Slide - Sexologia e Psicanálise
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Slide - Sexologia e Psicanálise
Professor:
Emílio César A. Costa
Psicólogo Clínico e Psicanalista
Psicanalista Didata
Pós-graduado em Psicologia Clínica-
Psicanálise
contato: [email protected]
Unidade I
Sexologia
O que é Sexologia?
Ela estuda o comportamento, pensamento
e emoção humana com foco
no desenvolvimento sexual e nos aspectos
fisiológicos, psicológicos, médicos, sociais
e culturais em que eles atuam.
Ela atua nos conhecimentos sobre o sexo e
a saúde, prevenção de doenças, controle
de natalidade, disfunções, entre outros.
O estudo científico do sexo e da
sexualidade datam desde o período grego, onde a
curiosidade pelo tema já ocupava a mente e os
pergaminhos dos antigos gregos. Mas a sexologia
como ciência, tal como o termo “sexologia”, foi
consolidado no fim do século XIX, com
a publicação de importantes livros sobre o
assunto:
Psychopatia sexualis de Richard von Krafft-Ebing,
lançado em 1886;
Libido sexualis de Albert Moll, lançado em 1897;
Estudos de psicologia sexual de Havelock Ellis,
também lançado em 1897.
Sexo x Sexualidade
Termos muito confundidos entre os
leigos, sexo e sexualidade têm
diferença. Entende-se por “sexo” as
características físicas e fisiológicas que
diferem o feminino do masculino.
A sexualidade, entretanto, é a conexão
afetiva. São as sensações, descobertas,
experiências e o prazer gerado a partir
delas.
A fim de se entender sobre tema, é
importante compreender a diferença entre
“sexo” e “sexualidade”.
O Sexo é entendido a partir do biológico,
submetido a uma finalidade, em última
instância a procriação, portanto, a reprodução.
Nesse sentido, o Sexo é anatômico, ou seja,
associados aos genitais, dessa forma, remete-
se a ideia de gênero, feminino e masculino.
A Sexualidade vai além das partes do corpo,
constituindo-se como uma característica
que está estabelecida e está presente na
cultura e história do homem a sexualidade
transcende à consideração meramente
biológica, centrada na reprodução e nas
capacidades instintivas.
ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS),
2002
“A SEXUALIDADE UM ASPECTO CENTRAL DO SER
HUMANO DO COMEÇO AO FIM DA VIDA E
CIRCUNDA SEXO, IDENTIDADE DE GÊNERO E
PAPEL, ORIENTAÇÃO SEXUAL, EROTISMO,
PRAZER, INTIMIDADE E REPRODUÇÃO” (…) “É
MULTIDIMENSIONAL – INFLUENCIADA PELA
INTERAÇÃO DE FATORES BIOLÓGICOS,
PSICOLÓGICOS, SOCIAIS, ECONÔMICOS,
POLÍTICOS, CULTURAIS, ÉTICOS, LEGAIS,
HISTÓRICOS, RELIGIOSOS E ESPIRITUAIS.”
Sexólogo: Quem é esse profissional?
De acordo com a Organização Mundial
da Saúde (OMS) a sexualidade é “A
integração de elementos somáticos,
emocionais, intelectuais e sociais do ser
sexual que, por meios que são
positivamente enriquecedores, realçam as
pessoas, a comunicação e o amor”.
Mas e quando estes elementos estão
com problema? É aí que entra o sexólogo!
O sexólogo é o profissional da sexologia
que estuda as causas emocionais que geram
dificuldades de praticar o sexo na relações
do indivíduo e na sintonia entre casais.
Ele investiga as origens, entende as causas e
oferece ferramentas para solucionar os
problemas de cada indivíduo, respeitando as
suas particularidades e trabalhando suas
limitações.
A fim de estudar melhor cada caso
relacionado à sexualidade humana, o
sexólogo investiga em áreas como
psicologia, história, sociologia, biologia
e estudos de gênero possíveis origens para
as disfunções e problemas emocionais que
acometem seus pacientes.
Eles também levam em consideração os
aspectos sociais, culturais e religiosos.
A vida sexual é influenciada por muitos
fatores como estresse, doenças mentais,
insegurança, medo, baixa autoestima
e religião. Os profissionais que cuidam das
disfunções podem ser da área da medicina
ou psicologia. Eles têm conhecimento para
tratar doenças físicas e psíquicas.
É importante procurar um sexólogo para
responder perguntas sobre sexo, vida e
receber o auxílio necessário para
solucionar tais questões.
Tipos de sexólogos
Sexólogo Clínico
Estuda e trata as questões ligadas a disfunções, distúrbios
e variações. Algumas das queixas mais comuns são:
Baixo desejo sexual
Disfunção erétil
Pré-orgasmo
Intercurso doloroso, como o vaginismo
Ejaculação precoce
Através de técnicas psicoterapêuticas, o sexólogo clínico
também trabalha com a educação sexual e o
aconselhamento de casal.
Sexólogo Forense
É especializado em tratar transtornos da sexualidade,
parafilias (o interesse sexual intenso e persistente por algo
que foge dos padrões normais sociais, algo atípico, mas
que não envolve desconforto nem danos) e problemas
sexuais originados através de traumas.
A sexologia forense tem como finalidade estudar as
práticas libidinosas definidas pela lei penal como crime.
Este estudo é do interesse judicial. Uma vez ocorrida
infração à lei cabe ao Estado apurar a infração e sua
autoria para então processar, julgar e quando cabível
aplicar, ao infrator, a pena adequada.
As Instituições Públicas encarregadas desse trabalho são: a
Polícia Judiciária, o Ministério Público e o Poder Judiciário.
Terapia Sexual
É mais focada na sintonia sexual do casal e
no conhecimento e desenvolvimento sexual individual.
Tem como objetivo proporcionar melhoras da
sexualidade como um todo: fisicamente,
psicologicamente e emocionalmente.
Além disso, a terapia sexual auxilia na comunicação com
o(a) parceiro(a) e no tratamento de problemas
psicológicos. Quando há problemas físicos, o
encaminhamento para o médico é recomendado.
A terapia sexual não existe somente para quem está com
problemas! Ela também ajuda o indivíduo a conhecer
melhor o seu próprio corpo e obter recursos para
aprimorar sua sexualidade e vida sexual.
Sexologia e Psicologia
A sexualidade influencia diversos
aspectos da nossa vida: os pensamentos,
sentimentos, ações, laços e a saúde física
e mental.
É por isso que é um tema muito
abordado entre os psicólogos,
psicanalistas e psiquiatras.
O médico neurologista e importante psicólogo
austríaco Sigmund Freud (1856-1939),
considerado o pai da psicanálise, foi o
primeiro a investigar as causas das disfunções
e problemas relacionados ao sexo.
Ele recebia diversos adultos se queixando de
problemas. Sua alternativa, então, foi
investigar as origens na infância. Ele foi o
primeiro teórico a falar sobre a sexualidade
infantil e a tecer estudos essenciais para a
compressão da psicologia do sexo.
História da Sexologia no Brasil
Em 1928, ao publicar A neurastenia sexual
e seu tratamento, o neurologista Antônio
Austregésilo Rodrigues de Lima (1876-
1960), professor da Faculdade de Medicina
do Rio de Janeiro, dizia ter escrito o livro
devido ao “crescido número de consulentes
nervosos, atacados de neurastenia sexual”,
que vinha tratando em seu consultório.
Nos anos seguintes, a capital da
República iria assistir à realização de
cursos populares sobre sexologia e a
comemorações especiais (como o ‘Dia do
Sexo’), além de ouvir programas de rádio
sobre sexo e acompanhar nos jornais
diários notícias sobre campanhas
de educação sexual.
O público brasileiro começava de fato a consumir
com gosto publicações sobre a sexualidade e seus
problemas.
Ao ser publicado, no final dos anos 1920, o clássico
A questão sexual, do psiquiatra e neurologista
suíço Auguste Forel (1848-1931), vendeu os três mil
exemplares da primeira edição em apenas dois
meses.
Êxitos editoriais como o desse livro levariam às
livrarias da cidade um fluxo crescente de obras
sobre sexo. O livro de Forel foi publicado na
coleção ‘Biblioteca de Estudos Psicossexuais’, da
editora Civilização Brasileira.
Os primeiros sexólogos e psicanalistas logo
abririam consultórios, partilhando a clientela
que Antônio Austregésilo dizia ser tão
numerosa e carente.
No Rio de Janeiro da primeira metade do
século 20, a nascente sexologia era
representada por dois médicos: o
gaúcho Hernani de Irajá (1895-1969) e o
carioca José de Oliveira Pereira de
Albuquerque (1904-1984).
ATÉ A PRÓXIMA AULA
FIM
Unidade II
A Sexologia e a Psicanálise (parte 1)
Freud e a Sexologia/sexualidade
Freud e a Sexologia
Quando Sigmund Freud começou a publicar os seus
estudos envolvendo a sexologia/sexualidade, a
sociedade de sua época não aceitou de forma muito
positiva.
Eram novas ideais que se chocaram com os princípios
da época, se debatendo de frente a velhos
preconceitos e paradigmas.
A teoria freudiana analisa os primeiros anos de vida
do homem, por isso que os estudos recentes de
psicologia do desenvolvimento tiveram grande
influência com a psicanálise, pois se restringiam entre
a infância e a adolescência.
Para a Sexologia, tudo que fugisse da junção entre
o macho e a fêmea, e que não estivesse, portanto,
submetido ao ato reprodutivo ou um fim
biológico, era tido como uma espécie de desvio,
sendo pequeno ou grande desvio.
Freud fala sobre esses desvios ao apresentar-nos
a ideia de perversão polimorfa. Ele vai dizer que
aquelas práticas que estão presentes nos
chamados perversos, por exemplo, uma prática
que vai enfatizar muito o olhar, um cheiro, um tom
de voz, podem serem estranhas, mas elas têm
muito a dizer sobre o que se passa no sujeito.
Freud explica que o instinto sexual é uma
força que nos excita e atua de forma
contínua. Este instinto existe e atua de
forma a realizar um determinado objetivo.
A teoria freudiana não se limita apenas a
região genital. Por isso é interessante
analisarmos os seus estudos, pois a teoria
ajuda a compreender que as sensações
sexuais podem se manifestar em outros
órgãos além dos órgãos genitais.
Freud ao escutar seus pacientes – ele vai
construindo a Psicanálise a partir do que
esses pacientes têm a dizer sobre eles
próprios – vê um cenário totalmente
diferente, o qual será sustentado não
pelo biológico, ou instinto, mas por um
conceito fundamental para a Psicanálise,
o conceito de Pulsão [Trieb].
Sexualidade
Sexualidade é assunto complexo, controvertido
e de conceituação difícil. Tem sido alvo de
tabus, repressões, distorções e tentativas de
reduzi-la a sinônimo de genitalidade e de
reprodução.
Serve para dar vazão a sentimentos elevados
como o amor embora permita também que
outros, como a agressividade e a violência,
possam manifestar-se por meio dela. Sua
conceituação depende do ponto de vista
considerado: o psicológico, o antropológico, etc.
Freud e a sexualidade
Ainda hoje, é impossível discutir
sexualidade sem esbarrar em barreiras
morais, sociais, religiosas e até mesmo
teóricas. Mesmo dentro da Psicologia, o
tema sexualidade continua causando
fortes polêmicas. A Psicanálise, por
exemplo, torna-se alvo de duras críticas
por “dar ênfase demais à sexualidade”, ou
por, senso comum, “tudo ser sexo”.
Mas, de fato para a Psicanálise, a
sexualidade é a chave para a compreensão
do comportamento e da mente humana.
No entanto, essa é considerada como muito
mais abrangente, não necessariamente uma
sexualidade baseada nos órgãos genitais, de
caráter instintivo ou com fins reprodutórios,
por exemplo, mas muito pelo contrário,
trata-se de uma sexualidade pulsional.
Na Psicologia, Sigmund Freud foi de fato um
dos primeiros pensadores a investigar a
sexualidade e sua importância na formação
psíquica dos seres humanos.
As descobertas de Freud a respeito da
sexualidade acabaram, no final das contas,
causando uma grande ruptura com as ideias
concebidas na época, principalmente no que
diz respeito à sexualidade infantil.
Fazia parte da opinião popular, e ainda se faz, a
ideia de uma infância “inocente”, o qual o bebê
e a criança eram considerados assexuados.
Freud desenvolveu a teoria da sexualidade
infantil, durante tratamentos clínicos em seu
consultório, nos quais observou transtornos
psicológicos apresentados por seus pacientes
já adultos. Ele buscava tratar os distúrbios de
histeria.
Neste sentido, pode-se perceber que a
criança não foi o ponto de partida, nem tão
pouco o desejo de estudo de Freud, mas a
busca por solucionar os problemas
emocionais apresentados por seus pacientes.
Freud apresentou dificuldades em
definir o que seria sexual, talvez por
causa da época em que vivia, a qual tudo
que se referia ao tema era considerado
como impróprio e não deveria ser
debatido ou investigado.
Na XX Conferência de Viena, a respeito
da sexualidade Freud vem afirmar:
[...] Falando sério, não é fácil delimitar aquilo que
abrange o conceito de ‘sexual’. Talvez a única definição
acertada fosse ‘tudo o que se relaciona com a distinção
entre os dois sexos’. [...] Se tomarem o fato do ato sexual
como ponto central, talvez definissem como sexual tudo
aquilo que, com vistas a obter prazer, diz respeito ao
corpo e, em especial, aos órgãos sexuais de uma pessoa
do sexo oposto, e que, em última instância, visa à união
dos genitais e à realização do ato sexual. [...] Se, por
outro lado, tomarem a função de reprodução como
núcleo da sexualidade, correm o risco de excluir toda
uma série de coisas que não visam à reprodução, mas
certamente são sexuais, como a masturbação, e até
mesmo o beijo (FREUD, 2006, p. 309).
Em um sentido comum e popular, sexualidade
é considerada sinônimo de genitalidade assim
como vida sexual é tida como equivalente a
relação sexual. Freud dá ao termo um
significado bem mais amplo situando
sexualidade tanto aquém como além do ato
sexual.
Ele prefere falar em psicossexualidade. Freud
usa a palavra sexualidade dentro da mesma
conotação que na língua alemã se emprega o
termo "lieben" (amar). Sexualidade vai além da
reprodução;
Freud identifica o instinto sexual já na infância
e detecta a presença dos germes dos impulsos
sexuais no recém-nascido;
considera o homossexualismo; leva em conta a
sublimação; até nos chistes ele identifica a
sexualidade; etc.
É preciso salientar, contudo, que uma parte das
dificuldades do assunto (sexualidade) decorre
do fato de serem os instintos do organismo um
tema também complexo e controvertido.
De agora em diante, uma conceituação
psicanalítica freudiana de sexualidade começa
a ser montada. Como Freud propôs um modelo
energético para o aparelho mental (XXIII: 189),
energia é a primeira parcela do conceito:
sexualidade é energia.
Sexualidade para a psicanálise pode ser dita
como sexualidade pulsional, essa pulsão que
conduz a um campo aberto, diferente do
instinto sexual, é o que interpola o ser
humano durante toda sua vida sem
interrupção; a pulsão nasce de uma zona
erógena, e tem possíveis fins.
Ela ainda se compõe de força, objetivo, e
objeto, e a descarga da pulsão visa gerar
certo prazer limitado e parcial chamado
sexual.
Contudo, não o sexual que se reduz ao
contato dos genitais, pois para a
psicanálise a sexualidade transcende ao
genital, é o que nos move, é o que
partindo de uma zona erógena e apoiado
a uma fantasia proporciona certo prazer
(GARCIA-ROZA, 2016).
Partindo da visão da psicanálise, a sexualidade é
totalmente diferente para Freud (FREUD, 1905), do
que para a sexologia da época, e continua sendo,
pois a sexualidade não tem o único fim
reprodutivo, sendo que ela não se resume aos
genitais.
Levando em consideração a busca do prazer que se
dá através de outras áreas que não somente os
genitais, Freud (FREUD, 1905) desenvolveu essa
visão através do estudo com perversos e das
crianças, cuja sexualidade não está fixada nos
órgãos genitais. Os perversos serão citados mais a
frente.
ATÉ A PRÓXIMA AULA
FIM
Unidade III
A Sexologia e a Psicanálise (parte 2)
A sexualidade freudiana
O desenvolvimento psíquico
A sexualidade freudiana
O desenvolvimento psíquico
Fase Oral
Fase Anal
Fase fálica
Fase de latência
Puberdade e
Adolescência
FIM
Unidade IV
A Sexologia e a Psicanálise (parte 3)
A sexualidade freudiana
Mecanismo psíquico
A Sexualidade Vivida Desde o Nascimento
Freud vem nos mostrar que a pulsão, a
sexualidade pulsional, está também
presente nas crianças. Sexualidade esta, que
não necessariamente baseada na
genitalidade, na biologia do corpo, mas uma
sexualidade pulsional que pode ser
observada, por exemplo, no olhar da
criança, nos gestos da criança e até mesmo
na boca.
É aquilo que entra e sai da boca, o que ela escuta, o
que ela vê, ou seja, é uma sexualidade que diz
respeito as trocas que esse corpo realiza com o
mundo, ao que entra, ao que sai, são todos esses
elementos sensoriais que escorrem pelo corpo, que
penetra por todos os furos e buracos. Neste sentido, a
criança vai ser o tempo todo impactada e habitada
pela sexualidade.
Freud (2006) irá dizer que para entender a
sexualidade nos adultos basta olhar a sexualidade nas
crianças. Essa sexualidade que composta por
inúmeros ingredientes, e não necessariamente só os
órgãos genitais e muitos menos só a junção do macho
com a fêmea.
Segundo Nunes e Silva (2000, p. 52), “a
criança vive sua sexualidade desde que
nasce, no contato sexual com a mãe, com
o mundo exterior e estabelecendo sua
percepção corporal em diferentes fases de
sua vida”.
Ou seja, o corpo da criança é seu universo
sexual, assim, a noção de corpo é
essencial para a sexualidade.
A criança nasce em um corpo despedaçado e
desprovido, ainda de uma vida mental,
consequentemente de um Psiquismo.
Ela não passa de um corpo manipulável, onde a mãe
se torna a dona deste corpo. Há de fato uma fusão
entre o corpo da criança com o corpo da mãe, e essa
fusão nada mais é do que sexual.
Esse ‘sexual’ traduz-se na relação entre a mãe e a
criança, nos cuidados que essa mãe tem com a
criança, na ternura. Freud vai muito mais longe, pois
não diz que o sexual jaz na ternura, por exemplo,
mas que a própria ternura é em si uma excitação
sexual.
J.D.Nasio, em seu livro “Édipo: O Complexo do
qual Nenhuma Criança Escapa” traz uma
citação de Sigmund Freud que elucida bem
essa sexualidade entre mãe e filho, Freud diz:
“As relações do filho com sua mãe são para ele
uma fonte contínua de excitação e satisfação
sexual, a qual se intensifica quanto mais ela lhe
der provas de sentimentos que derivem de sua
própria vida sexual, beijá-lo, niná-lo, considerá-
lo substituto de um objeto sexual completo. ....
.....Seria provável que uma mãe ficasse bastante
surpresa se lhe dissessem que assim ela
desperta, com suas ternuras, a pulsão sexual do
filho. Ela acha que seus gestos demonstram um
amor assexual e puro, em que a sexualidade não
desempenha papel algum, uma vez que ela evita
excitar os órgãos sexuais do filho mais que o
exigido pelos cuidados corporais. Mas a pulsão
sexual, como sabemos, não é despertada
apenas pela excitação da zona genital; a ternura
também pode ser muito excitante.”(FREUD apud
NASIO, 2007, p.9).
A Sexualidade na Constituição do Psiquismo
FIM
Unidade V
Freud e as Perversões
SEXUALIDADE E PERVERSÃO: TRAJETÓRIA DOS CONCEITOS
Desde Freud, e mesmo antes, a perversão sexual
é tema de discussões acaloradas, e estudos
aprofundados.
Freud em 1905 abordou pela primeira vez em
seus três Ensaios Sobre a Sexualidade o que seria
para a sua época a perversão sexual; assim, os
homossexuais, homens que tinham animais e
crianças como objeto de satisfação sexual, e
quaisquer pessoas que se desviassem da
normativa do sexo entre homem e mulher para a
procriação, eram considerados perversos sexuais.
Em Psicanálise “perversão” é um termo
usado para designar um desvio do
desenvolvimento normal da personalidade,
por parte de um indivíduo (ou grupo), que
tem modificado a resposta natural de
qualquer dos comportamentos humanos
considerados normais para um determinado
grupo social.
Os conceitos de normalidade e anormalidade,
no entanto, sofrem interferências do tempo e
do espaço e podem ser alterados em função de
inúmeras circunstâncias, mas independente
disso, um indivíduo que está inserido no
contexto de uma sociedade e age de maneira
contrária as normas estabelecidas por essa
sociedade é um indivíduo que se desvia da
norma, logo, é considerado perverso ou
pervertido.
Sabemos ainda, por intermédio das
contribuições psicanalíticas, que uma atitude
clássica dos perversos é a de buscar satisfazer
seus desejos sem se importar se a satisfação
deles vai prejudicar a outrem, o que caracteriza
um comportamento bastante egoísta e
egocêntrico, colocando tudo e todos na posição
de objetos capazes de lhe proporcionar prazer.
Essa característica de satisfazer unicamente a
si mesmo, sem se preocupar com o outro é tão
marcante na conduta do perverso, que Freud
questiona de forma bastante pertinente em
nota de rodapé, se até mesmo a
heterossexualidade, quando praticada com
exclusividade, não seria também classificável
como perversão.
Ponto interessante é que mesmo já nesse estudo
antigo está claro que perversão sexual não deve
ser confundida com perversidade.
Freud (1905) faz uma coleta de dados, e insere sua
teoria psicanalítica da sexualidade, e mostra como
é possível uma diversidade na hora de se obter
prazer.
Também como é possível se fixar em estágios do
desenvolvimento sexual, limitando assim a
sexualidade a alguma fase, questão, excesso, ou
falta (FREUD, 1905).
Apesar disso, durante anos a perversão não era
vista como uma estrutura que levava a
sobrevivência do psiquismo.
Foi estigmatizada, estereotipada, e taxada
como não analisável, e algo que não poderia ter
melhora. Contudo, a visão do que se considera
perversão sexual foi mudando como o passar
do tempo, e também por influência da cultura.
Assim, o que era considerado antes perversão
pode ter ocorrido mudanças significativas
(CORRÊA, 2006).
À medida que avançamos na modernidade, os
estudos psicanalíticos mudam as perspectivas,
parâmetros, e compreensão de temas
relacionados ao sujeito e ao seu desenvolvimento.
É sempre primordial voltar às bases da psicanálise
para poder fundamentar nossa visão atual, porém
assim como o próprio pai da psicanálise se deu ao
luxo de não ser rígido quanto à mudança de suas
teorias, se faz essencial estar analisando
constantemente os parâmetros que guiam os que
escolhem essa forma de ver o mundo, com olhos
analíticos.
Desde o surgimento da psicanálise, em seus
primeiros estudos sobre a histeria (1893-1895)
Freud se vê compelido a aplicar alguma
perturbação na sexualidade a causa de sintomas
histéricos.
Ao analisar casos e acompanhar os estudos de
Charcot, Freud se interessa pela hipnose ao
observar a dissociação da mente quando o
paciente estava sob influência, e também os
resultados e muitas vezes as atitudes absurdas
executadas no estado pós-hipnótico
(ZIMMERMAN, 1999).
Assim Freud revisa as teorias sobre a
sexologia produzidas até então, e escreve “os
três ensaios sobre a teoria da sexualidade”
(FREUD, 1905).
E durante toda sua trajetória ele se depara
com uma forma de sexualidade que inverte os
objetos ou objetivos da pulsão, e a vai
caracterizar como perversão, a qual ganhará
um contorno mais definido no final de sua
obra.
É importante salientar a diferença entre
perversão e perversidade. Visto que para a
psicanálise é dito perversão sexual. Zimermman
ressalta:
“A esse respeito, Laplanche e Pontalis (1967)
assinalam que existe uma ambigüidade no adjetivo
“perverso”, que corresponde àqueles dois
substantivos: enquanto “perversão” alude a uma
estrutura que se organiza como defesa contra
angústias, a palavra “perversidade” refere-se a um
caráter de crueldade e malignidade. Assim, o
perverso (no sentido de “perversão”) não busca
primariamente a sensualidade; antes, essa
comporta-se como uma triunfante “válvula de
escape maníaca” contra as ansiedades paranóides e,
especialmente, as depressivas”(ZIMMERMAN apud
LAPLANCHE e PONTALIS, 1999, p. 255).
Conclui-se que Freud nunca escreveu para de
certa forma julgar ou classificar indivíduos como
perversos sexuais no que tange maldade,
perversidade, ou a um termo pejorativo.
Pelo contrário, o termo perverso para Freud
segundo Roudinesco “sofreria, posteriormente,
numerosas inflexões, no sentido de uma
interpretação mais estrutural dessa ideia”
(ROUDINESCO, Elisabeth, 1998, p. 584).
Levando em consideração que o termo perverso
pode ser traduzido por inversão ou desvio,
Zimerman (1999) explica que “a etimologia da
palavra “perversão” resulta de “per” +
“vertere”(quer dizer: pôr às avessas, desviar...),o que
designa o ato de o sujeito perturbar a ordem ou o
estado natural das coisas”(ZIMMERMAN, 1999,
p.255).
PERVERSÃO SEXUAL
Antes dos estudos de Freud (1905) com sua
visão psicanalítica, a perversão era vista
somente pelo ângulo da sexologia. Isso
causava muito preconceito e visão distorcida
diante da perversão. A premissa que regulava
a época era de uma sexualidade exclusiva para
a reprodução, ou seja, tudo que se desviava do
encontro entre os genitais de sexo oposto para
a reprodução era visto como perversão
(VALAS, 1997).
Esse contexto trazia uma via patológica para a
perversão. Essa palavra por muitos anos teve
um significado e um conceito no sentido moral,
e ético, e era justamente nesse ponto que era
colocado em jogo uma visão mais apurada e
analisada profundamente (VALAS, 1997).
Contudo, os estudos de Freud (1905) na linha
psicanalítica trouxeram outro viés ao olhar as
perversões. Fazendo relação à sexualidade, ele nos
mostra uma forma de constituição do ser sem nenhuma
conotação negativa ou pejorativa, Freud nos diz:
“As perversões não são bestialidades nem degenerações
no sentido patético dessas palavras. São o
desenvolvimento de germes contidos, em sua
totalidade, na disposição sexual indiferenciada da
criança, e cuja supressão ou redirecionamento para
objetivos assexuais mais elevados — sua “sublimação”
— destina-se a fornecer a energia para um grande
número de nossas realizações culturais.” (FREUD,1905,
p.55-56).
Segundo os estudos de Freud (1905, 1910,
1919, 1922, 1924, 1927, 1938) e os estudos
atuais sobre a perversão de Patrick Valas
(1990), David E. Zimerman (1999), Flávio
Ferraz (2000), Cecarelli (2011), o ponto em
comum e crucial na formação de um caráter
perverso é o complexo de Édipo e o complexo
de castração.
A castração simbólica acontece na aceitação
da criança que a mãe não tem o pênis falo, e
ela é de seu pai, isso se dá pelo medo de
perder o próprio pênis.
Segundo o dicionário de psicanálise de J.
Laplanche e J.B Pontalis (2016) esse complexo
vem trazer a diferença anatômica dos sexos
pela presença ou ausência do pênis.
E tem uma estreita relação com o complexo
de Édipo, e ainda diz que seus fantasmas são
igualmente reconhecidos em toda extensão de
seus efeitos clínicos como, por exemplo, no
conjunto de estrutura patológica, em
particular as perversões.
A perversão como modo de funcionamento
psíquico, advém da negação da distinção dos
sexos, que remete para a problemática da
castração, e consequente clivagem do ego,
resultando num evitamento da castração, na
qual a condição de organização genital não se
torna capaz de enfrentar a realidade,
provocando assim uma angústia, a de
castração, que é contida pela negação da
diferença de sexos, nomeadamente do sexo
feminino e a ameaça que este representa para
o sujeito perverso (Harrati et al., 2006).
Os indivíduos com organizações de
personalidade perversa mostram-se
passíveis de regressão, desenvolveram
um édipo, ainda que arcaico,
apresentam conflitos pré-edipianos,
comportamentos que demonstram um
self estruturado e representações de
objecto (Meyer, 2011).
O funcionamento perverso caracteriza-
se pelas fixações pulsionais em zonas
erógenas, resultado da falta de
integração do ego em função da falha
narcísica, que vai dar origem à má
formação do superego (Harrati et al.,
2006).
O sujeito perverso não conseguiu reparar
o seu narcisismo, não interiorizou o
objeto total, sendo que o único modo de
obtenção de prazer se encontra ligado a
um objecto parcial, a uma pulsão parcial,
o que faz com que tenha de recorrer a
objetos e zonas específicas para se
compensar psiquicamente (Bergeret,
2000; Harrati et al., 2006).
O desenvolvimento desta organização
psíquica, com início na infância devido às
lutas em volta da integridade do ego
(Meyer, 2011), pode remeter para duas
origens, a paternal ou a maternal, i.e., ou
a figura paternal falha na sua função ou a
transmite inapropriadamente, ou a figura
maternal falha na sua função de
separação mãe-bebê (Razon, 2002).
Desta forma, a origem do modo de
funcionamento perverso desenvolve-se
a partir de uma fase específica de
constituição do objeto, na qual é
mantida uma ilusão defensiva de poder
pela falha narcísica criada, que por sua
vez é compensada por relações de
domínio, pelo desejo de controlar e
anular o objeto (Harrati et al., 2006).
As organizações perversas
desenvolvem-se perante a tensão nas
relações parentais, a exposição a
ansiedades e perdas que originam uma
intensificação da sexualidade com
tendência às suas formas agressivas
(Meyer, 2011).
Trabalho do módulo
Escolha um dos temas abaixo e discorra sobre ele:
Homossexualismo, Homofobia e Psicanálise
A perversão presente nos dias atuais
A sexualidade como fonte de vida psíquica
FIMProfessor:
Emílio César A. Costa
Psicólogo Clínico e Psicanalista
Psicanalista Didata
Pós-graduado em Psicologia Clínica-Psicanálise
contato: [email protected]