Article 475755 1 10 20240511
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Article 475755 1 10 20240511
5, e4213545414, 2024
(CC BY 4.0) | ISSN 2525-3409 | DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v13i5.45414
Resumo
A literatura sobre o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) evidencia que grandes são os impactos sobre a
vida pessoal e social dos indivíduos acometidos, assim como na vida de seus familiares e pessoas próximas. Este
trabalho trata-se de uma revisão de literatura do tipo narrativa e tem como objetivo analisar as produções brasileiras
sobre o manejo clínico do transtorno de personalidade borderline nas terapias comportamentais. As buscas foram
realizadas em algumas bases de dados e foi realizada no intervalo de dez anos e quatro meses (jan/2012 – abr/2022).
Encontrou-se a quantidade de 17.076 artigos, sendo que após a utilização dos critérios de inclusão e exclusão
permaneceu um total de nove artigos. Sobre as principais características do atendimento à pessoa com TPB, este
trabalho apresenta informações sobre a desregulação emocional, a prevalência de gênero, a relação terapêutica, o
manejo clínico, as principais teorias e técnicas utilizadas, o diagnóstico, o tratamento e estratégias eficazes nas
terapias comportamentais. Em relação às produções brasileiras sobre o TPB, os estudos avaliados confirmaram que há
produções, porém são escassez os estudos com esse público, de modo especial sobre a relação terapêutica e
intervenções clínicas.
Palavras-chave: Transtorno de personalidade borderline; Terapias comportamentais; Regulação emocional.
Abstract
The literature on Borderline Personality Disorder (BPD) shows that it has great impacts on the personal and social
lives of affected individuals, as well as on the lives of their family members and those close to them. This work is an
narrative literature review and aims to analyze Brazilian productions on the clinical management of borderline
personality disorder in behavioral therapies. The searches were carried out in some databases and were carried out
over a period of ten years and four months (Jan/2012 – Apr/2022). A total of 17,076 articles were found, and after
using the inclusion and exclusion criteria, a total of nine articles remained. Regarding the main characteristics of care
for people with BPD, this work presents information on emotional dysregulation, gender prevalence, the therapeutic
relationship, clinical management, the main theories and techniques used, diagnosis, treatment and effective strategies
in therapies behavioral. In relation to Brazilian productions on BPD, the studies evaluated confirmed that there are
productions, but studies with this audience are scarce, especially on the therapeutic relationship and clinical
interventions.
Keywords: Borderline personality disorder; Behavioral therapies; Emotional regulation.
Resumen
La literatura sobre el Trastorno Límite de la Personalidad (TLP) muestra que tiene grandes impactos en la vida
personal y social de las personas afectadas, así como en la vida de sus familiares y personas cercanas a ellos. Este
trabajo es una revisión narrativa de la literatura y tiene como objetivo analizar las producciones brasileñas sobre el
manejo clínico del trastorno límite de la personalidad en terapias conductuales. Las búsquedas se realizaron en
algunas bases de datos y se realizaron durante un período de diez años y cuatro meses (ene/2012 – abr/2022). Se
encontraron un total de 17.076 artículos, y luego de utilizar los criterios de inclusión y exclusión quedaron un total de
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nueve artículos. Respecto a las principales características de la atención a las personas con TLP, este trabajo presenta
información sobre la desregulación emocional, la prevalencia de género, la relación terapéutica, el manejo clínico, las
principales teorías y técnicas utilizadas, el diagnóstico, el tratamiento y las estrategias efectivas en terapias
conductuales. En relación a las producciones brasileñas sobre TLP, los estudios evaluados confirmaron que existen
producciones, pero los estudios con este público son escasos, especialmente sobre la relación terapéutica y las
intervenciones clínicas.
Palabras clave: Trastorno límite de la personalidade; Terapias conductuales; Regulación emocional.
1. Introdução
A personalidade pode ser entendida como o “jeito de ser” de cada um. Segundo Wellausen e Oliveira (2016), o
construto de personalidade envolve mais do que simplesmente o comportamento observável, devendo incluir a identificação de
um padrão característico e relativamente estável de pensar, sentir e se relacionar. A visão do mundo que cada um constrói ao
longo da vida e que se constitui do temperamento (transmitido geneticamente) acrescido das experiências ambientais – tanto as
positivas quanto as negativas – é pessoal e intransferível. Outra forma de entender o que é a personalidade é a proposta por
Benjamin (1996, citado por Wellausen & Oliveira, 2016), que seria pensar em cada pessoa como uma canção, uma música
diferente:
A partir dos mesmos elementos constitutivos, as notas musicais (dó, ré, mi, fá, sol, lá, si), um número infindável de
combinações e arranjos pode ser construído fazendo cada um ser diferente do outro (únicos em sua melodia,
harmonia, etc.) ao mesmo tempo em que compartilham uma série de características em comum (Benjamin, 1996,
citado por Wellausen & Oliveira, 2016 p. 275).
Em uma perspectiva das abordagens comportamentais, Boavista (2014) apresenta que inicialmente o termo
“Personalidade” pode parecer incompatível com a Psicologia proposta por Skinner, uma vez que se rejeita o status causal
atribuído a certos elementos metafísicos - entidades mentais, forças internas, humores, entre outros – ficando descaracterizada
a definição convencional do termo que a descreve como a influência de uma “força interior”, por vezes chamada de “eu” ou
self. Por outro lado, caso se defina personalidade como “um repertório de comportamento partilhado por um conjunto
organizado de contingências” (Skinner, 1974, p. 130), o termo adquire contextos funcionais e passa a viabilizar análises que
respeitam a premissa do sistema teórico-filosófico da análise do comportamento. A partir disso, tem-se a compreensão da
personalidade como o resultado da interação entre organismo e ambiente e que abre a possibilidade tanto para a explicação dos
padrões comportamentais quanto para a intervenção sobre eles.
Já na perspectiva da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), a definição de personalidade articula vários aspectos
entre comportamento, pensamentos e emoções. O conceito de personalidade pode ser considerado como integrador, por sua
tentativa de explicar o funcionamento dos mais variados sistemas e suas inter-relações (Beck & Alford, 2000).
Um constructo composto que representa a soma total das ações, dos processos de pensamento, das reações
emocionais, e das necessidades motivacionais da pessoa, através dos quais ela, como organismo biológico
geneticamente programado, interage com seu ambiente, influenciando-o e sendo influenciada por ele. (Beck & Alford,
2000, p. 34).
Ou seja, o termo personalidade caracteriza os padrões específicos dos processos citados acima e assume ainda que,
para a perspectiva cognitiva, a definição de personalidade está vinculada aos processos esquemáticos que direcionam o
funcionamento psicológico como um todo (Beck & Alford, 2000).
Com base no que foi explanado, trazemos o conceito de personalidade e relacionamos com o Transtorno de
Personalidade Borderline (TPB). O TPB teve a sua primeira descrição pelo médico e psicanalista Adolph Stern em 1945, que
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relatou a relação terapêutica com seus pacientes que estavam há muito tempo doentes e que já tinham ido em vários médicos
em seus esforços para melhorarem seus quadros de saúde psicológica. Segundo Stern (1945), seus pacientes tinham problemas
difíceis de serem resolvidos, porém, com sua experiência clínica, baseada em uma compreensão de alguns dos fatores
etiológicos fundamentais psicanalíticos, classificou este transtorno como neuroses limítrofes.
Posteriormente, a experiência de Stern com esses casos o levou a descrever o que se poderia chamar de origem
"traumática" do desenvolvimento patológico do ego deformado, que segundo ele é uma característica muito presente em
pessoas com TPB (Stern, 1945).
Tais pessoas nascem em um ambiente onde os traumas são praticamente contínuos, dando credibilidade nesse sentido
à teoria inicial de Freud sobre a origem traumática das neuroses. Não é que esses pacientes estejam expostos a
experiências concretas, sexuais ou não, que são em si de natureza necessariamente traumática, mas que seu ambiente é
em si tão traumático que, quando são expostos a tais experiências, reagem a elas como se fossem traumáticas.
Inseguros em sua estrutura de ego, tais indivíduos não podem levar essas experiências em seu ritmo (Stern, 1945, p.
191).
Conforme Hegenberg (2013), desde a década de 1940 ocorrem tentativas de nomear as possibilidades nosológicas que
não se enquadram entre os psicóticos ou entre os neuróticos: esquizotimia, esquizoidia, pré-psicose, personalidade hebefrênica,
psicoses marginais, certas personalidades perversas, personalidade psicopática, psicopata, personalidade “como se”, falso self e
neurose de caráter são algumas delas. Stern (1945) foi quem utilizou pela primeira vez – como supracitado – o termo
borderline e o incluiu entre os neuróticos, já Bergeret (1974) afirmou que foi em 1949 que o médico Victor W. Eisenstein
agrupou os diagnósticos acima mencionados em uma única classificação nosológica, o borderline.
Em 1967, Kernberg caracterizou a ''personalidade de organização borderline'' como uma formação de identidade
pobre e de baixa tolerância à frustração. Em 1968, Grinker publicou o livro The Borderline Syndrome, definindo os seguintes
critérios para o diagnóstico: falha do senso de identidade, relacionamentos instáveis, sintomas de depressão sem um quadro
com todos os critérios para transtorno depressivo e raiva inadequada ou intensa (Louzã Neto & Cordás, 2011).
Já em 1975, Gunderson e colaboradores fizeram uma revisão da literatura distinguindo os pacientes borderline de
pacientes com diagnóstico de esquizofrenia, pois à época, os pacientes borderline eram considerados pertencentes ao espectro
dos transtornos esquizofrênicos. O conceito de Transtorno da Personalidade Borderline (TPB) somente foi incluído no Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) pela American Psychiatry Association (APA) em sua terceira edição,
em 1980, e em 1992 o diagnóstico passou a estar na Classificação internacional de doenças (CID-10) (Louzã Neto & Cordás,
2011).
O transtorno de personalidade borderline desde as suas primeiras classificações foi considerado de difícil diagnóstico
e atualmente ainda é considerado um transtorno de difícil diagnóstico. Louzã Neto e Cordás (2011) relatam que pacientes
pertencentes ao espectro bipolar podem preencher critérios para o TPB, devido a sua extrema instabilidade emocional e
impulsividade, ambos costumam ser concomitantes e podem ser difíceis de diagnosticá-los separados, pois apresentam
características clínicas em comum. Por exemplo, tanto o transtorno bipolar quanto o TPB são caracterizados por níveis
aumentados de comportamento impulsivo, labilidade afetiva e irritabilidade. Ainda segundo Louzã Neto e Cordás (2011), em
uma perspectiva anatômica, os transtornos de personalidade antissocial e de borderline são semelhantes em vários aspectos, de
acordo com estudos de neuroimagens, em ambas as áreas pré-frontais não funcionam adequadamente na supressão da atividade
límbica que gera agressão, essas áreas são responsáveis pelo julgamento social e pela avaliação emocional.
O DSM-V classifica os transtornos de personalidade em três grupos: A, B e C. O TPB está classificado no grupo B,
juntamente com os transtornos de personalidade histriônica, antissocial e narcisista. O transtorno de personalidade borderline
junto aos do grupo B tem como principais características de serem erráticos, dramáticos e ansiosos (APA, 2014).
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A literatura sobre o TPB evidencia que grandes são os impactos sobre a vida pessoal e social dos indivíduos
acometidos, assim como na vida de seus familiares e pessoas próximas. As características principais são a instabilidade nas
relações pessoais, na autoimagem, na vida afetiva e emocional, na identidade pessoal e social, assim como um padrão de
impulsividade em diferentes contextos da vida, geralmente com consequências significativas (APA, 2014).
Para o diagnóstico dos transtornos de personalidade é necessário investigar variáveis na história de vida, como
estabilidade afetiva, maturidade dos relacionamentos interpessoais, estabilidade no emprego e em relacionamentos e
autocrítica. O DSM-V diz que são necessárias pelo menos cinco das seguintes características para o diagnóstico de TPB: (I)
Esforços excessivos e desesperados para evitar abandono, real ou imaginário; intensa sensibilidade às menores pistas de
possível abandono; (II) relacionamentos pessoais intensos, mas muito instáveis, oscilando em períodos de idealização de uma
grande “paixão” ou “amizade-adoração” para outros de desvalorização, “ódio” e “rancor” profundos; (III) perturbação da
identidade: dificuldades graves e instabilidade com relação à autoimagem, aos objetivos e às preferências pessoais (inclusive as
de orientação sexual e de identidade de gênero); (IV) impulsividade em pelo menos duas áreas autodestrutivas (p. ex., gastos
exagerados, sexo com desconhecidos, uso de substâncias, compulsão alimentar, dirigir de forma perigosa/irresponsável). Atos
repetitivos de autolesão (p. ex., cortar-se propositalmente); (V) comportamentos, gestos e atos suicidas repetitivos ou
comportamentos de automutilação; (VI) instabilidade emocional intensa, decorrente de acentuada reatividade do humor
(irritabilidade ou ansiedade intensas, de poucas horas, raramente de dias), disforias episódicas; (VII) sentimentos crônicos de
vazio (sentimentos depressivos com a marca de sentir um vazio interno); (VIII) raiva intensa e inapropriada e/ou muita
dificuldade em controlá-la (brigas físicas recorrentes, irritação, raiva, explosões comportamentais); e (IX) de forma transitória,
podem ocorrer ideias de perseguição, de que se está sendo traído, perseguido, ameaçado, e/ou sintomas ou episódios
dissociativos intensos, decorrentes de estresses, de situações pessoais difíceis (APA, 2014).
O TBP apresenta elevada incidência, afetando 6% da população mundial. Pacientes do sexo feminino são mais
acometidas (75% dos casos). A prevalência do transtorno em serviços de atenção primária é de 6%. Os valores são de 10% e
20% em contextos de pacientes ambulatoriais de saúde mental e psiquiátricos, respectivamente (Carvalho et al., 2023).
O estudo em desenvolvimento justificasse pela incidência de pessoas acometidas pelo TPB e por aliar as terapias
comportamentais, que apresentam tratamentos eficazes para o TPB, que visa melhorar o diagnóstico e o tratamento, aumentar a
conscientização e desenvolver novas intervenções para o TPB. As terapias comportamentais, sobretudo a Terapia
Comportamental-Dialética (DBT), atráves de ensaios clínicos alinhados com dados empíricos, proporcionaram o
desenvolvimento de um tratamento para o TPB, manejos que serão descritos ao decorrer do texto (Linehan, 2010).
Este trabalho tem como objetivo principal analisar as produções brasileiras sobre o manejo clínico do transtorno de
personalidade borderline nas terapias comportamentais. E tem como objetivos específicos apresentar quais terapias
comportamentais têm estudos com evidências sobre o manejo clínico de pessoas com transtorno de personalidade borderline,
descrever sobre as técnicas das terapias comportamentais com evidências no manejo de pessoas com transtorno de
personalidade borderline e propor possíveis estudos futuros para a pesquisa nacional sobre transtorno de personalidade
borderline nas terapias comportamentais.
2. Metodologia
Este trabalho trata-se de uma revisão de literatura do tipo narrativa sobre as produções acerca do manejo clínico de
pessoas com transtorno de personalidade borderline nas terapias comportamentais. Uma revisão de literatura do tipo narrativa
é uma pesquisa qualitativa, considerada ampla, apropriada para descrever e discutir o desenvolvimento ou o "estado da arte" –
uma pesquisa feita para compreender a atual produção de conhecimento científico a respeito de um determinado tema – de um
determinado assunto, tendo um ponto de vista teórico ou contextual. Essa categoria de artigos tem um papel fundamental para
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a educação continuada, pois permite ao leitor adquirir e atualizar o conhecimento sobre uma temática específica em curto
espaço de tempo (Rother, 2007).
Apesar de Bernardo et al. (2004) afirmarem que as revisões narrativas não informam as fontes de informação
utilizadas, a metodologia para busca das referências e nem os critérios utilizados na avaliação e seleção dos trabalhos, este
trabalho apresenta essas informações detalhadas, visto a possibilidade de comparação de estudos posteriormente. Um artigo de
Revisão Narrativa é constituído de 1. Introdução, 2. Desenvolvimento, 3. Comentários e por fim, 4. Referências (Rother,
2007).
As buscas foram realizadas nos periódicos Scientific Eletronic Library Online (Scielo), Periódicos Eletrônicos em
Psicologia (Pepsic) e nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), na
National Library of Medicine (PubMed), na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e na
plataforma de busca Google Acadêmico. Foi realizada no intervalo de dez anos e quatro meses (jan/2012 – abr/2022), em
português, utilizando-se os descritores encontrados no “Descritores em Ciências da Saúde (DeCS)” juntamente com o
moderador booleano “AND” e os nomes das terapias comportamentais (Passos, 2016): Transtorno de Personalidade Borderline
“AND” Psicoterapia, Comportamental, Comportamentais, Terapia Comportamental Dialética (DBT), Terapia Analítico
Funcional (FAP), Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), Terapia por Contingências de Reforçamento (TCR), Terapia
Analítico-Comportamental (TAC), Ativação Comportamental (BA), Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT) e
Mindfulness.
Os critérios de inclusão estabelecidos para esse estudo foram: (I) artigos indexados; (II) artigos revisados por pares em
periódicos com Qualis; (III) publicações brasileiras dos últimos dez anos e quatro meses (jan/2012 – abr/2022); e (IV) artigos
de estudos de casos e revisões de literatura que apresentam as terapias comportamentais no manejo clínico de pessoas com
transtorno de personalidade borderline. Já os critérios de exclusão foram: (I) artigos repetidos; (II) publicações de trabalhos
finais de cursos, como trabalho de conclusão de curso, dissertação ou tese; e (III) capítulos de livros.
3. Resultados e Discussão
Encontrou-se a quantidade de 17.076 artigos, sendo que após a utilização dos critérios de inclusão e exclusão
permaneceram um total de nove artigos. No periódico Scielo foram encontrados 14 artigos, mas não ficou nenhum artigo; no
periódico Pepsic foram encontrados seis artigos, ficando somente um artigo; na base de dados LILACS, foram encontrados 80
artigos, ficando somente um artigo; na base de dados PubMed, foi encontrado somente um artigo, mas este foi excluído; na
base de dados Capes, foram encontrados 325 artigos, ficando dois artigos; e na plataforma de busca Google Acadêmico, foram
encontrados 16.650, ficando cinco artigos.
Nesta pesquisa foram encontrados um artigo de estudo de caso (Cunha & Vandenberghe, 2016), uma revisão de
literatura sistemática (Finkler et al., 2017), duas revisões de literatura integrativas (Cerutti & Duarte, 2016; Melo et al., 2021) e
cinco sem especificações no tipo de revisão (Cavalheiro & Melo, 2016; Figueiredo & Marques, 2017; Maffini et al., 2020;
Menezes et al., 2014; Silva & Bezerra, 2021).
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Cunha, O. R. da, & B2 Mostrar como, Estudo de caso com uma cliente O estudo sugere que uma integração das
Vandenberghe, L. (2016). O paradoxalmente, a pelo método de observação contribuições de diversas correntes
relacionamento terapeuta-cliente exploração das dificuldades participante. Ferramentas de teóricas envolvendo a terapia
e o transtorno de personalidade no relacionamento, podem diferentes terapias comportamental contemporânea pode
borderline. Revista Brasileira de tornar o tratamento mais comportamentais, a ACT, a DBT e tornar o tratamento de casos difíceis mais
Terapia Comportamental e eficiente. a FAP foram escolhidas para eficientes e ajudar a superar a rigidez
Cognitiva, 18(1), 72-86. construir uma forma flexível para paradigmática.
https://doi.org/10.31505/rbtcc.v1 encarar os desafios do
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de 2022. borderline. A vivência da terapeuta
foi monitorada, usando o modelo do
matrix.
Figueiredo, A. C., & Marques, E. C Evidenciar de modo geral as Revisão de literatura de livros de O artigo evidencia de modo geral as
L. L. (2017). Mulheres Que interações e manifestações autores especialistas nos estudos do interações e manifestações afetivas,
Amam Demais: Uma Breve afetivas, enfatizando as Transtorno de Personalidade enfatizando as desregulações emocionais
Compreensão Acerca do Jeito De desregulações emocionais Borderline. Este estudo limita a que são traços característicos desse
Ser Da Mulher Com Transtorno que são traços característicos análise somente em mulheres, pois transtorno, além de demonstrar o manejo
De Personalidade Borderline. desse transtorno, além de as mesmas correspondem a 74% da do Transtorno de Personalidade
Psicologia. Pt. Disponível em: demonstrar o manejo do TPB população que satisfazem os Borderline através da Terapia
<https://www.psicologia.pt/artigo através da DBT. critérios para o Transtorno de Comportamental Dialética.
s/textos/A1088.pdf>. Acesso em: Personalidade Borderline.
02 de jun. de 2022.
Finkler, D. C., Schäfer, J. L., & B2 O objetivo primário consistiu A condução de um estudo piloto O baixo número de estudos relacionados a
Wesner, A. C. (2017). Transtorno em investigar as áreas de apontou apenas uma publicação intervenções terapêuticas variadas para o
de personalidade borderline: conhecimento que específica sobre a DBT no Brasil. TPB e a ausência de estudos sobre a DBT
Estudos brasileiros e investigaram o TPB e os Diante disso, foi realizada uma expõem o quanto há por fazer no Brasil.
considerações sobre a DBT. locais e instituições que revisão sistemática para investigar a As psicoterapias precisam ser melhores
Revista Brasileira de Terapia desenvolveram esses estudos. produção científica sobre o TPB no investigadas. Convém que se realizem
Comportamental e Cognitiva, Os objetivos secundários País, incluindo áreas de ensaios clínicos brasileiros sobre as
19(3), 274-292. foram caracterizar os artigos conhecimento e regiões de sua abordagens mais promissoras para o
https://doi.org/10.31505/rbtcc.v1 por anos de produção, idioma produção ao longo dos últimos 30 tratamento do TPB, sobretudo a DBT, por
9i3.1068. Acesso em 02 de jun. e tipo de publicação anos. já acumular mais evidência de eficácia
de 2022 (nacional ou internacional), para esse quadro. Além disso, são
além de discutir as necessários estudos para esclarecer as
intervenções psicoterápicas peculiaridades relevantes na transposição
para o TPB com parâmetros da DBT para a realidade brasileira, seja
de práticas baseadas em no que concerne aos resultados desse
evidência científica. tratamento junto aos pacientes, seja
quanto à incorporação dessa complexa
abordagem pelos terapeutas.
Maffini, G., Finoqueto, Y. O., & B4 Identificar, através de uma Revisão de Literatura com pesquisa Constata-se que a Terapia dos Esquemas
Cassel, P. A. (2020). Modos revisão narrativa da qualitativa. A busca dos dados para tem apresentado efetividade no tratamento
esquemáticos nos Transtornos de literatura, o objetivo geral do análise ocorreu através de consultas psicológico para o Transtorno de
Personalidade Borderline- tratamento para pacientes em plataformas digitais e a partir de Personalidade Borderline, enfatizando os
abordagens em Terapia do com Transtorno de livros, de autores considerados níveis cognitivos e emocionais da pessoa
Esquema. Research, Society and Personalidade Borderline, a como referência nas temáticas. com este transtorno. Ainda, evidencia-se
Development, 9(8), e900986467- partir de intervenções com a que os modos esquemáticos
e900986467. Terapia dos Esquemas e predominantes são os Modos de Criança
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v9i8.6467. Acesso em: 02 de jun. esquemáticos predominantes Punitivos, Modo Protetor-Desligado e
de 2022. nos pacientes com este Modos de Hipercompensação. Conclui-se
transtorno que, a partir das técnicas empregadas pelo
terapeuta, quais permitem a identificação
de quais necessidades emocionais não
foram supridas durante a infância e
adolescência, o objetivo da TE para TPB,
é fortalecer o modo adulto saudável.
Melo, H. P., Baldoino, F. R. R., B4 Elencar evidências através de Trata-se de uma pesquisa Observaram-se cento e setenta e cinco
Melo, H. P., Alves, K. R. de B., uma revisão de literatura para bibliográfica desenvolvida por meio ocorrências (estudos e/ou artigos), durante
Baldoino, L. K. R., & Cunha, T. conhecer melhor o transtorno do método Revisão Integrativa. As a busca primária, após o cruzamento dos
B. L. (2021). Characterization of de personalidade Boderline, fontes de busca foram o banco de descritores: Transtorno de personalidade,
personality disorders Borderline: suas características, dados da Biblioteca Virtual de Borderline, Tratamento. A literatura
Literature review. Research, sintomatologia e as mais Saúde (BVS) por meio da Literatura elencada traz o Borderline como um
Society and Development, 10(3), diferentes abordagens de Latino - Americana e do Caribe em transtorno de personalidade complexo de
e52510312619. tratamento bem como o Ciências da Saúde (LILACS) e difícil diagnóstico e de Tratamento, mais
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Menezes, C. N. B., Macedo, B. B4 Discutir com suporte em Procedeu-se a uma busca em bases Com base em estudos revisados, foi
B. D., & Viana, C. K. S. (2014). estudos já realizados, o de dados eletrônicas – CAPES, possível entender a correlação
A dor de ser borderline: revisão Transtorno de Personalidade BVS – Psi, Scielo, Google significativa entre abusos sexuais sofridos
bibliográfica com base na terapia Borderline (TPB) em seus Acadêmico – onde foram na infância e os índices de prevalência do
cognitivo-comportamental. diversos aspectos, com o identificados 85 artigos, dos quais TPB. Observou-se, ainda, a prevalência
Revista de Humanidades, 29(2), intuito de conhecer melhor as se analisaram dados como título, de outros tipos de desregulação em
267-287. possíveis intervenções para autoria, resumo e conteúdos. A pacientes borderlines, gerando, por
https://doi.org/10.5020/23180714 esta doença. pesquisa ocorreu de agosto a exemplo, comportamentos de
.2014.29.2.267-287. Acesso em: outubro de 2013. parassuicídio e distorções cognitivas
02 de jun. de 2022. relevantes. Constatou-se a escolha da
Terapia Cognitivo-Comportamental
Dialética (DBT) como intervenção
psicoterápica mais apropriada, pois o uso
de metáforas e o Treino de Habilidades
foram considerados de extrema relevância
para o prognóstico.
Silva, N. F., & Bezerra, E. M. B4 Avaliar a utilização e Pesquisa de estudos a partir da base Foi possível concluir que um perfil de
(2021). Terapia cognitivo– consequente eficácia da de dados “Google Acadêmico” no psicoterapia mais estruturada, com papel
comportamental e terapia Terapia-Cognitivo- período de 2016 a 2018, usando ativo do paciente e relação terapêutica
comportamental dialética no Comportamental e da Terapia para a coleta de estudos os forte e colaborativa tem sido bastante
tratamento do transtorno da Comportamental Dialética no descritores Terapia Cognitivo- utilizada e apontado excelentes resultados.
personalidade borderline. Revista tratamento do Transtorno de Comportamental, Terapia Além disso, foi visto que a Terapia
Hum@nae, 15(1). Disponível Personalidade Borderline Comportamental Dialética e Comportamental Dialética, um tipo de
em: através de uma revisão de Borderline. terapia cognitivo-comportamental, tem
<https://revistas.esuda.edu.br/ind literatura. sido a escolha principal de psicoterapia
ex.php/humanae/article/view/776 para o Transtorno da Personalidade
>. Acesso em: 02 de jun. de Borderline.
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Sobre a prevalência de gênero, Figueiredo e Marques (2017) afirmam que as mulheres compreendem 74% dessa
população com TPB e que há um número expressivo de mulheres que procuram terapia com queixas de descontroles, término
de relacionamentos, impulsividade intensa, vazio existencial, comportamentos suicidas, automutilações, culpa e enorme
sofrimento, e de acordo com Silva (2012, citado por Figueiredo & Marques, 2017), “as borders cruzam os limites das
emoções, vivendo no limite de uma hemorragia emocional; vez por outra sangram a alma e, não raro, o próprio corpo” (p. 2).
Toda essa alteração psicológica e fisiológica causa grande sofrimento. Conforme Melo et al. (2021), as pessoas com
TPB tendem a viver de maneira intensa, frequentemente sofrem de extrema ansiedade e com crises, que afetam profundamente
suas vidas por não conseguirem suportá-la. Cavalheiro e Melo (2016) relatam que frequentemente as pessoas com TPB mudam
rapidamente de uma reação emocional a outra, podendo vivenciar diversos estados emocionais:
É comum ocorrerem intensos afetos disfóricos, como raiva, tristeza, vergonha, pânico, terror e sentimentos crônicos
de vazio e solidão. Frequentemente mudam rapidamente de uma reação emocional a outra, podendo vivenciar
diversos estados emocionais negativos e períodos de eutimia em apenas um dia. As mudanças emocionais parecem
exageradas e imprevisíveis (Cavalheiro & Melo, 2016, p. 586).
A desregulação emocional torna difíceis as relações interpessoais. As pessoas com TPB costumam se envolver em
relacionamentos instáveis e intensos e apresentam comportamentos que dificultam o estabelecimento e a manutenção dessas
relações, que podem ser amorosos, com amigos, familiares e até mesmo na relação terapêutica. Há o profundo medo de serem
abandonadas, fazendo com que busquem de todas as formas não serem deixadas sozinhas, podendo manifestar apegos
excessivos aos que estão ao redor (Cavalheiro & Melo, 2016).
O sofrimento causado pelo transtorno não se limita somente à pessoa com TPB, mas afeta às pessoas mais próximas.
Melo et al. (2021) afirmam que interfere nos laços das pessoas com quem convive. Já Figueiredo e Marques (2017) destacam a
importância de as pessoas mais próximas participarem do processo terapêutico, incentivando a pessoa com TPB a ir às sessões
de terapia, de tomarem os remédios corretamente, de propiciarem um ambiente validante, entre outros.
De modo especial sobre a relação terapêutica, há um consenso entre vários autores de que esta é uma relação muita
desafiadora, tanto para o paciente quanto para o terapeuta. Cerutti e Duarte (2016) salientam que não é possível haver muita
evolução em uma terapia com clientes Borderlines sem antes ser estabelecida uma relação terapêutica forte, confiável e
colaborativa. Cunha e Vandenberghe (2016) destacam que:
O comportamento incoerente e a instabilidade das relações sociais, próprios do transtorno, impõem uma série de
dificuldades ao trabalho psicoterápico, como a inconstância na adesão ao tratamento, as diversas tentativas de usar o
tratamento para fins diversos além dos que se concebe como uma melhora, a tentativa de formação de um vínculo não
produtivo com o terapeuta, enquanto o terapeuta sofre com a dificuldade em sustentar os progressos obtidos durante o
tratamento (Cunha & Vandenberghe, 2016, p.74).
Na tentativa de manter uma relação terapêutica, o terapeuta enfrenta diversos desafios no tratamento do TPB.
Menezes et al. (2014) declaram que o terapeuta e o paciente devem ter a coragem de enfrentar as dores que emergem na
terapia, tanto o terapeuta quanto o processo de terapia não podem deixar de causar experiências emocionais intensamente
dolorosas no paciente borderline, convém fazer referência às dificuldades dos terapeutas em validar as emoções dos pacientes,
haja vista por muitas vezes os terapeutas evitam ou podem evitar que estes sentimentos dolorosos sejam vivenciados,
consequentemente, invalidando-os. Os autores ainda destacam que o terapeuta não deve buscar que o paciente deixe de lado
seus sentimentos negativos, mas sim que entre em contato com esses sentimentos de uma nova forma, pois é importante que,
ante a atitude de enfrentamento, o paciente se ache reforçado, e não punido pelo terapeuta.
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Como consequência da desregulação emocional, o paciente em terapia pode sofrer com intensas variações
emocionais, em momentos pode realizar esforços excessivos para agradar o seu terapeuta, ligar demasiadamente para ele e
demandar sessões extras sem que haja realmente a necessidade, em contraponto ao carinho intenso, podem surgir bastantes
afetos negativos, desproporcionais à situação, principalmente quando se sentem rejeitados ou percebem indiferença,
negligência ou omissão por parte do terapeuta, possivelmente podem decidir encerrar precocemente o tratamento ou apresentar
uma conduta agressiva (Cavalheiro & Melo, 2016). Cunha e Vandenberghe (2016) descrevem que um paciente com TPB pode,
em eventos rapidamente sucessivos, “agredir o terapeuta verbalmente, se mostrar depressivo por ser rejeitado por ele, acusá-lo
de interesse sexual e logo depois agir de forma sedutora com o terapeuta” (p. 74).
Para o manejo clínico de pessoas com TPB – como visto nos parágrafos anteriores – é necessária muita expertise e
cuidadosa conduta dos terapeutas para o estabelecimento de uma boa relação terapêutica. Cavalheiro e Melo (2016) afirmam
que a conduta cuidadosa por parte do terapeuta – que deve fazer parte de qualquer relação terapêutica – em casos de pacientes
borderlines toma proporções muito maiores e exige uma acentuada atenção, pois a aliança terapêutica, quando estabelecida no
tratamento, pode por si só levar a mudanças terapêuticas, entretanto, nem sempre ela se constitui facilmente.
Cunha e Vandenberghe (2016) propõem que o terapeuta precisa assumir um papel ativo, analisando o cenário baseado
na comunicação não verbal do cliente e as suas reações emocionais. Os sentimentos do terapeuta podem tanto intensificar os
impasses na terapia, quanto auxiliar na elaboração de intervenções terapêuticas. Os autores descrevem a importância de o
terapeuta usar a compreensão de sua vivência interior juntamente com suas dores para promover o crescimento do cliente:
Quando o terapeuta usa a compreensão da sua vivência interior – e também da sua dor - para promover o crescimento
do cliente, o sofrimento do terapeuta tem sentido no tratamento. Quando uma intervenção, uma interpretação, ou até
um silencio da parte do terapeuta serve para aumentar o conforto do terapeuta, afastando-o do seu sofrimento interior,
pode estar num caminho questionável (Cunha & Vandenberghe, 2016, p. 85).
A compreensão do sofrimento valida as experiências emocionais do paciente. Cavalheiro e Melo (2016) orientam que
o terapeuta deve ser empático com o sofrimento do paciente, que deve mostrar que o entende e, ao mesmo tempo, validar suas
experiências emocionais:
O terapeuta deve se mostrar como uma figura de proteção e cuidado diante de suas oscilações afetivas. Ser flexível e
versátil perante sua rigidez cognitiva, suas dificuldades de resolução de problemas e de relacionamento, mostrando
que as entende ao mesmo tempo em que trabalha estratégias de mudança. Deve buscar um consenso com o paciente, a
congruência com os objetivos do tratamento e com as atividades propostas, bem como o comprometimento com o
tratamento, atentando-se às dificuldades que possivelmente serão encontradas (Cavalheiro & Melo, 2016, p. 591).
A necessidade de compreensão do sofrimento pode causar receios por parte do terapeuta. Cavalheiro e Melo (2016)
descrevem que a sensação do terapeuta é de estar muitas vezes “pisando em ovos”, tamanha a vulnerabilidade do paciente
borderline. Os autores fazem uma comparação com pacientes vítimas de queimaduras na pele, pois “atender um paciente
borderline é estar frequentemente com receio de que o menor movimento pudesse resultar em uma insuportável dor emocional
do paciente” (p. 586-587), e compara tais características de vulnerabilidade emocional a queimaduras emocionais.
3.4 Principais teorias e técnicas utilizadas no atendimento à pessoa com transtorno de personalidade borderline
O tratamento da pessoa com TPB é um trabalho multiprofissional. Melo et al. (2021) relatam que apesar da literatura
considerar o TPB um transtorno complexo e de difícil diagnóstico e de tratamento, existem estratégias eficazes como a
utilização de psicofármacos, terapia individual, terapia de grupo, grupo de consultoria em DBT e com a inserção de outros
profissionais, como psiquiatras, terapeutas ocupacionais e outros em que o caso demandar. Cerutti e Duarte (2016) descrevem
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que o tratamento farmacológico, aliado à terapia, ocasiona bons resultados. Sobre o tratamento farmacológico, ele possui
eficácia sobre a diminuição do risco de suicídio, na diminuição do comportamento compulsivo e sendo útil para as
intervenções psicossociais. No tratamento farmacológico geralmente são utilizados antidepressivos, estabilizadores de humor e
antipsicóticos (Figueiredo & Marques, 2017).
Em relação ao processo psicoterápico à pessoa com TPB, Figueiredo e Marques (2017) descrevem que a psicoterapia
é para tratar as causas, conscientizar o paciente do problema, regular as emoções e rever comportamentos disfuncionais. Como
em toda psicoterapia, há a necessidade de ensinar aos pacientes a aceitarem plenamente a si mesmos e o mundo a sua volta, de
acordo com suas emoções, pensamentos e reações do momento.
Dentre os artigos encontrados, as terapias comportamentais utilizadas foram a Terapia Cognitivo-Comportamental,
Terapia de Aceitação e Compromisso, Terapia Focada em Esquemas e a Terapia Comportamental Dialética. Na Terapia
Cognitivo-Comportamental, Finkler et al. (2017) apresentam a possibilidade de utilização de uma técnica de predição
emocional e resolução de problemas, a Systems training for emotional predictability and problem solving for borderline
personality disorder (STEPPS), que ainda não tem uma tradução para o Brasil, mas apresenta algum nível de evidência, porém
são necessários mais estudos. Os mesmos autores relatam que a terapia cognitivo-comportamental de forma inespecífica é
pouco estudada para o TPB, que apresenta efeitos discretos e pouco encorajadores. Já os autores Silva e Bezerra (2021)
afirmam que terapias mais estruturadas e com trabalho colaborativo, a exemplo das terapias cognitivo-comportamentais em
que o paciente tem um papel ativo, são de acordo com a literatura as mais indicadas para o Transtorno da Personalidade
Borderline.
Sobre a Terapia de Aceitação e Compromisso, Cunha e Vandenberghe (2016) apresentam o instrumento “Matrix”,
que é uma ferramenta simbólica proposta no contexto da Terapia de Aceitação e Compromisso. Este instrumento se trata de
um diagrama com duas dimensões que permitem modelar uma análise funcional incluindo os pensamentos, os sentimentos e as
ações do cliente através dos conteúdos dos registros da semana que são colocados no diagrama para contextualizar o terapeuta
no cotidiano do cliente, sendo usado para instrumentalizar o cliente para aumentar seus repertórios comportamentais e lidar
com as contingências de formas mais saudáveis.
A Terapia Focada em Esquemas apresenta algum nível de evidência para o paciente com TPB, na qual esquemas
iniciais desadaptativos (ou modos do self) são identificados e modificados. Porém, segundo Finkler et al. (2017), esta terapia
ainda precisa de mais estudos para aumentar o grau de segurança das evidências de efetividade desse modelo para esse
público-alvo. Já para Maffini et al. (2020), para os transtornos de personalidade, a Terapia de Esquemas é considerada uma das
abordagens mais efetivas, devido esta terapia enfatizar em um nível mais aprofundado de cognição, o nível de Esquemas
Iniciais Desadaptativos (EID), na qual os EID’s são estruturas estáveis e duradouras que se desenvolvem a partir de
necessidades emocionais não satisfeitas durante a infância e adolescência, sendo estes associados a diversas psicopatologias.
A Terapia Comportamental Dialética (DBT) foi a terapia mais encontrada e é o modelo de referência para o
tratamento da TPB, pois é a terapia com a maior quantidade de Ensaios Clínicos Randomizados (ECRs) na Literatura. A DBT
descreve que a etiologia do transtorno está relacionada a uma disfunção do sistema de regulação emocional, proveniente de
irregularidades biológicas e de ambientes invalidantes na infância, que desconsideram e rejeitam as respostas emocionais dos
indivíduos (Cavalheiro & Melo, 2016). Cerutti e Duarte (2016) apontam que os objetivos da Terapia Comportamental-
Dialética são claramente estabelecidos, primeiramente são abordados os comportamentos que ameaçam a vida ou a integridade
física do indivíduo; em segundo lugar, são trabalhados os comportamentos que ameaçam o processo de terapia; posteriormente
são tratados os problemas que inviabilizam uma qualidade de vida razoável; e em seguida, vem a preocupação com a
estabilização das habilidades comportamentais desenvolvidas em resposta às habilidades disfuncionais pré-existentes.
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As ligações têm o intuito de auxiliar o paciente a enfrentar as dificuldades, reforçando a utilização de habilidades
trabalhadas nas sessões e incentivar a permanência no tratamento. Destaca-se que foi feito um estudo com esse tipo de
abordagem, com pacientes borderlines em situação de crise e foi observado que o tratamento foi bem tolerado pelos
pacientes, sendo que 82% conseguiram manter-se em todo o tratamento e apenas 6% necessitaram de internação
psiquiátrica. Além disso, encontram significante melhora nos índices de desesperança e depressão. Esses dados
apontam para a importância da proteção e do cuidado com pacientes borderlines no manejo da sintomatologia e na
adesão ao tratamento, uma das principais dificuldades no tratamento desses pacientes (Cavalheiro & Melo, 2016, p.
587).
Para Menezes et al. (2014), a DBT pode ser considerada como a abordagem psicoterápica que proporciona
prognósticos mais favoráveis ao tratamento do TPB, haja vista suas intervenções menos diretivas quanto à confrontação, mas
que atuam diretamente no pensamento das pessoas por meio de metáforas atuantes de forma incisiva.
Sobre o desenvolvimento de habilidades em DBT, Cerutti e Duarte (2016) explicam que as habilidades de mindfulness
são focadas na percepção consciente das experiências internas, isto significa que o paciente está desenvolvendo a capacidade
de observar o surgimento e o desaparecimento de seus pensamentos, sem se prender àqueles muito valorizados e sem tentar
banir os dolorosos. Nas habilidades de regulação emocional os pacientes aprendem a identificar e compreender as funções das
próprias emoções, a diferenciá-las, a reduzir a vulnerabilidade para expressar e vivenciar apenas emoções intensas, a aumentar
a possibilidade de vivenciar eventos de forma mais positiva e a modificar experiências emocionais, se assim acharem
necessário.
Nas habilidades de efetividade interpessoal é recorrido a exercícios que se ensaia e treina um conjunto de cenários
prováveis no âmbito de relacionamentos interpessoais em que é pretendido que os pacientes apresentem soluções de
desenvolvimento adequados. E por fim, nas habilidades de tolerância ao mal-estar, o paciente treina estratégias que lhe
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permitam tolerar momentos ou situações ansiogênicas e que lhe causem perturbação significativa e que, por determinado
motivo, não as possam esquivar ou alterar (Cerutti & Duarte, 2016).
Menezes et al. (2014) apresentam outros conceitos também importantes na DBT, como a ideia de dialética, que
consiste em dizer que os fenômenos e os objetivos se caracterizam pela contradição, um lado positivo e um negativo, um
passado e um futuro, um aspecto novo e um velho. Dentro de tal perspectiva, é importante que a DBT enfoque constantemente
na dialética mudança x aceitação, considerando que a mudança só pode ocorrer no contexto de aceitação daquilo que existe, ou
seja, é preciso que os pacientes se reconheçam e percebam a existência de outros meios que não as polaridades, para que
mudem seus aspectos disfuncionais da personalidade.
Ainda sobre a DBT, esta teoria foi desenvolvida por Marsha Linehan. Dos nove artigos selecionados para análise, oito
fazem referência a Linehan (Cavalheiro & Melo, 2016; Cerutti & Duarte, 2016; Cunha & Vandenberghe, 2016; Figueiredo &
Marques, 2017; Finkler et al., 2017; Maffini et al., 2020; Melo et al., 2021; Menezes et al., 2014; Silva & Bezerra, 2021), fato
que reafirma a importância da DBT na literatura das terapias comportamentais para o paciente com TPB.
4. Considerações Finais
Os estudos avaliados confirmaram que há produções brasileiras sobre o manejo clínico de pessoas com transtorno de
personalidade borderline nas terapias comportamentais dos últimos dez anos e quatro meses. Foi visto que dentre as terapias
comportamentais as que têm literatura sobre essa temática, porém com menor produção são as Terapia Cognitivo-
Comportamental, a Terapia de Aceitação e Compromisso e a Terapia Focada em Esquemas, e a Terapia Comportamental
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Dialética é a que mais apresenta estudos na área, sendo considerada a “padrão ouro” no manejo de pessoas com Transtorno de
Personalidade Borderline.
Sobre as limitações deste estudo, ele passou por algumas mudanças durante a escrita. Inicialmente, foi proposto que
seria uma revisão sistemática, de artigos com estudos de casos publicados nos últimos cinco anos, porém não foi encontrado
artigos; posteriormente foi proposto uma revisão integrativa, inserindo também revisões de literatura, entretanto, foram
encontrados somente cinco artigos; e por fim, tornou-se uma revisão narrativa, sendo a busca ampliada para 10 anos,
encontrando então, nove artigos.
A escassa literatura nacional sobre essa temática faz com que os terapeutas se utilizem de fontes internacionais, fato
que, por não terem consistentes estudos nacionais – consequentemente não terem uma adaptação transcultural – as propostas
podem soar estranhas, por exemplo, quando a DBT (Linehan, 2018) propõe a utilização de coaching telefônico e a intervenção
multiprofissional em DBT.
Este estudo apresentou teorias e técnicas que podem ser aplicadas no manejo de pessoas com TPB nas terapias
comportamentais, contudo, o atendimento a pessoas com Transtorno Personalidade Borderline exige um constante
aperfeiçoamento por parte do terapeuta, visto este transtorno ser um amplo campo de análises comportamentais por suas
características e especificidades. Além do já exposto, este estudo vem contribuir para formação de psicoterapeutas e incentivá-
los a continuar estudando, pesquisando, produzindo e trabalhando na clínica com pacientes que tenham desregulação
emocional, principalmente o Transtorno de Personalidade Borderline.
Assim, considera-se importante, a realização de mais pesquisas científicas e ensaios clínicos, principalmente os
longitudinais, para que possam ampliar esta temática, sobretudo a DBT, por já acumular significativas evidências de eficácia
para este quadro. Além disso, são necessários estudos para esclarecer as peculiaridades relevantes na transculturação da DBT
para a realidade brasileira, seja no que concerne aos resultados desse tratamento junto aos pacientes, seja quanto à
incorporação desta complexa abordagem pelos terapeutas.
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