Aula 1 - Teoria Constitucional
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llucasgarciaesilva@hotmail.com
Direito constitucional - Teoria constitucional
CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO
O objetivo de uma Constituição é regular, controlar, condicionar a atividade e o poder do Estado Democrá-
tico brasileiro.
O direito constitucional não se desenvolve isolado de outras ciências de base social, como a política, socio-
logia e filosofia. Essa interconexão entre as ciências resulta na construção de diferentes concepções para o
termo ‘Constituição’.
CONSTITUIÇÃO
AUTOR CONCEITO
NO SENTIDO:
“Constituição é a soma dos fatores reais do poder que regem uma nação”.
Conceito culturalista/ideal
FERDINAND
SOCIOLÓGICO Lassalle defendia que a essência de uma CF está nos valores sociais de determinado
LASSALLE
de Constituição
período.
“Constituição é uma decisão política fundamental do titular do poder constituinte”.
POLÍTICO CARL SCHMITT
Schmitt defendia que a essência de uma CF está nas decisões/fatos políticos.
JURÍDICO “Constituição é norma pura, puro dever ser, sem qualquer cunho sociológico ou
HANS KELSEN
(POSITIVISTA) político”.
“Constituição é um sistema de normas abertas (regras e princípios)” – é uma força
NORMATIVO KONRAD
que vincula as normas com os fatos, que, por sua vez, também influenciam as nor-
(PÓS POSITIVISTA) HESSE
mas.
Portanto, para ele a Constituição é fruto das relações sociais. Para nada serviria um documento escrito se a
regra nele codificada não correspondesse à realidade social.
Pode-se ver então que Ferdinand acreditava existir uma Constituição real/efetiva (baseada em fatos, valores
sociais) e uma Constituição Escrita (mera folha de papel que sucumbiria à Constituição real/efetiva se não
correspondesse à realidade social).
• Constituição em sentido lógico jurídico: é uma norma fundamental hipotética (fundamental porque
é ela que nos dá o fundamento da Constituição; hipotética porque essa norma não é posta pelo Es-
tado é apenas pressuposta. Não está a sua base no direito positivo ou posto, já que ela própria está
no topo do ordenamento)
• Constituição em sentido jurídico positivo: é aquela feita pelo poder constituinte, constituição es-
crita, é a norma que fundamenta todo o ordenamento jurídico. No nosso caso seria a CF/88. É
algo que está no direito positivo, no topo na pirâmide. A norma infraconstitucional deve observar
a norma superior e a Constituição, por consequência. Dessa concepção nasce a ideia de supre-
macia formal constitucional e controle de constitucionalidade, e de rigidez constitucional, ou
seja, necessidade de proteger a norma que dá validade a todo o ordenamento. Para Hans Kelsen,
nunca se pode entender o direito como fato social, mas sim como norma, um sistema escalonado
de normas estruturadas e dispostas hierarquicamente, onde a norma fundamental fecha o orde-
namento jurídico dando unidade ao direito.
CF – Constituição Federal e Tradados Interna-
cionais de Direitos Humanos – TIDH aprovados
com quórum de Emenda Constitucional – CF, São normas primárias/atos legislativos.
art. 5, §3 (ex.: Convenção de Nova York)
São normas supralegais -
estão acima das leis (STF)
TIDH aprovados sem quórum
de emenda constitucional São normas primárias/legislativas.
Essa teoria pós positivista de Konrad Hesse é uma teoria intermediária entre o positivismo extremo de Hans
Kelsen e a visão puramente sociológica de Ferdinand Lassalle.
Lucas Garcia e Silva
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Há, ainda, outras concepções acerca da constituição, não tanto recorrentes como as citadas acima, porém,
já cobradas em provas.
CONSTITUIÇÃO
AUTOR CONCEITO
NO SENTIDO:
Entende que a Constituição é mero símbolo. O legislador não a te-
MARCELO ria criado para ser concretizada. Isso ocorre, por exemplo, em um
SIMBÓLICO
NEVES sistema ditatorial, que não necessariamente elimina da Constitui-
ção ali presente os direitos fundamentais, mas apenas os ignora.
OBS: Há, por último, a Constituição Aberta, ou seja, sujeita a mudanças, a fim de se adaptar às expectativas
e necessidades do cidadão e a Constituição Expansiva, que prevê novos temas e amplia os já tratados.
IMUTÁVEL É uma Constituição que não admite alteração de suas normas. Pretende ser eterna.
É uma Constituição que admite alteração de suas normas apenas mediante mani-
FIXA/
festação do mesmo poder que a criou, mas que não prevê, em seu texto, mecanis-
SILENCIOSA
mos de alteração.
É uma Constituição que só admite alteração de suas normas por meio de um pro-
cedimento mais solene/árduo/dificultoso do que o procedimento de alteração das
QUANTO À ESTABILIDADE/
RÍGIDA leis comuns. No caso da nossa Constituição, a alteração tem que ser aprovada em
CONSISTÊNCIA/
dois turnos em cada casa do Congresso Nacional (Câmara dos Deputados e Senado
PROCESSO DE REFORMA/
Federal), com quórum de 3/5 em cada turno.
ALTERABILIDADE/
MODIFICABILIDADE É uma Constituição que, além de exigir um procedimento mais solene para modifi-
SUPER RÍGIDA cações, contém um núcleo intangível (são as cláusulas pétreas – temas que não
podem ser retirados da CF nem por emenda constitucional), imodificável.
É uma Constituição, em parte, rígida (quanto à parte material), em parte, flexível
SEMI RÍGIDA
(quanto à parte formal).
FLEXÍVEL/ É uma Constituição que admite alterações de suas normas pelo mesmo procedi-
PLÁSTICA mento de alteração das leis comuns.
Eficácia e aplicabilidade são fenômenos conexos (interligados), e são definidos da seguinte forma:
Eficácia: capacidade que a norma tem de produzir efeitos
Aplicabilidade: qualidade para concretizar os efeitos jurídicos pretendidos, de realizar o que a norma
diz.
Visto que estamos falando de normas constitucionais, é oportuno fazer uma observação inerente ao preâm-
bulo da constituição e às normas do ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias).
Lucas Garcia e Silva
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Preâmbulo: Conforme entendimento do STF, o preâmbulo não se situa no campo normativo, não possui
eficácia normativa. Portanto, os estados membros não são obrigados a reproduzi-lo em suas respectivas
constituições.
ADCT: Depois de cumprida a situação disposta pela norma, esta perde a sua eficácia normativa, pois passam
a ser consideradas pela doutrina como normas de eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada. Os efeitos
normativos eram válidos até o cumprimento de seus objetivos. Um exemplo pode ser o art. 3 do ADCT: “A
revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria
absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral”.
NORMAS DE EFICÁCIA
PLENA
NORMAS DE EFICÁCIA
CONTIDA
NORMAS DE PRINCÍPIO OR-
NORMAS DE EFICÁCIA GANIZATIVO/INSTITUTIVO
LIMITADA NORMAS DE PRINCÍPIO
PROGRAMÁTICO
Essas normas não precisam de nenhuma outra norma para complementá-las ou explicá-las. Podem produzir
efeitos por si mesmas. Isso não quer dizer que não admitem qualquer tipo de regulamentação.
• Art. 5, LVIII, CF: “O civilmente identificado não será submetido a identificação criminal, salvo nas hipóteses
previstas em lei”.
• Art. 5, XXII, CF: “É garantido o direito de propriedade”.
Lucas Garcia e Silva
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Essa última norma, inerente à propriedade, sofre uma restrição por outras normas estabelecidas pela pró-
pria CF:
• Art. 5, XXIII, CF: “A propriedade atenderá a sua função social”.
• Art. 5, XXIV, CF: “A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública,
ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta
Constituição”.
• Art. 5, XXV, CF: “No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade
particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano”. (Esse dispositivo reza sobre a
requisição)
OBS: Portanto, uma norma de eficácia contida/restringível pode sofrer restrição tanto por leis como por
outras normas constitucionais.
Como a própria denominação indica, são normas que contêm os esquemas de estruturação/organização
de instituições, órgãos ou entidades.
NORMAS DE PRINCÍPIO
Exemplos:
ORGANIZATIVO/
• Art. 124, § único, CF: “A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da
INSTITUTIVO
Justiça Militar”.
• Art. 33, CF: “A lei disporá sobre a organização administrativa e judiciária dos Territórios”.
Como a própria denominação indica, são normas que estabelecem um programa/rumo inicialmente
traçado pela Constituição e que deve ser objetivado pelos órgãos estatais. Essas normas não são volta-
das para o indivíduo, mas para os órgãos estatais e não produzem seus plenos efeitos com a mera pro-
mulgação da Constituição, haja vista que estabelecem programas a serem concretizados no futuro. Por-
tanto, só produzirão seus plenos efeitos quando esses programas forem, efetivamente, concretizados.
Exemplos:
NORMAS DE PRINCÍPIO • Art. 3, CF: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (…)”.
PROGRAMÁTICO • Art. 211, CF: “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de
colaboração seus sistemas de ensino”.
As normas programáticas, por sua natureza, não geram para os jurisdicionados o direito de exigir com-
portamentos comissivos, visto que são objetivos e metas a serem alcançados no futuro, mas lhes facul-
tam de demandar dos órgãos estatais que se abstenham de atos que infrinjam as diretrizes nelas traça-
das.
OBS: Apesar de serem normas incompletas, as normas de eficácia limitada não são desprovidas de eficácia, pois produzem, enquanto não com-
pletadas, um efeito mínimo (eficácia mínima), por exemplo, um efeito vinculante (vinculam o legislador ordinário, que deve regulamentá-las) e
negativo (revogam ou impedem a produção de normas contrárias aos seus preceitos).
OBS: Quando à eficácia, não à aplicabilidade, todas elas são de eficácia direta, imediata e vinculante.
Lucas Garcia e Silva
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