Lingua e Linguagem Joana Darc de Andrade Freitas. Tcc. Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa. 2015
Lingua e Linguagem Joana Darc de Andrade Freitas. Tcc. Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa. 2015
Lingua e Linguagem Joana Darc de Andrade Freitas. Tcc. Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa. 2015
CAJAZEIRAS-PB
2015
JOANA DARC DE ANDRADE FREITAS
CAJAZEIRAS-PB
2015
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação - (CIP)
Cajazeiras - Paraíba
45f.
Bibliografia.
–81’ 6=1 .6
AGRADECIMENTOS
À minha família, que me deu forças para continuar quando eu pensei em desistir, com
o desejo de me ver realizada profissionalmente e acima de tudo feliz.
Aos amigos que compreenderam minha ausência durante a elaboração desse trabalho,
quando o que eu mais queria era estar perto deles.
Aos colegas de curso que dividiram os momentos de ansiedade, quando tudo parecia
estar perdido.
Enfim, agradeço a todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram para o meu
amadurecimento pessoal e profissional.
“O objetivo da escola, no que diz respeito à
língua, é formar cidadãos capazes de se exprimir
de modo adequado e competente, oralmente e por
escrito, para que possam se inserir de pleno
direito na sociedade e ajudar na construção e na
transformação dessa sociedade.”
(Marcos Bagno)
RESUMO
The traditional teaching of Portuguese, long since, has considered the normative grammar as
essential for us to use the language properly, which leads students to believe that there is a
"right" way and other "wrong" way of speaking, as a consequence of this attitude, the social
classes of stigmatized dialects are excluded from society because they use their mother tongue
at odds with the grammatical rules preserved by the school, in addition, that traditionalism
does not allow achieving some of the teaching goals, as to educate competent language users.
In this context, the purpose is to encourage Portuguese-speaking teachers to respect the
linguistic variation, addressing this phenomenon in the language in its many forms, not only
concentrating on the formal structures of the language. Therefore, based on the aspects
addressed about the conception of language and speech in the normative education, which
considers language as a system of rules and confuses it with the traditional grammar, unlike
Linguistics, which conceives language as a system of signs and sentences that speakers are
capable of producing, as proposed by the assumptions of Sociolinguistics that presents the
language from a variable form, which is influenced by the social, cultural and historical
contexts. Our work occurred by literature research, using the precepts of Alckmin (2011),
Bagno (1999, 2001), Bortoni-Ricardo (2004), Camacho (2011), Snow (2002,2011), Saussure
(2012) among others. We believe that the Portuguese language teaching should review its
methods, dealing with the variation and respecting the linguistic diversity of the students,
explaining that speakers can use the language properly according to each interaction situation,
without forgetting grammar that it is required in certain situations.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 10
1 CONCEPÇÕES SOBRE LÍNGUA E LINGUAGEM...................................................... 13
1.1 NOÇÃO DE LINGUAGEM ........................................................................................... 15
1.2 NOÇÃO DE LÍNGUA.................................................................................................... 16
2 BREVE HISTÓRIA DA GRAMÁTICA ........................................................................... 22
2.1 ESTABELECIMENTO DE UM PADRÃO LINGUÍSTICO ......................................... 23
2.2 A NOÇÃO DE GRAMÁTICA ....................................................................................... 25
2.3 O ENSINO DA GRAMÁTICA ...................................................................................... 29
3 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA X ESCOLA ........................................................................ 33
3.1 VARIAÇÃO LINGUÍSTICA E ENSINO: A POSSIBILIDADE DE MUDANÇAS .... 36
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 42
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 44
INTRODUÇÃO
O ensino de língua portuguesa tem sido alvo de muitas reflexões nos últimos anos.
Isso vem ocorrendo porque os pesquisadores estão cada vez mais preocupados com a
ineficácia desse ensino, apontada pelos índices nas avalições oficiais como o Enem, Ideb, etc.,
por não estar formando cidadãos capazes de se expressarem efetivamente através da fala ou
escrita, resultados percebidos através das provas de avaliação da educação.
Um dos possíveis fatores que influencia nisso é que, desde cedo, o professor de
português ensina aos alunos que existe uma maneira “correta” e outra “errada” de falar.
Assim, delimitam por meio da gramática o que pode e o que não pode na língua, conduzindo
os usuários a pensarem que não sabem falar, que não sabem português, e que essa disciplina é
muito difícil, o que provoca, desta forma, outro problema: o preconceito linguístico com as
classes estigmatizadas que não dominam essa língua que é ensinada nas escolas.
qualquer situação, pois possuem uma gramática interna, diferente daquela que encontramos na
escola.
A realização do trabalho se deu por pesquisa bibliográfica com ajuda dos pressupostos
de Saussure, Marcos Bagno, Marcuschi, Bortoni Ricardo, Moura Neves, Antunes etc., que
concebem a língua como um sistema de signos, no qual todo falante é capaz de usar
efetivamente.
Embora já existam tentativas de modificar as falhas que se encontram no ensino de
língua portuguesa, os docentes e os professores em formação, devem procurar refletir essa
ineficácia. Em outras palavras, eles devem se atualizar através de leituras, pesquisas, cursos,
palestras, e assim por diante, de modo que continuem sua formação, pois um bom professor
deve ser um eterno aprendiz. Eles também devem deixar de se ater somente ao livro didático,
porque estes deixam muito a desejar, uma vez que o conteúdo da variação linguística é muito
limitado. Enfim, os professores devem buscar outras fontes, indo além das exigências da
escola.
Para que o ensino de língua materna não se concentre apenas na gramática é preciso
que os professores tenham conhecimento da natureza heterogênea da língua, de forma a
respeitar a diversidade linguística dos alunos, trabalhando-a nas aulas. Mostrando, por
exemplo, as formas de usar a língua, na tentativa de desconstruir a ideia de que existe uma
forma certa e outra errada de falar. Assim, chegando ao objetivo de desenvolver a
competência comunicativa dos aprendizes e a habilidade de se comunicar em qualquer
situação com segurança.
13
Cada criança que nasce num grupo social adquire hábitos de fala e de
resposta nos primeiros anos de sua vida. (...) Sob estimulação variada, a
criança repete sons vocais. (...) Alguém, por exemplo, a mãe, produz, na
presença da criança, um som que se assemelha a uma das sílabas de seu
balbucio. Por exemplo, ela diz doll [boneca]. Quando esses sons chegam aos
ouvidos da criança, seu hábito entra em jogo e ela produz a sílaba de
balbucio mais próxima, da. Dizemos que nesse momento a criança começa a
imitar. (...) A visão e o manuseio da boneca e a audição e a produção da
palavra doll (isto é, da) ocorrem repetidas vezes em conjunto, até que a
criança forma um hábito. (...) Ela tem agora o uso de uma palavra.
(BLOOMFIELD apud KENEDY, 2009, p. 128).
16
Para o referido estudioso, a linguagem é aprendida quando a criança tem contato com
o externo. Quando alguém fala uma palavra desconhecida para uma criança acontece a
estimulação nesta, permitindo a produção de uma resposta a esse estímulo. Assim, a criança
irá repetir e, dessa forma, adquirir a linguagem pela interação com o social.
Segundo Kenedy (2009, p.128) Chomsky apresentou uma crítica a esse modelo de
linguagem defendida pelos behavioristas numa resenha em 1959, sobre o livro
“Comportamento verbal” escrito por Skinner, teórico behaviorista. O crítico proferiu que o
indivíduo humano sempre age criativamente quando usa a linguagem, ou seja, constrói frases
novas a todo momento, jamais ditas antes pelo falante que as produziu ou por outras pessoas.
Chomsky (apud Kenedy, 2009, p.128) esclarece que “a criatividade é o principal aspecto
caracterizador do comportamento linguístico humano”.
Para este teórico, o pensamento do behaviorismo, de que o comportamento linguístico
de um indivíduo deve ser visto como uma resposta previsível, precisava ser abandonado, uma
vez que não havia eventos criativos, pois Bloomfield defendia que a linguagem era adquirida
no contato com o social, enquanto que Chomsky concebe a linguagem como algo que não se
adquire, já que todo usuário da língua pode criar frases novas, sem ter que, necessariamente,
se interagir com o outro.
Para Cunha e Cintra (1985, p.1), a língua é um sistema gramatical que pertence aos
indivíduos. É a expressão da coletividade, e o modo como concebemos e agimos sobre o
mundo. A língua é a utilização da faculdade da linguagem, que não é imutável, mas está em
constante evolução.
Já Saussure (2012) define a língua como um sistema de signos, ou seja, um conjunto
de elementos que formam um todo. Para explicar esse sistema, ele definiu o signo linguístico
como uma entidade psíquica de duas faces: significante (imagem acústica) e o significado
(conceito). O significante é a imagem que vem a nossa mente quando alguém fala sobre
determinada coisa. O significado é o nome que foi convencionado entre os homens que
conceitua a imagem pensada.
Cunha e Cintra (op. cit.) concebem a língua como uma gramática que pertence ao
indivíduo, ou seja, já nascemos com um sistema gramatical interno que é expresso no
17
A fala é adquirida quando começamos a ter contato com as pessoas. Quando ainda
criança vemos o outro falar, acabamos aprendendo. Assim, a língua falada e escrita são
empregadas e adquiridas ao nos comunicarmos na sociedade, nas práticas do dia a dia. A
19
escrita é adquirida na escola, na disciplina de língua portuguesa, de tal modo que ela recebe
maior privilégio, pois promove a ascensão social.
O papel da fala se mistura com o papel da escrita e esta é vista como a representação
daquela. “A língua tem, pois, uma tradição oral independente da escrita e bem diversamente
fixa; todavia, o prestígio da forma escrita nos impede de vê-lo” (MARCUSCHI, 2010, p. 17).
A escrita não é mais importância que a fala, e nenhuma é melhor que a outra, pois cada uma
dessas modalidades da língua cumpre seu papel em cada situação discursiva específica. Mas o
que aconteceu pela força da tradição, como Marcuschi (op. cit.) expõe, é que os usos da
escrita, quando conseguem um valor arraigado na sociedade, tornam-se superior a fala.
A aquisição da escrita na escola faz parte de um dos tipos de práticas de letramentos.
Letramento é um processo histórico representado pela alfabetização regular e institucional.
Mas ele é reduzido no ensino que supõe existir apenas um tipo, que é aquele que ainda iremos
adquirir, no caso, a escrita, pois acredita-se que a fala é algo que já nascemos sabendo e não
precisamos aprender mais nada sobre ela. (MARCUSCHI, 2010, p.19).
É nessa norma que a língua é dividida em língua falada e língua escrita. Dessa forma,
essa dicotomia forneceu um modelo encontrado nos manuais de ensino que deu origem à
maioria das gramáticas que estão em uso hoje. Separam forma e conteúdo, língua e uso. A
língua é caracterizada como um sistema de regras que faz com que o ensino se detenha
somente nas normas gramaticais que devem ser seguidas ao pé da letra. (MARCUSCHI,
2010, p.27).
A oposição entre essas duas modalidades da língua deve ser evitada, pois estigmatiza a
fala, colocando-a em um nível inferior a escrita. Segundo Marcuschi (2010, p.28) “a
perspectiva da dicotomia estrita o inconveniente de considerar a fala como o lugar do erro e
do caos gramatical, tomando a escrita como o lugar da norma e do bom uso da língua.”
Essa visão distorcida se manifesta até hoje na sociedade, embora esteja sendo
combatida pelos linguistas modernos. BAGNO (1999, p.68) diz que “existe uma tendência
muito forte no ensino da língua de querer obrigar o aluno a pronunciar „do jeito que escreve‟,
como se essa fosse a única maneira „certa‟ de falar português”. Mas a língua falada é um
instrumento básico de sobrevivência. A escrita é artificial, exige memorização e não é a
representação da fala, porque não escrevemos igual falamos.
Em suma,a oralidade sempre existirá junto à escrita. Ela é inerente ao ser humano e
não será substituída por nenhum outro meio de expressão. Será sempre o fator que define
nossa identidade.
20
A escrita, de certo modo, não revela quem somos socialmente, culturalmente, pois ao
usar uma norma padrão para escrever qualquer tipo de texto, não dá para identificar qual o
sotaque, dialeto, a variante linguística de quem escreve. Já ao falar por meio de um texto,
ficará claro quem é o indivíduo.
Assim, Marcuschi (2010, p.43) esclarece que as diferenças entre as duas modalidades
da língua podem ser percebidas no uso e não no sistema delas. Para se entender a relação
entre fala e escrita ele defende o uso do código, ressalvando o seguinte:
Bagno (2001, p.24) afirma que uma das principais inovações introduzidas pela
Linguística foi dar à língua falada a importância que sempre lhe fora esquecida durante todo o
tempo de ensino da Gramática Tradicional, pois a língua falada é a verdadeira língua natural,
a língua que cada pessoa aprende em convívio com a sociedade.
A Linguística descreve a língua como ela é, não questiona e nem faz propostas de
como deveria ser, pelo contrário, a examina livre de preconceitos sociais, reconhecendo o
valor que todo uso da língua possui. Dessa forma, essa ciência se torna essencial para o ensino
de Língua Portuguesa, pois dá aparato teórico ao professor e facilita seu trabalho. Esse
professor ao utilizar esses preceitos, passa a ver a língua com outros olhos e transfere isso
para os alunos, que precisam saber que não existe nenhuma língua melhor ou pior que outra,
fazendo com que o preconceito seja amenizado.
O ensino de Português comtempla apenas o uso da língua que obedece as regras da
gramática, que está totalmente distante das teorias linguísticas. Como os linguistas defendem,
a língua é um sistema de signos e regras, mas são regras internas ao ser humano, diferente das
regras gramaticais. Assim, todos os usuários da língua dominam sua gramática interna.
Ensinar a norma culta na escola também é necessário, pois como expõe Franchi (2006,
p.29), o objetivo da escola é levar a criança a dominar a modalidade culta de sua língua, e
principalmente, oferecer condições para que elas tenham acesso às diferentes formas
linguísticas e operar sobre elas. Ou seja, ensinar aos alunos as maneiras de se comunicar,
fazendo uso da escrita, da oralidade, da língua formal, informal, de acordo com a situação
comunicativa, se adequando a cada contexto de uso, sempre respeitando a diversidade
21
linguística dos alunos, sem querer desprezar a gramática, porque esta também é necessária nas
situações mais formais.
Nascemos com a capacidade para usar a nossa língua e desenvolve-la para nos
comunicarmos melhor. A língua é vista pelo viés da gramática como um sistema de regras
rígido, por consequência do estabelecimento de um padrão linguístico que prescreve como se
deve escrever e falar bem, levando as pessoas a acreditarem que existe apenas uma língua
digna de ser considerada a verdadeira, a língua culta, excluindo, assim, as outras variedades
linguísticas.
A nossa língua deve deixar de ser vista como algo que ainda iremos adquirir, e deve
passar a ser reconhecida como algo que faz parte de todos nós seres humanos, pois nascemos
com a capacidade para desenvolvê-la e usa-la como quisermos, pois cada um é quem escolhe
como usar a língua, devendo ficar, todavia, consciente que será sempre julgado pelas pessoas,
uma vez que desfazer essa visão preconceituosa nas pessoas não é tarefa fácil.
Agora passaremos a conhecer um pouco sobre como surgiu a gramática que persiste
até hoje na escola, e como se estabeleceu um padrão para a língua que exclui todas as outras
variedades da língua, causando o preconceito linguístico entres seus falantes e não permitindo
que o ensino de língua portuguesa forme cidadãos proficientes em leitura e escrita.
22
A primeira vez que nos deparamos com a gramática é quando entramos na escola. Lá
pensamos que iremos aprender a escrever e falar “bem” e de forma “correta”. Segundo a
tradição, se não obedecermos às regras gramaticais estamos usando a língua de forma errada.
Quando saímos da escola acredita-se que sabemos escrever e falar perfeitamente, mas na
verdade é o oposto que acontece, não conseguimos dominar nem um terço dessas regras.
Tendo em vista esse fracasso escolar, no qual a maioria das pessoas tem dificuldade
para escrever e ler, recentemente houve a necessidade de discutir-se sobre o assunto. Com
essa reflexão percebeu-se que o que vem acontecendo é um ensino de Português totalmente
voltado para uma gramática que não contempla as variedades linguísticas e nem amplia a
competência dos alunos, já que o ensino de língua materna, segundo Travaglia (2009, p. 17)
se justifica pelo objetivo de desenvolver a competência comunicativa dos falantes da língua,
ou seja, a capacidade de empregar adequadamente a língua nas variadas situações de
comunicação.
Para saber como as práticas dos docentes de língua materna se focou até os dias de
hoje somente na gramática e para entender como se formou essa tradição, iremos abordar de
forma breve a história da gramática, como foi estabelecido um padrão para a língua, e como o
ensino normativo a trata.
A gramática tradicional, muito conhecida por nós, surgiu, inicialmente, no Ocidente,
com os estudos dos fenômenos da linguagem no século V a.C., na Grécia, como ramo da
filosofia, pelos romanos, pelos trabalhos especulativos da Idade Média e pelo estudo dos
gramáticos do período seguinte. (LOBATO, 1986, p.77-79).
Os estudos clássicos e a constituição da tradição gramatical começou quando os
filósofos Platão e Aristóteles tiveram interesse pela língua. Esse interesse foi despertado
quando se questionaram sobre a nossa existência e o nosso pensamento, e não sobre questões
relacionadas exclusivamente à língua. Eles a estudavam com o objetivo de compreender o
pensamento humano. Assim, as obras de Platão e Aristóteles retomavam estudos sobre a
linguagem, refletidas do ponto de vista filosófico. Ou seja, nesse período, a língua era
entendida como expressão do pensamento e, portanto, estudar a língua implicava desvendar o
pensamento humano.(CIRÍACO, 2012, p.2).
Os gregos se dedicarem ao estudo gramatical com a finalidade de preservar a língua
grega, pois esta estava sendo contaminada por barbarismos. Eles tinham receio que as
23
diferenças que estavam acontecendo com a língua no local a modificassem, por isso criaram
uma gramática dessa língua, para que os moradores seguissem um padrão linguístico. (LIMA,
2006, p.36).
Na linha de pensamento dos filósofos, Neves (2002, p.18) diz que “[...] a imagem do
usuário – que é o homem que fala – precedeu a da gramática. Ela está nele: na sua fala há uma
gramática, que ele possui”. Ou seja, o homem é dotado da gramática, nasce com ela. Mas no
ensino tradicional existe o equívoco de que ela é adquirida somente nos manuais, e o
professor por não saber direito o que é gramática acaba confundindo-a com a língua.
Segundo Bagno (2001, p. 15), os estudos da linguagem eram feitos com a língua
literária, usada pelos escritores antigos, chamados de “os clássicos da língua”. Os filólogos
descreveram as regras gramaticais que eram empregadas por esses autores clássicos, servindo
de modelo para quem quisesse escrever obras literárias em grego. A gramática da época, de
acordo com Inês Duarte (2010, p.11), era como a “porta” de acesso ao estilo dos poetas e
prosadores, inaugurada por Dionísio de Trácia, que escreveu a “Arte da Gramática”, e a
escola Alexandria.
Lyons apud Bagno (2001, p.15-16) critica os gramáticos alexandrinos por cometeram
“dois equívocos fatais”: primeiro ao separar a língua escrita da língua falada; o segundo,
encarar a mudança das línguas como “ruína” e “corrupção”. Esse equívoco é visto até hoje no
ensino de língua que concentra-se na escrita, prescrevendo a forma de usa-la bem, através das
normas gramaticais, esquecendo totalmente da fala, como se esquecessem que aprendemos a
falar antes mesmo de escrever, como diz Saussure.
organização das línguas para discriminar alguns usos dos falantes. Também diz que essa
fixação ocorreu pelo fato de que as línguas naturais mudam, decorrente da variação existente.
A língua é confundida a todo tempo com a Gramática que é ensinada na escola, mas
para tentar esclarecer esse equívoco, no primeiro capítulo falamos que a língua é constituída
dela mesma e da fala. A primeira é social e a outra individual. Aquela é fruto da convenção
em sociedade, a outra é particular, na qual o falante escolhe o que enunciar sem obrigação de
usar regras. Já a gramática inventada pelos gregos se baseou nas obras dos clássicos com o
intuito de estabelecer um padrão da língua para quem quisesse escrever igual aos escritores da
época, não havia discriminação com as outras formas de usar a língua. Mas,
equivocadamente, hoje há uma má interpretação da normatização da língua e acabou-se
excluindo as outras variedades por não saberem o que é língua e acharem que ela é a mesma
coisa que a gramática.
As concepções sobre a gramática são variadas. Numa visão mais tradicional ela é tida
como um manual de regras rígidas, no ponto de vista mais reflexivo ela é um sistema
gramatical que o falante já nasce com ele. Travaglia (2009, p. 24-27) apresenta três definições
diferentes sobre gramática. Na primeira concepção, ela é como um manual de regras para o
bom uso da língua para aqueles que querem se expressar de forma adequada. A segunda
concepção é a de gramática descritiva, que descreve a estrutura e funcionamento da língua, da
forma e função. Nesse sentido, esse tipo de gramática é feito de acordo com as teorias
estruturalistas que privilegiam a descrição da língua oral, etc. A terceira concepção de
gramática é o conjunto de regras que o falante aprendeu e as quais usa ao falar. Essa
gramática é o objeto de descrição, não existe em livros, por isso é conhecida como gramática
internalizada.
Das três concepções abordadas, pode-se concluir que a primeira delas, é a que mais
está presente no ensino. Essa gramática é a que privilegia a forma correta de usar a língua, e
se não seguir suas regras não estará “certo”. A segunda gramática estabelece regras de
funcionamento para cada variedade da língua seja ela culta ou não. A terceira concepção
abriga todas as variedades linguísticas utilizadas pela sociedade de acordo com o contexto de
uso. Essa gramática é inata no ser humano, não é adquirida, mas desenvolvida.
26
Para muitos, saber a gramática é uma condição para se tornar um excelente falante.
Um exemplo de pensamento normativo que reforça essa ideia é o de Jepersen (apud
DUARTE, 2010, p. 13), informando que, segundo ele, o gramático é alguém que legisla sobre
como o uso linguístico de cada um deve ser, alguém que conhece a etimologia das palavras da
língua, alguém que convive com as obras do cânone literário, aprendeu e reproduz as formas
corretas do bem escrever e do bem falar.
Ou seja, o autor defende que o gramático é quem estabelece o que pode e o que não
pode na língua. Embora este último estude, pesquise sobre a língua, ele não tem autonomia
para isso, o que ele pode fazer é se basear no uso da língua que toda a população faz e não
somente escolher o uso que acha mais adequado.
A concepção tradicional de gramática normativa do uso da língua é definida por
Franchi (2006, p. 16) da seguinte forma:
Assim, a gramática é vista tradicionalmente como instrumento para quem quer falar
bem e escrever, o que exclui as outras formas de usar a língua, na medida que não existe uma
forma mais bonita. Como diz Neves (2011, p. 61) “nenhuma palavra ou construção é em si e
por si perfeita ou autêntica, e, é, portanto, modelar; nenhum modo de dizer é, em si e por si, o
melhor ou o único a merecer uso [...]”. Por isso, o que importa não é qual o uso mais correto,
mas sim qual o uso que mais se adequa ao contexto, já que não existe nenhum melhor ou
único.
Muitos acreditam que existe “erro” na língua, mas o que está em jogo é a comunicação
e a compreensão do que está sendo dito. Portanto, quando pensamos que estamos cometendo
erro na língua, na verdade são só construções que não estão de acordo com as normas
gramaticais. Ninguém fala errado, as pessoas falam diferente. Sobre isso, Bagno (2011, p. 26)
expõe:
morfemas e lexemas. Da combinação dos dois elementos resultam grupos de palavras, frases e
textos.
Podemos dizer que a comunicação entre falante e ouvinte ocorre por meio desses
signos que são adquiridos na realidade e são arquivados na nossa memória. Os signos,
portanto, são os morfemas e os lexemas que, quando se juntam, produzem frases, textos etc.
Nessa mesma perspectiva, Orlandi (2006, p.40) afirma que a gramática tem forma
dupla: é um sistema de regras que o falante possui e, também, é o artefato constituinte para
caracterizar esse sistema pelo linguista. É também um modelo psicológico de atividades do
falante e uma máquina que gera frases.
A referida autora segue a linha de pensamento de Chomsky, dizendo que a gramática é
um sistema de regras que o falante já possui e que é desenvolvida no decorrer das interações
com o outro, nas quais, não existe erros de gramática, pois o falante domina sua gramática
interna, ao contrário do conceito tradicional que valoriza as regras prescritas nos manuais,
como se a língua ainda precisasse ser adquirida.
Os signos linguísticos, ainda de acordo com Vilela e Koch (2001, p.19), constituem-se
de dois planos linguísticos que são interdependentes entre si: o plano semântico (conteúdo) e
o plano fonológico (forma). A forma transporta os efeitos comunicativos, compreende
elementos registráveis. Já o conteúdo é abstrato e invariável do conhecimento ou
reconhecimento de um objeto, ou de uma relação da realidade como está sendo arquivada na
memória de uma comunidade linguística. O plano semântico surge a partir de esquemas
cognitivos em que a sociedade construiu a realidade extralinguística. A menor unidade desse
plano é o sema. Ele interfere na construção do conteúdo de morfemas e lexemas (sememas).
O plano fonológico é formado por sons. O elemento menor é o traço distintivo que quando
combinados formam os fonemas: menores unidades distintivas de conteúdo. (Grifos dos
autores).
Existem outros planos linguísticos, dentre eles estão o plano morfemático, que é
formado por signos linguísticos que, quando combinados entre si, desempenham diferentes
funções. A menor unidade portadora de significado é o morfema. O plano lexical ou
lexemático compõe-se de signos linguísticos relativamente autônomos, isolados. As unidades
são lexemas, tanto palavras compostas de um ou vários morfemas, como também os grupos
de palavras. No plano sintático as unidades básicas são os grupos de palavras e as frases.
Essas unidades no plano lexical são colocadas em relação entre si e também as unidades
sintáticas menores relacionadas com as maiores; o plano textual e discursivo são compostos
29
por resultados de ações comunicativas ou textemas. (Grifos dos autores) VILELA E KOCH
(2001, p.20-21).
A gramatica tradicional que era para ser apenas uma forma de usar a língua foi se
generalizando e fazendo com que acreditássemos que devíamos usá-la em toda situação.
Como afirma BAGNO (2001, p. 17): “A GT sai „colonizando‟ todo o resto, criando um
império de ideias, noções e preconceitos sobre o que é ou não é „língua‟ [...]”. O que vemos
hoje é um ensino de língua Portuguesa pautado na escrita, pois a gramática impõe isso. O
referido autor ainda conclui que “ao se dedicar exclusivamente a língua escrita, a GT deixou
de fora toda a língua falada”. Isso se deveu a sociedade elitista que detinham todo o poder, era
uma cultura letrada, e por isso ditavam as normas do que a população inteira deveria fazer, em
todos os aspectos da vida social. A gramática tradicional foi criada para servir de regras para a
escrita literária, mas passou a ser usada para regras de todo e qualquer uso linguístico. (p.16-
18).
Os docentes precisam ter conhecimento do surgimento da gramática e saber que ela se
originou muito depois da língua, por isso não há motivos para a gramática se sobrepor a
língua. Já que esta é um produto inato e a gramática é só um sistema de regras que
escolhemos quando usar. Diante disso, percebemos que o papel que a gramática tem hoje na
escola é igual ao daquela época, que era de repassar as regras da língua culta para o povo.
Como consequência a gramática é considerada hoje a língua verdadeira e oficial. Quem não a
segue em todas as situações é discriminado por aqueles que não possuem conhecimento
linguístico.
linguística que é muitas vezes ignorada, simplesmente por falta de preparo do docente, que
não respeita a diversidade linguística dos alunos.
33
carioquinha, pão aguado, pão de sal etc. Ou seja, em cada espaço geográfico, como o estado
ou região do país, a língua apresenta variações.
A variação social, segundo Alkmim (2001, p.34), relaciona-se com fatores de classe
social, idade, sexo, situação ou contexto social, relacionado com a identidade dos falantes e
com a organização da comunidade da fala. Ou seja, a língua pode variar quando é falada por
um homem ou por uma mulher, por um jovem ou por um idoso, por uma pessoa alfabetizada
ou por uma não-alfabetizada, por uma pessoa de classe alta ou classe baixa.
Dentro dessa variação encontram-se outros tipos de variações, entre elas podemos
destacar: a variação histórica, a regional e a situacional. A variação histórica corresponde a
mudança da língua no decorrer do tempo. Há transformações no som, na pronúncia, forma, e
no significado, pois a língua está sempre se renovando, uma vez que ela acompanha o
processo de mudanças no contexto social. A variação regional são as diferenças que uma
língua apresenta nas diversas regiões em que é usada. Uma língua, como o português, é usada
em todo o território do nosso país, mas em cada região ela apresenta particularidades: o nível
de escolaridade, por exemplo, uma pessoa analfabeta não usa palavras formais, ao contrário
de uma pessoa escolarizada. A variação situacional ou estilística, por sua vez, corresponde aos
usos das diferentes variedades linguísticas de acordo com a situação. Por exemplo, ao
participar de uma entrevista, não podemos usar a mesma linguagem que usamos em casa ou
no bate-papo das redes sociais, como o facebook.
Segundo Alkmim (2011, p.40), existem também as variedades de prestígio e
variedades não prestigiadas nas sociedades. Assim, existe uma variedade padrão que é mais
valorizada, requerida em situações formais, e que é mais imposta em todos os contextos pelas
pessoas que a dominam. É por meio da fala, inclusive, que acontece julgamento sobre a
identidade de um indivíduo, o seu grau de conhecimento, e principalmente a sua posição na
escala social. Por exemplo, quando alguém fala sem preocupação em usar a norma-padrão,
logo é vista como uma pessoa “burra”, sem conhecimento, já por outro lado, se alguém falar
de acordo com o padrão da língua, esta é imediatamente valorizada e imagina-se que tem boas
condições financeiras. Existem variedades que são tidas como superiores à outras, vistas
inferiormente. Para Camacho (2011), a variante padrão ou de prestigio é aquela que adquire
valor na sociedade pelo poder e autoridade que os falantes possuem nas relações. O autor cita
como exemplo a marca do plural no sintagma nominal, que é tida como detentora de prestígio
social, enquanto a ausência dessa marca é conhecida como não padrão ou estigmatizada.
Existe o preconceito que reforça a existência de apenas uma língua, na qual devemos
se espelhar quando formos interagir com o outro, a língua padrão, de modo que a tradição
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preconiza seu uso em todas as situações, até mesmo as que não são exigidas uma linguagem
mais formal. Neste caso, quando alguém fala “pranta” e alguém rir dessa forma de falar, por
exemplo, está cometendo o preconceito linguístico.
Alkmim (2011, p.40) ressalva que a variedade padrão não é como todos pensam, ou
seja, que é a língua verdadeira, original. Essa variedade é resultado dos modos de falar
selecionados entre os vários usos existentes numa comunidade, de outro modo, é resultado do
estabelecimento de um conjunto de normas que definem o que é “correto” na fala. São fatores
históricos, políticos que provocam o prestígio à determinadas variedades regionais,
alimentando a rejeição em relação a outras variedades. Portanto, a responsabilidade é da
escola de combater esse preconceito. (BORTONI, 2004, p.34).
Não existe uma maneira certa e outra errada de usar a língua, o que existe é a
adequação desta a cada situação comunicativa. A variante que o usuário irá se utilizar é a
variação estilística. Nesse aspecto, Alkmim (2001, p.38) esclarece que “os falantes
diversificam sua fala – isto é, usam estilos ou registros distintos – em função das
circunstâncias em que ocorrem suas intenções verbais”.
Para Alkmim (2011, p.41), a avaliação social das variedades é feita em todas as
comunidades de fala. As pessoas usam termos como língua inferior para referir-se as línguas
que não estão de acordo com a norma. Mas, a autora confirma que “toda língua é adequada à
comunidade que a utiliza, é um sistema completo que permite a um povo exprimir o mundo
físico e simbólico em que vive.”
Essa discriminação com a língua materna é cada dia mais reforçado pela mídia, pela
escola, pelos livros didáticos e o ensino tradicional. Esse preconceito que nos rodeia, a
respeito do uso da língua que fazemos, é antes de tudo social. A língua padrão é vista como
meio para crescer socialmente, para se ter status e alcançar sucesso e prestígio na sociedade.
Quem não a utiliza é desvalorizado e estigmatizado.
atividades sociais, levando este a falar pouco para errar menos, pelo receio de não saber se
expressar.
Partindo do pressuposto de que a língua é variável e está relacionada a fatores sociais,
buscaremos abordar a possibilidade de se trabalhar com a variação contraposta com o ensino
tradicional de língua portuguesa, que enfatiza a norma-padrão, no qual os docentes devem
revisar o método de ensino, passando a valorizar a diversidade linguística de seus alunos.
A tradição [...] na prática de quem educa [...] há somente uma língua correta
e eficaz a todas as circunstâncias de interação, que se define como norma.
Essa variedade de linguagem é, com efeito, uma forma institucionalizada de
imposição e que, por isso, adquire o direito de ser a língua, restando às
demais variedades cuidados repressivos. (CAMACHO, 2001, p. 68).
O erro do ensino normativo é quererdar uma língua aos alunos, como se eles não a
possuíssem, como se eles entrassem na escola sem saber falar. A língua que o aluno possui é
ignorada pela escola que oferece uma língua ao usuário. Segundo Camacho (2001, p. 68), a
pedagogia da língua impõe um modelo de linguagem para substituir a variedade que o aluno
já domina, a escola ignora a variação linguística. Mas, “todo falante nativo de uma língua
sabe essa língua. Saber uma língua, no sentido científico do verbo saber, significa conhecer
intuitivamente e empregar com naturalidade as regras básicas de funcionamento dela”.
(BAGNO, 1999, p. 35).
Sobre o ensino da variação, Faraco (2008, p.177) aponta que os livros abordam a
variação como um erro. A variação mais encontrada nos manuais é a geográfica, por ser a
mais fácil de ser trabalhada. O autor ressalta que esses fenômenos não são apresentados como
expressões das línguas pertencentes a comunidade de cada região.
No ensino, é trivial vermos professores corrigindo os alunos quando falam sua língua
materna por não estarem de acordo com a gramática. Mas essa correção não deve acontecer,
já que existem outros caminhos para mostrar que não está errado a maneira como o aluno fala,
mostrando que existe outra maneira de falar a mesma coisa. Para Bortoni (2004, p.37) os
“erros” de português que os professores acreditam que os alunos cometem, não é nada menos
que as diferentes variedades da língua. Essas diferenças estão entre as variedades usadas no
lar, como o uso da oralidade e a variedade ensinada na escola, pelo letramento.
A correção feita pelo professor não é uma atitude positiva, pois ele estará reforçando
que a língua que o aluno usa é errada. Uma forma de desconstruir o preconceito com as
variantes dos alunos é a intervenção do professor, como sugere Bortoni (2004, p.42): diante
do uso da regra não-padrão pelo aluno, o professor deve identificar e conscientizar a
diferença. Embora a identificação possa ser prejudicada pelo desconhecimento daquela regra,
mesmo que o professor a tenha em seu repertório, às vezes não a percebe na linguagem do
aluno. Quanto a conscientização, é necessário conscientizar o aluno sobre as diferenças para
que ele passe a monitorar seu estilo.
Essas intervenções no momento da fala do aluno devem ser feitas com muito cuidado
e no momento oportuno, pois como a referida autora diz, o trato inadequado pode levar à
insegurança, revolta e perda de interesse. Pois o professor não está ensinado para corrigir os
alunos sobre o que pode e o que não pode na língua, mas sim, segundo Bortoni (2004, p.78),
desenvolver a competência comunicativa dos alunos para que eles possam usar com
segurança os recursos de comunicação, para que se tenha um bom desempenho nos contextos
de interação.
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Segundo Bagno (1999, p.107-108), o ensino tradicional não incentiva o uso das
habilidades linguísticas do aluno, não os deixam expressarem-se livremente, para que só
depois o professor possa corrigir suas falas ou produções escritas. Na verdade, o professor
interrompe a expressão natural com a atitude corretiva, por consequência cria um sentimento
de incapacidade e de incompetência no aprendiz. Assim, o professor deve mostrar a maneira
de se expressar bem em cada situação, em um contexto mais formal deve-se usar a língua
culta, e em uma situação informal, deve-se usar a língua sem preocupação com a gramática,
mas isso fica a critério do falante, ele quem escolhe como falar. Camacho (2011, p.72) diz que
a variedade padrão não precisa ser substituída. O professor quem deve fornecer aos alunos a
possibilidade de perceber as diferenças de valor social, e selecionar a mais adequada. “A
ciência linguística defende que o bom uso da língua é aquele que é adequado às condições de
uso”. ANTUNES (2001, p. 104)
A variação linguística é o bem cultural do povo, e não uma característica que faz uns
serem melhores ou piores que outros. Para Antunes (2001, p.109) o convívio com as
diferenças de expressão é uma oportunidade de se conhecer as variedades dos falares que
existem no país, sem valorizar mais uma do que outra, para gerar respeito às expressões dos
falantes.
Estudar a variante de cada região é necessário,na medida em que as pessoas estão
constantemente em contato com outras que não falam de maneira igual entre si. Então, para
que não aconteça o preconceito, nada melhor do que ter conhecimento sobre a variante do
outro, para conviver com as diferenças e aprender a respeitar o próximo.
Os PCNs (p.52)de língua portuguesa do ensino médio propõemas competências e
habilidades que:
apenas nas regras gramaticais ou nos movimentos literários, sobretudo, deve-se desenvolver a
competência do aluno em agir com a língua nas diversas situações, formais ou informais.
Os PCNs (p. 54-55) ainda ressaltam que o desenvolvimento da competência não
acontece simplesmente pela memorização de regras de ortografia da gramática normativa ou
prescritiva. Mesmo que a abordagem gramatical esteja presente no ensino de línguas, as
sequências linguísticas, que o aluno já possui internamente e pela qual faz uso nas situações
cotidianas, devem ser consideradas. De forma a desenvolver, a partir dos níveis morfológico,
lexical e sintático da língua, as habilidades em conjunto para a aquisição de uma competência
gramatical mais abrangente.
A melhor maneira de estudar os usos da língua é por meio de textos, pois nossa
comunicação só se realiza com eles. O estudo do texto contribui significativamente para a
capacitação do aluno de usar a língua com mais eficiência em todas as situações, desde o
contexto formal ao informal, podendo ser textos orais ou escritos. Além de dar a oportunidade
de se trabalhar com as diversas variedades da língua. Segundo os PCNs (p.55):
De acordo com os PCNs, o ensino eficiente da língua deve ser pautado nos estudos dos
gêneros textuais, já que a nossa comunicação só ocorre por meio destes. Deveriam ser
prioridade, já que possibilitam aos alunos o domínio de sua língua para depois dominar a
gramática desta, mas o inverso acontece e não se aprende efetivamente nenhum dos dois.
Portanto, deve-se explorar as variedades e refletir sobre a língua, conhecer seu
funcionamento e seu uso, pensando na sua adequabilidade dependendo de cada contexto.
Faraco (2008, p. 180) ressalta que o nosso grande desafio é construir um ensino de variação
linguística que valorize a realidade da língua do país, reconhecendo que ele é multilíngue,
sem tratar como estereótipo a variação, encontrar, portanto, a norma culta comum nas práticas
sociais, abandonar a valorização da norma-padrão, etc.
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Para o referido autor, nós falamos um português que não é uniforme. Sua realidade é
diversificada tanto no espaço social e geográfico. Essa diversidade “constitui, [...] um
patrimônio histórico e cultural, um bem de que temos de nos orgulhar e não de nos
envergonhar: ela é um retrato de nossa história como sociedade”. (FARACO, 2008, p. 181).
É necessário que os docentes e professores em formação adotem uma postura
inovadora frente ao ensino de língua portuguesa, com o propósito de formar cidadãos
conscientes e críticos, frente a realidade da sociedade, de modo que eles possam se pronunciar
em qualquer situação sem receio de que não sabem falar. Ou seja, seguros, portanto, de que
estão usando a língua adequada para o contexto.
Diante disso, é dever da escola levar o aluno à compreensão da essência heterogênea
da língua. A missão do professor de língua materna é transformar o seu aluno em alguém
capaz de produzir e compreender todas as variantes da sua língua e saber escolhê-las
adequadamente. Eles também devem levar a conscientização de que a variedade padrão tem
um certo valor e prestígio na sociedade. Portanto, não devem reforçar esse preconceito, mas
ajudar a descontruir.
Percebe-se o esforço das instituições, dos PCNs, quanto a reorientação no ensino de
língua por uma escola mais integradora e eficiente. Mas ainda não está sendo o suficiente, é
necessário um maior empenho da escola, do professor e da própria elaboração dos livros
didáticos para um ensino mais contextualizado. Apesar das mudanças já feitas, a escola ainda
não é capaz de formar leitores adequados, nem pessoas para se expressarem coerentemente.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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Introdução a linguística: domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. pp.21-47
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no caminho. Belo Horizonte: Ed. Parábola, 2001.
BAGNO, Marcos. A língua de Eulália. Novela sociolinguística. 15 ed. São Paulo: Contexto,
2006.
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1999.Disponível
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Cortez, 2001.pp 49-75.
CALVET, Louis Jean. Sociolinguística: uma introdução crítica. Trad. Marcos Marcionilo.
São Paulo: Parábola, 2002.
FARACO, Carlos Alberto. Norma culta brasileira: desatando alguns nós. São
Paulo:Parábola editorial, 2008.
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Parábola, 2006.
LOBATO, Lúcia Maria Pinheiro. Sintaxe gerativa do português. Belo Horizonte, 1986.
NEVES, Maria Helena de Moura. A gramática-história, teoria, análise e ensino. São Paulo.
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________. Que gramática estudar na escola? 4.ed. São Paulo: Contexto, 2011.
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SONIA, Natália de Lima. A decisão de ensinar (ou não) a gramática teórica: depoimentos
de professores de rede pública. Taubaté, São Paulo, 2006. Dissertação.
WAAL, Daiane Van Der. Gramática e o ensino de língua portuguesa. Disponível em:
<http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2009/anais/pdf/2003_1006.pdf>. Acesso em:
15 fev. 2015.