Ebook Abeh
Ebook Abeh
Ebook Abeh
Organizadores:
Anderson Ferrari (UFJF) | Roney Polato de Castro (UFJF)
O conselho editorial
2017
REALIZE EVENTOS CIENTFICOS & EDITORA LTDA.
Rua: Antenor Navarro; 151 - Prata - Campina Grande/PB | CEP: 58400-520
E-mail: [email protected] | Telefone: (83) 3322-3222
Sobre o ebook
PSTER . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1415
APRESENTAO
Anderson Ferrari
Roney Polato de Castro
ISBN 978-85-61702-44-1
ABEH e a construo de um campo de Pesquisa e Conhecimento:
desafios e potencialidades de nos re-inventarmos
SUMRIO
Resumo
Introduo
Este artigo uma escrita do doutorado no qual tenho a construo das mas-
culinidades como anlise e questionamento como, por exemplo: Quais so os
elementos que constituem a masculinidade hegemnica? uma indagao que
penso ser parcialmente contemplada pelos autores elencados para este artigo.
Alm disso, Connell (1995), diz que um dos elementos que contribuiu
para o rompimento do essencialismo da masculinidade foi o fato de investiga-
dores encontrarem a masculinidade em corpos femininos, ou seja, traos de
masculinidade presente no gnero feminino. Por esta razo:
A masculinidade no uma entidade fixa encarnada no corpo ou
nos traos da personalidade dos indivduos. As masculinidades
so configuraes de prticas que so realizadas na ao social e,
dessa forma, podem se diferenciar de acordo com as relaes de
gnero em um cenrio social particular. (CONNELL, 1995, p.250).
quais o homem pode sair vitorioso e ser admirado na vitria por uma nao,
salvando o mundo das agruras do inimigo.
A representao do heris cotidianos os heris de guerra como, por
exemplo, foram os (pracinhas brasileiros) ou os fictcios super-heris (smbolos
do americanismo liberal) possuindo em comuns elementos necessrios para a
construo da masculinidade hegemnica. Por isso, importante quando se
pensa na construo da masculinidade, lembrar que este modelo ideal repre-
senta o capitalismo estadunidense e que, antes mesmo dos Comics de 40, e at
antes da I Guerra Mundial, j havia aparecido no campo da literatura juvenil
norte americana. Personagens voltados construo masculina, respondiam
ao dilema da virilidade moderna aps o sufrgio feminino. (BANDITER, 1993).
Esses heris reforavam uma identidade masculina de virilidade como Tarzan
e os Cowboys, personagens que carregam uma generosa carga de virilidade e
aventura em seus corpos fortes. Ambos os heris so apresentados em ima-
gens por esttica da masculinidade essncia, uma relao de simbiose entre
o humano e a natureza, de dominao dos animais no dia a dia de trabalho
(Cowboy) e da natureza selvagem (Tarzan).
Por outro lado, Connell (2013) destaca que, as masculinidades cowboys
de fronteiras tem desafiado o modelo de masculinidade racionalizante, eco-
nmico e industrial capitalista norte americanas, a masculinidade fascista,
desafiante e violenta das metrpoles chamada pelo autor de masculinidades
tipo cowboys de fronteiras.
O Tarzan e os cowboys foram alguns dos primeiros heris a se destacar
em filmes e revistinhas cmics. Eles exaltam a virilidade e relao entre o ser
humano, o animal e a natureza selvagem domada, um exemplo talvez de como
o homem pode e deve ter domnio de seus sentimentos naturalmente violen-
tos. Com o Superman, se introduz a dupla identidade clssica, um super-heri
que desabrocha de Clark Kent, sujeito comum que trabalha como reprter na
redao do Planeta Dirio. Clark o homem comum que se tornam um cone
dos atributos para os homens do mundo, tendo em vista que ele representa
o homem branco, bonito, heterossexual, discreto e de carter politicamente
versado pela nobreza. Segundo Corts (2004) es un dios hecho hombre, un
extraterrestre que tiene en un reportero del Daily Planet, Clark Kent, a su alter
ego. (p.166).
Clark Kent incorpora a caracterstica interclassista que Guash (2006)
aponta como fazendo parte da masculinidade heroica em nossa sociedade,
pois, o heri pode bem ser o soldado, o guerreiro mtico, mas tambm o obreiro,
o tipgrafo, o investigador, o redator de um jornal estudantil, o pai, o homem
comum em seu cotidiano que sempre est disposto a ajudar e a contribuir
socialmente pela liberdade, pela paz mundial e cidadania agindo dentro dos
valores sociais em comunidade.
Lembrando que o interclassismo como elemento da masculinidade heroica
j fora percebido em outros momentos de nossa sociedade como na socie-
dade nazista, sendo um trao importante deste regime, no qual, Corts (2006),
aponta que, analisando as pinturas e esculturas da poca dessa sociedade,
possvel identificar que os personagens fundamentalmente representados eram,
el obrero, el agricultor y el soldado (CORTS, 2006, p.114), estes seriam as
colunas do estado nazi e uniam os elementos da terra e sangue.
Consideraes finais
Referncias
Resumo
Introduo
1 http://www.administradores.com.br/noticias/entretenimento/spotlight-ganha-o-oscar-de-melhor-fil-
me-em-noite-marcada-por-polemica-racial/108642/
Consideraes finais
De modo geral, como aponta Ellsworth (2001), (...) falta emoo na edu-
cao, falta suspense, romance, seduo, prazer visual, msica, enredo, humor,
dana (...) (p.10), de fato, a escola sem a magia do cinema e das problemticas
que ele pode propiciar se torna a instituio menos atrativa em tempos de curio-
sidades e de uma enxurrada de informaes, o cinema veio para ficar e para
denunciar verdades intocadas, escondidas e contribuir para o desvelamento
histrico das instituies milenares, mexendo com as estruturas cristalizadas e
acomodadas de pensamento. O cinema denncia surge como possibilidade de
nos tirar de nossa zona de conforto trazendo temas ainda invisibilizados ou
pouco explorados em nossa sociedade.
Referncias
LOURO, Guacira. O Cinema e Sexualidade. In: Lopes, Eliana e outros (Orgs). 500
Anos de Educao no Brasil. Belo horizonte: Autntica, 2000.
Edson Vasconcelos
Doutor em Sociologia (UFPB)
Professor adjunto da Universidade Estadual da Paraba
[email protected]
Resumo
Este trabalho tem como foco notas sobre uma investigao no Sexlog. Uma
rede social que se autointitula como a maior rede social de sexo e de swing
do Brasil. Trazer alguns registros da observao do percurso de casais, homens
e mulheres na busca pela realizao de suas fantasias sexuais no comparti-
lhamento de fotos, vdeos e textos na web. Esses pontos tiveram como base
uma parte do trabalho desenvolvido na tese intitulada De olhos bem fecha-
dos: sexualidade, subjetividades e conjugalidades no swing. Pesquisa de
Doutorado defendida no ano de 2015 no Programa de Ps-Graduao em
Sociologia da Universidade Federal da Paraba e que teve como rgo financia-
dor a Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes).
Palavras-chave: mdias digitais; sexlog; sexualidade.
Introduo
2 Dogging um termo em ingls que significa atos sexuais em pblico ou parcialmente em pblico,
onde outras pessoas possam ver. Geralmente feito por mais de duas pessoas. Sexo grupal, ou mesmo
o sexo de uma mulher com vrios homens pode ser includo. A observao encorajada. O exibi-
cionismo e o voyeurismo geralmente so associados ao dogging.
comprometimento. S o fato de poder colocar ali aquilo que gostaria que outras
pessoas vissem. Da mesma forma se deleitam vendo os outros. Mrcia me disse
que mantm o mesmo nvel de interao com outros usurios que tem perfis
com as mesmas configuraes que o dela. Quando muito, comenta nas fotos
que gostou em outros perfis o que gostaria de ver publicado nas prximas vezes
que esses usurios publicarem material novo. Isso alimenta as suas fantasias e
faz com que ela crie situaes das mais diversos em sua imaginao, o que a
inspira no s a produzir imagens inspiradas no que v na rede, mas tambm
em se excitar no dia a dia.
Isso mais comum do que imaginamos. Muitos perfis nas redes sociais
servem simplesmente para seguir ou observar pessoas. A prtica do stalking4
muito comum. Construir perfis s para seguir ou acompanhar amigos, colegas
ou pessoas prximas pode chegar ao exagero quando esses mesmos usurios
chegam ao ponto de fazer disso uma obsesso e um problema, pois em alguns
casos o observador comea a interferir na vida de quem ele observa. Aqui a
minha ateno reside no usurio comum: o que publica informaes com o
intuito de ser observado e o que usa as redes (no caso, as redes de sexo) para
observar o outro. No entanto, preciso salientar que h todo esse espectro de
comportamentos quando o assunto ser voyeur na interao com o outro. H
aqueles perfis mais quietos, que produzem e consomem material ertico, assim
como os que chegam as vias de seguir o outro ao ponto de prejudic-lo de
alguma forma.
Um terceiro tipo de perfil que pude acompanhar so aqueles usurios que
esto nas redes sociais e usam o espao para trabalho com sexo. Muitos perfis
so dedicados a casais, homens, mulheres e trans que criam uma conta para
intermediar encontros. Nas ferramentas de busca muito comum encontrar
apelidos e descries de perfis deixando claro qual o seu objetivo no Sexlog.
Conversei com um desses perfis, a Dior. Ela j utilizava o Sexlog para servios
sexuais h um ano e gostava muito de fazer isso. Disse que apesar de ser proi-
bido o uso da rede para prostituio no se sentia inibida em fazer isso.
4 Palavra em ingls que representa a obsesso de algumas pessoas em seguir ou observar a vida das
pessoas nas redes sociais.
Consideraes finais
para a identidade do usurio, mas o lugar que s ser revelado a quem merecer
tal intento. Gesto de intimidade.
Por outro lado o corpo. Mas no qualquer corpo. Nos homens, boa
parte das imagens retrata o seu pnis. Nas mulheres, os seios, a bunda e a
sua vagina. No incomum encontrar no Sexlog perfis onde o avatar do per-
fil ou seja, a foto principal do usurio um pnis ou uma bunda. O pnis
ou a bunda se erigidos como regies chave na compreenso da sexualidade
desses perfis. Os homens-pnis e as mulheres-bunda so matrizes de um ramo
comum: a elevao do sexual ao nvel subjetivo, enquanto erotizao da iden-
tidade e supervalorizao do sexual e de tudo que pode ser vinculado a ele, ou
seja, as fantasias, os desejos e as prticas que orbitam nesse meio.
Resumo
Introduo
Aps a fala inicial de Mrio, que parece estar lendo uma redao em sala
de aula, h o corte para a entrada da escola, onde vrios alunos esto se movi-
mentando e, ao mesmo tempo, algum anuncia pelo alto-falante que na parte
da tarde haver carnaval na escola e todos os alunos devem trazer suas fantasias
dentro da mochila. As crianas vo entrando para a sala de aula e a professora
pergunta se todos se lembraram de trazer suas fantasias. Neste momento, o
espectador fica sabendo que o tema do carnaval da escola 101 Dlmatas,
portanto, todas as fantasias sero iguais.
interessante ressaltar que, em sua ingnua subverso, Mrio recupera o
sentido de carnavalizao, ao inverter papis cotidianos e romper as amarras
das atribuies sociais. Esse fator j havia sido perdido na normatizao escolar,
segundo a qual at mesmo o tipo de fantasia j havia sido pr-determinado e
moldado a partir de uma nica produo cinematogrfica.
Mrio levanta-se, vai para um canto da sala e veste um vestido rosa que
est dentro de sua mochila, assim como solicitado atravs do alto-falante. Logo
em seguida, ele repreendido pela professora que diz: Mrio, o que est
fazendo? Mrio, eu estou falando... Voc est vestido como uma menina. A
cada fala da professora, h um suspense e a cmera corta para Mrio, que con-
tinua sentado, mexendo em seu material escolar. Logo em seguida, um aluno
chamado Santos comea a cham-lo de viadinho, boneca e menina. A pro-
fessora briga com Santos, lembrando que ele est numa sala de aula, porm
chama Mrio e pede para que ele a acompanhe.
A professora conversa com Mrio fora da sala e diz que a fantasia deve-
ria ser de 101 Dlmatas, no de garota. Enquanto isso, dentro da sala de aula,
Santos continua gritando e imitando o colega de maneira debochada. Santos
tambm retirado de sala, pois causa indisciplina, alm de praticar bullying
contra o colega. A professora deixa Mrio e Santos na antessala da direo,
enquanto fala com o diretor o que aconteceu. Enquanto isso, a secretria escolar
olha com ar de deboche para Mrio que espera a conversa entre a professora e
o diretor. A professora diz que ligou para o pai do menino vir busc-lo.
A conversa entre professora e diretor cheia de reticncias e a questo
da indisciplina de Santos e o bullying contra Mrio no discutida, apenas o
vestido de Mrio tema da conversa. O pai de Mrio chega escola e pergunta
ao menino por que ele est com o vestido da irm dele, o diretor recebe o pai
do garoto e enfatiza que ele est com a fantasia errada e no horrio errado. O
pai escuta o diretor, pede desculpas e fala muito pouco sobre o ocorrido, mas
enfatiza que o menino gosta de vestir-se daquela maneira.
Enquanto espera o pai conversar com o diretor, Mrio recebe o apoio de
Elenita, uma colega de sala, a nica deficiente fsica e ela o incentiva a no usar
determinadas roupas e ter determinadas atitudes em pblico.
O filme termina numa cena em que o pai d o terno para Mrio, pega o
filho no colo e o leva para casa, como se quisesse proteg-lo do mundo e dos
preconceitos dos colegas e de todos na escola. Ainda, ao passar por Santos,
mesmo na presena do pai e com toda a proteo dele, o menino escuta, mais
uma vez o colega de sala cham-lo de Viadinho.
no colo do pai que Mrio relaxa e vai despedindo-se da escola com
uma sensao de alvio. como se a escola fosse para o menino o lugar em
que o carnaval, a diverso e a folia fossem impossveis, visto que ali necessrio
usar a farda obrigatria, no horrio estipulado e sem possibilidade de ser quem
ele quer ser. preciso vestir-se como todos esperam que ele se vista.
Neste sentido, o filme ilustra bem o ambiente escolar como um espao de
manuteno da ordem e do padro, ou nas palavras de Ferrari, ao referir-se ao
status discursivo da instituio escolar:
O mais grave disso que a Escola no apenas produz e transmite
conhecimento mas tambm contribui para produzir sujeitos e iden-
tidades, para reforar divises dos gneros e das classes. Neste
sentido, a manuteno e/ou reproduo das diferenas e desigual-
dades se torna mais reveladora, pois corresponde garantia de
continuidade de uma sociedade dividida, desigual e hierarquizada
(FERRARI, 2000, p. 90).
Referncias
FERREIRA, Aurlio B. de Hollanda. Mini Aurlio. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
2001.
SOARES, Welington. Precisamos falar sobre Romeo... IN: Revista Nova Escola. Ano
30. no.279, Ed.Abril. Fev. 2015.p. 25-32.
VESTIDO Nuevo. Direo de Sergi Prez. Produo de Sergi Prez. Escndalo Films,
2007. Durao 13min 42. Disponvel em: https://www.youtube.com/watch?v=ktCXZg-
-HxGA. Acesso em 13 de jun. 2016.
Resumo
Introduo
Queering
Identidades e imaginrios
virtual , na maioria das vezes, inferiorizante, esperado que, por parte deles,
haja interesse em desmantelar esse pr-construdo negativo e torn-lo positivo.
Sobre o termo imaginrio, Charaudeau (2015, p. 04) explica que se trata
de um modo de apreenso do mundo, vindo de um mecanismo de repre-
sentaes sociais que constroem significaes dos objetos, dos seres humanos
e seus comportamentos. Portanto, o imaginrio viria como algo de dimenso
mais varivel. Se o discurso constri dimenses do real, que s fazem sentido
a partir de apreenses que o sujeito faz do mundo emprico (realidade a signi-
ficar), realmente no caberia um julgamento fixo, do tipo verdadeiro ou falso.
Pensando ainda no lado prtico desse estudo, percebemos que os ima-
ginrios que circulam sobre usurios de aplicativos de encontros gays so de
axiolgico sobretudo negativo. Dentro dessa prtica, quem est inscrito nesse
domnio enxerga com maus olhos os homens que lanam mo da tecnologia
para fins de relacionamentos e de encontros. Em outras palavras, h um julga-
mento negativo de algo de que o prprio julgador participa.
o que encontramos nas coletas nos meses de janeiro e maro de 2016
na cidade de Belo Horizonte (MG). Muitos usurios demonstraram discursiva-
mente em suas descries de perfil como estavam insatisfeitos com a situao
de estarem na condio de usar um aplicativo de encontro. Outros ainda afir-
maram ser algo passageiro e, por essa razo, querem encontrar algum o mais
rpido possvel para sair daquela situao ruim.
Consideraes finais
Referncias
DIDIER, Eribon. Reflexes sobre a questo gay. Trad. Procpio Abreu. Rio de Janeiro:
Companhia de Freud, 2008.
MISKOLCI, Richard. Discreto e fora do meio Notas sobre a visibilidade sexual con-
tempornea. Dossi: Percursos digitais: corpos, desejos, visibilidades. Caderno pagu
(44), janeiro-junho de 2015: 61-90.
Resumo
1. Introduo
sujeito em relao a um campo discursivo, aos valores que a ele podem ser
atribudos. Ao se posicionar em determinado campo, o sujeito indicar a adeso
a determinados valores e estes passaro a compor sua identidade. Por exemplo,
um sujeito que dentro do campo discursivo religioso se enuncia como cristo
ou como ateu, ter tais qualificaes (e os valores a elas associados) relaciona-
dos sua identidade.
Nesse processo de produo de um ato de linguagem (e, por conseguinte,
na apresentao e construo das identidades), somos levados, de modo invo-
luntrio ou no, a nos basear em representaes sociais, numa tentativa de
conferir maior legibilidade para nosso discurso. Conforme Moscovici (2003),
as representaes sociais tm o objetivo maior de familiarizar aquilo que ainda
no familiar, trazendo para o universo consensual, aquilo que largamente
difundido.
Dentre as formas de representaes sociais, acreditamos que os estere-
tipos costumam ser mais facilmente desidentificveis. Segundo Lysardo-Dias
(2006, p.27) o esteretipo uma representao fixada e partilhada por uma
coletividade que depende dele para interagir. possvel perceber que os
esteretipos funcionam como um modo de conhecimento da realidade e de
identidade social, possibilitando uma viso compartilhada que favorece a inter-
compreenso. Todavia, Procpio-Xavier nos alerta:
Nessa perspectiva, o esteretipo percebido como uma imagem
pr-estabelecida e cristalizada, construda a partir da influncia
e dinmica dos diversos grupos sociais. O recurso ao esteretipo
pode auxiliar na construo das identidades sociais, bem como
fomentar impresses preconceituosas e discriminatrias em funo
de uma identificao pejorativa do outro. Vale ressaltar, contudo,
que estes esteretipos iro variar de grupo para grupo, de um con-
texto a outro. (PROCPIO-XAVIER, 2012, p.64)
5 De acordo com entrevista dada por Vampeta no programa Roberto Justus Mais, exibido pela Rede
Record em setembro de 2012.
4. Consideraes Finais
Por meio de nossas anlises, foi possvel perceber que o uso do estere-
tipo como estratgia lingustico-discursiva parece ser de grande validade para
a elaborao de atos de linguagem em que se pretende problematizar algumas
questes e convencer o outro de determinadas posies. Adotar imagens cris-
talizadas na sociedade como recurso lingustico-discursivo tende a fazer com
que o pblico compreenda sobre o qu se est falando para, num segundo
momento, a partir da articulao texto e imagem e pela repetio do ato elocu-
tivo proposto no vdeo possamos desconstruir a prpria imagem estereotipada.
De todo modo, ao recorrermos aos esteretipos como forma de tematizar,
de ilustrar um determinado propsito discursivo, corremos o risco de, mesmo
sem inteno, reforar o prprio modelo cristalizado. Quando articulamos dife-
rentes esteretipos e estes se referenciam numa tentativa de demarcao de
identidade de posicionamento, podemos incorrer numa valorao depreciativa
da representao que se apresenta como diferente.
Destacamos aqui que o trabalho do canal tenta valorizar a alteridade e a
diferena, mas possvel que esteja contribuindo para o reforo da estereotipia,
principalmente por causa do humor. preciso ressaltar, entretanto, que estas
so anlises iniciais e, como o projeto ainda est sendo desenvolvido, precisa-
mos, pois, de mais estudos e articulao entre referenciais tericos e o material
emprico, no que se refere discusso de esteretipos, para obter resultados
conclusivos.
5. Referncias bibliogrficas
LAU, H. D. Que gay esse na comunidade gay? Revista Temtica, ano XII, n. 02.
NAMID/UFPB, fevereiro de 2016. Disponvel em:
http://www.ies.ufpb.br/ojs/index.php/tematica/article/view/27810/14943. Data de
acesso: 10 de julho de 2016.
Resumo
Introduo
Dessa maneira, o gnero dramtico pode ser visto, ento, como uma fer-
ramenta para evidenciar as intencionalidades dessas representaes nos filmes,
pois, por se tratar de um gnero eivado de emoes e sensaes, a legitimidade
do discurso pode ser imediata.
Sabemos que durante esses 121 anos de existncia do cinema, muitos
filmes sobre temticas LGBTT estrearam no mundo inteiro; muitos com per-
sonagens homossexuais (bem representados ou no) e muitos produzidos por
produtores e diretores publicamente assumidos. Com essa perspectiva, os crit-
rios usados para a escolha do filme a ser analisado e a metodologia empregada
neste trabalho foram: i) pelcula que tivesse personagens LGBTT como protago-
nistas; ii) que a produo fosse nacional.
seu entorno. Nesse sentido, Moreno (2001) confirma que, alm de pouco expl-
cita, a homossexualidade era todo o tempo associada ao domnio do risvel,
realado por um toque efeminado nos trejeitos e vozes dos personagens, o que,
para este autor, faria parte de um modelo severo e preconceituoso.
Complementando o pensamento de Moreno (2001), que diz respeito
tendncia majoritria dos longas-metragens nacionais, por ser vulgar, a perso-
nagem homossexual, associada a doenas, prostituies, vcios e crimes, uma
trivialidade imposta frontalmente na vida cotidiana e, com isso, as opresses
ganharam espaos. E no podemos esquecer a problemtica de raas e etnias
apresentadas nos filmes, nos quais as personagens homossexuais protagonis-
tas ou no usualmente so brancas e de condies financeiras elevadas.
Consideraes finais
Referncias
MARTINO, Malu. Como esquecer. Produo de Elisa Tolomelli. Europa Filmes, 2010.
online.
Raquel Pinho
Doutoranda em Educao (PUC-Rio) Pontifcia
Universidade Catlica do Rio de Janeiro - Educao
[email protected]
Rachel Pulcino
Doutoranda em Educao (PUC-Rio) Pontifcia
Universidade Catlica do Rio de Janeiro - Educao
[email protected]
Felipe Bastos
Doutorando em Educao (PUC-Rio)
UFJF/Colgio de Aplicao Joo XXIII - Ensino de Biologia
[email protected]
Resumo
Introduo
Metodologia
1 Optamos por referenciar autoras e autores com nome e sobrenome. Consideramos esta opo uma
tentativa de evidenciar os gneros de pesquisadoras e pesquisadores e, por consequncia, as mu-
lheres na pesquisa, o que pode contribuir com o reconhecimento e a valorizao da identidade
feminina no campo e de forma mais ampla (Raquel PINHO; Rachel PULCINO, 2016).
2 https://www.google.com.br/
2014/2 0 7 20,00
2015/1 5 83,33 15 42,86
2015/2 0 10 28,57
Somatrio 6 35
3 A regra gramatical da lngua portuguesa que define o masculino como elemento neutro em subs-
tantivos e adjetivos foi deliberadamente invertida para o feminino, independentemente do sexo dos
sujeitos ao qual o termo se refere. Seguindo esta lgica, os substantivos e adjetivos usados no mas-
culino neste texto ocorrem somente em referncia especficas a sujeitos masculinos (Felipe BASTOS,
2015). , pra mim, estranho que pessoas sofisticadas em questes de poder, poltica e linguagem
continuem isentando a gramtica de qualquer cumplicidade na perpetuao de relaes de de-
sigualdade. (...) Apesar das dificuldades de lidar com essa questo em uma lngua extremamente
flexionada como o Portugus, continuo achando que vale a pena tentar encontrar solues (N. do
T.) (Elizabeth ELLSWORTH, 2001, p. 75)
No identificado 0 6 17,14
Somatrio 7 38
Biolgica 0 2 5,71
Sociocultural 5 83,33 23 65,71
Abordagem
Criminalista 0 5 14,29
Psicolgica 1 16,67 7 20,00
tica 0 6 17,14
Pedaggica 3 50,00 20 57,14
Somatrio 9 63
Resultados e Discusso
Sobre o gnero das autoras, apesar de nos dois veculos de notcias haver
uma maior quantidade de autores, acreditamos no ser possvel traar muitas
consideraes, uma vez que tambm h uma alta taxa de artigo no assinados.
O perodo principal de publicao das notcias ficou em torno do pri-
meiro semestre de 2015. Isso parece ocorrer devido ao momento dedicado
formulao dos planos estaduais e municipais de educao, de acordo com o
Plano Nacional da Educao (PNE), sancionado em junho de 2014 (BRASIL,
2014), no qual o debate das temticas de gnero e sexualidade enfrenta retro-
cessos, porque as discusses sobre tais temticas promovidas pelas 1 e 2
Conferncia Nacional de Educao (CONAE), em 2010 e 2014, foram vetadas
no documento.
Se o gnero das autoras no nos permite concluir muito sobre os tex-
tos, a localidade das reportagens traz dados mais interessantes. A revista Nova
Escola uma revista voltada para o Brasil, no tem correspondentes externos e
no indica em qual regio do pas a matria foi escrita. Porm, editada pela
Fundao Victor Civita, cuja sede fica na cidade de So Paulo. Ou seja, por
mais que no esteja explcito, isso localiza preocupaes e interesses, isso diz
Consideraes Finais
Bibliografia
Resumo
Introduo
1 Safo viveu na cidade de Mitilene entre os sculo VII e VI a.C., na ilha grega de Lesbos. considerada
uma das maiores poetisas lricas da antiguidade. Seus poemas falavam sobre amor e beleza, e em
sua maioria eram dirigidos s mulheres. Por abordar a temtica homoerotica, boa parte da sua obra
foi queimada durante a Idade Mdia, restando da sua produo literria apenas um poema completo
e alguns fragmentos. A partir do sculo XIX o relacionamento sexual entre mulheres comeou a ser
denominado de lesbianismo ou safismo, termos que fazem referncia autora. (MONTEMAYOR,
1986.).
de receber diversas indicaes ao Oscar, foi tambm eleito pelo American Film
Institute, um dos 10 melhores filmes de 20153.
Consideraes Finais
Referencias
HIGHSMITH, Patricia. Carol. Porto Alegre: L&PM, 2015. Traduo de Roberto Grey.
Resumo
Introduo
O gnero submisso
De acordo com Scott (1995, pg.86), gnero uma categoria til de an-
lise para compreender diversas esferas de nossa sociedade, sendo um aspecto
relacional e que no deve ser utilizado como sinnimo de mulher, sendo com-
preendido como [...] um elemento constitutivo de relaes sociais baseado
nas diferenas percebidas entre os sexos, e o gnero uma forma primeira de
significar as relaes de poder. [...].
Nesse sentido, a representao e os valores referentes ao feminino so
construdos em uma relao diametralmente oposta representao e aos valo-
res referentes ao masculino, de maneira a expressar relaes desiguais de poder,
no qual o feminino surge como elemento submisso e dominado pelo masculino.
De Lauretis (1987), leva at o cinema a perspectiva exposta acima, quando
diz que este coloca-se como uma tecnologia de gnero, no sentido de que o
Um dos desenhos que Vera pinta nas paredes uma mulher que, no lugar
da cabea, tem uma casa. Isso nos leva a refletir: no ser uma representao
de que sua real morada, a morada de Vicente, o lugar onde ele realmente vive,
em sua cabea, em sua mente? Pois o corpo feminino no pode abrigar o
corpo de Vicente, ento ele s pode existir na mente de Vera. Isso tambm se
mostra no interesse de Vera pela yoga, a partir do momento em que a instrutora
fala que os exerccios permitem ter a existncia que cada um quiser ter, que os
exerccios libertam a mente para sermos quem quisermos ser. tambm, em
sua cabea/casa que se d a resistncia da identidade real de Vicente e a nega-
o a aquela imposta. Da mesma maneira que travestis e transexuais negam
o corpo masculino apesar de toda a agresso que sofrem nas vrias instncias
da sociedade e resistem se vestindo e se maquiando conforme ao gnero que
corresponde ao ntimo de seu ser.
Em outra cena, Vera demonstra tristeza ao afirmar, frente a um colega de
Robert, que chegou ali pelos prprios ps e que sempre foi uma mulher, olhando
uma antiga foto sua estampada nos jornais, na seo de desaparecidos. Por fim,
Vera mata Robert e consegue voltar para encontrar sua me. E como explicar
para ela que agora Vicente habita outra pele? Como explicar a si mesmo que
Vicente dever habitar a pele de Vera? Com essa reflexo, conseguimos alcan-
ar toda a crueldade do ato empregado por Robert: alm de utilizar o corpo de
Vicente, transformado em Vera, como mero instrumento da satisfao de seus
desejos, de utiliza-lo como cobaia para seus experimentos cientficos, ele ainda
obriga Vicente a habitar uma pele que no a sua, talvez para sempre.
Consideraes finais
Referncias
SCOTT, Joan Wallach. Gnero: uma categoria til de anlise histrica. Educao &
Realidade. Porto Alegre: vol. 20, n.02, jul/dez. 1995, pgs. 71-99.
Filmografia
- Os olhos sem rosto (1960) Direo: Georges Franju/Roteiro: Pierre Boileau, Thomas
Narcejac, Jean Redon, Claude Sautet e Pierre Gascar
Bruno de Freitas
Doutorando, Programa de Ps-graduao em Geografia, IG/UFU.
[email protected]
Resumo
Introduo
2 O aplicativo usa a geolocalizao do smartphone para mostrar indivduos com interesses em co-
mum, em uma determinada rea, podendo ela ser local ou global.
Figura 10: Grindr: Imagens da pgina oficial do aplicativo, 2015. Fonte: GRINDR, 2015.
Figura 11: Scruff: Imagens da pgina oficial do aplicativo, 2015. Fonte: SCRUFF, 2015.
Por meio das figuras acima, possvel observar que alm dos usurios
estabelecerem contato com quem esteja na proximidade, podem encontrar
rapazes em diversos locais do globo, pois o aplicativo apresenta pessoas dis-
ponveis para sociabilizao em diferentes escalas. Os indviduos estabelecem
comunicao por meio de mensagens de texto, fotos, vdeos e localizao.
Alm disto, podem estabelecer suas preferncias de busca, pois o aplicativo
filtra e apresenta apenas os perfis de acordo com o estilo procurado.
Consideraes
Por meio das anlises realizadas neste trabalho, possvel afirmar que
existem diversos tipos de sociabilizao LGBT, alm disto, foi possvel perce-
ber que, em sua grande maioria, os acessos e incluso a indivduos pode
se dar por meio do acesso s tecnologias. No entanto, todas estas formas de
incluso, no so suficientes para garantir a aquisio de direitos de todas as
pessoas pertencentes ao grupo LGBT.
Por meio das anlises realizadas, possvel afirmar que com o surgimento
da internet, o ciberespao se caracteriza como um novo meio de comunicao,
que possibilitou tambm novas formas de sociabilidade LGBT, por meio das
redes sociais e/ou virtuais.
Tratando dos aplicativos apresentados, possvel afirmar que as manifes-
taes vinculadas sexualidade ocorrem no mbito virtual se materializando
(ou no) no mbito real. possvel afirmar que as redes sociais LGBT foram
fundamentais para a alterao de prticas socioespaciais deste grupo, que ocor-
riam apenas no mbito das espacialidades fixas, tais como os guetos e/ou as
boates gays, por exemplo.
Referncias
CASTELLS, M. A sociedade em Rede. 1999. 2 ed. So Paulo: Paz e Terra, 1999.
____________. A galxia da Internet: reflexes sobre a Internet, os negcios e a
sociedade. Rio de Janeiro: J. Zahar, 2003.
COUTO, E. S.; SOUZA, J. D. F.; NASCIMENTO, S. P. Grindr e Scruff: amor e sexo na
cibercultura. In: SIMSOCIAL: Simpsio em tecnologias digitais e sociabilidade, 2013,
Salvador. Anais... Salvador: EDUFBA, 2013.
FERREIRA, J.; CANSEIRO, S., RODRIGUES, D.. A Geografia das Redes Sociais:
Cartografia e Tecnologias de Informao em Geografia. In Actas do XII Colquio
Ibrico de Geografia, Out. 2010. Anais... Porto: Faculdade de Letras (Universidade do
Porto).
GRINDR. Imagens demonstrativas do aplicativo Grindr, 2015. Disponvel em:
<https://play.google.com/store/apps/details?id=com.grindrapp.android> Acesso em 20
Out. 2015.
HALL, Stuart. A identidade cultural na ps-modernidade. Traduo: Tomaz Tadeu da
Silva, Guacira Lopes Louro. 11. Ed. Rio de Janeiro: DP&A Editora, 2006.
HORNET. Imagens demonstrativas do aplicativo Hornet, 2015. Disponvel em:
<https://play.google.com/store/apps/details?id=com.hornet.android> Acesso em 20
Out. 2015.
LEAL, J. T. B. Webgay&Gaymobile: o fluxo da homossexualidade em rede. In: X
POSCOM Seminrio dos Alunos de Ps-Graduao em Comunicao Social da PUC-
Rio, 2013. Anais...
LEMOS, A. As estruturas antropolgicas do ciberespao. Textos de Cultura e
Comunicao, Salvador, n. 35, p. 12-27, jul. 1996.
MISKOLCI, R. Discreto e fora do meio Notas sobre a visibilidade sexual contem-
pornea. In: Cadernos Pagu, v. 44, p. 61-90, 2015.
SCRUFF. Imagens demonstrativas do aplicativo Scruff, 2015. Disponvel em: <https://
play.google.com/store/apps/details?id=com.appspot.scruffapp&hl=pt> Acesso em 20
Out. 2015.
SOARES, B. R. Uberlndia: da cidade jardim ao portal do cerrado - imagens e
representaes no Tringulo Mineiro. Tese de Doutorado (Doutorado em Geografia
Humana)-Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias
Humanas, Universidade de So Paulo, So Paulo, 1995.
Resumo
Introduo
A tolerncia em xeque
Consideraes finais
Referncias
BUTLER, Judith. Bodies that Matter: on the discursive limits of sex. Nova York:
Routledge, 2003.
FLORIDA, Richard. The flight of the creative class: the new global competition for
talent. Nova York: Harper Collins, 2005.
JESUS, Diego Santos Vieira de. O mundo fora do armrio: teoria queer e Relaes
Internacionais. rtemis, v.XVII, n.1, p.41-50, jan./jun. 2014.
LANDRY, Charles. Prefcio. In: REIS, Ana Carla Fonseca; KAGEYAMA, Peter (Org.)
Cidades criativas: perspectivas. So Paulo: Garimpo de Solues, 2011, p.7-15.
LAURIANO, Carolina. Novo site informa agenda LGBT e recebe denncias on-line
no Rio. G1, 18 maio 2011. Disponvel em: <http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noti-
cia/2011/05/novo-site-informa-agenda-lgbt-e-recebe-denuncias-line-no-rio.html>.
Acesso em: 27 maio 2016.
LISBOA, Vincius. Ambiente familiar o local onde homossexuais mais sofrem agres-
ses. Agncia Brasil, 17 maio 2013. Disponvel em: <http://www.ebc.com.br/noticias/
brasil/2013/05/ambiente-familiar-e-o-local-onde-homossexuais-mais-sofrem-agres-
soes>. Acesso em: 28 maio 2016.
MISKOLCI, Richard. Machos e Brothers: uma etnografia sobre o armrio em relaes
homoerticas masculinas criadas on-line. Estudos Feministas, v.21, n.1, p.301-324,
jan./abr.2013.
___. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenas. 2 ed. Belo Horizonte: Autntica,
2016.
PERLONGHER, Nstor. O negcio do mich: a prostituio viril em So Paulo. So
Paulo: Fundao Perseu Abramo, 2008.
PROCTOR-THOMSON, Sarah Belle. Creative differences: the performativity of gen-
der in the digital media sector. Tese PhD em Gender and Womens Studies. Centre
for Gender and Womens Studies, Lancaster University, Lancaster, 2009.
SEDGWICK, Eve Kosofsky. Epistemologia do armrio. Cadernos Pagu, n. 28, p. 19-54, 2007.
SEN, Amartya. Desenvolvimento como liberdade. So Paulo: Companhia das Letras, 2000.
SILVA, Francisco Raniere Moreira da. As relaes entre cultura e desenvolvimento e a
economia criativa: reflexes sobre a realidade brasileira. NAU Social, v.3, n.4, p.111-
121, maio/out. 2012.
SOUZA, Tedson da Silva. Fazer banheiro: as dinmicas das interaes homoerticas nos
sanitrios pblicos da Estao da Lapa e adjacncias. Dissertao Mestrado em Antropologia.
Faculdade de Filosofia e Cincias Humanas, Universidade Federal da Bahia, 2012.
AS CIBERTECNOLOGIAS DA SEXUALIDADE NA
SOCIABILIDADE ONLINE DAS JOVENS ESTUDANTES
NA CONTEMPORANEIDADE
Resumo
Introduo
Tecnologias do Poder
1 The Nu Project um projeto de origem estadunidense que fotografa mulheres de todo o mundo. Nas
informaes do site as idealizadoras Matt e Katy explicam que no h modelos, nem maquiagem, as
mulheres tiram as fotos nos espaos da sua prpria casa em que se sente o mais confortvel possvel.
Desde 2005 elas fotografaram 250 mil mulheres na America do Sul, America do Norte e Europa.
2 O projeto sem fins lucrativos tem o objetivo de ser uma fonte das vozes femininas presentes nos cor-
pos de mulheres fotografadas. O site agrega imagens, podcasts, vdeos e ensaios escritos para falar
das diferentes realidades de mulheres pelo mundo.
3 Projeto pessoal da fotgrafa Camila Cornelsen que pretende empoderar mulheres para ver e admirar
outras mulheres e a se identificar com o corpo alheio.
Cibertecnologias de Sexualidade
Referncias
BELELI, Iara. O Imperativo das Imagens: construo de afinidades nas mdias digitais.
Cadernos Pagu (44), jan-jun, p. 91 114, 2015.
SIBILIA, Paula. O Show do Eu: a intimidade como espetculo. Rio de Janeiro, Nova
Fronteira, 2008.
Resumo
Este trabalho busca refletir sobre a importncia das questes cotidianas para o
debate poltico sobre as desigualdades sociais. Como eleger questes do dia a
dia para pautas dos debates pblicos? Quais so as dificuldades que a popula-
o LGBT encontra para tornar seus desafios dirios em tema de lutas sociais?
O que separa o privado do pblico? Essas questes nortearo o dilogo com a
obra Milk A voz da Igualdade (2009). Este filme proporciona o levantamento
de questes sobre a militncia de gays, a visibilidade dos homossexuais e as
dificuldades encontradas com a represso da sociedade e dos representantes
polticos. Neste artigo, resolvemos nos deter a analisar a problematizao feita
por Milk sobre a politizao do cotidiano para que diferentes formas de mascu-
linidades tornem-se visveis.
Palavras-chave: politizao; masculinidades; LGBT; poder; privado.
Introduo
Essa tenso entre privado e coletivo pode ser verificada na histria das
mulheres na sociedade. At os anos 40, enquanto o lugar do homem branco era
a cena pblica, algumas mulheres estavam destinadas apenas cena privada,
ao espao da famlia e dos filhos. O que era considerado de interesse pblico
e poltico deveria estar representado apenas pelos homens, em sua maioria
homens brancos.
O questionamento sobre a definio destas fronteiras entre o pblico e o
privado pode ser observado nas lutas das mulheres por igualdade e equidade.
Na primeira onda feminista, acontecida entre os sculos XIX e XX, as principais
reivindicaes eram o direito ao voto, propriedade, educao e ao fim do
casamento arranjado. Uma referncia cinematogrfica sobre esse perodo o
filme As Sufragistas, que apresenta a luta das mulheres pelo acesso ao voto,
entre outras coisas. Para exemplificar a referncia do filme temos a cena em
que uma das mulheres faz a defesa do direito ao voto diante de um parlamento
representado somente por homens e a reao do parlamento foi a de total
incompreenso da reinvindicao porque elas se j eram representadas por
seus maridos e filhos. O filme tambm aborda a questo da fragilidade entre a
cena privada e pblica com a personagem Maud Watts que se envolve com o
movimento das sufragistas.
Na segunda onda feminista, as reinvindicaes eram em torno dos movi-
mentos de liberao feminina, entre os anos 60 e 70. Aps a conquista de
alguns direitos, as mulheres se viram na necessidade de questionar desta vez
as condies de vida e trabalho das mulheres, o olhar sobre as diferenas na
sexualidade de homens e mulheres, a construo da imagem de me e dona de
casa, a violncia domstica e criminalizao do aborto.
Interessante observar que as mulheres comearam a revelar suas vidas
pessoais a fim de questionarem as regras de convivncia na sociedade divididas
entre homens e mulheres, conforme afirma Lins, 2016.
O pessoal poltico foi o principal lema da segunda onda femi-
nista. As militantes encorajavam as mulheres a compreenderem
O Poltico e o Pblico
De acordo com o autor, os estudos feministas foi uma das rupturas te-
ricas decisivas que alterou uma prtica acumulada em Estudos Culturais (Hall,
2003). De que forma a histria de Milk tambm no representa esse tipo de
proposta de ruptura e de tenso entre o pblico e o pessoal?
Milk liderou um movimento de luta pelos direitos das minorias sexuais
e contra a onda de conservadorismo, principalmente cristo, que se afirmava
no cenrio poltico. Estamos saindo para lutar contra as mentiras, os mitos, as
distores. Estamos saindo para dizer as verdades sobre os gays, porque estou
cansado da conspirao do silncio (Harvey Milk). Como forma de resistncia,
ele convocou todos os homossexuais a se assumirem publicamente a fim de
Consideraes Finais
Referncias Bibliogrficas
HABERMAS, Jrgen. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Vol. II. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997.
Raquel Quirino
Ps-Doutora em Educao
Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais - CEFET-MG
Departamento de Educao
Programa de Ps-Graduao em Educao Tecnolgica
[email protected]
Resumo
Introduo
de redes sem fio conhecidas hoje em dia, tais como: Bluetooth, GPS e Wi-Fi.
Usando os princpios de notas musicais no piano, Hedy e Antheil criaram um
sofisticado aparelho que causava interferncia em rdios para despistar radares
nazistas. Em 1940, patentearam o projeto frequency hopping e Hedy usou o
seu verdadeiro nome: Hedwig Eva Maria Kiesler.
CARDOSO (2007) escreveu sobre Grace Murray Hopper Formada em
Fsica e Matemtica, enfrentou difcil situao nos EUA por querer ir mais alm
do que casar e ser dona de casa, o que era comum para mulheres da poca.
Em 1934 j era Ph.D. em matemtica e uma carreira slida como professora.
Com a 2 Guerra Mundial se alistou na Waves, diviso criada espe-
cialmente para mulheres, que cuidariam das reas burocrticas, enquanto os
homens lutavam nas linhas de frente. Conquistou o 1 lugar na turma, se for-
mando Tenente e sendo designada para o projeto de computao de Harvard,
programando o Mark I, um dos primeiros computadores do mundo.
Com o fim da guerra, continuou em Harvard trabalhando para a Marinha
at 1949, depois de ter ido para a Reserva Naval. Desenvolveu o Univac I
modelo mais prximo de um computador de verdade e criou o compilador, que
mudou o mundo da informtica. Sua ideia no foi levada a srio, computadores
eram mquinas que calculavam, no compilavam. A ideia de um programa
que interpretasse uma linguagem mais prxima do ingls do que cdigo de
mquina era aliengena para os profissionais e cientistas da poca. Em 1959 seu
trabalho j era reconhecido, resultando em boa parte das especificaes do
Cobol.
Nos anos 1960/1970 pesquisou e definiu conceitos como padres e
certificaes para homologao de softwares, implementando o uso e a padro-
nizao do Cobol na Marinha. Deu baixa em 1986, aos 79 anos, no posto de
Contra-Almirante. Imediatamente contratada pela empresa Digital como con-
sultora snior, uma das maiores mentes femininas da Cincia da Informao,
faleceu em 1992 aos 85 anos. (CARDOSO, 2007).
Alcantara (2008) escreveu sobre As seis programadoras do ENIAC tambm
conhecidas como as pioneiras do ENIAC. O primeiro computador eletrnico
Eniac (Electronic Numerical Integrator and Computer) foi criado em 1946 e
projetado para fazer clculos de artilharia para o exrcito americano e sua pro-
gramao foi feita por mulheres. Foi utilizado pela primeira vez para calcular
trajetrias balsticas. Estrutura gigantesca: 18000 vlvulas, pesando 27 toneladas
era a primeira mquina capaz de ser programada para execuo de clculos
Consideraes finais
Referncias
CARDOSO, Carlos. Grace Hopper, a Maior de todas as Geeks Site Meio Bit. 2007.
Disponvel em < http://meiobit.com/97634/grace-hopper-a-maior-de-todas-as-geeks/
> Acesso em: 10 abr. 2016.
Resumo
Introduo
1 Traduo minha, assim como de todas as outras citaes em lngua inglesa utilizadas neste texto.
Nudes em movimento
2 http://www.cam4.com.br/.
Pensando a ps-modernidade
Consideraes finais
Referncias
______. Modernidade Lquida. Trad. Plnio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2001
BECK, U. Zombie categories: interview with Ulrich Beck. In: BECK, U.; BECK-
BERNSHEIM, E. Individualization. Institutionalized individualism and is social and
political consequences. Londres: Sage publications, 2001
______. Gender Trouble - Feminism and the Subversion of Identity. Nova Iorque:
Routledge, 1999
COOPERSMITH, J. Does your mother know what you really do? The changing nature
and image of computer-based pornography. History and Technology, v. 22, n. 1, p.
1-25, 2006. Disponvel em: <http://history.tamu.edu/faculty/coopersmith/coopers-
mith%20personal/Does%20Your%20M other%20Know.pdf>. Acesso em: 7 jan. 2016,
13:26
PEIRCE, C. S. Semitica. Trad. Jos Teixeira Coelho Neto. So Paulo: Perspectiva, 2005
VERTOVEC, S. Superdiversity and its implications. Ehtnic and racial studies, Londres,
v. 30, n. 6, p. 1024-1054, 2007
Resumo
Pensar os gays velhos algo que quase sempre existe um silenciamento. Mesmo
assim, em alguns momentos esse silncio rompido quando aparecem, de
forma sucinta matrias sobre velhice e velhos sendo entrevistados em publica-
es voltadas para o pblico gay. A partir desta premissa, este trabalho, verso
parcial de pesquisa desenvolvida no doutorado em Histria pelo PPGH/UFPE,
tem como objetivo debater qual o espao que o peridico Lampio da esquina
(1978) e a revista Sui Generis (1995), ambos voltados para o pblico homosse-
xual, oferecero em suas pginas para os gays velhos, em especfico, e de que
forma a velhice ser dita por essas publicaes.
Palavras-chave: velhice; sexualidade; Lampio da esquina; Sui Generis.
Introduo
Acendendo o Lampio
1 http://grisalhos.wordpress.com
2 No ano de 1977 o presidente da Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Alosio
Lorscheider faz uma crtica ao que ele denominou de processo gradual de permissividade no Brasil
que, de acordo com ele, teria tido incio com o divrcio, agora foi a vez da plula, amanh ser o
aborto e, depois, o homossexualismo. A, ser o fim. INPS tambm far controle familiar - Estado
de So Paulo, 29 de julho de 1977, p.14. http://acervo.estadao.com.br/pagina/#!/19770729-31399-
nac-0014-999-14-not
os gays que tem cabelos grisalhos e o rosto marcado pelos anos passam por
serem bichas velhas. Ele menciona os anncios publicados em revistas e jornais
referentes procura de parceiros. De acordo com Trevisan, 90% deles buscam
parceiros de at 40 anos. Aos velhos, restariam a solido e a morte.
Se envelhecer um processo implacvel que aponta para um caminho
sem volta, entre os homossexuais o espectro da solido, frequentemente, mais
acentuado porque se vive sozinho e at mesmo longe da famlia. Por isso, no
chamado mundo gay, o olhar do outro pode ser um espelho feroz, pois h a
comprovao de que no se mais desejado.
Como podemos perceber nesse fragmento do texto. Outro dia, numa
boate gay, duas bichas riram na minha cara, surpresas por encontrar no banheiro
um velho que no se supunha estar ali (p.55), relembra o articulista da revista.
O olhar que acusa, que reprova e que rejeita, fez com que Trevisan, e possi-
velmente outros gays velhos, fosse se afastando desses espaos de diverso
voltados para o pblico gay.
Mas o autor se mostra ciente das construes subjetivas veiculadas pelos
discursos e afirma que esses olhares acusadores nada mais so do que fruto
de um iderio social de supremacia da juventude, tida como um dos valores
bsicos no mundo moderno e decantada como um bem inestimvel (p.55).
E lembra ainda que grande parte da indstria de consumo vai se apoiar no
binmio casal heterossexual e jovem, sendo a juventude heterossexual um
importante nicho do capitalismo. Inclusive a prpria revista Sui Generis vende
para os seus leitores um padro de juventude como delata Trevisan. Vejam-se
as revistas gay (inclusive a Sui Generis): s trazem fotos de rapazinhos boniti-
nhos e/ou musculosos (p.55).
Ora, se ser jovem ser possuidor de um importante bem, cabe proteger
o mximo possvel esse bem para no o perder e passar a ser desprezado, ser
visto como uma pessoa abjeta entre os pares.
Apesar do choque que teve ao se perceber como velho e no mais pos-
suidor de um bem bastante cortejado e difcil de manter, que a juventude,
o Trevisan passou a perceber o quanto se tornou desejado por rapazes mais
jovens. Aos poucos foi percebendo que o amor intergeracional to natural
quanto se pensava. Mas, apesar de ser natural, os casais sofrem preconceito,
principalmente o mais jovem da relao, pois tm que se impor em um meio
quase sempre hostil.
Certa vez, presenciei uma rdua discusso entre dois amigos bichas,
quando um deles confessou que gostava de velhos e o outro, revoltado, acu-
sou-o de ser um tarado e neurtico, pois normal gostar de rapazes viris,
comenta Trevisan. As mquinas de produo de subjetividades, da qual falam
Guatarri e Rolnik (2005) mostram que o correto desejar pessoas jovens, boni-
tas, malhadas, dado que representam vitalidade, sade, possuem um corpo viril,
que pulsa desejo e que desejam. Logo, ir contra esses parmetros transgre-
dir a norma, visto que o que est sendo desejado so os refugos, os restos
humanos, os corpos sem potncias. Admiro particularmente esses caras que
cultivam o amor intergeracional, nadando contra a corrente do padro global e
hollywoodiano de beleza. Claro que fico gratificado porque atravs deles des-
cobri o charme dos meus 50 anos (p.56).
Buscando-se redefinir uma imagem positiva do envelhecimento, a pala-
vra velho tida como agregador de preconceitos. Ento outras terminologias
passaram a ser inventadas: idosos, terceira idade, melhor idade. Cada uma pos-
suindo uma grande variedade de significados e representaes. Mesmo assim,
nas matrias das duas publicaes aqui analisadas prevalecem o paradigma de
que ser velho sinnimo de inatividade, inutilidade, impotncia, fragilidade,
solido. No possuidor da vitalidade fsica, o corpo perde a virilidade, torna-se
opaco, sem vida. No mundo moderno, estar velho e, consequentemente, viven-
ciar a velhice aproximar-se da morte (ALBUQUERQUE JR, 2010).
interessante percebermos que no so apenas os gays velhos que sofrem
preconceitos por continuarem na ativa, vivos, desejando e sendo desejados.
Pessoas que namoram esses velhos tambm sofrem preconceito por tal prtica.
Como se existisse uma idade limite para ser namorado, desejado e desejar. O
grupo que sofre discriminao e preconceito tambm discriminar, dentro do
prprio meio, aqueles que quebram as regras do que permitido entre eles.
Mesmo assim, e apesar do preconceito, casais intergeracionais se formavam
mostrando que toda forma de amor possvel e que vale a pena ser vivenciada.
E os velhos gays os quais continuavam se relacionando e amando, resistiam em
aceitar a imagem de pessoas assexuadas, passivas e sem interesses pessoais.
Referncias
Resumo
1 Primeira revista no pornogrfica destinada ao pblico brasileiro. Circulou entre os anos de 1995 e
2000.
Referncias
MELO, Jos Marques de; TOSTA, Sandra Pereira. Mdia & Educao. Belo Horizonte:
Autntica, 2008.
SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mdia? Traduo: Milton Camargo Mote. So
Paulo: Loyola, 2002.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo analisar as prticas discursivas (re) produzidas
pela revista G Magazine acerca de gnero, sexualidade, desejo, sexo e corpo.
Procura-se detectar a interferncia dos sentidos e significados referentes aos afe-
tos, desejos e comportamentos, bem como pornografia e ao prazer sexual na
construo das subjetividades dos gays brasileiros aps a dcada de 1990, per-
odo de profundas transformaes nas relaes sociais, polticas e culturais da
comunidade LGBT. As fontes para a pesquisa constituem-se os contedos edi-
toriais da G Magazine (1997-2008). Os referenciais terico-metodolgicos so
fundamentados nos Estudos Queer e na Nova Histria Cultural do Imaginrio,
das Representaes Sociais e da Anlise do Discurso.
Palavras-chave: subjetividades; gnero; sexualidade; desejo; corpo.
Introduo
1 Seguindo a perspectiva de Beatriz Preciado (2010), a noo de pornografia nesta pesquisa no pre-
tende emitir um juzo moral ou esttico, mas identificar novas prticas de consumo e da imagem,
suscitadas por novas tcnicas de produo e distribuio, e codificar um conjunto de relaes entre
imagens, prazer, publicidade, privacidade e produo de subjetividade.
2 Em resumo, por Nova Histria Cultural, entende-se aqui uma virada no campo historiogrfico, em
que, a partir do dilogo interdisciplinar com as cincias sociais, a lingustica, a psicologia, a filoso-
fia, a noo do documento como espelho do real problematizada, assim, os documentos no
so considerados como reflexos transparentes do passado, mas aes simblicas com significados
diferentes conforme a inteno de quem os elaborou. Caracteriza-se pelo rompimento da ideia de
cultura popular e cultura erudita, bem como pela reflexo das relaes sociais e econmicas como
campos de produes culturais.
3 Foram distribudas apenas quatro edies com o ttulo de Bananalouca, a quinta edio teve como
ttulo Bananalouca apresenta G Magazine, e em outubro de 1997 a revista recomea com o nmero
um, j com o nome definitivo: G Magazine. (SILVA, 2010, p. 37).
4 Em 2008, devido a problemas financeiros, a revista vendida para o grupo norte-americano Ultra
Friends International, que modificou o carter das publicaes, diminuindo o espao para as mat-
rias e colunas de comportamento, e aumentando o nmero de ensaios.
5 Por sexualidades abjetas, seguindo as reflexes de Butler (2001), entende-se aqui o conjunto de
prticas sexuais que no se enquadram na norma naturalizada socialmente no binarismo heteros-
sexual, no qual os indivduos com sexualidades fora do padro de oposio entre sexo/desejo so
categorizados como anormais e inferiores.
6 Em sntese, o ps-estruturalismo caracterizado pelos estudos de Michel Foucault, Jacques Lacan,
Jacques Derrida, Gilles Deleuze, Flix Guattarri, dentre outros. Miskolci (2009) destaca que as obras,
A histria da sexualidade I: A Vontade de Saber, de Foucault, e Gramatologia, de Jacques Derrida,
publicadas em ingls em meados dos anos de 1970, so consideradas marcos para as formulaes
queer.
7 Os Estudos culturais se originaram do marxismo, porm com uma critica s correntes ortodoxas que
no respondiam s demandas de grupos sociais de sua poca, inicialmente operrios, aos quais se
somaram os imigrantes, negros, mulheres e homossexuais. (MISKOLCI, 2009, p. 159).
8 As consideraes analticas que apresentamos neste texto referem-se s edies da G Magazine: ed.
22, julho/ 1999; ed. 72, setembro/2003; ed. 77, fevereiro/2004.
Consideraes finais
Referncias
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. In: LOURO,
Guacira Lopes (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte:
Autntica, 2001, p. 151-172.
LOURO, Guacira Lopes. O estranhamento queer. In: STEVENS, Cristina M. T.; SWAIN,
Tania N. (orgs.). A construo dos corpos: perspectivas feministas. Florianpolis:
Mulheres, 2008.
SILVA, Fbio Ronaldo da. Ser ou no ser: a representao de virilidade nas capas da G
Magazine (1997-2007). Dissertao (Mestrado em Histria) Universidade Federal de
Campina Grande/Paraba, 2010.
SWAIN, Tnia Navarro. Voc disse imaginrio?. In: ________. (Org.). Histria no
Plural. Braslia: Edunb, 1994.
Resumen
A manera de introduccin
ngeles Cados es una novela escrita por Carlos Alberto Soriano (1970-
2011) y fue la primera narrativa en formato de novela sobre hombres gays que
se dio a conocer al interior de El Salvador. La narracin se contextualiza en la
ciudad de Guanacotln (San Salvador). El contexto temporal se puede situar en
la dcada de 1990 y la trama se desenvuelve en el transcurso de 5 aos aproxi-
madamente. El guion gira entorno a tres personajes principales.
ingresos econmicos, ejercer trabajo sexual de calle como travest, ser herido
por otra travest, transformarse en un cuerpo a la defensiva para salvaguardar la
vida, padecer ataques homicidas por parte de las Maras (pandillas), hasta reve-
lar que tambin era un cuerpo que haba padecido violencia sexual al interior
de su hogar por parte de su padre. De los tres personajes es el nico que per-
manece vivo hasta el final de la novela.
sexual, lesbianas, entre los ms sobresalientes, los que a excepcin del acti-
vista Mendel Chicas, quedan retenidos-atrapados-secuestrados al interior de
la discoteca Kaliyuga por parte de cuerpos de seguridad y personal mdico
(ORELLANA, 2011, p. 66, 107). Considero que esta es la mejor alegora para des-
cribir el contexto salvadoreo y su relacin con la sexualidad diversa: cuerpos
enclaustrados-vigilados por las normas y moralidades conservadoras (cuerpos
de seguridad) y por dispositivos de medicalizacin (cuerpos de salud), quienes
determinan hasta cundo van a estar detenidos-presos-marginados adentro de
la discoteca silencio-armario-gueto.
Por otra parte estaran los discursos aliados, permitindome nombrarlos
de esa forma ya que no en ms de una oportunidad pueden reproducir parte
de las prcticas y discursos hegemnicos (ORELLANA, 2011, p. 33, 404). Estos
estaran bsicamente representados por el diputado Denis Farias hombre,
heterosexual, blanco, clase media, ateo- y su quijotesca accin de promover
una reforma constitucional para que personas del mismo sexo puedan ejer-
cer el derecho constitucional de Igualdad para contraer matrimonio s as lo
deseasen. Faras, retomando el guion judo-catlico salvacionista, se transforma
en un nuevo cuerpo-cordero que es inmolado injustamente por un sociedad
de doble moral al tratar de hacer prevalecer el derecho a la Igualdad y la No
Discriminacin (ORELLANA, 2011, p. 431), para luego resucitar tal cual neo-
cristo poltico redimido por medio del activismo al interior de una ONG de
diversidad sexual que planifica y realiza el rescate-salvacin de los cuerpos-in-
fectados-diversos prisioneros en el silencio-armario -gueto de la Discoteca
Kaliyuga (ORELLANA, 2011, p. 443-446).
Palabras de cierre
Referencias
CHACN, Ren. La fiera de un ngel. San Salvador: Impresos Litogrficos del Centro
Amrica, 2005.
Resumo
Introduo
Consideraes finais
Referncias
CECCARELLI, Paulo Roberto. Prostituio corpo como mercadoria. Mente & crebro
Sexo, v. 4, dez. 2008.
LUGARINHO, Mrio Csar. Nasce a literatura gay no Brasil: reflexes para Lus
Capucho. In: SILVA, Antonio de Pdua Dias da. (Org.). Aspectos da literatura gay. Joao
Pessoa: Editora da UEPB, 2008.
______. Vicissitudes do mich. Temas IMESC, Soc. Dir. Sade, So Paulo, 4(1), p.
57-71, 1987b.
SOUZA NETO, Epitacio Nunes. Entre boys e frangos: anlise das performances de
gnero de homens que se prostituem em Recife. Dissertao de Mestrado. Programa
de Ps-Graduao em Psicologia. Recife, UFPE, 2009.
Luciana Freesz
Doutoranda em Letras: Estudos Literrios
Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
[email protected]
Resumo
Introduo
Identidades em jogo
Memrias e autodescobertas
destino de retornar pequena cidade onde nasceu para cuidar da casa funer-
ria. Em vez de continuar em Nova York, onde estudou, ou na Europa, para onde
foi quando serviu ao exrcito, e poder exercer mais livremente sua sexualidade,
Bruce voltou lama de onde veio (HAGANE, 2010), escondendo sua real iden-
tidade e seus desejos.
O pai se matou quando Alison estava na faculdade. Ao receber a notcia,
conta que pouco chorou, e ao reencontrar o irmo, a reao de ambos foi com-
partilhar um sorriso absurdo. Para se referir ao momento, Alison recorre a outro
livro de Camus, O mito de Ssifo, que precisou ler para uma matria e que lhe
foi emprestado pelo pai. Nele, Bruce tambm havia grifado uma passagem: O
tema deste ensaio precisamente esta relao entre o absurdo e o suicdio, a
medida exata em que o suicdio uma soluo para o absurdo (CAMUS apud
BECHDEL, 2007, p. 53).
A autora classifica a morte do pai como queer, ou seja, como estranha,
esquisita. No dicionrio, h diversos significados para a palavra em questo; o
verbo estaria relacionado com frustrar, arruinar, desconcertar (...) (BECHDEL,
2007, p. 63), algo que o pai fez com a famlia ao forjar a prpria morte. Porm,
o dicionrio omite a provvel razo do suicdio, que seria justamente o fato de
o pai ser queer homo ou bissexual.
Os relacionamentos de Bruce com outros homens s foram revelados a
Alison pela me quando ela estava na faculdade, aps enviar uma carta aos
pais em que ela mesma saa do armrio. A autora sugere que o desenrolar dos
fatos poderia ter sido sua culpa:
Enquanto o pai sentia atrao pelos homens, Alison, desde criana, admi-
rava a masculinidade por um motivo diverso, sua prpria homossexualidade.
Assim, a autora e seu pai seriam invertidos um do outro ela com sua pre-
ferncia por uma esttica masculinizada e ele com sua vaidade excessiva,
associada ao feminino: Enquanto eu tentava compensar a parte efeminada
dele... Ele tentava expressar algo feminino atravs de mim (BECHDEL, 2007, p.
104). Ao traar essa comparao, Bechdel coloca a si e ao pai dentro de estere-
tipos associados homossexualidade, sendo ela pouco apegada s aparncias
e mais voltada ao carter prtico das coisas.
Se antes o esforo narrativo se voltava mais para a demonstrao de dis-
tanciamento, a caracterstica que a autora e o pai compartilhavam, o desejo
homossexual, torna-se um ponto de partida para que sejam reveladas outras
semelhanas entre eles: (...) de certa forma pode-se dizer que o fim do meu pai
foi meu incio. Ou (...) que o fim da mentira dele foi o incio da minha verdade
(BECHDEL, 2007, p. 123).
Em mais de uma ocasio, a autora mostra, por meio de texto e dese-
nhos, como os livros foram importantes para sua formao lsbica e para
sua entrada no feminismo e atuao no movimento que ela considera como
um anestsico aps a descoberta da sexualidade do pai , foi um perodo de
despertar poltico e sexual (BECHDEL, 2007, p. 87).
Consideraes finais
Referncias
CRUZ, Eliel. How a Pornographic Lesbian Graphic Novel Ignited a Culture War at
Duke. The Huffington Post. 28 de ago. 2015. Disponvel em: <http://www.huffin-
gtonpost.com/the-daily-dot/fun-home-duke_b_8052014.html>. ltimo acesso: 26 de
mar. 2016.
Resumo
Escurido ao sol
1 O conceito de escritura queer encontra-se mais longamente explicado no meu livro O devir-darkroom
e a literatura hispano-americana (2014), especialmente no captulo Constelaes Queer ou Por Uma
Escritura da Diferena.
das luzes, enxergarmos aquilo que sempre esteve ali, mas no nos era possvel
ver. A luz, portanto, entendida como a metfora de Georges Didi-Huberman,
em Sobrevivncia dos Vagalumes (2011), enquanto a lei, a norma, o dogma, a
razo do Iluminismo ocidental, termina, alm de nos docilizar, por no nos dei-
xar enxergar os escuros do nosso tempo.
Consequentemente, como o homem contemporneo de Giorgio Agamben,
somente no apagar dessas luzes (normativas e racionais) que passamos no
s a enxergar o que antes era invisvel, mas tambm a enxergarmo-nos por
outras lgicas ou exatamente atravs da falta delas. No se trata, portanto, de
jogar luz, razo, norma, lei, ao que est escuro, mas de ver, a partir de cor-
pos-sem-rgos, as luzes do prprio escuro, as luzes que no so nem a nossa
razo e nem a nossa norma ocidental. Parafraseando Agamben, diramos que
h nos personagens de Marcelino um desejo de, ao estarem mergulhados na
escurido, perceber o presente em suas luzes e em seus escuros (2009:63). So,
portanto, narradores/personagens marginalizados e indisciplinados que pro-
pem um outro arranjo social, uma outra forma de enxergar a alteridade.
No conto, como vimos, o narrador desloca a narrativa tradicional do oci-
dente sobre esses suicidas, j que antes de se falar de morte, de suicdio e de
assassinatos, se fala de amor e de desejo, onde o ocidente s enxerga terrorismo
e violncia. Nesse deslocamento, na forma de enxergar o outro, o que Marcelino
parece nos propor que enxerguemos a Escurido ao sol (2008:31), ou seja,
aquilo que nos fica invisibilisado pelas narrativas hegemnicas ocidentais, que
so usadas para demonizar esses homens, alm de animaliz-los e distanci-los
da racionalidade ocidental. Freire constri, portanto, uma narrativa, que no
s enxerga essa alteridade de forma diferente, equiparando-os inclusive aos
cristos em sua paixo religiosa, mas que tambm prope um olhar deslocado,
uma linha de fuga, para as nossas racionalidades.
Marcelino opera, assim, um segundo deslocamento muito sutil que ver
as semelhanas entre ocidente e oriente a partir do fundamentalismo religioso
e da paixo mstica que organiza e estrutura a ambas as sociedades, para isso,
o narrador utiliza-se de uma forte intertextualidade bblica, principalmente
nos nomes dos personagens e nos paralelismos das suas histrias. Como bem
resume Snia Galvo,
a obra de Freire situa-se [...] na busca dos abismos que a regra
suprimiu, a fim de que tal estado de verdade emerja de seu estado
humilhado consegue operar milagres sem chorar, sem ter vergonha, sem perder
o controle.
Essa possibilidade desse Senhor assumir a figura fantasmtica de Deus
feita a partir da prpria grafia da palavra, visto que, quando o policial pergunta
ao padre e quando o padre se pergunta se ele no tem vergonha, a palavra
senhor est sempre iniciada com uma minscula, diferentemente da ltima
frase onde o senhor escrito com a primeira letra em maiscula.
Vejamos: no incio, a pergunta do policial O senhor no tem vergonha?
(2010:105), depois o padre se pergunta: O senhor no tem vergonha? e a res-
posta, que sugere a prpria comparao com a divindade No, o Senhor no
tem vergonha (2010:108).
Gostaramos, ento, de ler um trecho do conto a partir da ideia de terro-
rismo textual. Explico. Beatriz Preciado, terica queer, primeiramente a partir
de Roland Barthes (1990) e depois de Guy Hocquenghem (2009), diz que so
terroristas todos os textos capazes de intervir socialmente, no graas a sua
popularidade ou xito de vendas, mas graas violncia metonmica que per-
mite que o texto exceda as leis de uma sociedade, de uma ideologia ou de uma
filosofia, para criar a sua prpria inteligibilidade histrica (2009:138).
Barthes chama de violncia metonmica a justaposio num mesmo sin-
tagma de fragmentos heterogneos pertencentes a esferas da linguagem que
esto geralmente separadas pelo tabu scio-moral. Assim, se juntariam, por
exemplo, igreja, estilo rebuscado, pornografia, etc. (1990:34). Entendemos, por-
tanto, como terroristas aqueles textos que atravs dessa violncia metonmica
barthesiana terminam por confrontar a linguagem da heteronormatividade.
Essa correlao criada no conto, que explicita a hierarquia da tradio
crist entre Deus e Cristo, pode ser lida como terrorista atravs dos paralelismos
feitos entre as duas divindades e os dois pecadores. Na narrativa, atravs das
comparaes, enxergamos um Deus egosta, cujo milagre serve apenas para
escapar de uma situao criminosa, e soberbo, por sentir-se melhor do que os
humanos que se ajoelham diante dele na missa; ao mesmo tempo vemos um
Cristo frgil, que se envergonha diante da autoridade divina ao dizer que no
teria feito nada disso se soubesse que o outro era padre, mas tambm da auto-
ridade secular ao ser levado para a delegacia e chorar.
Contudo, a humanidade de Cristo, a sua fraqueza e o seu corpo que
confere ao conto o seu carter mais profanatrio, mais terrorista, para alm
da violncia metonmica barthesiana que junta nesse texto, por exemplo, sexo
oral, bosta, santo e Deus. O poder ertico da imagem de Cristo preso na cruz,
transfigurada na imagem do adolescente de pernas abertas que se deixa chupar
por um padre, profana a imagem sacra do filho de Deus, conferindo-lhe uma
humanidade que capaz de despertar em seus fiis, atravs do seu corpo des-
nudo, desejos e tentaes reprovveis para a doutrina crist.
Ao mostrar, portanto, essa potncia ertica de um corpo que deveria ser
lido exclusivamente como divino, Marcelino excede, atravs da profanao, a
ideologia crist, para revelar, assim como no conto O meu homem-bomba, o
quanto h de erotismo na paixo religiosa. Confrontando, portanto, a linguagem
religiosa e a linguagem heteronormativa ao devolver a sexualidade das duas
divindades a um sexo casual (incestuoso) feito em um beco escuro entre um
homem e um adolescente. Vejamos, para finalizar, um trecho onde o padre-
Deus fala dessa relao ertica com o corpo do adolescente-Cristo:
Entrou na minha alma como um vampiro. Rezo. Como um Cristo,
Meu Deus, no posso. Certas imagens me ameaam. Cristo e o seu
corpo. Quando pequeno, queria tocar o corpo de Cristo. Esconjuro.
O corpo perfeito. O corpo de braos aberto. Esconjuro (2010:107)
Referncias
_______. Roland Barthes por Roland Barthes. So Paulo: Estao Liberdade, 2003.
_______. O Grau Zero da Escrita Seguido de Novos Ensaios Crticos. So Paulo:
Martins Fontes, 2004.
FREIRE, Marcelino. Rasif: mar que arrebenta. Rio de Janeiro: Record, 2008.
LOPES, Denilson. O homem que amava rapazes e outros ensaios. Rio de Janeiro:
Aeroplano, 2002.
SILVA, Mauricio; COUTO, Rita (Orgs.). A misria pornogrfica: ensaios sobre a fico
de Marcelino Freire. So Paulo: Terracota, 2013.
PERFORMATIVIDADE DE GNERO EM
O PRIMEIRO HOMEM MAU
Resumo
1 Traduo minha: Se algum pensa que v um homem vestido como uma mulher ou uma mulher
vestida como um homem, ento esse algum toma o primeiro termo de cada uma dessas percepes
como realidade de gnero: ao gnero que introduzido atravs do simulacro falta realidade, e
tomado como constituinte de uma aparncia ilusria. Em tais percepes, nas quais uma realidade
ostensiva pareada a uma no-realidade, ns pensamos saber o que real, e tomamos a segunda
aparncia do gnero como mero artifcio, jogo, falsidade e iluso. Mas o que o senso de realidade
do gnero no qual tal percepo se funda desta maneira?
2 O texto The technologies of gender foi originalmente publicado em Technologies of gender. In-
diana University Press, 1987, p. 1-30. A verso utilizada neste trabalho foi retirada de Tendncias e
Impasses: o feminismo como crtica da cultura. Rocco, 1994, p. 206-242.
Referncias
ALTHUSSER, L. Aparelhos ideolgicos de Estado. 10a. ed. So Paulo, SP: Graal, 2009.
JULY, M. O primeiro homem mau. So Paulo, SP: Companhia das Letras, 2015.
SALIH, S. Judith Butler e a Teoria Queer. Belo Horizonte, MG: Autntica, 2012.
Resumo
1 Este trabalho um recorte de outro texto de minha autoria, intitulado Da masculinidade hegem-
nica s subalternas: a masculinidade lsbica em contos brasileiros contemporneos. In: Estao
Literria, v. 16, 2016, pp. 91-105.
2 Apesar de ter publicado Female masculinity como Judith Halberstam em 1998, hoje o autor iden-
tifica-se como Jack; por isso, ao longo desse texto, ser tratado como ele, mesmo constando nas
referncias como Judith.
3 claro que existem muitas outras possibilidades de casais lsbicos, os quais podem no se identifi-
car de acordo com essas categorias. No entanto, o caso butch-femme o enfoque de Butler.
segundo encontro, ele no a reconhece, pois pensa que ela um menino. Aps
passar por essa situao, Amora se observa com estranhamento no espelho:
O bon, o cabelo preso, a camiseta de banda comprida demais,
lisa, rente ao corpo, sem os relevos que outras meninas de sua
idade j tinham, a bermuda jeans rasgada, o joelho ostentando
casca de ferida, os chinelos preto emoldurando as unhas compri-
das, rachadas. Jogou o bon no cho e pensou que sem ele talvez
Jnior a tivesse reconhecido. (POLESSO, 2015, p. 152)
Referncias
________. The end of sexual difference? In: ________. Undoing gender. New York:
Routledge, 2004, pp. 174-203.
EL-JAICK, Ana Paula. Faz duas semanas que meu amor e outros contos para mulheres.
So Paulo: Edies GLS, 2008.
IRIGARAY, Luce. Speculum de lautre femme. Paris: Les ditions de Minuit, 1974
(Collection Critique).
ENCENANDO A HOMOSSEXUALIDADE:
LEITURA DA FICCIONALIZAO DE SI EM
A SEPARAO DE DOIS ESPOSOS, DE QORPO SANTO
Renata Pimentel
Doutora em Teoria da Literatura/UFPE
Professora do Departamento de Letras da UFRPE
[email protected]
Sherry Almeida
Doutora em Teoria da Literatura/UFPE
Professora do Departamento de Letras da UFRPE
[email protected]
Resumo
A literatura, enquanto arte, constitui-se espao privilegiado para a manifestao
de discursos transgressores ao discurso hegemnico de uma sociedade. Dessa
forma, ela assume importncia fundamental na construo da criticidade, bem
como na sensibilizao dos indivduos. A partir dessas consideraes, este tra-
balho apresenta uma leitura da homossexualidade na pea A Separao de Dois
Esposos de Qorpo Santo dramaturgo que viveu e produziu sua obra durante o
sculo XIX; alm de ter sido o primeiro a propor a encenao desse tema-tabu
no teatro brasileiro. Como base terico-crtica de anlise, este estudo vale-se
do conceito de ficcionalizao de si de Renata Pimentel (2011), alm do pen-
samento de Michel Foucault (1997) sobre a homossexualidade no sculo XIX.
Palavras-chave: Qorpo Santo; homossexualidade, ficcionalizao de si
Introduo
1 Importante ressaltar que iremos nos deter a especular somente o texto dramtrgico, e no sua mon-
tagem.
2 Nascido em 1829, em Triunfo (RS) fora batizado como Jos Joaquim de Campos Leo, alm de
dramaturgo, foi poeta, jornalista, tipgrafo, professor, gramtico; exerceu ainda as profisses de co-
merciante, vereador e delegado. O nome com que assina sua produo literria j aponta para uma
ironia transgressiva e j encena o paradoxo norteador de sua criao: santifica o que h de mais
carnal no humano, seu corpo escrito Qorpo de acordo com sua proposta de reformulao orto-
grfica da lngua portuguesa. De per si, essa proposta lingustica tambm uma atitude trangressiva
s normas vigentes.
3 Ver Yan Michalski (1985); Eudinyr Fraga (1988) e Flvio Aguiar (1975), respectivamente.
4 Referncia ao ttulo de uma outra pea de Qorpo Santo: As Relaes Naturais. Trata-se de uma co-
mdia em quatro atos cujos monlogos das personagens encaminham para que a ao d lugar a di-
logos sobre as relaes humanas, sendo, por vezes, impossvel estabelecer conexes convencionais
entre as personagens, significativamente dotadas de nomes que sugerem sua funo na sociedade. A
pea parece intentar conciliar as relaes naturais com a moral da poca, mas acaba por evidenciar
as tantas contradies humanas tpicas de moralismos e comportamentos que questionam o status
quo.
Qorpo Santo mostra, em suas peas, como o escritor diversas vezes dis-
tancia-se de seu ser biogrfico, criando novas conscincias, experimentando
novas vivncias, at invertendo o papel dele esperado para se fazer parte
integrante do pblico e experimentar o ver-se encenado, o ser lido.
Nesse sentido, pensemos a encenao da homossexualidade em
A Separao de Dois Esposos a partir da ficcionalizao de si efetuada por
Qorpo Santo. Encontramos, nessa pea, vrios ndices da representao da
homossexualidade.
J no segundo ato, em que o conflito ainda se d em torno do casal
Esculpio e Farmcia, possvel especular a encenao da homossexualidade.
H aspectos lexicais curiosos na fala de Farmrcia ao interpelar duas de suas
trs filhas sobre suas companhias:
Sentem-se, minhas filhas. Vocs ho de estra muito cansadas, com
fome, com saudades da mame, no ? Conta-me, Ldia, como est
a tua camarada? E voc, Idalina, h de me dizer como ficou o seu
namorado; pois eu sei que j vai gostando do primo Pedrinho! Esta
outra eu sei que no namora, nem de muitas camaradagens, por
isso eu nada pergunto a ela. (QORPO-SANTO, [s.d.]: 35)
de Idalina com homens. Corrobora essa hiptese o fato de Farmcia dizer que
no perguntar nada a Plnia, a terceira filha, por no ter ela nem camaradas
nem namorados.
Por sua vez, o terceiro ato traz mais claramente o tema da homossexuali-
dade, ou mais precisamente, vemos o casal homossexual discutindo sua relao
Tatu e Tamandu. A comear pela rubrica (Note-se: estas figuras devem ser
as mais exticas que se pode imaginar), na qual se percebe a preocupao do
dramaturgo em caracterizar as personagens de maneira a causar estranheza aos
espectadores. Isso permite especular a marcao do esterertipo da diferena
na esttica homossexual aqui prxima do que se pode nomear como queer,
estranho, extico.
H ainda os vrios momentos de demonstraes de afeto (verbais e ges-
tuais) entre Tatu e Tamandu:
TAMANDU (...)Agradecido, senhor Tatu, eu sou todo seu. Venha
de l um abrao (abraam-se).
Consideraes Finais
Referncias
GUNOUN, Denis. A exibio das palavras: Uma ideia (poltica) do teatro. Rio de
Janeiro: Teatro do Pequeno Gesto, 2003.
MICHALSKI, Yan. O teatro sob presso: uma frente de resistncia. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar Editor, 1985. p. 36.
GT 26 - Literaturas e LGBTTs.
Resumo
Introduo
Do espao biogrfico
Da homocultura
Com isso, o filsofo aponta para uma busca por lugares mveis de sen-
tido, em vez de enquadramentos ao que predominantemente unicultural. Esse
processo demonstra-se fundamental, pois implica no abandono, por sujeitos
que esto margem, de posturas e discursos daqueles que esto ao centro.
Tambm nesse vis, outro autor contribuiu para nossa pesquisa. Trata-se
de Didier Eribon (2000), quando ao tratar de identidade enquanto um espao
de contestaes e de conflitos polticos e culturais. Ele pontua:
A criao de uma identidade permite orientar a vida de pessoas
e grupos. [] As identidades gays e lsbicas so estratgias de
defesa destinadas a proteger os homossexuais da sociedade que
os ataca. Elas definem espaos sociais e simblicos de interao,
alm de serem guia para o desenvolvimento pessoal desses sujeitos
(ERIBON, 2000, p. 9, traduo nossa).
Grosso modo, o que Eribon nos comunica que a ordem social determina
a esses indivduos um status inferiorizado, o que interfere em profundidade
na sua personalidade e mesmo na sua identidade. justamente a que entra o
papel de processos culturais que abranjam, em suas relaes, sistemas simbli-
cos e significados referentes ao contexto homossexual.
Em suma, o que chamamos aqui de homocultura trata-se de um lcus
onde se estabelece uma rede de conversaes e mobilizam-se o respeito e
os direitos das ditas minorias sexuais. , na verdade, um enfrentamento, uma
subverso ao sistema hegemnico, a fim de dar voz s diferentes experin-
cias sexuais, tanto na realidade, como na fico (Cf. BENTO; GARCIA; LOPES,
2004).
Consideraes finais
Referncias
BARCELLOS, Jos Carlos. Vejam o que fizeram com a Scarlett: cones femininos
no universo cultural gay. In:______. Literatura e homoerotismo em questo. Rio de
Janeiro: Dialogarts, 2006. p. 422-437.
BARTHES, Roland. Roland Barthes por Roland Barthes. So Paulo: Estao Liberdade,
2003.
BENTO, Berenice; GARCIA, Wilton; LOPES, Denilson; ABOUD, Srgio (Orgs.). Imagem
& diversidade sexual: estudos da homocultura. So Paulo: Nojosa Edies, 2004.
FOUCAULT, Michel. O triunfo social do prazer sexual: uma conversao com Michel
Foucault. O sistema finito diante de um questionamento infinito. A escrita de si.
In:______. tica, sexualidade e poltica. Org. Manoel Barros da Motta. Trad. Elisa
Monteiro, Ins Autran Dourado Barbosa. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitria,
2010. p. 119-125; p. 126-143; p. 144-162.
MITIDIERI, Andr Luis. Biografemas homoculturais de Eva Pern no romance Santa Evita,
de Toms Eloy Martnez. In: MITIDIERI, Andr Luis; CAMARGO, Flavio Pereira (Org.).
Literatura, homoerotismo e expresses homoculturais. Ilhus: Editus, 2015. p. 41-75.
SILVA, Antonio de Pdua Dias da. Uma visada sobre a construo discursiva em
torno da literatura de temtica homoertica. In: ARANHA, Simone Dlia de Gusmo;
PEREIRA, Tania Maria Augusto; ALMEIDA, Maria de Lourdes Leandro (Org.). Gneros
e linguagens: dilogos abertos. Joo Pessoa: EduFPB, 2009. p. 95-107.
GT 26 - Literaturas e LGBTTs.
Resumo
Introduo
Essa perspectiva de variao das identidades feita por ele para os ideais
de nacionalidade, mas pode ser ampliada na medida em que alcana a forma-
o do processo identitrio no apenas pelas fronteiras geogrficas, mas pelas
sociais, culturais, sexuais, dentre outras e que no se do de maneiras iguais,
podendo, portanto, ser aplicado tambm aos sujeitos homoerticos. Tal pro-
cesso pode ser entendido tambm como identificao:
Na linguagem do senso comum, a identificao construda a
partir do reconhecimento de alguma origem comum, ou de carac-
tersticas que so partilhadas com outros grupos ou pessoas, ou
ainda a partir de um mesmo ideal. em cima dessa fundao que
ocorre o natural fechamento que forma a base da solidariedade e
da fidelidade do grupo em questo. (HALL, 2014, p.106)
1 A Rebelio de Stonewall foi uma manifestao de resistncia contra as aes policiais que agrediam
constantemente os homossexuais em suas aes. O nome se deu a partir do episdio ocorrido em ju-
nho de 1969 no qual vrias travestis foram violentadas e presas no bar Stonewall Inn, em Manhattan,
Nova Iorque. Esse episdio marcou o incio das lutas pela liberdade das diversidades sexuais devido
a sua repercusso e notoriedade.
ainda que positivas, privilegiavam algumas categorias, como o caso dos gays
diante dos demais, tanto que por muitos anos e nos dias atuais ainda so usadas
expresses como movimento gay ou luta gay, desprezando os/as demais.
Isso influenciou na viso social sobre os sujeitos e internamente no movimento
de luta contra as opresses, tanto que vrias pessoas se consideraram no inclu-
das e vm questionando, constantemente, os privilgios e opresses.
Assim, verifica-se no processo de formao identitria ps-moderno a cria-
o de diferenas muito maiores, nas quais o sujeito no se sente pertencente a
certo grupo a partir do momento que a sua vivncia, opresso ou invisibilidade
so maiores ou menores.
Com tais construes, criam-se espaos e padres normalizados, ou seja,
que vo se tornando normal vista daqueles que so menos diferentes e mais
prximos do considerado ideal. Nascem, assim, os estranhos.
Os estranhos exalaram incerteza onde a certeza e a clareza deviam
ter imperado. Na ordem harmoniosa e racional prestes a ser consti-
tuda no havia nenhum espao no podia haver nenhum espao
para os nem uma coisa, nem outra, para os que se sentam
escarranchados, para os cognitivamente ambivalentes. (BAUMAN,
1998, p. 28)
dela, ele a delineia com ironia e desconfiana. Na primeira descrio, ele narra
com surpresa a imagem da travesti:
Por que as travestis se parecem comigo, pensei, Estrela era mais
velha do que eu tinha imaginado, cheguei a apostar que fosse ela
uma garota, sei l, os peitos ainda estivessem no lugar, as roupas
fossem mais modernas, no entanto ela era uma dama, uma cantora
de rdio, enfeitada de plumas, subia as mos ao cu, mostrava os
anis, os colares magnficos, as falsas prolas. (FREIRE, 2013, p. 48)
Ainda que ele reconhea semelhanas entre eles, pela idade, ele trata de
descaracteriz-la de alguma forma:
[...] e Estrela veio, antes chegou at mim o seu cheiro de perfume,
seguido do brilho do vestido, cafona, que a apertava por inteiro,
pus em sua mo uma tima quantia e fui logo, firme, direto na veia,
sem arrodeios, eu sou amigo de Ccero. (FREIRE, 2013, p. 49)
Consideraes finais
A obra traz um narrador que marca, por meio de suas descries, a sua
posio de sujeito e diferenciao dos outros que ele distancia ou considera
estranhos. Fora ele mesmo e Carlos, as outras personagens homoerticas so
julgadas por um olhar normativo e social, marcando a sua posio de, apesar de
gay, bem sucedido profissionalmente, premiado, rico e cisgnero.
Ao final, j na ida para Pernambuco e prestes a descobrir que ele tam-
bm estava morto, Heleno observa nas areias das praias do Recife os garotos
e assume seu arrependimento sobre como tratou todos aqueles com quem se
relacionou:
No h diferena entre mim e essa legio de alemes, espanhis,
argentinos, pesado, de culpa, eu me ofendo e sujo, para isso a
morte de Ccero serviu, para que eu tomasse conscincia do uso
que eu fiz, dorsos nus, jovens putos, venda, como uma mercado-
ria, exposta, eu sinto pena de mim, diante da orla, anoitecendo, me
confesso e me arrebento [...].(FREIRE, 2013, p.112)
Entretanto, tal afirmao s refora a viso social dos outros que Heleno
apresenta. E como objetos menos humanos que ele mesmo, com seu preo
marcado, reforando a teoria:
Os estranhos so pessoas que voc paga pelos servios que elas
prestam e pelo direito de terminar com os servios delas logo que
j no lhe tragam prazer. Em nenhum momento, realmente, os
estranhos comprometem a liberdade do consumidor de seus servi-
os. Como o turista, o patro, o cliente, o consumidor dos servios
est sempre com a razo: ele ou ela exige, estabelece as normas
e, acima de tudo, resolve quando o combate principia, e quando
acaba. Inequivocadamente, os estranhos so fornecedores de pra-
zeres. (BAUMAN, 1998, p.41)
Referncias
___________ Quem precisa de identidade? In: SILVA, Thomaz Tadeu da; HALL,
Stuart; WOODWARD, Kathryn. Identidade e diferena: a perspectiva dos Estudos
Culturais. Petrpolis: Vozes, 2014.
Renata Pimentel
Doutoras em Teoria da Literatura/UFPE
Professoras do Departamento de Letras da UFRPE
[email protected]
Sherry Almeida
Doutoras em Teoria da Literatura/UFPE
Professoras do Departamento de Letras da UFRPE
[email protected]
GT 26 - Literaturas e LGBTTs.
Resumo
Introduo
Afinal, estamos num pas onde o mais importante freqente-
mente o mais mascarado. (Joo Silvrio Trevisan)
Consideraes finais
Referncias
CARDOSO, Lcio. Dirio Completo. Rio de Janeiro, Jos Olympio, 1970. CHIAPPINI,
Lgia M. Leite. O Foco narrativo. So Paulo, tica, 1991.
Resumo
Introduo
LGBTT, naquele pas, conforme apontam Mauro Vieira e Rafael Porto (2015).
VIEIRA e PORTO (2015, 170) mencionam que, em maio de 2012, em sua cam-
panha reeleio, o presidente Barack Obama tornou-se o primeiro presidente
dos Estados Unidos em exerccio a posicionar-se favorvel ao casamento civil
homoafetivo.
No Brasil, em 7 de junho de 2015, foi realizada a 19 Parada do Orgulho
LGBTT em So Paulo (considerada uma das maiores manifestaes do mundo
pelos direitos de lsbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgneros).
Cerca de dois milhes de pessoas participaram da passeata, segundo estimativa
de organizadores ( http://g1.globo.com 07/06/2015). Durante a manifestao,
conforme reportagens, o primeiro trio eltrico circulava com uma faixa com
a mensagem Fora Cunha, em meno ao ento presidente da Cmara dos
Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que defende pautas conservadoras e
contra minorias, como a criao do Dia do Orgulho Heterossexual. Na vs-
pera, em 6 de junho de 2015, foi realizada, em So Paulo, a 13 Caminhada das
Lsbicas e Bissexuais, que j protestaram contra a discriminao sexual.
Alm de grandes manifestaes como as paradas e caminhadas (no ape-
nas de So Paulo, mas de vrias capitais e outras cidades do Pas), no Brasil, j
tivemos a realizao do 8 Senale (Seminrio Nacional de Lsbicas) em 2004,
do 1 Encontro Nacional de Arte e Cultura LGBT - realizado em 2014 , da 1,
da 2 e da 3 Conferncia Nacional de Polticas Pblicas de Direitos Humanos
para Lsbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais respectivamente, em
2008, 2011 e 2016, em Braslia. Essas aes, entretanto, no se traduziram em
lei contra a homofobia, em lei pelo casamento civil igualitrio (em 2013, o Pas
passou a ter uma deciso do Supremo Tribunal Federal que garante o casa-
mento entre pessoas do mesmo sexo) ou em polticas pblicas pela igualdade,
a partir da Comunicao e da Educao.
Em junho de 2015, a revista Cult publicou um Dossi Ditadura
Heteronormativa: A cultura que insiste em no reconhecer e aprender com as
diferenas sexuais e de gnero. Nele, Leandro COLLING (2015: 22, 23) escreve
que tomada como padro na sociedade, a heterossexualidade promove no
apenas a violncia fsica, mas tambm a violncia simblica contra os que se
desviam dessa norma. O pesquisador lembra que em geral, usamos o conceito
de homofobia para descrever qualquer atitude e/ou comportamento de repulsa,
medo ou preconceito contra os homossexuais. A homofobia no se restringe
apenas s violncias fsicas, mas tambm s variadas violncias simblicas
Consideraes finais
Referncias
VIEIRA, Mauro e PORTO, Rafael. Avanos na promoo, no mbito federal, dos direitos
de pessoas LGBT nos Estados Unidos. In: MINISTRIO DAS RELAES EXTERIORES,
GOVERNO FEDERAL. Mundo Afora: Polticas de combate violncia e discrimina-
o contra pessoas LGBT. Braslia, 2015, n. 12, p. 170-184.
Resumo
Introduo
que est a sua volta. Em geral, caf com leite sempre o irmo caula de
algum da turma de brincantes.
Quando Lucas pede para Marcus fazer seu leite, o pedido muito maior
do que um misturar de lquido, e sim uma necessidade de ateno, afeto que
se transferiu dos pais para o irmo. neste momento que percebemos o quanto
Danilo no estava preparado para essa realidade. Ao esquentar o leite no micro-
-ondas, ele perde o ponto e o deixa quente demais. Esta a deixa para uma
das cenas finais, em que Danilo experimenta vrios nveis de temperaturas em
vrios copos de leite at encontrar o que mais agrada ao irmo, apontando que
ele est se esforando para compreender a nova realidade, a nova famlia.
Danilo no sabe a srie que o irmo cursa, apontando um abismo na
relao entre os dois e reforando o quo difcil est sendo para ambos lidarem
com a situao. O roteiro exclui Marcus de parte dos primeiros seis minutos do
curta. A ausncia do namorado nos faz direcionar o olhar para relao entre os
irmos, para que ao retornar para a trama percebamos como Danilo acredita
na possibilidade de uma relao em que os trs convivam, revelando assim a
emergncia de um novo ncleo familiar.
A passagem de tempo, representada pelo consumo de caixas de leite
dispostas na dispensa, traz Marcus de volta trama e, j na primeira cena,
demonstra a fragilidade da relao entre ambos aps a morte dos pais de
Danilo. Marcus tenta se adaptar, mas, por limitaes bvias, j que a ruptura
do estilo de vida que levava com o namorado brusca, encontra dificuldades.
neste ponto que percebemos que o diretor apresenta a homossexualidade
como coadjuvante, que faz parte dos indivduos, e no faz disso um drama
principal, ou seja, seus dramas so outros que vo alm da aceitao da pr-
pria sexualidade e dos estigmas sociais que isso representa. Daniel lana um
outro olhar sobre o cinema produzido com histrias que envolvem personagens
homossexuais.
A nova realidade de Danilo o faz abdicar de uma viagem que faria ao lado
do amado Marcus, planejada antes da tragdia. Ao perceber as dificuldades
que se apresentam, Marcus decide viajar sozinho. Com a viagem do namo-
rado, Danilo encontra na companhia do irmo o afeto familiar necessrio em
momentos de ruptura, ainda que tal ruptura parea temporria, j que Marcus
deve voltar.
Consideraes finais
Referncias
SILVA, Tomaz Tadeu da. A produo social da identidade e da diferena. In: SILVA,
Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e diferena: a perspectiva dos estudos culturais.
Petrpolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2000. p. 73-102.
1 Este artigo constitui um desdobramento de outro, mais amplo, intitulado A sexualidade na poesia
diasprica brasileira: traduo comentada de poemas selecionados de Natan Barreto, concebido
como trabalho de ps-doutoramento, ainda indito, sob a superviso da profa. Else R. P. Vieira, do
Queen Mary College da Universidade de Londres, instituio com a qual o Programa de Ps-gra-
duao em Letras: Estudos Literrios da Universidade Federal de Juiz de Fora mantm parceria de
colaborao em pesquisa acadmica, atravs do projeto interinstitucional Entre-lugares da literatura
da dispora brasileira (<http://pelomundobrasil.blogspot.com.br/>), patrocinado pela CAPES. Com
o corrente texto, porm, nos restringimos to somente ao mote temtico em pauta sexualidade ,
por entendermos que a condio diasprica do autor resulta irrelevante nesta oportunidade.
Referncias
NO ME INCOMODA, MAS...
Resumo
Introduo
4 Por que a gente te incomoda? - Semana de Combate LGBTTIfobia. Disponvel em: <https://www.
facebook.com/souUFJF/photos/?tab=album&album_id=1172091196155566>. Acesso em 12 de jul
de 2016.
5 Somos como voc. Por que a gente te incomoda?. Disponvel em: <https://www.facebook.com/
souUFJF/videos/1172100262821326/>. Acesso em 12 de jul de 2016.
Consideraes finais
Referncias
HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: a gramtica moral dos conflitos sociais.
Ed34, 2003.
HONNETH, Axel. Luta pelo Reconhecimento: para uma gramtica moral dos con-
flitos sociais. Ed. 70, 2011.
SILVA, JP da. Teoria crtica na modernidade tardia: sobre a relao entre redistribuio
e reconhecimento (verso preliminar). Texto apresentado no GT25 Teoria Social e a
Multiplicidade da Modernidade do XXIX Encontro Anual da ANPOCS. Caxambu, 2005.
Resumo
O objetivo deste artigo apresentar uma anlise sobre o conto de Caio Fernando
Abreu, intitulado Tera-feira gorda (1982) e os alcances literrios dessa vertente
homoertica, bem como as problematizaes que vem sendo apresentadas
na atualidade. Sabendo que a literatura se apresenta como frtil terreno para
pensar questes relacionados ao corpo, sexualidade e gnero, abordado ser,
um conto contemporneo e de vertente homoertica. Atravs de leituras sobre
o contedo abordado e buscando auxilio terico em escritores que tratam
homoerotismo, violncia e literature, pretende-se analisar o conto e os aspectos
homoerticos presentes na narrativa, bem uma anlise comentada da obra em
questo.
Palavras-chave: Literatura; Caio Fernando Abreu; Tera-feira gorda;
Homoerotismo.
Introduo
Referncias
ABREU, Caio Fernando. Morangos mofados. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2009.
BATAILLE, George. O erotismo. Trad. Joo Brnard da Costa. Lisboa: edies
Antgona,1988.
CANDIDO, Antnio. Literatura e sociedade. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul. 2008.
204 p. COSTA, Jurandir Freire. Violncia e psicanlise. Rio de Janeiro: Edies Graal.
2003. 249 p. JUNIOR, Arnaldo Franco. Intolerncia Tropical: Homossexualidade e
violncia em Tera-feira gorda, de Caio Fernando Abreu. Revista do Centro de Artes
e Letras. Santa Maria: UFSM, (1), jan/jun. 2000.
PORTO, Ana Paula Teixeira; PORTO, Luana Teixeira. Caio Fernando Abreu e uma
trajetria de crtica social. Revista Letras, Curitiba, n. 62, jan. /abr. 2004. Editora UFPR.
Resumo
O presente trabalho tem por objetivo analisar o filme Todo sobre mi madre
(1999), do cineasta espanhol Pedro Almodvar, com foco principal na per-
sonagem travesti Agrado. Aps percorrer o universo flmico de Almodvar,
observando suas caractersticas sempre buscando referncias voltadas ao corpo
e gnero, permeamos os estudos feministas de gnero, a partir dessas teorias
levanta-se a discusso a respeito de gnero, corpo e construo do sujeito,
embasados na teoria feminista e teorias sobre o gnero. O artigo prope uma
reflexo sobre a importncia de se analisar essas experincias de margem para
que possam renovar as teorias feministas e de gnero.
Palavras-chave: diversidade; sexualidade; corpo; gnero; cinema; Pedro
Almodvar; Todo sobre mi madre (1999).
1 Professora graduada pela Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, UEMS/Campo Grande,
tutora da Ps graduao a distncia da Universidade Catlica Dom Bosco, UCDB. E-mail:moraima.
[email protected].
2 Professor adjunto da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul, UEMS/Campo Grande, na rea
de Lngua e Literaturas de Lngua Espanhola, na Graduao em Letras, bem como no Mestrado
Acadmico em Letras. Tem experincia na rea de Letras, com nfase em literaturas de expresso
hispnica e literatura comparada assim como, tambm, tem interesse nos seguintes temas: questes
de gnero, subalternidade, homoerotismo e literatura gay.
Introduo
3 Os movimentos feministas so, sobretudo, movimentos polticos cuja meta conquistar a igualdade
de direitos entre homens e mulheres, isto , garantir a participao da mulher na sociedade de forma
equivalente dos homens. Alm disso, os movimentos feministas so movimentos intelectuais e
tericos que procuram desnaturalizar a ideia de que h uma diferena entre os gneros. No que se
refere aos seus direitos, no deve haver diferenciao entre os sexos. No entanto, a diferenciao
dos gneros naturalizada em praticamente todas as culturas humanas. http://www.infoescola.com/
sociologia/feminismo/.
alegrias, cada histria vai tomando seu desfecho, s vezes interligados, aos pou-
cos Almodvar traa princpios ligados ao corpo e gnero.
O filme conta a histria de Manuela que trabalha no setor de doao de
rgos em um hospital em Madri e mora com seu nico filho que morreu no
dia em que completava dezoito anos. Manuela cai em uma profunda depres-
so, ento resolve viajar de volta para Barcelona, cidade de onde partiu grvida.
L ela reencontra Agrado travesti que se prostituta na zona de meretrcio da
cidade, ela tenta recomear sua vida sem o filho. Neste tempo, conhece a Irm
Rosa, freira que trabalhava fazendo servio social com portadores do vrus HIV,
no entanto a Irm se descobre grvida e com vrus HIV. Manuela entra em
contato com uma, atriz de teatro de quem seu filho era f, e que est ligada
sua morte: o jovem morreu no dia de seu aniversrio, ao ser atropelado quando
tentava conseguir um autgrafo de uma na sada do teatro. Uma encena uma
pea chamada Um bonde chamado desejo e vive um drama com sua parceira
de palco e amante que tem problemas com drogas. Em Barcelona, Manuela
reencontra o pai de seu filho que por ventura tambm travesti e pai do filho
da Irm Rosa, uma travesti doente debilitada quase no fim da vida.
Como a opo de personagens e temas vasta, me delimitei apenas a
analisar apenas um, a travesti Agrado, observando sempre aspectos que reme-
tam ao corpo e gnero.
A personagem Agrado, de certa forma, acaba se sobressaindo no filme,
pois muito divertida e gosta muito de falar sobre o seu corpo. Todo lo que
tengo de real son mis sentimientos y litros de silicona que pesan toneladas.
O ponto auto de sua personagem quando sobe ao palco para avisar que a
apresentao havia sido cancelada, sendo assim ela tomou o palco pra si e para
divertir a platia comeou a contar-lhes sua histria que a fazia a mais autntica
de todas. Prende a ateno do pblico falando do prprio corpo:
Bona nit4. Por causa ajenas a su voluntad, dos de las actrices que,
diariamente triunfan sobre este escenario, hoy no pueden estar
aqui, pobrecillas! As que se suspende la funcin. A los que quie-
ram se les devolver el dinero de la entrada. Pero los que no tengis
nada mejor que hacer, PA una vez que vens AL teatro ES una pena
que os vayis. Si os quedais yo prometo entreteneros contndoos
la historia de mi vida. Adis, l siento; Si les aburro hagan como
Consideraes finais
Uma obra de Almodvar no uma tarefa muito fcil de ser analisar. Por
ser um cineasta de uma grande magnitude, seus filmes sempre trazem um car-
ter cmico ou dramtico, no entanto, sempre voltado por uma questo social
Referncias
AMANN, Herausgegeben V.K. Pedro Almodvar Todo sobre mi madre Guin origi-
nal. ISBN 13:978-3-15-009135-7. p.207. 2005.
HAOULI, Janete El. A voz de Almodvar. In: Urdiduras e Sigilos: Ensaios sobre o
cinema de Almodvar. So Paulo. 2 Edio Revisada. p.85-93. 1996.
Resumo
Introduo
vez por semana, contra 59% da mdia mundial. Esses dados demonstram a
importncia dessas redes para a comunicao de brasileiros e, evidenciaremos
sua importncia tambm na metodologia de pesquisa.
Contextualizando as Pesquisas
primeira pesquisa apresentada, a busca por colaboradores foi iniciada por uma
rede de contatos pessoais, resultando no encontro dos sujeitos gay e lsbica,
que tiveram toda a comunicao durante o processo de apresentao da pes-
quisa e marcao da entrevista atravs do Whatsapp, facilitando a troca de
informaes e at o aceite em participar.
Desde o incio desse estudo foram utilizados sites e redes sociais online
para discutir e conhecer mais sobre a diversidade sexual e de gnero. O acesso
aos sites destinados ao pblico LGBT elucidou perspectivas da dinmica social
que a internet proporcionava a esse grupo. Muitas vezes, os sujeitos se coloca-
vam anonimamente nesses espaos virtuais, por temerem qualquer manifestao
de preconceito contra sua identidade. Deste modo, foi importante fazer parte
de vrios grupos e pginas da rede social Facebook para buscar mais informa-
es correlacionadas pesquisa.
As pginas so, comumente, perfis institucionais, ou seja, ligados a alguma
instituio acadmica ou movimento social. Dentre elas, destacamos: Eleies
HoJE - Homofobia J Era, Una-se Contra a Homofobia, Gudds! - Grupo
Universitrio em Defesa da Diversidade Sexual, Homofobia No e Nuh
Educao Sem Homofobia.
Esses perfis so importantes para difundir notcias tanto polticas, quanto
acadmicas e sociais ligadas aos sujeitos LGBT. Alm disso, um espao para
divulgar eventos, como: debates, manifestaes e congressos sobre a identidade
de gnero e orientao sexual.
De forma semelhante os grupos do Facebook tambm contriburam
nesse processo, dentre eles o ENUDS grupo pertencente aos participantes
do Encontro Nacional Universitrio de Diversidade Sexual , LGBT Brasil,
Grupo de Estudos de gnero, feminismos e teorias queer, ABEH - Associao
Brasileira de Estudos da Homocultura, Ato Anti-Homofobia e RESPEITO
GAY. Todos esses so visveis ao pblico da rede social, porm alguns depen-
dem de um aceite do moderador para a participao.
A diferena das pginas para os grupos est na possibilidade de discus-
so de seus participantes. No primeiro, h um intuito informativo maior, j no
segundo o espao de discusso por meio de postagens e comentrios mais
relevante, nos atualizando das informaes ligadas temtica da pesquisa.
Esses grupos trouxeram a possibilidade de buscar pelos sujeitos transe-
xuais. Com mensagens explicativas sobre o motivo da pesquisa e a garantia
da preservao da identidade desses sujeitos, recebemos algumas repostas.
Consideraes finais
Referncias
ERICSSON. Ericsson: Brazilians Exchange more instant messages per week than the
global average. PRESS RELEASE. 2016. Disponvel em: <http://www.ericsson.com/res/
region_RLAM/press-release/2016/2016-05-03-infocom-en.pdf>. Acesso em: 20 jun.
2016.
Rodrigo Cruz
Mestre em Cincias Sociais Unifesp
Universidade de Lisboa; Acervo Bajub
[email protected]
Resumo
1. Introduo:
apenas na Zona Sul do Rio de Janeiro, mas aps ter causado burburinho na
grande mdia, a revista alcanou repercusso nacional, tornando-se a publica-
o direcionada ao pblico homossexual de maior impacto desde o Lampio
da Esquina, tabloide editado na virada dos anos 1970 para os 1980. Lanada
no bojo da popularizao do conceito mercadolgico GLS (gays, lsbicas e
simpatizantes, idealizado pelo empresrio Andr Fischer, do Mercado Mundo
Mix e do Festival de Cinema Mix Brasil), a Sui Generis se destacava por focar
na produo de contedo sobre cultura, moda e comportamento, fugindo da
pornografia predominante nas revistas homoerticas em circulao. Outra novi-
dade era a aposta na valorizao do sentimento de auto estima do leitor, com
artigos e reportagens que buscavam reforar a necessidade de sair do armrio,
tomar posio frente ao preconceito e mostrar-se orgulhoso em relao pr-
pria homossexualidade.
Conforme frisa Monteiro (2002), a Sui Generis assumiu, nesse sentido,
uma certa militncia de mercado, no apenas por trabalhar a autoestima dos
leitores e divulgar um certo estilo de vida gay que florescia no Brasil dos anos
1990, mas tambm por fazer o registro dessa nova etapa do movimento LGBT,
cuja expresso mais vibrante eram as Paradas do Orgulho que se disseminavam
pelo pas. Este artigo prope investigar, por meio de registros historiogrficos da
comunidade LGBT, os diversos significados polticos das Paradas do Orgulho
entre os anos de 1995 e 2000. A pesquisa se apoia na anlise de matrias
jornalsticas, entrevistas e artigos publicados na revista Sui Generis no perodo
supracitado.
Significado Poltico
Nome da Apresentao da Repor-
Edio Pgina da marcha, parada ou
Reportagem tagem
passeata
A Associao brasilei- A passeata referencia-
ra de Gays, Lsbicas e Reportagem da coluna da como o ato poltico.
Travestis foi aprovada em contraponto com regis- As imagens mostram a
Ed. 3 8 e 9 meio polmica durante tros de fotos da passeata presena marcante de
o I Encontro Brasileiro que ocorreu em fevereiro organizaes que traba-
de Gays e Lsbicas, em de 1995. lhavam na preveno
Curitiba. Aids.
Fala-se em um reflores-
cimento do movimento
A reportagem apresenta o
homossexual, que se
cenrio no Rio de Janeiro
expressaria pelo nmero
Ed.4 20-22 Pride in Rio em meio a 17a Confern-
de grupos organizados
cia Mundial da
no Brasil e na criao da
ILGA.
Associao Nacional de
Gays e Lsbicas.
A edio traz registros
A coluna contraponto fotogrficos da Marcha
celebra o sucesso da 17a pela Cidadania Plena de
conferncia da ILGA no Gays e Lsbicas. Neles
Visibilidade para quem quesito visibilidade. A observa-se a presena de
Ed. 5 8-9
precisa coluna tambm denncia polticos como Fernando
a cobertura desigual dos Gabeira e Marta Suplicy,
quatro maiores jornais de alm de faixas de mes
circulao nacional. e pais de gays e lsbicas
saindo do armrio.
As imagens com diferen-
tes atores que compem
a parada (pessoas com
Registros fotogrficos da faixas, drag queens,
Parada nova-iorquina de pessoas fantasiadas,
1995 para convocao sadomasoquistas, mu-
da Parada em comemo- lheres lsbicas com seios
Ed. 13 40-41 Orgulho tem cara
rao ao dia do Orgu- desnudos) explicitam a
lho Gay e Lsbico que amplitude dos repertrios
ocorreria no dia 30/06 de ao coletiva, que
em Copacabana. podem variar entre aes
de protesto tradicionais
e performances mais
irreverentes.
A reportagem celebra a
maior receptividade das
A reportagem ressalta a
paradas por todo o pas.
mobilizao de setores
A parada de So Paulo
no-gays na parada. A
alcana a marca de 7 mil
Igualdade, liberdade e pelada (jogo de fute-
Ed. 34 40-41 participantes, conforme
festa bol) com drag queens
a organizao. H ainda
apontada como uma
registros narrativos das
ao poltica de visibili-
paradas de Salvador,
dade.
Porto Alegre, Curitiba e
Braslia.
A estratgia da visibili-
Matria debate a questo
dade debatida: No
da visibilidade de gays e
Ed. 41 27-33 A invaso do bizarro podemos promover a
lsbicas na mdia, frente
visibilidade a qualquer
a difuso da cultura gay.
preo (...).
A matria chama a aten-
o para a pluralidade
de atividades realizadas
durante a celebrao do
Programao nacional
Orgulho de Gays e Ls-
para celebrao do Dia
30 anos, mas com corpi- bicas em vrias cidades:
Ed. 45 40-41 Internacional do Orgulho
nho de 16, t? beijaos, missas em ho-
de Gays e Lsbicas.
menagens s vtimas da
Aids, alas temticas nas
Paradas, shows, passeios,
audincias pblicas e
conferncias.
O ensaio fala sobre a es-
tratgia por trs das para-
Ensaio crtico sobre a das: sem renunciar a mili-
Festa poltica e cidadania banda de Ipanema e a tncia, mas incorporando
Ed. 46 66
GLT marcha pelos pela cida- a festividade e conjugan-
dania de gays e lsbicas. do aes de visibilidade
com a autoafirmao dos
sujeitos.
3. Consideraes Finais:
A revista Sui Generis traz a cultura gay como nova forma de fazer poltica,
uma forma de afirmar uma comunidade com identidade, com aliados, com his-
tria, que produz cultura e que tem orgulho disso. A propagao das culturas
musicais da noite gay, como clubber e techno, aparece na revista como pano de
fundo do processo de expanso da comunidade. Em 1997, na semana seguinte
primeira Parada de So Paulo, aconteceu tambm a primeira parada de msica
eletrnica brasileira, intitulada 1 Parada do Amor de So Paulo (Fischer, 1997).
Diferente da Parada do Orgulho, a Parada do Amor no era organizada por ati-
vistas, mas por uma produtora que, em articulao com cenrio nascente dos
clubes de msica eletrnica e moda alternativa de So Paulo, tentava criar no
Brasil um evento semelhante Love Parade alem, que acontecia desde 1989.
Tal qual a Parada alem, a verso brasileira se afirmava a partir de valores da
diversidade e cultura de paz, tanto que ano seguinte se uniu a uma campanha
de desarmamento promovida por movimentos estudantis e passou a se chamar
Parada da Paz. A afirmao da diversidade, a valorizao da criatividade contra
Referncias Bibliogrficas
Fischer, Andr (1997). Paradas param tudo. Revista da Folha, 06 de julho de 1997, 60.
MONTEIRO, Marko. O homoerotismo nas Revistas Sui Generis e Homens. In: SANTOS,
Rick; GARCIA, Wilton. A Escrita de Ad: perspectivas tericas dos estudos gays e les-
cic@s no Brasil. So Paulo: Xam, 2002, p.275-290.
Resumo
Introduo
Mtodo
1 Vlogs a abreviao do termo video blogs, que so videoclipes geralmente curtos (de 2 a 10 mi-
nutos) protagonizados e produzidos por uma pessoa e compartilhado virtualmente (Raun, T., 2010
p.85).
2 Compreendido aqui como processo de mudanas fsicas e emocionais pelas quais pessoas que se
identificam com outro gnero, que no o designado em seu nascimento, experienciam quando assu-
mem o gnero com o qual se identificam e as caractersticas sociais que este apresenta.
Consideraes finais
Referncias
BARDIN, Laurence. Anlise de contedo (L. de A. Rego & A. Pinheiro, Trads.). Lisboa:
Edies 70, 2006. (Obra original publicada em 1977).
BORNSTEIN, Kate. Gender outlaw: On men, women, and the rest of us. New York:
Vintage Books, 1995.
BORNSTEIN, Kate, & BERGMAN S. Bear. Gender outlaws: The next generation.
Berkeley, CA: Seal Press, 2010.
Gray, David. Pesquisa no mundo real. 2. ed. Porto Alegre: Penso, 2012.
Fernando Henrique
Graduando em Cincias Sociais Aplicadas - Direito
Universidade Federal de Uberlndia (UFU)/FAPEMIG
[email protected]
Resumo
Introduo
1 Quando me referir, daqui para frente, ao Brevirio de Pornografia Esquisotrans para as pessoas do
avesso, o farei de forma abreviada. Empregarei apenas o termo Brevirio.
2 BORGES; BENSUSAN, 2010, p. 57
3 Ibidem, p. 13
4 BATAILLE, 2004, p. 91
5 BORGES; BENSUSAN, 2010, p. 13
6 BENSUSAN, 2013
7 Idem.
8 Essa noo de denncia me foi apresentada pela Lila Monteiro, em uma de nossas conversas de
depois do almoo, nuns banquinhos prximos ao bloco 1B, da Universidade Federal de Uberlndia
(UFU), e entre os olhares dos meninos das engenharias e os ataques das abelhas.
9 DELEUZE; GUATTARI, 2010, p. 11
10 FOUCAULT, 2015, p. 16
A Teoria Queer se atenta a esses corpos. Ela surgiu no comeo dos anos
1980, e aponta para o fim dos conceitos de heteronormatividade, homoafe-
tividade, masculino e feminino, e abarca a excentricidade do sujeito em seu
modo mais radical. Queers querem o fim da diviso binria do gnero, o fim
da polaridade entre masculino e feminino13. Essa teoria questiona as ontologias
da sexualidade; a naturalizao do sexo heterossexual e do desejo pelo sexo
oposto; a correspondncia entre os genitais e o gnero; e aponta a construo
histrica da masculinidade e da feminilidade.
Da noo de esquizo os autores constroem a ideia de esquizerda, que
fica tentando contrabandear energia ertica para dentro do que
poltico enquanto procura, com a outra mo, escancarar os
semitons polticos do microertico. [...] proliferao, ao invs de
organizao da produo e da distribuio. No se trata de desviar
dos desejos que parecem implantados pela mquina de consumo
e de manuteno das coisas, mas de retorc-los, met-los em uma
paisagem de desejos [...]
Fica ntido que os autores no ocultam o aspecto poltico que seus textos
e discursos vinculam, ou seja, que eles tm uma determinada finalidade.
A criao do termo Esquisotrans, um exemplo disso. Nele, como j apre-
sentado, os autores aglutinaram as noes de esquiso e trans; e, alm disso,
criaram a noo de pessoa do avesso para se referir a ambos os elementos.
O Brevirio fala sobre e dedicado a essas pessoas do avesso, aos
desejos que transitam e que escapam, que nasceram fugidos e
vivem se deslocando. Aos que sabem que todo o dia necessrio
inventar-se, ser outra coisa, pois a ltima desconstruo engessou,
tornou-se rgida e o prprio desejo cambiante. dedicado aos
que nunca encontraram um centro e sempre foram periferia. Aos
que, no lixo, amaram. Aos que festejam sempre o lugar da costura,
das marcas, da diferena, da abjeo14
19 Ibidem, p. 98.
20 Idem.
21 FOUCAULT, 2015, p. 30
22 DELEUZE; GUATTARI, 2010, p. 12
23 Idem.
24 Ibidem, p. 16
25 BORGES; BENSUSAN, 2010, p. 129
26 Ibidem, p. 37-40
27 Ibidem, p. 43-47
pau28. Corpos que adoram teta e pau juntos29, ou que querem todos os ami-
gos do seu macho de uma vez30. Corpos que se perguntam: s pelo que eu
tenho entre as pernas que sou digno de amor?. Corpos jogados para o canto,
que se cansaram de procurar pela essncia das coisas, pois nunca foi atribuda
beleza sua abjeo.
Consideraes finais
Referncias
MUOZ, Alfonso Ceballos. Teoria rarta. In: CRDOBA, D.; SEZ, J.; VIDARTE, P.
(Org.). Teora queer: polticas bolleras, maricas, trans, mestizas. Madri: Editorial Egales,
2005. p. 165-177.
Resumo
Introduo
1 Caracterizamos a Web 2.0 como um tipo de mindset, ou seja, um modo de pensar e conhecer o
mundo vivido (Lankshear e Knobel, 2008, p.31). Na Web 2.0, o mindset orientado sob a lgica da
participao, da colaborao e a da inteligncia coletiva.
2 Este trabalho desenvolve parte da pesquisa de doutoramento realizada por esta autora (Guimares,
2014).
3 Neste trabalho, uso o conceito de ethos em associao noo de ethos como hbitos locucio-
O post abaixo ilustra como Luan se dirigia a seus amigos virtuais, construindo
sua participao nessa rede social.
Na poca, esse post lhe gerou algumas curtidas e comentrios sobre suas
identificaes de gnero, sexualidade e raa, no Facebook. Na publicao,
acima ilustrada, o jovem encena uma peformance que produz efeitos de uma
identificao especfica. Aqui, Luan um garoto negro e belo. Essa inter-relao
est fortemente presente nas suas interaes. Ao promover seu corpo como
desejvel e belo, suas publicaes eram comentadas e curtidas por um grande
nmero de pessoas. Essa valorizao do corpo corresponde s expectativas
prprias dos espaos on-line, em que h uma inclinao para valorizao da
nais compartilhados por membros de uma comunidade, conforme C. Kerbrat-Orecchioni (1996). Tal
ethos coletivo constitui, para os locutores que o compartilham, um perfil comunicativo, ou seja,
a sua maneira de se comportar e de se apresentar nas interaes (Kerbrat-Orecchioni, 1996).
aparncia e da imagem do corpo, onde o que importa ser visto, como bem
sintetizou Bauman quanto maior a frequncia de minha imagem, quanto mais
pessoas visitam meu Twitter, mais chances terei de ingressar nas fileiras dos
famosos. (Bauman, 2011, p.29).
Alm disso, Luan utilizava quase todos os dias o MSN e o Skype para
manter/fazer contatos. Orgulhava-se de possuir mais de 2 mil amigos no Skype
e MSN, quase 2 mil amigos no Facebook e mais de 80 mil seguidores no Twitter.
J na sala de aula, participava pouco. Gostava de ficar sentado no fundo. Era
constantemente alvo de crticas do professor de redao, que o posicionava
como tendo interesse somente pelo que acontecia nas redes sociais on-line.
Desde o inicio da referida pesquisa, Luan se aproximava de um ethos
interacional que privilegiava as prticas das interaes on-line em detrimento
das prticas da escola. Tal aproximao era recorrente nas suas interaes,
como aponto no seguinte fragmento de entrevista acerca de sua relao com
o professor de redao:
[...] tipo ele acha que sou uma pessoa alienada. Ele fala de mim,
porque acha que na Internet no tem nada til. Ele no me deixa
com raiva com esse tipo de pensamento, mas eu acho que no
sabe de nada do que se passa por l. A vida l muito mais diver-
sificada, eu fico sabendo de tanta coisa que uma pessoa que no
tem contato com esse mundo no sabe. Eu acho que eles que
so alienados de verdade (Luan em entrevista pesquisadora
- 10/09/2011).
Referncias
LVY, P. 1999. Cibercultura. Trad. Carlos Irineu da Costa. So Paulo: Editora 34, 264 p.
MARCUS, G.E. 1995. Ethnography in/of the world system. The emergence of multi-
sited ethnography. Annual Review of Anthropology, 24: 95 117.
MOITA LOPES, L.P. 2006. Uma Lingustica aplicada mestia e ideolgica: interro-
gando o como linguista aplicado. In: MOITA LOPES, L.P. (Org.) Por uma lingustica
aplicada indisciplinar. So Paulo, Parbola, p. 13-42.
Resumo
Introduo
1 Esta apresentao desenvolve parte da pesquisa de doutoramento realizada por um dos autores (cf.
Guimares, 2014).
A cena abaixo foi retirada de uma interao entre Luan e Moreira. Moreira
estudava na mesma sala de Luan e, igualmente, era participante da pesquisa. O
jovem era visto com frequncia comentando as postagens efetuadas por Luan.
A transcrio mostra Luan negociando sentidos sobre sua performance de raa,
a partir de um questionamento realizado por esse jovem. De acordo com as
observaes etnogrficas, era comum Moreira exercer fiscalizao das perfor-
mances de raa de Luan nas redes sociais Twitter e Facebook, principalmente
com relao s fotos postadas por Luan (editas pelo software Photoshop), qua-
lificando-as como feias ou como tentativas de clarear a pele ou parecer branco
Em entrevista com a pesquisadora, a respeito dessa questo, Luan afirmara:
Pessoas conversam comigo na Internet e fala: olha o neguinho.
Fala/criticam minhas fotos porque acham que neguinho essa
coisa que mostram na TV. Tipo o negro pobre, feio, negro rouba.
Acham porque me visto bem, sei debater com eles, discutir que
quero parecer branco. No sinto nenhuma ameaa sobre esse tipo
de atitude com relao a minha cor. Eu levo na brincadeira, mas
acho que ningum esqueceu o tratamento dado aos negros de anti-
gamente, eles acham que ainda existe uma raa superior. (Luan em
entrevista pesquisadora 14/10/2011) .
Referncias
BUTLER, J. Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity. Nova York e
Londres: Routledge, 1999.
MELO, G. C.V.; MOITA LOPES, L.P. Ordens de indexicalidade mobilizadas nas perfor-
mances discursivas de um garoto de programa: ser negro e homoertico. Linguagem
em (dis)curso, v. 14, n. 3, p. 653-685, 2014.
Silverstein, M.; Urban, G. (Eds.). Natural histories of discourse. Chicago: The University
of Chicago Press, 1996.
THOMAS, A. Youth online. Identity and literacy in the digital age. Nova York: Peter Lang, 2007.
Resumo
Introduo
Consideraes finais
Referncias
BUTLER, Judith. Bodies that Matter: on discursive limits of sex. New York/London:
Routledge, 1993. 288 p.
IRIGARAY, Lucy. Speculum of the Other Woman. Traduo: Gillian C. Gill. Ithaca:
Cornell University Press, 1985. 365 p.
POLLOCK, Griselda. Vision and Difference: feminism, femininity and the histories of
art. New York/London: Routledge, 1988. 320 p.
RISCA. Memria e Poltica das Mulheres nos Quadrinhos, n.1. Belo Horizonte: Coletivo
Ladys Comics, Novembro, 2015. 82 p.
SMITH, Anna Marie. Laclau and Mouffe: the radical democratic imaginary. London/
New York: Routledge, 1998. 236 p.
Artigos
SONTAG, Susan. Notes on Camp. In: _____. Against Interpretation and Other
Essays London: Penguin, 2009. P. 275-292.
SPIVAK, Gayatri C. Can the Subaltern Speak?, In: NELSON, Cary; GROSSBERG,
Lawrence (Ed.). Marxism and the Interpretation of Culture. London: Macmillan, 1988.
P. 24-28.
WU, Kylie. Trans Girl Next Door. Media: Tumblr, 2013-. Disponvel em <http://trans-
girlnextdoor.tumblr.com/>. Acesso em: 10 jun. 2016.
Resumo
Introduo
Consideraes Finais
Referncias
AYALA, Walmir. Tais [1966]. In.: DAMATA, Gasparino (Org.). Histrias do amor mal-
dito. Rio de Janeiro: Record, 1967, p. 253-268.
BOSI, Alfredo. Histria concisa da literatura brasileira. 43 ed. So Paulo: Cultrix, 2006.
CANABRAVA, Lus. O Anjo da Avenida Atlntica. In.: HONRIO, Jos Carlos (Org).
O amor com olhos de adeus. So Paulo: Transviatta, 1995, p. 155-164.
FEITOSA, Z.A. Rita Pavone no usa tubinho. In.: ____. Algolagnia. So Paulo: Econ
editorial, 1984, p. 103-112.
FONSECA, Rubem. Dia dos namorados. [1975] In.: RUFFATO, Luiz. (Org.) Entre ns.
Rio de Janeiro: Lngua Geral, 2007, p. 125-136.
JERNYMO, Orlando. Mudanas. In.: HONRIO, Jos Carlos (Org). O amor com
olhos de adeus. So Paulo: Transviatta, 1995, p. 145-154.
MARTINS, Julio Csar Monteiro. Ruiva [1978]. In.: RUFFATO, Luiz. (Org.) Entre ns.
Rio de Janeiro: Lngua geral, 2007, p. 241-256.
MOISS, Massaud. A literatura brasileira atravs dos textos. So Paulo: Cultrix, 2007.
PELCIO, Larissa. Abjeo e Desejo - uma etnografia travesti sobre o modelo preven-
tivo de AIDS. So Paulo: FAPESP, 2009.
SILVA, Helio R. S. Travestis entre o espelho e a rua. Rio de Janeiro: Rocco, 2007.
SILVA, Antonio de Pdua Dias da. Especulaes sobre uma histria da literatura brasi-
leira de temtica gay. In.: SILVA, A. P. D. (Org.) Aspectos da literatura gay. Joo Pessoa:
Editora Universitria/ UFPB, 2008, p. 25-49.
Resumo
efeito do poder, mas como espontnea. No mais revelava o poder que coa-
gia. (p. 60). Para Foucault, os detalhes minuciosos, as precaues meticulosas
dos cientistas e tericos, espalhadas em vrios tipos de confisses (mdicas,
psicolgicas, pedaggicas), pelo menos at Freud, podem ser considerados pro-
cedimentos destinados a desviar a verdade perigosa do sexo: De tanto falar
nele e descocri-lo reduzido, classificado e especificado, justamente l onde o
inseriram procurar-, se-ia, no fundo mascarar o sexo: discurso-tela, discurso-es-
quivncia (FOUCAULT, 2003, p. 53).
um corpo no existe per si, como unidade, mas apenas em relao com seus
fragmentos internos e com outros corpos.
Abjeo digital
Resistncia
mesmo tempo, por serem vdeos, so processos e veculos, e por serem digitais
so virtualizaes, passagens e interfaces. Johnson (2001) argumenta que a sen-
sibilidade torna possvel o trnsito de informao e, assim, esse tipo de vdeo
inspira outros vdeos, comentrios, memes etc, cumprindo a funo de gerar
visibilidade pela heterognese, formas dspares que se tornam convergentes
(JENKINS, 2009) no universo em rede. Neste sentido, esse tipo de vdeo como
filmes de guerra (VIRILIO, 2005, p. 27), a partir do momento em que est apto
a criar a surpresa tcnica e psicolgica. Diferentemente de Heidegger, Virilio
(1996) argumenta que o espao encolhe e os lugares desaparecem em funo
do progresso da velocidade. Devemos relativizar essa presso do tempo sobre
o espao, uma vez que as questes LGBT, embora afetadas pela esfera pblica
internacional, encontra-se territorializadas: na Tailndia trs homens se casaram
em cerimnia budista. No Brasil, filho de pais gays morre depois de espanca-
mento. No Ir, homem para escapar morte e se relacionar sexualmente com
outro homem obrigado a fazer cirurgia para mudar o sexo. Multiplicidades
que tornam uma identidade queer muito problemtica, mas aponta para uma
inteligncia coletiva (LEVY, 1996b), em que os pontos de vistas sobre discusses
locais so ampliados a partir de exemplos de uma esfera global.
O que Baudrillard (2004) chama de grau zero tico, de modo bastante
negativo, quando se refere aos realities shows, mesmo no duvidando da fluidez
entre o banal e o extraordinrio, poderamos aqui, diferentemente, considerar
um avano democrtico por liberar usurios de tecnologia digital do mundo
inteiro para a experimentao de uma alteridade de si, para a autopromoo
em celebridades instantneas. Mesmo considerando o esforo terico maravi-
lhoso de Baudrillard (1999, 2004) sobre o esvaziamento do signo imagtico e a
impossibilidade do valor representativo da imagem, porque o real passou a ser
modelizado conforme um modelo que o precede (que a prpria imagem), h
que se fazer uma ressalva nesse pensamento quando o assunto a militncia.
Os argumentos de Nichols apresentados por Rezende (2013), ajudam a
pensar em que sentido a realidade perdeu sua antecedncia em relao aos
signos que deveria represent-la. Nichols, ainda segundo Rezende (2013), sus-
tenta, contra Baudrillard, por exemplo, que mesmo a invaso de Granada sendo
comunicada como simulao, os mortos e desastres de guerra seriam uma
prova de que ainda h um real...
Referncias
. Vida precaria - El poder del duelo y la violncia. Buenos Aires, Paids, 2009.
FOUCAULT, Michel. Genealogia da tica, subjetividade. Ditos e Escritos, Vol. IX. Rio
de Janeiro: Forense Universitria, 2006.
FREUD, Sigmund. O estranho. IN: Freud. Obras completas. Edio Standard Brasileira
V. XVII. Rio de Janeiro: Imago, 1986.
HEIDEGGER, Martin. Ser e tempo. Rio de Janeiro: Vozes, 2001. JENKINS, Henry.
Cultura da Convergncia. So Paulo: Aleph, 2009.
Vivian Steinberg1
Resumo
3 De acordo com a edio de Potica, da Companhia das Letras, 2013. A edio da Brasiliense foi
editada com maisculas.
4 DOLAR, op. cit. p. 173.
6 BENVENISTE, E. a natureza dos pronomes in: Problemas de Lingustica Geral I. Campinas: Pontes,
1995.
7 VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. Os pronomes cosmolgicos e o perspectivismo amerndio. In:
Manavol.2no.2Rio de JaneiroOct.1996
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-93131996000200005
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-93131996000200005. p. 126.
8 NANCY, Jean-Luc. Vox clamans in deserto. In: Gratuita - caderno de leituras- vol. 2.Belo Horizonte:
Cho da feira, 2015. p.11
Ento, a voz do espelho dos meus olhos o Narciso cuja histria envolve
tanto o olhar quanto a voz, de acordo com Dolar. Narciso uma abertura para
o estranhamento e voz sempre relao, tanto o oral, como o falado e o escrito.
O poema visto como momento de uma escrita, assim a relao com o mundo
transformada pelo poema. Como o espelho traz uma definio mesma que
ambgua, limita o espao, o corpo, negando-se todas as viagens e aqui o
todas compartilha a casa toda; os papis todos, de todas trs, assim como o
negar est representado tambm em: nunca mais; mas seu corpo no e as
viagens est implcito no ttulo: travelling e em: a cmera em rasante viajava.
A terceira voz a voz rascante da velocidade. um decasslabo assim
como o verso: A cmera em rasante viajava. Podemos associar o rascante da
voz com o rasante da cmera pela sonoridade. Velocidade relacionaremos com
o cinema e com o modernismo e a relao com o estudo da potica porque
11 op.cit. p.15
12 op. cit. p.18
13 DOLAR. op.cit. p.174.
est justamente num verso decasslabo, marca de uma tradio da lngua portu-
guesa, presente em Cames, ento podemos relacionar a voz da velocidade, do
tempo presente, do modernismo, por um lado e, por outro, tradio potica
anterior.
Com essas trs vozes, que ainda no so linguagem, abre-se a via, e pro-
cura-se um fio, a escrita, a voz da voz desta existncia, emitida por sua boca e
pela sua garganta. a iminncia da linguagem.
Assim, os versos vo diminuindo, e enquanto os verbos: recolocar, guar-
dar e confirmar, agora h o desalinho: enquanto desalinho/ sem luxo/ sede/
agulhadas/. Quatro versos curtos, sem pontuao, e termina com dois versos
longos: os pareceres que ouvi num dia interminvel:/ sem parecer mais com a
luz ofuscante desse mesmo dia interminvel. Enquanto nos primeiros versos h
a tentativa de organizar, no final do poema h o desalinho e a multiplicidade
de vozes nos pareceres escutados e o momento no mais tarde da noite, mas
num dia interminvel que se torna desse mesmo dia interminvel. O signifi-
cado da palavra parecer expandido no ltimo verso e ganha uma iluminao
mesmo que negativa. A luz ofuscante desnorteia porque define demais, brilha
intensamente, leva vertigem. O jogo com o olhar entrelaado ao som, s
vozes todas repercutindo no poema.
A anttese: luz ofuscante o outro lado do poema - por um lado o ouvir,
as vozes - ouvido mos - no falar de Valry - e outro o ver - espelho, cinema -
imagens e luz ofuscante, invs de iluminar, ofusca. Precisamos de sombras para
ver, buracos para ouvir... e at para dormir. Para continuar a falar em cinema, o
filme Solaris, de Andrei Tarkvski traz uma abordagem sobre o lugar espectral
num mundo iluminado, sem dia ou noite, ali a insnia uma condio crnica,
assim como o dia interminvel.
E assim a travessia chega ao fim, ou a esse mesmo dia interminvel.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo estabelecer uma discusso terica acerca das
questes de corpo, gnero e performance no discurso heteronormativo atravs
da anlise do conto Ruiva (1978), de Julio Csar Monteiro Martins, evidenciando
as experincias de opresso vividas pela personagem Gina, uma travesti que
busca a oportunidade de viver sua sexualidade na cidade de So Paulo. A dis-
cusso terica pretende evidenciar atravs da narrao ficcional os mecanismos
de opresso estabelecidos por um discurso binrio baseado na heteronormati-
vidade e no controle dos corpos e suas sexualidades, tomando, em sua maioria,
as contribuies tericas de Judith Butler apresentadas no captulo Atos cor-
porais subversivos, presente em seu livro Problemas de gnero: feminismo e
subverso da identidade (2015).
Palavras-chave: travestilidade; heteronormatividade; corpo; gnero; literatura.
Introduo
2015, p. 201). Gina, certa de que era uma mulher, sente-se obrigada a explicar
sua performance, dar conta daquele corpo e daquele sexo que esto imbudos
de um discurso opressor, e no qual a ruiva v-se obrigada a participar, no caso,
revelando tratar-se de uma travesti.
Na verdade, o gnero seria uma espcie de ao cultural, corpo-
ral que exige um novo vocabulrio, o qual institui e faz com que
proliferem particpios de vrios tipos, categorias ressignificveis e
expansveis que resistem tanto ao binrio como s restries gra-
maticais substantivadoras que pesam sobre o gnero. (BUTLER,
2015, p. 195)
Na falta desse novo vocabulrio apontado por Butler (o qual, hoje, pode
ser percebido atravs do uso ou omisso de artigos, por exemplo; ou ainda
no uso do x para a quebra do binarismo heteronormativo), Gina acaba por
participar do jogo de palavras que, na verdade, no so mais do que marcado-
res culturais que delimitam os corpos, os sexos, os gneros, as performances
(homem, mulher, gay, travesti, lsbica...), e acabam por oprimir aqueles que,
de alguma forma, no se encaixam nas delimitaes lingusticas e culturais que
perpetuam a opresso e o controle dos corpos e suas sexualidades.
O Fusca parou numa rua escura, que ele disse chamar-se Estrada
da Boiada. Deram longos beijos na boca, no pescoo, nos ombros,
e a mo do japons ia se esticado pela coxa. Gina comeou a ficar
apavorada, imaginando a reao do homem quando descobrisse
que ela era um travesti. Antes que ele fizesse a descoberta pelo
tato, ela resolveu contar. Sabe, meu bem, pelo amor de Deus no
fica zangado comigo pelo que eu vou dizer proc, mas antes que
sua mo esbarre nos meus trens, eu quero que voc saiba que eu
sou um travesti. (MARTINS; In: RUFFATO, 2007, p. 247)2
O japons, por sua vez, ao deixar claro que j sabia de sua travestilidade,
deixa Gina quase que ofendida com a notcia, uma vez que a personagem
se via como uma mulher, e achava que os outros tambm a viriam como tal.
Mas, como bem ressalta Butler: Quando a desorganizao e desagregao
2 O conto foi incialmente publicado em 1978, o que justifica o uso inapropriado do artigo indefinido
um.
no se considerava uma travesti, mas uma mulher. Indignada com isso, Denise
a responsvel pelas piores ofensas sofridas por Gina no conto: [...] sua vaga-
bunda de terceira! Sua bicha escrota caipira! (MARTINS; In: RUFFATO, 2007,
p. 254).
[...] seu bicho do mato horroroso. por causa de gente como voc,
que no tem compostura e sai dando de graa pro primeiro que
aparece, que a gente no consegue se estabelecer. Sai do meu
caminho, vai. Com voc eu no quero mais conversa. Mas,
Denise... Voc uma escrota, t bom? Vai pro esgoto que l o
seu lugar. (MARTINS; In: RUFFATO, 2007, p. 254)
3 Publicado no ano de 2002, o que justifica o uso inapropriado do artigo indefinido um.
Consideraes finais
Referncias
DANIEL, Herbert; MCOLIS, Leila. Jacars e lobisomens: dois ensaios sobre a homos-
sexualidade. Rio de Janeiro: Achiam, 1983.
MARTINS, Julio Csar Monteiro. A ruiva. In: RUFFATO, Luis (org.). Entre ns. Rio de
Janeiro: Lngua Geral, 2007.
GT 04 -
Travestilidades, Transexualidades, Lesbianidades e Homosexualidades:
Transgresses e Resistncias.
Resumo
1 Todas as informaes verbais (transcries literais, ou referncias das falas dos participantes do do-
cumentrio de gravata e unha vermelha) possuem indicativo do tempo em que aparecem no DVD.
O formato adotado o de indicao de hora:minuto:segundo. Embora esta prtica no seja usual
ns a adotamos como meio de facilitar possveis busca no filme atravs do temporizador de tela.
Mel (00:58:28) explica que por no ter seu corpo redesignado, ela tem
muita dificuldade de se relacionar com outro homem. Salienta que enquanto
no tiver seu corpo completo, no vai conseguir se relacionar de corpo e
alma. interessante perceber que ao dizer de sua relao, Candy Mel, mesmo
tendo afirmado que tem uma cabea de mulher, fala como homem dizendo
de uma dificuldade de se relacionar com outro homem. O conflito evidente
na argumentao da cantora parece recair sobre a problemtica do rgo geni-
tal. Sua completude atrelada posse de uma vagina, isso lhe dar um corpo
completo. O corpo de mulher tem um crivo de verdade que ela deseja. Tas
Souza, tambm reafirma a importncia da anatomia ao dizer:
Para mim (a cirurgia) no algo da cabea algo anatmico,
como se eu tivesse seis dedos, cortou um dedo para mim t resol-
vido. (00:58:11)
seria algo dado pela natureza, inerente ao ser humano. Tal con-
cepo usualmente se ancora no corpo e na suposio de que
todos vivemos nossos corpos, universalmente, da mesma forma.
No entanto, podemos entender que a sexualidade envolve ritu-
ais, linguagens, fantasias, representaes, smbolos, convenes...
Processos profundamente culturais e plurais. Nessa perspectiva,
nada h de exclusivamente natural nesse terreno, a comear pela
prpria concepo de corpo, ou mesmo de natureza (LOURO,
2000, p.6).
Rogria (01:14:35) tambm relata essa experincia de ser o que ser para
alm do que se espera. Sendo no incio de sua carreira de cabeleireiro, maquia-
dor na extinta TV Rio, cercado de grandes atrizes ouvia constantemente dizerem
que ela deveria ir para o palco. No queria ir como homem e por isso achava
que seria impossvel esse processo. At que descobriu que no tinha que ser
como homem, podia ser como mulher, ou como qualquer coisa porque a arte
independe de sexo, de gnero. Segundo Rogria estar no palco, no cinema ou
na TV viver outra realidade, outra vida, ser outra alm de voc mesma. E foi
ser Rogria a vedete que manteve o nome de Astolfo, por que gosta de parecer
mulher, mas adora ser homem.
Letcia (00:12:25) tendo recebido atribuio masculina em seu nascimento
e o nome de Geraldo, se batizou na pia da vida com o nome de Letcia Lanz.
Eles queriam que eu representasse um papel que no dava certo
comigo. (00:16:23)
Referncias
EDUCAO, POLTICAS,
DIVERSIDADE SEXUAL E DE
GNERO
ISBN 978-85-61702-44-1
SUMRIO
Resumo
Introduo
Sousa (2000, p. 75), nas suas discusses sobre essa temtica, afirma que a
burocratizao da profisso e a consequente averso ao trabalho docente tam-
bm contaminou professores, alimentando durante muito tempo o preconceito
contra o professor dos anos iniciais do Ensino Fundamental, aquele designado
a trabalhar com crianas. Isso tambm reflete na insero dos homens no Curso
de Pedagogia e, especialmente, na reao das pessoas pela escolha masculina.
Concluses reflexivas
que o ingresso na escola foi sem grandes dificuldades, a maioria deles iniciou
a vida escolar alm da idade prpria ou teve interrupes no percurso. Estas
dificuldades se acentuaram entre o ensino mdio e o ingresso na universidade,
principalmente em relao escolha pela pedagogia.
Assim, pode-se concluir que os principais interlocutores deste trabalho
so homens com caractersticas diversas ou diferentes tipos de masculinidades,
pois embora movidas por situaes e condies de vida diferenciadas, com-
partilham aspectos comuns em suas histrias de vida. Em primeiro lugar so
pessoas que sempre perseguiram o ideal de serem sujeitos de suas prprias
histrias enfrentando assim quaisquer barreiras em busca dos seus objetivos.
Em segundo lugar, todos eles, independentemente do tempo e dos obstculos,
almejaram muito e conquistaram o ingresso em uma faculdade ou universidade
conquistando com xito uma formao profissional.
Na realidade, nesta experincia identificou-se os homens como um
gnero pouco presente na pedagogia, mas com uma permanncia resistente
como se os valores patriarcais ou matriarcais determinassem seus espaos, mas
no erguessem a o seu trono. De certo, se a seletividade social surgiu com a
organizao das sociedades, aprimorando-se com a complexidade das mesmas,
a seletividade escolar e o desrespeito diversidade que se opera no interior da
escola, nasceram com a instituio escolar.
Referncias
LIBNEO, Jos Carlos. Pedagogia e pedagogos, para qu? 10. ed. So Paulo: Cortez,
2005.
MELO, Patrcia Sara Lopes. O olhar dos discentes sobre o curso de Licenciatura em
SOUSA, Maria Ceclia Cortez Cristiano de. A escola e a memria. Bragana Paulista:
INFANCDAPH. Editora da Universidade So Francisco: EDUSF, 2000, 196 p.
Joo Batista Neto e Eliete Santiago. Recife: Editora Universitria da UFPE, 2009.
Fernando Seffner
Doutor em Educao - Universidade Federal do Rio Grande do Sul
[email protected]
Resumo
Primeiras sementes
com o cuidar, o cuidar maior, o homem no tem esse cuidado maior, essas
facilidades, as mulheres tem essa vocao. O cuidar surge ento como um
elemento que deve ser desenvolvido exclusivamente pelas mulheres? Ainda
prevalece a ideia da professora como uma extenso da me? Como esses dis-
cursos so reiterados na roa?
Nada est acabado e fechado. Queremos seguir viagem considerando
que no importa o mtodo que utilizemos para chegar ao conhecimento; o
que de fato faz a diferena so as interrogaes que podem ser formuladas
dentro de uma ou outra maneira de conceber relaes entre poder e saber.
(COSTA 2000, p.16 apud CARDOSO, 2014, p.223). Estamos apenas no comeo
das estradas da roa e h muito cho para percorrer!
Referncias
FONSECA, Thomaz Spartacus Martins. Quem o Professor Homem dos Anos Iniciais?
Discursos, representaes e relaes de gnero. Juiz de Fora: UFJF, 2011. Dissertao
(Mestrado em Educao)- Programa de Ps-Graduao em Educao, Universidade
Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2011.
WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexualidade. In: Guacira Louro (org.) O corpo educado.
Pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autntica, 2000.
Resumo
Introduo
A construo do vdeo
1 O vdeo pode ser visualizado na pgina do Empodere Duas Mulheres no Facebook, atravs do en-
dereo: https://www.facebook.com/empodereduasmulheres/videos/1084718574935463/.
Entendemos que, ao levar esta discusso para a sala de aula, esta se abre
para novas possibilidades, isso fica evidente pela reao das crianas no vdeo,
visto que, apesar de to jovens, elas j tm algumas questes acerca de gnero
estabelecidas, porm, no cristalizadas, ou seja, escola cabe o papel de dar
novos sentidos a velhos padres culturais, nas palavras de Veiga-Neto:
esse dar sentido que faz de ns uma espcie cultural. Nessa
perspectiva, a cultura no se restringe s prticas materiais; no
se restringe, por exemplo, produo e ao uso de ferramentas
para realizar uma determinada tarefa. Cada vez mais a Etiologia
tem acumulado evidncias de que muitas espcies de animais
usam intencionalmente objetos para realizar tarefas relacionadas
sobrevivncia; e mais: de que esse uso , para vrias espcies,
apreendido, isso , de que se trata de um comportamento transmi-
tido socialmente, e no geneticamente. Na perspectiva que aqui
interessa, a questo, entretanto, pensarmos a cultura para alm
do domnio material isso , do domnio dos objetos e das prticas
envolvidas com esses objetos. A questo pensarmos a cultura,
tambm e ao mesmo tempo, no domnio simblico: como significa-
mos os objetos e as prticas e, ao fazermos isso, como abstramos e
transferimos esses significados para outros contextos; e ao fazermos
essa transferncia, como nos ressignificamos (VEIGA-NETO, 2004,
p. 57).
O autor nos faz pensar que, muitas vezes, entendemos como natural,
intencional e quase proftico o fato de meninas brincarem de casinha e meni-
nos brincarem de carrinho, porm, temos de ter claro que essas brincadeiras
so culturais, so um domnio simblico o qual podemos resistir, mudar e rede-
finir, a partir de atividades simples e corriqueiras, como a proposta no vdeo, e
que leva os meninos e as meninas da educao infantil a ressignificar os papeis
sociais, que eles to prematuramente j conhecem e vo cristalizando ao longo
da vida.
Acreditamos que uma das funes principais da educao infantil, alm
do brincar e da ludicidade, abrir para as crianas vivenciarem outras possibi-
lidades de ser e estar no mundo e abrir-se para ressignificaes, neste sentido,
conforme Ferrari (2000, p. 87):
[...] no se deve nem tampouco se pode pensar o contexto escolar
sem relacion-lo ao social. E, isso se faz numa dupla direo. Ou
seja, como a escola recebe, reflete e refora o que socialmente
aceito e faz parte do senso comum, correndo o risco de cristalizar
preconceitos e tambm como a partir dela pode-se pensar formas
de alterar essa realidade, quando ela, escola, contribui para articu-
lar novas formas de prticas sociais.
Consideraes Finais
Referncias
COSTA, Marisa Vorraber. Sobre as contribuies das anlises culturais para a forma-
o dos professores no incio do sculo XXI. IN: Educar, Editora UFPR: Curitiba, n. 37,
maio/ago. 2010, p. 129-152.
Resumo
dos gneros. Educao algo que acontece para alm das escolas, de maneira
que outros espaos tambm so educativos porque nos educam a ser o que
somos. Como nos lembra Guacira Louro (1997), este processo de educao dos
sujeitos vai criando as diferenas entre o que ser menino e o que ser menina.
um processo de fabricao dos sujeitos generificados que muito sutil e por
isso, muito eficaz, porque diz de uma certa continuidade imperceptvel.
A mulher que foi produzida a partir do discurso do adolescente revela
sobre estruturas fortes e rgidas que culturalmente nos mostrou silenciamentos e
desqualificao das mulheres em uma forma eficiente de manuteno do poder
masculino. E como a escola, ao se deparar com um discurso que evidencia essa
estrutura, elabora suas estratgias de ao, considerando que uma de suas fun-
es justamente problematizar as formas de excluso a que muitas minorias
foram submetidas?
Voltemos, pois, nossa provocao inicial minha me me criou e educou,
meu pai me ensinou a viver e o quanto ela nos remete para questes relativas
ao pblico e ao privado, formas de viver e estar no mundo, de uma maneira
bastante consolidada. As falas do menino no tiveram nenhum contraponto
entre os colegas, nem entre os demais meninos e tampouco das meninas, o que
nos incita supor que muitos dos adolescentes presentes naquela sala tambm
concorde com o que foi dito. Ou que pelo menos, este no era um pensamento
absolutamente desconhecido deles e delas. Neste sentido, a ao educativa e o
desafio desta aula esto em ultrapassar o dilogo com este aluno em especial e
atingir a todos. Socializar a fala do aluno para a partir dela, saber e colocar em
circulao outras formas de pensamento que possam advir dos demais alunos
e alunas. Assim, essa cena construda na sala indispensvel para questionar
no somente o que ensinamos (e ser capaz de introduzir a histria das mulheres
no ensino de Histria), mas tambm o modo como ensinamos e que sentidos
nossos alunos e nossas alunas do ao que dizemos, ao que propomos e ao que
aprendem.
Trazer os demais alunos e alunas para a discusso fazer com que apa-
rea a diversidade que compe cada gnero. H uma concepo fortemente
construda entre os gneros, algo que constitui uma polarizao entre meninos
e meninas que esconde a pluralidade que est entre estes dois plos. Isso causa
um certo temor em se afastar da forma de masculinidade hegemnica, sob pena
de ser classificado como diferentes, o que muitas vezes serve para acionar
discursos de homossexualidades. Assumir a masculinidade hegemnica d um
Referncias
VEIGA-NETO, Alfredo. Pensar a escola como uma instituio que pelo menos garanta
a manuteno das conquistas fundamentais da Modernidade. IN: COSTA, Marisa
Vorraber. A escola tem futuro? Rio de Janeiro: DP&A, 2003, p. 103-126.
Jaime Peixoto
Mestre em Educao FAE/UFMG
[email protected]
GT 04 -
Travestilidades, Transexualidades, Lesbianidades e Homosexualidades:
Transgresses e Resistncias.
Resumo
Introduo
Estratgia 2: o ignorar
Das estratgias identificadas nos relatos dos jovens pesquisados, houve
uma que foi mais recorrente entre os participantes. Esta se refere a capacidade
de ignorar as chacotas, piadas e brincadeiras de cunho pejorativo, como
vemos nos seguintes relatos: eu ignorava sempre (Sujeito 5), eu realmente
no ligava, eu ria na cada deles e dizia: s isso? (Sujeito 1), eu no ligo pra
ideia contrrias, no me importo (Sujeito 5), no ligar para quem tenta te atin-
gir, para o que os outros pensam (Sujeito 6).
Diante de uma situao de discriminao, parece que os jovens desen-
volveram a habilidade de se recusar a dar validade ao discurso do agressor,
desconsiderando-o, fazendo pouco caso dele, demonstrando que o discurso
proferido tem pouco ou nenhum efeito sobre a forma como eles se veem e
vivenciam a sua sexualidade, como nos relatou Lucas
Quando eles me confrontavam eu no recuava. Eu ria na cara
deles e dizia: s isso? T, agora deixa eu ir aqui cuidar da minha
vida. (Sujeito 1).
E tambm,
O fato de uma pessoa ser ignorante significa que ela est fechada
para os conhecimentos. Quando uma pessoas ignorante me dis-
crimina eu desprezo. Mostro que, diferente dela, sou uma pessoa
evoluda, desapegada de idiotice e independente. No me deixo
levar por qualquer devaneio de uma pessoa Neandertal mental-
mente. (Sujeito 7).
Referncias
CARVALHO, Marlia Gomes de; TORTATO, Cntia S.B. Gnero: consideraes sobre
o conceito. In: LUZ, Nanci Stancki da; CARVALHO, Marilia Gomes de. Construindo
a igualdade na diversidade: gnero e sexualidade na escola. Editora UTFPR: Curitiba,
2009.
FERRARI, Anderson. Voc j deve saber sobre minha orientao sexual (se no sabia,
ficou sabendo agora, hehe) subjetividades e sujeitos em negociao. In: FERRARI,
Anderson. Sujeitos, subjetividades e educao. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2010.
FLICK, Uwe. Introduo pesquisa qualitativa. 3 ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
FOUCAULT, Michel. Ditos e Escritos II: Arqueologia das Cincias e Histria dos sis-
temas de pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2005.
LOPES, Denilson. Por uma nova invisibilidade. In: JUNQUEIRA, Rogrio Diniz (org.).
Diversidade Sexual na Educao: problematizaes sobre a homofobia nas escolas.
Braslia: Ministrio da Educao, Secretaria de Educao Continuada, Alfabetizao
e Diversidade, UNESCO, 2009.
WEINBERG, G. Society and the healthy Homosexual. New York: St. Martins, 1972.
Resumo
Introduo
Fonte:http://oglobo.globo.com/cultura/megazine/sem-preconceito-menino-brinca-de-boneca-em-
catalogo-de-brinquedos-6951923.Retirado da web: O Globo,06/12/2011 5:46Atualizado06/12/2012
16:13.
Fonte:http://oglobo.globo.com/cultura/megazine/sem-preconceito-menino-brinca-de-boneca-em-
catalogo-de-brinquedos-6951923.Retirado da web: O Globo,06/12/2011 5:46Atualizado06/12/2012
16:13.
Fonte:http://oglobo.globo.com/cultura/megazine/sem-preconceito-menino-brinca-de-boneca-em-
catalogo-de-brinquedos-6951923.Retirado da web: O Globo,06/12/2011 5:46Atualizado06/12/2012
16:13.
Consideraes finais
Referncias bibliogrficas
ARIS, Philippe. Histria Social da Criana. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1981.
G1-MA22h04..http://g1.globo.com/ma/maranhao/noticia/2016/01/movimento-
feminista-divulga-repudio-escola-por-lista-de-materiais-no-ma.html Retirada da
Web: 11/01/2016 21h38- Atualizado em11/01/2016
O Globo Jornal.http:oglobo.globo.com/cultura/megazine/sem-preconceito-
menino- brinca-de-boneca-em-catalogo-de-brinquedos-6951923 Retirado da web:
O Globo,06/12/2011 5:46Atualizado06/12/2012 16:13.
Resumo
Introduo
1 Cena
2 Cena
3 Cena
Consideraes finais
Referncias
Resumo
Introduo
Desde o sculo XVIII se falou sobre sexo e sexualidade por meio de uma
educao sexual baseada no controle e na regulao dos discursos, assim at as
crianas deveriam proferir certo discurso limitado ao essencialismo, cannico
e verdadeiro sobre sexualidade. Sobretudo, atravs de educadores, mdicos,
pais eram produzidos e disseminados discursos que permitiam a intensificao
dos poderes. Desse modo, parece significativo conhecer como os discursos
acerca do sexo e de sexualidade foram (re)produzidos e suas condies de fun-
cionamento nas diversas instncias sociais (FOUCAULT, 2007).
Os discursos pautados em determinismos biolgicos e normatizaes
contribuem para uma viso singular acerca de sexualidade e gnero que vem
sendo (re)produzida nos currculos acadmicos e prticas escolares (inclusive
nos cursos de licenciatura). Embora se admita a existncia de diversos modos
de vivenciar e expressar as sexualidades e os gneros, parece consensual a ideia
de que a instncia escolar deveria nortear suas aes por um padro histrico
e socioculturalmente legitimado: um modo normal de masculinidade e feminili-
dade, e de sexualidade, nesse caso a heterossexualidade; assim os sujeitos que
se afastam desse padro so considerados desviantes, tornam-se excntricos,
por no se enquadrarem no modelo heteronormativo (LOURO, 2013).
Em contraposio, uma Educao Sexual que abranja as diversas dimen-
ses de sexualidade e gnero envolveria um processo contnuo, sistemtico e
permanente, desenvolvido em todos os nveis de ensino, inclusive nos cursos de
formao docente, pois inmeras informaes veiculadas pela mdia e excluses
sociais decorrentes do sexismo e da homofobia, entre outras formas de precon-
ceito e discriminao, so recebidas constantemente (de modo inquestionvel),
por crianas, jovens (e pelos prprios adultos, futuros/as docentes). Destarte,
uma das principais tarefas de uma Educao Sexual, que se fundamente nos
principais pressupostos ps-estruturalistas, consiste em problematizar e des-
construir verdades nicas e modelos hegemnicos acerca de sexualidade e
gnero, por meio de aes que denunciem os jogos de poder envolvidos na
construo de tal hegemonia social; assim poderia contribuir para o reconheci-
mento e valorizao das diferenas que marcam a vida sociocultural e poltica
(FURLANI, 2013).
Cabe informar que esse estudo terico inclui algumas cenas transcritas a
partir das minhas vivncias (e observao participante) como docente em uma
escola de ensino mdio localizada em um municpio sergipano. Essas cenas
escolares permitem problematizar discursos sobre sexualidades e gneros vei-
culados nos distintos espaos educativos. Aprender a problematizar significa
tentar realizar um movimento de anlise crtica, observando como foram cons-
trudos diferentes discursos e/ou solues para um problema (FOUCAULT, 2004)
e assim esse modo de pesquisar no objetiva buscar uma verdade absoluta e
nem (re)produzir oposies binrias que remetem a pensamentos posicionados
contrrios ou favorveis! ir alm...
Consideraes Finais
Referncias
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. In: Guacira
Lopes Louro (org.) O corpo educado: Pedagogias da Sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte:
Autntica, 2000. p.151-174.
Resumo
O/A docente carrega em sua fala, gestos e atitudes, marcas de sua histria,
cultura e sociabilidade. So aspectos formativos que no esto inscritos no cur-
rculo formal, ou seja, um dito que no entendido como parte integrante
na formao do aluno/a, e, que, ao mesmo tempo, possui relevncia, visto
que, uma fala, um gesto, uma atitude docente transforma, liberta, entusiasma,
mas, tambm, silencia e amedronta pensamentos, criatividades, dificultando as
1 Orientadores.
Introduo
2 Heteronormatividade, segundo Miskolci (2016, p. 15/46) seria a ordem sexual vigente, onde todos
so formados para ser heterossexual, ter famlia e reproduzir, ou, mesmo que tenha relaes com o
mesmo sexo, adote o modelo da heterossexualidade. Nesse caso, gays e lsbicas tambm podem ser
normalizados, aderir ao modelo e ser agente da heteronormatividade.
comum que na sala de aula (ou qualquer outro espao de formao) o/a
docente converse, brinque, conte piada, d sermes, conte histrias, para resol-
ver algo, ou para a descontrao da aula. E, nesse pequeno espao formador
que segundo Louro (2014, p. 67):
So, pois, as prticas rotineiras e comuns, os gestos e as palavras
banalizados que precisam se tornar alvos de ateno renovada,
de questionamento e, em especial, de desconfiana. A tarefa mais
urgente talvez seja exatamente essa: desconfiar do que tomado
como natural.
4 Entendendo gnero como uma construo sociocultural e lingustico, produto e efeito de relaes
de poder, que histrico e culturalmente, dentro da norma construda, vem sendo definido pelo vis
biolgico, numa lgica binria (MEYER, 2010).
a fala do professor. Mas, o que ficou evidente que ainda existe discriminao
de gnero nos cursos de engenharia.
Essa experincia me fez pensar: que tipo de universidade estamos criando/
alimentando? Que tipo de sujeito produzido neste curso (ou nas engenharias)?
E, para que profissionais est sendo dada a autorizao para atuar na docncia?
importante pensarmos em fortalecer nossa profisso docente, lutando
pelo reconhecimento do/a licenciado/a como profissional habilitado para a
docncia. A docncia no vocao, no uma atividade que se aprende ape-
nas executando, pois, a ela exige habilidades e conhecimentos especficos (de
ensino, aprendizagem, didtica, etc.), ou seja, preparao, requisitos de ingresso,
plano de carreira profissional para exerc-la (Zabalza, 2004). Alm disso, preci-
samos pensar num aprendizado pelas diferenas, e/ou numa educao pelas
diferenas, onde os/as educadores/as possam se inspirar nos anormais, estra-
nhos, para o educar, fazendo o exerccio da ressignificao do estranho, do
anormal como veculo de mudana social e abertura para o futuro (Miskolci,
2016, p.67).
Quanto docncia no ensino superior, temos grandes desafios. Um deles
que nas licenciaturas pouco ou quase nada se fala em sexualidade, gnero e
diversidade sexual, por isso, um desafio a incluso dessas temticas na for-
mao inicial e continuada de professores/as. Outra questo que muitos/as
bacharis esto lecionando sem formao pedaggica/didtica, reproduzindo
em sala de aula o modelo de ensino aprendizagem que foram formados/as,
ento necessrio que estes/as profissionais faam formaes continuadas que
os d condies de reflexo sobre sua prtica, e os possibilite o reconhecimento
da identidade docente.
Consideraes finais
Referncias
Resumo
Introduo
a sua sexualidade, mas com a sua falta de postura tica em sala de aula que,
abertamente, favorecia aos homens com notas, em detrimento das mulheres.
Nada, nada, nada. Para voc ter uma ideia, tinha um aluno que
nunca apareceu pra atividade e ele deu 8.0, e ele nem estava na
aula, muito gritante. Isso a postura como professor? Mesmo se
ele no fosse homossexual, fosse htero e desse em cima das meni-
nas, tambm seria errado (ELIANE).
Mas, tambm tem muito professor aqui que d em cima da gente
n? (BIA).
Mas no em sala de aula (ELIANE).
[...]
Mas esse professor do curso de vocs? (PESQUISADORA).
Agora o daqui, comigo, particularmente, nunca teve nada
(CARLOS).
Lgico (com gozao e risos) (BIA E ELIANE).
Ele nunca me deu nota, nem brincadeira, nem falta de respeito,
nada, mas com colegas a gente v que ele soltava uma piadinha ou
outra (CARLOS).
Uma piadinha ou outra? Ele terrvel (ELIANE).
Mas isso tinha alguma ligao com a sexualidade dele?
(PESQUISADORA).
Tinha a ver com a questo da tica, a postura dele como profes-
sor (ELIANE).
Vocs percebiam que ele dava em cima dos alunos, isso?
(ORIENTADOR).
Isso no certo nem pra professor homem dar em cima de uma
menina ou de outro menino. No importa, isso errado (ELIANE).
desassociar o desejo das relaes escolares uma das formas encontradas pela
Instituio para domar os corpos e mascarar uma dificuldade dos profissionais
de lidar com tais situaes. Com o objetivo de doutrinar os corpos, moldando-
-os de acordo com suas aprendizagens sociais, dos costumes, da religio e da
tradio, para disciplinar a masculinidade e a feminilidade.
Mais uma vez, nota-se que o comportamento que foge norma inco-
moda, tanto que passa a ser descrito como momento difcil durante a prtica
de estgio, o fato de o garoto estar paquerando outro garoto atrapalha o ritmo
da aula, desconcerta a estagiria e a deixa em alerta com relao a algum tipo
de retaliao violenta. Eliane, assim como tantos/as outros/as profissionais da
educao, relata a experincia como se fosse igualitria, porm no se faz boa
educao s com inteno. Com frequncia, [...] colocamos nossas boas inten-
es e nossa confiana em uma educao a servio de um sistema sexista e
heterossexista de dominao que deve justamente a essas intenes e confiana
uma parte significativa de seu poder de conservao [...] (JUNQUEIRA, 2009,
p. 14) contribuindo mais com o sistema de opresso que se quer combater.
Quanto ao medo da retaliao violenta, esse dado infelizmente real o
que torna a preocupao genuna, visto que a violncia contra homossexuais
uma realidade, ao mesmo tempo em que a naturaliza, como se o rapaz esti-
vesse em seu direito de retaliar a uma cantada de um gay, com violncia, visto
que, sua paquera passa a ser entendida como incmodo, dando permisso para
a violncia como forma de demarcar sua prpria masculinidade. Em pesquisa
realizada pela Organizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia e
a Cultura (Unesco), em 13 capitais brasileiras e no Distrito Federal constatou-
se que entre os estudantes masculinos bater em homossexuais foi apontada
como ao menos violenta em uma lista de vrias outras aes violentas (ati-
rar em algum, estuprar, usar drogas, roubar e andar armado) (ABRAMOVAY;
CASTRO; SILVA, 2004).
Tal panorama de excluso e violncia se forma em decorrncia da
heteronormatividade, pela compulsoriedade heterossexual que rejeita a homos-
sexualidade em vrios espaos sociais, principalmente na escola, onde os
meninos so ensinados a serem machos, a deixarem qualquer comportamento
de aproximao com outros meninos, sob pena de serem taxados de afemina-
dos, de serem comparados com meninas que so sentimentais e tm permisso
para demonstrarem afeio.
Consideraes finais
Referncias
DIAS, A. F.. Educando Corpos, produzindo Diferenas: um debate sobre gnero nas
prticas pedaggicas. Tomo (UFS), v. 2, 2013. p. 237-256.
LOURO, G. L.. Pedagogias da sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (org.) et al. O
Corpo educado: Pedagogias da sexualidade. 2. ed. Belo Horizonte: Autntica, p.
07-35, 2000.
LOURO, G. L.. Currculo, gnero e sexualidade. In: LOURO, G. L.; FELIPE, J.;
GOELLNER, S. V..(orgs.). Corpo, gnero e sexualidade: um debate contemporneo na
educao. 5. ed. Petrpolis(RJ): Vozes, 2010.
SEFFNER, F.. Composies (com) e resistncias () norma: pensando corpo, sade, pol-
ticas e direitos LGBT. In: COLLING, Leandro (org.). Stonewall 40 + o que no Brasil?
Salvador: UDUFBA, 2011.
Resumo
Introduo
Metodologia
No artefato cultural Era uma vez outra Maria, h uma cena em que, com
muita tranquilidade, o irmo mais novo de Maria cruza com o pai ao passar
pela sala da casa tendo na mo uma revista em cuja capa ostentava uma foto
de mulher nua em posio sensual. O menino segue, desembaraadamente, em
direo ao banheiro sendo acompanhado pelo olhar de aprovao e orgulho
do pai. Estando l, abaixa as calas, senta-se no vaso sanitrio, pe a revista
na frente das pernas e comea a se masturbar; no se v o ato, mas possvel
ouvir sons e movimentos caractersticos, bem como, expresses de prazer no
rosto do garoto.
que ao passar pela sala com a revista em mos o irmo de Maria deixa transpa-
recer que tambm estava bem na dele, talvez, ainda mais que Maria, que por
um momento se sentiu constrangida ao pensar em qual seria a reao do pai e
da me diante de sua prtica.
Pensando sobre isso, me parece que os desejos sexuais de Maria, na con-
cepo da professora, deveriam constrang-la e no deix-la vontade e, ao
mesmo tempo, o comportamento de seu irmo parece ser legitimado, uma vez
que, ele estava vontade sob muitos aspectos e isso no foi questionado. A
ideia da existncia de um instinto masculino utilizado, dentre outras coisas,
para justificar que o homem, naturalmente, possui maior desejo sexual que a
mulher construda historicamente e autoriza esse discurso. Felipe (2000, p.116)
ao falar sobre a distino existente nos manuais de orientao para educao
do sexo de crianas e jovens dos sculos XVIII e XIX reitera que o instinto
era utilizado freqentemente como argumento explicativo para reafirmar as
diferenas entre os sexos. Assim, no sendo o desejo sexual instintivamente
prprio da mulher, a prtica da masturbao feminina torna-se antinatural e por
isso, no autorizada.
Outra questo que incomodou as professoras foi o maior tempo desti-
nado cena de Maria que do seu irmo. A cena decorreu dede o incio do
ato at a satisfao total de Maria enquanto na do irmo houve um corte de
cena ficando subtendido. Contudo, a fala de Innana tambm demonstra que as
professoras compreenderam o intuito do vdeo no que diz respeito ao empode-
ramento feminino, mas ainda assim, para ela no justifica tal exposio enftica
e prolongada.
[...] se passasse apenas a imagem, rapidinho e tal... mas, no n?!
Ela demora! at demais... acho que pra dar nfase questo que a
mulher, ela se masturba tambm e no s o menino, entendeu?!
(Innana)
Ou seja, se preciso falar sobre o assunto incmodo que ele seja rpido.
Quem sabe at no passa despercebido pelos/as estudantes?
prazer, historicamente, lhes foi negado e, talvez por isso, ainda tenham tanta
dificuldade de lidar com o ele, especialmente, na masturbao em que a figura
masculina no se faz necessria ao prazer.
Sobre esses lugares atribudos sexualidade feminina e masculina, con-
cordo com Guacira Louro quando afirma que:
[...] pouco importa sob quais bases foi fundamentada essa repre-
sentao; o que importa que ela teve, e ainda tem, efeitos na
produo de sujeitos masculinos e femininos. Essa representao
exerce um efeito de verdade e, portanto, pode interferir nas for-
mas de ser homem ou de ser mulher (LOURO, 1998, p. 45).
Consideraes finais
Referncias
FELIPE, J. Infncia, gnero e sexualidade. Educao & Realidade. v. 25, n.1, p. 115-131,
Rio Grande do Sul, Jan/jun. 2000.
Resumo
Introduo
onde o corpo tem de ser anulado, tem que passar despercebido, pois s assim
ser possvel um ambiente poltico democrtico e desvinculado de preconceitos
(HOOKS, 2000, p.113).
A Educao Jurdica constituiu-se historicamente com certo desprezo pela
realidade social, convencida de que uma justia universal deveria ser tecida
a partir de uma razo abstrata e apriorstica. Ela estruturou todo o seu apa-
rato terico sobre uma construo abstrata do sujeito de direito, isto , sobre
uma definio de homem cujo corpo concreto e os seus marcadores sociais
no deveriam importar para atribuio de prerrogativas e poderes jurdicos e
polticos.
Todavia, o gnero e a sexualidade, bem como a classe e a raa - esses ele-
mentos concretos que se inscrevem nos corpos - nunca deixaram de ser levados
em considerao no momento do reconhecimento concreto de prerrogativas e
da fruio efetiva de direitos. O padro social heterossexual e cisgnero conti-
nuou a se impor como condio para o empoderamento jurdico do sujeito. As
identidades consideradas dissidentes, para alm de serem subvalorizadas, man-
tiveram-se margem no s da vida social e do reconhecimento dos aparatos
jurdicos, mas tambm da educao em direito.
Em um campo como o direito, no qual os poderes repressivos e simblicos
so especialmente relevantes, a formao de juristas, juzes, promotores, advo-
gados e agentes pblicos tem um enorme impacto na capacidade efetiva dos
aparatos jurdicos de reconhecer e incluir minorias. Alm disso, visto que seus
conceitos so relativamente abertos significao doutrinria e jurisprudencial,
as quais perpassam pela interpretao subjetiva daqueles que a constroem, a
forma como sero conformadas essas interpretaes e como ser instrumenta-
lizado o direito dependem diretamente de como se estrutura o ensino jurdico.
O que se percebe atualmente uma completa negligncia nas formaes
jurdicas em relao aos temas de gnero e sexualidade. O formalismo acrtico
que prevalece nas vrias disciplinas do curso de direito colabora para que no
se coloque em cheque as protees seletivas e solues conservadoras que se
oferece ao estudante.
No se questiona como o direitos civis da personalidade engessam a iden-
tidade de gnero; como so desiguais as relaes contratuais entre homens e
mulheres; no so levantadas novas vias para o direito de famlia, que per-
manece esttico frente a um cenrio fluido em que no h mais uma nica
formao familiar; no se discute o sintoma de violncia social, o qual, mesmo
Consideraes finais
Referncias Bibliogrficas
BORILLO, Daniel. O sexo e o Direito: a lgica binria dos gneros e a matriz heteros-
sexual da Lei. Belo Horizonte: Meritum, v. 5, n. 2, 2010, pp. 289-321.
FERREIRA, Amanda Cristina de Souza; SANTOS, Ana Carla dos; SILVA, Thares Lima
da. Gnero e relaes de opresso: breves reflexes. Peridico do Ncleo de Estudos
e Pesquisas sobre Gnero e Direito, Centro de Cincias Jurdicas - UFPB, n.1, pp.358-
370, 2015.
HOOKS, Bell. Eros, erotismo e o processo pedaggico. In: LOURO, Guacira Lopes
(org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. 2 edio, Belo Horizonte:
Autntica, pp.113-124, 2000.
Rachel Pulcino
Doutoranda em Educao (PUC-Rio) Pontifcia Universidade
Catlica do Rio de Janeiro - Educao
[email protected]
Raquel Pinho
Doutoranda em Educao (PUC-Rio) Pontifcia Universidade
Catlica do Rio de Janeiro - Educao
[email protected]
Felipe Bastos
Doutorando em Educao (PUC-Rio) UFJF/
Colgio de Aplicao Joo XXIII - Ensino de Biologia
[email protected]
Resumo
Introduo
1 Movimento de repdio s normas de gnero atravs da utilizao por parte dos alunos das tradicio-
nais saias femininas do Colgio Pedro II.
2 Referenciar autoras com nome e sobrenome e no apenas sobrenome como feito usualmente uma
forma de evidenciar os gneros e, por consequncia, as mulheres na pesquisa, o que contribui com
as lutas de reconhecimento e com valorizao da identidade feminina de forma mais ampla (Raquel
PINHO; Rachel PULCINO, 2016).
Caminhos metodolgicos
O presente ensaio foi elaborado como uma pesquisa qualitativa, cujo prin-
cipal objetivo compreender como duas experincias que quebram a lgica do
cotidiano das relaes de gnero na escola so expostas atravs de meios de
divulgao miditicos no formato de reportagens.
Seguimos a metodologia da anlise de contedos descrita por Roque
Moraes (1999), pois entendemos que o mtodo contribui para a pesquisa na
medida em que auxilia na percepo de sentidos simblicos que atravs de
uma simples leitura no seria possvel, pois a leitura ficaria restrita ao comum.
Assim, nosso interesse est em ir alm de uma leitura superficial das
reportagens, mas expor o quanto e como elas simbolizam e apresentam as
identidades de gnero presentes na escola hoje. Consideramos relevante tra-
zer as prticas desenvolvidas na escola por parte dos estudantes, evidenciando
que, apesar de existir uma forte cultura homogeneizadora dos gneros, a escola
pode ser lugar e espao de exerccio de prticas de resistncia padronizao
e normatizao.
essa expectativa, ultrapassam os limites dos polos e se fixam ou fluem em diversos pontos do espec-
tro de gnero (Neilton DOS REIS; Raquel PINHO, 2016).
4 Segundo nota publicada pelo Retrato Colorido, coletivo LGBT do Colgio Pedro II, em seu Facebook,
o aluno no se identifica com a transexualidade, mas seria um aluno no-binrio, ou seja, que no
se identifica na dualidade entre menino ou menina. Disponvel em: <https://www.facebook.com/
retratocolorido/posts/ 492915740844988>.
por uma colega. Iana conta que sua postura de aceitao da sexualidade trouxe
outras questes, pois apesar do discurso escolar dizer que no havia nenhum
problema em ser homossexual, a recomendao era que no precisa se falar
sobre isso. Para ser homossexual era preciso estar calado.
Entrei em depresso e tentei me matar trs vezes. Decidi contar
para a minha me. Ela me apoiou muito e a nada mais me impor-
tava. Cortei meu cabelo, joguei fora as roupas de menina que eu
no gostava, me libertei. Passei a falar abertamente sobre a minha
sexualidade, mesmo dentro da escola. Nesse momento, fui abor-
dada vrias vezes por professores e pela coordenao (Iana).
Emilson conta que na ltima aula do dia foi chamado a comparecer sala da
gesto pela diretora adjunta e pelo coordenador pedaggico:
No fui obrigado, mas a presena dos dois me fez pensar: ou eu
tiro ou pode haver consequncias ruins para mim. [...] Ns sempre
realizamos atividades, palestras e atos para discutir temas ligados
ao gnero e sexualidade. Como protesto ao que tinha acontecido,
promovemos um saiato duas semanas depois. Mais de 30 alu-
nos, homens e mulheres, foram de saia escola no dia marcado. O
caso repercutiu e saiu em diversos jornais. Infelizmente, a gesto da
escola decidiu no tocar no assunto (Emilson).
Este estudante conta que, em conversa, a gestora disse que tinha contato
com as discusses de gnero desde a faculdade e que sabia que na Esccia
homens vestiam saias, mas que isso no acontecia no Brasil e, portanto, deveria
retirar a saia.
Consideraes finais
presena dos dois gestores, apesar de no ter sido obrigado a tirar a saia por
eles.
Essas histrias nos contam sobre as prticas de interdio e as relaes
de poder presentes no cotidiano escolar que insistem em silenciar e invisibilizar
as diferenas. Elas mostram o quanto escola se configura como um espao
de vigilncia das sexualidades e das marcaes de gnero, sistematizando pr-
ticas de controle e regulao dos corpos dos estudantes. Como aponta Rogrio
Junqueira (2013), a instituio escolar pratica a pedagogia do armrio, quando
seu discurso diz que no h problema em ser homossexual, que est tudo bem.
Mas, apesar disso, ainda pede para seus estudantes comportem-se adequada-
mente de acordo com o seu gnero.
Sobre a histria de Emilson, vemos o quanto sua presena e a publici-
zao impactaram a vida em sua escola, quando um ano aps o ocorrido, o
Colgio Pedro II, lana uma portaria no dia 14 de setembro de 2016, sobre uso
de saias por estudantes do sexo feminino e masculino.
(...) escola federal fundada em 1837, no tem mais uniformes mas-
culino e feminino. Na prtica, o uso de saias est liberado para os
meninos. Em 2014, estudantes fizeram um saiato, depois que uma
aluna transexual vestiu a saia de uma colega e teve de trocar o uni-
forme. Desde maio deste ano, o Pedro II adota na lista de chamada
o nome social escolhido por alunos e alunas transexuais. (Clarissa
THOM, 2016).
Referncias
SOARES, W. Educao sexual: precisamos falar sobre Romeo... Nova Escola, edio
279, 2015. Disponvel em: <http://novaescola.org.br/formacao/educacao-sexual-preci-
samos-falar- romeo-834861.shtml>. Acesso em: 12 jun. 2016.
SCOTT, J. W. Gnero: uma categoria til de anlise histrica. Educao & Realidade,
Porto Alegre, v. 20, n. 2, p. 71-99, 1995.
THOM, C. Colgio Pedro II, no Rio, libera saia para meninos. O Estado de So Paulo, So
Paulo, 19 de setembro de 2016. Disponvel em: <http://educacao.estadao.com.br/noticias/
geral,colegio-pedro-ii-no-rio-libera-saia-para-meninos,10000077010>. Acessado em
12 de dezembro de 2016.
Resumo
Elementos introdutrios
1 Da Matta relata que, naquela poca, era costume dos jovens rapazes usar no bolso traseiro da cala,
alm de uma carteira com dinheiro e documentos, um pente e um leno, por isso nada mais leg-
timos e natural do que passar a mo na bunda do companheiro com a desculpa de solicitar um
pente.
2 Ttulo de uma msica do cantor Latino que fez muito sucesso no ano de 2005.
os dois primeiros. Quando Renato diz que todo mundo entrou na pilha dele,
referindo-se aos colegas, evidencia que eles se posicionaram a favor do sujeito
que humilha, ao mesmo tempo em que o potencializa, imputando-lhe superio-
ridade, enquanto que o segundo sujeito identificado como inferior, no s em
relao ao autor da ao, como tambm ao grupo.
Quanto ao garoto que iniciou a agresso, ele se sentiu fortalecido com a
animao da classe, que nesse momento havia se tornado uma plateia para o
seu show. O interessante observar tambm que Renato, embora no tenha
reagido s agresses, buscou uma sada para se defender, se consideraremos
que a sua fuga da sala de aula at a secretaria da escola uma estratgia que
ele encontrou para a interrupo das agresses.
Ao dizer que o DVD foi tirado, todo mundo voltou para a sala e ficou
por isso mesmo, Renato denuncia que a escola silenciou mediante o fato. No
entanto, o silncio, muito mais do que a ausncia da fala, pode ter vrios senti-
dos, conforme Marques e Ferreira (2011, p. 39) mencionam que o silncio pe
em jogo processos de significao. Nessa situao, sem dialogar com a classe,
sem questionar quais incmodos existem com relao ao colega, a professora
abriu espao para que as prticas de violncia relacionadas homossexualidade
continuem naquele espao educativo e esse silenciamento nos faz suspeitar que
a escola esteja favorecendo a construo social hegemnica que hierarquiza,
classifica e empurra pessoas para a margem pelas suas subjetividades.
Todavia, as atitudes violentas de preconceito e discriminao nos desafia
a pensar que, enquanto espao heterogneo e que produz saberes, a escola no
deve silenciar. Assim, em situaes semelhantes h alguns posicionamentos e
atitudes que podem ser mediadas como problematizar a situao fazendo com
que os alunos reflitam sobre suas aes relacionadas s diferenas, que esto
presentes em cada um, acrescentar ao planejamento pedaggico temas que
se refiram s performances de gneros no-hegemnicas, s sexualidades, e
finalmente homofobia, e inserir no planejamento a questo da violncia com
vistas a evidenciar para os alunos que esse fenmeno traz consequncias tanto
para o agredido quanto para o agressor e ainda se estende a outras pessoas
mesmo que no estejam envolvidas diretamente nos fatos.
Elementos conclusivos
Referncias
ANDRADE, Sandra dos Santos. A entrevista narrativa ressignificada nas pesquisas edu-
cacionais ps-estruturalistas. In: MEYER, Dagmar Estermann e PARASO, Marlucy Alves
(orgs.). Metodologias de pesquisas ps-crticas em educao. 2 ed. Belo Horizonte:
Maza Edies, 2014.
FERRARI, Anderson. Eles me chamam de feia, macaca, chata e gorda. Eu fico muito
triste classe, raa e gnero em narrativas de violncia na escola. Instrumento:
Revista de Estudos e Pesquisa em Educao. Juiz de Fora, v. 12, n 1, jan./jun. 2010.
p. 21-30.
MISKOLCI, Richard. Do desvio s diferenas. Teoria & Pesquisa. N 47. Jul./dez. 2005.
p. 9-41.
Resumo
Introduo
1 Considero que o discurso contrrio ao projeto tenha sado hegemnico no perodo que abarcou este
estudo no s porque a denominao Kit Gay, em tom pejorativo, ficou popularmente conhecida,
como tambm pela suspenso, por parte do Governo Federal, da continuidade do projeto.
Metodologia
O embate e o veto
2 Tambm foram analisados pronunciamentos pblicos realizados por parlamentares nos plenrios da
Cmara do Deputados e do Senado Federal que podem ser encontrados em seus sites oficiais.
Consideraes finais
Referncias
______. Histria da sexualidade, v.1: A vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 2001.
VITAL DA CUNHA, Christina; LOPES, Paulo Victor Leite. Religio e poltica: uma an-
lise da atuao de parlamentares evanglicos sobre direitos das mulheres e de LGBTs
no Brasil. Rio de Janeiro : Fundao Heinrich Bll, 2012.
Felipe Bastos
Doutorando em Educao PPGE/PUC-Rio
Colgio de Aplicao Joo XXIII UFJF
[email protected]
Raquel Pinho
Doutoranda em Educao PPGE/PUC-Rio
Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro Educao
[email protected]
Rachel Pulcino
Doutoranda em Educao PPGE/PUC-Rio
Pontifcia Universidade Catlica do Rio de Janeiro Educao
[email protected]
Resumo
Este artigo tem como objetivo principal compreender os dados sobre a per-
cepo de homofobia por parte de estudantes em relao s suas distncias
sociais com indivduos homossexuais, obtidos pela pesquisa Preconceito e
Discriminao no Ambiente Escolar, realizada em 2009 pela FIPE/INEP. Com o
universo de dados de estudantes da educao bsica, geramos tabelas de refe-
rncia cruzada para distncia social com pessoas homossexuais e percepo de
atitudes preconceituosas especficas contra pessoas homossexuais. Observamos
a tendncia em todas as anlises de que estudantes socialmente distantes de
pessoas homossexuais enxergam menos prticas de preconceito contra homos-
sexuais quando comparados com estudantes socialmente prximos.
Palavras-chave: preconceito; homofobia; diversidade sexual; escola; distncia
social.
Introduo
Metodologia
1 Diante da constante ocultao das mulheres na escrita de termos neutros, invertemos a regra grama-
tical da lngua portuguesa que define o masculino como elemento neutro, de modo que o feminino
passa a compor deliberadamente os substantivos e adjetivos neutros neste texto.
Resultados e discusso
TABELA II
PRECONCEITO CONTRA PROFESSORA POR SER HOMOSSEXUAL
Grupos de distncia social
Ao Percepo Baixa Mdia Alta Total
proximidade proximidade proximidade
Vi nesta escola 9,9% 9,3% 18,7% 9,9%
Humilhada
TABELA III
PRECONCEITO CONTRA FUNCIONRIA POR SER HOMOSSEXUAL
Grupos de distncia social
Ao Percepo Baixa Mdia Alta Total
proximidade proximidade proximidade
Vi nesta escola 4,6% 4,5% 10,0% 4,7%
Humilhada
Consideraes finais
Referncias
LOURO, Guacira Lopes. A construo escolar das diferenas. In: Gnero, sexuali-
dade e educao: uma perspectiva ps-estruturalista. 6. ed. Petrpolis: Vozes, 2003.
p. 57-87.
Bruno Pereira
Mestrando em Psicologia - UNESP/Assis.
[email protected]
Resumo
Introduo
1 J em 2011, a editora catlica Katechesis publica no Brasil o livro Ideologia de Gneros: o neototali-
tarismo e a morte da famlia, traduo do livro de nome homnimo escrito pelo advogado argentino
Jorge Scala, ou seja, no se trata de uma discusso recente.
2 Basta lembrarmos que em maio de 2011, a presidenta Dilma Rousseff vetou um conjunto de ma-
teriais que fazia parte do programa Escola Sem Homofobia. Na poca, a presidente, cedendo s
presses da bancada evanglica, afirmou que seu governo no faria propaganda de orientao
sexual.
3 Disponvel em: https://www.youtube.com/watch?v=kkYrvt_jt_g. Acesso em 09/06/2016.
4 Os pnicos morais dizem respeito as resistncias e aos medos sociais relacionados s mudanas,
principalmente quando estas so vistas com potencial de ameaar a ordem social vigente (MISKOL-
CI, 2007).
Mesmo que tenha sido criado pelos fundamentalistas religiosos uma divi-
so que implique um ns (cristos)/eles (defensores da ideologia de gnero),
como se esse eles fosse uma unidade coesa que compartilhasse das mesmas
vises acerca do gnero, este um conceito em disputa que historicamente
obteve diversos usos em relao as suas significaes. Tendo surgido em con-
textos mdicos no incio da segunda metade do sculo XX, o conceito gnero,
relacionado anlise das diferenas entre homens e mulheres, passa na dcada
de 805 a ser usado amplamente por tericas feministas com o objetivo principal
de explicitar o carter fundamentalmente social das diferenas entre homens
e mulheres. Neste momento, Joan Scott (1995) o apresenta como a forma pri-
meira de significar as relaes de poder, como um elemento constitutivo das
relaes sociais fundadas sobre as diferenas percebidas entre os sexos (p.21).
Com a emergncia de discusses ps-estruturalistas, esta compreenso se
complexifica. Para Judith Butler (2003), com fundamento na diferena sexual
que discursos tentam nos fazer acreditar que deve haver uma concordncia
entre gnero, sexualidade e corpo. Em sua tica, o sexo uma das normas
pelas quais algum simplesmente se torna vivel, aquilo que qualifica um
corpo para a vida no interior do domnio da inteligibilidade cultural (p.155).
Estamos, portanto, desde sempre generificados com e para os outros.
Em sua teorizao, Butler (2003) nos apresenta a matriz heteronormativa6
de ordem compulsria, que pressupe uma relao direta e causal entre sexo
5 Segundo Haraway (2004, p.221), a exploso do discurso das diferenas entre sexo/gnero na litera-
tura pode ser visualizada, por exemplo, na ocorrncia da palavra gnero como palavra-chave nos
resumos dos artigos registrados nos Sociological Abstracts [de nenhum registro entre 1966 e 1970, a
724 registros entre 1981 e 1985] e nos Psychological Abstracts [de 50 entradas como palavra chave
de resumos entre 1966 e 1970 a 1326 entradas de 1981 a 1985].
6 Heterornormatividade diz respeito a um conjunto de prescries que regulam e controlam os corpos
de acordo com a matriz heteronormativa apresentada acima. Concordamos com Deborah Britzman
(1996) quando esta afirma que precisamos ir alm do termo humanista homofobia. Este termo,
de acordo com ela, alm de nos remeter a um medo individual dos homossexuais, no contm
queer? Uma pedagogia queer, mais do que uma proposio clara e esttica
de ao educativa, nos oferece uma aposta na potncia de se problematizar e
pluralizar as representaes e os discursos da identidade e do conhecimento,
possibilitando que haja menos discursos normalizadores dos corpos, dos gne-
ros, das relaes sociais e do desejo (BRITZMAN, 1996).
Consideraes finais
Ainda que a discusso realizada neste texto seja de fato um debate pol-
tico em curso de acirradas disputas poltico-idelgicas, concordamos com o
que escreveu o deputado Jean Wyllys (2016), ao abordar a farsa da ideologia
de gnero, que h situaes em que os esforos para invisibilizar ou deturpar
um assunto acabam por afirm-lo e ampliar sua circulao. Afinal, os emara-
nhados do poder e da resistncia se tecem e se potencializam sob o mesmo
campo social. Deste modo, terminamos com uma citao de Preciado:
Eles defendem o poder de educar os filhos dentro da norma sexual
e de gnero, como se fossem supostamente heterossexuais. Eles
desfilam para conservar o direito de discriminar, castigar e corrigir
qualquer forma de dissidncia ou desvio, mas tambm para lem-
brar aos pais dos filhos no-heterossexuais que o seu dever ter
vergonha deles, rejeit-los e corrigi-los. Ns defendemos o direito
das crianas a no serem educadas exclusivamente como fora
de trabalho e de reproduo. Defendemos o direito das crianas
e adolescentes a no serem considerados futuros produtores de
esperma e futuros teros. Defendemos o direito das crianas e dos
adolescentes a serem subjetividades polticas que no se reduzem
identidade de gnero, sexo ou raa (PRECIADO, 2013, p.98).
Referncias
SCOTT, Joan. Gnero: uma categoria til para a anlise histrica (1989). Publicao da
ONG S.O.S. Recife, 1995.
Resumo
Introduo
O campo de pesquisa
1 Nomes fictcios
Consideraes finais
Referncias
BUTLER, J. Gender Trouble: Feminism and the Subversion of Identity. Nova York:
Routledge, 1990.
FINCO, D. Faca sem ponta, galinha sem p, homem com homem, mulher com
mulher: relaes de gnero nas relaes de meninos e meninas na pr-escola. 2004.
Dissertao (Mestrado) - Faculdade de Educao, Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, 2004.
MEYER, D. E. Gnero e educao: teoria e poltica. In: LOURO, G. L.; FELIPE, J.;
GOELLNER, S. V. (Orgs.). Corpo, gnero e sexualidade: um debate contemporneo
na educao. 8 ed. Petrpolis, RJ: Vozes, 2003.
SALIH, S. Judith Butler e a teoria queer. Belo Horizonte: Autntica, 2012. TEIXEIRA, F.
B. Meninas e meninos na escola: uma aquarela de possibilidades. 2001.
PERFORMATIVIDADE E INTERSECCIONALIDADE
NAS IDENTIFICAES DE GNERO ENTRE JOVENS
NO CONTEXTO ESCOLAR: ALGUMAS REFLEXES
Resumo
Introduo
1 A noo de quase conceito e/ou indecidvel para Derrida (2001), busca responder impossibilidade
do pensamento se organizar a partir de conceitos fixos, homogneos e universais, desconstruindo
assim parte da lgica do pensamento metafsico pensamento binrio e hierarquizado, conforme j
discutido anteriormente. So noes que visam tratar da instabilidade dos significados e, coerente-
mente, no poderiam se estabilizar em algum contedo apriorstico ao seu uso.
Consideraes
Referncias
_____. Quadros de guerra: quando a vida passvel de luto. Rio de Janeiro: Civilizao
Brasileira, 2015b.
SOUSA FILHO, A. Ideologia de gnero: quem pratica? Revista Bagoas, v.9, n.12,
2015, p. 9 14.
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar as novas configuraes da famlia con-
tempornea atravs das mudanas sociais e da evoluo legislativa, assegurando
a incluso das unies homoafetivas como entidades familiares. A Constituio,
atravs do artigo 226, pretendeu demonstrar a amplitude do termo entidade
familiar, outorgando s unies homoafetivas tratamento igual ao dispensado
s unies estveis por meio de analogia na falta de norma que as albergue,
independentemente de todos os preconceitos existentes em nossa sociedade.
Levaremos em conta a introduo dos novos costumes e valores e o respeito
ao ser humano no que tange sua dignidade e aos direitos inerentes sua
identidade para compreendermos estas novas modalidades de famlia formadas
declaradamente, nos dias atuais.
Palavras-chave: Afeto, Educao, Direitos, Famlia, Professores.
Introduo
Consideraes finais
uma instituio repressiva; ris (2012) que discorreu sobre a criana desde a
antiguidade at a presente data; Paz (2013), a qual pesquisou gnero e sexu-
alidade em uma escola pblica no DF, Paulo (2006) apresentou o desafio do
conceito da famlia na contemporaneidade, dentre outros, apresentam em
comum o conservadorismo da sociedade com relao s transformaes das
relaes sociais.
Faz-se mister trabalhar culturas, polticas e prticas (BOOTH E AINSCOW,
2011) para que mobilizem setores da sociedade civil que contribuam na elabo-
rao de polticas pblicas que minimizem/eliminem a intolerncia que ainda
persiste em vrios locais, para que haja incluso, atravs do respeito pessoa
LGBT.
Preocupamo-nos em no sermos prescritivas indicando, contudo, pos-
sibilidades e urgncia de se discutir mais amplamente, no cotidiano das
identidades, condutas e comportamentos humanos dentro das escolas e das
famlias, a questo do preconceito, sobre orientaes sexuais diversas, para
relaes homoafetivas mais sujeitos do que objetos, mais saudveis na digni-
dade humana, onde o respeito diversidade predomine no ambiente escolar.
As (os) gestoras (es) das escolas, as famlias, professores (as), demais pro-
fissionais que atuam na educao; e alunos (as) teriam assim a oportunidade de
compreender e cultivar projetos educacionais que requerem a unio da desu-
nio com a unio, uma metfora proposta por Morin (2005) em uma das suas
falas em pblico sobre mtodo.
Todas estas alternativas devem ser debatidas na instituio escola que
recebe e atua com as novas configuraes de famlia.
Referncias
RIS, Philippe. A Histria social da criana e da famlia. Rio de Janeiro: Zahar, 2012.
BOOTH, Tony. AINSCOW, Mel. ndex para a Incluso. Traduo de Mnica Pereira
dos Santos. Rio de Janeiro: LaPEADE/FE/UFRJ, 2011.
COSTA, Jurandir Freire. Ordem mdica e norma familiar. Rio de Janeiro: Graal, 2004.
LOURO, Guacira Lopes. NECKEL, J. F. GOELLNER, S.V. (Orgs.). Corpo, gnero e sexu-
alidade: um debate contemporneo na educao. Petrpolis, RJ: Vozes, 2003.
PAZ, Claudia Denis Alves da. Gnero e sexualidade: como trabalhar na escola?
Florianpolis: Fazendo gnero 10. Desafios atuais dos feminismos, 16-20/09/2013.
Resumo
Introduo
4 A noo de performatividade de gnero, teorizao tambm desenvolvida por Judith Butler, diz
respeito repetio de atos, gestos, atuaes e encenaes, que por meio de aspectos lingusticos-
discursivos-textuais, buscam normatizar gnero, sexo e sexualidade (BUTLER, 2015a).
5 Esta afirmacin vale tanto para las reivindicaciones de gays y lesbianas del derechos a la libertad se-
xual como para la reivindicacin de transexuales y transgneros del derecho a la autodeterminacin,
as como para la reivindicacin de intersexuales del derecho a no someterse a ninguna intervencin
mdica o psiquitrica forzada. Vale tanto para el derecho a estar libre de ataques racistas, fsicos y
verbales, como para la reivindicacin feminista de la libertad reproductiva, as como vale tambin
para todos aquellos cuyos cuerpos trabajan bajo caccin, poltica y econmica, bajo condiciones de
colonizacin y ocupacin
Cada dia a gente vai evoluindo at chegar o ponto certo. Mas todo
gay teve seu ponto fraco na sua infncia. Hoje os professores perce-
bem que eu sou, mas no h nenhum problema.
Pesquisador: Ento voc acha que era mais afeminado quando
criana e se policiou mais quando foi crescendo. Mas voc acha
que isso certo? Voc no acha que, no sei, voc deveria ser
quem voc e no precisar ter que mudar?
Jovem 2: Pode ser sim, mas eu tambm fao o que eu bem entendo.
Hoje todo mundo me v e percebe que eu sou, digamos que hoje
eu encaro mais as pessoas, mesmo ainda sendo afeminado. Mesmo
a gente tentando se modificar difcil... eu pelo menos tentei de
alguma forma.
Consideraes finais
Referncias
BUTLER, J. Vida precaria. El poder del duelo y la violencia. Argentina: Editorial Paidos,
2009a.
Resumo
Introduo
1 Projeto de extenso que tem como aes principais a sensibilizao, formao e produo de mate-
riais para profissionais e estudantes da rede pblica do Rio de Janeiro.
2 MEAD, 1913; COOLEY, 1956; 1992; BREWER, 1991; 1996; HOLSTEIN & GUBRIUM, 2000; PAPA-
CHARISSI, 2010.
Nesse sentido, aqueles que, por algum motivo, escaparem essa norma
estaro sujeitos, em maior ou menor grau, discriminao que, dentro do
espao escolar, emerge sob a forma dos mais diversos tipos de bullying3.
3 Termo proposto por Dan Olweus, aps o Massacre de Columbine, 1999, que comumente utilizado
para descrever atos de violncia fsica ou psicolgica, intencionais e repetidos, praticados por um
indivduo ou grupo de indivduos, dentro de uma relao desigual de poder.
4 Segundo o autor, violncia juvenil um termo que se refere violncia cometida por pessoas com
idades entre 10 e 21 anos.
5 Disponvel em: http://www2.ufscar.br/servicos/noticias.php?idNot=8317. Acesso em 08/07/2016 s
04:18.
6 Pesquisa Juventudes na Escola, Sentidos e Buscas: por que frequentam?, realizada pelo Ministrio da
Educao em parceria com a SECADI, coordenada por Miriam Abramovay.
Para alm dessa questo, est em jogo a homofobia. Nos idos do sculo
XIX, havia uma tentativa de consolidar uma masculinidade e virilidade hege-
mnicas, dada a ameaa de uma feminilidade inerente a alguns homens,
decorrente do medo de tornarem-se homossexuais. Tal preocupao obrigou
os homens a investirem e construrem para si diversos papis e traos repre-
sentativos de sua condio masculina o homem vitoriano em contraste ao
seu oposto, a mulher, e, mais inadvertidamente, ao seu inverso, o homossexual
(SILVA, 2000).
Nesse sentido, e ainda se observa esse comportamento no homem con-
temporneo, ser homem, no sculo XIX, significava no ser mulher, e, acima de
qualquer hiptese, jamais ser homossexual. A identidade sexual e de gnero do
7 Connell (2005).
8 A autora utiliza o adjetivo hegemnica, derivado de Gramsci, com o intuito de suscitar uma proble-
matizao terica, uma vez que o termo implica em luta constante de preponderncia, poder.
Consideraes Finais
Referncias
CONNELL, Raewyn (Robert William). Masculinities. 2nd Edition. Berkely, CA: University
of California Press, 2005.
Resumo
Introduo
Desde tenra idade, meninos e meninas seguem normas que, para Scott
(1995) so histrico-sociais e tendem a favorecer as expectativas dos pais, dos
vizinhos, de parentes ou de amigos. Esses aspectos relacionais de gnero, que
constituem uma [...] categoria social imposta sobre um corpo sexuado [...]
(SCOTT, 1995, p.75), so percebidos com mais clareza nos relacionamentos
das crianas entre si, quando se formam grupos marcados por amizades exclu-
sivas (em geral do mesmo sexo) at chegar aos valores preconceituosos, que
pairam, sobretudo, no mbito escolar.
Nessa perspectiva, o modelo reproduzido nas prticas corporais ou recre-
ativas favorece a formao de diferenciaes, reunidas intimamente dentro e
fora da escola. Percebemos, ento, que a construo social das masculinidades
fruto dos valores e conceitos impostos em normas de conduta scio histri-
cas, que interferem na construo dos corpos masculino e feminino.
Aps os escritos, o objetivo deste estudo comparar, entre alunos de
primeiro e oitavo perodos do curso de Licenciatura em Educao Fsica, as
representaes de masculinidades na adequao de brinquedos s crianas do
sexo masculino. Buscamos responder a questo: Existem diferenas nas consi-
deraes de alunos de primeiro e oitavo perodos sobre brinquedos adequados
ao sexo masculino?
Masculinidades
Masculinidade hegemnica
Metodologia
Anlise e discusso
A nica resposta que admitiu uma maior pluralidade nos sentidos atribudos
aos brinquedos foi a de apenas um estudante, que afirmou: meninos no tem
interesse nos brinquedos femininos, mas que isso depende da particularidade.
Concluso
Referncias
CONNELL, R. The men and the boys. Berkeley: The University of California Press,
2000.
CONNELL, R. Corporate Masculinity and the global context: a case study of conserva-
tive gender dynamics. Cadernos Pagu, n. 40, p. 322-344, 2013.
CONNELL et. al. Por uma Teoria Social de Gnero do e para-o Sul Global: uma entre-
vista com Raewyn Connell. Revista Feminismos, v. 3, n. 1, 2015.
Raquel Quirino
Doutora em Educao Centro Federal de
Educao Tecnolgica de Minas Gerais CEFET-MG
[email protected]
Resumo
1. Introduo
O relatrio Gender and education for all the leap to equality: EFA global
monitoring report
2003/4 2divulgado pela Unesco j evidenciava a tendncia mundial
igualdade de acesso ao ensino ps-secundrio, porm aponta os padres de
escolha realizados pelas mulheres como uma questo fundamental a ser discu-
tida para que se possa alcanar a igualdade de gnero. Na realidade brasileira
apesar da mudana nos nmeros gerais3 que caracteriza uma crescente femi-
nilizao do ensino tcnico de nvel mdio, anteriormente majoritariamente
masculino4, persiste a tendncia das alunas de se concentrarem em determi-
nadas reas do conhecimento em detrimento de outras5. As reas gerais de
formao com maior concentrao feminina so, segundo o IBGE (2014, p.107),
as com ocupaes de menor remunerao mdia no mercado de trabalho e
que mais se afastam da viso do senso comum de Cincia e Tecnologia. Para
contribuir com o desvelamento das escolhas das alunas por essas reas de atu-
ao em detrimento de outras mais tecnologizadas necessrio conhecer a
forma como essas mulheres se percebem e se relacionam com suas construes
sobre sua realidade, sua formao profissional, insero e atuao no mundo
do trabalho.
Conforme esclarece Hirata (2002, p. 23) as pesquisas sobre o mundo
do trabalho, em sua grande maioria so realizadas sob uma perspectiva que
no leva em conta as relaes de gnero e o sexismo presente nessas relaes
sociais, tratam-se de pesquisas gender-blinded. A autora afirma ainda que essa
tendncia das pesquisas, em realizar generalizaes partindo de um ponto de
vista masculino, pode induzir ao erro, uma vez que aes de formao pro-
fissional no tm a mesma amplitude nem o mesmo alcance, e tampouco a
mesma significao para as mulheres e para os homens (HIRATA,2002, p. 224)
deixando de explorar a possibilidade de o espao de formao contribuir para
a viso da pseudo incompetncia tcnica feminina
2 Disponvel em <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001325/132550e.pdf>
3 Disponveis em <http://portal.inep.gov.br/basica-levantamentos-acessar>
4 Disponvel em <http://portal.inep.gov.br/educacao-profissional>
5 Disponveis em <http://portal.inep.gov.br/basica-levantamentos-acessar>
Para uma anlise mais clara necessrio desconstruir essa ideia da tec-
nologia como isenta das ideologias, para Marcuse (1999, p. 74) a tcnica por
si s pode promover tanto o autoritarismo quanto a liberdade, tanto a escassez
quanto a abundncia, tanto o aumento quanto a abolio do trabalho rduo.
Assim a tecnologia reflete os planos, propsitos e valores da sociedade em que
se desenvolve. (Veraszto, 2008, p.78)
A mscara de neutralidade leva possibilidade de que aqueles que detm
o poder direcionem as pesquisas e inovaes aos seus propsitos.
Fazer tecnologia , sem dvida, fazer poltica e, dado que a pol-
tica um assunto de interesse geral, deveramos ter a oportunidade
de decidir que tipo de tecnologia desejamos. Mantendo o discurso
que a tecnologia neutra favorece a interveno de experts que
decidem o que correto baseando-se em uma avaliao objetiva e
impede, por sua vez, a participao democrtica na discusso sobre
planejamento e inovao tecnolgica (GARCA et al, 2000, p. 132).
Grfico 2 Porcentagem de alunos matriculados por sexo nos 10 cursos tcnicos com maior
participao feminina em 2014
Grfico 3 Porcentagem de alunos matriculados por sexo nos 10 cursos tcnicos com menor
participao feminina em 2014
4. Consideraes finais
5. Referncias
HIRATA, Helena. Nova diviso sexual do trabalho?: um olhar voltado para a empresa
e a sociedade. Ed. 01, So Paulo. Boitempo, 2002. p. 336.
STANCKI, Nanci. Diviso sexual do trabalho: a sua constante reproduo. Paper apre-
sentado no I Ciclo de Debates em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia, So
Paulo, 2003, PUC-SP Disponvel em <http://www.pucsp.br/eitt/downloads/eitt2003_
nancistancki.pdf.> Acesso em 11 de maio de 2016.
Terezinha Richartz
Doutora em Cincias Sociais pela PUC/SP
Professora do Programa de Mestrado em Letras Linguagem, Cultura e
Discurso da Universidade Vale do Rio Verde (UNINCOR)
[email protected]
Resumo
Introduo
1 Quando citadas as falas dos atores, so includos hora e minuto ou minuto e segundo das gravaes
das sesses disponibilizadas no Youtube.
6 Nota da CNBB sobre a incluso da ideologia de gnero nos Planos de Educao, datada de 19 de
junho de 2015: A ideologia de gnero subverte o conceito de famlia, que tem seu fundamento
na unio estvel entre homem e mulher, ensinando que a unio homossexual igualmente ncleo
fundante da instituio familiar. (CNBB, 2015, p. 1).
7 (7min10s). Disponvel em: <https://www.youtube.com/watch?v=F6pXx0oWxsY> Acesso em: 20 jun.
2016.
8 (28min27s). Disponvel em: <https://www.youtube.com/watch?v=F6pXx0oWxsY> Acesso em: 20
jun. 2016.
Consideraes finais
Referncias
_______. Microfsica do poder. Traduo Roberto Machado. 10. ed. Rio de Janeiro:
Edies Graal, 1992.
Resumo
Introduo
Nesse sentido, por ampla maioria dos votos, o PME, em sua redao
original, foi vetado pela Cmara Municipal. Assim, a referida Casa suprimiu a
expresso a redao do art. 1, III, e acrescentou os pargrafos 1 e 2 ao artigo
1, que assim determinava: 1 Fica vedada a implantao, divulgao, estudo,
adoo de materiais didticos e/ou qualquer forma de propagao pertinente
ideologia de gnero no mbito da rede municipal de ensino. e 2 A presente
Lei no ser regulamentada em quaisquer aspectos que tendam a aplicar a ide-
ologia de gnero no mbito das escolas pblicas do Municpio de Governador
Valadares.. O novo Projeto, com os referidos acrscimos, retornou para o Poder
Executivo municipal que, por sua vez, foi vetado, pela Prefeita Elisa Costa, que
defendeu a inconstitucionalidade das emendas propostas, bem como a incom-
petncia do Legislativo para versar sobre a matria, por se tratar de um assunto
interno da Administrao Pblica. O veto da Prefeita foi derrubado pela Cmara
Municipal, tendo sido aprovada as emendas.
Assim, preciso que seja reiterado, que umas das principais crticas que
pode ser feita ao contexto que se desenvolveu em torno dos Planos Nacional,
Estaduais e Municipais de Educao, diz respeito lacuna legislativa que foi
deixada. Aps discusses acirradas no Congresso, a bancada evanglica conse-
guiu vetar os trechos do documento que faziam referncia diversidade sexual
e de gnero. Ocorre, no entanto, que o Ministrio da Educao permaneceu
defendendo o respeito diversidade sexual e de gnero, como diretriz do Plano
Nacional de Educao, mas facultando aos Estados e Municpios sua aplicao.
Por certo, esse o principal cerne do problema que se discute no presente
trabalho, uma vez que se coloca a populao LGBT merc do poder discri-
cionrio das administraes, isto , s teremos avanos em polticas pblicas
e na legislao, em localidades que possuam governos progressistas. Ocorre,
todavia, que essa matria de competncia nacional, e por se tratar de direitos
humanos e fundamentais, no legal o tratamento de omisso que se verifica.
Consideraes finais
Referncias
ARENDT, Hannah.The crisis in Education. New York : Viking Press, 1961, pp. 173-196.
DIAS, Maria Berenice. Unio Homoafetiva. 5. ed. So Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2011.
FISCHMANN, Roseli. Estado laico, educao, tolerncia e cidania : para uma anlise
da concordata Brasil-Santa S. So Paulo: Factash Editora, 2012
Resumo
O trabalho tem por objetivo geral analisar a percepo de alunos (as) do Instituto
Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Baiano Campus Itapetinga, insti-
tuio de educao profissional, sobre as manifestaes de homofobia ocorrida
no ambiente escolar. Pretende-se analisar os relatos elaborados pelos discentes
com base na concepo de memria proposta por Paul Ricoeur. Ou seja, como
resultantes de um processo de construo histrica, social e cultural que no
pode ser compreendido como a mera reproduo de experincias passadas,
mas como uma representao do passado feita a partir dessas experincias em
funo da realidade presente, com sua base material ou ancoragem em recursos
proporcionados pelas relaes sociais.
Palavras-chave: homofobia; percepo; memria; ambiente escolar.
Introduo
1 Neste trabalho, o termo ser utilizado de acordo com a concepo terica sobre a memria elabora-
da por Paul Ricoeur (2014), o qual retoma o conceito de anmnesis ou de reminiscncia, e a ideia de
anlise do reconhecimento das imagens como esforo intelectual, referindo-se s lembranas conce-
bidas pela ao laboriosa pertencente ao vasto conjunto dos fenmenos psquicos que passam pela
tenso e pelo relaxamento, conforme preconizou Bergson (1999, p.156): Distinguimos trs termos:
a lembrana pura, a lembrana-imagem e a percepo, dos quais nenhum se produz, na realidade,
isoladamente. A percepo no jamais um simples contato do esprito com o objeto presente; est
inteiramente impregnada das lembranas-imagens que a completam, interpretando-a. A lembrana-
-imagem, por sua vez, participa da lembrana pura que ela comea a materializar, e da percepo
na qual tende a se encarnar: considerada desse ltimo ponto de vista, ela poderia ser definida como
uma percepo nascente.
2 A Escola Mdia de Agropecuria da Regio Cacaueira (Emarc) Itapetinga, desde sua formao, em
7 de maio de 1980, encontra-se situada numa rea de 105 hectares, localizada no quilmetro 2 da
rodovia Itapetinga-Itoror, bairro Clerolndia, na cidade de Itapetinga.
3 <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/perfil.php?lang=&codmun=291640&search=||infogr%E1ficos:in-
forma%E7%F5es-completas>. Acessado em 18/04/2016.
4 Esclarecemos que esse roteiro no foi utilizado de forma engessada, mas foi alterado quando neces-
srio, pois priorizamos seguir o fluxo dos momentos vividos por cada entrevistado (a). Tanto que
Desta forma, tais conceitos sero bem caros tentativa de discusso aqui
proposta: compreender a percepo de alunos (as) do IF Baiano Campus
Itapetinga sobre as manifestaes de violncia conceituadas como homofobia.
Homofobia
Consideraes finais
Referncias
BERGSON, Henri. Matria e memria: ensaio sobre a relao do corpo com o esp-
rito.Trad. Paulo Neves, 2 Ed. So Paulo: Martins Fontes, 1999.
Resumo
Introduo
Desenvolvimento
Resultados
Brasil (IECLB); conta com depoimentos que retratam estes casos, no perodo
que vai de 1991 at 2003.
Faz um retrato histrico da diversidade de ministrios e das ordenaes e
uma abordagem sobre a interpretao atualizada do pecado de Sodoma, que
discorre sobre a falta de hospitalidade e o individualismo, erroneamente inter-
pretado como se tratando das relaes homo afetivas.
LEERS e TRASFERETTI (Homossexuais e tica crist, 2002) abordam
questes relacionadas com a homofobia, debatem a relao entre heterosse-
xualidade e homossexualidade, assim como o tabu da homossexualidade nas
sociedades do passado e nas atuais, que impactam no ncleo religioso moral
de conflito entre a homossexualidade e a expresso de f. Discorrem sobre
citaes do Primeiro e Segundo Testamentos, desde a narrativa de Sodoma at
as cartas paulinas, finalizando com uma proposta de viver a liberdade, enxer-
gando uma porta possvel para o futuro.
MOSER (O enigma da esfinge: a sexualidade, 2001), entre mitos e cin-
cia, d um suporte antropolgico para uma teologia atualizada em busca de
novos parmetros ticos. Destaca o momento quando a linguagem incapaz
de traduzir a realidade, pois uma pessoa no pode ser considerada santa ou
pecadora simplesmente por sua orientao sexual.
Figura 1 Capa do livro Amor Figura 2 Capa do livro Figura 3 Capa do livro Via(da)
sacralizado e amor banido: Homossexualidade: gens Teolgicas: itinerrios
gnero, orientao sexual e orientaes formativas e para uma teologia queer no
espiritualidade. pastorais. Brasil.
Figura 4 Capa do livro F alm Figura 5 Capa do livro O que Figura 6 Capa do livro
do ressentimento: fragmentos a Bblia realmente diz sobre a O enigma da esfinge: a
catlicos em voz gay. homossexualidade. sexualidade.
2 Membro da Parquia Santa Rosa de Lima, Diocese de So Miguel Paulista, SP. Foi integrante do Gru-
po de Ao Pastoral da Diversidade de So Paulo. Maiores informaes disponveis no stio: https://
pt-br.facebook.com/DiversidadePastoralSP. Acesso em 02 de abril de 2016.
Consideraes finais
Referncias
LEERS, B.; TRASFERETTI, J. Homossexuais e tica crist. Campinas: tomo, 2002. 199
p. ISBN 85-87585-23-1.
V.A. Dom Paulo Evaristo cardal Arns: pastor das periferias, dos pobres e da jus-
tia. 1. ed. So Paulo: Casa da Terceira Idade Tereza Bugolim, 2015. 479 p. ISBN
978-85-69707-00-4.
(Footnotes)
Resumo
Este texto resulta de pesquisa qualitativa sobre a homofobia vivida por alunos
LGBT de nvel mdio, em escolas pblicas estaduais de Belm. Busca-se res-
ponder se os alunos LGBT dessas escolas so vtimas de bullying homofbico
e se tais prticas influem negativamente na aprendizagem destes, impactando
na sua formao socioeducacional. Efetivou-se reviso de literatura, mediante
pesquisa bibliogrfica e documental, para fundamentar terico-filosoficamente
a pesquisa e auxiliar na anlise. Como instrumentos tcnicos, utilizam-se ques-
tionrios e entrevistas, aplicados a docentes, discentes e outros, que cruzados
permitem analisar e proceder s consideraes do investigado. Os resultados
parciais confirmam haver bullying homofbico nas escolas, influindo negativa-
mente na formao dos LGBT.
Palavras-chave: Bullying homofbico. Diversidade sexual. Identidade de gnero.
Excluso educacional. Orientao sexual escolar.
Introduo
se encaixa nos padres tido como imoral ou amoral, sem buscar-se a iden-
tificao de suas origens orgnicas, sociais ou comportamentais (DIAS, 2016).
Mesmo nessa segunda dcada do sculo XXI, grupos LGBT ainda sofrem
com a discriminao social e a violncia urbana, sendo ntida a rejeio social
livre orientao sexual. Cotidianamente, a sociedade que se proclama defensora
da igualdade a mesma que discrimina lsbicas, gays, bissexuais e transexu-
ais (LGBT), todos vtimas de situaes de marginalizao e excluso social em
diversos ambientes brasileiros, inclusive nas escolas. Portanto, estudar a questo
da homofobia nas escolas significa reconhecer a existncia de pessoas LGBT
nestas, a fim de denunciar essa prtica discriminadora, excludente e criminosa.
No decorrer da atuao didtico-pedaggica desta pesquisadora, per-
cebeu-se nas escolas investigadas elevado ndice homofbico. Observou-se
a presena de alto percentual de discriminao e preconceito contra pessoas
LGBT, em especial em uma escola pblica estadual da regio metropolitana de
Belm, com um contingente significativo de adolescentes homossexuais. Nela
observaram-se vrios conflitos envolvendo adolescentes homossexuais que
vivenciavam bullying homofbico ascendente e descendente, entre alunos e
funcionrios da instituio, por meio de agresses verbais e fsicas.
Na ocasio, chamou a ateno o fato da direo, gestores e outros profis-
sionais no buscarem solucionar ou intervir na problemtica. Em contrapartida,
perceberam-se grupos LGBT que procuravam, de maneira peculiar, intervir nos
problemas e em concomitncia buscavam aceitao pelo conjunto e insero
na realidade da escola.
A partir dessa observao surgiu o interesse em investigar outras escolas
no intuito de examinar a realidade local, pois se entende a prtica homofbica
presente nas escolas como uma privao imposta ao sujeito LGBT, negando-lhe
os direitos presentes em nossa lei mxima a Constituio Federal de 1988.
Nesse sentido, este estudo reveste-se de significativa importncia, pois
demonstrar que o bullying homofbico discriminador, marginalizante e
inconstitucional, devendo ser combatido, seja na escola, seja em qualquer outro
lugar. Somente dessa forma, em uma perspectiva inclusiva, poder-se- garan-
tir igualdade entre os indivduos, independente de sua orientao sexual ou de
identidade de gnero (RIOS, 2009).
A investigao da questo tambm relevante medida que o preconceito
no interior da escola provoca a evaso escolar dos LGBT, vez que desconsidera
o direito previsto nos ordenamentos legais brasileiros e internacionais, os quais
Metodologia
Resultados e Discusso
Consideraes Finais
Referncias
______. Lei de Diretrizes e Bases e Educao: Lei n 9394/96. Rio de Janeiro: DP&A
editora, 1998.
______. Manual de Direito das Famlias. 11. ed. So Paulo: Ed. Revistas dos Tribunais,
2016.
Resumo
Introduo
Procedimentos metodolgicos
Consideraes finais
Referncias
FELIPE, J.; GUIZZO, B. S. Entre batons, esmaltes e fantasias. In: MEYER, D. E.; SOARES,
R. F. R. Corpo, gnero e sexualidade. Porto Alegre: Mediao, 2004.
________. Corpo, escola e identidade. Educao & Realidade. Porto Alegre, v.2, n.
25, p.59-75, jan/jun. 2000.
THORNE, B. Gender Play: girls and boys in school. Open University Press Buckingham,
1993.
Raquel Quirino
Doutora em Educao Centro Federal de Educao
Tecnolgica de Minas Gerais CEFET-MG
[email protected]
Resumo
Introduo
O relatrio Gender and education for all the leap to equality: EFA global
monitoring report 2003/42 divulgado pela Unesco j evidenciava a tendncia
mundial igualdade de acesso ao ensino ps-secundrio, porm aponta os
padres de escolha realizados pelas mulheres como uma questo fundamental
a ser discutida para que se possa alcanar a igualdade de gnero. Na reali-
dade brasileira apesar da mudana nos nmeros gerais3 que caracteriza uma
crescente feminilizao do ensino tcnico de nvel mdio, anteriormente majo-
ritariamente masculino4, persiste a tendncia das alunas de se concentrarem em
determinadas reas do conhecimento em detrimento de outras5. As reas gerais
de formao com maior concentrao feminina so, segundo o IBGE (2014,
p.107), as com ocupaes de menor remunerao mdia no mercado de traba-
lho e que mais se afastam da viso do senso comum de Cincia e Tecnologia.
Para contribuir com o desvelamento das escolhas das alunas por essas reas de
atuao em detrimento de outras mais tecnologizadas necessrio conhecer
a forma como essas mulheres se percebem e se relacionam com suas cons-
trues sobre sua realidade, sua formao profissional, insero e atuao no
mundo do trabalho.
Conforme esclarece Hirata (2002, p. 23) as pesquisas sobre o mundo
do trabalho, em sua grande maioria so realizadas sob uma perspectiva que
no leva em conta as relaes de gnero e o sexismo presente nessas relaes
sociais, tratam-se de pesquisas gender-blinded. A autora afirma ainda que essa
tendncia das pesquisas, em realizar generalizaes partindo de um ponto de
vista masculino, pode induzir ao erro, uma vez que aes de formao pro-
fissional no tm a mesma amplitude nem o mesmo alcance, e tampouco a
mesma significao para as mulheres e para os homens (HIRATA,2002, p. 224)
deixando de explorar a possibilidade de o espao de formao contribuir para
a viso da pseudo incompetncia tcnica feminina
2 Disponvel em <http://unesdoc.unesco.org/images/0013/001325/132550e.pdf>
3 Disponveis em <http://portal.inep.gov.br/basica-levantamentos-acessar>
4 Disponvel em <http://portal.inep.gov.br/educacao-profissional>
5 Disponveis em <http://portal.inep.gov.br/basica-levantamentos-acessar>
Para uma anlise mais clara necessrio desconstruir essa ideia da tec-
nologia como isenta das ideologias, para Marcuse (1999, p. 74) a tcnica por
si s pode promover tanto o autoritarismo quanto a liberdade, tanto a escassez
quanto a abundncia, tanto o aumento quanto a abolio do trabalho rduo.
Assim a tecnologia reflete os planos, propsitos e valores da sociedade em que
se desenvolve. (Veraszto, 2008, p.78)
A mscara de neutralidade leva possibilidade de que aqueles que detm
o poder direcionem as pesquisas e inovaes aos seus propsitos.
Fazer tecnologia , sem dvida, fazer poltica e, dado que a poltica
um assunto de interesse geral, deveramos ter a oportunidade de
decidir que tipo de tecnologia desejamos. Mantendo o discurso
que a tecnologia neutra favorece a interveno de experts que
decidem o que correto baseando-se em uma avaliao objetiva
e impede, por sua vez, a participao democrtica na discusso
sobre planejamento e inovao tecnolgica (GARCA et al, 2000,
p. 132).
Inclui todas as modalidades de matrcula na Educao Profissional. Grfico elaborado pelas autoras
Grfico 2 Porcentagem de alunos matriculados por sexo nos 10 cursos tcnicos com maior
participao feminina em 2014
Grfico 3 Porcentagem de alunos matriculados por sexo nos 10 cursos tcnicos com menor
participao feminina em 2014
4. Consideraes finais
5. Referncias
HIRATA, Helena. Nova diviso sexual do trabalho?: um olhar voltado para a empresa
e a sociedade. Ed. 01, So Paulo. Boitempo, 2002. p. 336.
STANCKI, Nanci. Diviso sexual do trabalho: a sua constante reproduo. Paper apre-
sentado no I Ciclo de Debates em Economia Industrial, Trabalho e Tecnologia, So
Paulo, 2003, PUC-SP Disponvel em <http://www.pucsp.br/eitt/downloads/eitt2003_
nancistancki.pdf.> Acesso em 11 de maio de 2016.
Resumo
Introduo
A fala desse professor certamente traz a reflexo para aquilo que faz parte
do cotidiano do aluno/a, que de certa forma, invivel um olhar silenciador em
meio ao debate em que a prpria mdia levanta como discusso a todo instante.
Percebe-se nesse contexto que o silenciamento tambm discursivo, e certa-
mente normatiza o que de fato corrobora como Louro (2004) quando indica
limites de legitimar e criar moralidade e coerncia. Pensar as discusses sobre
homossexualidade requer acima de tudo um cuidado naquilo que novo,
daquilo que estava at ento escondido e hoje revela-se por perceber que a
equidade uma causa social. Dessa forma, no discutir em escola religiosa
ganha de certa forma um silenciamento confirmando o discurso biolgico/reli-
gioso, tal quais as narrativas apresentadas:
Perguntaram-me o que a igreja achava da escolha sexual da pes-
soa de ser homossexual. Ai, falei o que a igreja pensa, que Deus
no aceita homem com homem, mulher com mulher. Tambm
porque eles no geram vidas. Deus colocou o homem e a mulher
porque geram vida (professora de religio).
Nesse contexto, Foucault (2001, p.62) diz que: a norma traz consigo ao
mesmo tempo um princpio de qualificao e um princpio de correo. Assim,
pensa-se a homossexualidade a ser algo corrigvel, numa deformidade a atribu-
tos no biolgicos e de carter no aceitvel pela igreja, assim instituem a prtica
de que Deus ama o pecador o que fortalece ainda mais um distanciamento
Consideraes finais
Referncias
______. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte:
Autntica, 2004.
______. Foucault e os estudos queer. In: RAGO, M.; VEIGA-NETO, A. (orgs.). Para
uma vida no fascista. Belo Horizonte: Autntica Editora, p.135-142.
Resumo
Este artigo prope uma reflexo crtica sobre a poltica pblica do nome social
de sujeitos travestis e transexuais na educao em interface com as reas de
psicologia e direito. O nome social pode ser tomado como um dispositivo de
identificao de gnero, uma vez que produz inteligibilidade para as expres-
ses de gnero desviantes da normativa heterossexual. Prope-se um breve
mapeamento de normativas legais do nome social em territrio nacional, com
destaque para a Rede Municipal de Educao de Belo Horizonte/MG, lcus
pesquisado. A investigao teve como metodologia a anlise documental de
pareceres, resolues e portarias brasileiras, revelando ressonncias no coti-
diano escolar a partir de lacunas entre o texto prescrito a prtica social.
Palavras Chave: Educao; Gnero; Nome Social; Travesti; Transexual.
4. Referenciais
ALVES, Cludio Eduardo Resende Alves. Um nome suis generis: implicaes subjeti-
vas e institucionais do nome (social) de estudantes travestis e transexuais em escolas
municipais de Belo Horizonte/MG. 2016 . (Tese de Doutorado). Programa de Ps
Graduao em Psicologia da PUC Minas, Belo Horizonte.
CSAR, Maria Rita de Assis. Um nome prprio: transexuais e travestis nas escolas bra-
sileira. In: Anais do XV Simpsio Nacional de Histria. Fortaleza, 2009.
LIMA, Maria Lcia Chaves. O uso do nome social como estratgia de incluso esco-
lar de transexuais e travestis. 2013. Tese (Doutorado em Psicologia Social). Programa
de Ps-Graduao em Psicologia da PUC-SP, So Paulo
PROSSER. Jay. Second Skins: the body narratives of sexuality. Columbia University
Press: New York, 1998.
Resumo
1. Introduo
2. Metodologia
5. Consideraes finais
Referncias
Resumo
Introduo
Consideraes finais
Referncias
Marcos F. G. Maia
Mestrando em Educao - Universidade Federal do Tocantins
[email protected]
Damio Rocha
Doutor em Educao - Universidade Federal do Tocantins
[email protected]
Jocylia Santana
Doutora em Histria - Universidade Federal do Tocantins
[email protected]
Resumo
Introduo
A Histria oral narra outras verses para alm das fontes dos cnones
sagrados da histria positivista (BARROS, 2010). No uma metodologia de
construir biografias (AMADO; FERREIRA, 1998). Por outro lado, nos faz lembrar
que por entre estruturas e conjunturas h pessoas que se movimentam, que
opinam, que reagem, que vivem (ALBERTI, 2004, p. 14). um reencontro com
a humanidade, com o ser, com o indivduo muitas vezes homogeneizado em
dados estatsticos, ditos histricos. um destacar a substancialidade e subjeti-
vidade daqueles que fazem A Histria, i.e., os seres humanos que do sentido
s suas vivncias.
A vivncia da sexualidade no se d unicamente no corpo do sujeito.
D-se tambm no social, na famlia. Tanto para Daniele quanto para Joo
Paulo a relao ser-homossexual-e-famlia foi invasiva, at mesmo forando o
ser-homossexual.
Eu sempre1 via algo diferente em mim desde pequeno, enten-
deu, ai quando eu tava com a cabea um pouco mais feita, entre
aspas, por volta dos 10, 11, 12 anos ai que eu descobri o que que
era isso, entendeu. [... ele s contou para a irmo, que no o respei-
tou e]contou pros meus pais. Eu tive que eu neguei at a morte.
Mas ai quando eu falei assim, no tem jeito, ai minha vida tomou
um outro rumo. Isso ai eu j tinha terminado o terceiro ano. J ia
entrar no cursinho, ai minha irm falou e ai tomou outro rumo. O
antes e o depois. Tem suas coisas boas e ruins (Joo Paulo).
1 Reticncias significam pausas nas falas. Quando houver corte, ou interpolao, estamos usando
colchetes.
Apesar desse isolamento, fica evidente na fala de Daniele que ela con-
seguiu com mais facilidade lidar com a questo da sexualidade na escola,
diferentemente de Joo Paulo. Ela afirma que conseguiu namorar alguns meni-
nos para disfarar e dai as pessoas no pegavam tanto no p dela. J no caso
de Joo Paulo no foi possvel j que ele transparecia com mais facilidade:
Alguns amigos de sala se percebiam enquanto homossexuais, mas
no declaravam, mas eles se reconheciam enquanto homosse-
xuais: aquela coisa, que nem eu falei pra voc que de amigos,
tipo assim, ningum falava pra ningum, mas entre a gente, a gente
sabia, aquela coisa de identificao (Joo Paulo).
Aps essa vivncia nas escolas de educao bsica, tanto Joo Paulo
quanto Daniele Braga foram estudar na Universidade Federal do Tocantins
(UFT). Eles no estudaram na mesma poca. Daniele j se formou e Joo ainda
est cursando. Porm, parece que os dois tiveram vivncias positivas em rela-
o sexualidade no ambiente universitrio. Fazendo referncia a esse perodo
Daniele afirma que na faculdade foi perfeito.
Consideraes finais
Referencias bibliogrficas
ALBERTI, Verena. Manual de Histria Oral. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.
ALBERTI, Verena. Ouvir contar: textos em histria oral. Rio de Janeiro: Editora FGV,
2004.
AMADO, Janaina; FERREIRA, Marieta (Orgs.). Usos e abusos da histria oral. Rio de
Janeiro: FGV, 1998. p. 183 192.
CALDAS, Alberto. Oralidade, texto e histria: para ler a histria oral. So Paulo:
Edies Loyola, 1999.
ERIBON, Didier. Reflexes sobre a questo gay. Rio de Janeiro: Companhia de Freud,
2008.
PORTELLI, Alessandro. O que faz a histria oral diferente. Proj. Histria, So Paulo,
v. 14, fev., 1997.
SCOTT, Joan. Gnero: uma categoria til de anlise histrica. Educao & Realidade,
vol. 20, n. 2, jul./dez. Porto Alegre: UFRGS, Faculdade de Educao, 1995. p. 71-99.
Traduo de Guacira Lopes Louro.
Resumo
Introduo
que acham que isso no normal. Deixa quieto que isso aqui eu
vou resolver com ela [olhando para Jovem 3] depois no particular.
(Re)existncias queer
ocidental, como aponta Judith Butler (2003, p. 38). A ressignificao das iden-
tidades, das denominaes assume tambm um carter poltico de resistncia.
O termo proposto por Jovem 7 aponta para essa resistncia e ressignificao
das palavras. Viado, palavra associada pejorativamente aos homossexuais,
associada a htero, identidade dos/das principais responsveis pelas violncias.
Identificao e expresso, subjetividade e materialidade se misturam na palavra.
E mais, oprimido e opressor se interligam numa constituio identitria: indi-
cando que em toda identidade h a diferena e vice-versa. Associar viado
ao htero questionar a norma estabelecida do que ser homossexual e do
que ser heterossexual, uma descontinuidade ao binrio. As resistncias pes-
soais, para (re)existir nos espaos, so ligadas s movimentaes e resistncias
coletivas:
Jovem 7: Eu sou viado-htero. Ento eu sinto prazer dos dois lados.
Eu fico com homem e com mulher.
Jovem 1: Ento voc bi.
Jovem 7: Ento, viado-htero, mesma coisa. No, eu no sou bi.
Eu sou viado, htero. Gosto tanto de mulher quanto de homem.
Deixa eu diferenciar. Porque eu falo que sou viado-htero: Porque
assim, viado que viado, viado mesmo fala ain amiga menina
voc viu aquela bicha u minha filha, nem fala. Eu acho isso rid-
culo. Porque assim , poxa, eu fao minhas paradas e ningum fica
sabendo. Eu no me visto nem me vejo como viado. Eu me visto
como homem normal e fao minhas paradas.
Jovem 1: Isso eu respeito. Voc gosta de homem, mas voc no pre-
cisa. Voc no caso viado. Viado no, vamos falar correto, voc
gay. Gosta de homem, mas no precisa demonstrar exteriormente.
Jovem 6: Agora deixa eu defender as bichas. So as bichas que
botam a cara na rua pra voc poder dar o cu em paz.
Jovem 4: isso a!
Jovem 7: Mas uma coisa que os viados tem coragem pra peitar.
Vai bater de frente com um viado pra voc ver.
Jovem 4: A bicha vai ser o que ela quiser, gente. Independente
do que for. O povo t falando, vai pagar as contas dela? No vai
colocar a comida dentro de casa. No vai fazer merda nenhuma.
Eu sou assim. Eu sou viadinho, o povo fala. Pra mim ser histrico
mostrar pra todo mundo. Meu pai e minha me to gostando de
mim. Se parar pra ouvir o que o povo t falando, vou ficar l atrs
ainda. Se minha me e meu pai to aceitando.
Consideraes finais
Referncias
Resumo
Larrosa convida a olhar essa relao entre a palavra e esse sentido, essa
relao de pertencimento que se estabelece, com a vivncia de seu significado,
com a experincia que esse processo produz. A ideia de um curso de formao
passa a estabelecer um novo olhar, comea a desconstruir a ideia de engessa-
mento tornando-se um local de abalo das certezas. No um lugar de onde se
sai pronto e acabado.
E nesse aspecto, o curso de formao deveria ser construdo de maneira
a se tornar algo significativo na vida de quem dele viesse a participar. As tem-
ticas ali desenvolvidas deveriam construir relaes de pertencimento, trazer
novas vivncias e produzir novas experincias. E nesse processo provocar o
estranhamento, propor que se d um passo atrs na busca de novos ngulos de
olhar para uma dada situao. Era importante que se deixassem atravessar pelos
discursos, pelas imagens e pela metodologia desenvolvida, transformar o curso
1 As falas utilizadas neste artigo foram retiradas da ficha de avaliao que os/as participantes preen-
cheram fazendo a avaliao do curso e aparecero em itlico.
Agora sei um pouco mais como lidar com o tema, como ten-
tar resolver os conflitos que surgem na sala de aula. Dentre os
mais comuns esto o respeito s mulheres e aos homossexuais.
(Participante B).
Acho que vou ficar mais chata na viso de alguns, porque o dis-
curso de no ficar problematizando, a atitude de dizer que no h
preconceito agora, mais do que nunca, no passaro batidas por
mim. Meu olhar e meus ouvidos ficaro mais apurados a cada dia e
buscarei melhorar sempre. (Fala do/a participante F).
Referncias bibliogrficas
MASCULINIDADES EM QUESTO
Resumo
Introduo
Sobre masculinidades
Devo ressaltar que o ato de coar ou pegar a regio peniana foi uma
constante naquela tarde. Principalmente durante a narrativa na hora que ele
queria falar sobre as meninas e como ele gosta de mulher. Este fato pode mos-
trar a estreita relao entre a masculinidade hegemnica negra, classe social
valorizao do falo. Para se firmar e reforar sua posio como homem, o nar-
rador precisou mostrar que estavam presentes naquela conversa: ele e o falo.
verdade homem seguida por uma srie de razes que buscam afirmar
essas verdades. Todas as razes apresentadas pelos rapazes so destacadas nas
caractersticas legitimadas pela ideologia do senso comum.
Consideraes finais
A questo que esteve implcita ao longo deste estudo foi como que dois
estudantes do ensino noturno constroem suas masculinidades baseados nos
discursos de masculinidades hegemnicas. Conhecer os discursos e as narra-
tivas de sexualidade dos/das estudantes pode contribuir para a construo de
um currculo que englobe discusses sobre sexualidade, que busque valorizar
e reconhecer as diversas identidades sexuais e principalmente problematizar
e desconstruir o discurso da masculinidade hegemnica. E assim, colocar em
xeque vises essencializadas e congelamentos identitrios, trazendo o diferente
para a sala de aula e propondo o dilogo entre as diferenas. Fato que certa-
mente contribuir para o fim da homofobia, do machismo, e do sexismo. No
entanto necessrio compreender que essas observaes e pesquisa acontece-
ram em um contexto especfico. Em outro contexto estes estudantes podem se
construir de outra maneira. Existe tambm a possibilidade de os adolescentes
participarem de outras experincias de vidas e ento certamente, existe a possi-
bilidade de agncia, de reinveno de seus discursos e de suas masculinidades.
Referncias
CONNELL, R. W. The men and the boys. Los Angeles: The University of California
Press, 2000.
Resumo
1. Introduo
3. Diferena e educao
Cumpre dizer que o livro didtico (LD) traz consigo diversas repre-
sentaes da realidade que costumam apontar para o senso comum e para
aquilo que hegemonicamente normatizado e assimilado por um dado grupo
social, excluindo, assim, outras formas de expresses culturais socialmente
deslegitimadas.
H no muito tempo, polticas e aes afirmativas foram conquistadas no
que diz respeito incluso das culturas afrodescendentes no currculo tradicio-
nal escolar, inclusive no LD. Embora ainda convivamos com a resistncia de
grupos que lutam pela continuidade histrica da hegemonia branca e classista,
representa grande avano ter estas culturas legitimadas no currculo. Mas ainda
so necessrias outras representaes e outras visibilidades.
O LD um significativo recurso instrumental, porm necessrio que ele
contemple no s os dispositivos acessrios teis dentro da sala de aula, mas
tambm aqueles que transcendam a noo estrutural, considerando questes
transversais no ensino de um idioma.
5. Homoparentalidade na educao
normatizar datas comemorativas como o Dia das Mes e o Dia dos Pais para
muitas vezes incluir o Dia da Famlia, evitando o constrangimento dos sujeitos
de famlias multiparentais ou neoconfiguradas.
O Dicionrio Houaiss, atendendo a campanha on-line de valorizao
diversidade, incluiu em 2016 uma nova definio para o verbete famlia em
reposta ao Estatuto da Famlia (PL 6583/13) aprovado na Cmara de Deputados
que reconhece como famlia apenas ncleo formado a partir da unio entre
homem e mulher. Assim, segundo o Houaiss considera-se famlia ncleo social
de pessoas unidas por laos afetivos, que geralmente compartilham o mesmo
espao e mantm entre si uma relao solidria, opondo-se definio tradi-
cional (grupo formado por pai, me e filho).
6. Metodologia
8. Concluses
9. Referncias
MOITA LOPES, Luiz Paulo da. Por uma lingustica aplicada indisciplinar. Parbola
Editorial: So Paulo, 2008.
Deisi Noro
Mestranda em Educao em Cincias
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - Educao
[email protected]
Vgner Peruzzo
Doutorando em Educao em Cincias
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Educao
[email protected]
Mrcia Finimundi
Doutora em Educao em Cincias
Universidade Federal do Rio Grande do Sul Educao
[email protected]
Resumo
Introduo
Consideraes finais
Referncias
Beatriz Rodrigues
Especialista em Gnero e Diversidade na Escola (UFMG)
[email protected]
Resumo
Introduo
A escola desempenha um papel relevante na socializao dos saberes e
das prticas relacionadas diversidade. Para tal, torna-se necessrio a descons-
truo dos significados impostos aos indivduos, seus corpos e suas prticas
(SILVRIO, et. al, 2010). Urge, no espao escolar, instituir estratgias de enfren-
tamento e desconstruo das vrias facetas do preconceito. Este trabalho tem
como objetivo analisar as relaes institucionais e interinstitucionais que inter-
pelam e so interpeladas pelas relaes de gnero e diversidade sexual no
cotidiano da escola, considerando as relaes entre uma escola da rede pblica
e as polticas pblicas do municpio de Contagem/MG, que legitimam e do
suporte tcnico ao trabalho com essas temticas.
Foram realizadas entrevistas semiestruturadas com dois funcionrios da
Secretaria Municipal de Educao e analisados documentos sobre diversi-
dade sexual; e foi desenvolvido um trabalho etnogrfico, complementado com
entrevistas com professores e funcionrios, que contemplou a observao do
cotidiano e dos equipamentos escolares de uma instituio de ensino.
Referncias
Resumo
Introduo
polticos, cientfico e outros, afim de contribuir com atos que se repetem para
naturalizar performances dimrficas de gnero e contribuir para perpetuao
de um poder masculino.
Nesse sentido cabe trazer que h verdades inventadas sobre os compor-
tamentos dos sujeitos que buscam estruturar o conhecimento e educ-los de
acordo com um sexo pr-discursivo e naturalizado, a partir da caractersticas
so construdas e h um constante investimento em controlar, corrigir e vigiar
os corpos para que eles apresentem performances de acordo com as carac-
tersticas anatmicas natas. Nesse sentido, ao pensar gnero uma das aes
propostas tencionar a valorizao dessas caractersticas, como os discursos
que circulam constantemente sobre elas funcionam para manter uma ordem
dominante, marcadamente androcntrica.
Reconhecer nessas construes um contexto histrico que por muito
tempo destinou a mulher o espao do privado, subordinao, a profisses
ligadas ao cuidado e como extenso as atividades que so exercidas no lar,
que inviabilizou sua participao como cidad, privando-as de direitos polti-
cos e de participar ativamente dos processos da sociedade, que foi silenciada
no universo acadmico e cientfico. Perceber tambm como os homens so
constantemente estimulados a exercer uma nica forma de masculinidade, cor-
respondendo s expectativas de uma sociedade que tambm os oprime e os
vigiam constantemente.
Mas todas essas construes que permitem perceber o gnero como um
constituidor das identidades dos sujeitos, um projeto de sociedade e como
todo projeto ele encontra barreiras e falhas que questionam seus pressupostos
e verdades, dessa forma uma diversidade de masculinidades e feminilidades
entram em cena para anunciar novos modos de ser homem e ser mulher ou
simplesmente em no se perceber dentro dessas categorias, hora transitando
por esses espaos, hora subvertendo-as totalmente, corrigindo o que antes era
um dado da natureza e um destino de vida, ou simplesmente no se impor-
tando com este dado exercendo livremente identidades que no cabem em
uma genitlia.
Mesmo que o discurso da diversidade de gnero seja uma marca repre-
sentativa no enunciado da professora Ana, h ainda uma representao que
liga gnero a sexualidade, como essas construes so comumente difundidas
de forma atrelada. Mas h uma necessidade de perceber algumas distines,
para superar a compreenso de uma sexualidade correspondente ao sexo de
Ainda que aparea um discurso que entende o gnero para alm de uma
percepo polarizada entre masculino ou feminino, h uma vinculao de uma
constituio dada no nascimento o que acaba deixando de lado a percepo de
uma construo de gnero mvel, que construda, que submetida as sanes
normatizadoras de um projeto de sociedade heterossexista, de aprendizagens
Concluses
Referncias
Danilo Dias
(PPGREC/UESB)
Mestrando em Relaes tnicas e Contemporaneidade pela Universidade
Estadual do Sudoeste da Bahia
Atua na rea de educao com nfase nas discusses sobre gnero e sexualidades
[email protected]
Resumo
Introduo
1 Transcrio das falas de duas professoras do quadro efetivo da escola. Os nomes para referi-las so
fictcios e o critrio para a escolha foi a utilizao de nomes de flores.
Consideraes finais
Referncias
BENEDETTI, Marcos Renato. Toda feita: o corpo e o gnero das travestis. Rio de
Janeiro: Garamond, 2005.
Anderson Ferrari
Professor Adjunto
Universidade Federal de Juiz de Fora Faculdade de Educao
[email protected]
Resumo
Este trabalho apresenta uma discusso acerca das possibilidades dos corpos de
atores da escola, e como esses corpos so construdos, significados e subjetiva-
dos nesses espaos. Parte de uma pesquisa de mestrado, em andamento, que
objetiva problematizar as abordagens utilizadas por professore/as para os temas
relaes de gnero e sexualidades na educao, e um eixo dessa discusso se
faz atravs de variados significados dados ao corpo ao longo da histria, como
parte dela, construindo saberes e sendo transformados atravs da cultura, da
disciplina escolar, dos discursos praticados na escola, enquanto parte ativa e
fundamental na construo das relaes de gnero e vivncia e expresso das
sexualidades.
Palavras-chave: corpo, relaes de gnero, sexualidades, escola.
Introduo
Corpo e escola
Consideraes finais
Referncias bibliogrficas:
CARLOTO, Cassia Maria. O conceito de gnero e sua importncia para a anlise das
relaes sociais. Disponvel em: http://www.uel.br/revistas/ssrevista/c_v3n2_genero.
htm. Acesso em 12/04/2016.
Resumo
Este texto apresenta dados iniciais de uma pesquisa com foco nos atra-
vessamentos entre educao, sexualidades, relaes de gnero e discursos
religiosos. Partimos da hiptese de que o acirramento dos debates contem-
porneos acerca desses temas ocorre, especialmente, com a problematizao
das relaes de sujeio a um cdigo moral religioso, constituindo uma tica
de submisso s normas codificadas, mais que experincias religiosas que pro-
movem prticas de liberdade (FOUCAULT, 2006). Sendo assim, consideramos
relevante ampliar as anlises acerca das relaes de poder e dos processos de
subjetivao envolvidos nos modos como professoras e professores pensam e
lidam com os discursos religiosos e com a diversidade sexual e de gnero nas
escolas.
O recrudescimento de uma moral-religiosa pautada na manuteno da
heteronormatividade e dos binarismos de gnero vem se constituindo como
um desafio s discusses sobre as relaes de gnero e sexualidades no campo
social contemporneo. Tal virada conservadora se organiza em resposta s
transformaes sociais e culturais que envolvem novos direitos e leis em prol da
erradicao de desigualdades e do reconhecimento pblico da legitimidade das
distintas orientaes sexuais. Sujeitos, grupos e igrejas colocam-se contrrios
pluralizao das sexualidades e gneros, num cenrio de embates, disputas
no campo das leis e polticas pblicas, conflitos no que tange s iniciativas
que buscam discutir essas temticas nas escolas, nas universidades e no plano
social mais geral. Recentemente, assistimos polmica1 em torno da aprovao
do Plano Nacional de Educao (PNE), quando deputados da bancada reli-
giosa se opuseram veementemente redao do artigo 2 do ento projeto de
lei, que se relacionava superao das desigualdades educacionais, provendo
a igualdade racial, regional, de gnero e de orientao sexual. Os deputados
afirmavam que se tratava da imposio de uma ideologia de gnero, contr-
ria aos valores morais e que, portanto, temiam pela destruio da famlia.
Consideramos que essa trama poltico-social atravessa os projetos educacionais
e de formao docente. Cabe, portanto, problematizar experincias e relaes
que constituem essa trama discursiva, pensando que ela instaura certos modos
Podemos notar que os valores religiosos esto na base das relaes sociais
familiares, algo que reverbera na formao dos sujeitos de modo heterogneo.
Uma formao que pode ser plural ou dentro de uma rigidez absurda, que
envolve frequentar uma igreja ou no, que envolve reconhecer-se em uma
determinada confisso religiosa, dizer-se apenas cristo ou crer em uma ener-
gia universal. Formao que produz experincias religiosas, modos pelos quais
podemos ser subjetivados/as pelos discursos religiosos, que envolvem crenas
e certos modos de agir e viver, a sujeio a uma moral, e tambm os modos
como nos ocupamos de ns mesmos e nos conduzimos a partir dos cdigos
morais associados a essas formaes discursivas, ou seja, como nos constitu-
mos sujeitos dessa moral (FOUCAULT, 2006). Embora haja crticas aos preceitos
religiosos, aos dogmas, arriscamo-nos a pensar que as professoras e professores
conduzem-se por esses preceitos, de modo que suas prticas pedaggicas e
seus modos de lidar com as questes relativas aos gneros e sexualidades nas
escolas sero atravessadas pelas experincias religiosas. Consideramos que as
respostas outra questo do questionrio nos do pistas sobre essa relao. Ela
solicitava s/aos docentes: Fale sobre a relao entre religies e as questes
de gnero e sexualidade na sociedade em geral. Entre as respostas relevante
destacar a nfase numa relao tensa, disputada e negociada, que poderia ser
resumida em: As religies no aceitam outras formas de sexualidade a no ser o
sexo entre homem e mulher. Outras respostas, para falar dessa relao, traziam
em seu texto expresses como problemtica, tabu, polmica, complexo,
as religies no aceitam e recriminam, existe muito preconceito. Destacamos
algumas delas:
A identidade de gnero ainda um tema pouco discutido no meio
religioso. Apesar de ser um assunto cada vez mais presente na
sociedade atual, para muitas religies tratar de sexualidade e tran-
sexualidade ainda um tabu. (Escola B)
A abordagem da relao entre religio e sexualidade ainda
bastante problemtica, visto que maior parte de nossos alunos assu-
mem se como crist e essa vertente religiosa no abarca as questes
sobre homossexualismo. (Escola B)
Particularmente acho que se tornou um assunto muito polmico,
principalmente em sala de aula. Devido a muitas crenas, falta de
informaes e preconceitos. E isso na minha opinio o reflexo de
como a sociedade trata o assunto. (Escola B)
Por muito tempo se divulgou o ideal em relao a estas questes.
A religio cercada pelo modelo de famlia com o pai, sendo um
homem, a me, sendo a mulher e esses dois papeis se consolidaram
na sociedade. Mediante estas convenes ditadas vejo a dificuldade
da sociedade religiosa em aceitar a diversidade mesmo que tenha
esta diversidade acontea tambm h muito tempo. (Escola B)
O que me vem agora, que somos todos irmos, Deus ama a
todos. Existe discriminao se a mulher gosta de mulher, se homem
gosta de homem, ou at mesmo dos dois, acho difcil entender, mas
respeito. (Escola A)
As religies de modo geral so normativas, moralistas e principal-
mente hipcritas. No conheo alguma que no seja, machista,
beirando a misoginia tanto no texto religioso quanto nas prticas
religiosas. (Escola A)
Mesmo a sociedade sendo considerada moderna e democrtica, a
religio continua tendo um peso que condiciona muitas atitudes e
opinies na sociedade. (Escola A)
A maioria das religies prega o preconceito em relao s questes
de gnero e sexualidade, uma vez que no aceitam relacionamen-
tos que no sejam heterossexuais. (Escola A)
Acredito que, equivocadamente, alguns lderes religiosos incitam
a intolerncia religiosa e a intolerncia em relao diversidade de
gnero. (Escola A)
Referncias
FOUCAULT, Michel. tica, Sexualidade, Poltica. Ditos & Escritos V. 2 ed. Org.
Manoel Barros da Mota. Trad. Elisa Monteiro e Ins Autran Dourado Barbosa. Rio de
Janeiro: Forense Universitria, 2006.
Resumo
brasileiras, nas prticas docentes e/ou nos cursos de formao inicial e continu-
ada de professores/as (p. 2). Os sentidos acerca da ideologia de gnero no
obtm reconhecimento no campo dos estudos de gnero e sexualidade, mas
sim nos discursos de sujeitos e grupos que se colocam como representantes
de igrejas e religies crists. Observamos, por exemplo, que, de acordo com a
psicloga crist Marisa Lobo, num vdeo2 publicado em sua pgina, a ide-
ologia de gnero prope uma educao pautada na concepo de gnero
neutro, segundo a qual meninos e meninas seriam criados/as sem qualquer
configurao de identidade masculina ou feminina, de modo que apenas
quando atingirem certa idade podero escolher a que gnero iro pertencer.
Assim, segundo Marisa Lobo, so ignorados os aspectos biolgicos inerentes da
pessoa, negando a existncia do que ela chama de diferenas naturais entre
homens e mulheres. De acordo com a psicloga, existiria uma organizao de
grupos, em sua maioria proveniente da populao LGBTTI3, uma minoria social,
trabalhando para impor essa forma de viver sociedade como um todo, que
promove a diversidade sexual e de gnero pautada na ideologia de gnero.
Merece destaque a nfase dada ao no reconhecimento de um sexo
da criana ao nascer e ainda a preocupao com o que esto chamando de
gnero neutro, que parece denotar uma viso de que h uma nica forma de
expresso de gnero, pautada no binarismo masculino/feminino. Essa questo
pode ser problematizada j que os estudos de gnero e sexualidades no pro-
pem ignorar ou negar o sexo biolgico, mas, como argumenta Louro (1998),
pretendem enfatizar, deliberadamente, a construo social e histrica produ-
zida sobre as caractersticas biolgicas (p. 21-22). A proposta pensar que no
apenas a condio biolgica, o reconhecimento como macho ou fmea, que
constitui o sujeito como feminino e masculino, ou seja, no o momento do
nascimento e da nomeao de um corpo como macho ou como fmea que faz
deste um sujeito masculino ou feminino (LOURO, 2008, p. 18).
Os/as idealizadores/as da ideologia de gnero tm aterrorizado as
pessoas e investido sistematicamente para que elas se coloquem contra tal ide-
ologia, alegando que esta ir atingir aquilo que lhes mais caro: a famlia e a
2 Marisa Lobo Desmascarando a ditadura ideologia de gnero Teoria Queer. Disponvel em: https://
youtu.be/emyFuBxiAc8. Acesso em 29 jun. 2015.
3 Referncia a Lsbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais.
ou, como chamam, uma ditadura gay. Essa preocupao parte do pressu-
posto de que existiria uma forma mais correta e legtima de viver a sexualidade,
supondo que as pessoas seriam naturalmente heterossexuais. O argumento
que estaramos num cenrio em que se pretenderia destronar a heterossexu-
alidade para dar lugar s/aos LGBTTI. frequente entre os/as idealizadores/as
da ideologia de gnero uma lgica de que seres humanos normais, temen-
tes a Deus e defensores/as da moral, devem se conformar com sua condio
biolgica de homem ou mulher, bem como com a prtica das relaes afetivo-
sexuais apenas entre estes dois opostos. Os/as adeptos/as e defensores/as desse
discurso consideram que a sexualidade e o gnero sejam algo que todos ns,
mulheres e homens, possumos naturalmente, ignorando a compreenso de
que eles constitudos por rituais, linguagens, fantasias, representaes, smbo-
los, convenes, ou seja, processos culturais plurais (LOURO, 1998).
Observamos argumentos que nos conduzem a essas anlises. Na fala de
Marisa Lobo no vdeo mencionado acima, a psicloga crist afirma que o fato
de a cincia no ter descoberto um gene gay se deve ao fato de que este no
existe. Sendo assim, o natural ser heterossexual e a homossexualidade no
passa de um comportamento adquirido socialmente, mas de forma inconsciente
pelo sujeito. Analisamos que haveria um investimento poltico em perpetuar a
hegemonia da heterossexualidade, inferiorizando as outras possibilidades de
viver a sexualidade, como que numa organizao hierrquica.
A confuso na interpretao que se tem feito das questes de gnero e
sexualidades vem sendo utilizada para convencer as pessoas de que a insero
dessas questes nos planos de educao trar grandes malefcios sociedade
e, sobretudo, famlia. At cursos tm sido promovidos por Marisa Lobo, com
o intuito de esclarecer as pessoas sobres tais questes. No panfleto de divul-
gao disponvel no Facebook5, aparecem as credenciais que autorizariam a
psicloga a promover seu curso: Psicloga e Crist; Teloga e Educadora. No
currculo do curso observamos um investimento em conceitos e termos que
so retirados dos estudos de gnero e sexualidade e interpretados a partir de
uma perspectiva da moral familiar crist. Merece destaque A erotizao infantil
atravs da escola e da mdia, que dialoga com vrios dos conceitos destacados,
Referncias
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 7 ed. Trad. Luiz Felipe B. Neves. Rio de
Janeiro: Forense Universitria, 2010.
ISBN 978-85-61702-44-1
ABEH e a construo de um campo de Pesquisa e Conhecimento:
desafios e potencialidades de nos re-inventarmos
SUMRIO
Resumo
Introduo
Homoerotismo e subjetividade
Consideraes finais
Por fim, destaca-se que, para fazer uma nova histria das subjetividades,
h que se dar ateno necessidade de traar a genealogia das categorias
identitrias no fazer histrico. Tomar identidades contemporneas como dadas
em outras temporalidades arriscar-se ao anacronismo, desprezando as expe-
rincias, os saberes e as tcnicas de poder especficas que agem na elaborao
dos corpos e de suas subjetividades. Assim, em relao ao homoerotismo,
importante atentar para como diferentes categorias relacionam-se a regimes de
poder-saber-prazer diversos.
Fazer a genealogia da identidade homossexual revela-se uma estratgia
eficaz para deslocar seus sentidos atuais. Se tal identidade , ainda, elaborada
pelo dispositivo da sexualidade, ela no deixa de estar eivada de normatividade.
Assim, explicitar sua historicidade torna-se uma via para sua subverso. Se o
homossexual no foi sempre, no h porque crer que sempre ser. , ento,
possvel estilizar as existncias homoerticas contemporneas. Como pensou
Foucault, a homossexual ser em devir (ORTEGA, 1999, 166).
Referncias
FOUCAULT, Michel. Histria da Sexualidade II. O uso dos prazeres. Trad. Maria
Thereza da Costa Albuquerque. Reviso tcnica Jos Augusto Guilhon Albuquerque.
Rio de Janeiro: Edies Graal, 1984;
MOTT, Luiz. Pagode Portugus. A subcultura gay em Portugal nos tempos inquisito-
riais. In: Cincia e Cultura, V. 40, p. 120-139, 1988;
Tatiana Liono
Doutora em Psicologia
Professora adjunta do Instituto de Psicologia da Universidade de Braslia (IP/UnB)
[email protected]
Felipe de Bare
Mestrando em Psicologia Clnica e Cultura (IP/UnB)
[email protected]
Resumo
Introduo
1 A deciso do uso do termo LGBTfobia neste trabalho decorre de ser a conceituao adotada em
documento institucional que respalda a proposio do projeto de extenso universitria que se visa
apresentar, a saber o Programa de Combate LGBTfobia da UnB.
para o benefcio social (MENDES, 2012). Outro dado que chamou a ateno,
deu-se com os cartazes de divulgao dessa pesquisa, majoritariamente arran-
cados e vandalizados.
Dado histrico corporativista e de inrcia na apurao de prticas
LGBTfbicas nas universidades, as transformaes nas relaes institucionais
promovidas pelos coletivos estudantis so fundamentais, uma vez que tambm
contam com estratgias no previstas nas normativas institucionais. Esses cole-
tivos tm realizado atividades que conciliam o discurso acadmico militncia
LGBT, incluindo protestos, notas de repdio e atos por visibilidade, como debates
pblicos. A ao dos coletivos favorece a formao de vnculos que contribuem
para a permanncia de LGBTs nas instituies (CRUZ, 2012). Ademais, a prpria
produo acadmica de LGBTs assume um carter poltico, pois problematiza
o pretenso discurso de neutralidade da cincia (NARDI et al., 2013; AMARAL,
2013; MENDES, 2012).
Estudos realizados nas universidades de Minas Gerais (AMARAL, 2013) e na
Universidade do Rio Grande do Norte (CRUZ, 2012) identificaram que a mobi-
lizao dos coletivos estudantis desempenha a importante funo de denunciar
violaes de direitos humanos nos espaos universitrios. Alm de identificarem
tais prticas, os coletivos tm visibilizado a inoperncia institucional para coibir
e investigar tais incidentes. Infelizmente, contudo, esses coletivos tm sido sujei-
tos ameaas e agresses, o que demanda reconhecimento da necessidade de
proteo desses para que possam exercer o direito organizao poltica.
Diante da precariedade das respostas institucionais, reconhece-se a relevn-
cia do papel exercido pelos coletivos estudantis e docentes implicados em projetos
de pesquisa e extenso. Estes so atores fundamentais para superar a invisibilidade
e naturalizao das violncias LGBTfbicas nas universidades, pois so capazes
de denunciar violncias e sistematizar informaes que fundamentem a criao de
polticas de proteo comunidade LGBT na sociedade como um todo.
2 A relao do Escuta Diversa com o Direito mediada por outro projeto de extenso idealizado por
Referncias Bibliogrficas:
CRUZ, Daniella Elana dos Santos. Diversidade sexual na UFRN como questo de
direitos humanos: sujeitos coletivos e estratgias em defesa da liberdade de orien-
tao e expresso sexual. (Trabalho de Concluso de Curso apresentado ao Curso de
Servio Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Natal: UFRN, 2012
GONALVES, Antnio Srgio; GUAR, Isa Maria Ferreira da Rosa. Redes de proteo
social na comunidade: por uma nova cultura de articulao em rede. In: GUAR, I.
M. F. R. (Org.). Redes de proteo social. So Paulo: Associao Fazendo Histria,
2010. p. 11-16.
Resumo
1. Introduo
2. Materiais e mtodos
De acordo com Heritage & Robinson (2006), uma prtica vigente nas
consultas clnica caracteriza-se pela apresentao, por parte dos pacientes, de
suas motivao procura de um mdico. Tais motivaes podem ocorrer por
(a) problemas conhecidos (rotineiros ou recorrentes) ou (b) problemas desco-
nhecidos pelos pacientes.
Ainda de acordo com os mesmos autores, o incio de uma consulta cos-
tuma ser marcado pela prpria apresentao de problemas, a partir de descries
em termos vernaculares, sintomas, relao com experincias e autodiagnos-
tico, dvidas e incertezas. Heritage & Robson (2006) tambm apontam que as
Chama ateno este tipo de consulta pelo fato de que, nestas situaes, o
mdico mais acatava com a participao da acompanhante do que do paciente
homem. Este tipo de interao aproxima-se consideravelmente dos padres
perceptveis em consultas peditricas, quando o profissional de sade dirige-se
ao responsvel da criana para informar-se sobre a sade desta, ainda que a
criana esteja presente (cf. TANNEN & WALLAT, 2002).
Deste modo, torna-se visvel a fragilidade de pacientes homens ao apre-
sentarem seus problemas, e necessitarem de uma mediao feminina para isso,
gerando mais silenciamento do paciente o que diferencia-se dos padres de
performance da masculinidade hegemnica descritos por Connell (1995). Vale
aqui refletir a respeito de estratgias que podem ser lanadas pelo mdico para
que a participao da homem na consulta seja mais efetiva, e este possa empo-
derar-se a falar a respeito de seus problemas.
(iv) Consultas cuja temtica tratou de questes ligadas sexualidade:
de ocorrncias mais raras, so consultas as quais constituiu como
tpico de discusso a sexualidade do paciente. Alguns tpicos foram
vigentes em consultas com mdico urologista.
4. Consideraes finais
Referncias
CADILHE, A.J. Discourse Technologization and Medical Education: the use of role-
-play in the construction of competencies and professional identity. In GONALVEZ,
J.C. (org.). Presence in Healthcare Communication: implications for professional
education. Niteri: EdUFF, 2013b.
ERLICH, S.; MEYERHOFF, M.; HOLMES, J. (org.). The Handbook of Language, Gender
and Sexuality. West Sussex, UK: Blackweel Publishing, 2014.
HERITAGE, J. & ROBINSON, J. Accounting for the visit: giving reasons for seeking
medical care. In HERITAGE, J. & MAYNARD, D. Communication in Medical Care.
Cambridge: CUP, 2006.
LOURO, G.L. Sexualidade: lies da escola. In MEYER, D. et alii (org.). Sade, sexua-
lidade e gnero na Educao de Jovens. Porto Alegre: Ed. Mediao, 2012.
MAYNARD, D. Everyone and no one to turn to: intelectual roots and contexts for
Conversation Analysis. In SIDNELL, J. & STIVERS, T. The Handbook of Conversation
Analysis. West Sussex, UK: Blackwell Publishing.
MINAYO, M.C. (org). Pesquisa Social: teoria, mtodo, criatividade. Petrpolis: Vozes,
2008.
MISHLER, E.G. The discourse of medicine: the dialectics of medical interviews. USA:
Ablex, 1984.
Alexsandro Rodrigues
Doutor em Educao (Ufes).
[email protected]
Resumo
Introduo
Consideraes finais
Referncias
BUTLER, Judth. Quadros de guerras: quando a vida possvel de luto? Rio de Janeiro:
Civilizaes Brasileiras, 2015.
Jsio Zamboni
Doutor em Educao pela Universidade Federal do Esprito Santo
Ps-Doutorando e Professor Colaborador no Programa de Ps-Graduao em
Psicologia Institucional da Universidade Federal do Esprito Santo
[email protected]
Resumo
Como surge a bicha na vida de criana? Por invocao, uma voz que
enuncia a existncia da bicha atrelada a alguns corpos. Ouve-se, no recreio
da escola, na conversa familiar, na brincadeira de rua, no programa de tele-
viso, ou em outro lugar qualquer, algum dizer bicha, dirigindo-se a outra
pessoa ou grupo. Poder-se-ia descrever este acontecimento como processo de
interpelao, movimento de volver-se em direo ao outro como resposta a
um chamado que produz assim o reconhecimento social, tornando-se sujeito
(ALTHUSSER, 1980). No entanto, o interpelar a bicha no produz identificao;
pelo contrrio, perturba o processo identitrio baseado na diviso sexual. Ao ser
interpelado como bicha, j no se pode reconhecer como homem ou mulher.
Abre-se uma zona ou linha de (des)subjetivao no ponto de perturbao dos
padres de gnero masculino e feminino, rompendo suas fronteiras. Assim, a
bicha no pode ser definida como uma identidade, pois consiste em uma mul-
tiplicidade desejante, um territrio de complexas mutaes (PERLONGHER,
1993). Quando se interpelado como bicha, o que ocorre desde a perturba-
o da infncia, acontece uma transformao incorporal. Ou seja, atravs do
signo bicha, acaba-se lanado a um outro territrio assim como o padre
lana o noivo no territrio da conjugalidade ou o juiz lana o ru no territ-
rio da condenao por meio de outros signos (DELEUZE; GUATTARI, 1995).
A transformao incorporal remete transformao corporal sem, no entanto,
confundirem-se. Sendo assim, pode-se ser lanado no territrio da bichice sem
que isso implique uma modificao predefinida no desejo dos corpos. O signo
bicha, portanto, no designa necessariamente o homossexual, o sodomita ou
mesmo o efeminado; embora lance o sujeito no campo destas possibilidades
histricas de transformao corporal, implicando-as nos processos de produ-
o de subjetividade. A criana invocada como bicha poder inventar diversas
possibilidades de existncia a partir da interpelao, contanto que passe por um
devir mulher (GUATTARI, 1987) para escapar do ideal de homem.
O debate em torno da bicha, disparado por diversos trabalhos cientficos
e literrios do final do sculo passado (DANIEL, 1982, 1984a, 1984b; FRY, 1982;
FRY; MACRAE, 1984; MACRAE, 1990; MCCOLIS; DANIEL, 1983; MOTTA,
1987, 1996, 2000; PERLONGHER, 1993, 1997, 2008; SANTOS, 1972), configura
um meio fundamental para promover a crtica dos saberes e prticas aciona-
dos no campo da diversidade sexual. Esta crtica visa ampliar os modos de
pensamento e interveno no campo social, criando novas estratgias de abor-
dagem do problema. Neste sentido, retomar e reformular a questo da bicha
Referncias
BAPTISTA, L. A. S. A fbula do garoto que quanto mais falava sumia sem deixar ves-
tgios: cidade, cotidiano e poder. In: MACIEL, I. M. (Org.). Psicologia e Educao. Rio
de Janeiro: Cincia Moderna, 2001. p. 195-209.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. Mil plats, vol. 2. So Paulo: Ed. 34, 1995.
FOUCAULT, M. A vida dos homens infames. In: ______. Estratgia, poder-saber. Rio
de Janeiro: Forense Universitria, 2003. p. 203-222.
Resumo
Introduo
Consideraes finais
Referncias
Resumo
Desconstrutivismo
2 O informante se referiu a posio sexual como ela comumente chamada: de frango assado.
3 Esta informao est em carter de suposio do autor do texto.
Referncias bibliogrficas
Resumo
Introduo
1 Palestra ministrada por Luiz Fuganti no Festival Contemporneo de Dana de So Paulo 2011. Link:
https://www.youtube.com/watch?v=lIwxWe_Tvo4
vez, cursam pelo nervo pudendo e, ento, pelo plexo sacral para
a regio sacral da medula espinal, finalmente, ascendendo pela
medula para reas no definidas do crebro(GUYTON e HALL,
2011, p.1030, grifos meus).
Corpo biolgico, foco irradiador das sensaes de prazer, faz desse corpo
transante extensivo funcional incio e finalidade de toda e qualquer experincia
sensorial. Fica mais ou menos evidente a relao quase intrnseca entre sensa-
es, prazer e base antomo-fisiolgica, produzindo efeitos de naturalizao
entre os termos. Este corpo passa por mim e eu me identifico neste fazer-tran-
sar: transo com o pnis atravs do contato com um corpo que o estimule, tudo
que friccione. A glande como parte mais sensvel segundo as terminaes ner-
vosas me excita; a ereo ocorre. Prazer. Orgasmo. Relaxamento.
Feminino:
A estimulao sexual local da mulher, ocorre mais ou menos da
mesma maneira que no homem porque a massagem e outros tipos
de estimulao da vulva, da vagina e de outras regies perineais
podem criar sensaes sexuais. A glande do clitris especial-
mente sensvel ao incio das sensaes sexuais.(...) Localizado em
torno do introito e estendendo-se at o clitris, existe tecido ertil
quase idntico ao tecido ertil do pnis. Esse tecido ertil, assim
como o do pnis, controlado pelos nervos parassimpticos que
passam pelos nervos erigentes, desde o plexo sacro at a genitlia
externa (Ibid. p.1054, grifos meus).
2 Anotaes das aulas de psicanlise, mais especificamente dos Trs Ensaios sobre a Sexualidade, de
Freud (2006)
Referncias
PELCIO, L. Breve histria afetiva de uma teoria deslocada. Florestan, n. 02, 2014.
VENCATO, A.P. Fora do armrio, dentro do closet: o camarim como espao de trans-
formao. Cad. Pagu, Campinas, n. 24, 2005.
Resumo
Introduo
2 Parte do Projeto de Iniciao Cientfica (PIBIC) em andamento com o titulo Formar para a Diversida-
de Religiosa: Gnero e Diversidade Sexual: artigos e peridicos.
5 STEFFEN, Luciana; MUSSKOPF Andr S. Lideranas e grupos religiosos conservadores tm, inclusi-
ve, posto em cheque o avano e aprofundamento das discusses e prticas (especialmente no campo
das polticas pblicas) no campo dos direitos humanos utilizando argumentos religiosos e teolgicos
duvidosos. (2015, p. 60)
7 MARANHO F., Eduardo Meinberg de Albuquerque. [...] bom marcarmos que homossexuali-
dades/afetividades e transgeneridades no so sinnimos. Homossexualidades e homoafetividades
referem-se, respectivamente, a orientaes sexuais e afetivas, enquanto as transgeneridades so que-
bras ou transgresses das normas de gnero esperadas de quem designad@ de determinado sexo/
gnero ao nascer (ou na gestao). (2015, p. 49).
8 MARANHO F., Eduardo Meinberg de Albuquerque. Esta considerao nos leva a destacar que
identidades de gnero, expresses de gnero, orientaes afetivas e orientaes sexuais so coisas
distintas. Podemos entender identidade de gnero como o modo como a pessoa se sente, se per-
cebe, se entende em relao ao sistema sexo/gnero. Sua identidade de gnero pode ser feminina,
masculina, algo entre esses dois lugares ou nenhuma, em um espectro amplssimo (incluindo os dois
lugares ao mesmo tempo, mais de dois lugares, nenhum, e misturas entre nenhum e mais de um
lugar). A identidade de gnero se associa transgeneridade e cisgeneridade. Na primeira, a pessoa
no se sente confortvel com o sistema sexo/gnero que lhe foi imputado na gestao ou no nasci-
mento: sua identidade autntica aquela qual se identifica, e no a outorgada compulsoriamente.
Na segunda situao, a pessoa se sente confortvel e concorda com o sistema sexo/gnero que lhe
designado na gestao ou no nascimento (2015, p. 50)
9 BOFF, Leonardo. A poro feminina de Jesus Mandrgora Vol. 20, No 20 2014 p. 129-145
Mesmo que naquele espao nas igrejas inclusivas - haja fortes tendn-
cias a novas normativas de sexualidade, ainda um local que se abre a acolher
as diversidades. Temos que nos atentar para onde caminhar esta forma de
teologia, enquanto ideologia. Perceber de que maneira sua ao provoca (des/
re)construo das relaes de gnero. Causar mesmo,
Un Dios extrao, torcido, Queer. Un Dios fuera del armario de las
ideologas sexuales y Polticas fluido e inestable como nosotros, a
cuya imagen y semejanza fuimos hechos, un dios que se re y halla
placer en su destino divino de justicia transgresiva, la clase de jus-
ticia que desarticula las leyes y que finalmente hace de nosotros,
ms que discpulos, amantes de Dios. (REID, M. Althaus, 2008,
pg, 69).
10 SOUZA, Robson. H que se destacar aqui a importncia da ideologia dos direitos humanos: esse
status igualitrio criou o espao necessrio para a consecuo de acordos parciais e transitrios entre
interesses muitas vezes divergentes. (2015, p. 212)
Referncias
MARANHO F., Eduardo Meinberg de Albuquerque . Uma igreja dos direitos huma-
nos onde promscuo o indivduo que faz mais sexo que o invejoso e inveja
pecado: notas sobre a identidade religiosa da igreja da comunidade metropolitana
(ICM) Mandrgora Vol. 21, No 2 2015 p. 5-37
MUSSKOPF, Andr Sidnei. Deus brasileiro! Mas que brasileiro? Mandrgora: Vol. 15,
No 15. 2008. p. 26-34
REID, Marcella Althaus. Marx enun bar gay La Teologa Indecente como una Reflexin
sobre laTeologa de laLiberacin y laSexualidad. Numen: revista de estudos e pesquisa
da religio, Juiz de Fora, 2008, v. 11, n. 1 e 2, p. 55-69
GT 04 -
Travestilidades, Transexualidades, Lesbianidades e Homosexualidades:
Transgresses e Resistncias.
Resumo
Introduo
1 O que dizer de homens que vo ao salo de beleza, cuidar das unhas, da pele e do cabelo, e
mulheres que malham em academias para aumentar sua musculatura, antigo distintivo exclusivo
dos homens. At mesmo a capacidade de gestar e parir, atributo mais do que exclusivo da mulher
deixou de s-lo, no momento em que transhomens no operados resolveram reproduzir. No h
mais nenhuma caracterstica ou atributo pessoal, papel social ou domnio profissional que possa ser
considerado como inequvoco e absoluto domnio prprio e exclusivo do homem ou da mulher
(...) (LANZ, 2014, p. 20-21).
2 Essa concluso fruto do exame de acrdos localizados em pesquisa junto ao banco de decises
disponvel no stio eletrnico do Tribunal de Justia do Paran (https://portal.tjpr.jus.br/jurispruden-
cia/). Destacamos duas decises que inspiraram a anlise atenta dos fundamentos do tribunal: a Ape-
lao Cvel n 1.091.843-7, apreciada pela 11 Cmara Cvel, Relator Des. Renato L. de Paiva, em
julgamento realizado em 02/07/2014, publicado noDirio de Justia em25/07/2014; e a Apelao
Cvel n 350.969-5, da 12 Cmara Cvel, Relator Des. Rafael A. Cassetari, em julgamento realizado
em 04/07/2007, publicado noDirio de Justia em 20/07/2007. O primeiro julgado no concedeu
a alterao do nome no registro civil, enquanto o segundo autorizou a mudana, porm, ambas as
decises se fundamentam na realizao ou no da cirurgia de transgenitalizao, de forma a subor-
dinar a alterao do nome verdade biolgica. Inclusive, os votos empregam termos da literatura
mdica, como se observa do seguinte trecho extrado daquela deciso: O transexual, por fora de
sua anomalia sexual e no por mera escolha, est fadado a um estigma e humilhao ao ostentar
uma aparncia destoante do prenome e do sexo descritos em seu documento de identificao oficial.
Segundo a Resoluo n 1.955/2010 do Conselho Federal de Medicina o transexual portador de
desvio psicolgico permanente de identidade sexual, com rejeio do fentipo e tendncia auto-
mutilao e/ou autoextermnio.
3 Lei n26.743. Disponvel em: <http://www.tgeu.org/sites/default/files/ley_26743.pdf>. Acesso em
28/06/2016.
Consideraes finais
4 O artigo 4 exige que a pessoa seja maior de idade, apresente ao cartrio uma solicitao escrita,
na qual dever requerer a retificao registral da certido de nascimento e a emisso de uma nova
carteira de identidade, conservando o nmero original e expressar o/s novo/s prenome/s escolhido/s.
Disponvel em:<http://prae.ufsc.br/files/2013/06/PL-5002-2013-Lei-de-Identidade-de-G%C3%A-
Anero.pdf >. Acesso em: 28/06/2016.
Referncias
CONNELL, R.; PEARSE, R. Gnero: uma perspectiva global. So Paulo: nVersos, 2015.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: Nascimento da Priso. 30. ed. Petrpolis: Vozes,
2005.
GT 04 -
Travestilidades, Transexualidades, Lesbianidades e Homosexualidades:
Transgresses e Resistncias.
Resumo
Introduo
4 http://www.sdh.gov.br/assuntos/lgbt/ .
5 http://tgeu.org/ .
8 Disponvel em http://guiadooeste.com.br/g1-travesti-e-morto-com-12-tiros-dentro-de-casa-em-san-
ta-maria-no-df/, acessado em 13 de julho de 2016.
9 A sigla LGBT assim est posta pois dessa maneira que aparece no relatrio. Porm necessrio
pontuar que esta vem passando por transformaes que emanam da demanda dos movimentos de
militncia. Atualmente, mais corrente utilizar LGBTTT ou LGBTTTQI.
Referncias
Livros e artigos
BENEDETTI, M. Toda feita: o corpo e o gnero das travestis. Rio de Janeiro: Garamond,
2005.
BENTO, B. Brasil: O pas do transfeminicdio. In: Centro latino-americano em sexu-
alidade e direitos humanos, 2014. Disponvel em http://www.clam.org.br/uploads/
arquivo/Transfeminicidio_Berenice_Bento.pdf.
BUTLER, J. Marcos de guerra: Las vidas lloradas. Trad. Bernardo Moreno Carrillo.
Buenos Aires: Paids, 2010.
JESUS, J. Cidadania LGBTTTI e polticas pblicas: identificando processos grupais e
institucionais de desumanizao. In: Berenice Bento & Antnio Vladimir Flix-Silva.
(Org.). Desfazendo gnero: subjetividade, cidadania, transfeminismo. 1a.ed.Natal
(RN): EDUFRN, 2015, p. 341-358.
KULICK, D. Travesti: prostituio, sexo, gnero e cultura no Brasil. Rio de Janeiro:
Fiocruz, 2008.
PELCIO, L. Abjeo e desejo: uma etnografia travesti sobre o modelo preventivo de
AIDS. So Paulo: Annablume, 2009.
Pginas eletrnicas
http://guiadooeste.com.br/, acesso em 12 de julho de 2016.
https://homofobiamata.wordpress.com/, acesso em 12 de julho de 2016.
http://www.sdh.gov.br/assuntos/lgbt/, acesso em 12 de julho de 2016.
http://tgeu.org/, acesso em 12 de julho de 2016.
O RECONHECIMENTO DA MULTIPARENTALIDADE NO
DIREITO BRASILEIRO
Resumo
Introduo
Famlia
O pilar da famlia
1 Eudemonista a doutrina que considera a busca de uma vida plenamente feliz - seja em mbito
individual seja coletivo -, julgando eticamente positivas todas as aes que conduzam o homem
felicidade, perseguindo-a como um fim natural da vida humana.
Processo de n 0711965-73.2013.8.01.0001
Consideraes finais
Referncias
FACHIN, Luiz Edson. Da paternidade: relao biolgica e afetiva. Editora Del Rey,
1996.
FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: famlias. v.
6. ed. 7. So Paulo: Atlas, 2015.
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RODRIGUES, Renata de Lima. O direito das fam-
lias entre a norma e a realidade. So Paulo: Atlas, 2010.
Alexandre Gaspari
Mestre em Cincias Sociais pelo Programa de Ps-Graduao
em Cincias Sociais (PPGCS)
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro UFRRJ
[email protected]
Resumo
Este trabalho apresenta breve anlise da pesquisa feita em dois trechos de praias
da cidade do Rio de Janeiro amigveis a homossexuais: a Bolsa de Valores, em
Copacabana, e a Farme, em Ipanema. A pesquisa pretendeu analisar as relaes
entre homens gays nessas praias e as tenses criadas a partir de diferenciaes
que alimentam disputas territoriais e simblicas, influenciadas por mudanas
socioeconmicas e de infraestrutura urbana na cidade. Tais distines so
caracterizadas por interseccionalidades entre diversos marcadores sociais da
diferena. Se o corpo o mais aparente deles, devido ambiente praiano, h
ainda outros fatores que afetam tais relaes, como gnero, classe social, gera-
o, raa, origem e mesmo local de moradia.
Palavras-chave: Homossexualidade; Corporeidade; Masculinidade; Classe
Social; Territrio.
Introduo
Marcadores da ocupao
1 Para efeito de simplificao da leitura, ser usado o termo praia gay para referncia a esses trechos,
embora o termo gay esteja mais associado a homossexuais do sexo masculino. De qualquer forma,
vale ressaltar que visivelmente perceptvel que a frequncia nesses locais majoritariamente de
homens.
2 Foram feitos contatos e entrevistas pelo Facebook. Um dos informantes tambm manteve contato
mais constante pelo Whatsapp.
A poluio da Bolsa
4 Informante de Green em sua pesquisa, assim como outros nomes presentes nas citaes a este autor.
5 Embora com presena registrada, travestis e transexuais femininas foram analisadas de forma super-
ficial na pesquisa.
Garot@s de Ipanema
7 Qualquer referncia a essa categoria feita comumente no feminino. Portanto, apesar de o termo
barbie representar um ideal esttico e de vigor fsico que se aproximaria de uma supermasculini-
dade, ele sempre precedido por a: a barbie, elas, as barbies.
verifica-se tambm o fator racial envolvido, j que os boys teriam cor de pele
mais escura (GONTIJO, 2004, p. 67) que as barbies.
Entretanto, a Farme atual apresenta uma diversidade maior de frequentado-
res do que quando surgiu. Homens so maioria, mas seus tipos fsicos so variados,
bem como padres estticos e idades aparentes. H mulheres, embora em nmero
muito menor. Grupos de homens e mulheres reunidos e casais heterossexuais,
com e sem filhos, tambm frequentam a praia, mas tambm so minoria. E muito
desse movimento foi facilitado pelo metr, com a inaugurao da estao General
Osrio, no final de 2009, em situao semelhante ocorrida na Bolsa em 1998.
No final de dezembro de 2014, havia um grupo de 12 pessoas na barraca
Lucia e Claudio, no que seria a borda direita da Farme. Eram seis homens
trs negros, dois brancos e um pardo , trs mulheres, todas negras, e trs
crianas. Carregavam bolsas trmicas e caixas de isopor. Todos os homens do
grupo trajavam bermudes altura do joelho. Dois trocavam beijos e se acari-
ciavam. Nenhum apresentava corpo em boa forma. E os homens se tratavam
no feminino na maior parte do tempo. Escutavam msicas em volume alto.
Primeiramente pagodes, e depois, funk carioca.
Carlos negro, tem 278 anos, mora em Nova Iguau, na Baixada Fluminense,
e completou o segundo grau. Otvio tem 30 anos, branco, mora no Centro do
Rio e dentista. Os dois so nascidos em Campos dos Goytacazes, no norte
do estado do Rio de Janeiro, cidade a cerca de 300 quilmetros da capital.
Para ambos, ir Farme a possibilidade de exerccio livre de sua homosse-
xualidade, sentimento que parece ser comum para quem oriundo de cidades
de menor porte quando chega a metrpoles como o Rio ou So Paulo e que
parece atingir seu paroxismo em points gays, como aquele trecho da praia.
Aqui a gente se sente bem, explicou Otvio.
Nem Carlos nem Otvio disseram sentir discriminao na Farme. Contudo,
de acordo com reportagem de Ramiro Costa (s.d.) no site Time Out (www.
timeout.com.br/riodejaneiro), uma nova praia gay estaria surgindo no Rio, e
por motivos relacionados noo de poluio de Douglas (2012).
H muito tempo a famosa Farme de Amoedo j no reina mais
absoluta na cotao do pblico gay no Rio de Janeiro. A explicao
simples: fugir da confuso deste ponto, que ficou muito popular
Consideraes finais
10 Boate LGBT localizada na Praa Seca, Jacarepagu, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Formada por
diversos ambientes, onde se toca desde msica dos anos 1980, passando por msica eletrnica e por
funk, havendo ainda um ambiente destinado msica ao vivo, sua frequncia bastante variada,
mas majoritariamente formada por pessoas do subrbio carioca, de classes mais baixas.
Referncias bibliogrficas
BECKER, Howard S.. Outsiders: estudos de sociologia do desvio. Edio digital. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2012.
Bruno de Freitas
Doutorando, Programa de Ps-graduao em Geografia, IG/UFU.
[email protected]
Resumo
Introduo
2 De acordo com o site LGBT: a sua parada gay (2015), Gay-Friendly significa em portugus ami-
gvel a gays, ou amigayveis, um termo norte-americano que vem sendo utilizado no Brasil e para
se referir a lugares pblicos e/ou privados que so abertos e receptivos ao pblico gay, ou seja, a
membros da comunidade LGBT.
O presente tpico tece uma discusso terica no que diz respeito cons-
tituio dos territrios urbanos derivados do consumo, lazer, vida noturna e
excluso de grupos minoritrios (em especfico o LGBT) no setor central da
cidade de Uberlndia. Nesta acepo, as discusses que dizem respeito ao
conceito de territorializao, por meio da apropriao do espao por segmentos
de mercado especficos, preferencialmente ao grupo LGBT.
Para entender como se do estes processos espaciais em Uberlndia,
foi necessrio discutir alguns conceitos geogrficos. Parte-se do entendimento
que o espao se torna lcus de processos sociais complexos. Sobre o espao
urbano, Corra (2005) afirmou que o mesmo simultaneamente fragmentado e
articulado e mantm relaes com outros espaos.
Santos (1985) considera que em funo de suas relaes, os elementos
espaciais formam um sistema comandado pelo modo de produo dominante
nas suas manifestaes escala do espao readequado com o tempo. Aqui
apresenta-se a reconfigurao causada pela apropriao do espao urbano da
cidade de Uberlndia, por empreendimentos comerciais que possuem funes
de lazer para grupos eminentemente LGBT.
Sobre este conceito Albagli (2004), afirmou que as noes de espao e
de territrio so distintas. O espao representa um nvel elevado de abstrao,
enquanto que o territrio o espao apropriado por um ator, sendo definido e
delimitado por e a partir de relaes de poder, em suas mltiplas dimenses.
O territrio no se reduz ento sua dimenso material ou concreta; ele ,
tambm, um campo de foras, uma teia ou rede de relaes sociais que se pro-
jetam no espao. construdo historicamente, remetendo a diferentes contextos
e escalas.
Deve-se considerar que as cidades constituem-se um campo de inves-
tigao complexo. A densidade populacional e o grau de complexidade
informacional que permeiam seus stios promovem o experimento das mais vari-
veis manifestaes culturais. Embora a cidade seja o foco da cultura de massa,
ela se apresenta como verdadeira manifestao da heterogeneidade humana. As
culturas, ou seja, as unidades vividas das experincias, que produzem determi-
nadas estruturas. Para entender os processos analisados, apresentam-se dados
inerentes a cidade estudada, bem como uma breve caracterizao da mesma.
Mapa 2: Uberlndia, MG: Localizao dos empreendimentos LGBT e/ou Gay-friendly no setor central
da cidade estudada, 2016.
A discusso que segue faz uma anlise sobre uma prtica espacial rela-
tivamente recente em Uberlndia, que diz respeito aos estabelecimentos Gay
Friendly. Em atividades realizadas diretamente em campo, foi questionado s/
aos responsveis do empreendimento, qual era o pblico alvo em um destes
estabelecimentos gay-friendlys, os funcionrios afirmaram que se trata de um
lugar que voc pode fazer o que quiser com quem quiser, o importante diver-
tir e aproveitar a noite, sem rotulaes (Depoente P, 2015).
Estes estabelecimentos so compostos por espaos que possibilitam que
os indivduos se expressem de acordo com suas personalidades e vontades. No
entanto, percebeu-se que a maioria das/os frequentadoras/es tem a ideia de que
este perfil heterogneo de indivduos que compem estas reas de lazer, que
tem por objetivo o respeito s diferenas, surge como oposio aos estabeleci-
mentos direcionados eminentemente ao pblico LGBT. Conforme depoimentos
obtidos nestes estabelecimentos:
No me importo, nem quero fazer questo de frequentar um lugar
que direcionado apenas pra pessoas LGBT, mas sim, um lugar
que isto seja o que menos importa, e o que seja respeitado seja as
diferenas, a diversidade (Depoente Q, 2015).
Gosto da variedade de estilos, pois aqui no tem apenas pessoas
gays, mas sim estilos diferenciados, pessoas modernas, que esto
frente de seu tempo, no preocupando se os outros so gays ou
no, pois isto o que menos importa (Depoente R, 2015).
Eu sou gay, mas no fao questo de apenas frequentar um espao
que seja taxado que seja da gente, eu quero estar no meio de pes-
soas diferentes, com diferentes orientaes sexuais, onde todos
sejam diferentes, do mesmo jeito que queria que todos pensassem
assim, pois o pessoal ainda muito quadrado (Depoente S, 2015)
Por meio dos discursos acima, foi possvel observar que, de certa forma,
as pessoas que frequentam estes estabelecimentos, acreditam no fazer sentido
frequentar estabelecimentos destinados eminentemente paro o grupo LGBT,
pois vm a necessidade de transcender esta questo, e que o primordial que
as pessoas se relacionem por meio da diversidade e diferenas existentes, com
o objetivo de superar a questo do preconceito na sociedade como um todo.
Consideraes Finais
Referncias
Resumo
Introduo
Metodologia
Resultados e Discusso
nos discursos das interlocutoras que elas se sentem pertencentes quele local,
mesmo que no se sintam seguras em assumir publicamente suas sexualidades.
importante perceber a relao entre a vivncia territorial e as produes cul-
turais acerca das identidades sexuais e de gnero, como afirma Butler (1990):
The cultural matrix through which gender identity has become
intelligible requires that certain kinds of identities cannot exist
that is, those in which gender does not follow from sex and those
in which the practices of desire do not follow from either sex or
gender. (BUTLER, 1990, p 23-24).3
3 A matriz cultural que torna os gneros inteligveis admite que tipos de identidades no possam
existir que so, aquelas que o gnero no seguido pelo sexo e aquelas que a prtica do desejo
no seguida pelo sexo ou pelo gnero. (Traduo livre feita pelos autores).
Consideraes finais
psicologia e areas afins, bem como no eixo de sociedades mais justas e igualit-
rias em defesa da diversidade de papis sexuais e vivncias lsbicas.
Referncias
BUTLER, J. Gender Trouble: Feminism and the subversion of identity. New York:
Routledge, 1990.
FOUCAULT, M.Histria da Sexualidade I:a vontade de saber. 21. ed. Rio de Janeiro:
Graal, 1988.
SACK, R. Human territoriality: its theory and history. Cambridge: Cambridge University
Press, 1986.
Resumo
1 O referido estudo busca analisar no somente a vivncia no espao pblico da mulher trabalhadora
terceirizada dessa instituio, mas tambm a construo dos espaos de lazer existentes em seus
percursos dirios. Como produto da pesquisa, seguiram anlises de praas localizadas nos bairros de
moradia dessas mulheres e ao longo dos seus trajetos at o trabalho.
Introduo
A Mulher na Histria
Ningum nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biol-
gico, psquico, econmico define a forma que a fmea humana
assume no seio da sociedade; o conjunto da civilizao que ela-
bora esse produto intermedirio entre o macho e o castrado que
qualificam de feminino (Beauvoir, 1967, p. 9).
2 A Declarao, porm, no fica sem uma resposta das mulheres da poca. Em 1791, Olympe de Gou-
ges escreve a Declarao dos Direitos da Mulher e da Cidad, em resposta ao documento inicial.
A Mulher no Trabalho
3 H registros de cerca de oitenta mulheres que guerrearam lado a lado aos homens, durante o pero-
do da Revoluo Francesa. Vide: Revoluo Francesa e feminina, disponvel em <http://migre.me/
ufUeL> Acesso em 15/06/2016.
4 Sobre o assunto, vide: LCIO, Clemente D.; GARCIA, Mayra. Desafios para a Igualdade no Mercado
de Trabalho. Plataforma Poltica Social, 09/02/2016.Disponvel em< http://migre.me/ufUfd>. Acesso
em 07/05/2016.
A Mulher na Cidade
6 A exemplo do que reflete a pesquisa de Sugai (2015, p. 181) que conclui, atravs da anlise histrica
da localizao de investimentos do Estado em Florianpolis e regio metropolitana que a sua dis-
tribuio espacial [dos investimentos pblicos] no ocorreu de forma geograficamente equilibrada,
uniforme, homognea ou determinada pelas demandas. Evidenciou-se tambm que a localizao
desses investimentos no ocorreu de forma aleatria e tambm no foi calcada apenas em decises
tcnicas.
7 Os livros Modulor I e Modulor II foram publicados, respectivamente, em 1948 e 1957 e reuniam te-
orias de propores, descries que deveriam ser aplicadas nos seus projetos. A incorporao dessas
propores pode ser verificada em diversos edifcios e consolidou-se atravs da grande indstria que,
especialmente depois da Segunda Guerra, se ocupou de conceber casas em srie.
Consideraes Finais
Referncias Bibliogrficas
IBGE. Pesquina Nacional por Amostra em Domiclios, Sntese dos Indicadores, 2014.
Disponvel em http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94935.pdf Acesso
em 01/03/2016.
ISP. Dossi Mulher 2015. Rio de Janeiro: 2015. Disponvel em: http://arquivos.proderj.
rj.gov.br/isp_imagens/uploads/DossieMulher2015.pdf. Acesso em 07/05/2016.
RENDELL, Jane. (org.) PENNER, Barbara. (org.) BORDEN, Ian. (org) Gender Space
Architecture: An Interdisciplinary Introduction. Londres: Routledge, 2000. (Coleo
Architext)
Resumen
Introduccin: El Metro
1 Cuando hablo de prcticas homoerticas es para referirme a una socializacin ertica verstil y
dinmica entre personas del mismo sexo biolgico, en este caso hombres, en las que se implican el
cuerpo, el deseo y la subjetividad. Las prcticas homoerticas al ser una forma de expresin de la
sexualidad, son determinadas por la cultura y el contexto en el que se desarrollan.
El ltimo vagn
2 Por apropiacin entiendo el acto de significar o dar sentido propio al lugar desde la experiencia del
sujeto por medio de las prcticas homoerticas que ejercen los usuarios-hombres.
A modo de reflexin
Referencias bibliogrficas
BRITO, Alejandro (2010). Prlogo Del closet a la calle. Para ya no ser menos que
nadie. En Carlos Monsivis. Que se abra esa puerta. Crnicas y ensayos sobre la diver-
sidad sexual. Mxico: Paids, pp. 17-45.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo debater as relaes que se estabelecem entre
convenes sociais e morais acerca da lesbianidade, enfatizando o paradigma
da heteronormatividade e o que pretendemos chamar do silencioso discurso
dos corpos lsbicos, desvelando as formas de opresso ainda existentes. Esse
texto resulta de anlises documentais trazidas pelas publicaes, entre os anos
de 1980 at 2015. A preocupao metodolgica parte do levantamento de
publicaes e tambm s pesquisas bibliogrficas cujo contedo de interesse
principalmente pelo gnero lsbico e a imagem construda a seu respeito.
Palavras-chave: lesbianidade; desencorajamento; sexualidade; homocultura.
Introduo
Vasculhando memrias
esse perodo foi o de maior efervescncia para vrios movimentos sociais, inclu-
sive o movimento ainda chamado homossexual e suas visibilidades difusas, haja
vista o preconceito contido nos noticirios do jornal do Brasil.
Paralelamente, foi consultado o site www.umoutroolhar.com.br, com
publicaes dos anos 2015 para se fazer um comparativo.
* Em 101 edies foram divulgaes de um nico filme que ficou meses em cartaz.
Fonte: VIEIRA, 2016 (Baseado no arquivo do Jornal do Brasil)
conquista de direitos s comea a ser noticiada a partir dos anos 1990, porm
noticiando conquistas de direitos em pases europeus e na Amrica do Norte.
Referncias
BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo. Crtica da violncia tica. BH, Autntica ed. 2015.
FLEURY, Sonia. Estado sem cidados: seguridade social na Amrica Latina. RJ,
Ed.FIOCRUZ, 1994.
PEREIRA, Potyara A. P. Poltica Social. Temas & Questes. So Paulo, Cortez, 2008.
Resumo
Introduo
LGBT encarcerada, vez que dispe sobre o direito ao uso do nome social, inclu-
sive para registros administrativos; estabelece a possibilidade de transferncia de
gays, travestis e transexuais para espaos de vivncia adequados identidade
de gnero, mediante expressa manifestao de vontade, de acesso oferecido,
necessariamente, pelas agncias punitivas; visa a garantir o direito ao uso de
roupas femininas ou masculinas, conforme o custodiado se identificar, visita
ntima, formao educacional; trata do direito manuteno dos cabelos
compridos, caso o tenha, a fim de garantir as caractersticas definidoras de sua
personalidade.
LGBTs e crcere
A situao dos gays, das lsbicas, das travestis e dos transgneros que se
encontram no crcere absolutamente degradante, tendo em vista que adqui-
rem posies de vulnerabilidade (...) frente incidncia estigmatizadora do
sistema punitivo (CARVALHO, 2012, p. 15).
manifesta a invisibilidade dessas pessoas, principalmente dentro do
crcere, retratado ora pelo descaso e indiferena do poder pblico, ora pela
perceptibilidade figurada em torno da manuteno e do fortalecimento de estig-
mas e esteretipos. Em relao a esse descaso, expe Karina Fioravante:
(...) a partir do momento em que ignoramos as especificidades
de gnero, corremos o risco de cair em uma armadilha (...). Ou
seja, negando-se a necessidade de um recorte de grupo especfica
estamos ofuscando importantes aspectos culturais e ideolgi-
cos (...). Isso se aplica da mesma forma aos espaos carcerrios.
Como pensar em polticas pblicas especficas para a populao
encarcerada ignorando as caractersticas singulares desses espaos,
compreendendo-os, portanto, de forma homognea? impossvel.
(FIORAVANTE, 2011, p. 35).
2 Diretora de atendimento e ressocializao que atua h seis anos no presdio. Graduada em Direito e
Ps-graduada em Direito Pblico.
demais custodiados, alguns a tratam pelo nome social, outros no, mas, por
parte dos agentes nunca foi observado.
Sempre quando so perguntados sobre como est a convivn-
cia no alojamento, dizem que est tudo bem. Eles tm um tipo de
comunicao entre si que o que acontece fica entre eles, ningum
conta. As coisas so transformadas lentamente, no h uma aceita-
o rpida e tranquila. Para isso, h muito a ser feito para mudar a
mentalidade dos agentes e dos prprios presos. (Marluce).
Consideraes Finais
Referncias
SILVA, Diego Patrick da. COSTA, Nicole Gonalves da. FREIAS, Rafaela Vasconcelos.
Sistema prisional, Identidade de gnero e Travestilidades em Belo Horizonte.
VIII Encontro da ANDHEP Polticas Pblicas para a Segurana Pblica e Direitos
Humanos. Faculdade de Direito, USP, So Paulo, SP, 2014.
Resumo
Introduo
ainda persiste, tanto no imaginrio como nas tcnicas, o que se pode facilmente
constatar por meio das formas pelas quais at hoje as polticas preventivas de
DSTs dirigem-se, sobretudo, aos no-heterossexuais, como o caso da poltica
pblica de sade de Curitiba aqui analisada.
Resqucios de uma construo do pensamento mdico do sculo XVII,
somados a todo esforo ocorrido no momento da exploso do vrus no Brasil,
situao em que o movimento homossexual, junto aos interesses biopolticos do
Estado e sofisticao das cincias sociais advindas da academia, se uniram em
torno do combate contra a doena (MISKOLCI, 2011, p. 50). Desse modo, ges-
tou-se um solo de visibilidade dessas subjetividades aglutinadas sob o conceito
de homossexualidade, sujeitos de uma sexualidade perversa na medida em
que encarnam uma prtica sexual perigosa para a sociedade tomada enquanto
corpo-espcie. Esse fenmeno foi denominado por Larissa Pelcio (2009) de
sidadanizao, vez que o processo de construo da cidadania desses sujeitos
se deu a partir de interesses estatais biopolticos de carter epidemiolgicos que
culminou na criao de identidades estigmatizadas, cuja normalizao mostra-
-se necessria.
Assim, tomando como figura paradigmtica a implementao do AHA na
cidade de Curitiba, pretende-se traar uma analtica das estratgias biopolticas
ali engendradas na lgica do dispositivo da sexualidade, isto , verificar qual a
curva de normalidade considerada tima nesse contexto de atuao, e a par-
tir dela, quais os discursos que rondam essa ttica de normalizao do corpo
populacional.
ser possvel precisar os riscos e perigos a que cada subgrupo est afetado em
virtude de sua idade, localidade, clima, etc. Se a oscilao de riscos e perigos
eleva-se a um nvel cuja conteno ou controle se tornem muito difceis, tem-se
o que se denominou por crise (FOUCAULT, 2008, ps. 75-78).
Com efeito, a tecnologia biopoltica demarca uma ruptura no modo de
percepo do real poltico-biolgico, na medida em que no mais se opera
buscando a erradicao da doena, mas de faz-la funcionar em relao a
outros elementos do real, possibilitando, em algum grau, a anulao de seus
efeitos. Atravs da noo de caso, a AHA levou em considerao a distribuio
dos casos de HIV-Aids de que o municpio tem acesso, de modo a tornar pos-
svel a individualizao do fenmeno coletivo da doena, na mesma medida
em que coletivizou um fenmeno que seria individual, restringindo-se, porm,
aos homossexuais e aos HSH. Tal a operao deflagrada pela noo de caso
sugerida por Foucault (2008, p. 78).
Quanto aos elementos de risco e perigo, fica claro tambm a sua efetiva-
o na implementao, vez que, ao direcionar o aplicativo aos homossexuais e
aos HSH, os identifica enquanto grupo de alta probabilidade de contrair o vrus,
dado o seu comportamento de risco o seu modo de vida. Na totalidade do
grupo populacional considerada, a partir do clculo de riscos, estabeleceu-se
que estes no se apresentam da mesma maneira para todos, vez que h zonas
de mais alto risco em contraposio a outras em que este menor, em outras
palavras, pode-se identificar assim o que perigoso (FOUCAULT, 2008, p. 80).
Em relao ao risco de contrair aids, mais perigoso ser homossexual e HSH,
esse o discurso mais sutil veiculado por essa poltica pblica.
Tais reflexes nos permitem constatar que a prefeitura de Curitiba, por
meio do aplicativo AHA, atua no entorno populacional da cidade irradiando
seus efeitos sobre homossexuais e homens que fazem sexo com outros homens
de formas variadas. De fato, a sua concretizao se encontra relacionada
conquista de espaos e aes por sujeitos homossexuais no que se refere a
efetivao de direitos ou a sua visibilidade social. Entretanto, essa visibilidade
capaz de obscurecer as artimanhas do biopoder que esto em jogo nesse
contexto. Ao lanar um aplicativo com um determinado fim deteco, pre-
veno e combate de HIV/Aids e estabelecer a especificidade do seu pblico,
denominado por eles de populao-alvo homossexuais e HSH fortalece o
aparato estratgico de normalizao daquela rede de associaes to repetida
e hipertrofiada existente entre a homossexualidade e a Aids.
Consideraes finais
Em 1976 Foucault (2011) nos alertara para o fato de o sexo ter-se tornado
esse ponto imaginrio atravs do qual todos os corpos se leem e so lidos,
ponto de condensao de sua totalidade e de aglutinao de sua identidade,
gestado no interior das redes do dispositivo da sexualidade. Alguns anos mais
tarde, explode a epidemia de HIV/Aids, incialmente classificada como uma
peste gay, denotativa de um estilo de vida marcado pela perverso e dege-
nerescncia sexual, de corpos lidos enquanto sexualizados, e dispostos numa
escala hierrquica de estigmatizao.
Por mais que Foucault tenha nos indicado o declnio da concepo de
doena reinante no sculo XVII, a emergncia da Aids reavivou tais discursos
atrelando a doena aos modos de vida tidos como homossexuais, mas a partir de
ento perpassada pelas novas noes elaboradas no bojo do desenvolvimento
dos mecanismos de segurana. So as noes de caso, risco, perigo e crise radi-
cadas no seio da normalizao biopoltica e, nesse caso, irradiadas a partir do
dispositivo da sexualidade, que, em alguma medida, possibilitaram na dcada de
1980 a visibilidade conquistada por sujeitos LGBT no cenrio nacional, alando-
-os ao espao da cidadania, todavia, a um ambiente de sidadanizao.
Implodidas, em momento posterior, as falcias que atrelavam a Aids
aos sujeitos LGBT, resqucios desse processo so sentidos at hoje, bastando
atentar-se para as campanhas de combate e preveno de DSTs dirigidas
exclusivamente a no-heterossexuais, como no caso do aplicativo A Hora
Agora Testar nos deixa mais fortes, poltica pblica lanada pela prefeitura
de Curitiba no ano de 2015. Tais medidas delimitam aquelas subjetividades em
espaos estigmatizados por um discurso que as entende enquanto perigosas,
porque suas condutas, seus modos de vida, a sua esttica, em suma, a sua
sexualidade perversa, carregam um tipo de risco biolgico para o corpo social
tomado enquanto corpo-espcie.
Se no nvel da superfcie, a poltica pblica em questo se apresenta como
efetivao do direito fundamental sade, ao delimitar seu pblico alvo - gays
e homens que fazem sexo com outros homens - tal iniciativa faz no mais que
reiterar todo um complexo de normalizao instaurada a partir da heterossexu-
alidade compulsria, cujas prticas sexuais no so nem questionadas, vez que
tal medida a eles nem se dirige. Presumem-se como portadores de um modo de
vida saudvel e uma sexualidade segura. Essas so as sutilezas que o biopoder
esfumaa, mas que as lentes de Michel Foucault ajudam a enxergar.
Referncias
Resumo
Introduo
2 Foram aplicados questionrios com questes objetivas aos assistentes sociais participantes do IV
Encontro Nacional de Assistentes Sociais do Ministrio Pblico, realizado entre os dias 19 e 21 de
setembro de 2012, no Rio de Janeiro, tendo sido devolvidos 80 questionrios preenchidos.
No Brasil, nos ltimos anos, vem ocorrendo uma srie de embates entre
defensores dos direitos LGBT e ativistas dos movimentos religiosos - especial-
mente as lideranas de denominaes evanglicas de origem pentecostal.
A partir de 2004, um conjunto de iniciativas (aes e programas) gover-
namentais nacionais comeava a assegurar a promoo de cidadania para a
populao LGBT, evidenciando, concomitantemente, a necessidade de imple-
mentao de polticas pblicas no combate ao preconceito, discriminao e
excluso que atingem essa populao. O alargamento dos direitos LGBT, assim
como aes que promovem a visibilidade e aceitao desses grupos sociais
vm provocando reaes conservadoras de diferentes vertentes da f crist,
sobretudo de evanglicos de origem pentecostal. Utilizando a retrica da liber-
dade de expresso, esses segmentos religiosos desqualificam e combatem a
diversidade sexual, adentrando a arena poltica atravs de seus representantes
no Congresso Nacional, que se articulam compondo frentes parlamentares e
interferindo na agenda do movimento LGBT no sentido de conseguir o veto de
leis e polticas que contrariam preceitos morais da sua comunidade religiosa.
Zylbersztajn (2012) no considera que a presena religiosa nos debates
polticos seja algo antidemocrtico em si, mas apenas evidencia a inexistncia
de recursos tericos e argumentativos para a discusso do tema de forma qua-
lificada. A este respeito, Rorty (1996) considera que o argumento puramente
religioso precisa ser reestruturado e ganhar contornos seculares para ser apre-
sentado na arena poltica. A participao dos evanglicos no sistema poltico
brasileiro ocorre, principalmente, no poder legislativo. Nos discursos de par-
lamentares representantes de denominaes evanglicas acerca do tema da
homossexualidade, termos como ditadura gay, mordaa gay, destruio das
famlias, entre outros mostram-se recorrentes.
A eleio do deputado (e pastor evanglico) Marco Feliciano (PSC/SP)
para a presidncia da Comisso de Direitos Humanos e Minorias da Cmara
dos Deputados (CDHM) gerou uma onda de manifestaes contrrias em
redes sociais, campanhas e passeatas de grupos organizados e ativistas dos
movimentos LGBT, em decorrncia do fato de ter o deputado Marco Feliciano
expressado opinies consideradas racistas e homofbicas - alm do mesmo
no ter um histrico de atuao na temtica dos direitos humanos. A gesto do
deputado Marco Feliciano na CDHM foi marcada pela aprovao de propostas
de teor anti-homossexual. A primeira ao de enfrentamento pelo deputado foi
a votao do projeto conhecido como cura gay, que pretendia derrubar trechos
Consideraes finais
Referncias
ESTADO. Feliciano encerra gesto marcada por pauta antigays. So Paulo, dez
2013. Disponvel em: <http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,feliciano-encerra-
-gestao-marcada-por-pauta-antigays,1110182,0.htm> Acesso em 20 de mar 2014.
RORTY, R. Religion as a conversation stopper. In: Philosophy and social hope. Penguin
Books, 1999.
Resumo
Este trabalho se prope a levantar algumas reflexes sobre o atual cenrio pol-
tico brasileiro, principalmente a partir da rearticulao das direitas e do avano
do conservadorismo cristo, junto consolidao da supremacia de um projeto
poltico economicamente neoliberal e socialmente conservador. Dentro dessas
reflexes, sero analisados os (des)caminhos das polticas sexuais e os retro-
cessos que marcam o atual momento poltico, impulsionados pela militncia
pr-vida e pr-famlia (leia-se antifeminista e anti-LGBT) de setores cristos da
poltica nacional, notadamente dos movimentos evanglicos.
Palavras-chave: hegemonia, conservadorismo, polticas sexuais, poltica
nacional.
Introduo
Apesar disso, foram nesses ltimos quinze anos que tivemos os maiores
avanos nas pautas LGBT, tanto no mbito sociocultural, quanto na esfera esta-
tal. Os anos 2000, podem ser caracterizados como uma dcada de ascenso
das pautas LGBT nacionalmente, coincidindo com um cenrio poltico relativa-
mente favorvel, abrindo caminhos para o surgimento de uma cidadania LGBT
brasileira. O avano das direitas vem se mostrando como o principal empecilho
para a consolidao de polticas sexuais no Brasil, principalmente pelo ascenso
do conservadorismo cristo no cenrio nacional.
Como apresentado por Carlos Coutinho (2008), a supremacia de um grupo
social se exerce a partir de uma combinao entre dominao e hegemonia,
tendo como alicerce a direo poltico-ideolgica e o consenso da sociedade a
partir dos aparelhos privados de hegemonia, junto capacidade da burocracia
em exercer coero por meio da represso. O Estado e a sociedade civil so
campos inter-relacionados, em que o autor qualifica:
Essas duas esferas se distinguem, justificando assim que recebam
em Gramsci um tratamento relativamente autnomo, pela funo
que exercem na organizao social e, mais especificamente, na
articulao e reproduo das relaes de poder. Em conjunto, as
duas esferas formam o Estado em sentido amplo, que definido por
Gramsci como sociedade poltica + sociedade civil, isto , hege-
monia escudada de coero80. (...) No mbito da sociedade civil,
as classes buscam exercer sua hegemonia, ou seja, buscam ganhar
aliados para os seus projetos atravs da direo e do consenso. Por
meio da sociedade poltica que Gramsci chama, de modo mais
preciso, de Estado em sentido estrito ou de Estado-coero ,
ao contrria, exerce-se sempre uma ditadura, ou, mais precisa-
mente, uma dominao fundada na coero (p.54).
feministas e LGBT. No por acaso que nem uma nica lei para a popula-
o LGBT foi aprovada em nvel federal no Brasil, e atualmente o cenrio
de retrocessos, com a tramitao de projetos que regulamentam a famlia
como a unio entre um homem e uma mulher; que dificultam a realizao dos
abortos legais e recrudescem a criminalizao do aborto; que tentam anular a
aprovao do casamento homoafetivo pelo judicirio. Ao menos dois partidos
mdios so hegemonizados por evanglicos: o Partido Republicano Brasileiro
(PRB), dirigido majoritariamente pela Igreja Universal do Reino de Deus, e o
Partido Social Cristo (PSC), pela Assembleia de Deus. Entretanto, a influncia
protestante alcana quase todos os partidos brasileiros, sendo uma das maio-
res bancadas do Congresso Nacional e infelizmente a bancada mais direita4,
aliando-se s chamadas bancadas da bala (indstria de armamentos e segu-
rana) e do boi (ruralistas) nas proposies legislativas mais reacionrias.
Nesse processo de derrubada do PT do governo, lideranas evanglicas
tiveram um papel protagonista, na qual podemos citar, como principal articu-
lador do impeachment, o ex-presidente da Cmara dos Deputados e afundado
em suspeitas de corrupo, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), autor de dois projetos
legislativos polmicos: a criminalizao da heterofobia e a maior restrio
ao aborto legal. No atual governo Temer, temos a nomeao de dois ministros
evanglicos e a indicao de Andr Moura (PSC/SE) como lder do governo na
Cmara. O ascenso da bancada evanglica est diretamente vinculado com
a capacidade de articulao de seus aparelhos privados de hegemonia, con-
trolando jornais, rdios, rede de televiso (mais notadamente a Rede Record),
redes comunitrias, igrejas, entre outros. E importante ressaltarmos: a mili-
tncia conservadora de setores evanglicos na poltica no um fenmeno
brasileiro, mas se faz presente em praticamente todo o continente americano
(VILLAZN, 2015).
A agenda da bancada evanglica se unifica, fundamentalmente, em torno
de sua militncia pr-vida e pr-famlia, principal impedimento para a consoli-
dao de direitos sexuais e de avanos nas pautas dos movimentos feministas
Consideraes finais
Referncias
CALIL, Gilberto. Reflexes sobre a ascenso da direita. Blog JUNHO, 2016. Disponvel
em: http://blogjunho.com.br/reflexoes-sobre-a-ascensao-da-direita/. Acesso em:
23/05/16.
KAYSEL, Andr. Regressando ao Regresso: elementos para uma genealogia das direi-
tas brasileiras. In CRUZ, S. V.; KAYSEL, A.; CODAS, G. (org.). Direita, volver!: o retorno
da direita e o ciclo poltico brasileiro. So Paulo: Editora Fundao Perseu Abramo,
2015.
RUBIN, Gayle. Thinking Sex: notes for a radical theory of the politics of sexuality. In
CAROLE, Carole V. (org.). Pleasure and danger: exploring female sexuality. Londres:
Routledge/Kegan Paul, 1984.
______________. Sexuality and its discontents: meanings, myths and modern sexu-
alities. New York: Routledge, 2002.
Resumo
Introduo
Educao e gnero
Consideraes finais
Referncias
HALL, Stuart. Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu (org. e trad.).
Identidade e diferena: a perspectiva dos estudos culturais.. Petrpolis: Vozes, 2000.
p. 103-133.
Francis Sodr
Doutora em Sade Coletiva, Universidade Federal do Esprito Santo.
[email protected]
Alexsandro Rodrigues
Doutor em Educao, Universidade Federal do Esprito Santo.
[email protected]
Resumo
A partir de uma sntese de produes dos campos das Cincias Sociais, Humanas
e da Sade, este artigo prope duas notas sobre a seletividade no acesso
sade vivenciada pela populao trans. Aponta-se que s possvel discutir a
sade da populao trans brasileira por que existe o SUS, nesse sentido, univer-
salizar o acesso sade para essa populao pressupe lutar pela efetivao
deste sistema pblico de sade conciliado com os princpios e valores ticos
da Reforma Sanitria brasileira como universalidade, integralidade, equidade,
justia social e participao popular.
Palavras-chave: Transexualidade, Travestilidades, Sade, Corpo.
Introduo
Os trnsitos que as pessoas trans realizam nos gneros a partir das mudan-
as em seus corpos so interpelados por normas hegemnicas sobre gnero e
sexualidade presentes nas relaes sociais. Segundo Froemming et al. (2010,
p.166 - 167):
A ordem social contempornea se estrutura de forma que no
dualismo htero/ homo, a heterossexualidade seja naturalizada e
compulsria. [...] A linha de inteligibilidade do humano pensada
a partir do corpo gnero sexualidade e dos plos masculino
e feminino, e na relao destes com seus opostos, dada assim tam-
bm a nossa capacidade de compreenso da existncia do outro.
Os autores, em dilogo com Butler (2014, p.45) que diz que a instituio
de uma heterossexualidade compulsria e naturalizada exige e regula o gnero
como uma relao binria em que o termo masculino diferencia-se do termo
feminino [...] por meio das prticas e do desejo sexual., afirmam que na socia-
bilidade atual, as construes no gnero devem seguir as categorias disponveis
nas formas femininos x masculino, homem x mulher, restando aos que nes-
sas categorias no se enquadram a desumanizao de suas vidas. Tais normas
compreendem os corpos e gneros num sistema binrio que produz a ideia de
que o gnero reflete, espelha o sexo e que todas as outras esferas constitutivas
dos sujeitos esto amarradas a essa determinao inicial: a natureza constri
as sexualidades e posiciona os corpos de acordo com as supostas disposies
naturais. (BENTO, 2006, p.90).
Michel Foucault (2013) relata que o sculo XVIII foi marcado por uma
maior preocupao e cuidado com o sexo. O autor discorre sobre o surgimento
do que nomeou dispositivo da sexualidade, segundo qual passou a regular as
prticas sexuais a partir de diversas estratgias de administrao populacional e
disciplinao dos corpos, produzindo uma sociedade de normalizao, e valo-
rando o sexo com fins procriativos.
Em dilogo com Foucault (2013), Ferreira e Aguinsky (2013, p. 224) afir-
mam que diferentes instituies ideolgicas, tais como famlia, a medicina, o
sistema escolar, de justia, de segurana, entre outros, constroem significados
sobre corpos e desejos. Tais instituies colaboraram para a elaborao do
dispositivo da sexualidade e do gnero em sua forma binria conforme tambm
Consideraes finais
que a luta pela garantia do direito sade a toda populao trans brasileira no
pode se fazer desconectada da luta em defesa do SUS. possvel apontar tam-
bm como possibilidade de soluo a essa problemtica, a impresso, pelos
trabalhadores do SUS em seus processos de trabalho em sade, dos valores
da Reforma Sanitria Brasileira, produzindo contra hegemonias no cotidiano
dos servios, movimentos de resistncia e rupturas com modelo biomdico de
ateno sade, modelo mercadolgico, ante SUS, que fundamenta paradig-
mas como gnero binrio, a heteronormatividade, e a sade como ausncia de
doena.
Referncias
BRASIL. Ministrio da Sade. Carta dos Direitos dos Usurios da Sade. Portaria N
675/GM/2006. Dirio Oficial da Unio. 31/03/2006.
LAQUEUR, T. Inventando o sexo: corpo e gnero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro:
Relume Dumar, 2001.
Resumen
A manera de introduccin
Palabras de cierre
Referencias
CRUZ, Yenny; SNCHEZ, Reyna; AZCUAGA, Karen. Son aceptados los homo-
sexuales en su ambiente laboral? San Salvador: UCA, 1999. 54 p. Comunicacin y
periodismo, Universidad Centroamericana Jos Simen Caas, San Salvador, 1999.
Resumo
A reflexo das prticas sexuais dos gregos era realizada atravs da din-
mica entre estas trs coisas. Ou seja, no importa se o desejo e o prazer vinham
atravs do ato sexual com pessoas do mesmo sexo ou no, mas se este conjunto
estava vinculado com aquilo que lhes era de maior valor: a qualidade da tem-
perana, ou se estava vinculado com aquilo que desprezavam: o excesso e o
exagero. O objeto sexual tinha apenas que ser belo e desejvel, pouco impor-
tando o sexo. Para os gregos, existe em todos os homens um apetite sexual que
se satisfaz com pessoas que so belas, indiferente do sexo.
claro que a prtica sexual entre os gregos j era construda em cima de
dois extremos: o ativo e o passivo (embora no conhecidas exatamente com
estes nomes).
Em Esparta, cidade grega conhecida pelo seu enorme poder blico e edu-
cao militar, a relao sexual livre era encorajada na formao do guerreiro e
era smbolo de fora e virilidade.
Em Esparta, uma sociedade guerreira, os casais de amantes homens
eram incentivados como parte do treinamento e da disciplina militar.
Essas prticas dariam coeso s tropas. Em Tebas, colnia espar-
tana, existia o Peloto Sagrado de Tebas, tropa de elite composta
unicamente de casais homossexuais. Eram extremamente ferozes,
pois lutavam com muita bravura para que nada acontecesse a seus
parceiros. Em campo de batalha eram quase imbatveis. Assim,
podemos ver que a homossexualidade dos espartanos em nada
influenciava sua condio de homens e guerreiros (CORINO, 2006,
p. 20-21).
Referncias bibliogrficas
INTERSEXUALIDADE E A IMPOSIO DE
UM CORPO GENERIFICADO
Resumo
Introduo
A busca pela verdade dos corpos sexuados pode ser percebida nos cam-
pos mdicos e psiquitricos, os quais elaboram uma ideia de realidade fundada
em uma suposta natureza dos corpos/sexo/gnero/desejo. Apenas nos ltimos
anos as cincias humanas comeou produzir reflexes sobre os corpos e subje-
tividades intersexo, so essas reflexes entre campos discursivos que permitem
a elaborao e, consequentemente, ressignificao de classificaes. Entende-se
que h uma srie de campos de saber-poder que falam dos sujeitos intersexo,
mas, em muitos casos, era negada a fala e a experincia desses sujeitos.
1 Optamos a utilizao do termo intersexo, pois essa dominao foi apropriada pelo ativismo inter-
sexo dos anos de 1990 que tinham como interesse o fim das cirurgias corretoras na infncia, como
aponta Machado em seus textos.
Consideraes finais
Referncias
CABRAL, Mauro. & BENZUR, Gabriel. Cuando digo intersex. Um dialogo introduc-
torio a laintersexualidad. Cadernos Pagu(24), Ncleo de Estudos de Gnero Pagu/
Unicamp, 2005.
LAQUEUR, Thomas. Inventando o sexo: corpo e gnero dos gregos a Freud. Rio de
Janeiro: Relume Dumar, 2001.
MACHADO, Paula Sandrine. O sexo dos anjos: um olhar sobre a anatomia e a produ-
o do sexo (como se fosse) natural. Cadernos Pagu (24), janeiro-junho de 2005, pp.
249-281.
SALIH, Sara. Judith Butler e a Teoria Queer.Traduo e notas: Guacira Lopes Louro.
Belo Horizonte: Autntica Editora, 2012.
Resumo
Introduo
ser mulher, visto que tal condio produz efeitos e divergncias dentro de uma
estrutura racializada do gnero dentro do movimento feminista e suas ramifica-
es. Partimos da inquietao enquanto autoras brancas e acadmicas, com as
discusses sobre lugares de fala no feminismo como um todo e sobre como os
dilogos com o feminismo negro2 tensionam categorias que o feminismo branco
no vem discutindo, como o caso da branquitude; ou que vem universali-
zando em suas produes tericas e crticas, como o caso da dimenso do
cuidado e os sentidos da maternidade. Tanto o debate sobre o cuidado quanto
sobre a maternidade e seus efeitos sobre a vida das mulheres (direitos sexuais
e reprodutivos, trabalhistas, invisibilidade social, diviso de tarefas domsticas,
etc) so temas que, ao serem pautados pelas feministas, levantam importantes
questes geracionais e relativas aos cursos da vida de mulheres. Propomos uma
reflexo sobre esses temas que discuta os atravessamentos raciais que se fazem
presentes nesse campo de debates.
Ao analisarmos o movimento feminista a partir de uma perspectiva his-
trica, incontestavelmente, verificamos que sua contribuio atravs de lutas
polticas e prticas de resistncia foi (e continua sendo) imprescindvel na
conquista, garantia e legitimao de direitos para as mulheres. Por outro lado,
podemos afirmar que a historicidade desse movimento se consolidou atravs
de um discurso atravessado por uma viso eurocntrica e universalizante sobre
as mulheres.
1 Entendemos por branquitude a racializao da pessoa branca atravs dos traos da identidade racial,
ou seja, considerar a branquitude como um marcador social do sujeito, que foi ao longo do tempo
se consolidando e se constituindo normativamente atravs da interlocuo de privilgios histricos
e polticos, imprescindvel para que se entenda a posio sistemtica desses sujeitos no que diz
respeito ao acesso a recursos materiais e simblicos, gerados inicialmente pelo colonialismo e pelo
imperialismo, e que se mantm e so preservados na contemporaneidade. Portanto, para se entender
a branquitude, importante entendermos de que formas se constroem as estruturas de poder concre-
tas em que as desigualdades raciais se ancoram (BENTO, 2014; SCHUCMAN, 2014).
3 Que denominam este feminismo como sendo o feminismo branco, devido invisibilidade confe-
rida s questes de raa dentro do movimento.
Consideraes finais
Referncias
Resumo
Atravs dos relatos, resta evidente que tanto as instituies como a prpria
sociedade so coniventes e produtoras do abandono das mulheres, em especial
quando essas mulheres so diferenciadas por apresentar um comportamento
tido por desviante. Segundo Becker (2008, p. 18-20), uma das concepes mais
comuns de desvio a que o identifica como algo essencialmente patolgico,
revelando a presena de uma doena, sendo que esta noo de patologia
incita discordncias quando o comportamento que descrito como desviante
ou no. A concepo de desvio pode tambm ser apenas estatstica, que iden-
tifica o desviante como aquele que diverge excessivamente mdia, estando
esta concepo muito longe da preocupao com a violao de regras que
inspira o estudo cientfico dos outsiders.
H ainda a concepo funcional de desvio, que considera as funes ou
metas de um grupo e aquilo que ajudar ou atrapalhar sua realizao. Para o
autor, essa concepo ignora o aspecto poltico do fenmeno, limitando a com-
preenso. Mas a principal concepo de desvio a sociolgica, a partir da qual
o desvio ou o desviante so conhecidos pelas regras socialmente impostas e
pela reao social figura de quem se tornou um desviante. E aqui, entendendo
que o desvio e o desviante so produtos dessas regras e dessa reao social,
devemos nos concentrar atentamente a um estudo sociolgico e criminolgico
da Sociedade e das Instituies, em especial daquelas reguladoras, objeto de
anlise neste artigo (BECKER, 2008, p. 20-21).
O pensamento de Becker suscita questes fundamentais acerca do que
o desvio e quem o desviante, possibilitando uma melhor compreenso do
que faz de um ser um indivduo desviante. Pela sua anlise, conclui-se que o
Referncias bibliogrficas
QUEIROZ, Nana. Presos que menstruam. Rio de Janeiro: Record, 2015, 1a ed.
Resumo
Introduo
A heteronormatividade no SINTUFRJ
orientao sexual dos servidores gays: Jesus ama o pecador, mas no o pecado
dessa gente. Observa-se, neste exemplo, a colocao da homossexualidade
como abjeo, espao no qual a coletividade insere aqueles classificados como
ameaas ao bom funcionamento e ordem social (MISKOLCI, 2016, p.23), inclu-
sive a sindical. Muitos membros do SINTUFRJ mostraram desconhecimento ou
mesmo desprezo em relao s discusses conduzidas pelo GT-LGBT. Ainda
que integrantes do prprio GT recusem valores morais violentos que instituem a
linha de abjeo, eles manifestam a dificuldade de mobilizao de outros sindi-
calistas para as discusses do GT, o que justifica a irregularidade na realizao
das reunies e o baixo qurum nos encontros. Muitos temem a ameaa cons-
tante de retaliaes e violncias pelos prprios membros do sindicato, grande
parte criada e residente em comunidades mais humildes do Rio de Janeiro,
marcadas por valores patriarcais. Por conta disso, muitos membros LGBT do
sindicato adotavam comportamentos heterossexuais tidos como discretos ou
mesmo no revelavam sua orientao sexual no ambiente de trabalho na UFRJ
ou para companheiros do prprio sindicato.
Consideraes finais
Referncias
Raquel Quirino
Ps-Doutora em Educao.
Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais - CEFET-MG.
Departamento de Educao
Programa de Ps-Graduao em Educao Tecnolgica
[email protected]
Resumo
1. Introduo
o (a) trabalhador (a) como um ser que pensa e age, no apenas como mero
executor e extenso da mquina (VIEIRA et al., 2008).
A partir dos relatos dos entrevistados por Quirino (2011) h que se refletir
at que ponto preocupaes de natureza ergonmica se fazem presentes nas
polticas de contratao de mulheres pelas empresas. Constata-se que apesar
de os entrevistados afirmarem que no existe impedimento para contratao
de mulheres, a autora adverte que devido a inadequao dos espaos fsi-
cos tornou-se um hbito contratar apenas homens para as reas operacionais
(QUIRINO, 2011, p.75). O que, certamente, compromete a insero das mulhe-
res nesse setor produtivo.
Resende (2012, p.22), discute a insero de mulheres nos canteiros de obras
da Construo Civil. Segundo a Norma Regulamentadora 18, referente s condi-
es e meio ambiente de trabalho na indstria da Construo Civil, canteiro de
obra definido como rea de trabalho fixa e temporria, onde se desenvolvem
operaes de apoio e execuo de uma obra. A autora questiona as entrevista-
das sobre como trabalhar no canteiro de obras na Construo Civil:
Facilidades tipo assim, a mulher ela mais detalhista, entendeu?
Ento a gente para fazer um esquadro, para puxar um ponto de
nvel, a gente olha mais detalhe a gente faz a coisa mais bem feiti-
nha, entendeu? Agora a dificuldade a questo de peso, entendeu,
porque voc no pode escolher trabalho, entendeu? Hoje, voc t
aqui tirando um pontinho, mas est chapando uma massa, enten-
deu? A dificuldade o peso. (Pedreira)
O ponto fraco, voc pega muito peso. cansativo, n? muito
estressante. O ponto positivo, assim, que voc entra no mer-
cado... mulher pedreira, gente uma coisa do outro mundo. Voc
aprende coisas que voc jamais sonharia em aprender, entendeu?
O difcil mesmo o peso. mais pesado, entendeu? (Servente)
4. Consideraes finais
Referncias
HIRATA, Helena. KERGOAT, Daniele. A Classe Operria tem dois Sexos. Estudos
Feministas. v.2, n. 3, p.93-100,1994.
Raquel Quirino2
Ps-Doutora em Educao.
Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais - CEFET-MG.
Departamento de Educao
Programa de Ps-Graduao em Educao Tecnolgica
[email protected]
Resumo
1 Introduo
as, ao estudarem a insero das mulheres nas reas tecnolgicas e nas enge-
nharias afirmam que a tecnologia ainda conjugada no masculino. No entanto,
tais pesquisas constatam que crescente o nmero de mulheres que ingressam
nessas reas majoritariamente masculinas.
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios PNAD, nas
profisses da Cincia e Tecnologia, profissionais e tcnicos do sexo masculino
representam 81,5% do total, sendo que, no nvel tcnico a discrepncia ainda
maior, 89% so homens e apenas 11% so mulheres. (BRASIL, 2010).
Tais escolhas das mulheres, consequentemente, resultam em menor remu-
nerao, menor ascenso social e perpetuam o entendimento do senso comum
de que Cincia e Tecnologia no coisa para mulher.
Entre as profisses menos procuradas pelas mulheres esto aquelas das
reas da engenharia. No Brasil, at 2002, por exemplo, apenas 14% dos empre-
gos formais nessa rea eram ocupados por mulheres, ao passo que nas reas de
sade, tais como odontologia, 51% eram ocupados por elas. (OLINTO, 2009).
85% do mercado, enquanto que neste ltimo ano so 81%. Todavia, as mulhe-
res correspondiam a 15% em 2004, passando a representar 19% em 2014.
Portanto, tem sido expressivo o crescimento da mulher no mercado de trabalho
da Engenharia.
No perodo pesquisado o aumento das matrculas femininas nos cursos de
engenharia foi de 84%, em comparao ao masculino. Esses nmeros permitem
inferir que est havendo um movimento em que a engenharia est lentamente
sendo includa nas escolhas profissionais das mulheres.
Um exemplo que indica a incluso da engenharia no rol de possibilidades
profissionais das mulheres vem da Escola Politcnica da USP. No espao de
quarenta anos, entre 1950 e 1980 formaram-se 536 engenheiras e somente na
dcada de 1990, formaram-se 764. Ou seja, em dez anos, formaram-se 30%
a mais engenheiras que nas quatro dcadas anteriores (FACCIOTTI; SAMARA,
2004).
Consideraes finais
Referncias
BILY, Sherry & MANOOCHECRI, Gus. Breaking the glass ceiling. American Business
Review, v. 13, n. 2, p. 33-40, 1995.
LIMA, Betina Stefanello. In: O labirinto de cristal: as trajetrias das cientistas na Fsica.
Estudos Feministas: Florianpolis, setembro-dezembro, 2013.
POWELL, Gary & BUTTERFIELD, D. Anthony. Investigation the glass ceiling phe-
nomenon: an empirical study of actual promotions to top management. Academy of
Management Journal, v.37, n.1, p. 68-86, 1994.
SILVA TELLES, Pedro Carlos. Histria da engenharia no Brasil- sculos XVI a XIX. Rio
de Janeiro, Livros Tcnicos e Cientficos. Editora S/A, volume 1, 1984.
Resumo
Introduo
Apontamentos situados
Joo faz parte do grupo dos sujeitos mais atingidos pelo HIV nessa quarta
dcada de existncia do vrus, segundo os dados da UNAIDS2. Jovem e gay, Joo
vive em um interior da Amaznia Oriental, onde sua sorologia desconhecida.
Diagnosticado aos 18 anos, aos 19 Joo aceitou participar da pesquisa iniciada
em agosto de 2015. com base em anotaes de campo e trechos de duas
entrevistas realizadas de agosto de 2015 a agosto de 2016, que apontarei alguns
entendimentos orientadores de como Joo tem performado sua subjetividade.
Jos: e... bom, como a gente vai conversando algum tempo, e....
desde agosto, n, julho n. E... eu queria que tu me falasses um
pouco e... antes dessas relaes sexuais, como era essa coisa e...
essa ideia de Aids, HIV, o que era isso pra ti?
2 Site oficial da Unaids: Disponvel em: http://www.unaids.org.br/ Acessos em 10, 19, 22 de agosto de
2015.
Referncias
BUTLER, Judith. Gender Trouble: feminism and the subversion of identity. New York:
Routledge, 1990.
_____. O sujeito e o poder. In: DREFUS, H. & RABINOW, P. Michel Foucault: uma
trajetria Filosfica. Rio de Janeiro: Forense Universitria, 2010,
WORTHAM, S. Narrative in action: a strategy for research and analysis. New York:
Teachers College Press, 2001.
Resumo
Introduo
Este texto parte de uma reflexo feita por Adrian Forty em seu livro
Objetos de Desejo, especificamente no captulo em que aborda a diferencia-
o nos produtos industriais. Forty sustenta que certas divises do mbito social
podem tambm ser encontradas nos objetos, uma vez que no se pode separar
o produto das condies em que ele foi configurado e do sujeito que realiza
esse processo (FORTY, 2013, p. 12). Nesta abordagem, o design entendido
como um produtor de mitos1 e de imaginrio, materializando diferenas j exis-
tentes na sociedade como aquelas entre homens e mulheres, crianas e adultos,
patres e empregados e entre classes sociais. Ao observar a variedade dos pro-
dutos oferecidos no mercado, podemos perceber como se do as diferenas
na sociedade, pois vemos de que forma esta sociedade percebida pela inds-
tria. Ou seja, tal qual ocorre com outros modos de representao, conhecer
a amplitude dos diferentes designs era conhecer uma imagem da sociedade
(FORTY, 2013, p.128). importante ressaltar aqui que me aproximo da articu-
lao feita por Forty, em que o designer no posto como agente causador
da diferena, nem mesmo o sujeito com a inteno por trs da profuso de
produtos diferentes. O objetivo do design talvez o maior a obteno de
lucro para o fabricante e a indstria capitalista se aproveita do desejo de indi-
vidualidade presente na sociedade para multiplicar suas possibilidades de lucro
(FORTY, 2013, p. 119-124).
Em Histria da Sexualidade I (2015), Foucault critica a hiptese de que o
poder manifesta seu controle de forma proibitiva, reprimindo e silenciando o
discurso sobre o sexo. Ao invs disso, defende uma dimenso produtora dos
mecanismos de poder, que regulam a sexualidade atravs de tcnicas discursi-
vas e se apoiam n a produo do saber. Dessa forma, para alm de censurar-se
as falas sobre o sexo, as formas modernas do poder agem na (re)produo
1 Forty mobiliza o conceito exposto por Barthes em Mitologias, em que objetos, textos, imagens e
outras coisas aparentemente familiares exprimem todos os tipos de ideias sobre o mundo (FORTY,
2013, p. 15). O senso comum tende a naturalizar certos conceitos e ideais frente a todas as manifes-
taes da realidade que, embora no deixem de fazer parte do contexto em que vivemos, constru-
da historicamente. Estes ideais e conceitos nos quais nos baseamos para reagir e interpretar tudo
nossa volta so construdos por mitos que exprimem significados. O conceito simultaneamente,
histrico e intencional; mbil que faz proferir o mito (BARTHES, 1975 p. 140).
recebesse calor. O inverso, porm, no era possvel, uma vez que tambm
era afirmado que a natureza ia sempre em direo perfeio. Justamente na
poca em que comeam a ocorrer lutas polticas por uma mudana no papel
da mulher, o movimento da cincia justamente de separar cada segmento
do corpo entre masculino e feminino, tornando a fisiologia completamente
distinta de acordo com o sexo. A anatomia do corpo feminino comea a ser
utilizada como recurso para justificar sua inferioridade, relegando s mulheres
apenas o papel da maternidade e excluindo-as da vida pblica (NUCCI apud
SCHIEBINGER, 2010).
Consideraes finais
uma viso de maior diversidade de gnero. Tal atitude tomada como uma via
de projetar a ideia de que a marca consciente da necessidade de diversidade
sexual, e explorar um mercado que valoriza esta forma de pensar. Podemos
citar como exemplos marcas como a Zara, que lanou a coleo Ungendered
e a C&A, que em uma de suas recentes campanhas publicitrias apresentou
homens e mulheres que trocavam as roupas entre eles. Porm, esta tendncia
pode ser problematizada, uma vez que ao olharmos as peas disponveis nas
colees, percebemos que ainda h resistncia em apresentar uma esttica que
fuja daquilo que considerado bsico e aplicvel ao masculino: bastante difcil,
por exemplo, encontrar nessas campanhas homens usando saias. O vesturio
agnero, embora apresente-se como sendo a favor da diversidade, tambm
produzido dentro de um contexto de sociedade patriarcal e heteronormativa.
Referncias
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. Traduo:
Tomaz Tadeu da Silva. In: LOURO, Guacira Lopes (Org.). O corpo educado: pedago-
gias da sexualidade. Belo Horizonte: Autntica, 2000.
____________. Masculino, feminino ou neutro? In: Arte & Ensaios, Escola de Belas
Artes, UFRJ. Rio de Janeiro, 2008. p. 134-143. Disponvel em: < http://www.ppgav.
eba.ufrj.br/wp-content/uploads/2012/01/ae16_Adrian_Forty.pdf> Acesso em: 25 ago.
2015.
Resumo
Introduo
Psiclogos cristos
1 Fonte: http://site.cfp.org.br/leis_e_normas/cbo-catalogo-brasileiro-de-ocupacoes/
2 Em 2012, o Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-MG) notificou oficialmente a
Diretoria Nacional do Corpo dos Psiclogos e Psiquiatras Cristos (CPPC), que a entidade deveria
retirar do seu site a associao entre os termos psiclogo e cristo e psicologia crist. Em co-
municado aos membros da entidade, Karl Kepler, presidente do CPPC, informa que respondeu ao
CRP-MG, argumentando que psicologia crist se encontra no site apenas em uma meno crtica
e que o Conselho no tem competncia para controlar associaes civis, dessa forma no acatou a
notificao (DEGANI-CARNEIRO, 2013, p. 65).
Controvrsias atuais
Consideraes finais
Referncias
CONRAD, Peter. Continuity: homosexuality and the potential for remedicalization. In:
CONRAD, Peter. The medicalization of society: on the transformation of human con-
ditions into treatable disorders. Baltimore: The John Hopkins University Press, 2007.
Cap. 05. p. 97-113.
KUTCHINS, Herb; KIRK, Stuart A. The fall and rise of homosexuality. In: KUTCHINS,
Herb; KIRK, Stuart A. Making us crazy: DSM - the psychiatric bible and the creation
of mental disorders. Nova Iorque: The Free Press, 1997. p. 55-99.
Resumo
Nos ltimos anos, vem ocorrendo uma srie de embates entre defensores dos
direitos LGBT e ativistas dos movimentos religiosos - especialmente as lide-
ranas de denominaes evanglicas. Utilizando a retrica da liberdade de
expresso, esses segmentos religiosos desqualificam e combatem a diversidade
sexual, adentrando a arena poltica atravs de seus representantes no Congresso
Nacional, que se articulam compondo frentes parlamentares e interferindo na
agenda do movimento LGBT. Este trabalho prope examinar as particularida-
des do enfrentamento do movimento LGBT com os segmentos evanglicos, a
partir de episdios recentes envolvendo parlamentares da Frente Parlamentar
Evanglica, que tiveram repercusso na mdia e geraram controvrsias.
Palavras-chave: homofobia religiosa; arena poltica; produo de polticas para
populao LGBT; Frente Parlamentar Evanglica; movimento LGBT.
Introduo
1 Joo Mascarenhas foi o primeiro representante do MHB a se apresentar no Congresso Nacional, ante
duas Subcomisses da Constituinte. (CMARA, 2015)
pelo deputado foi a votao do projeto conhecido como cura gay2, que pre-
tendia derrubar trechos de uma resoluo do Conselho Federal de Psicologia,
que estabelece normas para os psiclogos em relao questo da orientao
sexual, vedando a atuao dos mesmos em eventos e servios que proponham
tratamento e cura da homossexualidade. Foi realizada uma audincia pblica
proposta pelo Deputado Feliciano, para discutir o direito de deixar a homos-
sexualidade, e na ocasio, palestraram a psicloga Marisa Lobo, e o pastor
evanglico Silas Malafaia defensores do referido PDC. As narrativas de defesa
construdas pelos mesmos tm o sentido de legitimar o discurso religioso na
arena poltica, a partir da apropriao (sem um rigor cientfico) de conhecimen-
tos do campo da psicologia, psicanlise, gentica, etc, ocorrendo um processo
de transfigurao desse discurso puramente religioso, que ganha contornos
seculares (RORTY, 1996).
O que se pretende ressaltar o fato de tais discursos e prticas, deriva-
dos de certas interpretaes teolgicas e exegeses bblicas particulares, no se
limitarem aos templos religiosos, programas de rdio e televiso, mas adentra-
rem a arena poltica atravs dos parlamentares evanglicos que representam
essas denominaes religiosas, ferindo os princpios constitucionais da laicidade
estatal. Zylbersztajn (2012) sustenta que a laicidade do Estado brasileiro no
plena, e que o processo de consolidao da laicidade histrico e construdo,
tal como ocorre com os demais direitos fundamentais. De acordo com Pierucci
(2008), pessoas livres (re) querem Estados laicos. O autor refere-se enfatica-
mente secularizao do Estado com seu ordenamento jurdico, e menos
secularizao da vida, considerando que esta pode refluir, mas a do Estado no.
Consideraes finais
Como afirmaram Mello et. all (2014, p. 315), nunca se teve tanto, e o que
h praticamente nada, referindo-se ao paradoxo sobre as polticas pblicas
para a populao LGBT no Brasil.
2 Trata-se do Projeto de Decreto Constitucional (PDC 234/11), apresentado pelo deputado federal Joo
Campos (PSDB-GO), que havia sido arquivado a pedido de seu prprio proponente, devido, entre
outras razes, a presses internas do seu prprio partido.
Referncias
MELLO, L. et al.. Polticas pblicas para a populao LGBT no Brasil: notas sobre
alcances e possibilidades. Cadernos Pagu (39), julho-dezembro de 2012.
NATIVIDADE, M. & LOPES, P. V. L..O direito das pessoas GLBT e as respostas religio-
sas: da parceria civil criminalizao da homofobia. In DUARTE et al.(orgs). Valores
Religiosos e Legislao no Brasil. A tramitao de projetos de lei sobre temas morais
controversos. Garamond, Rio de Janeiro, 2009.
RORTY, R. Religion as a conversation stopper. In: Philosophy and social hope. Penguin Books, 1999.
Resumo
Este trabalho tem como objetivo realizar uma anlise sobre a ideologia de
gnero como estratgia discursiva de disputa poltica, sendo uma proposio
conservadora, em termos de polticas sexuais, e de oposio s polticas impul-
sionadas pelos movimentos LGBT e feministas. Para a construo dessa anlise,
foi realizado um amplo levantamento bibliogrfico e documental, possibilitando
a esquematizao de uma genealogia desse conceito, assim como a sinteti-
zao de seus principais desencadeamentos polticos. importante ressaltar
que essa anlise se faz vinculada a uma leitura panormica do cenrio poltico
nacional, compreendido como marcado pela reorganizao e eventual avano
do conservadorismo e das direitas polticas.
Palavras-chave: ideologia de gnero, conservadorismo, polticas sexuais,
democracia
Introduo
1 Como a nota da Regional Sul 1 da Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) considera a
aprovao da ideologia de gnero em Planos Municipais de Educao (SCHERER; SILVA; SCARA-
MUSSA, 2015).
2 Trecho da nota escrita pelo Cardeal Orani Joo Tempesta (2015), Arcebispo Metropolitano do Rio de
Janeiro.
4 H tradues desse texto para o portugus, como em: http://goo.gl/jbldEQ. O texto tambm circula
de forma equivocada, sobre o nome A ideologia de gnero: seus perigos e alcances e com autoria
da Conferncia Episcopal Peruana (http://goo.gl/iHSfpp).
5 A Universidade de Navarra vinculada Opus Dei, uma corrente da Igreja Catlica. Lembrando que
em dezembro de 2008, o Papa Benedicto XVI apontava os perigos da palavra gnero, em discurso
para a Cria Romana.
Rousseff (PT) do cargo alm de uma crise econmica nacional, agravada pelo
cenrio de crise internacional. No Brasil, a ofensiva da ideologia de gnero
tomou propores aterradoras, com a realizao de manifestaes populares
conservadoras em diversas cmaras de vereadores e assembleias legislativas
para a aprovao de leis contrrias ideologia de gnero. Apesar da oposi-
o dos movimentos feministas e LGBT em muitas dessas sesses legislativas,
o cenrio geral foi de retrocesso nas polticas sexuais, seja pela retirada da
meno gnero e orientao sexual dos projetos legislativos, ou pela apro-
vao de leis assumidamente repressoras. O momento mais marcante se deu
com os protestos pela retirada da ideologia de gnero dos Planos Municipais
e Estaduais de Educao, que lotaram as casas legislativas em todo o pas, no
ano de 20158.
Logo no incio do primeiro mandato de Dilma (2011-2014) tivemos o pri-
meiro levante conservador contra uma poltica LGBT, por meio de campanhas
nas redes virtuais e denncias nas casas legislativas, desencadeando o cance-
lamento da distribuio dos materiais do Escola Sem Homofobia, fazendo o
Governo Federal recuar a ponto de dizer que no faz propaganda de opes
sexuais. Em seguida, em 2013, o pastor ultraconservador, Deputado Federal
Marco Feliciano (PSC/SP), vinculado a Assembleia de Deus, assume a presidn-
cia da Comisso de Direitos Humanos e Minorias (CDHM), desencadeando uma
onda de protestos em todo o pas, produzindo srios atritos entre o Governo
Federal e sua base poltica evanglica. Naquele momento no havia ideologia
de gnero, entretanto o acirramento do antagonismo entre as lideranas crists,
principalmente conservadoras, e o campo poltico esquerda j era um dado9.
O conservadorismo cristo, fortemente alinhado com o liberalismo econ-
mico, se tornou um dos alicerces do processo de impeachment da presidenta,
visto para a direta poltica como um smbolo da derrocada das polticas de
esquerda: do marxismo cultural, da ideologia de gnero, da ditadura gay,
da doutrinao comunista. Como apresenta Flvia Biroli (2015), o avano da
ideologia de gnero em nossa sociedade, em sua essncia, uma ameaa
8 Ao menos dez Estados retiraram a ideologia de gnero dos Planos Estaduais de Educao (PEE), e
um nmero muito maior de muncipios fizeram o mesmo em seus planos municipais (PME).
9 Algumas figuras emblemticas do conservadorismo cristo eram antes da base poltica de sustenta-
o do Governo do PT, como Marco Feliciano (PSC/SP) e Eduardo Cunha (PMDB/RJ).
Concluso
Referncias
CRETELLA, Michelle A.; METER, Quentin V.; MCHUGH, Paul. Gender Ideology
Harms Children. American College of Pediatricians, 2016. Disponvel em: https://
www.acpeds.org/the-college-speaks/position-statements/gender-ideology-harms-chil-
dren. Acesso em: 18/06/16.
CRUZ, Sebastio V.; KAYSEL, Andr; CODAS, Gustavo (org.). Direita, volver!: o
retorno da direita e o ciclo poltico brasileiro. So Paulo: Editora Fundao Perseu
Abramo, 2015.
LA MANIF POUR TOUS. Lidologie du genre. La Manif Pour Tous, 2013. Disponvel
em: http://www.lamanifpourtous.fr/images/pdf/LMPT-L-ideologie-du-genre.pdf.
Acesso em: 17/06/16.
OLEARY, Dale. LGBTQIA: the expanding gender agenda. Life Site News, 2013.
Disponvel em: https://www.lifesitenews.com/opinion/lgbtqia-the-expanding-gender-
-agenda. Acesso em: 19/06/16.
RUBIN, Gayle. Thinking Sex: notes for a radical theory of the politics of sexuality. In.
VANCE, Carole S. (org.). Pleasure and danger: esploring female sexuality. Londres:
Routledge and Kegan Paul, 1984, p. 267-319.
SCHERER, Odilio P.; SILVA, Moacir; SCARAMUSSA, Tarcisio. Nota da Regional Sul
1 sobre Ideologia de Gnero no Educao. Rede Sculo 21, 2015. Disponvel em:
https://www.rs21.com.br/espiritualidade/ecclesia/23062015-a-ideologia-do-genero/.
Acesso em: 18/06/16.
WEEKS, Jeffrey. Sexual Citizen. Theory, Culture & Society, v. 15, n. 3, 1998, p. 35-52.
_____________ . Sexuality and its discontents: meanings, myths and modern sexua-
lities. New York: Routledge, 2002.
Resumo
Introduo
1 Sigla para designar lsbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e intersexos. Sobre essa discusso,
Jlio Assis Simes e Regina Facchini fazem uma abordagem histrica em Na trilha do arco-ris: do
movimento homossexual ao LGBT (2008).
esses lados opostos de uma luta que mostra as contradies do sistema capi-
talista, bem como a insegurana poltica em torno da crise representativa de
nossa democracia.
Ressurgem, no meio dessas crises, questes bem mais antigas, sobretudo,
no campo da sexualidade. Setores reacionrios e conservadores se levantam
contra a agenda de lutas dos movimentos sociais, especialmente, contra os direi-
tos sexuais das pessoas LGBTI, os direitos trabalhistas, em favor da privatizao
e do sucateamento da educao pbica, e surgem manobras polticas (inclusive
dentro de partidos intitulados de esquerda), tentando aprovar projetos de lei e
ementas, no intuito de impor uma agenda de retrocessos para o pas. Contudo,
no se pode olhar a contingencialidade desses fenmenos de maneira isolada,
sectria ou critic-las, desconsiderando sua historicidade.
Se formos a fundo, verificaremos que as justificativas dadas por aqueles
que so contrrios concesso de direitos sexuais s pessoas LGBTI so frgeis,
quando no, inconsistentes. H aqueles que se apoiam na tradio, dizendo
que determinadas escolhas no so compatveis com os princpios da famlia
tradicional, da religio e da moral vigente. Mas, como se sabe, tanto a religio
e a moralidade, quanto a famlia, so construes sociais que foram se corpo-
rificando, e compete, portanto, queles que se engajam nessas lutas, o papel
de desnaturalizao desses elementos, pois todos eles so socialmente datados
e geograficamente localizados sob um determinado regime de verdades em
dadas relaes de poder.
Diante disso e dos ataques que as liberdades individuais vm sofrendo, se
faz necessrio propor aes que, articuladas por meio de tticas e estratgias
polticas, reivindiquem no s o direito de exercer a prpria liberdade indivi-
dual, mas sobretudo, que o pleno exerccio dessa liberdade consiga acumular
foras e fazer alianas na luta por reconhecimento. No apenas a participao
direta nos direitos de distribuio, mas, sobretudo, exigir a participao e usu-
fruto dos direitos de reconhecimento.
importante, antes de mais nada, dizer em que consiste os direitos de
distribuio e os direitos de reconhecimento, at mesmo para melhor compre-
ender as motivaes daqueles que os reivindicam. A partir da distino feita
pela filsofa Nancy Fraser (1947-) em relao a esses direitos, Jos Reinaldo
de Lima Lopes (2005, p.72) afirma que os direitos de distribuio so tradi-
cionalmente chamados direitos sociais e tm uma funo especial: desfazer
Consideraes finais
Referncias
Resumo
Introduo
O GDSR se apresenta como uma das vrias aes educativas que devem
e podem ser realizadas pelos profissionais que atuam na APS. Nas atividades
em grupo, os sujeitos se mostram como participantes ativos no processo, pos-
sibilitando a construo do conhecimento a partir das experincias do saber
popular em articulao com o saber cientfico, proporcionando uma dialogici-
dade entre os atores envolvidos (FREIRE, 2004). Assim, possvel que a pessoa
reconhea suas necessidades e compartilhe suas dvidas de forma a possibilitar
uma articulao com as discusses sobre sexualidade, diversidade de gnero,
reproduo, contracepo e relaes sociais (BRASIL, 2013).
A ao de educao em sade tem o intuito de sensibilizar a comunidade
sobre a igualdade entre os sexos; sobre o conhecimento do corpo humano;
Sade, mas que ocorra tambm em ambientes sociais e de uso coletivo, como:
escolas, praas, quadras entre outros.
Consideraes finais
Referncias
BRASIL. Ministrio da Sade. Carta dos direitos dos usurios da sade / Ministrio da
Sade. 3. ed. Braslia : Ministrio da Sade, 2011. 28 p. : il. (Srie E. Legislao
de Sade)
Resumo
Introduo
2 JARSCHE. Haidi l. A verso mtica da mulher como origem do mal (sofrimento), do conhecimento e
do pecado o cerne da tradio patriarcal. Se tiramos a serpente, a rvore e a mulher da cena, no
teremos pecado, nem inferno, nem castigo eterno e nem necessidade de salvador! (1994, p. 34)
3 HUNT, Mary. Creio que o corpo um instrumento de conhecimento a partir do momento em que
ele se torna um mecanismo para conhecer o mundo que nos cerca. Ter um corpo bonito, perfeito,
diferente de ter um corpo deficiente ou enfermo, porque temos que superar nossas limitaes para
compreendermos o lugar de nosso corpo no mundo. Assim, tambm, quando nosso corpo enve-
lhece, nossa relao com o mundo vai se transformando, pois novos limites nos so colocados. O
corpo, secularmente manipulado, o primeiro lugar de opresso das mulheres. Pode-se dizer que
ele o locus no qual o patriarcado encenado. (2007, p. 49)
4 HUNT, Mary. Desde que Eva foi culpabilizada pelo mal da humanidade, nosso pecado est impresso
em nossa alma e o nosso corpo o reflexo desse pecado, por isso sempre sedutor, tentador. Significa-
tivamente, aquilo que deveria ser qualidade do ser humano (seduo) visto ao reverso, como sinal
de inferioridade e maldio. (2007, p. 50)
6 CARNEIRO, Fernanda. As proibies doutrinrias acerca deste ato revelam atitudes de poder tem-
poral, motivadas por uma subjetividade constru da com valores que subordinam a mulher e no a
respeitam como ser autnomo e maduro e que impregnam as estruturas de poder das igrejas. (1994,
p. 11)
7 CARNEIRO, Fernanda. a vitalidade de uma mulher, como direito originrio de existncia digna,
que se afirma no exerccio de sua liberdade. E liberdade, aqui, a capacidade de incluir-se no do-
mnio da histria e fazer escolhas imersas no meio ambiente concreto, cotidiano, ntimo, pessoal.
Trata-se de um ato pessoal, sem nenhum efeito danoso sobre a humanidade, a no ser se realizado
nas condies atuais de negligncia) indiferena, desamor e ausncia de solidariedade. A, sim, um
desastre ecolgico indefensvel e que atinge somente as mulheres em sua sade e dignidade. (1994,
p. 10)
Feminismo
Consideraes Finais
Referncias
BOFF, Leonardo. A poro feminina de Jesus. Mandrgora. Vol. 20, No 20. 2014. p.
129-145
HUNT, Mary. O direito humano justia reprodutiva: uma perspectiva feminista teo-
-tica. Mandrgora. Vol. 13, No 13. 2007. p. 39-44
TOMITA. Luiza E. Da excluso a objeto de prazer: o corpo das mulheres oferece notas
para uma reflexo teolgica feminista. Mandrgora. Vol. 13, No 13. 2007. p. 45-51
Daniela Auad
Ps-doutora em Sociologia (UNICAMP)
UFJF-Faced
[email protected]
Resumo
Introduo
Vemos que, entre as referncias bibliogrficas que mais aparecem nos tra-
balhos de gnero, em 2015, do total de 23 autoras/es, 14 so mulheres e 9 so
homens. Em cinco trabalhos aparece apenas uma autora, Judith Butler filsofa,
estadunidense (Sara Salih, 2012), sendo especialmente associada teoria queer.
A segunda mais citada, que aparece em quatro artigos, a brasileira Guacira
Lopes Louro, doutora em Educao (Louro, 2003). Ainda quanto s refern-
cias, notamos como citadas duas ex-coordenadoras do GP Comunicao para a
Cidadania e uma ex-coordenadora do NP Comunicao e Cultura das Minorias.
Consideraes finais
Referncias
AUAD, Daniela. Feminismo: que histria essa. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.
SALIH, Sara. Judith Butler e a teoria queer. Belo Horizonte: Autntica, 2012.
SCOTT, Joan. Gnero: Uma Categoria til Para Anlise Histrica. Nova York: Columbia
University Press, 1989.
Resumo
Introduo
1 Neste momento, o movimento era conhecido como movimento GLS (Gays, Lsbicas e Simpati-
zantes), posteriormente, por volta da dcada de 90, passa a ser chamado de GLBT (Gays, Lsbicas,
Bissexuais, Transexuais e Travestis). Somente em 2008, passa a ser LGBT.
Consideraes finais
Referncias
SILVA, Bruno Oliveira da; SILVA, Esther Guedes da; PEREIRA, Isabela Scheufler; SILVA,
Priscila Conceio da. Centro de Referncia e Promoo da Cidadania LGBT/RJ:
Reflexes iniciais sobre a implantao. Congresso Internacional de Estudos Sobre a
Diversidade Sexual e de Gnero da ABEH, 2012. Disponvel em: http://www.abeh.
ufba.br/ Acesso em 29 de junho de 2016.
Resumo
O trabalho tem como objetivo apresentar a lei 11.340/06 mais conhecida como
Lei Maria da Penha, esta que se estabelece como primeira ferramenta legal
de enfrentamento a violncia de gnero contra a mulher. Desta maneira, este
trabalho tem como intuito avaliar a Lei 11.340/06, a priori, com uma anlise
sobre a violncia domstica contra o feminino e como esta se interliga com
novos conceitos como o feminicdio e transfeminicdio, uma vez que violncia
contra a mulher fruto de uma construo histrica, cultural e social pautadas
nas categorias de gnero e de relao de poder. Neste sentido, os sujeitos que
correspondem a Lei Maria da Penha so mulheres1, estas que so pensadas a
partir da performatividade (BUTLER, 2003).
Introduo
E ainda:
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violncia domstica
e familiar contra a mulher qualquer ao ou omisso baseada no
gnero que lhe cause morte, leso, sofrimento fsico, sexual ou psi-
colgico e dano moral ou patrimonial (BRASIL, 2006)
uma anlise sobre a violncia domstica contra o feminino e como esta se inter-
liga com novos conceitos como o feminicdio e transfeminicdio.
Feminicdio um termo que surge com a sul africana Diana Russel para
evidenciar o assassinato de mulheres, mas este ganha notoriedade com os
estudos da Lagarde (2008) que traz os assassinatos de mulheres no trans2 na
Ciudad de Jurez no Mxico em 1993, onde mulheres operrias e da inds-
tria txtil foram encontradas mortas com amplo grau de crueldade: queimadas,
esquartejadas, jogadas em lata de lixo.
O feminicdio, crime contra a mulher, retira todo carter de crime de amor,
como reivindica e reivindicava a luta feminista e de movimento de mulheres.
Ao chamar de crime passional como se tirasse toda a subjetividade feminina
e reconhecesse o sujeito masculino como sujeito absoluto, detentor de poder
(vtima e vitorioso). A lei do feminicdio outorgada no Brasil em 15 de maro de
2015 coloca a mulher em nfase, esta a vtima e no a ru. O feminicdio
acaba ganhando status terico, poltico e judicial, logo uma reinterpretao dos
crimes vistos como passionais.
Diante da discusso sobre o feminicdio, a sociloga Berenice Bento,
cunha o termo transfeminicdio para evidenciar a violncia, morte de mulheres
transexuais e travestis. Bento (2014) apresenta o termo transfeminicdio para
fazer um paralelo do nmero de mortes de mulheres transexuais e travestis que
foram mortas no Brasil. A autora afirma que as mulheres trans e travestis so
mortas com o mesmo grau de crueldade pelo sistema hegemnico machista,
2 O uso do termo no trans se alinha a proposta de Berenice Bento (2016) apresentada no texto:
Transfeminicdio: violncia de gnero e o gnero da violncia In: Dissidncias sexuais e de gnero.
Leandro Colling (Org.). Editora: Edufba, 2016.
uma vez que so mortas por transvalorar as normas de gnero, deste modo,
uma morte, violncia e marginalizao de um corpo que transvalora as normas.
Bento (2014) apresenta o transfeminicdio para reforar a violncia contra
as mulheres transexuais e travestis, uma vez que estas foram retiradas do texto
final da Lei de Feminicdio, jogada feita pela bancada evanglica que com-
preende mulher a partir do termo reducionista biolgico e que v na genitlia a
representao de gnero.
Dessa maneira, trazer para discusso a pluralidade de mulheres que cons-
titui as identidades de gnero importante para apresentar em nmeros reais
a violncia contra o feminino, pois estas oferecem uma leitura social mais ade-
quada para entendermos como o feminino (re) significado na sociedade atual.
Assim sendo, os nmeros apresentados pelo Mapa da Violncia de 2015 nos
fazem pensar o gnero atravessado por outras categorias, mulheres negras e
pobres so vtimas frequentes. Logo, questionamos: que dados sero apresen-
tados no futuro (se) quando as mulheres transexuais e travestis forem abarcadas
nessa estatstica?
Consideraes finais
Referncias
BRASIL. Lei 11.340 de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Disponvel em: <
http://www.planalto.gov.br> Acesso em: 10 de outubro de 2015.
FARAH, Marta Ferreira Santos. Gnero e polticas pblicas. In: Estudos Feministas.
Florianpolis, 2004.
LIMA, Lana Lage da Gama. ET AL. Os desafios da Lei Maria da Penha como poltica
pblica de gnero. In: Fazendo Gnero 9. Disporas, diversidades, deslocamentos.
Florianpolis-SC, 2010.
Resumo
Tenses
de no ser rotulado pelo outro, uma vez que, segundo Richard Miskolci, [n]
a perspectiva queer, as identidades socialmente prescritas so uma forma de
disciplinamento social, de controle, de normalizao (2013, p. 18).
Desdobramentos
Expresso no-binria
Consideraes finais
Referncias
GOLDMAN, Ruth. Who Is That Queer Queer? Exploring Norms around Sexuality,
Race, and Class in Queer Theory. In: BEEMYN, B.; ELIASON, M. (Ed.). Queer Studies
A Lesbian, Gay, Bisexual, and Transgender Anthology. New York and London: New
York University, 1996, pp. 169-182.
HALBERSTAM, J. Jack. Gaga Feminism Sex, Gender, and the End of Normal. Boston:
Beacon, 2012.
JAGOSE, Annamarie. Queer Theory An introduction. New York: New York University,
1996.
SULLIVAN, Nikki. A Critical Introduction to Queer Theory. New York: New York
University, 2003.
Resumo
4 Rio delegado de policia civil, coordenou as atividades do Comit de 2012 a 2014 e foi citado
pelos outros trs entrevistados.
5 Municpios paraenses.
Consideraes finais
6 Cisgnero o indivduo que se identifica com o gnero que lhe atribudo ao nascer.
Referncias
SPIVAK, Gayatri Chakravorty. Pode o subalterno falar? Belo Horizonte: Editora UFMG,
2010.
VALE, Alexandre Fleming Cmara; PAIVA, Antnio Cristian Saraiva (Orgs.). Estilsticas
da Sexualidade. Fortaleza: Programa de Ps-Graduao em Sociologia da Universidade
Federal do Cear. Campinas: Pontes Editores, 2006.
GT 04 -
Travestilidades, transexualidades, lesbianidades e homossexualidades:
transgresso e resistncia
Resumo
Introduo
2 Nome fictcio.
3 Utiliza-se o termo homofobia pela ampla insero do termo, inclusive aparece no prprio nome do
Comit, mas estes autores tem conscincia dos problemas que o termo apresenta, levantados princi-
palmente por outros seguimentos do movimento LGBT.
voc recebe do governo, ento voc vai ter que tratar essa pessoa
com mais sensibilidade, porque voc est sendo pago por essas
pessoas (Berlin, entrevista, fev.2016)
Consideraes finais
Referncias
ONU. Livres & Iguais: Naes Unidas pela igualdade LGBT. 2012. Disponvel em:
<https://www.unfe.org/system/unfe-42-sm_violencia_homofobica.pdf>. Acesso: 07
jan. 2016.
SALIN, Sara. Judith Butler e a Teoria Queer. Belo Horizonte: Autntica Editora, 2015.
WITTIG, Monique. O Pensamento Htero. The Straight Mind and other Essays.
Boston: Beacon, 1992.
O DIREITO E AS MULHERES
Resumo
Introduo
O Cdigo Civil de 1916 previa que, caso a mulher tivesse contrado matri-
mnio deflorada, o marido poderia anular a unio em at dez dias. No CC\16
incumbia ao cnjuge:
Consideraes finais
Como foi disposto acima, a luta das mulheres por igualdade ainda no
est no fim, o Brasil ainda necessita percorrer um longo caminho para extin-
guir toda forma de violncia contra a mulher, e a soluo seria o investimento
macio em educao de meninos e meninas, para que acabem com essa viso
sexista de ver o mundo. Os tempos so outros, e as mulheres assumem, cada
vez, mais um papel de destaque na sociedade. Sendo assim, hora do Brasil
encarar o poder feminino.
Referncias
BARRETO, Ana Cristina Teixeira. Igualdade entre sexos. 2010. Disponvel em:<http://
www.conjur.com.br/2010-nov-05/constituicao-1988-marco-discriminacao-familia-
-contemporanea>. Acesso em: 12 jun. 2016.
BRASIL, Portal. 9 fatos que voc precisa saber sobre a Lei Maria da Penha. 2015.
Disponvel em: <9 fatos que voc precisa saber sobre a Lei Maria da Penha>. Acesso
em: 12 jun. 2016.
CAPEZ, Fernando. Exerccio Regular de Direito. In: CAPEZ, Fernando. Curso de direito
penal, volume 1, parte geral: arts. 1 a 120. 19. ed. So Paulo: Saraiva, 2015. p. 311.
GRECO, Rogrio. Aborto. In: GRECO, Rogrio. Curso de Direito Penal: parte especial,
volume II: introduo teoria geral da parte especial: crimes contra a pessoa. 12. ed.
Niteri: Impetus, 2015. Cap. 6. P. 231-260.
GRECO, Rogrio. Estupro. In: GRECO, Rogrio. Curso de Direito Penal: parte espe-
cial, volume III. 12. ed. Niteri: Impetus, 2015. Cap. 49.p. 465-512.
GOMES, Luiz Flvio. Crimes contra a dignidade sexual e outras Reformas Penais.
2010. Disponvel em: <http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/1872027/crimes-contra-a-
-dignidade-sexual-e-outras-reformas-penais>. Acesso em: 20 jun. 2016.
GUMIERI, Sinara. Aborto: uma em cada cinco mulheres brasileiras j fez, mas crimi-
nalizao tem alvo certo. 2016. Disponvel em: <http://justificando.com/2016/05/03/
aborto-uma-em-cada-cinco-mulheres-brasileiras-ja-fez-mas-criminalizacao-tem-alvo-
-certo/>. Acesso em: 20 jun. 2016.
HUNGRIA, Nelson. Dos crimes contra os costumes. In: HUNGRIA, Nelson; LACERDA,
Romo Corts de. Comentrios ao Cdigo Penal. Rio de Janeiro: Revista Forense,
1947. p. 139,115,116.
LARA, Bruna de et al. # Meu Amigo Secreto: Feminismo Alm Das Redes. Rio de
Janeiro: Edies de Janeiro, 2016. 254 p.
NUCCI, Guilherme de Souza. Dos crimes contra a liberdade sexual. In: NUCCI,
Guilherme de Souza. Crimes contra a dignidade sexual: comentrios Lei 12.015, de
7 de agosto de 2009. So Paulo: Revista dos Tribunais, 2009. p. 15-30.
Resumo
Introduo
1 Utilizo o termo sexo, ao me referir a conformao fsica, orgnica, que permite distinguir o homem e
a mulher, atribuindo-lhes um papel especfico na reproduo e enfatizando caractersticas biolgicas
como algo que no pode ser monopolizado por interesses de grupos e/ou movi-
mentos que no reconheam o direito de LGBT, impedindo-os/as de usufrurem
das possibilidades sociais disponibilizadas a todos/as. Competir ao/a profes-
sor/a incubncia de promover um melhor manuseio da matriz heterossexista,
dialogando e/ou reconhecendo a legitimidade das diferenas.
A internet por diversas vezes apareceu no decorrer das entrevistas como
uma forte aliada no que tange aos Estudos de gnero e as sexualidades, de
maneira que foi o meio mais citado quando a interrogao foi sobre vecu-
los e agncias utilizados para orientar e/ou informar. Acredito que todos os
meios so amplos, mas o principal a internet [...] hoje um meio tecnolgico
que possibilita buscarmos vrias temticas para trabalhar com nossos alunos
at mesmo sobre o gnero e a sexualidade (Bernadete Matarazzo). Diante
disso, no prosseguimento da pesquisa, pretendemos tentar entender e explorar
o que essas estudantes percebem na internet, que a torna to imprescindvel,
ampliando ainda mais o debate.
At o momento, as entrevistadas se consideraram despreparadas com a
possibilidade da discusso envolvendo o gnero e as sexualidades em mbito
escolar mesmo j estando prestes a conclurem a graduao. Segundo elas, o
fato de no terem desfrutado da oportunidade de um maior dilogo no decor-
rer do curso, contribuiu fortemente para o que consideram como inaptido.
Para Dalva Uzay, No estou preparada! Acho que me faltou muita base na
disciplina que cursei [...] e me falta base ainda hoje! No caso especfico do
debate acerca da Ideologia de gnero, foi notado por meio das entrevistas,
que mesmo no final da graduao e j tendo cursado disciplinas especficas, as
estudantes demonstraram desconhecer toda a discusso apresentada no decor-
rer nos ltimos meses. Tal ocorrncia acaba por provocar um sinal de alerta
com o intuito de chamar ateno aos discursos produzidos nas Universidades.
Consideraes Finais
Referncias
BUTLER, Judith. Gender trouble: feminism and the subervsion of identity. New York/
London: Routledg, 1999. (Trabalho original publicado em 1990).
Resumo
Introduo
prprio sujeito sobre seu corpo e suas expresses enquanto parte da sociedade.
(JESUS, 2012)
As identidades de gnero no so estruturas imutveis, visto que a per-
sonalidade humana se modifica e se adapta, como bem mostram os estudos
contemporneos da Psicologia e da Sociologia. mais acertado, como nos mos-
tram Carvalho e Stancioli, falar em status de gnero: as expectativas sociais de
apresentao comportamental, gestual, lingustica, emocional e fsica diferen-
ciada conforme aos sexos e, consequentemente, a aparncia corporal. Gnero,
a partir desse conceito, envolve papis, esteretipos, representaes e constru-
es simblicas e materiais (STANCIOLI, CARVALHO, 2011).
Esse conceito, no entanto, apresenta um problema central, uma vez que
atribui ao conceito de gnero uma derivao externa, referente a papis e no
subjetividade. Melhor seria conceituar o termo como um elemento identitrio
prprio, fluido, referente s prprias noes de adequao de si, valorizando a
autopercepo em detrimento dos padres socialmente impostos.
A doutrina brasileira defende que entre os direitos fundamentais no h
hierarquia, visto que todos so inerentes personalidade humana. Desse modo,
h de se perceber que eles no so absolutos e que deveria caber pessoa a
possibilidade de reduzi-los ou afast-los mediante prpria vontade. Entretanto,
no o que se verifica no Cdigo Civil Brasileiro que, em seu artigo 11, postula
que os direitos da personalidade so irrenunciveis, no podendo o seu exer-
ccio sofrer limitao voluntria1.
Essa norma, por mais breve que parea, exerce enorme impacto no exer-
ccio dos direitos da personalidade. A partir dela, tais direitos, que deveriam
operar enquanto uma proteo liberdade e autonomia do indivduo, aca-
bam por se reduzir a um rol fixo, pr-estatudo e irrenuncivel de prerrogativas
individuais e intrnsecas, descritas no artigo 11 CC (LOPES, 2014).
Outro exemplo do engessamento est no artigo 13, caput, do Cdigo
Civil , que inviabiliza o livre uso do corpo. Conforme Las Lopes, isso se deve
2
1 Com exceo dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade so intransmissveis e irrenun-
civeis, no podendo o seu exerccio sofrer limitao voluntria.
2 Salvo por exigncia mdica, defeso o ato de disposio do prprio corpo, quando importar dimi-
nuio permanente da integridade fsica, ou contrariar os bons costumes.
a uma noo implcita na norma de que haveria uma essncia nos corpos a ser
mantida, preservada em sua forma original (LOPES, 2014).
A importncia dessa limitao imposta pela norma no pode de forma
alguma passar despercebida. Os direitos da personalidade, em especial quando
tocam a identidade, consistem nos aspectos de formao do prprio indivduo.
Desse modo, proibir a renncia ao exerccio de direitos da Personalidade
inviabilizar a prpria existncia pessoal! (STANCIOLI, CARVALHO, 2011,
p.270).
Resta claro o anacronismo do ordenamento brasileiro quando a ele se
integram, ainda hoje, determinaes vinculantes como a do Conselho Federal
de Medicina, que considera a transexualidade como patologia (exposio de
motivos da resoluo CFM n 1.652/2002). No obstante a crescente realizao
das cirurgias de redesignao sexual, a abordagem da resoluo no reconhece
a liberdade da identificao de gnero, mas determina requisitos vinculados a
uma absurda ideia de patologizao3.
Essa limitao grave na medida em que impe ao sujeito uma limitao
do seu prprio eu. No apenas devido ao papel psicolgico da identidade, mas
tambm dos aspectos fsicos e sua influncia na subjetividade. Afinal: de fato,
o corpo se tornou o lugar da identidade pessoal. Sentir vergonha do prprio
corpo seria sentir vergonha de si mesmo (PROST, VINCENT, 2009, p.105).
3 Art. 3 Que a definio de transexualismo obedecer, no mnimo, aos critrios abaixo enumerados:
1) Desconforto com o sexo anatmico natural; 2) Desejo expresso de eliminar os genitais, perder as
caractersticas primrias e secundrias do prprio sexo e ganhar as do sexo oposto; 3) Permanncia
desses distrbios de forma contnua e consistente por, no mnimo, dois anos; 4) Ausncia de outros
transtornos mentais., CFM n 1.652/2002.
A garantia desses direitos, bem como de preceitos que primam pela digni-
dade, autonomia, respeito e individualidade, visa proteger o espao da pessoa
de poder formar e expressar sua identidade. No entanto, a forma como foram
construdos os direitos de personalidade no Cdigo Civil, limitando de forma
absoluta seu livre uso e revogao, ocasiona conflitos com as normas constitu-
cionais de liberdade, autonomia e dignidade.
Frente a isso, uma possvel soluo a aplicao da teoria da eficcia
horizontal dos direitos fundamentais. Segundo a qual, medida que coloca os
direitos em um mesmo patamar de importncia, questiona situaes conflitan-
tes entre princpios fundamentais. Nesse casos, Alexy explica:
Se dois princpios colidem - o que ocorre, por exemplo, quando
algo proibido de acordo com um princpio e, de acordo com o
outro, permitido -, um dos princpios ter de ceder. Isso no sig-
nifica, contudo, nem que o princpio cedente deva ser declarado
invlido, nem que nele dever ser introduzida uma clusula de
exceo. Na verdade, o que ocorre que um dos princpios tem
precedncia em face de outro sob determinadas condies. Sob
outras condies a questo da precedncia pode ser resolvida de
forma oposta.(ALEXY, 2008, p. 93/94)
4 Importante aqui ressaltar a discordncia dos autores da classificao do celibato enquanto identida-
de. Trata-se de um comportamento e no uma identidade sexual. Melhor seria dizer assexualidade,
caso este em que o desinteresse pela prtica sexual conforma a identidade no consistindo em mero
hbito comportamental.
Referncias Bibliogrficas
ALEXY, Robert. Teoria dos direitos fundamentais. So Paulo: Malheiros Editores, 2008.
669 p.
FOUCAULT, Michel. Histria da sexualidade: o uso dos prazeres, v.2. Traduo Maria
Thereza da Costa Alburqueque. So Paulo: Paz e Terra, 2014.
Resumo
Introduo
Mtodo
Resultados e discusso
Consideraes finais
Referncias
MINAYO, Maria Ceclia de Souza (Org.). Pesquisa Social: teoria, mtodo e criatividade.
14 ed. Petrpolis: Vozes, 1999.
PEREIRA, Pedro Paulo Gomes. Queer nos Trpicos. Apontamentos margem sobre
ps-colonialismos, feminismos e estudos queer. In: Contempornea Revista de
Sociologia da UFSCar, So Carlos, v. 2, n. 2, p. 371-394, 2012.
Juliana Perucchi
Universidade Federal de Juiz de Fora, Cincias Humanas e Psicologia
[email protected]
GT 04 -
Travestilidades, transexualidades, lesbianidades e homossexualidades:
transgresses e resistncias
Resumo
Introduo
Da anlise documental
Consideraes finais
Referncias
FOUCAULT, M. Cours du 7 janvier, 1976. Dits et crits II. Paris: Galimard, 1977. p.
160-174.
Silvana Marinho
Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Servio Social/UERJ
[email protected]
Resumo
Introduo
3 Os CCs LGBT so servios de atendimento jurdico, social e psicolgico para LGBTs (lsbicas, gays,
bissexuais, travestis e transexuais) e seus familiares e amigos, funcionando tambm como centros de
irradiao de informaes. Nos CCs busca-se atender casos de discriminao e violncia homoles-
bobitransfbica; orientar sobre direitos; formar e ou fortalecer a rede de apoio social; sensibilizar e
capacitar gestores pblicos e segmentos da sociedade sobre homofobia e cidadania LGBT e contri-
buir para a formulao de polticas pblicas.
4 O Programa Rio sem Homofobia tem como proposta de ao a disseminao de informaes sobre
direitos e a defesa e garantia de direitos como formas de combate homolesbobitransfobia. Dentre
seus principais servios esto o Disque Cidadania LGBT 0800 0234 567 um servio de atendimen-
to telefnico gratuito, com funcionamento dirio, 24h/dia e os Centros de Cidadania LGBT (CCs
LGBT) que funcionam de forma regionalizada no mbito estadual, a saber: Capital - Rio de Janeiro
(Regio Metropolitana); Nova Friburgo (Regio Serrana I); Duque de Caxias (Baixada I); Niteri (Re-
gio Leste).
5 Trata-se de um termo inicialmente proposto no interior do feminismo negro por Kimberl Crenshaw,
uma jurista da Universidade de Columbia, no sentido de refletir acerca da complexidade da intera-
o entre raa, gnero e classe, demonstrando a desigualdade estrutural que mulheres negras viven-
ciam (PISCITELLI, 2008).
6 Piscitelli (2008), ao fazer uma breve aproximao a esses conceitos, sinaliza que h duas linhas
de abordagem no pensamento feminista, uma linha chamada sistmica e outra construcionista. A
centralidade da contestao entre elas a apropriao de diferena, poder e margens de agncia
(agency) em cada uma. A linha sistmica deu o pontap inicial ao debate da interseccionalidade
com Kimberl Crenshaw.
7 A rea da sade vanguarda no campo desses direitos. Destacam-se: Marco Legal. Sade, um direito
de adolescentes (Ministrio da Sade, 2005); Marco Terico e Referencial. Sade Sexual e Sade
Reprodutiva de Adolescentes e Jovens (Ministrio da Sade, 2006).
8 O Estatuto da Juventude, lei 12.852/13, abrange a juventude entre 15 a 29 anos de idade e o ECA,
lei 8069/90, compreende a adolescncia a partir dos 12 anos. Assim, utilizamos o perodo de idade
que vai desde a adolescncia prevista no ECA at o limite de idade da juventude previsto no Estatuto
da Juventude.
Consideraes finais
esbarra com tantos outros armrios no percurso, como a famlia, a escola, a reli-
gio, a mdia etc, que obriga esse grupo social a procurar diferentes chaves a
fim de abrir armrios grandes, pequenos, largos, de ferro, de madeira, antigos,
mofados e por a vai. A busca por essas chaves se expressa de diferentes formas.
So vrias as estratgias de sobrevivncia e de resistncia que adolescentes
se apropriam no cotidiano das discriminaes e sofrimentos pelos quais passam.
Reconhecer o poder de agncia do sujeito adolescente, suas possibilida-
des histricas, suas prticas de resistncia e contra-hegemonias, seja no mbito
macropoltico ou no microssocial, pois tambm esfera onde se operam ruptu-
ras ideolgicas e se quebram paradigmas, fundamental para o distanciamento
de um olhar tutelar para com esse segmento social.
Referncias
Resumo
Introduo
3 Relaes familiares de travestis e transexuais em Natal-RN, de Marcos Mariano Viana da Silva. Mo-
nografia apresentada coordenao do curso de bacharelado em Cincias Sociais da UFRN, 2013.
mudado de atitude desde que ela se assumiu como travesti a resposta foi a
seguinte:
Mudou da parte da minha tia, da filha dela, meio preconceituosa,
porque como eu disse, o povo tem uma viso de travesti, voc sabe
qual , n? Drogas, sexo e Rock and Roll, e vida de travesti no
isso, vida de uma travesti que se preze no s glamour como
voc abre o Face4 de muitas e v s academia, festas, no. Voc
tem uma vida diria, ento vamos contar a vida diria, o que que
voc enfrenta? As pessoas que viram a cara pra voc, que cos-
pem quando voc passa, que lhe apontam, entendeu? Mas, tirando
isso, o negcio meu pai, minha me me aceitando e meu irmo...
Beijo no p porque no ombro luxo. No dou nem cabimento
(Entrevista realizada com Sheila em 27/11/2015).
E o irmo acrescenta:
Tem um preconceito enorme, viu? A famlia tambm tem pre-
conceito. A gente acabou que eu e meu irmo no participamos
mais dos eventos familiares se no for aqui, n? Porque a famlia da
gente essa, mas tem as outras partes, n? No vai porque os trajes
no podem, porque no sei o qu, imagina o constrangimento, n?
Ontem, inclusive, a gente tava falando sobre isso: no, porque
voc precisa ser o macho alfa, n? Ou ento, o viado que t ali
no armrio, que ningum quer saber e fica aquela coisa, como se
voc precisasse esconder alguma coisa e como se algum tivesse
sempre alguma coisa pra lhe ofender com isso, n?
Pode-se perceber nos relatos narrados por Sheila e seu irmo as tentati-
vas de anulao por parte de alguns familiares do acesso dos dois ao convvio
familiar de uma maneira quase velada, como no exemplo descrito pelo o irmo
Consideraes finais
Referncias
KULICK, Don. Travesti- prostituio, sexo, gnero e cultura no Brasil. Rio de Janeiro:
Editora Fiocruz, 2008.
PELCIO, Larissa. Abjeo e desejo: uma etnografia travesti sobre o modelo preven-
tivo de aids. So Paulo: Annablume; Fapesp, 2009.
Resumo
Consideraes finais
Referncias
AGUIAR, J.M. Mulher, aids e o servio de sade: interfaces. 2004. 150p. Dissertao
de Mestrado apresentada Escola Nacional de Sade Pblica. FIOCRUZ, Rio de
Janeiro.
BARBOSA, Maria Regina. Mulheres que fazem sexo com mulheres: algumas estima-
tivas para o Brasil. In: Cad. Sade Pblica, vol22, n 7, Rio de Janeiro, 2006.
.Acesso a cuidados relativos sade sexual entre mulheres que fazem sexo com
mulheres em SoPaulo, Brasil. In: Cad. Sade Pblica, Rio de Janeiro, 25 Sup 2:S291
- S300, 2009.
RODRIGUES, Juliana & SCHOR, Nia. Sade sexual e reprodutiva de mulheres lsbi-
cas e bissexuais. In: Fazendo Gnero 9: Disporas, Diversidades, Deslocamentos, 2010.
Resumo
Introduo
1 A imolao ritual, vulgarizada como sacrifcio animal, consiste na utilizao de certos animais
especficos, tais como aves, caprinos, bovinos e raramente sunos, alm de outros alimentos, nas
cerimnias de obrigao, tal como so chamados os rituais que alimentam Orixs, Nkisis e enten-
didades da Jurema Sagrada.
Figura 1. Panfleto da campanha do vereador Olmpio Oliveira pela aprovao do Projeto de Lei n
059/2012.
3 Nao se refere, no Candombl, tradio africana da qual o terreiro descende. As mais predomi-
nantes em Campina Grande so casas que cultuam os Orixs da nao Nag Egb, ketu e Nkisis da
nao Angola. A maioria desses terreiros, majoritariamente os de tradio Nag Egb, se configuram
como cruzamento com a Umbanda, e com a religio local de tronco indgena, a Jurema Sagrada.
Consideraes finais
Referncias
Resumo
Introduo.
1 Projeto cadastrado na UFMT com apoio do CNPq (MCTI/CNPq/Universal/ 2014) e FAPEMAT (Edital
Universal/003/2014)
Foucault (1999), em sua obra, busca produzir uma histria dos diferentes
modos de subjetivao do ser humano dentro da nossa cultura, a cultura oci-
dental. Na medida em que seu trabalho vai tomando formas diversas de abordar
o tema, destacamos duas categorias de interpretao do mesmo problema: a
objetivao e a subjetivao. a partir destas categorias que entenderemos a
categoria de sujeito e as relaes de poder.
Assim, quer pensando na objetivao do sujeito como sujeito falante, pro-
dutivo e vivente, realizada por modos de investigao que procuravam obter
um estatuto de cincia; quer estudando a objetivao do sujeito enquanto divi-
dido no interior de si prprio e perante os outros, Foucault, em uma passagem
da Microfsica do Poder, coloca que:
Queria ver como este problema de constituio podiam ser resol-
vidos no interior de uma trama histrica, em vez de remet-los a
um sujeito constituinte. preciso se livrar do sujeito constituinte,
livrar-se do prprio sujeito, isto , chegar a uma anlise que possa
dar conta da constituio do sujeito na trama histrica. isto que
eu chamaria de genealogia, isto , uma forma de histrica que d
conta da constituio dos saberes, dos discursos, dos domnios de
objeto, etc., sem ter que se referir a um sujeito, seja ele transcen-
dente com relao ao campo de acontecimento, seja perseguindo
sua identidade vazia ao longo da histria. (1999, p.7)
se pudesse deter; que lhe seja dado como modelo antes a batalha
perpetua que o contrato que faz uma cesso ou a conquista que se
apodera de um domnio. (2002, p.26)
3 A colaboradora hoje trabalha em uma escola do municpio como coordenadora pedaggica, mas
por muito tempo trabalhou nas ruas.
Referncias
FOUCAULT, Michel. Histria da Sexualidade. 13a ed. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
(Vol.1)
SCOTT, Joan. Gnero: uma categoria til de anlise histrica. Revista Educao e
Realidade. V.16, n2, jul/dez 1990. pp. 5-22.
Resumo
entendimento dos seres nas aulas de biologia e de educao fsica. Este sen-
timento deve ser vivenciado dentro e fora da sala de aula, dentro e fora do
ambiente prisional. A aculturao escolar um grande empecilho, uma vez que
apaga a diversidade e a diferena (KLEIMAN:1998, 269).
No estamos embandeirando um indito movimento de mudana, mas
procurando retirar as vendas da hipocrisia e do silncio de diversos setores
governamentais, muitas escolas e universidades que no do o devido destaque
s absurdas violncias cometidas dentro e fora de seu entorno, por conta da
questo sexual. As taxas continuaro acontecendo e aumentando enquanto no
se derem conta de sua responsabilidade diante do problema.
3 Rio - Imagens chocantes, nas quais a travesti Vernica Bolina aparece com o rosto desfigurado.
Disponvel em: http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-04-16/prisao-de-travesti-sera-inves-
tigada.html.
A modo de concluso
Referncias bibliogrficas
Denise Portinari
Doutora em Psicologia Clnica
Professora Adjunta Departamento de Artes e Design PUC-RIO.
[email protected]
Simone Wolfgang
Doutora em Design
Professora Adjunta Departamento de Design da UNICARIOCA
[email protected]
Resumo
1 Prep a utilizao da droga anti- HIV Truvada por seronegativos para fins preventivos
preveno? Seria essa uma passagem das polticas de sexo seguro, calcada na
abstinncia, para um modo mais contemporneo de biopoltica, envolvendo a
medicalizao do corpo saudvel e prticas de controle biolgico e o controle
do comportamento sexual de populaes LGBTT?
Palavras-chave: Aids; homosexualidade; biopoltica; PrEP; homocultura.
Introduo
Do ponto de vista das cincias humanas e sociais, isso pode ser feito de
diferentes maneiras. Podemos comear, por exemplo, analizando os protocolos
de estudo e manuais para a implementao da PrEP e seus resultados. Outra
maneira de fazer isso recolher informaes das pesquisas que esto sendo
conduzidas, tanto com voluntrios, quanto com pesquisadores e, para poder
cruzar essas informaes com a literatura relacionada com a questo da sade
pblica, sociologia da sade e medicina social.
da falta de apoio para uma preveno eficaz, sendo ento a PrEP uma maneira
simples de se evitar novas contaminaes com apenas um comprimido por dia.
A OMS justifica a recomendao afirmando que a PrEP uma maneira
rpida e segura para melhorar os servios de sade na preveno do HIV / SIDA
entre os grupos vulnerveis, como profissionais do sexo, homens homossexuais
e mulheres transexuais. A agncia afirma que essas pessoas tm uma tradio
histrica de ausncia de servios de sade especializados na preveno.
A recomendao da OMS tambm se apoia nos resultados dos vrios
estudos de PrEP realizados desde 2006 por diferentes instituies governamen-
tais em parceria com as empresas farmacuticas e fundaes que conduzem
estudos tradicionalmente relacionadas com a sade. Alguns desses estudos
mostram uma alta taxa de sucesso entre 80 e 90%, muito embora as primeiras
contaminaes entre pessoas que estavam em uso da PrEP comearam a surgir
em 2015 e 2016 em artigos da mdia. Registrada primeira infeco de HIV por
usurio de PrEP (Caparica, 2016).
Do outro lado esto aqueles que no apoiam a iniciativa ou a apoiam
com reservas, tais como organizaes no governamentais, coletivos LGBTT
e grupos de defesa dos direitos humanos , que questionam a validade dessa
medida como um mecanismo preventivo legtimo.
As reivindicaes desses grupos so diversas, e vo desde as questes de
segurana relacionadas com a medicao, at os aspectos subjetivos ligados a
uma preveno que se foca quase que exclusivamente em populaes minori-
trias. Sabe-se que efeitos colaterais graves podem ser uma realidade no uso do
Truvada, e que, por hora, ainda no houve tempo para testar possveis danos
a longo prazo, ou, ainda se a exposio prolongada de indivduos saudveis a
uma droga vlida, uma vez que essa exposio ao vrus pode no acontecer.
Algumas pessoas esto mais vulnerveis do que outras e escolher quem deve
correr o risco de sofrer os efeitos colaterais de PrEP deve ser feito de forma per-
sonalizada e no randomica.
Deve-se questionar se a PrEP de fato uma forma rpida e segura de
melhorar os servios de sade na preveno do HIV/Aids entre os grupos vul-
nerveis como apontado pela OMS, e se no se trata simplesmente de reforar
algumas questes problemticas que esto diretamente ligadas a epidemia de
HIV tais como a estigmatizao de parcelas LGBTT, reforando a noo de
grupos de risco e a crena de que a Aids uma doena limitadas a certos seg-
mentos da populao.
Concluso
Referncias
Soraia M. Guimares
Mestranda em Educao Tecnolgica - Bolsista CEFET
[email protected]
Raquel Quirino
Ps-Doutora em Educao.
Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais - CEFET-MG.
[email protected]
Resumo
Introduo
Tambm Engels (1977, p. 70-71) afirma que, [...] a primeira diviso do tra-
balho a que se fez entre o homem e a mulher para a procriao dos filhos e
j ressalta a opresso de classes e de sexos. Porm, Quirino (2011, p. 44) refora
que a questo da opresso da mulher deixa de ser do domnio da biologia e
inserida no domnio da histria, da cultura, tornando possvel assim vislumbrar
a sua superao por meio da ao poltica, pois se no algo natural, pode ser
superada.
Para Hirata e Krgoat (2001, p. 599), as atividades realizadas pelas mulhe-
res no espao privado so consideradas como trabalho de pouca importncia e
sem relevncia econmica, vistas como ajuda e, assim, a atividade de trabalho
produtivo algo que no lhe cabe.
Tambm no meio rural evidencia-se a diviso sexual do trabalho, pois,
desde muito cedo os meninos e as meninas aprendem determinadas funes
especficas (SCHWENDLLER, 2002, p. 2).
Atestam Salvaro (2004) e Melo (2001) que nos assentamentos destaca-se
a dupla e/ou tripla jornada de trabalho da mulher assentada. Nesse contexto, a
mulher trabalha o dia todo e no fim da tarde retorna ao seu lar com afazeres da
casa e os cuidados das crianas. Isto quando no est inserida nos movimentos
sociais, que por sua vez, leva a mulher a uma tripla jornada de trabalho.
Segundo Abramovay (2000, p. 348), nessa diviso de trabalho a mulher
responsvel pela reproduo social do seu grupo familiar, tanto no trabalho
domstico, quanto na fora de trabalho produtivo. No entanto, no obstante h
uma relevncia na produo agrcola, seu trabalho ainda permanece invisvel
(ABRAMOVAY, 2000:349).
Entretanto, diante do avano cientfico e tecnolgico que tem facilitado o
acesso informao e aos movimentos sociais rurais, sobretudo os que lutam
pelos direitos femininos, a viso de mundo das mulheres lavradoras, vm se
alterando ao longo do tempo, fato que foi contatado na presente pesquisa.
J o discurso de Maria Jos, 45 anos, casada, com filhos, revela que hoje
se sente empoderada para bater de frente com quer que seja que coloque
em risco seus direitos:
Consideraes finais
Referncias
<https://www.contag.org.br/index.php?modulo=portal&acao=interna&codpa-
g=256&nw=1> Acesso em: 25 Set. 2015.
HIRATA, Helena. Nova Diviso Sexual do Trabalho: Um Olhar Voltado para Empresa
e a Sociedade. So Paulo: Boitempo, 2002. 336p.
Raquel Quirino
Ps-Doutora em Educao.
Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais - CEFET-MG
[email protected]
Resumo
1 Pesquisa realizada com recursos da Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais
FAPEMIG.
Introduo
Podemos assim, inferem que existe um grande interesse das mulheres pela qua-
lificao internacional oferecida pelo CsF.
Sobre as dificuldades, discriminaes e preconceitos pela sua condio
feminina, os relatos de algumas das egressas do Programa so animadores:
No sofri nenhum preconceito quando participei do processo sele-
tivo, tampouco quando fazia o curso no exterior. Pelo contrrio, os
alemes so muito receptivos e incentivam muito a gente. (Aluna
do curso de Engenharia de Materiais, na Alemanha).
Consideraes finais
Referncias
CARVALHO, Marlia Gomes de. et. al. Relaes de gnero e tecnologia. Curitiba:
Editora CEFET-PR, 2003.
HIRATA, Helena. Nova diviso sexual do trabalho? Um olhar voltado para a empresa
e a sociedade. So Paulo: Bontempo, 2002,
IBGE. Sntese de Indicadores Sociais: uma anlise das condies de vida da popula-
o brasileira: 2015. Rio de Janeiro: IBGE, 2015.
MELO, Hildete Pereira de. LASTRES, Helena Maria Martins. MARQUES, Teresa Cristina
de Novaes MARQUES. Gnero no Sistema de Cincia, Tecnologia e Inovao no
Brasil. Revista Gnero, vol. 1/2004.
Raquel Quirino
Ps-Doutora em Educao
Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais - CEFET-MG
Departamento de Educao
Programa de Ps-Graduao em Educao Tecnolgica
[email protected]
Resumo
Introduo
de redes sem fio conhecidas hoje em dia, tais como: Bluetooth, GPS e Wi-Fi.
Usando os princpios de notas musicais no piano, Hedy e Antheil criaram um
sofisticado aparelho que causava interferncia em rdios para despistar radares
nazistas. Em 1940, patentearam o projeto frequency hopping e Hedy usou o
seu verdadeiro nome: Hedwig Eva Maria Kiesler.
CARDOSO (2007) escreveu sobre Grace Murray Hopper Formada em
Fsica e Matemtica, enfrentou difcil situao nos EUA por querer ir mais alm
do que casar e ser dona de casa, o que era comum para mulheres da poca.
Em 1934 j era Ph.D. em matemtica e uma carreira slida como professora.
Com a 2 Guerra Mundial se alistou na Waves, diviso criada espe-
cialmente para mulheres, que cuidariam das reas burocrticas, enquanto os
homens lutavam nas linhas de frente. Conquistou o 1 lugar na turma, se for-
mando Tenente e sendo designada para o projeto de computao de Harvard,
programando o Mark I, um dos primeiros computadores do mundo.
Com o fim da guerra, continuou em Harvard trabalhando para a Marinha
at 1949, depois de ter ido para a Reserva Naval. Desenvolveu o Univac I
modelo mais prximo de um computador de verdade e criou o compilador, que
mudou o mundo da informtica. Sua ideia no foi levada a srio, computadores
eram mquinas que calculavam, no compilavam. A ideia de um programa
que interpretasse uma linguagem mais prxima do ingls do que cdigo de
mquina era aliengena para os profissionais e cientistas da poca. Em 1959 seu
trabalho j era reconhecido, resultando em boa parte das especificaes do
Cobol.
Nos anos 1960/1970 pesquisou e definiu conceitos como padres e
certificaes para homologao de softwares, implementando o uso e a padro-
nizao do Cobol na Marinha. Deu baixa em 1986, aos 79 anos, no posto de
Contra-Almirante. Imediatamente contratada pela empresa Digital como con-
sultora snior, uma das maiores mentes femininas da Cincia da Informao,
faleceu em 1992 aos 85 anos. (CARDOSO, 2007).
Alcantara (2008) escreveu sobre As seis programadoras do ENIAC tambm
conhecidas como as pioneiras do ENIAC. O primeiro computador eletrnico
Eniac (Electronic Numerical Integrator and Computer) foi criado em 1946 e
projetado para fazer clculos de artilharia para o exrcito americano e sua pro-
gramao foi feita por mulheres. Foi utilizado pela primeira vez para calcular
trajetrias balsticas. Estrutura gigantesca: 18000 vlvulas, pesando 27 toneladas
era a primeira mquina capaz de ser programada para execuo de clculos
Consideraes finais
Referncias
CARDOSO, Carlos. Grace Hopper, a Maior de todas as Geeks Site Meio Bit. 2007.
Disponvel em < http://meiobit.com/97634/grace-hopper-a-maior-de-todas-as-geeks/
> Acesso em: 10 abr. 2016.
Raquel Quirino
Ps-Doutora em Educao.
Centro Federal de Educao Tecnolgica de Minas Gerais - CEFET-MG.
Departamento de Educao
Programa de Ps-Graduao em Educao Tecnolgica
[email protected]
Resumo
Introduo
Ergonomia
nvel, a gente olha mais detalhe a gente faz a coisa mais bem feiti-
nha, entendeu? Agora a dificuldade a questo de peso, entendeu,
porque voc no pode escolher trabalho, entendeu? Hoje, voc t
aqui tirando um pontinho, mas est chapando uma massa, enten-
deu? A dificuldade o peso. (Pedreira)
Consideraes finais
e seu objetivo de propor medidas concretas para uma melhor adaptao dos
meios tecnolgicos de produo e dos ambientes de trabalho, contribuindo
para a produtividade e para a qualidade de vida do (a) trabalhador (a).
A opo pelo estudo terico e pesquisa qualitativa acerca dos temas
necessrios compreenso do fenmeno estudado - relaes de gnero no
ambiente de trabalho e fatores ergonmicos -, permitiu identificar e analisar
as percepes de mulheres sobre suas prprias condies de trabalho. Visa
tambm contribuir para que aes promotoras de uma real adaptao das
condies de trabalho s caractersticas psicofisiolgicas dos trabalhadores, de
modo a proporcionar um mximo de conforto, segurana e desempenho efi-
ciente, sejam implantadas, conforme os parmetros estabelecidos na Norma
Regulamentadora 17.
Referncias
HIRATA, Helena. KERGOAT, Daniele. A Classe Operria tem dois Sexos. Estudos
Feministas. v.2, n. 3, p.93-100,1994.
Resumo
Nesta comunicao reuno alguns aportes tericos da pesquisa que estou desen-
volvendo sobre a trajetria de vida de homens homossexuais de minha gerao,
que vivem em pequenas cidades do interior do Estado de Santa Catarina, no
Brasil. Explorando suas experincias, procuro identificar, entender e problema-
tizar como, na trajetria de vida de cada um deles, em meio a determinadas
condies histricas e sociais, houve o desenvolvimento de formas alternati-
vas de subjetivao, negociao, resistncia e agncia, desafiando uma cultura
heterossexual hegemnica. Ao final, sinalizo algumas impresses preliminares
tomadas no trabalho de campo (entrevistas) que ainda est sendo realizado,
com realce s vivncias de silncio e resilincia que marcaram e persistem em
suas trajetrias.
Palavras-chave: viados; experincias; interior; silncio; resilincia.
Introduo
2 Na anlise cultural, a noo de abjeto estendida para abarcar tudo aquilo que ameaa o conforto
da sensao de identidade e mesmidade: o monstruoso, o corpo feminino, o homossexual, a deca-
fazendo novos usos de produtos culturais mltiplos, muitos dos quais de uma
cultura hegemnica, branca e heterossexual.
So experincias que no sero encaradas como uma prova incontestvel
e uma explicao acabada do que era a viadagem. Esta seria uma abordagem
nada queer, eis que teria por pressuposto a existncia de uma identidade dada
de antemo e fixa. Alm disso, redundaria na percepo da experincia como
uma evidncia para o modo diferente de ser e agir dos viados, como se isso
fosse algo igualmente dado, pronto e acabado. Pelo contrrio, como explicado
por Joan Scott (1998, p. 301), ao invs de tomarmos a experincia como a
evidncia que sustenta uma explicao, devemos ter em mente que a prpria
experincia algo resultante de um conjunto de circunstncias, ou seja, cons-
truda, social, histrica e discursivamente (atravs da linguagem).
Tais pressupostos levam Richard Miskolci (2009) a afirmar:
[...] No so sujeitos que tm experincias, mas, ao contrrio, so
experincias que constituem os sujeitos. Assim, elas criam sujeitos
marcados por processos sociais que precisam ser reconstitudos,
explicados e analisados pelo pesquisador. A invisibilidade da expe-
rincia esconde sua criao social e histrica: os sujeitos marcados
pela diferena (p. 173).
Consideraes finais
Referncias
BERLANT, Lauren; WARNER, Michael. Sexo en pblico. In: MRIDA JIMNEZ, Rafael
M. Sexualidades transgresoras. Barcelona: Icaria, 2002, p.229-257.
BRAZ, Camilo. Entre sobreviventes e bichas dos tempos dourados memria, homos-
sexualidade e sociabilidade na cidade de Goiania, Brasil. Cadernos Pagu, Campinas,
n 45, julho-dezembro de 2015, p. 503-525.
HALPERIN, David. How to be gay. Cambridge and London: Harvard University Press,
2012. 549p.
PELCIO, Larissa. Tradues e tores ou o que se quer dizer quando dizemos queer
no Brasil. Peridicus. 1. ed. Salvador, maio-outubro/2014, p. 1-24.
SILVA, Leandro Soares da. Vinte quatro notas de viadagem. Peridicus. 2. Ed. Salvador,
novembro/2014-abril/2015, p. 1-11.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Teoria Cultural e educao um vocabulrio crtico. Belo
Horizonte: Autntica, 2000. 125p.
Resumo
Introduo
trauma, ele se torna, assim, um trauma cultural que diz respeito ao inconsciente
da cultura (FELMAN, 2014).
Com base nessas consideraes e tendo em vista a importncia e a neces-
sidade de debater sobre a amplitude das questes que perpassam as relaes
de gnero, o presente estudo tem o objetivo de analisar e discutir a violncia
contra a mulher, transexuais e homossexuais, entendida sob a forma de um
trauma cultural de gnero. Para tanto, consiste em uma pesquisa qualitativa,
com a busca de autores que abordam a temtica. Realizou-se uma reflexo em
cima do que os autores trazem sobre o assunto tendo como guia para isso a
teoria psicanaltica.
Felman (2014) aponta para uma cegueira cultural em ver o trauma, refle-
tindo em uma sociedade que no v o trauma de gnero e, alm disso, vira as
costas para suas manifestaes e consequncias. Assim, o discurso das vtimas
e da cultura sobre os traumas de gnero permanece, at a atualidade, um dis-
curso esvaziado, onde a capacidade de representao no se d e a repetio
dos casos de violncia de gnero ocorre diariamente.
A partir destas constataes nos questionamos sobre o que esse fato diz
sobre a nossa cultura e as relaes de gnero nela construdas. Entendemos que
as razes disso podem ser encontradas na estrutura da cultura que construda
por moralidade e normatividade que dizem sobre as condutas dos sujeitos e
que possuem repercusses no viver e na forma de construo e de acolhimento
das emoes pela sociedade.
A violncia de gnero acaba por ser legitimada por parte da sociedade,
muitas vezes encobrida sobre o vu do casamento, no qual as relaes de
gnero so vivenciadas de maneira traumtica, visto que a violncia sofrida
acaba por ser abafada e vista como naturalizada por seus membros e pela
sociedade (FELMAN, 2014). Assim, torna-se um tema que no discutido com
a profundidade necessria. Tanto mulheres quanto homossexuais e transexu-
ais esto submetidos a um julgamento social que manifesta uma estranheza
quanto manifestao destas identidades na cultura, o que aumenta mais ainda
a cegueira em reconhecer o que de fato significa o trauma de gnero e o que
de fato ele diz sobre as relaes e a sociedade.
Okin (2008) aponta que nos debates contemporneos sobre gnero h
uma tendncia a separar questes pblicas de questes privadas, separando-se
assim o pessoal do poltico. Para a autora tal percepo chega ao ponto de o
poltico e o pblico serem discutidos de maneira isolado ao que privado ou
pessoal. Esta dicotomia entre pblico e privado est presente originalmente na
diviso de trabalho, que designava ao homem as ocupaes da esfera pblica,
econmica e poltica e s mulheres a esfera privada da domesticidade e repro-
duo (OKIN, 2008). O que acaba por colaborar com a ideia de que os traumas
sofridos dentro de relaes privadas, como o casamento por exemplo, aca-
barem por no serem reconhecidos como questes que devem ser discutidas
coletivamente, reforando, assim, a invisibilidade da violncia de gnero.
Soma-se a isso a ideia de que grande parte da experincia real das pes-
soas enquanto elas viverem em sociedades estruturadas por relaes de gnero,
de fato depende de qual seu sexo (OKIN, 2008, p.310). Para Narvaz e Koller
(2007) as prticas e produes discursivas acabam por legitimar desigualdades
de gnero e normalizar papis e lugares de gnero nas relaes sociais dos
sujeitos, sendo estas sexuais, afetivas ou familiares.
Felman (2014) fala que o ato de ver vai alm do fisiolgico e torna-se
um ato inconscientemente poltico. Com base nisso, refletimos o que habita o
inconsciente cultural que confere a cultura a sua deficincia em ver os traumas
de gnero. O autor aponta o fato de existir uma espcie de prescrio poltica
para no ver a violncia de gnero, refere, ainda, que tal prescrio que enco-
bre a viso motivada pelo dio. Assim, o dio que no reconhecido pela
cultura como tal e encontra sua forma de expresso na violncia psicolgica,
fsica e sexual, por exemplo.
O dio permanece de forma latente na cultura o que dificulta a construo
de discusses por parte da sociedade sobre o que est no cerne da violncia
de gnero que habita as relaes de gnero e a sociedade contempornea.
Entendemos que este dio nasce das concepes culturais do certo e do errado,
entendimentos estes calcados em construes morais que podem gerar o dio
contra o que desvia do considerado certo. Este dio que exclui o considerado
diferente, exclui tambm da viso a violncia que sofrem.
Para Birman (2012) tambm entra em questo o narcisismo da nossa cul-
tura, na qual o imperativo o individualismo e as vivncias solipsistas, nas quais
o outro considerado um inimigo e um rival, sendo assim, no h vivncias de
solidariedade e de alteridade. Esta questo colabora com os posicionamentos
polticos e sociais perante as violncias de gnero.
Consideraes finais
Referncias
BRASIL. Lei no. 11.340, de 7 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Disponvel em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm>. Acesso
em: 07 de jul. de 2016.
Resumo
Introduo
campo das conjugalidades e parentalidades passou muito mais por uma higieni-
zao (RIOS, 2013) do que por uma tecnicizao.
OLIVEIRA (2007), ao entrevistar magistrados brasileiros acerca de suas
posies quanto s conjugalidades homoerticas, apontou para a proeminncia
de argumentos morais e religiosos, sobre quaisquer argumentos tcnicos. Foi
s noes morais dos magistrados que a advocacia defensora dessas teses teve
de apelar; a discusso no se deu em termos de liberdade, ou legalidade, mas
sim em termos do que poderia ou no ser considerado normal e/ou legtimo no
comportamento sexual humano1.
No fim, inobstante o giro de um campo eminentemente poltico o
Legislativo para um campo supostamente tcnico o Judicirio a discusso
permaneceu sendo travada em termos morais e religiosos. O Judicirio parece,
assim, ser to poltico quanto as demais instncias que se propem a discutir a
sexualidade.
1 Essa uma tendncia, fique claro, no s brasileira: Butler (2003) ao abordar a discusso dos Pactos
Civis na Frana, observa o mesmo movimento.
Consideraes finais
Referncias
FONSECA, Mrcio Alves da. Michel Foucault e o Direito. So Paulo: Editora Max
Limonad, 2002.
OLIVEIRA, Rosa Maria Rodrigues de. Isto contra a natureza...: acrdos judiciais
e entrevistas com magistrados sobre conjugalidades homoerticas em quatro esta-
dos brasileiros. IN: GROSSI, Miriam Pillar; MELLO, Luiz; UZIEL, Anna Paula (orgs.).
Conjugalidades, parentalidades e identidades lsbicas, gays e travestis. Rio de
Janeiro: Garamond, 2007. Pp.131-152.
SEXUALIDADE E PRECONCEITO:
INTOLERNCIA E DISCRIMINAO DENTRO
DA PRPRIA COMUNIDADE LGBT
Resumo
Introduo
Metodologia
Resultados e Discusso
Quadro 1 Respostas dos entrevistados para a primeira pergunta da segunda parte do questionrio.
Resposta para a sexta questo: Curto macho, corpo e jeito de homem.
Pessoa
Se fosse pra ficar com um viadinho (afeminado) prefiro ficar com
entrevistada
mulher. Qual a sua opinio sobre essa afirmao?
Entrevistado o preconceito que foi inserido na cabea de homossexuais ou bissexuais.
35 Apesar de terem a mesma orientao sexual, o preconceito prevalece.
Entrevistado Misgina, heteronormativa e infelizmente muito comum, principalmente no
59 meio gay.
Precisei de muita instruo pra no falar mais isso, coisa que fazia aos 15/16
Entrevistado
anos. Hoje acho ridculo dizer isso, mas pode ser uma questo de falta de
69
informao.
Entrevistado H um tempo eu diria que concordo com essa frase. Hoje sinto vergonha de
75 um dia ter concordado com isso.
Fonte: Dados organizados pelos autores, com base nas respostas dos entrevistados
Quadro 2 Respostas dos entrevistados para a oitava pergunta da segunda parte do questionrio.
Fonte: Dados organizados pelos autores, com base nas respostas dos entrevistados
Consideraes finais
A maior parte deste preconceito ainda existe por conta de uma questo
histrica, onde se eleva a heteronormatividade, impondo o que certo (homens,
msculos e fortes e mulheres, femininas e delicadas) perante a sociedade, bem
como por falta de informao sobre os diferentes grupos da comunidade LGBT+.
E este modo heteronormativo de pensar, este preconceito, tambm refletido
dentro da prpria comunidade LGBT+.
O que no se pode esquecer que se hoje em dia a sociedade est
comeando a se tornar mais flexvel, diminuindo este tabu imposto anos atrs,
porque, em dado momento, travestis, transexuais, lsbicas bofes e gays afe-
minados foram s ruas e deram a cara a tapa para conseguir um pouco de
respeito. Levanta-se, ento, a questo: Se o preconceito continua sendo to
grande dentro do movimento LGBT+, no havendo, muitas vezes, respeito dos
prprios membros para com a minoria, como querem que toda a sociedade
os respeite?.
Referncias
CLARKE, E., ELLIS, S., PEEL, E., RIGGS, D. Lesbian, Gay, Bisexual,
TransandQueerpsychology: na introduction. Cambridge: Cambridge University
Press, 2010.
COSTA, C. G., PEREIRA, M., OLIVEIRA, J. M. de, NOGUEIRA, C. Imagens sociais das
pessoas LGBT. In C. Nogueira & J. M. de Oliveira (Eds.). Estudo sobre a discrimina-
o em funo da orientao sexual e da identidade de gnero (p. 93-147). Lisboa:
Comisso para a Cidadania e a Igualdade de Gnero, 2010.
A AUTOAGRESSO REGULATRIA:
CONSIDERAES PRELIMINARES
Resumo
Introduo
A autoagresso regulatria
Consideraes finais
Esta somente uma sutil contribuio para que melhor possamos com-
preender o modo como o problema da autoagresso regulatria merece maior
ateno, dado o dilogo que ele prope com o que se tem pesquisado acerca
das questes de gnero e da heterossexualidade compulsria. A necessidade
dessa compreenso mais ampla acerca do que somos, ainda que provisoria-
mente, posto que de um instante para o outro, possvel que passemos a ser
algo totalmente diferente, se d para que se atenuem os descompassos exis-
tentes entre a maneira como se comporta a nossa sociedade e a diversidade
presente no seio dessa prpria sociedade.
Assim, quando a visibilidade dessas questes atingirem os espaos que
lhes so convenientes as escolas, por exemplo , a enorme barreira que o
preconceito construiu talvez possa comear a ser desconstruda. Com isso, a
formao de uma conscincia coletiva atenta a essas questes ser o remdio
mais eficaz para que todos os seres humanos independentemente de qualquer
classificao de natureza social, tnica ou racial, possa viver com a dignidade
que lhe de direito.
Referncias
SCOTT, Joan Wallach. Gnero: uma categoria til de anlise histrica. Educao &
Realidade. Porto Alegre, vol. 20, n 2, jul./dez. 1995, pp. 71-99.
WITTIG, Monique. The straight mind and others essays. Boston: Beacon, 1992.
Resumo
O presente artigo trata da prtica da reza em Boa Vista PB, analisando a sua
constituio desde os primrdios da fundao da cidade, e atravs das influ-
ncias de origem catlica europia, indgena, africana. Acentuando a potncia
subversiva da reza frente norma e a sua constituio como uma prtica recon-
figurada que subverte a fora normativa dos dogmas na religao com o divino.
Problematizando como as mulheres desenvolveram mecanismos de cuidado
de si, aumentando suas subjetividades. Constituindo um cuidado sobre/ para
o outro/ a de forma que destoam e desconstroem a lgica do farmacopoder.
Ressaltando como o oficio da reza representa um lugar de refgio, notabili-
dade e voz para as mulheres em outras pocas e nos dias de hoje diante da
heteronormatividade.
Palavras-chave: Potncia; Memria; Cuidado; Resistncia; Mulheres
Introduo
faz til para a compreenso de alguns mecanismos de opresso como nos fala
Adriana Piscitelli (2008).
Em Boa Vista-PB muitas dessas mulheres adquiriram notabilidade assu-
mindo a responsabilidade pela organizao da vida religiosa de cada localidade,
por meio de rezas e novenas. Muitas capelas tinham difcil acesso, outras no
tinham proco, constituindo-se, na ausncia da instituio religiosa no local, em
verdadeiros locais de resistncia das mulheres numa sociedade regida por rgi-
dos princpios heteronormativos, com traos acentuadamente patriarcais. Era o
lugar onde elas exerciam autoridade e tinham voz, formando beatas, rezadeiras,
curandeiras.
A regio do Cariri, pelo seu mltiplo cenrio, construiu crenas peculia-
res com razes em vrias culturas e que eram praticadas, principalmente, pelas
mulheres, e Boa Vista se destaca at os dias de hoje por esse movimento de
constituio de crenas e saberes. So simpatias, rezas, curas de enfermidades
que dificultavam a lida cotidiana para abrir os caminhos por onde passavam
saberes resguardados pela tradio oral, passados de mes para filhas, de avs
para netas e assim por diante, atravs dos tempos.
Dona Ritinha, rezadeira da regio a qual entrevistei, narra suas estrias,
sempre risonha, enfatizando a alegria de ser patrimnio imaterial histrico de
Boa Vista, ttulo recebido da Cmera de Vereadores local. Mesmo com a sade
debilitada, pede para nos rezar e nos orienta para pegarmos alguns galhos da
accia que sombreia a sua casa. O ramo parte importante da reza, serve
como um tipo de im que suga para si os maus fludos, por isso tem que ser
verde vioso. Dona Ritinha prepara cuidadosa, o galho verde, pede para que eu
me sente com postura ereta no banco sua frente e descruze braos, pernas e o
cabelo, pois assim o mau olhado sair de mim sem se prender em nenhum n.
A reza um momento de interao. Quem rezado/a participa respon-
dendo as perguntas da rezadeira e recebe conselhos e receitas de banhos, chs
e infuses. Ao longo do dia, ainda percorrendo a cidade, a madrinha Lidinha de
minha me conta que D.Ritinha apagara at incndio de curral, ia aonde fosse
chamada, costurava mortalhas para os defuntos que no tinham posses, levando
uma vida de muitas andanas e muito trabalho, o que se confirma nos relatos da
prpria Dona Rita, cujas narrativas parecem lhe emprestar mais vigor ao corpo
envelhecido quando, seguida de gestos animados, transforma sua experincia
numa fonte de cuidados, conselhos e orientaes para se levar uma boa vida.
Dona Rita atualiza para mim a face da personagem O Narrador de Walter
Benjamim (1994), pois suas estrias, vivncias so recriadas atravs de sua fala
e de seu jeito de falar, atualizando-se nas nossas vidas como aprendizado.
Outra rezadeira da regio Rosa, esposa de um sobrinho de minha av.
Rosa me fala que aprendeu a reza com sua me, conta que: antigamente o
povo tinha muita crena, mas hoje em dia com mdico e remdio o povo no
tem mais (21/03/15). Ela me explica que preciso pegar trs galhinhos verdes
de alguma planta e assim comea: com dois te botaram e aponta com o
dedo para os seus prprios olhos, com trs eu te tiro aponta para os galhos.
Em seguida nos orienta: depois reza trs Ave Maria, trs Pai Nosso, oferecido
as cinco chagas de Cristo (21/03/15).
Rosa fala que o pai era curado de cobra porque alguma rezadeira havia
lhe benzido quando uma cobra o feriu e ele tinha sarado. Sendo assim bas-
tava que cuspisse na boca de algum animal ou pessoa picada que o veneno
se transformava em fora para o corpo e a pessoa/ou animal se reabilitava, a
cura de cobra pela rezadeira um rito complexo, um copo de gua pego e
dentro colocado areia fina e limpa, manda-se que o doente beba um pouco
da gua, a areia serve para filtrar o veneno, depois o doente fica em completo
isolamento, pois seu corpo est frgil e qualquer pessoa mal intencionada pode
derrub-lo apenas com os seus maus sentimentos. Seu pai ainda contava que
muito usado para curar picada de serpente era o pinho roxo, pois quando um
tejuau lagarto mdio da regio tambm conhecido como tejo ou ti era
picado recorria ao pinho e assim voltava e batia na cobra, repetindo isso mui-
tas vezes, at que vencia a briga.
Rosa criou toda uma famlia base da reza, rezava tambm seus animais,
seu rebanho de leite, quando ainda o tinha. Ela me explica que: mau olho faz a
gente ficar pra baixo, muito desanimado e s a reza capaz de tirar, o mdico
essas coisas no resolve. E o mau olho pega em tudo, de beb, planta a animal,
seja gente considerada feia ou bonita. E quando a pessoa a ser rezada est
muito carregada, preciso esconder um galhinho no peito para que no passe
para si. Tem que se rezar de frente a uma porta aberta por aonde o quebranto o
mau olho v embora, e depois se pega o ramo e se joga o mais longe possvel
(Dirio de campo, 18/12/15 e 21/03/15).
A prtica de cura pela reza destoa dos processos de medicalizao da
medicina moderna, a pessoa a ser rezada como: um todo que faz parte de
um todo maior a vida onde cada criatura tem seu lugar e amada em um
ciclo sem fim como me disse Dona Ritinha (21/03/15).
Consideraes finais
Talvez os motivos que mantenham a reza ainda viva tenham a ver com
aquilo que tenta apag-la, como se tenta fazer com todos os lcus de prticas
sociais que alimentam a potncia de ao dos sujeitos e uma fora de subver-
so. A potncia da reza aparece com vigor nas narrativas das rezadeiras. Homi
Bhabha (1992), autor ps-colonial indiano nos dir que o que est em jogo a
luta pela posse da narrativa histrica, a tentativa da norma de apagar a outra
verso que se compreende em uma narrativa rica e muito difcil de contrapor,
preciso que as diferenas, os subalternos, as multides queer contem suas
experincias, insurreies e memria. Jos Jorge de Carvalho (2001) nos fala da
incorporao dessas experincias/ narrativas orais, os balbucios, seus gestos,
seus silncios para inscrever uma verso mltipla e sem mscaras da histria.
Essa questo que me alimenta para voltar atrs de minhas memrias desde
Bete e Inha, primas segunda, com quem passei boa parte da infncia e que
me contavam suas experincias de vida, de f, de sobrevivncia. preciso que
essas narrativas no se percam, preciso no se calar, preciso que se conte a
prpria vivncia.
Nietzsche argumenta sobre o corpo como um fio condutor, sendo o
corpo o nosso guia mais seguro e efetivo para elucidarmos a tudo, ele ainda
nos diz que o corpo, os sentidos, os instintos e os afetos nos permitem habitar e
compreender nitidamente a realidade, e assim o o corpo da rezadeira em exer-
ccio, suas mos que se erguem com o ramo em sinal de cruz, rastreando-nos
a expulsar o mal, sua voz sussurrada, seus olhos firmes. Se a vida e o humano
so vontade de potncia, assim o so essas mulheres que mediante uma prtica
de oralidade reconfigurada reafirmam a completude do corpo, do devir e dos
Referncias
CARVALHO, Jos Jorge de. O olhar etnogrfico e a voz subalterna. Horiz. antropol.,
Jul 2001, vol.7, no.15, p.107-147(disponvel em: http://www.scielo.br/pdf/ha/v7n15/
v7n15a05.pdf)
FOUCAULT, Michel. As tcnicas de si. Paris: Gallimard, 1994, Vol. IV, pp. 783-813.
(Disponvel em: http://cognitiveenhancement.weebly.com/uploads/1/8/5/1/18518906/
as_tcnicas_do_si-_michel_foucault.pdf)
PRECIADO, Beatriz. Multides Queer: Notas para uma Poltica dos Anormais. In:
Estudos Feministas. Florianoplis, 19 [1], Jan__ Abr 2011.
Resumo
Introduo
1 Constituio de 1937: Art. 124 A famlia, constituda pelo casamento indissolvel, est sob a pro-
teo especial do Estado. s famlias numerosas sero atribudas compensaes na proporo de
seus encargos. Constituio de 1946: Art. 163 A famlia constituda pelo casamento de vnculo
indissolvel e ter direito proteo especial do Estado. Constituio de 1967: Art. 167 A famlia
constituda pelo casamento e ter direito proteo dos Poderes Pblicos. Emenda Constitucional
1/1969: Art. 175 A famlia constituda pelo casamento e ter direito proteo dos Poderes Pbli-
cos.
Consideraes finais
Referncias
CARVALHO, Jos Murilo de. Cidadania no Brasil. O Longo Caminho. Rio de Janeiro:
Civilizao Brasileira, 2008.
Resumo
Introduo
1 Alm de atender s finalidades inerentes a toda entidade de classe, a Ajuris tem participado intensa-
mente dos grandes debates nacionais e da discusso de temas relacionados com o exerccio pleno da
cidadania. Essa linha de atuao apoia-se no pressuposto de que a manuteno de uma sociedade
democrtica exige constante vigilncia, aliada ao exerccio permanente do juzo crtico sobre todas
as instituies, e no apenas sobre o Poder Judicirio, e particularmente necessria nos tempos que
correm. (ASSOCIAO DOS JUZES DO RIO GRANDE DO SUL, 2012).
Por fim, foi na segunda onda renovatria que o movimento brasileiro se aproxi-
mou do internacional.
A partir dos anos 1990 inicia-se a terceira onda, havendo uma prolifera-
o de identidades polticas no interior do movimento. Facchini (2009) chama
esse perodo de reflorescimento do movimento. Nesse perodo h um apro-
fundamento da redemocratizao atravs da implementao de uma poltica
de preveno s Doenas Sexualmente Transmissveis/Aids, baseada na ideia
de parceria entre o Estado e a sociedade civil e no incentivo s polticas de
identidade. Verifica-se verdadeira parceria com o Estado e com o mercado
segmentado.
possvel afirmar que ao longo da sua existncia o movimento foi incor-
porando diferentes temas sua agenda e tornando-se um interlocutor respeitado
em diferentes espaos polticos, como no Judicirio. Atravs de diferentes aes,
o movimento LGBTT tem demandado o respeito aos direitos e atendimento s
necessidades da populao homossexual.
Nesse contexto, o Judicirio vem, atravs de decises judiciais cada vez
mais flexveis proferidas pelo pas afora, atualizando o direito e garantindo o
seu reconhecimento aos homossexuais. A determinao feita pelo STF de que
seja removido do Cdigo Penal Militar termos e expresses considerados dis-
criminatrios a homossexuais, demonstra claramente a efetiva participao do
Judicirio na concesso desses novos direitos.
Consideraes Finais
Referncias
DALLARI, Dalmo de Abreu. O Poder dos Juzes. So Paulo: Editora Saraiva, 2007.
Resumo
Nos ltimos anos, vem ocorrendo uma srie de embates entre defensores dos
direitos LGBT e ativistas dos movimentos religiosos - especialmente as lide-
ranas de denominaes evanglicas. Utilizando a retrica da liberdade de
expresso, esses segmentos religiosos desqualificam e combatem a diversidade
sexual, adentrando a arena poltica atravs de seus representantes no Congresso
Nacional, que se articulam compondo frentes parlamentares e interferindo na
agenda do movimento LGBT. Este trabalho prope examinar as particularida-
des do enfrentamento do movimento LGBT com os segmentos evanglicos, a
partir de episdios recentes envolvendo parlamentares da Frente Parlamentar
Evanglica, que tiveram repercusso na mdia e geraram controvrsias.
Palavras-chave: homofobia religiosa; arena poltica; produo de polticas para
populao LGBT; Frente Parlamentar Evanglica; movimento LGBT.
Introduo
1 O termo (neo) pentecostal ser utilizado aqui para englobar tanto as denominaes evanglicas
pentecostais quanto as neopentecostais, considerando a proximidade das suas concepes terico-
-doutrinrias acerca da homossexualidade.
2 O objetivo central desta pesquisa visa apreender os nexos entre a expanso da produo de polticas
e direitos igualitrios para a populao LGBT no Brasil, na ltima dcada, e as reaes conservado-
ras dos setores evanglicos na arena poltica, focalizando as percepes e aes dos parlamentares
da Frente Parlamentar Evanglica (FPE), no Congresso Nacional.
3 Joo Mascarenhas foi o primeiro representante do MHB a se apresentar no Congresso Nacional, ante
duas Subcomisses da Constituinte. (CMARA, 2015)
4 O deputado Marco Feliciano havia postado numa rede social, que africanos descendem de ancestral
amaldioado por No. Isso fato. E tambm, que a podrido dos sentimentos homoafetivos leva ao
dio, ao crime, rejeio. Alm de ter associado a Aids a uma doena gay. (NATIVIDADE, 2013)
5 Trata-se do Projeto de Decreto Constitucional (PDC 234/11), apresentado pelo deputado federal Joo
Campos (PSDB-GO), que havia sido arquivado a pedido de seu prprio proponente, devido, entre
outras razes, a presses internas do seu prprio partido.
Consideraes finais
Como afirmaram Mello et. all (2014, p. 315), nunca se teve tanto, e o que
h praticamente nada, referindo-se ao paradoxo sobre as polticas pblicas
para a populao LGBT no Brasil.
Conforme vimos, ao movimento LGBT na atualidade, so colocados obs-
tculos que se referem produo de polticas pblicas e ampliao de direitos
civis para essa populao. Uma possibilidade de superao de tais obstcu-
los parece estar no enfrentamento de seus opositores na arena poltica, o que
implica, em utilizar as estratgias dos mesmos, mobilizando as bases de seu
movimento a fim de eleger parlamentares que representem seus interesses na
arena poltica. E ainda, uma melhor articulao de parlamentares (das frentes
parlamentares pr LGBT e outras frentes que os representem) pela aprovao
de projetos de lei favorveis populao LGBT, assim como a criao de novas
frentes parlamentares atravs da unio de representantes setoriais LGBT de par-
tidos polticos diversos, que atuem de forma a superar divergncias partidrias,
garantindo o trabalho em conjunto e criando assim, possibilidades de enfrenta-
mento da onda conservadora no Congresso Nacional.
Referncias
MELLO, L. et al.. Polticas pblicas para a populao LGBT no Brasil: notas sobre
alcances e possibilidades. Cadernos Pagu (39), julho-dezembro de 2012. Disponvel
em <http://www.scielo.br/pdf/cpa/n39/14.pdf> Acesso em 20 mar 2014.
NATIVIDADE, M. & LOPES, P. V. L..O direito das pessoas GLBT e as respostas religio-
sas: da parceria civil criminalizao da homofobia. In DUARTE et al.(orgs). Valores
Religiosos e Legislao no Brasil. A tramitao de projetos de lei sobre temas morais
controversos. Garamond, Rio de Janeiro, 2009.
RORTY, R. Religion as a conversation stopper. In: Philosophy and social hope. Penguin
Books, 1999.
GT 04 -
Travestilidades, Transexualidades, Lesbianidades e Homosexualidades:
Transgresses e Resistncias
Resumo
Introduo
Metodologia
Resultados e discusso
Fonte: Dados organizados pelos autores, com base nas respostas dos entrevistados
Quadro 3 Respostas dos entrevistados para a terceira pergunta da segunda parte do questionrio
Quadro 4 Respostas dos entrevistados para a stima pergunta da segunda parte do questionrio
Consideraes finais
Atravs dessa pesquisa, foi possvel notar que h enorme dificuldade, por
parte de indivduos transexuais, em mudar seu nome e sexo definidos no regis-
tro civil pelo social em ambientes pblicos e privados, principalmente dentro de
escolas e universidades. Isso ocorre por conta da no aceitao da maioria das
instituies em alterar o nome sem um pedido judicial. Nem todxs xs entrevis-
tadxs so tratadxs pelo nome social em ambiente acadmico, ressaltando que
xs que o so apenas conseguiram este direito ao entrar com um pedido formal
ao colegiado do curso, destacando estarem amparadxs por lei, ou seja, perce-
be-se que a maioria dos professores ainda se nega a mudar o nome na hora da
chamada.
Conclui-se que de extrema importncia o tratamento de pessoas trans-
gnerxs pelo nome social, evitando assim o constrangimento e a humilhao
por parte dxs mesmxs, seja publicamente como individualmente.
Referncias
ISBN 978-85-61702-44-1
ABEH e a construo de um campo de Pesquisa e Conhecimento:
desafios e potencialidades de nos re-inventarmos
SUMRIO
Introduo
Moita Lopes (2010) busca solues para a abordagem dos temas sexua-
lidades e gnero em sala de aula sugerindo o uso da teoria queer. Segundo o
autor:
A posio queer acarreta o entendimento da sexualidade como
dinmica e cambiante, o que implica compreender que os objetos
de desejo podem mudar durante a vida ou em prticas discursivas
diferentes: nossas performances de sexualidade podem ser mut-
veis. Essa percepo envolve a concepo da sexualidade como
algo que nunca est pronto ou que est sempre se fazendo e que
pode ser construda e re-construda discursivamente. (p.141)
Consideraes finais
Referncias
FABRICIO, B.F. & MOITA LOPES, L.P. A dinmica dos (re)posicionamentos de sexua-
lidade em prticas de letramento escolar. In MOITA LOPES, L.P. & BASTOS, L.C. Para
alm da identidade: fluxos, movimentos e trnsitos. Belo Horizonte: Ed. Da UFMG,
2010.
MOITA LOPES, L.P. Sexualidades em sala de aula: discurso, desejo e teoria queer. In
MOREIRA, A.F. & CANDAU, V.M. (org.). Multiculturalismo: diferenas culturais e pr-
ticas pedaggicas. Petrpolis: Vozes, 2010.
Introduo
Nunca foi fcil para as mulheres adentrarem prtica esportiva pois quase
sempre havia empecilhos que dificultam o avano a sua insero sistematizada,
sendo um grande exemplo disso os Jogos Olmpicos que, por muitos anos, no
reconheceram as modalidades femininas (VALPORTO, 2006).
No Brasil, nas primeiras dcadas no incio do sculo XX, a natao, assim
como as ginsticas, o vlei e o tnis, foram incorporados como esportes volta-
dos para as mulheres, tendo como base os conceitos e interesses impostos pelo
Estado visando mulher saudvel, a beleza esttica valorizando a feminilidade
e, tendo como princpio norteador, a reproduo da espcie gerando filhos
fortes e saudveis (DEVIDE, 2003; 2004; GOELLNER, 2005). Porm, no final do
mesmo sculo, surgem as atletas olmpicas da Alemanha Oriental, causando,
um choque cultural muito realado pela imprensa.
Assim, vem sendo percebido atravs da influncia que a imprensa escrita
proporciona com relao a exaltao do corpo da mulher no decorrer dos
Metodologia
Resultados
Consideraes finais
Referncias
ALTMANN, H. EDUCAO FSICA ESCOLAR relaes de gnero em jogo. So Pau-
lo: Cortez, 2015. 174 p.
DEVIDE, F. P. Histria das Mulheres na natao brasileira no sculo XX: das ade-
quaes s resistncias sociais. 2003. 347f. Tese (Doutorado em Educao Fsica e
Cultura) - Universidade Gama Filho, Rio de Janeiro, 2003.
SOARES, L. Jogadora Marta conta como foi difcil entrar para o futebol; leia entre-
vista. Folha de So Paulo, So Paulo, 29 jun. 2013. Disponvel em: <http://www1.
folha.uol.com.br/folhinha/2013/06/1302974-jogadora-marta-conta-como-foi-di-
ficil-entrar-para-o-futebol-leia-entrevista.shtml>. Acesso em: 09/06/16.
Resumo
Isso corrobora com a viso limitadora que o Direito tem da pessoa, que
fica limitada em sua pessoalidade, com riscos ao no desenvolvimento pleno de
sua prpria identidade de gnero e identidade sexual.
Consideraes finais
Referncias
BRASIL. Lei n 10.406, de 10 de jan. de 2002. Cdigo Civil. Dirio Oficial da Unio
Seo 1 11/01/2002, Pgina 1.
BRASIL. Lei n 6.015, de 31 de dez. de 1973. Lei de registros pblicos. Dirio Oficial
da Unio Seo 1 31/12/1973, Pgina 13528.
Introduo
Metodologia
Dados coletados
Na lista dos 100 atletas mais bem pagos do mundo, em 2015, h apenas
duas mulheres. Ambas tenistas: em 26 lugar, Maria Sharapova, e a americana
Serena Williams na 47 posio do ranquing (PSSA, 2016).
... O Brasil conhecido como o pas do futebol sim, o mascu-
lino. S. Aqui falta o apoio das empresas, dos governos, e uma
divulgao melhor. Tem gente que d a desculpa de que o futebol
feminino no d o mesmo retorno que o masculino. Mas se nin-
gum mostrar, como podero conhecer para falar se possui retorno
ou no? O futebol no tem um clube que seja s de mulheres...
(AMORIM, 2013).
Consideraes finais
Referncias
1 Como recorte espacial, estabelecemos como foco as escolas pertencentes circunscrio da Direto-
ria Regional de Ensino de Jaboticabal.
2 Neste projeto, chamo os sujeitos transexuais tambm pelos termos trans ou transgneros. Este
ltimo que aponta para alm das questes que envolvem o debate biolgico e de mudana de sexo,
mas que ressalta as questes de identidade e identificao de gnero.
muitas vezes, moral conservadora. Tal fato contribui para a perpetuao de vio-
lncias em um espao que deveria ser de incluso e cidadania.
A democratizao da escola pblica uma demanda que no foi conso-
lidada e desde a constituio de 1988 estamos na construo de uma escola
mais plural. Importante pensar como o reconhecimento da diversidade vai
mexer com a cultura escolar institucional, isso a partir da educao inclusiva
para reforo da cidadania. Parte da dificuldade da aplicao das polticas inclu-
sivas advm, inclusive, da maneira como as dissidncias sexuais e de gnero so
frequentemente silenciadas na e pela escola, uma vez que as
Minorias sexuais e de gnero tambm so temas ausentes no tocante
aos Parmetros Curriculares Nacionais. Embora estes ressaltem a
necessidade de se tratar a sexualidade como tema transversal, nada
mencionado, mais especificadamente, em relao homossexu-
alidade(...). Sem uma referncia explcita ao tema da discriminao
contra homossexuais e outras diversidades sexuais (como travestis,
transexuais, bissexuais etc.) no espao escolar, resta ao/ educa-
dor/a apenas a interpretao da necessidade ou no da incluso
do tema a partir da leitura dos objetivos, j que pode interpret-
-los apenas como a necessidade de questionar as representaes
sociais acerca do masculino e do feminino, sem mencionar outras
prticas sexuais que sejam divergentes da norma heterossexual.
(DINIS, p; 2008, p. 480).
Contextualizao
Consideraes finais
3 De maro a junho de 2015 o nmero de pedidos de incluso do nome social nos documentos escola-
res aumentou de 44 para 127. Disponvel em: <http://www.educacao.sp.gov.br/noticias/educacao-fe-
cha-o-semestre-com-tres-vezes-mais-alunos-que-adotaram-nome-social>. Acesso em 10 ago. 2016.
Referncias
Consideraes finais
Referncias
Referncias
HALL, Stuart. Identidade cultural ps-moderna. 5 ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
Consideraes finais
Referncias
DELEUZE, Gilles.; GUATTARI, Flix. Mil Plats, v. 1. Rio de Janeiro: Editora 34, 1995.
LARROSA, Jorge. Tecnologias do Eu e educao. In: SILVA, Tomaz Tadeu da. O Sujeito
da Educao: Estudos Foucaultianos. 5. ed. Petrpolis: Vozes, 2002. p. 35 86.
SANTOS, Lus Henrique Sacchi dos. O corpo que pulsa na escola e fora dela. In:
WORTMANN, Maria Lcia Castagna et al (Orgs.). Ensaios em estudos culturais, educa-
o e Cincia: a produo cultural do corpo, da natureza, da cincia e da tecnologia:
instncias e prticas contemporneas. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2007, p.
131-146.
Referncias
Metodologia
A III Feira Multidisciplinar que teve como tema Haja Luz no Mundo foi
realizada no dia 25 de novembro de 2015, e foram organizados 12 stands divi-
dindo as turmas em diferentes subtemas.
O stand que trabalhou o subtema diversidade sexual foi composto por
alunos do 1, 2 e 3 anos do ensino mdio regular e integrado. Durante o
evento a comunidade escolar e do entorno, realizavam visitas aos stands sendo
dividido em grupos.
Chegando ao stand Iluminando Mentes Intolerantes, os visitantes eram
recepcionados com duas mensagens, uma na parede com o pedido: Ao entrar,
deixe seu Preconceito abaixo, com uma seta indicando a lixeira e outra na
porta com um desenho feito por um aluno, com uma mistura da esttua da jus-
tia com a esttua da liberdade, indicando uma unio entre justia e liberdade
em prol ao Movimento LGBT. Aps entrarem os visitantes iam passando pelas
diferentes etapas que compunham o stand:
2 - Orientaes Sexuais
Nesta etapa foram esclarecidas cada uma das orientaes sexuais: gay,
lsbica, bissexual, intersex, transexual, pansexual e assexual.
3 - A Bandeira LGBT
Nesta etapa foi ilustrado e comentado o sentido de cada uma das cores
da bandeira do Movimento LGBT.
4 - Quadro Up e Down
Nesta etapa foram debatidos alguns termos que foram substitudos ao longo
dos anos por termos mais atualizados e corretos, dentro da temtica LGBT.
8 - O que Famlia?
Nesta etapa os participantes eram questionados: O que representa Famlia
para voc? A partir da eram apresentadas e discutidas frases e fotografias
de famlias heteroafetivas e homoafetivas, bem como famlias compostas
s pela me ou pai, ou avs.
10 - Pesquisa de Opinio
Ao fim da visita ao stand, era realizada uma pesquisa de opinio para
avaliar o nvel de homofobia da comunidade escolar, bem como, da
comunidade do entorno que visitou a feira. Foram confeccionadas cdu-
las, e os visitantes votavam entre as quatro alternativas possveis: Aceito;
Aceito e Apio; No Aceito, Mas Respeito; No Aceito e Nem Respeito.
Consideraes finais
No Aceito, No Aceito,
Aceito Aceito e Apoio
Mas Respeito No Respeito
Comunidade CEIA 18 20 22 3
Visitantes 9 4 9 2
Total 27 24 31 5
Referncias
Resumo
Introduo
Objetivo
Mtodos
Concluso
Referncias
MOITA LOPES, L.P. Sexualidades em sala de aula: discurso, desejo e teoria queer. In
MOREIRA, A.F. & CANDAU, V.M. (org.). Multiculturalismo: diferenas culturais e pr-
ticas pedaggicas. Petrpolis: Vozes, 2010.
Consideraes finais
Referncias
PORCHAT, P. Tpicos e Desafios para uma psicanlise Queer. In: FILHO, F. S. T. [et
al] (org.). Queering : problematizaes e insurgncias na psicologia contempornea.
Cuiab: EdUFMT, 2013
SALIH, S. Judith Butler e a Teoria Queer. Belo Horizonte: Autntica Editora, 2012.
BATUCLAGEM DIVERSAS
Experimentando a diversidade
Consideraes finais
Referncias
Consideraes finais
Referncias Bibliogrficas
ISBN 978-85-61702-44-1
ABEH e a construo de um campo de Pesquisa e Conhecimento:
desafios e potencialidades de nos re-inventarmos
SUMRIO
SE A GENTE NO CONTINUAR COM ESSA LUTA, VAI SER CADA VEZ PIOR
[...] LEITURAS DE UMA VIVNCIA FORMATIVA SOBRE DIVERSIDADE DE
GNERO E SEXUAL EM UMA ESCOLA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1651
Idlia Lino dos Santos | Roniel Santos Figueiredo | Marcos Lopes de Souza
Relato de experincia
Consideraes finais
Referncias
GT 04 -
Travestilidades, Transexualidades, Lesbianidades e Homossexualidades:
Transgresses e Resistncias
Resumo
Introduo
1 Fao uso deste termo e conceito no mesmo sentido de Ochoa (2014) e Connel (2012), as quais o
utilizavam para falar de processos de construo de determinada corporalidade e sua
2 Forma como este coletivo tem sido nomeado na Poltica LGBT brasileira. Para uma anlise desta
temtica, ver Aguio (2014).
O grande objetivo do Miss T Brasil era criar uma imagem para travestis
e mulheres transexuais vista por elas como positiva, nomeada como visibili-
dade positiva. A visibilidade positiva mostrava-se como ferramenta poltica
Consideraes finais
Referncias
BATISTA, Ana Maria Fonseca de Oliveira. O telefone sem fio, a sobrinha do presi-
dente e as duas polegadas a mais concepes de beleza no concurso Miss Universo.
Dissertao (Mestrado em Antropologia Social) Centro de Filosofia e Cincias
Humanas, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianpolis, 1997.
BUTLER, Judith. Cuerpos que importan. Sobre los lmites materiales y discursivos del
sexo. Buenos Aires: Paids, 2002.
CONNELL, Raewyn. Transsexual women and feminist thought: Toward new unders-
tanding and new politics. Signs, v. 37, n. 4, p. 857-881, 2012.
NAMASTE, Viviane. Invisible lives: The erasure of transsexual and transgendered peo-
ple. Chicago: University of Chicago Press, 2000.
RAHIER, Jean Muteba. Blackness, the Racial/Spatial Order, Migrations, and Miss
Ecuador 1995-96. In: American Anthropologist, v. 100, n2, p.421-430, 1998.
RODRGUEZ, Juana Mara. Sexual Futures, Queer Gestures, and Other Latina Longings.
Nova York: NYU Press, 2014.
Introduo
visto como campo de lutas estril e passava a ser visto como uma constante
ameaa de retirada de direitos.
Ilustra-se tal reflexo. Em 2013, de um lado, o Conselho Nacional de
Justia aprovava a Resoluo n 175, que tornaria obrigatrio aos cartrios cele-
brarem casamentos entre pessoas do mesmo sexo. De outro, o pastor Marcos
Feliciano (PSC-SP) assumia o cargo de Presidncia da Comisso de Direitos
Humanos e Minorias no Congresso Nacional. No Paran, as eleies de 2014
colocariam o PSC (Partido Social Cristo) entre os partidos com mais cadeiras
na Assembleia Legislativa.
Tal o cenrio paradoxal que compe o pano de fundo de experincia
relatada. Parte-se da atuao de uma das dezenas de Comisses em funciona-
mento na atual gesto da OAB-PR. Trata-se da Comisso da Diversidade Sexual
e de Gnero (CDS), constituda nesta Seccional em 2013. Narra-se o papel
do grupo no debate dos Planos de Educao municipais e estadual, em 2015,
quando se articularam, com xito, determinados setores polticos para a retirada
e, em determinados municpios, mesmo para a proibio de abordagens
afeitas a gnero, orientao sexual e identidade de gnero nas escolas
atravs das diretrizes curriculares.
O trajeto de construo de nossas iniciativas, ainda em curso, descrito.
Transita-se, como detalhado a seguir, pela atuao dos(as) membros(as) como
interlocutores(as) em dilogo com as escolas, com a mdia, com grupos religiosos
e demais personagens ligadas ao debate; como agentes capazes de influenciar
as decises legislativas ocasio dos embates parlamentares; e como potenciais
provocadores(as) de posicionamento judicial no sentido de barrar a violao
dos direitos da populao LGBTI.
A anlise refletida dos resultados obtidos e do redirecionamento conjunto
em face de perspectivas futuras permite abordar os limites e as possibilidades
do espao ocupado pela CDS da OAB-PR diante do atual contexto poltico e
jurdico para a adequada tratativa da temtica.
2 Objetiva-se formar lideranas em debates sobre gnero e sexualidade entre alunas da rede pblica
do ensino mdio local. A ideia se concretizou, at o presente momento, no Colgio Costa Viana de
So Jos dos Pinhais.
3 Objetivava-se esclarecer aes tomadas pela instituio no tocante aos Planos de Educao.
4 Este evento, de ampla divulgao, objetivava reproduzir o formato de audincias pblicas e ouvir
especialistas sobre determinado tema, bem como a prpria advocacia, representantes do Poder P-
blico e da sociedade civil organizada.
Consideraes finais
Referncias
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. IN: LOURO,
Guacira Lopes (org.). O Corpo Educado: pedagogias da sexualidade. Trad. dos artigos
Tomaz Tadeu da Silva. 3. ed. Belo Horizonte: Autntica Editora, 2013. Pp. 151-172.
Caminhos percorridos
Caminhos de retorno
Consideraes finais
Precioso saber que esto construindo um novo olhar para estas rela-
es, um olhar diferente, questionador, que, gosto de pensar, no voltar a
ser o que era antes, um olhar impulsionador de novas prticas, com novos
saberes e fazeres. Saber que foi possvel se debruar em conceitos tais como
heteronormatividade, machismo, sexismo, feminismo, diferena, identidade,
racismo, cotas, cidadania, direitos humanos, entre outros mais, que apareceram
em alguns comentrios, os quais, sutilmente, nos permite repensar nossa prtica
docente frente s representaes hegemnicas. Gosto de acreditar que as falas,
que foram muitas, traz em si mesmas uma capacidade de mudana, de aban-
dono das narrativas totalizantes.
Saber ainda que as/os discentes foram protagonistas do conhecimento,
discutiram, questionaram, colocaram sobre suspeita algumas verdades que
teimam em se manter de p, mas as quais as pernas esto bambas. Produziram
saberes com outros fazeres.
Referncias
MOORE, Henrietta, Compreendendo sexo e gnero. Trad. Jlio Assis Simes. Londres:
Routledge, 1997, p. 813-830. Disponvel em: http://e-clam.net/moodle/course/view.
php?id=10 Acesso em: 20 de junho de 2013. (arquivo para uso interno do curso de
Especializao em Gnero e Sexualidade/EGEs-EURJ)
Barbara Orsi
Graduanda - PUC-Rio.
Design, Corpo e Sexualidade
[email protected]
Eva Clem
Graduanda - PUC-Rio.
Design, Corpo e Sexualidade
[email protected]
Natasha Ribas
Graduanda - PUC-Rio.
Design, Corpo e Sexualidade
[email protected]
desse perfil deve-se ao fato de que 1) so sujeitos que esto iniciando a sua tra-
jetria de formao em Design, momento propcio para o desenvolvimento da
prtica da reflexo crtica como parte integrante e necessria dessa formao; 2)
encontram-se em um momento de transio entre os espaos escolar e universi-
trio que traz consigo a abertura de novas perspectivas e vivncias em relao
s questes de gnero e de sexualidade; e 3) a disciplina em questo prope o
exame da noo de que as nossas percepes so construdas a partir de deter-
minaes scio-culturais, ambientais e polticas e que so sempre passveis de
transformao o que torna a pesquisa proposta uma extenso prtica das
noes examinadas no curso.
Como sabemos muitas das produes feministas nas artes em geral (para
citar algumas: pintura, literatura, design e zines) acabam por no serem reco-
nhecidas, ou ao menos citadas na maioria das pesquisas e publicaes oficiais
nesse campo. Uma das colagistas atuando no movimento de resistncia (des)
artstica Dadasmo que recebeu esse apagamento, foi Johanne Hch, ou
como preferia ser chamada, Hannah Hch. Com intensa produo no perodo
entre 1910-1960, Hanna desenvolveu2 uma srie de fotocopiartes, fotomonta-
gens e colagens na regio da Alemanha.
Foi em um momento particularmente crtico, marcado por uma inflao
desenfreada e por fortes tenses sociais que o Dadasmo se constitui. Na pas-
sagem de 1918-1920 (perodo em que o Dadasmo esteve mais ativo) ainda se
sentia o fim da Primeira Guerra Mundial, a forte tradio artstica e violncias
sociais. RoseLee Goldberg (2006), nos conta sobre sua forte inclinao poltica
na cidade de Berlim, Nova Iorque, e Barcelona, mais precisamente sobre sua
intensa movimentao cultural nas noites de Zurique no Cabar Voltaire. Entre
as passagens que mais chamam ateno desse perodo a descrio de uma
das noites nesse cabar dadasta.
Nessa taberna festiva - como tambm era chamado o Cabar Voltaire - as
palavras eram inventadas, os poemas escritos em versos sem sentido, as vogais
equilibravam-se em poemas sonoros, ali haviam mscaras e figurinos sendo
criados. Segue um trecho das escritas que Goldberg (2006, p. 50): transcreve a
partir das anotaes de Arp3 um dos jovens dadastas criadores do espao,
2 Em uma de suas passagens pelo Mar Bltico, quando alugou um pequeno apartamento nessa regio,
Hannah se deparou com uma oleografia emoldurada nas paredes desse apartamento. Fabris (2003)
nos conta que essa oleografia continha a pintura do Imperador Guilherme II e em seus ombros um
jovem artilheiro. Curiosamente havia uma pequena fotografia (a do proprietrio da casa) fixada no
capacete do artilheiro. Havia com essa fotografia um elo entre as geraes, entre as hierarquias e
tambm a interveno fotogrfica de uma pessoa no envolvida na tela da pintura. Essa mistura de
materiais e ousadia a profanar a tela, influenciaria grande parte do trabalho de Hannah Hch.
3 Arp escreveu a nota para o quadro Cabar Voltaire, pintado por Janco, tambm dadasta da poca.
Marcel Janco, Cabaret Voltaire, (1916).
Diante desse panorama, Fabris (2003) nos chama ateno para o que interessava
aos Dadastas inclusive a Hannah Hch , com a produo de colagens e
fotomontagens.
Era, sobretudo, com o rompimento da uniformidade de superfcie na
representao. E isso, graas multiplicao dos pontos de vista da colagem e
sua interpenetrao nos diferentes fragmentos de imagens, cuja objetividade
deveria ser interpretada num duplo sentido: como tomada de posio contra o
expressionismo ps-futurista, caracterizado pela falta de engajamento e pelo
vazio conceitual, e como visualizao irnica dos acontecimentos polticos
contemporneos. E, mais que isso, a criao Dadasta no se tratava de postu-
lar novas leis estticas, mas sim de buscar novos contedos que pudessem ser
traduzidos por novos materiais.
A partir dessas reflexes, podemos ainda pensar com a criao das
Colagens Dadastas as suas principais caractersticas: o fragmento, os restos,
os vestgios, elos quebrando a linearidade do tempo e seus rasgados papeis.
Rasgos que no se tratavam apenas do corte fsico, mas tambm do valor sim-
blico que possua como ruptura com o passado, com a linearidade.
Design por Denise B. Portinari5. Na sala em que a atividade foi feita, procura-
mos expor diversos tipos de materiais do cotidiano, visando a abertura que os
alunos teriam ao escolh-los, relacionando-os as suas experincias particula-
res. Entre os materiais utilizados, disponibilizamos revistas de diversos assuntos,
retalhos de tecido, botes, pedaos de madeira, lantejoulas, papis de bala e
afins.
A atividade iniciou-se com uma breve apresentao sobre o surgimento
das colagens no movimento dadasta e seus principais precursores, com o
intuito de servir como um referencial para a turma, visto que a maioria no
havia tido experincias posteriores com essa prtica artstica. Em seguida distri-
bumos folhas de papel ofcio, e pedimos que os alunos fizessem uma colagem
que expressasse as percepes pessoais e individuais de cada um sobre gnero
e sexualidade suas prticas, manifestaes, sentimentos, posio poltica e
qualquer outro aspecto que desejassem expressar sobre o assunto. Pedimos que
utilizassem os primeiros quinze minutos para observar os materiais, idealizar a
colagem e juntar tudo que fosse interessante para eles. Seguido disso, demos
vinte e cinco minutos para cortarem e montarem as colagens, e mais quinze
minutos para colarem.
Aps realizada a dinmica, fomos ao Laboratrio de Fotografia e Estdio
da PUC-Rio para fotografar as colagens produzidas para que, posteriormente,
pudessem ser compiladas na forma de uma revista online6 com os resultados
grficos.
as/os convidamos a dar uma breve explicao sobre quais foram as motivaes
para o uso dos materiais e das imagens e qual era a mensagem que desejavam
transmitir.
Nesse momento, pudemos notar que temas que estavam em voga no
momento como o caso da menina de dezesseis anos que foi estuprada por
trinta homens no Rio de Janeiro foram recorrentes nas colagens, bem como a
questo do corpo da mulher fragilizado e indefeso que nos quase imposta
goela baixo pela sua reproduo exaustiva e incessante nos veculos miditi-
cos. Seguem alguns relatos7 desse momento em sala:
No dia que a gente foi fazer a colagem tinha tido aquele estu-
pro coletivo uns dias atrs e eu tava bem com isso na cabea.
(Entrevistada 1)
Quando eu vi essa imagem, eu lembrei de um texto que eu tinha
lido sobre como a linguagem corporal da mulher parece sempre
estar se protegendo de alguma coisa. (Entrevistada 2)
[a colagem est falando sobre] essa ideia da mulher estar sempre
feliz e esconder essa parte emocional e, por exemplo, no poder
falar o que ela pensa, nem o que ela sente na sociedade sem ser
oprimida. (Entrevistada 3)
Consideraes finais
Referncias
BROMMER, Gerald. Collage Techniques: A Guide for Artists and Illustrators. Nova
York: Watson-guptill Publications, 1994. 160 p.
FABRIS, Annateresa. A fotomontagem como funo poltica. Histria, vol. 22, n.1,
p.11-57. 2003.
na cobertura da referida lei. Por entenderem que por mais que os homens trans
devam ter sua identidade masculina respeitada, a violncia cometida contra
eles decorre do fato de j terem sido mulheres. Portanto, por mais que possa
soar desconsiderao quanto identidade masculina, na verdade a incluso
restaria por entender que estes homens, em especfico, permanecem sofrendo
violncias provocadas pelo exerccio do poder patriarcal e do machismo de
outros homens.
Durante o curso, percebemos o quo difcil romper com o discurso
hegemnico. No incio de um dos encontros, propomos a seguinte dinmica:
faramos duas colunas no quadro: (i) homem; (ii) mulher, e cada um deveria
dizer caractersticas que considerasse femininas e masculinas. Aps a organi-
zao das caractersticas nas colunas correspondentes, os escritos homem e
mulher seriam trocados: no lugar de mulher passaria a constar homem e
vice-versa. Aps a realocao, faramos o seguinte: se sensibilidade foi asso-
ciado inicialmente mulher, perguntaramos existe homem sensvel?. Caso
a resposta fosse positiva, a caracterstica seria riscada. O objetivo dessa din-
mica demonstrar que as caractersticas consideradas tipicamente femininas
ou masculinas, com exceo de alguns aspectos biolgicos, so construdas
socialmente.
Para a nossa surpresa, todos e todas responderam que era difcil - ou
quase impossvel - realizar a atividade, j que durante as aulas o que fizemos
foi exatamente o oposto, ou seja, estimulamos a desconstruo de esteretipos
de gnero. Assim, continuamos a aula com a discusso de relatos de homens
e mulheres que vivenciaram situaes de violncia. No entanto, no decorrer
do debate, percebemos que algumas pessoas apresentavam discursos que
desconstruam esteretipos de gnero, mas outras ainda defendiam seus argu-
mentos com base em aspectos biolgicos. Com isso, notamos que nem sempre
a resposta pergunta direta expressa a realidade, pois as pessoas tm a tendn-
cia de dar respostas ideais, de acordo com os seus valores e vises de mundo.
No que se refere s avaliaes, procuramos escolher um modelo que no
obrigasse as pessoas a estar em sala de aula, mas que as estimulasse a frequen-
tar os encontros. Assim, a avaliao foi dividida em trs partes: (i) participao
nas discusses e nos filmes; (ii) entrega do artigo escrito (em grupo); (iii) apre-
sentao do artigo em sala (em grupo). Para obter a mdia final, todas as notas
foram somadas e divididas por trs. O trabalho deveria versar sobre algum
dos temas discutidos, bem como utilizar algumas das bibliografias indicadas
para leitura. Para a apresentao dos artigos, propomos que os trabalhos fos-
sem circulados, com uma semana de antecedncia, entre os professores e os
alunos, para que todas e todos tivessem tempo suficiente para ler. No dia da
apresentao, propomos a formao de uma roda de conversa, de forma que
esse formato propiciasse a discusso horizontal dos artigos. Assim, aps cada
grupo se apresentar, foi aberto o debate entre todos e todas presentes. Na nossa
experincia enquanto alunos da graduao do curso de Direito, notamos que a
pesquisa pouco estimulada na universidade. Ento, o que queremos com esse
tipo de formato no cumprir uma mera formalidade, como o lanamento de
notas, mas sim fomentar o interesse pelo debate e pela reflexo.
Com relao metodologia das aulas conforme j comentado acima
tivemos o cuidado de escolher um formato diferente do tradicional que prio-
rizasse a participao de todos e de todas, assim como o debate horizontal.
Somadas a isto, as nossas preocupaes centrais eram: introduzir no curso de
Direito discusses anteriormente relegadas esfera domstica; romper com a
ideia de que o gnero se resume s questes das mulheres; desconstruir este-
retipos de gnero; ressignificar o conceito de violncia; democratizar a esfera
privada; e empoderar os alunos e as alunas para o enfrentamento dessas ques-
tes na vida cotidiana e em outros espaos dentro da faculdade.
A utilizao desse tipo de dinmica trouxe resultados satisfatrios. Embora
tenhamos percebido que, nas aulas de discusso de textos, nem todas as pes-
soas tinham lido o que era pedido, notamos que a falta de leitura no impedia
o debate, uma vez que eles se estendiam s reflexes sobre notcias de jornais,
propagandas, filmes, msicas e outros conhecimentos j adquiridos. Isso nos
fez perceber que mais importante do que seguir um rgido cronograma pre-
viamente estabelecido - semelhante s metodologias tradicionais utilizadas em
salas de aula - estimular o hbito de questionar o que est posto e transportar
essas crticas a outros espaos.
Alm disso, notamos que proporcionamos um espao horizontal e plu-
ral para diversas discusses, que, embora sejam necessrios, nem sempre so
encontrados nas universidades. Como exemplo, podemos citar a manifesta-
o de um aluno, que nos agradeceu por propiciar um espao como aquele
para assuntos to importantes; assim como outra aluna, que sugeriu que a aula
tivesse durao de trs horas. Por outro lado, notamos, tambm, que levar esse
tipo de discusso Faculdade de Direito pode provocar incmodos, como no
caso de um aluno que se manifestou, em voz baixa, para outro companheiro
Amana Mattos
Professora do Instituto de Psicologia e do Programa de Ps-Graduao em
Psicologia Social
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
[email protected]
Zona Sul do Rio de Janeiro, com vista para o mar e com morros como
plano de fundo: este o cenrio no qual se localiza uma escola pblica de
educao bsica do municpio do Rio. Conhecida na regio como uma escola
que recebe estudantes problema transferidos por outras instituies pblicas
de ensino, a escola tem como caracterstica o corpo discente majoritariamente
composto por pessoas de classe baixa que residem em favelas e a presena de
projetos de acelerao da aprendizagem de estudantes.
O presente Relato de Experincia se baseia no trabalho feito pela equipe
PIBID de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro1, formada
direito de agredir o prximo por conta de cime, um dos alunos afirmou que
puxava sua namorada pelos cabelos quando a via conversando com outros
meninos. Nestes momentos, apesar das intervenes da equipe irem na dire-
o de entender melhor o que foi dito, a postura corporal, expresso facial e
at mesmo entonao de voz, por vezes acabamos demonstrando bastante afe-
tao com o que foi colocado. O tema da violncia, nesse sentido, mostrou-se
extremamente delicado, levando para as supervises as posturas e intervenes
da equipe, em um trabalho de constante reflexo e mudana.
Consideraes Finais
Referncias
BISPO, Fbio Santos; LIMA, Ndia Lagurdia de. A violncia no contexto escolar:
uma leitura interdisciplinar.Educ. rev., Belo Horizonte , v. 30, n. 2, p. 161-180,
jun. 2014. Disponvel em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0102-46982014000200008&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 28 jun. 2016. http://
dx.doi.org/10.1590/S0102-46982014000200008.
LIBARDI, Suzana Santos; CASTRO, Lucia Rabello de. Violncias sutis: jovens e gru-
pos de pares na escola.Fractal, Rev. Psicol., Rio de Janeiro , v. 26,n. 3,p. 943-962,
Dec. 2014. Disponvel em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S1984-02922014000300943&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 28 Junho 2016.
http://dx.doi.org/10.1590/1984-0292/1237.
Incio
A proposta
A aula-interveno
Discusso
Consideraes finais
Referncias
______. Mil plats -capitalismo e esquizofrenia, vol.4. Rio de Janeiro, Ed. 34, 1997.
Introduo
1 Sigla que abrange Lsbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexuais. Alm disso, quan-
do ultilizamos LGBTI estamos considerando como inseridos na representao no-binrios.
2 Optamos por usar o termo LGBTfobia no lugar o termo homofobia pois acreditamos que tal
termo consiga abarcar de forma mais completa a violncia que sofrem as pessoas cuja sexualidade
e identidade de gnero sofrem ataques psicolgicos, fsicos e sociais. Acreditamos que LGBTfobia
represente todas as formas de assdios que ocorrem contra Gays, Lsbicas, Bissexuais, Travestis e
Transexuais , no binrios e intersexuais.
significado e foi pensado exatamente porque ns, LGBTI, assim como as religi-
es africanas, temos um lugar perifrico na sociedade.
O lanamento oficial do Coletivo se deu no dia 28 de agosto de 2014
com a mesa de debates Coletivo Duas Cabeas: contra o racismo, o machismo
e a homofobia. Houve uma significativa mobilizao dos grupos de militncia
que apoiaram e participaram do evento. O Coletivo da Diversidade Sexual e de
Gnero Duas Cabeas nasceu com a misso de promover aes que garantam
a cidadania e os direitos humanos da comunidade LGBTI e no binrios3, con-
tribuindo para a construo de uma sociedade democrtica, na qual nenhuma
pessoa seja submetida a quaisquer formas de discriminao, coero e vio-
lncia em razo de sua orientao sexual e identidade de gnero, conforme
estabelecido pelo Estatuto do Coletivo4.
Com o passar do tempo, o Coletivo Duas Cabeas se tornou referncia de
luta, resistncia e combate s variadas formas de discriminao que acontecem
diariamente na UFJF. Mas tambm foi s ruas e, atravs de inmeras aes, s
quais citaremos abaixo, ganhou notoriedade no municpio de Juiz de Fora como
Coletivo que luta pela diversidade.
discutiremos a seguir. Com isso, nossa imagem est sempre atrelada s lutas
das trans e travestis. Uma das participantes trans e figura de grande destaque na
militncia Bruna Leonardo. Nas palavras dela:
J participava de outros movimentos, j militava antes de entrar no
Coletivo, mas foi depois que eu entrei no Coletivo que eu ganhei
visibilidade e que as pautas das trans tambm ganharam visibili-
dade. Quando cheguei no grupo me senti muito bem acolhida por
todos . (Bruna Leonardo, 2016)
5 Diz-se da matriz, conjunto de normas e regras, social e culturalmente construdas que instituciona-
lizam a heterossexualidade como padro normal para a sexualidade humana.
6 Refere-se matriz, relacionada heteronormatividade, que institui como normais indivduos com
as identidades de gnero cis, ou seja, pessoas que se identificam com o gnero que lhes foram desig-
nados no nascimento ou antes dele.
7 Visitrans um grupo formado por vrias pessoas que atuam em Juiz de Fora na promoo da visibili-
dade e dos direitos de transexuais, travestis, intersexuais e no-binrios. coordenado pela professora
Dra. Juliana Perucchi e financiado pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de Minas Gerais
FAPEMIG.
8 Os diversiniques foram idealizados pela militante Bruna Leonardo e logo se tornaram um sucesso.
Ele constitui uma oportunidade de interao entre seus participantes e todos os espaos disponveis
no campus universitrio. A importncia desse encontro est exatamente na questo da ocupao dos
espaos, nossa presena no bosque da UFJF cria impacto visual, pois sempre levamos a bandeira da
diversidade e penduramos em uma das arvores para demarcar espao e para mostrar nossa presena
do diferente em um meio onde antes s havia a imagem da heteronormatividade.
Concluso
Bibliografia
Dinmica da mmica
Dinmica violncia ou no ?
pelo diretor, indagou-lhe o seguinte: se ele estivesse andando pela praia, sem
camisa, ficaria incomodado se um gay o cantasse ou olhasse para ele somente
pelo fato de estar sem camisa? Em resposta, o diretor disse que sim, que se sen-
tiria incomodado. Aps essa conversa, a mensagem que parece ter sido captada
por todos e todas que, independente do gnero, das roupas que veste - sejam
elas curtas, decotadas, ou compridas at o p - as pessoas tem que se sentir
livres para ser o que quiserem ser e para estar como quiserem estar. Essa dis-
cusso gerou muitos comentrios, principalmente pelo fato de a maioria serem
mulheres, que, de alguma forma, j sofreu algum tipo de assdio devido a roupa
que estava usando. As mulheres relataram como ficaram e ficam incomodadas
com certos olhares na rua, e que, alm disso, o corpo pertence somente elas,
e, por isso, tm a liberdade para ditar as prprias regras.
Dinmica de fechamento
Pedimos para que todos e todas escrevessem nas fichas entregues o que
acharam da oficina e o que poderamos melhorar. Dentre vrios comentrios,
surgiram: No no, cara!; Adorei, porque trabalha com reflexes para pen-
sar solues de combater s relaes verticais de poder; A oficina foi tima
para esclarecer assuntos antes no falados, e tambm para nos ensinar que
independente de tudo temos que ter todos os mesmos direitos; prazeroso,
estimulante, esclarecedor, empatia com quem sofre.
Notamos pelos comentrios que, de uma forma geral, os/as participantes
gostaram da atividade e tiveram espao para discutir questes fundamentais da
atualidade, e que, alm disso, o debate e a interao de todos e de todas pro-
porcionou uma maior compreenso da importncia de rever e pensar sobre a
violncia contra a mulher.
Logo em seguida, passamos o vdeo da CAMTRA (Casa da Mulher
Trabalhadora), que mostrou a campanha de enfrentamento violncia contra
a mulher, realizada pelo Ncleo de Mulheres Jovens. O objetivo do vdeo era
fechar a oficina com um momento ldico e de relaxamento, que no deixasse
de abordar questes relacionadas com o combate da violncia contra a mulher.
A experincia de realizar essa oficina foi muito importante para ns no
somente pela relao com nossas pesquisas de mestrado e com o grupo de
pesquisa do qual fazemos parte, mas, principalmente, pelo retorno e carinho
que todos nos demonstraram; pela conscientizao e debates que as dinmicas
A Internet, atravs das redes sociais, tem sido uma grande disseminadora
de informaes, enunciados e opinies acerca dos mais diversos temas. Atravs
do Facebook, muitos movimentos debatem e defendem seus ideais, porm, h
inmeros/as usurios/as que utilizam deste espao para expressarem suas opini-
es e semearem discrdias, compartilhando informaes de todas as espcies,
e tudo isso de uma forma mais fcil, direta e sem receios de um contato real.
A legislao acerca dos crimes virtuais vm ganhando destaque, mas, mesmo
assim, o povo virtual quer falar, expressar e lutar por suas ideologias.
As temticas que envolvem os/as LGBTT1 tm ganhado cada vez mais
espao nas redes sociais e, com isso, so crescentes as discusses acaloradas
entre esse pblico e aqueles/as mais conservadores/as, que tentam justificar
com inmeros argumentos o porqu da no-aceitao da orientao sexual
que divirja da heterossexual.
A homofobia, no Facebook, compartilhada, curtida e comentada o
tempo todo. Problematizar o que leva esses sujeitos a incitarem dio e discrimi-
nao importante para passarmos a entender o que motiva essa disseminao
de preconceito e, a partir da, levar s escolas e ambientes de trabalho debates
que faam os/as alunos/as e colaboradores/as a refletirem sobre essas temticas,
formando cidads/os que sejam crticos/as e que tambm possam contribuir
para o combate a esse tipo de intolerncia.
1 LGBTT: Sigla para denominar as Lsbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgneros.
Porm, neste trabalho, a problematizao ser em torno das orientaes sexuais, e no em torno das
questes de gnero; sendo assim, essa sigla, durante a leitura, deve ser associada aos gays, lsbicas
e bissexuais.
criou a pgina CelebratePride. Com ela, qualquer usurio da rede social pode
manifestar seu apoio ao movimento LGBT e sua conquista.
Em seguida, Vagner comenta, em sua prpria publicao, uma imagem
com as cores do arco-ris: O arco-ris nunca representar outra coisa para
minha vida a no ser a aliana de Deus para com o homem, o que passar disso
o diabo tentando roubar o smbolo que Deus patenteou. Nessa frase, Vagner
critica a utilizao do arco-ris como smbolo dos movimentos LGBTT, visto
que, na Bblia, h a utilizao do arco-ris como a marca de uma aliana de
Deus com o mundo, simbolizando que no ocorreria outro dilvio no planeta.
A seguir, veremos os enunciados de alguns/as usurios/as da rede social a partir
dessa publicao:
Carla: Fato, nascemos de um fruto conjugal de um homem e de
uma mulher, que denominamos Pai e Me, herana de Deus, que
chamamos de famlia... Nunca pessoas do mesmo sexo sero capa-
zes de se reproduzirem formando a to sonhada e desejada famlia...
Vagner: Falou tudo terceira [referindo-se a Carla], no a toa que
voc sargento!!!! E um dia tbm ser primeira como eu, quem sabe
oficial.
Vagner: Sodoma e Gomorra revolta total.
Peter: o fim dos tempos. E tem gente que apia essa pouca
vergonha.
Natan: E a ira do Senhor est chegando.
Jairo: Eu sou muito contra! Um dia eu estava em um restaurante,
tinha dois sujeitos, se acariciando, minha filha perguntou pai pq o
senhor est bravo e quer ir embora, eu falei no quero que vc veja
este tipo de abominao. Um deles levanto e pergunto pra mim o
que vc tem contra, eu olhei bem pra ele e falei, tenho uma ponto
40 e dois pentes, e estou louco para usar, quer ser o primeiro [?] ele
olhou bem pra mim e saiu de perto.
Vagner: Eu estou doido para usar meu teyser!!!!
Adilson: Pouca vergonha!!!
A usuria Carla traz sua posio contra a unio homoafetiva com o dis-
curso de que seres do mesmo sexo jamais podero se reproduzir e conclui que
isso faz com que seja impossvel formar-se, ento, uma famlia. Vagner elogia a
posio da colega de trabalho (ambos so membros do Exrcito Brasileiro), enal-
tecendo-a, e em seguida outros enunciados surgem com usurios que tambm
j que se comprovou que a cada trs dias ocorre um assassinato. Essa esta-
tstica no s acerca de assassinatos contra homossexuais, mas a qualquer
crime motivado por considerar algum inferior, contrrio ou anormal diante do
que o/a assassino/a considera como padro, e concluem que comportamentos
homofbicos variam desde a violncia fsica da agresso e do assassinato at a
violncia simblica, em que algum considera lcito afirmar que no gostaria de
ter um colega ou um aluno homossexual.
As redes sociais esto impregnadas de publicaes e enunciados que ins-
tigam a violncia contra os/as homossexuais, a maioria delas insinuando que
seria uma forma eficaz de endireitar o indivduo, tornando-o heterossexual
fora; outros acreditando que se o indivduo deseja viver sua homossexuali-
dade, este deve viv-la de forma privada, s escondidas, sendo merecedor/a de
ataques fsicos e verbais caso ultrapasse as paredes de sua casa para vivenci-la
em um ambiente pblico, como j exposto em um dos comentrios analisados.
Evidencia-se a necessidade de medidas protetoras e de polticas pblicas que
defendam os Direitos Humanos, evitando violncias, cada vez mais frequentes,
e propiciando mais liberdade s/aos LGBTT, sem que estes/as vivam sob a pre-
dominncia da insegurana.
O Facebook possui uma ferramenta para denunciar qualquer publicao
considerada ofensiva, e funciona com muita preciso. Cabe a ns, enquanto
humanos/as e educadores/as, lutar por uma sociedade em que todos/as possam
amar e se respeitarem pelo que so enquanto participantes ativos desta comu-
nidade, e no pelos papis exercidos em suas intimidades, num contexto sexual.
Referncias
Resumo
A proposta, o trabalho
O que ficou/marcou?
Esta foi uma pergunta feita na autoavaliao, mas que, de certa forma,
apareceu tambm na conversa que tivemos para a avaliao das atividades
desenvolvidas. Nenhum/a estudante deixou de expressar algo nesse sentido e,
como pontos que marcaram a importncia do trabalho, aparecem a possibili-
dade de construrem conhecimentos, de refletirem sobre o tema e de estenderem
a discusso para alm da escola.
Aprendi muito com esse trabalho, aprendi muito alm de uma
matria da escola, realmente foi um aprendizado que foi muito alm
dos muros do colgio. Aprendi pra vida o respeito ao prximo..
Comecei a refletir muito mais depois das intervenes e comparti-
lhei alguns sentimentos com pessoas prximas..
Problematizei, conversei sobre o tema em casa, com meus pais,
que tambm primordial o conhecimento e um nvel de respeito
que digno dos LGBTTI da parte deles..
2 Na foto: estudantes que aparecem com tarja no rosto no apresentaram autorizao de responsveis
para publicao de fotos. Por esse motivo tm suas identidades preservadas.
De tudo isso, ficou a vontade de continuar, entrar na luta, fazer algo para
mudar o que entenderam como realidade das pessoas LGBTTI e ver o tema
sendo tratado na escola.
Eu espero que esse trabalho no acabe aqui. Espero que a gente
fale mais, informe mais, faa mais....
Desse trabalho ficou o esprito de acabar com a homofobia, o
esprito de luta.
Precisamos falar mais da LGBTTIfobia e esse trabalho, pra mim, foi
uma inspirao para estudar e entender muito mais o assunto, alm
de lutar contra a homofobia..
Sentia alm do desprezo, um pouco de falta de informao. Por isso
acho que a escola tinha que trabalhar desde o Ensino Fundamental,
falar mais do preconceito, da LGBTTIfobia....
Consideraes finais
A experincia desse trabalho foi muito gratificante para mim. Percebi tam-
bm o quanto se trata de uma luta importante que precisa ser cada vez mais
assumida por ns, educadoras e educadores. Primeiro porque o preconceito e
a desinformao ainda so muito arraigados em nossa cultura e precisam ser
enfrentados intensamente. Segundo porque pequenas aes, como julgo terem
sido as propostas realizadas pelo trabalho em questo, tm potencial para trans-
formaes que possam ser bastante significativas.
Como maior dificuldade apontada pelos/as estudantes, fica o no envolvi-
mento de outros/as professores/as nas atividades, embora eu tenha esclarecido
que se tratava de uma proposta particular de minha parte e no tenha solicitado
nenhuma parceria nesse sentido. Mesmo assim, eles/as esperavam mais parti-
cipao ou pelo menos comentrios de incentivo, que tambm dizem no ter
acontecido. Este foi o motivo para que no realizassem o que programaram
A manera de introduccin
Surgimiento
Descripcin
vctimas por crmenes de odio. Varias personas ondean banderas del arcoris
alrededor de la Plaza. Se coloc un banner en la Plaza con el logotipo diseado
para ese ao que fueron tres velas de contorno blanco sobre un fondo rosado,
y sobre ellas se colocaron veladoras blancas. A la par de este banner se coloc
otro con diferentes fotografas de personas LGBTI muertas en El Salvador. Luego
de las palabras de los lderes religiosos, entre las cuales reson en muchas
ocasiones la palabra impunidad, se procedi a encender las veladoras. Para
finalizar se realiz una liberacin de globos en la plaza.
Esta Tercera Plegaria profundiza en su sentido poltico, ya que se emite un
comunicado. Entre las demandas se pueden nombrar (Asociacin Salvadorea
de Derechos Humanos Entre Amigos, 2014):
levantarlas en alto, representando una plegaria de justicia para que las muertes
de todas las personas LGBTI no continen impunes.
La Quinta Plegaria Rosa LGBTI se realiz en la Plaza de El Salvador del
Mundo, el 18 de junio de 2016. En est ocasin se aprovech la actividad para
hacer un homenaje a las personas muertas en Orlando (EE. UU.), aparte de
recordar y denunciar las muertes de personas LGBTI en El Salvador. El lema prin-
cipal de la actividad estuvo representado por el hashtag #EsteEsNuestoFuturo,
el cual marc las actividades polticas de diversidad sexual entre mayo y junio
de 2016. Este hashtag se origin por la prohibicin de una campaa publicitaria
de una compaa telefnica que apelaba a las diferencias como una condicin
de los seres humanos. El movimiento de diversidad sexual se apropi de ese
mensaje.Como lema secundario se utiliz una frase de Eduardo Galeano: Los
muros de la desigualdad estn empezando a desmoronarse. Esta afirmacin,
nace del coraje de ser diferente.
Existieron nuevos elementos simblicos que se incorporaron a la activi-
dad entre los que destacaron fue la colocacin de cruces blancas con manchas
rojas alrededor de la plaza, la colocacin de una rainbow flag sobre el csped
y la utilizacin de farolitos1 para proteger las velas. Como en otros aos, una
madre en representacin de familiares de personas muertas dio su testimonio,
en su discurso manifest que: La violencia me quit un hijo, pero me quedaron
todos ustedes. Se realiz una plegaria en nombre de las personas fallecidas. Un
representan religioso dio su mensaje. Un coro ejecut varias piezas musicales.
Las velas se encendieron y los presentes rodearon la bandera del arcoris, levan-
tando sus velas y las cruces manchadas de sangre.
Reflexin
1 Los farolitos son cubiertas elaboradas con papel celofn. Son representativos de la fiesta catlica del
7 de septiembre que se realizan en las ciudades de Ahuachapn y Ataco en el occidente del pas.
Referencias
BUTLER, Judith. Vida precaria: El poder del duelo y la violencia. Buenos Aires:
Paids, 2006.
______. Marcos de Guerra. Las vidas lloradas. Buenos Aires: Paids, 2010.
No caso de homofobia, ataques aos homens cis gays, teremos outra din-
mica. Segue um relato:
Voltava pra casa caminhando e um cara comeou a conversar
comigo. Viemos conversando por uns 10 minutos. O Aterro uma
rea de cruising. Quando chegamos altura da minha casa atraves-
samos uma das passarelas e paramos numas rvores entre as pistas.
Al ele me estrangulou, eu desmaiei. Acordei com a lngua cortada
e dores pelo corpo. Acho que ele me chutou.
http://temlocal.com.br/Relatos/Visualizar?b=51
e diminui o sujeito, fazendo com que ele seja visto como homem de menor
valor.
Quando analisamos a bifobia temos que ressaltar que parte dos ataques
sofridos acontecem na prpria comunidade LGBT que no se isenta de ser
tambm preconceituosa. O ataque suposta e frequente anlise da indeciso
deste indivduo, usando agresses que vo desde homem ou mulher bissexual
ser tratado(a) como uma pessoa falha, ao no ser nem homo ou heterossexual, e
ser incapaz de confiana, at a ataques que a/o aproxima da homo/lesbofobia.
O bissexual a orientao sexual mais apagada. No trecho a seguir, a vtima,
de performance descrita como afeminada, sofre ataques que se aproximam da
homofobia:
Estava (...) afeminado (...), estava maquiado, de unhas pintadas e
uma camisa bem chamativa. (...) decidi ir pela rua da Papa G por
ter mais chances de estar movimentada, j o sair decidi a andar
perto de um grupo de afeminados, e percebi olhares, ao chegar
perto da estao mercado um grupo de senhores falavam alto
sobre Os viados passando do outro lado que tnhamos que mor-
rer e que estavam todos no bar gay fazendo suruba que ali era
um lugar de orgias (...)passou um carro preto cheio de homens e
comeou a andar devagar, (...) s ouvi eles gritarem Viado, Bicha
e me chamando para fazer sexo com eles, fiquei (...).
http://temlocal.com.br/Relatos/Visualizar?b=75
Consideraes finais
Referncias
BUTLER, Judith. Corpos que pesam: sobre os limites discursivos do sexo. In: LOURO,
Guacira Lopes. (Org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Trad. Tomaz
Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autntica, 2000.
Natalia Kleinsorgen
Mestra em Mdia e Cotidiano pelo Programa de Ps-graduao em Mdia e
Cotidiano da Universidade Federal Fluminense.
[email protected]
diante do peso da existncia naquele lugar e da prpria proposta, que era falar
sobre violncia dentro de um espao desumanizado.
Depois de algumas conversas, chegamos concluso de que nossa
expectativa era mais sobre o que poderamos aprender do que ensinar. Afinal,
qualquer atividade de escuta entre mulheres, de troca de experincias entre
pessoas do sexo feminino, extremamente engrandecedora: quanto mais ouvi-
mos, mais conseguimos nos identificar nos relatos e projetar solues juntas.
Referncias bibliogrficas
Bases tericas
Consideraes finais
Referncias
PELCIO, Larissa. Teoria Queer/Estudos Queer. In: CARRARA, Srgio...[et al]. (Org.).
Curso de Especializao em Gnero e Sexualidade. Rio de Janeiro: CEPESC; Braslia,
DF: Secretaria Espacial de Polticas para as Mulheres, 2015.
SCOTT, Joan. Gnero: uma categoria til de anlise histrica. Educao e Realidade,
v.16, n.2, jul./dez. 1990, p. 5-22.
WEEKS, Jeffrey. O corpo e a sexualidade. In: LOURO, Guacira Lopes (Org.). O corpo
educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autntica, 2000.
Bruno de Freitas
Doutorando, Programa de Ps-graduao em Geografia, IG/UFU.
[email protected]
Resumo
Introduo
das mulheres, de acordo com cada uma das grandes regies globais repre-
sentadas no mapa. Isto porque, objetivava-se saber quais eram as concepes
regionais femininas da turma, no que diz respeito s variveis socioeconmicas,
tnicas, culturais e religiosas da mulher ao longo do espao global.
Aps o preenchimento do mapa, foi possvel perceber que o mesmo
representava de forma homognea as caractersticas tnicas, socioeconmicas,
culturais e religiosas de cada regio global. Neste sentido, foi possvel perceber
que os alunos representaram estas caractersticas de forma muito bem distintas
de acordo com cada regio, mesmo se considerando que os mesmos sabiam
que existiam heterogeneidades por entre as regies.
Neste sentido, foi possvel observar que as representaes na Amrica do
Norte havia a concentrao de mulheres brancas com cargos executivos, lde-
res polticas (ainda que estas fossem de outras regies do mundo), mulheres que
exercem funes profissionais vinculadas ao militarismo. Esta representao
tambm ocorreu na Europa, sendo que o que diferia era que estas mulheres so
louras. Em oposio a esta concepo por parte dos alunos, foi possvel perce-
ber que os alunos entendem que a frica composta por mulheres negras, de
baixo poder aquisitivo e que ocupavam posies rudimentares no mercado de
trabalho, ou at mesmo que trabalham na lavoura para o prprio sustento.
Foi possvel perceber que o entendimento dos alunos no que se refere s
mulheres asiticas se restringia s suas caractersticas tnicas. Neste sentido, os
alunos afirmaram que as mulheres da sia so brancas e possuem os olhos
puxadinhos(Ernesto1, 2013). Alm disto, possvel afirmar que a representao
das mulheres no Oriente Mdio estava vinculada s representaes religiosas,
por meio do reconhecimento de vestimentas, tais como a burca. Percebeu-se
que na Oceania no havia nenhuma caracterstica que fosse capaz de fazer
com que os alunos tivessem uma representao acerca das questes abordadas
nesta atividade.
Interessante ressaltar que a nica regio que foi representada de forma
heterognea foi a Amrica do Sul, pois nesta regio continha negras, brancas,
lderes polticas, mulheres com cargos executivos e vinculados agricultura.
Chama-se a ateno de que este fato se deve por entenderem que o Brasil
1 Os sujeitos de pesquisa foram identificados por codinomes, com o objetivo de preservar a identida-
de dos sujeitos envolvidos na pesquisa.
representa a Amrica do Sul e neste pas haver grande diversidade tnica, socio-
econmica, cultural e religiosa.
Deu-se incio aos questionamentos a partir da atividade realizada, quando
o executor da oficina questionou o porqu da concentrao em cada regio de
mulheres com caractersticas semelhantes. Os alunos responderam que este
fato se deve por existir pessoas da mesma etnia e que h lugares mais desen-
volvidos do que os outros (Antnia, 2013).
Os alunos afirmaram que este fato se deve por questes de explorao
destas regies e a mesmas no serem desenvolvidas, no caso a frica. A pro-
fessora regente explicou que esta regio caracterizada por ndices de pobreza
elevados e ao mesmo tempo possuem mulheres, ainda que em menor intensi-
dade que ocupam altos cargos e outras que so brancas. E que neste sentido,
devem-se analisar as questes espaciais de forma complexa.
Foi explicado aos alunos que no porque uma mulher habite um pas
desenvolvido, seja sinnimo de que a mesma tenha os mesmos acessos obtidos
pela grande maioria da populao. Isto porque ao mesmo tempo as regies
vistas enquanto desenvolvidas, tambm h problemas socioeconmicos e as
regies pobre tambm h parcela da populao que possuem de significativo
poder econmico.
Sobre as questes tnicas foi explicado que estas regies existem dife-
renas e, por exemplo, podem existir mulheres asiticas em outros lugares do
mundo, da mesma forma que podem existir negras em outras regies do espao
global. Sobre as questes religiosas foi afirmado que as religies so bem dis-
tribudas ao longo do espao global o que no significa dizer que cada regio
possui caractersticas completamente delimitadas espacialmente.
Finalizou-se esta dinmica questionando aos alunos percebem a composi-
o socioeconmica, tnica, cultural e religiosa da mulher por entre as regies
globais. Alm disto, foi questionado se h possibilidade de ser diferente, se ana-
lisado a representao do mapa preenchido por eles. Os alunos apresentaram
que nas grandes regies h diferenas, mesmo que em pequenas propores.
Neste sentido realizou-se outra dinmica acerca da representao por imagens
no outro mapa sem preenchimento.
Neste sentido, os alunos iniciaram a atividade, mas desta vez com um
olhar mais complexo no que se refere s temticas trabalhadas tangem s
questes femininas contemporneas pelo espao global. Na realizao da ati-
vidade os alunos reforavam que na frica existem mulheres brancas, louras,
Consideraes Finais
Referncias
pensar, a partir disso que, ao identificar um gay como bicha po com ovo, alm
de o estarmos desqualificando por seu contexto de origem, estaremos tambm
delimitando suas possibilidades de aes em determinados contextos.
Vale destacar que no somente a classe que opera nessas marca-
es e delimitaes. Outros marcadores tambm estaro presentes, de forma
concomitante, definindo privaes e privilgios de acordo com as relaes esta-
belecidas. Se pensarmos tambm que as bichas po com ovo podem ser ou no
associadas com comportamentos ditos como afeminados, podemos perceber
que, junto com a classe, estaro em anlise as formas como esse gay age na
sociedade. Portanto tambm sero classificadas de acordo com sua performati-
vidade de gnero, ou seja, os modos como expressam o gnero (Butler, 1991). A
referncia s bichas poc poc ou qu qu como extremamente afeminadas,
com voz fina e geralmente mais novas tambm fornece pistas sobre essas dife-
renciaes. Estas identidades so extremamente rechaadas e normalmente so
considerados como modelo aos esteretipos do gay nos meios de comunicao
e entretenimento (Arajo, 2008). Estas configuraes de marcadores tambm
atuaro nas relaes estabelecidas quando os objetivos forem as possibilidades
de interao afetivo-sexual.
No que tange aos comportamentos sexuais, deparamo-nos com uma
hierarquia na qual os comportamentos so classificados conforme se aproxi-
mam ou se distanciam das normas sociais de masculinidade e feminilidade. Os
comportamentos que so tidos como remetendo feminilidade, como o papel
passivo no ato sexual (as passivas), so comumente vistos como inferiores se
relacionados aos papeis ativos relacionados a masculinidade (os ativos). Em
diversos estudos sobre a pegao e prostituio entre homens, a masculini-
dade tida como moeda de troca importante (Perlongher, 1987, Frana, 2014)
e define as configuraes dos pares que atuaro no ato. Conforme forem apre-
sentado comportamentos que se distanciem da figura do macho, os mesmos
vo sendo menos desejveis e ento sofrero penalidades (Oliveira, 2015) que
definiro aqueles que conseguiro mais ou menos parceiros.
O cafuu (Soares, 2012) identidade que associa gays com classe social
baixa, mas com uma corporalidade tida como desejvel (musculoso e pegada
forte), acaba tendo maior notoriedade por ser uma identidade atribuda uma
masculinidade considerada viril, o que o coloca num nvel de desejabilidade
alto por apresentar as caractersticas do macho ideal (Oliveira, 2015). Essa cate-
goria normalmente atribuda no s a homossexuais como tambm se refere
Consideraes Finais
Referncias
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferena: a perspectiva dos estudos culturais/
Tomaz Tadeu da Silva (org.) Stuart Hall, Kathryn Woodward. Petrpolis, RJ: Vozes,
2000.
SCOTT, Joan Wallach. Gnero: uma categoria til de anlise histrica. Educao &
Realidade. Porto Alegre, vol. 20, n 2,jul./dez. 1995, pp. 71-99.
um aluno comea a xingar e falar alto que ele no era obrigado a ficar na sala
vendo pouca-vergonha, ficou muito nervoso e saiu. Eu no parei o filme, nem
fui atrs para tentar conversar com ele, pois fiquei preocupada em como a
turma reagiria situao. Era uma turma de 26 alunos do curso de eletrotcnica,
em sua maioria meninos. Ento aps o fim do filme fomos realizar o debate
tanto sobre o ocorrido quanto sobre os possveis porqus de tal reao. Ouvi
dos alunos que era mesmo difcil ver um filme onde meninos da idade deles se
beijavam que isso contrastava com o que tinham aprendido em casa, mas que
estavam percebendo que amor, amor, independente de ser entre meninos
com meninos ou meninas com meninas. Confessaram que existe uma enorme
presso da parte da famlia e da sociedade para que sigam padres preestabele-
cidos e que era muito difcil viver seguindo tais expectativas. Foi uma conversa
muito enriquecedora, pois aqueles adolescentes sentiram, experimentaram a
possibilidade de expressarem as presses a que esto expostos.
Depois tentei conversar com o aluno que saiu da sala, mas ele nunca
mais voltou minha aula. E ainda hoje fico me perguntando se segui por um
caminho que retirou da aula de arte um adolescente ou se os que ficaram
que aprenderam algo sobre o que viver nesse mundo Demasiado Humano.
Ainda ronda sobre mim esta sombra que aflige muitos docentes. Eu pode-
ria ter utilizado metodologias mil para trabalhar o filme, talvez devesse ter
preparado mais os/as fruidores/espectadores para aquela aula, mas isso eu acho
que nunca saberei. O que sei que este acontecimento est sempre em minha
mente quando estou preparando um mdulo de aulas, uma aula especfica e
buscando imagens e filmes para compor um repertrio. Mas, como busquei
trabalhar pela filosofia da diferena utilizo um quase-mantra: faa rizoma, no
enraze, nem plante (DELEUZE e GATTARI, 1995). Isso me faz pensar que existe
uma complexidade na relao que se estabelece entre o/a fruidor/espectador de
uma obra e a obra em si, essa complexidade ativa foras criativas, subjetivas que
podem revelar pulses, metforas, abstraes e poticas das mais variadas for-
mas, oportunizando transformao em todos os envolvidos no processo ( ROSSI,
2003). Ou poderamos ainda nos refugiar em Herdoto para lembrar que nunca
mais seremos os mesmos aps nos banharmos no rio e nem o rio ser o mesmo.
Busco refletir este acontecimento pela vertente de partilha do sensvel
proposto por Jaques Rancire (2009) onde o poltico atua nas subjetividades,
onde somente se participa da sociedade, da cultura, da arte, da poltica pelo
engajamento, do rudo e do silncio como forma de experincia. Ento, quando
aquele aluno xingou, no era a mim que ele queria atingir, mas atingiu, porque
no passamos por esse tipo de situao ilesos. Seus gritos representavam silen-
ciamentos sucessivos de como deveria se comportar, do que era esperado dele
enquanto menino htero. Aquela reao representou sua experincia de estar
no mundo e ser pressionado por anos a fio a fazer o que se esperava dele: Uma
reao violenta ao que diferente do que lhe fora ensinado em casa. Cabe
sociedade como um todo assumir a responsabilidade da fratura e da descons-
truo a essas expectativas tanto para o que masculino quanto para o que
feminino, para a sexualidade CIS ou no.
Como a arte, atravs das imagens que disponibiliza, pode ser agente de
ao nas frestas? A resposta, suponho, est na prpria pergunta. Nas frestas!
Nos entre lugares, na partilha de subjetividades outras, que no esto dispostas
nas prateleiras dos conhecimentos enlatados a que muitos professores se acos-
tumaram, seja atravs dos livros didticos, dos artistas consagrados neoclssicos
_e at modernos, ou nos filmes cheios de clichs que muitas vezes so exibidos
em sala para passar o tempo.
Diz-nos Rancire (2009) que, as prticas estticas se vinculam s praticas
artsticas que intervm nas maneiras de distribuio, nos fazeres, nas suas rela-
es com maneiras de ser e formas de visibilidade, ou seja, a arte possibilita outras
intervenes, fazeres, maneiras de ser e tambm contribui para uma elaborao
e novos repertrios de visibilidade. Em resumo: Compe-se poltica com ima-
gens, pois elas revelam/escondem/ampliam/esvaziam as possibilidades de estar
no mundo. Essa partilha da sensibilidade corroborada por Judith Butler no nos
termos que Rancire nos apresenta, mas pelo seu carter poltico, a saber: O
poder que a princpio parece externo, pressionado sobre o sujeito, pressionando
o sujeito subordinao, assume uma forma psquica que constitui a identidade
do sujeito (BUTLER, 2011, p. 13- traduo nossa). Dentro dos mecanismos que
constituem as subjetividades do sujeito e sua identidade, esto as imagens com
as quais este sujeito se relaciona cotidianamente e que lhe conferem tambm
subjetividades e identidades. Com suas voltas especulares sobre si mesmas, as
imagens podem promover as fratura de nossas certezas ontolgicas.
Qui isto tenha acontecido no percurso desta aula que relatei, pois espero
que tanto para minha prtica docente, quanto para os discentes que ali se encon-
travam e principalmente para aquele que interrompeu o processo de fruio do
filme aos gritos e xingamentos, tenham todos passado pelo processo, pela expe-
rimentao, pela inquietao, pela dor de ser confrontado e de ter as certezas
sacudidas.
Referncia Bibliogrficas
BUTLER, Judith. Mecanismos Psquicos del Poder - Teoras sobre la sujecin. 3 ed.
Barcelona-ES: Ediciones Ctedra, 2011. Trad. Jacqueline Cruz.
RANCIRE, Jacques. A Partilha do Sensvel- esttica e poltica. 2 ed. Rio: Editora 34,
2009. Trad. Mnica costa Netto.
ROSSI, Maria H. Wagner. Imagens que Falam- Leitura da arte na escola. 2 ed. Porto
Alegre: Editora Mediao, 2003.
1 Pessoas que no se identificam com o sexo e gnero correspondente ao que lhes foram designados
no momento de seu nascimento.
O grupo
O grupo formado pela CRDH se caracteriza por ser aberto, o que implica
que as pessoas no precisam estar presentes em todas as reunies e que pes-
soas novas podem ser integradas ao mesmo durante a sua execuo. Outra
caracterstica que esse grupo tambm hegemnico, ou seja, as famlias que
iro participar das reunies no passam por uma triagem prvia e no se cons-
tituem critrios de incluso e de excluso para as pessoas integrarem o grupo.
Desse modo, tem-se a peculiaridade de que durante os encontros h a presena
de diferentes pessoas ao longo dos encontros, em diferentes nveis de contato e
engajamento com movimentos transativistas, o que cria rico espao para con-
versas e debates entre as famlias que o compe.
Os primeiros trs encontros do grupo foram pautados por conversas livres
entre as famlias que o compe. As pessoas ocupavam o tempo narrando suas
trajetrias com a/o familiar transexual e, principalmente, compartilhando infor-
maes, experincias e modos de facilitar o processo transexualizador de suas/
seus familiares. Entretanto, a equipe percebeu um esvaziamento de pautas aps
trs semanas dessa modalidade de encontros, as mesmas pessoas falando de
forma a ocupar todo o momento do grupo, alm das/os componentes do grupo
solicitarem por algumas respostas da equipe.
Desse modo, foi proposto que os integrantes do grupo, juntamente com
a equipe facilitadora, montassem um cronograma de assuntos de interesse das
famlias a serem debatidos nos encontros seguintes. Chegou-se s seguintes
temticas: questes geracional, de orientao sexual e de identidade de gnero;
mudanas corporais e visuais decorrentes do processo transexualizador; invisi-
bilidade de homens trans; cisgeneridade e cissexismo; diagnstico de loucura
e disforia de gnero; procurando sinais/pistas/causas das identidades transexu-
ais; movimentos de despatologizao das identidades transexuais; adaptao
da famlia com os nomes e pronomes que as pessoas revogam durante e aps
Consideraes finais
Referncias
Introduo
que estava sendo exposto. Cada grupo recebeu uma lista com diversos adje-
tivos. Estes adjetivos foram usados para nomear as figuras trazidas por eles.
Exemplos:
Consideraes Finais
Referncias bibliogrficas
SCOTT, Joan. Gnero: uma categoria til de anlise histrica. Revista Educao
& Realidade, v.20, n.o 2, julho/dezembro de 1995, pp. 71-99 Porto Alegre, UFRGS/
FACED
PIERRO, Gabriel Di. ORTIZ, Marlia. Gnero fora da caixa. Guia prtica para edu-
cadores e educadoras. 1 Edio 2011. Disponvel em: <http://www.soudapaz.org/
upload/pdf/genero_fora_da_caixa_web.pdf> Acesso em: 25/11/2014.
Consideraes finais
Encontros presenciais
Mdulos
Projetos de interveno
Consideraes finais
Hellen Santos
Doutoranda em Psicologia Social e Institucional UFRGS
[email protected]
Referncias
Palavras iniciais
Este foi o ltimo dos encontros ocorridos, talvez a baixa adeso por parte
dos/as docentes tenha desestimulado a continuidade do trabalho. De qualquer
forma, os momentos tocaram as pessoas que os vivenciaram.
Neste relato traremos algumas questes que foram mais instigantes
durante os trs encontros ocorridos. Para a construo e anlise dos dados,
utilizamos dos registros elaborados durante as observaes dos encontros e
tambm de alguns escritos produzidos pelos/as participantes em relao aos
artefatos culturais.
Uma situao que causou incmodo na autora deste artigo foi quando no
primeiro encontro, um professor da escola disse no concordar com aquilo, que
via como uma coisa da mdia e que a rede Globo agora estava exibindo gays
bonzinhos. Ele disse ser evanglico, no aprovava essas atitudes e ainda relatou
que ele e os pastores no concordavam, pois eram fundamentalistas e que tudo
isso era uma falta de respeito. Aps a fala dele, todas/os ficaram calados/as e,
em seguida, uma colega perguntou ao professor: Se aquele garoto [se referindo
a Mrio personagem do curta Vestido Novo] fosse seu filho, o que voc faria?
Perguntou duas vezes e ele silenciou. A discusso foi retomada, o professor che-
gou a falar outras coisas e depois se ausentou.
A presena do discurso religioso na fala do professor algo recorrente
nos trabalhos com a temtica em questo. O professor fala de um lugar e uti-
liza da autoridade das igrejas protestantes para se posicionar. Neste caso ele
reitera que h um incentivo ou investimento por parte das mdias televisivas
em colocar a homossexualidade como uma possibilidade de vivncia da sexu-
alidade e entendemos que isso incomoda os discursos normativos pautados na
heteronormatividade. Dialogar sobre as ditas minorias sexuais, no caso, lsbi-
cas, gays, bissexuais, travestis, transgneros e intersexuais no espao escolar
entendido, pelo professor como falta de respeito. Este desrespeito se refere a
no seguir uma determinada lgica fundamentada no discurso judaico-cristo
que compreende as outras expresses de gnero e sexualidade como demon-
acas, antidivinas e contrrias aos valores da famlia tradicional (NATIVIDADE;
OLIVEIRA, 2013).
Por outro lado, interessante perceber como a sua colega o inquietou
quando lhe perguntou sobre a possibilidade de Mrio ser seu filho. O silncio
foi a resposta dada pelo professor. Ressaltamos este aspecto apontando que h
outros posicionamentos sobre diversidade de gnero e sexual que no esto em
conformidade com as normatizaes. A professora problematizou estas ques-
tes ao se colocar daquela maneira.
No segundo encontro, uma das professoras retomou o episdio ocorrido
no primeiro dia e comentou que, ao se falar sobre gnero e sexualidade, as pes-
soas levam tudo para o lado religioso e que, portanto, se a gente no continuar
na luta, pode ser cada vez pior. Esta outra professora tambm destoa do pri-
meiro docente e passa a questionar: por que o discurso religioso to potente
quando se fala destas questes? Porque esse incmodo to grande por parte de
algumas pessoas?
e alunas como se essa no nos afetasse: somos todos e todas arrastados nesse
processo.
Por meio dos vdeos, as/os participantes relataram situaes em que as
sexualidades ditas excntricas adentravam a escola, mas eram silenciadas, ou
seja, a escola no agia diante de processos de discriminao, preferindo calar-se
ou mesmo adiar as intervenes. Uma professora trouxe o caso de uma estu-
dante lsbica que deixou a escola e no voltou mais. Estas produes culturais
tambm provocaram as/os participantes a pensarem em fatos que ocorreram
na famlia ou com amigas/os, como a histria narrada por uma licencianda do
PIBID em que seu amigo ainda tem medo de se assumir para a famlia e de ser
desprezado pela sua igreja. Logo, os artefatos seduziram e mobilizaram as/os
participantes em se colocarem frente aos debates sobre gnero e sexualidade.
Referncias
Realizao
Apoio
Constitucional
Organizao