Ebook Politicas Indutoras-Ce
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Organizadoras:
Maria Cecilia Bonini Trenche
Marina Padovani
Carolina Fiorin Anhoque
Vera Lúcia Garcia
Comissão de Ensino da
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia
Copyright © 2020 by Pulso Editorial Ltda. ME
Avenida Anchieta, 885 (Jardim Nova América)
São José dos Campos – SP.
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Políticas Indutoras:
Formação Profissional em Fonoaudiologia
Comissão de Ensino da
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia
CDD 616.855
Revisão por Pares
Marina Padovani
Fonoaudióloga especialista em Voz, Mestre e Doutora em Distúrbios da Comunica-
ção Humana pela UNIFESP, Professora Assistente do Curso de Fonoaudiologia da
FCMSC/SP, Presidente da Comissão de Ensino da SBFa (gestão 2017-2020) e Mem-
bro Titular da Comissão de Ensino SBFa (gestão 2014-2017).
Caroline Wüppel
Egressa do Curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul
– UFRGS.
Denise Bueno
Doutora e docente do curso de Farmácia UFRGS.
Guiomar Albuquerque
Professora Adjunta do Curso de Fonoaudiologia do Departamento de Fonoaudiolo-
gia – Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal do Espírito Santo (CCS/
UFES).
Helenice Yemi Nakamura
Docente do Curso de Graduação em Fonoaudiologia da UNICAMP, Tutora do PET-
GraduaSUS. Doutorado, Departamento de Desenvolvimento Humano e Reabilitação/
FCM/UNICAMP.
Lucia Masini
Doutora em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem, Professora Assistente
Doutora do Departamento de Clínica Fonoaudiológica e Fisioterápica da Faculdade
de Ciências Humanas e da Saúde da PUC/SP.
Margareth Attianezi
Professora Adjunta do Curso de Fonoaudiologia do Departamento de Fonoaudiologia –
Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal do Espírito Santo (CCS/UFES).
Michelle Guimarães
Professora Adjunta do Curso de Fonoaudiologia do Departamento de Fonoaudiologia –
Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal do Espírito Santo (CCS/UFES).
Miriam Thais Guterres Dias
Doutora – docente do curso de Serviço Social – UFRGS.
Priscila Starosky
Doutora em Estudos da Linguagem (PUC-Rio), Departamento de Formação Específi-
ca em Fonoaudiologia do Instituto de Saúde de Nova Friburgo, Universidade Federal
Fluminense – UFF – Nova Friburgo/RJ.
Susana de Carvalho
Graduação em Fonoaudiologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC/SP), Mestre em Distúrbios da Comunicação Humana pela PUC/SP, Doutora em
Ciências da Saúde pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e Pós-doutorado no
Programa de Pós-graduação em Letras e Linguística da UFS.
Viviane Medeiros
Mestre em Terapia Intensiva, pela Sociedade Brasileira de Terapia Intensiva, Especia-
lista e Fisioterapia Neurofuncional – Universidade Castelo Branco UCB, Especialista
em gestão e cuidado – HSL, Fisioterapeuta – Unesa, Professora da pós-graduação
da Universidade Estácio de Sá e IbNeuro, Coordenação do serviço de oxigenoterapia
domiciliar prolongada da Secretaria Municipal de Saúde de Nova Friburgo/RJ.
Apresentação
As organizadoras
PREFÁCIO
É voz corrente que o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro está entre as maio-
res e mais bem sucedidas políticas públicas sociais, em escala global. Acumulamos pro-
gramas, projetos e muitas iniciativas de sucesso na promoção da saúde, na prevenção e
controle de doenças e epidemias, em complexas ações de atenção à saúde, na vigilância
em saúde, na inovação tecnológica, no desenvolvimento e distribuição de medicamentos,
na cobertura vacinal, no estabelecimento de complexas redes de atenção à saúde ordena-
das pela atenção primária, na gestão compartilhada entre entes federados e regulada pelo
controle social. Os impactos que esse complexo sistema, cuja dimensão e compreensão,
como já foi dito, não é para principiantes, estão muito bem retratados na análise da série
histórica dos principais indicadores de saúde em recente publicação da Revista Lancet, por
Castro e colaboradores (2019).
E foi justamente tendo como arcabouço o SUS é que se pôde alcançar o paradigma
de que, somado a todas essas conquistas, e para que elas fossem possíveis, os profissio-
nais e trabalhadores da saúde são imprescindíveis.
A criação da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES)
na estrutura do Ministério da Saúde a partir de 2003 deu origem a uma construção inter-
setorial em parceria com o Ministério da Educação, caracterizada por um conjunto de múl-
tiplas estratégias voltadas para a reorientação da formação profissional em saúde, para a
qualificação e educação permanente incorporada como diretriz da organização do trabalho
em saúde.
Entre essas estratégias, consolidadas já ao longo de 15 anos de existência, estão
o PRÓ-Saúde, o PET-Saúde e as Residências Multiprofissionais em Saúde. Partindo-se
do PROMED, voltado para promover a implementação das Diretrizes Curriculares Nacio-
nais nos cursos de graduação em Medicina, o primeiro passo foi incluir as profissões da
Enfermagem e da Odontologia, justificado naquele momento pela atuação já estabelecida
dessas profissões na Estratégia de Saúde da Família. O segundo passo, bem mais difícil,
foi incluir nesses programas as 14 profissões da saúde. Havia o questionamento sobre o
porque de incluir até as profissões que não tinham uma atuação no SUS em escala que
justificasse esse movimento.
Em nossas reflexões sobre o processo de formulação da política conduzida pela
SGTES foi estabelecido que o eixo que alinha e organiza a política de educação na saúde
é a integração do ensino com a rede de prestação de serviços do SUS, “instituída como
ato pedagógico que aproxima os profissionais de saúde das práticas pedagógicas” por um
lado, e “os docentes dos processos de atenção em saúde” por outro, possibilitando a inova-
ção e a transformação, tanto do ensino como também do trabalho em saúde.
Esta publicação, que tenho a grande satisfação de apresentar, registra experiências
diversas e originais, implementadas em diferentes cidades e regiões do país, retratando o
o bem sucedido exemplo da inserção da Fonoaudiologia no processo de reorientação da
formação profissional, introduzindo a educação e o trabalho interprofissional, desde a gra-
duação, até a formação pós graduada em serviço – Residência Multiprofissional em Saú-
de, em sua atuação por linha de cuidado, com ênfase na Saúde da Pessoa com Deficiência
e participação também na Saúde Mental e Atenção Psicosocial.
Interessante notar, no capítulo que relata uma experiência de regulação dos aten-
dimentos de fonoaudiologia no SUS, desenvolvida pela USP-Ribeirão Preto, no âmbito
destes programas, que permitiu sistematizar dados e informações e identificar o tipo de
paciente, o tipo de atendimento demandado e quais os profissionais que em geral solici-
tavam o encaminhamento para atendimento fonoaudiógico. Esse, entre outros exemplos
aqui retratados, comprova que se determinados profissionais não estavam ainda inseridos
no SUS, a demanda pela sua atuação, e a integralidade do cuidado como princípio, aponta
para a direção de buscar essa inserção de alguma forma.
A atuação dos cursos de graduação da PUC-SP na Brasilândia, que está entre os
distritos de maior vulnerabilidade do município de São Paulo, fez a diferença e logrou esta-
belecer vínculos com a comunidade, que foram transformadores daquela realidade.
São ricas e diversas as experiências relatadas, deixando claro que o SUS e seus
trabalhadores romperam com os limites da atuação restrita aos equipamentos, e de atender
apenas aos que procuram pelos serviços: o SUS vai à comunidade, percorre o território,
atua na perspectiva da cobertura de atenção, promoção e prevenção de toda a população,
fazendo valer o preceito constitucional de que a saúde é um direito de todo e qualquer cida-
dão. E esse compromisso está sendo incorporado desde a formação na graduação.
A atuação da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, congregando os profissio-
nais da área, as instituições, articulando as experiências, organizando e publicando esta
obra, deixa um importante e valioso legado do que tem sido esta construção, multi e inter-
profissional, na qual a Fonoaudiologia se faz presente, e marca seu espaço.
Boa leitura!
Capítulo 1 .................................................................................................................. 27
Daniela Regina Molini-Avejonas; Maria Helena Morgani de Almeida; Fátima Corrêa Oliver;
Alessandra Giannella Samelli
Capítulo 2 .................................................................................................................. 35
Maria Aparecida Miranda de Paula Machado; Simone Rocha de Vasconcellos Hage; Flavio
Augusto Cardoso de Faria; Andréa Cintra Lopes; Dagma Venturini Marques Abramides;
Roosevelt da Silva Bastos; José Roberto de Magalhães Bastos; Magali de Lourdes Caldana;
Jesus Carlos Andreo
Capítulo 3 .................................................................................................................. 52
Maria Cecilia Bonini Trenche; Altair Cadrobbi Pupo (Lila); Maria Laura Wey Martz; Leslie
Piccolotto Ferreira; Lucia Masini; Lucia Maria Guimarães Arantes; Patrícia Jundi Penha;
Maria Cristina Vicentin
Capítulo 4 .................................................................................................................. 69
23
Capítulo 5 .................................................................................................................. 80
Priscila Starosky; Francelise Pivetta Roque; Gisele Gouvêa da Silva; Thereza Cristina
Lonzetti Bargut; Giovani Carlo Verissimo da Costa; Marcos Alex Mendes da Silva; Marlos
Passos Dias; Alexandra Rodrigues Barbosa Gaeta; Bruna Taldo Picinini Neves; Catherine
Pinto Rosado Machado; Marcia Regina Lacerda de Deus Santos; Viviane Medeiros
Capítulo 6 .................................................................................................................. 92
Karina Mary de Paiva; Maria Rita Pimenta Rolim; Maria Isabel D’avila Freitas
Christina César Praça Brasil; Denise Klein Antunes; Fernanda Monica de Oliveira Sampaio;
Lia Maria Brasil de Souza Barroso
Ranilde Cristiane Cavalcante Costa; Vanessa Fernandes de Almeida Porto; Ana Paula
Cajaseiras de Carvallho; Bárbara Patrícia da Silva Lima; Maria Lucélia da Hora Sales
Maria Francisca Colella-Santos; Helenice Yemi Nakamura; Maria Inês Rubo de Souza
Nobre; Núbia Garcia Vianna Ruivo; Sônia Maria Chadi de Paula Arruda; Christiane Marques
do Couto; Maria Cecília M. P. Lima
24
Capítulo 10 ................................................................................................................ 133
Adriana Limongeli Gurgueira; Livia Keismanas de Ávila; Nivaldo Carneiro Junior; Paulo
Eduardo Damasceno Melo
Helenice Yemi Nakamura; Camila Lima Nascimento; Ana Carolina Constantini; Barbara
Cardoso Miranda; Bruna Gabriela Mechi Silva; Eulália Rezende Cunha; Layres Severo Silva;
Leandra Marquesine Seixas; Natalia Heloiza Beli Bianchi; Regina Yu Shon Chun; Rita de
Cássia Ietto Montilha; Maria Elisabete Rodrigues Freire Gasparetto
Marcus Valerius da Silva Peixoto; Susana de Carvalho; Amine Davi Cruz Moitinho Dourado;
Társilla Pereira Gonçalves; Caroline Santos Cerqueira
Roberta Alvarenga Reis ; Brunah de Castro Brasil; Márcio Pezzini França ; Mérope Bortolotto
Dal Lago; Karina Antes de Souza; Aline Stanislawski Silva; Amanda Lisbôa Marques da
Silva; Caroline Wüppel; Míriam Thaís Guterres Dias; Denise Bueno
Hilton Justino da Silva; Maria Luiza Lopes Timóteo de Lima; Adriana de Oliveira Camargo
Gomes
25
Capítulo 15 ................................................................................................................ 195
Ana Teresa Brandão de Oliveira e Britto; Cláudia Gonçalves de Carvalho Barros; Kátia
Tomagnini Passaglio; Denise Brandão de Oliveira e Britto
Raryane Valéria Pereira da Silva; Lílian Neto Aguiar Ricz; Ana Paula Silveira Gerico Speri;
Patrícia Pupin Mandrá; Tatiane Martins Jorge
Mariangela Lopes Bitar; Rosé Colom Toldrá; Maria Helena Morgani de Almeida
26
Capítulo 1
HISTÓRICO DO PROGRAMA
27
de Saúde de todas as regiões do país, selecionadas por meio de editais publicados pelo
Ministério da Saúde.
O primeiro edital do PET-Saúde teve como temática principal, a Estratégia Saúde
da Família (ESF), como modelo da reorganização da Atenção Primária em Saúde e ordena-
dora das redes de atenção à saúde no SUS. Posteriormente foram incorporadas ao Progra-
ma outras áreas estratégicas da Política de Saúde do Ministério instituindo-se PET-Saúde
temáticos, com o objetivo de fomentar a formação de grupos de aprendizagem tutorial em
outras áreas, além da atenção primária em saúde.
Inicialmente, foi contemplada a área de Vigilância em Saúde e Saúde Mental e
posteriormente as Redes de Atenção à Saúde (Rede Cegonha, Rede de Urgência e Emer-
gência, Rede de Atenção Psicossocial, Ações de Prevenção e Qualificação do Diagnóstico
e Tratamento do Câncer de Colo de Útero e Mama, Plano de Enfrentamento das Doenças
Crônicas não Transmissíveis).
Sendo assim, desde 2008, foram lançados diversos editais, contemplando di-
ferentes temáticas (Quadro 1). Neste quadro, pode ser observada como se deu a par-
ticipação dos diferentes cursos de graduação em saúde, o que possibilitou inclusão do
Curso de Fonoaudiologia da Universidade de São Paulo (campus capital) nas várias
edições do programa.
Quadro 1. Participação da USP/campus capital nos Editais PET, conforme temáticas, cur-
sos participantes, número de estudantes, preceptores, tutores bolsistas e alunos matricu-
lados.
Edital Temática Número de Número de Número de Alunos matri-
cursos parti- estudantes bolsas para culados nos
cipantes na bolsistas tutores-pre- cursos de gra-
USP (campus ceptores duação envol-
capital) vidos
Nº 12/2008 Saúde da 6 96 8/48 1.995/ano
Família
PET-Saúde/SF
2009
Nº 18/2009 Saúde da 10 120 10/60 3.320/ano
Família
PET-Saúde/SF
2010/2012
Nº 7/2010 Vigilância 10 16 1/2 3.320/ano
em Saúde
PET-Saúde/VG
2010/2012
Nº 27/2010 Saúde Men- 5 12 1/2 3.320/ano
tal
PET-Saúde/SM
2011
Nº 24/2011 Saúde da 10 96 8/48 3.320/ano
Família
PRÓ-PET-Saúde
2012/2014
Nº 28/2012 Vigilância 10 16 2/1 3.320/ano
em Saúde
PET-Saúde/VG
2013/2014
28
Nº 14/2013 Redes de 11 36 4/18 3.400/ano
Atenção
PET-Saúde/Re-
des de Atenção
2013/2015
Nº 10/2018 Interprofis- 14 30 10/16 3.580/ano
sionalidade
PET-Saúde/Inter-
profissionalidade
2018/2019
Total --- 14 458 47/178 25.575
* A USP campus capital não apresentou Projeto ao Edital nº 13/2015 PET-Saúde/ GRADUA/SUS.
*Participaram dos Editais os Cursos de Enfermagem, Educação Física e Esporte, Educação Física e Saúde, Obstetrícia,
Gerontologia, Psicologia, Farmácia, Saúde Pública Medicina, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional,
Odontologia e Nutrição.
29
No período de 2012 a 2014, a USP (campus capital) participou do edital PRÓ-PET-
Saúde. Nesta edição, além das bolsas para tutores, preceptores e alunos, foram aprovados
recursos financeiros destinados à formação em ensino e pesquisa de profissionais dos ser-
viços, à realização de oficinas e seminários temáticos para o aprimoramento das reformas
curriculares dos cursos de graduação participantes e também recursos para a adequação
da estrutura física dos cenários de prática.
Já no período de 2013 a 2015, com o edital PET Redes de atenção, a USP (cam-
pus capital) houve a aprovação de três grupos tutoriais: Rede Cegonha, Rede de Atenção
Psicossocial e Rede de Cuidados à pessoa com Deficiência. Neste edital, houve um envol-
vimento também do curso de graduação em Saúde Pública.
Em outubro de 2015 foi lançado um novo edital do PET-Saúde: Edital nº 13/2015,
PET-Saúde/GraduaSUS. O edital se pautou na proposta de mudança curricular alinhada
às Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de graduação na área da saúde e à quali-
ficação dos processos de integração ensino-serviço-comunidade articuladas entre o SUS
e as instituições de ensino. Quando o edital do PET/GraduaSUS foi lançado, o curso de
Fonoaudiologia da USP acabara de ter aprovado sua reformulação curricular. Uma vez que
a principal exigência do Programa era a participação do curso de graduação em Medicina
que naquele momento não pode contar com um docente como tutor, não foi possível a par-
ticipação dos demais cursos da USP (campus capital) nesta edição do PET que tinha como
objetivo também apoiar a reformulação curricular nos diferentes cursos.
Atualmente, a USP (campus capital) participa do edital PET-Saúde/Interprofissio-
nalidade lançado em 2018 no qual foi possível, pela primeira vez, a participação dos cursos
de Educação Física e Saúde, Gerontologia e Obstetrícia da Escola de Artes, Ciências e
Humanidades (EACH/USP).
Sendo assim, durante estes quase 10 anos de participação da USP campus capital
no PET (Quadro 1), observamos um aumento do número dos cursos de graduação envol-
vidos, de seis para 14. Consequentemente, pela participação dos docentes destes cursos
(como tutores) e pela reorientação/reorganização das estruturas curriculares, houve um
aumento crescente do número de estudantes bolsistas, contabilizando 458 bolsas para
estudantes no período, e se considerarmos que há uma rotatividade nas bolsas (cada es-
tudante permanece em média, um ano com a bolsa), houve um impacto direto no dobro de
alunos de graduação. Houve também a concessão de 47 bolsas para tutores-docentes 178
bolsas para preceptores-profissionais de serviços de saúde.
Estes resultados mostram que as políticas indutoras dos Ministérios da Saúde e
Educação têm possibilitado importantes mudanças nos cursos de graduação da Univer-
sidade de São Paulo (campus capital) envolvidos no processo, incluindo-se o Curso de
Fonoaudiologia.
Algumas contribuições do PET-Saúde foram citadas pelos integrantes dos diferen-
tes editais, e se relacionam principalmente com: Integração ensino-serviço; Alunos petia-
nos foram multiplicadores da proposta de formação apoiada pelo programa; Mudança de
pensamento de muitos alunos, docentes e profissionais de saúde quanto à importância da
integração entre os diferentes atores do território; Reconhecimento da relevância de profis-
sões pouco inseridas nos espaços de atenção básica por parte da gestão, dos profissionais
do serviço e dos próprios alunos, tais como educação física e a nutrição; Desconstrução
de ideias tradicionais e hegemônicas de ensinar, aprender e praticar ações de cuidado; In-
teração com a comunidade e Reconhecimento do papel de outras categorias profissionais.
30
Uma das mudanças que o Programa trouxe se refere ao aumento do interesse pela
área da saúde pública e pela prática profissional no SUS permitindo que os alunos revissem
seus conceitos e estereótipos.
Essa mudança de percepção por si só já garante a reflexão sobre a formação do
aluno e o cuidado em saúde. Quando o aluno se depara com um sistema com potenciali-
dades e encontra significado no trabalho realizado, a possibilidade dele se identificar com
a área de atuação é grande.
De fato, as políticas de reorientação da formação profissional em saúde, visam à
indução de mudanças nas graduações em saúde e ao desenvolvimento profissional dos
trabalhadores de nível superior e técnico do SUS, desencadeando processos de mudança
e de fortalecimento da Política Nacional de Saúde (França et al, 2018).
No curso de Fonoaudiologia pode-se afirmar que os Programas oferecidos pelo
Ministério vieram a contribuir para a concretização de alguns princípios no âmbito da for-
mação, tais como: maior envolvimento da Universidade nos processos de educação perma-
nente em saúde; possibilidade de cenários de prática privilegiados para geração de ques-
tões norteadoras da aprendizagem; e a formação em saúde norteada pelo SUS, sobretudo
em se tratando de uma universidade pública.
As atividades decorrentes do PET-Saúde têm possibilitado que os estudantes
atuem nos serviços mais precocemente e de forma mais articulada às equipes de saúde,
que contemplam diferentes níveis de complexidade na região onde está situado o curso de
Fonoaudiologia da USP. Tal atuação contribui para ampliar a identificação de necessidades
da população atendida, bem como, para aprimorar a qualidade da assistência prestada.
Tais experiências têm favorecido o ensino interdisciplinar em saúde, ao possibilitar
aos estudantes o exercício da participação em estudos da realidade de vida, trabalho e saú-
de de usuários dos serviços e em propostas assistenciais compartilhadas, o que cria condi-
ções favoráveis para maior qualificação da atenção em saúde prestada tanto nos serviços,
que servem como cenários de práticas para os estudantes, como naqueles em que vierem
a se inserir como profissionais. Universidade e serviços de saúde articulam-se de maneira
objetiva e construtiva, o que fortalece as experiências de educação permanente na região
onde o projeto é desenvolvido.
Em virtude das mudanças de paradigma fomentadas pelas estratégias, foram cria-
das novas disciplinas para os alunos de graduação da área da saúde, bem como houve
reestruturação das matrizes curriculares de diversos cursos ou estas matrizes estão em
discussão para reestruturação.
Todas estas modificações visavam, principalmente, a reorientação da formação
profissional, buscando assegurar uma abordagem integral do processo saúde-doença com
ênfase na Atenção Básica à saúde. Além disso, pela Instituição de Ensino, a articulação
entre docentes dos diferentes cursos despertou para a necessidade de expansão de ativi-
dades interprofissionais para a formação dos alunos.
Assim, em 2011 foi criada a disciplina optativa “Prática e educação interprofissional
em saúde” como parte integrante da matriz curricular do Bacharelado de Enfermagem, que
foi organizada por tutores PET e oferecida também aos estudantes ligados ao PET-Saúde,
favorecendo a sustentabilidade de uma proposta interprofissional no âmbito da Universida-
de como resultado da participação de diversas áreas de atuação.
As disciplinas envolvidas nos Editais do PET-Saúde têm contribuído para a forma-
ção profissional pautada nos princípios da cidadania, no reconhecimento da autonomia dos
usuários, na interação com a população e com as equipes de saúde, na busca de soluções
31
para os problemas identificados e no envolvimento com os resultados da assistência. Per-
mitem, ainda, reconhecer a história social da doença e a Estratégia Saúde da Família (ESF)
como modalidade de assistência à saúde e eixo estruturador da rede de cuidados no SUS,
com envolvimento direto de diferentes campos de atuação profissional. A complexidade
dos problemas e das alternativas assistenciais na Atenção Básica, em contraposição à
complexidade tecnológica encontrada em hospitais de grande porte, favorece experiências
fortalecedoras da construção do Sistema Único de Saúde.
O curso de Fonoaudiologia participa ativamente destas estratégias, seja por meio
do envolvimento de seus alunos enquanto bolsistas, de tutores-docentes ou preceptores
fonoaudiólogos. Muitos estudantes do curso estão cursando a disciplina optativa supracita-
da, assim como houve reestruturação da matriz curricular para atender a estas demandas
de reorientação da formação profissional.
Cabe ressaltar que o curso de fonoaudiologia na Universidade de São Paulo já
participa de iniciativas estudantis que contribuem para a aproximação entre universidade
e SUS: Bandeira Científica e Jornada Universitária da Saúde (JUS). Ambas propiciam a
prática interprofissional, uma vez que abrangem diversos estudantes de diferentes cursos
da área da saúde em expedições a diferentes cidades do Brasil. A base para a assistência
oferecida nos programas é a Atenção Primária à Saúde.
O curso incluiu quatro novas disciplinas a sua grade curricular: “Fundamentos de
Fonoaudiologia em Atenção Básica à Saúde”, “Estágio Supervisionado em Saúde Coleti-
va”, “Introdução à Saúde Pública” e “Introdução à Gestão de Sistema e Serviços de Saúde”,
estas duas últimas ministradas na Faculdade de Saúde Pública. O curso já possuía uma
disciplina de “Estágio Supervisionado em Atenção Primária”, sendo que a mesma passou
de dois semestres para quatro semestres de duração. Todas as disciplinas têm como um
dos seus objetivos aproximar e preparar o aluno para atuação profissional no SUS.
Cabe ressaltar que as mudanças vivenciadas pelos cursos de graduação somadas
à participação de preceptores dos serviços de saúde podem fortalecer as transformações
almejadas na prestação de serviços à comunidade. Algumas destas transformações vêm
sendo discutidas nos últimos trinta anos, com o objetivo de estimular o aprimoramento do
cuidado em saúde por meio do trabalho em equipe.
Estas concepções permitem reconhecer a possibilidade de inverter a lógica mais
usual de pensar a formação em saúde, onde cada profissão é pensada e discutida em si
mesma, abrindo espaços e cenários para a incorporação da perspectiva interprofissional,
percebendo que as diferentes áreas podem constituir um campo mais integrador de prá-
ticas de atenção à saúde. Nessa perspectiva há a necessidade de desenvolvimento da
competência colaborativa para que o trabalho em equipe possa se efetivar e a Educação
Interprofissional (EIP) se constitua como capaz de reforçar essas competências.
A EIP vem se apresentando internacionalmente como uma abordagem sólida e a
maior parte das investigações mostra impacto positivo, com evidências de satisfação dos
estudantes, pacientes, e prestadores de serviço. Entretanto, como a EIP funcionará, para
quem, e em que circunstâncias ainda são questionamentos pertinentes dentro do PET e do
cenário brasileiro e mundial.
Neste cenário, ressalta-se também a importância de refletir sobre as dificuldades
do processo, assim como as limitações do Programa tais como: a rotatividade da gestão
dos serviços e de preceptores; as dificuldades da academia em partilhar com o serviço; a
limitação financeira do Programa quanto ao número de bolsas; a coordenação das agendas
dos diferentes atores; e as dificuldades relacionadas à inserção de alunos de categorias
32
profissionais ainda pouco reconhecidas como relevantes na APS, a não aceitação da pre-
sença de alunos por parte de alguns serviços de saúde, alegando que os mesmos dificul-
tam o andamento do trabalho, o que demonstra uma não compreensão do Programa e do
papel do SUS como cenário privilegiado de práticas, ainda vale destacar como obstáculos
ao desenvolvimento do Programa as diferentes grades curriculares dos cursos que restrin-
giam os encontros presenciais dos grupos.
A parceria entre a Universidade e os Serviços de Saúde não é algo simples. Os
docentes (tutores) levam seus alunos aos serviços para vivenciarem a prática, e os profis-
sionais de saúde (preceptores) os acompanham, introduzindo a temática que não pode ser
oferecida dentro de uma sala de aula.
Desta parceria emergem uma infinidade de dúvidas. Os docentes questionam a
formação oferecida, as dificuldades de diálogo com os preceptores e a qualidade do en-
volvimento dos alunos. Os profissionais se preocupam quanto a sua qualificação para o
ensino, em relação a nova atribuição em sua função, o receio de estar sendo avaliado e
principalmente se o ensino não compromete o tempo destinado ao atendimento do usuário,
visto que não os serviços têm dificuldade para ajustar suas atividades diante das demandas
de ensino.
Segundo o próprio Ministério da Saúde, ainda existem muitos desafios a serem
superados para uma efetiva formação de profissionais para o trabalho no SUS. Sabe-se
que tanto as modificações no que se refere aos cursos de graduação quanto os possíveis
benefícios trazidos para a prestação de serviços à comunidade são apenas esforços iniciais
para uma mudança mais profunda na formação profissional para o fortalecimento do SUS.
As experiências vivenciadas nos serviços de saúde são tão importantes quanto o
aprendizado obtido por meio de livros, pois as dimensões do processo da relação ensino-
-aprendizagem na prática são mais complexas e, portanto, exigem mais do profissional que
deseja conciliar seus saberes e práticas.
Atualmente, experiências extracurriculares de integração ensino-serviço-comuni-
dade fazem a ponte entre as instituições de ensino superior e o serviço público de saúde,
proporcionando um contato por parte dos estudantes com a realidade do SUS, bem como,
com o perfil sociodemográfico e epidemiológico da população adstrita nos serviços. Estas
experiências também proporcionam uma educação de modalidade interprofissional, o que
de acordo com a OMS pode proporcionar a prática colaborativa e melhor qualidade na as-
sistência da população.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2008/pri1802_26_08_2008.html
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34
Capítulo 2
INTRODUÇÃO
35
aprendizagem e de prestação de serviços à população, que se alinhava aos preceitos da
USP-Bauru, a instituição submeteu seu projeto, sendo ele aprovado em março de 2008.
Assim, dada a relevância social da formação de cirurgiões dentistas e fonoaudiólo-
gos para o país, nesse projeto, resposta ao edital de 2007, a USP-Bauru firmou convênio
com o Ministério da Saúde e da Educação, em parceria à Secretaria Municipal de Saúde
do município.
Visto que fóruns de discussão entre professores e estudantes ocorriam desde 2006,
principalmente referentes aos desafios salientados pelas DCN e à compreensão distinta do
perfil de profissional que se almejava alcançar, adotar o programa foi apenas um pretexto
para a práxis.
Sendo assim, o objetivo do texto que se segue é o de realizar análise crítica do
processo de implantação do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional
em Saúde (PRÓ-Saúde) para os cursos de Fonoaudiologia e Odontologia na Faculdade de
Odontologia de Bauru (FOB), unidade da Universidade de São Paulo (USP).
MÉTODO
Quadro 1. Implantação das disciplinas por sequência de ano, equipe de saúde e local de
atuação.
36
É importante salientar que, no âmbito da USP-Bauru, a Diretoria apoiou plena-
mente todo processo e foi criada uma Comissão para a implantação e acompanhamento
do Programa PRÓ-Saúde, coordenada pelo Presidente da Comissão de Graduação (CG),
contando também com a participação dos Coordenadores dos Cursos (CoC) de Odontolo-
gia e Fonoaudiologia. Desta maneira, tanto a Comissão de Graduação da USP-Bauru como
as suas Coordenações de Curso estiveram envolvidas diretamente na gestão do Programa
com reuniões semanais ou mais, quando iminentes decisões precisaram ser tomadas. O
Grupo de desenvolvimento das ações do PRÓ-Saúde constou de 10 membros (e respecti-
vos suplentes): quatro relacionados ao ensino de graduação – um presidente de Comissão
de Graduação, dois coordenadores de Curso e um coordenador do Grupo de Apoio Peda-
gógico–GAP, e seis relacionados às disciplinas de Saúde Coletiva (três da Odontologia e
quatro da Fonoaudiologia). Nessa comissão ainda houve representação discente, sendo
um estudante do Curso de Fonoaudiologia e um estudante do Curso de Odontologia, além
de representantes da Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Vale destacar que o projeto foi
redigido pelas professoras doutoras Maria Aparecida Miranda de Paula Machado, do De-
partamento de Fonoaudiologia e Nilce Emy Tomita, do Departamento de Odontopediatria,
Ortodontia e Saúde Coletiva, corroborado pelo professor doutor José Roberto de Maga-
lhães Bastos, Titular do Departamento de Odontopediatria, Ortodontia e Saúde Coletiva,
com o aval do Diretor, na época, professor doutor Luiz Fernando Pegoraro. Após a aprova-
ção do projeto em Brasília a professora doutora Andréa Cintra Lopes auxiliou nas correções
das planilhas e acertos de solicitação de materiais, sendo que apenas depois foi instituída
a Comissão Gestora do PRÓ-Saúde, incorporando outros professores.
Disciplinas interdepartamentais foram criadas, sob responsabilidade da Comissão
de Graduação, ministradas simultaneamente para os estudantes do curso de Odontologia e
Fonoaudiologia com professores de ambas as áreas responsáveis e presentes. Entre 2008
e 2011 foram enviadas as propostas de disciplinas denominadas Saúde Coletiva I, II, III, IV,
V, VI e VII, que conformaram a criação de um Programa de Aprendizagem, de acordo com
Anastasiou (2010)3, constituindo um eixo de formação em Atenção Primária/Básica para os
quatro anos de vigência de cada curso.
37
A seguir há o detalhamento de quais disciplinas foram criadas e em quais houve
reorientação de conteúdo. As Comissões Coordenadoras de Curso participaram ativamen-
te da análise do conteúdo destas disciplinas, da carga horária, das áreas de conhecimento
envolvidas com o Programa, já as Chefias de Departamentos atuaram na indicação dos
professores tutores.
38
Para o curso de Fonoaudiologia, houve antecipação de 30 horas (dois créditos/
aula) da disciplina Fonoaudiologia Preventiva I (90 horas – ministrada no 3º ano, 1º e 2º
semestres). Já no curso de Odontologia, esta disciplina já existia com carga horária de 30
horas (dois créditos/aula). Para atender ao princípio teórico-prático criou-se mais 30 horas
(dois créditos/aula) que foram somadas às 30 horas já existentes. Desta forma, a disciplina
passou a ser denominada Saúde Coletiva II, no intuito de manter a homogeneidade da no-
menclatura, tendo um total de 60 horas (quatro créditos/aula) para ambos os cursos.
Temas como complexidade humana, conceito de educação e comunicação, pro-
cesso de socialização, instituições sociais, promoção de saúde, construção de estilos sau-
dáveis de vida, que eram discutidos no 3º ano, no curso de Fonoaudiologia passaram a
ser apresentados no 1º ano. No curso de Odontologia, assuntos como formas e meio de
comunicação, filosofia da educação e projeto educativo passam a ser contemplados. Fo-
ram incluídas situações conjuntas teórico-práticas em diferentes cenários de atuação das
equipes de atenção primária e os grupos de estudantes; também debates com a equipe de
referência em relação às doenças mais prevalentes. Além das aulas teóricas, realizadas no
campus, as atividades práticas envolveram visitas domiciliares para confirmação dos dados
epidemiológicos registrados e aplicação de protocolos que facilitassem a compreensão da
dinâmica familiar e da relação dessas famílias com os espaços e equipamentos comunitá-
rios. Os grupos de estudantes foram acompanhados por tutores, docentes dos cursos de
Fonoaudiologia e Odontologia, além de pós-graduandos.
39
envolvendo a população de gestantes, crianças, adolescentes e adultos, convidados por
agentes comunitários de saúde em atividades grupais. A turma atuou dividida em grupos
pequenos (9-10 alunos) acompanhados por tutores, docentes dos cursos de Fonoaudiolo-
gia e Odontologia e pós-graduandos. Como a disciplina passou a ter caráter teórico-prático,
além das 15 e 30 horas, respectivamente, redirecionadas das disciplinas já existentes nos
cursos, criaram-se mais 45 horas para o curso de Odontologia e 30 para o curso de Fo-
noaudiologia, totalizando 60 horas para os dois cursos.
40
JUSTIFICATIVA PARA A CRIAÇÃO DA DISCIPLINA
41
adolescentes, adultos e idosos – homens e mulheres), na rede de saúde mental, desde a
atenção básica, e encerra um ciclo de formação. Originária da disciplina Fonoaudiologia
Preventiva II (120h) anteriormente ministrada nos 1º e 2º semestres do 4º ano do curso de
Fonoaudiologia, para a Odontologia a carga horária foi proveniente das disciplinas Políti-
cas de Saúde (30h) e de Odontologia de Família e Comunidade – Estágio Supervisionado
(30h). Saúde Coletiva VII (60h) por ser a última disciplina implantada investe em uma pes-
quisa com a população e profissionais de saúde nos próximos quatro anos (um ano para
cada localidade do complexo atendido – Santa Edwirges, Jaraguá, IX de Julho e Fortunato
Rocha Lima), intitulado “Satisfação de usuários e profissionais de saúde envolvidos no
Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (PRÓ-Saúde)”,
com o objetivo de avaliar a atuação dos universitários, resposta da população ao longo dos
quatro anos de prática e percepção dos profissionais de saúde nas parcerias com a Univer-
sidade de São Paulo.
RESULTADOS
I
SC X X X X X X X X
II
SC X X X X X X X X
III
SC X X X X X X
IV
SC X X X X X X X
V
SC X X X X X X X
VI
SC X X X X X X X X X
VII
42
EIXOS E VETORES DO PRÓ-SAÚDE II NA USP-BAURU
43
ELABORAÇÃO DE PROTOCOLOS E ROTEIROS
Foram criados inúmeros protocolos para auxiliar a condução dos objetivos e avaliar
comportamentos e atitudes, conhecimento, aplicação de técnicas, evolução e integração
das disciplinas. Abaixo estão elencados os protocolos mais utilizados.
• Protocolos de Avaliação das visitas domiciliares específicos para Tutores, Agentes Comu-
nitários de Saúde e Pós-graduandos;
• Protocolos de Avaliação dos Seminários também exclusivos para Tutores, Estudantes e
para a Equipe de Saúde da Família;
• Protocolos de Avaliação das disciplinas, em que os estudantes e tutores puderam expres-
sar livremente suas opiniões e sugestões, além de reuniões entre os tutores e estudantes
para avaliações orais do andamento das disciplinas.
• Protocolo para Avaliação da atuação dos estudantes no território, preenchido pelas Equi-
pes de Saúde da Família da unidade Santa Edwirges;
• Protocolos de autoavaliação do próprio processo de aprendizagem dos estudantes;
• Protocolos de Avaliação das Oficinas para tutores e para Agentes Comunitários de Saúde.
44
CONDENSADO DE AVALIAÇÕES AO LONGO DOS QUATRO ANOS
• Falta de conhecimentos em Saúde Coletiva dos tutores, que, inicialmente se sentiram des-
locados;
• Locais das aulas teóricas não favoreceram o trabalho em pequenos grupos (Teatro Univer-
sitário com cadeiras fixas, espaço demais, dificultou a aproximação dos estudantes; ou sala
de anatomia com carteiras e bancos pouco confortáveis e odor forte de produtos químicos);
• Agendas sobrepostas e aumento da carga horária total destinada à graduação de cada tutor;
• Portfólio – dificuldades na elaboração pelos estudantes em horário integral e sobrecarga
para correção, embora a maioria dos tutores tenha concordado que seja um excelente ins-
trumento de acompanhamento da construção do conhecimento.
45
• equipe de saúde não proporciona efetiva oportunidade de integração cotidiana;
• possibilidades de integração e real compreensão das ações praticadas pelo outro curso;
• uso do portfólio ocupa muito tempo diário;
• atividades marcantes para a vida profissional (ações nas escolas e palestras dialogadas
com a população);
• aulas conjuntas Fonoaudiologia e Odontologia.
46
nas residências terapêuticas. Nesse último local foram implantadas ações para valoriza-
ção da autoestima, redução e cuidados com o tabagismo, higiene oral e corporal, rodas de
conversa, política da gentileza e da comunicação, além do acompanhamento de pessoas
com audição reduzida, processo de protetização dentária, redução cognitiva e dificuldades
de expressão oral. Na atenção primária, auxiliaram na construção de elos nas lacunas
comunicativas entre a família e algum dos membros, ou entre as famílias e os serviços
de saúde, além de reorganização do pensamento e memória. No CAPSi os estudantes
atuaram por meio de contagem de histórias e no resgate da comunicação, da memória, da
compreensão semântica, fonologia, escrita e argumentação.
Atualmente, docentes da USP Bauru fazem parte de Conselhos Municipais, repre-
sentando o segmento universitário em Conferências Estaduais e Nacionais, além da IES
manter serviços de saúde e supervisão de estágios em escolas infantis, creches, unidades
básicas e de saúde da família e nas clínicas universitárias. Os supervisores de estágio vêm
assumindo a busca ativa de editais para obtenção de recursos que sejam investidos nessa
prática e houve contratação docente e de técnicos de nível superior para suprir questões
voltadas ao apoio nos estágios em Saúde Coletiva.
DESAFIOS RESSIGNIFICADOS
Estudantes:
Tutores e Professores:
47
Profissionais de saúde da equipe de saúde da família relacionam os desafios
com a resistência de alguns destes quanto:
• como planejar com maior segurança a prática de 350 estudantes e 35-40 tutores em cada
semestre;
• efetiva interdisciplinaridade e integração Ensino-Serviço;
• lidar com os percalços do edital e com as dificuldades no trâmite dos recursos solicitados;
• contrapartida da IES tornou-se antropofágica.
APRESENTAÇÃO DE TRABALHOS
48
CONSIDERAÇÕES FINAIS
49
Nesse sentido, o PRÓ-Saúde II instituído na USP-Bauru, incluiu o estudante na
compreensão de como é conformada a Rede de Saúde, orientada e orientadora da estru-
turação e dos cuidados, e quais seus objetivos mais relevantes. As provocações relativas
aos temas centrais a serem atingidos desencadearam reflexões dos grupos envolvidos a
respeito da Atenção Primária à Saúde, equidade no acesso, assistência integral à saúde,
cuidado em saúde, ética profissional e qualidade de vida, alicerce da implantação de todo
o processo.
Dessa forma, pode se dizer que as metas do PRÓ-Saúde foram contempladas de
forma simultânea nos distintos eixos de orientação teórica, cenários de prática e orientação
pedagógica, aproximando a academia dos serviços de saúde.
REFERÊNCIAS
50
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Conselhos de Fonoaudiologia, 2018. Acessível em: http://www.fonosp.org.br/images/Campanhas/Final_
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dos fonoaudiólogos. Acessível em: http://epsm.nescon.medicina.ufmg.br/dialogo09/Biblioteca/Artigos/
Atuacao_Fonoaudiologica_Politicas_Publicas.pdf
51
Capítulo 3
INTRODUÇÃO
52
perspectiva da educação permanente. Em Cenários de Práticas, promover a integração en-
sino-serviço, propiciar experiências nos diversos níveis de saúde, e promover a integração
dos serviços próprios das IES com os serviços de saúde. No eixo Orientação Pedagógica,
os cursos deveriam articular teoria e prática, integrando o ciclo básico e a formação clínica,
promovendo aprendizagem ativa e desenvolvendo capacidade de análise crítica dos ser-
viços. Com a imagem, permitiu a cada Instituição de Ensino Superior analisar a condição
em que se encontrava na transição entre o modelo de formação tradicional e o inovador e
planejar ações a colocassem mais alinhada à imagem objetivo1,2.
Os outros programas que o sucederam, PRÓ-PET-Saúde e PET-Saúde Redes3,4
entre outros, conferiram maior concretude à reorientação do processo de formação, tendo
como norte o diagnóstico situacional do território, a organização do cuidado e as linhas
de cuidado. Introduziu, também, a pesquisa como propulsora dos modos de intervir nas
comunidades e nos serviços e sobretudo potencializou experiências com o trabalho em
equipes multiprofissionais, com foco interdisciplinar. A PUC/SP participou dos Programas:
PRÓ-Saúde II (2008-2015), PRÓ-PET Redes de Saúde Mental (2013 a 2015) e Redes de
Atenção à Pessoa com Deficiência (2013-2015). Entre outros resultados, implementou um
projeto pedagógico que traz, como inovação para os cursos de Fonoaudiologia e Fisiotera-
pia, a formação interprofissional.
A Organização Mundial de Saúde definiu a Educação Interprofissional (EIP) como o
“aprendizado que ocorre quando estudantes de duas ou mais profissões aprendem sobre os
outros, com os outros e entre si para possibilitar a colaboração eficaz e melhorar os resulta-
dos de saúde”5 (p.13). O desenvolvimento da EIP no Brasil tem sido apoiado pelas políticas
indutoras para a formação em saúde, por ela estar alinhada aos princípios do Sistema Único
de Saúde (SUS) que é interprofissional6, e porque têm sido identificadas diferenças significa-
tivas no comportamento dos estudantes que a praticam, por oportunizar o trabalho colabo-
rativo, que é essencial para o cuidado integral, para a equidade nas ações de saúde, para a
resolução de problemas e traz, para o centro das ações e das políticas de saúde, os usuários
dos serviços e suas necessidades. Considera-se que esse tipo de formação favorece mudan-
ças no perfil dos profissionais, além de propiciar formação de profissionais de saúde críticos,
reflexivos, proativos e preparados para atuar em equipe e no mundo do trabalho6.
O objetivo deste capítulo é compartilhar reflexões sobre a formação do fonoaudió-
logo a partir do relato de experiências de participação dos estudantes nesses programas e
trazer considerações sobre a implantação da proposta curricular que busca preparar para
o trabalho em equipe multiprofissional e interdisciplinar, na perspectiva da Educação Inter-
profissional.
53
apenas com os recursos da Universidade. A partir de 2011, com os recursos financeiros do
Ministério da Saúde destinados ao projeto, foi possível a execução de outras atividades de
formação e educação permanente na Universidade e nos serviços. Para efeitos didáticos
as atividades do projeto foram agrupadas em três eixos principais:
1. Integração Ensino-Serviço
A primeira ação do projeto foi constituir o Comitê Gestor Local (CGL), que inicial-
mente incluiu alguns gestores e profissionais das UBS envolvidas, professores e estudan-
tes dos cursos participantes, e, gradativamente, foi incorporando representantes de outros
equipamentos de saúde, que recebiam estudantes em suas unidades. O CGL assumiu o
planejamento e a avaliação dos estágios realizados pelos três cursos nesse território. A
iniciativa foi de articular as clínicas-escolas com serviços de referência para diagnóstico e
tratamento de alguns casos complexos, estabelecendo fluxos e rede; e planejar todas as
atividades de educação permanente desenvolvidas pelo projeto.
A inserção dos estudantes no território, que originalmente era negociada pelas dis-
ciplinas, passou a ser pactuada nas reuniões do CGL, com a formalização de planos de tra-
balho e a preparação dos trabalhadores para a recepção dos estudantes nas UBS. Foram
realizados diversos seminários e oficinas na Universidade e no território para a formação
de alunos, professores e profissionais da rede sobre territorialização que propiciaram o
aprofundamento do Diagnóstico de Saúde do Território e de ferramentas da Atenção Básica
para o cuidado de casos complexos. Foram utilizadas para tal empreendimento metodo-
logias de pesquisa/ação (mapas falantes, mapas afetivos, pesquisas sobre itinerários de
saúde, ecomapas, entre outros recursos).
Cada curso trouxe ao projeto sua expertise para o aprofundamento de estudos
relacionados às demandas do território. O curso de Psicologia contribuiu para o aprofunda-
mento de questões relacionadas ao campo da Saúde Mental, o curso de Fonoaudiologia
contribuiu com as ações relativas ao campo da Reabilitação e o curso de Serviço Social
colaborou com o debate sobre as questões de Participação e Controle Social. Os cursos
contribuíram mutuamente com as atividades de cada campo de aprofundamento temático.
As atividades desenvolvidas nos dois primeiros campos foram bastante intensas tanto na
discussão conceitual, como na reflexão sobre os processos de trabalho e resultaram em
outros dois Projetos – “PET-Saúde Mental” e “PET Redes-Redes de Atenção à pessoa com
Deficiência”, que apresentaremos adiante. O Serviço Social propiciou um conjunto de ofici-
nas, na universidade, com os estudantes dos três cursos e, no território, com os Conselhos
Gestores de Saúde das quatro UBS que participavam do projeto e suas comunidades.
Na perspectiva da Educação Permanente em Saúde, o projeto viabilizou: (1) a
contratação de profissionais para atender demandas de formação dos serviços; (2) a con-
tribuição de docentes para o fortalecimento de alguns movimentos em curso no território,
Fóruns de Reabilitação, de Saúde Mental; (3) o aprofundamento por meio de seminários e
oficinas de temas relacionados às vulnerabilidades da população desse território, tais como
situações de violência, atenção oportuna a bebês de risco, saúde na infância e juventude.
Outros temas diziam respeito à necessidade de formação para o manejo de novas estra-
tégias metodológicas de trabalho em saúde, tais como matriciamento, apoio institucional,
ecomapas, dispositivos grupais. Estudantes, professores e trabalhadores engajados nes-
sas atividades se aperfeiçoavam em práticas cotidianas nos serviços.
54
2. Linhas de pesquisas e Projetos interdisciplinares envolvendo três eixos:
Saúde Mental, Reabilitação e Participação Social
55
para o projeto em curso. Posteriormente, o site tornou-se uma espécie de estação com infor-
mações sobre o território, programação e materiais sobre eventos e resumos de pesquisas
nele desenvolvidas, assim como compartilhadas referências bibliográficas. Esta estação,
tornou-se registro dos demais projetos desenvolvidos no território, tornando-se um disposi-
tivo importante de referência para professores em suas aulas ou supervisões de estágios e
para os trabalhadores (http://www.pucsp.br/prosaude/pet_saude/projeto.html).
Além das atividades internas desenvolvidas, estudantes e trabalhadores procura-
ram divulgar os resultados do projeto, em eventos científicos na instituição e fora dela
(congressos, encontros). A participação em eventos pode ser considerada uma atividade
chave na formação de estudantes e educação permanente de profissionais, pois propicia
a apropriação conceitual, formação discursiva consoante aos objetivos do projeto e a ca-
pacidade de reflexão sobre suas experiências. Foram realizadas, nesse âmbito, oficinas
de escrita nas quatro UBS, estimulando os trabalhadores a escreverem suas experiências.
Essa foi uma estratégia importante de integração ensino-serviço e que trouxe um olhar dos
trabalhadores diferenciado para os processos vivenciados no cotidiano de suas funções e
para a possibilidade de fornecer textos para a formação de estudantes. O processo de or-
ganização de narrativas escritas sobre as práticas de trabalho propiciou o empoderamento
dos trabalhadores de sua luta, de seus enfrentamentos e de suas conquistas, fazendo re-
verberar nos processos de trabalho e no dia a dia com os estudantes, uma convivência que
resulta em qualidade do cuidado em saúde. As oficinas serviram para sensibilizar e delinear
uma proposta de escrita, mas o processo de produção exigiu mais tempo do que o previsto.
Como os projetos se sucederam num contínuo, parte dos textos foram publicados no livro
“Saúde Mental, Reabilitação e Atenção Básica: encontros entre Universidade e Serviços de
Saúde”, organizado com recursos de projeto PRÓ-PET-Saúde III e parte foi enviada para
um periódico da área da Fonoaudiologia – Revista de Distúrbios da Comunicação7.
56
Programa PRÓ-Saúde II e os Programas de Educação pelo Trabalho (PET) na
PUC/SP
57
a elaboração de Projetos Terapêuticos de forma articulada entre UBS e outros serviços e/
ou recursos do território e com a produção de linhas-guias de cuidado em saúde mental, fa-
zendo formação das equipes e dos alunos para metodologias do cuidado em saúde mental
e para o trabalho em rede. Também fortaleceu ações de integração curricular dos cursos
envolvidos e a parceria entre a Clínica Psicológica e o território.
As experiências e resultados da pesquisa/ação (PET) estão registrados em relató-
rios e vídeos no site (http://www.pucsp.br/prosaude/pet_saude/projeto.html), em artigos e em livro
publicado em 20168.
58
Para que estudantes e preceptores pudessem colaborar para o fortalecimento da
Rede de Atenção à Pessoa com Deficiência, no território em questão, em um primeiro mo-
mento, os estudantes fizeram uma imersão no SUS em funcionamento no território da FÓ/
Brasilândia, visitando os equipamentos e acompanhando as atividades em que os respectivos
preceptores trabalhavam, conhecendo outros serviços de saúde e participando de ações de
saúde e intersetoriais desenvolvidas na região. A partir das discussões nas reuniões gerais,
os preceptores foram diversificando os itinerários de formação dos estudantes, levando-os a
participarem de Reuniões de Equipes, Grupos de Educação em Saúde, Visitas Domiciliares,
Atividades de Promoção de Saúde, Fóruns Permanentes, como o de Reabilitação, Reuniões
do Conselho Gestor, dentre outros. Paralelamente à imersão nos cenários de prática, foram
realizadas atividades de alinhamento conceitual com todo o grupo PET.
Foi organizado ainda um conjunto de Seminários para estudo e conhecimento de
temas que abrangeram: História das Políticas Públicas de Saúde do País; Princípios e Di-
retrizes do SUS e sua construção teórica e fases de implementação; Diferentes Modelos
Assistenciais; Atenção Básica, seus Princípios e seus Dispositivos; Política de Atenção à
Pessoa com Deficiência; Redes de Atenção à Saúde. Os Seminários foram preparados
pelos estudantes com a assessoria dos preceptores, dos tutores e eventualmente de um
especialista convidado. As estratégias para que os estudantes compreendessem e pudes-
sem problematizar o funcionamento das Redes de Cuidado à Pessoa com Deficiência en-
volveram: observação do território e conhecimento da população, seguidos de reflexões em
diários de campo, análise do acesso e modos de interação população-serviços de saúde,
bem como vivência de práticas de cuidado desenvolvidas por equipes multiprofissionais
com foco na ação interdisciplinar.
A rotina de atividades teve periodicidade semanal, contando com uma reunião geral
de todos os participantes para estudos, alinhamento conceitual, planejamento, apresenta-
ção e discussão das atividades desenvolvidas no território e uma reunião dos grupos me-
nores, formados pelos preceptores e pelos estagiários, que ocorreu nos equipamentos de
atenção básica e especializada em que os preceptores envolvidos trabalhavam.
Em um segundo momento, foram desenvolvidos estudos de 12 casos indicados
pelos preceptores. Os estudos se iniciaram com a leitura dos prontuários, sendo que cada
caso foi estudado por duas duplas, dupla na Atenção Básica e outra na Atenção Especiali-
zada, com os respectivos preceptores. O estudo de cada caso, nessas duas perspectivas,
resultou numa discussão bastante importante sobre a fragmentação do cuidado entre es-
sas duas instâncias. Constatou-se uma grande preocupação das equipes em garantir aos
usuários a atenção às necessidades específicas decorrentes da deficiência, mas, ao mes-
mo tempo, observou-se a ausência da coordenação e continuidade do cuidado, sobretudo
quanto aos cuidados gerais de saúde da Pessoa com Deficiência, previstos no âmbito da
Atenção Básica. Também, se observou a fragilidade da Rede de Atenção à Saúde da Pes-
soa com Deficiência, a partir de uma perspectiva teórica de reabilitação funcional pouco
articulada ao modo de atenção do SUS, que prioriza promoção de saúde, inclusão social e
redução de danos e agravos. A partir das discussões no grupo, estudantes e preceptores
encaminharam a discussão em rede desses achados com os profissionais das unidades às
quais cada caso estava vinculado.
Outro grande foco das atividades foi a pesquisa intitulada: “Itinerários de Cuidado
e Redes de Atenção à Pessoa com Deficiência no Território da Freguesia do Ó/Brasilân-
dia”. Esta pesquisa envolveu toda a equipe e teve como objetivo geral analisar os itine-
rários terapêuticos e de cuidado-autocuidado dos usuários na rede de saúde em relação
aos problemas relacionados à atenção à saúde da pessoa com deficiência no território.
59
Os objetivos específicos foram: (1) Caracterizar o contexto socioeconômico, demográfico,
epidemiológico e a oferta de serviços do território sob a Supervisão Técnica de Saúde da
FÓ/Brasilândia; (2) Descrever o percurso referido nas linhas de atenção à saúde à pessoa
com deficiência com relação aos diferentes serviços e sistemas de cuidados utilizados, com
ênfase na Atenção Básica (AB); (3) Descrever e problematizar barreiras, lacunas, acesso,
acolhimento, formação de vínculo e responsabilização quanto aos itinerários terapêuticos,
tendo como perspectiva a integralidade da atenção e a articulação da rede. Quanto à ca-
suística e métodos, a pesquisa-ação, de caráter quali-quantitativo foi desenvolvida a partir
do estudo de 49 casos, indicados pelos preceptores das UBS envolvidas e pelos serviços
especializados do território, a saber, Núcleo Integrado de Reabilitação (NIR), Programa
Acompanhante de Saúde da Pessoa com Deficiência (APD), Núcleo de Apoio à Saúde da
Família (NASF) e Hospital Maternidade Cachoeirinha. Os critérios de inclusão foram: casos
com prontuários acessíveis para consulta; assinatura do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido pelo usuário ou seu representante legal (o projeto de pesquisa foi devidamente
cadastrado na Plataforma Brasil, submetido e aprovado pelos Comitês de Ética da PUC/SP,
da Prefeitura Municipal de São Paulo e do Hospital e Maternidade Cachoeirinha) para a
realização de visitas domiciliares, acompanhamento de atividades e entrevistas. Desses 49
casos estudados, restaram 47, pois dois dos casos acompanhados eram de gravidez de
risco, mas o acompanhamento verificou desenvolvimento dos bebês sem intercorrências. A
coleta de dados foi feita por meio de entrevistas realizadas com os usuários, a partir de um
roteiro semiestruturado de questões envolvendo: identificação do usuário, contexto fami-
liar, educação, escolaridade e formação profissional, dados socioeconômicos, aspectos da
participação, interação e papéis sociais, histórico de diagnóstico e tratamentos realizados,
fluxos no sistema de saúde e no território, expectativas e demandas de cuidado. A ideia de
pesquisa-ação foi compreendida pelos estudantes e preceptores, pois o roteiro permitiu
constituir escuta ativa e efetiva às demandas dos usuários durante a realização das en-
trevistas, das visitas domiciliares ou dos acompanhamentos de atividades dos usuários.
Foram elaborados genogramas e ecomapas de cada caso, junto aos participantes como é
prescrito nesses dispositivos, dando visibilidade aos contextos familiar e social dos partici-
pantes estudados.
Ao se voltar para os itinerários de cuidado, na pesquisa se verificou que a re-
gião ainda não tem respondido às demandas de saúde das pessoas com deficiência a
partir de um deslocamento da coordenação do cuidado para a Atenção Especializada,
em detrimento do papel central da Atenção Básica neste quesito, e que houve ênfase
na busca e oferta do modelo tradicional de reabilitação especializada que, por desco-
nhecimento de outras formas de atenção à saúde, é muito demandado pelos próprios
usuários. Este resultado gerou um processo grande de discussão da equipe do projeto
com os serviços para a ampliação do entendimento da reabilitação como processo so-
cial. Os dados da pesquisa foram trabalhados em recortes escolhidos pelos grupos de
preceptores e estudantes a partir das práticas das unidades em que desenvolveram o
projeto. O banco de dados permitiu análises qualitativas dos discursos apreendidos ao
longo do processo de cada sujeito e do grupo amostral; e quantitativas a partir da esta-
tística descritiva e inferencial. Os temas foram escolhidos pelos grupos para aprofunda-
mento de estudos e pesquisas a partir desta matriz foram: Rede de Atenção à Pessoa
com Deficiência; Itinerários Terapêuticos: revisão de literatura; Reabilitação na Atenção
primária; Condições de vida e itinerários de cuidado de pessoas com deficiência no
território FÓ/Brasilândia; Itinerários de cuidado e redes de atenção à pessoa com defi-
ciência; Educação e trabalho de pessoas com deficiência no território FÓ/Brasilândia;
60
Redes de apoio à Pessoa com deficiência; Acompanhamento de bebês de risco; Barrei-
ras geográficas, acessibilidade e acesso; Barreiras sociais e atitudinais; Necessidades
de saúde das pessoas com deficiência e ciclos de vida. Projeto Terapêutico Singular
(PTS) da pessoa com deficiência.
61
de profissionais; (b) o reconhecimento de que a presença de estudantes nas atividades
cotidianas de trabalho podem vir a ser a oportunidade de compartilhamento de dúvidas,
questionamentos, necessidades de aprofundamento conceitual para o desenvolvimento de
práticas com professores e especialistas; (c) o apoio que a academia poderia oferecer para
o aprofundamento conceitual da formação de equipes da Estratégia de Saúde da Família/
NASF para práticas voltadas à desinstitucionalização e desfragmentação do cuidado e na
desmedicalização da população e dos projetos de produção da saúde; (d) a oportunidade
de sistematizar experiências para compartilhamento da produção de saberes sobre proces-
sos de trabalho em eventos científicos ou publicação.
Com relação aos docentes, a experiência PRÓ-Saúde oportunizou: (a) a convivên-
cia com estudantes e professores de outros cursos de outras áreas, num trabalho conjunto
de problematização sistemática do cuidado em saúde no território; (b) a possibilidade de
planejamento de atividades comuns a todos os cursos para o desenvolvimento de estra-
tégias de participação nas equipes, de produção da escuta qualificada, a construção de
vínculo, a desfragmentação de atos do cuidado em saúde, de compreensão ampliada de
processos de adoecimento, de compartilhamento de olhares e decisões para o encaminha-
mentos de projetos terapêuticos; (c) a possibilidade de reflexão e busca para o embasa-
mento teórico-prático para a atuação dos estudantes junto às políticas públicas presentes
no trabalho na atenção primária (aleitamento materno, saúde da criança, adolescente, mu-
lher, idoso, pessoa com deficiência, saúde mental, álcool e outras drogas entre outras); e
(d) a compreensão de que a formação para o SUS requer projetos pedagógicos que pos-
sibilitem aos estudantes um trânsito que vá além de disciplinas de saúde Coletiva-Pública,
demandando incursão dessa formação em âmbitos de diversas natureza, teórico-concei-
tual, técnico-assistencial, político, jurídico, sociocultural, para compreender as demandas
da atuação profissional.
A preocupação central dos professores que participaram dessas experiências foi
a de buscar mecanismos para institucionalizar as práticas acadêmicas propiciadas por
esses projetos. No entanto, as barreiras para tornar estruturais essas experiências que
tornam indissociáveis a articulação entre ensino, pesquisa e extensão e trazem para den-
tro da universidade a realidade dos serviços, suas possibilidades e necessidades, ainda
são imensas.
Na PUC/SP, os cursos de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Psicologia pertencem a
uma mesma faculdade, a Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde, o que facilita, de
certa forma, o enfrentamento das barreiras acima mencionadas. Ainda que não tenhamos
conseguido transformar as experiências exitosas das ações desenvolvidas nos projetos
citados em práticas acadêmicas curriculares comuns aos três cursos, temos, cada vez
mais, estreitado as relações entre os cursos com (1) projetos de pesquisas interdisciplina-
res, como projetos de Iniciação Científica, com a participação de bolsistas dos diferentes
cursos, sob orientação também de professores de formações distintas; (2) inserção dos
alunos de diferentes cursos em estágios no mesmo cenário de práticas, especialmente o
do Sistema Único de Saúde, possibilitando a realização de processos formativos interpro-
fissionais e interdisciplinares, incluindo as equipes de saúde; (3) planejamento e realização
de atividades acadêmicas entre os cursos, como as denominadas Semanas de Integração
da Faculdade, com atividades realizadas por profissionais das diferentes áreas de forma-
ção, para os estudantes dos três cursos, discutindo temas em que a especificidade de cada
profissão dá lugar ao olhar ampliado para as questões de saúde da população; e (4) ativida-
des extensionistas voltadas para a população em geral e para a comunidade puquiana em
particular. Dentre esses, destacamos o Dia de Ações Sociais no Campo da Saúde, em que
62
docentes e estudantes, juntos, dos três cursos, promovem atividades para a comunidade
puquiana relacionadas à promoção da saúde e qualidade de vida; e o Dia das Crianças, em
que se realizam atividades voltadas aos filhos dos funcionários, elegendo o brincar como a
atividade fundamental de saúde e bem-estar infantil. Aqui, novamente, estudantes dos três
cursos estão juntos na realização dessas atividades. A possibilidade de criação de novos
espaços em que a circulação de saberes acontece de forma não hierarquizada tem sido
uma ferramenta potente para aproximação dos diferentes profissionais e estudantes, com
potencial para pensarmos futuras reformas curriculares com eixos comuns aos três cursos
e não somente dois, como veremos a seguir no texto.
Também a experiência exitosa nos PRÓ-Saúde e PET-Saúde tem possibilitado a
aprovação de renovação de contratos desses programas entre os Ministérios e a PUC/SP,
especificamente com a nossa Faculdade e com os cursos envolvidos. Isto certamente tem
contribuído para que, de modo paulatino, torne-se mais evidente e necessária a revisão
dos projetos curriculares dos cursos em prol de uma reforma curricular integrada, que vise
à formação de profissionais do campo da saúde em consonância com os princípios do SUS
e com o conceito de determinação social de saúde.
Nesse sentido, está em curso um novo PET, com vigência de 2019 a 2021, intitula-
do PET-Saúde/Interprofissionalidade11, que busca aprofundar a importância da interprofis-
sionalidade na configuração das equipes de saúde. Em sua equipe de gestores, esse PET
articula profissionais das áreas de Psicologia, Fonoaudiologia e Fisioterapia e reúne, em
seu corpo de bolsistas, estudantes de formações distintas, a saber, Psicologia, Fonoaudio-
logia, Fisioterapia e Serviço Social. O que está em foco, neste novo PET, é o entendimento
da importância do trabalho colaborativo na área da saúde, isto é, busca-se a compreensão
de que a melhoria da qualidade dos serviços de saúde depende de todo o conhecimento
específico de cada profissional em prol da construção coletiva e colaborativa de um cuidado
integral.
Durante o PRÓ-Saúde II, tivemos contato com professores que nos falavam de sua
experiência na formação interprofissional oferecida pela UNIFESP da Baixada Santista. A
compreensão da saúde, não estritamente como contraponto à doença, mas como resul-
tante de um processo complexo, no qual interferem múltiplas dimensões do real (biológica,
histórica, sociológica e tecnológica), acenando para a necessidade de construção de novos
caminhos e práticas profissionais e a universalização do acesso, a melhoria da qualidade
dos serviços e a modernização de suas práticas, postuladas pelas políticas de saúde, de-
safiam a formação de todas as profissões da área da saúde a ir além do desenvolvimento
de competências e habilidades específicas de cada área profissional12,13.
A formação uniprofissional, fechada em si mesma, é apontada como um dos
grandes problemas para a mudança do modelo técnico-assistencial de atenção à saúde. A
cultura da formação separada acaba por construir identidades profissionais muito rígidas
o que, historicamente, tem se configurado como uma barreira para a comunicação entre
os profissionais de diferentes categorias. Esse6 modelo de formação dos profissionais de
saúde tem criado muito mais um cenário de competição do que de trabalho em equipe.
63
Embora rara, no Brasil, a literatura mostra que o profissional formado na perspec-
tiva do trabalho em equipe e da integralidade no cuidado é um profissional que avança no
desenvolvimento das atitudes e das competências colaborativas, tornando-se um profissio-
nal de saúde diferenciado14.
O Ministério da Saúde como órgão responsável pela formação de recursos huma-
nos na área da saúde, tem intensificado suas recomendações, de que, no tocante às no-
vas DCN, as orientações para a elaboração dos Projetos Pedagógicos dos Cursos devem
apresentar o detalhamento das estratégias pedagógicas que devem estar alinhadas aos
princípios da interdisciplinaridade, intersetorialidade e interprofissionalidade como funda-
mentos da mudança na lógica de formação dos profissionais de saúde, superando os silos
profissionais, tanto na formação quanto na dinâmica da produção dos serviços de saúde.
Quando um curso inicia uma reforma curricular, Feurwerker10 alerta para a importân-
cia de não subestimar a complexidade desse processo no contexto institucional, as dispu-
tas internas dos professores e suas concepções, a burocracia, o fôlego do grupo que lidera
o movimento de mudanças. O contexto da PUC/SP não era diferente de outras instituições,
mas a vinda do curso de Fisioterapia abriu uma possibilidade para planejarmos juntos dois
eixos de formação interdisciplinar e interprofissional, que integrassem e perpassassem,
transversalmente, a grade curricular dos dois cursos: um que preparasse o estudantes para
o trabalho interdisciplinar e em equipes multiprofissionais e outro, para a pesquisa.
O curso de Fonoaudiologia iniciou uma reforma curricular em 2013. A Universidade
tinha finalizado um convênio com a Secretaria Municipal de Barueri e encerrava suas ati-
vidades nesse campus, onde funcionava o curso de Fisioterapia, que se transferia para o
campus Perdizes. Foi a oportunidade de pensar a formação interprofissional.
A partir das diretrizes, ampliou a carga horária do conjunto de disciplinas da área da
saúde coletiva, que culminavam em estágio em Unidades Básicas de Saúde. Embora fosse
um eixo de disciplinas comum a todos os estudantes, o percurso pela Saúde Coletiva era
visto como uma experiência em um campo de trabalho em uma especialidade da Fonoau-
diologia. Os estudantes vivenciavam o trabalho interdisciplinar durante a formação, mas tal
vivência se dava em função das necessidades do atendimento clínico especializado. Quan-
do os estudantes iam para os estágios na atenção básica, onde o trabalho é predominan-
temente em equipe e voltado para necessidades de saúde, havia resistência e dificuldade
para entender o modelo assistencial do SUS, compreender a lógica do cuidado integral de
saúde nesse nível da atenção e para o trabalho colaborativo em equipe. Além disso a Saú-
de Pública-Coletiva era tida como uma especialidade e, portanto, mais um campo opcional.
Em consonância com as políticas públicas indutoras de formação nas profissões
da área da saúde, buscou-se implantar uma nova organização pedagógica dos cursos de
Fonoaudiologia e de Fisioterapia. Essa nova organização procurou atender à exigência nor-
mativa da formação específica de cada profissão e, ao mesmo tempo, incluir uma formação
geral comum ao campo das profissões da área saúde, conforme propõem as Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN) dos cursos de graduação vigentes.
A literatura aponta que, durante sua formação, o profissional da área da saúde deve
ter oportunidades para práticas multiprofissionais desde o início de cada um dos cursos, ou
mesmo um sólido tronco inicial comum às várias carreiras de formação. A noção de equipe
64
deve ser compreendida na sua função intercessora (interdisciplinaridade como potência
de disruptura das fronteiras profissionais e invenção de arranjos criativos de práticas in-
terprofissionais). Os cursos das diferentes profissões da saúde devem, nesta perspectiva,
articularem-se entre si para que os projetos de mudança transformem a prática dos servi-
ços de saúde (hospitais, clínicas e atenção básica), garantindo humanização, qualidade da
assistência em projetos terapêuticos de equipe e maior autodeterminação dos usuários.
A reforma curricular dos cursos de Fonoaudiologia e Fisioterapia procurou manter a
excelência do projeto anterior dos dois cursos, no que diz respeito à especificidade de suas
formações e introduziu um eixo que trabalha transversalmente a possibilidade de formação
para o trabalho interdisciplinar e interprofissional, demandada não apenas na atuação em
serviços públicos, mas também em instituições e serviços privados. O modelo proposto
está fundamentado, portanto, em um novo modo de organização pedagógica, que contem-
pla tanto a sólida formação profissional, quanto a formação interprofissional, preparando o
egresso para o trabalho coletivo, de equipe multi e interprofissional. A formação se sustenta
na integração curricular, em modelos pedagógicos mais interativos e na adoção de meto-
dologias ativas de ensino e aprendizagem, que constituem a proposta.
Assim, a mudança mais significativa que esta reforma curricular buscou alcançar
foi a construção do eixo interprofissional, incorporando à formação dos estudantes do curso
de Fonoaudiologia a convivência, desde o início do curso, com os estudantes de Fisiote-
rapia. São realizadas atividades acadêmicas e práticas interprofissionais, que envolvem o
conhecimento de outras áreas do saber, e também o compartilhamento de situações para a
educação do olhar e da escuta profissional. Concebido como um dispositivo importante de
mudança na formação, este eixo contribui para a visão de clínica ampliada e a prática de
projetos terapêuticos e ações de saúde compartilhadas como orienta as políticas indutora
de mudanças na formação.
Embora as cargas horárias totais dos cursos sejam diferentes, a da Fonoaudiologia
em torno de 3600 horas e a da Fisioterapia, 4000 horas, foi possível a organização das
grades horárias semestrais para a realização das disciplinas comuns. Isso, no entanto, é
exequível apenas quando há o diálogo e trabalho colaborativo entre as coordenações dos
dois cursos e o setor administrativo da Universidade que precisa estar em consonância com
uma estrutura curricular que pressuponha a interdisciplinaridade.
O Eixo de Formação Interprofissional é todo desenvolvido em turmas mistas (in-
tegrando os estudantes dos dois cursos). Esta formação ocorre por meio de três módulos:
1) Formação Interprofissional de Fundamentos Interdisciplinares constituiu
um conjunto de disciplinas-atividades que compõe a rede de saberes que interliga as profis-
sões: Fonoaudiologia e Fisioterapia. A experiência de integração entre estudantes de dois
ou mais cursos não é habitual. Ela objetiva uma compreensão diferenciada dos processos
de adoecimento físico e consequente maior capacidade do diálogo do futuro profissional
com as demais profissões da área da saúde. Comparecem a este modulo disciplinas cur-
riculares que contemplam conteúdos de diversas áreas do conhecimento, relativas à es-
trutura e ao funcionamento biológico, psíquico e social do homem. Integram esse módulo
as disciplinas Introdução ao Pensamento Teológico (34h); Morfofisiologia humana (51h);
Embriologia e Genética (34h); Neuroanatomia (51h) e Constituição biopsicossocial do hu-
mano (51h).
2) Formação Interprofissional em Bases Científicas refere-se à perspectiva do
ensino pela pesquisa, portanto, constitui-se em um segundo módulo comum. Seu sentido
básico é o de estimular uma formação pautada por atitudes e posturas que acolham a
65
diversidade de linhas teóricas e de investigação, como também de favorecer que os estu-
dantes assumam a produção acadêmica em função do interesse social e científico. Esta
perspectiva indica, naturalmente, o desenvolvimento de compromissos éticos, estéticos e
técnicos. Compõem este modulo as disciplinas Metodologia Científica (34h); Produção de
textos científicos (34h); Produção de textos acadêmicos (34h).
3) Formação Interprofissional em Saúde é outro modulo formado por disciplinas-
atividades que tratam temas relacionados à formação comum no campo da saúde. Objetiva
possibilitar aos estudantes: a compreensão da realidade sobre o processo de construção
do sistema de saúde vigente no País e das múltiplas dimensões envolvidas no processo
saúde-doença e de produção de cuidado; aprender a trabalhar em equipes multiprofissio-
nais e interdisciplinares, desenvolver ações de natureza interdisciplinar; conhecer e utilizar
ferramentas de trabalho do campo da saúde coletiva. Especialmente nesse eixo, os alunos
estão reunidos em grupos interprofissionais e desenvolvem atividades nas quais têm a
oportunidade de conhecer a realidade de sua profissão em diferentes setores e níveis de
atenção no SUS, por meio de visitas técnicas, discussão de casos clínicos, aprofundamen-
to políticas temáticas e linhas de cuidados. Essas atividades permitem conhecer as outras
áreas, suas possibilidades de contribuição para uma compreensão ampliada dos contextos
de vida da população e, ao mesmo tempo, contribuem para a construção da identidade
profissional, porque propiciam a percepção do objeto e da abrangência da colaboração da
área para a resolução de problemas de saúde. No primeiro e segundo semestre, estudam
o sistema de saúde, o modelo assistencial, os níveis de saúde, as políticas de implantação
do cuidado integral de saúde. No 3º e 4º semestres, conhecem os fundamentos da atenção
básica de saúde e fazem visitas monitoradas nos serviços, acompanhando a rotina dos pro-
fissionais do NASF, no 4º e 5º semestres os fundamentos da atenção especializada e fazem
visitas monitoradas conhecendo a rotina do CER FÓ Brasilândia, acompanhando a rotina
das atividades interdisciplinar e interprofissional dessa unidade, e no 6º e 7º semestres, a
atenção hospitalar, fazendo visita monitorada em alguns hospitais conveniados. Assim, a
aproximação aos cenários ocorre concomitantemente a um preparo teórico-conceitual so-
bre a prática no SUS, propiciando a construção de conhecimentos a respeito das múltiplas
dimensões envolvidas no processo saúde-doença, da atuação em equipe para a produção
de cuidado integral, dos processos de trabalho em saúde envolvendo as diversas profis-
sões e práticas de saúde nos diversos níveis de atenção à saúde.
Fazem parte desse eixo as seguintes disciplinas: Saúde Coletiva I e Saúde Coleti-
va II (total 102h); Estudos interdisciplinares no Campo da Saúde I, II, III e IV (total 204h) e
Estudos Interdisciplinares no Campo da Saúde V e VI (total 68h).
No final de 2017, o curso de Fonoaudiologia passou por uma nova reforma, bus-
cando adequar alguns aspectos administrativos e também aprimorar outros pedagógicos.
Com relação a estes últimos, o novo projeto curricular prevê a existência de períodos letivos
em que os estudantes aprofundam temas relacionados à sua formação sem necessaria-
mente estarem em uma estrutura disciplinar. Trata-se de “Estudos Orientados”, modalidade
pedagógica que tem como objetivo geral a capacitação de um estudante protagonista em
seu processo de formação profissional. Impulsionados por uma situação problema relativa
às temáticas próprias de sua formação e existente na realidade, os estudantes são con-
vocados a pensar em alternativas de resolução de tal situação, elaborando projetos de
intervenção na realidade estudada. Para tal, devem integrar os conhecimentos construí-
dos nas diferentes disciplinas que compõem o núcleo formativo responsável pelos estudos
orientados em questão. A cada semestre, os estudos orientados terão uma determinada
competência necessária para a formação do fonoaudiólogo como foco da aprendizagem,
66
sendo trabalhadas as capacidades específicas para tal. De modo geral, busca-se com os
estudos orientados: compreender a realidade estudada em seus múltiplos fatores; identifi-
car as demandas individuais e coletivas das questões apresentadas; levantar os aspectos
e instrumentos necessários para a resolução dos problemas; gerir os projetos idealizados.
O percurso dos estudantes nos Estudos Orientados é interdisciplinar, interprofissional, in-
tersetorial na medida em que as vivências necessárias para se atingir o objetivo exigem o
trânsito em diferentes campos do saber e áreas de atuação (visitas monitoradas a diversas
instituições dirigidas aos diferentes ciclos de vida; experiências culturais ligadas a temáticas
do desenvolvimento humano, discussões coletivas e interdisciplinares para preparação dos
projetos de intervenção). Espera-se, com isso, a formação de um profissional com compe-
tência, crítica e criatividade na elaboração de projetos de intervenção numa dada realidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
67
realização desta experiência, mas principalmente a aposta ética e política na sustentação
de um Sistema Único de Saúde universal e de qualidade.
REFERÊNCIAS
68
Capítulo 4
Margareth Attianezi
Janaína de Alencar Nunes
Michelle Guimarães
Eliane Dadalto
Guiomar Albuquerque
Elma Heitmann Mares Azevedo
Aline Neves Pessoa Almeida
Carolina Fiorin Anhoque
INTRODUÇÃO
69
na formação discente de modo a impactar os cursos de graduação. Até o início dos anos
90, ser estudante PET possuía uma significação de pertencimento a uma elite intelectual,
os estudantes de maiores coeficientes de rendimento eram os escolhidos. Acompanhando
a redemocratização do país, os projetos PET ganham uma nova denominação e passa a
se chamar Programa de Educação Tutorial, a coordenação desloca-se para a recém criada
Secretaria de Ensino Superior (SESu) e se mantém até a presente data como uma impor-
tante iniciativa governamental voltada para as IES.
Leite at al (2016) relatam que diversas propostas ministeriais tiveram a denomi-
nação PET, todas de notável importância para a formação do universitário brasileiro nas
últimas décadas. Mais recentemente, o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde
(PET–Saúde), uma resolução interministerial é apresentada como iniciativa específica para
os cursos da área. Tanto o PET (MEC) como o PET-Saúde (MEC/Ministério da Saúde) obje-
tivam a ampliação da visão do estudante, através do contato direto com a sociedade, e sua
autonomia, sendo esses aspectos de suma relevância que afetam o ambiente acadêmico
e a sociedade em geral1.
A Fonoaudiologia na UFES
70
O Curso de Fonoaudiologia, do Departamento de Fonoaudiologia, está localizado
no CCS, campus Maruípe – Vitória, e oferece 50 vagas anuais, divididas em duas entradas
semestrais. Seu Projeto Pedagógico de Curso prioriza a integralidade e multidisciplinarida-
de do ensino e se compromete com uma formação profissional generalista, humanista, re-
flexiva e crítica. Tem por objetivos: desenvolver conhecimentos teórico-práticos construídos
de forma interdisciplinar, pluralista, ética e humanizada articulados com disciplinas integra-
das, além de formar profissionais capacitados a prevenir, promover, diagnosticar e reabilitar
aspectos da saúde da comunicação humana e seus distúrbios nos diferentes ciclos da vida.
A fim de dar conta de tão ampla missão, o curso desenvolve projetos de pesquisa e exten-
são que atuam como indutores da formação.
Repensando a formação
...
71
alterações na formação médica a partir de incorporação de mudanças pedagógicas que
propiciassem uma sintonia maior com o SUS, alterando o foco da assistência individual e
hospitalocêntrica para a Atenção Básica. Em 2005, num aprimoramento do programa, é
ampliada sua cobertura para outras profissões de saúde que integravam a Estratégia Saú-
de da Família (ESF), em especial Enfermagem e Odontologia, sendo lançado o Programa
Nacional de Reorientação da Formação de Profissionais em Saúde (PRO-SAÚDE), com
foco na integração ensino-serviço. Em 2007, o programa é ampliado para os demais cursos
de graduação da área da saúde. A partir das conquistas do PROMED, do PRO-SAÚDE e
do Programa de Educação Tutorial (PET) do MEC é criado, em 2008, o PET-Saúde, forta-
lecendo a articulação interinstitucional7.
O Edital PET-Saúde de 2009, visou o processo de integração ensino-serviço-co-
munidade, propiciando aos estudantes da área da saúde estágios e vivências que contri-
buíram para a formação de profissionais mais comprometidos com a realidade de saúde de
seus estados. A proposta da UFES produziu intervenções nas quais estudantes, docentes,
profissionais dos serviços de saúde e comunidade foram protagonistas. Além de atividades
periódicas nos cenários de práticas da rede pública de serviços de saúde do município de
Vitória ES, todos os integrantes dos projetos PET-Saúde desenvolveram pesquisas em te-
mas prioritários para o SUS.
A construção dessa articulação entre as instituições formadoras e o SUS propor-
cionou um estímulo às mudanças na formação em saúde, base orientadora das DCNs: for-
mação de profissionais de saúde mais humanistas; desenvolvimento de competências não
apenas técnicas, mas, também, ética e política; estímulo a capacidade crítica e reflexiva
dos profissionais.
O PET-Saúde se configurou como grupos de aprendizado tutorial, compostos por
tutores acadêmicos (docentes), preceptores (profissionais do serviço) e estudantes de gra-
duação em saúde. O programa visou incentivar o desenvolvimento de atividades, investindo
na qualificação em serviço dos profissionais da saúde, bem como de iniciação ao trabalho e
vivências dirigidos aos estudantes da graduação, de acordo com as necessidades do SUS8.
Em uma revisão integrativa o PET-Saúde é apresentado como uma proposta de en-
sino-serviço-comunidade que procura integrar os estudantes dos cursos de graduação aos
serviços públicos de saúde do SUS, principalmente aqueles relacionados à atenção primá-
ria, possibilitando novas experiências9. Neste sentido, o estudante inserido na sociedade
consegue vivenciar o conhecimento adquirido na graduação, propiciando desta forma, uma
melhor visão sobre o processo saúde-doença.
No final de 2011, a SGTES do Ministério da Saúde e o Ministério da Educação lan-
çaram um edital conjunto (PRO-Saúde e PET-Saúde) que resultou no PRO-PET-SAÚDE.
Esse edital orientava para o desenvolvimento de ações de promoção, prevenção, controle
social e pesquisa a serem desenvolvidos nos serviços de saúde buscando oferecer à co-
munidade uma assistência na perspectiva da integralidade. De forma concomitante, o edital
também contribuiu com a formação, por promover a integração ensino-serviço, e tornar
possível o contato com a realidade do SUS e a experiência da educação interprofissional
(EI) (MS, 2013). A participação do Curso de Fonoaudiologia da UFES nos projetos PETs se
dá a partir do ano de 2013 quando foram incorporados 197 Grupos PET-Saúde/Vigilância
em Saúde (PET/VS) ao PRO-PET-SAUDE.
O PRO-PET-SAÚDE, intitulado GAS/GVS aconteceu de uma parceria entre a Ge-
rência de Vigilância em Saúde, a Gerência de Atenção à Saúde, a Coordenação da Aten-
ção Básica e equipes das Unidades de Saúde de Andorinhas, Maruípe e São Cristóvão,
72
no município de Vitória/ES. O objetivo principal desse projeto foi permitir ao estudante uma
vivência de serviço de Gestão em Saúde Pública, entendendo o processo de elaboração
das políticas públicas, a partir da situação epidemiológica identificada pelo diagnóstico si-
tuacional. O grupo da Vigilância composto por uma professora tutora do Curso de Fonoau-
diologia, três preceptoras funcionárias da Vigilância em Saúde da rede municipal (uma
enfermeira, uma nutricionista e uma psicóloga) e nove alunos bolsistas dos Cursos de Me-
dicina, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Nutrição e Odontologia estabeleceu um cronograma
de atividades iniciando com a capacitação dos estudantes e planejamento do trabalho a
ser desenvolvido pelo grupo, centradas nos elementos do tripé ensino-pesquisa-extensão.
As atividades programadas e desenvolvidas em ensino foram de alinhamento con-
ceitual com abordagem sobre os seguintes temas: Programas de transferência de renda no
mundo e no Brasil, Programa Bolsa Família, Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional
(SISVAN), Doenças crônicas não transmissíveis (DNCT), Pacotes estatísticos (SPSS).
No decorrer dos anos de 2013 e 2014, o grupo desenvolveu a pesquisa intitulada
“Análise da obesidade e comorbidades na população do Programa Bolsa Família da região
de saúde de Maruípe – Vitória/ES” (Figura 1). A partir dos resultados da pesquisa, produziu-
-se um boletim informativo para ser utilizado nas UBS’s. Essa experiência oportunizou aos
alunos o contato com profissionais e usuários, com relevantes ganhos para a formação de
um profissional que conheça as demandas que emergem destes cenários.
73
Para o edital PET-Saúde/GRADUA-SUS, os cursos da saúde da UFES – Fonoau-
diologia, Odontologia, Farmácia, Terapia Ocupacional, Nutrição e Medicina –, construíram
um processo sistemático de integração ensino-serviço-comunidade, com foco na ESF. Essa
ação serviu de modelo para a realização de mudanças curriculares, com a implementação
e/ou fortalecimento de ações por meio de projetos tanto de ensino como de extensão. A
construção da participação se deu com o envolvimento alinhado entre todos os cursos, e
o objetivo primário da equipe envolvida foi construir um projeto com dinâmica longitudinal,
progressiva e em espiral de desenvolvimento teórico-prático, baseada na integralidade do
cuidado, interprofissionalidade e educação permanente, tendo como eixo de ação o ensino,
a gestão, a atenção e o controle social. Somado a isso, o objetivo foi envolver precocemen-
te o graduando da UFES no SUS e na comunidade, com a finalidade de que ele pudesse
vivenciar a atenção primária, ser ativo junto à equipe multiprofissional, tornando-se um
agente transformador em relação à prevenção, promoção e/ou recuperação da saúde.
No decorrer do PET-Saúde/GRADUA-SUS, os processos de trabalho integrados
foram realizados na USF de Consolação e no Bairro da Penha.
Dentre as atividades interdisciplinares, os graduandos participaram de eventos e
oficinas no Grupo de Mulheres (“Campanha Mundial do Outubro Rosa”); Grupo de Gestan-
tes (“Dia Mundial do Aleitamento Materno” - Figura 2); Grupo de Homens (“Agosto Azul”);
Grupo de Idosos (“Orientações e preparo para cuidadores e familiares de idosos na região
de Bairro da Penha”); Grupo de Adolescentes; Grupo de Apoio Terapêutico ao Tabagista
(GATT) e no Grupo de Saúde Mental.
.
74
Figura 3. Horta Comunitária na USF Bairro da Penha.
O momento atual
75
O projeto de inserção da educação interprofissional (EIP) e prática colaborativa
proposto pela UFES em parceria com a SEMUS de Vitória/ES está diretamente vinculado
à atual política de formação profissional em saúde vigente no país, e em consonância com
autores que discutem que o agrupamento de profissionais em equipes, não necessaria-
mente se traduz em uma prática colaborativa10. Além disso, Silva et al11, ao apresentarem
as barreiras para efetivação da EIP no âmbito da atenção básica, incluem a ausência de
políticas de formação interprofissional durante a graduação, seguida pelas dificuldades na
articulação ensino-serviço e a necessidade de apoio institucional como importantes aspec-
tos a serem considerados na construção de uma proposta efetiva.
Nesta perspectiva, o PET Interprofissionalidade/UFES envolve tutores (docentes),
preceptores (trabalhadores) e estudantes de Fonoaudiologia, articulados com outros cur-
sos, em projetos que atuam na integração ensino-serviço-comunidade, visando implemen-
tação de uma formação com foco na EIP no projeto pedagógico do curso.
Nove cursos compõem esse novo edital. Além da Fonoaudiologia, as ações são
desenvolvidas pelos Cursos de Fisioterapia, Medicina, Enfermagem, Terapia Ocupacional,
Odontologia, Nutrição, Farmácia e Psicologia. Os grupos atuam em cinco UBS de Vitória,
em equipes multiprofissionais, partindo do pressuposto de que a EIP ocorre quando estu-
dantes de duas ou mais profissões aprendem sobre os outros, com os outros e entre si,
possibilitando a efetiva colaboração. Assim, reconhece-se que estratégias já utilizadas no
SUS são importantes metodologias a serem empregadas. Optou-se pelo Apoio Matricial
como operador metodológico, ou seja, o reconhecimento das singularidades dos processos
saúde-doença de cada território, a junção de equipes para a troca de saberes e práticas
e a perspectiva de Clínica Ampliada. O Apoio Matricial apresenta-se como uma estratégia
potente para fomentar a interprofissionalidade, com repercussões diretas no cuidado às
populações pela possibilidade de consolidação da integralidade da atenção12.
No Projeto PET-Saúde/Interprofissionalidade as ações são divididas em dois grandes
eixos: mudança curricular na UFES e fortalecimento da lógica matricial no campo de prática.
Durante o primeiro ano, a meta principal vem sendo melhorar o conhecimento e habilidades dos
docentes, estudantes e profissionais sobre interprofissionalidade. Para tal, algumas iniciativas
para desenvolver a docência e a preceptoria na saúde já estão sendo desenvolvidas no CCS-
-UFES. Entre essas iniciativas, destaca-se o Núcleo de Apoio à Docência do CCS (NAD-CCS),
criado em 2016, composto por membros efetivos e suplentes, representando os oito Cursos de
graduação do CCS, além dos três Departamentos do ciclo básico. Seus objetivos são contribuir
e estimular o aperfeiçoamento dos docentes, para aprimorar a qualidade do processo ensino-
-aprendizagem por meio de cursos, palestras e oficinas pedagógicas. O NAD-CCS participa
do desenvolvimento da docência e preceptoria ofertando cursos de formação pedagógica, de
acordo com as demandas do Edital PET-Saúde/Interprofissionalidade, principalmente nos te-
mas: introdução à EIP, metodologias ativas de ensino-aprendizagem, formação de facilitadores
para a EIP e matriciamento (www.ccs.ufes.br/nucleo-deapoio-à-docencia-nadccs).
Outra iniciativa foi a criação do Núcleo de Educação Interprofissional (NEIP-CCS),
formado por representantes dos nove Cursos que compõem o PET Interprofissionalidade,
que tem por objetivo mobilizar a gestão universitária para apoiar efetivamente a implanta-
ção do currículo de EIP, realizando mudanças curriculares nos Cursos envolvidos, a médio
e longo prazo. Essas estruturas convergem para uma mesma abordagem de formação em
saúde na UFES: contemplar o desenvolvimento de atividades que articulem o ensino, a
pesquisa e a extensão para o cuidado integral em saúde, com base nas necessidades so-
ciais da população, compreendendo os determinantes sociais, culturais, comportamentais,
psicológicos, ecológicos, éticos e legais, no nível individual e coletivo, do processo saúde-
-doença. Com isso, afirma-se a garantia de sustentabilidade do currículo EIP, mesmo após
a finalização do projeto.
76
A contribuição da Fonoaudiologia se dá na expertise em Comunicação em Saúde,
além da colaboração em ações que auxiliem na humanização do cuidado em saúde nas
UBS, realizando a tutoria para um grupo formado por preceptores da Enfermagem e Odon-
tologia e estudantes das graduações em Psicologia, Terapia Ocupacional, Odontologia,
Enfermagem e Fonoaudiologia.
Comunicação em Saúde representa o estudo e a utilização de estratégias de co-
municação para informar e, para influenciar as decisões das pessoas e das comunidades
no sentido de promoverem a sua saúde13. Previato e Baldissera (2018) ao analisarem a
comunicação enquanto domínio da prática interprofissional colaborativa em Saúde no pro-
cesso de trabalho das equipes da Atenção Primária à Saúde observaram que a comunica-
ção dialógica é um princípio fundamental que possibilita uma reversão ao modelo de saúde
hegemônico, aumentando a resolutividade do trabalho em equipe. As autoras apontam
ainda fragilidades e potencialidades nos processos de trabalho das equipes, ressaltando
que a comunicação, enquanto domínio da prática interprofissional colaborativa em Saúde,
torna-se oportunidade dialógica à (re)construção dos saberes e dos fazeres que emanam
do cotidiano do trabalho na Atenção Primária à Saúde14.
Pensar comunicação em saúde e a contribuição da Fonoaudiologia nos remete ao
linguista russo Mikhail Bakhtin que sustenta que a comunicação só existe na reciprocidade do
diálogo, e este irá ocorrer quando a interação entre os sujeitos favorece a construção coletiva
do saber em uma relação horizontalizada. Mantendo essa linha de pensamento, Matraca et
al (2011)15, defendem que as dimensões éticas e culturais são essenciais para o cuidado da
saúde das pessoas e das comunidades, e a adoção do universo lúdico, como instrumento
de promoção a saúde, apresenta-se como uma tecnologia inovadora. Os autores advogam
que o diálogo cria uma importante ferramenta de vínculo e fluxos que colaboram nas ações
de promoção da saúde, sendo a práxis da promoção da saúde uma participação coletiva.
Partindo desses princípios, fundamentais na Educação Popular, apresentamos aos nossos
parceiros a “Arte da Palhaçaria”, usada como estratégia de humanização do cuidado.
77
Estudos demonstram que o humor e riso, atuam positivamente no enfrentamento
de situações adversas na vida cotidiana dos indivíduos, com o auxílio de atividades de pa-
lhaçaria nos níveis de atenção à saúde. Fazendo com que as pessoas reflitam sobre suas
próprias condições de vida, auxiliando no enfrentamento de seus problemas através do
riso. O uso de técnicas como a palhaçaria permite um olhar com foco no sujeito, nas suas
características individuais, permite compreender processos que influenciam sua vida. Os
palhaços estão sempre abertos às soluções inovadoras, sendo capazes de inverter com
muita naturalidade os problemas que lhe são apresentados15.
O uso da palhaçaria e o foco na comunicação em saúde é uma das propostas de-
senvolvidas no atual projeto. Ao todo são cinco grupos multiprofissionais, realizando ações
em cinco UBSs de Vitória. O PET Interprofissionalidade tem se mostrado nosso maior de-
safio, no entanto temos um grupo coeso de profissionais da saúde (docentes e preceptores)
e estudantes, estimulados para a criação de propostas de mudanças curriculares, focadas
na interprofissionalidade, com total apoio institucional desenvolvendo ações promotoras de
saúde, que trabalham com a arte, ciência e cultura para o exercício do diálogo na obser-
vação dos diversos territórios, criando ferramentas para a construção do cuidado integral
através da interação dialógica entre distintas especialidades e profissões.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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education programs: distinct approaches of the ‘PET’ groups in Brazil. Med Ribeirao Preto Online.
2016;49(4):381-7.
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Diretrizes Gerais, from: http://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/diretrizesreuni.pdf (2007, accessed 24
June 2019).
3.UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO. Ampliação da Ufes, sustentação para o
desenvolvimento do Espírito Santo. Vitória: A Universidade, 2010.
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saúde: recursos humanos em duas décadas do SUS. Physis Rev Saúde Coletiva 2008;18(4):685–704.
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diferenciais e panorama de distribuição dos projetos. Saúde Em Debate. 2018;42(2):286–301.
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integrativa. Rev Baiana Saúde Pública. 2017;40(2):514-31.
10.Matuda CG, Pinto NR da S, Martins CL, Frazão P. Colaboração interprofissional na Estratégia Saúde
da Família: implicações para a produção do cuidado e a gestão do trabalho. Ciênc Saúde Coletiva.
2015;20(8):2511–21.
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Atenção Primária à Saúde*. Rev Esc Enferm USP. 2015;49( n.spe2):16–24.
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trabalho interdisciplinar em saúde. Cad Saúde Pública 2007; 23(2):399–407.
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2004;.22(3):615-20.
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colaborativa em saúde na Atenção Primária à Saúde. Interface - Comun Saúde Educ 2018;22(2):1535–
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para a promoção da saúde apoiando-se no diálogo, no riso, na alegria e na arte da palhaçaria. Ciênc
Saúde Coletiva. 2011;16(10):4127–38.
79
Capítulo 5
Priscila Starosky
Francelise Pivetta Roque
Gisele Gouvêa da Silva
Thereza Cristina Lonzetti Bargut
Giovani Carlo Verissimo da Costa
Marcos Alex Mendes da Silva
Marlos Passos Dias
Alexandra Rodrigues Barbosa Gaeta
Bruna Taldo Picinini Neves
Catherine Pinto Rosado Machado
Marcia Regina Lacerda de Deus Santos
Viviane Medeiros
1. INTRODUÇÃO
80
projeto que terá suas experiências iniciais relatadas neste capítulo, participou da seleção e
foi contemplado após divulgação do resultado final em 31 de outubro de 2018. O momento
de confecção deste capítulo compreendeu, portanto, as ações relativas aos três primeiros
meses de implementação do projeto, incluindo sua elaboração (concepção), constituição
dos grupos de trabalho, e atividades iniciais formativas e de integração dos participantes.
81
Odontologia, em 2010 iniciaram-se também os cursos de Biomedicina e Fonoaudiologia. A
concomitância entre os três cursos é, portanto, inferior a 10 anos, e o trabalho conjunto é
restrito a algumas iniciativas pontuais, sem planejamento e execução conjunta que envolva
representantes dos três departamentos e cursos.
O SUS no município de Nova Friburgo tem a seguinte organograma: Secretaria Mu-
nicipal de Saúde e as subsecretarias de atenção básica, de assistência hospitalar e de vi-
gilância em saúde. As atividades do PET-Saúde/Interprofissionalidade serão realizadas es-
pecificamente no âmbito da subsecretaria de atenção básica que se encontra organizada
da seguinte forma: atendimento médico generalista e enfermagem, que em alguns casos
conta também com dentistas, incluídas as Estratégias de Saúde da Família (ESF), e ainda,
atendimento médico especializado, Fonoaudiologia, Psicologia, Fisioterapia, Odontologia e
Nutrição (Policlínica Centro Dr. Sylvio Henrique Braune, UBS José Copertino Nogueira, Posto
de Saúde Dr. Waldir Costa, Posto de Saúde Tunney Kassuga, Centro de Atenção Mulher da
Criança e do Adolescente (CAISMCA), Unidade Básica de Saúde (UBS) Ariosto Bento Mello).
Para o desenvolvimento do projeto optou-se pela formação de grupos de trabalho,
entendendo-os como um espaço com possibilidades de aprendizagem compartilhada e de
prática colaborativa, consequentemente se transformando em um ambiente de crescimento
pessoal e profissional, características importantes para o exercício da EIP4. Esses grupos
foram planejados como equipes interprofissionais, ou seja, que fossem constituídas por
integrantes de duas ou mais profissões e que possibilitasse a troca de conhecimentos e
experiências para executar o projeto2.
Com base nos dois eixos estratégicos de intervenção da proposta (UFF e SUS),
os objetivos e estratégias dos grupos tutoriais foram organizados de maneira que todos
eles atuassem nos dois ambientes, sendo que a troca está planejada para ocorrer após o
primeiro ano.
Os cinco grupos tutoriais foram formados, conforme a Tabela 1, e compostos por
um coordenador e um tutor, representados por docentes do ISNF dos três cursos ofere-
cidos no campus (Biomedicina, Fonoaudiologia e Odontologia), quatro profissionais (pre-
ceptores) e nove estudantes também dos três cursos de graduação oferecidos, sendo seis
bolsistas e três voluntários em cada grupo. Além dos estudantes, os coordenadores, tutores
e preceptores também foram contemplados com bolsa-auxílio.
O planejamento do projeto foi feito para o período de dois anos, com base na proposi-
ção do edital do MS, com estratégias diferentes e complementares para cada ano. Em relação
ao eixo que será desenvolvido nos cursos de graduação do ISNF-UFF-Ensino, as atividades do
primeiro ano visam à adequação dos currículos dos cursos de graduação às DCN com foco na
82
interprofissionalidade, enquanto as atividades do segundo ano, de forma complementar, visam
incluir iniciativas de EIP nos programas das disciplinas dos cursos. Os objetivos do primeiro e
segundo ano, bem como as estratégias previstas estão descritas na Tabela 2.
Objetivos Estratégias
Ano 1
Adequação do currículo às DCN com Sensibilizar o núcleo docente estruturante (NDE), coordenação
foco na interprofissionalidade e Colegiado de curso
Programar reuniões com o NDE
Propor um desenho curricular com foco na EIP
Incorporar à dinâmica dos estágios a EIP
Ano 2
Incluir iniciativas de EIP nos programas Realizar reuniões contínuas com os docentes do curso
das disciplinas do curso Oferecer oficinas de desenho de programas disciplinares
Objetivos Estratégias
Ano 1
Desenvolvimento do SUS e incorporação Sensibilizar os gestores do SUS
da EIP nos serviços Capacitar gestores e profissionais com EIP
Contribuir com a programação das ações das equipes
Incentivar o autocuidado e a autonomia dos grupos
Ano 2
Incentivar a docência e a Realizar reuniões contínuas com preceptores
Ofertar oficina de métodos ativos e aprendizagem significati-
Educação permanente para
va para preceptores
Preceptoria Ofertar capacitação profissional de temas emergentes
Implementando o projeto
83
Os tutores (docentes dos cursos) e os preceptores (profissionais da rede) foram
selecionados a convite das coordenações, com base no perfil de atuação em áreas inter-
disciplinares e sua disposição na participação do desenvolvimento do projeto e divididos
conforme os grupos tutoriais descritos na Tabela 1.
Para a seleção dos tutores foram considerados critérios indicativos tais como: a
trajetória do profissional em atividades de ensino, pesquisa e extensão na área de saúde
ao longo dos últimos cinco anos, com ênfase nas redes de atenção em saúde, atenção
básica e presença da interprofissionalidade em saúde, em sua formação ou atuação como
profissional e docente, e o envolvimento em atividades de gestão acadêmica.
Para os preceptores foram considerados critérios a disponibilidade de carga horá-
ria, a experiência em projetos PET anteriores ou projetos semelhantes, assim como a par-
ticipação nos serviços de atenção básica à saúde sob a ótica do trabalho em equipe multi-
profissional e seu engajamento no processo de trabalho visando a melhor qualidade de vida
do usuário. Desta forma, foram identificados preceptores que já atuavam em colaboração
com o campus, nas aulas práticas e estágios, respeitando-se, porém, a característica de
atuação em atenção primária. Ao mesmo tempo, procurou-se incorporar representantes
das três áreas de atuação, o que foi possível para a Fonoaudiologia e Odontologia, mas
inviável no caso de Biomedicina, pela inexistência de biomédicos na rede municipal de
saúde, buscando-se, nesse caso, áreas afins. Além disso, procurou-se alternar precepto-
res que atuassem na assistência e na gestão, bem como diversificar o máximo possível o
número de profissões e de unidades envolvidas.
As 20 vagas para preceptores foram ocupadas por profissionais com as seguin-
tes formações acadêmicas: Fonoaudiologia, Odontologia, Biologia, Farmácia e Bioquímica,
Psicologia, Medicina, Fisioterapia, Nutrição e Enfermagem, representantes dos seguintes
serviços-setores da atenção à saúde do município: Estratégias Saúde da Família, Unida-
des Básicas de Saúde, equipe do Programa Melhor em Casa, Coordenação da Saúde do
Pessoa Idosa e o Centro de Atenção Psicossocial à Infância e a Adolescência. Todas as
indicações foram também dialogadas com as profissionais, inserindo-se somente as que
concordaram com tais, e que foram apoiadas pela Secretaria Municipal de Saúde de Nova
Friburgo.
Segue a descrição das ações e reflexões sobre o processo seletivo dos estudantes
dos três cursos do ISNF que integrariam os grupos de trabalho nas modalidades bolsista e
voluntário.
84
As competências priorizadas na seleção foram associadas a respeito da escuta, do
diálogo com o outro, ao contexto das necessidades de saúde e das demandas de forma-
ção, as capacidades e ações requeridas para o trabalho interdisciplinar, em consonância
com a proposta do projeto: colaboração e trabalho em equipe; criatividade; organização;
habilidades comunicativas; e desenvolvimento dos temas com adequação e completude7.
A pressão do tempo requerido para um processo de seleção de competências,
as datas viáveis e a concomitância com as avaliações de final de semestre dos cursos de
graduação envolvidos impuseram a necessidade de equilibrar o que era ideal e o que seria
factível. E isso se refletiu desde o material indicado para consulta no edital – formulado
para esse processo seletivo – que incluiu links de vídeos disponíveis na internet, ao mesmo
tempo em que era uma forma de se adequar à dinâmica da geração atual de estudantes,
como o processo de organização da adoção de estratégias metodológicas mais ativas dos
estudantes do ISNF na dinâmica de avaliação8.
Como método de avaliação dos estudantes foi utilizada dinâmica em grupos. Devi-
do ao grande número de inscritos, foram divididos cinco grupos (A, B, C, D e E). Dentro de
cada grupo, os estudantes foram divididos em subgrupos menores, nos quais intentou-se
colocar ao menos um estudante de cada curso, sendo que em alguns casos, isto não foi
possível. Assim como foi permitida a consulta aos materiais bibliográficos sugeridos no
edital, não foi vetada a utilização de equipamentos eletrônicos e digitais como notebook,
celulares, tablets, entre outros., em qualquer momento da seleção. Haviam de dois a três
avaliadores (docentes, tutores e preceptores) direcionando cada grupo.
Os avaliadores explicaram aos estudantes todas as regras de atividades da dinâmica
de seleção e os critérios de avaliação, sendo eles: 1. Respeita e ouve os colegas; 2. Parti-
cipa; 3. Estimula a participação de todos; 4. Organiza os processos de trabalho no tempo;
5. Lida com as emoções de forma favorável; 6. Criatividade; 7. Respeito ao tempo; 8. Res-
peito ao tema; 9. Explora o tema com completude e adequação; 10. Habilidades comu-
nicativas. Os participan-
tes, após a revelação do
tema, deveriam formular
um modo de apresentação
sobre este (Figura 1). Para
a formulação o tempo es-
tabelecido foi de 20 minu-
tos. Os estudantes tinham
a sua disposição uma
mesa com diversos mate-
riais (panfletos, canetas,
folhas A4, cartolinas, cola
branca, luvas, materiais
de avaliação clínica, brin-
quedos, jalecos, estetos-
cópios, entre outros) para
utilizarem na elaboração
do seu modo de apresen-
tação. Além disso, eles
tiveram 10 minutos para
preparação do cenário e Figura 1. Grupo realizou um teatro mostrando como seria
para a apresentação em si. a atuação em um atendimento interprofissional.
85
O tema da seleção era diferente para cada grupo, todos envolvendo a prática inter-
profissional às diretrizes do SUS. Os estudantes deveriam levar em consideração para a
formulação da apresentação os textos sugeridos no edital. Orientou-se aos estudantes que
as apresentações poderiam ser da forma mais criativa possível. Cada grupo de estudantes
elaborou uma maneira de abordar o tema proposto por meio de teatro, paródias de músi-
cas, apresentação oral, entre outros. As apresentações de alguns grupos são relevantes no
sentido de exemplificar aspectos do método adotado e da compreensão de interprofissio-
nalidade pelos estudantes.
Um grupo composto por estudantes de Fonoaudiologia, Odontologia e Biomedicina
realizou uma paródia da música “Evidências” para abordar o tema “Interprofissionalidade e
Humanização no SUS”. Um exemplo de uma parte da letra “Integralidade e equidade, o SUS
é para você e para mim, universalidade na faculdade, porque com o PET-Saúde vamos traba-
lhar assim”. Logo após a apresentação da paródia, os estudantes encerraram com algumas
reflexões. Dentre elas a humanização do cuidado. Destacaram a falta de humanização de
alguns profissionais do SUS e como essa questão está interligada com a formação do profis-
sional da saúde. Também abordaram a importância da universidade expandir conhecimento
para a rede pública de saúde, com cada vez mais integração entre estes dois.
Um outro grupo composto também por estudantes de todos os cursos, optou por uma
apresentação teatral sobre a formação do profissional de saúde dentro na universidade, onde
um dos estudantes, durante seu período de formação não fazia questão de ser participante
em seu próprio processo de aprendizagem além de se mostrar indiferente aos assuntos do
SUS e seus ideais. Mudando a cena os estudantes mostraram o desempenho desses estu-
dantes no mercado de trabalho já formado, onde o mesmo foi forçado a trabalhar na rede pú-
blica de saúde, e sem preparo ou interesse algum, atrapalhava todo o desempenho dos seus
colegas de trabalho. Ao final da apresentação os estudantes falaram sobre a importância de
se falar sobre a interprofissionalidade na formação do profissional e como uma formação de-
ficiente no assunto pode atrapalhar a prática diária no Sistema Único de Saúde.
Outro grupo formado por quatro estudantes, dois da odontologia, um da fonoau-
diologia e um da biomedicina, optou por simular uma discussão interprofissional sobre um
caso específico, onde todos estariam trabalhando dentro de uma UBS. A discussão trouxe
muita clareza tanto aos estudantes do grupo quanto aos de fora, sobre como a interpro-
fissionalidade é importante e agrega facilidade e melhor atuação a todos os profissionais
dentro do grupo de trabalho, facilitando o entendimento do seu próprio papel e do papel do
outro, agregando conhecimento da atuação do outro e de quando é necessária a inserção
de determinado profissional no caso.
Corroborando a proposta de avaliação processual e dinâmica do projeto, considera-
mos que o processo de seleção dos estudantes bolsistas e voluntários promoveu reflexões
e ensaios de como os cursos do ISNF-UFF têm conduzido o seu processo de formação e
quais os possíveis caminhos para serem percorridos. Acreditamos que as percepções que
estudantes participantes (selecionados ou não) e avaliadores (tutores e preceptores) tive-
ram do que foi vivenciado, provavelmente resultaram em acúmulo tanto para o próprio pro-
jeto, quanto de modo geral para o cotidiano do ensino e do serviço dos quais fazem parte.
Ao analisar o ponto de vista dos estudantes e dos avaliadores sobre aspectos de
forma e conteúdo do processo, é possível identificar algumas fraquezas e potencialidades
da formação, assim como as contribuições da própria seleção e alguns desafios futuros.
Quanto à forma, avaliadores e estudantes ressaltaram o caráter inovador da pro-
posta que não seguiu o padrão das convencionais provas de conhecimentos, entrevistas e
86
cartas de intenção. Apesar de considerarem a dinâmica leve, tirando o peso e a competição
típicos dos processos de seleção, afirmaram a sua relevância e caráter reflexivo, criando
cenários reais, embora longe dos ideais, de trabalho multi e interprofissionais e conduzin-
do-os a um dos seus dilemas: o que os profissionais enfrentam ao se formar e deparar com
o ambiente público de trabalho?
A forma e o conteúdo estão imbricados nas reflexões e vivências dos participantes
quanto ao trabalho em equipe proposto na seleção. Ficou claro que os estudantes julgaram
importante a dinâmica de trabalho em grupo, principalmente quando relacionada aos obje-
tivos do projeto. Os avaliadores enfatizaram que a dinâmica permitiu a avaliação de aspec-
tos subjetivos como criatividade, sensibilidade, comunicação e colaboração. Foi valorizado,
também, o fato do estudante ter voz, podendo colocar-se individualmente quanto às suas
motivações e avaliar a própria seleção, gerando uma maior simetria em um processo que é
comumente marcado pelas relações de poder.
Os avaliadores demonstraram envolvimento e satisfação por terem participado
de um processo avaliativo que qualificaram como ético e justo. Optaram como principais
desafios a logística e a aplicação e balizamento dos critérios de avaliação apresentados
anteriormente. A logística, antes e durante o processo, foi determinada pelo trabalho em
equipe dos avaliadores, pois além da sua concepção, foram realizadas diferentes tarefas
em paralelo e em conjunto, como: seleção e deslocamento dos materiais, adequação do
espaço, distribuição dos avaliadores entre os grupos, registro das apresentações e falas,
encerramento coletivo do processo. A aplicação e o balizamento dos critérios de seleção
foram realizados por dinâmica por meio dos subgrupos, ao invés de um único ranking geral,
permitindo que os avaliadores tivessem uma maior igualdade de olhares.
Alguns aspectos do conteúdo das apresentações e das falas dos estudantes apre-
sentam-se como desafios ao projeto, no que tange ao status atual da formação como: a co-
brança e a valorização do ser especialista; a escassez de oportunidades de integração entre
universidade, serviço e comunidade; a necessidade de construir uma rede de conhecimento;
a compreensão superficial de interprofissionalidade, concebida como a junção de diferentes
profissões colaborando para a solução dos problemas de saúde das pessoas; entre outras.
Também foi possível perceber aspectos positivos e relevantes relacionados à formação e ao
amadurecimento, a partir da vivência no processo de seleção: a importância da EIP; o conhe-
cimento de princípios do SUS como universalidade, equidade, humanização e a relação com
a interprofissionalidade; o deslocamento da motivação da formação dos aspectos econômi-
cos do mercado de trabalho para a qualificação do atendimento à população; a integração
ensino, pesquisa e extensão; a responsabilidade social e a importância de uma formação
socialmente referenciada, principalmente na universidade pública; o incentivo e o trabalho de
alguns docentes com os temas relacionados ao projeto; a oportunidade de conhecer e expe-
renciar a EIP, junto aos colegas, docentes e trabalhadores da rede (preceptores).
87
e solicitando o preenchimento do termo de compromisso. Toda essa etapa a princípio ca-
racterizada como meramente burocrática, se concretizou como uma oportunidade para o
trabalho colaborativo e para uma integração inicial entre os membros do projeto.
As atividades do PET-Saúde/Interprofissionalidade, como previstas no edital do
MS iniciaram-se em novembro/dezembro de 2018, com a preparação para seleção dos
estudantes, que coincidiu com o término do período letivo nas IES, criando uma lacuna no
cronograma de atividades pretendidas.
Nesse contexto, a educação à distância (EAD) foi empregada como uma opção
viável para manutenção das atividades, sem interrupção, ainda que num período de re-
cesso na IES. O desenvolvimento das TIC (Tecnologias de Informação e Comunicação)
trouxe transformações para o cotidiano das pessoas em várias dimensões e contribuiu
grandemente para a evolução da EAD, possibilitando que o processo ensino-aprendizagem
rompesse as barreiras do tempo e do espaço físico. A EAD é amparada pelo suporte tecno-
lógico que propicia a interatividade, oferece flexibilidade de estudo e, desperta o interesse
das instituições de ensino superior para o desenvolvimento de cursos de graduação, pós-
-graduação e educação continuada9.
Desta forma, a coordenação do PET-Saúde/Interprofissionalidade optou pela ado-
ção da plataforma moodle da UFF para os cursos à distância, que é organizada e mantida
pelo Centro de Ensino à Distância (CEAD) (Figura 2). Esta mesma coordenação criou e
alimentou a plataforma com os conteúdos teóricos e metodológicos da educação interpro-
fissional e escolheu os recursos formativos mais adequados para os objetivos pretendidos.
Neste ambiente virtual, os grupos tutoriais foram preservados, assim como os objetivos
específicos de cada um, e as atividades foram planejadas para atender, ora o grupo tutorial
isolado, ora todos os membros da comunidade juntos.
Figura 2. Plataforma digital do PET. A plataforma moodle da UFF para cursos à distân-
cia, que é organizada e mantida pelo Centro de Ensino à Distância (CEAD), foi escolhida
como forma de incorporar a EAD ao desenvolvimento do programa PET-Saúde/Interpro-
fissionalidade.
88
Baseado nas informações do MS e no planejamento da proposta do PET, as ativida-
des do programa iniciaram-se no mês de fevereiro. Foram planejadas atividades semanais,
com início sempre às segundas-feiras e término aos domingos. A seguir, serão relatadas as
primeiras atividades. É importante ressaltar que paralelamente às atividades na plataforma
houve comunicação via e-mail e Whatsapp, principalmente para apoiar as atividades EAD,
buscando auxiliar as pessoas a paulatinamente utilizarem mais a plataforma.
Na primeira semana as atividades propostas na plataforma consistiram inicialmente
na elaboração e resposta a um texto de boas-vindas visando esclarecer os objetivos gerais
e específicos do programa. Além disso, dois fóruns foram abertos: um de ambientação na
plataforma e outro propondo a reflexão e discussão do texto “Construindo caminhos pos-
síveis para a Educação Interprofissional em Saúde nas Instituições de Ensino Superior do
Brasil”2.Nessa mesma semana, iniciou-se a “sala de café e prosa” para coordenadores e
tutores, na qual os relatos mais frequentes foram o quanto esse “cantinho virtual” era acon-
chegante na sua proposta, e o quanto a ambientação à plataforma EAD era desafiadora,
inclusive porque algumas pessoas não usavam sequer redes sociais.
Na segunda semana, a proposta foi que cada coordenador de grupo tutorial me-
diasse interações entre os membros do seu grupo, a fim de aprofundar o conhecimento das
pessoas entre si, e já iniciar os preparativos para o plano de ação de cada grupo no primeiro
ano de projeto. Tal atividade mostrou-se eficaz e gratificante, pois fortificou o anseio dos
grupos pela melhora da atenção básica e por inovações curriculares que buscam profissio-
nais que desenvolvam competências colaborativas.
Na terceira semana, a atividade envolveu a leitura de três textos discutindo os
pressupostos teóricos da EIP e a partir daí cada grupo tutorial elaborou uma carta, de for-
ma colaborativa, como forma de apresentação do grupo e de seus objetivos. Por último, as
tarefas da quarta e quinta semanas consistiram na realização de um chat entre os membros
de cada grupo tutorial para elaboração do planejamento e cronograma de atividades para
o primeiro ano.
Uma atividade já prevista compreende a apresentação do PET para os estudantes
ingressantes em 2019 nos cursos de graduação do ISNF. Esta atividade consiste em uma
ação do eixo de trabalho “UFF-ensino” que envolve a sensibilização de toda a comunidade
acadêmica para a importância da EIP como componente curricular na formação (ver Tabela 2).
89
disciplinar em uma formação que irá prepará-lo para o trabalho colaborativo numa equipe
multiprofissional.
O programa também visa ao incentivo da incorporação da EIP nos processos de
trabalho e de gestão do SUS em Nova Friburgo e região, o que promoverá um grande de-
bate sobre o processo de trabalho, oportunizando ao profissional do SUS uma atuação no
processo saúde-doença de forma integrada com diversas áreas da saúde e ao usuário um
atendimento de excelência.
Consideramos que os primeiros passos do projeto já foram marcados pela colabo-
ração, substantivo tão caro ao tema central. Antes mesmo das primeiras atividades, a sele-
ção oportunizou aos avaliadores uma experiência gratificante no sentido de assistir as mais
diversas habilidades e competências demonstradas pelos candidatos em uma troca muito
interessante. Além disso, permitiu uma interação rica entre coordenadores, preceptores e
tutores entre si e com os estudantes candidatos.
Entretanto, a seleção também nos permitiu perceber que os estudantes, mesmo se-
dentos por mudanças, por encontros, por colaboração e diálogo, ainda são fortemente mar-
cados pela formação disciplinar, fragmentada e com forte hierarquia entre as áreas. Desta
forma, se por um lado, a proposta da seleção possibilitou regar a semente da EIP e criar
reflexões iniciais nos estudantes, por outro, permitiu aos avaliadores visualizarem o quanto
será preciso trabalhar no sentido de reconduzir a formação e as práticas, transformando as
potencialidades em efetivos resultados na integração ensino-serviço-comunidade.
Outras questões são encaradas como grandes desafios e possíveis ameaças ao
projeto como: o fato do instituto ser muito jovem e da coexistência entre os três cursos ser
bastante recente e com pouca integração; a inexistência de biomédicos na rede municipal
de saúde; o tempo exíguo para a realização de transformações tão profundas; a formação
dos atuais docentes e profissionais ser fortemente fragmentada e quase que totalmente
uniprofissional; a cultura de competição entre as áreas e categorias ainda ser bastante
forte, tanto no âmbito micro quanto no macro; os problemas estruturais do campus fora de
sede da UFF; a precarização da educação pública e do trabalho docente; o aprofundamen-
to do desmonte do SUS; os problemas da rede de saúde local; entre outros.
A narrativa do início do PET-Saúde/Interprofissionalidade permite-nos refletirmos
sobre como podemos e queremos conduzir o restante da nossa trajetória. Uma certeza,
entretanto, já está construída de que iremos concentrar nossos esforços para que o PET-
-Saúde/Interprofissionalidade seja um importante vetor na integração locorregional para o
SUS entre: gestão, profissionais, universidade e comunidade.
REFERÊNCIAS
90
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pesquisa como espaço de aprendizagem em/sobre Educação Interprofissional (EIP): narrativas em foco.
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interventions on professional practice and healthcare outcomes. Cochrane Database Syst Rev.
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91
Capítulo 6
92
Os conhecimentos construídos pelas vivências em cenários reais de trabalho e
cuidado contribuem para uma formação crítico-reflexiva e com capacidade de solucionar
problemas, em função da diversidade de cenários e da proximidade com as reais necessi-
dades de saúde que influenciam e organização dos processos de trabalho11.
Neste contexto, a formação em saúde necessita ser repensada de forma a incorpo-
rar propostas pedagógicas em consonância com a realidade social e comprometidas com
a qualidade de vida da população12. As mudanças nas Diretrizes Curriculares Nacionais
(DCN) referentes à reorientação do modelo de formação discente têm incorporado vivên-
cias nos cenários de práticas, viabilizando ações junto aos diferentes atores – profissional
de saúde, usuário, gestor. A inserção precoce dos discentes nos serviços de saúde pro-
picia uma nova abordagem do modelo de ensino-aprendizagem, exigindo de docentes a
reformulação do processo de conhecimento, de modo a contemplar práticas de atenção
voltadas ao território e à população, e dos profissionais uma adequação dos processos de
trabalho de forma a subsidiar a tríade ensino-serviço-comunidade13.
Dentro desta perspectiva, os Ministérios da Saúde e da Educação tem se empenha-
do no desenvolvimento de políticas e programas direcionados à concretização destas ex-
periências aos discentes, além de criar estratégias para a educação interprofissional. Des-
taca-se o Programa Nacional de Reorientação Profissional em Saúde (PRÓ-Saúde)14, em
2005; o Programa de Educação pelo Trabalho (PET-Saúde)15, em 2008, configurado como
uma estratégia para fomentar grupos de trabalho tutorial; o VER-SUS/Brasil16 – Vivências e
estágios na realidade do Sistema Único de Saúde (SUS); e a Residência Multiprofissional
em Saúde (RMS)17.
93
Quadro 1. Distribuição dos pontos de atenção da rede municipal de saúde de Flo-
rianópolis, segundo distritos sanitários.
Distrito Sanitário Pontos de atenção da rede municipal de saúde
Centro - 11 centros Secretaria de Bem-estar Animal
de saúde Centro de Atenção Psicossocial (CAPS),
Centro de Atenção Psicossocial Álcool e drogas (CAPSad Ilha), Centro de Atenção
Psicossocial para crianças e adolescentes (CAPSi),
Centro de Controle de Zoonoses
Policlínica Centro
Continente - Centro Álcool e drogas (CAPSad)
11 centros de saúde Policlínica Continente
Norte - Policlínica Sul
12 centros de saúde Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Norte da Ilha
Sul - Policlínica Sul
15 centros de saúde Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Sul da Ilha
94
Programa de Educação pelo Trabalho – PET-Saúde
1. Desenvolver ações integradas entre UFSC e os serviços de saúde e contribuir com a qua-
lificação do ensino, da atenção à saúde na lógica de rede, da gestão e da produção de
conhecimento.
2. Consolidar a orientação das mudanças curriculares, particularmente em relação à expansão
dos cenários de prática, o trabalho em rede em áreas prioritárias do SUS, a interdisciplinari-
dade e pesquisas voltadas às necessidades dos serviços.
3. Promover a educação permanente de profissionais, docentes e discentes e temáticas técni-
cas e pedagógicas.
4. Buscar parcerias intersetoriais na perspectiva da consolidação das ações.
5. Trabalhar em equipe multiprofissional e de caráter interdisciplinar, envolvendo docentes, pro-
fissionais e estudantes.
6. Desenvolver na concretude das ações de ensino, pesquisa, extensão e gestão o papel de
cada uma das profissões, em busca da integralidade do cuidado.
7. Promover ações mobilizadoras para fortalecer os canais de expressão e o diálogo entre o
serviço de saúde, a UFSC e o controle social.
8. Planejar e estabelecer uma disciplina abordando as competências gerais para os cursos de
graduação.
9. Fortalecer a capacidade pedagógica dos serviços para aumento gradativo do número de es-
tudantes nas unidades de saúde conforme previsto nas DCNs.
10. Integração de pesquisa, serviço e ensino na realidade e necessidades do território.
95
incorporava reuniões de planejamento dentro de cada grupo tutor-preceptor-aluno e ain-
da uma reunião coletiva com os tutores para discussões acerca de condutas, demanda e
encaminhamentos.
A inserção da Fonoaudiologia deu-se no projeto intitulado: ”HABILIDADES DE CO-
MUNICAÇÃO E PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMEMTARES (PIC) NO PROCES-
SO DE TRABALHO DA SAÚDE DA FAMÍLIA”. O cenário de prática foi o Centro de Saúde
(CS) João Paulo, pertencente ao Distrito Sanitário Centro. A população de referência deste
CS contabilizava 5.670 pessoas e o território é dividido em duas microáreas. Este grupo
era composto por seis alunos dos cursos de Fonoaudiologia, Medicina, Educação Física e
Enfermagem, três preceptores, dois médicos da familia e uma cirurgiã-dentista e duas tuto-
ras fonoaudiólogas. A proposta era a realização de encontros semanais in loco para cons-
trução e discussão do projeto inicial no universo das Práticas Integrativas Complementares
(PIC) e sua implementação à comunidade do CS João Paulo. Assim, os alunos iniciaram
uma construção voltada à definição do perfil de uso de fitoterápicos e plantas medicinais
na comunidade. Além da construção do projeto, os alunos acompanhavam o processo de
trabalho na unidade, com acompanhamento da recepção, farmácia, análise de relatórios do
INFOSAÚDE e SISREG (programas usados para cadastro dos usuários e agendamentos)
e participação em atividade no Programa Saúde na Escola (PSE).
Vale destacar que essa experiência foi considerada um importante diferencial para
o curso, tendo em vista que a inserção da Fonoaudiologia na rede de atenção à saúde do
município era restrita, não haviam preceptores para os estágios na atenção primária e os
alunos acompanhavam apenas a atuação de fonoaudiólogos nas policlínicas do município.
A proposta da atuação em grupos multidisciplinares é extremamente enriquecedora
pelo compartilhamento de saberes em busca de ações voltadas às necessidades da popu-
lação do território. Porém, os grandes desafios enfrentados para concretização das ações
foram a definição de um horário comum aos estudantes dos distintos cursos e fases para
realização de reuniões e atuações nos cenários de prática.
Apesar destas limitações, as vivências junto à preceptora propiciaram a compreen-
são da importância do diagnóstico situacional para o conhecimento da realidade da comu-
nidade neste território, além de viabilizar o entendimento dos processos de trabalho, das
definições de prioridades e situações de risco e vulnerabilidade.
As discussões acerca do planejamento de uma disciplina transversal para todos
os cursos de saúde da UFSC não finalizaram e não foi possível a elaboração da propos-
ta. Porém, há um consenso quanto à importância da mesma e da potencialidade de sua
concretização dentro das propostas a serem contempladas pelas mudanças nas Diretrizes
Curriculares Nacionais (DCN) dos cursos da saúde.
96
1. Construir um desenho de Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência para o município
de Florianópolis que contemple as necessidades das pessoas com deficiência (PCD) e que
promova a coordenação do cuidado pela AB em saúde.
2. Identificar serviços de saúde e intersetoriais existentes na Região da Grande Florianópolis
direcionados às pessoas com deficiência.
3. Desenvolver mecanismos que promovam a coordenação do cuidado de pessoas com defi-
ciência através da Atenção Básica e a continuidade do cuidado na RCPD.
4. Disponibilizar as informações obtidas e a proposta de RCPD construída para a rede munici-
pal de saúde de Florianópolis.
5. Promover o debate sobre a temática da deficiência para a população e para os profissionais
da rede de saúde.
Este grupo teve como tutora uma professora do Departamento de Serviço Social, e
contou com seis preceptores da rede municipal de saúde, sendo duas da Estratégia de Saú-
de da Família (ESF) e quatro do Núcleo Ampliado em Saúde da Família (NASF) do Distrito
Sanitário Centro; e envolveu dez alunos dos cursos de graduação de Enfermagem, Farmácia,
Odontologia, Serviço Social, Fonoaudiologia, Nutrição, Psicologia e Educação Física.
Os resultados deste projeto envolveram a produção de um material intitulado: “MA-
PEAMENTO DOS SERVIÇOS INTERSETORIAIS DIRECIONADOS ÀS PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA – FLORIANÓPOLIS”. Este material foi produzido em parceria com a Secre-
taria Municipal de Saúde de Florianópolis e apresenta uma sistematização do mapeamento
das instituições e serviços direcionados à PCD. Assim, foram mapeadas 22 instituições
que oferecem 25 serviços direcionados às PCD. O mapeamento das instituições foi dispo-
nibilizado na ferramenta Google Maps®, através do site: https://www.google.com/maps/d/
viewer?mid=zECtr76lLYG8.kdbxH0GzK17c.
97
2. Proporcionar espaços de construção coletiva de conhecimento acerca da saúde com base
em seu conceito ampliado.
3. Fortalecer o controle social e o movimento estudantil na construção do SUS.
4. Promover espaços de debate sobre temáticas negligenciadas ou não abordadas nos currí-
culos dos cursos de graduação e ensino técnico.
5. Garantir a multidisciplinaridade antes mesmo da atuação profissional, na perspectiva de se
alcançar a transdisciplinaridade.
6. Propor espaços de intervenção nas localidades de vivência e estágio.
7. Conhecer in loco o funcionamento prático do SUS em seus níveis de complexidade e abran-
gência.
8. Conhecer a realidade da gestão em saúde dos municípios participantes como campo de
aprendizado.
9. Garantir espaços de avaliação das propostas de intervenção em saúde.
Esta versão do VER-SUS aconteceu como uma edição de inverno (julho de 2015)
na época das férias letivas. A construção dos alunos envolveu cenários de práticas pen-
sando em temas negligenciados na formação como forma de aprofundar a discussão e
construir as vivências nesses temas:
Saúde mental: vivenciar a questões específicas da Rede de Atenção Psicossocial dentro do
SUS e a linha de cuidado que perpassa o sofrimento mental e seus desdobramentos.
Saúde do trabalhador: pensar criticamente sobre os aspectos do adoecimento no trabalho e a
tentativa de garantir espaços de promoção da saúde em ambientes laborais.
Atenção à saúde indígena: garantir um olhar diferenciado às questões culturais, como fatores de-
terminantes na assistência e na conceituação da saúde no contexto e vivência da comunidade.
Diversidades sexuais: refletir sobre questões de gênero e sexualidade no âmbito da atenção à
saúde, considerando as especificidades de cada modo de vida.
Um dos principais frutos do VER-SUS/SC culminaram na elaboração de um livro
intitulado: “VER-SUS Santa Catarina: Itinerários (trans)formadores em Saúde”21, produzido
em parceria com a UNIVALI; Universidade Federal da Fronteira Sul e a UNESC.
98
que contemplam a RIMS; e Atenção em Saúde da Mulher e da Criança, com seis vagas
distribuídas dentre quatro especialidades.
A Fonoaudiologia está inserida na RIMS dentro da área de concentração Atenção
em Alta Complexidade, atualmente, contando com duas vagas e já tendo formado oito resi-
dentes desde o início de sua inserção.
As práticas multiprofissionais representam um importante caminho de reorientação
da formação em saúde. Porém, um dos grandes entraves se configura no cenário hospitalar,
tendo em vista suas peculiaridades voltadas a um serviço de alta complexidade, que requer
necessidades em urgência e emergência para a assistência à saúde. A humanização e o
cuidado em saúde devem ser garantidos neste contexto e a superação da fragmentação do
cuidado dentro do contexto multiprofissional devem ser priorizados.
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100
Capítulo 7
101
Um marco histórico na Universidade de Fortaleza (UNIFOR), ocorrido desde 2008,
foi a incorporação dos programas governamentais para a formação do profissional da saúde
às práticas curriculares com a integração dos 10 cursos do Centro de Ciências da Saúde
(CCS), a exemplo do Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em
Saúde – PRÓ-Saúde II, do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde – PET-Saú-
de da Família, do PET-Saúde Mental, do PRÓ-PET-Redes de Atenção e do PET-Vigilância
Sanitária.
Esses programas foram incorporados paulatinamente ao CCS, com adesão ampla
dos cursos, ante o entendimento de que a participação conjunta e integrada de alunos e
professores às práticas do serviço público reuniria um valor inestimável à formação dos
futuros profissionais. Assim, fez-se o reconhecimento dos principais normativos que histori-
camente fundamentam essas iniciativas.
1) Lei Orgânica da Saúde3 (Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990): define como
uma das atribuições da União sua participação na formulação e na execução da política de
formação e desenvolvimento de recursos humanos para a saúde.
2) Decreto/074 de 20 de junho de 2007: cria a Comissão Interministerial de Gestão
do Trabalho e da Educação na Saúde, com a responsabilidade de incrementar o desenvol-
vimento científico e tecnológico e de ordenação da formação de recursos humanos para a
área da saúde.
3) Política Nacional de Atenção Básica5: atribui ao Ministério da Saúde a função de
articular, junto ao Ministério da Educação, estratégias de indução à mudanças curriculares
nos cursos de graduação na área da saúde, visando à formação de profissionais com perfil
adequado à Atenção Básica, assim como estratégias de expansão e de qualificação de
cursos de pós-graduação, residências médicas e multiprofissionais em Saúde da Família e
em educação permanente (AprenderSUS).
4) Política Nacional de Educação Permanente em Saúde como estratégia do Siste-
ma Único de Saúde – SUS6: preconiza a formação e o desenvolvimento de trabalhadores
na área da saúde.
5) Novas diretrizes para a implementação da Política Nacional de Educação Per-
manente em Saúde7, dispostas, na Portaria nº 1996/MG, de 20 de agosto de 2007.
6) Programa de Bolsas para a Educação pelo Trabalho8: instituído e autorizado pe-
las disposições dos arts. 15 a 18 da Lei nº 11.129, de 30 de junho de 2005.
7) Programa de Educação Tutorial – PET9: instituído pela Lei nº 11.180, de 23 de
setembro de 2005, no âmbito do Ministério da Educação.
8) 3ª Conferência Nacional de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde10 (mar-
ço de 2006): delibera a integração entre ensino e serviço, ressaltando a necessidade de in-
centivar a formação profissional nas unidades básicas de saúde municipais e a adequação
dos serviços para o desenvolvimento de práticas pedagógicas no SUS.
9) Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde –
PRÓ-Saúde11: estimula as mudanças curriculares, com ênfase na Atenção Básica; e na
Estratégia Saúde da Família.
Na Universidade de Fortaleza, o projeto PRÓ-PET-Saúde – Redes de Atenção,
instituído pelo Edital nº 24, de 15 de dezembro de 2011, surgiu da necessidade de forta-
lecimento das ações estabelecidas nas novas diretrizes curriculares dos cursos de saúde
desta Instituição, com o objetivo de reorientação profissional e inserção do aluno nas Redes
de Atenção à Saúde no território. O Curso de Fonoaudiologia da Universidade de Fortaleza,
102
inserto nesse âmbito, por meio da integração e da reforma curricular, vislumbrou uma nova
área de atuação para o fonoaudiólogo no contexto da saúde pública.
O PRÓ-Saúde-Programa Nacional de Reorientação Profissional12, proposto pelo
Ministério da Saúde, em parceria com o Ministério da Educação, teve como objetivo realizar
a integração ensino-serviço e assegurar uma abordagem ampla do processo saúde-doen-
ça, com ênfase na atenção básica, promovendo transformações na prestação de serviços
à população.
A mudança curricular do Curso de Fonoaudiologia da UNIFOR, iniciada em 2007, a
capacitação docente e a adesão aos programas PRÓ-Saúde (em 2008) e PET-Saúde (em
2010) permitiram nova perspectiva para a formação e atuação do discente de Fonoaudiolo-
gia na atenção básica. Então, foram realizadas ações de promoção da saúde, prevenção,
orientação, diagnóstico e encaminhamentos, nas áreas de linguagem, voz, audição, motri-
cidade orofacial e disfagia; além de maior interação da academia com o serviço, desde o
planejamento à execução.
Com o desenvolvimento dos programas em pauta, esta realidade pode ser amplia-
da, permitindo maior organização do trabalho, a contextualização da proposta curricular
com a tendência política e mercadológica vigente e melhoria dos serviços prestados à co-
munidade.
103
desta instituição se realiza principalmente, nas unidades de saúde, hospitais e escolas das
SER II e SER VI.
A SER II é constituída por uma população de aproximadamente 325 mil habitantes
(13% da população de Fortaleza), distribuídos em 21 bairros. Essa SER é composta por
10 Unidades de Atendimento Primário à Saúde (UAPS), um Centro de Apoio Psicossocial
(CAPS), um Centro de Especialidades Odontológicas (CEO), quatro Centros de Referência
de Assistência Social (CRAS), um hospital, quatro Núcleos de Apoio à Saúde da Família
(NASF), 44 escolas e quatro creches municipais.
A SER VI é composta por, aproximadamente, 600 mil habitantes (24% da população
da Capital), distribuídos em 27 bairros. Nessa SER, encontram-se 22 UAPS, dois CAPS,
um CEO, cinco CRAS, cinco hospitais, sete NASF, 103 escolas e 12 creches municipais.
Todos os espaços descritos são locus importantes para a atuação dos alunos, pro-
fessores e profissionais dos cursos envolvidos nos programas PRÓ e PET-Saúde, os quais
interagem de forma ampla com os profissionais dos serviços. O curso de Fonoaudiologia
realiza suas atividades nas UAPS Maria de Lourdes Ribeiro Jereissati, Francisco de Melo
Jaborandi e Terezinha Parente, todas alocadas na SER VI, onde, desde 2010, os alunos
desenvolvem ações de promoção da saúde, prevenção e diagnóstico, vinculadas aos pro-
gramas em pauta.
As ações desenvolvidas pelas equipes dos programas PRÓ e PET-Saúde são pla-
nejadas conjuntamente, com a participação dos profissionais do serviço e os professores
da UNIFOR, visando a atender às demandas dos serviços assistidos e da formação dos
estudantes da área de saúde. No caso da Fonoaudiologia, identificaram-se muitas lacunas
decorrentes da carência deste profissional na rede pública municipal de saúde. Assim, a
participação deste curso viabilizou uma ampliação do acesso da comunidade à atenção
fonoaudiológica, a inserção do estudante no serviço com uma visão de trabalho em equipe
e de saúde integral; além da visibilidade concedida à Fonoaudiologia para as outras áreas
participantes.
A implantação do serviço de triagem auditiva nos postos de saúde do Município de
Fortaleza, foi uma das ações do programa PRÓ-Saúde, uma parceria da Universidade de
Fortaleza, do Ministério da Saúde e da Secretaria Municipal de Saúde da Capital cearen-
se. Os alunos desenvolvem atividades nas UAPS Maria de Lourdes e Melo Jaborandi, por
meio do atendimento audiológico à população adscrita. Realizam avaliação audiológica
em pacientes acima de cinco anos e teste de emissões otoacústicas (teste da orelhinha)
em bebês até três meses. A avaliação auditiva em todas as etapas do ciclo de vida, nestas
unidades, possibilitou a diminuição da demanda aos serviços de referência.
Discussões e reuniões com os gestores da Administração Municipal ocorrem tendo
por objetivo ampliar o programa de triagem auditiva neonatal para outras unidades do Mu-
nicípio, o que viabilizará um atendimento amplo e permanente a esta população.
O Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde (PET-Saúde) surgiu como
importante estratégia de fortalecimento do PRÓ-Saúde, destinado a fomentar grupos de
aprendizagem tutorial no âmbito da estratégia de saúde da família. Seu objetivo principal
consiste na viabilização de programas de aperfeiçoamento e especialização em serviço dos
profissionais da saúde, bem como de iniciação do trabalho, estágios e vivências dirigidos
aos estudantes da área.
O PET-Saúde, atualmente, é composto por quatro campos de estágio, sendo dois da
Rede Cegonha (Unidade de Atenção Primária à Saúde Família Matos Dourado e Francisco
104
de Melo Jaborandi), o Hospital Distrital Gonzaga Mota, de Messejana (HDGMM), e a célula
de Vigilância Sanitária, tendo dois anos como período de vigência.
O programa conta no seu quadro com tutores, preceptores e monitores. Os tutores
são docentes da Universidade de Fortaleza. Os preceptores são profissionais do serviço,
enquanto os monitores, bolsistas e voluntários, são alunos dos cursos da área da saúde,
selecionados por concurso, podendo ser remunerados ou não. Esse organograma foi de-
nominado ÁRVORE pela equipe gestora do PET-Saúde da UNIFOR.
O aluno, a cada quatro meses, faz rodízio entre os campos de estágio para dar con-
tinuidade às atividades desenvolvidas pelo grupo anterior. Eles têm a oportunidade de, du-
rante os dois anos de vigência do programa, vivenciar as diferentes realidades de prática.
No PET-Saúde da Rede Cegonha, a atuação tem como finalidade garantir a todas
as brasileiras o atendimento adequado, seguro e humanizado, desde a confirmação da gra-
videz, passando pelo pré-natal e o parto, e dando total assistência à criança nos seus dois
primeiros anos de vida. Neste percurso, evidencia-se a importância da atuação fonoau-
diológica na equipe interdisciplinar, uma vez que as orientações para o desenvolvimento
saudável da comunicação humana são cruciais para o alcance da integralidade da saúde
nessa fase do ciclo de vida, quando são abordados temas referentes a amamentação, rela-
ção mãe-filho, estimulação da linguagem, promoção da saúde auditiva, transição alimentar,
ingresso na vida escolar, dentre outros.
Na célula de Vigilância Sanitária, as ações são direcionadas para eliminar, diminuir
ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio am-
biente, da produção, circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde.
Abrange o controle de bens de consumo, que compreende todas as etapas e processos,
desde a produção ao controle da prestação de serviços.
É fácil perceber, então, como importantes são o PRÓ e o PET-Saúde na vida
acadêmica do estudante de graduação, pois o aprendizado é imensurável. A experiência
é relevante e contribui para a formação do futuro profissional, principalmente no que diz
respeito à área de saúde pública.
Tem sido evidenciado que a formação ultrapassa o contexto da sala de aula, indo
além das questões como currículo, projeto pedagógico ou processos de avaliação, segun-
do Arrais13 (2012), como também, a contribuição para a formação de docentes com um
perfil diferenciado, mais adequado às necessidades do SUS e da Estratégia de Saúde da
Família, como revela, Ferraz14 (2012).
Os alunos do Curso de Fonoaudiologia das disciplinas Saúde Coletiva, atualmente
no 3º semestre, no currículo atual (2013) e Estágio Ambulatorial em Fonoaudiologia, no 7º
semestre, realizam, junto aos participantes dos programas PRÓ-PET-Saúde, além das tria-
gens auditivas, intervenções nas UAPS e nos equipamentos sociais adscritos. Essas ações
integram-se a vivências com outros alunos dos cursos do Centro de Ciências da Saúde
(CCS), bem como com profissionais das Equipes de Saúde da Família (ESF), do NASF e
profissionais do serviço.
Dentre essas atividades, vale destacar o diagnóstico situacional da UAPS e dos
equipamentos sociais, possibilitando aos discentes conhecer e vivenciar suas realidades.
Os gestores, profissionais e preceptores dos programas participam diretamente das ativi-
dades desenvolvidas junto aos alunos. O planejamento, as discussões e a elaboração das
ações globais e específicas também contam com a participação dos discentes de outros
cursos, dos agentes comunitários de saúde (ACS) e dos profissionais do serviço.
105
Em seguida, são realizadas as intervenções que privilegiam orientações preventi-
vas e de promoção da saúde da comunicação humana e deglutição, com elaboração de
banners, folders, cartilhas como materiais de Educação em Saúde, assim como dramati-
zações. Essas abordagens são utilizadas nas salas de espera das UAPS e equipamentos
sociais; na capacitação para os ACS, nas oficinas com gestantes, crianças e idosos. Além
disso, são realizados acompanhamentos com orientações à puericultura, visitas domicilia-
res dos alunos junto a todos componentes da UAPS e UNIFOR. Ressalta-se que algumas
dessas atividades já fazem parte das ações das ESF com o cronograma preestabelecido
durante o semestre.
São desenvolvidas, ainda, ações educativas nas creches, com atividades sobre o
desenvolvimento infantil (higiene corporal e oral, atividade de vida diária, hábitos orais, fala,
voz, audição), por meio do teatro interativo e de oficinas. Em escolas de Ensino Fundamen-
tal, as orientações participativas abordam, desde a promoção da saúde vocal e auditiva, até
as consequências dos seus distúrbios.
Além das ações de promoção da saúde, são realizadas intervenções aos usuá-
rios com algum distúrbio da comunicação, por meio de grupos terapêuticos, com origem
no levantamento da demanda referenciada pelo Sistema de Informação Ambulatorial (SIA/
SUS), encaminhados pelos ACS, advindos dos serviços da UAPS e dos atendimentos as-
sistenciais com os professores e discentes das disciplinas de Saúde Coletiva, equipes do
NASF e alunos PRÓ e PET-Saúde. Para esse fim, realizam-se triagens para a organização
dos grupos e o acompanhamento breve dos casos, sendo em torno de seis sessões, uma
por semana, levando-se em consideração os seguintes critérios para inclusão: tipo de al-
teração, faixa etária e nível de complexidade, tendo a participação direta das famílias. O
objetivo maior são os esclarecimentos aos familiares sobre o problema e a viabilização dos
encaminhamentos necessários, estímulos terapêuticos aos pacientes e orientações diretas
sobre o que estas famílias podem fazer pelos filhos quanto aos aspectos fonoaudiológicos
apresentados.
As atividades descritas são dinâmicas, uma vez que o planejamento precisa ser
revisitado semestralmente e as estratégias redimensionadas em concordância com as de-
mandas advindas dos serviços e dos usuários.
106
relacionadas aos processos de saúde e doença da comunicação humana (audição, voz,
linguagem e motricidade orofacial). Trata-se, pois, de uma visão humanista, de clínica am-
pliada, segundo Silva15 et al (2013), sendo o fonoaudiólogo um facilitador, um mediador
junto à equipe, apoiando o usuário em suas necessidades.
Outro dividendo para a comunidade consistiu na melhoria da infraestrutura das uni-
dades de saúde que abrigam os alunos e os professores participantes do PET e do PRÓ-
-Saúde, incluindo a compra de equipamentos como audiômetros, emissões otoacústicas e
a reforma dos ambulatórios. Em decorrência, obteve-se a ampliação das pesquisas nos ce-
nários de prática e a apresentação de trabalhos de extensão com participações em eventos
locais, regionais e nacionais.
A perspectiva de maior inserção da formação dos alunos de graduação em saúde
no SUS possibilita uma mudança na prática pedagógica tradicional, centrada em ambientes
hospitalares e clínicos.
Ante o exposto, observa-se que, por meio das práticas fonoaudiológicas coletivas,
a população busca com maior frequência pelo fonoaudiólogo, visto que as unidades de
saúde da SER VI se fizeram referência nesse tipo de atendimento. Esse fato possibilita o
acesso ampliado ao serviço fonoaudiológico, além de maior conhecimento dos usuários
acerca da saúde da comunicação humana, das suas alterações e dos cuidados necessá-
rios para a sua preservação.
Para os alunos envolvidos com os programas e com as disciplinas Saúde Coletiva
e Estágio Ambulatorial em Fonoaudiologia, a experiência adquirida com base nas neces-
sidades e características do local possibilita um incremento na maturidade, autonomia e
capacidade resolutiva.
Além desses impactos, constata-se mudança na visão dos profissionais da saúde
sobre a atuação do fonoaudiólogo, uma vez que, dentro e fora dos programas descritos,
ampliam-se as relações interdisciplinares e a demanda para este profissional na rede de
saúde pública, seja a municipal ou a estadual.
Ainda há um vasto caminho a ser percorrido, porém, o ponto a qual se chegou
permite sejam maturadas novas práticas e ações, trocadas experiências com instituições
parceiras, no intuito de favorecer a formação do fonoaudiólogo no contexto das políticas vi-
gentes que lhe regulamentam e reorientam as ações na qualidade de profissional da saúde.
REFERÊNCIAS
107
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concessão de bolsas de permanência a estudantes beneficiários do Programa Universidade para Todos
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Ministério da Saúde; 2009. 88 p. il. – (Série C. Projetos, Programas e Relatórios) ISBN 978-85-334-1353-
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15. Silva V. L. et al. A Prática Fonoaudiológica na atenção primária à saúde. São José dos Campos –
SP: Ed. Pulso; 2013.
108
Capítulo 8
1. INTRODUÇÃO
109
de 80% dos problemas de saúde da população, por meio de ações predominantemente
relacionadas à promoção e prevenção de saúde9-11.
Para que a aproximação teoria-prática seja efetiva, as Instituições de Ensino Supe-
rior – IES precisam realizar articulação junto à rede de serviços de saúde e demais dispo-
sitivos (educação e assistência social) favorecendo a prestação de serviços de qualidade
aos usuários do SUS, conforme suas reais necessidades, a chamada Integração Ensino-
-Serviço-Comunidade12.
Aliada às DCNs, as políticas indutoras visam implementar processos formativos
com capacidade de impacto no ensino, na gestão setorial, nas práticas de atenção e no
controle social em saúde13. Nesse sentido, o Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de
Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES), em parceria com a Secretaria de
Educação Superior (SESU) do MEC, além da elaboração das DCN, instituíram, em 2002,
o Programa de Incentivo às Mudanças Curriculares nos Cursos de Medicina (Promed), vi-
sando oferecer cooperação técnica e/ou operacional às escolas de graduação em Medicina
que se dispuseram a adotar processos de mudança nos currículos de seus cursos, com
enfoque para as necessidades de saúde da população e do SUS14.
Nesse caminhar e para contribuir com a formação de recursos humanos do SUS, o
Conselho Nacional de Saúde – CNS, aprovou em 2003 a “Política de formação e desenvol-
vimento para o SUS: caminhos para a Educação Permanente em Saúde”. Esse documento
foi o marco para a definição do campo de saberes e práticas da Educação e Ensino da
Saúde e para o reconhecimento de sua origem no campo da saúde coletiva15.
Em 2005, criou-se o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional
em Saúde (PRÓ-Saúde), cujo objetivo era a integração ensino-serviço, visando à reorien-
tação da formação profissional, assegurando uma abordagem integral do processo saú-
de-doença, com ênfase na Atenção Primária à Saúde e promovendo transformações na
prestação de serviços à população16.
Além do PRÓ́-Saúde, nas modalidades I (envolvendo Medicina, Enfermagem e
Odontologia) e II (abrangendo as demais profissões de saúde), instituiu-se também o Pro-
grama de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), visando promover a forma-
ção de grupos tutoriais de desenvolvimento de atividades em áreas estratégicas do SUS,
incentivando a integração ensino-serviço-comunidade17.
A partir do ano de 2017, representantes do Ministério da Saúde, Ministério da Edu-
cação, instituições de ensino e Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS, de forma
coletiva, traçaram propostas para a efetivação da Educação Interprofissional em Saúde -
EIP nas políticas nacionais de educação e saúde, enquanto proposta inovadora do ensino
em saúde. Dessa forma, a EIP propõe mudanças nos níveis educacionais, profissionais
e organizacionais, direcionando aos acadêmicos e profissionais a oportunidade de uma
formação focada em uma aprendizagem que potencializa desenvolver habilidades e com-
petências colaborativas nas atividades integradas em saúde18-19.
Nesse olhar, o desafio da formação em saúde se encontra na perspectiva de sin-
tonizar o modo de fazer o cuidado e a sua gestão com a aposta democratizante do SUS, e
que, acima de todos os entraves, faz-se necessário transformar a prática em saúde sobre
sujeitos em uma prática em saúde com sujeitos20.
110
2. PRÓ e PET-Saúde na UNCISAL: da sua inserção aos dias atuais
111
A proposta do PET-Saúde fortaleceu esse movimento enquanto projeto estruturan-
te, possibilitando, dinamicidade ao processo de formação profissional, a integração curricu-
lar com a interlocução intra e intercursos, a promoção e a compreensão global do conheci-
mento, a superação do pensar simplificado e da fragmentação da realidade, a aproximação
teoria-prática e a diversificação dos cenários de ensino-aprendizagem. Modelo esse, for-
malizado em 2013, com a integração intercursos iniciada pela Fonoaudiologia, Fisioterapia
e Terapia Ocupacional, e recentemente, com os cursos de Enfermagem e Medicina.
A realidade da prática profissional, desde o início do curso, é priorizada e favoreci-
da, bem como a articulação de docentes, discentes e profissionais dos serviços, nos diver-
sos campos de atuação, sendo fomentadas a inclusão de práticas metodológicas inovado-
ras e estratégias de ensino, por meio da ação mediadora do docente e dos profissionais de
serviço favorecendo, assim, o exercício da Educação Permanente em Saúde nos cenários
de aprendizagem e propiciando aos sujeitos envolvidos o aprender de forma ativa, crítica,
autônoma, criativa e reflexiva.
Nesse sentido, a educação interprofissional passou a ser uma prioridade na UNCI-
SAL e uma inovação nos currículos da saúde. A interprofissionalidade pode ser compreen-
dida como a resposta às realidades fragmentadas das práticas de assistência à saúde,
construindo olhares ampliados sobre os pacientes e suas necessidades, viabilizando um
atendimento humanizado e a melhoria na integralidade da assistência aos usuários22.
A UNCISAL vem participando ativamente do PET desde as suas primeiras versões,
cujos projetos têm impulsionado mudanças efetivas no processo formativo, inicialmente
com os cursos de Medicina e Enfermagem, seguidos pelos demais cursos de graduação
da saúde. Tais experiências vem favorecendo a ressignificação das práticas formativas no
curso de Fonoaudiologia com vistas ao desenvolvimento das habilidades e competências
para o trabalho em equipe, a ação interprofissional, a promoção de espaços de interação
nos cenários de práticas, estimulando o trabalho colaborativo entre os diversos atores en-
volvidos de forma crítica, reflexiva, humanizada e pautada na integralidade da atenção.
Os projetos PET, vem sendo desenvolvido junto às Unidades de Saúde do II Distrito
Sanitário do município de Maceió e dispositivos de saúde onde ocorre a integração com os
demais cursos da saúde, com os trabalhadores e usuários do SUS, numa articulação entre
os cenários de aprendizagem.
112
um grande desafio, tendo em vista a tendência da atuação isolada de cada categoria e suas
diversas subespecialidades.
A denominação ‘currículo integrado’ é empregada como referência às propostas
curriculares que favorecem a compreensão global do conhecimento através de maiores
parcelas de interdisciplinaridade na sua construção. A integração ressaltaria, assim, a uni-
dade que deve existir entre as diferentes disciplinas, áreas de conhecimento e momentos
da formação23.
Neste contexto, cria-se, por meio da RESOLUÇÃO CONSU UNCISAL Nº. 43/2013
de 18 de dezembro de 2013, os Eixos Acadêmicos Integradores, fundamentados:
• Nas habilidades e competências gerais comuns aos cursos da Saúde (Atenção à saúde,
Tomada de decisões, Comunicação, Liderança, Administração e gerenciamento, Educação
permanente), definidas nas DCNs dos cursos da saúde;
• No perfil de profissional da saúde que deverá atender ao sistema de saúde vigente no País,
a atenção integral da saúde no sistema regionalizado e hierarquizado de referência e contra
referência e o trabalho em equipe, definido nas DCNs dos cursos da saúde;
• No conceito de saúde adotado pela instituição;
• No princípio de flexibilização curricular, que prevê dinamicidade ao processo de formação
profissional, incluindo ações multi, inter e transdisciplinares e a transversalidade de conhe-
cimento, em oposição aos modelos rígidos de organização curricular dos cursos;
• Na perspectiva de uma formação profissional articulada com as demandas loco-regionais
definidas através dos indicadores epidemiológicos, de saúde, de educação e econômico do
Estado;
• Na Estrutura Acadêmica UNCISAL, organizada por áreas de conhecimentos;
• Na existência de cenários de prática comuns aos cursos, favorável ao desenvolvimento de
atividades integradas;
• Nas deliberações institucionais oriundas dos espaços de discussão coletiva (Fóruns de Ges-
tão Acadêmica, Fóruns Integradores e Semanas Pedagógicas).
113
b. Eixo Saúde e Sociedade
114
2.3. A contribuição do PET-Saúde/Interprofissionalidade para o contexto
formativo em saúde da UNCISAL.
115
Há cada vez mais reconhecimento do conjunto multivariado e complexo de fatores
que interferem na incorporação de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) nos
currículos da saúde estão relacionados à necessidade de investimento na formação de
profissionais aptos para as mudanças e avanços tecnológicos, causando impacto na comu-
nicação na rede de saúde, na efetividade da gestão do cuidado nos contextos da prática
clínica e da prática comunitária, sendo esse eixo igualmente inovador no projeto.
O eixo Educação Permanente tem como objetivo fortalecer a interprofissionalida-
de e os processos de trabalho para provocar mudanças na formação e nas práticas, traba-
lhando a organização dos serviços e dos fluxos com foco nos eixos da política nacional de
humanização.
A Educação Permanente em Saúde – EPS é uma estratégia político-pedagógica
que utiliza como objeto as necessidades oriundas do processo de trabalho em saúde, vi-
sando proporcionar mudanças desde a melhoria do acesso, a qualificação e humanização
na prestação de serviços do SUS25. Diante disto, a EPS possibilita a criação de espaços
para os trabalhadores da saúde repensarem sua prática, compreenderem o processo de
trabalho que estão inseridos, avaliarem condutas e buscarem novas estratégias de resolu-
ção frente à realidade encontrada26.
O eixo Gestão do Cuidado tem como finalidade promover a gestão do cuidado,
com ênfase na família utilizando como ferramentas de trabalho: o Projeto Terapêutico Sin-
gular- PTS, Ecomapa, Genograma, dentre outros elementos da prática cotidiana interdisci-
plinar e multiprofissional.
A gestão do cuidado se apresenta como um sistema de cuidados considerando-
-se diversos aspectos como: autonomia, individualidade, relações e atitudes profissionais.
Além disto, versa na capacidade técnica, política e operacional que uma equipe de saúde
tem para planejar a assistência aos usuários, no plano individual ou coletivo, proporcionan-
do a saúde no âmbito biopsicossocial. Desta forma, os profissionais de saúde utilizam para
esta gestão as diversas ferramentas que visam resolver os problemas apresentados pelos
usuários e propiciar o cuidado, superando o modelo biomédico e atuando de forma integral
na saúde27.
O eixo da Territorialização se propõe a trabalhar com foco no matriciamento e no
diagnóstico situacional, objetivando a atualização das áreas e microáreas no território e a
atuação dos estudantes, docentes e preceptores nos cenários comunitários e no cotidiano
das famílias.
A territorialização atua como um dos pressupostos básicos da organização dos pro-
cessos de trabalho e das práticas de saúde, considerada uma atuação em demarcação es-
pacial previamente determinada. Portanto, o território apresenta, além de uma extensão geo-
métrica, um perfil demográfico, epidemiológico, administrativo, tecnológico, político, social e
cultural que o caracteriza como um território em permanente construção. Reconhecer esse
território é o primeiro passo para caracterizar a população e suas necessidades de saúde28.
Portanto, por meio do processo de territorialização, levam-se em consideração as
necessidades locais deste território, traçando um plano de intervenção na saúde que pode
proporcionar melhor resolubilidade aos problemas mais encontrados, sendo o mapeamento
uma estratégia para melhor visualização dos agravos e prioridades de atuação. A territo-
rialização possibilita atuar não só sobre as consequências, mas também sobre as causas
dos problemas de saúde, de modo que as intervenções em saúde sejam capazes de de-
sencadear ações intersetoriais e integradas para promover as transformações necessárias
na realidade sanitária local29.
116
3. O impacto das políticas indutoras na formação do fonoaudiólogo no
estado de Alagoas
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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119
Capítulo 9
INTRODUÇÃO
I - PRÓ-Saúde II
120
contribuir de forma crítica e criativa para o desenvolvimento educacional, econômico e so-
cial do Brasil. Desta forma, objetiva capacitar profissionais preparados para atuar em Saú-
de Pública, com usuários do Sistema Único de Saúde, na atenção básica e nos serviços de
média e alta complexidade, atuando nos processos de promoção, prevenção, diagnóstico
e reabilitação nos processos de linguagem oral e escrita, motricidade orofacial, voz e audi-
ção. Além disso, pretende capacitar o aluno a desenvolver projetos de pesquisa científica.
Em 2008 foi aprovada a inserção do Curso de Fonoaudiologia no PRÓ-Saúde - Pro-
grama Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde, programa que tem
como objetivos a integração em ensino-serviço e a reorientação da formação profissional
em uma abordagem integral do processo saúde-doença, com ênfase na atenção básica.
Este projeto propiciou a criação de uma disciplina e a reestruturação de outras disciplinas
do eixo preventivo-comunitário.
O Curso de Fonoaudiologia contemplava, em 2002, no seu primeiro semestre, a
disciplina MD223 - Atenção à Saúde no Brasil, oportunizando a realização da primeira ex-
periência de estágio dos alunos em serviços públicos de saúde. A proposta educacional
dessa disciplina é permitir ao aluno a construção de ideias, despertando o talento inventivo
frente à realidade dos diferentes territórios de campo de estágio. Trabalhar com as ideo-
logias propostas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) permite aos alunos o conhecimento
de diferentes maneiras de pensar e entender o processo saúde-doença. Nesta proposta
educacional há parceria entre os cursos de graduação em Fonoaudiologia e Medicina da
FCM/Unicamp com a Secretaria Municipal de Campinas que permite o acesso aos Centros
de Saúde. Essa disciplina tem permitido ao aluno o contato com uma realidade, na maio-
ria das vezes, diferente da sua própria, favorecendo a compreensão do outro e o contato
com as ações do SUS na cidade de Campinas. Em 2002, os alunos do 1º ano, cerca de
30, eram divididos em três turmas, e cada uma atuava em um Centro de Saúde (CS) sob a
tutoria de um docente do Curso de Fonoaudiologia. Entre 2002 e 2008, os alunos tiveram
como campo de estágio os CS: DIC III, Jardim Aeroporto e Vista Alegre. A partir de 2009,
com as discussões do PRÓ-Saúde, a presença dos alunos foi ampliada em mais Centros
de Saúde, sendo eles: Boa Vista, Capivari, Nova América, Santa Bárbara, São Cristovão
e São Marcos. Os alunos da fonoaudiologia foram distribuídos por todas essas unidades,
juntamente com os alunos da graduação do Curso de Medicina.
Com o desenvolvimento do PET-Saúde da Família os alunos tiveram um maior con-
tato com os Sistemas de Informação em Saúde (SIS) e outros documentos que puderam
contribuir nas discussões e elaboração de projetos de intervenção. Torna-se importante
ressaltar que as experiências do trabalho em conjunto dos alunos dos dois cursos da área
da saúde, aprendendo e intervindo junto às equipes de saúde dos CS e das comunidades,
levaram os alunos da Fonoaudiologia a reivindicar para 2011 a participação no projeto de
intervenção em dois semestres anuais, o que foi viabilizado com a implementação de uma
nova disciplina denominada Promoção e Prática em Saúde Comunitária.
Deste modo, por meio do trabalho tutorado por docentes junto a um território de
saúde de Campinas, objetiva-se problematizar e vivenciar modos de intervir no coletivo em
prol da produção de saúde na atenção básica, na perspectiva de ação interdisciplinar de
diferentes profissionais.
No terceiro ano do curso de Fonoaudiologia, contamos com as disciplinas FN 500 e
FN 600, Estágio em Fonoaudiologia Comunitária I e II, que tem como objetivo geral oferecer
condições ao aluno de vivenciar, conhecer e analisar a atuação do fonoaudiólogo em insti-
tuições públicas voltadas à saúde e à educação. Como objetivos específicos, pretende-se:
realizar a análise da situação de saúde de uma população e o planejamento de ações de
121
saúde; desenvolver a habilidade de realizar ações de cunho preventivo e de promoção à
saúde; conduzir atividades em grupo; realizar avaliação fonoaudiológica; planejar atendi-
mento aos usuários e desenvolver raciocínio terapêutico; apreender o conceito de Rede de
Atenção à Saúde e a lógica dos encaminhamentos de referência e contra-referência; de-
senvolver a habilidade de trabalhar em equipe e valorizar a atuação interdisciplinar; orientar
o aluno para a atuação do fonoaudiólogo em ambiente escolar de acordo com as Resolu-
ções do Conselho de Fonoaudiologia e de pesquisas na área.
Nessas disciplinas de estágio, os alunos são divididos em quatro grupos de oito
alunos cada. A atuação ocorre em dois campos de estágio: escola e centro de saúde. Na
área da saúde, os alunos desenvolvem atividades em dois Centros de Saúde: CS São Mar-
cos, localizado na região norte da cidade e CS Costa e Silva, na região leste da cidade. Na
área educacional, os alunos estão em um Centro Municipal de Educação infantil (CEMEI),
uma Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) e uma Escola Municipal de Ensino Fun-
damental (EMEF), localizadas na área de abrangência do CS São Marcos.
Nos Centros de Saúde, pretende-se resolver os problemas de saúde mais comuns
e frequentes da população, reduzir os danos ou sofrimentos e contribuir para uma melhor
qualidade de vida das pessoas e de seus acompanhantes. Assim sendo, os alunos do Cur-
so de Fonoaudiologia realizam diversas atividades, dentre elas, os atendimentos com gru-
pos de pacientes. Em média, em cada Centro de Saúde, são atendidos 24 usuários, além
de cerca de 2 a 3 atividades de acolhimento de novos usuários que nos são encaminhados
pelos profissionais dos Centros de Saúde. Os grupos de atendimento são compostos prin-
cipalmente por crianças, na faixa etária de 3 a 12 anos, com alterações de linguagem oral,
motricidade orofacial associado às dificuldades fonoarticulatórias e/ou de aprendizagem.
Dados coletados no CS Costa e Silva, de 2004 a 2011, portanto em sete anos de
atividade, mostram que foram atendidos 221 casos, sendo 67 (33,33%) da faixa etária de
1 a 5 anos; 108 (53.73%) entre 6 a 10 anos; 21 (10.44%) entre 11 a 15 anos, 19 (9.45%)
entre 16 anos a 50 anos e 6 (2.98%) com mais de 50 anos. Com relação às queixas trazi-
das pelos familiares, observa-se que de 225 casos acolhidos, 86 (38.22%) se tratavam de
distúrbios articulatórios; 48 (21.33%) distúrbios de aprendizagem e/ou problemas de leitura
e escrita com ou sem distúrbio articulatório associado; 44 (19.55%) problemas relacionados
à motricidade orofacial; 17 (7.55%) com atraso na aquisição de linguagem; 15 (6.66%) com
problemas de voz; oito (3.50%) com gagueira; três (1.33%) com problemas neurológicos
e um caso (0.44%) de disfagia. Os pacientes com alteração de motricidade orofacial, voz,
gagueira e problemas neurológicos foram encaminhados para o CEPRE/FCM/Unicamp.
Nos centros de saúde, os estagiários participam, semestralmente, de atividades em
grupo, tais como: grupo de cuidadores, em média de cinco a sete pessoas, que frequentam
a Unidade Básica e que possuem familiares que necessitam de assistência domiciliar; gru-
po de gestantes, quando são trabalhados aspectos referentes à amamentação e sua rela-
ção com o crescimento e desenvolvimento do bebê, desenvolvimento orofacial, linguagem
e interação mãe-bebê. Os alunos desenvolvem atividades na Semana da Voz e no dia de
Conscientização sobre o Ruído, no território com a organização de ações junto aos centros
de saúde dos distritos em que atuamos, com a participação de alunos e de profissionais do
serviço.
Semestralmente, são realizadas reuniões de pais de crianças atendidas em grupo
ou individualmente, com os objetivos de esclarecer sobre a atuação da Fonoaudiologia e de
proporcionar um momento de aproximação e conversa entre os pais e/ou familiares com os
estagiários e profissionais. Há sempre a escolha de um tema a ser discutido (por exemplo,
já foram discutidos temas sobre dificuldades escolares, sobre atraso na aquisição da fala,
122
entre outros). Além disso, ao final de cada semestre é dada uma devolutiva individual para
cada pai ou familiar dos casos atendidos e, quando necessário, outras devolutivas são da-
das ao longo do semestre.
Em cada unidade, realiza-se levantamento de dados do território, participação em
atividades dentro dos Centros de Saúde, tais como em reuniões setoriais, com os represen-
tantes de bairros e com outros profissionais da Unidade. O ensino prático, na maior parte
dos estágios, ainda está predominantemente centrado no professor do Curso de Fonoau-
diologia, pois nas unidades em que o curso atua não há profissionais fonoaudiólogos que
poderiam exercer o papel de preceptores dos alunos.
A partir de 2012, foi proposto nos Centros de Saúde o acompanhamento do desen-
volvimento da linguagem e das funções auditiva e visual em lactentes da comunidade. Esta
prática está se iniciando e estamos trabalhando na sensibilização dos profissionais para
que encaminhem esses lactentes para nossa equipe.
Há também uma atividade em grupo com os agentes de saúde, uma vez que eles
têm contato direto e com certa frequência com a população que é atendida em fonoaudio-
logia. As estagiárias elaboram folder explicativo sobre nossa área de atuação no Centro
de Saúde. É disponibilizado também um informativo da Sociedade Brasileira de Fonoau-
diologia sobre aspectos relativos à nossa profissão e dadas explicações sobre o teste da
orelhinha, a fim de que eles possam observar na carteira de saúde da criança se o teste foi
realizado ou não pela criança e encaminhar as famílias que ainda não realizaram o teste,
para o CEPRE/FCM/Unicamp. É explicitado também sobre os problemas mais frequentes
atendidos no Centro de Saúde e como devem ser feitos os encaminhamentos para o aco-
lhimento fonoaudiológico.
Nas escolas (CEMEI, EMEI e EMEF) são realizadas atividades como: análise si-
tuacional do local de estágio, para conhecimento do espaço físico, dos recursos humanos e
da população da escola. No início de cada semestre, de acordo com a solicitação da própria
escola, é realizada sensibilização junto aos trabalhadores das unidades de ensino, sobre o
trabalho do fonoaudiólogo, sendo oferecidas, em média, duas atividades por semestre, em
cada unidade. Nos encontros dos docentes com os alunos são feitas discussões para que
os alunos apresentem um pré-projeto a ser desenvolvido nas salas de aula; há posterior-
mente uma apresentação deste para os professores e gestores; com posterior adequação
do projeto a ser desenvolvido nas salas e finalmente a sua realização com as crianças.
Nesse período de estágio, os alunos se inserem nas salas de aula e realizam tria-
gem fonoaudiológica em grupo, a fim de detectar possíveis alterações das crianças nas
áreas de motricidade orofacial, audição, linguagem oral e escrita e voz. Após esses dados
coletados, há uma organização pelos estagiários de ações a serem desenvolvidas, toman-
do por base os dados da triagem fonoaudiológica e uma vigilância a saúde – orientação aos
familiares sobre dados observados na escola seguida de encaminhamento para avaliações
no Centro de Saúde de referência e acompanhamento dos encaminhamentos realizados,
por meio de reuniões com familiares.
Em Campinas, nas instituições de ensino, são realizadas atividades de promoção
à saúde auditiva e vocal, especialmente na Semana da Voz e de Conscientização sobre
o Ruído. As estagiárias constroem cartazes ilustrando algumas questões importantes que
abordam esse assunto, tais como o uso de toalha ao invés do cotonete, falar mais baixo
evitando gritar, tomar água, comer maçã, evitar lugares barulhentos, entre outros. Eventual-
mente, são compostas músicas sobre os temas e cantadas com todas as crianças.
123
Com relação às observações em sala de aula, muitos temas são escolhidos para
serem trabalhados com as crianças, tais como: propiciar uma maior integração entre as
crianças de salas diferentes, conscientizar as crianças sobre o uso de hábitos deletérios,
trabalhar as diferentes texturas de alimentos e a importância de cada tipo de consistência
para o desenvolvimento orofacial, entre outros.
No final de cada semestre, as estagiárias reservam um dia para um contato maior
com as famílias, apresentam o que foi realizado durante o semestre e realizam os encami-
nhamentos necessários caso seja observada alguma alteração fonoaudiológica nos alunos.
Além disso, são feitas atividades de esclarecimento com os professores sobre a atuação
fonoaudiológica, em geral sobre temas trabalhados com as crianças que nessa faixa etária,
correspondente ao trabalho na área de motricidade orofacial, linguagem oral e audição.
A cada semestre, os alunos que são encaminhados para o centro de saúde de re-
ferência são monitorados e acompanhados no sentido de assegurar o acesso aos serviços
de saúde necessários.
Os alunos que atuam no território do Costa e Silva realizam atividades em um abri-
go municipal, onde são realizadas atividade de prevenção e de promoção à saúde, com
ênfase em temas relacionados à fonoaudiologia, tais como cuidados vocais, auditivos, ofi-
cinas de leitura e escrita, entre outros. Já os alunos que atuam no território do São Marcos
desempenham atividades como estas acima descritas no Movimento Assistencial Espírita
Mãe Maria Rosa, também conhecido como Casa da Sopa e na Associação Beneficente
Campineira, também conhecida como ABC Metodista, ambas Organizações não Governa-
mentais.
No ano de 2010, em uma segunda etapa do PRÓ-Saúde, foram realizadas oficinas
de capacitação de profissionais fonoaudiólogos da rede municipal de Campinas e dos alu-
nos do Curso de Fonoaudiologia da Unicamp. As oficinas tiveram como objetivo a troca de
informações de conteúdos relacionados à fonoaudiologia entre os profissionais do Curso de
Graduação em Fonoaudiologia e os fonoaudiólogos da cidade. As oficinas que ocorreram
foram: 1- Oficina de Capacitação: Sujeito e Linguagem na Fonoaudiologia, 2- Roda de con-
versa: Matriciamento-conceito, formas de fazer e alguns relatos de experiência. 3- Oficina
de capacitação: Dislexia & Dificuldade Escolar. Além disso, realizou-se uma Jornada sobre
Metodologias Ativas de Aprendizagem e Trabalhos Educativos em Grupo do Pro-Saúde/
Unicamp. Para essa Jornada, houve a participação de profissionais da rede municipal de
Campinas, estudantes e docentes envolvidos com a integração ensino-serviço no SUS
Campinas.
Em 2012, em função de um projeto da Unicamp (Programa professor Especialista
Visitante) para trazer professores com notório saber para a Universidade, a fim de atuar na
formação de alunos da Graduação, nosso curso foi agraciado, recebendo a Profa. Maria
Teresa Pereira Cavalheiro, fonoaudióloga da cidade de Mogi-Mirim e docente da Pontifícia
Universidade Católica de Campinas.
O objetivo geral da atuação da Profa. Maria Teresa foi contribuir para a qualificação
do ensino de graduação em Fonoaudiologia, particularmente no campo da Saúde Coletiva,
com ênfase na atuação em equipe multiprofissional e interdisciplinar. Os objetivos especí-
ficos foram: contribuir para a reflexão sobre a atual realidade sócio-econômica-política do
país que necessita de profissionais formados para formular e executar políticas públicas de
saúde e educação, previstas na Constituição Federal; contribuir para o desenvolvimento
da capacidade de identificar e analisar demandas e necessidades da sociedade, no campo
da saúde e educação; favorecer a capacidade de elaborar e avaliar planos de intervenção,
124
para promoção, proteção e recuperação da saúde, com ênfase na atuação em equipe mul-
tiprofissional e interdisciplinar; facilitar o processo de apropriação da epidemiologia como
ferramentas para atenção e gestão em saúde; propiciar espaços de educação permanente
e continuada para todos os segmentos presentes no campo de prática e aprimorar as ativi-
dades nas unidades de saúde, em especial na Atenção Primária, propiciando a articulação
entre disciplinas, demais faculdades e com as equipes de saúde. No início do semestre, a
Profa. Maria Teresa apresentou uma aula sobre Fonoaudiologia Educacional para as duas
turmas do Curso. A partir deste momento, comparecia duas vezes por semana, e participa-
va dos estágios sendo que em uma semana estava na região do Costa e Silva e em outra
semana na região do São Marcos. As discussões com a professora eram sempre muito
ricas, com leitura e textos e trocas de experiências.
No final do semestre, foi desenvolvida uma oficina para que estudantes, profissio-
nais da rede municipal de saúde e docentes pudessem avaliar a prática destes estágios, a
fim de implementar mudanças que atendam às necessidades do serviço e do ensino. Par-
ticiparam 54 alunos, sete docentes e 20 profissionais da rede municipal. A oficina teve início
com apresentações sobre a Política de Formação para o SUS, a rede de serviços da cidade
de Campinas e as ementas e objetivos das disciplinas em questão. Posteriormente, foi rea-
lizado debate com base na seguinte questão: o que foi realizado no sentido da integração
ensino-serviço com foco na integralidade da atenção, trabalho em equipe multiprofissional
e interdisciplinar? A partir desta reflexão, foram levantados tópicos para a discussão: poten-
cialidades da integração ensino-serviço, fragilidades relacionadas à Instituição de Ensino
Superior (IES) e aos Serviços, propostas-atores responsáveis. Os participantes da oficina
receberam uma filipeta com um espaço para que fossem escritas reflexões sobre pontos
que poderiam ser relatados. Os pontos citados foram: Potencialidades: diálogo entre as di-
ferentes profissões onde ocorrem os estágios, troca de conhecimento entre as profissões,
atuação da fonoaudiologia na saúde coletiva, espaço que favorece uma visão generalista
da atuação fonoaudiológica; Fragilidades do serviço: desconhecimento da equipe do CS
sobre a atuação fonoaudiológica, vista pela secretaria de saúde como especialidade, nú-
mero insuficiente de fonoaudiólogos na rede; Fragilidades da IES: fonoaudiólogos recebem
formação como especialistas, a proposta de atuação para inserção dos estagiários nas
unidades é diferente da prevista pelo serviço, falta de conhecimento da população sobre
a atuação fonoaudiológica, pouco tempo destinado à prática para entender a dinâmica do
SUS, levando à reprodução do que se vivencia na instituição de ensino, como dificuldade
para atuar de forma interdisciplinar dentro do serviço – “é difícil transpor a teoria do SUS
para a prática”. As propostas de mudanças sugeridas foram: No Serviço: integrar as ações
da fonoaudiologia com outros profissionais presentes na unidade e alunos dos outros cur-
sos, evidenciando as oportunidades de atuação; Docentes: repensar o papel dos profis-
sionais que estão sendo formados e refletir sobre a atuação do fonoaudiólogo como matri-
ciador; Gestão Municipal: necessidade de rever a forma de inserção do fonoaudiólogo na
rede; agilizar a implantação do NASF. Considerações: o debate evidenciou a necessidade
de discussão de casos clínicos em reunião de equipe de referência para elaborar Projeto
Terapêutico Singular, atuar no matriciamento, em substituição ao processo de referência e
contra-referência. Evidenciou-se a importância de criar oportunidades para aprofundar o
conhecimento do território e o contexto socioeconômico e cultural em que os usuários estão
inseridos para que as intervenções atendam às demandas e necessidades da população.
Com os recursos advindos do PRÓ-Saúde, foram adquiridos materiais de consumo
e equipamentos, que vem auxiliando na prática dos estágios, na preparação de materiais
didáticos para professores, pais de crianças com alterações fonoaudiológicas, profissionais
125
da rede e alunos das escolas municipais. Outros materiais foram utilizados nos próprios
atendimentos realizados nos centros de saúde, tais como: espelhos, brinquedos, jogos in-
fantis, tintas, pincéis, cartolinas, papéis coloridos, EVA, entre outros. Houve a implantação
de uma brinquedoteca no espaço do CEPRE/FCM/Unicamp, equipada com inúmeros ma-
teriais adquiridos com a verba do PRÓ-Saúde.
Além disso, com essa verba, foi possível viabilizar o transporte dos alunos para os
dois Centros de Saúde em que atuamos, São Marcos e Costa e Silva, e às escolas da re-
gião, de forma a permitir o acesso a esses estabelecimentos de forma mais rápida e segura.
Ainda no terceiro ano do curso de Fonoaudiologia há a disciplina teórica Fonoau-
diologia e Saúde do Trabalhador quando os alunos têm contato com as políticas públicas
dessa área de atuação, com os programas de prevenção de perdas auditivas, noções de
organização do trabalho, entre outros. No quarto ano, os alunos atuam no Estágio em
Fonoaudiologia aplicada às áreas de Neonatologia e da Saúde do Trabalhador. A área da
Saúde do Trabalhador tem por objetivos a identificação dos riscos, danos, necessidades,
condições de vida que determinam as formas de adoecimento no trabalho e atuação na
perspectiva da promoção e prevenção da saúde do trabalhador nos mais diversos ramos
de atividade na rede SUS Campinas. Parte da prática é realizada no Centro de Referência
em Saúde do Trabalhador (CEREST) de Campinas e região e nos Centros de Saúde Costa
e Silva e São Marcos onde acontecem discussões sobre a legislação vigente na área, reali-
zação da análise situacional para elaboração do plano de trabalho, realização de atividades
educativas junto aos profissionais e usuários dos equipamentos sociais, de educação e de
saúde (palestras, grupos e outras intervenções) e elaboração de material educativo em Fo-
noaudiologia com ênfase na Saúde do Trabalhador (álbum seriado, panfletos, cartazes, bo-
letins, pequenos filmes, entre outros). Além disso, são realizados acolhimento no CEREST
e CS, capacitação do aluno para a intervenção na área de saúde do trabalhador individual
e em grupo em um trabalho em saúde e educação: multi, inter e transdisciplinar.
126
informações sobre as condições de vida e morte, nos diversos grupos etários, o local a que
pertencem, nível socioeconômico, contribuindo assim na tomada de decisões para melho-
rar o nível de saúde de uma determinada população (Brasil, 2002; 2006).
Assim, o PET buscou incentivar a interação efetiva dos estudantes e docentes dos
cursos de graduação em saúde com os profissionais de 10 Centros de Saúde (CS) da cida-
de de Campinas/SP e maior conhecimento da população de cada território. Nesse sentido,
a Universidade integrou o processo de ensino e aprendizagem, articulando a aprendizagem
teórica com algumas práticas de atenção nos serviços de saúde, pautadas nas necessida-
des dos usuários do SUS. A Estratégia Saúde da Família é um espaço privilegiado para
o aprendizado da complexidade do processo saúde-doença e cuidado, onde ocorrem dis-
cussões e práticas de promoção da saúde, na melhoria da qualidade de vida e mobilização
para a resolução dos problemas sociais, com participação, empoderamento e autonomia
dos indivíduos, profissionais e comunidades.
A Atenção Primária à Saúde (APS) se configura como um locus privilegiado para
ações de promoção e deve buscar resolver a maioria dos problemas de saúde. Estudos
mostram que nos países em que a Atenção Primária atua adequadamente há considerável
melhora de indicadores de saúde, com redução relativa dos custos. Essa associação é
mais forte quanto mais a Atenção Primária é tratada como parte fundamental da Política de
Saúde, assumindo a função de porta de entrada para o sistema como um todo (Starfield,
2002). O SUS tem como princípios e diretrizes, dentre outros, a universalidade, integralida-
de, equidade e descentralização. Para garanti-los conta com a organização da APS e com
Sistemas de Informação em Saúde (SIS), que são ferramentas de coleta, processamento,
análise e transmissão da informação. Na formação dos profissionais da saúde é de suma
importância o conhecimento e apropriação dos SIS vigentes, numa perspectiva crítica e
reflexiva.
Os SIS permitem planejar, organizar, operar e avaliar os serviços de saúde. As
informações disponíveis, quando processadas constituem-se aspectos determinantes no
planejamento, execução e controle de medidas que podem contribuir para a melhoria dos
indicadores de saúde e da qualidade de vida das populações.
No intuito de contribuir para a formação profissional de modo articulado com a
implementação do SUS Campinas, foram envolvidos os tutores, preceptores e alunos do
projeto no estudo dos SIS em âmbito local. Para aprofundamento, elegemos os dados de
mortalidade, pela confiabilidade, para estudar a gestão do cuidado e conhecer o perfil de
adultos, de 20 a 59 anos, que foram a óbito, no ano de 2009, em 10 Centros de Saúde do
município de Campinas. Foram selecionados os óbitos que ocorreram pelas três principais
causas de morte: doenças do aparelho cardiocirculatório, neoplasias e causas externas.
Os grupos de trabalho foram definidos a partir da vinculação de alunos aos CS
em atividades da graduação. As unidades de saúde participantes eram campo de práticas
ou estágio, de pelos menos dois dos cursos da graduação: enfermagem, fonoaudiologia e
medicina.
Realizou-se pesquisa quantitativa descritiva, por meio da análise documental, apro-
vada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FCM-Unicamp (nº 1132/2010). Os documentos
utilizados para a análise foram as Declarações de Óbito (DO) e os cadastros individuais e
domiciliares. Para efetivação e discussão das informações foi utilizado o ambiente virtual
(TELEDUC). Também criamos um banco de dados no programa EpiInfo versão 3.3.2 e ela-
boramos um manual para nortear o preenchimento.
127
Ocorreram reuniões nos Centros de Saúde para apresentação do projeto. No
decorrer do processo foram realizados seminários abertos à comunidade acadêmica e aos
profissionais dos serviços, além dos apoiadores dos distritos de saúde do município a fim
de apresentar e discutir os dados e os possíveis encaminhamentos das ações.
Participaram da produção, coleta e análise dos dados quatro tutoras docentes e
uma tutora voluntária, 24 preceptores, profissionais de 10 Centros de Saúde, originalmente
vinculados à Estratégia Saúde da Família, 48 acadêmicos bolsistas e nove não bolsistas,
da Enfermagem, Fonoaudiologia e Medicina, totalizando 85 pessoas, diretamente envolvi-
das no projeto. Houveram ainda outros acadêmicos indiretamente envolvidos, que partici-
pam das disciplinas de graduação nos cenários em que o projeto aconteceu. As tutoras são
professoras da área da Saúde Coletiva que mediaram e orientaram o processo de estudos
e pesquisas, na busca de transformar o modelo pedagógico em saúde, para que o aluno
tenha a formação como sujeito ativo da aprendizagem, orientado para as necessidades da
comunidade. Os preceptores eram profissionais da rede municipal de saúde de Campinas,
formados em Medicina, Enfermagem, Fonoaudiologia, Psicologia, Terapia Ocupacional,
Biomedicina e Odontologia. Tinham o papel de acolher e acompanhar os alunos, buscando
disponibilizar informações necessárias para o andamento do projeto e articular com os ser-
viços e seus trabalhadores.
As atividades ocorreram em três dos cinco distritos de saúde do município de Cam-
pinas, e incluiu os territórios dos CS: Aeroporto, DIC III, São Cristóvão – Distrito Sudoeste
– , Boa Vista, São Marcos, Santa Mônica – Distrito Norte – , Costa e Silva, Sousas, São
Quirino, Taquaral – Distrito Leste –. Trabalhamos com dados das condições demográficas,
de moradia e saneamento, acesso aos serviços de saúde e outras informações articuladas
com a promoção da saúde da população adscrita ao território e que podem ser utilizadas no
planejamento, gestão e avaliação dos serviços prestados (Mota, Carvelho, 2003; Andrade,
Soares, 2001).
Com participação coletiva dos atores da pesquisa foram estudadas e realizadas
apresentações dos 12 Sistemas de Informação em Saúde (SIS), assim como a busca na
literatura sobre a confiabilidade dos mesmos. Para conhecimento das unidades que com-
põem o Projeto, alunos e preceptores realizaram apresentações, incluindo dados dos ter-
ritórios adscritos, informando a população e os óbitos de cada unidade. Após, pactuamos
que as informações das Declarações de Óbito (DO), dos Cadastros Domiciliar e Individual
dos usuários que foram a óbito em 2009 seriam analisadas na pesquisa. Na etapa da coleta
de dados, os estudantes foram aos respectivos CS e os grupos registraram as ocorrências,
intercorrências e percepções dos fatos encontrados em um diário de campo, no ambiente
virtual Teleduc. Todo o processo foi pautado pela definição dos instrumentos e estratégias
mais adequadas para o grupo como um todo, baseada em fundamentação científica e na
negociação coletiva da factibilidade dos processos e da pesquisa, com prazos acordados,
e as necessárias capacitações em cada etapa da produção.
As atividades dirigiram-se para cenários particulares, com levantamentos bibliográ-
ficos, problematização dos dados construídos em pequenos e grandes grupos, buscando
contextualizá-los e produzir informações em saúde a serem compartilhadas com as equi-
pes, de modo a qualificar as ações profissionais em saúde.
Os dados foram apresentados por distrito de saúde com as variáveis: sexo, faixa
etária, escolaridade, raça, estado civil, causa de óbito, utilização do Centro de Saúde e
renda (Tabela 1).
128
Tabela 1. Perfil sócio demográfico e causa de óbito da população estudada, Cam-
pinas, 2009.
Variáveis DISTRITOS
LESTE NORTE SUDESTE
N= 98 N=35 N=58
Sexo Masculino 61 28 38
Feminino 37 7 20
Raça Preta 3 1 3
Parda 12 12 12
Branca 80 22 40
Amarela 1 0 0
EB 2 0 3
Escolaridade 1 a 3 anos 1 0 0
4 a 7 anos 1 0 2
8 a 11 anos 3 0 0
12 a mais 9 0 1
Ignorado 3 16 1
EB 81 19 54
Faixa etária 20 a 29 13 20 11
30 a 39 13 8 9
40 a 49 22 8 14
50 a 59 50 9 24
Utiliza CS Regularmente 20 6 5
Esporadicamente 7 4 5
Não usa 6 3 2
EB 66 22 45
129
Causas externas 19 16 23
Neoplasia 44 6 12
Renda de 1 a 2 4 4 2
(em salários mínimos) de 2 a 5 17 5 11
mais de 5 10 3 1
menos de 1 2 0 1
não informado 1 2 3
EB 64 20 40
130
de SPA; fornecer subsídios teóricos e práticos para promoção de saúde visando prevenir
consequências físicas, mentais e sociais ocasionadas pelo consumo de SPA; inserir instru-
mentos de detecção, orientação e intervenção no uso de bebidas alcoólicas, tabaco, crack
e outras drogas; inserir os discentes nas atividades desenvolvidas em diferentes pontos da
rede municipal de atenção a SPA; fomentar processo de educação permanente dos profissio-
nais da rede municipal em temas relacionados ao uso de SPA; contribuir para a qualificação
do processo de gestão do cuidado aos usuários de SPA; realizar pesquisas, integrando pro-
fissionais da universidade, do serviço e discentes dos três cursos; contribuir para a promoção
de saúde dos próprios discentes, com relação à autopercepção do consumo de SPA.
Para alcance dos objetivos há de se ter mecanismos de sustentabilidade para integra-
ção ensino-serviço-comunidade em que além do fortalecimento da legitimidade da Comissão
Gestora Local e da parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, será garantido a incorpo-
ração do tema nas atividades curriculares, disciplinas conjuntas e/ou atividades integradas ao
longo dos três cursos envolvidos. No curso de Fonoaudiologia, pretende-se abordar a ques-
tão do primeiro ao oitavo semestre nas seguintes disciplinas: MD223 - Atenção a Saúde no
Brasil, FN208 - Promoção e Prática em Saúde Comunitária, MD215 - Epidemiologia e Saúde,
FN500,FN600,FN700 e FN800 - Estágio em Fonoaudiologia Comunitária I, II,III e IV, FN509 e
FN 609 - Estágio em Fonoaudiologia Clínica I e II, FN706 e Fn806 - Estágio em Audiologia III
e IV, FN711e FN811 - Estágio em Avaliação e Terapia Fonoaudiológica I e II.
A proposta inclui quatro projetos PET em que ocorrerá participação de alunos da
Fonoaudiologia: Avaliação de mudanças após integração ensino-serviço na linha de cuida-
do aos usuários de álcool, tabaco, crack e outras drogas;Identificação, intervenção breve
e seguimento de traumatizados usuários de álcool, cocaína e crack admitidos em hospital
universitário; Prevenção de eventos relacionados ao álcool e trauma em jovens e Identifi-
cando a rede de saúde mental do distrito norte de Campinas e o perfil de seus usuários de
substâncias psicoativas.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Aandrade, S.M.; Soares, D.A. Dados e informação em saúde: para que servem? In: Andrade,S.M., Soares,
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Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/sim/dados/cid9/ docs/intro.pdf . Acesso em 02 de nov.
2010.
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132
Capítulo 10
INTRODUÇÃO
133
Quadro 1. Componentes curriculares dos Cursos de Enfermagem e Fonoaudiolo-
gia norteados pelo PRÓ-Saúde II.
FONOAUDIOLOGIA ENFERMAGEM
134
Municipal de Saúde, mais especificamente as Supervisões Técnicas de Saúde (STS) Santa
Cecília e Sé, da Coordenadoria Regional de Saúde Centro.
A região centro do município de São Paulo possui população estimada de 450.850 h,
taxa de crescimento de 0,5%, com 40% de vinculados a planos e seguros de saúde7,8,9.
135
Os nove distritos das STS Santa Cecília e Sé – Barra Funda, Bom Retiro, Santa
Cecília, Consolação, República, Sé, Bela Vista, Liberdade e Cambuci – situam-se entre o
terceiro e o sexto estrato no ranking de exclusão-inclusão social e apresenta uma porcenta-
gem pequena de população em situação de alta vulnerabilidade social (0,6%). No entanto,
de forma contraditória, nessa área vivem grupos populacionais de grande risco social, isto é
moradores de rua, inclusive crianças e adolescentes; pessoas em ocupações; profissionais
do sexo; usuários de droga; ambulantes; imigrantes latino americanos, coreanos e nigeria-
nos, muitos deles em situação irregular no país e refugiados políticos.
Dentre os serviços de assistência à saúde que compõem as STS Santa Cecília e
Sé e integram os cenários de prática dos estudantes de Fonoaudiologia temos nove Uni-
dades Básicas de Saúde (UBS), algumas na modalidade de Estratégia Saúde da Família
(ESF) exclusiva e outras “mistas”, isto é, com o modelo de “Programas de Saúde” – mulher,
adulto e criança. Temos nessas UBS equipes de Consultório da Rua, para população em
situação de rua; Programa de Acompanhantes de Idosos (PAI); Programa de Ambientes
Verdes e Saudáveis (PAVS) e Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF).
136
com o início do PRÓ-Saúde II houve manutenção da carga horária (diminuição do tempo em
aulas teóricas), realocação das atividades e estratégias pedagógicas (os alunos foram intro-
duzidos em atividades práticas em três Unidades Básicas de Saúde) e passou a ser compar-
tilhada entre os dois cursos.
- Integração entre as disciplinas no decorrer dos anos de formação, para articular
de forma contínua e coesa teoria e prática em saúde.
- Inserção dos estudantes nos diferentes equipamentos e programas de saúde da
Coordenadoria Regional de Saúde Centro.
Inicialmente as atividades práticas vinculadas ao PRÓ-Saúde II eram desenvolvi-
das em três Unidades Básicas de Saúde do centro de São Paulo: UBS Santa Cecília – Dr.
Humberto Pascale, CSE Barra Funda – Prof. Dr. Alexandre Vranjac e UBS Nossa Senhora
do Brasil – Armando D’Arienzo. No ano de 2011, houve um aumento no número de estudan-
tes de Enfermagem e Fonoaudiologia e diante disso houve necessidade de ampliação dos
locais de prática para mais duas instituições de assistência à saúde discriminadas abaixo:
• Unidade Básica de Saúde Boracéa como campo de prática para as Disciplinas: “Fundamen-
tos em Saúde Coletiva”, “Estágio supervisionado em Fonoaudiologia Clínica – módulo UBS”
e “Estágio Curricular em Enfermagem I”.
• Inclusão do Serviço de Assistência Especializada (SAE) Campos Elíseos como campo de
prática para a Disciplina “Enfermagem em Saúde Coletiva com enfoque em Doenças Trans-
missíveis” e atividades relacionadas a condutas de enfermagem educativa e assistencial.
137
Disciplina Compartilhada e Seminário Interdisciplinar
1º momento – com a finalidade de identificar a UBS considerando seu espaço físico, horários
de atendimento, organograma, recursos humanos e fluxogramas assistenciais; analisar a
incorporação dos conceitos da atenção primária à saúde (APS) e princípios do SUS nos
processos de trabalho da UBS.
2º momento – a fim de reconhecer os serviços existentes, os programas e as ações desenvol-
vidas na UBS; identificar os setores que compõem a unidade e as atividades desenvolvidas
em cada setor; reconhecer os profissionais que realizam as respectivas atividades.
3º momento – com o objetivo de reconhecer o território da área de abrangência da UBS; des-
crever as características sociodemográficas e epidemiológicas da população; captar o modo
de vida da população, os aspectos ambientais, as características étnico-racial e de gênero e
sua influência no estado de saúde dos usuários; acompanhar o Agente Comunitário de Saú-
de (e/ou profissional da ESF) nas visitas domiciliares; reconhecer as ações desenvolvidas
pelo Agente Comunitário de Saúde; observar o cotidiano das famílias-usuários durante as
visitas domiciliares.
138
sobre o tema “gestão do cuidado” e em seguida os alunos são divididos em grupos, con-
tendo pelo menos um de cada área. Um paciente em acompanhamento no serviço, desig-
nado previamente pela equipe de saúde, é destinado para cada grupo. Os grupos leem
os prontuários, estudam o problema de saúde do paciente e formulam roteiros para visita
domiciliar. No segundo encontro os alunos realizam a visita domiciliar acompanhados por
profissionais de saúde da unidade e estruturam o plano de cuidado, orientados, quando
solicitados, pelos docentes e profissionais de saúde. No terceiro encontro os grupos apre-
sentam os planos de cuidado, discutem e entregam relatórios, que são encaminhados às
equipes responsáveis pelos pacientes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste cenário, espera-se que este processo de formação dos alunos de graduação
em áreas da Saúde seja propulsor das transformações da realidade, comprometendo-se
em atender as necessidades da população, fundamentado na realidade social, cultural e
epidemiológica. Nesta perspectiva privilegia-se a formação crítica reflexiva dos alunos em
sua inserção no mundo do trabalho, buscando uma maior articulação social, frente à res-
ponsabilidade da Instituição com a sociedade.
A articulação do PRÓ-Saúde com o PET-Saúde tem sido muito positiva para os
estudantes, reconhecendo as experiências interprofissionais, como também tem atuado
de forma positiva na melhoria sensivelmente da organização das experiências de ensino
nas UBS, com maior aceitação dos funcionários e as possibilidades de desenvolvimento de
pesquisas operacionais nos serviços.
REFERÊNCIAS
139
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140
Capítulo 11
INTRODUÇÃO
141
indivíduos e das coletividades (Brasil, 1988/2017). Sob a ótica do SUS, espera-se que os
profissionais de saúde atuem segundo seus princípios de Universalidade, Equidade e Inte-
gralidade para Promoção e Prevenção da Saúde, a partir do diagnóstico situacional a fim de
reconhecer causas de adoecimento e identificar e propor ações coletivas de saúde e pro-
postas de educação em saúde de considerando a realidade local (Brasil, 1990/2017). Desta
forma, a integração ensino-serviço, prevista nos Programas PET, objetiva a reorientação
da formação profissional de saúde e visa promover transformações no ensino e aprendiza-
gem, nos processos de produção do conhecimento e assistência à população (Batista et al,
2015; Cyrino et al, 2012; Peres et al, 2012). Segundo Mardsen (2009), o reflexo desta inte-
gração será propiciar que o aluno egresso da Universidade exerça uma prática profissional
mais humanista, integral, socialmente comprometida e reflexiva, após ter a oportunidade de
relacionar diretamente o ensino aos problemas de saúde da comunidade adstrita às unida-
des de saúdes usada como campos de estágio-prática do PET.
O desenvolvimento do projeto “Vulnerabilidade Comunicativa do Usuário da Aten-
ção Básica”, do PET-GraduaSUS, oportunizou o engajamento de alunos, preceptores e do-
centes em um projeto integrador e colaborativo (SBFa, 2017; Brasil, 2017) proporcionando
um conhecimento construído em meio à experiência vivida, e consequente reflexão sobre
ela (Henriques, 2005). Dessa maneira, houve a ampliação da integração ensino-serviço-co-
munidade e, foi possível tecer algumas considerações sobre disciplinas do eixo da saúde
coletiva, enfatizando a articulação núcleo e campo (Brasil, 2008). Importante considerar
que este projeto é um subprojeto do PET-GraduaSUS-Unicamp, que envolveu também os
cursos de Enfermagem, Farmácia e Medicina e foi desenvolvido em parceria com Secreta-
ria Municipal de Saúde (SMS) de Campinas. Assim, permitindo a criação de espaço multi e
interdisciplinar rico de potencialidades para construção de inovadoras práticas de saúde e
trocas de saberes entre os diferentes núcleos dentro do campo de saúde, de forma que a
lógica que orienta a criação do conhecimento considere a integralidade do sujeito, os pres-
supostos do SUS e a democratização das relações de trabalho.
Uma das características do curso de Fonoaudiologia da Unicamp é a multidisci-
plinaridade (Unicamp, 2012) que pode ser observada na composição do grupo de tutores
envolvidos no projeto (linguista, pedagogia, terapia ocupacional além de fonoaudiólogos).
Houve também a inserção de uma professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas.
Na escolha dos quatro preceptores do projeto, que participaram dos dois anos, também foi
levada em consideração uma formação variada, com enfermeiro, terapeuta ocupacional e
duas fonoaudiólogas com atuações distintas em um Centro de Referência do Idoso (CRI)
e no Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF). Os alunos que passaram pelo projeto
também eram de anos diferentes, o que oportunizou, ainda, um espaço de troca inter-anos.
Em se tratando da vulnerabilidade comunicativa, nosso foco voltou-se aos portado-
res de doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT) e procurou favorecer a compreensão
dos determinantes do processo saúde-doença-cuidado. Tais grupos, especialmente hiper-
tensos e diabéticos, foram selecionados por constituírem grande parte da demanda dos
serviços da rede SUS em Campinas.
O Projeto PET-GraduaSUS Fonoaudiologia - “Vulnerabilidade Comunicativa do
Usuário da Atenção Básica” teve como objetivos: (i) ampliação do foco de formação do
aluno na Atenção Básica, considerando a gestão do cuidado e a inserção nos processos de
trabalho das equipes, em atuação articulada entre núcleos e diferentes campos profissio-
nais; (ii) integração com a Rede SUS de Campinas na Atenção Básica e Especializada e
(iii) promoção, a partir de tais experiências, de mudanças curriculares no Curso.
142
Na realização do Projeto “Vulnerabilidade Comunicativa do Usuário da Atenção
Básica” nosso foco de atenção foi a comunicação no enfrentamento das Doenças Crônicas
não Transmissíveis (DCNT) diante das implicações advindas principalmente de casos de
portadores de hipertensão arterial (HAS) e diabetes (DM).
Para a escolha do tema considerou-se a grande incidência dos agravos das DCNT.
“No país essas doenças constituem o problema de saúde de maior magnitude e corres-
pondem a cerca de 70% das causas de mortes, atingindo fortemente camadas pobres da
população e grupos mais vulneráveis, como a população de baixa escolaridade e renda”
(Brasil, 2011), impondo ações de saúde multi e interdisciplinares, assim como a assistência
em diversas áreas da saúde articuladas, como a fonoaudiologia, medicina, enfermagem e
farmácia, cursos envolvidos neste projeto.
O Plano de Ações Estratégicas de enfrentamento das Doenças Crônicas não
Transmissíveis (DCNT) visa a preparar o Brasil para enfrentar e deter, nos próximos 10
anos, acidente vascular cerebral, infarto, hipertensão arterial (HAS), câncer, diabetes (DM)
e doenças respiratórias crônicas.
Os agravos relacionados a essas e as demais DCNT, frequentemente, ocasionam
a este grupo populacional, situação de vulnerabilidade comunicativa, portanto, ressalta-se
a importância de ações em Fonoaudiologia, na promoção da saúde e prevenção de altera-
ções relacionadas à visão, audição, linguagem, motricidade orofacial, voz e disfagia.
143
Na segunda fase do projeto (janeiro de 2017 a maio de 2018) houve a inserção
de dois novos tutores sendo uma com formação em Farmácia e outro com formação em
Linguística. O tutor voluntário da linguística é docente do curso de Fonoaudiologia e a tutora
da farmácia é tutora da Residência Multiprofissional.
Os preceptores se mantiveram desde o início do projeto e em um curto espaço de
tempo tivemos também a participação de uma profissional de farmácia que atua no CS
Aeroporto.
O grupo reuniu-se, sistematicamente, ao longo dos dois anos de duração do proje-
to. O horário das reuniões foi acordado visando à participação de todos os segmentos no
estudo e discussão de textos, no planejamento dos cronogramas e atividades e no desen-
volvimento das ações na Rede SUS Campinas e no Curso de Fonoaudiologia.
O projeto iniciou-se em março de 2016, com término em maio de 2018, tendo du-
ração total de dois anos. As atividades iniciaram-se com leitura e estudo de textos sobre as
DCNT, especialmente hipertensão e diabetes, sob diferentes referenciais teóricos (Brasil,
2014; 2013a; 2013b e 2011).
A leitura e discussão teórica subsidiaram a escolha de três frentes de atuação na
vulnerabilidade comunicativa dos grupos populacionais com DCNT. E, para que todas as
frentes fossem contempladas houve a divisão do grupo em três subgrupos: alimentação,
atividade física e o uso de medicamentos. De acordo com a exigência das ações e dispo-
nibilidade de participação houveram rearranjos e, durante todo o projeto oportunizou-se o
trabalho em equipe.
A partir deste embasamento teórico inicial, optou-se pela divisão do grupo em três
diferentes frentes de atuação, sendo estes, responsáveis por abordar aspectos de três pon-
tos identificados como centrais na vulnerabilidade comunicativa da população com DCNT.
Os grupos debruçaram-se sobre as seguintes questões: uso racional de medica-
mentos, alimentação saudável e atividade física. Entretanto, de acordo com a exigência das
ações e disponibilidade de participação, houve rearranjos, e durante todo o projeto oportu-
nizou-se o trabalho em equipe.
Dessa maneira, foram planejadas e desenvolvidas ações voltadas à temática das
DCNT e que contemplavam os seguintes passos: apresentação das unidades em que esta-
vam alocados os preceptores contemplando as ações desenvolvidas; contato com a gestão
para agendar reunião na unidade para apresentação do projeto e da proposta da ação a
ser desenvolvida; validação da proposta com os funcionários das unidades e adequação de
agenda para a realização das ações, das quais sempre participaram tutores, preceptores
e alunos.
Todas as atividades aconteceram em unidades da Rede SUS Campinas nas quais
os preceptores do projeto estavam alocados. Como apresentado na Figura 1, a rede de
Campinas é subdividida em distritos de saúde e o projeto PET-GraduaSUS da Fonoaudio-
logia desenvolveu atividades em quatro dos cinco distritos.
144
Figura 1. Mapa dos distritos de saúde da Rede SUS Campinas e a marcação dos locais
onde foram desenvolvidas atividades do PET-GraduaSUS Fonoaudiologia Unicamp.
Frentes de Trabalho
145
Nesta frente de trabalho a ação escolhida foi realizar uma capacitação sobre o
tema com os agentes de saúde das unidades, uma vez que compreendemos a potência do
papel destes profissionais, que são o elo entre a unidade e os usuários. Então, com apoio
de farmacêuticos das unidades e/ou do Distrito de Saúde em que o projeto se inseriu, foram
realizadas: pactuação com gestão local e com agentes de saúde e negociação do formato
e conteúdo da capacitação com cada grupo.
Os temas sugeridos foram: medicamentos alopáticos, homeopáticos e fitoterápi-
cos; orientação médica e farmacêutica; forma de utilização; interpretação da leitura de ró-
tulos e bulas; uso racional dos medicamentos e cuidados no armazenamento, dispensação
e descarte. Como material de apoio foram utilizados o Bulário eletrônico de medicamentos
e de fitoterápicos da ANVISA (disponível em http://portal.anvisa.gov.br/bulario-eletronico1;
acessado em 13 de março de 2020); a Cartilha - O que devemos saber sobre Medicamen-
tos da ANVISA (disponível em http://www.vigilanciasanitaria.sc.gov.br/index.php/download/
category/112-medicamentos; acessado em 13 de março de 2020), a Série Comunicação e
Educação em Saúde: O trabalho dos agentes comunitários de saúde na promoção do uso
correto de medicamentos (Brasil, 2006). Além disso, foram também utilizados materiais so-
bre descarte correto de medicamentos, produzidos pelos Conselho Federal e Regional da
Farmácia e pelo PET GraduaSUS da Farmácia-Unicamp.
Visando à autonomia dos profissionais para avançar nas questões levantadas nas
ações, o material de apoio produzido pelo grupo e uma cópia impressa da Cartilha “O que
devemos saber sobre Medicamentos” (Brasil, 2010) foi entregue nos quatro centros de saú-
de em que as capacitações ocorreram, totalizando 40 participantes.
Concomitantemente, a partir do interesse dos participantes sobre o tema, foram
propostos encontros sobre o uso medicinal de plantas. Uma das tutoras do projeto, farma-
cêutica da área de fitoterapia, realizou análise das exsicatas produzidas pelos participantes
– que consiste em uma amostra de planta prensada e seca. Esse trabalho foi realizado no
C.S. Aeroporto, no C.S. Costa e Silva e no Centro de Referência do Idoso (CRI).
A partir da conclusão de que o controle das DCNT passa pela prática regular de
atividades físicas, o trabalho neste subgrupo concentrou-se nas seguintes questões: os
usuários portadores de hipertensão e diabetes dos Serviços de Saúde têm o hábito de pra-
ticar atividades físicas frequentemente? Em caso negativo, em que a Fonoaudiologia pode
auxiliar?
Para responder a estes questionamentos, foi realizada uma enquete com 51 usuá-
rios, com base em questionário estruturado, elaborado a partir de instrumentos já validados,
como o International Physical Activity Questionnaire (IPAQ). Os resultados foram utilizados
para planejamento de ações nestes Serviços. Verificou-se que 47% dos sujeitos não pra-
ticavam nenhum tipo de atividade física regular, mas muitos usuários tinham interesse na
prática, não o fazendo por desconhecerem as modalidades oferecidas pelos serviços de
saúde de sua região.
Desta forma, determinou-se que seriam objetivos da atuação do PET-GraduaSUS
Fonoaudiologia: melhorar comunicação entre os Serviços e seus usuários, no que se refere
às atividades físicas oferecidas (locais, horários, modalidades), e desenvolver métodos-
-materiais para divulgar as informações de forma mais acessível ao público.
146
Para alcançar tais objetivos, foram desenvolvidas parcerias com as equipes das
unidades de saúde e planejadas as seguintes ações: confecção de murais para colocação
de convites para as atividades, momentos de atividades físicas em grupo, como caminhada
e dança, com o objetivo de chamar a atenção dos usuários para a prática de atividades
físicas e para as modalidades oferecidas em cada local.
Uma “ação-modelo” ocorreu em um CS durante o “Dia D” (campanha de vacinação
massiva da população). A ação contou com fixação de mural contendo as atividades físicas
desenvolvidas no local, orientações aos usuários e atividade de dança desenvolvida pela
equipe do PET Fonoaudiologia, e foi bem recebida pelos usuários e pela equipe do Centro
de Saúde. Um usuário participante pontuou: “Isso aqui é muito melhor do que qualquer
remédio!”.
II - Alimentação Saudável
147
A partir deste conjunto de dados, o grupo PET-GraduaSUS Fonoaudiologia for-
mulou uma proposta de ação a ser desenvolvida com os alunos, um projeto denominado:
“#PETividade na Calourada”. O projeto inseriu-se na Semana de Recepção dos Calouros
durante os anos de 2017 e 2018 e apresentou, por meio de uma atividade de verdadeiro
ou falso, as diversas possibilidades de atuação do Fonoaudiólogo como um profissional de
saúde (SEMAFON, 2018).
“O PET me permitiu enxergar a minha prática não só como uma
prática fonoaudiológica mas como de um profissional da saúde”. (Par-
ticipante do PET)
148
com o serviço; reunião com os professores das disciplinas do eixo da Saúde Coletiva para
validar as propostas levantadas pelo grupo PET.
149
Reuniões com os professores do eixo de Saúde Coletiva
Foram realizados dois encontros abertos aos professores do eixo de Saúde Co-
letiva que foram convidados a discutir a viabilidade das ações propostas para a mudança
curricular. As discussões foram ricas e auxiliaram o grupo a vislumbrar quais ações seriam
viáveis, além de trazer os professores como parceiros da proposta.
Além disso, o Grupo PET estabeleceu parceria com o Centro Acadêmico X de Se-
tembro (CAXS), convidando integrantes para participarem das reuniões e discussões do
projeto.
Foram também realizadas reuniões com professores do Núcleo Docente Estrutu-
rante (NDE) para expor o projeto e ações realizadas e debater sobre as mudanças. Houve
também a participação, a convite, nas reuniões da Comissão de Ensino a fim de comparti-
lharmos nossas ideias e ampliarmos as discussões sobre a formação do fonoaudiólogo no
nosso curso.
Nas reuniões do NDE do curso de Fonoaudiologia, tutores, preceptores e alunos
do PET puderam conduzir as questões levantadas pelo grupo, com potencial de ampliação
da inserção desse curso nos serviços da rede SUS de Campinas. Além da proposição de
ações relativas às disciplinas do eixo de Saúde Coletiva revisão das disciplinas teóricas
e práticas e aproximação dos professores com o SUS, foi também discutido o perfil dos
egressos do curso, especialmente, no que tange à atuação no SUS.
Uma outra ação desenvolvida pelo grupo do PET e apresentada ao NDE foi a cons-
trução de um questionário para levantamento dos conhecimentos, percepções e condutas
de egressos a respeito de sua formação para atuação no SUS, permitindo, assim, a cons-
trução de subsídios para mudanças no curso de graduação.
Desdobramentos do projeto
150
humanizado do sujeito (Buffon et al, 2011; Moraes et al, 2012; Santos et al, 2015; Nakamu-
ra et al, 2019).
A partir das ações desenvolvidas no decorrer do Projeto PET-GraduaSUS Fonoau-
diologia/Unicamp, ocorreram importantes desdobramentos envolvendo impactos indivi-
duais e coletivos.
“A gente pode participar das ações nos serviços da rede, nos
centros de saúde, pensar e elaborar essas ações, tudo isso como se
estivessemos envolvidos naquele serviço, o que é uma experiência
que vai ser levada para o futuro”. (Participante do PET)
151
● Comprometimento com o SUS
“Outra coisa que eu acho que foi muito legal, foi o carinho que
eu passei a sentir pelo SUS [...] que eu fico imaginando, que na minha
vida profissional isso vai fazer uma diferença gigantesca. “Eu acho que
precisa muito ter esse carinho mesmo, um amor, uma garra pelo SUS
que a gente tem, que é muito legal,e as pessoas as vezes não enten-
dem como ele funciona”. (Participante do PET)
152
oferece aos participantes uma nova missão como profissional, e leva a considerar a educa-
ção a partir da experiência e do sentido (Bondia, 2002).
O impacto das ações realizadas dentro do projeto PET gerou mudanças individuais
e coletivas no grupo, os relatos incluem o potencial criativo, operativo e cooperativo que
as discussões e atividades realizadas proporcionou nos diferentes cenários. Santos et al
(2015) também reforçam que os projetos PET, ao aproximarem os alunos dos serviços da
Rede SUS e com o cotidiano da população abre caminhos para a construção de um profis-
sional comprometido com atendimento humanizado, interdisciplinaridade e com estímulo
à participação cidadã.
Especialmente no que diz respeito à participação cidadã, dentre as mudanças in-
dividuais provocadas pelo ingresso no projeto PET destaca-se a motivação de uma aluna
a iniciar participação no Conselho Local de Saúde de seu bairro, que ocorreu após as dis-
cussões durante as reuniões e fez com que ela sentisse a necessidade de levar o conheci-
mento adquirido para a comunidade em que reside.
As vivências proporcionadas pela participação no PET se difundiram no cotidiano
dos alunos como foco de transformação da visão de diferentes atividades realizadas roti-
neiramente durante disciplinas práticas do curso de Fonoaudiologia. Dentre estas, o reco-
nhecimento da necessidade de preenchimento da contra referência de encaminhamentos
para exames audiológicos, sugestão de confecção de um quadro de acompanhamento dos
usuários atendidos no CEPRE, campo de grande parte das disciplinas práticas do curso,
que aconteceu após as experiências concretas vividas nos serviços de saúde visitados du-
rante a execução do projeto.
Diante de todo o exposto anteriormente, consideramos que o trabalho colaborativo
e interprofissional proporcionado pelo PET-GraduaSUS Fonoaudiologia ampliou nossa vi-
são de saúde, de vida, de SUS e nos fez melhores pessoas.
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155
Capítulo 12
1. Apresentação
156
Para o curso de Fonoaudiologia, em especial:
“A Fonoaudiologia possui o currículo contemplado transversal-
mente com disciplinas do campo da saúde coletiva. Possui uma carga
horária de práticas e estágios em saúde coletiva equiparada às demais
áreas da profissão, mas ainda encontra dificuldades na formação” 2.
157
Outra vertente estratégica para o desenvolvimento do projeto foi a imersão nos
cenários de prática para desenvolver as atividades de Análise da Situação de Saúde (Diag-
nóstico Situacional) e Desenvolvimento de Projetos Aplicativos com foco na humanização
do cuidado de acordo com as principais necessidades dos serviços-territórios. As ativida-
des foram guiadas transversalmente (em todos os momentos) pelo olhar do Quadrilátero da
formação em saúde3. Assim, a expectativa era que tanto no diagnóstico situacional, quanto
nos projetos aplicativos, os estudantes, preceptores e tutores pudessem refletir sobre a
Atenção à Saúde, Gestão, Controle Social e Ensino na Saúde.
A participação ativa dos alunos nas Unidades de Saúde da Família do município e
as discussões realizadas nos encontros tutorias fundamentaram a elaboração do presente
texto, que tem como objetivo apresentar sugestões para mudanças curriculares no cur-
so de Fonoaudiologia da UFS, atendendo ao disposto no projeto naquilo que diz respeito
ao encaminhamento de proposições, advindas da execução do PET, ao Núcleo Docente
Estruturante (NDE) e buscando fortalecer a integração ensino-serviço-comunidade para a
formação do futuro fonoaudiólogo.
158
o primeiro contato do profissional com o usuário, sendo perceptível que
é esse contato que definirá a formação de vínculo ou não do paciente
para com a UBS”. (estudante A)
159
“(...)É gratificante saber que nossa formação recebeu contribui-
ção de uma experiência enriquecedora como o PET. A nossa visão
sobre o SUS foi desconstruída muitas vezes, na teoria, para ser re-
construída na prática. Hoje, estamos cientes que podemos contribuir
também quando atuarmos como profissionais de saúde. O contato com
o fazer na prática, a troca de saberes multidisciplinares, com diferentes
realidades de vida e de saúde, foi enriquecedor.
Percebe-se nas narrativas que o PET foi uma oportunidade ímpar para reflexão
profunda e crítica do Sistema Único de Saúde, especialmente no âmbito local. Foi desper-
tado nas estudantes um sentimento de pertencimento e potenciais agentes de transforma-
ção da realidade e, para além disso, a solidariedade com os demais colegas de curso que
deveriam passar pelas mesmas experiências. Nesse sentido, ficou bem claro que o melhor
encaminhamento seria uma reforma curricular que produzisse um potencial para o universo
dos estudantes.
Existe a consciência de que o programa PET-GraduaSUS foi muito importante for-
neceu uma experiência singular a cada uma das participantes, mas que no entanto, apenas
o programa não daria conta de abranger as necessidades dos cursos da saúde e portanto,
o maior “fruto” que o PET poderia deixar seria uma profunda reflexão proposições para o
Núcleo Docente Estruturante de Fonoaudiologia e a Reforma Curricular do curso de Fo-
noaudiologia sob as seguintes premissas: Antecipação do contato com o sistema de saúde
mediante atividades práticas, transversalidade dos conteúdos de saúde coletiva ao longo
do curso e nas disciplinas e mudanças para metodologias ativas de ensino aprendizagem.
Nesse sentido foi realizado um estudo da matriz curricular de fonoaudiologia da
UFS e de outras Universidades Federais do Nordeste (em função do contexto social) visan-
do propor melhorias na Reforma Curricular que ocorrera concomitante ao PET.
160
3.1. Refletindo sobre a carga horária
Observam-se 180 horas dedicadas a aspectos teóricos e 180 para atividades práti-
cas, totalizando 360 horas, o que corresponde a 10% da carga horária total do curso.
Seria interessante, neste momento, situar o curso de Fonoaudiologia da UFS – São
Cristóvão – no contexto das universidades federais da região nordeste. Atualmente, cinco
universidades federais da região ofertam o curso visando à formação do bacharel em Fo-
noaudiologia, a saber, a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN) e a Universidade Federal de Sergipe (UFS). Deve-se es-
clarecer que, na UFS, o curso é ofertado em dois campi: no campus São Cristóvão e no
campus Lagarto, com diferenças metodológicas entre estes pois o campus Lagarto adota o
modelo de aprendizagem baseada em problemas para todos os cursos da área da saúde.
A partir do exame da estrutura curricular dos cursos ofertados pelas universidades
federais da região nordeste, elaborou-se a Tabela 2, a seguir, que contempla as disciplinas
dedicadas a saúde coletiva. Não se trata de um exame exaustivo e minucioso das matrizes
curriculares dessas instituições, pois está baseado em informações disponíveis na rede
internet5-9. Além disso, o critério para seleção dessas disciplinas foi o nome das mesmas
e sua relação com o tema em tela, privilegiando-se os termos “saúde” e “saúde coletiva”;
assim, eventualmente, disciplinas que também pretendem essa formação – mas que não
apresentam a palavra saúde em seu nome – podem ter sido negligenciadas.
161
Tabela 2. Componentes curriculares dedicados à Saúde Coletiva ministrados nos Cursos de Graduação em Fonoaudiologia ofer-
tados por Universidades Federais da região nordeste.
Prática em saúde 60
coletiva
7 Estágio em saúde 68 Estágio em saúde 60 Estagio em saúde 60 Estágio em fonoaudio- 120
coletiva I coletiva III coletiva I logia na saúde coletiva
8 Estágio em saúde 68 Estágio em saúde 60 Estagio em saúde 60
coletiva II coletiva IV coletiva II
Carga horária dedicada 323 285 375 180 240 360
Legenda: UFBA = Universidade Federal da Bahia; UFPB = Universidade Federal da Paraíba; UFPE = Universidade Federal de Pernambuco; UFRN =
Universidade Federal do Rio Grande do Norte; UFS = Universidade Federal de Sergipe ; CH = carga horária.
A proporção de carga horária dedicada à saúde coletiva, em relação a carga horária total, varia entre 7,04% (observada na UFBA)
e 9,43% (observada na UFPE). Em síntese, nenhum dos cursos chega a dedicar 10% de sua carga horária em disciplinas voltadas para a
saúde coletiva. Na UFS São Cristóvão, essa proporção é de 10%, posicionando o curso acima da média e como o segundo com maior carga
horária absoluta para esse fim (Tabela 3).
Tabela 3. Carga horária dos cursos de Fonoaudiologia ofertados por universidades
federais da região nordeste.
Universidade Carga horária Carga horária em Saúde %
total Coletiva
UFS São Cristóvão 3585 300 10
A relação entre a carga horária total do curso e a carga horária dedicada a saúde coletiva
pode ser visualizada na Figura 1.
163
Destacam-se a UFPE e a UFBA com uma distribuição ao longo de todo o curso, em
oposição a concentração observada na UFPB e na UFS Lagarto.
No curso da UFS-São Cristóvão, é possível observar que os componentes estão
presentes em diferentes momentos da formação do fonoaudiólogo, o que não impede que
essa distribuição seja otimizada: como exemplo, têm-se duas disciplinas que, apesar de
naturezas diferentes – uma teórica e outra prática – ocorrem simultaneamente no sexto
período.
164
Tabela 6. Ementas dos componentes curriculares dedicados à Saúde Coletiva ministrados nos Cursos de Graduação em Fonoaudiologia ofertados por Universidades Fe-
derais da região nordeste.
Por meio das ementas dos componentes de natureza teórica, percebe-se que os
conteúdos são bastante similares, em todos os cursos. Um tópico que ainda não é con-
templado nos conteúdos ministrados no curso da UFS São Cristóvão é a realidade local
do Sistema de Saúde, com a abordagem de toda a divisão administrativa-funcional e os
equipamentos disponíveis no(s) município(s).
Com o propósito de refletir sobre a integração dos conteúdos da saúde coletiva nas
demais disciplinas e atividades curriculares do curso, todas as ementas foram estudadas e
discutidas, concluindo-se que as disciplinas dedicadas as atividades de habilitação-reabi-
litação, específicas para a formação do fonoaudiólogo, não conseguem abordar ações de
promoção e prevenção das patologias que tratam e de como as ações de habilitação e rea-
bilitação dialogam com o SUS. Assim, o tema deveria estar presente em disciplinas como
“Clínica da Fala” e “Audiologia Clínica nas Alterações da Audição”, dentre outras.
A fim de favorecer o contato dos alunos com a atuação do fonoaudiólogo no SUS,
desde o primeiro período, sugere-se uma atualização da ementa e a incorporação do tema
à disciplina “Fonoaudiologia Básica”, que hoje apresenta-se como:
Além disso sugere-se que a disciplina tenha um caráter teórico prático com imersão
nos cenários de aprendizagem do SUS desde o primeiro período.
Um componente com potencial para favorecer a integração e minimizar a fragmen-
tação é a disciplina optativa “Estudo de caso em Fonoaudiologia”, que poderia abordar
temas como o projeto terapêutico singular.
As ementas das disciplinas voltadas para a saúde coletiva tiveram indicação de
mudanças essenciais em reforma curricular na perspectiva de quebra do foco do preventi-
vismo e passaram a incorporar a determinação social do processo saúde-doença, diferen-
tes olhares para o cuidado em saúde, inclusão social, direitos humanos, Reforma Sanitária
Brasileira e organização do SUS e o protagonismo da fonoaudiologia na produção das
linhas de cuidado nas Redes de Atenção à Saúde.
A Tabela 7 apresenta as novas ementas que foram incorporadas à Reforma Curri-
cular do Curso de Fonoaudiologia que ocorreu no simultaneamente ao período em que o
PET-GraduaSUS se desenvolveu.
A disciplina “introdução à saúde pública” anteriormente ofertada pelo departamento
de enfermagem foi incorporada ao departamento de fonoaudiologia visando atender me-
lhor as demandas específicas do curso, bem como foi transformada numa disciplina teó-
rico-prática, no sentido de antecipar o contato do estudante com o SUS, a partir de então
denominada Fundamentos de Saúde Coletiva. Houve uma redistribuição visando garantir
uma transversalidade dos conteúdos de saúde coletiva durante todo curso.
Ocorreu o diálogo com outras disciplinas de atuação clínica do curso, na intenção de
estimular a formação voltada para o SUS seja nas disciplinas do campo da saúde coletiva ou
167
nas disciplinas de bases clínicas. Também foi proposto que o NDE avalia a interlocução de
conteúdos entre todas as disciplinas ofertadas a cada semestre letivo.
168
Muitos são os desafios que se apresentam ao professor e ao curso de Fonoau-
diologia, a mudança de prática e a promoção das equipes de aprendizagem, são algumas
das possibilidades de enfrentamento. A implementação de métodos ativos de ensino é uma
alternativa que vem mostrando resultados positivos. Ressaltamos a importância de ações
refletidas e de avaliações constantes, sobre o processo de ensino-aprendizagem” (PPC de
Fonoaudiologia após reforma curricular).
Acredita-se que o grupo de Fonoaudiologia do PET-GraduaSUS alcançou os ob-
jetivos propostos no sentido de propor mudanças na estrutura do currículo, mudanças nos
conteúdos de formação, mudanças no método de ensino mudanças nas atitudes dos su-
jeitos envolvidos. A reforma curricular foi um grande avanço, mas não garante mudanças
imediatas, sabe-se que ainda existe um longo caminho para sua plena implementação.
Espera-se que legado deixado pelo PET alimente os próximos passos.
169
Mediação de atividades 1 Acolhimento dos estu- Coordenação geral
pela tutoria para todos dantes
os grupos do PET
1 Acolhimento dos Pre-
ceptores
2 Encontros de EP
1 Mesa Redonda na
SEMAC/UFS
Tutorias de Campo 20 Coordenação geral
Tutorias de Grupo/Cur- 20 Coordenação de Grupo
so
Caderno de orientação 1 Coordenação geral Coordenador foi o organiza-
pedagógica (material dor do Caderno de orientação
didático) pedagógica junto com colabo-
radoras.
5. CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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2015 – Seleção para o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde PETSaúde GraduaSUS.
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170
2 Secretaria Municipal de Saúde de Aracaju. Projeto submetido ao edital Edital SGTES/MS de 13 de 28 de
setembro de 2015 do Pet-GraduaSUS.
3 Ceccim RB, Feuerwerker LCM. O quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atenção
e controle social. Physis – Revista de Saúde Coletiva, 14(1): 41-66, 2004.
4 Resolução 156/2009/CONEPE/UFS, de 18 de dezembro de 2009.
5 Universidade Federal da Bahia. Matriz Curricular do Curso de fonoaudiologia Disponível em: http://www.
ics.ufba.br/sites/all/themes/execute_responsive_theme/arquivos/CFON/grade_fono_2016.pdf; Acesso em
02/06/2018.
6 Universidade Federal da Paraíba. Matriz Curricular do Curso de fonoaudiologia Disponível em: https://
sigaa.ufpb.br/sigaa/link/public/curso/curriculo/978. Acesso em 02/06/2018.
7 Universidade Federal de Pernambuco. Matriz Curricular do Curso de fonoaudiologia Disponível em:
https://www.ufpe.br/fonoaudiologia-bacharelado-ccs/disciplinas;
8 Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Matriz Curricular do Curso de fonoaudiologia Disponível
em: https://sigaa.ufrn.br/sigaa/link/public/curso/curriculo/85736654; Acesso em 02/06/2018.
9 Universidade Federal de Sergipe. Matriz Curricular do Curso de fonoaudiologia Disponível em: https://
www.sigaa.ufs.br/sigaa/link/public/curso/curriculo/815616;
10 Universidade Federal de Sergipe. Resolução no. 157/2009/CONEPE/UFS, anexo II, p. 5.
11 Michaelsen LK. Getting Started with Team-Based Learning. In: Michaelsen, LK, Knight AB, Fink LD.
(Org.). Team-Based Learning: a transformative use of small groups in college teaching. Sterling, VA:
Stylus Publishing, LLC, 2004.
171
Capítulo 13
INTRODUÇÃO
172
O curso de Fonoaudiologia, iniciado em 2008, passou a integrar as atividades do
PRÓ-Saúde II, que também se iniciava, e seus desdobramentos, demonstrando a potencia-
lidade para a integração de conhecimentos intercursos, que já é uma característica própria
da constituição deste núcleo profissional.
O objetivo deste capítulo é descrever a participação do curso de Fonoaudiologia no
Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde – PRÓ-Saúde II
e nas residências, bem como apresentar as ações desenvolvidas e as perspectivas futuras.
2. O PRÓ-Saúde II da UFRGS
173
Assim, no ano de 2008, a UFRGS foi contemplada com o PRÓ-Saúde II, que envol-
veu os cursos de Educação Física, Enfermagem, Farmácia, Nutrição e Psicologia e já previa
a inclusão dos cursos de Fisioterapia e Fonoaudiologia, que se encontravam em processo
de criação, quando da elaboração do projeto7. Os eixos de transformação preconizados
foram a orientação teórica (determinantes de saúde e doença, pesquisa sobre realidade
local, educação permanente), orientação prática (integração ensino-serviço, utilização da
Rede de Atenção em Saúde (RAS) em todos os níveis, integração dos serviços da IES
com o SUS) e a orientação pedagógica (integração básicas-clínicas, análise crítica da as-
sistência, aprendizagem significativa com metodologias ativas de ensino-aprendizagem)9.
Dentre os principais compromissos assumidos pelo projeto, encontravam-se a discussão
das matrizes curriculares dos cursos, a reestruturação dos mesmos, quando necessário e a
integração dos cursos da saúde entre si e com os serviços, estes últimos coordenados pela
gestão municipal.
Para atender às necessidades da IES, foi definida a criação de um órgão colegiado, a
Coordenação da Saúde (CoorSaúde)10 vinculada à Pró-reitoria de Graduação e formada pe-
los colegiados das Coordenações dos Cursos de Graduação (COMGRAD) da área da saúde.
A sua composição é representada por docentes, técnicos em assuntos educacionais (TAE),
gestores universitários e discentes dos cursos participantes, conforme determinado pelo re-
gimento interno da CoorSaúde11. Essa coordenadoria, também articulou o desenvolvimento
do Programas de Educação pelo Trabalho para a Saúde – PET-Saúde da Família e as ações
previstas no projeto. Na sequência, o MS lançou o PET-Vigilância em Saúde e o PET-Saúde
Mental Álcool e Outras Drogas/Crack (2010), o PET-RAS (Rede Cegonha, Rede de Urgên-
cia e Emergência, Rede de Atenção Psicossocial, Ações de Prevenção e Qualificação do
Diagnóstico e Tratamento do Câncer de Colo de Útero e Mama, Plano de Enfrentamento das
Doenças Crônicas não Transmissíveis), o PET-GraduaSUS (2015) e o PET Interprofissiona-
lidade (2018), em execução no ano de 2019. A UFRGS foi contemplada em todos os editais
com projetos envolvendo diversos cursos e executados majoritariamente no distrito GCC da
Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de POA.
A integração ensino-serviço-comunidade é prevista por meio da criação de um
Comitê Gestor (CG). Este fórum reúne os coordenadores dos projetos em desenvol-
vimento pela IES, da gerência GCC, representação do Conselho Municipal de Saúde
(CMS) e do nível central, com representantes da Comissão Permanente de Ensino-Ser-
viço (CPES) da SMS-POA. O CG é responsável pela gestão política e administrativa do
projeto, pela organização das demandas do cenário de prática e das instituições envolvi-
das, pela estratégia de integração, pela priorização de investimentos e o acompanhamen-
to e monitoramento da aplicação de recursos. Mais tarde, por tratativas da CoorSaúde, o
distrito Centro foi incorporado às ações da UFRGS e ao CG, bem como às propostas de
atividades na gerência12.
A pauta deste colegiado se volta para a operacionalização dos projetos em anda-
mento, a participação nos novos editais vigentes dos PET-Saúde e para a consolidação das
ações em desenvolvimento, como estágios, práticas disciplinares, residências, pós-gradua-
ção, projetos de extensão e pesquisa13. Dentre as atividades prioritárias estão a qualifica-
ção da estrutura dos serviços de saúde, o planejamento de ações de educação permanente
para os trabalhadores, profissionais de saúde e docentes e a participação social. Espera-se
construir indicadores de monitoramento e avaliação das ações de reorientação na forma-
ção em saúde, bem como ampliar a oferta de ações à totalidade dos estudantes da área da
saúde. Há discussões também no sentido de ampliar a participação de cursos que não são
da saúde, mas atuam na interface do conceito ampliado, como artes, pedagogia, arquitetu-
ra, dentre outras.
174
3. A relação com o sistema de saúde e o cenário de prática
A SMS, gestora plena do SUS na capital desde 1996, estabelece ações integradas
e intersetoriais públicas e privadas nas três esferas de governo. O primeiro plano munici-
pal de saúde (PMS) foi aprovado em 2010, sempre com participação de profissionais da
fonoaudiologia ligados à UFRGS, via grupos de trabalho ou representação no CMS2,14,15.
De acordo com o PMS, o município possui oito gerências distritais, que reúnem 16
distritos (Figura 1). Possui 141 Unidades de Saúde (US), com 189 equipes de atenção pri-
mária à saúde que oferecem cobertura de 56% na Estratégia de Saúde da Família (ESF),
oito centros de saúde, cinco Unidades de Pronto Atendimento (UPA) ou equivalente, nove
Núcleos de Apoio/Ampliado à Saúde da Família (NASF), dois hospitais próprios e 22 con-
veniados2. O município aderiu ao Programa de Melhoria do Acesso e Qualidade da Atenção
Básica (PMAQ-AB), desde o primeiro ciclo e optou por monitorar os serviços igualmente,
trabalhando os dados junto às equipes desde a autoavaliação.
Distritos Sanitáio de Porto Alegre/RS Territorios de abrangência das Gerências Distritais da Secretaria
Municipal de Saúde de Porto Alegre
175
Em fevereiro de 2019, 20 fonoaudiólogas encontram-se ativas, sendo 16 distri-
buídas entre as oito gerências distritais (serviços de Equipe Especializada de Saúde da
Criança e adolescente (EESCA), Centro Municipal de Reabilitação (CR), Ambulatório de
adultos, Centros de Saúde (CS), Saúde Mental (SM), Núcleo de Apoio-Ampliado à Saúde
da Família (NASF) e audiologia), três em Hospital Materno Infantil (atuando em UTI neo-
natal, alojamento conjunto, ambulatório e internação em pediatria), que também acolhe
quatro residentes e uma no nível central, na equipe de regulação ambulatorial (dados in-
formados verbalmente, confirmados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde.
Além destas, dois hospitais federais empregam 31 fonoaudiólogos e oito residentes, ambos
são referência estadual em alta complexidade para a Saúde Auditiva, com atuação em UTI
neonatal, ambulatório de disfagia, fissura lábiopalatal, ambulatório de neurologia, cabeça e
pescoço16.
A gerência distrital Glória-Cruzeiro-Cristal (DGCC), designada como cenário de
prática da UFRGS, reúne os três distritos que a ela dão nome e está localizada na região
centro-sul (Figura 1 - número 5 da legenda), com população estimada em 148.778 habitan-
tes2,15. A gerência distrital está localizada no Centro de Especialidades Vila dos Comerciá-
rios (CEVC) e possui uma área física de aproximadamente 14.000 m2, que abarca o Pronto
Atendimento Cruzeiro do Sul (PACS), Plantão de Saúde Mental, Ambulatórios Básico e Es-
pecializado, Ambulatório de Odontologia, Ambulatório de Asma, Centro de Especialidades
Odontológicas (CEO), Equipe Especializada de Saúde da Criança e Adolescente (EESCA),
Centro Municipal de Reabilitação, entre outros. Acolhe, ainda, três unidades de saúde da
família, unidade prisionais, da Fundação Casa e serviços administrativos.
O território passou por importante transformação, com obras para a copa do mun-
do de 2014, expansão da rede de APS, implantação de duas equipes de NASF, ampliação
dos conselhos locais e reestruturação dos serviços de referência para saúde mental e
reabilitação.
A integração ensino-serviço-comunidade é marcada pela realização das atividades
da UFRGS no território que se desenvolvem nos distritos GCC. Os cursos da área da saúde
realizam práticas disciplinares, estágios, projetos de extensão e pesquisa preferencialmen-
te nas unidades básicas e especializadas da GDGCC.
O Distrito Centro é caracterizado por uma região abrangente, com 267.005 habi-
tantes, a maior população idosa do município e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)
de 0,919, acima da média do município15. Embora tenha inúmeros serviços e atuação de
instituições diversas, foi designado como cenários da UFRGS em 2012 e é a região em que
está localizada a maioria dos cursos da área da saúde da UFRGS.
A gerência distrital localiza-se na Unidade Santa Marta. Possui três US, uma de-
las vinculadas ao Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA). Além de seis ESF, oferta
um Consultório de Rua, diversas especialidades médicas em dois Centros de Especiali-
dades, Serviço de Audiologia, EESCA, NASF, Centro de Referência em Saúde do Traba-
lhador (CEREST), CEO, Farmácia Distrital, CAPS infantil e adulto (Cais Mental e Geração
POA) e residencial terapêutico. Além do HCPA, hospital escola da UFRGS, possui dois
hospitais próprios, o Hospital de Pronto Socorro (HPS) e o Hospital Materno Infantil Pre-
sidente Vargas (HMIPV), outra maternidade 100% SUS, Fêmina, ligada ao Grupo Hospi-
talar Conceição (GHC) e um complexo hospitalar ligado à Santa Casa, e todos eles com
leitos SUS.
Nesta região também estão outras duas IES que ofertam o curso de Fonoaudiolo-
gia, uma delas privada, em funcionamento há cerca de 30 anos e, portanto, responsável
176
pela formação de inúmeros profissionais, que atualmente realiza estágios na gerência dis-
trital Leste/Nordeste (LENO). A outra, federal, iniciou o curso em 2007, tem a Santa Casa
como importante cenário de práticas e a gerência distrital Norte/Eixo Baltazar (NEB) para
atuação junto ao território.
4.1. Histórico
177
• 1º primeiro semestre - Disciplinas básicas gerais: há a presença de disciplinas de formação
básica geral, além de disciplinas específicas sobre o campo de atuação e pesquisa do fo-
noaudiólogo.
178
da formação profissional que contemple os princípios do SUS, da Reforma Psiquiátrica e a
Saúde Mental na APS e favorecer o acompanhamento do Projeto Pedagógico em implan-
tação no Curso de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais. O Núcleo de Avaliação
da Unidade (NAU), com docentes da Fonoaudiologia, estudou os indicadores do Sistema
Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES) e os dados solicitados pela Secre-
taria de Avaliação Institucional (SAI).
Na Faculdade de Odontologia, a cada final de semestre, ocorre Mostra de Vivências
de Ensino no SUS com apresentação de trabalhos de disciplinas e Estágios da Odontologia
integrando discentes, preceptores e tutores-docentes. Essa atividade acolheu disciplinas e
estágios do Curso de Fonoaudiologia em alguns momentos27. O NAU, com participação de
docente e discente da Fonoaudiologia, além dos indicadores da SAI, prioriza a descrição do
perfil do estudante ingressante e formando e a avaliação do currículo, constituindo impor-
tantes ferramentas para a análise do curso28. Está em planejamento o acompanhamento do
egresso, já iniciado por meio de pesquisas do perfil do fonoaudiólogo do RS29,30.
No mês de outubro a UFRGS realiza um salão de ensino, extensão e iniciação
científica, nos quais é possível compartilhar vivências. No ano de 2014, o estágio realizado
no CAPSi, apresentou o relato de experiência “Atuação fonoaudiológica na saúde mental e
sua inserção em um Centro de Atenção Psicossocial Infantil” e recebeu destaque no salão
de ensino31.
179
Educação Tutorial (PET) que tenham afinidade com a proposta da saúde (Cursos Notur-
nos da Saúde, Participação e Controle Social em Saúde – também sob tutoria por docente
do curso de Fonoaudiologia entre 2014 e 2018), coordenadores de projetos de interesse
para a articulação com os cursos, representantes institucionais em conselhos (estadual de
saúde) e comissões (integração ensino-serviço – CPES/SMS) e outros projetos em desen-
volvimento na área da saúde da universidade que promovam integração ensino-serviço-co-
munidade. Os TAEs de todas as COMGRADs participantes também são convidados. Os
discentes estão representados, com indicação do Diretório Central dos Estudantes (DCE).
A CoorSaúde e o curso de Fonoaudiologia participaram, no ano de 2010, também
da discussão da Educação Permanente no Estado, por meio da representação na Comis-
são de Integração Ensino-Serviço para o SUS (CIES – 1ª região – Metropolitana Porto
Alegre). Esta foi substituída em dezembro do mesmo ano, pois a mesma assumiu a coor-
denação substituta da CoorSaúde, até o final de 2012.
Com o intuito de socializar as atividades e projetos desenvolvidos no âmbito da
integração e promover o diálogo entre os atores envolvidos, a CoorSaúde realiza, periodi-
camente, Seminários de Integração da Área da Saúde. Estes ocorreram em 2009, 2011 e
2018. Além disso, participa de ações de capacitação docente pela Escola de Desenvolvi-
mento da UFRGS, com temáticas de integração com o SUS e formação docente.
A CoorSaúde elabora um boletim e um blog, para divulgação de ações e oportu-
nidades, o que tem estreitado as relações e a comunicação na comunidade acadêmica e
na rede de serviços de saúde. Foram publicados artigos referentes aos trabalhos desen-
volvidos ao longo dos últimos 10 anos e um livro comemorativo está em preparação32. As
proposta da CoorSaúde já foi apresentada em eventos internos, como os salões UFRGS e
no congresso da Rede Unida e está relatada com maior detalhamento na publicação sobre
o PRÓ-Saúde II da UFRGS7,10,32.
A participação do curso de Fonoaudiologia se dá com representação da COMGRAD-
-FON nas plenárias desde o início de sua constituição, com dois representantes, efetivo e suplen-
te, da organização de seminários e eventos, nas reuniões do CG da Integração ensino-serviço
com a GDGCC entre os anos de 2010 e 2013 e eventualmente para a discussão dos cenários
de práticas, o que permite compreender os contextos organizados para a elaboração e execução
dos projetos desenvolvidos, na composição com o quadrilátero da formação em saúde33.
180
realização de matriciamento para a equipe de saúde da família; a participação em reuniões
de equipe; visitas à escola e à creche comunitária do território; a realização de projeto de
acompanhamento de acamados; o desenvolvimento de oficinas com crianças; a elabora-
ção de projeto de pesquisa que resultou em apresentação científica, participações no Salão
de Extensão UFRGS e Trabalhos de Conclusão de Curso34,35.
O PET-Saúde Mental, coordenado por uma docente do Serviço Social contou com
a participação de duas estudantes de Fonoaudiologia.
As atividades se realizaram no CAPS Álcool e outras Drogas/Cruzeiro e foram as
seguintes: Acolhimento, Grupos Terapêuticos, Atendimentos Individuais; Oficinas de Velas
e de Trabalhos Manuais; Grupo de Família, Grupo de Leitura e Escrita, Grupo de Avaliação
Clínica, Grupo de Cuidados com a Saúde. Participação nas Reuniões de equipe. Atividades
de interconsultas do CAPS com os serviços de saúde na região. Estágio na Emergência em
Saúde Mental. Participação no Conselho Distrital de Saúde; Organização dos Seminários
Teóricos do PET-Saúde Mental, realização de Oficina sobre o tema no Salão de Ensino da
UFRGS e apresentação de trabalhos em eventos da Fonoaudiologia.
A presença de estudantes de Fonoaudiologia foi estimulante e exitosa, pois se in-
tegraram com os estudantes dos cursos de Enfermagem, Medicina, Psicologia e Serviço
Social e contribuíram no planejamento, na execução e acompanhamento das atividades
181
das atividades previstas e nos espaços de orientação, estudo e disseminação dos conheci-
mentos e vivências realizadas.
Para essa nova versão do PET-Saúde foram aprovados sete projetos. Todos os
projetos previam a participação de estudantes da Fonoaudiologia, em qualquer semestre
da formação.
De início, foram dois professores envolvidos na tutoria (Gestão e Atenção Psicos-
social) e 13 estudantes de Fonoaudiologia em cinco projetos, envolvendo temáticas como
AIDS, Urgência/Emergência, Atenção Psicossocial, Gestão, Rede Cegonha e participação
da comunidade em Observatório de Saúde. As atividades envolviam diferentes serviços,
docentes, trabalhadores e estudantes de diferentes cursos. O projeto contou com vincu-
lação de fonoaudióloga do serviço e promoveu atividades em grupo multiprofissionais no
NASCA (atual EESCA), SASE e ESF. Um panorama das atividades foi registrado em publi-
cação própria, no ano de 201332,38,39.
182
Iniquidades em Saúde. Saúde da população Negra, Saúde da População Idosa, Saúde da
População Indígena, Saúde da População de Rua.
A coordenação, está a cargo de uma servidora municipal, que relata:
“O último edital PET-Saúde surge com uma proposta ainda mais desafiadora que o
seu anterior, o PET-GraduaSUS. Ele vem com a temática principal da Interporfissionalidade
para mobilizar a IES, os serviços de saúde e a gestão. Para os serviços ele permitirá anali-
sar a existência ou naquelas que já possuem aprimorar as práticas com caráter interprofis-
sional, bem como despertar o trabalhar com, entre e junto. A expectativa é que esse proces-
so gere equipes mais eficientes e resolutivas, consequentemente uma melhor assistência à
comunidade e campos de prática mais potentes para os estudantes em formação. Para as
IES, espera-se o PET-IP, na linha de continuidade do PET-GraduaSUS, auxilie a mudança
curricular, visando formações com perfil mais integral e direcionada para um SUS real. Com
currículos menos uniprofissionais baseado em ações que respeitem as necessidades dos
usuários do SUS, a formação interprofissional e as práticas colaborativas. Para a gestão,
os benefícios encontram-se na constituição de equipes mais engajadas, desenvolvendo
trabalhados mais otimizados e focados nos seus territórios e comunidade. Assim como o
alinhamento e fortalecimento da integração ensino e serviço que fornecem um aporte de
profissionais com a formação qualificada e, quando em processo de aprendizado nos cam-
pos de prática, proporcional à transformação dos envolvidos ( aluno-preceptor-tutor)”.
5.9. Telessaúde
183
Oferecida na modalidade prático-aplicativa, com quatro créditos, sua ementa en-
volve os estudos e vivências multiprofissionais e interdisciplinares em cenários de práticas
no SUS, conhecimento e análise do território e dos serviços de saúde, proposição de ações
compartilhadas em saúde a partir das necessidades identificadas na e pela comunidade.
Está organizada na lógica de tutoria, na qual dois docentes de cursos diferentes
acompanham um grupo de oito acadêmicos constituídos de maneira multiprofissional den-
tre os cursos envolvidos, com momentos de concentração com todo o grupo e momentos
de dispersão. A metodologia lança mão de estratégias pedagógicas que apostam nas estra-
tégias de investigação-ação e de problematização; organização de atividades estruturadas
por projetos; delimitação de análise e intervenção, a partir do diálogo com a comunidade;
focalização em diversas temáticas: famílias, políticas públicas, instituições que podem com-
por e fortalecer as redes de atenção à saúde; visitas, observações, seminários, oficinas e
avaliação por portfólio-webfólio.
A fonoaudiologia participa desde a concepção da disciplina e, semestralmente, um
docente e quatro vagas são disponibilizadas. A disciplina permite a discussão sobre os ce-
nários de prática da APS, a experiência de metodologias ativas de ensino-aprendizagem
para grandes grupos, com práticas colaborativas que incentivam a educação interprofissio-
nal (EIP)44-,48.
184
No ano de 2011 foi desenvolvido um trabalho de conclusão de curso na Fonoau-
diologia com temática que reflete a participação de monitores no PET-Saúde da Família
e em 2012, três trabalhos de conclusão de curso com a temática da saúde coletiva e que
refletem, em alguma medida, o impacto da inserção do curso no programa. Destes, dois
enfocam a prevalência de aleitamento, a formação da equipe e a abordagem comunitária,
com a díade mãe-bebê.
Outro trabalho, de Silva (2012), explorou a percepção dos profissionais dos servi-
ços quanto à atuação fonoaudiológica nas unidades, por meio do PET-Saúde da Família.
Os relatos apontam referência a temáticas inerentes ao trabalho do fonoaudiólogo, à im-
portância do trabalho deste profissional34. Os profissionais relataram que, por meio do PET-
-Saúde, tiveram seu primeiro contato com a Fonoaudiologia, sendo de extrema importância
as atividades de apresentação sobre a profissão, desenvolvidas pelos grupos de alunos, a
fim de ampliar a visão sobre o fazer fonoaudiológico.
“Tive contato com a fono pela bolsa do PET, pelas meninas que fizeram um tra-
balho bem legal com a gente aqui, participaram, então a gente pode ter um contato mais
frequente com a fono”. (Relato de um profissional médico). “O primeiro contato que eu tive
foi no Pet Saúde”. (Relato de um profissional dentista).
“Foi praticamente o primeiro contato com a fono pelo PET, infelizmente durante a
residência não tive, porque o programa não possuía ainda né” (Relato de um profissional
médico).
Ao definir a palavra Fonoaudiologia os profissionais participantes do programa des-
tacaram a importância do fonoaudiólogo e demonstraram o conhecimento de várias áreas
da profissão, porém, ressaltaram as questões relacionadas à fala, principalmente em crian-
ças. Alguns relatos evidenciaram a importância do fonoaudiólogo também na Saúde da
Família :
“Porque os outros profissionais não tem que ter na ESF? claro tem o NASF agora
né... tem uma luz no fim do túnel, mas acho que tem muito que caminhar ainda... a estra-
tégia poderia oferecer muito mais pra comunidade do que ele oferece hoje, em todos os
serviços...” (Relato de um profissional agente comunitário de saúde).
185
gente acaba também, às vezes fica só muito focado na questão do serviço e não se pensa
nesses dispositivos sociais. [...] o estágio poderia cumprir esse papel, de poder articular os
serviços com esses dispositivos. Pelo menos no PET eu percebi que ainda há um distan-
ciamento do que há lá fora com o que há no serviço. [...]”
“A saúde coletiva deveria ser transversal à toda formação para que um perfil real-
mente generalista e preocupado com as necessidades de saúde da população fosse cons-
truído no processo. Muito do que sei hoje sobre saúde coletiva e do posicionamento crítico
e proativo deve-se a atividades não-obrigatórias, como a disciplina EaD, eventos e o PET-
-Saúde”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
186
a dimensão populacional envolvida (a área da saúde representa cerca de 10% da comuni-
dade acadêmica) e a manutenção da qualidade dos serviços prestados na tríade ensino,
pesquisa e extensão, mesmo diante da franca expansão proposta.
Pensar a integração com o serviço, bastante fragilizado na época de início do curso,
se configurava um outro desafio para todas as categorias profissionais envolvidas. Viven-
ciou-se importantes mudanças na gestão municipal, a ampliação da RAS e da participação
popular. No caso da Fonoaudiologia, com poucos profissionais contratados, todos há mais
de 13 anos em serviço, apenas um permaneceu no cenário de prática proposto. A amplia-
ção de profissionais, que passaram a integrar o NASF foi um grande avanço, mas em 2018
houve nova reconfiguração e a tendência de a Fonoaudiologia foque a atuação assistencial
ambulatorial, por conta da demanda.
O curso de Fonoaudiologia, com gestão compartilhada entre duas unidades aca-
dêmicas, ingresso de docentes egressos de universidades privadas, do serviço, de outros
estados e realidades diversas, todos debutantes nesta academia, também é um fator que
merece análise específica. A opção pela participação em todas as instâncias possíveis,
ainda que não seja uma oportunidade a todo o corpo docente, é uma condição fundamen-
tal, que foi apoiada pelo coletivo no início e se configurava como uma possibilidade viável.
Contudo, por ser um grupo relativamente pequeno e com muitas atribuições administrativas
internas na unidades e no HCPA, atividades de ensino, pesquisa e extensão, que incluem
todas as atividades descritas, essas articulações têm sido comprometidas.
Como perspectivas, configura-se o envolvimento da comunidade acadêmica para
a reflexão quanto ao perfil do egresso e composição do currículo, em reestruturação. A vi-
vência das propostas do PRÓ-Saúde e PET, permitem uma ampliação do escopo da atua-
ção profissional, em consonância com a realidade da população, com as políticas públicas
vigentes e os serviços implantados no município.
Os desafios apontam para um maior envolvimento do conjunto do corpo docente, a
integração intradisciplinar, intercursos e destes com os diferentes profissionais do serviço,
incluindo as residências. No caso da Fonoaudiologia, a expansão e redimensionamento da
rede de atenção é uma necessidade e está ocorrendo na parceria com as IES, que com-
põem grupos de trabalho voltados principalmente para a estruturação de políticas públicas
para o apoio à APS, à reabilitação de pessoas com deficiência, a gestão e educação per-
manente.
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47 Reis RA, Bonamigo AW, Tittoni J. Redesenhando A Cidade: Modos De Viver E(M) Risco. Summary of
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de Saúde Pública; 2016. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/149746/000994256.
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48 Ely LI, Toassi RFC. Integração entre currículos na educação de profissionais da Saúde: a potência para
educação interprofissional na graduação. Interface (Botucatu) [Internet]. 2018 [cited 2019 Sep 02] ;
22(Suppl 2): 1563-1575. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
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violência. ABCS Health Sci. 2015; 40(3):343-347. Disponível em: DOI:http://dx.doi.org/10.7322/abcshs.
v40i3.819
50 Brasil. Ministério da Saúde. Educação e Práticas Interprofissionais na Temática da Vulnerabilidade e
Violência: Experiências na Residência Multiprofissional em Saúde da Criança no Hospital Materno-
Infantil Presidente Vargas. Laboratório de Inovação em Educação na Saúde com ênfase em Educação
Permanente Ministério da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde / Organização Mundial
Saúde no Brasil. – Brasília : Ministério da Saúde; 2018. Disponível em: https://apsredes.org/wp-content/
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51 Leone MH. Cenas Do Sistema Único De Saúde: Reflexões Da Residência Multiprofissional Em Saúde
A Partir De Narrativas. [Trabalho de conclusão de curso de especialização/residência]. Universidade
Federal do Rio Grande do Sul/Hospital Materno Infantil Presidente Vargas, Porto Alegre: UFRGS; 2013.
52 Wüppel C. Percepções e trajetórias dos acadêmicos de Fonoaudiologia: olhares para a formação e a
saúde coletiva. [Trabalho de Conclusão de Curso] Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto
de Psicologia. Faculdade de Odontologia. Curso de Fonoaudiologia. Porto Alegre; 2012.
53 Gonçalves, GG. Construção de trajetória(s) de formação em saúde : relato de experiência [Trabalho de
Conclusão de Curso] Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia. Faculdade de
Odontologia. Curso de Fonoaudiologia. Porto Alegre; 2014.
54 Freitas FS. Demanda fonoaudiológica no Distrito Glória/Cruzeiro/Cristal [Trabalho de Conclusão de
Curso] Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Psicologia. Faculdade de Odontologia.
Curso de Fonoaudiologia. Porto Alegre; 2015.
191
Capítulo 14
PET-Saúde 1 e 2 na UFPE
192
Residência em Medicina da Família e Comunidade da UFPE e um residente da Residência
Multiprofissional em Saúde Coletiva.
No NEC foram discutidas todas as ações de EXTENSÃO desenvolvidas no projeto,
além de avaliados e aprovados os projetos de PESQUISA desenvolvidos no PET-Saúde da
UFPE. Também como, incentivada a discussão das transformações no ENSINO dos cursos
de graduação em saúde impulsionadas pela experiência PET-Saúde da UFPE.
Todas as atividades do projeto proporcionaram a elaboração de um material ri-
quíssimo que foi apresentado em formato de capítulos, resumos e relatos organizados
em um livro.
O livro PET-SAÚDE UFPE – EXTENSÃO, PESQUISA E ENSINO foi elaborado
com o objetivo de apresentar para a sociedade e a academia toda a produção gerada pelas
estas atividades. Dividido em cinco partes. Na Parte I são apresentadas as experiências
de EXTENSÃO desenvolvidas pelos alunos monitores supervisionados pelos preceptores
e tutores. Na Parte II são apresentados os resultados das PESQUISAS. Na Parte III foram
incluídas as experiências consideradas transformadoras no ENSINO dos diferentes cursos
de graduação da UFPE. Existem ainda resumos de pesquisas na PARTE IV e relatos de
outras experiências n PARTE V.
Esta foi a forma encontrada para compartilhar e divulgar a fantástica experiência
PET-Saúde da UFPE para a vida acadêmica, profissional e comunitária de mais de 450
integrantes do projeto.
PET-Saúde 3 na UFPE
193
Essa nova realidade promoveu à ciência fonoaudiológica, antes de uma mudança
de direção, uma ampliação da visão e atuação do fonoaudiólogo, o que lhe conferiu maior
inserção e eficiência na promoção e prevenção da saúde e, consequentemente, melhores
resultados terapêuticos.
Além disso, por ser o Brasil um país de dimensões continentais, torna-se cada vez
mais evidente que o profissional, cujas práticas em saúde estiverem longe do novo conceito
apresentado pelas políticas públicas vigentes, estará fadado ao desaparecimento.
No entanto, esse processo ainda está longe de se estabelecer de maneira satisfa-
tória, devido ao conceito entranhado e limitado de que saúde é “não-doença” e, também,
pela prática do atendimento clínico individual, que acompanham o histórico da Fonoaudio-
logia no Brasil. Por isso, faz-se necessária a inclusão, na formação do graduando na área,
de conceitos e práticas, sob esse novo olhar da Saúde, para que o mesmo tenha subsídios
para uma atuação coerente às necessidades da população.
Nesse contexto, o Curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernam-
buco (UFPE), no ano de 2010, concluiu sua Reforma Curricular, ajustando-se à nova rea-
lidade de saúde no país, tomando como fontes norteadoras o Projeto Político Pedagógico
Institucional da UFPE, as Diretrizes Curriculares e os programas REUNI, Programa Nacio-
nal de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (PRÓ-Saúde) e do Programa de
Educação para o Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), incluindo em sua grade mais disci-
plinas voltadas à formação em saúde coletiva, com o objetivo de contribuir com a socieda-
de, oferecendo-lhe um profissional inserido na construção da justiça, igualdade e emanci-
pação social em saúde (Projeto Pedagógico do Curso de Fonoaudiologia da UFPE, 2010).
Antes, porém, da implantação do novo currículo, o aluno do curso pôde experien-
ciar, desde 2009, a prática no PET-Saúde da UFPE, o que proporcionou mudanças pes-
soais nos graduandos participantes e no próprio grupo. Tais mudanças podem ser observa-
das nos relatos de experiências dos estudantes bolsistas e voluntários
A oportunidade de vivenciar o contexto prático de saúde levou ao graduando em
Fonoaudiologia uma visão real e mais abrangente do que a base teórica pode lhe oferecer,
o que propicia ao mesmo situações que o estimulam a refletir sobre a heterogeneidade
das demandas sociais, bem como a construir, de maneira criativa, novos modelos de inter-
venção social capazes de transformar a realidade, visando a melhor qualidade de vida da
população.
REFERÊNCIAS
1. Lessa, F. Fonoaudiologia e epidemiologia. In: Ferreira, L. P.; Befi-Lopes, D. M.; Limongi, S. C. O. Tratado
de Fonoaudiologia. São Paulo: Roca, 2004.
2. Curso de Fonoaudiologia da Universidade Federal de Pernambuco. Projeto Pedagógico do Curso de
Fonoaudiologia: Reforma Curricular, 2010.
194
Capítulo 15
1. Introdução
195
Além da articulação entre IES e Serviço entende-se que existe a necessidade do
acadêmico estreitar conhecimentos para além dos saberes, pois só com tal estreitamento,
haverá o diálogo entre vários conhecimentos, cada um complementando o outro e amplian-
do a visão para além do corpo físico3.
Ao iniciar o projeto para submissão ao Pró-Saúde I, em seguida com o projeto do
Pró-Saúde II e III, os responsáveis pela elaboração dos mesmos pautaram-se nos três ei-
xos de formação, cada qual com três vetores, possibilitando a análise da situação real de
seus cursos, da formação oferecida na época e da situação desejada baseada na imagem
objetiva a ser alcançada.
Foram considerados como critérios na análise das propostas enviadas, o tratamen-
to equilibrado dos três eixos: 1. orientação teórica, 2. cenários de prática e 3. orientação pe-
dagógica. Considerou-se, então, a clareza na abordagem conceitual (determinantes sociais
do binômio saúde-doença) e esquema curricular; a clara possibilidade de articulação com o
serviço de saúde; a orientação quanto à regulação e sistema de referência; a possibilidade
de compartilhar orçamento (Escola e Serviço); a integração do Hospital Ensino nas redes
de serviço; e a indicação de parâmetros de avaliação.
Ao apresentar nova proposta para o Pró-Saúde III partiu-se do pressuposto de que
os mesmos critérios deveriam nortear de forma macro as diferentes vinculações entre as
Instituições de Ensino Superior e os Serviços ampliando-se, entretanto, os níveis de com-
plexidade e de referenciamento na rede de atenção inserindo, por sua vez, a pesquisa.
196
Tal interdisciplinaridade pode ser observada no desenvolvimento de pesquisas in-
tegradas, nos trabalhos e ações realizadas por acadêmicos de diferentes cursos, comun-
gando diversificadas áreas de formação profissional, integrando conhecimento básico com
conhecimentos específicos e possibilitando a flexibilização curricular, por meio da organi-
zação e oferta de disciplinas nos cursos. A relação entre discentes e docentes ficou, assim,
mais ajustada. Foram realizados diversos eventos, tais como seminários, cursos, palestras,
rodas de conversa (Tabela 1) e publicações integradas culminando com o livro “Universida-
de e serviços de saúde: interfaces, desafios e possibilidades na formação profissional em
saúde”, publicado no final de 2011; com efetiva participação da comunidade acadêmica do
curso de Fonoaudiologia.
Tabela 1. Eventos realizados pelo Pró-Saúde PUC Minas.
Tema Data
Panorama SUS BH - NASFs e Política de Formação de Recursos Humanos 01/12/08
I Seminário: Atenção Básica 01/03/09
Apresentação das propostas do PRÓ-SAÚDE 22/06/09
II Seminário: visitas técnicas nas Unidades Básicas de Saúde. 05/09/09
Modelo de assistência e integralidade - clínica ampliada 14/09/09
I Mostra de Integração Ensino-Serviço do Pró-Saúde - PUC Minas 22/09/09
Concepções de participação em práticas grupais de promoção da saúde 20/10/09
Matriciamento e gestão do trabalho 26/10/09
Políticas Públicas no campo da Saúde e Saúde do Trabalhador: 20 anos de SUS e MLA 27/10/09
Experiências do Pró Saúde I 06/11/09
Experiência com Educação para a Saúde no Pro Saúde I 24/11/09
Educação em saúde 26/11/09
Integração de saberes e metodologias participativas: desafios para a formação em saúde 27/11/09
Seminário Pró - Saúde 09/12/09
Neurociência do aprendizado 10/12/09
Conferência de Saúde Mental da Distrital Norte e Nordeste 01/03/10
CRAS e cuidadores familiares em parceria com UBS. 11/03/10
Atenção primária em saúde 23/03/10
Apresentação do Distrito Barreiro 25/03/10
Política Nacional de Humanização 08/04/10
Plenária sobre Formação e saúde mental na ESPMG 14/04/10
A experiência da Escola de saúde Pública de Minas Gerais. 16/04/10
Núcleo de Apoio a Saúde da família – NASF 22/04/10
Educação Popular, Educação em saúde, Metodologias participativas 01/06/10
Jornada de Fonoaudiologia - Experiências do Pró saúde II 14/06/10
Papel do serviço na formação profissional 21/06/10
Método Neuro Evolutivo Bobath – abordagem atual em Neurologia 22/06/10
I Mostra Pró saúde – PET/ UFMG 20/08/10
Saúde Mental, álcool e droga. 26/08/10
Congresso Mineiro de Epidemiologia/Tenda Paulo Freire 08/09/10
O cuidado em rede 09/09/10
II Semana de Arte, Ciência e Política 13/09/10
Humanização em saúde 17/09/10
Saúde do Trabalhador 20/10/10
Saúde Mental e atenção primária a saúde. 27/10/10
I Colóquio Internacional Quotidiano e Saúde 09/11/10
Fórum Integrado de Cuidado Paliativo 24/11/10
Clínica Ampliada 06/12/10
Oficina projetos de saúde 18/03/11 197
I Semana de Integração: Saúde, Meio Ambiente e Educação 27/04/11
Humanização em saúde 17/09/10
Saúde do Trabalhador 20/10/10
Saúde Mental e atenção primária a saúde. 27/10/10
I Colóquio Internacional Quotidiano e Saúde 09/11/10
Fórum Integrado de Cuidado Paliativo 24/11/10
Clínica Ampliada 06/12/10
Oficina projetos de saúde 18/03/11
I Semana de Integração: Saúde, Meio Ambiente e Educação 27/04/11
Indicadores urbanos para o planejamento municipal: tendências e desafios 28/10/11
Redes de atenção 04/11/11
Saúde da mulher 17/08/12
VETOR 6 Integração dos serviços próprios das IES com os serviços de saúde
198
Em relação ao Eixo I - Orientação Teórica, o curso de Fonoaudiologia encontra-
-se, no vetor 1, estágio III, ou seja, entende-se que o mesmo dedica importância equiva-
lente aos determinantes de saúde e da doença, procurando, tanto na abordagem do co-
nhecimento teórico, como em sua aplicação assistencial, manter a adequada articulação
biológico-social, exceto no que diz respeito a evidência “b”, uma vez que ainda deve-se
avançar na interação e diálogo frequente entre os docentes de disciplinas biológicas, clí-
nicas e sociais. Analisando o curso em relação ao vetor 2 infere-se que ele se encontra
no estágio II, o que significa dizer que, embora pequena, há produção de investigações
relacionadas à atenção básica ou com a gestão do SUS. Observa-se proporção pequena
de pesquisas orientadas à atenção básica em interação com o serviço de saúde e suas
necessidades, embora avanços na área sejam nítidos. Em relação ao vetor 3, o curso
de Fonoaudiologia encontra-se no estágio I, com oferta exclusiva de especialidades e
ausência de oferta de especialização em atenção básica e de educação permanente aos
profissionais da rede do SUS.
Quanto ao Eixo II – Cenário de Práticas, o curso encontra-se no estágio II, com
alguma articulação da programação teórica com a prática dos serviços de saúde, em pou-
cas áreas disciplinares, predominantemente na atenção de caráter curativo. A ampliação
da participação dos alunos nas unidades básicas contribuiu para avanços nesta área, mas
deve-se considerar que a atuação profissional em campo não difere muito da assistência
aplicada nas clínicas internas, porém várias atividades de promoção de saúde têm sido
realizadas nos Centros de Saúde (CS). Quanto ao vetor 5, o curso está enquadrado no
estágio II, visto que há atividades extramuros isoladas de acadêmicos em unidades do
SUS, durante os primeiros anos do curso, com a participação exclusiva ou predominante
de professores da área de saúde coletiva, correspondendo a um percentual médio da carga
horária semanal do aluno. No vetor 6 o curso enquadra-se no estágio II, isto é, seus servi-
ços são parcialmente abertos ao SUS, preservando algum grau de autonomia na definição
dos pacientes a serem atendidos.
Em relação ao Eixo III – Orientação Pedagógica a atividade do curso pode ser en-
quadrada, majoritariamente, no estágio II, ou seja, algumas disciplinas de aplicação clínica
do curso proporcionam oportunidade para análise crítica da organização do serviço. Obser-
va-se que a formação nas áreas assistenciais se desenvolve com uma abordagem indivi-
dual dos problemas de saúde, normalmente focado na alteração ou em ações preventivas.
O papel integrador e vinculador previsto no currículo para a atuação nas unidades básicas
de saúde, normalmente reduz-se a um reforço da prática clínica hegemônica, individual
e curativa, mas está ampliando-se para a promoção e prevenção da saúde. No vetor 8, o
curso encontra-se no estágio II, uma vez que existem disciplinas e atividades integradoras,
ao longo dos primeiros anos, em algumas áreas. Acontece, no entanto, grande esforço no
sentido da integração entre os ciclos básico e profissional em todos os períodos do curso.
Esse processo teve início por meio de visitas técnicas, que ocorrem durante toda a forma-
ção do aluno.
199
família e nos centros de reabilitação nos níveis primário e complementar de atenção à saú-
de. Além disso, busca a capacitação do discente para desenvolver ações educativas e de
promoção e proteção à saúde, bem como ações de reabilitação na rede básica de saúde
e desenvolvimento de habilidades técnicas de cuidados nas áreas de atenção à saúde da
criança, da mulher, do adulto e do idoso. Para tal, são oferecidas ao aluno as seguintes
possibilidades:
Todas as ações são realizadas após reuniões com o fonoaudiólogo do NASF e com
o gerente do Centro de Saúde. Nestas reuniões são discutidas as demandas, elaborados
os cronogramas e eleitos os alunos responsáveis para cada projeto. Vários projetos estão
sendo desenvolvidos pela comunidade acadêmica nos Centros de Saúde. Descreve-se em
200
seguida projetos em andamento e/ou projetos finalizados realizados nos Centros de Saúde
e respectivos entornos.
201
Projeto Visitando as Escolas:
Objetivo: Divulgar a Fonoaudiologia; prevenir as alterações vocais. Prevenir altera-
ções da comunicação oral.
Metodologia: a cada início do semestre os acadêmicos do Curso de Fonoaudiologia
telefonam, enviam e-mail ou vão às escolas próximas dos Centros de Saúde para apresen-
tarem o projeto e suas duas vertentes: a) Entendendo as dificuldades do meu aluno e b)
Fonoaudiologia e o adolescente: vamos comunicar melhor?
202
ii. Folhetos
iii. Decibelímetro
iv. Jogo Mitos e Verdades
b.2. Saúde Vocal
b.2.1 Voz: como é produzida
b.2.2 Prevenção dos prejuízos (rouquidão, ambiente ruidoso, cigarro, bebida)
b.2.3 Como evitar prejuízos
b.2.4 Instrumentos utilizados:
i. Peça – Laringe
ii. Folhetos
iii. Jogo Mitos e Verdades
203
Outra proposta é a presença do “aluno coringa”. Este aluno, pelo menos uma vez
ao semestre, acompanha outros trabalhadores dos CS. Atua e participa das atividades
diárias dos Centros de saúde – Acolhimento, Vacinação, Odontologia – ou ainda de outros
setores do interesse das partes envolvidas.
Além destas atividades, o estudante tem oportunidade de participar de grupos de
discussão com os estagiários de Fisioterapia em conjunto com professores dos cursos
de Fisioterapia e Fonoaudiologia, realiza visitas domiciliares juntamente com a equipe do
NASF, participa nas diversas reuniões do NASF, discute casos clínicos, elabora materiais
diversos, assim como relatórios, além de planejar ações a serem realizadas.
4.CONSIDERAÇÕES FINAIS
204
orquestrada os objetivos do Pró-Saúde. Entende-se que este cenário de estágio oferece
ao estudante, além de conhecer mais profundamente como funciona o Sistema Único de
Saúde brasileiro, a possibilidade de viver uma realidade diferente, sendo que ele terá que
desenvolver a capacidade de trabalhar em grupo, de integrar seus conhecimentos com os
de outros profissionais, de realmente compreender os princípios da universalidade, integra-
lidade e equidade. Além disto, poder auxiliar o fonoaudiólogo do NASF e a população assim
como poder prevenir alterações da comunicação, possibilita ao acadêmico pensar como
um cidadão participativo. Mais do que estar atuando em outro cenário, a responsabilidade
da IES é de transformar este cidadão que está formando em um cidadão crítico, criativo,
ético, responsável, senhor de suas ideologias e aberto às críticas.
Apesar da riqueza da experiência, obviamente que alguns problemas são enfrenta-
dos e trabalha-se em conjunto para superá-los. Pode-se citar como dificuldades ou enfren-
tamentos os seguintes tópicos:
Apesar destas dificuldades, é certo que os pontos positivos são maiores do que os
negativos. É esta certeza que nos possibilitou continuar no programa, acreditando que o
estudante que passou por esta experiência vai ser no futuro um profissional diferenciado.
REFERÊNCIAS
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Reorientação da Formação do Profissional em Saúde. Brasília: Ministério da Saúde. Ministério da
Educação, 2005. [cited 2012 Set 27] Avaiable from: http://www.prosaude.org/.
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Epidemiologia e da Medicina Social. Interface (Botucatu) [Internet]. 2001 Feb [cited 2020 Feb 17];
205
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6. Barros CGC, Britto DBO, Santos KL. In: Kind L, Barbosa CB, Gonçalves L. Universidades e serviços de
saúde: interfaces, desafios e possibilidades na formação do profissional de saúde. Belo Horizonte: Ed.
PUC Minas; 2011.
206
Capítulo 16
INTRODUÇÃO
207
instrumentos de gestão e os processos de regionalização, para deste modo aprimorar os
processos de trabalho e organizar os fluxos assistenciais.
A Regulação em Saúde é um instrumento de gestão, que busca ordenar o acesso
à assistência e garantir a melhor resposta assistencial de acordo com as necessidades da
população (Lima et al, 2013). Os complexos reguladores, além de buscar responder aos
princípios do SUS, por meio de uma resposta eficiente e qualificada às necessidades de
saúde da população, utilizando-se de protocolos, classificação de risco, entre outros, tam-
bém se tornam uma central de informações epidemiológicas considerando que, um olhar
sobre as solicitações recebidas para serem reguladas, podem evidenciar as necessidades
dos serviços de saúde (Brasil, 2006; Brasil, 2008; Barbosa, Barbosa e Najberg, 2016).
No Programa de Residência Multiprofissional em Atenção Integral à Saúde da
FMRP-USP, os fonoaudiólogos residentes realizam estágio no Complexo Regulador do
município. Neste ambiente de práticas, têm a oportunidade de compreender e visualizar
a rede como um todo: suas demandas, fragilidades e potencialidades. A análise crítica da
oferta de serviços em Fonoaudiologia, principalmente das demandas reprimidas, contri-
buem para o desenvolvimento de competências em gestão, despertando o olhar para as
mudanças necessárias para uma assistência mais equanime, integrada e humanizada. Se-
gundo Mandrá (2016), para definir o fluxo da demanda para determinado serviço e/ou linha
de cuidado é preciso reconhecer a demanda e a oferta de serviços em diferentes unidades
regionais. Além disso, é essencial pactuar o protocolo de regulação com critérios eletivos
objetivos (Mandrá, 2016).
Apesar da importância de pesquisas que analisem o complexo regulador de um
município, bem como o fluxo de referência e demandas encaminhadas para a área de
Fonoaudiologia, a literatura é escassa e tem apresentado as demandas particulares de
cada serviço (Cesar e Maksud, 2007; Costa e Souza, 2009; Diniz e Bordin, 2011; Mandrá
e Diniz, 2011; Longo et al, 2017; Molini-Avejonas et al, 2018). No entanto, uma visão sobre
o fluxo e demandas de municípios não foi encontrada.
Diante disso, realizou-se um estudo com o objetivo de compreender as caracterís-
ticas das demandas fonoaudiológicas de um serviço de regulação de Fonoaudiologia no
interior do estado de São Paulo, bem como as unidades solicitantes, os profissionais que
encaminharam, as unidades referenciadas e o desfecho. O conhecimento das demandas
encaminhadas, bem como do fluxo de referência, auxilia no processo de gestão, bem como
na construção de programas de cuidado.
208
unidades de atendimento primário à saúde, conta com uma Unidade Básica Distrital de
Saúde (UBDS), que oferece atendimento básico e serve como referência para algumas
especialidades para aquele distrito, como é o caso da Fonoaudiologia. Atualmente, o aten-
dimento fonoaudiológico está sendo realizado em apenas duas UBDS nos distritos Oeste e
Leste e uma UBS no distrito Norte.
Além das UBDS, há atendimento fonoaudiológico em unidades especializadas
como o Centro Especializado em Reabilitação Dr. Jayme Nogueira Costa (NADEF), que
compõe a rede municipal, o Centro Integrado de Reabilitação do Hospital Estadual de Ri-
beirão Preto (CIR-HERP) e o Centro Especializado em Reabilitação (CER) ligados ao Hos-
pital de Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, que é uma autarquia estadual
vinculada à Secretaria de Estado da Saúde. Por fim, conta também com atendimentos na
organização social Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE), cadastrada
como Centro Especializado em Reabilitação, modalidade III.
Em Ribeirão Preto, a fim de auxiliar a gestão, foi instituído em 2005 o Complexo
Regulador Municipal, que se converte em uma medida de grande impacto para efetivação
do cuidado à saúde (Prefeitura de Ribeirão Preto, 2019a):
(...) Foram adotadas medidas de ação regulatória que permitem
que o gestor tenha uma visão ou leitura das possíveis ações de impac-
to, que efetivamente adequem o modelo de atenção à saúde às neces-
sidades do usuário, que viabilize que a gestão pública institua melhor
controle do acesso dos serviços ofertados e também uma aplicação
eficiente dos recursos e, consequentemente, implemente ações que
revolucionem, que modifiquem e que qualifiquem o SUS.
209
A regulação em Fonoaudiologia está organizada de modo a receber encaminha-
mentos em duas especialidades, sendo: “Audiologia” a especialidade destinada a receber
pedidos de exames audiológicos diversos e a “Fonoaudiologia”, todas as demais demandas
fonoaudiológicas.
No período delineado por este estudo existiam cerca de 2034 encaminhamentos
recebidos pela regulação na especialidade “Fonoaudiologia”. Contudo, os pesquisadores
optaram por interromper a coleta com 851 encaminhamentos coletados em função da sa-
turação de respostas.
Após estabelecer no sistema o período pretendido de coleta, os pesquisadores
analisaram individualmente cada encaminhamento, selecionando as seguintes informa-
ções: número Hygia, idade na época do encaminhamento, unidade solicitante, demanda
apresentada, profissional que encaminhou, unidade para qual o usuário foi referenciado, e
desfecho (autorizado, agendado, atendido ou indeferido). Para conhecer a especialidade
do profissional que realizou o encaminhamento, os pesquisadores acessaram a página do
Cadastro Nacional dos Estabelecimentos de Saúde (CNES).
No que se refere à demanda apresentada, a análise se deu por três etapas: 1ª)
Na primeira etapa, caracterizada como qualitativa, foi escrito na íntegra, numa planilha do
Excel, o motivo do encaminhamento realizado. 2ª) Na segunda etapa, o texto escrito foi
substituído pelos pesquisadores por palavras-chave e/ou área que justificavam o pedido do
encaminhamento. 3ª) Na terceira etapa, foram criadas categorias de respostas a partir das
palavras-chave e áreas mais frequentes, sendo que cada indivíduo foi classificado como
tendo ou não determinada demanda.
As categorias criadas foram: Fala, Linguagem Escrita, Linguagem Oral, Degluti-
ção, Frênulo, Motricidade Orofacial, Gagueira, Distúrbio do Processamento Auditivo Central
(DPAC), Transtorno do Espectro Autista (TEA), Síndromes-Fissuras Lábio Palatinas e Aci-
dente Vascular Cerebral (AVC).
● Considerou-se como tendo demanda de “Fala”, os casos nos quais os solicitantes referiram
que o usuário apresentava atraso de fala, trocas fonéticas-fonológicas e fala com posiciona-
mento incorreto dos articuladores.
● Na “Linguagem Escrita”, essa demanda foi considerada a partir de relatos de desempenho
escolar incompatível com o esperado, dificuldades no processo de aquisição da leitura e
escrita e presença de trocas de grafemas na escrita e/ou leitura.
● Na “Linguagem Oral”, foram agrupados encaminhamentos nos quais os solicitantes referi-
ram dificuldades do paciente em organizar enunciados nos aspectos lexicais, sintáticos e
semânticos, bem como em compreender o discurso.
● Na categoria “Deglutição” foram consideradas queixas sobre engasgos, dificuldade de suc-
ção, perda de peso, odinofagia, entre outros.
● Em relação às demandas classificadas como “Frênulo” foram agrupadas encaminhamentos
que referiram anquiloglossia, alteração de frênulo, frênulo espesso, língua presa e os que
mencionaram o teste da linguinha.
● Na “Motricidade Orofacial” considerou-se queixas relativas às alterações musculares no sis-
tema estomatognático, hábitos deletérios com repercussões funcionais e acompanhamento
pós intervenção ortodôntica.
● “Gagueira e outras alterações de fluência”, apesar de comporem alterações de fala, foram
agrupadas em uma categoria própria em decorrência da frequência de aparecimento.
● Em relação às demandas da categoria” Voz”, foram considerados relatos de disfonia, como
rouquidão, e sintomas cinestésicos como cansaço vocal nas diversas faixas etárias. Além
disso, estiveram presentes solicitações de terapia vocal após procedimentos cirúrgicos.
210
● Na categoria “Distúrbios do Processamento Auditivo Central (DPAC)” foram agrupadas soli-
citação de terapia e/ou treinamento em cabine. Nesta categoria, não estão pedidos de rea-
lização de Teste do Processamento Auditivo Central, visto que estes são regulados através
da especialidade “Audiologia”.
● Além disso, “Síndromes-Fissuras”, “Transtorno do Espectro Autístico (TEA)” e “Acidente
Vascular Cerebral (AVC)” também constituíram categorias à parte, devido a sua frequência
de ocorrência.
● Por fim, na categoria “Outras Demandas”, foram agrupados casos com outros relatos menos
frequentes, como: zumbido, tontura e reabilitação vestibular.
Grupos etários
Recém Nascido (até 30 dias) 13 01,5
Bebês (1 mês - 2 anos) 82 09,6
Crianças* (2 anos e 1 mês- 12 anos) 543 63,8
Adolescentes* (13 - 18 anos) 84 09,9
Adultos (19 a 59 anos) 55 06,5
Idosos (60 anos ou mais) 74 08,7
*A classificação de Crianças e Adolescentes foi baseada no Estatuto da Criança
e do Adolescente (FONTE) BRASIL, 1990.
211
et al, 2017; Oliveira, 2017; Molini-Avejonas et al, 2018). Esse fato pode ser explicado pela
diferença entre os sexos no processo maturacional das áreas cerebrais da linguagem, res-
ponsáveis pelo desenvolvimento de habilidades fonológicas e semânticas. Nos meninos,
esse processo ocorreria de forma mais lentificada (Hage e Faiad, 2005).
A distribuição das demandas encaminhadas por grupos etários (Tabela 1) reforça
que as desordens na comunicação podem acometer todas as idades. No entanto, a maior
demanda para a avaliação e/ou seguimento na Fonoaudiologia tem sido composta por
crianças (69%). Esse achado também foi percebido por outros estudos (Cesar e Maksud,
2007; Costa e Souza, 2009; Peixoto et al, 2010; Diniz e Bordin, 2011; Longo et al, 2017;
Oliveira, 2017; Molini-Avejonas et al, 2018).
A literatura sugere que há um maior predomínio de alterações fonoaudiológicas
na infância, tendo em vista que nesse período ocorre a aquisição e o desenvolvimento da
linguagem, bem como as experiências no universo escolar (Costa e Souza, 2009). Esses
dois fatores favorecem um aumento das interações sociais o que, consequentemente, gera
maior atenção e cobrança quanto ao desempenho da linguagem oral e da aprendizagem
(Peixoto et al, 2010).
Conforme pode ser visualizado, as Unidades Básicas de Saúde são as que mais
encaminham para o profissional fonoaudiólogo. Este achado reflete primeiramente a orga-
nização do cuidado em saúde, no qual a atenção primária é ordenadora do cuidado e prin-
cipal entrada para o sistema, disposta em unidades de referência geografica e socialmente
definidas.
Dos encaminhamentos (851), 84,5% foram feitos por médicos e 15% por não mé-
dicos, sendo que destes, mais da metade (58%) foram feitos por fonoaudiólogos. A Tabela
3 apresenta, de forma mais detalhada, as especialidades que realizaram encaminhamen-
tos para atendimento fonoaudiológico. Foram agrupados na categoria “Outra especialidade
médica” encaminhamentos realizados por nefrologistas, ginecologistas, geriatras, psiquia-
tras e cirurgiões clínicos.
212
Tabela 3. Especialidades que realizaram encaminhamentos para atendimento fo-
noaudiológico.
Especialidade Número absoluto Número relativo (%)
Pediatra 420 49,3
Médico de Família 114 13,4
Neurologista 88 10,3
Fonoaudiólogo 76 08,9
Clínico geral 41 04,8
Odontólogo 23 02,7
Psicólogo 21 02,5
Otorrinolaringologista 38 04,5
Terapeuta Ocupacional 11 01,3
Outras especialidades médicas 19 02,2
No que se refere aos profissionais que mais encaminharam pacientes para aten-
dimento fonoaudiológico, acredita-se que o predomínio de algumas especialidades está
relacionado com a organização do fluxo de encaminhamento estabelecido nos locais estu-
dados.
Foram encontrados na literatura estudos que avaliaram demandas fonoaudiológi-
cas em centros de reabilitação, centros de triagem em hospitais de nível terciário, ambula-
tórios e unidades básicas de saúde (Diniz e Bordin, 2011; Mandrá e Diniz, 2011; Molini-Ave-
jonas et al, 2018). Diniz e Bordin analisaram registros de banco de dados e prontuários de
um centro de saúde de cobertura distrital, no qual o encaminhamento poderia ser feito por
qualquer profissional por meio de ficha de referência e contra referência. Foi observado que
o pediatra foi o profissional que fez o encaminhamento mais frequente. Este achado coin-
cide com o presente estudo no qual a maior parte dos encaminhamentos foi realizada por
pediatras (49,3%), seguido por médicos vinculados à Estratégia Saúde da Família (13,4%).
Em relação ao desfecho dos 851 casos encaminhados, 117 (13,7%) foram indefe-
ridos pelo regulador. Em relação aos encaminhamentos indeferidos, as principais causas
para o indeferimento foram: encaminhamento para especialidade errada (audiologia, neu-
rologia, entre outros) (56%) e já possuir encaminhamento ou seguimento na especialidade
solicitada (28%). Os outros 16% incluem, dentre outros motivos, ausência de atendimento
fonoaudiológico na área solicitada e laudo incompatível.
Conforme pode ser constatado, a porcentagem dos casos indeferidos por “enca-
minhamento para especialidade errada” demonstra que talvez haja um desconhecimento
do protocolo de encaminhamento do município, no que se refere à solicitação de exames
audiológicos, principalmente.
Dos 734 encaminhamentos deferidos, 398 (54,2%) estavam autorizados, 144
(19,6%) agendados e 192 (26,2%) atendidos. Foram considerados “autorizados” os enca-
minhamentos que aguardavam agendamento e posterior atendimento na unidade referen-
ciada. Em relação ao número de “agendados”, este contempla os encaminhamentos que
até o momento da coleta ainda não haviam sido atendidos e, também, os pacientes que
faltaram no dia agendado. Quanto aos “atendidos”, este desfecho se refere apenas aos
pacientes assistidos por unidades que utilizam o Sistema Hygiaweb, como é o caso das
Unidades Básicas Distritais e o CER/NADEF.
213
Neste estudo, no período investigado, o número de usuários agendados ou em
atendimento foi inferior ao número dos que estavam aguardando na fila de espera (autori-
zados). Esse fato denota um problema recorrente nos serviços públicos brasileiros, inclu-
sive na área de Fonoaudiologia. Segundo Oliveira (2017), as grandes filas de espera são
explicadas pelo tipo de atendimento realizado em Fonoaudiologia, geralmente de caráter
individual. Uma das consequências em permanecer na fila de espera é o agravamento do
quadro.
Em relação às unidades referenciadas, foi possível notar que as unidades especia-
lizadas como CER NADEF, CIR, CER e APAE atendem todas as faixas etárias, ao contrário
do que ocorre com as UBS e UBDS do município, que atendem o público infantil.
Um dado que chama a atenção é a ausência de atendimento fonoaudiológico a
adolescentes, adultos e idosos nas UBDS e UBS que dispõem de fonoaudiólogo para aten-
dimento. O atendimento exclusivo à demanda infantil teve início em Ribeirão Preto pelo
Programa de Assistência Primária de Saúde Escolar (PROASE). Nessa época, os fonoau-
diólogos da rede atendiam apenas escolares. Atualmente, apesar da inexistência do progra-
ma, o trabalho continua voltado para a demanda infantil. De acordo com recomendações do
Conselho Federal e dos Conselhos Regionais de Fonoaudiologia (2015), o fonoaudiólogo
é um profissional generalista que, nas UBS e serviços especializados, apresenta ampla
possibilidade de atuação em todas as faixas etárias. Atendendo aos princípios do SUS,
o serviço de Fonoaudiologia deve ser acessível a todos e pautado nas necessidades da
população.
214
Figura 1. Total das demandas encaminhadas para a regulação em Fonoaudiologia
no período investigado.
*AVC: Acidente Vascular Cerebral; **TEA: Transtorno de Espectro Autista; ***DPAC: Desordem do
Processamento Auditivo Central
Em relação à análise das demandas por faixas etárias, verificou-se diferenças esta-
tisticamente significantes entre algumas distribuições, conforme apresentado na Tabela 4.
215
Em relação às diferenças das demandas em função do grupo etário, foi possível
verificar que a demanda de fala foi estatisticamente maior nas crianças quando comparado
com lactentes (p<0,0001), adolescentes (p<0,0001) e adultos (p<0,0001). Nos idosos, a
demanda de fala foi estatisticamente maior quando comparada com lactentes (p<0,0001),
adolescentes (p<0,0002) e adultos (p<0,0003).
A prevalência de suspeitas de alterações de fala em crianças justifica-se pela pró-
pria idade. Na infância, o processo de aquisição da fala e linguagem ocorre de forma gra-
dativa, sendo que é comum os pais e profissionais de saúde apresentarem dúvidas quanto
a esse desenvolvimento (Prates e Martins, 2011). Segundo Diniz e Bordin (2011), há uma
grande expectativa dos pais em relação à aquisição e desenvolvimento da fala. Além dis-
so, na infância pode ocorrer a instalação de hábitos orais deletérios que comprometem o
desenvolvimento saudável das estruturas da face (Rabelo et al, 2011; Gisfrede et. al, 2016;
Pereira, Oliveira e Cardoso, 2017).
O idoso, por sua vez, em função do próprio envelhecimento pode apresentar altera-
ções nas estruturas da cavidade oral, como diminuição do tônus da musculatura de língua
e flacidez dos órgãos fonoarticulatórios, perda de massa óssea, má adaptação de prótese
dentária, com repercussão nas funções estomatognáticas (Reis et al, 2015). Além disso,
doenças adquiridas como demências, escleroses, Doença de Parkinson, Acidentes Vascu-
lares Cerebrais (AVC) podem comprometer o desempenho da função de fala e linguagem
(Moraes et al, 2016).
A demanda de “linguagem escrita” foi estatisticamente maior nos adolescentes
quando comparado crianças (p<0,0001) e adultos (p<0,0001) e nas crianças quando com-
paradas com adultos (p=0,0069). Não houve demanda de linguagem escrita no grupo dos
bebês e idosos.
A demanda de deglutição não esteve presente no adolescente e foi estatisticamente
maior nos idosos quando comparada com lactentes (p<0,0001), com crianças (p<0,0001) e
com adultos (p<0,0001). No adulto, foi significantemente maior que nas crianças (p<0,0001).
Com o avançar da idade, aumentam-se as chances de ocorrência de queixas de degluti-
ção. No idoso, as alterações estruturais decorrentes do envelhecimento, bem como o uso
de próteses dentárias, a ausência de elementos dentários, o uso de algumas medicações,
as doenças degenerativas e sequelas de acidentes vasculares cerebrais (AVCs) podem fa-
vorecer a ocorrência de disfagia (Bigal et al, 2009). Na população adulta, as etiologias que
podem acarretar a presença de disfagia diferem da população idosa, sendo as causas mais
frequentes: esofagite por refluxo, acalásia, tumores benignos, carcinomas, entre outras de-
sordens menos frequentes (Cuenca et al, 2007) .
A demanda relacionada ao frênulo não esteve presente nos idosos e foi
estatisticamente maior nos lactentes quando comparada com crianças (p<0,0001),
adolescentes (p<0,0001) e com adultos (p<0,0001). A maior prevalência de queixas
relacionadas ao frênulo nessa faixa etária justifica-se pelo impacto que uma alteração de
frênulo pode desencadear, sendo facilmente percebida pelos pais e profissionais de saúde.
São esperadas alterações importantes na amamentação e na fala (Gomes, Araújo e Rodri-
gues, 2015).
A demanda de “voz” foi estatisticamente maior nos adultos e idosos quando compa-
rada com lactentes (p=0,0141; p=0,0092, respectivamente), crianças (p<0,0001; p<0,0001,
respectivamente) e adolescentes (p=0,004; 0,0023, respectivamente). Neste estudo, a fre-
quência de casos encaminhados por disfonia foi maior na população adulta e idosa em
relação aos demais grupos etários. Esse achado é concordante com a literatura. De acordo
216
com Souza (2014), os pacientes disfônicos são predominantemente adultos com lesões
decorrentes de nódulo, pólipos e edema de Reinke.
A demanda de gagueira não esteve presente nos lactentes e nem nos idosos, o que
é esperado. A preocupação relacionada à fala ocorre a partir do momento em que a produ-
ção de fala começa a se desenvolver; por outro lado, a busca por tratamento geralmente é
maior até a fase adulta.
A demanda de “DPAC” esteve presente apenas nas crianças e nos adolescentes,
ou seja, no público escolar, o que também é esperado, já que durante o desenvolvimento
da leitura e escrita, quando ocorrem queixas relacionadas a esses aspectos, é comum a
presença de suspeita de falhas no processamento auditivo.
A demanda de “síndromes-fissuras” não esteve presente nos adultos e idosos,
sendo que foi estatisticamente maior nos lactentes quando comparado com crianças
(p=0,0059). De modo geral, a busca por apoio fonoaudiológico em pacientes com síndro-
mes e/ou fissuras tem sido maior em lactentes em função do alto índice de alterações na
motricidade orofacial, principalmente relacionados à fala, à sucção e à deglutição (Silva et
al, 2004; Luiz, 2017). A busca de reabilitação nos primeiros meses de vida é de grande im-
portância, uma vez que com a intervenção em período oportuno espera-se a obtenção de
melhor prognóstico (Gardenal et al, 2011).
A demanda de “Transtorno do Espectro Autista” (TEA) não esteve presente nos in-
divíduos idosos. A busca por atendimento fonoaudiológico para casos de TEA tem ocorrido
para todas as faixas etárias, sendo maior em crianças e adolescentes, provavelmente em
função da maior demanda comunicativa nessas fases da vida. Segundo Santana e Toschi
(2015), as alterações de linguagem nesses indivíduos têm justificado a busca por aten-
dimento fonoaudiológico, de modo a possibilitar uma comunicação mais funcional e com
melhora na interação social.
A demanda de “Acidente Vascular Cerebral” (AVC) esteve presente apenas em
adultos e idosos, sendo que foi estatisticamente maior nos idosos (p=0,0443). De acordo
com o Ministério da Saúde (Brasil, 2019), o AVC é uma doença crônica não transmissível,
adquirida normalmente por hábitos inadequados de vida diária, como consumo de álcool,
sedentarismo, tabagismo. Segundo dados epidemiológicos, a ocorrência de AVC aumenta
em função da idade (Botelho et al, 2016).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
217
a importância das UBS e UBDS contemplarem atendimentos a públicos de outras faixas
etárias. Em relação ao desfecho, a maioria dos casos encaminhados estavam autorizados
(aguardando em fila de espera).
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220
Capítulo 17
221
Criança e do Adolescente e Saúde Coletiva: ênfase em Saúde e Trabalho. O Programa
oferece atualmente 17 vagas, distribuídas conforme apresentado no Quadro 1. Em con-
sonância com a orientação Ministerial o programa tem 5760 horas, distribuídas em dois
anos, com 60 horas semanais. As disciplinas, subdivididas em teóricas, teórico-práticas e
práticas, visam formar profissionais para atuação no SUS.
Saúde da Criança e do
2
Adolescente
Saúde da Criança e do
2
Adolescente
Saúde do Adulto e do
Fisioterapia 2 6
Idoso
Saúde da Criança e do
1
Adolescente
Saúde do Adulto e do
Terapia Ocupacional 2 5
Idoso
TOTAL 17
222
Quadro 2. Programa de Residência Multiprofissional em Promoção à Saúde e Cui-
dado na Atenção Hospital, disciplinas por área profissional e área de concentração de 2012
a 2019. São Paulo, 2019.
Bioestatística
Biossegurança
Epidemiologia
Promoção da Saúde nos diferentes ciclos da vida
Saúde e Trabalho
Bioética
Humanização
Sistema Único de Saúde
Políticas Públicas em Saúde
Habilidades de Comunicação
Gestão em Saúde
Disciplinas transversais teóricas do eixo de concentração (R1 e R2)
223
Práticas interprofissionais Fono no âmbito da promoção da saúde e do cuidado a adultos e idosos em
contextos hospitalares I e II
224
hospitalizadas e/ou atendidas em programas ambulatoriais e de atendimento domiciliar na
perspectiva interdisciplinar, multiprofissional e em rede.
Os seminários e estudos de caso constituem-se espaços privilegiados para fomen-
tar diálogo permanente entre docentes, discentes, residentes e profissionais de saúde,
adensando a compreensão acerca dos determinantes da saúde e da doença e problemati-
zando os projetos de intervenção.
As disciplinas de Promoção da Saúde e do Cuidado às Pessoas em Contextos
Hospitalares são oferecidas por área de concentração (Saúde da Criança e do Adoles-
cente, Saúde do Adulto e do Idoso, e em Saúde Coletiva ênfase em Saúde e Trabalho),
têm como objetivo possibilitar ao residente o conhecimento e a reflexão sobre as práticas
profissionais de promoção à saúde e cuidado no hospital e sobre a construção de práticas
interdisciplinares, intersetoriais, em equipe e em rede. Essas disciplinas propiciam discus-
são sobre a atuação da área profissional e multiprofissional no cuidado da criança, ado-
lescente, adulto e idoso nos vários ambientes hospitalares e objetivam auxiliar o residente
a desenvolver o raciocínio clínico tanto para a avaliação quanto para o tratamento multi-
dimensional, considerando as necessidades de saúde da população atendida, bem como
suas características psicossociais e culturais. Essas disciplinas compreendem um vasto
conteúdo profissional e na área de concentração específica. Na área de concentração em
Saúde e Trabalho, em particular, busca oferecer a compreensão das práticas profissionais
desenvolvidas e nesse campo, versando sobre os processos de adoecimento e afastamen-
to do trabalhador; os métodos de abordagem para o estudo de situações de trabalho; as re-
lações entre organização e processo de trabalho e seus efeitos sobre a saúde; as questões
médicas, previdenciárias e legais nos processos saúde-doença relacionados ao trabalho;
os aspectos físicos e psicossociais que favorecem e limitam a reabilitação, o retorno e per-
manência no trabalho, após situação de afastamento por acidente ou doença ocupacional;
e o desenvolvimento do programa de retorno ao trabalho.
As disciplinas de Práticas Profissionais e Interprofissionais no Âmbito da Pro-
moção da Saúde e do Cuidado às Pessoas em Contextos Hospitalares são oferecidas
por área de concentração e visam possibilitar ao residente, por meio da aprendizagem em
serviço, experimentar e refletir sobre a atuação profissional e multiprofissional em progra-
mas desenvolvidos no contexto hospitalar, de forma a garantir uma atenção humanizada e
integral, conforme os pressupostos do Sistema Único de Saúde. Essas disciplinas objeti-
vam também proporcionar ao residente a participação em equipe multiprofissional e a expe-
rimentação em projetos interprofissionais de assistência. Essas disciplinas compreendem
um vasto conteúdo profissional e na área de concentração específica.
No que tange às disciplinas práticas, o Hospital Universitário da USP é o principal
cenário deste Programa e oferece oportunidades formativas diversas. O HU é um hospital
de média complexidade, cuja assistência envolve a promoção da saúde, prevenção das
doenças ou danos, tratamento, reabilitação, bem como suporte individual e familiar visando
o autocuidado (Brasil, 2010; Brasil, 2007). O hospital localiza-se na região Oeste do muni-
cípio e atende a população da região, a comunidade universitária e funcionários do próprio
hospital constituindo-se, também, campo de formação prática de estudantes de graduação
e pós-graduação de diferentes áreas profissionais no âmbito da saúde, e no desenvolvi-
mento e implementação de tecnologias assistenciais e de pesquisas.
A integração do HU-USP com os diversos Serviços de Saúde do Sistema Único de
Saúde e com as diversas Unidades da USP tem papel relevante no Programa e confere
225
ao residente a oportunidade de vivenciar com postura ativa, criativa e propositiva e, pro-
gressivamente, mais autônoma ao longo de seu processo de aprendizado, as experiências
multiprofissionais na rede de assistência integrando atenção secundária e atenção primária
à saúde.
Dentre as áreas profissionais atuantes no HU-USP, além da fonoaudiologia, fisiote-
rapia e terapia ocupacional, destacamos as áreas de enfermagem, farmácia, serviço social,
nutrição, medicina, odontologia, psicologia, que ampliam a formação multiprofissional.
Os preceptores fonoaudiólogos, fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais da Resi-
dência Multiprofissional são profissionais de saúde contratados pela Universidade de São
Paulo, desempenham suas funções no Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Te-
rapia Ocupacional, no Hospital Universitário, no Hospital das Clínicas e em outros serviços
parceiros. Os mesmos são altamente engajados na missão institucional e cientes de seu
papel formador, o que se expressa em parte pela busca de formação continuada no âmbito
da Pós-graduação. Grande parte possui titulação de mestres ou doutores obtida junto aos
vários programas da Universidade de São Paulo. A continuidade da formação acadêmica
é valorizada, especialmente, pelo Hospital Universitário e pelo Hospital das Clínicas por se
tratarem de hospitais escola.
Os preceptores bem como os profissionais dos serviços em parceria com tutores,
contribuem para ampliação do conhecimento dos residentes sendo fundamentalmente me-
diadores da aplicação e transferência do novo conhecimento para a prática em saúde.
O desenvolvimento de novas competências dos residentes, em especial para atua-
ção em equipe multiprofissional e produção do cuidado integral constituem-se desafios
permanentes a serem enfrentados, por tutores, e preceptores e os profissionais dos servi-
ços para a formação e qualificação profissional em saúde. Assumir esses desafios corro-
bora como o disposto pela Portaria Interministerial MEC/MS que destaca, dentre os eixos
norteadores a serem contemplados pelos Programas de Residência Multiprofissional em
Saúde, a concepção ampliada de saúde, a garantia da formação integral e interdisciplinar, a
consolidação da educação permanente por meio da integração de saberes e competências
compartilhadas, a integralidade do cuidado nos diferentes níveis da atenção à saúde e a
gestão (Brasil, 2009).
Enquanto metodologia de integração de ensino-serviço os Programas de Residên-
cia Multiprofissional em Saúde valorizam a Educação Interprofissional (EIP) como “uma
atividade que envolve dois ou mais profissionais que aprendem juntos de modo interativo
para melhorar a colaboração e qualidade da atenção à saúde” (Reeves, 2016, p.185).
Atualmente a Educação Interprofissional em Saúde (EIP) vem sendo reconhecida
pela capacidade contribuir para a qualificação dos profissionais de saúde e estudantes e,
consequentemente, melhorar a qualidade da atenção à saúde no SUS (Costa el al, 2018)
bem como principal estratégia para formar profissionais aptos para o trabalho em equipe no
campo da saúde, fundamental para a integralidade do cuidado (Nildo, 2012).
A EIP envolve tanto competências comuns a todas as profissões, competências
específicas de cada área profissional bem como competências colaborativas, essa última
implica no respeito às especificidades de cada profissão, o planejamento participativo, o
exercício da tolerância e a negociação (Nildo, 2012).
Medina (2016) destaca a importância dos programas de Residência Multiprofissio-
nal em Saúde para a formação profissional e à disseminação de práticas colaborativas de
saúde e afirma que o potencial de mudanças está diretamente relacionado com as estraté-
gias pedagógicas desenvolvidas nos cenários de prática.
226
As atividades de formação prática do Programa de Residência Multiprofissional
em Promoção à Saúde e Cuidado na Atenção Hospitalar fomentam a EIP e, para tanto,
são desenvolvidas em parceria com diferentes unidades e programas da USP e rede de
serviços em saúde, com vista a assistência integral aos usuários nos diferentes níveis de
complexidade de atenção à saúde.
Os cenários de prática são diferentes por área profissional e de concentração.
Assim, residentes de Fonoaudiologia atuam no HU-USP com crianças e adolescentes
no Alojamento Conjunto, Berçário, UTI Neonatal, Unidade de Cuidados Intermediários,
UTI Pediátrica, Enfermaria Pediátrica, Ambulatório de Acompanhamento de Bebês de
Risco, Setor de Radiologia – realização dos exames de videofluoroscopia da deglutição.
No Centro de Docência e Pesquisa do Departamento, os residentes de Fonoaudiologia
atuam no Laboratório de Investigação Fonoaudiológica em Promoção da Saúde. Na
área da saúde do adulto e do idoso residentes de Fonoaudiologia atuam no HU-USP no
Pronto Socorro Adulto, Enfermaria de Clínica Médica, Enfermaria de Clínica Cirúrgica,
UTI Adulto, Ambulatório de Neurologia, Programa de Assistência Domiciliária (PAD),
Setor de Radiologia – realização de exame de videofluoroscopia da deglutição. Na área
de Saúde Coletiva ênfase em Saúde e Trabalho atuam no HU junto ao Ambulatório de
Audiologia, SESMT e Projeto ELSA; no Centro de Docência e Pesquisa em Fisioterapia,
Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (CDP) atuam no Laboratório de Investigação
Fonoaudiológica em Voz.
O campo de prática do profissional de Fisioterapia no HU-USP junto a adultos
e idosos é constituído por Unidades de Terapia Intensiva e Semi-intensiva Adulto, En-
fermarias de Clínica Médica e Clínica Cirúrgica, Ambulatório de quedas, Ambulatório de
reabilitação vestibular e de uroginecologia, Grupo de Ortopedia Geral, como também,
do Programa de Visita Domiciliária e na Associação Brasil - Parkinson. Junto a crianças
e adolescentes, os residentes atuam na Enfermaria Pediátrica, Ambulatório de Desen-
volvimento Infantil, Ambulatório de Neurologia, UTI Neonatal, UTI Pediátrica, Unidade
de Cuidados Intermediários, Berçário. Na área de Saúde Coletiva ênfase em Saúde e
Trabalho os residentes em fisioterapia desenvolvem atividades práticas no Centro de
Saúde-Escola Butantã, na creche da USP, no Serviço Especializado em Engenharia de
Segurança e em Medicina do Trabalho (SESMET), além de Centros de Referência do
Trabalhador.
A Terapia Ocupacional no Programa de Residência atua com adultos, idosos e
trabalhadores compondo, portanto, duas áreas de concentração. Residentes de terapia
ocupacional prestam assistência aos usuários idosos e adultos nas Enfermarias de Clí-
nica Médica e Clínica Cirúrgica, Ambulatório de Quedas, Ambulatório Multiprofissional de
Neurologia, Grupo de Acompanhamento de Alta Multiprofissional (GAAMA), Programa de
Estimulação da Memória; em unidades ambulatoriais aos indivíduos com disfunções de
membro superior e mão, tais como fratura, casos de lesão neurológica periférica, tendão
e LER/DORT. Nesses espaços assistenciais, o terapeuta ocupacional objetiva fundamen-
talmente preservar, desenvolver ou restaurar capacidade funcional, indepenência e favo-
recer o retorno às atividades do dia a dia. No Instituto de Ortopedia e Traumatologia do
HC residentes da Terapia Ocupacional atuam no ambulatório e na enfermaria; no Centro
de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza no Grupo de apoio terapêutico aos idosos; no
Instituto Central do Hospital das Clínicas (ICHC) na Enfermaria de neurologia clínica, Am-
bulatório de neurologia, Ambulatório de Terapia Ocupacional na área de cirurgia vascular
e alterações de nervos periféricos e Ambulatório Multiprofissional de esclerose amiotrófica
lateral e Enfermaria de Geriatria. Na área de Saúde Coletiva ênfase em Saúde e Trabalho
227
os residentes atuam com trabalhadores no SESMT, creche da USP e serviço de saúde do
trabalhador do Hospital das Clínicas - FMUSP e em Centros de Referência do Trabalhador.
Vale destacar alguns programas-ações que foram concebidos e/ou fortalecidos a
partir da Residência Multiprofissional, com atuação conjunta das três áreas profissionais,
e desenvolvidos com o apoio dos profissionais do Hospital Universitário, a saber: Enfer-
maria de Clínica Médica, na atenção às pessoas com doenças neurológicas, do aparelho
circulatório e respiratório; Grupo de Acompanhamento de Alta Multiprofissional (GAAMA)
que oferece acompanhamento, por meio de ligações telefônicas, do usuário após a alta,
objetivando certificar-se que os encaminhamentos para rede foram feitos e que esses fo-
ram inseridos nos serviços da rede; Ambulatório Multiprofissional de Neurologia com foco
em usuários com acidente vascular encefálico; Programa de estimulação da memória des-
tinado aos usuários com 60 anos ou mais e Grupo de promoção da saúde e prevenção de
quedas.
A integração da FMUSP com os Serviços de Saúde do Sistema Único de Saúde,
focada na ampliação e aprofundamento da parceria com a Secretaria Municipal de Saúde e
Secretaria do Estado da Saúde de São Paulo, tem papel relevante na implantação do Pro-
grama de Residência Multiprofissional, que visa proporcionar ao residente a oportunidade
de vivenciar com postura ativa, criativa e propositiva e, progressivamente, mais autônoma
ao longo de seu processo de aprendizado, as experiências multiprofissionais na produção
do cuidado em saúde.
A incorporação do Programa de Residência Multiprofissional em Promoção da Saú-
de e Cuidado na Atenção Hospitalar está pautada em estratégias que norteiam o desen-
volvimento de ações interdisciplinares junto a enfermarias, unidades de terapia intensiva e
ambulatórios do Hospital Universitário. A atuação dos residentes em fonoaudiologia, fisiote-
rapia e terapia ocupacional amplia a possibilidade de intervenções nos diferentes cenários
das práticas com o intuito de gerar um diferencial de qualidade no atendimento integral e
humanizado ao usuário.
No contexto hospitalar a perspectiva de atenção na lógica de promoção da saú-
de pode ser vista como um desafio, uma vez que a promoção da saúde não se limita a
compreender a saúde como resultante apenas de fatores biológicos e clínicos, mas propõe
aos profissionais uma visão ampliada de saúde e atenção, o que inclui o atendimento
hospitalar (Santos et al, 2018).
Tais aspectos relativos à prática da atenção aos usuários, ligados ao ensino e à
pesquisa têm permitido e amparado o desenvolvimento de trabalhos de conclusão de resi-
dência (TCR) e sua divulgação em eventos e períodicos e assim contribuído para consoli-
dação do HU-USP como centro de pesquisa e formador de novos conhecimentos. A título
de ilustração dos trabalhos científicos desenvolvidos pelos residentes, o Quadro 3 apresen-
ta a relação dos TCRs defendidos em 2019.
228
Quadro 3. Temas dos Trabalhos de Conclusão de Residência (TCR) apresentados
em 2019 no Programa de Residência Multiprofissional em Promoção à Saúde e Cuidado na
Atenção Hospitalar. São Paulo, 2019.
Ano do Área
Área de Concentração Tema do TCR
Conclusão Profissional
Avaliação de Crianças com Sífilis Congênita por meio
da General Movement Assessment (GMA) em um Hos-
Fisioterapia pital Universitário
229
Quadro 4. Número de concluintes do Programa de Residência Multiprofissional em
Promoção à Saúde e Cuidado na Atenção Hospitalar de 2014 a 2019. São Paulo, 2019.
Número
Área Profissional Área de Concentração TOTAL
Concluintes
TOTAL 78
230
REFERÊNCIAS
231
Capítulo 18
232
Figura 1. Cronologia das principais ações de reorientação da formação profissional em
saúde para o SUS. Brasil, décadas de 1980 e 90 e anos 2000.
Fonte: Dias HS, Lima LD, Teixeira M. A trajetória da política nacional de reorientação da formação
profissional em saúde no SUS. Ciência & Saúde Coletiva, 2013;18(6):1617.
233
iniciativas, embora muito relevantes para a área, há um índice baixo de adesão frente ao
número de cursos de Fonoaudiologia no Brasil e às outras categorias profissionais.
Telles e Arce14, a partir de pesquisa qualitativa com grupo focal, com estudantes do
curso de Fonoaudiologia, relataram que as potencialidades do PET-Saúde foram: o reco-
nhecimento pelos estudantes das necessidades em saúde, vivência de novas práticas de
aprendizagem, significação da integralidade e trabalho em equipe e interdisciplinar. Os li-
mites expuseram a precarização do sistema de saúde do município, baixa participação dos
preceptores, incompatibilidade dos horários e relações conflituosas com os profissionais
que não-participavam/participaram do Programa.
As políticas indutoras buscaram estimular e promover mudanças curriculares, com
destaque para a formação orientada ao trabalho em equipe de saúde e integração entre os
cursos, conforme proposto no PRÓ-Saúde15. Peduzzi16 ressaltou a necessidade da integra-
ção para se conseguir alcançar a integralidade da atenção à saúde, sendo que o trabalho
em equipe é um trabalho coletivo que se configura na relação recíproca. É preciso se cons-
tituir em uma equipe integração de forma que se proponha um projeto assistencial comum;
com as especificidades pertinentes a cada área profissional.
Reeves17 enfatizou que a educação interprofissional (EIP) “oferece aos estudantes
oportunidades para aprendizado em conjunto com outros profissionais para desenvolver
atributos e habilidades necessárias em um trabalho coletivo.”(p.186), e que a mesma deve
fazer parte do desenvolvimento profissional contínuo do indivíduo. Salientou que para a im-
plementação da EIP é necessária a experiência em trabalho interprofissional; a compreen-
são dos métodos ativos de ensino-aprendizado; habilidade com trabalho em grupo; confian-
ça e flexibilidade para trabalhar com as diferenças. A Organização Mundial em Saúde18, em
2010, publicou o Marco para a Ação em Educação Interprofissional e Prática Colaborativa,
que teve sua tradução para o português. Peduzzi19 ressaltou a necessidade de que a EIP
seja incorporada aos currículos vigentes, entendendo que o SUS é um espaço da interpro-
fissionalidade e de sua formação.
A EIP é desafio que está posto para as áreas da saúde, que inclui a Fonoaudiolo-
gia. Embora a área de Fonoaudiologia tenha boas práticas no trabalho multidisciplinar ex-
plicitada pelos seus currículos e ações, apresenta os desafios de incluir os métodos ativos
de ensino-aprendizagem, a capacidade de aprender com outras profissões e promover um
cuidado centrado no paciente-comunidade de forma sistemática na formação em Fonoau-
diologia. Experiências exitosas de mudança curricular pautadas na necessidade de saúde
da população, com avaliação formativa já foram descritas na área de Fonoaudiologia20 em
instituição que participa de políticas indutoras.
As políticas indutoras têm tido papel fundamental como diretriz para formação em
saúde, que atenda as necessidade do sistema de saúde do nosso País, mas é preciso ser
incorporada ao cotidiano das instituições de ensino.
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