Aspetos fiscais dos direitos de autor - José Alberto Pinheiro Pinto e Cristina Pinto - DIS10120 - Maio 2020 - OCC

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Aspetos fiscais dos direitos de autor

ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

FICHA TÉCNICA

Título: Aspetos fiscais dos direitos de autor

Autores: José Alberto Pinheiro Pinto


Cristina Pinto

Capa e paginação: DCI - Departamento de Comunicação e Imagem da OCC

© Ordem dos Contabilistas Certificados, 2020

Não é permitida a utilização deste Manual, para qualquer outro fim que não
o indicado, sem autorização prévia e por escrito da Ordem dos Contabilistas
Certificados, entidade que detém os direitos de autor.

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Índice

Nota Prévia ................................................................................................................... 2


1. Introdução.............................................................................................................. 5
2. Enquadramento jurídico ......................................................................................... 7
3. Tratamento fiscal em IRS .................................................................................... 15
3.1 Enquadramento ........................................................................................................ 15
3.2 Categoria B: Rendimentos empresariais e profissionais ................................... 16
3.2.1 Benefício fiscal à propriedade intelectual ......................................................... 18
3.3 Categoria E: Rendimentos de capitais .................................................................. 31
3.4 Categoria G: Incrementos patrimoniais (mais-valias) ......................................... 33
4. Tratamento fiscal em IVA ..................................................................................... 35
4.1 Enquadramento ........................................................................................................ 35
4.2 Isenção de IVA nos Direitos de Autor ................................................................... 37
4.3 IVA nas vendas de obras de arte........................................................................... 45
5. Enquadramento contabilístico e em IRC .............................................................. 49
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................... 52

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ACRÓNIMOS

AT – Autoridade Tributária e Aduaneira

CDADC – Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos

EBF – Estatuto dos Benefícios Fiscais

IVA – Imposto sobre o Valor Acrescentado

IRC – Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas

IRS – Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares

OCC – Ordem dos Contabilistas Certificados

STA – Supremo Tribunal Administrativo

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1. Introdução

O direito de autor é um direito fundamental, consagrado na Constituição da


República Portuguesa, que protege as obras ou criações intelectuais.

Este direito consiste na permissão de aproveitamento da obra intelectual, que a lei


atribui ao titular da mesma.

Sendo o objetivo da formação cujo presente manual visa apoiar a análise das
especificidades fiscais do direito de autor, importará fazer um breve enquadramento do
tema, abordando alguns aspetos jurídicos, mesmo que de uma forma superficial.

O direito de autor não incide sobre um bem corpóreo, mas sim sobre um bem de
natureza imaterial. Contrariamente ao que acontece nos direitos reais, em que o
exclusivo do aproveitamento da coisa corpórea é assegurado pelo controlo resultante
da sua posse, o direito de autor consiste apenas na reserva legal do aproveitamento
do bem que é conferida ao autor, uma vez que qualquer pessoa tem igualmente a
possibilidade fáctica de aproveitar da obra intelectual (vide a obra “Direito de Autor”, de
Luís Menezes Leitão).

Note-se que o direito de autor incide sobre a obra intelectual enquanto criação do
espírito, não se confundindo com o direito sobre o seu suporte corpóreo, o qual possui
antes a natureza de um direito de propriedade.

Compreender este aspeto é fundamental para avançar para o enquadramento


fiscal do direito de autor.

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Paralelamente ao direito de autor surgem os direitos conexos, que correspondem


aos direitos que são atribuídos aos artistas, intérpretes e executantes da obra,
produtores de fonogramas e videogramas e organismos de radiofusão, e que se
podem considerar vizinhos do direito de autor em sentido subjetivo, integrando assim o
mesmo ramo de Direito objetivo.

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2. Enquadramento jurídico

Desde logo se encontra uma referência ao direito de autor no artigo 42.º da


Constituição da República Portuguesa, em cujo n.º 1 se diz textualmente que “é livre a
criação intelectual, artística e científica”, acrescentando o n.º 2 que “esta liberdade
compreende o direito à invenção, produção e divulgação da obra científica, literária ou
artística, incluindo a proteção legal dos direitos de autor”.

Esta disposição tem de ser interpretada em harmonia com a Declaração Universal


dos Direitos Humanos, que reconhece que todos têm direito à proteção dos interesses
morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua
autoria.

A fonte mais importante do direito de autor no nosso ordenamento jurídico é o


Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos (CDADC), diploma aprovado pelo
Decreto-Lei n.º 63/85, de 14 de março, retificado pela Declaração de Retificação de 30
de abril de 1985, alterado pela Lei n.º 45/85, de 17 de setembro, pela Lei n.º 114/91,
de 3 de setembro, pelo Decreto-Lei n.º 332/97, de 27 de novembro, pelo Decreto-Lei
n.º 334/97, de 27 de novembro, pela Lei n.º 50/2004, de 24 de agosto, pela Lei n.º
24/2006, de 30 de junho, pela Lei n.º 16/2008, de 1 de abril, pela Lei n.º 65/2012, de
20 de dezembro, pela Lei n.º 82/2013, de 6 de dezembro, pela Lei n.º 32/2015, de 24
de abril, pela Lei n.º 49/2015, de 5 de junho, pela Lei n.º 36/2017, de 2 de junho e pela
Lei n.º 100/2017, de 23 de agosto.

O direito de autor tem por objeto as obras intelectuais, concretamente as obras


literárias, artísticas e científicas.

A obra é necessariamente uma criação humana, não sendo objeto de proteção as


obras que sejam criadas sem essa intervenção, mesmo que possam ser esteticamente
apreciadas. Assim, tal como refere Menezes Leitão na sua obra “Direito de Autor”, “as

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paisagens naturais, as obras realizadas por animais, as obras integralmente criadas


por computador, ou os destroços causados por atentados ou acidentes não podem ser
consideradas como obras para efeitos de proteção autoral. A partir do momento em
que exista uma intervenção humana, de cariz original, já é porém, possível configurar
uma obra, como sucede com a fotografia de uma paisagem, um poema criado com
auxílio do computador, ou uma escultura realizada a partir de destroços.”

Nos termos do n.º 1 do artigo 1.º do CDADC:

“Consideram-se obras as criações intelectuais do domínio literário, científico e


artístico, por qualquer modo exteriorizadas, que, como tais, são protegidas nos termos
deste Código, incluindo-se nessa proteção os direitos dos respetivos autores”.

Importa distinguir a obra intelectual e o seu suporte (a sua exteriorização).

Efetivamente, o direito de autor do escritor de um romance incide sobre a obra e


não sobre os exemplares do mesmo romance, pelo que o seu direito não é perdido,
mesmo que todos os exemplares desapareçam.

Do mesmo modo, um pintor não perde os seus direitos de autor, mesmo que o
quadro seja destruído, não dando isso o direito aos outros pintores de o copiar.

De acordo com o artigo 10.º do CDADC:

“1 – O direito de autor sobre a obra como coisa incorpórea é independente do


direito de propriedade sobre as coisas materiais que sirvam de suporte à sua fixação
ou comunicação.

2 – O fabricante e o adquirente dos suportes referidos no número anterior não


gozam de quaisquer poderes compreendidos no direito de autor.”

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Desta disposição podemos retirar três princípios:

a) O direito de autor não depende da existência de suporte material;

b) O direito sobre o exemplar não outorga direitos de autor;

c) O direito de autor não outorga direitos sobre o exemplar.

Sobre esta temática, conclui Menezes Leitão na sua obra que “o direito de autor
não depende da existência de suporte material. Efetivamente, ao contrário do que
sucede noutros sistemas jurídicos, no ordenamento português o direito de autor sobre
a obra é independente de qualquer fixação ou materialização em determinado suporte,
subsistindo independentemente deste.”

Quanto ao segundo princípio, de acordo com o qual o direito sobre o exemplar


não outorga direitos de autor, daqui resulta que quem adquirir um exemplar da obra
não adquire qualquer direito de autor, como seja o de a traduzir, tornar a publicar ou
reproduzir.

Finalmente, o último princípio é o de que o direito de autor não outorga direitos


sobre o exemplar. Efetivamente, o exemplar é objeto de um direito de propriedade, o
qual não pertence ao autor, mas a quem o adquiriu. O direito de autor não é afetado
pela produção ou reprodução de exemplares, mas essa produção ou reprodução não
atribui ao autor quaisquer direitos sobre os exemplares da sua obra, que pertencem
aos respetivos donos.

Sendo a obra uma criação intelectual, não há qualquer dúvida que terá de revestir
caráter criativo, não sendo objeto de proteção nem as cópias de outras obras, nem as
meras descrições de factos ocorridos, como as simples informações.

De acordo com o disposto no n.º 1 do artigo 2.º do CDADC, as obras intelectuais


do domínio literário, científico e artístico, quaisquer que sejam o género, a forma de

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expressão, o mérito, o modo de comunicação e o objetivo compreendem,


nomeadamente:

- Livros, folhetos, revistas, jornais e outros escritos;

- Conferências, lições, alocuções e sermões;

- Obras dramáticas e dramático-musicais e a sua encenação;

- Obras coreográficas e pantominas, cuja expressão se fixa por escrito ou


por qualquer forma;

- Composições musicais, com ou sem palavras;

- Obras cinematográficas, televisivas, fonográficas, videográficas e


radiofónicas;

- Obras de desenho, tapeçaria, pintura, escultura, cerâmica, azulejo,


gravura, litografia e arquitetura;

- Obras fotográficas ou produzidas por quaisquer processos análogos aos


da fotografia;

- Obras de artes aplicadas, desenhos ou modelos industriais e obras de


design que constituam criação artística, independentemente da proteção
relativa à propriedade industrial;

- Ilustrações e cartas geográficas;

- Projetos, esboços, e obras plásticas respeitantes à arquitetura, ao


urbanismo, à geografia ou às outras ciências;

- Lemas ou divisas, ainda que de caráter publicitário, se se revestirem de


originalidade;

- Paródias e outras composições literárias ou musicais, ainda que inspiradas


num tema ou motivo de outra obra.

Esta enumeração exemplificativa de obras originais é estendida pelo artigo 3.º a


certas categorias de obras derivadas, que se consideram como equiparadas a
originais, compreendendo:

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- Traduções, arranjos, instrumentações, dramatizações, cinematizações e


outras transformações de qualquer obra, ainda que esta não seja objeto de
proteção;

- Os sumários e compilações de obras protegidas ou não, tais como seletas,


enciclopédias e antologias que, pela escolha ou disposição das matérias,
constituam criações intelectuais;

- As compilações sistemáticas ou anotadas de textos de convenções, de


leis, de regulamentos ou de relatórios ou de decisões administrativas,
judiciais ou de quaisquer órgãos ou autoridades do Estado ou da
Administração.

A estas obras, haverá que acrescentar os programas de computador, por força do


Decreto-Lei n.º 252/94, de 20 de outubro.

De acordo com o n.º 1 do artigo 7.º do CDADC:

“1 – Não constituem objeto de proteção:

a) As notícias do dia e os relatos de acontecimentos diversos com caráter de


simples informações de qualquer modo divulgados;

b) Os requerimentos, alegações, queixas e outros textos apresentados por escrito


ou oralmente perante autoridades ou serviços públicos;

c) Os textos propostos e os discursos proferidos perante assembleias ou outros


órgãos colegiais, políticos e administrativos, de âmbito nacional, regional ou local, ou
em debates públicos sobre assuntos de interesse comum;

d) Os discursos políticos.”.

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A titularidade do direito de autor está intimamente ligada à determinação da noção


jurídica de autor.

Nos termos do artigo 12.º do CDADC:

“O direito de autor é reconhecido independentemente de registo, depósito ou


qualquer outra formalidade”.

E diz-se no artigo 13.º do mesmo Código:

“Aquele que subsidie ou financie por qualquer forma, total ou parcialmente, a


preparação, conclusão, divulgação ou publicação de uma obra não adquire por esse
facto sobre esta, salvo convenção escrita em contrário, qualquer dos poderes incluídos
no direito de autor.”

Importa analisar o caso concreto da obra feita sob encomenda ou por conta de
outrem.

Os artigos 14.º e 15.º regulam especificamente a situação da obra feita sob


encomenda ou por conta de outrem, quer em cumprimento de dever funcional, quer de
contrato de trabalho.

Está-se perante situações em que alguém é contratado especificamente para a


produção de obras intelectuais, como o funcionário, que é encarregado de elaborar
estudos técnicos, ou o arquiteto, que é contratado por um gabinete de arquitetura,
para desenhar projetos.

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
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Adicionalmente, há alguns regimes especiais, expressamente previstos na lei


como a realização de trabalhos jornalísticos por conta de outrem (artigo 174.º do
CDADC), fotografias efetuadas em execução de um contrato de trabalho ou por
encomenda (artigo 165.º do CDADC) ou as criações publicitárias (artigo 29.º do
Código da Publicidade).

De acordo com o n.º 1 do artigo 14.º do CDADC, a regra da atribuição do direito


de autor em caso de obras feitas sob encomenda ou por conta de outrem é a que esta
se determina de acordo com o que tiver sido convencionado.

As partes são assim livres de estabelecerem a atribuição do direito de autor, quer


ao criador intelectual, quer ao empregado ou comitente.

Na falta de convenção, a lei presume que a titularidade do direito de autor relativo


à obra realizada sob encomenda ou por conta de outrem pertence ao seu criador
intelectual (cf. n.º 2 do artigo 14.º do CDADC).

Quanto ao conteúdo do direito de autor, de acordo com o disposto no n.º 1 do


artigo 9.º do CDADC, “o direito de autor abrange direitos de natureza patrimonial e
direitos de natureza pessoal, denominados direitos morais”.

Assim, o conteúdo do direito de autor pode ser expresso através da enumeração


de vários direitos parcelares, de natureza patrimonial e de natureza pessoal.

Os direitos patrimoniais destinam-se a garantir a exploração económica da obra,


enquanto os direitos pessoais se destinam a proteger os aspetos pessoais nela
vertidos ou a tutelar a ligação pessoal da obra ao seu autor.

Ao lado da proteção concedida ao direito de autor, foram sendo reconhecidas


categorias afins de direitos: os direitos conexos.

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
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Nos termos do artigo 192.º do CDADC, os direitos conexos atribuem uma


proteção afim ao direito de autor, pelo que “as disposições sobre os modos de
exercício dos direitos de autor aplicam-se no que couber aos modos de exercício dos
direitos conexos”.

Feito que está um breve enquadramento jurídico do direito de autor e dos direitos
conexos, importará fazer uma análise das suas especificidades em matéria fiscal,
concretamente em sede de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares
(IRS) e de Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA).

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3. Tratamento fiscal em IRS

3.1 Enquadramento

No que respeita à tributação das pessoas singulares dos direitos de autor, será
relevante analisar as normas de incidência de três categorias distintas:

• a categoria B (rendimentos empresariais e profissionais),

• a categoria E (rendimentos de capitais) e

• a categoria G (incrementos patrimoniais).

Nestas três categorias poderão ser enquadrados diferentes rendimentos relativos


a direitos de autor, pelo que as analisaremos separadamente.

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3.2 Categoria B: Rendimentos empresariais e profissionais

A incidência da categoria B (rendimentos empresarias e profissionais) está


prevista nos artigos 3.º e 4.º do Código do IRS.

Relacionado com os direitos de autor, importa atender à alínea c) do n.º 1 do


artigo 3.º, em que se diz o seguinte:

“Consideram-se rendimentos empresariais e profissionais:

(…)

c) Os provenientes da propriedade intelectual ou industrial ou da prestação de


informações respeitantes a uma experiência adquirida no setor industrial, comercial ou
científico, quando auferidos pelo seu titular originário.”

O n.º 5 do mesmo artigo estabelece que “para efeitos deste imposto,


consideram-se como provenientes da propriedade intelectual os direitos de autor e
direitos conexos.”

A este propósito, Rui Duarte Morais, na sua obra “Sobre o IRS” salienta que:
“classicamente, obras protegidas seriam criações do espírito humano nos domínios
literário, artístico e científico. Hoje, avultam, em termos de importância económica,
outras criações – cuja proteção se procura lograr dentro dos quadros do direito de
autor –, em especial no domínio das informática (software) e, também, os chamados
direitos conexos (direitos dos artistas intérpretes ou executantes, dos produtores
fonográficos e videográficos e dos organismos de radiodifusão sonora ou visual).”

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Na referida disposição enquadram-se, por exemplo, os rendimentos decorrentes


da cedência (temporária ou definitiva) de direitos de autor de uma obra literária a favor
de uma editora.

A inclusão deste tipo de rendimentos dentro desta categoria só ocorre se forem


auferidos pelo seu titular originário. Só neste caso os rendimentos serão tratados
como rendimentos empresariais e profissionais, na medida em que só quando
auferidos pelo titular originário (v.g., autor da obra literária) podem ser considerados
imputados ao seu trabalho ou à sua capacidade organizativa.

Se o rendimento for recebido por um sucessor do titular originário, também será


tributado, mas será enquadrado noutra categoria, conforme adiante veremos.

Dentro da categoria B, a tributação poder-se-á fazer pelo regime simplificado ou


pelo regime da contabilidade organizada (cf. artigo 28.º do Código do IRS).

Ficam abrangidos pelo regime simplificado os sujeitos passivos que, no exercício


da sua atividade, não tenham ultrapassado no período de tributação imediatamente
anterior um montante anual ilíquido de rendimentos desta categoria de € 200 000.

A aplicação do regime simplificado cessa apenas quando este montante seja


ultrapassado em dois períodos de tributação consecutivos ou, quando o seja num
único exercício, em montante superior a 25% (i.e., quando ultrapasse € 250 000), caso
em que a tributação pelo regime de contabilidade organizada se faz a partir do período
de tributação seguinte ao da verificação de qualquer desses factos.

No exercício de início de atividade, o enquadramento no regime simplificado


faz-se, verificados os demais pressupostos, em conformidade com o valor anual de
rendimentos estimado, constante da declaração de início de atividade.

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
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Os sujeitos passivos abrangidos pelo regime simplificado podem optar pela


determinação dos rendimentos com base na contabilidade, devendo esta opção ser
formulada pelos sujeitos passivos:

a) Na declaração de início de atividade;

b) Até ao fim do mês de março do ano em que pretendem alterar a forma de


determinação do rendimento, mediante a apresentação de declaração de alterações.

Sendo aplicado o regime simplificado, o coeficiente a aplicar é o de 0,95, tal como


resulta da alínea d) do n.º 1 do artigo 31.º do Código do IRS, que prevê a aplicação
deste coeficiente a “rendimentos provenientes de contratos que tenham por objeto a
cessão ou utilização temporária da propriedade intelectual ou industrial ou a prestação
de informações respeitantes a uma experiência adquirida no setor industrial, comercial
ou científico (…)”.

3.2.1 Benefício fiscal à propriedade intelectual

No artigo 58.º do Estatuto dos Benefícios Fiscais (EBF), que corresponde ao


anterior artigo 56.º, está previsto um benefício fiscal à propriedade intelectual.

Na sua redação atual, diz esta disposição:

“1 – Os rendimentos provenientes da propriedade literária, artística e científica,


incluindo os provenientes da alienação de obras de arte de exemplar único e os
provenientes das obras de divulgação pedagógica e científica, quando auferidos por
titulares de direitos de autor ou conexos residentes em território português, desde que
sejam os titulares originários, são considerados no englobamento, para efeitos do IRS,
apenas por 50% do seu valor, líquido de outros benefícios.

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2 – Excluem-se do disposto no número anterior os rendimentos provenientes de


obras escritas sem caráter literário, artístico ou científico, obras de arquitetura e obras
publicitárias.

3 – A importância a excluir do englobamento nos termos do n.º 1 não pode


exceder €10 000.

4 – (Revogado)”

Este benefício consiste numa isenção parcial, pois somente 50% dos rendimentos
escapam à tributação, e subjetiva, atendendo a que, apesar de se referir aos
rendimentos da propriedade literária, artística e científica, para ficarem abrangidos
pelo benefício têm de ser auferidos pelos titulares originários dos direitos de autor.

Somente os rendimentos provenientes da propriedade literária, artística e


científica, domínios que integram os artigos 1.º e 2.º do CDADC, ficam abrangidos pelo
benefício do artigo 58.º do EBF.

Evolução da redação da norma

Para melhor compreender este benefício, importa estudar a sua génese.

O EBF, em que se insere o benefício em análise, foi aprovado pelo Decreto-Lei


n.º 215/89, de 1 de julho. Este diploma foi elaborado ao abrigo da Lei n.º 8/89, de 22
de abril, que foi a sua lei de autorização legislativa.

Com base no disposto na alínea ii) do artigo 4.º desta Lei, a Assembleia da
República autorizou o Governo a dar tratamento especial, em sede de IRS, aos

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rendimentos da categoria B que decorressem do trabalho criativo no domínio artístico


e literário.

Em execução desta autorização, o Governo determinou, através do então artigo


45.º do EBF, na sua versão original, que os rendimentos provenientes da propriedade
intelectual, quando auferidos por pintores, escultores ou escritores, residentes em
território português, desde que fossem o titular originário, seriam considerados no
englobamento para efeitos do IRS apenas por 50% do seu valor.

A este respeito, o preâmbulo do Decreto-Lei n.º 215/89, esclarece que, com a


aprovação do referido Estatuto, o Governo procurou pôr termo à multiplicidade e
dispersão dos benefícios fiscais, acolhendo nesse diploma princípios que passam pela
atribuição aos benefícios fiscais de um caráter obrigatoriamente excecional, só
devendo ser concedidos em caso de reconhecido interesse público.

A redação inicial do artigo 45.º do EBF suscitou alguns problemas interpretativos,


de que a doutrina se deu conta (cf. Parecer sobre “Benefícios Fiscais aos rendimentos
provenientes da propriedade artística e literária”, de Nuno de Sá Gomes, in Ciência e
Técnica Fiscal, n.º 358, p. 365).

Tal como se refere naquele Parecer, surgiram dúvidas na delimitação dos


conceitos de “escultor”, “pintor” e “escritor”, para efeitos do benefício em análise.

Assim, a Assembleia da República, através da Lei n.º 65/90, de 28 de dezembro,


decidiu alterar o texto do preceito, modificando não só a respetiva epígrafe, que de
propriedade artística e literária passou para propriedade intelectual, como também a
própria redação da disposição, que passou a ser a seguinte:

“1 - Os rendimentos provenientes de propriedade literária, artística e científica


quando auferidos por autores residentes em território português, desde que sejam o

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titular originário serão considerados no englobamento para efeitos do IRS apenas por
50% do seu valor.

2 - Excluem-se do disposto no número anterior os rendimentos provenientes de


obras não literárias, obras de arquitetura e obras publicitárias.”

Esta alteração resultou de uma proposta apresentada de introdução, ao lado da


propriedade literária e artística, da propriedade científica, proposta consensual, tendo
o texto final do n.º 1 sido aprovado por unanimidade.

Assim, não se deverá agora falar em obras científicas literárias e em obras


científicas não literárias, bastando que a obra seja científica para se incluir no
benefício os rendimentos que gerar.

Pela Lei n.º 10-B/96, de 23 de março, foi novamente alterada a redação do artigo
45.º do EBF, passando a ter a seguinte redação:

“1 - Os rendimentos provenientes da propriedade literária, científica e artística,


quando auferidos por autores residentes em território português, desde que sejam o
titular originário, serão considerados no englobamento para efeitos do IRS apenas por
50% do seu valor, líquido de outros benefícios.

2 - Excluem-se do disposto no número anterior os rendimentos provenientes de


obras escritas sem caráter literário, artístico ou científico, obras de arquitetura e obras
publicitárias.

3 - A importância a excluir do englobamento nos termos do n.º 1 não pode


exceder 6 000 000$00.”

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Estabeleceu-se, com esta nova redação, um limite máximo que os rendimentos


abrangidos não podem exceder para efeitos de englobamento.

Adicionalmente, no n.º 1 do preceito, clarificou-se que os rendimentos a


considerar para efeitos de englobamento no IRS se reportam ao valor líquido de outros
benefícios, referência inexistente nas anteriores redações do preceito.

Por último, o legislador afasta, de forma inequívoca, do benefício fiscal, para além
das obras de arquitetura e publicitárias — que mantém de fora —, apenas as obras
escritas que não tenham “caráter literário, artístico ou científico”.

Isto é, independentemente de agora se questionar se, para efeitos de benefícios


fiscais, “obra não literária” corresponde, de facto, a “obra escrita sem caráter literário”,
o certo é que a redação em vigor do preceito, amplia a restrição ao seu n.º 1, incluindo
entre as obras que não gozam de qualquer benefício fiscal, também as obras escritas
sem caráter artístico e as obras escritas sem caráter científico.

Pela Lei n.º 127-B/97, de 20 de dezembro, foram feitas novas alterações a esta
disposição.

Por um lado, foi eliminado o limite introduzido no n.º 3.

Por outro, o n.º 1 passou a ter a seguinte redação (sendo o sublinhado o texto
aditado):

“Os rendimentos provenientes da propriedade literária, artística e científica,


considerando-se também como tal os rendimentos provenientes da alienação de obras
de arte de exemplar único e os rendimentos provenientes de obras de divulgação
pedagógica e científica, quando auferidos por autores residentes em território

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português, desde que sejam o titular originário, serão considerados no englobamento


para efeitos de IRS apenas por 50% do seu valor, líquido de outros benefícios.”

Pelo Decreto-Lei n.º 198/2001, é alterado novamente o n.º 1 do, agora, artigo 56.º,
quanto ao tempo verbal. Onde se lia “serão considerados no englobamento para
efeitos de IRS (...)” passa a ler-se “(...) são considerados no englobamento para
efeitos de IRS”.

Em 2004, pela Lei n.º 55-B/2004, que aprovou o Orçamento do Estado para 2005,
introduziram-se mais alterações ao artigo 56.º.

O n.º 3 é reintroduzido no preceito, mas não nos mesmos termos, uma vez que o
montante excluído do englobamento não pode, agora, exceder os € 27 194, o que não
constitui uma mera conversão em euros do montante anteriormente estipulado com a
Lei n.º 10-B/96, de 23 de março, mas uma redução deste montante, que correspondia
a 6 000 000$ (€ 29 927).

Já o n.º 4 vem introduzir a possibilidade de os rendimentos poderem ser


distribuídos por um período máximo de três anos.

A Lei n.º 53-A/2006, de 29 de dezembro, que aprovou o Orçamento do Estado


para 2007, altera novamente os n.os 3 e 4.

Quanto ao n.º 3, é aumentado o limite para € 30 000.

Quanto ao n.º 4, passa a dispor que “quando os rendimentos a que se refere o


n.º 1 excedam € 60 000, a diferença entre os rendimentos líquidos do benefício e
aquele montante é dividida por três, aplicando-se à totalidade dos rendimentos
englobáveis a taxa correspondente à soma deste quociente, adicionado da

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importância referida no número anterior, com os restantes rendimentos produzidos no


ano”.

Em 2008, o Decreto-Lei n.º 108/2008, de 26 de junho, que republica o EBF,


renumera o artigo 56.º para 58.º, mantendo a epígrafe “Propriedade Intelectual”. A
redação modifica-se no n.º 1 passando a dispor “desde que sejam os seus titulares
originários”, enquanto na versão da Lei n. º 55-B/2004 a expressão se encontrava no
singular.

O n.º 4 é revogado pela Lei n.º 64-B/2011, de 30 de dezembro, que aprova o


Orçamento do Estado para 2012.

Esta mesma lei altera novamente o n.º 3, reduzindo o montante que se permite
excluir do englobamento, passando o valor máximo a ser de € 20 000.

Em 2012, pela Lei n.º 66-B/2012, de 31 de dezembro, que aprova o Orçamento do


Estado para 2013, o n.º 1 deixa de se referir aos autores, passando a dispor, como
beneficiários do regime mais favorável, os titulares dos direitos de autor. No n.º 3 há
nova redução, para € 10 000, do limite máximo que os rendimentos excluídos do
englobamento podem atingir.

Finalmente, pela Lei n.º 82-E/2014, de 31 de dezembro, é novamente alterado o


n.º 1, substituindo-se as expressões: “considerando-se também como tal os
rendimentos provenientes da alienação de obras de arte de exemplar único (...)” por
“incluindo os provenientes da alienação de obras de arte de exemplar único (...)”; e “os
rendimentos provenientes das obras de divulgação (...)” por “(...) e os provenientes das
obras de divulgação”.

24
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Algumas jurisprudência e doutrina administrativa relevantes

Relativamente a este benefício fiscal, chamamos a atenção para o acórdão do


STA no processo n.º 0957/13, de 8 de outubro de 2014, em que, a propósito do
enquadramento neste benefício dos rendimentos decorrentes dos serviços de
comentador, se concluiu o seguinte:

“I – O direito de autor coenvolve direitos exclusivos de caráter patrimonial


(disposição, fruição, utilização, reprodução e apresentação ao público com perceção
de remuneração) e direitos morais (reivindicação da paternidade e garantia da
genuinidade e integridade).

II – Os rendimentos provenientes das obras literárias beneficiam da redução de


50% para efeito de englobamento e incidência do IRS (art. 56º, correspondente ao
atual art. 58º, do EBF). A finalidade deste benefício fiscal é a de incentivar a criação
artística ou literária, por forma a melhorar o nível de desenvolvimento cultural do país,
finalidade esta de relevo e de interesse público e que apenas pode ser realizado pelas
obras reconhecidas como integrando a qualificação de obras literárias.

III – Em regra, porque não são criadas nem apreciadas como arte, não podem ter-
se como obras literárias as participações, como comentador, entrevistador ou
debatente, em programas de estações televisivas e de radiodifusão.” (sublinhado
nosso)

Neste mesmo sentido, segue a doutrina da AT, vertida na Informação n.º 12/03,
de 12 de junho de 2003, do Gabinete do Diretor Geral dos Impostos.

Questão semelhante foi colocada quanto à publicação de crónicas em jornais. A


este respeito, pelo Acórdão no processo n.º 649/12, de 28 de novembro de 2012,
concluiu-se:

25
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

“I – Nos termos do disposto nos n.os 1 e 2 do art. 56.º, n.os 1 e 2 do EBF, na


redação anterior à republicação de que este diploma foi objeto pelo Decreto-Lei
n.º 108/2008, de 26 de Junho (hoje, correspondem-lhe os mesmos números do art.
58.º), os rendimentos provenientes das obras literárias beneficiam da redução de 50%
para efeito de englobamento e incidência do IRS.

II – A finalidade daquele benefício fiscal é a de incentivar a criação artística ou


literária, por forma a melhorar o nível de desenvolvimento cultural do país, finalidade
esta de relevo e de interesse público e que apenas pode ser realizado pelas obras
reconhecidas como integrando a qualificação de obras literárias.

III – Em face das consabidas dificuldades de distinção entre obra de caráter


literário e sem esse caráter, deve privilegiar-se um critério objetivo: serão
consideradas como obras literárias as que, prima facie, se apresentem como tal
(criadas e apreciadas como arte, como atividade e produção estética), privilegiando-
se, pois, o valor facial da obra; admitimos, no entanto, que em casos contados, essa
distinção não possa prescindir duma avaliação do mérito da obra, sob pena de sermos
conduzidos a resultados indesejados e indesejáveis.

IV – Em regra, porque não são criadas nem apreciadas como arte, não podem ter-
se como obras literárias as crónicas publicadas num jornal, pelo que os rendimentos
auferidos pela sua autoria não podem beneficiar da não sujeição parcial dita em I.”
(sublinhado nosso)

Neste mesmo sentido, segue a doutrina da AT, vertida na Informação n.º 12/03,
de 12 de junho de 2003, do Gabinete do Diretor Geral dos Impostos.

Ainda a respeito do enquadramento neste benefício, foi analisado o caso concreto


da elaboração de pareceres técnicos. Pelo Acórdão ao processo n.º 0170/13, de 1 de
outubro de 2014, concluiu-se:

26
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

“I – O direito de autor coenvolve direitos exclusivos de caráter patrimonial


(disposição, fruição, utilização, reprodução e apresentação ao público com perceção
de remuneração) e direitos morais (reivindicação da paternidade e garantia da
genuinidade e integridade).

II – Os rendimentos pagos pela emissão de pareceres técnico-científicos, de


acordo com o clausulado no respetivo «contrato de avença», não são rendimentos
provenientes de direitos de autor e, sendo reportados a um contrato de prestação de
serviços, subsumem-se ao disposto na al. b) do nº 1 do art. 3º do CIRS e, portanto,
não enquadráveis na previsão do art. 56.º do EBF.” (sublinhado nosso)

Colocou-se ainda a questão de saber se a venda de esculturas teria


enquadramento no benefício do atual artigo 58.º do EBF.

Sobre este tema, poderemos recorrer ao Ofício-Circulado n.º 5106, de 2 de


fevereiro de 1998.

A questão surgiu porque diversos contribuintes consideraram os rendimentos


provenientes da venda de esculturas como sendo rendimentos aos quais seria
aplicável o referido benefício fiscal, tendo deduzido 50% do valor total bruto dos
rendimentos e, simultaneamente, considerado a totalidade dos custos afetos.

A conclusão deste ofício é a seguinte:

“Nestes termos, importará qualificar as remunerações auferidas pelos escultores.


Se tiverem sido auferidas a título da alienação dos direitos patrimoniais de autor, então
serão tributadas simplesmente em 50% do montante total.

Nos casos em que o rendimento percetado resulta de uma remuneração pela


transmissão do direito real e do direito de autor, sobrepondo-se este último ao
primeiro, pela sua importância (não é indiferente deter o original da obra ou uma mera
cópia, sendo o valor da primeira imensamente superior ao da cópia, ainda mais

27
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

quando estão em causa grandes mestres), poderá entender-se, no âmbito da


interpretação administrativa do artigo, que a totalidade da remuneração poderá
beneficiar do disposto no artigo 45º do EBF.”

A fundamentação para esta conclusão é a que se segue.

Para o rendimento auferido pela elaboração de esculturas beneficiar do aludido


incentivo fiscal bastará que seja considerado um rendimento proveniente de alienação
de direito de propriedade artística e não de alienação de direito real. Resta saber o
que é um direito de propriedade artística.

Não contendo o direito fiscal um conceito de direito de autor, e logo, de direito de


propriedade artística, deverá recorrer-se ao ramo específico de Direito em causa,
importando os seus conceitos próprios, pois o Direito Fiscal reveste a natureza de um
direito de sobreposição.

O direito de autor é um direito compósito, contendo faculdades de caráter


patrimonial e faculdades de caráter pessoal (artigo 9.º do CDADC).

No âmbito pessoal do direito de autor, poderemos incluir os direitos de inédito, de


retirada, de nome, de paternidade, de integridade e de modificação. Este âmbito não
nos interessa, porém deverá referir-se indicativamente que não serão transmissíveis
em vida.

O setor patrimonial do direito de autor destina-se a reservar ao autor vantagens


económicas da exploração da obra, e neste âmbito o panorama é diferente, admitindo
a lei a disponibilidade em toda a sua amplitude.

O núcleo do direito patrimonial é constituído, numa obra individual, pelo direito de


participação financeira derivado da divulgação, publicação ou qualquer outra forma de

28
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

exploração económica da obra. Neste âmbito incluem-se as prestações auferidas pela


utilização e aproveitamento da obra, por exemplo, prestações pela reprodução da
obra, pela utilização pública, mesmo sem intuitos lucrativos, pela distribuição, pela
comercialização ou pela destinação.

O exemplar original reveste nesta categoria uma importância extrema, embora a


distinção entre suporte material e obra se faça aqui exatamente nos mesmos termos
que em qualquer outra obra. Nestes moldes, será igualmente possível distinguir a
titularidade da obra e a propriedade do suporte material.

Nos termos do n.º 2 do artigo 157.º do CDADC, "a alienação da obra de arte
envolve, salvo convenção expressa em contrário, a atribuição do direito de a expor."

Conclui-se, então, na aludida Informação da AT que:

“Nestes termos, importará qualificar as remunerações auferidas pelos escultores.


Se tiverem sido auferidas a título da alienação dos direitos patrimoniais de autor, então
serão tributadas simplesmente em 50% do montante total.

Nos casos em que o rendimento percetado resulta de uma remuneração pela


transmissão do direito real e do direito de autor, sobrepondo-se este último ao
primeiro, pela sua importância (não é indiferente deter o original da obra ou uma mera
cópia, sendo o valor da primeira imensamente superior ao da cópia, ainda mais
quando estão em causa grandes mestres), poderá entender-se, no âmbito da
interpretação administrativa do artigo, que a totalidade da remuneração poderá
beneficiar do disposto no artigo 45º do EBF.”

29
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Regime simplificado

Conforme já atrás foi referido, a possibilidade de enquadramento no regime


simplificado tem um limite de € 200 000 de montante anual ilíquido de rendimentos da
categoria B.

Colocou-se a questão de saber se, quando o benefício previsto no atual artigo


58.º do EBF é aplicado, para o cômputo do valor sujeito ao limite se deverá integrar
todo o rendimento ou apenas a parcela englobada.

A este propósito, concluiu-se no Acórdão ao processo n.º 0105/15, de 17 de junho


de 2015, que o rendimento deve ser considerado na sua totalidade para aferir o
mencionado limite.

Retenção na fonte

Prevê-se na alínea a) do n.º 1 do artigo 101.º do Código do IRS que as entidades


que disponham ou devam dispor de contabilidade organizada são obrigadas a reter o
imposto, mediante a aplicação, aos rendimentos ilíquidos de que sejam devedoras da
taxa de 16,5%, tratando-se de rendimentos da categoria B referidos na alínea c) do
n.º 1 do artigo 3.º (caso em apreço).

Saliente-se, ainda, que caso seja aplicável o benefício fiscal previsto no artigo 58.º
do EBF, atrás referido, a retenção far-se-á apenas sobre metade do rendimento [cf.
alínea b) do n.º 1 do artigo 101.º-D do Código do IRS].

30
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

3.3 Categoria E: Rendimentos de capitais

Conforme atrás já foi referido, se ocorrer uma cedência temporária ou definitiva de


direitos de propriedade intelectual ou industrial por parte do respetivo titular originário,
o rendimento que daí advenha é qualificado como rendimento da categoria B
(rendimentos empresariais ou profissionais).

Se, porém, quem cede o direito, o fazendo temporariamente, não for o titular
originário, mas um terceiro, o rendimento que daí advenha é qualificado como
rendimento de capitais (categoria E).

Nesse sentido, enquadra-se na categoria E, por força do n.º 1 do artigo 5.º e da


alínea m) do n.º 2 do Código do IRS, que prevê textualmente o seguinte:

“Consideram-se rendimentos de capitais os frutos e demais vantagens


económicas, qualquer que seja a sua natureza ou denominação, sejam pecuniários ou
em espécie, procedentes, direta ou indiretamente, de elementos patrimoniais, bens,
direitos ou situações jurídicas, de natureza mobiliária, bem como da respetiva
modificação, transmissão ou cessação, com exceção dos ganhos e outros
rendimentos tributados noutras categorias.

Os frutos e vantagens económicas referidos no número anterior compreendem,


designadamente:

(…)

m) Os rendimentos provenientes de contratos que tenham por objeto a cessão ou


utilização temporária de direitos da propriedade intelectual ou industrial ou a prestação
de informações respeitantes a uma experiência adquirida no setor industrial, comercial
ou científico, quando não auferidos pelo respetivo autor ou titular originário, bem como
os derivados de assistência técnica”.

31
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Os direitos aqui previstos são os direitos da propriedade intelectual (direitos de


autor), da propriedade industrial (patentes de invenção, por exemplo) e os resultantes
de uma experiencia adquirida no setor comercial, industrial ou científico (know-how).
Trata-se de procedimentos produtivos (por exemplo, segredos de fabrico) que, não
preenchendo as condições necessárias para sobre eles serem registados direitos de
propriedade industrial, apresentam especificidades suficientes para terem valor
económico autónomo e assim poderem ser objeto, eles próprios, de exploração
económica.

Tal como refere Xavier de Basto, na sua obra “IRS: Incidência real e determinação
dos rendimentos líquidos”, a propósito destes rendimentos: “não sendo auferidos pelo
titular originário não podem agora ser imputados ao seu ‘engenho’ e ao seu trabalho”,
pelo que são de afastar da categoria B.

Importa salientar que o enquadramento na categoria E só ocorre quando estamos


perante rendimentos da cessão ou utilização temporária. Conforme adiante veremos
com mais pormenor, a transmissão definitiva será enquadrada na categoria G.

Os rendimentos aqui em causa, sendo enquadrados como rendimentos de


capitais, estão sujeitos a IRS à taxa liberatória de 28%, quando obtidos em território
português, por residentes ou não residentes, pagos por ou através de entidades que
aqui tenham sede, direção efetiva ou estabelecimento estável a que deva imputar-se o
pagamento e que disponham ou devam dispor de contabilidade organizada – cf. alínea
a) do n.º 1 do artigo 71.º do Código do IRS.

Caso não seja feita a retenção a título definitivo (o que ocorre quando o
rendimento é pago por entidade não residente ou sem contabilidade organizada), a
tributação far-se-á à mesma taxa de 28%, mas por aplicação de taxa especial – cf.
alínea d) do n.º 1 do artigo 72.º do Código do IRS.

32
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

3.4 Categoria G: Incrementos patrimoniais (mais-valias)

Nos termos da alínea c) do n.º 1 do artigo 10.º do Código do IRS:

“Constituem mais-valias os ganhos obtidos que, não sendo considerados


rendimentos empresariais e profissionais, de capitais ou prediais, resultem de:

(…)

c) Alienação onerosa da propriedade intelectual ou industrial ou de experiência


adquirida no setor comercial, industrial ou científico, quando o transmitente não seja o
seu titular originário”.

Tal como já se referiu a propósito da categoria E, caso haja uma alienação


onerosa (neste caso definitiva) que não seja realizada pelo titular originário, o
rendimento é enquadrado como uma mais-valia (categoria G).

Caso o rendimento fosse obtido pelo titular originário, já o rendimento seria, como
atrás dissemos, enquadrado na categoria B.

O ganho sujeito a IRS é constituído pela diferença entre o valor de realização e o


valor de aquisição, líquidos da parte qualificada como rendimento de capitais, sendo
caso disso.

Estabelece-se no n.º 2 do artigo 43.º do Código do IRS que o saldo apurado entre
as mais-valias e as menos-valias, positivo ou negativo, é apenas considerado em
apenas 50% do seu valor.

33
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Este rendimento está sujeito a uma taxa fixa de 28% [cf. alínea c) do n.º 1 do
artigo 72.º do Código do IRS], podendo, contudo, o sujeito passivo optar pelo respetivo
englobamento (cf. n.º 12 do mesmo artigo).

Caso seja exercida a opção pelo englobamento, fica o sujeito passivo obrigado a
englobar todos os rendimentos da categoria G, tal como previsto no n.º 5 do artigo 22.º
do Código do IRS.

34
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

4. Tratamento fiscal em IVA

4.1 Enquadramento

A cedência de direitos de autor, não tendo natureza corpórea, é considerada, para


efeitos de IVA, uma prestação de serviços, em face do caráter residual deste conceito.

Ao abrigo do n.º 1 do artigo 4.º do Código do IVA: “são consideradas como


prestações de serviços as operações efetuadas a título oneroso que não constituem
transmissões, aquisições intracomunitárias ou importações de bens.”

Neste mesmo sentido, veja-se a informação vinculativa no processo


n.º I301 2006172.

Assim, no que se refere à localização das operações haverá que atender à regra
geral prevista no n.º 6 do artigo 6.º do Código do IVA, que no fundo, são duas regras
gerais, uma para adquirentes que sejam sujeitos passivos do IVA e outra para
adquirentes particulares.

Diz-se textualmente nesse preceito:

“São tributáveis as prestações de serviços efetuadas a:

a) Um sujeito passivo dos referidos no n.º 5 do artigo 2.º, cuja sede,


estabelecimento estável ou, na sua falta, o domicílio, para o qual os serviços são
prestados, se situe no território nacional, onde quer que se situe a sede,
estabelecimento estável ou, na sua falta, o domicílio do prestador;

35
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

b) Uma pessoa que não seja sujeito passivo, quando o prestador tenha no
território nacional a sede da sua atividade, um estabelecimento estável ou, na sua
falta, o domicílio, a partir do qual os serviços são prestados.”

Significa isto que se um sujeito passivo com sede, estabelecimento estável ou


domicílio em território português ceder os seus direitos de autor a uma sociedade
portuguesa, a operação é enquadrada como prestação de serviços e sujeita a IVA em
Portugal.

Caso, por exemplo, a cedência seja feita a favor de uma sociedade espanhola
(sujeito passivo de IVA em Espanha), a prestação de serviços não se localiza em
Portugal (mas sim em Espanha), pelo que não será aqui sujeita a imposto.

Não obstante a sujeição, haverá que estudar se poderá a operação estar isenta
de IVA.

36
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

4.2 Isenção de IVA nos Direitos de Autor

Em termos de IVA, relacionada com a matéria aqui em estudo, temos a isenção


prevista na alínea 16) do artigo 9.º do Código do IVA.

Nos termos desta disposição, beneficia da isenção de IVA:

“A transmissão do direito de autor ou de direitos conexos e a autorização para a


utilização da obra intelectual ou prestação, definidas no Código dos Direitos de Autor e
dos Direitos Conexos, quando efetuadas pelos próprios titulares, seus herdeiros ou
legatários, ou ainda por terceiros, por conta deles, ainda que o titular do direito seja
pessoa coletiva, incluindo a consignação ou afetação, imposta por lei, dos montantes
recebidos pelas respetivas entidades de gestão coletiva, a fins sociais, culturais e de
investigação e divulgação dos direitos de autor e direitos conexos”.

Evolução da redação da norma

Importará fazer uma análise da evolução histórica desta disposição.

A isenção relativa ao direito de autor surgiu na redação inicial do Código do IVA,


na alínea 17) do artigo 9.º, que dizia textualmente o seguinte:

“Estão isentas de IVA:

(…)

17 – A transmissão do direito de autor e a autorização para a utilização da obra


intelectual, definidas no Código de Direito de Autor, quando efetuadas pelos próprios
autores, seus herdeiros ou legatários”.

37
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

A propósito desta disposição, diz-se na anotação do “Código do IVA: notas


explicativas e legislação complementar”, da Direção Geral das Contribuições e
Impostos (Núcleo do IVA), de 1985:

“A transmissão do direito de autor é uma prestação de serviços abrangida pelo


imposto. No entanto, razões de simplificação levam a dispensar da liquidação do
imposto a venda dos direitos de autor e a cedência dos direitos de utilização da obra
intelectual, quando efetuada pelos próprios autores, seus herdeiros ou legatários. O
imposto é recuperado na fase seguinte – a transmissão da obra reproduzida.”

Pelo Decreto-Lei n.º 102/2008, de 20 de junho, foi feita a renumeração das várias
alíneas do artigo 9.º do Código do IVA, passando a anterior 17) a ser a nova 16).

Pela Lei do Orçamento do Estado para 2012, alterou-se novamente a redação da


alínea 16) do artigo 9.º.

Face à redação anterior, é acrescentada a expressão "ou ainda por terceiros, por
conta deles, salvo quando o autor for pessoa coletiva".

Por força da Lei do Orçamento do Estado para 2013, a alínea 16) do artigo 9.°
passou a ter a seguinte redação:

“16) A transmissão do direito de autor e a autorização para a utilização da obra


intelectual, definidas no Código de Direito de Autor, quando efetuadas pelos próprios
autores, seus herdeiros ou legatários, ou ainda por terceiros, por conta deles, ainda
que o autor seja pessoa coletiva”

Com esta alteração, a alínea 16) do artigo 9.° do Código do IVA passa a
contemplar as pessoas coletivas como suscetíveis de beneficiar da isenção nas
condições nele previstas. Assim, a transmissão do direito de autor e a autorização

38
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

para a utilização da obra intelectual definidas no Código de Direito de Autor, quando


efetuadas pelos próprios autores, seus herdeiros e legatários, ou ainda por terceiros
por conta deles, estão abrangidas pela isenção, quer o respetivo autor seja pessoa
individual ou coletiva.

Pela Lei do Orçamento do Estado para 2014, a alínea 16) do artigo 9.º passou a
ter a seguinte redação:

“16) A transmissão do direito de autor ou de direitos conexos e a autorização para


a utilização da obra intelectual ou prestação, definidas no Código dos Direitos de Autor
e dos Direitos Conexos, quando efetuadas pelos próprios titulares, seus herdeiros ou
legatários, ou ainda por terceiros, por conta deles, ainda que o titular do direito seja
pessoa coletiva”.

O Decreto-Lei n.º 63/85, de 14 de março, revogou o Código do Direito de Autor e


aprovou o Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos. Não obstante, esta
disposição do Código do IVA falava, desde o seu início, apenas em direitos de autor, e
não também em direitos conexos. Foi feita, por esta lei, esta adaptação.

De harmonia com o n.º 2 do artigo 185.° da Lei n.º 83-C/2013, esta nova redação
tem natureza interpretativa.

Pela Lei do Orçamento do Estado para 2016 foi alterada a alínea 16) do artigo 9.º
do Código do IVA, passando esta a abranger as entidades de gestão coletiva do
direito de autor e dos direitos conexos, no que respeita aos montantes por elas
recebidos que se destinem a fins sociais, culturais e de investigação e divulgação dos
direitos de autor e direitos conexos, desde que a respetiva consignação ou afetação
seja imposta por lei.

39
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Alguma doutrina administrativa

Sobre esta isenção foi publicado o Ofício Circulado n.º 30147/2013, de 28 de


junho de 2013.

De acordo com este ofício, a alínea 16) do artigo 9.° do Código do IVA respeita
apenas a pessoas singulares ou coletivas que sejam titulares originários da vertente
patrimonial do direito de autor, assim como os herdeiros ou legatários daqueles,
excluindo-se da isenção todas as restantes entidades que não sejam titulares
originárias de um direito de autor.

Refere-se ainda naquele ofício que decorre de reiterada jurisprudência do Tribunal


de Justiça da União Europeia que a isenção prevista na alínea 16) do artigo 9.° do
Código do IVA, uma vez adotada pelo Estado português, tem forçosamente de ser
aplicada independentemente de a titular originária do direito de autor ser uma pessoa
singular ou pessoa coletiva.

Sobre este último aspeto, conclui-se que, pese embora o elemento literal da
redação vigente entre 1 de janeiro e 31 de dezembro de 2012 excluísse da isenção as
pessoas coletivas, o princípio da neutralidade fiscal, em que se alicerça o sistema
comum do IVA, obsta a uma discriminação entre pessoas singulares e pessoas
coletivas que pratiquem operações objetivamente isentas. Assim, e à luz daquele
princípio, a isenção prevista na alínea 16) do artigo 9.° deve ser reconhecida, durante
o referido período temporal, também às pessoas coletivas que sejam titulares
originárias do direito de autor.

No que se refere aos direitos conexos, em qualquer caso, independentemente do


período temporal em apreço, a alínea 16) do artigo 9.º do CIVA não respeita às
pessoas singulares ou coletivas que são titulares de direitos conexos, pelo que a
isenção contida naquela disposição não é suscetível de abranger os direitos conexos
auferidos por artistas intérpretes ou executantes de obras de arte, produtores
fonográficos, produtores videográficos ou empresas de radiodifusão (sonora ou visual),

40
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

sem prejuízo, no que especificamente concerne aos artistas intérpretes ou


executantes, de os respetivos direitos conexos poderem estar abrangidos pela isenção
prevista na alínea 15) do artigo 9.º do CIVA, nas condições aí referidas;

Conclui-se naquele ofício que, independentemente do período temporal em


apreço, a isenção contida na alínea 16) do artigo 9.º do CIVA aplica-se às
importâncias cobradas, a título de direito de autor, por intermédio das entidades que
procedem à respetiva gestão coletiva, não tendo, ao invés, aquela alínea 16) aplicação
no que concerne à cobrança de direitos conexos por entidades de gestão coletiva.

A respeito desta isenção, coloca-se a dúvida sobre a respetiva aplicabilidade aos


contratos de encomenda de obra através dos quais o criador intelectual produz uma
obra para terceiro que será o titular dos direitos de autor.

Sobre esta matéria, veja-se a Ficha Doutrinária da AT, no processo n.º 9847, de
26 de janeiro de 2016.

Na génese desta ficha doutrinária está a seguinte situação: a Requerente


promove a realização de estudos, trabalhos de investigação e outras iniciativas, tendo,
para o efeito, celebrado diversos protocolos de colaboração com várias entidades,
como universidades, institutos públicos, associações, no âmbito dos quais, após
análise e seleção de candidaturas dos projetos, se compromete a celebrar contratos
com as entidades selecionadas, com vista ao desenvolvimento de projetos de
investigação, prevendo que sejam efetuados pagamentos faseados às entidades
investigadoras, culminando os projetos com a entrega de relatórios/trabalhos finais,
contendo as conclusões dos mesmos.

A Requerente solicitou informação vinculativa sobre o tratamento a conferir, em


sede de IVA, aos referidos pagamentos, nomeadamente, quanto à aplicabilidade da
isenção prevista na alínea 16) do artigo 9.º do Código do IVA, sustentando que:

41
Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

- a transmissão de direitos sobre obras encomendadas insere-se no âmbito das


prestações de serviços a que se refere o Código do IVA, estando, portanto, em regra,
sob a incidência do IVA;

- a cláusula contratual apresentada permite concluir que a situação em apreço


configura um contrato de encomenda de obra através do qual o criador intelectual
produz uma obra (o projeto de investigação e relatórios associados) para a
Requerente, que será a titular dos direitos de autor que adquire às primeiras.

Assim, entende dever aplicar-se o disposto no artigo 14.º do CDADC, defendendo


que a "titularidade da obra pertencerá ao titular que resultar da convenção celebrada
entre o transmitente e o transmissário dos direitos" e concluindo que, tratando-se de
obras feitas por encomenda, com transmissão de direitos de autor a favor da
Requerente, a mesma beneficia da isenção prevista na alínea 16) do artigo 9.º do
Código do IVA.

Entendimento diferente é o da AT.

Defende a AT que no caso em análise não houve qualquer transmissão de direitos


de autor, uma vez que as partes, ao terem convencionado, no âmbito da sua
autonomia contratual, que os direitos de autor ficavam reservados à entidade que fez a
encomenda, não fizeram qualquer transmissão do direito de autor, mas sim a
atribuição originária do direito de autor, pelo que a situação não está abrangida pela
isenção.

Dito de outra forma, a atribuição originária do direito de autor, por convenção entre
as partes, conforme previsto no n.º 1 do artigo 14.º do CDADC, distingue-se da
transmissão desse direito ou da autorização para utilização de obra (a que se referem
as alíneas a) e b) do artigo 40.º do CDADC), não integrando, pois, o âmbito de
aplicação da isenção prevista na alínea 16) do artigo 9.º do Código do IVA.

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Um outro caso que foi colocado à consideração da AT consta da Ficha Doutrinária


ao processo n.º 6109, de 20 de fevereiro de 2014.

No caso em apreço, a Requerente trata-se de uma associação pública


profissional, que no âmbito das suas funções promove ações e programas de
formação profissional, cursos e colóquios. Recorre, para o efeito, a entidades
externas, i.e., a pessoas coletivas ou pessoas singulares, com competências
reconhecidas no tratamento das matérias objeto das ações, para elaboração de
manuais que servem de material de apoio a cada formação. Estes manuais são
concebidos de raiz, por aquelas entidades externas, tendo presentes as diretrizes
programáticas aprovadas pelos órgãos funcionais/representativos da Requerente.

Entre a Requerente e as entidades responsáveis pela elaboração dos manuais é


celebrado um contrato de transmissão definitiva dos respetivos direitos de autor,
vedando-se a sua utilização posterior, por parte dos autores, dos conteúdos desses
manuais, sem que haja autorização prévia, a conceder pela Requerente.

No sentido de se analisar se esta situação está abrangida pela isenção de IVA


prevista na alínea 16) do artigo 9.º, há a necessidade de se proceder a uma destrinça,
entre os conceitos de: (i) transmissão do direito de autor, (ii) autorização para a
utilização de obra intelectual, e (iii) transmissão de exemplares de obras literárias.

De acordo com o n.º 2 do artigo 9.º do CDADC, o autor tem o direito exclusivo de
dispor da sua obra e de fruí-la e utilizá-la, ou autorizar a sua fruição ou utilização por
terceiro, total ou parcialmente. Estabelece, por seu turno, o artigo 40.º deste mesmo
diploma legal, que o titular do direito de autor pode: (i) autorizar a utilização da obra
por terceiros, e (ii) transmitir ou onerar, no todo ou em parte, o conteúdo patrimonial do
direito de autor sobre essa obra.

Note-se que a autorização da utilização de obra, com exclusividade ou não, não


implica a transmissão do direito sobre ela, que permanece na esfera jurídica do seu
titular, limitando-se o titular do direito de autor sobre a obra a permitir, neste caso, que

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

a mesma seja divulgada, publicada, utilizada ou explorada por qualquer processo (vide
artigo 41.º do CDADC), nomeadamente, por qualquer das formas/processos de
utilização previstos no artigo 68.º do CDADC. Como seja o caso de: (i) publicação pela
imprensa ou por qualquer outro meio de reprodução gráfica; (ii) representação,
recitação, execução, exibição ou exposição em público; (iii) qualquer forma de
distribuição do original ou de cópias da obra (tal como a sua venda ou aluguer); (iv)
tradução, adaptação da obra, etc..

A autorização para utilização da obra representa apenas um ato de disposição,


limitado à fruição desta, por terceiros, no sentido da obtenção, por estes, de uma
vantagem de cariz patrimonial. Sendo que, em regra, a autorização para utilização de
obra é limitada temporalmente, e/ou limitada funcionalmente, a uma ou várias das
formas/processos de utilização supra discriminados.

Por seu turno, quando se trate da transmissão do próprio direito de autor, o titular
renuncia, na íntegra, ou parcialmente, mas a título definitivo, aos direitos de índole
patrimonial que possui sobre a obra intelectual.

Neste caso, esta transmissão está isenta de IVA

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

4.3 IVA nas vendas de obras de arte

Importa distinguir a transmissão de direitos de autor (que é uma prestação de


serviços para efeitos de IVA) da alienação de uma obra de arte (transmissão de bens).

Na redação inicial do Código do IVA, estava prevista uma isenção de IVA na


venda de obras de arte, verificadas determinadas condições.

Tal isenção estava prevista na alínea 19) do artigo 9.º do Código do IVA, em que
se previa:

“Estão isentas de IVA:

(…)

19 – A transmissão feita pelos próprios artistas, seus herdeiros ou legatários, dos


seguintes objetos de arte, de sua autoria:

a) Quadros, pinturas e desenhos originais, com exclusão dos desenhos


industriais;

b) Gravuras, estampas e litografias de tiragem limitada, com exclusão das obtidas


por processos mecânicos ou fotomecânicos;

c) Objetos de arte no domínio da escultura e estatuária, desde que produzidos


pelo próprio artista, com exclusão dos artigos de ourivesaria e joalharia;

d) Exemplares únicos de cerâmica, executados e assinados pelo artista.”

Com a entrada em vigor do Decreto-Lei n.º 199/96, de 18 de Outubro, foi


revogada a alínea 19) do artigo 9.º do Código do IVA, passando, assim, a estar
sujeitas a imposto as transmissões efetuadas pelos artistas, seus herdeiros ou
legatários, das suas próprias obras.

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

De acordo com o disposto no artigo 15.º do Regime Especial de Tributação dos


Bens em Segunda Mão, Objetos de Arte, de Coleção e Antiguidades:

“A taxa reduzida prevista na alínea a) do artigo 18.º do Código do Imposto sobre o


Valor Acrescentado é aplicável:

a) Às importações de objetos de arte;

b) Às transmissões de objetos de arte efetuadas pelo seu autor, herdeiros ou


legatários;

c) Às transmissões de objetos de arte efetuadas ocasionalmente por um sujeito


passivo não revendedor, se esses bens tiverem sido importados pelo próprio sujeito
passivo, adquiridos ao seu autor, herdeiros ou legatários ou lhe tiverem conferido
direito à dedução total do imposto aquando da sua aquisição;

d) Às aquisições intracomunitárias de objetos de arte, efetuadas por um sujeito


passivo revendedor, quando o sujeito passivo vendedor desses bens, em outro Estado
membro, seja o seu autor, herdeiros ou legatários;

e) Às aquisições intracomunitárias de objetos de arte, efetuadas por um sujeito


passivo revendedor, quando a transmissão correspondente pudesse ser sujeita a taxa
reduzida, de acordo com as condições previstas na alínea c) deste artigo, caso tivesse
ocorrido em território nacional.”.

De acordo com a disciplina prevista no artigo 3.º do aludido Regime, as


transmissões de objetos de arte, de coleção ou de antiguidades, efetuadas por um
sujeito passivo revendedor, são sujeitas ao regime especial de tributação da margem,

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

desde que este tenha adquirido esses bens no interior da União Europeia, em
qualquer uma das seguintes condições:

- A uma pessoa que não seja sujeito passivo;

- A outro sujeito passivo, desde que a transmissão feita por este tenha sido
isenta de imposto, ao abrigo da alínea 33) do artigo 9.º do Código do IVA, ou
de disposição legal idêntica vigente no Estado membro onde tiver sido
efetuada a transmissão;

- A outro sujeito passivo, desde que a transmissão feita por este tenha tido por
objeto um bem de investimento e tenha sido isenta de imposto, ao abrigo do
artigo 53.º do Código do IVA, ou de disposição legal idêntica vigente no
Estado membro onde tiver sido efetuada a transmissão;

- A outro sujeito passivo revendedor, desde que a transmissão dos bens por
esse outro sujeito passivo revendedor tenha sido efetuada ao abrigo do
regime da margem, ou de regulamentação idêntica vigente no Estado
membro onde a transmissão dos bens tiver sido efetuada.

Apesar de não ser obrigatório, podem os sujeitos passivos revendedores optar


pela aplicação do regime especial de tributação da margem às seguintes
transmissões:

- De objetos de arte, de coleção ou de antiguidades que eles próprios tenham


importado;

- De objetos de arte que tenham sido adquiridos no interior da União Europeia


ao autor, aos seus herdeiros ou legatários;

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

- De objetos de arte que tenham sido adquiridos a um outro sujeito passivo,


não revendedor, desde que a transmissão por esse outro sujeito passivo ou a
aquisição intracomunitária dos bens pelo sujeito passivo, revendedor, se for
caso disso, tenha beneficiado da aplicação da taxa reduzida de imposto
prevista nas alíneas c) e e) do artigo 15.º do Regime Especial de Tributação
dos Bens em Segunda Mão, Objetos de Arte, de Coleção e Antiguidades.

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

5. Enquadramento contabilístico e em IRC

Nas situações em que uma entidade – editora de livros, por exemplo – adquire
direitos de autor com vista à edição e comercialização de obras, levanta-se o problema
das respetivas implicações em IRC, designadamente quanto a saber-se como é que
os inerentes dispêndios influenciam os lucros tributáveis.

Desde logo, importa refletir sobre o enquadramento contabilístico de tais


dispêndios, sendo certo que o lucro tributável em IRC parte do lucro contabilístico e
outras variações patrimoniais positivas e negativas, com as correções eventualmente
exigidas pelo respetivo Código.

Ora, no domínio contabilístico, parece estarmos perante ativos qualificados como


intangíveis, tratados na NCRF 6 – Ativos Intangíveis, em cujo § 9 se estabelece:

“As entidades gastam com frequência recursos, ou incorrem em passivos, pela


aquisição, desenvolvimento, manutenção ou melhoria de recursos intangíveis tais
como conhecimentos científicos ou técnicos, conceção e implementação de novos
processos ou sistemas, licenças, propriedade intelectual, conhecimento de mercado e
marcas e objetivos comerciais (incluindo nomes comerciais e títulos de publicações).
Exemplos comuns de itens englobados nestes grupos são o software de
computadores, patentes, copyrights, filmes, listas de clientes, direitos de hipotecas,
licenças de pesca, quotas de importação, franchises, relacionamentos com clientes ou
fornecedores, fidelidade de clientes, quota de mercado e direitos de comercialização”.

Entretanto, os itens em questão podem ter um de dois tratamentos: a inclusão no


ativo ou a inclusão em resultados.

Prevê o § 10 da mesma Norma que a inclusão no ativo (capitalização ou


patrimonialização) apenas seja possível no caso de o item satisfazer a definição de um
ativo intangível, ou seja:

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Identificabilidade

Controlo sobre um recurso

Existência de benefícios económicos futuros

Se ao item faltar satisfazer um qualquer destes requisitos, o dispêndio deverá ser


imediatamente levado a gastos.

Entretanto, o § 12 da NCRF 6 esclarece o requisito da identificabilidade, ao dizer:

“Um ativo intangível é identificável se:

(a) For separável, i.e. capaz de ser separado ou dividido da entidade e vendido,
transferido, licenciado, alugado ou trocado, seja individualmente ou em conjunto com
um contrato, ativo ou passivo relacionado, independentemente da intenção da
entidade de o fazer; ou

(b) Resultar de direitos contratuais ou de outros direitos legais,


independentemente desses direitos serem transferíveis ou separáveis da entidade ou
de outros direitos e obrigações”.

Por outro lado, o controlo sobre o recurso está associado à capacidade de a


entidade controlar os benefícios económicos futuros.

Por regra, uma aquisição de direitos de autor satisfaz os requisitos impostos com
vista à inclusão do dispêndio no ativo da adquirente, pelo que, em tal caso, assim deve
ser contabilisticamente reconhecido.

Em termos de tratamento após reconhecimento no ativo, a NCRF 6 faz a distinção


entre

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Aspetos fiscais dos direitos de autor
ORDEM DOS CONTABILISTAS CERTIFICADOS

Com vida útil finita


Ativo intangível
Com vida útil indefinida

No caso de ativos intangíveis respeitantes a direitos de autor, afigura-se-nos


possível existirem ativos enquadráveis em ambas as situações anteriores.

No caso de ativos intangíveis com vida útil finita, a NCRF 6 impõe a fixação do
número de anos de vida útil e a amortização do ativo ao longo da vida útil, numa base
sistemática.

Tratando-se de ativos intangíveis com vida útil indefinida – o que, como se diz no
§ 89 da NCRF 6, não significa vida útil infinita –, manda o § 105 da Norma que sejam
amortizados num período máximo de 10 anos.

Admitimos que esta disposição seja aplicável a direitos de autor respeitantes a


obras intemporais, que supostamente sejam vendáveis durante muitos anos. Não
obstante, terão tais direitos que ser amortizados no referido período máximo de 10
anos.

Saliente-se que, pela Lei do Orçamento do Estado para 2020, foi alargado o
regime comummente designado de Patent Box aos direitos de autor sobre programas
de computador.

De acordo com este regime, previsto no artigo 50.º-A do Código do IRC,


concorrem para a determinação do lucro tributável em apenas metade do seu valor os
rendimentos provenientes de contratos que tenham por objeto a cessão ou a utilização
temporária dos seguintes direitos de autor e direitos de propriedade industrial quando
registados:

a) Patentes;

b) Desenhos ou modelos industriais;

c) Direitos de autor sobre programas de computador.

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BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, Carlos Ferreira, GONÇALVES, Luís Couto, TRABUCO, Cláudia,


Contratos de Direito de Autor e de Direito Industrial, Almedina, Coimbra,
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BASTO, José Guilherme Xavier de, IRS – Incidência Real e Determinação dos
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DIREÇÃO GERAL DAS CONTRIBUIÇÕES E IMPOSTOS (NÚCLEO DO IVA),


Código do IVA: notas explicativas e legislação complementar, Imprensa
Nacional casa da Moeda, 1985

MORAIS, Rui Duarte, Sobre o IRS, Almedina, Coimbra, Abril 2014

PEREIRA, Alexandre Libório Dias, Direitos de Autor e Liberdade de


Informação, Almedina, Coimbra, Outubro 2008

ROCHA, Manuel Lopes, CARREIRO, Henrique, MARQUES, Ana Margarida,


BERNARDO, André Lencastre, Guia da Lei do Direito de Autor na Sociedade
de Informação, Centro Atlântico, V. N. Famalicão, Março 2005

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