De Repente, Marquesa - Matheus P. Costa
De Repente, Marquesa - Matheus P. Costa
De Repente, Marquesa - Matheus P. Costa
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Para todos os meus
leitores do Wattpad,
esta história é para
vocês...
Sumário
I O PIOR BAILE DE DEBUTANTE DE TODOS OS TEMPOS
II SE ARREPENDIMENTO MATASSE...
III NÃO TINHA UMA COR FAVORITA ATÉ ENTÃO
IV O RUDETÍMIDO MARQUÊS
VII SOMERSET
IX AMOR OU DESEJO?
X MÁ NOTÍCIA
XI DESEJO MISERÁVEL
AI
MEU
DEUS!
Thereza Christina Righter tinha certeza que estava prestes a
desmaiar! Sua animação era tão grande que fazia seu estômago girar. Estava
demasiadamente empolgada, isso podia ser visto de longe. A moça não
parava de se remexer o tempo todo... Sem falar naquele sorriso branco que
nunca deixava seus lábios.
A tamanha empolgação e inquietude da menina vinha por
consequência de três causas:
1) Fazia apenas um dia desde que voltara de Windsor, onde ficou
por um ano numa escola de moças, longe de toda sua família e amigos de
Londres.
2) Ela estava, enfim, a caminho da propriedade de lorde e lady
Devon para participar de sua primeira temporada social. Thereza Christina
finalmente debutaria!
3) E por último, mas não menos importante — na verdade, essa é o
que mais fazia Thereza ter coceiras pelo corpo — estava a caminho da
Propriedade Devon, em Devonshire. Finalmente veria Gregory Devon,
futuro conde de Devonshire e um amigo — muito íntimo, aliás — de
Thereza há bastante tempo.
Depois de um ano somente trocando cartas onde escreviam não mais
que "Eu estou bem, e o senhor, como está?", "Ah, estou indo, milady. Na
verdade, estou sendo guiado pela saudade nesses últimos dias. Não vejo a
hora de poder vê-la novamente, Srta. Sussex!". Ela ainda não estava
acreditando que faltava tão pouco para revê-lo.
Será que ele mudou muito? Os pensamentos da moça começaram a
incomodá-la. Será que seu cabelo está maior ou mais curto? E sua barba?
Será que ele ainda tem aquelas costeletas?
Thereza riu sem nem mesmo perceber quando a voz de Gregory
veio em sua memória e cochichou um "Srta. Sussex". Ela adorava quando
ele a chamava pelo título de sua família.
A dama é filha do conde e da condessa de West Sussex e irmão do
tão galanteador e libertino Thomaz Christopher Righter, que partira esta
manhã para West Sussex como visconde de seu pai. Já não bastava Thomaz
ser tão charmoso e maravilhosamente bonito, ainda por cima tinha que ter
um condado em suas mãos! O que muitas damas não dariam para ficar com
ele?
— Ai! Tessa, se não parar de se remexer assim, chegarei em Devon
sem minhas costelas! — Srta. Spinhoff, sua melhor amiga, repreendeu-a.
Ela estava sentada ao seu lado na carruagem, e Thereza tinha consciência
das cotoveladas que acertavam a amiga, mas não conseguia se aquietar de
forma alguma, até parecia que formigas faziam festa em seu traseiro.
— Desculpe-me, Marjo. Mas é que realmente estou muito nervosa
e... Empolgada! — respondeu, tentando respirar fundo em uma tentativa
falha de se acalmar.
— E olha que nem viu Gregory ainda. Imagina só quando estiverem
cara a cara! Eu não quero mesmo estar perto.
Marjorie riu, mas se calou assim que Thereza inferiu um beliscão
em sua coxa. Ela olhou feio para a amiga, depois desviou o olhar para seus
pais, que estavam sentados bem diante delas, para alertá-la de que eles
ainda estavam ali.
A Srta. Spinhoff tentou inverter a situação:
— Quer dizer... Quem é Gregory? — ela solta uma risada sem graça
e olha para Thereza. — você conhece algum Gregory, Tessa? Humpf! De
onde tirei esse nome?
A Srta. Righter revira os olhos. Era sempre assim, todas as vezes
que Marjorie falava alguma coisa errada e tentava consertar, ficava mil
vezes pior.
— Querida, é claro que minha filha conhece Gregory — diz Lady
Amélia Righter — Gregory Devon, aliás — ela se vira para encarar
Thereza. — Não precisa esconder o que sente por ele, querida. Sei que
gosta do rapaz e...
— Diabos! — soltou lorde Righter ao lado de Amélia. — Não gosto
nada dessa ideia de Thereza ficar vagando por aí com qualquer um.
— Papai! Gregory Devon não é qualquer um. — repreendeu-o
Thereza. — Ele é o futuro conde de Devonshire, poxa!
— Mesmo assim, querida. A ideia daquele menino pomposo
tocando-a me dá calafrios e...
— Chega, querido, chega. — lady Righter pega a mão do marido
com a intenção de calá-lo e percebe a coloração rosada que preencheu as
bochechas da filha.
— Ele pode ser pomposo, mas pelo menos é educado, simpático,
cavalheiro e tem um condado em suas mãos. Ou seja, Gregory Devon é um
ótimo partido! — Thereza defendeu-o, se virando de cara feia para a janela.
E quando o fez, viu que tinham adentrado os portões da Propriedade Devon
e por isso gritou: — FINALMENTE!
A agitação pareceu se apossar ainda mais de seu corpo, portanto
abriu seu leque da mesma cor de seu vestido dourado e começou a se
abanar. Ela tratou de colocar rapidamente suas luvas, no mesmo instante a
porta da carruagem se abriu e foi a primeira a descer com a ajuda do
cocheiro.
Assim que terminou de subir as escadas da entrada da propriedade,
deu de cara com a anfitriã, lady Hellen Devon, com seu lindo vestido
bufante de um verde pálido e seus cabelos louros presos de um jeito
perfeito.
— Ah! Srta. Righter! — Hellen Devon correu e esmagou Thereza
em um abraço. — Finalmente está debutando! E então, como está se
sentindo?
— Nervosa em demasia, milady. — ela responde assim que se
desvencilham. — Não vejo a hora de entrar e dançar com meu primeiro
parceiro!
Elas riem e se abraçam novamente.
— Ah, olá, Srta. Spinhoff. — a anfitriã cumprimentou a assim que a
viu. — É bom vê-la de novo.
Marjorie fez uma pequena mesura.
— Igualmente, milady.
Thereza reparou no tom triste que acompanhou a voz da amiga, e
não pôde deixar de sentir uma pontada de pena. Era a segunda temporada
de Marjorie, e ela disse que este ano não sairia do baile sem ter ao menos
cinco pretendentes. Caso contrário, se ela aparecesse em algum baile na
próxima temporada, seria taxada como uma solteirona.
Assim que a anfitriã termina de cumprimentar seus pais, adentraram
enfim, o salão. E, Deus! Thereza achou nunca ter visto tanta gente reunida
em um único lugar. Os murmúrios de vozes ecoando por todo lado, a
música suave do recital... Tudo era exatamente como sempre sonhou! Sem
falar no salão, que estava lindamente decorado de vermelho e marrom. Os
lustres e candelabros eram magníficos também.
A Srta. Righter ficou parada por um instante apenas reparando nas
pessoas e pensando no que faria primeiro: olhar seu cartão de dança ou
comer. No entanto, ao girar a cabeça para encarar toda a multidão, achou
que seu coração fosse a mil quando viu o Sr. Devon parado ao lado da mesa
de aperitivos. Rapidamente Thereza começou a se abanar novamente.
Bom, ela resolveu que era melhor ir até a mesa de aperitivos
primeiro. A dança podia esperar.
Fechou o leque, levantou as saias bufantes de seu vestido e partiu
em direção a Gregory que, por sinal, ainda não a tinha visto. Enquanto
passava em meio à multidão sufocante, não conseguia desviar o olhar do
rapaz que parecia ainda mais lindo desde a última vez em que o
vira. Cristo! Ainda não estava acreditando que era mesmo ele ali, a poucos
centímetros de distância! Queria tanto abraçá-lo, mas isso seria um
escândalo ali no meio de todos. Teriam que sair para os jardins se quisessem
ter uma conversa um pouco mais privada, ou ir para algum canto escuro do
casarão... O que era uma possibilidade muito melhor para Thereza.
Ele está magnífico! Era tudo o que conseguia pensar. Seu cabelo
curto e louro como de sua mãe estava bem-penteado, sem nem um fio
atrapalhando. O casaco grande que destacava seus músculos fazia as pernas
de Thereza bambearem. As botas que iam até os joelhos naquelas calças
apertadas... Aquieta esse fogo, Thereza Christina! ralhou internamente
consigo mesma.
Todavia, a cena a seguir fez todo o fogo que estava sentindo se
esvair em questão de segundos, e congelou no lugar.
Uma mulher tão lindamente perfeita — de pele branca e cabelos
ruivos — aproximou-se de Gregory e entrelaçou seu braço no dele. Mas o
que mais chocou Thereza foi que ela estava extravagante demais. Joias por
todos os lados e — seu estômago girou — mãos sem luvas. Uma dama só ia
a um baile sem luvas se...
Thereza teve sua resposta quando a bela moça levantou a mão para
acenar para alguém na multidão, e uma aliança extremamente grande
brilhou em sua mão direita. Instintivamente ela correu os olhos pelas mãos
de Gregory, que também tinha a mesma aliança.
Lágrimas preencheram os cantos de seus olhos quando percebeu que
seu maior pretendente — e amor de sua vida — ficara noivo enquanto
esteve fora.
Ele estava sorrindo tanto! Parecia tão feliz!
Mas seu lindo sorriso se esvaiu quando por fim, a encarou. Ela teve
certeza de que ele percebera seus olhos cheios de lágrimas e a frustração
visível em sua face, pois soltou-se da mulher e começou a caminhar em sua
direção.
Tudo o que Thereza queria era ficar ali sem se mover até que todas
aquelas emoções negativas sumissem, mas não queria conversar com o Sr.
Devon. Na verdade, não queria vê-lo nunca mais. Por isso se virou e
começou a correr para qualquer lugar que não fosse o salão de baile.
— Srta. Righter! — ouviu-o gritar atrás de si.
Ela sabia que ele estava seguindo-a, mas não se importava.
Continuou correndo pelos corredores da propriedade e adentrou a primeira
porta que avistou. E antes que pudesse fechá-la, o pé do Sr. Devon já estava
lá, impedindo.
— Srta. Righter, por que está fugindo de mim? Eu não compreendo.
— a voz dele estava baixa e afetada. — Eu estava com tanta saudade.
Explique-me o que está acontecendo.
Quando Thereza viu, lágrimas jorravam sem piedade de seus olhos
enquanto o encarava da fresta da porta. Infelizmente não conseguia dizer
nada. Tudo o que saía de sua boca eram ferozes soluços.
— O que está havendo aqui?! — uma voz rugiu atrás de Thereza de
repente, fazendo-a saltar de susto.
Ela se virou rapidamente para ver de quem se tratava, fazendo,
assim, com que Gregory conseguisse abrir por completo a porta e adentrar o
cômodo.
— Quem é você e o que está fazendo no escritório de meu pai? —
rugiu Gregory de volta.
A sala estava pouco iluminada, e Thereza se viu perdida entre dois
homens que começaram a discutir.
— Não importa quem eu sou. — o homem desconhecido falou, com
uma voz grossa. — É só que não curto bailes e prefiro ficar sozinho.
— Thereza, afaste-se dele!
Como ele ousa chamar-me pelo meu primeiro nome?
Alguma coisa tocou seu braço, e viu que tinha sido o Sr. Devon
tentando puxá-la para longe do homem desconhecido. Ela, porém, não
queria ser tocada por ele, por isso se afastou rapidamente com passos
decididos para trás e gritou:
— Não toque em mim!
O problema é que Thereza não sabia o quão perto estava do homem
desconhecido porque, quando percebeu, tinha tropeçado nos próprios pés e
agora estava nos braços dele.
No mesmo instante a porta foi escancarada, e a mesma mulher que
estivera agarrada com Gregory no salão de baile, apareceu. Ela estava
acompanhada com outra dama que Thereza não conhecia. As duas moças
na porta taparam a boca em horror quando viu a Srta. Righter nos braços de
um homem em uma sala escura.
Ah, não...
As damas deram meia-volta e partiram para o salão de baile.
— Infernos! — inferiu com ódio o Sr. Devon, e partiu atrás das
moças.
Quando Thereza percebeu o que estava prestes a acontecer se as
duas moças chegassem primeiro, berrou:
—Solte-me! — Ela se desvencilhou e correu até a saída, atrás das
moças e de Gregory.
Contudo, ao adentrar o salão, a música já não mais tocava e
ninguém mais dançava. Ao invés disso, todos estavam parados encarando
Thereza como se ela tivesse quatro braços ou chifres em sua cabeça. Ela viu
as duas damas paradas ali cochichando uma com a outra e dando risadinhas.
E, bem à frente de todos, seus pais estavam parados um ao lado do outro
com expressões fechadas e braços cruzados.
A reputação de Thereza Christina Righter estava arruinada...
Ela soube que sua reputação como uma dama de respeito tinha ido
por água abaixo assim que pisou no salão de baile e notou todos encarando-
a. Achou que fosse vomitar com todo aquele nó que percorria seu
estômago.
— O que está havendo aqui? — alguém rugiu atrás de Thereza.
— E aí está ele. — a mesma menina ruiva que causara todo esse
transtorno falou em tom condescendente, apontando com o leque fechado
para o homem atrás de Thereza.
Ela se virou vagarosamente. Não soube explicar, mas estava com
certo medo de encará-lo. Mesmo antes dele ter se pronunciado, Thereza
sentiu que tinha alguém atrás de si, como se o calor do corpo dele tivesse
sido transferido para o dela, ou foi como sentir uma muralha atrás de si.
Quando o encarou realmente, logo entendeu porque sentiu todas
aquelas sensações. O homem diante de si era realmente uma muralha de
músculos e altura. Ele era tão alto que a moça teve de levantar o queixo
para enxergar seu rosto. De relance, quando aquela muralha humana a fitou,
reparou nos olhos de um azul tão claro que parecia o céu durante um dia de
primavera — olhos estes que Thereza sempre sonhara ter. Portanto, o rosto
do rapaz era, com certeza, as portas de ferro da muralha com toda aquela
feição rígida e fechada. A boca dele era uma linha fina, e seu maxilar
quadrado estava tremendo. Infelizmente ela não conseguiu ver a cor de seus
cabelos porque o mesmo usava uma cartola.
— Esse é o homem com quem a Srta. Righter estava se agarrando
na escuridão do escritório de lorde Devon, — continuou a ruiva. Ela se
virou para a moça ao seu lado. — não é verdade, Srta. Quinn?
A Srta. Quinn balançou a cabeça vigorosamente em sinal positivo.
— Sim, é verdade. Eu vi tudinho.
Todo o salão soltou um murmúrio horrorizado.
Thereza não conseguiu se conter. Uma coisa é certa: Thereza
Christina é a moça mais doce e gentil que Londres poderia ter, mas, por
Deus! Não queiram vê-la nervosa.
Uma fúria subiu por todo o seu corpo, e quando fechou as mãos em
punho e sentiu que ainda estava com as luvas, rapidamente tratou de tirá-
las. Queria sentir suas unhas para ver se estavam mesmo afiadas, porque
elas estavam a caminho do rosto daquela garota.
Sabia que era um escândalo uma moça sem compromissos ficar com
os braços descobertos no meio de tanta gente, mas já que sua reputação
estava arruinada, não tinha problema se fosse um pouquinho mais para o
fundo do poço. Afinal, tudo o que queria naquele momento era arrancar
toda a beleza daquela insuportável com as próprias unhas.
— Aaaaah, sua...! — As mãos de Thereza estavam esticadas e
miravam o pescoço da moça. Mas, infelizmente (ou felizmente), seu pai
apareceu em sua frente e segurou-a pelos ombros.
— Thereza Christina! O que pensa que está fazendo? Onde estão os
modos?
Esqueci todos na escola de moças! Quase respondeu. Mas a
respiração pesada e a fúria que ainda sentia não deixou que o som saísse de
sua garganta. Sinceramente, Thereza odiara cada momento em que esteve
naquela escola em Windsor. Eram tantas meninas pomposas e nojentas que
ela tinha que se segurar para não vomitar em cima delas. Ela sabia que a
mãe a mandara para lá porque nunca fora dentro dos padrões, mas não se
importava nada com isso. Na verdade, Thereza gostava de ser diferente.
Londres era monótona demais para ela.
O olhar que ela mirava para a garota ruiva estava carregado com
tanto ódio que parecia prestes a soltar fogo. O que a mais irritava é que elas
riam sem parar, como se achassem graça em acabar com a reputação de
uma dama.
Ah! Se Thereza Christina a pegar desprevenida não sobrará nem um
fio de cabelo para contar a história...
Então lady Devon apareceu em seu campo de visão, e seu rosto
também demonstrava horror. Ela olhava para Thereza como se pensasse:
"Srta. Righter, nunca imaginei que a senhorita fosse tão baixa a esse nível".
— Por favor, sigam-me. Os levarei para uma sala em particular para
que possamos resolver esta situação. — Ela se vira para a multidão curiosa.
— Por favor, pessoal! Voltem para o baile! Está tudo sob controle!
Mas a verdade é que não tinha nada sob controle em toda aquela
situação. A reputação da moça estava arruinada! Oh, Cristo! Já estava até
vendo os jornais de amanhã com todas as notícias de que "Thereza
Christina, filha do conde e da condessa de West Sussex, foi encontrada aos
amassos com quem quer que fosse aquele homem, no breu do escritório de
lorde Devon em Devonshire, durante seu baile de debutante".
Que Deus a ajudasse! Agora só tinha duas saídas: nunca mais se
casar, porque depois desse escândalo, achar um pretendente seria quase
impossível. Ou, diabos! Se casar com o homem com quem fora
supostamente encontrada. Mas Deus sabia que ela não queria se casar com
um desconhecido. E se não gostasse do modo como ele come? Ou de como
ele ronca à noite?
Lady Devon começou a caminhar, e rapidamente o Sr. Righter
pegou o braço da filha e começou a guiá-la. Sua mãe, Gregory, a ruiva, a
menina loira e até mesmo o "Homem Muralha" estavam seguindo a
anfitriã... Thereza começou realmente a temer seu futuro.
Enquanto caminhavam de corredor em corredor, a tensão começou a
subir como uma corrente pelo corpo da moça, juntando assim, com o ódio
que já estava sentindo. Ela começou a suar frio quando adentraram em uma
sala toda pintada de um azul-claro, e lady Devon fechou as portas em
seguida.
O pai praticamente a jogou no sofá. Oliver realmente estava muito
decepcionado. Sua mãe, por outro lado, vendo como estava nervosa,
sentou-se ao seu lado e pegou sua mão para tentar acalmá-la.
— Já que todos que presenciaram o acontecido estão aqui, podem
começar a contar o que realmente aconteceu. — falou lady Devon.
— Eu começo! — disse com um sorrisinho a garota ruiva, e deu um
passo à frente. — Tudo começou quando o Sr. Devon começou a seguir
alguém no meio da festa que eu não conseguia identificar de jeito nenhum.
Fiquei um pouco nervosa por ele ter saído assim sem avisar-me, por isso
chamei a Srta. Quinn — ela aponta para a menina pálida ao seu lado —
para me acompanhar. O segui até o escritório e, quando abri a porta, me
deparei com a cena mais horrível e nojenta que já vi em toda a minha vida.
— ela termina com uma careta de nojo.
— O quê?! — se a mãe de Thereza não a estivesse segurando, tinha
certeza de que teria se levantado e estapeado aquela garota nojenta. — A
senhorita está caluniando contra minha pessoa! Eu nem a conheço! Por que
está fazendo isso?
A moça apenas cruzou os braços e deu um sorriso de lado, mas não
respondeu. Ao invés disso, foi Oliver quem interveio:
— O que eu quero entender é o que o Sr. Devon estava fazendo
dentro do escritório. — ele olha para o rapaz com olhos cerrados e
inquisidores, como se estivesse prestes a cortar ao meio qualquer um que o
desafiasse. — Por acaso estava acobertando toda essa baixaria, Sr. Devon?
Thereza o conhecia bem demais para saber quando Gregory estava
muito nervoso. Ele começava a suar, gaguejar e não parava de afrouxar sua
gravata, como estava fazendo naquele momento.
— Eu... Eu... — ele começou.
Gregory viu tudo o que realmente aconteceu. Se alguém poderia
salvá-la, era ele.
— Desembucha logo, Gregory! — exclamou irritada a ruiva.
— Pare já com essas gracinhas, Evelina! — rugiu pela primeira vez
o "Homem Muralha" para a garota. Sua voz saiu tão grave que Thereza
sentiu o sofá tremer sob seu traseiro, e arrepios subiram por suas costas.
Pelo jeito ele a conhecia. Bom, pelo menos o nome dela ele sabia.
Então, quando o homem grandalhão tirou, enfim, sua cartola, Thereza
soube imediatamente que aquela desgraçada era sua irmã, pois os cabelos
dele eram do mesmo tom alaranjado que os dela. E encarando-o melhor, viu
em como seus narizes eram parecidos: pontudos. Sem falar nos olhos da
mesma cor do céu numa tarde ensolarada.
O homem deu um passo à frente.
— Deixem-me explicar o que realmente aconteceu.
— É melhor que explique mesmo, senhor. — começou o pai de
Thereza. — Porque o senhor acaba de arruinar a minha filha e...
Oliver foi interrompido quando o homem deu mais um passo à
frente e ergueu o queixo. Nossa, ele era tão grande que parecia prestes a
tocar o teto.
— É melhor abaixar o tom da voz, conde Sussex. Caso não saiba,
está falando com lorde Hervey, segundo marquês de Bristol! — Oliver
pareceu murchar.
Uau! Thereza suspirou diante de tamanha potestade e autoridade.
— Voltando ao assunto, — continuou lorde Hervey, depois de ter
deixado todos tensos. — eu vim até esse maldito baile para acompanhar
minha irmã. Odeio bailes, e por isso estava sozinho no escritório de lorde
Devon, porque queria privacidade. Foi quando essa moça apareceu — ele
apontou para Thereza, que não conseguia desviar o olhar do rapaz —
parecendo desesperada e, se não me engano, chorando.
Todos desviam o olhar para ela.
— Por que estava chorando, querida? — perguntou sua mãe,
massageando suas mãos com os polegares com a intenção de acalmá-la.
Thereza rapidamente fitou Gregory, que baixou a cabeça.
— Não importa. — falou. — A verdade é que eu não percebi que
lorde Hervey estava na sala e, sem querer, tropecei nos próprios pés. O
homem fora simplesmente um cavalheiro porque, se não fosse por ele, eu
teria me espatifado no chão.
— Nesse instante minha irmã chegou. — Thereza estava certa! Eles
eram mesmo irmãos! — E resolveu que era melhor presumir tudo que saber
o que realmente estava acontecendo ali. — ele encara a irmã com olhos
faiscando de raiva, ela se encolheu. — Na verdade, Evelina tem a mania de
querer bancar a casamenteira. Já tentou juntar-me com outras damas tantas
vezes que perdi a conta.
— Eu faço isso porque você tem um marquesado nas mãos, Antony!
— Evelina começou a gritar. Seu rosto começou a ficar extremamente
vermelho, e lágrimas começaram a escorrer. — Se não se casar logo,
perderemos tudo! TUDO! Você tem que arrumar um herdeiro o mais rápido
possível!
Então era isso? Evelina queria arrumar uma pretendente para seu
irmão Antony esse tempo todo? E tudo isso por causa de título...
— QUANTAS VEZES TENHO QUE REPETIR QUE DINHEIRO
NÃO É TUDO NA VIDA, EVELINA?! — Antony rugiu tão alto que a sala
pareceu tremer.
A menina abraçou a Srta. Quinn ao seu lado e começou a chorar
ainda mais em seu ombro. Toda a sala ficou em silêncio por um instante
antes de Oliver falar:
— Então tudo não passou de um engano, certo? Mas isso foi antes
de a Srta. Hervey chegar no salão de baile e gritar para todo mundo.
Infelizmente a notícia aparecerá em todos os jornais da cidade amanhã, e
não há jeito de impedirmos isso. Eu só vejo uma saída.
Amélia arquejou.
— Querido, não...
Mas lady Devon a interrompeu:
— Srta. Righter terá que se casar com o marquês de Bristol.
— Perdão? — O coração de Thereza começou a bater
descompassado.
Pelo canto do olho ela viu, mesmo em meio às lágrimas, o sorriso
vil que a Srta. Hervey ergueu em seus lábios quando a notícia foi
anunciada.
II
SE ARREPENDIMENTO MATASSE...
"Querido irmão,
***
"Querida irmã,
Sinto muito pelo acontecido. Desposar-se por obrigação deve ser o pior dos
castigos. Portanto, quero dizer que sim, estarei em seu casamento. E não se
preocupe com os jornais, não acreditei neles um segundo sequer, sei bem
como as pessoas retorcem os acontecimentos para vender mais.
Com isso, só lhe peço um favor, irmã. Se esse tal de
lorde Hervey lhe tratar de forma rude ou lhe fazer algum mal, contate-me
no mesmo instante. Não suporto a ideia de um homem encostando-lhe a
mão para machucá-la. Sou capaz de cortá-lo em minúsculos pedacinhos e
comer no café da manhã se isso acontecer.
Ah! Quase me esqueci! Aguente essa irmã do marquês até seu
casamento. O que é dela está guardado. Não se preocupe, não farei nada. A
própria dama buscará sua ruína...
Um grande abraço e fique bem!
Thereza sorriu de novo. Ler aquela carta de Thomaz foi como ouvi-
lo bem ali ao seu lado. Estava com muita saudade...
— De quem é a carta? — Thereza levantou os olhos e encarou
Evelina.
Por que quer saber? Quase rugiu.
— De meu irmão. — respondeu de forma seca.
— E falava sobre o quê?
Que mulher insuportável!
— Ah, nada demais! Só está parabenizando-me pelo casamento.
"A própria dama buscará sua ruina", dissera Thomaz em sua carta.
***
Depois do desjejum, Thereza subiu para o seu quarto, único lugar
que realmente sabia chegar. Ela pegou um dos livros na estante e começou a
lê-lo, mas não conseguia se concentrar. Tudo o que tinha acontecido nos
últimos dias estava deixando-a desnorteada. Ela não parava de pensar em
suas amigas que insistiram em dizer que era uma sortuda por ter encontrado
um pretendente logo em sua primeira temporada. A vontade de Thereza era
pegar todas essas moças e socá-las dentro da Ickworth House para
conviverem com a Srta. Hervey.
Se aquilo era sorte, Deus! Não podia nem imaginar o contrário...
Era seu segundo dia em Suffolk, mas a saudade de casa já estava
começando a sufocá-la. Se estivesse em Londres numa hora dessa, com
certeza estaria tomando chá com suas amigas no Hyde Park e olhando os
rapazes passando montados a cavalo. Estaria dando gargalhadas e jogando
conversa fora. Ela suspirou...
Alguém bate na porta.
— Entre!
Ah! Se for Evelina...
Lorde Hervey aparece no batente da porta, fazendo a moça soltar
um leve suspiro de surpresa.
— Estou atrapalhando?
Thereza rapidamente fecha o livro e se levanta, ajeitando seu vestido
de cor ébano com as mãos.
— Ah, não. De jeito nenhum, milorde.
Ele entra no quarto, e quando fecha a porta atrás de si, o ar parece
sumir do cômodo. Thereza começou a sentir-se sufocada. O homem grande
a poucos centímetros de distância parecia estar tomando todo o oxigênio do
ambiente com sua respiração pesada.
Antony dá um passo à frente, mas pareceu hesitar com o
movimento. Enquanto isso, Thereza tinha as mãos cruzadas em frente ao
corpo, tentando segurar toda a tensão que começava a se instaurar em seu
corpo. O marquês, então, levanta os ombros e caminha até estar perto
demais da moça, tão perto que sentiu seu calor. Ela ergue a cabeça para fitá-
lo.
Olhos lindos! Eram azuis tão clarinhos! Não eram cinzentos e sem-
graça como os seus.
Ele pigarreia.
— Hum... Eu estou indo caminhar um pouco pelos jardins da
propriedade. Desejo que a senhorita me acompanhe. Se não for incomodo, é
claro.
O quê? Thereza tinha ouvido direito? Santo Deus! A inquietude
começou a tomar conta de seus nervos, como sempre acontecia quando
estava nervosa.
— Sim... Quer dizer, não. Não! — Infernos. Já começou a
embaralhar as palavras. — Não será incomodo algum, milorde.
O silêncio então enche o ambiente. Eles ficam encarando um ao
outro ali por longos minutos. E só o reparando de tão perto assim foi que
Thereza viu o quanto ele era bonito. Pele bronzeada, olhos claros e vítreos,
boca fina e bem desenhada, maxilar quadrado e rígido, ombros largos...
Não soube se era impressão, mas parecia que a cada segundo o
marquês chegava mais perto de seu rosto. Logo, seus rostos estavam tão
pertos agora que ela sentiu, por um instante, a respiração quente do rapaz
exalar em sua boca, como na noite anterior. Mas Antony balança a cabeça e
se afasta, como se tivesse acabado de acordar de um transe.
— Certo! — ele diz. Aquela voz rouca que fazia todo o corpo de
Thereza estremecer. — Estarei esperando-a nas portas do fundo.
E antes de sair, ele pega a mão de Thereza e a beija.
Assim que a porta se fecha, ela coloca a mão sobre o coração e solta
todo o ar que estava segurando. Jesus! O que foi que acabou de
acontecer? A única coisa que Thereza sabia era que, se o marquês tivesse
ficado ali dentro por mais dez segundos, teria morrido sem ar.
Depois que Anne ajudou Thereza a arrumar seus cabelos marrons
em um grande coque elaborado para que coubesse no chapéu, colocou luvas
brancas até os cotovelos, pegou seu leque e desceu.
Enquanto caminhava pelos corredores, sentiu aquela pontada de
nervosismo incomodá-la. Estava prestes a ir caminhar pelos jardins com o
marquês, e sempre que estava perto dele, sentimentos estranhos tomavam
conta de si. E agora que estava pensando melhor, percebeu que tudo isso era
porque estava se deixando ser submetida à beleza dele. Antony é lindo, isso
é fato. E Thereza tinha certeza de que ele deixava qualquer outra mulher
que conversava do mesmo jeito que ele a deixava: bamba e arrepiada de tão
sedutor.
Ele é sedutor. Isso! Era por isso que ficava tão... tão... Como poderia
explicar? Parecia até inapropriado, mas era como fogo correndo pelas veias.
Um calor que mexia com seus instintos primitivos.
Assim que chega à porta dos fundos da propriedade, vê lorde
Hervey imediatamente. Ele estava parado de costas para ela, com as mãos
cruzadas nas costas enquanto encarava a paisagem à sua frente.
— Milorde — o chama.
Ele se vira, encarando-a nos olhos de imediato. Seus olhos
demoraram nos dela, mas depois eles passearam por todo o corpo da moça,
de cima a baixo, e Thereza teve que tapar o rosto com o leque de seda para
que a vermelhidão passasse despercebido. Cruzes. Quando é que ficou tão
quente de repente?
— Belo vestido, senhorita. — ele comenta com a voz rouca e causal.
Pega sua mão enluvada em seguida e deposita ali um leve beijo. Ela teve
que se abanar ainda mais com o leque, seu rosto estava em chamas.
— Obrigada, Sua Graça. — ela pigarreia. — Não me disseram que
Suffolk fazia tanto calor.
Antony ergue só um pouquinho o canto esquerdo da boca.
— É melhor se acostumar.
Ele ergue o braço e Thereza o entrelaça com o seu, ainda se
abanando.
Aquele comentário só enfatizou ainda mais o fato de que ela iria se
casar com ele e teria que se acostumar com o clima de sua propriedade
porque passaria a morar ali. Antony, contudo, parecia tão certo disso, como
se o fato não o incomodasse como a incomoda, como se ele não tivesse sido
impedido de se casar com alguém que realmente deseja. Afinal, será que ele
já tinha se apaixonado alguma vez? Ela pensou que não. Antony nunca
tinha experimentado o sentimento que é se apaixonar, caso contrário, não
teria aceitado o acordo.
A maior parte da caminhada fora em silêncio. O único som ouvido
era da fonte que jorrava água e dos muitos pássaros que piavam para
passarem de uma árvore à outra. Thereza estava demasiadamente
apaixonada pela paisagem. A grama baixa e bem cuidada era de um verde
que lembrava os olhos de seu pai, lorde Sussex. Tinha flores de todos os
tipos e cores: lírios, lises e até jasmins. As copas das grandes árvores faziam
sombras por todos os lados, o que era realmente bom sob aquele sol de
rachar. Porém, Thereza ainda estava sentindo sensações estranhas. Estava
com o braço enlaçado no do marquês, talvez fosse essa a causa de parecer
ter borboletas no estômago. Toda hora ela se via querendo levantar o queixo
e encará-lo, mas uma força maior a impedia porque, por alguma razão sabia
que ele a estava fitando. Era como se o olhar dele pesasse sobre ela.
— Por que Sua Graça é tão calado? — resolve quebrar o silêncio,
mas ficou pensando se foi a coisa certa a perguntar.
Thereza realmente achou que ficaria sem sua resposta, mas depois
de alguns minutos Antony finalmente responde:
— Pode não parecer, senhorita. Mas sou muito tímido.
Se ele soubesse a beleza que tem, o poder que tem, e o quão sedutor
é... Ela pensou que qualquer homem no lugar de lorde Hervey aproveitaria
de todas essas qualidades, para ser o maior colecionador de mulheres
possíveis, para compartilhar suas conquistas com os amigos. Mas Antony
era diferente... Por quê?
— Estou impressionada, milorde.
Ele ergue as sobrancelhas.
— É mesmo? Por quê?
— Bem, para falar a verdade, achei que seu silêncio se dava pelo
fato de... — ela para de falar e pensa melhor. — Na verdade, acho que
minhas primeiras impressões não importam.
— Ah, mas agora é tarde demais. Deixou-me curioso, senhorita. Na
verdade, eu sempre quis saber o que as pessoas pensam quando me olham
pela primeira vez.
Que tem uma beleza estonteante, quase falou. Mas isso não era
novidade para ninguém.
— Bom, de início achei o senhor um pouco rude.
— É mesmo? — Thereza o sentiu enrijecer.
Ela temeu ter dito a coisa errada. Mas continuou, tentando se
explicar melhor:
— Sim, milorde. O senhor tem a feição um pouco autoritária
demais, e sempre que abria a boca era para rugir um xingamento ou
repreender alguém.
Silêncio. É, ela tinha estragado tudo. Que ótimo... Mas ele disse:
— Ah, Cristo! Que vergonha. Peço perdão, senhorita. Em momento
algum quis parecer ou ser rude, eu...
Ela tentou acalmá-lo:
— Não se preocupe, lorde Hervey. Como eu disse, foram primeiras
impressões. Agora, conhecendo-o melhor, sei que não é assim.
Na verdade, lorde Hervey estava se mostrando tão cavalheiro que a
estava assustando. Nunca viu tamanha educação em um rapaz antes. A
verdade é que beleza e educação eram duas coisas que não combinavam nos
homens. Ou eram bonitos ou eram educados. Se era os dois, só Deus para
ajudar as damas a lidarem com tamanha presunção. Todavia, Antony era os
dois, só que... Diferente.
— Fico incrivelmente aliviado, Srta. Righter. — ele sorri sem
mostrar os dentes, outra coisa que Thereza havia percebido: ele quase não
sorria.
— E o senhor. Qual foi a primeira impressão que teve sobre mim?
Ele parece pensar bastante antes de dizer:
— Bom, percebi que seu tamanho faz jus à sua paciência, é pequena
demais. Por Deus, eu achei que a senhorita esbofetearia minha irmã no
salão de baile em Devon aquele dia. Espero nunca ser uma de suas vítimas.
— Ora, Sua Graça, é só não me irritar.
— Vou me lembrar disso, pode ter certeza. — Então eles riem, alto.
E o som da risada do marquês foi a melhor coisa que ouviu em dias. Foi
como música para seus ouvidos. Queria vê-lo rir mais.
Thereza estava apreciando em demasia a companhia do marquês, e a
conversa estava sendo tão boa. Estava se sentindo tão sozinha ali naquela
propriedade gigantesca, mas estar ali com ele estava sendo simplesmente
maravilhoso. Parecia que se conheciam há tempos, o que a deixou ainda
mais à vontade. Antony sabia bem como prolongar uma boa conversa.
O passeio continuou silencioso, ambos apreciando a beleza da
natureza. Até Antony cessar os passos e ficar de frente para Thereza, onde
ela pôde finalmente ver seu rosto.
— Srta. Righter, a nossa caminhada pelos jardins da propriedade
tem um objetivo. — ele diz com a voz mais séria dessa vez.
Ela queria perguntar qual era esse objetivo, mas encará-lo era muito
melhor. Alguma coisa nele era tão hipnotizante que a deixava sem palavras.
— Trouxe-a aqui porque quero lhe pedir um favor. — ele continuou.
— Peça o que quiser, milorde. — ela lutou para que as palavras
saíssem firmes, mas foi em vão.
Antony encheu o peito de ar e o soltou vagarosamente antes de
dizer:
— Eu conheço muito bem como minha irmã, Evelina, é. E pode ter
certeza, Srta. Righter, de que eu nunca a perdoarei por ter tirado a senhorita
de sua casa e a sua chance de encontrar um rapaz que realmente a faça feliz
e a ame. Foi esse o maior motivo de ter aceitado me casar com a senhorita
quando eu poderia simplesmente ter negado. — Thereza começou a ficar
tensa. — O que eu quero lhe pedir é: se a minha irmã começar a provocá-la
demais, por favor, contate-me que tomarei as devidas providências.
A boca de Thereza ficou seca.
— Está me ouvindo, senhorita?
Ela balançou a cabeça, se livrando dos devaneios.
— Ah, sim! Sim, Sua Graça. Pode deixar.
— Eu prometo que tentarei fazê-la feliz. Sei que a senhorita merece.
É boa, bela e gentil. Mas amá-la... — ele olha para além de Thereza com
olhos vítreos. — Isso só o tempo poderá me dizer.
Cristo! Que homem... QUE HOMEM!
Antony demonstrara até agora ser calado e fechado — aquele tipo
de pessoa que só abre a boca quando tem certeza do que falar. Aquele tipo
de rapaz que deixa as mulheres loucas só por respirar...
Uma sensação primitiva começou a subir como onda pelo corpo de
Thereza. Foi como fogo percorrendo suas veias. Ela queria beijá-lo. Ela
queria muito beijá-lo! Queria provar aqueles lábios finos e desenhados que
falava tão pouco, mas quando falava, fazia o seu espírito libertino ficar
louco. Queria sentir o gosto de sua língua.
Queria tocá-lo...
Ela ergue a mão para fazer tudo o que seu corpo gritava para que
fizesse. Mas uma gargalhada a fez dar um pulinho de susto.
Lorde Hervey ergue as sobrancelhas.
— O que é isso?
Ele começa a andar em meio às árvores, e Thereza não pensa duas
vezes antes de segui-lo. Ela sabia de quem era aquela risada, já estava mais
do que familiarizada, porque aquele barulho a fazia ferver de raiva.
A poucos metros à frente, sentados sobre um forro de piquenique
embaixo de uma grande árvore, estava o Sr. Devon e sua noiva, Srta.
Hervey.
Eles gargalhavam e brincavam um com o outro, incrivelmente
felizes. Thereza viu quando Gregory cochichou alguma coisa no ouvido de
Evelina que a fez soltar um gritinho. Ela pegou um gomo de uva e o
acertou. Ele, então, subiu em cima da moça e começou a fazer cócegas por
todo o corpo dela.
Aquilo foi demais para Thereza. Seus olhos se encheram de
lágrimas instintivamente e, para que não chorasse na presença do marquês,
deu meia-volta e correu de volta para a propriedade.
V
CASAMENTO É COVENIÊNCIA,
AMOR É SORTE
Thereza passou horas chorando. Toda vez que a cena de Gregory
cochichando no ouvido de Evelina voltava em sua mente, lágrimas se
acumulavam no canto de seus olhos. O que mais doía em seu peito é que ela
sonhara a vida inteira com aquela mesma cena. Só que em seus sonhos, ao
invés da Srta. Hervey, era ela própria. Agora estava deitada em seu quarto
encarando a parede enquanto tentava entender como Gregory teve coragem
de esperar que partisse para ficar noivo. Desde os sete anos de idade ambos
juraram nunca guardar segredo um do outro. E foi assim até o ano
passado...
Arrrr... O que Thereza está querendo dizer é que se Gregory tivesse
contado a ela antes que estava apaixonado por outra mulher, seria um
baque, é claro. Passou a vida inteira achando que ele era apaixonado por sua
pessoa, e que só estava esperando para chegar na idade certa para pedir sua
mão. No entanto, se a tivesse avisado antes, o baque seria menor, porque aí
ela partiria para Windsor, onde ficaria por um ano sem vê-lo, então se
obrigaria a esquecê-lo. Mas não! O maldito preferiu esperar que partisse
para ficar noivo para quando chegar, destroçar seu coração.
Sem falar que estava tão confusa. O que foi aquilo nos jardins?
Estava prestes a tocar em lorde Hervey. Por Deus! Ela realmente pensou em
beijá-lo. Thereza não estava se reconhecendo. Aquelas atitudes não faziam
parte dos seus princípios... Por que Antony a deixava assim?
Maldito sejam os homens!
Alguém bate na porta.
Que diabo! Ninguém me deixa em paz!
Ela fecha os olhos com força, frustrada e com raiva. Achou que se
não respondesse, a pessoa do outro lado da porta presumiria que estava
dormindo e a deixaria em paz. Porém, uma voz rouca e grave se
pronunciou:
— Srta. Righter. Sou eu, Antony. Está acordada?
Thereza se sobressaltou tanto que acabou caindo da cama. Ela se
levantou rapidamente e ajeitou as mechas que acabaram se desprendendo
dos grampos. Sentou-se na cama recobrando a compostura, então gritou:
— Entre, milorde.
Antony coloca a cabeça primeiro para dentro do quarto, e quando
percebe que Thereza está comportada na cama, entra e fecha a porta. Ele se
aproxima, mas fica de pé, encarando-a antes de se pronunciar:
— Vi que saiu às pressas do jardim mais cedo. Pensei em vir
naquela hora, mas achei melhor deixá-la um pouco em paz. Mas, por favor,
diga-me. Foi alguma coisa que eu disse?
Thereza estava chocada. Por trás de toda aquela rigidez estava
guardado um homem doce, gentil e educado. E, acima de tudo, um
cavalheiro. Antony Hervey é um cavalheiro de primeira classe.
— Não, milorde. Eu só... Passei mal. Só isso. — respondeu às
pressas.
— Tem certeza? — ele sentou-se na beirada da cama, perto demais.
E o corpo de Thereza começou a reagir à proximidade. — Quando cheguei
na porta de seu quarto mais cedo, pareceu que estava chorando.
Merda!
— Sim... É que eu... Eu... — suas ideias estavam acabando. — Eu
estava com muita dor de cabeça. Não se preocupe, milorde, sempre passa.
A feição sempre rígida do marquês pareceu murchar.
— Já não sente mais nada? Quer que eu peça à cozinheira para
preparar um chá ou...
— Não! Não precisa. Eu estou bem. Muito obrigada. — uma pausa.
— Desculpe-me a petulância, mas... Por que está sendo tão gentil? Eu
estraguei a sua vida.
O marquês respira fundo e solta uma risada nasalada.
— Lembra-se do que eu falei mais cedo? Prometi que a faria feliz.
Aliás, senhorita, não foi você quem estragou a minha vida. Minha irmã
estragou a sua.
De todas as formas possíveis. Pensou Thereza. Primeiro porque iria
se casar com o homem por quem era apaixonada; segundo porque acabou
com sua reputação; terceiro que mesmo depois de tudo isso, a implicava
sempre que podia.
O silêncio reinou. E enquanto Thereza o fitava, percebeu que os
olhos azuis do marquês se arregalaram ligeiramente. Ela seguiu o olhar
dele, que parava em seu ombro, onde a alça do vestido tinha caído até o
meio do braço, mostrando boa parte de seu espartilho.
Ela sentiu as maçãs do rosto ficarem ruborizadas imediatamente.
Thereza ficou tão envergonhada que engasgou com a própria saliva e
começou a tossir. Se curvou para frente enquanto a tosse tomava conta de
sua garganta.
Por fim, quando a tosse cessou, olhou para a beirada da cama, mas
Antony já não estava mais lá. Ele estava agora tão perto que tocava seus
ombros. Ele a estava segurando!
— Senhorita, está bem? O que houve?
— Nada, lorde Hervey. Desculpe-me pelo transtorno. Já estou bem.
— falou com dificuldade, mas se arrependeu no mesmo instante, porque ele
se afastou.
Antony se levantou.
— Certo. Então... Já vou indo. Se precisar de alguma coisa, mande
me chamar.
Quando Antony saiu, Thereza não conseguiu se mexer. Ficou
paralisada enquanto tentava superar a vergonha que acabara de passar.
Que desastre. Era tudo o que conseguia pensar. Ela precisava se
acalmar; precisava de água.
Levantou-se e partiu para fora do quarto, mas — infernos —,
quando pisou no corredor, lembrou-se de que não sabia onde era a cozinha.
Provavelmente ficaria uma vida inteira se ficasse de cômodo em cômodo.
Mesmo assim, começou a caminhar, torcendo para que algum criado
aparecesse para lhe informar onde era a cozinha. No entanto, ao passar em
frente à um par de portas, ouviu risadas. Ela sabia quem eram os donos das
vozes. Mas não tinha outra escolha. Só perguntaria onde fica a cozinha e
depois partiria. Por isso abriu a porta.
Gregory estava atrás de Evelina, suas mãos sobre as dela no piano, e
parecia estar ensinando-a a tocar algo novo. Mas assim que a porta foi
aberta, ambos se viraram. Thereza se arrependeu no mesmo instante. Não
queria ter atrapalhado o casalzinho perfeito.
— Srta. Righter? — Gregory ficou ereto.
Thereza fez uma pequena mesura.
— Como vai, Sr. Devon? — ela estava tremendo internamente.
— O que está fazendo aqui? — Evelina foi logo vociferando. Sua
cara estava fechada e a boca rígida do que parecia ser fúria.
— Eu só... Hum... Eu só queria beber um pouco de água. Mas não
consigo encontrar a cozinha de jeito nenhum.
Ela viu os lábios de Gregory se erguerem em um risinho. Ele falou:
— Sorte sua que encontrou a sala de música antes. Tem uma jarra
com água bem ali. — ele apontou para um canto da sala onde, sobre uma
mesinha redonda, uma jarra e duas taças repousavam. — A cozinha fica no
andar térreo. A senhorita ia demorar um pouquinho para encontrá-la.
Thereza reparou no olhar furioso que Evelina lançou para o Sr.
Devon, mas o mesmo não pareceu notar.
Ela adentrou a sala por completo, uma parte porque queria mesmo
beber água, a outra parte foi só para irritar a Srta. Hervey porque a mesma
não gostou quando Gregory praticamente a convidou para entrar no
cômodo.
Quando alcançou a mesinha, rapidamente pegou a jarra pela alça e
encheu a taça. Ela bebeu, e o líquido gelado e refrescante descendo por sua
garganta irritada, por consequência da pequena crise de tosse, foi a melhor
coisa que sentiu.
Thereza pousou a taça novamente e, quando começou a caminhar
em direção à saída, reparou no Sr. Devon e na Srta. Hervey, que ainda riam
e brincavam um com o outro. Ela, porém, achou que era melhor ficar ali e
observá-los um instante, por isso voltou para perto da mesinha e encheu
outra taça com água, e começou a bebericar. Isso era só uma tática para que
os dois não percebessem que estava ali para espiar. Caso perguntassem, era
só responder que estava com muita sede.
Gregory ainda estava atrás de Evelina, e parecia estar ensinando-a a
como ler partituras. Quando a moça começou a tocar as primeiras notas,
Thereza conheceu a música imediatamente.
— Ah, Deus! Eu amo essa música!
As palavras saíram antes que pudesse contê-las. Percebeu que tinha
feito a coisa errada quando o casal parou o que estavam fazendo para
encará-la. Ela tentou disfarçar bebericando da água e olhando para a janela.
— Gosta de Mozart? — Gregory perguntou depois de um tempo em
silêncio.
Thereza sorriu.
— Como não gostar? Aquele homem é um deus da música!
Gregory riu, e Thereza teve que tomar água para forçar seu coração
a voltar para o lugar quando o mesmo ameaçou sair pela boca. Tinha tanto
tempo que ela não ouvia aquele som...
— Nisso eu tenho que concordar. Eu, particularmente, adoro tocar
Mozart. — ele continuou. — E estou ajudando Evelina porque ela quer
tocar em nosso casamento.
Ela quase engasgou com a palavra "casamento". E até aquele
momento se esquecera de que Evelina ainda estava na sala. Uma olhadela
para a moça foi o suficiente para ver seu rosto vermelho de fúria e o olhar
fulminante que estava direcionado à Thereza. Ela não está gostando nada
da minha conversa com Gregory! Thereza sorriu internamente. Ótimo! Por
isso continuou:
— Isso é sério? — ela comentou, ainda mais contagiante. Estava
aproveitando aquela oportunidade para atingir Evelina, sabia disso. Mas a
moça já fez coisa pior com Thereza. — Com certeza trará mais alegria à
cerimônia.
— Certamente que sim. Primeiro porque é Mozart. Segundo que
Evelina está ficando cada vez melhor.
— Sim. Não vejo a hora de vê-la tocar.
Thereza teve certeza de que a moça percebeu o tom irônico com que
falou, porque ela se levantou do banquinho do piano a passos largos em sua
direção. Os punhos da Srta. Hervey estavam tão cerrados na lateral do
corpo que Thereza viu as veias da moça pulsando.
Ela sorriu sobre a borda da taça. Era isso o que queria: que Evelina
se enfurecesse para partir para a agressividade. Thereza não tinha medo de
brigar. Poderia sair dali machucada e sangrando, mas só de ter o prazer de
puxar os cabelos daquela insuportável e arranhar a sua face já era
demasiadamente bom.
Porém, infelizmente a porta se abriu, e lady Hervey apareceu,
fazendo Evelina congelar à poucos centímetros de Thereza.
— Evelina, querida. — falou a matriarca. — Você tem visita.
Como Evelina estava bem perto de seu rosto, Thereza viu quando
ela revirou os olhos. Depois respirou fundo e abriu um sorriso encantador
antes de se virar para a mãe e dizer:
— Já estou indo, mamãe. Obrigada.
Meretriz miserável! Como ela conseguia fazer isso?
— Ah, olá, Srta. Righter. — comentou lady Hervey assim que viu
Thereza.
Ela fez uma mesura.
Antes de sair, Evelina transformou sua cara em uma feição de fúria
novamente e encarou Thereza com olhos faiscantes antes de dizer:
— Sairei agora. Mas voltarei em instantes. Se eu souber que tentou
algo, a matarei.
Thereza não entendeu de imediato o que ela quis dizer, mas quando
a moça saiu da sala de música e fechou a porta, descobriu.
Estava sozinha com o Sr. Devon.
Ficou nervosa instintivamente. Olhou para as mãos que ainda
seguravam a taça, porque não conseguia mais olhar em seus olhos.
— Thereza? — ele ainda a chamava pelo primeiro nome.
Ela levantou o olhar e se arrependeu. Assim que fitou os olhos
castanho-claros de Gregory, lembrou-se de quando sonhava estar deitada
em sua cama encarando-os pela eternidade.
— Graças a Deus estamos sozinhos. — ele continuou. — Espero por
este momento desde que voltou de Windsor.
A raiva começou a ferver os nervos de Thereza.
— Se o senhor estava esperando um momento a sós comigo para
arrumar alguma desculpa de como arrumou uma noiva depois que parti,
pode ir parando por aí. — as palavras saíram depressa e severas.
— Perdão? — as sobrancelhas do Sr. Devon estavam arqueadas, e
seu rosto transpassava curiosidade. — Do que está falando, Thereza?
Ela não aguentou. Repousou a taça na mesa antes que a mesma
pudesse sair voando até o rosto bonito de Gregory.
— Ah, por favor, Sr. Devon! Não se faça de desentendido. Eu achei
que o senhor estava à minha espera desde que parti. — Thereza começou a
lutar contra as lágrimas.
— Mas eu a estava esperando.
— Não, não estava. Porque assim que cheguei em sua casa, a
primeira coisa que vi foi seu anel de noivado.
Gregory respirou fundo. Ele parecia não estar entendendo nada.
— Thereza, eu não estou entendendo onde quer chegar.
— Eu achei que o senhor estava esperando-me para me pedir em
casamento, poxa! — uma lágrima escorreu por sua bochecha. — Gregory,
eu sempre fui apaixonada por você, e achei que você sentia o mesmo por
mim.
O rapaz estava paralisado, a boca aberta em um "o" e os olhos
arregalados, como se não estivesse acreditando no que acabara de ouvir.
— Thereza... — não passou de um sussurro. — A senhorita... Você
era apaixonada por mim?
— Ainda sou, Gregory. — ela limpou as lágrimas. — Infernos!
Ainda sou apaixonada por você! E ainda estou no processo de tentar
esquecê-lo.
Silêncio.
— Eu... Eu... — ele soltou um suspiro exasperado. — Eu não sei o
que dizer. Sinceramente, não sei o que dizer. Sabe que isso é uma surpresa
para mim, não sabe?
— Agora eu sei, sim! Pelo visto você nunca me amou.
— Mas é claro que amei, Thereza. E ainda amo! — seu tom elevou
uma nota. — Mas não como imagina. Sinceramente, nunca passou pela
minha cabeça essa possibilidade. Eu a amo como se fosse minha irmã, e
achei que era assim com você também. Mas... Santo Deus! Eu nunca nem
imaginei...
Thereza o encara por um instante atrás das lágrimas que inundavam
seus olhos. Ele estava de cabeça baixa, como se sentisse um tolo por não ter
percebido que tinha uma mulher apaixonada por ele.
— Quer mesmo a verdade? — ele perguntou, parecendo destruído
— O meu casamento com a Srta. Hervey não passa de um acordo entre
nossos pais. Minha família está falindo, Thereza. E o dote da moça irá nos
salvar.
— Oh, não.
Foi estranho ouvir aquilo. Ambos estavam prestes a se casar por
conveniência apenas para trazer de volta algo que perderam. No caso de
Gregory, uma fortuna. No caso de Thereza, sua reputação. Sem falar que
seriam da mesma família também. Parece que o amor era mesmo questão de
sorte, e poucos a tinham.
— Pois é. — ele inspira e expira — Sabe como meu pai é viciado
em jogatinas. Ele perdeu muita coisa. Por causa disso estou sendo obrigado
a me casar. Sobre a Srta. Hervey... — ele suspira — Eu não a amo, mas, por
incrível que pareça, ela me faz rir. A acho demasiadamente engraçada.
— O QUÊ?! — Thereza gritou — Aquela mulher é uma bruxa!
Gregory riu.
— Eu sei que é. Mas, infelizmente, não tenho escolha.
Thereza não aguentou, e fez a mesma coisa que faziam sempre,
antes de ter ido para Windsor: o esmagou em um abraço.
— Sei como é passar por isso, e eu sinto muito. — cochichou no
ouvido do rapaz.
Quando ele laçou seus braços nas costas de Thereza, ela soube que
aquele abraço ultrapassava os limites de um casal. Era mais que isso. Era o
mesmo abraço que seu irmão, Thomaz, a dava.
— Não. — cochichou Gregory de volta — Eu que sinto muito.
Desculpe-me por não ter percebido nada disso antes.
Quando se desvencilharam, Thereza passou a mão pelo rosto de
Gregory Devon, limpando suas lágrimas. E pensou o quanto tinha se
enganado todo aquele tempo. Era tão desesperada para debutar na sociedade
e, principalmente, por um casamento bem-sucedido que achou que por
conhecer Gregory a vida inteira, se casaria com ele, e cultivou aquele
pensamento por muito tempo.
— Senti tanto a sua falta, meu amigo.
— Eu também, minha amiga. — ele respondeu. Uma pausa, então:
— Tem outra coisa que preciso lhe contar.
Thereza percebeu que as emoções dele mudaram drasticamente. Seu
rosto estava ficando extremamente vermelho e suas mãos tremiam feito
vara-verde. Por que estava tão nervoso a esse ponto? Nunca o vira assim.
— Gregory... Está tudo bem?
Ela foi até a mesinha e encheu o copo com água e o entregou. Seja
lá o que ele tinha para lhe contar, era grave a ponto de deixá-lo desinquieto
demais.
Ele sentou-se no sofá e bebeu a água em um gole só, depois
respirou fundo, uma respiração pesada e trêmula.
— Thereza, primeiro quero que me prometa que não irá me julgar.
Eu já me sinto miserável demais e... — ele não conseguiu terminar.
— De jeito nenhum irei julgá-lo, prometo. E pare de sentir-se
assim. Não há motivos para isso. — Ou há? Deus do céu... O que Gregory
tinha feito?
— Eu... Eu... — ele começou, mas a porta da sala de música se
abriu e risadinhas preencheram o cômodo.
Thereza olhou para a saída, onde encontrou a Srta. Hervey ao lado
da Srta. Quinn. Diabos! Ela tinha que estragar tudo? Gregory estava prestes
a lhe contar algo importantíssimo.
— É melhor eu ir. Procure-me mais tarde. — disse baixinho só
para que ele ouvisse, então passou pelas duas damas em direção ao seu
quarto.
Sabia que se ficasse na sala de música Evelina arrumaria um
escândalo e Thereza não estava a fim de encrenca naquele momento. Na
verdade, estava tão preocupada com Gregory agora que nada mais
importava.
VI
PEQUENAS ARANHAS CAUSAM
GRANDES PROBLEMAS
***
“Christina,
***
***
***
Depois da perseguição pelas ruas de Tauton, Thereza passou a
metade do dia pensando naquilo, e não sabia se ficava assustada ou se ria da
situação. Será que seria assim em todos os lugares que fosse? Sabia que as
mulheres não correram atrás de si por sua causa, e sim porque queriam
saber sobre Antony.
Falando nele... Thereza levantou o olhar do livro que estava sobre
seu colo, e quando viu que o relógio em cima da lareira marcava 18h30min,
seu coração deu um salto. Fechou o livro com força e partiu para o corredor.
Enquanto caminhava, um sorriso teimava a sair de seus lábios, e sua mente
gritava: Antony! Antony! Antony!
Ela falaria, enfim, que o amava. O amava tanto que não conseguia
suportar a ideia de ficar longe dele.
Continuou correndo até a sala principal. Desceu a escadaria, e
quando chegou lá, o viu, o Homem Muralha. Ele estava de costas para ela,
conversando com alguém do outro lado da porta que Thereza não conseguiu
ver de quem se tratava. Então ela esperou enquanto apertava as pregas do
vestido de tanta ansiedade. Esperou que lorde Hervey terminasse a conversa
e, quando fechasse a porta e se virasse, correria e o esmagaria em um
abraço. Ah...! Como queria fazer aquilo.
Antony então fechou a porta. E com um sorriso ainda no rosto, ela
começou a se aproximar. Mas no momento em que o marquês ergueu o
rosto, Thereza quase desmoronou ao ver lágrimas em seus olhos. Ela parou
onde estava, já com o coração acelerado e com medo. Antony se aproximou
e, inesperadamente, abraçou-a. Ele chorou em seu ombro, e ela sentiu
quando lágrimas quentes molharam a pele nua entre o colarinho e pescoço.
Ela estava petrificada, com os olhos levemente arregalados e a boca
seca entreaberta. Antony chorava com tanta dor e desespero que Thereza
não teve outra escolha senão abraçá-lo de volta. Uma de suas mãos
massageava as costas do rapaz, enquanto a outra revezava entre a nuca e os
cabelos macios e sedosos.
Quando ele se desvencilhou e Thereza viu o quanto a feição dele
estava doída e vermelha por causa do choro, não conseguiu se segurar.
Lágrimas encheram seus olhos também.
— O que... — ela estava com tanto medo de perguntar. — O que
houve?
Antony fungou ferozmente o nariz e limpou as lágrimas com as
costas das mãos.
— Minha mãe. Ela... Ela...
Ele voltou a chorar desesperadamente. Seus soluços eram tão
rigorosos que pareciam causar dor. Rapidamente a sala estava repleta de
criados preocupados.
Thereza o abraçou novamente, já sabendo o que tinha acontecido.
— Ela morreu, Christina. Morreu! Minha querida mãe morreu! —
ele berrava em seu ouvido.
Thereza não podia imaginar a dor que ele estava sentindo. Perdera o
pai há pouco mais de um ano, e agora a mãe...
Ela pega o rosto dele entre as mãos e limpa suas lágrimas com
ternura e cuidado.
— Por favor, fique calmo e conte-me o que aconteceu para que eu
possa ajudá-lo. — Na verdade, Thereza não fazia a menor ideia de como
agir em uma situação dessa.
Antony respirou fundo e tentou explicar:
— Minha mãe estava com bronquiectasia e acabou pegando um
resfriado. Evelina mandou um mensageiro para que me avisasse. — ele
solta um suspiro trêmulo. — Meu Deus! Não posso acreditar.
Vê-lo daquele jeito estava acabando com o emocional de Thereza.
— Arrume as suas malas, Christina. Voltaremos hoje mesmo para
Suffolk.
Ele se afastou de seu toque, e suas mãos caíram moles na lateral do
corpo. Antony passou por ela tão ereto e rígido como nunca, e subiu os
degraus da escadaria de dois em dois.
Pouco tempo depois, os baús com seus pertences já tinham sido
arrumados e levados para a carruagem, então partiram.
Dentro do veículo em movimento, o silêncio era sufocante. Antony
estava assentado ao seu lado com a cabeça baixa enquanto olhava para as
mãos. Thereza o fitava, e como se não tivesse controle sobre o próprio
corpo, levou a mão ao rosto do rapaz e o acariciou.
— Tudo vai ficar bem. — sussurrou para ele quando o mesmo a
encarou com olhos tristes e caídos. Ela pegou a sua mão e entrelaçou os
dedos nos dele. — Estou aqui.
E foram de mãos dadas até finalmente chegarem à Ickworth House.
XI
DESEJO MISERÁVEL
Antony chorou a viagem inteira, e Thereza estava se sentindo uma
tola impotente que não podia fazer nada para acalmá-lo além de apertar
forte sua mão. Queria dizer palavras que o confortasse, mas o medo de
acabar dizendo algo errado era maior. Ela estava devastada.
Assim que chegaram em Ickworth House à noite, fora terrível.
Familiares estavam espalhados por toda a sala, assim como amigos. Evelina
estava assentada em um sofá num canto com as mãos sobre o rosto, e dava
para ver o desespero de seu choro, o Sr. Devon estava ao seu lado com os
braços envolvendo-a na intenção de consolá-la. Neste momento Thereza
sentiu uma pontada de pena da menina.
— Evelina. — lorde Hervey a chamou com a voz rouca.
Quando ela ergueu a cabeça e viu quem era, levantou-se em um pulo
e correu para os braços dele.
— Antony!
Thereza se afastou cuidadosamente para dar privacidade à família, e
sentou-se no mesmo lugar onde Evelina estava, ao lado de Gregory.
Ela suspirou.
— Que situação...
O sepultamento e enterro foram logo no dia seguinte. E se Thereza
achou o dia anterior terrivelmente triste, o choro de desespero dos
familiares quando o caixão foi colocado no túmulo fora bem pior.
O caminho de volta para a propriedade fora silencioso e tenso.
Evelina e Antony ainda choravam, mas era um choro silencioso, onde só se
viam lágrimas; os soluços tinham cessado. Toda vez que Thereza olhava
para o rapaz ao seu lado, pensava no quão grande e másculo e rígido ele era,
e nunca imaginou vê-lo chorar. Essa imagem nunca passou pela sua cabeça.
Antony era tão sério que era quase impossível imaginá-lo chorando.
Mas ali estava ele, com as bochechas coradas e molhadas. Tão frágil
e vulnerável que dava pena. Tudo o que Thereza queria era fazer ou falar
alguma coisa que o consolasse ou acalmasse, mas era terrível para essas
coisas. A única coisa que podia fazer era cobrir as mãos de Antony com as
suas e dizer que estava ali sempre que ele precisasse. E ela se odiara por
não poder fazer mais nada.
Naquela mesma noite, depois do jantar — que só fora Thereza, ela
ficara sozinha na sala —, Thereza subiu para o seu quarto com uma
sensação incomodando-a. Ela sabia o que aquela sensação estava querendo
que fizesse, mas estava temerosa. O pior é que não conseguia dormir de
jeito nenhum. Ficava rolando na cama sem parar, e nem sabia mais que
horas eram.
Quando aquela voz em sua cabeça resolveu realmente incomodá-la,
ela chutou os cobertores para longe do corpo e se levantou. Colocou uma
camisola de seda, pegou a vela sobre o criado-mudo e partiu para o
corredor. Estava um breu, completamente. Não se via nada ao redor, e a
pequena chama da vela não ajudava muito. Por isso Thereza ergueu o braço
mais à frente e começou a caminhar devagar para que não esbarrasse em
nada. O total silêncio era aterrorizante.
Assim que chegou onde queria, não soube o que fazer. Estava
parada em frente à porta do quarto de Antony, e um nervosismo já
começava a tomar conta de seu sistema nervoso, deixando seu coração
descompassado. Não sabia se era uma boa ideia bater. E se ele estiver
dormindo? Também não era uma boa ideia ir entrando sem permissão.
Pensando assim, Thereza colocou a mão na maçaneta, o metal frio contra a
palma da mão. Fechou os olhos e inspirou profundamente antes de abrir
uma pequena fresta e espiar o interior.
A cena que viu fez suas estruturas bambearem e seu peito inchar de
tristeza e dor.
O quarto estava escuro, a não ser por uma única vela acesa sobre um
candelabro na mesa de canto. Lorde Hervey estava assentado no meio
daquela cama gigantesca com dossel, os braços ao redor das pernas e o
rosto no meio dos joelhos. As costas dele subiam e desciam por causa dos
ferozes soluços causados pelo choro.
Antony levantou o olhar assim que ouviu a porta se fechando atrás
de Thereza. Quando ele a fitou com aquele olhar triste, ela achou que tinha
sido um erro entrar ali. Achou que não suportaria vê-lo naquela situação tão
melancólica. Mas ele estava sofrendo, e não o deixaria sozinho numa
situação dessa. Ele precisava de ajuda, por isso começou a se aproximar da
cama em pequenos passos, ainda segurando a vela.
— Christina? — a voz dele não passou de um sussurro rouco e
sofrido.
Ela apoiou a vela na mesinha e sentou-se na beirada da cama em
seguida. Antony encarava cada movimento seu, o que a deixou nervosa.
— Mais perto, por favor. — ele sussurrou de novo.
O coração da moça deu um salto, mas mesmo assim ela fez o que
lhe foi pedido. Arredou-se mais para perto do marquês. Quando estavam
próximos demais, Thereza tocou-lhe o rosto suavemente. Foi quando ela
sentiu.
— Santo Deus! — exclamou em um cochicho. — Está fervendo de
febre.
Só assim reparou o quão quente estava o quarto. Gotas de suor já
molhavam seu pescoço também. Por isso ela se levantou e olhou ao redor
para ver o que podia fazer. Ela correu para as janelas, afastou as pesadas
cortinas e abriu cada uma delas. Com isso, o vento frio que entrou foi
avassaladoramente refrescante. Em seguida, Thereza foi até a mesa no
canto do quarto, onde uma bacia estava com água até o limite. Pegou ali um
pano qualquer e o enfiou na água. Torceu-o levemente, deixando-o úmido, e
voltou para o lado de Antony. Ela ergueu o pano para limpar o suor que
escorria por todo seu rosto, mas ele se afastou.
— Por favor. Sua Graça precisa me deixar fazer isso.
Ele pareceu relutante, mas deixou.
Thereza começou passando o pano com leveza e suavidade em sua
face, depois em seu pescoço e colarinho. E enquanto fazia isso, não
conseguia desvia o olhar dos lábios do marquês. Imaginou se era errado
querer beijá-lo naquela situação. Mas é que tudo nele a deixava elétrica. A
beleza dele era estonteante.
— Por quê? — ele perguntou de repente com a voz afetada, fazendo
Thereza voltar a si.
— Por que o quê?
— Por que está fazendo isso?
— Fazendo isso? Eu não... — ela estava aturdida demais para
compreender o que Antony queria dizer.
— Por que está cuidando de mim?
Ela pensou por um instante, pois nem ela mesma sabia o
motivo. Era por pena? Era por que se importava com ele? Era por que não
fazia ideia de como era perder a mãe? Ou era por que o amava e não
queria deixá-lo só? Chegou à conclusão de que era tudo isso.
— Bem... — ela deu de ombros e deixou o pano de lado quando
terminou. — Pode ser que não acredite, mas... Eu me importo com você,
Antony.
Quando o fitou, viu que os olhos dele tinham um pequeno brilho
agora.
— Lembra-se do que disse para mim quando eu falei que o
desejava? — Thereza continuou. Estava difícil dizer. As palavras pareciam
pesadas ao serem pronunciadas. — Pois bem, juntei isso com o que me
disse sobre o tempo.
— Só o tempo poderá nos dizer se é amor ou não. — ele completou,
e sua voz saiu tão profunda e cheia de emoção que ela quis chorar.
— Depois, resolvi que não o veria por alguns dias. Se fosse um
mero desejo, passaria. Mas a verdade é que já no terceiro dia eu não
aguentava mais. Precisava vê-lo. Era mais uma necessidade que qualquer
outra coisa. Estava pronta para dizer-lhe isso, mas então a notícia de sua
mãe chegou e...
Ela não conseguiu terminar. Quando sentiu um nó na garganta,
baixou a cabeça no instante que uma lágrima escorreu por sua bochecha.
Entretanto, sua cabeça foi erguida novamente. Quando levantou os olhos,
viu que os dedos de Antony estavam sob o seu queixo, obrigando-a a olhá-
lo. E não soube decifrar o que viu naqueles olhos azuis, mas era como se
chamas corressem pelas suas órbitas.
— Está querendo dizer que...
— Sim, Antony. Estou querendo dizer que o amo. Intensamente. —
a última palavra saiu suspirada.
Ela ficou encarando-o com os olhos encharcados e a respiração
incomum, esperando que ele dissesse alguma coisa. Estava envergonhada, e
o silêncio não ajudava em nada. Contudo, quando Antony abriu a boca, não
foi para falar. Ele pegou o rosto de Thereza entre as mãos e juntou-o com o
seu, tão próximo que ela sentiu a respiração mais quente que o normal por
causa da febre atingir seu rosto.
Ela sabia o que ele estava prestes a fazer. E queria aquilo mais que
tudo. Desejava aquilo como nunca desejou qualquer outra coisa antes.
Observou-o fechar os olhos e se aproximar um pouco mais, os lábios
levemente entreabertos. Só que não podia. Não quando ele estava naquela
situação. Parecia errado demais.
E doeu fazer aquilo. Doeu demais. Doeu ter que se afastar de seu
toque fervente.
Ela estava na beirada da cama, o peito subindo e descendo em uma
respiração irregular, enquanto olhava para as mãos no colo.
— Eu não posso... — diz num sussurro. Engoliu o nó da garganta.
— Não pode? Mas... — a dor na voz dele a fez estremecer.
Ela dá de ombros levemente.
— Parece errado, Antony. Sinto que estou aproveitando de suas
emoções e fraqueza para fazer isso.
E era verdade. Não queria beijá-lo e saber que ele poderia estar
apenas aproveitando de sua benevolência naquele momento tão triste de sua
vida. Por mais que quisesse imensamente. Afinal, quando finalmente disse
que o amava, ele não foi recíproco.
Ela o ouve soltar a respiração pela boca.
— Tem toda razão. Ah, Deus, como a senhorita tem razão. — uma
pausa. — Alguém precisa ter escrúpulos aqui, não?
Thereza o encarou. E se não conhecesse tanto aqueles lábios, se não
tivesse passado horas e horas encarando-os sem parar — e desejando beijá-
los —, nunca teria percebido aquele minúsculo movimento que ergueu o
seu canto esquerdo. Apesar disso, ele ainda estava destruído e com febre.
O coração dela amoleceu. Subiu na cama e andou até ele de joelhos.
Por mais que seu corpo estivesse gritando para algo mais, apenas o abraçou,
e o fervor daquele corpo contra o seu foi, de alguma forma, reconfortante.
— Ah, Antony. Está doendo tanto vê-lo sofrer.
Ela sentiu os braços dele enlaçarem sua cintura, e ficou agradecida
por ele ter retribuído o abraço.
— Lembra do que mamãe disse alguns dias atrás na sala de jantar?
— ele falou, a voz rouca e baixa.
Thereza se desvencilhou e pegou suas mãos.
— Ela disse que queria ter netos antes de morrer. — continuou ele,
agora com um pouco mais de tristeza. — Parece que ela sabia que seu
tempo estava acabando, Christina. E me dói pensar que vou lembrar dela
toda vez que olhar para os meus filhos algum dia.
Quando viu os olhos dele brilharem com lágrimas, abraçou-o
novamente e enterrou seu rosto no pescoço dele, apreciando a quentura de
sua pele. Pensou que não suportaria ver lágrimas escorrendo pelas
bochechas dele novamente.
— Eu sinto muito. — cochichou contra a pele quente dele.
Eles ficaram assim por um longo tempo, abraçados enquanto um
sentia o calor do outro, enquanto os desejos consumiam cada parte de seus
nervos, levando-os a pensar que fariam loucura para que o momento
acontecesse. Só que não podiam naquela situação.
— O que seria de mim agora se não fosse você?
— Perdão? — ela perguntou, e se desvencilhou mais uma vez; o que
foi uma tarefa realmente muito difícil.
— Se a senhorita não tivesse aparecido, provavelmente este quarto
estaria destroçado neste instante. Sua presença me acalmou.
Depois daquelas palavras Thereza pensou que não suportaria por
muito mais tempo.
— O senhor quer parar? — resolveu ralhar.
Antony franze a testa.
— Perdão?
Thereza resmunga.
— O que eu quero dizer é que está difícil de me controlar com o
senhor assim, enchendo-me de palavras doces.
Ele solta uma risada abafada.
— Eu já disse que a amo?
Ela arregalou os olhos quando sua garganta se fechou de repente,
impedindo-a de respirar. Engoliu em seco antes de responder:
— Bem... não.
— Pois bem. Eu amo você, Thereza Christina.
Aquilo foi demais para ela. Sentiu tantas emoções percorrerem seu
corpo que a sua vontade era sair pulando pelo quarto enquanto gritava para
o mundo inteiro ouvir. Antony disse! Ele realmente disse o que sempre quis
ouvir daqueles lábios! Ele disse que me ama!
As emoções foram avassaladoras demais, e quando estava prestes a
se desmanchar em lágrimas, limitou-se apenas em dizer:
— É melhor você dormir. Está visivelmente cansado.
Por mais que as palavras tenham saído um pouco secas demais —
para impedir a si mesma que avançasse naquele homem lindo —, por dentro
tudo parecia explodir de felicidade. O que, ela pensou, talvez fosse errado
estar se sentindo assim por causa das circunstâncias, mas realmente não
podia resistir. Simplesmente não conseguia controlar as próprias emoções.
Ela se levantou, ajeitou os lençóis e os travesseiros.
— Deite-se aqui.
Ele apenas a encarou por um instante, mas fez o que ela pediu.
Antony deitou-se com cuidado, e Thereza o cobriu até a cintura. Em
seguida, ela passa a mão pelo rosto dele e beija-lhe levemente a testa.
— Boa noite. — cochicha, e se vira para ir embora.
Mas uma mão agarra firme seu punho.
— Espere!
Com o coração acelerado, ela se vira para ele novamente. Os olhos
dele ficaram intensos à pouca luz quando disse:
— Passe a noite aqui.
— No seu quarto? — ela arregalou os olhos.
Ele faz que sim. Deus! Será que era mesmo uma boa ideia? Apesar
de tudo, ela suspira.
— Está bem. — responde.
Vai até o canto do quarto e pega uma cadeira. Volta para o lado da
cama, pega um travesseiro e o coloca sobre a cadeira.
— O que está fazendo? — Antony pergunta.
— Bem, estou ajeitando o lugar onde irei dormir. — falou, dando
tapinhas sobre o travesseiro macio.
— Mas eu estava dizendo para dormir aqui do meu lado... na cama.
Thereza cessa os movimentos. Não soube se foi o tom de voz rouco
— e aparentemente sedutor também — ou a constatação que a fez ficar em
choque.
Ela o encara, séria.
— Está maluco? Por acaso a febre está mexendo com seus miolos?
A verdade é que já estava quase impossível se segurar a uma certa
distância dele. Se estivesse perto demais seria perigoso para ambos.
— Por favor, Christina. Eu estou doente. — falou Antony com a voz
um pouco sofrida.
Ela o analisou com as mãos na cintura. Ele estava sendo dramático?
Se estava ou não, o amava demais para deixá-lo assim.
— Está bem. — ela bufa e bate com um pé no chão, derrotada.
Afasta o lençol e se deita, ainda pensando se era uma boa ideia o
que estava fazendo. Depois os puxa para cima da cintura, segurando com
força as bordas do tecido enquanto encarava o teto. Já podia sentir o calor
que emanava de Antony, e sentia que ele a encarava. Seu coração ameaçou
sair pela boca.
Então ela sente o colchão mexer sob suas costas, e quando sente a
respiração quente de Antony em sua bochecha, se afasta em um rompante.
— Afaste-se imediatamente, lorde Hervey! — ralhou, morrendo de
desejo de puxá-lo ainda mais para perto de si. — Já está difícil o suficiente
me segurar.
— Pelo amor de Deus! — ele resmunga, afastando-se.
Feito isso, Thereza puxa o lençol um pouco para si e se vira para o
outro lado, impossibilitada de segurar o risinho que acabou escapando de
seus lábios. Antony também estava desejando-a. Sabia disso.
Ela fecha os olhos. Mas o colchão se mexe novamente. Maldição!
Quando se vira para dizer a Antony se afastar novamente, ele já estava ali,
tão perto que sentiu a respiração dele em seu pescoço. Como se não
bastasse, ele passou um dos braços pela cintura de Thereza e por ali ficou.
Se fosse apenas isso, tudo bem, mas o miserável ainda levou os lábios de
encontro à sua pele, abaixo do pé do ouvido, beijando-a levemente ali, e
sussurrou:
— Tenha uma boa noite.
Ela estava em chamas. Santo Deus! Se não saísse dali tudo
começaria a pegar fogo. Ela não o respondeu, por fim. Estava tão
desconcertada que achou melhor continuar em silêncio, assim ele
presumiria que já havia pegado no sono. Céus! Todas aquelas sensações e
ainda estavam de roupa!
— Sei que está fingindo, senhorita. — uma pausa. — Tem certeza
de que não quer fazer nada?
Ela arregalou os olhos, incrédula.
— Antony! — repreendeu-o. — Respeite o meu espaço, está bem?
Jurou a si mesma que só faria tudo o que seu corpo estava gritando
que fizesse quando o homem ao seu lado estivesse bem o suficiente para
tais coisas.
Quando ele não disse nada, Thereza fechou os olhos novamente.
Mas a voz dele veio de novo.
— Mas é claro, querida. — a voz grave e sedutora, então beijou-a de
novo no pescoço. — Respeito o seu espaço. E o seu tempo também.
Contudo, senhorita, já que está me interrompendo tanto, da próxima vez
vou deixar que meu instinto primitivo e selvagem tome conta do momento.
A senhorita será capaz de aguentar?
O QUÊ?! O homem não havia praticamente acabado de enterrar a
mãe? Como ele podia estar pensando numa coisa dessa agora? Por Deus...
Ele estava completamente possuído pelo desejo.
Ela achou melhor não o responder. Temeu ser traída pelas próprias
emoções. E quando ficou parada ali no escuro, ficou pensando nas palavras
de Antony. Será mesmo que o aguentaria quando tudo desmoronasse em
desejo entre ambos? Ele era tão grande que...
Ah, maldição! O que estava pensando?
Quando sentiu que a respiração de Antony estava suave e constante,
soube que ele havia pegado no sono. Graças a Deus, agradeceu
mentalmente. Não conseguiria ficar um segundo a mais ali dentro com
aquele homenzarrão.
Ela tirou o braço dele com cuidado de sua cintura para não o
acordar, levantou-se e o encarou por um instante, pensando em como ele
parecia um anjo ruivo dormindo. Logo após, partiu para o seu quarto.
Achou melhor assim.
XII
CASAMENTO, ANSIEDADE, PERDÃO
E TUDO O MAIS
Uau. Como as jornalistas amavam Thereza, não? Ela era citada até
em colunas que falavam apenas sobre rapazes. Cristo!
Apesar disso, começou a rir ao ler o nome de seu irmão em uma
coluna que era para mulheres solteiras. E que coisa é essa de poder de
sedução? Sabia que Thomaz é o maior libertino que já conheceu, mas não
podia negar que essa coisa de poder de sedução parecia uma piada.
Após terminar seu desjejum, Thereza resolveu que estava na hora de
ir ver como Antony estava passando. Se sua febre melhorou ou piorou.
Assim que chega lá, percebe uma criada parada em frente à porta do quarto
dele segurando uma bandeja farta com seu café da manhã. Provavelmente
tinha sido ele mesmo quem pedira.
A moça levanta o punho para bater na madeira quando Thereza se
aproxima.
— Deixe que eu faça isso.
A criada, que até então não tinha percebido sua presença, dá um
pulinho de susto.
— Perdão. O que disse, milady?
Ela olha para a bandeja nas mãos da outra.
— Pode deixar que eu entrego isso aí.
Thereza tenta puxar o objeto, mas a criada o segura com mais
firmeza.
— Não creio que seja correto deixá-la fazer isso, milady.
Ela sorri para a criada tentando ser amigável quando, na verdade, já
estava perdendo a paciência.
— Confie em mim, sei o que estou fazendo.
A mulher a encara com dúvida nos olhos. Mas acaba afrouxando o
aperto nas bordas, e Thereza a puxa para si.
— Obrigada. Está dispensada.
— Com sua licença, milady. — Ela faz uma reverência, olha para
Thereza como se ela fosse louca, então sai.
Thereza a observa até ela desaparecer na outra extremidade do
corredor. Ela revira os olhos e respira fundo, então volta sua atenção para a
porta novamente. Agora que estava sozinha, percebe que há mais de uma
voz lá dentro. Ela aproxima o rosto da porta. Antony não estava sozinho.
Ao erguer o punho para bater, se dá conta de que a tarefa é bem
mais complicada do que havia imaginado, e quase deixa tudo ir para o chão.
Maldição! Como é que os criados conseguiam equilibrar aquilo em apenas
uma das mãos para, com a outra, bater na porta? Para isso, Thereza teve que
erguer um pouco a perna para apoiar a bandeja em sua coxa. Depois de
muito custo conseguiu enfim bater duas vezes na madeira.
— Entre! — disse uma voz estrondosa do outro lado.
Com isso, ela pensou que mesmo se Antony não tivesse melhorado
completamente, pelo menos já estava melhor. Sua voz parecia mais forte
que no dia anterior.
Thereza empurra a porta com o ombro e espia o lado de dentro.
Antony estava assentado na cama com um amontoado de travesseiros sobre
as costas, enquanto o lençol cobria apenas suas pernas. Ele usava a mesma
blusa de ontem, branca e de tecido fino com os primeiros botões abertos,
deixando uma parte de seu peitoral exposto. O que fez uma onda fervente
subir pelo seu rosto.
Ela entra no quarto com a bandeja em mãos.
— Com licença, milorde, eu...
Para de falar quando percebe que Evelina estava ali, assentada na
cadeira ao lado da cama, e a olhava com os olhos tão faiscantes como se
Thereza tivesse estragado um momento muito íntimo entre irmãos. Talvez
tivesse mesmo.
— O que houve com os criados desta casa? — Antony quebra o
silêncio, e em seus lábios um pequeno sorriso brincava.
Thereza vai para o outro lado da cama e pousa a bandeja sobre as
pernas dele.
— Não houve nada com eles, Sua Graça. Apenas me dispus a trazer
seu café da manhã a fim de vê-lo.
Ele sorri para ela. Mas quando encara a comida, os olhos
arregalados de tanta fome acabam sendo substituídos por uma careta.
Dentro de um prato para sopa havia um líquido amarelo-esverdeado que,
vez ou outra, soltava borbulhas. Antony tira a tampa do bule, e um cheiro
nada agradável sai de lá. Thereza faz careta e tapa o nariz.
— Santo Deus, o que são essas coisas? — ele pergunta com o rosto
franzido.
— Eu pedi para a cozinheira preparar algo que fosse bom para a
febre, Antony. — diz Evelina pela primeira vez desde que Thereza entrou
no quarto. — Isso provavelmente são ervas medicinais.
Antony pega um pouco da sopa com a colher e o leva próximo ao
nariz, cheirando. Ele faz outra careta. Ao levar a colher à boca, o líquido
incha e explode, espirrando o conteúdo em seu rosto. Thereza solta um
gritinho e coloca as mãos na boca, chocada.
— O diabo que eu vou comer isso! — Praguejou o marquês
enquanto limpava os olhos sujos daquela sopa horrenda, e afasta a bandeja
para longe.
E não podia culpá-lo. Thereza pensou que faria o mesmo se
estivesse no lugar dele. O gosto daquilo devia ser péssimo.
Evelina se levanta.
— Você tem que comer Antony. É para o seu bem.
Ele olha para a comida novamente, pensando melhor.
— Não sei não. — fala, balançando a cabeça. — Isso está com cara
de que me fará mais mal do que bem.
Evelina bufa. Depois pega uma colherada bem cheia da sopa e a
leva em direção à boca de Antony, que era uma linha fina para não tomar
aquela coisa. Thereza acabou soltando uma risadinha diante da cena. Ele
parecia uma criança.
— Abra a boca. — pede a irmã.
Ele apenas balança a cabeça em negativa, ainda de boca fechada.
— Uh-uh.
Evelina bufa mais uma vez e se endireita, pensando em como faria o
irmão tomar aquilo. Até seus olhos encontrarem os de Thereza e, pela
primeira vez, ela vê ali uma pontada de súplica.
— Srta. Righter. Diz que ele precisa tomar a sopa.
Thereza ficou um pouco chocada com o pedido. Chegou à conclusão
de que Evelina amava mesmo o irmão. Virou-se para o marquês.
— Lorde Hervey. Precisa tomar a sopa se quiser melhorar o quanto
antes. — uma pausa. — Ora, vamos. Não precisa tomar tudo. Apenas um
pouco.
Ele olha para o líquido amarelo-esverdeado, relutante. Mas com um
resmungo, fecha os olhos e abre a boca. Evelina não perde tempo. No
mesmo instante enfia a colher goela abaixo.
Thereza o observa fechar a boca, saboreando aquela coisa horrenda
com o nariz enrugado. O que ele faz, porém, é abrir os olhos e soltar uma
exclamação de bom grado.
— Até que não é tão ruim.
— Eu avisei! — solta Evelina, fazendo Thereza rir.
Antony pega a colher e começa a tomar a sopa por conta própria.
Thereza o observa com um sorriso de satisfação no rosto. Enquanto
o admirava comer, ficou pensando na noite passada quando quase se
beijaram. Quase. Faltara tão pouco... Aquela corrente de excitação ainda
percorria os nervos de Thereza, fazendo-a desejá-lo tanto que chegava a
doer. Queria tanto passar os braços ao redor de seu pescoço e segurar aquele
corpo imenso contra o seu até que o mundo inteiro desmoronasse ao redor
dos dois. Queria provar o gosto daqueles lábios, puxar seus cabelos, passar
as mãos sobre os pelos de seu peitoral.
Ah, Deus! Ela não estava se aguentando.
Será que ele ainda a desejava? pensou. Ou tudo o que ele disse e
fez — ou quase fez — na noite passada não passou de um mero momento
de fraqueza onde Antony apenas queria alguém que o consolasse?
— Ótimo. — disse Evelina quando viu o prato de Antony vazio. —
Agora, beba o chá.
O marquês coloca o líquido verde dentro da xícara com uma careta
de desgosto. Cruzes! O cheiro daquilo era horrível.
— Tenho que sair por alguns instantes. Srta. Righter, certifique-se
de que meu irmão tomará pelo menos uma xícara deste chá. Voltarei para
conferir.
Thereza faz que sim. Logo, Evelina sai do quarto, deixando os dois
sozinhos. Ela se senta na cadeira ao lado da cama e observa Antony
bebericar o chá.
Ele solta um resmungo e pousa a xícara na bandeja novamente.
— Isso definitivamente eu não vou beber. Por Deus, a cozinheira
parece ter pego um monte de grama do jardim e socado aí dentro.
Thereza ri.
— Não se preocupe, milorde. Não o forçarei a beber esse... — ela
olha para o líquido verde e grosso — essa coisa.
Antony solta a respiração pesada pela boca.
— Evelina vai ficar furiosa.
— Podemos jogar tudo pela janela, se preferir.
Ele a encara e começa a rir. Na medida que a risada vai cessando, o
rosto de Antony vai ficando mais sério, até um silêncio se instaurar entre
eles, e ele dizer:
— Na noite passada. Lembro de a senhorita ficar para dormir
comigo, mas quando acordei pela manhã, encontrei o lado da cama vazio.
Por que se foi?
Thereza se surpreendeu com a mudança repentina de assunto.
Uma dor atingiu-lhe o peito ao perceber a afetação na voz do
marquês. Mas apenas fez o que era correto e sabia disso. Se tivesse dormido
com ele, ambos teriam sido dominados pelo desejo e coisas precipitadas
poderiam ter acontecido.
— Fiz o que foi correto. — respondeu suavemente, olhando para as
mãos no colo.
Silêncio. E quando o marquês voltou a falar, o tom veio tão sedutor
e primitivo que Thereza deu graças a Deus por estar sentada quando sentiu
as pernas bambearem.
— Sabe que apenas evitou o inevitável, não sabe?
Ela levanta a cabeça para encará-lo, a boca entreaberta e os lábios
secos com o choque daquelas palavras. Thereza se pegou sem saber o que
falar. Queria tanto respondê-lo com algo sagaz e falar que estava esperando
aquilo como nunca esperou por qualquer outra coisa em toda a sua vida. No
entanto, sua garganta parecia fechada.
Quando viu que ela não responderia, Antony pegou as bordas da
bandeja e posou-a na mesinha ao lado, depois dá dois tapinhas no lado
vazio do colchão.
— Sente-se aqui.
Ela achou que fosse desmaiar quando sentiu o coração palpitar e as
bochechas ficarem coradas.
— Milorde, eu não acho que...
— Por favor, Thereza.
Ah. Como dizer não àquele tom que fazia seus pelos se eriçarem e
aqueles olhos que a olhavam com tamanha ternura?
Derrotada, ela faz o que Antony lhe pediu, assentando sobre o
colchão, hesitante e com um misto de medo e excitação.
— Olhe para mim. — ele pede então.
Santo Deus! Ela estava à beira do precipício. Mas, mesmo com o
maxilar tremendo, ela o encarou, e viu em seus lábios o desenho de um
sorriso malicioso.
— Maldição. Eu não deveria ter tomado essas coisas que Evelina
me obrigou. — Por mais que tenha praguejado, o sorriso não saiu de seus
lábios.
— E por que não, milorde?
— Porque — a voz dele passou para um sussurro —, provavelmente
minha boca está com gosto desse chá e sopa horrenda. E esta é a única coisa
que está impedindo-me de não a beijar agora mesmo.
Thereza piscou várias vezes, atordoada. Sentiu que o ar ao redor
começou a ficar extremamente sufocante, e engoliu em seco quando se deu
conta de que ele a desejava mesmo. E tudo o que ele disse na noite anterior
tinha sido verdade.
— Sabe que não me importo, não sabe? — Ela não soube de onde
tirou coragem para dizer tais palavras; apenas soltou o que seu corpo estava
gritando para fazer.
Sabia também que a sopa e o chá provavelmente teriam um gosto
muito melhor vindo dos lábios dele.
— Prefiro que prove meus lábios como eles realmente são.
É tudo o que eu mais quero! era o que sua mente gritava.
— Como o senhor preferir, milorde.
— Então... Hoje à noite? — ele pergunta com uma sobrancelha
erguida de puro atrevimento.
Ela o encara. As emoções pareciam em festa dentro de seu corpo.
— Se assim desejar...
— É claro que desejo. — ele a interrompe. — Ah, como desejo isso.
Fico duro só de imaginar.
Ok! Aquilo era demais para Thereza suportar. Será que ele não
percebia como mexia com ela? Aquelas palavras fizeram suas bochechas
ferveram tanto que não aguentou e teve que se levantar. Foi até a janela e a
abriu com uma força descontrolada para pegar um pouco de ar fresco. Ela
se virou para ele, segurando-se no parapeito da janela para impedir a si
mesma que caísse caso Antony lhe jogasse mais palavras atrevidas.
— Mas... Onde?
— Onde o quê? — Antony pergunta, agora confuso.
— Onde vamos saciar nossos... — ela engole em seco — desejos?
E a sobrancelha de Antony se ergue novamente, junto com o canto
esquerdo de seu lábio.
— Aqui no meu quarto. Na minha cama.
E como presumira instantes antes, seus joelhos fraquejaram. Graças
ao bom Deus que estava se apoiando no parapeito.
— Mas não é perigoso? Qualquer um pode entrar e...
— Trancamos a porta. — disse Antony com firmeza.
— E se alguém resolver procurá-lo...
— Então esperamos todos dormirem.
— E se...
Antony bufa, exasperado.
— Sinceramente, Christina. Até parece que a senhorita não quer.
Ela morde na língua, obrigando-se a calar a maldita boca. Maldição!
Estava tão nervosa com os sentimentos à flor da pele que a ansiedade estava
deixando-a desorientada.
— Perdão, milorde. Só estou um pouco nervosa.
Ele sorri, um sorriso simples e acolhedor, como se quisesse dizer
que estava tudo bem, que entendia. Antony abriu a boca para dizer mais
alguma coisa, mas passos no corredor os alertaram de que Evelina estava
voltando.
— Ah, não. O chá! — exclamou Antony.
Thereza agiu rapidamente, pegando o bule e indo em direção à
janela aberta, onde despejou todo o seu conteúdo, que aterrissou na
vegetação abaixo com um baque surdo por causa do líquido tão grosso.
Assim que pousou o bule na bandeja novamente, a porta foi escancarada, e
Evelina entrou seguida por Gregory.
A primeira coisa que Evelina fez, portanto, foi olhar dentro do bule,
e quando o viu vazio, sorriu para Antony. Thereza percebeu que a boca do
marquês era uma linha rígida na tentativa de segurar uma gargalhada. Ela
fez o mesmo.
— Antony — começou a falar Evelina —, eu estava conversando
com Gregory e resolvemos que queremos adiantar nosso casamento. Em
uma semana. Duas, no máximo.
Thereza não soube porquê, mas ficou chocada. Ela instintivamente
olhou para o amigo, que... sorria? Ela franziu a testa. Conhecia-o há tanto
tempo, e sabia que aquele sorriso era de satisfação. Por acaso ele queria
aquele adiantamento? Não fazia sentido. Ele mesmo disse que não a amava.
Ele precisava do dote de Evelina, é claro. Talvez fosse isso. De todo modo,
teria que perguntá-lo mais tarde.
— Bem, e por que isso?
Gregory pegou a mão de Evelina.
— Achamos que é melhor para nós dois. — ele respondeu.
Por Deus, o que estava acontecendo?
Ela se virou para ver o que se passava no rosto de Antony, mas sua
expressão era neutra. Até que ele sorri e diz:
— Se for assim — vira-se para encarar Thereza —, eu e a Srta.
Righter também teremos que adiantar o nosso. Afinal, nos casaremos no
mesmo dia. Para daqui uma semana.
Por um instante Thereza se esquecera de como era respirar. Sabia
que estava ali para se casar com Antony Hervey, mas agora que estava tão
perto, sentiu-se estranha ao pensar que seria marquesa. Mas então, ao
lembrar-se de que desposaria com quem realmente amava, um sorriso
ergueu os cantos de sua boca e a felicidade tomou conta de seu peito.
— Então temos que começar a arrumar as coisas! — Evelina parecia
muito animada, na verdade, e dava pulinhos de excitação. — Não precisa
ser uma festa grandiosa, até porque não daria tempo, mas quero que seja
magnífico! — ela riu e puxou Gregory para fora do quarto.
Depois que eles saíram, o quarto ficou em silêncio, até Antony
quebrá-lo.
— Está de acordo, não é?
— Com o quê?
— Por acaso não estava prestando atenção, Srta. Righter? Estava me
referindo ao adiantamento de nosso casamento.
Thereza sentiu-se corar. Por um momento achou que ele se referia a
hoje à noite.
— Perdão, milorde. E sim, é claro que estou de acordo. — E sorriu.
Ele sorri de volta.
— Então está marcado. Dia dois de julho será lembrado como o
melhor dia da minha vida.
— Dois de julho? — Thereza sentiu espantar-se por um instante. —
Que dia é hoje?
— Hoje é 25 de junho, querida.
Ela levou as mãos na boca em choque. Ah, não. Como poderia ter se
esquecido?
— O aniversário da minha mãe é daqui a dois dias! Santo Deus,
como pude me esquecer? Sou uma péssima filha.
Antony ri.
— Não se preocupe com isso. Se desejar, podemos ir para Londres
amanhã e passar o aniversário de sua mãe junto dela. O que acha?
Ela não conseguiu esconder o sorriso que abriu em seus lábios.
— Eu acho que você não existe, milorde.
Ele semicerra os olhos, provocando-a.
— A senhorita só terá essa certeza hoje à noite quando todos
estiverem dormindo.
A corrente de excitação começou a percorrê-la.
— No seu quarto? — pergunta a ele.
Antony apenas faz que sim devagar.
Ela sorri maliciosamente e sai do quarto, soltando a respiração. Não
via a hora de a noite chegar.
***
Que dia louco tinha sido aquele, não? Em momento algum Thereza
pensou que Evelina poderia algum dia pedir perdão por seus atos — a moça
era tão orgulhosa que foi mesmo um choque. Mas a vida sempre nos
surpreende, pensou. Com a recente morte da mãe, Evelina parecia ter
aprendido a lição, e se ela estava mesmo tentando mudar, daria uma chance
a ela. Afinal, todos precisam de segundas chances na vida.
Apesar de tudo, aquele dia ainda estava longe de acabar, por sinal.
Antony não havia descido para o jantar, e Thereza ficou pensando se era
porque ele ainda estava mal. Ela perguntou à Evelina, pois a mesma passou
o resto do dia enfiada no quarto do marquês cuidando dele.
— Ele está bem, não se preocupe. Não desceu apenas porque disse
estar guardando energia para mais tarde. Para quê? Ele não me disse. — foi
o que ela respondeu.
Thereza sorriu sobre a borda do copo e sentiu as bochechas
ferverem com a vermelhidão. Ela, mais do que ninguém, sabia exatamente
porque Antony estava guardando suas energias. A excitação começou a
percorrer as suas veias no mesmo instante, fazendo a respiração pesar. E
aquela corrente de ansiedade a seguiu mesmo depois de subir para seus
aposentos e deitar-se na cama. Até tentou tirar um cochilo para as horas
passarem mais depressa, o que não funcionou, é claro. Sentia como se algo
vivo percorresse cada parte de seu corpo, deixando-a incrivelmente faminta,
só que não era de comida. O frio que sentia na barriga e descia até sua
virilha era algo primitivo, pedindo outro tipo de refeição que ela não sabia
exatamente o quê.
Conforme o tempo foi passando, ela reparou que a casa foi ficando
mais silenciosa e tranquila a cada instante, até que nada mais era ouvido.
Nem passos, nem conversas ou cochichos. Thereza aprumou os ouvidos,
mas estava tudo absolutamente silencioso. Não sabia que horas eram, só
que estava tarde. Ela sorriu.
Está na hora!
Afastou os cobertores com agressividade e se levantou. Pegou a vela
em cima da mesa de cabeceira e foi até a porta. Mas ao colocar a mão na
maçaneta, percebeu que ela já estava girando. Santo Deus! arquejou.
Alguém estava entrando em seu quarto, mas quem? Ninguém entraria sem
bater, principalmente assim tão tarde da noite. A não ser que...
Oh, não!
Será que malfeitores teriam invadido a casa? Suas mãos começaram
a tremer de medo. Mas agiu rápido. Apagou a chama da pequena vela com
um assopro e correu para trás da porta quando a mesma se abriu e alguém
entrou. Quem quer que fosse, fechou-a novamente com agressividade, o que
fez Thereza temer ainda mais por sua vida. Por isso fechou os olhos com
força e prendeu a respiração, torcendo para que a escuridão do quarto fosse
suficiente para escondê-la.
— Christina? — disse uma voz rouca e grossa com tamanha
urgência.
Ela abriu os olhos e deixou o candelabro cair sobre o tapete com um
baque surdo, pois só existia uma pessoa que a chamava assim.
— Antony? — o nome não passou de um sussurro.
Ele se virou, e demorou um pouco até que ele finalmente a
encontrasse em meio às sombras. Com passos largos e decididos o marquês
foi até ela. Parecia agitado, nervoso e faminto. Ele parecia um caçador atrás
de sua presa.
Ao alcançá-la, segurou seu rosto entre as mãos com uma urgência
que a fez arfar.
— Por Deus, por que demorou tanto? — o hálito quente brincou no
rosto dela.
Sua boca estava seca e sua mente desorientada enquanto encarava
aqueles olhos azul-claros que brilhavam em meio à pouca luz que entrava
pelas frestas das cortinas pesadas de veludo.
— Eu... — tentou dizer.
Mas Antony já estava lá, sua boca faminta e úmida sobre a dela. Foi
quente, feroz e arrebatador. Demorou até que Thereza compreendesse o que
estava mesmo acontecendo, e quando se deu conta, fechou os olhos e se
entregou completamente.
E não foi nada do que ela tinha imaginado que seria seu primeiro
beijo.
Foi melhor!
Era puro fogo percorrendo as veias enquanto as línguas
entrelaçavam dentro da boca um do outro com paixão e agressividade,
como se aquilo fosse uma necessidade. Ela ouviu Antony gemer, e aquele
som a fez tremer.
Ele deixou sua boca por um instante para tomar fôlego, e foi como
se algo muito importante tivesse sido arrancado dela à força.
— Você está bem? — ela perguntou de repente, extremamente
ofegante. — Digo, a sua febre... Está...
— O que você acha? — Antony respondeu com a voz áspera.
E voltou a beijá-la novamente, só que desta vez no pescoço, o que a
fez gemer ainda mais alto e arquear a cabeça pra cima, dando mais espaço
para ele brincar com sua pele com a língua como estava fazendo. Era
delicioso, simplesmente! Não tinha outra forma de descrever. Ele percorria
cada parte de seu corpo com as mãos, sentindo-a, como se quisesse se
certificar de que ela era real. E Thereza fazia o mesmo, percorrendo cada
parte do corpo do marquês, sentindo seus músculos sob a roupa. Que
homem magnífico! sua mente gritava.
Ele voltou a beijar sua boca, e o modo como fazia aquilo — com
urgência —, fazia Thereza se sentir como se fosse a única mulher no mundo
a ir ao Paraíso antes mesmo de morrer. Porque aquilo era o Paraíso, não
era? Pois era essa a sensação que tinha sempre que a língua de Antony
encontrava a sua, de que estava no céu.
Antony levantou sua perna e a prendeu no quadril dele, puxando-a
ainda mais para perto. O calor do corpo dele a invadiu, deixando-a
demasiadamente atordoada, e nem percebeu quando o agarrou pela lapela
da blusa e o puxou para o beijo mais fugaz, quente e erótico que conseguiu.
Ela gemeu alto entre os lábios dele, o que fez Antony largar sua perna e
segurar seu rosto entre as mãos.
— Diga meu nome... — ele sussurrou. — Diga...
— Ah... Antony! — Ela fez o que ele mandou, erguendo o pescoço
novamente, dando-lhe ainda mais espaço entre o pescoço e o colarinho,
onde ele movimentava com os lábios.
As mãos dele encontraram seus seios, apertando-os.
— Diga novamente.
— Dizer o quê? — Thereza não conseguia distinguir o que era real e
o que não era, tudo parecia o vislumbre de um sonho incrível.
As mãos do marquês percorrendo todo o seu corpo era como chamas
queimando a pele.
— O meu nome, Christina. Diga o meu nome.
Com os olhos fechados, ela gemeu novamente quando ele apertou
seus seios mais uma vez, sem parar de beijar entre sua clavícula e pescoço.
— Antony... Meu... Querido... Antony.
Ele arquejou.
— Diabos, Christina. Tem ideia do que está fazendo comigo?
Ela não tinha. Mas será que ele tinha ideia do que estava fazendo
com ela?
— Veja. — Antony pegou uma de suas mãos e repousou-a no meio
de suas pernas, onde encontrou um membro excepcionalmente grande e
grosso. Ele gemeu. — Está vendo? Isso é o que está fazendo comigo.
Thereza estava maravilhada demais com o homem diante de si, por
isso não conseguia dizer nada. Ela continuou massageando o membro dele,
enquanto o via gemer e arquejar, e aquilo lhe dava prazer também, como se,
de algum modo, tivesse poder sobre ele. Então ela afastou a mão e a
colocou dentro da calça, sentindo a pele rígida do imenso membro do
marquês. Era rígida, porém macia. Antony gemeu ainda mais alto.
— Ah, Deus! O que essa mulher está fazendo comigo?
Thereza não parou. Continuou com os movimentos de vai-e-vem,
adorando sentir aquele membro na palma de sua mão. E estava adorando
ainda mais ver o que estava fazendo com ele. Nunca o vira tão inerte e em
êxtase de puro desejo. E aquela cena era simplesmente maravilhosa aos
seus olhos.
Mas então ele pegou seu pulso, forçando-a a parar, e disse com a
voz embargada de puro desejo:
— Pare. Não aguentarei por muito mais tempo se continuar assim.
Ele pegou-a no colo, levando-a para a cama e depositando-a
cuidadosamente ali. Em segundos, ele estava sobre seu corpo, tão grande e
cheio de músculos que a deixava sem ar. Antony a beijou de novo e, como
que instintivamente, passou os braços ao redor dele; o mesmo aconteceu
com suas pernas, que estavam agora ao redor dos quadris do marquês. Ela o
ouviu grunhir.
— A senhorita me deixa louco! — ele falou ofegante sobre seus
lábios.
O beijo começou a ficar mais quente, desesperado, voraz e feroz.
Antony beijava agora seu pescoço, deixando arrepios por toda a região. As
mãos dele percorriam cada centímetro de seu corpo, e quando ele alcançou
seus seios e os apertou novamente, arquejou de prazer. Seus olhos se
fecharam e suas costas se arquearam. Antony era incrível! Estava fazendo
Thereza sentir coisas no meio de suas pernas que nunca imaginou que
existiam. Ela o agarrou, puxando o corpo dele ainda mais sobre o seu, e
sentiu o membro grande e ereto em sua intimidade, bem no meio de suas
coxas. Ela não conseguiu se conter, e gemeu alto quando Antony começou a
se remexer ali.
Céus! Todas aquelas sensações e ainda estavam de roupa!
Antony encaixou seu corpo entre as pernas dela e começou a tirar o
resto das roupas de Thereza, desfazendo o nó de seu penhoar. Todavia, ela
sentiu uma vergonha imensa a dominar. Talvez fosse pelo fato de nunca ter
ficado completamente nua na frente de outra pessoa antes. E se ele não
gostasse do que visse? Seu coração começou a bater acelerado — mais
ainda do que já estava —, e agradeceu internamente por ainda estar escuro e
ele não poder ver suas curvas completamente.
Quando a despiu por completo, Antony se levantou e foi até as
janelas, abrindo as cortinas e deixando a fraca luz do luar entrar e iluminar
o corpo de Thereza. Ele voltou e parou aos pés da cama, encarando-a de
cima a baixo. As bochechas dela queimaram de vergonha, por isso abraçou
o próprio corpo. Mas a voz o marquês veio grave e autoritária quando disse:
— Não se esconda de mim, Christina. Esta é a cena mais linda que
já vi em toda a minha vida.
Então, vagarosamente Thereza abriu os braços, ficando
completamente nua aos olhos do homem que tanto amava, enquanto a luz
que vinha das janelas iluminava sua silhueta, dando um contraste com sua
cor de pele.
— A cena que estou vendo é pura arte! — Antony comentou, sem
tirar os olhos dela. — Ah, Christina, se a senhorita pudesse ver o que eu
estou vendo agora.
Foi naquele momento que Thereza sentiu seu poder como mulher.
Naquele momento sentiu-se gloriosa e bela. Sentiu como se seu corpo fosse
uma bela escultura e somente Antony podia apreciá-la.
Ele se aproximou, já sem as calças, o enorme membro apontando
para Thereza, que já estava completamente úmida de desejo. Então ele
deitou entre suas pernas, e se derreteram em júbilo e deleite naquela
madrugada.
***
***
— Querida, chegamos.
Thereza abriu os olhos devagar e bocejou. Em algum momento da
viagem havia dormido, a cabeça sobre o ombro de Antony. Ela se ajeitou no
assento e olhou pela janela, onde viu a carruagem virando uma esquina em
direção à George Street em Mayfair; logo, a carruagem estacionou em
frente à casa número 12.
Eles desceram, e Thereza percebeu que as pessoas que por ali
passavam olhavam para eles com certa curiosidade, o que a irritou. Ela se
lembrou do episódio inusitado que ocorrera em Somerset, quando as
mulheres começaram a persegui-la por causa do marquês.
Sua vontade era de se virar para um grupinho de amigas do outro
lado da rua que olhava para Antony como se ele fosse uma refeição, e dizê-
las para procurarem os próprios maridos. No entanto, o sol naquele tom
amarelo-alaranjado fazia os cabelos ruivos do marquês brilharem com
tamanha intensidade que o fez ficar ainda mais belo, chamando a atenção
para os olhos de Thereza. Ela focou em seu futuro marido, e sorriu,
esquecendo-se de que estavam sendo observados.
Evelina, por outro lado, parecia gostar dos olhos julgadores sobre
sua pessoa. Ela empinou o nariz e caminhou até a porta da frente da casa de
Thereza como se fosse dona do local, balançando os quadris de um lado
para o outro em seu vestido perfeito cor-de-mel.
Logo em seguida eles subiram as escadas da entrada e Thereza bateu
na porta, que foi aberta quase imediatamente por um mordomo baixinho.
— Oh, Srta. Righter!
— Olá, Sr. Will. Os meus pais estão?
Ela sabia que a resposta seria sim, pois Amélia e Oliver não
costumavam sair no fim da tarde.
— Estão sim. E ficarão felicíssimos em vê-la, senhorita. — Ele fica
nas pontas dos pés e olha por cima de seus ombros, onde outras três pessoas
esperavam pacientemente. — Quero dizer, em vê-los. — Ele abre a porta e
se afasta para o lado. — Por favor, entrem.
No hall principal, Thereza respira fundo, sentindo o cheiro tão
familiar de seu lar. Ela achava que sua casa tinha um aroma diferente das
outras em que já entrara. Será que é porque era a sua casa? Será que as
pessoas achavam que seus próprios lares também tinham um cheiro único?
Sorrindo, ela pensou que sim.
— Por favor, acomodem-se. Irei pedir que chamem lady e lorde
Righter e avisar a cozinheira que prepare um lanche saboroso. — Ele faz
uma reverência a Antony e Gregory. — Com suas licenças. — E sai.
— Muito simpático o senhorzinho. — Antony comenta enquanto se
sentava ao lado de Thereza no sofá.
— Sim. Na verdade, acho que toda a criadagem desta casa o são. —
ela respirou fundo. — É tão bom estar de volta.
Enquanto esteve em Suffolk, sentiu saudades de casa, é claro. Mas
agora que estava ali, um misto de sentimentos a invadiu, uma mistura de
melancolia e nostalgia que a fez sentir um leve friozinho na barriga.
— Então quer dizer que não gostou da Ickworth House? —
perguntou o marquês um pouco condescendente.
— Da sua propriedade, sim. Mas...
— Ela quer dizer que não gostou de estar com a gente, Antony. —
disse Evelina, evasiva.
— Na maior parte do tempo, não mesmo. — ela suspirou. — De
certo modo, fui obrigada a ir para lá por causa de um acordo de casamento
com um homem que eu sequer conhecia, longe da minha família. — ao
olhar para Antony, viu que algumas rugas de tensão apareceram no canto
dos olhos dele, e tentou consertar a situação. — Mas isso foi antes de
conhecê-lo. E antes de Evelina me pedir perdão também. — ela sorriu para
os dois e apertou a mão de Antony, que sorriu.
— Entendo perfeitamente, querida. E fico tão feliz em que ver que
tudo se acertou. — ele retribuiu o aperto em sua mão.
Nesse instante vários criados invadiram o cômodo, organizando
várias e várias bandejas de biscoitos amanteigados e de chocolate, bules de
chá e leite sobre a mesa de centro.
— Como quer seu chá, querida? — perguntou Gregory a Evelina.
— Prefiro um pouco de café preto, querido. Com leite e sem açúcar,
por favor.
Gregory começou a prepará-lo.
Thereza ficou encarando aquela cena com os lábios entreabertos,
pois ainda não tinha se acostumado. Lembrou-se de quando pensou em
Gregory e Evelina como água e óleo, pois os achava tão diferente um do
outro que não combinavam. Mas agora que estava vendo a afeição
recíproca deles, viu o quanto estava enganada.
Ela começou a preparar o próprio chá quando uma voz irrompeu
no hall.
— Thereza, querida!
Levantou-se em um rompante, a saudade dominando-a.
— Mamãe! — alguém vinha atrás dela. — Papai!
Eles se abraçam.
Quando se desvencilham, lady Righter olha para as pessoas
amontoadas em seus sofás e pergunta:
— Bem, a que devo esta visita tão... inesperada?
— Amanhã não é o seu aniversário? Achei que seria bom passar
com a senhora.
— Ora, querida. Não precisava se incomodar. — ela apertou suas
mãos.
— E eles vieram por que... — seu pai falou.
Atrás de si, Thereza ouve Antony engasgar com o chá.
Sabia que seu pai não estimava nem um pouco qualquer membro
da família Hervey pelo que eles haviam causado à sua reputação, e ver dois
deles na sala principal de sua propriedade era uma afronta. Só que isso foi
antes, por isso apressou-se em dizer.
— Quis trazê-los para que vocês pudessem conhecê-los melhor,
tirando Gregory, é claro. — eles riem.
Quando percebe que seu pai ainda segurava uma carranca no rosto,
aproxima-se dele e diz apenas para ele ouvir:
— Está tudo bem, papai. Eu juro. — então vira-se para a mãe
novamente. — E Thomaz, ele não vem?
— Sinto muito, querida. Ele anda muito ocupado em West Sussex.
Thereza apenas suspira. Sentia uma imensa saudade dele.
— Quem é Thomaz? — Evelina pergunta de repente.
— Evelina! — Antony a repreende por ter sido intrometida.
— É meu irmão.
— Você tem um irmão? Desde quando? — ela parecia perplexa.
— Bem, desde sempre. Thomaz é um ano mais velho que eu, e está
em West Sussex como visconde de meu pai.
— Ah. — ela responde apenas, e volta a bebericar seu café com
leite.
Um silêncio se instaura no cômodo depois disso, como se uma
névoa de tensão tivesse entrado pelas janelas e agora pairava sobre todos
eles. Enquanto isso, Thereza observava seu pai fuzilar Antony com o olhar,
e ficou pensando se tinha sido uma boa ideia levá-los. Deveria ter mandado
uma carta avisando que estava a caminho, que tudo estava bem entre eles e,
principalmente, que estava feliz com o casamento.
— Bem, então vou pedir que coloquem mais quatro pratos à mesa.
— Lady Righter teve o bom senso de quebrar o silêncio. — O jantar está
quase servido, e vocês devem estar cansados, não?
— Extremamente cansada, lady Righter. — Evelina exala o ar
demoradamente. — Passei mal quase a viagem inteira.
Thereza segura o riso.
— Pois bem. Após o jantar é melhor que todos se acomodem nos
aposentos que meu mordomo lhes mostrará. Quero que estejam
descansados para amanhã. Pois será um grande dia! — Amélia sorri
abertamente.
Thereza dá pulinhos e bate palmas, animada.
— Sim, querida, certamente que sim. — diz Oliver com a voz
afiada, ainda com o olhar em Antony. — Amanhã será um grande dia.
O sorriso de Thereza some imediatamente.
— Papai, o que está querendo dizer?
— Que amanhã será um ótimo dia para um duelo. — ele se vira e
começa a se afastar.
Todos soltam um arquejo silencioso e tenso.
— Querido, espere! — Amélia começou a correr atrás dele, mas
virou-se para seus hóspedes um último instante. — Não se preocupem com
Oliver. Ele está apenas... — ela pensa por um momento, então dá de
ombros. — Bem, não sei muito bem. — E corre atrás do marido.
Thereza massageia as têmporas, pensando que tinha mesmo sido
uma péssima ideia ter levado Antony e Evelina sem avisá-los.
Que uma carnificina não seja o prato principal do jantar; ela
rezou internamente.
***
A noite anterior tinha sido nada menos que perfeita. Quer dizer,
depois de todo aquele alvoroço por causa de um duelo, fora maravilhoso,
pensou Thereza enquanto encarava seu reflexo no espelho da penteadeira.
Enquanto jantavam e riam, percebeu que seria daquela mesma forma
sempre que, depois de casada, fosse visitar seus pais, pois a sua família
tinha aumentado, contando com Evelina, Gregory e Antony. Nunca pensou
que fosse ser tão feliz assim algum dia e, acima de tudo, tão amada.
Apesar disso, Thereza não podia deixar de notar aquele sentimento
estranho com que acordara. Era um frio na barriga, como se alguma coisa
quisesse lhe dizer que algo tinha acontecido. Mas o quê? Era o aniversário
de sua mãe, e iriam ao Hyde Park como uma família. Nada poderia dar
errado, certo?
Enquanto a criada, Mary, a ajudava com o penteado e a se vestir,
percebeu as estranhas atitudes da donzela. Ela sempre conversava muito
com Thereza, mas hoje dava respostas simples e diretas: "Não", "Sim", "É
claro", "Não sei". Ela nem tentava alongar o assunto, como se estivesse
tentando evitar conversar com Thereza.
Assim que saiu do quarto, percebeu três criadas paradas na esquina
do corredor. Elas estavam agrupadas e pareciam horrorizadas com a
conversa que estavam tendo. Com certeza estavam fofocando; pensou
Thereza com certo desprezo. E, assim que elas a viram, uma delas cutucou
as outras duas para que parassem o assunto.
Thereza se aproximou com a feição autoritária, como uma marquesa
que ela seria.
— Deseja alguma coisa, milady? — perguntou uma delas, sem olhar
diretamente para a moça.
As criadas ficavam se entreolhando, e nunca olhavam diretamente
para Thereza. E naquele instante ela teve certeza de que estavam mesmo
falando de si.
— Por acaso as moças estão sem serviço? — perguntou
grosseiramente, o que fora completamente proposital. Queria dar um susto
nelas e mostrar que não gostava e não queria criados despreocupados
conversando sobre a vida alheia.
— Não, milady. — respondeu outra donzela. — Muito pelo
contrário. Temos muito trabalho.
— Então o que estão fazendo paradas aqui no corredor como se não
tivessem nada para fazer? Voltem já para os seus serviços!
As moças pareceram assustadas, e fazer aquilo doeu no peito de
Thereza. Nunca tinha falado assim com eles antes, pois nunca precisou.
Lembrou-se do que disse a Antony ontem quando chegaram, de que todos
os criados de sua casa eram simpáticos, e não era mentira. A vida inteira a
trataram bem. Por que estavam agindo dessa forma?
— É claro, milady. — Elas passaram por Thereza, e cada uma delas
fez uma mesura antes de partirem escada abaixo em direção à cozinha.
Thereza recostou-se na parede e fechou os olhos, soltando o ar que
estava prendendo.
Céus! O que estava acontecendo?
Ela se recompôs e estava prestes a ir à sala de jantar para o desjejum
quando alguém a gritou:
— Srta. Righter!
Ela se virou e viu Evelina vindo em sua direção.
— Srta. Righter, será que posso conversar com você um instante?
Thereza percebeu que havia algo de estranho com ela também. Sua
voz sempre estridente e agitada dera lugar a um tom seco. Por um instante
pareceu a Evelina que conhecera no baile em Devonshire.
— Claro. Sobre o que quer conversar?
— É melhor conversarmos no meu quarto. — Sem saber se Thereza
a seguiria ou não, Evelina se virou e partiu.
Thereza titubeou por um instante, mas resolveu que era melhor
segui-la. Quem sabe ela não lhe informaria do que estava acontecendo e lhe
contasse porque todos estavam agindo de forma tão estranha, inclusive ela.
Quando entrou nos aposentos em que Evelina estava hospedada,
fechou a porta e se virou para encará-la quando sentiu algo muito, muito
forte e quente lhe atingir o rosto, fazendo-a cair no tapete com um baque
surdo.
— COMO VOCÊ OUSA?! — ouviu Evelina gritar com ódio.
Pelo menos foi o que pensou ter ouvido. Seu ouvido zunia muito e a
bochecha queimava como fogo do inferno com o tapa que lhe foi inferido.
Ela se levantou meio zonza com a mão sobre o local que ardia,
ainda tentando entender o porquê daquilo.
— Como ousa trair o meu irmão? — voltou a vociferar Evelina.
— O quê? Eu não...
Mas ela não deu tempo para Thereza se explicar, porque partiu para
cima dela com as unhas esticadas e os dentes cerrados. Evelina pegou em
seus cabelos e começou a puxá-los com todo o ódio que a consumia.
Thereza só não entendia o porquê daquele ódio todo. O que tinha feito,
afinal?
Seja o que for, sabia que sua consciência estava mais do que limpa,
porque realmente não tinha feito nada de errado. Não que se lembrasse,
pelo menos. Por isso, enquanto Evelina ainda puxava seus cabelos fazendo
as presilhas se soltarem, resolveu que não deixaria que a outra lhe
espancasse pelo que não tinha feito.
Foi nesse instante que toda a raiva que Thereza sentiu dela desde
Devonshire até agora, a consumiu. Aquela vontade que sentira de bater nela
voltou como uma onda de fúria.
E o perdão que tinha sido decretado por ambas dois dias antes?
Que vá para o inferno junto com essa miserável! pensou Thereza
enquanto agarrava os cabelos dela também com um grito de raiva que
cortou sua garganta.
Elas caíram sobre o tapete e rolaram nele. Evelina conseguiu parar
por cima, dando tapas no rosto de Thereza. Em seguida, pegou seu pescoço
e o apertou com as duas mãos tão forte que sentiu o ar escapulir de seus
pulmões. Thereza, contudo, não ficou parada. Evelina não venceria assim
tão fácil.
Agitou as mãos na direção do rosto dela. Uma de suas unhas acertou
em cheio a bochecha da outra, fazendo um pequeno corte lateral, onde uma
pequena linha vermelha de sangue começou a escorrer. Evelina gritou e se
distraiu por um momento. Momento este que Thereza aproveitou para
empurrá-la e subir em cima dela, inferindo-lhe tapas na cara, um de cada
lado do rosto, enquanto rosnava feito um bicho.
— Que gritaria toda é essa aqui? Por Deus, o que é isso? — Alguém
entrou no quarto.
E não demorou muito até que puxassem Thereza de cima de
Evelina. Mesmo assim ela não desistiu. Estava com tanta raiva que se
esperneou naqueles braços fortes ao redor de sua cintura, tentando a todo
custo libertar-se para dar mais uma lição naquela insuportável.
— Christina. Acalme-se! — Antony a chacoalhava. — Acalme-se!
Ela parou. A respiração subindo e descendo no peito, sufocando-a
de tanto ódio, enquanto fuzilava Evelina que se levantava, os cabelos
espichados e o vestido amarrotado. Não devia estar muito diferente.
— O que houve? — Gregory entrou.
— Por que estavam brigando? — perguntou a mãe de Thereza que
havia entrado com Antony.
— Exatamente, porque estavam brigando? — Antony ainda
segurava Thereza com força, pois sabia do que ela era capaz caso a soltasse.
— Não haviam se perdoado?
— Isso foi antes dessa meretriz traí-lo, Antony! — Esbravejou
Evelina.
— O quê? — Thereza sentiu os braços do marquês se afrouxarem ao
seu redor.
— Eu exijo mais respeito com a minha filha! — trovejou lady
Righter.
— Sua louca, do que você está falando? — Thereza gritou.
Ao invés de responder, Evelina correu até a cômoda e pegou um
maço de papel.
— Eu desci para o café mais cedo e encontrei isto sobre a mesa! —
Ela ergueu o papel diante dos olhos de Thereza, tão perto como se quisesse
se certificar de que ela não perdesse nada do que quer que estivesse escrito
ali.
Demorou até que sua visão se ajustasse àquelas miúdas letrinhas do
que percebeu ser um jornal. Portanto, quando realmente conseguiu focar, a
primeira coisa que viu foi a coluna de fofoca como manchete principal, e
seu nome estava em destaque.
Sua pulsação acelerou enquanto lia a notícia.
Thereza não conseguiu alcançar a voz para protestar, pois seus olhos
se reviraram para cima e ela caiu em um desmaio.
***
***
***
***
Antony estava prestes a morrer, tinha certeza disso. Não era normal
a dor que estava sentindo em seu peito. Era como se alguém estivesse
atravessando a carne com as próprias mãos e apertando sem dó seu coração.
Ele colocou a mão aberta contra o peito e trincou os dentes com
força no mesmo instante que fechou os olhos e se encolheu na cama quando
a dor veio novamente. Diabos! Era sempre assim! Sempre que pensava em
Thereza... Sempre que a imagem dela pairava em sua mente, a dor
lancinante o percorria.
Nunca pensou em dizer uma coisa dessa, mas, perder sua mãe foi
difícil, muito difícil. Mas perder Thereza...
A dor veio novamente, e ele se encolheu.
Não era para estar sentindo tudo isso. Mas o problema é que fora um
tolo. Completamente um tolo. Agora sabia porque seu pai desprezava o
orgulho. Sempre que Antony mostrava algum sinal de orgulho próprio, seu
pai segurava firmemente em seus ombros e o chacoalhava dizendo: "Nunca
mais repita essa atitude na minha frente. Nunca mais aja com orgulho,
porque pessoas orgulhosas costumam perder tudo de bom na vida. Está me
entendendo, filho?".
Naquela época Antony não entendia, mas agora... Agora se pudesse
voltar atrás e pedir para que Thereza se explicasse... Ele nem dera chance. E
se tudo for mentira? As pessoas costumam aumentar mais que o necessário
nos jornais para vender mais.
A vontade dele era de se levantar dali e arrumar as malas para partir
para Londres, mas o orgulho ainda estava ali, percorrendo seu sistema
nervoso como um parasita. A verdade é que estava com medo de encarar
Thereza novamente. Olha só! Além de orgulhoso era um covarde, ainda por
cima! Antony não sabia com que cara chegaria lá para lhe pedir perdão.
Imagine só a fera que ela deve estar.
Ah, Deus... O que foi que eu fiz?
Passos e vozes ecoaram do corredor, e instantes depois a porta do
seu quarto estava sendo escancarada.
— Por favor, doutor, ali está ele, rápido! — dizia Evelina,
completamente histérica e nervosa. — Ele não para de dizer que está
morrendo. Doutor, faça algo!
Um senhor usando boina entrou no quarto. Ele rapidamente se
aproximou da cama e colocou sua maleta sobre a mesa de cabeceira,
abrindo-a em seguida, onde seus remédios e acessórios medicinais
repousavam. Evelina não parava de roer as unhas enquanto andava de um
lado para o outro sem tirar os olhos do irmão. Gregory a conteve.
Quando Antony gemeu de dor e se encolheu na cama, o senhor
médico se apressou ainda mais os movimentos, checando cada parte do
corpo do marquês.
— Está queimando de febre, milorde. — contou-lhe.
Ele pegou um pano dentro de sua maleta e o molhou na bacia,
depois se aproximou de Antony e colocou o pano úmido sobre sua testa, e
aquilo foi refrescante.
— O que é... isso... que... estou sentindo... doutor? — perguntou
Antony entre dentes cerrados.
O senhor soltou uma risada breve, como se estivesse zombando
dele.
— Pode nos dar um minuto a sós? — ele pediu educadamente a
Evelina e Gregory.
Antony percebeu que ela não gostou daquilo, e hesitou antes de sair
e fechar a porta atrás de si.
— Se eu não estivesse tão doente — comentou Antony com a mão
apertando o peito —, diria que o senhor está debochando de mim.
— Não. De jeito nenhum.
— Ah, não? Por que está rindo, então?
— Bem... — o doutor se senta na beirada da cama e encara o
marquês. — Peço perdão pela pergunta indelicada, milorde, mas... O senhor
perdeu alguém muito próximo ultimamente?
Antony o encarou.
— Sim, a minha mãe. — Não que ele não soubesse. A Inglaterra
inteira sabia.
O médico o olhou com os olhos cerrados.
— Mais alguém? Alguém que não tenha... O senhor sabe, falecido.
Antony o olhou desconfiado. Onde ele queria chegar com aquelas
perguntas?
— Onde o senhor quer chegar com isso? — perguntou a ele.
— É que já vi sintomas parecidos com esse antes, e todos tinham a
mesma coisa. Aquela doença que começa com P, que corre pelas veias
como fogo, deixando a pessoa tão inerte e em êxtase que ela acha que vai
morrer.
— O quê? – Antony arqueou as sobrancelhas. — Doutor, eu não
estou entendendo.
— Paixão. — o senhorzinho disse a palavra pausadamente. — Isso
mesmo, senhor marquês. O senhor perdeu alguém por quem está
apaixonado, não foi?
Antony arregalou os olhos, assustado. Estava tão óbvio assim?
— Quer o meu conselho, milorde? — continuou o doutor. — Vá
atrás dela. Seja ela quem for. É aquela moça que está sendo vítima das
calúnias de Lady HD, não é? Por favor, diga-me que não a mandou embora
porque acreditou nas palavras daquela mulher que só está em busca de
escândalo para aumentar seu orçamento. — ele fez uma pausa. — Ouça-me,
Lady HD só publica o que as pessoas querem ouvir. Tenho certeza de que
aquela coitada da Srta. Righter não fez um terço do que está escrito nas
páginas imundas daquele jornal. Por isso, se eu fosse você, levantaria dessa
cama, arrumaria as malas e partiria em busca da amada.
Cada palavra dita pelo doutor foi como um tapa na cara de Antony,
e cada tapa, uma verdade. E quando percebeu, não sentia mais nada. A dor
tinha passado. Isso porque decidira ir atrás de Thereza. No entanto, quando
foi se levantar, o médico o impediu.
— Hoje não, milorde. Ainda está indisposto. Sua febre não abaixou.
Vou lhe passar algumas ervas, e prometo que estará melhor até amanhã.
Então poderá partir.
E era o que Antony iria fazer. Ele amava Thereza demais para
imaginar uma vida sem ela. Por isso, ele venceria o orgulho e a pediria
perdão.
Depois que o doutor deixou o quarto, Antony ouviu uma gritaria
vinda do corredor. Era a voz inconfundível de Evelina, é claro. E ela parecia
uma fera com Gregory.
Eles adentraram o quarto como um furacão.
— Conte a ele. Conte agora, Gregory! — Evelina estava vermelha
como um tomate de tão furiosa.
O que Gregory tinha feito de tão grave assim?
O rapaz deu um passo à frente, muito nervoso e com a cabeça baixa.
— Lorde Hervey, eu... eu...
— Desembuche logo, Gregory! — ralhou sua irmã.
Então ele soltou tudo de uma vez, as palavras saindo desesperadas
de seus lábios como folhas ao vento. Por fim, quando ele terminou, Antony
decidiu que não poderia esperar até amanhã para ir atrás de Thereza.
Mas primeiro, precisava descontar sua raiva em alguém...
XVII
TODA A VERDADE
Thereza ainda estava encabulada com todo o relato de seu
irmão. Agora tudo fazia sentido!
A única coisa que ela ainda não entendia é porque a Lady HD tinha
tanto interesse em sua vida, já que Londres é cheia de damas que realmente
fazem coisas sujas.
E depois que Thomaz lhe contara tudo, ambos organizaram um
plano: eles partiriam no meio da noite até Suffolk para dizer a Antony que
tudo o que Lady HD publicou não passava de calúnias.
No começo, Thomaz a perguntou se valia mesmo a pena correr atrás
do marquês já que ele partira sem nem sequer ouvir a versão Thereza. Ela
titubeou, pensando que ele tinha razão. Mas resolveu que queria ir sim,
mais para ver a cara dele quando ela lhe dissesse a verdadeira identidade da
jornalista.
Com isso, eles partiram sem avisar os pais, por isso Thereza
escrevera um bilhete antes de sair dizendo a verdade para eles. Sabia que
quando Amélia e Oliver o lessem, ficariam perturbados de começo, mas
logo entenderiam. Afinal, Thomaz estava indo com ela como acompanhante
e testemunha.
Eles estavam dentro da carruagem agora, e as ruas do lado de fora
da janela estavam tão escuras que deixavam Thereza com medo, por isso
ela fechou as cortinas e respirou fundo, tentando acalmar a tremedeira de
raiva que atravessava o seu corpo.
Agora que sabia quem era Lady HD, ela nunca se sentira tão furiosa
em toda a sua vida. Nem mesmo Evelina foi capaz de deixá-la assim. Mas
essa HD teria o que merece. O plano que ela bolou com seu irmão para
destrui-la já estava guardado em sua mente, e não via a hora de colocá-lo
em ação.
Aos poucos o sono foi sugando-a, até que o cansaço dos últimos
dias a venceu e ela adormeceu com a cabeça sobre o ombro de Thomaz.
Horas depois, ela acordou assustada quando a carruagem passou
sobre um buraco que a jogou de lado, fazendo-a bater contra a janela.
— Ai! — gemeu.
De repente lembrou-se do porque estava dentro do veículo, o que
fez seu estômago dar voltas, e não soube se era de fome ou alguma
consequência do nervosismo que estava sentindo. Um nó em sua garganta a
estava deixando com vontade de chorar. Mas por quê? Era medo de que
Antony não acreditasse em nada e a mandaria de volta sem mais nem
menos, quando estava a caminho só para lhe encontrar?
Afinal, há quanto tempo estavam na estrada? Ela olhou para
Thomaz a fim de perguntar-lhe as horas, mas o mesmo tinha o pescoço
inclinado para cima e roncava muito, muito alto. Ela suspirou, frustrada e
ansiosa, e abriu um pouco a janela, o suficiente para ver que o sol já nascia
no horizonte, tão longe. Quando saíram de Londres, já estava bem tarde,
faltando poucas horas para amanhecer. O que dizia que faltava ainda
bastante tempo até a Ickworth House.
Ela estava prestes a fechar a cortina novamente para se recostar no
assento quando uma carruagem preta com entalhes em dourado passou a
toda velocidade.
Espera... Preta com entalhes em dourado?
Não podia ser...
Era a mesma carruagem que a buscara em sua casa naquele dia...
Thereza se empertigou, a agitação tomando conta de seu corpo. Ela
agitou os braços em desespero e nem se importou quando acertou a mão no
rosto de Thomaz, pois queria apenas que aquela carruagem parasse o mais
depressa possível. Ela bateu várias vezes no teto.
— Pare! Pare já este veículo! — gritava.
— Thereza, o que está havendo? Por que quer parar?
Ela não respondeu o irmão, muito menos esperou o veículo parar
por completo. Ainda em movimento, ela abriu a porta e saltou, desesperada.
Alguns metros à frente, a outra carruagem também tinha parado.
Quando a porta se abriu, Thereza sentiu-se ofegante de ansiedade.
Gregory saiu, e parecia diferente.
Antony desceu em seguida. E a primeira reação que veio à mente de
Thereza foi correr para seus braços enquanto gritava que tudo era mentira.
Mas então Evelina desceu, e a raiva a consumiu como nunca antes.
Com os dentes trincados e os olhos cerrados de puro ódio, Thereza
não pensou duas vezes em levantar as saias de seu vestido e partir em
direção à irmã do marquês.
Mas uma mão em seu braço a interrompeu.
— Thereza, espere. — Thomaz a virou para si. — O que pensa que
está fazendo?
— Solte-me, Thomaz — ela puxou o braço com força. — Estou
indo fazer o que eu deveria ter feito há muito tempo.
— Mas e o nosso plano?
— Que se dane! — falou em tom cortante, então virou-se
novamente e continuou caminhando.
Quase parou para apreciar Antony, que estava lindo parado no meio
daquela ruela de terra enquanto o vento que vinha da mata ao redor
bagunçava seus cabelos ruivos. Mas seus olhos se desviaram para Evelina,
que esperava por sua chegada ao lado do marquês com aquela feição
ingênua, como se fosse a pessoa mais santa da Grã-Bretanha. Uma olhadela
rápida para Gregory a fez se perguntar por que, dentre todos, era ele quem
parecia mais apreensivo.
Antony sorriu quando Thereza finalmente o alcançou, mas ela se
desviou, e com toda a raiva que ainda fervia seus nervos, inferiu um tapa no
rosto de Evelina, que soltou um arquejo de surpresa.
— Suja. É isto que você é, uma suja! — vociferou.
Só que uma coisa muito estranha aconteceu. Thereza já estava
preparada para os ataques de Evelina em seguida, mas ela apenas a encarou
com lágrimas encharcando o canto dos olhos enquanto massageava a
bochecha.
O quê? Por que ela não está me atacando?
— Creio que mereci isso. — ela disse apenas.
Perdão?
Thereza se recompôs. Certamente ela estava apenas se fazendo de
vítima.
— É claro que mereceu! — rugiu contra o rosto dela. — E merece
muito mais, sua... sua...
Ela avançou, prestes a dar uma lição naquela garota que tinha
passado dos limites. Mas Antony se pôs na frente, e Thereza bateu contra
seu peitoral duro como uma muralha.
— Christina, acalme-se! — ele a segurou pelos ombros, e ela quase
se deixou levar sob aquele toque.
— Quem é Christina? — perguntou Thomaz de repente.
Antony o ignorou, e baixou os olhos para Thereza de novo.
— Ouça-me. Sei que está furiosa com Evelina porque ela a estapeou
naquele dia em seu quarto e...
— Então acha que estou furiosa por causa disso? — estava difícil
manter a calma. — Francamente, Antony. Achei que fosse mais esperto que
isso.
— Está me chamando de burro?
— Se a carapuça serviu. — respondeu em tom condescendente, e
cruzou os braços.
Antony exalou fortemente o ar, depois disse:
— Preciso entender o que quer dizer com “Achei que fosse mais
esperto”.
— Bem, talvez porque você estivesse morando com Lady HD esse
tempo todo e não percebeu nada!
— Como é? Eu não moro com Lady HD coisa nenhuma!
— Como não, se Lady HD é Evelina? E HD significa Hervey
Devon, seu nome de casamento!
— O quê? — rugiram Evelina e Gregory ao mesmo tempo,
visivelmente horrorizados; o que foi muito estranho.
Thereza suspirou, exasperada.
— Estava bem na nossa frente esse tempo todo.
— Hum... Thereza... — Gregory deu um passo à frente. — Temo
que esteja errada.
— O quê? Gregory, eu tenho provas! — Não é possível que Gregory
ficaria do lado daquela víbora.
— Que provas? — Evelina perguntou, incrédula.
Thomaz então deu um passo à frente.
— Fui até a sede do Jornal de Londres, onde encontrei uma tal de
Srta. Quinn. A mesma moça que me contou que Lady HD é, na verdade,
Evelina, e que as siglas são nada mais que seu nome de casamento: Hervey
Devon.
— Por que a Srta. Quinn faria uma coisa dessa? — Evelina pareceu
triste de repente, o que fez Thereza sorrir.
— É melhor rever suas amizades, Lady HD.
— Isso... Isso é impossível! — Gregory deu outro passo à frente, e
pareceu mais nervoso que todos ali estavam, até mais que a própria
Thereza.
Só observando-o de perto assim foi que percebeu o que o fazia
parecer tão diferente naquele momento. Uma esfera roxo-esverdeada
tomava conta de toda a pele branca ao redor de seu olho esquerdo, como se
tivesse levado... Um soco? Quem faria uma coisa dessa?
— Para mim, é bastante possível que Evelina seja a megera da
jornalista. E contra provas não há argumentos! — disse Thereza, furiosa.
— É impossível Evelina ser Lady HD, Thereza. Por que minha mãe
é. — falou Gregory com a cabeça baixa, sendo assolado pela vermelhidão
que encheu seu rosto.
— O QUÊ?! — Thereza e Thomaz exclamaram em uníssono,
encabulados e horrorizados.
— Estava mais fácil de descobrir do que vocês imaginavam. —
Gregory continuou. — HD nada mais é que a sigla de seu nome: Hellen
Devon.
Thereza perdeu a fala, o ar... Tudo pareceu desmoronar diante de si.
Gregory disse que estava mais fácil de descobrir do que ela imaginava, mas
a verdade é que não estava. Em momento algum ela desconfiaria de lady
Devon, a mulher que considerou como sendo sua segunda mãe desde
sempre.
A raiva foi substituída por desapontamento e tristeza.
— Sinto muito, Thereza. Eu... Eu...
— Por quê? — não passou de um sussurro rouco por causa de um
nó que tomou conta de sua garganta. Ela engoliu em seco e tentou de novo:
— Por que ela fez isso, Gregory?
Ele respirou fundo, trêmulo, antes de responder:
— Lembra-se de eu lhe contar que estávamos falindo? Pois bem,
enquanto o meu casamento com Evelina não saía, e consequentemente seu
dote também não, minha mãe teve que arrumar outra forma de ganhar
dinheiro para sustentar nossa casa. Ela ganhou muito dinheiro não só
inventando coisas sobre você, mas de várias outras damas por aí. Minha
mãe pegava um fato e o retorcia para que se tornasse um escândalo. — uma
pausa. — A Srta. Quinn trabalhava para minha mãe, por isso mentira sobre
a verdadeira identidade de Lady HD. Eu queria acabar logo com isso, com
as mentiras, por isso pedi Evelina o adiantamento de nosso casamento. —
Quando terminou, lágrimas escorreram por seu rosto.
— E você sabia disso o tempo todo, não sabia?
Ele fez que sim.
— Eu ia lhe contar aquele dia na sala de música, mas não consegui.
— então ele começa a chorar feito uma criança, com soluços cortando a
garganta. — Eu sinto muito, Thereza. Sinto mesmo, eu não queria... — as
palavras se perderam em meio ao choro.
Thereza estava devastada.
— Entendeu agora o porquê do olho roxo? — Antony tinha se
aproximado, e agora a segurava pelos ombros quando percebeu que estava
prestes a desabar por causa das emoções que bagunçavam sua cabeça. —
Não consegui me conter quando ele me contou toda a verdade, sabendo que
poderia ter impedido todo esse transtorno.
— Eu fiquei com medo. — protestou Gregory em meio aos soluços.
— Thereza é como uma irmã para mim. Fiquei com medo de como ela me
julgaria.
— Um covarde, isso que você é! — Thomaz ralhou. — Minha
vontade é de lhe dar outro soco no olho.
— Foi por isso que nos encontramos aqui no meio do caminho. —
Antony continuou baixinho, como se somente os dois estivessem ali. — Eu
estava indo à sua casa para lhe pedir perdão pelo idiota que eu fui em deixá-
la sem ouvir a sua versão. Me odiarei pela eternidade por isso, pode ter
certeza. — ele colocou os dedos sob seu queixo e ergueu seu rosto. — Se
você não me perdoar sou capaz de...
Mas ele não terminou de falar porque Thereza ignorou todos à sua
volta e foi de encontro aos lábios do marquês, beijando-lhe com intensidade
e fulgor, porque o amava tanto que não conseguia imaginar uma vida sem
ele.
— Bem, acredito que isso tenha sido um sim. — ele disse quando
finalmente se desvencilharam.
Ela sorriu e o abraçou. Antony retribuiu o abraço, passando as
mãozorras pelas suas costas e apertando-lhe contra o peito imenso dele. Foi
ali que Thereza sentiu-se segura de verdade, onde sentiu que seria amada
acima de tudo.
De repente ouviu um baque, e quando se afastou de Antony viu
Gregory se erguer do chão. No seu olho direito, outro círculo roxo ganhava
forma onde Thomaz havia lhe inferido outro soco, enquanto Evelina
encarava horrorizada.
Por fim, Antony pegou seu rosto entre as mãos e disse:
— Vamos voltar para Londres para resolvermos toda essa bagunça.
Quero que lady Devon pague pelo que fez e, principalmente, casar-me com
você, Thereza Christina.
E a beijou novamente.
***
***
***
“Queridos leitores.
Venho através deste último texto lhes dizer que Lady HD não passa
de uma farsa, assim como todas as notícias por ela aqui publicadas.
Extremamente TODAS as notícias eram fatos retorcidos para virarem
escândalos. Com isso, estou dizendo que nenhuma das damas que foram
mencionadas aqui devem ser excluídas da sociedade, até porque tudo o que
fora dito sobre elas, tudo era mentira.
Querem a verdade? Todos que consumiam esta coluna deveriam ser
mais espertos e inteligentes e não acreditar em tudo que veem, ou melhor,
em tudo o que leem. Não é porque é um jornal famoso que tudo o que é
publicado aqui é verdade, porque não é. E eu, Lady HD, mais
precisamente, Hellen Devon, achei que vocês fossem mais espertos com
relação à identidade verdadeira da jornalista, pois a sigla HD nada mais é
que as iniciais de meu nome (mencionado acima).
Como Hellen Devon, estou decretando que Lady HD não existe
mais, e com ela a minha reputação também se vai.
Eu sei, é irônico. Logo eu, que tinha o dever de acabar com a
reputação de tantas damas, agora estou aqui escrevendo esta última coluna
acabando com a minha própria.
E sim, isto é um adeus.
FIM
AGRADECIMENTOS
Por mais que essa seja uma história relativamente curta, demorei
exatos dois anos para finalmente concluí-la. Comecei a escrevê-la em 2018,
onde sua primeira edição foi publicada no Wattpad. Foi gratificante, pois a
história cresceu muito, e o feedback que recebi foi imensurável! Mesmo os
críticos me ajudaram bastante, me fazendo perceber o que eu poderia
melhorar ou mudar para enriquecer a história. Quando ela ultrapassou os
100k de leituras, foi difícil acreditar, mas estava mesmo acontecendo, as
pessoas estavam gostando do que eu escrevia. Devo ressaltar que essa
versão não é a mesma que foi publicada lá.
Hoje, maio de 2020, estou a um passo de publicá-la em formato de
e-book, realizando um dos meus maiores sonhos. E não vou mentir, pensei
em desistir inúmeras vezes, pensando que a história não era boa o suficiente
e que ninguém iria comprá-la caso eu publicasse, mas acho que todo
escritor passa por essa paranoia.
Pela publicação devo todo agradecimento à Ana Luiza Dias, que se
não tivesse insistido tanto para ler uma de minhas histórias, eu nunca teria
tirado “De Repente, Marquesa” da gaveta. Eu não pensava em fazer a
publicação dela primeiro, mas a Ana me encheu de elogios e insistências.
Hoje ela é minha leitora beta!
Devo agradecer também à Larissa Rezende que lê tudo o que
escrevo. Ela está comigo desde a primeira história que escrevi, a mesma
que tenho uma pequena vergonha alheia sempre que a releio, mas foi parte
do meu processo de evolução de escrita. Obrigado Larissa, por ser uma das
poucas pessoas que sempre me incentivaram, e minha companheira de
leitura também! Ah, não vamos esquecer do k-pop hahaha... Passamos
horas falando.
Um muitíssimo obrigado à Maria Clara Santos, a mesma que está na
capa. Acreditem se quiser, mas a ideia de sair à procura de vestimentas,
fotos e locação para a capa, foi toda dela. Obrigado mesmo por ter topado
essa brincadeira comigo, foi muitíssimo divertido. Aproveitei cada
momento, e é uma coisa de que nunca irei esquecer, pois você me ajudou a
realizar um dos meus maiores sonhos.
Quero agradecer também ao Igor Chagas, um amigo que conheci
por causa do k-pop, mas que, apesar disso, é um designer talentosíssimo, e
foi ele quem editou a capa. Obrigado por essa obra de arte!
Por fim, quero agradecer a todos os meus leitores do Wattpad, eu
não estaria aqui se não fosse por vocês. Obrigado àqueles que
acompanharam desde o primeiro capítulo de “De Repente, Marquesa”!
Obrigado também àqueles que sempre acreditaram em mim e nas
minhas histórias, espero ter tocado vocês de alguma forma...
Enfim, MUITO OBRIGADO!
Table of Contents
I O PIOR BAILE DE DEBUTANTE DE TODOS OS TEMPOS
II SE ARREPENDIMENTO MATASSE...
III NÃO TINHA UMA COR FAVORITA ATÉ ENTÃO
IV O RUDETÍMIDO MARQUÊS
V CASAMENTO É COVENIÊNCIA, AMOR É SORTE
VI PEQUENAS ARANHAS CAUSAM GRANDES PROBLEMAS
VII SOMERSET
VIII UM PASSEIO COM DESEJOS
IX AMOR OU DESEJO?
X MÁ NOTÍCIA
XI DESEJO MISERÁVEL
XII CASAMENTO, ANSIEDADE, PERDÃO E TUDO O MAIS
XIII UM BELO DIA PARA CHRISTINA E O HOMEM MURALHA
XIV DUELOS SÃO PROIBIDOS
XV A PIOR DAS CALÚNIAS
XVI O PODER DA SEDUÇÃO
XVII TODA A VERDADE
XVIII A ÚLTIMA COLUNA
XIX CANÇÃO DE AMOR
EPÍLOGO