APS - Psicopatologia II

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ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA DE PSICOPATOLOGIA II: Resumo da

obra Sobrevivência Emocional de Rosa Cukier

Diogo Macedo Dalcastagne


Andreia Martins

INTRODUÇÃO: O CONCEITO DE CRIANÇA INTERNA

O desenvolvimento infantil do indivíduo é um período importante para o


desenvolvimento humano, uma vez que reflete na vida adulta do sujeito. São através
das situações e acontecimentos da infância que o indivíduo desenvolve muitos de
seus aprendizados e de sua capacidade para tomar decisões. Assim, o olhar para a
criança interna que habita no sujeito se faz importante para compreender as
percepções que cercam a vida adulta.
O conceito de criança interna é antigo e popularizado em diferentes culturas.
Por parte da mitologia, por exemplo, este termo diz respeito a uma necessidade
humana tomada sob o estresse e a racionalidade do cotidiano. Já considerando as
diferentes abordagens psicológicas, a distinção deste termo provém da
singularidade como cada uma observa o ser humano. Com base no psicodrama,
procura-se trazer a criança interna do adulto no setting terapêutico para tratar com o
paciente novas formas de lidar consigo mesmo.
O trabalho com a criança interna deve considerar que os “Eus infantis”
surgem sob circunstâncias de constrangimento na infância, mas que persistem na
vida do sujeito durante todo seu desenvolvimento e amadurecimento para a vida
adulta. Deste modo, o objetivo do trabalho com a criança interna dos adultos é fazer
com que estes se tornem conscientes e responsáveis sobre seus comportamentos
atuais, a fim de compreender os impactos e distorções que surgem mediante as
experiências precoces que tiveram em suas vidas.
Ressalta-se ainda que o foco deste trabalho não é culpar os responsáveis
pelos cuidados na infância do sujeito, mas sim compreender e relacionar as atitudes
do sujeito com sua infância para torná-lo maduro e responsável. Além desta razão, é
importante que a temática seja estudada e trabalhada para combater o estigma
sobre o tema propagado, cuja origem em grande parte se dá pela mídia americana.
CAPÍTULO 1: COMO SOBREVIVEM EMOCIONALMENTE OS SERES
HUMANOS?

A partir de sua experiência clínica, Rosa Cukier (2015) identifica similaridades


na relação de diferentes casos clínicos. Através de relatos de drama e abuso infantil
que foram trazidos em psicoterapia por cenas nucleares vividas na infância, a
psicóloga identifica que quatro pacientes possuem demandas que estão atreladas
com situações traumáticas vivenciadas neste período do desenvolvimento.
Frente a situações traumáticas, a criança tende a apenas observar sob o
entendimento de que está submissa ao adulto. Apesar disso, sentimentos surgem no
indivíduo neste contexto, e estes podem perdurar durante a vida e influenciar a
identidade básica do sujeito. Deste modo é possível relacionar as dificuldades que o
adulto apresenta com os traumas provenientes da infância.
Por trás das dificuldades existentes nos pacientes adultos, percebe-se a
existência de uma criança cujos traumas geram projetos de vingança com a
dignidade perdida. Entende-se que os indivíduos espelham a forma como foram
tratados na infância para se relacionarem com o mundo, tornando assim a relação
com os primeiros cuidadores primordial para o desenvolvimento da identidade
(ERIKSON, 1976).
Os cuidadores possuem um papel essencial para o desenvolvimento da
criança. Estes são responsáveis muitas vezes por expressar as necessidades e
emoções dos indivíduos nos primeiros anos de vida, de modo que servem como
uma espécie de "ponte" entre a criança e o mundo que ocupa. Ademais, as
necessidades básicas para sobrevivência também são providas por estes.
Partido das necessidades básicas que englobam a infância, os indivíduos
dependem tanto de aspectos físicos quanto emocionais para seu desenvolvimento.
No que se diz respeito aos aspectos físicos, observa-se “o que é feito” a criança
considerando que o bebê humano nasce necessitado de cuidados físicos básicos
para sobrevivência. Os aspectos emocionais, por exemplo, trazem à tona como este
cuidado é feito, a fim de buscar o desenvolvimento autônomo do indivíduo sem
ignorar sua dependência.
Explorar as relações de dependência que percorrem o indivíduo traz um
entendimento acerca da forma como este se relaciona em sociedade.
Conceitualmente, depender significa estar sujeito a algo ou alguém cujo pólo potente
decide o que fazer e de que modo essa ação vai ocorrer. As terapias sistêmicas
entendem através do contágio psicológico que as relações de dependência básicas
podem ser transmitidas de geração em geração, sendo que Moreno (1946) já
observara a dependência no processo de desenvolvimento, onde a figura materna é
um ego-auxiliar para o bebê durante a gravidez. Atribui-se deste modo aos
cuidadores a forma como estes viveram sua dependência com os seus próprios pais,
cuja interpretação psicológica discorre novamente diferentes interpretações.
Pressupõe-se que na relação entre pais e filhos a existência de uma
hierarquia onde as pessoas adultas são responsáveis pela criança. A partir de
situações traumáticas dentro desta relação, entende-se que os pais não respeitam
esta relação e prejudicam o desenvolvimento deste sujeito, como quando ocorrem
abusos. Este, o qual pode ter caráter sexual, físico ou emocional, gera vergonha
para a criança e resulta em divergência na ordem familiar, onde tanto as
necessidades básicas quanto a dependência da criança não são respeitadas.
Evidencia-se ainda aqui um grave dano a identidade do sujeito, que passa a oprimir
suas próprias necessidades.
Dentre as formas de lidar com as demandas provenientes da infância, o
psicodrama parte do entendimento que estamos sempre buscando determinar nosso
valor, seja para nós mesmos ou aos outros. Mediante um trauma, nosso critério de
valor modifica-se para lidar com o dano causado, desenvolvendo a ferida de uma
criança interna que tende a persistir para a vida adulta. Como forma de lidar com a
demanda, o psicodramatista busca trazer técnicas para trabalhar a identidade básica
do sujeito e ampliar sua visão acerca da situação.

CAPÍTULO 4: EU TE ODEIO… POR FAVOR NÃO ME ABANDONES! O


PACIENTE BORDERLINE E O PSICODRAMA

O de transtorno de personalidade borderline apresenta um quadro que


precisa de atenção por parte dos psicoterapeutas. Tratando-se das pessoas com o
seguinte transtorno, estima-se que entre 70% e 75% destes pacientes tenham pelo
menos um episódio autodestrutivo, onde 9% dos casos acabam sendo fatais
(LINEHAN, 1993). Ademais, inicialmente, o termo fora usado por Adolf Stern em
1938 para descrever o grupo de pacientes que parecia não se beneficiar das
práticas da psicanálise básica. Deste modo, aponta-se os desafios de lidar com esse
quadro no contexto clínico.
Conceitualmente, o quadro clínico está presente no Manual de Diagnóstico e
Estatística (DSM) desde sua terceira edição. Segundo a American Psychiatric
Association (2014), este transtorno de personalidade pode ser caracterizado pela
instabilidade nas relações interpessoais do sujeito, junto com uma forte
impulsividade. Considera-se ainda disfunções com a auto imagem, com os afetos e
hipersensibilidade às críticas, podendo levar a depressão grave. Quanto ao
diagnóstico diferencial, é importante considerar que muitos dos sintomas
apresentados neste quadro se assemelham com outras patologias, dificultando o
entendimento sobre qual surgiu antes.
A etiologia do transtorno percorre por diferentes esferas da vida do indivíduo.
Inicialmente, tratando-se do desenvolvimento emocional, toma-se este como
inadequado, onde comumente os pacientes vêm de famílias conflituosas que podem
ter tomado práticas abusivas ainda na infância. Tratando-se do trauma infantil nestes
casos, é importante considerar que a dissociação, intrusão, irritabilidade,
impulsividade e as mudanças de humor intensas são algumas das ferramentas de
defesa utilizadas por pessoas com transtornos de personalidade. No caso de pais
abusivos, é comum que comportamentos autodestrutivos sejam tomados de forma
inconsciente pela pessoa para lidar com esta relação.
A criança borderline trata-se de uma criança demasiadamente sensível.
Sendo assim, quando habita em um ambiente invalidador e multi abusivo, tende a
desenvolver comportamentos defensivos que caracterizam o transtorno.
Considerando estes ambientes, indica-se que um ambiente pouco validador dificulta
a aprendizagem da criança para que esta reconheça e lide com suas emoções.
Ademais, é importante que a criança saiba validar seus sentimentos e os fatos ao
seu redor, a fim de tolerar frustrações e externar seus sentimentos.
Quando adulto, o corpo do borderline é “habitado para uma criança”, tal qual
tem dificuldades para esperar, simbolizar conceitos abstratos e lidar com frustrações.
Este sujeito tende a se apegar ao cuidador, onde diferentes estratégias podem ser
usadas para trazer a perto de si uma pessoa que possa suprir suas necessidades,
como por exemplo através de doenças. Sob um enfoque psicodinâmico, muitas das
famílias disfuncionais que podem estar por trás destes pacientes,
inconscientemente, ignoram ou minimizam esta pessoa ainda na infância.
As situações de trauma infantil na vida do paciente borderline invalidam o
direito deste sujeito de existir e prejudica sua própria individualidade. Identifica-se
que a atuação com pacientes neste quadro clínico pode ser desafiante ao
psicoterapeuta, onde, diferentemente de grande parte dos pacientes, o borderline
busca a terapia com o objetivo de estabelecer uma relação entre função-
testemunha, para que este psicoterapeuta também discorde das injustiças que lhe
foram acometidas e compense tudo que passou. Verifica-se aqui uma necessidade
de validação e aceitação por parte do terapeuta, onde o profissional deve se atentar
para não reforçar comportamentos inadequados do paciente que prejudicam o
processo terapêutico.
Algumas premissas precisam ser identificadas e estabelecidas para o bom
funcionamento do vínculo terapêutico com este paciente. É importante que o
paciente respeite os aspectos de tempo, espaço e telefonemas, por exemplo.
Ademais, apesar de que a psicoterapia busque ressaltar as qualidades positivas do
paciente, é importante considerar que este precisa aprender a ter limites pessoais e
desenvolver sua individualidade para confiar em si próprio. Tratando-se da prática
sob o trauma infantil, o terapeuta deve se atentar ao criticar os pais na infância para
não criticar em partes o próprio paciente. Como forma de não se tornar apenas uma
testemunha desse abuso sofrido, o profissional deve proporcionar ao paciente um
espaço para que este chore suas dores e busque novos meios de lidar com sua
raiva.
A atuação do psicodrama com o transtorno de personalidade borderline,
tende a apresentar bons resultados e surpreender o próprio pacientes, considerando
os pontos de atenção aqui já listados. Através de seus recursos técnicos, o
psicodrama permite explorar o campo das defesas intrapsíquicas do paciente, não
esquecendo-se de estabelecer uma relação contínua e validadora. Deste modo, o
paciente não consegue prever usar suas defesas para controlar suas ações e
reações, o que apesar de ser vantajoso para o terapeuta deve ser tratado com
cuidado para não desvelar uma dor íntima cujo paciente ainda não consiga lidar.
Assim, a prática terapêutica com pacientes borderline deve identificar o papel
sedutor ao paciente que busca a terapia como forma de preencher sua própria
carência. Deve-se ainda estar atento para não culpar o paciente sobre seu fracasso
na terapia, já que a atitude deste em buscar este processo é considerada um ato de
enfrentamento e coragem. O psicólogo precisa alcançar nesta demanda um
equilíbrio entre atitudes, aceitação e validação que respeite os limites da realidade
do paciente e promova sua autonomia, acreditando que este tem dentro de si todo o
potencial para fazer a mudança e reconhecer suas próprias emoções.

CAPÍTULO 5: DISSOCIAÇÃO - UMA DEFESA ESSENCIAL AO PSIQUISMO

O psiquismo nos casos de abuso infantil apresenta um mecanismo de defesa


que cobre as dores do indivíduo durante seu amadurecimento para a vida adulta.
Avaliando-se pelo seu caráter microscópico, esta é uma forma de autodefesa
inicialmente consciente, que busca afastar o sujeito dos estímulos responsáveis pelo
desconforto e modificar a forma como este reage ao acontecimento. Uma técnica
utilizada nestes casos, por exemplo, é o estado de auto-hipnose, que ocorre quando
a atenção consciente da pessoa é focada em algo diferente do desconforto.
Conceituando este mecanismo de defesa, entende-se que estamos falando
do fenômeno da dissociação. Inicialmente, este fora tomado como uma patologia
essencial da histeria, que se dizia respeito a incapacidade de memorizar as
situações traumáticas já vivenciadas. Para a teoria psicanalítica, Freud traz a
dissociação como um fenômeno relacionado ao recalcamento, cujo uso inicial esteve
direcionado às psicoses e perversões. Em um modelo pós as ideias de Freud, a
dissociação passa a ser tomada com mais normalidade, uma vez que atribui-se às
experiências interpessoais na produção das neuroses.
Através dos novos entendimentos acerca da dissociação, atualmente,
considera-se que a mente humana funciona em um continuum dissociativo-
associativo, cuja dissociação pode variar entre os eventos diários normais até as
desordens múltiplas de personalidade. Partindo-se da neuropsiquiatria, compreende-
se que nossas experiências são armazenadas através de diferentes memórias.
Assim, a dissociação pode acontecer quando determinado estímulo corporal ativa
outro circuito.
Essa associação e dissociação psíquica de memórias tende a ter um caráter
defensivo na vida do sujeito. No contexto do trauma, entende-se que a pessoa
acometida é rendida em uma relação onde está submissa a uma força maior que
evoca respostas catastróficas. Os sintomas que caracterizam o estresse pós-
traumático correspondem a excitabilidade exagerada, intrusão da memória de forma
corporal e imagética e a própria dissociação, que altera o estado de consciência da
pessoa e impede muitas vezes comportamentos considerados normais de
autodefesa e culpa.
Tratando-se da infância, o abuso infantil se manifesta na vida adulta através
das veronhas e humilhações que acabam sendo reprimidas. Esta parte do psiquismo
está dissociada e reflete nos sintomas apresentados pelo sujeito. Em casos de
negligências graves, por exemplo, é comum que os pacientes apresentem
passividade exagerada e amnésia. Assim, as condutas disfuncionais que refletem
na vida adulta devem partir da conexão do sujeito com a dor para que sejam válidas,
a fim de explorar também novas formas de lidar com sua própria criança interna.

REFERÊNCIAS:
CUKIER, Rosa. Sobrevivência emocional: as dores da infância revividas no drama
adulto. 6 ed. São Paulo: Ágora, 2015.

(APA), American Psychiatric A. DSM-5. Disponível em: Minha Biblioteca, (5th


edição). Grupo A, 2016.

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