectos de saúde devem ser considerados com


maior importância. O nível de importância de cada aspecto avaliado será denominado
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de peso. Existe em algumas ferramentas formas de assinar estes pesos: de forma direta,

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mediante o método das proporções (VIÑOLAS PRAT et al., 2011), mediante a


metodología de Analytical Hierarchy Process (AHP) (SAATY, 1980), entre outras.
7) Cálculo do valor de utilidade total para cada alternativa. Nesta fase obtemos
um índice que é um único valor que é síntese de todas as avaliações realizadas do
espaço geográfico. Desta forma, mediante este valor podem ser comparadas de forma
simples, diferentes lugares: comunidades rurais, cidades, áreas agrícolas, etc., e também
um mesmo espaço em tempos diferentes.
Para obtenção do índice de valor, inicialmente temos todas as avaliações de
todos os indicadores avaliados (realizados na fase 4 e 5). Posteriormente, o valor do
critério (ver figura da árvore de decisão) se obtém a partir dos valores dos indicadores
que pertencem a esse critério, pelo seu respectivo peso que foi assinalado na fase 6. A
forma de obtenção da avaliação dos requerimentos é similar a dos critérios. O valor do
requerimento é a soma das avaliações dos critérios que pertencem a esse requerimento,
pelo seu respectivo peso. Finalmente, o índice de valor se obtém a partir da avaliação de
cada requerimento pelo seu peso.
8) Determinação da alternativa que obteve o maior valor de utilidade.
9) Realização da análise de sensibilidade. Nesta última fase, podem ser
comparados, de forma quantitativa e mediante um único valor, os diferentes espaços
avaliados. Também é possível calcular como mudam as diferentes avaliações caso
sejam alterados alguns dos pesos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De modo geral, evidenciamos a ferramenta de análise multicritério como uma


possibilidade de análise do espaço geográfico na perspectiva do desenvolvimento
sustentável.
Considerando o espaço de geográfico como espaço de produção social,
econômico e natural, esta ferramenta pode ser aplicada em diversos recortes, desvelando
seus aspectos e avaliando as condições e tendências em relação às metas e objetivos de
um determinado estudo.
Ressaltamos que as diferentes tomadas de decisão, para a análise dos
requerimentos (social, econômico e natural) comuns em um espaço geográfico, podem
fornecer respostas diferentes, mesmo quando abordamos problemas semelhantes.
Logo esta ferramenta possibilita a realização de uma abordagem interdisciplinar
para o entendimento do espaço geográfico, podendo ser aplicada isoladamente ou em
conjunto com outras metodologias e ferramentas.

AGRADECIMENTOS
Ao Programa de Pós-Graduação, Mestrado Profissional Interdisciplinar em Saúde,
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Sociedade e Ambiente (PPGSaSA), Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e


Mucuri (UFVJM). Ao Programa Ciências sem Fronteiras, Bolsa Jovens Talentos
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(BJT/CAPES). A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG/UFVJM). A

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Fundação Diamantinense de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (FUNDAEPE). A


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Recebido para publicação em 15 de junho 2018


Aceito para publicação em 28 de agosto de 2018

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