Dissertação
Dissertação
Dissertação
The historical evolution was divided into four periods: period before
independence, period between 1975 and 1987, in which reigned the centered
governing system; period of liberalization and the state reforms from 1987 and;
the period of democratization and emerge of local governs.
According to the analysis carried out, the way the local governance is being
implemented in Mozambique is far different from what the theory experts
consider as ideal for this type of governing.
7. CONCLUSÃO .....................................................................................................................73
Índice de mapas
Mapa 1: Divisão Administrativa da Província Ultramarina de Moçambique na Época
Colonial .................................................................................................................................16
Índice de ilustrações
Ilustração 1: Comparação das Componentes de Descentralização ...................................36
Siglas e abreviaturas
1
Lei 2/97, Boletim da República, I série nº 7, 2º Suplemento, 1997: Quadro Jurídico-legal para Implantação das Autarquias
Locais. Com esta lei, viabilizou-se a realização das primeiras eleições autárquicas nas 33 autarquias existentes, dando um
marco para a história da administração pública no país, com o início do funcionamento das autarquias locais.
2
Lei 8/2003, regulamentada pelo regulamento lei dos órgãos locais do estado 6/2005 de 10 de junho.
3
Também chamado o início do neoliberalismo económico. Um dos contribuintes nesta ideologia foi o Friedman.
qa
10
governação, fazendo com que o processo de descentralização assegure a
participação permanente do cidadão na concretização de atividades para
satisfação das suas necessidades sem prejuízo dos interesses nacionais e da
participação do Estado4.
4
Evolução histórica da administração pública moçambicana disponível em http://cooperacao.palop-
tl.eu/biblioteca/administracao_publica_moc.pdf .
11
1.1. Objetivos de Estudo
12
É no quadro destas transformações que se torna importante discutir e fazer uma
análise dos diversos modelos ocorridos neste país. O Trabalho procura também
distinguir os pontos fortes e fracos dos modelos até aqui implementados.
1.2. Metodologia
13
A terceira parte apresenta o enquadramento teórico, onde busca-se os
conceitos relacionados com o tema e o que já existe no concernente a
governação em moçambique. Nesta fase, destacam-se com maior ênfase os
conceitos de descentralização, governação local e comunidade local.
14
2. BREVE CARACTERIZAÇÃO DE MOÇAMBIQUE
No seu todo o país possui uma superfície de 779.380 km2 e uma extensão
de 4.330 km. A distribuição da população por província pode-se considerar normal
excetuando as províncias de Nampula e Zambézia, que possuem uma população
que corresponde praticamente a metade da população do país.
15
Os restantes distritos ultramarinos permaneceram com o mesmo nome de
Maputo, Gaza, Sofala, Moçambique (atual Nampula), Tete e Quelimane (atual
Zambézia), como se pode ver no Mapa1.
16
A estrutura económica de Moçambique independente foi herdada da
estrutura colonial caracterizada por uma “assimetria entre o Norte e o Sul do País
e entre o campo e a cidade. O Sul mais desenvolvido que o Norte e a cidade mais
desenvolvida que o campo. A ausência duma integração económica e a opressão
extrema da mão-de-obra constituíam as características mais dominantes dessa
assimetria”.
Este sistema permite a inclusão dos partidos mais pequenos, permitindo que
todos possam ter voz e representação no parlamento. Para além das eleições, a
Constituição da República consagra, os princípios da liberdade de associação e
organização política dos cidadãos, o princípio da separação dos poderes
legislativo, executivo e judiciário (Mário et al., 2010; Moçambique, 2004).
17
Mapa 2: Divisão Administrativa de Moçambique por Províncias pois independência
18
3. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
3.1.1. Descentralização
19
terceiro grupo, constituído por países que possuíam partido único e uma
economia planificada (Lane, 2007, pp. 4-7).
Nos meados da década 80, 60% dos países da África eram controlados por
regimes militarizados, outros pelo regime de partido único e apenas seis que já
tinha adotado o multipartidarismo. Dez anos depois a situação mudou
drasticamente com a introdução do sistema multipartidário na maioria dos países
daquele continente (Lane, 2007, p. 291).
De acordo com Manor (1999, pp. 5-6) existem três definições chaves da
descentralização: (i) desconcentração ou descentralização administrativa, (ii)
descentralização fiscal e, (iii) devolução ou descentralização democrática. Por sua
vez MILS 1990 Citado por Fuzikawa (2007) refere que existem quatro (4) tipos de
descentralização: (i) Descentralização Politica ou Devolução, (ii) Descentralização
Administrativa ou Desconcentração, (iii) Delegação e a (iv) Privatização. Porém,
Manor (1999) não considera este último (a privatização) como uma forma de
descentralização pelo simples facto deste não poder ser local, dado que poderá
existir sucursais de algumas empresas sediadas no centro e que fazem serviços a
nível local.
Veremos a seguir cada um dos conceitos com base nos autores abaixo.
20
Todas as linhas de comando são de cima para baixo, enquanto a prestação
de contas é de baixo para cima. Contudo, os funcionários limitam-se por
obedecer decisões que são tomadas pelo governo central (Fuzikawa, 2007).
21
políticos tomam decisões para todo o país. Este sistema poderá ser ineficiente se
houver uma distribuição desigual de recursos pelas regiões deste mesmo país.
22
coletiva, definindo o quadro de interação entre os cidadãos e este com o Estado
na tomada de decisão e na prestação de serviços públicos”(Shah, 2006, pp. 1-2).
Por sua vez Teles e Moreira (2007, p. 14), afirma que “os governos locais
são vistos cada vez mais, como facilitadores do processo de participação,
facilitando a colaboração e cooperação a nível local”. E é neste sentido que as
abordagens relativas a governação local devem procurar enfatizar e valorizar a
participação da sociedade civil. Para tal, é necessário que venha deste governo
local um espírito motivador de participação e não o contrário.
23
Tabela 1: Modelo de Governação Local
Dimensões
Atitude para Atitude de Mecanismo chave Mecanismo chave
Questões chave a autonomia participação de prestação de de imediação
Modelo local pública serviço política
Expressão e O apoio é Autoridades locais Representatividade
encontro das Fortemente dado em eleitas com política através das
Localista necessidades da favorável primeira múltiplas funções eleições
comunidade estância aos
eleitos
Encoraja a escolha Pouco A
individual e favorável, participação
Individualista capacidade de mais a não é de Oferta competitiva Direitos Individuais
24
os problemas reais da própria comunidade, dado que ele deve as suas
satisfações ao seu dirigente político em vez na população local (Fernandes, 1997,
pp. 87-90).
Fernandes refere ainda que quanto mais o poder local reproduzir o central,
poderá fazer com que “a assembleia municipal seja a única instancia de
negociação”. Esta assembleia tornar-se-á um lugar de conforto entre dos partidos
com representatividade e assento nesta assembleia (Fernandes, 1997, p. 93).
Porém, boa governação não é apenas fornecer uma vasta gama de serviços
locais, é preciso também a preservação da vida e da liberdade dos residentes,
criando espaço para a participação democrática e o diálogo civil, na criação de
programas que possam criar e facilitar resultados que enriquecem a qualidade de
vida dos residentes (Shah, 2006, p. 2).
25
A Governança é o “uso da autoridade política e exercício de controlo sobre a
sociedade e a gestão dos recursos para o desenvolvimento económico e social
(…), que por sua vez, as autoridades ou as lideranças estabelecem relações com
o público” (Kiwanuka, 2012, p. 50 Citando Landell-Mills & Sarageldin, 1991).
5
Regulamento da lei dos órgãos locais do estado
26
A governação local em áfrica foi associada ao processo da democratização,
regime este que se pressupõem garantir a participação dos cidadãos no processo
de formulação de políticas públicas e prestação de contas a comunidade. Tal
participação depende fundamentalmente da “capacidade real da organização,
mobilização e advocacia da sociedade civil e política” (AfriMAP & Africa, 2009, p.
14).
27
O valor público é aplicado atualmente nos recursos humanos na medida em
que as pessoas são motivadas pelo seu envolvimento em redes e parcerias, ou
seja, pelas relações com os outros.
28
com que os serviços públicos sejam mais virados ao cidadão (Calabrò, 2011, p.
7).
Cabral (2011) destaca três fatores que fazem com que a descentralização
em África ainda seja incompleta: fatores fiscais, políticos e administrativos:
29
1) Fatores fiscais: dizem respeito a adequação dos recursos financeiros, visto
que sem a adequação destes a transferência de responsabilidade não é
operacional, o que limita ao governo local a implementação de certos
programas locais;
2) Os fatores políticos: têm a ver com o compromisso político do centro
favorecendo a descentralização, mas também é necessário o compromisso
dos líderes locais em abraçar esta causa, pois estes serão os catalisadores
das ideias e programas do centro;
3) Os fatores administrativos: é necessário a distinção clara entre as funções
do governo central e do governo local para não haver conflitos entre eles
em termos das funções a desempenhar e da sua responsabilização.
30
Ao contrário de Blair, Olowu (2003, pp. 47-49) e Fauré e Rodrigues (2011,
pp. 50-51) identificam três mecanismos de participação e de prestação de contas
na governação local, nomeadamente: eleições locais, concelhos locais e os
“Direct voice mechanisms” (Mecanismos de voz direta em tradução direta):
31
4. MODELOS DE GOVERNARÃO EM ÁFRICA
32
O mesmo estudo comparou a capacidade dos governos locais, lideres locais
e do governo central de acordo com certos parâmetros, onde obteve os seguintes
resultados: Na questão da resolução dos conflitos locais, as autoridades
tradicionais em áfrica, mostram-se mais eficientes em relação aos governos locais
e central; a demarcação da terra é feita na grande maioria pelo governo local e
um número equilibrado entre as autoridades locais e o governo central; quase
dois terços do imposto sobre o rendimento são feitos pelo governo central, um
quarto pelo local e o resto pelas autoridades tradicionais; Os serviços públicos
básicos como a educação e a saúde são geridos na sua maioria pelo governo
central e com pouca intervenção das autoridades locais (Logan, 2013, p. 6).
33
que está intimamente ligada aos processos de transição política ocorrida no
começo da década 90. Este Surgiu como forma de contrariar a forma de
organização do Estado colonial autoritário que se tinha mostrado incapaz de
promover o desenvolvimento.
34
De um modo geral, Olowu e Wunsch (2004) associam os países desta
região, incluindo Moçambique aos tipos de descentralização, classificando-os em
três tipos nomeadamente: Desconcentração; Devolução, Devolução parcial e
Federações ou semi-federações. Passamos a seguir a descrever cada um destes
países descentralização:
Houve ainda alguns países que optaram por um sistema misto, isto é, uma
devolução parcial, na qual faz parte Moçambique. Nestes países, como se referiu
ao longo deste trabalho, somente o poder é exercido de baixo para cima em áreas
consideradas cidades e em algumas que apresentavam capacidade para
implementarem o modelo.
35
Tabela 2: Tipos de Descentralização em África
36
Como se pode ver na ilustração acima, Moçambique ocupa uma posição
relativamente baixa em todas as componentes comparado com os países da
região, como é o caso da África do Sul, Zâmbia, Zimbabwe e Tanzânia. Este facto
deve-se a este possuir uma descentralização parcial descrito na tabela 2 por
Olowu. Contudo, embora Moçambique tenha um nível relativamente baixa em
relação aos países descritos acima, este consegue superar países como Angola,
Chad e Níger na sua forma forma de descentralização política.
37
As unidades descentralizadas de governo em África possuem normalmente
limitada receita autoridade para a gestão dos serviços básicos, como a
saúde, a educação e as infraestruturas;
Autoridade limitada na gestão dos recursos naturais;
Seus eleitores são fortemente heterogéneos, sem a possibilidade de
comunicação entre eles, dado a fraca acessibilidade das vias de
comunicação e pouca mobilidade de pessoas;
Tem pouca legitimidade relativamente ao nível central do governo.
Estas dificuldades apresentadas por Wunsch, não se diferem tanto das que
iremos apresentar na realidade moçambicana.
4.3. Conclusão
Ainda continuam a maior parte (senão todos) dos municípios dos Estados
africanos dependentes do orçamente central, pois ainda não tem a capacidade de
arrecadar fundos para o pleno funcionamento das mesmas. Este facto faz com
que os edis destas autarquias não tenham poder suficiente para atuarem.
Porém a visão de SHAH (2006) sobre a governação local acaba por ser
limitada e ameaçada, na medida em que este pressupunha uma governação local
38
onde todas as componentes se interagiam, desde instituições formais do governo
local e central, rede e organizações comunitárias e associações dos bairros na
prossecução da ação coletiva. Esta limitação deve-se ao facto da fraca
participação dos cidadãos nas soluções dos problemas locais.
39
5. MODELOS DE GOVERNAÇÃO EM MOÇAMBIQUE
40
A primeira transição ocorreu através da proclamação da independência 7 e a
rotura com a velha ordem, o que significou a construção do novo estado. Foi a
partir deste ato que o Estado passou a designar-se de República Popular de
Moçambique em detrimento da Província Ultramarina Portuguesa (Nyakada,
2008).
7
Nas vésperas da passagem definitiva do poder, por parte do governo português ao moçambicano, a FRELIM O reuniu-se
na sua VII sessão na província de Inhambane, com o objetivo de definir as orientações básicas do Estado.
41
interesses e controlarem as suas relações com os comerciantes da costa
(Abrahamsson & Nilsson, 1994, p. 20).
42
Relativamente a organização administrativa de Moçambique Chiziane (s/d,
p. 4-8)8 refere o seguinte:
Ainda Chiziane (s/d) citando Salim VALA (2008) 9 refere que o regime do
Estado herdado era centralizado, fraco e forte:
Foi nesse contexto que a FRELIMO continuou através da sua experiencia política
das zonas libertadas um “processo de transformação radical da sociedade contra
o tribalismo, divisionismo, racismo, obscurantismo e superstição” de modo a
destruir a sociedade feudal e a construção o “homem novo” livre e sem classes,
condicionando a produção de bens materiais para a satisfação das necessidades
da população e a melhoria das condições de vida (José, 2005, p. 14-15).
8
Disponível em http://www.fd.ul.pt/LinkClick.aspx?fileticket=2DbDRFVfpgg%3d&tabid=339 consultado a 14
de novembro de 2012
9
VALA, Salim. “Descentralização e Desenvolvimento Sustentável no M oçambique Rural (2008).
43
Antes da conferência de Berlim, o sistema de administração do território
estava dividido em duas grandes áreas: a primeira corresponde a áreas intactas
que nunca tinham sido invadidas pelos portugueses que eram dirigidas pelos reis
e chefes das aldeias e a segunda correspondia áreas controladas pela
administração colonial portuguesa. Esta divisão na governação a nível do território
nacional só teve o seu término depois da conferência de Berlim, realizada em
1884-1885 na Alemanha, onde se reuniram várias potências europeias para se
tomar decisão sobre a partilha de africa (Nyakada, 2008 citando UEM, 1988).
Foi assim que a Frelimo começo por consolidar o seu poder, o que levou
com que este começasse a ocupar áreas circunvizinhas, continuando assim a sua
progressiva expansão (Isaacman & Isaacman, 1983:86). Contudo, segundo o
mesmo autor, esta expansão enfrentou diversos problemas nas áreas onde este
se implantava, dado que a Frelimo não estava preparada na introdução de uma
nova estrutura económica, social e política naquelas regiões.
Porém, o modelo idealizado pela FRELIMO acabou por ser mais uma utopia
do que uma realidade, tendo porém, pelo menos até certo ponto, servido de
inspiração para traçar o modelo socialista de desenvolvimento implantado em
44
Moçambique depois da independência, onde se pretendia negar quer os modelos
de desenvolvimento coloniais, quer os neocoloniais Yussuf Adam (1997:4).
Portugal não tinha “recursos financeiros suficientes para poder fazer uma
exploração de Moçambique com sucesso” (Abrahamsson & Nilsson, 1994, p. 23),
de administrar integralmente o território e de se estabelecer em todo o país. O
governo português arrendou cerca de dois terços da superfície territorial da
colónia, cedendo grandes parcelas do território moçambicano a companhias
privadas. Estas companhias eram de capitais maioritariamente ingleses, que ao
instalarem-se no território moçambicano eram soberanos sobre as parcelas que
exploravam e até na cobrança de impostos (Nyakada, 2008).
Ainda o mesmo autor salienta que durante o mesmo período de vigência dos
acordos de concessão (1891-1942), o país esteve subdomínio de três grandes
companhias: a Companhia do Niassa, a Companhia da Zambézia e a Companhia
da Moçambique. Mais antes do fim deste período, final de 1920 e o início de
1930, Cau (2004) diz que os portugueses levaram de volta o controle de algumas
terras que era eram administradas pelos capitais de companhias europeias com a
publicação do Ato Colonial10 em 1930 (Cau, 2004).
10
O Ato Colonial “é o primeiro documento constitucional do Estado Novo, promulgado a 8 de julho de 1930, pelo
decreto n.º 18 570, numa altura em que Oliveira Salazar assumia as funções de ministro Interino das Colónias” Adriano
M oreira in http://memoria-africa.ua.pt
45
O crescimento da economia dependia de fatores externos que
dificultava a balança de pagamentos, limitando os espaços de
manobra para as políticas internas;
Os sectores económicos possuíam poucas relações intersectoriais,
sem fileiras produtivas nem clusters (aglomerados) e os bens finais
possuíam pouco valor acrescentado na economia moçambicana;
Grande peso da economia provinha do sector informal;
Pouca disponibilidade de capital e baixa capacidade de realização de
investimentos;
O Estado era o principal agente económico cujos objetivos eram de
assegurar o funcionamento dos mecanismos de reprodução dos
padrões de acumulação dominantes.
46
5.3. Centralismo: Período entre 1975 a 1987
11
Como refere CISTAC - M anual de direito das autarquias locais, ainda - “…ainda persistem algumas características do
sistema administrativo colonial para permitir estender a ação do executivo aos vários domínios da vida política,
econômica e social, nomeadamente: extrema centralização na capital do País do poder político e administrativo; as
grandes transformações na organização político-administrativa caracterizaram-se pela criação de assembleias eleitas a
nível local e conselhos executivos e Governos Provinciais com forte dependência central; continuam, mesmo assim, a
basear-se essencialmente em governadores e administradores locais nomeados pelo poder central”.
47
como os chefes dos grupos de aldeias eram nomeados de acordo com as leis de
sucessão hereditária, eles dependiam em grande parte da confirmação do
governo colonial (Cau, 2004).
48
estava virado para o sector planificado, como se pode ver na figura 1. Segundo
Mosca e Oppenheimer (2005, p. 292) a distribuição de recursos estava
“centralizada no plano, beneficiando os sectores planificados e marginalizando os
não planificados”, reduzindo assim a capacidade de desenvolvimento de
pequenos e médios produtores.
Não foi fácil neste período segurar a economia do país durante muito tempo,
fazendo com a população sinta a necessidade de se autossustentar, sem
depender dos esforços do Estado.
49
5.4. Liberalização, e reformas do Estado
Várias mudanças foram ocorrendo nos finais do século XX, mais para
perceber a dinâmica destas mudanças, Carothers (2002) traz-nos de uma forma
resumida os principais acontecimentos que marcaram o mundo no concernente a
transição e as reformas dos Estados. Ora Vejamos: No último trimestre do séc.
XX ocorreram tendências e mudanças importantes em termos de regimes
políticos em diferentes partes do mundo, nomeadamente a queda de regimes
autoritários do Sul da Europa nos meados dos anos 1970, a substituição das
ditaduras militares por governos civis eleitos na América Latina a partir dos finais
dos anos 1970 e meados dos anos 1980, o colapso dos regimes comunistas da
Europa do Leste nos finais dos anos 1980, a constituição de 15 repúblicas pós-
soviéticas em 1991, na sequência da queda da URSS, o declínio de regimes de
partido-único na África subsaariana e alguma tendência de liberalização de alguns
países do Médio Oriente nos anos 1990 (Carothers, 2002).
Por isso que autores como Huntngton, (1991) citado por Forquilha e Orre
(2011) não hesita em designar “as reformas políticas desencadeadas na maior
parte dos países da África subsaariana nos finais dos anos 1980 e começos dos
anos 1990 como a “terceira vaga de democratização” (Forquilha & Orre, 2011).
Segundo (Olowu & Wunsch, 2004) citado por Forquilha (2008, p. 2) 12, “as
reformas de descentralização na África subsaariana ocorridas nos anos 80,
aparecem associadas ao fenómeno da liberalização política e ao processo de
democratização, como consequência de uma série de fatores, como por exemplo,
as crises económicas e políticas, as pressões dos doadores para a boa
governação, a urbanização crescente, entre outros”. No caso de Moçambique,
este processo tornou-se um dos elementos fundamentais do próprio processo de
reforma do Estado, destacado pela participação dos cidadãos na administração e
desenvolvimento a nível local pelo melhoramento dos mecanismos de
funcionamento do Estado (Forquilha, 2008).
12
Artigo disponível em http://cea.revues.org/187
50
O ano de 1986 é considerado em Moçambique como o momento que marca
o início da segunda fase da reforma do Estado em que deu-se o início do
processo de reformas económicas, políticas e sociais, que desenvolveram com a
revisão profunda do modelo político implantado após a independência nacional,
no sentido de adequar-se as exigências da conjuntura internacional, que tendia
adotar e realçar a eficiência do modelo liberal para o progresso das sociedades.
Nesta etapa, a planificação central, foi substituída pela economia do mercado,
que se assenta na iniciativa privada; o Estado socialista foi substituído por um
outro a favor de um Estado gradualmente descentralizado e que revoga a
separação tripartidária do poder do Estado em executivo, legislativo e judiciário
(Nyakada, 2008).
51
querer recupera-la, as famílias foram encontrando formas próprias de
sobrevivência e alternativas de organização social”, considerando-se neste caso,
que as comunidades tradicionais como decisivos na sobrevivência da comunidade
local durante os tempos de guerra (Abrahamsson & Nilsson, 1994).
13
Fruto da realização do 5º congresso da frelimo
52
Melhorar a eficiência e estabelecer condições para um progresso a níveis
mais elevados do crescimento económico;
Reintegrar os mercados paralelos e oficiais;
Restaurar a disciplina financeira nas relações com os parceiros comerciais
e os credores (Brochmann, Ofstad, Adam, Eriksen, & Hermele, 1990, p. 34)
53
severas na fase inicial e suaves no segundo período, que gerou instabilidade e
rotura de funcionamento, dado que não existiam fluxos de recursos externos
suficientes para cobrir igualar ao ritmo do ajustamento causado pela insuficiente
capacidade técnica e falta de unidade política. Por isso mesmo que Lalá e
Ostheimer (2003) são duros em dizer que Programa de Reabilitação Económica
(PRE) implementado a partir de 1986 não obtinha sucesso no alívio à pobreza
das populações (Lalá & Ostheimer, 2003, p. 6).
54
aos sectores sociais cresceram, passando este a representar uma despesa de
23% dos doadores que representou um crescimento de 11% comparativamente
ao período de 1987/89 (Mosca & Oppenheimer, 2005, pp. 350-351).
55
No caso de Moçambique, Forquilha e Orre (2011, pp. 36-37) referem que
“…a transição política de Moçambique ocorrida nos finais dos anos 1980 e
começos dos anos 1990 esteve profundamente ligada ao fim da guerra civil. Com
o efeito, os acordos de paz assinados pelo governo da Frelimo e pela Renamo em
1992 na Cidade de Roma (Itália), colocaram as bases políticas e jurídicas que
moldaram significativamente o contexto subsequente”. “… Os acordos de paz, na
prática, eram uma carta de transição política para Moçambique, na medida em
que tratavam não só de questões militares, tais como o cessar-fogo, a
desmilitarização e a formação do novo exército, como também das bases do
processo de democratização do país, nomeadamente os critérios e modalidades
de formação dos partidos políticos, as questões eleitorais e a garantia das
liberdades fundamentais sob o plano constitucional…” (Forquilha & Orre, 2011,
pp. 36-37).
56
a divida interna que subiram de 270 para 692 biliões de meticais no período
compreendido entre 2001 e 2002 (Lalá & Ostheimer, 2003, p. 50).
Por sua vez, FARIA et al. (1999) referem que as dificuldades do processo de
descentralização em Moçambique não derivam apenas das resistências e
diferenças políticas internas. Portanto, existe outros fatores que contribuem
grandemente no alcance, na extensão e no sucesso da descentralização que,
dentre eles, os autores destacam-se os seguintes: participação dos cidadãos;
disponibilidade de recursos financeiros; o respeito pelas práticas democráticas na
gestão do desenvolvimento e o respeito das capacidades.
57
modo 43 municípios e todos localizados nas áreas urbanas do país e em 2013
introduzindo 10 novos municípios, que se encontravam também em melhores
condições de continuar com o modelo, como foi descrito acima e obedecendo
assim o principio de gradualismo que foi a base da implementação dos municípios
no país.
58
No ano 2000, depois da realização das primeiras eleições gerais em 1994,
Moçambique introduziu o sistema de líderes comunitários (Gonçalves, 2006),
dado o papel que estes desempenham na sociedade. Em contrapartida, a
intervenção ou o papel destes havia sido descredibilizado logo após a
independência do país, julgando os de serem arcaicos que só depois dos acordos
de paz as autoridades tradicionais voltaram a ser reconhecidas no governo
democrático.
59
do Estado, com o objetivo de organizar a participação dos cidadãos na solução
dos problemas próprios da sua comunidade.
60
e desporto, polícia da autarquia, urbanização construção e habitação” (N. d. J. V.
Canhanga, 2009, p. 14).
61
intervencionista no processo de democratização, bem como a redução da sua
dependência relativamente aos doadores, ao governo e aos partidos políticos, por
forma a contribuir genuinamente na procura de soluções para os problemas do
país (Lalá & Ostheimer, 2003, p. 35), garantindo assim a liberdade e
independência na execução das suas funções.
62
De uma forma resumida e esquemática, os modelos de governação
implementados em Moçambique podem são descritos no quadro abaixo.
63
6. ANÁLISE DOS MODELOS IMPLEMENTADOS EM MOÇAMBIQUE
64
Este controlo desigual dos recursos políticos é uma das características dos
sistemas políticos, podendo neste caso, com a acumulação dos recursos,
aumentar a possibilidade de uma pessoa “influenciar o comportamento de outrem”
(Forquilha, 2008, p. 9). Contudo, no âmbito de aumentar os recursos políticos, é
frequente ocorrer alianças entre os partidos e os chefes tradicionais, através dos
secretários dos bairros, do chefe de 10 casas e os régulos, surgindo assim o
clientelismo
65
Cabral (2011) lembra-nos a necessidade de haver uma distinção clara entre
as funções do governo central e as do governo local para evitar conflitos e para se
poder responsabilizar.
Para colmatar esta situação, cria-se a lei dos órgãos locais do Estado
(LOLE) pela Lei 08/2003. Em 2005 cria-se pelo decreto 11/2005 define-se o
14
Os sem voz são aqueles indivíduos que são tidos como não tendo poder de influenciar na decisão. Muitas
das vezes, esses mesmos são excluídos de participar nos encontros com as líderes e os chefes locais. O
grupo mais propenso a este tipo de situação são os mais pobres, os ditos feiticeiros entre outros.
66
distrito como polo de desenvolvimento. É neste contexto de fazer os distritos
donos do seu próprio desenvolvimento que se criou o Orçamento de Investimento
e Iniciativas Locais (OIIL) mais conhecido como “fundo de 7 milhões” 15. Este
fundo destina-se a incentivar a criação de atividades de rendimento e criação de
emprego para os mais desfavorecidos dos distritos, criando assim um incentivo
para a participação dos beneficiários destes fundos no desenvolvimento local.
15
Valor em metical, equivalente a 175 000 Euros por cada um dos 128 distritos.
67
6.2. Governação local e prestação de serviço
Não se pode olhar a governação local como coisa única, dado que existem
vários intervenientes neste processo. Daí que Shah (2006, p. 2) argumenta que a
presença de uma vasta rede de entidades envolvidas na prestação de serviços
locais ou questões de qualidade de vida faz com que seja pouco realista para
tratar do governo local como uma entidade única.
68
O acesso a informação depende da participação. Evidências em África
mostraram que muitas vezes a decisão saem das estruturas de poder local e não
da população no geral, facto este que faz com que haja ainda grupos
desfavorecidos (Chambers, 1983). Ainda assim, há países como é o caso de
Moçambique que introduzem sistemas de quotas na participação garantindo
assim a participação daquilo que Chambers (1983) chama dos sem voz na
tomada de decisão. Mais essa participação enfrenta sempre obstáculos, visto que
mesmo os sem vozes terem influência substancial na tomada de decisão local,
ainda não tem autoridade e autoconfiança de participar em pé de igualdade com
os outros (Conyers, 2007, p. 23).
69
local, o município de Manhiça com a fábrica de açúcar da Manhiça, o município
do dondo com a fábrica de cimento local e, a o município de Maputo que já
celebrou 12 contratos no total de 7 milhões de meticais (175 mil Euros).
Referir que com estas parcerias os municípios estão num bom caminho,
seria um erro, pois num total de 43 municípios, poucos é que conseguiram de
facto criar estas parcerias, facto que faz concluir que estamos muito abaixo das
linhas ideias traçadas a quando da implantação dos municípios.
Pode se dizer com toda a firmeza que a tendência atual a nível dos
municípios é mais a recentralização do que descentralização ou devolução
embora as atribuições deste tenham aumentado nos últimos anos. Ora vejamos:
70
Segundo: A falta de meios e receitas para a realização das tarefas acima
referidas denigre a “função local” do município, pois este passará sempre a
depender do governo central para a realização destas atividades e o líder do
município passa a não líder, pois este fica cada vez mais com menos influência
nas decisões locais.
71
Verifica-se porém a falta de cultura na prestação de contas dos municípios
para a população. Este facto também deve-se a pouca exigência da população
associada a sua pouca participação e pouco conhecimento das atividades
desenvolvidas pelo município.
72
7. CONCLUSÃO
Com este estudo procuramos tecer uma análise sobre a evolução do modelo
de governação local em Moçambique, partindo duma perspetiva comparativista
com outras abordagens sobre a génese e desenvolvimento dos modelos de
governação local em outros contextos africanos. Para este propósito fez-se uma
contextualização desses modelos desde os tempos que a comunidade local tinha
formas próprias de governação e o poder local estava assentado em crenças.
73
de se implantar em todo o território nacional e sobrepunha-se a todas as formas
de organização da sociedade. Este sistema centralizado não permaneceu por
muito tempo, devido a queda do sistema socialista, para além de que
Moçambique submete-se a uma guerra civil de 16 anos (1976-1992), terminada
com a assinatura dos acordos gerais de paz (1992) e a consequente implantação
do multipartidarismo que deu lugar a realização das primeiras eleições gerais em
1994.
Assim, para que haja uma boa governação dos municípios de Moçambique
torna-se necessário que haja uma mudança clara do Estado implementador para
um Estado regulador. Esta visão é sustentada pelo pacote legislativo autárquico
que, como mencionado, abre um espaço na busca de uma verdadeira autonomia
dos municípios.
74
Em linhas gerais, o passo importante não é só a devolução de poderes para
o nível local e a formação de autarquias locais, mais sim, garantir que elas
funcionem efetivamente e que a sociedade civil e a população em geral possam
participar ativamente na construção e desenvolvimento das suas próprias
comunidades. E isso implica proporcionalmente uma autonomia financeira dos
próprias autarquias relativamente ao Governo Central, o que até agora não se
verifica.
75
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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