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RESUMO
Objetivo: descrever a percepção dos profissionais sobre a efetividade terapêutica dos
Johnatan Martins SousaI
atendimentos grupais. Método: pesquisa descritiva, exploratória, qualitativa, do tipo
ORCID: 0000-0002-1152-0795 intervenção, realizada com 30 profissionais de Centros de Atenção Psicossocial Álcool e
Raquel Rosa Mendonça do ValeII Drogas de um município do Centro-Oeste brasileiro, de março a abril de 2019. Utilizaram-se
instrumentos autoaplicáveis e rodas de conversa. Os dados emergentes foram submetidos
ORCID: 0000-0003-2089-8842
à análise de conteúdo. Resultados: os profissionais percebem os benefícios das práticas
Eurides Santos PinhoIII grupais e os relacionam a alguns fatores terapêuticos do grupo. Fica evidente o pouco
conhecimento formal e sistematizado sobre os elementos do processo grupal. Considerações
ORCID: 0000-0002-1158-8247
finais: o indício da efetividade terapêutica dos processos grupais está comprometido devido
Daniel Ribeiro de AlmeidaIV à ausência de registros sistematizados que permitam perceber a evolução terapêutica dos
ORCID:0000-0002-1434-8273 usuários, ainda que os profissionais percebam a emersão dos fatores terapêuticos dos grupos
no contexto da atenção psicossocial.
Fernanda Costa NunesV Descritores: Processos Grupais; Efetividade; Saúde Mental; Serviços Comunitários de Saúde
ORCID:0000-0001-5036-648X Mental; Pessoal de Saúde.
Continuação do Quadro 1
Percepção da efetividade terapêutica Fator Indicadores
Relatos dos profissionais
terapêutico terapêuticos
Em relação à percepção sobre a efetividade terapêutica dos Primeiro é a permanência, se o
grupos, mesmo sem terem conhecimento sistematizado e formal, indivíduo permanece ou não. (P1
pois, durante os momentos de reflexão nas RC, os profissionais - CAPS 1)
Acho que pela frequência a gente
não se referiram aos FT como um mecanismo de avaliação dos vai avaliando. (P15 -CAPS 3)
atendimentos grupais de acordo com referencial teórico de Yalom e Permanência
No grupo de família, uma coisa
Leszcz(3), sinalizando a escassez de registros e a dificuldade de uma que eu acho que também dá
Coesão do usuário no
possibilidade de avaliação é
padronização da forma de avaliar se o grupo está dando certo ou grupo
a frequência. Nós temos um
não, mesmo assim, ao descreverem os fenômenos que permeiam número de pessoas que são
as suas práticas com grupos nos serviços, emergiram alguns dos frequentes há muito tempo, e tem
compromisso com esse grupo, se
FT como altruísmo, instilação de esperança, desenvolvimento de sentem bem, trazem isso para o
técnicas de socialização, coesão grupal e comportamento imi- grupo. (P25 - CAPS 4)
tativo, relacionando-os ao processo de avaliação da progressão E no grupo de família, a gente
do grupo. Os profissionais relataram situações que consideram vê as vivências de cada um, o
como indicadores terapêuticos observados durante a realização que passa, tem um que está
começando agora e que no
do atendimento grupal (Quadro 1). Relato de
Comportamento momento do relato falou: “Olha,
comportamento
imitativo eu tentei fazer isso com o meu
imitativo
Quadro 1 - Percepção dos profissionais sobre a efetividade terapêutica filho, está dando certo“. [...] então,
intragrupos dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, Goiânia, no caso desse adolescente que
Goiás, Brasil, 2019 estava com a mãe está dando
certo. (P18 - CAPS 3)
Fator Indicadores
Relatos dos profissionais Quadro 2 - Percepção dos profissionais sobre a efetividade terapêutica
terapêutico terapêuticos
da atividade grupal ao final dos encontros grupais e em momentos extra
A gente percebe a melhora, a
grupos dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, Goiânia,
mudança de comportamento, o
Goiás, Brasil, 2019
autocuidado, o cuidado com o outro,
no sentido de solidariedade com o
Cuidado Elementos
grupo, com alguém, a percepção do
mútuo entre os indicativos de
Altruísmo que o outro faz, se aquilo incomoda, Relatos dos profissionais
integrantes do efetividade
me toca. Se aquilo o move de alguma
grupo terapêutica
forma, é muito pelo o que eles falam,
pelo comportamento e dos relatos de
diminuição da redução do uso, ou da Outros resultados que eu vejo, assim, eu acho que
abstinência mesmo. (P2 - CAPS 1) um pouco a indicação que está tendo aqui do
Indicação do CAPS
CAPS. Eles mesmos falam assim: “Eu tenho que ir
As questões que eles verbalizam: pelos usuários
pro CAPS”. Então alguma coisa está acontecendo
“Ah, na minha casa as coisas aí. (P3 -CAPS 1)
estão melhores, porque eu estou
assim, porque eu fiz isso, porque E normalmente, quando o grupo tem mais de
aconteceu aquilo”. (P1 -CAPS 1) Discussão entre
um coordenador, sempre ao final do grupo os
A principal avaliação é a fala os coordenadores
coordenadores conversam, como foi a dinâmica,
deles [...] o que eles trazem de que pós-grupo
como foi a aceitação dos adolescentes. (P19 - CAPS 3)
mudou da vida deles, o que ainda
Relatos de não melhorou, do jeito como ele Eu acho que esse momento de avaliação é um
Instilação de progressos/ chegou e como ele está hoje. (P7 processo de mudanças, o grupo tem o objetivo
esperança melhora dos - CAPS 2) que você esperava alcançar com ele. Você vai
usuários As falas sobre as aquisições que as Alcance do reavaliando isso durante o grupo, perceber que você
pessoas tiveram após participarem objetivo do grupo vai em direção àquele objetivo, assim, isso de forma
do grupo para a gente é muito verbal mesmo, eu acho que também é um indicativo
importante, eu percebo muito isso de que está alcançando os objetivos, é o que eu
no grupo de família. O pessoal traz tenho usado dentro dos grupos. (P17 - CAPS 3)
muito essas questões de como eles
eram antes de vir para o grupo Pelo menos no grupo que eu estava, a gente sempre
e como que eles se comportam tem o hábito de solicitar uma avaliação ao final de
agora. (P25 - CAPS 4) cada encontro, eu acho que essa é uma forma de
avaliar. (P6 - CAPS 2)
[...] eu fiquei lembrando, quando
Eu acho que também a gente tem utilizado os
vocês estavam aí conversando,
feedbacks mesmo aos finais do grupo ou durante.
de momentos assim, de
Avaliação do Uma forma super básica mesmo de avaliação ou
participantes que chegaram bem
processo grupal registrar mesmo, tipo desenhos, tipo composição
travadinhas, interagindo pouco
Desenvolvimento Observação da na perspectiva dos musical, esse tipo de avaliação a gente também, tem
com as outras, no outro dia já
de técnicas de mudança de usuários usado aqui”. (P17 - CAPS 3)
chegavam, despojadas, deitavam
socialização comportamento Eu acho que uma coisa que a gente pode dizer que
e se sentiam parte daquele
é uma possibilidade de avaliação é estar sempre
espaço, pertencente àquilo,
conversando no grupo para perceber o que eles estão
apresentava o grupo para outras
achando, o que o grupo está percebendo, se está
pessoas. Eu acho que essas coisas
sentindo bem, se a forma que a gente está abordando
foram mostrando. (P15 - CAPS 3)
está legal. (P25 - CAPS 4)
Continua
Os profissionais também apontaram elementos que pode- a aprendizagem interpessoal, o altruísmo e o compartilhamento
riam mensurar a efetividade terapêutica da atividade grupalao de informações(34). Tais resultados evidenciam a presença de FT
final dos encontros grupais e em momentos extra grupos,como em diferentes grupos e em diferentes campos da saúde, ainda
adiscussão entre os coordenadores após o grupo, a avaliação que, muitas vezes, os próprios coordenadores de grupo não
do alcance dos objetivos ou indicação do CAPS pelos próprios tenham clareza da potencialidade das intervenções grupais que
usuários e a solicitação de feedback dos membros do grupo antes conduzem e, via de regra, desconhecem os constructos teóricos
do encerramento do atendimento (Quadro 2). referentes a este tema.
Este estudo, por sua vez, identificou diferentes frequências
DISCUSSÃO dos fatores terapêuticos nos atendimentos nos CAPS, variando
entre nunca, raramente, frequentemente e sempre presentes, nos
A identificação dos FT é uma atribuição do coordenador de grupos realizados pelos profissionais de saúde. Tal fato pode ser
grupo com o objetivo de compreender as transformações dos justificado em razão de não ser possível garantir que todos os FT
membros do grupo(3). A partir da identificação destes fatores, o se manifestem ao mesmo tempo na vida do grupo, pois alguns
coordenador é capaz de refletir sobre o processo grupal e enten- estão mais presentes em alguns estágios do processo grupal(29).
der o seu movimento(29). É importante entender que os FT estão Durante as RC com os profissionais, a efetividade terapêutica
estritamente relacionados com a coordenação do facilitador, dos grupos foi atribuída a fatores, como o altruísmo, instilação
membros do grupo e as técnicas escolhidas(30). de esperança, desenvolvimento de técnicas de socialização,
Em um serviço, pode haver uma diversidade de grupos e coesão grupal e comportamento imitativo, ainda que mencio-
manifestar diferentes FT a depender das forças que impactam nados sem a devida compreensão teórica de cada um deles e
os mecanismos terapêuticos e o grupo, como o tipo de grupo, o reconhecidamente não utilizados como parâmetros de avaliação
estágio da terapia e as diferenças individuais entre os pacientes(24). sistematizada da progressão do grupo. Importa saber que os FT
Esses fatores são ferramentas que possibilitam compreender o são interdependentes e complementares em um determinado
funcionamento do grupo da criação passando pela manutenção momento para se manifestarem no grupo(3).
e pelo desenvolvimento, o que propicia e fortalece condições O altruísmo foi explicitado pelo cuidado mútuo entre os in-
favoráveis à mudança(13). tegrantes e com o grupo. Esse FT é próprio da terapia de grupo,
Este estudo mostrou a presença de vários FT nos grupos sendo relacionado com a experiência do integrante do grupo
realizados nos CAPSad segundo os profissionais de saúde. A ser útil aos demais por meio da socialização de problemas se-
universalidade, o compartilhamento de informações e a coesão melhantes e oferta de cuidado e suporte, sugestões, insights e
grupal foram os FT identificados em todos os grupos realizados abrandamento(3).
por eles. Alguns outros, como comportamento imitativo, instilação A instilação de esperança foi revelada por meio dos relatos de
de esperança, altruísmo, catarse, coesão e fatores existenciais melhora dos integrantes do grupo ou depoimento de progressos
foram observados na maioria dos atendimentos grupais. Por obtidos por eles, que despertam grandes esperanças aos que
outro lado, a reedição corretiva do grupo familiar primário, fatores recebem essa mensagem, potencializando a crença dos usuários
existenciais e desenvolvimento de técnicas de socialização nunca no modelo de tratamento em grupo(3). Além disso, no contexto
foram identificados pelos profissionaisno instrumento de FT. grupal, cada integrante se encontra em um patamar de enfren-
A presença de FT também foi sinalizada por outros estudos: tamento, e o contato com outras pessoas que obtiveram avanços
em um grupo voltado para assistência a pessoas vivendo e con- durante o tratamento em grupo pôde despertar esperança aos
vivendo com HIV/AIDS, foi possível identificar inúmeros desses demais que ainda se sentem fragilizados(35).
fatores, por meio das experiências dos seus participantes, como O FT relativo ao desenvolvimento de técnicas de socialização
compartilhamento de informações, recapitulação corretiva do também pôde ser evidenciado no depoimento de um dos coor-
grupo familiar primário, desenvolvimento de técnicas de socia- denadores de grupo,que citou a mudança de comportamento
lização, aprendizagem interpessoal, comportamento imitativo, introspectivo de uma integrante do grupo para uma atitude mais
coesão grupal e altruísmo(31); com grupo de pessoas portadoras sociável, revelando um aprendizado social e desenvolvimento
de diabetes, verificou-se os seguintes: oferecimento de infor- de habilidades sociais básicas de se relacionar de forma direta,
mação, coesão, universalidade, desenvolvimento de técnicas de honesta e íntima com outras pessoas do grupo(3).
socialização, aprendizagem interpessoal, instilação de esperança, A coesão grupal, por sua vez, proporciona o relacionamento
altruísmo e comportamento imitativo(32). aprofundado, em que os membros do grupo estão dispostos a
No campo da saúde mental, a literatura assinala pesquisas revelações pessoais, assumir riscos e enfrentar conflitos, como
que retratam a existência dos FT nas intervenções grupais, também o processo de aceitação interpessoal e compreensão,
como descritos por Yalom e Leszcz(3): em grupo de dinâmica além do compromisso dos usuários com o grupo(3,36). É um
infantil ofertado por uma clínica psicológica de uma universi- elemento muito importante, pois é um pré-requisito para que
dade estadual brasileira voltado para crianças de até 11 anos, outros FT possam operar no grupo, estando relacionado com a
durante a sua prática cotidiana, foram identificados FT, como estabilidade de seus membros, pois quanto menos coesos forem
compartilhamento de informações, comportamento imitativo, os participantes, maior será a probabilidade de ruptura com o
catarse, dentre outros(33); com um grupo de ouvidores de vozes grupo. Além disso, grupos pouco coesos possuem maior rotati-
em um CAPS, ao longo de 62 sessões, identificaram-se, por vidade de pessoas, o que pode prejudicar os usuários assíduos
meio das vivências dos integrantes do grupo, a universalidade, e, consequentemente, a efetividade do grupo(3).
Neste estudo, este FT foi identificado pela frequência e envolvi- e sobre a atuação do coordenador. Para se atingir um objetivo,
mento dos participantes do grupo entre si. A coesão, portanto, está são necessários comportamentos que são guiados pelo feedback,
relacionada à ligação que os integrantes do grupo têm uns com os sendo o retorno ao emissor fundamental no contexto das relações
outros e com o grupo como um todo. Grupos que apresentam coe- interpessoais. Posto isto, se faz fundamental que os membros e
são exacerbada, sentimentos como afeto, conforto, pertencimento, não apenas o coordenador do grupo aperfeiçoem a habilidade de
valorização pessoal e aceitação emergem no contexto grupal com dar e receber feedback individual e também ao próprio grupo(40).
maior fluidez, fazendo com que os integrantes do grupo se sintam Por fim, o pesquisador, que também é coordenador de grupos,
mais confortáveis para exporem as suas emoções(35). ao lidar com fenômenos relativos às relações intra e interpes-
Outro FT, evidenciado na fala de um dos profissionais, foi o de soais no contexto grupal, precisa reconhecer que sua postura
comportamento imitativo, que pode se manifestar por meio da é determinante sobre as repercussões na dinâmica do grupo.
imitação de um novo comportamento espelhado tanto no coor- Durante o processo, pode desempenhar distintos papéis diante
denador do grupo quanto nos demais membros, concretizando dos acontecimentos no interior do grupo(38,41). Entretanto, inde-
uma experimentação de novas ações(3). Além dos FT presentes na pendentemente da postura assumida por ele, reconhecer e avaliar
dinâmica grupal, foram relatados pelos participantes elementos os FT intrínsecos ao grupo é imprescindível, pois pode fornecer
importantes, como a avaliação do processo grupal e terapêutico. Ao elementos na identificação dos mecanismos que contribuem
final dos encontros, os coordenadores solicitam aos participantes para a transformação dos envolvidos neste processo(35).
o feedback, que permite avaliar a efetividade dos atendimentos,
bem como do processo grupal na perspectiva dos usuários,e em Limitações do estudo
momentos extra grupais,tais como a indicação do CAPS pelos
próprios usuários, a discussão entre os coordenadores pós-grupo e No decorrer do processo investigativo, houveram limitações
o alcance dos objetivos traçados para as respectivas intervenções. relativas ao funcionamento das unidades de saúde mental,
A indicação e/ou divulgação do serviço pelos usuários sinaliza que, por algumas vezes, impossibilitou que mais profissionais
uma confirmação dos benefícios que a assistência do CAPSad participassem dos momentos de coleta de dados devido à
proporciona a eles. Esta conotação está alinhada a alguns dos grande demanda dos serviços. Além disso, como é constitutivo
princípios da assistência humanizada em saúde, no quesito sa- da pesquisa qualitativa, os resultados encontrados não devem
tisfação dos usuários, uma vez que eles expressam sua vontade ser generalizados, embora possibilitem evidenciar o contexto de
em permanecer sob os cuidados do CAPSad como integrante significados expressos na prática com grupos dos profissionais
dos grupos, inclusive querendo que beneficie outras pessoas de saúde mental e a consequente ampliação de horizontes na
que precisam de cuidado em saúde em álcool e outras drogas. A assistência a esse público específico.
humanização da assistência à saúde favorecea transformação a A análise realizada não permitiu refletir sobre a relação entre
nível de gestão e das atividades da equipe de saúde, a qual alcança os tipos de grupos e FT, as categorias profissionais e modelos de
os usuários de saúde, em aspecto integral, desde o acolhimento, coordenação. Esses limites contribuem para que novas investiga-
postura ética profissional, compreensão da subjetividade do ções sejam delineadas no serviço, ou que novas análises, sobre
outro e entendimento do sujeito singular(37). o mesmo corpus, sejam conduzidas futuramente, contribuindo
Assim, a avaliação dos coordenadores de grupo após a realiza- para a área.
ção da intervenção é necessária para mensurar o processo grupal,
além das ponderações relativas de cada elemento participante na Contribuições para a área da saúde e enfermagem
visualização dos respectivos projetos terapêuticos singulares. Essa
avaliação é possível quando os coordenadores trabalham na pers- As reflexões apresentadas neste artigo evidenciaram o poten-
pectiva de co-terapia, que viabiliza a atuação complementar desde o cial do recurso dos FT em trabalhos em grupos, possibilitando
planejamento do grupo até a avaliação dos fenômenos grupais(3,38). avaliação do processo grupal em diferentes momentos. Permitiu
Esta prática fortalece o trabalho em equipe pelo compartilhamento a compreensão do funcionamento do grupo, fornecendo ferra-
de percepções sobre o processo grupal e a consequente análise menta importante para os profissionais da saúde em suas práticas
da progressão do grupo. A partir das reflexões compartilhadas, de cuidado em enfermagem e na saúde, de um modo geral, na
pode-se empreender as necessárias adequações entre os objetivos perspectiva da assistência integral à saúde. É plenamente possível
do grupo e do coordenador, devendo ser priorizados os objetivos empregar a tecnologia grupal em outros contextos de cuidado
estabelecidos pelo próprio grupo(39). na diversidade dos serviços de saúde, espaços comunitários, da
A frequência dos usuários nos grupos é outro fator a ser educação, gestão de pessoas e em diferentes níveis de atenção,
considerado, visto que alguns usuários são vinculados ao CAPS ou como estratégia de prevenção e promoção em saúde.
e aos grupos para cumprimento de medidas socioeducativas,
permanecendo na instituição apenas pelo período determinado CONSIDERAÇÕES FINAIS
pela justiça. A despeito desta possibilidade, é preciso considerar
os objetivos terapêuticos do seguimento das intervenções que Pôde-se apreender, com este estudo, que os FT foram perce-
os usuários participaram. bidos pelos profissionais em suas práticas grupais, o que revela
Os profissionais relataram o feedback como uma forma de a importância dessas estratégias de cuidado no contexto da
avaliar a efetividade do grupo e do processo grupal na ótica dos atenção psicossocial, mesmo que ainda grande parte deles não
usuários diante do que é discorrido sobre o seu desenvolvimento detivessem conhecimentos teóricos sobre o tema. O fato de não
registrarem sistematicamente relatos e ou memórias sobre as potentes e que poderiam ser melhor explorados e utilizados
intervenções grupais faz com que deixem de perceber elementos em prol da reinserção social das pessoas que são atendidas nos
importantes na avaliação da efetividade terapêutica dos grupos. serviços especializados.
O que não é registrado passa a ser invisível no processo Vale o destaque de que o processo interativo entre pesqui-
terapêutico dos usuários. Dá uma conotação de menos valia à sadores e profissionais dos CAPSad que conduziam grupos foi
intervenção em si, e, na medida em que não é valorizada pelos o diferencial para que eles pudessem tomar consciência que a
próprios profissionais, implica sentimento de frustração, por prática que empreendem é rica de opções terapêuticas, podendo
executarem uma ação aparentemente sem significado. A escassez dar sentido existencial para os envolvidos no processo.
de registros traz impacto para além do significado da ausência Aponta-se a necessidade de realizar novas pesquisas sobre a
de dados registrados nos prontuários, com implicações que temática tanto em serviços comunitários de saúde mental quanto
fragilizam desde a evolução individual do usuário do serviço, as em outros cenários de assistência à saúde em seus distintos níveis
ações grupais realizadas até a geração de dados do que realmente de complexidade, onde práticas grupais são implementadas,
ocorre na dinâmica dos serviços. incorporando, além dos coordenadores de grupo, os usuários
Outro agravante se relaciona aos sistemas de informação que participam das intervenções.
preconizados pelo SUS, que ficam empobrecidos de elementos
necessários para a adoção de medidas avaliativas das intervenções AGRADECIMENTO
mediados pela tecnologia grupal na rede de serviços especia-
lizados. Esta é uma preocupante realidade, especialmente ao Agradecemos a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
considerar a recomendação das políticas públicas para o campo de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro e ao RECUID -
da saúde mental de que os atendimentos dos CAPS devem ser REFLETIR PARA CUIDAR - Grupo Interdisciplinar de Pesquisa e
essencialmente oferecidos em contextos grupais, passíveis do Intervenção em Saúde Mental da Faculdade de Enfermagem
emprego de inúmeros recursos terapêuticos, inegavelmente (FEN) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
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