Paratelli PPR TCC Soro
Paratelli PPR TCC Soro
Paratelli PPR TCC Soro
Sorocaba
2022
PEDRO PAULO RODRIGUES PARATELLI
Sorocaba
2022
Paratelli, Pedro Paulo Rodrigues
P Tecnologias Waste-To-Energy: Conceito e Aplicação no
Cenário Brasileiro de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos. /
Pedro Paulo Rodrigues Paratelli. -- Sorocaba, 2022
55 f. : il., tabs.
ABSTRACT
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 11
2. OBJETIVOS ........................................................................................... 14
4. METODOLOGIA ..................................................................................... 35
5.2.5. Conclusões............................................................................................. 51
6. CONCLUSÕES ...................................................................................... 53
1. INTRODUÇÃO
A geração de resíduos sólidos, bem como seus meios de disposição e
tratamento final sempre estiveram a companhia do ser humano desde os
primórdios da história, em que se há relato. A revolução industrial, dentro desta
linha do tempo, foi um ponto importante para a história dos RSU (Resíduos
Sólidos Urbanos) uma vez que após ela foi notado uma considerável aceleração
no consumo de bens, e geração correspondente de resíduos, levando as cidades
a criarem aterros e incineradores, como solução a essa problemática que havia
se instaurado. Contudo, a partir de meados do século XX, o que se viu foi o
crescimento cada vez mais acelerado dessa geração de resíduos.
Metodologias e tecnologias, como design de produtos e embalagens para
redução de rejeitos; reciclagem de materiais; compostagem do resíduo orgânico
gerado; aproveitamento energético; e aterramento sanitário; foram medidas
criadas como alternativa a esse problema que vem se agravando conforme
avançamos no tempo.
Atualmente, sete bilhões de pessoas produzem cerca de 1,4 bilhão de
toneladas de resíduo sólido urbano (RSU) por ano – quase 700 milhões gerados
apenas pelos 30 países mais desenvolvidos - ou seja, cerca de 1,2Kg de resíduo
gerado por dia por cada habitante do planeta terra. Segundo estudo realizado
pelo Banco Mundial e pela Organização das Nações Unidas, em 2050, se
nenhuma medida for tomada, haverá um aumento de 350% na geração de
resíduos – KAZA, Silpa. YAO, Lisa. BHADA-TATA, Perinaz. VAN WOERDEN,
Frank. What a Waste 2.0: A Global Snapshot of Solid Waste Management to
2050. World Bank Publications, Dez 6, 2018. As previsões apontam para uma
população de 9 bilhões de habitantes gerando cerca de 4 bilhões de RSU por
ano.
No último Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, realizado pela
Associação Brasileira de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), os
dados, que fazem referência aos anos de 2018-2019, apontam que foram
gerados 79 milhões de toneladas no ano, dos quais 92% foi coletado. Sendo
assim, 6,3 milhões de toneladas de resíduos não foram recolhidas junto aos
locais de geração. Desse montante coletado, 59.5% tiveram destinação
adequada em aterros sanitários, ou seja, os restantes 29,5 milhões de toneladas
12
2. OBJETIVOS
2.1. Objetivo Geral.
O objetivo do presente trabalho é elucidar sobre os principais métodos de
recuperação energética, associando estes como alternativas aos obstáculos
enfrentados pelo atual método de gestão de resíduos adotado no Brasil.
3. REVISÃO DE LITERATURA
3.1. Cenário Brasileiro e Resíduo Sólido.
Segundo dados do Banco Mundial (2012) é esperado, dentro do período de
2011 para 2025, um aumento de aproximadamente 69% na geração de resíduos
sólidos, ou seja, daqui 4 anos é esperado uma geração de 2,2 bilhões de
toneladas de RSU por ano no mundo.
Com um aumento de 3,15 bilhões de pessoas vivendo em áreas urbanas
desde 1950, o processo de urbanização está aumentando significantemente e
segundo dados da Organização das Nações Unidas (2014) a população urbana
mundial em 2050 será de 6,4 bilhões de pessoas. Isso acarretará um aumento
na taxa de geração de RSU e, a partir de dados do Banco Mundial, é projetado
um aumento de 82,8% nos custos para um gestão adequada de resíduos.
O cenário chama a atenção do mundo para as consequências que a
urbanização trará para a Gestão de Resíduos Sólidos e seus custos, inclusive
para o Brasil.
Com uma área geográfica de 8.515.767 Km² e uma população de,
aproximadamente, 213,2 milhões de habitantes (IBGE, 2021), o Brasil é dividido
em 27 estados e 5.570 municípios. Do total da população, 56% é dividida
somente em 306 municípios.
O total de resíduos sólidos gerado no Brasil em 2018 foi de 216.629 toneladas
por dia, apresentando um aumento de 0,82% em relação ao ano anterior. O
volume de resíduo coletado apresentou um aumento mais expressivo entre os
anos de 2017 e 2018, se comparado a taxa de geração, onde houve um
crescimento de 3.261 toneladas de materiais coletados por dia (1,66%),
atingindo uma quantidade total de 199.311 toneladas de coletas diárias.
(Abrelpe, 2018/2019).
Segundo o Panorama Nacional de Resíduos Sólidos 2018/2019 (Abrelpe),
aproximadamente 73% dos municípios brasileiros fazem algum tipo de coleta
seletiva, mesmo que, em muitos deles, essas atividades são incipientes e não
abrangem todos os bairros (Figura 3).
16
Figura 3 - Taxas Regionais que compõe o Total Nacional de RSU Coletado; Fonte:
Panorama de Resíduos Sólidos no Brasil 2018/2019
Figura 4 - Comparativo do Consumo de Energia entre 1971 e 2018; Fonte: Legal aspects of
introducing waste-to-energy (WTE) technolgy in Sao Paulo State of Brazil: The case studies of
URE Barueri and city of Sao Paulo
35 38
36
30 32
30
25
20
15
16
14
10 12 12
5
4 6
0
Industria Transportes Residencial Comércio e serviços Outros
1990 2019
Figura 6 - Economia Circular da Gestão de Resíduos; Fonte: Guidebook for the application
of waste to energy Technologies in Latin America and other developing regions
Figura 8 - Esquema de Planta WTE; Fonte: Guidebook for the application of waste to energy
Technologies in Latin America and other developing regions
em uma placa perfurada dentro de um cilindro vertical. Este ambiente está sujeito
a injeção de gás à uma taxa de fluxo que cresce constantemente. À medida que
há um aumento dessa taxa, as partículas são suspensas e o leito de sólidos
começa a se comportar como um líquido em ebulição. Quando há uma abertura
na parede, parte do material disposto nesse “leito de fluido borbulhante” (BFB –
Bubbling Fluid Bed) fluirá através dessa abertura (corrente de sobre fluxo). O
aumento da taxa de injeção de gás na placa perfurada ocasiona na suspensão
das partículas e estas podem ser arrastadas pra fora do reator (corrente de
arraste), conforme é apresentado na figura 11.
Tal tecnologia tem sido aplicada na combustão de combustíveis sólidos
derivados do processamento de RSU, no chamado Leito de Fluido Circulante
(CFB – Circulating Fluid Bed). Nessa aplicação, a corrente de arraste do reator
passa através de um ciclone pelo leito fluido e separa a maior parte dos sólidos
da corrente de gás, depois retorna os mesmos para o reator para processamento
adicional, (Themelis, Barriga, Estevez, Velasco, 2013).
Figura 13 - Processo de Redução Direta; Fonte: Guidebook for the application of waste to
energy Technologies in Latin America and other developing regions
Figura 14 - Esquema do Processo Ebara de Leito Fluidizado; Fonte: Guidebook for the
application of waste to energy Technologies in Latin America and other developing region
Figura 16 - Esquema de Processo de Pirólise; Fonte: Guidebook for the application of waste
to energy Technologies in Latin America and other developing regions
35
4. METODOLOGIA
Para seleção da melhor tecnologia a ser aplicada em uma usina de
tratamento de resíduos, é necessário levar em consideração a área de interesse,
em termos de quantidade e características dos resíduos, demandas e preços de
energia e disponibilidade de financiamento.
Neste estudo será aplicado a metodologia SWOT (Strengths – Weakness –
Opportunities – Threats) como uma análise preliminar das tecnologias, avaliando
critérios técnicos, ambientais, sociais e financeiros.
Critérios Técnicos:
Critérios Técnicos
Força Fraqueza Oportunidade Ameaça
Tratamento de Menor o poder Utilização para Redução
múltiplas cadeias calorífico da cadeia tratamento de resíduos significativa na
de resíduos; de resíduos, menor perigosos/contaminados; entrada de resíduos
Umidade do RSU é a eficiência da Eficiência aumenta pode gerar
um requerimento planta; Menor quando há problemas técnicos;
para o tratamento; geração de energia aproveitamento do calor Competição com
Incineração Geração de se comparada a gerado no processo. plantas industriais
significativa outras tecnologias. intensivas em
quantidade de energia - podem
energia; Know-How utilizar os mesmos
bem desenvolvido resíduos para
para construção e processamento.
operação.
Tratamento de Pouca experiência Tecnologia que tende a Mudanças na
múltiplas cadeias em tratamento de crescer no futuro; composição do
de resíduos; larga escala de RSU; Desenvolvimento material de entrada
Geração de Problemática com acelerado. afetam a eficiência
significativa tratamento de do tratamento;
Gaseificação quantidade de resíduo com alta Competição com
energia - maior que taxa de umidade. plantas industriais
outras tecnologias; intensivas em
Know-How energia;
relativamente bem
desenvolvido.
36
Critérios Ambientais:
Critérios Ambientais
Força Fraqueza Oportunidade Ameaça
Sistemas de redução Emissões Performance Problemática na
de emissões e significativas, que ambiental melhorada gestão dos resíduos
tratamento de devem ser se a energia térmica perigosos,
efluentes; Significante controladas; Grande gerada também for aumentando os
contribuição para quantidade de aproveitada. custos operacionais.
redução do efluentes que
Incineração
aquecimento global precisarão ser
pela produção de tratados; Geração de
energia de resíduos sólidos
combustíveis não perigosos que
fósseis. devem ser
descartados.
37
Critérios Sociais:
Critérios Sociais
Força Fraqueza Oportunidade Ameaça
Alternativa para o Possível percepção Mudança na Partes interessadas
tratamento de negativa dos cidadãos; percepção da na gestão de
resíduos, Atitude problemáticas das sociedade em resíduos podem
Incineração
especialmente para cooperativas de relação as plantas reagir a
áreas altamente reciclagem/recicladores. WTE, quando implantação de
associada aos plantas WTE.
38
urbanizadas e benefícios em
megacidades. relações às
mudanças
climáticas.
Alternativa para o Relutância na aceitação Mudança na Partes interessadas
tratamento de de uma tecnologia percepção da na gestão de
resíduos. relativamente nova. sociedade em resíduos podem
relação as plantas reagir a
WTE, quando implantação de
Gaseificação
associada aos plantas WTE.
benefícios em
relações às
mudanças
climáticas.
Alternativa para o Relutância na aceitação Mudança na Partes interessadas
tratamento de de uma tecnologia percepção da na gestão de
resíduos. relativamente nova. sociedade em resíduos podem
relação as plantas reagir a
WTE, quando implantação de
Pirólise
associada aos plantas WTE.
benefícios em
relações às
mudanças
climáticas.
Alternativa para o Relutância na aceitação Mudança na Partes interessadas
tratamento de de uma tecnologia percepção da na gestão de
resíduos. relativamente nova. sociedade em resíduos podem
relação as plantas reagir a
WTE, quando implantação de
Plasma
associada aos plantas WTE.
benefícios em
relações às
mudanças
climáticas.
39
Critérios Financeiros:
Critérios Financeiros
Força Fraqueza Oportunidade Ameaça
Investimento unitário Custo de Benefícios Muito sensível a
menor, e custo de investimento alto maximizados significativas
operação quando comparado dependendo da área reduções na
comparáveis com as outras alternativas onde será instalada a quantidade de
outras tecnologias; de tratamento, como planta; Utilização de resíduos.
Receita com a venda aterros por exemplo. energia térmica
Incineração de energia. aumenta a receita e
viabilidade do
projeto; Alto nível de
competição entre as
tecnologias pode
diminuir os custos de
investimento.
Receita com a venda Custos altos de Aumento na receita
de energia. investimento e caso parte do resíduo
Gaseificação operação. seja considerado
renovável.
Receita com a venda Custos altos de Sem unidade
de energia. investimento e operando em larga
operação. escala, o custo do
investimento pode
ser menor; Aumento
na receita caso parte
Pirólise do resíduo seja
considerado
renovável e políticas
que promovam
produção de energia
renovável sejam
aplicadas.
Receita com a venda Custos altos de Sem unidade
de energia. investimento e operando em larga
operação. escala, o custo do
investimento pode
ser menor; Aumento
na receita caso parte
Plasma do resíduo seja
considerado
renovável e políticas
que promovam
produção de energia
renovável sejam
aplicadas.
40
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
5.1. Aspectos Econômicos da Recuperação Energética de Resíduos
Atualmente, as plantas WTE são equipadas com os mais avançados sistemas
de combustão e de controle de emissões de poluentes e, visto que são exigidos
90% de disponibilidade, resultando em 8.000 horas de atividade no período de
um ano, juntamente com uma arquitetura que torne o empreendimento
esteticamente agradável, o investimento em um projeto de recuperação
energética tem valor bem elevado se comparado à construção de aterros
sanitários.
Entretanto, e diferente dos aterros, as usinas de recuperação energética do
RSU trazem benefícios significativos para a comunidade que o recebe durante a
fase de construção, na fase de operação e ao longo dos anos depois que o
investimento foi pago, ou seja, há retorno de capital e ganho de receita com o
projeto.
É esperado o retorno de capital num período de 20 anos. A literatura disserta
que 20 anos também seriam a vida útil de uma planta WTE, porém a experiência
apresentada nas plantas ao redor do mundo aponta para 40 anos ou mais de
vida útil. Dessa forma, chegou-se à conclusão de que uma planta, no decorrer
dos anos, pode ser manutenida e melhorada, tornando-se um bom negócio para
a geração atual e um legado para as gerações futuras (Themelis, Barriga,
Estevez, Velasco, 2013).
O projeto pode ser viabilizado pelo órgão governamental responsável, sendo
assim de propriedade pública; por parcerias público-privado (PPP) ou ser
inteiramente de propriedade privada. Para os três cenários estão envolvidos
estudos que dimensionem os custos de capital inicial, os custos operacionais e
a receita esperada com a instalação.
O investimento inicial inclui os custos com o terreno, a construção da planta,
serviços e outras obras de infraestrutura que possam estar atreladas ao projeto,
como estradas de acesso por exemplo. Esse custo de capital inicial varia de
acordo com a localidade do projeto e leva em consideração o fato de que as
tecnologias de combustão, em sua maioria, são adquiridas de fornecedores
estrangeiros, sendo assim é necessário o entendimento dos riscos de câmbio
envolvidos nesse processo.
48
6. CONCLUSÕES
A experiência de gestão de resíduos aplicada atualmente em solo brasileiro
somada a inúmeros estudos feitos a respeitos da inserção de novos métodos de
processamento de RSU no plano de gestão de resíduos sólidos de países
europeus, norte-americano e asiáticos evidencia que alternativas aplicadas
visando a adaptação a um cenário onde há um crescimento populacional e,
consequentemente, de consumo de bens e serviços cada vez mais acelerado,
será necessária, já que o crescimento desses setores resulta no aumento da
geração de resíduos sólidos urbanos a serem destinados.
Para o cenário brasileiro seria necessário obter cada vez mais espaço que
atenda as dimensões dos aterros sanitários para disposição dos resíduos
gerados, e esse processo está cada vez menos sustentável, visto que não traz
retorno do capital investido, financeira ou socialmente.
As tecnologias tratadas nesse estudo estão sendo aplicadas em países ao
redor de mundo como uma solução a essa demanda que tende a crescer cada
vez mais com o passar dos tempos, com finalidade de tirar o máximo proveito do
produto comercializado, aumentando o ciclo de vida do mesmo e contribuindo
para o que é chamado de economia circular.
Aplicação de métodos modernos para disposição e tratamento de resíduos,
como o processo de combustão em grelha, são necessários ao plano de gestão
de resíduos que se tem atualmente no Brasil. A implantação de plantas WTE ao
redor do perímetro do país contribui para a redução do número de aterros
utilizados e aumento da taxa de reciclagem, conforme mostra a experiência
tradicional. A pirâmide hierárquica da gestão de resíduos é seguida de forma
mais criteriosa deixando a destinação em aterros como última opção de
destinação, somente para os resíduos que de fato não puderam ser tratados com
as metodologias anteriores da hierarquia.
Apesar dos benefícios apresentados, para que a instalação de uma planta
WTE seja economicamente viável no Brasil seria necessário incentivo do
governo, atuando em parcerias público-privadas que possibilitem taxas de
despejo competitivas com o mercado, tornando o empreendimento atrativo e
fortalecendo a reciclagem de modo a prover um volume de RSU com alto poder
calorífico, aumentando a eficiência energética da planta.
54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
418625c2c9d7/World_Energy_Balances_Overview_2020_edition.pdf>.
Acessado em 22.Set.2021.