JPN25072022
JPN25072022
JPN25072022
JOÃO PESSOA
2022
JUNIELSON DE PAULA NASCIMENTO
João Pessoa
2022
JUNIELSON DE PAULA NASCIMENTO
RESULTADO: Aprovado
BANCA EXAMINADORA
Ao Senhor Deus, o supremo criador há quem devo o dom da vida e tantas outras
coisas que não seria possível elencar neste espaço. Aos meus familiares, em especial Evelaine,
Guilherme e Gabriel que foram durante todo o curso um suporte fundamental, sem eles não
seria possível chegar ao fim dessa jornada.
Ao Conservatório Pernambucano de Música e a Orquestra Sinfônica Jovem da mesma
instituição. Foram minha casa durante muito tempo. Mais que uma escola de música, foi uma
escola de vida onde fiz grandes e verdadeiros amigos com quem tenho oportunidade de conviver
até hoje.
Aos professores Alex Klein, Isaac Duarte, Lúcio Sócrates, Ravi Shankar, Roberta Belo
e Roberto di Leo. Cada um a seu tempo e a sua maneira contribuíram para minha formação.
Certa vez, meu falecido avô me falou que uma das maiores qualidades que um homem pode ter
é a gratidão. A estes bravos professores eu sou grato. Obviamente não posso deixar de destacar
alguns que estiveram mais próximos. Começarei pelo professor Ravi Shankar: são tantas coisas
que nem sei como elencar. Mas os maiores ensinamentos são sem dúvida os de caráter pessoal,
que impressionantemente refletem na música. O professor Isaac Duarte foi, para mim, um pai
sempre presente em toda minha trajetória como oboísta, a Lúcio Sócrates pelas portas
profissionais abertas a pela amizade e Papito, como carinhosamente chamamos Roberto di Leo,
que se tornou um grande amigo!
A todos os professores que aceitaram participar da pesquisa. Agradeço especialmente
ao professor Fernando Gualda que em uma conversa suscitou uma série de questões que
contribuíram para a pesquisa. Aos colegas da classe de oboé da UFPB que aceitaram participar
da pesquisa. Aos professores do departamento de música e do departamento de educação
musical da UFPB, que contribuíram para a minha formação.
Como diz a bíblia, ``há amigos mais chegados que irmão´´. O mundo da música me
trouxe algumas pessoas que se enquadram assim. Gueber Santos, Isaac Soares, Kelsen Gomes,
Lúcio Sócrates, Josias Felipe, Josias Adolfo, Léa Rodrigues e Mirna Hipólito são pessoas que
levarei em meu coração por muito tempo, a ponto de correr o risco de esquecer alguém nessa
seleta lista.
Não poderia deixar de agradecer ao pianista Lucas Bojikian. Mais que um colaborador
no meu curso, foi um professor de música de câmara e me inspirou com sua música. Suas notas
falam, não são apenas sons conexos e organizados, é um mergulho profundo no que há de mais
nobre na humanidade ao tocar.
Aos colegas de curso que viraram amigos. Danrley, João e Giovanni!
À UFPB e à educação federal gratuita e de qualidade que têm sofrido tantos ataques nos
últimos anos há quem desejo vida longa e que possa continuar servindo a comunidade
mostrando que não é possível melhorar o mundo apenas com tecnicismo, mas também de tudo
que a área de humanas pode produzir!
À OSUFPB, à OSPB, à OSRN, à OSR e à BSCR. Grandes escolas para mim!
À Eduardo Lima, Isaac Soares, Mirna Hipólito e Robson Gomes, meu estimadoQuinteto
Parambuco! Pelo coleguismo, profissionalismo e pela possibilidade de estar em palcos que
nunca imaginei serem possíveis.
Aos meus amigos da Igreja Presbiteriana de Intermares na pessoa do Pr. Ygor Porfírio,
pelo cuidado, pelo ensino e pela comunhão, fundamentais na minha caminhada.
´´A experiência faz pela alma o que a educação
faz pela mente.´´
Casey Neistat
RESUMO
The present work is the result of our restlessness about the insertion of music by Brazilian
composers in Brazilian higher education institutions. The advent of oboe teaching in Brazil
dates back to the Joanino period, when several art institutions were created with the arrival of
the court, among them the Imperial Conservatory of Music. Due to Portugal's influence, the
teaching model adopted was the European conservatory, which includes in its repertoire the
European baroque, classical and romantic styles, essential in the oboist's education. This model
allows for the technical and musical development of the students, but does not stimulate
dialogue with other pedagogical possibilities. Thus, the objective of the present research is to
reflect on the pedagogical model adopted in Brazil and to contribute to the expansion of the
musical panorama for the oboe, especially regarding the Brazilian repertoire.The research was
conducted in four stages. In the first stage, we carried out a bibliographic review to understand
the process of construction of the repertoire of Brazilian composers for oboe, to understand the
development of oboe teaching in Brazil, as well as to select methodological procedures that
would allow us to obtain the background for this research. The second step was to apply semi-
structured questionnaires to the teachers and students. The third stage consisted of a
documental research of the recital programs of the oboe class at UFPB. Finally, the fourth step
was to analyze the questionnaires based on the theoretical framework and on the cross-
referencing of the data obtained in the questionnaires of the teachers, students and the
documentary research, resulting in an overview of the insertion of the repertoire of Brazilian
composers in Brazilian higher education institutions. The discussion about the oboe teaching
model is still very incipient, for this reason it is necessary to establish a reflective process that
conceives new pedagogical possibilities, which contemplate the most diverse matrixes that
compose the mosaic of musical making and consequently expand the repertoire in Brazilian
higher education institutions providing the insertion of Brazilian composers' music.
Isaac Duarte
Co-solista e corne inglês da Tonhalle-Orchester Zürich
Professor de oboé da Kantonschulle Zürich Oberland e Musikschule Zürich Oberland
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 13
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 18
2.1 BREVE CONCEITUAÇÃO SOBRE O QUE TRATO COMO MÚSICA BRASILEIRA
PARA OBOÉ 19
2.2 A MÚSICA DE COMPOSITORES(AS) BRASILEIROS(AS) PARA OBOÉ 20
2.3 O ENSINO DE OBOÉ NO BRASIL E A IMPORTÂNCIA DOS PROJETOS SOCIAIS 24
2.4 O ENSINO DE OBOÉ NO CONTEXTO DA COVID-19 29
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 31
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 46
REFERÊNCIAS 50
APÊNDICES 54
O oboé é um instrumento cônico da seção das madeiras, família das palhetas duplas.
Seu nome tem origem na palavra francesa hautbois que significa madeira alta e é uma clara
referência ao som penetrante do oboé. Segundo Fuks (2017, p.35, apud DOMINGUES, 2018),
tem sua produção sonora realizada pela vibração de duas lâminas flexíveis que se contrapõem
e formam um canal de passagem de ar. Alguns oboístas desenvolvem habilidades manuais para
a confecção de suas palhetas, indispensáveis à produção do som do instrumento. Por isso, de
certa forma, o oboísta também é uma espécie de artesão, pois trata do beneficiamento do caule
de um tipo de bambu nativo do Rio Nilo, o Arundo Donax.
Figura 1- Arundo Donax
chegado no Brasil, mas se pode inferir que era um oboé clássico que já possuía entre 6 e 10
chaves e uma extensão que abrangia do Dó 3 ao Ré 5.
Mota (2017) refletindo sobre os oboístas e professores de oboé no Rio de Janeiro, cidade
da corte, onde se conclui que havia a maior atividade musical e por consequência de transmissão
de saber, no século XIX constavam apenas 8 oboístas na extensa lista de músicos atuantes na
cidade. Oficialmente a atividade de ensino de oboé no Brasil iniciou-se com a fundação do
Conservatório Imperial de Música no Rio de Janeiro em 1848.
No princípio não havia um professor exclusivo de oboé. Francisco da Mota, nomeado
em 1846, era professor de flauta, fagote e corne-inglês(...) Mota foi um músico de
relativa importância do meio musical carioca, tendo exercido cargos na diretoria do
conservatório, além de ter atuado como instrumentista nos conjuntos orquestrais do
período.(SILVA, 2007, apud MOTA 2017, p. 78).
1
Trato como erudita a música dita clássica ou de concerto.
18
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
oboé da UFPB e sob a orientação do atual professor, classe esta que serviu como base de
pesquisa para entrecruzar os dados com as demais instituições de ensino superior.
2.1 BREVE CONCEITUAÇÃO SOBRE O QUE TRATAMOS COMO MÚSICA BRASILEIRA PARA OBOÉ
Talvez as considerações não contemplem, por óbvio motivo temporal, o que veio a ser
a música brasileira após a metade do século XX, como resultado de várias fusões que sim, se
utilizam de fontes populares, mas também foram influenciados por tendências composicionais
2
Art. 12. CF 1988 São brasileiros:
I - natos: a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não
estejam a serviço de seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que
qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil; c)os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro
ou mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente, ou venham a residir na
República Federativa do Brasil antes da maioridade e, alcançada esta, optem, em qualquer tempo, pela
nacionalidade brasileira ; II - naturalizados: a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira,
exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade
moral;b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa do Brasil há mais de
quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. (Redação
dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)§ 1º Aos portugueses com residência permanente no
País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os
casos previstos nesta Constituição . (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)
21
europeias como o dodecafonismo. Definir o que são obras brasileiras apenas pelas
considerações estético composicionais é uma tarefa difícil, inclusive pelas contribuições dos
compositores naturalizados e o contato dos natos com a música, bem como as tendências
europeias que também fazem parte da construção da identidade do repertório nacional, frutode
uma miscigenação contínua que abarca vários fenômenos em si.
Perroto (2013, p. 28) atesta que já no final do século XIX havia intensa atividade
operística e predomínio da música francesa. Nesse momento o corne inglês3 tem os primeiros
registros de obras nacionais.
A partir de 1888, compositores como Alexandre Levy (1864-1892), Leopoldo
Miguez, Francisco Braga e Henrique Oswald (1852-1931) já incluíam o instrumento,
mesmo que timidamente, em sua orquestração (PEROTTO, 2013, p. 29).
3
Instrumento da família do oboé. Transpositor, de tamanho maior, mas com sistema de produção de som e
digitação idênticas a do oboé.
23
4
Conservatório Pernambucano de Música, extensão da Universidade Federal da Paraíba e licenciatura da
Universidade Federal de Pernambuco.
5
Disponível em : https://www.youtube.com/watch?v=kLoDg-amFAs&t=481s
24
características, se não sofrer adaptações as novidades da época traz replicações de tradição oral
durante bastante tempo.
É preciso fazer um resgate histórico e compreender como o modelo foi estabelecido no
Brasil. Conforme Coutinho (2014, p.25) “era necessário instituir um sistema de ensino
conservatorial europeu, para que a prática musical se expandisse, visto que a relação ‘mestre-
aprendiz’ atendia apenas a uma parte da população e não mais supria os interesses da época”.
O modelo conservatorial pela característica tutorial, que pode ser considerado
inclusive tecnicista e desprovido de conexão com a realidade social, privilegia o estudo do
repertório requerido em audições e concursos. Sendo este repertório composto por obras que na
sua maioria pertencem aos períodos, barroco, clássico e romântico europeus.
Sem o devido diálogo que propicie ao aluno o repertório fundamental ao ingresso no
mercado de trabalho (orquestras e bandas sinfônicas e filarmônicas e/ou orquestras e bandas
militares), mas também um processo de conhecimento e experimentação de outras
possibilidades artísticas e expressivas. Lucena (2021, p. 27) trata o ensino conservatorial como
uma violência simbólica.
É possível perceber que a música brasileira para oboé é formada a partir de diversas
matrizes culturais, sendo a obra de compositores(as) brasileiros(as) para oboé vasta e variada
com propostas e estética que contemplam atributos amplamente diversos. Assim, existem ainda
elementos estéticos na música do século XX, tais como técnicas estendidas, recursos
eletrônicos, aleatoriedade, que podem distanciar alunos e profissionais, cuja formação não tenha
contemplado esse repertório durante o seu processo formativo.
Cremos que com o investimento público, o aumento da capacidade editorial e de
publicação tanto gráfica quanto fonográfica e um breve espaço de tempo, possibilitariam uma
maior difusão do repertório brasileiro para oboé entre o público e intérpretes.
No que diz respeito especificamente a difusão entre os oboístas brasileiros, é importante
observarmos como tem se desenvolvido o ensino do oboé no Brasil para
25
Apesar das primeiras referências do oboé no Brasil datarem do século XVIII, seu ensino
oficial iniciou-se em 1846 com a nomeação de Francisco Mota como professor de fagote, flauta
e corne inglês no Imperial Conservatório de Música do Rio de Janeiro.
Andrade (1967, apud MOTA, 2017, p.77) faz um breve release do oboísta e professor
Francisco da Mota:
executante e professor de fagote, flauta e corne-inglês. Foi aluno de José Maurício.
1822 foi nomeado para a real capela por aviso de 3 de outubro. 1831, quando foi
extinta a orquestra, continua a prestar serviço como instrumentista. Em 1841 assina
com outros a petição da Sociedade de Música, em que esta corporação pleiteia do
governo a concessão de loteria para a criação de um conservatório de música no Rio
de Janeiro. 1846 nomeado professor do conservatório de dança e música fundado
nesse ano no Campo da Aclamação. Nomeado em 1847 pela comissão administrativa
criada pelo decreto nº 496 de 21 de janeiro, para dirigir o conservatório de música.
1859, faleceu no Rio de Janeiro.
que perdurou até 1920. O primeiro professor exclusivamente de oboé foi Moacyr José de
Freitas.
Com o modelo do Instituto Nacional de Música sendo replicado em outras escolas de
música especializadas em outras metrópoles do Brasil, a difusão do ensino de oboé ampliou-
se na primeira metade do século XX. A fundação de conservatórios e escolas de música em
cidades como Belém, Recife, São Paulo e tantas outras ajudaram no crescimento do
instrumento no país. No entanto, foi a criação de conjuntos instrumentais estáveis como
Orquestra Sinfônicas, Bandas de Música e Militares, que contribuiu significativamente para a
disseminação do instrumento no Brasil, tendo em vista que as gravações de orquestras eram
raras e pouco acessíveis na época.
Assim, os concertos, óperas e outras atividades realizadas por essas instituições
musicais, foram importantes para despertar o interesse, principalmente entre o público mais
jovem, pelo oboé e tantos outros instrumentos.
Apesar da presença em agrupamentos músicas antes do século XX, a presença do oboé
tornou-se mais intensa e regular nos conjuntos musicais brasileiros e especificamente
nos da região Nordeste, através da criação de algumas orquestras, como a Orquestra
Sinfônica de Recife (1930), a Orquestra Sinfônica da Bahia (1944), a Orquestra
Sinfônica da Paraíba (1945) e posteriormente, a Orquestra Sinfônica do Rio Grande
do Norte (1976), concentrando nesses quatro estados, os principais instrumentistas de
palhetas duplas da região (DOMINGUES e RODRIGUES, 2021, p. 126 e 127).
Hoje, observa-se uma realidade diferente. Farias (2021), afirma que dentre os vinte e
seis estados da federação e o distrito federal, quinze possuem instituições de nível superior
que contemplam o ensino de oboé dentre suas possibilidades formativas. Mas os organismos
que talvez tenham proporcionado maior acesso ao estudo do oboé desde a década de 1990 têm
sido os projetos sociais (Hikiji, 2006, apud SOUZA, 2015, p.12). O oboé é um instrumento
mais caro quando comparado à flauta e ao clarinete, tornando-o muitas vezes inacessível para
um aluno interessado, mas que não tenha condições financeiras para adquiri-lo.
27
É importante ressaltar que um ambiente que dialogue com novas estratégias que se
adaptem melhor às necessidades dos sujeitos é talvez o próximo passo a ser dado, sem negar a
importância histórica da construção, que com erros e acertos permitiu com que o ensino de
oboé atingisse o patamar de excelência que adquiriu ao longo do tempo, permitindo aos
músicos desenvolver recursos expressivos que possam comunicar as ideias musicais inclusive
dos compositores(as) brasileiros(as). A discussão do presente está em torno de estratégias de
ensino que se adaptem às necessidades do contexto pela qual os indivíduos estão inseridos.
Queiroz (2020, p.155) questiona: “até quando, Brasil, vamos legitimar um ensino de
música elitista e descomprometido com os problemas que dia a dia assombram pessoas
desfavorecidas pela pátria colonialmente ensinada a ser excludente?”.
Pela própria advento do ensino do oboé no Brasil ter se dado no período Joanino, em
certa monta isso gerou um caráter elitista. O reflexo desse fenômeno pode ser observado
desde o público contemplado com acesso aos concertos quanto ao repertório. Como vimos
antes, a proclamação da república e a proposta de renovação estética musical propiciou que
compositores(as) brasileiros(as) pudessem iniciar um processo de apropriação de elementos que
viessem a caracterizar uma música brasileira identitária. Certamente tal fenômeno exige tempo
para ganhar forma. Talvez, até hoje estejamos discutindo que características constituemuma
música que se possa chamar de brasileira.
Um exemplo do diálogo entre o uso das técnicas composicionais globalizadas com uso
de elementos como o dodecafonismo, atonalismo, politonalismo e técnicas aleatórias ou uma
estética identitária que se apropria de elementos populares e culturais brasileiros no que se pode
chamar de nacionalista, se observa na obra de Breno Blauth. Existe diferença estéticapor
exemplo entre a Sonata para oboé e piano e o Concertino para oboé e orquestra de cordas, apesar
de que em momentos de ambas as obras se nota a fusão das estéticas acima citadas. O
Concertino para oboé foi composto numa fase mais tardia de Breno Blauth onde ele confessou
ao maestro Marlos Nobre que desejava voltar a uma estética mais nacionalista6.
6
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ba3SD_Jnb_s
29
7
Canto típico da Região Nordeste do Brasil. Consiste em um canto, algumas vezes sem palavras, cantado pelos
vaqueiros quando conduzem o gado pelas pastagens ou para o curral.
30
Outro aspecto que pode ser abordado ainda neste movimento é o harmônico. O uso da
escala nordestina8, que Guerra-Peixe (1980) define como uma estrutura autóctone tem algumas
possibilidades de emprego modal. No modo mixolídio, no modo dórico formando um acorde
menor com sétima menor e por isso muitas vezes classificado como modo mixolídio menor e
no caso da obra em questão o uso de uma escala exótica formada através do modo lídio. As
quatro primeiras notas da obra deixam o modo lídio, com a quartaaumentada e a sétima menor,
estabelecido. Tal análise pode ampliar o conhecimento harmônico do intérprete em uma
espécie de estudo multifocal da obra, podendo contribuir para a compreensão musical pela
proximidade estética.
O segundo movimento da obra, a Dança, explora outros parâmetros musicais, como
articulação e regularidade rítmica, dentro de uma linguagem que utiliza elementos estéticos
recorrentes no choro, tais como: melodia, harmonia, forma, ornamentos, entre outros. A
linguagem próxima e contextualizada com o meio do aluno é quase que um exercício da
pedagogia Paulofreiriana ao trazer para o processo de ensino-aprendizagem elementos que
permeiam o cotidiano do aluno (Freire, 1996).
8
Denominação concebida por ser eufônicamente reconhecida em músicas características do Nordeste.
31
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
b) o conhecimento por parte dos alunos nos diversos cursos oferecidos pela
UFPB do repertório brasileiro antes do ingresso e durante a participação na classe;
c) quais possibilidades de curso as classes de oboé das IES oferecem, analisar os
recitais promovidos pelas classes de oboé das IES;
d) a receptividade e compreensão prática da performance de obras de
compositores(as) brasileiros(as) por parte dos alunos sob a ótica dos professores;
Segundo Farias (2021), dentre os vinte e seis estados da federação e o distrito federal,
apenas quinze possuem instituições de nível superior que contemplam o ensino de oboé dentre
suas possibilidades formativas. Os questionários foram enviados por e-mail para todos os
docentes dessas instituições, dos quais tivemos o retorno de 10 professores9 (67%) de todasas
regiões brasileiras.
Os questionários foram enviados para 21 alunos das diversas modalidades oferecidas
pela classe de oboé da UFPB respondidos por 8 alunos (38%). Entre os 8 alunos, estão
representados 4 estados da federação de 3 regiões diversas e 1 aluno estrangeiro.
Acreditamos que esse recorte nos permitirá a construção e compreensão do panorama
atual da inserção da música de compositores(as) brasileiros(as) nos cursos de oboé em suas
diversas modalidades ofertadas.
9
Os professores que responderam o questionário são das seguintes instituições: Universidade Federal de
Pernambuco, Universidade Federal do Pará, Universidade Federal do Rio Grande do Norte (à época do recorte
da pesquisa), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Instituto Estadual Carlos Gomes, Universidade
Estadual de São Paulo, Universidade Federal de Santa Maria, Universidade Federal do Rio de Janeiro,
Universidade Federal da Bahia e Universidade Federal de Minas Gerais.
35
“Não há foco em música brasileira no curso. Veja, no bacharelado, penso que o foco
deve ser no repertório tradicional.´´ (Professor H).
As respostas nos permitem observar que existe o interesse da maioria dos professores
na inserção do repertório de compositores(as) brasileiros(as), mas ao mesmo tempo, não há
unanimidade no tocante a inserção do repertório composto por compositores(as) brasileiros(as).
É possível observarmos a predominância de um perfil de formação voltado às práticas
interpretativas do repertório barroco, clássico, romântico e algumas peças consideradas
essenciais do século XX que compõem o repertório tradicional, como podemos observar na
resposta do professor H: “não há foco em música brasileira no curso. Veja, no bacharelado,
penso que o foco deve ser no repertório tradicional”.
Os dados obtidos através da pergunta 4 e a resposta do professor H, convergem com
Mota (2017, p.17). O autor ressalta que os professores de instrumento enfrentam desafios ao
buscar conciliar o repertório consolidado pela tradição de ensino conservatorial iniciada no
século XIX, no qual há pouco espaço para a inclusão de novas obras. Uma das razões para a
não inserção de novas obras nos programas dos cursos de oboé, pode estar relacionada ao fato
dos professores de instrumento pautarem a elaboração dos seus conteúdos programáticos,
objetivando a inserção dos seus alunos no mercado de trabalho, o que influencia a delimitação
das obras trabalhadas durante o processo formativo dos alunos.
́ Guardadas as devidas proporções, pode-se dizer que a realidade, ao menos no que
diz respeito aos oboístas, é similar àquela descrita por Kingsbury (1988), de tocar
numa orquestra é o caminho almejado pelos alunos. Dessa forma, muito tempo dos
alunos de oboé é dedicado à preparação das audições e ao repertório exigido para o
ingresso numa orquestra (MOTA, 2017 p. 131).
poucos os alunos que estudaram obras brasileiras. Já o professor G discorre sobre a impressão
dos alunos quanto a algumas obras de compositores(as) brasileiros(as).
“Raros alunos estudaram obras brasileiras. Quando o fizeram foi por escolha. Logo
queriam ter feito.” (Professor B).
´ “Depende. Algumas obras são consideradas simples demais, outras repetitivas,
principalmente as obras nacionalistas, curioso não? Há certo interesse nas obras de
compositoras atualmente.” (Professor G).
Pode-se perceber que quando há estranheza ou algum tipo de antipatia ao repertório,
isto está diretamente ligado a questões estéticas das obras, como aponta o professor H:
´A princípio há uma estranheza. Isso, no entanto, se explica pela pouca precisão da
expressão "música brasileira", quando se trata do repertório e do ensino de música
nas universidades e pela associação do oboé unicamente ao repertório sinfônico ou
camerístico. A meu ver, a expressão é muito limitadora diante das vastas
possibilidades existentes quando se fala em "música brasileira" Ocorre que o
ambiente musical acadêmico no Brasil é fortemente marcado pela ideia de uma
música brasileira de cunho nacionalista-folclorista, sendo essa uma herança das
décadas de 1930/40/50. Quantas peças ou sonatas desse perfil exploram os ritmos e
modalismos nordestinos como o baião, por exemplo?
O professor I tem uma experiência docente um pouco diferente e aponta na aceitação
equânime por parte dos alunos das obras de compositores(as) brasileiros(as):
A receptividade dos alunos tem sido positiva ou indiferente. Ou seja, a inclusão das
obras brasileiras nos planos semestrais nunca foi questionada ou rejeitada por algum
aluno, apenas trabalhadas e apreciados os caminhos do trabalho da mesma maneira
que todas as outras obras incluídas.
10
Informação concedida em conversa informal ao perguntarmos sobre a encomenda de obras de Natal ao
Maestro Duda.
40
Após a análise das respostas dos docentes, observamos que o exercício livre e
democrático da docência no ensino superior, possibilita o estabelecimento de visões
antagônicas que encontram argumentos que sustentam as práticas pedagógicas dos professores.
A reflexão sobre as diferentes dimensões que envolvem o fazer musical, necessitam de
olhar holístico atento às aspirações de cada ente do meio. Temas que foram abordados nas
respostas dos docentes, certamente fazem parte de um processo de diálogo necessário para
pensar o futuro do ensino de oboé no Brasil e por consequência a inserção da música de
compositores(as) brasileiros(as) em toda a cadeia de produção musical.
Não foi possível obter o contato dos discentes de outras IES que frequentaram os cursos
de oboé entre 2016 e 2021, por este motivo concentramos a aplicação do questionário entre os
discentes dos cursos de oboé de extensão, graduação (bacharelado e licenciatura) e pós-
graduação da UFPB.
42
Com as respostas fica claro, que houve um deficit na familiarização dos alunos com o
repertório brasileiro, antes do ingresso na instituição de ensino superior. A quarta e a quinta
questões verificaram em que modalidade de curso os alunos estavam vinculados. Dos 8
43
alunos, dois cursam o mestrado em práticas interpretativas - oboé, na pós-graduação, sendo que
em um dos discentes já havia frequentado o curso de extensão anteriormente. Dois frequentam
o curso de extensão em oboé, três estão regularmente matriculados na graduação, bacharelado
em oboé e licenciatura em música com habilitação em oboé. Apenas um dos discentes,
encontra-se sem vínculo formal no momento.
A sexta questão explorou o contato dos discentes com obras de compositores(as)
brasileiros(as)durante o curso de oboé frequentado. Alguns dos alunos consideram que a
inserção do repertório brasileiro foi baixo:
´ ´Repertório um tanto limitado´´ (Aluno C)
´ ´Em comparação com o repertório mais clássico é muito pouco´´ (Aluno F)
Outros convergem na opinião de que a inserção do repertório brasileiro acontece na IES
em questão.
´ ´Buscamos trabalhar obras (para Oboé/Corne inglês) já existentes dos compositores
(brasileiros) que estão participando da pesquisa(...).´´ (Aluno A)
´´Bastante amplo, conhecendo as principais obras do repertório´´ (Aluno G)
´ ´A prática do repertório brasileiro voltado para o oboé era frequente durante cada
semestre do curso.´´ (Aluno H)
As respostas compreenderam em si, visões diferentes. Isso se dá por vários motivos,
mas talvez o principal seja o natural processo de escolha do repertório, a partir da análise das
necessidades momentâneas do aluno. Essa adaptação do repertório é corriqueira efundamental
para que o processo formativo oferecido aos discentes, contemple suas demandase objetivos
pessoais.
A sétima questão trata de compreender o processo de construção de uma performance
musical, a partir de músicas de compositores(as) brasileiros(as).
Figura 6 - Gráfico 2
44
“(...)É importante conhecer nossa cultura, língua e identidade que são regularmente
representadas através destas músicas. Temos muitos compositores excelentes que por vezes são
valorizados mais fora que dentro do nosso país.” (Aluno C).
matrizes culturais que compõem essas obras, quanto como instrumento de afirmação
identitária nacional.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar do ensino oficial do oboé no Brasil ter se iniciado no século XIX, é escassa a
bibliografia com autores nacionais que refletem sobre a performance e o ensino do oboé dentro
do contexto cultural, social e econômico brasileiro.
As instituições de ensino superior brasileiras têm importante papel na difusão e
democratização da arte como um todo; com a música de concerto não é diferente. Os cursos
oferecidos proporcionam diversas vivências que possibilitam o acesso a esse tipo de arte.
No entanto, apesar da discussão quanto às metodologias de ensino utilizadas nas IES
brasileiras e o repertório trabalhado durante os cursos de instrumento estar sempre presente nas
inúmeras reformulações de currículo e debates acadêmicos, percebemos que ainda não
alcançamos diretrizes que permitam a ampliação efetiva do panorama dos conteúdos e
repertórios trabalhados nos cursos de oboé.
A música, como linguagem, tem caráter subjetivo em muitos pontos, por essa razão, a
escolha de um repertório para um aluno, precisa contemplar tanto as aspirações do aluno quanto
às preocupações do professor em relação a sua formação e possibilidades de inserção no
mercado de trabalho. São linhas tênues que entrelaçam as proposições ideológicas da
instituição, o que o aluno quer e o que o mercado demanda em termos de habilidades e
conhecimentos.
A tradição do modelo pedagógico brasileiro, talvez fruto da colonização ou de um
globalismo presente, é a do modelo conservatorial europeu. A replicação desse formato,
estabelece a tradição não só na forma tutorial de ensino, quanto no repertório utilizado. O
repertório basilar para aquisição das habilidades técnicas e musicais no oboé, vem se
construindo e consolidando desde o século XVIII e se constitui majoritariamente de obras do
período barroco, clássico e romântico europeu.
49
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Mário de. Ensaio sobre a música brasileira. 3ª ed. São Paulo: Vila Rica, 1972.
_____. Apostilas do curso de História da Música Brasileira: IA/UNESP. São Paulo, 2003.
15v. Disponível em :
https://archive.org/details/ApostilasDoCursoDeHistriaDaMsicaBrasileiraIaunesp/Hmb-
Apostila01/. Acesso em :10 maio de 2022.
DOMINGUES, Ravi Shankar Magno Viana. Duo para Oboé e Fagote de Heitor
Villa-Lobos: um estudo analítico para uma proposta interpretativa para o oboé. Dissertação
(Mestrado em Música) - Universidade Federal de Minas Gerais. 87 f. Belo Horizonte, 2014.
Disponível em: https://repositorio.ufmg.br/handle/1843/AAGS-ADAJRF. Acesso em: 02 abr.
2022.
DOMINGUES, Ravi Shankar Magno Viana; RODRIGUES, Lea Claudino. A história do oboé
no nordeste do Brasil: Considerações preliminares. In: NODA, Luciana (org). Coletânea de
trabalhos apresentados no I Encontro Internacional da Associação Brasileira de Palhetas
Duplas e II Encontro Nordestino de Palhetas Duplas. João Pessoa, 2017. Disponível
em:http://plone.ufpb.br/editoraccta/contents/titulos/comunicacao/coletanea-de-trabalhos-
apresentados-2017-joao-pessoa-pb-anais-do-i-encontro-internacional-da-associacao-brasileira-
de-palhetas-duplas-ii-encontro-nordestino-de-palhetas-duplas-ufpb/prova_digital-
_coletanea.pdf. Acesso em 28 abr. 2022.
FARIAS, Eva Maria de Pontes Lima Tavares de. A construção de palhetas de oboé no Brasil:
Análise das metodologias utilizadas nas IES brasileiras. Youtube, 30 nov. 2021. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=TWYjeLQm_2I. Acesso em 23 de maio de 2022.
FRUNGILLO, Mário David. Nacionalismo musical e brasilidade: Uma revisão. 2014. 175 f.
Tese (Doutorado em Música) - Universidade Estadual Paulista, São Paulo, 2014. Disponível
em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/108806/000772078.pdf. Acesso em 07
jun. 2022.
KAPLAN, José Alberto. Ponteio e Dança, para oboé solo. Rio de Janeiro: Funarte. 1983.
1 partitura.
NASCIMENTO, Junielson de Paula. DOMINGUES, Ravi Shankar Magno Viana. Partita para
oboé solo (1960) de Ernst Widmer: considerações parciais sobre o processo de edição. In: II
ENCONTRO INTERNACIONAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PALHETAS
DUPLAS.2.,2018. São Paulo, Anais[...]. São Paulo: ECA-USP, 2018. p.62-67. Disponível em:
http://www.usp.br/cmu-eca/ANAIS2018.pdf. Acesso em 21 de maio de 2021.
PEIXE, César Guerra. Maracatus do Recife. Rio de Janeiro: Irmão Vitale, 1980.
QUEIROZ, Luis Ricardo Silva. Até quando Brasil? Perspectivas decoloniais para (re)pensar o
ensino superior de música. PROA: Revista de antropologia e arte, v. 1, n. 10, 2020.
SOUZA, Fabricio Vieira. A música no contexto de um projeto socia lna cidade de Bagé, RS:
Um estudo no projeto rodarte. 2015. 51f. TCC (Graduação). Universidade Federal do
Pampa.2015. Disponível em:
https://dspace.unipampa.edu.br/bitstream/riu/479/1/TCC%20-
%20Fabr%C3%ADcio.pdf. Acesso em: 02 jun.2022.
VIEIRA, Márlon Souza; MIGUEL, Fábio. Máscaras ao rosto e tampões à boca: implicações na
voz para a performance do professor que canta. Revista Música, São Paulo, v. 21, n. 1, p. 1-16,
2021. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revistamusica/article/view/180832. Acesso
em: 12 de maio de 2022.
55
APÊNDICES
11
Neste apêndice os nomes dos professores foram omitidos.
83
3 - Aproximadamente, quantas obras, os alunos dos cursos de oboé oferecidos por sua
instituição, preparam e apresentam por semestre?
Entre 2 e 4.
2.
Atualmente não possuo alunos em graduação em Oboé.
Difícil definir, pois há alunos de níveis diferentes. Nem todos estudam obras
inteiramente, às vezes um movimento de uma obra em um semestre, outros movimentos no
seguinte. Também são feitos estudos de técnica, que não necessariamente são considerados
obras do repertório.
4 obras em média. Isso varia de acordo com o aluno.
Seis.
Não há um número fixo, depende de cada aluna. Em geral duas obras longas.
Varia de acordo com o nível técnico do estudante. Alunos com deficiências técnicas
básicas, são levados a um trabalho de conhecimento/correção destes pontos, pela minhadecisão
de não levar adiante falhas técnicas que comprometeriam a qualidade de suas "performances"
posteriormente. Assim não há, em princípio, um número determinado de obras, mas antes um
nível de obras que facilitem a correção do problema localizado. No entanto creio que em média
posso resumir como estudos, pelo menos um concerto pelo menos
1 sonata do repertório internacional, pelo menos uma obra de compositor brasileiro,
eventualmente latino-americano, pelo menos uma música popular brasileira (inclusive como
estudo técnico, escolhido entre choros, sambas, maxixes, etc), pelo menos uma obra barroca,
com incentivos ao estudo de ornamentações. Em casos de alunos mais adiantados uma obra
com técnica expandida. Nas apresentações há duas: uma somente para a classe com obras talvez
ainda não maduras tecnicamente, mas que são apresentadas frente à classe justamente
84
para evitar eventos traumáticos ou negativos quando os movimentos da obra podem ser, por
exemplo, tocados em tempo bem menos rápidos mas limpos. A outra apresentação exige uma
maturidade técnica e muitas vezes é feita com outros professores dos instrumentos de sopro,
quando cada aluno toca uma obra, podendo ser um concerto, sonata, obra solo, não havendo
qualquer compromisso estético em relação à elaboração do programa. Alguns alunos tocam
mais de uma obra.
Geralmente construo o plano semestral dos alunos com uma média de sete obras, entre
elas solo, com acompanhamento de piano/cravo e/ou orquestra. Mas isso pode variar diante das
particularidades de cada aluno.
De duas a três peças. A resposta da pergunta anterior é: extensão e graduação -
bacharelado. Tenho mantido em oferta um curso de extensão gratuito de iniciação ao oboé.
Uma.
As vezes 1, às vezes nenhuma.
Improviso de Osvaldo Lacerda, suite de Breno Blauth.
Não se aplica.
Não há exigência nesse sentido.
25 % do repertório do Bacharelado é de peças brasileiras.
Não há foco em música brasileira no curso. Veja, num bacharelado, penso que o foco
deve ser no repertório tradicional.
O repertório brasileiro é visto no contexto do repertório como todo o resto, com a
mesma importância. Não somente as duas obras citadas como também todo o repertório
85
dificuldades importantes e diferentes umas das outras. Diferentes oboístas também podem
considerar as mesmas dificuldades como sendo de níveis diferentes de amadurecimento musical
e técnico.
Falta de referências de gravações das obras e aquisição das partituras.
Acesso ao repertório; dificuldade técnica; oportunidade para apresentação; problemas
para encontrar acompanhamento -- como piano, por exemplo --, caso não seja obrasolo, entres
outras.
As dificuldades são as mesmas de qualquer repertório. Afinal, estamos falando de
técnica oboística em ambos os casos.
Nos últimos anos os compositores tem tratado (ou alguém por eles) da qualidade do
material destas obras. A ABM, Academia Brasileira de Música, entre outros órgãos, oficiais ou
não, tem cuidado da impressão e divulgação das obras. Alguns compositores que sempre
tiveram o cuidado de fazer cópias à mão muito claras e bonitas, foram impressas com a grafia
original e resultaram muito boas (ex. Osvaldo Lacerda). Vejo inclusive uma importância muito
grande no contato com a escrita manual destes compositores, como revelador deaspectos outros,
não diretamente ligados à música em si, mas mais à personalidade do compositor. Não há
dificuldade especial para tratar do repertório brasileiro, mas um conhecimento mais amplo de
nossa música popular, folclórica, indígena, negra, certamente ajudaria na aceitação e
interpretação do repertório da música de concerto. Temos uma cultura musical riquíssima e por
demais importante para ser ignorada.
Isso pode variar muito de aluno para aluno, pois somos seres diversos, com formações
e referências completamente distintas. Assim sendo, acredito que uma dificuldade que ainda
temos é a pouca oferta de material audio/visual que sirva de referência para os alunos.
Infelizmente ainda vigoram muitos preconceitos de classe social e de racismo em
relação às músicas brasileiras de origem popular, mesmo que elas tenham sido rigorosamente
88
escritas por músicos como Pixinguinha e Moacir Santos. Creio que as fórmulas acima citadas
de "empréstimos" das músicas populares pelas músicas ditas eruditas encontram-se esgotadas,
como os citados exemplos dos modalismos e ritmos nordestinos. A maior dificuldade maior,
para mim, reside exatamente no artificialismo dessa produção nacionalista-folclorista, hoje, a
meu ver, totalmente anacrônica. Não quero com isso, no entanto, desvalorizar o trabalho dos
compositores do passado nem generalizar a resposta. Há peças muito interessantes que vem
sendo exploradas, e nesse sentido destaco o trabalho do Ficarelli e do Lúcius Motta. Uma das
principais dificuldades para a interpretação está na quase sempre precária edição das partituras,
como exemplo cito a produção do Ernst Mahle de Piracicaba. A meu ver este aspecto poderia
ser tratado numa mesa temática nos encontros da ABPD e evoluir até para a construção de uma
política pública para resolver esse grave problema.
artística para sua execução. Mesmo as obras aparentemente simples podem ser muito bem
executadas, compreendidas mais profundamente, e/ou causar maior impressão nos ouvintes.
Penso que o repertório seja um meio para isso, e não um fim em si mesmo.
O repertório brasileiro para oboé é relevante por que traz para o aluno elementos da
cultura nacional por meio de suas nuances rítmicas, melódicas e harmônicas. Vivência
imprescindível para que ele possa ampliar o contexto em que está inserido.
A importância não é grande.
Como disse, procuro focar no repertório tradicional. Penso que as obras do Cláudio
Santoro, Sonatina, Fantasia e Mutationen são muito interessantes , a peça do Kaplan também
é interessante. A Partita do Widmer é muito complexa, não têm despertado tanto interesse entre
minhas alunas. Creio, por fim, que uma obra deve ter qualidades que excedam a simples questão
da nacionalidade do compositor. Em primeiro lugar a obra deve ser um "boa obra paraoboé",
esse critério é mais importante para mim do que o da nacionalidade do compositor. Dito isto,
toco muita música brasileira, mas não obrigo, nem espero que minhas alunas façam o mesmo.
8 - Se possível, anexe programas dos recitais realizados pelos discentes entre 2016 e
2021.
19.
15 anos.
17 anos.
12.
13.
3-Em sua formação anterior ao ingresso nos cursos ofertados na classe de oboé da
UFPB, qual foi seu nível de contato com o repertório para oboé brasileiro?
92
5- Qual ou quais cursos você participou ou participa na UFPB? Por favor indique a
situação acadêmica ( Matriculado, trancado ou concluído).
Extensão.
Matriculada.
Cursos de oboé.
Mestrado em Práticas Interpretativas (matriculado).
Regularmente Matriculado.
Bacharelado (concluído).
Bacharelado (trancado), Extensão (concluído).
Extensão.
12
Questão respondido por 6 alunos.
93
como foi o caso dos "Três Estudos para Oboé e Piano", de José Siqueira - que também
dialogam com a pesquisa.
Ninguno.
O contato é prazeroso por tentar representá-los e divulgá-los.
Repertório um tanto limitado.
Uma peça brasileira por semestre.
Em comparação com o repertório mais clássico é muito pouco.
Bastante amplo, conhecendo as principais obras do repertório.
A prática do repertório brasileiro voltado para o oboé era frequente durante cada
semestre do curso.
7- Caso já tenha interpretado uma ou mais obras brasileiras para oboé, como foi o
processo de aprendizagem e apresentação?
8- Quantas obras em média você prepara ou preparou por semestre? Quantas são (ou
foram) em média brasileiras?
Relacionado ao curso atual: no primeiro semestre foram sete obras, sendo cinco dessas
de compositores brasileiros. Agora, no segundo semestre, estou preparando três obras, de
compositores brasileiros.
Ninguna.
94
No mínimo uma.
Foram uma obra mensal até o fim do período.
1 peça.
2 a 3.
As vezes em determinado semestre trabalho com peças brasileiras as vezes não
4 obras por semestre em média, sendo 1 obra brasileira.
Em média 4 obras por semestre, 1 em cada 4 são obras brasileiras escritas para oboé.
Sim. Primeiramente pela visibilidade que música brasileira merece ter, proporcionando
assim através da prática desse tipo de repertório a receptividade dos músicos, alunos e público,
segundo para estimular os compositores a produzir novas peças para o instrumento.
Sim.
Eu acredito que devemos conhecer e valorizar o legado da nossa cultura nacional
Sim, além de ser um rico repertório, as instituições vem cada vez mais considerando
como obrigatório o ensino e aprendizado dos compositores brasileiros.
Considero de grande importância a prática do repertório brasileiro voltado para oboé
pois isso ajuda a valorizar o acervo composicional voltado a esse instrumento e implica no
estimulo para que mais obras sejam escritas para o oboé.