65 o Assdio Moral e Suas Implicaes Jurdicas Nas Relaes Trabalhistas

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Revista Ibero- Americana de Humanidades, Ciências e Educação- REASE

doi.org/10.51891/rease.v9i2.8594

O ASSÉDIO MORAL E SUAS IMPLICAÇÕES JURÍDICAS NAS RELAÇÕES


TRABALHISTAS

MORAL HARASSMENT AND ITS LEGAL IMPLICATIONS ON LABOR RELATIONS

Letícia Cristina Smith Veloso1


Tarsis Barreto Oliveira2

RESUMO: Este trabalho aborda a temática do assédio moral e suas implicações jurídicas
nas relações trabalhistas, com o objetivo de apresentar a situação real das vítimas e os danos
psicológicos causados, as causas decorrentes e a forma de evitá-lo e combatê-lo. Com efeito,
serão analisados os diferentes tipos de assédio moral, distinguindo-se esta modalidade do
assédio sexual, apontando-se ainda as medidas de prevenção no ambiente de trabalho e a
identificação do assédio moral na conduta do empregador, bem como as repercussões e
consequências jurídicas nas relações trabalhistas e os efeitos do dano à saúde mental do
empregado.

Palavras-chave: Assédio moral. Implicações jurídicas. Relações trabalhistas. 896

ABSTRACT: This paper addresses the theme of bulling and its legal implications in labor
relations, with the objective of presenting the real situation of the victims and the
psychological damage caused, the resulting causes and how to avoid and combat it. In fact,
the different types of moral harassment will be analyzed, distinguishing this modality
from sexual harassment, also pointing out the prevention measures in the work
environment and the identification of moral harassment in the employer's conduct, as
well as the legal repercussions and consequences in labor relations and the effects of the
damage to the employee's mental health.

Keywords: Moral harassment. Legal implications. Employment relationships.

1
Especialista em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Federal do Tocantins. Pós-Graduada em
Direito Constitucional pela Faculdade Damásio Educacional. Advogada. Mediadora Extrajudicial. Orcid:
https://orcid.org/0000-0001-7960-0794. .
2
Doutor e Mestre em Direito pela UFBA. Professor Associado de Direito Penal da Universidade Federal do
Tocantins. Professor Adjunto de Direito Penal da Universidade Estadual do Tocantins. Professor do
Mestrado em Prestação Jurisdicional e Direitos Humanos da UFT/ESMAT. Coordenador e Professor da
Especialização em Ciências Criminais da UFT. Orcid: https://orcid.org/0000-0003-0931-8915.

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INTRODUÇÃO

O presente estudo enfatiza sobre as diversas mudanças nas relações de trabalho ao


longo de décadas, pois inicialmente, buscava-se a proteção da própria vida do empregado,
que cumpria jornada de trabalho desumana, sem qualquer preocupação à saúde do mesmo e
com o passar do tempo, a reivindicação dos trabalhadores direcionou-se à qualidade de vida
no trabalho, com o estabelecimento de jornada limitada, salários-mínimos e justos,
proteção à mulher e ao menor, dentre outros direitos trabalhistas.
O tema assédio moral surgiu com as transformações ocorridas no trabalho, tais
como a alta competitividade, a rapidez com que vivemos no mundo globalizado e
informatizado, com acesso à internet e às redes sociais, fazendo com que as pressões
vividas no dia a dia desencadeassem doenças e até fobias antes não conhecidas.
No presente artigo serão analisados os diferentes tipos de assédio moral,
distinguindo-se esta modalidade do assédio sexual, apontando as medidas de prevenção
que podem ser tomadas pelo empregador para evitá-lo, bem como a identificação do
assédio moral na conduta do empregador, indicando também as repercussões,
consequências jurídicas nas relações trabalhistas e os efeitos dos diversos danos à saúde
897
mental do empregado, tendo ainda como intuito desta análise, a reflexão sobre os prejuízos
causados pelo assédio moral e a necessidade de reprimi-lo e erradicá-lo a fim de que todos
os trabalhadores possam gozar de um ambiente de trabalho saudável, bem como possa ser
garantido aos mesmos, o respeito à sua dignidade, honra e integridade física e moral.
Este estudo pretende ainda tornar mais visível o assédio moral nas relações de
trabalho e trazer à discussão qual seria a melhor forma de evitá-lo no ambiente de trabalho,
apontando a necessidade de que empresas e seus gestores adotem medidas de prevenção
eficazes, a fim de evitar prejuízo para as vítimas de assédio, para os órgãos públicos e para
as referidas empresas, o que acaba refletindo em toda a sociedade.
Na visão de importantes operadores do direito, o medo do desemprego faz com que
trabalhadores suportem e acabem se submetendo a condições físicas de trabalho
degradantes e a violências psicológicas e morais muitas vezes irreparáveis, dentre as quais,
o assédio moral.
Deve-se ressaltar ainda que o assédio moral no trabalho ocorre justamente na
relação empregatícia, portanto é obrigação do empregador evitar que situações como essas
ocorram no ambiente de trabalho, prevenindo, inclusive, ele próprio de ser o autor desses

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danos pois é de extrema importância que a empresa esteja ciente de tudo o que acontece no
âmbito laboral a fim de prevenir e reprimir a sua prática.
Por fim, utiliza-se o método lógico-dedutivo, baseando-se a pesquisa científica
bibliográfica sobre o tema, por meio de livros, artigos jurídicos, doutrina, revistas jurídicas,
jurisprudência e outros meios de documentação indireta.

1.CONCEITO DE ASSÉDIO MORAL

Para Nascimento (2009, p.6), o assédio moral é toda conduta praticada pelo
empregador, seja ele o chefe ou um superior hierárquico, ou pelos colegas de trabalho, que
vise a tornar o ambiente de trabalho insuportável, por meio de ações repetitivas que
atinjam a moral, a dignidade e a autoestima do trabalhador, sem qualquer motivo aparente,
apenas com o intuito de fazer o obreiro pedir demissão, acarretando danos físicos,
psicológicos e morais ao mesmo.Além disso, uma das formas de assediar moralmente o
empregado é a sutileza com que o superior hierárquico promove as humilhações, as
brincadeiras, os rebaixamentos, pois, sendo feito de forma expressa, é mais difícil o
empregado se defender.
Para Gitelman (2017, p.25), o assédio é o termo utilizado para designar toda conduta 898
que cause constrangimento psicológico ou físico à pessoa. Vejamos algumas
nomenclaturas para o assédio moral: mobbing, na Suíça; bullying, na Inglaterra;
harcèlement, na França; bossing, na Itália; acoso moral, na Espanha; harassment, nos
EUA; assédio moral, no Brasil, todavia, apesar das distintas nomenclaturas, todas elas
indicam um fenômeno de alta periculosidade e devastador.Segundo Nascimento, (2009,
p.8), o assédio moral caracteriza-se por ser uma conduta abusiva, de natureza psicológica,
que atenta contra a dignidade psíquica do trabalhador, de forma repetitiva e prolongada, e
que expõe o mesmo a situações humilhantes e constrangedoras, capazes de causar ofensa à
personalidade, à dignidade ou à integridade psíquica, e que tenha por efeito excluir a
posição do empregado no emprego ou deteriorar o ambiente de trabalho, durante a jornada
de trabalho e no exercício das atividades laborais. Conforme Hirigoyen (2001, p.65):

O assédio moral no trabalho é todo e qualquer conduta abusiva manifestando-se,


sobretudo por comportamentos, palavras, gestos, escritos que possam trazer dano
à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa,
pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho.
Para Gitelman (2017, p.29), o assédio moral é uma violência psicológica cometida
pelo empregador contra o empregado, expondo-o a situações humilhantes, exigindo dele

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metas inatingíveis, delegando e diminuindo a quantidade de tarefas com o intuito de alegar


sua incapacidade, e, ainda, agindo com rigor excessivo ou reclamando dos problemas de
saúde do empregado.
A cartilha da saúde elaborada pelo Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias
Químicas, Farmacêuticas, Plásticas e Similares de São Paulo (2003, p.5) define o assédio
moral como o ato cruel e desumano que caracteriza uma atitude violenta e sem ética nas
relações de trabalho, praticada por um ou mais chefes contra seus subordinados.
Corresponde, então, a atitudes violentas que visam humilhar, desqualificar e desestabilizar
emocionalmente a relação da vítima com a organização e com o ambiente de trabalho, o
que põe em risco a saúde, a própria vida da vítima e seu emprego.
Para Dallegrave Neto (2005, p.233), são quatro as principais formas de concretização
do assédio moral: (a) provocar o isolamento da vítima no ambiente do trabalho; (b) exigir
o cumprimento rigoroso do trabalho como pretexto para maltratar psicologicamente a
vítima; (c) fazer referências indiretas negativas à intimidade da vítima; e (d) ausência de
justificativa (gratuidade) para discriminar negativamente a vítima.
Para Guedes (2003, p.33), o assédio moral abrange atos e comportamentos provindos
do patrão, gerente ou superior hierárquico ou dos colegas, que traduzem uma atitude de 899
contínua e ostensiva perseguição capaz de acarretar danos relevantes às condições físicas,
psíquicas e morais da vítima.
O assédio moral é materializado pela tortura psicológica, destinada a golpear a
autoestima do empregado, com o intuito de acelerar a rescisão do contrato de trabalho,
forçando sua demissão. Caracteriza-se pela degradação deliberada das condições de
trabalho em que prevalecem as atitudes e condutas negativas dos chefes em relação a seus
subordinados, constituindo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos práticos e
emocionais para o trabalhador e para a organização.
Nascimento (2009, p.12) entende que nos casos comprovados de assédio moral, a
vítima escolhida é isolada, passando a ser desacreditada diante dos membros da equipe de
trabalho que, por medo, vergonha, competitividade e individualismo, rompem os laços
afetivos com a vítima e, frequentemente, reproduzem ações e atos do agressor no ambiente
de trabalho, instaurando o “pacto da tolerância e do silêncio coletivo”, enquanto a vítima
vai gradativamente se desestabilizando e se fragilizando.
Segundo Felker (2010, p.96), o assédio moral caracteriza-se por atitudes repetidas
com frequência que tornam insustentável a permanência do empregado no trabalho,

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causando danos morais à saúde do assediado, pois, ao ferir o seu prestígio profissional,
atingindo seu amor-próprio e dignidade, tal conduta do empregador torna-se passível de
indenização, tendo em vista o dano moral causado ao empregado, nos termos do artigo 5º,
X, da Constituição Federal de 1988 e o artigo 159 do Código Civil.
Como exemplo, cita-se o caso do empregado que foi colocado em uma cadeira num
dos corredores da empresa, e que, por determinação do empregador, teve de permanecer
ali, ociosamente, até segunda ordem. Os colegas de trabalho o viram nessa situação
constrangedora e humilhante durante três dias, enquanto sua sala permanecia fechada.
Outro exemplo de assédio moral relatado por nossos Tribunais ocorreu quando o
empregador obrigou determinado empregado a submeter-se a exame psiquiátrico
simplesmente porque o superior hierárquico do obreiro sugeriu que ele era calado demais
no ambiente de trabalho. Vale ressaltar que exames médicos periódicos são necessários
para resguardar a incolumidade física do trabalhador; entretanto, tal determinação de
realização de exame ultrapassou o poder diretivo do empregador, uma vez que seu objetivo
foi colocar o empregado em situação humilhante e vexatória no ambiente de trabalho.
Menezes (2003, p.293) cita o caso do obreiro que move ação contra o patrão, mas
que, no entanto, não é sumariamente despedido, passando o empregador ou seu preposto a 900
infernizar a vida do demandante, por meio de uma infinidade de expedientes.
Segundo Barreto (2003, p.129), os trabalhadores em geral e os adoecidos em
particular sabem que o caminho para o desemprego fica aberto após algum evento,
sobretudo a enfermidade, acontecimento que altera não somente a saúde, mas a própria
vida. Seu medo é manipulado pelas chefias, visando à produtividade, razão que faz com
que os trabalhadores silenciem sua própria dor. Portanto, no assédio moral, é indispensável
que a conduta humana seja repetitiva e intencional, gerando prejuízos materiais ou
extrapatrimoniais.
No Brasil, a primeira discussão sobre o tema foi desenvolvida pela Dra. Margarida
Barreto, Médica do Trabalho. Para ela, o assédio moral é a exposição dos trabalhadores e
trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante
a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comum em relações
hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações
desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais
subordinados, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a
organização, forçando-a desistir do emprego.

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Para Barros (2016, p.67), o assédio moral caracteriza-se pela degradação deliberada
das condições de trabalho, constituindo uma experiência subjetiva que acarreta prejuízos
práticos e emocionais para o empregado e empregador. Além do mais, é importante
lembrar que no mundo atual, capitalista e globalizado, as empresas e seus funcionários
lutam cada vez mais por espaço no mercado, por poder, por dinheiro, e essas lutas não têm
fronteiras; o que antes era uma disputa dentro de um único bairro ou cidade agora se
expandiu, tomando proporções globais em determinados tipos de comércio.
É óbvio que a globalização tem seu lado positivo para o mundo, para as pessoas
como um todo, mas quando analisamos o tema assédio moral, percebemos que toda essa
expansão e briga por espaço, poder e dinheiro prejudicou a saúde física e mental dos
trabalhadores, contribuiu sobremaneira para a ocorrência de elevados casos de estresse e de
assédio moral dentro de um ambiente de trabalho, sendo ambos prejudiciais para a saúde
dos trabalhadores.
Neste ponto, estresse e assédio moral não se confundem em sua essência, isso
porque o estresse advém de uma sobrecarga de trabalho, redução de postos de trabalho em
face da automação, falta de recursos para execução de uma determinada atividade ou
qualquer outra má condição de trabalho, prejudicando pelo excesso de ocorrência. Já o 901
assédio nasce com o intuito de prejudicar, abalar, humilhar, destruir. Por este motivo, não
há que se falar em igualdade entre estresse e assédio, além de ser de suma importância
entender a diferença para a correta aplicação da ação de correção e/ou reparação.
O estresse somente prejudica o trabalhador pelo seu excesso, seja de trabalho, más
condições ou falta de recurso, ao passo que o assédio moral, por si só, já é prejudicial, pois
tem o intuito de prejudicar, de abalar a vítima, já nascendo com o objetivo de causar-lhe
dando.
A tese de doutorado de Barreto revela-se um dos melhores estudos sobre o assunto,
daí a utilização do seu conceito como parâmetro, definindo o assédio moral como sendo
uma forma sutil de violência que envolve e abrange múltiplos danos, tanto de cunho
material quanto moral, evidenciados no âmbito das relações laborais.
O que se verifica no assédio é a repetição do ato que viola intencionalmente os
direitos do outro, atingindo sua integridade biológica e causando transtornos a saúde
psíquica e física. Compreende um conjunto de sinais em que se estabelece um cerco ao
outro sem lhe dar tréguas. Sua intencionalidade é exercer o domínio, quebrar a vontade do
outro, impondo término ao conflito quer pela via da demissão ou sujeição.

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Para Barreto (2003, p.129), o assédio moral é diferente do dano moral, primeiro
porque no assédio geralmente temos o poder hierárquico; segundo porque exige repetição
do ato; além disso, o assédio pode ocorrer de maneira discreta, por gestos, olhares que se
tornam quase que imperceptíveis.
Hirigoyen (2001, p.65) corrobora a tese de Barreto. Em seu livro Assédio moral: a
violência perversa do cotidiano, assim o define:

O assédio moral no trabalho é qualquer conduta abusiva (gesto, palavra,


comportamento, atitude) que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a
dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, ameaçando seu
emprego ou degradando o clima de trabalho. (2001, p. 65).
Na cartilha do Ministério do Trabalho e Emprego (2012, p.8), o assédio moral é
caracterizado como um tipo de violência psicológica que se configura por meio de conduta
abusiva, quando, de forma reiterada e sistemática, expõem-se trabalhadoras e trabalhadores
a situações constrangedoras e humilhantes, interferindo na liberdade, dignidade e nos seus
direitos de personalidade.
É o que chamamos de violência moral. Esses atos visam humilhar, desqualificar e
desestabilizar emocionalmente a relação da vítima com a empresa e o ambiente de
trabalho, pondo em risco a saúde, a própria vida da vítima e seu emprego. A violência 902
moral ocasiona desordens emocionais, atinge a dignidade e identidade da pessoa humana,
altera valores, causa danos psíquicos (mentais), interfere negativamente na saúde, na
qualidade de vida, podendo, até mesmo, levar à morte.

1.DISTINÇÃO ENTRE ASSÉDIO MORAL E SEXUAL

O assédio é o termo utilizado para designar toda conduta que cause


constrangimento psicológico ou físico à pessoa, podendo ser classificado em dois tipos: o
assédio sexual e o assédio moral.
O assédio sexual caracteriza-se pela conduta de natureza sexual, normalmente
contra as mulheres, e que, mesmo quando repelida, torna-se repetitiva por parte do
ofensor, trazendo retaliação decorrente do convite não aceito.
Segundo Pamplona Filho (2001, p.188), considera-se comportamento sexual
desviado os atos de conduta do homem ou da mulher que, para obter a satisfação do seu
desejo carnal, utiliza-se de ameaça, seja ela direta ou velada, e ilude a outra pessoa, objeto
do seu desejo, com promessa que sabe de antemão que não será cumprida.

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De acordo com Lippmann (2004, p.18), o assédio moral é a exposição dos


trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante
a jornada de trabalho e no exercício das funções profissionais. É mais comum em relações
hierárquicas autoritárias. Este vem manifestando-se contra os trabalhadores que possuem
algum tipo de estabilidade, como os lesionados e os acidentados, pois a empresa não quer
mais o seu trabalho e não pretende arcar com o ônus de sua dispensa.
Segundo Dallegrave Neto (2005, p.235), tanto o assédio sexual como o moral só são
admitidos na forma dolosa, uma vez que o assediante, quando molesta a vítima, o faz com
o objetivo deliberado de se satisfazer sexualmente ou de destruir emocionalmente a vítima.
Outrossim, tais comportamentos, a prática do assédio sexual e do assédio moral,
traduzem-se por meio de violações dos direitos trabalhistas oriundos do contrato de
trabalho e acarretam danos físicos e psicológicos ao trabalhador, sujeitando o empregador a
uma reparação por danos morais.
No Direito do Trabalho está previsto o assédio moral, uma vez que se trata do ramo
do Direito destinado a regular as relações entre empregados e empregadores, sendo
princípio basilar a proteção jurídica do trabalhador, que deve ter sua dignidade humana
preservada e reparada em caso de violação. 903
Segundo Lobregat (2001, p.115), a obrigação de indenizar surge toda vez que o
patrimônio moral, quer do empregado, quer do empregador, reste desrespeitado ou
agredido. Portanto, toda vez que se verificar ofensa ou lesão à dignidade, ou qualquer outro
valor íntimo, de quaisquer das partes do contrato de trabalho, havendo inequívoca relação
de causa e efeito entre o ato ilícito (ação ou omissão) e o dano experimentado, restará
caracterizado o assédio moral.

1.1ESPÉCIES DE ASSÉDIO MORAL

O assédio moral, normalmente, é praticado contra os empregados que possuem


estabilidade provisória no emprego, como as gestantes, os representantes sindicais e os
acidentados, pois as empresas querem se ver livres de tais trabalhadores, mas não estão
dispostas a pagar a indenização devida para rescindir seus contratos de trabalho.
Segundo Lippmann (2004, p.18), outra vertente do assédio moral é a do chefe cruel,
que abusa do poder disciplinar como forma de humilhar e maltratar seus subordinados,
impondo-lhes apelidos pejorativos, reprimindo-lhes em público, de modo a ofender o
empregado e seu decoro.

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Para Lippmann (2004, p.21), existe ainda, o assédio moral por estresse, muito
praticado pelos patrões, em que as empresas que enxugam sua mão-de-obra passam a exigir
o dobro de produtividade dos seus poucos empregados. Os resultados dessa cobrança
insana se fazem sentir na saúde dos trabalhadores, que acabam sofrendo infartos,
derrames, depressão ou problemas permanentes, como gastrite e úlcera, também se
caracterizando como violação dos direitos dos empregados.
Conforme a classificação de Alkimin (2005, pp.60/65), o assédio moral pode ser
dividido em: vertical descendente, moral organizacional, moral vertical ascendente e moral
horizontal.

1.1.1. Assédio vertical descendente

Trata-se do tipo de assédio moral mais comum nas empresas, acontecendo quando
o trabalhador é assediado por alguém que está acima na hierarquia corporativa. Um
gerente que coloca seus subordinados em situações vexatórias ou usa apelidos pejorativos,
entre outras atitudes, está praticando assédio vertical descendente. Outro exemplo seria
um diretor que coloque qualquer trabalhador abaixo dele em uma situação vexatória,
impondo apelidos ofensivos, fazendo-o enfrentar circunstâncias vergonhosas. Isso pode ser 904
caracterizado como assédio vertical descendente. (Alkimin, 2005, pp.60/65)

1.1.2. Assédio moral organizacional

Ocorre quando o funcionário sofre violência psicológica da empresa, por meio do


ambiente organizacional. Para ficar mais claro, toma-se como exemplo as organizações que
estimulam uma competição agressiva entre os colaboradores, usando o medo e ameaças
como ferramentas para submetê-los a essas condições.
Portanto, a fim de evitar que essas situações ocorram em uma organização, deve-se
prezar sempre por ter um ambiente de trabalho harmonioso e saudável. (Alkimin, 2005, pp.
60/65).

1.1.3. Assédio moral vertical ascendente


Trata-se de um padrão de assédio mais raro, em que o profissional de uma posição
inferior na hierarquia assedia o chefe ou alguém em um cargo acima. Essa situação é
observada quando um colaborador detém informações sigilosas e usa esse conhecimento
para chantagear o superior, por exemplo. (Alkimin, 2005, pp.60/65).

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1.1.4. Assédio moral horizontal

O assédio horizontal é praticado entre colaboradores que estão na mesma posição


hierárquica dentro da empresa. Um exemplo é o colega que provoca o outro ou debocha
quando as metas não são alcançadas.
Esse tipo de assédio ocorre com frequência em ambiente no qual é estimulada a
competitividade entre os funcionários. Como resultado, institui-se um clima desagradável
de conflito ao invés do trabalho em equipe. (Alkimin, 2005, pp.60/65).

2.CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS, EFEITOS E DANOS À SAÚDE DA


VÍTIMA

O assédio moral é realidade muito preocupante, podendo trazer diversas


consequências negativas para empregados e empresas.
Segundo Oliveira (2004, p.58), a preocupação com a progressão dos problemas
causados pelo assédio moral levou a Organização Internacional do Trabalho (OIT) a criar,
em novembro de 2000, uma comissão para estudos dos custos do assédio moral na
segurança e saúde dos trabalhadores. Composta de professores universitários e cientistas
sociais, a comissão está incumbida não somente de descrever o fenômeno, mas também de 905
relatar os custos do assédio em termos de estigmatização, problemas de saúde físicos e
mentais, implicações no emprego, inclusive os riscos de perda, e relações trabalho-casa.
No entendimento de Rufino (2005, pp.101-102), tais problemas de saúde só ocorrem e
se agravam porque com o estado repetitivo de humilhações sofridas pelo empregado,
algumas doenças consideradas normais pelo excesso de trabalho passam a ser
preocupantes, tais como depressão, palpitações em razão da ansiedade, distúrbios do sono,
emagrecimento ou aumento de peso, distúrbios digestivos, vertigens, problemas na coluna,
crises de hipertensão e outras. Nos casos mais graves, a depressão profunda gera angústia e
sentimento de culpa, podendo levar a pessoa ao suicídio.
Para Gitelman (2017, p.58), os males sofridos pelo empregado em razão do assédio
moral podem causar seu afastamento do trabalho, o que enseja a caracterização de doença
profissional ou doença do trabalho, que se equiparam ao acidente do trabalho e são
protegidas pela Previdência Social. Portanto, uma conduta que somente estava adstrita ao
ambiente do trabalho passa a ter repercussões sociais, uma vez que o governo passará a
cuidar deste empregado e toda a sociedade manterá o pagamento da sua Previdência Social.

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Entretanto, não se pode olvidar que o dano causado pelo assédio moral provoca
prejuízo também ao relacionamento familiar e pessoal, pois o trabalhador isola-se do
convívio familiar, muitas vezes não verbaliza seu sofrimento e os sintomas nem sempre
são entendidos pela família e pelos amigos.
O assédio moral no trabalho também não é nada vantajoso para a empresa, tendo
em vista que em situações extremas poderá acarretar a sua obrigação de indenizar o
empregado por danos morais.
Além disso, o desânimo dos empregados pode gerar diminuição na produtividade,
maior rotatividade dos funcionários, mais faltas e licenças médicas, aposentadorias
prematuras dos funcionários, custos decorrentes de tratamentos médicos e de fisioterapia,
aumento de erros e acidentes de trabalho, danos para a marca, multas administrativas,
entre muitas outras consequências negativas.
De acordo com a cartilha sobre Assédio Moral e Sexual no Trabalho elaborada pelo
Comitê Permanente pela Promoção da Igualdade de Gênero e Raça do Senado Federal
(2011, p.10), o assédio moral provoca os seguintes danos:

a) Psicológicos: culpa, vergonha, rejeição, tristeza, baixa autoestima, inferioridade, 906


irritação constante, sensação negativa de futuro, vivência depressiva e diminuição
da concentração e da capacidade de recordar acontecimentos e até cogitação de
suicídio.
b) Físicos: distúrbios digestivos, hipertensão, palpitações, tremores, dores
generalizadas, alterações de libido, agravamento de doenças pré-existentes,
alterações no sono (dificuldades para dormir, pesadelos e interrupções frequentes
do sono e insônia), dores de cabeça, estresse, doenças do trabalho, entre outros.
c) Sociais: diminuição da capacidade de fazer novas amizades, retraimento nas
relações com amigos e colegas de trabalho e degradação do relacionamento familiar.
d) Profissionais: redução da capacidade de concentração e da produtividade, erros no
cumprimento das tarefas, intolerância no ambiente de trabalho e reações
imoderadas às ordens superiores.

5. CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS DO ASSÉDIO MORAL

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Em março de 2019, a Câmara Federal aprovou o Projeto de Lei nº 4.742/2001, que


tipifica o assédio moral no trabalho como crime, estabelecendo pena de detenção de um a
dois anos, além de multa. A pena pode ser agravada em até um terço, se a vítima for menor
de 18 anos. Pelo texto, configura-se como assédio moral quem ofender reiteradamente a
dignidade de alguém, causando-lhe dano ou sofrimento físico ou mental, por conta do
exercício de emprego, cargo ou função. Entretanto, a referida conduta ainda não foi
criminalizada, encontrando-se o projeto de lei em tramitação no Congresso.
Para Barros (2016, p.75), a caracterização do assédio moral não está ligada à
hierarquia, mas sim, à dignidade do trabalhador. Desta forma, qualquer conduta reiterada
que ofenda a sua dignidade, mesmo que praticada por empregado de mesma hierarquia ou
função, pode ser considerado assédio moral e a empresa pode ser responsabilizada caso não
tome providências, podendo ser feita denúncia perante o sindicato daquela classe de
trabalhadores ou até mesmo frente ao Ministério Público do Trabalho.
Nenhum trabalhador pode ser obrigado a trabalhar em um ambiente que não
respeite sua dignidade. A partir dessa premissa, o trabalhador que tenha sofrido ou esteja
sofrendo ofensa moral decorrente de assédio ou discriminação pode deixar a empresa e
deve receber todos os direitos rescisórios como se tivesse sido dispensado sem justa causa. 907
De acordo com Giglio (1996, p.79), a psicologia do trabalho ensina que o empregado
constrangido, insatisfeito ou contrariado, antipatizado ou hostilizado pelos colegas não
goza das condições mentais mais propícias para o trabalho; nessas condições, o empregado
produz menos do que poderia e produz mal, de forma imperfeita, além de estar mais
sujeito a acidentes.
A legislação trabalhista permite que o trabalhador deixe o trabalho nessas situações
de assédio ou discriminação e receba as seguintes verbas: saldo de salário, aviso prévio, 13º
salário proporcional aos meses trabalhados, férias vencidas e/ou proporcionais, 1/3 sobre as
férias vencidas e/ou proporcionais, multa de 40% (quarenta por cento) sobre o FGTS,
liberação de guias do FGTS e do seguro-desemprego, através do pedido de rescisão
indireta.
A Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 483, elenca um rol
exemplificativo de situações capazes de ensejar a rescisão indireta, das quais se podem
destacar: “Art. 483. O empregado poderá considerar rescindido o contrato e pleitear a
devida indenização quando: e) praticar o empregador e seus prepostos, contra ele ou
pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa fama”.

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A Jurisprudência tem entendido que a prática de atos de assédio é passível de


rescisão indireta, senão vejamos:

ASSÉDIO MORAL. DANO MORAL E RESCISÃO INDIRETA.


CONFIGURAÇÃO. Provado nos autos que o obreiro foi vítima de assédio no
ambiente de trabalho, sofrendo o esv//aziamento de suas funções, o que
claramente o colocou em uma situação constrangedora e humilhante, é cabível a
rescisão indireta do contrato de trabalho com base no artigo 483, alínea d da CLT,
bem como a reparação pecuniária por conta do assédio moral plenamente
demonstrado. (TRT-11-0001002682014511006-TRT-11-30/07/2015).
Dessa forma, resta demonstrado que a Justiça do Trabalho tem compreendido que o
trabalhador que sofreu assédio ou discriminação pode deixar a empresa e receber todos os
seus direitos e ainda ser indenizado por danos morais, como se tivesse sido demitido sem
justa causa. Esse entendimento foi reafirmado pela Segunda Turma do Tribunal Regional
do Trabalho do Ceará (TRT/CE) ao analisar o caso de uma trabalhadora que foi vítima de
agressões físicas e psicológicas no ambiente de trabalho.
A chamada rescisão indireta do contrato de trabalho pode ocorrer quando o
empregador comete uma falta grave, que torne insustentável a continuidade da relação de
emprego. Foi o que aconteceu com uma operadora de crédito da empresa Central de
Recuperação de Crédito, forçada a pedir a rescisão indireta após ter sido tratada com rigor
908
excessivo e, ainda, agredida por seu superior hierárquico.
Para Nascimento (2004, p.770), a dispensa indireta é a rescisão do contrato de
trabalho pelo empregado, tendo em vista justa causa praticada pelo empregador. A
iniciativa é do empregado, mas não se confunde com pedido de demissão, uma vez que
nessa modalidade a causa do rompimento relaciona-se com o interesse do empregado e não
com a conduta praticada pelo empregador.
Além do mais, o empregado também poderá acionar a Justiça do Trabalho, e caso
reste provada a situação de assédio moral no trabalho, a vítima poderá ser indenizada pelos
eventuais danos morais e materiais que tenha sofrido, devendo a empresa responder pela
conduta de assédio praticada contra o empregado dentro das suas dependências.
Saraiva (2008, p.89) entende que diante da dificuldade do empregado em comprovar
o evento danoso a sua integridade física e psíquica, alguns tribunais vêm aplicando
subsidiariamente o instituto da inversão do ônus da prova, disposto no artigo 6º, VIII, do
CDC nas relações trabalhistas, transferindo a prova que inicialmente seria do empregado
para o empregador, visando facilitar e proteger a parte hipossuficiente da relação jurídica
trabalhista.

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O nosso ordenamento jurídico não estabelece os critérios para a valoração e


aplicação da sanção para reparação do dano moral, cabendo ao Juiz de Direito avaliar cada
caso submetido ao poder judiciário e aplicar a sentença de maneira justa.
Segundo Cahali (2005, p.813), inexistentes parâmetros legais para o arbitramento do
valor da reparação do dano moral, a sua fixação se faz mediante arbitramento, nos termos
do artigo 953, parágrafo único, do Código Civil Brasileiro: “Se o ofendido não puder provar
prejuízo material, caberá ao juiz fixar, equitativamente, o valor da indenização, na conformidade das
circunstâncias do caso”.
A reforma trabalhista não alterou e nem poderia alterar as normas que protegem a
dignidade do trabalhador. Ela atribuiu limites para quantificação em juízo por danos
imateriais, criando faixas de reparação segundo a natureza e gradação da lesão (leve,
média, grave e gravíssima), e, em cada estreito, um limite máximo, inicialmente atrelado
ao próprio salário do empregado ofendido, instituindo-se, assim, o dano moral tarifado na
esfera das relações de trabalho.
O que de fato a reforma alterou através de seu artigo 223-A e seguintes da CLT
foram os limites de valores para indenização por danos morais. Contudo, a forma
instituída pela reforma trabalhista tem recebido severas críticas, pois cria um modo pelo 909
qual quem ganha mais terá uma indenização maior do que aquele que ganha menos, como
se a dor sofrida por quem aufere um salário mais alto fosse maior do que a dor sofrida por
aquele trabalhador que ganha menos.
Vale ressaltar que esse artigo 223 da CLT é questionado como inconstitucional por
gerar discriminação e colidir com o princípio da dignidade da pessoa humana, sendo que já
existe uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI 5870) perante o STF para que tal
legislação seja julgada inconstitucional e retirada do ordenamento jurídico.

6. MEDIDAS DE PREVENÇÃO AO ASSÉDIO MORAL

O assédio moral, além de prejudicar individualmente as pessoas que sofrem essa


violência no trabalho, prejudica também a empresa, que tem a produtividade de sua equipe
reduzida e um clima organizacional ruim. Por isso, vale adotar diversas medidas de
prevenção e combate a esse tipo de comportamento.
Segundo a Cartilha do Ministério Público do Trabalho (2017, p.25), as empresas
devem agir de forma preventiva, para que casos de assédio moral não ocorram no ambiente
de trabalho. Tal prevenção pode ser desenvolvida em reuniões periódicas por setores, onde

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se aborde, de modo direto ou indireto o assunto, visando a coibir atitudes negativas entre
os funcionários, bem como entre a configuração hierárquica. Além das reuniões, periódicos
(os chamados jornais da empresa) podem abordar em suas páginas o assunto, devendo
constar as diretrizes que costumeiramente são passadas aos funcionários quando de sua
admissão.
A cartilha do Ministério Público do Trabalho (2017, p.27) ensina como criar canais
de comunicação eficazes que propiciem discussões participativas entre chefias e chefiados,
com regras claras de funcionamento, apuração e sanção de atos de assédio, que garantam o
sigilo da identidade do denunciante, além do mais, informa como criar códigos de conduta
ou manuais de ética em que conste a impossibilidade de utilização de recursos humanos e
materiais em prol de interesses particulares, deixando claro, inclusive, que mensagens, e-
mails ou ligações fora de horário de expediente, em fins de semana, feriados ou férias
somente devem ser utilizadas de forma absolutamente excepcional.
Para Felker (2010, p.144), é necessário promover a capacitação e sensibilização dos
gestores e dos servidores para as questões que envolvem retorno de licenças (maternidade,
saúde e acompanhamento de familiar doente), para evitar sobrecarga e discriminação da
pessoa que está retornando e/ou doente, prestigiando a humanização das rotinas de 910
trabalho, das práticas de gestão, mormente em relação à jornada, necessidade de abono e
avaliação de merecimento e trabalho remoto.
Importa frisar que ambos os lados da cadeia produtiva têm a perder com atitudes
que induzam à instalação do assédio moral como realidade dentro da empresa. Assediados
e assediadores, ambos são a ponta de um intrincado mundo, onde a falta de respeito
colabora para a destruição de pessoas físicas e jurídicas, indo na direção inversa das metas
pessoais e coletivas propugnadas para o desenvolvimento do ser humano e da empresa.
Sendo assim, garantir um bom clima organizacional é primordial para obter sucesso
na empresa, e um meio adequado para isso é investir em educação e conscientização de
todos os envolvidos, até porque proporcionar um ambiente de trabalho livre de qualquer
tipo de assédio é dever do empregador.

A informação e a promoção de um ambiente de trabalho saudável são os maiores


aliados da empresa na prevenção do assédio moral. É preciso, portanto, que a empresa se
mantenha atenta às rotinas organizacionais, adotando práticas de prevenção e buscando a
conscientização de seus colaboradores quanto ao tema. O investimento em campanhas de

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esclarecimento e o oferecimento de cursos, palestras e oficinas promovidas por


profissionais especializados possibilitam aos empregados identificarem situações de
assédio e saberem como agir diante de um caso concreto.
Alinhado a isso, a adoção das melhores práticas de compliance também gera bons
resultados. Nesse âmbito, podemos destacar medidas como a instituição e divulgação de
um código de ética da empresa, a criação de um canal seguro de recebimento de denúncias,
o apoio psicológico aos empregados que se sentirem assediados e a criação de uma
comissão responsável pela fiscalização de práticas de apuração e tratamento de denúncias.
Por fim, a adoção de medidas de prevenção ao assédio moral orientadas por
profissionais especializados pode garantir um ambiente de trabalho saudável e positivo,
refletindo diretamente na diminuição de ônus para a empresa, principalmente aqueles
decorrentes do desgaste de sua imagem e de sua credibilidade frente ao público.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A legislação brasileira desempenha importante papel no equilíbrio das relações


trabalhistas, através da proteção de direitos fundamentais do trabalhador, notadamente por
meio da concretização do princípio constitucional da dignidade da pessoa humana. 911
A proteção do trabalhador é fundamental em um estado democraticamente
organizado, principalmente em um país com uma desigualdade social tão elevada. Essa
proteção é importante para que a relação de trabalho seja harmônica e justa e que os
excessos não sejam tolerados.
Nesse aspecto, deve ser ressaltado que a reforma trabalhista não trouxe grandes
inovações relativas à proteção ao trabalhador em relação ao assédio ou atos de
discriminação, mesmo porque isso decorre do princípio constitucional da dignidade da
pessoa humana.
Observa-se, outrossim, que o assédio moral é de difícil comprovação, constituindo
um mal que atinge toda a sociedade, acarretando danos físicos e mentais aos empregados,
que, uma vez lesados, precisam ser afastados do respectivo labor, passando a ser
beneficiários do auxílio-doença ou auxílio-acidente previdenciário, o que repercute, por
consequência, em um ônus a toda a sociedade no âmbito da seguridade social.
Tal conduta já estava presente no ambiente de trabalho, mas somente agora, há
poucos anos, começou-se a falar abertamente sobre o assunto, como forma de coibir tal

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prática e alertar os países membros da OIT (Organização Internacional do Trabalho) de


que sua prática não pode ser aceita nas relações de trabalho.
No Direito do Trabalho, a jurisprudência vem se manifestando sobre tal assunto, e
observa-se que a grande maioria das decisões tem condenado o empregador ao
ressarcimento do assédio moral praticado, com a fixação de indenização por danos morais.
Para combater o assédio moral no ambiente de trabalho se faz necessária a
participação ativa do Estado, no sentido de criar leis, políticas de conscientização e
capacitação de profissionais, processo de implementação e controle de abusos dentro das
empresas, além da atuação firme por parte dos juízes, promotores e advogados, com estudo
aprofundado e conglobado das normas que envolvem o problema, na busca pela justiça em
sua plenitude, o que proporcionará a reparação do dano suportado pela vítima, de maneira
adequada, cumprindo também o caráter pedagógico da pena, qual seja, o de educar as
empresas e gestores no sentido de coibir novos casos de assédio.
A identificação correta das características do assédio moral acaba por permitir um
combate mais efetivo a esse modo de violência dirigida ao trabalhador e, por consequência,
resgatar o respeito nas relações de trabalho.
A luta contra a discriminação de qualquer espécie deve ser constante, e qualquer 912
regra ou legislação que diminuir o rigor contra atos de assédio e de discriminação deve ser
considerada inconstitucional.

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