TCC Leonardo Sorence Borges EP 2020 FINAL CATALOGRAFADO PDF A

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO

CAMPUS BAIXADA SANTISTA


INSTITUTO DO MAR

Leonardo Sorence Borges

Uso de Bactérias para Recuperação Avançada de


Petróleo (MEOR)

Orientadora:

Profa. Dra. Elen Aquino Perpetuo

SANTOS – SP
2020
Borges, Leonardo Sorence.
B732u Uso de Bactérias para Recuperação Avançada de
Petróleo(MEOR). / Leonardo Sorence Borges;
Orientadora Elen Aquino Perpetuo. -- Santos, 2020.
64 p. ; 30cm

TCC (Graduação - Engenharia de Petróleo) --


Instituto do Mar, Universidade Federal de São Paulo,2020.

1. recuperação avançada. 2. dinâmica microbiana.


3.degradação anaeróbia. 4. petróleo. 5.reservatórios. I.
Perpetuo, Elen Aquino, Orient. II. Título.

CDD 665.5
Trabalho de conclusão de curso
apresentado à Comissão do Trabalho de
Conclusão de Curso de graduação do
Bacharelado em Engenharia de Petróleo
da Universidade Federal de São Paulo,
como requisito à aprovação na unidade
curricular de Trabalho de Conclusão de
Curso II.

Data da aprovação

13/07/2020

Banca Examinadora:

Profª. Drª. Elen Aquino Profª. Drª. Liliane Janikian


Perpetuo Paes de Almeida

Data da aprovação
13\07\2020

SANTOS – SP
2020
Agradecimentos
“...Quem é semelhante ao Senhor nosso Deus, que tem o seu assento nas alturas,

que se inclina para ver o que está no céu e na terra?

Ele levanta do pó o pobre, e do monturo ergue o necessitado,

para o fazer sentar com os príncipes, sim, com os príncipes do seu povo.

Ele faz com que a mulher estéril habite em família, e seja alegre mãe de filhos. Louvai ao Senhor.”

Livro dos Salmos ( 1440 a.C )

”...Quanto mais eu estudo a natureza, mais eu fico maravilhado com as obras do Criador. A ciência me aproxima de Deus”

Louis Pasteur, Pai da microbiologia ( 1822 – 1895 )


AGRADECIMENTOS

A Deus, por ser indescritivelmente extraordinário e incrível na minha vida, que


continue me iluminando e me guiando, dando­me força e paz por toda a minha vida.

A Minha mãe Miriam Loureiro, pelo amor e apoio incondicional.

Aos docentes; Drª. Elen Aquino Perpetuo, Drª. Liliane Janikian Paes de
Almeida, Dr. Lúcio Leonel Barbosa, Dr. Gustavo Bueno Gregoracci, Dr. Anderson
Pereira por me ajudarem e disponibilizarem diretamente com ideias e opiniões nesse
assunto.

Aos docentes; Dr. Augusto Cesar, Dr. Camilo Dias Seabra, Drª. Renata de Faria
Barbosa, Drª. Barbara Lage Ignacio, Dr. Marcio Yee pelos incentivos e apoio
acadêmico.

Amigos de graduação em outra instituição pela amizade e exemplo; Engenheiro


Vitor Mendes Aguera, Prof. Dr. Uanderson Resende e Prof. Me. Julio Cesar Holanda
de Albuquerque.

Colegas dessa universidade pelo exemplo, ajuda e amizade Luiz Antonio


Polaci, Marco Aurélio Carius Patrocínio.

Colega dessa universidade Alek Sgarbi Casillo pela ajuda e amizade.

Apoio dos laboratórios: Centro de Pesquisa em Meio Ambiente (CEPEMA) da


Universidade de São Paulo (USP); LABEPETRO Laboratório de Pesquisa em
Engenharia de Petróleo e Combustíveis. Universidade Federal de São Paulo ­
UNIFESP, Instituto do Mar – IMAR
Sumário
1. Introdução .................................................................................................................................... 12

2. Referencial Teórico ..................................................................................................................... 18

2.1 EOR (Enhanced Oil Recovery) ou Métodos de Recuperação Avançada .................................. 18


2.1.1 Métodos Térmicos ......................................................................................................... 19
2.1.2 Métodos Químicos......................................................................................................... 19
2.1.3 Métodos Miscíveis ......................................................................................................... 21
2.2 MEOR (Microbial Enhanced Oil Recovery) ou Recuperação Microbiana de Óleo Avançada . 21

2.3 Contexto Atual do MEOR .............................................................................................................. 24

2.4 Revisão de mecanismos MEOR ................................................................................................... 27


2.4.1 Produção de biosurfactantes e bioemulsificantes ........................................................ 28
2.4.2 Produção de ácidos e solventes .................................................................................. 31
2.4.3 Produção de biopolímeros e biofilme ........................................................................... 33
2.4.4 Produção de gases....................................................................................................... 35
2.5 Adaptação da técnica em escalas piloto ..................................................................................... 39

2.6 A limitação cientifica da técnica: A diversidade bacteriana e o consórcio microbiano ............ 41


3. Uso de MEOR para óleos pesados ............................................................................................ 42

4. Metodologia ................................................................................................................................. 45

4.1 Amostras e enriquecimento seletivo .......................................................................................... 45

4.2 Identificação dos micro­organismos presentes na amostra .................................................... 47

4.3 Caracterização físico­química dos óleos .................................................................................. 48


5. Resultados e Discussão ........................................................................................................... 48

5.1 Amostras e enriquecimento seletivo .......................................................................................... 49

5.2 Identificação dos micro­organismos presentes na amostra .................................................... 49

5.3 Ensaios com óleo pesado .......................................................................................................... 54


6. Conclusões ................................................................................................................................. 56

7. Referências Bibliográficas: ...................................................................................................... 57


LISTA DE SÍMBOLOS

BS – Biosurfactantes

CEOR – Chemical Enhanced Oil Recovery

IFT – Interfacial Tension

MEOR – Microbial Enhanced Oil Recovery

UCM - Unresolved Complex Mixture

VFA – Volatily Fatty Acids

MTBE - Methyl tertiary butyl ether


Resumo

A exploração mundial de petróleo ocorre de forma intensa no mundo todo, mas as tecnologias atuais
conseguem extrair apenas 1/3 do óleo presente nos reservatórios, utilizando as técnicas convencionais.
Estima­se que, aproximadamente 300 bilhões de barris de petróleo tenham ficado no subsolo dos
Estados Unidos, mesmo após o uso de técnicas avançadas de exploração petrolífera como injeção de
água ou gás. Assim, conseguir extrair ainda que uma fração dessas reservas, pode representar um
grande aproveitamento econômico, por se tratar de grandes volumes de óleo. No entanto, o papel dos
micro­organismos que interagem diretamente com hidrocarbonetos, podendo aumentar o nível de
extração, é em sua maioria ignorado ou subestimado em projetos de exploração. Potenciais técnicas
de recuperação avançada utilizando MEOR (Microbial Enhancend Oil Recovery) são geralmente
suprimidas e escassas, por apresentarem resultados inconclusivos, os quais, geram incertezas de sua
confiabilidade e eficiência, pois na pior das hipóteses, coloca­se em risco o reservatório petrolífero.
Esse risco, deve­se ao fato da falta de entendimento de como controlar as bactérias que podem ser
inseridas no reservatório. O entendimento da atividade microbiana representa um desafio para ciência
moderna, pois entender o mundo e as interações entre micro­organismos apresenta diversas
dificuldades e traduz­se em entender as condições físico­químicas e nutricionais solicitadas pela cultura
no seu desenvolvimento, além de mecanismos genéticos e biomoleculares de sintrofia. Todos esses
fatores exibem a complexidade da compreensão das interações microbiana em um meio e a
complexidade em dominar as reações bioquímicas adequadas a jazida. Porém, a influência de
bactérias nos mais diversos meios terrestres, aquáticos ou em reservatórios no subsolo sempre ocorre,
mesmo que ignorada ou incompreendida, mesmo em exploração de reservas naturais de petróleo.
Deste modo, fica claro a importância do entendimento das condições de crescimento bacterianas e
suas interações, como núcleo fundamental do desenvolvimento da técnica de recuperação avançada.
Também a simulação dos efeitos da colonização bacteriana em experimentos de reatores com plugs
ou cores de rochas, podem dar uma ideia dos efeitos que podem ocorrer. Para isso, técnicas de cultivo
e caracterização de cepas bacterianas benéficas ao processo de exploração petrolífera são essenciais,
para que se possam utilizar meios biológicos a fim de recuperar hidrocarbonetos dos reservatórios.

Palavras Chave: recuperação avançada, dinâmica microbiana, oxidação, reações, sintrofia,


degradação anaeróbica, reservatórios, petróleo
Abstract

The world exploration of oil occurs intensely in the whole world, but the current technologies
manage to extract only 1/3 of the oil present in the reservoirs, using conventional techniques. It is
estimated that approximately 300 billion barrels of oil have been left underground in the United States,
even after using advanced oil exploration techniques such as water or gas injection. Thus, being able
to extract even a fraction of these reserves, can represent a great economic benefit, since it is a large
volume of oil. However, the role of microorganisms that interact directly with hydrocarbons, which can
increase the level of extraction, is mostly ignored or underestimated in exploration projects. Potential
advanced recovery techniques using MEOR (Microbial Enhancend Oil Recovery) are generally
suppressed and scarce, as they present inconclusive results, which generate uncertainties in their
reliability and efficiency, because in the worst case, the oil reservoir is at risk. This risk is due to the lack
of understanding of how to control the bacteria that can be inserted in the reservoir. Understanding
microbial activity represents a challenge for modern science, as understanding the world and the
interactions between microorganisms presents several difficulties and translates into understanding the
physical­chemical and nutritional conditions requested by culture in its development, in addition to
genetic mechanisms and biomolecular syntrophy. All of these factors show the complexity of
understanding microbial interactions in a medium and the complexity of mastering the appropriate
biochemical reactions to the deposit. However, the influence of bacteria in the most diverse terrestrial,
aquatic environments or in underground reservoirs always occurs, even if ignored or misunderstood,
even in the exploration of natural oil reserves. In this way, it is clear the importance of understanding
bacterial growth conditions and their interactions, as a fundamental core of the development of the
advanced recovery technique. Also the simulation of the effects of bacterial colonization in reactor
experiments with plugs or rock colors, can give an idea of the effects that can occur. For this, cultivation
techniques and characterization of bacterial strains beneficial to the oil exploration process are essential,
so that biological means can be used in order to recover hydrocarbons from reservoirs.

Keywords: advanced recovery, microbial dynamics, oxidation, reactions, sintrophy, anaerobic


degradation, reservoirs, oil
12

1. Introdução

A exploração de petróleo representa grande parcela de recursos energéticos


mundiais atualmente e nas próximas décadas. Ela está intimamente ligada a
possibilidade de retorno econômico que a produção em certo local pode trazer para
empresas e exigindo projetos de grandes investimentos. Dessa forma, a viabilidade
econômica de um projeto de exploração é um dos principais fatores que influenciam
na decisão de exploração de um campo petrolífero, impondo aos profissionais desse
ramo situações em que difíceis decisões precisam ser tomadas envolvendo cifras de
milhões de dólares. A título de curiosidade, o custo diário de uma sonda pode chegar
a 800 mil reais e um poço petrolífero em lâmina d´água de 2500 metros chega a custar
55 milhões de reais. Ao se analisar a viabilidade econômica de um projeto é feita uma
estimativa do tempo de produção de um campo, para se ter ideia do tempo que esse
campo trará a seus exploradores e investidores um retorno financeiro.

O tempo e a produção de uma jazida petrolífera dependem de alguns fatores


como o tipo de técnica a ser empregada, o tipo de rocha que será explorada, a
profundidade da jazida, entre outros. Esses campos onde recursos petrolíferos são
explorados são analisados e repartidos em fases de exploração como mostra a Figura
1.

FIGURA 1 ­ FASES DA VIDA DE UM CAMPO DE PETRÓLEO ( EXTRAÍDO DE NAVEIRA, 2007)


13

O ciclo natural é uma curva ascendente de exploração seguida de um pico e


uma decaída na produção. Geralmente alcança­se o pico de produção nos primeiros
5 anos, após essa fase ocorre o momento de “platô”, onde a produção é máxima e,
por conseguinte, a fase de declínio onde se recorrem a aplicação de técnicas de
recuperação avançada.

As técnicas de recuperação avançada são importantes por representar o


aproveitamento de toda infraestrutura de exploração já presente e instalada no campo,
a fim de evitar o abandono de campos que contenham ainda um volume razoável de
hidrocarbonetos e que geralmente são abandonados pela sua baixa rentabilidade.

Todavia, algumas pequenas empresas que possuem tecnologia avançada são


atraídas por esses campos para reativar a produção e lucratividade da jazida
(ZAMITH, 2005). Nesse momento é que surge um grande desafio para exploração,
pois, o tipo de rocha que compõe a formação da jazida influencia diretamente na
produção. Esse desafio se torna ainda maior quando consideramos que as maiores
reservas mundiais estão localizadas em reservatórios carbonáticos (Akbar et al.
2000).

Esses reservatórios são compostos por rochas carbonáticas e são


caracterizados por grandes variações de permeabilidade ao longo de sua extensão.
Ainda, as rochas carbonáticas possuem uma molhabilidade ruim para exploração, ou
seja, as rochas carbonáticas em maioria são molháveis a óleo (Chilingar e Yen, 1983).

O entendimento da complexidade das rochas carbonáticas é de tamanha


magnitude que extensos trabalhos já foram feitos visando agrupar as diferentes
variedades dessas rochas, que geralmente sofrem forte ação da diagênese e
oferecem grandes desafios em sua classificação (TERRA et al., 2010).

A Figura 2 exibe, dentre tanta variedades, alguns exemplos de rochas


carbonáticas com espectro de ocorrência nas bacias brasileiras onde ocorre
exploração petrolífera e inclusive compõem os gigantes campos de petróleo
descobertos na seção Pré­Sal.
14

FIGURA 2 ­ DIFERENTES TIPOS DE ROCHAS CARBONÁTICAS. A) GRAINSTONE OOLÍTICO. FM. GUARUJÁ, CRETÁCEO,
BACIA DE SANTOS. FOTOMICROGRAFIA, NICOIS PARALELOS; B) BIOACUMULADO DE MACROFORAMINÍFEROS, FM.
AMAPÁ, PALEÓGENO, BACIA DA FOZ DO AMAZONAS. FOTOMICROGRAFIA, NICOIS CRUZADOS. C) PACKSTONE
ONCOLÍTICO, FM. PONTA DO MEL, CRETÁCEO, BACIA POTIGUAR. FOTOMICROGRAFIA, NICOIS CRUZADOS. D)
ESTROMATOLITO ARBORESCENTE. FM. BARRA VELHA, CRETÁCEO, BACIA DE SANTOS. FOTOMICROGRAFIA, NICOIS
PARALELOS. ( EXTRAÍDO DE TERRA ET AL, 2010).

O fato de serem molháveis a óleo significa que as rochas tem alta afinidade
pelo óleo que se encontra adsorvido a sua superfície, dificultando a retirada desse
óleo do reservatório. Esse detalhe faz uma enorme diferença no planejamento de um
projeto de exploração. Para conseguir resolver esse e outros problemas de
engenharia de reservatórios, as empresas empregam grandes volume de recursos em
estudos de modelagem computacional e geológicos para melhor entender a
complexidade desses reservatórios. Outro fator impactante é a heterogeneidade dos
reservatórios carbonáticos e a complexidade geológica dessas rochas, o que torna os
padrões de perfilagem detectados pelas ferramentas inconstantes em toda extensão
da jazida, dificultando a delimitação do reservatório como mostra a Figura 3. Entre
outros perfis como RHOB (perfil de densidade das rochas – Linhas vermelha e preta),
DT (Perfil Sônico – linha vermelha), nesse perfil podemos ver o perfil de raios gama
na região do reservatório petrolífero (linha verde) que indica os valores da radiação
15

natural gama emitida. De maneira geral, folhelhos tem emissão maior desses raios
em relação a outras rochas sedimentares emanada dos elementos Potássio (K),
Urânio (U) e Tório (T). Esses perfis apresentam inconstâncias recorrentes na região
petrolífera evidenciando a heterogeneidade do reservatório (MELANI et al, 2015).

FIGURA 3 ­ ZONEAMENTO DE RESERVATÓRIO CARBONÁTICO QUISSAMÃ DA BACIA DE CAMPOS MOSTRANDO AS ZONAS DE


ÓLEO E TRANSIÇÃO ÁGUA\ÓLEO E A COMPLEXIDADE DE SEUS PADRÕES PETROFÍSICOS. ( EXTRAÍDO DE MELANI ET AL,
2015).

O entendimento das características do reservatório é um grande passo para


exploração, por isso, ele continua durante toda as fases da exploração e, portanto,
qualquer técnica que melhore as características de modelo e aumentem a capacidade
de extrair mais petróleo são importantes para todo o processo exploratório. A
16

modelagem de um reservatório pode fornecer informações importantes para tomada


de decisões quanto a técnica de recuperação avançada a ser aplicada na jazida.

Assim, a recuperação avançada de petróleo e estudos geológicos envolvendo


todos os níveis de complexidade de um reserva petrolífera são atividades que se
complementam tecnicamente. Somente através do conhecimento profundo das
características dos reservatórios é que se pode escolher com alta probabilidade de
sucesso um tipo de técnica de recuperação avançada (JIA et al., 2018). A Figura 4
exibe um exemplo de modelagem computacional de um reservatório carbonático e a
análise da variação de sua porosidade em diferentes pontos evidenciando sua
complexidade.

FIGURA 4 ­ CASO BÁSICO DE MODELAGEM PETROFÍSICA DA POROSIDADE DA MATRIZ CARBONÁTICA,


(EXTRAÍDO DE MAHJOUR ET AL, 2019 )

Os trabalhos de exploração petrolífera aplicam diversas técnicas para retirada


dos hidrocarbonetos presentes nos reservatórios, mas a adoção dessas técnicas
depende do estágio em que a exploração se encontra. As técnicas primárias de
exploração geralmente se aproveitam da grande pressão inicial do reservatório para
retirar o recurso do subsolo, contudo, elas tem potencial de retirar apenas 10% a 20%
17

do óleo contido na reserva. Em seguida, são aplicadas técnicas secundárias para


tentar aumentar a recuperação do recurso explorado geralmente injetando fluidos
conseguindo chegar a uma margem maior de exploração entre 40% a 50% da reserva.

Mesmo após todo esse esforço de engenharia, consegue­se extrair da reserva


aproximadamente metade dos recursos disponíveis. Segundo ZHANG (2020),
aproximadamente 40% das reservas petrolíferas mundiais são compostas de óleo
pesado e extra­pesado e apresentam dificuldade para serem extraídos. Nesse
momento as técnicas empregadas para extrair os hidrocarbonetos são chamadas de
terciárias e precisam utilizar mecanismos para recuperar o óleo aprisionado na
formação. Atualmente, a mais utilizada é a de métodos químicos (CEOR – chemical
enhanced oil recovery) que pode ajudar aumentar a recuperação em até 30%. Essa
tecnologia pode utilizar gases, polímeros e surfactantes sintéticos, contudo, essa
técnica tem alto custo e impacto ambiental.

Dentro desse contexto complexo envolvendo esforços de engenharia para criar


técnicas de exploração viáveis, há uma alternativa terciária de recuperação que
oferece vantagens de custo e ambientais, para aumentar a recuperação de petróleo.
Esta técnica é conhecida como recuperação microbiana de óleo avançada (MEOR –
Microbial Enhanced Oil Recovery) e pressupõe a aplicação de micro­organismos no
reservatório com estimulação do seu crescimento exponencial, através do
fornecimento de nutrientes dispensando insumos químicos. Portanto, o impacto
ambiental é significativamente baixo, pois podem ser utilizadas espécies de bactérias
já presentes no reservatório, o que representa uma alternativa ecologicamente
sustentável.

A utilização de MEOR se apresenta promissora por agregar tanto benefícios


econômicos quanto ambientais, chegando em alguns casos a recuperação quase total
do óleo presente no reservatório. Também representa alta possibilidade de retorno
econômico às empresas exploradoras, por ter custo relativamente baixo e alto fator
de recuperação quando comparada a outras técnicas de recuperação avançada,
como ilustra a figura 5.
18

FIGURA 5 ­ COMPARAÇÃO DO CUSTO DE APLICAÇÃO DA TÉCNICA MEOR EM RELAÇÃO AS OUTRAS


TÉCNICAS DE RECUPERAÇÃO AVANÇADAS ( EXTRAÍDO DE MCGENITY AT AL, 2010 )

Todavia, por se tratar de uma alternativa pouco explorada e com mecanismos


de funcionamento ainda não bem elucidados, pode representar um risco ao
reservatório sua aplicação. Por esse motivo, essa técnica muitas vezes é deixada de
lado em projetos de exploração, mas representa uma promissora alternativa se seus
gargalos científicos puderem ser compreendidos, fazendo com que haja domínio
pleno de suas características ao se aplicar em campos petrolíferos.

2. Referencial Teórico

2.1 EOR (Enhanced Oil Recovery) ou Métodos de Recuperação Avançada

A operação de exploração de um campo tem uma vida útil fixada pela produção.
Em muitos momentos, há a necessidade de aumentar a vida útil do poço ou até
aumentar a produção, mas os métodos convencionais não tem potencial para
promover essa otimização. Nesse momento são empregadas técnicas avançadas de
recuperação de petróleo, visando atingir maior performance na exploração.
19

Essas técnicas buscam maximizar as características do reservatório úteis na


exploração, como diminuição da tensão interfacial das fases, otimização dos espaços
porosos, diminuição da viscosidade do óleo ou aumento da mobilidade do óleo.

Os métodos de EOR (Enhanced Oil Recovery), são divididos em 3 categorias


principais:

­ Métodos térmicos

­ Métodos químicos

­ Métodos miscíveis

2.1.1 Métodos Térmicos

Esses métodos pressupõem um comportamento menos viscoso do óleo,


quando aumentada a temperatura do composto. A adição de calor ao óleo melhora a
drenagem da formação, por causa da queda da viscosidade e foi uma das técnicas
iniciais a serem empregadas na indústria do petróleo. Uma das desvantagens dessa
aplicação é o fato de possuir alto custo e risco associado.

Eles se dividem em dois tipos:

­ Injeção de fluídos quentes

­ Combustão in situ

A injeção de fluidos fornece ao reservatório uma massa previamente aquecida


de fluidos na superfície, geralmente o fluido escolhido é a água podendo ser injetada
na forma de vapor ou líquida em altas temperaturas.

Na combustão in situ, ocorre a ignição de hidrocarbonetos dentro do


reservatório. Assim, ocorrem reações de combustão que consomem parte do óleo na
presença de oxigênio produzindo calor e como produtos de reação água e dióxido de
carbono (ROSA et al, 2006).

2.1.2 Métodos Químicos


20

São técnicas que adicionam compostos na água injetada visando atingir


propriedades interfaciais mais propícias a drenagem de hidrocarbonetos da formação,
através de interações físico­químicas entre o fluido injetado e o da formação
(BABADAGLI, 2006).

Podem ser empregadas três maneiras:

­ Injeção de polímeros

­ Injeção de solução micelar

­ Injeção de solução ASP (Álcali­Surfactante­Polímero)

Na injeção de polímeros, se busca aumentar a viscosidade da água que será


injetada. Esse fenômeno acaba ocasionando uma melhor drenagem do óleo da
formação, pois o aumento da viscosidade faz a água ter mobilidade próxima ao óleo.
Esse fenômeno acaba fazendo com que a água deixe de escoar por canais de maior
permeabilidade chegando rápido ao poço produtor, empurrando maior volume de óleo
e, portanto, aumentando a recuperação.

A injeção de solução micelar é através da injeção de um fluido com


características de micro emulsão, formada por eletrólitos, óleo e surfactantes. Essa
solução quando injetada no reservatório, provoca a adsorção do óleo aprisionado às
fases dessa solução, realizando uma melhor recuperação final de petróleo.

Por último, o método ASP pode ser aplicado tanto em reservatórios


carbonáticos, quanto em arenito como mostra a Figura 6, onde injetou­se a solução
ASP em um poço em OMÃ, no Golfo Pérsico visando avaliar o impacto da técnica no
reservatório. Quando se faz a injeção de solução ASP, se busca melhorar a
recuperação de óleo através da conjugação de duas características principais,
primeiro a redução da tensão interfacial pelas substâncias alcalinas e surfactantes. E
depois, o polímero provoca a equiparação das viscosidades do fluido de injeção e do
reservatório, aumentando a quantidade de óleo varrido do reservatório (WYATT et al.,
2002)
21

FIGURA 6 ­ POÇO INJETOR DE SOLUÇÃO ASP EM RESERVATÓRIO CARBONÁTICO EM OMÃ – GOLFO PÉRSICO. ( EXTRAÍDO DE
SHELL ENERGY & INOVATION – ENHANCED OIL RECOVERY TECHNOLOGIES ) DISPONÍVEL EM:
HTTPS://WWW.SHELL.COM/ENERGY­AND­INNOVATION/OVERCOMING­TECHNOLOGY­CHALLENGES/MAKING­THE­MOST­OF­OUR­
RESOURCES/_JCR_CONTENT/PAR/TEXTIMAGE.STREAM/1462800199005/79F4638AC5B75BDBD4C04C0B4DD2668051648EC
B/EOR­BROCHURE­2016.PDF

2.1.3 Métodos Miscíveis

São métodos usados para diminuir a tensão interfacial das fases que provocam
resistência a drenagem de óleo pelos fluídos injetados. Assim, esses métodos são
indicados geralmente para situações em que a recuperação de óleo é prejudicada por
altas tensões interfaciais. Ao se misturar aos fluidos do reservatório, o fluido injetado
forma uma só fase facilitando a retirada de óleo do reservatório (TELETZKE et al.,
2005).

2.2 MEOR (Microbial Enhanced Oil Recovery) ou Recuperação Microbiana de


Óleo Avançada

Desde a década de quarenta (1940) temos projetos que investigam a interação


de micro­organismos e petróleo em projetos de pesquisa e desenvolvimento, mas sem
avanços significativos que resultem em aplicação em larga escala, os quais são
praticamente inexistentes até o dia de hoje.
22

Para termos uma referência histórica, Beckman propôs pela primeira vez a
técnica de MEOR em 1926 (SAYYOUH et al., 1993). No entanto, foi em 1940 que
investigadores russos começaram a considerar seriamente a aplicação da técnica.
Aliado a esse fato, ZoBell (1946) desenvolveu trabalhos na área também e aí
começava então a surgir a ideia de se utilizar micro­organismos na indústria do
petróleo. Até então a microbiologia como ciência tinha menos de 100 anos e a
capacidade dos micro­organismos em degradar petróleo foi vista com grande
curiosidade entre cientistas.
Desde então, muitos trabalhos foram realizados por cientistas para entender
melhor o processo de biodegradação de petróleo, transformando uma curiosidade em
necessidade, pois cada vez mais se desvendava mecanismos de degradação de óleo
por bactérias. Sendo assim, diversas empresas e universidades começaram a investir
em estudos para entender os processos de biodegradação do petróleo associados a
bactérias e seus impactos na qualidade do óleo (LAZAR et al., 2007). A Figura 7
abaixo mostra a relação entre a biodegradação de petróleo e seu consequente
aumento de densidade.

FIGURA 7 ­ PROCESSOS DE BIODEGRADAÇÃO EM RESERVATÓRIOS DE PETRÓLEO E CONSEQUENTE ALTERAÇÃO


DE QUALIDADE E GRAU API ( EXTRAÍDO DE CRUZ ET AL, 2012)

O primeiro registro de patente de ZoBell trabalhava com a injeção de bactérias


Desulfovibrio hydrocarbonoclasticus acoplada com nutrientes como fonte de carbono
e enxofre oxidado, mas somente em laboratório sem realizar ensaios em campo
(BROWN, 2010­b). Em um segundo momento ZoBell usou adição de hidrogênio em
23

ambiente anóxico, junto com cepas de Clostridium sp., mas também não foram feitos
ensaios em campo, restringindo­se a experimentos controlados em laboratório.
Contudo, um grande empecilho para esses estudos é que a exploração de
petróleo tanto em áreas continentais quanto em plataformas oceânicas envolve o
acesso a camadas mais profundas, chegando a perfurações com 7 km de
profundidade como ilustra a Figura 8.

FIGURA 8 ­ PROFUNDIDADES ATINGIDAS NA EXPLORAÇÃO, FONTE:


HTTP://WIKIGEO.PBWORKS.COM/W /PAGE/36435679/CAMADA%20PR%C3%A9­SAL

Portanto, existe uma grande dificuldade em realizar experimentos nessas


explorações. A maioria das pesquisas eram feitas em laboratórios, até que em 1940
uma empresa americana resolveu contratar um microbiologista (BROWN, 2010­a).
24

2.3 Contexto Atual do MEOR

Esse processo de formulações hipotéticas e investigações acadêmicas da


técnica continuaram ocorrendo, mas sem resultar em aplicações in situ da técnica,
sendo por isso chamada de “black box” por muitos profissionais do ramo do petróleo.
Uma das razões para o insucesso técnico, é o receio de não conseguir controlar o
consórcio microbiano que pode ser gerado in situ, após a inoculação de cepas de
bactérias selvagens em um reservatório de petróleo avaliado em muitos milhões de
dólares (NIKOLOVA, 2020­a)
A compreensão dos consórcios microbianos ainda não foi elucidada
completamente pela ciência, pois estamos nos passos iniciais desse conhecimento
científico. Com o advento das tecnologias de pirosequenciamento genético 454 e
Illumina, muitos avanços foram realizados no sentido de caracterizar comunidades
microbianas (KONOPKA, 2009).
No entanto, entender suas interações ecológicas com outras cepas, com o
meio físico­químico e suas flutuações ainda é crucial.
Estudos e experimentos mais modernos conseguem prever e modelar
crescimentos de duas ou três cepas de forma razoável, mas ainda com dificuldades (
WIDDER et al., 2016; SARAVANAN et al., 2008) o que mostra o grau de
complexidade exigido na compreensão do metabolismo bacteriano e suas interações
se considerarmos que apenas 1% dos micro­organismos são cultiváveis e um grama
de solo pode conter aproximadamente um milhão de espécies diferentes.
Por exemplo, uma cepa com potencial aplicação em EOR é mostrada na Figura
9 em duas situações diferentes. A cepa de Pseudomonas aeruginosa pode consumir
petróleo pesado melhorando sua viscosidade. No meio “a” ela cresce isoladamente
sem competir ou interagir com outras espécies (colônias circulares brancas).
Em “b” ela é cultivada na presença de Escherichia coli (colônias vermelhas) e
obrigatoriamente interagem entre si, beneficiando­se através da formação de
consórcios microbianos ou competindo através de predação.
25

FIGURA 9 ­ CULTIVO SELETIVO DE BACTÉRIAS PSEUDOMONAS AERUGINOSA E ESCHERICHIA COLI. EM ENDO AGAR. FONTE:
HTTPS://WWW.MICROBIOLOGYINPICTURES.COM/PSEUDOMONAS­AERUGINOSA.HTML

O conhecimento e domínio dessas interações representa hoje uma das


principais limitações que impede a aplicação da técnica MEOR em larga escala. As
consequências de se inocular cepas de bactérias em reservatórios são perigosas,
pois, estes podem apresentar diversas outras cepas nativas, as quais, em contato
com cepas selvagens irão interagir, competir por espaço ou alimento, sendo esses
desdobramentos tanto benéficos quanto danosos para a exploração (LEGGETT et al.,
2014).
Contudo, essa área da microbiologia tem se desenvolvido intensamente nos
últimos anos e pode contribuir significativamente para o desenvolvimento de
aplicações MEOR. Sobre a interação entre diferentes cepas bacterianas, há um vasto
conhecimento científico produzido nos últimos anos indicando que existem rotas
metabólicas específicas necessárias a degradação de certos substratos. (RILEY and
WERTZ, 2002; PASSARGE et al., 2006; SIEBER et al., 2012).
Esse conhecimento é importante, pois serve de base para projetarmos como
pode ser um consórcio microbiano estabelecido em um reservatório de petróleo.
Obviamente não ocorrerão os mesmos processos na mesma ordem, mas pode­se ter
uma ideia da cascata de reações e a consequente flutuação que irá ocorrer caso um
consórcio microbiano seja estabelecido. Em termos práticos, podemos esperar que,
sempre haverá a interação de diversas bactérias em um reservatório e, entendendo
melhor como essas interações ocorrem podemos melhorar nossa capacidade de
controlar o processo (WIRTH et al., 2012).
26

Essa é uma possibilidade que pode influenciar na aplicação de técnicas MEOR,


até porque essa é uma técnica avançada e normalmente será aplicada após a
produção do reservatório já ter sido explorada por anos. Essa exploração ao longo
do tempo tem potencial de contaminação, pois se utilizam fluidos de perfuração e
mesmo que adicionadas substâncias bactericidas ao fluido, por se tratar de operação
de larga escala em campo aberto, as probabilidades de que o reservatório seja
contaminado são altas devido a muitas possibilidades de contaminação microbiana.
Por exemplo, sabemos que no assoalho marinho é o local onde naturalmente
se depositam os corpos da fauna e flora morta na coluna d’agua. Esses corpos são
decompostos por micro­organismos que colonizam o assoalho marinho, sendo que o
leito marinho é potencial local de alta proliferação microbiana ( VARLIERO et al., 2019).
Portanto, poderá ocorrer incrustação nos instrumentos da coluna de perfuração
submarina usados na operação de perfuração, apesar de todos os cuidados tomados
pelas empresas na operação da coluna de perfuração submarina.
Além disso, há tendência cada vez maior para implementação de automação
em sistemas submarinos de produção, para minimizar custos, sendo que algumas
plantas de produção submarinas já contam até com sistemas de separação e
processamento primário in situ (Figura 10).

FIGURA 10 ­ ESQUEMA DE ARQUITETURA SUBSEA. FONTE: EXTRAÍDO DE: HTTPS://WWW .BHGE.COM/UPSTREAM/SUBSEA


27

Nesse contexto, uso de técnicas MEOR deve considerar não só a injeção de


bactérias selvagens, como também os processos que podem estar ocorrendo no
sistema ou possíveis contaminações por agentes de perfuração e seus fluídos que
potencialmente carregam consigo micro­organismos contribuindo para o aumento da
complexidade da abordagem. No entanto, existe a possibilidade da sua aplicação não
só para recuperação avançada de óleo, mas como parâmetro para auxiliar em toda
interação subaquática de equipamentos e dutos transportadores de óleo, bem como
no desenvolvimento de tecnologias que diminuam a corrosão e de processos
mediados por micro­organismos em equipamentos metálicos.

2.4 Revisão de mecanismos MEOR

De maneira geral podemos afirmar que as técnicas de recuperação microbiana


(MEOR) utilizam uma ferramenta biotecnológica para recuperar petróleo. Através da
aplicação dos produtos metabólicos de micro­organismos em reservatórios de
petróleo é possível aumentar o rendimento da exploração. Estes produtos metabólicos
interagem com o óleo no reservatório modificando propriedades físico­químicas do
óleo que não se consegue extrair por métodos convencionais e encontra­se
aprisionado na formação (NIKOLOVA, 2020­b).
Esses metabólitos podem ser gases, polímeros, surfactantes ou ácidos, os
quais, quando liberados dentro do reservatório podem alterar características
importantes como permeabilidade, porosidade, tenção interfacial, pressão,
capilaridade, viscosidade, etc.
Para conseguir crescer no reservatório de petróleo alguns fatores importantes
influenciam a atividade dos micro­organismos. A presença de aceptores de elétrons e
nutrientes é vital para que bactérias aeróbias se desenvolvam alimentando­se de
hidrocarbonetos e liberando gases como CO2. Na ausência de oxigênio espécies
anaeróbias ou facultativas se alimentam do óleo utilizando íons férricos (Fe3+),
sulfatos (SO42­) ou nitratos (NO3­) (MADIGAN, 1997).
Outras espécies requerem compostos específicos como aceptores de elétrons
como fermentadores ou acetogênicos que consomem acetato para transformar
hidrocarbonetos em metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). Essas espécies
acetogênicas geralmente formam um consórcio microbiano, ou seja, uma associação
28

sincronizada entre várias cepas colaborando mutuamente na produção e consumo de


compostos, visando subsistir no ambiente como esquematiza a Figura 11.

FIGURA 11 ­ ROTAS METABÓLICAS ANAERÓBIAS DE DEGRADAÇÃO DE PETRÓLEO( EXTRAÍDO DE CRUZ, 2012)

As técnicas de MEOR se aproveitam do crescimento de micro­organismos e


podem ser descritas principalmente de duas formas: as técnicas in situ e as técnicas
ex situ. Dentro dessas duas modalidades, temos o desdobramento de quatro
mecanismos que podem favorecer a recuperação de óleo. De forma geral, as técnicas
ex situ envolvem cultivar micro­organismos fora do reservatório em condições
controladas, onde se pode manipular variáveis físico­químicas e, portanto, obter um
desempenho mais otimizado na cultura das bactérias. A outra maneira é a técnica in
situ, que envolve manipular os micro­organismos dentro do reservatório através da
sua injeção pelo poço estimulando seu crescimento no local onde se encontra petróleo
a ser extraído, É importante notar, todavia, que neste caso não se podem controlar as
condições físico­químicas como temperatura, pressão, pH, entre outros(VAN HAMME
et al., 2003; NWIDEE et al., 2016; JOSHI AND DESAI, 2013; PEREIRA et al., 2013).

2.4.1 Produção de biosurfactantes e bioemulsificantes

O metabolismo dos micro­organismos também podem produzir moléculas úteis


na recuperação de petróleo, como surfactantes. Compostos químicos denominados
surfactantes são caracterizados por serem moléculas anfifílicas, ou seja, sua
superfície tem uma região hidrofílica e outra hidrofóbica fazendo com que elas
29

desempenhem uma variedade de comportamentos como emulsificação, lubrificação,


solubilização, detergência, molhabilidade e dispersão de fases. Essas características
podem também alterar a tensão superficial e interfacial nas rochas do reservatório,
chegando em alguns casos a inverter a molhabilidade da rocha ou reduzir a tensão
interfacial óleo\água, o que facilita a retirada do óleo preso (SINGH, 2007). Algumas
dessas propriedades podem beneficiar a exploração de petróleo na medida que
favorecem a drenagem de óleo das profundezas do reservatório. Além disso, pode­se
estimular a produção de biosurfactantes por bactérias dentro do reservatório.
A produção de biosurfactantes pelos micro­organismos se deve a necessidade
de bactérias quando colonizam um meio, juntas se organizarem e crescerem em
culturas. Quando um grupo de bactérias se adere a uma superfície, por exemplo uma
rocha carbonática, elas buscam meios de melhorarem sua aderência a essa superfície
e resistirem a estresses ambientais, ataques virais, desidratação e todos outros
fatores que possam colocar em risco seu desenvolvimento (REMIS, 2010). Um desses
meios, é a criação de biofilmes, que são estruturas poliméricas compostas de
exopolissacarídeos ou proteínas tais como glicolipídios, lipopeptídeos, ácidos graxos,
fosfolipídios, lipopolissacarídeos e glicoproteínas, as quais facilitam a fixação dessas
colônias de bactérias ao substrato como mostra a Figura 12.

FIGURA 12 ­­ MICROSCOPIA ELETRÔNICA DE VARREDURA EVIDENCIA A CONEXÃO ENTRE DOIS GRÃOS DE AREIA FORMADA POR UMA
MATRIZ BIOLÓGICA ( BIOFILME ) E BACTÉRIAS EM FORMA DE COCOS E BASTONETE SUSTENTADAS POR ESSA MATRIZ. (EXTRAÍDO DE
KLUEGLEIN ET AL, 2016)

Este processo é de interesse por se tratar de um fenômeno que pode ser


aproveitado na recuperação avançada de petróleo. Através da introdução de colônias
bacterianas para se fixarem em superfícies de rochas, por exemplo rochas
30

carbonáticas de um reservatório, se conseguem produzir fenômenos para aumentar a


recuperação de petróleo como: a inversão da molhabilidade da rocha carbonática ao
óleo. Atingido esse objetivo, o óleo aprisionado mesmo denso e pesado começa a ter
menor afinidade pela rocha carbonática, o que facilita a sua mobilidade dentro do
reservatório e facilita sua recuperação.
Em um ensaio experimental conduzido por QUINTELA (2018), foi realizada
uma investigação para entender o potencial de biosurfactantes de inverter a
molhabilidade de rochas carbonáticas e sua consequente aplicação em MEOR.
Neste estudo foi demonstrada a inversão de molhabilidade. Para isso, foram
prospectadas espécies de bactérias presentes em ambiente costeiro de mangue e
investigada sua capacidade de produzir biosurfactantes. Após a detecção de algumas
espécies, elas foram isoladas e cultivadas em ambiente controlado em laboratório.
Foram isolados também os biopolímeros produzidos por elas, mais especificamente
Iipopeptídeos produzidos pelo gênero Bacillus sp. que exibiam ação surfactante e têm
potencial de serem empregados em recuperação de petróleo. Para isso o autor testou
se a atividade tensoativa desses biopolímeros resistia a altas pressões de 600 bar
(8,702 psi) e também temperaturas de 121 °C.
Neste ponto, a referida autora foi cuidadosa em um detalhe importante
metodológico em relação a outros autores. Não é apenas a capacidade de produzir
biopolímeros e surfactantes que proporciona a uma certa espécie bacteriana o
potencial para ser aplicada a técnica MEOR. É preciso avaliar a sua sobrevivência e
a funcionalidade dos seus produtos metabólicos a altas temperaturas e pressões, pois
essas são as condições em sua maioria observadas em reservatórios de petróleo.
Esse cuidado metodológico da autora aumenta a aderência de seu estudo as
condições reais observadas em campo e, contribui qualitativamente para o
desenvolvimento da técnica.
A autora realizou o ensaio de inversão de molhabilidade usando a metodologia
de Goddard et al. (2005) e validada por técnicos do CENPES/PDISO/BIO – RJ (Centro
de Pesquisas Leopoldo Américo Miguez de Mello ­ Petrobras).

Utilizando fragmentos de rochas carbonáticas foi ativado o comportamento


molhável a óleo da superfície desses grãos. Através do contato com solventes
específicos tornou­se a calcita molhável a óleo. Assim, ao inserir a calcita em tubos
contendo água a autora verifica inicialmente que não havia sedimentação por causa
31

da sua propriedade hidrofóbica (molhável a óleo). Ao se inserir os biosurfactantes


produzidos pelas bactérias selecionadas verificou­se a inversão da molhabilidade de
todos os grãos de carbonato e, após agitação os mesmos se precipitaram
sedimentando no fundo do tubo de ensaio com mostra a Figura 13.

FIGURA 13 ­ ENSAIO DE INVERSÃO DA MOLHABILIDADE DE ROCHA CARBONÁTICA COM SOLUÇÕES SURFACTANTES. (EXTRAÍDO DE
QUINTELA, 2018).

No estudo somente duas cepas não produziram surfactantes com potencial


para inverter a molhabilidade, como se vê nos tubos 8 e 14 da Figura 14,
demonstrando que o carbonato continua sem afinidade pela água, sendo o tubo 1
apenas controle.
Esse estudo demonstra a possibilidade de se obter organismos potenciais para
aplicação de MEOR no próprio ambiente natural, sem a necessidade de manipulações
genéticas em laboratórios com certos riscos de biossegurança para criar organismos
com a atividade MEOR. Além disso, ele prova que há uma enorme gama de espécies
com potencial para aplicação em técnicas de recuperação de petróleo.

2.4.2 Produção de ácidos e solventes

O metabolismo do petróleo por micro­organismos gera resíduos metabólicos


de diversas naturezas. Alguns desses compostos são ácidos como ácidos carboxílicos
ou gases. A Figura 14 exibe bactérias do tipo Desulfococcus oleovorans, aderindo a
um alcano, e ao entrar em contato com esse hidrocarboneto, as bactérias começam
se alimentar dele, desagregando o óleo para obter energia e produzindo assim
metabólitos.
32

FIGURA 14 ­ CÉLULAS DA CEPA HXD3 REDUTORA DE SULFATO


DESULFOCOCCUS OLEOVORANS ADERINDO A UMA GOTA DE N­
HEXADECANO ( EXTRAÍDO DE AECKERSBERG ET AL., 1991).

Essas bactérias utilizam variadas estratégias químicas para degradar


moléculas de alcanos (hidrocarbonetos lineares) como redução de nitrato ( NO3 ),
sulfato ( SO4 ) ou por vias diretas, realizando reações químicas que geram produtos
potencialmente acidificantes como mostra a Figura 15 (KROPP et al., 2000; GIEG &
SUFLITA, 2002; CALLAGHAN et al., 2009). Através dessa degradação, a colônia de
bactérias obtêm a energia para seu crescimento e ao mesmo tempo acidifica o meio
por causa da liberação compostos que reagem com a água e formam ácidos, como o
CO2 que é o produto destacado das três reações metabólicas esquematizadas abaixo.

FIGURA 15 ­ REAÇÕES METABÓLICAS DE BACTÉRIAS CONSUMIDORAS DE PETRÓLEO. (1) REDUTORAS DE NITRATO; (2) REDUTORAS DE
SULFATO; (3) METANOGÊNICAS (EXTRAÍDO DE MCGENITY ET AL, 2010)
33

Ao imaginarmos que um colônia bacteriana cresce de maneira exponencial e,


portanto, essas reações seriam realizadas por milhares de micro­organismos, fica
claro o potencial de acidificação do reservatório por essa técnica. Além da
acidificação, os produtos podem ser solventes, os quais são substâncias com
potencial de diminuir a tensão interfacial das fases óleo\água. Esse processo afetaria
a resistência de escoamento do fluido, facilitando a drenagem de óleo.

Ainda, esses compostos podem modificar a viscosidade do óleo na medida em


que os solventes interagissem com o óleo cru aprisionado na formação. A produção
de solventes seria o resultado do metabolismo anaeróbico das bactérias como n­
butanol, acetona e etanol. As principais bactérias responsáveis pela liberação desses
solventes são Clostridium acetobutylicum, Clostridium pasteurianum, Zymomonas
mobilis.

2.4.3 Produção de biopolímeros e biofilme

Para aumentar o volume de petróleo extraído, uma das opções é injetar fluídos
no reservatório para tentar deslocar o óleo preso na formação. Um dos grandes
problemas enfrentados quando se aplica técnicas de injeção de água (waterflooding)
é a alta permeabilidade do meio poroso. De maneira geral, quando se opta por injetar
água em poço de petróleo, a intenção é que a água ajude a deslocar o óleo
aprisionado na formação rochosa.
Uma das opções que a técnica MEOR proporciona, é a colonização do
reservatório por bactérias, principalmente nas zonas de maior permeabilidade por
onde passa a água injetada e há abundância de nutrientes (HALIM, 2015). Também
chamada de Microbial Plugging, essa técnica objetiva entupir regiões de alto fluxo de
água injetada no reservátorio (zonas de alta permeabilidade).
Essas regiões tem menor volume de óleo a ser recuperado se comparadas a
regiões não acessadas da formação e que contém petróleo. A Figura 16 esquematiza
o processo em que, após colônias de bactérias entupirem os espaços de alta
permeabilidade, a injeção de água é redirecionada para um local contendo maior
volume de óleo a ser explorado.
34

FIGURA 16 ­ PROCESSO DE ENTUPIMENTO SELETIVO MICROBIANO. (EXTRAÍDO DE HALIM ET AL, 2015 )

Para entupir locais de alta permeabilidade e fluxo de água, também são usados,
na indústria do petróleo, agentes químicos como géis, sólidos inertes, cimentos e
argilas coloidais. Porém, esses não exibem o potencial de colonizar e entupir o
reservatório com eficiência, pois são limitados por fatores como a seleção do tamanho,
profundidade de penetração e estabilidade química (SUTHAR, 2009).
Os micro­organismos, além de possuírem esporos de tamanho reduzido,
produzem uma variedade de compostos que desempenham a função de entupir os
espaços de alta permeabilidade. Por exemplo, a goma xantana, é um
heteropolissacarídeo que é produzido por bactérias da espécie Xanthomonas sp. por
processos de fermentação e pode potencialmente entupir os locais necessários.
Esse biopolímero é atrativo para indústria do petróleo por ter características
desejáveis na recuperação de óleo, como estabilidade térmica, boa viscosidade e
tolerância ao sal, sendo muitas vezes usado como agente espessante da água
injetada, mas produzido fora do reservatório para injeção (POLLOCK, 1994; SALOME,
1996; POLLOCK, 2000).
Além disso, o entupimento das zonas de maior fluxo (microbial plugging) altera
a pressão diferencial (diferença entre pressão de entrada e saída). GOAL et al. (2017)
demonstraram que esse fenômeno é importante por indicar o aumento da resistência
ao fluxo nos poros causada pela colonização das bactérias como mostra a Figura 17.
.
35

FIGURA 17 ­ EXPERIMENTO MEOR COM INJEÇÃO DE FLUXO EM DUAS FASES. ( EXTRAÍDO DE GOAL ET AL, 2017)

A consequência desse processo é o redirecionamento do fluxo microscópico


nos poros e a drenagem do óleo aprisionado em regiões não acessadas antes com a
injeção de água. Os resultados do experimento são animadores, com aumento no
fator de recuperação ultrapassando 6% em zonas de baixa permeabilidade.

2.4.4 Produção de gases

Inicialmente, é importante ressaltar que a produção de gases em reservatórios


de petróleo por bactérias não é algo novo. Seres vivos desde milhões de anos se
adaptaram para conseguir extrair energia em seus metabolismos de moléculas de
carbono, seja de um simples açúcar – nome comum da glicose – até hidrocarbonetos
complexos de alto peso molecular como asfaltenos. Assim, quando em contato com
petróleo, micro­organismos podem consumir óleo e gerar gases como mostrado na
Figura 18., GAOL et al. (2019) demonstraram a geração de gases ao longo do tempo
(traços vermelhos) por colônias bacterianas em poros contendo óleo leve (API 25).
36

FIGURA 18 ­ GERAÇÃO DE GÁS POR BACTÉRIAS EM MICROMODELO POROSO. ( EXTRAÍDO DE GAOL ET AL, 2019)

Além disso, sabe­se que a geração de metano (metanogênese) se dá


exclusivamente em ambientes anóxicos e soma­se a isso o fato de reservatórios de
hidrocarbonetos tenderem a ser anóxicos em sua maioria, formando o ambiente
perfeito para geração de gás.
A Figura 19 mostra a extensão de reservatórios que possuem fortes evidências
de gás gerado por bactérias. Dentre inúmeros exemplos de produção de gás por
bactérias, podemos citar as reservas de gás seco do oeste da Sibéria que
correspondem a 11% das reservas mundiais de gás seco e 17% da produção anual
somando­se um total de aproximadamente 48 trilhões de metros cúbicos de gás.
Estas extensivas reservas já tiveram sua origem amplamente debatidas, mas não há
um consenso sobre sua origem. Alguns pesquisadores sugerem sua origem
termogênica em rochas profundas durante a maturação da matéria orgânica,
entretanto, estudos com isótopos de carbono e estimativas curiosamente apontam
que é impossível gerar todo volume atual da reserva de gás apenas por processos
geológicos, sendo que a decomposição microbiana geradora de gás é apontada como
responsável por parte da geração dessa imensa reserva (MILKOV, 2010).
37

FIGURA 19 ­ DISTRIBUIÇÃO MUNDIAL DE RESERVATÓRIOS DE PETRÓLEO COM PRESENÇA DE GÁS COM FORTES
EVIDÊNCIAS GEOLÓGICAS, GEOQUÍMICAS ASSOCIADAS A DEGRADAÇÃO MICROBIANA. (EXTRAÍDO DE MILKOV ET AL,
2010)

Dentro deste contexto, podemos assumir que há uma riqueza imensurável de


espécies de bactérias geradoras de gás selecionadas e cultivadas naturalmente
durante muitas eras geológicas. Vislumbrando essa possibilidade, no início a
produção de gases foi proposta por Zobell em 1946, que justamente idealizou injetar
micro­organismos em reservatórios com objetivo de produzir gases como o CO 2 e o
metano CH4.
Com esse processo, o objetivo principal dele era restabelecer a pressão no
reservatório por causa da liberação de gases pelas bactérias, e até certo ponto,
diminuir a viscosidade do óleo, pois o gás liberado em contato com óleo pesado em
reservatórios subsaturados (sem gás dissolvido) se incorpora ao óleo diminuindo sua
viscosidade. Também esperava dissolver a calcita (CaCO3) e a siderita (FeCO3) do
carbonato ou do arenito carbonático para deslocar moléculas de hidrocarbonetos
adsorvidas à formação( ZOBELL, 1946).
Infelizmente, o raciocínio extremamente linear desta última premissa provou­se
errôneo diante do desenvolvimento de técnicas de estimulação de reservatórios.
Segundo demonstrou (VAZ, 2017) há um comportamento distinto nas duas regiões do
reservatório que recebem água com gás carbônico dissolvido, também chamada de
água carbonatada.
Este autor demonstra experimentalmente que há formação de duas regiões
no reservatório quando ocorre a dissolução de carbonato por dióxido de carbono
38

CO2). Na região do poço injetor, em que se realiza a injeção dos compostos,


geralmente a concentração de minerais carbonáticos é baixa e a chance de dissolução
da rocha é muito alta, o que ratifica a hipótese levantada por Zobell. Entretanto, na
segunda região onde se encontra o poço produtor a água carbonatada, se encontra
perto do equilíbrio químico com as rochas da formação ocorrendo tanto a dissolução
quanto a precipitação destes minerais.
A Figura 20 mostra a alteração de porosidade do core carbonático
experimentado em função de seu comprimento e, deixa claro que próximo ao ponto
de injeção, há um evidente ganho de porosidade (linha azul maior), mas ao longo do
core carbonático e, mais intensamente próximo ao seu fim, verifica­se uma diminuição
da porosidade abaixo de níveis iniciais (linha azul menor).

FIGURA 20 – CORE DE PROVA E GRÁFICO POROSIDADE X COMPRIMENTO. ( EXTRAÍDO DE VAZ, 2017)

Esses resultados se traduzem em importantes consequências para o fator de


recuperação de óleo, pois se aplicadas bactérias no reservatório geradoras de gás
CO2, sem conhecer todos os possíveis impactos, haveria alteração da porosidade na
entrada e saída do reservatório, com perdas na produção final por causa desse
simples fenômeno observado em trabalhos experimentais não idealizados na década
de 40.
A Figura 21 esquematiza esse fenômeno em campo e em cores carbonáticos,
evidenciando a dissolução do carbonato no ponto de injeção. Em um experimento
LOMBARD (2010) detectou uma menor granulometria dos cristais no poço produtor e
maior compactação do core, o que claramente demonstra a deposição no ponto do
poço produtor por causa da precipitação do carbonato.
39

FIGURA 21 ­ ILUSTRAÇÃO DE INJEÇÃO DE CO2 EM RESERVATORIO E CONSEQUENTE ALTERAÇÕES.


(EXTRAÍDO DE HTTP://WWW 2.NAU.EDU/GAUD/BIO302/CONTENT/EXTSN.HTM E LOMBARD ET AL,
2010)

Portanto, a geração de CO2 no reservatório pode vir a melhorar a exploração,


desde que supere os impactos na alteração da porosidade na entrada e saída do
reservatório, como reportado por pesquisadores de engenharia de reservatórios. De
maneira geral, a possibilidade de geração de gás em reservatórios, passiveis de
dissolução química com poços produtores e injetores, não é indicada. Ela é indicada
em casos de um único poço produtor com formação estável e com baixa pressão.

2.5 Adaptação da técnica em escalas piloto

Estudos controlados em laboratório, demonstraram de maneira consistente que


certos micro­organismos alimentados por nutrientes e bio­catalisadores adequados
podem crescer nas condições de reservatórios petrolíferos, como alta temperatura,
pressão e salinidade e gerar biosurfactantes, álcoois, biopolímeros, gases e ácidos
como subprodutos metabólicos (Figura 22).
40

FIGURA 22 ­ ETAPAS DE APLICAÇÃO DE RECUPERAÇÃO DE ÓLEO MICROBIANA MEDIADA POR BIOSSURFACTANTE IN SITU, EM FASES DE ESCALA
"LABORATÓRIO ATÉ CAMPO" ( EXTRAÍDO DE GEETHA ET AL, 2018)

Segundo MAUDGALYA et al., (2007), para estudar o comportamento


bioprodutor e biodegradador dos micro­organismos, são utilizadas linhagens oriundas
de amostras de petróleo incubadas em condições específicas de aeração,
temperatura e nutrientes (Figura 23).

FIGURA 23 ­ ANÁLISE DE LAVAGEM DO SOLO (A) CONTROLE: SOLO CONTAMINADO COM ÓLEO DE MOTOR, (B) SOLO CONTAMINADO
LAVADO COM ÁGUA, (C) SOLO CONTAMINADO LAVADO COM BIOSSURFACTANTE PRODUZIDO POR CANDIDA TROPICALIS. (EXTRAÍDO
DE MAUDGALYA ET AL., 2007 ).
41

Todos os compostos produzidos nestas condições específicas pelos micro­


organismos, tem potencial para auxiliar na exploração petrolífera por alterarem a
saturação dos fluídos, a molhabilidade das rochas onde está contido o óleo ou até
aumentar o volume drenado na retirada de hidrocarbonetos do reservatório. Apesar
do fato de bactérias precisarem de nutrientes abundantes para colonizar os extensos
volumes de um reservatório, geralmente o custo desses nutrientes é baixo, o que torna
a técnica potencialmente mais vantajosa economicamente do que outras
(MAUDGALYA et al., 2007).
Contudo, é importante o entendimento não só de técnicas que possam
aumentar a recuperação de petróleo, mas também quais consequências podem
ocorrer quando se colocam bactérias alóctones em um reservatório de petróleo.
Mesmo que a intenção seja auxiliar na produção, é importante saber que em um
ambiente natural podem existir cepas autóctones de bactérias que potencialmente irão
interagir com aquelas que serão inoculadas.

2.6 A limitação cientifica da técnica: A diversidade bacteriana e o consórcio


microbiano

Estudos como RAYNAUD et al., (2014) relatam que, uma amostra de 1 cm3 de
solo contém uma diversidade microbiana da ordem de 106, assim sendo, são
praticamente infinitas as possibilidades de interação biológica em uma comunidade
microbiana. Além disso, as técnicas de cultivo in vitro somente conseguem cultivar
com sucesso aproximadamente 1­10% das espécies bacterianas existentes. Esse fato
aumenta significativamente a dificuldade de prever e modelar o crescimento
microbiano em um volume, pois o cultivo isolado em laboratório fornece informações
valiosas do metabolismo microbiano como: quais tipos de nutrientes ele consome,
qual intervalo de temperatura ele se reproduz melhor, quais condições físico­químicas
ele necessita, etc.
Essa variedade de espécies também tende a ser selecionada pelo meio onde
elas estão, assim, há de se considerar não só a interação biológica, mas também a
interação bacteriana com o meio em que ela será inserida. Nesse sentido, através do
conhecimento geológico do local onde está o reservatório, é possível prever quais
cepas possivelmente serão encontradas. Em se tratando de reservatórios petrolíferos,
existem certos padrões geológicos que funcionam como agentes de seleção,
42

promovendo o crescimento de cepas específicas. Por exemplo, como em regiões


carbonáticas, em que temos crescimento de cepas halófilas, devido a sua tolerância
a ambientes salinos. Assim, é possível que ensaios mostrem as variáveis de interesse
na colonização dos espaços porosos dos reservatórios simulados em formas de plugs
como ilustrado na Figura 24.

FIGURA 24 ­ BLOCOS DE AREIA CILÍNDRICOS FEITOS COM BIOPOLÍMERO E AREIA.


(EXTRAÍDO DE DHANARAJAN, 2017)

Ainda, é possível aumentar a semelhança de condições experimentadas em


altas profundidades utilizando experimentos que forneçam certa pressão aos plugs
de rochas, o que pode mostrar as possíveis adaptações das bactérias a ambientes
diferentes.

3. Uso de MEOR para óleos pesados

Após a extração das frações leves de hidrocarbonetos em reservatórios de


petróleo permanecem no reservatório outras frações. Essas frações tem alta
densidade e oferecem alta dificuldade de extração por terem baixa mobilidade nos
poros do reservatório. Por causa disso, as reservas mundiais são dominadas por
reservatórios de óleos pesados, extrapesados e betuminosos como mostra a Figura
25. Os óleos pesados e extrapesados, compõem 40% do total desses recursos e
representam um grande potencial energético aprisionado no subsolo com baixas
expectativas de exploração, devido ao alto custo de técnicas terciárias de
recuperação avançada.
43

FIGURA 25 ­ COMPOSIÇÃO DAS RESERVAS MUNDIAS


DE PETRÓLEO ( EXTRAÍDO DE ZHANG ET AL, 2020 )

Além de representarem uma alternativa ecologicamente sustentável, técnicas de


MEOR apresentam uma animadora opção custo\benefício de recuperação chegando
a taxas estimadas de 43% mais baratas que métodos químicos (GIANGIACOMO,
1997).

O óleo pesado é composto por um mistura de moléculas com alta densidade, alta
viscosidade, alto peso molecular e alta acidez. Através de técnicas cromatográficas
baseando­se em polaridade e solubilidade podem ser divididos em quatro grupos:
saturados, aromáticos, resinas, asfaltenos (GUDIÑA, 2017). Esses compostos
costumam apresentar baixa proporção de frações leves como n­alcanos e alta taxa
de biodegradação biológica.

A Figura 26 ilustra um cromatograma onde é possível observar o domínio de picos


relativos a compostos pesados e relativa ausência de frações mais leves (SIERRA­
GARCIA, 2017).
44

FIGURA 26 ­ CROMATOGRAFIA DE ÍONS TOTAIS CONTENDO AMOSTRA DE ÓLEO PESADO DE UM


CAMPO PETROLÍFERO NA BACIA DO RECONCAVO ­BA. HO ­ 17Α,21Β(H)­30­NOR­HOPANO (
EXTRAÍDO DE SIERRA­GARCIA ET AL, 2017)

O maior desafio na extração de petróleo pesado é a redução da viscosidade e


densidade do óleo. Existem micro­organismos que podem diminuir a viscosidade do
óleo pesado através de reações químicas metabólicas que clivam anéis aromáticos,
resinas e asfaltenos em moléculas menores (LÉON, 2005). Além de metabolizar
compostos pesados eles produzem ácidos, solventes, biosurfactantes, biopolímeros,
gases que melhoram a varredura de óleo nos poros (SAFDEL, 2017).

Muitas espécies de bactérias são capazes desse processo em óleos pesados, no


entanto, existem algumas limitações quanto ao crescimento celular. As linhagens de
Acinetobacter sp. conseguem degradar compostos pesados contendo mais de 40
carbonos, mas só crescem em meios contendo detergentes (SAKAI et al., 1994).
Outra limitação se refere a frações, algumas bactérias como Pseudomonas
aeruginosa k1 e Rhodococcus equi P1 preferem consumir moléculas de
hidrocarbonetos contendo entre 7 e 28 carbonos na cadeia principal (LEBEAULT,
1999).

Outras espécies como Bacillus sp., além de consumirem resinas e asfaltenos, tem
impacto na recuperação de óleo por causa da produção in situ de biosurfactantes que
chegam aumentar em 10% o fator de recuperação de óleo (YOUSSEF, 2013). Para
se ter uma ideia das espécies e suas principais funções, a Tabela 1 resume as
principais bactérias e suas funções na recuperação de óleos.
45

Agente
Espécies Produtoras Função
MEOR
Remoção de parafina, redução de
Pseudomonas sp.,Bacillus sp.,Dietzia sp.,Micrococcus
Enzimas viscosidade, mobilidade do óleo,
sp.,Rhodococcus sp.,Acinetobacter sp.
restabelecimento da permeabilidade
Redução de tensão superficial ou
Bacillus sp., Pseudomonas sp., Rhodococcus sp.,Acinetobacter interfacial, alteração da molhabilidade,
Biosurfactantes
sp. emulsificação de óleo, melhora da
mobilidade, redução da viscosidade
Agente de espessamento, estabilização e
Xanthomonas sp., Aureobasidium sp., Bacillus sp.,Leuconostoc emulsificação da solução de injeção,
Biopolímeros
sp., Alcaligenes sp. modificação do perfil de injetividade,
obstrução seletiva
Entupimento seletivo, modificação de
Biomassa Pseudomonas sp., Bacillus sp., Leuconostoc sp.,Xanthomonas sp. molhabilidade, redução da viscosidade,
degradação de óleo
Aumento de pressão, dilatação do óleo,
Clostridium sp., Bacillus sp., Brevibacterium
Biogases redução da viscosidade, aumento da
sp.,Methanobacterium sp., Enterobacter sp.
permeabilidade
Modificação da porosidade e
Clostridium sp., Bacillus sp., Enterobacter sp.,Zymomonas sp., permeabilidade, emulsificação de óleo,
Ácidos e Solventes
Klebsiella sp. redução de tensão interfacial, redução de
viscosidade
TABELA 1 ­ RESUMO DAS PRINCPAIS ESPÉCIES E SUAS AÇÕES NO PROCESSO DE RECUPERAÇÃO DE ÓLEO PESADO. ( ADATADO
DE ZHANG ET AL, 2020 )

4. Metodologia

4.1 Amostras e enriquecimento seletivo

Considerando esses aspectos, para analisar o comportamento de micro­


organismos na presença de petróleo, foram eleitos experimentos que visaram
quantificar e identificar interações destes com hidrocarbonetos. A técnica utilizada foi
a do enriquecimento seletivo e isolamento de micro­organismos presentes em
amostras de petróleo (Figura 27).

Para isso, foi utilizada uma amostra de petróleo obtida da Petrobras S.A. em um
campo de petróleo, contendo fase água e fase óleo.
46

FIGURA 27 ­ AMOSTRA DE PETRÓLEO USADA

A amostra de petróleo (20 mL) foi incubada em 180 mL meio rico (caldo nutriente).
A incubação foi realizada em laboratório a 37 oC durante 21 dias sob agitação (200
rpm) e vedada com tampão de algodão, que permitia trocas gasosas, em uma
incubadora INFORTS­ NT – ECOTRON como ilustra a Figura 28:

FIGURA 28 ­ INCUBAÇÃO DAS AMOSTRAS


47

Outra amostra, nas mesmas condições, foi incubada na ausência de agitação,


a fim de promover o enriquecimento da amostra com micro­organismos
preferencialmente anaeróbios. Para isso, o frasco foi selado com tampa de borracha
visando impedir a entrada de oxigênio no (Figura 29).

FIGURA 29 – AMOSTRAS EM DIFERENTES CONDIÇÕES DE AEROBIOSE

Após 21 dias de incubação, as amostras em aerobiose apresentaram maior


crescimento celular. Deste modo, optou­se por dar prosseguimento aos experimentos
somente em condições de aerobiose.

4.2 Identificação dos micro­organismos presentes na amostra

Uma alíquota do cultivo líquido obtido em aerobiose, foi semeada em placa de


Petri, contendo meio rico (caldo nutriente), a fim de obtermos colônias bacterianas
isoladas. As colônias crescidas nas placas foram isoladas com base em sua
morfologia, cor e tamanho e posteriormente utilizadas como inóculo para outros
experimentos.

O método empregado para identificação das bactérias, foi por espectrometria


de massas MALDI­TOF, a qual fornece perfis proteicos de proteínas ribossomais de
cada isolado. A metodologia empregada foi a sugerida por Bruker Daltonics, em que
as células de uma única colônia são transferidas da placa de Petri diretamente para a
placa de 96 poços de aço polido (Bruker Daltonics GmbH), cobertas com 1 µL da
48

solução matriz (que consiste numa solução saturada de α­ciano­4­hidroxi­


ácidocinâmico em 50% acetonitrila e 2,5% ácido trifluoroacético) e secas à
temperatura ambiente (25° C).

As medidas foram realizadas com o espectrômetro de massas LT Microflex


(Bruker Daltonics), usando software FlexControl (versão 3.0, Bruker Daltonics). Os
espectros são gravados no modo linear positivo (frequência laser, 20 Hz; uma fonte
de íons de tensão, 20 kV; tensão lente, 7,5 kV; faixa de massa, de 2 a 20 kDa). Para
cada espectro, são tiradas 240 fotografias e 50 tiros de laser a partir de diferentes
posições da amostra alvo (modo automático).

Os espectros foram então importados para o software Biotyper (versão 2.0,


Bruker Daltonics), processados através de configurações­padrão, e os resultados
apresentados em uma tabela de classificação. Essa classificação trata­se de um
processo de correspondência de padrão proposto pelo fabricante Biotyper MALDI­
TOF (MS), com pontuações (score) que variam de 0­3. Pontuações menores de 1,7
são consideradas como baixa identificação (ID); pontuações entre 1,7 e 1,9 são
consideradas como ID confiável para gênero, e pontuações maiores que 1,9 são
consideradas como ID confiável para identificação de espécies.

4.3 Caracterização físico­química dos óleos

A caracterização físico química das 2 amostras de óleos utilizadas neste


trabalho, foram realizadas em parceria com o LabPetro (UNIFESP), e acompanhadas
gentilmente pelo Prof. Dr. Lúcio Leonel Barbosa.

Para isso as amostras foram diluídas em solução padrão contendo 10 ml de


óleo e 90 ml de água deionizada e feita aclimatação térmica por 10 minutos até que
se alcançar a estabilidade térmica.

Após estabilizada a amostra foi succionada até o bulbo do viscosímetro de


tamanho número 200. Em seguida, o viscosímetro foi inserido no banho de
viscosidade (BIOVERA BV).

5. Resultados e Discussão
49

5.1 Amostras e enriquecimento seletivo

As amostras incubadas em aerobiose e anaerobiose resultaram em diferentes


cultivos. A amostra incubada em aerobiose foi escolhida para isolamento das
bactérias e testes posteriores de incubação em meio rico contendo óleo pesado.

O valor da viscosidade cinemática foi obtido pelo valor do tempo do fluxo e a


constante de calibração do viscosímetro a temperatura de 22,2 °C.

As 2 amostras de óleo foram caracterizadas físico­quimicamente e os resultados


apresentados na Tabela 2.

pH( fase Densidade Viscosidade


°API
aquosa) (g\cm3) (mm²/s)
Amostra 1 7,64 41,4 0,8021 6,635
Amostra 2 7,49 30,9 0,8527 116,2
TABELA 2 - CARACTERÍSTICAS COMPOSICIONAIS DAS AMOSTRAS ANALISADAS

5.2 Identificação dos micro­organismos presentes na amostra

Como mencionado, as bactérias da amostra em aerobiose foram isoladas em


colônias para posterior identificação.

A identificação resultou em 2 linhagens distintas presentes na amostra:


Corynebacterium pseudodiphtheriticum e Staphylococcus saprophyticus.

A espécie Corynebacterium pseudodiphtheriticum é uma bactéria gram­


negativa e pertence à classe Actinobacteria sendo caracterizada pelo metabolismo
não fermentativo e lipofílica tipicamente compondo a flora bacteriana orofaríngea
humana (Funke et al., 1997). É o agente etiológico da difteria produzindo uma toxina
que causa inflamação e febre em humanos. Uma cepa do mesmo gênero
Corynebacterium e linhagem HRJ4 também já foi encontrada e isolada de solos
contaminados em campos petrolíferos em Dagang – China e na província de
Khorramshahr ­ Golfo Pérsico exibindo alta capacidade de tolerância ao sal e
degradação de compostos de petróleo, em especial n­alcanos (C16, C18, C19, C26,
50

C28) e misturas de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HASSANSHAHIAN et al.,


2014; ZHANG et al., 2016).

A tendência de crescimento observada dessa bactéria é máxima em pH = 7,0,


temperatura abaixo de 30 oC e 180 rpm, como mostra a Figura 30. Esses dados
corroboram com a taxa de crescimento observada nos resultados obtidos em nossos
experimentos de cultivo com faixas de pH entre 7,49 e 7,64.

FIGURA 30 ­ EFEITO DA SALINIDADE E PH NO CRESCIMENTO DE CORYNEBACTERIUM HRJ4. (A) A TOLERÂNCIA AO SAL DA CEPA
HRJ4, CRESCIMENTO EM FUNÇÃO DA DENSIDADE ÓPTICA A 600 NM; (B) EFEITO DO PH NO CRESCIMENTO DE HRJ4 ( EXTRAÍDO DE
ZHANG ET AL, 2016)

Esses resultados, reforçam a necessidade de controle do pH do meio para


aplicação dessa cepa específica em técnicas MEOR e sua potencial habilidade na
degradação de hidrocarbonetos pesados.

A espécie Staphylococcus saprophyticus é uma cepa coagulase­negativa


aeróbia facultativa também patogênica representando um micro­organismo de
impacto e importância na gestão de saúde pública. Principalmente em mulheres
jovens, essa cepa causa infecções graves sendo a segunda maior causa de
internações graves em UTI (Unidade de Terapia Intensiva) e exibe grande afinidade
pelos tecidos epiteliais do trato urinário feminino, mas na maioria dos casos é não­
patogênica coexistindo sem causar doenças (HOVELIUS et al., 1984).

Essa espécie não é encontrada no ambiente marinho com grande abundância,


mas curiosamente é a espécie que se destaca em crescimento quando há
derramamentos de óleo próximos a costa e possui grande capacidade de degradação
aeróbia de óleo pesado.
51

Em recentes estudos foram encontradas grandes proporções dessa espécie


em derramamentos de óleo próximos a costa, segundo demonstraram MAITY et al.
(2020) a abundância dessa espécie salta de menos de 1% em locais não
contaminados por óleo pesado para mais de 40% em locais próximos a costa
contaminados com frações pesadas de óleo. De maneira interessante, é importante
notar a evidente conexão entre o fato de zonas costeiras produzirem intensa emissão
de efluentes domésticos não tratados, o que fatalmente alimenta a superfície da
lâmina d´água costeira rica em oxigênio com essa espécie de bactéria.

Associado a isso, a cepa exibe alta performance em degradar petróleo quando


na presença de oxigênio, em especial frações pesadas C23, C24, C25 como mostram
os achados do referido estudo, que são exibidos no gráfico 31 abaixo. Dessa forma,
podemos candidatar essas frações como componentes preferenciais da amostra
analisada neste estudo, e fica mais uma vez clara a importância de ensaios
experimentais com cultivo para preencher as lacunas de desenvolvimento MEOR.

Figura 31 ­ a) Degradação de UCMs (mistura complexa não resolvida) (C24− e C24 +, dividida principalmente em
duas partes e freqüentemente difícil de remover da mistura óleo­água) por isolados selvagens compostos por
Staphylococcus saprophyticus (CYCTW1), Staphylococcus saprophyticus (CYCTW2) e Bacillus megaterium
(CYCTW3). b) UCMs totais degradação / redução (área do cromatograma em GC %) em isolados selvagens
compostos por Staphylococcus saprophyticus (CYCTW1), Staphylococcus saprophyticus (CYCTW2) e Bacillus
megaterium (CYCTW3). (EXTRAÍDO de Maity et al, 2020)

O crescimento de Staphylococcus saprophyticus também ocorre em meio


nutricional composto por octanos (gasolina ) e seus óxidos ( MTBE ) e em co­cultura
com outra cepa de interesse MEOR, a cepa Pseudomonas sp., foi observado por
52

medindo a densidade ótica na faixa de 550 nm para detecção de culturas bacterianas,


apresentando o típico modelo microbiano com fase lag (λ), velocidade específica
máxima de crescimento (μmáx), o aumento logarítmico da população (A) e a
população máxima atingida (Nmáx) como mostram os modelos matemáticos exibidos
nos gráficos 1, e 2 abaixo.

Pseudomonas sp.
0,45
0,372 0,382
0,4 0,354 0,343
0,35
DENSIDADE ÓTICA (550NM)

0,3 0,251
0,25
y = 0,0002x3 - 0,0065x2 + 0,0814x + 0,0485
0,2
0,15
0,1
0,04
0,05
0
0 5 10 15 20 25
TEMPO DE INCUBAÇÃO ( HRS )

Densidade Ótica (550nm) Polinomial (Densidade Ótica (550nm))

GRÁFICO 1 ­ CRESCIMENTO EM FUNÇÃO DO TEMPO PSEUDOMONAS SP EM CO­CULTIVO COM STAPHYLOCOCCUS SAPROPHYTICUS

Staphylococcus saprophyticus
0,07 0,065
0,059 0,061 0,061
DENSIDADE ÓTICA (550NM)

0,06 0,054

0,05
0,04
0,03 y = 3E-05x3 - 0,0012x2 + 0,014x + 0,0148
0,02 0,01
0,01
0
0 5 10 15 20 25
TEMPO DE INCUBAÇÃO (HRS)

Densidade Ótica (550nm) Polinomial (Densidade Ótica (550nm))

GRÁFICO 2­ CRESCIMENTO EM FUNÇÃO DO TEMPO DE STAPHYLOCOCCUS SAPROPHYTICUS EM CO­CULTIVO COM


PSEUDOMONAS SP.
53

As funções de crescimento modeladas matematicamente utilizando polinômios


de grau 3 usando dados tabelados de LALEVIC (2012) exibem os seguintes
coeficientes: Para Staphylococcus saprophyticus a função: Y = 3E­05x³ ­ 0,0012x² +
0,014x + 0,0148 e para Pseudomonas sp. A função Y = 0,0002x³ ­ 0,0065x² + 0,0814x
+ 0,0485. Elas nos fornecem um modelo matemático dos dados experimentais de
crescimento esperado dessas cepas em condições específicas. As curvas de
crescimento de bactérias podem ser feitas por medidas indiretas de concentração
como medidas de absorbância ou diretas por plaqueamento celular ( NAKASHIMA et
al., 2000).

Genericamente, o crescimento bacteriano é modelado matematicamente


usando a equação abaixo de Jacques Monod (1949) que relaciona crescimento rápido
bacteriano a concentração de substratos limitantes:

1 𝑑𝑋𝑎 𝑆
𝜇𝑠𝑦𝑛 = ( ) = 𝜇𝑚𝑎𝑥
𝑋𝑎 𝑑𝑡 𝑠𝑦𝑛 𝐾+𝑆

Onde 𝜇𝑠𝑦𝑛 é a taxa de crescimento específica devido à síntese ; 𝑋𝑎 é a


concentração da biomassa ativa; t, o tempo ( t ); S, a concentração do substrato
limitador de taxa; 𝜇𝑚𝑎𝑥 , o máximo taxa de crescimento específico ; e K, a
concentração, que compõe metade da taxa máxima. (MITCHELL et al, 2004).

A realização de experimentos de cultivo acoplados a modelagens matemáticas


tem sido uma grande ferramenta para auxiliar no entendimento das dinâmicas
microbianas e suas performances de consumo de petróleo pesado sendo essenciais
para desenvolvimento da técnica MEOR (NIELSEN, 2010; BÜLTEMEIER et al, 2014).

O isolamento e detalhamento do crescimento dos micro­organismos na


presença de hidrocarbonetos é vital para viabilizar o projeto da técnica MEOR. É
também importante a caracterização precisa dos diversos aspectos que influenciam
na dinâmica microbiana dentro do reservatório petrolífero sendo indispensável esse
tipo de análise para aplicação de bactérias em reservatórios.
54

5.3 Ensaios com óleo pesado

Uma vez determinadas as características de cada óleo, as bactérias obtidas do


enriquecimento em aerobiose foram inoculadas em meio rico (caldo nutriente)
contendo óleo pesado (amostra 2). A figura 32 mostra que após 21 dias de incubação,
pudemos observar que o óleo foi consumido quase em sua totalidade, demonstrando
o alto potencial destas linhagens em consumir cadeia pesadas e portanto alterar a
viscosidade do óleo.

FIGURA 32 – ÓLEO CONSUMIDO DURANTE INCUBAÇÃO

Como temos falado ao longo deste trabalho, a viscosidade é uma importante


característica do petróleo e que, em condições de reservatório, influencia diretamente
na recuperação de óleo. A viscosidade é uma medida quantitativa da resistência de
um fluido ao fluxo (WHITE, 2011). Portanto, quanto menos viscoso for o petróleo na
formação maior será sua mobilidade pelos poros.

O consumo de frações pesadas pelas bactérias tem influência na viscosidade


de óleos pesados, pois ao consumir compostos com grandes cadeias carbônicas e
alto peso molecular a mistura total de óleo no reservatório começa a perder
55

viscosidade e assim, se torna mais fácil sua drenagem pelos poros. Porém, esse
consumo de frações pesadas é influenciado por taxas de crescimento de cada
espécie, a disponibilidade dessas frações pesadas, disponibilidade de nutrientes, do
pH do meio entre muitos outros fatores físico­químicos que só podem ser
precisamente elucidados experimentalmente como no presente cultivo.

Além disso, concomitantemente a decomposição das frações ocorre interação


provocada por biopolímeros liberados no meio que modificam a permeabilidade do
petróleo na formação. Os efeitos desses biopolímeros podem alterar a molhabilidade
das rochas disponibilizando mais óleo a ser drenado, além disso eles podem reduzir
a IFT das fases impactando a viscosidade e melhorando a mobilidade. Esses três
mecanismos distintos ocorrem ao mesmo tempo após a inoculação das bactérias no
meio contendo hidrocarbonetos.

Todavia, esses mecanismos variam de intensidade e modo de espécie para


espécie, sendo crucial que ensaios experimentais sejam conduzidos para se
classificar o comportamento individual da infinidade de bactérias disponíveis.

Assim, existe uma grande necessidade técnica de entender precisamente os


processos envolvidos na colonização do reservatório pelos micro­organismos para
conseguir delinear as variações possíveis e entender melhor como se dá a dinâmica
das cepas dentro do reservatório.

Essa lacuna começa ser preenchida por experimentos de cultivo microbiano


como o que realizamos neste trabalho, onde informações precisas de consumo,
degradação, tolerância, taxa de crescimento, consórcio microbiano entre outras são
obtidas gerando uma base de dados para futuras decisões e aplicações em larga
escala de grandes reservatórios petrolíferos.

Além do entendimento de quais espécies são recomendáveis para cada tipo de


óleo pesado, como demonstramos neste estudo, é vital que ensaios de cultura
específica, experimentos em microescala e escala piloto sejam conduzidos para
elucidar possíveis variações espaciais, temporais e geológicas que possam impactar
a segura aplicação da técnica MEOR.

Em tempo, simulações computacionais e modelagens numéricas que


descrevam o comportamento das variáveis envolvidas em todo processo MEOR
56

acopladas com experimentos de cultivo tem grande potencial em validar os dados


experimentais de crescimento e o impacto que cada espécie ou consórcios
microbianos podem produzir em condições extremas de reservatórios petrolíferos.

6. Conclusões

O presente trabalho demonstra claramente a possibilidade e potencial que as


bactérias fornecem para aumentar a recuperação de petróleo pesado. Dentre
inúmeras vantagens se destacam a econômica e a ambiental o que faz dessa técnica
uma importante opção a ser considerada. Se melhor estudada e desenvolvida tem
potencial para aumentar a recuperação de hidrocarbonetos que permanecem nos
reservatórios mesmo após grandes esforços de engenharia em aplicações de
técnicas avançadas de recuperação.

Além de custos reduzidos, as técnicas MEOR tem baixo impacto ambiental e


representam uma excelente aplicação por ser ecologicamente sustentável. Existem
dados consistentes de que espécies com grande potencial podem ser isoladas de
ambientes específicos, sem a necessidade de manipulações laboratoriais que criam
cepas mutantes que necessitam de grandes avaliações de biossegurança, o que pode
representar grandes riscos.

Somado a tudo isso, temos também o crescente desenvolvimento de técnicas


biomoleculares e genômicas que representam um salto sem precedentes no estudo
de micro­organismos selvagens e suas características genéticas como a
metagenômica, aumentando o conhecimento da microbiologia moderna.

Assim, com a necessidade crescente de aumentar o fator de recuperação de


petróleo pesado em reservatórios de campos maduros com decaimento de produção,
a aplicação de técnicas MEOR representa uma animadora opção para aplicação em
campo exibindo potencial para aumentar o fator de recuperação de óleo pesado, mas
que requer investimentos e maior interesse empresarial e acadêmico para que seja
finalmente viabilizada com segurança.
57

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