Comunicacao Previa
Comunicacao Previa
Comunicacao Previa
Lisboa
Junho de 2023
Índice
1. Introdução.................................................................................................................. 3
prévia .............................................................................................................................. 10
6. Conclusão ................................................................................................................ 12
Bibliografia ..................................................................................................................... 13
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1. Introdução
Efetivamente, nas mui doutas palavras de João Miranda, tem-se observado que a
supracitada “migração de tarefas públicas para a esfera privada (privatização), o
fenómeno, menos sublinhado, de ativação e de reforço das responsabilidades próprias dos
particulares (…) desembocou naquilo a que alguns autores apelidaram de «Estado
magro» (schlanker Staat)”1.
1
Cfr. JOÃO MIRANDA, A Função Pública Urbanística e o seu Exercício por Particulares, Coimbra:
Coimbra Editora, 2012 cit., p. 448.
2
Cfr. PEDRO COSTA GONÇALVES, “Simplificação procedimental e controlo prévio das operações
urbanísticas”, in FERNANDO ALVES CORREIA (Coord.), I Jornadas Luso-Espanholas de Urbanismo
(Actas), Coimbra: Almedina, 2009, pp. 79 e 80.
3
“apenas um efeito permissivo, sem que fosse, por isso, praticado qualquer acto
administrativo, ainda que tácito ou silente”3.
3
cfr. FERNANDA PAULA OLIVEIRA, Direito do Urbanismo., cit., p.339
4
cfr. FERNANDA PAULA OLIVEIRA, et al., cit., p.339.)
4
procedimento nem sempre resultou clara e sem dificuldades para os interessados e para a
Administração”. Vejamos.
Para além disso, cumpre apontar que uma das grandes desvantagens deste regime
era o aumento das responsabilidades e custos iniciais para o interessado que teria de
liquidar as taxas, apresentar todos os projetos no início do processo, e ainda a totalidade
dos componentes referentes à realização da operação urbanística em apreço. Desta forma,
num panorama marcado pela crise financeira e imobiliária, esta figura não se torna
apetecível para o interessado, nem tampouco para os municípios que teriam uma carga de
trabalho acrescida devido ao encurtamento dos prazos para apreciação (v. arts. 53º, nº 1 e
57º, nº 1).
5
CARLOS JOSÉ BATALHÃO, «A comunicação prévia: do modelo teórico à experiência autárquica», in
DRL, Nº 16, Abril/Junho, 2011, p.68.
5
Em suma, na letra do regime anterior, designava-se de “comunicação prévia” a
um sistema que, verdadeiramente, corresponde a uma “comunicação prévia com prazo”;
ao passo que, no novo regime, passou a intitular-se de “comunicação prévia com prazo”
um procedimento que é uma “mera comunicação prévia”, sendo que não existe controlo
material prévio da operação urbanística em causa.
6
Cit. in A revisão do RJUE aprovada pelo Decreto-Lei n.º 136/2014, de 9 de novembro – uma reforma
(des)necessária?, pp. 32-33).
7
As operações urbanísticas alvo de comunicação prévia são diariamente facultadas na plataforma eletrónica
mencionada no art. 8.º-A, n.º 1 que profere o comprovativo eletrónico da sua apresentação (art. 35.º n.º 5 e
art. 9.º n.º 6 do RJUE).
6
referidos no artigo 9.º n.ºs 1 e 2 do RJUE, conjuntamente dos componentes instrutórios
previstos pela Portaria n.º 113/2015 de 22 de abril, em que conste o termo de
responsabilidade subscrito pelo técnico legalmente habilitado que certifique a
observância das leis e regulamentos aplicáveis (artigo 35.º n.ºs 1 e 4 do RJUE).
Conforme o art. 4.º, n.º 4 RJUE, “As operações urbanísticas agora sujeitas a
comunicação prévia são as seguintes: a) as obras de reconstrução das quais não resulte
um aumento da altura da fachada ou do número de pisos; b) as obras de urbanização e os
trabalhos de remodelação de terrenos em área abrangida por operação de loteamento; c)
as obras de construção, de alteração ou de ampliação em área abrangida por operação de
loteamento ou plano de pormenor; d) as obras de construção, de alteração ou de ampliação
em zona urbana consolidada que respeitem os planos municipais ou intermunicipais e das
quais não resulte edificação com cércea superior à altura mais frequente das fachadas da
frente edificada do lado do arruamento onde se integra a nova edificação, no troço de rua
compreendido entre as duas transversais mais próximas, para um e para outro lado; e) a
edificação de piscinas associadas a edificação principal; f) as operações urbanísticas
precedidas de informação prévia favorável, nos termos dos nºs 2 e 3 do artigo 14º; i) As
obras resultantes de uma intimação da câmara municipal, nos termos previsto no artigo
90.º-A.”
Cumpre apreciar que, apesar dos particulares pouparem tempo, pelo menos à
partida, com o surgimento da comunicação prévia em face à desnecessidade de controlo
prévio, muitos autores vêm tal benesse como um verdadeiro presente envenenado pois
irá, por outro lado, sobrecarregar os interessados com a preparação minuciosa do
procedimento, com atenção a um alargamento dos custos envolvidos. Afinal, nas
situações em que haja incertezas sobre determinados elementos urbanísticos suscetíveis
7
a serem arguidos pelos serviços municipais (ou, igualmente, terceiros interessados) a
posteriori – tal conduzirá ao pagamento de coimas avultadas em valor.
Verdadeiramente, é ponto assente que uma vez que quase que se extingue o
controlo prévio a ser realizado por parte dos municípios, há uma redução dos custos quer
para a Administração – responsáveis pelo controlo preventivo – quer para os particulares
que não terão de pagar taxas urbanísticas para a admissão da sua comunicação prévia.
No entanto, nem tudo é tão ameno, sendo verificável o aumento de uma sucessão
de outros tantos custos para a Administração e para os próprios particulares.
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possam munir das condições necessárias à prossecução da operação urbanística em mãos.
Com isto, temos em mente as responsabilidades autónomas relativas à contratação de uma
panóplia de técnicos especializados que realizem a completa instrução do processo; a
autoliquidação das respetivas taxas; determinar quais são os componentes pertinentes à
comunicação prévia e sua execução; atentar aos critérios legais e regulamentares em vigor
aplicáveis ao projeto, entre outras.
Com efeito, será que podemos falar de um regime simplificado quando, na prática,
os particulares têm – ao invés da Administração – de permanentemente se dirigir a uma
panóplia distinta de entidades públicas para adquirirem, por exemplo, todos os pareceres
legalmente exigidos? Não. Ademais, poderemos admitir que exista uma verdadeira
redução dos custos financeiros, quando a autonomia dos particulares acarreta, muitas
vezes, ao pagamento de coimas avultadas no âmbito de processos contra-ordenacionais,
que não teriam lugar caso existisse controlo prévio? Nem tampouco.
Além disso, JOÃO MIRANDA também menciona um outro problema que “ainda
que se trate de matérias técnicas, os peritos (técnicos privados) são chamados a controlar
e a certificar a legalidade das acções do promotor, sem que para tanto estejam sempre
habilitados da necessária formação jurídica ou sejam auxiliados por quem a detenha”8.
Inevitavelmente, tal realidade, resulta numa sobrecarga a recair sobre os técnicos que
assistem os particulares interessados na operação urbanística.
8
JOÃO MIRANDA, A Função Pública Urbanística e o seu Exercício por Particulares, Coimbra: Coimbra
Editora, 2012, cit., p. 511.
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Atos permissivos são, segundo DIOGO FREITAS DO AMARAL, os atos administrativos “que
possibilitam a alguém a adoção de uma conduta ou a omissão de um comportamento que, de outro modo,
lhe estaria vedado” – Curso de Direito Administrativo, Vol. II, Almedina, 2009, p. 256.
9
Em contrapartida, é defensável que, uma vez que a execução das operações
urbanísticas está sujeita a comunicação prévia, a sua prossecução está subordinada a um
controlo formal prévio. Destarte, aqui se alicerça o entendimento de que este é um
procedimento de controlo prévio, mesmo que de natureza tão-somente formal.
Seja como for, este último é o entendimento perfilhado pelo legislador que qualifica
o procedimento de comunicação prévia como um procedimento de controlo prévio, no
entanto, é de enfatizar que, de acordo com o Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 136/2014, este
é um “controlo prévio de natureza meramente formal”.
Com efeito, o RJUE, com as suas mais recentes alterações constantes no Decreto-Lei
n.º 136/2014, de 9 de setembro, não só não julga as operações urbanísticas sujeitas a
comunicação prévia como estão eximes de controlo prévio como se antecipa a sujeição
ao procedimento regulado pela subsecção V, da secção II do diploma.
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(iv) a realização de operações urbanísticas em desconformidade com o conteúdo da
comunicação prévia, traduzindo uma violação das normas que prescrevem uma
consistência entre, de um lado, a operação comunicada e respetivos documentos
instrutórios e, do outro, a operação realizada (artigos 4º, nº 4 e 32º nºs 2 e 4) e;
Do artigo 35º nº 9 não se poderá extrair que, vencido o prazo de 10 anos sobre a
emissão do título da comunicação prévia, quaisquer operações urbanísticas a esta sujeitas
ficam verdadeiramente isentas de fiscalização ou das medidas de reposição da legalidade
articuladas. Verdadeiramente, a rácio da norma expressa na letra da lei é que, uma vez
caducada a obrigação, resta apenas uma autorização do órgão competente para dispor das
ações de fiscalização pelos respetivos funcionários municipais (cfr. artigo 94º, nº 1). No
entanto, estes não terão de ordenar oficiosamente tais ações de fiscalização por passagem
do período-limite, ao invés, terão de praticar a discricionariedade decorrente da decisão
de as ordenar, especialmente quando estas são requeridas por terceiros interessados.
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6. Conclusão
Julgamos pertinente, ainda, referir que o novo regime não veio acompanhado de
quaisquer estudos demonstrativos quanto a saber se a “antiga” comunicação prévia teve
efeitos positivos ou negativos para a regulamentação urbanística nacional. Não é
justificado, empiricamente, a necessidade efetiva da adoção da nova solução.
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Bibliografia
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