ATerapiaDoAfeto - Volume Escrito - Sousa - 2019

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A TERAPIA DO AFETO

Uma proposta de anteprojeto para


centro de reabilitação infantil
utilizando terapia assistida por animais

Carolina Câmara Dias de Sousa


UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO

CAROLINA CÂMARA DIAS DE SOUSA

A TERAPIA DO AFETO
Uma proposta de anteprojeto para centro de reabilitação infantil

utilizando terapia assistida por animais

Trabalho Final de Graduação


apresentado à banca
examinadora do curso de
Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito
para a obtenção do grau de
Arquiteta e Urbanista.

Orientadora: Prof.ª Luciana de


Medeiros
Co-Orientadora: Prof.ª Bianca
Carla Dantas de Araujo

Natal, RN

2019

1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Prof. Dr. Marcelo Bezerra de Melo Tinôco - DARQ - -CT

Sousa, Carolina Câmara Dias de.


A terapia do afeto: uma proposta de anteprojeto para centro
de reabilitação infantil utilizando terapia assistida por
animais / Carolina Câmara Dias de Sousa. - Natal, RN, 2019.
176f.: il.

Monografia (Graduação) - Universidade Federal do Rio Grande


do Norte. Centro de Tecnologia. Departamento de Arquitetura e
Urbanismo.
Orientadora: Luciana de Medeiros.
Coorientadora: Bianca Carla Dantas de Araujo.

1. Projeto arquitetônico - Monografia. 2. Terapia assistida -


Monografia. 3. Reabilitação infantil - Monografia. I. Medeiros,
Luciana de. II. Araujo, Bianca Carla Dantas de. III.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte. IV. Título.

RN/UF/BSE15 CDU 72.012.1

Elaborado por Ericka Luana Gomes da Costa Cortez - CRB-15/344


CAROLINA CÂMARA DIAS DE SOUSA

A TERAPIA DO AFETO
Uma proposta de anteprojeto para centro de reabilitação infantil

utilizando terapia assistida por animais

Trabalho Final de Graduação


apresentado à banca
examinadora do curso de
Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, como requisito
para a obtenção do grau de
Arquiteta e Urbanista.

Junho de 2019

Banca Examinadora

__________________________________________________________________________

Prof.ª Luciana de Medeiros

Orientadora

__________________________________________________________________________

Prof.ª Bianca Carla Dantas de Araujo

Co-orientadora

__________________________________________________________________________

Prof. Verner Max Liger de Mello Monteiro

Avaliador interno – UFRN

__________________________________________________________________________

Alice Ruck Drummond Dias

Avaliador externo – Arquiteta e Urbanista

2
RESUMO
O estado de calamidade pública na saúde do Estado do Rio Grande do
Norte, incluindo a escassez de equipamentos de saúde voltados à reabilitação
infantil, evidencia a necessidade de propostas que dê alternativas para este
quadro. A Terapia Assistida por Animais (TAA) aparece como um tratamento
considerado menos custoso e de grande eficácia para o público infantil,
principalmente para crianças com transtorno do espectro autista (TEA) e
crianças com síndrome de Down. Este tipo de terapia tem, ainda, grande
potencial de absorção no mercado devido ao crescente aumento de ênfase e
faturamento da indústria voltada aos animais de estimação. Um projeto de
centro de TAA para o público infantil contribui com uma abordagem
arquitetônica que trabalhe a vivência humana e animal em um espaço
considerando ambos como usuários, tornando-se, assim, um desafio, visto a
pouca quantidade de estudos de referência na área. Como um diferencial de
projeto o espaço precisará ser pensado não só para humanos como também
para o bem-estar animal, o que envolveria abordar áreas da psicologia
aplicada à arquitetura, bem como conhecimentos da área de conforto
ambiental e arquitetura hospitalar de reabilitação e acessibilidade. Por esse
motivo, o trabalho tem como objetivos conhecer as especificidades deste
equipamento de saúde que permite a interação humano-animal; empregar
estratégias do âmbito da Psicologia Ambiental que propiciem a qualidade do
espaço de interação entre humanos e animais; adotar estratégias do âmbito
do Conforto Ambiental que propiciem a qualidade de vivência do espaço de
interação entre humanos e animais bem como uma relação não conflituosa
com seu entorno e, por fim, elaborar um projeto de um centro de reabilitação
para Terapia Assistida utilizando as estratégias resultantes das análises de
psicologia ambiental e conforto ambiental.

Palavras-chave: projeto de arquitetura; terapia assistida; reabilitação


infantil.

3
ABSTRACT
The calamity on public health of the Rio Grande do Norte state,
including a shortage of health equipment aimed to children's rehabilitation,
shows the need to present alternatives to this situation. Animal Assisted
Therapy (AAT) emerges as a low-cost treatment with great efficiency with
children, especially for children with Autism Spectrum Disorder (ASD) and
children with Down Syndrome. This type of therapy also has great potential
for market absorption due to its increasing relevance in the pet industry. A
AAT children’s center project may have an architectural approach that drive
humans’ and animals’ experience in a space considering both users, therefore
becoming a challenge due to the small amount of reference studies in the
area. As a distinct study project, the design has to consider not only human
but also animal welfare, which addressed areas of psychology applied to
architecture, as well as knowledge about the area of environmental health
and the architecture of rehabilitation and accessibility. For this reason, this
work aims to know the specificities of this health equipment that allows
human-animal interaction; acquire strategies of environmental psychology
that enhance the quality of the interaction space between humans and
animals; to adopt environmental comfort strategies and promote quality of
space and interaction between humans and animals, as well as not conflicting
with its surroundings and; finally, to elaborate a project of a rehabilitation
center for assisted therapy using the strategies resulting from analyzes of
environmental psychology and environmental comfort.

Keywords: architectural design; assisted therapy; child rehabilitation.

4
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiro aos meus pais, por terem me dado todos os
recursos necessários e vitais para minha formação, incluindo sua presença,
seu amor e seu apoio. Sem eles absolutamente nada seria possível e graças a
eles tive privilégios que espero ter honrado e sobre os quais serei
eternamente grata. Aos meus irmãos, Alisson e Alesi, que me deram todo o
apoio que precisei durante o curso.
A UFRN, que me proporcionou a estrutura do conhecimento e o
contato com mestres cujos ensinamentos levarei para a vida, em especial às
minhas orientadoras Luciana de Medeiros e Bianca de Araújo.
A Jo, Anitta e Peter, que não sabem o quão transformadoras foram suas
presenças na minha vida.
A João Felipe, por ser meu sinônimo de afeto, incentivo e amor.
A Maria, porque hoje cada segundo vivido ao seu lado, que muitas vezes
precisaram ser divididos com a arquitetura, se tornaram lembranças
preciosas.
Aos meus amigos Marcela e Clodoaldo, por tornarem cada dia um
aprendizado, por me segurarem na mão e me mostrarem os caminhos mais
incríveis das ciladas arquitetônicas. À Cris Matsunaga, por ser minha irmã de
alma e coração, e por ter enriquecido meu crescimento, meus aprendizados
e minhas vivências arquitetônicas longe de casa. Às minhas amigas Andressa
e Ariel, por criarem junto comigo as perspectivas mais apaixonantes de
futuro que alguém poderia desejar. A Clidenor, Nathália, Priscilla Bessa e
Priscilla Magna, por juntos formarem o círculo de afeto que sempre sonhei
na faculdade.
A Tianisa, pelos insights, pela simbiose de mentes, por procurar junto
comigo como fechar pontas.
A Anne Magaly, a extensão da minha mente, por me enxergar por
completo e ainda assim acreditar fervorosamente em mim e neste trabalho,
pelos sorrisos, abraços e energia incrível.
A todos que contribuíram para o primeiro passo na profissão dos
meus sonhos, obrigada.

5
LISTA DE SIGLAS
A.A.A. - Atividade Assistida por Animais
A.N.V.I.S.A. - Agência Nacional de Vigilância Sanitária
A.S.P.E.C.T.S.S - Acoustics SPatial sequencing, Escape Space,
Compartmentalization, Transition zones, Sensory Zoning, Safety.
C.E.R. – Centro Especializado em Reabilitação
C.R.I. – Centro de Reabilitação Infantil
E.A.A. – Educação Assistida por Animais
E.S.A.A.T. - European Society for Animal Assisted Therapy
O.M.S. – Organização Mundial da Saúde
O.N.G. – Organização Não Governamental
S.O.M.A.S.U.S. – Sistema de Apoio à Elaboração de Projetos de Investimentos
em Saúde
T.A.A. - Terapia Assistida por Animais
U.n.P – Universidade Potiguar

6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Atendimeno de Terapia Assistida por Animais ........................ 27
Figura 2. Zoneamento sensorial proposto por Mostafa para uma escola
desenvolvida especialmente para crianças do espectro autista ..................... 35
Figura 3. Atividades chave do design thinking ......................................... 38
Figura 4. Gráfico de processo de projeto de Lawson .............................. 41
Figura 5. Gráfico de etapas ........................................................................... 45
Figura 6. Material gráfico desenvolvido para distribuição pós
entrevistas. ................................................................................................................... 46
Figura 7. Logo do grupo de TAA da UnP .................................................... 47
Figura 8. Questionário desenvolvido e distribuído em primeira
entrevista...................................................................................................................... 48
Figura 9. Grupo de TAA da UnP .................................................................. 50
Figura 10. Área exclusiva para felinos ......................................................... 51
Figura 11. Planta esquemática de programa da clínica Harmony Vet . 52
Figura 12. Planta de subsolo ......................................................................... 53
Figura 13. Área de internação ....................................................................... 54
Figura 14. Entrada do centro de cuidados Pet LoverS2. Em frente a
placa, Love, o cão terapeuta do centro. ................................................................ 56
Figura 15. À esquerda, área de banho e tosa. À direita, área de pet shop
........................................................................................................................................ 57
Figura 16. Lago utilizado para experiências de enriquecimento
ambiental ...................................................................................................................... 57
Figura 17. À esquerda: área de socialização e recreação. À direita:
espaço transformado, através de instrumentos, em área de treinamento. .. 57
Figura 18. Planta baixa esquemática do centro de cuidados Pet LoverS2
........................................................................................................................................ 58
Figura 19. Espaço destinado a Day Care, com destaque a estratégias de
enriquecimento ambiental (terra para cavar, piscina utilizada de modos
alternados para imprevisibilidade do uso) ............................................................. 61
Figura 20. Planta de levantamento das áreas sobre uso e programa da
acomodação My Best Nanny .................................................................................... 62

7
Figura 21. Mapa figura fundo da localização de inserção do projeto, e
visualização de Berea Park. ...................................................................................... 65
Figura 22. Programa de projeto ................................................................... 66
Figura 23. Esquema de membrana envolvendo espaços de convivência
........................................................................................................................................ 67
Figura 24. Diagrama de partido ................................................................... 67
Figura 25. Inserção de volume no contexto e aspecto de volumetria
final ................................................................................................................................ 68
Figura 26. Secção de elemento vertical ..................................................... 68
Figura 27. Representação de espaço de interação humano-animal.... 69
Figura 28. Representação de espaço de interação humano-animal ... 69
Figura 29. Sistema de evaporação............................................................... 70
Figura 30. Ficha do projeto............................................................................ 71
Figura 31. Relação com o terreno e o entorno .......................................... 71
Figura 32. Detalhes da estrutura ................................................................. 72
Figura 33. Sombreamento e entrada de luz natural no espaço interno
(abertura zenital) ........................................................................................................ 73
Figura 34. Planta baixa da edificação ......................................................... 74
Figura 35. Pátio interno que interliga os blocos ...................................... 74
Figura 36. Corte e elevação da edificação (volume do aviário) ............ 74
Figura 37. Ficha do projeto ........................................................................... 75
Figura 38. Acesso a edificação e fachada frontal ..................................... 76
Figura 39. Forma de acordo com o fluxo desejado ................................. 76
Figura 40. Relação da circulação externa com o interior das salas ..... 77
Figura 41. Planta baixa da edificação .......................................................... 78
Figura 42. Esquema de interação das crianças com o espaço
dinamizado para as brincadeiras no interior da edificação .............................. 79
Figura 43. Mapa de localização do CRI (à esq.) e fachada reformad (à
direita) ........................................................................................................................... 80
Figura 44. Circulações sombreadas por vegetação e áreas verdes ...... 81
Figura 45. Planta de zoneamento de setores produzido por Valverde
(2014) ............................................................................................................................. 82

8
Figura 46. Áreas de reabilitação com mobiliário lúdico de apoio ........ 83
Figura 47. Diagrama de contexto ................................................................ 84
Figura 48. Ambientes internos da edificação. a) dormitórios e b) sala de
aula................................................................................................................................. 84
Figura 49. Foto de fachadas ressaltando a materialidade e o contexto
do projeto ..................................................................................................................... 85
Figura 50. Sistema estrutural em grid ....................................................... 86
Figura 51. Detalhes estruturais .................................................................... 86
Figura 52. Ilustração da leveza do sistema construtivo (a) e aspectos de
materialidade (b) ......................................................................................................... 87
Figura 53. Localização da área de intervenção ......................................... 91
Figura 54. Localização do terreno............................................................... 92
Figura 55. Vegetação de grande porte e dimensão de sombreamento
no terreno .................................................................................................................... 93
Figura 56. Definições de recuos pelo código de obras........................... 93
Figura 57. Tabela de classificação da RDC50 ............................................ 95
Figura 58. Tabela de programação de espaços de reabilitação ............ 95
Figura 59. Continuação da tabela para espaços de reabilitação .......... 96
Figura 60. Caracterização da zona bioclimática 08 ................................ 97
Figura 61. Carta Psicrométrica da cidade de Natal, Rio Grande do Norte
........................................................................................................................................ 98
Figura 62. Rosa dos Ventos de Natal, indicando direção dos ventos
predominantes anual ................................................................................................. 99
Figura 63. Mapa de pontos de medição ................................................... 100
Figura 64. Influência da materialidade da rua Milião Chaves .............. 101
Figura 65. Materiais presentes no ponto 3, localizado na Raimundo
Chaves .......................................................................................................................... 101
Figura 66. a) Ponto de medição 1 b) Ponto de medição 2 c) Ponto central
do terreno d) ponto 3, localizado na Raimundo Chaves .................................. 103
Figura 67. Condições de sombreamento na estação da primavera ... 104
Figura 68. Condições de sombreamento no Inverno ........................... 104
Figura 69. Condições de sombreamento no verão ............................... 105

9
Figura 70. Ilustração de sombra de vento causada por edificações do
entorno ....................................................................................................................... 106
Figura 71. Influência do entorno para as condições de ventilação de
ventos predominantes sudeste, enfatizando sombra de vento gerada por
edificação de alto gabarito ..................................................................................... 106
Figura 72. Avaliação de condições de ventos predominantes de sudeste
em alturas mais elevadas, ocorrendo o alívio das sombras de vento presentes
a nível de solo. ........................................................................................................... 106
Figura 73. Mapa Sonoro Diurno na Região Administrativa Sul ........... 108
Figura 74. Mapa Sonoro Diurno na Região Administrativa Sul com
ênfase em área de terreno escolhido em Candelária ....................................... 108
Figura 75. Tabela de nível de critério de avaliação NCA para ambientes
externos, em dB ......................................................................................................... 110
Figura 76. Passeio criado pelo contorno da praça na rua Militão Chaves
........................................................................................................................................ 111
Figura 77. Visuais da Rua Raimundo Chaves, com destaque para
identificação do estádio Arena das Dunas ........................................................... 112
Figura 78. Fluxograma e zoneamento desenvolvidos a partir dos
estudos de Mostafa e de informações adquiridas em entrevistas ................. 119
Figura 79. Divisão de áreas por níveis (pavimentos) desenvolvidos a
partir dos estudos de Mostafa e de informações adquiridas em entrevistas.
...................................................................................................................................... 120
Figura 80. Imagem de zoneamento por níveis de estímulo ................. 121
Figura 81. Imagens chave para desenvolvimento do conceito, com
ênfase em cores, textura e atmosfera. .................................................................123
Figura 82. Monasterio Panaghia Hozoviotissa, ilha de Amorgos, Grécia,
exemplo de arquitetura simbiótica ....................................................................... 124
Figura 83. Painel de imagens compiladas através do site pinterest para
criação de moodboard ............................................................................................. 124
Figura 84. Rebatimento do conceito em propostas de mobiliários .... 125
Figura 85. Maquete física de projeto inserido na topografia ...............126

10
Figura 86. Esquema de diretrizes de concepção de circulações
desenvolvidas através do conceito ........................................................................ 127
Figura 87. Esquema de diretrizes de concepção de espaços
desenvolvidas através do conceito ........................................................................ 127
Figura 88. .........................................................................................................128
Figura 89. Ilustração dos dois eixos de direcionamento dos volumes da
edificação e a indicação de seus espaços positivos resultantes .....................129
Figura 90. Imagens ilustrativas de sistema porticado de madeira .... 130
Figura 91. Estudos de desenho para jardins............................................. 131
Figura 92. Primeira planta baixa .................................................................132
Figura 93. Proposta 1 .....................................................................................133
Figura 94. Exemplo de forro acústico para dinamização de alturas ..134
Figura 95. Avaliação de ventilação da proposta 1 em superfícies
considerando os ventos predominantes sudeste ..............................................135
Figura 96. Avaliação de ventilação da proposta 1 em superfícies
considerando os ventos predominantes sudeste ..............................................135
Figura 97. Mapa de fontes de ruído. a) influência na edificação de fontes
de ruído externas b) influência da edificação no entorno .............................. 136
Figura 98. Perspectivas da proposta 02 .................................................... 141
Figura 99. Planta de subsolo e zoneamento de proposta 2 .................. 142
Figura 100. Planta baixa e zoneamento de proposta 2 .......................... 142
Figura 108. Representação de proposta de jardim ................................. 147
Figura 101. Zoneamento de planta baixa da proposta final por usos .149
Figura 102. Zoneamento por níveis de estímulo obedecendo os
princípios de ASPECTSS ......................................................................................... 150
Figura 103. Esquema e carta solar de elemento de sombreamento na
abertura de sala de espera ...................................................................................... 154
Figura 104. Esquema de insolação de janela da área de café sem
elementos de sombreamento ................................................................................. 155
Figura 105. Efeito de sombreamento de brises em abertura do café. 155
Figura 106. Esquema de especificação de materiais para isolamento
acústico........................................................................................................................ 157

11
Figura 107. Esquema de materiais para isolamento acústico............... 157
Figura 109. Perspectivas da proposta final...............................................164

LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Quadro comparativo de referencial direto e indireto ........... 88
Tabela 2. Nível de conforto por frequência e usos dos ambiente ..... 109
Tabela 3. Tabela de pontos de medição de ruído ................................... 110
Tabela 4. Programa de necessidades e pré-dimensionamento .......... 116
Tabela 5. Tabela de isolamento bruto dos ruídos internos para a
vizinhança ...................................................................................................................138
Tabela 6. Tabela de isolamento bruto dos ruídos externos para os
ambientes internos.....................................................................................................138
Tabela 7. Cáclulo de reservatório de água por demanda de público . 151
Tabela 8. Pré dimensionamento de estruturas em Madeira Laminada
Colada (ou microlaminada) ..................................................................................... 152
Tabela 9. Valores de Perda de Transmissão sonora e níveis de ruído
interno obtido ........................................................................................................... 156
Tabela 10. Valores de Perda de Transmissão sonora e níveis de ruído
interno obtido ............................................................................................................158

12
SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO ...............................................................................................................15
2. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................................ 23
2.1.1 Terapia assistida e seus benefícios: o bem-estar humano e o bem-estar
animal 24
1. ALIMENTAR: ............................................................................................................................. 28
2. SENSORIAL: ............................................................................................................................. 28
3. FÍSICO:..................................................................................................................................... 29
4. COGNITIVO: ............................................................................................................................ 29
5. SOCIAL:.................................................................................................................................... 29
2.1.2 O espaço terapêutico: suas demandas e a influência da psicologia
ambiental 29
2.1.3 Design thinking e as discussões de Lawson 37
3. REFERENCIAL EMPÍRICO .............................................................................................. 42
3.1 ESTUDOS DE REFERÊNCIA DIRETOS .................................................................................. 44
3.1.1 Grupo de Terapia Assistida: UNP 47
3.1.2 Harmony Vet 51
3.1.3 Pet LoverS2 55
3.1.4 My Best Nanny 60
3.2 ESTUDOS DE REFERÊNCIA INDIRETOS ............................................................................... 64
3.2.1 Estudo 1: Tangible Space: Centre for Animal Assisted Therapy:
Referência Programática 65
3.2.2 Estudo 2: Kres Oehr Petting Zoo (Espaço de interação humano-animal
e ambiente restaurador) 70
3.2.3 Estudo 3: Early Education Center Near the Horse Farm - L&M Design
Lab (Espaços para crianças) 75
3.2.4 Estudo 4: Centro de Reabilitação Infantil/ Centro Especializado em
Reabilitação (CRI/CER) 80
3.2.5 Estudo 5: Moradias infantis – Rosenbaum (Adequação ao clima,
estrutura e materialidade) 84
3.3 QUADRO COMPARATIVO.................................................................................................... 88
4. ÁREA DE INTERVENÇÃO ............................................................................................... 90
4.1 ESCOLHA DO TERRENO ..................................................................................................... 91
4.2 CONDICIONANTES LEGAIS ................................................................................................ 93
4.3 CONDICIONANTES AMBIENTAIS ........................................................................................ 97

13
4.3.1 Aspectos de conforto térmico 100
4.3.2 Aspectos de conforto acústico 107
4.3.3 Aspectos de paisagem 111
4.4 ANÁLISE SÍNTESE .......................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
5. PROCESSO PROJETUAL ................................................................................................ 114
5.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E PROGRAMA DE NECESSIDADES ........................................... 115
5.2 IDEAÇÃO: CONCEITO E PARTIDO ARQUITETÔNICO ......................................................... 122
5.3 INSPIRAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO: DA EVOLUÇÃO DA IDEIA AO ESTUDO PRELIMINAR ...... 127
6. PROPOSTA ARQUITETÔNICA FINAL......................................................................... 144
6.1 ASPECTOS GERAIS ........................................................................................................... 145
6.1.1 Aspectos formais 146
6.1.2 Aspectos funcionais 147
6.2 MATERIAIS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS ......................................................................... 152
6.2.1 Estrutura, envoltória e acabamento 152
6.3 CONFORTO AMBIENTAL................................................................................................... 153
6.3.1 Térmico 153
6.3.2 Acústico 156
6.3.3 PERSPECTIVAS 159
7. CONCLUSÕES ................................................................................................................ 166
8. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 168
Bibliografia 168
Normativos 170
Acervo eletrônico 171
Softwares 173
9. APÊNDICES ...................................................................................................................... 173
Apêndice A – Material de apresentação distribuído pós entrevista 174
APÊDICE B – MATERIAL GUIA PARA ENTREVISTAS 175
APÊDICE C – MATERIAL EXPLICATIVO SOBRE PROJETO 176

14
1
Apresentação
O governo do Rio Grande do Norte revogou pela segunda vez em
agosto do ano de 2018 o estado de calamidade pública na saúde, quando, em
dezembro de 2017, já se havia prorrogado por mais seis meses. A situação
encontra-se há dois anos estabilizada em calamidade, com problemas de
infraestrutura, pagamento de funcionários e disponibilidade de pessoal,
segundo reportagens lançadas pela Tribuna do Norte (2016; 2017; 2018). Os
problemas resultantes deste quadro se agravam quando as camadas mais
sensíveis da população, como crianças em condições crônicas físicas e
psicossomáticas, dependem desse tipo de infraestrutura. Segundo material
de planejamento da saúde estadual (PES, 2016), 25% da população do Estado
está em idade escolar, que compreende crianças de 4 a 14 anos, e, no entanto,
contrastando com esta demanda, há apenas dois equipamentos públicos na
área de reabilitação infantil no Estado: a Associação Beneficente N. Sra. da
Conceição, em Pau dos Ferros/RN, e o antigo Centro de Reabilitação Infantil
(CRI), hoje Centro Especializado em Reabilitação (CER III), a única unidade de
reabilitação em Natal/RN. Este último vem passando por reformas no ano de
2018 e ainda assim não atende a grande demanda, ocorrendo longas filas de
espera e falta de capacidade de atendimento de pacientes que se deslocam
de vários municípios e do interior do Estado, como relatado em reportagem
do portal G1 Rio Grande do Norte (2018). Há a necessidade de mais um
equipamento na área, bem como de atendimentos de menor custo que
mantenham a humanização do serviço para atender as especificidades do
público infantil da cidade e do Estado.
Neste contexto, atendimentos alternativos como a Terapia Assistida
por Animais (TAA), um tratamento para pessoas com distúrbios e/ou
condições crônicas ou agudas, psicológicas ou físicas, utilizando o auxílio de
animais como cães, gatos, equinos, coelhos e porquinhos da índia, começam
a se tornar uma opção. Na TAA o animal serve de agente auxiliador do
trabalho de profissionais da saúde, sejam eles enfermeiros, psiquiatras,
psicólogos, fonoaudiólogos ou fisioterapeutas. Este tipo de terapia, ainda que
se tratando de uma abordagem relativamente nova, teve sua eficácia
comprovada em diferentes aplicações clínicas, como tratamentos em

16
pacientes com Alzheimer (MOSSELLO, E. et al, 2011) e Autismo (O’HAIRE, M.
E. et al, 2014), na reabilitação física e no auxílio psicológico de público
principalmente idoso e infantil (FERREIRA, A. O. et al., 2016; BRENNER, M. B.
et al., 2016; ICHITANI, T., 2016). A Terapia Assistida tem possibilidade de
aplicação em todas as idades e gêneros, além de não causar danos ao animal
terapeuta (YAMAMOTO, K. C. M. et al., 2012), sendo vantajosa, portanto, pelo
seu caráter universal.
Esse tipo de terapia tem grande potencial de absorção no mercado,
uma vez que o ramo pet é um dos que mais cresce no Brasil, sendo este o
terceiro mercado pet do mundo (ABINPET, 2018). Este setor se mantém
promissor mesmo em tempos de crise econômica: em 2014 a indústria
voltada aos animais de estimação faturou 16,7 bilhões de reais no Brasil,
segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de
Estimação (ABINPET, 2018). Um reflexo deste quadro consiste na maior
quantidade de cães no Brasil do que crianças: em 2015 os números eram de
52,2 milhões de cães e 22 milhões de gatos de estimação levantados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2015), para 44,9 milhões
de crianças segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD,
2013). Além disso, movimentos pela causa animal e referente ao mercado pet
cresce com os eventos de ocupação dos espaços públicos partilhados com
animais de estimação. Em Natal, as primeiras “Cãominhadas” – passeatas de
donos e seus animais de estimação organizadas por iniciativa de ONGs como
a ONG Animais (hoje ONG Amigos dos Animais) e ONG Patamada - ocorreram
em 2008.
Estes eventos seguiram reivindicando políticas públicas de prevenção
e tratamento de doenças para animais de estimação, pedidos de unidades
móveis de castração animal (Sandro Pimentel, 2017) e protestos como a
manifestação contra o projeto de lei 4548/98 que tramitava no congresso
nacional em 2009, que ao modificar termos da lei de proteção animal
9605/98 poderia descriminalizar maus tratos a animais domésticos (Correio
Braziliense, 2009). Hoje os eventos organizados compreendem blocos de

17
carnaval pet friendly1 (Bloco Pulo do Gato, em Parnamirim/RN), eventos de
adoção, “Encãotros” mensais com feiras de produtos pet, além dos diversos
espaços comerciais que abrem portas para donos acompanhados de seus
bichinhos de estimação, em sua maioria cães, como o café Bocaditos e o Natal
Shopping, localizados nas regiões Sul e Leste de Natal/RN, respectivamente.
Aliado aos benefícios da interação humano/animal, como a diminuição
da pressão arterial e ansiedade, maior sociabilização dos pacientes e
aumento da sensação de bem-estar, a necessidade de um novo equipamento
voltado a reabilitação de crianças para desafogar a demanda do Estado torna,
portanto, conveniente a proposta deste trabalho para um centro de
reabilitação infantil utilizando terapia assistida. Para este trabalho, o
equipamento seria de atendimento privado, uma vez que o sistema de saúde
pública ainda não absorveu terapias alternativas como a TAA, mas a proposta
de equipamento pode manter ações filantrópicas de atendimento público
periodicamente, bem como parceria com ONGs para possíveis atendimentos
de daycare2 aos cães a espera de adoção, proporcionando retorno social
através da arquitetura. Para manter a rentabilidade do local proposto,
serviços de treinamento de animais domésticos, avaliação e
condicionamento comportamental, áreas de interação humano-animal para
visitantes e daycare periódico de cães seriam oferecidos a um público
pagante.
Como um diferencial de projeto o espaço precisará ser pensado não só
para humanos como também para o bem-estar animal, o que envolveria
abordar áreas da psicologia aplicada à arquitetura, bem como conhecimentos

1
Segundo o Dicionário de Cambridge, o termo pet friendly se refere a lugares que são
adequados para animais de estimação ou que permitem a sua permanência. (disponível em:
<https://dictionary.cambridge.org/pt/dicionario/ingles/pet-friendly>. Acessado em: 20
abril 2019)
2
Segundo o Dicionário de Cambridge, o termo day care se refere a um atendimento
de saúde ou de educação que ocorra pelo período diurno, mais comumente oferecido para
crianças. Para o contexto deste trabalho, o serviço de day care se refere ao atendimento
recreativo e educativo para cães.

18
da área de conforto ambiental e arquitetura hospitalar de reabilitação e
acessibilidade.
Devido ao contexto abordado, soluções que envolvam o quadro de
saúde pública do Estado tornam-se ainda mais relevantes, e, por isso,
tratamentos alternativos que envolvam a interação humano-animal na área
da saúde são cada vez mais possíveis e permitidos. Para a população de Natal,
um Centro de Terapia Assistida traria um novo equipamento de saúde e uma
nova abordagem mais humanizada de tratamentos. Para o poder público, uma
possível redução de despesas e um alívio para as unidades de reabilitação.
Em atenção à capacidade do espaço arquitetônico de influenciar
aspectos psicológicos do indivíduo, a aplicação prática da abordagem da
psicologia ambiental a nível arquitetônico faz-se necessária para trazer
caráter humanizado ao centro. Os estudos na área da Biofilia e Espaços
restauradores (KAPLAN, 1989) trazem possibilidades para esse projeto
considerando usuários que já possuam um quadro de maior sensibilidade a
esses estímulos, como crianças em reabilitação física e crianças com quadros
de Síndrome de Down e Autismo, gerando efeitos de relaxamento através de
elementos naturais no projeto, seja através de materiais naturais, paisagens,
vegetação ou a presença do animal terapeuta. Da mesma forma e conectada
à influência do espaço no usuário, a aplicação em projeto e o estudo do
conforto ambiental tanto térmico quanto acústico se mostra relevante, além
de grande ênfase em questões sanitárias e exigências de órgãos reguladores
como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), uma vez que será
um espaço não só de uso periódicos de pacientes como de manuseio de
animais. Por questões de exigências urbanas o campo acústico do conforto
ambiental terá mais destaque, principalmente considerando o entorno do
local de projeto com maior uso residencial, além dos cuidados em relação ao
bem-estar dos animais.
O projeto contribui, ainda, para uma abordagem arquitetônica que
trabalhe a vivência humano-animal em um espaço considerando ambos como
usuários, tornando-se assim um desafio, devido à pouca quantidade de
estudos de referência na área, contribuindo também para futuros projetos de

19
uso específico para a terapia assistida. Desta forma o presente trabalho tem
como objetivo geral elaborar um anteprojeto de um centro voltado ao

atendimento de reabilitação com terapia assistida por animais

domésticos por meio de soluções adequadas ao conforto térmico e

acústico, e especificamente objetiva conhecer as especificidades de um


equipamento de saúde voltado para terapia assistida que se adeque a
interação humano-animal; empregar estratégias do âmbito da Psicologia
Ambiental que propiciem a vivência e a qualidade do espaço de interação
entre humanos e animais; adotar estratégias do âmbito do Conforto
Ambiental com enfoque na qualidade do espaço e a relação não conflituosa
com o seu entorno; e elaborar um anteprojeto de um centro de reabilitação
para Terapia Assistida utilizando as estratégias resultantes das análises de
psicologia ambiental e conforto ambiental.
Para atingir tais objetivos foi elaborado referencial teórico a partir do
levantamento de dados sobre temas de bem-estar animal, incluindo leis de
proteção ambiental/animal e leis sanitárias, aspectos de ocupação e
atendimento das necessidades básicas, bem como a compilação de materiais
de referência em relação ao bem-estar humano, como leis de acessibilidade
e ergonomia, através da leitura de artigos e consulta a profissionais da área
(veterinários, adestradores, propriedades de instituições de resgate,
funcionários de centros de zoonoses, dentre outros). Consiste, ainda, na
elaboração de referencial empírico, através de análises de projetos
semelhantes, feitos por meio de estudos de caso direto e indireto, consultas
em sites de internet, base de dados de monografias e revistas técnicas.
Para o objetivo específico de empregar estratégias do âmbito da

Psicologia Ambiental que propiciem a qualidade do espaço de interação

entre humanos e animais, ocorrerá o rebatimento dos conceitos de Biofilia


e Espaços Restauradores, bem como aplicação prática dos estudos prévios
da área de Psicologia Ambiental encontrados em livros e artigos, tornando
tais estudos bases para as condicionantes de projeto.

20
Para adotar estratégias do âmbito do Conforto Ambiental que

propiciem a qualidade de vivência do espaço de interação entre

humanos e animais bem como uma relação não conflituosa com seu

entorno, foi feito uma análise da área de intervenção e seu entorno,


objetivando a identificação de potencialidades que evoluam para diretrizes e
soluções projetuais, através de visita in loco, medições térmicas e acústicas
com uso de equipamentos e análises por simulação de ventilação e insolação
em softwares.
Para elaborar um projeto de um centro de reabilitação para

Terapia Assistida utilizando as estratégias resultantes das análises de

psicologia ambiental e conforto ambiental, foram adotadas as


metodologias de Design Thinking criadas pela IDEO, fazendo uso de criação
de personas, moodboards, ideação (ideation) e processos de auto reflexão,
compilados no livro Creative Confidence (KELLEY; KELLEY. 2013), além de
outras metodologias que envolvam estudos volumétricos, criação de
conceito e partido arquitetônico, que resultaram no conjunto de pranchas
com detalhamento de anteprojeto e representação gráfica em renderização.
O projeto possui como universo de estudo a cidade de Natal, Rio
Grande do Norte, pelo recorte do bairro de Candelária, na rua Militão Chaves,
número 403, uma vez que buscou-se atender a regiões com demanda para
treinamento de cães terapeutas (ou seja, locais com maior concentração de
animais domésticos em Natal). A escolha parte também de uma proposta de
descentralização dos equipamentos de saúde na cidade, concentrados
atualmente nos bairros de Tirol e Petrópolis. As dimensões do terreno devem,
ainda, atender as possíveis áreas do pré-dimensionamento da edificação,
baseadas nos levantamentos realizados nos locais de serviços similares.
A primeira parte deste trabalho trata do referencial teórico, cujos
temas abordados envolvem Terapia assistida e seus benefícios: o bem-estar
humano e o bem-estar animal; O espaço terapêutico, suas demandas e a
influência da psicologia ambiental nas condições de tratamento: os conceitos
de Biofilia e Espaços restauradores; Design Thinking e as discussões de

21
Lawson (2006). A segunda parte do trabalho consiste na exposição do
referencial empírico, incluindo os estudos de referência diretos e indiretos.
Em seguida, a terceira parte conta com as características da área de
intervenção e os seus condicionantes projetuais, cujas informações obtidas
constroem a base do processo projetual, no qual foram explicitados a
definição do problema, conceito, partido arquitetônico e a evolução da ideia
até o estudo preliminar. Por fim, a última parte deste trabalho reúne os
produtos relacionados à proposta arquitetônica, como os aspectos gerais,
formais, funcionais, de materiais, sistemas construtivos e análises de
conforto ambiental.

22
Referencial Teórico
2
Neste capítulo encontra-se o levantamento dos autores e conceitos para o
embasamento de possíveis soluções às problemáticas levantadas. Esse levan-
tamento ajudou a abordar o tema, direcionando como desenvolver o projeto,
através de artigos acadêmicos, livros, revistas técnicas e outras fontes.
2.1.1 TERAPIA ASSISTIDA E SEUS BENEFÍCIOS: O BEM-ESTAR
HUMANO E O BEM-ESTAR ANIMAL

O histórico da terapia assistida remete ao século XVIII, quando se


utilizou pela primeira vez animais no ambiente hospitalar e de reabilitação
como auxiliares no tratamento, para o aumento da sensação de bem-estar
em pacientes (KOBAYASHI, C. T. et al. 2009). Das definições existentes sobre
terapia assistida, as mais utilizadas e aceitas são das organizações Pet
Partners e da European Society for Animal Assisted Therapy (ESAAT).
A Pet Partners, uma associação americana responsável pelo
treinamento de animais pra se tornarem auxiliares terapeutas, refere-se as
intervenções assistidas por animais como aquelas que intencionalmente
incorporam o animal em serviços de saúde, educação e serviços sociais, com
o propósito de ganhos positivos na terapia, melhora da saúde e bem-estar.
Esses animais não se limitam apenas aos cães, uma vez que incluem, dentre
outros, gatos, coelhos, porquinhos da índia, pássaros e cavalos. As diferentes
formas de intervenção assistida por animais envolvem a Educação assistida
(EAA), Terapia Assistida (TAA) e a Atividade Assistida por Animais (AAA). Em
todas as intervenções, segundo essa organização, o animal pode fazer parte
de equipes voluntárias coordenado por um profissional ou pertencer ao
profissional envolvido na terapia em si. As intervenções terapêuticas são
orientadas, planejadas, documentadas e estruturadas a partir de um objetivo
direcionado por profissionais da saúde e serviços humanos, como terapeutas
ocupacionais, especialistas em terapias recreativas, enfermeiras, assistentes
sociais, terapeutas da fala ou profissionais de saúde mental (petpartners.org).
Já para a ESAAT, a terapia assistida por animais inclui intervenções
com um planejamento pedagógico, psicológico e socialmente integrado com
animais para crianças, jovens, adultos e idosos com deficiências cognitivas,
motoras, social-emocional e com problemas de comportamento, além de
utilizado para suporte direcionado. Inclui, ainda, medidas de promoção da
saúde, prevenção e reabilitação. Segundo a ESAAT, a terapia assistida é
baseada na relação e no processo estruturado em uma relação entre cliente,

24
animal e profissional terapeuta, levando em consideração princípios da ética
animal. Os objetivos da terapia assistida por animais, segundo a ESAAT,
seriam:
“A restauração e a manutenção das funções físicas,
cognitivas e emocionais; o suporte das capacidades e
habilidades através das atividades e tratamentos; o
suporte à inclusão e, por fim, o melhoramento na
sensação subjetiva de bem-estar”. (en.esaat.org,
tradução livre pela autora)
As principais diferenças entre os serviços de assistências com animais
se mostram no objetivo, na estruturação das atividades e nos equipamentos
a serem utilizados, onde a EAA tem o enfoque educativo que envolve a
melhoria do aprendizado e o auxílio no ensino de valores. Dependendo dos
profissionais envolvidos, a EAA pode envolver intervenções nas escolas e
outros espaços de educação, interação com estudantes relacionados aos
exercícios de empatia, socialização, respeito aos animais, bem como no
auxílio de aprendizados de leitura (FERREIRA, A. O. et al., 2016). Já a AAA são
atividades recreativas e motivacionais, não relacionadas especificamente à
saúde ou à educação, mas que podem trazer benefícios para ambos de acordo
com a atividade proposta (MARQUES, M.; MENDES, A.; GAMITO, A.; SOUSA,
L. 2015). A Atividade Assistida por Animais comumente envolve interações
grupais ou individuais, brincadeiras entre cães e crianças ou adultos, com o
objetivo de entreter e diminuir estresse, podendo utilizar de brinquedos e
outros instrumentos lúdicos. A TAA, por sua vez, direciona-se para a saúde
humana, buscando melhorias nos estados físicos e psicológicos de pacientes,
além de envolver profissionais da saúde. Na terapia assistida podem ocorrer
exercícios motores e fisioterápicos (incluindo, por exemplo, auxílio de
caminhada utilizando o cão como apoio e agente incentivador), como
também a utilização de cães de companhia e situações de demonstração de
afeto e para a prevenção de atitudes violentas por pacientes psiquiátricos
(MARQUES, M.; MENDES, A.; GAMITO, A.; SOUSA, L. 2015). Para o enfoque
desta proposta projetual serão tratados apenas as atividades de TAA e AAA,

25
bem como se restringirá o animal terapeuta apenas ao uso dos cães, com o
objetivo de reduzir o escopo de trabalho e trazer soluções mais
especializadas.
Para as definições de bem-estar humano, adotou-se os conceitos do
campo da psicologia, onde os estudos de Rosa Ferreira Novo (2005)
esclarecem existir os chamado bem-estar subjetivo e o bem-estar
psicológico, sendo esse último o mais utilizado para este trabalho. O bem-
estar subjetivo trata da felicidade auto-declarada baseada no nível de
satisfação do indivíduo, associando suas condições sociais, demográficas,
políticas e culturais. Já para alcançar um estado de bem-estar psicológico,
também no âmbito individual, assume-se seis dimensões a serem
trabalhadas: a aceitação de si, relações positivas com os outros, domínio do
meio, crescimento pessoal, objetivos na vida e autonomia (NOVO, F. 2005).
Quando se relaciona o tratamento terapêutico assistido com animais
ao estado de bem-estar dos pacientes, os resultados permeiam as seis
dimensões de bem-estar, mas principalmente aos benefícios que a TAA traz
às relações positivas, a aceitação de si, crescimento pessoal e autonomia uma
vez que essa terapia tem grande potencial de contribuição por seus aspectos
sociais e de melhoramento de condições de saúde. Segundo os estudos de
Levine (2013), a simples companhia ou posse de cães tem relação com a
redução nos riscos cardiovasculares, relacionados às consequentes criações
de vínculos emocionais e da manutenção de rotinas básicas comumente
dedicadas aos pets, como caminhadas regulares que reduzem o
sedentarismo.
Em ambientes hospitalares e clínicos, os benefícios são observados
através da melhoria das interações sociais entre funcionários e pacientes,
gerando redução de estresse (MARIA, A.; VACCARI, H.; ALMEIDA, F. D. A.,
2007), além da menor resistência aos tratamentos fisioterápicos (MINOZZO,
M.; MENEGAZZO, A.; SOUZA, V. 2013). Há também contribuição para a
diminuição da agressividade de pacientes psiquiátricos (ISABEL, M. et al.,
2015), além de melhora na inteligibilidade da fala e melhor comunicação
corporal por parte dos pacientes nos atendimentos fonoaudiológicos

26
(DOMINGUES, C.; CUNHA, M. 2008). As práticas e benefícios se estendem a
casas de apoio ao idoso (BRENNER, M. B. et al, 2016), e a clínicas de psicologia
(VIEIRA, F. R., 2013).
Nos hospitais foi constatado que a presença dos cães nos tratamentos
de crianças a partir de 7 anos de idade reduziu as sensações de dor auto-
referidas, numa escala estabelecida pelo estudo realizado de Ichitani (2016).
O tratamento é ainda mais praticado com crianças do espectro autista
(Becker, 2003. Oliveira 2007), uma vez que cães geram melhores resultados
de interação social para crianças com autismo em terapias do que, por
exemplo, brinquedos utilizados em tratamento, além de aumentar as
habilidades sociais dessas crianças (O’HAIRE, M. E. et al. 2014).

Figura 1. Atendimeno de Terapia Assistida por Animais

Fonte: facebook.com/taaunp

A terapia assistida por animais tem papel no processo de humanização


do tratamento, conforme os estudos de Kobayashi et al (2009), quando
utilizado em visitas a hospitais psiquiátricos. Nesse estudo foi constatado que
os pacientes que passaram pelo tratamento e seus familiares reportaram
melhorias no bem-estar, nas relações sociais e nos níveis de humor
apresentados no ambiente hospitalar.
Associando os benefícios da saúde humana à preocupação com os cães
em atendimento, que lidam com pacientes que podem apresentar
comportamentos bruscos ou agressivos, os estudos de Yamamoto (2012)
concluem que os atendimentos típicos – onde não são registradas
anormalidades como agressões aos animais - não apresentam indícios de

27
stress no animal e que, portanto, não há malefícios à integridade física e
psicológica dos cães. Ainda assim, foi ressaltado que se o cão apresentar
sinais de estresse, latidos e imprevisibilidade no comportamento, atende-se
ao protocolo de retirar o cão do atendimento imediatamente.
Atentando-se ao estado físico e psicológico dos cães no momento das
sessões de TAA e AAA, procurou-se entender que cuidados se fazem
necessários para a manutenção do bem-estar do cão terapeuta. Para essa
compreensão, buscou-se as definições de bem-estar animal, encontradas
nos estudos de Broom (2011), Hughes (1982) e Campos (2010). Para Broom,
bem-estar animal compreende conceitos mensuráveis da qualidade de vida
do animal em um intervalo de tempo de sua vida (BROOM, 2011). Já para
Hughes (1982), o bem-estar animal se define com a relação harmoniosa do
animal com a natureza ou com seu ambiente. Campos et al (2010) afirma que
o bem-estar animal “[...] visa a redução do estresse e a diminuição de
distúrbios comportamentais para que os animais alcancem o seu bem-estar
físico e psíquico”.
Desta forma, adotou-se estratégias para promover o bem-estar nos
ambientes propostos deste anteprojeto para os cães, incluindo o
atendimento de suas necessidades biológicas e a promoção da harmonia do
animal com o ambiente. O conjunto dessas estratégias se define como
enriquecimento ambiental, que consiste na “[...] criação de um ambiente
dinâmico, complexo e interativo que proporcione desafios físicos e mentais
similares aos da natureza.” (PETGAMES, 2019).
Para adquirir qualidades de um ambiente enriquecido, deve-se atender
aos cinco tipos de enriquecimento: alimentar, sensorial, físico, cognitivo e
social, que se referem, respectivamente:
1. Alimentar: fornecer oportunidade de procura e caça
de alimentos de diferentes maneiras, evitando a
previsibilidade na hora da alimentação;
2. Sensorial: oferece recursos e situações que atice os
cinco sentidos dos animais: sonoro, olfativo, visual, tátil
e gustativo;

28
3. Físico: simular o habitat mais natural e adequado para
cada espécie como esconderijos, obstáculos, lugares
para subir, descer, esconder, pendurar, etc;
4. Cognitivo: estimular a capacidade intelectual
(concentração, coordenação motora, memória e
raciocínio) por meio de "quebra-cabeças" que escondem
alimentos;
5. Social: interagir com animais da mesma ou de outras
espécies, da mesma forma como acontece na natureza.
(PET GAMES, 2019)
Utilizar dessas estratégias, portanto, torna possível evitar
desconfortos aos cães terapeutas ao mesmo tempo que torna possível um
equipamento voltado a TAA, cujos benefícios foram enumerados nesse
capítulo. Esses estudos mostram a importância da absorção desse tipo de
tratamento nos ambientes de saúde, ainda que sejam práticas inéditas que
comumente não possuem adequação espacial que inclua os cães como
usuários. Por isso, a ideia de um centro que agregue possíveis aplicações da
terapia assistida por animais faz-se relevante tanto por sua eficácia quanto
pela contribuição ao estudo arquitetônico e espacial da acomodação dessas
atividades, tornando-se um equipamento de saúde abrangente, e o primeiro
na região a concentrar as especificidades das modalidades de tratamento
envolvendo animais.

2.1.2 O ESPAÇO TERAPÊUTICO: SUAS DEMANDAS E A


INFLUÊNCIA DA PSICOLOGIA AMBIENTAL

Este capítulo trata das definições e classificações do espaço


terapêutico e de seu funcionamento em relação às interações entre ambiente
e pacientes. Também introduz os conceitos de biofilia e de espaços
restauradores como estratégias de projeto no campo da psicologia ambiental
que utilizam os benefícios da presença do animal terapeuta e de ambientes
naturais.

29
Como o centro de reabilitação infantil proposto não pretende possuir
áreas de laboratório nem internação, encaixa-se nas definições da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como Unidade de Ambulatório
pertencente à atribuição 1, que inclui “prestação de atendimento eletivo de
promoção e assistência à saúde em regime ambulatorial e de hospital dia”. As
atividades principais desse tipo de atribuição são listadas na RDC n° 50/2002
“[...] 1.1 Realizar ações individuais ou coletivas de
prevenção à saúde, tais como: imunizações, primeiro
atendimento, controle de doenças, visita domiciliar,
coleta de material para exame, etc.;[...]
1.6 Recepcionar, registrar e fazer marcação de
consultas;
1.7 Proceder à consulta médica, odontológica,
psicológica, de assistência social, de nutrição, de
farmácia, de fisioterapia, de terapia ocupacional, de
fonoaudiologia e de enfermagem;
1.8 Realizar procedimentos médicos e odontológicos de
pequeno porte, sob anestesia local (punções, biópsia,
etc.) (ANVISA, 2004, p.38-9).

Tratando-se de um centro voltado para fisioterapia, apoio psicológico


e fonoaudiológico com o apoio da terapia assistida por animais, as demandas
para este espaço terapêutico estão relacionadas principalmente às atividades
de recepção, registro, marcação, consulta, e atendimento por especialidade
médica relacionado à TAA, dispensando as exigências, portanto, de áreas de
inalação, salas para odontologia e imunização. Segundo o Sistema de Apoio à
Elaboração de Projetos de Investimentos em Saúde (SOMASUS), os
zoneamentos devem levar em consideração os agrupamentos de atividades
relacionadas, e define também a necessidade de pontos de água fria e
iluminação que não alterem a cor do paciente. Em relação aos materiais
utilizados, devem ser resistentes à lavagem e ao uso de desinfetantes,
possuindo superfícies lisas e o menor número possível de frestas ou
ranhuras. Os forros podem ser do tipo removíveis se forem resistentes aos
processos de limpeza, descontaminação e desinfecção (SOMASUS, 2011).
Para entender as necessidades de um espaço terapêutico, buscou-se
informações sobre seus significados e o que envolve o processo de

30
reabilitação. Encontrou-se nos estudos de Souza e Faro (2011) a definição de
que:
“[...] Reabilitação é um processo educativo e
assistencial, multiprofissional, que prima pela busca
compartilhada do desenvolvimento das capacidades
remanescentes, prevenção do agravamento de
incapacidades e do aparecimento de complicações. É
compartilhada porque envolve o paciente, o cuidador
familiar e o profissional especialista em reabilitação[...].”
(SOUZA, L.; FARO, A.C. 2011)

Deste modo, as características multidisciplinares, envolvendo não só o


corpo profissional mas o apoio familiar, além dos aspectos de promoção da
autonomia do paciente, tornam a dinâmica de usos de reabilitação
fragmentada e diversa, pela associação das diferentes funções e atividades,
como a atenção à saúde, atividades administrativas, serviços de manutenção
e a necessidade de atendimento de requisito de promoção da qualidade de
vida e autonomia dos usuários (VALVERDE, J. 2014). Por ser uma unidade de
saúde voltada para a reabilitação e ao público infantil especificamente, as
necessidades deste espaço giram em torno da facilitação do exercício dos
profissionais como também na adequação desses espaços a crianças.
Estratégias como a criação de um ambiente “aprazível e saudável, que
contemple atividades desenvolvidas por meio de brincadeiras, contribuem
positivamente no desenvolvimento cognitivo e psicomotor” (MOORE, R.C.;
COSCO, N. 2005).
Observou-se, portanto, a necessidade de humanização dos ambientes,
que está intimamente ligada à qualidade do serviço prestado, como também
à experiência de conforto ambiental nos espaços propostos, sendo esse
conforto, segundo Martins (2004), um estado de neutralidade em relação ao
ambiente ao qual o indivíduo se insere.
Já Lamberts (2011) esclarece que a neutralidade é uma condição
necessária, mas não suficiente, uma vez que o conforto, quando se refere a
uma sensação humana, é subjetivo e depende de fatores físicos, fisiológicos
e psicológicos, determinados, respectivamente, pelas trocas de calor do
corpo com o meio, as alterações do organismo de cada indivíduo e/ou

31
exposição a condições térmicas, como também às respostas sensoriais a
estímulos. Considerando os conceitos de conforto estabelecido por
Lamberts, utilizou-se de áreas do conforto térmico e acústico, como também
da psicologia ambiental, para que se alcançasse relações positivas entre os
pacientes e os espaços de reabilitação.
Para o atendimento dos critérios de conforto térmico, adotou-se as
estratégias de Holanda (1976), que incluem criar uma sombra; recuar paredes;
vazar os muros; proteger as janelas; abrir as portas; continuar os espaços;
construir com pouco; conviver com a natureza e construir frondoso. Essas
estratégias buscam a adequação ao clima do nordeste e seus aspectos de
paisagem, como a presença da natureza e elevados índices de incidência
solar, que resultam em um grande potencial de iluminação natural e
temperaturas elevadas. Desta forma, sombrear, recuar paredes e proteger as
janelas se referem a amenização das temperaturas através da proteção à
incidência solar direta, enquanto vazar muros, abrir as portas, continuar os
espaços e construir com pouco atribuem leveza e ventilação à edificação.
Para um maior entendimento das adequações estratégicas em relação
ao clima do nordeste, utilizou-se dos conceitos de estado de conforto
térmico a partir do modelo adaptativo (DE DEAR; BRAGER, 2002), levando em
consideração as atribuições das estratégias de projeto de acordo com a
identificação do tipo de desconforto a ser evitado. Esse processo,
desenvolvido por Pedrini (2018) buscando atualização dos modelos de
avaliação que se utilizavam da NBR 15220, constitui-se em identificar quando
o clima proporciona desconforto, seja ao frio ou ao calor, para em seguida
relacionar cada situação com uma resposta: se confortável, trazer o clima
para o ambiente construído; se pouco desconfortável ao calor ou ao frio,
recomenda-se a utilização de recursos passivos para compensar o
desconforto aquecendo ou resfriando o ambiente; se muito desconfortável
ao calor ou ao frio, recomenda-se isolar o ambiente construído. Por fim, após
identificar quais estratégias a serem adotadas, procura-se relacioná-las com
os recursos arquitetônicos disponíveis na região. Dessa forma as soluções a
serem trabalhadas se relacionam com observações reais do local onde será

32
proposta uma edificação, e não mais partem de pré-definições que
uniformizam grandes regiões bioclimáticas.
Ainda tratando-se da humanização dos espaços de reabilitação para o
público infantil, levou-se em consideração a necessidade de adequação
desses espaços para crianças com autismo. Para isso, obteve-se informações
através dos estudos de Mostafa (2014) sobre a importância de se obedecer
uma sequência de fluxo e programa que considere a intensidade e o tipo de
estímulos dos sentidos, com cuidado especial aos efeitos sonoros de
reverberação de possíveis cantos, uma vez que crianças do espectro autista
apresentam muita sensibilidade aos sons (MOSTAFA, M. 2014). Por esse
motivo há a necessidade de tratamento de condicionamento acústico
adequado, como também de isolamento dos ambientes. O zoneamento
proposto por Mostafa, portanto, se dá pela sequência de fluxos através de
suas classificações como espaços de alto estímulo, baixo estímulo e de
transição.
Os estudos de Mostafa (2016), cuja produção envolve as
particularidades de fluxo, zoneamento e aspectos de design, sugerem
diretrizes de projeto baseados nos princípios do ASPECTSS, sigla em que se
define em Acoustics, SPatial sequencing, Escape Space, Compartmentalization,
Transition zones, Sensory Zoning e Safety3.
A acústica, segundo Mostafa (2016), é o aspecto sensorial que mais
influencia o comportamento de crianças com autismo. Desta forma, reduzir
níveis de ruído, reverberação e ecos em áreas educacionais (ou como no caso
deste projeto, de reabilitação e tratamento), influencia positivamente na
atenção, nos tempos de resposta e nos comportamentos de auto estímulo. A
recomendação para os níveis de controle de ruído varia de acordo com o nível
de foco requerido pelas atividades de um espaço, bem como dos níveis de
habilidade ou do quão severo é o espectro de autismo do paciente. Há, ainda,

3
Em tradução livre, Acústica, Sequenciamento Espacial, Espaço de escape,
compartimentalização, zonas de transição, zoneamento sensorial e segurança.

33
a recomendação de se fazer isolamentos graduais conforme o acesso a esses
espaços, para evitar um contraste muito grande de uma área para outra.
O sequenciamento espacial é um critério de projeto que busca garantir
rotina e previsibilidade às crianças com espectro autista. Esse critério
determina que as áreas possuam uma sequência lógica baseada nas agendas
típicas destes espaços. Os espaços devem fluir de maneira semelhante de
uma atividade para outra e através de uma circulação única sempre que
possível, com o mínimo de interrupções ou distrações, utilizando “Zonas de
Transição”, uma outra diretriz projetual do ASPECTSS.
Para Mostafa (2016) também se faz necessário a criação do que ela
chama de “Espaços de escape”, que teriam o objetivo de prover áreas de
estímulo reduzido ou mínimo, com controle destes estímulos pelo usuário,
para evitar situações de estresse e super-estimulação do paciente. Esses
espaços se configuram a partir de uma pequena partição da área.
Em sequência, compartimentalização seria o princípio que define e
limita o ambiente sensorial de cada atividade, organizando uma sala ou
mesmo a edificação inteira em compartimentos. Essa compartimentalização
pode ocorrer através de configurações de layout, diferença de piso, diferença
de níveis ou mesmo variações de iluminação. As qualidades sensoriais de cada
espaço são definidas a partir de sua função.
A presença de Zonas de transição, por sua vez, funciona como
facilitadora do sequenciamento espacial e para o zoneamento sensorial,
ajudando os pacientes a recalibrarem seus sentidos de um nível de estímulo
para outro, podendo ser uma zona neutra de uma área de alto estímulo para
uma área de baixo estímulo e vice-versa. Já o zoneamento sensorial consiste
justamente nesta organização de espaços considerando os níveis de
estímulo. O quesito de segurança foca principalmente em evitar quinas e
outras situações de potencial perigo para crianças que podem ter uma noção
alterada de seu ambiente.

34
Figura 2. Zoneamento sensorial proposto por Mostafa para uma escola desenvolvida especialmente
para crianças do espectro autista

Fonte: MOSTAFA, M. (2016)

De forma mais abrangente, para promover o conforto psicológico dos


pacientes buscou-se nas definições e estratégias da psicologia ambiental
referências que trouxessem uma melhor relação com o espaço. Fez-se útil,
portanto, o entendimento e a definição de ambientes restauradores, que
trata de ambientes que provocam a redução da fadiga mental, através da
redução da capacidade de concentrar, suprimindo distrações e estímulos.
Esse processo de reduzir as informações mentalmente leva à fadiga mental
devido à grande demanda no processamento de informações que os
ambientes possuem. Para reduzir essas informações, faz-se uso de elementos
naturais que, segundo os estudos de Kaplan (1989), proporcionam
experiências de restauração ou descanso para a atenção direcionada
(KAPLAN; KAPLAN 1989 apud CAVALCANTI, S.; ELALI, G. 2011). Para que o
ambiente seja considerado um ambiente restaurador deve possuir as
seguintes características: escape, escopo, fascinação e compatibilidade, onde

35
escape se refere ao distanciamento físico ou mental de lugares vividos
diariamente; escopo é o ambiente que dá margem a futura exploração, rico
de informações, que possuem emergências visuais ou configurações
espaciais que não permitam visibilidades óbvias. Já fascinação se refere ao
despertar involuntário da atenção, ou seja, áreas que possuem estímulos que
não requerem muito esforço para captar informação. Compatibilidade, por
sua vez, se relaciona com o que o ambiente tem a oferecer associado ao que
a pessoa deseja para o ambiente, vinculando-se o ambiente à capacidade de
resposta positiva aos recursos e às vontades dos usuários.
Desta forma, segundo princípios de ambientes restauradores, o centro
deverá possuir muita paisagem natural e não parecer com lugares vividos
diariamente (escritórios, clínicas). Todas essas características podem ser
trazidas com vegetações, integrações com áreas externas trabalhadas
paisagísticamente, comunicação visual com ambientes naturais, dentre
outros. Essa característica espacial pode ser adquirida, também, pela
presença dos próprios cães terapeutas, uma vez que se atrela à fascinação
natural do ser-humano à presença de animais, trazendo aspectos de biofilia
para os espaços. Desse modo, biofilia é um conceito que envolve a tendência
do ser humano a prestar atenção, preocupar-se ou responder positivamente
à natureza, como por um “fundamento genético para o ser humano se
relacionar com a natureza” (CAVALCANTI, S.; ELALI, G. 2011. p.99)
Os conceitos se entrelaçam no momento em que utilizar cães para o
tratamento se torna uma estratégia para tornar a área clínica em um espaço
fascinante utilizando da provocação da biofilia, o que, por sua vez,
aproximaria o espaço do centro de terapia assistida a um ambiente
restaurador.
Como um projeto para unidade ambulatorial, mas com a incorporação
de tratamentos não usuais, as buscas por definições e conhecimentos
referentes às unidades de saúde, as necessidades específicas de uso como a
humanização, a adequação climática e espacial ao público infantil do
espectro autista, foram de grande utilidade para definições de programa,
zoneamento, fluxo, materialidade e condicionamentos ambientais. Essas

36
informações foram essenciais para alimentar o processo criativo de projeto
e a busca pelas soluções adequadas.

2.1.3 DESIGN THINKING E AS DISCUSSÕES DE LAWSON (2011)

O Design Thinking nasceu dos processos de design que evoluíram


desde a década de 1960, com as práticas da área de design industrial e do
design cooperativo escandinavo, até obter referências de áreas como a
psicologia cognitiva, antropologia, ergonomia, para então desenvolver-se o
design participativo na década de 1970, até o chamado “design centrado no
ser humano” na década de 90. Com a introdução dos conceitos de economia
e de estratégias de negócios, aproximadamente na segunda metade da
década de 2000 criou-se o “design de serviço”, precursor do design thinking,
que teve sua terminologia expandida em 2008 com as publicações de
proprietários da empresa IDEO, os irmãos Tom e David Kelley e de Tim
Brown.
Tim Brown define design thinking como um processo de inovação
centrado no usuário que provém das ferramentas de designers para integrar
e atender as necessidades das pessoas, as possibilidades da tecnologia e os
requisitos para o sucesso de negócios. O processo leva em consideração três
principais aspectos para as soluções de design, sendo elas absorção do
mercado (o quão desejável é essa solução), a viabilidade e a capacidade de
execução (BROWN, T. 2009). Dessa forma, para este trabalho, trata-se não de
um processo único, mas um desenvolvimento de um repertório de
ferramentas que se relacionam com os objetivos a serem atingidos. Segundo
Kelley (2013), para o exercício do design thinkin passa-se por ciclos de três
etapas, sendo elas “ideação”, que seria o momento de brainstorming, ou de
geração de ideias de forma rápida e sem julgamentos de conceitos como
“bom” e “ruim”; inspiração, que faz parte da manutenção da curiosidade e do
que chamam de “mente de iniciante”, consistindo na busca por novas
abordagens e métodos; e implementação, que é considerado um filtro de
restrições e ações para dar viabilidade às ideias.

37
Figura 3. Atividades chave do design thinking

Fonte: designthinking.ideo.com

Segundo Kelley (2013), a prática de design thinking se inicia com a


definição e um problema a ser solucionado, sendo este o principal objetivo
inicial, que precede a etapa de ideação e delimita todo o processo. Alguns
métodos para encontrar o problema de projeto constituem-se em
observação direta, imersão em campo e entrevistas. A observação direta,
segundo os autores, refere-se à observação da interação de pessoas com
elementos que se relacionem com a problemática em si e o registro dessa
interação, seja por notas, sketches ou fotografias, com a intenção de
“capturar” momentos de conflito ou opiniões dos usuários. Já a imersão em
campo seria um registro da própria experiência do pesquisador sobre a
problemática, através de diário fotográfico ou documentação de opiniões e
sensações próprias. As entrevistas seriam uma busca por opiniões dos
potenciais usuários do produto, serviço ou projeto a ser desenvolvido,
relação às questões da problemática, com perguntas abertas ou não, seja por
um questionário ou conversa informal. Por fim, a problemática é considerada
definida quando ela é capaz de direcionar à sua resolução. Para isso, deve ser
acessível, compreensível e passível de ação (KELLEY, T.; KELLEY, D. 2013).
Para este trabalho, estudou-se as ferramentas do design thinking
aplicáveis ao desenvolvimento do objeto de estudo, observando-se grande
utilidade para a fase de ideação no uso da descrição de personas e na
utilização de dynamic input (ou entradas dinâmicas); como também para a
fase de inspiração, que pode se utilizar de mapeamento de

38
experiências/jornada do usuário4, criação de moodboards, além de métodos
de auto-reflexão, e, por fim, para a fase de implementação, o
desenvolvimento de protótipos.
Segundo a Interaction Design Foundation, personas se definem como
personagens ficcionais criados a partir de potenciais usuários reais com o
objetivo de entender suas necessidades, comportamentos, objetivos e
experiências. A descrição de personas, portanto, inclui o levantamento de
possíveis traços de personalidade, características físicas, idade, cultura e
interesses, que pode ser feito através de entrevistas a usuários reais, criando
personas distintas, como da síntese das características desses usuários com
dados geográficos e estatísticos. A definição de uma persona no universo da
arquitetura pode atuar na busca por compreensão das necessidades
detalhadas de uso do espaço e as definições de fluxo de possíveis usuários.
Essas definições de fluxo podem ser feitas direcionando a persona criada a
um “mapeamento da experiência” ou uma “jornada de usuário”, que seriam,
segundo Kelley (2013), a descrição de utilização dos espaços em sequência
propostos para o projeto, representados graficamente como um mapa, como
também a partir de uma narrativa textual.
A utilização de dynamic input, ou seja, “entrada dinâmica” de
informações, consiste em uma busca de frases, imagens, sons, ou palavras,
para que sirvam de provocações criativas a serem relacionadas com as
questões de projeto. Desta forma cria-se fluidez no processo e
oportunidades de soluções inesperadas, além de possuir utilidade para a
definição de conceitos que evoluam ao desenvolvimento de diretrizes que,
dentre outras, podem ser estéticas, de materialidade ou estruturais. Já a
criação de moodboards seria uma coleção de imagens selecionadas a partir
das qualidades e problemáticas de projeto que foram levantadas,
potencializando a criação de referências imagéticas e expressando aspectos
visuais do projeto, como materialidade e escala. A criação de protótipos

4
Do original “experience mapping/user journey”

39
ocorre através do desenvolvimento de maquetes 3D e de repetidas
remodelagens, uma vez que, voltando-se para as necessidades e para o
objetivo do projeto, reavalia-se a cada protótipo se esses requisitos estão
sendo atendidos. As metodologias de auto-reflexão, portanto, permeia todas
as fases de criação, através da relação dos produtos desenvolvidos à
problemática chave que define o projeto desenvolvido.
Para que se obtivesse mais robustez no processo criativo, voltando-se
mais à realidade da área de arquitetura, consultou-se a obra de Bryan Lawson
(2006), que em sua narrativa faz uma compilação de processos criativos e as
dificuldades relacionadas aos problemas de projeto. Lawson (2006) define o
processo criativo como interminável, uma vez que declara haver um número
inesgotável de soluções diferentes. O autor também foca no encontro do
problema de projeto como parte essencial do processo, através de três etapas
para alcançar a definição do problema, sendo essas: análise, síntese e
avaliação, quando análise se refere à investigação na busca por padrões nas
informações e classificação dos objetivos; síntese trata-se das respostas ao
problema e geração de soluções; e avaliação seria o processo de crítica das
soluções relacionadas aos objetivos de projeto.
Ainda que existam as etapas bem estabelecidas de resumo do
problema, entendimento das exigências, produção de soluções, testar
através de critérios e apresentar ou transmitir o projeto a clientes e
colaboradores, o autor demonstra que o processo, na prática, não é
apresentado como linear, uma vez que tais etapas não ocorrem de forma
sequencial, uma vez que tanto o problema como a solução são desenvolvidos
conjuntamente, e as capacidades de compreensão do projeto podem estar
atrelada a primeiros testes e primeiras ideias já desenvolvidas. Lawson,
portanto, representou o mapeamento de seu processo de forma gráfica
enfatizando a relação entre as definições de solução e de problemática com
os processos de análise, síntese e avaliação, sem o estabelecimento de um
ponto de partida ou de sentidos de fluxo entre as etapas, como ilustrado
abaixo.

40
Figura 4. Gráfico de processo de projeto de Lawson

Fonte: Como arquitetos e designers pensam, LAWSON, B. 2006. pág. 55

A obra de Lawson fez-se útil para a compreensão do processo de


projeto a ser adotado neste trabalho como uma dinâmica cíclica, além de se
relacionar com a não linearidade dos processos de design thinking e da
adoção de suas ferramentas criativas. Essas ferramentas, por sua vez,
permitiram um fluxo de produção para o projeto que beneficiasse inovação
para propostas de espaços terapêuticos, positivo principalmente por
permitir trazer aspectos lúdicos para os espaços de tratamento infantil.

41
3
Referencial empírico
Para o estudo de referencial direto, o presente trabalho buscou
adquirir informações através de entrevistas, visitas in loco e registro
fotográfico dos espaços voltados para cuidado animal. As entrevistas se
deram principalmente com profissionais relacionados à terapia assistida,
sejam os veterinários, os treinadores ou os profissionais de saúde que
utilizam desse serviço, como fisioterapeutas e psicólogos.
Como observado em entrevistas a profissionais das áreas de atuação
que envolvem a TAA, não há na cidade de Natal locais de treinamento ou de
centros de atendimento especializados nesse tipo de tratamento. O que
normalmente encontram-se são espaços de saúde e reabilitação
especializados, que recebem a TAA a partir da contratação de grupos de cães
terapeutas treinados e seus respectivos profissionais acompanhantes. O
Centro de Reabilitação Infantil (CRI) e a Associação de Pais e Amigos dos
Excepcionais (APAE), bem como hospitais e casas de repouso para idosos são
exemplos de tipos de estabelecimentos que recebe a TAA.
Pelo mesmo motivo, o presente trabalho buscou referências indiretas
em escalas nacionais e internacionais, escolhidas principalmente para
servirem de exemplos de boas práticas voltados para a saúde e/ou bem-estar
animal, saúde e bem-estar humano ou ambos, o que incluem creches com
configurações espaciais positivamente estimulantes para o público infantil.
Os exemplares, construídos ou não, são baseados em revistas técnicas,
websites e trabalhos acadêmicos de projetos de arquitetura, escolhidos a
partir de critérios de conforto, forma, estrutura, materialidade e
adaptabilidade ao estudo local.
As referências, tanto diretas quanto indiretas, serviram para as
definições de programa e linguagem arquitetônica, como também soluções
de fluxo para os usos específicos deste projeto.

43
3.1 ESTUDOS DE REFERÊNCIA DIRETOS

Existem dois grupos que desenvolvem o trabalho da Terapia Assistida


por Animais em Natal: o grupo de iniciação científica do curso de veterinária
da Universidade Potiguar (UnP), coordenado por uma professora e
veterinária, e o Centro de Cuidados Pet LoverS2. Esse último trabalha com o
treinamento de cães terapeutas com certificado de dois anos de curso, sendo
um processo de especialização tanto do cão quanto do profissional que o
acompanha, atendendo aos requisitos internacionais de TAA proposto pela
ESAAT.
Por outro lado, alguns estabelecimentos são exclusivamente voltados
para o bem-estar animal e se encontram na área de acomodação e recreação
canina, com espaços de day care e hotéis para cães, como o My Best Nanny.
Além de acomodação de cães, My Best Nanny também possui espaços
voltados para treinamento de agility5 e áreas para day care.
Foram visitados quatro estabelecimentos cujo uso se voltava ao bem-
estar animal: Grupo de Terapia Assistida do curso de veterinária da
Universidade Potiguar (UnP), Pet LoverS2, My Best Nanny e Harmony Vet. A
visita nesse último serviu para confirmar que o enfoque deste trabalho não
consiste em saúde animal, mas sim em promover áreas de reabilitação
comportamental, já que essas duas atividades são incompatíveis.
Foram aplicadas entrevistas de perguntas livres, com roteiro baseado
no método de “entrevista pela empatia”, desenvolvido pela escola de design
de Stanford (Stanford d.school) e graficamente adaptada por Michael Barry
(2010). O método consiste em incentivar o maior interesse nas respostas de
uma entrevista através da abordagem empática, seguindo uma sequência
temática: introdução do entrevistador; introdução do projeto; criar conexão;
evocar histórias; explorar emoções; questionar afirmações e agradecer.

5
A organização de treinamento One Mind Dogs define Agility como um esporte
canino onde o cão é guiado por um percurso de obstáculos.

44
Figura 5. Gráfico de etapas

Fonte: BARRY (2010)

Para isso, o primeiro momento de introdução do entrevistado e do


projeto é acompanhado de um material de apresentação, que inclui
informações para contatos, design gráfico acessível e declarações de
procedimentos de ética. Esses procedimentos incluem alteração do nome do
entrevistado para privacidade ou a total eliminação do material de entrevista,
caso o entrevistado mude de ideia e não tenha mais interesse em colaborar
com o projeto. A imagem a seguir demonstra o material introdutório
distribuído em todas as entrevistas (Figura 6).

45
Figura 6. Material gráfico desenvolvido para distribuição pós
entrevistas.

Fonte: material produzido pela autora.

A fase de criar conexão consistiu em buscar pontos em comum com o


entrevistado e explorar a afinidade deste pelo tema do projeto, mencionando
contatos de conhecimento mútuo e conectando o trabalho do entrevistado
ao a proposta de projeto apresentada. A fase seguinte de entrevista focou em
“provocar histórias”, para que pudesse obter informações subliminares do
discurso do entrevistado. Essas informações geralmente são provenientes
das experiências dentro do tema e podem revelar dificuldades, demandas e
soluções.
O roteiro da entrevista e as perguntas foram formuladas buscando esse
tipo de efeito, utilizando questionamentos com “por que”, “como” e “qual sua
opinião sobre...” e evitando perguntas binárias (de resposta “sim” ou “não”). É
neste momento que emoções em relação a essas experiências ficam mais
claras, e a fase de “explorar emoções” explicita por que a experiência foi

46
negativa ou positiva. Por fim, questionava-se as afirmações que pareciam ter
grande potencial, com perguntas semelhantes as utilizadas para provocar
histórias.
Devido às características personalizadas e espontâneas da entrevista
empática, as perguntas e informações adquiridas dependiam mais do
desempenho e decorrer das respostas do que de uma sequência pré-definida
de perguntas, por isso os roteiros para cada entrevista se diferenciaram pelas
intenções de resposta buscadas pela autora. A sequência das entrevistas
também foi um fator relevante, uma vez que se buscou referência de contatos
a serem entrevistados nos próprios grupos de entrevista, o que facilitava a
fase de “conexão”.

3.1.1 GRUPO DE TERAPIA ASSISTIDA: UNP

O primeiro grupo a ser entrevistado foi o grupo de Terapia Assistida


por Animais da UnP, parte do projeto de extensão do curso de Veterinária da
Universidade Potiguar, localizada na unidade da Avenida Salgado Filho. O
grupo atua na APAE, Lar da Vovozinha e Hospital Juvino Barreto, atendendo
crianças e idosos com cães dos próprios integrantes do grupo, que consistem
em alunos do 5º ao último período do curso.

Figura 7. Logo do grupo de TAA da UnP

Fonte: instagram @ellydogterapeuta

A entrevista tinha os objetivos de descobrir as demandas e


características de um espaço voltado para o atendimento da Terapia

47
Assistida; entender a relevância e alcance desse atendimento para a
população; buscar recomendações de novas referências sobre o tema e
agregar sugestões para a localização de um equipamento voltado para a TAA.
Como primeira entrevista ainda se buscava restringir o tema e
abordagem do projeto, além de restringir qual público a ser atendido e qual
a área necessária para o estabelecimento.

Figura 8. Questionário desenvolvido e distribuído em primeira entrevista.

Fonte: produzido pela autora

As informações adquiridas nesta primeira entrevista foram essenciais


para moldar novas perguntas direcionadas aos próximos profissionais e
estabelecimentos, além de restringir mais o escopo de trabalho. A primeira
parte da entrevista evidenciou que onde mais se tem demanda para TAA são
atendimentos ao público infantil e ao público idoso, sendo o infantil com
respostas ao tratamento mais perceptíveis e com mais estudos de eficiência,
principalmente em pacientes com quadros de Autismo e de Síndrome de
Down.

48
A segunda parte da entrevista envolveu recomendações para os
ambientes, onde enfatizou-se a necessidade de uma área de encontro entre
cães terapeutas e seus acompanhantes em um momento de pré-
atendimento. Esta área, localizada no próprio equipamento destinado à TAA,
seria voltada para um gasto de energia inicial e concentração dos cães
terapeutas, como também para apresentação da equipe, incluindo os
veterinários e os profissionais da saúde. Ao mesmo tempo, condiciona os cães
ao entendimento de um início de sessão de terapia assistida, e não apenas
um momento recreativo.
Os entrevistados enfatizaram também a apresentação da equipe para
os pacientes, para possibilitar a observação dos cães com certa distância. Por
isso, recomendou-se a criação de uma “área de transição”, com visibilidade
para as atividades, com a finalidade de facilitar a aproximação gradual de
crianças que não estiverem acostumadas com esse tipo de atendimento.
Pensando no bem-estar dos cães terapeutas, recomendou-se a
existência de uma área de recreação destes animais, incluindo espaços de
armazenamento de brinquedos e guloseimas. Este espaço serviria de
recompensa pelo trabalho executado ou mesmo para um afastamento do
atendimento em caso de fadiga do cão ou de observação de uma adversidade
no atendimento. Uma outra área necessária seria destinada às necessidades
fisiológicas dos cães, para que pudessem utilizar antes ou depois de
atendimentos, seguida de uma área de pré-higienização. Nessa área de
necessidades fisiológicas, conforme sugestão do grupo, seria interessante
possuir uma espécie de filtro ou drenagem de odores e resíduos. O grupo
ressaltou que grama sintética, por experiência de outros locais que já
utilizaram, não é adequada devido a difícil higienização e o acúmulo de
odores. Sobre esse quesito, recomendou-se que todos os materiais expostos
ao atendimento e aos demais usos dos cães fossem de preferência materiais
laváveis. A luz natural foi bastante ressaltada para o bem-estar do cão, por
garantir um aspecto mais natural ao local.
A necessidade de mobiliário é mínima segundo o grupo, uma vez que
busca-se ter flexibilidade de atividades e conforto nos deslocamentos dos

49
animais e dos pacientes. Os mobiliários a serem utilizados dependeriam do
tipo de atividade, uma vez que os cães são treinados para se adaptar a cada
situação de atendimento, sejam pacientes acamados, com baixa mobilidade
ou pacientes com mobilidade ativa e não comprometida.
Foi esclarecido que, para cada cão, é possível atender até três crianças
simultaneamente, e de cinco a seis idosos. O atendimento teria de 1h a até 2h
de duração, e a equipe seria composta de cinco integrantes, sendo um
veterinário e/ou treinador acompanhando o cão terapeuta, dois auxiliares de
veterinário, um cão terapeuta e um profissional da saúde. Essas informações
foram essenciais para os estudos de pré-dimensionamento.
Recomendou-se para o escopo do trabalho retirar possíveis áreas de
saúde veterinária, uma vez que geram estresse aos cães, que as reconhecem
pelo cheiro e possuem associações negativas com esses espaços de
tratamento.
O grupo não possuía um espaço específico para treinamento e para
sessões de terapia assistida além da sala de aula cedida ao grupo pela UnP. A
entrevista foi útil, portanto, para o entendimento das experiências empíricas,
necessidades espaciais do grupo, informações e demandas específicas da
TAA, seja em relação às dinâmicas de equipes, seja sobre adequação de
materiais.

Figura 9. Grupo de TAA da UnP

Fonte: instagram @ellydogterapeuta

50
3.1.2 HARMONY VET

A entrevista feita à clínica Harmony Vet objetivou entender um espaço


voltado para a saúde e reabilitação animal, as necessidades espaciais e legais
específicas, materiais usados e os fatores de influência no estresse do animal.
Localizada na Rua Américo Soares Wanderley, no bairro de Capim
Macio (Natal/RN) nº 1945, a clínica se mostrou satisfatoriamente adaptada ao
uso, uma vez que seus ambientes foram pensados para reduzir o estresse dos
animais em clínicas veterinárias. As estratégias incluíam áreas de espera e
consultórios destinados exclusivamente para gatos (Figura 10), que evitavam
o contato desses com os cães, bem como a utilização de hormônios nas salas
para associações positivas e para acalmar os animais. Luzes em cores
diferenciadas para as áreas de internação, a chamada cromoterapia, também
foram utilizadas com a função de redução de estresse.

Figura 10. Área exclusiva para felinos

a) Sala de espera exclusiva para felinos b) Consultório exclusivo para felinos

pôde-se observar in loco os seguintes ambientes pertencentes ao


programa de projeto ilustrados esquematicamente (Figura 11):

51
Figura 11. Planta esquemática de programa da clínica Harmony Vet

Fonte: Produzido pela autora

52
Figura 12. Planta de subsolo

Fonte: Produzido pela autora


Fonte: Acervo pessoal da autora

A distinção dos usos e acessos da clínica por níveis diferentes foi um


fator bastante enfatizado por permitir maior conforto aos animais internados
em relação aos ruídos provenientes do acesso público e das atividades dos
consultórios veterinários. A clínica possuía ainda uma grande área aberta e
arborizada, que servia como uma área externa para cães em reabilitação ou

53
em recuperação que teriam suas necessidades naturais respeitadas, como
farejar, explorar e estimular os sentidos, o que cria, segundo o veterinário
entrevistado e proprietário da clínica, uma experiência muito positiva.
Outra especificidade do Harmony Vet é que, na internação (Figura 13),
os locais de repouso evitam que o animal tenha contato visual com outro
animal, direcionando as entradas da cabine de internação para locais
opostos. Isso também tem a funcionalidade de diminuir o estresse do animal,
podendo ser uma boa recomendação para locais de repouso, não
necessariamente clínico, mas em possíveis espaços de day care.

Figura 13. Área de internação

Fonte: Acervo pessoal da autora

O processo de entrevista com o veterinário e proprietário da clínica


teve os mesmos direcionamentos utilizados na conversa com o grupo de TAA
da UnP, focando no atendimento de requisitos para a criação de um espaço
voltado ao bem-estar animal, ainda que agregasse espaços de saúde
veterinária. O veterinário enfatizou a importância de ambientes naturais e
abertos para a redução do estresse dos animais em clínicas veterinárias,
porém desencorajou a combinação de espaços de recreação. Mesmo com um
tratamento para a redução do estresse, clínicas veterinárias são destinadas a
animais doentes, que fazem associações negativas com os espaços e que
podem passar essas associações para os ambientes de day care. Além de uma
sugestão de redução de programa, o entrevistado encorajou a inclusão de

54
crianças do espectro autista no público alvo deste projeto, uma vez que, de
acordo com sua experiência e devido aos estudos publicados na área, são as
que possuem melhor resposta ao tratamento de terapia assistida por animais.
O entrevistado sugeriu, ainda, haver uma área destinada a seleção dos
animais por seus potenciais, sendo não necessariamente para a terapia
assistida, mas para atividades esportivas, de exposições, cães de companhia,
etc. A entrevista, portanto, serviu para entender mais as necessidades físicas
e psicológicas dos cães e como o espaço pode influenciar positivamente suas
experiências em relação ao bem-estar.

3.1.3 PET LOVERS2

Localizado na rua Eduardo Gurgel, número 1128 do bairro Lagoa Nova


(Natal/RN), o Pet Lovers2 (Figura 14) é um espaço de day care, day use6,
adestramento, pet shop e acomodação canina, além de treinamento
específico de profissionalização do animal e dono para Terapia Assistida.
Criado pelos proprietários do estabelecimento, o espaço se preocupa
principalmente com o bem-estar animal através do uso de técnicas de
enriquecimento ambiental (combinação de materiais e recursos que simulem
o habitat natural de um cão).

6
Day use refere-se ao serviço de hospedagem e recreação canina apenas no período
diurno, não incluindo pernoite.

55
Figura 14. Entrada do centro de cuidados Pet LoverS2. Em frente a placa, Love, o cão terapeuta do
centro.

Fonte: www.facebook.com/PetLovers2/

A entrevista ocorreu no próprio espaço do Pet LoverS2, numa conversa


com um dos proprietários, buscando adquirir mais informações sobre as
necessidades do espaço voltado ao cão e das necessidades específicas do
animal a serem supridas. Para a entrevista foi feita uma pesquisa prévia sobre
a empresa e entregue o mesmo material de apresentação do projeto
anteriormente fornecido ao grupo TAA da UnP.
O centro possui em torno de 1000 m² destinados ao cuidado e
hospedagem dos animais, dentre os quais 450 m² são destinados apenas para
os cães, com subdivisões que comportam até 50 animais, que inclui clínicas
de checkup de saúde e pequena enfermaria, banho e tosa e pet shop (Figura
15), canis para hospedagem, áreas de day care (Figura 16), área treinamento
(Figura 17) e corredor técnico e uma separação visual entre animais e
visitantes.

56
Figura 15. À esquerda, área de banho e tosa. À direita, área de pet shop

Fonte: www.facebook.com/PetLovers2/
Figura 16. Lago utilizado para experiências de enriquecimento ambiental

Fonte: www.facebook.com/PetLovers2/
Figura 17. À esquerda: área de socialização e recreação. À direita: espaço transformado, através de
instrumentos, em área de treinamento.

Fonte: www.facebook.com/PetLovers2/

57
Ao descrever o funcionamento do centro, o entrevistado explica que o
primeiro passo é a avaliação do cão através do que chama de “nível
energético” e “sinais de apaziguamento” (calm signals). O cão é, em seguida,
encaminhado para uma avaliação de saúde e, uma vez aprovado, é separado
dos demais por seu nível de energia e nível de socialização. O funcionamento
do day care envolve turmas de cães agrupados pelos níveis citados
anteriormente. O serviço ocorre duas vezes por semana para cada turma de
day care.
Para reduzir os níveis de estresse dos cães em momentos de banho e
tosa ou checkups de saúde, o centro Pet LoverS2 possui sala de espera com
luz, cheiro e sons para acalmar os cães. Também pelo mesmo motivo, os
ruídos externos da rua e estacionamentos devem ser distanciados das áreas
de treinamento, repouso e day care. A seguir, na Figura 18, tem-se a planta
baixa esquemática do centro.

Figura 18. Planta baixa esquemática do centro de cuidados Pet LoverS2

58
Fonte: desenvolvido pela autora

Em entrevista, o proprietário declarou que há uma grande


concentração da população de cães e outros pets de Natal nos bairros de
Candelária e Capim Macio, recomendando a localização de um possível
centro nessas proximidades.
Como recomendações para o espaço, o entrevistado enumerou:
• Proporcionar diferentes alturas para formar pontos de melhor
visibilidade do território

• Criar áreas semelhantes a “tocas”, onde o cão pode se sentir


protegido e que possa descansar.

• Mobiliários de diferentes alturas

• Simulação do espaço natural, como diversidade de texturas e


cheiros

• Locais de bebedouro espalhado pelas áreas de uso dos animais.

• Criação de jardins com hortelã e citronela, plantas aromáticas


benéficas aos cães por seu estímulo olfativo

• Materiais como pisos lisos e grama sintética são contra-


indicados

Em termos de cuidados e segurança, a exemplo do próprio centro, o


proprietário enfatizou a necessidade de entradas duplas, com duas etapas de
fechamento (duas grades) para evitar fugas. Também em relação à higiene, se
faz necessário um canal de escoamento de lixo específico.
Em relação aos atendimentos de terapia assistida proporcionados por
Love, a cadela terapeuta licenciada do centro, foi explicado que atividades
comuns dos espaços de terapia são momentos de leitura para o cão pelas
crianças, que estimulam a fala e a interação social dessas, como também
atividades de cabo de guerra, onde se estimula exercícios de força e controle
motor. Há também momentos de carinhos com os pés, enquanto o paciente
permanece sentado, para estímulo dos membros inferiores e controle motor.
Explicando o funcionamento do atendimento, esclareceu-se que para
o local de terapia onde o cão atua não há grandes exigências para o animal,
mas que a preocupação deverá ser focada no paciente, uma vez que o animal

59
é treinado para os ambientes e situações adversas a ele. Parte importante do
atendimento é uma área de higienização, que antecederia o atendimento,
para garantir a segurança principalmente de pacientes imunossuprimidos.
Os atendimentos não ocorrem sem o profissional condutor dos cães.
Ao ser questionado sobre melhorias desejadas para o centro, foram
enumeradas como modificações relevantes o reabastecimento de comida e
bebida automático para os cães. Também há uma necessidade de demonstrar
o trabalho de cuidado animal para clientes, mas que atualmente é inviável,
uma vez que prioriza o bem-estar dos animais e a presença de visitantes
poderia estressar e desconcentrar os cães hospedados no centro. Uma
adaptação desejável para que isso ocorresse seria um café mirante em outro
nível de pavimento para observar os espaços de day care e treinamento sem
influenciar nas atividades dos cães. Esse segundo nível também seria ideal
para as áreas administrativas, com a função de manter uma observação e um
controle de qualidade dos serviços prestados.
Por fim, como esse espaço foi desenvolvido para acomodar o uso de
centro de cuidados caninos, pôde-se observar e capturar informações
principalmente em relação a fluxos, necessidades de armazenamento,
zoneamento, pré-dimensionamento.

3.1.4 MY BEST NANNY

O último local voltado para bem-estar animal visitado foi a


acomodação My Best Nanny, com o objetivo de obter mais exemplos de
práticas de enriquecimento ambiental, bem como dinâmicas de espaços
voltados para cães que envolvam tanto acomodação quanto atividades de
agility e day care. O local é uma casa situada na rua Humberto Monte nº 1855,
no bairro de Capim Macio (Natal/RN), cujo terreno tem aproximadamente
1000 m² e que foi adaptado para hospedar e receber exclusivamente cães
para day care (Figura 19).

60
Figura 19. Espaço destinado a Day Care, com destaque a estratégias de enriquecimento ambiental
(terra para cavar, piscina utilizada de modos alternados para imprevisibilidade do uso)

Fonte: Acervo da autora

O local se configura como hospedagem domiciliar, uma vez que não se


utilizam canis para os dormitórios e sim quartos inteiros com camas e nichos
acolchoados para os cães, não possuindo banho e tosa. As proprietárias são
também moradoras da acomodação. O objetivo desse tipo de configuração é
acomodar os cães de forma similar à própria casa de onde moram, criando
associações positivas à acomodação. Para o entendimento da programação
do local, foi produzida planta esquemática de seus ambientes e zoneamentos
por uso, exemplificado na Figura 20.

61
Figura 20. Planta de levantamento das áreas sobre uso e programa da acomodação My Best Nanny

Fonte: Produzido pela autora

O funcionamento do estabelecimento ocorre nos horários de 7:00 às


19:00 horas. O animal, ao ser recebido, passa por uma avaliação
comportamental e um checkup sobre aspectos de atualização de vacinas. Ao
ser aprovado pela avaliação em termos de sociabilidade e comportamento, o
cão segue pelo corredor técnico até as áreas de day care que, juntamente
com os demais cães, é separado por seu nível de energia e em seguida se

62
encaminha para as atividades destinadas a ele, sendo necessário um
assistente para cada 12 cães de energia baixa7.
Na acomodação My Best Nanny há um momento de descanso, que
inclui um espaço de luz controlada e cromoterapia, bem como a utilização de
músicas relaxantes e implementação de feromônio para o relaxamento.
Em relação às estratégias espaciais para o bem-estar canino, as
recomendações da entrevista são baseadas no enriquecimento ambiental e
em medidas de segurança:
• Armários individuais para cada cão na entrada do
estabelecimento são necessários, com o objetivo de manter os
objetos pessoais de cada animal separados (como coleiras e
guloseimas, por exemplo)

• Contar com sombreamentos por vegetação nas áreas abertas


onde ocorrem atividades de agility e daycare para o conforto dos
animais e dos funcionários

• Áreas abertas sombreadas para os agentes com a função de


observar e coordenar as atividades.

• Lavatórios centralizados para os funcionários, uma vez que


constantemente precisam higienizar as mãos e instrumentos
utilizados nas dinâmicas

• Mobiliários internos de diferentes alturas para os cães

• Tratamentos acústicos nas áreas de hospedagem

• Espaço para armazenamentos de comida.

Em relação aos materiais indicados a serem utilizados, cães em


ambientes de clima com temperaturas elevadas comumente se agradam por
pisos de materiais naturalmente frios, como porcelanatos, pedras e
cerâmicas, devendo ser todos antiderrapantes. A grama e a areia são
importantes para a experiência natural dos espaços e, para facilitar a
manutenção, sugeriu-se revestir ou pintar paredes expostas às atividades ao
ar livre com cores escuras embaixo e claras acima da altura dos cães, uma

7
Segundo as entrevistadas o nível de energia dos cães se refere às demandas de
atividades e frequência de movimentação, resposta a estímulos e latidos

63
vez que as atividades naturalmente mancham as paredes, principalmente
quando os cães costumam marcar território. A partir disso, outra
recomendação seria não permitir estruturas expostas às áreas de recreação
canina, uma vez que a urina dos cães pode ser corrosiva à estrutura e, sugere-
se materiais facilmente laváveis com resistência à constante higienização.
Nessa visita foi enfatizada a importância de cabines acústicas para
acomodação em períodos de ano novo, devido aos fogos de artifício, bem
como áreas que se adaptam e se modificam para manter o interesse do cão.
As proprietárias ressaltaram a importância de um local de observação
das atividades que não influenciasse na dinâmica dos cães, ou seja, que não
fosse visível. Entradas distintas para visitantes, funcionários e cães também
se mostram necessárias para que não haja interferência nas dinâmicas dessa
atividades

3.2 ESTUDOS DE REFERÊNCIA INDIRETOS

Como o estudo de referência direto focou na obtenção de informações


sobre espaços para animais, os estudos indiretos buscaram informações que
introduzissem mais a experiência humana, seja pela interação humano-
animal ou por espaços estimulantes ao público infantil. O primeiro estudo,
Tangible Space: Centre for Animal Assisted Therapy, foi utilizado
principalmente como referência programática, uma vez que possui o mesmo
uso do projeto proposto pra este trabalho. No segundo estudo, Kres Oehr
Petting Zoo, analisou-se os espaços de interação humano-animal e
ambientes restauradores. Já o terceiro estudo, Early Education Center Near
the Horse Farm, foi escolhido por se tratar de espaços desenvolvido para
crianças. Ainda considerando o público infantil, mas buscando obter mais
informações sobre espaços de reabilitação, o Centro de Reabilitação Infantil
de Natal/RN (CRI) foi incluído como quarto estudo. Por fim, o quinto estudo
consiste em escola e moradias Infantis, escolhido principalmente pela
adequação ao clima, estrutura e materialidade.

64
3.2.1 ESTUDO 1: TANGIBLE SPACE: CENTRE FOR ANIMAL
ASSISTED THERAPY: REFERÊNCIA PROGRAMÁTICA

O estudo consiste em uma proposta projetual para o centro da cidade


de Pretória, junto ao Parque Urbano Berea (Berea Park) na África do Sul. O
terreno do projeto se insere em um contexto urbano, com seus limites entre
trilhos de trem que marcam o início do bairro, próximo à principal estação
de trem da área. Apesar da alta densidade urbana do centro da cidade, o
parque se insere em uma parte menos densa, sendo ele mesmo um dos
fatores que proporcionam esse espaçamento (Figura 21).

Figura 21. Mapa figura fundo da localização de inserção do projeto, e visualização de Berea Park.

Fonte: Tangible Space: centre for animal assisted therapy. Andri Verwey, 2015

A referência foi utilizada principalmente por sua contribuição de uso e


programa, uma vez que como diretriz o centro de referência teve dois focos:
sua função terapêutica voltada ao bem-estar humano e sua função de
acomodação e centro de saúde para os animais de terapia. Sua função social
inclui também participação pública, resgate e tratamento de animais de
abrigos, treinamento destes animais para terapia assistida e a disponibilidade
destes animais para adoção, servindo como alívio para a lotação dos abrigos
de animais. O prédio seria aberto ao público para que as pessoas possam
visitar e interagir com os animais.
Em termos de espaços, o programa desta proposta de centro, ilustrado
na Figura 22, inclui:

65
• Acomodação animal: estábulos para cavalos, canis, gatis,
acomodação de pequenos mamíferos coelhos

• Canis para cães perdidos

• Restaurantes

• Áreas de lazer para interação pública

• Rotas de caminhadas para o parque

• Clínicas veterinárias

Figura 22. Programa de projeto

Fonte: Tangible Space: centre for animal assisted therapy. Andri Verwey, 2015

Em relação ao desenvolvimento do conceito e do partido do projeto, o


programa objetivou o melhoramento tátil na interação humano-animal no
espaço, focando neste sentido como essencial na distribuição desses
espaços. Fazendo alusão ao funcionamento da pele como agente essencial de
uma interação tátil, a “pele da edificação” teria participação vital na interação
com os espaços distribuídos. Essa pele consiste nas envoltórias da edificação
(Figura 23), que se manifestam como membranas e coberturas para os
espaços de convivência. Segundo a autora do projeto, estes espaços de
convivência são peças chave de conexão entre o interior e o exterior da
edificação, da arquitetura com a natureza e do parque com a cidade.

66
Figura 23. Esquema de membrana envolvendo espaços de convivência

Fonte: Tangible Space: centre for animal assisted therapy. Andri Verwey, 2015

A forma da edificação partiu da observação do tecido urbano e sua


respectiva quebra para dinamizar essa característica (Figura 24), criando
espaços positivos ao fazer com que os prédios aparentem proteger a área de
convivência.

Figura 24. Diagrama de partido

Fonte: Tangible Space: centre for animal assisted therapy. Andri Verwey, 2015

67
Figura 25. Inserção de volume no contexto e aspecto de volumetria final

Fonte: Tangible Space: centre for animal assisted therapy. Andri Verwey, 2015

Os grandes elementos verticais metálicos (Figura 26) fazem alusão a


árvores que convidam o agregar de pessoas e animais, funcionando como
elementos que puxam visualmente a envoltória, dando a impressão de que a
membrana se acomodou nos espaços de convivência (Figura 27). Esses
mesmos elementos possuem folhas de bambu reguláveis similares a
venezianas, que quando se fecham servem para o direcionamento das águas
pluviais para um sistema de captação e reaproveitamento.

Figura 26. Secção de elemento vertical

Fonte: Tangible Space: centre for animal assisted therapy. Andri Verwey, 2015

68
Figura 27. Representação de espaço de interação humano-animal

Fonte: Tangible Space: centre for animal assisted therapy. Andri Verwey, 2015

Figura 28. Representação de espaço de interação humano-animal

Fonte: Tangible Space: centre for animal assisted therapy. Andri Verwey, 2015

O clima da cidade de Pretoria é o subtropical úmido, o que se


caracteriza por temperaturas não muito quentes no verão (médias de 22°C)
e invernos não rigorosos (média de 15ºC), mas com altos índices de
precipitação o ano todo, com exceção apenas do inverno (PEGORARO, 2016.
apud LAMPERTS, 2016).
As estratégias de adequação climática para este projeto consistiram
principalmente em resfriamento por evaporação (Figura 29) e por
sombreamento das áreas externas de convivência, fazendo uso dos
elementos verticais que serviriam como caramanchões. A extensão desses
elementos verticais que funcionam como membranas também cria uma

69
proteção para as coberturas e espécies de beirais vazados, além da
consequente proteção das fachadas oeste. A orientação dos volumes com as
menores fachadas para oeste e a quebra dos volumes para que os espaços de
convivência captassem a ventilação predominante, que vem principalmente
da direção nordeste, foram outras estratégias adotadas.

Figura 29. Sistema de evaporação

Fonte: Tangible Space: centre for animal assisted therapy. Andri Verwey, 2015

3.2.2 ESTUDO 2: KRES OEHR PETTING ZOO (ESPAÇO DE


INTERAÇÃO HUMANO-ANIMAL E AMBIENTE
RESTAURADOR)

De autoria da equipe Kresings Architektur, a edificação está localizada


na cidade de Öhringen, na Alemanha, em um terreno onde ocorreu o Show
de Horticultura Estatal de 2016. A edificação foi pensada para funcionar como
um local para animais envelhecidos após o termino do evento, no qual

70
prestou-se muita atenção para manter esses animais no ambiente mais
natural possível.

Figura 30. Ficha do projeto

Fonte: www.archdaily.com.br/br/787672/zoologico-ohringen-kresings-architektur, modificado pela


autora 2019.

O projeto possui relação com o entorno está definido pela sua inserção
dentro de um grande parque em uma zona residencial, em um terreno de
esquina de forma exposta de vários ângulos, com passeios nas proximidades
de uma lagoa, conforme ilustrado na Figura 30. Com baixo impacto no solo e
na paisagem natural, seu design arredondado e dinâmico tem o intuito de
convidar os transeuntes do parque e visitantes do zoológico a adentrarem o
estabelecimento, fornecendo diferentes visuais de interesse durante o
trajeto.

Figura 31. Relação com o terreno e o entorno

Fonte: www.archdaily.com.br/br/787672/zoologico-ohringen-kresings-architektur, modificado pela


autora 2019.

71
O partido arquitetônico se define pela intenção dos arquitetos em criar
dois “ninhos” para abrigar os animais em meio às árvores do bosque, ambos
voltados para a paisagem e com boa permeabilidade visual e espacial. Os
materiais e formas adotados remetem ao método dos próprios pássaros
construírem seus abrigos, utilizando gravetos e arames de fácil acesso e
costurando-os em forma de um cesto acolhedor.
A geometria do projeto utiliza planos seriados em material natural,
para causar o menor impacto possível na natureza, criando formas
curvilíneas para a edificação. A estrutura é composta por pilares de madeira
de lariço, um material sustentável e renovável que não necessita tratamento
em seu acabamento, unidos por meio de uma amarração metálica (Figura 32-
a) e uniões de madeira robustas e substituíveis, cujos apoios metálicos evitam
o contato da madeira com o chão (Figura 32-b) e protegem a integridade dos
montantes. O resultado é uma estrutura leve, de fácil desmontagem e
transporte, para garantir que o terreno possa continuar com a tradição de
receber o show de horticultura no local e ao mesmo tempo ser de baixa
manutenção e nenhum risco de intoxicação dos animais do zoológico.

Figura 32. Detalhes da estrutura

a) Amarração metálica b) Encontro do pilar com o chão

Fonte: www.archdaily.com.br/br/787672/zoologico-ohringen-kresings-architektur

A utilização da madeira também é justificada por ser um bom material


termicamente isolante, devido a sua baixa transmitância térmica, adequada

72
ao clima temperado frio e com baixo albedo, o que significa que diminui os
efeitos de ofuscamento causados pelas reflexões da cor dos materiais.
O design inclui proteções solares verticais através dos pilares seriados,
impedindo a luz solar direta ao sombrear, mas permitindo a entrada de luz
natural e contato com o meio externo, como mostra a Figura 33. Como na
Alemanha a altura solar é menor comparada aos países cortados pela linha do
equador, como Brasil, o sombreamento vertical (de topo) desse projeto está
eficiente, sendo a incidência solar direta solucionada apenas lateralmente
pelos pilares. Por este motivo, todos os recintos são contemplados com
aberturas zenitais para captação de iluminação natural (Figura 33). Além
disso, esse material natural possui bom desempenho na absorção de ruído,
ideal para abrigar os animais em conjunto nos espaços internos

Figura 33. Sombreamento e entrada de luz natural no espaço interno (abertura zenital)

Fonte: archdaily.com.br

Os aspectos funcionais da edificação contemplam um programa de


necessidades enxuto – representados na planta baixa ilustrada na Figura 35–
típico de um mini zoológico, com espaços amplos para guarda dos animais,
tanto no estábulo quanto no aviário, equipados com áreas de circulação dos
funcionários e espaços de apoio e atendimento às necessidades animais. O
aviário possui ainda uma inclinação na cobertura que gera diferentes níveis
de galhos para os pássaros interagirem conforme a altura de sua preferência.
Os blocos do estabulo e aviário apresentam-se interligados por um pátio
central de convivência e interação com os animais e espaços externos (Figura
35).

73
Figura 34. Planta baixa da edificação

Fonte: www.archdaily.com.br/br/787672/zoologico-ohringen-kresings-architektur, modificado pela


autora 2019.
Figura 35. Pátio interno que interliga os blocos

Fonte: archdaily.com

Por fim, a Figura 36 sintetiza alguns dos aspectos quanto à forma,


estrutura e conforto na edificação, tomando o volume do aviário como
referência. Em suma, o domínio do sistema estrutural e construtivo permitiu
a criação de um projeto que considera os materiais disponíveis e adequados
ao conforto animal, clima, integração com o entorno e resolução dos dilemas
da cultura local.

Figura 36. Corte e elevação da edificação (volume do aviário)

74
Fonte: archdaily.com. modificado pela autora, 2019.

3.2.3 ESTUDO 3: EARLY EDUCATION CENTER NEAR THE HORSE


FARM - L&M DESIGN LAB (ESPAÇOS PARA CRIANÇAS)

O instituto Early Education Center Near the Horse Farm tem o intuito
de receber crianças durante o dia (Figura 37). Criado pelo escritório L&M
Design Lab no ano de 2018, possui 560 m² de área construída. O edifício está
localizado na periferia de Xangai em um conjunto habitacional de alto padrão,
próximo a hotéis, creches, centros de hipismo e zoológicos.

Figura 37. Ficha do projeto

Fonte: archdaily.com

Como é possível observar na Figura 38, o edifício segue um formato


alongado de dois pavimentos, assemelhando-se ao gabarito do entorno cuja
integração de dentro para fora ocorre pela grande fachada frontal
envidraçada. A envoltória tenta se manter neutra através de materiais mais

75
claros com apenas alguns destaques em cores vibrantes, como o amarelo
demarcando entradas como “portais” para o descobrimento de novos
espaços estimulantes. O tijolinho branco como revestimento da fachada traz
a sensação de rugosidade interessante ao tato, oferecendo textura aos planos
retos e brancos.

Figura 38. Acesso a edificação e fachada frontal

Fonte: archdaily.com

Dentro do partido arquitetônico tem-se a separação e ao mesmo


tempo união entre uma circulação funcional, com foco nos usuários adultos,
e uma circulação lúdica e explorativa dos espaços (para as crianças). Pode-se
dizer que o diagrama de fluxos (Figura 39) definiu a forma de todos os espaços
internos e buscou uma dinâmica criativa e diferente a cada momento
vivenciado pelas crianças, fato que pode ser também observado de fora
devido à transparência da fachada e integração visual com o pátio externo.

Figura 39. Forma de acordo com o fluxo desejado

76
Fonte: archdaily.com

Essa configuração das circulações contribui para que as aulas infantis


não sofram interferências externas, permitindo que pais possam apenas
checar seus filhos através das aberturas nas paredes sem intervir com o
restante da classe, além de estimular a interação dos usuários com a
arquitetura e ampliar a percepção dos adultos sob um ponto de vista mais
próximo ao chão, exatamente como a criança vê, como mostra a Figura 40.

Figura 40. Relação da circulação externa com o interior das salas

Fonte: archdaily.com

As salas de aula infantis possuem aberturas altas voltadas para a


entrada de luz natural aumentando, assim, a eficiência energética da
construção em relação a iluminação, bem como melhora a produtividade das
atividades pedagógicas devido ao conforto visual dos recintos.
Analisando a funcionalidade, que pode ser observada na representação
da planta baixa na Figura 41, o projeto contempla salas de aula nos dois
pavimentos para as crianças, juntamente com a sala de leitura e outros
espaços de exploração para brincadeiras como o hall e as circulações lúdicas.
Cada sala de aula possui um banheiro interno para assessoria do adulto
responsável pela classe a um determinado aluno sem perder o restante de
vista. Ambos os pavimentos contam com um apoio para os pais e
funcionários, dentre eles mesas de escritório, copa, depósitos para
armazenagem de materiais diversos, dentre outros.

77
Figura 41. Planta baixa da edificação

(a) Planta baixa pavimento térreo

(b) Planta baixa primeiro pavimento

(c) Planta baixa segundo pavimento

Fonte: archdaily.com. modificado pela autora, 2019.

O projeto simula no espaço interno as experiências com brincadeiras


infantis ao ar livre, utilizando elementos arquitetônicos que remetem ao

78
espaço externo natural, como por exemplo esconder-se em pequenas
cavernas (o que os arquitetos chamaram de funny cave), ou brincar de
esconde-esconde e pega-pega atrás de pilares, que remetem as árvores do
bosque (tree house). Em suma, o espaço interno se molda para as brincadeiras
ocorrerem dentro do edifício, ao invés do espaço externo, seja essa interação
entre crianças ou juntamente com adultos que também podem participar
(Figura 42).

Figura 42. Esquema de interação das crianças com o espaço dinamizado para as brincadeiras no
interior da edificação

Fonte: archdaily.com

79
3.2.4 ESTUDO 4: CENTRO DE REABILITAÇÃO INFANTIL/ CENTRO
ESPECIALIZADO EM REABILITAÇÃO (CRI/CER)

O Centro de Reabilitação Infantil é uma unidade de saúde estadual do


Rio Grande do Norte, localizado no bairro Tirol, em Natal/RN. Concebido
pela arquiteta Magnólia Daniel em 1990, possui um terreno de área de 21.240
m² situado nas imediações do Bosque dos Namorados, área integrante do
Parque das Dunas na cidade de Natal/RN.

Figura 43. Mapa de localização do CRI (à esq.) e fachada reformad (à direita)

Fonte: Google maps, adaptado pela autora; facebook.com/cri.centro

A visibilidade da edificação em relação à rua é bloqueada por


vegetações de grande porte, tornando o contexto e a escala do edifício
harmônica com o entorno, uma vez que possui influência de paisagem do
parque das Dunas. Sua sinalização, no entanto, se limita a um totem,
tornando a edificação difícil de ser identificada.
Construído na década de 1990, suas formas geométricas permitiram
expansões ao longo dos anos em eixos modulados, formando corredores
centrais. A arquitetura referida como pavilhonar por Valverde (2014) possui
cinco blocos térreos conectados por circulações em pilotis. Tanto o
afastamento das paredes, que permitem longos beirais apoiados por pilares,
quanto a grande presença de forrações verdes, são estratégias positivas para
o clima quente e úmido de Natal/RN em que o CRI se insere, uma vez que
permite o sombreamento das circulações, ventilação natural e diminuição de
ofuscamento, conforme visto anteriormente em Holanda (1976). Observa-se,

80
também, a constante integração dos ambientes e da construção com os
elementos naturais do entorno, incluindo vegetações frondosas de grande
porte.

Figura 44. Circulações sombreadas por vegetação e áreas verdes

Fonte: VALVERDE, J. 2014

Sendo uma edificação de apenas pavimento térreo, o elemento


volumétrico que mais se destaca é sua caixa d’água. Dessa forma, a edificação
se destaca por sua modulação e um trabalho de fachada baseado em
aberturas vazadas em repetições pontuadas pelos pilares de alvenaria e
concreto. Em sua fachada, no entanto, não há proteção das janelas em
relação a incidência solar direta, o que pode aumentar as sensações de
desconforto térmico no interior da edificação. As janelas incluem também
cobogós, tornando-se elementos estéticos na fachada uma vez que criam
textura, além de permitirem resfriamento dos ambientes por ventilação
natural. Sua materialidade se descreve a partir das cores sólidas, texturas
lisas e a utilização de alvenaria e concreto como estrutura em sistemas viga-
pilar, aspectos construtivos comuns na região nordeste.
A área construída de 5.480m² é dividida em cinco setores, sendo eles
administrativo, ambulatorial, funcional e de reabilitação, que estão
conectadas com as estruturas de apoio, compreendendo farmácia, área de
vacinação, serviços médicos e estatísticos. Inclui-se nesses setores uma
programação de áreas de reabilitação, ginásio infantil, consultórios e
ambulatórios, recepção e espera, áreas administrativas, apoio logístico,
auditório, laboratórios, brinquedoteca, piscina, quadra poliesportiva e áreas

81
verdes, compreendendo também um pequeno parque com mobiliário de
recreação infantil na entrada.

Figura 45. Planta de zoneamento de setores produzido por Valverde (2014)

Fonte: VALVERDE, J. 2014

As atividades de reabilitação do centro ocorrem principalmente no


ginásio, que teve sua estrutura interna subdividida em salas onde ocorrem
fisioterapia e terapia ocupacional. O ginásio possui 497 m², sendo 34,5 m de

82
comprimento e 14m de largura, incluindo um pé direito de 4,43 m. Esse
espaço se divide em salas de atendimento coletivo, salas de atendimento
individual e salas de apoio.

Figura 46. Áreas de reabilitação com mobiliário lúdico de apoio

Fonte: Instagram @cri.cra

Para este estudo foi utilizado como referência para as informações


gerais e análises arquitetônicas os estudos de Valverde (2014. O CRI foi
escolhido pelo seu potencial para o entendimento programático e de
funcionamento de um centro voltado à reabilitação, incluindo informações
de mobiliário, dimensionamentos, capacidades para atendimento, dentre
outros. As principais informações utilizadas no projeto foram os tipos de salas
típicas para a reabilitação, as circulações protegidas de incidência solar
direta através do afastamento das paredes, a integração dos ambientes com
áreas verdes e o trabalho de trazer dinâmica e espaços lúdicos para agradar
ao público infantil.

83
3.2.5 ESTUDO 5: MORADIAS INFANTIS – ROSENBAUM
(ADEQUAÇÃO AO CLIMA, ESTRUTURA E MATERIALIDADE)

Localizado no Formoso do Araguaia, em Tocantins, as moradias


infantis foram executadas pelo projeto dos arquitetos Aleph Zero e Marcelo
Rosenbaum. No contexto urbano, a edificação se insere entre assentamentos
e aldeias, com usos de uma escola com dormitórios. Seu programa contém
dormitórios femininos e dormitórios masculinos (destacados em cinza na
Figura 47 e ilustrados na Figura 48-a), salas de aula (Figura 48-b), refeitório e
cozinha.

Figura 47. Diagrama de contexto

Fonte: www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero

Figura 48. Ambientes internos da edificação. a) dormitórios e b) sala de aula

a)

84
b)
Fonte: www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero

Por estar afastado da zona urbanizada e ser uma das poucas


edificações da área, o edifício é monumental em relação ao seu entorno
(Figura 49). Seu aspecto formal se destaca pela cobertura única que abraça
todos os volumes, fazendo alusão a uma oca.

Figura 49. Foto de fachadas ressaltando a materialidade e o contexto do projeto

Fonte: www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero

Seu sistema estrutural consiste em um grid de estrutura mista de


pilares estabilizantes (Figura 50), metálicos com madeira eucalipto, e ainda
vedações em cobogó de solocimento. Essa configuração em grid permitiu a
flexibilização da disposição interna dos ambientes, podendo ser adaptada de
acordo com as necessidades e prevendo expansões futuras, uma vez que se
utilizam de vedações leves dos ambientes.

85
Figura 50. Sistema estrutural em grid

Fonte: www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero

Figura 51. Detalhes estruturais

Fonte: www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero

Sua materialidade é observada pelas texturas e cores resultantes da


madeira, tijolo solocimento, estruturas metálicas e vedações vazadas de
madeira. Se torna uma edificação aparentemente leve por seus elementos
vazados e pelos volumes que se descolam de si, principalmente em relação à
cobertura e aos detalhes de afunilamento dos pilares na base, dando a
sensação de que estão “flutuando”.
Em especial, o projeto se destaca por funcionar como inspiração a
estratégias de adequação ao clima de Natal, ainda que o projeto ocorra em
Tocantins. Isso acontece porque Tocantins encontra-se caracterizado pela
NBR 15220 por ser da Zona Bioclimática 7, cujas diretrizes são pequenas
aberturas para ventilação e manter aberturas sombreadas, o que se verifica

86
no projeto de Rosenbaum. O uso de alvenaria de solo cimento também se
configura como uma boa prática, devido a sua característica de promover o
atraso térmico, que seria outra diretriz para esta região. No entanto, as
demais envoltórias são caracterizadas como leves por sua reduzida espessura
e por ter sido utilizada a madeira, quando recomendações para esta região
seriam proporcionar vedações externas pesadas, como cobertura e paredes,
para promover massa térmica para resfriamento, bem como criar
resfriamento evaporativo e ventilação seletiva apenas para os períodos
quentes, quando a temperatura interna estiver maior do que a externa. Não
é interessante, portanto, a estratégia de ventilação cruzada permanente,
como é o caso de Natal, uma vez que se traria altas temperaturas do ambiente
externo para o interior da edificação. Sobre esses quesitos o projeto da
Moradias Infantis se faz menos adequado para a região de Tocantins, mas um
bom exemplo de estratégias para Natal, por suas características de
envoltórias e coberturas leves, bem como a manutenção de aberturas em
todos os ambientes através do descolamentos da cobertura, e materiais que
proporcionam atraso térmico (como é o caso do tijolo de solocimento).

Figura 52. Ilustração da leveza do sistema construtivo (a) e aspectos de materialidade (b)

a) b)
Fonte: www.archdaily.com.br/br/879961/moradias-infantis-rosenbaum-r-plus-aleph-zero

87
3.3 QUADRO RESUMO

Tabela 1. Quadro comparativo de referencial direto e indireto

DIRETO
Local Visitado Harmony Vet Pet Lovers My Best Nanny
Terreno de 800 m², Terreno de 1000m².
Terreno de 1000 m², uma
Casa de dois Antiga casa
antiga casa de praia com
Informações gerais pavimentos. Uso residencial.
mais de 20 anos. Localizado
clínico, localizado em Localizado em Lagoa
em Capim Macio, Natal/RN
Capim Macio Natal/RN Nova, Naral/RN
entorno imediato
majoritariamente
Entorno imediato
residencial, mas
residencial, mas
próximo de avenida
Inserção no próximo de serviços
de grande fluxo
contexto (postos de gasolina, entorno majoritariamente
(Jaguarari) que
urbano/diagrama de restaurantes, prédios residencial
contém
contexto residenciais, hortas-
estabelecimentos
orgânicas e
comerciais de
floricultura)
serviços (padaria,
posto de gasolina)
muro alto e contínuo
acompanha o contrastando com as casas
Escala, geometria e acompanha o gabarito
gabarito das casas de entorno e voltando-se
Aspecto Formal das casas vizinhas
vizinhas para prédios residenciais de
gabarito alto
sistema viga pilar em
viga pilar e cobertura
Estrutura e viga pilar de alvenaria estrutura de madeira,
em telhado de
tectônica e concreto cobertura em telhado de
madeira
madeira
vedações em alvenaria,
porta de madeira
Materiais e painéis perfurados de esquadrias de madeira,
vazada e grades de
ornamento aço cortem expansões da casa em
vidro, alvenaria
alvenaria
no interior do
estabelecimento a casa
possui esquadrias com
bandeirolas que beneficiam
faixa de grama na
a ventilação, bem como
pátio na recepção para entrada, esquadrias
pergolados para luz natural
iluminação natural, de madeira na
Estratégias de e materiais naturais de
proteção solar com fachada em
conforto ambiental pouca reflexão evitando
painel perfurado de venezianas que
ofuscamento, além de
aço corten permitem a
forrações verdes e
ventilação
sombreamento através de
árvores

88
INDIRETO
Referência Early Education Moradias
Tangible Space Petting Zoo
analisada Centre Infantis
Escritório L&M Localizado no
Localizado em Localizado em Design Lab 2018. Formoso do
parque urbano no Öhringen, 560 m² de área Araguaia, em
Informações
centro da cidade de Alemanha. construída. Tocantins.
gerais
Pretória, África do Escritório Kresings localizado na arquitetos Aleph
Sul Architektur, 2016. periferia de Zero e Marcelo
Xangai Rosenbaum.
Inserido em um
conjunto No contexto
Inserido em
Inserido em extensa habitacional de urbano se insere
extensa área verde,
Inserção no área verde, alto padrão, entre
próximo à uma das
contexto circundado de alta próximo a assentamentos e
principais vias da
urbano/diagrama densidade urbana e hotéis, creches, aldeias, com
cidade, circundado
de contexto limitado entre centros de usos de uma
de áreas
trilhos hipismo e escola com
residenciais
zoológicos. dormitórios.

Monumental em
Monumental em Relação Relação
Escala, geometria relação ao seu
relação ao seu harmoniosa com o harmoniosa com
e Aspecto Formal entorno, porém
entorno entorno o entorno
não conflituosa
Grid estrutural
Elementos verticais para sistema
Sistema porticado Alvenaria e
centrais em viga-pilar
Estrutura e de madeira com concreto em
estrutura metálica e metálicos,
tectônica amarração sistema viga-
estrutura geral em vedações em
metálica pilar
modulação metálica madeira e tijolos
solocimento
Alvenaria,
Madeira, metal,
cortinas de
Materiais e Metal, venezianas tijolo
Madeira vidro,
ornamento de madeira solocimento,
revestimento
cobogós
em madeira
resfriamento por Luz natural
evaporação, proporcionado Elementos
elementos verticais através de vazados para
para sombreamento, cortina de vidro ventilação,
proteção de na fachada e cobertura
Estratégias de Aberturas zenitais
coberturas e recuo de independente
conforto para iluminação
proteção das divisórias permitindo
ambiental natural
fachadas oeste. internas, criando circulação de
Dinamização de um corredor de vento ao longo
volumes para captar captura de luz de toda a
ventilação. natural para as edificação
salas
Fonte: Produzido pela autora

89
Área de intervenção
4
Este capítulo aborda as limitações e potencialidades do local de intervenção
referente aos condicionantes legais, índices urbanísticos, zoneamento da área
de inserção do terreno e as delimitações de gabarito. Também aborda uma
avaliação dos aspectos de conforto térmico e acústico, bem como as diretrizes
resultantes das limitações e avaliações direcionadas ao projeto.
O capítulo inicia com os aspectos de escolha do terreno, sua localização, condi-
ções físicas e de infraestrutura, acessos e proximidades, além da caracterização
do bairro. Segue-se então para a verificação das condições urbanísticas e coe-
ficientes urbanísticos, especialmente relacionados ao uso de espaço de reabili-
tação. Em seguida, aborda as recomendações do plano diretor e do código de
obras, como também do código de segurança e pânico contra incêndio.
4.1 ESCOLHA DO TERRENO

O terreno localiza-se no bairro de Candelária, Natal/RN (Figura 53), na


Rua Militão Chaves 403 com acesso também pela Rua Raimundo Chaves, a
apenas três minutos de carro da unidade básica de saúde do bairro. Conforme
sugerido em entrevista com os profissionais, este seria um ponto de grande
demanda para o mercado pet, sendo, ainda, centralizados entre empresas e
fornecedores deste ramo e da veterinária. A concentração dos equipamentos
de saúde nos bairros de Tirol e Petrópolis justifica, também, a escolha para a
implantação do projeto na zona sul de Natal.

Figura 53. Localização da área de intervenção

(a) Localização do bairro de Candelária em (b) Localizaçao do terreno no bairro de


Natal/RN Candelária

Fonte: SEMBUR (2017)


Fonte:
pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_bairros_de_Natal_
(Rio_Grande_do_Norte)

O terreno escolhido limita-se ao Sul com a Rua Militão Chaves, com


44,41 m de testada; ao Norte com a Rua Raimundo Chaves, com 29,11 m + 13,90
m de largura; a Oeste com 60,18 m e limitado por um residencial
multifamiliar; ao Leste, comprimento de 29,50 m + 30,90 m limitados por uma
residência unifamiliar. O terreno, portanto, totaliza uma área de 1.315,80 m².
Na testada sul encontra-se uma área livre verde com visuais potencializados
pela diferença de altura na rua e vista para o estádio Arena das Dunas (Figura
54). Em relação ao desnível do terreno, este apresenta-se seccionado em

91
duas partes planas com uma diferença de três metros da testada Sul para a
testada Norte, gerando dois platôs de formato irregular.

Figura 54. Localização do terreno

Fonte: Google Maps (2019)

A vegetação nativa do terreno consiste em uma forração vegetal e uma


árvore nos limites do terreno na testada da Rua Raimundo Chaves. A árvore
possui porte grande, com uma copa frondosa que permite sombreamento da
área em que se encontra, apesar de sua influência de sombreamento ser
reduzida devido a sua localização muito próxima do limite do terreno.

92
Figura 55. Vegetação de grande porte e dimensão de sombreamento no terreno

Fonte: Acervo pessoal da autora

4.2 CONDICIONANTES LEGAIS

O terreno se encontra em uma zona de adensamento básico, sendo


aplicado portando o coeficiente de aproveitamento básico para zonas
urbanas referente a 1,2. As limitações de recuo se definem, portanto, a 3 m de
recuo frontal até o segundo pavimento, recuo lateral no nível térreo não
obrigatório e de 1,50 m no segundo pavimento e recuo de fundo não
obrigatório, conforme prescrito em tabela do código de obras da cidade de
Natal (Figura 56) .

Figura 56. Definições de recuos pelo código de obras

Fonte: Código de Obras, Natal/RN, 2004

No tocante a vagas de estacionamento, determina-se pelo código de


obras 1 vaga para cada 40 m² no caso de vias coletoras, como se classifica a

93
Raimundo Chaves, incluindo a exigência de possuir uma casa do lixo.
Pretende-se, no entanto, limitar o acesso à edificação pela Militão Chaves,
uma vez que reduz-se o volume de veículos nas vias e as dificuldades de
acesso, considerando os cuidados com o público infantil e com a segurança
dos cães. Deste modo, considera-se a Militão Chaves uma via local e, por isso,
determina-se 1 vaga para cada 45 m² de área construída.
O plano diretor de natal estabelece da mesma forma a quantidade de
vagas pelo uso da edificação, em seu anexo III de Relação das Edificações que
Geram Tráfego, determinando-o como Edifício de Prestação de Serviço
Geral, e estabelecendo como necessária 1 vaga para cada 45 m² de área
construída, com a exigência também de um espaço para casa do lixo.
O terreno, ainda, não se encontra em zonas de proteção ambiental,
sendo portando o limite de gabarito de 65 m de altura. A taxa de ocupação
máxima deverá ser de 80%, para subsolo, térreo e segundo pavimento,
enquanto a taxa de impermeabilização máxima do lote também será de 80%.
Em relação às determinações de segurança e higiene pela ANVISA, os
revestimentos de piso, teto e parede deverão ser de tipo laváveis e resistentes
a desinfetantes, sem presença de trincas, mofo e infiltrações. Em relação às
instalações elétricas e hidrossanitárias, devem ser embutidas ou protegidas
por calhas ou em canaletas externas. Todos os ambientes deverão ter
ventilação e exaustão em todos os compartimentos, e será exigido um local
para guarda de resíduos contaminados.
Em relação à classificação do uso de Centro de Terapia Assistida pela
norma RDC 50, a edificação se encaixa com o tipo de uso de clínica de
reabilitação, incluindo o apoio logístico, conforme Figura 57. Ainda segundo
a RDC 50, para esse tipo de edificação devem existir lavatórios exclusivos
para uso da equipe de assistência.

94
Figura 57. Tabela de classificação da RDC50

Fonte: RDC50

Figura 58. Tabela de programação de espaços de reabilitação

Fonte: RDC 50

95
Figura 59. Continuação da tabela para espaços de reabilitação

Fonte: RDC 50

Já em relação às determinações da norma de acessibilidade NBR 9050,


exige-se pelo menos 10% de sanitários acessíveis e, em qualquer pavimento
contendo sanitários haverá o mínimo de um sanitário acessível. Define, ainda,
que ao menos uma das salas para cada tipo de serviço prestado deverá ser
acessível e estar em rota acessível.
Para o código de segurança contra incêndio e pânico, o centro de
terapia assistida se classifica como ocupação hospitalar, portando
denominada risco C. Por este motivo, deverá obedecer às recomendações de:
• Obrigatoriedade de aquisição de sistema de alarme contra
incêndio, com escada de tipo convencional de no mínimo 1,60 m
de largura;

• Possuir rede de hidrantes de risco II; Possuindo uma área


construída superior a 750 m², necessitará de prevenção fixa
(hidrantes), prevenção móvel (extintores de incêndio), chuveiros
automáticos (sprinkler) nas circulações e área comuns, além de
iluminação de emergência, sinalização, e instalação de hidrante
público;

• Deverá possuir reservatório de capacidade de reserva mínima


de 7.200 litros para combate a incêndio. Como haverá
necessidade de instalação de hidrantes públicos, estes deverão
possuir tubulação da rede da empresa concessionária de águas,
com diâmetro mínimo de 100 mm, não sendo obrigatória a
instalação na calçada ou na rua do centro.

A norma também exige pontos de iluminação de emergência situados


nas áreas de risco, escadas, antecâmaras, acessos, locais de circulação e de

96
reunião de pessoas. Em relação ao número de extintores, deverão ser
obtidos, para cada 150 m² ou pavimento, um jogo de extintores para classes
A, B e/ou C, instalados preferencialmente juntos e localizados na entrada
principal, outro no acesso à escada, e outros distribuídos ao longo da
edificação uniformemente, com a distância máxima a ser percorrida pelo
operador de 10 m.

4.3 CONDICIONANTES AMBIENTAIS

De acordo com a NBR 15220, que determina as zonas bioclimáticas do


Brasil e com isso definem suas características térmicas, bem como as
necessidades para que se criem situações de conforto nestas áreas a partir
de diretrizes de estratégias, Natal se encontra na Zona Bioclimática 08,
conforme tabela abaixo:

Figura 60. Caracterização da zona bioclimática 08

Fonte: NBR 15220

As diretrizes de norma envolvem: coberturas ventiladas,


necessariamente com forro e com beirais; grandes aberturas sombreadas e
ventilação cruzada permanente, mesmo com a presença de condicionamento

97
passivo (como ar condicionados), por serem consideradas insuficientes nas
horas mais quentes.
Outra fonte para análise das condições climáticas da cidade e
diretrizes para o projeto seria a carta psicrométrica de Natal, que contém as
indicações do que seria uma área de conforto através de dados de
temperatura e umidade, além das diretrizes de como trazer as condições
específicas da cidade para uma situação de conforto.
A atualização desse processo de classificação das condições climáticas
se dá através da utilização do método adaptativo de ASHARE, onde identifica-
se que 63% dos dados climáticos de natal estão considerados pertencentes a
uma área de conforto para o usuário e os restantes 37% não confortáveis se
devem a altas temperaturas e alta umidade em alguns períodos, e
temperaturas abaixo de 22°C em outros períodos.

Figura 61. Carta Psicrométrica da cidade de Natal, Rio Grande do Norte

Fonte: Dados Bioclimáticos do Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE) e


graficamente adaptado pela autora.

De acordo com este método e com a identificação das situações de


desconforto no clima de Natal, expostas por sua carta psicrométrica, as
estratégias mais eficientes para trazer uma situação de conforto térmico ao
projeto seria impedir que as altas temperaturas adentrem o edifício, como
também criar mecanismos que permitam o resfriamento dos usuários, seja
por sistemas passivos (promovendo ventilação quando as temperaturas
estiverem confortáveis), seja a partir de sistemas ativos de resfriamento (ar
condicionado). O sombreamento das superfícies é considerado

98
imprescindível e forrações verdes permitiriam a redução das temperaturas a
partir do resfriamento das superfícies.
Entendendo as classificações por normas e suas respectivas diretrizes,
buscou-se uma análise das condições de forma mais local para o projeto,
através de medições, observações in loco e registros fotográficos, bem como
simulações através de softwares utilizando dos dados adquiridos in loco para
uma maior compreensão das demandas do terreno.
Em relação à ventilação, os ventos predominantes de Natal se
encontram à sudeste, conforme dados do INPE-CRN para o ano de 2009.

Figura 62. Rosa dos Ventos de Natal, indicando direção dos ventos predominantes anual

Fonte: Estação do INPE-CRN

Para os horários de funcionamento do projeto proposto, que seria de


funcionamento diurno, há maior predominância de ventos provenientes da
direção Leste, no entanto não há grandes variações em relação às direções
predominantes dos ventos.
Em relação às condições de iluminação natural, a NBR 5413 (1992)
determina os valores de iluminância adequados para ambientes internos de
acordo com as atividades a serem exercidas nestes ambientes. Para o uso
deste projeto, que seriam espaços destinados a reabilitação, irá se considerar
os valores determinados para ambientes de hospitais, conforme
recomendação em norma. Para consultórios médicos, o nível de iluminância
adequado, considerando o nível médio de precisão de atividades conforme
tabela 2 da NBR 5413, é de 150 lux para a iluminação geral, 500 lux para mesas
de trabalho e 150 lux para arquivos. Já para as salas de terapias físicas e

99
aplicadas determina-se como adequados 200 lux, com valores maiores para
as mesas de diagnóstico, que se definem como adequadas a 500 lux.

4.3.1 ASPECTOS DE CONFORTO TÉRMICO

Para entendimento das condições ambientais do terreno foram


estabelecidos três pontos de medição, sendo o primeiro ponto localizado no
canto inferior esquerdo do terreno, o ponto 2 no canto inferior direito, ambos
na rua Militão Chaves, e o ponto 3 na extremidade superior, na Rua Raimundo
Chaves. Foram medidos principalmente as velocidades de vento de acordo
com suas orientações, com o objetivo de verificar as condições de ventilação
devido aos prédios do entorno que causam grandes sombras de vento no
terreno.

Figura 63. Mapa de pontos de medição

Fonte: Produzido pela autora

As medições in loco demonstram sensações de desconforto nos


períodos da manhã devido à alta incidência solar e as elevadas temperaturas
das áreas majoritariamente sem sombreamento. Apesar de um breve

100
conforto visual causado pela praça triangular que se encontra na rua Militão
Chaves (Figura 64), os materiais de calçada e de pavimentação das vias geram
ofuscamento pela claridade do ambiente e escassez de sombreamento. Nos
períodos da tarde em pontos mais próximos à rua Militão Chaves (como os
pontos 1 e 2) são bastante desconfortáveis, uma vez que não há nenhuma
proteção contra a incidência solar e os materiais geram ofuscamento.

Figura 64. Influência da materialidade da rua Milião Chaves

Fonte: produzido pela autora

No ponto 3, localizado na Raimundo Chaves, observa-se que a árvore


existente no terreno não é suficiente para promover um sombreamento que
torne as temperaturas presenciadas no local mais amenas. No entanto, a
presença de materiais mais naturais nas calçadas, em cores mais sóbrias e
não tanto reflexivas, gerou um maior conforto visual.

Figura 65. Materiais presentes no ponto 3, localizado na Raimundo Chaves

Fonte: produzido pela autora

101
Detalhando-se os demais dados levantados nas medições, tem-se:
• Ponto 1 e 2 8h30: ventilação branda em todos os pontos,
alternada (não constante). Dia nublado ocorria ofuscamento
pela calçada lisa e branca. Suor intenso pela incidência solar,
claridade, materiais como asfalto e concreto e pouca ventilação.
A movimentação de ar ocorria também vinculada a passagem de
carros. Baixo trânsito de pedestres, entorno calmo e silencioso,
predominantemente residencial e com pontos de serviços

• Ponto 3 8h30: Ventilação branda com sombreamento e


materiais menos reflexivos. Entorno com vegetações
ornamentais nas fachadas das casas vizinhas, proporcionando
um maior conforto visual, apesar do ruído mais intensificado
proveniente dos carros. Pela maior extensão da rua e dos
distanciamentos dos blocos edificados, o conforto visual

• Ponto 1 e 2 13h30: O ponto 2 sofre influência da rua da praça


central, que canaliza vento para aquele ponto. Este ponto é o
mais desconfortável por estar totalmente exposto à incidência
solar direta e por não haver proximidade com forrações verdes,
sendo os materiais encontrados em sua proximidade asfalto,
concreto e terra. Já o ponto 1, ainda que também exposto à
incidência solar direta, encontra-se coberto de vegetação
rasteira nativa, tornando o local menos desconfortável

Considerando a época e a estação do ano em que ocorreram as


medições como o pior cenário em relação à ventilação, as principais
estratégias para o local devem focar em promover a captação dos ventos e
evitar sua obstrução, uma vez que verificou-se uma ventilação alternada e
branda, além de enfatizar estratégias para proteção solar, tanto em relação à
cobertura quanto na proteção das fachadas.
Para que fosse possível observar as situações de insolação e ventilação
ao longo de todas as estações do ano, utilizou-se simulações através do
software Ecotect Analysis e Flow Design, baseando-se na geolocalização do
terreno. No tocante à insolação, pôde-se obter avaliações de pontos do
terreno através das cartas solares de cada ponto.

102
Figura 66. a) Ponto de medição 1 b) Ponto de medição 2 c) Ponto central do terreno d) ponto 3,
localizado na Raimundo Chaves

a) b)

c) d)

Fonte: Ecotect Analysis 2011

Considerando o sombreamento decorrente das edificações de


entorno, sabendo que há um condomínio residencial verticalizado situado à
testada oeste do terreno, buscou-se observar sua influência para o
sombreamento do terreno através de simulações. Como resultado, observou-
se que o terreno está exposto a incidência solar direta durante todo o período
da manhã o ano inteiro, e que este condomínio influencia no sombreamento
da tarde, principalmente nas estações primavera e inverno. No verão a maior
área do terreno está exposta à incidência solar direta em todos os períodos
do dia, o que pode ser avaliado como uma problemática levando em
consideração que são os períodos de maiores temperaturas na cidade. Por
este motivo, o sombreamento proposto para este terreno deve considerar

103
principalmente o horário matutino, como também as áreas próximas à Rua
Militão Chaves, regiões menos favorecidas do terreno. Justifica-se, portanto,
as observações in loco em relação às questões de ofuscamento e de
desconforto, e, por isso, as soluções apresentadas buscaram a redução da
incidência solar direta e o uso de materiais que tenham baixo albedo, ou seja,
que possuem baixa reflexão à radiação solar, principalmente para espaços
externos de convivência e permanência.

Figura 67. Condições de sombreamento na estação da primavera

Fonte: Imagem gerada pelo programa Ecotect Analysis


Figura 68. Condições de sombreamento no Inverno

Fonte: Imagem gerada pelo programa Ecotect Analysis

104
Figura 69. Condições de sombreamento no verão

Fonte: Imagem gerada pelo programa Ecotect Analysis

Para a observação das condições de ventilação em uma maior escala, a


ferramenta de simulação Flow Design permitiu o estudo das influências do
entorno na ventilação, principalmente no tocante ao prédio de gabarito
muito elevado – um condomínio residencial de aproximadamente 51 metros
de altura a uma distância de dois quarteirões. As edificações do entorno se
comportam como barreiras à direção dos ventos predominantes de sudeste
e, devido às sombras de vento causadas por essas edificações, ocorre uma
baixa diferença de pressão entre uma extremidade e outra do terreno,
dificultando a circulação de vento que o atravesse e desta forma reduzindo
as velocidades médias de ventilação. Considerando a ventilação de sul,
ocorrem também sombras de vento devido ao declive que se encontra ao
meio do terreno. O resultado é uma ventilação branda que aparenta vir de
todas as direções.

105
Figura 70. Ilustração de sombra de vento causada por edificações do entorno

Fonte: Imagem obtida através de simulação de ventilação do software Flow Design.


Figura 71. Influência do entorno para as condições de ventilação de ventos predominantes sudeste,
enfatizando sombra de vento gerada por edificação de alto gabarito

Fonte: Imagem obtida através de simulação de ventilação do software Flow Design.


Figura 72. Avaliação de condições de ventos predominantes de sudeste em alturas mais elevadas,
ocorrendo o alívio das sombras de vento presentes a nível de solo.

Fonte: Imagem obtida através de simulação de ventilação do software Flow Design.

106
Levando em consideração as medições in loco, a caracterização do
clima pelo método de ASHARE, as recomendações estabelecidas por normas
e as análises dos resultados de simulações, buscou-se atender a estratégias
de captação da ventilação a partir das extremidades para o centro; não
obstruir a ventilação, com a possibilidade de utilização de elementos vazados;
proteção da incidência solar direta principalmente no período matutino,
tanto para coberturas quanto fachadas e utilização de materiais de baixo
albedo para evitar ofuscamento.

4.3.2 ASPECTOS DE CONFORTO ACÚSTICO

As fontes de ruído observadas são principalmente automóveis, cujo


fluxo se mostra muito maior e intensificado na Raimundo Chaves, mas que
também ocorre como ruídos de fundo da Militão Chaves. Segundo mapa de
avaliação sonora de tráfego veicular para o município de Natal, desenvolvido
por Florêncio (2018), o terreno está sujeito a níveis de pressão sonora de 55
dB a 60 dB (Figura 73).

107
Figura 73. Mapa Sonoro Diurno na Região Administrativa Sul

Fonte: Mapa acústico desenvolvido por Débora Nogueira Pinto Florêncio (2018)

Figura 74. Mapa Sonoro Diurno na Região Administrativa Sul com ênfase em área de terreno escolhido em
Candelária

Fonte: Mapa acústico desenvolvido por Débora Nogueira Pinto Florêncio em tese de doutorado

Para o tipo de uso proposto de projeto, estabelecidos pela norma NBR


10.152/2017 como clínicas, são definidos e limitados os níveis de ruído para o
conforto do usuário em ambientes internos. A norma define valores iguais ou

108
equivalentes a 45 dB a 50 dB em áreas de espera, 40 dB a 45 dB em
enfermarias e 35dB a 40dB em consultórios, conforme a tabela de valores de
referência (Erro! Fonte de referência não encontrada.).

Tabela 2. Nível de conforto por frequência e usos dos ambientes

Nível de conforto em
Finalidade de Uso RLNC Frequência
dB

125 48

250 41

Consultórios 30 500 35

1000 32

2000 29

125 52

Enfermarias e quartos 250 45

coletivos (considerado 35 500 40

para o descanso canino) 1000 36

2000 34

125 56

250 50

Salas de Espera 40 500 44

1000 41

2000 39

Fonte: Tabela 3 e Tabela D.1 NBR10152 2017

A proposta, portanto, deverá considerar materiais que isolem os ruídos


externos do ambiente para tornar os ambientes internos não só adequados
por norma mas também confortáveis para uso.
Com o objetivo de observar as condições de ruído de forma mais
aproximada da realidade do terreno, foram feitas medições in loco utilizando
equipamentos de captação sonora, a partir dos mesmos pontos de avaliação
dos aspectos térmicos do entorno. Cada medição ocorreu em um intervalo

109
de tempo de um minuto, para a padronização dos dados. Abaixo os valores
de medição estabelecidos por ponto:

Tabela 3. Tabela de pontos de medição de ruído

HORÁRIO NV DE
DE PRESSÃO PONTO 1 PONTO 2 PONTO 3
MEDIÇÃO SONORA
NÍVEL DE dB médio 55 55 71
PRESSÃO 8h30
dB MÁX 71 88 83
SONORA
dB médio 65 75 75
(dB) 13h30
dB MÁX 70 80 81
dB médio 55 60 70
17h30
dB MÁX 70 72 84
Fonte: produzido pela autora

As medições ocorreram em dias de semana por serem os dias


propostos de funcionamento. Desta forma, foi observado que os picos de
ruído ocorriam principalmente por carros que passam pela rua calçada de
paralelepípedo e por um bueiro perto do ponto 2 (localizado na rua Militão
Chaves), chegando a máximas de 80 dB. O ruído de fundo, no entanto, está
entre 55 dB a 75 dB nos pontos da Militão Chaves, e de 71 dB a 75 dB na rua
Raimundo Chaves.
Já considerando os possíveis ruídos gerados pelo próprio centro de
terapia assistida, uma vez que se tratará de treinamento de cães e de day care
envolvendo também dinâmicas de recreação destes animais, o centro não
poderá ultrapassar níveis de ruído superiores à 50 dB nos períodos diurnos,
o que abrange o possível horário de funcionamento do centro, devido à
localização do terreno se encontrar no que a norma NBR 10151 define como
“área mista predominantemente residencial” (Figura 75).

Figura 75. Tabela de nível de critério de avaliação NCA para ambientes externos, em dB

Fonte: Tabela 1 NBR 10151

110
4.3.3 ASPECTOS DE PAISAGEM

Em relação às visuais do terreno, o ponto de maior destaque é o marco


da paisagem caracterizado pelo Arena das Dunas. O terreno sofre influência
também da praça triangular com forrações verdes, localizada na Rua Militão
Chaves, em frente ao terreno. Devido a suas angulações, a praça cria um
passeio em volta de si pela necessidade de contorná-la. A topografia do local
contribui com a dinâmica e criação de pontos elevados de observação, e,
associada à praça triangular, cria-se a sensação de passeio cênico, como foi
possível observar em visita in loco.

Figura 76. Passeio criado pelo contorno da praça na rua Militão Chaves

Fonte: produzido pela autora

Há influência, ainda, da paisagem da Rua Raimundo Chaves, que se


volta para o centro administrativo e para o viaduto criado em frente,
tornando-se uma paisagem menos natural e evidenciando as intervenções
humanas. O Arena das Dunas ainda pode ser observado parcialmente pela
Raimundo Chaves, mas devido a sua altura menos elevada o estádio se
encontra parcialmente obstruído por muros.

111
Figura 77. Visuais da Rua Raimundo Chaves, com destaque para identificação do estádio Arena das
Dunas

Fonte: produzido pela autora

Fez-se, portanto, um registro fotográfico da trajetória, do percurso


visual, para que se pudesse entender a experiência do usuário na vizinhança
em relação ao entorno e ao local da proposta projetual.
Com o registro fotográfico do percurso e a experiência no local pôde-
se observar que a constante interação visual com o Arena das Dunas torna-
se um potencial contemplativo para o projeto, bem como as dinâmicas
causadas tanto pela topografia do entorno quanto do próprio terreno. Desta
forma, para as intenções do projeto em relação à paisagem busca-se manter
essas visuais da vizinhança para o Arena das Dunas, respeitando a identidade
dos locais e seu potencial cênico. Isso se faria observando os ângulos de visão
naturais do local e buscando não obstruí-los, seja com o volume da edificação
proposta, seja com o gabarito resultante do projeto.

4.4 RESUMO DE ANÁLISES

Com a unificação das simulações, levantamentos de informações,


visitas in loco e recomendações por norma, entende-se em síntese as áreas
menos favorecidas e mais favorecidas do terreno, em termos de ventilação,
insolação e níveis de ruído. Percebeu-se que a área de maior desconforto
térmico se encontra próxima à Militão Chaves, fazendo-se necessário evitar
espaços de permanência para esse local, no entanto criando um potencial
para a proposta de estacionamentos, uma vez que essa área também se

112
encontra próxima aos acessos da rua ao terreno. O centro do terreno
também foi considerado uma área de desconforto, uma vez que encontra-se
na sombra de vento causada pelo desnível de três metros do terreno. Para
essa área torna-se eficiente promover resfriamento da cobertura, combinado
com captação de vento e sombreamento das fachadas propostas para esse
local. As áreas próximas à Raimundo Chaves possuem grande potencial para
espaços de permanência por estarem favorecidas por sombreamentos das
edificações vizinhas e pela ventilação proveniente da via coletora, com
ressalvas apenas para a necessidade de isolamento dos ruídos da via e do uso
da edificação para as residências vizinhas.
Uma das problemáticas de desenvolvimento de projeto foi equilibrar
as condições de ventilação natural do espaço com seu uso clínico de
reabilitação, devido a suas necessidades de controles de temperatura e,
portanto, a necessidade de climatização dos espaços. A estratégia adotada
seria, portanto, reduzir a absorção de calor pelas coberturas e envoltórias,
utilizando-se de telhas eficientes ou de estratégias de cobertura ventilada
citada anteriormente, além de permitir aberturas protegidas direcionadas
para proporcionar ventilação cruzada em casos de necessidade ou
impossibilidade dos usos dos equipamentos de climatização.

113
5
Proposta projetual
5.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA E PROGRAMA DE
NECESSIDADES

A definição da problemática envolve principalmente as intenções de


projeto após a captura dos limitantes legais, do levantamento do programa
de necessidades, das diretrizes para o espaço de reabilitação infantil e do
atendimento ao bem-estar canino e humano. Para isso, observou-se a
necessidade de:
• Promover o conforto térmico no centro do terreno (Captar
ventilação, sombrear, utilizar materiais leves, isolar a cobertura,
permitir a entrada de luz natural, evitar o ofuscamento, utilizar
materiais pouco reflexivos

• Utilizar cobertura que faça pouco ruído

• Isolar acusticamente as partes do terreno mais próximas às vias

• Evitar reflexão de ruídos para o entorno (por ser uma área


majoritariamente residencial), isolar acusticamente ambientes
de atendimento e de descanso canino

• Manter a acessibilidade para toda a edificação e espaços de


convivência

• Criar espaços que estimulem psicologicamente e


fisiologicamente

• Manter áreas de atendimento e espera em contato visual com


elementos naturais de paisagem

• Reduzir possíveis impactos negativos ao entorno ou a obstrução


da visibilidade dos marcos da cidade

• Criar jardins que permitam a circulação de cadeirantes

• Criar jardins sensoriais que estimulem os sentidos e o uso


lúdico, para trazer qualidades de descontração ao equipamento
de saúde

• Criar acessos separados de funcionários e pacientes, criando


rotas exclusivas de cães e treinadores

Já para a definição do programa de necessidades considerou-se as


informações coletadas nas entrevistas com os profissionais e suas

115
recomendações através das experiências e demandas de uso, quantificação
de público, bem como os ambientes propostos pela norma RDC 50 para
espaços de reabilitação. Para o pré-dimensionamento, portanto, foi
necessário quantificar quantos pacientes, funcionários e cães estariam
presentes nas dinâmicas de uso da edificação proposta.

Tabela 4. Programa de necessidades e pré-dimensionamento

área
Quant. área
por
SETOR AMBIENTE (pessoas ou parcial
setor
amb.) m²

posto de informações 3
registro de
5
pacientes/marcação
Impressão e arquivamento 2 6

Sala de espera 24 28,8

PACIENTES 83,1
WC 1,6
WC infantil 1,6
WC pessoas com deficiência 3,2
café 24 24
sala de transição 5 7,5
armário pacientes/público
8 2,4
(guarda volume)
Direção 1 12
ADMINISTRAÇÃO Sala Administrativa + arquivo 20
1 8
e tesouraria
área de ponto 4
estar funcionários 1,3
Vestiário funcionário
15 5,625
Feminino
Vestiário funcionário
1,875
Masculino
FUNCIONÁRIOS sala de reuniões/aula 15 30 175,8

Entrevista 2 12

sala atendimentos individuais 4 36


Enfermaria/prescrição médica 1 11

116
armazenamento de material
4
de enfermaria
armazenamento limpeza área
de funcionários DML + Área
2 10
para recepção lavagem e
guarda de carrinhos
Copa funcionários 23 20
Depósito 40
Jardim sensorial e interação
100
livre
terapia ocupacional 2 15
INTERAÇÃO fisioterapia 2 4,8
HUMANO- 178,8
terapia linguagem e fala 2 15
ANIMAL
área de terapia coletiva 8 20
Sala de psicomotricidade e
8 24
ludo-terapia
posto de informações 1 3
registro de
1 5
pacientes/marcação
Impressão e arquivamento 1 3
Sala de espera 15 18
15 19,5
WC
1,6
WC pessoas com deficiência 3,2
pátio primeiras necessidades 12
estar cães e treinadores 20
armário cães e donos (guarda
15 4,5
volume)
Mesa de
ÁREA CANINA trabalho e 514,8
atendimento,
consultório de checkup
mesa de 25
(triagem) + área de pesagem
procedimento
s, armário e
lavatório
área de avaliação
30
comportamental
despensa alimentos cães 4
armazenamento utensílios
14
day care
Day Care e jardim 15 150
Agility 150
Área para necessidades 20

117
descanso animal 30
armazenamento limpeza area
2
de funcionarios DML
Ala de treinamento prático 1 150
sala de aula teórica
10 8
treinadores
TREINAMENTO 170
sala de preparação
atendimento (higienização pré 12
atendimento)
2,6 26,1
5,5
ESTACIONAMENT
Lixo 373,23
O
Vaga para van de transporte
de equipe Terapia Assistida
ÁREA FINAL
1174,5
Fonte: Produzido pela autora

A problemática envolve também, portanto, acomodar o programa de


necessidades distribuindo os ambientes de forma que os fluxos sejam
naturais e correspondam à lógica de ambientes de reabilitação. Um esquema
de fluxos foi desenvolvido a partir da conexão entre os ambientes do
programa e da lógica de distribuição de ambientes dos estudos de Mostafa
(2014). Essa lógica considerou os níveis de estímulo de cada ambiente a partir
da quantidade de usuários por área e pelo uso proposto. O fluxo de Mostafa
(2014) foi também desenvolvido considerando a separação dos ambientes por
níveis, avaliados a partir da restrição dos acessos e da promoção da
segurança para os animais e para os pacientes. Para a representação deste
fluxo, foram utilizadas também as ferramentas de design thinking
“mapeamento da experiência” e a “jornada do usuário”.

118
Figura 78. Fluxograma e zoneamento desenvolvidos a partir dos estudos de Mostafa e de informações
adquiridas em entrevistas

Fonte: Desenvolvido pela autora

119
Figura 79. Divisão de áreas por níveis (pavimentos) desenvolvidos a partir dos estudos de Mostafa e de
informações adquiridas em entrevistas.

Fonte: Desenvolvido pela autora

120
Figura 80. Imagem de zoneamento por níveis de estímulo

Fonte: Desenvolvido pela autora

121
5.2 IDEAÇÃO: CONCEITO E PARTIDO
ARQUITETÔNICO

O conceito se desenvolveu a partir da junção das observações das


demandas, necessidades, problemáticas e recomendações, simultaneamente
as diretrizes levantadas pelos condicionantes legais e ambientais para o
projeto. Principalmente baseado em sensações que gostaria de provocar com
a edificação proposta, além das qualidades desejáveis baseado nas
informações de pesquisa, desenvolveu-se um agrupamento de palavras que
melhor se relacionasse com a proposta, partindo dos processos de
brainstormming e dynamic input, ferramentas de design thinking citadas
anteriormente.
Refletindo com que tipos de palavra a terapia assistida se relaciona,
notou-se que o treinamento e atendimento da TAA retratam uma relação de
simbiose entre o ser humano e o animal, configurando-se em uma relação
entre espécies benéfica para ambas as partes, como os conceitos trazidos do
campo da biologia definem:
“[...] Quando duas ou mais espécies vivem em contato
direto e íntimo seu relacionamento é denominado
simbiose; [...] Associação de dois ou mais seres que,
embora sejam de diferentes espécies, vivem
conjuntamente, com vantagens recíprocas”. REECE, J. B.
(2015)
Os resultados visuais demonstraram exemplos de relações simbióticas
vegetais e sua diversidade de cores e texturas, bem como os diversos usos da
palavra e releituras para outras áreas de conhecimento, como a própria
arquitetura simbiótica (MILAN, Š.; PERI, A. 2018)

122
Figura 81. Imagens chave para desenvolvimento do conceito, com ênfase em cores, textura e
atmosfera.

b) Interação peixe palhaço com


a) Líquens
anêmonas

Fonte: http://theceramicsstudio.co.uk/category/inspirations/

c) Relação simbiótica entre d) Textura de cogumelos em


espécies simbiose

Fonte: pinterest.com

123
Figura 82. Monasterio Panaghia Hozoviotissa, ilha de Amorgos, Grécia, exemplo de arquitetura
simbiótica

Fonte: pinterest.com

A partir deste resultado passou-se a criar o moodboard visual, uma das


etapas de design thinking para manter referências visuais que se relacionem
com o tema e a problemática do projeto, criando uma coesão imagética com
o conceito.

Figura 83. Painel de imagens compiladas através do site pinterest para criação de moodboard

Fonte: pinterest.com

O partido arquitetônico se desenvolveu em sequência, onde, na


acomodação das áreas do programa de necessidades, fez-se referência às
qualidades e características encontradas nessas imagens, como os planos
seriados encontrados em cogumelos, que inspiraram mobiliários e forros
acústicos; as transparências, levezas e permeabilidade das anêmonas, se
relacionando com propostas para soluções de envoltórias ou mobiliários
lúdicos infantis; o contraste de cores entre a relação anêmona-peixe palhaço

124
e as diferentes texturas presentes em líquens, inspirando soluções de
paisagismo, paleta de cores e materiais a serem utilizados. O conceito se
relaciona, ainda, com os aspectos de integração da edificação construída com
elementos naturais externos, trazendo qualidade de espaços restauradores
ao projeto.
Desta forma, o conceito precede o partido e o desenvolve quando
inspira cores, texturas, mobiliário, organização da forma no terreno,
implantação da edificação no terreno, materiais a serem utilizados,
elementos de ambientação, atmosfera e os elementos a serem utilizados
tanto no ambiente construído quanto nas áreas externas de jardins.

Figura 84. Rebatimento do conceito em propostas de mobiliários

125
Fonte: Pinterest.com

Desta forma, obedecendo aos elementos do conceito ocorre a decisão


de aproveitar-se do desnível do terreno de forma plástica, mantendo um
possível volume transpassando acima de outro, permitindo a implementação
dos zoneamentos produzidos anteriormente e inspirados nos estudos de
Mostafa (2016), além de aparentar pertencer inerentemente a este terreno,
semelhante aos exemplos de arquitetura simbiótica. Uma das imagens que
inspiraram as possibilidades dessa interação foi o projeto da arquiteta Kris
Saakyan, da escola técnica de arquitetura de Madrid em 2015.

Figura 85. Maquete física de projeto inserido na topografia

Fonte: Kris Saakyan, Madrid, 2015.

O conceito direcionou também às possibilidades de configuração


dos espaços, utilizando como referência os veios de cogumelos aglomerados
em cascas de árvores, como também líquens e suas cavidades, podendo

126
sugerir, respectivamente, eixos de circulação e criação de espaços positivos
de permanência.

Figura 86. Esquema de diretrizes de concepção de circulações desenvolvidas através do conceito

Fonte: Produzido pela autora


Figura 87. Esquema de diretrizes de concepção de espaços desenvolvidas através do conceito

Fonte: produzido pela autora

5.3 INSPIRAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO: DA EVOLUÇÃO


DA IDEIA AO ESTUDO PRELIMINAR

A partir do desenvolvimento de diretrizes, conceito de Simbiose e do


partido arquitetônico que inclui, dentre outras definições, eixos de
circulação interconectados e ramificados, criação de espaços positivos de
permanência e aproveitamento da topografia do terreno, produziu-se
croquis para estudo de distribuição espacial das áreas do programa no

127
terreno, até que se desenvolvesse um resultado em planta e volumétrico
(Figura 88).

Figura 88. Croquis de desenvolvimento volumétrico

Fonte: produzido pela autora

128
O resultado da evolução destes estudos deu-se na utilização de dois
eixos de crescimento orientados de Sul a Norte, e na distribuição de espaços
ao longo desse eixo, representado como duas curvas opostas, similares aos
veios de cogumelos que permitem a ramificação de circulações entre si,
criando um volume em “zigue-zague”. Esse volume promove a criação de
espaços positivos ao longo do terreno, uma vez que o volume se retrai e
cresce novamente, e que, por sua vez, resultam em circulações orgânicas
dentre esses espaços através de ramificações desses fluxos que se conectam
internamente.

Figura 89. Ilustração dos dois eixos de direcionamento dos volumes da edificação e a indicação de
seus espaços positivos resultantes

Fonte: produzido pela autora

Para o rebatimento do conceito nos elementos estruturais de projeto,


adotou-se o sistema porticado de madeira, permitindo acompanhar o
formato não convencional da edificação sem perdas de eficiência estrutural,
uma vez que pode alternar direções de solicitação dos esforços de
carregamento da cobertura. Dessa forma possibilitou-se que os fechamentos
da edificação fossem independentes de sua estrutura e cobertura, trazendo
flexibilidade ao ordenamento dos espaços internos e possibilitando soluções
de proteção de fachadas da incidência solar, bem como o desenvolvimento
de coberturas ventiladas.

129
Figura 90. Imagens ilustrativas de sistema porticado de madeira

a) b)

Fonte: Pinterest.com

Também ocorreram os primeiros estudos das diretrizes para as áreas


verdes, para que se criasse nos espaços internos da edificação a qualidade de
espaços restauradores, mantendo conexão visual a essas áreas de elementos
naturais e vegetação. Os caminhos se formaram através dos desenhos
orgânicos criados pelos encontros de cavidades presentes em imagens de
líquens, desta forma, obteve-se como resultado bolsões verdes entre
caminhos curvos revestidos. Utilizou-se dos conhecimentos de
enriquecimento ambiental para direcionar as escolhas de texturas, espelhos
d’água e forrações verdes dos jardins.

130
Figura 91. Estudos de desenho para jardins

Fonte: Produzido pela autora

Após os direcionamentos em relação ao formato da edificação e as


áreas de distribuição dos ambientes, fez-se a espacialização dos
zoneamentos para a concepção de primeiras plantas baixas. Além dos
estudos em planta, as soluções estruturais, bem como de escala em relação
ao entorno, materialidade, acessos e fluxos, distribuição dos espaços e
soluções plásticas foram avaliadas a partir de um protótipo criado através de
modelagem 3D, dando origem à proposta 1, onde pôde-se verificar com maior
detalhe os aspectos construtivos, ambientais e atendimento da problemática
e das diretrizes.

131
Figura 92. Primeira planta baixa

Fonte: produzido pela autora

132
Figura 93. Proposta 1

Fonte: produzido pela autora

Em primeiro momento, para fazer a manutenção das escalas de


paisagem do entorno, buscou-se igualar o gabarito do projeto ao condomínio
residencial de quatro pavimentos que se encontra na testada oeste do
terreno. Essa altura possibilitaria grande área para desenvolvimento do
sistema de cobertura ventilada, criando espaços de bolsões de ar para

133
isolamento térmico. O pé direito elevado proporcionaria, também, uma
sensação de maior amplitude dos espaços, que poderia ser controlado
conforme a necessidade de criar atmosferas intimistas ou de maiores escalas
através da utilização de forros acústicos em pendentes ou nuvens acústicas,
alternando de forma dinâmica e orgânica as alturas de cada ambiente.

Figura 94. Exemplo de forro acústico para dinamização de alturas

Fonte: Pinterest.com

As alturas finais estabelecidas, no entanto, chegaram a 9 metros de


altura, causando um efeito labiríntico quando associado aos corredores das
áreas de funcionários. Referente a essa adversidade, devido à primeira
disposição dos ambientes, ocorreram como consequência a formação de
corredores em todas as zonas principais, desfavorecendo o aspecto de
espaços positivos a serem criados de acordo com as diretrizes levantadas.
Desta forma, novas configurações espaciais levarão em consideração o
livramento das circulações. A escada externa próxima à área de funcionários
também gerou insegurança em relação ao acesso às áreas de cães em day
care.
Em relação às qualidades ambientais, verificou-se que as maiores
fachadas se voltam para Norte e Sul, e a dinâmica do volume projeta sombra
em si mesmo, tornando a solução positiva em termos de conforto térmico.
Para a avaliação mais aprofundada dos aspectos de conforto ambiental das
soluções propostas, sujeitou-se as modelagens a simulações de
sombreamento e ventilação, através dos softwares Ecotect e Flow Deisgn.
Considerando que o uso do centro de terapia assistida ocorrerá

134
principalmente nos horários matutinos e vespertinos, a direção dos ventos
predominantes considerada será sempre a sudeste (uma vez que ao longo do
dia as direções de vento mudam, como à noite ocorrem ventos
predominantes de sul).

Figura 95. Avaliação de ventilação da proposta 1 em superfícies considerando os ventos


predominantes sudeste

Fonte: produzido pela autora

Figura 96. Avaliação de ventilação da proposta 1 em superfícies considerando os ventos


predominantes sudeste

Fonte: produzido pela autora

Apesar de criar sombras de vento na fachada oeste devido ao gabarito


e a configuração do volume, a diferença de pressão criada favoreceu a
ventilação cruzada ao se desenvolver aberturas voltadas para estas fachadas,
bem como as aberturas de cobertura propostas para o alívio das
temperaturas internas através do desenvolvimento de uma cobertura
ventilada.

135
Para a sistematização dos cálculos de ruído bruto e da compreensão
das condições acústicas a serem trabalhadas, produziu-se um mapa de fontes
sonoras considerando a influência do entorno para o edifício e do edifício
para o entorno.
São consideradas as principais fontes de ruído, do entorno para a
edificação os veículos nas ruas Raimundo Chaves e Militão Chaves; os cães
em atividades de day care e agility; os veículos nos estacionamentos e as
atividades de interação humano-animal. As fontes de ruídos consideradas
relativas à influência do Centro de Terapia Assistida no entorno são: as
dinâmicas de interação humano-animal proveniente da TAA; cães em
atividades de day care e agility; o café para visitantes e o estacionamento.

Figura 97. Mapa de fontes de ruído. a) influência na edificação de fontes de ruído externas b)
influência da edificação no entorno

a) b)

Fonte: Produzido pela autora

136
Desta forma, pôde-se perceber que os ambientes críticos a serem
condicionados ou isolados, considerando seu uso, consistiam na área de
terapia assistida e no descanso canino, estacionamento e nas áreas de day
care e agility (Figura 97). No caso das áreas de terapia se faz necessário o
cuidado em relação ao isolamento de ruídos externos, como também o
condicionamento interno para que não ocorram reverberações que causem
desconforto nas crianças, em especial ao público do espectro autista. Para o
descanso canino o principal seria a preocupação com o isolamento, com o
diferencial da capacidade auditiva dos cães, que alcança frequências muito
maiores que os humanos, alcançando frequências de 10Hz a 40000Hz,
enquanto a audição humana encontra-se no espectro de 16Hz a 20000Hz
(ROSSI, A. 2002), sendo o condicionamento por absorção dos ruídos internos
também necessário para o conforto dos cães em descanso. As áreas de
estacionamento, day care, agility e o jardim de interação humano-animal
precisarão ter seus ruídos dissipados, absorvidos ou bloqueados de forma a
não ultrapassar os níveis de ruído limite para a vizinhança.
As necessidades de isolamento e condicionamento acústicos
contribuíram para a definição dos materiais a serem utilizados nas
envoltórias, a partir dos primeiros cálculos de isolamento bruto (D= N1-N2,
onde D é o isolamento acústico bruto; N1 é o nível sonoro gerado pela fonte
e N2 é o nível sonoro de conforto). Esse cálculo depende, portanto, da
natureza e superfície das paredes, das características acústicas, construtivas
e do mobiliário do ambiente a ser avaliado. Desta forma, através das
características de possíveis materiais propostos, pôde-se escolher os
melhores resultados de cálculo e aplicá-los em projeto.
Para os cálculos em relação aos níveis de ruído, considera-se em dB o
latido de um cão em canis entre 80 dB a 95 dB (MILLIGAN et al, 1993 apud
TAYLOR, K. D.; MILLS, D.S. 2007), no entanto, como evidenciado através de
entrevistas, para as atividades de Day Care os ruídos emitidos pelos cães são
consideravelmente reduzidos em comparação à situação de canis, uma vez
que não se encontram encarcerados e apresentam comportamento

137
comumente mais relaxado. Dessa forma, considerou-se níveis de ruído
intermediários de 90 dB. Já quando ocorrem atividades humanas próximas e
nos períodos diurnos os níveis de ruído emitidos pelos cães podem chegar a
100 dB (SALES, et al, 1997 apud TAYLOR, K. D.; MILLS, D.S. 2007). Para
crianças em atividades nos jardins, considerou os níveis de ruído
semelhantes a crianças em pátios escolares, que podem chegar a intervalos
de 98 dB a 100 dB (KLOCK, M. et al. 2016). Dessa forma, obteve-se os seguintes
isolamentos brutos (Tabela 5 e Tabela 6):

Tabela 5. Tabela de isolamento bruto dos ruídos internos para a vizinhança

Nível de ruído da
Áreas de fontes Nv de ruído emitido
vizinhança Isolamento bruto
de ruído pelas áreas
(medição)

Day care 90 75 20

Agility 90 75 20

Jardim de

interação
100 75 50
humano-

animal

Fonte: Produzido pela autora

Tabela 6. Tabela de isolamento bruto dos ruídos externos para os ambientes internos

Valor de pressão Fonte sonora/Nv


Áreas a serem
sonora estabelecido de pressão Isolamento bruto
isoladas
por norma sonora

área de terapia
30 100 70
assistida

descanso
35 95 60
canino

Sala de aula 40 75 35

Fonte: Produzido pela autora

138
Para atingir os valores estabelecidos por norma, a memória de cálculo
demonstra a necessidade de isolar, dos ruídos externos para a edificação,
valores de 70, 60 e 35 dB. Já da edificação para a vizinhança deverão ser
isolados 50 dB nas áreas de interação humano-animal. Para atingir os níveis
de conforto acústico estabelecidos propõe-se a criação de barreiras
acústicas nos muros para a proteção da vizinhança, bem como o uso de
materiais com maiores densidades e proteção de frestas das aberturas dos
ambientes mais críticos.
Por fim, em relação à proposta 1, percebeu-se a necessidade das
seguintes modificações:
• Dar mais robustez ao sistema estrutural

• Dar mais ênfase às áreas de terapia

• Compatibilizar cobertura com as paredes de envoltória

• Revisar altura de edificações

• Desenvolver muros e fechamento do terreno

• Sombrear fachadas com incidência solar direta

• Trabalhar ventilação cruzada

• Trabalhar isolamento de cobertura

• Adequar soluções para trabalhar isolamento e


condicionamentos acústicos, adotando estratégias de:

• Isolamento de áreas de terapia dos ruídos externos


(latidos de cães nas áreas de day care e agility, bem como
atividade de veículos na Raimundo Chaves);

• Isolar espaço de descanso canino dos ruídos de


atividades do day care

• Criação de barreiras acústicas para Isolar limites de


terreno oeste, norte e leste para proteger acusticamente
o entorno dos ruídos provocados pelos cães.

Para que fossem desenvolvidas as novas modificações de forma bem


direcionada e guiada, foram procurados, a partir de orientações, professores
do departamento de engenharia civil para uma consultoria em relação ao

139
sistema estrutural. Nessa orientação foi esclarecido que o sistema estrutural
em madeira microlaminada colada seria ideal para o formato e os vãos
presentes neste projeto. Esse tipo de sistema permite seções bastante
esguias e vãos extensos, sendo as secções da madeira de mínimos 5 cm por
10 cm, e espaçamento de até 5 metros entre um pórtico e outro. Para esse
tipo de estrutura seria necessário contraventamentos nas rotações dos
pórticos, que podem ser feitos a partir de cabos no formato de X, Y ou K,
permitindo configurações que livrem as esquadrias para a passagem dos
visitantes e pacientes da edificação. Para o encontro entre os dois níveis,
onde se teria a circulação vertical acessível, foi sugerido a adoção de um
sistema de núcleo rígido convencional, viga pilar, para garantir os esforços
do primeiro pavimento (ou pavimento térreo), já que os pilares provenientes
desse pavimento estariam com inclinações desfavoráveis ao espaço no
pavimento de subsolo. Para um melhoramento formal da edificação proposta,
escolheu-se simplificar os elementos de fachada envolvido, tirando proveito
desse novo sistema estrutural que permite maiores espaçamentos entre um
pilar e outro. Desta forma, adotou-se o processo de unificar pilares para dar
mais robustez, e trazer elementos de sombreamento de fachada alternados
ao invés de ao longo de toda a fachada oeste. Deste modo criou-se uma
dinâmica visual de elementos que trouxeram sensações de aberturas e
fechamentos, como também livrando os principais acessos de obstáculos. Em
relação aos acessos, escolheu-se distanciar de forma mais evidente a
estrutura da envoltória externa, para que se formassem caminhos cobertos
de acesso até o interior do edifício. Essa estratégia possibilitou o
sombreamento das fachadas, a criação de caminho acessível e coberto de
entrada, além de aspectos de leveza pelo descolamento da estrutura.
Após tais modificações e com a evolução para as soluções de
fechamento do terreno, posicionamento de guaritas para controle de acesso
e a adição de uma vaga de ambulância próxima a área de funcionários,
obteve-se a proposta 2

140
Figura 98. Perspectivas da proposta 02

Fonte: Produzido pela autora

Essa última proposta foi a escolhida para ser desenvolvida por sua
qualidade estética, melhor adaptação e posicionamento dos elementos de
proteção solar para as fachadas, maior simetria e aumento das áreas de
atendimento. Sua configuração interna dos ambientes também criou maior
fluidez de circulação, maior adequação à acessibilidade, fechamento de maior

141
segurança para evitar a fuga de cães em treinamento ou em atividades de
lazer.

Figura 99. Planta de subsolo e zoneamento de proposta 2

Fonte: Produzido pela autora


Figura 100. Planta baixa e zoneamento de proposta 2

Fonte: Produzido pela autora

142
Para o melhoramento desta proposta buscou-se reduzir a quantidade
de quinas e cantos, devido às recomendações por norma em relação à
facilidade de higienização dos espaços, considerando que cães podem sofrer
de parasitas que se depositariam nesses locais de difícil acesso. Outra
necessidade seria de melhor definição dos jardins, incluindo propostas de
interação entre pacientes e jardim para experiências sensoriais benéficas ao
tratamento de crianças em reabilitação, o posicionamento de plantas de
grande porte para sombreamento, bem como definição de plantas
aromáticas afim de proporcionar maior enriquecimento ambiental para os
cães, além da possibilidade de utilização da vegetação como jardins verticais
para o tratamento acústico de muros voltados ao day care canino, com o
objetivo de reduzir os possíveis ruídos gerados pelos cães aos apartamentos
e casas vizinhas. Faz-se necessário, também, a definição de layout e
ambientação lúdicos para a contribuição à qualidade ambiental e de
tratamento do público infantil.

143
Proposta final
6
Este capítulo trata do detalhamento da proposta arquitetônica a partir do me-
morial descritivo e as justificativas das soluções adotadas, através da exposi-
ção de seus dados urbanísticos, aspectos funcionais, ambientais, construtivos
e formais.
6.1 ASPECTOS GERAIS

O Centro de Reabilitação Infantil intitulado REABITAA (Reabilitação


Infantil Assistida por Animais) se constitui em um equipamento de saúde
privado, voltado ao atendimento de crianças a partir da Terapia Assistida por
Animais e incluindo centro de treinamento de cães terapeutas. Seu
funcionamento ocorre no período diurno até o fim do horário comercial
convencional. Seu projeto prevê 3 consultórios individuais de uso flexível,
sendo um destinado à avaliação geral e triagem, e os outros dois capazes de
abrigar atendimentos para desenvolvimento infantil individual,
fonoaudiologia, psicologia, terapia da fala, dentre outros.
O projeto conta também com jardins sensoriais voltados ao estímulo e
desenvolvimento do público infantil, além de áreas de lazer e repouso para
cães, ao estilo day care, sendo esse último proposto com o objetivo de
viabilizar economicamente este centro. A edificação possui, ainda, espaço de
uso aberto a público visitante, criando oportunidades de eventos que
promovam a interação humano-animal, prática já recorrente no bairro em
que o projeto se insere.
Localizado em uma região mista entre serviços e residências, o projeto
se insere de forma a não destoar de seu entorno, mantendo apenas
pavimentos térreos. Voltado para a Rua Militão Chaves, possui dois acessos
distintos, sendo o principal voltado ao atendimento de saúde para crianças e
seus familiares/responsáveis e outro, secundário, para funcionários,
profissionais de TAA em treinamento, cães terapeutas ou cães voltados para
atividades de agility e day care. Para esses acessos, a edificação conta com 22
vagas de estacionamento, sendo 13 dessas vagas situadas na parte externa a
edificação, duas vagas destinadas a pessoas com deficiência, e 8 vagas no
interior da edificação, na ára de acesso dos funcionários, incluindo uma vaga
pra ambulância. Essa última tem a proposta de poder ser utilizada também
para vans de transporte dos cães terapeutas. Para as vagas de
estacionamento foram utilizados revestimento de cobograma, que possuem
permeabilidade de 50%. Para a garantia das exigências legais de

145
permeabilidade, os jardins sensoriais, de interação humano-animal e área de
agility se somam proporcionando áreas permeáveis maiores que 20% do lote.

PRESCRIÇÕES URBANÍSTICAS

Área do Terreno 2.224,31 m²


Área construída pavimento térreo 843,24 m²
Área construída pavimento subsolo 359,38 m²
Área construída total 1.202,62 m²
Coeficiente de aproveitamento 0,54
Taxa de impermeabilidade 75,74% (1684,81 m²)
Taxa de ocupação 38,41% (854,36 m²)
Área de projeção da cobertura 845,07 m²
Número de vagas de estacionamento 22

6.1.1 ASPECTOS FORMAIS

O edifício possui perspectivas dinâmicas conforme o ponto de


observação do usuário nos níveis da rua e do entorno da praça encontrada à
frente de seu terreno. Os volumes adquirem aspecto plástico pelo formato
descendente e ascendente da cobertura, suportada pela estrutura de
pórticos de madeira microlaminada que dão ritmo à fachada, proporcionando
cheios e vazios a partir do recuo das paredes externas da edificação em
relação à sua estrutura. Esse descolamento permite caminhos sombreados
que se beneficiam também do jardim adjacente aos acessos principais
cobertos.
Os jardins sensoriais foram desenvolvidos a partir do conceito de
simbiose, iniciando pelos passeios que remetem às curvas de intersecção das
imagens de líquens, um exemplo de simbiose vegetal. A vegetação escolhida
buscou proporcionar dinâmica e proteções funcionais, como espalhamentos
de ruídos e sombreamento, como também diversidade de texturas, seja pela
paginação ou pela tipologia da vegetação sugerida (Figura 101).

146
Figura 101. Representação de proposta de jardim

Fonte: produzido pela autora

6.1.2 ASPECTOS FUNCIONAIS

A distribuição dos fluxos levou em consideração a sequência de níveis


de estímulos experienciadas pelo usuário, principalmente em consideração
às crianças do espectro autista, para evitar desconfortos proporcionados por
grandes contrastes de ruídos ou de estímulos visuais. Considerando a rua um
local de alto estímulo, o percurso leva ao jardim que, com sua vegetação
densa, busca reduzir os ruídos, criando uma área de transição até a
edificação. A recepção e sala de espera mantêm integração visual com a área
externa de jardins, proporcionando aspecto restaurador ao ambiente.
Juntamente ao consultório de atendimento individualizado e triagem existem
banheiros separados por gênero e para o público infantil. Logo em seguida
encontra-se uma área de café voltada para a visualização das áreas de day
care de cães sem interferir nas atividades desses animais, criando pontos de

147
interesse para crianças em espera de atendimento e área de apoio aos
responsáveis que as acompanham. Essas áreas possuem suas fachadas
sombreadas por elementos de madeira que projetam desenhos no interior da
edificação.
Aproximando-se do centro do terreno e seguindo o caminho até o
atendimento de TAA, encontra-se a circulação vertical, que compreende uma
escada de alvenaria e plataforma elevetória, onde também se localiza a caixa
d’água, aproveitando-se do núcleo rígido formado pela estrutura dessa
circulação, e que pode ser acessada através de escada de marinheiro no átrio
da circulação vertical.
Em seguida encontra-se a área de transição para o atendimento, que
inclui área de armários tipo lockers para guardar bens pessoais das crianças
a serem atendidas, como também assentos infantis e adultos, para que seja
permitida a observação dos atendimentos que ocorrem nas demais salas.
Essa mesma sala de transição possibilita a apresentação dos cães terapeutas
antes do atendimento em si, ambas características do ambiente
desenvolvidas para permitir a aproximação gradual de crianças que possam
ter receios iniciais em relação ao tratamento. A sala precede grandes áreas
de atendimentos lúdicos e fisioterápicos, consideradas áreas de alto
estímulo. Inseridas nessas áreas de atendimento mais estimulantes, os dois
consultórios flexíveis servem também como refúgios para crianças com
autismo que se sentirem estafadas por excesso de estímulo. Além dos
consultórios, pequenas áreas de refúgio foram criadas a partir de mobiliário
para que essas crianças tenham autonomia, caso sintam necessidade de se
recolher. Ainda nas áreas de atendimento, foi proposta uma pequena
enfermaria. As áreas de atendimento se mantêm elevadas em relação à parte
do lote voltada à Rua Raimundo Chaves, permitindo visuais para a cidade que
incluem marcos como o Arena das Dunas.
No nível da Rua Raimundo Chaves se encontram as áreas exclusivas
para cães e as áreas de interação entre cães e visitantes. Essas áreas são
acessadas a partir da circulação vertical que se encontra no centro da
edificação, levando a um hall coberto com banheiros e vista para o segundo

148
jardim. A projeção do pavimento superior cria uma área de interação
humano-animal coberta, o que proporciona flexibilidade para as atividades.
O acesso às áreas de agility e day care é restrito a funcionários para a
garantia do bem-estar animal. A área de agility consiste em uma área verde e
aberta com mobiliários removíveis de circuito e obstáculos. Já a área de day
care conta com pequena lagoa reversível – que pode se tornar área de escavar
e buscar guloseimas ao ser preenchida por bolas ou terra – depósito para
mobiliários e itens de enriquecimento ambiental, despensa e descanso
canino com isolamento acústico, onde também se faz uso da cromoterapia.
Para ilustrar os fluxos citados, insere-se abaixo a planta dos dois pavimentos
com destaque para os zoneamentos desenvolvidos.

Figura 102. Zoneamento de planta baixa da proposta final por usos

Fonte: Produzido pela autora

149
Figura 103. Zoneamento por níveis de estímulo obedecendo os princípios de ASPECTSS

Fonte: Produzido pela autora

Para o cálculo do reservatório, utilizou-se recomendações da NBR


5626/1998, que estabelece 25 litros/dia per capita para o uso de
ambulatórios, como também 50 L/dia por funcionários e alunos, 10 L/dia per
capita para o público externo e 1,5 L/m² de jardim para sua manutenção. O
consumo de água por animais foi estabelecido como 50 L/dia por animal,
utilizando como base os dimensionamentos de Mendes, M.; Konaga, M. e
Pinto, R. (2016), a partir de diagnósticos de consumo em clínicas veterinárias.
Desta forma, considerando o público para o uso da TAA, bem como as áreas
de treinamento e capacitação para o exercício da Terapia Assistida por
Animais, além de turmas diárias de cães para Day Care, tem-se a necessidade
de reservatório com capacidade mínima de 16653 litros. O volume final da
caixa d’água proposta é de 18.172 litros, obtido utilizando o espaço de
reservatório acima da circulação vertical. A Tabela 7 demonstra a memória
de cálculo para o reservatório:

150
Tabela 7. Cáclulo de reservatório de água por demanda de público

Consumo Capacidade
Número de Reserva
em L /dia Consumo mínima da
Usuários Indivíduos L/dia de
/ Diário (L) caixa
/ Dia incêndio(L)
indivíduo d'água
Pacientes TAA 16 10 160
Pais/Responsáv
16 10 160
eis
Público
Turma
Externo
treinamento 20 50 1000
TAA
Cães Day Care 15 50 750
Treinador e
Avaliador Day 4 50 200
Care
Limpeza 3 50 150
Fisioterapeutas 2 50 100
Psicólogos 2 50 100
Veterinários 2 50 100
4576,5 7500 16653
Cães
16 50 800
terapeutas
Público Auxiliar de
4 50 200
Interno equipe TAA
Pediatra 1 50 50
Adm 1 50 50
Recepcionista
2 50 100
TAA
Recepcionista
1 50 50
treinamento
Instrutor
treinamento 1 50 50
teórico
Jardins por m² 3717 1,5 675
Fonte: Produzido pela autora

Para este projeto buscou-se também manter rotas acessíveis ao longo


de toda a edificação. A casa do lixo encontra-se voltada para a Rua Raimundo
Chaves, com porta dupla para a coleta, ao passo que a guarita e casa de gás
encontram-se na Rua Militão Chaves, junto à entrada principal.

151
6.2 MATERIAIS E SISTEMAS CONSTRUTIVOS

6.2.1 ESTRUTURA, ENVOLTÓRIA E ACABAMENTO

Para permitir a sustentação de cobertura de forma que deixasse as


fachadas livres, e que ainda permitisse o acompanhamento do formato
dinâmico que se formou a partir do conceito, adotou-se o sistema de
estrutura porticada em madeira microlaminada colada (MLC) para o
pavimento superior. Esse sistema permitiu a independência da estrutura de
forma que pôde-se desenvolver o resfriamento das temperaturas da
cobertura a partir de criação de aberturas opostas, permitindo, portanto, a
estratégia de cobertura ventilada. Esse tipo de estrutura permite vãos
vencidos de 10 metros até 35 metros, dependendo de seu perfil, e
distanciamento entre pilares de 5 a 7 metros.

Tabela 8. Pré dimensionamento de estruturas em Madeira Laminada Colada (ou microlaminada)

Fonte: Eduardo Azambuja e Antônio Patrício Mattos, FAU-PUCRS.

Para que se evitasse incompatibilidades dos planos seriados da


estrutura entre pavimentos, adotou-se no subsolo um núcleo rígido de
sistema viga-pilar em alvenaria convencional, permitindo também
concordância desse sistema no pavimento com as circulações verticais.
As vedações da edificação consistem em paredes externas de alvenaria,
com camadas internas duplas de drywall, de sistemas de isolamento acústico
com lã de pet. Essas vedações são flexibilizadas pela independência da
estrutura, que permite modificações nas configurações internas do edifício

152
caso as demandas e necessidades se modifiquem. As esquadrias ficam
recuadas na espessura da parede externa, protegendo-a e criando
acabamento estético. As janelas são de vidro laminado triplo para fins
acústicos onde ocorre maior necessidade de isolamento dos ruídos, e vidro
laminado de camada simples nos locais com menos exigência de isolamento.
Os forros de lambri acompanham as inclinações do telhado, provocando pés
direitos alternados, com alturas máximas de 5,65 m e criando possibilidades
de ornamentação através de nuvens acústicas em secções de madeiras
microlaminadas, aumentando ou diminuindo as alturas dos ambientes
conforme o melhor condicionamento destes. As telhas termo-acústicas
objetivaram melhorar ainda mais o desempenho da cobertura, diminuindo o
calor transmitido aos ambientes.
Considerando o uso de centro de saúde e reabilitação, incluindo a
presença de animais, buscou-se a utilização de materiais passíveis de
lavagem, que não proporcionassem cantos nem rejuntes.
As esquadrias levam em consideração o desempenho acústico que
evite a influência negativa nos níveis de estímulo de cada ambiente, bem
como a promoção da integração visual entre ambientes e de ambientes
internos para jardins externos. Para isso, esquadrias de vidro laminado com
camadas de ar interna foram adotadas para as janelas com caixas de alumínio
galvanizado nos locais de menos exigências de isolamento e caixilhos de
madeira maciça nos espaços de atendimento. As janelas altas, em sua maioria
utilizadas para a captação da luz natural entre os ambientes, são tipo
basculantes com acionamento por alavancas extensoras na altura do usuário.

6.3 CONFORTO AMBIENTAL

6.3.1 TÉRMICO

A orientação do edifício consiste nas maiores fachadas voltadas para


norte e sul e, devido à dinâmica da volumetria do edifício, estabeleceu-se as
menores áreas de fachada para oeste, que se retraem e promovem
sombreamento sobre si mesmas. A distribuição dos ambientes foi

153
desenvolvida para que as menores áreas ocupassem o centro do terreno,
trazendo as áreas de permanência para as extremidades do lote. Os jardins
são localizados nas áreas naturalmente mais confortáveis do terreno,
convidando à permanência e atenuando visualmente ofuscamentos de
materiais do entorno através das forrações verdes.
Os elementos de sombreamento foram distribuídos nas fachadas Leste
e Oeste de forma dinâmica e alternada. Para os resultados em termos de
insolação, as análises das aberturas através do software Solar Tool
demonstraram que, para as janelas em situação de maior exposição à
insolação direta (Figura 104), os brises de madeira escolhidos com um
espaçamento de 10 cm entre cada elemento horizontal foram eficientes,
principalmente para o período do verão e à tarde. Os pórticos de espessura
de 40 cm que emolduram os brises funcionaram como elementos verticais de
sombreamento para as janelas, proporcionando um afastamento dos brises
de 20 cm da fachada e ainda permitindo a conexão visual com as áreas
externas.

Figura 104. Esquema e carta solar de elemento de sombreamento na abertura de sala de espera

Fonte: Produzido pela autora através do software Ecotect Analysis

Avaliou-se que a exposição das janelas de observação do café para o


espaço de day care encontrava-se desfavorável em relação à insolação,
podendo causar grande desconforto térmico ao café. Desta forma,
desenvolveu-se a proposta de inserção de brises ao longo da abertura, mas
mantendo 2 m de altura livre para a manutenção da observação aos cães.

154
Figura 105. Esquema de insolação de janela da área de café sem elementos de sombreamento

Fonte: Produzido pela autora através do software Ecotect Analysis

Apesar de ser uma solução benéfica para a proteção da insolação direta


às fachadas, permitindo sombreamento ao longo de todo o ano no período
da tarde até as 15h, os brises reduzem o fator de céu que permite luz natural
ao ambiente. Para atenuar esse efeito, os ambientes de espera e café
utilizaram em sua parte interna cores claras.

Figura 106. Efeito de sombreamento de brises em abertura do café

Fonte: Produzido pela autora através do software Ecotect Analysis

Em relação à ventilação, manteve-se soluções de cobertura ventilada


para atenuação de temperaturas transmitidas pelo forro, e a adoção de brises
horizontais permitiram a não-obstrução dos ventos predominantes ao longo
do terreno e da edificação. As esquadrias internas também foram dispostas
de forma que proporcionassem ventilação cruzada.

155
6.3.2 ACÚSTICO

A adoção dos sistemas acústicos de envoltória para o isolamento dos


ambientes de descanso canino e área de atendimento assistido por animais
atendeu aos valores estabelecidos por norma, funcionando principalmente
em ruídos de maiores frequências. A quantificação dos resultados é
demonstrada através da Tabela 9.

Tabela 9. Valores de Perda de Transmissão sonora e níveis de ruído interno obtido

TERAPIA ASSISTIDA (Nc = 30dB)

Perda de
Nível Nível
Frequência transmissão
esperado obtido
PTc (dB)

125 58 49,55 50,45

250 42 55,57 44,43

500 38 61,59 38,41

1000 36 67,61 32,39

2000 36 73,63 26,37

Fonte: Produzido pela autora

As paredes tiveram papel fundamental no isolamento acústico,


chegando a isolar 81 dB, devido ao sistema de tijolo preenchido com areia
(tipo VERMFLOC), e dupla camada de drywall acústico, utilizando lã de PET
de maior densidade. Devido à extensa área do ambiente e às delimitações de
área de aberturas pelo código de obras, foi necessário utilizar camadas triplas
de vidro laminado, alternados com camadas de ar. No sistema de forro foram
utilizadas duplas camadas de gesso acartonado com lã de PET, contando
ainda com os acabamentos de cobertura em madeira e telhas termo-
acústicas. As portas consistem em madeiras maciças com isolamentos em lã
de PET e vidro laminado, conforme ilustrado na Figura 107.

156
Figura 107. Esquema de especificação de materiais para isolamento acústico

Fonte: Produzido pela autora

Para os resultados de isolamento do espaço de descanso canino


buscou-se em projeto localizar o ambiente na parte mais rebaixada do
terreno e em contato com o solo de desnível, protegendo mais áreas dos
ruídos. Dessa forma, além das paredes de tijolo preenchidos com terra tipo
VERMFLOC e a dupla camada de drywall com lã de PET, o ambiente está em
contato com uma camada de 25 cm de rocha, proveniente do muro de
contenção do terreno (
Figura 108).

Figura 108. Esquema de materiais para isolamento acústico

157
Fonte: Produzido pela autora

Para o forro manteve-se camadas duplas de gesso acartonado e lã de


PET, com a última camada exposta ao ambiente sendo desse último material,
com o objetivo de também condicionar o espaço com as propriedades de
absorção desse material. Com o objetivo de reduzir a possibilidade de
propagação de ruídos pelo ar e pela redução dos riscos relacionados à saúde,
propõe-se sistema de ar condicionado diferenciado para área de cães.
Por fim, as aberturas consistiram em janelas de correr em tripla
camada de vidro laminado e porta acústica. Os resultados encontram-se na
Tabela 10.

Tabela 10. Valores de Perda de Transmissão sonora e níveis de ruído interno obtido

DESCANSO CANINO (Nc = 35 dB)

Perda de
Nível Nível
Frequência transmissão
esperado obtido
PTc (dB)

125 52 49,04 50,96

250 45 55,06 44,94

500 40 61,08 38,92

1000 36 67,1 32,9

158
2000 34 73,12 26,88

8000 32 85,16 14,84

Fonte: Produzido pela autora

Em relação à emissão de ruídos da vizinhança para a edificação,


estabeleceu-se recuos de no mínimo 8 m em relação às vias, principalmente
em relação à Raimundo Chaves, favorecendo a atenuação sonora para os
espaços de reabilitação. Já referindo-se à proteção do entorno dos ruídos
provocados pelos cães e por atividades do centro, criou-se barreiras
acústicas para as áreas de agility, day care e jardim de interação humano-
animal. Utilizou-se de acabamento rústico dos muros para o espalhamento
das ondas sonoras e vegetação densa para a atenuação sonora, apoiados em
estruturas de madeira. Com inclinações desses pequenos pórticos de
madeira ao longo do muro buscou-se obstruir a possível visão dos cães para
a vizinhança, favorecendo o fator psicológico para a redução do nível de
ruído. A barreira possui altura máxima de 3 m, obedecendo as definições do
código de obras para o limite de altura dos muros.

6.3.3 PERSPECTIVAS

159
Figura 109. Perspectivas da proposta final
Fonte: Produzido pela autora
7
Conclusões
Os objetivos para o projeto de Centro de Terapia Assistida foram
atendidos de forma satisfatória, uma vez que os resultados levaram ao
atendimento de espaços voltados tanto à saúde humana quanto ao bem-estar
animal.
A adoção das ferramentas de design thinking e dos processos cíclicos
de Lawson permitiram o desenvolvimento de soluções dinâmicas para o
projeto, criando camadas de critérios a serem atendidos que resultaram em
um projeto diverso, onde se considerou não só a plástica da volumetria, ou
não apenas a funcionalidade, mas o conjunto de elementos estratégicos a
ambos.
Foi possível, através das entrevistas e estudos de referencial teórico,
compreender as necessidades de espaços voltados ao bem-estar animal,
como também as especificidades do uso e das atividades da Terapia Assistida
por Animais.
A edificação respeitou os condicionantes legais, ambientais e de
programação arquitetônica, bem como incluiu crianças do espectro autista
em atividades grupais através do respeito às suas necessidades específicas
relacionadas aos níveis de estímulos e de conforto acústico.
Devido à volumetria dinâmica do projeto, os desenhos técnicos a
serem desenvolvidos em caso de execução do projeto precisariam
contemplar a verdadeira grandeza de cada segmento de suas fachadas.
Outros aspectos de execução, como as interações estruturais de cobertura e
acessos de caixa d’água, bem como as definições dos sistemas de
refrigeração, como ar condicionados centrais e independentes nas áreas de
day care, precisariam ser discutidos em conjunto com profissionais das
respectivas áreas de projetos complementares.
O trabalho coloca-se em posição de contribuir para temas que
envolvam projetos que considerem a interação humano-animal em benefício
da saúde e reabilitação infantil, incluindo o bem-estar animal. Foi possível
permear e considerar neste projeto áreas de conhecimento diversas
adquiridas no curso, como conforto ambiental, psicologia ambiental e projeto
arquitetônico.

167
8. REFERÊNCIAS

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Tribuna do Norte. Centro especializado em reabilitação infantil paralisa at


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Tribuna do Norte. CRI tem déficit de 27 profissionais. Publicado em abril de


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SOFTWARES

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Autodesk Ecotect Analysis 2011. Autodesk, Inc 2010. All rights reserved.

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9. APÊNDICES

173
APÊNDICE A – MATERIAL DE APRESENTAÇÃO DISTRIBUÍDO PÓS ENTREVISTA

174
APÊDICE B – MATERIAL GUIA PARA ENTREVISTAS

175
APÊDICE C – MATERIAL EXPLICATIVO SOBRE PROJETO DISTRIBUÍDO EM
ENTREVISTAS

176

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