SOARES, J. - Think Tanks No Brasil
SOARES, J. - Think Tanks No Brasil
SOARES, J. - Think Tanks No Brasil
FLORIANÓPOLIS - SC
2009
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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
FLORIA/ÓPOLIS
2009
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AGRADECIME/TOS
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RESUMO
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ABSTRATC
This master's thesis is an effort to systematize knowledge about the phenomena of think tanks
- relevant actors of the public policy universe - through a theoretical-descriptive study, with
the use of literature search. The think tanks, research organizations and advice on public
policy, are widely studied in other countries, but in Brazil the phenomenon is not relevant
elucidation. It is demonstrate the growing of a worldwide interconnection network between
think tanks, and the increase of international studies on these organizations, while in Brazil
the phenomenon remains allusive. As a result, this study purposes are to give visibility to the
phenomena, adapting the traditional foreign literature to the Brazilian reality; to provide
means to identify the influence exerted by these organizations in national policy making,
structuring a comprehensive theoretical basis; and to allow the understanding and recognition,
on empirical reality, of think tanks in action in Brazil. Its practical relevance are supported by
the explanation of the phenomena, its context in the global and national landscape, and the
analysis of this interest´s groups influence on the production of public policies in Brazil ‒
which is currently restricted in the national academic scene to a few scholars with specific
focus: it is expected that more people understand what a think tank is and what is its activity.
The study is conducted from the perspective of policy analysis and model group, focusing on
the role of think tanks in the public policy cycle. Hence, as a study´s result, it is propose an
expression, in Portuguese, to replace the use of expression think tank, and a concept that is
appropriate to the reality of the phenomena in Brazil. There is also presented a classification
of organizations, mapped to support the study as examples. Among the findings, it is consider
the significant need to encourage studies about public policy, appropriate to the country’s
reality, since public policy is consider a "middle range theory", in a sense of a study field still
being constructed that, however, directly influences the daily life ‒ and future ‒ of people.
Key words: Knowledge. Public Administration. Public Policy. Policy analysis. Think tanks.
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LISTA DE FIGURAS
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LISTA DE QUADROS
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Obras utilizadas no levantamento preliminar da literatura sobre o fenômeno 16
Tabela 2 - Autores mencionados três ou mais vezes na tabela 1 20
Tabela 3 - Síntese dos autores da etapa seletiva 25
Tabela 4 - Conceitos tradicionais de think tanks 90
Tabela 5 – Fonte de financiamento: organizações de pesquisa nos países Bálticos (%) 95
Tabela 6 - Conceitos de think tanks na literatura não convencional 95
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Esclarecemos que deste ponto em diante todas as traduções que compõem o trabalho são
de responsabilidade da mestranda, realizadas pela própria, sem revisão profissional de
tradutor/profissional habilitado.
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• Fundação privada: entidade de direito privado, constituída mediante dotação de bens livres
de ônus por parte de um indivíduo ou empresa privado para suprir uma utilidade pública ou de
beneficência. Pode ser criada por escritura pública ou por testamento, especificado o fim a
que se destina. Não tem proprietário, titular ou sócio, e seu patrimônio é gerido por curadores
(ABONG, on line).
• Fundação pública: entidade de direito público sem fins lucrativos. É criada por autorização
legislativa para realizar ações de interesse coletivo na área da educação, pesquisa, assistência
etc. Não requer a participação de órgãos da administração pública direta (Lei Nº 7596 de
10/04/1987). É constituída com a incorporação de bens públicos e pode manter-se com
subsídios orçamentários do Poder Público. Seu patrimônio é administrado de uma forma
autônoma por seu corpo diretivo. (ABONG, on line)
• Grupos de interesse: qualquer grupo social que se organiza e possui reivindicações próprias,
distintas em relação a outros grupos sociais. Os grupos de interesse são propagadores de
causas, fins ou credos próprios ao grupo. Podem ser fator de estabilidade em sociedades
propensas à mudança, e instrumentos de mudança em sociedades inclinadas ao imobilismo
(FARHAT, 2007).
• Grupo de pressão: grupo de interesse cujos membros – unidos por uma idéia compartilhada
− passam a promover ativamente seus ideais ou objetivos junto aos tomadores de decisão e
formadores de opinião, na tentativa influenciá-los para obter decisões que lhes permitam
atingir seus objetivos (FARHAT, 2007).
• Ideologia: sistema de idéias que aprova e emprega um conjunto de normas próprias, não
importando quais sejam os propósitos (ARAGÂO, 1994)..
• Influência: em política pública, é o processo por meio do qual indivíduos ou organizações
tentam convencer os policy makers a tomarem decisões que originalmente não seriam
escolhidas. Exprime também a capacidade de persuasão de conseguir que tomadores de
decisão política considerem possibilidades que de outro modo não entrariam na pauta da
agenda política (ABELSON, 2006).
• Instituto: estabelecimento dedicado ao estudo, pesquisa ou produção científica. Não
corresponde a uma espécie particular de pessoa jurídica, podendo ser tanto uma entidade
pública, do Estado, quanto uma entidade privada, criada e mantida por uma empresa. Não têm
fins lucrativos. Não possuem uma forma jurídica exclusiva (RITS, on line, 2009).
• Instituições: são estruturas ou organizações reais do Estado, da sociedade, do mercado ou do
sistema internacional, com formas próprias de organização interna. (HOWLETT; RAMESH,
2003).
• Issue: problema, assunto ou questão que é objeto eventual de política pública; tema que se
discute ou é controverso; problema a ser analisado. (HOWLETT; RAMESH, 2003).
• Lacuna: o termo lacuna designa uma zona de atividade humana específica que não foi
estudada apropriadamente (IANNI, 1994).
• Lobby: literalmente significa vestíbulo, átrio, antesala. Em sentido figurado, denota a
postulação de interesses. Origina-se na Inglaterra, onde aqueles que tinham algo a pleitear
junto aos parlamentares se postavam no vestíbulo (lobby) da Câmara dos Comuns, para
abordá-los quando se dirigiam ao plenário. O significado atual refere-se a atividades
organizadas de grupos de pressão, para se fazerem ouvir pelo poder público e conseguirem
respostas para suas demandas (FARHAT, 2007).
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• Stakeholders: todas as partes as quais afetam ou são afetadas pelas ações, condutas e políticas
de uma organização. Na esfera pública, é o conjunto daqueles que são afetados por ações,
determinações e políticas que provem de organizações ou entidades do Poder Público em
qualquer esfera de governo. (MITROFF, 1983).
• Spin doctor: pessoa − consultor ou auxiliar político – responsável por assegurar que os outros
interpretem um evento a partir de um determinado ponto de vista, particular [da autoridade
política, ou do decision maker] (MERRIAM WEBSTER, 1994, grifo acrescentado).
• Território: em um contexto histórico, o território é sinônimo do conjunto formado por um
espaço geográfico, que é afetado por sistemas técnicos (divisão territorial do trabalho,
recursos naturais, ciência e tecnologia), pela infra-estrutura disponível, bem como pelo
dinamismo da economia, da sociedade e seus atores sociais. (SANTOS, 2007).
• Think tanks: na literatura tradicional, de origem anglo-saxônica, são instituições
independentes, organizadas para a realização de pesquisas e geração de conhecimento
politicamente relevante, que preenchem uma lacuna de importância fundamental entre a
academia (pesquisa) e o governo (poder). (HAASS, 2002).
• Decision making: processo pelo qual os administradores tomam decisões em relação aos
objetivos organizacionais, baseados nos seguintes fatores principais: reconhecimento do
problema; definição e análise de suas partes principais; estabelecimento de soluções
alternativas; escolha da alternativa julgada mais favorável e adoção da solução escolhida
(HEIDEMANN, 2007).
• Decision makers: membros de uma organização que têm poder formal ou informal para
selecionar ou aprovar suas próprias decisões (HEIDEMANN, 2007).
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SUMÁRIO
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO 01
1.1 Tema e questão de estudo 01
1.2 Objetivos do estudo 04
1.2.1 Objetivo geral 04
1.2.2 Objetivos específicos 05
1.3 Justificativa para a realização do estudo 05
1.4 Delimitação do estudo 08
1.5 Estrutura do estudo 09
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APÊNDICES 163
ANEXOS 167
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CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
O fenômeno objetivo estudado sob o nome de think tanks, sobre o qual se constrói esta
dissertação de mestrado, despertou curiosidade quando escutado pela primeira vez.
Posteriormente, na medida em que crescia a compreensão do conceito e das implicações
associadas ao termo, o interesse inicial transformou-se em inquietude e preocupação: motivou
a realização deste estudo.
Apesar de sua importância no processo de política pública em geral, e para os estágios
iniciais de montagem da agenda, formulação de alternativas políticas e tomada de decisão do
ciclo da política pública, em particular, observa-se uma lacuna de conhecimentos sobre os
assim denominados think tanks e sua atuação no processo de policy making no Brasil, como
se tentará demonstrar. Torna-se importante neste ponto apresentar uma definição preliminar
do fenômeno de estudo: entende-se aqui que os think tanks são organizações cujo principal
papel é a produção de pesquisas e estudos acerca dos complexos problemas que permeiam o
universo das políticas públicas e que com base nesta expertise, aconselham, difundem idéias e
conhecimento junto aos policy makers, o que permite a estas instituições um acesso
privilegiado ao poder político e decisório em diversas esferas de governo.
Em seguida, são abordados aspectos diretamente ligados proposição da dissertação, a
saber: o tema e questão de estudo, os objetivos, a justificativa da escolha do tema, a
delimitação e a estrutura do trabalho.
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Bernard (1966), em suas considerações sobre a epistemologia apresenta a distinção entre os fatos
complexos (fenômenos) e os fatos simples (propriedades), sendo um fato um dado organizado. Os
primeiros − os fenômenos – são fatos que podem ser reduzidos em outros, mais simples. Já os
segundos – as propriedades – não podem sê-lo.
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podem direcionar o rumo das políticas públicas nacionais. Entretanto, a escassez de estudos
sobre o fenômeno é proporcional à falta de ‘re-conhecimento’ social da existência e do papel
que os think tanks, ou organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas,
exercem sobre o processo de políticas públicas no Brasil. A falta de conhecimento do próprio
termo impõe esta questão. Pretende-se trabalhar para a elucidação do fenômeno, aumentando
sua compreensão, visibilidade e adequação à realidade nacional, bem como ressaltar sua
importância para o estudo e o entendimento ampliado da política pública.
Face à problemática apresentada e aos argumentos elencados, define-se como questão
de estudo a organização de conhecimentos relevantes sobre os think tanks, que permitam seu
reconhecimento na realidade brasileira, a compreensão do seu papel como organização de
pesquisa, aumentando a visibilidade do fenômeno e ressaltando a influência que exerce sobre
o ciclo das políticas públicas nacionais. A partir da problemática apresentada e das
implicações envolvidas, elaborou-se a seguinte questão de estudo:
Quais os conhecimentos que devem ser estruturados, organizados, adaptados e
disseminados, no propósito de tornar conhecido o fenômeno dos think tanks no Brasil?
Com base na questão de estudo foram definidos os objetivos, que são apresentados na
seguinte ordem: inicialmente, o objetivo geral e, na seqüência, os objetivos específicos que
devem ser alcançados para a consecução do objetivo geral, de conhecimento, como
apresentados a seguir.
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É preciso esclarecer que, por meio das minhas pesquisas, ficou claro que embora
muitos acadêmicos reconheçam a importância dos think tanks enquanto organizações que
afetam o ciclo da política pública (assim como os grupos de interesse e de pressão e as
atividades de lobby e de advocacy), poucos fazem referência à singularidade do fenômeno no
país, e menos ainda são os que analisam o papel desses enquanto atores políticos influentes no
Brasil. Imaginei então se não seria proveitoso que alguém fizesse um primeiro esforço no
sentido de reunir o maior volume possível de informações e conhecimentos relevantes sobre o
fenômeno em geral, a fim de conferir ao fenômeno certa estrutura, que permitisse maior
compreensão do objeto de estudo. É este o caráter de originalidade que percebo no estudo
realizado.
Duas perguntas que me fiz à época ajudaram a consolidar minha convicção sobre a
validade de realizar este estudo: Por que é importante ter conhecimento sobre os think tanks?
Algo mudaria para melhor se tivéssemos o conhecimento desse fenômeno disseminado na
sociedade?
Percebi então que não tenho, e não posso ter certeza, da resposta a essas perguntas. O
conhecimento é um caminho com muitas encruzilhadas: pode instigar as pessoas à ação
quando é um meio de compreensão da realidade que as cerca; por outro lado, pode igualmente
desestimular qualquer ação, quando a pessoa se defronta com uma realidade complexa, que
não consegue compreender; o conhecimento pode também ser usado em proveito próprio,
quando alguém se apropria de saberes pouco difundidos para benefício exclusivo, em face da
ignorância dos demais. Esta última possibilidade contraria meu objetivo de disseminar
conhecimento científico em prol do esclarecimento dos indivíduos, auxiliando-os a
compreender e participar de forma ativa e cidadã na co-produção de uma sociedade mais
justa.
Contudo, não posso desistir em função da incerteza quanto ao fim reservado a este
estudo: se um conhecimento é tornado disponível há, ao menos, a opção e a chance de que
possa ajudar as pessoas a compreenderem melhor a realidade que as afeta. Cabe-me fazer a
minha parte – estudar, escrever e divulgar. Quanto aos demais, resta-me esperar que façam a
sua parte – que se interessem pelo assunto, já que lhes diz respeito.
Concluo argumentando que, se a integração mundial dos países leva à expansão da
influência mutuamente exercida, com a tendência de que prevaleçam os mais poderosos em
detrimento dos mais fracos, num ambiente no qual o conhecimento é o fator preponderante
para a determinação de uma nação “forte”, ou de seu oposto, uma nação “fraca”, todo
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conhecimento socialmente relevante deve se tornar um bem público, por ser essencial à
redução da distância entre pobres e ricos, incluídos e excluídos e para a diminuição da
distância educacional, que separa os extremos inter e intra-sociedades, especialmente a de
países como o Brasil, que devem desenvolver-se com justiça e equidade.
Explanada a justificativa deste estudo, no prosseguimento desenvolve-se sua
delimitação e apresenta-se a estrutura do trabalho.
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Para a consecução dos objetivos específicos propostos utilizou-se como base o modelo
de etapas para um estudo teórico sugerido por Amaral (2007), cuja sequência é:
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Universo de Documentos
Levantamento Bibliográfico
Leitura Exploratória
Síntese de Idéias
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Segundo Amaral (2007), o acesso à pesquisa bibliográfica utiliza dois meios básicos:
manual ou eletrônico. Manualmente, foram consultados livros ligados à questão de estudo.
Eletronicamente, artigos científicos.
Para a busca em periódicos acadêmicos, utilizou-se como “buscador” (palavra-chave)
ou critério de pesquisa (Key Word for Search) o termo “THINK TANK”. Não foi adicionado
qualquer limitador, como data ou idioma, por exemplo. As bases utilizadas foram:
PROQUEST; SCOPUS; EBSCO, SCIELO e GOOGLE SCHOOLAR. Pesquisou-se ainda
diretamente a base de dados da ENAP – Escola Nacional de Administração Pública; e RAP -
Revista de Administração Pública.
Com vista à identificação dos autores seminais3 do fenômeno em estudo, efetuou-se
levantamento preliminar na literatura acadêmica sobre o tema, por meio de busca de artigos
na base de dados de periódicos da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior − disponibilizada para consulta via ESAG/UDESC e pesquisa geral de livros.
Procurou-se obter, como recomendam Quivy; Van Campenhoudt (1991), uma amostra
característica do fenômeno em estudo, isto é, dos estudos teóricos sobre think tanks, dada a
necessidade de obtenção de diferentes abordagens ao tema para elaboração de comparações
significativas, sem perder de vista que resulta “impossível estudar todos os artigos publicados
[sobre um determinado assunto]” (QUIVY; VAN CAMPENHOUDT, 1991, p. 164 grifo
nosso).
Registra-se que o levantamento exploratório demonstrou que o pesquisador não possui
controle sobre a ocorrência do fenômeno, isto é, não pode determinar de antemão em quais
publicações científicas será abordado o objeto de estudo, além de não poder antever a
obtenção de livros usados que tratam do assunto. De acordo com Martins (2002, p. 35), o
estudo bibliográfico visa “conhecer as contribuições científicas sobre determinado assunto.
Tem como objetivo recolher, selecionar analisar e interpretar as contribuições teóricas já
existentes [...]”.
Se inicialmente a literatura relativa aos think tanks foi abordada de forma abrangente,
na fase da leitura exploratória realizou-se a depuração do material preliminar mantendo-se
apenas os relevantes à questão de estudo, os think tanks. Na transição, para que as obras
inicialmente levantadas fossem analisadas, isto é, avançassem do levantamento bibliográfico
para a leitura exploratória, adotou-se como parâmetro de passagem dois requisitos, ou seja:
3
Considera-se neste estudo como autores seminais a definição proposta por KUHN (1970), para
quem, certos acadêmicos, haja vista relevância do trabalho que realizam, tornam-se paradigmáticos,
no sentido de que seus trabalhos servem de base conceitual para outros trabalhos científicos.
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que o livro ou artigo relativo ao fenômeno apresentasse a proposição de um conceito e/ou que
contivesse um enfoque distinto dos já mapeados sobre a evolução histórica dos think tanks.
Medidas restritivas foram adotadas para eliminar da base inicial de estudo o material
em que o termo aparecia em contextos muito específicos, ou limitados, ou abordados de
forma superficial, sem a profundidade teórica desejada. Menciona-se, por exemplo, editoriais,
book reviews, entrevistas, entre outros tipos de publicação, que poderiam dispersar o foco
objetivado. O levantamento exploratório da bibliografia sobre think tanks gerou 95 registros.
Das 95 obras encontradas, eliminou-se 22, com base nos parâmetros de passagem
mencionados anteriormente, permanecendo 73 obras para a leitura seletiva, às quais,
posteriormente, foram acrescidas outras, na medida em que foi aprofundado o estudo do
fenômeno.
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2. Averiguar o estado da arte do conceito nos países fora do eixo anglo-saxão, com uma
realidade que pode ser considera semelhante à brasileira. Esses resultados serão expostos no
item 3.6.3 deste trabalho.
Procedeu-se ao registro sistemático dos dados oriundos das obras encontradas no
levantamento exploratório, dispostos na forma de tabela, classificando-os pelos seguintes
critérios, em ordem crescente de data:
• Título da obra pesquisada;
• Autor (es);
• Local de publicação;
• Ano da publicação;
• Tipo de obra;
• Idioma;
• Principais autores referenciados.
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TÍTULO DA OBRA CONSULTADA AUTORES PUBLICAÇÃO ANO OBRA IDIOMA PRINCIPAIS AUTORES REFERENCIADOS
RANSON, S.; HININGS,
1- The Structuring of Organizational Structures Administrative Science Quarterly 1980 Artigo Inglês GIDDENS; MEYER; CHILD; HAGE; DOUGLAS; OLSEN; SELZNICK; BLAU;
R.; GRENWOOD; R.
2 - Required breakthroughs in Think Tanks DROR, Yehezkel Policy Science 1984 Artigo Inglês BULMER; FISCHER; JAMES & SIMON
Institute for International
3 - What Washington Means by Policy Reform WILLIAMSON, John 1990 Livro Inglês POLAK; SCHLEIFER; TANZI; WILLIANSON
Economics
4 - The idea brokers: think tanks and the rise of the
SMITH, James A. Free Press 1991 Livro Inglês GALBRAITH; LINDBLOM; MERTON; WEAVER; WEISS
new policy elite
5 - Old guard versus new partisans: think tanks in Australian Journal of Political
STONE, Diane 1991 Artigo Inglês DENHAM; RICCI; STONE
transition Science
6 - The Idea Brokers: The impact of think tanks on
JAMES, Simon Public Administration 1993 Artigo Inglês ABELSON; SMITH; WEAVER; WEISS
British government
7 - The development and impact of Australia’s “think Australian Journal of DUSEVIC; FELNER; HALL; HECLO; MCLEAN & PEARSON; STONE;
MARSCH ,Ian 1994 Artigo Inglês
tanks” Management WEAVER; WEISS; WILSON
8 - Beyond the myth: new challenges for think tanks LINDQUIST, Evert A. NIRA Review 1997 Artigo Inglês LINDQUIST
9 - The British think tank tradition STONE, Diane NIRA Review 1997 Artigo Inglês COCKETT; STONE
10 - Heritage clones in the heartland. Local think Fairness & accuracy in reporting
SOLEY, Lawrence 1998 Artigo Inglês COX; SANDLER
tanks “research” comes pre-digested - FAIR
11 - Policy experts and political pundits: American
ABELSON, Donald E. Nira Review 1998 Artigo Inglês ABELSON; BENETT; DONALDSON
think tanks and the news media
American Society for
12 - The new geo-governance FREDERICKSON, G. H. 2000 Artigo Inglês AXELROD; CLEVELAND; HAAS; FREDERICKSON; OSTROM;;
Public Administration
13 - Do think tanks matter? Opportunities, constraints
ABELSON; CARBERRY; DENHAM; GARNETT; GELLNER; LANDERS;
and incentives for think tanks in Canada and the ABELSON, Donald E. Global Society 2000 Artigo Inglês
LINDEN; LINDQUIST; McCOMBS; ROBINSON; STONE; WEISS; WIN
United States
14 - The role of policy analysis for democratic policy- NIRA Review
MYAKAWA, Tadao 2000 Ensaio Inglês FISCHER; FUKUZAWA; LASSEWELL; PUTNAM;
making
15 - Introduction to the symposium: The changing ABELSON; COCKETT; DENHAM; GARNETT; STEFANCIC; DELGADO;
STONE, Diane Global Society 2000 Artigo Inglês
think tank landscape STONE; SMITH; STRUYCK; WEISS;
BRAUN, Miguel; Centro de Implemen-
16 - Should think tanks do policy implementation in CICIONI, Antonio; tación de P. Publicas p/ la 2000 Artigo Inglês BROWN, DUNN; GLAESER; SALAMON; VAKIL; WOLCH;
developing countries? Lesson from Argentina
DUCOTE,Nicolas. Equidad y el Crescimiento
17 - British think tanks: advancing the intellectual British Journal of Politics
SHERRIGINTON, P. 2000 Artigo Inglês DENHAM, GARNETT; KANDIAH; STONE
debate? International Relations
18 Think tanks and the policy-making community in
URH, John Nira Review 2000 Artigo Inglês ELTER; HEDENIUS; MARCH & OLSEN; URH
Australia
RICH, Andrew Harvard International Journal of COOK; HECLO; FEULNER; GRABER; MCGANN; RICCI; SMITH; WEAVER;
19 - Think tank in the U.S. media Press Politics
2000 Artigo Inglês
WEAVER, Kent WEISS
20 - Toward the public interest? Transformation of the
NAKAMURA, M. Policy Community 2000 Artigo Inglês MIYAKAWA; NAGATA E NAKAMURA; STONE
policy community in Japan
21 - U.S. think tanks and the intersection of ideology,
RICH, Andrew Policy Community 2001 Artigo Inglês COCKETT; STONE
advocacy, and influence
22 - The politics of expertise in congress and news
RICH, Andrew Global Science Quarterly 2001 Artigo Inglês KINGDON; LINDBLOM; RICCI; WEISS; WHITEMAN
media
23 - Do think tanks matter? Assessing the impact of McGill-Queen´s University Press DENHAM; HECLO; LINDQUIST; MCGANN; SMITH; STONE; WEAVER;
ABELSON, Donald . 2002 Livro Inglês
public policy institutes WEISS
16
17
TIPO
TÍTULO DA OBRA CONSULTADA AUTORES PUBLICAÇÃO ANO IDIOMA PRINCIPAIS AUTORES REFERENCIADOS
DE
24 - Transnational think-tanks networks: purpose, OBRA
membership STRUYK, Raymond J. Global Networks 2002 Artigo Inglês BOERZEL; HAAS; KENIS; KICKERT; REINICKE; STONE; WITTE;
and cohesion
25 - Global knowledge and advocacy networks STONE, Diane Global Networks 2002 Artigo Inglês COLEMAN; EVANS, HAAS; STIGLITZ; STONE; WEDEL
ABELSON; COLEBATCH; HILL; JONHSON; MCGANN; MCGANN &
Research
26 - Think tanks in Visegrad Countries SCHNEIDER, Jiri International Policy 2002 Inglês WEAVER; MARSCH; OLSON; PARSONS; RADIN; RICH & WEAVER;
Paper
STRUYCK; SANDLE; STONE; SHERRINGTON; SMITH; WEISS
27 - Think Tanks e a transnacionalização da política
MCGANN, James G. Revista Eletrônica IIP 2002 Artigo Português MCGANN; WEAVER; TELGARSKY; UENO
de relações exteriores
28 - Tools for Knowledge Exchange: Scanning Best Canadian Population Canadian Institute for Health
Information 2002 Artigo Inglês LAVIS; LOMAS; SMITH; STONE; WEISS
Practices in Policy Research Health Initiative
29 - Think Tanks e a Política de Relações Exteriores Revista Eletrônica do
dos EUA: HAASS, Richard Departamento de Estado dos 2002 Artigo Português ABELSON; HAASS; HUNTTINGTON; MCGANN
A Perspectiva de um Formulador de Políticas EUA
30 - Idéias, conhecimento e políticas públicas: um
FARIA, Carlos Aurélio Revista Brasileira de Ciências ADLER; FISCHER & FORRESTER; HAAS; HECLO; HEINTZ; JENKINGS-
inventário sucinto das principais vertentes analíticas Sociais
2003 Artigo Português
Pimenta de SMITH; SABATIER
recentes
ABELSON; BOERZEL; DONAHUE; GELLNER; HAAS, KEOHANE;
31- Globalization and think tanks: security policy
SCHNEIDER, Jiri Sarem International Seminar 2003 Relatório Inglês KRASTEV; MCGANN; REID; SHERRINGTON; SMITH; STONE; STRUYCK;
networks.
WEISS
32 – Studying Public policy: policy cycles and policy
HOWLLET; RAMESH Oxford University Press 2003 Livro Português HAASS; JAMES; SABATIER; WEAVER & ROCKMAN; WILSON
subsystems
33- Em busca da eficiência: a ação dos think tankers ALMEIDA; AZEVEDO; FERNANDES; LAFER; MICELI; NOGUEIRA; SMITH;
MAIA, Tatyana de A. Anais eletrônicos 2003 Artigo Português
na orientação das políticas públicas (1956/1961) WALLERSTEIN;
34 - Organizações empresariais e ação política no COCKETT; DENHAM; DOMHOFF; DAVIS; NASH; STEFANCIC E
GROS, Denise Civitas 2003 artigo Português
Brasil a partir dos anos 80 DELGADO; USSEEM; VOGEL; WEAVER
COLEBACH; DROR; EVANS; MARSCH; SUMMERS; PRASSER; STONE;
35 - A study of commonwealth public inquires PRASSER, Gavin S. Tese de Doutorado 2003 Tese Inglês
THOMPSON; TICKENER; WEISS; WILENSKY
36 - Think tank traditions. Policy research and the STONE, Diane; ABELSON; DENHAM; MCGANN; RICCI; SABATIER & JENKINS-SMITH;
Manchester U. Press 2004 Livro Inglês
politics of ideas DENHAM, Richard SMITH; STRUYK; WEISS; WEAVER.
37 - Think tanks, public policy and the politics of LINDBLOM; MCGANN & WEAVER; RICCI; SMITH; STONE; WEAVER
RICH , Andrew Cambridge Press 2004 Livro Inglês
expertise WEISS
38 - Next generation’ think tank: techniques can Impact: Public Affairs Council
HEPNER , Allen S. 2004 Artigo Inglês MCGANN; ZELLER
bolster issues management results
ABELSON; ARNOLDI; BAKHTIN; BELL; BOGGS; BUERR; CASTELLS;
39 - On mediators: intellectuals and the ideas trade in
OSBORNE, Thomas Economy and Society 2004 Artigo Inglês DEBRAY; DENHAM & GARNETT; DEMOS; HUNTER; LAMBERT; LASH;
the knowledge society
OSBORNE; READINGS; STEHR; STONE; THOMPSON; WHITEHEAD
40 - What political and institutional context issues COURT , Julius Research COURT & YOUNG; HAASS; HILL; KINGDON; LE GRAND; LINDBLOM;
matter for bridging research and policy? A literature Overseas Development Institute 2004 Inglés
COTTERRELL, Lin Paper LINDQUIST; MOE; SABATIER; WEISS; WILLIAMSON
review and discussion of data collection approaches
41 - Institutos liberais, neoliberalismo e políticas Revista Brasileira de Ciências COCKETT; DAVID; DENHAM; STEFANCIC & DELGADO; USSEEM;
GROS, Denise Sociais
2004 Artigo Português
públicas na Nova República VOGEL; WEAVER
42 - Why don’t they listen to us RUBIN, Lilian B. Dissent 2005 Artigo Inglês EHRENREICH; LAKOFF
BAUMGARTNER; BERRY; COBB; ENTIN; EZELL; GRAY;
43 - Informing State Policymakers: Opportunities for Social Work
ELMOORE. Cynthia 2005 Artigo Inglês GALLAGHER; HAYS; HAYNES; HERRING; JANSSON; KINGDON; LEWIS;
Social Workers
LEVINE; MAYO; PIERCE; PORTER; RAY; RIFFLE; SABATIER;
17
18
ANO TIPO
TÍTULO DA OBRA CONSULTADA AUTORES PUBLICAÇÃO IDIOMA PRINCIPAIS AUTORES REFERENCIADOS
PUB. DE
PURJU, Alari OBRA
44 - Research policy linkages in the Baltic States: Baltic International Centre for
VANAGS Alf Economic Policy Studies
2005 Report Inglês HAZANS; LAGERSPETZ; SAKS; SUTTON; STONE; TEKES
comparative analysis of a natural experiment
CHANDLER, Mark
45 - A review of how external agencies can influence Bridging Research and Policy BIERVLIET; DUBBELDAM; GERSTON; STEPHENSON & HENNINK;
WANGWE, Samuel M. Project
2005 Report Ingles
research agendas and research policy links VELDHUIS
WISENSALE, Steven BROWNING; FOX-GENOVESE; GLENN; POPENOE; LAKOFF; LUTZ;
46 Think tanks and family values Dissent 2005 Artigo Inglês
K. WISENSALE
47- War of ideas: why mainstream and liberal
Stanford Social Innovation
foundations and the think tanks they support are RICH , Andrew 2005 Artigo Inglês KREHELY; RICH; PIERESON
Review
losing in the war of ideas in American politics
48 - Neo-liberal think tanks and neo-liberal
restructuring: learning the lessons from project CARHILL, Damien
Social Alternatives 2005 Artigo Inglês ANON; BEDER; DUSTAN; GILL; THOMPSON;THORTHON
Victoria and the privatization of Victoria’s electricity BEDER, Sharon
industry
49 - Research, policy and implementation links: EREMENKO, Igor Bridging Research and Policy BAGEHOT ; CREWE & YOUNG; EREMENKO; SAYWELL & COTTON;
Project
2005 Report Inglês
development of financial system in Ukraine LISENKOVA, K. SUTTON; WEISS
50 - Conhecimento Especializado, Apoios Externos e TORRES, Carlos
Revista Lusófona em Educação 2005 Artigo Português DEWEY; TORRES; TYNJALA;
Reforma Educativa em Épocas de Neoliberalismo Alberto
ALLEN; BARNETT; HALL; HUGHES;KINGDON; LINBLOM; LINDSEY;
51 - Capitol idea: Think tanks & U.S. foreign policy ABELSON, Donald McGill-Queen´s University Press 2006 Livro Inglês
STONE
52- Reactions of a laboratory behavioral scientist to a
GLENN; DIAMOND; HARRIS; ERICKSON; MATTAINI; MCGUIRE;
think tank on meta-contingencies and cultural BRANCH, Marc Behavior and Social Issues 2006 Artigo Inglês
COLWILL; RESCORLA; SHAHAN; NEVIN; DONAHOE; PEAR; WANCHISEN
analysis
SANTISO, Javier;
53 - Ulysses, the sirens and the art of navigation: Work ADORNO; BABB; EVANS; HAASS; HALL; LINDBLOM; STONE; PRICHETT;
WHITEHEAD, OECD Development Center 2006 Inglês
political and technical rationality in Latin America Paper PRZEWORSKI; VREELAND; WHITEHEAD
Lawrence
54 - The long shadow of corporatism: scope and KARLHOFER, BOUCHER; GELLNER; SWEENY; LACHS; KARLHOFER; MAI; TÁLOS;
German Policy Studies 2006 Artigo Ingles
limits of think tanks in Austria Ferdinand TRAXLER; WEAVER
55 - Globalizing local knowledge: social science GERGE, Solvay; Journal of social Issues in
Southeast Asia 2006 Artigo Inglês ALATAS; COHEM; EVERS; GERKE; MOED; TOH; TONK
research on Southeast Asia, 1970-2000 EVERS, Hans D.
56 - Thinking in tanks: the changing ecology of
MULGAN, Geoff The Political Quarterly 2006 Artigo Inglês DENHAM; GARNETT; YOUNGS;
political ideas
BEISE; BEYME; DICKSON; DYE; HERZOG; GELLNER; MCGANN;
57 - U.S. and German think tanks in comparative
BRAML, Josef German Policy Studies 2006 Artigo Inglês WEAVER; SHIVELY; KING; KINGDON; KEOHANE; RICH; SMITH; STONE;
perspective
VERBA; WALLANCE
ABELSON; ALLEN; ; BRAUN; COHEN; COLEMAN; DOLOWITZ; EVANS;
58 - Organizational report cards: significant impact or COE, Charles K.;
Public Administration Review 2006 Artigo Inglês FISCHER; GORMLEY; HAAS; HAMILTON; JACOBSEN; KINGDON;
much ado about nothing? BRUNET, James R.
MORGAN; REEVES; STONE; WEDEL; WHITEMAN; VASU
DAHEIM, Cornelia On Future-Oriented Technology Research
59 - Corporate foresight in Europe: ready for the next
Analysis Policy and Decision- 2006 Inglês BECKER; MULLER; SCHWARTZ
step? UERZ, Gereon Making Paper
60 - Foreign-educated returnees in the people’s
Journal of International
Republic of China: increasing political influence with LI, Cheng Migration and Integration
2006 Artigo Inglês CHEN; COOPER; HALL; LI; SHEN
limited official power
61 - Comparative think tanks, politics and public MCGANN, James .
Public Administration Review 2007 Artigo Inglês MCGANN; WAVER
policy JOHNSON, Eric C
18
19
ANO TIPO
TÍTULO DA OBRA CONSULTADA AUTORES PUBLICAÇÃO IDIOMA PRINCIPAIS AUTORES REFERENCIADOS
PUB. DE
OBRA ARKSEY; BILLIG; BROWN; BUSBY; COLLINS & EVANS; DAVIES;
62 Shifting Subject Positions: Experts and Lay People ANNE KERR, Sarah DICKERSON; DUNKERLEY; DYER; EDLEY; EPSTEIN; GILBERT; GOVEN;
Social Studies of Science 2007 Artigo Inglês
in Public Dialogue et. al. HASTE; IRWIN; JASANOFF; KERR; SHAKESPEARE; POPAY; PRIOR;
TURNER
63 Think Tank FALCIONI ,John Mechanical Engineering 2007 Editorial Inglês FALCIONI;
64 Big Ideas, Big Problems HALPER, Stefan The National Interest 2007 Artigo Inglês KEENAN; LIPPMANN; MUNROW
ABELSON; BAKVIS; BOÃS; BOUCHER; COHEN ; COOLEY; CHANDLER;
65 Recycling Bins, Garbage Cans Or Think Tanks?
STONE, Diane Public Administration 2007 Artigo Inglês DENHAM; HAJER; IONITA; KEOHANE; KINGDON; LADI; MILLER; PALLEY;
Three Myths Regarding Policy Analysis Institutes
REINICKE; SMITH; STONE; STRUYK; WEAVER
66 The Revolving Door: Charitable Foundation Stanford Center on Philanthropy
Funding for Think Tanks and Implications for CHOI ,Joon Nat 2007 Artigo Inglês MCGANN; WEAVER; RICCI; SMITH
Democratic Governance
Think Tanks and Civil Foreign Policy Research
67 2007 Survey of Think Tanks: a Summary Report Institute
2007 Relatório Inglês MCGANN; WEAVER; ELGAR; ROUTLEDGE
Societies Program
AXELSSON; BLOMGREN; BOWKER; CHRISTENSEN; DENT; DIMAGGIO;
68 - The Drive For Transparency: Organizational
BLOMGREN, Maria Public Administration 2007 Artigo Inglês FIELKENSTEIN; FLORINI; HANSEN; HARRISON; HOFFMANN; HOOD;
Field Transformations in Swedish Healthcare
LEVAY; MEYER; MILLER; MUNROE; POWER; SCOTT; WEDLIN;
69 - Policy analysis: shaping society through research
BLANCHARD, Sandie Occupational Outlook Quarterly 2007 Artigo Inglês BLANCHARD; WILLKINSON
and problem solving
70 - Making the Core Contingent: Professional HOQUE, Kim
Agency Work and its Consequences in UK Social Public Administration 2007 Artigo Inglês KESSLER; LAWGS; PURCELL ;
Services KIRKPATRICK, Ian
19
20
4
Utiliza-se “periférico” sem conotação econômica, política ou social, mas para indicar autores de
países fora do eixo anglo-saxão, composto por Inglaterra, EUA e Canadá, origem do conceito.
20
21
Evans
Gellner Gellner = 3 vezes
Gellner
Gellner
Haass Haass = 7 vezes
Haass
Haass
Haass
Haass
Haass
Haass
Hass Hass = 3 vezes
Hass
Hass
Hall Hall = 4 vezes
Hall
Hall
Hall
Heclo Heclo = 3 vezes
Heclo
Heclo
Keohane Keohane = 3 vezes
Keohane
Keohane
Kerr Kerr =3 vezes
Kerr
Kerr
Kingdon Kingdon = 8 vezes
Kingdon
Kingdon
Kingdon
Kingdon
Kingdon
Kingdon
Kingdon
Lindblom Lindblom = 5 vezes
Lindblom
Lindblom
Lindblom
Lindblom
Lindquist Lindquist = 5 vezes
Lindquist
Lindquist
Lindquist
Lindquist
Marsch Marsch = 3 vezes
Marsch
Marsch
21
22
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Struyk Struyk = 6 vezes
Struyk
Struyk
Struyk
Struyk
Struyk
Thompson Thompson = 3 vezes
Thompson
Thompson
Weaver Weaver = 17 vezes
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
23
24
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weiss Weiss = 16 vezes
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Whitehead Whitehead = 3 vezes
Whitehead
Whitehead
Fonte: autoria própria, com base em dados da leitura exploratória (2008).
Tipos de Obras
3 2 1 1 1
3
8
54
25
26
Outro dado relevante encontrado foi o idioma. Confirmou-se que a maioria das obras
sobre think tanks é escrita em língua estrangeira. Do total das 73 obras analisadas, apenas 9
foram redigidas originalmente em Português. Tem-se com isso que as obras em Inglês
respondem por aproximadamente 87,7% da leitura seletiva.
Um fato pitoresco nesta fase da pesquisa foi a utilização, como metodologia
classificatória de conteúdo, de um sistema de marcadores reaproveitáveis de página nos
livros e artigos lidos, a fim de assinar os principais pontos, conceitos e argumentos a serem
retomados posteriormente, que já eram identificados previamente pela cor do marcador. O
uso da cor verde indicava material de leitura para o capitulo um, a introdução. A cor azul foi
utilizada para assinalar leituras a serem retomadas na elaboração do capitulo dois,
metodologia. Marcadores azuis fizeram a indicação dos assuntos relativos ao capítulo três,
fundamentação teórica. A cor amarela foi utilizada para passagens ou obras que contribuíram
para a construção de aspectos específicos dos resultados, contidos no capítulo quatro. A cor
rosa, foi utilizada genericamente – e algumas vezes concomitantemente a outros marcadores −
para indicar pontos considerados muito importantes, independentemente da parte do trabalho
a que faziam referência, e que demandavam uma leitura especialmente cuidadosa.
Registra-se que nesta fase, como o estudo foi realizado na perspectiva de agregar e
inter-relacionar a visão de diversos autores à realidade nacional, como se demonstrará adianta,
foram incluídas várias obras que não constavam do levantamento inicial, considerado o
objetivo geral de levantar e sistematizar conhecimentos sobre o fenômeno. Procurou-se fazê-
lo de forma abrangente, ampliando o escopo inicial da pesquisa exploratória. Assim, durante
esta etapa cresceu consideravelmente o número de obras que foram objeto de atenção.
Desta maneira, que se reconhece como bastante empírica, foi realizada a leitura
seletiva, possibilitando não somente identificar o material selecionado e passagens
específicas, com também indicar a qual capítulo se destinava. Uma vez realizadas as leituras e
marcações, procedeu-se à leitura interpretativa, de caráter analítico e ao uso da análise de
conteúdo, descrita a seguir.
Com base nos marcadores mencionados na subseção anterior, retomou-se nesta fase a
leitura da bibliografia sinalizada diretamente nos pontos relevantes previamente demarcados.
26
27
O método utilizado foi a análise de conteúdo, pois a etapa da leitura interpretativa deu início
ao processo de compreensão do material relativo ao objeto de estudo e das obras selecionadas.
Constatou-se nesta fase que o estado da arte do fenômeno encontra-se bastante ligado
aos países europeus. Especula-se, preliminarmente, que a diferença de pesquisa e produção
científica sobre o tema dos think tanks entre os países do leste europeu e os países latino-
americanos deve-se à necessidade, por parte dos primeiros, de avançarem a largos passos em
várias frentes de conhecimento, em especial naquelas ligadas ao estudo da ciência política e
da democracia, a fim de preencher os requisitos necessários à integração na União Européia.
Esta análise preliminar, deduzida empiricamente desta etapa metodológica, será detalhada no
item 3.6.3, sobre o estado da arte relativo aos think tanks
Nesta etapa, ponderou-se sobre a adequação à realidade nacional do conteúdo que se
apreendeu na literatura estrangeira. Esta preocupação com a validade do conhecimento
contido em obras de outros países levou à criação de um ‘filtro epistemológico’, isto é, pelo
método dedutivo era feita a tentativa de trazer esse conhecimento genérico para aplicação na
situação empírica do país ou localizar nas obras nacionais referências que viabilizassem a
aceitação do conteúdo em análise na realidade nacional. A utilização do ‘filtro’ originou três
cursos de ação: possíveis
(1) Verificada como válida a possibilidade de transpor o conhecimento do conteúdo em
análise, este era traduzido e utilizado, com os devidos créditos de autoria.
(2) Na impossibilidade da transposição do conhecimento, tal como encontrado na
literatura internacional, fez-se a tentativa de adaptá-lo ao contexto brasileiro. Para validar a
adaptação, buscou-se exemplos da realidade empírica ou referências na literatura acadêmica
nacional que corroborasse o conteúdo específico: em caso afirmativo, o material era utilizado
com as necessárias adaptações e créditos.
Assim, o “filtro” foi utilizado algumas vezes para validar o conhecimento contido na
literatura, outras para adaptá-lo à realidade do Brasil ou para invalidar seu uso neste estudo.
(3) O terceiro curso de ação consistiu no descarte do material levantado
previamente, verificada a impossibilidade de transposição do conhecimento, após sua
tradução, e constatada a incapacidade da pesquisadora de encontrar exemplos empíricos que
lhe servissem de base ou de encontrar obras que validassem o seu conteúdo. Considerou-se
como inviável o uso do material, que por este motivo foi desconsiderado. Um exemplo de uso
do terceiro curso de ação ocorreu com as classificações encontradas na literatura estrangeira
sobre os think tanks, que não se considerou, após análise, apropriada à realidade dessas
27
28
organizações no Brasil. Optou-se pela proposição de uma classificação própria (vide seção
4.3). Embora sustentado pela literatura de referência tradicional, o modelo de classificação
que será proposto não obedeceu aos critérios ou modelos encontrados, face às
peculiaridades intrínsecas à realidade nacional, para as quais não se encontrou
correspondência.
Relaciona-se no prosseguimento os principais autores que serviram de fonte para a
compreensão dos assuntos e teorias conforme o capítulo no qual foram utilizados.
- Capítulo 2: Amaral (2007); Demo (1981); Luna (2007); Minayo (2002); Quivy; Van
Campenhoudt (1991); Vergara (2007).
- Capítulo 3: Abelson (2000, 2002, 2006); Aragão (1994); Denhardt (2004), Denhardt;
Denhardt (2003); Dye (2005); Farhat (2008); Faria (2003); Frey (2000); Gros (2003); Howlett
e Ramesh(2003); Kingdon (1985); Kaplan; Laswell (1979); Marschall (2004); Matias-Pereira
(2008); Rich (2001; 2004); Roberts (2004); Silva (2007); Smith (1991); Stone (2000, 2007);
Torres (2006).
- Capítulo 4: pesquisa on line; Abelson (2000, 2002, 2006); Aragão (1994); Denhardt (2004),
Farhat (2008); Silva (2007); Smith (1991); Stone (2000; 2007); Torres (2006).
É necessário, porém, ‘abrir um parêntesis’ para a seguinte colocação: os autores
citados são aqueles listados nas referências e, embora se reconheça que este é um
procedimento necessário para o registro metodológico do trabalho, mas a listagem não
considera os outros autores que, durante o curso de mestrado influenciaram na formação desta
pesquisadora, mas que, em face do fenômeno de estudo e do tema abordado, não serão
citados. Feita a ressalva, procede-se ao registro das construções teóricas realizadas, e que
constituem a última etapa metodológica do modelo adotado nesta dissertação.
Nesta seção discorre-se sob os métodos que embasaram os capítulos três, quatro e
cinco nos quais se buscou construir a base de conhecimentos sobre os think tanks. Explana-se
no prosseguimento como ocorreram essas construções. A construção das figuras, quadros e
tabelas de autoria própria que compõem este estudo originaram-se:
i- da reunião e sistematização de dados coletados nas obras e documentos eletrônicos que são
referenciados em cada uma;
28
29
5
Menciona-se que foram fonte especialmente profícua de pesquisa os trabalhos de Aragão (1994);
Farhat (2007); Gros (2003, 2003b); Silva (2007).
29
30
entidade é um think tank ‒ é falsa, ao invés de utilizar o método inverso, que consiste na
busca de instâncias confirmatórias para o que empiricamente se encontrou (POPPER, 2007).
Considerando-se a responsabilidade de um pesquisador que busca sistematizar
conhecimentos científicos, avaliou-se que a tentativa de refutar os próprios argumentos
consistiria em uma validação mais adequada que a tentativa de sancionar o que se credita
como verdadeiro, ainda que a utilização do método, originalmente voltado para o teste lógico
de teorias, possa eventualmente ter significado reduzir a grandeza da proposição de Popper à
uma instância de estudo de menor valor, no sentido de importância ou mérito.
Desta forma, para cada organização inicialmente caracterizada como um think tank
tratou-se de buscar por evidências contrárias à proposição: que essas não eram think tanks.
Foram pesquisadas ao todo 31 instituições e organizações. Deste total, foi possível pelo
método da falsificação descrito anteriormente, confirmar que 20 entidades podem ser
classificadas, de acordo com a descrição que oferecem de seus objetivos, missão, atividades,
etc como organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas. A relação das
organizações pesquisadas e o conteúdo que corrobora esta afirmação encontram-se na seção
4.4.
Outro ponto a relevar-se foi o encontro, de uma maneira acidental, de informações
valiosas, a exemplo do apresentado na subseção 3.6.4, sobre a rede global de institutos de
pesquisa e aconselhamento em políticas públicas, da qual faz parte o think tank Rubens
Barbosa & Associados (que pela técnica citada anteriormente, pode-se considerar como sendo
de fato um think tank).
A instituição foi mencionada em um artigo cuja leitura destinava a outro propósito
(escolha de material didático para a disciplina de Gestão de Negócios Internacionais,
ministrada pela pesquisadora à época em uma IES – Instituto de Ensino Superior). Sua
descoberta e posterior investigação on line revelou toda uma intrincada teia de
relacionamentos entre think tanks ao redor do mundo, servindo ao propósito de ilustrar o
efeito da globalização sobre as organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas
públicas.
Encerra-se este capítulo sobre a metodologia e os procedimentos de estudo do
fenômeno para, na continuação, expor no capítulo três o referencial teórico que serviu de
ponto de partida para a revisão da literatura, norteando o trabalho realizado.
30
31
6
Assume-se preliminarmente a política pública como um ciclo: inicia com uma estratégia de governo
para atender as demandas de determinados grupos, ou resolver problemas da sociedade,
desdobrando-se posteriormente em objetivos e ações, que são empreendidas pelo corpo burocrático
governamental, no exercício de suas funções administrativas.
31
32
mais elevado é o seu custo (perde-se vidas) e maior é a probabilidade de revoltas contra
aqueles que a exercem (perde-se legitimidade).
Atualmente a solução mais utilizada – e quase sempre pacífica – reflete o
desenvolvimento histórico da razão: dá-se pela via política, que limita os confrontos por meio
da negociação e da adoção de regras e normas pactuadas e aceitas por todos. A política
também estabelece a quem cabe o uso legítimo da força, quando necessário à manutenção da
paz social e da ordem.
Com a organização política criam-se governos. De tempos longínquos até os dias de
hoje, a constituição de sociedades politicamente organizadas em diferentes sistemas de
governo prevalece como projeto coletivo, permitindo que homens e mulheres se associem na
empreitada conjunta que é a vida social. Instaurado um governo, surge a figura dos
governantes ou líderes políticos, isto é, alguém dotado com o poder de condução dos rumos
da vida em sociedade. Concomitantemente aos governantes, surgem os conselheiros políticos:
estes tentam influenciar aqueles, seja por ambição, vaidade, poder ou o sincero desejo de
ajudar.
No passado, a relação líder-conselheiro foi marcada pela complexa interação entre os
detentores de poder e seus conselheiros, e.g. a influência de Aristóteles como tutor de
Alexandre, o Grande; a de Sêneca como preceptor de Nero; a ascendência de Armand-Jean du
Plessis, Duque e Cardeal de Richelieu sobre o Rei Luís XIII na França absolutista; e a
tentativa de Niccolò Machiavelli de influenciar o príncipe Lorenzo de Médicis, entre tantos
outros exemplos históricos.
Esquematiza-se na figura 2 a evolução das relações sociais correspondentes ao
processo evolutivo humano, dos seus primórdios até o surgimento dos governos, conforme
registrado.
32
33
Ameaças Ambientais
Agrupamento
social
Agrupamento Agrupamento
social social
CONFLITOS
Governante
Ligação para o
exercício de
influência
C
Coonnsseellhheeiirroo
33
34
7
Estrutura exprime a forma de regular as relações entre os elementos de um conjunto, define a
organização desses elementos e lhes confere seu caráter particular (GELEDÁN; BREMON, 1988, p.
323).
8
Na teoria pluralista, a divisão de autoridade entre três poderes (executivo, legislativo e judiciário)
impede a adoção de medidas imprudentes pelo governo. Segundo Bobbio (1998), o pluralismo é uma
forma de equilibrar o poder entre o Estado e a sociedade, com ênfase na conciliação das demandas e
imperativos de cada sistema. No pluralismo, o interesse público une-se a sociedade, embora o
primeiro se sobreponha à segunda (MATIAS-PEREIRA, 2008).
34
35
35
36
Sociedade politicamente
organizada
TECIDO SOCIAL
Grupos de interesse de
outros Estados Grupo de
interesse social
Grupo de
Grupo de Interesses interesse
interesse Conflitantes
Grupo de
interesse
C
Coorrppoo TTééccnniiccoo--
Estado: Mediação de Conflitos
THINK TANKS bbuurrooccrrááttiiccoo
36
37
37
38
TEORIA POLÍTICA
THINK TANKS
Ciclo da PP
PolíticaPública
Atores em PP
Governança e
Accountability
Administração
Pública
Co-produção do
Bem Público
Para Howlett e Ramesh (2003), as teorias nas ciências sociais podem ser classificadas
por distintos meios, conforme a “espécie e a extensão dos fenômenos sociais que elas tentam
explicar e do método básico que utilizam para derivar seus insights e hipóteses”.
(HOWLETT; RAMESH, 2003, p. 21).
Reafirma-se, como colocado anteriormente na delimitação do estudo, que algumas
teorias possuem diferentes facetas de análise, que permitem sua abordagem por diversos
ângulos. Quanto mais vasta e abrangente a teoria, mais enfoques poderão ser obtidos no seu
estudo. Embora se tenha buscado explorar as teorias de forma ampla, tratou-se de manter um
9
Genericamente um campo é um conjunto informal e heterogêneo de problemas, situações,
conceitos, relações, estruturas, conteúdos e operações de pensamento, conectados uns aos outros.
Já um campo de conhecimento possui objeto, problemáticas e métodos próprios de investigação,
bem como um conjunto de conceitos próprios. Cobrem distintos contextos e âmbitos da existência
individual e social humana, de modo institucionalizado ou não.
38
39
Esta seção tem por objetivo apresentar e explanar diferentes aspectos ligados à teoria
política nos dias de hoje. De acordo com Dye (2003), política é um termo polissêmico. Com
esta afirmação o autor ressalta os vários sentidos que a expressão pode assumir, em função do
contexto ao qual ele é aplicado.
Embora alguns autores façam distinção entre ciência política e teoria política, a
primeira como corpo de conhecimentos que contém a segunda, ficando essa limitada a um
viés explicitamente normativo, na prática – e para a finalidade deste estudo − se utiliza no
mesmo sentido de teoria política, expressões afins como: ciência do Estado; doutrina do
Estado, ciência política ou filosofia política.
A concepção original de política − derivada do grego pólis ou politikós − remete à
noção de cidade, ao que é urbano. Ligava-se ao estudo das atividades humanas relacionadas
com a condução da vida na esfera pública, em oposição à vida privada (a família) e a aldeia
(os vizinhos): os dois últimos tinham por finalidade única garantir a sobrevivência
(CHATELET, 1994; MATIAS-PEREIRA, 2008).
Quando se pensa nos dias de hoje em teoria política, vêm à mente palavras como
direito, igualdade, liberdade, povo, democracia, sociedade, Estado, soberania, representação.
São palavras que mantêm uma estreita relação entre si e com outras não mencionadas, que
denotam seu caráter coletivo, democrático e participatório.
Segundo Duso (2005), analisar conceitos ligados ao campo da política constitui uma
atividade útil para todos os que desejam se aprofundar no entendimento “dos conceitos que
hoje determinam o espaço do agir humano e que se encontram codificados nas constituições
contemporâneas, com o objetivo de legitimar a relação de obrigação política e o dever de
submissão a lei” (DUSO, 2005, p. 8, grifo acrescentado). O autor, ao fazer menção ao agir
humano, aproxima-se do pensamento político de Hannah Arendt (2002), que afirma ser
impossível dissociar ou categorizar a relação entre pensar e agir, isto é, entre ação (práxis) e
39
40
pensamento, uma vez que ambos são parte da constituição originária do homem10. Para
Arendt (op. cit.) a consequência desta interligação, na esfera política é que o pensamento
político não é uma tabula rasa; não surge do nada para construir uma ordem social justa:
antes, indica a reflexão social acerca da realidade política em que nos encontramos do mesmo
modo como ocorria no passado, a reflexão política na polis grega.
Também para Kaplan e Lasswell (1979, p. 16), a ação é inerente à teoria da ciência
política, pois esta “[...], como disciplina empírica, é o estudo da formação e da distribuição do
poder” e seu objeto de estudo é “constituído pelo comportamento de pessoas com diversas
perspectivas de ação, organizadas em grupos de complexidade variável” (ibid., 1979, p. 30,
grifo acrescentado).
Sob outra perspectiva, Dye (2005, p. 3) define que a ciência política é o estudo de
“quem ganha o quê, quando e como”. Outra visão, de enfoque contratualista, é a de Rawls
(2007), para quem a teoria política é o conjunto de procedimentos formais e informais que
expressam relações de poder e que se destinam à resolução pacífica de conflitos, definindo a
forma de distribuição de benefícios e a utilização de bens públicos.
O enfoque de Perkins (2008), eminentemente legalista, apresenta a filosofia política
como a busca de respostas às seguintes questões: Quem deve fazer as leis? Por que acatá-las?
Quais princípios norteiam sua formulação e quais fins devem ser alcançados?
Segundo Serra (1995, p. 19), é da política que “derivam as decisões imperativas,
válidas para toda a coletividade, que vão se traduzir em atos de governo”. Assim, a política
envolve um complexo encadeamento de atividades, através das quais “são representados os
interesses, expressos os anseios de uma sociedade, explicitados os conflitos e negociadas as
soluções” (op. cit.).
Todos os autores consultados convergem ao situar ciência política moderna dentro do
contexto do ideal democrático (ou da democracia como condição sine qua non11) que resulte
no bem-estar coletivo. Também são unânimes em apontar o poder como uma noção intrínseca
que permeia o estudo e o entendimento da teoria política contemporânea.
Os estudos de Kaplan e Laswell (1979) servem ao esclarecimento da aparente
separação apontada. Demonstram em seus estudos que não há uma relação dicotômica no
estudo da ciência política, mas uma relação de subordinação: a ciência política é válida
10
Arendt critica de forma contundente o primado da teoria sobre a ação: para ela, a política constitui-
se em um espaço dialético, que condena normas de comportamento pré-constituídas sem o exercício
prévio da faculdade de julgamento, exercitada na relação concomitante do viver e do agir.
11
Sinteticamente Ferez Jr. (2000, p. 102) define democracia como um regime de governo baseado
no “principio normativo de alargamento da participação política”.
40
41
quando realizada em um contexto democrático, pois “o poder é apenas um dos valores que se
manifesta nas relações interpessoais; e não pode ser compreendido corretamente se for
abstraído dos outros valores em jogo” (KAPLAN; LASWELL, 1979, p. 24).
Um valor intrínseco para os autores é o respeito, tanto o respeito próprio quanto o
respeito aos demais. Mesmo no estudo das relações de poder, eles condicionam o exame
dessas à análise do respeito e de outros valores, pois, como indicam,
41
42
entre Estados, uma vez que esses são formatados historicamente, à semelhança de seu corpo
social (DENHARDT, 2004; HOWLETT; RAMESH, 2003; MATIAS-PEREIRA, 2007).
Antecipa-se que, inseparavelmente das escolhas políticas e das possíveis soluções dos
problemas políticos, encontra-se os think tanks, que se vinculam à Ciência Política por sua
ligação com a administração pública e a política pública, pela ótica da policy analysis, uma
vez que os think tanks atuam no ciclo da política pública. Procede-se, na continuação, ao
estudo das demais teorias que sustentam a questão de estudo.
Nesta seção procede-se ao estudo da policy analysis que pertence ao campo da Ciência
Política, assim como as teorias que embasam o campo da administração pública. Segundo
Marques (2006, p. 60), o desenvolvimento da policy analysis “ocorreu paralelamente e em
diálogo com as várias teorias do Estado, mas sempre apresentou grande proximidade com o
pluralismo”. Esta distinção é importante na medida em que influencia o enfoque e o
direcionamento do estudo em questão, como se evidenciará a seguir.
Estudiosos e pesquisadores do campo das políticas públicas distinguem dois modelos
principais para o estudo e análise das políticas públicas: o policy process e a policy analysis.
Cabe ressalvar que esses não são os únicos enfoques de estudo possíveis, porém são os mais
utilizados (DYE, 2005; FARIA, 2003; FREY, 2000; HOWLETT; RAMESH, 2003). Em
estudos acadêmicos, diferencia-se a relação entre o ponto de vista do policy process e o da
policy analysis pelos métodos utilizados e o enfoque de análise: “do conhecimento da política
(knowledge of policy) ao conhecimento em política (knowledge in policy)”. O primeiro refere-
se ao policy process; o segundo, à policy analysis (SCHNEIDER, 2002)
Enquanto o policy process preocupa-se com os fatores sociais e econômicos que
condicionam as políticas públicas, a policy analysis centra sua atenção no papel
desempenhado por atores, instituições, forças políticas envolvidas no ciclo da política pública
e até mesmo nas circunstâncias que servem de limites à capacidade de ação política por parte
dos governantes (FARIAS, 2003; HAM; HILL, 1993).
Como o reconhecimento do fenômeno dos think tanks liga-se diretamente ao estudo
das forças que moldam a política pública e do papel desempenhado pelos atores que integram
a arena política, é por meio dessa ótica que se pode reconhecer na realidade empírica a
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Ator
Analista
político
como ator
como
político
analista
Com base na figura cinco se identifica que, em comum, ambas as abordagens possuem
como ponto de chegada (output) a avaliação da política publica, etapa do ciclo político a ser
descrito mais adiante, e que propicia uma base de conhecimento para futuras ações
governamentais.
Outro aspecto importante, ressaltado por Frey (2000, p. 216), é o imperativo de
esclarecer que a literatura sobre a policy analysis em inglês “diferencia três dimensões da
política”. Englobadas na língua portuguesa pela palavra “política”, essas dimensões são
designadas no idioma inglês por três termos distintos: polity, politics e policy. Cada um destes
termos é dotado de um entendimento específico e uma dimensão distinta, que se identifica em
seguida.
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c)- grupos de resistência: formados, segundo Farhat (2007), por comunidades minoritárias em
uma região geográfica delimitada, buscam afirmar e manter seus costumes, leis ou
características, em face ao conjunto social no qual vivem. A herança cultural comum,
divergente da maioria dos demais grupos com que dividem um território e o amor à liberdade
são as principais características desses grupos. Por resistirem a integrar-se no contexto mais
amplo da comunidade à que pertencem e evitarem sua assimilação, esses grupos “vivem mais
‘ao lado’ dos demais grupos sociais do que ‘dentro’ deles” (FARHAT, 2007, p. 152, grifo do
autor). São exemplos: algumas tribos indígenas do Brasil; grupos forçados à migração para
outros países, como judeus e palestinos.
d)- grupos de afirmação: igualmente minoritários em um território, os grupos de afirmação
distintos dos grupos de resistência, não questionam seu pertencimento a uma comunidade.
Seus objetivos como salienta Farhat (2007) relacionam-se ao pleno exercício da sua cidadania
e à busca por igualdade de direitos, que lhes é negada em comparação com os demais
cidadãos. Em geral são grupos que sofrem discriminação e preconceito, e sua característica é
a grande capacidade de articulação e união em torno de sua defesa. A contradição dos grupos
de afirmação está no fato de que às vezes “pretendem obter – para afirmar sua igualdade −
tratamento diferenciado daquele dado aos demais cidadãos” (FARHAT, 2007, p. 307).
Exemplos desses grupos no Brasil são os negros (afro-descendentes); as mulheres; os
deficientes e os homossexuais, entre outros.
e)- grupos de coalizão: são grupos que congregam em um mesmo ‘guarda-chuva’ interesses
convergentes diversos de outros grupos sociais. Assim, existem subgrupos dentro de um
grupo de coalizão, que são englobados em um grupo maior com a capacidade de reuni-los e
representá-los neste interesse específico (ARAGÃO, 1994; DYE, 2005). São exemplos de
grupos de coalizão: na área econômica, os fundos de pensão que representam grupos de
categorias diferentes, como aposentados e pensionistas; na arena política, um partido político
pode ser visto como um grupo de coalizão, já que normalmente possuem em sua estrutura
subgrupos com algumas diferenças (o que também explica o fato de os partidos políticos
eventualmente se desmembrarem, quando a diferença entre os grupos que o compõem torna-
se tão relevante a ponto de romper com a coalizão).
Segundo Rua (1998), a teoria de grupos consiste de análise pluralista, que implica
estudar a influência das relações de poder e da representação de interesses do ponto de vista
formal e informal. Sobre este aspecto, Dye (2005, p. 20) manifesta que a “influência de
grupos é determinada por seu número, riqueza [no sentido de poder econômico], capacidade
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Política
pública
Posicioname ntos
pol íticos alternati vos
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Em parte do contexto maior da teoria política, como forma de o Estado alcançar seus
objetivos, situa-se a política pública. A política pública, como estratégia de ação de
governos12 para colocar em prática as decisões políticas, trata justamente das consequências
da interação de uma “[...] multidão de atores que interagem uns com os outros de inúmeras
maneiras na busca de seus interesses” (HOWLETT; RAMESH, 2003, p. 17).
Esses atores, contudo “atuam em meio a um conjunto de relações sociais e idéias
políticas existentes” que restringem sua liberdade de ação (ibid., 2003, p. 17), como foi
abordado na seção anterior, parte da atividade governamental é buscar o equilíbrio entre as
demandas de grupos com poder de influência desigual.
A política pública é de competência intrínseca do governo de forma geral. Embora
todos os poderes – legislativo; executivo e judiciário – possam eventualmente assumir a
posição de policy makers de uma política pública específica, este papel é exercido com maior
frequência pelo poder executivo e a burocracia que compõe a administração pública
(HOWLETT; RAMESH, 2003).
Segundo Dye (2005, p. 6), a análise de política pública “refere-se a quem consegue o
quê e, principalmente, por que e qual a diferença que isto ocasiona para a sociedade”. Para o
autor (ibid., p. 4), a “política pública é a descrição e explicação das causas e consequências da
atividade governamental”. Para Lasswell (1951 apud HOWLETT; RAMESH, 2003), a
ciência da política pública possui três características distintivas: é multidisciplinar, é voltada
para a resolução de problemas e é explicitamente normativa. James e Anderson (1984, apud
HOWLETT e RAMESH, 2003) vêm à política como “um curso de ação intencional
perseguido por um ator ou conjunto de atores, quando tratam de problema ou matéria de
interesse”.
Pra Frey (2000), trata-se do questionamento e análise das forças políticas cruciais que
influenciam o processo decisório político, que tem origem nos resultados que um dado
sistema político vem produzindo. Ainda segundo este autor, o interesse principal de sua
análise consiste na avaliação das contribuições que certas estratégias escolhidas trazem para a
solução de problemas sociais específicos.
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A definição de política como governo em ação foi formulada originalmente por Woodrow Wilson,
em 1887. O autor, acadêmico e presidente dos EUA, foi um dos grandes impulsionadores do estudo e
desenvolvimento do campo da Administração Pública, bem como um de seus mais proeminentes
teóricos (DENHARDT, 2004; HOWLETT; RAMESH, 2003; MATIAS-PEREIRA, 2008).
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Outra definição de política pública é apresentada por Jones (1977). A partir da noção
geral que o conceito expressa, o autor o desdobra em suas partes constitutivas, quais sejam: as
propostas de política, ou os meios apresentados para a consecução de determinadas metas; os
programas, que são os meios autorizados para que se atinjam as metas; as decisões, isto é, as
ações específicas adotadas a fim de implementar as metas; e os efeitos, que constituem os
impactos resultantes dos programas, que podem ser mensurados.
Sintetizando-se as definições anteriores, pode ser afirmado que a política pública
compreende o conjunto de decisões e ações que uma esfera de governo, em qualquer esfera,
decide ou não empreender (DYE, 2005; HOWLETT; RAMESH, 2009; FREY, 2000; RUA,
1998; SOUZA, 2006).
A análise das definições elencadas permite concluir que todas elas possuem em
comum os seguintes aspectos: resultam das decisões tomadas por governos; são decisões
tomadas com dois propósitos: manter o status quo ou modificá-lo; as políticas públicas são
resultados ou produtos (outputs) das atividades inerentes ao processo de governo (politics).
Por este ângulo pode-se perceber a importância da ligação entre a qualidade das
políticas públicas (outputs) e a qualidade do conhecimento disponível para o formulador de
políticas públicas, o policy maker. Esta ligação remete à necessidade de estudos dos institutos
de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas, defendida neste trabalho. É a junção
entre a ação do poder e o conhecimento que fixa a fronteira entre a política pública e os think
tanks, uma vez que os últimos têm a pretensão de prover os primeiros com conhecimento
relevante para a tomada de decisão política.
Nesse sentido, torna-se necessário distinguir entre política pública e decisão política.
A primeira, de modo geral, envolve mais do que uma decisão e requer diversas ações
estrategicamente selecionadas para implementar decisões tomadas. Já a segunda corresponde
a uma escolha dentre um leque de alternativas, de acordo com a hierarquia das preferências
dos atores envolvidos e sua capacidade de impô-la aos demais atores, expressando − em
maior ou menor grau - certa adequação entre os fins pretendidos e os meios disponíveis
(HOWLETT; RAMESH, 2003).
Assim, embora toda política pública implique uma decisão política, nem toda decisão
política chega a constituir uma política pública. Um exemplo é encontrado na emenda
constitucional para reeleição presidencial: trata-se de uma decisão política, mas não de uma
política pública. Já a privatização de estatais ou a reforma agrária são políticas públicas.
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Problemas
Política
Agrupamento social Janela
Política
Propósitos
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garante a ocorrência de um fluxo convergente que possa influenciar uma política pública. A
probabilidade de influenciar com êxito o ciclo da política pública é proporcional à capacidade
do think tank de articular os três elementos, problema, proposta e política, simultaneamente
(DYE, 2005; KINGDON, 1995; HOWLETT; RAMESH, 2003).
Segundo Souza (2006), pode-se extrair dos vários modelos e definições sobre política
pública os seguintes elementos constitutivos: a política pública possibilita a distinção entre o
que o governo pretendia fazer e aquilo que de fato faz; é uma ação intencional e busca atender
a objetivos concretos; e, embora se materialize por meio dos governos, envolve vários atores
com diferentes níveis de influência na decisão.
Outro enfoque relevante é o do relatório 2006 do BID, A política das políticas
públicas, que enumera como características-chave das políticas públicas: a estabilidade no
longo prazo; a adaptabilidade, como capacidade de ajuste a novas circunstâncias; a coerência
e coordenação, que reflete a compatibilidade entre várias políticas governamentais e a
capacidade de coordenação dos atores envolvidos; a qualidade da implementação, como
aplicação efetiva; a consideração do interesse público como norteador das políticas; e a
eficiência na alocação de recursos escassos para assegurar o máximo retorno social das
políticas públicas (STEIN et.al., 2006, p. 130).
Por outro viés, Rua (1998) alerta que a expressão política pública refere-se àquelas
políticas de governo que são públicas, e não privadas ou meramente coletivas, isto é, partem
do poder publico e destinam-se à sociedade em geral. Portanto, não devem ser confundidas
com as ações de empresas privadas, mesmo quando essas tratam de questões que abrangem o
contexto social em seu entorno. Deduz-se da afirmação que a dimensão pública de uma
política não é determinada pelo tamanho do grupo social a que se destina, mas por seu caráter
imperativo. Também que uma característica inerente à política pública é que essa emana de
decisões e ações embasadas na autoridade concedida pelo poder público a diferentes policy
makers, tema abordado na seção 2.5.
Em síntese, as definições, categorias e nuances sobre políticas públicas apresentadas
nesta seção, de diferentes autores e enfoques, são convergentes ao demonstrarem a
complexidade que envolve a política pública, tendo em vista que envolvem uma cadeia com
grande número de variações possíveis, oriundas de decisões tomadas em diferentes momentos
pelos policy makers, sob influência de diversos indivíduos, grupos e organizações,
governamentais ou não. Na subseção que segue é complementado o estudo da política pública
com a análise dos ciclos em que essa pode ser dividida, a fim de facilitar a compreensão.
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Apresenta-se no quadro 4 uma síntese comparativa dessas abordagens por meio de três
enfoques: o de autores pioneiros no campo (JAMES; ANDERSON, 1984 apud HOWLETT;
RAMESH, 2003); o de um autor do tema no Brasil (FREY, 2000); e autores estrangeiros
contemporâneos (HOWLETT; RAMESH, 2003).
Autor da Proposição
James e Anderson Frey Howlett e
(1984) (2000) Ramesh (2003)
Nomenclaturas Percepção e
Reconhecimento do Montagem da
propostas 1° definição de
problema agenda
problemas
para os Montagem de Formulação da
estágios 2° Proposta de solução
agenda política
da Elaboração de
3° Escolha da solução Tomada de decisão
programas e decisão
Política
Efetivação da Implementação de Implementação da
Pública 4°
solução políticas política
Monitoração dos Avaliação e eventual Avaliação da
5°
resultados correção da ação política
Quadro 4 – Comparativo da nomenclatura dos estágios da política pública, por autor
Fonte: baseado em HOWLETT; RAMESH (2003) e FREY (2000).
Mediante exame das classificações do quadro 4, constata-se que não existem variações
significativas entre as mesmas, tratando-se mais de escolhas semânticas dos autores que de
visões divergentes acerca das etapas do ciclo político. Frey (2000) atribui as variações nas
divisões do ciclo de política pública encontrada na bibliografia do tema a diferenças
superficiais e identifica uma base comum a todas, constituída pelas fases da formulação, da
implementação e do controle.
Ainda segundo Frey (2000, p. 226), o ciclo da política pública é o principal elemento
constitutivo da policy analysis, considerado seu “caráter dinâmico” em um contexto complexo
per se, que varia de acordo com a pluralidade de atores envolvidos, as redes formadas por
esses atores e a segmentação em distintas arenas em função do tipo específico de política em
questão (e.g.: é provável que o ciclo de uma política de saúde epidemiológica varie
comparativamente ao ciclo de uma política de segurança nacional. O primeiro pressupõe, pela
natureza do problema, agilidade no agir. O segundo, pelo mesmo motivo, demanda estudos e
ponderações que alicercem uma política integrada e bem sucedida).
Adotou-se o modelo proposto por Howlett e Ramesh (2003), que sintetizam o trabalho
de diversos autores, como exposto na figura 8,
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CICLO DA
POLÍTICA PÚBLICA
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e)- Avaliação da política pública: no geral é o estágio do ciclo onde se pode verificar o
impacto real de uma determinada política na realidade sobre a qual se pretendia agir, pois
permite comparar aquilo que se pretendia alcançar quando da formulação com o que foi
efetivamente obtido. Envolve a analise dos meios utilizados e dos objetivos alcançados.
Um grave problema enfrentado nesta etapa é a inexistência de critérios fixos do que se
considera como ‘sucesso’ ou ‘fracasso’, aplicável a qualquer contexto e tempo, tornando-se
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um gargalo no estudo do ciclo da política pública, ao não permitir comparações entre ações
empreendidas em períodos distintos. A falta de padronização a este respeito permite que uma
dada política possa ser considerada um sucesso ou um fracasso, dependendo do ponto de vista
do avaliador (DENHARDT, 2004; HOWLETT; RAMESH, 2003; MARQUES, 2006;
MATIAS-PEREIRA, 2008).
Para minimizar este problema Howlett e Ramesh (2003, p. 207, grifo nosso) sugerem
que uma política deva ser avaliada partindo-se da “eficácia [da] política pública em termos
das intenções percebidas e seus resultados”. Após a avaliação, se uma política é considerada
insuficiente, os problemas e soluções que ela envolve podem ser totalmente repensados.
Nesse caso, a issue pode retornar para a formação da agenda ou para algum outro estágio do
ciclo, ou então se decide pela manutenção do status quo, caso não de disponha de alternativas.
Quanto ao tipo de análise feita na etapa da avaliação, encontram-se, de forma sintética,
dois tipos principais de avaliação: de processo e de impacto. A avaliação de processo estuda a
fase de implementação de uma determinada política ou os resultados de uma política já
realizada. Ambas são ex-post – ocorrem durante e depois da fase de implementação. A
avaliação de impacto, ex-ante, compreende o cálculo do custo-benefício e do custo-eficácia de
uma política, antes que essa seja posta em prática. (COHEN; FRANCO, 1994).
Uma questão importante levantada por Howlett e Ramesh(2003, p. 15) diz respeito ao
encadeamento das etapas subjacentes ao modelo, pois “muitas vezes, não existe a progressão
linear da policy making que o modelo implica”, uma vez que cada ‘elo’ representado por uma
fase do ciclo da política pública pode desencadear a formulação de uma política futura, sem
que tenha previamente existido a montagem da agenda, por exemplo.
Encerra-se esta seção, que tratou dos ciclos que compõem a política pública, passando
em seguida para a análise dos atores relevantes que influenciam este ciclo.
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A atuação da OAB como ator político, pode alterar o rumo de algumas políticas
públicas, pois, segundo Aragão (1994, p. 62), a OAB “frequentemente opina e influencia o
andamento de projetos de lei em debate no legislativo, tratando de aspectos políticos sociais e
jurídicos”. Exemplifica-se assim como a interação Estado/atores pode influenciar os processos
e os resultados de uma política pública.
Como se afirmou no início desta subseção, escolheu-se a classificação dos atores que
compõem o universo da política proposta por Howlett e Ramesh (2003) por sua abrangência.
A abordagem dos autores ao assunto é ampla e elucida não somente os atores relevantes para
o ciclo das políticas públicas, mas também as diferentes interações entre eles. Para designar
todos os possíveis elementos que integram a relação entre atores, os autores do campo
desenvolveram, segundo Howlett e Ramesh (2003, p.54) um termo abrangente, o universo da
política, “[...] que contém todos os possíveis atores e instituições – internacionais; estatais e
sociais – que, direta ou indiretamente, afetam uma política específica”.
Entender os atores envolvidos e suas interações torna-se, por conseguinte, um aspecto
essencial à compreensão do processo que ocorre no universo da política. Igualmente
importante é a noção de que fatores institucionais moldam a forma com que indivíduos,
grupos e classes perseguem e defendem seus interesses (ABELSON, 2006; FREY, 2000;
HOWLETT; RAMESH, 2003, MARQUES, 2006).
Segundo os autores existem vários sistemas no universo da política pública − espaços
propícios para a discussão e exercício da persuasão entre atores − onde são discutidas e
barganhadas as questões políticas, conforme os interesses dos grupos.
Ainda de acordo com os autores, no sistema interno dos Estados encontram-se os
seguintes atores que influenciam − ou podem influenciar − o ciclo das políticas públicas:
a)- os atores estatais: que são os servidores concursados, os servidores eleitos e os servidores
nomeados;
b)- os atores políticos: engloba o público em geral, os think tanks, os partidos políticos, as
empresas de comunicação de massa e os grupos de pressão.
Os atores ou grupo de atores citados interagem constantemente na busca da defesa dos
seus interesses, e muitas vezes “abrem mão ou modificam seus objetivos em troca da
concessão de outros” (HOWLETT; RAMESH, 2003, p. 63). Dito de outro modo, os grupos
fazem entre si trade offs – abrem mão de um benefício em troca de outro, que julgam ser mais
conveniente. Para Rawls (2007, p. 110) é essa dinâmica que explica a possibilidade
diferenciada de captura de benefícios no contexto pluralista, uma vez que “os membros de
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uma sociedade [...] não são indiferentes quanto ao modo como os benefícios produzidos pela
sua cooperação são distribuídos”. Os que produzem mais tentam defender-se dos mecanismos
de redistribuição estatal da riqueza gerada e para isso realizam trade offs, por exemplo,
abrindo mão de certos posicionamentos públicos em troca de vantagens nem sempre
divulgadas.
Howlett e Ramesh (2003) apresentam de forma gráfica a síntese dos atores relevantes
em política pública, como explicita a figura 9,
instituições, cuja composição varia entre países e também em função do tempo. Por
consequência, pode-se dizer que os sistemas internacionais não afetam de maneira igual todos
os países. As interações entre atores ocorrem no contexto dos diversos arranjos institucionais
que permeiam o processo político e isto afeta o modo pelo qual os atores perseguem seus
interesses e idéias e o grau de sucesso obtido com seus esforços (HOWLETT; RAMESH,
2003, p. 54).
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aos representantes eleitos, mas englobam todo o conjunto de servidores em posição de, nos
limites da lei, fazerem escolhas relativas à política pública.
Outra análise, feita por Loureiro (1998), aborda a necessidade de clareza e
entendimento do processo de delegação na administração pública, que envolve uma cadeia
delegativa de poder, que se desenvolve a partir da tríade cidadão−político−burocrata, e a
respectiva prestação de contas dos dois últimos, a posteriori, à sociedade. Esta análise ressalta
a necessidade de transparência na administração pública e destaca sua função social de servir
à sociedade.
A administração pública brasileira, na visão clássica, divide-se em administração
direta e indireta. A primeira corresponde à burocracia tradicional, com um corpo de servidores
públicos de carreira lotados em órgãos da administração direta, como secretarias de Estado,
por exemplo; já a segunda, dotada de um modelo de gestão que confere às instituições um
ligeiro acréscimo em sua autonomia se aproxima mais dos moldes de atuação das empresas
privadas, como, por exemplo, as fundações públicas e as autarquias.
Para Abrucio (1997), essa divisão nítida encontra-se superada, como resultado da
necessidade de adequar respostas administrativas às especificidades do Brasil e à
multiplicidade das necessidades de sua população. Para o autor, existe grande diversidade
organizacional no setor público nos dias de hoje. Na mesma linha de argumento, Mezzomo
Keinert (2007, p. 107) afirma que a administração pública no Brasil não se limita, como
antigamente, ao aparelho estatal (suas instituições) e à burocracia pública (seu corpo
funcional).
Interpreta-se o argumento dos autores no seguinte sentido: face ao aumento das
demandas sociais, que o Estado não tem condições materiais de atender, a administração
pública moderna passa a englobar também outros atores, envolvidos com questões públicas.
Cita-se como exemplo as Organizações Sociais – OS entidades privadas com as quais o poder
público firma contratos de gestão para a prestação de serviços públicos.
Atribui-se esta ampliação do campo da administração pública, já não mais restrito à
burocracia governamental e suas instituições (diretas ou indiretas), ao incipiente, porém,
consistente fortalecimento, por um lado, da sociedade civil organizada e, por outro, da noção
de cidadania − ambos efeitos da redemocratização do país na década de 80.
A sociedade civil organizada integra o sistema político como esfera distinta do Estado
e do mercado e é uma parte importante desse sistema, pois constitui um espaço de construção
de cidadania, no qual as pessoas podem se familiarizar com assuntos públicos que lhes dizem
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respeito; inteirar-se sobre como as regras adotadas na esfera pública afetam seus interesses;
promover a articulação de interesses comuns a certos grupos.
Dito de outro modo, o exercício da cidadania decorre da integração dos diversos atores
e instituições que via sociedade civil organizada participam, direta ou indiretamente, na
formulação e execução de políticas públicas, ainda que estas sejam em última instância de
responsabilidade da administração pública e de seus representantes, eleitos ou não. Em termos
de esquema diagramático, poderia ser resumido o que se tratou anteriormente na figura 10:
13
“O Estado de Direito supõe o respeito das leis pelos dirigentes, que não podem alterá-las
arbitrariamente” (DIREITO et al., 1971, p. 9).
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Os conceitos apresentados nesta seção não são novos, embora apenas em anos mais
recentes, na medida em que entravam na ordem do discurso (vista anteriormente na seção
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3.4.2), passaram a ser compreendidos e a fazer parte do cotidiano e das demandas de algumas
parcelas da sociedade brasileira.
A palavra governança, cada vez mais utilizada, exprime um sistema pelo qual as
sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo seus stakeholders diretamente no
monitoramento de suas ações e dos resultados alcançados, quer se trate de instituições
públicas ou privadas. As boas práticas de governança têm como finalidade aumentar o valor
percebido da instituição, contribuir para a sua perenidade e legitimidade junto à sociedade.
Sucintamente, O´Donnell (1999) define a governança como a capacidade de gestão
estatal. Na visão de Frey (2000), a governança é a capacidade que um determinado governo
tem para formular e implementar as suas políticas para consecução de metas coletivamente
estabelecidas, baseadas em um programa de governo legitimado por uma eleição livre e
democrática.
Implícito no conceito de governança, esta a noção da accountability, que é uma das
finalidades da avaliação de políticas públicas, significando estabelecer elementos para julgar e
aprovar decisões, ações e seus resultados, haja vista que facilita a responsabilização do gestor
ou agente público tanto pela tomada de decisões como por sua implementação, obrigando-o a
prestar contas de suas ações, assim como de possíveis omissões que tenham ocorrido
(SOUZA, 2006).
Na visão de Matias-Pereira (2008, p. 69), a palavra accountability pode ser
considerada como “o conjunto de mecanismos e procedimentos que levam os decisores
governamentais a prestarem conta dos resultados de suas ações, garantindo maior
transparência e a exposição das políticas públicas”. Sinteticamente, para Silva (2002, p. 37), a
accountability refere-se “[...] à ampliação da transparência e da responsabilização na ação
pública”.
Feita a síntese dos conceitos anteriores, pode-se admitir que a accountability é
definida no campo de política pública como a capacidade institucional das organizações
públicas de oferecer respostas, no sentido de transparência de informações e das ações
empreendidas para a sociedade e da responsabilização dos agentes públicos sobre o resultado
dessas ações.
O conceito de Governança Pública foi introduzido pelo Banco Mundial na década de
80, a fim de evidenciar, no contexto de crescimento liderado pelo mercado, a necessidade de
formas de regulação públicas transparentes, instituições políticas democráticas e legítimas e
de uma administração pública eficiente, eficaz e responsável (HALDENWANG, 2005).
70
71
Na década de 90, este conceito foi adotado, com enfoque expandido, pelo Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com destaque para a importância dos
processos de participação política e das organizações da sociedade civil, ressaltando o papel
do Estado na emancipação social e na redistribuição do poder.
Identificaram-se à época quatro dimensões de governança a serem perseguidas:
governança econômica; governança política; governança administrativa e governança
sistêmica. As três primeiras dimensões constituem a estrutura formal da tomada de decisões
no Estado moderno, enquanto a última ressalta o contexto ampliado da ordem social em que
este passa a se inserir, pois prevê mecanismos sistêmicos de ampliação da participação social
(PNUD, 1997).
A necessidade dos mecanismos mencionados surge na medida em que mais e mais
atores se unem ao processo de política pública, tornando cada vez mais difícil o controle das
influências exercidas sobre as ações governamentais por meio de mecanismos tradicionais.
Esta constatação vai ao encontro da análise feita por Frey (2000), que aponta como
consequência do enfraquecimento das atividades dos governos em geral, o ingresso no
processo político de novos atores sociais e de novas formas de articulação na formulação das
políticas públicas, na busca de legitimidade, por um lado, e de maior eficiência das políticas
públicas, por outro. Howlett e Ramesh (2003) também caminham nessa perspectiva,
apontando os possíveis riscos gerados pelo ingresso de novos participantes no processo
político, cujo resultado torna-se imprevisível, se não há transparência e um processo que
permita a identificação dos novos atores por parte dos demais atores e da própria sociedade.
Então, parece viável reconhecer a importância da criação de mecanismos de
accountability, que permitam conhecer quais são os atores (ingressantes ou estabelecidos) que
influenciam efetivamente, ou que tentam influenciar o processo de formulação das políticas
públicas. Por conseguinte, outro assunto a ser tratado é a importância da participação da
sociedade no processo político, que será feito na próxima subseção, de número 3.5.2.
Deriva da colocação anterior a proposição de que o fomento da participação torna-se
uma tarefa fundamental de governo, nas diferentes esferas de poder. Esta proposição se
relaciona com a visão de administração pública proposta por Denhardt (2004) que norteia este
trabalho, como colocado anteriormente na seção 3.5.
Esta perspectiva é corroborada pela afirmação de Frey (2000) de que a governança
implica na necessidade de criação de condições favoráveis à interação entre a pluralidade de
atores sociais, como meio de lidar com a diversidade e a complexidade, que são traços
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acentuados das sociedades contemporâneas. Segundo o autor, cabe aos gestores públicos
ocupar-se com o desafio de governar as interações originadas pelo aumento de atores sociais
que participam do processo político, além da solução dos problemas específicos com os quais
são confrontados habitualmente. Uma das formas de minimizar o problema, ainda de acordo
com Frey (2000), é fortalecer a burocracia, em especial dos gestores públicos de carreira,
comprometidos com a manutenção da qualidade da administração pública,
independentemente das flutuações oriundas da movimentação política. Para o autor, deve-se
mobilizar o conhecimento disponível na sociedade em benefício do desempenho da
burocracia, a fim de qualificar e preparar os gestores para estes novos desafios.
Entretanto, embora não se discorde da visão do autor, pondera-se que em sua análise,
apresentada nos parágrafos anteriores, Frey (2000) não considerou dois aspectos fundamentais
da realidade com que lida a maioria dos gestores públicos: os recursos públicos são limitados,
inclusive para o aprendizado e o desenvolvimento do seu corpo técnico; e o horizonte de
análise dos gestores públicos, que em geral é de curto prazo, mesmo quando estes são
servidores públicos de carreira, pois a mencionada alternância política não permite que esses
façam planos consistentes de desenvolvimento e qualificação, para além do tempo
determinado de um governo, uma vez que podem ‒ ou não ‒ ser mantidos na função de
gestores que ocupam no governo.
A despeito de todas as críticas que possam ser feitas (e de fato são) à governança,
quanto à sua viabilidade e aplicabilidade na prática, é importante demonstrar, como salientam
Heidemann e Kissler (2006, p.494, grifo nosso) que “o êxito da governança pública depende
da habilidade estratégica dos atores participantes [...]”. Assevera-se que tão somente para a
manutenção do status quo não se necessita de administradores públicos reflexivos, capazes de
agir sobre uma situação no intuito de promover melhorias. Na mesma linha, Dahl (2001, p.
93, grifo do autor) argumenta que as oportunidades propiciadas aos cidadãos de adquirirem
“uma compreensão esclarecida das questões públicas não são apenas parte da definição de
democracia. São a exigência para se ter uma democracia”. Terminada esta seção, serão
apresentados na seção seguinte os conceitos ligados a coprodução do bem público.
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73
Nesta subseção do trabalho são explanados três conceitos fundamentais para aqueles
países que enfrentam o desafio de superar seus problemas estruturais e sair da categoria dos
‘países em desenvolvimento’ para a dos considerados ‘países desenvolvidos’, isto é, aqueles
nos quais a injustiça social e a distribuição da riqueza não constituem mais um fosso profundo
que separa grupos da sociedade. Como se tratará de mostrar, estes conceitos estão
intimamente relacionados: sem cidadania, não é possível haver participação e, sem
participação, não há meios ideais para coprodução do bem público.
Em regimes políticos democráticos, a responsabilidade de governo da sociedade cabe
aos cidadãos: de forma direta − por meio da participação popular. Indireta, quando elegem
seus representantes. Desta forma, a cidadania se afirma como a expressão do vínculo do
indivíduo com o Estado, sendo o segundo uma variável dependente do primeiro, como
afirmou-se anteriormente..
A participação direta acontece quando os cidadãos estão pessoalmente envolvidos nas
decisões, ao contrário da participação indireta, quando os cidadãos elegem outros para
representá-los nas decisões. A primeira requer compartilhamento de poder entre cidadãos e
agentes públicos. O poder compartilhado é poder com cidadãos, ao contrário de ser um poder
exercido sobre cidadãos. No segundo caso, participação indireta, o poder decisório é
concedido por cidadãos-eleitores a representantes eleitos, que se tornam responsáveis pela
tomada de decisões coletiva (ROBERTS, 2004).
Afirmou-se na introdução que o Brasil é um Estado Democrático, uma vez que a
Constituição da República declara, no parágrafo único de seu Artigo Um que: "todo poder
emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou diretamente, nos termos
da Constituição" (CRFB, 1988, p.6). Assim, atribui-se à sociedade brasileira, em
conformidade com sua consciência política, a tomada de decisões sobre seu destino, o que
confere embasamento legal ao direito de participação dos cidadãos na vida pública, pela via
indireta, conforme a afirmação de Roberts (2004), exposta anteriormente.
Contudo, é importante ressaltar a existência de uma contrapartida à participação, que é
a clareza e a transparência da atuação estatal. Deste modo, pondera-se que “o processo
político de um governo deve ser “[...] suficientemente aberto para a visão do público e
simples o bastante em sua essência para que os cidadãos entendam prontamente o que ele
[governo] faz e como está agindo” (DAHL, 2001, p. 143).
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Alguns autores consideram a cidadania restrita ao conceito legal, com ênfase nos
aspectos processuais de envolvimento do indivíduo com o Estado. Para outros, a cidadania se
expande na direção de uma declaração ética e substantiva, em que a realização dos valores
dos cidadãos guia o governo. No enfoque do cidadão, a participação torna-se ato cívico na
defesa de seu papel na sociedade e da prática de seus valores (ROBERTS, 2004). O conceito
de cidadania, em conformidade com a visão pluralista de Estado, é definido por Ventris
(2005, p. 556, grifo nosso) como o processo:
É uma plataforma para que as pessoas realizem seu potencial, exponham interesses
DESENVOLVEDORA
e prioridades
PROTETORA DA
LIBERDADE Oferece à população um grau real de controle sobre suas vidas e seu ambiente.
Dá àqueles que não possuem poder uma plataforma de demandas e voz para sugerir
INSTRUMENTAL
mudanças.
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77
Afirmou-se na introdução deste estudo que não existe, mesmo na literatura tradicional
anglo-saxônica, unanimidade no conceito, classificação e termos constitutivos dos think tanks.
Esta seção irá evidenciar a variedade de aspectos relacionados ao fenômeno, além de colocar
em evidencia a riqueza dos estudos sobre think tanks em outros países, em contraste com a
exígua produção nacional sobre o fenômeno.
Esta seção engloba cinco tópicos, apresentados em subseções: na primeira,
desenvolve-se o histórico dos think tanks; no prosseguimento, serão analisados os conceitos
clássicos, oriundos da literatura tradicional anglo-saxônica; na terceira subseção apresenta-se
o estado da arte do fenômeno; na quarta, exemplifica-se a atuação dos think tanks; na última
subseção aborda-se o efeito da globalização sobre o objeto de estudo.
Segundo Lefort (1999, p. 10) “cada doutrina ou teoria tem sua origem na obra de um
pensador ou de alguns pensadores eminentes, cuja démarche requer a detecção de suas
‘idéias’ [...], assim como sua conexão, [para permitir] a comparação”. Pretende-se apresentar
inicialmente um panorama geral das múltiplas formas do conceito, a fim de compará-las e
demonstrar as interligações do fenômeno com o cotidiano da sociedade e de seus cidadãos.
É importante ressaltar a colocação de Faria (2003, p. 22) de que co-existem hoje “[...]
uma Babel de abordagens, teorizações incipientes e vertentes analíticas, que buscam dar
inteligibilidade à diversificação dos processos de formação e gestão das políticas públicas
[...]”; entretanto, como o autor afirma, as abordagens associadas ao papel das idéias e do
conhecimento na produção de políticas públicas têm sido praticamente ignoradas no país
(FARIA, 2003).
A afirmação corrobora a constatação do levantamento bibliográfico – explanado no
decorrer do trabalho – de que a realização de estudos científicos sobre os atores que
influenciam a administração e as políticas públicas no Brasil não ocorre na proporção
necessária a este campo de conhecimento. Frey (2000, p. 215) reforça este ponto, concluindo
que “[...] a falta de teorização é uma crítica comumente direcionada àpolicy analysis”.
Constata-se especialmente uma lacuna relativa ao estudo dos think tanks.
Os think tanks são um fenômeno muito estudado em outros países − em especial nos
países anglo-saxões, e sua existência e o papel que exercem é reconhecido, claramente
delimitado e exposto ao escrutínio público. Este fenômeno, como se evidenciará, não tem
recebido a mesma atenção por parte de estudiosos brasileiros. Atribui-se este fato por
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para que isso ocorra relaciona-se com a concepção da literatura tradicional sobre o objeto de
estudo, cujos conceitos impossibilitam o enquadramento teórico de algumas organizações
existentes nos países em desenvolvimento − com democracias em processo de consolidação −
como think tanks. Sustenta-se a afirmação de Marques (2006), de que, embora a literatura geral
sobre o Estado seja ampla no país, pouco se sabe a respeito do “[...] seu funcionamento concreto,
ou sobre os detalhes das dinâmicas que o cercam” (MARQUES, 2006, p. 16).
Acadêmicos que pesquisam o fenômeno ligado à política pública de países anglo-
saxônicos e vêm se destacando no estudo dos think tanks por áreas de expertise são: sua
história (SMITH, 1991), seu papel como fonte especializada de consulta (RICCI, 1993;
STONE, 2006), comparações de think tanks no mundo (McGANN e WEAVER, 2000;
STONE; DENHAM, 2004), o papel desempenhado pelos think tanks nas políticas públicas
(ABELSON, 2002; COURT; CATERELL, 2005; RICH, 2001; STRUYK, 2002).
Confirma-se a crescente importância dos think tanks no prosseguimento, mediante
alguns dados extraídos do relatório Global Trends and Transitions: 2007 Survey of Think
Tanks, do FPRI-Foreign Policy Research Institute, que, por meio de uma ampla pesquisa
mundial obteve, entre outros, os seguintes resultados:
1. Estimou existirem, em 2007, ano em que foi realizada a pesquisa, 5.035 think tanks ao
redor do mundo. Destas, responderam a pesquisa 1028 instituições, distribuídas conforme
a figura 11:
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Observa-se na figura 11 que existem na América Latina 462 think tanks, ou seja, o
correspondente a 8,03% do total mundial dessas organizações. O mesmo estudo indica a
existência de 38 think tanks oficiais no Brasil – ainda que não se conheça, pois não são
divulgadas, quais são as organizações consideradas como think tanks pelo estudo. Este
número que é superado, no continente, pela Argentina, que conta com 100 think tanks
reconhecidos no estudo;
2. Estudo referente à produção de livros acadêmicos sobre o fenômeno indica que os países
europeus lideram a pesquisa do tema, como demonstra a figura 12:
Figura 12 – Produção acadêmica de livros sobre think tanks, por região geográfica.
Fonte: Foreign Policy Research Institute, 2007.
Verifica-se na figura 1214 que a produção acadêmica sobre o tema na América Latina é
menor que a do Continente Africano. Correlacionando-se este dado com os dados da figura
anterior, obtém-se que, enquanto a região da América Latina possui 8,03% do total de think
tanks mundiais, a África responde por apenas 5,38% deste total. Entretanto, a última supera
aquela em produção de conhecimento sobre o assunto. O relatório, com base na pesquisa
realizada, traz uma categorização social do mundo no século XXI descrita como “O Mundo
Quatro Mais: mais assuntos; mais atores; mais competição e mais conflito” (FPRI, 2007, p.
10).
Um conceito clássico do fenômeno afirma que “think tanks são instituições
independentes, organizadas para a realização de pesquisas e geração de conhecimento com
14
O relatório não apresenta o número exato de obras produzidas por região ou país, somente
disponibiliza a informação gráfica deste dado.
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conteúdo político relevante. Elas preenchem uma lacuna de importância crítica entre o mundo
acadêmico e a esfera governamental” (HAASS, 2002, p. 5).
Na visão de Rich (2006), é difícil que o conceito seja tomado em sua perspectiva pura,
pois a delimitação de fronteiras institucionais entre os think tanks e outros tipos de
organizações de defesa de interesses e de pesquisa acadêmica não é inteiramente possível, já
que estas com frequência se sobrepõem, e os limites que as separam são tênues. Para o autor,
dois pontos centrais diferenciam e auxiliam na distinção entre os think tanks e outros tipos de
organizações que operam no mundo das políticas públicas: os produtos e os objetivos. No
caso dos think tanks, o principal produto é a credibilidade e o objetivo é o acesso aos
tomadores de decisões políticas (RICH, 2006).
Como não representam uma grande quantidade de eleitores, os resultados das
pesquisas de organizações de pesquisa e aconselhamento político não se tornam material
automaticamente aceito pelos policy makers. Por outro lado, por estarem sujeitas à
contestação de seus estudos e resultados pelos indivíduos ou organizações alinhados com uma
determinada ideologia ou visão de mundo, os think tanks preocupam-se com a credibilidade e
a validade científica dos resultados de suas pesquisas. Por este motivo, esses institutos
procuram ao máximo serem vistos como independentes − ainda que sustentados
financeiramente − a fim de assegurar a reputação de neutralidade científica (McGANN, 2002;
MULGAN, 2006; RICH, 2006; STONE, 2007).
Stone et al. (2001) propõe uma abordagem mais crítica na investigação sobre as
tentativas de criação de pontes entre pesquisa e poder, cuja ligação é realizada por intermédio
de think tanks, uma vez que certos institutos, na tentativa de demonstrar segurança, podem
equivocadamente impor como certezas conhecimentos que foram mapeados em suas
pesquisas, desconsiderando a peculiaridade do fato de que, na política, toda decisão tomada
em seus domínios é intrinsecamente normativa, isto é, irá afetar a população como um todo,
ou parcelas desta. Os autores pretendem com isso alertar para a responsabilidade da qual se
incubem os think tanks, que ao aconselhar os tomadores de decisão política (poder), com base
em suas pesquisas e idéias (conhecimento), adquirem não apenas a capacidade de fazer a
ponte entre um e outro – poder e conhecimento – mas também a responsabilidade sobre os
resultados obtidos.
Quanto aos objetivos que caracterizam os think tanks, segundo Rich (2006), mais do
que outras instituições, estes buscam acesso político e capacidade de influenciar os resultados
das decisões em políticas públicas por meio de pesquisas, idéias e conhecimento.
81
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Por meio de uma análise conjunta de obras de diferentes autores, é possível traçar as
tênues linhas que separam os think tanks de dois outros tipos de organização que realizam
pesquisa sobre política pública. São elas:
a)- Think Tanks e Grupos de Pressão: Diferentemente de grupos de pressão15, os think tanks
modernos raramente se limitam a um assunto específico, pois são estabelecidos para prover
expertise em varias áreas de política pública, como costuma acontecer com os grupos de
pressão que desejam em geral exercer influência sobre uma política pública que lhes diz
respeito (ABELSON, 2006, p. 12). O autor faz referencia ainda ao fato de que os grupos de
pressão sempre buscam ampliar sua base de membros, enquanto os think tanks não se
conectam com o público em geral para angariar adesão, apenas divulgam para a sociedade em
geral as suas pesquisas. Outro aspecto, relacionado à captação de recursos, é que os think
tanks, segundo Abelson (2006), quando necessitam de recursos públicos, preferem obtê-los
por meio do exercício da influência direta sobre os policy makers, enquanto os grupos
procuram manter uma base grande de pequenos mantenedores ou financiadores, alinhados
com uma determinada visão de mundo. Posto em palavras comuns, é possível dizer que os
think tanks trabalham no ‘atacado’ da política pública, enquanto os grupos de pressão agem
no ‘varejo’.
b)- Think tanks e Universidades: A distinção entre estes dois tipos de organização muitas
vezes é complexa, segundo Mulgan (2006). Para o autor, um diferencial fundamental é que os
think tanks se envolvem no “mundo das ideais, análise e ação” (MULGAN, 2006, p. 148).
Para Rich (2006), a diferença principal está no fato de que as Universidades constituem
ambientes mais abertos à associação de idéias oriundas de outras disciplinas, no sentido de
não realirem uma única atividade (a pesquisa de política pública), como é o caso dos think
tanks. Assim, sua maior capacidade chave é a de fazer conexões entre diversos domínios,
como o domínio da política (no sentido de politics), do conhecimento e prática de
implementação na política pública. Já o mesmo não ocorre com as universidades, segundo
Rich (2006), pois os acadêmicos tendem a se concentrar em assuntos relativos à política
pública apenas pelo viés do conhecimento teórico. Deste modo, normalmente a atividade de
pesquisa abrangendo exclusivamente políticas públicas não é foco principal de atividade dos
acadêmicos, envolvidos com aulas, alunos e orientações, além de atividades burocráticas
15
Tratados usualmente como sinônimos, neste trabalho a diferenciação entre grupo de interesse e
grupo de pressão é a proposta por Aragão (1994, p. 39): “os grupos de interesse, quando atuam no
nível político, são chamados de grupo de pressão”.
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norteadores à coletividade, via políticas públicas, numa visão parcial de sociedade e sem que
o interesse público mais amplo seja considerado. Neste sentido, argumenta-se que é de
interesse público que os processos de influência dos think tanks ocorram à margem do
conhecimento e do controle da sociedade.
Torres (2005) contribui com a proposição de alternativas: utilizando o conceito na área
da educação, propõe, como solução para a intervenção desconhecida de diferentes instituições
em assuntos ligados a políticas públicas, a criação institucionalizada de think tanks nacionais
de pesquisa. Mesmo considerando que sempre existirá o risco de cooptação de think tank por
ideologias, o autor ressalta que “sem um grupo de profissionais altamente treinados,
relativamente bem pagos e com novas idéias que [sejam capazes] de conceber alternativas aos
modelos [...] vigentes” (TORRES, 2005, p. 30), não é possível pensar na criação de uma
interação entre a assistência externa legítima à política pública e o conhecimento localmente
produzido. Como será demonstrado na seção 4.4, na realidade empírica brasileira, embora não
ocorra a institucionalização formal dos think tanks como proposto pelo autor, a dependência
de recursos públicos de alguns think tanks nacionais, por exemplo, a Fundação Osvaldo Cruz,
por via indireta demonstram a validade da proposição do autor.
Neste ponto, faz-se a seguinte ressalva: a suposta neutralidade ideológica adotada por
alguns think tanks confere distinção e importância às pesquisa que realizam. Contudo, o que
se verifica na realidade é que pesquisas feitas por think tanks são, em geral, ideologicamente
alinhadas com os interesses de seus dirigentes ou fundadores. Esta constatação fortalece o
argumento a favor da atuação transparente dessas organizações: se a existência e a atuação
como think tanks e feita às claras, o financiamento privado não coloca, necessariamente, os
pesquisadores de uma organização na função de porta-vozes das posições de seus
mantenedores, pois existirá maior accountability na atuação da organização como um todo.
A análise dos think tanks no contexto dos Estados Unidos, feita por Abelson (2000),
em comparação a seus congêneres no Canadá e Inglaterra, onde são menos numerosos, sugere
que:
As características distintivas dos think tanks nos Estados Unidos não é seu
tamanho, ou [...] os recursos consideráveis de que dispõe algumas
instituições... O que torna único [o caso dos] os think tanks nos Estados
Unidos, além de seu número absoluto, é a extensão em que esses se
envolveram ativamente nos vários estágios do processo de policy making
(ABELSON, 2000, p. 213).
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Implícita a este argumento é a noção de que nos Estados Unidos os think tanks
assumem um papel de destaque que não encontra correspondência em outros países. De fato,
os limites da ação e recursos estatais de países em desenvolvimento permitem a inserção de
think tanks que, como colocado por Stoker (2000, p.93), advêm do fato de que “governar
torna-se um processo interativo, porque nenhum ator detém sozinho o conhecimento e a
capacidade de recursos para resolver problemas unilateralmente”. Silva (2002) propõe para a
identificação da influência exercida pelo sistema internacional relativa a políticas públicas,
que envolva transferência de conhecimento entre países, a seguinte metodologia, que tem por
base a identificação da origem de instituições, programas, políticas e associados, e a análise
dos cinco itens propostos, sob a ótica do Brasil:
i • circunstâncias da transferência (voluntária ou não).
ii • iniciativa de transferência (iniciativa política centralizada ou processo de busca
institucional).
iii • grau de adaptação (quanto da inspiração original a política implantada mantém).
iv • grau de maturação.
v • centralização decisória na implantação e operação.
Idéias e conhecimento é a matéria-prima dos think tanks. Mas de onde vem a idéia do
‘think tank’? Qual a origem da expressão e do conceito que ele define? Este é o assunto que se
elabora na próxima seção.
Nesta subseção, inserida no arcabouço conceitual dos think tanks, faz-se a tentativa de
resgatar o histórico dessas organizações. Como não há registro sistematizado desta forma
organizacional no país (o que vai ao encontro do argumento central desta dissertação), não é
possível identificar com precisão em que momento histórico este tipo de organização
começou a atuar no processo de política pública brasileiro. è feita a tentativa de reconstituição
mais geral do fenômeno no país. No prosseguimento, reconstitui-se o fenômeno no contexto
dos países anglo-saxônicos, contido na literatura clássica.
Manifesta-se que já na sua origem, os think tanks no Brasil se distinguem do modelo
anglo saxão: seu surgimento deveu-se, em larga medida, a interferência governamental, pois
na década de 30 o governo Getúlio Vargas induz o surgimento de centros de estudo − ligados
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punhado de institutos criados do meio para o fim do século XVII desempenharam muitas das
funções características dos think tanks contemporâneos” os primeiros institutos formalmente
caracterizados como tais surgem apenas nas primeiras décadas do século XX (ABELSON,
2000, p. 217).
De acordo com McGann (2002, p.16), durante parte do século XX, os think tanks
foram um fenômeno organizacional “encontrado basicamente nos EUA e, em número muito
menor, no Canadá e Europa Ocidental”. O autor registra que no Japão o fenômeno existe “há
algum tempo”, porém sem precisar datas (ibid., 2002, p. 16). Afirma ainda que houve um
boom destas organizações na década de 70, que se manteve em 80, pois “dois terços dos think
tanks que existem hoje foram fundados depois de 1970.” (McGANN, 2002, p. 16).
No contexto do avanço dos think tanks nos Estados Unidos, Smith (1991) registra que
na virada do século dezenove no governo de Woodrow Wilson (um proeminente membro da
comunidade acadêmica americana), este era um opositor dos experts no governo, pois
acreditava que os especialistas eram uma ameaça à democracia do país no longo prazo, na
medida em que faziam com que os problemas públicos parecessem mais complicados com seu
jargão técnico, podendo com isso levar os cidadãos comuns a “perderem a fé nas suas
habilidades de se autogovernarem” (SMITH, 1991, p. 3).
Atribui-se a origem da expressão think tanks ao contexto da segunda guerra mundial,
durante a qual instituições de pesquisa militares, como a RA5D Corporation (fundada pela
Douglas Aircraft Company, da qual se desvincula em 1948), realizavam intensos esforços de
pesquisa e aconselhamento sobre a condução do conflito mundial, e think tanks era a nome
dado às salas seguras contra ataques, isto é, bunkers ou tanks militares – locais construídos
especificamente com o intuito de proporcionar segurança e proteger os seus ocupantes. Daí a
expressão – think (de pensar) tank (de fortaleza, ou casamata) (McGANN; WEAVER, 2005;
SMITH, 1991; SILVA, 2007).
À mesma época, mas em outro contexto, o surgimento dos think tanks é apresentado
por Matterlart e Matterlart (2004). Segundo estes autores, a expressão originou-se em 1939,
durante a segunda guerra mundial, quando os países aliados – Estados Unidos, França, Reino
Unido etc. - convocaram vários especialistas, de distintas áreas de conhecimento, com o
objetivo de, num esforço de pesquisa, decifrar o código criptografado (codificado) utilizado
pelo inimigo alemão cujas maquinas de comunicação, conhecidas como ‘enigma’, criava
mensagens com códigos de criptografia avançada (e constantemente alterada). Com isso,
resistia às tentativas feitas pelos militares dos países aliados de decodificá-las, e obter alguma
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vantagem sobre o inimigo, para prever ataques e posições de seu exército. Na equipe aliada
encontrava-se o matemático e criptógrafo inglês Alan Turing (1912-1954), líder dos
pesquisadores que conseguiram quebrar o código alemão, com a construção da máquina que
chamaram Colossus, capaz de decifrar 50.000 mensagens alemãs por mês, uma por minuto. A
atuação destes estudiosos mudou, em 1942, o rumo da guerra, neutralizando a vantagem
alemã em batalhas naval, e invertendo a balança a favor dos aliados (HODGES, 1992).
Os centros de pesquisa onde se reuniam as equipes multidisciplinares para
compartilhar seus conhecimentos, que inicialmente se destinava a uso militar, passaram
posteriormente a desenvolver projetos, que possuíam como característica distintiva dos
originais, não exclusivamente militares, mas de cooperação: civil-militar e setor privado-setor
público (MATTERLART; MATTERLART, 2004). Este episódio, segundo os autores, faz
surgir uma nova função: a do conselheiro militar, com acesso e influência junto aos tomadores
de decisão governamentais. É curioso notar a semelhança entre os conselheiros militares de
um contexto recente, o século XX, e aqueles conselheiros que, como se mencionou na
contextualização do capítulo 3, por volta de 500 a.D., já exerciam este papel de
aconselhamento, ainda que não limitado a um único tema, mas a várias áreas de
conhecimento, uma vez que, como Aristóteles e o jovem Alexandre da Macedônia, os
conselheiros eram responsáveis pela formação integral de seus pupilos, exercendo este papel
durante quase praticamente toda a infância e adolescência desses (SMITH, 1991).
Deste modo, parece cabível afirmar que um dos motivos que levaram ao surgimento
dos think tanks nos moldes em que estes se configuram hoje está ligado à especialização do
trabalho, e consequente especialização do conhecimento em áreas (cada vez mais) estanques,
com o advento da revolução industrial no início do século.
Uma perspectiva original, proposta por Smith (1991, p. 14), afirma que a origem dos
think tanks reside na “longa busca por uma ciência da sociedade e da política” por parte da
elite intelectual e política americana do início do século XX, dedicada ao estudo das ciências
sociais, e, nas palavras do autor, “perpetuamente insegura sobre seu status científico” (ibid.,
1991, p. 15). Mesmo os termos usados para se referir aos pesquisadores sociais possuíam
conotações negativas: se na década de 60, expressões como engenheiro social e tecnocrata,
entre outras, ainda continham certa aura de estranhamento, por volta de 1930, época em que
principiou-se a divulgação desses termos, seu uso “definitivamente traziam uma dose de
ceticismo” à capacidade intelectual dos estudiosos que as ostentassem (SMITH, 1991, p. 9).
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Deste modo, foi a insegurança dos cientistas sociais, para Smith (1991), que, num
primeiro momento, fez com que esses se unissem em agremiações, as quais, posteriormente,
viriam a se tornar organizações de pesquisa, voltadas para o campo das políticas públicas, que
se encontrava em franca expansão (SMITH, 1991).
Outro ponto importante trata da evolução do conceito de think tanks no tempo. Na
literatura tradicional, Rich (2004) aponta a mudança ocorrida na forma de atuação dos think
tanks. Como indica o autor, os resultados obtidos por essas organizações com a passagem do
tempo, muda até mesmo o modo como esses outputs são expressos: de “pesquisas com
resultados precisos e objetivos”, na década de 60, para pesquisas de alcance global, no esforço
de prevalência na “guerra de idéias”, na década de 90 (RICH, 2006, p. 1). Para o autor, esta
caracterização “evoca duas imagens diferentes e sugerem entendimentos distintos sobre o
papel dos think tanks [...]” (op. cit.). Enquanto a primeira descrição põe ênfase na
credibilidade desses institutos na produção de conhecimento especializado, a segunda foca a
contribuição dada a “debates polêmicos baseados em idéias” (RICH, 2006, p. 2).
Rich (2006), referindo-se ao desenvolvimento dos think tanks nos EUA, afirma que as
idéias e o conhecimento possuem relevância estratégica na defesa de interesses, mas até a
década de 70 não eram consideradas “forças substantivamente importantes ou independentes”
(RICH, 2006, p. 7). Segundo Smith (1991), à época o foco dos estudos sobre os think tanks
nos EUA restringia-se à alternância dos grupos de interesse, ora de cunho liberal, ora
conservador. Foram negligenciadas as ligações entre os grupos de interesse organizados em
torno de alguns think tanks, os rumos gerais adotados pelo sistema político e as consequências
deste encadeamento para a administração pública e a sociedade (SMITH, 1991).
Na atualidade, o papel dos think tanks assemelha-se cada vez mais ao de empresas
privadas, tornando-os mercadores de idéias, cujo valor depende da capacidade econômica da
instituição, que se traduz na contratação e retenção de talentos, especialistas em estratégias
para promoção de idéias junto aos tomadores de decisão, pesquisadores, jornalistas
formadores de opinião e estatísticos, entre outros profissionais. Esta constatação, como se
verá em 4.3, auxiliará na definição de variáveis para a classificação dos think tanks, um dos
objetivos específicos a ser cumprido.
Finda esta subseção, que traçou o histórico dos think tanks, na próxima subseção são
apresentados conceitos da literatura tradicional ligados ao objeto de pesquisa.
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90
Neste capítulo, é apresentada uma tabela com diversos conceitos de think tanks,
dispostos em ordem cronológica. Além de confirmar a evolução do conceito, apontada em
3.6.1, esta tabela serve para a extração dos elementos constitutivos dos think tanks na
literatura anglo-saxônica. A Tabela 4 apresenta estes conceitos:
Em síntese, é possível afirmar que de modo geral o termo é utilizado, nos conceitos
mais tradicionais, para designar organizações que são independentes e sem fins lucrativos,
que realizam pesquisas e análises na área de políticas públicas, a fim de prover de
conhecimento especializado a sociedade em geral e os tomadores de decisão política em
particular. Como se verá em 4.2, o conceito proposto modifica-se do extraído acima, oriundo,
como afiançou-se, da literatura tradicional sobre o fenômeno.
Na próxima seção, são explanados os conceitos ligados ao fenômeno de pesquisa,
porém ligados aos países em que estas organizações se desenvolvem à margem da linha
tradicional anglo-saxônica.
O estudo dos think tanks em outros países teve como fonte de pesquisa bibliográfica as
bases de dados mencionadas anteriormente. Objetivou-se com isso o duplo propósito de
conhecer a realidade desses institutos em países fora do eixo anglo-saxônico, que deu origem
a esta forma organizacional presente na administração pública, e verificar quais elementos
92
93
comuns com a realidade brasileira poderiam ser identificados, na tentativa de traçar pontos de
convergência entre as formas organizacionais dos think tanks que são encontrados em países
periféricos, e que não são contemplados pela literatura tradicional sobre o objeto de estudo.
Os elementos constitutivos dos think tanks atuais são a premissa de que não existe um
distanciamento completo dos think tanks e visões de mundo; de que a geração de idéias está
se tornando o padrão de justificativa para sua existência e que a ação dos pesquisadores esta
mergulhada em uma rede de valores preexistentes à história de cada um, logo, não se pode
falar, nos dias de hoje, em neutralidade científica nos think tanks.
Entre os estudos relativos ao estado da arte no campo, encontra-se o estudo
longitudinal dos Países Bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia ‒ conduzido por Purju, Vanags
e Chandler (2005), que acompanharam o desenvolvimento das organizações contemporâneas
que fazem a ligação entre conhecimento sobre políticas públicas e poder político, nos três
países citados.
A realização do estudo deveu-se a circunstâncias históricas, uma vez que os três
países, em 1991, se tornaram Estados independentes, rompendo com o sistema soviético. Os
autores descobriram à época que os países citados não possuíam tradição alguma em
pesquisas sociais, em contraste com outros países da Europa Central como a Hungria, a
Polônia e mesmo a Bulgária ou a Romênia, que possuem uma antiga e por vezes distinta
tradição nas ciências sociais. Entre os motivos da inexistência de estudos científicos do campo
nos países bálticos citam, a “a perseguição e o extermínio dos intelectuais mais proeminentes
após a anexação pela ex-URSS ‒ União das Repúblicas Socialistas Soviéticas” (PURJU;
VANAGS; CHANDLER, 2005, p. 2), aliado ao desdém das autoridades soviéticas, para as
quais “os resultados de pesquisas econômicas e sociais não eram considerados uma base séria
para a ação” (ibid., 2005, p.2).
Esses acontecimentos fizeram com que “os três países Bálticos fossem obrigados a
criar uma infra-estrutura de policy making sem aviso prévio” (PURJU; VANAGS;
CHANDLER, 2005, p. 3), diante da decisão dos três países de se capacitarem, no prazo mais
curto possível, para admissão à União Européia. Para os autores, esta conjunção de fatores
lhes oportunizou “um experimento empírico único acerca do desenvolvimento de instituições
e de práticas de políticas públicas” (ibid., 2005, p. 2), ocorrido sem qualquer base de
conhecimento autóctone prévio. Entre as constatações do estudo acerca da construção de
conhecimento e instituições de pesquisa voltadas para o estudo das políticas públicas,
salientam os autores que, desde a independência na década de 90, é possível distinguir
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Governos estrangeiros,
Setor Setor Fundos doações multilaterais Outras
estatal privado privados (incluindo fundos da União fontes
Européia)
Estônia 49% 10% 21% 18% 2%
Letônia 34% 6% 10% 34% 16%
Lituânia 39% 21% 9% 22% 10%
Fonte: adaptado dos resultados obtidos por Purju, Vanags e Chandler, 2005, GND.
17
A Atlas Foundation ajuda a criar e manter think tanks ao redor do mundo: provê orientação,
consultoria, apoio financeiro e acesso a uma rede internacional de líderes e intelectuais que
compartilham o ideal liberal (Atlas Economic Research Foundation, 1997 apud GROS, 2003b).
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políticas públicas podem mitigar este risco e incrementar os benefícios sociais oriundos de
novos conhecimentos científicos (FAS, on line, [S.I.]).
Com 70 laureados pelo prêmio Nobel entre os membros de seu Conselho Diretor, a
FAS registra em seu website que a organização pode prover “análises técnicas oportunas e
apartidárias sobre complexos assuntos globais, que são determinantes em tecnologia e
ciência”, além de possuir a “habilidade em tópicos críticos de política pública, que não são
adequadamente abrangidos por outras organizações” (op. cit.).
A legitimidade da influência dos think tanks e sua autoridade de informar assuntos de
política pública, segundo Stone (2002, p. 3) relaciona-se ao modo como as “instituições de
conhecimento estão ligadas a interesses econômicos e estruturas capitalistas globalizadas”. Ao
traçar a conexão entre a legitimidade do conhecimento produzido por institutos de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas e a força dos interesses econômicos de organizações
internacionais, a autora evidencia a preocupação dos estudiosos com os efeitos da
globalização sobre a neutralidade da expertise e do conhecimento científico gerado pelos
think tanks.
Não parece descabido, neste contexto, afirmar a possibilidade de que sejam criados
think tanks com o propósito de respaldar os interesses específicos do capital mundial, uma vez
que os efeitos da globalização, para Dahl (2001, p. 129, grifo nosso), repercutem com maior
intensidade no “final do século XX, [quando] os países democráticos passaram a sentir cada
vez mais as consequências da internacionalização”. Na análise do autor, a dificuldade e o
perigo embutidos no processo “[...] não está em deter a internacionalização em suas trilhas, o
que é impossível. A dificuldade é democratizar as organizações internacionais” (DAHL,
2001, p. 128), de modo que os processos políticos não sejam determinados pelos interesses do
mercado, mas se mantenham sob controle dos cidadãos e a serviço deles.
Concomitantemente à estratégia de globalização, think tanks internacionais buscam
adaptar-se à realidade de cada país a que se dirigem, a fim de evitar os efeitos negativos que
podem resultar de um processo de globalização mal planejado (COURT; COTTERELL,
2005). Assim, os think tanks lançam mão de diferentes formas de inserção no contexto
político de outros países, tais como: a abertura de um escritório próprio (como é o caso do
Woodrow Wilson Center, um dos mais tradicionais e antigos think tank norte americano, que
possui escritório em São Paulo e na Cidade do México, para citar apenas os países do
continente americano, vide item 4.4); a filiação em rede com instituições do país de destino,
para intercâmbio de profissionais e realização de pesquisas em parcerias.
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Atuação dos
Think tanks
As redes internacionais de think tanks, como ilustra a figura 16, tendem a influenciar
todos os aspectos do processo político nos países: influem no contexto político, no conteúdo
das políticas escolhidas e, algumas vezes, diretamente sobre a opinião dos policy makers
(McGANN, 2002; RICH, 2006; SANTISO; WHITEHEAD, 2006).
Na visão de Court e Cotterell (2004), as estruturas dos think tanks devem estar
alicerçadas em uma estratégia institucional clara para atingir os objetivos desejados no
processo de influenciar políticas públicas: essa estratégia, porém, deve ser adequada à
realidade do país a que se destina.
Considera-se encerrada a subseção, com a apresentação dos exemplos de influência
exercida pelos think tanks no mundo inteiro. Novamente se afirma que todo conhecimento é
útil, e que o exercício da influencia é um mecanismo previsto em regimes pluralistas. E, como
nas vezes anteriores, se faz idêntica ressalva: o que deve ser colocado é a transparência e a
clareza do processo por parte dos think tanks, internacionais ou não.
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Nesta seção, a última da fundamentação teórica, é feita a ligação entre o conteúdo das
teorias explanadas ao longo do capítulo e o objeto de estudo, os think tanks, pois, como afirma
Santos (2007, p.17), vivemos em um “mundo confuso e confusamente percebido”. Faz-se
necessário torná-lo o mais claro e evidente possível, expondo as interligações presentes na
política pública nacional.
Ao final da segunda grande guerra ganha fôlego a literatura acadêmica que, até então,
permanecia incipiente uma “ampla literatura mostrou que os vínculos entre indivíduos,
entidades e organizações estruturam as mais variadas situações sociais, influenciando o fluxo
de bens materiais, idéias, informação e poder” (MARQUES, 2006, p. 19).
Santiso e Whitehead (2006) argumentam que as instituições-chave na promoção do
desenvolvimento dos países são aquelas que promovem a governança e a accountability.
Deste modo, instituições com essa característica cívica, com capacidade técnica, orientadas
para a política pública e envolvidas no processo de policy making merecem um papel central
na atenção do governo e da sociedade. Complementa-se o argumento dos autores com a
afirmação de que o conceito de co-produção permeia a atuação de instituições dessa natureza,
que se tornam parceiras na co-produção do bem público, ainda que o conceito de co-produção
não fique explícito na exposição dos autores.
O que se revela crucial é tornar claro, na interseção entre a administração pública,
sociedade e think tanks, é qual o tipo de resultado alcançado por uma política pública co-
produzida: se há efetivamente a busca do bem público, ainda que este bem atenda somente a
interesse de uma minoria desprivilegiada da população, ou se o bem produzido atende a
necessidades de grupos dominantes na sociedade, que igualmente constituem uma minoria.
O poder, representado pela sociedade, a lei, representada pelo Estado, e o saber,
representado pelas organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas são
dissociados enquanto espaços autônomos de atuação organizacional e de representação
política. Em outras palavras, a sociedade, o Estado o os think tanks possuem âmbitos
organizacionais e representativos distintos, porém, que se complementam e, algumas vezes, se
sobrepõem, como pode ser o caso de uma ONG que também realize pesquisas para atender as
demandas de advocacy das causas que abraça, com a finalidade de influenciar a public policy
making.
Partindo-se do pressuposto de que o aumento de conhecimentos no ciclo de políticas
públicas eventualmente corresponderá a melhorias sociais, que por sua vez podem instigar a
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participação e a cidadania e, por conseqüência, aliviar o peso de demandas cada vez mais
exigentes, depositada sobre Estados sobrecarregados por necessidades a serem supridas.
Assim, se os atores mencionados ao longo desta revisão da literatura, forem capazes de se
unir, para viabilizar a produção de formas mais avançadas de bem público numa espiral
virtuosa, podem originar uma nova forma de se “fazer” a administração pública: mais justa,
mais accountable e verdadeiramente voltada para a sociedade.
Tratou-se neste capítulo de explicitar a base referencial que norteou o trabalho. O
capítulo que procede a este tem por objetivo sintetizar os resultados obtidos ao longo do
estudo.
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Nesta seção far-se-á a proposição de uma expressão que permita substituir o termo em
inglês think tanks por uma expressão correspondente em português. Pretende-se com esta
proposição caminhar em direção ao alcance do objetivo geral, isto é, tendo por base a
literatura tradicional e os termos nela utilizados, constituir uma expressão em português que
facilite o entendimento e o reconhecimento das organizações a que o termo estrangeiro, de
difícil compreensão e intraduzível, faz referência.
Pondera-se que um léxico em idioma nacional torna a idéia em si − nele contida −
mais fácil de ser compreendida, o que vai ao encontro da proposta deste trabalho, que é o de
sistematizar conhecimentos sobre os think tanks, a fim de permitir que este fenômeno, na
realidade empírica brasileira, possa ser reconhecido e seu estudo, aprofundado.
Corrobora-se a colocação de Charaudeau e Mainguenou (2008, p. 72), que com base
na teoria do speech acts18 esclarecem que,
Rich (2006) e Silva (2007) reconhecem como agravante que a existência de diversas
expressões na língua inglesa, utilizadas para referenciar os think tanks (tais como brain
factory; ideas reservoir, fábricas de idéias, catalisadores de idéias, entre outros) aumentam o
desacordo e o entendimento sobre o seu significado. Contudo, independentemente do termo
empregado para designá-los e do tipo de organização a que fazem referência, é importante
salientar que todos se relacionam à mesma questão essencial: o papel do conhecimento e da
expertise no ciclo da política pública.
Com a estruturação de saberes de áreas nas quais se insere o fenômeno e a organização
em tabelas de diversos conceitos, tanto os da literatura tradicional predominante, como os
surgidos recentemente nos países em desenvolvimento, obteve-se a base necessária para a
construção da expressão alternativa ora proposta, em substituição ao uso da expressão inglesa
18
Proposta pelo filósofo inglês John Longshaw Austin, em sua obra How To Do Things Work With
Words, de 1962, a teoria parte da descoberta de que a fala é um meio de ação. A teoria austiniana
afirma que os enunciados possuem a propriedade de, sob certas circunstâncias, tornar real as coisas
abstratas a que se referem, pelo simples fato de dizê-las.
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think tanks: “organizações de pesquisa” foi uma escolha lógica, pois o termo abrangente
(organização) permite a percepção imediata da diversidade de natureza das entidades e a
atividade (pesquisa) do fenômeno. Considerou-se que o uso de “organização” em substituição
ao termo “instituto”, utilizado nas definições em inglês, é mais adequado à variedade de
formas organizacionais encontradas no Brasil, que não se limitam a institutos, como será
detalhado adiante, no item 4.4, e que a figura 20, à página 138, demonstra.
Também a utilização de ‘política pública’ foi considerada indispensável para elucidar
a expressão e evitar a incompreensão inerente ao termo genérico ‘política’. Como se explanou
na seção 3.3, a palavra política, em português, agrega diferentes significados, o que impôs a
condição de esclarecer o significado ao qual se faz referência, mediante sua especificação e
qualificação, isto é, política pública (eliminando os outros possíveis significados atribuídos à
política).
Deste modo, faltava uma palavra que unisse ‘organização de pesquisa’ com ‘política
pública’: esta palavra foi alvo de considerações por um período razoável de tempo. O que este
termo médio deveria trazer à expressão era o complemento do significado do que são e fazem
os think tanks. Assim, considerou-se a validade do uso e a propriedade dos termos
assessoramento, consultoria e aconselhamento para completar a expressão. É importante
ressaltar que o processo de amadurecimento das ponderações a favor e contra cada uma das
palavras mencionadas levou mais ou menos quatro meses, até que fosse alcançada a
segurança conceitual necessária à decisão.
Tendo em vista o propósito da substituição, isto é, de servir como um meio de facilitar
a compreensão do termo think tank e, com isso, seu reconhecimento na realidade empírica
pelas pessoas, utilizou-se a pesquisa a dicionários e a experiência empírica desta pesquisadora
como administradora pública e docente. Assim, obteve-se que:
- Assessoria: é o órgão, ou conjunto de pessoas que assessoram um chefe. Sinônimos
encontrados: ajudar, auxiliar, secretariar. Além disso, a palavra assessoria, na linguagem
corrente, é associada a uma atividade permanente, ligada a uma relação funcional, ou de poder
organizacional do tipo encontrado em organogramas matriciais, em que a assessoria presta
contas diretamente à autoridade de linha máxima da empresa. Por exemplo, assessoria
jurídica, ou assessores parlamentares. A palavra possui uma conotação de relação hierárquica
que não se coadunava com o objetivo pretendido, sendo por isso descartado seu uso.
- Consultoria: a palavra consultoria é bastante mencionada na literatura sobre think tanks. Seu
significado no dicionário é examinar, sondar antes de decidir, dar conselho, opinião, parecer
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Explicitado o conceito que passa a ser assumido nesta dissertação das organizações de
pesquisa e aconselhamento em políticas públicas, trata-se nesta seção de fazer uma
proposição de classificação dessas organizações, que reflita a forma como são encontradas no
país, e atender ao quarto objetivo de pesquisa específico.
A criação de classificações, como afirma Silva (2007, p. 123), serve para esclarecer o
“universo dos think tanks, desmistificando-os e tornando-os menos soturnos”. Em outras
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variedade dessas organizações, ainda que benéfica do ponto de vista da diversidade, gera
dificuldades, quando se trata de ordená-las por semelhança.
Por este motivo, a transposição para a realidade do Brasil de qualquer uma das
classificações mencionadas revelou-se inadequada à realidade dos institutos de pesquisa e
aconselhamento em políticas publicas nacionais, pois se constatou, durante o estudo, que a
maioria das organizações no país não fazem menção ao fato de atuarem como organizações
de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas, nem à sua orientação ideológica19.
Neste sentido, o IETS - Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (vide seção 4.4), é uma
exceção, pois utiliza a expressão ‒ e deixa bastante clara sua atuação como think tank.
As ligações mantidas pelas organizações configuram, à primeira vista, uma opção
viável de classificação: na consulta ao site dessas, averiguou-se a existência de organizações
ligadas a Universidades (como a FEPESE); aquelas que fazem parte da administração pública
direta ou indireta (como o Instituto Osvaldo Cruz); e mesmo as que mantêm estreita
vinculação com empresas privadas (como é o caso da FEBRABAN). Todas deixam claras
suas ligações.
Entretanto, essa classificação foi descartada, pois se questiona a relevância dessa
categorização para a análise das organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas
públicas no Brasil. Pondera-se que a escassez de recursos para investimento em pesquisa,
aparentemente crônica no país, dificilmente permitirá que uma organização sobreviva com
uma única ligação principal, o que torna essa classificação parcial, portanto, insuficiente.
Também o valor dos orçamentos das organizações constitui uma alternativa de classificação
pouco viável: se não é percebida transparência, por parte de algumas organizações na sua
forma de atuação, não é factível também que as verbas a elas destinadas sejam divulgadas de
forma realística.
Adicionalmente, comenta-se que não é comum no país que grandes fortunas sejam
doadas para organizações de pesquisa por empresários bem sucedidos, que desejam contribuir
com o desenvolvimento da sociedade na qual enriqueceram – fato comum na sociedade norte-
americana, e.g. Andrew Carnegie - Carnegie Endowment for International Peace; Robert
19
Para Rich (2006, p. 10), o entendimento da atuação das OrPAPPs é “útil não apenas para a
compreensão do papel político do conhecimento (expertise) e das idéias na formação de políticas
públicas [...], mas por apontar como a ideologia direciona a política pública”.
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O Brookinks Institution se define como o mais antigo think tank dos EUA e é resultado da fusão de
três institutos: o Institute for Government Research, o Institute of Economics e a Robert Brookings
Graduate School, que em 1927 uniram-se num só Instituto, que leva o nome do empresário, falecido
em 1932.
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Quadrante 3 Quadrante 4
MODELO MODELO
PURO HIBRIDO 2
-
- Dependência de recursos públicos +
Figura 18 - Classificação das organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas.
Fonte: Autoria própria, 2009.
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2- Instituto Liberal – IL: o site do Instituto informa que esto é uma instituição sem
fins lucrativos, que não tem - nem pode ter, de acordo com seu estatuto - qualquer vínculo
político-partidário. Volta-se para a pesquisa, produção e divulgação de idéias, teorias e
conceitos que revelam as vantagens de uma sociedade organizada com base em uma ordem
liberal.
Seus objetivos declarados são “promover a pesquisa, a divulgação de idéias, teorias e
conceitos” sobre as vantagens de uma sociedade baseada ‒ nos planos jurídico, político,
econômico e administrativo ‒ respectivamente, no Estado de direito, na democracia
representativa, na economia de mercado e na descentralização do poder (Instituto Liberal, on
line, [S.I.]).
Suas diversas unidades autônomas, espalhadas pela União, são sociedades civis sem
fins lucrativos, mantidas − de acordo com as informações do site da instituição – por meio de
doações voluntárias de pessoas físicas e jurídicas, além da venda de publicações.
Embora não fosse possível ‒ numa primeira análise, baseada no que se pode extrair do
site institucional ‒ caracterizar a organização como uma OrPAPP, é mediante o trabalho
pioneiro sobre os think tanks no país, realizado por Gros (2003; 2003b), que se pode afirmar
que o Instituto Liberal é, de fato, uma organização de pesquisa e aconselhamento em políticas
públicas. A tese de doutorado da autora é um estudo completo da organização e sua
caracterização como think tan, ocorre em função de uma sólida fundamentação teórica e
exemplificação da atuação da organização.
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setores da economia; a realização anual de uma Conferência Internacional, com mais de 1.000
participantes; pelo incentivo à constituição de redes de interesse e a promoção de publicação
de balanços sociais e de relatórios de sustentabilidade, bem como da produção de publicações
e manuais práticos que norteiem a atuação responsável de outras empresas.
3. Influência sobre mercados e seus atores mais importantes: no sentido de criar um ambiente
favorável à prática da RSE. Busca desenvolver critérios de investimentos socialmente
responsáveis em conjunto com fundos de pensão no Brasil, além do desenvolvimento de
programa de políticas públicas e RSE e participação em diversos conselhos governamentais
para discussão da agenda pública brasileira.
4. Articulação do movimento de RSE com políticas públicas:
a) desenvolvimento de políticas para promover a RSE e desenvolver marcos legais;
b) promoção da participação das empresas na pauta de políticas públicas do Instituto Ethos;
c) fomento à participação das empresas no controle da sociedade, por meio de
acompanhamento e cobrança das responsabilidades legais, transparência governamental e
conduta ética;
d) divulgação da RSE em espaços públicos e eventos;
e) estruturação de processos de consulta a membros e parceiros da companhia.
5. Produção de informação: Realiza a pesquisa anual "Empresas e Responsabilidade Social –
Percepção e Tendências do Consumidor", produção e divulgação de conteúdo e um site de
referência sobre o tema na internet, coleta e divulgação de dados e casos das empresas e
promoção de intercâmbio com entidades internacionais, líderes no tema da responsabilidade
social.
Desde o início de 2000, a FASE voltou-se para a atuação nos níveis local, nacional e
internacional, visando à integração de diversas entidades por meio das estratégias citadas em
seu site, mencionadas no parágrafo anterior
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escala; política fiscal e monetária; ensino e segurança pública; federalismo; mobilidade social;
ética econômica e política. Também pesquisa a inserção do Brasil e da América Latina na
economia mundial, em trabalhos que buscam ir além de diagnósticos, avançando na promoção de
propostas de políticas inovadoras para solução dos problemas detectados. Busca ainda dar
oportunidade a jovens pesquisadores, concomitante ao aproveitamento da experiência de
profissional de destaque. Assim, “o Instituto consegue contribuir de forma efetiva com sugestões
de políticas públicas pertinentes” (INSTITUTO FERNAND BRAUDEL, on line, [S.I.]).
O Instituto é apoiado por um grupo de empresas, fundações e organismos internacionais
multilaterais, tais como Bradesco, Klabin, Unilever, Natura, jornal O Estado de São Paulo, Souza
Cruz e Vale do Rio doce.
11- Brazil Institute – filial do think tank americano Woodrow Wilson Center: fundado
em 1968 nos EUA, como uma ponte de ligação destinada a cobrir a lacuna entre os policy
makers e os acadêmicos, a missão do Woodrow Wilson Center, think tank que se declara
apartidário e independente, segundo consta no site da matriz americana do Instituto, é a de
“celebrar os ideais e preocupações de Woodrow Wilson (acadêmico e ex-presidente Norte
Americano) por meio da promoção de um link entre o mundo das idéias e o mundo da política
pública; dar suporte a pesquisas, estudos, discussões e colaborar com indivíduos dedicados à
política pública e seu estudo no país e no mundo” (WOODROW WILSON CENTER, on line,
[S.I.]). O próprio site declara que um terço dos recursos que financiam a instituição são verbas
do governo americano, e os demais recursos são provenientes de doações de fundações,
indivíduos, contratos e filiação de membros.
A sede do Instituto possui, como parte de seu programa para a América Latina,
representações no Brasil e no México, cujo objetivo é servir de ponte entre os Estados Unidos
e a America Latina, provendo um fórum apartidário para que especialistas da região e do
mundo possam proceder à discussão de assuntos críticos, com os quais o hemisfério se
depara. O Programa custeia pesquisas, conferências e publicações, almejando aprofundar a
compreensão da política, história, cultura da America Latina e do Caribe e das relações entre
os Estados Unidos e America Latina. (op. cit.).
Sobre o Brazil Institute, o site da Instituição afirma que este busca subsidiar o diálogo
acerca de temas prioritários concernentes ao Brasil e aos Estados Unidos e auxiliar no avanço
do entendimento, por parte de Washington, dos desenvolvimentos contemporâneos do Brasil,
provendo uma análise detalhada da política pública brasileira. Ademais, promovem,
patrocinam e disseminam pesquisas conduzidas no campo de políticas públicas, tanto por
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14- Rubens Barbosa & Associados: a organização Rubens Barbosa & Associados
(RB&A) é “uma empresa brasileira de consultoria que presta serviços nas áreas de
desenvolvimento de negócios, comércio internacional e investimentos” e que oferece
“assistência e serviços de consultoria para clientes no Brasil e no exterior, com o objetivo de
enfrentar com êxito os desafios do mercado e tirar melhor proveito das oportunidades
existentes de negócios” (RUBENS BARBOSA & ASSOCIADOS, on line, 2009)
O principal foco de ação da empresa é o atendimento das necessidades dos clientes,
“aos quais coloca à disposição a vasta experiência de Governo e de negociação, além do
sofisticado conhecimento técnico e a perspectiva global oferecida por extensa rede de
associados em países da América Latina, da Europa e nos EUA” (op. cit., grifo nosso), e se
propõe a desenvolver soluções para seus clientes de forma original, com foco nos problemas e
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oportunidades que o país apresenta, dentro de uma visão “integrada das necessidades de
empresas nacionais e estrangeiras” (op. cit.).
Segundo informa o site da organização, esta está “associada à Stonebridge
International LLC, uma empresa de estratégia global de negócios fundada pelo ex-Secretário
de Segurança dos EUA, Samuel R. Berger, e pelo ex-Embaixador dos EUA no Brasil,
Anthony S. Harrington” (op. cit.), com sede em Washigton - DC. E que reúne uma equipe de
especialistas “com vasta experiência em mercados chave da Ásia, Europa, Oriente Médio,
sobretudo em países de particular importância para o Brasil como a China, a Índia e a Rússia”
(op. cit.).
A empresa possui também “parcerias junto a empresas e consultores especializados
para aperfeiçoar o atendimento a clientes e proporcionar, quando necessário, um serviço
integrado que incluie relações governamentais, assuntos jurídicos, bancos de investimentos e
comunicações externas” (RUBENS BARBOSA & ASSOCIADOS, on line, [S.I.]).
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Sobre as fontes de receitas do CGEE, assim se manifesta seu Estatuto, no capítulo IV,
que trata do patrimônio e das receitas que compõem o ativo da instituição:
[...] Art. 9º – Os recursos financeiros necessários à manutenção do CENTRO são
oriundos de:
I. convênios, contratos ou quaisquer outros ajustes firmados com instituições públicas ou
privadas, nacionais, estrangeiras ou internacionais;
II. subvenções sociais que lhe sejam transferidas pelo Poder Público;
III. contribuições dos associados;
IV. rendas decorrentes da exploração comercial de suas atividades;
V. rendimentos de aplicações de seus ativos financeiros e outros pertinentes ao patrimônio
sob sua administração;
VI. doações, legados ou heranças;
VII. empréstimos ou financiamentos junto a organismos nacionais, estrangeiros ou
internacionais; e
VIII. outros que porventura lhe sejam destinados.
Sobre sua linha de ação, o site da instituição informa que o CGEE tem por objetivo
“servir à sociedade brasileira agregando valor aos processos de tomada de decisão,
formulação e implementação de políticas de ciência, tecnologia e informação - CT&I,
mediante a geração, o compartilhamento e a aplicação de conhecimento nessa área” (CGEE,
on line, [S.I.]). Balizando suas ações por uma visão de futuro e pela busca de excelência, o
CGEE desenvolve suas atividades tendo por base
Com isso, procura fazer a “avaliação estratégica dos impactos econômicos e sociais
das políticas, programas e projetos ligados à área de ciências, tecnologia e informação”
(CGEE, on line, [S.I.]), que engloba “a análise dos elos entre objetivos, formas de
organização e gestão, volume e estratégia de financiamento, além da participação dos atores”
(op. cit.). A organização procura, desta forma, compreender o esforço, os resultados e os
impactos de ações relevantes, a fim de sugerir diretrizes para seu aperfeiçoamento.
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1980 - 1989 1990 - 1999 2000 - 2007
Avalia-se que este é um resultado relevante, pois demonstra objetivamente, com base
em dados da pesquisa (vide tabela 1), a importância do estudo dos think tanks: até meados da
década de 80 a produção de estudos sobre o fenômeno não era significativa; porém, observa-
se o salto incremental que o estudo dessa forma organizacional obteve posteriormente,
correspondente ao esforço de pesquisa realizado internacionalmente, para o qual não se
encontrou correspondência no Brasil.
Durante o estudo, foram levantadas as seguintes obras em português que se
relacionavam diretamente com o objeto de estudo: os trabalhos de Gros (2003, 2003b), de
viés econômico, cujo foco principal é a análise da atuação dos think tanks nacionais de
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Por outro lado, na pesquisa realizada para a seção 4.4, e exposta na íntegra no capítulo
anterior, das 31 organizações analisadas inicialmente, foram encontrados elementos
constitutivos que permitiram classificar 20 delas como think tanks: porém, apenas uma
organização utilizou a expressão think tank, declarando-se como tal.
Deste modo, é feita a proposição de uso da expressão organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas em substituição ao termo inglês think tanks.
Consoante com a expressão proposta para substituição validou-se na seção 4.4, mediante
exemplos levantados da realidade empírica, o uso da palavra “organização” na expressão
proposta, considerada a pluralidade de formas organizacionais que podem – e de fato são –
usadas na denominação das entidades que se configuram como organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas.
139
140
21
O Novo Mercado é um segmento destinado à negociação de ações emitidas por companhias que
se comprometam, voluntariamente, com a adoção de práticas de governança corporativa adicionais,
em relação ao que é exigido pela legislação. A valorização e a liquidez das ações são influenciadas
positivamente pelo grau de segurança oferecido pela transparência da gestão, pelo respeito aos
direitos dos acionistas minoritários e pela qualidade das informações prestadas pelas companhias
(BOVESPA,on-line [S.I.]).
140
141
141
142
no que concerne à última etapa do ciclo da política pública ‒ a avaliação da política pública,
pois se encontram na oposição e é por meio da avaliação das realizações de um governo que
se obtém informação que pode ser usada contra adversários políticos, no debate sobre o acerto
das decisões e políticas implementadas.
Essas duas dimensões do conhecimento que as OrPAPPs possuem podem conduzir a
duas constatações que não foram previamente antecipadas: contrariamente ao que se pensava
inicialmente, não é apenas nos primeiros estágios do ciclo da política pública que as
organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas são importantes: sua
influência se entende por todo o ciclo da política pública. Também, diferentemente do que se
pensava no começo deste trabalho, o alcance da influência das organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas vai além dos policy makers de um governo: seu
conhecimento pode ser extremamente útil para municiar também opositores políticos, no
sentido de que essas organizações provêem o conhecimento necessário à crítica pertinente e
embasada. Logo, imprevisto na introdução, mas resultado deste estudo, afirma-se que as
organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas- OrPAPPs, permeiam todo
o ciclo da política pública, e não apenas os três primeiros estágios do ciclo, como se pensava.
Registra-se que não havia, ao iniciar este estudo, a noção das reflexões ora apresentadas, que
ratificam a importância da estruturação de conhecimentos sobre o fenômeno, uma vez que
possuem um raio de alcance maior do que o inicialmente imaginado e, na medida em que se
exercita o conhecimento sobre um determinado fenômeno, amplia-se a percepção das
implicações e das possibilidades práticas fornecidas por ele.
Com relação ao modelo proposto de classificação das organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas – OrPAPPs deve-se salientar que, a rigor, esta se refere
a um tipo ideal22 e, sendo assim, sua utilidade é analítica. Serve como parâmetro para
compreensão da natureza de uma OrPAPP e de comparação entre organizações.
Distingue-se na classificação apresentada um modelo ‘puro’ situado no quadrante três,
em que predominam, com maior ou menor grau, organizações de pesquisa e aconselhamento
em políticas públicas que não possuem viés ideológico institucional que seja predominante e,
ao mesmo tempo, não ocorre, ou não é significativa, sua dependência de recursos públicos. É
possível afirmar que a maioria das instituições é enquadrada em um ou outro tipo de modelo
22
. Abstração criada por Weber, o tipo ideal é um instrumento que permite ao pesquisador conhecer
uma parte ou fragmento da realidade social, uma vez que auxilia na explicação de um fato da
realidade ao compará-lo com um modelo idealizado cientificamente. Desta forma, é um instrumento
que serve de guia na análise de uma realidade complexa e que permite extrair, por comparação, as
regras gerais do fenômeno estudado (DENHART, 2004; WEBER, 2007)
142
143
híbrido, onde há relativa predominância de uma das categorias de analise, ou seja, de viés
político ideológico ou de dependência de recursos públicos.
No quadrante dois são alocadas entidades que, atuando como organizações de
pesquisa e aconselhamento em políticas públicas, utilizam recursos públicos na realização de
estudos e geração de conhecimento, com vistas ao atendimento a interesses de grupos
específicos, sem tomar em consideração a sociedade como um todo, ou o bem comum. O
posicionamento neste quadrante sinaliza a ocorrência de desvios no que deveria ser a co-
produção do bem público, pois pressupõe que um recurso público está sendo usado para
finalidades privadas, ou de interesse de uma minoria, considerando-se o conjunto social na
sua totalidade.
Como exercício de reflexão, tratou-se de enquadrar as organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas nacionais, descritas na seção 4.4. O resultado obtido é
apresentado na figura 21:
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FEBRABAN
ABMS
+ FUNCEX
BRAZIL INSTITUTE
EQUIT
INSTITUTO LIBERAL FASE
ICONE
FEE
FEPESE
IETS
FAHECE
INESC
-
- Dependência de recursos públicos +
Figura 21: Exemplificação: enquadramento das OrPAPPs levantadas no estudo, aplicadas à classificação proposta.
Fonte: autoria própria, 2009.
144
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Como afirma Carlos Vogt em seu discurso de outorga do título de Doutor Honoris
Causa, pela École 5ormale Supérieure de Lyon, posteriormente publicado:
145
146
assinalar algumas passagens que deixam claro que o fenômeno, tal como apresentado na
literatura, não pôde ser transposto diretamente para a realidade percebida: foi sob a égide
imperativa (cumprir o objetivo específico para que o objetivo geral fosse alcançado), que se
fez a proposição de uma expressão substituta ao termo think tanks, de um conceito e de uma
classificação apropriada ao fenômeno de estudo no Brasil. Fosse a literatura estudada
adequada à realidade empírica encontrada, tais proposições não teriam razão de ser.
Considera-se, com base nestes argumentos, que também este objetivo específico foi
alcançado.
Com relação ao quarto objetivo específico ‒ propor um conceito e uma classificação
para os think tanks no país, com base em suas singularidades ‒ este objetivo foi efetivado nas
seções 4.2 e 4.3 deste estudo, que integram o capítulo quatro, no qual são apresentados os
resultados obtidos no trabalho. Confirmou-se, no cumprimento do objetivo, a necessidade de
adaptação à realidade nacional do conhecimento tal como encontrado na literatura mundial.
De fato, observa-se que até mesmo autores seminais no estudo dos think tanks apontam para
esta necessidade, como se indicou na seção 3.6. A multiplicidade de forma que as
organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas vêm assumindo nos países
democráticos torna essencial seu conhecimento, mas o conjunto de conhecimentos
relacionados ao fenômeno deve ser pertinente a realidade de cada país, como se constatou,
pois a compreensão da realidade de um país não permite necessariamente a mesma
identificação e conhecimento quando transposta para outra realidade.
Por fim, o quinto objetivo específico ‒ relacionar exemplos de think tanks em atuação
no Brasil ‒ foi cumprido na seção 4.4 do capítulo mencionado no parágrafo anterior. Embora
se considere que este objetivo tenha sido realizado a contento, são feitas as seguintes
ressalvas:
Por ter sido a pesquisa desta seção realizada por meio eletrônico, diretamente no site
das instituições, não se dispõe de documentos comprobatórios que certifiquem que os
exemplos fornecidos são de think tanks (ou OrPAPPs) nacionais. Sites institucionais podem ‒
e com freqüência o são ‒ modificados, o que pode comprometer a exemplificação fornecida,
já que as entidades foram qualificadas como organizações de pesquisa e aconselhamento em
políticas públicas com base nas informações colhidas nos sites institucionais na época
referenciada. Alterações nas informações prestadas por alguma instituição pode comprometer
a exemplificação proposta.
147
148
Não foi realizada uma pesquisa delimitada dessas organizações, o que significa dizer
que muitas outras organizações que poderiam ser enquadradas neste estudo como think tanks
não o foram, pois o objetivo específico era o de exemplificar a realidade empírica. Um estudo
completo dessas organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas no Brasil
demandaria, por sua magnitude, outro trabalho, específico para este fim.
As preocupações manifestadas na introdução com respeito ao efeito da globalização
sobre o fenômeno de pesquisa, e consequentemente, sobre as políticas públicas nacionais
foram confirmadas, como se demonstrou nas páginas 92 a 96. Diante dos fatos apresentados, e
dos autores citados, é inegável a constituição em redes internacionais dos think tanks.
Conclui-se, face ao exposto, que os objetivos específicos foram adequadamente
cumpridos, dentro do proposto neste estudo.
Com a reunião dos objetivos específicos, foi alcançado o objetivo geral do estudo:
reuniu-se ao longo do trabalho um corpo conceitual e teórico abrangente, usados na literatura
mundial e nacional, e fez-se as adaptações necessárias para que o conhecimento do fenômeno,
na realidade da administração pública brasileira, fosse identificado como um fenômeno real,
que têm sua existência mapeada na realidade organizacional brasileira.
Feitas estas colocações, é necessário a esta pesquisadora dizer que uma convicção
plena é, com muita frequência, desamparada: apóia-se em um saber empírico, na observação
do cotidiano e na reflexão guiada pelo que se acredita ser bom senso. Devido à sua natureza, a
convicção – a certeza íntima, pessoal – pode tornar-se uma força propulsora na busca de
verificação científica que lhe confira legitimidade, ou afundar-se no obscurantismo das
crenças infundadas.
Antes de iniciar este estudo considerava-se – no plano da convicção pessoal – que era
importante sua realização. Que os think tanks, como se afirmou na introdução, constituem um
tipo de organização atuante em políticas públicas, porém pouco estudada no Brasil, que é
necessária a reunião de um arcabouço de conhecimentos que permita seu reconhecimento na
realidade empírica do país e que é importante e válido propiciar meios para que outras pessoas
percebam uma realidade que lhes diz respeito, mas que lhes escapa.
Ao final deste estudo, a convicção inicial ganha a força do esclarecimento: quando se
verifica o caminho percorrido e o conhecimento estruturado, percebe-se a validade de retirar
da penumbra certos conhecimentos e organizações atuantes nas políticas públicas que, no
Brasil, encontram-se, por diversos motivos, à sombra do conhecimento. É preciso trazer à luz
todos os aspectos relevantes em política pública, que afetam e dão forma à nossa sociedade.
148
149
149
150
150
151
Também se sugere, dentro de um escopo mais amplo, que uma tarefa relevante a ser
realizada, com vistas à superação das lacunas de conhecimento teórico dos estudos
organizacionais na área de administração pública em geral, e de políticas públicas em
particular, resida na construção de “pontes” entre os modelos das diversas vertentes de
interpretação do Estado (e.g. institucionalismo, public choice, etc.) concomitante a análise
concreta de políticas específicas.
Objetivamente, coloca-se que foram fatores limitantes à execução deste trabalho: a
impossibilidade de análise da produção acadêmica sobre o tema de estudo fora das bases de
dados que fazem parte do acervo de periódicos e revistas científicas disponibilizados pelo
portal da ESAG/UDESC, ligados a CAPES. Outras bases de pesquisa científica, que
porventura contenham material sobre o tema, não puderam ser acessadas. Outra limitação, no
presente estudo, foi o uso predominante de literatura estrangeira − que na área da
administração pública é significativa – e que implicou analisar termos voltados à realidade de
outros países e contextos. Fez-se a tradução dos termos específicos quando possível. Em
alguns casos, decidi-se pela manutenção de algumas expressões, que não encontram
correspondência no Português, no idioma original.
Finaliza-se esta dissertação de mestrado afirmando-se que todos os objetivos a que se
propôs foram atingidos, e com a afirmação da importância de que se submeta ao escrutínio
público a ação das organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas – as
OrPAPPs. É possível sugerir que, caso isso ocorra, algumas organizações tenham que rever
sua atuação, se quiserem continuar com suas atividades, enquanto outras servirão de exemplo
de aplicação digna de conhecimento em política pública e de participação na co-produção do
bem público.
151
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APENDICES
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Kuhn, em A Estrutura das Revoluções Científicas (1970) afirma que paradigmas são realizações
científicas coletivamente compartilhadas que fornecem, por um determinado período de tempo,
problemas e soluções utilizadas como modelo ou guia por àqueles que pertencem a mesma
comunidade científica. No Merriam Webster´s (1994, p. 842), paradigma é um arquétipo, padrão ou
modelo; arcabouço teórico e filosófico que guia a formulação de teorias e generalizações.
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Estas “janelas mentais” abertas pelo curso fornecem novos horizontes e perspectivas
aos acadêmicos, conduzindo a questionamentos e reflexões. Por conseqüência, podem
influenciar as opções epistemológicas e ontológicas de mestrandos da Instituição.
Não se pretende aqui retomar o debate sobre a aplicação prática da teoria, ou da
tradução da prática em teoria. Figueiredo (1995) conclui haver uma impossibilidade de
redução entre ambos: nem a prática, vista como um todo pode ser completamente teorizada
nem a teoria é sempre inteiramente conversível em prática.
De modo análogo, pondera-se que um estudo teórico pertinente não deixará de ter
aplicação prática, haja vista a complementaridade de ambos, teoria e prática.
Segundo Richardson (1985, p. 162), abre-se a possibilidade ao pesquisador que utiliza
o estudo teórico de ater-se não somente ao conteúdo em si da leitura do material bibliográfico,
mas também de explorar o conteúdo latente que estas possuem, gerando novas perspectivas,
inclusive “[...] para descobrir ideologias, tendências, etc. das características dos fenômenos
sociais que se analisam”.
Também se respalda esta defesa na visão da dissertação de mestrado que, de acordo
com Salvador (1980, p. 35) é o “estudo teórico de natureza reflexiva que consiste na
ordenação de idéias sobre um determinado tema”. Foi o se procurou fazer.
No campo específico da administração pública brasileira, refletiu-se acerca da
essencialidade dos estudos teóricos, que na literatura acadêmica mundial possuem abundância
de obras, enquanto o âmbito nacional carece de estudos aplicados a realidade do país, cada
vez mais sujeito a influências externas. Como afirma Ianni (1994),
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ANEXO
A/EXO A – Portaria /° 080/98 – CAPES/MEC
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior
Portaria n° 080/98
[...]
Art. 2º - Será enquadrado como “Mestrado Profissionalizante” o curso que atenda aos
seguintes requisitos e condições:
• Prever a exigência de trabalho de conclusão final que demonstre domínio do objeto de estudo
e capacidade de expressão bem estruturada sobre tal objeto, a ser avaliado por banca
devidamente qualificada (De acordo com a natureza da área e os fins do curso, esse trabalho
pode assumir a forma de monografia, dissertação, produção artística definida, projeto técnico
específico, análise de casos, desenvolvimento de instrumentos, equipamentos, protótipos,
patentes, etc.);
CAPES/MEC
Diretoria de Avaliação
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