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Curso

EDUCAÇÃO ESPECIAL E
INCLUSIVA

Disciplina
METODOLOGIA DA PESQUISA
Curso
EDUCAÇÃO ESPECIAL
E INCLUSIVA
Disciplina
METODOLOGIA DA
PESQUISA

Vilson CARVALHO

www.avm.edu.br
Olá! Me chamo VILSON SÉRGIO DE CARVALHO e para os que
ainda não me conhecem, atuo no Instituto AVM desde 1996, dando
aulas nos cursos presenciais de pós-graduação e como membro da
equipe pedagógica de diferentes cursos na modalidade a distância.
Formei-me em Psicologia pela UFRJ, universidade onde conclui meu
bacharelado, licenciatura e mestrado em psicossociologia de
Comunidades e Ecologia Social. Posteriormente conclui meu
doutoramento em Ecologia Social também pela UFRJ, abordando
questões que envolvem as inter-relações entre o homem e seu
ambiente sob uma ótica interdisciplinar ecossistêmica marcada pela
Sobre o autor

complexidade.
De modo mais concreto já faz algum tempo que a pesquisa
científica ocupa a minha vida, desde meu 5º período de minha
graduação em Psicologia, onde trabalhei como bolsista de pesquisa
pela FAPERJ e mais tarde pelo CNPq. Trabalhei vários anos como
pesquisador na UFRJ e na PUC e ainda hoje, após meu
doutoramento, a pesquisa continua fazendo parte do meu dia-a-dia
nas áreas de Educação Ambiental e Educação a Distância. Minha
paixão pela pesquisa é explicada pelo fato de que o trabalho nessa
área é extremamente enriquecedor e fascinante, tendo um papel
fundamental na descoberta de novos caminhos e respostas para as
demandas e angústias da sociedade. Desenvolvida com seriedade e
responsabilidade ela contribui de forma singular para o
desenvolvimento científico-tecnológico, a renovação do ensino e a
qualidade de vida de uma nação.
Que esse caderno possa incentivar você a conhecer e se dedicar
mais à pesquisa dentro e fora do seu âmbito de formação. Tenha
certeza de que nenhum assunto está totalmente fechado em
termos de conhecimento, sempre há algo novo a desvendar,
sempre existem questões a serem respondidas, e sempre é
possível ver as coisas sob uma nova perspectiva. A pesquisa nos
ensina isso. Experimente!
07 Apresentação

Aula 1
09 Reflexões sobre o conhecimento

Aula 2
25 O valor do estudo

Aula 3
41 Afinal, o que é pesquisa?
Sumário

Aula 4
65 O delineamento da pesquisa
científica

Aula 5
97 A opção pela pesquisa de campo

Aula 6
119 O plano de pesquisa

Aula 7
143 Ética e pesquisa universitária

157 Plano de Pesquisa

159 Referências bibliográficas


2008.2
CADERNO DE
ESTUDOS
Metodologia da
Pesquisa

Metodologia da Pesquisa é uma disciplina construída a partir do


princípio de que não existe produção de conhecimento científico,
senão através da pesquisa. Daí a necessidade de conhecermos os
Apresentação

fundamentos e práticas metodológicas voltadas para a formação


de um pesquisador de qualquer área. Ela pretende dar a você a
chance de estudar diferentes estratégias e táticas indicadas nas
diferentes fases do método científico: da problematização e coleta
de dados até a possível comprovação ou não das hipóteses
formuladas. No decorrer das aulas iremos analisar a produção
científica em seus dois níveis: no âmbito da subjetividade do
produtor do conhecimento e no âmbito da objetividade, ou seja,
da ciência como instituição e prática social de um saber construído
sob determinados moldes. Tenha a certeza de que sua pós-
graduação seria incompleta se não tivéssemos oportunidade de
caminhar nas veredas da investigação e da pesquisa. Por isso
mesmo, desejamos a você uma excelente caminhada! Lembre-se
de que você não está sozinho. Que a trilha comece...

Este caderno de estudos tem como objetivos:


Objetivos gerais

 Conhecer o que seja pesquisa, sua importância para o


desenvolvimento científico bem como para responder a
várias demandas sociais;
 Refletir sobre diferentes técnicas de estudo e coleta de dados
com dicas práticas para vencer os desafios impostos pelo
exercício da pesquisa;
 Analisar alguns dos principais tipos de pesquisa de modo a
auxiliá-lo no processo de elaboração de trabalhos científicos
e avaliação de pesquisas já efetivadas;
 E, por fim, auxiliá-lo na elaboração de seu plano de pesquisa e,
conseqüentemente, na construção de sua monografia.
1

AULA
Reflexões sobre o
Conhecimento
Apresentação

Nesta primeira aula aprenderemos mais sobre o que seja


conhecimento e as diferentes formas de conhecer. Além disso,
teremos a chance de estudar a ciência como um conjunto de
conhecimentos racionais, provisórios, obtidos metodicamente,
sistematizados, verificáveis, expressos lógica e dedutivamente
justificados por outros enunciados, para explicar, descrever e
prever a realidade dos fenômenos.
No decorrer desta aula, destacar-se-á a idéia de que a ciência não
é um saber absoluto e sim um saber relativo às circunstâncias em
que foi produzido a partir de um determinado objeto de estudo.
Atente a esses pontos e bom estudo!

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Compreender melhor o que significa conhecer e analisar os


diferentes tipos de conhecimento existentes;
 Distinguir com clareza as diferenças entre o conhecimento
científico e o chamado senso comum;
 Ajudá-lo a refletir sobre até que ponto você tem adotado o
espírito científico em suas posturas e práticas como estudantes
e pesquisador.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 10

O conhecimento

Dica de
leitura Comecemos nosso caderno com uma reflexão
sobre conhecimento. É possível entender o
Para um conhecimento como o pensamento resultante da
aprofundamento
ainda maior sobre o relação que se estabelece entre o sujeito que conhece
conceito de
conhecimento seria (cognoscente) e o objeto a ser conhecido (cognoscível).
válido consultar
outras obras sobre o O sujeito é o ser humano e o objeto parte da realidade
tema, especialmente
de Filosofia e de com a qual convivemos ou do próprio homem. Assim é
Metodologia da
Pesquisa. possível afirmar que o conhecimento não nasce do
Veja abaixo alguns
vazio e sim das experiências que acumulamos em
bons exemplos:
nossa vida cotidiana, através de experiências, dos
ABBAGNANO, N.
Dicionário de relacionamentos interpessoais, das leituras de livros e
Filosofia. São Paulo:
Mestre Jou, 1982; artigos diversos. O conhecimento é diferente de uma
CERVO, A.e Bervian, informação (dado bruto), ele é uma reflexão sobre a
P. Metodologia
Científica. São informação e sua riqueza. É sabido que as nações que
Paulo: Prentice Hall,
2002. conseguem se desenvolver mais e melhor são também

LAKATOS, E. &
as que valorizam a produção e a disseminação de
Marconi, M.
conhecimento.
Metodologia da
Pesquisa. São Paulo:
Atlas, 1983.
Vale ressaltar que o homem se distingue dos
demais seres vivos, de forma particular, pela
possibilidade de conhecer. Diferentemente de outros
animais, o homem é o único ser que possui razão, ou
seja, o homem tem a faculdade de avaliar, julgar,
ponderar idéias universais, estabelecer relações lógicas
de conhecer, de compreender, de raciocinar, sendo
também a capacidade de relacionar e ir além da
realidade imediata. De fato, os seres humanos são os
únicos capazes de criar e transformar o conhecimento;
de aplicar o que aprendem por diversos meios; os
únicos capazes de criar um sistema de símbolos, como
a linguagem, e com ele registrar nossas próprias
experiências dividindo-as com outros seres humanos.

De modo geral o desejo de conhecer as coisas é


inato se manifestando desde os primeiros anos de vida.
Ao entrar em contato com a realidade, o ser humano
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 11

imediatamente apreende essa realidade em relação ao


seu “EU”, à cultura e à história. O processo de conhecer
se manifesta de maneira tão natural que em alguns
momentos nem sequer nos damos conta de sua
complexidade. Desde cedo, nossos pais e professores
nos mostram a necessidade de aprender e conhecer o
mundo, e mais tarde, da necessidade de auto-
conhecimento. Neste complexo processo, somos
inseridos na “engrenagem” do conhecimento do mundo
considerado real, sem então entendermos claramente o
real significado de CONHECER. Valendo-se de suas
capacidades cognitivas, o ser humano manifesta o
desejo de conhecer o mundo em que se encontra
inserido.
Para refletir

Por ser fruto de uma relação entre sujeito e


objeto, o conhecimento é sempre relativo. Supõe um É bem provável que
você também tenha
ponto de vista, certos instrumentos e também limites suas crenças de
ordem religiosa ou
do sujeito que conhece. O conhecimento absoluto é não. Você já parou
para pensar o
impossível, pois sua possibilidade implicaria num quanto elas
influenciam em sua
sujeito sem limites – nem mesmo pessoais ou sócio- percepção das
coisas?
históricos (Aranha e Martins, 2005). Isso fica ainda
mais claro quando nos deparamos com pessoas que
privilegiam suas crenças religiosas em relação a
qualquer outro conhecimento. Ou quando privilegiam o
conhecimento a partir da autoridade dos pais,
professores, governantes, líderes entre outros, lhes
conferindo credibilidade. Também os educadores e
filósofos proporcionam importantes elementos para o
entendimento do mundo. Porém, à medida que Para pensar
interagimos na relação com o mundo, com os inúmeros
campos e formas de conhecimento, entramos num Uma das grandes
funções da educação
emaranhado de conceitos e muitas vezes questionamos seria a de permitir
ao educando,
a validade daquilo que anteriormente aceitamos como através do trabalho
de formação de uma
verdade. consciência critica
um novo olhar sobre
a realidade. O que
você pensa sobre
Segundo Hessem (1999) pode-se afirmar que isso?
existem cinco grandes formas de entender a relação entre
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 12

o sujeito e o objeto, visando à construção de


conhecimento:
Você sabia?

 O objetivismo defende que o objeto


No decorrer da
história muitos determina o sujeito e influencia na construção
filósofos deram
primazia a um dos
de conhecimento do sujeito.
dois pólos na relação
de conhecimento ao
sujeito ou ao objeto.  O subjetivismo, contrário ao objetivismo,
Isso fica claro ao
estudarmos essas
defende que a construção de conhecimento se
cinco formas de dá no próprio sujeito (consciência em geral),
conhecimento
relatadas por pois é o próprio sujeito que produz e dá
Hessem (1999)
destacadas nessa forma ao objeto.
página.

 O realismo sustenta a tese de que o objeto


existe independentemente do sujeito. O
objeto é o ponto de partida do ato do
conhecimento. A independência dos objetos,
em relação à consciência do homem é real,
uma vez que o objeto pode modificar-se
independentemente da ação do homem.

 O idealismo, contrário ao realismo, defende


que não existem objetos reais, independentes
da consciência do homem, mas sim como um
produto do pensamento do homem. Vai-se do
pensamento para a análise do objeto;

 O fenomenalismo, por sua vez, estabelece


uma relação entre o realismo e o idealismo,
pois considera que os objetos existem por

Dica do meio da nossa consciência, mais do que isso,


professor
é moldado pela própria consciência do sujeito.

Dedique especial Existem diferentes tipos de conhecimento.


atenção aos
diferentes tipos de Vejamos aqui alguns dos mais conhecidos:
conhecimento
assinalados, pois
este assunto será
essencial para CONHECIMENTO INTUITIVO
compreender de
uma forma mais
ampla o que seja
O termo “intuição” tem sua origem no latim in
ciência.
tueri e significa “ver em”, “contemplar”. Na verdade a
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 13

intuição é uma modalidade de conhecimento que, pela


característica de tentar entender o objeto sem “meio”
ou intermediários das comparações, assemelha-se ao
fenômeno do conhecimento sensorial, especialmente da
visão. Contudo o conhecimento intuitivo é de ordem
subjetiva e não empírica.

Para Aristóteles o ser humano pode e consegue


conhecer as coisas que o cerca justamente porque tem
uma capacidade para enxergar e intuir os princípios que
regem os fenômenos. É dotado de uma visão interior,
que se traduz por uma capacidade de ver o que é
essencial dentro dos dados da experiência sensorial.
Essa visão poderia ser definida como intuição.

É fácil entender uma intuição sensorial. Quando


pensamos que os sentidos não analisam, não
comparam e não julgam, por exemplo, o conhecimento
que se tem da temperatura da água de uma vasilha em
temperatura ambiente. Contudo, através da intuição
temos uma idéia da temperatura no instante em que se
a toca com a mão; outro exemplo é a emoção do
prazer que se experimenta em uma determinada
situação. Trata-se de um dado de experiência interna
apreendido imediatamente e que associamos a outras
experiências de modo intuitivo.
Você sabia?

A percepção, cujo objeto passa para a mente


A palavra saber vem
sem necessidade de um conhecimento prévio, tem sua
do latim “sapere”
origem na experimentação e no sentir mediante as que também
significa sabor.
sensações transmitidas pelos órgãos dos sentidos: Portanto, aprender
algo pode muito
visão, audição, tato, gustação e olfato; a este processo bem ser comparado
como saborear algo
denominado conhecimento intuitivo sensorial. como destaca
Rubem Alves.

Entretanto, o conhecimento intuitivo sensorial


não se realiza exclusivamente pela experiência de
fenômenos externos, visto que existe outra experiência
interna, a qual denominamos de reflexão, que pode ser
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 14

entendida como a ação de examinar o conteúdo por


meio do entendimento, da razão.

A experiência externa utiliza os órgãos dos


sentidos para a apreensão do objeto e a experiência
interna limita-se a comparar os diferentes dados da
experiência externa. Contudo é possível através da
reflexão intuir (ter uma idéia) se fará sol ou chuva ou
ainda se alguém concordará conosco ou não.
Evidentemente, como qualquer tipo de conhecimento,
ele poderá ser verídico ou não. Só o tempo e a
experiência dirão se a intuição foi verdadeira ou falsa.

Dentre as vantagens desse tipo de conhecimento


poderíamos destacar:

 A possibilidade de formular juízos e idéias


rápidas diante de situações que exigem
agilidade independente das experiências
sensoriais;

 Permitir que o homem vá além das


experiências sensíveis formulando juízos com
base em experiências anteriores ou no bom
senso;

 Favorecer o pensamento através de uma


reflexão interior.

CONHECIMENTO EMPÍRICO OU DE SENSO COMUM

Importante
Também conhecido como conhecimento sensório
ou vulgar, o conhecimento empírico é o conhecimento
Para os empiristas
não existe popular. Nesse caso o universo dos objetos físicos é
conhecimento a
priori, sendo a única conhecido pela sensação de suas características. Trata-
fonte de
conhecimento a se de um conhecimento que se obtêm ao acaso, ele não
experiência
sensorial. é metódico ou sistemático, resultando muitas vezes em
diversas tentativas de ensaio e erro. Todo ser humano,
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 15

no transcurso de sua existência, vai acumulando


conhecimentos daquilo que viu, ouviu, provou, cheirou
e pegou; vai acumulando vivências,vai interiorizando as
tradições da cultura da comunidade.
Você sabia?

Na verdade, estas experiências que não


Durante um longo
atendem critérios e sistemas são ingênuas por sua
período de tempo a
visão global e, sobretudo, desprovidas de críticas e ciência priorizou o
conhecimento
demonstrações, porém oferecem informações de científico em
detrimento do
tradições dispensando as análises de credenciais de conhecimento dito
vulgar. Contudo,
testemunhos, embasando-se nos fundamentos das hoje sabe-se que
sérias pesquisas no
crenças tradicionais de uma comunidade. campo científico só
foram possíveis
graças a
constatações do
É óbvio que todo ser humano bem informado senso comum.
traz consigo “conhecimentos” de “psicologia”,
“farmacologia”, especialmente algumas mulheres que
já tiveram filhos, se vêem “habilitadas” para dar
gratuitamente “consultas” e “receitas infalíveis” para as
cólicas do recém-nascido e para qualquer dor de
cabeça, tem conhecimento de um comprimido ou chá
eficaz para o alívio; entretanto, ignoram a composição
do comprimido, a natureza da dor de cabeça e a ação
do medicamento. E é isto que caracteriza o
conhecimento vulgar ou empírico, pois o conhecimento :: Teorias:
das coisas ocorre superficialmente, seja por informação
ou experiência casual (ações não planejadas). Nome dado ao
sistema organizado
de leis, hipóteses,
conceitos, definições
Cabe ressaltar que, para qualquer homem, a interligadas e
coerentes.
porção maior de seus conhecimentos pertence à classe A teoria especifica a
causa ou mecanismo
do conhecimento vulgar. Ninguém precisa estudar subjacente
responsável pela
lógica e aprofundar-se em teorias sobre validação regularidade
descrita na lei.
científica da indução ou nas leis mais formais do
raciocínio dedutivo para ser natural e vulgarmente Ex: Teoria
Geocêntrica
lógico; ninguém precisa devotar-se aos estudos mais sustentada por
Aristóteles, Euclides
avançados da psicologia e qualquer outra ciência de e Ptolomeu, que foi
substituída pela
saúde para integrar-se na família, no trabalho, na Teoria Heliocêntrica
sustentada por
sociedade; ninguém precisa ser teólogo para adotar Copérnico e Galileu.

uma religião e ter suas convicções mais profundas da


Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 16

ciência, uma vez que as convicções são subjetivas e se


traduzem por uma absoluta fixação de enunciados
evidentes ou não, verdadeiros ou não.
Dica do
professor
Vejamos alguns exemplos de aplicações
Um exemplo muito resultantes do conhecimento Empírico:
simples desse tipo
conhecimento seria
o seguinte:
A chave está  A invenção da roda;
emperrando na
fechadura e, de  A descoberta do fogo;
tanto
experimentarmos  A medicina popular.
formas de abrir a
porta, acabamos por
descobrir (conhecer)
CONHECIMENTO FILOSÓFICO
um jeitinho de girar
a chave sem
emperrar.
A palavra “filosofia” tem sido empregada com
significados muito diferentes entre si. O significado
etimológico rigoroso da palavra de origem grega; quer
dizer “amor ao conhecimento”. A tarefa básica do
conhecimento filosófico é a reflexão continuada. Os
antigos gregos chamavam de “filósofos” aqueles
Dica de
leitura homens mais sábios, que apresentavam as explicações
mais razoáveis na sua época para os mistérios da
Para ter acesso a natureza, do pensamento, do universo.
uma leitura facilitada
sobre o tema leia a
obra:
O conhecimento filosófico é caracterizado pela
CORDI, C. et al. Para
Filosofar. São Paulo: coerência lógica da argumentação, isto é, da trama dos
Scipione, 1996.
conceitos articulados em determinada formulação de
idéias. Na construção desse tipo de conhecimento não
há necessidade de uma confirmação experimental. Ele
se distingue do conhecimento científico pelo objeto de
investigação – constituído por realidades que muitas
:: Método: vezes escapam aos sentidos e a experiência – e pelo
método que se baseia basicamente na interrogação
A palavra método continuada.
originou-se do grego
“methodos”, que
significa caminho.
A Filosofia procura compreender a realidade em
seu contexto mais universal. Não traz soluções
definitivas para o grande número de questões, contudo
leva o ser humano a fazer uso de suas faculdades para
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 17

ver melhor o sentido da vida (Cervo e Berviam, 2002).


O campo da filosofia ultrapassa o campo de todas as
ciências. Sua dimensão totalizadora abarca todas as
ciências sem, contudo, pretender substituí-las no
estudo particular de seus objetos específicos.
Importante

Veja alguns exemplos de aplicações decorrentes


Ao contrário dos
do conhecimento Filosófico: empiristas, os
racionalistas
defendem que o
 A Matemática; verdadeiro
conhecimento não é
 A Teoria do Conhecimento; fruto de uma
experiência
 A Lógica. sensorial, mas se dá
através de uma
argumentação
racional baseada em
CONHECIMENTO TEOLÓGICO OU DE FÉ axiomas.

O conhecimento teológico ou de fé se detém na


opinião de terceiros, de modo especial através da
chamada “revelação”. Existem objetos da realidade a
nossa volta que escapam tanto aos nossos sentidos
quanto ao nosso raciocínio, impedindo assim, que deles
tenhamos dados empíricos ou lógicos. Por exemplo:
não sabemos ao certo o que alguém está pensando ou
sentindo, assim como não sabemos o que acontecerá
conosco depois de nossa morte biológica. Nesses casos
lidamos com essa realidade através da opinião de
terceiros (revelação) aceita como verdade.
Importante

O conhecimento revelado ocorre quando há algo


oculto ou um mistério. Aquele que manifesta o oculto é Este tipo de
conhecimento é
o revelador – que pode ser o homem ou o próprio adquirido a partir
dos axiomas da fé
Deus. Em geral a fé teológica está ligada a alguém que teológica. É fruto da
revelação com uma
testemunha Deus diante de outras pessoas, isto é, divindade
diretamente ou
alguém que vive o mistério divino, que tem através de
indivíduos
conhecimento dele e o revele a outra pessoa. Um igreja inspirados.
seria constituída por um conjunto de pessoas que vive
esse milagre, acredita no mesmo e dá testemunho
deste a outros.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 18

As verdades do conhecimento teológico estão


dispostas em textos como a Bíblia e o Alcorão, ou
ainda na tradição que nos é transmitida por terceiros.
Não adianta queremos buscar evidências para a
Eucaristia ou a realização de um milagre. Ou se
acredita naquilo, através dos textos sagrados, como
dogma, isto é uma verdade inquestionável, ou não.
:: Alcorão:
Como afirma Ruiz (1980):
O Alcorão é o livro
sagrado dos
Se tudo o que está na Bíblia encerra a
muçulmanos e a
Bíblia o livro sagrado própria ciência divina comunicada por
dos cristãos. Deus aos homens; se Deus merece
todo crédito e exige que os homens
revelem sua palavra, que não se
procure a evidência dos conteúdos da
revelação divina, mas que se aceite o
dogma porque assim foi divinamente
revelado.
(p. 33)

O conhecimento teológico supõe uma autoridade


e uma lógica acima da compreensão humana, isto é,
uma lógica e uma compreensão divinas. A teologia não
demonstra o dogma, clama para a autoridade divina
que o revelou e exige um voto de confiança (fé). A
:: Ciência:
teologia mostra a existência e a necessidade de uma

Segundo Ander-Egg especial iluminação divina para que o fiel consiga


(1991):
“A ciência é um
conhecer a verdade divina da revelação. A fonte e o
conjunto de
objeto de estudos da teologia são os livros sagrados.
conhecimentos
racionais, certos ou
prováveis, obtidos
metodicamente, A ciência, nascida da razão, só admite o que foi
sistematizados e
verificáveis, que provado, na exata medida em que se podem comprovar
fazem referência a
objetos de uma experimentalmente, promovendo desta forma, o
mesma natureza”.
(Ander-Egg apud conhecimento, a partir da evidência dos fatos. A
Lakatos, p. 15)
Para Trujillo (1982): Filosofia por sua vez também valoriza a lógica e os
“A ciência é todo um
conjunto de atitudes
dados racionais. Já o conhecimento teológico exige a fé
e atividades
que brota do desejo e da submissão, a partir da
racionais, dirigidas
ao sistemático autoridade divina. Por isso tanto a ciência quanto a
conhecimento com
objeto limitado Filosofia, não se baseiam no conhecimento de fé.
capaz de
ser submetido à
verificação”.
(p. 8). Como contribuições advindas do conhecimento
teológico ou religioso poderíamos citar:
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 19

 O desenvolvimento dos valores morais;


 A criação de princípios e teses sobre o sentido
da vida;
 O cultivo da caridade e da esperança.

CONHECIMENTO CIENTÍFICO
:: Leis:

O conhecimento científico vai além do fenômeno


em si, se voltando para suas leis, causas e Regras de como a
natureza se
conseqüências, através capacidade de analisar, de comporta.
Enunciados
explicar, de desdobrar, de justificar; de induzir ou generalizadores que
descrevem relações
aplicar leis, de predizer com significativa e em alguns constantes entre os
fenômenos.
fenômenos com absoluta margem de segurança, Ex: Lei da queda
livre, Leis de
eventos futuros. Newton, Lei da
Conservação da
Matéria
Para Cervo e Berviam (2002), até a Renascença
o conhecimento científico era tido como o conhecimento
obtido a partir de um rígido sistema de proposições
rigorosamente demonstradas, constantes e gerais que
expressavam as relações existentes entre os seres
vivos. Trata-se de um conhecimento resultante da
demonstração e da experimentação que só aceitava
como verdadeiro aquilo que fosse comprovado. Hoje a
concepção de ciência mudou. É óbvio que ela contínua
valorizando a razão, a sistematização e a comprovação
através da pesquisa, contudo sabe-se que a ciência não
é algo acabado, definitivo e infalível. Não sendo de
forma nenhuma “a posse de verdades imutáveis” (p.
9). Dica do
professor

Atualmente a ciência é entendida como:


Atente para cada
uma dessas
uma busca constante de explicações e características
de soluções, de revisão e de citadas nessa
reavaliação de seus resultados, apesar página. Certamente
de sua falibilidade e de seus limites. você as utilizará no
desenvolvimento de
(Id., p. 10) seus trabalhos
acadêmicos, como a
Citaremos algumas características do monografia que irá
elaborar.
conhecimento científico:
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 20

 Explica os fenômenos;
 É sistemático e metódico;
 É crítico, rigoroso e objetivo;
 Se consolida na certeza das leis
demonstradas;
 Procura as relações entre os componentes do
fenômeno para enunciar as leis gerais e
constantes que regem estas relações;
 Justifica e demonstra os motivos e
fundamentos de sua certeza;
 Estabelece leis válidas para todos os casos da
mesma espécie que venham a ocorrer nas
mesmas condições;
 Resulta de um processo complexo de análise
e de síntese;
 Fundamenta-se na objetividade e evidência
dos fatos.

ALGUMAS APLICAÇÕES RESULTANTES DO


CONHECIMENTO CIENTÍFICO

Nos últimos 350 anos de história da humanidade


constatamos que a Terra é um planeta; que o Sol é
uma estrela de quinta grandeza, que as órbitas dos
planetas são elípticas, que os corpos biológicos são
compostos de células, que os corpos físicos se formam
e se sustentam em várias cadeias de átomos, que a
luz é um fenômeno físico, dentre outras inúmeras
descobertas, estimamos que o homem teria de 20 a 25
mil genes dentre outras inúmeras descobertas.
Entendemos certas leis do universo e criamos
instrumentos e ferramentas que ampliaram nossos
sentidos e elevaram nossa qualidade de vida. Todas
essas descobertas e invenções servem para
exemplificar a importância do chamado ESPÍRITO
CIENTÍFICO.

SOBRE O ESPÍRITO CIENTÍFICO

O tão falado “espírito científico” pode ser


entendido como uma atitude ou disposição subjetiva
que busca constantemente novas soluções, com
métodos adequados, para problemas e interrogações
que caracterizam a pesquisa.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 21

De um modo geral o espírito científico, na


prática, traduz-se por uma mente crítica, objetiva e
racional;
Importante

A objetividade é uma característica básica do


Por isso no que se
espírito científico. O que vale não é o que o cientista refere à escrita de
qualquer trabalho
imagina ou pensa, mas sim o que realmente existe. A
acadêmico não se
objetividade do espírito científico não aceita soluções deve usar termos
como “eu acho”,
parciais ou pessoais – o “eu acho...”, ou “penso ser “penso”, “acredito”,
“deve ser isso”, pois
assim...”; não satisfazem à objetividade do saber os mesmos fogem a
objetividade
científico. científica fazendo
com que o trabalho
se assemelhe a
opiniões de senso
Para o pesquisado português Lobo Vilella comum ou crenças
pessoais.
(1959):

O que caracteriza o espírito científico é


a meticulosidade que põe na
observação dos factos, a argúcia com
que descobre analogias e relações
pouco aparentes, a disciplina com que
submete as suas interpretações à
verificação experimental, o sentido
estético da harmonia interna do
mundo, o amor desinteressado da
verdade.
(p.15-16)

QUALIDADES DO ESPÍRITO CIENTÍFICO


Dica do
professor

A partir do que aprendemos sobre o espírito


Tais qualidades
científico podemos apontar algumas de suas principais
podem ser
qualidades: traduzidas como
ferramentas que
deverão ser
empregadas por
 Virtude Intelectual: você na elaboração
de seu trabalho
Senso de observação, gosto pela precisão e monográfico ou
qualquer outro tipo
pelas idéias claras. Imaginação ousada, mas regida de trabalho científico
que pretenda
pela necessidade da prova. desenvolver.
Esperamos que
nossa disciplina
apenas reforce em
 Curiosidade:
você estas
Leva o sujeito a aprofundar os problemas na qualidades, de modo
a fortalecê-las ainda
sagacidade e poder de discernimento. mais.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 22

 Humildade:
Moralmente o espírito científico assume a atitude
de humildade e de reconhecimento de suas limitações, das
possibilidades de certos erros e acertos e enganos.

 Imparcialidade:
O espírito científico é imparcial. Não torce os
fatos. Respeita escrupulosamente os fatos.

 Não é acomodado:
Procura manter sempre em constante estado de
vigília a curiosidade e a postura investigativa necessário
ao desenvolvimento de uma pesquisa.

 Honestidade:

Para refletir Não admite como seu o que os outros já fizeram


(Plágio); busca se comprometer com a verdade dos
Quais dentre as fatos que investiga.
qualidades citadas
você considera mais
desafiadoras?  Coragem:
Que outra qualidade
você julga ser Enfrenta os obstáculos e perigos que uma
importante para os
que desejam cultivar pesquisa possa oferecer.
um espírito
científico?
Não deixe de ir  Ética:
registrando suas
reflexões. Busque Assume a atitude de humildade e de
resolver os
exercícios abaixo e reconhecimento de suas limitações, da possibilidade de
até nossa próxima
aula. cometer erros e enganos e de reconhecer outros
trabalhos científicos tão ou mais importantes do que o
seu.

EXERCÍCIO 1

A partir do que estudamos anteriormente responda as


questões abaixo:
1) O que é conhecimento?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 23

2) Qual é a importância do conhecimento científico para


o desenvolvimento da sociedade?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

3) Quais seriam as principais diferenças do


conhecimento científico em relação aos demais?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 2

Faça um resumo das principais características dos cinco


tipos de conhecimento estudados nessa aula. Esse tipo
de exercício lhe auxiliará consideravelmente a fixar o
conteúdo estudado. Experimente!
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

 Estudamos o significado de conhecimento


enquanto uma relação entre sujeito e objeto
através da análise de cinco de suas
expressões: conhecimento intuitivo, empírico,
filosófico, de fé e científico;
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 24

 Aprendemos a diferenciar e reconhecer


propriedades comuns entre os cinco tipos
mais conhecidos de conhecimento;

 Destacamos o papel do conhecimento


científico como um tipo de conhecimento
diferenciado que se pauta em uma
metodologia própria e foi fundamental para o
desenvolvimento da sociedade;

 Por fim, refletimos juntos sobre o que seja


espírito científico, suas características e a
importância de seu cultivo por parte daqueles
que desejam ingressar no terreno da pesquisa
e contribuir para o desenvolvimento da
ciência.
2

AULA
O Valor do Estudo

Nesta segunda aula iremos aprender sobre diferentes estratégias


de acesso a informação e produção do conhecimento através do
Apresentação

estudo. A chave para a elaboração de uma monografia de


qualidade é o estudo prévio que fundamenta o trabalho, fornece
novas idéias ao pesquisador e o auxilia no sentido de perceber a
relevância e a originalidade do trabalho a ser desenvolvido.
No decorrer da aula, serão destacados pontos importantes para
que você possa estudar melhor trazendo uma série de dicas que
irão auxiliá-lo desde a preparação exterior do local de estudo até a
preparação interior do aluno no sentido de estimular funções
mentais superiores como atenção, memória e criatividade.
Aproveite as dicas fornecidas nesta aula não apenas para a
preparação de sua monografia, mas em seu curso como um todo
visando o aperfeiçoamento de seus estudos.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Reconhecer a importância do estudo e adquirir dicas sobre


como torná-lo mais eficiente aplicado à produção de um
trabalho monográfico;
 Conhecer técnicas voltadas a práticas de estudo como
produção de fichas, esquemas, resumos e outros;
 Ajudá-lo a aperfeiçoar seus estudos e aprimorar seu senso
científico.
Aula 2 |O valor do estudo 26

O hábito de estudar

Dica do
professor Um dos principais objetivos dos cursos
universitários é o de desenvolver nos estudantes o
Repare que mesmo espírito científico coletivo marcado pela produção
nos cursos a
distância, como é o acadêmica. Entretanto, nada se conseguirá neste
caso deste que você
está fazendo, estas sentido se os iniciantes em trabalhos científicos não
exigências
permanecem. Por tiverem adquirido hábitos de estudo sistemáticos
isso se você quer ser
bem sucedido em através da utilização de métodos e técnicas adequadas
nossa graduação
atenção as mesmas, e previamente estipuladas.
OK?

Desse modo, a primeira etapa que o aluno


precisa vencer para se tornar um estudioso é conhecer
e utilizar procedimentos que facilitem os seus estudos.
Pesquisas realizadas comprovam a validade de tal
afirmativa. Completando tal observação, Severino
(1994) adverte que o ensino superior exige dos
universitários:

 Autonomia no processo de aprendizagem e


postura de auto-atividade didática rigorosa,
crítica e criativa;

Dica do  Projeto de trabalho intelectual individualizado,


professor
apoiado em material didático e científico que

É interessante se constitui, basicamente, na bibliografia


cultivar o hábito de
tirar uma cópia de especializada.
matérias de jornais
ou revistas, uma vez
que estas também Sobre a pesquisa bibliográfica e formação de um
podem ser
aproveitadas acervo pessoal, vale aqui algumas dicas:
futuramente em
seus estudos e
quem sabe até no
seu trabalho Existem livros fundamentais (às vezes clássicos)
monográfico.
Procure arquivar as nas diferentes áreas do conhecimento que devem ser
mesmas por assunto
de modo a facilitar adquiridos ou pelo menos pesquisados;
sua consulta e
aproveitamento
posterior.
A assinatura de revistas especializadas é um
Esta é, portanto,
uma dica barata e hábito a ser cultivado, uma vez que os relatórios de
eficiente.
pesquisa e as descobertas nas diferentes áreas do
Aula 2 |O valor do estudo 27

conhecimento, antes de aparecerem em livros, são


publicadas em revistas e jornais. As revistas também
oferecem a oportunidade de se ampliar a bibliografia
sobre determinado assunto com novas e atualizadas
referências.

É importante que o estudante universitário


acostume-se com o ambiente das bibliotecas, embora
em algumas delas o acervo seja limitado e pouco
renovado. De qualquer maneira, o estudante deve
freqüentá-las, explorá-las. No caso das bibliotecas
universitárias, é lá se encontram obras de referência
geral, periódicos, livros, dissertações de mestrado,
teses de doutorado etc.

As bibliotecas são organizadas no sentido de


auxiliar os leitores e pesquisadores. Assim, seu acervo
se apresenta classificado por assunto, título e autor, em
fichas individuais reunidas em fichários por ordem
alfabética. Nas fichas, além de dados sobre a obra e o
autor, está registrada a referência da obra (código da
biblioteca), através da qual ela é localizada nas
prateleiras. Muitas bibliotecas são informatizadas
oferecendo uma alternativa de organização mais
moderna.

Atualmente existem uma série de revistas e


artigos eletrônicos que vale a pena consultar e
conhecer melhor de forma rápida, prática e dinâmica.
As chamadas bibliotecas virtuais, por exemplo, são uma
forma bastante otimizada e eficiente de ter acesso a
uma bibliografia atualizada sobre aquilo que o
estudante pesquisa. Mesmo tendo o devido cuidado de
citar apenas sites confiáveis, é impossível deixar de
considerar a grande quantidade de material disponível
na internet que ainda sequer foi publicado. É possível
ainda ter acesso a várias obras disponibilizadas na íntegra
Aula 2 |O valor do estudo 28

na internet por um preço bem mais acessível do que se


estas fossem adquiridas.

Para quem quiser tirar a prova do quanto a internet


pode auxiliar o trabalho do pesquisador vale
consultar o Scielo (http://www.scielo.br).
A Scientific Electronic Library Online - SciELO é uma
biblioteca eletrônica que abrange uma coleção
selecionada de periódicos científicos brasileiros.
A SciELO é o resultado de um projeto de pesquisa
da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo, em parceria com a BIREME -
Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação
em Ciências da Saúde. A partir de 2002, o Projeto
conta com o apoio do CNPq - Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

Além do estudo, através de fontes bibliográficas


e webgráficas, outras modalidades de aprendizagem e
estudo são os encontros, seminários, congressos,
palestras, mesas redondas etc., que devem
acompanhar o estudo pela vida toda. A princípio como
participante, em seguida fazendo pequenas
comunicações e, no decorrer da vida profissional,
integrando mesas-redondas, fazendo palestras etc.

Outro aspecto a considerar, principalmente por


todos aqueles que não têm muito tempo, uma vez que
precisam trabalhar e estudar, é o planejamento das
Dica do atividades de estudo e a divisão adequada do tempo
professor
através de uma programação. Não se pode fazer um

Olha o tempo!
curso se não houver tempo disponível para estudar e
refletir.
Você já pensou em
planejar melhor seu
tempo na realização
deste curso? De fato, o pesquisador não pode deixar de
Esse é um bom
questionamento. programar “seu tempo”, pois sem essa administração
Lembre-se de que
num curso a do mesmo é difícil cumprir prazos de trabalho e fazer
distância a
dedicação aos um estudo sério e aprofundado. Além disso, o contato
módulos de estudo
são fundamentais e, com outros ambientes e culturas pode, sem dúvida,
evidentemente,
exigem certo tempo
enriquecer sua criatividade e estimular seu senso
crítico.
Aula 2 |O valor do estudo 29

Observem as recomendações de Galliano (p.61)


sobre a utilização do tempo:

 Planeje seu tempo – essa é a forma correta


de “ganhar” tempo para o estudo;
 Procure utilizar melhor de períodos vagos em
sua atividade;
 Substitua o horário de uma ou mais
atividades não-essenciais para obter mais
tempo de estudo;
 Não estabeleça períodos muito longos de
estudo sem pausa para descanso (...).

TÉCNICAS DE LEITURA

Vejamos agora algumas técnicas de leitura que


podem tornar nosso estudo mais proveitoso e eficaz,
especialmente se você não dispõe de tempo.
:: Leitura Integral:

Galliano (1986) nos lembra que toda leitura é


Essa leitura integral
feita com um propósito que pode ser a investigação, a inicial é chamada
crítica, a comparação, a verificação, a ampliação ou muitas vezes de
leitura transversal.
integração do conhecimento. Para atingir esse propósito Não se trata de ler o
livro da primeira
devemos identificar as idéias principais doautor. Ocorre página a última e
sim dar uma
que poderemos estar lendo um artigo, um livro, um folheada no seu
estilo, estruturação
capítulo de livro, ou mesmo um simples parágrafo. de capítulos,
bibliografia, autores
Mandam os especialistas que se proceda, inicialmente, citados etc.
a uma leitura integral do texto visando identificar as
idéias centrais do mesmo.

Cada capítulo ou unidade pode conter uma ou


mais idéias-chaves que se articulam com o objetivo
central da obra estudada. Trabalhar a leitura a partir da
identificação de tais idéias facilita a sua compreensão,
na medida em que o texto fica, assim, dividido em
blocos que vão sendo sucessivamente estudados a
partir de suas idéias centrais.
Aula 2 |O valor do estudo 30

Em algumas ocasiões, a idéia principal está


explícita e é facilmente identificada. Em outras, ela se
Dica do
professor confunde com as idéias secundárias. Quando se procura
a idéia principal do autor em uma obra, usam-se
Durante a leitura é técnicas facilitadoras como a leitura do índice, dos
pertinente escrever
um resumo do texto títulos e subtítulos, prefácio, introdução etc. (Salomon,
que estamos lendo.
Assim fixamos 1994).
melhor seu conteúdo
e juntamos um
material
interessante que A TÉCNICA DE ESQUEMATIZAR
pode servir para um
aproveitamento
posterior. O esquema é UMA REPRESENTAÇÃO SINTÉTICA
DO TEXTO ATRAVÉS DE GRÁFICOS, CÓDIGOS E
PALAVRAS. Por isso, é importante que este seja
organizado segundo uma seqüência lógica onde se
destaquem em primeiro lugar as idéias principais,
Dica do
professor
seguidas por aquelas a elas subordinadas de maneira
que seja esclarecido o inter-relacionamento de fatos e
Experimente esta idéias a estas relacionadas.
técnica com um
texto qualquer.
Assim como as
demais A elaboração de esquema exige a participação
apresentadas ela
pode ser bastante ativa do leitor na assimilação do conteúdo, levando-o,
útil. Um esquema
bem feito por vezes
também, a uma avaliação sobre a lógica do texto. Para
traduz com clareza o Salomon (1994), as principais características de um
raciocínio de um
autor. bom esquema são:

 Fidelidade ao texto;
 Estrutura lógica;
 Adequação ao assunto estudado;
 Utilidade;

Dica do
 Cunho pessoal.
professor

Algumas pessoas têm grande facilidade de


Experimente
esquematizar um trabalhar com esquemas criando vários ao longo de
pequeno texto e
depois analise o cada parágrafo lido, criando um esquema maior por
mesmo com relação
às características capítulo ou unidade, ou ainda elaborando um grande
assinaladas por
Salomon.
esquema como síntese de toda a obra (livro, artigo,
pesquisa etc.).
Aula 2 |O valor do estudo 31

A TÉCNICA DE RESUMIR

O resumo nada mais é do que uma


CONDENSAÇÃO DO TEXTO REUNINDO SUAS IDÉIAS
CENTRAIS. O mesmo pode também trazer a
interpretação do leitor, desde que este o faça
separadamente a fim de que não se confunda as idéias
do autor com as idéias do leitor.
Dica de
leitura

Um dos objetivos do resumo é o de abreviar as


Você terá
idéias do autor, sem, contudo, a concisão de um oportunidade de
esquema. Quando você considerar relevante, faça aprofundar melhor
esta e outras técnicas
transcrições de palavras do próprio autor, colocando-as através da leitura do
livro:
entre aspas e o número da página entre parênteses. As
LAROSA, M. e
observações e interpretações pessoais, bem como as ARDUINI, F. Como
elaborar uma
referências bibliográficas, acompanham o resumo, sem monografia? Rio de
Janeiro: WAK , 2002.
prejudicar a fidelidade ao texto. Essa técnica pode ser
extremamente útil durante a construção de sua
monografia no momento em que você tiver de fazer
citações importantes sem ter que voltar a leitura de
toda obra para achar a idéia que você pretende
enfatizar.

DICAS GERAIS
Importante

 Leia cada página das obras fazendo anotações


e registrando suas dúvidas e colocações Provavelmente nem
todas as dicas
pessoais; sugeridas se aplicam
a você. Procure
identificar nos
diferentes itens as
 Construa uma espécie de resumo pessoal do dicas que lhe dizem
mais respeito
material que você colocou, pode ser uma procurando colocá-
las em prática
espécie de fichamento com observações e levando em
consideração as
pontos que você destacaria em relação ao suas dificuldades.
mesmo ou ainda registros em um caderno
com resumos esquemáticos. Escolha a técnica
com a qual você melhor se identifica;
Aula 2 |O valor do estudo 32

 Elabore mapas, desenhos, gráficos e


Importante diagramas. Estes também podem auxiliá-lo em
seus estudos, especialmente quando se trata
Essa página resume da análise de um conteúdo mais extenso e
os principais pontos
sobre o que complexo;
conversamos até
agora. Leia com
atenção cada item e
lembre-se de que  Aproprie-se das obras consultadas. Se você
queremos apenas
auxiliá-lo em seus tire xérox para que você possa: sublinhar,
estudos. Cada
pessoa tem um jeito rabiscar, fazer anotações, enfim aproveitá-la
de estudar e
respeitamos isso. ao máximo; pois na hora de uma consulta
Queremos oferecer a
você a oportunidade
rápida isso poderá lhe facilitar bastante;
de tornar seus
momentos de estudo
ainda mais eficientes  Siga as dicas das caixinhas laterais. A função
e enriquecedores.
Esperamos que das mesmas é contribuir e facilitar o seu
todas as dicas dadas
contribuam nessa processo de aprendizagem;
direção.

Sucesso!
 Reveja a bibliografia, se possível busque ter
acesso a, pelo menos, algumas das obras
citadas, através de empréstimos em
bibliotecas, por exemplo;

 Faça a si próprio a pergunta: "que significa


isso?". Se houver dúvida, volte a estudar
objetivando esclarecer o porquê das mesmas;

 Ao estudar procure se concentrar de fato no


que está lendo, procurando compreender e
memorizar o conteúdo das leituras;

 Não tente estudar tudo ao mesmo tempo,


estabeleça algumas metas como três páginas
por dia ou algo semelhante de acordo com
sua disponibilidade;

 Lembre-se de que a aprendizagem é como


uma corrente: cada elo seguinte depende do
elo anterior. Quando encontrar uma dificuldade,
procure o elo que está faltando. Se você não
consegue aprender alguma coisa, não é por fal-
Aula 2 |O valor do estudo 33

ta de inteligência: Muitas vezes falta aprender


algo que serve de base à novas
aprendizagens;

 Caso as dúvidas persistam não hesite em


entrar em contato com a Tutoria;
Importante

 Certa rotina de trabalho é fundamental. É


Esteja atento aquilo
fácil se deixar levar pelo comodismo de que o autor está
sempre e adiar o começo da tarefa. Evite chamando atenção
nesse trecho, pois
atrasos e procure trabalhar sempre no entendemos que a
prática da leitura
mesmo lugar. Isso facilita a concentração e analítica lhe será
bastante útil no
cria hábitos produtivos. Acostume-se a processo de coleta
de dados para a sua
estudar num mesmo local e num mesmo monografia.

horário. Ao contrário do que possa parecer,


isso poderá ajudá-lo bastante;

 Disponibilize um canto de estudo que seja


sossegado, arejado e bem iluminado;

 Não tenha fontes de distração que poderão


atrapalhá-lo como, por exemplo, o celular, o
rádio e a TV;

 Ao interromper o estudo, deixe um sinal


específico para retomar a aprendizagem
exatamente de onde parou, sem perda de
esforço ou de tempo;

 Mantenha sempre acesa sua motivação e


você terá muito mais chances de alcançar
seus objetivos. Dica do
professor

A DOCUMENTAÇÃO PESSOAL
Hoje existem vários
programas
organizadores que
Tendo conversado sobre técnicas para que você facilitam esse
trabalho com o uso
possa aperfeiçoar suas habilidades de estudo e leitura de ícones, pastas
coloridas e até sons.
chegou então o momento de tratarmos especificamente Procure se informar
da documentação pessoal, em especial as fichas e sua sobre estas
facilidades.
organização em fichários.
Aula 2 |O valor do estudo 34

Tudo que for do interesse e oferecer importância


e utilidade na área acadêmica ou profissional do
estudante pode ser documentado: leituras, idéias
pessoais, debates, palestras etc. pode ser
documentado. A maneira mais indicada é fazer
registros em fichas e organizá-las em fichários.
Atualmente, a informática está introduzindo novos
procedimentos; estes procedimentos variam de pessoa
a pessoa.

As fichas permitem aos estudantes guardar com


exatidão dados coletados em diferentes fontes e que
servirão para o seu estudo. É preferível o uso de fichas
do que o de cadernos, devido às facilidades que elas
oferecem para manipulação e arquivamento. Existem
diferentes tipos de fichas segundo os objetivos a que se
destinam e que recebem diferentes denominações. Em
nosso caderno, adotamos a nomenclatura usada por
Lakatos (1987): ficha bibliográfica, ficha de citações,
ficha de resumo e ficha analítica.

A utilização de fichas e sua organização em


fichários pode ajudar significativamente o aluno
fornecendo-lhe de forma rápida e prática subsídios
valiosos. Lakatos (1987) é um dos autores que aborda
a questão do aspecto físico, da composição, dos
respectivos conteúdos, tipos de fichas (com exemplos
concretos dos mesmos) etc.
Aula 2 |O valor do estudo 35

FICHA BIBLIOGRÁFICA

Vale enfatizar que uma ficha bibliográfica pode


incluir a obra inteira ou parte dela.

Ao elaborar a ficha deve-se:

 Ser breve – quando houver necessidade de


pormenores, deve-se fazer ficha resumo e
não a bibliográfica;
 Empregar verbos ativos – exemplo: autor
analisa, define, conclui, apresenta etc.;

FICHA DE CITAÇÃO
Aula 2 |O valor do estudo 36

Neste tipo de ficha são reproduzidas frases e


parágrafos inteiros ou parte deles. O sinal (...) indica a
supressão de partes do texto.

Ao elaborar a ficha deve-se tomar alguns


cuidados:

 Colocar aspas no início e término das


citações;
 Indicar, após cada citação, o número da
página;

Veja o exemplo:

FICHA DE RESUMO (DE CONTEÚDO)

Como é possível notar, a Ficha de Resumo, por


sua vez, apresenta a essência do texto numa síntese
Aula 2 |O valor do estudo 37

elaborada pelo leitor. Embora seja mais detalhada do


que a ficha bibliográfica, ela não é tão longa quanto
esta.

Vejamos agora então um exemplo de uma ficha


analítica também elaborada a partir do mesmo artigo
trabalhado nos dois artigos anteriores:

FICHA ANALÍTICA

A Ficha Analítica traz os seus comentários


pessoais sobre aquilo que o autor defende em sua obra.
Neste tipo de ficha em particular, é possível tecer
comparações entre diferentes teorias e obras já lidas
anteriormente, bem como fazer classificações, críticas e
observações particulares, tomar posição diante das
idéias, fatos e teorias lidos dentre outras possibilidades.
Aula 2 |O valor do estudo 38

EXERCÍCIO 1

Experimente elaborar os quatro tipos de fichas que


vimos anteriormente a partir de um artigo na área de
Educação. Use as linhas abaixo para anotações gerais.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 2

A partir do que estudamos anteriormente responda as


questões abaixo:

a) É possível desenvolver hábitos de estudo? Como?


b) Dentre as técnicas de leitura citadas diga qual foi
a que você se identificou mais? Justifique sua
resposta.
c) O que você pretende fazer para aproveitar melhor
o seu tempo de estudo?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

 Analisamos algumas técnicas que poderão lhe


auxiliar em sua pesquisa como aquelas
voltadas para a leitura e a elaboração de
esquemas, resumos e fichamentos;
Aula 2 |O valor do estudo 39

 Conferimos, através de análise de alguns


exemplos, como tais técnicas são práticas e
fáceis de serem efetivadas podendo servir de
auxiliar durante seus estudos;

 Refletimos sobre a importância de um estudo


organizado e metódico que favoreça o
pesquisador em seu trabalho de coleta de
dados, construção de hipóteses e
aprofundamento em sua temática de estudo.
3

AULA
Afinal, o que é
Pesquisa?

Nesta terceira aula iremos estudar a pesquisa e sua importância


para a continuidade do desenvolvimento científico. Do mesmo
modo terá a chance de conhecer e aprender diferentes técnicas
Apresentação

de estudo que servem tanto a coleta de dados como também a


uma análise mais depurada dos mesmos no ato de elaboração
de uma pesquisa científica.
De uma forma prática e direta você terá acesso a uma série de
dicas que poderá aplicar de forma imediata em seus estudos até
mesmo desse caderno em análise auxiliando-o a destacar idéias
chaves, fazer fichas resumo e assinalar pontos de um
determinado trecho de uma obra de forma organizada para que
você possa utilizá-la futuramente.
Finalizando esta aula iremos refletir um pouco sobre alguns dos
principais paradigmas da pesquisa científica tentando entender o
reflexo destes em diferentes momentos da história da ciência.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:

 Refletir melhor sobre o que seja pesquisa e sua importância


para o desenvolvimento da pesquisa científica;
Objetivos

 Conhecer as diferenças e semelhanças entre as metodologias


do tipo quantitativa e qualitativa e seu emprego de acordo com
o tipo de pesquisa desenvolvida e o objeto de estudo em
análise;
 Ter acesso a diferentes formas de análise de materiais de modo
a permitir uma leitura mais organizada e crítica dos mesmos e
favorecer a elaboração de pesquisas nos mais diferentes
campos.
 Conhecer de forma sucinta alguns dos principais paradigmas da
pesquisa científica tais como: o Positivismo, a Fenomenologia e
o Materialismo Dialético.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 42

Pesquisa: a origem do termo

Não há dúvidas de que a pesquisa faz parte de


nosso cotidiano enquanto uma atividade intelectual que
resulta da relação do homem com o mundo a sua volta.
Mesmo sem ter muita clareza do que esta seja, todos
nós, em algum momento já efetivamos algum tipo de
pesquisa. Quando nos informamos sobre a forma de
chegar a algum lugar, ou quando procuramos por um
determinado endereço numa lista telefônica, quando
queremos saber como estará o clima em determinado
local antes de viajarmos até o mesmo, ou ainda quando
investigamos melhor uma determinada questão, em
todos estas situações estamos fazendo um tipo de
pesquisa. Em uma primeira concepção podemos dizer
que a pesquisa é:

Uma investigação, busca ou estudo metódico com a


finalidade de descobrir ou estabelecer princípios
relativos a um campo qualquer do conhecimento.

O termo “pesquisa” possui uma dupla origem:


espanhola e latina. Segundo o pesquisador Marcos
Bagno (2000) já existia em latim o verbo perquiro, que
significava “procurar; buscar com cuidado; informar-se;
inquirir; perguntar; indagar bem”. O particípio passado
desse verbo latino era perquisitum. Com o tempo o
primeiro R se transformou em S na passagem do latim
para o espanhol, originando o verbo pesquisar que
conhecemos hoje.

De maneira geral, a pesquisa faz parte do nosso


cotidiano sendo difícil imaginar qualquer ação humana
que não seja precedida por algum tipo de investigação.
Uma investigação, por sua vez, tem como base a
informação que nos chega através dos programas de
TV, rádio, jornais, revistas e até nos comunicados
gerais de instituições escolares e empresariais como
boletins e circulares. Assim sendo, podemos afirmar
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 43

que a troca de informações ajuda a formar o


conhecimento cotidiano, ou seja, a estarmos Para refletir

“informados” sobre os fatos. Contudo, tudo isso não


Você já tinha parado
passa de um conjunto de informações superficiais, se
para refletir sobre
sobre os mesmos não houver um trabalho de reflexão e isto?
O quanto nós
análise. Em outras palavras, o conhecimento virá a fazemos pesquisa
sem ter consciência
partir do momento em que o indivíduo se interessar por de que o fazemos?
Será que em nossas
determinado assunto e refletir sobre este, sem se salas de aula temos
realmente
contentar com o óbvio, através de um trabalho mais estimulado os
nossos alunos a
sério de aprofundamento e “pesquisa”. simplesmente trocar
informações ou
serem verdadeiros
produtores de
Poderíamos reproduzir o que acabamos de
conhecimento?
estudar através do esquema abaixo, apresentando a Reflita e se possível
não deixe de anotar
pesquisa como um caminho para a produção do suas reflexões, pois
elas podem ser
conhecimento. muito úteis.

A aplicação do conhecimento no dia-a-dia, isto


é, o caminho da valorização e da prática daquilo que foi
fruto de uma reflexão e uma pesquisa mais apurada
corresponde ao que nós chamamos de sabedoria. De
nada adiantaria pesquisarmos meses sobre a melhor
compra de um imóvel se na hora de fecharmos o
negócio, ignorássemos esse trabalho de pesquisa.

A PESQUISA LEVADA A SÉRIO

É preciso deixar claro, contudo, que não é desse


tipo de pesquisa que vamos nos ocupar aqui. A
pesquisa que nos interessa nesse caderno é um tipo
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 44

especial de pesquisa, ou seja, a pesquisa científica, que


pode ser entendida como:

Uma investigação feita com o objetivo expresso de


obter conhecimento específico e estruturado sobre
um assunto preciso.

Para pensar A pesquisa pode ser pensada como o caminho


para se chegar ao conhecimento e a ciência, devendo
A pesquisa faz parte esta última ser igualmente entendida como um tipo de
de nosso cotidiano.
Pesquisamos em conhecimento fruto de um estudo formal, metódico e
diferentes situações.
Quando compramos sistematizado de forma científica. De fato, a pesquisa é
algo, quando
queremos saber o fundamento de toda e qualquer ciência seguindo uma
sobre o tempo ou
conhecer mais sobre metodologia específica, o chamado método científico:
alguma coisa. Logo
não se preocupe,
pois pesquisar é Método científico é o conjunto de princípios e
uma atividade bem procedimentos intelectuais e técnicos adotados para
simples. se atingir o conhecimento de forma eficiente através
da pesquisa.

Quando falamos em metodologia da pesquisa


estamos nos referindo, portanto, aos estudos desses
procedimentos diferentes voltados para o
desenvolvimento de uma pesquisa. Os métodos de
estudo e pesquisa tornam mais eficaz e rápida a busca
de respostas a um dado problema, o saneamento da
inquietação e a resolução da dúvida.

Dica de
leitura Já vimos o significado do termo pesquisa, agora
vejamos o que significa a palavra método. Esta palavra
Consulte também
sobre Método
origina-se do grego meta (ao longo de) e hodós
Científico a obra de (caminho), portanto, significa caminho para se chegar a
CHIZOTTI, Antonio.
Pesquisa em um objetivo ou a um determinado resultado. Assim, a
Ciências Humanas e
Sociais (1995), São metodologia do estudo é um caminho que o estudante
Paulo: Cortez, 1995.
trilha, adquirindo durante o percurso os instrumentos
exigidos para obter êxito no seu trabalho intelectual.

A escolha de que meio, instrumento, ou


procedimento deverá ser adotado para o
desenvolvimento de uma pesquisa deverá ser realizada
pelo pesquisador em função dos resultados que
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 45

pretende obter. A grosso modo poderíamos tecer a


seguinte comparação: uma pá é mais eficiente do que
uma picareta para cavar, assim como esta última é
mais eficiente do que a primeira para fazer um buraco
no cimento. Por isso a importância de se definir o tipo
de pesquisa e da escolha do instrumental ideal a ser
utilizado. A escolha de instrumentos inadequados ou na
ignorância de determinados procedimentos pode
comprometer de forma parcial ou total os resultados de
uma investigação científica.
Importante

Não existem regras fixas que possam, se


De maneira geral o
adotadas, gerar resultados completamente livres de objetivo da pesquisa
erros e/ou desvios, bem como também, não existe é o homem, seu
bem estar e a
nenhuma área do conhecimento limitada a um conjunto atenção de suas
necessidades. A
fixo de métodos. A ciência é dinâmica e, por pesquisa pode ser
direcionada a
conseguinte, novos métodos podem ser produtos e serviços,
mas o ser humano
desenvolvimentos e aprimorados em qualquer tempo e será sempre o
principal
lugar. O fato é que o conhecimento do método é de beneficiário.
extrema importância para uma boa condução de um
processo de pesquisa bem como de sua avaliação.

IMPORTÂNCIA DA PESQUISA
Importante

Para Deslandes (1994) a pesquisa é a atividade


A pesquisa é um
básica da ciência na sua indagação e construção da
labor porque
realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de demanda esforço
pessoal na busca de
ensino. Não se trata de um ato isolado como afirma informações sobre o
fenômeno observado
Demo (2000), mas sim uma “atividade processual de que toma certo
tempo e exige
investigação diante do desconhecido e dos limites que a esforço dos que a
ela se dedicam.
natureza e a sociedade nos impõem” (p.16). Assim
sendo, fica claro entender porque sem pesquisa não há
ciência e, se não há ciência, elementos como tecnologia
e mesmo o progresso também ficam comprometidos.
Devido a sua importância, não apenas as
universidades, mas quase todas as grandes empresas
do mundo de hoje possuem departamentos voltados
para as áreas de pesquisa e desenvolvimento sempre
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 46

tentando dar um passo à frente para a obtenção de


novos produtos que respondam melhor às exigências
cada vez maiores dos consumidores ou, simplesmente,
que permitam vencer a concorrência das outras
empresas.

As indústrias farmacêuticas vivem à procura de


novos medicamentos mais eficazes contra velhas e
novas doenças. As montadoras de automóveis querem
produzir carros mais econômicos, menos poluentes,
mais seguros. A informática não pára de nos assustar
com seus computadores mais rápidos a cada dia, com
maior capacidade de memória e programas mais
eficientes.

Se não houvesse pesquisa, todas as grandes


invenções e descobertas científicas não teriam
acontecido. Nas universidades a pesquisa ocupa um
lugar fundamental renovando o conhecimento e
promovendo novos questionamentos e descobertas nas
mais diferentes áreas. O professor universitário deve,
na medida do possível, evitar se limitar a dar suas
aulas buscando estar engajado em algum projeto de
pesquisa. Afinal, a Universidade não pode ser apenas
um “depósito” do conhecimento acumulado ao longo
dos séculos. Ela deve ser também um lócus de
Para
navegar produção de novos conhecimentos o que só é possível
através da pesquisa.
Para conhecer estas
instituições
virtualmente A importância da pesquisa é reconhecida
consulte:
também pelos órgãos governamentais. No Brasil, por
CNPQ
ttp://www.cnpq.br/ exemplo, em nível nacional, existem entidades como a
CAPES CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
http://www.capes.
gov.br/ Nível Superior) e o CNPq (Conselho Nacional de

FUNDAÇÃO FORD: Desenvolvimento Científico e Técnológico) que


http://www.ford
found.org/ financiam projetos de pesquisa. Existem também
fundações privadas como a FUNDAÇÃO FORD, por
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 47

exemplo, que apóiam pesquisadores, dando-lhes


condições de levar adiante seus projetos.
Você sabia?

Além disso, no campo da Pós-Graduação


Escola de Chicago:
existem também as Associações Nacionais e
Internacionais de Pesquisa como, por exemplo, a Foi no campo da
Sociologia, através
ANPEP – Associação Nacional de Pesquisa e Pós- dos estudos da
chamada Escola de
Graduação em Psicologia (site: www.anpepp.org.br) e a Chicago nos anos 20
e 30 que a
ANPOCS - Associação Nacional de Pesquisa e Pós- metodologia do tipo
qualitativa teve um
Graduação em Ciências Sociais (site: impulso considerável
passando-se a
www.anpocs.org.br). entender melhor a
importância desta
metodologia para o
estudo do homem
Para a vida acadêmica vale destacar que a
na sociedade como
pesquisa permite a construção de um corpo de foi o caso dos
estudos de Ecologia
conhecimentos específicos, propiciando uma melhoria Urbana promovidos
por Robert Park, um
das práticas educativas e uma renovação do conteúdo dos mais influentes
pesquisadores desta
ensinado em aula. Em sua busca, através de caminhos Escola.

metodológicos coerentes, a pesquisa contribui para o


favorecimento de melhores condições de existência
para o homem e os demais seres vivos, o que vai ao
encontro, inclusive, da responsabilidade social que a
universidade deve responder e cultivar.

O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir


respostas para problemas mediante o emprego de
procedimentos científicos. Assim sendo, podemos
entender pesquisa como sendo um processo que,
utilizando a metodologia científica, permite a obtenção
de novos conhecimentos no campo da realidade social a :: Problematização

partir de uma problematização. Os produtos de uma


pesquisa são vários: artigos, livros, ensaios, estudos, Este termo se refere
aos possíveis
dissertações e teses. Contudo, é bem provável que um questionamentos e
críticas voltados a
dos produtos mais importantes de uma pesquisa seja um determinado
postulado teórico,
justamente a formulação de novas questões e técnica ou até
mesmo uma
problemas decorrentes de seus resultados. Em outras situação qualquer.

palavras, a respostas encontrada por um pesquisador


pode ser encarada como um problema para outro e
assim a pesquisa nunca se esgota.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 48

NÍVEIS DE INVESTIGAÇÃO

Os termos pesquisa qualitativa e pesquisa


quantitativa são utilizados para classificar o tratamento
metodológico empregado em trabalhos científicos.
Entende-se por qualitativa a pesquisa cuja finalidade é
a de buscar entendimentos, extrapolações para
situações similares e bases que irão fundamentar a
:: Hipótese:
criação de hipóteses. De modo geral ela lida com o
São conjecturas,
indivíduo em seu dia-a-dia de trabalho, em suas
palpites, explicações
provisórias, relações e atividades sem se preocupar em pesquisar a
proposições
admissíveis acerca partir de um ambiente controlado.
de um fato ou
fenômeno.
Exemplo:
- Hipótese 0 A pesquisa qualitativa parece ter vocação para
O uso de vídeos em
aula influi mergulhar na profundidade dos fenômenos levando em
positivamente
aprendizado de conta toda a sua complexidade e PARTICULARIDADE.
Português.
- Hipótese 1
Não almeja alcançar a generalização, mas sim o
O uso de vídeos em
entendimento das singularidades.
aula influi
negativamente no
aprendizado de
Português. Como apontam alguns autores, este tipo de
- Hipótese 2
O uso de vídeos em pesquisa privilegiam a compreensão como princípio do
aula não influi no
aprendizado de conhecimento, que prefere estudar relações complexas
Português.
ao invés de explicá-las por meio do isolamento de
variáveis. Nota-se certa ênfase na totalidade do
indivíduo como objeto de estudo é essencial para a
pesquisa qualitativa. Além do mais, a concepção do
objeto de estudo qualitativo sempre é visto na sua
historicidade, no que diz respeito ao processo
desenvolvimental do indivíduo e no contexto dentro do
qual o indivíduo se formou (Gunther, 2006).
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 49

EXEMPLIFICANDO

A Qualidade de Vida é um conceito que se manteve


impreciso e imensurável até recentemente. A medida
em que o fenômeno passou a ser investigado por
meio de Questionários e Grupos Focais, numa
abordagem Qualitativa, foi progressivamente possível
compreender sua intimidade a ponto de se
desenvolver instrumentos capazes de mensurar a
subjetividade envolvida no sentido da Qualidade de
Vida. Dessa forma foram obtidos o WHOQOL (World
Health Organization Quality of Life instrument),
instrumento construído em âmbito mundial, pela
Organização Mundial de Saúde; e o SF 36 (Short Form
com 36 itens) concebido nos EUA, que foi adaptado e
validado para outras línguas. Este último instrumento
evidencia o impacto da Saúde nas atividades diárias e
no Bem Estar. Foi desenvolvido a partir de um
Questionário com mais de 200 itens que foram sendo
selecionados segundo sua capacidade de
discernimento e mensuração.
Fonte: Reflexões sobre a PESQUISA QUALITATIVA &
QUANTITATIVA:Maneiras complementares de
apreender a RealidadeFernando A C Bignardi
http://www.comitepaz.org.br/download//PESQUISA%
20QUALITATIVA.pdf

Por QUANTITATIVA entende-se a pesquisa que


lida com hipóteses pré-estabelecidas, amostras e
probabilidades. Trata-se da pesquisa que se aplica a
dimensão mensurável da realidade e que busca
estabelecer relações de causa e efeito entre as
variáveis de tal modo que perguntas do tipo: “quanto?”
“Como?” “Porque? ” e “em que medida? ” possam ser
respondidas com razoável rigor. Em uma pesquisa
quantitativa são utilizados métodos estatísticos cuja
finalidade é a de buscar determinações causais,
predições e generalizações dos resultados.

É importante entender que os métodos


qualitativos e quantitativos não são excludentes entres
si. Tanto a pesquisa qualitativa pode lidar com medidas
estatísticas como a pesquisa quantitativa pode buscar
resultados menos pontuais. Recentemente, a situação
da pesquisa qualitativa, mudou consideravelmente,
adquiriu mais respeitabilidade. Mas, esta aceitação foi
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 50

alcançada a um custo que requereu, senão a


capitulação completa para critérios quantitativos de
confiabilidade e validade, pelo menos uma tendência
para aplicá-los. Não deve haver dúvidas de que a
finalidade dos dois caminhos metodológicos deve ser a
contribuição destes para o estudo e análise de
determinada realidade ou fenômeno estudado e
conseqüentemente sua contribuição para o
desenvolvimento de determinada área do conhecimento
humano.

Importante Críticas são feitas a ambos os métodos


chegando mesmo a existir o que alguns autores
Homogeneização chamam de RADICALISMOS METODOLÓGICOS.
metodológica
Criticam os métodos qualitativos por gerarem análises
Às vezes escutamos
algo do tipo se a superficiais, por trabalharem com procedimentos não
pesquisa for do tipo
x então só cabe tal explicitamente detalhados, pela dificuldade destes em
metodologia, se for
do tipo y então só reconhecer a necessidade de um afastamento entre o
cabe tal
metodologia. O fato
pesquisador (subjetividade) e seu objeto de estudo, por
é que diante da tecerem generalizações apressadas quanto aos seus
complexidade de
nosso objeto de resultados e pela confiabilidade excessiva em
estudo os
radicalismos julgamentos e impressões pessoais. Por outro lado,
metodológicos
devem ser criticam os métodos quantitativos também por gerarem
abandonados. De
modo geral, análises incompletas, por defenderem a neutralidade do
tentativas de
realizar algum tipo pesquisador em suas análises (o que seria uma utopia),
de homogeneização
metodológica, em por simplificarem demais a complexidade de seus
diferentes áreas,
pouco ou nada
objetos de estudo e por selecionarem apenas
contribuiu para o problemas que possam ser manipulados
avanço da pesquisa
nas mesmas, quantitativamente e pelo rigor metodológico excessivo.
gerando, muito ao
contrário, resultados
desastrosos. O fato é que existem uma infinidade de
procedimentos metodológicos que variam conforme a
disciplina na qual o estudo se insere podendo assim
englobar a Economia, a Sociologia, a Psicologia, a
Geografia, a História dentre outras áreas (Carvalho,
1995). Isso pode ser explicado inclusive pela própria
natureza diferenciada dos fenômenos físicos, biológicos,
sociais e psicológicos uma vez que os mesmos não são
homogêneos.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 51

A realidade científica atual se caracteriza pela


busca de novos meios de se fazer ciência pautados na
liberdade científica pelo uso da intuição, pela
subjetividade e pela interdisciplinaridade de modo a
permitir uma maior aproximação da complexidade do
real. Não existe método ideal e sim o método que
melhor se adequa ao estudo que estamos querendo
efetivar (Id.,1995). Devemos pensar essas duas
metodologias de pesquisa como as duas faces de uma
mesma moeda metodológica que apesar das
divergências se complementam e oferecendo ao
pesquisador um referencial metodológico e
instrumental bem mais amplo de análise do objeto
estudado do que radicalismos em uma outra direção
metodológica.

A pesquisa pode decorrer de razões de ordem


intelectual, quando baseada no desejo de conhecer pela
simples satisfação para agir. Daí porque se pode falar
em PESQUISA PURA e em PESQUISA APLICADA.

PESQUISA PURA
Importante

Pesquisa que busca o progresso da ciência,


Toda pesquisa é
procura desenvolver os conhecimentos científicos, sem importante,
independente de sua
a preocupação direta com suas aplicações e
classificação ou
conseqüências práticas. Seu desenvolvimento tende a objeto de estudo.
Tanto uma pesquisa
ser bastante formalizado e objetiva a generalização, sobre a cura da
AIDS como uma
com vistas à construção de teorias e leis. pesquisa sobre o
estilo rococó de uma
igreja em Minas
Gerais são
PESQUISA APLICADA importantes, a
primeira, entretanto,
possui uma maior
relevância social em
Esta pesquisa, por sua vez, apresenta muitos relação à segunda.
pontos de contato com a pesquisa pura, pois depende
de suas descobertas e se enriquece com o seu
desenvolvimento; todavia, tem como característica
fundamental o interesse na aplicação, utilização e
conseqüências práticas dos conhecimentos. Sua
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 52

preocupação está menos voltada para o


desenvolvimento de teorias de valor universal do que
para a aplicação imediata numa realidade
circunstancial. De modo geral é este o tipo de pesquisa
a que mais se dedicam os psicólogos, sociólogos,
economistas, assistentes sociais e outros pesquisadores
sociais.

A partir dessa diferenciação básica é possível


pensar uma série de tipos de pesquisa.

PESQUISA EXPERIMENTAL

É toda pesquisa que envolve algum tipo de


experimento. Por exemplo, pinga-se uma gota de ácido
numa placa de isopor por um determinado período de
tempo para observar o resultado de tal aplicação. Ou
ainda, analisa-se uma aula ministrada com o uso de
retroprojetor e outra com o uso de datashow em uma
mesma turma e depois avalia-se os resultados.

PESQUISA EXPLORATÓRIA

É toda pesquisa que busca constatar algo num


organismo ou num fenômeno. Por exemplo, conhecer
como se dá a reprodução de um molusco marinho ou
entender como o videogame pode interferir no aumento
da violência escolar.

PESQUISA SOCIAL

É toda pesquisa que busca respostas de um


grupo social. Por exemplo, saber quais os hábitos
alimentares de uma comunidade específica? Entender
como um trabalho de Educação Ambiental pode
promover o desenvolvimento de uma comunidade
carente do Rio de Janeiro.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 53

PESQUISA HISTÓRICA

É toda pesquisa que estuda o passado ou algo Importante

que faça referência a este, ou seja, um fato, ou


situação já ocorrida, bem como um objeto da Vale lembrar que a
pesquisa histórica
antiguidade. Por exemplo, saber de que forma se deu faz-se necessária
em diferentes
a Proclamação da República brasileira. Estudar a momentos toda vez
que queremos
origem de um colar pré-histórico. contextualizar o
objeto estudado.
Ex: Queremos
PESQUISA TEÓRICA estudar como a
violência tem
aumentado num
É toda pesquisa que analisa uma determinada determinado bairro.
Para compreender
teoria. Por exemplo, saber o que é a Neutralidade essa questão é
imprescindível
Científica. Compreender melhor a influência da estudar a história
do bairro, bem
psicanálise na educação. como a história de
violência do mesmo
ao longo dos anos.

EXERCÍCIO 1

Se você entendeu bem os exemplos aplicados em


relação a pesquisa, que tal sugerir mais um exemplo
para os tipos destacados:

a) Pesquisa experimental:
____________________________________________
__________________________________________

b) Pesquisa exploratória:
__________________________________________
__________________________________________
c) Pesquisa social:
__________________________________________
__________________________________________
d) Pesquisa histórica:
__________________________________________
__________________________________________

e) Pesquisa teórica
__________________________________________

__________________________________________
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 54

Nas aulas seguintes iremos analisar estes e


outros tipos de pesquisa com maior profundidade. Por
ora pretende-se apenas demonstrar como a temática
da pesquisa é ampla, rica e de fundamental
importância, de modo especial para a produção de
conhecimento científico. Vale ressaltar que,
independente do tipo de pesquisa a considerar, o valor
de uma pesquisa, no sentido da continuidade e avanço
de uma área de conhecimento, é inestimável. Não
podemos tratá-la com indiferença, menosprezo ou
pouco caso. Se pretendermos entender uma pesquisa
em sua complexidade e importância, devemos analisar
não apenas a abordagem ou a técnica em si, mas
também a postura filosófica e político-ideológica do
pesquisador diante da realidade estudada.

PARADIGMAS METODOLÓGICOS DA PESQUISA


CIENTÍFICA

Para compreender os principais paradigmas


metodológicos da pesquisa científica examinaremos de
forma resumida as idéias básicas das principais
correntes de pensamento contemporâneo que mais têm
orientado, em nossa época, a educação e a pesquisa
em ciências sociais, destacando seus princípios e
situação atual. As correntes analisadas são:

 O Positivismo;
 A Fenomenologia;
 Materialismo Dialético e Materialismo
Histórico.

O POSITIVISMO caracteriza-se, segundo o


filósofo francês Augusto Comte (1798-1857), pela
subordinação da imaginação e da análise à observação.
Na ótica de Comte a visão positiva dos fatos abandona
a idéia das causas dos fenômenos (procedimento
teológico ou metafísico) e torna-se pesquisa de suas
leis, entendidos como relações constantes entre
fenômenos observáveis. Seus princípios são: a busca
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 55

da explicação dos fenômenos através das relações dos


mesmos e a exaltação da observação dos fatos, com
base em uma teoria visando a formulação de leis
causais favorecendo assim o controle de fenômenos e
previsão do futuro. A partir de Comte estabeleceu-se o
mito da objetividade absoluta que vai encontrar sua
expressão na experimentação.

AUGUSTE COMTE

As idéias de Auguste Comte, o criador do positivismo,


influenciaram grandemente a formação da república
no Brasil. Tanto, que o lema da bandeira brasileira,
"Ordem e progresso", foi inspirado na doutrina desse
filósofo francês.
No Brasil a influência do positivismo de Comte
traduziu-se não só no ideário de nossos republicanos,
mas nas ações políticas que acompanharam a
proclamação da República. Entre elas, a separação
entre igreja e Estado, o estabelecimento do casamento
civil, o fim do anonimato na imprensa e a reforma
educacional proposta por Benjamin Constant, um dos
mais influentes positivistas brasileiros.

Seu predomínio foi incontestável até os anos


oitenta quando então começa a perder terreno devido a
diferentes tipos de fatores como as críticas do
neomarxismo representado pela Escola de Frankfurt
de Horkheimer, Adorno, Walter Benjamim e Erich
Fromm e da fenomenologia, com raízes em Husserl,
Merleau-Ponty e Heidegger. Muitas oposições ao
positivismo já eram conhecidas pelos pesquisadores da
América Latina desde a década de sessenta, porém as
condições históricas que vivíamos, geralmente
caracterizadas pelo autoritarismo, pela ditadura
impediram o avanço de idéias que pretendessem mudar
o status quo existente.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 56

ESCOLA DE FRANKFURT

A Escola de Frankfurt foi fundada em 1924 por


iniciativa de Félix Weil. Antes dessa denominação
tardia (só viria a ser adotada, e com reservas, por
Horkheimer na década de 1950), cogitou-se o nome
Instituto para o Marxismo, mas optou-se por
Instituto para a Pesquisa Social. Seja pelo
anticomunismo reinante nos meios acadêmicos
alemães nos anos 1920-1939, seja pelo fato de
seus colaboradores não adotarem o espírito e a
letra do pensamento de Marx e do marxismo da
época, o Instituto recém-fundado preenchia uma
lacuna existente na universidade alemã quanto à
história do movimento trabalhista e do socialismo.
Seguindo a tradição romântica de contestação ao
racionalismo, seus integrantes afirmaram que a
sociedade moderna, ao conquistar a natureza por
meio da tecnologia, provocara um empobrecimento
geral dos seres humanos, submetendo-os ao que
Goethe denominara de o domínio da "cinzenta
teoria".

A abertura política que peculiarizava o começo


da década de oitenta permitiu uma discussão mais
ampla das diversas tendências do pensamento. Por
outro lado, o positivismo perdeu a importância na
pesquisa das ciências sociais, especialmente, nos
cursos de Pós Graduação das Universidades, porque a
prática da investigação seguindo os seus parâmetros,
se transformou numa atividade mecânica, muitas vezes
alheia às necessidades dos países.
Você sabia?

Os enfoques fenomenológicos na pesquisa das


Sob a ótica da
fenomenologia o
ciências sociais, por sua vez, começaram, nos últimos
objetivo de sua
anos da década de setenta, aumentando sua
futura monografia
seria o de captar a importância, na medida em que diminuía a tradição
essência do seu
objeto de estudo, imperativa do positivismo. Nascida na segunda metade
seja ele uma sala de
aula, um método de do século XIX, a FENOMENOLOGIA se desenvolveu a
trabalho ou um
problema qualquer partir das análises de Franz Brentano sobre a
como o fracasso
escolar, a baixa intencionalidade da consciência humana. Ela trata de
qualidade do ensino
universitário ou a descrever, compreender e interpretar os fenômenos
hiperatividade dos
alunos.
que se apresentam à percepção. O método
fenomenológico se define como uma “volta as coisas
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 57

mesmas”, isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à


consciência, que se dá como objeto intencional.
:: Fenômeno:

Seu objetivo é chegar a intuição das essências,


isto é, ao conteúdo inteligível e ideal dos fenômenos, A palavra Fenômeno
é originária do
captado de forma imediata. Toda consciência é termo grego
phainomenon que
“consciência de alguma coisa”. Assim sendo, a significa
"observável"). O
consciência não é uma substância, mas uma atividade termo possui um
significado específico
constituída por atos (percepção, imaginação, na filosofia de
Immanuel Kant que
especulação, volição, paixão, etc.), com os quais visa contrastou o termo
'Fenómeno' com
algo. Seu método mais usual era o da REDUÇÃO 'Nómeno' na "Crítica
da Razão Pura". Os
FENOMENOLÓGICA. processo pelo qual tudo que é fenómenos
informado pelos sentidos é mudado em uma constituem o mundo
como nós o
experiência de consciência, em um fenômeno que experimentamos, ao
contrário do mundo
consiste em se estar consciente de algo. Coisas, como existe
independentemente
imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos, de nossas
experiências (thing-
eventos, memórias, sentimentos etc constituem nossas in-themselves, 'das
Ding an sich', 'das
experiências de consciência. O interesse para a coisas-em-sí').
fenomenologia não é o mundo que existe, mas sim o
modo como o conhecimento do mundo se dá, tem
lugar, se realiza para cada pessoa. A redução
fenomenológica requer a suspensão das atitudes,
crenças, teorias, e colocar em suspenso o
conhecimento das coisas do mundo exterior a fim de
concentrar-se a pessoa exclusivamente na experiência
em foco, porque esta é a realidade para ela.

A Fenomenologia pode ser resumida como


sendo o estudo das essências: a essência da percepção,
a essência da consciência (para citar alguns exemplos).

Por isso mesmo, um das idéias chaves da


fenomenologia é a noção de intencionalidade. Esta
intencionalidade é da consciência (de um sujeito) que
sempre está dirigida a um objeto. Tende a reconhecer o
princípio de que não existe objeto sem sujeito. Logo é
possível afirmar que a Fenomenologia é uma tendência
filosófica que, entre outros méritos, parece, tem o de
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 58

haver questionado os conhecimentos do Positivismo,


elevando a importância do sujeito no processo da
percepção da realidade.

Na Educação como um todo, ocorreu grande


entusiasmo em relação à uma nova visão que se tem
da pesquisa, que procura contextualizar historicamente
os dados levantados, levando-se em consideração a
subjetividade humana. O hábito da pesquisa positivista
de trabalhar, amarrado ao dado e à sua relação
fundamentalmente quantitativa com outra informação,
não permitia a possibilidade de interpretações mais
ricas e aprofundadas das realidades estudadas.

Para
navegar Muitos pesquisadores desenvolveram
preconceitos em torno da dimensão objetiva da
Um site bastante pesquisa, exaltando o lado subjetivo e a interpretação
interessante por
abordar não apenas qualitativa das informações. A busca de significado dos
o tema do
materialismo fenômenos e das suas bases culturais privilegiou o
dialético, como
também outros enfoque antropológico, especialmente na pesquisa
conceitos marxistas
é o de: participante e no campo da educação popular e de
http://www.pcb.org.
br/biblioteca/
adultos.
introducao.rtf

Nos anos setenta, na Inglaterra, iniciou-se uma


corrente fenomenológica fundamentalmente de
natureza sociológica, que, em seguida, avançou com
seus princípios no campo da Educação, determinando
ações e maneiras de encarar o desenvolvimento do
currículo na escola e, de maneira singular, a pesquisa
no ensino.

Se a pesquisa de natureza fenomenológica ainda


esbarrava na dificuldade de superar o hábito positivista,
os embaraços aumentam, notadamente, quando se
realiza a tentativa de investigar usando a
conceitualização básica do materialismo dialético. A
falta de tradição no emprego da análise marxista da
realidade, no meio acadêmico latino-americano, levanta
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 59

sólidas barreiras aos pesquisadores que desejam


percorrer este caminho.
Dica de
leitura

Para compreender melhor essa nova visão é


Um livro que pode
necessário conhecer um pouco mais sobre o auxiliar a entender a
importância do
MATERIALISMO DIALÉTICO e o MATERIALISMO
materialismo
HISTÓRICO. A idéia materialista do mundo reconhece histórico é foi escrito
por HABERMAS, J.
que a realidade existe independentemente da Para a reconstrução
do materialismo
consciência. Esta idéia-chave é fundamental para histórico. 2ª. ed.,
São Paulo:
compreender os dois tipos de materialismo citados. Brasiliense, 1990.

O MATERIALISMO DIALÉTICO é a base filosófica


do marxismo e como tal realiza a tentativa de buscar
explicações coerentes e lógicas para os fenômenos da
natureza, da sociedade e do pensamento. Por um lado,
o materialismo dialético é herança de uma longa
tradição na Filosofia Materialista. Por outro, é também
antiga concepção na evolução das idéias e baseia-se
numa interpretação dialética do mundo. Estas raízes se
unem para formar, no materialismo dialético, uma
concepção da realidade, enriquecida com a prática
social da humanidade. Esta concepção não somente
tem como base de seus princípios a matéria, a dialética
e a prática social, mas também ambiciona ser a teoria
orientadora da revolução do operariado. Seu propósito
maior é o estudo das leis mais gerais que regem a
natureza, a sociedade e o pensamento e, como a
realidade objetiva se reflete na consciência. A dialética
do materialismo é posição filosófica que considera a
matéria como a única realidade e que nega a existência
da alma, de outra vida e de Deus. Nesta ótica as leis do
pensamento correspondem às leis da realidade. A
dialética não é só pensamento: é pensamento e
realidade a um só tempo.

O MATERIALISMO HISTÓRICO por sua vez


significou uma mudança fundamental na interpretação
dos fenômenos sociais que, até o surgimento do Marxismo,
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 60

se apoiava em concepções idealistas da sociedade


humana. Na teoria marxista, o materialismo histórico
pretende a explicação da história das sociedades
humanas, em todas as épocas, através dos fatos
materiais, essencialmente econômicos e técnicos. A
sociedade é comparada a um edifício no qual as
fundações, a infra-estrutura, seriam representadas
pelas forças econômicas, enquanto o edifício em si, a
Importante
superestrutura, representaria as idéias, costumes,
O resgate do sujeito instituições (políticas, religiosas, jurídicas etc.).
é sem dúvida
alguma a grande
contribuição dessa RESUMINDO
escola de
pensamento.
O Materialismo Histórico Dialético surgiu a partir da
publicação do Manifesto Comunista de 1848, por Karl
Marx e Friedrich Engels (porém, Marx já apresentara
seus traços em 1847, em sua obra “A Miséria da
Filosofia”).
O materialismo designa um conjunto de doutrinas
filosóficas que, ao rejeitar a existência de um princípio
espiritual liga toda a realidade à matéria e a suas
modificações.
O materialismo histórico é uma tese do marxismo,
segundo a qual o modo de produção da vida material
condiciona o conjunto da vida social, política e
espiritual. É um método de compreensão e análise da
história, das lutas e das evoluções econômicas e
políticas. Trata-se de uma abordagem metodológica
ao estudo da sociedade, da economia e da história. A
análise materialista histórica parte da questão de que
a produção, e a troca dos produtos, é pilar de toda a
ordem social; existente em todas as sociedades que
desfilam pela história. Sendo assim, a repartição
destes produtos, aliada com ela à divisão dos homens
em classes ou camadas, é determinada pelo o que e
como a sociedade produz e pelo modo de trocar as
suas mercadorias.

Na obra A Miséria da filosofia (1847) Marx


esclarece tal ideal ao afirmar que:

As relações sociais são inteiramente


interligadas às forças produtivas.
Adquirindo novas forças produtivas, os
homens modificam o seu modo de
produção, a maneira de ganhar a vida,
modificam todas as relações sociais. O
moinho a braço vos dará a sociedade
com o suserano; o moinho a vapor, a
sociedade com o capitalismo industrial.
(http://www.coladaweb.com/
filosofia/mat_historico.htm)
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 61

Nota-se assim a defesa de um rigoroso


determinismo econômico em todas as sociedades
humanas o que acabou gerando um clima de polêmica
que Marx e Engels mantiveram com seus opositores.
Tal idéia só era atenuada com a afirmativa de que
existe constante interação e interdependência entre os
dois níveis que compõe a estrutura social.

Sob o paradigma marxista, calcado nesses dois


tipos de materialismos citados, o pesquisador deve ter
presente em seu estudo uma concepção dialética da
realidade natural e social do pensamento, a
materialidade dos fenômenos e que estes são possíveis
de serem conhecidos. Tais princípios básicos do
marxismo devem ser complementados com a idéia de
que existe uma realidade objetiva fora da consciência e
que esta é um produto, resultado da evolução do
material, o que significa que, para o marxismo, a
matéria é o princípio primeiro e a consciência é o
aspecto secundário, o derivado.

A discussão e a prática da pesquisa em


Educação, dentro desta linha de pensamento ainda é
considerada por muitos como incipiente. A realidade
dos países periféricos da América Latina requer seus Importante
próprios métodos de investigação e de explicação da
nossa realidade. Ao importarmos esquemas teóricos de Atualmente este tem
sido um dos grandes
países centrais, com alto padrão de desenvolvimento desafios para a
pesquisa no mundo
tecnológico, econômico e social, com a realidade todo. Deixar de
importar modelos
totalmente diferenciada, corremos o risco grave para o que nada tem a
acrescentar a sua
desenvolvimento das pesquisas sobre os nossos
realidade local. É
problemas sociais, políticos e econômicos. fundamental no caso
do Brasil que
possamos vir a
desenvolver
É importante ressaltar que não buscamos com pesquisas que
respondam as
esse pequeno resumo das três correntes analisadas, nossas demandas
nas mais diferentes
que correspondem aos principais paradigmas ordens: culturais,
econômicas,
metodológicos de se fazer e pensar pesquisa, esgotar o políticas etc.
assunto a respeito destas, mesmo porque este não é
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 62

nosso objetivo dessa aula. Nossa intenção foi a de


apresentar os métodos clássicos utilizados pelos
pesquisadores para interpretação da realidade que
estamos mergulhados, para facilitar o entendimento
dos que estão principiando na área de pesquisa sobre a
importância do estudo destes métodos.

EXERCÍCIO 2

Reflita sobre o pensamento de Einsten na citação


abaixo e teça suas considerações:

“Nós sabemos agora que a ciência não se desenvolve a


partir do empirismo, que nas construções da ciência
precisamos utilizar a invenção livre que só a posteriori
pode ser confrontada com a experiência. Quanto mais
uma cultura reconhece que sua interpretação do
universo é fruto de sua cultura, mais avançada é a sua
ciência”.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 3

Você já teve oportunidade de pesquisar em profundidade


sobre um determinado problema ou situação. Relate aqui
essa experiência de forma resumida, esclarecendo o que
estava sendo investigado e a que conclusões chegou.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 63

RESUMO

Vimos até agora:

 Vimos aqui resumidamente os conceitos de


pesquisa, pesquisa científica e metodologia da
pesquisa;

 Refletimos sobre o papel e a importância da


pesquisa científica para o desenvolvimento da
ciência, da tecnologia e da sociedade como um
todo;

 Vimos as diferenças e os pontos de interseção


entre as metodologias do tipo quantitativas e
qualitativas;

 Conhecemos de forma sucinta alguns dos


principais paradigmas metodológicos que
norteiam a pesquisa científica;

 Refletimos sobre a necessidade de como


docentes nunca abandonarmos a pesquisa,
uma vez que é preciso estar sempre
atualizados sobre aquilo que estamos
selecionando em termos de conteúdo, métodos
e instrumentos de trabalho.
4

AULA
O Delineamento da
Pesquisa Científica

A pesquisa científica que se traduz a partir de uma metodologia


que busca alcançar conhecimentos sistematizados e seguros
Apresentação

necessita de um planejamento específico onde são consideradas


as suas diferentes fases desde a sua concepção até a conclusão.
Dentre as diversas formas de classificar e agrupar os tipos de
pesquisas, a partir de metodologias diferenciadas de pesquisa,
esta aula destaca o estudo de alguns dos principais tipos de
pesquisa. São eles: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental,
pesquisa experimental, pesquisa de descritiva e estudo de caso.
Através da leitura das páginas seguintes você terá a chance de
estudar cada uma delas, diferenciando-as e entendendo o uso
específico de cada uma delas. Além disto, veremos também
algumas dicas que certamente lhe auxiliarão de forma significativa
na realização de pesquisas e estudos acadêmicos.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Compreender melhor o delineamento das diferentes etapas


necessárias para a produção de uma pesquisa e refletir sobre a
metodologia adequada para o alcance de seus objetivos;
 Refletir sobre alguns dos principais tipos de pesquisa, seus
objetivos, ferramentas e aplicabilidade de acordo com o tipo de
estudo a ser efetivado;
 Aprender e utilizar determinadas técnicas de pesquisa e dicas
de planejamento que favorecerão de forma significativa o
desenvolvimento de seus estudos.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 66

Delineamento da pesquisa

Importante Como já vimos, para que uma pesquisa possa


ser qualificada como científica esta precisa ser
Vale lembrar que conduzida de maneira sistematizada com rigor a partir
qualquer trabalho
qualificado como de um conhecimento que se refira à realidade. Para
científico deverá
possuir estas isso, utiliza-se um método próprio e técnicas
características,
inclusive sua futura específicas. De um modo geral o método da pesquisa
monografia.
científica consiste na elaboração de procedimentos
organizados que conduzam a compreensão e encontro
da solução do problema em estudo.

Toda pesquisa começa com algum tipo de


problema ou indagação, ou seja, uma questão ou
dúvida em discussão ainda não resolvida em qualquer
domínio de conhecimento (Gil, 2002). Em geral, esse
problema acompanhará a pesquisa em todas as suas
fases até a conclusão onde finalmente serão fornecidas
algumas respostas ao mesmo. É o que nos aponta
Köche (1997) ao afirmar que:

Pesquisar significa identificar uma


dúvida que necessita ser esclarecida e
construir e executar o processo que
apresenta a sua solução, quando não
há teorias que a expliquem, ou quando
as teorias que existem não estejam
aptas para fazê-lo.
(p. 121)

Importante Além do problema a ser estudado, sua natureza


e a situação espaço-temporal em que se depara,
Aí está o desafio de
convém ressaltar que o DELINEAMENTO de uma
se fazer pesquisa.
Por isso mesmo não pesquisa científica, isto é, o encadeamento de suas
é qualquer trabalho
acadêmico que pode etapas, é marcado também pela natureza e nível de
se intitular como
pesquisa. conhecimento do pesquisador. Assim sendo é preciso
considerar tanto variáveis próprias do objeto estudado
quanto variáveis relativas ao pesquisador a partir de
suas motivações (intenções), condições de pesquisa,
capacidade e seu contexto histórico.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 67

Sérgio Luna (1998) pontua alguns requisitos


fundamentais para a realização de qualquer pesquisa,
independentemente, do referencial teórico ou da
metodologia empregada que servem bem ao
entendimento do que estamos chamando aqui de
delineamento de uma pesquisa. Dentre eles destacam-
se: Para pensar
 A formulação de um problema de
pesquisa, isto é, uma ou mais questões Você já pensou no
tipo de pesquisa que
que se pretende(m) responder, e cujas irá desenvolver em
seu trabalho
respostas mostrem-se novas e relevantes monográfico? Em
caso positivo em
teórica ou socialmente; que grupo você
catalogaria seu
 A determinação das informações trabalho?
necessárias para encaminhar as
respostas a este;
 A seleção das melhores fontes dessas
informações em função de critérios;
 A definição de um conjunto de ações que
produzam essas informações;
 A seleção de um sistema de tratamento
dessas informações e de um sistema
teórico para sua interpretação;
 A produção de respostas às perguntas
formuladas pelo problema;
 A indicação do grau de confiabilidade das
respostas obtidas (observando se as
condições da pesquisa seriam as
melhores respostas possíveis);
 Finalmente, a indicação da generalidade
dos resultados, isto é, a extensão dos
resultados obtidos;

Gostaria de convidá-lo a pensarmos juntos sobre


o delineamento geral de uma pesquisa tal como
apresentado por Luna (1998), a partir da análise de
algumas questões bem práticas como se estivéssemos
de fato construindo uma monografia. Inicialmente é
preciso escolher o que pesquisar, isto é, o assunto a ser
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 68

pesquisado. Ao definir o assunto que se pretende


estudar, é necessário uma leitura preliminar para que
Dica do
professor se possa identificar, com um maior conhecimento de
causa, o tema que se pretende pesquisar. Esta é a
Ao escolher um etapa inicial onde se forma a idéia sobre o conteúdo
tema para
pesquisar, procure geral a ser estudado.
levar alguns critérios
em consideração
como número de
publicações No momento que se escolhe um tema
existentes sobre o
mesmo e a generalizado, busca-se contato com autores
possibilidade de
tecer análises (bibliografias) que permitam que você passe a conhecer
neutras sem
comprometimento
melhor o assunto. Nesta fase não se deve buscar
dos dados. Temas autores preferenciais, leia tudo o que puder sobre o
que odiamos ou
amamos demais tema, afinal, cada autor tenha a sua visão ou versão
dificultam uma
postura mais neutra sobre o mesmo e na busca pela verdade científica não
em relação à análise
confiável dos dados. se pode deixar influenciar ou Ter uma opinião formada
sobre o fato.

As LEITURAS SUCESSIVAS permitem uma


entrada segura no conhecimento específico que lhe
dará base em direção da pesquisa por um tema mais
específico. Neste momento as leituras lhe darão uma
idéia concreta sobre as dificuldades, questionamentos,
discordâncias e opiniões assumidas que vão esclarecer
Dica de
leitura o assunto e possibilitar ao pesquisador algumas pistas
sobre o tema principal a ser pesquisado na monografia.
Existem outras obras
voltadas para
metodologia de
pesquisa que poderão
lhe auxiliar no
entendimento das
questões citadas
como:

BAGNO, M. Pesquisa
na escola. 4ª ed., São
Paulo: Loyola, 2000.

SOARES, E.
Metodologia
científica. São Paulo:
Atlas, 2003.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 69

APROFUNDAMENTO DO TEMA E APROFUNDAMENTO


DAS QUESTÕES A ELE ASSOCIADAS

O pesquisador deve ter PACIÊNCIA, pois a meta Importante

é adquirir conhecimento sobre o tema para então


Especificamente no
produzir ações interiorizadas (conscientização do fato)
caso da monografia
em direção a novas ações exteriorizadas (opinião que a ser desenvolvida
em nosso curso.
possibilite discussão dialética sobre o tema). Vale lembrar que o
tema escolhido deve
estar relacionado,
ainda que
É importante lembrar que o pesquisador deve indiretamente, ao
mesmo. Assim, não
ter consciência que o tema não pode ultrapassar as adianta, por
exemplo, falar de
fronteiras de seu curso (direcionamento) sob pena de viagens espaciais se
o aluno estiver
proporcionar um aprofundamento em várias direções fazendo um curso de
supervisão escolar.
distanciando-o cada vez mais da situação problemática
O tema é
prevista. Se isto ocorrer, corre-se um sério risco do interessante, mas
inadequado ao
estudo não conduzir a lugar algum no que se refere ao curso.

problema a ser respondido. Mantenha-se FIEL AO TEMA


e direcione sua pesquisa bibliográfica neste sentido com
vistas a se aprofundar mais e mais no assunto o que
demanda tempo e dedicação.

PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
Dica do
professor

Toda pesquisa precisa em algum momento, de


modo geral no item metodologia, esclarecer os Essa é uma dentre
várias outras
procedimentos técnicos e práticos que viabilizaram sua possibilidades de se
definir o que seja
elaboração. Estes devem ser entendidos como as ações pesquisa. Procure
buscar também
que serão implementadas para a realização da mesma, outras definições
para complementar
assim como também as etapas para o desenvolvimento a sua própria
definição do tema.
da investigação, das fontes básicas e dos sujeitos da
pesquisa.

É importante que tais procedimentos respondam


a um plano detalhado de como alcançar o(s)
objetivo(s), respondendo às questões propostas e/ou
testando as hipóteses formuladas (caso elas existam).
A metodologia ideal é aquela que melhor se adequa à
solução do problema e aos objetivos do estudo em
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 70

função da população (sujeito(s), grupo(s),


instituição(ões) investigadas) e da amostra
(quantitativo da população que por sua vez obedece a

Quer determinados critérios).


saber mais?

Do mesmo modo é fundamental esclarecer quais


Sobre o tratamento
estatístico vale foram os instrumentos de coleta de dados (entrevistas,
lembrar que existem
hoje disponíveis no estruturadas ou não; questionários; testes; escalas;
mercado uma série
de softwares observação, participante ou não; instrumentos de
voltados apenas
para esse tipo de laboratório e outros) e, posteriormente, de análise e
trabalho como é o
caso do SPSS. tratamento dos mesmos. É fundamental que estes
últimos levem em consideração fatores como:

 O referencial teórico ou conceitual adotado na


pesquisa, caso tenha sido definido;

 Os resultados de estudos e pesquisas


anteriores. Isto permitirá ao pesquisador ter
indicações precisas sobre as dimensões e
categorias de análise ou as relações
esperadas entre as variáveis estudadas, a
partir das quais os dados devem ser
interpretados.

No caso de pesquisas de base quantitativa, que


impliquem dados quantitativos, deve-se especificar
ainda o tratamento estatístico dos dados (inclusive se
foi ou não utilizado algum tipo de programa de

Dica do tratamento estatístico como o SPSS).


professor

MODALIDADES DA PESQUISA
Essa é uma dentre
várias outras
possibilidades de se
definir o que seja Enquanto um conjunto de atividades propostas
pesquisa. Procure
buscar também por um estímulo em busca de conhecimento, uma
outras definições
para complementar pesquisa pode investigar a realidade sob os mais
a sua própria
diversos aspectos, com distintos objetivos e níveis de
definição do tema.
profundidade. Vimos que, partindo sempre de uma
dúvida ou problema, a pesquisa visa encontrar uma
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 71

resposta ou solução para o mesmo. Para tal necessita


seguir um caminho adequado, utilizar um método
científico. Assim, em toda a pesquisa, teremos três
elementos básicos: o problema que se deseja resolver,
a metodologia empregada, que deverá ser adequada ao
tipo de problema, e a solução.

A curiosidade, assim como a necessidade,


conduzem o ser humano a investigar a realidade sob
diversos aspectos e de diversas formas. O investigador,
por exemplo, poderá pretender satisfazer um anseio
intelectual pelo conhecimento. Neste caso, fará uma
pesquisa pura ou básica, visando a atualização de
conhecimentos. No entanto, poderá, estar em busca de
soluções para problemas concretos, necessitando de
pesquisa aplicada, com fins práticos em seu trabalho.

Vemos, assim, que existem diferentes tipos de


pesquisa, que são classificados pelos autores de acordo
com vários critérios. Optou-se, na presente aposta,
pela classificação feita nas obras de Cervo (2002) e
Kösche (1997), em virtude de seu alcance e
generalidade, muito embora alguns dos tipos de
pesquisa citados por estes autores também estejam
nas obras de Gil (1993), Santos (1999) e vários outros.

O pesquisador pode estudar a realidade sob os


mais variados aspectos, com distintos objetivos e
diversos níveis de profundidade. Dessa maneira, os
autores citados classificam os TIPOS DE PESQUISA de
acordo com diferentes critérios. Para cada obra que
trata desta temática parece existir uma classificação
diferente. Veja no quadro resumo abaixo como as
pesquisas podem ser agrupadas, de acordo com:
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 72

TIPOS DE PESQUISAS
Pesquisas educacionais,
A área de conhecimento acadêmicas, históricas, dentre
outras
Pesquisa de campo; pesquisa
O lugar onde se desenvolvem
de laboratório

Pesquisa pura e pesquisa


A utilização
aplicada

Pesquisa qualitativa e pesquisa


O caráter dos dados coletados
quantitativa

Pesquisa dedutiva e pesquisa


A forma de raciocínio
indutiva.

TIPOS DE PESQUISA
Dica do
professor

Segundo tais autores existem quatro principais


A partir de agora
vamos estudar todos tipos de pesquisa a considerar:
os diferentes tipos
de pesquisa. Não
deixe de ir se
questionando sobre  Exploratória;
qual você pretende
desenvolver  Bibliográfica;
futuramente em sua
 Descritiva;
monografia.
 Experimental.

Já tínhamos conversado superficialmente sobre


algumas delas na primeira aula, agora, todavia, vamos

Dica do
nos aprofundar um pouco mais nas mesmas.
professor

PESQUISA EXPLORATÓRIA
Esclarecendo:

Nesse sentido é
A pesquisa exploratória deve ser encarada como
possível dizer o primeiro passo do trabalho científico. Este tipo de
claramente que não
existe metodologia pesquisa tem por finalidade proporcionar maiores
pior ou melhor, o
que é existe é uma informações sobre determinado assunto; facilitar a
metodologia mais ou
menos adequada a delimitação de uma temática de estudo; definir os
um determinado tipo
de estudo. objetivos ou formular as hipóteses de uma pesquisa ou,
ainda, descobrir um novo enfoque para o estudo que se
pretende realizar diferente dos já existentes. Pode-se
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 73

dizer que a pesquisa exploratória tem como objetivo


central o aprimoramento ou descoberta de idéias para
serem pesquisadas.

Na maior parte dos casos, a pesquisa


exploratória envolve:

 Levantamento bibliográfico;
 Entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema
pesquisado;
 Análise de exemplos que estimulem a
compreensão do fato estudado.

Através da pesquisa exploratória avalia-se a


possibilidade de se desenvolver um estudo inédito e
interessante, sobre uma determinada temática. Sendo
assim, este tipo de pesquisa tem como objetivo
proporcionar maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito. De um modo geral, esta
pesquisa constitui um estudo preliminar ou preparatório
para outro tipo de pesquisa.

Quanto mais geral for o problema da pesquisa,


maiores são as chances da pesquisa ser considerada
exploratória.
Veja alguns exemplos:
 Qual é a importância da supervisão escolar na
Educação Atual?
 Qual é o papel do psicopedagogo junto ao processo
de aprendizado?
 O que é Educação On Line?
Note que esses problemas (questões-chave)
caracterizam pesquisas que claramente ainda estão
tentando entender melhor seu objeto de estudo
antes de construir hipóteses sobre os mesmos.
Note como tais problemas seriam mais centrados
caso fossem formulados da seguinte forma
favorecendo a construção de hipóteses
 Qual é a importância da supervisão escolar junto a
crianças desmotivadas?
 Qual é o papel do psicopedagogo com crianças
hiperativas?
 Como a Educação On Line pode contribuir para a
Educação Inclusiva?
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 74

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

A pesquisa bibliográfica investiga o Problema a


partir do referencial teórico existente nas fontes de
pesquisa. Para Cervo (2002), na área das ciências
humanas, a pesquisa bibliográfica é a pesquisa por
excelência se constituindo no requisito básico para a
pesquisa científica, a fim de se ter um conhecimento
prévio do estágio em que se encontra o assunto.
Dica do
professor

A maioria dos pesquisadores trabalha com


Uma boa dica para o
desenvolvimento de
fontes bibliográficas, isto é, com informações contidas
sua monografia, em livros, publicações, revistas, jornais e outros.
mesmo que você
ainda não tenha Mesmo aqueles que fazem pesquisas experimentais em
estabelecido os
detalhes da laboratórios, delimitam as suas pesquisas com base nas
abordagem desta é
buscar fazer uma informações existentes, mediante um exame
pesquisa
bibliográfica sobre bibliográfico sobre tudo que já foi escrito sobre o tema,
o(s) tema(s) que
pretende fora, aqueles que se encontram realizando pesquisas e
desenvolver em seu
trabalho. necessitam tomar ciência dos avanços que estão sendo
alcançados por outros pesquisadores.

A pesquisa bibliográfica tem como objetivo o


levantamento das contribuições científicas e culturais
existentes sobre certo tema. Assim, oferece meios para
definir, resolver problemas conhecidos ou, até mesmo,
explorar novas áreas de conhecimento. Para Malheiros
(2007) sua importância reside no fato de que:

A PESQUISA BIBLIOGRÁFICA levanta o


conhecimento disponível na área,
identificando as teorias produzidas,
analisando-as e avaliando sua
contribuição para compreender ou
explicar o problema objeto da
investigação. É fundamental a todos os
demais tipos de investigação, já que
não se pode proceder o estudo de
algo, sem identificar o que já foi
produzido sobre o assunto.

(http://www.profwillian.com/_diversos
/download/prof/marciarita/Pesquisa_n
a_Graduacao.pdf)
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 75

Vale destacar na citação de Malheiros (2007) o


fato da pesquisa bibliográfica se constituir tanto em Importante

uma pesquisa independente, como também em um


A validade do
pré-requisito para todas as pesquisas científicas. Assim desenvolvimento
sendo, torna-se essencial o aprendizado da pesquisa científico se
estabelece
bibliográfica, pois o pesquisador necessitará aplicá-la justamente nessa
possibilidade
em toda a sua vida acadêmica e/ou profissional, na destacada, onde
cada pesquisador
busca do conhecimento científico que enseja uma visão pode, mesmo num
outro momento
da realidade livre das amarras das opiniões pessoais, histórico, dar
continuidade ao
estigmatizadas ou preconceituosas. trabalho de outro.

De modo geral esta pesquisa utiliza-se de


material, em geral pertencentes a bibliotecas,
preparado, analisado e publicado em forma de livros,
artigos diversos e impressos. Assumindo a finalidade de
levantar as contribuições científicas e culturais
correntes sobre um determinado assunto ou tema.
Soma-se hoje a esta gama de materiais, os artigos e
revistas eletrônicas provenientes de sites da internet.

Através desse tipo de pesquisa, é possível obter


meios para definir e solucionar problemas conhecidos.
Por outro lado, pela pesquisa bibliográfica o
pesquisador encontra possibilidade para explorar novas
áreas, onde os problemas ainda não se solidificaram
suficientemente. Por isso Galliano (1986) a define como
sendo a pesquisa que

(...) se efetua tentando resolver um


problema ou adquirir novos
conhecimentos a partir de informações
publicadas em livros ou documentos
similares (catálogos, folhetos, artigos,
etc.). Seu objetivo é desvendar,
recolher e analisar as principais
contribuições teóricas sobre um
determinado fato, assunto ou idéia.
(p. 109)

O trabalho de pesquisa transpassa por três fases


de amadurecimento. No entender de Severino, essas
fases são as seguintes:
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 76

1ª FASE: Momento de invenção

Dica do
professor Quando prevalece a intuição. O momento da
descoberta, da formulação de hipóteses. É uma fase,
É muito interessante eminentemente lógica, em que “o pensamento é mais
verificar como
realmente passamos provocador e o espírito mais atuante”;
por essas fases no
decorrer da
produção de um
trabalho acadêmico. 2ª FASE: Pesquisa positiva
Experimente pensar
em suas
experiências.
Seja experimental, de campo ou bibliográfica.
Como afirma Severino (1983):

Nesta etapa, o espírito será posto


frente aos fatos, a outras idéias, tendo
a oportunidade de cotejar suas
primeiras intuições com as intuições
alheias ou com os fatos objetivos.Deste
confronto nascerá uma posição
amadurecida. Talvez seja preciso
abandonar idéias anteriores,
acrescentar outras novas, reformular
outras. Isto quer dizer que nossa
primeira formulação não será necessa
riamente definitiva: inicialmente e do
ponto de vista lógico, será tão
somente provisória.
(p. 112)

3ª FASE: Composição do trabalho

Com uma posição amadurecida, investe-se para


a composição do trabalho. Torna-se preciso ter em
mãos uma formulação definitiva do problema, que
poderá confirmar ou não a hipótese formulada na
primeira fase.

No presente tópico iremos nos voltar para a


segunda fase, quando entra em ação a pesquisa
bibliográfica. Em todas as atividades a serem efetuadas
durante o planejamento da pesquisa, ocorre uma
necessidade de muita consulta a obras publicadas,
momentos de reflexão e registros de anotações em
fichas e rascunhos.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 77

A fim de facilitar o seu estudo, dividimos o texto


em duas partes. Na primeira parte enfocaremos o
planejamento da pesquisa bibliográfica e na segunda
parte, a execução da pesquisa bibliográfica.

O PLANEJAMENTO DA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA


EM RELAÇÃO À SELEÇÃO DO TEMA
Importante

O pesquisador considerando a sua experiência,


formação, tendências, inclinações pessoais e interesse Esses são aspectos
fundamentais para
por um assunto, escolherá um Tema, tomando por base quem ainda está
escolhendo seu
sua disponibilidade de tempo e de recursos destinados tema.

para a pesquisa a ser desenvolvida, ora em fase de Esteja atento as


dicas ok!
planejamento.

De modo a encontrar facilidades na seleção do


Tema, o pesquisador precisa recorrer a leituras,
observações e análises de situações divergentes. Por
outro lado, quanto a escolha do tema, não deverá
ignorar aspectos como importância, originalidade e
viabilidade.
Dica do
professor

Decerto, o “uso da biblioteca” se apresentará


Se próximo a sua
como imprescindível, tanto porque nela se encontram
residência não
as experiências, observações e bases conceituais já existirem bibliotecas
isso não deve ser
realizadas, sem as quais é impraticável haver um empecilho ao
desenvolvimento do
verdadeira observação científica. Como sustenta Rudio seu trabalho. Use os
recursos que
(2001) estiverem ao seu
alcance.

a revisão da literatura ajuda ao


pesquisador delimitar e definir o
problema, fazendo com que se evite o
manejo de idéias confusas e pouco
definidas. Além disto, faz o
pesquisador evitar os setores estéreis
do problema, considerando as
tentativas anteriores, que já foram
feitas neste âmbito, e evitando a
duplicação de dados, já estabelecidos
por outros. A revisão da literatura pode,
ainda, ajudar o pesquisador na revisão
da metodologia que pretende usar pelas
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 78

sugestões e oportunidades de
deduções,recomendadas por pesquisas
anteriores para que fossem feitas
depois.
(p. 49)

Isso sem mencionar, como ressalta Rudio


Dica do
professor (2001), que a pesquisa bibliográfica pode servir
também:
Como você pode
perceber existem
muitas formas de  A formulação de hipóteses garantindo-lhes
coleta de dados.
Como já dissemos validade e consistência através da busca de
você deve escolher
as que melhor uma maior sintonia entre estas e o
respondem a sua
realidade ou a conhecimento global da ciência tanto na área
necessidade do
tema em estudo. específica que se está estudando quanto em
outras áreas através de um olhar
interdisciplinar.
 A escolha da metodologia de pesquisa a ser
adotada de forma mais apropriada ao
trabalho em andamento, bem como;
 A escolha ou elaboração dos instrumentos de
pesquisa voltado para a coleta e análise dos
dados de acordos com os procedimentos
científicos que balizarão o trabalho.

EM RELAÇÃO À COLETA DE DADOS

Dica do
professor As informações necessárias, visando à pesquisa
a ser realizada, podem ser obtidas das mais variadas
O cuidado com a maneiras, de acordo com o critério ideal definido pelo
bibliografia na
elaboração de um pesquisador. Todo trabalho científico envolve um amplo
trabalho acadêmico
é de fundamental leque de ELEMENTOS UTILIZADOS NA BUSCA DO
importância. Assim
cuide de anotar OBJETIVO DA PESQUISA.
todos os detalhes da
obra onde você fez
determinada
citação: nome Essas informações bibliográficas permitirão a
completo do autor,
nome da obra, confirmação das informações, aprofundamento do
volume, ano, edição,
editora, local e ano
estudo mediante a utilização das obras citadas, a
da publicação e a avaliação da profundidade do trabalho e, também, o
página de onde
retirou o texto. tempo de existência das informações e idéias que
sustentam a argumentação do pesquisador. Podemos
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 79

buscar informações em: enciclopédias, dicionários,


livros especializados, revistas, jornais, notas de aulas,
arquivos, catálogos, bibliografia e internet entre outros.

Nas fontes da biblioteca, encontramos: Dica do


professor

 Nas enciclopédias: informações que permitem


uma visão panorâmica sobre determinado Com um pouco de
experiência a leitura
assunto; da bibliografia de
um trabalho pode
 Nos dicionários: informações de ordens geral fornecer uma série
de dados sobre a
e /ou especializada; definições amplas, proposta do mesmo,
sua base ideológica
sentido das palavras ou informações de ordem norteadora, seus
pressupostos e até
geral no setor especializado; mesmo as
alternativas que o
 Nos livros especializados: informações mesmo pode vir a
detalhadas sobre determinado assunto, propor.

considerando-se um conhecimento mais


profundo;
 Nas revistas e jornais: informações atuais e
abordagem dinâmica da temática;
 Nos arquivos e catálogos: bibliografias,
relação de livros, resumos informativos
(abstracts);
 Nas bibliografias: relações de livros, teses,
dissertações, monografias, folhetos, relatórios
e comentários sobre determinado assunto.
Importante

A Bibliografia é o conjunto de obras derivadas


É bom lembrar que
sobre certo assunto ou tema, escritas por diversos
os recortes de
autores, em distintas épocas. Utiliza-se todas ou partes jornais e revistas,
além das
das fontes bibliográficas, para haurir diretamente o que informações da
Internet, podem ser
interessará à elaboração de nossa pesquisa. Como anexadas a
monografia, como
vimos, em síntese, após o estabelecimento e forma de
comprovação.
delimitação do tema de trabalho e formulados o
problema e a hipótese, cabe realizar o levantamento.
Sobre o levantamento da documentação existente, no
dizer de Severino:
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 80

Esta é a fase da HEURÍSTICA, ciência,


técnica e arte de pesquisa de
documentos. Trata-se de desencadear
uma série de procedimentos para a
localização dos documentos que
possam interessar ao tema discutido.
Trata-se de uma busca metódica
destes documentos. (...)

A Bibliografia como técnica tem por


objetivo a descrição e a classificação
dos livros e documentos similares,
segundo critérios tais como autor,
gênero literário, conteúdo temático,
data, etc. Esta técnica resulta em
Repertórios, Boletins, Catálogos
Bibliográficos. E é a eles que se deve
recorrer quando se visa elaborar a
Bibliografia Especial porque a escolha
das obras deve ser criteriosa, retendo
apenas aquelas que interessem
especificadamente ao assunto tratado.
(Severino, p. 113)

Assim, concluído o levantamento bibliográfico,


tem partida o momento do trabalho da pesquisa
propriamente dita, o momento da execução da
pesquisa bibliográfica.

PESQUISA DESCRITIVA E DOCUMENTAL

Dica de
leitura A PESQUISA DOCUMENTAL CORRESPONDE A
UMA SUBDIVISÃO DA PESQUISA DESCRITIVA. Aquela
Recentemente
que se caracteriza pelo estudo dos fatos e fenômenos
Eduardo Vasconcelos
foi o autor de um físicos e humanos. De acordo com Cervo (2002), a
excelente livro que
aborda a pesquisa pesquisa descritiva procura descobrir, com a maior
experimental
através do viés da precisão possível, a freqüência com que um fenômeno
interdisciplinaridade.
ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza
Complexidade e
pesquisa e características. Busca detalhar a exposição de todos
interdisciplinar:
epistemologia e os passos da coleta e registros de dados. Expõe:
metodologia
operativa. Rio de
Quem? Quando? Onde? Como?
Janeiro (Petrópolis):
Vozes, 2002.
A Pesquisa Documental investiga a realidade
Vale a pena
consultá-lo. presente, diferentemente da pesquisa histórica, porque
esta se volta para o passado. Estuda documentos com
o fim de descrever e comparar tendências, usos e
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 81

costumes. Ademais, Cervo alerta, ainda, que toda


pesquisa requer coleta de dados de variadas fontes,
que se desenvolve por meio de documentação direta ou
indireta.

A documentação direta é aquela utilizada pelo


processo de recolhimento de dados através de
entrevistas, observações e questionários locais da
ocorrência dos fenômenos. São os casos das pesquisas
de laboratório e de campo. Quando o levantamento de
dados é efetuado por outras pessoas, acontece o
processo de documentação indireta.

Enquanto a pesquisa bibliográfica utiliza-se


fundamentalmente das contribuições dos diversos
autores sobre determinado assunto, enquanto a
pesquisa documental utiliza-se de materiais que não
receberam tratamento analítico. As fontes de pesquisa
documental são mais diversificadas e dispersas do que
as da pesquisa bibliográfica. Conforme Gil (1991)
aponta, na pesquisa documental existem os
documentos de primeira mão, ou seja, aqueles que não
receberam nenhum tratamento analítico tais como os
documentos conservados em órgãos públicos e
instituições privadas, e os documentos de segunda mão
que de alguma forma já foram analisados tais como:
relatórios de pesquisa; relatórios de empresas; tabelas
estatísticas e outros.

Vale lembrar que consultas a cartas, circulares,


certidões, declarações, projetos, planos de ensino,
planos de aula, projeto político-pedagógico, projeções,
mapas, diplomas, anotações, enfim todo material
impresso diferente de livro ou material de internet,
independente de sua data, pode ser entendido como
documento. E se a análise destes materiais for
importante para sua pesquisa, você fará sim uma
pesquisa documental.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 82

PESQUISA EXPERIMENTAL

A PESQUISA EXPERIMENTAL, por sua vez,


pretende explicar as razões e a maneira pela qual o
fenômeno estudado é produzido. Graças às inovações
tecnológicas existem meios, através de aparelhos e
equipamentos, que possibilitam alcançar os objetivos
da pesquisa, permitindo perceber as relações existentes
entre as variáveis estudadas.

Dessa maneira, por meio da pesquisa


experimental, realiza-se a manipulação direta das
variáveis relacionadas com o objeto da investigação.
Cervo expõe que o manuseio das variáveis implica em
certos conhecimentos.

Através da criação de situações de


controle, procura-se evitar a
interferência de variáveis intervenientes.
Interfere-se diretamente na realidade,
manipulando-se a variável independente
a fim de observar o que acontece com a
dependente.

(Cervo, 2002, p.69)

Cabe observar que a pesquisa experimental não


se resume apenas as pesquisas de laboratório. Os
termos da ‘pesquisa de laboratório’, assim como a de
‘Campo’, apontam tão somente o contexto de
localização realização, isto é, onde ela se realizam.
Podem ser experimental que se desenrola tanto em
laboratório quanto no campo. Segundo Claude Bernard
considerado o pai do método experimental, este se
distingue através de três etapas: a OBSERVAÇÃO, a
HIPÓTESE e a EXPERIÊNCIA.

1ª ETAPA

Os fatos estabelecidos através da OBSERVAÇÃO


devem servir de ponto de partida para o pensamento;
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 83

2ª ETAPA

Pensamento deve imaginar uma tentativa de


explicação (a HIPÓTESE); e

3ª ETAPA

Esta explicação precisa ser controlada e


confirmada por outros fatos que não forma
considerados inicialmente (EXPERIÊNCIA).

Fourastié (1967) a partir de Bernard considera,


então que a atividade científica se resume em três
grandes fases:

 A exploração da realidade;
 A elaboração da Hipótese;
 O controle e a exploração da hipótese que
pode ou não gerar.
Importante

O "método experimental" consiste, portanto, no


Vale esclarecer,
processo de passagem da observação à hipótese, da
entretanto, que nem
hipótese à experimentação e finalmente desta à tese toda pesquisa busca
essa relação causal.
(ou, na formulação mais moderna de Popper e outros: Ela é mais comum
no tipo de pesquisa
"hipótese"-observação-experimentação-tese, em que a experimental. Em
Alguns casos trata-
primeira etapa é, mais do que uma "hipótese", um se de um estudo de
caráter exploratório
"modelo hipotético-dedutivo”, formulação racionalista sem hipóteses
prévias.
que não deixa de poder ser considerada como fazendo Essas
provavelmente só
parte integrante do "método experimental") (Fourastié, seriam elaboradas
após esse estudo
1967).
inicial do objeto de
estudo analisado.
A OBSERVAÇÃO corresponde à exploração do
real, ao armazenamento dos dados. Condição sine qua
non do trabalho científico. Uma coleção de fatos não
pode, por si só, constituir uma teoria científica, todavia,
ela fornece uma base fundamental para o estudo em
andamento além de estudos posteriores. A HIPÓTESE
esboça a trama explicativa e tenta revelar as relações
não diretamente percebidas entre os fenômenos. Sem
hipótese não há atividade científica.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 84

A EXPERIMENTAÇÃO, por sua vez, controla a


explicação sugerida pela hipótese. Mais difícil ainda do
que a etapa precedente, ao contrário do que por vezes
se julga, a experimentação deve proceder não somente
à dosagem dos fatos destinados a confirmar a hipótese,
mas confrontar-se a cada instante com a teoria. Porque
se a teoria precisa de verificação experimental, não é
menos verdade que os fatos, para serem
verdadeiramente "fatos científicos" devem ser
verificados teoricamente. Em suma nesta perspectiva, a
observação sugere a idéia, a hipótese dirige a
experiência e a experimentação julga a idéia (Fourastié,
1967).

De modo geral a pesquisa experimental


investiga, portanto, a relação existente entre
fenômenos buscando conhecer se um é causa do outro.
Como afirma Rudio (2001), “a pesquisa experimental
está interessada em verificar a relação de causalidade
que se estabelece entre variáveis, isto é, em saber se a
variável X (independente) determina a variável Y
(dependente)”.

Dica de
leitura Para tal, estabelece uma situação de controle
efetivo, empenhando impedir que, na pesquisa
Esperamos que o desenvolvida, estejam presentes influências estranhas
exemplo tenha sido
claro. Para ter acesso ao processo de verificação que se pretende conduzir.
a outros exemplos
recomendamos a Posteriormente, interfere-se, diretamente, na realidade,
leitura da obra de:
de acordo com as condições que foram determinadas,
ALVES-MAZZOTTI, A.
& manuseando a variável independente a fim de observar
GEWANDSZNAJDER,
F. O método nas o que ocorre com a variável dependente. Assim, a
ciências naturais e
sociais - pesquisa variável independente (X) será a causa da variável
quantitativa e
qualitativa. São
dependente (Y), nos seguintes casos:
Paulo: Pioneira,
1998.
 Y não apareceu antes de X.
 Y varia quando há também variação em X.
 Outras influências não se fizeram X aparecer
ou variar.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 85

Por exemplo, é instituída uma pesquisa para se


verificar se num determinado grupo de pessoas a
prática da meditação (variável independente) evita
doenças coronárias (variável dependente). Para que a
nossa resposta seja positiva (meditação reduz as
doenças coronárias) é preciso observar que:

 As doenças coronárias reduziram, após o


início da prática de meditação;
 As doenças coronárias sumiram depois da
prática da meditação;
 Existe uma correlação negativa entre a
efetividade da prática meditativa e
quantidade de doenças coronárias;
 Existem fatores determinantes para mostrar a
ocorrências de doenças coronárias naqueles
que não praticam meditação.

Em síntese, como diz Rudio (2001):

Na pesquisa experimental, o
pesquisador manipula deliberadamente
algum aspecto da realidade, dentro de
condições anteriormente definidas, a
fim de observar se produz certos
efeitos. A este procedimento denomina-
se experimento: não existe pesquisa
experimental sem experimento.
(Rudio, 2001, p. 69)

EXEMPLIFICANDO

Como havíamos dito nesse tipo de pesquisa não


existe preocupação com a testagem de hipóteses e
sim com o estudo da relação entre as diferentes
variáveis de um fenômeno. Exemplo: "Os efeitos da
alta temperatura na dificuldade de concentração em
sala de aula em Manaus". Considerando que o calor
não será produzido, mas já existe na localidade.
Esse tipo de estudo pretende entender melhor como
a variável "calor" afeta a variável "concentração" de
uma forma descritiva.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 86

PESQUISA DESCRITIVA OU EX-POST-FACTO

A PESQUISA EX-POST-FACTO, NÃO-


EXPERIMENTAL, OU PESQUISA DESCRITIVA, constata e
avalia as relações entre as variáveis, que se
manifestam espontaneamente em fatos, situações e
nas condições existentes. Nesse tipo de pesquisa não
ocorre manipulação a priori das variáveis. A
constatação de sua manifestação acontece a posteriori,
por isso o uso da nomenclatura em latim de “ex-post-
facto”. A pesquisa descritiva se distingue da
experimental, anteriormente estudada, no que diz
respeito à manipulação das variáveis.

Na pesquisa experimental há criação e produção


de condições específicas, normalmente de forma
aleatória, quanto a amostra, e com elevado poder de
manipulação das variáveis independentes e controle
das não conhecidas. Essa pesquisa pretende dizer e
explicar de que modo ou por que causas o fenômeno é
produzido.

A pesquisa descritiva, ex-post-facto, investiga as


relações entre diversas variáveis de um certo fenômeno
sem manipulá-las. Procura-se a constatação da
freqüência com que um fenômeno ocorre, sua relação e
ligação com outros, além de suas características e
natureza.

Nesta pesquisa, o pesquisador busca conhecer e


interpretar a realidade, sem nela imprimir nenhuma
interferência para criar modificações. A palavra chave
é: descrever. Narrar, descobrir e interpretar os
fenômenos que acontecem.

Para isso, a pesquisa precisa ser submetida


constantemente às exigências metodológicas.
Poderemos enumerar os PASSOS METODOLÓGICOS, da
seguinte maneira:
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 87

1º PASSO

Enunciar o problema em termos de indagar se


um certo fenômeno ocorre ou não;

2º PASSO

Que variáveis constituem o problema;

3º PASSO

Como classificar e que semelhanças ou


diferenças existem entre determinados fenômenos;

4º PASSO

Analisar e interpretar os dados obtidos, podendo


ser estes qualitativos ou quantitativos.

A pesquisa ex-post-facto (descritiva) pode


assumir variadas formas. Dentre essas, exceto a
Documental (estudada anteriormente) e o Estudo de
Caso, que veremos detalhadamente mais adiante,
destacamos as seguintes formas a seguir:

ESTUDOS EXPLORATÓRIOS

Chamados por alguns de pesquisa quase


científica ou não científica. Não elaboram hipóteses e se
restringem a definir objetivos e buscar informações
mais aprofundadas sobre certo assunto. Esses estudos
são recomendados para a ampliação de conhecimentos
sobre o problema estudado.

PESQUISA DE OPINIÃO

Busca conhecer tendências, atitudes, pontos-de-


vista, comportamentos e preferências sobre algum
assunto. Serve para subsidiar a tomada de decisão.
Abrange uma ampla faixa de investigação, que objetiva
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 88

a identificação de falhas ou erros, descrever


procedimentos, reconhecer tendências, descobrir
interesses e valores.

PESQUISA DE MOTIVAÇÃO

Dica do
professor Procura saber as razões inconscientes ou ocultas
que levam a determinar a preferência por algum
Lembre-se de que produto ou comportamento/ atitudes. Enfim, as
não existe pesquisa
melhor ou pior e sim Pesquisas Descritivas (Ex-post-facto) visam estudar e
a mais adequada ao
tipo de estudo ou descrever as características, propriedades ou relações
pesquisa a ser
realizada. correntes na realidade objeto da pesquisa. Da mesma
Analise com calma
cada um dos tipos e forma que os exploratórios, os estudos descritivos
veja qual seria
aquele que responde contribuem para uma pesquisa mais ampla e completa
melhor ao desafio do
tipo de trabalho
do problema e da hipótese.
científico que você
pretende realizar.
ESTUDO DE CAMPO

O Estudo de Campo consiste na observação dos


fatos da forma que ocorrem espontaneamente, na
coleta de dados e no registro de variáveis consideradas
significativas para posteriores análises. Esse tipo de
pesquisa, não corresponde à pesquisa experimental,
por deixar de produzir ou de não reproduzir os fatos
investigados. O estudo de campo impede o isolamento
e o controle das variáveis relevantes, porém permite o
estabelecimento de relações constantes entre
determinadas condições (variáveis independentes) e
certos eventos (variáveis dependentes), que são
observadas e comprovadas.
Convém sinalizar que pesquisas de observação
dependem de tempo afinal é necessário ir até a
situação a ser observada, em grande parte das
vezes através de uma permissão anterior de uma
autoridade qualquer como a diretora da instituição,
ou o gerente do setor da empresa. Os dados são
transcritos e/ou gravados e trabalhados
posteriormente pelo pesquisador. Além disso, o
número de visitas até a situação observada é difícil
de deduzir a priori. Tudo isso permite um material
excelente para análise, mas, contudo, demanda um
tempo considerável. Salvo se você já faz parte da
instituição a ser estudada, conhece bem o contexto
a ser analisado ou algo do tipo.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 89

Após a delimitação do problema e de acordo


com a natureza da pesquisa (sociológica, psicológica,
antropológica, mercadológica, política, econômica etc.),
torna-se necessário determinar as técnicas que serão
aplicadas na coleta de dados, as fontes de amostragem
e as técnicas de registros dos dados coletados.
Dica de
leitura

Existem diversas técnicas para a coleta de


dados, dentre as quais enumeramos a ENTREVISTA, o No já citado livro,
“Como produzir uma
QUESTIONÁRIO e o FORMULÁRIO. monografia: passo a
passo”, você terá
exemplos em anexo
de entrevista e
ENTREVISTA questionários.

Funda-se no diálogo com o propósito de colher


dados relevantes para a pesquisa conduzida, a partir de
certa pessoa entrevistada, determinada fonte.

Deve o pesquisador, para a aplicação dessa


técnica, observar os seguintes passos, enumerados por
Cervo (2002):

 Identificar os dados ou as variáveis


sobre as quais serão feitas as
questões.
 Selecionar o tipo de pergunta a ser
utilizada em face das vantagens e
desvantagens de cada tipo, com
vistas ao tempo a ser consumido,
para obter os dados e a maneira de Dica do
tabulá-los e analisá-los. professor
 Elaborar uma ou mais perguntas
referentes a cada dado a ser
Você que pretende
levantado. utilizar a entrevista
 Analisar as questões elaboradas como um
quanto a clareza da redação, instrumento de
classificação e sua real necessidade. coleta de dados em
seu futuro trabalho
 Codificar as questões para a monográfico, deve
posterior tabulação e análise com a dar uma atenção
inclusão dos códigos no próprio especial as
instrumento. observações de
Cervo ao lado bem
 Elaborar instruções claras e precisas como as dicas da
para o preenchimento do página seguinte.
instrumento.
 Submeter as questões a outros
técnicos para sanar possíveis
deficiências.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 90

 Revisar o instrumento para dar


ordem e seqüência às questões.
 Submeter o instrumento a um pré-
teste para detectar possíveis
reformulações ou correções, antes
de sua aplicação.
(Cervo, p. 135)

Cabe algumas recomendações ao entrevistador,


para a realização da Entrevista:
Dica do
professor

 Ser discreto, evitando ser importuno;


Na hora de optar
 Deixar muito à vontade o entrevistado;
pelo instrumento de
coleta de dados,  Ser habilidoso e elegante ao evitar que a
leve em conta a
disponibilidade de conversa se desvie dos propósitos da
tempo, acesso as
instituições, pesquisa;
facilidade de
contato, enfim os  Apenas coletar dados e não discuti-los com o
elementos que você
dispõe a seu favor entrevistado;
para elaboração do
trabalho. Por isso  Falar pouco e ouvir muito;
não se apresse,
escolha com calma,  Não confiar excessivamente na memória,
Se precisar de nossa anotando cuidadosamente as informações
ajuda é só entrar em obtidas ou gravando as mesmas com o uso
contato com nossa de gravador ou filmadora após consulta ao
equipe. De qualquer
forma sua matriz de entrevistado e sua devida permissão. As
pesquisa enviada anotações devem ser feitas de modo sucinto
previamente a no momento da entrevista e de maneira
elaboração da ampliada - com mais detalhes - após a
monografia já irá
auxiliar bastante mesma.
nosso diálogo nesse
sentido.
QUESTIONÁRIO

Nessa técnica a pessoa fonte das informações


escreve ou responde por escrito as questões elencadas.
Difere da entrevista, quando o entrevistado fala.

O questionário oferece a vantagem da aplicação


simultânea a um elevado número de entrevistados.
Afora a manutenção do anonimato das fontes. Por outro
lado, essa técnica exige certos cuidados, como por
exemplo:

 Apresentar todos os seus itens de modo bem


claro, para que a pessoa inquirida possa
responder com precisão, sem criar ambigüidade;
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 91

 As questões precisam ser bem articuladas;


 Apresentação de explicações iniciais para o
correto preenchimento do questionário.

FORMULÁRIO
Dica de
leitura

Corresponde a um tipo de questionário, a ser


Para entender
preenchido pelo próprio pesquisador, conforme as
melhor esse tipo de
respostas do entrevistado. Possui a vantagem de se pesquisa através de
outros exemplos.
poder esclarecer verbalmente, qualquer dúvida que Aconselhamos a
leitura da obra de
surgir. RICHARDSON,
Roberto. Pesquisa
Social: Métodos e
Técnicas. São Paulo:
Em síntese, o Estudo de Campo requer um Atlas, 1999.

planejamento para a coleta de dados, assim como para


os registros das informações colhidas. Essa forma de
consulta pode se realizar por intermédio de entrevistas,
questionários e formulários. De modo permitir a coleta
de dados que possibilitará a análise e conclusões,
segundo os objetivos previamente definidos.

ESTUDO DE CASO

A pesquisa descritiva apresenta como uma das


suas formas ou subdivisões o ESTUDO DE CASO. De
acordo com o que já estudamos, a característica da
pesquisa descritiva é a investigação de fatos e
fenômenos humanos e físicos sem a interferência do
pesquisador.
Dica de
leitura

De modo geral, o Estudo de Caso realiza uma


pesquisa sobre algum indivíduo, grupo ou comunidade, Veja também a obra
de Becker sobre a
visando estudar diversos aspectos da vida ou o seu forma das Ciências
Sociais fazerem
ciclo. Consiste, assim, em verificar uma situação real, pesquisa:

para que seja elaborada uma análise ou PROPOSTAS BECKER, H. Métodos


de pesquisa em
alternativas de solução. ciências sociais. São
Paulo: HUCITEC,
1992.
Não obstante o estudo de caso caracterizar-se
pelo fato de as situações serem reais ou com base no
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 92

real, o pesquisador pode aplicar hipóteses, sem deixar


de ter como parâmetro a realidade. Dessa maneira, a
técnica de estudo de casos apresenta os seguintes
objetivos:

 Oferecer oportunidades para aplicação de


conhecimentos assimilados em situações da
realidade;
 Promover condições para o exercício da
análise e da prática da tomada de decisões.

Como podemos perceber, o estudo de caso


torna-se recomendável para a compreensão de uma
determinada situação e para a interpretação de fatos,
como alicerce para uma ação posterior. Quando a
coleta de dados da realidade também se faz presente
como a técnica por excelência, de igual forma quanto
as demais subdivisões da pesquisa descritiva. De
acordo com o objetivo da pesquisa, existem dois tipos
de estudo de caso: Estudo de Caso - Análise e Estudo
de Caso – Problema.

No primeiro caso, anteriormente citado, a


pesquisa visa desenvolver um trabalho analítico sobre o
objeto de estudo. A intenção é DISCUTIR, ESMIUÇAR,
embora possa não contemplar uma solução, no

Dica do universo das diversas soluções alternativas possíveis,


professor
dentro da delimitação do problema determinado.

Na conclusão desta
aula você encontrará Quanto ao ESTUDO DE CASO – PROBLEMA, a
um resumo de boa
parte do que vimos pesquisa objetiva ALCANÇAR UMA SOLUÇÃO. Uma
sobre pesquisa.
Acompanhe cada solução QUE SEJA A MELHOR POSSÍVEL, dentro da
parágrafo e se tiver
alguma questão. delimitação do objeto de estudo e da sua
Não deixe de anotar.
Se não conseguir problematização. Caracteriza-se por um esforço de
obter respostas por
outros meios é só
síntese. Essa técnica contribui para a capacidade de
entrar em contato tomar decisões, de assumir uma linha de ação após a
conosco.
análise de várias alternativas.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 93

Cabe ao pesquisador manter o cuidado de não


se deixar influenciar pelo risco de considerar que o
Estudo de Caso visa chegar a conclusões dogmáticas,
únicas ou ao consenso geral. Para isso necessita adotar
certos procedimentos:

 Definir os objetivos a serem alcançados com


o estudo de caso;
 Firmar os conhecimentos que serão aplicados
na análise de caso e as formas de coletas de
dados;
 Selecionar o fato real, objeto de estudo, ou,
então ter bem claro a Hipótese de trabalho;
 Manter como base de todo o estudo os dados
da realidade;
 Não descurar do tempo disponível para a
pesquisa, considerando o tempo de
elaboração de suas conclusões.

Para se compreender o sentido da pesquisa com


estudo de caso, imaginemos o exemplo de uma
determinada classe de aula de uma Escola Pública.

A pesquisa desejará conhecer a sua natureza,


sua composição, processos que a constituem ou nela se
realizam. O estudo de caso poderá se voltar para algum
aspecto particular daquela classe de aula, naquela
escola específica.

A pesquisa que busca alcançar conhecimentos


sistematizados e seguros necessita de um
planejamento do processo de investigação. O trabalho
de pesquisa necessita de uma delimitação que depende
das características do objeto de estudo e do nível de
conhecimento do pesquisador. O estudo realizado
mostra que cada tipo de Pesquisa possui, além do seu
núcleo de procedimentos, suas peculiaridades próprias.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 94

A pesquisa bibliográfica investiga o Problema


:: Pesquisa
bibliográfica: a partir do referencial teórico existente nas fontes de
pesquisa. Trabalha com fontes bibliográficas, isto é,
É costume associar com informações contidas em livros, publicações,
a pesquisa
bibliográfica com a revistas, jornais e outros. Mesmo as pesquisas
fundamentação
teórica, ou seja, a experimentais em laboratórios, delimitam as suas
base teórica que
fundamenta seu pesquisas com base nas informações existentes,
estudo. Uma
pesquisa mediante um exame bibliográfico sobre tudo que já foi
bibliográfica cuidada
mostra que você não escrito sobre o tema.
está inventando as
informações do seu
trabalho, mas Este tipo de pesquisa tem como objetivo o
trabalhando a partir
de estudos e levantamento das contribuições científicas e culturais
pesquisas de outros
autores. existentes sobre certo tema. Desse modo, o “uso da
biblioteca” oferece meios para definir, resolver
problemas conhecidos ou, até mesmo, explorar novas
áreas de conhecimento. A Pesquisa Documental
investiga a realidade presente. Estuda documentos com
o fim de descrever e comparar tendências, usos e
Dica do
professor costumes.

Chegamos ao final
A Pesquisa Experimental pretende explicar as
de mais uma aula.
Parabéns por ter razões e a maneira pela qual o fenômeno estudado é
vencido mais uma
etapa de trabalho. produzido. Poderá utilizar aparelhos e equipamentos
Entendemos que a
leitura e estudo da que possibilitam alcançar os objetivos da pesquisa,
mesma poderá
auxiliá-lo de forma permitindo perceber as relações existentes entre as
significativa na
elaboração de sua variáveis. Por meio da pesquisa experimental, realiza-
monografia e de
qualquer outro se a manipulação direta das variáveis relacionadas com
trabalho de caráter
científico que
o objeto da investigação. A pesquisa experimental
pretenda
investiga, portanto, a relação existente entre
desenvolver.
Assim sendo, fenômenos. Busca conhecer se um é causa do outro.
aconselhamos você,
caso tenha chance,
de fazer uma nova
leitura cuidadosa A Pesquisa Ex-post-facto, não-experimental, ou
das informações
contidas nesse Pesquisa Descritiva, verifica as relações entre as
caderno, atentando
para as sugestões, variáveis, que se manifestam espontaneamente em
indicações e obras a
que ele se refere. fatos, situações e nas condições existentes. Não

Sucesso!
manipula a priori as variáveis. A constatação de sua
manifestação acontece a posteriori.
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 95

EXERCÍCIO 1

Dentre os diferentes tipos de pesquisas apresentadas,


qual lhe atraiu mais? Justifique por quê?
____________________________________________
__________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
__________________________________________

No Estudo de Campo as observações ocorrem


espontaneamente, na coleta de dados e no registro de
variáveis consideradas significativas para posteriores
análises. Existem diversas técnicas para a coleta de
dados, dentre as quais enumeramos a Entrevista, o
Questionário e o Formulário.

O Estudo de Caso realiza uma pesquisa sobre


algum indivíduo, grupo ou comunidade, visando
estudar diversos aspectos da vida ou o seu ciclo.
Consiste, assim, em verificar uma situação real, para
que seja elaborada uma análise ou propostas
alternativas de solução. Poderá ser aplicado com o fim
de uma análise ou para a procura de uma solução do
problema, dentro da delimitação do objeto de estudo.

EXERCÍCIO 2

Dentre os tipos de pesquisa estudados nesta aula


dedicada ao delineamento da pesquisa, qual foi o que
você utilizaria em sua monografia. Justifique sua
escolha nas linhas abaixo.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 4 |O delineamento da pesquisa científica 96

RESUMO

Vimos até agora:

 Analisamos o que vem sendo chamado de


delineamento de uma pesquisa desde a sua
indagação inicial geradora até a escolha do
tipo de metodologia de pesquisa empregada
em uma análise científica;

 Estudamos e analisamos as diferenças entre


diferentes tipos de pesquisa a partir de
critérios definidos por estudiosos na área
como a área de conhecimento, lugar onde se
desenvolvem, utilização, tipo de dados
coletados e forma de raciocínio adotada em
sua realização;

 Conhecemos de forma sucinta algumas das


principais formas de coleta de dados e a
importância destas em função do tipo de
pesquisa desenvolvido.
5

AULA
A Opção pela
Pesquisa de Campo
Apresentação

Essa aula será bastante interessante a todos os que se propõem a


estudar e desenvolver uma pesquisa não apenas teórica, mas de
campo, isto é, num contato mais direto com o objeto de pesquisa
efetivado através de estratégias como observação sistemática,
aplicação de questionários e entrevistas e outros. A pesquisa de
campo permite o acesso a uma série de dados e variáveis difíceis
de ser coletados apenas através da pesquisa bibliográfica. Nessa
aula iremos conversar sobre os desafios dessa modalidade de
pesquisa, a interferência da subjetividade do pesquisador e alguns
instrumentos relativos à mesma, com destaque especial para a
realização de entrevistas. Aproveite bastante!

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Entender o que seja uma pesquisa de campo, suas


características, desenvolvimento, estratégias e instrumentos
mais utilizados;
 Analisar diferentes tipos de entrevistas e seus usos na coleta
de dados e informações pertinentes à pesquisa em andamento;
 Ser capaz de formular um roteiro de entrevista, planejar os
detalhes referentes a sua realização e analisar tomando por
base o objeto de estudo analisado e seu contexto sócio-
histórico.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 98

Pesquisa de campo
Dica de
leitura A pesquisa de campo busca a explicação dos
fenômenos através das relações dos mesmos e a
No livro “Como exaltação da observação dos fatos, com base em uma
produzir uma
monografia passo a teoria ou conceito. É importante explicar, fundamentar
passo”, mais
informações saber o observado, assim, conclui-se mais próximo do real,
como trabalhar o
tema e o problema diminuindo a margem de erro.
(p.13).
Lá você vai
encontrar outros Este é o procedimento fundamental para se
detalhes sobre
modalidades de constituir a hipóteses (verdadeira o dependente). Se
pesquisa para mais
tarde buscar o estabelece relações entre os fatos no dia a dia, que
aprofundamento na
questão das fornece os indícios para a solução dos problemas
pesquisas empírica e
de Campo. propostos pela ciência. Alguns estudos valem-se
exclusivamente de hipóteses desta origem. Estas
hipóteses têm pouca probabilidade de conduzir a um
conhecimento suficientemente geral e explicativo.

O termo ''pesquisa de campo'' é normalmente


empregado para descrever UM TIPO DE PESQUISA
FEITO NOS LUGARES DA VIDA COTIDIANA E FORA DO
LABORATÓRIO OU DA SALA DE ENTREVISTA. Nesta
ótica, o pesquisador, ou pesquisadora, vai ao campo
para coletar dados que serão depois analisados
utilizando uma variedade de métodos tanto para a
coleta quanto para a análise. Neste texto, relatamos as
conclusões iniciais de uma série de discussões sobre
pesquisas de campo feita numa perspectiva pós-
construcionista. Partindo das dificuldades provocadas
por uma noção de campo fisicamente determinada, a
discussão retoma a perspectiva de Kurt Lewin sobre o
campo como totalidade de fatos psicológicos, para
depois se aproximar das propostas de Ian Hacking
sobre ''matriz'' e a discussão mais ampla sobre
materialidades.

A conseqüência desta reflexão foi a proposição


de um ''campo-tema'' onde o campo não é mais um
lugar específico, mas se refere à processualidade de
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 99

temas situados. O texto conclui com uma discussão


sobre algumas implicações desta proposta para o
processo de pesquisa e para as práticas narrativas
usadas para relatar as suas conclusões.

A PESQUISA DE CAMPO PASSO A PASSO

A origem Dica do
professor

A ESCOLHA DO TEMA se torna o ponto mais


difícil da pesquisa, pois se muito complexo pode ocorrer Atente as dicas e
informações que o
que fatores como bibliografia, amplitude e tempo autor sugere caso
pretende efetivar
disponível interfiram diretamente na difícil tarefa de um estudo dessa
natureza.
iniciar o desenvolvimento do aprofundamento do tema.

É interessante buscar as relevâncias sociais,


mercadológicas, corporativas, entre outros, do assunto
que você pretende abordar. Depois, leia um jornal ou
uma revista, pois as reportagens costumam ser bem
esclarecedoras, sobre os atos citados. Vejamos o
exemplo da reportagem publicada no Jornal do Brasil:

LEITURA

Obesidade não tem hora para atacar:


Excesso de peso em crianças e
adolescentes deve ser combatido
Renata Leal

Escola, cursos, brincadeiras... A


correria da vida moderna causa
problemas não só aos adultos. Longe
dos pais durante boa parte do dia,
crianças e adolescentes apelam para
as comidas congeladas, de rápido
preparo, ou então para os calóricos
e pouco saudáveis alimentos fast-
food, que podem levar à obesidade,
um fantasma que assombra pais e
mães. Comidinhas e biscoitos ingeridos
entre os intervalos das refeições são
grandes vilões da garotada.
Responsáveis, entre outras coisas,
pelo aumento do peso, carboidratos,
doces e frituras acabam entrando na lista
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 100

negra de jovens que, por questões de


saúde ou por vaidade, acabam (na
melhor das hipóteses) procurando o
auxílio de especialistas. Bernardo
Santos Soares, de 14 anos, começou a
engordar aos 10 e acabou buscando o
auxílio do nutrólogo Alexandre Merheb.
- Estava ficando gordinho, já tinha
vergonha de tirar a camisa na frente
dos outros. Em três meses de
tratamento, perdi oito quilos -
comemora Bernardo.
Merheb conta que nos últimos dez
anos a obesidade infantil tem sido a
cada dia um problema mais comum.
- É preciso que se faça uma
reeducação alimentar e que se
pratique, com freqüência, uma
atividade física. A obesidade é
conseqüência de um desequilíbrio. Não
se pode ingerir mais gordura do que o
corpo consome - explica Merheb.

(Jornal do Brasil (2004). Disponível


em:http://jbonline.terra.com.br/jb/pap
el/cadernos/barra/2004/04/27/jorbar2
0040427005.html)

O exemplo acima pode gerar o primeiro contato


com o tema a ser escolhido, pois a obesidade pode ser
enfoque no público alvo:
Importante

 CRIANÇAS: alunos entre 6 e 10 anos;


Atente para o tipo
de perguntas que  PRAÇA OU LOGRADOURO: escola municipal
foram sendo
efetivados no
tal;
decorrer da análise  APELO: freqüentam a cantina da escola com
do autor assim que
este se decide pela freqüência;
escolha de um tema.

Bem, o passo seguinte é o questionamento para


que se possa viabilizar o tema e a futura proposta de
projeto de pesquisa.

 “Que tipo de alimentos essas crianças estão


consumindo?”
 “Com que freqüência?”
 “Será que os pais incentivam ou não?”
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 101

E assim, você vai respondendo cada questão.


Dica de
Mas as respostas virão após a observação do objeto de leitura

estudo, ou seja, o habito alimentar das crianças. De


Para um
posse da reportagem você ainda pode buscar
aprofundamento
elementos para o desenvolvimento do tema, como o nessa técnica
consulte a obra de
que os profissionais, nutricionistas, médicos, diretores Antonio Carlos Gil:

de escola pensam e se posicionam frente ao problema. GIL, A. Como


elaborar um projeto
Caso não exista essa referência na matéria jornalística, de pesquisa. 6ª ed.,
São Paulo: Atlas,
cabe a você ir a campo e entrevistar esses profissionais 1996.

ou buscar outras bibliografias a respeito.

Em resumo, tal pesquisa já determinou que


algumas escolas particulares promovessem uma
reestruturação de suas cantinas. Em alguns municípios
pelo Brasil, é proibida a venda de alimentos que não
tenham valor nutricional, ou seja, as velhas balas,
salgadinhos industrializados entre outros. Foi a partir
de uma observação anterior, ou, conhecimento pré-
concebido, somado a leitura de uma mídia impressa,
que se despertou a curiosidade e o resultado... bem, o
resultado pode não ter agradado crianças e locatários
de cantina, mas no futuro esses alunos serão mais
saudáveis.

Um SEGUNDO MOMENTO se preocupa com a


relação entre ''pesquisado'' e ''pesquisador'' e engloba a
pesquisa colaborativa, a pesquisa-ação, a pesquisa
participativa e a ética que orienta a pesquisa.

RAZÕES PARA PESQUISAR

O que determina a realização de uma


pesquisa? As Razões de ordem intelectual e as razões
de ordem prática (puras e aplicadas). As primeiras
decorrem do desejo de conhecer pela própria satisfação
de conhecer. As últimas decorrem do desejo de
conhecer com vistas a fazer algo de maneira mais
eficiente. Uma pesquisa sobre problemas práticos pode
conduzir à descoberta de princípios científicos. Da
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 102

mesma forma, uma pesquisa pura pode fornecer


conhecimentos passíveis de aplicação prática imediata.

O PESQUISADOR

Dica do
professor Os argumentos acima são importantes para
compreendermos os motivos que levam uma pessoa a
Uma resposta
pesquisar e sua importância para a sociedade. Na
segura a pergunta
“Por que pesquisar verdade, esse conhecimento deve ser associado a um
tal coisa?” Será de
grande importância lado interessado, ou seja, o sucesso da pesquisa e suas
na elaboração da
justificativa e outras descobertas para o mundo dependem de suas
partes de sua
monografia. habilidades. O perfil dos pesquisadores:
Em relação ao
objeto que você
pretende estudar,  Conhecimento do assunto a ser pesquisado;
pergunte-se sobre
quais seriam suas  Curiosidade;
motivações, levando
em consideração as  Criatividade e imaginação disciplinada;
destacadas ao lado.
 Auto-avaliação;
 Sensibilidade social;
 Confiança na experiência.

A REALIDADE DO PESQUISADOR

Importante A idéia do cientista reconhecido como gênio é


coisa do passado. Hoje, o pesquisador depende de suas
Nesta página o autor habilidades pessoais para desenvolver o processo de
fala de questões
relativas a tarefa de criação científica, mas também é muito importante o
pesquisar e seus
desafios no que diz papel desempenhado pelos recursos de que dispões
respeito ao status
atual do para o resultado final da pesquisa.
pesquisador;
necessidade de
elaborar um O CAPITAL
orçamento possível
de ser concretizado
em termos
financeiros e as Possui um papel fundamental no processo, afinal
interrelações que
devem existir entre não se pode duvidar da interferência do poder
pesquisa e
demandas sociais. econômico no resultado, ou seja, amplos recursos têm
maior probabilidade de ser bem sucedida em um
empreendimento de pesquisa que outra cujos recursos
sejam deficientes.

Qualquer pesquisa deverá levar em consideração


o problema dos recursos disponíveis. Para isso, deve
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 103

estar atento aos gastos decorrentes da aquisição de


material e equipamento necessário, evitando assim
economia de tempo em busca da agilidade necessária
para a confecção do trabalho.

O pesquisador precisa elaborar um orçamento


adequado, ou seja, administrar seu trabalho de
pesquisa. Alguns pesquisadores se sentem
constrangidos com esta imposição extra-científica, mas
é fundamental para que o trabalho não sofra
interrupções.

Não é mais possível dissociar a pesquisa


científica das práticas sociais que as sustentam, a
saber, interesses sócio-econômicos e políticos,
prioridades institucionais, estrutura de poder das
agências financiadoras, ideologia entre outros. Só pelo
desenvolvimento do ensino e da pesquisa será possível
compreender exatamente o significado do papel crítico
que as instituições de ensino devem desenvolver.

PLANEJAMENTO

É uma antecipação da investigação, passo mais


importante em direção à monografia. Neste momento o
educando busca um assunto ou problema a ser
investigado e através de ações internas, procura
antever em qual direção deve seguir para resolver o
problema, se há bibliografias sobre o assunto, se o fato
que pretende dissertar é atual ou antigo, se o tema
pode ser investigado em seu habitar ou distante, o
custo operacional para o desenvolvimento e se há
tempo hábil para buscar a solução.

É importante lembrar que o pesquisador deve


ter noção do tempo a ser utilizado na finalização
pesquisa, calcular o custo estimado para concluí-la no
prazo e definir se o tema é atual ou não. A produção
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 104

do organograma e cumprir as etapas propostas, tudo


correrá bem.
Importante

Manter o tema atualizado requer tempo e


De nada adianta
dedicação, afinal não existem muitas bibliografias
pensar uma
proposta se tempo disponíveis e não se surpreenda se ao término do
de realização da
mesma for inviável. trabalho você conclua que deve publicá-lo, já que não
No nosso caso, por
exemplo, é preciso há quase nada no mercado e seu livro seria uma
fazer um recorte do
tema de tal forma excelente fonte de futuras pesquisas.
que sua
concretização não
ultrapasse o prazo
de alguns meses. Por tanto, o trabalho e dedicação do pesquisador
como parte integrante da pesquisa de campo, revela as
possibilidades as restrições do assunto e do futuro
argumento a ser defendido. A Pesquisa de Campo, ou
campo tema, como alguns autores se referem não é
algo tão difícil de se mensurar, ele é um fato empírico
ou um lugar para fazer observações.

Para refletir Os pesquisadores não podem se distanciar das


questões do dia a dia. Para tal faz-se necessário perder
Procure refletir de
o vício de partir sempre para o teórico e só depois, se
forma o tema que
você escolheu para consideramos necessário, buscar a pesquisa de campo
pesquisar e
verifique se para melhor embasar o trabalho acadêmico. Esse até
relaciona com as
questões do seu pode ser um caminho viável, entretanto, é importante
cotidiano?
estimular nossos alunos e colegas a partir de fatos do
cotidiano, observá-los, mensurá-los e aí sim, buscar
bibliografias que nos permita ter um suporte verídico
ou conceitual de cada fato, como e por que eles
ocorrem.

PESQUISA DE OPINIÃO

O estudo da opinião esta situada entre a


psicologia social e a ciência política. Ele investiga as
origens e características dessas forças, que nenhuma
constituição prevê, mas cuja expressão constitui o
fundamento implícito de todas as democracias. A
pesquisa de opinião estabelece uma relação com a
psiquê individual e com o comportamento de grupo.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 105

No nível individual, opinião confunde-se com


atitude. No nível coletivo, aparece como entidade
mítica. A opinião é o sentimento do indivíduo. Em
pesquisa de campo, esse posicionamento retrata a
realidade do ambiente onde ele interage, vivencia, por
tanto, não pode ser desprezada independentemente de
grau de escolaridade, credo, cor... entre tantas outras
barreiras sociais que a própria sociedade cria. Ou seja,
o fato de o indivíduo questionado, não possuir estudo,
não faz dele uma pessoa desqualificada para opinar
sobre o fato pesquisado.

A PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA

O que as pessoas pensam sobre um produto,


serviço, celebridades, pessoas públicas, dirigentes,
governantes. Em Marketing se chama
“Posicionamento”, como você público me enxerga. Você
possui uma boa imagem sobre minha pessoa? São
pesquisas que ajudam a vender produtos, assim como
esse que você tem aí na sua mesa. Então por que não
utilizar algumas de suas técnicas para que a pesquisa
científica seja mais eficaz?

Vamos entender um pouco o que significa


opinião pública. A expressão da opinião pública está
ligada a uma atividade política. São as deliberações dos
cidadãos da “polis” grega, realizada no local do
mercado, que orientam a tomada das decisões pelo
governo ateniense. Em fins do século V a.C. aparece
uma classe de homens políticos, que cortejam a
opinião, para conduzir o povo no sentido que desejam,
conhecidos como “DEMAGOGOS”.

A opinião na Polis expressa os sentimentos de


uma faixa restrita da população, somente os cidadãos
adultos. As mulheres não participam, os escravos
tampouco. A democracia ateniense apoiava-se num
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 106

conceito de povo muito específico. A mesma coisa


ocorre com a Vox Populi dos Romanos. O fórum
substituiu-se ao agora, mas apenas os cidadãos de
Roma têm direito a expressar sua opinião.

Na Idade Média européia, hegemonia dos


sistemas de valores e crença, encontramos o conceito
de Consensus Omminium (acordo de todos) que
expressa a voz de uma opinião coesa em torno da fé
cristã. Nesta época surgia a Propaganda, que visava a
angariar fundos e recrutar homens para as cruzadas
(guerras contra os hereges).

O Renascimento marca o advento do indivíduo e


com ele o direito à diversidade das opiniões. Na
Reforma, após a queda do poder da Igreja Católica,
consagra a vitória da opinião crítica e passa a ser
cortejada por políticos para se obter e manter um poder
que não foi recebido por direito de nascença. A
Revolução Francesa prezava a voz do povo, a opinião
expressava a voz do grupo que estava no poder.

Quem tomar por tarefa dar leis a um


povo deve saber como dirigir as
opiniões e, através delas, governar as
paixões dos homens.
(Jean Jacques Rousseau)

O século XIX assiste ao estabelecimento da


primeira revolução industrial, a classe média triunfa, a
imprensa desenvolve-se. As reivindicações, antes
predominantemente políticas, apoiam-se mais em
problemas sociais e econômicos.

As diversas etapas da história da opinião como:


do mercado grego, do teatro romano, dos sermões, das
cartas e das baladas na Idade Média, dos panfletos e
livros, dos jornais e até as modernas técnicas (até
virtuais) dos meios de comunicação de massa, pode-se
definir “Opinião Pública sobre assuntos que dizem
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 107

respeito à nação, expressa livre e publicamente por


homens fora do governo, que reclamam o direito de
que suas opiniões possam influenciar ou determinar as
ações, o pessoal, a estrutura do governo.

FORMAÇÃO DA OPINIÃO

As técnicas de aproximação para o estudo


objetivo da opinião podem ser agrupadas em dois tipos
principais: EXPERIMENTAÇÃO e OBSERVAÇÃO.

 Observação: inclui desde a análise histórica e


sociológica até a pesquisa armada, que utiliza
questionários, entrevistas.

 Experimentação: geralmente a nível


interpessoal, em pequenos grupos, pelo
motivo óbvio da relativa facilidade de
manipulação.

O BOATO
Para
navegar

Proposição específica para acreditar, que passa


de pessoa a pessoa, em geral oralmente, sem meios Sobre o tema
"formação de
probatórios seguros para demonstrá-la. Sua principal opinião" uma boa
dica é consultar o
característica é a TRANSITORIEDADE. Quase sempre artigo de Pirollo et
al. Disponibilizado
diz respeito a personalidades famosas, ou em:

acontecimentos fora do comum, como também serve http://www2.


metodista.br/
ao interesse pessoal ou de um determinado grupo, unesco/GCSB/
Artigo2_Pesquisa_
elite, pessoa... É importante lembrar que a informação de_opiniao.htm
pode ser “plantada” para prejudicar uma imagem,
produto ou serviço, não apenas de um produto, mas de
toda uma empresa e das pessoas que a formam com
graves conseqüências.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 108

AMOSTRAGEM E QUESTIONÁRIO

A forma mais usual da observação extensiva


utilizada pelos meios de Comunicação (Rádio e TV) é a
realização de INQUÉRITOS DE OPINIÃO, junto à
população em geral. Para ser válido esse tipo de
pesquisa exige o máximo de rigor em seus dois
Dica do
professor
aspectos essenciais: a escolha da população a ser
inquirida (amostragem) e a construção do instrumento
Eis aqui de forma de investigação (o questionário).
resumida algumas
regras básicas de
como produzir um
questionário A pesquisa social visa populações geralmente
simples:
amplas, que não podem ser alcançadas na sua
a) Inicie-o breve
explicação para que
totalidade. Como realizar uma sondagem junto a toda
serve o questionário
população do Brasil num curto espaço de tempo sem
(sou aluno do curso
de graduação.... que a mesma perca a veracidade? Os institutos de
b) Elabore perguntas pesquisa investigam somente parte dessa população,
objetivas e claras
de forma que a amostragens (população) seja mais
c) Deixe espaço para
resposta do tipo, representativa possível, isto é, que a partir dos
SIM, NÃO e POR
QUE. resultados dessa pequena parte se possa inferir,

d) Procure não legitimamente, os resultados que seriam obtidos


exceder o limite de
dez questões.
ouvindo a população global.

Observe que o fenômeno humano chamado de


“opinião pública” deve ser investigada mediante
rigorosas técnicas de observação e experimentação e a
avaliação dos resultados está além da simples lista de
nomes ou números apresentados pelos institutos de
pesquisa, participação de ouvintes e telespectadores.
Sem cultura sociológica e sem sensibilidade para o
fenômeno, o pesquisador terá dificuldade de extrair o
essencial. Em todos os ramos das ciências humanas, a
interpretação dos fatos é tão importante quanto à
análise.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 109

TIPOS DE ENTREVISTAS DE OPINIÃO


MOTIVACIONAL
Dica do
professor
Neste tipo de entrevista o entrevistado goza de
ampla liberdade. O entrevistador manterá uma atitude Exemplo de
entrevista Ping
de grande compreensão, permitindo uma contínua Pong.

exploração do entrevistado em relação aos seus IAVM: As apostilas


são de fácil leitura e
julgamentos, opiniões, sentimentos e tendências, compreensão?

quanto ao assunto proposto. A exploração será feita ALUNO: Sim, no


momento em que
pelo próprio entrevistado e nunca por provocações do estou lendo, associo
imediatamente a um
entrevistador. Nesse tipo de entrevista o entrevistador
fato que ocorreu na
será sempre um ouvinte cordial e atencioso não escola.

devendo nunca assumir uma posição autoritária. Isso


significa explorar as opiniões do entrevistado, sem,
contudo, evitar discussões com este.

COMO MONTAR UMA ENTREVISTA

Os jornais diários e as pesquisas de intenção


vivem economicamente do seu grande produto, a
informação, que é obtido pelos repórteres ou por outras
fontes, como também por pesquisadores. Precisa se
aprofundar os fatos, colher informações, ouvindo
pessoas importantes ou anônimas, pois todas elas,
conforme a natureza do fato, têm elementos
valiosíssimos para fornecer.

Nem sempre os nomes dos entrevistados é


divulgado na reportagem ou pesquisa como o fito de
preservar sua identidade. O pesquisador não consegue
estar nos locais de todas as ocorrências nem próximo
delas, e por isso precisa ouvir quem presenciou algo
que mereça ser divulgado ou pesquisado
cientificamente.

O pesquisador não deve se acomodar nos


domínios dos conteúdos dos livros, ele deve sair as
ruas, fazer amizades e aproximar-se de pessoas, que
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 110

hoje ou amanhã, venha a saber de alguma coisa que


possa ser aproveitada como informação de interesse
científico.

O CONCEITO

Importante A entrevista é um dos instrumentos mais


eficazes para coleta de dados sendo utilizada por
Muitos trabalham o
roteiro de entrevista
diferentes profissionais (jornalistas, pesquisadores,
a partir de um teste
psicólogos, e outros). Diante de uma pessoa capaz de
inicial onde o
primeiro roteiro informá-lo sobre elementos fundamentais para o
elaborado é
aperfeiçoado até que desenvolvimento da pesquisa, o pesquisador perderá o
se tenha o modelo
de roteiro padrão. seu tempo e nada oferecerá de bom para a conclusão
Ex.: Realizando a
primeira entrevista da informação se não possuir habilidade em sua
percebeu-se a
necessidade de se condução, e por conseqüência, escreverá uma
incluir uma nova
pergunta que não informação truncada e de difícil compreensão para o
tinha sido pensada e
retirar duas que
público leitor. Ou seja, quesito nº 1, ter domínio do
ficaram confusas
assunto.
substituindo-as por
outras mais claras.
Essa primeira
entrevista, portanto, A entrevista deve ser produzida com calma e
serviu para
aperfeiçoar o roteiro ordenadamente a ponto de se tornar um bate papo,
já existente
tornando-o mais uma comunicação pessoal.
eficiente em relação
aos objetivos da
entrevista.
O PRIMEIRO REQUISITO

Antes de mais nada é preciso se ter claro o


objetivo da entrevista, ou seja, o que pretendemos com
ela. Esse ponto é fundamental se quisermos que a
mesma possa atingir seus objetivos. Depois é
importante elaborar um ROTEIRO DE ENTREVISTA com
perguntas que atendam a esse objetivo. Como já foi
dito esse roteiro não é uma regra a ser seguida, mas
um caminho possível de responder aos objetivos
traçados.

No que se refere a suas características, a


autenticidade é uma das principais características da
entrevista, ou seja, que as declarações atribuídas ao
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 111

entrevistado possam ser comprovadas facilmente. O


interesse também é um importante requisito para a boa
entrevista, e aqui a técnica depende mais do
entrevistador. Por fim outra exigência a considerar é a
identificação do entrevistado na entrevista. O texto final
deve ser fluente, equilibrado e acessível.

CLASSIFICAÇÃO DAS ENTREVISTAS


Dica do
professor
As entrevistas podem ser classificadas sob dois
aspectos importantes quanto: Procure analisar os
diferentes tipos de
entrevistas
apresentadas
AO ENTREVISTADO: buscando identificar
qual aquela que
 Individual; melhor responderia
aos anseios do
 De grupo: subdivididas em ENQUETE e de trabalho
monográfico que
PESQUISA. pretende realizar,
caso opte pelo
trabalho de campo
AOS ENTREVISTADORES: com este tipo de
instrumento de
 Pessoal ou exclusiva; pesquisa.

ENTREVISTA INDIVIDUAL

Marcada com antecedência com determinada


pessoa e será estabelecido um diálogo capaz de
fornecer dados básicos para a matéria a ser publicada.
A entrevista geralmente é exclusiva, mais pode
acontecer que horas depois ela seja procurada por
outro repórter concorrente.

ENTREVISTA DE GRUPO

Ocorre quando várias pessoas falam a um ou a


vários entrevistadores. Outra forma é o questionário,
que pode ser passado em uma sala de aula, na
empresa ou para um grupo de moradores. Assim, é
possível aferir as informações de forma rápida e
coletiva.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 112

ENQUETE

É aquela em que um ou diversos entrevistadores


perguntam sobre o mesmo assunto a muitas pessoas.
Ex: sobre aumento de passagens no Rio, horários
noturnos nas faculdades. Assuntos de grande interesse
público. Reunindo perguntas simples e objetivas, esse
tipo de entrevista serve para favorecer uma
amostragem das opiniões sobre um tema qualquer,
sendo, portanto, utilizadas com freqüência.

ENTREVISTA DE PESQUISA

É aquela que se destina a colher informações


que sirvam para a produção da informação de caráter
interpelativo, de maneira a esclarecer o leitor sobre o
fato. Neste caso, determinados assuntos são
investigados com o objetivo de esclarecê-los perante a
opinião pública. O entrevistador deve PROCURAR
SEMPRE OS ESPECIALISTAS no assunto, a fim de que a
Importante
opinião deles, citada ou não nominalmente,
fundamente a matéria.
É comum que a
amostra selecionada
para as entrevistas
seja constituída de ENTREVISTA PESSOAL OU EXCLUSIVA
pessoas que
dominam o assunto
que queremos
investigar. Contudo Quando a pessoa ouvida fala a um só jornal ou
é preciso tomar
certos cuidados para jornalista (por envolvimento pessoal ou credibilidade).
identificar tais
especialistas. Muitas Quando se tratar de profissional de notoriedade, poderá
vezes um morador
antigo de uma rua
fornecer sua entrevista por escrito, respondendo a
sabe muito mais de perguntas previamente elaboradas, junto a sua
sua história e das
mudanças que esta Assessoria. No caso de uma pesquisa científica, se
sofreu do que uma
autoridade da apenas uma pessoa é entrevistada é provável a mesma
prefeitura ou um
especialista em sirva a produção de uma biografia ou refira ao estudo
desenvolvimento
urbano. de um fato cuja pessoa entrevistada esteja diretamente
envolvida.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 113

EXERCÍCIO 1

Em que situações devemos realizar uma entrevista


pessoal ou exclusiva e em que situações ela seria
inadequada?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

Faça o entrevistado sentar-se, in off bata um


papo sobre o tema da entrevista de forma
descontraída. Deixe o entrevistado a vontade. Ouça
atentamente e guarde mentalmente os pontos mais
importantes que podem vir a ser perguntados durante
a entrevista. Ao iniciar a entrevista anote pontos
chaves que se tornarão novas perguntas.

Aqui estão algumas das perguntas mais comuns


em entrevistas levando em consideração alguns temas
como "profissão", "situação financeira", "interesses" e
outros.

 Qual é o seu nome completo?


 Onde você nasceu? Qual sua idade?
 Veio para ficar ou está só de passagem? Mora
com parentes ou amigos?
 Em que bairro mora?
 Qual a sua profissão atualmente?
 Gosta dela ou esta lhe foi imposta?
 Como explica o fato de sua empresa?
 O excesso de profissionais neste segmento
não dificulta sua atividade?
 Se você tivesse que escolher uma profissão,
qual escolheria? Por que?
 Como andam suas finanças? Por que?
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 114

 Você compraria este produto? Por que?


 Qual o seu grau de escolaridade?
 Por que não concluiu? Por que não ingressou
em uma universidade?
 Não acredita no diploma ou ele não interfere
no desempenho da sua profissão?
 Mesmo sem ter concluído cursos escolares
possui alguma cultura?
 Você não passou por uma universidade, logo,
como chegou até aqui?
 Tem religião? Qual?
 Como é o seu temperamento? Por que?
 Como foi sua infância e juventude?
 Já viveu um grande amor?
 Pratica esportes? Quais?
 Do que mais gosta ou que mais odeia?

Note como as perguntas iniciais são sempre


relativas a identificação geral do entrevistado. Esse é
um dado importante, em alguns casos a perda desse
tipo de registro não apenas dificulta a interpretação dos
dados, pois pode até invalidá-los.

Dica do
professor As entrevistas podem ser registradas de
diferentes maneiras: anotações, gravações em vídeo ou
Você chegou ao final fita cassete, e outros. Sobre os instrumentos utilizados
desta aula
Congratulações por para o registro das entrevistas e sua correta utilização
mais essa vitória. Se
tiver dúvidas sobre conversaremos mais a frente.
alguns pontos
mesmo após a
leitura do módulo e
as sugestões Chegamos assim ao final de nosso caderno. O
bibliográficas citadas
é só entrar em tema da metodologia da pesquisa é muito rico e é
contato conosco,
pois teremos prazer evidente que neste caderno não esgotamos nem o
em atendê-lo.
Lembre-se sempre
assunto, nem muito menos as suas implicações.
que a dedicação em Aproveite as dicas bibliográficas das caixinhas laterais
seus estudos é a
chave do sucesso. para se aprofundar mais no assunto tratado.

Tenha certeza que no decorrer do estágio e


demais atividades de pesquisa do curso teremos a
oportunidade de nos aprofundarmos melhor, através de
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 115

situações oportunas para a prática de pesquisa, nas


temáticas abordadas em nossa disciplina. Até lá
consulte esta aula sempre que dúvidas se fizerem
presente. Sucesso!

EXERCÍCIO 2

O que é pesquisa de campo e qual seria sua


importância?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 3

O que é pesquisa de opinião?


____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 4

Quais são os passos necessários a montagem de uma


entrevista?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 116

EXERCÍCIO 5

Como as entrevistas podem ser classificadas?


____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 6

Quais são os passos necessários a construção de um


questionário?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

EXERCÍCIO 7

O que é amostra?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 117

EXERCÍCIO 8

Você pretende empregar algum tipo de pesquisa de


campo em sua monografia? Justifique sua resposta.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

 Analisamos diferentes tipos de pesquisa de


campo procurando conhecer melhor suas
aplicações e importância para coleta de
dados;

 Estudamos alguns dos principais instrumentos


utilizados em pesquisa de campo tais como os
questionários e as entrevistas desde sua
concepção inicial até sua aplicação;

 Refletimos sobre os prós e contra no que diz


respeito a possibilidade da realização de uma
pesquisa de campo em nossa futura produção
bibliográfica.
6

AULA
O Plano de Pesquisa

Nessa aula iremos nos dedicar a construção detalhada do PLANO


Apresentação

DE PESQUISA. Podemos dizer que essa aula nos faz um


interessante convite: Colocar em prática boa parte daquilo que até
agora só tínhamos trabalho do ponto de vista teórico.
Eminentemente prático, seu objetivo é bastante claro: auxiliá-lo a
elaborar passo a passo seu Plano de Pesquisa. Considerando suas
diferentes etapas e elementos. Para a execução de tal tarefa
estaremos nos reportando muitas vezes a conceitos e
argumentações já vislumbradas nos módulos anteriores. Assim
sendo, se você sentir dificuldade com algum termo em particular,
não hesite em voltar aos mesmos para sanar dúvidas e seguir em
frente com maior segurança.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Saber o que seja um plano de pesquisa e reconhecer seus


elementos principais;
 Ser capaz de construir um plano de pesquisa referente ao
trabalho que você irá desenvolver no final de seu curso;
 Analisar um plano de pesquisa avaliando se o mesmo está
construído de forma a auxiliar o desenvolvimento de um
trabalho de pesquisa ou não.
Aula 6 |O Plano de Pesquisa 120

Para início de conversa

Dica do
professor No decorrer das aulas que se seguiram temos
conversado sobre vários assuntos relacionados à
Essa é uma das temática da metodologia da pesquisa, ou seja, sobre o
aulas mais
importantes de estudo dos métodos e técnicas de se pensar e fazer
nosso curso uma vez
que ela sintetiza pesquisa científica em nossa realidade atual. Ao longo
muito do que já
conversamos até dessa caminhada já percorrida é possível destacar.
agora. Leia com
atenção cada um dentre estes assuntos, por exemplo, os diferentes tipos
dos pontos
discutidos e se de conhecimento e pesquisa existentes; as variadas
possível faça suas
anotações ao lado técnicas de se pesquisar através de uma metodologia
do texto para
qualitativa e/ou quantitativa de trabalho; os cuidados e
facilitar seu
entendimento. desafios que a arte da pesquisa exige e, de modo
LEMBRE-SE: particular, o lugar da pesquisa na universidade e a
O envio do plano de
pesquisa deve ser postura ética do pesquisar frente ao seu objeto de
realizado no próximo
módulo. Veja o pesquisa e divulgação dos resultados obtidos.
modelo do Plano ao
final deste Caderno Resumidamente: aprendemos juntos que a pesquisa é
de Estudos.
Preencha com as o fundamento da ciência, razão de seu
informações de sua
proposta de desenvolvimento e continuidade.
pesquisa e envie
para o Núcleo
Central após o O Plano de Pesquisa pode ser entendido como
pagamento do
Módulo 10. um PROCESSO SUCINTO DE PLANEJAMENTO DE UMA
PESQUISA VOLTADA PARA A ELABORAÇÃO DE UMA
MONOGRAFIA. Sua estrutura é simples e não considera
alguns elementos típicos de um grande projeto de
pesquisa como organogramas, cronograma de trabalho
ou projeção de custos; uma vez que tais elementos,
mesmo importantes num determinado contexto, fogem
ao delineamento de um trabalho monográfico. A grande
contribuição do Plano é a de oferecer ao aluno uma
oportunidade de planejar a realização de seu trabalho
melhorando suas chances de viabilização e evitando, de
forma preventiva, riscos desnecessários relativos a
questões diversas como a não pertinência do tema ao
curso preterido ou a necessidade de um tempo hábil
para a exeqüibilidade da proposta elevada e fora dos
padrões sugeridos em nosso curso.
Aula 6 |O plano de pesquisa 121

A aprovação de um plano de pesquisa por parte


do professor orientador significa, em outras palavras, a
aprovação de uma proposta de trabalho monográfico,
cuja pesquisa envolvida, seja ela de caráter teórico ou
prático, atende aos requisitos básicos de uma Importante

metodologia científica ou do próprio curso em questão.


Esse aspecto é
Por outro lado sua reprovação em algum item, ou no
muito importante: o
plano como todo, sinaliza que algo precisa ser Plano de Pesquisa é
uma etapa
modificado antes que esse trabalho maior de pesquisa fundamental na
preparação da
seja realizado. O plano pode ser comparado, nesse monografia. Ele é
sua sugestão de
caso, a um fusível que se queima primeiro, evitando temática, que deve
ser aprovada pelo
que as peças mais importantes e caras de um aparelho Curso (em função de
sua pertinência e
venham a serem danificadas. Pense bem: por mais relevância) a fim de
que sua monografia
trabalho que você tenha dedicado ao seu plano de tenha
desenvolvimento.
pesquisa, que poderá ser refeito por algum motivo,
este não se compara a decepção de ter de refazer do
zero todo um trabalho monográfico de meses porque o
mesmo não atendia aos requisitos básicos do curso.

Vale ressaltar que embora o plano seja a base


da construção do trabalho da monografia, isso não
significa que ele não possa sofrer pequenas
modificações em relação ao que se pretende
desenvolver na monografia. Muitas vezes construímos
um plano, mas no decorrer da produção do trabalho
monográfico nos deparamos com situações adversas
que nos levam a fazer pequenas mudanças no plano
original ou mesmo construir um novo plano de
pesquisa.

Convém destacar que a não aprovação do plano


de pesquisa não significa necessária que a proposta de
pesquisa é ruim. Muitas vezes seu problema é tão
somente a inadequação da temática de estudo em
relação ao curso. É fundamental que o objeto de estudo
tenha relação com a temática do curso em andamento.
Aula 6 |O plano de pesquisa 122

A ESTRUTURA DO PLANO DE PESQUISA

Importante O desenvolvimento de trabalho monográfico tem


o planejamento como uma de suas etapas mais
“Tenho boas idéias, importantes. Sua elaboração, como já prevenimos, é
mas não sei como
escrever”. essencial e evita perdas desnecessárias de investimento
Ouvida com de tempo, esforço e dinheiro. Em geral sua elaboração
bastante freqüência,
essa frase pode já implica num conhecimento mínimo da realidade
indicar falta de
clareza no conteúdo estudada, fazendo com que o pesquisador se interesse
ou pouco domínio da
estrutura do texto.
por se aprofundar no mesmo estudando pontos lhe
Também pode ser despertar curiosidade, dúvida ou mesmo
uma indicação de
dificuldades de estranhamento. Além disso, é possível ainda fazer
linguagem.
Geralmente, ela emergir novas questões da realidade em foco
revela problemas de
estrutura de idéias, dependendo do senso crítico e da criatividade do
que o exercício
sistemático do plano pesquisador ao propor novos ângulos de visão e/ou
ajuda a resolver. Se
esse for o seu caso, novas alternativas metodológicas (Vasconcelos, 2002).
não pense que você
é a única pessoa a
ter dificuldades para
escrever. Até
A estrutura básica de nosso plano de pesquisa é
escritores formada pelos seguintes componentes: Tema, Título,
renomados têm
momentos de Problema, Justificativa, Objetivo (geral e específicos),
incerteza e dúvida
sobre como colocar Hipótese (ou Questões Secundárias), Delimitação e
suas idéias e
histórias no papel. Procedimento Metodológico. A partir desse momento
vamos analisar cada um desses itens considerando
suas particularidades e importância para o
desenvolvimento da pesquisa monográfica.

O TEMA

O tema se refere basicamente ao fato ou


fenômeno que o pesquisador pretende estudar. Trata-
se de um assunto de caráter geral do qual emergirá o
problema a ser enfocado.

EXEMPLO

TEMA: Educação a Distância


PROBLEMA: Quais seriam as Alternativas oferecidas
pelo Ensino a Distância para o Aprendizado de Física
no Ensino Médio?
Aula 6 |O plano de pesquisa 123

Note que o problema em si já oferece uma


primeira especificação (recorte) do tema escolhido. Já
não se trata do estudo da Educação a Distância de
maneira ampla, mas de uma modalidade própria de Importante

ensino a distância voltada para o aprendizado de Física.


Uma segunda especificação diz respeito ao público Porque é tão difícil
escolher um tema?
específico a que o estudo se refere, isto é, o Ensino O tema é assunto
principal sobre o
Médio e não qualquer ciclo de ensino. qual versará nossa
monografia. Ele
implica numa
seleção e como toda
A escolha do tema ao contrário do que se pode seleção traz uma
renúncia implícita
pensar é uma das etapas mais importantes e difíceis na nem sempre é fácil
escolher. Escolha
prática de pesquisa. Ele nasce de reflexões oriundas do antes de mais nada
um assunto do qual
interesse ou curiosidade despertada pelo estudo de um você goste e tenha
interesse em
autor, teoria, escola de pensamento, técnica, etc. – ou
investigar e depois
mesmo de reflexões surgidas na prática profissional. É um tema que tenha
uma bibliografia
importante que ao escolher um tema, você tenha razoável que possa
ser analisada.
condições de estudá-lo a partir de certa “neutralidade”.
Se você optar pelo estudo de um tema que você odeie
ou ame demais será difícil, ao longo do estudo,
independente do recorte que você fizer, assumir uma
postura mais neutra diante de seus resultados. Por
outro lado, Trabalhar um assunto que não seja do seu
agrado pode tornar a pesquisa num exercício de tortura
extremamente desgastante.

Segundo autores como Estrela (2001) e Gil


(1993) na hora de se decidir por um tema qualquer
procure levar em consideração os seguintes itens:

 Pertinência do tema em relação curso em


exercício;
 Seu interesse pelo mesmo (sem exageros);
 A atualidade do tema (cuidado com questões
já superadas ou exaustivamente tratadas por
outros autores);
 A produção bibliográfica existente sobre o
mesmo (revisão bibliográfica);
Aula 6 |O plano de pesquisa 124

 As exigências do tema em relação ao tempo e


o esforço a ser dispensado para seu
desenvolvimento.

Sobre este último item em particular deve-se


levar em consideração a quantidade de atividades a
cumprir para executar o trabalho de pesquisa (coleta de
dados, pesquisa bibliográfica, escrita, revisão, etc.)
comparando o tempo necessário para esta execução
com o tempo das demais atividades realizadas em
nosso cotidiano não relacionadas à pesquisa. Além
disso, quando lidamos com prazos relativamente curtos
para finalização da pesquisa, não podemos nos
enveredar por assuntos que não nos permitirão cumpri-
los. O tema escolhido deve sempre estar delimitado
dentro do tempo possível para a conclusão do trabalho.

OUTRAS QUESTÕES QUE DEVEM SER LEVADAS EM


CONSIDERAÇÃO NA ESCOLHA DO TEMA DE
PESQUISA:

FATORES INTERNOS

a) Afetividade em relação a um tema ou alto


grau de interesse pessoal:

Para se trabalhar uma pesquisa é preciso ter um


mínimo de prazer nesta atividade. A escolha do tema
está vinculada, portanto, ao gosto pelo assunto a ser
trabalhado. Trabalhar um assunto que não seja do seu
agrado tornará a pesquisa num exercício de tortura e
sofrimento.

b) O limite das capacidades do pesquisador em


relação ao tema pretendido.

É preciso que o pesquisador tenha consciência


de sua limitação de conhecimentos para não entrar
num assunto fora de sua área. Se minha área é a de
Aula 6 |O plano de pesquisa 125

ciências humanas, devo me ater aos temas


relacionados a esta área.

FATORES EXTERNOS

a) O limite de tempo disponível para a conclusão


do trabalho.

Quando a instituição determina um prazo para a


entrega do relatório final da pesquisa, não podemos
nos enveredar por assuntos que não nos permitirão
cumprir este prazo. O tema escolhido deve estar
delimitado dentro do tempo possível para a conclusão
do trabalho.

b) Material de consulta e dados necessários ao


pesquisador.

Outro problema na escolha do tema é a disponibilidade


de material para consulta. Muitos alunos depois de
fazerem sua proposta nos procuram dizendo não
encontrar bibliografia sobre o assunto.

Antes de escolher seu tema certifique-se que


terá acesso a uma bibliografia básica sobre ele.

O TÍTULO

O título nada mais é do que à denominação de


seu estudo. Como ele é, normalmente, o primeiro item
a ser considerado por aqueles que irão consultar o seu
trabalho, é interessante que o título não seja longo ou
vago demais. Ao contrário, ao elaborar o mesmo,
procure fazer com que este seja sintético e se refira à
temática em estudo.

O titulo que você adotará em seu Plano pode


ainda ter um caráter provisório podendo ser
Aula 6 |O plano de pesquisa 126

MODIFICADO se ao longo da pesquisa você se deparar


com um nome mais interessante ou apropriado para
Importante
este.
SOBRE O
MÓDULO 10: Podendo ser escrito em estilos diferentes é
Os módulos 10, 11 e importante atentar para as exigências de cada situação
12 são voltados para
a Orientação do ou mesmo da instituição onde seu projeto será enviado
Trabalho
Monográfico. ou está sendo gestado.
O próximo módulo
(10) será dedicado
exclusivamente à
análise e orientação
No caso de nosso curso, no título do plano de
de seu PLANO DE pesquisa, não é exigido um maior formalismo em sua
PESQUISA. Logo
que concluir o elaboração desde que o leitor do mesmo tenha clareza
estudo desta
disciplina, preencha com relação a que o trabalho se refere (o que você
o modelo do plano
apresentado ao final pretende com o estudo). Vejamos um exemplo
deste Caderno de
Estudos e envie-o ao relacionado ao estudo de motivação de gerente de
Núcleo Central após
o pagamento do vendas cujo título é apresentado nos estilos formal e
Módulo 10.
informal:

ESTILO FORMAL:

 O Estudo de Práticas Motivacionais aplicadas


à Gerência de Vendas.
 O Problema da Desmotivação do Gerente de
Vendas: Caminhos e Alternativas Práticas.
 Motivação na Gerência de Vendas: Refletindo
sobre a Aplicação de Práticas Motivacionais.

ESTILO INFORMAL:

 Motivando o Gerente de Vendas: Desafios e


Propostas
 Como Motivar seu Gerente de Vendas?
 Lidando com a Desmotivação do Gerente de
Vendas.
 O que Podemos Fazer para Manter nosso
Gerente de Vendas Motivado?

Note bem no exemplo, como a mesma questão


pode ser trabalhada de diferentes ângulos e estilos
Aula 6 |O plano de pesquisa 127

mantendo a clareza daquilo que se pretende estudar no


trabalho. Vale destacar também o uso de subtítulos
antes de emprego de dois pontos a fim de clarificar
ainda mais o recorte que será feito no tema. Essa
variedade de estilos permite torna possível ao
pesquisador mudar o mesmo sem prejuízo de seu
entendimento de acordo com a situação onde o
trabalho será apresentado ou mesmo no caso de uma
publicação do mesmo tentando torná-lo mais comercial.
Algo do tipo: “Motivação em Gerência de Vendas sem
Mistérios”.

O PROBLEMA
Dica do
professor

No cotidiano costumamos dizer que o problema


é o "X" da questão. Isto é, a raiz, a chave da questão. Faça o problema
como uma pergunta!
Trazendo tal interpretação para o nosso Plano de Com direito a uma
Interrogação no
pesquisa, é possível afirmar que o problema se refere à final!
Isso ajuda muito a
questão central de seu estudo, a mola mestra deste. definir sua QUESTÃO
de pesquisa.
Aquilo que o pesquisador deseja realmente saber
movido por um motivo qualquer, seja por não existir
uma resposta conhecida, seja por querer se posicionar
diante das muitas respostas existentes.

É importante que o problema seja sempre escrito


sob a forma de pergunta, afinal ele é, acima de
tudo, um questionamento sobre um determinado
objeto, fato ou situação.

Vale ressaltar também que de um único tema


vários problemas podem ser formulados. No entanto,
como o Plano se refere ao planejamento de uma
monografia, estudo de caráter focal, é bom não se
prender a mais de uma questão, mas formular uma
única questão-chave que norteará seu trabalho
monográfico. Outros questionamentos interessantes
desse mesmo estudo, poderão ser efetivados por você
em futuros trabalhos, afinal sua monografia pode ser
apenas um primeiro de uma seqüência de muitos outros
estudos que poderão até, quem sabe, fundamentar sua fu-
Aula 6 |O plano de pesquisa 128

tura dissertação de mestrado ou até sua tese de


doutorado se esse for seu objetivo.

O pesquisador deve evitar ainda que seu


problema se torne geral e abrangente a ponto de não
ser pesquisado. Este é o momento da apresentação de
um problema específico, previamente definido e
delimitado em termos de tempo e de espaço (quando e
onde) que vai se constituir, como já observado
anteriormente, na questão central da pesquisa.

Na opinião de Humberto Eco “o estudo deve


dizer do objeto algo que ainda não foi dito ou rever sob
uma ótica diferente” (Eco, 1977, p.22). Nesse sentido,
o problema formulado deve fazer referência a algo
novo, ou seja, a sua contribuição para compreensão do
estudo, o seu olhar sobre o tema e sua(s) interrogação
(ões) sobre o mesmo.

Vejamos mais um exemplo com o objetivo de


clarificar o que estamos falando. Consideremos o
seguinte tema:

EXEMPLO

TEMA: A Situação da Mulher no Mercado de


Trabalho.

Este tema nos remete à questões de gênero e


sua especificidade no que se refere a situação da
mulher no mercado de trabalho. Sobre o mesmo você
deverá criar um problema, isto é, uma pergunta que
funcionará como um recorte do seu estudo. Vejamos
aqui algumas sugestões:

 Qual é a situação da mulher no mercado de


trabalho no século XXI?
Aula 6 |O plano de pesquisa 129

 Quais foram as maiores vitórias e derrotas da


Mulher no Mercado de Trabalho nas últimas
décadas?
 Que desafios as mulheres precisam superar
para conseguirem uma melhor colocação no
mercado de trabalho?
 O que mudou no mercado de trabalho com a
ascensão feminina a partir dos anos 80?

Note como a formulação dos problemas citados


permitiram o surgimento de dois resultados concretos:
a) um questionamento e b) um limite da abrangência
do estudo (recorte). Através desses dois elementos o
pesquisador pode iniciar sua pesquisa evitando riscos
de se desviar do tema em questão se perdendo na teia
da complexidade que qualquer temática abrange.

A JUSTIFICATIVA

É uma das partes mais importantes do Plano de


Pesquisa já que é nesta parte que se formularão todas
as intenções do autor do estudo ao realizá-lo. A
justificativa, como o próprio nome indica, trata do
convencimento da necessidade da realização do
trabalho de pesquisa. É através dela que elementos
como: o tema escolhido pelo pesquisador assim como o
problema formulado, e as hipóteses levantadas serão
justificados como merecedores de serem melhor
estudados a fim de serem comprovados ou não.

Segundo Bagno (2000), justificativa é a defesa


que você faz de sua idéia de pesquisa. Nela você
apresentará uma série de argumentos pautados não
apenas na sua experiência, mas nas proposições
teóricas de diferentes autores, de que seu trabalho é
digno de interesse e financiamento. Enfim é nela que
você irá "vender seu peixe", assim sendo, procure
caprichar em sua elaboração, fazendo com que a
Aula 6 |O plano de pesquisa 130

mesma convence seus leitores da importância de seu


estudo.

Uma dica importante na elaboração da


justificativa diz respeito à necessidade de se tomar um
certo cuidado para não se tentar justificar a hipótese
levantada, ou seja: tentar responder ou concluir o que
ainda vai ser buscado no trabalho de pesquisa. A
justificativa apenas exalta a importância do problema a
ser investigado, fundamentando-o através de uma
revisão teórica. Seu objetivo é de ressaltar a
importância da pesquisa e não de respondê-la
previamente. Em outras palavras: Se você já sabe a
resposta para seu problema antes de fazer a pesquisa
não há necessidade de realizá-la. Se a justifica já traz
consigo a resposta do problema, ao invés de favorecer
sua realização irá justificar a não necessidade de
efetivação da mesma.

No caso do plano de pesquisa enfocado neste


módulo, a justificativa é restrita a poucos parágrafos.
Seu objetivo é conseguir reunir de forma unificada os
motivos que justificam a necessidade do estudo e a
base teórica sobre a qual o mesmo se sustentará. Mais
tarde, no processo de elaboração monográfica, ela
poderá ser desmembrada servindo a elaboração de boa
parte da introdução bem como de alguns capítulos.

Consideremos aqui um exemplo que Bagno


(2000) dá ao justificar sua pesquisa sobre a vida e obra
de Monteiro Lobato de uma forma bem sintética.

Tornar mais bem conhecida dos alunos


e da comunidade a importância de
Monteiro Lobato na literatura em
outros aspectos do Brasil é de
fundamental importância (...).
Monteiro Lobato é considerado até
hoje o nosso mais importante autor de
literatura infantil, gênero em que foi
pioneiro no Brasil. Além disso, teve atua-
Aula 6 |O plano de pesquisa 131

ção fundamental na criação da


indústria editorial brasileira, tendo sido
o fundador de algumas das primeiras
editoras do país, que existes até hoje.
Por isso, a data de seu nascimento foi
escolhida para se comemorar o Dia do
Livro.
(Bagno, 2000: 29-30)

No caso de nosso Plano procure fundamentar


melhor a defesa do seu tema incluindo na sua
justificativa a orientação teórica que você pretenderá
seguir. No exemplo citado por Bagno o autor assinala
que sua pesquisa seria desenvolvida a partir da
consulta de sites, cd-rom’s, revistas, enciclopédias e
algumas principais obras do autor.

OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS

Os objetivos dizem respeito à meta final do


estudo. O que o mesmo pretende de forma geral. Os
objetivos de um estudo monográfico qualquer
caracterizam de forma resumida a finalidade de sua
proposta. Não existe pesquisa alguma sem um objetivo
(Carvalho et al., 2000).

Ele deve ser elaborado de forma clara e sucinta


de modo a destacar ao leitor a pretensão do
pesquisador ao desenvolver sua pesquisa.
Provavelmente, com outras palavras, você já falou do
objetivo ao elaborar sua justificativa, contudo, esse
item sugere algo mais preciso e sintético. Como é
possível perceber através dos exemplos o mesmo pode
ser geral ou específico (explicitando objetivos
secundários):
Aula 6 |O plano de pesquisa 132

EXEMPLO 1

TÍTULO: O Papel da Gestão Democrática na Empresa


de Hoje
OBJETIVO GERAL: Conhecer a importância da Gestão
Democrática para o Sucesso das Empresas nos dias
de Hoje.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
a) Desvelar como os processos de gestão
democrática favorecem uma maior sintonia da
equipe de trabalho;
b) Discriminar as principais características de uma
gestão democrática;
Examinar as possíveis conseqüências em uma
empresa através da implementação de processos de
gestão democrática.

EXEMPLO 2

TÍTULO: A Avaliação Psicopedagógica da


Aprendizagem
OBJETIVO GERAL: Identificar os critérios utilizados
por docentes e psicopedagogos na avaliação
psicopedagógica de problemas de aprendizagem.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:
a) Identificar os meios utilizados por educadores e
psicopedagogos para identificar problemas de
aprendizagem;
b) Analisar as concepções de educadores da escola
investigada a respeito de problemas de
aprendizagem;
c) Propor alternativas de avaliação a educadores e
psicopedagogos a partir das contribuições da
psicopedagogia.

CUIDADO NA FORMULAÇÃO DOS OBJETIVOS

Este seu planejamento é para uma pesquisa, um


estudo, e não para a ação. Portanto seus objetivos
devem ser os alvos de sua pesquisa, ou seja, o que
você pretende ANALISAR, OBSERVAR, COMPARAR,
todas estas atividades INTELECTUAIS envolvidas em
uma pesquisa.

Não faça objetivos de INTERVENÇÃO, pois este


não é um projeto de AÇÃO, e por isso seus objetivos
(na pesquisa).
Aula 6 |O plano de pesquisa 133

NÃO SÃO:

 Conscientizar...
 Mudar a atitude de profissionais da área...
 Promover mudanças na prática...
 Etc.

Pode parecer estranho, pois muitas vezes estes


são nossos desejos maiores, mas não são objetivos no
âmbito da pesquisa. Na prática, os resultados da sua
pesquisa podem embasar a formulação de um projeto
de ação, e aí sim estes serão os seus objetivos.

Não sei se você percebeu, mas um macete para


se definir os objetivos é iniciá-los pelo verbo no
infinitivo: ESTRUTURAR tal objeto, ESCLARECER tal
coisa; DEFINIR tal assunto; PROCURAR aquilo;
PERMITIR isto, DEMONSTRAR algo etc.

A HIPÓTESE OU AS QUESTÕES SECUNDÁRIAS

Hipótese (hipo = baixo + Thesis= proposição) é


uma palavra de origem grega que significa princípio
base ou simplesmente uma proposição. De modo geral
podemos concebê-la como uma possível resposta ao
problema formulado independente desta ser verdadeira
ou falsa. Trata-se, portanto, de uma suposição
provisória sobre um determinado problema que ao final
da pesquisa realizada será comprovada ou não
(Salomon, 1994). Um dos exemplos clássicos de
hipótese é a seguinte. Se eu jogo uma moeda para
cima tenho duas hipóteses possíveis: pode dar cara ou
coroa. Quando eu enfim resolver jogar a moeda é que
eu saberia em qual dois lados ela irá cair. Assim como o
problema, ela tem a função de orientar o pesquisador
na direção daquilo que pretende explicitar o
demonstrar. Se comprovada, após realização da
pesquisa, a hipótese pode adquirir o status de tese.
Aula 6 |O plano de pesquisa 134

A hipótese não deve ser confundida com uma


mera opinião sobre um assunto. Ela se refere ao
resultado que você espera encontrar ao final de sua
pesquisa, baseado em estudos prévios sobre o que está
sendo pesquisado (Andrade, 1998; Ruiz, 1993). Na
medida em que ela se trata de uma resposta a uma
questão, a mesma deve ser expressa na forma
afirmativa. No decorrer da pesquisa, assim como após
seu término, novas hipóteses poderão ser formuladas,
o que nos leva a entender que podem existir hipóteses
antes, durante e depois de uma pesquisa qualquer.

A observação científica não é simples observação


de fatos: a ciência não parte da observação dos
fenômenos, mas da formulação de problemas sobre
esses fenômenos (a descoberta de "fatos
polêmicos"). Como nota François Jacob, pode
examinar-se um objeto durante anos sem daí tirar
a menor observação com interesse científico; nas
palavras de Gérard Fourez, observar é fornecer um
modelo teórico daquilo que se vê.
Observado/analisado o fenômeno, o cientista passa
à formulação de uma hipótese que o explique --
uma explicação provisória. A hipótese, embora se
relacione com os dados da observação, não deriva
diretamente deles, sendo antes uma criação do
cientista. No entanto, a indução está na base de
muitas hipóteses: a partir dos casos observados
pode formular-se uma hipótese que explique não
apenas esses casos, mas todos os da mesma
espécie; Hume criticou esse salto no desconhecido
(a passagem da análise de casos particulares para o
caráter geral da hipótese) -- as teorias de Popper
podem constituir uma alternativa e de certo modo
uma "solução" para esse problema.

Fonte: Ciência e Hipótese, disponível em


<http://afilosofia.no.sapo.pt/11.verificabilidade.htm>

Que tal conferir alguns exemplos:

EXEMPLO 1

PROBLEMA: Como a Educação Ambiental pode


promover um processo de Desenvolvimento
Comunitário?
Aula 6 |O plano de pesquisa 135

Considerando o problema da página anterior é


possível a construção de várias hipóteses como, por
exemplo:
 A Educação Ambiental pode promover o
Desenvolvimento Comunitário através do Importante

estímulo a organização da comunidade em


prol da resolução de problemas essenciais De forma alguma!
Quando uma
relacionados à Qualidade de Vida; pesquisa não chega
à sua hipótese inicial
ela certamente
 A Educação Ambiental pode promover o encontra outra
resposta. Esse é o
Desenvolvimento Comunitário na medida em objetivo de uma
pesquisa: encontrar
que consegue estimular potenciais uma formulação que
responda à
comunitários latentes de organização e problemática
proposta, sendo esta
participação política; resposta
convergente ou não
com a hipótese
 O Desenvolvimento Comunitário só será inicial.
Por isso, não se
possível se as questões socioambientais da preocupe! A
hipótese é uma
comunidade, preocupação central da forma de organizar o
pensamento, mas o
Educação Ambiental, forem consideradas e sucesso de seu
trabalho não
tratadas de forma consciente e crítica. depende de sua
confirmação.
É a pesquisa sobre o tema, seja ela bibliográfica
ou de campo (questionários, entrevistas etc.) que irá
dizer se as hipóteses acima serão refutadas ou
confirmadas. O pesquisador não tem como saber isso
previamente.

Vale ressalvar que nem toda pesquisa parte


necessariamente de hipóteses a serem testadas. No
caso de um estudo de caráter exploratório, onde o
objetivo do pesquisador é conhecer algo do qual possui
pouca ou nenhuma informação, fica difícil inclusive
formular algum tipo de hipótese. Nesse caso em
particular, o aluno poderá apenas formular algumas
questões secundárias.

EXEMPLO 2

PROBLEMA: Quais as dificuldades mais encontradas


na elaboração de um plano de negócios?
Aula 6 |O plano de pesquisa 136

Nesse caso, o estudo em questão será uma


EXPLORAÇÃO das principais dificuldades que
profissionais de diferentes áreas encontram para
elaborar um plano de negócios. Não há hipóteses a
serem testadas, mas sim, apenas um problema a ser
investigado que não deixa de oferecer questionamentos
ao pesquisador.

A DELIMITAÇÃO

A delimitação pode ser definida com uma


especificação mais concreta do seu problema em
relação à área de abrangência, local, tempo e amostra
que servirá ao estudo. Por mais que tenhamos tentado
aclarar através dos objetivos e hipóteses o que
queremos com nosso estudo, algumas perguntas ainda
podem ficar sem respostas. São questões como: onde o
estudo será desenvolvido? Quantas pessoas serão
entrevistadas? Quantos questionários serão aplicados?
Quantas escolas estarão envolvidas na pesquisa?
Quando a observação foi feita e etc.

Vejamos aqui também alguns exemplos de


delimitação:

EXEMPLO 1

TÍTULO: Seleção de Pessoal: Desafios e Propostas


DELIMITAÇÃO: Este estudo será desenvolvido em uma
empresa privada de Salvador (BA), onde serão
entrevistados 6 (seis) profissionais, de diferentes
idades e sexos, que atuam na área de seleção da
mesma em 2004.

EXEMPLO 2

TÍTULO: Enfrentando o Desafio da Inclusão


DELIMITAÇÃO: A presente pesquisa delimita-se a duas
escolas da rede pública localizadas em Vitória (ES),
onde 50 questionários serão distribuídos, sendo 30
destinados a professores e 10 destinados a
psicopedagogos que atuam na área da inclusão. O
estudo deverá ser efetivado no período de março a
abril de 2000.
Aula 6 |O plano de pesquisa 137

OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O último, mas não menos importante item de


seu Plano de pesquisa se refere aos procedimentos
metodológicos a serem utilizados na realização de seu
estudo monográfico. Trata-se de uma explicação
detalhada dos métodos (meios) de pesquisa e a
maneira de como estes deverão ser empregados em
seu estudo.

Neste item você deve incluir as técnicas, os


procedimentos, os equipamentos e materiais
necessários, as variáveis consideradas e do tipo de
coleta e INTERPRETAÇÃO DE DADOS a ser empregado.
Os aspectos estatísticos, quando for o caso, tanto no
que diz respeito a TÉCNICAS DESCRITIVAS quanto aos
TESTES a serem utilizados devem também ser
discriminados.

O enfoque metodológico de uma pesquisa - no


que se refere a clareza, pertinência e domínio - é de
vital importância para o desenvolvimento da mesma e o
alcance dos resultados perseguidos. Em outras palavras
para o emprego de um determinado método, faz-se
necessário compreender bem suas especificidades
teóricas - sobretudo em seus princípios, que devem
estar vinculados ao objeto de estudo - e práticas
(particularmente no caso do manuseio de um
instrumento de pesquisa qualquer).
Importante

É sempre bom destacar que A NATUREZA DO Toda monografia


tem como
PROBLEMA É QUE DETERMINA O MÉTODO, ou seja, a procedimento
metodológico
escolha do método é feita em função do problema
obrigatório a
estudado. Lembre-se de que o sucesso na realização de pesquisa
bibliográfica.
uma pesquisa depende do domínio em três pontos Além desta, o aluno
pode aí sim optar
essenciais aqui desenvolvidos: o conhecimento teórico por fazer ou não a
pesquisa de campo.
e conceitual; a metodologia a ser seguida e a aplicação
das técnicas e instrumentos (Rampazzo, 2002). Assim
Aula 6 |O plano de pesquisa 138

procure estar bem informado sobre o caminho teórico-


metodológico a seguir e as técnicas que pretende
aplicar no caso de uma pesquisa empírica.

EXEMPLO

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO:
O instrumento utilizado para realização da pesquisa
será um questionário. Este é composto de cinco
questões do tipo descritivo a serem respondidas por
alunos de idades entre 13 e 16 anos e diferentes
ciclos de estudo.
Deverão ser aplicados 44 questionários em duas
escolas sendo22 em uma escola da rede pública e 22
em uma escola da rede privada. A aplicação dos
mesmos será feita pelo próprio autor em dia e horário
a ser combinado nas instituições escolares. Ao final da
coleta desses dados os mesmos serão avaliados a
partir de alguns critérios específicos tais como:
pontualidade, participação, empenho e interesse.

Uma última observação importante:

Se você pretende fazer em seu estudo


monográfico uma abordagem apenas teórica, a
metodologia será reduzida fundamentalmente à
pesquisa bibliográfica (envolvendo aí não apenas livros,
mas também sites da Internet, artigos eletrônicos,
CD´s, revistas, artigos de jornais e etc.) para
fundamentação conceitual desta. Neste caso é
importante sinalizar a fundamentação bibliográfica
sobre a qual seu estudo será efetivado. Sobre esse
Dica de ponto lembre-se de considerar em suas referências os
leitura
itens:

Como já dissemos
você encontrará  Autor (ou coordenador, ou organizador, ou
mais detalhes sobre
formas de citação editor) - Escreve-se primeiro o sobrenome
bibliográfica no livro
de autoria dos paterno do autor, em caixa alta, e, a seguir, o
professores
ARDUINI, Fernando
restante do nome, após uma separação por
e LAROSA, Marcos. vírgulas.
Como produzir uma
monografia passo a  Título e subtítulo - O título deve ser realçado
passo: siga o mapa
da mina. por negrito, itálico ou sublinhado.
 Local da publicação - É o nome da CIDADE
onde a obra foi editada e, após a referência de
Aula 6 |O plano de pesquisa 139

local deve, ser grafado dois pontos (:)


seguido da editora.
 Editora - Só se coloca o nome da editora. Não
se coloca a palavra Editora, Ltda, ou S.A. etc.
bastando apenas por Ática.
 Ano da publicação - ano em que a obra foi
editada.
 Número de volumes (se houver)
 Número da edição (a partir da segunda
edição) - Não se usa o sinal de decimal (a).
 Paginação - Quantidade de páginas da obra
ou paginas referentes ao artigo citado (ex.:
pp. 10-15).

EXEMPLO

No caso de um único autor – livro:


Japiassu, hilton f. O mito da neutralidade científica.
Rio de janeiro: imago, 1975.
No caso de vários autores – livro:
Carvalho, a. Et al. Aprendendo metodologia
científica. São paulo: nome da rosa, 2000.
No caso de um autor – revista:
Carvalho, v. A ética da educação ambiental. In:
revista veja nº 123 ano xx. São paulo: abril
cultural, 2002. Pp. 33-45.

PALAVRAS FINAIS

O Projeto é uma PROPOSTA ESPECÍFICA E


DETALHADA DA PESQUISA, visa definir e delimitar o
objeto a ser investigado com o objetivo de definir uma
questão e a forma pela qual ela será investigada. É
importante ressaltar que o mesmo está sujeito a
modificações durante o seu desenvolvimento, uma vez
que esta será a base da construção do trabalho da
monografia que ainda será efetivada. Através da
análise de cada um desses itens conseguimos então
dar conta da estruturação básica de nosso modelo de
Plano de pesquisa. Lembremos resumidamente seus
pontos:
 Tema
 Título
 Problema
 Justificativa
 Objetivo geral
 Objetivos específicos
 Hipóteses ou Questões Secundárias
 Delimitação
 Procedimentos Metodológicos.
Aula 6 |O plano de pesquisa 140

Esperamos esta aula possa ter lhe ajudado a


Importante compreender cada um desses itens possibilitando-lhe
construir seu plano de pesquisa de forma
descomplicada. De qualquer modo, procure estudar
HORA DE ENVIAR cada item com calma, procurando elaborar pelo menos
O PLANO DE um exemplo para cada ponto antes de tentar elaborar
PESQUISA!
o Plano de seu estudo. Finalmente, não esqueça que o
Lembre-se: ao Plano é um planejamento e como qualquer tipo de
concluir esta planejamento ela pode sofrer alterações e adaptações
disciplina você deve de acordo com a realidade encontrada. Ela deve servir
preencher o modelo
de Plano de Pesquisa como um norte para sua pesquisa e não como uma
disponível ao final “camisa de força” que deve ser seguida de forma
do Caderno de rígida. Sem mais, Mãos a obra...
Estudos e enviá-lo
para a Tutoria do
Núcleo Central.
Pense com calma,
elabore sua proposta EXERCÍCIO 1
de monografia,
efetue o pagamento
do módulo 10 e
encaminhe sua O grande exercício dessa aula e que de certa forma só
proposta.
Bom trabalho! é possível de ser feito a partir de uma boa leitura desse
caderno como um todo é a elaboração do plano de
pesquisa de sua futura monografia.
Não importa que mais tarde esse plano venha sofrer
algumas mudanças. Por ora tente ir preenchendo cada
um dos itens a partir do que você pretende trabalhar
em sua monografia.
Bom trabalho.

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

RESUMO

Vimos até agora:

 Nessa última aula vimos essencialmente


como construir nosso plano de pesquisa
considerando cada um de seus itens;

 Refletimos sobre critérios a serem observados


na elaboração do plano de pesquisa desde a
escolha do tema, passando pelo problema-cha-
Aula 6 |O plano de pesquisa 141

ve que o mesmo encerra, sua justificativa,


objetivos até o seu referencial teórico e
metodológico.
Ensino, Pesquisa e

AULA
Extensão:
Considerações Éticas

Nessa aula final teceremos considerações sobre duas questões


Apresentação

fundamentais no campo da pesquisa universitária: a


indissociabilidade entre os três pilares universitários - ensino,
pesquisa e extensão - que deve ser cultivada no âmbito
universitário e as questões éticas relacionadas às práticas de
pesquisa e seus limites. No decorrer dessa análise você terá
oportunidade de tomar ciência de algumas das principais
temáticas que tangenciam a indissociabilidade referida tais como:
parcerias entre universidades e empresas, fomento para pesquisa,
ações governamentais em prol da pesquisa, política de bolsas e
outros temas discutidos que servem para nos ajudar a entender
melhor a complexidade e a riqueza de se pensar e fazer pesquisa
no país.

Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja


capaz de:
Objetivos

 Saber mais sobre a situação da pesquisa científica no país e


seus desafios atuais;
 Ser capaz de entender a importância da indissociabilidade dos
pilares universitários: ensino, pesquisa e extensão;
 Se posicionar diante de algumas discussões importantes no
campo da produção de conhecimento científico do ponto de
vista ético.
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 144

Ensino, pesquisa e extensão: o desafio da


indissociabilidade

Comecemos nossa aula enfocando uma relação


fundamental que precisa ser cultivada e preservada nas
instituições de ensino superior. A análise dessa relação
pode, sem dúvida, nos auxiliar, a entender a
importância da pesquisa no âmbito universitário.
Estamos nos referindo a relação indissociável que deve
sempre existir entre ensino, pesquisa e extensão, os
três pilares centrais de uma instituição de ensino
superior. Durante o estudo desse tipo de análise iremos
também tecer considerações sobre cada um desses
pilares e os desafios de mantê-los juntos em prol da
qualidade da formação de novos profissionais e do
próprio desenvolvimento da nação como um todo.

O artigo 52 da LDB deixa claro que as


universidades devem ser concebidas como:
:: LDB: “instituições pluridisciplinares de formação dos quadros
profissionais de nível superior, de pesquisa, de
Lei de Diretrizes e extensão e de domínio e cultivo do saber humano”. Em
Bases da Educação
Nacional. outras palavras a universidade está fundamentada em
três pilares indissociáveis: Ensino, pesquisa e extensão.
Do ponto de vista histórico, as funções de ensino,
pesquisa e extensão foram contempladas pelo Estatuto
das Universidades Brasileiras de 1931, considerado por
Fávero (1980) o marco estrutural da concepção de
universidade em nosso país. Vamos conhecer melhor a
importância de cada um desses pilares:

O ensino é da ordem do que já se sabe e está


diretamente relacionado a formação sócio-cultural e
específica do futuro profissional a ser diplomado nas
mais diferentes áreas do conhecimento através de
atividades planejadas e didaticamente estruturadas.
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 145

A pesquisa, ao contrário, é da ordem do que


não se sabe. Ela se foca nos pontos de interrogação,
das dúvidas, dos questionamentos, das novas
demandas dentro e fora da universidade, permitindo a
expansão do conhecimento científico, a melhoria da
qualidade de vida e em última instância a satisfação da
curiosidade humana. Através da pesquisa é possível
renovar o ensino, favorecendo a “oxigenação” do
mesmo e evitando que este, depois de certo tempo,
caia numa espécie de “ mesmice”. Um dos sinais mais
característicos de diferenciação de uma faculdade para
uma universidade é o justamente o envolvimento e
compromisso desta última com a pesquisa.

A extensão, por sua vez, diz respeito ao


compromisso social e político da universidade com a
sociedade no sentido de partilhar, de divulgar e de
aplicar na mesma os conhecimentos culturais,
científicos e técnicos produzidos na universidade. Faria
(2001) entende que a extensão universitária como um
processo educativo, cultural e científico que articula
ensino e pesquisa viabilizando a relação transformadora
entre a universidade e a sociedade. Trata-se de uma
via de mão dupla que por um lado favorece a sociedade
que passa a ter acesso aos benefícios dos
conhecimentos práticos e teóricos produzidos no âmbito
universitário e da comunidade acadêmica que encontra
na sociedade uma oportunidade singular de colocar em
prática os conhecimentos aprendidos em sala de aula.

Esses três pilares devem estar associados


visando além da excelência na formação de
profissionais, o cultivo nos mesmos de um desejo
permanente de aperfeiçoamento cultural e profissional
do comprometimento com a busca de soluções e
alternativas para os problemas do mundo presente, de
modo particular, os nacionais e regionais de forma
cidadã (como sugere o artigo 43 da LDB).
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 146

EXERCÍCIO 1

Faça uma análise com suas palavras da importância da


indissociabilidade no âmbito universitário entre: ensino,
pesquisa e extensão.
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

É importante dizer, e existem muitas


discussões nesse sentido, que, muito embora a
universidade tenha sido, já há alguns séculos, o lugar
que a sociedade construiu para trabalhar com o
conhecimento da maneira mais estruturada em termos
de sua produção científica e divulgação, isso não
significa que ela seja o único lugar onde o
conhecimento é produzido cientificamente, uma vez
que existem outras instituições favorecedoras deste
tipo de conhecimento como empresas dos mais
diferentes ramos de negócios que investem em
pesquisa, sendo algumas até mesmo parceiras das
:: COPPE:
universidades oferecendo a estas através de diversos
tipos de convênios e associações uma intercâmbio de
Instituto Alberto Luiz
Coimbra de Pós- idéias, recursos materiais, financeiros e principalmente
Graduação e
Pesquisa de recursos humanos (sendo a COPPE na UFRJ – hoje
Engenharia – UFRJ.
considerada o maior centro de ensino e pesquisa em
engenharia da América Latina - um ótimo exemplo
desse tipo de cooperação). As discussões, que não são
poucas, referem-se desde a perda de um determinado
monopólio do conhecimento por parte da universidade
a interesses político-econômicos envolvidos na
produção de pesquisas e até questões de cunho ético
sobre o limite das mesmas e as pressões comerciais.

Tais discussões envolvem diferentes interesses


e ideologias que afetam direta e indiretamente a
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 147

produção científica no país e seu desenvolvimento de


modo geral. Na área da Ciência e Tecnologia (C&T), por
exemplo, Cruz (2008) denuncia como o utilitarismo :: Utilitarismo:

que tem pautado inúmeras discussões de direita e de


esquerda. Uma face, a do utilitarismo de direita, define Tipo de ética
normativa -- com
como principal função das universidades o apoio às origem nas obras
dos filósofos e
empresas, para que elas se tornem mais competitivas, economistas
ingleses do século
mantenham o ritmo das exportações, o crescimento da XVIII e XIX. Jeremy
Bentham e John
economia do país etc.; a outra face, o utilitarismo de Stuart Mill, --
segundo a qual uma
esquerda, define essa função principal como sendo a de ação é moralmente
correta se tende a
ajudar a sociedade brasileira através de ações promover a
imediatas a elevar a qualidade de vida da população felicidade e
condenável se tende
reduzindo as desigualdades e aprimorando serviços a produzir a
infelicidade,
básicos como educação, saúde, segurança e transporte. considerada não
apenas a felicidade
do agente da ação
mas também a de
Discussões a parte o fato é que ambos os lados todos afetados por
ela.
possuem relevância uma vez que nosso país precisa
Fonte:
tanto de indústrias competitivas usuárias do http://www.cobra.pa
ges.nom.br/ft-
conhecimento quanto de políticas e meios para utilitarismo.html
favorecer um incremento de sua qualidade de vida.
Cruz (2001) deixa claro que a força da Universidade
não está no pretenso monopólio sobre o conhecimento
e sim, na capacidade de gerar um tipo especial de
conhecimento, na habilidade em trabalhar com ele e,
principalmente, na competência em formar e educar
pessoas para continuarem a executar ambas as tarefas.

EXERCÍCIO 2

Como você se posiciona diante da parceria entre as


pesquisas feitas na universidade e as pesquisas
efetivadas no âmbito empresarial?
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 148

Outro problema levantado por este autor


associado a discussão na área de Ciência e Tecnologia
(C&T) é que ao longo da história das Universidades, se
favoreceu no ambiente acadêmico muito mais as
atividades de pesquisa básica do que as atividades de
pesquisa aplicada que objetivavam o desenvolvimento
tecnológico. Isso estaria explicado na própria natureza
das instituições que sempre valorizou mais a pesquisa
básica na medida em que esta era fundamental na
formação de estudantes, favorecendo o espírito
científico através do incentivando ao prazer da
descoberta, sem outra cobrança senão a do
compromisso com o método científico. Segundo Cruz
(2001) em geral, há também nas Universidades um
pouco de pesquisa aplicada e bem pouco
desenvolvimento tecnológico - pois, nesse caso, esta
teria de lidar com dificuldades relacionadas com a
propriedade intelectual do conhecimento produzido que
não se coadunariam muito com a prática acadêmica,
como o sigilo de determinados projetos, obrigatório no
âmbito empresarial.

De maneira geral toda pesquisa é importante,


independente de ser básica ou aplicada, uma vez que o
importante é o compromisso com a expansão do
conhecimento científico. Entretanto, parece ser
inegável, que um maior equilíbrio entre esses
diferentes tipos de pesquisa, em relação à
determinação de prioridades no âmbito universitário,
favoreceria tanto a universidade quanto a ao
desenvolvimento local. Assim o ideal seria que num
primeiro momento, os estudos fossem efetivados
teoricamente dentro da universidade e num segundo
houvesse a chance de novas pesquisas aplicadas - a
partir das conclusões extraídas dos estudos no
ambiente acadêmico - na realidade local, respeitando
suas especificidades regionais.
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 149

O financiamento à pesquisa é outro tema


importante. A experiência mundial nos mostra que a
parcela do governo no financiamento à pesquisa na
Universidade deve ser majoritária e insubstituível
independente da participação de empresas privadas em
projetos conjuntos com a universidade. As funções da
universidade em termos de educação, formação de
profissionais e favorecimento do avanço do
conhecimento trazem uma série considerável de
benefícios sociais dificilmente apreendidos no âmbito
privado (Id, 2001).

Uma recente avaliação feita pela ONU aponta


que o Brasil está em 43º lugar, num grupo de 70
países, no índice de avanço tecnológico. Isto indica que
o Brasil está abaixo de países como Argentina, Chile,
México, Costa Rica, entre outros, em termos de
aplicação do conhecimento científico (Pelegrino, 2001).
Bernardo (2001) ratifica estes dados justificando que
atualmente, o Brasil está defasado tecnologicamente
porque o investimento nesse sentido está muito aquém
do desejável. Apenas tardiamente os Estados
procuraram valorizar as atividades de pesquisa, através
de suas secretarias de Ciência e Tecnologia.
Sublinhando que o MEC tem investido pouco em
pesquisa ele esclarece que: Quer
saber mais?

Do orçamento das universidades FINEP:


federais, a maior parte dos recursos Financiadora de
se destina à manutenção e Estudos e Projetos
pagamento de pessoal. O dinheiro da
CNPq:
pesquisa vem mesmo dos órgãos Conselho Nacional
fomentadores como Finep, CNPq, de Desenvolvimento
Faperj. É através deles que os Científico e
pesquisadores conseguem desenvolver Tecnológico
seus trabalhos. FAPERJ:
(Id., 2001) Fundação Carlos
Chagas de Apoio à
Pesquisa do Estado
Não podemos ter dúvidas quanto ao papel do Rio de Janeiro

imprescindível da pesquisa na formação do profissional,


no aprimoramento qualitativo da universidade e no
desenvolvimento do próprio país. O Brasil tem dado
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 150

mostras do quanto vale a pena investir em pesquisa no


que se refere a conquista de determinadas posições
frente a comunidade internacional especialmente no
que diz respeito a pesquisas bem sucedidas nas áreas
da genética (projeto genoma), da aeronáutica (aviões
projetados pela EMBRAER), petróleo (PETROBRÁS) e de
biocombustíveis (pesquisas da EMBRAPA). Conquistas
que só foram possíveis graças a um esforço contínuo e
cumulativo de educação com padrões elevados de
excelência durante décadas e décadas (Cruz, 2000).

Não é à toa ciência brasileira tem cada vez


mais, ela tem obtido destaque em termos de
visibilidade internacional. Isso é fruto de um esforço
concentrado de profissionais que priorizado a pesquisa
dentre suas atividades acadêmicas. Um exemplo disso
é que tem sido cada vez mais comum encontrarmos
citações de artigos publicados por pesquisadores
brasileiros em revistas internacionais. Além disso,
segundo Cruz (2000) a produção científica brasileira
quintuplicou em relação à média da década de 80 e a
presença da ciência feita no Brasil cresceu
internacionalmente. Podemos contar hoje com uma
comunidade científica capacitada e motivada a
contribuir para o avanço do conhecimento humano

Em 1999 foram formados quase cinco mil


doutores. A pós-graduação evoluiu também
qualitativamente, devido ao aumento na quantidade de
docentes doutores e ao sistema de avaliação
implementado pela Capes.

Mas para isso é preciso que se continue e se


incremente o incentivo à pesquisa no país através da
realização de programas de iniciação científica dentro
das universidades pois estes projetos têm o mérito de
despertar no jovem formando o cultivo do espírito
científico e o aprimoramento de sua capacidade de
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 151

produção de conhecimento. Segundo Maria Lúcia


Guimarães, da Coordenadoria do Programa de
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq
(2001) que defende que a função do MEC seria a de
formar mestres e doutores e não a de conceder
recursos para investimentos em pesquisa e extensão:

O Programa Institucional de Bolsas de


Iniciação Científica (PIBIC) já
concedeu 14,5 mil bolsas. Há ainda
outras 4,5 mil de iniciação através do
Projeto Integrado à Pesquisa, também
financiadas pelo CNPq, totalizando 19
mil. São 121 instituições de ensino e
pesquisa contempladas com as quotas
do PIBIC, entre universidades e
institutos de pesquisa (Instituto de
Pesquisa do Paraná - IAPAR, Instituto
de Pesquisa da Amazônia-IMPA, entre
outros). O Sudeste brasileiro, pela
maior concentração de instituições de
ensino superior e atividade científica
mais intensa, já recebeu 6.865 bolsas
distribuídas por 55 instituições. (...) Ao
todo, cerca de R$42 milhões são
gastos por ano no financiamento dos
programas.
(s/p)

Todos esses dados significativos revelam o


quanto a pesquisa tem sido, e precisa continuar sendo,
levada a sério nas universidades em nosso país se
quisermos sonhar com profissionais mais capacitados e
um Brasil melhor. É preciso ir vencendo aos poucos os
desafios de se fazer pesquisa e através dela incentivar
a produção de respostas, alternativas, estratégias e
soluções que respondam de forma simultânea as
interrogações acadêmicas e as dificuldades de nossa
população.
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 152

EXERCÍCIO 3

Dentre os desafios da produção de pesquisas citados,


qual você destacaria como o mais difícil de enfrentar no
âmbito universitário?

____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________

Considerações sobre ética e pesquisa

Sabemos que o conhecimento científico não é


neutro, mas historicamente determinado tanto em sua
criação - em função de teorias e experiências prévias -
quanto em seu uso nem sempre vinculados ao
Dica de
leitura interesse social e sim a determinados grupos que a
utilizam como forma de poder e exclusão. Como
JAPIASSU, Hilton. A
Revolução Científica. explica Japiassu (1975), a ciência não pode ser neutra
Rio de Janeiro:
Imago, 1985. nem pura uma vez que não se pode negar sua

JAPIASSU, Hilton. As
dimensão social crescente no desenvolvimento da
Paixões da Ciência.
sociedade e avanço tecnológico. Uma ciência que se
São Paulo: Letras &
Letras, 1991. pretenda neutra certamente irá se esbarrar com
JAPIASSU, Hilton. desafios como: a utilização das pesquisas científicas
Nem tudo é relativo:
a questão da para fins destruidores, a possibilidade de manipulação
verdade. São Paulo:
Letras & Letras, crescente dos indivíduos, a utilização da ciência para
2000.
fins repressivos e recessivos e outros.

Por isso mesmo a universidade, enquanto


instituição produtora e promotora do conhecimento
científico, deve no processo de formação oferecido aos
futuros profissionais - que certamente irão adotar
procedimentos científicos em sua práxis de trabalho -
um amplo e profundo questionamento sobre ciência e
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 153

ética bem como de alguns questionamentos


epistemológicos aqui levantados no que se refere aos
limites e alcances do método científico. Até que ponto
tudo é justificável em nome da ciência? Até onde vai a
ânsia do ser humano por conhecimento? Estariam os
valores científicos acima de todos os outros, inclusive
os valores morais.

Ciente de que a ciência se torna muitas vezes


um instrumento nas mãos do poder dominante não se
pode, como bem aponta Ladrière (1979):

falar da ciência como se fazia outrora, EDGAR MORIN


como um domínio de conhecimento
objetivo, desinteressado, neutro com
relação as suas aplicações e
independente com relação as Quer
saber mais?
finalidades da ação.
(Ladrière, 1979: 139)
Pesquisador emérito
do CNRS (Centre
Insistir nessa argumentação sobre a ciência National de la
Recherche
seria manter uma ilusão ideologicamente Scientifique).
Formado em Direito,
comprometida. Atualmente a epistemologia, seja,
História e Geografia
enquanto disciplina oferecida na graduação, seja se adentrou na
Filosofia, na
enquanto filosofia norteadora da próprio curso sob o Sociologia e na
Epistemologia. Um
qual o aluno encontra-se em processo de formação dos principais
pensadores sobre
deve assumir uma postura crítica possibilitando aos complexidade. Autor
de mais de trinta
alunos pensar sobre a responsabilidade social intrínseca livros, entre eles: O
método, Introdução
a uma pesquisa, a responsabilidade daqueles que ao pensamento
complexo, Ciência
promovem a ciência e a responsabilidade do seu uso na com consciência e
Os sete saberes
sociedade globalizada atual. O diálogo interdisciplinar e
necessários para a
o reconhecimento da ciência como um conhecimento educação do futuro.
Durante a Segunda
historicamente determinado e complexo - como Guerra Mundial,
participou da
defende Edgar Morin (1998) - são caminhos Resistência
Francesa. É
importantes a serem encarados como desafios na considerado um dos
pensadores mais
formação universitária. Cada professor deve buscar importantes do
século XX.
alternativas pedagógicas que fortaleçam esta
compreensão sem que tal estratégia comprometa seu
programa ou conduza a uma visão cética com relação a
ciência que em nada contribui para seu avanço. Trata-
se aqui de estimular uma prática reflexiva e crítica,
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 154

típica da atitude filosófica, no que se refere ao fazer e


pensar ciência em pleno século XXI e não a um
descrédito generalizado com relação ao pensamento
científico.

Se hoje existe um chamado movimento de


"anticiência", este se justifica precisamente na medida
em que o fazer ciência hoje tem ignorado certos
questionamentos básicos da epistemologia no que se
refere ao limites do que chamamos de "verdade
científica", assim como dos desafios éticos e políticos
que os cientistas parecem não querer enxergar. O
pensamento científico precisa ser constantemente
questionado não apenas enquanto atividade intelectual,
mas principalmente enquanto atividade social
estritamente relacionada ao contexto político-cultural e
sócio-econômico.

Para isso podemos contar também com


instrumentos legais baseados em princípios éticos que
possam coibir abusos. A Declaração de Helsinki I,
adotada na 18a Assembléia Médica Mundial, em
Helsinki, Finlândia (1964) é um exemplo disso ao
defender que a pesquisa clínica deve adaptar-se aos
princípios morais e científicos que justificam a pesquisa
clínica e deve ser baseada em experiências de
laboratório e com animais. Também referente a
pesquisa com animais vale citar, no caso brasileiro, A
Lei 9.605 de 12/02/1998 (Lei de Crimes Ambientais)
dispõe sobre sansões penais e administrativas lesivas
ao meio ambiente, incluindo maus tratos de animais,
estabelecendo penalidades para experiências dolorosas
ou cruéis em animais, mesmo com fins didático-
científicos.

Mais recentemente, em discussões bastante


acirradas, o Supremo Tribunal Federal liberar o uso de
células-tronco embrionárias em pesquisas científicas
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 155

tendo como base a Lei de Biossegurança – já aprovada


pelo Congresso Nacional em 2005.

Contudo muitos concordam que o artigo 5º da


lei, que permite as pesquisas com células-tronco
embrionárias congeladas por mais de três anos, e com
autorização dos doadores dos embriões, fere a proteção
constitucional do direito à vida e a dignidade da pessoa
humana, uma vez que a vida humana começaria a
existir, de fato, com a fecundação. Assim de um lado
posicionam-se os que pensam as pesquisas com
células-tronco embrionárias violam o direito à vida e de
outro os que pensam que ela contribuiria para dignificar
a vida humana tendo em vista suas aplicações futuras
para elevar a qualidade de vida de muitos. O que fazer?
Este é apenas um exemplo de como as questões
relativas à dimensão ética da pesquisa são complexas e
exigem uma reflexão apurada.

Quem sabe a partir desse questionamento


constante - estimulado não apenas na universidade,
mas em todas as organizações e/ou instituições que se
auto-intitulam cientificas - sobre o que seja ciência, um
questionamento crítico e consciente, seja possível um
dia responder a questionamentos mais profundos
como: O que é a vida? Ou ainda: O que significa ser
humano?

EXERCÍCIO 4

Como você vê a importância da Ética na pesquisa?


____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas 156

RESUMO

Vimos até agora:

 Foi possível aprender mais sobre os três


pilares centrais de uma universidade
(Ensino, Pesquisa e Extensão) e a
indissociabilidade que deve ser cultivada
entre os mesmos;

 Entendemos que um dos sinais mais


característicos de diferenciação de uma
faculdade para uma universidade é o
justamente o envolvimento e compromisso
desta última com a pesquisa e que a
monografia é, antes de mais nada, uma
pesquisa e como tal deve assumir um lugar
de destaque no âmbito universitário;

 Refletimos sobre diversos temas que fazem


referência a riqueza e ao desafio de se fazer
pesquisa no Brasil, com particular atenção
ao estudo de questões éticas, políticas e
econômicas associadas a sua produção no
âmbito universitário;
157

MÓDULO 10 – PLANO DE PESQUISA


CURSO: Educação Especial e Inclusiva
DISCIPLINA: Metodologia da Pesquisa
ALUNO(A): MATRÍCULA:

NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________

TEMA
(Fato ou fenômeno a ser
estudado)
TÍTULO
(Nome do estudo de acordo
com o conteúdo)

PROBLEMA
(Uma única questão central
a ser enfocada em seu
estudo escrita sob a forma
de pergunta)

JUSTIFICATIVA
(Razão ou motivo do
trabalho)

OBJETIVO GERAL
(Propósito central de seu
estudo)

OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
(Outros objetivos que seu
trabalho pretenda)
158

HIPÓTESE
(Possível resposta ao
problema acima formulado)

Ou

QUESTÕES
SECUNDÁRIAS
(Em caso de estudo
exploratório)

DELIMITAÇÃO
(Especificação do objeto de
estudo e onde o mesmo
será estudado, bem como
do alvo dos instrumentos
metodológico adotados)

PROCEDIMENTOS
METODOLÓGICOS
(Como pretende
desenvolver o trabalho?
Enfocar detalhes da
amostra, metodologia
empregada)
159

ANDRADE, Margarida de Andrade. Introdução à Metodologia do


Trabalho Científico. 3ª ed., São Paulo: Atlas, 1998.

ARISTÓTELES. Órganom. Lisboa: Guimarães Editores, 1985.

BAGNO, M. Pesquisa na Escola. O que é e como se faz? São Paulo:


Loyola, 2000.

BARROS, A. e LEHFELD, N. Fundamentos de metodologia científica:


um guia para a iniciação científica. 2ª ed., ampliada, São Paulo:
Makron Books, 2000.

CARVALHO, A. et al. Aprendendo Metodologia Científica. São Paulo:


Nome da Rosa, 2000.

BERNARDO, S. (2001) A Importância da Pesquisa para o Setor


Educacional.
Referências bibliográficas

<http://www.folhadirigida.com.br/professor2001/cadernos/nova_ed
u/40.html>. Data de acesso: 12/06/2008.

CARVALHO, V. Análises Quantitativa e Qualitativa: As Duas Faces da


Moeda Metodológica. In: Cadernos: A palavra do Aluno. Revista do
Curso de Pós-Graduação em Psicossociologia de Comunidades e
Ecologia Social. Ano 1, nº 1, 1995.

CERVO, A. e BERVIAN, P. Metodologia Científica. 4ª ed., São Paulo:


Makron Books, 1996.

CRUZ, C. (2000) A Nova Ciência do Brasil. URL=


http://www.ifi.unicamp.br/ ~brito/ nartigos/mais-230700.pdf). Data
de acesso: 13/06/2008.

_______. (2001) Pesquisa e Universidade.


URL=http://www.iea.usp.br/iea/
tematicas/educacao/superior/pesquisaposgraduacao/cruzpesquisaeu
niversidade.pdfData de acesso: 11/06/2008.

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