CALCULO CREDITO CARBONO Dissertação - Luiz - Henrique - Sobrinho
CALCULO CREDITO CARBONO Dissertação - Luiz - Henrique - Sobrinho
CALCULO CREDITO CARBONO Dissertação - Luiz - Henrique - Sobrinho
Rio de Janeiro
Março de 2021
ESTUDO PARA APLICAÇÃO DA TECNOLOGIA DE APROVEITAMENTO
ENERGÉTICO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS: UM ESTUDO DE CASO PARA
O MUNICÍPIO DE MAGÉ/RJ
MARÇO DE 2021
Silva Sobrinho, Luiz Henrique Rodrigues da
2.
iii
Dedico esta dissertação aos meus pais, por sempre acreditarem em meu potencial e
ensinarem que o estudo é a maior ferramenta no alcance do sucesso. Ao meus amigos
e família, pelo companheirismo e por me fazerem acreditar que essa conquista seria
possível.
iv
Agradeço a Deus por me manter forte, saudável e com fé mesmos nos momentos mais
difíceis.
A minha mãe, Suelene Rodrigues da Silva, por me fazer acreditar que sou capaz de
conquistar todos os meus sonhos e que nesta vida terrena devemos reproduzir valores
e produzir conhecimentos para evolução do espirito, cultivando sempre a caridade e o
amor ao próximo. Ao meu pai, Claronildo Patta do Nascimento, por me transmitir os
valores que moldam o caráter de um homem integro e honesto, além da disciplina
necessária para alcance dos objetivos da vida.
Agradeço ao meu orientador, Amaro Olímpio Pereira Junior, por me guiar de forma
tranquila e solicita no andamento deste trabalho, me mostrando de forma clara e objetiva
os caminhos possíveis para a elaboração de um trabalho coeso e eficaz no alcance dos
objetivos propostos.
E por fim, aos meus grandes amigos, companheiros nos momentos de alegria,
dificuldades e lazer, que sempre acreditaram no meu potencial e que me transmitem as
palavras mais sinceras de motivação nos momentos mais difíceis.
v
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)
Março/2021
vi
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)
March/2021
In the face of the common problems in the urban centers related to the proper
management of urban solid waste, in addiction to the increasing energetic demand in
the country, that involve technical, economic, social and environmental issues,
alternative technological solutions aims to contribute positively in direction towards
achieving the objectives and directives established in the current regulations that
address these matters, in the national and international scale.
In this respect, the work aims to assess the conventional incineration, gasification
and pyrolysis processes, three distinctive forms of solid waste treatment applied in
waste-to-energy plants, to determine which is the most suitable, considering economic
and environmental aspects, for the application of a case study to implement the
technology as an alternative to solid waste management in the city of Magé/RJ.
The results show that the option could be attractive to an economic and
environmental point of view. However, the viability is strongly dependent of factors that
present strong volatility and seasonality. The inclusion of a pre-treatment process in the
energy production showed to be fundamental for the technical and economic viability of
the project.
vii
SUMÁRIO
1 Introdução ............................................................................................................................ 1
1.1 Motivação e Objetivo Geral....................................................................................... 1
1.2 Estrutura do Trabalho ................................................................................................ 4
2 Revisão Bibliográfica.......................................................................................................... 5
2.1 Resíduos Sólidos Urbanos ....................................................................................... 5
2.1.1 Definição e Caracterização ............................................................................... 5
2.1.2 Marco Legal ......................................................................................................... 7
2.1.3 Panorama dos RSU no Brasil ......................................................................... 12
2.1.4 RSU na cidade de Magé ................................................................................. 15
2.2 Aproveitamento Energético de Resíduos ............................................................. 19
2.2.1 Tecnologias de recuperação energética ....................................................... 26
2.2.2 Estado da arte no Brasil e no mundo ............................................................ 47
2.2.3 Impactos Ambientais ........................................................................................ 49
3 Metodologia ....................................................................................................................... 53
3.1 Parâmetros de cálculo ............................................................................................. 54
3.1.1 Projeção Populacional ..................................................................................... 54
3.1.2 Geração média per capita de RSU na área de estudo ............................... 56
3.1.3 Estimativa do potencial de produção de eletricidade ................................. 56
3.1.4 Estimativa de receitas ...................................................................................... 57
3.1.5 Premissas de cálculo ....................................................................................... 63
3.2 Análise dos indicadores de viabilidade econômica ............................................. 66
4 Estudo de Caso ................................................................................................................ 68
4.1 Seleção da Localidade ............................................................................................ 68
4.2 Limitações do Método .............................................................................................. 70
4.3 Seleção da Tecnologia Aplicada ............................................................................ 71
4.4 Coleta e Tratamento de Dados .............................................................................. 74
5 Resultados e Discussão .................................................................................................. 75
5.1 Dados de entrada ..................................................................................................... 75
5.1.1 Geração de RSU .............................................................................................. 75
5.1.2 Potencial de geração de eletricidade ............................................................ 78
5.1.3 Estimativa de Receitas .................................................................................... 79
5.2 Indicadores de viabilidade econômica – TIR e VPL ........................................... 81
6 Conclusão .......................................................................................................................... 86
viii
6.1 Sugestões para Trabalhos Futuros ....................................................................... 90
7 Referências Bibliográficas ............................................................................................... 91
8 Anexos ............................................................................................................................... 97
ANEXO A – Resultados do Fluxo de Caixa para o Estudo Proposto .......................... 97
ix
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Destinação final de RSU, por tipo de destinação. Fonte: ABRELPE (2019). 12
Figura 2: Geração de RSU no Brasil. Fonte: ABRELPE, 2019. 13
Figura 3: Coleta de RSU no Brasil. Fonte: ABRELPE, 2019. 13
Figura 4: localização do município de Magé. Fonte: Magé, 2015a. 16
Figura 5: Croqui da área do CTR Bongaba. Fonte: Magé, 2015. 18
Figura 6: visão geral do papel do tratamento térmico no manejo de resíduos. Fonte:
Stantec, 2011. 21
Figura 7: visão geral das tecnologias de aproveitamento energético. Fonte: Stantec,
2011. 22
Figura 8: divisão do processo de conversão térmica de resíduos com base na
concentração de oxigênio utilizada. Fonte, Stantec, 2011. 24
Figura 9: fluxograma esquemático do sistema de incineração convencional. Fonte:
elaboração própria. 28
Figura 10: visão geral de uma usina de incineração convencional em estágio simples
(CNI, 2019). 29
Figura 11: visão geral de um incinerador de duplo estágio. Fonte (adaptado.
STANTEC, 2011). 31
Figura 12: visão geral de um incinerador de leito fluidizado. Adaptado, STANTEC
(2011). 33
Figura 13: representação esquemática de configurações das plantas de recuperação
energética com base em gaseificação. Adaptado de Arena (2012). 37
Figura 14: reator de leito fluidizado circulante. Fonte: Machado, 2015. 41
Figura 15: esquema de uma planta de conversão de energia de micro pirólise. Extraído
de Maria (2004). 46
Figura 16: localização das plantas WtE no mundo. Fonte: CNI, 2019. 48
Figura 17: Projeção populacional. Dados medidos e estimados. Elaboração própria. 76
Figura 18: População estimada pelo método de análise de regressão. 77
x
LISTA DE TABELAS
xi
1 Introdução
Uma abordagem que envolva um estudo detalhado sobre a gestão dos resíduos sólidos
urbanos (RSU), no Brasil demanda uma análise de caráter multidimensional,
envolvendo questões sociais, econômicas, ambientais e culturais. Uma profunda
discussão relacionada à gestão dos resíduos sólidos gerados nos centros urbanos, num
primeiro momento tido como um material não aproveitável pela sociedade englobam
desde o estudo de tecnologias apropriadas a sua correta forma de manejo e destinação
final, a questões relacionadas ao próprio padrão de consumo da sociedade, seus
hábitos, práticas e percepções a respeito do tema.
O termo resíduo engloba diversos artefatos utilizados pelo homem que tenham perdido
sua utilidade para cumprir o fim a que foram destinados inicialmente (EPE, 2014).
Segundo Henriques (2004), sob sua percepção lixo é todo e qualquer resíduo resultante
das atividades diárias do homem na sociedade e, segundo Machado (2015), a geração
destes resíduos é consequência de grande parte das atividades realizadas pelo homem,
frutos dos avanços tecnológicos, do crescimento populacional e do próprio padrão de
consumo da sociedade.
1
Caso o resíduo sólido urbano não tenha um tratamento adequado, poderá acarretar
sérios danos ao meio ambiente, entre eles a poluição do solo, alterando suas
características físico-químicas que representará uma séria ameaça à saúde pública
tornando este ambiente propício ao desenvolvimento de transmissores de doenças,
além da contaminação às águas subterrâneas e do ar (Ladeira, 2013).
Diante disto, se faz necessário então que sejam desenvolvidas práticas relacionadas à
gestão dos RSU gerados nos grandes centros que possibilitem a adoção de técnicas
apropriadas e direcionadas à redução destes danos causados.
Embora ainda seja prática comum no Brasil a destinação do lixo gerado nos centros
urbanos para aterros sanitários e lixões, o crescimento da pressão sobre a necessidade
do estabelecimento de novas áreas adequadas para operação de novos aterros e os
conhecidos impactos adversos oriundos da sua implantação, como a contaminação do
solo, do lençol freático, a emissão de Gases do Efeito Estuda – GEE, dentre outros, cria
a necessidade de aprofundamento sobre novos métodos alternativos de destinação final
do lixo urbano, capazes de se adequar aos objetivos relacionados ao desenvolvimento
sustentável e a manutenção do bem-estar e saúde da população.
1Disponível em:
https://ghgprotocol.org/sites/default/files/standards_supporting/Global%20Warming%20Potential.pdf. Acesso em:
24/11/2020, às 10:30.
2
algumas destas práticas, como a reciclagem e a recuperação energética, por exemplo,
permitem a produção e a exploração de produtos oriundos de uma fonte antes vista
como algo sem utilidade para a sociedade. Somado a isto, destaca-se o estimulo a
criação de emprego e renda e a qualificação de mão-de-obra oriunda das atividades
relacionadas a tais práticas.
3
respeito do assunto, buscou-se determinar, dentre três rotas tecnológicas para o
tratamento através do aproveitamento energético de resíduos (incineração, gaseificação
e pirólise), aquela que se adequaria a elaboração de uma análise financeira de aplicação
de uma URE no município de Magé-RJ, situado na região metropolitana do Rio de
Janeiro.
4
O quarto capítulo aborda o estudo de caso e os resultados oriundos da análise das
tecnologias e da aplicação da metodologia empregada. Nele, é abordada a seleção da
localidade, as limitações encontradas na aplicação do método e o processo de coleta e
tratamento de dados.
Além disso, no quinto caítulo, os resultados são avaliados apresentando uma análise a
respeito da conformidade dos resultados obtidos com o referencial teórico considerado
no estudo. Esta parte do trabalho também apresenta uma discussão acerca dos
resultados obtidos, avaliando-os sob a perspectiva dos questionamentos que
fundamentaram a elaboração do estudo, além de uma análise acerca dos indicadores
econômicos considerados.
2 Revisão Bibliográfica
Segundo a lei que trata das diretrizes, objetivos, princípios e instrumentos relacionados
à gestão integrada e o gerenciamento de resíduos sólidos no Brasil (Lei 12.305/2010 –
Política Nacional de Resíduos Sólidos), estes são definidos como “material, substância,
objeto ou bem descartado resultante de atividades humanas em sociedade, a cuja
destinação final se procede, se propõe proceder ou se está obrigado a proceder, nos
estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em recipientes e líquidos cujas
particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de esgotos ou em
5
corpos d’água, ou exijam para isso soluções técnicas ou economicamente inviáveis em
face da melhor tecnologia disponível”.
A mesma Lei ainda apresenta uma classificação dos resíduos sólidos, tem como base
sua origem e periculosidade. Nela, quanto à origem, os resíduos são classificados como:
domiciliares, de limpeza urbana, sólidos urbanos, de estabelecimentos comerciais e
prestadores de serviços, dos serviços públicos de saneamento básico, industriais, de
serviço de saúde, da construção civil, agrossilvopastoris, dos serviços de transportes e
de mineração. Quanto à periculosidade, a lei classifica os resíduos como perigosos
aqueles que “em razão de suas características de inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e
mutagenicidade, apresentam significativo risco à saúde pública ou à qualidade
ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica; e os não perigosos como
aqueles que se enquadram na definição de periculosidade anterior.
Chen (2018) divide os resíduos sólidos urbanos de forma mais simples, em apenas duas
categorias: resíduos sólidos industriais, oriundos das atividades industriais; e os
resíduos sólidos municipais, que são aqueles descartados em áreas urbanas, sendo
composto predominantemente de resíduos domiciliares e uma porção menor de
resíduos de origem em atividades comerciais. A Empresa de Pesquisa Energética –
EPE classifica os resíduos sólidos quanto à sua origem (urbanos, industriais e agrícolas)
e propriedades (inertes e combustíveis) (EPE, 2008).
Segundo Henriques (2004) os resíduos sólidos podem ser definidos como resto das
atividades humanas, que são considerados pelos geradores como inúteis, indesejáveis
ou descartáveis. A Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT em sua Norma
Brasileira NBR nº 10004 considera que a sua classificação envolve a identificação do
processo ou atividade que lhes deu origem, de seus constituintes e características, e a
comparação destes com listagens de resíduos e substancias cujo impacto à saúde e ao
meio ambiente são conhecidos.
6
lodos provenientes de sistemas de tratamento de água, aqueles
gerados em equipamentos e instalações de controle de poluição, bem
como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o
seu lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou
exijam para isso soluções técnica e economicamente inviáveis em
face à melhor tecnologia disponível.”
De acordo com Faria (2002, apud., Henriques, 2004), esta definição é muita ampla e
pode estar equivocada ao incluir líquidos como resíduos sólidos. Ainda segundo o citado
autor, uma conceituação mais elaborada expressa o lixo como resíduos sólidos urbanos
produzidos individual ou coletivamente, pela ação humana, animal ou por fenômenos
naturais, nocivos à saúde, ao meio ambiente e ao bem estar da população urbana, não
enquadrado como resíduo especial. (KAPAZ 2001).
Ponto comum dentre tais definições apresentadas está na origem do resíduo sólido em
si, resultante, portanto, de atividade humanas e que estes são capazes de gerar impacto
adverso ao ambiente, evidenciando a necessidade de tratamento adequado e sua
destinação final ambientalmente adequada. A literatura levanta alguns questionamentos
a respeito da abrangência desta definição e os tipos de materiais que podem ser
incluídos nela.
7
Federal, que deixa ainda, a cargo dos municípios, legislar sobre assuntos de interesse
local e de organização dos serviços públicos. A coleta, o transporte e a disposição dos
resíduos sólidos urbanos (RSU) produzidos nos municípios brasileiros têm como ente
legal o Executivo Municipal e, em grande parte, é executada pelas Companhias
Municipais de Limpeza Urbana. (IBGE 2000, apud. Henriques, 2004).
Releva, ainda, destacar o art. 225 da Carta Magna, segundo o qual “Todos têm direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial
à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações” (Henriques, 2004). Além
desta, a supracitada ainda destaca outros instrumentos ligados aos resíduos sólidos e
a proteção do ambiente como um todo, como a definição da gestão de resíduo sólido
como serviço público de interesse local e de caráter essencial, em seu artigo 30º, por
exemplo.
Já citada anteriormente, a PNRS é a Lei em vigor que orienta a diretrizes gerais para o
gerenciamento e a gestão de RSU no Brasil. Além daquilo que já fora mencionado, a
mesma institui alguns princípios básicos no que diz respeito ao tema. A ordem de
prioridade, um dos objetivos instituídos pela lei na gestão e gerenciamento, já
mencionada no capítulo anterior se mostra como um balizador à atuação e ao processo
8
de tomada de decisão na esfera dos projetos e planos voltados às questões
relacionadas aos RSU no país. Ainda em relação a estes princípios, cabe destaque a
responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos, o desenvolvimento
sustentável e a visão sistêmica, na gestão dos resíduos sólidos, que considere as
variáveis ambiental, social, cultural, econômica, tecnológica e de saúde pública.
Trazendo para a esfera do presente estudo, pode-se dizer que o mesmo contribui de
forma positiva ao fortalecimento de questões ambientais, tecnológicas e econômicas na
gestão de RSU no país.
9
diversos relacionados ao resíduos gerados, as alternativas de gestão e gerenciamento
passíveis de implementação.
Como não poderia deixar de ser, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos mantém estreita
relação com outros planos nacionais tais como o de Mudanças do Clima (PNMC), de
Recursos Hídricos (PNRH), de Produção e Consumo Sustentável (PPCS) e também
harmoniza-se com a Política Nacional de Educação Ambiental e com a proposta de
Plano Nacional de Saneamento Básico – PLANSAB, evidenciando, desse modo, a
abrangência e complexidade do tema em questão (MMA, 2012).
Com o objetivo da atualizar e criar novos mecanismos que estejam alinhados com as
metas e objetivos estabelecidos na PNRS, a partir do estabelecimento de medidas que
visem o aprimoramento das condições estruturais do saneamento básico no pais, o novo
marco regulatório do saneamento básico, instituído através da Lei federal nº
14.026/2020, além de estabelecer prazos para a destinação final ambientalmente
adequada de rejeitos, assegura, dentre outros, que os serviços públicos de saneamento
básico, incluindo-se o manejo de resíduos sólidos, deverão ter sua sustentabilidade
econômica e financeira assegurada por meio da adoção de mecanismos de cobrança
por estes serviços, através de taxas, tarifas e outros preços públicos.
Na esfera estadual, a política estadual de resíduos sólidos, instituída pela Lei estadual
nº 4.191/2003, em observância a PNRS, estabelece princípios, normas e procedimentos
referentes à coleta, acondicionamento, armazenamento, transporte, tratamento e
10
destinação final ambientalmente adequada de resíduos no estado do Rio de Janeiro,
com vistas ao controle da poluição a minimização dos seus impactos ambientais.
Percebe-se que na esfera estadual, o plano orienta de forma clara que o poder público
deverá aplicar soluções adequadas ao tratamento de resíduos, estimulando então a
adoção de soluções alternativas às práticas comuns de disposição de resíduos, como o
aproveitamento energético, por exemplo. Adicionalmente, esta opção também se
enquadra no que diz respeito à aplicação de soluções consorciadas entre municípios,
levando em conta a capacidade de processamento das usinas atuais e volume gerado
de resíduos em determinados municípios.
Ainda sobre a Lei, fica evidente que todo e qualquer resíduo sólido deverá, dentro dos
princípios da mesma, passar por alguma forma de tratamento até que tenha seu destino
final adequado. Importante citar ainda que o marco legal que institui a gestão e o
gerenciamento de RSU no país estabelece ainda que “poderão ser utilizadas
tecnologias visando à recuperação energética dos resíduos sólidos urbanos, desde que
tenha sido comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e com a implantação de
programa de monitoramento de emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão
ambiental”.
11
2.1.3 Panorama dos RSU no Brasil
Figura 1: Destinação final de RSU, por tipo de destinação. Fonte: ABRELPE (2019).
12
Figura 2: Geração de RSU no Brasil. Fonte: ABRELPE, 2019.
Tomando em conta a distribuição da destinação final dos RSU em municípios por região,
o mesmo estudo demostrou que, no ano de 2018, a região sul concentrou maior parcela
de municípios cujos resíduos foram encaminhados para aterros sanitários.
Tabela 1: Quantidade de municípios e percentual por tipo de destinação de RSU por região em
2012. Adaptado de ABRELPE (2019).
Centro-
Norte (%) Nordeste (%) (%) Sudeste (%) Sul (%) BRASIL
Oeste
Aterro
93 20,7 454 25,3 162 34,7 820 49,2 1.040 87,4 2.569
Sanitário
Aterro
110 24,4 496 27,6 152 32,5 641 38,4 109 9,1 1.508
Controlado
Lixão 247 54,9 844 47,1 153 32,8 207 12,4 42 3,5 1.493
Brasil 450 100 1.794 100 467 100 1.668 100 1.191 100 5.570
13
quadro que relaciona a crescente geração de RSU e a demanda referente à correta
destinação deste material nestas localidades, esta distribuição permite para além de
entender, identificar em quais localidades a pressão exercida pelo manejo inadequado
do RSU gerado possui maior significância considerando todo este conjunto de
municípios. Diante disto, permite-se construir uma base para a linha de ação na direção
do estabelecimento de mecanismos de priorização da aplicação de técnicas adequadas
de manejo, isto quer dizer, entender onde se faz necessária uma ação prioritária em
uma determinada localidade em relação a uma outra, de acordo com este grau de
impacto e distribuição.
Cabe salientar, considerando o exposto, que mesmo com esse aumento considerado
na coleta e destinação de RSU aos aterros sanitários, ainda parcela considerável dos
resíduos gerados no país ainda é destinada para locais inadequados, que não oferecem
o tratamento adequado para os resíduos e destinação final ambientalmente segura,
elevando seu potencial da poluição hídrica, atmosférica, do solo e os riscos à saúde
humana. Em pouquíssimos casos são aplicadas outras soluções, que poderiam trazer
benefícios para as localidades. Isto se dá, provavelmente por razões financeiras, uma
vez que tais soluções normalmente significam maiores investimentos (EPE, 2014). Com
a tendência de crescimento da economia nacional, espera-se que esses valores
aumentem nos próximos anos. Isso fará com que surja a necessidade muito forte de
políticas públicas mais rigorosas para a regularização das condições dos aterros
sanitários, além de mais incentivo econômico para a reciclagem e para o
reaproveitamento energético dos RSU (Soares, et. al. 2016).
14
Diante dos problemas inerentes a operação destes aterros, tem-se uma maior dimensão
da necessidade de se alinhar soluções ambientalmente atrativas que vão de encontro
não somente as normas que regulam a gestão de RSU, mas que estejam somadas aos
objetivos e metas estabelecidos em normas que regem outras questões, como a
mitigação de impactos atrelados a mudança do clima, manutenção e regulação de
serviços ecossistêmicos, além da inserção de tecnologia de renovável na matriz elétrica
nacional.
2
Disponível em: https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/rj/mage.html. Acesso em 01/12/2020, Às 11:03 hrs.
15
como limítrofes: Guapimirim (a leste), Petrópolis (ao norte) e a Baía de Guanabara (ao
sul) (Magé, 2015).
Com relação ao manejo dos resíduos sólidos urbanos, segundo dados disponíveis no
Sistema Nacional de Informações sobre o Saneamento – SNIS3, a taxa de coleta no
município incluindo os resíduos domiciliares e públicos coletados com relação à
população urbana no ano de 2018 foi de 1.05 kg/hab/dia e a taxa de cobertura do serviço
de coleta em relação à população urbana foi de 90%. As despesas per capita com o
manejo de RSU em relação à população urbana foram de R$ 137.04 por habitante no
mesmo ano. O custo considerando apenas a destinação final segundo dados mais
recentes disponíveis é de R$ 45,00 por tonelada de resíduo sólido urbano coletado.
Com relação a sua composição, a partir de estudo realizado por MAGÉ (2015) que
disponibiliza informações acerca da composição gravimétrica dos RSU coletados no
município, 97% da sua massa compreende fração orgânica (matéria orgânica, papel,
papelão, plásticos, entre outros) e o restante é composto por material inorgânico (vidro
e metais). O teor de umidade da massa considerado no estudo foi de 67% e apenas
3
Disponível em: http://appsnis.mdr.gov.br/indicadores/web/residuos_solidos/mapa-indicadores. Acesso em
01/12/2020, às 11:26.
16
3,24% são coletados em caçamba de serviço de limpeza. A tabela abaixo apresenta as
frações dos materiais presentes no RSU coletado no município.
Fração
Fração Orgânica4 (%) (%)
Inorgânica
Mat. Orgânica 39 Vidro 26
Papel/Papelão 17 Metais 74
Plástico Filme 9
Plástico Duro 7
Trapos 6
Fraldas 2
Espuma 1
Borracha 1
Couro 2
Isopor 1
Outros 15
Tabela 2: composição gravimétrica dos RSU em Magé. Fonte: Magé, 2015.
A célula é parte de um projeto que visa recuperação e remediação de uma área que
abrigava um antigo lixão no município, em área vizinha. Segundo dados da
municipalidade, o lixão operou por 30 anos e foi encerrado no ano de 2011, passando
a ter a sua área utilizada como aterro controlado, desativado em 2014 devido à
constatação de irregularidades na sua operação, segundo informação da Secretaria
Municipal de Meio Ambiente do município.
4
Caráter não biodegradável.
17
No ano de 2015, ainda segundo informações da Prefeitura, foi contratado serviço
especializado para realização de diagnóstico e do já citado projeto básico de
recuperação da área do antigo vazadouro. No diagnóstico foram encontradas
deficiências como: camada de lixo implantada de maneira irregular, inexistência de
cobertura em algumas partes do vazadouro, afloramento de líquidos lixiviados,
inexistência de sistemas de drenagem superficial de taludes e bermas, inexistência de
sistemas de coleta e drenagem de líquidos lixiviados (chorume), inexistência de sistema
de coleta/drenagem de gases gerados, entre outros.
Considerando então o atual panorama dos RSU no município, assim como é na maioria
dos centros urbanos brasileiros, o principal local de destinação final do lixo se dá em
aterro sanitário e não há implantada nenhuma tecnologia que vise o tratamento
adequado da massa de RSU coletado anterior a sua destinação final ambientalmente
adequada. Em se tratando do caso particular do município de Magé, a situação se
agrava uma vez que até recentemente todo o lixo coletado no município era
18
encaminhado para um lixão, causando agravamento dos problemas ambientais
relacionados ao manejo inadequado de RSU.
Esta forma de aproveitamento energético oriunda dos resíduos gerados nos centros
urbanos permite que o conteúdo energético contido nestes materiais seja recuperado e
reutilizado em processos diversos por meio de sua conversão termoquímica, através da
19
utilização de dispositivos variados. A tecnologia transforma o resíduo urbano em energia
elétrica e térmica por um processo amplamente utilizado ao redor do mundo, pois
aproveita o poder calorífico contido nos resíduos sólidos para uso como combustível
(ABRELPE e PLASTIVIDA, 2012).
O tratamento térmico de resíduos sólidos para obtenção de energia, além dos pontos
positivos mencionados, segundo Stantec (2011), ainda pode ser parte de um sistema
integrado de gerenciamento de resíduos, que pode desempenhar uma série de papéis
importantes neste sistema, como por exemplo; reduzir o volume de resíduos e, portanto,
a necessidade de novos aterros; permitir a recuperação de energia a partir do fluxo de
20
resíduos sólidos; destruir contaminantes que podem estar presentes na massa de
resíduos e; eventualmente, reduzir a necessidade de transporte de resíduos por longas
distâncias.
Figura 6: visão geral do papel do tratamento térmico no manejo de resíduos. Fonte: Stantec, 2011.
Como pode ser visto na figura, o tratamento térmico de resíduos para aproveitamento
energético pode ser aplicado em alguns casos como uma forma de gerenciamento da
massa de resíduos remanescente da separação da fração reciclável e orgânica. Esta
separação pode resultar num aumento geral do potencial de aplicação da massa
remanescente em usina WtE (Stantec, 2011).
21
implantar sistema atual, sem demandar troca de local e mudança de logística, além de
evitar novo custo de oportunidade de outras áreas (EPE, 2014).
Uma visão geral das tecnologias hoje consolidadas em usinas que utilizam o processo
de incineração convencional e tratamentos térmicos avançados pode ser ilustrada na .
Figura 7: visão geral das tecnologias de aproveitamento energético. Fonte: Stantec, 2011.
22
Tabela 3: principais características dos processos químicos para o tratamento térmico de resíduos.
Adaptado de Arena (2012).
Poluentes SO2, NOX, HCL, PCDD/F 5 , H2S, HCl, COS, NH3, HCN, H2S, HCl, NH3, HCN, tar,
Cinzas Cinzas do fundo podem ser Relativa ao processo de Normalmente com teor de
tratadas para recuperação combustão. carbono não desprezível.
de metais ferrosos e não Cinzas do fundo são Tratado e destinado como
ferrosos e material inertes. comumente obtidas da resíduo industrial especial.
Resíduos do controle de escória de fundo que pode
poluição do ar são tratados e ser utilizada como insumo
destinados como resíduos para construção de rodovias.
industriais.
Limpeza dos Tratados em uma unidade de É possível purificar o gás de É possível purificar o gás
gases controle de poluição para síntese para alcance dos de síntese para alcance
alcance dos padrões de padrões de processos dos padrões de processos
emissão e então serem químicos de produção ou químicos de produção ou
lançados. aqueles que envolvem aqueles que envolvem
dispositivos de alta eficiência dispositivos de alta
de conversão energética. eficiência de conversão
energética.
23
Além disso, segundo Wood et al., (2013), os processos de conversão também podem
ser divididos em categorias que dependem diretamente da concentração de oxigênio
utilizada, onde o processo de incineração convencional ocorre em um ambiente com
oxigênio em excesso, o processo de oxidação parcial presente na gaseificação em
concentração ligeiramente abaixo do nível estequiométrico e a pirólise em ausência
deste, como pode ser visto na .
Figura 8: divisão do processo de conversão térmica de resíduos com base na concentração de oxigênio
utilizada. Fonte, Stantec, 2011.
24
Oxidação, onde o combustível gasoso criado na etapa anterior é oxidado,
dependendo do método de tratamento térmico utilizado, em temperaturas que
variam entre 800 e 1.450 ° C.
25
ocorra combustão completa; e pirólise, onde o processo a produção do gás combustível
ocorre na ausência deste.
2.2.1.1 Incineração
A incineração tem sido utilizada como um método para processar resíduos desde o
início do século (Henriques, 2004). A incineração utiliza-se de processos que geram
elevadas temperaturas quando da queima de RSU combustíveis em fornos na presença
de oxigênio em excesso (Machado, 2015). As usinas de incineração do RSU podem
utilizar o calor para produzir o vapor e, assim, abastecer um gerador de energia elétrica
ou ser usado diretamente em processos industriais (ou para aquecimento) (EPE, 2014).
26
resíduos (Henriques, 2004), e são elas: combustão em estágio simples, ou Mass
Burning, combustão em duplo estágio, ou modular, combustão em leito fluidizado e
combustão em batelada.
A tecnologia Mass Burning, ou combustão em estágio único (algumas vezes tido como
tecnologia acionada por grelha. Stantec, 2011), é a rota tecnológica mais difundida e
empregada mundialmente para tratar os RSU e reaproveitar seu conteúdo energético
(ABRELPE e PLASTIVIDA, 2012) e tem sido desenvolvida por mais de 100 anos para
o aproveitamento energético a partir de resíduos sólidos urbanos (Stantec, 2011). Nela,
é dispensado o tratamento prévio da massa de resíduos, sendo estes incinerados em
sua forma bruta. Isto se dá principalmente devido ao fato da tecnologia ser normalmente
aplicada em localidades onde o poder aquisitivo da população permite um maior
consumo de alimentos pré-processados, o que proporciona um RSU com maior parcela
de materiais que elevam o seu poder calorífico.
27
A figura e o fluxograma a seguir ilustram uma visão conceitual geral de uma usina de
incineração convencional que utiliza a tecnologia Mass Burning.
28
Figura 10: visão geral de uma usina de incineração convencional em estágio simples (CNI, 2019).
29
O processo de conversão termoquímica dos resíduos a partir da incineração ocorre sob
diversos gradientes de temperatura. Num primeiro momento, o resíduo passa por um
processo de perda de umidade, no compartimento de acesso ao incinerador. Ao ser
lançado no compartimento, sob temperatura da ordem de 100°C, inicia-se o processo
de perda de umidade por mecanismos de radiação ou convecção (Secagem e
desgaseificação). Ainda antes de alcançar a câmara de combustão propriamente dita,
sob baixa pressão atmosférica e temperatura da ordem de 250°C, inicia-se o processo
de volatilização.
30
esperada, podendo atingir até 900 kWh por tonelada de resíduo processado (EPE,
2014).
Ainda segundo o citado autor o gás natural utilizado ainda pode ser substituído pelo gás
de lixo, drenado de um aterro ou biodigestor, fazendo assim com que toda energia
gerada seja proveniente do lixo.
O primeiro estágio ocorre em temperatura que varia tipicamente entre 500 °C e 900° C
(Brito, 2013), onde nela ocorre a volatilização de alguns compostos e a transformação
dos resíduos não volatilizados em partículas de tamanho muito diminuto (Machado,
2015). Na câmara secundária, gradientes de temperatura que variam entre 750 °C e
1250 °C permitem a combustão completa das partículas remanescentes e gases
gerados (Brito, 2013), em um ambiente rico em oxigênio.
Cabe destacar que em alguns casos incineradores de duplo estágio são consideradas
como uma tecnologia componente da tecnologia da gaseificação, que será discutida
com maior detalhe nas próximas seções.
Figura 11: visão geral de um incinerador de duplo estágio. Fonte (adaptado. STANTEC, 2011).
31
O processo poderá necessitar ou não de fonte externa de combustível para manutenção
da temperatura do processo. Neste caso, a combustão espontânea da massa de
resíduos se dará em função do seu poder calorífico, que por sua vez é função da
composição do resíduo a ser incinerado. Para os casos onde o poder calorífico se
mostra insuficiente para que ocorra combustão espontânea, um suprimento externo de
combustível, gás natural ou óleo diesel se faz necessário (GLP, Machado, 2015). Em
geral, este auxílio faz-se necessário no momento da partida do incinerador (Henriques,
2004).
32
fazendo da última, por esta razão, a opção a ser mais considerada no processo de
planejamento da implantação usinas de recuperação energética de resíduos sólidos.
Figura 12: visão geral de um incinerador de leito fluidizado. Adaptado, STANTEC (2011).
2.2.1.2 Gaseificação
34
obtenção de um gás de alto poder calorífico por meio da redução do teor de nitrogênio
no ar, o que permite a realização de processo auto térmico (sem necessidade de
suprimento fonte de combustível externa), sem grande consumo de oxigênio. A
oxidação parcial com oxigênio puro produz um gás de síntese livre de nitrogênio
atmosférico e com poder calorífico variando entre 10 e 15 MJ/m³. A gaseificação a vapor
produz um gás de síntese de médio poder calorífico (15 – 20 MJ/m³), elevada
concentração de hidrogênio e livre de nitrogênio. Esta configuração não inclui reações
exotérmicas, sendo então necessária uma fonte externa de energia para as reações de
gaseificação endotérmicas (allo-thermal process8). A gaseificação por plasma utiliza
como fonte de calor tochas de arco de plasma que criam um arco elétrico e produzem
temperaturas na ordem de 15.000 °C, que por sua vez permitem um controle de
temperatura independentemente de flutuações na qualidade do material e no
fornecimento do agente oxidante (Arena, 2012. Tradução).
8 Também chamada da gaseificação indireta uma vez que o calor é fornecido indiretamente
pelo transporte de calor para o reator e não produzido no gaseificador.
http://www.sciencedirect.com/topics/engineering/allothermal-gasification. Acesso em:
19/03/2020, 11:16 am.
35
gaseificador. No processo que necessita de uma fonte externa de energia para
que ele ocorra, o calor necessário pelo processo endotérmico é fornecido pela
queima de material residual ou gases separadamente, ou pela utilização de
tochas de plasma ou material de leito fluidizado.
Com relação ao layout das usinas que utilizam o processo de gaseificação para
produção de energia, segundo Arena (2012), ainda existem duas configurações
usualmente utilizadas em plantas WtE que utilizam o processo de gaseificação, que
dependem da sucessão com a qual as seções de utilização e limpeza do gás são
utilizadas, e são elas: gaseificadores de energia (power gasifiers), onde o gás é limpo e
então queimado, e os gaseificadores de calor (heat gasifiers), onde o gás produzido é
queimado, para então o gás de fluxo remanescente ser purificado. Nos gaseificadores
de calor o gás produzido no reator é queimado em uma câmara de combustão,
produzindo um gás de fluxo, que é direcionado a uma caldeira a vapor para produção
de energia térmica onde, após isto, ocorre o processo de limpeza dos gases de
combustão (). Nestes gaseificadores, a seção de limpeza consiste no possível pré-
tratamento do gás para remoção de contaminantes, antes de ser direcionado para o
combustor, para depois ir para um sistema de controle de poluição do ar (Air-Pollution
Control – APC) para limpeza dos gases de combustão. Atualmente, é o tipo de
configuração mais utilizada em plantas de recuperação energética a base de
gaseificação em operação (Arena, 2012).
36
fração reaproveitável, para então ser inserido em um gaseificador para obtenção do gás
de síntese. Em contrapartida, depois de resfriado e limpo este gás produz energia
quando alimenta uma máquina de combustão interna conectada a um gerador elétrico
(Henriques, 2004). O efluente gerado no processo de limpeza dos gases passa por um
sistema de controle de poluição do ar para então ser lançado na atmosfera. As cinzas
geradas no processo de produção do gás são coletadas no reator e poderão ser
destinadas a um aterro sanitário ou reaproveitadas na construção civil, para produção
de telhas e blocos de concreto ou agricultura, por exemplo.
Figura 13: representação esquemática de configurações das plantas de recuperação energética com base
em gaseificação. Adaptado de Arena (2012).
37
Neste ciclo de conversão energética, o sistema conectado a uma turbina a vapor se
mostra como a opção mais simples uma vez que o gás de síntese pode passar pelo
processo de combustão sem a necessidade de purificação. Além desta configuração, o
gás produzido no reator poderá ainda ser utilizado como combustível em um incinerador
convencional, conectado a uma caldeira, assim como a um motor de combustão interna
ou a uma turbina a gás.
Dispositivo de
Eficiência
conversão Vantagens Desvantagens
da planta
energética
Turbina a vapor 15-24% Elevada eficiência. Componentes da Caro. Cargas parciais reduzem
turbina isolados dos produtos de eficiência. Plantas exigem grandes
combustão. Longos intervalos de espaços.
manutenção, alta disponibilidade e
trabalho específico (kJ/kg produzido)
Turbina a gás 20-30% Alta eficiência elétrica. Conjunto Componentes da turbina são
compacto. Longa manutenção e alta expostos aos produtos da
disponibilidade. combustão. Cargas parciais reduzem
eficiência. Moderadamente caro
Motor a gás 14-26% Alta eficiência elétrica, relativamente Componentes do motor são expostos
de baixo custo, durável e confiável. aos produtos de combustão.
Cargas parciais afetam eficiência de Manutenção curta e alto custo e
forma marginal. baixa disponibilidade.
38
integridade dos dispositivos envolvidos, podendo aumentar a eficiência da planta em
30% em relação à incineração.
Segundo Arena (2012), essas tecnologias para reatores em sua maioria estão aplicadas
em processos de cogeração a partir do gás de síntese com base em gaseificadores de
calor (heat gasifiers).
Nos reatores de leito fixo um leito profundo de resíduos está presente em quase todo o
volume do reator e diferentes zonas podem ser distinguidas em uma ordem que
depende da direção fluxo dos resíduos e do meio gaseificante. Essas zonas não são
fisicamente fixas e movem-se para de forma ascendente e descendente, a depender
das condições de operação (Arena, 2012). Os reatores de leito fixo dividem-se em dois
tipos, ambas com a alimentação do resíduo pelo seu topo e diferenciando-se pela forma
com a qual é dada a injeção do oxidante em seu interior, sendo estes: com a tomada do
agente oxidante no fundo, promovendo um movimento de contra fluxo dos resíduos com
relação aos gases (updraft reactors, i.e, fluxo ascendente), passando por fases distintas
(secagem, pirólise, redução e oxidação) sucessivamente; ou com a injeção do oxidante
pelos lados ou pelo topo do reator (downdraft reactors, i.e, fluxo descendente),
promovendo, assim, a passagem dos resíduos pelas fases distintas em ordem diferente
daquela onde ocorre o contra fluxo com relação à injeção do oxidante. Nos reatores de
fluxo ascendente o resíduo é seco no topo e partes dos resíduos devolatilizados
precipitam e queimam produzindo calor. O metano e os gases ricos em hidrocarbonetos
condensados deixam o reator pelo topo e as cinzas caem da grelha para coleta no fundo
(Arena, 2012). Nos reatores de fluxo descendente parte dos resíduos é queimada,
produzindo um leito de resíduos devolatilizados no fundo por onde os gases passam,
39
produzindo um gás de síntese de melhor qualidade, que deixa o reator pela base, com
as cinzas coletadas abaixo da grade (Arena, 2012).
Os reatores de leito fluidizado (fluidized bed reactors) são também divididos em dois
tipos: gaseificadores de leito fludizado borbulhante (bubbling fluidized bed reactors -
LFB) e os reatores de leito fluidizado circulante (LFC). Nesta categoria de reator, a
velocidade de circulação do gás oxidante produz uma força de arraste tal que as
partículas tenham um comportamento fluidizado, daí o termo empregado para sua
denominação. Em reatores de leito fluidizado, material sólido granulado e inerte, tal
como areia, calcário ou alumina, é mantido em suspensão no ambiente de combustão,
sob condições turbulentas, por meio da injeção de jato de ar ascendente. A eficiente
transferência de calor para a massa de resíduos em combustão é garantida pelo calor
emitido a partir do próprio leito aquecido de material sólido granulado (Machado, 2015).
Este tipo de reator não possui partes móveis, o que torna sua manutenção mais simples
e barata (Arena, 2012). Para evitar uma espécie de derretimento das cinzas, o que
comprometeria o comportamento fluidizado das partículas, estes reatores operam em
temperaturas inferiores a 900 °C.
Nos reatores LFC, o termo circulante se dá pelo fato de ocorrer nestes a recirculação
de sólidos no sistema, para manutenção do seu estado de equilíbrio. Esta manutenção
se faz necessária uma vez que a velocidade superficial do gás é superior à velocidade
terminal dos sólidos (da ordem de 3,0 a 9,0 m/s. Machado, 2015), provocando um
arraste de partículas do leito, alterando este estado de equilíbrio. Por esta razão, nestes
reatores uma espécie de ciclone é utilizado com a função de captar estas partículas
arrastadas para estas sejam retornadas ao leito por meio de um precipitador. A figura
abaixo ilustra o funcionamento de um reator de leito fluidizado do tipo circulante.
9 A olivina é um nesosilicato muito comum em rochas ígneas básicas, sendo também um importante
mineral industrial, usado como abrasivo, por exemplo. https://www.ufrgs.br/minmicro/Olivina.pdf. Acesso
em: 30/04/2020, às 11:24.
40
Figura 14: reator de leito fluidizado circulante. Fonte: Machado, 2015.
Os reatores de fluxo arrastado (entrained flow gasifiers) tem por característica sua alta
pressão de operação, em torno de 25 bar. Nestes, partículas combustíveis são
adicionadas a água para produzir um lodo, com concentração de sólidos acima de 60
%. Aqui a água serve como um meio transportador, moderador de temperaturas e
também como reagente. O lodo é inserido no gaseificador com oxigênio pressurizado
ou ar. Parte do combustível é queimada no topo do reator, promovendo a formação de
calor em altas temperaturas (1200 – 1500 °C) para rápida conversão dos resíduos em
um gás de síntese de alta qualidade. As cinzas derretem nas paredes do reator e são
descarregadas numa câmara de resfriamento onde os metais são encapsulados no
material resfriado (Arena, 2012).
41
reatores podem ser utilizados como parte de um processo de conversão termoquímica
em duas etapas, onde, numa primeira etapa os resíduos são gaseificados a
temperaturas na faixa de 450 °C e, após separação da fração recuperável de resíduos
(ferro, alumínio e outros resíduos), o gás produzido e o material sólido remanescente
são inseridos em uma câmara de combustão e são incinerados a 1300 °C, onde as
cinzas são derretidas vitrificadas. A possibilidade de recuperação da fração metálica
reutilizável do material processado possibilita uma considerável redução do volume de
resíduos, em até 200 vezes o seu volume original (Arena, 2012).
Os gaseificadores de Grelha Móvel (moving grate gasifiers) são o tipo de reator mais
utilizado em UREs à base de combustão. Essa movimentação constante da grelha
permite alimentação contínua do forno incinerador, permite o movimento do leito e das
cinzas na direção da extremidade de descarga da grade e estimula a mistura do material
processado (Arena, 2012).
A gaseificação de arco de plasma utiliza uma corrente elétrica que passa por um gás
(ar) para criar plasma que gaseifica o resíduo em moléculas simples (Stantec, 2011). O
plasma térmico é uma mistura de íons, elétrons e partículas neutras, e é capaz de
destruir qualquer ligação química (CNI,2019). Nestes gaseificadores de plasma (plasma
gasifiers) o resíduo não tratado é inserido – em sua maioria, em um gaseificador de leito
móvel – entrando em contato com tochas de plasma geradas eletricamente, geralmente
a pressão atmosférica e a temperaturas na ordem de 1500 °C a 5000 °C, onde a matéria
orgânica é convertida em um gás de síntese de alta qualidade e a fração inorgânica é
vitrificada em escória inerte (Arena, 2012). A alta temperatura e a baixa pressão do gás,
promove o movimento dos elétrons da molécula do gás na direção do lado positivo da
voltagem aplicada, tornando-o positivamente carregado, transportando uma corrente
elétrica e gerando calor (Stantec, 2011). Ainda o segundo Arena (2012) o citado autor,
mesmo sendo normalmente utilizado em um processo de estágio único para conversão
termoquímica de resíduos, ainda existe a possibilidade de utilização destes num
processo em duplo estágio, onde se utiliza um gaseificador convencional num primeiro
estágio enquanto o segundo utiliza o gaseificador de plasma para redução do teor de
hidrocarbonetos condensados (tar) no gás de síntese e aumento da eficiência de
conversão.
A gaseificação por plasma, segundo CNI (2019), tem como pontos positivos as altas
temperaturas permitidas, altas taxas de transferência de calor, menor dimensão das
instalações e maior potencial de controle de controle do processo devido ao uso da
eletricidade como entrada, dissociando a geração de calor do potencial de oxigênio.
42
Ainda segundo o citado autor, a utilização da eletricidade também se apresenta como
um inconveniente, pois aumenta consideravelmente o custo do processo. Somado a
isto, está à falta de dados sofre sua confiabilidade, impedindo a utilização em grandes
escalas.
Com relação ao resíduo gerado, este compõe apenas 1% do volume original caso as
cinzas de fundo sejam comercializadas para outras aplicações. Caso não ocorra este
reaproveitamento, então o material residual irá compor de 10% a 20% do volume
original. A capacidade de produção de eletricidade varia entre 0.4 a 0.8 MWh/t. anual
de RSU. Com relação a sua escala, as usinas de gaseificação de RSU normalmente
são construídas com capacidade fixa, em módulos, que podem alcançar uma
capacidade de processamento que varia entre 40.000 a 100.000 toneladas por ano
(Stantec, 2011)
2.2.1.3 Pirólise
43
apresenta como uma opção que vêm ganhando força no contexto de usinas de
recuperação energética ao redor do mundo.
A pirólise é um estágio da gaseificação, mas pode ser aplicada por si só como uma
forma de tratamento de resíduos (CNI, 2019). O processo consiste decomposição
térmica da matéria-prima em faixas de temperaturas que variam entre 400 °C e 900 °C,
sob a ausência de oxigênio. Esta é uma tecnologia que consiste na geração de energia
a partir do gás de síntese (syngas), um dos produtos finais do processo, além do material
sólido residual (char) e líquido (óleos oxigenados).
O gás de síntese e estes óleos podem ser utilizados diretamente como combustível de
uma caldeira ou refinado para usos de maior qualidade como combustível para motores,
produtos químicos e outros usos (Stantec, 2011). O gás também pode ser usado em
motores de combustão para operar o gerador; se o syngas for purificado, ele pode ser
usado em um turbina de gás de ciclo combinado para maior eficiência (BELGIORNO,
2033. apud. CNI, 2019).
Segundo Dung et. al (2018), este se apresenta como um processo mais eficiente se
comparado à tecnologia de incineração, pois possui dispositivos de conversão
energética mais eficientes, como uma turbina a gás de ciclo combinado ou um motor de
combustão interna. Entretanto, em sua forma bruta, o gás de síntese carrega consigo
uma gama de contaminantes como o ácido sulfídrico, carvão, amônia e material
particulado, trazendo a necessidade de um sistema de tratamento do gás gerado para
se torne aplicável a um motor (Dung, et. al. 2018).
A pirólise requer energia térmica que geralmente é aplicada indiretamente por condução
térmica através das paredes de um reator de contenção, uma vez que o ar ou o oxigênio
não é intencionalmente introduzido ou usado na reação. A transferência de calor das
paredes do reator ocorre enchendo o reator com gás inerte, que também fornece um
meio de transporte para a remoção de produtos gasosos (Stantec, 2011).
44
O processamento de resíduos neste tipo de tecnologia ocorre em temperaturas na faixa
de 500-550 °C e são amplamente utilizadas em plantas industriais (Chen et al., 2015,
apud. Dung et al., 2018). Em temperaturas menores se comparadas ao processo de
gaseificação e incineração convencional, ocorre uma menor volatilização de carbono e
outros poluentes, como metais pesados e percursores de dioxinas. As temperaturas
relativamente baixas permitem uma melhor recuperação do metal antes que os produtos
residuais de pirólise entrem na câmara de alta temperatura onde são vitrificados
(Stantec, 2011).
45
Figura 15: esquema de uma planta de conversão de energia de micro pirólise. Extraído de Maria (2004).
A massa de resíduos (SUW) sofre um breve pré-tratamento para redução de seu volume
é inserida no reator (PYRO). A fração sólida do processo é então utilizada numa câmara
de combustão de pirólise (CC char) de forma a fornecer o calor necessário requerido
para degradação termal. Os gases e os hidrocarbonetos condensados (tar) são lavadas
de partículas sólidas em um ciclone (CYCL) e então resfriadas, com uma limpeza
adicional em uma espécie de esfregão seletivo (SCR). Nesse dispositivo o resíduo é
condensado e separado, enquanto que a temperatura do gás é reduzida à faixa de 320-
330 K. Após o tratamento o combustível é direcionado a um compressor (COMB K)
antes de ser injetado na câmara de combustão da turbina a gás (CC). A turbina a gás é
composta por um compressor (K), expansor (TR) e um recuperador (REC). Os gases
de exaustão da saída do recuperador (REC) são utilizados como oxidantes para
combustão de carvão na câmara de pirólise. Os gases da resultantes da combustão do
carvão são purificados em um ciclone, numa espécie de esfregão e em filtros antes de
serem lançados na atmosfera.
Este sistema se apresenta como uma solução interessante para produção interna de
energia a partir de resíduos e biomassa (Maria, 2004). Seus resíduos se tratados podem
ser reduzidos de 0.1 a 0.3 toneladas por tonelada de resíduo a ser processado, caso
não ocorra o tratamento destes, seu volume pode ultrapassar 30 % de sua massa
original. O processo é capaz de reduzir o volume de resíduos a serem destinados a
46
aterros em até 90% (Stantec, 2011). Ainda segundo o citado autor, a produção de
eletricidade pode alcançar a ordem de 0.5 a 0.8 MWh por tonelada anual de resíduo
sólido urbano processado. Os gases de fluxo oriundos da combustão do gás de pirólise
podem ser tratados em sistemas APC que não possuem diferenças significativas se
comparados aos utilizados para tratamento do gás de fluxo oriundo plantas de
incineração por grelhas.
47
Figura 16: localização das plantas WtE no mundo. Fonte: CNI, 2019.
Como se pode perceber, maior parcela dos resíduos que são encaminhados à usinas
WTE que utilizam a tecnologia de combustão por grelhas. No entanto, segundo dados
da Confederação Nacional da Indústria (CNI, 2019) os novos processos de recuperação
energética de resíduos estão constantemente avançando e uma alternativa mais
acessível financeiramente pode emergir.
48
fases11. No entanto, segundo estudo realizado pela Empresa de Pesquisa Energética
– EPE (2014), considerando a composição gravimétrica comum ao lixo produzido nos
centros urbanos e fatores técnicos inerentes a produção de energia em usinas WTE que
utilizam o processo de incineração convencional, estima-se que o país possua um
potencial de produção de eletricidade a partir de RSU em usinas de recuperação
energética que utilizam o processo de incineração de aproximadamente 237 mil GWh,
que correspondem a uma capacidade instalada de 3,2 GW distribuídos em 106 unidades
capazes de tratar todo o RSU produzido no país.
49
Pesados, comumente presentes no material particulado emitido no processo de
combustão; e dioxinas e furanos12.
As fontes de emissões podem ser pontuais ou fugitivas. Emissões pontuais são aquelas
resultantes de um único ponto, como em uma chaminé, por exemplo. Estas são
consideradas como as de maior significância para processos de combustão, e para seu
controle, equipamentos de Controle de Poluição do Ar (APC - Air Pollution Control) são
incorporados no sistema de exaustão a fim de controlar a liberação de poluentes na
atmosfera (Stantec, 2011). Emissões fugitivas são aquelas que não são liberadas a
partir de um único ponto, e sim de um fonte baseada em uma área específica sendo,
portanto, não passivas de controle. Elas incluem poeira, odor e VOCs e podem ser
minimizadas a partir da adoção de sistemas de que atuam sob pressão negativa
(Stantec, 2011).
Os resíduos sólidos gerados nas unidades de tratamento térmico podem variar com
base no design da planta, e consistem em: resíduos rejeitados (removidos previamente
12 Substâncias organocloradas que podem estar presentes nos RSU. Classificados como Poluentes Orgânicos
Persistentes (POPs) apresentam elevado potencial tóxico e danoso à saúde humana. O maior risco de contaminação
por dioxinas ocorre em função de sua deposição e diluição na água; enquanto a contaminação via ingestão responde
por 98% dos casos, e somente 2% é devida a inalação (Caixeta, 2005. apud., Machado, 2015).
50
ao processo de combustão), cinzas de fundo, sucata metálica, resíduos do sistema de
controle de poluição do ar, escória, resíduo oriundo dos filtros utilizados no tratamento
de águas residuais, gipsita e carvão ativado carregado (Stantec, 2011). Os rejeitos são
removidos uma vez que podem comprometer a eficiência de combustão, além de causar
danos aos equipamentos utilizados no processo, geralmente compõe 2% do volume de
resíduo recebidos na planta e são encaminhados para tratamento alternativo. As
cinzas13, após coleta e resfriamento, podem ser utilizadas como agregado construtivo
substituto (Stantec, 2011). Os resíduos dos sistemas de controle de poluição do ar
normalmente são encontrados nos filtros utilizados nos pontos de emissão de descargas
atmosféricas das unidades. Compostos normalmente de limo, cinzas e carbono,
compõe 2 a 4% da massa original de resíduos e, uma vez que são classificados como
resíduos tóxicos (Stantec, 2011), são gerenciados separadamente às cinzas de fundo.
Segundo o citado autor, outros resíduos oriundos deste sistema são: materiais
reagentes (carbono ativado), ou resíduos recuperados através do tratamento de
efluentes.
Atenção também deve ser dada a questão dos níveis de ruído a nível local. Caso não
haja um planejamento da operação que vise a utilização de sistemas que contenha a
poluição sonora oriunda da utilização dos equipamentos empregados no processo, este
também poderá ser uma impacto ambiental negativo a ser considerado.
13Material mineral heterogêneo gerado após combustão dos resíduos composto de escória, metais, material
cerâmico, vidro, material orgânico residual e outros materiais inorgânicos não combustíveis. Fonte: Stantec, 2011.
51
Além disso, têm-se a questão dos odores gerados a partir do armazenamento dos
resíduos. Para que sejam evitados, devem-se prever mecanismos de contenção dos
odores que permitam uma mistura destes com o vapor gerado no processo de
incineração, para posterior tratamento, lavagem e emissão dentro dos padrões
estabelecidos pelos órgãos ambientais de controle.
Atenção especial deve ser dada à questão das emissões, pois o material a ser lançado
na atmosfera a partir do processo de incineração apresenta, embora em níveis inferiores
aos permitidos pela legislação, normas e diretrizes que abordam o assunto, contém
dioxinas e furanos. As dioxinas e furanos são substâncias organocloradas que podem
estar presentes nos RSU, ou serem formadas sob temperaturas em torno de 300 ºC,
durante a etapa de resfriamento dos gases, após a incineração. Classificados como
Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs) apresentam elevado potencial tóxico e
danoso à saúde humana. O maior risco de contaminação por dioxinas ocorre em função
de sua deposição e diluição na água; enquanto a contaminação via ingestão responde
por 98% dos casos, e somente 2% é devida a inalação (Caixeta, 2005, apud., Machado,
2015).
52
Como impactos negativos, além dos passivos ambientais já mencionados nesta seção,
como a geração de poluentes atmosféricos e possibilidade de produção de efluentes
líquidos e efluentes gasosos, a depender do processo de recuperação e tratamento
utilizado, existe o inconveniente social que advém da não aceitação relacionada com o
grau de limpeza da tecnologia no diz respeito as emissões geradas e os atuais custos
de instalação, que podem alcançar a ordem de até $1300 (dólares canadenses) por
tonelada anual projetada (STANTEC, 2011).
3 Metodologia
Para a análise econômica será utilizada como base a análise econômica preliminar
adotada por Brito (2013), que buscou determinar a viabilidade econômica da
implantação de um projeto de geração de energia elétrica utilizando a tecnologia de
geração WtE, operando em cogeração e utilizando como combustível o CDR
(Combustível Derivado de Resíduos – Refuse-Derived Fuel –, adaptadas as
particularidades deste trabalho). Seguindo esta base metodológica, será elaborada uma
estimativa de fluxo de caixa, demonstrando as receitas e custos ao longo do horizonte
determinado para o projeto. De acordo com Hirschfeld (2000, apud. Brito, 2013), o fluxo
de caixa é a apreciação das contribuições monetárias ao longo do tempo a uma caixa
simbólica já constituída, destaque-se que as convenções de entradas de dinheiro são
positivas e as saídas negativas.
53
oriundas dos produtos obtidos a partir da sua operação, poderá se ter uma noção da
estimativa de lucro líquido obtido e se a tecnologia tem condições ou não de se
apresentar como uma alternativa factível à gestão de RSU no município.
14
Suplemento do Microsoft Excel utilizado para teste de hipóteses. Disponível em:
https://support.microsoft.com/pt-br/office/definir-e-resolver-um-problema-usando-o-solver-5d1a388f-079d-43ac-
a7eb-f63e45925040. Acesso em: 07/01/2021, as 14:30 hrs.
54
obtidos serão comparados com dados disponíveis na bibliográfica consultada, a partir
de uma análise gráfica para escolha do método mais adequado a extrapolação dos
dados e realização da análise de regressão. A tabela a seguir resume as características
de cada método.
Tabela 6: métodos de projeção populacional com base em fórmulas matemáticas. Fonte: Adaptado de
SPERLING (2014).
55
3.1.2 Geração média per capita de RSU na área de estudo
A taxa de geração per capita de RSU no município gerada considerada neste trabalho
é função direta da população do município. A tabela a seguir, que tem como referência
o Termo de Referência Geral estabelecido pelo Ministério das Cidades (2009) para
“Elaboração de Projetos de Engenharia e Estudos Ambientais de Obras e Serviços de
Infraestrutura de Sistemas Integrados de Destinação Final de Resíduos Sólidos
Urbanos” apresenta as taxas de geração média per capita de RSU de acordo com as
faixas populacionais dos municípios brasileiros. Segundo PRO-SINOS (2014) o relatório
propõe taxas para uso na elaboração de plano de gestão de resíduos sólidos no Brasil
e, sendo assim, entende-se que satisfazem aos objetivos deste trabalho.
Tabela 7: geração per capita de RSU em função da faixa populacional. Fonte: PROSINOS (2014).
Para isto, o estudo buscou determinar a estimativa do Poder Calorífico Inferior (PCI),
uma vez que a tecnologia de incineração, conforme já mencionado, se apropria deste,
propiciando a energia térmica decorrente do processo de combustão necessária a
produção de eletricidade. Este é um parâmetro que é diretamente dependente da
composição gravimétrica do RSU gerado no município. Segundo Themelis (2003) o PCI
é função direta da fração da matéria orgânica (FO), Papel (P), Plástico (Pl), Vidro (V),
Metais (M) e o teor de umidade (H2O) da massa de RSU. A fração de água existente no
material orgânico (folhas, madeira, material em decomposição e etc.) deve ser excluída
por estar considerada na variável H2O (Oliveira, 2018). A expressão matemática
formulada pelo citado autor, utilizada neste trabalho para o cálculo do PCI (kcal/kg) é
descrita pela Equação :
56
(3.1)
Segundo EPE (2014), de fato, a incineração dos RSU com poder calorífico inferior a
1675 kcal/kg apresenta dificuldades técnicas e exige a adição de combustível auxiliar.
Embora a classificação segundo PCI não deva ser considerada como definitiva para
estabelecer a destinação de RSU, considera-se que:
Após estimativa do PCI da massa de RSU coletada na área considerada para aplicação
do estudo de caso poderá ser estimada, considerando a eficiência da planta, a
capacidade de produção de eletricidade por unidade de massa de RSU na usina.
57
(3.2)
𝑅$ 𝑀𝐽 1 ℎ 𝑡𝑜𝑛 𝑅$
𝑅𝑒𝑙𝑒𝑡 ( ) = 𝑃𝐶𝐼 ( )∗ ( ) ∗ 𝜂𝑡𝑒𝑐 ∗ 𝑅𝑆𝑈 ( ) ∗ 𝑃𝑒𝑙𝑒𝑡𝑟𝑖𝑐𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 ( ) ∗ (1
𝑎𝑛𝑜 𝑡𝑜𝑛 3600 𝑠 𝑎𝑛𝑜 𝑀𝑊ℎ
− 𝐶𝑃)
Onde,
(3.3)
𝑅$ 𝑅$
𝑅𝐸𝑒𝑣 ( ) = 𝑃𝑐𝑟𝑒𝑑. 𝑐𝑎𝑟𝑏. ( ) ∗ (𝐸𝑚𝑖𝑠𝑠õ𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝐿𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑑𝑒 𝐵𝑎𝑠𝑒
𝑎𝑛𝑜 𝑡𝐶𝑂2
− 𝐸𝑚𝑖𝑠𝑠õ𝑒𝑠 𝑑𝑒 𝑃𝑟𝑜𝑗𝑒𝑡𝑜)
Onde,
𝑅$
𝑅𝐸𝑒𝑣 (𝑎𝑛𝑜) = Receita oriunda das emissões de CO2 evitadas;
𝑃𝑐𝑟𝑒𝑑. 𝑐𝑎𝑟𝑏. = Valor de mercado do crédito de carbono (R$/tCO2eq), fixado com base no
valor da cotação do ativo na época da realização dos cálculos.
58
Para o cálculo das emissões evitadas em aterros sanitários, propõe-se utilizar o método
default definido pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) 15.
O método permite calcular a produção de metano oriunda da deposição de RSU em
aterros sanitários e, segundo o próprio IPCC, apresenta uma estimativa anual razoável
das emissões caso a quantidade e a composição do RSU depositado apresentem pouca
variação ao longo do tempo. A partir desta estimativa, aplica-se um fator de conversão
de emissão de metano em CO2 equivalente, obtido a partir do potencial de aquecimento
global (GWP – Global Potential Warming) do metano, que estima a medida com a qual
determinado gás contribui para o aquecimento global. Sendo assim, a estimativa é
obtida a partir da fórmula que segue:
(3.4)
𝑡𝑜𝑛𝐶𝑂2 𝑡𝑜𝑛
𝐸𝐸𝑎𝑡𝑒𝑟𝑟𝑜𝐶𝑂2 ( ) = 𝐺𝑊𝑃 ∗ [(𝑅𝑆𝑈 ( ) ∗ 𝐿0 ) − 𝑅] ∗ (1 − 𝑜𝑥)
𝑎𝑛𝑜 𝑎𝑛𝑜
𝑀𝑡𝐶𝐻4 16
𝐿0 ( ) = 𝑀𝐶𝐹 ∗ 𝐷𝑂𝐶 ∗ 𝐷𝑂𝐶𝑓 ∗ 𝐹 ∗
𝑀𝑡𝑅𝑆𝑈 12
Onde,
15
IPCC Good Practice Guidance and Uncertainty Management in National Greenhouse Gas Inventories.
Capítulo 5. Disponível em: https://www.ipcc-nggip.iges.or.jp/public/gp/english/5_Waste.pdf.
16
Disponível em: https://www.ghgprotocol.org/sites/default/files/ghgp/Global-Warming-Potential-
Values%20%28Feb%2016%202016%29_1.pdf.
59
A emissões evitadas oriundas da substituição tecnológica, outro valor que compõe as
emissões da linha de base, neste estudo irá considerar um fator de emissão médio anual
que é calculado de acordo com a ferramenta metodológica aprovada pelo Conselho
Executivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL e têm como objetivo estimar
a contribuição, em termos de redução de emissões de CO2, de um projeto de MDL que
gere eletricidade para a rede17. O fator é multiplicado pela eletricidade produzida no
período pela usina e assim obtêm-se as emissões evitadas a partir da substituição da
tecnologia, conforme descrito abaixo.
(3.5)
Onde,
𝑓= fator de conversão, obtido com base em um valor médio anual estimado pelo
método de análise de despacho;
17
https://antigo.mctic.gov.br/mctic/opencms/ciencia/SEPED/clima/textogeral/emissao_despacho.html.
18
UNFCCC MDL DCP – GS CDM. Projeto: USINAVERDE: Incineração de resíduos sólidos urbanos, com carga similar ao
RDF, evitando emissões de metano e provendo geração de eletricidade para autoconsumo. ANEXO II. Rio de Janeiro,
2005.
19 Emissões que advém de fontes naturais, como plantas e árvores (matéria orgânica). Fonte: elaboração própria.
60
(3.6)
𝑡𝐶𝑂2
𝐸𝑖𝑛𝑐.𝑅𝑆𝑈 = 𝑅𝑆𝑈 ∗ 𝑉𝑜𝑙. 𝐶𝐻2 ∗ 𝐶𝑜𝑒𝑓. 𝐶𝑜𝑛𝑣𝑒𝑟𝑠ã𝑜 ( )∗𝜂
𝑡𝐶𝐻2
Onde,
(3.7)
𝑡𝐶𝑂2 𝑡𝐶𝑂2
𝐸𝐺𝐿𝑃 ( ) = 𝑅𝑆𝑈 ∗ 𝐺𝐿𝑃 𝑥𝐶𝑜𝑒𝑓. 𝐶𝑜𝑛𝑣𝑒𝑟𝑠ã𝑜 ( )
𝑎𝑛𝑜 𝑡𝐺𝐿𝑃
Onde,
GLP e CO2.
Para o cálculo das emissões oriundas do processo de combustão de biomassa (3), tem-
se como base a composição gravimétrica do RSU gerado na área de estudo, conteúdo
energético da biomassa (TJ/t.), fator de emissão de CH4 para combustão de biomassa
e resíduos (kg CH4/TJ), GWP para 100 anos do CH4 (tCO2–eq/t. CH4), N2O (t.CO2-
eq/t. N2O) e o fator de emissão de N2O para combustão de biomassa e resíduos (kg
61
N2O/TJ).As emissões neste caso levam em conta apenas os componentes da biomassa
que contribuem significativamente para o efeito estufa (CH4 e N2O). A equação
proposta tem como base o trabalho realizado por Centro Clima (2005) e pode ser
descrita da seguinte forma:
(3.8)
𝐸𝑏𝑖𝑜𝑚𝑎𝑠𝑠 = 𝑅𝑆𝑈
𝑡𝑜𝑛𝐵𝑖𝑜𝑚𝑎𝑠𝑠 𝑇𝐽
∗ 𝐵𝑖𝑜𝑚𝑎𝑠𝑠 ( ) 𝑥 𝐶𝐸𝑏𝑖𝑜𝑚𝑎𝑠𝑠 ( )(𝐶𝐻4𝑏𝑖𝑜𝑐𝑜𝑚𝑏 𝑥 𝐶𝐻4𝐺𝑊𝑃
𝑡𝑜𝑛𝑅𝑆𝑈 𝑡𝑜𝑛
+ 𝑁2𝑂𝑏𝑖𝑜𝑐𝑜𝑚𝑏 𝑥 𝑁2𝑂𝐺𝑊𝑃 )
Onde,
Desta forma, estimam-se as emissões do projeto a partir das somas de (1), (2) e (3).
A taxa de destruição térmica, outra fonte de receita possível dentro deste cenário de
aplicação de tecnologia de aproveitamento energético de RSU, leva em conta um valor
a ser cobrado pelo tratamento térmico do RSU. Neste caso as receitas computadas
terão relação direta com a massa de RSU processada no período. O valor pode ser
calculado da seguinte forma:
(3.9)
𝑅$ 𝑅$ 𝑡𝑜𝑛𝑅𝑆𝑈
𝑅𝑒𝑣𝑡𝑡 ( ) = 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑡𝑟𝑎𝑡. 𝑡é𝑟𝑚𝑖𝑐𝑜 ( ) ∗ 𝑅𝑆𝑈 ( )
𝑎𝑛𝑜 𝑡𝑜𝑛𝑅𝑆𝑈 𝑎𝑛𝑜
Onde, 𝑅𝑒𝑣𝑡𝑡 corresponde a receita oriunda da taxa cobrada pelo tratamento térmico de
e 𝑅𝑆𝑈 corresponde a massa de RSU coletada anualmente no município e destinada ao
tratamento térmico.
62
3.1.5 Premissas de cálculo
Prestação Anual
Prazo total 240 meses
63
O custo de investimento e o custo operacional levados em consideração neste
trabalho têm como base os trabalhos realizados por Sidiqqi (2020) e Giz (2017).
Os valores, por se tratarem de cotações em moeda estrangeira foram
convertidos à moeda corrente nacional considerando cotação do câmbio no
momento da composição dos valores.
A capacidade máxima projetada da usina levou em consideração a quantidade
de RSU gerada ao final do período considerado no horizonte de projeto (20
anos), estimada a partir dos pressupostos mencionados anteriormente. Assim,
considerou-se a implantação de usina com capacidade tal que, ao final da sua
vida útil, seja possível tratar todo o RSU coletado no município.
Os valores inerentes a aquisição do imóvel não serão computados, pois se
considera que são responsabilidade da administração pública, isto é, a própria
realizará a doação do terreno para implantação da usina.
A taxa de destruição térmica sobre o resíduo processado foi ajustada utilizando
análise de regressão não linear, a partir de um valor normativo inicial (R$ 60,00)
por tonelada processado, com referência ao utilizado no estudo realizado por
EPE (2014c), para um VPL nulo, de forma que a taxa contribua para a obtenção
de receitas que sejam capazes de cobrir somente os custos totais, oferecendo
assim uma base para cálculo do valor a ser cobrado pelo tratamento de RSU
por entidades da administração pública, por exemplo, no caso de
empreendimentos oriundos de iniciativa de consórcios municipais, empresas e
autarquias públicas, por exemplo, na gestão de RSU.
O fator de emissão médio anual considerado neste estudo leva em conta o fator
de emissão da margem de operação pelo método da análise de despacho,
levando em conta o valor mais recente disponível, para o ano de 2019, fixado
em 0,102 tCO2/MWh.
Neste estudo ficou estabelecida uma taxa de desconto de 8,6% a.a., em termos
reais, que têm como base a taxa de juros do financiamento de 100% do
investimento junto ao BNDES;
O valor de mercado da tonelada de CO2eq considerado na análise levou em
conta a cotação média do crédito de carbono futuro para o mês de outubro do
ano de 2020, fixada em 24,93€24.
64
O potencial de aquecimento global (GWP) do metano considerado neste estudo
tem como base o valor disponível em tabela fornecida pelo IPCC, do seu quinto
relatório de avaliação25, fixada em 28.
O conteúdo energético conservado a partir da retirada dos matérias metálicos
e vidro no processo não será contabilizado.
No cálculo das emissões da incineração de RSU é considerado que todo o
volume de plástico é constituído de polímeros derivados de CH2 e que toda
combustão irá gerar dióxido de carbono e água. Também será considerada uma
eficiência de queima de 90 % e a fração dos plásticos e borrachas levara em
conta a composição gravimétrica do lixo segundo dados disponíveis na
bibliografia consultada.
Para o cálculo das emissões de projeto, os valores dos parâmetros fixos
utilizados foram obtidos com base nos estudos realizados por CentroClima
(2005) e Oliveira (2004). A tabela a seguir expõe os valores utilizados para os
parâmetros considerados nas etapas de cálculo destas emissões.
Tabela 9: parâmetros de cálculo das emissões do projeto. Fonte: Adaptado (CentroClima, 2005).
65
GWP para o N2O (tCO2-eq/tN2O) 296
Tabela 10: valores dos parâmetros de cálculo das emissões evitadas em aterros sanitários. Fonte: IPCC
(2001).
Parâmetro Valor
(3.10)
𝐹1 𝐹2 𝐹𝑛
𝑉𝑃𝐿 = 1
+ 2
… − 𝐹0
(1 + 𝑖) (1 + 𝑖) (1 + 𝑖)𝑛
Onde,
26
Representando no método Default da metodologia do IPCC pelo parâmetro R (metano recuperado). A metodologia
recomenda que o metano recuperado e subsequentemente lançado não deve ser descontado das emissões brutas.
(Cap. 5, pág 10, IPCC Good Practice Guidance and Uncertainty Management in National Greenhouse Gas Inventories).
66
O VPL será calculado considerando os seguintes cenários:
1) Toda a massa de RSU encaminhada a usina será incinerada, sem qualquer tipo
de separação de recicláveis;
2) Antes de ser encaminhada ao tratamento térmico e conversão termoquímica, a
fração de vidros e metais é separada da massa de RSU;
Assim poderá ser estimado um dos impactos financeiros da retirada de materiais que
podem ser reinseridos na cadeia produtiva e que influenciam negativamente no poder
calorífico da massa de RSU e o grau de influência que esta separação pode ter nos
ganhos econômicos e na atratividade do investimento.
A Taxa Interna de Retorno (TIR) é definida como a taxa que faz com que o valor
atualizado dos benefícios seja igual aos valores atualizados dos custos, sendo um
método que depende exclusivamente do Fluxo de Caixa de sistemas de produção,
constitui uma medida relativa que reflete o aumento no valor do investimento ao longo
tempo tendo em vista os recursos demandados para produzir o fluxo de receitas (Brito,
2013).
O estudo propõe também, a partir dos resultados obtidos, uma análise sobre o ponto de
vista do custo que deverá ser coberto pelas receitas oriundas da taxa de tratamento
térmico a ser cobrado pela destruição térmica do RSU, outra fonte de receita oriunda da
implantação deste tipo de tecnologia. Considerando o atual panorama da gestão de
RSU, onde os RSU são em sua maioria encaminhado à aterros sanitários, a taxa
considerada será aquela usualmente cobrada pelos aterros privados para o tratamento
dos resíduos sólidos urbanos. Segundo EPE (2014c), o pagamento das prefeituras pode
variar entre R$ 11 e 60 R$/t, sendo este último o valor mais comum cobrado pelos
aterros no cenário atual e, portanto, o valor utilizado como ponto de partida para
realização da análise.
67
Em suma, propõe-se estimar qual pode ser a taxa mínima a ser cobrada pelo titular do
serviço de tratamento térmico de RSU que seria suficiente para cobrir o “gap” financeiro
compreendido entre as receitas oriundas da comercialização da eletricidade gerada e
da comercialização dos créditos de carbono e os custos de uma URE, considerando as
premissas pré-estabelecidas neste estudo. Essa taxa mínima, dentro dos cálculos
teóricos apresentados, pode ser obtida a partir de um VPL nulo (VPL =0), ou seja, valor
a partir do qual um investimento pode ser tornar atrativo do ponto de vista financeiro,
onde os custos se igualam as receitas no valor atual.
Isto é possível uma vez que todas as demais variáveis que compõem o fluxo financeiro
em análise tem base no mercado, podendo esta ser então ajustada, se as demais forem
mantidas fixadas, a fim de que a partir dela seja possível ter mais um indicador de
atratividade da tecnologia frente a destinação de RSU à aterros.
O taxa mínima será estimada neste estudo a partir da utilização da ferramenta de teste
de hipóteses Solver, do Microsoft Excel. Nela o teste de hipóteses tratará como objetivo
igualar a zero o VPL, mantendo-se como única variável a taxa de tratamento térmico e
como restrições variáveis irrestritas não negativas e o método de aplicação GRG não
linear.
4 Estudo de Caso
Seguindo os objetivos gerais deste estudo, para que seja possível realizar uma análise
que reflita com proximidade a realidade de uma determinada situação, se faz necessário
que estejam disponíveis dados que permitam a elaboração de estimativas fiéis ao
contexto apresentado dentro da temática abordada. Além disso, deve-se dispor de
elementos que contribuam satisfatoriamente para a obtenção de resultados que
possibilitem enxergar com clareza a temática abordada e a realidade estudada.
68
Para isto, a escolha da região onde será aplicada o estudo de caso levou em conta o
questionamento sobre o quanto esta reflete de forma satisfatória o atual panorama e o
cenário da gestão de resíduos sólidos urbanos, permitindo assim a aproximação e uma
generalização deste estudo com realidade dos centros urbanos.
Outro ponto importante está na disponibilidade de dados acerca dos parâmetros que
servem como base para aplicação da análise. Conforme descrito na seção que trata do
panorama da gestão de RSU no município, a partir da pesquisa literária e consulta a
base de dados do próprio município, pode-se perceber que existem dados suficientes
para a realização das estimativas consideradas no estudo. Destaca-se também que os
dados municipais disponíveis são relativamente recentes, oferecendo uma melhor
descrição da realidade estudada.
69
trabalhos futuros, como para outras iniciativas que busquem aplicar no cenário
apresentado às ferramentas analisadas.
As principais limitações do método proposto têm base nas estimativas decorrentes das
premissas de cálculo estabelecidas para as etapas de cálculo da análise. De acordo
com Hauser (2007, apud., Brito, 2013), fazer projeções de médio e longo prazo dos
preços da eletricidade não é tarefa fácil, pois a produção e distribuição de energia são
fortemente reguladas no Brasil e a oferta depende das circunstâncias climáticas. Desta
forma, o método proposto encontra-se limitado pela fixação de um preço da eletricidade
e, desta maneira, a aproximação dos resultados obtidos nesta análise com o cenário
real pode ser limitada por esta volatilidade dos preços praticados no mercado nacional
de eletricidade.
Outro fator que pode variar consideravelmente ao longo do tempo e fora utilizado de
forma fixa neste estudo é o valor do crédito de carbono. Segundo Teixeira et. al. (2010)
o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – MDL, mecanismo oficial que certifica
projetos que contribuem efetivamente para a redução das emissões de gases
causadores do efeito estufa – GEE e que facilita o cumprimento das metas de reduções
de emissões estabelecidas pelo Protocolo de Kyoto27, é o mecanismo de flexibilização
que oferece maior risco ao investidor, pelo alto grau de incerteza e pela burocracia que
existe até a efetiva aprovação dos projetos pela ONU, além do alto custo de transação
envolvido (em torno de US$ 100.000 a US$150.000). Estes riscos, ainda segundo o
mesmo estudo, estão associados ao tratado de Quioto, que tem prazo de validade, além
dos riscos associados a performance do projeto. Percebe-se então que uma fixação do
valor de comercialização da tonelada de carbono evitada tem o potencial de afastar os
resultados do estudo da realidade no que diz respeito a estimativa da obtenção de
receitas oriundas deste parâmetro.
27
Instrumento criado na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC), na COP-3, na
cidade de Kyoto, em Dezembro de 1997. Nele foram estabelecido que, dentre outras metas, países integrantes do
Anexo I do documento deverão reduzir a emissões de GEE em pelo menos 5% em relação aos níveis emitidos pelos
países em 1990.
70
dos RSU e, portanto, o potencial de produção de eletricidade da usina, o processo
possibilita uma economia no consumo de eletricidade em processos industriais, uma
vez que estes materiais são reinseridos na cadeia produtiva. Estima-se, segundo dados
disponíveis em EPE (2014) e considerando a matriz brasileira, que o vidro e o metal têm
potencial de economia de eletricidade de 0,111 kWh/kg e 1,052 kWh/kg,
respectivamente. Considerando a realidade proposta para este estudo e as
características dos RSU gerados na área de estudo e o valor médio de R$ 112,86/MWh
para a energia conservada através da reciclagem (EPE, 2014b), receitas adicionais
podem ser obtidas, refinando os resultados e contribuindo positivamente para a
determinação da competitividade econômica da tecnologia frente às formas comuns de
manejo e gestão de RSU empregadas no cenário nacional.
71
desde a extração da matéria-prima até a destinação final28, que, segundo o estudo, é
beneficiada pela quantificação destes impactos.
O autor ainda afirma que esta é uma ferramenta que permite obter uma estimativa
confiável dos impactos das tecnologias de tratamento térmico de RSU. No entanto, a
maior parte dos estudos realizados neste sentido limitam-se ao processo de incineração
convencional, dispondo-se assim de um volume maior de dados disponíveis para
análise.
O ACV teve como base de dados uma análise teórica das tecnologias de incineração,
gaseificação e pirólise, além de estudos de caso de plantas comerciais. As categorias
de impactos avaliadas foram divididas em impactos não tóxicos (aquecimento global,
acidificação, eutrofização terrestre, formação de ozônio fotoquímico) e tóxicos
(toxicidade humana via ar, sólidos e ecotoxicidade via sólidos). A unidade funcional
considerada foi 01 tonelada de RSU recebida na planta e a fronteira do projeto
compreende o momento que o resíduo entra na usina, o pré tratamento, conversão
térmica e a utilização dos produtos produzidos (calor, gás de síntese, cinzas, resíduos).
Desta maneira, a partir dos resultados expostos na análise supracitada, percebe-se que,
mesmo possuindo uma superioridade no que diz respeito à mitigação de impactos
ambientais, as tecnologias de pirólise e gaseificação podem ser superadas pela
incineração convencional, caso estejam previsto no processo dispositivos de controle
de poluição e tratamento dos gases de fluxo gerados dentro do padrão de modernidade
do atual estado de arte da tecnologia.
28
Disponível em: https://acvbrasil.com.br/consultorias/avaliacao-do-ciclo-de-vida-acv. Acesso em:
14/01/2021.
72
como simples de se manusear por si só e sua operação requer bom entendimento da
composição do resíduo fornecido e sólidos conhecimentos a respeito do processo. Além
disso, ainda segundo o mesmo autor um processo de gaseificação e pirólise livre de
problemas requer mão de obra altamente especializada. Adicionalmente, o autor
considera que, devido à ausência de experiências de sucesso com o tratamento de
grandes volumes de RSU em sua forma bruta, estes são indicados como uma opção ao
tratamento final de resíduos específicos, como solo contaminado, resíduo dos serviços
de saúde, resíduos industriais e comerciais, não sendo portanto recomendados para o
tratamento de resíduos sólidos municipais, devido a sua heterogeneidade, e quantidade
gerada. Por fim, segundo Dong., et. al. (2018) a heterogeneidade típica do RSU é o
principal impeditivo a aplicação dos sistemas a base da tecnologia de pirólise e
gaseificação .
No que diz respeito aos custos de implantação e operação das usinas, a tabela abaixo
ilustra a composição de custos típica das usinas de aproveitamento energético de RSU
que utilizam das rotas tecnológicas estudadas:
Tabela 11: custo de capital e operacional para tecnologias WtE estudadas. Fonte: Siddiqi(2020), Giz
(2017)
73
turbina a vapor para geração de energia e com sistema de recuperação de calor. Em
resumo, a escolha se dá com base nos seguintes fatores:
29
Giz (2017).
74
leis em vigor na legislação nacional e internacional que regulam e instituem mecanismos
de gestão e o gerenciamento de RSU.
O tratamento dos dados foi realizado por meio da aplicação dos cálculos teóricos
propostos e interpretação de resultados obtidos na bibliografia consultada, que serviram
como base para interpretação dos resultados e elucidação das percepções acerca de
sua aplicação de forma que seja possível construir uma base com elementos suficientes
para cobrir todos os questionamentos que motivaram a realização do presente trabalho.
5 Resultados e Discussão
75
A partir destes dados é possível calcular os coeficientes que compõem as equações dos
métodos matemáticos propostos. O resultados dos cálculos das projeções estão
resumidos na tabela a seguir:
76
A análise de regressão não linear permitiu o ajuste dos coeficientes do método
previamente calculados matematicamente com o objetivo de reduzir o do resíduo (erro)
observado entre os dados estimados e os disponíveis. O resultado do ajuste pode ser
observado abaixo:
Aplicando a taxa média de geração per capita de RSU de 0,9 kg/hab.dia, função do
tamanho da população conforme , a geração anual de RSU estimada para o município
no horizonte de projeto pode ser calculada.
Tabela 14: Estimativa da geração de RSU no horizonte de projeto para o Município de Magé. Elaboração
própria.
77
5.1.2 Potencial de geração de eletricidade
A estimativa do PCI nos dois cenários propostos (com e sem separação de recicláveis),
conforme já mencionado, considerou os dados disponíveis da composição gravimétrica
do RSU do município de Magé. Os dados de entrada utilizados no cálculo foram os
seguintes:
𝑌𝑣𝑖𝑑𝑟𝑜𝑠 – 0,78%;
𝑌𝑚𝑒𝑡𝑎𝑖𝑠 – 2,22%.
78
Tabela 15: Potencial de geração de eletricidade e capacidade instalada nos cenários propostos.
Com triagem prévia Sem triagem prévia Com Triagem prévia Sem triagem prévia
Produção Produção Produção
Produção
Ano de Ano de de
Cap. de Cap. Cap. Cap.
eletricidad eletricidad eletricida
Instalada eletricidad Instalada Instalada Instalada
e. e de
(MW) e (MW) (MW) (MW)
(MWh/an (MWh/an (MWh/an
(MWh/ano)
o) o) o
2021 32335 5,1 27602 4,3 2031 34437 5,4 29396 4,6
2022 32561 5,1 27795 4,3 2032 34627 5,4 29559 4,6
2023 32784 5,1 27985 4,4 2033 34814 5,4 29718 4,6
2024 33003 5,2 28172 4,4 2034 34997 5,5 29875 4,7
2025 33219 5,2 28356 4,4 2035 35177 5,5 30028 4,7
2026 33431 5,2 28537 4,5 2036 35353 5,5 30179 4,7
2027 33639 5,3 28715 4,5 2037 35526 5,6 30326 4,7
2028 33844 5,3 28890 4,5 2038 35696 5,6 30471 4,8
2029 34045 5,3 29062 4,5 2039 35862 5,6 30613 4,8
2030 34243 5,4 29231 4,6 2040 36025 5,6 30752 4,8
79
portanto, foram calculadas a partir da aplicação das Equações , e . Os resultados para
os cenários analisados seguem nas e .
80
2027 R$ 4.221.154,31 R$ 23.455.985,07 R$ 4.647.798,00
2028 R$ 4.246.852,89 R$ 23.598.786,15 R$ 4.676.094,00
2029 R$ 4.272.093,73 R$ 23.739.043,69 R$ 4.703.886,00
2030 R$ 4.296.893,18 R$ 23.876.848,55 R$ 4.731.192,00
2031 R$ 4.321.251,24 R$ 24.012.200,71 R$ 4.758.012,00
2032 R$ 4.345.135,22 R$ 24.144.918,51 R$ 4.784.310,00
2033 R$ 4.368.594,16 R$ 24.275.274,45 R$ 4.810.140,00
2034 R$ 4.391.595,37 R$ 24.403.086,86 R$ 4.835.466,00
2035 R$ 4.414.171,53 R$ 24.528.537,43 R$ 4.860.324,00
2036 R$ 4.436.289,96 R$ 24.651.444,46 R$ 4.884.678,00
2037 R$ 4.457.983,35 R$ 24.771.989,64 R$ 4.908.564,00
2038 R$ 4.479.251,70 R$ 24.890.172,97 R$ 4.931.982,00
2039 R$ 4.500.078,66 R$ 25.005.903,62 R$ 4.954.914,00
2040 R$ 4.520.496,93 R$ 25.119.363,25 R$ 4.977.396,00
Percebe-se a partir dos resultados obtidos que os mesmos são diretamente afetados
pelo processo de separação da fração metálica e de vidros da massa de RSU, do ponto
de vista do potencial de produção de eletricidade e emissões evitadas, afetando
consequentemente as receitas operacionais estimadas. Como já foi mencionado nas
premissas de cálculo que balizaram este estudo, os potencias ganhos econômicos
oriundos da conservação de energia a partir do processo de reciclagem não são
computados nesta análise e, sendo assim, pode-se perceber que caso este fator
estivesse incluso na abordagem os resultados financeiros anuais poderiam ser ainda
maiores.
O Fluxo de Caixa é função das receitas estimadas e dos custos inicias de investimento,
de operação e manutenção. Os valores iniciais de investimento estimados, além dos
81
parâmetros da planta, como já dito, são função da capacidade de processamento da
usina, esta por sua vez função da massa de RSU gerada ao final do horizonte de projeto
considerado. Os parâmetros da planta e o valor inicial de investimento estão resumidos
abaixo e foram baseados no trabalhos de Giz (2017), Siddiqi (2020) e Brito (2013), além
dos dados da .
A partir dos resultados obtidos em cada período pode-se determinar então o Fluxo de
Caixa, que incluem os custos e as receitas em cada período. O resultado para os
cenários propostos pode ser observado nas tabelas do Anexo A. Estimadas as entradas
e saídas do Fluxo de Caixa em cada período, pode-se então determinar o VPL e a TIR
do investimento nos dois cenários propostos. Os resultados encontram-se resumidos na
O VPL estimado nos dois cenários se mostrou positivo, indicando que o investimento
pode ser atrativo do ponto de vista financeiro. A TIR também nos dois cenários supera
a TMA e, portanto, também reforça a sinalização de atratividade do investimento do
ponto de vista financeiro. Esta condição se dá pela forte influência que a
comercialização dos créditos de carbono possui no resultado financeiro do
empreendimento, que compõe mais da metade da parcela das receitas operacionais.
82
créditos de carbono também tem influência neste aumento expressivo da estimativa do
VPL do investimento, uma vez que as emissões evitadas também são função da
eletricidade produzida, conforme já discutido na seção que trata da metodologia
proposta.
Para análise da taxa mínima a ser cobrada pelo tratamento térmico dos RSU
encaminhado ao processo de incineração, a utilização do testes de hipóteses a partir da
ferramenta Solver do Microsoft Excel permitiu estimar qual seria o valor mínimo a ser
cobrado tal que as receitas operacionais sejam capazes de cobrir todos os custos
relacionados ao projeto, mantendo assim a atratividade do investimento ponto de vista
financeiro.
Os resultados mostraram que a taxa mínima que pode ser aplicada por tonelada de RSU
encaminhado ao tratamento térmico, considerando o estudo de caso proposto, se
mostra dentro dos valores que são atualmente cobrados pelas empresas responsáveis
pela destinação de RSU , em ambos os cenários propostos. Os valores estimados
podem ser observados na .
Pode-se perceber que em ambos os casos, a taxa mínima a ser cobrada pelo tratamento
térmico tal que todos os custos possam ser cobertos pelas receitas operacionais,
aplicadas a TMA do investimento, se encontra dentro da média de preços praticados
pelas empresas responsáveis pela serviço de destinação final.
83
aplicação do estudo de caso, relacionadas à execução de serviços da própria
administração e gestão pública.
Isto pode ser explicado pelo fato de que, caso somados os valores obtidos por unidade
de eletricidade (MWh) fornecida à rede pela usina, considerando a taxa de tratamento
térmico e o valor normativo considerado de comercialização da energia elétrica no
mercado livre, ainda assim este valor total seria consideravelmente inferior as tarifas
atualmente praticadas pelas concessionárias responsáveis pelo fornecimento de
energia elétrica aos órgãos da administração pública. As tabelas a seguir ilustram tal
quadro.
Tabela 21: receita mínima oriunda do tratamento térmico e eletricidade produzida fornecida à rede.
Tabela 22: tarifa média por classe de consumo (09/2020). Empresa: ENEL RJ. Fonte: ANEEL30
A tabelas acima permitem comparar os valores das tarifas médias praticadas pela
empresa responsável pelo serviço de distribuição e fornecimento de energia elétrica à
serviços da administração pública na área onde é aplicado o estudo de caso (ano de
2020) e a tarifa que poderia ser paga pela aquisição da energia produzida pela usina,
incluindo o valor normativo da eletricidade e a tarifa referente ao MWh de eletricidade
produzida em virtude do tratamento térmico dos RSU.
30
Disponível em:< https://www.aneel.gov.br/relatorios-de-consumo-e-receita>. Acesso em:
07/04/2021, às 18:46 hrs.
84
estes órgãos ainda é inferior ao valor que é adotado pela concessionária de energia
elétrica local pelo fornecimento e distribuição de eletricidade para serviços da
administração pública.
Visto isto, o eventual custo adicional praticado pela usina e que poderia ser pago pelo
destinador (neste caso, a própria administração pública) estaria internalizado ao valor
pago pelo Megawatt-hora de eletricidade adquirida diretamente junto à usina, evitando
assim este eventual repasse de uma taxa adicional, relativa ao tratamento térmico, à
população afetada pelo serviço. Este é um cenário que pode promover positivamente a
adoção desta técnica ainda sob uma perspectiva política, considerando o atual quadro
de maior aceitabilidade desta frente à população e órgãos de fiscalização e controle,
além da ausência de um ônus adicional sob esta perspectiva do custo do tratamento
térmico, o que poderia desencadear em um eventual desgaste da gestão pública
perante à população,
Além disso, a opção pela compra de eletricidade oriunda da própria usina pela
administração pública oferecia uma alternativa para redução de custos no que diz
respeito ao consumo de energia elétrica suficiente ao atendimento da demanda destes
serviços. Portanto, a depender da demanda de consumo de eletricidade dos órgãos da
gestão pública pelos serviços utilizados nesta comparação, toda esta poderia ser
suprida pela própria usina, sob um custo consideravelmente menor ao que é atualmente
praticado, possibilitando uma redução de gastos e alinhamento da gestão à um
consumo de energia de base sustentável.
Sendo assim, a partir dos resultados obtidos é possível perceber que o valor mínimo
para cobrir o lastro compreendido entre as receitas oriundas da operação da usina e
seus custos de operação e manutenção fortalece um cenário de aplicação do
investimento sem necessidade de repasse deste custo adicional a população pelo
tratamento térmico dos resíduos encaminhados ao aproveitamento energético.No
entanto, considerando que os valores obtidos são fatores de variáveis que possuem alta
volatilidade nos seus preços de mercado, como o preço da eletricidade e da tonelada
de CO2 evitado, evidencia-se a necessidade de uma análise do ponto de vista de quais
seriam os valores mínimos tais que o investimento ainda assim pode ser atrativo do
ponto de vista financeiro dentro do contexto apresentado.
85
desvalorização do valor de mercado do crédito de carbono (acima de 2%) já é capaz de
colocar em risco a viabilidade econômica do empreendimento. No cenário que prevê
prévia separação da fração de vidros e metais é ainda admitida uma desvalorização do
ativo de 6,5%. Isto reforça a hipótese da forte dependência que a viabilidade do
empreendimento possui em relação aos preços de um ativo que possui um elevado grau
de risco, conforme já discutido. Além disso, tal fato indica que é provável que, em
cenários de forte desvalorização do ativo, ocorra a necessidade de que sejam praticados
preços mais elevados pelo tratamento térmico do RSU, acima daqueles praticados na
operação de aterros sanitários. Para fins de exemplo, uma desvalorização de 20% no
ativo provocaria a necessidade de um aumento de 133% na taxa de destruição térmica
para o caso da incineração da massa bruta de RSU e de 110% no caso da incineração
com pré-tratamento para que o empreendimento continue sendo atrativo do ponto de
vista financeiro para o estudo de caso analisado, considerando um preço fixo de
comercialização da eletricidade.
6 Conclusão
Diante da presente análise, que buscou fornecer uma referência metodológica para
análise da aplicação da tecnologia de aproveitamento energético de resíduos através
de Usinas de Recuperação Energética, com a apresentação de um estudo de caso que
fosse capaz de apresentar elementos suficientes para aproximar os resultados obtidos
a partir da aplicação da metodologia a realidade exposta, a fim de que estes possam
86
servir de base para a elaboração de projetos e trabalhos futuros e contribuir para o
desenvolvimento da pesquisa científica acerca da temática abordada, tem-se que, sob
o ponto de vista econômico e ambiental a tecnologia possui capacidade de apresentar
retornos aceitáveis dentro de determinado um cenário econômico.
Como fora discutido, em análise ao atual estado da arte das tecnologias analisadas
nesta pesquisa, aquela que mais se adequa ao tratamento térmico do resíduo sólido
típico dos centros urbanos e, sendo assim, a escolhida para aplicação do estudo de
caso é a incineração convencional. Embora esta tecnologia possa ser superada em
termos de eficiência, produção de eletricidade e, portanto, de mitigação de impactos
ambientais em comparação com as tecnologias de pirólise e gaseificação, esta
superioridade hoje, segundo revisão bibliográfica, pode ser compensada devido à
utilização de modernos sistemas de limpezas de gases, de sistemas combinados de
calor e energia e de reciclagem de cinzas.
87
O resultado da análise dos indicadores de viabilidade econômica mostrou que, embora
tecnicamente a aplicação da tecnologia seja dependente de uma etapa prévia de
tratamento para elevação do poder calorífico inferior da massa de resíduos destinadas
à conversão termoquímica, a incineração bruta da massa de RSU é capaz de se mostrar
atrativa do ponto de vista econômico, apresentando VPL >0 e TIR superior à taxa de
desconto aplicada. No entanto, a aplicação de uma etapa prévia de separação de
materiais recicláveis (vidro e metais) da massa de RSU a ser incinerada se mostrou
capaz de aumentar consideravelmente os valores estimados do VPL e afastou a TIR da
TMA, sendo portanto uma opção mais adequada para aplicação da tecnologia do ponto
de vista financeiro. Adicionalmente, embora a inclusão do processo de triagem prévia
para retirada de vidros e metais seja somente analisado do ponto de vista do potencial
de produção de eletricidade, mostrou-se que esta etapa possui também potencial de
conservação de energia (aproximadamente 1,2 kWh/kg), que pode ser comercializada,
contribuindo positivamente para a estimativa do resultado financeiro da implantação da
tecnologia, sendo portanto um fator que, embora não computado na análise, reforça a
necessidade de inclusão desta etapa no processo. Cabe destacar também, com
inclusão da etapa de triagem, o estimulo a cadeia produtiva da reciclagem, a
qualificação de obra e criação de empregos diretos e indiretos.
88
Embora os resultados desta pesquisa mostrem que a aplicação da tecnologia possui a
capacidade de gerar retorno financeiro positivo, além do potencial de mitigação dos
impactos ambientais já discutidos, cabe destacar a forte dependência que estes
resultados têm com variáveis de alta volatilidade de preços praticados em seus
respectivos mercados, em especial ao valor do crédito de carbono.
Para o estudo de caso abordado, fica evidente que uma pequena variação no valor de
mercado do ativo já é suficiente para colocar em risco a viabilidade econômica do
empreendimento, principalmente para o caso onde os RSU são incinerados em sua
forma bruta. Isto pode levar a necessidade de aplicação de taxa mais elevadas a serem
cobradas pelo tratamento térmico do RSU tais que ainda sejam capazes de cobrir todos
os custos relacionados ao projeto.
89
6.1 Sugestões para Trabalhos Futuros
90
uma análise dos custos relativos à substituição frente à fontes fósseis de
combustíveis.
7 Referências Bibliográficas
91
BRITO, A, P., 2013, Análise Econômica Preliminar Da Implantação De Incinerador De
Resíduos Sólidos Urbanos Na Região De Bauru. Dissertação de M.Sc., Faculdade de
Engenharia, Universidade Estadual de Bauru, São Paulo, SP, Brasil. Disponível em: <
https://repositorio.unesp.br/handle/11449/91722>. Acesso em: 6 de novembro de 2020,
16:53:21.
CHEN, Y. “Evaluating greenhouse gas emissions and energy recovery from municipal
and industrial solid waste using waste-to-energy technology”, Journal of Cleaner
Production 192 (2018). pp. 262-269, Taipei, Taiwan. doi:
https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2018.04.260.
DONG, et. al. “Life cycle assessment of pyrolysis, gasification and incineration waste-to-
energy technologies: Theoretical analysis and case study of commercial plants”. Science
of the Total Environment 626 (2018). pp. 744-753, Albi Cedex, França. doi:
https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2018.01.151.
92
Energéticos. Nota Técnica DEA 16/14. Rio de Janeiro, 2014a. Disponível em:
https://www.epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-
abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-251/topico-311/DEA%2016%20-
%20%20Economicidade%20e%20Competitividade%20do%20Aproveitamento%20Ene
rgetico%20d%5B1%5D.pdf.
93
http://monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli10013010.pdf. Acesso em: 7
de julho de 2020, 14:57:00.
94
PLASTIVIDA; ABRELPE, 2012. Recuperação Energética, Resíduos Sólidos Urbanos.
Caderno Informativo. Plastivida – Instituto Sócio-ambiental dos plásticos. ABRELPE -
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais.
SIDDIQI, A., et. al. “Urban waste to energy recovery assessment simulations for
developing countries”, World Development, v. 131 (2020), doi:
https://doi.org/10.1016/j.worlddev.2020.104949. Acesso em: 17 de julho de 2020,
14:57:01.
95
http://www.saoleopoldo.rs.gov.br/download_anexo/SLEO_3_T4_rev0.pdf. Acesso em:
26 de outubro de 2020, 16:54:55.
96
8 Anexos
Fluxo de Caixa
Receita Operacional Anual Estimada Despesas
Livre
Ano
Venda da Créditos de Destruição
Energia Carbono térmica Operacionais Investimento
R$ -R$
0
162.600.000,00 162.600.000,00
R$ R$ R$ R$ R$
1
4.057.464,86 22.546.400,36 4.467.564,00 14.286.376,16 11.751.189,88
R$ R$ R$ R$ R$
2
4.085.877,15 22.704.280,94 4.498.848,00 14.386.416,13 12.034.248,92
R$ R$ R$ R$ R$
3
4.113.831,70 22.859.617,98 4.529.628,00 14.484.844,42 1.895.808,67
R$ R$ R$ R$ R$
4
4.141.344,87 23.012.502,34 4.559.922,00 14.581.718,57 1.653.685,96
R$ R$ R$ R$ R$
5
4.168.400,30 23.162.843,17 4.589.712,00 14.676.981,03 1.589.712,30
R$ R$ R$ R$ R$
6
4.194.998,00 23.310.640,47 4.618.998,00 14.770.631,80 1.329.869,27
R$ R$ R$ R$ R$
7
4.221.154,31 23.455.985,07 4.647.798,00 14.862.728,44 1.204.327,90
R$ R$ R$ R$ R$
8
4.246.852,89 23.598.786,15 4.676.094,00 14.953.213,39 1.111.856,19
R$ R$ R$ R$ R$
9
4.272.093,73 23.739.043,69 4.703.886,00 15.042.086,65 827.531,13
R$ R$ R$ R$ R$
10
4.296.893,18 23.876.848,55 4.731.192,00 15.129.405,78 765.656,18
R$ R$ R$ R$ R$
11
4.321.251,24 24.012.200,71 4.758.012,00 15.215.170,77 618.947,65
R$ R$ R$ R$ R$
12
4.345.135,22 24.144.918,51 4.784.310,00 15.299.266,52 373.022,65
R$ R$ R$ R$ R$
13
4.368.594,16 24.275.274,45 4.810.140,00 15.381.865,69 274.451,49
R$ R$ R$ R$ R$
14
4.391.595,37 24.403.086,86 4.835.466,00 15.462.853,17 99.092,18
R$ R$ R$ R$ -R$
15
4.414.171,53 24.528.537,43 4.860.324,00 15.542.344,09 45.075,92
R$ R$ R$ R$ -R$
16
4.436.289,96 24.651.444,46 4.884.678,00 15.620.223,31 137.822,98
R$ R$ R$ R$ -R$
17
4.457.983,35 24.771.989,64 4.908.564,00 15.696.605,96 338.060,58
R$ R$ R$ R$ -R$
18
4.479.251,70 24.890.172,97 4.931.982,00 15.771.492,04 439.317,57
R$ R$ R$ R$ -R$
19
4.500.078,66 25.005.903,62 4.954.914,00 15.844.823,99 538.364,02
R$ R$ R$ R$ -R$
20
4.520.496,93 25.119.363,25 4.977.396,00 15.916.716,93 664.463,19
97
Cenário – com pré-tratamento (separação prévia de vidros e metais)
Fluxo de Caixa
Receita Operacional Anual Estimada Despesas
Livre
Ano
Venda da Créditos de
Energia Carbono Destruição térmica Operacionais Investimento
R$ -R$
0
162.600.000,00 162.600.000,00
R$ R$ R$ R$
1
4.985.120,57 22.652.791,50 R$ 4.467.564,00 14.286.376,16 12.785.236,73
R$ R$ R$ R$
2
5.020.028,74 22.811.417,08 R$ 4.498.848,00 14.386.416,13 13.075.536,66
R$ R$ R$ R$
3
5.054.374,53 22.967.487,13 R$ 4.529.628,00 14.484.844,42 2.944.220,64
R$ R$ R$ R$
4
5.088.178,02 23.121.092,91 R$ 4.559.922,00 14.581.718,57 2.709.109,68
R$ R$ R$ R$
5
5.121.419,12 23.272.143,16 R$ 4.589.712,00 14.676.981,03 2.652.031,10
R$ R$ R$ R$
6
5.154.097,83 23.420.637,88 R$ 4.618.998,00 14.770.631,80 2.398.966,51
R$ R$ R$ R$
7
5.186.234,24 23.566.668,33 R$ 4.647.798,00 14.862.728,44 2.280.091,09
R$ R$ R$ R$
8
5.217.808,27 23.710.143,25 R$ 4.676.094,00 14.953.213,39 2.194.168,67
R$ R$ R$ R$
9
5.248.819,90 23.851.062,64 R$ 4.703.886,00 15.042.086,65 1.916.276,25
R$ R$ R$ R$
10
5.279.289,24 23.989.517,76 R$ 4.731.192,00 15.129.405,78 1.860.721,45
R$ R$ R$ R$
11
5.309.216,27 24.125.508,62 R$ 4.758.012,00 15.215.170,77 1.720.220,59
R$ R$ R$ R$
12
5.338.560,83 24.258.852,68 R$ 4.784.310,00 15.299.266,52 1.480.382,43
R$ R$ R$ R$
13
5.367.383,17 24.389.823,74 R$ 4.810.140,00 15.381.865,69 1.387.789,79
R$ R$ R$ R$
14
5.395.643,13 24.518.239,27 R$ 4.835.466,00 15.462.853,17 1.218.292,35
R$ R$ R$ R$
15
5.423.380,87 24.644.281,80 R$ 4.860.324,00 15.542.344,09 1.079.877,80
R$ R$ R$ R$
16
5.450.556,22 24.767.768,81 R$ 4.884.678,00 15.620.223,31 992.767,63
R$ R$ R$ R$
17
5.477.209,36 24.888.882,81 R$ 4.908.564,00 15.696.605,96 798.058,60
R$ R$ R$ R$
18
5.503.340,28 25.007.623,82 R$ 4.931.982,00 15.771.492,04 702.221,86
R$ R$ R$ R$
19
5.528.928,90 25.123.900,57 R$ 4.954.914,00 15.844.823,99 608.483,17
R$ R$ R$ R$
20
5.554.015,38 25.237.895,60 R$ 4.977.396,00 15.916.716,93 487.587,61
98