2012 - Matsinhe, Almeira Adélia Luís

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UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA

Almeira Matsinhe

Gravidez Precoce na Cidade de Maputo:

Um Estudo de percepções sociais da Gravidez na adolescência no Hospital Geral de


Mavalane

Supervisor: Dr. Carlos E. Cuinhane

Maputo, Outubro de 2012

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE


FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA

Almeira Matsinhe

Título:

A Gravidez precoce:

Um Estudo de percepções sociais das adolescentes sobre a sua gravidez

Monografia apresentada em cumprimento parcial dos requisitos exigidos a para obtenção do


Grau de Licenciatura em Sociologia pela Faculdade de Letras e Ciências Sociais da
Universidade Eduardo Mondlane

Supervisor: Dr. Carlos E. Cuinhane

Maputo, Outubro de 2012

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

FACULDADE DE LETRAS E CIÊNCIAS SOCIAIS


DEPARTAMENTO DE SOCIOLOGIA

Almeira Matsinhe

A Gravidez Precoce:

Um estudo de percepções sociais das adolescentes sobre a sua gravidez

Supervisor: Carlos E. Cuinhane

O júri

O Supervisor O presidente O oponente

……………………. ………………………. ……………………..

Maputo, aos………de……………………….2012
Declaração de Honra

Eu, Almeira Adélia Luís Matsinhe, declaro por minha honra, que a presente monografia,
trabalho de Licenciatura em Sociologia, nunca foi apresentada para a obtenção de qualquer
outro grau, e que constituí resultado da minha investigação pessoal, pelo que apresento as
fontes bibliográficas que foram usadas no texto para a realização desta pesquisa.

O estudante

_______________________________

(Almeira Adélia Luís Matsinhe)

i
Lista de Siglas e/ou Abreviaturas

HGM: Hospital Geral de Mavalane

OMS: Organização Mundial da saúde

MISAU: Ministério da Saúde

IDS: Inquérito Demográfico da Saúde

INE: Instituto Nacional de Estatística

UNICEF: Fundo das Nações Unidas para a Infância

WLSA: Woman and Law in Southern Africa

ii
Dedicatória

Aos meus pais Luís Valente Matsinhe e Penina Adriano Maússe que foram incansáveis no
apoio e estímulo pois, desde o início da minha formação sempre estenderam-me o seu abraço,
dando força e muito carinho para que hoje pudesse levar a termo este trabalho.

A todos os meus irmãos, sobrinhos que tanto me incentivaram e deram inspiração para a
realização desta monografia. Aos irmãos um forte abraço e em especial as minhas manas,
muito, muito obrigada por tudo.

Aos meus cunhados e especial ao cunhado Juvêncio Massinga, que com a sua graça e
bondade pude fazer este trabalho na interna paz. A todos eles um grande thanks, que
continuem sendo pessoas humildes e carinhosas não só comigo mas com todas outras pessoas
que interagem com eles.

É claro, não podia terminar este trabalho sem dedicar a ti lirandzu (Nelson) por fazeres parte
da minha vida e por teres me incentivado na elaboração desta monografia.

iii
Agradecimentos

Em primeiro lugar agradeço a Deus, luz e fonte de inspiração para a realização deste trabalho.
Aos meus pais e a toda a família Matsinhe, pelo apoio, exemplo de humildade e por terem me
ensinado o valor de família para que pudesse ser o que hoje sou. Tudo devo a vocês pais,
irmãos, sobrinhos e cunhados.
Ao meu Supervisor, Dr. Carlos Eduardo Cuinhane, pelo compromisso, compreensão e todas
as críticas feitas a este trabalho para o seu melhoramento. És um professor mais fascinante
que conheci pelo seu apoio, humildade e por ter me transmitido um conhecimento sobre a
maneira de pensar, agir e ser enquanto estudante.
Ao Nelson Moiane, sempre amigo e solidário, que partilhou as alegrias e dificuldades durante
a minha formação e na elaboração deste trabalho, um abraço pelo incentivo e paciência que
sempre demonstrou, o afecto de sempre.
A todos os docentes que contribuíram para a minha formação na academia, e em especial aos
docentes do departamento de Sociologia, que talvez não tenham noção de sua importância
para a minha formação, meu muito obrigado. A todos os funcionários da WLSA, e em
especial a Dr.ª Conceição Osório pelos seus conselhos, a todos estou muito agradecida.
As enfermeiras do Hospital Geral de Mavalane, que trabalham na área do atendimento das
mulheres grávidas, e em especial a enfermeira Júlia e as activistas Gina e Candinha, que
deram acompanhamento a minha pesquisa neste local, pelo seu apoio e dedicação. Para todas
as adolescentes grávidas que participaram neste estudo, um muito obrigado, sem no entanto,
me esquecer do seu fiel contributo pois, sem este apoio e estímulo não seria possível a
existência desta monografia.
A todos os meus amigos e colegas, que fazem parte da minha história, e em especial aos
amigos da academia, Olga, Delúvia, Florência, Olívia, Yara, Carlos Manjate e a todos outros
que não pude citar os seus nomes por serem muitos, não deixo de agradecer, obrigado por
tudo. As amigas de longa data que com elas cresci e aprendi a ser o que hoje sou, Celestina,
Martinha, Aninha e Maninha um muito obrigada pelo companheirismo. A toda a minha turma
de Sociologia de 2008, um thanks por terem me transmitido certos valores, como a humildade
e, em especial ao meu grupo (Grupo III).

iv
Resumo

Este estudo analisa as percepções e significados construídos pelas adolescentes sobre a sua
gravidez. O estudo teve como foque de análise as adolescentes em gestação, inscritas no
programa de pré-natal, no Hospital Geral de Mavalane, na cidade de Maputo. O método
hipotético dedutivo e o monográfico foram os mais privilegiados neste estudo, auxiliados
pela observação indirecta e as entrevistas semi-estruturadas. A teoria fenomenológica de
Alfred Schutz foi usada como perspectiva de análise do fenómeno em estudo. O estudo
constatou que, para a adolescente grávidas existem diferentes tipos de significados e
percepções construídos em função de diferentes reacções que a família, amigos, parceiros e a
escola produzem sobre a gravidez na adolescência. Constatou-se ainda que, a maior ou menor
magnitude das repercussões decorre, fundamentalmente, das condições de inserção sócio-
económica das famílias da adolescente grávida e de seu parceiro, e do contexto em que essas
diferentes condições de rejeição e aceitação social da gravidez ocorrem. Desta forma,
entendemos que, para a compreensão da gravidez precoce, é importante localizar a
adolescente grávida no contexto social em que encontra-se inserida na medida em que, os
significados que a adolescente tem sobre o seu comportamento sexual e gravidez é
influenciado por um conjunto de valores e normas que esta interioriza no seio das redes de
sociabilidade como a família, parceiro, grupo de amigos e a escola. Portanto, a maneira como
estas redes percebem a gravidez da adolescente determina a forma de agir, pensar e sentir da
adolescente sobre a sua gravidez uma vez que, os valores que produzem fazem com que a
adolescente tenha consciência da atitude que deve desenvolver no seu dia-a-dia em torno da
sua gravidez. Neste âmbito, pode-se afirmar que a família, os parceiros das adolescentes,
grupo de amigos e a escola têm uma influência bastante imprescindível e peculiar em relação
aos significados e percepções que a adolescente tem sobre a gravidez precoce.

Palavras-chave: Adolescente; Gravidez na adolescência e percepções sociais

v
Abstract

This study analyses the perception and means built by teenagers about their pregnancy. The
research took place Mavalane General Hospital in Maputo City. Deductive hypothetic
method was used as approach and monographic study was applied to analyse of object. The
study also used in-deph interview and indirect observation to collect data. Phenomenological
theory of Alfred Schutz was used to interpret the data collected regarding the object. Results
showed that there are different types of meanings and perception that the teenagers have
about pregnant and those means are built thru different form of reaction that family, friends,
partnership and school produces about teenage pregnancy. The higher or ower magnitude of
the repercussions depends, fundamentally, of the socio-economic insertion condition of the
families of the pregnancy teenager and her partnership; and the context in which these social
rejection and acceptation of the pregnancy occur. Social context of pregnancy teenager is
important to understand the motivations and attitudes regarding the meanings of sexual
behaviour, because family, partnership, friend and school play an important role in sexual
education. The ways, this sociability networks understands the pregnant teenager determine
the way how teenager acts, thinks and feels about pregnant since the values produced by the
teenager changes her consciences and attitude about her pregnant.
Therefore family, partnership, friends and school influence the meanings and perceptions that
the teenager has about our early pregnant.

Key-words: teenager; pregnant teenager and social perceptions.


Índice

Introdução .................................................................................................................................. 1

I. Capítulo: Revisão da Literatura .............................................................................................. 7

1.1. Abordagem da culpabilização da Instituição ...................................................................... 7

1.2. Abordagem da culpabilização do indivíduo ..................................................................... 10

1.3. Abordagem psicológica da gravidez na adolescência ....................................................... 11

1.4. Implicações da gravidez na adolescência ......................................................................... 13

1.5. Vivência da sexualidade nos adolescentes ........................................................................ 14

1.6. Percepções das adolescentes relativamente a gravidez ..................................................... 16

1.7. Enquadramento Teórico .................................................................................................... 18

1.8. Enquadramento Conceptual e sua operacionalização ....................................................... 22

II. Capítulo: Metodologia......................................................................................................... 28

2.1. Método de Abordagem ..................................................................................................... 28

2.2. Método de Procedimento .................................................................................................. 29

2.3. Procedimentos Técnicos ................................................................................................... 29

2.4. Historial do Campo de Estudo e procedimentos de arrolamento dos participantes .......... 30

2.5. Delimitação do universo e amostragem ............................................................................ 31

2.6. Questões éticas .................................................................................................................. 31

2.7. Dificuldades encontradas no campo para a elaboração da monografia ............................ 32

III. Capítulo: Apresentação, análise, interpretação e discussão dos resultados ....................... 34

3.1. Apresentação e análise dos resultados: A Gravidez na Adolescência ............................. 34

3.1.a) Características sócio-demográfico das adolescentes ..................................................... 34

3.1.b) As percepções da gravidez na adolescência .................................................................. 35

3.1.c) O significado da gravidez para as adolescentes ............................................................. 36

3.1.d) Percepção das adolescentes sobre a reacção dos pais.................................................... 40

3.1.e) Percepção das adolescentes sobre a reacção dos parceiros ............................................ 44

3.1.f) Percepção das adolescentes sobre a reacção das amigos ............................................... 45


3.1.1) Experiências e conhecimentos sobre a educação e vida sexual da adolescente ............ 47

3.1.1.a) A educação sexual das adolescentes na sociedade ..................................................... 47

3.1.1.b) A educação sexual das adolescentes na família.......................................................... 48

3.1.1.c) Educação sexual das adolescentes entre grupos de amigos ........................................ 51

3.1.1.d) Educação sexual das adolescentes na escola .............................................................. 52

3.1.1.e) Sobre a vida sexual das adolescentes .......................................................................... 54

3.1.2.) Consequências e vivências da gravidez na adolescência.............................................. 61

3.2 Interpretação e discussão dos resultados............................................................................ 66

Conclusão................................................................................................................................. 79

Referências Bibliográficas ....................................................................................................... 83

Anexos ..................................................................................................................................... 87
Introdução

O presente estudo analisa as percepções e significados construídos pelas adolescentes em


relação a gravidez precoce na Cidade de Maputo. Desta forma, a pesquisa visa analisar os
significados das adolescentes1 na vida quotidiana no concernente à gravidez precoce. Para a
realização da pesquisa, tivemos como grupo alvo as adolescentes em período de gestação,
com idades compreendidas entre 15 e 17 anos, inscritas no programa do pré-natal no Hospital
Geral de Mavalane (HGM).

A situação das adolescentes na escola, na família, com o parceiro e no grupo de amigos


constitui um processo que envolve múltiplos domínios dentre os quais as questões ligadas a
sexualidade como a gravidez precoce. Assim, a pesquisa procura mostrar como se desenrola
o fenómeno gravidez no quotidiano das adolescentes.

A gravidez na adolescência é um problema em África e, particularmente em Moçambique,


devido a prevalência de altas taxas da sua incidência. Como mostram os dados do Inquérito
Demográfico da Saúde (IDS) de 2003, Moçambique encontra-se em segundo lugar dos países
da África Austral, em termos da ocorrência de gravidez precoce, com 7% de adolescentes
grávidas na faixa etária dos 15 a 19 anos seguindo o Malawi quase em primeiro lugar com
9.6% de adolescentes grávidas. Moçambique situa-se em 124 partos por 1000 mulheres que
possuem 15 a 19 anos. Os dados deste IDS mostram ainda que existem vários factores que
levam a incidência da gravidez precoce nos países da África Austral, tais como privações, o
silêncio e a violência sexual contra menores nas comunidades (UNICEF, 2006).

Arthur e Cabral (2007), defendem que a gravidez na adolescência em Moçambique


representa antes de tudo uma questão de saúde pública, devido aos problemas que esta
levanta como por exemplo, o abandono escolar e os riscos para a saúde da adolescente. Estes
autores defendem ainda que a gravidez na adolescência é um problema que inicia na
“instituição família” visto que, neste lugar ainda prevalecem restrições e proibições na
abordagem sobre a sexualidade feminina e as transformações anatómicas da rapariga.

No estudo de Osório e Silva (2008), a gravidez precoce é vista como responsabilidade da


rapariga, pelo facto de se referir que esta rapariga não acata os ensinamentos que os seus pais
transmitem durante o processo de socialização. Esta socialização inclui a aprendizagem sobre

1
Refere-se a adolescentes grávidas

1
educação sexual. Assim, quando a rapariga adopta um comportamento destes2, é tida como
transgressora das regras sociais no seio da família e na escola.

Contudo, apesar de toda responsabilidade da gravidez se restringir na rapariga, há que


perceber que a contestação à norma familiar não implica desacordo com o modelo que não
permite a rapariga decidir sobre sua sexualidade pois, na realidade social existem outras
questões que levam a rapariga a engravidar, como é o caso da subordinação à chantagem
amorosa que em muitos casos faz com que essa rapariga tenha relações sexuais sem nenhuma
protecção, mas também há que evidenciar a estigmatização a que é sujeita a rapariga que
porta o preservativo no seio da família, ao contrário do rapaz que é visto como bem
comportado, previdente e informado.

É desta forma que, a questão da gravidez precoce suscita debate científico particularmente
quando se procura o que significa para a adolescente a sua gravidez em função da reacção
que recebe dos agentes sociais, com os quais ela se relaciona no quotidiano. Pois, a forma
como estes agentes (família, escola, parceiros e amigos) percebem a adolescente, pode estar
relacionada ao facto de ser entendida segundo uma hierarquia de género3 e ser vista como
“criança” e responsável pela gravidez, o que acaba por lhe limitar a capacidade de negociar a
conduta sexual e questionar assuntos inerentes a sua sexualidade e gravidez enquanto actor
social.

Estes aspectos, por outro lado, podem também estarem relacionados ao modo como a família
aborda a sexualidade durante o processo de socialização visto que, não toma em conta o
quotidiano da adolescente uma vez que, o discurso da sexualidade no seio da família acentua-
se em forma de proibições, exigências e silêncios em relação as acções desenvolvida por este
actor social e não sobre o que vivencia no campo da sua sexualidade, incentivando a prática
da abstinência inerente as relações sexuais da adolescente. E as famílias ao agirem desta
maneira, descuram-se das influências que a adolescente, enquanto sujeito social, apreende e
interioriza no seu grupo de amigos e de outros espaços que fazem parte do seu quotidiano.

Outro factor que influência a ocorrência da gravidez precoce é a falta de informação. Mitano
(2011), por exemplo defende que, o aumento da percentagem de adolescentes grávidas em

2
Quando apresenta-se grávida diante da sua família antes da idade culturalmente estabelecida (18 anos).
3
Onde culturalmente está patente a ideia de que do rapaz espera-se todo tipo de comportamento até mesmo
início precoce da actividade sexual enquanto da rapariga espera-se que esta mantenha a sua abstinência sexual
até ao casamento.

2
Moçambique, deve-se a falta de informação que as adolescentes possuem para prevenção da
gravidez, falta de uso ou não conhecimento dos métodos anticonceptivos no início da
actividade sexual.

Becker (1993) refere que, a gravidez na adolescência tem sido visto como uma repercussão
alarmante na medida em que, ainda prevalece a percepção de que a sexualidade é exercida
por mulheres adultas e responsáveis4. Este tipo de pensamento faz com que as adolescentes
pratiquem as relações sexuais de forma oculta pois, a sua sexualidade continua sendo vista
pela família como algo prematuro para ser desenvolvido.

Assim, percebe-se que a expectativa da família e da escola quanto ao comportamento sexual


da adolescente resume-se em ver a sua sexualidade dentro dos parâmetros socialmente
definidos para prevenção da gravidez e, em função de um conjunto de valores e normas
transmitidos no seio destes agentes sociais, esquecendo-se de que a adolescente é antes de
tudo, um sujeito de cultura que produz e comunica suas acções no quotidiano tendo em conta
suas próprias expectativas.

Diante da concepção de que a sexualidade é praticada pelos adultos e, consequentemente, a


gravidez entendida como um fenómeno do mundo dos adultos (Becker, 1993), procuramos
saber:

Como é que as adolescentes, em função do seu contexto social, constroem percepções e


significados sobre a sua gravidez?

A hipótese levantada é de que as adolescentes constroem percepções e significados da sua


gravidez, de acordo com as interacções e influências que são instituídas pela família, escola,
parceiro e grupo de amigos, dentro do contexto sociocultural e simbólico em que estão
inseridas.

Para a operacionalização da análise, consideramos as percepções como variável dependente e


os agentes de socialização (família, escola, parceiro e grupo de amigos) como variável
independente. A relação existente entre estas variáveis é assimétrica pois, na hipótese
construída, verificamos que a variável independente exerce efeito sobre a dependente. Assim
sendo, é de pressupor que as relações sociais ou interacções desenvolvidas pelas adolescentes

4
Em termos de condições socioeconómicas

3
nos agentes de socialização influenciam, de certa maneira, nas percepções e significados
construídas pelas adolescentes acerca da gravidez.

A escolha do tema surge no âmbito da discussão tida na cadeira de Sociologia da Infância


sobre adolescência que, através da mesma suscitou um interesse em desenvolver uma
abordagem da adolescente grávida, pelo facto de termos notado a persistência deste
fenómeno no quotidiano das jovens adolescentes com o aumento da percentagem cada vez
mais elevado de adolescentes grávidas na faixa etária dos 15 a 19 anos5 e pela pouca
visibilidade da gestão e acompanhamento das adolescentes grávidas a nível social. A
percentagem de ocorrência de gravidez precoce subiu em Niassa 60% entre 1997 e 2003 e
que as altas subidas foram registadas igualmente nas províncias de Gaza (37.1%) e província
de Maputo (31.5%)6.

A escolha do Hospital Geral de Mavalane deveu-se ao facto desta unidade sanitária, mostrar-
se conveniente uma vez que, é um local onde podemos encontrar adolescentes grávidas
inscritas em programas de pré-natal mas também, por ser um lugar onde frequentamos no
dia-a-dia e no qual já realizamos alguns trabalhos voluntários e com este envolvimento com o
hospital, tivemos a oportunidade de observar o fenómeno gravidez na adolescência no
mesmo, o que fez com que suscitasse um interesse em abordar sobre o assunto como forma
de compreender a sua magnitude. E escolhemos cidade de Maputo por ter sido também o
local através da qual fizemos a observação do fenómeno no dia-a-dia.

O trabalho tem uma relevância sociológica apesar de existirem estudos sobre a gravidez na
adolescência numa dimensão biológica e psicológica pois, mais do que olhar para a gravidez
na adolescência como um atentado a saúde pública. Há que perceber a adolescente grávida
como um indivíduo que produz e comunica as suas próprias experiências sobre a gravidez
dentro de um grupo social com mecanismos próprios de interacção e reprodução social mas
também, a adolescente grávida é um actor social que constrói a sua própria identidade e
modalidades de interacção social no contexto em que se insere.

Do ponto de vista prático, espera-se que os resultados deste estudo possam contribuir na
reflexão sobre a maneira como a sexualidade das adolescentes é abordada na família, escola e
no grupo de amigos e ajudar a melhorar as políticas na prestação de cuidados da saúde

5
Informação divulgada nos dados do inquérito Demográfico da Saúde.
6
Dados referidos no IDS através do relatório do INE e do MISAU (2005).

4
reprodutiva e educacional para os profissionais da saúde que lidam com a formação de
adolescentes em Moçambique.

Desta forma, o estudo tem como objectivo geral, analisar as percepções e significados que as
adolescentes constroem sobre a gravidez precoce na cidade de Maputo e como objectivos
específicos procuramos descrever as percepções e significados sobre a gravidez precoce na
perspectiva das adolescentes envolvidas no estudo; identificar os factores que influenciam a
adolescente a iniciar a vida sexual, sobretudo os que levam a adolescente a engravidar;
perceber as implicações da gravidez na vida da adolescente.

A pesquisa considerou como unidade de análise adolescentes em período de gestação, que


estavam inscritas no programa de pré-natal com idade compreendida entre os 15 a 17 anos. A
escolha desta faixa etária deveu-se ao facto de, a Organização Mundial da Saúde considerar a
adolescência, indivíduos dos 15 anos como sendo os mais propensos em engravidar mas
também, pelo facto do IDS de 2003 referenciar esta faixa etária como sendo a mais
vulnerável a gravidez precoce.

Para abordagem deste fenómeno tomou-se como base a teoria fenomenológica de Alfred
Schutz (1979). A teoria de Schutz permitiu a análise dos esquemas interpretativos que
estruturam a vida no quotidiano das adolescentes grávidas e o conhecimento sobre sua
gravidez, que determina a sua acção. A partir desta teoria foi possível perceber que a
adolescente grávida não é um ser isolada do seu contexto, sobretudo do seu agregado
familiar, das redes da sociabilidade como o grupo de amigos, escola e parceiro pois, estes
agentes têm uma influência relevante nas acções desenvolvidas pela adolescente no
quotidiano.

Adolescente grávida é influenciada na medida em que, as acções que desenvolve no seu


quotidiano leva em conta os significados e reacções construídos pelos seus familiares,
parceiro e amigos sobre sua gravidez. Isso mostra que a presença e a forma de reacção dos
familiares, parceiro e amigos sobre a gravidez precoce pode determinar a vida da adolescente
grávida no seu dia-a-dia porque através da interacção que esta adolescente tem com estes
agentes sobre sua gravidez, interioriza valores que descriminam ou aceitam a sua atitude.
Com base na capacidade reflexiva, a adolescente produz significados que se aliam a cada tipo
de reacção e percepção sobre sua situação.

5
Em termos conceptuais o estudo considerou como conceitos chave: adolescente, percepção,
gravidez na adolescência, família, escola e grupo de amigos. Estes conceitos são importantes
neste estudo para a sua compreensão.

No que cerne a abordagem metodológica, o trabalho consistiu, essencialmente, numa


pesquisa qualitativa, tendo um carácter descritivo, o que implicou o uso da observação
indirecta como auxilio das entrevistas semi-estruturadas que permitiram a captação detalhada
das percepções e significados construídos pelas adolescentes sobre a gravidez.

Este trabalho está dividido em três (3) capítulos: O primeiro incorpora a apresentação da
revisão da literatura, que visa mostrar o que já foi abordado sobre a gravidez na adolescência
e também os autores que discutem este assunto, a teoria de base e o quadro conceptual; o
segundo aborda sobre a metodologia, que mostra os caminhos escolhidos para tornar possível
a realização do trabalho; o terceiro capítulo desenvolve aspectos ligados a apresentação e
análise dos resultados sobre a gravidez na adolescência e a interpretação dos resultados. Por
fim, apresentamos a conclusão a que chegamos com o estudo, as referências bibliográficas e
o anexo.

6
I. Capítulo: Revisão da Literatura

A gravidez na adolescência tem vindo a crescer em vários contextos sociais, e em função


disso, tem sido motivo de preocupação das organizações de saúde, nacionais e internacionais
pelas consequências físicas, psicológicas e sociais que causa na vida das adolescentes.

Assim, a gravidez na adolescência vem tornando-se objecto de preocupação e estudo em


ciências sociais. Temos exemplo de estudos feitos sobre gravidez precoce por alguns autores
como Mitano (2011); Vitalle e Amâncio (2004); Osório e Silva (2008), Lores et al. (2007)
Arthur e Cabral (2007) entre outros. Estes estudos resumem-se em três abordagens:
Culpabilização da instituição, culpabilização do indivíduo e abordagem psicológica.

1.1. Abordagem da culpabilização da Instituição

A abordagem da instituição é tida neste estudo como uma realidade objectiva que emerge na
família, educação (escolar), nas comunidades locais e na sociedade em geral e, é encarada
como abordagem da culpabilização da instituição por se considerar que a família e estas
outras instituições enquanto agentes socializadores são responsáveis pela educação sexual e
formal que as adolescentes interiorizam no seu quotidiano, principalmente quando trata-se de
uma educação deficiente7. A educação sexual dada na família faz com que a adolescente não
tenha uma maturidade sexual equilibrada devido a falta de informação na transmissão dos
valores sobre as vivências sexuais como o conhecimento sobre seu corpo sexuado e seus
órgãos internos e externos (Araújo e Silva, 2004).

Segundo Da Silva (2003), a estrutura familiar da jovem gestante possui grandes influências
para que tenha engravidado. A família é o grupo social no qual o indivíduo pode se expressar
com intimidade e espontaneidade, sendo um importante elemento para a saúde de seus
membros; em uma família na qual a falta de afecto, a indiferença e a comunicação
inadequada imperam, promovem-se péssimos resultados no desenvolvimento de relações
sociais entre pais e filhos; assim a comunicação entre seus integrantes possui fundamental
importância para o bem-estar emocional dos mesmos. Dessa maneira, o contexto familiar
pode influenciar o comportamento dos adolescentes.

7
Quando é permissivo a gravidez na adolescência, isto é, a informação sobre a educação sexual é transmitida as
raparigas de forma restrita e por vezes silenciada (há limitações para falar do exercício sexual feminino).

7
Assim, os pais e professores são considerados como indivíduos que influenciam de forma
determinante no comportamento sexual das adolescentes pelo facto de transmitirem-lhes
costumes, modo de vida e a hierarquia de valores sobre a sua sexualidade. E quando essas
adolescentes vivenciam a gravidez, os pais são tidos também como principais responsáveis
tendo em conta que, são eles que socializam os filhos sobre a vivência da sua sexualidade de
forma restrita (Gonçalves, 2001).

Existem vários factores que influenciam para a alta incidência da gravidez entre adolescentes.
Os principais são o início sexual cada vez mais cedo, muitas vezes fruto da empolgação ou do
momento da fase da vida, o qual adolescente vivência dentro e fora da estrutura familiar
(Vitalle e Amâncio, 2004); dificuldade de acesso aos meios anticonceptivos; desestruturação
familiar; falsas expectativas e falta de informação sobre os métodos a usarem para prevenir-
se da gravidez (Mitano, 2011).

O contexto familiar tem relação directa com a época em que se inicia actividade sexual.
Assim sendo, adolescentes que iniciam vida sexual precocemente ou engravidam nesse
período, geralmente vêm de famílias cujas mães também iniciaram vida sexual precocemente
ou engravidaram durante a adolescência (Vitalle e Amâncio, 2004).

Para Becker (1993), é comum adolescentes engravidarem devido as suas próprias mães terem
engravidado durante a adolescência ou iniciado precocemente sua vida sexual. As jovens
gestantes repetem padrões de comportamento de suas mães ou de alguma parente muito
próxima.

Da Silva (2003) refere que, as adolescentes que engravidam percebem a família como pouco
unida, com baixo nível de comunicação entre seus membros e normalmente, os pais não
vivem juntos, acarretando baixa renda familiar; enquanto àquelas jovens que não engravidam,
percebem um grande senso de união e força familiar. Enfim, famílias que possuem
comunicação e um relacionamento adequados, parece ser menos provável que a gravidez na
adolescência ocorra. As filhas de pais separados ou solteiros possuem maior probabilidade
para engravidarem durante a adolescência, atribuindo tal fato à ausência do pai na família,
embora o mesmo não ocorra quanto ao intercurso sexual dos rapazes.

Para Lores et al (2007), os factores que concorrem para a gravidez na adolescência são o uso
inadequados dos métodos anticonceptivos, para além de outros aspectos tais como: o medo de
que a família descubra o uso de anticonceptivos e a vergonha de se submeter a um exame

8
ginecológico; a falta de informação sobre seu ciclo reprodutivo; a falta de informação sobre a
prevenção da gravidez; bem como a falta de preparação para a vida sexual ocasional.

Dentre os factores que favorecem a ocorrência da gravidez na adolescência, temos a


desestruturação familiar caracterizada pela perca de um dos pais ou ambos; a vulnerabilidade
familiar e da adolescente que é caracterizada pela falta de alimentação, incapacidade do
controle familiar para adolescente e condições habitacionais precárias; baixo nível de
educação formal, sobretudo da educação sobre sexualidade (Mitano, 2011). Noutros estudos
do mesmo âmbito que a de Mitano (2011), também encontramos os seguintes aspectos: a
falta de acesso a métodos anticonceptivos e falta de informação sobre a sexualidade e sobre o
desenvolvimento do próprio corpo, tentativa de compreender a gravidez como forma de
comprometer o namorado ou parceiro no relacionamento mútuo e carência de atenção
familiar (Becker, 1993).

Para Oliveira (2008) é comummente identificado como um dos principais aspectos que
contribuem para a gravidez precoce a escassez no diálogo familiar, que ocorre em maior grau
entre as famílias carentes, com menos instrução ou também por valores religiosos, que
permitem esse tipo de informação aos filhos. Este autor defende ainda que, a ausência de
laços afectivos fortes na família e da atenção aos seus peculiares problemas e o sentimento de
abandono podem levar a jovem adolescente a apoiar-se apenas no namorado e nos amigos
para a resolução dos seus problemas pois, nestes espaços a adolescente encontra mais
liberdade para explorar assuntos ligados ao seu corpo enquanto sexuado, liberdade esta que
não encontra na família e, ao exercer a sua sexualidade a adolescente pode ser surpreendida
por uma gravidez.

A abordagem preconizada por estes autores é ligeiramente unânime pelo facto de defender
que, um grande marco da fase de vida da adolescente é o não reconhecimento da sexualidade
por parte da família e da escola enquanto entidades que ensinam os modos de comportamento
dos indivíduos, como se a sexualidade fosse despertada apenas quando se atinge a
maioridade. Estas abordagens sustentam também que, não é menos verdade, que a família e a
escola têm suas limitações para desempenhar correctamente o papel de disciplinadores de
condutas dos jovens adolescentes pois, na maioria dos casos falta-lhes preparação para
orientar esses jovens adolescentes, particularmente quando se trata da socialização da
sexualidade.

9
É por este motivo que responsabiliza-se a família e a escola como sendo culpadas pelo
comportamento do adolescente uma vez que, mesmo possuindo o papel importante na
socialização e formação do indivíduo, não contribuem para que as adolescentes adquiram
mais informação, autonomia e mais responsabilidade no que tange a sua sexualidade na
medida em que, quando os pais e professores abordam sobre educação sexual no quotidiano
dos jovens-adolescentes não encaram-no com total naturalidade devido a um fraco diálogo
que se estabelece entre pais e filhos. E também pela falta de congruência nos valores,
comportamentos e projecto entre a escola e a família no que diz respeito a educação sexual
dada aos adolescentes nestes meios sociais (Allen, Gomes e Miguel, 2000).

Esta abordagem é pertinente para este estudo uma vez que, mostra como a estrutura familiar e
escolar podem contribuir para ocorrência da gravidez na adolescência e pelo facto de que, o
problema colocado neste estudo considera a família uma instituição onde a adolescente
grávida pode se sentir valorizada ou rejeitada, dependendo da reacção dos seus familiares
sobre a sua maneira de ser pois, a adolescente sente-se valorizada pela família, quando esta
considera a adolescente adulta e preparada para o novo estatuto, principalmente quando é
incluída em assuntos “tipicamente” vistos como dos adultos. Porém, a mesma abordagem não
focaliza a questão da gravidez precoce como sendo um assunto em que seu significado pode
ser interiorizado pela adolescente na família a partir da forma como esta reage a ela.

1.2. Abordagem da culpabilização do indivíduo

Esta é abordagem na qual encontramos autores como Osório e Silva (2008), Arthur e Cabral
(2007), Marquini (2008) e Silva et al. (2007) em que defendem que, a adolescente que
engravida é vista na escola e na família como responsável por sua gravidez,
independentemente de, esta gravidez corresponder ou não à sua própria vontade.

A atitude da adolescente grávida é, em muitos casos, reprovada pelos seus pais pelo facto
destes considerarem que os filhos não conseguiram interiorizar as questões sexuais que lhes
foram transmitidos durante o processo de socialização, daí são culpabilizados ao manifestar
no interior deste meio social um comportamento desviante (Marquini, 2008).

Para Osório e Silva (2008), a responsabilidade da gravidez precoce em Moçambique, é lhe


imputada as raparigas, sejam quais forem as razões que elas apontam para engravidar. O que

10
explicita a eficácia de uma ordem de controlo por parte da família que, conferindo à rapariga
o resguardo do corpo, lhe retira o poder de decidir sobre a sua sexualidade.

A gravidez e a maternidade sempre estiveram vinculadas a determinações de ordem moral.


As raparigas que optam pela maternidade fora dos limites impostos pelo normativo social em
vigor nas escolas8 sofrem sanções sociais e ficam totalmente marginalizadas dos seus
direitos. É assim que, para os casos em que rompem as normas, o rapaz é frequentemente
absolvido das suas responsabilidades no que concerne ao seu comportamento social, ao
contrário da rapariga que não é absolvida quando esta engravida dentro do contexto escolar
ou familiar.

É neste contexto que através da ideia dos autores supracitados, se pode considerar que, a
gravidez da adolescente deve ser compreendida como construção da docilidade feminina num
processo de sujeição em que a escola e a família se articulam/conflituam e, a manipulação
pelas raparigas de estratégias de contra dominação, no sentido de se construírem como
sujeitos, seja por ruptura com as formas de controlo da sua capacidade reprodutiva, seja por
conformação com as disposições que fazem delas seres subordinados e culpadas pelos seus
actos. As respostas devem também ser procuradas nos discursos das raparigas e não se
evidenciar apenas os discursos deterministas da família e da escola pois, é necessário
compreender os contextos e quais as motivações da gravidez de adolescentes, relacionando as
transferências entre modos e processos de socialização.

1.3. Abordagem psicológica da gravidez na adolescência

Diversos estudiosos têm destacado factores psicológicos que podem influenciar a incidência
da gravidez precoce: Oliveira (2008), Da Silva (2010), Mitano (2011) e Davidoff (2001).

A nível psicológico, a gravidez na adolescência pode causar, na gestação, um decréscimo da


auto-estima, uma vivência de altos níveis de stress, humilhação, tristeza, insegurança
depressão e choros no seio da família ou mesmo no grupo de amigos (Davidoff, 2001).

Para Mitano (2011), a gravidez precoce na maioria das vezes causa a fraca auto-estima, uma
vez que a adolescente pode sentir-se confusa e assumir-se como culpada da situação que vive,

8
Os dispositivos 38/ 2003 e 39/ 2003 orientam as escolas para a transferência das jovens adolescentes grávidas
para o curso nocturno e para o levantamento de sanções para os professores que engravidam as alunas.

11
considerando-se incapaz e incompetente para gerir as vontades ou conflitos da própria
adolescência.

A vivência de altos níveis de stress pode acontecer devido à frustração, a insónias causadas
pela dificuldade de gerir os problemas e também deve-se à pressão social que essa
adolescente enfrenta, sobretudo dos pais, e das outras adolescentes da mesma idade que não
estão a passar pela mesma experiência da gravidez (Oliveira, 2008). A humilhação pode ser
resultado do sentimento de culpa que essa adolescente carrega, ou ser motivado pelas
palavras ofensivas proferidas pelos pais ou outras pessoas (Da Silva, 2010).

Assim, é importante ressaltar que, tanto os pais quanto os adolescentes precisariam estar
preparados psicologicamente para uma gravidez precoce. Apesar da complicação emocional,
física que a gravidez causa na vida da adolescente, a responsabilidade é mais cobrada pelos
pais quando esta vivencia a maternidade, ou mesmo, os pais exigem um novo tipo de
comportamento, sem reconhecer o processo de mudança pelo qual essas adolescentes estão
atravessando até chegar a fase adulta. A depressão pode acontecer devido à associação dos
motivos atrás mencionados.

Da Silva (2010), defende que, a responsabilidade imposta pela gravidez, paralela a um


processo de amadurecimento, ainda em curso, resulta em uma adolescente mal preparada para
assumir as responsabilidades psicológicas, sociais e económicas que a maternidade envolve.
A instabilidade das relações conjugais também acaba por contribuir em prejuízo emocional e
até mesmo em transtornos de ordem efectiva, muitas vezes agravados por um ambiente
familiar pouco acolhedor e muito mobilizado pela notícia da gestação.

A abordagem destes autores mostra que a falta de preparação psicológico e a falta de


acolhimento que acontece na maioria das famílias é um aspecto importante e que pode
interferir na vida social dessas adolescentes e da futura criança. Os transtornos emocionais
que ocorrem por causa da gestação e o não acolhimento dos pais fazem com que muitas
adolescentes enfrentem problemas psicológicas que podem afectar a gravidez, o parto e o
desenvolvimento da criança. Esta abordagem torna-se mais relevante para este estudo por
abordar sobre as dificuldades vivenciadas pela adolescente na família, escola e no grupo de
amigos.

A abordagem psicológica refere que as adolescentes grávidas carregam de antemão um


sentimento de culpa no decorrer de sua gestação, a pressão que a família coloca sobre ela,

12
muitas das vezes é responsável por estas consequências e pela produção deste tipo de
sentimento, que acabam sendo tomadas por desespero e falta de apoio também de seu
companheiro. Esta abordagem consegue enquadrar no seu discurso as duas primeiras
abordagens discutidas acima, porém, o que acrescenta são os aspectos ligados ao lado
emocional e físico que a adolescente grávida sente na sua vida social.

1.4. Implicações da gravidez na adolescência

A gravidez na adolescência tem séries implicações biológicas, familiares, emocionais e


económicas, além das jurídico-sociais, que atingem o indivíduo isoladamente e a sociedade
como um todo, limitando ou mesmo adiando as possibilidades de desenvolvimento e
engajamento desses jovens adolescentes na sociedade. Devido às repercussões sobre a mãe e
sobre o recém- nascido é considerada gestação de alto risco pela Organização Mundial da
Saúde (OMS, 1994). Porém, actualmente postula-se que o risco seja mais social do que
biológico (Vitalle e Amâncio, 2004).

Para Pantoja (2003), a gravidez na adolescência é uma questão social reveladora dos
paradoxos e tensões inerentes à socialização da adolescente, na qual se forja um delicado e
ténue equilíbrio entre a aquisição gradativa da autonomia juvenil e a afirmação de
heteronomia consoante a função educativa.

As jovens mães enfrentam uma série de problemas em relação a uma gravidez. A magnitude
destes problemas é tanto maior quanto mais pobres forem estas jovens. Isto porque, na
maioria das vezes, a gravidez precoce acontece fora do casamento e a chegada de um filho
pode antecipar uma união ou é absorvida como extensão das famílias de seus parentes (César
et al, 2000). Além disso, estas adolescentes encontram maiores dificuldades em conciliar os
estudos com os cuidados com a criança, o que resulta em sua interrupção e acabam por
retardar o ingresso no mercado de trabalho. A dificuldade adicional no que se refere ao seu
preparo emocional e de ordem prática para atender as demandas de um recém-nascido é um
outro problema apontado (Neto, 2007). Estes aspectos ressaltam a importância das práticas
culturais relacionadas com uma rede de apoio familiar no que se refere às condições de vida
das jovens mães e de seus filhos.

Para Oliveira (2008), a gravidez na adolescência é a expressão da junção e da consequente


ressignificação dessas fases da infância, adolescência e vida adulta. Diante desses processos,

13
é importante destacar o facto de que a obtenção do status adulto não é algo que se dê
imediatamente após o conhecimento da gravidez ou mesmo após a chegada do filho (um dos
marcos da transição), mas que representa um processo mais ou menos longo de construção da
identidade em que pesam outros elementos, como o planeamento.

A gravidez pode implicar a exclusão social, dificuldades em aceder aos hospitais por medo de
represálias, por ignorância, por falta de posses e ainda devido à marginalização da gestante e
em termos de saúde, pode levar a infecções urinárias, anemia, ameaça de parto prematuro,
toxemia gravídica, partos demorados com necessidades de cesariana e envolvendo riscos de
ruptura do útero (Osório, 2007).

Segundo a Geração Biz (s/d) a gravidez na adolescência, para além das consequências
médicas (incluindo a saúde mental), físicas, psicológicas, educacionais, sócio-económicas,
traduz-se em consequências negativas na qualidade de vida futura dos adolescentes, com
diminuição de suas oportunidades de emprego/carreira profissional. As suas consequências
devem ser vistas do ponto de vista individual, da família e da sociedade em geral. A rejeição
na sociedade por parte dos colegas de escola e amigos, agravada, muitas vezes, pelo facto de
uma ausência assumida de paternidade, aliada ao peso do assumir sozinha a maternidade, é
algumas das consequências que se reflectem fundamentalmente na adolescente (Geração Biz,
s/d)
As ideias apresentadas por todos autores nesta abordagem sobre as implicações da gravidez
precoce, são importantes para este estudo uma vez que, dão a conhecer as consequências
vivenciadas por este grupo de indivíduos (adolescentes grávidas), e tem uma relação com o
tema na medida em que, este estudo também interessa-se em aprofundar a questão das
consequências que podem ser vivenciadas por adolescentes grávidas.

1.5. Vivência da sexualidade nos adolescentes

A todo momento pais e professores são afrontados por muitos desafios. Dentre todos estes
desafios, as questões relacionadas à vivência da sexualidade na infância e na adolescência
têm recebido destaque.

Na família, os diálogos relacionados à sexualidade ainda são pouco frequente ou em muitos


casos inexistentes. Na escola, os debates na maioria das vezes ocorrem de maneira tímida

14
com enfoque nos aspectos biológicos e reprodutivos (Marquini, 2008). Cria-se desta forma,
uma lacuna no desenvolvimento do adolescente como ser em construção.

A sexualidade é uma experiência individual regida por diferentes desejos e condutas que a
tornam um processo absolutamente pessoal e natural. A forma como cada indivíduo se
percebe como um ser sexual é intrínseco à sua natureza e não podendo ser modificado por
factores exteriores como a moral, a religião e a imposição de papéis sexuais, sem que isto
resulte em grande sofrimento e angústias (Brandão e Helborn, 2006).

Segundo Costa (1998), a socialização dos jovens no campo da sexualidade dá-se


principalmente entre os pares, quando as conversas sobre o tema sexualidade têm lugar
privilegiado no grupo de pares, seja porque conversar com amigos é mais agradável ou mais
fácil, seja porque o diálogo com os pais é dificultado por fronteiras de geração ou pela falta
de conhecimento que os pais apresentam ao abordar sobre sexualidade.

A origem deste facto social reside em parte, na indiferença da sociedade quando procura
ignorar a sexualidade da adolescente, e como essas jovens têm suas manifestações sexuais
negadas, influenciadas e reprimidas, na maioria das vezes com uma educação sexual
inadequada, suas acções, as vezes tem repercussões negativas, como o aumento das doenças
sexualmente transmissíveis e até mesmo o aborto (Costa, 1998).

“As adolescentes tendem a conversar menos com seus pais sobre sexualidade, o que alimentam os
tabus e crença que permeiam o exercício da sexualidade, assim como os tabus e interdições que social e
historicamente cercam temas que lhe são relacionadas, principalmente na condição de gravidez. As
adolescentes que conversam com seus parceiros e amigos podem receber informações erróneas, tendo
em vista que esses são adolescentes e iniciam sua vida sexual precocemente talvez cheio de dúvidas
sobre a vivência saudável da sexualidade, bem como a distância dos riscos que deve ocorrer (Dias e
Gomes, 1999: p.83) ”.

Para Santiago (2003), a sexualidade está presente, desde muito cedo na criança, mas é na
adolescência que ela se manifesta com mais intensidade e clareza e é também, na
adolescência que se começa a estabelecer a ligação entre a sexualidade e a afectividade, uma
ligação que, em muitas sociedade, é diferente nos rapazes e nas raparigas, provavelmente,
devido à educação diferenciada, que tiveram na família e na escola. Na adolescência, a
sexualidade vai manifestar-se de forma livre através de sonhos sexuais, desejos e excitações
sexuais, fantasias sexuais, masturbação e relações sexuais. Os sonhos sexuais e o facto de

15
terem orgasmos, nesses sonhos é perfeitamente normal e não são indícios de qualquer
anomalia no desenvolvimento sexual do rapaz ou da rapariga.

Segundo Osório e Silva (2008), ser livre sexualmente implica uma liberdade com
responsabilidade, com dignidade, com afectividade e com respeito. Ninguém deve ter
relações sexuais apenas, porque os outros têm ou porque já tem idade para as ter ou porque é
moda. As raparigas muitas vezes têm relações sexuais, porque os namorados querem e elas
têm medo que eles as deixem ou porque têm medo de serem consideradas antiquadas (Osório
e Silva, 2008).

Gusmão (2002) defende que os rapazes, muitas vezes, querem ter relações sexuais para
mostrarem que são capazes de satisfazer uma rapariga, terem a certeza que elas gostam deles.
Esta necessidade de provar e de ter a certeza é provocada pela insegurança que é muito
frequente nos rapazes. Este tipo de relações sexuais mostra que os rapazes e raparigas que as
praticam são inseguros e têm, muitas vezes um auto conceito negativo de si próprios. A
educação que recebeu na família e na escola levou-os a terem uma má imagem de si próprios
o que os tornou irresponsáveis, inseguros, incapazes de se respeitarem a si e ao outro
(Gusmão 2002).

O debate proferido neste ponto é importante para o estudo porque reflecte sobre a maneira
como os adolescentes vivenciam a sua sexualidade na vida quotidiana e a relação deste ponto
com o tema em análise é fundamental uma vez que, pode-se conhecer as expectativas sexuais
dos adolescentes face aos constrangimentos que lhes são impostos relativamente a sua
sexualidade e expectativas sociais que fazem parte do mundo em que vivem mas também,
através deste ponto pode-se conhecer os factores que levam adolescente a iniciar cedo a sua
vida sexual.

1.6. Percepções das adolescentes relativamente a gravidez

A gravidez na adolescência representa um momento de crise no ciclo de vida familiar. Para


adolescente a gravidez pode significar uma reformulação dos seus planos de vida e a
necessidade de assumir o papel de mãe para o qual ainda não esta preparada (Dias e Gomes,
1999).

16
A experiência sexual dos pais é significada a partir das percepções das vivências das filhas sobre
sexualidade e a experiência comunicativa dos pais serve como um modelo negativo para seu diálogo
com as filhas (Idem, 1999: p.100).

Silva e Santos (2007) defendem que, as adolescentes identificam que o risco de engravidar
pode ser resultado de culpa própria pela falta de informação sobre os métodos
anticonceptivos, e só ao passar pela experiência, reconhecem o risco como real, levando-as ao
testemunho no sentido de alertar outras adolescentes que experienciam situações
semelhantes.

França e Maranhão (2002), defendem que, na maior parte das adolescentes a gravidez
ocorreu de forma intencional e teve repercussões negativas nas suas vidas pois, tiveram que
adiar o percurso escolar e outras actividades próprias desta faixa etária.

Para as adolescentes, a falta de apoio familiar, as condições financeiras desfavoráveis para


criar a criança, resulta em actos impensados como o aborto clandestino, que passa a ser vista
como única opção para regularizar a sua situação no momento (Da Silva, 2010).

Mitano (2011) refere que, as experiências e percepções sobre a gravidez precoce podem ser
positivas e negativas. Defende ainda que, em relação as adolescentes que são mães pela
primeira vez, as experiências na maioria dos casos são negativas gerando deste modo, medo,
tristeza, vergonha, sensação de insatisfação, interrupções dos estudos, rejeição pelos pais ou
pelo parceiro.

Em outras adolescentes a experiência é positiva na medida em que recebem apoio dos


familiares do parceiro responsável pela gravidez, sentimentos de maior responsabilidade,
alegria por ter concretizado o sonho de ter tido filho. E algumas adolescentes grávidas têm
tido experiências e percepções positivas assim como negativas (Mitano, 2011).

As abordagens acima apresentam discussões pertinentes sobre as experiências de vida da


adolescente quando relacionados com a sua sexualidade e a gravidez precoce. Estas
abordagens, por seu turno são relevantes para o entendimento do nosso estudo na medida em
que, a sua reflexão dá-nos uma ideia de como a gravidez da adolescente é interpretada em
diferentes linhas teóricas e de abordagem.

No nosso ponto de vista, estas perspectivas apresentam discussões pertinentes sobre as


adolescentes grávidas e sua sexualidade; suas perspectivas viraram-se sobretudo para a

17
descrição das condições nas quais operam as adolescentes grávidas bem como, para análise
dos significados que estes atribuem a gravidez. A nossa perspectiva traz um elemento novo: a
necessidade de olharmos para a maneira como os agentes sociais (família, amigos, parceiros)
interagem com a adolescente grávida pois, percebemos que os valores e reacções produzidos
por estes agentes sobre a gravidez podem conduzir esta adolescente a significar a sua vida
enquanto actor social grávida.

1.7. Enquadramento Teórico

O objecto em análise desenvolve um estudo que busca compreender como os actores sociais
em determinados contextos constroem o seu entendimento sobre gravidez na adolescência,
assim como respondem e se relacionam com a gravidez no dia-a-dia. É dessa forma, que
interessa-nos uma teoria voltada para a vida quotidiana dos indivíduos e para o processo de
construção social da realidade. Deste modo, a fenomenologia social de Alfred Schutz mostra-
se mais adequada pois, é uma teoria que dá relevância a construção da realidade social e de
um dado fenómeno, neste caso, a gravidez na adolescência, em indivíduos inseridos em
determinado contexto social.

Alfred Schutz (1979), nas suas investigações estava preocupada em estabelecer uma nova
sociologia que pudesse denominá-lo de sociologia fenomenológica. Para tal, este autor parte
de pressupostos teóricos elaborados por E. Husserl e M. Webber com vista, a combiná-los e
construir o seu próprio raciocínio. Com a sociologia fenomenológica, Schutz pretendia
entender o dia-a-dia dos indivíduos com relação a sua consciência e ao seu objecto.

Na base fenomenológica de Husserl, Schutz (1979), mostra que a fenomenologia husserliana


procurava entender o mundo social dos indivíduos no dia-a-dia, e a consciência que os
envolve para significarem a acção do outro. Assim, Schutz busca a fenomenologia de Husserl
com vista a interpretar a acção humana dos indivíduos no seu dia-a-dia, a partir da suspensão
dos valores naturais, ou seja, a atitude natural e estoque de conhecimento à mão que os
indivíduos têm em relação a um dado objecto que os envolve. Com base nessa suspensão os
indivíduos dariam origem à redução fenomenológica, que segundo Schutz (1979), é a
capacidade que o indivíduo tem de pensar e significar o seu comportamento tendo em conta,
a suspensão das crenças e juízo de valor inerentes ao seu mundo da vida quotidiano ou do
senso comum e, passa a ser um indivíduo dotado de uma capacidade reflexiva e metódica
sobre tudo que lhe cerca nesse mundo. O que Schutz (1979), pretende com a inversão da

18
atitude natural de Husserl para a redução fenomenológica, é de fazer com que os actores
sociais se defrontam uns com os outros, num mundo já constituído, significativamente e
intersubjectivamente.

Schutz (1979), considerou assim, os pressupostos teóricos de Husserl relevantes para sua
sociologia fenomenológica na medida em que, mostram como os indivíduos podem
interpretar todas as acções vividas por eles no mundo quotidiano a partir do uso da sua
consciência e da sua capacidade reflexiva.

Na sociologia compreensiva de Webber, Schutz fala da acção social como um dos conceitos
principais onde mostra que, a acção do indivíduo é orientada no sentido da acção do outro, e
tendo esta três critérios: Presença, significado e comportamento. Isto quer dizer que para que
haja uma acção social, é necessária a presença do outro, e que este outro, atribuindo um
significado à nossa acção, esboce a acção que oriente o seu comportamento, tendo em conta o
seu significado.

Schutz buscou em Webber a ideia segundo a qual o indivíduo está dotado de consciência das
suas acções e das acções dos outros. O indivíduo toma em consideração a presença do outro e
pode entender e significar essa presença; e por sua vez, a acção do indivíduo é influenciada
pelo pensamento do outro indivíduo pelo facto destes indivíduos, compartilharem do mesmo
contexto e percebendo deste modo, a acção do outro.

Assim, a explicação do quotidiano na sociologia fenomenológica de Schutz tendo em conta


os pressupostos teóricos nos quais o seu pensamento baseou-se, pressupõe a capacidade do
indivíduo dar significação a acção do outro a partir da experiência de sua vida.

Schutz, dá uma base fenomenológica à sociologia ao falar de uma sociologia


fenomenológica, que afasta-se da noção de essência (atitude natural) considerada causa
última, onde através dela não se busca explicação e nem dúvidas do que o indivíduo observa
no seu quotidiano.

Desta forma, Schutz (1979) defende que, o indivíduo deve procurar compreender as suas
acções na vida quotidiano através do sentido da acção dos outros que possibilita perceber os
motivos, as razões que levam os indivíduos a agir de uma certa forma pois, o sentido da
acção do outro explica a experiência de vida dos indivíduos.

19
Do ponto de vista fenomenológico, não existe uma realidade absoluta mas sim, “realidades
múltiplas” construídas socialmente através dos significados e experiências partilhadas pelos
indivíduos em determinados contextos. Com isso, pretende-se dizer que, a realidade social só
existe nas representações dos indivíduos na sociedade.

Na sociologia fenomenológica de Schutz (1979), o principal interesse é o indivíduo e as


percepções do mundo no qual se insere. Schutz (Idem) parte das perspectivas individuais para
uma análise directa dos relacionamentos sociais, se ocupando pelos aspectos gerais da
transcendência da experiência quotidiana.

A fenomenologia para este autor tem a tarefa de explicar o mundo da vida quotidiana e, as
estruturas da relação entre a consciência e o seu objecto. Segundo Demartins (1999:p23), a
análise fenomenológica do social deve partir da observação da experiência do mundo da vida
quotidiano (ou do senso comum), da atitude natural dos indivíduos, tal como ele se manifesta
na comunicação e nas instituições, por meio de signos e símbolos.

“Schutz (1979), na análise que faz da sociedade parte do conceito mundo da vida quotidiana o qual
define como sendo à esfera das experiências quotidianas, direcções e acções através das quais os
indivíduos lidam com seus interesses, manipulando objectos, tratando com pessoas, concebendo e
realizando planos” (Schutz, 1979: p.79)”.

“O mundo da vida quotidiana é um mundo intersubjectivo que existe muito antes do nosso nascimento,
vivenciado e interpretado por outros, nossos predecessores, como um mundo organizado. Viver no
mundo da vida quotidiana significa viver em um envolvimento interactivo com muitas pessoas, em
complexas redes de relacionamentos sociais. Na fenomenologia social, o contacto intersubjectivo é pré-
requisito para toda a experiência humana imediata no mundo da vida, o que faz com que o
entendimento do eu dependa da relação com outros indivíduos” (Schutz, 1979: p.80).

O mundo da vida é feito de experiências do nosso dia-a-dia que beneficia de certo


conhecimento. Este mundo é segundo Schutz, o âmbito em que os sujeitos se encontram
inseridos no seio de esquemas interpretativos que estruturam o desdobrar da vida quotidiana
(apud Demartins, 1999)

No mundo da vida se insere os usos, os significados, os valores, os conhecimentos típicos da


cultura de pertença e a linguagem. Assim, a fenomenologia trata, de uma estrutura face à
face, entendendo que as acções sociais têm um significado contextualizado, de configuração
social e não puramente individual.

20
Schutz (1979) propõe a análise de mundo social através de três principais modos:

 Analisar a actividade natural que faz com que se apreenda o mundo nestes
termos e se avance com ele;
 Analisar o determinante da acção e da conduta do indivíduo que se baseia num
determinado conhecimento;
 Analisar os meios pelos quais um indivíduo se orienta nas situações de vida;

A teoria de Schutz permite, de modo geral, analisar os processos de interacção, significação


que os indivíduos vivenciam no seio dos contextos sociais em que se encontram inseridas.
Neste trabalho, esta teoria permitiu compreender que as percepções das adolescentes sobre a
sua gravidez é significada a partir das interacções e acções que estas adolescentes
desenvolvem com os outros indivíduos que fazem parte da sua rede de sociabilidade, de
acordo com contexto social em estas encontram-se inseridas. Isto é, onde elas se socializam
de modo a reflectir e interpretar as suas acções quotidianas na medida em que, as suas acções
têm um significado contextualizado, de configuração social e não puramente individual pois,
tem em conta as suas acções e a acção dos outros para poder compreender os motivos que
leva a adolescente a agir e pensar de certo modo sobre sua gravidez.

Permitiu também, buscar os significados que os adolescentes atribuem à sua gravidez na sua
expectativa de vida, significados esses que se revelam a partir das descrições e acções
desenvolvidas por estes mesmos sujeitos.

É desta maneira que, consideramos a perspectiva fenomenológica de Schutz (1979) com


sendo relevante para este estudo pois, possibilita compreender como as adolescentes
constroem as suas percepções sobre a gravidez precoce na sua vida quotidiana, num
determinado contexto específico (Hospital Geral de Mavalane) a partir dos conceitos de
“experiência vivida” e “consciência”.

21
1.8. Enquadramento Conceptual e sua operacionalização

Dado que o objectivo deste trabalho consiste em compreender como as adolescentes


constroem percepções sobre a gravidez precoce, é relevante antes de mais definirmos os
conceitos de percepção, adolescência, Gravidez na adolescência, família, escola e grupo de
amigos.

Adolescência é definida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como o período da vida
que vai precisamente dos 10 até os 19 anos, 11 meses e 29 dias. Tem início como ponto de
referência à menarca nas meninas e a primeira ejaculação nos meninos. Caracteriza-se por
mudanças físicas aceleradas e características da fase da puberdade, diferentes do crescimento
e desenvolvimento que ocorrem em ritmo constante na infância. Essas alterações são
influenciadas por factores hereditários, ambientais, nutricionais e psicológicos (OMS, 1994).

Com esta definição da OMS podemos perceber que, ela referencia uma dimensão biológica e
psicológica da adolescência. Porém para este estudo olhamos a adolescência numa dimensão
psicossocial e como uma categoria socialmente construída. Esta dimensão mostra que,
adolescência é um conceito psicossocial que representa uma fase crítica no processo
evolutivo em que o indivíduo é chamado a fazer importantes ajustamentos de ordem pessoal e
de ordem social. Entre estes ajustamentos temos a luta pela independência financeira e
emocional, a escolha de uma vocação e a própria identidade sexual, ter liberdade na vivência
da sexualidade no seu da família, a expectativa da família quanto a gravidez da adolescente e
as implicações que a socialização sexual pode causar, assim como não, na vida da
adolescente.

A dimensão psicossocial para além de frisar estes aspectos, leva em consideração também, a
atitude e vivência adoptada pela adolescente quando esta engravida e mostra os possíveis
problemas enfrentados nesta fase de vida.
Estes aspectos ligados à dimensão psicossocial poderão a ajudar a entender a vivência da
gravidez da adolescente e identificar os significados dados por essa adolescente sobre a sua
gravidez.

Adolescência como categoria socialmente construída é vista por Pais (1993), como estando
sujeita a modificações ao longo do tempo. A segmentação do curso da vida em sucessivas
fases é produto de complexo processo de construção. Para este autor, adolescência não pode
ser simplesmente considerado como uma fase de vida, como um grupo de indivíduos que

22
antecede a entrada no mundo adulto pois, os adolescentes não vivem ou experimentam as
mesmas coisas de forma semelhante. Pais (1993), mostra que cada adolescente tem o seu
próprio percurso individual, que varia consoante a especificidade do trajecto quotidiano, com
as encruzilhadas com que se deparam e que estão directamente relacionados com a família, a
classe e origem social.

As duas definições acima apresentadas são relevantes para a compreensão do conceito


adolescência. Dessa forma, a definição dada por Pais (1993) é adequado para este estudo,
uma vez que este autor define adolescente como uma categoria socialmente construída e que
esta sujeita a modificações ao longo do tempo e não simplesmente como uma fase de vida.
Mas como nos interessa a idade desses adolescentes neste trabalho, é oportuno usar também a
definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) que define adolescente em função da
idade. Assim, neste estudo fala-se de adolescentes que encontram-se na fase da puberdade
com idades compreendidas entre os 15 a 17 anos de idade.

No que tange ao conceito Percepção social, para Chauí (1996), percepção é a forma como,
enquanto membros da nossa sociedade, percebemos os significados e os valores das coisas, o
seu sentido, valor ou função. Essa mesma percepção nos oferece um acesso ao mundo dos
objectos práticos e instrumentos, isto é, nos orienta para a acção quotidiana e para as acções
técnicas mais simples.

Esta definição da Chauí mostra que o indivíduo enquanto membro da sociedade tem a
capacidade de perceber e dar significado as coisas com as quais ele interage. As acções do
indivíduo tem significado para ele a partir do momento em que, essas acções influenciam a
sua vivência no mundo quotidiano.

Silva e Egler (2006), definem percepção como o que nos permite formar ideias, imagens e
compreensões do mundo que nos rodeia. Para estas autoras, o estudo da percepção pode
revelar as ideias ou imagens e as impressões dos grupos.

As definições dadas pelos autores sobre o conceito percepção são relevantes para este
trabalho na medida em que, mostram que a percepção do indivíduo sobre alguma acção tem
um certo significado para ele e para os outros membros inseridos no mesmo contexto.
Também mostram que, as percepções ajudam o indivíduo a construir uma certa ideia e
imagem sobre o mundo em que estamos inseridos. Neste caso, pode-se dizer que adolescente
dá um sentido subjectivo e constrói uma imagem sobre sua gravidez.

23
Para efeitos deste trabalho usamos o conceito de Chauí (1996:130) e definiremos percepção
como a forma como percebemos os significados e os valores das coisas enquanto membros da
nossa sociedade e como acedemos ao mundo dos objectos práticos e nos orientamos na vida
quotidiana. Este conceito é importante porque a pretensão deste estudo é compreender como
as adolescentes percebem as suas práticas e significados que atribuem as suas acções,
comportamentos, enquanto membros de um grupo social. Este conceito é relevante também,
porque permitir-nos-á descrever e interpretar a maneira pela qual as adolescentes percebem e
vivenciam a gravidez precoce nas suas vidas, enquanto um grupo social com características
específicas e formas peculiares de orientar as suas acções no mundo em que encontram-se
inseridas.

Gravidez na adolescência é, segundo Organização Mundial da Saúde (OMS, 1994), aquela


que ocorre dos 10 até os 19. O discurso médico caracteriza a gravidez na adolescência como
sendo quadro de gravidade e risco (Bueno, 2001).

Para Da Silva (2010), a gravidez na adolescência é um fenómeno de risco psicossocial que


pode ser reconhecida como um problema para os jovens que tem uma família não
intencionada, isto é, uma família que não apoia o jovem adolescente a ultrapassar o problema
da gravidez precoce. É também uma questão social que pode revelar no seu meio, conflitos
inerentes à socialização da adolescente.

Estes autores mostram que a gravidez na adolescência é um fenómeno que inicia na fase
inicial da adolescência (tendo em conta a delimitação da idade dada pela OMS). O facto da
gravidez na adolescente iniciar numa fase considerada prematura, pode revelar-se como uma
situação paradoxal, conflituosa ou as vezes desejada dependendo do contexto social dessa
adolescente.

Assim, para este estudo, a gravidez na adolescência é vista como na óptica de Silva (2010)
que define a gravidez como um problema de risco psicossocial e reveladora de grandes
tensões no meio social da adolescente. Neste caso, o meio social a que nos referimos e no
qual a adolescente encontra-se inserida no seu dia-a-dia, é a família, a escola e grupo de
amigos, onde de algum modo, a adolescente é socializada e interiorizada valores e normas
sobre a situação de ter uma gravidez nesta fase de vida (adolescência).

24
Para Saraceno (2003), o conceito família revela-se como um dos lugares privilegiados de
construção social da realidade, a partir da construção social dos acontecimentos e relações
aparentemente mais naturais. Com efeito, é dentro das relações familiares, tal como são
definidas e regulamentadas, que os próprios acontecimentos da vida individual que mais
parecem pertencer à natureza recebem o seu significado e através deste são entregues à
experiência individual. São exemplos disso: o nascer, crescer, o envelhecer, a sexualidade e a
procriação.

Este conceito de Saraceno é importante para a compreensão do adolescente neste trabalho


enquanto membro inserido numa família porque exprime essa funcionalidade da família
entanto que um sistema através do qual as adolescentes se estruturam; um sistema que orienta
e que guia as raparigas na sua vida quotidiana e que dita consciente ou inconscientemente,
como as adolescentes pode e devem interpretar os elementos que ocorrem na sociedade.

Para Osório e Arthur (2002), a família representa uma unidade grupal na qual se
desenvolvem três tipos de relações pessoais, tal como: aliança (casa), filiação (pais/filhos) e
consanguinidade (irmãos) e que, a partir dos objectivos genéricos de preservar a espécie,
nutrir e proteger a descendência e fornecer-lhe condições para aquisição das suas identidades
pessoais, desenvolve através dos tempos funções diversificadas de transmissão de valores
éticos, estéticos, religiosos e culturais.

Neste trabalho, pode-se perceber que a forma como as adolescentes constroem percepções e
vivem sua gravidez é influenciada pelas suas acções, informações, suas qualidades pessoais e
física e também pela maneira como a família, entanto que um agente de socialização, educa a
adolescente em alguns aspectos como por exemplo: a sexualidade e seu corpo enquanto
sexuado e sobre a gravidez na vida da “menina”. Pois a maneira pela qual a família transmite
valores e normas sobre educação sexual influencia a atitude que a adolescente tem consoante
a esses ensinamentos e reacções que recebe na família, para construir um certo significado
sobre este tema.

Assim, família neste trabalho será entendida como um agente de socialização que tem o papel
de educar e regular o comportamento dos seus membros e que vive com adolescente ou que
cuidam dela quando o assunto tem a ver com educação formal e sexual em diferentes moldes
e podem ser os pais, tios, irmãos, entre outros. Dentre estes, o papel dos pais parece ser o
mais importante uma vez que, estes são vistos como pessoas que participam na vida da
adolescente desde a sua socialização primária, ou seja, desde a sua nascença.

25
Em relação a definição de Escola, segundo Rocher (1986), a escola é como uma instituição
de ensino vocacional a exercer influência sobre os indivíduos, no sentido de lhes
proporcionar o desenvolvimento completo das aptidões intelectuais das competências; dos
comportamentos e atitudes que moldam a sua personalidade.

Na perspectiva de Pinto (1995), na sociedade a escola ocupa um lugar privilegiado no


processo de socialização dos indivíduos. Na verdade a escola, é o lugar onde a sociedade se
organiza, de forma explícita, para levar a cabo a socialização das novas gerações. As escolas
são actualmente instituições onde os membros da sociedade começam a sua experiência do
social, para além do seu grupo de origem.

Estes autores consideram a escola como uma instituição importante na medida em que, molda
as atitudes e a maneira de ser do indivíduo visto que, os ensinamentos que esse indivíduo
recebe na escola são vistos como um valor enquanto membro pertencente da mesma e
elementos socializadores.

Para efeitos deste trabalho, a definição dada por Pinto (1995), sobre a escola é interessante,
uma vez que, este olha para a escola como sendo um lugar que ocupa um espaço privilegiado
no processo de socialização dos indivíduos e onde estes podem começar a alargar os seus
conhecimentos sobre determinados assuntos, como a sexualidade e a gravidez. No nosso
estudo constatamos a partir dos discursos das entrevistadas que a escola é um dos meios onde
também aborda-se assuntos relacionados com a educação sexual e gravidez precoce através
da interacção que estas adolescentes desenvolvem com colegas e professoras. Mas também,
aprendem alguma coisa sobre estes assuntos através dos conteúdos leccionados nas aulas de
biologia.

Grupo de amigos é para Demartins (1999), um importante factor de socialização, exercendo


uma particular influência no fim da infância e na adolescência. Trata-se de fases em que os
indivíduos conquistam uma identidade relativamente estável, muitas vezes através de uma
reacção negativa perante os modelos apreendidos na família e na escola. O grupo dos iguais é
então importante, porque propõe novas normas e valores, no seio de uma dinâmica interactiva
entre pares. Em tal dinâmica a socialização desenvolve-se fora de qualquer desígnio
preordenado: as raparigas e os rapazes podem descobrir os amigos e dialogar com eles sobre
temas e assuntos quase sempre inabordáveis na família e na escola, destacando-se assim da
influência destas.

26
Cortesão et al (2005), afirmam que na fase da adolescência, o grupo de amigos tem cada vez
mais importância na medida em que, ajuda os adolescentes a afirmarem-se como eles
próprios, por oposição aos outros. Ao mesmo tempo começam a distanciar-se dos pais,
condição de acesso a um a certo grau de autonomia necessária para que, “o jovem pássaro se
torne capaz de levantar voo”. A influência quer do grupo de pares quer dos pais na evolução
da personalidade do pré-adolescente não é monolítica e vai depender da evolução dele
próprio relativamente a situações específicas, ele começa a formular os juízos de valor. Na
adolescência, continuam os autores supracitados, os amigos tornam-se mais importantes.
Formam-se grupos em relação aos quais existe um sentimento de pertença. Há, muitas vezes
um código de comunicação próprio, partilha-se a maneira de vestir e de pensar. O grupo tem
uma influência determinante no comportamento de cada um. Existe ainda preocupação em
corresponder a estereótipos comportamentais e físicos.

Da Silva (2003), alinha dizendo que no grupo de amigos, os adolescentes em muitos casos
iniciam precocemente a sua vida sexual que a posterior incide numa gravidez precoce, devido
a pressão e influência que recebem dos seus pares e, é nos círculos de amigas, ou através dos
activistas que trabalham na escola, que os jovens aprofundam os seus conhecimentos em
matéria de saúde sexual e reprodutiva.

Para o caso específico deste trabalho, usamos o conceito de Silva (2003) e Demartins (1999),
uma vez que estes autores mostram que os adolescentes recebem fortes influências do seu
grupo de amigos em variados aspectos. E mostram ainda que é no grupo de amigos onde há
liberdade para se abordar sobre assuntos que no seio da família são quase ignorados. Dessa
forma, concordamos com os aspectos levantados na definição destes autores visto que, este
estudo mostra que adolescentes recebem influências constantes dos seus amigos e é no seio
deste grupo onde estas adolescentes debatem sobre a sua vida sexual de forma espontânea.

27
II. Capítulo: Metodologia

Neste trabalho foi privilegiado a pesquisa qualitativa. Segundo Minayo (1987), é a mais
apropriado para analisar os processos históricos, as relações entre indivíduo e sociedade,
entre realidades e sua compreensão pela ciência, apresentando como atributo a possibilidade
de explorar com maior profundidade aspectos objectivos e subjectivos.

A pesquisa qualitativa é adequada para estudar a questão do significado e da intencionalidade


como inerentes aos actos, às relações e às estruturas sociais. Desta forma, julgamos adequado
a utilização dessa abordagem no presente estudo, uma vez que está incluso nos objectivos
deste estudo, a intenção de buscar dados capazes de identificar os significados das acções das
adolescentes face a sua gravidez. Tornou-se também importante o uso desta pesquisa para
análise dos valores, atitudes e dos factos interactivos do quotidiano. A pesquisa qualitativa
permitiu-nos aprofundar os aspectos inerentes a gravidez, esses aspectos têm a ver com as
vivências da adolescente grávida no dia-a-dia, que foram importantes na análise dos dados.

Considerando, as adolescentes grávidas como sujeitos activos de sua realidade buscamos


compreender através da pesquisa qualitativa, as percepções e significados que estas
constroem em volta da gravidez, no mundo em que se encontram inseridas (família, grupo de
amigos), como forma de entender a natureza do fenómeno social em análise.

2.1. Método de Abordagem

Neste trabalho usamos como método de abordagem, o método hipotético-dedutivo,


referenciado por Gil (1999).

Gil (1999), defende que, quando os conhecimentos disponíveis sobre determinados assuntos
são insuficientes para explicação de um fenómeno, surge o problema e para tentar explicar a
dificuldade expressa no mesmo, são formuladas conjecturas ou hipóteses. Das hipóteses
formuladas, deduzem-se consequências que deverão ser testadas ou falseadas. É com base
nesta capacidade de falseamento e teste das hipóteses sobre um problema que este método
forneceu-nos fundamentos suficientes para a elaboração da nossa pesquisa.

Este método de abordagem foi adequado para o nosso trabalho, uma vez que, permitiu-nos
elaborarmos um problema - perceber como as adolescentes constroem significados sobre a

28
sua gravidez, e para análise do mesmo elaboramos uma hipótese como resposta antecipada ao
problema levantado.

2.2. Método de Procedimento

No que cerne ao método de procedimento, foi aplicado o método monográfico ou estudo de


caso. Segundo Lakatos e Marconi (2007), este método parte de princípio de que qualquer
caso que este estude em profundidade pode ser considerado representativo de muitos outros,
ou até de todos os casos semelhantes. Este método consiste no estudo de determinados
indivíduos, profissionais, condições, instituições, grupos ou comunidades, com finalidade de
obter generalizações.

Para aliar-se a este autor, Andrade (2006), refere que o método monográfico pode abranger o
conjunto das actividades de um grupo particular. A sua vantagem consiste em respeitar a
totalidade solidária dos grupos, ao estudar, em primeiro lugar a vida do grupo em unidade
concreta; evitando a dissociação prematura de seus elementos e, em penetrar na sua
possibilidade na realidade social, o que não é conseguido pelo método quantitativo.

Dessa forma, este método foi relevante para este estudo, uma vez que, trata-se de um estudo
de caso sobre adolescentes grávidas a nível do Hospital Geral de Mavalane na cidade de
Maputo, e, tornou-se adequado porque possibilitou-nos aprofundar a realidade vivida por
adolescentes grávidas ao estudarmos na íntegra a sua história de vida e compreendê-la nos
seus próprios termos num contexto específico.

2.3. Procedimentos Técnicos

Este estudo foi guiado no âmbito da pesquisa qualitativa que busca compreender as
percepções dos actores sociais em torno do fenómeno gravidez precoce. Para a realização
deste trabalho foram usadas três técnicas: A pesquisa bibliográfica, as entrevistas semi-
estruturadas para a colecta de dados de campo e por último a análise de dados.

A pesquisa bibliográfica foi o primeiro momento que seguimos para a elaboração deste
trabalho e através dela procuramos encontrar estudos em diferentes abordagens que discutem
sobre adolescentes grávidas. Com a revisão bibliográfica recolhemos dados que ajudaram-nos
a construir a perspectiva de abordagem a qual firmamos a análise para este estudo.

29
O segundo momento foi de recolha aliado as entrevistas semi- estruturadas. Estas entrevistas
tiveram lugar no Hospital Geral de Mavalane. Segundo Triviños (1987), este tipo de
entrevista ajuda o investigador a ter acesso a dados da realidade de carácter subjectivo, como
ideias, crenças, maneiras de pensar e actuar, opiniões, sentimentos, conduta ou
comportamento e razões conscientes ou inconscientes. A entrevista semi-estruturada é
adequada visto que, faz com que os entrevistados participassem na elaboração do conteúdo da
pesquisa, enriquecendo deste modo a investigação.

Este tipo de entrevista permitiu-nos, captar subjectividades, substâncias nas respostas dos
entrevistados que vão para além do manifesto, uma vez que, pudemos conversar de forma
amena com o objecto de estudo, criando a confiança do entrevistado, com objectivo de fazer
com que o entrevistado se libertasse para falar sobre questões aparentemente sensíveis. Esta
técnica foi útil para recolheremos ao máximo de informação necessária dada pelas
adolescentes.

Para aliar-se as entrevistas semi-estruturadas, recorreu-se à observação indirecta que, de


acordo com Quivy e Campenhoudt (2008:164):

“ é uma técnica de colecta de dados, onde o investigador dirige-se ao sujeito para obter a informação
procurada, de forma subjectiva, uma vez que, não procede directamente. Ao responder as perguntas, o
sujeito intervém na produção da informação requerida pelo investigador ”.

A observação indirecta foi importante para este trabalho porque permitiu-nos recolher a
informação com a intervenção dos actores entrevistados.

Na fase de análise dos dados, analisamos as entrevistas de forma qualitativa, com base nos
objectivos traçados no trabalho. A técnica que usou-se para análise baseou-se na descrição
dos dados através do conteúdo de cada objectivo.

2.4. Historial do Campo de Estudo e procedimentos de arrolamento dos participantes

O estudo foi feito no Hospital Geral de Mavalane (HGM) no mês de Abril de 2012. Este
Hospital localiza-se no Distrito Municipal Ka Mavota na cidade de Maputo, no bairro de
Mavalane ‘A’, na esquina entre as Avenidas das FPLM e Milagre Mabote. O hospital possui
dois técnicos superiores de cirurgia, 41 médicos e 4 enfermeiras que atendem as mulheres

30
grávidas no controlo do pré-natal. A maternidade possui um médico. Este hospital possui
também 5 pediatras, 3 ginecologistas e 1 internista.

O Hospital trabalha em paralelo com um Centro de Saúde em anexo que de certa forma,
auxilia no atendimento e outros serviços prestados, o que contribui na redução de tempo de
espera dos doentes. Esta unidade sanitária atende mais de 700 mil doentes por dia.

2.5. Delimitação do universo e amostragem

O Hospital Geral de Mavalane é frequentado por mulheres grávidas de diversos bairros tais
como: Mavalane, Maxaquene e Hulene. O estudo focalizou adolescentes grávidas, na faixa
etária dos 15 a 17 anos de idade, que encontram-se inscritas no programa do pré-natal do
HGM.

Nesta pesquisa foi usada amostra não probabilística, que depende unicamente de critérios do
pesquisador, que passam necessariamente em entrevistar indivíduos que tem acesso, isto é,
sem usar nenhum critério probabilístico. A escolha deste tipo de amostra resulta do facto de o
estudo ser de carácter qualitativo, onde o pesquisador se apresenta como um interpretador dos
significados que os indivíduos dão a uma determinada realidade, isto é, das interacções entre
os indivíduos, seus comportamentos, experiências.

O tamanho da amostra da pesquisa foi de dez (10) adolescentes. Este tamanho de amostra
permitiu-nos obter um conhecimento profundo do actual estágio da gravidez precoce e do
significado que estas adolescentes atribuem a gravidez precoce.

Para a selecção da amostra foi usada amostragem intencional, que segundo Gil (1999), é
aquela que é formada pelo pesquisador após ter identificado seu grupo alvo com certas
características específicas. O pesquisador se direcciona ao grupo alvo com o intuito de
recolher o que interessa a sua pesquisa. Esta amostragem consiste também em seleccionar um
subgrupo da população que com base nas informações disponíveis, possa ser considerado
representativo de toda sua população, tendo em conta, a pertinência de respostas fornecidas.
A amostragem intencional foi importante uma vez que, o objecto de estudo deste trabalho
tem uma certa característica, que é gravidez e a escolha para entrevistarmos essas
adolescentes foi feita através das indicações das enfermeiras e activistas da unidade sanitária
(Hospital de Mavalane) que trabalham nas palestras realizadas para mulheres grávidas.

31
2.6. Questões éticas

É importante ressaltar que, para preservar a identidade e privacidade das participantes,


atribuímos nomes fictícios nas citações das entrevistadas.

O pessoal da saúde em serviço no local onde decorreu a pesquisa foi informado sobre o
estudo e apoiou na divulgação dos seus objectivos, junto das adolescentes grávidas que
frequentavam as consultas. A população alvo da pesquisa que foi considerada elegível foi
abordada pela pesquisadora que forneceu mais detalhe sobre o estudo. As adolescentes que
aceitaram foram convidadas pela pesquisadora para participarem numa entrevista agendada
por consenso.

Das 10 adolescentes que participaram na pesquisa, 7 foram entrevistadas no Hospital geral de


Mavalane e 3 foram entrevistadas nas suas casas por questões de tempo uma vez que, as
adolescentes que tivemos a oportunidade de conversar com elas nas suas casas alegavam
cansaço e fome, e depois das consultas. A entrevista foi conduzida pela pesquisadora.

2.7. Dificuldades encontradas no campo para a elaboração da monografia

Ao longo do trabalho de campo algumas dificuldades foram encontradas. De início tivemos


dificuldades para encontramos adolescentes grávidas que fizessem parte da faixa etária
definida no trabalho. As enfermeiras referiam que as adolescentes grávidas, em muitos casos,
apareciam no hospital para o controlo do pré-natal nos últimos meses de gestação, por medo
de serem criticadas e penalizadas pelas enfermeiras devido a sua faixa etária. Contudo, depois
de um trabalho consistente encontramos adolescentes dos seus 15 a 17 anos.

Apesar dos constrangimentos encontrados no campo, é de referir que, conseguimos


identificar o grupo alvo deste estudo através das palestras sobre o HIV, realizadas nos
hospitais por activistas formadas nesta área do HIV-SIDA para as mulheres grávidas. As
activistas ajudaram-nos a encontrar adolescentes para conduzirmos a pesquisa. Essas
activistas apelavam ao nosso grupo alvo para que participassem nas entrevistas de forma
consensual.

Nestas palestras encontrávamos por dia uma ou duas adolescentes que tivessem os critérios
delimitados no estudo. A duração de cada entrevista variava de 45 a 50 minutos, tendo em
conta a agilidade das entrevistadas para encarar a conversa. De referir que, as conversas

32
individuais com as adolescentes foram difíceis de serem realizadas visto que, no local
disponibilizado pelas enfermeiras para as entrevistas era compartilhado por um outro grupo
de activistas da unidade sanitária. Essas mesmas activistas realizavam sua conversa com
pacientes infectados pelo vírus do HIV e isso de alguma forma prejudicava a nossa conversa
com as adolescentes pois, elas não se sentiam a vontade para falar e optavam em conversar
em voz baixa para não serem ouvidas por pessoas do outro grupo e isso limitava a recolha da
informação. E quando este grupo movimentava-se no local de um lugar para o outro, tornava-
se difícil retornar com precisão a entrevista, cada vez que nos interrompiam. Contudo,
conseguíamos dar continuidade da conversa, repetindo as questões novamente num lugar
tranquilo e adequado.

Outro aspecto a salientar foi o controlo do tempo por parte das entrevistadas pois, elas tinham
medo de serem passadas na fila de espera das suas consultas. Embora, informássemos para
que não se preocupassem pelo facto de ter sido as enfermeiras que trabalham nas consultas do
pré-natal a dar permissão para que fossem entrevistadas, não resultava muito porque não se
tranquilizavam. A solução encontrada foi de agendar as entrevistas depois da consulta e nos
locais indicados e preferidas pelas entrevistadas.

De todas as adolescentes entrevistadas, duas das adolescentes apresentavam dificuldades para


se expressarem de modo a serem compreendidas devido a língua adoptada, razão pela qual
em alguns casos tivemos que conversar com as adolescentes em Changana9.

9
Uma língua falada na região sul do país (Maputo, Gaza e Inhambane)

33
III. Capítulo: Apresentação, análise, interpretação e discussão dos resultados

3.1. Apresentação e análise dos resultados: A Gravidez na adolescência

No presente capítulo será apresentado a análise e interpretação dos dados recolhidos durante
o trabalho de campo. O capítulo é constituído por quatro subcapítulos, as características
sócio-demográficas das adolescentes, as percepções e significados da adolescente sobre sua
gravidez, Experiências e conhecimento sobre educação e vida sexual e, por fim abordamos
consequências e vivências da gravidez na adolescência.

3.1. a)Características sócio-demográfico das adolescentes

O estudo envolveu 10 adolescentes grávidas com idades compreendidas entre os 15 e 17


anos, dentre as quais 2 tinham 15 anos; 4 tinham 16 anos e finalmente 4 tinham 17 anos.

Das 10 adolescentes grávidas entrevistadas 5 viviam maritalmente, 3 adolescentes viviam


com ambos pais e outras 2 viviam com suas mães. Das 5 adolescentes que viviam
maritalmente, referiram que viviam com os pais do parceiro uma vez que ainda não possuíam
condições para terem casa própria. 3 Adolescentes viviam com ambos pais dos quais, 2
declararam que viviam com seus pais porque os parceiros também ainda não possuíam
condições económicas para se albergarem na casa própria e 1 adolescente referiu que vivia
com os pais porque o seu parceiro não quis assumir a responsabilidade10. E 2 que ainda
viviam com suas mães declararam também que é pelo facto dos seus parceiros não possuírem
condições de ter casa própria. É de referir que 5 adolescentes que vivem maritalmente antes
de irem viver na casa dos pais do parceiro, 3 viviam com ambos os pais e 2 viviam com os
tios por serem órfãos de ambos os pais.

Das 5 entrevistadas que afirmaram estar a viver maritalmente, deixaram transparecer os


motivos que fizeram com que fossem viver com os sogros. 2 Adolescentes declaram que
viviam com o parceiro e os sogros mesmo antes de vivenciar a gravidez, não foram ao lar
devido a sua gravidez mas sim por alguns motivos como, ser expulso de casa pelos pais
devido a saídas nocturnas excessivas e por falta de respeito aos seus pais uma vez que, nessas
saídas em algumas vezes não voltavam para casa. As outras 3 que viviam maritalmente foram
ao lar devido a sua gravidez.

10
Esta adolescente foi rejeitada pelo parceiro e ela afirmou que o seu parceiro não quis saber da sua gravidez
porque dizia que não era responsável pela gravidez.

34
No que concerne a faixa etária dos parceiros das adolescentes entrevistadas é de referir que, a
mesma variava entre 17 aos 29 anos de idade. Dentre as 10 entrevistadas, 3 afirmaram que os
parceiros tinham 22 anos, 2 adolescentes têm parceiros com 21 anos, outras 2 têm parceiros
com 20 anos e as 3 últimas entrevistadas, duas referiram que os parceiro têm 18 anos e uma
adolescente disse que o seu parceiro têm 29 anos de idade.

No que tange a profissão dos parceiros das entrevistadas é de referir que 4 deles encontram-se
desempregados, 4 entrevistadas declararam ter parceiros trabalhadores, onde um dos
parceiros era mineiro, um pedreiro e os dois outros eram vendedores informais.

Em relação aos dados sobre a educação formal das adolescentes entrevistada foi possível
constatar que, 1 adolescente fez a sua educação formal até a 5ª classe, 2 adolescentes
frequentaram a escola até a 7ª classe, 1 adolescente referiu que fez o seu ensino formal até a
8ª, 3 das entrevistadas referiram que frequentaram a sua educação formal até a 10ª classe e 2
outras adolescentes entrevistadas referiram ter estudado até a 11ª classe.

De todas as adolescentes entrevistadas somente 2 é que continuavam a estudar no curso


diurno numa escola privada, mas as outras 8 referiram ter abandonado os seus estudos
durante a gravidez.

No que cerne a origem das 10 adolescentes, 8 das participantes afirmaram ter nascido na
cidade de Maputo e 2 adolescentes entrevistadas, 1 nasceu na cidade da Beira e a outra na
cidade de Inhambane. Em termos de bairro de residência, 4 vivem no bairro de Mavalane; 3
vivem no bairro de Maxaquene; 2 vivem no bairro de Hulene “B” e 1 vive no bairro
Ferroviário “B”.

3.1.b) As percepções da gravidez na adolescência

A gravidez constitui um dos fenómenos recorrentes em adolescentes da cidade de Maputo e a


sua incidência está associadas a factores como início precoce da vida sexual, a falta de
informação sobre os métodos anticonceptivos para a prevenção da gravidez. A gravidez
resulta também das influências que a adolescente recebe nas várias relações sociais que
desenvolve no seio do seu mundo envolvente, como mostram os dados deste trabalho.

A gravidez na adolescência é significada e percebida de diferentes maneiras pelas


adolescentes no mundo social visto que, cada uma vivência a fase da gestação de formas

35
diferente tendo em conta que, trata-se de actores que encontram-se inseridas em contextos
sociais multiculturais e multidimensionais que lhes incute um conjunto de valores, práticas,
normas e atitudes também diferentes.

Assim, as percepções e significados das adolescentes sobre a gravidez dependem do contexto


social em que encontram-se inseridas visto que, é no seio desse contexto que são
influenciadas e interiorizadas certos valores sociais sobre o seu ser no mundo da vida.

Desta forma, as adolescentes entrevistadas neste trabalho, significam e percebem a gravidez


precoce em função das categorias sociais, dentre as quais destacam-se os seus próprios
significados, da família (pai e mãe), amigos e parceiros.

3.1.c) O significado da gravidez para as adolescentes

Em relação aos significados que as adolescentes grávidas têm sobre sua gravidez, constatou-
se que 10 adolescentes entrevistadas apresentam uma diversidade de percepções, onde 5
adolescentes afirmaram vivenciar a gravidez de forma nefasta e aliam a sua gravidez a factos
desagradáveis como sentimento de medo, tristeza, vergonha, sensação de não estar preparada
para levar avante a sua gravidez, interrupções de estudo, rejeição vinda da parte dos
familiares (pais), parceiro e amigos. A rejeição da gravidez por parte da adolescente está
relacionada também com um conjunto de valores e acções preconizados por seus familiares,
amigos, parceiros sobre a sua gravidez no dia-a-dia visto que, nestas redes de sociabilidade a
gravidez na adolescência é interpretada com sentimento de decepção e acto de
irresponsabilidade por ocorrer numa fase de vida considerada prematuro.

Este resultado foi também constatado por Mitano (2011) ao notar que, para as adolescentes
que são rejeitadas pelos familiares e que são mães pela primeira vez, a sua experiência tem
sido negativa pois, gera medo, tristeza e sensação de insatisfação.

Os dados mostram que, o tipo de reacção tomada pela família, parceiro e amigos da
adolescente relativamente a gravidez desta, contribuem de forma determinante na maneira
como a adolescente percebe e significa a sua gravidez. Quando estes agentes de sociabilidade
deixam transparecer a falta de apoio na gravidez da adolescente, isso faz com ela perceba a
sua gravidez como um acto inconsequente e também como reformulação dos seus planos, na
medida em que, para além da rejeição e exclusão que esta adolescente enfrenta no seu mundo

36
social, também apresenta-se incapaz de assumir o papel de mulher mãe devido a carências
afectivas que advém da família, dos amigos e parceiro.

No que diz respeito a percepção das 5 adolescentes que vivenciaram este sentimento de
rejeição da gravidez constatamos que, os factores que estão por detrás desta rejeição
relacionam-se com a maneira como os pais, amigos e parceiros concebem a sua gravidez uma
vez que, estes agentes de socialização consideram a gravidez precoce como a consequência
do comportamento de risco da adolescente tais como, manter relações sexuais sem medidas
contraceptivas e iniciar precocemente a actividade sexual. A gravidez é também interpretada
por este grupo social como uma acção inerente ao mundo adulto e responsáveis em termos de
condições sócio-económicas. Em algumas vezes, a forma de conceber a gravidez como
fenómeno praticado por adultos relaciona-se aos valores religiosos. Como podemos ver a na
citação abaixo:

- Quando fiquei grávida senti-me mal, decepcionada comigo mesma, senti-me também desorientada
sem saber o que fazer. Com a minha gravidez perdi amigos e tive que deixar de fazer parte de um
grupo de jovens na igreja visto que nesse grupo quando a pessoa engravida passa para o grupo de
mulheres adultas, essa é a regra imposta na igreja e com isso fiquei muito triste. Com a gravidez meu
parceiro passou a rejeitar-me e não queria saber de mim… foi muito difícil (a entrevistada emociona-
se). Tive que assumir sozinha a responsabilidade pela qual ainda não estou preparada porque meu
parceiro não quer saber de mim (Entrevista nº 1, 17 anos, Mavalane).

As afirmações destas adolescentes reforçam um conjunto de experiências vividas por outras


adolescentes como sustenta Da Silva (2010), quando mostra que, para as adolescentes a falta
de apoio familiar, as condições financeiras desfavoráveis para criar uma criança pode resultar
de actos impensados como o aborto clandestino, por ser vista como única opção para
regularizar a situação e manter a sua honra na família e em outros espaços sociais que
frequenta.
Para França e Maranhão (2002), a gravidez quando ocorre de forma intencional e carregando
consigo repercussões negativas na vida das adolescentes, estas em muitos casos adiam o seu
percurso escolar e outras actividades próprias desta faixa etária. Este trabalho constatou esta
questão uma vez que, 8 das adolescentes entrevistadas referiram ter adiado o seu percurso
escolar devido a falta de apoio familiar por causa da gravidez, a vergonha que sentiam dos
colegas da escola, dificuldades em caminhar longas distâncias e também por identificar
problemas relacionados a condições financeiras para levar avante os estudos.

37
No que concerne as outras 5, das quais 2 já viviam com os sogros e o parceiro, afirmaram
terem vivenciado experiências que se podem considerar agradáveis uma vez que, tiveram
apoio da família, parceiro e amigos. O sentimento adquirido foi de maior responsabilidade,
alegria por ter concretizado o sonho de estar grávida na medida em que, os seus parceiros já
desejam ter filhos.

Portanto, constata-se que para estas adolescentes, o motivo desta aceitação da gravidez leva
em conta aspectos ligados a valores preconizados pelo parceiro e seus familiares e também
pelos seus amigos visto que encontramos aspectos como melhores condições financeiras dos
pais do parceiro que podem dar segurança e sustentabilidade para cuidar de si e do seu bebé.
Temos também aspectos que relacionam a gravidez como algo planificado, desejável e
presente para o parceiro. Estes factores são mencionados por adolescentes que têm parceiros
trabalhadores ou que a sua família apresenta melhores condições económicas para poder
assumir a paternidade.

-Quando fiquei grávida senti-me muito bem porque o meu parceiro já queria ter um filho inclusive os
familiares dele visto que eu já vivia com eles. O interesse que os familiares do meu namorado
depositavam com a minha gravidez deixou-me feliz porque teria alguma segurança para sustentar o
meu filho (Entrevista nº 4, 16 anos, Mavalane).

No que concerne a opinião sobre o que é a gravidez para as adolescentes deste estudo, temos
aqui algumas citações:

-Para mim, a gravidez é algo ruim quando ainda somos muito pequenas e também quando há falta de
condições financeiras para sustentá-lo. Acho também que a gravidez é algo traiçoeiro porque a maioria
das meninas quando engravidam deixam de estudar por se sentirem culpada e com vergonha
(Entrevista nº 6, 17 anos, Mavalane).

Com as informações obtidas a partir das entrevistadas sobre a gravidez aferimos que, para 6
adolescentes a gravidez não é um fenómeno que lhes transmite um conjunto de valores e
normas que determinam a sua acção de forma afectiva e plausível na vida quotidiana pelo
facto de causar consequências tristes nas suas vidas como, medo, falta de planificação no
novo papel de mãe que adquirem, vergonha e por se considerarem velhas ao estar grávida.
Estas adolescentes sentem-se também culpadas pelo facto de ter engravidado uma vez que,
consideram que não tomaram todas as precauções possíveis para evitar a gravidez como o uso

38
dos métodos contraceptivos. Este dado é referenciado por Mitano (2011) no seu estudo, ao
notar que a auto-estima da adolescente pode alterar-se com a gravidez por ela se sentir
culpada da situação que vive, considerando incapaz de gerir as vontades ou conflitos da
própria adolescência. Daí que, para estas adolescentes a gravidez é um evento ruim, pois em
muitos casos traz consigo repercussões desagradáveis.

Mas para 4 adolescentes, a gravidez é uma acção que desenvolve auto-estima na mulher a
nível social ao destacar o papel de mãe, o qual carrega consigo um certo valor na estrutura da
sociedade uma vez que, na vida social quando a mulher fica grávida significa várias coisas
como por exemplo: mostrar que não é uma mulher estéril e que consegue ter os seus próprios
filhos. Esta ideia baseia-se na crença de que a sociedade tende a valorizar a figura de mulher
mãe que vivencia a gestação. Em termos biológicos, a gravidez representa-se neste grupo de
adolescentes como um período de crescimento e desenvolvimento do embrião dentro da
mulher. Como mostra o discurso da entrevistada:

Gravidez para mim, não é nenhuma doença, mas sim, é algo que todas as mulheres esperam viver
algum dia e também é algo que demonstra quem pode ter filho, ou seja, engravidar (Entrevista nº 4, 16
anos, Mavalane).

Desta maneira, para as adolescentes a gravidez carrega consigo um conjunto de significados


para além das normas e regras que regem o seu comportamento no dia-a-dia enquanto
mulheres grávidas entre as quais, relacionada com o facto de se conceber a gravidez como
transição da fase da infância para a fase adulta, necessidade de ter uma idade que é
considerada socialmente como ideal para engravidar e também pelo facto de analisar-se a
gravidez como um fenómeno que dá um certo valor e respeito a mulher a nível da sociedade
na medida em que, pode ser vista como mulher capaz de desenvolver a função sexual e
reprodutiva ao estar grávida.

Os dados mostram que, apesar de algumas entrevistadas terem referido que desenvolveram
sentimento de rejeição e outras de aceitação relativamente a gravidez dentro do seu contexto
social, constatamos que, em termos dos significados que tem com sua gravidez, todas as
adolescentes criaram uma forma estável de ambientar-se a esta nova situação, principalmente
pelo facto de todas as adolescentes deste estudo estarem a vivenciar o fenómeno da gravidez
pela primeira vez.

39
Contudo, a análise de dados revela que 5 adolescentes percebem a gravidez como sinónimo
de crescimento; responsabilidade; ser adulta; ser capaz de gerar filhos; ser uma mulher capaz
cuidar de si e do seu filho; felicidade porque será chamada de mãe; ter nova identidade (deixa
de ser criança e passa a ser adulta).

Entretanto, outras 5 percebem a gravidez como algo desagradável e de decepção, devido às


consequências que dela advém, tais como, interrupção dos estudos (escola); medo de ser
rejeitada pelo parceiro ao receber a informação da sua gravidez; reformulação dos planos de
vida; rejeição por parte da família; acto não planejado, isto é, acidental; ser velha; restrição
das brincadeiras (não sair de noite); abandono do parceiro; exclusão por parte das amigas; ter
que ser mãe sem estar preparada; vergonha; tristeza; sentimento de culpa.

3.1.d) Percepção das adolescentes sobre a reacção dos pais

Os dados que reflectem sobre a reacção dos pais, constatamos que 3 entrevistadas que
vivenciaram sentimentos de rejeição mostram que as reacções dos pais sobre a sua gravidez
representa um momento de crise no ciclo de vida dos pais e das próprias adolescentes devido
a mudança de atitude dos pais perante a gravidez na medida em que, para esses pais, a
experiência de vivenciar a gravidez das filhas é marcada por vários sentimentos e atitudes
como, surpresa, raiva e também por questionamento em relação ao tipo de educação sexual
que transmitem as filhas.

O sentimento de rejeição gerada por parte dos pais das adolescentes entrevistadas está
relacionada ao grupo de percepções de que a gravidez é para mulheres adultas também a
questões ligadas a quebra dos valores familiares ao se referir que, a atitude da adolescente
perante a família permite considera-la como um sujeito que transgrediu os valores
preconizados no seio da instituição família sobre a educação sexual uma vez que, não soube
comportar-se como indivíduo dotado de valores e normas que determinam a maneira de ser, e
agir enquanto exercício da sua sexualidade no mundo social. A maternidade para estas
adolescentes é assinalada pelos pais como a transição da fase adolescente à vida adulta e não
pela capacidade biológica de fecundar e gestar, mas pela incorporação de responsabilidade e
implicações geradas por este acontecimento nas suas vidas. E outro aspecto está relacionado
com o facto de as adolescentes serem vistas como culpadas por se considerar a sua gravidez
deslocada da idade tida como ideal para ser mãe. Por este motivo são cobradas pelos pais a

40
assumirem os papéis femininos restritos ao lar e ao bebé com o parceiro e familiares deste.
Dessa forma, estas adolescentes sentem-se mais presas a maternidade e ficam cada vez mais
restritas ao âmbito do lar ou da comunidade. Como reflecte esta entrevistada:

- Meu pai ficou super chateado comigo. A reacção dele não foi nada agradável, foi de desilusão…como
se ele não tivesse me ensinado nada. Meu pai diz que falhei com ele pois, envergonhei-lhe perante aos
outros membros da família pelo facto de ter engravidado ainda criança. Ele culpa-me por esta atitude
mas para mim a culpa é dele porque nunca ensinou-me nada sobre educação sexual é por isso que
engravidei (Entrevista nº 10, 15 anos, Maxaquene).

No outro grupo de percepções constatamos que, quatro adolescentes referiram terem recebido
apoio dos pais quando engravidaram. Para estas entrevistadas, o motivo que leva os pais a
aceitar e apoiar a sua gravidez está relacionado ao desejo de serem avôs, também pelo facto
de considerar que o bebé traz consigo um ambiente de bem-estar social na família e por
associar a gravidez como um fenómeno que reduz as brincadeiras da adolescente com o novo
papel que adquire, também alia-se as melhores condições sócio-económicas que os pais das
adolescentes possuem, que faz com que não encarem a gravidez como um evento indesejável
mas como um elo que fortalece uma dada aliança afectiva, que dá suporte a adolescente para
que continue a desenvolver uma relação que se associa a expectativas plausíveis com o pai.

Portanto, a reacção dos pais em aceitar a gravidez como um evento normal depende das
condições sócio-económicas no contexto familiar em que está inserida a adolescente e das
expectativas que regem o agir e o pensar dos pais sobre a gravidez das filhas, como o desejo
de ter netos e serem chamados de avôs. - O meu pai apoiou-me quando soube que estava grávida porque
queria tanto ter um neto e também dizia que a gravidez faz com que uma mulher cresça e diminui brincadeiras,
como por exemplo, sair de noite (Entrevista Nº 7, 16 anos, Hulene).

Enquanto 3 adolescentes entrevistadas referiram ter tido reacções moderadas em relação a


percepção dos seus pais uma vez que, num primeiro momento seus pais apresentaram
sentimentos relacionados a decepção em receber a notícia da sua gravidez mas depois
libertaram-se e procuraram apoiar a atitude das filhas, dando atenção e todo tipo de ajuda
relacionada com vivências da gravidez no quotidiano das adolescentes.

Dados das entrevistadas mostram que existe um reconhecimento por parte dos pais de que
houve negligência na maneira como estes transmitem a informação relacionada ao tema sobre

41
sexualidade à adolescente. O pai da adolescente grávida sabe de antemão que ao abordar
sobre sexualidade, não enaltece de forma plausível os padrões de comportamento que devem
ser preconizados por estes seres sociais sobre a sua sexualidade pois, acabam vivenciando
uma gravidez precoce devido a escassez de informação, um conhecimento erróneo sobre o
tema e uso inadequado dos métodos anticonceptivos.

Este dado é corroborado por Oliveira (2008), quando defende que, os aspectos que
contribuem para a gravidez precoce estão relacionados com a escassez de diálogo familiar,
que ocorre em maior grau entre famílias com menor instrução sobre a educação sexual que
permite que os filhos tenham informação limitada em relação a sua sexualidade ou vida
sexual.

Neste sentido, a abordagem referenciada por Osório e Silva (2008), que culpabiliza a
adolescente grávida por esta atitude nem sempre é validada no seio familiar, como podemos
notar nos nossos resultados. Pois não é em todos os contextos familiares que responsabilizam
a filha com a gravidez precoce uma vez que, para algumas adolescentes, o pai reconhece a
sua limitação para abordar sobre a sexualidade no seio da família. Como refere esta
entrevistada:

-Meu pai apesar de ser rigoroso com os filhos quando soube da minha gravidez é claro que ficou um
pouco chateado comigo, mas depois entendeu a minha situação e apoiou-me pois, sabia que eu
precisava da ajuda dele para ultrapassar esta dificuldade. O pai percebeu que não dava nenhum tipo de
conselho sobre a vida sexual e como proteger-me da gravidez indesejada, daí que achou importante não
criticar-me e sim ajudar-me a cuidar da minha gravidez (Entrevista nº 2, 17anos, Mavalane).

No que tange a reacção das mães em relação a gravidez das adolescentes, constatamos que 6
adolescentes vivenciaram reacções de aceitação da gravidez. Neste grupo de percepções, os
factores que levaram as mães a aceitarem a gravidez têm em conta um conjunto de normas e
costumes compartilhadas entre a mãe e a adolescente e também a um tipo de relação que se
desenvolve entre estas. Um dos motivos está relacionado ao facto das mães partilharem
assuntos confidenciais e íntimas com filhas por esta razão, tinham acesso a informação sobre
as suas relações e a sua vida sexual no seu dia-a-dia. É desta forma que, estas mães
reconheciam que a um dado momento de vida, as filhas poderiam engravidar, embora,
aconselhassem a levar consigo o preservativo para prevenir-se da gravidez e de doenças
sexualmente transmissíveis. Aceitavam também a gravidez das filhas por considerar uma
bênção divina. Como salienta esta adolescente grávida no trecho abaixo:

42
-Quando fiquei grávida minha mãe não ficou surpresa porque já conhecia meu namorado. Eu e minha
mãe conversávamos muito sobre o namoro, daí, lhe contava tudo sobre a minha vida. Gravidez para
minha mãe é uma bênção divina e que toda mulher devia passar pela experiência e por se tratar do seu
neto, ela sempre diz que pedir ajuda quando precisar de algo (Entrevista nº 6, 17 anos, Mavalane).

Ao analisar os dados notamos também que, 4 adolescentes grávidas mostraram que a sua
gravidez foi motivo de rejeição e decepção por parte das mães pelo facto destas,
considerarem a educação formal das filhas como prioridade em relação a outros assuntos que
merecem destaque no quotidiano da adolescente, como a sexualidade. E como segundo
factor, representam a gravidez das filhas como a quebra dos valores familiares pois, estas
adolescentes afirmaram que suas mães queriam que fossem viver com os seus parceiros para
que não pudessem sentir vergonha no seio da comunidade.

- A minha mãe zangou-se muito comigo e disse que eu era muito nova e ficou muito angustiada e não
sabia como lidar com minha situação. Com a falta de apoio da minha mãe, senti-me muito mal
principalmente quando ela disse que deveria ir viver com o homem que me engravidou. Assim, estou a
viver com a família do meu parceiro porque a minha mãe expulsou-me de casa (Entrevista nº 5, 16
anos, Mavalane).

Portanto, podemos aferir pela análise dos dados que as adolescentes reconhecem que a
percepção dos seus pais (mãe e pai) face a sua gravidez depende de um conjunto de factores
como a idade que elas têm pois, os pais consideram a gravidez precoce como um fenómeno
não permissivo na fase da adolescência por entenderem que este fenómeno deve ser
vivenciado na fase adulta. E quanto ao sentimento das mães, as adolescentes percebem que as
mães consideram a gravidez como uma bênção e ainda como um fenómeno que toda a
mulher tem o direito de experienciar. Enquanto Vitalle e Amâncio (2004), mostram que é na
camada popular ou nas classes pobres, onde a gravidez é vista como um evento normal e não
alô inconsequente na medida em que nesta camada populacional valoriza-se mais a vida
adulta, os resultados mostram que para as adolescentes que provém de famílias pobres, a sua
gravidez não é encarada também de forma repressiva e punitiva pelos seus familiares.

A gravidez é um factor que desencadeia mudanças de atitude entre pais e filhos na medida em
que, os dados mostram que a gravidez precoce acarreta reacções de expulsão, rejeição e até
mesmo aceitação mas dependendo de família para família. Este facto é corroborado por Pais
(1993), que afirma que as reacções familiares assim como dos adolescentes podem ser
conflituais ou reconstituição de relações amigáveis entre pais e filhos, variando em função do
contexto social e de família para família pois, o trajectória quotidiana, com as encruzilhadas

43
com que se deparam estão relacionadas com o tipo de relação que as adolescentes têm com
suas famílias e com seu meio social.

Por este motivo, podemos enfatizar que as adolescentes grávidas são constantemente
influenciadas pelo agir do seu contexto social. Como referencia Schutz (1979), na dimensão
cultural do agir, o significado de uma acção pode efectivamente variar, conforme o actor
social tenha como referência os seres humanos dos quais possuí uma experiência directa no
seu ambiente social actual. Neste caso, as adolescentes têm referência dos significados da sua
acção na família, amigos, escola e com parceiro, pois é com estes agentes que a adolescente
possuí uma relação directa no seu dia-a-dia.

3.1.e) Percepção das adolescentes sobre a reacção dos parceiros

No que tange à reacção da gravidez por parte dos parceiros, os dados mostram que as
adolescentes apresentaram diferentes posições dos seus parceiros sobre a gravidez. Das 10
entrevistadas, 6 adolescentes referiram que seus parceiros aceitaram a sua gravidez sem se
surpreenderem com a notícia e 4 delas declararam que vivenciaram sentimentos de rejeição
da gravidez vinda dos seus parceiros.

Para o caso dos parceiros que rejeitaram a gravidez, os motivos estão relacionados com
factores como, idade e condições económicas visto que, segundo as adolescentes, os seus
parceiros referiram que não desejavam ter filhos pelo facto de não estarem a trabalh0ar
limitavam-se a dizer que não podem custear as despesas de um filho porque também depende
ainda dos seus pais; E outro motivo da rejeição é o facto desses parceiros se considerarem
novos para assumir a paternidade.

-O meu namorado não gostou muito da notícia, ele disse-me que não estava ainda preparado para ter
um filho. Ele chegou a dizer-me para abortar, fiquei sem saber o que fazer com a atitude dele…aí,
fiquei sem chão. Ele ficou com medo porque não trabalha e também disse-me que ainda somos crianças
(Entrevista nº 10, 15 anos, Maxaquene).

Nas reacções seguintes pode se compreender que outras adolescentes grávidas declararam
terem sido aceites com seus parceiros uma vez que, receberam apoio dos mesmos. Os
motivos e circunstâncias que fizeram com que os parceiros aceitassem a gravidez deve-se ao
facto de que, como primeiro motivo, tratava-se de parceiros que trabalhavam e a sua condição
económica era um pouco favorável para poder arcar com as despesas da gestação e da própria

44
adolescente. O segundo momento trata de parceiros que se consideravam adultos e no dever
de ter filhos, para além de ser um desejo. Como exemplo, a adolescente que vivia com o
parceiro de 29 anos, esta refere que o seu parceiro considerava a gravidez uma bênção e algo
desejável para se ter um bebé mas também, o parceiro desta adolescente possuía condições
económicas favoráveis para assumir a paternidade

- A reacção do meu namorado foi de muita felicidade, ele disse que era a gravidez que sempre
desejava. Ele deu-me muito apoio e ajuda e também foi apresentar-se na minha mãe como pessoa
responsável pela gravidez. O meu namorado disse que tínhamos que assumir a gravidez como pessoas
crescidas (Entrevista nº 9, 16 anos, Hulene).

A gravidez em alguns casos é assumida pelo parceiro da adolescente como acto de maior
responsabilidade, como pudemos constatar nas análises acima. E este dado é sustentado por
Gusmão (2002) quando mostra que, com a gravidez as adolescentes podem ganhar respeito e
um sentimento de reconciliação entre elas e o parceiro.

3.1.f) Percepção das adolescentes sobre a reacção dos amigos

No que concerne a categoria das amigas sobre a gravidez das entrevistadas, constatou-se que
a reacção das amigas sobre gravidez também apresentou-se de forma diversa. Nos dados
deste trabalho, 3 adolescentes declararam que suas amigas rejeitaram a sua gravidez na
medida em que, as suas amigas aconselhavam a abortar pelo facto destas considerarem-nas
novas e também, pelo facto das amigas referirem que a gravidez é sinónimo de prostituição e
de ser adultas. É por esta razão que a gravidez na adolescência é vista pelas amigas como a
perda de qualidades de juventudes, uma acção descriminada e estigmatizada no mundo social.

- As minhas amigas admiraram-se quando souberam da minha gravidez e pediram-me para tirar,
porque diziam que ter filho é ser velha, também diziam que com a gravidez iria deixar de estudar. As
minhas amigas abandonaram-me porque diziam que não podiam brincar com uma mulher grávida pois,
elas também poderiam ser influenciadas por mim a engravidar (Entrevista nº 5, 16 anos, Mavalane).

- Quando fiquei grávida as minhas amigas falaram mal de mim e disseram que eu era uma vadia e sem
respeito, e também que era uma sem vergonha e atrevida para me deixar engravidar sendo uma criança
(Entrevista nº 8, 15 anos, Ferroviário).

Mas também houve 7 adolescentes que afirmaram terem sido apoiadas com as amigas, uma
vez que as amigas reconheciam que a gravidez é um evento que em muitos casos ocorre ao
acaso na adolescência, ou seja, é um acidente, por este motivo davam apoio para que as

45
adolescentes grávidas não se sentissem culpadas e sem nenhum afecto. O outro motivo que
fazia com que as amigas aceitassem é porque percebiam a gravidez como sinónimo de
crescimento e uma bênção e pelo facto destas amigas já terem vivenciado a experiência da
maternidade.

- Quando minhas amigas souberam da minha gravidez ficaram surpresas mas apesar disso, elas
aconselharam-me a não tirar a gravidez porque diziam que ter filho é bom e podia aprender muita coisa
com meu filho. As minhas amigas foram adoráveis comigo e deram muito apoio e disseram que eu
podia continuar a estudar e continuar a brincar com elas e que fazer coisas que antes de engravidar
fazia, como passear de noite com elas (Entrevista nº 1, 17 anos, Mavalane).

- Meus amigos são os amores da minha vida porque sempre estão comigo diferentemente das minhas
amigas que excluíram-me do grupo. Eles quando souberam da notícia disseram que devia levar ao
termo porque se eu tirasse Deus poderia castigar-me e não dar-me mais filhos. A felicidade dos meus
amigos com a minha gravidez é de que eles terão um sobrinho e uma criança com quem podia brincar
(Entrevista nº 8, 15 anos, Ferroviário).

Os dados mostram também que as reacções dos amigos são variáveis, pois, a forma como se
relacionam estes adolescentes depende do grau de amizade que os une ou mesmo do contexto
das interacções sociais que se reproduzem no seio do grupo, uma vez que, das 10
adolescentes, 3 tinham amigos homens, onde receberam apoio porque estes também
consideravam a gravidez como uma bênção e sinónimo de crescimento, enquanto por parte
das amigas tiveram reacções de rejeição da sua gravidez por motivos acima mencionados.

Segundo Silva e Santos (2007) no grupo de amigos as adolescentes procuram uma identidade
porque necessitam de estima e aceitação dos membros desse grupo. Quando conseguem
identificar-se com o grupo sentem-se mais a vontade para fazer parte do mesmo, e essa
identificação pode ser semelhante no modo de vestir, falar e comportar-se. A análise dos
resultados consolida a ideia defendida por estes autores visto que, os dados mostram que as
adolescentes identificavam-se com o grupo que tinha a experiência da gravidez porque já
tinham noção das consequências que advém com a gravidez precoce.

46
3.1.1. Experiências e conhecimentos sobre a educação e vida sexual da adolescente

3.1.1.a) A educação sexual das adolescentes na sociedade

A família, escola, amigos e o parceiro desempenham um papel importante na vida das


adolescentes. É na família onde a adolescente entra em luta consigo, pois necessita descobrir
quem ela é, enfrentando dúvidas, agressões e questionamentos sobre si. Duvida do que o
cerca e do que pensa. Assim, pode-se entender a adolescência como uma fase especial do ser
humano, o qual busca conhecer o mundo onde vive (Gonçalves, 2001).

A família como um meio de pertença é onde a adolescente se reconhece e é reconhecida, num


conjunto de interacções com o meio sociocultural em que se insere (Osório e Cruz, 2008). E
uma vez que a família é formadora de identidades, ao mesmo tempo que permite desenvolver
esse sentimento de pertença a partir dos primeiros processos de socialização do sujeito, ela
cria também os mecanismos necessários para a emergência do “sentimento de estar separado,
ser único e poder ser, algum dia, independente” (Berger e Luckmann, 2009), o que faz parte
da busca pelo reconhecimento e pela visibilidade da adolescente.

Diferentemente de outras etapas da vida, o adolescente se vê desorientado no meio de coisas


novas, começa pelas transformações de seu corpo, surgem vários outros problemas na sua
vida. A relação que a adolescente desenvolve com os pais e amigos pode também constituir
um factor problemático no cerne da sua vida e das transformações emocionais, corporais que
enfrenta principalmente quando vivência a gravidez de forma conflitual com estes agentes de
socialização (Becker, 1993).

Partindo dos discursos das adolescentes e da sua visão sobre a família, amigos, parceiros e
escola ao incluirmos no nosso estudo um breve perfil sobre estes agentes de socialização,
pretendemos compreender o modo como se desenrolam as interacções da adolescente com a
família, escola, amigos, parceiros em relação aos valores e representações sobre a educação
sexual e vida sexual que lhe são transmitidos no seu quotidiano.

O olhar sobre a família, escola, amigos e parceiros das adolescentes entrevistadas não é
gerada por uma análise feita a partir do seu interior, mas é visualizada através dos discursos
das adolescentes, que ao relatarem os seus percursos de vida e as modalidades em que se
constroem a gravidez levam em conta a sua reacção dos seus familiares.

47
Dados da pesquisa mostram que os discursos das adolescentes sobre a sua educação sexual e
gravidez neste trabalho foram apresentados em diferentes categorias tais como: a categoria
dos pais, mães, amigos, colegas e professores da escola.

3.1.1.b). A educação sexual das adolescentes na família

A análise da educação sexual na família levou em conta a categoria dos pais (pai e mãe). Na
categoria do pai, os dados mostram que a percepção que as adolescentes têm sobre o papel
dos pais no cerne a educação sexual, associa-se a ideia de um pai provedor de silêncio e
restrições quando o assunto é abortar o corpo e comportamento sexual das filhas. Assim, o
pai é visto pelas adolescentes como provedor de conflitos, identificando a sua figura, como
controlador de comportamentos.

Os resultados das entrevistadas revelam uma imagem de pai que é inerente nas sociedades
patrilineares, em que com seu papel cabe lhe o direito sobre a tutela dos filhos,
principalmente no que diz respeito a educação formal escolar. Refira-se que para as
adolescentes entrevistadas quando se fala da educação que seus pais dão no seio da família,
esta é interpretada como educação formal escolar, como os próprios discursos reflectem e não
um outro tipo de educação. As adolescentes apontam a existência de dificuldade para
conversar com seus pais sobre a educação sexual pois, referem que seus pais partem da ideia
segundo a qual, o comportamento sexual das raparigas deve ser ensinado pelas mães, ou seja,
pelas mulheres. Como podemos ver nas citações das adolescentes sobre a percepção dos pais
no que diz respeito a sua educação sexual:

-O pai tem alguma influência na minha educação [escolar], porque arranja dinheiro para estudar mas
quanto a minha educação sexual, ele está sempre ausente e não acompanha o meu crescimento,
qualquer mudança no meu corpo, ele não consegue notar de imediato a transformação porque não
conhece meu comportamento diferentemente da minha mãe. O pai quando conversa comigo aconselha
a estudar e diz para não ter brincadeiras com os rapazes [namorar] pois, ele diz que ainda sou criança,
isto quando educa-me. E para falar sobre sexualidade, meu pai deixa toda a responsabilidade na minha
mãe (Entrevista nº 8, 15 anos, Ferroviário).

As adolescentes grávidas apontam também, para uma dificuldade na relação que estas
desenvolvem com a figura paterna e, principalmente, no tipo de conversa que estas têm com
os pais pois, no cerne a educação sexual, as adolescentes mostram que na família, o diálogo

48
entre pai e filha relacionados à sexualidade ainda é restrita e as vezes inexistente, ou seja,
permanece um fechamento em desenvolver temas relacionados com a educação sexual.

As entrevistadas mostram uma certa indiferença em conversar com seus pais sobre sua
sexualidade devido a existência de crenças e tabus em falar sobre educação sexual no
universo familiar. Esta ideia é salientada por Gomes e Dias (1999) quando defendem que as
adolescentes tendem a conversar menos com seus pais sobre sexualidade por vergonha ou
medo, e, este tipo de atitude alimenta os tabus no exercício sexual das mesmas no seu dia-a-
dia.

Diante do fechamento sobre educação sexual com seus pais, as adolescentes não abordam
sobre educação sexual: falar “abertamente” da sua vida íntima, pois a figura de pai é vista
como aquela que controla comportamentos femininos.

Costa (1998) refere que, o facto de as adolescentes não abordarem sobre sexualidade na
família é condicionado pela fronteira de gerações que faz com que, não haja liberdade para se
debater o tema sem restrições e silêncios. Como fundamentam Dias e Gomes (1999),
conversar sobre sexualidade com os filhos é muito mais que transmitir informação. Requer a
transposição de barreiras, como idades e valores interiorizados sobre educação sexual por
ambas gerações (pai e filhas), em favor de uma proximidade que facilite a percepção do
momento existencial dos filhos, mediada por mensagens que não sejam nem restritas e nem
permissivas ao exercício sexual.

Na categoria da mãe, os resultados das entrevistadas revelam que esta figura tem mais
influência na sua educação sexual, pela sua presença permanente no lar e por conversar mais
com as filhas no dia-a-dia, ou ainda porque trata-se de famílias monoparentais onde a mulher
é responsável pelo bem-estar da família.

Os dados mostram através dos discursos das adolescentes11 que, a figura da mãe é sempre
constante, presente, amiga e também provedora de um ambiente estável no seio de algumas
famílias, desempenha em muitos casos um papel importante na trajectória de vida de meninas
grávidas entrevistadas no cerne ao seu comportamento sexual.

11
Os dados destes depoimentos abrangem tanto adolescentes que vive apenas com suas mães e aquelas que
vivem com ambos pais, mas que tem um parecer sobre os sentimentos das suas mães.

49
- A mãe influencia mais na minha educação principalmente no diz respeito a educação sexual, como
minha conselheira, ela dizia que ao namorar tinha que conhecer muito bem o parceiro e ter relação
sexual com ele quando estivesse preparada. A mãe controlava o meu período menstrual em cada mês
para ter a certeza de que não atraso, ela sempre ensinou-me a lidar com os rapazes e com a vida sexual
porque dizia sempre para proteger-me quando iniciasse a vida sexual, usando camisinha para não
engravidar, porém, não consegui seguir todos os ensinamentos dela pois, acabei engravidando. Mas eu
não sentia medo de conversar com minha mãe porque ela é aberta em muitos assuntos, principalmente
quanto trata-se da educação sexual (Entrevista nº 3, 17 anos, Maxaquene).

Das 10 adolescentes entrevistadas, 4 reconhecem que a interacção com suas mães também
não tem se desenvolvido de forma aberta pois, em vários momentos da comunicação entre
estas persistem silêncios e tabus no que diz respeito a educação sexual. Estas adolescentes
declararam que, algumas mães não sentem-se vontade quando abordam sobre a sexualidade
com as filhas porque referem que, as suas mães tratam-nas como crianças. Porém, as
adolescentes entrevistadas reconhecem que, o fechamento ao abordar sobre sexualidade com
as suas mães não é o mesmo que se verifica ao conversar com seus pais pois, as entrevistadas
referem que as mães esforçam-se em abrir espaço para dialogar sobre este tema.

Este dado é consubstanciado por Gomes (1997) ao referir que, as mães quando conseguem
abordar o tema, não encontram meios para depreender-se das suas histórias pessoas, às vezes
conflituadas, e limitam-se a oferecer ou impor conselhos superficiais.

Mesmo quando há maior abertura nas relações mãe e filha, há ainda existência de alguns
limites nos temas que ambas discutem, quer impostas pela mãe, quer condicionados pela filha
devido a idade da menina uma vez que, 6 entrevistadas mostram que, há mães que não
dialogam com as filhas sobre sexualidade, por considerá-las muito novas, como podemos ver
nos trechos abaixo:

-As mães só sabem criticar, não se abrem para discutir com os filhos sobre a vida no namoro e até
mesmo sobre a nossa sexualidade porque não conseguem sentar-se com a filha e conversar. A minha
mãe quando pergunto uma coisa sobre a vida no namoro, ela me critica e pergunta se comecei a
namorar para querer entender esse tipo de assunto e acabava não conversando comigo porque para ela
ainda era muito criança (Entrevista nº 7, 16 anos, Hulene).

Para algumas adolescentes que vivem com suas mães, discutir sexualidade com suas mães é
ainda constrangedor pois, conversar sobre este tema na família, é considerado pelas suas
mães como a “falta de respeito” e assim, as meninas sentem medo e constrangimento para
desenvolver este tema.

50
-Para falar sobre o meu comportamento sexual com minha mãe sinto vergonha para expressar-me e
explicar as dúvidas que tenho tido as vezes na minha vida íntima e também porque minha mãe nem
sabe que namoro e se colocasse alguma dúvida relacionada com a sexualidade, ela diria que não tenho
respeito pois, minha mãe não quer saber deste tipo de conversa em casa [é um assunto proibido]
(Entrevista nº 2, 17 anos, Maxaquene).

3.1.1.c) Educação sexual das adolescentes entre grupos de amigos

Sobre educação sexual, das 10 adolescentes entrevistadas, 8 adolescentes referiram ter


aprendido no grupo de amigos, o conhecimento que elas têm sobre sexualidade e as outras
duas aprenderam no seio da família com irmãs e primas. Os discursos das adolescentes
apontam para uma enorme liberdade que se insere no grupo de amigos ao abordar sobre
sexualidade e seu comportamento sexual. É por este motivo que as adolescentes referiram nos
seus depoimentos que, no grupo de amigos, a forma como estão estruturadas as relações
sociais entre os pares, não obedece nenhuma regra rígida e hierárquica às quais as
adolescentes se adaptam ao longo do processo de socialização sobre educação sexual, como
acontece no seio da família.

Essa maneira de agir, pensar e ser da adolescente no grupo de amigos, encontra-se patente
nas observações feitas por Becker (1993) quando refere que, a socialização da adolescente no
campo da sexualidade se dá entre os pares, quando as conversas sobre o tema tem lugar
privilegiados, seja porque conversar com os amigos é agradável ou mais fácil pois, o diálogo
entre pais sobre este tema é dificultado por fronteiras de gerações.

Segundo Costa (1998) a origem para este facto social reside em parte, na indiferença da
sociedade quando esta procura ignorar a sexualidade da adolescente, e como essas
adolescentes têm a sua sexualidade negada, influenciadas e reprimidas, na maioria das vezes
com uma educação sexual inadequada, suas acções na vida social as vezes têm repercussões
negativas, como a gravidez indesejada e o aumento de doenças sexualmente transmissíveis e
até mesmo o aborto.

Com base nos resultados das adolescentes constatamos que, o grupo de amigos têm um papel
fundamental na sua socialização inerente a sexualidade das adolescentes pois, é neste espaço
onde as mesmas tiram as suas dúvidas e ultrapassam barreiras relacionadas com a educação
sexual dada no seio da família, como podemos ver nas afirmações que se seguem:

51
- Para falar de sexualidade, eu sinto-me mais a vontade com as minhas amigas porque com elas
pergunto qualquer coisa que não sei sobre as transformações do nosso corpo. Com minhas amigas
aprendi como é que devia namorar, isto é, como beijar meu namorado, ensinaram-me também a utilizar
preservativo com meu namorado. E quando fiquei grávida, elas ensinaram-me a cuidar da minha
barriga como deve ser. Enquanto com meus pais tenho muito medo e vergonha para tirar dúvidas sobre
a sexualidade da mulher (Entrevista nº 6, 17 anos, Mavalane).

Os dados das entrevistadas revelam a existência de influências sobre comportamento sexual


da adolescente nas relações sociais que esta desenvolve com suas amigas. Os resultados
mostram que o conhecimento sobre sexualidade é socialmente construído entre pares, no
mundo da vida quotidiano.

3.1.1.d) Educação sexual das adolescentes na escola

Na educação sexual vivenciada na escola, 6 adolescentes referiram ter tido conhecimento


sobre sexualidade com as colegas e professores de biologia, ou seja, nas aulas de biologia. As
representações das adolescentes grávidas sobre a educação sexual vivenciada na escola, não
têm muita diferença com o tipo de conhecimento que estas têm com os seus amigos fora da
escola pois, na escola conversam também com suas colegas e, algumas vezes com
professores.

Nesta ordem de ideias, as entrevistadas revelam que a escola também é um espaço de


socialização sobre sua sexualidade pois, referem que as adolescentes encontram neste meio
liberdade para abordar com colegas sobre sua sexualidade diferentemente do que acontece no
seio da família.

- Na escola falamos mais, encontramos colegas que têm mais experiência para falar sobre sexualidade e
de doenças sexualmente transmissíveis, em casa não podemos falar desses temas porque o ambiente
não adequado e porque falar com o pai sobre isto é uma vergonha. Com as colegas aprendi a falar de
menstruação pela primeira vez mesmo sobre SIDA, foi aqui na escola que ouvi falar (Entrevista nº 5,
16 anos, Maxaquene).

Quatro das adolescentes afirmaram ter tido educação sexual apenas com professoras de
biologia. Os resultados destas adolescentes mostram que nem todas os professores têm receio
de educar as alunas sobre a sexualidade durante o processo de interacção que desenvolviam
na sala de aula pois, as adolescentes percebiam que a relação que mantinham com os
professores fazia com que estas tirassem suas dúvidas no que cerne a sua vida sexual e

52
reprodutivo. Na escola aprendiam algo sobre as transformações que se verificam no corpo
feminino, a utilizar os métodos anticonceptivos e a controlar o período menstrual como forma
de evitar a gravidez.

- Na minha opinião, através dos conteúdos dados na aula de biologia no recinto escola, posso dizer que
aprendi alguma coisa. Por exemplo, quando minha professora falava sobre o desenvolvimento do corpo
da mulher e algumas transformações pelo qual o corpo passa. Com as transformações do corpo
feminino, a professora dizia que é quando a mulher passa de uma fase para outra, principalmente,
quando o seu período menstrual inicia, significa que a menina deixa de ser criança. Na escola aprendo
muitas coisas, falam de sexualidade, enquanto em casa não. Ensinam-nos a fazer trabalhos domésticos,
cozinhar e não sair de noite. Mas em alguns momentos os conteúdos não eram aprofundados porque a
professora dizia não ter muito conhecimento sobre os temas abordados (nº 10, 15 anos, Mavalane).

Estes resultados mostram que a escola em algum momento, fornece às adolescentes


elementos que vão desde a construção da sexualidade feminina embora, os mesmos
resultados refiram que esta atitude nem sempre é desenvolvida pelos professores e, sim entre
os alunos. A casa continua sendo o lugar de controlo de comportamentos, de realização e de
destino, sendo que a escola aparece como complementar e subsidiária, transmitindo o
conhecimento que, incorporado nas relações sociais de professora e alunas, reforça a ideia de
uma pauta normativa que interioriza a construção da sexualidade feminina entre mulheres e
não o oposto (devido a questões relacionadas com o género). Isto porque as adolescentes
mostram que, no seio escolar os discursos sobre educação sexual quando ministrados são
desenvolvidos pelas professoras e não professores.

Os dados mostram ainda que, a reprodução de mecanismos de socialização que se inserem na


família, de que ao pai cabe-lhe o direito de cuidar dos rapazes e a mãe as raparigas, na escola
este mecanismo também, é adoptado quando trata-se de temas que dizem respeito ao universo
feminino uma vez que, a hierarquia de género é neste espaço valorizado.

Para Osório e Silva (2008), a diferenciação sexual transmitida no processo de ensino e


aprendizagem é compreendida pela natureza do poder que caracteriza as relações professor e
aluno, pela distorção da questão da inclusão das raparigas (manutenção de uma perspectiva
excludente das raparigas no campo do saber formal) e, principalmente, pela ideologia
patriarcal inerente na zona sul do país.

53
3.1.1.e) Sobre a vida sexual das adolescentes

O processo de gravidez na adolescência começa geralmente com o início das relações


sexuais, que se não forem protegidos podem levar a adolescente a passar pela experiência da
gravidez (Mitano, 2011).

A socialização sexual decorre num período de transição em que a adolescente procura o seu
lugar no mundo adulto e se vai autonomizando da família, ao mesmo tempo busca entre os
seus pares valores e comportamentos novos, que por sua vez ajudam a modelar a construção
da sua sexualidade. A família e o grupo de amigos são, pois, dois agentes de socialização
fundamentais para a formação de identidades sexuais uma vez que, estes agentes em
diferentes contextos são responsáveis pela forma como os jovens adolescentes experimentam
e exprimem a sua sexualidade no dia-a-dia (Osório e Silva, 2008).

A escola, por sua vez, joga igualmente um papel de destaque como agente de socialização,
particularmente quando abre espaços de sociabilidade alternativos aos oferecidos pela
família, alargando assim, os leques de escolhas e opções vinda das adolescentes na procura e
afirmação do “eu” no mundo social (idem).

No que concerne as experiências e conhecimento sobre a vida sexual da adolescente importa


referir que, algumas adolescentes entrevistadas, no âmbito deste estudo, mostraram ter algum
conhecimento sobre a sua sexualidade. As ideias mais importantes que surgiram no decorrer
das respostas dadas pelos sujeitos entrevistados e a atenção durante a observação,
transformaram-se em uma soma de argumentações para o nosso estudo. Cumpre-nos enfatizar
que os depoimentos dados durante as entrevistas, muitas vezes, desviaram-se da realidade, a
qual nos foi apresentada. Ao abordamos a questão: O que é relação sexual e quando se inicia?

Os dados mostram que todas entrevistadas revelaram ter informação sobre este aspecto uma
vez que, declararam que é uma prática desenvolvida por duas ou mais pessoas e que envolve
um tipo de atracção corporal12. E quanto ao início da vida sexual, todas as adolescentes deste
estudo são também unânimes na ideia segundo a qual, a vida sexual dos jovens adolescentes
nos dias de hoje, tem iniciado muito cedo, isto é, na idade ainda precoce13.

12
Como beijo, carícias.
13
A idade precoce é a partir dos 12 anos até aos 17 anos.

54
- Para mim, relação sexual, sei lá não sei muito bem, mas acho que é quando há atracção de sangue
entre duas pessoas que namoram juntos e essa atracção acontece quando essas pessoas se tocam e se
beijam. Ou é quando essas duas pessoas se amam e se respeitam A vida sexual hoje inicia aos 14 anos
(Entrevista nº 7, 16 anos, Hulene).

Existem vários motivos que guiam estas adolescentes ao início precoce da sua sexualidade,
remetendo para aquilo a que Schutz (1979) chama de motivos (para e porque) que seriam
evidências que explicam um acontecimento. A primeira motivação que, se alega para o início
da relação sexual na fase da adolescência está ligada à influência dos amigos, no
comportamento da adolescente. A segunda motivação é a curiosidade, que faz com a
adolescente desenvolva esta acção, porém, mesmo existindo a curiosidade no pensamento
destas adolescentes, a influência das amigas não desaparece, como sublinha Osório e Silva
(2008). Os dados mostram que os amigos influenciam de forma determinante na maneira de
ser, estar e pensar da adolescente uma vez que, existe um comportamento específico de cada
grupo, que é adoptado por todos os membros do grupo por julgarem ser um comportamento
ideal para eles.

Muitas das vezes o sentimento de estar a crescer e o facto de estar rodeado de pessoas que já
iniciaram a sua vida sexual faz com que as adolescentes envolvidas com estas pessoas entrem
num estado de agitação e emoção (que é a terceira motivação) que impulsiona ao início da
actividade sexual. Como podemos ver nesta citação:

- Em muitas ocasiões ouvia minhas amigas a falar da sua primeira vez… meninas da minha idade…
mas em tudo por emoção ou de querer ser vista como pessoas crescidas… por pensar que já tem idade
suficiente e porque as amigas que nos rodeiam já experimentaram então eu também pensei em iniciar a
vida sexual (Entrevista nº 8, 15 anos Ferroviário).

Pais (1993:161), defende que o comportamento dos jovens-adolescentes sobre uma


determinada prática, é influenciada pelos amigos na medida em que estes, influenciam
também na identidade construída pelos indivíduos na vida quotidiana. As atitudes e
comportamentos dos amigos e dos grupos constituem uma das referências para os
adolescentes que estão ligados. Este estudo também mostra que, as adolescentes inspiram-se
nas práticas quotidianas realizadas pelo seu grupo de amigos como forma de marcar uma
certa virilidade que esta relacionada à feminilidade, à contínua afirmação das adolescentes
como “mulheres maduras”, em contraposição do comportamento socialmente esperado desta
adolescente no seio da família, o comportamento de boa menina, que pelas normas e valores
das adolescentes, simbolizam pureza, e brandura.

55
No que se refere as pessoas com quem as adolescentes deste estudo tiveram conhecimento
sobre sexualidade e a idade que julgam ideal para se iniciar uma vida sexual, constatamos
que, das 10 (dez) adolescentes 9 (nove) responderam que aprenderam com amigas, parceiro e
apenas 1 delas conversava com sua mãe sobre o assunto.

- Eu conversava sobre sexo com minhas amigas em casa e colegas da escola. As vezes com meu
parceiro porque ele falava sem vergonha nenhuma. Eu e minhas amigas também obtivemos
informações sobre sexualidade através da internet e revistas femininas uma vez que, nas nossas casas é
difícil falar sobre este tipo de assunto. A idade ideal para iniciar a vida sexual é 18 anos com certeza
(Entrevista nº 3, 17 anos, Maxaquene).

Para além de terem aprendido com amigas sobre a sexualidade, 4 (quatro) adolescentes
referiram ter tido informações sobre sexualidade através de revistas direccionadas ao público
adolescente, para se manter actualizada sobre o assunto e internet.

- Eu pessoalmente procurei me informar também através de revistas e programas televisivos.


Eu procurava informar de qualquer jeito sobre a sexualidade já que em casa ninguém tira as
minhas dúvidas quando pergunto, até porque muitas vezes já não pergunto porque minha mãe
não vai saber explicar-me. É por isso que digo que aprendi com minhas amigas porque com
elas falo tudo sem nenhuma vergonha (Entrevista nº 9, 16 anos, Mavalane).

Este dado mostra que, o assunto inerente a sexualidade ocorre em diversas áreas de
conhecimento, umas vez que as transformações tecnológicas têm produzido novos saberes e
informações que são melhor dominados pelos mais jovens, fazendo com que, de certa forma,
as adolescentes tenham algo a ensinar aos mais velhos, neste caso, os próprios pais e irmãos.
Estes resultados são corroborados por Dias e Gomes (1999) ao mostrar que, as adolescentes
buscam informações na mídia, a TV, através de programas que abordam sobre o corpo
feminino e revistas.

Contudo, a sexualidade como uma construção social tem lugar privilegiado no grupo de
amigos pois, estes têm uma influência preponderante na socialização das adolescentes no
quotidiano porque é onde as interacções sobre sexualidade são discutidas sem muitas
restrições e silêncios.

Os meios de comunicação como, por exemplo, a TV, o rádio e revistas, aparecem como uma
fonte de provocação para a conversa da família sobre sexo (Brandão e Helborn, 2006). Os
dados do estudo também mostram que a mídia tem interferência na educação sexual dos

56
jovens adolescentes. Se por um lado evidencia-se que os programas e novelas motivam a
conversa sobre sexo de forma mais descontraída entre pais e filhos; por outro, são observadas
fortes reacções de preconceitos por parte dos pais até mesmo dos filhos.
Em relação a idade que as adolescentes entrevistadas consideram ideal para o início de uma
vida sexual, todas as adolescentes responderam que 18 anos é uma idade ideal para jovem
adolescente começar a exercer a sua sexualidade. Todas adolescentes reconhecem que sua
experiência foi diferente uma vez que, elas iniciaram a sua vida sexual cedo e sem muita
informação sobre o assunto porque seus pais não abordavam muito sobre o mesmo e as
amigas tinham também suas limitações sobre este assunto. Como podemos mostrar nos
trechos a abaixo: - Os18 anos sem dúvida é uma boa idade para início da vida sexual porque nossos pais dão-
nos liberdade para fazer algumas coisas na nossa vida a partir dos dessa fase (Entrevista nº 2, 17 anos,
Maxaquene).

No que tange a idade que as nossas entrevistadas iniciaram a sua vida sexual foi possível
constatar que das 10 adolescentes: Cinco (5) adolescentes grávidas iniciaram a sua vida
sexual aos 15 anos; quatro (4) adolescentes entrevistadas iniciaram a vida sexual aos 14 anos
e uma (1) delas afirmou ter iniciado aos 13 anos de idade.
As respostas das adolescentes grávidas sobre os motivos que lhes levaram a iniciar a sua vida
sexual antes de 18 anos mostram que, 4 das adolescentes deste estudo afirmaram que tiveram
que iniciar a sua vida sexual por influência do parceiro, isto é, por via da coação ou violência
vindas do parceiro. E outras 6 iniciaram porque queriam experimentar ou por curiosidade.

-“ Eu iniciei a minha vida sexual aos 15 anos porque meu parceiro pressionava-me muito e dizia que se
eu não ceder procuraria outra namorada, com a qual pudesse namorar a vontade, é por isso que eu
acabei aceitando porque não queria lhe perder” (Nº 4, 16 anos, Mavalane).

Ao serem questionadas sobre o mesmo assunto 6 adolescentes declararam que, iniciaram a


vida sexual porque queriam experimentar (curiosidade) e saber como era na prática
desenvolver uma relação sexual e também por influências das amigas que já tinham
experiência sobre a vida sexual. Estas adolescentes grávidas reconheciam que 12 ou 13 anos
não é uma idade ideal pelo facto de serem ainda muito novas e por serem tratadas pelos seus
familiares como pessoas que ainda precisam crescer para poder exercer algumas actividades
consideradas para adultos. E declaram também que a idade não foi ideal porque não tinham
nada planejado e que o conhecimento sobre sexualidade era insuficiente. Contudo, afirmaram

57
que foi tudo muito rápido por conta da pressão vinda do grupo de amigos e do próprio
parceiro para entrar na vida sexual.

- Eu comecei a ter relações sexuais por curiosidade e queria saber o que outras pessoas sentem neste
caso, minhas amigas, porque elas já tinham iniciado. Eu iniciei aos 14 anos (Entrevista nº 5, 16 anos,
Mavalane).

No que diz respeito ao conhecimento e uso dos métodos anticonceptivos, das 10 adolescentes
entrevistadas, 4 adolescentes mostraram ter algum conhecimento dos métodos
anticonceptivos. As adolescentes grávidas afirmaram que os métodos anticonceptivos que
mais conhecem são: preservativo masculino, pílulas, injecções e aparelho, 6 adolescentes que
apresentavam um conhecimento pouco consistente sobre estes métodos, disseram que não
tinham muita informação sobre os mesmos pois, no seu dia-a-dia abordavam sobre o
preservativo masculino, por ser o método mais usado e conhecido no seio do grupo de
adolescentes:

- O método anticonceptivo que conheço é: o preservativo ou, sei lá…, mas acho que existe também
aparelho e pílulas que ajudam a mulher a preservar-se de uma gravidez indesejada. Digo isso porque na
minha vida sexual já usei o preservativo masculino apenas e outros métodos só conheci através da
conversa com minhas amigas. Mas nem sempre eu e meu parceiro usávamos na nossa relação sexual
(Entrevista nº 10, 15 anos, Maxaquene).

A falta de informação associada a determinadas crenças, a percepção das consequências do


uso de pílulas ou outros anticonceptivos e a forma como adolescente é vista socialmente
quando pretende enquadrar-se no sistema do planeamento familiar é construída de forma
errónea, como mostra esta entrevistada:

- Eu que sou menina, digo que há muito controlo daquilo que é o nosso comportamento sexual pois,
quando alguém da família descobre que andamos com preservativos na carteira, começa a chamar-nos
de nomes como (puta, mal comportada), isto é, somos mal vistas. É por isso que em muitos casos
preferimos esconder para evitar isso e não contar a família que já iniciamos a vida sexual…assim,
como é possível prevenir a gravidez? (Entrevista nº 8, 15 anos, Ferroviário).

Os resultados das entrevistadas mostram que a forma como se constrói a socialização sexual
feminina é guiada por um controlo bastante rígido e regulado pelas normas sociais e pela
vigilância parental uma vez que, a rapariga sente-se ainda controlada, quando por iniciativa

58
própria procura adoptar algumas formas de protecção de uma gravidez indesejada ou doenças
sexualmente transmissíveis. É que, ao procurar exercer o planeamento familiar no seu
quotidiano, é surpreendida por vários obstáculos e repressões vinda da família. O que faz com
que esta exerça a sua sexualidade de forma desprotegida e sem nenhum acompanhamento por
algum membro da família por medo de sofrer sanções.

Silva (2003), mostra que o uso inadequado e a falta de informação sobre os métodos
anticonceptivos constituem uma das causas da ocorrência da gravidez na adolescência. Uma
vez que esta adolescente vive uma vida sexual não autorizada, as dificuldades em se obter
informação cercam a adolescente, dificuldades estas que vão desde quais seriam os meios
para evitar a gravidez até como conseguir acesso a eles. A falta de informação sobre seu ciclo
reprodutivo faz com a adolescente não se preocupe em usar nenhum tipo de método de
protecção da gravidez e doenças sexualmente transmissíveis pois, ela conclui que tem pouca
possibilidade de engravidar.

Importa salientar que, o acesso ao conhecimento sobre os métodos contraceptivos é em geral


recebida por adolescentes fora do espaço familiar pois, os dados mostram que as adolescentes
entrevistadas obtiveram o conhecimento sobre os métodos com amigos, alguns professores na
escola, com o parceiro, porque na família não podia sequer falar deste tipo de assunto e na
escola nem todos professores incentivavam abordar este assunto e quando estes professores
falavam, os conteúdos não eram aprofundados.

- Sobre o conhecimento e uso dos métodos conceptivos aprendi com minhas amigas e com alguns
professores na escola porque, no meu grupo de amigas, esta questão é sempre referenciada como forma
de buscar conhecimento (Entrevista nº 2, 17 anos, Mavalane).

Em relação a questão que abordava sobre a perda da virgindade, constatamos que 8


entrevistadas já tinham iniciado a sua vida sexual antes de ficarem grávidas e constatamos
também que, nas suas relações de namoro, tiveram mais de um parceiro. Apenas 2
adolescentes afirmaram terem ficado grávidas com o parceiro com quem elas perderam a sua
virgindade. Esta questão nos permite conhecer o número de parceiros que as adolescentes
deste estudo tiveram na sua relação sexual até estarem grávidas, como mostra os dados do
estudo.

Das 10 entrevistadas, 2 adolescentes tiveram apenas um parceiro, inclusive o parceiro com


quem elas tiveram a sua relação sexual até ficarem grávidas; 5 adolescentes tiveram dois

59
parceiros antes de engravidarem; 3 adolescentes grávidas referiram ter tido mais de dois
parceiros. Uma das adolescentes declarou ter tido três parceiros e a outra adolescente
respondeu que envolveu-se com quatro parceiros até a sua gravidez.

- Antes de engravidar, já tinha namorado com 3 rapazes, com estes rapazes deixei de ser virgem, bom!
Hoje em dia, é muito difícil encontrar meninas que não sabem o que é transar por influência dos
amigos e também pelo conhecimento que nós meninas colhemos em diferentes grupos sobre sexo
(Entrevista nº 1, 17 anos, Mavalane).

Os resultados mostram que, a entrada precoce das adolescentes na vida sexual é aqui vista
como algo que aos poucos está sendo normalizado no universo destas adolescentes pois,
existe um certo valor padronizado por este grupo de adolescentes ao referir que tiveram mais
de um parceiro. Para estas adolescentes ter mais de um parceiro é algo normal no grupo
porque é um acto que é encarado como busca da feminilidade na vida social e “saber curtir”.

Aquilo que é entendido como adolescência na esfera social transcende-se, de alguma forma,
nas acções desenvolvidas por estas autoras sociais no seu quotidiano uma vez que,
desenvolvem acções e relações que mesmo uma pessoa que se considera adulta, não tem tido
capacidades e coragem de referenciar este tipo de atitude como algo normal na sua vida.

No mundo das adolescentes, existe um prévio conhecimento acerca da vida sexual e seus
males, que fazem parte do estoque do conhecimento adquirido no processo de socialização
em diferentes redes de sociabilidade. Isto significa que as adolescentes apreenderam do seu
quotidiano (mundo da vida) como salienta Schutz (1979), e ao longo das experiências que
tiveram, determinados usos, significados, valores e conhecimentos que as permite emitir uma
ideia em relação a sua vida no namoro.

Ter um ou mais de um parceiro constitui para adolescente grávida uma acção intencional, no
sentido de que corresponde a uma atitude consciente e voluntária empreendida pelo sujeito
dotado de intencionalidade, ou seja, uma acção marcada na consciência que adolescente tem
das consequências que daí advém, como a gravidez, mas esta atitude da adolescente muitas
vezes visa alcançar um objectivo social, de ter um parceiro que julga ideal, razão pela qual a
adolescente procura relacionar-se com vários rapazes como forma de encontrar o seu par
ideal.

60
- Eu namorei com muitos rapazes porque procurava achar o amor e também um parceiro ideal com
quem pudesse partilhar a minha felicidade. A pessoa que engravidou-me é a pessoa com quem vou
partilhar a minha alegria porque é a pessoas que eu procurava em todos os namorados que tive
(Entrevista nº 3, 17 anos, Maxaquene).

3.1.2) Consequências e vivências da gravidez na adolescência

As consequências enfrentadas pelas adolescentes grávidas são de vária ordem. Questões


ligada a factores de ordem médica (a saúde da adolescente), as de ordem psicológicas e as de
ordem social tais como, o abandono escolar, a falta de preparo para levar ao termo a gravidez,
a rejeição vinda dos pais, amigos e parceiro por estarem grávida.

Segundo Neto (2007), a gravidez na adolescência, nos países em desenvolvimento, é


considerada um risco social e representa uma questão grave de saúde pública devido aos
problemas que levanta, como por exemplo, o abandono escolar e os riscos para a saúde. Estes
riscos são provocados pela não realização de consultas pré-natais de qualidade, por conflitos
familiares que vão desde a não-aceitação da gravidez pela família, pelo incentivo ao aborto
pelo parceiro e pela família, a descriminação social e o afastamento da adolescente do seio do
seu próprio grupo (Da silva, 2010). Os dados revelam também esta ideia quando constatam
que a gravidez precoce implica interrupções dos estudos, incentivo de conflitos familiares e,
um risco para saúde da adolescente.

Das 10 adolescentes entrevistadas, 7 adolescentes referiram ter deixado de estudar devido a


vergonha que sentiam, as condições económicas que não possuíam para manter seus estudos
com a nova situação e a problemas de saúde que também enfrentam. E 3 adolescentes
referiram que com a gravidez tiveram que ir ao lar e consequentemente, abandonaram os
estudos e deixaram de se relacionar com as amigas do bairro para se dedicarem a nova vida.
César et al (2000) refere que, com a gravidez as adolescentes encontram maiores dificuldades
em conciliar os estudos com os cuidados que devem prestar ao bebé, o que resulta em sua
interrupção e acabam por retardar o seu ingresso no mercado de trabalho.

-Quando fiquei grávida passei por situações chatas porque meu parceiro não queria assumir a minha
gravidez, vivi momentos difíceis pois não tinha nada planejado para esta nova realidade e porque meus
pais obrigaram-me a ir viver com meu parceiro e assim, deixei de estudar e brincar com as amigas do
bairro e esta situação deixou-me triste e percebi que já não vivia no mundo de rosas· (Entrevista nº 7, 16
anos, Hulene).

61
Relativamente as consequências ligadas a saúde, algumas adolescentes entrevistadas disseram
que com a gravidez passaram a vivenciar problemas de hipertensão, anemia, vertizes,
problemas respiratórios, infecção urinária e dores de estômago. Como mostra esta
entrevistada:

- Com esta gravidez passo muito mal, tenho problemas de anemia e as vezes sinto dores nas pernas e
nem consigo movimentar-me e fazer caminhadas longas. Por vezes fico com falta de apetite e por este
motivo já estive de baixa aqui no Hospital de Mavalane. Quando fiquei de baixa no hospital, a
enfermeira disse-me que sofro duma crise hipertensiva devido a algumas mudanças que o meu corpo
enfrenta e também de infecção urinária (Entrevista nº 1, 17 anos, Mavalane).

Estes resultados mostram que, a adolescente grávida enfrenta graves problemas de saúde
como as de respiração e de baixo peso devido as transformações corporais que se verificam,
pois quando a barriga da adolescente cresce mais risco de parto prematuro ameaçam-na. Num
estudo relacionado com a mesma problemática, Osório (2007) defende que, a gravidez
precoce em termos de saúde pode levar a infecções, partos demorados com necessidade de
cesariana.

Quando interrogamos as adolescentes desta pesquisa no que tange ao conhecimento que elas
têm sobre os riscos causados por uma gravidez precoce, todas responderam que não tinham
nenhum conhecimento relacionados com os riscos causados por uma gravidez.
Dados revelam que as entrevistadas reconheciam que os problemas de saúde que sofrem
estão relacionados com o facto de ter ficado grávida precocemente. Para Da Silva (2003), a
gestação nessa fase da vida pode trazer repercussões de ordem variável, com complicações
para a mãe e filho; pode ocorrer hipertensão específica da gravidez, anemia, sofrimento fetal
crónico, desproporção entre o tamanho do feto e a bacia materna, parto prematuro e
cesariana.

Davidoff (2001) mostrou que, existem evidências de que a gestação nesse período interrompe
o crescimento pessoal e profissional da jovem e de seu parceiro; a adolescente grávida
abandona os estudos e após o parto é difícil retornar. O rapaz pode ter que trabalhar para
ajudar a criar o filho, e isso resulta em dificuldade nos estudos. A dependência familiar da
adolescente gestante intensifica-se.

- Eu não conhecia nenhum risco de saúde causado por uma gravidez mas com a minha gravidez percebi
que, a mulher quando engravida corre o risco de ter muitas doenças como a infecção urinária,

62
problemas respiratórios até enfrentar dificuldades para caminhar (Entrevista nº 2, 17 anos,
Maxaquene).

Estes dados mostram também que a gravidez precoce pode desenvolver consequências na
vida da adolescente como, o medo, um sentimento que vem em primeiro lugar como impacto,
quando adolescente toma conhecimento de que está grávida. O medo que as adolescentes
sentem é condicionado pelas incertezas, agitações e intranquilidades que a gravidez provoca.
O sentimento de responsabilidade, que só aparece quando as adolescentes se dão conta da
aparição da sua barriga na vida social. Como mostram Santo e Silva (2007), o sentimento de
responsabilidade no enfrentamento, tanto nos processos de transformação da adolescente
quanto cuidar da gestação, e, mais tarde, do bebé, o que não é tarefa fácil pois, representa
uma sobrecarga de esforços físicos e psicológicos tão grande, que para ser suportada
necessitaria apoiar-se num claro desejo de ser mãe.

Os resultados mostram que as adolescentes reconhecem que, a gravidez é a perda de


liberdade uma vez que, distanciam-se do seu grupo de amigas e perdem o seu estilo de vida
“natural” para vivenciar a maternidade, e, é também interpretada por estas entrevistadas como
um fenómeno que interrompe o seu desenvolvimento próprio da idade pois, faz com estas
assumam responsabilidades e papéis de adulta antes do momento desejado, visto que, em
pouco tempo vê-se obrigada a dedicar-se aos cuidados maternos ao em vez de pensar nas
acções desenvolvidas na adolescência.

- Gravidez dá trabalho, a pessoa tem que ser mais responsável. Estar grávida não é nenhuma
brincadeira, é crescer obrigada e por vezes, temos que deixar de fazer o que fazíamos antes de
engravidar. Aprender a ter cuidados com bebés para poder cuidar do seu filho melhor” (Entrevista nº
10, 15 anos, Maxaquene).

Com as consequências da gravidez constatamos que, para o grupo de adolescentes


entrevistadas, a gravidez serve como um despertar para o reconhecimento dos riscos e
mudanças que a adolescente passa na sua vida devido a gravidez, a partir da sua experiência
no quotidiano.

Dias e Gomes (1999) defendem que os significados sobre a gravidez mostram, se aquilo que
o indivíduo vivência é agradável ou doloroso. Enquanto César et al (2000), mostra que
tornar-se mãe durante a adolescência é uma experiência complicada, pois são muitas
exigências que aparecem na vida da adolescente. Alega também que esse quadro pode

63
agravar-se quando ocorrido em ambiente menos favorável, onde a adolescente possui
diferentes configurações como, uma adolescente que provém de uma classe baixa encontra
maiores dificuldades para levar ao termo a sua gravidez.

No entanto, os resultados deste estudo não corroboram com as afirmações mencionados por
César et al (2000) pois, 4 adolescentes referiram que não tinham um poder económico
elevado mas mesmo assim, descreveram a experiência da sua gravidez como agradável
porque a maternidade lhes condicionou a ter vontade de tornarem-se mães e não levanto em
conta, as consequências sociais que atravessavam como, rejeição e estigma devido a
gravidez. Os dados ressaltam esta ideia quando mostram que, apesar de existir reacções
negativas sobre a gravidez da adolescente no seio das famílias e das outras redes sociais nas
quais estas fazem parte, onde desenvolvem as suas acções, interacções e se relacionam, não
tiveram vontade de abortar mesmo não tendo condições económicas melhoradas para
sustentar o filho.

Quanto à experiência da gravidez que as adolescentes têm tido no seu quotidiano constatamos
que, sendo as adolescentes grávidas têm tido um grande aprendizado sobre a maternidade,
pois conversam com outras mulheres experientes na área da maternidade, e com um
conhecimento sobre os cuidados a ter com o bebé. Além disso, estas adolescentes referiram
que, deixaram de ter muitas brincadeiras tais como, não sair de noite e dormir tarde.

- A minha experiência enquanto mulher grávida aprendi a conviver com mulheres mais velhas que eu,
as que já tinham filhos e que podem ensinar-me algo sobre os cuidados a ter com meu filho e a ser uma
boa mãe. Aprendi também a ter outras brincadeiras e deixar de passear muito (Entrevista nº 5, 16 anos,
Maxaquene).

A realidade social das adolescentes grávidas entrevistadas, aponta para uma enorme
reformulação de estilo de vida visto que mudam basicamente o seu grupo de amigas, a sua
forma de ser e estar como sujeito na vida social devido a um novo papel que desempenham.
As amigas deixam de ser meninas da mesma idade e por vezes do bairro porque vivenciam a
sua maternidade no novo lar (na casa dos sogros). As brincadeiras que antes de estarem
grávidas tinham são totalmente reformuladas na maternidade e a sua forma de vestir também
muda com o tempo.

As entrevistadas que vivem com seus sogros e parceiro referiram que o seu modo de vida
também mudou bastante pois, agora desempenham papel de “nora e esposa”, dedicam-se

64
mais ao parceiro e aos trabalhos domésticos. Não saem de casa a qualquer hora porque não
tem tido tempo ou porque o parceiro proíbe de sair de noite. Mas em contrapartida, mostram
que a emoção de estar no novo bairro e casa é tanta uma vez que, tem uma nova família, e
através da mesma muda os hábitos14 de sua vida social. Declaram que têm mais tempo para
conversar e conhecer os sogros e as cunhadas como podemos ver nos trechos abaixo:

- Como mulher grávida, a experiência que tenho é que, estando agora a viver com meus sogros e meu
parceiro, aprendi a brincar e sair de forma limitada porque não tenho tido tempo para conversar com
amigas. Tenho tido muito trabalho de casa mas por um lado, confesso que sinto-me emocionada pois,
agora tenho muito tempo para conversar com meus sogros (Entrevista nº 6, 17 anos, Mavalane).

É de salientar que, ao longo da recolha de dados no campo, procuramos perceber a estratégia


usada pela adolescente para saber da existência da gravidez. Assim, foi interessante destacar
que, entre estas adolescentes existe uma unanimidade na maneira como elas ficaram a saber
da sua gravidez uma vez que, 8 adolescentes referiram ter tido conhecimento da sua gravidez
através do atraso do período menstrual e apenas 2 afirmaram que foi através de teste da
farmácia, após ter notado mudanças no desenvolvimento do seu corpo15.

No que concerne ao sentimento que as adolescentes têm em ser mãe, constatamos que, as
adolescentes afirmaram estar emocionadas e felizes com o facto de saber que em alguns
meses poderão segurar o seu filho nos braços e serem também chamadas de mãe. Referiram
também que, ser mãe será um grande desafio para elas, tendo em conta o seu quotidiano uma
vez que, este novo papel irá modificar ou alterar as suas acções e modo de ver a vida pois, o
bebé poderá influenciar de uma forma determinante o seu jeito de pensar. Como podemos ver
nos trechos seguintes:

-“ Eu sinto-me muito emocionada e alegre em saber que terei um filho e ele vai poder chamar-
me de mãe, a gravidez deixa-me muito feliz e tenho a certeza de que meu filho poderá
influenciar muito na minha forma de agir e pensar” (Nº 5, 16 anos, Maxaquene).

No entanto, relativamente a mesma questão, 4 das adolescentes entrevistadas manifestaram


um sentimento moderados, isto é, declararam que sentiam-se muito felizes em saber que
serão mães, mas ao mesmo tempo preocupadas pois diziam não saber como lidar com este

14
De sair a qualquer hora, vestir saias curtas e trabalhar as horas que quisessem.
15
Como por exemplo o crescimento dos seios

65
papel ou nova identidade. Como disse uma adolescente: - O sentimento que tenho em ser mãe é de
muita alegria mas as vezes fico preocupada porque não sei como vou reagir quando tiver meu filho nos braços
(Entrevista nº 3, 17 anos, Maxaquene).

3.2. Interpretação e discussão dos resultados

Neste capítulo procuramos discutir a implicação da hipótese levantada em relação aos


resultados obtidos no campo a luz da teoria de base de Alfred Schutz e com o auxílio da
revisão da literatura que aborda sobre a gravidez precoce. Em relação a hipótese formulada
referimos que, as percepções e significados que as adolescentes têm sobre sua gravidez são
influenciados pela família, escola parceiro e grupo de amigos através de um conjunto de
valores e normas que estes agentes de sociais interiorizam a adolescente durante o processo
de socialização. Com esta hipótese pretendíamos analisar a relação que estes agentes de
sociabilidade desenvolvem com a adolescente grávida no quotidiano como forma de medir o
impacto que dessa relação pode advir e na maneira como esta adolescente significa a sua
gravidez dentro do seu contexto específico, a partir das reacções que cada agente adopta no
dia-a-dia relativamente a gravidez precoce.

No que tange aos resultados da pesquisa, identificamos três elementos que envolvem a
família, amigos e a escola. O primeiro elemento tem a ver com as percepções e significados
que as adolescentes atribuem a sua gravidez tendo em conta a situação de cada um. Com este
elemento constatamos que as adolescentes grávidas por fazerem parte do contexto social
específico têm uma maneira própria de interpretar a gravidez e ver o mundo ao seu redor a
partir de um conjunto de valores interiorizados nesse mesmo mundo da vida.

Segundo Berger e Luckmann (2009), a base estrutural dada pelas formas culturais codificadas
e pelas instituições normativas, esta directamente ligada ao processo de socialização, que se
distingue entre uma socialização de primeiro grau ligada aos papéis sociais, e uma de
segundo grau no qual vem interiorizados significados e valores.

A socialização primária é a primeira que o indivíduo experimenta na infância e em virtude da


qual torna-se membro da sociedade, enquanto a socialização secundária é qualquer processo
subsequente que introduz um indivíduo já socializado em novos sectores do mundo objectivo
da sua sociedade.

66
De acordo com Berger e Luckmann (2009), é nestes processos de socialização na qual os
indivíduos são interiorizados normas e regras que acabam influenciando as suas atitudes e a
maneira de agir, sentir e pensar na vida quotidiana.

Com base nesta ideia dos actores supracitados percebemos que, o que somos enquanto
indivíduos na vida social é determinado pelos valores que nos são transmitidos no seio da
família, escola, parceiro grupo de amigos visto que são as instituições em que
permanentemente jogam um papel importante no comportamento que adoptamos.

Por esta razão que, as adolescentes sabem de antemão o que delas se espera enquanto filhas,
amigas, e alunas no seu quotidiano tendo em conta, o que aprenderam durante a sua
socialização. É através do processo de socialização que as adolescentes grávidas têm noção
daquilo que os outros esperam da sua conduta enquanto acção social mas também, a atitude
dos outros indivíduos com quem elas se relacionam na vida social joga um papel relevante na
medida em que, tanto as adolescentes grávidas assim como, esses indivíduos que
inerentemente estão inseridos na família, amigos e na escola influenciam-se de forma
determinante.

Assim, as adolescentes desta pesquisa mostraram que, através das suas experiências também
tinham noção de como o seu agir, atitude seria interpretado pelos indivíduos com que elas se
relacionam no quotidiano a partir dos valores, normas e regras que lhes foram transmitidos
sobre a gravidez precoce no seio do seu meio social.

Desta forma, os significados da gravidez precoce são percebidos por estas adolescentes
através dos valores que interiorizaram no seio meio social sobre o fenómeno. Encontramos
também diferenças em termos de significados da gravidez das adolescentes devido a diversas
situações e reacções vividas por cada uma.

Portanto, olhando para as situações vivenciadas por cada adolescente constatamos que,
existem adolescentes que percebem a gravidez precoce como uma acção desenvolvida por
indivíduos adultos e não por elas na medida em que, estes agentes16 e a sociedade em geral as
consideram indivíduos muito novos para adoptar este tipo de atitude. Por este motivo, a
gravidez precoce representa-se para estes agentes de sociabilidade como a quebra de valores
familiares e perda da juventude quando se realiza na adolescência.

16
Família, Escola, amigos e parceiros

67
Marquini (2008), defende que a atitude da adolescente grávida é, em muitos casos, reprovada
pelos pais e pela sociedade em geral pelo facto destes considerarem que as filhas se descuram
do aprendizado relacionado as questões sexuais que lhes são transmitidos durante o processo
socialização sobre educação sexual. É desta forma que, são culpabilizados por se
comportarem de uma maneira considerada como conduta desviante.

Assim sendo, a manipulação das adolescentes de estratégias de contra dominação, no sentido


de se construírem como sujeitos, seja por ruptura com as formas de controlo da sua
capacidade reprodutiva, seja por conformação com as disposições que fazem delas seres
subordinados e culpadas pelos seus actos em diversos contextos sociais, estão vinculados a
determinações de ordem moral imposto pelo normativo social, de que a adolescente tem de
ter como prioridade a educação formal e não educação sexual para que não inicie
precocemente a sua vida sexual e consequentemente engravidar.

É nesta perspectiva que Schutz (1979) defende que, a vida quotidiana apresenta-se como uma
realidade interpretada pelos indivíduos na medida em que, os mesmos têm consciência das
suas acções e das acções dos outros. E na sua acção o indivíduo é influenciado pela acção do
outro.

Neste sentido, as adolescentes ao engravidarem precocemente participam do seu mundo


social tendo em conta um conjunto de valores e normas sobre a sua acção e acção dos seus
familiares, amigos e parceiros. Como refere Schutz (1979), este aprendizado é retido pelo
indivíduo como um estoque de conhecimento visto que, a sua conduta em muitos casos, é
guiada por um conhecimento adquirido no processo de socialização.

Assim, a partir do estoque de conhecimento sobre a educação sexual, a adolescente tem


consciência das reacções que advém dos agentes sociais dos quais interage e possui uma
experiência directa no meio em que se encontra inserido. O estoque de conhecimento que
interioriza nesse meio social sobre a gravidez lhe permite interpretar as suas experiências
passadas e presentes no que dela se espera como uma “criança” e, deste modo, o mundo
social torna-se subjectivamente real para elas a partir do momento em que conseguem
determinar as reacções e percepções construídas pela família, amigos e parceiros sobre a
gravidez.

68
Nesta ordem de ideia, uma das questões que leva a adolescente a ter um certo significado
sobre a sua gravidez tem em conta as reacções e influências que esta recebe no contexto
social de onde provém.

Por conseguinte, os resultados mostram que as adolescentes que consideram a gravidez como
sinónimo que as identifica como seres capazes de gestar e se tornarem mãe, como sinónimo
de crescimento, bênção, como acção desejável e como responsabilidade ou alegria é porque a
sua experiência é significada de forma aceitável no meio em que se inserem. Este conjunto de
valores sobre a gravidez da adolescente é interpretado num contexto social em que se explica
a experiência subjectiva deste actor social como uma acção natural.

O significado da gravidez para a adolescente tem sua origem enquanto sentido subjectivo, no
agir dos indivíduos com quem ela interage no seu dia-a-dia. A este nível, o sentido subjectivo
da reacção da família, amigos, parceiros sobre a gravidez influencia o agir e a conduta
significativa da adolescente na medida em que, quando estes agentes sociais percebem a
gravidez precoce como uma acção que toda a mulher tem o direito de vivenciar
independentemente da idade e da sua condição socioeconómica, faz com que a adolescente
estimule um sentimento imbuído de significados compartilhados pelos membros para os
quais dirige a sua acção.

De acordo com Mitano (2011), na gravidez vivencia-se a vontade de se ser adulta e de ser-se
tratada como tal, quando temos alguém que nos protege e assume uma responsabilidade
especial. O autor refere que este tipo de percepção sobre a gravidez depende do contexto em
que a adolescente se insere porque nem todas vivenciam a gravidez da mesma forma.

É por esta razão que Pais (1993) defende que, não se pode tomar a adolescência como um
todo homogéneo, não podendo ser considerada como uma fase de vida vivenciada da mesma
forma pois, este grupo de actores não vive ou experimenta as mesmas coisas de forma
semelhante. Cada um tem o seu próprio percurso individual, que varia consoante a
especificidade do trajecto quotidiano.

Portanto, a forma como são construídas as noções e percepções sociais sobre a gravidez no
contexto onde a adolescente encontra-se inserida, tais noções e percepções se constituem na
maneira como estes indivíduos determinados e, em determinadas situações sociais atribuem
às coisas e ao mundo que lhes rodeia.

69
Como defende Schutz (1979), a percepção que os indivíduos têm em relação a um dado
fenómeno é significada em função da partilha do mesmo contexto e dos valores, normas que
regem os seus comportamentos.

Segundo Chauí (1996), a percepção é a forma como, enquanto membros da nossa sociedade,
percebemos os significados e os valores das coisas, o seu sentido, valor ou função em
detrimento da acção dos outros, quando desenvolvemos no dia-a-dia um conjunto de
interacções sociais quando nos relacionamos. É essa percepção que orienta os indivíduos para
a acção quotidiana e para as acções técnicas mais simples.

Nossa proposição também é confirmada por esta autora supracitada na medida em que,
concordamos que, quanto mais afecto e amparo a adolescente recebe dos membros do seu
meio social por quem sua acção é influenciada, mais propensa se sente em produzir
significados e atitudes que preconizam uma acção legítima e plausível da gravidez.

De acordo com Schutz (1979), viver no mundo da vida quotidiana significa viver em um
envolvimento interactivo com muitas pessoas, em complexas redes de relacionamentos
sociais. Na fenomenologia social, o contacto intersubjectivo é pré-requisito para toda a
experiência humana imediata no mundo da vida, o que faz com que o entendimento do ‘eu’
dependa da relação com outros indivíduos e do significado que eles dão a nossa acção. A
adolescente grávida não fica alheia a esse envolvimento no mundo da vida quotidiana, sendo
este actor social que encontra-se inserida no grupo de amigas, na família e escola onde tem a
capacidade de interagir e ser influenciada pela acção dos outros. As influências que
adolescente recebe ao interagir com outros indivíduos do grupo são dotados de um conjunto
de esquemas interpretativos que a orientam em diversas situações da sua vida e guiam o seu
comportamento em relação a uma dada realidade.

Em relação a adolescente que considera a gravidez como interrupção dos estudos, como
sinónimo de velhice, sentimento de culpa e exclusão por parte dos amigos deve-se ao facto de
terem sido rejeitadas no seu meio social pelos membros com quem elas se relacionam no seu
dia-a-dia. Isto mostra que, os modos de vida que cada adolescente experimenta expressam
histórias de vida diferentes que vão desde o comportamento sexual, namoro e ao significado
que atribuem a gravidez.

Estes significados trazem consigo uma expressão reveladora da condição existencial que
regula a aceitação, ou não, da gravidez da adolescente. O que está implícito nos significados

70
construídos pelas adolescentes grávidas, é na verdade, a dificuldade que os agentes sociais
(família, amigos, parceiros) têm em aceitar a gravidez das adolescentes e isto faz com que
elas se considerem culpadas das suas acções e na obrigação de se auto afirmar como tal
(velhas), na medida em que, os outros indivíduos significam a sua atitude como algo
inconsequente e rejeitável.

As reacções e percepções de uma gravidez na adolescência envolvem para além da família, as


respectivas redes de sociabilidade onde a adolescente se encontra inserida durante a sua
socialização (Mitano, 2011).

Assim, com percepção das adolescentes sobre a sua gravidez, entendemos que sob a aparente
unidade da adolescência encontra-se uma diversidade de situações sociais que tornam
heterogéneo a experiência de ser adolescente. Ou seja, diferentes formas de lazer estão na
base de diferentes culturas e vivências das adolescentes. De acordo com o meio social onde a
adolescente grávida se insere, ela pode sentir-se valorizada ou rejeitada, dependendo da
reacção dos seus familiares e também ser considerada adulta e preparada para o novo
estatuto; em caso de rejeição pela família, parceiro e amigos, a adolescente é considerada
culpada e violadora das normas sociais, pela sua situação. E quando há aceitação, os
sentimentos são também variados, conforme referimos na análise dos dados.

No pensamento de Schutz (1979), a ideia da percepção sobre a gravidez na adolescência pode


ser entendida como uma construção social que varia de contexto para contexto e das
influências que os indivíduos se transmitem em relação há uma dada realidade. Essa realidade
carrega consigo elementos subjectivos e objectivos que são interpretados pelos indivíduos no
seu envolvimento social uma vez que, estes quando se relacionam desenvolvem uma
capacidade intersubjectiva que lhes permite unirem-se.

Portanto, pensamos que, o que faz a adolescente ter a capacidade de perceber a sua gravidez
por meio das reacções de outros membros que com ela interagem num dado contexto social, é
a relação intersubjectiva que os une, permitindo desta forma, a compartilha de valores, e
normas. Pois, esta relação das adolescentes com a família, amigos, parceiros compreende
uma multiplicidade de significados diversos face a gravidez precoce, ligados a experiências
significativas, ou a diversas áreas significativas que não estão ordenados entre si.

Aliando esta ideia ao pensamento de Schutz (1979) percebemos que, nas situações históricas
concretas, os indivíduos encontram desde o seu nascimento, um mundo social já

71
anteriormente formado com suas normas e regras, enquanto ambiente comum que torna
possíveis as relações sociais. Nesse mundo social a relação com o outro é sempre mediado
por modelos de significados já codificados, isto é, por tipificações do agir (modelos do
comportamento, valores regras, etc), que como conjunto de vivências típicas surgem
assimilados através da comunicação social, ou seja, da linguagem, exemplos práticos e do
ensino. E o ambiente social segundo este autor, é constituído pelas relações interpessoais que
se estabelecem no âmbito familiar, dos amigos, entre outros.

O segundo elemento tem a ver com questão relacionada a educação sexual dada a adolescente
na família, escola e no grupo de amigos. Segundo Gonçalves (2001), a família é um meio de
pertença da adolescente grávida, que configura desde o início do ciclo de vida os
comportamentos e identidades das mesmas. É na família onde também desenvolvem-se
relações sociais que estruturam, classificam e hierarquizam os papéis e funções sociais de
cada um dos seus membros. Nesse sentido, a família é um lugar privilegiado de reprodução
de valores comportamentais adquiridos pelas adolescentes sobre sua gravidez.

A educação familiar é uma condição necessária mas não suficiente para a inserção da
adolescente no mundo referente a sexualidade tendo em conta a escassez de diálogo sobre
este tema. Os dados mostram que existe interacção entre os pais e as adolescentes
entrevistadas porém, mostra que os temas debatidos nas interacções que estes actores sociais
desenvolvem no seio das suas famílias, não focalizam a educação sexual como um tema de
grande importância e determinante nas escolhas que as adolescentes fazem no seu quotidiano,
o que acaba influenciando no início da vida sexual prematuro da adolescente, onde esta corre
o risco de engravidar devido ao fechamento que se verifica na escola e na família quando
aborda-se sobre sexualidade.

Esta privação de diálogo entre pais, filhas e professores sobre sexualidade faz com que as
adolescentes no seu dia-a-dia recorram em muitos casos aos seus grupos de pares, as colegas
da escola, a mídia e a tecnologia como forma de buscar mais conhecimento sobre o tema.
Dado que, o seio familiar e na escola limitam-se em abordar aspectos ligados a vida sexual e
reprodutiva da adolescente.

Costa (1998), corroborando com a ideia refere que, a informação transmitida na família é
precária na medida em que, os pais supõem que as filhas possuem um conhecimento
satisfatório sobre sexualidade e métodos contraceptivos, limitando-se desta forma, a dar

72
conselhos e a determinar proibições. Poucas informações sobre formas efectivas de
prevenção eram oferecidas nas conversas sobre sexualidade.

Com os resultados constatamos que, muitas informações necessárias à saúde sexual da


adolescente são negligenciados nas conversas sobre a sexualidade e os pais das adolescentes
percebem esta questão, embora algumas mães forneçam extensa quantidade de informação
sobre o ciclo menstrual e consequências de uma vida sexual activa. Raramente são discutidas
questões referentes á anatomia, acto sexual, aos métodos contraceptivos disponíveis ou a
utilização adequada dos mesmos devido a permanência de crenças e tabus que é transmitido
as adolescentes no seio da família ao abordar sobre a sexualidade.

Na perspectiva teórica de Schutz (1979:72), esta forma de pensar imbuídos nas crenças e
tabus pode se aliar ao que ele denomina de atitude natural existente na realidade dos
indivíduos no mundo da vida. Sendo que toda a interpretação nesse mundo da vida se baseia
num estoque de conhecimento de experiências anteriores dele, as nossas próprias
experiências e aquelas que nos são transmitidas por nossos pais e professores, as quais, na
forma de “conhecimento à mão”, funcionam como um código de referência.

No mundo da atitude natural, Schutz defende que os indivíduos concentram-se muito mais
nas suas experiências subjectivas e a dada altura perdem de vista os actos da sua experiência
subjectiva. Eles não questionam a existência de um mundo exterior e nem dos ensinamentos
dados no contexto em que encontram-se inseridos, apenas se conformam com o estado das
coisas.

Esta realidade é vivenciada pelas adolescentes grávidas no seio do seu meio social quando
abordam sobre a sexualidade com seus pais uma vez que, quando tem dúvidas sobre a sua
orientação sexual não questionam por medo, e porque foram interiorizados a nunca
questionarem sobre o tema, por ser considerado como a falta de respeito.

É por esta razão que Schutz propõe a redução fenomenológica, pois este permite um
distanciamento com as crenças e tabus para melhor compreender a sua realidade. Para se sair
da atitude natural e poder explicar as experiências subjectivas e chegar a intencionalidade da
consciência devemos mudar a atitude ingénua com a qual nos direccionamos aos objectos,
fazermos um esforço radical no sentido de suspendermos as nossas crenças e evitando os
nossos juízos de valores para não influenciarmos as nossas análises.

73
Portanto, para as adolescentes grávidas a redução fenomenológica é uma base importante que
lhes serviu para buscarem entendimento e questionarem sobre a sua sexualidade na vida
social a partir do momento em que, no grupo de amigos têm a oportunidade de se distanciar
das crenças e tabus existentes no seio da família ao abordar sem restrições e silêncios sobre a
sua sexualidade. Os pais e professores temiam que, ao fornecer informações sobre
contraceptivos e vida sexual pudessem ser interpretados como incentivando as filhas para a
prática sexual. Com a idealização decorrida de crenças sobre a experiência sexual das
adolescentes na família e na escola, as adolescentes encontram o seu espaço no círculo de
amigos.

Contudo, nem todos os pais e professores pensam e agem desta forma (orientando-se com
base nas crenças ao discutir o tema) perante a gravidez e sexualidade da adolescente visto
que, existem pais e professores que têm uma atitude diferente em relação a vida sexual e
gravidez deste actor social.

Esta constatação leva-nos a afirmar na esteira de Dias e Gomes (1999) que, os pais não
percebiam suas famílias de origem como disponíveis para oferecer informações sobre
sexualidade as filhas. Desta forma, a gravidez precoce, é muitas vezes inesperada e,
desdobra-se, geralmente, numa reorganização familiar, que pode tomar várias direcções, ora
assumindo e ajudando a adolescente a cuidar da sua gravidez, ora obrigando a adolescente a
unir-se ao seu parceiro para que sejam responsabilizados pelo nascimento do bebé. Às vezes
o que inicialmente é encarado como um problema pode abrir possibilidades de convivência
(entre pais e filhas, por exemplo) onde a prioridade é o acolhimento e a compreensão da
gravidez da adolescente.

A família, amigos, parceiro e escola enquanto agentes de socialização, dependendo do


contexto em que se inserem, fazem com que a adolescente reproduza significados diversos de
acordo com a reacção de cada um destes agentes, a partir de um conjunto de valores e normas
que esta interioriza ao abordar este assunto com os eles. Olhando a questão sob o prisma da
fenomenologia de Schutz (1979) pode se depreender que estes agentes de socialização
participam activamente na produção e reprodução das percepções construídas pelas
adolescentes grávidas sobre suas atitudes e acções pois, suas acções e significados tendem a
reflectir o que interiorizam em relação a sua gravidez, a partir da maneira de pensar e reagir
da família, amigos, professores e parceiros, pois estes explicam atitude da gravidez precoce

74
aceitando ou rejeitando a acção perpetuada pela adolescente e isso reflecte-se na forma como
esta reage a sua situação.

Mas como forma de chegar a redução fenomenológica as adolescentes apropriam-se das


normas e valores perpetuados pela família, amigos e escola sobre a sua gravidez e o mundo
que os envolve, reproduzem essas normas, por meio da recriação e inserção nas novas formas
de ser e estar enquanto adolescente e mulher grávida. O que não ocorreria apenas com o que
estes agentes de sociabilidade pensam sobre a sua sexualidade e gravidez mas também na sua
capacidade reflexiva de pensarem sobre elas mesmas enquanto indivíduos e pertencentes a
um mundo multidimensional, em que é significada e percebida segundo as circunstâncias
subjectivas experimentadas por cada adolescente.

Segundo Goffman (1999), nem sempre que os indivíduos agem estão interessados na moral,
na ordem social e numa sociedade sem conflitos. A dimensão imoral também está presente,
pois os indivíduos podem agir e se manifestar de um certo modo de forma a alcançar os
objectivos pretendidos. O facto de os indivíduos conhecerem os valores e normas regulados
pelas instituições sociais do contexto em que estão inseridos faz com tenham um
conhecimento tácito das normas que prevalecem nesse contexto. Por isso, irão representar e
manipular a sua identidade, e esta remete para a gerência de papéis de acordo com o contexto
e do objectivo que se quer alcançar.

De acordo com o mesmo autor, estamos num universo simbólico em que durante a
interacção, sabemos das expectativas do outro e este das nossas em relação ao
comportamento. Por existência deste universo simbólico e expectativas recíprocas, iremos
sempre procurar adequar a imagem às expectativas, por isso estamos sempre a manipular de
modo a gerir os nossos papéis de acordo com o contexto.

Assim, as adolescentes grávidas partilham do mesmo património cultural que família, amigos
e a escola, onde através deles dá origem a um conjunto de valores e de crenças que os torna
sui generis, e influenciados na maneira de se comportar, que muitas vezes está perfeitamente
“inconsciente”. Desta forma, a maneira de perceber a gravidez das adolescentes no contexto
em que se inserem permite a cada adolescente de se unir emocional e afectivamente a sua
família de origem e aos seus amigos no espaço que lhe viu crescer, no qual se sente parte por
haver compatibilidade e partilha das mesmas atitudes e comportamento, ou seja, da maneira

75
se ser e estar apesar de estratégias de manipulação que adolescente adopta no seu quotidiano
para entender e interpretar a sua experiência subjectiva.

A partir da capacidade reflexiva, que as adolescentes têm, conseguem perceber que a família,
amigos e parceiros atribuem um significado de rejeição ou de aceitação em relação a sua
gravidez, e esse significado que a adolescente interioriza, orienta e guia em diversos
momentos a sua conduta no mundo da vida quotidiana. Pois a sua percepção sobre um dado
fenómeno, as vezes depende da influência que é lhe transmitida a partir da sua experiência de
vida, das representações do seu ser ou daquilo que ela considera como situação ideal no
mundo da vida quotidiana.

É nesta perspectiva que Schutz (1979), defende que a vida quotidiana, apresenta-se como
uma realidade interpretada pelos indivíduos, na medida em que os mesmos têm consciência
das suas acções e das acções dos outros e na sua acção, o indivíduo é influenciado pelo
pensamento do outro mas também do seu próprio agir.

Finalmente, apresentamos o terceiro elemento que tem a ver com as consequências da


gravidez na vida da adolescente. Neste elemento mostramos que a gravidez precoce é
multicausal e sua origem está relacionada a uma série de aspectos que podem ser agrupados
em factores de ordem sociais, médicos e psicológicos. Constatamos também que, a gravidez
tem sido referida pelas adolescentes entrevistadas como um factor de instabilidade nas suas
vidas, porque leva à sua rejeição pelas instituições sociais de apoio afectivo, à marginalização
face à instituição escolar e à vida profissional e ainda a falta de apoio vinda dos amigos e
parceiros.

No que cerne a factores médicos, nos dados da pesquisa encontramos problemas que vão
desde a anemia, hipertensão, infecção urinária. Este dado é consubstanciado pela Geração Biz
(s/d), quando refere que a gravidez na adolescência incluí a doenças hipertensivas (pré-
eclâmpsia e eclâmpsia), trabalhos de parto arrastados e baixo peso do recém-nascido ao
nascer.

Oliveira (2008) mostra também que a gravidez na adolescência pode levar a morte da
gestante quando esta não tiver um acompanhamento adequado nas consultas pré-natais.

Para Vitalle e Amâncio (2004) a adolescente apresenta problemas de crescimento e


desenvolvimento comportamentais e emocionais, educacionais e de aprendizado, além de
complicações da gravidez e problemas de parto na medida em que está passando por

76
transformações corporais, que as vezes levam em conta aquilo que adolescente vivencia no
seu ambiente social, como o início precoce a vida sexual.

Em relação aos factores de ordem social da gravidez na adolescência é de referir que, a


gravidez precoce é condicionada tanto pela família assim como, pela sociedade no que tange
as atitudes individuais da adolescente. Pois, quando a adolescente engravida as consequências
que daí advém, provém em muitos casos da sociedade e da família que podem ir da decepção
dos pais, amigos, irmãos da adolescente, ao desapontamento, á vergonha e a sentimentos de
culpa fixados na própria desarmonia conjugal. E um outro problema que a adolescente
grávida enfrenta na realidade social é o afastamento dos seus amigos, do parceiro e da família
porque estes actores sociais a repudiam pela situação vivenciada.

Contudo, a gravidez na adolescência nem sempre apresenta implicações negativas que


referimos atrás, podendo por vezes ser vivenciada de forma positiva como mostram os nossos
dados. Esta ideia é corroborada por Mitano (2011) quando refere que para algumas
adolescentes, a gravidez significa a valorização da mulher na realidade social e no seio das
famílias.

De acordo com Schutz (1979), a realidade social é a soma dos objectos e dos acontecimentos
dos mundos cultural e social, vivido pelo pensamento do senso comum de homens que vivem
juntas numerosas relações de interacção. É o mundo dos objectos culturais e das instituições
sociais em que nascemos todos nós, onde nos reconhecemos.

Por este motivo, a adolescente na realidade social em que está inserida reconhece através do
processo da intersubjectividade as implicações que advém da gravidez precoce devido a
compartilha de valores inerentes a este fenómeno e da forma como esta adolescente é tratada
quando vivencia a maternidade precoce. Sendo o mundo intersubjectivo comum a todos nós,
enquanto actores sociais, as interacções que desenvolvemos e a maneira como nos
relacionamos repercute-se as vezes de forma diferente. É por isso que as consequências
sociais da gravidez na adolescência por vezes apresentam motivações diferentes.

Para os factores de ordem psicológica constatamos que a gravidez na adolescência pode


causar na gestante insegurança, tristeza, medo, a auto-estima da gestante pode ficar baixa
devido a várias situações de exclusão que enfrenta na sua vida.

77
Perante a situação de auto-estima baixa vivenciada pela adolescente Mitano (2011), refere
que este problema está relacionado ao facto da gestante sentir-se confusa diante do novo
papel que assume e por vezes pode considerar-se culpada da situação que vive.

Os dados mostram que, este sentimento de culpa alimentado pela adolescente é motivada
pelas palavras injuriosas proferidas pelos membros que com ela se relacionam no dia-a-dia
como é no caso dos pais.

Entretanto, temos dados que mostram outra situação vivenciada pela gestante que é de
felicidade, nível de harmonia, conforto, segurança vivenciada por ela no seio do seu meio
social.

Na perspectiva de Becker (1993), a gravidez na adolescência pode apresentar consequências


psicológicas positivas na gestante quando esta apresenta-se alegre e vive uma situação de
aceitação da sua gravidez no seio da família, amigos, parceiro e da comunidade. Na mesma
ordem de ideias, é de referir que também corroboramos na esteira dos dados apresentados por
este autor supracitado na medida em que os resultados desta pesquisa defendem este aspecto.

Assim, podemos defender com base nos resultados da pesquisa que estes três elementos
trazem consigo várias implicações na maneira como as adolescentes significam e interpretam
a sua gravidez pois, através dos mecanismos introduzidos nos mesmos, a adolescente adquire
uma forma própria de ser e estar no seu mundo social. Notamos também que, estas
implicações reflectem-se na hipótese elaborada uma vez que, a multiplicidade de interacções
que a adolescente estabelece na sociedade seja a nível primário (família) ou secundário
(escola, amigos, parceiro) influencia nos significados que produz sobre a sua situação a partir
dos valores socioculturais que interioriza.

78
Conclusão

Ao longo do trabalho procuramos compreender as percepções e significados que as


adolescentes constroem sobre sua gravidez. Trabalhamos com adolescentes com idade
compreendida entre os 15 e 17 anos no Hospital Geral de Mavalane, com o objectivo de
descrever as percepções e significados que estas adolescentes constroem sobre sua gravidez,
analisar as implicações da gravidez e os riscos produzidos por este fenómeno na vida social
das adolescentes e identificar os factores que influenciam as adolescentes a iniciar a vida
sexual.

Como problema de pesquisa, procurávamos saber como as adolescentes constroem


percepções e significados sobre a gravidez precoce. E como resposta antecipada a este
problema, referimos que, as adolescentes constroem percepções e significados sobre sua
gravidez em função das interacções e influências que recebem, da família, escola (colegas da
escola), parceiro e grupo de amigas, dentro do contexto sociocultural e simbólico que
encontram-se inseridas.

Para averiguação dessa hipótese servimo-nos de dados qualitativos recolhidos no Hospital


geral de Mavalane, na cidade de Maputo. A pesquisa privilegiou entrevistas semi-
estruturadas como técnica de recolha de dados, as quais foram aplicadas a um universo de 10
adolescentes grávidas seleccionadas intencionalmente.

Com os resultados obtidos podemos afirmar que a nossa hipótese segundo a qual “ As
adolescentes constroem percepções e significados sobre a gravidez precoce de acordo com
as interacções e influências que recebem da família, escola e grupo de amigos, dentro do seu
contexto sociocultural e simbólico” foi confirmada na medida em que, os agentes de
sociabilidade que encontram-se descritas nesta hipótese têm um papel relevante na vida da
adolescente visto que, no quotidiano a família, escola e amigos transmitem signos culturais
embutidos de valores sobre a gravidez e sexualidade que circulam no meio em que vivem
estas adolescentes. Estes signos culturais referem-se ao estilo de relação interpessoal e prática
comunicativa entre os pais e filhas, e entre as adolescentes (no grupo de amigos).

Com base nestes dados constatamos também que, a gravidez da adolescente é recebida por
estes agentes sociais de diversas formas no mundo da vida social uma vez que, encontramos
reacções de rejeição, aceitação e moderadas. Estas reacções produzidas pela família, amigos,
parceiros influenciavam de forma determinante o agir, pensar e sentir da adolescente no

79
mundo da vida quotidiano, no que cerne ao seu comportamento e atitudes que esta adopta
com sua gravidez.

Como resultados, constatamos que em relação aos diferentes tipos de reacção que a família,
amigos parceiros produzem sobre a situação vivenciada pela adolescente grávida influencia
na maneira como esta significa a sua gravidez na medida em que, quando estes agentes de
sociabilidade aceitam a gravidez, a adolescente constrói um conjunto de percepções que
valorizam-na como uma pessoa em segurança no mundo que a envolve porque tem apoio dos
pais para sustentar e cuidar do bebé, ganha também um certo estatuto que a motiva a
continuar a “sonhar” e manter os seus planos de vida.

No entanto, quando estes agentes rejeitam a gravidez, essa reacção faz com que as
adolescentes produzam um sentimento de decepção e acto de irresponsabilidade face a sua
gravidez por ocorrer numa fase de vida considerada prematuro pelos seus pais mas também,
esta rejeição relaciona-se por vezes a falta de condições económicas e aos valores que família
e o parceiro da adolescente possuem sobre a gravidez precoce e sexualidade (quando referem
que a sexualidade é uma prática de adultos e por isso considerar a adolescente nova para ser
mãe).

Quanto a reacção moderada mostramos que, a família, amigos parceiros num primeiro
momento rejeitaram a gravidez no primeiro momento, mas depois aceitaram como um
problema que deve ser encarado com a própria adolescente pelo facto destes agentes
reconhecerem que a culpa não é totalmente da adolescente pois, ela também necessita de
mais aprendizado sobre si e seu comportamento sexual para poder se proteger de uma
gravidez indesejada e de doenças sexualmente transmitidos.

Dessa forma, o fenómeno da gravidez não pode ser isolado do seu contexto sociocultural,
sobretudo da família, das redes de sociabilidade da adolescente, bem como dos aspectos
sócio-psicológicas, visto ser a adolescência uma fase de vida bastante complicada, que
precisa de um acompanhamento especial no dia-a-dia para poder ajudar estes actores sociais
em diversas encruzilhadas que vivenciadas sem reconhecimento dos familiares e outros
membros que interagem de forma determinante com a adolescente.

Os resultados neste trabalho enquadram-se no pensamento da sociologia fenomenológica de


Alfred Schutz (1979) segundo o qual, os indivíduos constroem a realidade social através das
suas experiências acumuladas com os membros pertencentes ao contexto em que este

80
indivíduo encontra-se inserido. Assim os dados deste estudo concluem que a fenomenologia
conseguiu reportar as experiências vividas por grupo de adolescentes deste estudo uma vez
que, explorou a sua estrutura de consciência sobre a gravidez precoce no mundo em que
encontram-se inseridas.

No pensamento de Schutz (1979), a ideia da percepção e significado sobre a gravidez na


adolescência pode ser entendida como uma construção social que varia de contexto para
contexto e das influências que os indivíduos se transmitem em relação a realidade. Com base
nos resultados, percebemos que a perspectiva de Schutz (1797) pode-se aliar, a gravidez na
adolescência com uma realidade vivenciada de forma intersubjectiva pela adolescente uma
vez que, este fenómeno é experienciado de maneira individual e subjectiva apesar de ser
socialmente produzido através do auto-reconhecimento de cada adolescente grávida em cada
uma das outras adolescentes. Isto é, em cada contexto social encontramos diversas
adolescentes grávidas que se relacionam de forma intersubjectiva por estar a viver a mesma
situação.

Schtuz (1797) salienta que, os indivíduos na realidade sociais nunca têm experiências
idênticas mesmo estando a viver a mesma história pois, a experiência subjectiva de um
indivíduo é inacessível a outro indivíduo porque esses não têm as mesmas motivações ou
objectivos para fazer algo, embora experiência sobre uma dada realidade seja vivida por
muitos indivíduos em diferentes contextos sociais. Essa descrição de Schutz permite
compreender como os mundos experienciais “ privados”, singulares, podem ser transcendidos
em um mundo comum através do carácter intersubjectivo.

Com a ideia do autor supracitado constatamos como resultados que, no mesmo contexto a
gravidez precoce é interpretada de formas diferentes tendo em conta que, os motivos para
justificar e significar a gravidez também são diferentes. Reconhece-se que a gravidez precoce
é um fenómeno intersubjectivo mas os significados dados pelas adolescentes sobre a gravidez
são subjectivos visto que, os valores sobre a gravidez são descritos pelos agentes de
sociabilidade é um dado contexto social específico, que contém dentro de si um conjunto de
elementos socioculturais para aceitar ou rejeitar a gravidez.

Portanto, a interpretação dada pela família, amigos, parceiros sobre a gravidez dá sentido as
acções praticadas pelas adolescentes na vida social mas também as suas acções pois, estes
actores sociais no desenvolvimento das suas relações sociais se influenciam. Essa influência
faz com que tanto as adolescentes assim como, estes agentes de sociabilidade compreendam

81
que o mundo da vida quotidiana é composta por um conjunto de elementos sociais
construídos pelos indivíduos para o entendimento da realidade social. Com a gravidez
precoce também acontece a mesma coisa uma vez que, é interpretada através das percepções
que os membros da vida social descrevem durante o processo de interacção em diferentes
relações sociais.

Ressalte-se, contudo, que os resultados aqui apresentados se apoiam na análise de um número


restrito de casos que constituíram a amostra desta pesquisa. É por este motivo que não podem
ser generalizados. Nesse sentido, novos estudos, com amostras de características sócio-
econômico-culturais diferenciadas precisam ser realizados. Cabe referir ainda, que esta
pesquisa constitui-se numa introdução ao estudo sobre percepções e significados construídos
pela adolescente sobre a sua gravidez.

Diversos aspectos ligados à experiência da gestação na adolescência não foram aqui


abordados e merecem destaque em futuras pesquisas, tais como a gestação como repetição da
história familiar e a influência da estrutura familiar sobre o desenvolvimento da sexualidade
das jovens e sua relação com o uso de contraceptivos. Também faz-se necessária uma
investigação mais aprofundada sobre a relação existente entre a sexualidade dos próprios pais
e o tipo de comunicação que estabelecem com filhas e também sobre as conversas que os pais
tem com os filhos sobre a sua sexualidade no seio da família, aspecto que revelou-se
importante, mas que não foi explorado em detalhe neste estudo.

82
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86
Anexos

Guião de Entrevistas

Apresentação: Bom dia. Chamo-me Almeira Matsinhe, estudante de sociologia na


Universidade Eduardo Mondlane. Estou a fazer trabalho de investigação neste hospital com o
objectivo de compreender percepções e significados da gravidez na adolescência e conversar
sobre a sua vida no dia-a-dia. Por questões éticas, esta conversa será em anonimato, de modo
que não seja possível identificar a entrevistada. Por favor esteja à vontade para partilhar
connosco as suas experiências e percepções durante esta conversa. Você aceita trabalhar
comigo?
I. Informação Demográfica
1. Nome:
2. Idade: __________(em anos).
3. Nível de escolaridade que concluiu?
4. Qual é o seu estado civil?
5. Profissão?
6. Onde vives?
7. Com quem vives?
8. Qual é a idade do seu parceiro?
9. Profissão do parceiro?

II. Sobre o Relacionamento da adolescente grávida com a sua família de origem


1. Com quem você vivia (se disser que actualmente vive com o parceiro)?
2. Tem irmãos? Quantos?
3. Como caracterizas a sua família de origem? (difíceis, amigos, temperamentais
e outros)
4. Conversas com seus pais? Se sim,
5. Que tipo de conversa tens com seus pais?
6. Conversavas sobre educação sexual na sua família? se sim,
7. Quais os temas que abordam?
8. Quem influencia mais a sua educação sexual na família? Se é o pai ou mãe ou
outros. Se há diferentes influências, especifica quais e de quem.
9. O que seus pais aconselham sobre o que deve ser o comportamento de uma
rapariga? Há diferentes conselhos em pai/ mãe ou outros? Quais?
10. Seus pais permitiam-lhe sair de noite? ( o período aceitável para sair e voltar)
11. Como seus pais souberam que estavas grávida?
12. Qual foi a reacção dos seus pais (pai/mãe)?
13. Recebeu algum tipo de apoio por parte dos seus pais? Se for sim, que tipo de
apoio recebeu do seu pai e da sua mãe?
14. Como é que seu parceiro reagiu à gravidez? Prestou algum tipo de apoio?
15. Seus pais conheciam seu parceiro?
16. Seu parceiro entrava na sua casa?
17. Na sua opinião, como seus pais lidam consigo agora que está grávida?
18. Até que ponto isso lhe afecta? Como?

III. Relação com os amigos


1. Tens amigos? Se sim,
2. Como caracterizas a sua relação com seus amigos?
3. Como seus amigos souberam que estavas grávida?
4. Qual foi a reacção dos amigos quando souberam que estavas grávida?
5. Sente-se igual ou diferente a outras meninas da sua idade, que não estão
grávidas? Porquê?
6. O que você diria para as suas amigas que não estão grávidas tendo em conta a
sua experiência no dia-a-dia?
7. Existe uma forma específica que seus amigos adoptam para lhe acolherem no
grupo? Se for sim, qual?
8. Preocupa-se com a maneira como seus amigos lhe acolhem? Porquê?
9. Qual é o seu nível de participação dentro do seu grupo de amigos agora que
está grávida? Porquê?

IV. Sobre educação na escola


1. Aprendeu algo sobre educação sexual na escola?
2. No caso de ter aprendido, diga com quem aprendeu e quais era os conteúdos
introduzidos?
3. Na educação sexual ensinada na escola falavam dos métodos anticonceptivos?
Se sim, o que falavam?
4. Que avaliação faz em relação a educação sexual aprendida na escola?
5. Que reacções seus professores tiveram quando souberam que estava grávida?
6. Como seus professores tratam-lhe?
7. Sente-se a vontade com o tratamento que recebe dos professores?
8. Sentes que eles lhe ajudam a valorizar-se como mulher grávida?
9. Recebes algum tipo de apoio por parte deles?

V. Sobre percepções e significados das adolescentes relativamente a sua gravidez


1. Como se sentiu quando engravidou?
2. Esperavas engravidar/ tinhas algum plano para engravidar?
3. É a primeira vez que ficas de estado?
4. Como soube que estava grávida?
5. Na sua opinião, o que é gravidez (Acha que é uma doença, é ruim, normal e
outros)?
6. O que significa para si estar grávida?
7. O que a sua família, amigos e parceiro pensam sobre a sua gravidez?
8. A maneira da família, amigos e parceiros reagirem lhe incomoda?
9. Fale da sua experiência enquanto mulher grávida?
VI. Sobre a vida sexual da adolescente
1. Na sua opinião, o que é relação sexual e quando inicia?
2. Onde e com quem é que aprendeste a falar sobre sexualidade (com familiares,
amigos, parceiro ou professores)?
3. Em que idade deve iniciar-se a vida sexual?
4. Em que idade é que é costume iniciar-se a vida sexual?
5. Com quantos anos iniciaste a sua vida sexual?
6. Achas que era uma idade ideal? Porquê?
7. Quando iniciaste a sua vida sexual, tinha conhecimento dos métodos
anticonceptivos? Costumavas usar quando praticavas relações sexuais? Se
sim, que tipo de método conheces?
8. Você perdeu a virgindade com o parceiro que lhe engravidou?
9. O que lhe levou a iniciar a vida sexual? Porque querias experimentar, por
amor ou porque seu parceiro lhe influenciou e outros.
10. Em que espaço se sente a vontade para fala sobre sexualidade? Porquê?
11. Na sua opinião, o que lhe facilita conversar sobre sexo com esse grupo de
pessoas?

VII. Impactos da gravidez precoce


1. Como tem sido seu dia-a-dia desde que ficou grávida (na família, escola,
amigos)?
2. Enfrentas alguma dificuldade? Se sim, quais as dificuldades que enfrentas no
seu dia-a-dia?
3. Conheces alguns riscos causados por uma gravidez precoce?
4. Se conheces, quais são esses riscos?
5. O que fazes para evitar esses riscos?
6. Com esta gravidez tens enfrentado algum problema de saúde? Que tipo?
7. Os teus amigos mudaram ou continuam os mesmos, desde que ficou grávida?
8. O que fazia antes e que não pode fazer agora devido a sua gravidez?
9. O que gostaria de fazer se não estivesse grávida?
10. .Qual é o sentimento que você tem em ser mãe? Porquê?

Antes de terminar, gostaria de dizer algo sobre o que falamos? Ou sobre a sua
gravidez em geral? Ou sobre qualquer outro aspecto que acha importante
partilhar connosco?

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