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EDIÇÃO SUPLEMENTAR 1

ENFERMAGEM PSIQUIÁTRICA E SAÚDE MENTAL ARTIGO ORIGINAL

Efetividade dos grupos terapêuticos na atenção psicossocial:


análise à luz do referencial dos fatores terapêuticos
Effectiveness of therapeutic groups in psychosocial care: analysis in the light of yalom’s therapeutic factors
Eficacia de los grupos terapéuticos en la atención psicosocial: análisis a la luz del referencial de factores terapéuticos

RESUMO
Objetivo: descrever a percepção dos profissionais sobre a efetividade terapêutica dos
Johnatan Martins SousaI
atendimentos grupais. Método: pesquisa descritiva, exploratória, qualitativa, do tipo
ORCID: 0000-0002-1152-0795 intervenção, realizada com 30 profissionais de Centros de Atenção Psicossocial Álcool e
Raquel Rosa Mendonça do ValeII Drogas de um município do Centro-Oeste brasileiro, de março a abril de 2019. Utilizaram-se
instrumentos autoaplicáveis e rodas de conversa. Os dados emergentes foram submetidos
ORCID: 0000-0003-2089-8842
à análise de conteúdo. Resultados: os profissionais percebem os benefícios das práticas
Eurides Santos PinhoIII grupais e os relacionam a alguns fatores terapêuticos do grupo. Fica evidente o pouco
conhecimento formal e sistematizado sobre os elementos do processo grupal. Considerações
ORCID: 0000-0002-1158-8247
finais: o indício da efetividade terapêutica dos processos grupais está comprometido devido
Daniel Ribeiro de AlmeidaIV à ausência de registros sistematizados que permitam perceber a evolução terapêutica dos
ORCID:0000-0002-1434-8273 usuários, ainda que os profissionais percebam a emersão dos fatores terapêuticos dos grupos
no contexto da atenção psicossocial.
Fernanda Costa NunesV Descritores: Processos Grupais; Efetividade; Saúde Mental; Serviços Comunitários de Saúde
ORCID:0000-0001-5036-648X Mental; Pessoal de Saúde.

Marciana Gonçalves FarinhaVI


ABSTRACT
ORCID:0000-0002-2024-7727 Objective: to describe professionals’ perceptions about the therapeutic effectiveness of
Elizabeth EsperidiãoI group care. Method: a descriptive, exploratory, qualitative research of the type of intervention
carried out with 30 professionals from Psychosocial Care Centers for Alcohol and Drugs in a
ORCID:0000-0002-9284-6243
municipality in center-westerns Brazil, from March to April 2019. Self-applicable instruments
and round circles were used. The emerging data were submitted to content analysis. Results:
professionals perceive the benefits of group practices and relate them to some therapeutic
factors in the group. It is evident the little formal and systematized knowledge about the group
I
Universidade Federal de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil. process elements. Final considerations: the therapeutic effectiveness of group processes is
II
Centro Universitário de Mineiros. Trindade, Goiás, Brasil. compromised due to absence of systematic records that allow to perceive the therapeutic
III
Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida de Goiânia. progress of users, even though professionals perceive the emergence of therapeutic factors
Aparecida de Goiânia, Goiás, Brasil of the groups in the context of psychosocial care.
IV
Pontifícia Universidade Católica de Goiás. Goiânia, Descriptors: Group Processes; Effectiveness; Mental Health; Community Mental Health
Services; Health Personnel.
Goiás, Brasil.
V
Secretaria da Saúde do Estado de Goiás. Goiânia, Goiás, Brasil.
VI
Universidade Federal de Uberlândia. Uberlândia, Minas RESUMEN
Objetivo: describir la percepción de lo sprofesionales sobre la efectividad terapéutica del
Gerais, Brasil.
cuidado grupal. Método: investigación descriptiva, exploratoria, cualitativa, tipo intervención,
realizada con 30 profesionales de los Centros de Atención Psicosocial por Alcohol y Drogas de
Como citar este artigo: un municipio del Medio Oeste brasileño, de marzo a abril de 2019. Se utilizaron instrumentos
Sousa JM, Vale RRM, Pinho ES, Almeida DR, Nunes FC, autoaplicables y círculos de conversación. Los datos emergentes se sometieron a análisis de
Farinha MG, et al. Effectiveness of therapeutic groups in contenido. Resultados: los profesionales perciben los beneficios de las prácticas grupales y los
psychosocial care: analysis in the light of yalom’s therapeutic relacionan con algunos factores terapéuticos en el grupo. Es evidente el escaso conocimiento
factors. Rev Bras Enferm. 2020;73(Suppl 1):e20200410. formal y sistematizado sobre los elementos del proceso grupal. Consideraciones finales: la
indicación de la efectividad terapéutica de los procesos grupales se ve comprometida por
doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0410
la ausencia de registros sistemáticos que permitan percibir la evolución terapéutica de los
usuarios, auncuando los profesionales perciban la emergencia de los factores terapéuticos
Autor Correspondente: de los grupos en el contexto de la atención psicossocial.
Johnatan Martins Sousa Descriptores: Procesos de Grupo; Efectividad; Salud Mental; Servicios Comunitarios de
E-mail: [email protected] Salud Mental; Personal de Salud.

EDITOR CHEFE: Antonio José de Almeida Filho


EDITOR ASSOCIADO: Andrea Bernardes

Submissão: 15-06-2020 Aprovação: 13-09-2020

http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2020-0410 Rev Bras Enferm. 2020;73(Suppl 1): e20200410 1 de 9


Efetividade dos grupos terapêuticos na atenção psicossocial: análise à luz do referencial dos fatores terapêuticos
Sousa JM, Vale RRM, Pinho ES, Almeida DR, Nunes FC, Farinha MG, et al.

INTRODUÇÃO É fundamental que profissionais que coordenam grupos


tenham conhecimento sobre dinâmica e processo grupal e dos
Nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), a maioria das demais elementos que permeiam a prática com gruposenquanto
ofertas terapêuticas são desenvolvidas em grupo. Sabe-se que espaço de acolhimento e cuidado. A partir dessa percepção, o
as atividades grupais possibilitam a criação de um meio para profissional terá condições de planejar os encontros grupais, a fim
acolhimento, permitindo o compartilhamento de experiências, de otimizar a condução do grupo para estimular a coexistência
funcionando como potencial importante de construção de sentidos desses elementos.
frente ao vazio e empobrecimento ocasionados pela exclusão Dessa forma, sendo os atendimentos grupais estratégias de
e assujeitamento(1-2). A vivência do processo grupal possibilita cuidado relevantes no campo da saúde mental(10-11), é importante
inúmeros resultados terapêuticos, principalmente na realidade a realização de problematizações e discussões sobre a questão
dos serviços especializados em saúde mental. da terapeuticidade dos grupos, para investigar como essas
Irving D. Yalom, médico psiquiatra norte-americano, contribuiu práticas estão sendo operacionalizadas no Brasil nesse cenário
imensamente para o estudo dos grupos por meio da sistematiza- específico(12), levando em consideração a relevância dos FT do
ção de 11 fatores terapêuticos (FT), que são fundamentais para grupo nos processos de promoção e reabilitação da saúde(13).
a compreensão do processo de mudança que ocorre em função Há evidências de que os FT se tornamexcelentes instrumentos
da interação humana no grupo. Esse conhecimento possibilita de ajuda quando o grupo é conduzido adequadamente, pois são
aos coordenadores selecionar as estratégias necessárias para ferramentas que avaliam a eficácia das intervenções grupais(14).
maximizar a potência do grupo em diferentes cenários. Os FT Estudos nessa vertente podem apoiar na identificação dos FT nas
que constituem a base de uma abordagem efetiva da prática com práticas grupais, além de contribuir para o aprimoramento da
grupos sãoinstilação de esperança, universalidade, compartilha- abordagem grupal e o alcance dos resultados desejados pelos
mento de informações, altruísmo, recapitulação corretiva do grupo profissionais dos serviços especializados em saúde mental.
familiar primário, desenvolvimento de técnicas de socialização,
comportamento imitativo, aprendizagem interpessoal, coesão OBJETIVO
grupal, catarse e fatores existenciais(3).
O grupo é capaz de proporcionar benefícios semelhantes à terapia Descrever a percepção dos profissionais sobre a efetividade
individual, pela manifestação de vários FT que contribuem para terapêutica dos atendimentos grupais.
mudanças atitudinais provenientes da articulação da atuação do
facilitador, das ações dos membros do grupo e dos próprios sujeitos. MÉTODOS
Além disso, tais fatores representam um parâmetro relevante para
a avaliação e o (re)planejamento do processo grupal, pois a sua Aspectos éticos
presença revela que a condução do grupo está no caminho certo,
enquanto sua ausência sinaliza a necessidade de aprimoramento Todo o desenvolvimento da pesquisa obedeceu ospreceitos
da abordagem grupal pelo coordenador(3-5). éticos presentes na Resolução 466/2012(15) do Conselho Nacional de
A relevância das práticas grupais em saúde mental tem sido Saúde, sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres
discutida em estudos recentes como importantes ferramentas Humanos da UFG. Para assegurar o sigilo da identidade dos profissio-
de assistência psicossocial de indivíduos que necessitam de nais e dos serviços participantes, estes foram codificados pela letra
cuidados mentais(6). A interação do grupo fomenta esperança P e números (P1 a P29 e CAPS 1 a CAPS 4, respectivamente). Todos
e otimismo, permitindo aos participantes a percepção de que os colaboradores concordaram em participar do estudo mediante
não são os únicos a vivenciarem certos problemas. A troca de assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).
informações, a liberdade para a expressão de emoções reprimidas
ou bloqueadas, bem como o desenvolvimento da habilidade Tipo de estudo e referencial teórico-metodológico
de se relacionar também produzem intenso bem-estar aos que
participam dessa modalidade de cuidado(7). Esta pesquisa foi desenvolvida nos moldes da pesquisa in-
Estudo com profissionais que atuam em serviços de saúde tervenção, fundamentada pelos princípios da abordagem qua-
mental constatou que a deficiência de construtos teóricos em litativa, e de caráter descritivo-exploratório, em que a interação
relação ao processo grupal pode limitar o desenvolvimento de pesquisador/objeto investigado/participantes, tal qual preconiza
atividades terapêuticas grupais. A partir do momento em que o este tipo de estudo, foi relevante na construção coletiva dos
trabalhador não domina a tarefa da coordenação, o grupo tende elementos constitutivos da pesquisa, que aliou intervenção e
a diminuir seu potencial terapêutico, e, muitas vezes, passa a ser processo investigativo visando uma nova relação entre a forma-
apenas um agrupamento de pessoas(8). ção do conhecimento, teoria/prática, sujeito/objeto, no sentido
FT como a coesão grupal é importante para a manutenção do de propiciar a análise e as diversas formas de manifestação do
grupo e para a produção de demais FT. O coordenador de grupos fenômeno em questão(16-20).
pode levar o grupo à coesão, quando consegue associar a sua Vale dizer também queo relato da pesquisa aqui apresentado
competência com a formação de uma boa aliança terapêutica. foi norteado pelo COREQ, que é um roteiro consolidado para a
No entanto, faltam dados conclusivos de que a coesão do grupo, divulgação de estudos qualitativos(21). O referencial teórico que
a aliança terapêutica e a competência do facilitador predizem o sustentou a análise dos resultados obtidos provém dos pressu-
resultado do tratamento(9). postos referentes aos FT existentes no contexto grupal.

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Efetividade dos grupos terapêuticos na atenção psicossocial: análise à luz do referencial dos fatores terapêuticos
Sousa JM, Vale RRM, Pinho ES, Almeida DR, Nunes FC, Farinha MG, et al.

Cenário do estudo O instrumento de FT(23) foi construído baseado no referencial de


Yalom e Leszcz(3) e Vinogradov e Yalom(24) pela equipe de pesquisado-
O estudo foi realizado em quatro Centros de Atenção Psicos- res, sendo elaboradas 11 questões fechadas, uma para cada FT, não
social Álcool e Drogas (CAPSad), serviços de saúde de caráter se referindo ao nome técnico, mas sim à expressão do fenômeno no
aberto e comunitário,especializados em atender dependentes contexto grupal, com uma linguagem mais simples e objetiva. Para
de álcool e outras drogas, que têm por base o tratamento do cada item havia quatro variáveis de registro, para a identificação da
paciente em liberdade, buscando sua reinserção social. Todos ocorrência dos FT na prática com grupos dos profissionais (nunca,
estão localizados em um município de grande porte da Região raramente, frequentemente e sempre). Após a elaboração, o instru-
Centro-Oeste do Brasil, sendo dois CAPSad tipo II, um CAPSad mento foi encaminhado via e-mail para pesquisadores da temática
tipo III e um CAPSiad (infanto-juvenil). de grupos e letramento em saúde para avaliação e validação em
A classificação desses serviços varia em função do tamanho relação à forma e conteúdo, recebendo devolutiva de três expertises
populacional dos municípios, sendo tipo II para aqueles com de tecnologia grupal e uma de letramento em saúde.
mais de 70 mil habitantes e tipo III quando tiverem quantitativo Após a construção dos instrumentos de coleta de dados, foi
superior a 150 mil habitantes e em funcionamento 24 horas du- realizado um teste piloto em um CAPS com a equipe de pesqui-
rante os sete dias da semana. O CAPSiad destina o atendimento sadores, simulando todas as etapas cronológicas do estudo, e os
a crianças e adolescentes que apresentam intenso sofrimento dados emergentes foram analisados estritamente para verificar o
mental pelo uso de álcool e outras drogas, recomendados para alcance aos objetivos propostos para, posteriormente, adentrar
municípios com um quantitativo superior a 70 mil habitantes(22). no campo da pesquisa propriamente.
A coleta de dados ocorreu entre abril e março de 2019, nos res-
Fonte de dados pectivos serviços e em datas previamente agendadas, coincidentes
com as reuniões ordinárias das equipes, buscando favorecer o maior
A seleção dos entrevistados foi realizada por meio de amos- número de participantes na pesquisa. Em todos os momentos
tragem não probabilística. Participaram deste estudo 30 profis- houve a participação de no mínimo dois pesquisadores.
sionais de saúde, com nível médio e ou superior de escolaridade, A escolha pela roda conversa (RC) como a estratégia nor-
incluindo os gestores. Foram considerados critérios de inclusão ter teadora da coleta de dados foi pelo fato da aproximação dos
idade superior a 18 anos, ter experiência ou estar desenvolvendo pesquisadores com a tecnologia grupal como ferramenta de
trabalho com grupos e estar em exercício profissional no período transformação da realidade, por meio do compartilhamento de
da coleta de dados. Foram critérios de exclusão os afastamentos vivências e pela construção de novos conhecimentos de forma
de profissionais em razão de férias ou licença do serviço. coletiva, tendo os integrantes do grupo um papel ativo nesse
processo. Trata-se de uma estratégia que visa estimular a reflexão,
Coleta e organização dos dados a troca de experiências dos colaboradores e a inserção de novas
informações, para a ressignificação de sentidos sobre a temáti-
Os dados foram obtidos por meio de questionário de perfil ca abordada. É importante criar um ambiente seguro para um
profissiográfico,instrumento de avaliação dos FT e roteiro de diálogo entre os participantes por meio da escuta, estímulo da
entrevista semi-estruturado para roda de conversa(23).Este último fala e a utilização de técnicas para mobilização do grupo. É uma
contém11 questões norteadoras para conhecer as percepções dos metodologia participativa de intervenção psicossocial pontual,
profissionais sobre suas práticas com grupos no cenário da atenção utilizada em diversos espaços visando propiciar reflexão sobre
psicossocial: 1) Como são definidos os profissionais que coordenam um tema. Onúmero máximo de participantes ideal é até 30
os grupos? 2) Quais critérios para a criação destes grupos? 3) Há pessoas, para garantir que todos possam falar e ser escutados(25).
planejamento para cada encontro grupal? Ou há planejamento A RC é comumente dividida em três momentos: 1. Preparação
para o atendimento em geral? Como é esse processo? 4) Como é (com o acolhimento inicial dos participantes, sensibilização e
feito o encaminhamento do usuário aos grupos? Como é pensada estímulo ao processo interativo do diálogo); 2. Trabalho (em
a indicação terapêutica para encaminhar um usuário para o grupo? que ocorre o processamento do tema favorecendo a explanação
5) Onde os grupos acontecem? Como é a estrutura dos locais onde dos participantes e propiciar a reflexão); 3. Avaliação (momento
são realizados? 6) Os coordenadores usam técnicas de grupo na de averiguar o que foi aprendido e apreendido pelo grupo)(25).
condução dos atendimentos? Como são escolhidas as técnicas? À vista disso, foram realizadas quatro RC, no total, uma em
Como é a condução do grupo? 7) Há algum tipo de avaliação cada serviço estudado. Na etapa de preparação, foi realizada a
acerca da efetividade terapêutica do grupo para cada participante? sensibilização dos profissionais para a temática e a participação
8) Existem critérios para a alta no atendimento grupal? Ou para na pesquisa, sendo explanados, pelos pesquisadores, os objeti-
a indicação de outros grupos/oficinas? 9) Vocês identificam, nos vos do estudo e a forma como iria acontecer a coleta de dados.
seus atendimentos grupais, fatores que facilitam e fatores que Após a assinatura do TCLE, partiu-se para a apresentação dos
dificultam a condução dos grupos? 10) Sentem a necessidade de participantes, sendo entregue pela equipe de pesquisadores
se instrumentalizar quanto ao manejo grupal? 11) Algum tema material (papel, canetinha, broche ou barbante), para que eles
que gostaria de aprofundar em umpossível processo de educação confeccionassem um crachá com o nome que gostariam de serem
permanente? Destaca-se a pergunta sobre efeitos terapêuticos dos chamados.Em seguida, foi solicitado que cada um verbalizasse
grupospara o presente artigo, que teve como foco as discussões em uma qualidade que acreditavam possuir, para criar um clima de
torno da efetividade dos grupos, na percepção dos profissionais. acolhimento e aquecimento para a próxima etapa.

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Efetividade dos grupos terapêuticos na atenção psicossocial: análise à luz do referencial dos fatores terapêuticos
Sousa JM, Vale RRM, Pinho ES, Almeida DR, Nunes FC, Farinha MG, et al.

Posteriormente, na etapa do trabalho, os participantes foram RESULTADOS


instruídos para preencherem o questionário de perfil profissiográ-
fico, com o intuito de obter a caracterização das equipes atuantes Caracterização dos participantes
nos serviços estudados, além de identificar quais trabalhadores
estavam envolvidos em atividades grupais. Em seguida, aplicou-se A maioria dos participantes era do sexo feminino (27/30), com
o instrumento de avaliação de FT para todos que empreendiam idade variando entre 28 e 64 anos. A formação dos profissionais
intervenções grupais naquele momento, com vistas a verificar sua abrangeu uma diversidade: psicologia (10), serviço social (5),
percepção sobre os FT nas ações que estavam envolvidos. Dentre musicoterapia (3), artes (3), técnico de enfermagem (3), enfer-
os 25 profissionais que afirmaram coordenar grupos atualmente magem (2), terapia ocupacional (2), educação física (1) e gestão
nos CAPS, dois não conseguiram responder o instrumento, pois pública (1). Em relação à especialização, 6 possuíam em saúde
tiveram que se ausentar neste momento da coleta de dados mental, 16 em outras áreas e 8 não tinham.
devido a demandas do serviço. Na sequência, foram disparadas Nas rodas de conversa, tivemos a participação de quatro
as perguntas norteadoras, para melhor conhecer suas percep- profissionais no CAPS 1, nove profissionais no CAPS 2, oito pro-
ções acerca dos fatores com possíveis efeitos terapêuticos nos fissionais no CAPS 3 e oito profissionais no CAPS 4, com o total
atendimentos grupais que empreendem junto aos usuários dos de 29 participantes, pois uma técnica de um dos serviços não
CAPSad. Por fim, a avaliação do encontro foi realizada por meio pôde participar desse momento para prestar atendimento na
da técnica do solilóquio(26), que consistiu na vocalização de uma recepção do CAPS.
palavra que refletisse a forma como que os profissionais estavam
saindo daquele momento. Ocorrência de fatores terapêuticos nos grupos
Cada encontro durou cerca de duas horas e foram registrados
em gravador digital de voz e transcritas para análise posterior, Os FT são uma ferramenta importante de mensuração da
com registros também em diário de campo, feitos pelo auxiliar efetividade nos grupos. Na Tabela 1, encontra-se a percepção
de pesquisa capacitado para esta finalidade. Esta atividade foi de 23 profissionais sobre o funcionamento dos grupos por
coordenada por três facilitadores, o pesquisador responsável tam- meio das respostas do instrumento sobre FT, aplicadosdurante
bém pós-graduando em dinâmica de grupo e gestão de equipes, a realização das rodas de conversa. Os dados estão apresentados
uma docente mestre com formação em consultoria e gestão de em frequência absoluta.
grupos e um auxiliar de pesqui-
sa acadêmico de enfermagem. Tabela 1 - Distribuição da presença de fatores terapêuticos nos grupos segundo a percepção dos coordenadores
Após a análise dos dados, foi de grupos dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, Goiânia, Goiás, Brasil, 2019
ofertado um processo educa-
tivo a partir do diagnóstico do Fatores terapêuticos
Nunca Raramente Frequentemente Sempre Total
conhecimento dos profissionais n n n n n
sobre tecnologia grupal durante Universalidade 0 0 13 10 23
a coleta de dados, com a utiliza- Instilação de esperança 0 2 17 4 23
Altruísmo 0 4 17 2 23
ção da oficina como estratégia. Compartilhamento de informações 0 0 12 11 23
Reedição corretiva do grupo familiar primário 2 8 11 2 23
Análise dos dados Desenvolvimento de técnicas de socialização 1 5 15 2 23
Comportamento imitativo 0 3 18 2 23
Coesão 0 1 15 7 23
O conteúdo oriundo dos Catarse 0 3 16 4 23
instrumentos de coleta de Fatores existenciais 1 3 15 4 23
Aprendizagem interpessoal 0 2 17 4 23
dados (questionário de perfil
profissiográfico e instrumento
de avaliação de FT) e das ro-
das de conversa e diário campo foram submetidos à análise de Categorização
conteúdo de Bardin(27), com uso do software Atlas.ti(28), específico
para análise de dados qualitativos. A categorização do material Para complementar, validar e aprofundar as informações co-
foi realizada em conformidade com os passos da análise de letadas pelo instrumento de FT, foram feitas algumas perguntas
conteúdo, composta por três etapas: pré-análise (fase marcada nas rodas de conversa, específicas sobre a efetividade terapêutica
pela organização: escolha dos documentos a serem analisados, a dos grupos e de acordo com a análise de conteúdo. Os sentidos
formulação de hipóteses e dos objetivos e a criação de elemen- e significados das falas dos participantes foram agrupados em
tos que possam subsidiar a interpretação final, com o intuito de categorias e subcategorias que refletem a prática com grupos
realizar uma sistematização de ideias iniciais por meio de uma nos CAPSad. O foco neste estudo se concentra na categoria
leitura flutuante); exploração do material (consiste em operações Características dos atendimentos grupais, em que subcategoria
de codificação, decomposição ou enumeração); tratamento dos Percepção da efetividade terapêutica dos grupos emergiu, trazendo
resultados obtidos e interpretação (operações estatísticas simples as percepções das equipes multiprofissionais sobre os efeitos
ou mais complexas, quadros de resultados, diagramas, figuras terapêuticos nos atendimentos grupais no cenário da saúde
e modelos que ilustram as informações obtidas na análise)(27). mental e atenção psicossocial.

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Efetividade dos grupos terapêuticos na atenção psicossocial: análise à luz do referencial dos fatores terapêuticos
Sousa JM, Vale RRM, Pinho ES, Almeida DR, Nunes FC, Farinha MG, et al.

Continuação do Quadro 1
Percepção da efetividade terapêutica Fator Indicadores
Relatos dos profissionais
terapêutico terapêuticos
Em relação à percepção sobre a efetividade terapêutica dos Primeiro é a permanência, se o
grupos, mesmo sem terem conhecimento sistematizado e formal, indivíduo permanece ou não. (P1
pois, durante os momentos de reflexão nas RC, os profissionais - CAPS 1)
Acho que pela frequência a gente
não se referiram aos FT como um mecanismo de avaliação dos vai avaliando. (P15 -CAPS 3)
atendimentos grupais de acordo com referencial teórico de Yalom e Permanência
No grupo de família, uma coisa
Leszcz(3), sinalizando a escassez de registros e a dificuldade de uma que eu acho que também dá
Coesão do usuário no
possibilidade de avaliação é
padronização da forma de avaliar se o grupo está dando certo ou grupo
a frequência. Nós temos um
não, mesmo assim, ao descreverem os fenômenos que permeiam número de pessoas que são
as suas práticas com grupos nos serviços, emergiram alguns dos frequentes há muito tempo, e tem
compromisso com esse grupo, se
FT como altruísmo, instilação de esperança, desenvolvimento de sentem bem, trazem isso para o
técnicas de socialização, coesão grupal e comportamento imi- grupo. (P25 - CAPS 4)
tativo, relacionando-os ao processo de avaliação da progressão E no grupo de família, a gente
do grupo. Os profissionais relataram situações que consideram vê as vivências de cada um, o
como indicadores terapêuticos observados durante a realização que passa, tem um que está
começando agora e que no
do atendimento grupal (Quadro 1). Relato de
Comportamento momento do relato falou: “Olha,
comportamento
imitativo eu tentei fazer isso com o meu
imitativo
Quadro 1 - Percepção dos profissionais sobre a efetividade terapêutica filho, está dando certo“. [...] então,
intragrupos dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, Goiânia, no caso desse adolescente que
Goiás, Brasil, 2019 estava com a mãe está dando
certo. (P18 - CAPS 3)
Fator Indicadores
Relatos dos profissionais Quadro 2 - Percepção dos profissionais sobre a efetividade terapêutica
terapêutico terapêuticos
da atividade grupal ao final dos encontros grupais e em momentos extra
A gente percebe a melhora, a
grupos dos Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas, Goiânia,
mudança de comportamento, o
Goiás, Brasil, 2019
autocuidado, o cuidado com o outro,
no sentido de solidariedade com o
Cuidado Elementos
grupo, com alguém, a percepção do
mútuo entre os indicativos de
Altruísmo que o outro faz, se aquilo incomoda, Relatos dos profissionais
integrantes do efetividade
me toca. Se aquilo o move de alguma
grupo terapêutica
forma, é muito pelo o que eles falam,
pelo comportamento e dos relatos de
diminuição da redução do uso, ou da Outros resultados que eu vejo, assim, eu acho que
abstinência mesmo. (P2 - CAPS 1) um pouco a indicação que está tendo aqui do
Indicação do CAPS
CAPS. Eles mesmos falam assim: “Eu tenho que ir
As questões que eles verbalizam: pelos usuários
pro CAPS”. Então alguma coisa está acontecendo
“Ah, na minha casa as coisas aí. (P3 -CAPS 1)
estão melhores, porque eu estou
assim, porque eu fiz isso, porque E normalmente, quando o grupo tem mais de
aconteceu aquilo”. (P1 -CAPS 1) Discussão entre
um coordenador, sempre ao final do grupo os
A principal avaliação é a fala os coordenadores
coordenadores conversam, como foi a dinâmica,
deles [...] o que eles trazem de que pós-grupo
como foi a aceitação dos adolescentes. (P19 - CAPS 3)
mudou da vida deles, o que ainda
Relatos de não melhorou, do jeito como ele Eu acho que esse momento de avaliação é um
Instilação de progressos/ chegou e como ele está hoje. (P7 processo de mudanças, o grupo tem o objetivo
esperança melhora dos - CAPS 2) que você esperava alcançar com ele. Você vai
usuários As falas sobre as aquisições que as Alcance do reavaliando isso durante o grupo, perceber que você
pessoas tiveram após participarem objetivo do grupo vai em direção àquele objetivo, assim, isso de forma
do grupo para a gente é muito verbal mesmo, eu acho que também é um indicativo
importante, eu percebo muito isso de que está alcançando os objetivos, é o que eu
no grupo de família. O pessoal traz tenho usado dentro dos grupos. (P17 - CAPS 3)
muito essas questões de como eles
eram antes de vir para o grupo Pelo menos no grupo que eu estava, a gente sempre
e como que eles se comportam tem o hábito de solicitar uma avaliação ao final de
agora. (P25 - CAPS 4) cada encontro, eu acho que essa é uma forma de
avaliar. (P6 - CAPS 2)
[...] eu fiquei lembrando, quando
Eu acho que também a gente tem utilizado os
vocês estavam aí conversando,
feedbacks mesmo aos finais do grupo ou durante.
de momentos assim, de
Avaliação do Uma forma super básica mesmo de avaliação ou
participantes que chegaram bem
processo grupal registrar mesmo, tipo desenhos, tipo composição
travadinhas, interagindo pouco
Desenvolvimento Observação da na perspectiva dos musical, esse tipo de avaliação a gente também, tem
com as outras, no outro dia já
de técnicas de mudança de usuários usado aqui”. (P17 - CAPS 3)
chegavam, despojadas, deitavam
socialização comportamento Eu acho que uma coisa que a gente pode dizer que
e se sentiam parte daquele
é uma possibilidade de avaliação é estar sempre
espaço, pertencente àquilo,
conversando no grupo para perceber o que eles estão
apresentava o grupo para outras
achando, o que o grupo está percebendo, se está
pessoas. Eu acho que essas coisas
sentindo bem, se a forma que a gente está abordando
foram mostrando. (P15 - CAPS 3)
está legal. (P25 - CAPS 4)
Continua

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Efetividade dos grupos terapêuticos na atenção psicossocial: análise à luz do referencial dos fatores terapêuticos
Sousa JM, Vale RRM, Pinho ES, Almeida DR, Nunes FC, Farinha MG, et al.

Os profissionais também apontaram elementos que pode- a aprendizagem interpessoal, o altruísmo e o compartilhamento
riam mensurar a efetividade terapêutica da atividade grupalao de informações(34). Tais resultados evidenciam a presença de FT
final dos encontros grupais e em momentos extra grupos,como em diferentes grupos e em diferentes campos da saúde, ainda
adiscussão entre os coordenadores após o grupo, a avaliação que, muitas vezes, os próprios coordenadores de grupo não
do alcance dos objetivos ou indicação do CAPS pelos próprios tenham clareza da potencialidade das intervenções grupais que
usuários e a solicitação de feedback dos membros do grupo antes conduzem e, via de regra, desconhecem os constructos teóricos
do encerramento do atendimento (Quadro 2). referentes a este tema.
Este estudo, por sua vez, identificou diferentes frequências
DISCUSSÃO dos fatores terapêuticos nos atendimentos nos CAPS, variando
entre nunca, raramente, frequentemente e sempre presentes, nos
A identificação dos FT é uma atribuição do coordenador de grupos realizados pelos profissionais de saúde. Tal fato pode ser
grupo com o objetivo de compreender as transformações dos justificado em razão de não ser possível garantir que todos os FT
membros do grupo(3). A partir da identificação destes fatores, o se manifestem ao mesmo tempo na vida do grupo, pois alguns
coordenador é capaz de refletir sobre o processo grupal e enten- estão mais presentes em alguns estágios do processo grupal(29).
der o seu movimento(29). É importante entender que os FT estão Durante as RC com os profissionais, a efetividade terapêutica
estritamente relacionados com a coordenação do facilitador, dos grupos foi atribuída a fatores, como o altruísmo, instilação
membros do grupo e as técnicas escolhidas(30). de esperança, desenvolvimento de técnicas de socialização,
Em um serviço, pode haver uma diversidade de grupos e coesão grupal e comportamento imitativo, ainda que mencio-
manifestar diferentes FT a depender das forças que impactam nados sem a devida compreensão teórica de cada um deles e
os mecanismos terapêuticos e o grupo, como o tipo de grupo, o reconhecidamente não utilizados como parâmetros de avaliação
estágio da terapia e as diferenças individuais entre os pacientes(24). sistematizada da progressão do grupo. Importa saber que os FT
Esses fatores são ferramentas que possibilitam compreender o são interdependentes e complementares em um determinado
funcionamento do grupo da criação passando pela manutenção momento para se manifestarem no grupo(3).
e pelo desenvolvimento, o que propicia e fortalece condições O altruísmo foi explicitado pelo cuidado mútuo entre os in-
favoráveis à mudança(13). tegrantes e com o grupo. Esse FT é próprio da terapia de grupo,
Este estudo mostrou a presença de vários FT nos grupos sendo relacionado com a experiência do integrante do grupo
realizados nos CAPSad segundo os profissionais de saúde. A ser útil aos demais por meio da socialização de problemas se-
universalidade, o compartilhamento de informações e a coesão melhantes e oferta de cuidado e suporte, sugestões, insights e
grupal foram os FT identificados em todos os grupos realizados abrandamento(3).
por eles. Alguns outros, como comportamento imitativo, instilação A instilação de esperança foi revelada por meio dos relatos de
de esperança, altruísmo, catarse, coesão e fatores existenciais melhora dos integrantes do grupo ou depoimento de progressos
foram observados na maioria dos atendimentos grupais. Por obtidos por eles, que despertam grandes esperanças aos que
outro lado, a reedição corretiva do grupo familiar primário, fatores recebem essa mensagem, potencializando a crença dos usuários
existenciais e desenvolvimento de técnicas de socialização nunca no modelo de tratamento em grupo(3). Além disso, no contexto
foram identificados pelos profissionaisno instrumento de FT. grupal, cada integrante se encontra em um patamar de enfren-
A presença de FT também foi sinalizada por outros estudos: tamento, e o contato com outras pessoas que obtiveram avanços
em um grupo voltado para assistência a pessoas vivendo e con- durante o tratamento em grupo pôde despertar esperança aos
vivendo com HIV/AIDS, foi possível identificar inúmeros desses demais que ainda se sentem fragilizados(35).
fatores, por meio das experiências dos seus participantes, como O FT relativo ao desenvolvimento de técnicas de socialização
compartilhamento de informações, recapitulação corretiva do também pôde ser evidenciado no depoimento de um dos coor-
grupo familiar primário, desenvolvimento de técnicas de socia- denadores de grupo,que citou a mudança de comportamento
lização, aprendizagem interpessoal, comportamento imitativo, introspectivo de uma integrante do grupo para uma atitude mais
coesão grupal e altruísmo(31); com grupo de pessoas portadoras sociável, revelando um aprendizado social e desenvolvimento
de diabetes, verificou-se os seguintes: oferecimento de infor- de habilidades sociais básicas de se relacionar de forma direta,
mação, coesão, universalidade, desenvolvimento de técnicas de honesta e íntima com outras pessoas do grupo(3).
socialização, aprendizagem interpessoal, instilação de esperança, A coesão grupal, por sua vez, proporciona o relacionamento
altruísmo e comportamento imitativo(32). aprofundado, em que os membros do grupo estão dispostos a
No campo da saúde mental, a literatura assinala pesquisas revelações pessoais, assumir riscos e enfrentar conflitos, como
que retratam a existência dos FT nas intervenções grupais, também o processo de aceitação interpessoal e compreensão,
como descritos por Yalom e Leszcz(3): em grupo de dinâmica além do compromisso dos usuários com o grupo(3,36). É um
infantil ofertado por uma clínica psicológica de uma universi- elemento muito importante, pois é um pré-requisito para que
dade estadual brasileira voltado para crianças de até 11 anos, outros FT possam operar no grupo, estando relacionado com a
durante a sua prática cotidiana, foram identificados FT, como estabilidade de seus membros, pois quanto menos coesos forem
compartilhamento de informações, comportamento imitativo, os participantes, maior será a probabilidade de ruptura com o
catarse, dentre outros(33); com um grupo de ouvidores de vozes grupo. Além disso, grupos pouco coesos possuem maior rotati-
em um CAPS, ao longo de 62 sessões, identificaram-se, por vidade de pessoas, o que pode prejudicar os usuários assíduos
meio das vivências dos integrantes do grupo, a universalidade, e, consequentemente, a efetividade do grupo(3).

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Neste estudo, este FT foi identificado pela frequência e envolvi- e sobre a atuação do coordenador. Para se atingir um objetivo,
mento dos participantes do grupo entre si. A coesão, portanto, está são necessários comportamentos que são guiados pelo feedback,
relacionada à ligação que os integrantes do grupo têm uns com os sendo o retorno ao emissor fundamental no contexto das relações
outros e com o grupo como um todo. Grupos que apresentam coe- interpessoais. Posto isto, se faz fundamental que os membros e
são exacerbada, sentimentos como afeto, conforto, pertencimento, não apenas o coordenador do grupo aperfeiçoem a habilidade de
valorização pessoal e aceitação emergem no contexto grupal com dar e receber feedback individual e também ao próprio grupo(40).
maior fluidez, fazendo com que os integrantes do grupo se sintam Por fim, o pesquisador, que também é coordenador de grupos,
mais confortáveis para exporem as suas emoções(35). ao lidar com fenômenos relativos às relações intra e interpes-
Outro FT, evidenciado na fala de um dos profissionais, foi o de soais no contexto grupal, precisa reconhecer que sua postura
comportamento imitativo, que pode se manifestar por meio da é determinante sobre as repercussões na dinâmica do grupo.
imitação de um novo comportamento espelhado tanto no coor- Durante o processo, pode desempenhar distintos papéis diante
denador do grupo quanto nos demais membros, concretizando dos acontecimentos no interior do grupo(38,41). Entretanto, inde-
uma experimentação de novas ações(3). Além dos FT presentes na pendentemente da postura assumida por ele, reconhecer e avaliar
dinâmica grupal, foram relatados pelos participantes elementos os FT intrínsecos ao grupo é imprescindível, pois pode fornecer
importantes, como a avaliação do processo grupal e terapêutico. Ao elementos na identificação dos mecanismos que contribuem
final dos encontros, os coordenadores solicitam aos participantes para a transformação dos envolvidos neste processo(35).
o feedback, que permite avaliar a efetividade dos atendimentos,
bem como do processo grupal na perspectiva dos usuários,e em Limitações do estudo
momentos extra grupais,tais como a indicação do CAPS pelos
próprios usuários, a discussão entre os coordenadores pós-grupo e No decorrer do processo investigativo, houveram limitações
o alcance dos objetivos traçados para as respectivas intervenções. relativas ao funcionamento das unidades de saúde mental,
A indicação e/ou divulgação do serviço pelos usuários sinaliza que, por algumas vezes, impossibilitou que mais profissionais
uma confirmação dos benefícios que a assistência do CAPSad participassem dos momentos de coleta de dados devido à
proporciona a eles. Esta conotação está alinhada a alguns dos grande demanda dos serviços. Além disso, como é constitutivo
princípios da assistência humanizada em saúde, no quesito sa- da pesquisa qualitativa, os resultados encontrados não devem
tisfação dos usuários, uma vez que eles expressam sua vontade ser generalizados, embora possibilitem evidenciar o contexto de
em permanecer sob os cuidados do CAPSad como integrante significados expressos na prática com grupos dos profissionais
dos grupos, inclusive querendo que beneficie outras pessoas de saúde mental e a consequente ampliação de horizontes na
que precisam de cuidado em saúde em álcool e outras drogas. A assistência a esse público específico.
humanização da assistência à saúde favorecea transformação a A análise realizada não permitiu refletir sobre a relação entre
nível de gestão e das atividades da equipe de saúde, a qual alcança os tipos de grupos e FT, as categorias profissionais e modelos de
os usuários de saúde, em aspecto integral, desde o acolhimento, coordenação. Esses limites contribuem para que novas investiga-
postura ética profissional, compreensão da subjetividade do ções sejam delineadas no serviço, ou que novas análises, sobre
outro e entendimento do sujeito singular(37). o mesmo corpus, sejam conduzidas futuramente, contribuindo
Assim, a avaliação dos coordenadores de grupo após a realiza- para a área.
ção da intervenção é necessária para mensurar o processo grupal,
além das ponderações relativas de cada elemento participante na Contribuições para a área da saúde e enfermagem
visualização dos respectivos projetos terapêuticos singulares. Essa
avaliação é possível quando os coordenadores trabalham na pers- As reflexões apresentadas neste artigo evidenciaram o poten-
pectiva de co-terapia, que viabiliza a atuação complementar desde o cial do recurso dos FT em trabalhos em grupos, possibilitando
planejamento do grupo até a avaliação dos fenômenos grupais(3,38). avaliação do processo grupal em diferentes momentos. Permitiu
Esta prática fortalece o trabalho em equipe pelo compartilhamento a compreensão do funcionamento do grupo, fornecendo ferra-
de percepções sobre o processo grupal e a consequente análise menta importante para os profissionais da saúde em suas práticas
da progressão do grupo. A partir das reflexões compartilhadas, de cuidado em enfermagem e na saúde, de um modo geral, na
pode-se empreender as necessárias adequações entre os objetivos perspectiva da assistência integral à saúde. É plenamente possível
do grupo e do coordenador, devendo ser priorizados os objetivos empregar a tecnologia grupal em outros contextos de cuidado
estabelecidos pelo próprio grupo(39). na diversidade dos serviços de saúde, espaços comunitários, da
A frequência dos usuários nos grupos é outro fator a ser educação, gestão de pessoas e em diferentes níveis de atenção,
considerado, visto que alguns usuários são vinculados ao CAPS ou como estratégia de prevenção e promoção em saúde.
e aos grupos para cumprimento de medidas socioeducativas,
permanecendo na instituição apenas pelo período determinado CONSIDERAÇÕES FINAIS
pela justiça. A despeito desta possibilidade, é preciso considerar
os objetivos terapêuticos do seguimento das intervenções que Pôde-se apreender, com este estudo, que os FT foram perce-
os usuários participaram. bidos pelos profissionais em suas práticas grupais, o que revela
Os profissionais relataram o feedback como uma forma de a importância dessas estratégias de cuidado no contexto da
avaliar a efetividade do grupo e do processo grupal na ótica dos atenção psicossocial, mesmo que ainda grande parte deles não
usuários diante do que é discorrido sobre o seu desenvolvimento detivessem conhecimentos teóricos sobre o tema. O fato de não

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registrarem sistematicamente relatos e ou memórias sobre as potentes e que poderiam ser melhor explorados e utilizados
intervenções grupais faz com que deixem de perceber elementos em prol da reinserção social das pessoas que são atendidas nos
importantes na avaliação da efetividade terapêutica dos grupos. serviços especializados.
O que não é registrado passa a ser invisível no processo Vale o destaque de que o processo interativo entre pesqui-
terapêutico dos usuários. Dá uma conotação de menos valia à sadores e profissionais dos CAPSad que conduziam grupos foi
intervenção em si, e, na medida em que não é valorizada pelos o diferencial para que eles pudessem tomar consciência que a
próprios profissionais, implica sentimento de frustração, por prática que empreendem é rica de opções terapêuticas, podendo
executarem uma ação aparentemente sem significado. A escassez dar sentido existencial para os envolvidos no processo.
de registros traz impacto para além do significado da ausência Aponta-se a necessidade de realizar novas pesquisas sobre a
de dados registrados nos prontuários, com implicações que temática tanto em serviços comunitários de saúde mental quanto
fragilizam desde a evolução individual do usuário do serviço, as em outros cenários de assistência à saúde em seus distintos níveis
ações grupais realizadas até a geração de dados do que realmente de complexidade, onde práticas grupais são implementadas,
ocorre na dinâmica dos serviços. incorporando, além dos coordenadores de grupo, os usuários
Outro agravante se relaciona aos sistemas de informação que participam das intervenções.
preconizados pelo SUS, que ficam empobrecidos de elementos
necessários para a adoção de medidas avaliativas das intervenções AGRADECIMENTO
mediados pela tecnologia grupal na rede de serviços especia-
lizados. Esta é uma preocupante realidade, especialmente ao Agradecemos a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
considerar a recomendação das políticas públicas para o campo de Nível Superior (CAPES) pelo apoio financeiro e ao RECUID -
da saúde mental de que os atendimentos dos CAPS devem ser REFLETIR PARA CUIDAR - Grupo Interdisciplinar de Pesquisa e
essencialmente oferecidos em contextos grupais, passíveis do Intervenção em Saúde Mental da Faculdade de Enfermagem
emprego de inúmeros recursos terapêuticos, inegavelmente (FEN) da Universidade Federal de Goiás (UFG).

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