R-G-Viviane Cruz - 2
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MATINHOS
2021
VIVIANI APARECIDA CRUZ
MATINHOS
2021
TERMO DE APROVAÇÃO
Matinhos, 05/03/2021
1 Infelizmente ainda o curso de saúde coletiva não é ofertado na Universidade Eduardo Mondlane, do
qual fui realizar o intercâmbio. Desse modo escolhi outro curso (Serviço Social) com temáticas e
disciplinas parecidas ao curso de saúde coletiva.
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2 Para esse estudo, o conceito de estabilidade familiar está sendo relacionado ao fator econômico das
famílias, onde será melhor descrito ao longo do texto. Por conta dos salários baixos, ou até mesmo
o desemprego, faz com que haja uma instabilidade no núcleo familiar. (Da Costa, 2007).
3 Segundo a OMS - Organização Mundial da Saúde (2002). A saúde sexual é fundamental para o físico
e saúde emocional e bem-estar de indivíduos, casais e famílias e, em última análise, para as questões
sociais e econômicas do desenvolvimento de comunidades e países. Contudo, a capacidade dos
indivíduos de atingir a saúde sexual e o bem-estar depende de eles terem: acesso a informações
sobre sexualidade; conhecimento sobre os riscos que enfrentam e sua vulnerabilidade ao adverso
consequências da atividade sexual; acesso a boa qualidade cuidados de saúde sexual; e um
ambiente que afirma e promove a saúde sexual. Leis e políticas nacionais, ambos os que regem a
prestação de serviços de saúde (incluindo informação e educação) e criminal, civil e as leis
administrativas que são aplicadas a questões relacionadas à sexualidade, desempenham um papel
fundamental na promoção ou impedimento saúde sexual, e na promoção e proteção das pessoas
direitos humanos relacionados à saúde sexual. (Slegh, Mariano Roque e Barker, p. 15, 2017).
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1.1 JUSTIFICATIVA
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo geral
O objetivo da pesquisa foi identificar e compreender as atividades realizadas
pela AMODEFA para o enfrentamento da violência social, e refletir sobre as limitações
e competências adquiridas pela ONG no apoio à implementação de políticas públicas
de estado.
2 REVISÃO DE LITERATURA
Um dos eternos problemas da teoria social e da prática política e relacional
da humanidade é a violência. Não se conhece nenhuma sociedade onde a violência
não tenha estado presente. Pelo contrário, a dialética do desenvolvimento social traz
à tona os problemas mais vitais e angustiantes do ser humano, levando filósofos,
como Engels, a afirmar que "a história é, talvez, a mais cruel das deusas que arrasta
sua carruagem triunfal sobre montões de cadáveres, tanto durante as guerras como
em período de desenvolvimento pacífico" (ENGELS, 1981: p. 187).
A violência está presente nas relações influenciando as dinâmicas sociais e,
por vezes, ela é uma forma de comunicação, como diria Minayo (2006), “a partir do
momento em que cada pessoa se considera e é considerada “cidadã” que a sociedade
reconhece seu direito à liberdade e à felicidade, é que a violência passa a ser um
fenômeno relacionado com o emprego ilegítimo da força física, moral ou política,
contra a vontade do outro. ”
É possível dizer que, segundo Assis (2011), a violência não é desencadeada
exclusivamente por fatores econômicos, ela pode corresponder a um fator sentimental
de se sentir inútil socialmente, de não ser reconhecido, de sofrer discriminação racial
e cultural, sentimentos correspondentes a incapacidade de se construir perante a
sociedade, do qual o sujeito se define em relação ao outro (ASSIS, 2011, p.24).
A violência objetiva e subjetiva preenche então um vazio deixado em relações
sociais e políticas enfraquecidas, dando lugar a relação conflituosa traduzida a
existências de problemas sociais que não são transformados em debates e em
conflitos de sociedade. Assim, a violência nesses casos, manifesta a distância entre
as demandas subjetivas e a oferta política, econômica, social e simbólica, trazendo a
marca da subjetividade negada e é o instrumento do sujeito não reconhecido.
(WIEVIORKA, 1997, p. 37).
A área da saúde tem, tradicionalmente, concentrado seus esforços em
atender os efeitos da violência: a reparação dos traumas e lesões físicas nos serviços
de emergência, na atenção especializada, nos processos de reabilitação, nos
aspectos médico-legais e nos registros de informações. (VETHENCOURT, 1990).
Ultimamente, sobretudo em relação a alguns agravos, como violência contra a criança
e a mulher, começa a haver uma abordagem que inclui aspectos psicossociais e
psicológicos, tanto em relação ao impacto sobre as vítimas. Como no tocante aos
fatores ambientais e à caracterização dos agressores (COSTA, 1986).
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(por exemplo, ser vítima de um ato violento) ou indireta (por exemplo, ouvir falar sobre
violência ou testemunhar violência envolvendo outras pessoas).
Ainda em Sitoe (2020), como parte dos ritos de iniciação para a vida adulta,
no último dia das cerimónias iniciáticas, as meninas/moças são obrigadas a manterem
relações sexuais desprotegidas e com homens geralmente desconhecidos, sob o mito
que diz que, “falhando este ato, as adolescentes correm o risco de não conceberem,
na vida adulta, perderem o cabelo e ou ficarem com os pés e a barrigada inchados,
ou mesmo perderem a própria vida”, elas são obrigadas a aceitarem.
Outro Rito de Iniciação é o “Lobolo” como práticas que colocam as mulheres
em uma situação de vulnerabilidade e desrespeito aos direitos sexuais e reprodutivos
das mesmas. O Lobolo é um costume cultivado até hoje no Sul de Moçambique,
segundo esta tradição, a família da noiva recebe dinheiro (dote) pela perda que
representa o seu casamento e a ida para outra casa. O lobolo é o dote que a família
do noivo paga à família da noiva para poder casar com ela. Uma tradição que existe
há séculos. É a família da noiva que decide quanto dinheiro e quantas vacas pretende
pedir, mas o valor pago é diferente de cultura para cultura.
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5 Fundado no Rio de Janeiro, Brasil, em 1997, o Promundo trabalha para promover a equidade de
gênero e construir um mundo livre de violência envolvendo homens e meninos em parceria com
mulheres e meninas. O Promundo é um consórcio global com membros no Brasil, Estados Unidos,
Portugal e República Democrática do Congo que colaboram para levar a cabo esta missão através
da realização de pesquisas aplicadas que criem a base de conhecimento sobre masculinidades e
igualdade de género; do desenvolvimento, avaliação e alargamento de intervenções e programas
transformadores do género; e da realização de ações de advocacia nacional e internacional com vista
a alcançar a igualdade de género e a justiça social. (Slegh, Mariano Roque e Barker, p. 6, 2017).
6 O Centro de Estudos Sociais (CES) é uma instituição privada sem fins lucrativos dedicada à pesquisa
em ciências sociais e humanidades. O CES promove novas epistemologias e estimula a interação
cultural de ideias e a investigação inovadora, nas relações Norte-Sul, com especial destaque para a
cooperação com os países de língua portuguesa e na Europa. Também apoia o aprofundamento
progressivo dos direitos humanos e da democracia em todo o mundo. (Slegh, Mariano, Roque e
Barker, p. 6, 2017).
7 A CÁ-PAZ é uma ONG moçambicana com sede na Matola, Província de Maputo, Moçambique, que
presta apoio psicossocial a mulheres, homens e famílias expostas à violência doméstica. Fundada
em 2007, a sua principal ação é o empoderamento das comunidades, implementando o modelo de
Bons Vizinhos para a proteção das mulheres e crianças, combate e prevenção da violência
doméstica. (Slegh, Mariano, Roque e Barker, p. 6, 2017).
8 A Sonke Gender Justice é uma organização sem fins lucrativos, com sede na África do Sul que,
trabalha em toda a África para fortalecer o governo, a sociedade civil e a capacidade dos cidadãos
de promover a igualdade de gênero, prevenir a violência doméstica e sexual e reduzir a propagação
e o impacto do HIV e AIDS. (Sonk Gender Justice, 2020).
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3 MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização deste trabalho, utilizei da metodologia de pesquisa
etnográfica, utilizando entrevistas semi-estruturadas, observação in loco, e pesquisas
bibliográficas.
Literalmente, etnografia significa descrição cultural de um povo (do grego
ethnos, que significa nação e/ou povo e graphein, que significa escrita). Essa
metodologia foi escolhida porque, se define como uma pesquisa realizada nas
instituições baseada na observação participante e/ou em registros permanentes da
vida diária nos locais e contextos em que ela naturalmente acontece.
Geertz (1973) argumenta que etnografia não é definida pelas técnicas que
emprega, como observação participante e entrevistas, mas por um tipo particular de
esforço intelectual que ele descreve como uma “descrição consistente”.
O método etnográfico tem a finalidade de desvendar a realidade através de
uma perspectiva cultural (Segovia, 1988). Sendo uma metodologia das ciências
sociais, principalmente da disciplina de antropologia, em que o principal foco é o
estudo da cultura e o comportamento de determinados grupos sociais.’’ (Angrosino,
2009). Segundo Kendall (1984), o conhecimento das informações culturais de uma
determinada comunidade fornece subsídios valiosos para projetos de ação em
assistência primária. Malinowsky (1953) considera a cultura como um todo integrado
ou global do qual os elementos culturais singulares são as partes constitutivas. Só a
análise funcional está à altura de descobrir e de compreender os significados dos
elementos culturais individuais, porque os vê nas suas relações com o todo da cultura.
O reflexo da totalidade do fenômeno cultural sobre os aspectos elementares e normais
do viver humano, era evidenciado pelo autor. Em sua visão de pesquisador,
considerou o evoluir dinâmico da realidade em correspondência com a condição
humana. (CAPRARA et.al, 2008)
O foco da etnografia é definido por LAPLANTINE (2007) como
microssociológico, mais preocupado em entender o cotidiano das populações do que
analisar feitos de “grandes homens” ou sistemas maiores, como faz a História ou até
a própria Sociologia:
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9 Advocacy é um conceito ainda em construção cujo significado preciso varia conforme o contexto
social e político de cada nação. Esse conceito está adquirindo novos conteúdos e significados à
medida que diferentes grupos sociais vão se envolvendo no trabalho de incidência política. (Libardoni,
2000).
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Sabemos que só boas intenções não são suficientes para manter uma ONG,
precisamos pensar sobre as dificuldades enfrentadas, como identificar fontes de
financiamento, elaborar propostas consistentes, captar recursos e gerir as
organizações e seus projetos. Pensando nisso e em formas de como essas ONG’s se
planejam financeiramente, para a construção do pensar e agir, podemos analisar em
outros estudos como em Tenório, (2009), que as ONG’s são voltadas para o
atendimento de necessidades da sociedade civil, e algumas vezes podendo até
complementar ações do Estado. Ressalta também em seus estudos, que o
planejamento das ONG’s depende da fonte do financiamento, ou seja, necessitam de
apoio externo para concretizarem suas ações. Dessa forma podemos ver a relação
que tem com a AMODEFA, assim como outras organizações, ela depende de ajuda
de parceiros, e voluntários financiando seus projetos, para assim terem recursos para
alcançar mais comunidades. Precisando aprender a elaborar bons projetos e
parcerias, conhecendo as empresas interessadas em financiar seus projetos sociais,
para obtenção de recursos para os projetos a longo prazo. Gouveia, 2007.
Outro ponto importante a ser frisado é a interferência que a violência social
pode vir a ter na saúde de um indivíduo e de sua comunidade. Minayo (1994), diz que
a violência não é um problema somente da saúde pública, mas que também afeta
diretamente a saúde. Agudelo (1990), afirma que a violência representa um grande
risco no processo vital humano, ameaçando vidas, alterando a saúde, ocasionando
enfermidades e provocando mortes, como realidade ou como possibilidade próxima.
Analisando dessa forma, a atuação da AMODEFA em defesa da promoção de saúde,
lutando pela justiça social, através do processo de atuação da causa e efeito da
violência, cumpre seu papel, contribuindo de maneira que atenda a necessidade das
pessoas e diminua as violências sociais.
Apesar das ONG’s se fazerem necessárias, elas “são alvos de críticas
daqueles que percebem nesse âmbito oportunidades para desvios de verbas,
lavagem de dinheiro ilícito e outras desonestidades”, demonstrado por Álvares (2000).
Em Gomes (2015), acrescenta que apesar das ONG’s serem criadas para atender as
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Imagem 2: Visitas Domiciliares com enfermeira e voluntárias da AMODEFA, paciente e seu filho.
Foto: Própria e autorizada pelos envolvidos – 2019.
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Imagem 10: Feira da Saúde em Centro de Saúde 1°de maio – Junto a Jovens Voluntárias Ativistas
Sociais da ONG AMODEFA – Foto: Epi Manjate, 2019.
Imagem 11 e 12: Feira da Saúde em Centro de Saúde 1°de maio – Matérias de divulgação de direitos
sexuais e reprodutivos. Foto: Própria, 2019.
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Imagem 19: Feira da Saúde no Mercado Zimpeto, Carreta de atendimento a testes rápidos de DST –
Foto: Própria, 2019.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A violência se torna um fator pesado ao ser lidado em uma sociedade. Tendo
em vista que a violência social é uma violência advinda de uma construção social,
desconstruir esse paradigma não é fácil. Moçambique possui um histórico de
violências desde a colonização, seu processo de luta pela independência, deixando
resquícios dessa violência pós-guerra, como pobreza, desigualdades econômicas e
perpetuação da violência de gênero, tornando visível a conexão entre a violência, a
economia, a saúde e a situação social da maior parte da população.
Pode-se observar que o serviço nacional de saúde moçambicano é público, e
fornece os serviços necessários para a população, desde cuidados primários até os
mais complexos, porém, demonstra uma precariedade quanto a pobreza, tornando-se
uma problemática da saúde no país, impulsionando no amadurecimento
socioeconômico de Moçambique, afetando diretamente nos custos ao combate e
prevenção de doenças como a malária, cólera, tuberculose e ao HIV/AIDS/SIDA .
Atentando às necessidades do país, se vê a importância e necessidades que
as ONGs têm, ao assumir a responsabilidade perante a deficiência na saúde. Depois
da constituição de 1994 surgiram as primeiras ONGs em Moçambique, dentre elas
está a AMODEFA, cujo objetivo se dá na criação de ambientes seguros e sadios para
jovens e mulheres, trabalhando no apoio ao planejamento familiar através da garantia
de fornecimento confiável de contraceptivos de qualidade, advocacia para políticas de
apoio ao Planejamento Familiar, e assim gerando o aumento do acesso ao
planejamento familiar.
Através do ativismo social que a AMODEFA realiza, milhares de jovens,
mulheres e famílias tem um retorno positivo ao acompanhamento do tratamento de
HIV/SIDA, através de clínicas comunitárias vinculadas aos cuidados domiciliares, se
beneficiam também com a diminuição de gravides prematura, contando com
programas de saúde sexual e reprodutiva, fornecidos aos jovens, nas escolas e outros
centros que abram oportunidades de abordar a temática.
Sobretudo ainda há limitações e desafios à diversas ONGs, para lidar e
continuar atuando junto a essas problemáticas e com a AMODEFA não é diferente.
Contar com pessoal de apoio, material de trabalho, equipamento de campo,
transporte, não são tarefas fáceis e nem baratas. Dessa maneira a AMODEFA
consegue minimizar a problemática da violência social, contribuindo no quesito saúde
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REFERÊNCIAS
ENGEL, F., 1981. Teoria da violência. In: Engels, p.187, São Paulo: Ática.
GOREDEMA, C. Getting Smart and Scaling Up: The Impact of Organized Crime
on Governance in Developing Countries – A Case Study of Mozambique.
Responding to the Impact of Organized Crime on Developing Countries. Center on
International Cooperation, New York University (CIC NYU). 2013.
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MARIANO, E., BRAGA, C., & MOREIRA, A. Estudo sobre o Tráfico de órgãos e
partes do corpo humano na Região Sul de Moçambique. CAFOD-CEMIRDE,
Maputo. 2016.
MATTOS, T. M. Visita domiciliária. In: Kawamoto EE, Santos MCH, Mattos TM.
Enfermagem comunitária. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária; 1995. p. 35-
9.
20a%20manterem%20relacoes%20sexuais%20com%20homens%20desconhecidos
%20em%20Meconta.pdf. Acesso em 15 jan 2021.
SLEGH, H.; MARIANO, E.; ROQUE, S., & BARKER, G. Ser Homem em Maputo:
Masculinidades, Pobreza e Violência em Moçambique: Resultados do Inquérito
Internacional sobre Homens e Igualdade de Género (IMAGES). Washington, DC e
Rio de Janeiro: Promundo. 2017.