O Cristão E A Cultura
O Cristão E A Cultura
O Cristão E A Cultura
– Michael Horton –
“Não peço que os tires do mundo, e sim que os guardes do mal” (Jo 17.15)
Introdução
Para a Igreja medieval, a filosofia, a arte, a música e a ciência se confundiam tanto com a
religião que era impossível distinguitr uma da outra.
A pressão para justificar a arte, a ciência e a diversão em termos do seu valor espiritual ou
sua utilidade evangelística acaba prejudicando tanto o dom da criação quanto o dom do evangelho.
Reforma → A vocação passou a ser um dom da criação. Até mesmo os não cristãos, que
também portam a imagem de Deus, possuem esse chamado divino. A Reforma defendia uma
teologia que abarca o mundo; os temas bíblicos por ela recuperados trouxeram de volta ao povo de
Deus um sentido de pertencer a este mundo durante o tempo que Deus nos deu, mas no sentido de
estarem no mundo e não de serem do mundo.
A pressão para justificar a arte... faz com que a indústria cristã imite a arte comercializada do
entretenimento secular; isso banaliza tanto a arte quanto a religião. Há um erro no ato de criar
versões distintamente “cristãs” de tudo no mundo (ou seja, na criação);
“Cultura”: sentido mais amplo; tanto a cultura popular (esportes, política, ensino público,
música popular e diversões, etc.) como à alta cultura (horticultura, literatura, as artes e a ciência, a
música clássica, a ópera, etc.). Conceito → a atividade humana que tem como objetivo o uso, o
prazer e o enriquecimento da sociedade.
“igreja”: a igreja institucional onde a Palavra é pregada e os sacramentos administrados;
também, o organismo vivo fundado por Cristo;
“Só quero servir ao Senhor.” – Normalmente, nós consideramos a paixão por servir ao
Senhor como uma paixão por missões, evangelismo e envolvimento nas atividades e nos ministérios
da igreja institucional. Vamos repensar.
Ideia de Kuyper: “esfera de soberania”; ex: Transformamos as escolas por meio da política?
Na Escritura, encontramos as tarefas culturais como tendo sido dadas antes mesmo da
criação do governo, sendo este último necessário em razão da Queda.
Na política, ativistas cristãos e liberais seculares muitas vezes são mais parecidos do que
desejamos admitir. Eles parecem compartilhar uma dependência do Estado e da esfera política ou
judicial para resolver os problemas morais e espirituais da sociedade. Não seria melhor focalizar os
deveres dos pais no lar em vez de entregar a responsabilidade aos políticos?
Na arte: esperamos que haja utilidade social para o empreendimento. Deve ajudar o culto,
evangelismo, incentivar moralidade, patriotismo cívico, desenvolver caráter... Porém, a arte tem o
seu valor intrínseco. Rookmaker: a arte não precisa de justificativas.
Família: o lar ser uma pequena igreja ou pequeno seminário; Deus quer que pais assumam
plena responsabilidade por suas família; não devem culpar outras instituições e nem depender delas
para as condições do lar (ex: o estado, escolas, o mundo em geral);
O lar foi a primeira instituição da sociedade fundada por Deus; é o bercário da igreja → a
família é a única instituição social que é ao mesmo tempo secular e sagrada. (família de ateus não
são menos fundada por Deus; eles criam famílias não apenas pelo instinto biológico, mas, por cauda
da imagem de Deus que os faz criaturas que requerem comunhão).
O lar cristão é: uma instituição civil, arraigada na criação; e uma instituição sagrada,
arraigada na redenção;
Obs: a resposta final não está na política, na igreja ou no lar, mas em Deus;
– igreja: restauração da sua confiança no poder da Palavra
– família: restauração da sua confiança na importância do tempo de qualidade e na Escritura
– nação: restauração da sua confiança na missão secular de proteger seus cidadãos;
Cristo e a cultura
“Christ and Culture” (1951), de H. Richard Niebuhr (neo-ortodoxo alemão reformado);
classificou cinco abordagens diferentes:
2- O Cristo da cultura
na outra extremidade, Cristo existe como a encarnação da própria cultura; herança do
liberalismo protestante; o liberalismo alemão tentou tornar o cristianismo razoável para o
iluminismo que não cria mais nos milagres. Cristo era menos o Deus-homem e mais um moralista.
[rendem Jesus às suas agendas ideológicas, politizam-no] – Cristo é identificado com o que
os homens concebem como os seus mais altos ideais, suas instituições, sua melhor filosofia.
As Escrituras e a cultura
Pontos fracos da obra de Niebuhr: tende ao reducionismo; é simplista ao colocar
movimentos e indivíduos em categorias demarcadas; ex: a igeja romana representou diversos
movimentos – monges (cristo contra a cultura) e papas (cristo da cultura);
O que as Escrituras ensinam?
AT: há dois reinos; o reino e a cultura de Deus estão unidos enquanto a nação (israel)
espelha o reino de Deus; Israel quebra a aliança, é exilada, os reinos são divididos;
NT: os crentes colocam suas esperanças num reino melhor, celeste;
Obs: (a) evitar confundir reino de Deus com nação terrena (ex: israel); (b) evitar ver a
cidadania no céu como antítese e participação da cidadania na terra;
Cl 2.8
Tertuliano: “é a filosofia que fornece a bagagem intelectual para as heresias”; ao enfrentar o
gnosticismo, disse: “maldito Aristóteles, que ensinou-lhes a dialética, a arte que tanto destroi quanto
constroi”; Tertuliano estava lutando com gnósticos que exploravam esse método; isso fez com que
ele o abandonasse e usasse o texto bíblico para o combater (a dialétca); Tertuliano trovejou: “o que
tem Jerusalém a ver com Atenas, a igreja com o mundo acadêmico, o cristão com o herege?”... para
Tertuliano: “Depois de Jesus Cristo não temos necessidade de especulação, deopis do evangelho
não precisamos mais pesquisar.”
Do outro lado – Justino Mártir: procurou provar a superioridade intelectual e filosófica do
cristianismo; abriu a 1ª escola cristã em Roma; porém sua apreciação à razão o levou a aceitar
ingenuamente ideias seculares que minavam ensinos sobre pecado e graça, natureza da alma e a
criação. Dois lados: (1) Tertuliano: amor pelas Escrituras, cego para a graça comum, espécie de
alienação; (2) Justino Mártir: Boa apologética, mas elevou a razão, espécie de secularismo;
Ninguém jamais se levanta, hasteia uma bandeira e grita: Estamos permitindo que o mundo,
em vez da Palavra, determine o que cremos e como viveremos“; no entanto, é exatamente isso o que
acontece em cada período de declínio.
Se uma abertura para com a filosofia na religião sempre leva à perversão de ambos, por que
não simplesmente tampar os nossos ouvidos, ignorar o mundo e ler só a Bíblia? Por que perder
tempo com a sabedoria do mundo, se o risco é tão grande?
O valor da criação
A advertência bíblica é contra confundir coisas celestiais e terrenas, mas não é contra as
coisas terrenas (!!); o perigo está em confundir o que sempre deve ser distinto.
Não é que Paulo cresse que Platão e Aristóteles nada tinham dizer a respeito de qualquer
verdade ou valor, mas que, sempre que eles falavam de temas que a Bíblia falava, o que regeria
sempre o coração e a mente do cristão teria de ser a Escritura!
Problemas terrenos
a) cristãos que dizem sem compaixão que Jesus é a resposta pra todas as mazelas;
subestimam o problema e deixam de ser resposta;
b) acham que em razão da queda não existe nada ou quase nada bom e belo no mundo que
não seja especificamente cristão; assim temos a subcultura de acessórios cristãos;
Muito bom, ler → Institutas 2.2.15 (reconhecimento dos notáveis);
Esperanças celestiais
essa confusão entre coisas seculares e celestiais tmb subestima as coisas celestiais: o céu é
alto demais, portanto, em vez de encontrar Deus onde ele permite que o conheçamos (na revelação)
por meio da fé, tentamos trazê-lo para o nosso nível (na experiência) pela especulação.
Apologética
At 17 → Paulo edificou pontes de compreensão ao citar de memória a poesia e a prosa de
filósofos gregos seculares; Isso não foi confundir coisas terrenas (filosofia grega) com coisas
celestiais (Deus e a salvação), mas foi construir uma escada da terra para o céu usando a revelação
natural que os seus ouvintes possuíam; A revelação natural (verdade que havia na filosofia grega)
foi útil até certo ponto, depois, somente e revelação especial (Deus, condição humana, juizo e
salvação). Paulo entendeu e explorou a verdade da visão secular do mundo, mas julgou os erros a
partir da Escritura.
Os que desconhecem a força daquilo que faz parte da escravidão do incrédulo nunca saberão
como libertá-lo (!!!!)
toda pessoa possui uma perspectiva filosófica que influencia até mesmo sua maneira de ler a
Bíblia; seja de Sartre ou da TV, sofisticado, urbano, superficial, passageiro. É ingênuo pensar que
não somos afetados pelo contexto em que vivemos; Temos que trazer esses preconceitos de tempo e
lugar à tona, julgá-los pela Palavra, e reter aquilo que é bom.
Se sente culpado por gostar de um filme por sua arte ou atores ainda que reconheça que sua
msg seja errada?
Embora exista uma pocentagem respeitável de arte criada por cristãos através dos séculos,
nos dias atuais a interação dos crentes com as artes é desconfortável. Talvez não pelo utilitarismo
que destroi o impulso artístico, mas o pragmatismo do evangelismo e das atividades da igreja;
Será que um crente talentoso tem que escolher entre Cristo (dirigir cânticos de louvor) e o
mundo (cantar ópera)?
Antigamente: música da igreja era “alta arte” (ex: Bach) e músicas de qualidade; produzia-se
pela responsabilidade com a igreja, não com a indústria multimilionária da musica cristã;
Nos falta considerar a questão da beleza;
Muitos de nós que fomos criados no mundo evangélico atual, afogados no mar da
modernidade (marketing, psicologia, sentimentalismo melindroso, individualismo, etc.) nos
encontramos numa terra estranha quando o foco está nos atributos de Deus e nas verdades da
história redentora... cânticos refletem foco autobiográfico (centrado no homem) sobre mim e as
minhas experiências, minha decisão, minha obediência, minha felicidade.
Na arte, nós estamos novamente no âmbito da criação, não da redenção; da graça comum, e
não da salvadora; do secular, e não do sagrado. Contudo, tanto a criação, como o comum e o secular
têm a benção de Deus mesmo que não tenham utilidade na igreja ou nas missões evangelísticas.
Critérios artísticos:
Quais são os critérios bíblicos para se julgar a boa arte em contraposição à arte ruim?
Nenhum. Arte: mais ligada às impressões da imaginação do que aos argumentos e ao caráter
descritivo; diferente do cientista, o artista não presta contas da sua visão do universo;
ex: pinta mapa da cidade (objetivo e realista), essência da cidade (subjetivo, impressionista);
as Parábolas são como a segunda, transcende a linguagem puramente descritiva; e as parábolas de
Jesus são tão verdadeiras quanto suas declarações proposicionais;
[entra em hermenêutica histórico-gramatical e mergulha em comentar sobre – deixa o
assunto da arte de lado.]
→ expressões artísticas (seja um pouco de poesia, alegoria ou metáfora) muitas vezes
traduzem uma impressão ou destacam um ponto que explica mais claramente as coisas, de um modo
que uma proposta clara por vezes não consegue. No entanto, essas expressões não podem ser a base
na qual elaboramos a nossa teologia.
Obs: os artistas não receberam um mandato divino para serem lógicos, dedutivos ou
indutivos, realistas ou abstratos. O objetivo deles não é principalmente educar, evangelizar ou
exortar, mas entreter e provocar. (!!)
“Arte cristã”:
Existe tal coisa? Eram os grandes escritores e artistas de séculos passados, como Milton,
Bunyan, Handel e Rembrandt pioneiros da “literatura e arte cristã”, ou simplesmente cristãos que
criaram boa arte? Em qualquer curso secular de literatura que ainda aprecie os clássicos do
Ocidente, o número de escritores que professam ser cristãos é a maioria, mas as suas obras são
classificadas como “clássicos da literatura”;
Obs: Os cristãos devem sentir-se livres para apreciar e criar música popular, se esta for a sua
preferência, mas será que isso é aceitável no culto?
Não podemos permitir que o mundo dite como cantaremos ou falaremos na presença de
Deus. É Deus, e não os de fora da igreja, que nos dá o modelo de culto.
Cristãos reformados se arriscam a ser chamados de “mundanos” pelos mesmos que
permitiram que o mundo definisse a sua própria vida espiritual e a arte que produzem.
É por isso que a distinção entre “secular” e “sagrado” deve ser mantida. (!!!) A Reforma não
rejeitou essa distinção, mas rejeitou a hierarquia ligada a ela, como se uma fosse mais importante ou
espiritualmente aceitável a Deus.
Deus está envolvido em toda a vida e não se limita ao “religioso”. Deus está tão envolvido
com a criação quanto com a redenção. Interessado tanto no comum quanto no sagrado. (!!!)
Problema → Igreja Medieval: não só distinguia o sagrado e o comum, mas fazia com que
uma fossa boa e a outra má, de modo que eles pensavam que os cristãos mais espirituais eram os
que seguiam o “serviço cristão de tempo integral”, em vez de vocações “seculares” (comuns).
É pos isso que a arte e a religião requerem existência independente – não uma existência
sem relação ou isolada, massuma existência distinta. Quando os cristãos perdem a fé no poder da
Palavra, eles se voltam para as imagens, mas a expressão artística não é um caminho confiável para
Deus; (!!!)
“Ficção cristã”:
como devemos ver as tentativas de alguns escritores de produzir “ficção cristã”?
Corre-se o risco de não se ter nem boa teologia e nem boa literatura; a expressão artística
acaba tendo de ser justificada por uma mortal da história cristã; transforma o cristianismo em
moralismo e não no anúncio da redenção, e faz da literatura um sermao em vez de uma história.
Bom ex, Lewis: há grande forças nos arquétipos (ex: Aslan – Cristo) → os leitores podem
ter uma impressão mais forte do caráter de Deus e de seus modos de lidr com os seres humanos pela
leitura dessa ficção, que nunca mencionaa Deus, a igreja ou qualquer outra coisa explicitamente
cristã por nome. Como nas parábolas de Jesus, a ficção não precisa ser explicitamente cristã. (!)
Observe como cada uma das parábolas de nosso Senhor pode manter-se por si mesma como
história, e só são vistas como explicitamente cristãs quando ele as explica em termos de não ficção.
Obs: não significa que isso é um modelo regra; escrever ficção não explicitamente cristã,
mas que os personagens transmitam verdades cristãs; não. Podemos escrever contos de fadas ou
poesias que não deixa algo subententido sobre religião ou ser cristão, porque toda a realidade foi
criada por Deus, quer nós mencionamos ou não; quer os leitores creiam ou não.
Secular e sagrado
Ao distinguir entre “secular” e “sagrado”, não estaríamos voltando ao isolacionismo e
separatismo que diz haver um lugar certo para os cristãos aqui, mas não ali?
A Reforma libertou cristãos da dicotomia secular-sagrado: sim e não.
– sim: quebra do dualismo neoplatônico entre espírito e matéria; tudo para a glória de Deus;
– não: manteve-se a distinção entre “coisas celestiais” e “coisas terrenas”;
ex: varrer o chão não é uma atividade religiosa ou cristã, mas glorifica a Deus porque é
serviço e vocação para com o próximo, de alguém que leva em si a imagem de Deus. (!!!!)
Há a distinção clara na Bíblia entre o santo e o comum. Israel, não santa; Egito, Babilônia,
Pérsia, comuns; elas não eram separadas, ainda assim, alvos da graça comum, da revelação natural;
Não há nada de errado com arte que apele aos sentimentos e à imaginação, mas há muito de
errado com um culto motivado por sentimentos e imaginação. Portanto, a música para ser cantada
na igreja deve ser julgada por critérios diferentes daqueles pelos quais julgamos a arte comum.
Não há nada não espiritual sobre apreciar um concerto secular por simples prazer. Embora
não devamos ser ingênuos quanto às visões do mundo que formam a música secular, nem ignorar a
letra porque gostamos da música, não precisamos ser rigorosamente analíticos quanto à música.
Mas temos de ser rigorosamente analíticos quanto à música sacra. Porque ela não foi feita
simplesmente para o nosso entretenimento: é feita para adorar a Deus! Deve ser verificado a
integridade teológica;
A arte não é nem mundana e nem redentora, nem de baixa estirpe e nem divina. Por um lado
há a tendência de julgar tudo, inclusive a arte, por sua utilidade; por outro, a tendência de associar a
arte com o “espiritual”, como se trabalhar com ferro fosse menos espiritual simplesmente por sua
relação com a matéria.
Como um cristão poderá entender melhor a arte e ajudar outros a apreciá-la mais?
Donne não precisavar usar o nome de Deus para validar as suas poesias do mesmo modo
que Deus não precisa estampar o seu nome nas árvores, nas pedras, nas montanhas, nos vales e nas
criaturas para validá-los (!!!!!)
A religião da ciência:
Como Polkinghorne, Jaki e outros argumentam, a ciência moderna não poderia ter nascido
num país hindu ou budista, porque a essas religiões falta a crença na compreensibilidade do mundo.
Um mundo de puro encantamento e pluralidade politeísta não pode oferecer um berço para
conceitos tais como leis da natureza, da lógica e da razão.
Kaiser: “E oposição aos apoiadores da autoridade papal, os reformadores enfatizavam a
ordenação divina dos leigos cristãos nas questões seculares como o governo civil e as artes
mecânicas” (Creation and the History of Science, Grand Rapids: Eeerdmans, 1991, p.12).
À medida que a Reforma libertou os leigos para chamados seculares e buscas artísticas e
filosóficas não especificamente relacionadas com a igreja e nem medidas por suas aplicações
espirituais e morais, ela forneceu também um espírito crítico e aberto para o florescimento das
ciências.
A ênfase de Calvino sobre a providência divina – foi tmb estímulo para a procura por
padrões e leis. Deus não é só responsável pela salvação e pelo avanço do reino de Cristo, mas ele é
também responsável pela rotação dos planetas.
A divisão
O que acontece quando a ciência e a Escritura parecem contradizer-se; lembrando que Deus
é o autor de ambos, e que seres humanos imperfeitos podem interpretar de moro errado qualquer
dos dois;
Os Dois Reinos → o reino da natureza era acessível por meio das artes e das ciências com
base na razão e na observação humana; o reino de Deus era acessível por meio do perdão dos
pecados com base no ensino da Escritura. Em última instância, os dois se uniam em Deus: um
baseado em todas as suas obras, o outro baseado na sua palavra.
O protestantismo contribuiu para o surgimento da ciência com uma visão da cultura e da
atividade humana como sendo de serviço ao próximo.
O evidencialismo
diz que a realidade é conhecível e que se deve tomar decisões sobre a verdade do mesmo
modo que se tomam decisões sobre os mínimos detalhes da vida cotidiana
[apologética de Princeton – B.B. Warfield e os Hodges / precursor: John Warwick
Montgomery] → argumentou que o melhor modelo para a apologética cristã é o do tribunal de
justiça.
Recuperação espiritual
Por vezes, temos uma visão deísta, ao pensar que quando pernas são alongadas ou mortos
são ressuscitados, Deus está operando, mas quando se trata das obras normais da vida cotidiana,
Deus não está envolvido;
Devemos recuperar a nossa paixão pelo mundo material da criação de Deus;
Devemos recobrar uma apreciação pela relativa autonomia da natureza;
Falar onde Deus falou e permanecer calado – ou permitir que a revelação natural fale – onde
deus não falou nas Escrituras é uma grande arte que precisamos reaprender.
O problema do pietismo:
o pietismo tende a criar um “gueto cristão” que a Reforma tentou desfazer;
chegamos ao ponto de possuir nossas próprias estações de rádio e televisão, cinemas,
programas de entrevistas, cruzeiros, estrelas de rock, divertimentos e outros apetrechos do
hedonismo moderno, sem ter que nos preocupar com deixar o gueto. Chamamos isso de
evangelismo, e talvez até intencionássemos que fosse evangelismo, mas acabou criando apenas uma
igreja que é do mundo, mas não está no mundo.
Julgamos a nossa saúde espiritual em termos de grupos de células, estudos bíblicos, círculos
de oração, etc, e concluimos que somos bastante vigorosos. Porém, o cristianismo bíblico deve nos
levar a padrões diferentes de julgar a saúde: a Palavra está sendo pregada? Sacramentos
corretamente administrados? Prática da disciplina e boa ordem na igreja? Se essas perguntas não
podem ser respondidas com confiança, não há saúde, não importa o ativismo desenfreado dentro do
gueto.
Visão “pietista” de gueto → chamar o crente para fora do mundo e para dentro de atividades
relacionadas com a igreja;
Visão bíblica → chamar o crente para fora da igreja e para dentro do mundo;
Não devemos fazer que as pessoas que trabalham diligentemente na sua vocação
desenvolvam um sentimento de culpa porque não conseguem estar presentes a todas as atividades
relacionadas com a igreja, ou por não se oferecerem para as tarefas ligadas à igreja. É a igreja que
serve ao cristão para que o cristão possa servir a Deus dentro do mundo.
Um cristão não vai ao trabalho na segunda-feira de manhã apenas para converter pessoas a
Cristo; ele vai para seguir a sua vocação, a qual foi ele designado pelo Criador divino.
Se alguém tem essa perspectiva vertical e vê o seu trabalho como um serviço a Deus e ao
próximo, até mesmo as tarefas mais simples ganham significado.
Calvino: olhar para a sua vocação (Institutas, 3.11.6)
Por vezes, somos tomados de tal maneira pelas consequências da Queda para a alienação
pessoal de Deus que ignoramos os diversos efeitos cósmicos relatados em Gênesis. A maldição pela
transgressão de Adão veio não apenas sobre o relacionamento humano-divino, mas sobre a terra,
sobre o nascimento de filhos, sobre a vida diária no mundo. Este mundo não era mais uma grande
catedral da bênção divina; tornou-se campo de batalha para a guerra civil entre os construtores da
cidade de Deus e aqueles que desejam construir cidades para si neste mundo.
Graça comum: Deus, sendo justo, pode ser longânimo para com o mal no coração de seus
próprios filhos e a rebeldia dos incrédulos; quanto mais nós, sendo injustos, deveremos suportat a
incredullidade e a maldade de nossos vizinhos e colegas de trabalho. → isso não significa omissão,
mas que podemos trabalhar lado a lado com aqueles que não compartilham da nossa crença,
convicção, atitute ou visão do mundo. (!!!)
[história excelente!!]
Um dia, um senhor caminhava e passou por um lugar em que havia uma construção em
andamento. Ele perguntou aos trabalhadores: “O que estão fazendo?” Um disse: “Estou quebrando
pedras da pedreira”. Outro respondeu: “Sou responsável por fazer a argamassa que juntará as
pedras”. Um terceiro homemm, coberto de lama, empurrava o carrinho de mão, e parou apenas o
tempo para dizer com prazer e orgulho: “Estou construindo uma catedral”.
O que estamos fazendo com a nossa vida? Trabalhando pelo final de semana ou construindo
uma catedral? Os três homens estavam envolvidos na mesma obra, mas somente um tinha em vista
o grande quadro.
Longe da perspectiva transcendente (divina, vertical, teológica), vemos apenas os detalhes
da rotina diária: eu registro informações de contabilidade, eu limpo a casa, eu julgo casos no
tribunal, eu digito a correspondência e dou telefonemas para outras pessoas, e assim por diante.
Porém, quando começamos a assinar as composições das nossas músicas do dia a dia com o “Soli
Deo Gloria” como fez Bach, até mesmo o trabalho mais enfadonho ou corriqueiro torna-se divino.
Séc 20 viu algumas das brutalidades mais selvagens e o mal mais baixo de toda a história da
humanidade. Duas guerras mundiais, terrorismo internacional na forma de totalitarismo e facismo,
individualismo egoísta, nacionalismo e o “desejo de poder”. Não podemos descartar a coincidência
entre essas tendências na História mundial e uma aberta rejeição de Deus.
Nos anos 60, os jovens não se rebelaram contra o cristianismo de per si, mas contra a
modernidade. Eles reagiram contra as igrejas na mesma extensão em que elas refletiam e defendiam
as estruturas da modernidade.
O nosso acervo de imagens nos leva a concluir que a rebeldia daquele tempo era o problema,
em vez de um sintoma. (!!!)
Modernidade O que é?
A crença no progesso → na Renascença (sécs 14-16) os novos intelectuais estavam ansiosos
por voltar a uma suposta “era dourada” da civilização, localizada na antiga Grécia e Roma.
Convencidos de que viviam num período estéril de dogmatismo eclesiástico, cunharam a expressão
“era das trevas”;
monge da idade média, Joaquim di Fiore: era do Pai (AT), era do Filho (NT), era do Espírto
iria chegar: religiões se uniriam, fraternidade e unidade espiritual. Na renascença essa ideia atraiu
Petrarca, um neoplatônico: a própria História estava se movendo para além da existência material
(igreja, sacramentos Bíblia, credo, doutrina) e entrando numa era espiritual. Ex: os anabatistas da
Reforma adotaram essa abordagem esperando a descida iminente do ES para levar o mundo a um
estado de paz perfeita e santidade. Na verdade, uma seita anabatista radical tentou introduzir essa
Era do Espírito pela força, tomando posse da cidade alemã de Munster;
Hegel (1770-1831): promulgou essa visão da História numa filosofia de panteísmo (tudo é
Deus); a História era o progresso em direção a esse estado perfeito de puro espírito; [misticismo
panteísta + racionalismo rigoroso] → dialética hegeliana: a História em espiral em direção à
perfeição espiritual por meio de tese, antítese e síntese.
Marx (1818-83): Hegel, seu pai filosófico, e os revolucionários anabatistas, seus
precursores; o “secularismo espiritual” levaria à esperada utopia. Ex: feudalismo da idade média
(tese), revolução dos camponeses no séc 16 (antítese), um passo mais próximo da utopia (síntese);
O estado perfeito não era alcançado por meio de uma linha direta, mas mediante os ziguezagues das
sucessivas reações e contrarreações.
Obs: Hegel foi tanto o “pai” [ou avô] do capitalismo quanto do comunismo, porque Adam
Smith (a riqueza das nações), tão instrumental no surgimento do capitalismo industrial, dependia
também da visão hegeliana do progresso histórico. → essa visão inspirou:
– John Dewey, pai da educação moderna;
– Sigmund Freud, “pai” da psicologia;
– Friederich Schleiermacher, pai da teologia liberalista moderna;
Essa ideia do progresso finalmente levou cientístas e filósofoa a divorciar suas disciplinas
das “superstições” e dos “dogmas” da fé, promulgando a noção de ser homem ou mulher de fé era
ser “retrógrado”, enquanto a visão científica (ou seja, naturalista) caminhava ombro a ombro com o
progresso. Ex: Darwin foi filho da sua era hegeliana ao explicar a história natural em termos de
progresso evolucionário.
Obs: resumo reducionista; não foi Hegel sozinho quem arquitetou a modernidade e sua visão
de progresso, mas era um dogma universal do Iluminismo;
Obs: além das tendências intelectuais, havia a notável explosão da tecnologia. A Revolução
Industrrial, a tecnologia deu forma material ao espírito do progresso, os progressos na ciência,
medicina, educação, política, etc, alcançariam a utopia. O advento da utopia justificava atá a morte
de milhões que impediam o caminho dos “iluminados” [era apenas uma antítese, um mal necessário
para se chegar ao fim esperado].
A razão universal
David Hume (1711-76), empirista britânico: o que não pudesse ser observado não poderia
ser considerado “conhecimento”.
– Racionalistas: é verdadeiro quando se conforma com a razão;
– Empiristas: é verdadeiro quando se conforma com a experiência e a observação universais.
Como milagres não fazem parte dessa experiência/observação universal, tinham de ser
eliminados; universo, apenas leis naturais. Ex: ressurreição de Cristo é eliminada.
Immanuel Kant (1724-1804): reduziu o campo do racionalismo; a razão existe na mente de
cada pessoa e isso leva a conclusões a respeito do mnundo. Kant tentou combinar o racionalismo
com o empirismod e Hume. Portanto, a fé: campo numenal (espiritual) que não pdoe ser
demonstrado à razão ou à observação; a ciência e a filosofia: campo fenomenal, que pode ser
demonstrado.
[assim, somente o que podeia ser demonstrado pela religião, podia ser considerado] →
resultado: Kant, criado no pietismo, reduziu o âmbito da religião racional à moralidade. (!!!)
Todo o projeto iluminista se dedicou a construir uma torre de progresso que alcançasse os
céus; um espiritualismo secular, uma religião naturalista de realizações humanas com pouco ou
nenhum espaço para Deus; dogma do progresso inevitável; a onipotência da razão humana.
Philipp Jakob Spener, pai do pietismo; preocupação com a doutrina e com a prática de vida
cristã; Hoje, “pietismo” tem a conotação de uma piedade interior que ignora o mundo, a não ser
como objeto de evangelismo e missões.
Na época da prória Reforma, os reformadores enfrentavam os abusos da igreja católica
romana, como também os excessos dos anabatistas, que queriam separar-se totalmente do mundo.
A Escritura nos ensina que há dois perigos que devemos evitar: o separatismo e o
secularismo. [Como já visto desde muito tempo] → Justino Mártir: via o cristianismo
principalmente como um sistema filosófico e incorporou a ele ideias gregas incompatíveis;
ertuliano: insistia que o cristianismo e a Filosofia eram de tal maneira opostos.
(!!!) Estar no mundo, portanto, significa que os cristãos e não cristãos trabalham lado a lado,
ambos possuindo a imagem divina e igualmente capazes de virtudes civis, criatividade, prazer, dor,
sucesso, fracasso, sabedoria e bondade. Nosso interesse artístico e criativo ou acadêmico não tem
que ter cunho evangelístico ou eclesiástico para justificar o nosso tempo e investimento nesses
afazeres.
Estar no mundo, mas não ser do mundo requer que conheçamos a fé cristã o bastante para
reconhecer quando estamos permitindo que definições, atitudes, percepções e modelos seculares
formem a nossa crença e expressão.
(!!) Temo que, como às vezes não apreciamos suficientemente a nossa permanente
pecaminosidade mesmo como cristãos, não levemos suficientemente a sério a imagem de Deus nos
não cristãos.
Gn 11 → o propósito dessa metrópole era criar uma torre tão alta que se houvesse um novo
dilúvio eles não seriam atingidos. Em vez de confiar na promessa de Deus de não mais julgar o
mundo por meio de um dilúvio universal, com o arco-íris como sacramento, esses arquitetos da
civilização tomaram em suas próprias mãos a salvação e construíram uma cidade com o propósito
expresso de redimir os seus habitantes. Em vez de confiarem na promessa, procuraram salvar a si
mesmos pela tecnologia de suas próprias mãos.
(!) Pela criação, estamos envolvidos numa tarefa comum, unidos por experiências comuns, e
ligados por laços comuns com os incrédulos. Isso quer dizer que não devemos ver o mundo como
alienado por ser ele “o mundo”, mas porque atualmente ele está em rebelião contra Deus.
At 2 → Assim como Dus desceu em juízo sobre a salvação secular da torre de Babel,
confundindo as línguas e dividindo as nações, no Pentecostes ele desceu em salvação sobre a igreja,
permitindo a cada homem e mulher que veio das nações longínquas da terra para festa em
Jerusalém, que ouvisse o evangelho na sua própria língua nativa. Era um sinal do reino espiritual
que já cgegara em Cristo e aguarda a sua consumação quando a cidade do homem mais uma vez
tornar-se sagrada, a cidade de Deus.
Obs: José e Daniel são bons exemplos de cristãos no governo secular, mas eles não
procuraram transformar seus respectivos cargos em catalizadores para transformar os reinos do
mundo em teocracias bíblicas como Israel fora. Simplesmente seguiram a sua vocação no mundo
com excelência e diligência.
(!!!) Os crentes são santos porque pertencem a Cristo, mas o ambiente ao qual foram
chamados é comum. (!!!) Espera-se deles que sejam diferentes na sua crença, na sua atitude e no
seu estilo de vida, mas não se espera dos crentes que convertam o ambiente secular num espaço
sagrado.
(!!!) Quando tomavam decisões no tribunal, José e Daniel tinham de basear seus
julgamentos nas leis egípcias e babilônicas, não sobre a lei hebraica, e conquanto não pudessem
endossar nada que violasse a Palavra de Deus, e nem participar de nada disso;
(!!) “Toda a vida é sagrada”, “toda atividade é atividade do Reino” – isso era verdadeiro no
Éden. Em Jesus: “meu reino é de outro lugar. Não é mais deste mundo”. (!!!) Toda a vida não é
sagrada, mas aquilo que é simplesmente comum (ou seja, “secular”) tem o seu valor e a sua honra
por ser parte da criação de Deus. Ele é o Senhor tanto do secular como do sagrado.
Reconstruindo os fundamentos
(!!!) Sociólogo Wade Clark Roof: os norte-americanos gostam de “espiritualidade” mas não
de “religião”; gostam de formar deuses de sua própria experiência; enxergam a religião como
exigindo determinado credo e conjunto de dogmas, juntamente com um código moral de
expectativas divinas. Democráticos até o âmago, resistimos quando nos dizem no que crer e como
viver – até mesmo quando é Deus quem fala. (!!!)
Os oficiais da igreja são dados não para construir igrejas maiores com uma série de
programas impressionantes e “celebrações” empolgantes, mas → EF 4.12-14 (aperfeiçoamento dos
santos para edificação do corpo).
A História tem provado, repetidas vezes, que a prática da igreja, em qualquer época, não é
melhor do que a sua teoria. (Geralmente a sua prática está aquém da sua teoria.)
Quando alguém perde as suas chaves, o conselho mais comum é retraçar os próprios passos.
O mesmo é válido quando a igreja perdeu a sua direção, como nos dias de hoje.
Antes de recuperar a cultura, temos de recuperar a pureza da doutrina e da vida que sempre
teve influência transformadora no mundo. Temos de parar de nos acomodar à cultura a que opomos
e começar a transformá-la.
A Reforma não começou para mudar a cultura, [mas em grande parte o fez]. Muitos
movimentos cristãos hoje se formam com este intuito, mas acabam sendo transformados pela
cultura porque as suas raízes são por demais superficiais.