Assobrafir 13 E43873
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Resumo
Introdução: A perda do recolhimento elástico pulmonar e a limitação ao fluxo aéreo
em pacientes com DPOC estão relacionadas as alterações na biomecânica dos músculos
respiratórios e na função pulmonar. A dispneia, sintoma comum nesses pacientes está
associada a limitação ao exercício e redução na força e endurance muscular respiratória.
Objetivo: Avaliar se há associação da capacidade vital forçada (CPF) com a endurance
muscular respiratória e a capacidade funcional de pacientes DPOC. Métodos: Trata-se de
um estudo analítico, observacional e transversal. A amostra foi composta por 40 pacientes
com DPOC, de ambos os sexos, atendidos no ambulatório de pneumologia de um hospital
público da cidade de João Pessoa, Paraíba.Os dados referentes a CVF foram extraídos através
da análise de resultados da espirometria. A endurance muscular respiratória foi avaliada
pelo índice de resistência a fadiga (IRF) e a capacidade funcional pelo teste de caminha de
6 minnutos (TC6). Resultados: Apenas 22,5% dos participantes (n=9) tinham redução na
endurance muscular respiratória, porém em relação a distância percorrida no TC6, 97,4%
(n=38) apresentaram uma capacidade funcional limitada. Observamos que não houve
associação entre os valores da CVF com a endurance muscular respiratória (p = 0,825). No
entanto, encontramos uma associação positiva entre a CVF com a distância percorrida no
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Departamento de Fisioterapia, TC6 (p = 0,012), demonstrando que quanto maior a CVF melhor era o desempenho no TC6.
Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Conclusão: O presente estudo demonstrou que a redução da CVF pode ser um fator de
João Pessoa, PB, Brasil
limitação da capacidade funcional em pacientes com DPOC.
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Unidade de Fisioterapia, Hospital
Agamenon Magalhães (HAM), Recife, PE, Palavras-chave: DPOC; Capacidade vital; Resistência física; Teste de caminhada.
Brasil
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Unidade de Gestão da Pesquisa, Empresa
Brasileira de Serviços Hospitalares – Abstract
EBSERH, Hospital das Clínicas, Universidade Background: Loss of pulmonary elastic recoil and airflow limitation in patients with COPD are
Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE, related to changes in the biomechanics of respiratory muscles and lung function. Dyspnea, a
Brasil
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Programa de Pós-graduação em common symptom in these patients, is associated with exercise limitation and reduction in
Fisioterapia, Universidade Federal da respiratory muscle strength and endurance. Aim: To assess whether there is an association
Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB, Brasil
of forced vital capacity (FVC) with respiratory muscle endurance and functional capacity in
COPD patients. Methods: This is an analytical, observational and cross-sectional study. The
Como citar: Felix JVS, Souza ED, Amaral sample consisted of 40 patients with COPD, of both genders, treated at the pulmonology clinic
TCN, Pedrosa R, Elihimas Júnior UF, Lima
JHM, França EET. Associação da capacidade
of a public hospital in the city of João Pessoa, Paraíba. Data referring to FVC were extracted
vital forçada com a endurance muscular by analyzing the results of spirometry. Respiratory muscle endurance was assessed by the
respiratória e a capacidade funcional Fatigue Resistance Index (IRF) and functional capacity by the 6-minute walk test (6MWT).
em pacientes com DPOC. ASSOBRAFIR
Ciênc. 2022;13:e43873. https://doi. Results: Only 22.5% of participants (n = 9) reduced respiratory muscle endurance, but in
org/10.47066/2177-9333.AC.2020.0044 relation to the distance covered in the 6MWT, 97.4% (n = 38) dissipated a limited functional
capacity. We observed that there was no association between FVC values and respiratory
Submissão em: Junho 09, 2021 muscle resistance (p = 0.825). However, we found a positive association between a FVC and
Aceito em: Janeiro 09, 2022 the distance covered on the 6MWT (p = 0.012), demonstrating that the higher the FVC the
better the performance on the 6MWT. Conclusion: The present study alters that the reduction
Estudo realizado em: Universidade Federal
da Paraíba (UFPB), João Pessoa, PB, Brasil. in FVC can be a limiting factor in functional capacity in patients with COPD.
Aprovação ética: CAEE
86468218.6.0000.5183 da Universidade
Keywords: COPD; Vital capacity; Physical endurance; Walk test.
Federal da Paraíba, nº 2.596.531.
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sob a mesma licença.
Para obtenção dos dados referentes a variável da do indivíduo. Ele avalia a distância máxima que o paciente
endurance muscular respiratória foi considerado os dados consegue percorrer sobre uma superfície plana e rígida
obtidos pelo teste de carga incremental, onde os pacientes de 30 metros, delimitada de forma clara e visível com a
foram instruídos a realizar o maior número de respirações, utilização de 2 cones, durante o período de 6 minutos.
expirar até o volume residual (VR) e logo após, fazer uma Os pacientes foram instruídos a caminhar o mais rápido
inspiração máxima com uma carga inicial de 10 cmH20, por possível durante o tempo de 6 minutos sem parar.
um período de 2 minutos, sem remover o equipamento A pausa foi permitida, no entanto, o tempo continuou
da boca9. Na avaliação da função muscular respiratória sendo cronometrado e ao final dos 6 minutos o teste
foi utilizado o dispositivo eletrônico computadorizado foi finalizado. Entretendo, devido as condições físicas do
(KH2; Power Breathe International Ltd. UK) sendo usado paciente, o teste foi realizado uma única vez. Ao final foi
o software Breathelink como feedback visual. Logo após o registrado a distância percorrida, sendo utilizado como
primeiro ciclo, foi dado 1 minuto de descanso e um novo referência para a distância predita a fórmula validada para
ciclo de 2 minutos se iniciou, com um acréscimo de mais a população brasileira12. Os participantes que percorreram
10cmH2O, somando um total de 20cmH2O. A cada novo a distância predita foram incluídos no grupo de capacidade
ciclo, foram acrescentados mais 10cmH2O a carga. Quando funcional normal e os que não percorreram no de
observada falha, incapacidade de vencer a carga ou sinais capacidade funcional limitada. Para calcular os valores
de dispneia ou fadiga, o teste foi interrompido. previstos no TC6 foram utilizadas as seguintes fórmulas:
Foi considerada a maior carga sustentada por pelo Distância percorrida no TC6 = 299,296 − (2,728 vs.
menos 1 minuto como o valor da pressão inspiratória idade) − (2,160 vs. peso) + (361,731 vs. altura) + (56,386 vs.
máxima (PImáx) sustentada. O tempo começou a ser gênero); erro padrão da estimativa = 57,7 m12.
contado após o paciente acoplar a boca no equipamento O banco de dados foi elaborado no programa EPI
e realizar a primeira respiração e a contagem só parou INFO, versão 3.5.4, onde foi realizada a validação. Após
quando o mesmo retirou o dispositivo da boca com a a validação o banco foi exportado para o software SPSS,
interrupção do teste, o tempo total foi registrado. versão 18, onde foi realizado a análise. Para testar a
A PImáx foi avaliada antes e imediatamente após o suposição de normalidade das variáveis envolvidas no
teste de carga incremental para verificar a ocorrência de estudo foi utilizado o Teste Kolmogorov-Smirnov. Para
fadiga muscular através do índice de resistência a fadiga testar as correlações da CVF com a endurance muscular
(IRF), referente a divisão entre a PImáx final e inicial, respiratória e TC6 foi utilizado o Coeficiente de Correlação
quando o resultado é menor que 88% considera-se um de Pearson. Foi levada em consideração relevância
déficit na resistência da musculatura respiratória10. significativa de 0,05.
Para a variável capacidade funcional, foi realizado
o teste de caminhada de 6 minutos (TC6), estando de
acordo com a American Thoracic Society – ATS11. O teste RESULTADOS
tem como objetivo determinar a tolerância ao exercício A Figura 1 mostra o fluxograma do presente estudo,
e a saturação periférica de oxigênio (SpO2) durante um onde inicialmente foram recrutados 115 pacientes
exercício submáximo, avaliando a capacidade funcional diagnosticados com DPOC, sendo 64 excluídos. Desses
Figura 1. Fluxograma.
64 pacientes, 30 não participaram da pesquisa por majoritariamente idosa (65,7 ± 9,59), com um maior
dificuldade de encontrá-los através dos contatos número de participantes do sexo feminino, e também
repassados, 8 por inacessibilidade ao local de avaliação, mostra a média de valores relacionados à relação VEF1/
10 por se recusarem em participar da pesquisa, 1 por ter CVF, VEF1, CVF, endurance muscular respiratória e a
sido informado óbito durante o contato inicial, 14 por distância percorrida no TC6 obtidas através da avaliação
relatarem sinais e sintomas de exacerbação e/ou estarem dos participantes.
hospitalizados e o último por relato de diagnóstico
A Tabela 2 caracteriza os pacientes em relação aos
de doença neoplásica pulmonar. Foram incluídos
valores da endurance muscular respiratória, demonstrando
51 pacientes, entretanto, 9 não compareceram a avaliação
que apenas 22,5% dos participantes (n=9) tinham redução
e 2 apresentaram incapacidade de realizar as avaliações
do estudo, totalizando 40 pacientes analisados. na endurance muscular respiratória, porém em relação a
distância percorrida no TC6, 97,4% (n=38) dos pacientes
A Tabela 1 apresenta a caracterização da amostra, a
avaliados apresentavam uma capacidade funcional
média de idade dos participantes caracteriza uma amostra
limitada.
VEF1/CVF (%) previsto 30,25 ± 34,03 Tabela 2. Caracterização da amostra em relação a endurance e
capacidade funcional.
CVF (L)* 2,02 ± 0,74
Variáveis n % p-valor
CVF (%) previsto 64,33 ± 23,56
TC6 (%) previsto 58,73 ± 20,60 Capacidade funcional normal 1 2,6 <0,001*
Os dados foram apresentados como N (%) ou média ± DP. N = número; Capacidade funcional limitada 38 97,4
DP= desvio padrão; VEF1= volume expiratório forçado no primeiro se-
gundo; CVF = capacidade vital forçada; TC6= teste de caminhada de seis IRF = índice de resistências a fadiga; TC6 = teste de caminhada de
minutos. *O número total de elementos não coincide com o tamanho da
amostra pois um participante se negou a realizar o TC6. 6 minutos. *O número total de elementos não coincide com o tamanho
da amostra pois um participante se negou a realizar o TC6.
Figura 2. (a) Correlações entre a capacidade vital forçada (CVF) e endurance muscular respiratória e (b) CVF e teste de caminhada
de seis minutos (TC6).