Amor de Perdição 1.
Amor de Perdição 1.
Amor de Perdição 1.
1. Pequena biografia
Casa-se aos 16 anos com Joaquina Pereira de quem tem uma filha que
morrerá aos 5 anos. Esquece-se do casamento logo depois de realizado,
abandonando-as para ir ao Porto, depois a Coimbra, onde ingressa no
Curso de Medicina, abandonado posteriormente.
Joaquina Maria vai deixá-lo viúvo, mas antes que ela morra, foge de
Vila-Real para o Porto com uma outra jovem (Patrícia Emília, órfã);
nasce desse convívio uma outra filha, mas Camilo vai abandoná-las em
breve. Por esse rapto, passa algum tempo na cadeia.
A partir de 1848 fixa residência no Porto e passa a fazer parte das rodas
literárias dos cafés daquela cidade; pouco antes, aparecera como autor
de peças teatrais em Vila-Real , levando ao palco o drama Agostinho
de Ceuta. Surgem aí suas primeiras novelas, sob a forma de folhetins,
nos jornais O Nacional e O Eco Popular. Nessa ocasião, envolve-se com
uma freira; pouco depois, passa a viver com uma humilde costureira e,
por fim, apaixona-se perdidamente por Ana Plácido. Ela se casa com um
brasileiro, o que origina, em Camilo, uma profunda depressão. Tal crise
desencadeia nele, da mesma forma que o faria no coração de seus
heróis, uma "vocação" religiosa. Passará os dois próximos anos (50-52)
num seminário do Porto, pretendendo ser padre. Nesse tempo, escreve
artigos para jornais absolutistas e clericais. Seis anos depois, já é
novelista reconhecido pelos críticos.
Ana Plácido deixa o marido e vai viver com o escritor em Lisboa, o que
se configura como um escândalo exemplar para a época. Acabam presos
, acusados de adultério, ambos, e são remetidos para a Cadeia de
Relação do Porto. Ficam presos 348 dias, e são absolvidos do processo
que sofrem porque o marido de Ana Plácido morre e, portanto, termina
o crime de adultério.
Começa uma nova fase para o escritor. Passam a morar em São Miguel
de Seide, numa casa herdada pelo filho do primeiro casamento de Ana.
Atingem o casal as dificuldades financeiras demasiadas: em 1983, por
exemplo, tem que vender sua biblioteca — 5.000 volumes
minuciosamente escolhidos e colecionados por ele - para pagar dívidas,
a cegueira , que já dava prenúncios desde há tempos, acaba por se
agravar. O filho mais velho do escritor e de Ana Plácido enlouquece, o
mais novo é um medíocre que , para sobreviver, casa-se por interesse,
num golpe, dizem, armado pelo próprio pai.
Camilo inicia, então, por viver seu inferno: morre o amigo Vieira de
Castro, que se suicida após matar a mulher; morre seu filho mais velho
com Ana Plácido; morrem nora e neto. Depois de uma briga, expulsa o
filho mais novo, Bruno, de casa.E Camilo estava praticamente cego, mas
o escritor nutria esperanças, ainda, de voltar a ver.
Depois de ser consultado, em casa, por um médico que lhe anuncia que
está cego para sempre, e enquanto Ana Plácido acompanha o doutor até
a porta, Camilo suicida-se com um tiro na cabeça: eram 15h15 do dia
1o. de junho de 1890. Acabava , assim, o mais importante escritor do
ultra-romantismo em Portugal.
3. Obras do autor
Camilo Castelo Branco é um dos mais fecundos escritores de Língua
Portuguesa. Sua obra é extensa e variada, compreendida entre
romances, novelas, contos, teatro, poemas, crítica, tradução, ensaios e
obra polêmica. Obrigado a escrever para sobreviver, Camilo deixou uma
obra vasta , mas de boa qualidade literária. Eis as mais importantes:
1.Romances, novelas:
Anátema, 1851
Mistérios de Lisboa, 1854
O Livro Negro do Padre Dinis, 1855
A Filha do Arcediago, 55-56
Onde está a felicidade?, 1856
Um homem de brios, 1856
Vingança, 1858
Carlota Ângela, 1858
A Benefic6encia, 1859
A Morta, 1860
Doze Casamentos Felizes, 1861
Coração, Cabeça, estômago, 1861
O Romance dum homem rico, 1861
Amor de Perdição, 1862
Estrelas Funestas, 1862
Estrelas Propícias, 1863
Memórias de Guilherme Amaral, 1863
O Bem e o Mal, 1863
Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado, 1863
Amor de Salvação, 1864
Luta de Gigantes, 1865
A filha do doutor negro, 1864
O Judeu, 1866
A Queda de um Anjo, 1866
A Doida do Candal, 1867
O senhor do Paço de Ninães, 1868
O retrato de Ricardina, 1868
O Sangue, 1868
Os Brilhantes do Brasileiro, 1869
A mulher fatal, 1870
O Demônio de Ouro, 73-74
O Regicida, 1874
Novelas do Minho, 75-77
A Caveira do Mártir, 1878
Eusébio Macário, 1879
A Corja, 1881
A Brasileira de Prazins, 1882
Vulcões de Lama, 1886
2.Poesia
Os Pundonores Desagravados, 1845
O Juízo Final e o Sonho do Inferno, 1845
A Murraça, 1848
Inspirações, 1851
Duas Épocas da Vida, 1854
Folhas Caídas, Apanhadas na Lama, 1854
Um Livro, 1854
Ao Anoitecer da Vida, 1874
Nostalgias, 1888
Nas Trevas, 1890
3.Teatro
Agostinho de Ceuta, 1847
O Marquês das Torres-Novas, 1849
Espinhos e Flores, 1857
Poesia ou Dinheiro? , 1862
O Morgado de Fafe, 1863
Amoroso, 1865
Morgadinha de Val d'Amores, 1871
Entre a Flauta e a Viola, 1871
4.Esparsos
Noites de Lamego, 1863
Memórias do Cárcere, 1864
Vaidades Irritadas e Irritantes, 1866
Mosaico e Silva, 1868
Noites de Insônia, 1874
Esboços e Apreciações Literárias, 1885
Maria da Fonte, 1885
Serões de São Miguel de Seide, 1885
Boêmia do espírito, 1886
Cancioneiro Alegre de Poetas portugueses e Brasileiros, 87-88
5. O Romance
1.Divisão:
Estruturalmente, o romance está dividido em 20 capítulos, uma
introdução, à guisa de explicação do porquê do romance e uma
conclusão.
4.As personagens:
"E ninguém duvidava que o amor de Camilo por Ana Augusta era
realmente "um amor de perdição", se não será mais verdadeiro
fazer a mesma afirmação, mas ao contrário: o amor de Ana por
Camilo é que foi um autêntico "amor de perdição".
(...)
7. Os capítulos, um a um:
Introdução
Folheando os livros de antigos assentamentos no cartório das cadeias da
Relação do Porto, li, no das entradas dos presos desde 1803 a 1805, a fl. 232,
o seguinte:
Simão António Botelho, que assim disse chamar-se, ser solteiro e estudante na
Universidade de Coimbra, natural da cidade de Lisboa, e assistente na ocasião
de sua prisão na cidade de Viseu, idade de dezoito anos, filho de Domingos
José Correia Botelho e de D. Rita Preciosa Caldeirão Castelo Branco; estatura
ordinária, cara redonda, olhos castanhos, cabelo e barba preta, vestido com
jaqueta de baetão azul, colete de fustão pintado e calça de pano pedrês. E fiz
este assento, que assinei — Filipe Moreira Dias.
Primeiro capítulo:
Simão também vem, nas férias, a Viseu , e mais: com seus exames
feitos e aprovados:
"O pai maravilhava-se do talento do filho, e desculpa-o da
extravagância por amor do talento. Pede-lhe explicações do seu
mau viver com Manuel, e ele responde que seu irmão o quer
forçar a viver monasticamente." (p.25)
Quando soube que D. Maria dera apoio ao filho, o juiz fingiu enfurecer-
se e , depois, confessou que era "brutal e estúpido juiz."
Segundo capítulo:
"Meu pai diz que vai me encerrar num convento por tua causa.
Capítulo 3
O pai de Teresa jamais proferira palavra sobre o que sabia haver entre
os dois jovens, mas, em segredo, chamara à sua casa do primo Baltazar
e com ele tratara um casamento sem que consultasse a filha.
"- É tempo de lhe abrir o meu coração, prima. Está bem disposta
a ouvir-me?
Mais, ainda:
Capítulo 4
O conteúdo da carta de Teresa a Simão era esse, mas ela omitira alguns
detalhes como, por exemplo, as ameaças de Baltazar.
Mas, num domingo de junho de 1803, Teresa foi chamada pelo pai para
assistir à primeira missa:
"- Vais hoje dar a mão de esposa a teu primo Baltazar, minha
filha. É preciso que te deixes cegamente levar pela mão de teu
pai. Logo que deres este passo difícil, conhecerás que a tua
felicidade é daquelas que precisam ser impostas pela violência.
Mas repara, minha querida filha, que a violência dum pai é
sempre amor."(p. 39)
Teresa chora desesperada e pede que o pai a mate, mas não a obrigue a
casar-se por violência. Mas o pai está impassível: "- Hás de casar! —
Quero que cases! Quero... Quando não, serás amaldiçoada para
sempre, Teresa! Morrerás num convento! Esta casa irá para teu
primo! Nenhum infame há de vir aqui pôr um pé nas alcatifas de
meus avós. Se és uma alma vil, não me pertences, não és minha
filha, não podes herdar os apelidos honrosos , que foram pela
primeira vez insultados pelo pai desse miserável que tu amaas!
Malditas sejas! Entra nesse quarto, e espera que daí te
arranquem para outro, onde não verás um raio de sol!"(p. 40)
Irado, ao encontrar Baltazar, o pai anuncia que não pode dar-lhe a filha
em casamento "porque já não tenho filha." Baltazar vai para Castro-
Daire, mas aconselha o velho tio a não mandá-la para o convento,
muitas bocas falariam, para que?
Teresa ficara feliz com a repentina quietude do pai, mas desconfiava que
algo não estava bem. Escreve a Simão, desta vez narrando tudo: o
recente episódio, os ódios do primo, as ameaças e o medo de violência.
Capítulo 5
Enquanto Simão esperava, de ouvido colado ao portão que Teresa
abriria, a festa do aniversário da menina acontecia lá dentro. Baltazar
Coutinho simulava indiferença pela prima.
O ferrador tinha uma filha de 24 anos, Mariana. Simão percebe que ela
o observa de modo melancólico e Mariana revela a ele que algo triste
está para acontecer a Baltazar, que sabia parcialmente de sua história.
João da Cruz oferece-se para raptar Teresa, mas o rapaz quer apenas
sua ajuda para vê-la no fim da noite.
Mariana, ao saber que ele teima em ir ver Teresa, apesar dos perigos,
chora.
Capítulo 6
Baltazar contrata dois homens para matar Simão, caso ele venha à casa
do tio. E recomenda a um deles:
Capítulo 7
"Deus permita que tenhas chegado sem perigo a casa dessa boa
gente. Eu não sei o que se passa, mas há coisa misteriosa que eu
não posso adivinhar. Meu pai tem estado toda a manhã fechado
com o primo, e a mim não me deixa sair do quarto. Mandou-me
tirar o tinteiro; mas eu felizmente estava prevenida com outro.
Nossa Senhora quis que a pobre viesse pedir esmolas debaixo da
janela do meu quarto; senão eu nem tinha modo de lhe dar sinal
para ela esperar esta carta. Não sei o que ela me disse. Falou-me
em criados mortos, mas eu não pude entender... Tua mana Rita
está me acenando por trás dos vidros do teu quarto...
Ó meu querido Simão, que será feito de ti?... Estás ferido? Serei
eu a causa da tua morte?
Baltazar foi chamado pela polícia, respondeu que os criados eram seus
sim, mas que não sabia por que estavam mortos, nem quem os matara,
posto que não tivessem inimigos no Viseu.
Tadeu Albuquerque toma uma decisão extrema: vai internar a filha num
convento. Escolhera Monchique, onde a prioresa era uma parenta dos
Albuquerque, e, ao enviar os papéis para que ela os receba, determina
que a filha fique de passagem num convento no Viseu.
- E daí?
Aconselhada pelas primas, Teresa não volta atrás a despeito dos apelos
delas. E entra para o convento sem uma lágrima.
As monjas se irritam com isso e a menina explica que vem ali para
sentir-se bem. Mas a prioresa responde-lhe:
Mas que tipos de monjas ali estavam: falavam mal umas das outras,
bebiam vinho até ficarem bêbadas. Depois que a sua acompanhante
dormiu, Teresa levantou-se e escreveu a Simão:
Capítulo 8
João e o acadêmico conversam sobre Mariana e o pai lhe conta que não
falta a ela pretendentes.
Mariana cuida de Simão com desvelo , seguindo a recomendação do pai
que, encarecidamente, antes de sair, pediu que ela o tratasse como se a
um irmào ou marido.
O ferreiro volta mais tarde e traz a carta de Teresa. Lá, a moça revelara
que o pai a entregara na noite anterior ao cuidado das monjas. Simão
escreve uma carta desesperada à amada:
Capítulo 9
Mas a mendiga vai a Simão e conta tudo. Ele quase enlouquece, mas
Mariana diz conhecer uma moça que trabalha lá dentro do convento, e
que vai entregar a correspondência a ela, que fique sossegado.
Na carta, o rapaz pedia à amada que fugisse, que ele a esperaria, que
marcasse horas para isso ser. Mariana sai para entregar a carta e
esperar pela resposta.
Capítulo 10
Não posso ser o que tu querias que eu fosse. A minha paixão não
se conforma com a desgraça. Eras a minha vida: tinha a certeza
de que as contrariedades me não privavam de ti. Só o receio de
perder-te me mata. O que me resta do passado é a coragem de ir
buscar uma morte digna de mim e de ti. Se tens força para uma
agonia lenta, eu não posso com ela.
Poderia viver com a paixão infeliz; mas este rancor sem vingança
é um inferno. Não hei de dar barata a vida, não. Ficarás sem
mim, Teresa; mas não haverá aí um infame que te persiga depois
da minha morte. Tenho ciúmes de todas as tuas horas. Hás de
pensar com muitas saudades no teu esposo do céu, e nunca
tirarás de mim os olhos da tua alma para veres ao pé de ti o
miserável que nos matou a realidade de tantas esperanças
formosas.
Mariana, ao ver o amigo desolado, chora e diz que é a última vez que
porá a mesa para ele. pede a Simão que nào saia aquela noite, nem no
dia seguinte e fica sabendo que ele deseja ver Teresa partir. Conta ao
pai, que decide acompanhá-lo.
Capítulo 11
"- O juiz de fora que cumpra as leis; se ele não for rigoroso, eu o
obrigarei a sê-lo."(p.102)
Irritado, quando sai o meirinho, diz à mulher que preferia ver o filho
morto que ligado àquela família. O juiz vem à casa do corregedor e diz
que a situação de Simão é péssima.
"- Confessa tudo. Diz que matou o algoz da mulher que ele
amava..."
Domingos Botelho está irado. O juiz tenta dizer ao pai que ajude o filho,
mas Domingos Botelho , mesmo diante da afirmação do juiz de que está
sendo severo demais com o filho, manda aplicar-lhe o rigor das leis e
acrescenta que Simão já não tem no Viseu nenhum parente que o
defenda..
Simão pede que lhe compre tinteiro e escrivaninha para a cela. Dela,
fica sabendo que Teresa foi para o Porto.
Capítulo 12
Capítulo 13
Teresa fora acompanhada ao Porto por uma criada do pai; esta agora,
diante do sofrimento da moça, apiedara-se dela. Pela criada, fica
sabendo que o primo morrera e que Simão fora preso. Pensou em fugir,
tentar ajudá-lo, mas foi convencida por Constança de que tal feito só
agravaria a situação do moço.
Uma freira segreda a Teresa que uma freira do convento dos Remédios
de Lamego lhe segredara que Simào fora condenado à morte. Teresa
pede a ela que leve ao amado uma carta; a religiosa aceita a
incumbência. Eis a carta:
"Simão, meu esposo. Sei tudo... Está conosco a morte. Olha que
te escrevo sem lágrimas. A minha agonia começou há sete
meses. Deus é bom, que me poupou ao crime. Ouvi a notícia da
tua próxima morte, e então compreendi por que estou morrendo
hora a hora. Aqui está o nosso fim, Simão!... Olha as nossas
esperanças! Quando tu me dizias os teus sonhos de felicidade, e
eu te dizia os meus!... Que mal fariam a Deus os nossos
inocentes desejos?!... Por que nào merecemos nós o que tanta
gente tem? ... Assim acabaria tudo, Simão? Não posso crê-lo!
"(p.118)
Teresa está sem forças, o médico sequer receita mais remédios para
ela.
Capítulo 14
"- Se eu entender que estes ares são nocivos à tua saúde, hás de
ir, porque é obrigação minha conduzir e corrigir a tua má sina.
O pai agrava mais a discussão ao citar que Simào está no Porto, que ela
deve ter vergonha de si mesma. Teresa pede licença para ir à cela, que
passa mal; e as irmãs a amparam. A abadessa discute com Tadeu
porque este quer levar a filha à força. Enfurecido diante da negativa da
prima, vai à polícia solicitar que lhe entreguem a filha e tentar impedir
que Simão possa escrever a quem quer que seja. Um dos
desembargadores, amigo de infância da mãe de Simào, diz-lhe que
reconsidere a sua fúria, que vê em Tadeu um quase homicida, que ele
sossegue. Clama o desembargador para que a fúria dele cesse, que já
fez sofrer a muita gente.
O velho retruca:"Veremos..."
Capítulo 15
Capítulo 16
" Partiu para Lisboa a açoriana, e dali para a abrigo de sua mãe,
que a julgava morta, e lhe deu anos de vida, se não ditosa,
sossegada e desiludida de quimeras.
Capítulo 17
João da Cruz é morto pelo filho do homem que assasinara, que vai
procurá-lo em casa e se vinga da morte antiga.
Cabe a Simão dar a notícia a Mariana , que quase enlouquece outra vez.
Mas o rapaz a adverte que precisa dela para continuar vivendo:
"Mariana exclamou:
Capítulo 18
Simão diz que irá para o degredo e escuta da devotada Mariana o que já
esperava:
Capítulo 19
Capítulo 20
Depois foi orar, e esteve ajoelhada meia hora, com meio corpo
reclinado sobre uma cadeira. Erguendo-se, quase tirada pela
violência, aceitou uma xícara de caldo, e murmurou com um
sorriso: "Para a viagem..."
Conclusão