Blindagem Dentinária
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DOI: http://dx.doi.org/10.14436/2358-2545.7.1.032-042.oar
Como citar este artigo: Valdivia JE, Machado MEL. Simultaneous crown-root » Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de proprie-
shielding in endodontics: from root preparation to coronary restoration. Dental dade ou financeiros, que representem conflito de interesse, nos produtos e
Press Endod. 2017 Jan-Apr;7(1):32-42. companhias descritos nesse artigo.
DOI: http://dx.doi.org/10.14436/2358-2545.7.1.032-042.oar
» O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previa-
mente a publicação de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias.
1
Professor assistente dos cursos de especialização em Endodontia da APCD Central, São Recebido: 02/06/2016. Aceito: 17/01/2017.
Paulo/SP. Mestrando em Dentística pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São
Paulo, FOUSP (São Paulo/SP, Brasil).
2
Professor coordenador dos cursos de especialização Endodontia da APCD Central, São
Endereço para correspondência: José Edgar Valdivia
Paulo/SP. Professor Doutor em Endodontia pela Faculdade de Odontologia da Universidade
de São Paulo, FOUSP (São Paulo/SP, Brasil). Rua Antônio Tavares 300 - Aclimação, São Paulo - Brasil
E-mail: [email protected]
Figura 2. Lima Wave One large (Dentsply-Maillefer, Ballaigues, Suíça) Figura 3. Broca Gates-Glidden II (Dentsply-Maillefer, Ballaigues, Suíça)
realizando o preparo químico-cirúrgico. realizando o preparo inicial do leito para o pino de fibra de vidro.
Figura 4. Calcador de Schilder realizando a compactação vertical da Figura 5. Radiografia da obturação apical, na qual pode-se observar a
guta-percha previamente aquecida. obturação somente do terço apical (CRT – 5mm), pois nos terços médio
e cervical seria cimentado o retentor intrarradicular.
Figura 6. Condicionamento da dentina e esmalte com ácido fosfórico Figura 7. Observa-se o pino de fibra de vidro Reforpost I (Angelus, Lon-
na concentração de 37% (Condac 37 FGM, Joinville/SC). drina/PR) cimentado no conduto distal.
Figura 8. Restauração definitiva em resina composta (Opallis, FGM, Figura 9. Radiografia perirradicular final, onde observa-se um tratamen-
Joinville/SC). to endodôntico adequado, ótima adaptação do pino intrarradicular e um
excelente selamento do material restaurador definitivo.
Ação, São Paulo/SP). Em seguida, foi realizada a pro- Como material de cimentação dos pinos de fibra
va do cone de guta-percha, e realizado o protocolo de vidro, foi inserido no interior dos condutos o ci-
de irrigação final alternando NaOCl com EDTA (Fór- mento resinoso dual Rebilda (Voco GmbH, Cuxhaven,
mula e Ação, São Paulo/SP). Alemanha), que foi agitado por meio do EndoActi-
Após a irrigação final, realizou-se a obturação dos vator (Dentsply Tulsa Dental Specialities, Tulsa, OK,
condutos radiculares pela técnica de onda contínua EUA) (Fig. 15). O pino Reforpost® II (Angelus, Londri-
de condensação vertical, com o aparelho System B na/PR) foi posicionado no conduto palatino e pinos
(SybronEndo, Orange, CA, EUA); o cimento endo- acessórios, nos condutos vestibulares para, assim,
dôntico de eleição foi Ah Plus (Dentsply-Maillefer, realizar a fotopolimerização durante 40 segundos.
Ballaigues, Suíça). Nos condutos vestibulares, foram Cabe ressaltar que esse cimento, por suas proprieda-
inseridos os cones de guta-percha Wave One large des mecânicas, serve como núcleo de preenchimento
(Dentsply-Maillefer, Ballaigues, Suíça). No conduto pa- cavitário (Fig. 16).
latino, foi posicionado o cone R50 (VDW-GmbH, Mün- Logo após, procedeu-se a realização do munhão
chen, Alemanha) e deixou-se somente o terço apical coronário em resina composta (GrandioSO, Voco
obturado (CRT-5mm) (Fig. 13). Em seguida, realizou- GmbH, Cuxhaven, Alemanha) (Fig. 17, 18), a remo-
-se a qualificação dentinária (remoção da dentina ra- ção do isolamento, a radiografia final (Fig. 19), a con-
dicular superficial e restos de guta-percha que ficaram fecção da coroa provisória e o encaminhamento para
no espaço do retentor) com o inserto ultrassônico QL- o especialista em prótese.
F-D (Trinks, São Paulo, SP-Brasil) (Fig. 14). No controle radiográfico aos 36 meses, obser-
Em seguida, aplicou-se o sistema adesivo Futurabond® vou-se reparo da lesão perirradicular (Fig. 20), o pa-
U (Voco GmbH, Cuxhaven, Alemanha), por meio de apli- ciente encontrava-se assintomático, o dente em oclu-
cadores extrafinos Endo Tim (Voco GmbH, Cuxhaven, são e reabilitado com coroa protética.
Alemanha), em todas as áreas condicionadas.
Figura 11. Imagem clínica onde observa-se uma coroa protética no Figura 12. Radiografia de diagnóstico, na qual observa-se uma extensa
primeiro molar superior. lesão perirradicular na raiz mesial.
Figura 13. Imagem clínica da obturação apical no conduto palatino, onde Figura 14. Qualificação dentinária realizada com inserto ultrassônico
pode-se observar a obturação somente do terço apical (CRT – 5mm), pois QLF-D (Trinks, São Paulo/SP), com o objetivo de remover a dentina
nos terços médio e cervical seria cimentado o retentor intrarradicular. degradada e restos de guta-percha que podiam ter ficado no conduto
palatino, favorecendo a adesão.
Figura 15. Ativação sônica do cimento resinoso, com o aparelho Endo- Figura 16. Cimentação do pino de fibra de vidro Reforpost® II (Angelus,
Activator (Dentsply Tulsa Dental Specialities, Tulsa, OK, EUA). Londrina/PR) no conduto palatino e dos pinos acessórios nos condutos
vestibulares.
Figura 17. Confecção do núcleo de preenchimento em resina composta Figura 18. Remoção do isolamento absoluto e encaminhamento para
(GrandioSO, Voco GmbH, Cuxhaven, Alemanha) (munhão coronário), que a reabilitação.
seria a base estrutural para a futura coroa protética.
Figura 19. Radiografia perirradicular final, onde observa-se um trata- Figura 20. Radiografia de controle aos 36 meses, na qual é possível
mento endodôntico adequado, ótima adaptação do pino intrarradicular observar reparação óssea perirradicular.
e um excelente selamento do munhão coronário.
utilização de cimentos resinosos para a cimentação preenchimento para a futura coroa protética. Além dis-
dos pinos de fibra de vidro requer as paredes den- so, vale ressaltar que, no caso clínico 1, esse conjunto
tinárias preparadas, para formação da capa híbrida, restaurador poderia funcionar, futuramente, como nú-
assim favorecendo o mecanismo de embricamento cleo para a confecção de coroa unitária, de acordo com
do sistema adesivo nas paredes radiculares27,28. as necessidades restauradoras do paciente.
Cabe ressaltar, nesse contexto, que a grande van- Em ambos os casos, observou-se radiograficamente
tagem do endodontista em realizar procedimentos o extravasamento de cimento endodôntico na região
restauradores intrarradiculares é que esse especialista periapical. Deve-se considerar que o extravasamento
está familiarizado com o sistema de condutos radi- de cimento endodôntico nessa região, independente-
culares e pode realizar preparos para retentores com mente de sua composição, é um irritante aos tecidos
base na anatomia radicular de cada caso, com o uso periapicais, e pode causar inflamação de maior porte
de isolamento absoluto, assim mantendo a cadeia as- ou promover necrose tecidual de maior extensão nes-
séptica e evitando uma contaminação dos condutos sa área. Assim, todo o tratamento endodôntico seria
radiculares pela saliva. Por outro lado, o fato de usar prejudicado e, como consequência, a capacidade de
isolamento absoluto elimina a umidade e fluidos do reparação da região periapical poderia sofrer interfe-
meio bucal que podem prejudicar a adesão29. rências significativas30. Nos controles radiográficos em
Na interface pino/restauração morfológica do dente ambos casos, observou-se reabsorção do cimento en-
tratado, seria realizado o núcleo de preenchimento em dodôntico e reparação das rarefações apicais, o que
resina composta, que tem como finalidade reconstruir deixa evidente que o extravasamento, nesses casos,
elementos dentários que tiveram perda estrutural, es- não prejudicou no sucesso do tratamento.
tando associado a pinos intrarradiculares. Essa recons- Um grande número de artigos científicos e clíni-
trução é importante não somente no intuito de prover cos têm sido publicado, discutindo os benefícios dos
sustentação e retenção para o material restaurador dire- pinos de fibras e materiais adesivos. A divulgação de
to ou indireto, mas também na distribuição das tensões casos clínicos que descrevam técnicas e que demons-
de forma mais homogeneamente ao redor do remanes- trem longevidade dos seus resultados é de fundamen-
cente dentário. Vários materiais têm se mostrado efica- tal importância para a credibilidade e segurança para
zes na construção de núcleos de preenchimento, como os profissionais que irão usar esses sistemas.
amálgama, resina composta ou cimento de ionômero
de vidro, os quais têm sido largamente descritos na li- Conclusão
teratura10. Com a evolução das características ópticas Conclui-se que a técnica de preparo apresentada,
e mecânicas das resinas compostas, tem-se uma maior em conjunto com os materiais restauradores atuais
previsibilidade das restaurações de dentes tratados en- e um bom planejamento endo-restaurador, permite
dodonticamente. No primeiro caso clínico apresentado, uma adequada restauração do dente simultaneamen-
o uso da resina composta associada aos pinos intrar- te ao tratamento endodôntico. A visão da Endodontia
radiculares possibilitou a recuperação da função e da no que se refere ao preparo e à restauração tanto ra-
estética, que foram perdidas pela presença das cáries, dicular quanto coronária, sempre que possível, pode
com um mínimo de desgaste dentário. Já no segundo ser considerada uma abordagem para reabilitação de
caso clínico, permitiu a confecção de um núcleo de dentes tratados endodonticamente.
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