SOARES, J. - Think Tanks No Brasil

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

JÚNIA ROSA SOARES

THINK TANKS: ORGANIZAÇÃO SISTÊMICA DE CONHECIMENTOS


RELEVANTES A POLÍTICA PÚBLICA NO BRASIL

FLORIANÓPOLIS - SC
2009

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

JÚNIA ROSA SOARES

THINK TANKS: ORGANIZAÇÃO SISTÊMICA DE CONHECIMENTOS


RELEVANTES A POLÍTICA PÚBLICA NO BRASIL

Dissertação apresentada como requisito à


obtenção do grau de Mestre em Administração,
Curso de Mestrado Profissional em
Administração Área de Concentração: Gestão
Estratégica das Organizações, Linha de Pesquisa:
Gestão da Co-produção do Bem Público.

Orientador: Francisco G. Heidemann, PhD.

FLORIA/ÓPOLIS
2009
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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

JÚNIA ROSA SOARES

THINK TANKS: ORGANIZAÇÃO SISTÊMICA DE CONHECIMENTOS


RELEVANTES A POLÍTICA PÚBLICA NO BRASIL

Esta dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em


Administração, na área de concentração de Gestão Estratégica das Organizações,
linha de pesquisa: Gestão da Co-produção do Bem Público, e aprovada em sua
forma final pelo Curso de Mestrado Profissional em Administração, da Universidade
do Estado de Santa Catarina, em 08 de maio de 2009.

Prof. Mário César Barreto Moraes, Dr°.


Coordenador do Mestrado

Apresentada à Comissão Examinadora, integrada pelos professores:

Prof°. Francisco G. Heidemann, Ph.D.


Orientador

Profª. Maria Ester Menegasso, Drª.


Membro

Prof°. Ademar Dutra, Dr°.


Membro

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Dedico este trabalho


Aos meus filhos amados, Víctor e Rafael, para os quais
procurei dar, não conselho, mas exemplo;
Ao amor Beto, que secou minhas lágrimas, trouxe paz, me
ouviu vezes e vezes sem fim, e nunca deixou que eu
desistisse;
Ao Mestre Francisco G. Heidemann, que me ensinou que
o mestrado é feito pelo aluno;
Àqueles que não viveram para me acompanhar nesta
jornada, dos quais sinto falta, mas cuja lembrança
permanece como fonte de amor, conforto e inspiração.

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AGRADECIME/TOS

Agradecer após a elaboração de um trabalho acadêmico é, sobretudo, reconhecer dívidas.


Dívidas que talvez − e é o que geralmente ocorre − nunca possam ser quitadas. Então, vamos
a elas! Agradeço:
Aos meus alunos de 2007 e 2008. Com cada um aprendi algo;
As queridas amigas Áurea Regina Garcia Lopes e Marineis de Jesus, que sempre ajudaram
muito mais do imaginam;
A minha mãe, guerreira valente, e porto seguro nas tormentas da vida;
Aos colegas, amigos e superiores da Secretária de Estado da Administração de Santa Catarina,
em especial aos amigos Sergio Silva, Kleber Adriano de Lima e Tânia Regina Hames e aos
“chefes” Sergio Dias Ribeiro, Vanusa Carle da Cruz Wagner e Maria Eduarda Gordilho
Lomanto. O apoio de todos foi imprescindível;
Aos laboriosos servidores da Secretaria do Mestrado Profissional da ESAG e da Biblioteca
Central da UDESC, sempre dispostos a ajudar;
Aos professores do Curso de Mestrado da ESAG/UDESC, por seus conhecimentos e
ensinamentos;
Com especial gratidão agradeço aos professores Graziela Dias Alperstedt, Jane Iara Pereira
da Costa, José Francisco Salm, Mário César Barreto Moraes e Simone Ghisi Feuerschütte
pelo apoio, os bons conselhos e incentivo;
Ao meu orientador, Francisco G. Heidemann, agradeço por me “aturar” todo este tempo e por
confiar em mim, apesar dos prazos (quase) nunca cumpridos. Nossas conversas ao longo dos
últimos anos supriram − com arte − uma sede sempre renovada por aprender. Seus
ensinamentos foram além da Academia: foram ensinamentos para a vida. Esta dívida é
eterna;
Aos membros da Banca de Defesa, que evitaram erros e permitiram que o trabalho, em sua
forma atual, se apresente melhor que o original;
Por fim, agradeço – a citação é de Borges − ao “[...] Divino labirinto dos efeitos e das causas;
pela diversidade das criaturas que compõem este singular universo; pela razão, que não
cessará de sonhar com um mapa do labirinto [...]”.

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A construção da distância de si mesmo não é


necessariamente dolorosa, mas principalmente lírica e
filosófica. [...] Perder-se para o mundo do qual nunca se
fez parte. Perder-se para a vida, cujos caminhos não se
consegue endireitar. O próprio Eu se modifica com o
tempo e com o caminhar sem direção precisa. As
urgências cotidianas servem à constatação da
desestruturação da realidade. Nada parece estar no lugar,
nada parece fazer sentido. Vive-se, e é isso que importa.
Apesar de tudo, a esperança sustenta cada linha. Cada
coisa tem seu lugar, assim como cada raciocínio tem sua
função.
Mas, ao final da viagem, o Eu nunca é o mesmo.

Imre Kertész: Eu, Um Outro.

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RESUMO

Esta dissertação de mestrado representa um esforço de sistematização do


conhecimento sobre o fenômeno dos think tanks ‒ atores relevantes do universo da política
pública ‒ e sua adequação à realidade nacional, por meio de um estudo teórico-descritivo e
uso de pesquisa bibliográfica. Os think tanks, organizações de pesquisa e aconselhamento em
políticas públicas, são amplamente estudados em outros países, mas no Brasil o fenômeno não
encontra correspondente elucidação. É demonstrada a crescente interligação mundial em rede
entre think tanks e o aumento de estudos internacionais sobre essas organizações, enquanto no
Brasil o fenômeno permanece alusivo. Como conseqüência, este estudo objetiva conferir
visibilidade ao fenômeno, adequando a literatura estrangeira tradicional à realidade brasileira;
prover meios para identificação da influência exercida por essas organizações no processo
nacional de policy making; estruturar uma base teórica abrangente, que permita a
compreensão e o reconhecimento, na realidade empírica, de think tanks em atuação no Brasil.
Sua relevância prática reside no esclarecimento do fenômeno, sua contextualização no
panorama mundial e nacional e na análise dessa forma de atuação de grupos de interesse sobre
a produção de políticas públicas no Brasil ‒ que se restringe atualmente, no cenário
acadêmico nacional, a poucos estudiosos com enfoques específicos: espera-se que mais
pessoas entendam o que são e o que fazem os think tanks. O estudo é conduzido sobre a ótica
da policy analysis e o modelo de grupo, focalizando a atuação dos think tanks no ciclo da
política pública. Como resultado do estudo é feita a proposição de uma expressão em
português em substituição ao uso do termo think tank e de um conceito apropriado à realidade
do fenômeno no Brasil. Apresenta-se ainda uma tipologia de classificação dessas
organizações, na qual são enquadradas àquelas mapeadas no estudo, a título de
exemplificação. Entre as conclusões obtidas, destaca-se como significativa a necessidade de
fomentar estudos sobre a política pública, adequados à realidade do país, uma vez que se trata
de uma “middle range theory”, isto é, um campo de estudo ainda em construção que, contudo
influencia diretamente o cotidiano – e o futuro ‒ das pessoas em geral.

Palavras-chave: Administração pública. Conhecimento. Política pública. Policy analysis.


Think tanks.

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ABSTRATC

This master's thesis is an effort to systematize knowledge about the phenomena of think tanks
- relevant actors of the public policy universe - through a theoretical-descriptive study, with
the use of literature search. The think tanks, research organizations and advice on public
policy, are widely studied in other countries, but in Brazil the phenomenon is not relevant
elucidation. It is demonstrate the growing of a worldwide interconnection network between
think tanks, and the increase of international studies on these organizations, while in Brazil
the phenomenon remains allusive. As a result, this study purposes are to give visibility to the
phenomena, adapting the traditional foreign literature to the Brazilian reality; to provide
means to identify the influence exerted by these organizations in national policy making,
structuring a comprehensive theoretical basis; and to allow the understanding and recognition,
on empirical reality, of think tanks in action in Brazil. Its practical relevance are supported by
the explanation of the phenomena, its context in the global and national landscape, and the
analysis of this interest´s groups influence on the production of public policies in Brazil ‒
which is currently restricted in the national academic scene to a few scholars with specific
focus: it is expected that more people understand what a think tank is and what is its activity.
The study is conducted from the perspective of policy analysis and model group, focusing on
the role of think tanks in the public policy cycle. Hence, as a study´s result, it is propose an
expression, in Portuguese, to replace the use of expression think tank, and a concept that is
appropriate to the reality of the phenomena in Brazil. There is also presented a classification
of organizations, mapped to support the study as examples. Among the findings, it is consider
the significant need to encourage studies about public policy, appropriate to the country’s
reality, since public policy is consider a "middle range theory", in a sense of a study field still
being constructed that, however, directly influences the daily life ‒ and future ‒ of people.

Key words: Knowledge. Public Administration. Public Policy. Policy analysis. Think tanks.

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LISTA DE ACRÔ/IMOS E SIGLAS


ABED Associação Brasileira de Ensino à Distância
ABIPTI Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica
ABONG Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais
ANPROTEC Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores
ANVISA Agencia Nacional de Vigilância Sanitária
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
CGEE Centro de Gestão e Estudos Estratégicos
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
CREA Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia
CT&I Ciência, tecnologia e Informação
DIEESE Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
ESAG Escola Superior de Administração e Gerência
FASE Fundação Solidariedade e Educação
FEBRABAN Federação Brasileira de Bancos
FACEPE Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco
FAS Federation of American Scientists
FEE Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser
FAHECE Fundação de Apoio ao HEMOSC e ao CEPON
FAPESC Fundação de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do Estado de SC
FAPESP Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
FEPESE Fundação de Estudos e Pesquisas Socioeconômicos
FIOCRUZ Fundação Osvaldo Cruz
FMI Fundo Monetário Internacional
FPRI Foreign Policy Research Institute
FUNCEX Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior
GND Global Development 5etwork
ICONE Instituto de Estudos do Comercio e Negociações Internacionais
IES Instituição de Ensino superior
IETS Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade
IIE The Institute for International Economics
IL Instituto Liberal
INESC Instituto de Estudos Socioeconômicos
INMETRO Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
INP Instituto Nacional de Tecnologia
NCPA 5ational Center for Policy Analysis
NIRA 5ational Institute for Research Advancement
OAB Ordem dos Advogados do Brasil
OECD Organization for Economic Co-Operation and Development
ONU Organização das Nações Unidas
SOFTEX Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro
SNCT&I Sistema nacional de ciência, tecnologia e informação
TECPAR Instituto de Tecnologia do Paraná
UDESC Universidade do Estado de Santa Catarina
UNPD United 5ation Development Program

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Tipos de obras pesquisadas sobre think tanks 25


Figura 2 - Evolução dos primórdios da sociedade à formação de governos 33
Figura 3 -. Dinâmica social em democracias pluralistas e a ação dos think tanks 36
Figura 4 - Representação do arcabouço teórico seguido pelo estudo. 38
Figura 5 – Enfoques no processo de política pública 43
Figura 6 - Representação do equilíbrio na teoria de grupos 48
Figura 7 - Fluxos convergentes em política. 52
Figura 8 - O ciclo da política pública e suas etapas 56
Figura 9 – Instituições e atores envolvidos no ciclo da política pública 62
Figura 10 - Representação do universo das organizações públicas 68
Figura 11 – Think tanks por região geográfica 79
Figura 12 – Produção acadêmica de livros sobre think tanks, por região geográfica 80
Figura 13 – Analise de redes de think tanks nos EUA 99
Figura 14 – Áreas de atuação da Stonebridge International 101
Figura 15 – Mapa da rede de atuação global da Stonebridge International 102
Figura 16 – O processo de influência globalizado sobre a política pública 104
Figura 17 – O arcabouço teórico dos think tanks 107
Figura 18 - Classificação das organizações de pesquisa e aconselhamento em
116
políticas públicas
Figura 19 – Produção científica sobre think tanks agrupada por décadas 136
Figura 20 - Formas organizacionais englobadas pelo “guarda-chuva” da expressão
138
OrPAPPs
Figura 21 - Exemplificação: enquadramento das OrPAPPs levantados no estudo,
144
aplicadas à classificação proposta

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Aspectos quanto a finalidade metodológica 10


Quadro 2 – Aspectos quanto aos meios de investigação utilizados 10
Quadro 3 – Fluxo de execução do estudo teórico 12
Quadro 4 – Comparativo da nomenclatura dos estágios da política pública, por autor 55
Quadro 5 − Modelo participativo e seus argumentos de sustentação 74

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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Obras utilizadas no levantamento preliminar da literatura sobre o fenômeno 16
Tabela 2 - Autores mencionados três ou mais vezes na tabela 1 20
Tabela 3 - Síntese dos autores da etapa seletiva 25
Tabela 4 - Conceitos tradicionais de think tanks 90
Tabela 5 – Fonte de financiamento: organizações de pesquisa nos países Bálticos (%) 95
Tabela 6 - Conceitos de think tanks na literatura não convencional 95

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Termos específicos utilizados no trabalho

• Accountability: princípio da administração pública que cria mecanismos institucionais de


controle público da ação dos governantes e a fiscalização das ações dos agentes públicos.
Possui duas dimensões: a capacidade de resposta (answerability) e a capacidade de punição
(enforcement). A answerability é a obrigação dos agentes públicos de prestarem conta de suas
ações – informar, explicar e justificar atos e decisões; enforcement exprime a possibilidade de
sanção e de perda de poder a que estão sujeitos agentes públicos. No âmbito das políticas
públicas, accountability refere-se à obrigação do detentor de poder político de prestar conta de
suas decisões; a transparência do processo de política pública e a existência de mecanismos de
controle e regulação desta atividade governamental. (BARROS, 2006; MATIAS-PEREIRA,
2008).
• Advocacy: termo utilizado para descrever o ato ou processo de defesa de uma causa ou
propósito de caráter político (MERRIAM WEBSTER, 1994, tradução própria1).
• Burocracia: sistema de exercício de autoridade na administração pública, por meio de um
corpo de funcionários lotados em órgãos, secretarias, etc. É caracterizada por possuir quadros
(pessoas) com cargos definidos, selecionados por qualificação técnica e profissional,
orientados por um regulamento fixo, uma rotina pré-determinada, hierarquia com linhas de
autoridade e responsabilidade bem demarcadas e que possuem estabilidade funcional
(MERRIAM WEBSTER, 1994).
• Bem público: relaciona-se diretamente com a noção de compartilhamento de valores e
interesses comuns dos membros de uma comunidade, que transcende a somatória de um
conjunto de indivíduos auto-interessados e que visa à obtenção de objetivos públicos
definidos de modo participativo (DENHARDT; DENHARDT, 2003).
• Cidadania: condição do ser humano como portador de direitos e deveres, que engloba as
dimensões: legal, política, social e organizacional. A cidadania legal é expressa pelo direito a
ter direitos. A cidadania política manifesta-se pelo envolvimento ativo e a capacidade de
influenciar um sistema político. A cidadania social reflete o direito à igualdade de
oportunidades e de participação na comunidade. A organizacional se refere a atos voluntários
individuais que beneficiam uma organização: ajuda aos colegas de trabalho; proteção da
organização; sugestões construtivas; contribuição para a reputação organizacional e o auto-
desenvolvimento. Esta dimensão ocorre quando, espontaneamente, as pessoas extrapolam as
atribuições dos seus papeis formais, comportando-se altruisticamente, unindo o bem comum e
a consecução dos objetivos organizacionais, sem a perspectiva de retribuição pelo sistema de
recompensas formais da organização. (BOBBIO, 1992; DENHARDT; DENHARDT, 2003;
KATZ; KANH, 1978; MARSHALL, 1967).
• Estado: corpo político-institucional resultante de um contrato social, no qual homens e
mulheres cedem parte de sua liberdade para o Estado, que mantem a ordem. Ocupa um
território definido e organizado sob um governo soberano que não se sujeita a controle
externo. Seus elementos constitutivos são: a existência de um corpo burocrático organizado
para a prestação de serviços públicos; o monopólio legítimo da força e o poder de governo
sobre a sociedade (BOBBIO, 1997; MATIAS-PEREIRA, 2008).

1
Esclarecemos que deste ponto em diante todas as traduções que compõem o trabalho são
de responsabilidade da mestranda, realizadas pela própria, sem revisão profissional de
tradutor/profissional habilitado.
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• Fundação privada: entidade de direito privado, constituída mediante dotação de bens livres
de ônus por parte de um indivíduo ou empresa privado para suprir uma utilidade pública ou de
beneficência. Pode ser criada por escritura pública ou por testamento, especificado o fim a
que se destina. Não tem proprietário, titular ou sócio, e seu patrimônio é gerido por curadores
(ABONG, on line).
• Fundação pública: entidade de direito público sem fins lucrativos. É criada por autorização
legislativa para realizar ações de interesse coletivo na área da educação, pesquisa, assistência
etc. Não requer a participação de órgãos da administração pública direta (Lei Nº 7596 de
10/04/1987). É constituída com a incorporação de bens públicos e pode manter-se com
subsídios orçamentários do Poder Público. Seu patrimônio é administrado de uma forma
autônoma por seu corpo diretivo. (ABONG, on line)
• Grupos de interesse: qualquer grupo social que se organiza e possui reivindicações próprias,
distintas em relação a outros grupos sociais. Os grupos de interesse são propagadores de
causas, fins ou credos próprios ao grupo. Podem ser fator de estabilidade em sociedades
propensas à mudança, e instrumentos de mudança em sociedades inclinadas ao imobilismo
(FARHAT, 2007).
• Grupo de pressão: grupo de interesse cujos membros – unidos por uma idéia compartilhada
− passam a promover ativamente seus ideais ou objetivos junto aos tomadores de decisão e
formadores de opinião, na tentativa influenciá-los para obter decisões que lhes permitam
atingir seus objetivos (FARHAT, 2007).
• Ideologia: sistema de idéias que aprova e emprega um conjunto de normas próprias, não
importando quais sejam os propósitos (ARAGÂO, 1994)..
• Influência: em política pública, é o processo por meio do qual indivíduos ou organizações
tentam convencer os policy makers a tomarem decisões que originalmente não seriam
escolhidas. Exprime também a capacidade de persuasão de conseguir que tomadores de
decisão política considerem possibilidades que de outro modo não entrariam na pauta da
agenda política (ABELSON, 2006).
• Instituto: estabelecimento dedicado ao estudo, pesquisa ou produção científica. Não
corresponde a uma espécie particular de pessoa jurídica, podendo ser tanto uma entidade
pública, do Estado, quanto uma entidade privada, criada e mantida por uma empresa. Não têm
fins lucrativos. Não possuem uma forma jurídica exclusiva (RITS, on line, 2009).
• Instituições: são estruturas ou organizações reais do Estado, da sociedade, do mercado ou do
sistema internacional, com formas próprias de organização interna. (HOWLETT; RAMESH,
2003).
• Issue: problema, assunto ou questão que é objeto eventual de política pública; tema que se
discute ou é controverso; problema a ser analisado. (HOWLETT; RAMESH, 2003).
• Lacuna: o termo lacuna designa uma zona de atividade humana específica que não foi
estudada apropriadamente (IANNI, 1994).
• Lobby: literalmente significa vestíbulo, átrio, antesala. Em sentido figurado, denota a
postulação de interesses. Origina-se na Inglaterra, onde aqueles que tinham algo a pleitear
junto aos parlamentares se postavam no vestíbulo (lobby) da Câmara dos Comuns, para
abordá-los quando se dirigiam ao plenário. O significado atual refere-se a atividades
organizadas de grupos de pressão, para se fazerem ouvir pelo poder público e conseguirem
respostas para suas demandas (FARHAT, 2007).

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• Modelo: uma representação simplificada de algum aspecto da realidade empírica ou do


mundo, que nos auxilia na compreensão daquilo que representa (DYE, 2005)
• Opção pública (public choice): teoria econômica segundo a qual a razão que leva as pessoas
a fazerem transações no mercado − onde exercem uma opção privada − é a mesma que as
reúne na política, locus de exercício de opções públicas: a satisfação do auto-interesse (DYE,
2005).
• Organismos multilaterais: organizações internacionais formadas por diversos governos
nacionais com a finalidade de promover determinados objetivos comuns aos países membros.
Exemplos: BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento, OMS - Organização Mundial
da Saúde, etc. (PNUD, 1997).
• Organização social: conforme a Lei n° 9.637/98, é um título atribuído a associações e
fundações privadas, criadas para a prestação de serviços públicos anteriormente prestados
pela administração pública direta ou indireta, considerados não-exclusivos do Estado, isto é,
àqueles desenvolvidos por outras organizações concomitantes à atividade estatal, e que não
requerem o exercício da função pública e do poder de polícia administrativo, como saúde;
ciência e tecnologia, educação, cultura, meio-ambiente. Firma-se um contrato de gestão entre
o Estado e a Organização Social, ganhando-se agilidade e flexibilidade de gestão,
possibilitando-se a obtenção de ganhos de produtividade e maior satisfação dos usuários dos
serviços públicos mencionados (BRESSER PEREIRA, 1997).
• Policy analysis: aplicada ao estudo de políticas públicas, a abordagem da policy analysis
envolve a explicação e análise das causas e conseqüências das políticas públicas, e um esforço
de desenvolvimento de um arcabouço intelectual fundamentado em pesquisas relevantes sobre
políticas públicas adotadas. Trata-se de descobrir o que os governos fazem, por que o fazem e
qual a diferença feita, se houve alguma (DYE, 2005; FREY, 2000).
• Policy makers: na administração pública, na qual atuam políticos, indicados políticos e
burocratas de carreira, são classificados como policy makers os ocupantes de cargos, de
qualquer esfera de governo, com competência legal para tomar decisões que afetam a
sociedade direta ou indiretamente. A lógica que os guia é a da delegação de autoridade para
que outros − burocratas, em geral – implementem as políticas decididas, e de responsabilidade
quanto ao acerto na decisão tomada. (LOUREIRO et. al., 1998; MATIAS-PEREIRA, 2008).
• Policy making: abordagem científica que foca a criação da política pública. Busca integrar o
estudo da teoria e da prática política (FREY, 2000).
• Política pública (public policy): é tudo o que um governo escolhe fazer ou não fazer; o
motivo pelo qual decide fazê-lo ou não (escolha pela ação ou pela não decisão) e o resultado
obtido. A política pública descreve e explica a relação de causa-efeito das atividades de um
governo. É o governo em ação (DYE, 2005).
• Processo decisório: são os diversos estágios administrativos ao longo dos quais àqueles
habilitados à tomada de decisão fixam objetivos, definem diretrizes, criam estratégias,
preparam planos operacionais e seus procedimentos, tomam decisões críticas e mantêm o
sistema de controle sobre as escolhas feitas (HEIDEMANN, 2007).
• Sociedade civil: em uma definição abrangente, é a esfera das relações entre indivíduos, entre
grupos e entre classes sociais, que se desenvolvem à margem das relações de poder típicas das
instituições estatais (BOBBIO, 2001). A Sociedade Civil também pode ser definida como o
conjunto heterogêneo dos interesses que não são englobados pelo Estado e pelo mercado
(DRYZEK, 1996).

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• Stakeholders: todas as partes as quais afetam ou são afetadas pelas ações, condutas e políticas
de uma organização. Na esfera pública, é o conjunto daqueles que são afetados por ações,
determinações e políticas que provem de organizações ou entidades do Poder Público em
qualquer esfera de governo. (MITROFF, 1983).
• Spin doctor: pessoa − consultor ou auxiliar político – responsável por assegurar que os outros
interpretem um evento a partir de um determinado ponto de vista, particular [da autoridade
política, ou do decision maker] (MERRIAM WEBSTER, 1994, grifo acrescentado).
• Território: em um contexto histórico, o território é sinônimo do conjunto formado por um
espaço geográfico, que é afetado por sistemas técnicos (divisão territorial do trabalho,
recursos naturais, ciência e tecnologia), pela infra-estrutura disponível, bem como pelo
dinamismo da economia, da sociedade e seus atores sociais. (SANTOS, 2007).
• Think tanks: na literatura tradicional, de origem anglo-saxônica, são instituições
independentes, organizadas para a realização de pesquisas e geração de conhecimento
politicamente relevante, que preenchem uma lacuna de importância fundamental entre a
academia (pesquisa) e o governo (poder). (HAASS, 2002).
• Decision making: processo pelo qual os administradores tomam decisões em relação aos
objetivos organizacionais, baseados nos seguintes fatores principais: reconhecimento do
problema; definição e análise de suas partes principais; estabelecimento de soluções
alternativas; escolha da alternativa julgada mais favorável e adoção da solução escolhida
(HEIDEMANN, 2007).
• Decision makers: membros de uma organização que têm poder formal ou informal para
selecionar ou aprovar suas próprias decisões (HEIDEMANN, 2007).

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SUMÁRIO
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO 01
1.1 Tema e questão de estudo 01
1.2 Objetivos do estudo 04
1.2.1 Objetivo geral 04
1.2.2 Objetivos específicos 05
1.3 Justificativa para a realização do estudo 05
1.4 Delimitação do estudo 08
1.5 Estrutura do estudo 09

CAPÍTULO II– METODOLOGIA DO ESTUDO 10


2.1 Descrição dos procedimentos metodológicos 11
2.1.1 Levantamento bibliográfico e leitura exploratória 12
2.1.2 Leitura seletiva 14
2.1.3 Leitura interpretativa 26
2.1.4 Construções teóricas 28

CAPÍTULO III – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 31


3.1 Revisão da literatura 37
3.2 Teoria política moderna 39
3.3 Policy analysis 42
3.3.1 Teoria de grupo 45
3.4 Política pública 50
3.4.1 O ciclo da política pública 54
3.4.2 Atores relevantes em política pública 59
3.5 Administração pública 65
3.5.1 Governança e accountability 69
3.5.2 Co-produção do bem público, participação e cidadania 72
3.6 Think tanks 77
3.6.1 Histórico dos think tanks 85
3.6.2 Think tanks na literatura tradicional 89
3.6.3 Estudo dos think tanks em outros países 92
3.6.4 A globalização e os think tanks 97
3.7 Interseção: think tanks, administração, políticas públicas e co-produção 104

CAPÍTULO IV – RESULTADOS DO ESTUDO 106


4.1 Substituição do termo think tank 107
4.2 Conceito: organização de pesquisa e aconselhamento em p. pública 109

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4.3 Classificação proposta: OrPAPPs 110


4.4 Exemplos: organizações de pesquisa e aconselhamento em p. públicas 116

CAPÍTULO V – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS 135

CAPÍTULO VI – CONCLUSÕES 145


REFERÊNCIAS 151

APÊNDICES 163

ANEXOS 167

xiv
1

CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO

O fenômeno objetivo estudado sob o nome de think tanks, sobre o qual se constrói esta
dissertação de mestrado, despertou curiosidade quando escutado pela primeira vez.
Posteriormente, na medida em que crescia a compreensão do conceito e das implicações
associadas ao termo, o interesse inicial transformou-se em inquietude e preocupação: motivou
a realização deste estudo.
Apesar de sua importância no processo de política pública em geral, e para os estágios
iniciais de montagem da agenda, formulação de alternativas políticas e tomada de decisão do
ciclo da política pública, em particular, observa-se uma lacuna de conhecimentos sobre os
assim denominados think tanks e sua atuação no processo de policy making no Brasil, como
se tentará demonstrar. Torna-se importante neste ponto apresentar uma definição preliminar
do fenômeno de estudo: entende-se aqui que os think tanks são organizações cujo principal
papel é a produção de pesquisas e estudos acerca dos complexos problemas que permeiam o
universo das políticas públicas e que com base nesta expertise, aconselham, difundem idéias e
conhecimento junto aos policy makers, o que permite a estas instituições um acesso
privilegiado ao poder político e decisório em diversas esferas de governo.
Em seguida, são abordados aspectos diretamente ligados proposição da dissertação, a
saber: o tema e questão de estudo, os objetivos, a justificativa da escolha do tema, a
delimitação e a estrutura do trabalho.

1.1 Tema e questão de estudo

Nesta seção é problematizada a situação na qual se insere o objeto de estudo e faz-se a


pergunta que norteará sua condução. Resumidamente, argumenta-se que com o
desenvolvimento gradual da vida em sociedade surgem o governo, o Estado e a política.
Surge também a política pública, como estratégia de atuação governamental na promoção dos
interesses coletivos e os tomadores de decisão política, incumbidos de buscar o equilíbrio
entre as distintas necessidades que permeiam uma sociedade e os recursos disponíveis para
este fim, perseguindo objetivos de interesse geral. É ainda neste contexto que surgem
organizações – think tanks − que procuram influir nas decisões tomadas na esfera política.

1
2

Há uma variedade considerável de definições para o fenômeno2, que serão detalhadas


no decorrer do trabalho. Assume-se, inicialmente, o sentido de think tanks como pontes de
ligação entre o conhecimento e o poder. A criação de pontes de ligação – sob qualquer
aspecto − é um dos grandes desafios com que se defrontam as sociedades contemporâneas.
Porém, como construir pontes sobre o desconhecido?
Esta é uma questão relevante para este trabalho, pois os think tanks, pela força do
conhecimento, podem direcionar decisões da esfera pública. Se há a possibilidade de
direcionamento de decisões que afetam a coletividade, acredita-se que, independentemente
dos propósitos ou intenções dessas organizações, o fenômeno deva ser estudado em seu
contexto, de forma a torná-lo evidente e facilitar seu reconhecimento pela sociedade em geral.
O que se quer dizer é que, sem o reconhecimento da lacuna de conhecimentos que
cerca a existência dos think tanks no Brasil, o trabalho dessas instituições e as consequências
deste trabalho em nossa realidade social, não podem ser adequadamente percebidos. Deste
modo, o que fica evidente não é a existência de pontes entre o poder e o conhecimento. Em
sentido metafórico, o que se percebe mais claramente são os fossos que separam grupos
sociais, com poder e conhecimento, de outros grupos, que não possuem nem um, nem outro.
James Allen Smith afirma em sua obra que a verdade fala ao poder em diferentes tons
de voz. O autor evidencia a desigualdade de acesso ao poder por parte dos grupos de interesse
que formam uma sociedade, uma vez que a diferença entre grupos privilegia uns em
detrimento de outros. Grupos de interesse com recursos e conhecimento “falam” ao poder em
um tom de voz seguro, embasados em pesquisas realizadas por seus think tanks. Grupos sem
recurso e conhecimento sussurram, nem sempre são ouvidos. Possuem necessidades, mas não
dispõem de institutos e pesquisadores que as analisem, mensurem e divulguem. Refletiu-se
sobre o problema representado por esta assimetria de conhecimento no cenário brasileiro: por
não ficar claro o conceito, nem ser evidente a ação dos think tanks, pondera-se que é desigual
a prerrogativa de “falar” ao Poder Público.
O mundo passa hoje por transformações aceleradas e a economia atual se desloca da
produção de bens para a produção de serviços; do trabalhador braçal e sua resistência física e
mental para os trabalhadores do conhecimento e seus dons intelectuais. Surgem novas formas
organizacionais ‒ no caso específico dos think tanks, nem tão novas assim, como se verá

2
Bernard (1966), em suas considerações sobre a epistemologia apresenta a distinção entre os fatos
complexos (fenômenos) e os fatos simples (propriedades), sendo um fato um dado organizado. Os
primeiros − os fenômenos – são fatos que podem ser reduzidos em outros, mais simples. Já os
segundos – as propriedades – não podem sê-lo.
2
3

oportunamente neste trabalho ‒ cuja principal atividade é a geração, o processamento e a


disseminação de conhecimentos, que se tornam, deste modo, a nova fonte de produtividade e
consequentemente de poder nas sociedades modernas.
Uma parte da sociedade brasileira, ciente das mudanças cada vez mais dinâmicas que
a cerca, entende a importância de decisões políticas e tem consciência do efeito, direto ou
indireto, que políticas públicas produzem em suas vidas. Ainda que empiricamente, sabem o
que são e fazem os think tanks, pois conseguem perceber, no mundo em que vivemos hoje, a
importância crescente do conhecimento em todas as esferas de suas vidas, inclusive nas
decisões tomadas no âmbito público.
Outra parcela da população vive à margem desta nova realidade: desinformada,
despreparada para o exercício da cidadania e a participação (implícita na co-produção do bem
público), ignora a existência de organizações conhecidas como think tanks e não reconhece no
seu cotidiano a atuação destes; não tem meios de analisar a ideologia ou direcionamento que
os think tanks podem utilizar para embasar suas pesquisas e os conselhos que dão aos
tomadores de decisão política. Em outras palavras, desconhecem como essas organizações
direcionam as políticas públicas que afetam todo o conjunto social. Este desconhecimento (ou
a ausência de conhecimento) é parte do problema.
Outra parte reside na globalização em curso no mundo, que se traduz em dificuldades
adicionais na medida em que think tanks com grande poder econômico e de pesquisa –
representando interesses estrangeiros − passam a ter acesso à arena política nacional, podendo
assim tentar influenciar, ou influenciar efetivamente, as decisões políticas do país.
Encontramo-nos imersos em uma realidade cambiante, com emaranhadas ligações
supranacionais que tornam o mundo cada vez mais complexo, onde atores, grupos sociais,
Estado e demais dimensões da realidade extrapolam a esfera nacional. Nessas circunstâncias,
é coerente que formuladores de políticas públicas dependam cada vez mais de conhecimento
especializado, confiável e de fácil compreensão, nos quais possam apoiar suas decisões – e
muitas vezes esta necessidade de conhecimento é suprida por think tanks.
O ponto central do problema que se procura situar, contudo, não visa questionar a
existência ou a legitimidade de atuação dos think tanks, que, como fenômeno bastante
conhecido e estudado em outros países, já não se sujeita a questionamentos infrutíferos,
constituindo uma realidade organizacional historicamente registrada.
O questionamento reside no fato de que os think tanks são uma parte pouco conhecida
da realidade da administração pública neste país: existem, influenciam processos políticos e

3
4

podem direcionar o rumo das políticas públicas nacionais. Entretanto, a escassez de estudos
sobre o fenômeno é proporcional à falta de ‘re-conhecimento’ social da existência e do papel
que os think tanks, ou organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas,
exercem sobre o processo de políticas públicas no Brasil. A falta de conhecimento do próprio
termo impõe esta questão. Pretende-se trabalhar para a elucidação do fenômeno, aumentando
sua compreensão, visibilidade e adequação à realidade nacional, bem como ressaltar sua
importância para o estudo e o entendimento ampliado da política pública.
Face à problemática apresentada e aos argumentos elencados, define-se como questão
de estudo a organização de conhecimentos relevantes sobre os think tanks, que permitam seu
reconhecimento na realidade brasileira, a compreensão do seu papel como organização de
pesquisa, aumentando a visibilidade do fenômeno e ressaltando a influência que exerce sobre
o ciclo das políticas públicas nacionais. A partir da problemática apresentada e das
implicações envolvidas, elaborou-se a seguinte questão de estudo:
Quais os conhecimentos que devem ser estruturados, organizados, adaptados e
disseminados, no propósito de tornar conhecido o fenômeno dos think tanks no Brasil?

1.2 Objetivos do estudo

Com base na questão de estudo foram definidos os objetivos, que são apresentados na
seguinte ordem: inicialmente, o objetivo geral e, na seqüência, os objetivos específicos que
devem ser alcançados para a consecução do objetivo geral, de conhecimento, como
apresentados a seguir.

1.2.1 Objetivo geral

O objetivo geral de estudo consiste em:


- Levantar e sistematizar conhecimentos sobre os think tanks, necessários ao estudo e a
compreensão de sua atuação na realidade brasileira, pela perspectiva da literatura tradicional.

4
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1.2.2 Objetivos específicos

Foram definidos como objetivos específicos de estudo:


i)- revisar conceitos e teorias relacionados ao estudo dos think tanks no contexto da
administração pública;
ii)- levantar o histórico e a literatura vigente sobre os think tanks - tradicional e
contemporânea;
iii)- demonstrar a limitação conceitual da literatura tradicional aplicada ao fenômeno no país;
iv)- propor um conceito e uma classificação para os think tanks atuantes no pais, com base em
suas singularidades.
v)- relacionar exemplos de think tanks em atuação no Brasil;

1.3 Justificativa para a realização do estudo

Nas subseções anteriores foram apresentados os objetivos do estudo. Nesta seção −


haja vista seu caráter pessoal – são expostos, na primeira pessoa do singular, os motivos da
opção pelo estudo teórico dos think tanks.
Creio ser pertinente registrar como “entrei em contato” com os think tanks: durante as
aulas do curso de mestrado cursei a disciplina de Gestão de Políticas Públicas, e
concomitantemente, acompanhei a mesma disciplina na graduação do Curso de
Administração Pública da Instituição, como bolsista de estágio docente do mestrado. Em
ambos, mestrado e graduação, o termo foi abordado, ainda que em diferentes níveis de
profundidade. Igualmente no mestrado e na graduação, o fenômeno não foi reconhecido.
Em consequência, pude constatar o desconhecimento, por parte dos alunos de
graduação e de mestrado, do significado da expressão e da existência dos think tanks.
Também ficou evidente a dificuldade maior dos alunos de graduação (consideradas as
limitações inerentes ao estágio de aprendizado em que se encontram) de compreenderem o
conceito e suas implicações para a administração pública do país: consequentemente, sobre
suas vidas.
Intrigada, passei a pesquisar informalmente os think tanks, guiada inicialmente pela
curiosidade e, posteriormente, pela perplexidade e preocupação. Percebi a importância do
assunto e as implicações práticas dessa lacuna de conhecimento na literatura sobre políticas

5
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públicas no Brasil: vislumbrei a oportunidade de realização de um estudo relevante do ponto


de vista acadêmico, mas, sobretudo, que servisse à prática.
Comprovada a lacuna sobre o fenômeno, refleti sobre os efeitos desse hiato em duas
direções: por um lado, a inegável importância do conhecimento nas sociedades
contemporâneas, em especial num país em desenvolvimento como é o Brasil; por outro, o
“fator globalização”, que se traduz na ampliação da interconectividade do conhecimento entre
nações, povos, organizações e no aumento de influências externas sobre as idéias que são
abraçadas por uma sociedade, moldando suas instituições e sua visão de mundo.
Sobre o primeiro aspecto, é fato − até mesmo redundante − o poder e a importância
fundamental do conhecimento nas sociedades contemporâneas. Quanto ao segundo aspecto, à
globalização, esta não pode deixar de ser considerada, pois ainda que os resultados de seu
advento não estejam totalmente claros, na prática seus efeitos são sentidos com vigor: fatos
ocorridos em qualquer parte do mundo repercutem no cotidiano de indivíduos, instituições e
nações.
Avaliei então as possíveis consequências dos dois aspectos – importância do
conhecimento e globalização ‒ sobre o processo de política pública nacional: com o avanço
do processo de globalização, novos atores políticos surgirão e think tanks internacionais,
unidos em redes, dotados de recursos financeiros e articulados em termos de experiência e
conhecimento, se integrarão ao processo político do país, sem que boa parcela da população
esteja consciente deste fato.
Considerei ainda outros dois enfoques sobre os think tanks, que os colocam, no meu
ponto de vista, em uma zona de desconhecimento que merece ser desvendada: por um lado, o
quão transparente é a atuação dessas organizações, de modo a lhes conferir legitimidade e
lisura no processo de influência sobre os tomadores de decisão política; por outro, a escassez
de estudos nacionais sobre o fenômeno.
Quando comparamos, por exemplo, a literatura norte-americana sobre os think tanks e
a confrontamos com a bibliografia nacional sobre o tema, percebemos a carência de trabalhos
voltados ao fenômeno e sua atuação sobre específica sobre o policy making process no Brasil.
Na mesma linha, constatei que o conceito, tal como predomina na literatura tradicional, é
oriundo da realidade de países anglo-saxônicos, mais avançados no processo democrático, o
que lhes confere uma solidez de conhecimento institucional que ainda não possuímos. Logo, o
entendimento do que são os think tanks desses países não reflete de forma fidedigna a
realidade dos think tanks dos países em desenvolvimento, como o Brasil.

6
7

É preciso esclarecer que, por meio das minhas pesquisas, ficou claro que embora
muitos acadêmicos reconheçam a importância dos think tanks enquanto organizações que
afetam o ciclo da política pública (assim como os grupos de interesse e de pressão e as
atividades de lobby e de advocacy), poucos fazem referência à singularidade do fenômeno no
país, e menos ainda são os que analisam o papel desses enquanto atores políticos influentes no
Brasil. Imaginei então se não seria proveitoso que alguém fizesse um primeiro esforço no
sentido de reunir o maior volume possível de informações e conhecimentos relevantes sobre o
fenômeno em geral, a fim de conferir ao fenômeno certa estrutura, que permitisse maior
compreensão do objeto de estudo. É este o caráter de originalidade que percebo no estudo
realizado.
Duas perguntas que me fiz à época ajudaram a consolidar minha convicção sobre a
validade de realizar este estudo: Por que é importante ter conhecimento sobre os think tanks?
Algo mudaria para melhor se tivéssemos o conhecimento desse fenômeno disseminado na
sociedade?
Percebi então que não tenho, e não posso ter certeza, da resposta a essas perguntas. O
conhecimento é um caminho com muitas encruzilhadas: pode instigar as pessoas à ação
quando é um meio de compreensão da realidade que as cerca; por outro lado, pode igualmente
desestimular qualquer ação, quando a pessoa se defronta com uma realidade complexa, que
não consegue compreender; o conhecimento pode também ser usado em proveito próprio,
quando alguém se apropria de saberes pouco difundidos para benefício exclusivo, em face da
ignorância dos demais. Esta última possibilidade contraria meu objetivo de disseminar
conhecimento científico em prol do esclarecimento dos indivíduos, auxiliando-os a
compreender e participar de forma ativa e cidadã na co-produção de uma sociedade mais
justa.
Contudo, não posso desistir em função da incerteza quanto ao fim reservado a este
estudo: se um conhecimento é tornado disponível há, ao menos, a opção e a chance de que
possa ajudar as pessoas a compreenderem melhor a realidade que as afeta. Cabe-me fazer a
minha parte – estudar, escrever e divulgar. Quanto aos demais, resta-me esperar que façam a
sua parte – que se interessem pelo assunto, já que lhes diz respeito.
Concluo argumentando que, se a integração mundial dos países leva à expansão da
influência mutuamente exercida, com a tendência de que prevaleçam os mais poderosos em
detrimento dos mais fracos, num ambiente no qual o conhecimento é o fator preponderante
para a determinação de uma nação “forte”, ou de seu oposto, uma nação “fraca”, todo

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conhecimento socialmente relevante deve se tornar um bem público, por ser essencial à
redução da distância entre pobres e ricos, incluídos e excluídos e para a diminuição da
distância educacional, que separa os extremos inter e intra-sociedades, especialmente a de
países como o Brasil, que devem desenvolver-se com justiça e equidade.
Explanada a justificativa deste estudo, no prosseguimento desenvolve-se sua
delimitação e apresenta-se a estrutura do trabalho.

1.4 Delimitação do estudo

São expostos nesta seção os parâmetros que delimitam o “território” de abrangência da


dissertação.
No plano das abordagens teóricas ao fenômeno, tiveram que ser feitas escolhas quanto
aos enfoques utilizados no estudo que, dada sua natureza, permitem uma ampla gama de
opções de enquadramento teórico. A amplitude de conteúdo, a multiplicidade de perspectivas de
análise e a variedade de enfoques que poderiam sustentar o referencial teórico apresentado no
capítulo três, demandaram um recorte teórico que limitasse as abordagens àquelas consideradas
mais relevantes para o fenômeno de estudo. Esta delimitação foi feita no sentido de abarcar as
teorias de uma forma compreensiva, porém concisa, evitando que o capítulo se tornasse prolixo.
Com relação ao escopo do trabalho, não são discutidos matizes ideológicos que os
think tanks podem assumir como centros produtores e disseminadores de conhecimento em
políticas públicas. Pauta-se o estudo pela ótica da administração pública − como será visto no
capítulo três − motivo pelo qual outro viés de análise (econômico, relações internacionais,
filosóficos, etc.) não é contemplado. Não se pretende, aliás, não é sequer papel do trabalho
teórico, a busca de verdades sobre variáveis de um tema, em especial um tema tão vasto e
subjetivo como o dos think tanks.
Com relação à delimitação temporal, não foram utilizadas datas que demarcassem o
período abrangido pelo estudo, pois tratar-se de um estudo teórico-descritivo, no qual o
pesquisador não possui controle sobre os períodos de registro que serão encontrados acerca do
objeto de estudo.

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1.5 Estrutura do estudo

Esta dissertação apresenta a seguinte estrutura: o capítulo inicial contém o tema e a


questão de estudo, os objetivos a serem alcançados, a justificativa de sua realização, sua
delimitação e a estrutura aqui descrita; o segundo capítulo caracteriza a metodologia e os
procedimentos metodológicos utilizados. No terceiro capítulo é feita a revisão da literatura, e
são abordados os conceitos e as teorias relacionadas ao objeto de estudo, dentro do enfoque
teórico escolhido. No quarto capítulo são expostos os resultados obtidos, enquanto no quinto
capítulo estes resultados são analisados e interpretados à luz da reflexão posterior, como
demanda um estudo científico. O sexto e último capítulo sintetiza as conclusões obtidas,
relacionando-as aos objetivos propostos e indicando caminhos para futuros estudos.
Encerra-se o primeiro capitulo para apresentar, no prosseguimento, a metodologia e os
procedimentos adotados que consubstanciam o trabalho realizado.

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CAPÍTULO II- METODOLOGIA

O capítulo que ora se inicia visa à caracterização metodológica do estudo realizado e o


detalhamento dos procedimentos adotados, para a consecução dos objetivos propostos.
Caracteriza-se este trabalho como um estudo teórico do tipo bibliográfico, com
finalidade descritiva. Sustenta-se o estudo pelo marco teórico da Ciência da Administração
Pública, da Teoria Política e da Teoria de Política Pública, esta última pela ótica da policy
analysis e foco no modelo analítico dos grupos de interesse. (DYE, 2005; HOWLETT;
RAMESH, 2003; MATIAS-PEREIRA, 2008; PEIXOTO et. al., 2008).
O estudo teórico, para Minayo (2002, p. 51), “permite articular conceitos e
sistematizar a produção de uma determinada área de conhecimento”, possibilitando a
estruturação de “novas questões, num processo de incorporação e superação daquilo que já
se encontra produzido” (ibid. p. 52, grifo nosso).
De acordo com Luna (2007, p. 16) entre as condições para a realização do estudo
teórico encontra-se o estabelecimento de consistência interna entre diferentes facetas ou
definições de um tema ou conceito, que pode resultar no aumento de sua abrangência ou
generalidade, assim como descrever suas condições de existência.
Vergara (2007) separa em dois aspectos a realização de estudos científicos: o primeiro
trata da finalidade a ser alcançada e o segundo dos meios de investigação a serem utilizados.
Detalha-se no Quadro 1 o estudo realizado quanto às finalidades pretendidas:

Primeiro aspecto: quanto à finalidade


1- Exploratório: é realizado em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado.
2- Descritivo: expõe características de determinada população ou de determinado fenômeno.
Quadro 1 – Aspectos quanto a finalidade metodológica.
Fonte: adaptado de Vergara, 2007.

Já no Quadro 2 são descritos os meios de investigação utilizados:


Segundo aspecto: Quanto aos meios de investigação
1- pesquisa documental: realizada em documentos conservados nos órgãos públicos e empresas privadas.
2- pesquisa bibliográfica: é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material publicado.
Quadro 2 - Aspectos quanto aos meios de investigação utilizados.
Fonte: adaptado de Vergara, 2007.

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11

Com relação ao segundo aspecto, a finalidade do estudo descrita no quadro 2,


observou-se o predomínio da pesquisa bibliográfica, haja vista escassez de documentos que
registrem a questão de estudo, quer do poder público, quer de empresas privadas.
Ao longo da dissertação utilizou-se com freqüência do estudo comparado. Entre os
méritos dos estudos teóricos comparativos, Bruyne (1977) ressalta que estes permitem a
superação da unicidade e da unidimencionalidade de análise, além de pôr em evidencia as
regularidades e constantes encontradas. Para o autor, a partir da identificação das semelhanças
entre realidades distintas, é possível buscar também as dessemelhanças que se afiguram,
sendo ambas as matérias-primas que possibilitam novos entendimentos sobre um dado
assunto (ibid., 1977).
Na continuação, descreve-se modelo proposto por Amaral (2007), que serviu de base
para o estudo, as adaptações que se fizeram necessárias ao modelo proposto pelo autor e os
procedimentos adotados em cada uma das etapas sucessivas que constituíram a execução
deste trabalho.

2.1 Descrição dos procedimentos metodológicos

Para a consecução dos objetivos específicos propostos utilizou-se como base o modelo
de etapas para um estudo teórico sugerido por Amaral (2007), cuja sequência é:

a)- levantamento exploratório;


b)- leitura seletiva;
c)- leitura analítica;
d)- leitura interpretativa;
e)- construção de idéias sobre o tema ou fenômeno.

Fez-se necessário adaptar o modelo sugerido por Amaral (2007) às especificidades do


estudo realizado, que requereu um número maior de fases para sua construção do que o
previsto no modelo que lhe serviu de alicerce.
Assim, construiu-se uma nova ordem de etapas adaptada da original, a fim de prover
um encadeamento lógico para as atividades realizadas: manteve-se o corpo central do método
proposto por Amaral (2007), porém foram acrescidas outras etapas a fim de atender aos
aspectos idiossincráticos deste estudo. Expõem-se as alterações demandadas no quadro 03.

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Universo de Documentos

Levantamento Bibliográfico

Leitura Exploratória

Seleção do Material: Leitura Seletiva

Compreensão: Leitura Interpretativa

Síntese de Idéias

Construção Teórica: Correlação de Autores

Construção Teórica: Elementos Constitutivos

Construção Teórica: Articulação ao Contexto Nacional


Quadro 3 - Fluxo de execução do estudo teórico.
Fonte: adaptado de Amaral (2007).

Confirma-se por meio dos métodos descritos a realização de um estudo teórico-


bibliobráfico (DEMO, 1981; LUNA, 2007; VERGARA, 2007). Salienta-se que neste estudo
teórico os métodos utilizados foram construídos em parte pela própria pesquisadora, conforme
a necessidade de direcionar e organizar os resultados dos estudos, sem um modelo referencial
unívoco. Na continuação são detalhadas as fases descritas no quadro 3 e é feito o registro dos
procedimentos metodológicos desenvolvidos em cada etapa.

2.1.1 Levantamento bibliográfico e leitura exploratória

Inicialmente, o levantamento exploratório bibliográfico e documental foi executado de


forma abrangente, sem seleção criteriosa. Procedeu-se à revisão da literatura sobre think tanks
em geral. Essa etapa, assim como a leitura exploratória, foi realizada entre outubro de 2007 e
março de 2008. As demais, entre abril de 2008 e janeiro de 2009.

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Segundo Amaral (2007), o acesso à pesquisa bibliográfica utiliza dois meios básicos:
manual ou eletrônico. Manualmente, foram consultados livros ligados à questão de estudo.
Eletronicamente, artigos científicos.
Para a busca em periódicos acadêmicos, utilizou-se como “buscador” (palavra-chave)
ou critério de pesquisa (Key Word for Search) o termo “THINK TANK”. Não foi adicionado
qualquer limitador, como data ou idioma, por exemplo. As bases utilizadas foram:
PROQUEST; SCOPUS; EBSCO, SCIELO e GOOGLE SCHOOLAR. Pesquisou-se ainda
diretamente a base de dados da ENAP – Escola Nacional de Administração Pública; e RAP -
Revista de Administração Pública.
Com vista à identificação dos autores seminais3 do fenômeno em estudo, efetuou-se
levantamento preliminar na literatura acadêmica sobre o tema, por meio de busca de artigos
na base de dados de periódicos da CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior − disponibilizada para consulta via ESAG/UDESC e pesquisa geral de livros.
Procurou-se obter, como recomendam Quivy; Van Campenhoudt (1991), uma amostra
característica do fenômeno em estudo, isto é, dos estudos teóricos sobre think tanks, dada a
necessidade de obtenção de diferentes abordagens ao tema para elaboração de comparações
significativas, sem perder de vista que resulta “impossível estudar todos os artigos publicados
[sobre um determinado assunto]” (QUIVY; VAN CAMPENHOUDT, 1991, p. 164 grifo
nosso).
Registra-se que o levantamento exploratório demonstrou que o pesquisador não possui
controle sobre a ocorrência do fenômeno, isto é, não pode determinar de antemão em quais
publicações científicas será abordado o objeto de estudo, além de não poder antever a
obtenção de livros usados que tratam do assunto. De acordo com Martins (2002, p. 35), o
estudo bibliográfico visa “conhecer as contribuições científicas sobre determinado assunto.
Tem como objetivo recolher, selecionar analisar e interpretar as contribuições teóricas já
existentes [...]”.
Se inicialmente a literatura relativa aos think tanks foi abordada de forma abrangente,
na fase da leitura exploratória realizou-se a depuração do material preliminar mantendo-se
apenas os relevantes à questão de estudo, os think tanks. Na transição, para que as obras
inicialmente levantadas fossem analisadas, isto é, avançassem do levantamento bibliográfico
para a leitura exploratória, adotou-se como parâmetro de passagem dois requisitos, ou seja:

3
Considera-se neste estudo como autores seminais a definição proposta por KUHN (1970), para
quem, certos acadêmicos, haja vista relevância do trabalho que realizam, tornam-se paradigmáticos,
no sentido de que seus trabalhos servem de base conceitual para outros trabalhos científicos.
13
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que o livro ou artigo relativo ao fenômeno apresentasse a proposição de um conceito e/ou que
contivesse um enfoque distinto dos já mapeados sobre a evolução histórica dos think tanks.
Medidas restritivas foram adotadas para eliminar da base inicial de estudo o material
em que o termo aparecia em contextos muito específicos, ou limitados, ou abordados de
forma superficial, sem a profundidade teórica desejada. Menciona-se, por exemplo, editoriais,
book reviews, entrevistas, entre outros tipos de publicação, que poderiam dispersar o foco
objetivado. O levantamento exploratório da bibliografia sobre think tanks gerou 95 registros.
Das 95 obras encontradas, eliminou-se 22, com base nos parâmetros de passagem
mencionados anteriormente, permanecendo 73 obras para a leitura seletiva, às quais,
posteriormente, foram acrescidas outras, na medida em que foi aprofundado o estudo do
fenômeno.

3.1.2 Leitura seletiva

Após a leitura exploratória mencionada na seção anterior, procedeu-se à leitura


seletiva dos livros e artigos obtidos. Também na etapa da leitura seletiva foi feita a escolha
dos autores utilizados na revisão da literatura, com base no acervo disponível nas bibliotecas
da UDESC e da UFSC. Utilizaram-se ainda livros de propriedade particular do professor
orientador, bem como os que já pertenciam à mestranda. Foram selecionados ainda artigos
científicos de autores ligados às grandes áreas temáticas e ao objeto de estudo
especificamente. Nesta etapa foi construída a base teórica da dissertação, no sentido de
escolha dos autores seminais que serviram de base para as construções teóricas do estudo.
Outro enfoque dado a esta etapa consistiu em separar o material que se alinhava com a
literatura tradicional sobre os think tanks – ligada à tradição dos estudos anglo-saxões (vide
página 20), daquela que apresentava enfoques distintos na abordagem ao objeto de estudo, por
conseguinte, classificadas como estado da arte (ABELSON, 2006; RICH, 2004).
Adotou-se como método de registro e síntese do material extraído das leituras a
construção de tabelas. Este procedimento visou garantir que os objetivos específicos, e
consequentemente, o objetivo geral fossem atingidos. Por isso, tratou-se de:
1. Organizar, por data e autor, os conceitos de think tank a serem apresentados;

14
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2. Averiguar o estado da arte do conceito nos países fora do eixo anglo-saxão, com uma
realidade que pode ser considera semelhante à brasileira. Esses resultados serão expostos no
item 3.6.3 deste trabalho.
Procedeu-se ao registro sistemático dos dados oriundos das obras encontradas no
levantamento exploratório, dispostos na forma de tabela, classificando-os pelos seguintes
critérios, em ordem crescente de data:
• Título da obra pesquisada;
• Autor (es);
• Local de publicação;
• Ano da publicação;
• Tipo de obra;
• Idioma;
• Principais autores referenciados.

No prosseguimento, apresenta-se a tabela 01, conforme critérios mencionados:

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TABELA 01: Obras utilizadas no levantamento preliminar da literatura sobre o fenômeno

TÍTULO DA OBRA CONSULTADA AUTORES PUBLICAÇÃO ANO OBRA IDIOMA PRINCIPAIS AUTORES REFERENCIADOS
RANSON, S.; HININGS,
1- The Structuring of Organizational Structures Administrative Science Quarterly 1980 Artigo Inglês GIDDENS; MEYER; CHILD; HAGE; DOUGLAS; OLSEN; SELZNICK; BLAU;
R.; GRENWOOD; R.
2 - Required breakthroughs in Think Tanks DROR, Yehezkel Policy Science 1984 Artigo Inglês BULMER; FISCHER; JAMES & SIMON
Institute for International
3 - What Washington Means by Policy Reform WILLIAMSON, John 1990 Livro Inglês POLAK; SCHLEIFER; TANZI; WILLIANSON
Economics
4 - The idea brokers: think tanks and the rise of the
SMITH, James A. Free Press 1991 Livro Inglês GALBRAITH; LINDBLOM; MERTON; WEAVER; WEISS
new policy elite
5 - Old guard versus new partisans: think tanks in Australian Journal of Political
STONE, Diane 1991 Artigo Inglês DENHAM; RICCI; STONE
transition Science
6 - The Idea Brokers: The impact of think tanks on
JAMES, Simon Public Administration 1993 Artigo Inglês ABELSON; SMITH; WEAVER; WEISS
British government
7 - The development and impact of Australia’s “think Australian Journal of DUSEVIC; FELNER; HALL; HECLO; MCLEAN & PEARSON; STONE;
MARSCH ,Ian 1994 Artigo Inglês
tanks” Management WEAVER; WEISS; WILSON
8 - Beyond the myth: new challenges for think tanks LINDQUIST, Evert A. NIRA Review 1997 Artigo Inglês LINDQUIST
9 - The British think tank tradition STONE, Diane NIRA Review 1997 Artigo Inglês COCKETT; STONE
10 - Heritage clones in the heartland. Local think Fairness & accuracy in reporting
SOLEY, Lawrence 1998 Artigo Inglês COX; SANDLER
tanks “research” comes pre-digested - FAIR
11 - Policy experts and political pundits: American
ABELSON, Donald E. Nira Review 1998 Artigo Inglês ABELSON; BENETT; DONALDSON
think tanks and the news media
American Society for
12 - The new geo-governance FREDERICKSON, G. H. 2000 Artigo Inglês AXELROD; CLEVELAND; HAAS; FREDERICKSON; OSTROM;;
Public Administration
13 - Do think tanks matter? Opportunities, constraints
ABELSON; CARBERRY; DENHAM; GARNETT; GELLNER; LANDERS;
and incentives for think tanks in Canada and the ABELSON, Donald E. Global Society 2000 Artigo Inglês
LINDEN; LINDQUIST; McCOMBS; ROBINSON; STONE; WEISS; WIN
United States
14 - The role of policy analysis for democratic policy- NIRA Review
MYAKAWA, Tadao 2000 Ensaio Inglês FISCHER; FUKUZAWA; LASSEWELL; PUTNAM;
making
15 - Introduction to the symposium: The changing ABELSON; COCKETT; DENHAM; GARNETT; STEFANCIC; DELGADO;
STONE, Diane Global Society 2000 Artigo Inglês
think tank landscape STONE; SMITH; STRUYCK; WEISS;
BRAUN, Miguel; Centro de Implemen-
16 - Should think tanks do policy implementation in CICIONI, Antonio; tación de P. Publicas p/ la 2000 Artigo Inglês BROWN, DUNN; GLAESER; SALAMON; VAKIL; WOLCH;
developing countries? Lesson from Argentina
DUCOTE,Nicolas. Equidad y el Crescimiento
17 - British think tanks: advancing the intellectual British Journal of Politics
SHERRIGINTON, P. 2000 Artigo Inglês DENHAM, GARNETT; KANDIAH; STONE
debate? International Relations
18 Think tanks and the policy-making community in
URH, John Nira Review 2000 Artigo Inglês ELTER; HEDENIUS; MARCH & OLSEN; URH
Australia
RICH, Andrew Harvard International Journal of COOK; HECLO; FEULNER; GRABER; MCGANN; RICCI; SMITH; WEAVER;
19 - Think tank in the U.S. media Press Politics
2000 Artigo Inglês
WEAVER, Kent WEISS
20 - Toward the public interest? Transformation of the
NAKAMURA, M. Policy Community 2000 Artigo Inglês MIYAKAWA; NAGATA E NAKAMURA; STONE
policy community in Japan
21 - U.S. think tanks and the intersection of ideology,
RICH, Andrew Policy Community 2001 Artigo Inglês COCKETT; STONE
advocacy, and influence
22 - The politics of expertise in congress and news
RICH, Andrew Global Science Quarterly 2001 Artigo Inglês KINGDON; LINDBLOM; RICCI; WEISS; WHITEMAN
media
23 - Do think tanks matter? Assessing the impact of McGill-Queen´s University Press DENHAM; HECLO; LINDQUIST; MCGANN; SMITH; STONE; WEAVER;
ABELSON, Donald . 2002 Livro Inglês
public policy institutes WEISS
16
17

TIPO
TÍTULO DA OBRA CONSULTADA AUTORES PUBLICAÇÃO ANO IDIOMA PRINCIPAIS AUTORES REFERENCIADOS
DE
24 - Transnational think-tanks networks: purpose, OBRA
membership STRUYK, Raymond J. Global Networks 2002 Artigo Inglês BOERZEL; HAAS; KENIS; KICKERT; REINICKE; STONE; WITTE;
and cohesion
25 - Global knowledge and advocacy networks STONE, Diane Global Networks 2002 Artigo Inglês COLEMAN; EVANS, HAAS; STIGLITZ; STONE; WEDEL
ABELSON; COLEBATCH; HILL; JONHSON; MCGANN; MCGANN &
Research
26 - Think tanks in Visegrad Countries SCHNEIDER, Jiri International Policy 2002 Inglês WEAVER; MARSCH; OLSON; PARSONS; RADIN; RICH & WEAVER;
Paper
STRUYCK; SANDLE; STONE; SHERRINGTON; SMITH; WEISS
27 - Think Tanks e a transnacionalização da política
MCGANN, James G. Revista Eletrônica IIP 2002 Artigo Português MCGANN; WEAVER; TELGARSKY; UENO
de relações exteriores
28 - Tools for Knowledge Exchange: Scanning Best Canadian Population Canadian Institute for Health
Information 2002 Artigo Inglês LAVIS; LOMAS; SMITH; STONE; WEISS
Practices in Policy Research Health Initiative
29 - Think Tanks e a Política de Relações Exteriores Revista Eletrônica do
dos EUA: HAASS, Richard Departamento de Estado dos 2002 Artigo Português ABELSON; HAASS; HUNTTINGTON; MCGANN
A Perspectiva de um Formulador de Políticas EUA
30 - Idéias, conhecimento e políticas públicas: um
FARIA, Carlos Aurélio Revista Brasileira de Ciências ADLER; FISCHER & FORRESTER; HAAS; HECLO; HEINTZ; JENKINGS-
inventário sucinto das principais vertentes analíticas Sociais
2003 Artigo Português
Pimenta de SMITH; SABATIER
recentes
ABELSON; BOERZEL; DONAHUE; GELLNER; HAAS, KEOHANE;
31- Globalization and think tanks: security policy
SCHNEIDER, Jiri Sarem International Seminar 2003 Relatório Inglês KRASTEV; MCGANN; REID; SHERRINGTON; SMITH; STONE; STRUYCK;
networks.
WEISS
32 – Studying Public policy: policy cycles and policy
HOWLLET; RAMESH Oxford University Press 2003 Livro Português HAASS; JAMES; SABATIER; WEAVER & ROCKMAN; WILSON
subsystems
33- Em busca da eficiência: a ação dos think tankers ALMEIDA; AZEVEDO; FERNANDES; LAFER; MICELI; NOGUEIRA; SMITH;
MAIA, Tatyana de A. Anais eletrônicos 2003 Artigo Português
na orientação das políticas públicas (1956/1961) WALLERSTEIN;
34 - Organizações empresariais e ação política no COCKETT; DENHAM; DOMHOFF; DAVIS; NASH; STEFANCIC E
GROS, Denise Civitas 2003 artigo Português
Brasil a partir dos anos 80 DELGADO; USSEEM; VOGEL; WEAVER
COLEBACH; DROR; EVANS; MARSCH; SUMMERS; PRASSER; STONE;
35 - A study of commonwealth public inquires PRASSER, Gavin S. Tese de Doutorado 2003 Tese Inglês
THOMPSON; TICKENER; WEISS; WILENSKY
36 - Think tank traditions. Policy research and the STONE, Diane; ABELSON; DENHAM; MCGANN; RICCI; SABATIER & JENKINS-SMITH;
Manchester U. Press 2004 Livro Inglês
politics of ideas DENHAM, Richard SMITH; STRUYK; WEISS; WEAVER.
37 - Think tanks, public policy and the politics of LINDBLOM; MCGANN & WEAVER; RICCI; SMITH; STONE; WEAVER
RICH , Andrew Cambridge Press 2004 Livro Inglês
expertise WEISS
38 - Next generation’ think tank: techniques can Impact: Public Affairs Council
HEPNER , Allen S. 2004 Artigo Inglês MCGANN; ZELLER
bolster issues management results
ABELSON; ARNOLDI; BAKHTIN; BELL; BOGGS; BUERR; CASTELLS;
39 - On mediators: intellectuals and the ideas trade in
OSBORNE, Thomas Economy and Society 2004 Artigo Inglês DEBRAY; DENHAM & GARNETT; DEMOS; HUNTER; LAMBERT; LASH;
the knowledge society
OSBORNE; READINGS; STEHR; STONE; THOMPSON; WHITEHEAD
40 - What political and institutional context issues COURT , Julius Research COURT & YOUNG; HAASS; HILL; KINGDON; LE GRAND; LINDBLOM;
matter for bridging research and policy? A literature Overseas Development Institute 2004 Inglés
COTTERRELL, Lin Paper LINDQUIST; MOE; SABATIER; WEISS; WILLIAMSON
review and discussion of data collection approaches
41 - Institutos liberais, neoliberalismo e políticas Revista Brasileira de Ciências COCKETT; DAVID; DENHAM; STEFANCIC & DELGADO; USSEEM;
GROS, Denise Sociais
2004 Artigo Português
públicas na Nova República VOGEL; WEAVER
42 - Why don’t they listen to us RUBIN, Lilian B. Dissent 2005 Artigo Inglês EHRENREICH; LAKOFF
BAUMGARTNER; BERRY; COBB; ENTIN; EZELL; GRAY;
43 - Informing State Policymakers: Opportunities for Social Work
ELMOORE. Cynthia 2005 Artigo Inglês GALLAGHER; HAYS; HAYNES; HERRING; JANSSON; KINGDON; LEWIS;
Social Workers
LEVINE; MAYO; PIERCE; PORTER; RAY; RIFFLE; SABATIER;
17
18

ANO TIPO
TÍTULO DA OBRA CONSULTADA AUTORES PUBLICAÇÃO IDIOMA PRINCIPAIS AUTORES REFERENCIADOS
PUB. DE
PURJU, Alari OBRA
44 - Research policy linkages in the Baltic States: Baltic International Centre for
VANAGS Alf Economic Policy Studies
2005 Report Inglês HAZANS; LAGERSPETZ; SAKS; SUTTON; STONE; TEKES
comparative analysis of a natural experiment
CHANDLER, Mark
45 - A review of how external agencies can influence Bridging Research and Policy BIERVLIET; DUBBELDAM; GERSTON; STEPHENSON & HENNINK;
WANGWE, Samuel M. Project
2005 Report Ingles
research agendas and research policy links VELDHUIS
WISENSALE, Steven BROWNING; FOX-GENOVESE; GLENN; POPENOE; LAKOFF; LUTZ;
46 Think tanks and family values Dissent 2005 Artigo Inglês
K. WISENSALE
47- War of ideas: why mainstream and liberal
Stanford Social Innovation
foundations and the think tanks they support are RICH , Andrew 2005 Artigo Inglês KREHELY; RICH; PIERESON
Review
losing in the war of ideas in American politics
48 - Neo-liberal think tanks and neo-liberal
restructuring: learning the lessons from project CARHILL, Damien
Social Alternatives 2005 Artigo Inglês ANON; BEDER; DUSTAN; GILL; THOMPSON;THORTHON
Victoria and the privatization of Victoria’s electricity BEDER, Sharon
industry
49 - Research, policy and implementation links: EREMENKO, Igor Bridging Research and Policy BAGEHOT ; CREWE & YOUNG; EREMENKO; SAYWELL & COTTON;
Project
2005 Report Inglês
development of financial system in Ukraine LISENKOVA, K. SUTTON; WEISS
50 - Conhecimento Especializado, Apoios Externos e TORRES, Carlos
Revista Lusófona em Educação 2005 Artigo Português DEWEY; TORRES; TYNJALA;
Reforma Educativa em Épocas de Neoliberalismo Alberto
ALLEN; BARNETT; HALL; HUGHES;KINGDON; LINBLOM; LINDSEY;
51 - Capitol idea: Think tanks & U.S. foreign policy ABELSON, Donald McGill-Queen´s University Press 2006 Livro Inglês
STONE
52- Reactions of a laboratory behavioral scientist to a
GLENN; DIAMOND; HARRIS; ERICKSON; MATTAINI; MCGUIRE;
think tank on meta-contingencies and cultural BRANCH, Marc Behavior and Social Issues 2006 Artigo Inglês
COLWILL; RESCORLA; SHAHAN; NEVIN; DONAHOE; PEAR; WANCHISEN
analysis
SANTISO, Javier;
53 - Ulysses, the sirens and the art of navigation: Work ADORNO; BABB; EVANS; HAASS; HALL; LINDBLOM; STONE; PRICHETT;
WHITEHEAD, OECD Development Center 2006 Inglês
political and technical rationality in Latin America Paper PRZEWORSKI; VREELAND; WHITEHEAD
Lawrence
54 - The long shadow of corporatism: scope and KARLHOFER, BOUCHER; GELLNER; SWEENY; LACHS; KARLHOFER; MAI; TÁLOS;
German Policy Studies 2006 Artigo Ingles
limits of think tanks in Austria Ferdinand TRAXLER; WEAVER
55 - Globalizing local knowledge: social science GERGE, Solvay; Journal of social Issues in
Southeast Asia 2006 Artigo Inglês ALATAS; COHEM; EVERS; GERKE; MOED; TOH; TONK
research on Southeast Asia, 1970-2000 EVERS, Hans D.
56 - Thinking in tanks: the changing ecology of
MULGAN, Geoff The Political Quarterly 2006 Artigo Inglês DENHAM; GARNETT; YOUNGS;
political ideas
BEISE; BEYME; DICKSON; DYE; HERZOG; GELLNER; MCGANN;
57 - U.S. and German think tanks in comparative
BRAML, Josef German Policy Studies 2006 Artigo Inglês WEAVER; SHIVELY; KING; KINGDON; KEOHANE; RICH; SMITH; STONE;
perspective
VERBA; WALLANCE
ABELSON; ALLEN; ; BRAUN; COHEN; COLEMAN; DOLOWITZ; EVANS;
58 - Organizational report cards: significant impact or COE, Charles K.;
Public Administration Review 2006 Artigo Inglês FISCHER; GORMLEY; HAAS; HAMILTON; JACOBSEN; KINGDON;
much ado about nothing? BRUNET, James R.
MORGAN; REEVES; STONE; WEDEL; WHITEMAN; VASU
DAHEIM, Cornelia On Future-Oriented Technology Research
59 - Corporate foresight in Europe: ready for the next
Analysis Policy and Decision- 2006 Inglês BECKER; MULLER; SCHWARTZ
step? UERZ, Gereon Making Paper
60 - Foreign-educated returnees in the people’s
Journal of International
Republic of China: increasing political influence with LI, Cheng Migration and Integration
2006 Artigo Inglês CHEN; COOPER; HALL; LI; SHEN
limited official power
61 - Comparative think tanks, politics and public MCGANN, James .
Public Administration Review 2007 Artigo Inglês MCGANN; WAVER
policy JOHNSON, Eric C

18
19

ANO TIPO
TÍTULO DA OBRA CONSULTADA AUTORES PUBLICAÇÃO IDIOMA PRINCIPAIS AUTORES REFERENCIADOS
PUB. DE
OBRA ARKSEY; BILLIG; BROWN; BUSBY; COLLINS & EVANS; DAVIES;
62 Shifting Subject Positions: Experts and Lay People ANNE KERR, Sarah DICKERSON; DUNKERLEY; DYER; EDLEY; EPSTEIN; GILBERT; GOVEN;
Social Studies of Science 2007 Artigo Inglês
in Public Dialogue et. al. HASTE; IRWIN; JASANOFF; KERR; SHAKESPEARE; POPAY; PRIOR;
TURNER
63 Think Tank FALCIONI ,John Mechanical Engineering 2007 Editorial Inglês FALCIONI;
64 Big Ideas, Big Problems HALPER, Stefan The National Interest 2007 Artigo Inglês KEENAN; LIPPMANN; MUNROW
ABELSON; BAKVIS; BOÃS; BOUCHER; COHEN ; COOLEY; CHANDLER;
65 Recycling Bins, Garbage Cans Or Think Tanks?
STONE, Diane Public Administration 2007 Artigo Inglês DENHAM; HAJER; IONITA; KEOHANE; KINGDON; LADI; MILLER; PALLEY;
Three Myths Regarding Policy Analysis Institutes
REINICKE; SMITH; STONE; STRUYK; WEAVER
66 The Revolving Door: Charitable Foundation Stanford Center on Philanthropy
Funding for Think Tanks and Implications for CHOI ,Joon Nat 2007 Artigo Inglês MCGANN; WEAVER; RICCI; SMITH
Democratic Governance
Think Tanks and Civil Foreign Policy Research
67 2007 Survey of Think Tanks: a Summary Report Institute
2007 Relatório Inglês MCGANN; WEAVER; ELGAR; ROUTLEDGE
Societies Program
AXELSSON; BLOMGREN; BOWKER; CHRISTENSEN; DENT; DIMAGGIO;
68 - The Drive For Transparency: Organizational
BLOMGREN, Maria Public Administration 2007 Artigo Inglês FIELKENSTEIN; FLORINI; HANSEN; HARRISON; HOFFMANN; HOOD;
Field Transformations in Swedish Healthcare
LEVAY; MEYER; MILLER; MUNROE; POWER; SCOTT; WEDLIN;
69 - Policy analysis: shaping society through research
BLANCHARD, Sandie Occupational Outlook Quarterly 2007 Artigo Inglês BLANCHARD; WILLKINSON
and problem solving
70 - Making the Core Contingent: Professional HOQUE, Kim
Agency Work and its Consequences in UK Social Public Administration 2007 Artigo Inglês KESSLER; LAWGS; PURCELL ;
Services KIRKPATRICK, Ian

71 - Individuals And The Dynamics Of Policy


DUDLEY, Geoffrey Public Administration 2007 Artigo Inglês HALL; HAASS; KERR; JENKINGS-SMITH; KINGDON; SABATIER;
Learning: The Case Of The Third Battle Of Newbury
72 - A scientific standard and an agency’s legal
CARPENTER; HAMONND & KNOTT; MOE ; MORAN; SCHWARTZ;
independence: which of these reputation protection MOSHE, Maor Public Administration 2007 Artigo Inglês
STONE;WOOD.
mechanisms is less susceptible to political moves?
73 - Transformar a Educação da Força Aérea para a
LORENZ, Stephen R. ASPJ (versão em Português) 2007 Artigo Português HANSON; LORENZ.
Longa Guerra e mais Além
Fonte: autoria própria, com base em dados da leitura exploratória (2008).

19
20

O registro apresentado na tabela 1 serviu a dois propósitos:


a)- identificar os principais autores sobre o fenômeno dos think tanks, o que se fez pelo
cruzamento das citações obtidas nas obras da tabela. Acredita-se que, na medida em que um
autor é citado por outros autores do mesmo campo de estudo, demonstra-se a importância de
sua obra e sua relevância. Por meio deste sistema de verificação de citações procurou-se
corroborar quais os principais autores sobre o objeto de estudo.
b)- levantar os autores e países periféricos4 nos quais se desenvolve o estado da arte do
fenômeno de estudo, isto é, os autores que não pertencem ao mainstream anglo-saxão do qual
provêm a maioria das obras analisadas.
A partir da tabela 1 sistematizaram-se os autores com mais de três menções, que foram
classificados em ordem alfabética e por número de citações. Foi estabelecido o critério
mínimo de três citações, a fim de depurar a listagem original e conferir relevância ao
levantamento. O resultado é exposto na tabela 2.

TABELA 2: Autores mencionados três ou mais vezes na tabela 1


AUTOR(A) AGRUPAMENTO
Abelson Abelson = 11 vezes
Abelson
Abelson
Abelson
Abelson
Abelson
Abelson
Abelson
Abelson
Abelson
Abelson
Cockett Cockett = 3 vezes
Cockett
Cockett
Denham Denham = 6 vezes
Denham
Denham
Denham
Denham
Denham
Evans Evans = 4 vezes
Evans
Evans

4
Utiliza-se “periférico” sem conotação econômica, política ou social, mas para indicar autores de
países fora do eixo anglo-saxão, composto por Inglaterra, EUA e Canadá, origem do conceito.
20
21

Evans
Gellner Gellner = 3 vezes
Gellner
Gellner
Haass Haass = 7 vezes
Haass
Haass
Haass
Haass
Haass
Haass
Hass Hass = 3 vezes
Hass
Hass
Hall Hall = 4 vezes
Hall
Hall
Hall
Heclo Heclo = 3 vezes
Heclo
Heclo
Keohane Keohane = 3 vezes
Keohane
Keohane
Kerr Kerr =3 vezes
Kerr
Kerr
Kingdon Kingdon = 8 vezes
Kingdon
Kingdon
Kingdon
Kingdon
Kingdon
Kingdon
Kingdon
Lindblom Lindblom = 5 vezes
Lindblom
Lindblom
Lindblom
Lindblom
Lindquist Lindquist = 5 vezes
Lindquist
Lindquist
Lindquist
Lindquist
Marsch Marsch = 3 vezes
Marsch
Marsch

21
22

McGann McGann = 14 vezes


McGann
McGann
McGann
McGann
McGann
McGann
McGann
McGann
McGann
McGann
McGann
McGann
McGann
Ricci Ricci = 6 vezes
Ricci
Ricci
Ricci
Ricci
Ricci
Rich Rich = 7 vezes
Rich
Rich
Rich
Rich
Rich
Rich
Sabatier Sabatier = 5 vezes
Sabatier
Sabatier
Sabatier
Sabatier
Sherriginton Sherringinton = 3 vezes
Sherrington
Sherrington
Smith Smith = 12 vezes
Smith
Smith
Smith
Smith
Smith
Smith
Smith
Smith
Smith
Smith
Smith
Stone Stone = 29 vezes
Stone
22
23

Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Stone
Struyk Struyk = 6 vezes
Struyk
Struyk
Struyk
Struyk
Struyk
Thompson Thompson = 3 vezes
Thompson
Thompson
Weaver Weaver = 17 vezes
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver

23
24

Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weaver
Weiss Weiss = 16 vezes
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Weiss
Whitehead Whitehead = 3 vezes
Whitehead
Whitehead
Fonte: autoria própria, com base em dados da leitura exploratória (2008).

Extraiu-se das obras − seguindo o direcionamento dos objetivos metodológicos


propostos − o total de 540 estudiosos do tema. Este levantamento inicial permitia repetição do
mesmo autor “n” vezes, conforme o autor era citado em outras obras, além de ser autor de
obras próprias. Neste sentido, tratou-se de eliminar redundâncias do número total de autores
do campo, agrupando-os por número de citação, a fim de levantar os mais citados.
Optou-se, para fins de padronização, pelo uso do sobrenome do autor como forma de
agrupamento visando à quantificação exata do número de vezes em que o cientista foi citado
nas obras selecionadas, ou autor das mesmas, evitando que diferentes formas de abreviações
comprometessem os resultados obtidos. Nos casos de sobrenomes muito parecidos, e.g. Hass /
Haass, fez-se dupla checagem dos dados, confirmando tratar-se de diferentes autores e o
número de vezes que cada um foi citado. Nos casos de obras ou citações com dupla autoria,
manteve-se o original para efeitos quantitativos.
Ao final desta etapa fez-se a síntese dos autores considerados, pelo número de
citações, como seminais para fins de consulta ao objeto de estudo. Esta síntese das tabelas
anteriores resultou na elaboração da tabela 3, que sintetiza os resultados referentes aos autores
seminais do fenômeno, cuja definição descreveu-se anteriormente:
24
25

TABELA 3: Síntese dos autores da etapa seletiva


Autor (a) N° de Citações
STONE 29
WEAVER 17
WEISS 16
McGANN 14
SMITH 12
ABELSON 11
KINGDON 08
HAASS 07
RICH 07
DENHAM 06
RICCI 06
STRUYK 06
LINDBLOM 05
LINDQUIST 05
SABATIER 05
EVANS 04
HALL 04
Fonte: autoria própria, com base em dados da leitura seletiva (2008).

Como previsto na introdução, confirma-se na tabela 3 que a corrente tradicional de


estudo dos think tanks é composta por autores majoritariamente de origem anglo-saxônica,
e.g.: Canadá (Abelson) Inglaterra (Stone), EUA (Rich; Weaver; McGann). As obras
pesquisadas são, em sua maioria, artigos científicos (que correspondem a 74% das obras
bibliográficas; os livros correspondem a 11% do total) como se verifica na figura 01:

Tipos de Obras

3 2 1 1 1
3
8

54

Artigos Livros Report Research Relatórios


Ensaio Tese Work

Figura 01 – Tipos de obras pesquisadas sobre think tanks


Fonte: autoria própria, com base em dados da leitura seletiva (2008).

25
26

Outro dado relevante encontrado foi o idioma. Confirmou-se que a maioria das obras
sobre think tanks é escrita em língua estrangeira. Do total das 73 obras analisadas, apenas 9
foram redigidas originalmente em Português. Tem-se com isso que as obras em Inglês
respondem por aproximadamente 87,7% da leitura seletiva.
Um fato pitoresco nesta fase da pesquisa foi a utilização, como metodologia
classificatória de conteúdo, de um sistema de marcadores reaproveitáveis de página nos
livros e artigos lidos, a fim de assinar os principais pontos, conceitos e argumentos a serem
retomados posteriormente, que já eram identificados previamente pela cor do marcador. O
uso da cor verde indicava material de leitura para o capitulo um, a introdução. A cor azul foi
utilizada para assinalar leituras a serem retomadas na elaboração do capitulo dois,
metodologia. Marcadores azuis fizeram a indicação dos assuntos relativos ao capítulo três,
fundamentação teórica. A cor amarela foi utilizada para passagens ou obras que contribuíram
para a construção de aspectos específicos dos resultados, contidos no capítulo quatro. A cor
rosa, foi utilizada genericamente – e algumas vezes concomitantemente a outros marcadores −
para indicar pontos considerados muito importantes, independentemente da parte do trabalho
a que faziam referência, e que demandavam uma leitura especialmente cuidadosa.
Registra-se que nesta fase, como o estudo foi realizado na perspectiva de agregar e
inter-relacionar a visão de diversos autores à realidade nacional, como se demonstrará adianta,
foram incluídas várias obras que não constavam do levantamento inicial, considerado o
objetivo geral de levantar e sistematizar conhecimentos sobre o fenômeno. Procurou-se fazê-
lo de forma abrangente, ampliando o escopo inicial da pesquisa exploratória. Assim, durante
esta etapa cresceu consideravelmente o número de obras que foram objeto de atenção.
Desta maneira, que se reconhece como bastante empírica, foi realizada a leitura
seletiva, possibilitando não somente identificar o material selecionado e passagens
específicas, com também indicar a qual capítulo se destinava. Uma vez realizadas as leituras e
marcações, procedeu-se à leitura interpretativa, de caráter analítico e ao uso da análise de
conteúdo, descrita a seguir.

2.1.3 Leitura interpretativa

Com base nos marcadores mencionados na subseção anterior, retomou-se nesta fase a
leitura da bibliografia sinalizada diretamente nos pontos relevantes previamente demarcados.

26
27

O método utilizado foi a análise de conteúdo, pois a etapa da leitura interpretativa deu início
ao processo de compreensão do material relativo ao objeto de estudo e das obras selecionadas.
Constatou-se nesta fase que o estado da arte do fenômeno encontra-se bastante ligado
aos países europeus. Especula-se, preliminarmente, que a diferença de pesquisa e produção
científica sobre o tema dos think tanks entre os países do leste europeu e os países latino-
americanos deve-se à necessidade, por parte dos primeiros, de avançarem a largos passos em
várias frentes de conhecimento, em especial naquelas ligadas ao estudo da ciência política e
da democracia, a fim de preencher os requisitos necessários à integração na União Européia.
Esta análise preliminar, deduzida empiricamente desta etapa metodológica, será detalhada no
item 3.6.3, sobre o estado da arte relativo aos think tanks
Nesta etapa, ponderou-se sobre a adequação à realidade nacional do conteúdo que se
apreendeu na literatura estrangeira. Esta preocupação com a validade do conhecimento
contido em obras de outros países levou à criação de um ‘filtro epistemológico’, isto é, pelo
método dedutivo era feita a tentativa de trazer esse conhecimento genérico para aplicação na
situação empírica do país ou localizar nas obras nacionais referências que viabilizassem a
aceitação do conteúdo em análise na realidade nacional. A utilização do ‘filtro’ originou três
cursos de ação: possíveis
(1) Verificada como válida a possibilidade de transpor o conhecimento do conteúdo em
análise, este era traduzido e utilizado, com os devidos créditos de autoria.
(2) Na impossibilidade da transposição do conhecimento, tal como encontrado na
literatura internacional, fez-se a tentativa de adaptá-lo ao contexto brasileiro. Para validar a
adaptação, buscou-se exemplos da realidade empírica ou referências na literatura acadêmica
nacional que corroborasse o conteúdo específico: em caso afirmativo, o material era utilizado
com as necessárias adaptações e créditos.
Assim, o “filtro” foi utilizado algumas vezes para validar o conhecimento contido na
literatura, outras para adaptá-lo à realidade do Brasil ou para invalidar seu uso neste estudo.
(3) O terceiro curso de ação consistiu no descarte do material levantado
previamente, verificada a impossibilidade de transposição do conhecimento, após sua
tradução, e constatada a incapacidade da pesquisadora de encontrar exemplos empíricos que
lhe servissem de base ou de encontrar obras que validassem o seu conteúdo. Considerou-se
como inviável o uso do material, que por este motivo foi desconsiderado. Um exemplo de uso
do terceiro curso de ação ocorreu com as classificações encontradas na literatura estrangeira
sobre os think tanks, que não se considerou, após análise, apropriada à realidade dessas

27
28

organizações no Brasil. Optou-se pela proposição de uma classificação própria (vide seção
4.3). Embora sustentado pela literatura de referência tradicional, o modelo de classificação
que será proposto não obedeceu aos critérios ou modelos encontrados, face às
peculiaridades intrínsecas à realidade nacional, para as quais não se encontrou
correspondência.
Relaciona-se no prosseguimento os principais autores que serviram de fonte para a
compreensão dos assuntos e teorias conforme o capítulo no qual foram utilizados.
- Capítulo 2: Amaral (2007); Demo (1981); Luna (2007); Minayo (2002); Quivy; Van
Campenhoudt (1991); Vergara (2007).
- Capítulo 3: Abelson (2000, 2002, 2006); Aragão (1994); Denhardt (2004), Denhardt;
Denhardt (2003); Dye (2005); Farhat (2008); Faria (2003); Frey (2000); Gros (2003); Howlett
e Ramesh(2003); Kingdon (1985); Kaplan; Laswell (1979); Marschall (2004); Matias-Pereira
(2008); Rich (2001; 2004); Roberts (2004); Silva (2007); Smith (1991); Stone (2000, 2007);
Torres (2006).
- Capítulo 4: pesquisa on line; Abelson (2000, 2002, 2006); Aragão (1994); Denhardt (2004),
Farhat (2008); Silva (2007); Smith (1991); Stone (2000; 2007); Torres (2006).
É necessário, porém, ‘abrir um parêntesis’ para a seguinte colocação: os autores
citados são aqueles listados nas referências e, embora se reconheça que este é um
procedimento necessário para o registro metodológico do trabalho, mas a listagem não
considera os outros autores que, durante o curso de mestrado influenciaram na formação desta
pesquisadora, mas que, em face do fenômeno de estudo e do tema abordado, não serão
citados. Feita a ressalva, procede-se ao registro das construções teóricas realizadas, e que
constituem a última etapa metodológica do modelo adotado nesta dissertação.

2.1.4 Construções teóricas

Nesta seção discorre-se sob os métodos que embasaram os capítulos três, quatro e
cinco nos quais se buscou construir a base de conhecimentos sobre os think tanks. Explana-se
no prosseguimento como ocorreram essas construções. A construção das figuras, quadros e
tabelas de autoria própria que compõem este estudo originaram-se:
i- da reunião e sistematização de dados coletados nas obras e documentos eletrônicos que são
referenciados em cada uma;

28
29

ii- da reflexão sobre as leituras e da tentativa de condensar as idéias e autores de forma


esquemática, para apresentação de modo sintético e de fácil compreensão;
Para a construção de idéias ou conhecimento sobre o objeto de estudo recorreu-se,
basicamente, a três opções: aceitação, adaptação e rejeição. Entende-se por aceitação a
validação do conteúdo proposto pelos autores, após reflexão e/ou verificação empírica, sem
alterações substanciais de conteúdo ou de forma (a exceção de paráfrase e/ou tradução).
Por adaptação compreende-se que o estudo da bibliografia revelou-se apenas
parcialmente adequado à realidade nacional, e assim foram realizadas as adaptações
necessárias para que refletissem a realidade percebida referente ao objeto de estudo. Já a
rejeição ocorreu mediante o aprofundamento substancial de pontos específicos, pois implicou
considerar como inválido o que se encontrou na literatura, para efeito dos objetivos e o
contexto deste estudo.
A seção 4.4 requer a exemplificação de think tanks nacionais. Procedeu-se a busca de
organizações que poderiam ser caracterizadas think tanks ‒ ou não ‒ com base nas atividades
exercidas por essas entidades e analise das informações disponibilizadas pelas organizações,
via documentos ou pesquisa on line, majoritariamente. A escolha das organizações não
ocorreu de forma previamente organizada: o conhecimento empírico da pesquisadora; a
leitura de livros e artigos, a sugestões do orientador do estudo, bem como de indicações
existentes na literatura nacional5 forneceram indicativos valiosos de instituições para
verificação.
Na tentativa de identificar como think tanks as instituições inicialmente assinaladas
utilizou a consulta e análise de conteúdo dos websites das organizações; o envio de e-mails
para essas; e quando disponível a adesão às mesmas para recebimento de newsletters, isto é,
de notícias que a instituição divulga por meio eletrônico aos associados e que permite
conhecê-las um pouco melhor.
Salienta-se que, a fim de conferir maior rigor a esta etapa em particular, para a
caracterização das empresas, institutos e entidades como sendo organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas – think tanks, adaptou-se para uma realidade menor o
método de prova dedutiva de teorias científicas, conhecido como falseabilidade, proposto por
Karl Popper, em 1959. Neste trabalho, entende-se por “falsificação” a tentativa de provar, em
condições de incerteza, que uma alegação ‒ no caso específico, a alegação de que uma

5
Menciona-se que foram fonte especialmente profícua de pesquisa os trabalhos de Aragão (1994);
Farhat (2007); Gros (2003, 2003b); Silva (2007).
29
30

entidade é um think tank ‒ é falsa, ao invés de utilizar o método inverso, que consiste na
busca de instâncias confirmatórias para o que empiricamente se encontrou (POPPER, 2007).
Considerando-se a responsabilidade de um pesquisador que busca sistematizar
conhecimentos científicos, avaliou-se que a tentativa de refutar os próprios argumentos
consistiria em uma validação mais adequada que a tentativa de sancionar o que se credita
como verdadeiro, ainda que a utilização do método, originalmente voltado para o teste lógico
de teorias, possa eventualmente ter significado reduzir a grandeza da proposição de Popper à
uma instância de estudo de menor valor, no sentido de importância ou mérito.
Desta forma, para cada organização inicialmente caracterizada como um think tank
tratou-se de buscar por evidências contrárias à proposição: que essas não eram think tanks.
Foram pesquisadas ao todo 31 instituições e organizações. Deste total, foi possível pelo
método da falsificação descrito anteriormente, confirmar que 20 entidades podem ser
classificadas, de acordo com a descrição que oferecem de seus objetivos, missão, atividades,
etc como organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas. A relação das
organizações pesquisadas e o conteúdo que corrobora esta afirmação encontram-se na seção
4.4.
Outro ponto a relevar-se foi o encontro, de uma maneira acidental, de informações
valiosas, a exemplo do apresentado na subseção 3.6.4, sobre a rede global de institutos de
pesquisa e aconselhamento em políticas públicas, da qual faz parte o think tank Rubens
Barbosa & Associados (que pela técnica citada anteriormente, pode-se considerar como sendo
de fato um think tank).
A instituição foi mencionada em um artigo cuja leitura destinava a outro propósito
(escolha de material didático para a disciplina de Gestão de Negócios Internacionais,
ministrada pela pesquisadora à época em uma IES – Instituto de Ensino Superior). Sua
descoberta e posterior investigação on line revelou toda uma intrincada teia de
relacionamentos entre think tanks ao redor do mundo, servindo ao propósito de ilustrar o
efeito da globalização sobre as organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas
públicas.
Encerra-se este capítulo sobre a metodologia e os procedimentos de estudo do
fenômeno para, na continuação, expor no capítulo três o referencial teórico que serviu de
ponto de partida para a revisão da literatura, norteando o trabalho realizado.

30
31

CAPÍTULO III – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Finalizou-se no capítulo anterior a explanação da metodologia e dos procedimentos


utilizados neste estudo. Antes de aprofundar o estudo das teorias que embasam este capitulo
da dissertação, é relevante destacar o contexto histórico que substancia o surgimento dos think
tanks, para em seguida expor a literatura revisada, na qual se insere o fenômeno de estudo.
Como se mencionou na introdução, o relativo desconhecimento do fenômeno
denominado como think tank – uma parte importante do problema de estudo – sugere que
preliminarmente se faça o desenvolvimento das relações históricas de causa-efeito que
culminam no surgimento desta forma peculiar de organização, que buscam por meio do
conhecimento e de pesquisas influenciar as políticas públicas6 adotadas por países.
Ao retroceder no tempo, vislumbra-se o alicerce de conhecimentos envolvidos no
estudo e se revelam os pressupostos indispensáveis à compreensão do fenômeno. Para tanto,
faz-se um encadeamento desde a origem das relações sociais na história da humanidade e seus
desdobramentos até o contexto das políticas públicas atuais, permitindo uma percepção
inicial, na realidade empírica, do que são os think tanks, ou seja, as organizações de pesquisa
e aconselhamento em políticas públicas. Reconstitui-se – separados para facilitar a
compreensão, pois esses processos não se desvinculam na realidade − dois aspectos da
trajetória humana: a evolução social e a evolução da organização política da sociedade.
Assim, recorda-se que a união dos seres humanos em grupos, como estratégia para
aumentar suas chances de sobrevivência face ao rigor dos fenômenos naturais, remonta aos
primórdios da raça humana: nossos ancestrais logo descobriram as vantagens inerentes à vida
em grupo e, igualmente, que essa união, mesmo que voluntária, não era desprovida de
conflitos. Mas, a despeito das dificuldades, os agrupamentos humanos iniciais evoluíram para
sociedades e, neste processo, aprimoraram também os meios de resolução de disputas entre
seus membros.
Em um estágio primitivo, quando não era possível conciliar interesses, prevalecia a
coerção exercida pelos mais fortes sobre os mais fracos. O uso da repressão ou da força,
entretanto, é limitado: quanto mais usado, mais reduzido é o seu impacto (perde-se o medo),

6
Assume-se preliminarmente a política pública como um ciclo: inicia com uma estratégia de governo
para atender as demandas de determinados grupos, ou resolver problemas da sociedade,
desdobrando-se posteriormente em objetivos e ações, que são empreendidas pelo corpo burocrático
governamental, no exercício de suas funções administrativas.
31
32

mais elevado é o seu custo (perde-se vidas) e maior é a probabilidade de revoltas contra
aqueles que a exercem (perde-se legitimidade).
Atualmente a solução mais utilizada – e quase sempre pacífica – reflete o
desenvolvimento histórico da razão: dá-se pela via política, que limita os confrontos por meio
da negociação e da adoção de regras e normas pactuadas e aceitas por todos. A política
também estabelece a quem cabe o uso legítimo da força, quando necessário à manutenção da
paz social e da ordem.
Com a organização política criam-se governos. De tempos longínquos até os dias de
hoje, a constituição de sociedades politicamente organizadas em diferentes sistemas de
governo prevalece como projeto coletivo, permitindo que homens e mulheres se associem na
empreitada conjunta que é a vida social. Instaurado um governo, surge a figura dos
governantes ou líderes políticos, isto é, alguém dotado com o poder de condução dos rumos
da vida em sociedade. Concomitantemente aos governantes, surgem os conselheiros políticos:
estes tentam influenciar aqueles, seja por ambição, vaidade, poder ou o sincero desejo de
ajudar.
No passado, a relação líder-conselheiro foi marcada pela complexa interação entre os
detentores de poder e seus conselheiros, e.g. a influência de Aristóteles como tutor de
Alexandre, o Grande; a de Sêneca como preceptor de Nero; a ascendência de Armand-Jean du
Plessis, Duque e Cardeal de Richelieu sobre o Rei Luís XIII na França absolutista; e a
tentativa de Niccolò Machiavelli de influenciar o príncipe Lorenzo de Médicis, entre tantos
outros exemplos históricos.
Esquematiza-se na figura 2 a evolução das relações sociais correspondentes ao
processo evolutivo humano, dos seus primórdios até o surgimento dos governos, conforme
registrado.

32
33

Ameaças Ambientais

Indivíduo Núcleos familiares


s Indivíduo
s

União dos Indivíduos: sobrevivência

Agrupamento
social
Agrupamento Agrupamento
social social
CONFLITOS

Uso da força / Coerção Resolução Negociação

Meio de Organização Social

CRIAÇÃO DO ESTADO = União.


Sociedades organizadas
= Governo

Governante

Ligação para o
exercício de
influência
C
Coonnsseellhheeiirroo

Figura 2: Evolução dos primórdios da sociedade à formação de governos.


Fonte: Autoria própria (2009)

33
34

Como visto na figura 2, a organização social humana levou o poder de governo a


concentrar-se majoritariamente sob a égide de uma única fonte até o final do século XVII,
início do século XVIII, sob a forma de um poder monocrático. O poder contemporâneo já não
é exercido por um governante, mas por uma configuração política e institucional, o Estado
nação, que teve seu formato atual moldado por eventos históricos, sobretudo a partir do século
XVIII – e.g. a guerra dos cem anos, a independência das Colônias Americanas da Coroa
Britânica; a Revolução Francesa, etc. – foi configurado como uma reação à onipotência do
poder dos governantes no passado.
Os Estados modernos se diferenciam de formas anteriores de governo, entre outras
características, por gozarem de autonomia perante outros Estados: a soberania nacional,
segundo a qual cada Estado é livre para, nos limites de seu território, decidir seu rumo como
nação soberana. Também se caracterizam por expressar a vontade de sua sociedade, ainda
que, somente em termos organizacionais constituam uma esfera à parte da sociedade civil. As
modernas sociedades democráticas são organizadas por aparatos institucionais que
regulamentam e comandam os assuntos relacionados à vida em comum, mas não há
dissociação entre pessoas e instituições. Posto em outras palavras, o formato contemporâneo
de Estado é uma variável dependente da cidadania: só existe Estado se existirem pessoas
transformadas em cidadãos pela lei deste Estado. Essas pessoas, ou cidadãos, constituem
coletivamente a sociedade civil, isto é, a sociedade do Estado. Portanto, o Estado são os
cidadãos organizados de forma institucionalizada.
No caso do Brasil, a estrutura7 do Estado segue o modelo democrático pluralista8 e
possui duas dimensões: a dimensão política, que engloba o conjunto institucional de decisões
(os poderes legislativo, executivo e judiciário); e a dimensão da execução, a cargo da
administração pública (seu corpo burocrático).
Enquanto na esfera política há a expressão da vontade do Estado (e da sociedade que o
elegeu) orientando decisões que geram políticas públicas, na administração pública ocorre a
execução desta vontade: são postas em prática as decisões e realizam-se as atividades,
requeridos pelos serviços públicos, para satisfazer as necessidades da população. A

7
Estrutura exprime a forma de regular as relações entre os elementos de um conjunto, define a
organização desses elementos e lhes confere seu caráter particular (GELEDÁN; BREMON, 1988, p.
323).
8
Na teoria pluralista, a divisão de autoridade entre três poderes (executivo, legislativo e judiciário)
impede a adoção de medidas imprudentes pelo governo. Segundo Bobbio (1998), o pluralismo é uma
forma de equilibrar o poder entre o Estado e a sociedade, com ênfase na conciliação das demandas e
imperativos de cada sistema. No pluralismo, o interesse público une-se a sociedade, embora o
primeiro se sobreponha à segunda (MATIAS-PEREIRA, 2008).
34
35

administração pública é o elo entre o Estado – locus de exercício da cidadania − e a


sociedade, na consecução do bem comum.
Explanado o desenvolvimento político do qual emerge o Estado moderno, volta-se o
olhar para a evolução da sociedade, ocorrida em paralelo. De formas primitivas de
agrupamentos para a sobrevivência, historicamente a sociedade evoluiu para um sistema
intrincado de relações sociais. As sociedades modernas caracterizam-se pela complexidade e
diversidade do seu tecido social. Seus membros possuem atributos diferenciados como idade,
sexo, religião, estado civil, escolaridade, renda, etc.
Também são distintos seus valores, interesses, necessidades e aspirações. Com isso se
quer dizer que as sociedades são a soma de diferentes visões de mundo, da diversidade de
pessoas e de grupos de interesse com idéias distintas sobre como o mundo deve ser. Essa
pluralidade torna a convivência social complexa, e grande parte da atividade estatal volta-se
para a mediação de conflitos gerados por divergências entre as necessidades e demandas de
grupos, face à impossibilidade do Estado de atender e satisfazer a todos.
Na atuação estatal para atendimento das demandas sociais e dos grupos de interesse
encontram-se as políticas públicas: nesse conjunto, a política pública é a estratégia utilizada
pelo poder público para que o Estado realize sua função social. Este é o âmago desta
explanação: cabendo ao Estado, por meio de seus representantes eleitos ou burocratas de alto
escalão, decidir entre as solicitações que lhe são encaminhadas qual issue será objeto de
consideração, quais demandas devem ser atendidas e em que ordem, que surgem naturalmente
relações de poder − os grupos sociais buscam prioridade na atenção estatal. E alguns têm
preferência em detrimento de outros. Dito de outro modo, alguns grupos tem mais poder que
outros, no que concerne à obtenção da atenção Estatal.
Da assimetria de acesso ao poder, nos atuais Estados democráticos, nascem os
correlatos modernos dos conselheiros nos antigos Estados monocráticos: os think tanks. O que
os conselheiros faziam no passado é feito agora por think tanks: a tentativa de grupos ou
pessoas de influenciar, com base em pesquisas, idéias e expertise, o rumo das políticas
públicas e, consequentemente da sociedade.
Na figura 3 delineia-se a trajetória política da sociedade atual, na qual se inserem os
think tanks.

35
36

Sociedade politicamente
organizada

TECIDO SOCIAL
Grupos de interesse de
outros Estados Grupo de
interesse social

Grupo de
Grupo de Interesses interesse
interesse Conflitantes

Grupo de
interesse

C
Coorrppoo TTééccnniiccoo--
Estado: Mediação de Conflitos
THINK TANKS bbuurrooccrrááttiiccoo

ESTADO EM AÇÃO = POLÍTICAS PÚBLICAS A


Aggeenntteess eelleeiittooss

I – Montagem da Agenda II - Formulação da política III – Tomada de Decisão IV – Implementação V – Avaliação

Policy Maker = escolhas e decisões que afetam a sociedade

CICLO DA POLÍTICA PÚBLICA


Retro-alimentação da avaliação dos resultados de uma política pública
THINK TANKS
THINK TANKS

Figura 3 – Dinâmica social em democracias pluralistas e a ação dos think tanks


Fonte: Autoria própria (2009)

36
37

Na figura 3 pode-se acompanhar, nas sociedades pluralistas modernas organizadas


politicamente na forma de governos, que a multiplicidade de seus membros (tecido social),
com necessidades e preferências próprias, leva à formação de grupos conforme suas
características. Assim, as necessidades, por exemplo, do grupo das mulheres entre 30 a 45
anos, que trabalham fora e tem um ou mais filhos, diferem substancialmente das necessidades
do grupo feminino, entre 65 a 85 anos, que são aposentadas. Da mesma base (mulheres), é
possível obter diversos grupos, de acordo com os atributos e características próprias que os
une. E que muitas vezes se sobrepõem.
É neste sentido que se atribui – embora não se resuma a esse – ao Estado o papel de
árbitro de conflitos entre grupos: considerando-se a escassez de recursos disponíveis ao poder
público para o atendimento às necessidades dos diferentes grupos sociais, há a premência de
que sejam priorizadas algumas demandas. Por meio das políticas públicas o Estado sinaliza
para a sociedade em geral quais, dentre as solicitações que chegam até os policy makers, são
consideradas prioritárias.
É neste momento que entram em ação os think tanks: sendo impossível para o tomador
de decisão política saber todas as demandas sociais existentes, e ainda possuir todo o
conhecimento necessário à priorização, escolha e decisão do melhor curso de ação a tomar, os
think tanks, enquanto organizações que se dedicam à pesquisa e estudo de temas relacionados
a políticas públicas, suprem essas eventuais lacunas de conhecimento, aconselhando aos
policy makers: unem o conhecimento que produzem ao poder, colocando à disposição dos
formuladores de políticas públicas suas pesquisas, idéias e estudos.
Encerra-se esta parte explanatória de contextualização, para, na continuação, expor o
quadro de referência teórico necessário à compreensão dos think tanks.

3.1 Revisão da literatura

Após a contextualização inicial, sintetizada nas figuras 2 e 3, apresenta-se nesta seção


as teorias necessárias ao entendimento do objeto de estudo em ordem decrescente, mas não
linear: de um conjunto amplo de conhecimentos se extrai uma parcela nele contida, para
detalhá-la na seção seguinte. Explicitam-se as escolhas teóricas feitas na análise do fenômeno
de estudo. Ao final do capítulo, o objetivo é que se perceba o “caminho teórico” percorrido,
da teoria política aos think tanks. Como recomenda Matias-Pereira (2008), evidencia-se e

37
38

detalha-se o conjunto das teorias importantes à compreensão e contextualização do fenômeno


dos think tanks no campo9 da administração pública. De forma esquemática, se obtém o
seguinte roteiro do capítulo, apresentado na figura 4:

TEORIA POLÍTICA

Policy Teoria de Grupo


Analisys

THINK TANKS
Ciclo da PP
PolíticaPública
Atores em PP

Governança e
Accountability
Administração
Pública
Co-produção do
Bem Público

Figura 4: Representação do arcabouço teórico seguido pelo estudo.


Fonte: Autoria própria (2009)

Para Howlett e Ramesh (2003), as teorias nas ciências sociais podem ser classificadas
por distintos meios, conforme a “espécie e a extensão dos fenômenos sociais que elas tentam
explicar e do método básico que utilizam para derivar seus insights e hipóteses”.
(HOWLETT; RAMESH, 2003, p. 21).
Reafirma-se, como colocado anteriormente na delimitação do estudo, que algumas
teorias possuem diferentes facetas de análise, que permitem sua abordagem por diversos
ângulos. Quanto mais vasta e abrangente a teoria, mais enfoques poderão ser obtidos no seu
estudo. Embora se tenha buscado explorar as teorias de forma ampla, tratou-se de manter um

9
Genericamente um campo é um conjunto informal e heterogêneo de problemas, situações,
conceitos, relações, estruturas, conteúdos e operações de pensamento, conectados uns aos outros.
Já um campo de conhecimento possui objeto, problemáticas e métodos próprios de investigação,
bem como um conjunto de conceitos próprios. Cobrem distintos contextos e âmbitos da existência
individual e social humana, de modo institucionalizado ou não.
38
39

direcionamento para aspectos relevantes ao entendimento do objeto de estudo. As teorias e os


conceitos que compõem o arcabouço essencial à compreensão do fenômeno dos think tanks
são expostas a seguir.

3.2 Teoria política moderna

Esta seção tem por objetivo apresentar e explanar diferentes aspectos ligados à teoria
política nos dias de hoje. De acordo com Dye (2003), política é um termo polissêmico. Com
esta afirmação o autor ressalta os vários sentidos que a expressão pode assumir, em função do
contexto ao qual ele é aplicado.
Embora alguns autores façam distinção entre ciência política e teoria política, a
primeira como corpo de conhecimentos que contém a segunda, ficando essa limitada a um
viés explicitamente normativo, na prática – e para a finalidade deste estudo − se utiliza no
mesmo sentido de teoria política, expressões afins como: ciência do Estado; doutrina do
Estado, ciência política ou filosofia política.
A concepção original de política − derivada do grego pólis ou politikós − remete à
noção de cidade, ao que é urbano. Ligava-se ao estudo das atividades humanas relacionadas
com a condução da vida na esfera pública, em oposição à vida privada (a família) e a aldeia
(os vizinhos): os dois últimos tinham por finalidade única garantir a sobrevivência
(CHATELET, 1994; MATIAS-PEREIRA, 2008).
Quando se pensa nos dias de hoje em teoria política, vêm à mente palavras como
direito, igualdade, liberdade, povo, democracia, sociedade, Estado, soberania, representação.
São palavras que mantêm uma estreita relação entre si e com outras não mencionadas, que
denotam seu caráter coletivo, democrático e participatório.
Segundo Duso (2005), analisar conceitos ligados ao campo da política constitui uma
atividade útil para todos os que desejam se aprofundar no entendimento “dos conceitos que
hoje determinam o espaço do agir humano e que se encontram codificados nas constituições
contemporâneas, com o objetivo de legitimar a relação de obrigação política e o dever de
submissão a lei” (DUSO, 2005, p. 8, grifo acrescentado). O autor, ao fazer menção ao agir
humano, aproxima-se do pensamento político de Hannah Arendt (2002), que afirma ser
impossível dissociar ou categorizar a relação entre pensar e agir, isto é, entre ação (práxis) e

39
40

pensamento, uma vez que ambos são parte da constituição originária do homem10. Para
Arendt (op. cit.) a consequência desta interligação, na esfera política é que o pensamento
político não é uma tabula rasa; não surge do nada para construir uma ordem social justa:
antes, indica a reflexão social acerca da realidade política em que nos encontramos do mesmo
modo como ocorria no passado, a reflexão política na polis grega.
Também para Kaplan e Lasswell (1979, p. 16), a ação é inerente à teoria da ciência
política, pois esta “[...], como disciplina empírica, é o estudo da formação e da distribuição do
poder” e seu objeto de estudo é “constituído pelo comportamento de pessoas com diversas
perspectivas de ação, organizadas em grupos de complexidade variável” (ibid., 1979, p. 30,
grifo acrescentado).
Sob outra perspectiva, Dye (2005, p. 3) define que a ciência política é o estudo de
“quem ganha o quê, quando e como”. Outra visão, de enfoque contratualista, é a de Rawls
(2007), para quem a teoria política é o conjunto de procedimentos formais e informais que
expressam relações de poder e que se destinam à resolução pacífica de conflitos, definindo a
forma de distribuição de benefícios e a utilização de bens públicos.
O enfoque de Perkins (2008), eminentemente legalista, apresenta a filosofia política
como a busca de respostas às seguintes questões: Quem deve fazer as leis? Por que acatá-las?
Quais princípios norteiam sua formulação e quais fins devem ser alcançados?
Segundo Serra (1995, p. 19), é da política que “derivam as decisões imperativas,
válidas para toda a coletividade, que vão se traduzir em atos de governo”. Assim, a política
envolve um complexo encadeamento de atividades, através das quais “são representados os
interesses, expressos os anseios de uma sociedade, explicitados os conflitos e negociadas as
soluções” (op. cit.).
Todos os autores consultados convergem ao situar ciência política moderna dentro do
contexto do ideal democrático (ou da democracia como condição sine qua non11) que resulte
no bem-estar coletivo. Também são unânimes em apontar o poder como uma noção intrínseca
que permeia o estudo e o entendimento da teoria política contemporânea.
Os estudos de Kaplan e Laswell (1979) servem ao esclarecimento da aparente
separação apontada. Demonstram em seus estudos que não há uma relação dicotômica no
estudo da ciência política, mas uma relação de subordinação: a ciência política é válida

10
Arendt critica de forma contundente o primado da teoria sobre a ação: para ela, a política constitui-
se em um espaço dialético, que condena normas de comportamento pré-constituídas sem o exercício
prévio da faculdade de julgamento, exercitada na relação concomitante do viver e do agir.
11
Sinteticamente Ferez Jr. (2000, p. 102) define democracia como um regime de governo baseado
no “principio normativo de alargamento da participação política”.
40
41

quando realizada em um contexto democrático, pois “o poder é apenas um dos valores que se
manifesta nas relações interpessoais; e não pode ser compreendido corretamente se for
abstraído dos outros valores em jogo” (KAPLAN; LASWELL, 1979, p. 24).
Um valor intrínseco para os autores é o respeito, tanto o respeito próprio quanto o
respeito aos demais. Mesmo no estudo das relações de poder, eles condicionam o exame
dessas à análise do respeito e de outros valores, pois, como indicam,

Nossos próprios valores exigem a substituição da ‘política do poder’, tanto na


teoria quanto na prática, por um conceito no qual se dirija a atenção para as
consequências humanas do poder, como a principal preocupação tanto para o
pensamento político quanto para a ação política (KAPLAN; LASWELL, 1979,
p.24, grifo dos autores).

Os autores esclarecem que pessoas politicamente ativas fazem reivindicações de


valores (próprios e alheios) com base em diversas expectativas, o que vai ao encontro do que
se afirmou na contextualização do trabalho sobre a complexidade do tecido social nos dias de
hoje, que dá origem à necessidade de intermediação estatal nos interesses conflitantes. Os
autores identificam padrões de atenção, de sentimento, de lealdade, de interesse e de credo
como algumas das perspectivas da ação política (ibid., 1971, p. 45). Assim, é possível dizer
que o homem age sobre a estrutura política em busca de fazer coincidir a norma e a ação (do
Estado) com os fatos e valores reais (da realidade social).
Neste sentido, o Estado moderno se estabelece como uma “ampliação dos mecanismos
para a formação e exercício do poder e de delimitação da liberdade do Estado frente ao
indivíduo” (DIREITO et. al., 1971, p. 10). Segundo os autores, as organizações estatais
também “só têm valor e são duradouras se e quando refletem fielmente os fatores reais de
poder [e os valores] imperantes na sociedade” (ibid., 1971, p. 47).
As evidências apresentadas acima podem conduzir a uma constatação. O Estado deixa
de ser visto apenas como locus de decisão e espaço de convergência das ações políticas, para
assumir também a responsabilidade de fomentar o desenvolvimento de uma sociedade civil
‘forte’, no sentido de plenamente apta ao exercício da cidadania.
Evidencia-se na literatura que o campo da Teoria Política desenvolveu um sólido
corpo de estudos empíricos e teóricos, com base no estudo das atividades governamentais e de
governos, no mundo inteiro. Esses estudos retratam a evolução do papel do Estado em função
das características da sociedade que o abriga, e também servem para explicar as diferenças

41
42

entre Estados, uma vez que esses são formatados historicamente, à semelhança de seu corpo
social (DENHARDT, 2004; HOWLETT; RAMESH, 2003; MATIAS-PEREIRA, 2007).
Antecipa-se que, inseparavelmente das escolhas políticas e das possíveis soluções dos
problemas políticos, encontra-se os think tanks, que se vinculam à Ciência Política por sua
ligação com a administração pública e a política pública, pela ótica da policy analysis, uma
vez que os think tanks atuam no ciclo da política pública. Procede-se, na continuação, ao
estudo das demais teorias que sustentam a questão de estudo.

3.3 Policy analysis

Nesta seção procede-se ao estudo da policy analysis que pertence ao campo da Ciência
Política, assim como as teorias que embasam o campo da administração pública. Segundo
Marques (2006, p. 60), o desenvolvimento da policy analysis “ocorreu paralelamente e em
diálogo com as várias teorias do Estado, mas sempre apresentou grande proximidade com o
pluralismo”. Esta distinção é importante na medida em que influencia o enfoque e o
direcionamento do estudo em questão, como se evidenciará a seguir.
Estudiosos e pesquisadores do campo das políticas públicas distinguem dois modelos
principais para o estudo e análise das políticas públicas: o policy process e a policy analysis.
Cabe ressalvar que esses não são os únicos enfoques de estudo possíveis, porém são os mais
utilizados (DYE, 2005; FARIA, 2003; FREY, 2000; HOWLETT; RAMESH, 2003). Em
estudos acadêmicos, diferencia-se a relação entre o ponto de vista do policy process e o da
policy analysis pelos métodos utilizados e o enfoque de análise: “do conhecimento da política
(knowledge of policy) ao conhecimento em política (knowledge in policy)”. O primeiro refere-
se ao policy process; o segundo, à policy analysis (SCHNEIDER, 2002)
Enquanto o policy process preocupa-se com os fatores sociais e econômicos que
condicionam as políticas públicas, a policy analysis centra sua atenção no papel
desempenhado por atores, instituições, forças políticas envolvidas no ciclo da política pública
e até mesmo nas circunstâncias que servem de limites à capacidade de ação política por parte
dos governantes (FARIAS, 2003; HAM; HILL, 1993).
Como o reconhecimento do fenômeno dos think tanks liga-se diretamente ao estudo
das forças que moldam a política pública e do papel desempenhado pelos atores que integram
a arena política, é por meio dessa ótica que se pode reconhecer na realidade empírica a

42
43

existência e a atuação das organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas.


Considera-se por esse motivo que o enfoque da policy analysis é mais adequado ao objetivo
proposto por este estudo que o modelo do policy process.
Na figura 5, explana-se de forma gráfica a diferença de enfoque entre as óticas de
estudo. Esta serve à consolidação da opção feita neste trabalho relativa à escolha da policy
analysis.

Informação Processo de Atores


para os influência do
Estudo
Estudo policy processo
Estudo do dos
do makers
conteúdo outputs Avaliação
policy
político da
process
política

Ator
Analista
político
como ator
como
político
analista

Policy process Policy analysis

Conhecimento da Política Conhecimento em Política

Figura 5: Enfoques no processo de política pública.


Fonte: adaptado de SCHNEIDER, 2002.

Com base na figura cinco se identifica que, em comum, ambas as abordagens possuem
como ponto de chegada (output) a avaliação da política publica, etapa do ciclo político a ser
descrito mais adiante, e que propicia uma base de conhecimento para futuras ações
governamentais.
Outro aspecto importante, ressaltado por Frey (2000, p. 216), é o imperativo de
esclarecer que a literatura sobre a policy analysis em inglês “diferencia três dimensões da
política”. Englobadas na língua portuguesa pela palavra “política”, essas dimensões são
designadas no idioma inglês por três termos distintos: polity, politics e policy. Cada um destes
termos é dotado de um entendimento específico e uma dimensão distinta, que se identifica em
seguida.

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Polity designa as instituições que ordenam o sistema político, isto é, as estruturas


formais do sistema jurídico (instituições da sociedade politicamente organizada), as estruturas
formais do sistema político (instituições do poder legislativo e executivo) e as estruturas
formais do sistema burocrático. A dimensão da polity no Brasil pode ser vista, por exemplo,
na capacidade do poder judiciário (instituição que faz parte da estrutura formal do Estado) de
regular as outras instituições do sistema tais como a burocracia, o executivo ou o legislativo,
ao controlar a ação desses (FREY,2000).
Por sua vez, o termo politics refere-se à dimensão processual, ou seja, os processos
políticos. Estes se relacionam ao exercício do poder e com frequência envolvem conflitos. É o
caso, no Brasil, das negociações e composições partidárias, do estabelecimento de objetivos
de governo, da distribuição dos recursos sociais de acordo com as prioridades estatais
estabelecidas, etc.
Por fim, policy é dimensão ligada ao conteúdo concreto dos programas políticos, isto
é, o resultado da atividade política que ocorre na dimensão politics. Dito de outro modo, é o
conjunto das ações imperativas a serem adotadas, dos problemas técnicos a serem resolvidos e
da configuração material originada pela decisão política.
No idioma português, o agrupamento dessas três dimensões distintas em uma única
palavra constitui uma dificuldade analítica para o correto enquadramento da dimensão e do
entendimento que se objetiva, pois, embora separadas, estas dimensões contidas na palavra
“política” se inter-relacionam e influenciam mutuamente (DYE, 2005; FREY, 2000; RUA,
1998; SOUZA, 2006). Contudo, deve-se manter em perspectiva que o foco principal da policy
analysis é o que descreve a dimensão da policy, conforme distinção feita acima.
A policy analysis, na definição de Frey (2000), refere-se à compreensão da política
pública, com o enfoque no questionamento e na análise das forças políticas cruciais que
influenciam o processo decisório, e nos resultados que um dado sistema político vem
produzindo.
Com o estudo da política pública pelo enfoque da policy analysis, pode-se: (i)
descrever: explicar a política pública, para entender o que o poder público está fazendo (ou
deixando de fazer), no que concerne à solução dos problemas sociais; (ii) desvendar as
causas: investigar as determinantes de uma política pública, isto é, o porquê do formato de
uma política específica, os motivos de um governo escolher um curso de ação; (iii)
conseqüências: pode-se averiguar os impactos da política pública sobre a vida das pessoas,
pesquisar seus efeitos sobre os processos e as instituições políticas (DYE, 2005, p. 5).

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Na visão integradora de Montpetit (2007), a policy analysis reflete a produção de um


arcabouço ou esquema conceitual (conceptual design) por meio do qual a política pública é
analisada, com a finalidade de instrumentalizar os policy makers na solução de problemas
coletivos.
Dye (2005) argumenta que a policy analysis pode ser estudada pela perspectiva dos
seguintes modelos conceituais, que orientam o enfoque dado ao estudo: o modelo
institucional; o modelo processual; o modelo racional; o modelo incremental; o modelo de
grupo; o modelo de elites; o modelo do public choice e o modelo da teoria de jogos. Outro
modelo, o de sistema, presente em outras edições do mesmo livro (e.g. 1984), já não consta
nas edições posteriores a 2005. Embora o autor ressalve que nenhum dos modelos foi
originalmente concebido para o estudo específico da política pública, todos servem a esta
finalidade, e que um “[...] modelo não compete com demais, no sentido de que qualquer um
deles possa ser considerado o melhor [modelo]” (DYE, 2005, p. 12, grifo acrescentado).
Explanou-se nesta seção o que constitui a policy analysis e o motivo de escolha desse
enfoque para o trabalho. Na seção que segue a esta examina-se a abordagem escolhida como
modelo para o estudo da policy analysis: a teoria de grupo.

3.3.1 Teoria de Grupo

A teoria de grupos é um dos modelos utilizados na policy analysis. Esta subseção


contém os elementos necessários à compreensão da teoria e sua ligação com o objeto de
estudo.
Dye (2005) esclarece que uma análise com base na teoria de grupos implica descrever
todas as atividades significativas na política em termos da disputa entre grupos na arena
política. O autor complementa que neste modelo teórico em análise prepondera à visão da
política pública como fator de equilíbrio entre grupos (DYE, 2005), como representado na
figura 6, à página 48.
Da colocação do autor pode-se deduzir a correlação de três aspectos: primeiro, que a
interação entre grupos se dá de forma conflituosa, pois é preciso intervenção estatal para
acabar com o desequilíbrio; segundo, que o Estado exerce um papel central para a
manutenção do equilíbrio; e, por último, que os grupos possuem atributos e necessidades
distintas, que geram a necessidade de intervenção do Estado – este último aspecto confirma

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um dos pontos mencionados na contextualização inicial do capítulo. É preciso salientar que


pela ótica do modelo de grupos observa-se que os policy makers “respondem constantemente
a pressões de grupos – barganhando, negociando e comprometendo-se entre demandas
divergentes de grupos influentes” (DYE, 2005, p. 21).
Na perspectiva pluralista em que se insere o estudo da teoria de grupos, parte-se do
pressuposto de que são legítimas as diferentes visões de mundo que permeiam as sociedades,
e suas distinções fundamentais no modo de pensar, refletir e agir sobre a realidade
(CAVALIERI, 2007). Assim, indivíduos com interesses em comum se unem formal ou
informalmente em grupos com vários propósitos.
Então, outro assunto que deve ser abordado é a conceituação dos tipos de grupos
encontrada na literatura sobre este tema, dada a relevância de conhecer os grupos para
identificá-los e a importância intrínseca desses grupos na policy analysis:
a)- grupos de interesse: na definição de Farhat (2007, p. 145), abrangem todo o conjunto de
“pessoas físicas e/ou jurídicas, formal ou informalmente ligadas por determinados propósitos,
interesses, aspirações ou direitos, divisíveis dos de outros membros da sociedade”. Manter os
laços de união é a motivação desses grupos, que não necessariamente tomam ações no sentido
de trazer ao conhecimento do poder público e da sociedade seus valores e aspirações. Para
Aragão (1994, p. 40), “associação em torno de determinados interesses comuns cria o grupo
de interesse”. Ressalva-se que um grupo de interesse pode vir a constituir um grupo de
pressão, se passa a defender politicamente seus interesses. Cita-se como exemplo de grupos
de interesse: associações de pais e professores de escolas; associações assistenciais, entre
outros.
b)- grupos de pressão: identificam, ao mesmo tempo, organizações formalmente estabelecidas
para representar um grupo de interesse junto ao poder público e o próprio modo de ação do
grupo, com vistas à consecução de seus fins. Os grupos de pressão possuem os meios
necessários e a vontade de utilizá-los na promoção de seus objetivos. Dito de outro modo, os
grupos de interesse possuem capacidade financeira e organizacional bem estruturada e suas
ações visam obter vantagens ou benefícios para o grupo, resguardar interesses de grupos
específicos, impor uma visão de mundo ou obter medidas de modo geral favoráveis aos seus
interesses (ARAGÃO, 1994; FARHAT, 2007). São exemplos de grupos de pressão: grupos
ligados a movimentos ambientalistas como o Greenpeace; grupos de representação de
categorias profissionais (como o CREA), partidos políticos, etc.

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c)- grupos de resistência: formados, segundo Farhat (2007), por comunidades minoritárias em
uma região geográfica delimitada, buscam afirmar e manter seus costumes, leis ou
características, em face ao conjunto social no qual vivem. A herança cultural comum,
divergente da maioria dos demais grupos com que dividem um território e o amor à liberdade
são as principais características desses grupos. Por resistirem a integrar-se no contexto mais
amplo da comunidade à que pertencem e evitarem sua assimilação, esses grupos “vivem mais
‘ao lado’ dos demais grupos sociais do que ‘dentro’ deles” (FARHAT, 2007, p. 152, grifo do
autor). São exemplos: algumas tribos indígenas do Brasil; grupos forçados à migração para
outros países, como judeus e palestinos.
d)- grupos de afirmação: igualmente minoritários em um território, os grupos de afirmação
distintos dos grupos de resistência, não questionam seu pertencimento a uma comunidade.
Seus objetivos como salienta Farhat (2007) relacionam-se ao pleno exercício da sua cidadania
e à busca por igualdade de direitos, que lhes é negada em comparação com os demais
cidadãos. Em geral são grupos que sofrem discriminação e preconceito, e sua característica é
a grande capacidade de articulação e união em torno de sua defesa. A contradição dos grupos
de afirmação está no fato de que às vezes “pretendem obter – para afirmar sua igualdade −
tratamento diferenciado daquele dado aos demais cidadãos” (FARHAT, 2007, p. 307).
Exemplos desses grupos no Brasil são os negros (afro-descendentes); as mulheres; os
deficientes e os homossexuais, entre outros.
e)- grupos de coalizão: são grupos que congregam em um mesmo ‘guarda-chuva’ interesses
convergentes diversos de outros grupos sociais. Assim, existem subgrupos dentro de um
grupo de coalizão, que são englobados em um grupo maior com a capacidade de reuni-los e
representá-los neste interesse específico (ARAGÃO, 1994; DYE, 2005). São exemplos de
grupos de coalizão: na área econômica, os fundos de pensão que representam grupos de
categorias diferentes, como aposentados e pensionistas; na arena política, um partido político
pode ser visto como um grupo de coalizão, já que normalmente possuem em sua estrutura
subgrupos com algumas diferenças (o que também explica o fato de os partidos políticos
eventualmente se desmembrarem, quando a diferença entre os grupos que o compõem torna-
se tão relevante a ponto de romper com a coalizão).
Segundo Rua (1998), a teoria de grupos consiste de análise pluralista, que implica
estudar a influência das relações de poder e da representação de interesses do ponto de vista
formal e informal. Sobre este aspecto, Dye (2005, p. 20) manifesta que a “influência de
grupos é determinada por seu número, riqueza [no sentido de poder econômico], capacidade

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de organização, liderança, acesso aos tomadores de decisão e coesão interna”. Então,


imbricado ao estudo de grupos estão às relações de poder, que refletem o estudo de quem tem;
quem não tem; quem tem mais e quem tem menos poder. Esse estudo é útil na geração de
modelos e padrões para a análise de determinados fenômenos, entre os quais Rua (1998)
menciona aqueles relacionados às políticas públicas, como é o caso do fenômeno em estudo,
os think tanks.
Para demonstrar o que se afirmou, diferencia-se a ótica de um modelo de análise e
outro, por exemplo, na atribuição do surgimento do estado de bem-estar social (welfare state).
Na ótica da teoria de grupo, a explicação para o seu surgimento liga-se à atividade dos grupos
de pressão dos trabalhadores sobre o poder público e os policy makers. A mesma análise na
abordagem da teoria da elite argumenta que o estado do bem-estar social resultou da
necessidade de manutenção do status quo pelas elites evitando o questionamento das classes
trabalhadoras ao seu direto a propriedade e a constante concentração de renda do sistema
(HOWLETT; RAMESH, 2003).
Na visão pluralista, são dinâmicos os grupos que integram o processo político e os
instrumentos de poder que utilizam. Seus interesses instáveis geram a necessidade de
mediação do Estado, a fim de promover o equilíbrio entre grupos (MARQUES, 2006).
Segundo Dye (2005, p. 20), a política pública, em qualquer situação ou a qualquer tempo “é o
equilíbrio alcançado na luta entre grupos”. A necessidade de mediação estatal para o
equilíbrio entre grupos é apresentada na figura 6:

In flu ência acrescida

In flu ência d o Influência do


gru po B grupo AA

Política
pública
Posicioname ntos
pol íticos alternati vos

Muda nça nas Equilíbri o


pol íticas

Figura 6: Representação do equilíbrio na teoria de grupos


Fonte: DYE, 2005, p.21
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O equilíbrio entre grupos é alcançado, como demonstra a figura 6, quando o governo é


capaz de administrar as demandas que lhe são dirigidas por diferentes grupos, de forma a
equilibrar as disputas entre grupos que possuem interesses distintos (e muitas vezes
conflitantes). Esses grupos, contudo, também são desiguais em termos de capacidade de
influenciar o processo político. Viabilizar políticas públicas que sirvam de contrapeso ao
poder de grupos mais influentes, na direção de posicionamentos alternativos implica adotar
mudanças nas políticas que afetam o equilíbrio estabelecido, aumentando a influência de
grupos desfavorecidos em termos de poder (DYE, 2005).
Todavia, nem sempre a mediação estatal é efetiva. Gros (2003b) argumenta que na
medida em que certos grupos ganham poder econômico, passam a influir na sociedade e na
definição dos valores sociais de forma acentuada, tornando-se um dos principais instrumentos
de pressão conhecidos na atualidade, pois respaldados por think tanks (e o conhecimento
desses), podem impor seus interesses de maneira privilegiada ao Estado e transformar suas
necessidades em prioridade pública (GROS, 2003b).
Utilizando o modelo da teoria de grupo numa perspectiva comparativa, Howlett e
Ramesh(2003) ponderam que nos Estados Unidos os grupos de interesse de modo geral
dispõem de financiamento por parte de atores e fundos privados para a criação e manutenção
de suas estruturas de representação, podendo contar ainda, em menor grau e de forma indireta,
com o auxílio do Estado.
Outra categoria de países identificada pelos autores são aqueles que, nos moldes do
Canadá, contam com forte presença do Estado “na provisão de financiamento direto para
grupos de interesse em áreas específicas em que o governo deseja que esses grupos sejam ou
se tornem mais ativos.” (HOWLETT; RAMESH, 2003, p. 114).
Os mesmos autores enquadram em uma terceira categoria os países latino-americanos,
alguns países da Europa (com uma tradição maior de corporativismo, como a França) assim
como os da Ásia, nos quais o governo facilita por diversos meios a atividade de grupos de
interesse: mediante auxílio financeiro; por meio da exclusividade de representação de certas
classes ou grupos específicos − e das receitas decorrentes deste monopólio de representação,
por exemplo, de sindicatos ou associações de classe. (HOWLETT; RAMESH, 2003).
Foram abordados nesta seção os aspectos principais da teoria de grupo – modelo de
análise por meio do qual se realizou o estudo da policy analysis. Na próxima seção são
abordados os assuntos ligados ao estudo e compreensão das políticas públicas.

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3.4 Política pública

Em parte do contexto maior da teoria política, como forma de o Estado alcançar seus
objetivos, situa-se a política pública. A política pública, como estratégia de ação de
governos12 para colocar em prática as decisões políticas, trata justamente das consequências
da interação de uma “[...] multidão de atores que interagem uns com os outros de inúmeras
maneiras na busca de seus interesses” (HOWLETT; RAMESH, 2003, p. 17).
Esses atores, contudo “atuam em meio a um conjunto de relações sociais e idéias
políticas existentes” que restringem sua liberdade de ação (ibid., 2003, p. 17), como foi
abordado na seção anterior, parte da atividade governamental é buscar o equilíbrio entre as
demandas de grupos com poder de influência desigual.
A política pública é de competência intrínseca do governo de forma geral. Embora
todos os poderes – legislativo; executivo e judiciário – possam eventualmente assumir a
posição de policy makers de uma política pública específica, este papel é exercido com maior
frequência pelo poder executivo e a burocracia que compõe a administração pública
(HOWLETT; RAMESH, 2003).
Segundo Dye (2005, p. 6), a análise de política pública “refere-se a quem consegue o
quê e, principalmente, por que e qual a diferença que isto ocasiona para a sociedade”. Para o
autor (ibid., p. 4), a “política pública é a descrição e explicação das causas e consequências da
atividade governamental”. Para Lasswell (1951 apud HOWLETT; RAMESH, 2003), a
ciência da política pública possui três características distintivas: é multidisciplinar, é voltada
para a resolução de problemas e é explicitamente normativa. James e Anderson (1984, apud
HOWLETT e RAMESH, 2003) vêm à política como “um curso de ação intencional
perseguido por um ator ou conjunto de atores, quando tratam de problema ou matéria de
interesse”.
Pra Frey (2000), trata-se do questionamento e análise das forças políticas cruciais que
influenciam o processo decisório político, que tem origem nos resultados que um dado
sistema político vem produzindo. Ainda segundo este autor, o interesse principal de sua
análise consiste na avaliação das contribuições que certas estratégias escolhidas trazem para a
solução de problemas sociais específicos.

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A definição de política como governo em ação foi formulada originalmente por Woodrow Wilson,
em 1887. O autor, acadêmico e presidente dos EUA, foi um dos grandes impulsionadores do estudo e
desenvolvimento do campo da Administração Pública, bem como um de seus mais proeminentes
teóricos (DENHARDT, 2004; HOWLETT; RAMESH, 2003; MATIAS-PEREIRA, 2008).
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Outra definição de política pública é apresentada por Jones (1977). A partir da noção
geral que o conceito expressa, o autor o desdobra em suas partes constitutivas, quais sejam: as
propostas de política, ou os meios apresentados para a consecução de determinadas metas; os
programas, que são os meios autorizados para que se atinjam as metas; as decisões, isto é, as
ações específicas adotadas a fim de implementar as metas; e os efeitos, que constituem os
impactos resultantes dos programas, que podem ser mensurados.
Sintetizando-se as definições anteriores, pode ser afirmado que a política pública
compreende o conjunto de decisões e ações que uma esfera de governo, em qualquer esfera,
decide ou não empreender (DYE, 2005; HOWLETT; RAMESH, 2009; FREY, 2000; RUA,
1998; SOUZA, 2006).
A análise das definições elencadas permite concluir que todas elas possuem em
comum os seguintes aspectos: resultam das decisões tomadas por governos; são decisões
tomadas com dois propósitos: manter o status quo ou modificá-lo; as políticas públicas são
resultados ou produtos (outputs) das atividades inerentes ao processo de governo (politics).
Por este ângulo pode-se perceber a importância da ligação entre a qualidade das
políticas públicas (outputs) e a qualidade do conhecimento disponível para o formulador de
políticas públicas, o policy maker. Esta ligação remete à necessidade de estudos dos institutos
de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas, defendida neste trabalho. É a junção
entre a ação do poder e o conhecimento que fixa a fronteira entre a política pública e os think
tanks, uma vez que os últimos têm a pretensão de prover os primeiros com conhecimento
relevante para a tomada de decisão política.
Nesse sentido, torna-se necessário distinguir entre política pública e decisão política.
A primeira, de modo geral, envolve mais do que uma decisão e requer diversas ações
estrategicamente selecionadas para implementar decisões tomadas. Já a segunda corresponde
a uma escolha dentre um leque de alternativas, de acordo com a hierarquia das preferências
dos atores envolvidos e sua capacidade de impô-la aos demais atores, expressando − em
maior ou menor grau - certa adequação entre os fins pretendidos e os meios disponíveis
(HOWLETT; RAMESH, 2003).
Assim, embora toda política pública implique uma decisão política, nem toda decisão
política chega a constituir uma política pública. Um exemplo é encontrado na emenda
constitucional para reeleição presidencial: trata-se de uma decisão política, mas não de uma
política pública. Já a privatização de estatais ou a reforma agrária são políticas públicas.

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No estágio inicial do ciclo de política pública, ocorre a formação da agenda. Neste


estágio, de acordo com Kingdon (1995), ocorre à confluência, demonstrada na figura 7, dos
fatores que levam a que um determinado assunto se destaque, dentro de uma grande pauta, e
consiga a atenção dos atores envolvidos no processo da política.
Ainda segundo o autor, embora os três elementos − problemas, propósitos e política −
sejam fatores independentes entre si, é somente com a eventual união dos três em um período
crítico, isto é, quando os três elementos se unem ao mesmo tempo, que uma “janela política” é
aberta, permitindo que o assunto entre para a etapa da agenda política, passando a fazer parte
do ciclo da política pública (KINGDON, 1995). Representado o parágrafo acima de maneira
gráfica, obtém-se a figura 7:

Problemas

Política
Agrupamento social Janela
Política

Propósitos

Figura 7. Fluxos convergentes em política.


Fonte: baseado em KINGDON, 1995.
Onde,
- Problemas fazem referência ao processo de persuasão junto aos tomadores de decisão
política, de forma a levá-los se aterem a um determinado problema, ao invés de outro;
- Política são os fatores de natureza política, que influenciam a formação de agendas, tais
como a proximidade de eleições, clima político ou ação de think tanks, por exemplo;
- Propostas representam o processo de geração, debate, revisão e adoção de cursos específicos
de ação, entre as opções disponíveis, que concorrem entre si para resolução de um problema.
Observa-se que apenas mediante a conjunção dos três elementos é possível obter uma
sinergia propícia à inclusão na agenda política, que como se verá na subseção seguinte, é o
primeiro ciclo de uma política pública. Outro ponto relevante sobre a convergência necessária
à geração de uma janela política diz respeito ao exercício de influência por parte de think
tanks. O desenvolvimento de pesquisa para resolução de problemas, exclusivamente, não

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garante a ocorrência de um fluxo convergente que possa influenciar uma política pública. A
probabilidade de influenciar com êxito o ciclo da política pública é proporcional à capacidade
do think tank de articular os três elementos, problema, proposta e política, simultaneamente
(DYE, 2005; KINGDON, 1995; HOWLETT; RAMESH, 2003).
Segundo Souza (2006), pode-se extrair dos vários modelos e definições sobre política
pública os seguintes elementos constitutivos: a política pública possibilita a distinção entre o
que o governo pretendia fazer e aquilo que de fato faz; é uma ação intencional e busca atender
a objetivos concretos; e, embora se materialize por meio dos governos, envolve vários atores
com diferentes níveis de influência na decisão.
Outro enfoque relevante é o do relatório 2006 do BID, A política das políticas
públicas, que enumera como características-chave das políticas públicas: a estabilidade no
longo prazo; a adaptabilidade, como capacidade de ajuste a novas circunstâncias; a coerência
e coordenação, que reflete a compatibilidade entre várias políticas governamentais e a
capacidade de coordenação dos atores envolvidos; a qualidade da implementação, como
aplicação efetiva; a consideração do interesse público como norteador das políticas; e a
eficiência na alocação de recursos escassos para assegurar o máximo retorno social das
políticas públicas (STEIN et.al., 2006, p. 130).
Por outro viés, Rua (1998) alerta que a expressão política pública refere-se àquelas
políticas de governo que são públicas, e não privadas ou meramente coletivas, isto é, partem
do poder publico e destinam-se à sociedade em geral. Portanto, não devem ser confundidas
com as ações de empresas privadas, mesmo quando essas tratam de questões que abrangem o
contexto social em seu entorno. Deduz-se da afirmação que a dimensão pública de uma
política não é determinada pelo tamanho do grupo social a que se destina, mas por seu caráter
imperativo. Também que uma característica inerente à política pública é que essa emana de
decisões e ações embasadas na autoridade concedida pelo poder público a diferentes policy
makers, tema abordado na seção 2.5.
Em síntese, as definições, categorias e nuances sobre políticas públicas apresentadas
nesta seção, de diferentes autores e enfoques, são convergentes ao demonstrarem a
complexidade que envolve a política pública, tendo em vista que envolvem uma cadeia com
grande número de variações possíveis, oriundas de decisões tomadas em diferentes momentos
pelos policy makers, sob influência de diversos indivíduos, grupos e organizações,
governamentais ou não. Na subseção que segue é complementado o estudo da política pública
com a análise dos ciclos em que essa pode ser dividida, a fim de facilitar a compreensão.

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3.4.1 O ciclo da política pública

A atividade política de um governo constitui-se, em parte, na busca por satisfazer as


demandas que lhe são encaminhadas: externamente por atores sociais, e internamente, por
meio dos atores estatais. Ao mesmo tempo, busca articulação de apoio – ou respaldo político
– para responder a estas demandas (DYE, 2005; HOWLETT; RAMESH, 2003; MARQUES,
2006; SOUZA, 2006; RUA, 1998).
Como mencionado na introdução deste estudo ressalta-se − na visão dos autores
citados no parágrafo anterior – que é por meio do processamento de demandas que se procede
à resolução pacífica de conflitos, inerentes às sociedades, o que justifica a existência da
política, dos políticos e das instituições políticas.
De acordo com Rua (1998), existem três tipos básicos de demandas: as novas, as
recorrentes e as reprimidas. As demandas novas originam-se do surgimento de novos
problemas ou da entrada de novos atores no sistema político. Os ‘novos’ atores são aqueles
que, embora já existissem, não estavam organizados de forma a pressionar o sistema político
em favor de suas demandas.
As demandas recorrentes são originadas por problemas pré-existentes, que não foram
resolvidos ou que tiveram soluções insatisfatórias, retornando constantemente para o debate
político e à agenda de governo. As demandas reprimidas abrangem duas situações: os
‘estados de coisas’ ou as ‘não-decisões’. Os ‘estados de coisas’ são situações incômodas para
certos grupos por um longo período de tempo e que geram insatisfação, mas que não são
prioridade para o tomador de decisão política (FREY, 2000; RUA, 1998).
A situação de ‘não-decisão’ refere-se a questões que foram incluídas na agenda
política, porém sua evolução no processo decisório é emperrada, ou por que seu conteúdo
ameaça interesses de grupos com força política, ou por que vão contra valores caros à
sociedade. Apesar de incluídas no ciclo da política pública, não avançam para a etapa seguinte
(HOWLETT; RAMESH, 2003; RUA, 1998).
Estudiosos buscaram simplificar o entendimento de políticas públicas. Harold
Lasswell, nos anos 20, estabeleceu um método pioneiro para esse propósito: a divisão do
processo político em etapas sucessivas, no total de sete subdivisões do ciclo político
(DENHARDT, 2004). O modelo inicial de Lasswell (1971, apud DENHARDT, 2004) foi
aprimorado por abordagens propostas por outros estudiosos.

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Apresenta-se no quadro 4 uma síntese comparativa dessas abordagens por meio de três
enfoques: o de autores pioneiros no campo (JAMES; ANDERSON, 1984 apud HOWLETT;
RAMESH, 2003); o de um autor do tema no Brasil (FREY, 2000); e autores estrangeiros
contemporâneos (HOWLETT; RAMESH, 2003).

Autor da Proposição
James e Anderson Frey Howlett e
(1984) (2000) Ramesh (2003)
Nomenclaturas Percepção e
Reconhecimento do Montagem da
propostas 1° definição de
problema agenda
problemas
para os Montagem de Formulação da
estágios 2° Proposta de solução
agenda política
da Elaboração de
3° Escolha da solução Tomada de decisão
programas e decisão
Política
Efetivação da Implementação de Implementação da
Pública 4°
solução políticas política
Monitoração dos Avaliação e eventual Avaliação da

resultados correção da ação política
Quadro 4 – Comparativo da nomenclatura dos estágios da política pública, por autor
Fonte: baseado em HOWLETT; RAMESH (2003) e FREY (2000).

Mediante exame das classificações do quadro 4, constata-se que não existem variações
significativas entre as mesmas, tratando-se mais de escolhas semânticas dos autores que de
visões divergentes acerca das etapas do ciclo político. Frey (2000) atribui as variações nas
divisões do ciclo de política pública encontrada na bibliografia do tema a diferenças
superficiais e identifica uma base comum a todas, constituída pelas fases da formulação, da
implementação e do controle.
Ainda segundo Frey (2000, p. 226), o ciclo da política pública é o principal elemento
constitutivo da policy analysis, considerado seu “caráter dinâmico” em um contexto complexo
per se, que varia de acordo com a pluralidade de atores envolvidos, as redes formadas por
esses atores e a segmentação em distintas arenas em função do tipo específico de política em
questão (e.g.: é provável que o ciclo de uma política de saúde epidemiológica varie
comparativamente ao ciclo de uma política de segurança nacional. O primeiro pressupõe, pela
natureza do problema, agilidade no agir. O segundo, pelo mesmo motivo, demanda estudos e
ponderações que alicercem uma política integrada e bem sucedida).
Adotou-se o modelo proposto por Howlett e Ramesh (2003), que sintetizam o trabalho
de diversos autores, como exposto na figura 8,

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CICLO DA
POLÍTICA PÚBLICA

Figura 8 – O ciclo da política pública e suas etapas.


Fonte: baseado em HOWLETT; RAMESH (2003).

A sequência de estágios resultante é denominada pelos autores o ciclo da política


pública, cuja decomposição em unidades menores de análise facilita o entendimento e a visão
do todo (ABELSON, 2006; FREY, 2000; HOWLETT; RAMESH, 2003; MARQUES, 2006;
SOUZA, 2006).
Operacionalmente, o princípio “subjacente à noção do ciclo da política é a lógica da
resolução aplicada de problemas” (HOWLETT; RAMESH, 2003, p. 14, grifo no original).
Para Souza (2006, p. 4), tal como é visto atualmente, o ciclo da política pública “é um ciclo
deliberativo, formado por vários estágios e constituindo um processo dinâmico e de
aprendizado”.
A divisão da ação governamental em fases revela-se “[...] um modelo heurístico
bastante interessante para a análise da vida de uma política pública. As várias fases
correspondem a uma seqüência de elementos [...]” (FREY, 2000, p. 226) e a divisão em
estágios permite que uma política seja estudada como um todo, ou que cada uma de suas fases
seja analisada de forma separada, por diversos enfoques. Descreve-se cada um dos ciclos
representados na figura 8, a seguir:

a)- Montagem da Agenda: é o reconhecimento oficial, pelo governo, de um problema como


um problema público, que demanda uma ação sobre o mesmo (HOWLETT; RAMESH,
2003). Para que os policy makers percebam um fato como problema político muitas vezes é

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necessária a intervenção de grupos de pressão ou da administração pública, que trazem essas


demanda à discussão na arena política. A mídia também contribui para que um problema
detectado seja dotado de relevância política, em face da extensão de cobertura e ênfase dada
ao assunto específico (FREY, 2000).
De modo geral, estes problemas diversos possuem, no mínimo, uma das seguintes
características, segundo Howlett e Ramesh (2003):
i)- afetam de modo direto uma grande parcela da população;
ii)- são problemas de compreensão e resolução simples;
iii)- para sua resolução o problema terá que ser alvo da atenção contínua da mídia em algum
momento
Nesta etapa, para Howlett e Ramesh (2003, p. 122), os tomadores de decisão não
reagem “a condições objetivas de maneira racional [...] ao contrário, os policy-makers, da
mesma forma que o público, estão envolvidos nos mesmos discursos e manipulação de
símbolos, atos e cenas de um jogo ou teatro político”.
b)- Formulação: é o segundo estágio do ciclo das políticas públicas, no qual o tomador de
decisão política analisa a relação custo versus benefício de se optar por um curso de ação em
detrimento de outras opções possíveis.
A peculiaridade deste estágio reside na percepção das necessidades existentes na
sociedade e na escala de importância atribuída a essas necessidades, pois a formulação de uma
política implica a avaliação das soluções viáveis para o enfrentamento dos problemas
políticos. As alternativas podem surgir do próprio processo de montagem da agenda – “na
medida em que um problema e sua solução chegam simultaneamente à agenda do governo”
(KINGDON, 1984 apud HOWLETT; RAMESH, 2003) – ou também podem desenvolver-se
após a assunção de uma issue na agenda oficial. Após consideração das opções disponíveis
ocorre a redução dessas àquelas consideradas factíveis pelos policy makers. Para Howlett e
Ramesh (2003) esta ponderação, que determina se uma opção seguirá em pauta ou será
rejeitada, é a síntese desse estágio no ciclo da política pública.
c)- Tomada de decisão: nesta etapa há a definição de um curso de ação para a resolução do
problema público em jogo, a partir de um número agora mais reduzido de opções políticas
viáveis. De acordo com Howlett e Ramesh (2003, p. 186), “essa definição ressalta o fato de
que diferentes tipos de decisão podem resultar de um processo decisório”. A decisão tomada
pode adquirir um sentido positivo, quando altera um status quo que gerava insatisfação, ou
podem ser consideradas “negativas”, se falham em fazê-lo.

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Na tomada de decisão percebe-se que o processo decisório não é um exercício


meramente técnico, mas eminentemente um processo político: assim como valores (dos policy
makers, dos atores sociais e políticos) condicionam a definição do que é um problema que
requer a intervenção do poder público para sua resolução, também a escolha de determinadas
soluções, numa gama de opções possíveis, são feitas com base em análises valorativas e
predominam algumas opções em detrimento de outras, em função dos valores que envolvem a
questão.
Howlett e Ramesh (2003, p. 186) chamam a atenção para o fato de a tomada de
decisão gerar tanto ‘ganhadores’ quanto ‘perdedores’, haja vista impossibilidade de se tomar
uma decisão que atenda ao interesses de todos os grupos sociais, ainda quando a decisão é de
não fazer nada, mantendo-se o status quo. Todos os esforços dos think tanks culminam nesta
etapa, pois o poder de influenciar o rumo de uma decisão política é a própria razão de
existência desses institutos (ABELSON, 2006; RICH, 2006; STONE; DENHAM, 2004).
d)- Implementação: estágio em que é colocada em prática decisão tomada anteriormente, ou
dito de outro modo, é o estágio do ciclo político, “onde as decisões políticas são
transformadas em ação” (HOWLETT; RAMESH, 2003, p.186). Neste estágio ocorre a
transformação definitiva de plano em prática, e para que isso ocorra, é essencial a participação
da burocracia, seja para alocar recursos, licitar serviços, gerenciar contratos, executar
diretamente a implementação etc.
O estagio da implementação da política pública em geral envolve diversos órgãos
burocráticos em diferentes níveis de governo. Cada um desses órgãos possui interesses e uma
cultura organizacional própria, e “de algum modo afetam o processo de implementação e dão
forma a seus resultados” (HOWLETT; RAMESH, 2003, p.188).
Os políticos exercem um papel importante como tomadores de decisões que dão
origem a ações deste estágio, mas a execução das rotinas administrativas, as atividades e os
procedimentos demandados pela etapa é encargo dos servidores públicos – conhecidos
genericamente como burocracia – que implementam as políticas públicas (SOUZA, 2003).

e)- Avaliação da política pública: no geral é o estágio do ciclo onde se pode verificar o
impacto real de uma determinada política na realidade sobre a qual se pretendia agir, pois
permite comparar aquilo que se pretendia alcançar quando da formulação com o que foi
efetivamente obtido. Envolve a analise dos meios utilizados e dos objetivos alcançados.
Um grave problema enfrentado nesta etapa é a inexistência de critérios fixos do que se
considera como ‘sucesso’ ou ‘fracasso’, aplicável a qualquer contexto e tempo, tornando-se

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um gargalo no estudo do ciclo da política pública, ao não permitir comparações entre ações
empreendidas em períodos distintos. A falta de padronização a este respeito permite que uma
dada política possa ser considerada um sucesso ou um fracasso, dependendo do ponto de vista
do avaliador (DENHARDT, 2004; HOWLETT; RAMESH, 2003; MARQUES, 2006;
MATIAS-PEREIRA, 2008).
Para minimizar este problema Howlett e Ramesh (2003, p. 207, grifo nosso) sugerem
que uma política deva ser avaliada partindo-se da “eficácia [da] política pública em termos
das intenções percebidas e seus resultados”. Após a avaliação, se uma política é considerada
insuficiente, os problemas e soluções que ela envolve podem ser totalmente repensados.
Nesse caso, a issue pode retornar para a formação da agenda ou para algum outro estágio do
ciclo, ou então se decide pela manutenção do status quo, caso não de disponha de alternativas.
Quanto ao tipo de análise feita na etapa da avaliação, encontram-se, de forma sintética,
dois tipos principais de avaliação: de processo e de impacto. A avaliação de processo estuda a
fase de implementação de uma determinada política ou os resultados de uma política já
realizada. Ambas são ex-post – ocorrem durante e depois da fase de implementação. A
avaliação de impacto, ex-ante, compreende o cálculo do custo-benefício e do custo-eficácia de
uma política, antes que essa seja posta em prática. (COHEN; FRANCO, 1994).
Uma questão importante levantada por Howlett e Ramesh(2003, p. 15) diz respeito ao
encadeamento das etapas subjacentes ao modelo, pois “muitas vezes, não existe a progressão
linear da policy making que o modelo implica”, uma vez que cada ‘elo’ representado por uma
fase do ciclo da política pública pode desencadear a formulação de uma política futura, sem
que tenha previamente existido a montagem da agenda, por exemplo.
Encerra-se esta seção, que tratou dos ciclos que compõem a política pública, passando
em seguida para a análise dos atores relevantes que influenciam este ciclo.

3.4.2 Atores relevantes em política pública

Sintetizando o que foi tratado anteriormente, a política diz respeito ao conjunto de


procedimentos governamentais, cujo propósito é resolver pacificamente as disputas sociais
acerca da alocação de recursos públicos, o que é feito por meio de políticas públicas. Nesta
seção são analisados os atores sociais com acesso à arena política e que intervêm, em maior
ou menor grau, no ciclo das políticas públicas.

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Toda sociedade possui um amplo conjunto de atores “dotados de instrumentos de


poder que disputam os resultados do processo político em termos da distribuição de benefícios
escassos, assim como de poder político” (MARQUES, 2006, p. 17). Existem muitas maneiras
de classificar os atores relevantes em política pública, e deste modo torná-los conhecidos.
São apresentadas algumas classificações para ilustrar as diferentes abordagens ao
assunto e da amplitude de considerações que envolvem o estudo desses atores. Antecipa-se
que a classificação adotada neste trabalho é a que propõem Howlett e Ramesh (2003) que será
exposta na continuação.
Na proposição de Rua (1998) distinguem-se dois grupos principais de atores
relevantes em política: atores públicos e atores privados. Os primeiros se caracterizam pelo
exercício de funções públicas e compõem, grosso modo, duas categorias distintas – os agentes
eleitos (cuja posição resulta de um mandato eletivo) e os membros da burocracia (servidores
públicos de carreira). Já o segundo grupo, mais diversificado, é composto por organizações
privadas e seus empresários, os trabalhadores, os agentes internacionais (organismos como a
ONU, o FMI, etc.) e a mídia em geral.
Outra contribuição na mesma linha é dada por Stein et. al. (2006), que classificam os
atores atuantes no ciclo da política pública em duas categorias: os atores formais e os atores
informais. São atores formais aqueles cuja participação e funções na policy making são
estabelecidas formalmente por meio de leis (e.g. os partidos políticos, os tribunais, a
burocracia, o congresso, entre outros). São considerados atores informais todos os demais
atores que participam do processo, e que muitas vezes exercem uma influência fundamental
no ciclo político, a despeito de não possuírem, a priori, um papel formalmente identificado
(e.g. os movimentos sociais, as organizações, os think tanks, os meios de comunicação, etc.).
Um aspecto relevante ligado aos atores que influenciam a política pública é sua
interação com as instituições. Atores e instituições existem em um regime de mutualismo,
pois uma categoria não só depende da outra, como pode passar a existir em função dela.
Como se abordou anteriormente, os mecanismos de intervenção estatal podem auxiliar na
formação de grupos de interesse: exemplifica-se esta relação no país por meio da atuação da
OAB – Ordem dos Advogados do Brasil.
Conselho de classe que regulamenta e autoriza o exercício da profissão de advogados
no Brasil, a OAB exerce na atualidade um relevante papel político: pode liderar movimentos
sociais de repúdio a medidas de qualquer um dos três poderes; impetra ações cíveis contra
medidas consideradas inconstitucionais (em desacordo com a Lei Magna do Brasil) etc.

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A atuação da OAB como ator político, pode alterar o rumo de algumas políticas
públicas, pois, segundo Aragão (1994, p. 62), a OAB “frequentemente opina e influencia o
andamento de projetos de lei em debate no legislativo, tratando de aspectos políticos sociais e
jurídicos”. Exemplifica-se assim como a interação Estado/atores pode influenciar os processos
e os resultados de uma política pública.
Como se afirmou no início desta subseção, escolheu-se a classificação dos atores que
compõem o universo da política proposta por Howlett e Ramesh (2003) por sua abrangência.
A abordagem dos autores ao assunto é ampla e elucida não somente os atores relevantes para
o ciclo das políticas públicas, mas também as diferentes interações entre eles. Para designar
todos os possíveis elementos que integram a relação entre atores, os autores do campo
desenvolveram, segundo Howlett e Ramesh (2003, p.54) um termo abrangente, o universo da
política, “[...] que contém todos os possíveis atores e instituições – internacionais; estatais e
sociais – que, direta ou indiretamente, afetam uma política específica”.
Entender os atores envolvidos e suas interações torna-se, por conseguinte, um aspecto
essencial à compreensão do processo que ocorre no universo da política. Igualmente
importante é a noção de que fatores institucionais moldam a forma com que indivíduos,
grupos e classes perseguem e defendem seus interesses (ABELSON, 2006; FREY, 2000;
HOWLETT; RAMESH, 2003, MARQUES, 2006).
Segundo os autores existem vários sistemas no universo da política pública − espaços
propícios para a discussão e exercício da persuasão entre atores − onde são discutidas e
barganhadas as questões políticas, conforme os interesses dos grupos.
Ainda de acordo com os autores, no sistema interno dos Estados encontram-se os
seguintes atores que influenciam − ou podem influenciar − o ciclo das políticas públicas:
a)- os atores estatais: que são os servidores concursados, os servidores eleitos e os servidores
nomeados;
b)- os atores políticos: engloba o público em geral, os think tanks, os partidos políticos, as
empresas de comunicação de massa e os grupos de pressão.
Os atores ou grupo de atores citados interagem constantemente na busca da defesa dos
seus interesses, e muitas vezes “abrem mão ou modificam seus objetivos em troca da
concessão de outros” (HOWLETT; RAMESH, 2003, p. 63). Dito de outro modo, os grupos
fazem entre si trade offs – abrem mão de um benefício em troca de outro, que julgam ser mais
conveniente. Para Rawls (2007, p. 110) é essa dinâmica que explica a possibilidade
diferenciada de captura de benefícios no contexto pluralista, uma vez que “os membros de

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uma sociedade [...] não são indiferentes quanto ao modo como os benefícios produzidos pela
sua cooperação são distribuídos”. Os que produzem mais tentam defender-se dos mecanismos
de redistribuição estatal da riqueza gerada e para isso realizam trade offs, por exemplo,
abrindo mão de certos posicionamentos públicos em troca de vantagens nem sempre
divulgadas.
Howlett e Ramesh (2003) apresentam de forma gráfica a síntese dos atores relevantes
em política pública, como explicita a figura 9,

Figura 9: O subsistema de política pública


Fonte: adaptado de Howlett e Ramesh, 2009, p. 84.

De modo geral, a “literatura sobre política pública preferiu focalizar as atividades


domésticas dos estados e tratar a esfera internacional como uma condição externa, à qual os
atores políticos respondem, e não como uma parte integrante do processo político”
(HOWLETT; RAMESH, 2003, p. 55). Mas o que se verifica na realidade atual é que, cada
vez mais, os Estados nacionais são moldados por forças globais, isto é, pelo sistema
internacional, que passa a integrar o universo da política pública dos países, como
representado na figura 10 (FARIA, 2006; FREY, 2000; HOWLETT; RAMESH, 2003;
MATIAS-PEREIRA, 2008).
Howlett e Ramesh (2003) afirmam que, embora a composição básica do universo da
política pública seja a mesma em todos os países, há uma imensa variedade de atores e
62
63

instituições, cuja composição varia entre países e também em função do tempo. Por
consequência, pode-se dizer que os sistemas internacionais não afetam de maneira igual todos
os países. As interações entre atores ocorrem no contexto dos diversos arranjos institucionais
que permeiam o processo político e isto afeta o modo pelo qual os atores perseguem seus
interesses e idéias e o grau de sucesso obtido com seus esforços (HOWLETT; RAMESH,
2003, p. 54).

A rede da política é o ‘núcleo duro’ de uma política específica: engloba os atores e


instituições que ultrapassam a esfera do discurso, passando à ação, e por este motivo estão
diretamente envolvidos com a mesma. Permeando esta rede de interesse de uma política, em
torno da qual se constroem os subsistemas e sistemas do universo da política, encontram-se as
comunidades de discurso. Para Dryzek (2006, p. vi), discursos são conjuntos de conceitos,
categorias e idéias que “fornecem meios de entender e agir no mundo, quer estejam ou não
cientes de sua existência, aqueles que os endossam”. O autor assevera que a maior parte dos
principais conflitos e rupturas existentes no mundo de hoje podem “ser interpretados em
termos de discursos divergentes” (op. cit.).

Na análise do discurso dos atores sociais encontra-se o conceito de formação


discursiva, postulado por Foucault (2008). Formações discursivas, para o autor, designam o
conjunto de enunciados que podem ser associados a um mesmo sistema de regras
historicamente determinadas (op. cit.). Uma formação discursiva possui dois aspectos: por um
lado há a concepção de delimitação (é por meio do contraste entre formações discursivas
distintas que se distingue a unidade em torno de um discurso); e a concepção interdiscursiva,
segundo a qual um discurso depende da existência de outros discursos para existir, pois sua
justificativa é precisamente a falta de unanimidade entre os diversos discursos: fossem esses
unânimes, não haveria razão para existirem.
Foucault (2008) apresenta a análise do discurso político como uma ferramenta para
que se possa compreender a relação entre as práticas discursivas de uma sociedade em um
determinado tempo, e as forças envolvidas no contexto do discurso, isto é, os atores que
buscam o poder por meio do discurso. Assim, o discurso “não é simplesmente aquilo que
traduz as lutas ou sistemas de dominação, mas aquilo pelo que se luta, o poder de que
queremos nos apoderar” (FOUCAULT, 2008, p. 19).
É com base na concepção de Foucault sobre a ordem do discurso que Howlett e
Ramesh (2003, p. 123) distinguem os atores relevantes em políticas públicas, pois os que
“participam com mais frequência e mais diretamente no processo político fazem parte de
63
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redes de interesse e os que estão envolvidos em menor grau pertencem a comunidades de


discurso”. Dito de outro modo, os primeiros são protagonistas no cenário político e fazem
parte do núcleo central da política pública, enquanto os segundos exercem papeis secundários,
situando-se na periferia da arena política, como exposto na figura 9.
As contribuições conceituais e teóricas fornecidas por estudos sucessivos da atuação
dos atores que formam o universo da política convergem nos seguintes pontos: relevam o
papel crítico dos diferentes atores nos processos e resultados das políticas públicas; examinam
a interação entre atores; analisam a forma como os atores são condicionados por instituições;
e destacam a estrutura de idéias e crenças na qual todos os atores encontram-se inseridos.
Pondera-se que a identificação dos atores – sociais, estatais, políticos etc. − envolvidos
em uma política pública é uma tarefa árdua. O que dificulta a percepção dos atores envolvidos
em um subsistema específico é a variabilidade das situações a serem analisadas: não é fácil
perceber quais atores se envolvem em cada processo.
Na opinião de Rua (1998), o método mais simples e eficaz para identificar os atores
atuantes em uma política pública é mapear quais atores possuem interesse na política em
questão, isto é, quem tem algo a ganhar ou a perder com a política em análise. Torres (2005,
p. 31), por sua vez, propõe que a análise dos atores relevantes em políticas públicas destaque
“quem lucra, quem paga, quem se beneficia” com uma política, tanto do ponto de vista dos
indivíduos, quanto das instituições.
Ambas as proposições vão ao encontro do que preconiza o modelo analítico da teoria
de grupos e seu caráter pluralista, pois esse modelo assume como princípio que os atores se
equivalem, isto é, que todo ator tem a possibilidade de obter do sistema político uma decisão
favorável a sua demanda, conforme sua capacidade e disposição para defender seus interesses
e enfrentar a disputa travada na arena política.
Importa relevar que a despeito do arcabouço que envolve instituições, sistemas e atores
no ciclo da política pública, o fator-chave para o êxito dos indivíduos como atores políticos,
apontados por Court e Cotterell (2004) são as condições criadas para que os cidadãos possam
expressar suas opiniões, competir por influência no processo político e se organizarem para a
ação coletiva, isto é, participarem efetivamente da práxis, contribuindo com o Estado na co-
produção do bem público, como se desenvolverá nas próximas seções.

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3.5 Administração pública

De maneira simplificada resgata-se o conteúdo das seções anteriores: grande parte da


atividade política de um governo se destina à tentativa de satisfazer as demandas sociais que
lhe são dirigidas por atores que compõem o universo da política pública, na mediação das
situações de conflito de interesses entre demandas de grupos distintos e na articulação de
apoio junto à sociedade para suas decisões. Faz-se a conexão com o que afirmou-se na
contextualização deste capítulo sobre a centralidade do Estado nas sociedades ocidentais
modernas, pois do Estado originam-se: as instituições normativas formais, a estrutura legal
que norteia a sociedade e ao próprio Estado e a administração pública, sobre a qual versa esta
seção.
Antecipa-se que a administração pública não será analisada neste trabalho pelo viés
tradicional, descrito por Denhardt (2004), que trata da dicotomia administração versus
política. Esta visão dicotômica do campo tem origem nos EUA, país responsável por grande
parte dos estudos e da produção acadêmica sobre a administração pública (op. cit.). O embate
entre a visão de Woodrow Wilson (1887) do ‘governo como negócio’ (visão administrativa do
campo) em contraste com o foco de Dwight Waldo (1948) na ‘administração democrática’
(visão política do campo), carece de sentido: ambos têm razão. A administração pública une a
administração com a política, logo não há dicotomia, nem motivo para insistir na abordagem.
A visão de administração pública esposada nesta dissertação é a proposta por
Denhardt (2004). Sinteticamente, o autor entende que a administração pública deve ser vista
como processo, sem o foco excessivo na estrutura que a permeia. Principalmente, propõe o
autor que o caráter público deste processo deve ser ressaltado, já que envolve a prestação de
serviços e o fornecimento de bens à sociedade.
Para Matias-Pereira (2008, p. 110), a administração pública é “o aparelho de Estado
organizado com a função de executar serviços, visando à satisfação das necessidades da
população”. Evidencia-se na concepção do autor que a administração pública encontra-se
contida no âmbito do Estado, e assim “é pertinente ressaltar que a idéia de [...] Estado precisa
estar apoiada na defesa deste enquanto coisa pública, na qual o patrimônio deve ser de todos e
para todos, atendendo à demanda dos cidadãos” (ibid., 2008, p. 4, grifo nosso).
Consequentemente, o autor argumenta que a constituição de princípios administrativos
norteados por esta visão é essencial para orientar a ação e o desenvolvimento da
administração pública.

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66

Gélédan e Brémont (1988, p. 147) asseveram que a administração pública compreende


o “conjunto das unidades institucionais em que a principal função é produzir serviços não
mercantis destinados a todos [...] ou efetuar operações de repartição do patrimônio nacional”.
Os autores apontam também que, na administração pública, as fontes de recursos provêm de
cobranças coercitivas, como impostos e tarifas (op. cit.).
Para Howlett e Ramesh (2003) o foco da administração pública volta-se à forma
interna de organização das instituições públicas e no modo como se relacionam umas com as
outras. Outro ângulo de análise é o dos princípios que embasam a atividade da administração
pública no Brasil. São princípios definidos constitucionalmente, a saber: legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Estes princípios correspondem a uma
declaração dos valores que norteiam a administração pública, pois regem a ação cotidiana dos
agentes públicos (DALLARI BUCCI, 2006).
Abordando o assunto por outro aspecto, Mezzomo Keinert (2007) considera que
compreender a administração pública brasileira envolve o entendimento do que é serviço
público e quais as possibilidades e as restrições sofridas por seu corpo funcional, uma vez que
os servidores são limitados a fazer apenas o que a lei permite ou obriga. Em outras palavras, a
autora ressalta que o poder discricionário do corpo burocrático possui limites legais que
restringem sua capacidade de ação do ponto de vista da política pública.
Em sentido contrário ao exposto, Dallari Bucci (2006, p. 12) argumenta que a lei
brasileira não inibe totalmente a atuação administrativa, pois deixa “certa margem de
liberdade de decisão diante do caso concreto” para a administração pública, nas situações em
que há a possibilidade de escolha entre cursos de ação. O administrador público (eleito ou
não) detentor de autoridade “poderá optar por uma dentre várias soluções possíveis, todas
válidas perante o direito” (DALLARI BUCCI, 2006, p. 12, grifo da autora). Sinteticamente, a
autora afirma que a discricionariedade da administração pública reside no poder que o
administrador público possui de escolher entre as alternativas admitidas pela lei.
Tratada nos parágrafos anteriores, a questão da discricionariedade na administração
pública do país é essencial do ponto de vista do objeto de estudo, os think tanks. Como será
demonstrado na seção 2.6, os institutos de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas
divulgam os resultados de suas pesquisas e estudos amplamente pela sociedade, mas focam
sua atuação junto ao policy maker, com poder de escolha e decisão. Como consequência dos
argumentos apresentados, pondera-se que o foco da atenção dos think tanks não se restringe

66
67

aos representantes eleitos, mas englobam todo o conjunto de servidores em posição de, nos
limites da lei, fazerem escolhas relativas à política pública.
Outra análise, feita por Loureiro (1998), aborda a necessidade de clareza e
entendimento do processo de delegação na administração pública, que envolve uma cadeia
delegativa de poder, que se desenvolve a partir da tríade cidadão−político−burocrata, e a
respectiva prestação de contas dos dois últimos, a posteriori, à sociedade. Esta análise ressalta
a necessidade de transparência na administração pública e destaca sua função social de servir
à sociedade.
A administração pública brasileira, na visão clássica, divide-se em administração
direta e indireta. A primeira corresponde à burocracia tradicional, com um corpo de servidores
públicos de carreira lotados em órgãos da administração direta, como secretarias de Estado,
por exemplo; já a segunda, dotada de um modelo de gestão que confere às instituições um
ligeiro acréscimo em sua autonomia se aproxima mais dos moldes de atuação das empresas
privadas, como, por exemplo, as fundações públicas e as autarquias.
Para Abrucio (1997), essa divisão nítida encontra-se superada, como resultado da
necessidade de adequar respostas administrativas às especificidades do Brasil e à
multiplicidade das necessidades de sua população. Para o autor, existe grande diversidade
organizacional no setor público nos dias de hoje. Na mesma linha de argumento, Mezzomo
Keinert (2007, p. 107) afirma que a administração pública no Brasil não se limita, como
antigamente, ao aparelho estatal (suas instituições) e à burocracia pública (seu corpo
funcional).
Interpreta-se o argumento dos autores no seguinte sentido: face ao aumento das
demandas sociais, que o Estado não tem condições materiais de atender, a administração
pública moderna passa a englobar também outros atores, envolvidos com questões públicas.
Cita-se como exemplo as Organizações Sociais – OS entidades privadas com as quais o poder
público firma contratos de gestão para a prestação de serviços públicos.
Atribui-se esta ampliação do campo da administração pública, já não mais restrito à
burocracia governamental e suas instituições (diretas ou indiretas), ao incipiente, porém,
consistente fortalecimento, por um lado, da sociedade civil organizada e, por outro, da noção
de cidadania − ambos efeitos da redemocratização do país na década de 80.
A sociedade civil organizada integra o sistema político como esfera distinta do Estado
e do mercado e é uma parte importante desse sistema, pois constitui um espaço de construção
de cidadania, no qual as pessoas podem se familiarizar com assuntos públicos que lhes dizem

67
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respeito; inteirar-se sobre como as regras adotadas na esfera pública afetam seus interesses;
promover a articulação de interesses comuns a certos grupos.
Dito de outro modo, o exercício da cidadania decorre da integração dos diversos atores
e instituições que via sociedade civil organizada participam, direta ou indiretamente, na
formulação e execução de políticas públicas, ainda que estas sejam em última instância de
responsabilidade da administração pública e de seus representantes, eleitos ou não. Em termos
de esquema diagramático, poderia ser resumido o que se tratou anteriormente na figura 10:

Figura 10: Representação do universo das organizações públicas


Fonte: adaptado de Calliraux; Yamashita (2004).

Para Denhardt (2004), a visão das organizações públicas como organismos


comprometidos com a busca de valores sociais publicamente definidos impõe a seus
integrantes (corpo burocrático e representantes eleitos) um fardo adicional, que não é
compartilhado pelos demais membros de uma sociedade: o fardo do dever de atuar sempre em
conformidade com as normas da democracia e do Estado de Direito13.

13
“O Estado de Direito supõe o respeito das leis pelos dirigentes, que não podem alterá-las
arbitrariamente” (DIREITO et al., 1971, p. 9).
68
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Segundo esta visão, os administradores públicos devem ajudar a garantir que os


compromissos políticos fundamentais da sociedade sejam propagados, expandidos e, em
parte, eles devem fazê-lo com o exemplo de seu próprio trabalho (DENHARDT, 2004).
Por esta razão, segundo o autor, o estudo da administração pública deve abranger não
somente a teoria social, mas também a teoria política e a teoria administrativa, buscando a
compreensão de como as organizações públicas contribuem para o crescimento de uma
sociedade democrática e a efetiva consecução deste objetivo (op. cit.). Confirma-se,deste
modo, o que foi colocado no início da seção, sobre prescindir da dicotomia clássica que
costuma orientar o estudo da administração pública.
Theodore Lowi (1972 apud HOWLETT; RAMESH, 2003) expôs a máxima que
constitui um dos principais modelos de análise de políticas públicas e a relaciona com a
administração pública e as políticas públicas: “é a política pública que faz a política” (policy
makes politics). Por meio desta máxima, Lowi (op. cit.) explicita o fato de que cada política
pública será apoiada ou rejeitada por determinados grupos sociais e que uma disputa envolve
a decisão ‒ que apesar de circular por diversas arenas de debate ‒ será sempre uma atribuição
do Estado, na forma da administração pública e suas organizações.
Finalizando esta seção, que buscou abordar por outros enfoques, distintos da visão
predominante, o estudo da administração pública e com base no que se evidenciou no
parágrafo anterior, resgata-se, como um lembrete, o forte impacto que as organizações
públicas têm sobre seus membros (muitas vezes negativos, devido as normas rigorosas e
dever de obediência à uma hierarquia rígida, mas não necessariamente justa, o que pode levar
os indivíduos a alienar-se do objetivo de seu trabalho, que é servir à sociedade), e devido a
importância dos serviços prestados por essas, o efeito que exercem sobre nossas vidas. Ao
tratarmos desse assunto, é mister fazê-lo de forma inteligente (DENHARDT, 2004).
Subjacente à administração pública e às políticas públicas encontram-se os conceitos
de governança e de accountability, que são abordados a seguir.

3.5.1 Governança e accountability

Os conceitos apresentados nesta seção não são novos, embora apenas em anos mais
recentes, na medida em que entravam na ordem do discurso (vista anteriormente na seção

69
70

3.4.2), passaram a ser compreendidos e a fazer parte do cotidiano e das demandas de algumas
parcelas da sociedade brasileira.
A palavra governança, cada vez mais utilizada, exprime um sistema pelo qual as
sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo seus stakeholders diretamente no
monitoramento de suas ações e dos resultados alcançados, quer se trate de instituições
públicas ou privadas. As boas práticas de governança têm como finalidade aumentar o valor
percebido da instituição, contribuir para a sua perenidade e legitimidade junto à sociedade.
Sucintamente, O´Donnell (1999) define a governança como a capacidade de gestão
estatal. Na visão de Frey (2000), a governança é a capacidade que um determinado governo
tem para formular e implementar as suas políticas para consecução de metas coletivamente
estabelecidas, baseadas em um programa de governo legitimado por uma eleição livre e
democrática.
Implícito no conceito de governança, esta a noção da accountability, que é uma das
finalidades da avaliação de políticas públicas, significando estabelecer elementos para julgar e
aprovar decisões, ações e seus resultados, haja vista que facilita a responsabilização do gestor
ou agente público tanto pela tomada de decisões como por sua implementação, obrigando-o a
prestar contas de suas ações, assim como de possíveis omissões que tenham ocorrido
(SOUZA, 2006).
Na visão de Matias-Pereira (2008, p. 69), a palavra accountability pode ser
considerada como “o conjunto de mecanismos e procedimentos que levam os decisores
governamentais a prestarem conta dos resultados de suas ações, garantindo maior
transparência e a exposição das políticas públicas”. Sinteticamente, para Silva (2002, p. 37), a
accountability refere-se “[...] à ampliação da transparência e da responsabilização na ação
pública”.
Feita a síntese dos conceitos anteriores, pode-se admitir que a accountability é
definida no campo de política pública como a capacidade institucional das organizações
públicas de oferecer respostas, no sentido de transparência de informações e das ações
empreendidas para a sociedade e da responsabilização dos agentes públicos sobre o resultado
dessas ações.
O conceito de Governança Pública foi introduzido pelo Banco Mundial na década de
80, a fim de evidenciar, no contexto de crescimento liderado pelo mercado, a necessidade de
formas de regulação públicas transparentes, instituições políticas democráticas e legítimas e
de uma administração pública eficiente, eficaz e responsável (HALDENWANG, 2005).

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71

Na década de 90, este conceito foi adotado, com enfoque expandido, pelo Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), com destaque para a importância dos
processos de participação política e das organizações da sociedade civil, ressaltando o papel
do Estado na emancipação social e na redistribuição do poder.
Identificaram-se à época quatro dimensões de governança a serem perseguidas:
governança econômica; governança política; governança administrativa e governança
sistêmica. As três primeiras dimensões constituem a estrutura formal da tomada de decisões
no Estado moderno, enquanto a última ressalta o contexto ampliado da ordem social em que
este passa a se inserir, pois prevê mecanismos sistêmicos de ampliação da participação social
(PNUD, 1997).
A necessidade dos mecanismos mencionados surge na medida em que mais e mais
atores se unem ao processo de política pública, tornando cada vez mais difícil o controle das
influências exercidas sobre as ações governamentais por meio de mecanismos tradicionais.
Esta constatação vai ao encontro da análise feita por Frey (2000), que aponta como
consequência do enfraquecimento das atividades dos governos em geral, o ingresso no
processo político de novos atores sociais e de novas formas de articulação na formulação das
políticas públicas, na busca de legitimidade, por um lado, e de maior eficiência das políticas
públicas, por outro. Howlett e Ramesh (2003) também caminham nessa perspectiva,
apontando os possíveis riscos gerados pelo ingresso de novos participantes no processo
político, cujo resultado torna-se imprevisível, se não há transparência e um processo que
permita a identificação dos novos atores por parte dos demais atores e da própria sociedade.
Então, parece viável reconhecer a importância da criação de mecanismos de
accountability, que permitam conhecer quais são os atores (ingressantes ou estabelecidos) que
influenciam efetivamente, ou que tentam influenciar o processo de formulação das políticas
públicas. Por conseguinte, outro assunto a ser tratado é a importância da participação da
sociedade no processo político, que será feito na próxima subseção, de número 3.5.2.
Deriva da colocação anterior a proposição de que o fomento da participação torna-se
uma tarefa fundamental de governo, nas diferentes esferas de poder. Esta proposição se
relaciona com a visão de administração pública proposta por Denhardt (2004) que norteia este
trabalho, como colocado anteriormente na seção 3.5.
Esta perspectiva é corroborada pela afirmação de Frey (2000) de que a governança
implica na necessidade de criação de condições favoráveis à interação entre a pluralidade de
atores sociais, como meio de lidar com a diversidade e a complexidade, que são traços

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72

acentuados das sociedades contemporâneas. Segundo o autor, cabe aos gestores públicos
ocupar-se com o desafio de governar as interações originadas pelo aumento de atores sociais
que participam do processo político, além da solução dos problemas específicos com os quais
são confrontados habitualmente. Uma das formas de minimizar o problema, ainda de acordo
com Frey (2000), é fortalecer a burocracia, em especial dos gestores públicos de carreira,
comprometidos com a manutenção da qualidade da administração pública,
independentemente das flutuações oriundas da movimentação política. Para o autor, deve-se
mobilizar o conhecimento disponível na sociedade em benefício do desempenho da
burocracia, a fim de qualificar e preparar os gestores para estes novos desafios.
Entretanto, embora não se discorde da visão do autor, pondera-se que em sua análise,
apresentada nos parágrafos anteriores, Frey (2000) não considerou dois aspectos fundamentais
da realidade com que lida a maioria dos gestores públicos: os recursos públicos são limitados,
inclusive para o aprendizado e o desenvolvimento do seu corpo técnico; e o horizonte de
análise dos gestores públicos, que em geral é de curto prazo, mesmo quando estes são
servidores públicos de carreira, pois a mencionada alternância política não permite que esses
façam planos consistentes de desenvolvimento e qualificação, para além do tempo
determinado de um governo, uma vez que podem ‒ ou não ‒ ser mantidos na função de
gestores que ocupam no governo.
A despeito de todas as críticas que possam ser feitas (e de fato são) à governança,
quanto à sua viabilidade e aplicabilidade na prática, é importante demonstrar, como salientam
Heidemann e Kissler (2006, p.494, grifo nosso) que “o êxito da governança pública depende
da habilidade estratégica dos atores participantes [...]”. Assevera-se que tão somente para a
manutenção do status quo não se necessita de administradores públicos reflexivos, capazes de
agir sobre uma situação no intuito de promover melhorias. Na mesma linha, Dahl (2001, p.
93, grifo do autor) argumenta que as oportunidades propiciadas aos cidadãos de adquirirem
“uma compreensão esclarecida das questões públicas não são apenas parte da definição de
democracia. São a exigência para se ter uma democracia”. Terminada esta seção, serão
apresentados na seção seguinte os conceitos ligados a coprodução do bem público.

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3.5.2 Coprodução do bem público, participação e cidadania

Nesta subseção do trabalho são explanados três conceitos fundamentais para aqueles
países que enfrentam o desafio de superar seus problemas estruturais e sair da categoria dos
‘países em desenvolvimento’ para a dos considerados ‘países desenvolvidos’, isto é, aqueles
nos quais a injustiça social e a distribuição da riqueza não constituem mais um fosso profundo
que separa grupos da sociedade. Como se tratará de mostrar, estes conceitos estão
intimamente relacionados: sem cidadania, não é possível haver participação e, sem
participação, não há meios ideais para coprodução do bem público.
Em regimes políticos democráticos, a responsabilidade de governo da sociedade cabe
aos cidadãos: de forma direta − por meio da participação popular. Indireta, quando elegem
seus representantes. Desta forma, a cidadania se afirma como a expressão do vínculo do
indivíduo com o Estado, sendo o segundo uma variável dependente do primeiro, como
afirmou-se anteriormente..
A participação direta acontece quando os cidadãos estão pessoalmente envolvidos nas
decisões, ao contrário da participação indireta, quando os cidadãos elegem outros para
representá-los nas decisões. A primeira requer compartilhamento de poder entre cidadãos e
agentes públicos. O poder compartilhado é poder com cidadãos, ao contrário de ser um poder
exercido sobre cidadãos. No segundo caso, participação indireta, o poder decisório é
concedido por cidadãos-eleitores a representantes eleitos, que se tornam responsáveis pela
tomada de decisões coletiva (ROBERTS, 2004).
Afirmou-se na introdução que o Brasil é um Estado Democrático, uma vez que a
Constituição da República declara, no parágrafo único de seu Artigo Um que: "todo poder
emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos, ou diretamente, nos termos
da Constituição" (CRFB, 1988, p.6). Assim, atribui-se à sociedade brasileira, em
conformidade com sua consciência política, a tomada de decisões sobre seu destino, o que
confere embasamento legal ao direito de participação dos cidadãos na vida pública, pela via
indireta, conforme a afirmação de Roberts (2004), exposta anteriormente.
Contudo, é importante ressaltar a existência de uma contrapartida à participação, que é
a clareza e a transparência da atuação estatal. Deste modo, pondera-se que “o processo
político de um governo deve ser “[...] suficientemente aberto para a visão do público e
simples o bastante em sua essência para que os cidadãos entendam prontamente o que ele
[governo] faz e como está agindo” (DAHL, 2001, p. 143).

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Alguns autores consideram a cidadania restrita ao conceito legal, com ênfase nos
aspectos processuais de envolvimento do indivíduo com o Estado. Para outros, a cidadania se
expande na direção de uma declaração ética e substantiva, em que a realização dos valores
dos cidadãos guia o governo. No enfoque do cidadão, a participação torna-se ato cívico na
defesa de seu papel na sociedade e da prática de seus valores (ROBERTS, 2004). O conceito
de cidadania, em conformidade com a visão pluralista de Estado, é definido por Ventris
(2005, p. 556, grifo nosso) como o processo:

[...] Fundado nos valores da diferença de opiniões, da não conformidade e


do questionamento sistemático dos sistemas de crenças e valores sociais
mais profundamente enraizados, em uma tentativa ética de entendimento e
prevenção dos fatores políticos e sociais, que podem promover uma miríade
de pequenas e grandes injustiças.

Na visão de Roberts (2004), é a combinação do conceito de cidadão, de poder e de


decisão compartilhados que define a participação popular como o processo pelo qual
membros da sociedade civil dividem o poder com agentes públicos, tomam decisões
substantivas e exercem ações relacionadas às suas comunidades. De acordo com a autora, a
participação “é um valor intrínseco porque desenvolve as mais elevadas capacidades humanas
e ampara o caráter moral ativo, direcionado ao bem público” (ROBERTS, 2004, P. 323).
Apresenta-se no quadro 5 a síntese das vantagens do modelo participativo:

VANTAGEM ARGUMENTO DE SUSTENTAÇÃO

É uma plataforma para que as pessoas realizem seu potencial, exponham interesses
DESENVOLVEDORA
e prioridades

Ensina democracia com a prática.


EDUCATIVA

TERAPEUTICA E Recompensa psiquicamente e vincula a política com níveis mais elevados de


INTEGRATIVA participação.

Consente com as decisões tomadas em conjunto com o governo e desta forma as


LEGITIMADORA
legitima em sua execução.

PROTETORA DA
LIBERDADE Oferece à população um grau real de controle sobre suas vidas e seu ambiente.

Dá àqueles que não possuem poder uma plataforma de demandas e voz para sugerir
INSTRUMENTAL
mudanças.

Minimiza atrasos em decisões e pode ser uma fonte de idéias e abordagens


REALISTA
inovadoras.
Quadro 5 : Modelo participativo e seus argumentos de sustentação.
Fonte: adaptado de Roberts, 2004.

74
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Expõe-se no quadro as vantagens do modelo participativo por diversos ângulos, o que,


em última instância, possibilita a distribuição mais equilibrada dos recursos públicos por parte
do Estado. Segundo Ventris e Kuentzel (2005, p. 520) a participação pública “assume, por
definição, que o envolvimento cidadão contribui para a deliberação reflexiva, para a
democracia discursiva, a efetiva representação e a construção de consenso na esfera pública”.
Por meio da participação busca-se compreender a dinâmica do comportamento sociopolítico
dos indivíduos envolvidos na co-produção do bem público e os arranjos institucionais que
respaldam este envolvimento (BRUDNEY; ENGLAND, 1983; DENHARDT; DENHARDT,
2003; MARSCHALL, 2004)
Portanto, entende-se a participação popular como uma ferramenta para que as
necessidades e desejos dos cidadãos sejam conhecidos, permitindo o dissenso, com vista ao
consenso, e o fortalecimento dos princípios democráticos. Abordando o assunto de forma
ampla, é possível afirmar que a participação é um dos elementos fundamentais ao exercício da
cidadania. Ademais, o exercício da cidadania desperta, formula, direciona e legitima as
políticas e atitudes do governo para o alcance do interesse público.
Segundo Marschall (2004), a ligação entre a participação cívica e a co-produção
tornou-se foco de pesquisadores americanos ligados à administração pública, a partir da
década de 80, quando o aumento da violência urbana e a preocupação com questões
educacionais levaram a um maior envolvimento dos cidadãos com estas questões na esfera
pública, individualmente ou por meio de grupos.
Para a autora, os pontos centrais da co-produção são: a co-responsabilidade entre
cidadãos e governo na produção de bens e serviços públicos; a dependência de ações
voluntárias combinadas à criação de oportunidades de participação pelos respectivos atores; a
necessidade de participação ativa da cidadania, sem a qual os governos encontram sérias
dificuldades de alcançar eficiência e efetividade em suas ações (MARSCHALL, 2004).
Outra contribuição nesta mesma linha é dada por Brudney e England (1983), que,
mediante reconstituição do conceito desde sua origem, sintetizam o conceito de co-produção
como uma forma privilegiada de participação dos cidadãos na provisão dos bens e serviços
públicos sustentada pela cooperação voluntária.
Outro aspecto da questão é apresentado no trabalho de Joshi e Moore (2004), onde é
feita a proposta de institucionalização da co-produção, que segundo os autores é
particularmente necessária nos países em desenvolvimento nos quais a autoridade estatal é
mais fraca que naqueles considerados desenvolvidos, pois já estabeleceram instituições

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consolidadas na esfera pública. Estes definem co-produção como “a provisão de serviços


públicos por meio de relacionamento regular e de longo prazo entre governo e grupos
organizados de cidadãos, onde ambos contribuem com recursos substanciais” para o alcance
do objetivo, isto é, a provisão do bem público (JOSHI; MOORE, 2004, p. 32, grifo nosso).
Segundo Denhardt e Denhardt (2003), o bem público relaciona-se diretamente à noção
do compartilhamento de valores e interesses comuns dos membros de uma comunidade, que
transcende a somatória do conjunto de indivíduos auto-interessados e que visa à obtenção de
objetivos públicos definidos de modo participativo. O conceito dos autores remete à
proposição de Arendt (2002), que recordava ser esta a função dos cidadãos da antiga pólis
grega: debater (lexis) e agir (práxis), a fim de atingir o bem comum.
Em outra linha de abordagem, Croson (2007, p. 200) conceitua como bem público os
bens e serviços ao mesmo tempo não rivais e não excludentes, na medida em que “múltiplos
agentes podem consumir o bem ao mesmo tempo (não rival) e não é possível excluir agentes
que não pagaram pelo bem de seu consumo (não excludente)”. É admissível afirmar, sob esta
ótica, que o bem comum não está relacionado à quão eficientemente um serviço foi prestado,
mas ao modo como ele contribuiu para uma vida melhor para todos.
Considera-se pertinente recordar, nas palavras de Dalh (2001), que o bom governo de
um Estado exige mais do que apenas conhecimento científico rigoroso:

Exige também honestidade sem corrupção, a resistência firme a todas as enormes


tentações do poder, além de uma dedicação constante e inflexível ao bem público,
mais do que aos benefícios de uma pessoa ou seu grupo. Os especialistas podem
estar capacitados para agir como representantes seus, o que não significa que
estejam capacitados para servir de governantes para você. (DAHL, 2001, p. 87)

O autor respalda os argumentos expostos na introdução deste trabalho, sobre a


assimetria de acesso e a capacidade de falar ao poder em diferentes tons de voz, ao afirmar
que “[...] há enormes chances de que os interesses das pessoas privadas de voz igual no
governo de um Estado não recebam a mesma atenção dos interesses dos que tem uma voz”
(DAHL, 2001, p. 91).
Esclarecidos os conceitos, é possível relacioná-los entre si: cidadania, participação e
co-produção do bem público são conceitos convergentes e efetivamente estão interligados em
um mesmo processo, cuja finalidade é a melhoraria da sociedade e a busca do bem comum,
por parte de seus membros. Finalizada esta seção, que apresentou os conceitos correlatos a co-
produção do bem público, inicia-se na seção seguinte a apresentação e estudo do objeto de
estudo deste trabalho, os think tanks.

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77

3.6 Think tanks

Afirmou-se na introdução deste estudo que não existe, mesmo na literatura tradicional
anglo-saxônica, unanimidade no conceito, classificação e termos constitutivos dos think tanks.
Esta seção irá evidenciar a variedade de aspectos relacionados ao fenômeno, além de colocar
em evidencia a riqueza dos estudos sobre think tanks em outros países, em contraste com a
exígua produção nacional sobre o fenômeno.
Esta seção engloba cinco tópicos, apresentados em subseções: na primeira,
desenvolve-se o histórico dos think tanks; no prosseguimento, serão analisados os conceitos
clássicos, oriundos da literatura tradicional anglo-saxônica; na terceira subseção apresenta-se
o estado da arte do fenômeno; na quarta, exemplifica-se a atuação dos think tanks; na última
subseção aborda-se o efeito da globalização sobre o objeto de estudo.
Segundo Lefort (1999, p. 10) “cada doutrina ou teoria tem sua origem na obra de um
pensador ou de alguns pensadores eminentes, cuja démarche requer a detecção de suas
‘idéias’ [...], assim como sua conexão, [para permitir] a comparação”. Pretende-se apresentar
inicialmente um panorama geral das múltiplas formas do conceito, a fim de compará-las e
demonstrar as interligações do fenômeno com o cotidiano da sociedade e de seus cidadãos.
É importante ressaltar a colocação de Faria (2003, p. 22) de que co-existem hoje “[...]
uma Babel de abordagens, teorizações incipientes e vertentes analíticas, que buscam dar
inteligibilidade à diversificação dos processos de formação e gestão das políticas públicas
[...]”; entretanto, como o autor afirma, as abordagens associadas ao papel das idéias e do
conhecimento na produção de políticas públicas têm sido praticamente ignoradas no país
(FARIA, 2003).
A afirmação corrobora a constatação do levantamento bibliográfico – explanado no
decorrer do trabalho – de que a realização de estudos científicos sobre os atores que
influenciam a administração e as políticas públicas no Brasil não ocorre na proporção
necessária a este campo de conhecimento. Frey (2000, p. 215) reforça este ponto, concluindo
que “[...] a falta de teorização é uma crítica comumente direcionada àpolicy analysis”.
Constata-se especialmente uma lacuna relativa ao estudo dos think tanks.
Os think tanks são um fenômeno muito estudado em outros países − em especial nos
países anglo-saxões, e sua existência e o papel que exercem é reconhecido, claramente
delimitado e exposto ao escrutínio público. Este fenômeno, como se evidenciará, não tem
recebido a mesma atenção por parte de estudiosos brasileiros. Atribui-se este fato por

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pertencer o fenômeno de estudo a um campo de conhecimento cuja sistematização é recente e


ocorre de forma progressiva.
As fases da política pública nas quais ocorrem, em sucessão, (i) o reconhecimento de
um problema político, (ii) a escolha entre opções de soluções, que, (iii) embasam uma tomada
de decisão para o enfrentamento do problema ou para a manutenção do status quo constituem
os três primeiros estágios do ciclo da política pública, como foi visto anteriormente na
subseção 3.4.1. Os think tanks atuam, fundamentalmente, nesses três primeiros estágios do
ciclo da política pública, pois nessas fases, que iniciam e direcionam uma política a ser
implementada, a demanda por conhecimento é mais aguda (McGANN; WEAVER, 2000;
RICH, 2003; STONE; DENHAM, 2004).
Think tanks, para Abelson (2006), são institutos que tentam exercer − ou efetivamente
exercem − influência sobre a política pública. Já para Barbosa e Aquino (2003), os think tanks
são instâncias de produção intelectual de ponta, institucionalizadas ou não. Da comparação
entre a primeira definição −clássica− e a última, menos convencional, pode-se perceber que o
conceito de think tank modifica-se de acordo com a época, a perspectiva de análise do autor e
a realidade a que ele se refere.
Não há uma unidade que sirva de base para o estudo e o reconhecimento dessas
organizações, que, enquanto atores políticos, são cada vez mais atuantes e exercem crescente
ascendência sobre os policy makers. Importa notar, conforme se apresentou na introdução
que, se os think tanks são a ponte entre o conhecimento e o poder, estes dois aspectos
assumem uma importância fundamental no entendimento das políticas públicas de um país, já
que, como afirmam Clegg e Hardy (1997, p. 263) o poder pode ser exercido de forma sutil,
“devido a estratégias mais sofisticadas por parte dos grupos dominantes”.
Em democracias desenvolvidas, o espaço da política é ocupado por diversos atores,
inclusive por think tanks que são estrategicamente geridos por grupos de interesse, governos,
especialistas e mesmo por comunidades acadêmicas. A objetividade e clareza de propósito das
instituições nestes países legitimam sua atuação, pois num contexto social democraticamente
pluralista, não há o pressuposto de negação das diferenças e conflitos inerentes a toda
sociedade e é aceita a intervenção responsável de grupos organizados em torno de think tanks
para a defesa de seus valores e crenças.
No Brasil, como em outros países latino-americanos, não ocorrem de maneira idêntica
este desnudamento da influência exercida por este tipo de organização sobre a administração
pública, os tomadores de decisão política e as políticas públicas resultantes. Um dos motivos

78
79

para que isso ocorra relaciona-se com a concepção da literatura tradicional sobre o objeto de
estudo, cujos conceitos impossibilitam o enquadramento teórico de algumas organizações
existentes nos países em desenvolvimento − com democracias em processo de consolidação −
como think tanks. Sustenta-se a afirmação de Marques (2006), de que, embora a literatura geral
sobre o Estado seja ampla no país, pouco se sabe a respeito do “[...] seu funcionamento concreto,
ou sobre os detalhes das dinâmicas que o cercam” (MARQUES, 2006, p. 16).
Acadêmicos que pesquisam o fenômeno ligado à política pública de países anglo-
saxônicos e vêm se destacando no estudo dos think tanks por áreas de expertise são: sua
história (SMITH, 1991), seu papel como fonte especializada de consulta (RICCI, 1993;
STONE, 2006), comparações de think tanks no mundo (McGANN e WEAVER, 2000;
STONE; DENHAM, 2004), o papel desempenhado pelos think tanks nas políticas públicas
(ABELSON, 2002; COURT; CATERELL, 2005; RICH, 2001; STRUYK, 2002).
Confirma-se a crescente importância dos think tanks no prosseguimento, mediante
alguns dados extraídos do relatório Global Trends and Transitions: 2007 Survey of Think
Tanks, do FPRI-Foreign Policy Research Institute, que, por meio de uma ampla pesquisa
mundial obteve, entre outros, os seguintes resultados:
1. Estimou existirem, em 2007, ano em que foi realizada a pesquisa, 5.035 think tanks ao
redor do mundo. Destas, responderam a pesquisa 1028 instituições, distribuídas conforme
a figura 11:

Figura 11 – Think tanks por região geográfica.


Fonte: Foreign Policy Research Institute, 2007.

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80

Observa-se na figura 11 que existem na América Latina 462 think tanks, ou seja, o
correspondente a 8,03% do total mundial dessas organizações. O mesmo estudo indica a
existência de 38 think tanks oficiais no Brasil – ainda que não se conheça, pois não são
divulgadas, quais são as organizações consideradas como think tanks pelo estudo. Este
número que é superado, no continente, pela Argentina, que conta com 100 think tanks
reconhecidos no estudo;

2. Estudo referente à produção de livros acadêmicos sobre o fenômeno indica que os países
europeus lideram a pesquisa do tema, como demonstra a figura 12:

Figura 12 – Produção acadêmica de livros sobre think tanks, por região geográfica.
Fonte: Foreign Policy Research Institute, 2007.

Verifica-se na figura 1214 que a produção acadêmica sobre o tema na América Latina é
menor que a do Continente Africano. Correlacionando-se este dado com os dados da figura
anterior, obtém-se que, enquanto a região da América Latina possui 8,03% do total de think
tanks mundiais, a África responde por apenas 5,38% deste total. Entretanto, a última supera
aquela em produção de conhecimento sobre o assunto. O relatório, com base na pesquisa
realizada, traz uma categorização social do mundo no século XXI descrita como “O Mundo
Quatro Mais: mais assuntos; mais atores; mais competição e mais conflito” (FPRI, 2007, p.
10).
Um conceito clássico do fenômeno afirma que “think tanks são instituições
independentes, organizadas para a realização de pesquisas e geração de conhecimento com

14
O relatório não apresenta o número exato de obras produzidas por região ou país, somente
disponibiliza a informação gráfica deste dado.
80
81

conteúdo político relevante. Elas preenchem uma lacuna de importância crítica entre o mundo
acadêmico e a esfera governamental” (HAASS, 2002, p. 5).
Na visão de Rich (2006), é difícil que o conceito seja tomado em sua perspectiva pura,
pois a delimitação de fronteiras institucionais entre os think tanks e outros tipos de
organizações de defesa de interesses e de pesquisa acadêmica não é inteiramente possível, já
que estas com frequência se sobrepõem, e os limites que as separam são tênues. Para o autor,
dois pontos centrais diferenciam e auxiliam na distinção entre os think tanks e outros tipos de
organizações que operam no mundo das políticas públicas: os produtos e os objetivos. No
caso dos think tanks, o principal produto é a credibilidade e o objetivo é o acesso aos
tomadores de decisões políticas (RICH, 2006).
Como não representam uma grande quantidade de eleitores, os resultados das
pesquisas de organizações de pesquisa e aconselhamento político não se tornam material
automaticamente aceito pelos policy makers. Por outro lado, por estarem sujeitas à
contestação de seus estudos e resultados pelos indivíduos ou organizações alinhados com uma
determinada ideologia ou visão de mundo, os think tanks preocupam-se com a credibilidade e
a validade científica dos resultados de suas pesquisas. Por este motivo, esses institutos
procuram ao máximo serem vistos como independentes − ainda que sustentados
financeiramente − a fim de assegurar a reputação de neutralidade científica (McGANN, 2002;
MULGAN, 2006; RICH, 2006; STONE, 2007).
Stone et al. (2001) propõe uma abordagem mais crítica na investigação sobre as
tentativas de criação de pontes entre pesquisa e poder, cuja ligação é realizada por intermédio
de think tanks, uma vez que certos institutos, na tentativa de demonstrar segurança, podem
equivocadamente impor como certezas conhecimentos que foram mapeados em suas
pesquisas, desconsiderando a peculiaridade do fato de que, na política, toda decisão tomada
em seus domínios é intrinsecamente normativa, isto é, irá afetar a população como um todo,
ou parcelas desta. Os autores pretendem com isso alertar para a responsabilidade da qual se
incubem os think tanks, que ao aconselhar os tomadores de decisão política (poder), com base
em suas pesquisas e idéias (conhecimento), adquirem não apenas a capacidade de fazer a
ponte entre um e outro – poder e conhecimento – mas também a responsabilidade sobre os
resultados obtidos.
Quanto aos objetivos que caracterizam os think tanks, segundo Rich (2006), mais do
que outras instituições, estes buscam acesso político e capacidade de influenciar os resultados
das decisões em políticas públicas por meio de pesquisas, idéias e conhecimento.

81
82

Por meio de uma análise conjunta de obras de diferentes autores, é possível traçar as
tênues linhas que separam os think tanks de dois outros tipos de organização que realizam
pesquisa sobre política pública. São elas:
a)- Think Tanks e Grupos de Pressão: Diferentemente de grupos de pressão15, os think tanks
modernos raramente se limitam a um assunto específico, pois são estabelecidos para prover
expertise em varias áreas de política pública, como costuma acontecer com os grupos de
pressão que desejam em geral exercer influência sobre uma política pública que lhes diz
respeito (ABELSON, 2006, p. 12). O autor faz referencia ainda ao fato de que os grupos de
pressão sempre buscam ampliar sua base de membros, enquanto os think tanks não se
conectam com o público em geral para angariar adesão, apenas divulgam para a sociedade em
geral as suas pesquisas. Outro aspecto, relacionado à captação de recursos, é que os think
tanks, segundo Abelson (2006), quando necessitam de recursos públicos, preferem obtê-los
por meio do exercício da influência direta sobre os policy makers, enquanto os grupos
procuram manter uma base grande de pequenos mantenedores ou financiadores, alinhados
com uma determinada visão de mundo. Posto em palavras comuns, é possível dizer que os
think tanks trabalham no ‘atacado’ da política pública, enquanto os grupos de pressão agem
no ‘varejo’.
b)- Think tanks e Universidades: A distinção entre estes dois tipos de organização muitas
vezes é complexa, segundo Mulgan (2006). Para o autor, um diferencial fundamental é que os
think tanks se envolvem no “mundo das ideais, análise e ação” (MULGAN, 2006, p. 148).
Para Rich (2006), a diferença principal está no fato de que as Universidades constituem
ambientes mais abertos à associação de idéias oriundas de outras disciplinas, no sentido de
não realirem uma única atividade (a pesquisa de política pública), como é o caso dos think
tanks. Assim, sua maior capacidade chave é a de fazer conexões entre diversos domínios,
como o domínio da política (no sentido de politics), do conhecimento e prática de
implementação na política pública. Já o mesmo não ocorre com as universidades, segundo
Rich (2006), pois os acadêmicos tendem a se concentrar em assuntos relativos à política
pública apenas pelo viés do conhecimento teórico. Deste modo, normalmente a atividade de
pesquisa abrangendo exclusivamente políticas públicas não é foco principal de atividade dos
acadêmicos, envolvidos com aulas, alunos e orientações, além de atividades burocráticas

15
Tratados usualmente como sinônimos, neste trabalho a diferenciação entre grupo de interesse e
grupo de pressão é a proposta por Aragão (1994, p. 39): “os grupos de interesse, quando atuam no
nível político, são chamados de grupo de pressão”.
82
83

dentro das próprias universidades ‒ participação em conselhos, comitês etc. (ABELSON,


2006; MULGAN, 2006; RICH, 2006).
Dos argumentos dos autores pode-se deduzir que, ainda que eventualmente um
pesquisador ou uma universidade dedique empenho (de verbas e de pessoal) em pesquisa
relacionada com políticas públicas, não é usual que o faça de modo contínuo e sem
interrupções, tendo em vista as férias entre semestres, que interrompe o ciclo de estudos de
uma pesquisa, ou um eventual atraso no recebimento de verbas, que pode paralisar este tipo
de atividade por um período indeterminado de tempo e, com isso, comprometer os resultados
da pesquisa. Parece possível afirmar que, enquanto os pesquisadores acadêmicos possuem
limitações inerentes à atividade que exercem, os pesquisadores ligados a um think tank podem
dedicar-se com exclusividade ao objetivo da organização: o entendimento e pesquisa de
política pública. Dada a dinamicidade da política pública, vista na seção 3.4, as universidades
enquanto instituições, ainda que possam exercer o mesmo papel de think tank, possuem
impedimentos que podem ser empecilhos no pronto atendimento às necessidades de
conhecimento dos policy makers.
Outro aspecto da mesma questão é a dicotomia apontada por Barnett (2003). Segundo
constatações deste autor, o papel das universidades – enquanto repositórios de capital
intelectual – é cada vez mais subestimado pelos policy makers, fazendo com que a
compreensão de assuntos ligados à política pública e a decisão política sejam construídos
“sobre uma base desnecessariamente escassa de conhecimento” (BARNETT, 2003, p. 121).
Ao abrir mão do conhecimento gerado no meio acadêmico, segundo este autor, o decision
maker passa a contar apenas com o auxílio de think tanks e consultorias privadas para
embasar suas decisões. Barnett (2003) atribui esta situação tanto ao governo quanto à mídia ‒
por direcionarem o debate público nestas questões, quanto aos próprios intelectuais da
academia, que marginalizam os debates políticos pela falta de racionalidade que domina este
tipo de debate nos tempos atuais (BARNETT, 2003).
Estudioso do fenômeno na Austrália, Marsh (1994, p.177) assevera que os think tanks,
em “[...] definição mais ampla, incluem organizações do setor público, privado e acadêmico,
dedicadas a aplicação de habilidades disciplinares ou de perspectivas, a assuntos práticos [de
políticas públicas]”. Ou seja, é necessário considerar a abrangência e as múltiplas formas que
estas instituições assumem no mundo de hoje, pois, como alerta Stone (2007): grupos de
interesse podem ser representados de forma velada por think tanks alinhados com sua visão de
mundo, por meio dos quais questionam, influenciam e tentam impor normas e princípios

83
84

norteadores à coletividade, via políticas públicas, numa visão parcial de sociedade e sem que
o interesse público mais amplo seja considerado. Neste sentido, argumenta-se que é de
interesse público que os processos de influência dos think tanks ocorram à margem do
conhecimento e do controle da sociedade.
Torres (2005) contribui com a proposição de alternativas: utilizando o conceito na área
da educação, propõe, como solução para a intervenção desconhecida de diferentes instituições
em assuntos ligados a políticas públicas, a criação institucionalizada de think tanks nacionais
de pesquisa. Mesmo considerando que sempre existirá o risco de cooptação de think tank por
ideologias, o autor ressalta que “sem um grupo de profissionais altamente treinados,
relativamente bem pagos e com novas idéias que [sejam capazes] de conceber alternativas aos
modelos [...] vigentes” (TORRES, 2005, p. 30), não é possível pensar na criação de uma
interação entre a assistência externa legítima à política pública e o conhecimento localmente
produzido. Como será demonstrado na seção 4.4, na realidade empírica brasileira, embora não
ocorra a institucionalização formal dos think tanks como proposto pelo autor, a dependência
de recursos públicos de alguns think tanks nacionais, por exemplo, a Fundação Osvaldo Cruz,
por via indireta demonstram a validade da proposição do autor.
Neste ponto, faz-se a seguinte ressalva: a suposta neutralidade ideológica adotada por
alguns think tanks confere distinção e importância às pesquisa que realizam. Contudo, o que
se verifica na realidade é que pesquisas feitas por think tanks são, em geral, ideologicamente
alinhadas com os interesses de seus dirigentes ou fundadores. Esta constatação fortalece o
argumento a favor da atuação transparente dessas organizações: se a existência e a atuação
como think tanks e feita às claras, o financiamento privado não coloca, necessariamente, os
pesquisadores de uma organização na função de porta-vozes das posições de seus
mantenedores, pois existirá maior accountability na atuação da organização como um todo.
A análise dos think tanks no contexto dos Estados Unidos, feita por Abelson (2000),
em comparação a seus congêneres no Canadá e Inglaterra, onde são menos numerosos, sugere
que:

As características distintivas dos think tanks nos Estados Unidos não é seu
tamanho, ou [...] os recursos consideráveis de que dispõe algumas
instituições... O que torna único [o caso dos] os think tanks nos Estados
Unidos, além de seu número absoluto, é a extensão em que esses se
envolveram ativamente nos vários estágios do processo de policy making
(ABELSON, 2000, p. 213).

84
85

Implícita a este argumento é a noção de que nos Estados Unidos os think tanks
assumem um papel de destaque que não encontra correspondência em outros países. De fato,
os limites da ação e recursos estatais de países em desenvolvimento permitem a inserção de
think tanks que, como colocado por Stoker (2000, p.93), advêm do fato de que “governar
torna-se um processo interativo, porque nenhum ator detém sozinho o conhecimento e a
capacidade de recursos para resolver problemas unilateralmente”. Silva (2002) propõe para a
identificação da influência exercida pelo sistema internacional relativa a políticas públicas,
que envolva transferência de conhecimento entre países, a seguinte metodologia, que tem por
base a identificação da origem de instituições, programas, políticas e associados, e a análise
dos cinco itens propostos, sob a ótica do Brasil:
i • circunstâncias da transferência (voluntária ou não).
ii • iniciativa de transferência (iniciativa política centralizada ou processo de busca
institucional).
iii • grau de adaptação (quanto da inspiração original a política implantada mantém).
iv • grau de maturação.
v • centralização decisória na implantação e operação.
Idéias e conhecimento é a matéria-prima dos think tanks. Mas de onde vem a idéia do
‘think tank’? Qual a origem da expressão e do conceito que ele define? Este é o assunto que se
elabora na próxima seção.

3.6.1 Histórico dos think tanks

Nesta subseção, inserida no arcabouço conceitual dos think tanks, faz-se a tentativa de
resgatar o histórico dessas organizações. Como não há registro sistematizado desta forma
organizacional no país (o que vai ao encontro do argumento central desta dissertação), não é
possível identificar com precisão em que momento histórico este tipo de organização
começou a atuar no processo de política pública brasileiro. è feita a tentativa de reconstituição
mais geral do fenômeno no país. No prosseguimento, reconstitui-se o fenômeno no contexto
dos países anglo-saxônicos, contido na literatura clássica.
Manifesta-se que já na sua origem, os think tanks no Brasil se distinguem do modelo
anglo saxão: seu surgimento deveu-se, em larga medida, a interferência governamental, pois
na década de 30 o governo Getúlio Vargas induz o surgimento de centros de estudo − ligados

85
86

ou não a Universidades− a fim de fomentar a produção nacional de conhecimentos nas áreas


de administração e política pública: e.g. o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –
IBGE e o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos – INEP (ALMEIDA, 1989; MAIA,
2004). Em outra frente, é criado o DASP – Departamento Administrativo do Serviço Público
em 1938, com o objetivo de racionalizar o serviço público do país, o que na prática revelou-se
criação de um think tank estatal, pois a partir de 1940 seu corpo de servidores era encarregado
de elaborar estudos que direcionavam a tomada de decisão na política orçamentária. Registros
históricos confirmam que à época o DASP se fortaleceu a tal ponto que passou a exercer forte
influência sobre as políticas governamentais então implementadas em vários âmbitos, e
engendram o surgimento da própria Fundação Getúlio Vargas, para qualificação de seus
quadros (FGV-CPDOC on line, [S. i.]; LESSA; EARP, 2004; MAIA, 2004).
Interpreta-se essas afirmações como confirmação para a necessidade de ver com
outros olhos e por uma perspectiva diversa da corrente tradicional anglo-saxônica, as
organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas no Brasil, e adaptar seu
estudo à realidade do país, como será apresentado na seção 4.3. O mesmo assunto, dirigido à
outra realidade, em países onde o fenômeno dos think tanks é mais estudado e melhor
documentado, não oferece certezas, como se pode constatar, mas, por outro lado, há muitos
registros que facilitam o trabalho dos pesquisadores do fenômeno.
Para Smith (1991), foi o filósofo grego Sócrates quem inspirou na Atenas dos séc. V e
IV a.C. o surgimento dos think tanks nos regimes democráticos: inspirado pelo mestre, Platão
fundou em 550 a.C. a Escola Ateniense, considerada a precursora dos think tanks ocidentais.
É registrado por Smith (1991, p. xviii) que “a vida e a morte de Sócrates exemplifica
tragicamente a persistente tensão entre o pensamento especulativo e a ação política”.
Muitos séculos depois, segundo Smith (1991, p. xix), o filósofo Francis Bacon, “um
arquétipo dos futuros especialistas”, foi o primeiro visionário a imaginar de fato um instituto
de pesquisa nos moldes modernos, que é descrito por Bacon em seu tratado 5ova Atlântida
como a Casa de Salomão (Salomon´s House). Para Smith (1991), o que mudou na relação
contemporânea, entre conselheiros dotados de conhecimentos e políticos dotados de poder, é
que hoje os últimos tornaram-se mais dependentes dos conhecimentos dos primeiros do que
os governantes antigos.
Segundo Abelson (2000, p. 217), não existe consenso “entre historiadores e cientistas
políticos sobre a data de criação do primeiro think tank nos Estados Unidos”, o que o autor
atribui, em parte, à falta de consenso sobre o que é um think tank, uma vez que, “enquanto um

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87

punhado de institutos criados do meio para o fim do século XVII desempenharam muitas das
funções características dos think tanks contemporâneos” os primeiros institutos formalmente
caracterizados como tais surgem apenas nas primeiras décadas do século XX (ABELSON,
2000, p. 217).
De acordo com McGann (2002, p.16), durante parte do século XX, os think tanks
foram um fenômeno organizacional “encontrado basicamente nos EUA e, em número muito
menor, no Canadá e Europa Ocidental”. O autor registra que no Japão o fenômeno existe “há
algum tempo”, porém sem precisar datas (ibid., 2002, p. 16). Afirma ainda que houve um
boom destas organizações na década de 70, que se manteve em 80, pois “dois terços dos think
tanks que existem hoje foram fundados depois de 1970.” (McGANN, 2002, p. 16).
No contexto do avanço dos think tanks nos Estados Unidos, Smith (1991) registra que
na virada do século dezenove no governo de Woodrow Wilson (um proeminente membro da
comunidade acadêmica americana), este era um opositor dos experts no governo, pois
acreditava que os especialistas eram uma ameaça à democracia do país no longo prazo, na
medida em que faziam com que os problemas públicos parecessem mais complicados com seu
jargão técnico, podendo com isso levar os cidadãos comuns a “perderem a fé nas suas
habilidades de se autogovernarem” (SMITH, 1991, p. 3).
Atribui-se a origem da expressão think tanks ao contexto da segunda guerra mundial,
durante a qual instituições de pesquisa militares, como a RA5D Corporation (fundada pela
Douglas Aircraft Company, da qual se desvincula em 1948), realizavam intensos esforços de
pesquisa e aconselhamento sobre a condução do conflito mundial, e think tanks era a nome
dado às salas seguras contra ataques, isto é, bunkers ou tanks militares – locais construídos
especificamente com o intuito de proporcionar segurança e proteger os seus ocupantes. Daí a
expressão – think (de pensar) tank (de fortaleza, ou casamata) (McGANN; WEAVER, 2005;
SMITH, 1991; SILVA, 2007).
À mesma época, mas em outro contexto, o surgimento dos think tanks é apresentado
por Matterlart e Matterlart (2004). Segundo estes autores, a expressão originou-se em 1939,
durante a segunda guerra mundial, quando os países aliados – Estados Unidos, França, Reino
Unido etc. - convocaram vários especialistas, de distintas áreas de conhecimento, com o
objetivo de, num esforço de pesquisa, decifrar o código criptografado (codificado) utilizado
pelo inimigo alemão cujas maquinas de comunicação, conhecidas como ‘enigma’, criava
mensagens com códigos de criptografia avançada (e constantemente alterada). Com isso,
resistia às tentativas feitas pelos militares dos países aliados de decodificá-las, e obter alguma

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vantagem sobre o inimigo, para prever ataques e posições de seu exército. Na equipe aliada
encontrava-se o matemático e criptógrafo inglês Alan Turing (1912-1954), líder dos
pesquisadores que conseguiram quebrar o código alemão, com a construção da máquina que
chamaram Colossus, capaz de decifrar 50.000 mensagens alemãs por mês, uma por minuto. A
atuação destes estudiosos mudou, em 1942, o rumo da guerra, neutralizando a vantagem
alemã em batalhas naval, e invertendo a balança a favor dos aliados (HODGES, 1992).
Os centros de pesquisa onde se reuniam as equipes multidisciplinares para
compartilhar seus conhecimentos, que inicialmente se destinava a uso militar, passaram
posteriormente a desenvolver projetos, que possuíam como característica distintiva dos
originais, não exclusivamente militares, mas de cooperação: civil-militar e setor privado-setor
público (MATTERLART; MATTERLART, 2004). Este episódio, segundo os autores, faz
surgir uma nova função: a do conselheiro militar, com acesso e influência junto aos tomadores
de decisão governamentais. É curioso notar a semelhança entre os conselheiros militares de
um contexto recente, o século XX, e aqueles conselheiros que, como se mencionou na
contextualização do capítulo 3, por volta de 500 a.D., já exerciam este papel de
aconselhamento, ainda que não limitado a um único tema, mas a várias áreas de
conhecimento, uma vez que, como Aristóteles e o jovem Alexandre da Macedônia, os
conselheiros eram responsáveis pela formação integral de seus pupilos, exercendo este papel
durante quase praticamente toda a infância e adolescência desses (SMITH, 1991).
Deste modo, parece cabível afirmar que um dos motivos que levaram ao surgimento
dos think tanks nos moldes em que estes se configuram hoje está ligado à especialização do
trabalho, e consequente especialização do conhecimento em áreas (cada vez mais) estanques,
com o advento da revolução industrial no início do século.
Uma perspectiva original, proposta por Smith (1991, p. 14), afirma que a origem dos
think tanks reside na “longa busca por uma ciência da sociedade e da política” por parte da
elite intelectual e política americana do início do século XX, dedicada ao estudo das ciências
sociais, e, nas palavras do autor, “perpetuamente insegura sobre seu status científico” (ibid.,
1991, p. 15). Mesmo os termos usados para se referir aos pesquisadores sociais possuíam
conotações negativas: se na década de 60, expressões como engenheiro social e tecnocrata,
entre outras, ainda continham certa aura de estranhamento, por volta de 1930, época em que
principiou-se a divulgação desses termos, seu uso “definitivamente traziam uma dose de
ceticismo” à capacidade intelectual dos estudiosos que as ostentassem (SMITH, 1991, p. 9).

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Deste modo, foi a insegurança dos cientistas sociais, para Smith (1991), que, num
primeiro momento, fez com que esses se unissem em agremiações, as quais, posteriormente,
viriam a se tornar organizações de pesquisa, voltadas para o campo das políticas públicas, que
se encontrava em franca expansão (SMITH, 1991).
Outro ponto importante trata da evolução do conceito de think tanks no tempo. Na
literatura tradicional, Rich (2004) aponta a mudança ocorrida na forma de atuação dos think
tanks. Como indica o autor, os resultados obtidos por essas organizações com a passagem do
tempo, muda até mesmo o modo como esses outputs são expressos: de “pesquisas com
resultados precisos e objetivos”, na década de 60, para pesquisas de alcance global, no esforço
de prevalência na “guerra de idéias”, na década de 90 (RICH, 2006, p. 1). Para o autor, esta
caracterização “evoca duas imagens diferentes e sugerem entendimentos distintos sobre o
papel dos think tanks [...]” (op. cit.). Enquanto a primeira descrição põe ênfase na
credibilidade desses institutos na produção de conhecimento especializado, a segunda foca a
contribuição dada a “debates polêmicos baseados em idéias” (RICH, 2006, p. 2).
Rich (2006), referindo-se ao desenvolvimento dos think tanks nos EUA, afirma que as
idéias e o conhecimento possuem relevância estratégica na defesa de interesses, mas até a
década de 70 não eram consideradas “forças substantivamente importantes ou independentes”
(RICH, 2006, p. 7). Segundo Smith (1991), à época o foco dos estudos sobre os think tanks
nos EUA restringia-se à alternância dos grupos de interesse, ora de cunho liberal, ora
conservador. Foram negligenciadas as ligações entre os grupos de interesse organizados em
torno de alguns think tanks, os rumos gerais adotados pelo sistema político e as consequências
deste encadeamento para a administração pública e a sociedade (SMITH, 1991).
Na atualidade, o papel dos think tanks assemelha-se cada vez mais ao de empresas
privadas, tornando-os mercadores de idéias, cujo valor depende da capacidade econômica da
instituição, que se traduz na contratação e retenção de talentos, especialistas em estratégias
para promoção de idéias junto aos tomadores de decisão, pesquisadores, jornalistas
formadores de opinião e estatísticos, entre outros profissionais. Esta constatação, como se
verá em 4.3, auxiliará na definição de variáveis para a classificação dos think tanks, um dos
objetivos específicos a ser cumprido.
Finda esta subseção, que traçou o histórico dos think tanks, na próxima subseção são
apresentados conceitos da literatura tradicional ligados ao objeto de pesquisa.

89
90

3.6.2 Think tanks na literatura tradicional

Neste capítulo, é apresentada uma tabela com diversos conceitos de think tanks,
dispostos em ordem cronológica. Além de confirmar a evolução do conceito, apontada em
3.6.1, esta tabela serve para a extração dos elementos constitutivos dos think tanks na
literatura anglo-saxônica. A Tabela 4 apresenta estes conceitos:

Tabela 4 - Conceitos tradicionais de think tanks


Instituições de planejamento e aconselhamento
tipicamente norte-americanos, os think tanks são
grupos de pesquisa privados e sem fins lucrativos que
operam às margens do processo político formal da
SMITH 1991 nação. Situam-se entre acadêmicos das ciências USA
sociais, o governo e os partidos políticos. Os think
tanks provêm um foco concreto para o estudo das
mudanças no papel dos especialistas em política
pública no cotidiano dos Estados Unidos.
Um instituto, corporação ou grupo organizado para
realização de pesquisa interdisciplinar (como, por
MERRIAM;
WEBSTER
1994 exemplo, nos problemas ligados à tecnologia ou USA
problemas sociais). São também conhecidos como
fábricas de idéias.
Em uma definição ampla, o termo think tank abriga
organizações dos setores privado, público e
acadêmico, dedicados à aplicação de suas habilidades
MARSH 1994 e conhecimento em assuntos práticos relativos à Austrália
política pública. São análogos, nas ciências sociais,
aos laboratórios de pesquisa das ciências naturais. São
produtores de conhecimento útil em política pública.
Think tanks são considerados como organizações que
tentam exercer influência pela produção de boas
DUNN 1996 idéias aplicadas a problemas em política pública. Por USA
meio de pesquisa de alta qualidade tentam convencer
policy makers a implementar essas idéias.
Think tanks são institutos envolvidos ativamente nos
diversos estágios do processo [ciclo] da política
pública, que através de ‘pontos de acesso’ aconselham
ABELSON 2000 Canadá
os policy makers e contribuem para moldar uma
política pública [específica] ou o ambiente geral de
decisão política.
Think tanks são uma parcela que integra a sociedade
civil e servem como um importante catalisador entre
McGANN;
WEAVER
2000 idéias e ação nas democracias emergentes e avançadas EUA
ao redor do mundo, e com isso assumem o papel de
atores políticos
Os think tanks são instituições independentes,
organizadas para a realização de pesquisas e geração
HAAS 2002 de conhecimento independente, com conteúdo político EUA
relevante. Elas preenchem uma lacuna de importância
crítica entre o mundo acadêmico e a esfera
90
91

governamental. Dentro das universidades, a pesquisa é


freqüentemente [...] afastada dos dilemas políticos
reais. [...] Dentro da estrutura governamental, os
funcionários absorvidos pelas exigências concretas do
dia-a-dia dos formuladores de política estão, na
maioria das vezes, muito ocupados [...]. Sendo assim,
a contribuição primordial dos think tanks é a criação
de uma ponte entre o mundo das idéias e da ação.
Think tank pode ser definido como uma organização
privada independente, engajada em pesquisas
multidisciplinares com o propósito de influenciar
política pública; possuem interesse numa ampla gama
de problemas políticos; que empregam em tempo
integral ou em base contratual especialistas em várias
HOWLETT;
RAMESH
2003 categorias de problemas com a finalidade de Canadá
desenvolver perspectivas abrangentes sobre as
questões de competência governamental. Sua pesquisa
tende a propor soluções práticas para problemas
públicos ou, em alguns casos, a encontrar evidências
favoráveis a posições ideológicas ou a interesses que
advogam.
Os think tanks são atores da sociedade civil, que por
meio de organizações se comprometem de forma Vários
UNDP 2003
regular com a realização de pesquisas e a defesa de países
questões ligas às políticas públicas
Organizações independentes, sem fins lucrativos, sem
base em interesses [específicos ou ideológicos] que
produzem e de forma especial confiam no
conhecimento e nas idéias para obter apoio e
RICH 2004 EUA
influenciar o processo de policy making. É um ator
político pouco estudado, cujos especialistas
conseguem afetar o curto prazo, ações e posições
imediatas dos policy makers.
Think tanks é uma expressão que engloba um conjunto
de instituições que, por meio da análise racional e
práticas de seus especialistas em diversas áreas, mas,
DENHARDT 2004 principalmente no campo das políticas públicas, USA
atuam em várias esferas da burocracia governamental
e tendem a estender seu poder a diversos domínios da
atividade humana.
Um think tank é qualquer organização que apóie
pesquisas sobre problemas específicos, incentive a
descoberta de soluções para estes e facilite a interação
entre pesquisadores e intelectuais para consecução
deste objetivo: um think tank de políticas públicas
explicitamente foca sua atenção nas políticas
governamentais, geralmente com o propósito de
GOODMAN 2005 EUA
melhorá-las ou criar alternativas viáveis para as
políticas que estão sendo formuladas. Dada sua
natureza, estão envolvidos com o mundo acadêmico,
que são, em última instância, as verdadeiras fontes de
geração de novas idéias, mais relevantes do que as
geradas por políticos, seus partidos ou seus
financiadores de campanha.
91
92

Os think tanks são instâncias que dão sentido e


legitimam certas políticas, diminuindo o caráter
BRAML 2006 dominador do discurso e da clareza de uma agenda Alemanha
política, o que facilita sua aceitação e absorção por
parte dos atores políticos.
Think tanks são organizações que unem o mundo da
idéias, da analise e da ação e que necessitam, para ser
bem sucedidos, dominar diversos campos do
MULGAN 2006 Inglaterra
conhecimento: o campo da política, o campo das
idéias e o campo da prática da implementação de
políticas públicas.
Think tanks são organizações que trabalham para
influenciar decisões políticas e sociais por meio da
coleta e compilação de informações; análise de
políticas públicas potenciais; avaliação do resultado
BLAANCHART 2007 de políticas existentes; pesquisa e criação de soluções USA
e apreciação de outras soluções propostas. Muitos
think tanks tentam evitar influências ideológicas, mas
promovem agendas sociais ou filosofias políticas
específicas.
Organizações não partidárias, sem fins lucrativos,
RICH;
WEAVER
2008 cuja principal missão é produzir e promover sua USA
expertise entre os policy makers
Fonte: autoria coletiva, 2009.

Em síntese, é possível afirmar que de modo geral o termo é utilizado, nos conceitos
mais tradicionais, para designar organizações que são independentes e sem fins lucrativos,
que realizam pesquisas e análises na área de políticas públicas, a fim de prover de
conhecimento especializado a sociedade em geral e os tomadores de decisão política em
particular. Como se verá em 4.2, o conceito proposto modifica-se do extraído acima, oriundo,
como afiançou-se, da literatura tradicional sobre o fenômeno.
Na próxima seção, são explanados os conceitos ligados ao fenômeno de pesquisa,
porém ligados aos países em que estas organizações se desenvolvem à margem da linha
tradicional anglo-saxônica.

3.6.3 Estudo dos think tanks em outros países

O estudo dos think tanks em outros países teve como fonte de pesquisa bibliográfica as
bases de dados mencionadas anteriormente. Objetivou-se com isso o duplo propósito de
conhecer a realidade desses institutos em países fora do eixo anglo-saxônico, que deu origem
a esta forma organizacional presente na administração pública, e verificar quais elementos

92
93

comuns com a realidade brasileira poderiam ser identificados, na tentativa de traçar pontos de
convergência entre as formas organizacionais dos think tanks que são encontrados em países
periféricos, e que não são contemplados pela literatura tradicional sobre o objeto de estudo.
Os elementos constitutivos dos think tanks atuais são a premissa de que não existe um
distanciamento completo dos think tanks e visões de mundo; de que a geração de idéias está
se tornando o padrão de justificativa para sua existência e que a ação dos pesquisadores esta
mergulhada em uma rede de valores preexistentes à história de cada um, logo, não se pode
falar, nos dias de hoje, em neutralidade científica nos think tanks.
Entre os estudos relativos ao estado da arte no campo, encontra-se o estudo
longitudinal dos Países Bálticos – Estônia, Letônia e Lituânia ‒ conduzido por Purju, Vanags
e Chandler (2005), que acompanharam o desenvolvimento das organizações contemporâneas
que fazem a ligação entre conhecimento sobre políticas públicas e poder político, nos três
países citados.
A realização do estudo deveu-se a circunstâncias históricas, uma vez que os três
países, em 1991, se tornaram Estados independentes, rompendo com o sistema soviético. Os
autores descobriram à época que os países citados não possuíam tradição alguma em
pesquisas sociais, em contraste com outros países da Europa Central como a Hungria, a
Polônia e mesmo a Bulgária ou a Romênia, que possuem uma antiga e por vezes distinta
tradição nas ciências sociais. Entre os motivos da inexistência de estudos científicos do campo
nos países bálticos citam, a “a perseguição e o extermínio dos intelectuais mais proeminentes
após a anexação pela ex-URSS ‒ União das Repúblicas Socialistas Soviéticas” (PURJU;
VANAGS; CHANDLER, 2005, p. 2), aliado ao desdém das autoridades soviéticas, para as
quais “os resultados de pesquisas econômicas e sociais não eram considerados uma base séria
para a ação” (ibid., 2005, p.2).
Esses acontecimentos fizeram com que “os três países Bálticos fossem obrigados a
criar uma infra-estrutura de policy making sem aviso prévio” (PURJU; VANAGS;
CHANDLER, 2005, p. 3), diante da decisão dos três países de se capacitarem, no prazo mais
curto possível, para admissão à União Européia. Para os autores, esta conjunção de fatores
lhes oportunizou “um experimento empírico único acerca do desenvolvimento de instituições
e de práticas de políticas públicas” (ibid., 2005, p. 2), ocorrido sem qualquer base de
conhecimento autóctone prévio. Entre as constatações do estudo acerca da construção de
conhecimento e instituições de pesquisa voltadas para o estudo das políticas públicas,
salientam os autores que, desde a independência na década de 90, é possível distinguir

93
94

diferenças significativas entre a cultura política e as instituições surgidas em cada um dos


países estudados.
Na Estônia, as pesquisas na área da economia e das ciências sociais em geral, são
realizadas tanto por universidades e institutos de pesquisas ligados a universidades quanto por
organizações sem vinculação acadêmica, isto é, think tanks, que são na maioria institutos
independentes e organizações não governamentais sem fins lucrativos. Os autores ressaltam,
entretanto, que as análises específicas sobre políticas públicas no país são conduzidas,
majoritariamente, fora das instituições universitárias, pelos think tanks (PURJU; VANAGS;
CHANDLER, 2005);
Por sua vez, na Letônia, a maior parte dos institutos de pesquisa são ligados às
universidades públicas do país, encontrando-se, em menor número, organizações privadas
sem fins lucrativos e empresas privadas que realizam pesquisas sobre políticas públicas (ibid.,
2005);
Na Lituânia, relatam os autores (op. cit.) que os mais ativos institutos de pesquisa se
dividem, quase que na mesma proporção, entre organizações públicas e privadas de pesquisa.
As últimas, por sua vez, se subdividem entre organizações sem fins lucrativos e institutos de
caráter comercial. Ressaltam, porém, que em alguns desses institutos privados o lucro não é o
principal objetivo, pois sua constituição se assemelha a cooperativas gerenciadas por seus
empregados. Destacam como uma particularidade do país o predomínio de institutos
especializados, cujo propósito de pesquisa é dirigido a um único campo da política pública,
e.g., política habitacional, política de saúde, econômica, etc. (PURJU; VANAGS;
CHANDLER, 2005). Com isso, de acordo com os estudiosos, as instituições de pesquisa em
políticas públicas deste país possuem um caráter analítico mais técnico do que político (op.
cit.).
Entre os pontos de convergência identificados nos três países, citam a freqüência de
contato e a proximidade existente entre pesquisadores e policy makers, em termos de relações
formais e informais; de modo geral, prevalece nos três países a visão dos cientistas sociais
como conselheiros políticos cuja base de conhecimento situa-se em fatos concretos. Outro
importante fator de convergência refere-se à principal fonte de financiamento dos institutos de
pesquisa nos três países que, à semelhança de outros países em desenvolvimento, é constituída
de recursos governamentais. Como demonstra a tabela 05,

94
95

TABELA 05 – Fonte de financiamento: organizações de pesquisa nos países bálticos (%)

Governos estrangeiros,
Setor Setor Fundos doações multilaterais Outras
estatal privado privados (incluindo fundos da União fontes
Européia)
Estônia 49% 10% 21% 18% 2%
Letônia 34% 6% 10% 34% 16%
Lituânia 39% 21% 9% 22% 10%

Fonte: adaptado dos resultados obtidos por Purju, Vanags e Chandler, 2005, GND.

A observação da tabela 5 permite deduzir que, nos países mencionados, em média,


40,66% dos recursos destinados aos think tanks são de origem estatal, isto é, são recursos
públicos alocados em organizações de diversos tipos para fins de pesquisa e estudo sobre
políticas públicas. Pode-se deduzir que, em maior ou menor grau, uma proporção semelhante
a essa seria encontrada, caso houvesse estudos nacionais que realizassem este tipo de análise.
Contudo, a fonte de financiamento, que, com se verá adiante, na seção 4.3 (que faz a
proposição de uma classificação nacional para estas organizações) é uma categoria de análise
essencial para que se possa reconhecer e classificar os think tanks. Independentemente,
porém, da fonte de seus recursos, essas entidades continuam a ser vistas como uma das
principais instâncias de produção e divulgação de novos conhecimentos em política pública.
Na tabela 06 são relacionados os conceitos extraídos da literatura de países que não
compõem a linha tradicional16 de pesquisa sobre o fenômeno:

TABELA 06 – Conceitos de think tanks na literatura não convencional


Think tank é uma organização que se dedica à
pesquisa e discussão dos problemas enfrentados pela
sociedade, que costumam indicar as possíveis
soluções encontradas e engajar-se na educação e na
defesa de suas idéias a fim de obter atenção pública
dos envolvidos ou interessados no tema em pauta. Vários
WISEGEEK [S.I]
Think tanks podem ser encontrados no mundo todo, países
focados em uma extensa gama de assuntos incluindo
meio-ambiente, tecnologia, pobreza, leis, política
externa, economia, educação, forças armadas, etc..
Muitas das mais brilhantes mentes estão envolvidas
com o trabalho em think tanks.
Os think tanks são instituições que foram organizadas
MICELI 1989 para atender as solicitações dos setores dirigentes Brasil
estatais, e que passaram a exercer influência sobre as
16
Como já se fez menção ao longo do texto, considera-se, para efeito deste estudo, como países
pertencentes à linha tradicional do estudo dos think tanks: a Inglaterra, os Estados Unidos e o
Canadá.
95
96

ações governamentais, mesmo que de forma pontual e


ocasional.
Os think tanks são corporações de interesse que
abrangem uma parte pequena, mas bem organizada da
SERRA 1995 Brasil
população, e exercem uma influência desproporcional
sobre as decisões relativas aos assuntos públicos.
Organizações sem fins lucrativos de pesquisa em
políticas públicas, que almejam induzir os policy
makers a levar em conta as posições que defendem, e
BRAUN; deste modo afetar o processo de decisão política em
CICIONI; 2000 diferentes níveis de governo [...] A despeito da Argentina
DUCOTE diferença de escopo de e de foco, possuem em comum
a pretensão de construir pontes sobre a lacuna entre as
demandas de certos grupos da sociedade civil e o
trabalho dos policy makers.
Os think tanks são, majoritariamente, instituições
privadas com fins lucrativos ligadas a empresas, cujas
pesquisas são conduzidas com base em contratos e
projetos comissionados não havendo, em geral,
NAKAMURA 2000 Japão
divulgação e accountability sobre os resultados das
pesquisas realizadas. Também exercem menos
influência nas políticas públicas do que o alto escalão
da burocracia em geral.
Think tanks são organizações independentes,
engajadas em pesquisa multidisciplinar, que buscam
lastrear as políticas públicas e que estão fora do
LESSA; alcance da competência da burocracia. Um think tank
EARP
2001 Brasil
realiza pesquisas distintas das acadêmicas, por sua
preocupação em atender demandas do governo,
funcionando como um espaço intermediário entre
acadêmicos e policy makers.
Os think tanks são uns dos principais atores políticos
das sociedades democráticas, funcionando como uma
NIRA 2002 infraestrutura ágil, que garante um processo pluralista Japão
e aberto de avaliação, análise, pesquisa e tomada de
decisão política.
Em termos gerais, um think tank poderia ser traduzido
BARBOSA;
AQUINO
2003 como uma instância, institucionalizada ou não, de Brasil
produção intelectual de ponta.
Instituições presente no processo de formulação de
políticas públicas, que não só produzem conhecimento
sobre temas sujeitos à regulamentação pública, mas
GROS 2003 principalmente formulam soluções ou projetos de Brasil
políticas públicas. A ação política desenvolvida pelos
think tanks pode ser interpretada como parte de uma
‘guerra de posição’.
Os think tanks são institutos privados de pesquisa e
debate sobre teoria econômica e políticas públicas;
que têm uma equipe técnica de alto nível ou contratam
consultores; e que divulgam o resultado das pesquisas
GROS 2003 Brasil
que realizam por meio de livros, periódicos e
publicações em geral, ou via participação em debates
nos meio universitários, na mídia e nos órgãos de
assessoria técnica dos partidos políticos. São
96
97

instituições de pesquisa presentes no processo de


formulação de políticas públicas, que produzem
conhecimento sobre os temas sujeitos à
regulamentação pública e formulam projetos de
políticas públicas, conforme sua orientação
ideológica.
Think tanks são instituições não estatais de
conhecimento, que operam sobre o guarda-chuva do
governo e que lutam pelo exercício de influência
SANTISO; sobre o processo de decisão política junto às
WHITEHEAD
2006 França
autoridades. Desempenham um papel essencial na
formulação e disseminação de propósitos políticos e
no provimento de informações-chave para o processo
de política pública.
São organizações que participam no processo de
política pública, ao oferecerem apoio técnico
(conhecimento) aos policy makers, ou exercerem
DÜR;
DE BRIÈVE
2007 pressão sobre esses, também com base em Bélgica
conhecimentos, conferindo legitimidade a cursos
de ação adotados, ou desqualificando-os, de
acordo com o grupo de pressão que representam.
São reservatórios de idéias, que produzem e
disseminam conhecimentos relevantes para a
SILVA 2007 Brasil
formulação de políticas públicas e a tomada de
decisão política.
Fonte: autoria coletiva, 2009

Realizada a reconstituição dos conceitos ligados a países que não pertencem a


literatura tradicional, faz-se o registro do conceito dos think tanks sob diferentes perspectivas
e sua evolução no tempo. O próximo assunto abordado é a influência exercida pela expansão
dos mercados mundiais, rompendo com as fronteiras demarcadas dos Estados e as
conseqüências desse movimento sobre a atuação dos think tanks.

3.6.4 A globalização e os think tanks

Nesta subseção aborda-se uma questão premente no mundo moderno, a globalização, e


seus efeitos sobre o fenômeno me estudo, os think tanks, e as implicações desta relação para a
sociedade brasileira.
As redes transnacionais de think tanks estão surgindo rapidamente, na opinião de
Stone (2000). Segundo a autora, essas possuem várias formas de atuação: vão do foco
regional ao global; algumas disponibilizam o resultado de suas pesquisas para qualquer um,
nos seus sites na internet, enquanto outras restringem o acesso a um pequeno círculo de
97
98

associados; muitas se orientam para a disseminação de conhecimento político em geral, outras


focam exclusivamente no conhecimento sobre políticas públicas.
Marteleto (2001, p. 72) esclarece que o termo rede designa uma estrutura sem limites
geográficos ou hierárquicos que “representa um conjunto de participantes autônomos, unindo
idéias e recursos em torno de valores e interesses compartilhados”. Analogamente, pode-se
afirmar que unem-se em rede think tanks com interesses semelhantes, distribuídos
geograficamente sem fronteiras ou limites espaciais, ou uma hierarquia definida.
Gros (2003b) confirma existirem redes de think tanks dispersas por vários países,
porém unidas pela visão ideológica que partilham e que procuram disseminar, contribuindo
para a internacionalização das idéias e causas em comum. A autora cita o exemplo da Atlas
Economic Research Foundation17, organização norte-americana, fundada na década de 80
com a finalidade de “apoiar a criação, angariar fundos e coordenar as atividades de Institutos
Liberais em mais de 40 países, notadamente na América Latina e no Leste Europeu” (GROS,
2003b, p.237).
O exemplo da autora demonstra a intencionalidade do crescimento em rede que os
think tanks vêm perseguindo, seja como meio de acesso a conhecimentos e pesquisas em
maior quantidade do que pode ser produzido por uma única entidade, seja como forma de
exercer influência além dos limites geopolíticos de um Estado.
Com o objetivo de exemplificar como atuam em rede os think tanks nos dias de hoje,
expõe-se a figura 13, que mapeia as redes de think tanks que são formadas por essas
organizações nos Estados Unidos da América, com a orientação ideológica das organizações
servindo de base para o estabelecimento das ligações estudadas:

17
A Atlas Foundation ajuda a criar e manter think tanks ao redor do mundo: provê orientação,
consultoria, apoio financeiro e acesso a uma rede internacional de líderes e intelectuais que
compartilham o ideal liberal (Atlas Economic Research Foundation, 1997 apud GROS, 2003b).
98
99

Figura 13: Analise de redes de think tanks nos EUA.


Fonte: FAS – Federation of American Scientists – Research Project, 2006.

A figura 13 apresenta os principais think tanks de caráter conservador (em vermelho)


ou liberal (em azul) nos Estados Unidos e suas ‘afiliadas’, isto é, think tanks menores com os
quais formam redes, e as ligações entre eles. Os ‘nós’ ou círculos representam instituições e as
linhas, a conexão entre as instituições. A pesquisa que originou a figura é parte de um projeto
da FAS – Federation of American Scientists, cuja meta é mapear, em escala global, a criação
e difusão, em rede, de idéias e conhecimento entre think tanks.
A entidade é uma organização de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas
fundado em 1945, por cientistas que trabalharam no Projeto Manhattan, que desenvolveu a
primeira bomba atômica. À época, esses cientistas perceberam que a ciência havia se tornado
um ponto nevrálgico em muitos assuntos-chave relacionados à política pública. Esta
percepção instigou-os a criar a FAS, motivados pela crença da dupla responsabilidade que
partilhavam: o dever de alertar a sociedade e os policy makers dos perigos potenciais
advindos de avanços científicos e tecnológicos; por outro lado, de demonstrar como boas

99
100

políticas públicas podem mitigar este risco e incrementar os benefícios sociais oriundos de
novos conhecimentos científicos (FAS, on line, [S.I.]).
Com 70 laureados pelo prêmio Nobel entre os membros de seu Conselho Diretor, a
FAS registra em seu website que a organização pode prover “análises técnicas oportunas e
apartidárias sobre complexos assuntos globais, que são determinantes em tecnologia e
ciência”, além de possuir a “habilidade em tópicos críticos de política pública, que não são
adequadamente abrangidos por outras organizações” (op. cit.).
A legitimidade da influência dos think tanks e sua autoridade de informar assuntos de
política pública, segundo Stone (2002, p. 3) relaciona-se ao modo como as “instituições de
conhecimento estão ligadas a interesses econômicos e estruturas capitalistas globalizadas”. Ao
traçar a conexão entre a legitimidade do conhecimento produzido por institutos de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas e a força dos interesses econômicos de organizações
internacionais, a autora evidencia a preocupação dos estudiosos com os efeitos da
globalização sobre a neutralidade da expertise e do conhecimento científico gerado pelos
think tanks.
Não parece descabido, neste contexto, afirmar a possibilidade de que sejam criados
think tanks com o propósito de respaldar os interesses específicos do capital mundial, uma vez
que os efeitos da globalização, para Dahl (2001, p. 129, grifo nosso), repercutem com maior
intensidade no “final do século XX, [quando] os países democráticos passaram a sentir cada
vez mais as consequências da internacionalização”. Na análise do autor, a dificuldade e o
perigo embutidos no processo “[...] não está em deter a internacionalização em suas trilhas, o
que é impossível. A dificuldade é democratizar as organizações internacionais” (DAHL,
2001, p. 128), de modo que os processos políticos não sejam determinados pelos interesses do
mercado, mas se mantenham sob controle dos cidadãos e a serviço deles.
Concomitantemente à estratégia de globalização, think tanks internacionais buscam
adaptar-se à realidade de cada país a que se dirigem, a fim de evitar os efeitos negativos que
podem resultar de um processo de globalização mal planejado (COURT; COTTERELL,
2005). Assim, os think tanks lançam mão de diferentes formas de inserção no contexto
político de outros países, tais como: a abertura de um escritório próprio (como é o caso do
Woodrow Wilson Center, um dos mais tradicionais e antigos think tank norte americano, que
possui escritório em São Paulo e na Cidade do México, para citar apenas os países do
continente americano, vide item 4.4); a filiação em rede com instituições do país de destino,
para intercâmbio de profissionais e realização de pesquisas em parcerias.

100
101

Em particular, aplicado ao cenário nacional, pode-se verificar a estratégia de atuação


em rede, mediante o exemplo de internacionalização bem-sucedida de organização de
pesquisa e aconselhamento em políticas públicas Stonebridge International LLC, com sede
em Washington e escritórios próprios em Nova York, Pequim (Beijim) e Xangai. Embora não
se declare como um think tank, esta empresa, que presta “consultoria” na área de negócios
internacionais, possui uma vasta rede de influência, inclusive no Brasil, como se verá no
prosseguimento.
O site institucional informa que esta empresa trabalha em conjunto com seus clientes
visando a “ajudá-los a amplificar e acelerar o impacto de suas mensagens e prioridades,
trabalhando transversalmente junto a lideres no governo, nos negócios e na mídia”
(STO5EBRIDGE I5TER5ATIO5AL, on line, [S.I.], grifo nosso).
Entre as áreas de atuação da empresa está a de relações governamentais, exposta na
figura 14.

Figura 14 - Áreas de atuação da Stonebridge International


Fonte: Stonebridge International, on line, [S.I.]

Caracteriza-se esta organização como um think tank globalizado, a despeito de não


estar explícito em seu site a assunção desta forma institucional, já que:
i)- em seu site encontram-se diversas pesquisas científicas realizadas internamente, no âmbito
de políticas pública, para dar suporte às demandas de seus clientes;
ii)- constitui uma rede internacional, composta por seus escritórios de representação e os
parceiros institucionais: Por exemplo, o Civitas Group, um think tank declarado, especialista
em aconselhamento sobre política de segurança nacional que, segundo informação contida no
101
102

site institucional, opera na junção entre a política pública e os negócios; e o escritório de


advocacia Hogan & Hartson, que desde 1904 realiza e publica pesquisas sobre assuntos de
interesse de seus clientes, atendidos em 27 países por um corpo jurídico de mais de 1100
profissionais, segundo informações disponíveis no site da instituição;
iii)- possui uma rede regional de expertise , na qual alia-se a equipes regionais de especialistas
com “profundo conhecimento e forte relacionamentos nos setores público e privado”
(STO5EBRIDGE I5TER5ATIO5AL, on line, [S.I.]).
A Stonebridge reúne uma equipe de “especialistas de altíssimo nível, com vasta
experiência em mercados chave” da Ásia, Europa, América Latina, Oriente Médio etc.
sobretudo em países de particular importância para o Brasil, como a China, a Índia e a Rússia.
(op. cit.), como se pode ver na figura 15,

Figura 15: Mapa da rede de atuação global da Stonebridge International


Fonte: Stonebridge International, on line, [S.I.]

Um dos parceiros brasileiros da Instituição Stonebridge International é a empresa


Rubens Barbosa & Associados, liderada pelo ex-embaixador do Brasil na Inglaterra (1994 a
1999) e Estados Unidos (1999 a 2004). Quando se aposentou do serviço diplomático, o ex-
embaixador fundou sua empresa, cuja base é o seu conhecimento em relações internacionais,
oriundo de sua experiência internacional.
A Rubens Barbosa & Associados, de acordo com informações disponibilizadas em seu
site, é associada da Stonebridge International, uma “empresa de estratégia global de negócios
fundada pelo ex-Secretário de Segurança dos EUA, Samuel R. Berger, e pelo ex-Embaixador

102
103

dos EUA no Brasil, Anthony S. Harrington” (RUBENS BARBOSA E ASSOCIADOS. on


line, [S.I.]).
Nos resultados de sua pesquisa, Rich (2004, p. 25) aponta existir um “esforço
intencional de marketing”, ou seja, de promover e divulgar os resultados obtidos por um think
tank, em especial aqueles ligados a uma corrente ideológica específica, como forma de
aumentar o alcance da repercussão de seu trabalho, essencial para a credibilidade e força de
influência de um think tank. O “fator marketing” torna-se uma medida de sucesso para um
think tank na medida em que a projeção alcançada pelo resultado de suas pesquisas é
diretamente proporcional à atenção que poderá obter dos policy makers.
O trabalho de Court e Cotterell (2004) faz parte do Bridging Research and Policy
Project (Projeto Construção de Pontes entre Pesquisa e Políticas Públicas) da Global
Development 5etwork - GDN (Rede de Desenvolvimento global), patrocinada pela OECD -
Organization for Economic Co-operation and Development (Organização para a Cooperação
e o Desenvolvimento Econômico). Na afirmação dos autores, este “[...] tem como meta
aumentar a compreensão do nexo [casual] da pesquisa política”, com o objetivo de prover
“aconselhamento prático a pesquisadores e policy-makers” (COURT; COTTERELL, 2004, p.
iii, grifo nosso).
Os autores defendem que o Projeto da GND é singularmente significativo, já que
“representa o mais amplo esforço de pesquisa exclusivamente já realizado sobre o tema,
concentrando-se nos países em desenvolvimento ou em transição [democrática]” (COURT;
COTTEREL, 2004, p. 1, grifo nosso). Os principais objetivos indicados são: reunir as
evidências de cinqüenta estudos de casos e dois surveys realizados pela organização nos
países em desenvolvimento, na tentativa de determinar como a política, o processo político e
as instituições afetam a ligação entre pesquisa e política pública (COURT; COTTEREL,
2004).
Perspectivas comparadas dos trabalhos mais recentes de Stone (2007) demonstram que
os think tanks podem e, de fato, representam um papel em várias sociedades. A sistemática
comparativa ajuda a explicar a politização ocorrida nos think tanks nos últimos anos
(WEAVER; KENT, 1998), pois provêem um bom ponto de referência para distinguir melhor
os fatores que são imputáveis ao desenvolvimento da sociedade e indicar caminhos
alternativos na forma de lidar com esta tendência, além de prover um arcabouço para o
entendimento das restrições e oportunidades que os think tanks oferecem em ambientes
distintos.

103
104

O processo de adaptação dos think tanks internacionais é sumarizado na figura 16:

Atuação dos
Think tanks

Figura 16: O processo de influência globalizado sobre a política pública


Fonte: Autoria própria, 2009.

As redes internacionais de think tanks, como ilustra a figura 16, tendem a influenciar
todos os aspectos do processo político nos países: influem no contexto político, no conteúdo
das políticas escolhidas e, algumas vezes, diretamente sobre a opinião dos policy makers
(McGANN, 2002; RICH, 2006; SANTISO; WHITEHEAD, 2006).
Na visão de Court e Cotterell (2004), as estruturas dos think tanks devem estar
alicerçadas em uma estratégia institucional clara para atingir os objetivos desejados no
processo de influenciar políticas públicas: essa estratégia, porém, deve ser adequada à
realidade do país a que se destina.
Considera-se encerrada a subseção, com a apresentação dos exemplos de influência
exercida pelos think tanks no mundo inteiro. Novamente se afirma que todo conhecimento é
útil, e que o exercício da influencia é um mecanismo previsto em regimes pluralistas. E, como
nas vezes anteriores, se faz idêntica ressalva: o que deve ser colocado é a transparência e a
clareza do processo por parte dos think tanks, internacionais ou não.

104
105

2.7 Interseção: think tanks, administração, políticas públicas e co-produção

Nesta seção, a última da fundamentação teórica, é feita a ligação entre o conteúdo das
teorias explanadas ao longo do capítulo e o objeto de estudo, os think tanks, pois, como afirma
Santos (2007, p.17), vivemos em um “mundo confuso e confusamente percebido”. Faz-se
necessário torná-lo o mais claro e evidente possível, expondo as interligações presentes na
política pública nacional.
Ao final da segunda grande guerra ganha fôlego a literatura acadêmica que, até então,
permanecia incipiente uma “ampla literatura mostrou que os vínculos entre indivíduos,
entidades e organizações estruturam as mais variadas situações sociais, influenciando o fluxo
de bens materiais, idéias, informação e poder” (MARQUES, 2006, p. 19).
Santiso e Whitehead (2006) argumentam que as instituições-chave na promoção do
desenvolvimento dos países são aquelas que promovem a governança e a accountability.
Deste modo, instituições com essa característica cívica, com capacidade técnica, orientadas
para a política pública e envolvidas no processo de policy making merecem um papel central
na atenção do governo e da sociedade. Complementa-se o argumento dos autores com a
afirmação de que o conceito de co-produção permeia a atuação de instituições dessa natureza,
que se tornam parceiras na co-produção do bem público, ainda que o conceito de co-produção
não fique explícito na exposição dos autores.
O que se revela crucial é tornar claro, na interseção entre a administração pública,
sociedade e think tanks, é qual o tipo de resultado alcançado por uma política pública co-
produzida: se há efetivamente a busca do bem público, ainda que este bem atenda somente a
interesse de uma minoria desprivilegiada da população, ou se o bem produzido atende a
necessidades de grupos dominantes na sociedade, que igualmente constituem uma minoria.
O poder, representado pela sociedade, a lei, representada pelo Estado, e o saber,
representado pelas organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas são
dissociados enquanto espaços autônomos de atuação organizacional e de representação
política. Em outras palavras, a sociedade, o Estado o os think tanks possuem âmbitos
organizacionais e representativos distintos, porém, que se complementam e, algumas vezes, se
sobrepõem, como pode ser o caso de uma ONG que também realize pesquisas para atender as
demandas de advocacy das causas que abraça, com a finalidade de influenciar a public policy
making.
Partindo-se do pressuposto de que o aumento de conhecimentos no ciclo de políticas
públicas eventualmente corresponderá a melhorias sociais, que por sua vez podem instigar a
105
106

participação e a cidadania e, por conseqüência, aliviar o peso de demandas cada vez mais
exigentes, depositada sobre Estados sobrecarregados por necessidades a serem supridas.
Assim, se os atores mencionados ao longo desta revisão da literatura, forem capazes de se
unir, para viabilizar a produção de formas mais avançadas de bem público numa espiral
virtuosa, podem originar uma nova forma de se “fazer” a administração pública: mais justa,
mais accountable e verdadeiramente voltada para a sociedade.
Tratou-se neste capítulo de explicitar a base referencial que norteou o trabalho. O
capítulo que procede a este tem por objetivo sintetizar os resultados obtidos ao longo do
estudo.

106
107

CAPÍTULO IV – RESULTADOS DO ESTUDO


Finalizou-se no capitulo anterior a explanação das teorias e conceitos utilizados neste
estudo, que retratam o recorte teórico utilizado. A construção teórica na qual se insere o
estudo dos think tanks foi o motivo da elaboração do capítulo três, sumarizado na figura 17,

Figura 17: O arcabouço teórico dos think tanks


Fonte: Autoria própria, 2009.

Sintetiza-se o conjunto das teorias e campos de conhecimento que foram objeto de


estudo e que permitiram neste capítulo a compreensão das cadeias causais entre políticas
públicas, a ações dos think tanks e os resultados efetivamente obtidos por esses na influência
daquelas.
Segundo Mattos (2007), espera-se de um pesquisador de pós-graduação, entre outros
atributos, a capacidade de analise e de síntese. Dito de outro modo, que possua a competência
para pensar e, consequentemente, elaborar lingüisticamente os resultados de suas reflexões.
Assim, na continuação discorre-se sobre os resultados obtidos com o estudo teórico proposto.

107
108

4.1 Substituição do termo think tanks

Nesta seção far-se-á a proposição de uma expressão que permita substituir o termo em
inglês think tanks por uma expressão correspondente em português. Pretende-se com esta
proposição caminhar em direção ao alcance do objetivo geral, isto é, tendo por base a
literatura tradicional e os termos nela utilizados, constituir uma expressão em português que
facilite o entendimento e o reconhecimento das organizações a que o termo estrangeiro, de
difícil compreensão e intraduzível, faz referência.
Pondera-se que um léxico em idioma nacional torna a idéia em si − nele contida −
mais fácil de ser compreendida, o que vai ao encontro da proposta deste trabalho, que é o de
sistematizar conhecimentos sobre os think tanks, a fim de permitir que este fenômeno, na
realidade empírica brasileira, possa ser reconhecido e seu estudo, aprofundado.
Corrobora-se a colocação de Charaudeau e Mainguenou (2008, p. 72), que com base
na teoria do speech acts18 esclarecem que,

[...] ‘dizer’ é, sem dúvida, transmitir ao outro certas informações sobre o


objeto de que se fala, mas é também ‘fazer’, isto é, tentar agir sobre o
interlocutor e mesmo sobre o mundo circundante. Em vez de opor, como se
fazia freqüentemente, a fala à ação, propõe-se que a própria fala é uma
forma e um meio de ação. [...] enunciar ‘eu prometo que venho’, é, ipso
facto, realizar um ato, o de prometer.

Rich (2006) e Silva (2007) reconhecem como agravante que a existência de diversas
expressões na língua inglesa, utilizadas para referenciar os think tanks (tais como brain
factory; ideas reservoir, fábricas de idéias, catalisadores de idéias, entre outros) aumentam o
desacordo e o entendimento sobre o seu significado. Contudo, independentemente do termo
empregado para designá-los e do tipo de organização a que fazem referência, é importante
salientar que todos se relacionam à mesma questão essencial: o papel do conhecimento e da
expertise no ciclo da política pública.
Com a estruturação de saberes de áreas nas quais se insere o fenômeno e a organização
em tabelas de diversos conceitos, tanto os da literatura tradicional predominante, como os
surgidos recentemente nos países em desenvolvimento, obteve-se a base necessária para a
construção da expressão alternativa ora proposta, em substituição ao uso da expressão inglesa

18
Proposta pelo filósofo inglês John Longshaw Austin, em sua obra How To Do Things Work With
Words, de 1962, a teoria parte da descoberta de que a fala é um meio de ação. A teoria austiniana
afirma que os enunciados possuem a propriedade de, sob certas circunstâncias, tornar real as coisas
abstratas a que se referem, pelo simples fato de dizê-las.
108
109

think tanks: “organizações de pesquisa” foi uma escolha lógica, pois o termo abrangente
(organização) permite a percepção imediata da diversidade de natureza das entidades e a
atividade (pesquisa) do fenômeno. Considerou-se que o uso de “organização” em substituição
ao termo “instituto”, utilizado nas definições em inglês, é mais adequado à variedade de
formas organizacionais encontradas no Brasil, que não se limitam a institutos, como será
detalhado adiante, no item 4.4, e que a figura 20, à página 138, demonstra.
Também a utilização de ‘política pública’ foi considerada indispensável para elucidar
a expressão e evitar a incompreensão inerente ao termo genérico ‘política’. Como se explanou
na seção 3.3, a palavra política, em português, agrega diferentes significados, o que impôs a
condição de esclarecer o significado ao qual se faz referência, mediante sua especificação e
qualificação, isto é, política pública (eliminando os outros possíveis significados atribuídos à
política).
Deste modo, faltava uma palavra que unisse ‘organização de pesquisa’ com ‘política
pública’: esta palavra foi alvo de considerações por um período razoável de tempo. O que este
termo médio deveria trazer à expressão era o complemento do significado do que são e fazem
os think tanks. Assim, considerou-se a validade do uso e a propriedade dos termos
assessoramento, consultoria e aconselhamento para completar a expressão. É importante
ressaltar que o processo de amadurecimento das ponderações a favor e contra cada uma das
palavras mencionadas levou mais ou menos quatro meses, até que fosse alcançada a
segurança conceitual necessária à decisão.
Tendo em vista o propósito da substituição, isto é, de servir como um meio de facilitar
a compreensão do termo think tank e, com isso, seu reconhecimento na realidade empírica
pelas pessoas, utilizou-se a pesquisa a dicionários e a experiência empírica desta pesquisadora
como administradora pública e docente. Assim, obteve-se que:
- Assessoria: é o órgão, ou conjunto de pessoas que assessoram um chefe. Sinônimos
encontrados: ajudar, auxiliar, secretariar. Além disso, a palavra assessoria, na linguagem
corrente, é associada a uma atividade permanente, ligada a uma relação funcional, ou de poder
organizacional do tipo encontrado em organogramas matriciais, em que a assessoria presta
contas diretamente à autoridade de linha máxima da empresa. Por exemplo, assessoria
jurídica, ou assessores parlamentares. A palavra possui uma conotação de relação hierárquica
que não se coadunava com o objetivo pretendido, sendo por isso descartado seu uso.
- Consultoria: a palavra consultoria é bastante mencionada na literatura sobre think tanks. Seu
significado no dicionário é examinar, sondar antes de decidir, dar conselho, opinião, parecer

109
110

sobre algo a alguém. Os sinônimos são assessoria, orientação, exame, investigação,


informação. O motivo pelo qual se optou por não adotar esta palavra, que para efeitos
lingüísticos servia ao propósito pretendido, foi o fato de que, no campo da administração em
geral, o serviço de consultoria ficou relacionado com cortes de pessoal e despesas típicos dos
processos de downsizing e reengenharia, tão em voga nas décadas de 80 e 90. Um consultor é,
em princípio, encarado com desconfiança.
- Finalmente, chegou-se à palavra aconselhamento: ato ou efeito de aconselhar; etapa do
processo de orientação educativa em que o orientador auxilia o orientando; forma de
orientação destinada à solução de problemas. Ponderou-se que a palavra não é usual em
português, mas tampouco é estranha no idioma, pois aconselhar é bastante comum. Por um
lado o fato de não ser usual pesava contra seu uso; por outro lado, o recomendou, já que a
palavra não possui, ad modum, outro significado associado a ela. Por isso, optou-se por seu
uso.
Feitas as considerações causais que levaram à escolha da expressão para substituição
da expressão think tank, referenda-se a proposição de utilização da expressão OrPAPP –
Organização de Pesquisa e Aconselhamento em Política Pública. Observa-se que a
expressão ‘aconselhamento’ é usada por Smith (1991), um acadêmico reputado, em seu
conceito de think tanks, exposto na tabela 4.
Faz-se a ressalva de que foi testado seu uso no cotidiano da pesquisadora, nas mais
distintas situações: quando perguntada sobre seu tema de pesquisa, a primeira resposta – os
think tanks, gerava a habitual expressão de dúvida. Ao esclarecer que se estudavam as
organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas, ocorreu na maioria das
vezes uma compreensão imediata do sentido do objeto de estudo, e em alguns casos, a
sugestão de pesquisa de entidades que poderiam ser classificadas como tais.
Explanado o ‘caminho’ que levou do teste de possibilidades até a proposição da
expressão substituta para o termo think tanks nesta seção, na seção seguinte é feita a
proposição de um conceito para o fenômeno de pesquisa.

4.2.Conceito: institutos de pesquisa e aconselhamento em política pública

Para a construção do conceito que se apresenta foi utilizado o conhecimento adquirido


na construção das tabelas 4 e 6, do capítulo anterior, que contém conceitos sobre o fenômeno

110
111

de estudo – tanto da literatura tradicional anglo-saxônica, quanto aqueles encontrados em


outros países. Ambas as literaturas forneceram uma base de referência, que serviu à
proposição de um conceito nacional de think tanks. É importante esclarecer, porém, que, ao
mesmo tempo em que serviram à formação de conhecimento para esta pesquisadora, as
diferentes definições e formas de abordagem encontradas nos conceitos das organizações de
pesquisa e aconselhamento em políticas públicas – OrPAPPs, também tornaram difícil a
obtenção de denominadores comuns a essas − seus elementos constitutivos.
Todavia, como resultado do esforço de pesquisa, análise e interpretação realizado,
acredita-se que possam ser consideradas como organizações de pesquisa e aconselhamento
em políticas públicas (think tanks), no contexto nacional, organizações de diversas formas
jurídicas e com distintas fontes de financiamento, que realizam pesquisas sobre políticas
públicas, com a finalidade de aconselhar os policy makers, influenciar a tomada de decisão
política e divulgar para a sociedade os resultados obtidos em seus estudos e pesquisas.
Pondera-se que o conceito proposto é abrangente o suficiente para abarcar a realidade
dessas organizações no contexto nacional, pois, por um lado não se limita (como antecipado
na seção 3.6.2) a organizações sem fins lucrativos nem independentes ‒ o que não reflete a
realidade de várias entidades neste país; e, por outro lado, define com clareza os seus
principais objetivos.
Encerra-se esta seção, feita a proposição de um conceito nacional para as organizações
de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas, que, espera-se, sirva para tornar o
fenômeno mais claro e compreensível para as pessoas. Na seção seguinte procede-se a outra
proposição, desta feita, a de uma forma própria de classificação dessas organizações, também
voltada à realidade dos lusófonos.

4.3 Classificação proposta: OrPAPPs

Explicitado o conceito que passa a ser assumido nesta dissertação das organizações de
pesquisa e aconselhamento em políticas públicas, trata-se nesta seção de fazer uma
proposição de classificação dessas organizações, que reflita a forma como são encontradas no
país, e atender ao quarto objetivo de pesquisa específico.
A criação de classificações, como afirma Silva (2007, p. 123), serve para esclarecer o
“universo dos think tanks, desmistificando-os e tornando-os menos soturnos”. Em outras

111
112

palavras, ao classificar, aumenta-se a compreensão do fenômeno de estudo, e nisso reside


grande parte do mérito das classificações: como se sabe, são sempre generalizações e como
tais, simplificadoras de uma realidade complexa.
Foram identificadas nas obras consultadas muitas formas de classificação: as obras de
autores tradicionais, em especial, apresentam uma grande variedade de critérios. Apresenta-se
a síntese das principais categorias de classificação utilizadas no estudo dos think tanks:
a)- a linha ideológica declarada que orienta a organização. Quando há um matiz ideológico,
declarado ou percebível, são denominadas de institutos partidários;
b)- as ligações mantidas pela organização: com o governo, com universidades, em redes com
outros institutos de pesquisa etc.
c)- a fonte de recurso da instituição: membership (sócios pagantes); herança de fundadores;
verbas de fundações ou governo; doações empresariais, privadas ou de grupos de interesse
etc.
d)- o orçamento (budget): valor dos gastos ou de recursos captados pela instituição, por ano.
Rich (2006, p. 17, grifo do autor) separa os think tanks em três categorias: os de
“serviço completo” (possuem domínio e fornecem estudos e pesquisas em um leque amplo de
assuntos, nacionais ou internacionais); os “multi-temáticos” (têm interesses identificáveis em
muitos aspectos de uma ou mais políticas específicas – e.g. política de saúde e política social
– mas não fazem pesquisas sobre todos os tipos de políticas públicas); e os de “tema único”
que focam apenas uma categoria de assunto.
Outra classificação proposta por Rich (2006) é feita conforme o foco de atuação dos
institutos de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas: o enfoque operacional abrange
organizações não lucrativas, que realizam pesquisas e que divulgam livremente suas
conclusões e idéias sobre temas relativos à política pública; e o enfoque político abarca
aquelas que, com uma atuação agressiva, visam à maximização de sua credibilidade junto a
opinião pública via mídia; em paralelo, estas procuram influenciar no processo de formação
de políticas públicas, utilizando sua base de conhecimento e suas idéias.
A forma utilizada por McGann (2002) para categorizar os think tanks mescla o ano de
fundação da entidade com forma organizacional que elas tem, em função do tipo de ligação
que mantêm com governos, com universidades, partidos políticos, etc. Nakamura (2000)
salienta que a heterogeneidade das instituições que podem ser classificadas como OrPAPPs
torna ineficaz a tentativa de agrupá-las como se fossem um único tipo de entidade. A

112
113

variedade dessas organizações, ainda que benéfica do ponto de vista da diversidade, gera
dificuldades, quando se trata de ordená-las por semelhança.
Por este motivo, a transposição para a realidade do Brasil de qualquer uma das
classificações mencionadas revelou-se inadequada à realidade dos institutos de pesquisa e
aconselhamento em políticas publicas nacionais, pois se constatou, durante o estudo, que a
maioria das organizações no país não fazem menção ao fato de atuarem como organizações
de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas, nem à sua orientação ideológica19.
Neste sentido, o IETS - Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (vide seção 4.4), é uma
exceção, pois utiliza a expressão ‒ e deixa bastante clara sua atuação como think tank.
As ligações mantidas pelas organizações configuram, à primeira vista, uma opção
viável de classificação: na consulta ao site dessas, averiguou-se a existência de organizações
ligadas a Universidades (como a FEPESE); aquelas que fazem parte da administração pública
direta ou indireta (como o Instituto Osvaldo Cruz); e mesmo as que mantêm estreita
vinculação com empresas privadas (como é o caso da FEBRABAN). Todas deixam claras
suas ligações.
Entretanto, essa classificação foi descartada, pois se questiona a relevância dessa
categorização para a análise das organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas
públicas no Brasil. Pondera-se que a escassez de recursos para investimento em pesquisa,
aparentemente crônica no país, dificilmente permitirá que uma organização sobreviva com
uma única ligação principal, o que torna essa classificação parcial, portanto, insuficiente.
Também o valor dos orçamentos das organizações constitui uma alternativa de classificação
pouco viável: se não é percebida transparência, por parte de algumas organizações na sua
forma de atuação, não é factível também que as verbas a elas destinadas sejam divulgadas de
forma realística.
Adicionalmente, comenta-se que não é comum no país que grandes fortunas sejam
doadas para organizações de pesquisa por empresários bem sucedidos, que desejam contribuir
com o desenvolvimento da sociedade na qual enriqueceram – fato comum na sociedade norte-
americana, e.g. Andrew Carnegie - Carnegie Endowment for International Peace; Robert

19
Para Rich (2006, p. 10), o entendimento da atuação das OrPAPPs é “útil não apenas para a
compreensão do papel político do conhecimento (expertise) e das idéias na formação de políticas
públicas [...], mas por apontar como a ideologia direciona a política pública”.
113
114

Brookings - Brookings Institution20; Herbert Hoover – Hoover Institution on War, Revolution


and Peace ; e tantos outros (ABELSON, 2006; HAASS, 2002; SMITH, 1991; SILVA, 2007).
De acordo com Thunert e Goethe (2006), fenômeno semelhante ocorre na Alemanha,
onde, por iniciativa do Poder Público, ocorre a criação de organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas do tipo Governamental (think tanks ou, no alemão,
Ressortforschungseinrichtungen) ligados diretamente à estrutura dos Ministérios, em especial
nas áreas de economia, meio-ambiente e tecnologia.
Não existe resposta única, e foi necessário aprender com as experiências
internacionais, para chegar à definição das categorias de análise relevantes na elaboração de
uma classificação própria, adequada aos modelos organizacionais híbridos encontrados no
país, uma boa parcela ligada – direta ou indiretamente − ao governo. Atendendo ao objetivo
de pesquisa mencionado no início da seção, propõe-se a classificação das organizações de
pesquisa e aconselhamento em políticas públicas com base em duas categorias de análise:
i)- o viés ideológico: a primeira categoria de análise indica o grau de comprometimento com
uma determinada visão de mundo por parte do IPAPP, o que pode afetar os resultados de suas
pesquisas, na medida em que este viés direciona e condiciona os estudos realizados pelo
Instituto. Representado na figura 14 pela ordenada “y”, na vertical, o viés ideológico parte do
zero (quando não há algum tipo de apoio institucional ligado a uma determinada ideologia)
em uma reta ascendente que indica o aumento de vinculação ideológica do OrPAPP, e
consequentemente, das pesquisas realizadas pela organização.
ii)- a dependência de recursos públicos a segunda categoria de análise orienta-se pela
necessidade de recursos governamentais para a execução de atividade, isto é, para a realização
de pesquisas. Esta categoria é representada pela ordenada “x”, na horizontal da figura 14. Em
seu ponto de início, indica a completa autonomia com relação aos recursos públicos para sua
existência e manutenção, avançando horizontalmente conforme aumenta a necessidade de
verbas públicas, a fim de viabilizar suas atividades.
Esta combinação dual e suas possíveis gradações possibilitam as seguintes
combinações, convencionadas como quadrantes 1, 2, 3 e 4. Explica-se a operacionalização da
classificação proposta por quadrante:

20
O Brookinks Institution se define como o mais antigo think tank dos EUA e é resultado da fusão de
três institutos: o Institute for Government Research, o Institute of Economics e a Robert Brookings
Graduate School, que em 1927 uniram-se num só Instituto, que leva o nome do empresário, falecido
em 1932.
114
115

a)- quadrante 1 – O Modelo Híbrido 1 de OrPAPP: as instituições que se encaixam no


modelo do quadrante 1 têm como características a baixa dependência de recursos
governamentais, aliada a um alto grau de vinculação ideológica. Este modelo de instituição
faz sentido dentro de uma racionalidade privada, condizente com o modelo neoliberal, que
prega a redução do Estado (e procura não depender de recursos deste) e financia pesquisas
que suportem esta visão de mundo. Citam-se como exemplos o Instituto Liberal, o grupo
ICONE e a ABMS
b)- quadrante 2 – O Modelo Detrator de OrPAPP: neste quadrante enquadram-se as
OrPAPPs que fazem uso de recursos públicos em larga escala para viabilizar a condução de
pesquisas que servem à defesa de interesses de grupos específicos. As organizações
classificados neste quadrante utilizam um bem ou recurso público visando à obtenção de
benefícios privados, restritos ao interesse exclusivo de uma facção da sociedade, que não é
representativa da população em que se insere, nem possui a preocupação com o bem comum.
c)- quadrante 3 – O Modelo Puro de OrPAPP: classifica-se neste quadrante as organizações
de caráter técnico, ostensivamente neutras e independentes de grupos de interesse, doadores
ou governos, que divulgam os resultados de seus estudos e pesquisas para formadores de
opinião e policy makers em geral, independentemente de vinculação ideológica. Seus
trabalhos e pesquisas buscam elucidar assuntos ligados à política pública; conscientizar a
sociedade, suprir lacunas de conhecimento na solução de problemas públicos específicos e
auxiliar na compreensão das opções de ação política. Como o Instituto ETHOS, por exemplo.
d)- quadrante 4 – O Modelo Híbrido 2 de OrPAPP: engloba aquelas organizações que,
embora apresentem grande dependência de recursos públicos para sustentar suas atividades,
pautam-se pela neutralidade em relação a visões de mundo ou pontos de vista. Podem ser
tanto organizações que recebem verba governamental, mas que não integram a estrutura do
Poder Público, direta ou indiretamente, quanto aquelas entidades que, a exemplo da Fundação
Osvaldo Cruz, são parte da estrutura governamental.
Elabora-se, na figura 18, a representação gráfica da classificação proposta.

115
116

Viés político ideológico


Quadrante 1 Quadrante 2
MODELO MODELO
HIBRIDO 1 DETRATOR

Quadrante 3 Quadrante 4
MODELO MODELO
PURO HIBRIDO 2

-
- Dependência de recursos públicos +
Figura 18 - Classificação das organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas.
Fonte: Autoria própria, 2009.

Não é difícil constar-se quanto à realização de pesquisas no Brasil depende, em grande


medida, de investimento governamental, uma vez que a tradição nacional de subsídio se
consubstancia na própria existência da rede nacional de Universidades Públicas, aliás, em
geral as de melhor desempenho e dotadas com corpo docente preparado, conforme assevera
Schwartzman (2002). Segundo este autor, embora “a vinculação entre a pesquisa científica e o
setor produtivo seja de grande importância, o principal parceiro da pesquisa científica em
países com as características do Brasil [isto é, países em desenvolvimento] é o setor público”
(SCHWARTZMAN, 2002, p. 362).
Mesmo entre instituições com acesso a investidores e organismos estrangeiros, que,
em tese, oferecem fonte de financiamento alternativa para a realização de pesquisas em
política pública, encontrou-se que as organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas
públicas no Brasil possuem, em sua na maioria, algum tipo de investimento por parte do
Estado, ainda que seja na forma de renúncia ou beneficios fiscais para seu funcionamento
(SCWARTZMAN, 2002).

116
117

4.4 Exemplos: organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas


públicas

Nas seções precedentes fez-se, respectivamente, a proposição de um conceito e de


uma classificação das organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas com
base em parâmetros julgados adequados à realidade nacional.
Nesta seção trata-se de demonstrar, por meio dos exemplos levantados na realidade
empírica organizacional brasileira, a variedade das organizações encontradas, cujas
peculiaridades demandaram a proposição de uma classificação própria para essas
organizações no país, com base em critérios distintos dos encontrados nas classificações dos
principais autores sobre o fenômeno em estudo na literatura tradicional.
Com a finalidade de apontar, preliminarmente, a forma que os think tanks assumem no
país, e sua atuação, realizou-se a pesquisa que foi embasada no trabalho de estruturação de
conhecimento teórico sobre o fenômeno desenvolvido ao longo da dissertação. Esta
caracterização visou também à compreensão da realidade que as organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas no Brasil assumem. Foram investigadas trinta e uma
organizações, das quais se pode deduzir como think tanks vinte organizações, seguindo a
metodologia especificada no capítulo dois,
Aponta-se ser viável, nos termos deste estudo, a classificação das seguintes entidades
como organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas: ABMES- Associação
Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior; Brazil Institute; DIEESE - Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos; FEBRABAN - Federação Brasileira
de Bancos; Fundação de Apoio ao HEMOSC e ao CEPON – FAHECE; Fundação Centro de
Estudos do Comércio Exterior – FUNCEX; Fundação de Economia e Estatística Siegfried
Emanuel Heuser- FEE; FEPESE- Fundação de Estudos e Pesquisas Socioeconômicos;
Fundação Heinrich Böll; Fundação Osvaldo Cruz – FIOCRUZ; Fundação Solidariedade e
Educação – FASE; ICONE - Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais;
Instituto EQÜIT Gênero, Economia e Cidadania Global; Instituto ETHOS; IETS – Instituto de
Estudos do Trabalho e Sociedade; INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos; Instituto
Fernand Braudel de Economia Mundial; Instituto Liberal- IL; Rubens Barbosa & Associados.
Proceder-se-á a descrição das organizações referidas anteriormente, mediante informações
extraídas exclusivamente do site institucional de cada uma. Deste modo:

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118

1- ABMES - Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior: Organização


criada em 1982. É uma entidade de direito privado, com personalidade jurídica própria, sem
finalidade lucrativa, sediada na Capital da República do Brasil – Brasília.
A ABMES possui, no seu quadro de associados, 309 instituições mantenedoras e 448
instituições de ensino superior (IES) afiliadas em todo o território nacional. Suas finalidades,
de acordo com o artigo 2 do Estatuto da organização, são:
I. postular pelos direitos e interesses das instituições associadas ou filiadas;
II. promover estudos e propor soluções para os problemas relativos ao desenvolvimento e à
qualificação do ensino superior;
III. colaborar com os poderes públicos, visando ao aprimoramento da educação e da cultura,
da ciência e da tecnologia, do ensino, da pesquisa e da extensão, nas instituições associadas;
IV. proporcionar assessoramento pedagógico, administrativo, técnico e jurídico às instituições
associadas;
V. defender as instituições de livre iniciativa na prestação dos serviços educacionais de nível
superior;
VI. organizar e promover congressos, seminários, painéis, fóruns de debates, pesquisas e
cursos de especialização e aperfeiçoamento, nas áreas jurídica, administrativa, técnica e
pedagógica para as instituições associadas e não-associadas de ensino superior.
Orientada por seus objetivos e pelas constantes mudanças na sociedade em geral e na
área educacional, em particular, “a ABMES tem atuado, nesses vinte anos de sua existência,
de forma reconhecidamente relevante, nas áreas acadêmica e política” consolidando, deste
modo, seu papel de destaque dentro do conjunto dos órgãos que representam as instituições de
ensino superior particulares do país (ABMES, on line, [1982]).
Segundo dados do site da organização, esta “elabora estudos visando a subsidiar a
revogação e edição de normas legais, referentes ao ensino superior, de forma a adequá-las à
realidade das instituições de ensino superior brasileiras” e, neste sentido, a ABMES “busca
sempre chamar a atenção dos órgãos governamentais para a necessidade” de manter a
coerência entre as normas estabelecidas para o ensino superior particular e os ditames da
Constituição e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB. (op. cit.)
Em todas essas ações, a entidade conta com a colaboração de seus membros, bem
como de renomados representantes da comunidade acadêmica e também de órgãos
governamentais. Deste modo, a ABMES “procura estabelecer formas de integração das

118
119

instituições de ensino superior, com o propósito de promover a articulação destas com os


órgãos executivos governamentais” (ABMES, on line, [S.I.]).
Para consecução de seus fins, a entidade promove parcerias com vários órgãos,
visando à qualificação de docentes para o ensino superior; ao aprimoramento da avaliação
externa e do processo de credenciamento e recredenciamento das instituições de ensino
superior. (op.cit.). É relevante destacar que esta organização, nas informações que
disponibiliza em seu site, afirma que “tem-se destacado, desde a sua criação, pela
apresentação de subsídios à elaboração de políticas para o ensino superior” (ABMES, on
line, [S.I.]).

2- Instituto Liberal – IL: o site do Instituto informa que esto é uma instituição sem
fins lucrativos, que não tem - nem pode ter, de acordo com seu estatuto - qualquer vínculo
político-partidário. Volta-se para a pesquisa, produção e divulgação de idéias, teorias e
conceitos que revelam as vantagens de uma sociedade organizada com base em uma ordem
liberal.
Seus objetivos declarados são “promover a pesquisa, a divulgação de idéias, teorias e
conceitos” sobre as vantagens de uma sociedade baseada ‒ nos planos jurídico, político,
econômico e administrativo ‒ respectivamente, no Estado de direito, na democracia
representativa, na economia de mercado e na descentralização do poder (Instituto Liberal, on
line, [S.I.]).
Suas diversas unidades autônomas, espalhadas pela União, são sociedades civis sem
fins lucrativos, mantidas − de acordo com as informações do site da instituição – por meio de
doações voluntárias de pessoas físicas e jurídicas, além da venda de publicações.
Embora não fosse possível ‒ numa primeira análise, baseada no que se pode extrair do
site institucional ‒ caracterizar a organização como uma OrPAPP, é mediante o trabalho
pioneiro sobre os think tanks no país, realizado por Gros (2003; 2003b), que se pode afirmar
que o Instituto Liberal é, de fato, uma organização de pesquisa e aconselhamento em políticas
públicas. A tese de doutorado da autora é um estudo completo da organização e sua
caracterização como think tan, ocorre em função de uma sólida fundamentação teórica e
exemplificação da atuação da organização.

3- FEE –Fundação de Economia e Estatística Siegfried Emanuel Heuser – RS. Em


conformidade com as informações obtidas no site institucional, a Fundação de Economia e
Estatística Siegfried Emanuel Heuser – FEE, instituída em 1973, é uma instituição vinculada à
119
120

Secretaria de Planejamento e Gestão do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, que se


originou do Departamento Estadual de Estatística (DEE), criado na década de 30.
A FEE tem como atribuição elaborar informações estatísticas e análises sobre a
realidade socioeconômica gaúcha, além de subsidiar o sistema de planejamento econômico e
social do Estado. A FEE conta com uma equipe técnica interdisciplinar, composta por mais de 90
pesquisadores “técnicos de nível superior, que realizam estudos, pesquisas e análises sobre a
realidade gaúcha, respondendo igualmente pela organização e elaboração das estatísticas do
Estado, como o cálculo do PIB estadual e municipal e das estimativas populacionais”. Quanto às
fontes financiadoras das pesquisas realizadas, são citados recursos próprios (oriundo da venda de
publicações) e de instituições financiadoras, além de convênios de cooperação técnica e parcerias
com outras instituições de pesquisa e acadêmicas.

4- FAHECE – Fundação de Apoio ao Hemosc e ao Cepon - SC. A FAHECE-


Fundação de Apoio ao HEMOSC e ao CEPON é fundação privada, sem fins lucrativos, que
tem por objetivo a prestação de serviços de assistência médica hematológica, de hemoterapia
e oncológica à população do Estado de Santa Catarina, que “representa uma proposta
inovadora de participação da sociedade civil, através da gestão de serviços públicos de saúde
de alta complexidade, nas áreas de câncer e sangue” (FAHECE, on line, 2008). Trata-se da
co-produção de um serviço público por meio de um contrato de gestão entre o Estado de
Santa Catarina e uma Organização Social – OS.
Ainda segundo os dados extraídos do site institucional, a parceria entre o setor público
e o privado busca a qualidade do serviço prestado no atendimento às necessidades básicas
imediatas, na aquisição de tecnologia de ponta e na capacitação profissional, visando a
melhoria contínua no atendimento aos usuários do HEMOSC – Centro de Hematologia e
Hemoterapia de Santa Catarina e do CEPON – Centro de Pesquisas Oncológicas. (FAHECE,
on line, 2008)
A Fundação foi constituída em 1994, por iniciativa de um grupo de pessoas ligadas às
áreas do câncer e sangue, e faz a gestão da prestação de serviços públicos gratuitos nessas
áreas – em conformidade com a política estadual e federal da saúde pública. A primeira é
influenciada pela Fundação e seus estudos, que fornecem a base de conhecimento para a
política estadual de saúde no campo da oncologia e hemoterapia, segundo o site da Fundação.
Além desta função, seu estatuto prevê que “cabe à FAHECE mobilizar e aperfeiçoar todos os
recursos financeiros, materiais, tecnológicos e humanos para garantir uma gestão
administrativa eficaz” (op. cit.).

120
121

5- Instituto ETHOS: o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social é uma


organização não-governamental criada em 1998 por empresários e executivos oriundos da
iniciativa privada, no estado do Rio de Janeiro, mas com atuação em todo o território
nacional.
Em conformidade com o que a instituição divulga por meio de seu site, o Instituto é
“um pólo de organização de conhecimento, com a missão de mobilizar, sensibilizar e ajudar
as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável, tornando-as parceiras na
construção de uma sociedade sustentável e justa” (ETHOS, on line, [S.I.]).
Seus 1367 associados – empresas de diferentes setores e portes – têm faturamento
anual correspondente a aproximadamente 35% do PIB brasileiro e empregam cerca de 2
milhões de pessoas, tendo como característica principal o interesse em estabelecer padrões
éticos de relacionamento com funcionários, clientes, fornecedores, comunidade, acionistas,
poder público e com o meio ambiente. O Instituto Ethos propõe-se a disseminar a prática da
responsabilidade social empresarial, ajudando outras instituições a:
1. compreender e incorporar de forma progressiva o conceito do comportamento empresarial
socialmente responsável;
2. implementar políticas e práticas que atendam a elevados critérios éticos, contribuindo para
o alcance do sucesso econômico sustentável em longo prazo;
3. assumir suas responsabilidades com todos aqueles que são atingidos por suas atividades;
4. demonstrar a seus acionistas a relevância de um comportamento socialmente responsável
para o retorno em longo prazo sobre seus investimentos;
5. identificar formas inovadoras e eficazes de atuar em parceria com as comunidades na
construção do bem-estar comum;
6. prosperar, contribuindo para um desenvolvimento social, econômica e ambientalmente
sustentável.
O Instituto Ethos, conforme descreve seu site institucional, trabalha em cinco linhas de
atuação, a saber:
1. Ampliação do movimento de responsabilidade social empresarial: pela da sensibilização e
engajamento de empresas em todo o Brasil e a articulação de parcerias; por meio da
sensibilização da mídia para o tema da RSE; da criação e coordenação do comitê brasileiro do
Pacto Global da ONU etc.
2. Aprofundamento de práticas em SER: Ocorre por meio do cálculo e divulgação dos
Indicadores Ethos de RSE – que inclui versões para micro e pequenas empresas e para alguns

121
122

setores da economia; a realização anual de uma Conferência Internacional, com mais de 1.000
participantes; pelo incentivo à constituição de redes de interesse e a promoção de publicação
de balanços sociais e de relatórios de sustentabilidade, bem como da produção de publicações
e manuais práticos que norteiem a atuação responsável de outras empresas.
3. Influência sobre mercados e seus atores mais importantes: no sentido de criar um ambiente
favorável à prática da RSE. Busca desenvolver critérios de investimentos socialmente
responsáveis em conjunto com fundos de pensão no Brasil, além do desenvolvimento de
programa de políticas públicas e RSE e participação em diversos conselhos governamentais
para discussão da agenda pública brasileira.
4. Articulação do movimento de RSE com políticas públicas:
a) desenvolvimento de políticas para promover a RSE e desenvolver marcos legais;
b) promoção da participação das empresas na pauta de políticas públicas do Instituto Ethos;
c) fomento à participação das empresas no controle da sociedade, por meio de
acompanhamento e cobrança das responsabilidades legais, transparência governamental e
conduta ética;
d) divulgação da RSE em espaços públicos e eventos;
e) estruturação de processos de consulta a membros e parceiros da companhia.
5. Produção de informação: Realiza a pesquisa anual "Empresas e Responsabilidade Social –
Percepção e Tendências do Consumidor", produção e divulgação de conteúdo e um site de
referência sobre o tema na internet, coleta e divulgação de dados e casos das empresas e
promoção de intercâmbio com entidades internacionais, líderes no tema da responsabilidade
social.

6- Fundação Solidariedade e Educação – FASE: originalmente denominada


Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional, a FASE foi fundada em 1961. É
uma organização não governamental, sem fins lucrativos, atuante em seis estados brasileiros,
com sede no Rio de Janeiro. Desde suas origens, esteve comprometida com o trabalho de
organização e desenvolvimento local, comunitário e associativo. Segundo o site da
Instituição, procura auxiliar na construção de uma sociedade democrática “através de uma
alternativa de desenvolvimento que contemple a inclusão social com justiça, a
sustentabilidade do meio ambiente e a universalização dos direitos sociais, econômicos,
culturais, ambientais, civis e políticos” (FASE, on line, [S.I.]).
O organização é apoiada, majoritariamente, por organismos internacionais como a
Fundação Ford; o Christian Aid; a Fastenopfer – Ação Quaresmal Suiça; a AII- Action AID
122
123

International; a Conservação Internacional; a Fundação Heinrich Böll; o KFW – Banco


Alemão de Fomento, entre outros organismos. No Brasil são seus apoiadores principais, mas
não únicos, o Ministério do Meio Ambiente – MMA e o IBAMA – Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente. Segundo informações coletadas no site da organização, esta pretende reunir
outras organizações e a sociedade

[...] em redes, fóruns e plataformas, sempre visando derrotar as políticas de


caráter neoliberal. 5o campo da promoção de seus princípios e da produção
de conhecimento, a FASE realiza convênios com órgãos públicos, monitora
projetos e faz parcerias com universidades. Os resultados destas ligações
podem ser vistos em dezenas de publicações, na revista periódica Proposta,
editada há quase 30 anos, e em seminários, cursos, palestras e campanhas
realizadas pela instituição (FASE, on line, [S.I.], grifo nosso)

Desde o início de 2000, a FASE voltou-se para a atuação nos níveis local, nacional e
internacional, visando à integração de diversas entidades por meio das estratégias citadas em
seu site, mencionadas no parágrafo anterior

7- Instituto EQÜIT Gênero, Economia e Cidadania Global: esta organização tem


por foco a atuação no combate às desigualdades de gênero, no fortalecimento das mulheres
como grupo minoritário e na promoção de mudanças no contexto nacional e mundial a partir
de uma visão crítica do processo de globalização, na transformação das relações de gênero e
sociais, a partir de uma visão feminista, e na perspectiva da democracia e dos direitos
humanos, que superem a lógica de mercado.
Segundo os dados disponíveis no site da Instituição, suas frentes de atuação focam na
produção de conhecimento, educação e capacitação, articulação política e assessoria através
de três áreas temáticas: globalização e políticas macroeconômicas; democracia, cidadania e
direitos humanos; desenvolvimento sustentável. Segundo os dados do site da organização esta
trabalha com “articulação política com os movimentos sociais e instituições; produção de
conhecimento e desenvolvimento de metodologias e indicadores; incidência nas políticas
públicas nos diversos níveis governamentais” (EQÜIT, on line, [S.I.]).
O Instituto possui como objetivo o fortalecimento e organização das mulheres e a
construção de relações sociais eqüitativas e democráticas, e sua estratégia de atuação é dar
visibilidade À inserção desigual das mulheres no mercado de trabalho, em função de suas
responsabilidades sociais; contribuição com a superação do modelo econômico neoliberal,
que (re) produz, entre outras, as relações desiguais de gênero. As estratégias visadas são
perseguidas por meio do apoio à formulação de políticas públicas para a eqüidade de gênero.
(EQÜIT, on line, [S.I.]).
123
124

Como a instituição declara de forma objetiva, sua atuação é a de uma organização de


pesquisa e aconselhamento em política pública, especificamente voltada para política social.

8- Fundação Heinrich Böll: segundo dados do site institucional, a Fundação Heinrich


Böll é uma fundação política sem fins lucrativo, ligada à coalizão partidária Aliança 90/Os
Verdes, de origem alemã. A Fundação atua em 60 países, em parceria com indivíduos, grupos
ou movimentos da sociedade civil, totalizando 180 projetos, com o objetivo de incentivar a
promoção das idéias democráticas, a cidadania e o diálogo internacional. O trabalho da
fundação está centrado no fomento aos valores políticos da ecologia e do desenvolvimento
sustentável; nos direitos das mulheres e a democracia de gênero; na democracia e cidadania;
na diversidade da mídia e uma opinião pública crítica; na integração econômica promovida
pela globalização; e na questão da regulação dos mercados.
A Fundação Heinrich Böll promove também as artes e a cultura, a ciência e a pesquisa
e o desenvolvimento internacional. Sua atuação se fundamenta no respeito ao meio ambiente,
na democracia, na solidariedade e na não-violência como valores políticos fundamentais. A
Fundação Heinrich Böll, em sua forma atual, teve início em Berlim.
No Brasil, a Fundação atua desde 1990 com o objetivo de fortalecer as idéias
democráticas, apoiar os movimentos sociais e contribuir para o desenvolvimento político,
social e ambiental, em bases sustentáveis. Em 2000 inaugurou escritório próprio no Rio de
Janeiro que, desde 2004, é responsável também por programas em países do MERCOSUL e
Chile.
Além disso, o escritório brasileiro trabalha em estreita cooperação com a sede em
Berlim. A Fundação trabalha em parceria com organizações não-governamentais, movimentos
sociais, universidades, sindicatos e outros atores sociais; e por meio de seminários e
workshops de capacitação, a instituição contribui para a formação e qualificação de
lideranças. Também apóia programas e projetos específicos relacionados a estratégias para
uma mudança política, social e econômica em bases sustentáveis. (FUNDAÇÃO HEINRICH
BÖLL, on line, [S.I.]).

9- I/ESC - Instituto de Estudos Socioeconômicos: o INESC é uma organização não


governamental, sem fins lucrativos, sem filiação partidária e com finalidade pública, que tem
por missão: "Contribuir para o aprimoramento da democracia representativa e participativa,
visando à garantia dos direitos humanos, mediante a articulação e o fortalecimento da

124
125

sociedade civil para influenciar os espaços de governança nacional e internacional" (INESC,


on line, [S.I.]).
Criado em 1979, o INESC atua em duas principais linhas de ação: o fortalecimento da
sociedade civil e a ampliação da participação social em espaços de deliberação de políticas
públicas. A fim de ampliar o alcance de suas propostas e ações, o INESC atua em parceria
com outras organizações, e é filiado a Associação Brasileira de Organizações Não
Governamentais – ABONG (INESC, on line, [S.I.])..
O Instituto participa de fóruns, redes e articulações sociais nacionais e internacionais,
sendo que esta forma de atuação pauta seu trabalho e por meio de seus projetos contribui “para
construção da plataforma de reforma política [...] e a articulação com o Fórum Brasil de
Orçamento, para construção e defesa de uma Lei de Responsabilidade Fiscal e Social” (INESC,
on line, [S.I.]).
A Instituição visa a estimular, com a realização de estudos e pesquisas, o debate público e
contribuir para a construção de um novo conceito de cidadania, com a ampliação da participação
pública, a responsabilidade e a solidariedade social; combatendo as desigualdades sociais; a
reafirmação do conceito de Direitos Humanos como parâmetro de construção da cidadania e o
combate à exclusão social de amplas parcelas da sociedade brasileira. Estes são os “desafios
permanentes da ação política da instituição” (op. cit., grifo nosso). O INESC atua nacionalmente
e também “intervém em espaços públicos internacionais de pressão por democratização de
instituições de governança global, assim como nos espaços regionais, buscando a ampliação e o
reconhecimento pleno dos direitos humanos” (op. cit.).
O INESC vem atuando na intermediação entre o Congresso Nacional e a sociedade civil, e
desenvolve ações para viabilizar “à aprovação de leis que concedam base legal às políticas
públicas” sobre os seguintes temas: orçamento público; criança e adolescente; agricultura; povos
indígenas; meio ambiente; e política internacional. (op. cit., grifo nosso). Ou seja, o leque de
atuação política da organização é bastante amplo, abrangendo diferentes políticas.

10- Instituto Fernand Braudel de Economia Mundial: formado, em 1987, por um


grupo de economistas, empresários, jornalistas e homens públicos, preocupados com o
processo de descapitalização econômica e social provocado por décadas de inflação crônica.
Seu nome é uma homenagem ao historiador francês Fernand Braudel, um dos fundadores, na
década de 30 da Universidade de São Paulo - USP.
Segundo dados extraídos do site oficial do Instituto, este realiza pesquisas e debates
públicos sobre os problemas institucionais; governabilidade e crises políticas; problemas de

125
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escala; política fiscal e monetária; ensino e segurança pública; federalismo; mobilidade social;
ética econômica e política. Também pesquisa a inserção do Brasil e da América Latina na
economia mundial, em trabalhos que buscam ir além de diagnósticos, avançando na promoção de
propostas de políticas inovadoras para solução dos problemas detectados. Busca ainda dar
oportunidade a jovens pesquisadores, concomitante ao aproveitamento da experiência de
profissional de destaque. Assim, “o Instituto consegue contribuir de forma efetiva com sugestões
de políticas públicas pertinentes” (INSTITUTO FERNAND BRAUDEL, on line, [S.I.]).
O Instituto é apoiado por um grupo de empresas, fundações e organismos internacionais
multilaterais, tais como Bradesco, Klabin, Unilever, Natura, jornal O Estado de São Paulo, Souza
Cruz e Vale do Rio doce.

11- Brazil Institute – filial do think tank americano Woodrow Wilson Center: fundado
em 1968 nos EUA, como uma ponte de ligação destinada a cobrir a lacuna entre os policy
makers e os acadêmicos, a missão do Woodrow Wilson Center, think tank que se declara
apartidário e independente, segundo consta no site da matriz americana do Instituto, é a de
“celebrar os ideais e preocupações de Woodrow Wilson (acadêmico e ex-presidente Norte
Americano) por meio da promoção de um link entre o mundo das idéias e o mundo da política
pública; dar suporte a pesquisas, estudos, discussões e colaborar com indivíduos dedicados à
política pública e seu estudo no país e no mundo” (WOODROW WILSON CENTER, on line,
[S.I.]). O próprio site declara que um terço dos recursos que financiam a instituição são verbas
do governo americano, e os demais recursos são provenientes de doações de fundações,
indivíduos, contratos e filiação de membros.
A sede do Instituto possui, como parte de seu programa para a América Latina,
representações no Brasil e no México, cujo objetivo é servir de ponte entre os Estados Unidos
e a America Latina, provendo um fórum apartidário para que especialistas da região e do
mundo possam proceder à discussão de assuntos críticos, com os quais o hemisfério se
depara. O Programa custeia pesquisas, conferências e publicações, almejando aprofundar a
compreensão da política, história, cultura da America Latina e do Caribe e das relações entre
os Estados Unidos e America Latina. (op. cit.).
Sobre o Brazil Institute, o site da Instituição afirma que este busca subsidiar o diálogo
acerca de temas prioritários concernentes ao Brasil e aos Estados Unidos e auxiliar no avanço
do entendimento, por parte de Washington, dos desenvolvimentos contemporâneos do Brasil,
provendo uma análise detalhada da política pública brasileira. Ademais, promovem,
patrocinam e disseminam pesquisas conduzidas no campo de políticas públicas, tanto por
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127

pesquisadores em geral, quanto pelo Instituto (WOODROW WILSON CENTER, on line,


[S.I.]).

12- Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior – FUNCEX: trata-se de


uma instituição privada, cuja principal finalidade é o desenvolvimento do comércio exterior
brasileiro. Fundada em 1976, a FUNCEX desenvolve um trabalho de apoio e auxílio às
empresas que operam no mercado externo e aos órgãos governamentais. A FUNCEX elabora
e divulga estudos setoriais sobre os principais aspectos envolvidos nas atividades de
exportação e importação, oferece suporte técnico e ferramentas gerenciais aos empresários e
administradores, publica relatórios e boletins periódicos de vital interesse para o setor.
Segundo informa o site da organização, a FUNCEX é um canal permanente e
independente de comunicação entre o setor privado e o setor público, importante para a
elaboração de políticas de comércio exterior coerentes com os anseios e as capacidades do
empresariado (FUNCEX, on line, [S.I.]). Ademais, na mesma fonte é citado que a
treinamento e desenvolvimento de pessoal técnico especializado, a promoção de cursos e a
elaboração de estudos sob encomenda, também fazem parte do escopo de atividades da
FUNCEX.
Mantida por uma extensa lista de empresas ligadas ao comércio exterior, tais como
Bancos (Banco do Brasil, Santander etc.), Federações (Federação da Indústria Farmacêutica –
FEBRAFARMA, Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESC, entre outras) e
companhias como a Cargill Agrícola S/A, Odebrecht S/A, Cotia Trading S/A, etc.

13- IETS - Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade – RJ: trata-se de uma


instituição privada, sem fins lucrativos, voltada para a produção e disseminação de
conhecimento na área social. Sua missão é fazer a ponte entre a pesquisa acadêmica e as
políticas públicas implementadas pelos diferentes setores da sociedade, como governo, setor
privado e organizações não-governamentais, para a melhoria da qualidade de vida da
população. O instituto conta com 93 associados, entre os quais se encontram proeminentes
pesquisadores e profissionais de diversas áreas (jornalistas, servidores públicos, consultores,
dirigentes estatais etc.), tais como Carlos Hasenbalg, Fábio Giambiagi, Simon Schwartzman,
Wanderley Guilherme dos Santos.
“Desde 1999, quando foi criado, o IETS vem se firmando como um think tank
independente, de interesse público, plural, multidisciplinar, dedicado ao diagnóstico,
avaliação e desenho de estratégias voltadas para o desenvolvimento, numa perspectiva

127
128

inovadora. Entre nossos associados estão professores, pesquisadores, empresários, jornalistas,


formuladores e gestores de política, lideranças sociais de diferentes tendências e instituições”
(IETS, on line, [S.I.]).
Para cumprir sua missão, o IETS desenvolve projetos de pesquisa e cooperação
técnica com empresas privadas, entidades governamentais e o Terceiro Setor. Opera também
como uma rede e ponto de encontro de seus associados e destes com a sociedade brasileira
como um todo, através de seminários, workshops, publicações e de seu website.
“O IETS dedica-se à produção e análise de dados e à formulação de propostas de
políticas públicas. Para isso, vale-se dos conhecimentos especializados da economia e das
demais ciências sociais, numa perspectiva comparada internacional” (IETS, on line, [S.I.]).
Suas principais áreas de atuação são:
• Desigualdade e pobreza
• Mercado de trabalho, emprego e renda
• Políticas sociais e melhoria da qualidade dos gastos públicos
• Desenvolvimento local e micro-empreendimento
• Educação, recursos humanos e equidade
• A questão metropolitana
• Responsabilidade social corporativa
Dentre os parceiros e financiadores dos projetos desenvolvidos pelo IETS estão fundações,
organismos internacionais, entidades de classe, organizações do setor empresarial, do setor
público e do Terceiro Setor.

14- Rubens Barbosa & Associados: a organização Rubens Barbosa & Associados
(RB&A) é “uma empresa brasileira de consultoria que presta serviços nas áreas de
desenvolvimento de negócios, comércio internacional e investimentos” e que oferece
“assistência e serviços de consultoria para clientes no Brasil e no exterior, com o objetivo de
enfrentar com êxito os desafios do mercado e tirar melhor proveito das oportunidades
existentes de negócios” (RUBENS BARBOSA & ASSOCIADOS, on line, 2009)
O principal foco de ação da empresa é o atendimento das necessidades dos clientes,
“aos quais coloca à disposição a vasta experiência de Governo e de negociação, além do
sofisticado conhecimento técnico e a perspectiva global oferecida por extensa rede de
associados em países da América Latina, da Europa e nos EUA” (op. cit., grifo nosso), e se
propõe a desenvolver soluções para seus clientes de forma original, com foco nos problemas e

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oportunidades que o país apresenta, dentro de uma visão “integrada das necessidades de
empresas nacionais e estrangeiras” (op. cit.).
Segundo informa o site da organização, esta está “associada à Stonebridge
International LLC, uma empresa de estratégia global de negócios fundada pelo ex-Secretário
de Segurança dos EUA, Samuel R. Berger, e pelo ex-Embaixador dos EUA no Brasil,
Anthony S. Harrington” (op. cit.), com sede em Washigton - DC. E que reúne uma equipe de
especialistas “com vasta experiência em mercados chave da Ásia, Europa, Oriente Médio,
sobretudo em países de particular importância para o Brasil como a China, a Índia e a Rússia”
(op. cit.).
A empresa possui também “parcerias junto a empresas e consultores especializados
para aperfeiçoar o atendimento a clientes e proporcionar, quando necessário, um serviço
integrado que incluie relações governamentais, assuntos jurídicos, bancos de investimentos e
comunicações externas” (RUBENS BARBOSA & ASSOCIADOS, on line, [S.I.]).

15 - FIOCRUZ – Fundação Osvaldo Cruz: criada em 25 de maio de 1900 - com o


nome de Instituto Soroterápico Federal, a Fiocruz nasceu com a missão de combater os
grandes problemas da saúde pública brasileira. Para isso, moldou-se ao longo de sua história
como centro de conhecimento da realidade do País e de valorização da medicina
experimental. Sua missão atualmente envolve a promoção da saúde e o desenvolvimento
social, a geração e difusão de conhecimento científico e tecnológico e a atuação como agente
promotor da cidadania. Estes são os critérios que pautam a atuação da Fundação Oswaldo
Cruz - FIOCRUZ, vinculada ao Ministério da Saúde, a mais destacada instituição de ciência e
tecnologia em saúde da América Latina.
Hoje, a Instituição abriga atividades que incluem o desenvolvimento de pesquisas; a
prestação de serviços hospitalares e ambulatoriais de referência em saúde; a fabricação de
vacinas, medicamentos, reagentes e kits de diagnóstico; o ensino e a formação de recursos
humanos; a informação e a comunicação em saúde, ciência e tecnologia; o controle da
qualidade de produtos e serviços; e a implementação de programas sociais. São mais de
7.500 servidores e profissionais com vínculos variados, uma força de trabalho que tem
orgulho de estar a serviço da vida.
A FIOCRUZ está presente em todo o território brasileiro, seja através do suporte ao
Sistema Único de Saúde (SUS), na formulação de estratégias de saúde pública, nas
atividades de seus pesquisadores, nas expedições científicas ou no alcance de seus serviços e
produtos em saúde.
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16 - ICO/E - Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais: criado


em 2003, como resposta à necessidade “de prover ao governo e ao setor privado estudos e
pesquisas aplicadas em temas de comércio e política comercial, relacionados principalmente
à área da agricultura e do agronegócio” (ICONE, on line, [S.I.]).
Entre as principais pesquisas que o ICONE tem desenvolvido, incluem-se as
relacionadas com as negociações agrícolas da Rodada de Doha da Organização Mundial do
Comércio -OMC. O Instituto tem desenvolvido dezenas de simulações a pedido do governo
brasileiro, que servem de subsídio técnico para o posicionamento do Brasil no G-20, o grupo
de países em desenvolvimento cujo foco é a busca da redução de subsídios aplicados pelos
países desenvolvidos as políticas agrícolas, que prejudicam países em desenvolvimento como
o Brasil.
O Instituto trabalha com uma equipe multidisciplinar, com formação teórica em
política comercial agrícola e seus aspectos econômicos, jurídicos e políticos, além de dominar
a linguagem técnica utilizada nas negociações comerciais internacionais, o que garante
qualidade e precisão aos estudos e simulações realizados. (ICONE, on line, [S.I.]). Além
disso, “o ICONE detém um conhecimento profundo da realidade da agricultura e das políticas
agrícolas no País e no exterior” (op. cit.).
A organização, portanto, habilita-se à mediação entre o governo e a iniciativa privada,
pois é capaz de produzir para o governo federal estudos detalhados sobre o impacto para o
agronegócio das diferentes proteções e subsídios que afetam o comércio agrícola e, em
paralelo, consegue traduzir na prática para o setor privado as demandas, o jargão e os
resultados das negociações internacionais.

17- DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos:


organização presente em vários estados brasileiros, criada em 1955, pelo movimento sindical
brasileiro para desenvolver pesquisas que fundamentassem as reivindicações dos
trabalhadores. Reconhecido como instituição de produção científica, o DIEESE atua nas
áreas de assessoria, pesquisa e educação; e os eixos temáticos que orientam toda a produção
da entidade são emprego, renda, negociação coletiva, desenvolvimento e políticas públicas.
(DIEESE, on line, [S.I.]).
Visando ao aprofundamento de estudos relacionados a seus eixos temáticos, além dos
trabalhos regularmente desenvolvidos para o movimento sindical, o DIEESE realiza projetos
em parceria com órgãos governamentais e entidades da sociedade civil, nacionais e
internacionais (op. cit.). A organização encontra-se ligada às centrais sindicais de
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trabalhadores nacionais e estrangeiras, além de diversos organismos de pesquisa, empresariais


etc. (DIEESE, on line, [S.I.]).

18- FEPESE - Fundação de Estudos e Pesquisas Sócioeconômicos – SC. Foi fundada


em 1977 por professores da Universidade Federal de Santa Catarina, com o objetivo de
coordenar e executar pesquisas, ensinar e prestar serviços de interesse comunitário, na área
econômica e social, e aperfeiçoar professores e alunos da Universidade Federal de Santa
Catarina.
A Fundação de Estudos e Pesquisas Socioeconômicos - FEPESE é uma fundação de
direito privado, sem fins lucrativos, de utilidade pública municipal (Lei Nº 1.750 de
20/11/1980) e estadual (Lei Nº 13.150 de 29/11/2004), qualificada como instituição de apoio
à Universidade Federal de Santa Catarina, registrada e credenciada no MEC e MCT, bem
como no Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), estando também
qualificada para prestar serviços em projetos financiados pelo Banco Interamericano de
Desenvolvimento – BID. (FEPESE, on line, [S.I.]).
Por tratar-se de uma instituição sem fins lucrativos, os saldos oriundos dos serviços
prestados a outras organizações são destinadas à Universidade Federal de Santa Catarina, para
aplicação nos programas de ensino, pesquisa e extensão junto a sociedade catarinense. A
FEPESE é reconhecida por sua reputação ética e profissional e apresenta uma extensa folha
de serviços prestados à comunidade técnica, científica, empresarial e governamental junto à
sociedade brasileira (FEPESE, on line, [S.I.], grifo nosso). Dentre os principais parceiros da
organização, encontram-se o Governo Federal, Governos Estaduais e Municipais, além de
diversos setores privados. (op. cit.).

19- FEBRABA/- Federação Brasileira de Bancos: é a principal entidade


representativa do setor bancário brasileiro. Fundada em 1967, para fortalecer o sistema
financeiro e suas relações com a sociedade e contribuir para o desenvolvimento econômico e
social do País, a Federação têm por objetivo “representar seus associados em todas as esferas
– Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário e entidades representativas da sociedade – para
o aperfeiçoamento do sistema normativo”, além da melhoria contínua e a redução dos níveis
de risco (FEBRABAN, on line, [S.I.]). A organização também procura concentrar esforços
para o acesso da população em geral aos produtos e serviços financeiros (ibid.).
Seus dirigentes e colaboradores desenvolveram uma estrutura complexa, amplamente
representativa, interligada e profissional, que dá suporte técnico, jurídico e político aos seus

131
132

filiados em todos os campos da atividade financeira moderna. O resultado de todo esse


trabalho pode ser traduzido pela construção de uma agenda de serviços. Por isso, produz
relatórios, pesquisas, prêmio de economia, dados de estatística bancária, dados do setor, do
crédito e dos meios de pagamento (FEBRABAN, on line, [S.I.]).

20 - CE/TRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS – CGEE – Brasília.


O CGEE pode ser classificado como uma organização de pesquisa e aconselhamento em
políticas públicas do tipo quadrante 3, modelo puro, pois apresenta baixa dependência de
recursos públicos (vide seu estatuto, que não prevê sustento governamental direto, nem a
existência sistemática de verba pública para sua manutenção, explicitando outras fontes de
captação de recursos) e baixo viés político ideológico (o que seu quadro de fundadores deixa
claro, haja vista diversidade de atividades e origens e a pluralidade de visões que o CGEE
abarca).
O Centro de Gestão e Estudos Estratégicos é uma entidade constituída na forma de
Associação Civil sem fins lucrativos. Entre seus sócios fundadores – mais de 150 -
encontram-se cientistas ligados a diversas universidades (USP, FGV, UNICAMP, UFMG,
PUC/RJ, UnB, UFBA, UFRGS, etc.); órgãos e entes governamentais de distintas esferas do
Poder Público (ANVISA, EMBRAPA, INPE, FAPESP, CNPq, INMETRO, MCT, Câmara
Federal dos Deputados, FIOCRUZ, FAPESC, TECPAR, FACEPE, INP, etc.); membros da
sociedade civil organizada, instituições empresariais (Grupo Villares, Varig, ANPROTEC,
etc.) e outras organizações como o DIEESE, Fundação Padre Anchieta, ABED, SOFTEX,
ABIPTI, entre outras. São as seguintes as finalidades do CGEE, conforme seu estatuto:
[...] Art. 3º – O CENTRO tem por finalidade a promoção do desenvolvimento
científico e tecnológico, por meio dos seguintes objetivos:
I. promover e realizar estudos e pesquisas prospectivos de alto nível na área de ciência e
tecnologia e suas relações com setores produtivos;
II. promover e realizar atividades de avaliação de estratégias e de impactos econômicos e
sociais das políticas, programas e projetos científicos e tecnológicos;
III. difundir informações, experiências e projetos na sociedade;
IV. promover a interlocução, articulação e interação dos setores de ciência, tecnologia e
produção;
V. desenvolver atividades de suporte técnico e logístico a instituições públicas e privadas; e
VI. prestar serviços relacionados a sua área de atuação.

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133

Sobre as fontes de receitas do CGEE, assim se manifesta seu Estatuto, no capítulo IV,
que trata do patrimônio e das receitas que compõem o ativo da instituição:
[...] Art. 9º – Os recursos financeiros necessários à manutenção do CENTRO são
oriundos de:
I. convênios, contratos ou quaisquer outros ajustes firmados com instituições públicas ou
privadas, nacionais, estrangeiras ou internacionais;
II. subvenções sociais que lhe sejam transferidas pelo Poder Público;
III. contribuições dos associados;
IV. rendas decorrentes da exploração comercial de suas atividades;
V. rendimentos de aplicações de seus ativos financeiros e outros pertinentes ao patrimônio
sob sua administração;
VI. doações, legados ou heranças;
VII. empréstimos ou financiamentos junto a organismos nacionais, estrangeiros ou
internacionais; e
VIII. outros que porventura lhe sejam destinados.
Sobre sua linha de ação, o site da instituição informa que o CGEE tem por objetivo
“servir à sociedade brasileira agregando valor aos processos de tomada de decisão,
formulação e implementação de políticas de ciência, tecnologia e informação - CT&I,
mediante a geração, o compartilhamento e a aplicação de conhecimento nessa área” (CGEE,
on line, [S.I.]). Balizando suas ações por uma visão de futuro e pela busca de excelência, o
CGEE desenvolve suas atividades tendo por base

[...] A discussão de idéias orientada para o consenso. [...]. Essa atuação


desenvolve-se por meio de um intenso esforço de articulação, objetivando
tornar conseqüentes as ações realizadas, com a efetiva utilização dos
produtos e resultados pelo Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e
Informação, vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia. (CGEE, on
line, [S.I.]).

Com isso, procura fazer a “avaliação estratégica dos impactos econômicos e sociais
das políticas, programas e projetos ligados à área de ciências, tecnologia e informação”
(CGEE, on line, [S.I.]), que engloba “a análise dos elos entre objetivos, formas de
organização e gestão, volume e estratégia de financiamento, além da participação dos atores”
(op. cit.). A organização procura, desta forma, compreender o esforço, os resultados e os
impactos de ações relevantes, a fim de sugerir diretrizes para seu aperfeiçoamento.

133
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Para a organização é necessário ampliar o entendimento de que a tecnologia e as


mudanças tecnológicas são “indutoras e resultantes de interações complexas no contexto do
bem-estar social, econômico e político. [...]. É com tal orientação que o CGEE busca
contribuir, por meio da geração de subsídios, para o aprimoramento do Sistema Nacional de
Ciência Tecnologia e a Inovação - SNCT&I” (op. cit.).
Sobre sue modo de articulação, o site do CGEE manifesta que atualmente, o grande
desafio para os gestores públicos de organizações de ciência, tecnologia e informações -
CT&I é gerar resultados com impactos econômicos e sociais que justifiquem os investimentos
públicos realizados. Para tanto, necessitam, entre outras importantes mudanças no cotidiano
das instituições, priorizam as aplicações de recursos na direção de uma maior eficácia. De
acordo com o site oficial da organização,
Um importante aspecto a ser destacado no âmbito das ações do Centro é o
estabelecimento de bases metodológicas para trabalho em rede, um
elemento importante para subsidiar a formulação de políticas públicas. [...].
Neste contexto, o CGEE contribui com suas competências básicas, como
estudos prospectivos e avaliação estratégica, desenvolvendo e adaptando
metodologias para o aprimoramento do Sistema e propondo novas formas de
prospectar o futuro e avaliar temas em CT&I” (CGEE, on line, [S. I.], grifo
nosso).

Sobre a Missão do CGEE, encontra-se no site que a missão institucional do Centro,


dentro do Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, tem “se consolidado, ao
apresentar subsídios às políticas públicas de CT&I e à gestão estratégica nessa área, com
contribuições voltadas tanto para o setor governamental como empresarial” (op. cit.). Para
cumprir sua missão, o CGEE procura “agregar valor aos processos de tomada de decisão,
formulação e implementação de políticas de CT&I, mediante a mobilização e o
compartilhamento de conhecimentos de formuladores de políticas, tomadores de decisão e
especialistas” (op. cit., grifo nosso), buscando o consenso entre as partes. A organização
também atua no sentido de auxiliar a gestão de programas e projetos estratégicos em CT&I,
“por meio de estudos e subsídios para a formulação de políticas e estratégias governamentais
nessa área” (CGEE, on line, [S.I.], grifo nosso).
As atividades da organização são respaldadas pelas diretrizes políticas do Governo
Federal, em consonância com as prioridades regionais e foco no compromisso com a inclusão
social. As realizações do Centro, desde sua criação, confirmam seu papel estratégico no
processo de construção de subsídios às políticas de CT&I.

134
135

Apresentadas e detalhadas as organizações estudas pra esta seção, é importante


observar que todas as informações que a descrevem foram extraídas diretamente dos sites
oficiais das instituições pesquisadas, utilizando-se do método explanado na seção 2.1.4.
Ademais, são consideradas informações fidedignas, por terem sido prestadas diretamente
pelas organizações e, por este motivo, com validade para que sejam tecidas considerações a
partir das mesmas. Embora possa parecer redundante, essa afirmação se faz necessária, na
medida em que valida um objetivo específico de pesquisa e serve para fundamentar as
conclusões do estudo.
Encerra-se a etapa do estudo que procurou atender a objetivos determinados. Nos
próximos capítulos procurar-se-á dar forma ao todo, mediante elaboração de uma resposta ao
objetivo geral.

135
136

CAPÍTULO V – ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

Busca-se neste capitulo a convergência entre os pontos de reflexão sobre o todo do


trabalho realizado: aos poucos, com o desenvolvimento deste estudo, tomaram forma
percepções, foram feitas constatações e obtidos alguns ‘lampejos’ (insights). Fazer a síntese
dos resultados colhidos ‒ correlacionando-os com os objetivos de estudo, as análises
efetuadas e as deduções feitas ‒ é o objetivo deste capítulo.
Um dado relevante, extraído do início do estudo, permitiu a comparação da produção
científica sobre os think tanks nas últimas três décadas, conforme encontrou-se na base de
dados pesquisada (vide capítulo II), cujo crescimento se evidencia na figura 19:

70
60
50
40
30
20
10
0
1980 - 1989 1990 - 1999 2000 - 2007

Produção por Década

Figura 19 - Produção científica sobre think tanks agrupada por décadas


Fonte: autoria própria, com base em dados do estudo realizado (2009).

Avalia-se que este é um resultado relevante, pois demonstra objetivamente, com base
em dados da pesquisa (vide tabela 1), a importância do estudo dos think tanks: até meados da
década de 80 a produção de estudos sobre o fenômeno não era significativa; porém, observa-
se o salto incremental que o estudo dessa forma organizacional obteve posteriormente,
correspondente ao esforço de pesquisa realizado internacionalmente, para o qual não se
encontrou correspondência no Brasil.
Durante o estudo, foram levantadas as seguintes obras em português que se
relacionavam diretamente com o objeto de estudo: os trabalhos de Gros (2003, 2003b), de
viés econômico, cujo foco principal é a análise da atuação dos think tanks nacionais de
136
137

orientação neoliberal; o estudo de Silva (2007), sobre o surgimento, a consolidação e a


evolução dos think tanks nos Estados Unidos da América e a influência que essas instituições
exercem na política externa daquele país; o de Torres (2005), autor português que contribui
para o entendimento dos think tanks, trabalhando o conceito na área da educação; e por fim, o
trabalho de Maia (2004), que estuda os think tanks no Brasil pela perspectiva histórica, entre
os anos de 1956 a 1961. Ou seja, foram encontradas quatro obras em português que tratam
exclusivamente do fenômeno em estudo, durante a realização do estudo.
Entende-se que esta informação sustenta a necessidade detectada, que originou a
pergunta de pesquisa e foi explicitada no objetivo geral, de que se estruture um arcabouço de
conhecimentos, adequados à realidade nacional, que permita que o fenômeno se torne familiar
à população em .
É necessário ressaltar que outros autores, em suas obras, citam o fenômeno de
pesquisa, e.g. Faria (2003; 2006); Frey (2000); Graziano (1997); Lessa; Earp (2004);
Monteiro (2007); Rua (1998). Porém, em nenhum dos autores mencionados as organizações
de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas eram o principal assunto abordado: em
todas as obras, os think tanks foram analisados de forma subsidiária, como parte de um
contexto mais amplo e sem aprofundamento sobre os mesmos.
Outra linha de raciocínio é desenvolvida no sentido de questionar o poder da mídia no
mundo globalizado em que vivemos; afinal, não há como o poder dessas organizações na
divulgação de idéias e formação de valores em uma sociedade não serem considerados,
especialmente porque utilizam com freqüência estudos realizados por organizações de
pesquisa e aconselhamento em políticas públicas. E o que genericamente denomina-se
“mídia”, se notarmos bem, é, no final das contas, um grupo de empresas que concorrem entre
si, mas que se unem na defesa de seus interesses. Possuem amplo acesso ao conhecimento:
podem usá-lo como lhes aprouver, se a população a que se dirigem desconhece a origem do
conhecimento e das pesquisas que são divulgadas e sob que viés foram formuladas.
Então, pode ser afirmado que visibilidade na mídia tornou-se especialmente relevante
para os think tanks nos dias de hoje, e que a capacidade que os meios de comunicação
possuem de atingir diversos policy makers ao mesmo tempo pode ser o motivo que torna a
mídia em geral tão importante para os think tanks. É ainda um meio para que estes institutos
alcancem de modo amplo, e em geral pouco crítico, qualquer sociedade, pois o material que
divulgam tem por base a atuação institucional de organizações de pesquisa e aconselhamento
em políticas públicas – OrPAPPs, na divulgação de estudos conduzidos por seus experts.

137
138

Por outro lado, na pesquisa realizada para a seção 4.4, e exposta na íntegra no capítulo
anterior, das 31 organizações analisadas inicialmente, foram encontrados elementos
constitutivos que permitiram classificar 20 delas como think tanks: porém, apenas uma
organização utilizou a expressão think tank, declarando-se como tal.
Deste modo, é feita a proposição de uso da expressão organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas em substituição ao termo inglês think tanks.
Consoante com a expressão proposta para substituição validou-se na seção 4.4, mediante
exemplos levantados da realidade empírica, o uso da palavra “organização” na expressão
proposta, considerada a pluralidade de formas organizacionais que podem – e de fato são –
usadas na denominação das entidades que se configuram como organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas.

Figura 20 – Formas organizacionais englobadas pelo “guarda-chuva” da expressão OrPAPPs.


Fonte: autoria própria, com base em dados da leitura exploratória (2008).

A figura 20 apresenta algumas das denominações que essas organizações podem


assumir no país. No caso, a denominação utilizada pela entidade não afetará sua classificação
enquanto uma OrPAPP, já que a palavra organização, como afirmado anteriormente, na seção
4.1, se presta ao abrigo de múltiplas formas jurídicas e estruturais, sendo, portanto, ampla o
bastante para abranger a diversidade da realidade dessas organizações no Brasil.
Outro aspecto interessante averiguado durante a pesquisa é que tanto da parte de um
autor da corrente tradicional de estudo dos think tanks, Andrew Rich (2006, p. 6), quanto de
138
139

outro autor menos proeminente, mas ainda pertencente ao mainstream de estudo do


fenômeno, Josef Braml (2006, p. 222) afirma que os think tanks são uma forma de
organização pouco estudada. É com surpresa que se constata estas afirmações: trata-se, no
caso do primeiro, de um autor americano, e no segundo, de um autor alemão, ou seja, de
autores oriundos de países nos quais o estudo dos think tanks, na perspectiva brasileira, é
considerado avançado. Nos Estados Unidos, na afirmação do mesmo Rich (2006), existe uma
regulamentação rigorosa para o controle dessas organizações. Vale ressaltar ainda que ambos
os autores fazem a mesma declaração de desconhecimento em 2006, ou seja, em uma data
relativamente recente.
Então, se esses autores consideram insuficientes os estudos realizados sobre este tipo
de organização em seus países de origem, parece ser justo afirmar que, no Brasil, temos ainda
muito mais motivos de preocupação e de realizar esforços no sentido de estruturar
conhecimentos que tornem o fenômeno conhecido, a fim de aumentar a visibilidade dessas
organizações e estimular seu estudo no contexto nacional por parte de outros pesquisadores.
Como se evidenciou, a escassez de estudos sobre os think tanks não nos permite
sequer saber quais são essas organizações no país, qual o seu número e que atividades
realizam. Entretanto, considera-se que é relevante retirar de um círculo restrito de pessoas este
conhecimento específico e torná-lo mais acessível, para que os think tanks sejam identificados
pelas pessoas em seu cotidiano e com isso sua atividade se torne alvo de escrutínio por parte
da sociedade.
Confirma-se, com a realização do estudo a necessidade ‒ apontada na introdução desse
documento ‒ de adaptação do conhecimento relativo às organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas à realidade nacional.
Ao longo do trabalho constatou-se que, embora o conceito de think tanks da literatura
predominante venha sendo revisto, em face de novas realidades encontradas pelos estudiosos,
com base nas explanações das seções 4.2 a 4.4, é possível defender a necessidade de um
conceito de organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas nacional, que
amplie o conhecimento dessas instituições na realidade do país, contemplando a característica
predominante de dependência de recursos governamentais e as peculiaridades inerentes aos
países em desenvolvimento. À falta desta adequação, corre-se o risco de manutenção do status
quo atual, com a existência das OrPAPPs permanecendo obscura para grande parte da
sociedade, haja vista dificuldade de compreensão do fenômeno que o termo ou o conceito
evoca.

139
140

O conceito, que se considera adequado ao contexto nacional: são organizações que se


apresentam sob diversas formas jurídicas e possuem distintas fontes de financiamento, que
realizam pesquisas sobre políticas públicas com a finalidade de influenciar a tomada de
decisão política, aconselhar os policy makers e divulgar para a sociedade os resultados
obtidos em seus estudos e pesquisas.
Propõe-se que as organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas
nacionais, à maneira dos think tanks dos países anglo-saxões, sejam identificadas como tais,
prestando contas da origem dos recursos que recebem; da natureza de suas pesquisas e do tipo
de política pública a que se reportam, e.g. a Fundação Osvaldo Cruz – FIOCRUZ, ligada a
proposição de políticas de saúde adotadas pelo governo (vide seção 4.4).
Avalia-se, contudo, que a identificação das organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas não deveria ocorrer por meio de coerção, como uma lei
ou um pré-requisito ao acesso de recursos públicos, por exemplo. Para sustentar esta
proposição, levanta-se o caso de organizações auto-sustentáveis, que defendem o interesse de
grupos de pressão com recursos próprios, porém à margem dos interesses da sociedade – e.g.
a indústria de bebidas alcoólicas ou do fumo – que não teriam interesse em tornar pública sua
condição de OrPAPPs, e serem reconhecidas pela sociedade. Pelo contrário, pode-se deduzir
que, para esse tipo de organização, manter obscura sua natureza constituiria vantagem para
ela.
Inverte-se a lógica tradicional da obrigatoriedade com a proposição de incentivos para
àquelas organizações que, voluntariamente, se declarassem como organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas. Entre os benefícios possíveis, para que assim
procedam as organizações, são sugeridos incentivos fiscais, mas principalmente considera-se
a possibilidade de ganhos inegáveis em termos de marketing institucional. Afinal, a sociedade
brasileira, tão desassombrada com o ilícito, tende a respeitar instituições que tornam
transparente sua atuação. Faz-se esta afirmação com base em uma situação análoga, que é o
caso das empresas que possuem suas ações listadas no Novo Mercado da Bolsa de
Mercadorias e Futuro- BOVESPA21.

21
O Novo Mercado é um segmento destinado à negociação de ações emitidas por companhias que
se comprometam, voluntariamente, com a adoção de práticas de governança corporativa adicionais,
em relação ao que é exigido pela legislação. A valorização e a liquidez das ações são influenciadas
positivamente pelo grau de segurança oferecido pela transparência da gestão, pelo respeito aos
direitos dos acionistas minoritários e pela qualidade das informações prestadas pelas companhias
(BOVESPA,on-line [S.I.]).
140
141

Há na sociedade incontáveis grupos de interesse que eventualmente, ou de modo


permanente, constituem grupo de pressão para representá-los junto ao poder público. Podem
visar tanto o reconhecimento de um problema para a agenda política, como reivindicar o
atendimento de interesses. Este é um procedimento legítimo em uma sociedade democrática
pluralista, como foi explanado ao longo do capítulo 3.
O problema passa a existir quando apenas alguns grupos possuem privilégios de
representação junto ao poder público, por conta de pesquisas científicas que atendem a seus
interesses específicos. Quando um grupo passa a falar ao poder em um tom de voz que se
destaca dos demais grupos incorre-se em injustiça, se seu tom de voz pauta-se por um
conhecimento gerado em uma organização de pesquisa e aconselhamento em políticas
públicas sendo essas organizações desconhecidas por todos os grupos sociais.
Retoma-se o argumento apresentado na subseção 3.2.1, sobre a teoria de grupos no
contexto pluralista: a despeito da pressuposição de igualdade entre os grupos do modelo,
contata-se que os grupos com maior poder econômico, na prática, conseguem fazer se
representar melhor, pois possuem recursos para investimento em OrPAPPs, além de
possuírem toda uma rede de contatos (networking) que lhes confere acesso privilegiado sobre
os tomadores de decisão política.
Como evidenciado de forma inequívoca na literatura apresentada neste trabalho, a
policy making é um processo que demanda o uso intensivo de informação – que pode ser
provido por organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas. É possível
analisar esta constatação sob duas perspectivas: Por um lado, pode-se deduzir que os
detentores de conhecimento especializado tendem a influenciar de forma mais substancial os
policy makers no presente. A explicação para esta afirmação reside no fato de que as
organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas exercem influência sobre os
tomadores de decisão (eleitos ou da burocracia) atuais, porém sem garantia de que poderão
manter esta influencia no futuro; ademais, utilizam sua expertise na tentativa de influenciar os
três primeiros estágios da política pública (como se antecipou na contextualização e
demonstrou-se nas subseções 3.4.1 e em 3.6), isto é, nas etapas da montagem da agenda, da
formulação da política e da tomada de decisão. As três etapas estão contidas em ações que se
realizam durante o mandato de um determinado governo.
Por outro viés, faz-se a análise do valor dos think tanks para os grupos políticos que
não estão no poder. Também para esses assevera-se que o conhecimento disponível por meio
das organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas é relevante, em especial

141
142

no que concerne à última etapa do ciclo da política pública ‒ a avaliação da política pública,
pois se encontram na oposição e é por meio da avaliação das realizações de um governo que
se obtém informação que pode ser usada contra adversários políticos, no debate sobre o acerto
das decisões e políticas implementadas.
Essas duas dimensões do conhecimento que as OrPAPPs possuem podem conduzir a
duas constatações que não foram previamente antecipadas: contrariamente ao que se pensava
inicialmente, não é apenas nos primeiros estágios do ciclo da política pública que as
organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas são importantes: sua
influência se entende por todo o ciclo da política pública. Também, diferentemente do que se
pensava no começo deste trabalho, o alcance da influência das organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas vai além dos policy makers de um governo: seu
conhecimento pode ser extremamente útil para municiar também opositores políticos, no
sentido de que essas organizações provêem o conhecimento necessário à crítica pertinente e
embasada. Logo, imprevisto na introdução, mas resultado deste estudo, afirma-se que as
organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas- OrPAPPs, permeiam todo
o ciclo da política pública, e não apenas os três primeiros estágios do ciclo, como se pensava.
Registra-se que não havia, ao iniciar este estudo, a noção das reflexões ora apresentadas, que
ratificam a importância da estruturação de conhecimentos sobre o fenômeno, uma vez que
possuem um raio de alcance maior do que o inicialmente imaginado e, na medida em que se
exercita o conhecimento sobre um determinado fenômeno, amplia-se a percepção das
implicações e das possibilidades práticas fornecidas por ele.
Com relação ao modelo proposto de classificação das organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas – OrPAPPs deve-se salientar que, a rigor, esta se refere
a um tipo ideal22 e, sendo assim, sua utilidade é analítica. Serve como parâmetro para
compreensão da natureza de uma OrPAPP e de comparação entre organizações.
Distingue-se na classificação apresentada um modelo ‘puro’ situado no quadrante três,
em que predominam, com maior ou menor grau, organizações de pesquisa e aconselhamento
em políticas públicas que não possuem viés ideológico institucional que seja predominante e,
ao mesmo tempo, não ocorre, ou não é significativa, sua dependência de recursos públicos. É
possível afirmar que a maioria das instituições é enquadrada em um ou outro tipo de modelo

22
. Abstração criada por Weber, o tipo ideal é um instrumento que permite ao pesquisador conhecer
uma parte ou fragmento da realidade social, uma vez que auxilia na explicação de um fato da
realidade ao compará-lo com um modelo idealizado cientificamente. Desta forma, é um instrumento
que serve de guia na análise de uma realidade complexa e que permite extrair, por comparação, as
regras gerais do fenômeno estudado (DENHART, 2004; WEBER, 2007)
142
143

híbrido, onde há relativa predominância de uma das categorias de analise, ou seja, de viés
político ideológico ou de dependência de recursos públicos.
No quadrante dois são alocadas entidades que, atuando como organizações de
pesquisa e aconselhamento em políticas públicas, utilizam recursos públicos na realização de
estudos e geração de conhecimento, com vistas ao atendimento a interesses de grupos
específicos, sem tomar em consideração a sociedade como um todo, ou o bem comum. O
posicionamento neste quadrante sinaliza a ocorrência de desvios no que deveria ser a co-
produção do bem público, pois pressupõe que um recurso público está sendo usado para
finalidades privadas, ou de interesse de uma minoria, considerando-se o conjunto social na
sua totalidade.
Como exercício de reflexão, tratou-se de enquadrar as organizações de pesquisa e
aconselhamento em políticas públicas nacionais, descritas na seção 4.4. O resultado obtido é
apresentado na figura 21:

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144

FEBRABAN
ABMS
+ FUNCEX
BRAZIL INSTITUTE

EQUIT
INSTITUTO LIBERAL FASE

RUBENS BARBOSA e ASSOCIADOS

INSTITUTO FERNAND BRAUDEL DIEESE

ICONE

FUNDAÇÃO HEIRICH BÖLL

FEE
FEPESE
IETS
FAHECE
INESC

Viés político ideológico


CGEE
INSTITUTO ETHOS
FIOCRUZ

-
- Dependência de recursos públicos +
Figura 21: Exemplificação: enquadramento das OrPAPPs levantadas no estudo, aplicadas à classificação proposta.
Fonte: autoria própria, 2009.

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145

Como afirma Carlos Vogt em seu discurso de outorga do título de Doutor Honoris
Causa, pela École 5ormale Supérieure de Lyon, posteriormente publicado:

Todo conhecimento é útil. Como o fundamento da moral é a utilidade, é


possível afirmar que a utilidade do conhecimento o torna ético por
definição. Nesse sentido, não há conhecimento inútil, já que a ação de
conhecer está voltada para proporcionar felicidade, prazer e satisfazer a
sociedade. [...]. O conhecimento é útil porque, como outras ações éticas do
ser humano, corresponde à necessidade de uma política desejável, aquela
que nos leva a buscar a felicidade de nossos semelhantes e nela sentir o
prazer de sua realização no outro (VOGT, 2006, p. 21, grifo nosso).

Não se questiona o valor do conhecimento: este argumento foi usado inclusive na


defesa da relevância desta dissertação de mestrado. Seu valor é inegável. Acredita-se,
contudo, que é necessária a reflexão sobre o acesso e o uso do conhecimento em nossa
sociedade. No capítulo que segue, são tecidas as conclusões sobre o estudo.

145
146

CAPÍTULO VI – CONCLUSÕES DO ESTUDO

Na introdução deste estudo, após tecidas considerações a respeito do tema e questão


de estudo, foram formulados objetivos específicos, que deveriam ser atendidos para a
consecução do objetivo geral proposto, que, como colocado na subseção 1.2.1 é o de
“levantar e sistematizar conhecimentos relativos aos think tanks adequados à realidade
brasileira, a partir da perspectiva da literatura tradicional”. Com a finalidade de demonstrar
o cumprimento do objetivo geral, inicialmente são relacionados cada um dos objetivos
específicos – e seu cumprimento.
O primeiro objetivo ‒ revisar os conceitos e teorias relacionados ao estudo dos think
tanks no contexto da administração pública ‒ foi empreendido ao longo do capítulo três.
Considera-se que este objetivo foi adequadamente cumprido, uma vez que o conjunto de
teorias e conceitos analisados no capítulo é abrangente e permite contextualizar a existência
do fenômeno no âmbito da administração pública, já com foco nesta na realidade brasileira.
Verificou-se a respeito deste objetivo específico a escassa produção nacional de estudos sobre
os think tanks e as múltiplas abordagens teóricas que podem ser feitas ao fenômeno;
Já o segundo objetivo específico da pesquisa, levantar o histórico e a literatura
vigente sobre os think tanks – tradicional e contemporânea, foi desempenhado na seção 3.6,
na qual se procurou organizar o conhecimento, sob diferentes aspectos, ligados aos think
tanks, tanto na literatura tradicional quanto na literatura contemporânea, que foi encontrada
tanto na corrente dominante de estudos sobre o fenômeno, isto é, na literatura anglo-saxônica,
quanto em novos estudos, realizados em outros países, fora do eixo tradicional EUA- Canadá-
Inglaterra. Corroborou-se com este levantamento e sistematização o quanto carecemos de
estudos sobre o fenômeno no país. A literatura mundial sobre o tema cresce de forma
significativa, porém não encontra a mesma ressonância, até onde foi possível averiguar, entre
acadêmicos brasileiros. Esta constatação, no nosso parecer, reforça a validade e importância
da realização deste estudo: é necessário que pesquisadores estejam dispostos a ampliar a
discussão sobre o fenômeno, dispondo-se, para isso, a realizar o trabalho de base, referencial,
que norteou a realização deste estudo.
O terceiro objetivo de pesquisa ‒ demonstrar as diferenças entre os conceitos da
literatura e o fenômeno empírico estudado no país ‒ não se localiza em uma seção ou parte
específica do estudo. Assevera-se que esta demonstração, por haver permeado todo o texto,
está contida em muitas seções, não se restringindo a uma localização específica. É possível
146
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assinalar algumas passagens que deixam claro que o fenômeno, tal como apresentado na
literatura, não pôde ser transposto diretamente para a realidade percebida: foi sob a égide
imperativa (cumprir o objetivo específico para que o objetivo geral fosse alcançado), que se
fez a proposição de uma expressão substituta ao termo think tanks, de um conceito e de uma
classificação apropriada ao fenômeno de estudo no Brasil. Fosse a literatura estudada
adequada à realidade empírica encontrada, tais proposições não teriam razão de ser.
Considera-se, com base nestes argumentos, que também este objetivo específico foi
alcançado.
Com relação ao quarto objetivo específico ‒ propor um conceito e uma classificação
para os think tanks no país, com base em suas singularidades ‒ este objetivo foi efetivado nas
seções 4.2 e 4.3 deste estudo, que integram o capítulo quatro, no qual são apresentados os
resultados obtidos no trabalho. Confirmou-se, no cumprimento do objetivo, a necessidade de
adaptação à realidade nacional do conhecimento tal como encontrado na literatura mundial.
De fato, observa-se que até mesmo autores seminais no estudo dos think tanks apontam para
esta necessidade, como se indicou na seção 3.6. A multiplicidade de forma que as
organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas vêm assumindo nos países
democráticos torna essencial seu conhecimento, mas o conjunto de conhecimentos
relacionados ao fenômeno deve ser pertinente a realidade de cada país, como se constatou,
pois a compreensão da realidade de um país não permite necessariamente a mesma
identificação e conhecimento quando transposta para outra realidade.
Por fim, o quinto objetivo específico ‒ relacionar exemplos de think tanks em atuação
no Brasil ‒ foi cumprido na seção 4.4 do capítulo mencionado no parágrafo anterior. Embora
se considere que este objetivo tenha sido realizado a contento, são feitas as seguintes
ressalvas:
Por ter sido a pesquisa desta seção realizada por meio eletrônico, diretamente no site
das instituições, não se dispõe de documentos comprobatórios que certifiquem que os
exemplos fornecidos são de think tanks (ou OrPAPPs) nacionais. Sites institucionais podem ‒
e com freqüência o são ‒ modificados, o que pode comprometer a exemplificação fornecida,
já que as entidades foram qualificadas como organizações de pesquisa e aconselhamento em
políticas públicas com base nas informações colhidas nos sites institucionais na época
referenciada. Alterações nas informações prestadas por alguma instituição pode comprometer
a exemplificação proposta.

147
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Não foi realizada uma pesquisa delimitada dessas organizações, o que significa dizer
que muitas outras organizações que poderiam ser enquadradas neste estudo como think tanks
não o foram, pois o objetivo específico era o de exemplificar a realidade empírica. Um estudo
completo dessas organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas no Brasil
demandaria, por sua magnitude, outro trabalho, específico para este fim.
As preocupações manifestadas na introdução com respeito ao efeito da globalização
sobre o fenômeno de pesquisa, e consequentemente, sobre as políticas públicas nacionais
foram confirmadas, como se demonstrou nas páginas 92 a 96. Diante dos fatos apresentados, e
dos autores citados, é inegável a constituição em redes internacionais dos think tanks.
Conclui-se, face ao exposto, que os objetivos específicos foram adequadamente
cumpridos, dentro do proposto neste estudo.
Com a reunião dos objetivos específicos, foi alcançado o objetivo geral do estudo:
reuniu-se ao longo do trabalho um corpo conceitual e teórico abrangente, usados na literatura
mundial e nacional, e fez-se as adaptações necessárias para que o conhecimento do fenômeno,
na realidade da administração pública brasileira, fosse identificado como um fenômeno real,
que têm sua existência mapeada na realidade organizacional brasileira.
Feitas estas colocações, é necessário a esta pesquisadora dizer que uma convicção
plena é, com muita frequência, desamparada: apóia-se em um saber empírico, na observação
do cotidiano e na reflexão guiada pelo que se acredita ser bom senso. Devido à sua natureza, a
convicção – a certeza íntima, pessoal – pode tornar-se uma força propulsora na busca de
verificação científica que lhe confira legitimidade, ou afundar-se no obscurantismo das
crenças infundadas.
Antes de iniciar este estudo considerava-se – no plano da convicção pessoal – que era
importante sua realização. Que os think tanks, como se afirmou na introdução, constituem um
tipo de organização atuante em políticas públicas, porém pouco estudada no Brasil, que é
necessária a reunião de um arcabouço de conhecimentos que permita seu reconhecimento na
realidade empírica do país e que é importante e válido propiciar meios para que outras pessoas
percebam uma realidade que lhes diz respeito, mas que lhes escapa.
Ao final deste estudo, a convicção inicial ganha a força do esclarecimento: quando se
verifica o caminho percorrido e o conhecimento estruturado, percebe-se a validade de retirar
da penumbra certos conhecimentos e organizações atuantes nas políticas públicas que, no
Brasil, encontram-se, por diversos motivos, à sombra do conhecimento. É preciso trazer à luz
todos os aspectos relevantes em política pública, que afetam e dão forma à nossa sociedade.

148
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Reafirma-se, com certeza, que as idéias e o conhecimento – matéria prima das


organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas − faz a diferença: diferença
entre povos mais ou menos esclarecidos; diferença entre nações desenvolvidas ou em vias de
desenvolver-se; diferença nas relações sociais – igualitárias ou de dominação. O
conhecimento faz a diferença primordial que, na administração pública, distingue aquelas
organizações voltadas para o interesse coletivo e a co-produção do bem público das outras,
que servem de linha de frente para a defesa de interesses privados.
Por isso, afirma-se que a teoria deve servir à prática: deve ter por objetivo revelar o
que se encontra subentendido, submerso, oculto. Igualmente, a ação requer reflexão, pois sem
raciocínio, uma ação é somente um agir instintivo. Então, se a teoria leva à prática e vice-
versa, é preciso reconhecer a responsabilidade de quem teoriza.
A conexão entre reflexão e ação, entre teoria e prática, exige o compartilhamento de
uma obrigação moral entre aqueles que pensam e aqueles que atuam nas organizações
públicas. Esta pesquisadora, na posição de servidora pública de carreira do Governo do
Estado de Santa Catarina, reconhece na sua realidade a responsabilidade: teorizar para
melhorar a prática, praticar para melhor compreender e embasar a teoria. Afinal, o mundo é
um espaço onde o homem, com suas atividades, o seu agir e sua reflexão, condiciona a sua
própria existência e a dos demais, e constitui o sentido do seu viver.
No presente caso, este sentido liga-se à vontade de lançar luz àquilo que é público, de
interesse comum, e que se constata estar envolto no desconhecimento: que a visão de mundo
de uma parte da sociedade, que possui meios de prevalecer sobre as demais, não são genéricas
o suficiente para abranger os interesses dos outros grupos da mesma sociedade,
principalmente quando o fazem com o auxílio de mecanismos institucionais que
desequilibram a moderação democrática. Essa assimetria de informações demanda que as
lacunas de conhecimento que produzem tal efeito sejam sanadas, quando percebidas por
pesquisadores: é por meio do conhecimento que se transforma uma sociedade.
É possível afirmar que, no cenário globalizado de hoje, o desconhecimento das
organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas e sua atuação amplia um
espaço de disputa assimétrico: neste espaço, a capacidade de produzir e comunicar
conhecimentos se tornam elementos estratégicos para a definição do que será co-produzido
socialmente;
Também, que podem ser produzidos bens “mais públicos” ou “menos públicos”, na
medida em que os primeiros atendem a grupos legítimos do ponto de vista da necessidade de

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assistência ou da maioria da sociedade; enquanto os segundos favorecem a grupos


dominantes, que se servem da arena política para ampliar a gama de benefícios que possuem.
Entende-se que o trabalho a ser realizado em um estudo teórico é, entre outros, o de
apontar as lacunas de conhecimento, contradições, controvérsias e omissões nos
conhecimentos que persistem após sua conclusão: abre-se caminho, com o trabalho ora
apresentado, para a indicação de algumas necessidades de estudo que, devido ao tipo de
trabalho realizado nesta dissertação, permanecem pendentes de outros estudos.
Aponta-se a necessidade de um levantamento abrangente das organizações de pesquisa
e aconselhamento em política pública – OrPAPPs, em atuação no Brasil. Ou seja, é aqui
lançada a proposta de um levantamento amplo, que analise tanto organizações nacionais,
consideradas como aquelas criadas, mantidas e dedicadas a pesquisas de política pública no
Brasil; quanto internacionais, que são entendidas nesse estudo como institutos cuja sede situa-
se em outros países, mas que realizam pesquisas sobre a realidade nacional e exercem o papel
de think tanks no país. Esta é uma lacuna que pode merecer a atenção da comunidade
acadêmica, servindo de complementação a este trabalho teórico.
O que se faz necessário na análise política das organizações, como sugerido no início
deste trabalho, são esquemas referenciais de análise seguros que permitam testar hipóteses na
realidade empírica e que posteriormente possam ser analistas, compreendidas e descritas por
estudiosos do campo. Em um amplo estudo multicaso, considera-se que a utilização da
classificação proposta neste trabalho poderia ser válida.
Pode-se indicar como importante também a realização de um estudo que, mediante
utilização de método adequado, possibilite determinar, de forma realista, qual o real impacto
exercido por uma organização de pesquisa e aconselhamento em política pública sobre um
estágio específico do debate político, além da influência indireta que estes exercem sobre os
policy makers. Para superação da dificuldade metodológica especifica, pois se reconhece a
ambiguidade inata da mensuração de influências, sugere-se que o estudo e o acompanhamento
do envolvimento de organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas em
uma política específica poderiam determinar se há a influência − ou não – dessas
organizações na política pública brasileira. Com este método, acredita-se ser possível a
compreensão mais abrangente do funcionamento destas organizações, dos meios que utilizam
na tentativa de divulgar os resultados de suas pesquisas e estudos e do grau de envolvimento e
influência que possuem no contexto político em que atuam.

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151

Também se sugere, dentro de um escopo mais amplo, que uma tarefa relevante a ser
realizada, com vistas à superação das lacunas de conhecimento teórico dos estudos
organizacionais na área de administração pública em geral, e de políticas públicas em
particular, resida na construção de “pontes” entre os modelos das diversas vertentes de
interpretação do Estado (e.g. institucionalismo, public choice, etc.) concomitante a análise
concreta de políticas específicas.
Objetivamente, coloca-se que foram fatores limitantes à execução deste trabalho: a
impossibilidade de análise da produção acadêmica sobre o tema de estudo fora das bases de
dados que fazem parte do acervo de periódicos e revistas científicas disponibilizados pelo
portal da ESAG/UDESC, ligados a CAPES. Outras bases de pesquisa científica, que
porventura contenham material sobre o tema, não puderam ser acessadas. Outra limitação, no
presente estudo, foi o uso predominante de literatura estrangeira − que na área da
administração pública é significativa – e que implicou analisar termos voltados à realidade de
outros países e contextos. Fez-se a tradução dos termos específicos quando possível. Em
alguns casos, decidi-se pela manutenção de algumas expressões, que não encontram
correspondência no Português, no idioma original.
Finaliza-se esta dissertação de mestrado afirmando-se que todos os objetivos a que se
propôs foram atingidos, e com a afirmação da importância de que se submeta ao escrutínio
público a ação das organizações de pesquisa e aconselhamento em políticas públicas – as
OrPAPPs. É possível sugerir que, caso isso ocorra, algumas organizações tenham que rever
sua atuação, se quiserem continuar com suas atividades, enquanto outras servirão de exemplo
de aplicação digna de conhecimento em política pública e de participação na co-produção do
bem público.

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APENDICES

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APÊ/DICE A − Em defesa do estudo teórico no mestrado profissional


Aborda-se neste apêndice a questão da realização de um estudo teórico em um Curso
de Mestrado Profissional em Administração. Pondera-se sobre a validade deste tipo de estudo,
seu respaldo normativo e sua importância para a produção de conhecimento no campo da
administração pública, que é um campo de estudos recente, especialmente no Brasil.
Escrever e defender um estudo teórico na ESAG/UDESC constituiu-se em uma
oportunidade e assunção de um risco, pois, se por um lado proveu os meios necessários a uma
fala singular, voltada à necessidade de desfazer as armadilhas do desconhecimento ou do
entendimento imperfeito, por outro lado implicou no reforço da neutralidade, do cuidado
metodológico e em responsabilidade redobrada com o resultado final.
Em outras palavras, significou o desafio da busca − através do caminho sinuoso de
uma cultura organizacional consolidada − de validade científica e apoio para este trabalho,
num campo de estudos que se recobre de certezas e paixões, valores e fatos.
O peso da tradição institucional é um fardo pesado, e difícil de ser questionado.
Assevera-se, sem nenhuma pretensão, que a defesa deste trabalho em sua etapa de
qualificação pautou-se parcialmente pela motivação de questionar a ubiqüidade do estudo de
caso na Instituição.
Nenhum demérito pode ou deve ser levantado contra o método, cuja inquestionável
eficiência e importância faz com seja adotado nas melhores faculdades de administração
conhecidas por esta mestranda.
Ressalvado o devido respeito à orientação do curso, a capacidade discricionária de
seus dirigentes e a importância do estudo de caso, sugere-se apenas que abordagens teóricas,
distintas do paradigma ora preponderante23, também possam servir à produção de
conhecimento na ESAG, haja vista o próprio caráter inovador que norteia os estudos do
campo de Administração Pública na Instituição.
Avalia-se que a proposição de novas formas de pensar, a apresentação de diferentes
visões de mundo e de teorias alternativas − papel que esta destacada Instituição de Ensino
cumpre com afinco − instiga o exercício crítico por parte do corpo discente.

23
Kuhn, em A Estrutura das Revoluções Científicas (1970) afirma que paradigmas são realizações
científicas coletivamente compartilhadas que fornecem, por um determinado período de tempo,
problemas e soluções utilizadas como modelo ou guia por àqueles que pertencem a mesma
comunidade científica. No Merriam Webster´s (1994, p. 842), paradigma é um arquétipo, padrão ou
modelo; arcabouço teórico e filosófico que guia a formulação de teorias e generalizações.
165
166

Estas “janelas mentais” abertas pelo curso fornecem novos horizontes e perspectivas
aos acadêmicos, conduzindo a questionamentos e reflexões. Por conseqüência, podem
influenciar as opções epistemológicas e ontológicas de mestrandos da Instituição.
Não se pretende aqui retomar o debate sobre a aplicação prática da teoria, ou da
tradução da prática em teoria. Figueiredo (1995) conclui haver uma impossibilidade de
redução entre ambos: nem a prática, vista como um todo pode ser completamente teorizada
nem a teoria é sempre inteiramente conversível em prática.
De modo análogo, pondera-se que um estudo teórico pertinente não deixará de ter
aplicação prática, haja vista a complementaridade de ambos, teoria e prática.
Segundo Richardson (1985, p. 162), abre-se a possibilidade ao pesquisador que utiliza
o estudo teórico de ater-se não somente ao conteúdo em si da leitura do material bibliográfico,
mas também de explorar o conteúdo latente que estas possuem, gerando novas perspectivas,
inclusive “[...] para descobrir ideologias, tendências, etc. das características dos fenômenos
sociais que se analisam”.
Também se respalda esta defesa na visão da dissertação de mestrado que, de acordo
com Salvador (1980, p. 35) é o “estudo teórico de natureza reflexiva que consiste na
ordenação de idéias sobre um determinado tema”. Foi o se procurou fazer.
No campo específico da administração pública brasileira, refletiu-se acerca da
essencialidade dos estudos teóricos, que na literatura acadêmica mundial possuem abundância
de obras, enquanto o âmbito nacional carece de estudos aplicados a realidade do país, cada
vez mais sujeito a influências externas. Como afirma Ianni (1994),

O conhecimento acumulado sobre a sociedade nacional não é suficiente


para esclarecer as configurações e os movimentos de uma realidade que já
é sempre internacional, multinacional, transnacional, mundial, ou
propriamente global. [...] A sociedade nacional não dá conta, nem empírica
nem metodologicamente, ou histórica e teoricamente, de toda a realidade
na qual se inserem indivíduos e classes, nações e nacionalidades, culturas
e civilizações.[...] O local e o global determinam-se reciprocamente, umas
vezes de modo congruente e conseqüente, outras de modo desigual e
desencontrado.[...] O próprio pensamento científico é desafiado a elaborar
conceitos e interpretações para dar conta de realidades pouco conhecidas
(IANNI, 1994,p.147-148)

O curso de pós-graduação strictu sensu da ESAG é credenciado pela CAPES como


Curso de Mestrado Profissional.
Os cursos de mestrado no Brasil originam-se das determinações da Lei nº 9.394/96,
com base nas definições do Parecer nº 977/65. A CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento
do Pessoal de Nível Superior, liderou o processo de reflexão que culminou com a criação do

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Mestrado Profissional, distinto do acadêmico, regulamentado pela da Portaria n° 080/98, que


permanece em vigor.
Segundo Andrade (2004, p. 82, grifo nosso) os mestrados profissionais possuem,
entre outras características “a articulação entre uma base de pesquisa consolidada; produção
científica e técnica; corpo docente qualificado academicamente e com experiência gerencial”.
Mediante leitura da Portaria mencionada, bem como de pesquisa no sitio da CAPES da
legislação pertinente não foram encontradas evidências que sustentassem a impossibilidade de
realização de um estudo teórico em um mestrado profissional.
Pesquisadores do curso de Mestrado Profissional em Administração, do Núcleo de
Pós-graduação em Administração da Universidade Federal da Bahia – UFBA, um dos
primeiros mestrados profissionais do país, ressaltam que há a necessidade, em ambos os
cursos, acadêmico e profissional, de que a relação com a prática seja evidenciada pelo uso da
teoria adequada.
Com base em uma pesquisa que realizaram, os pesquisadores da UFBA afirmam que
no mestrado profissional “[...] o objetivo principal é a melhoria da prática profissional do
gestor. Não pela concessão de instrumentos de trabalho, mas da reflexão sobre princípios
teóricos” (ANDRADE , 2004, p. 89, grifo nosso). Esta afirmação, feita por estudiosos de
conceituada Universidade, consolida a posição que se defende aqui.
Os argumentos tecidos neste apêndice têm como objetivo, a fortiori, incitar à reflexão
da existência na academia em geral, de area non aedificand. Mantidas, estas lacunas podem
reduzir o potencial de geração de novos conhecimentos, estimulando sua mera reprodução.
Podem também desestimular alunos que, como esta pesquisadora, não conseguem
dissociar teoria e prática, pois vê em uma a imagem refletida da outra.

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ANEXO
A/EXO A – Portaria /° 080/98 – CAPES/MEC
CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior
Portaria n° 080/98
[...]
Art. 2º - Será enquadrado como “Mestrado Profissionalizante” o curso que atenda aos
seguintes requisitos e condições:

a) exigência de apresentação de trabalho final que demonstre domínio do


objeto de estudo, (sob a forma de dissertação, projeto, análise de casos,
performance, produção artística, desenvolvimento de instrumentos,
equipamentos, protótipos, entre outras, de acordo com a natureza da área e os
fins do curso) e capacidade de expressar-se lucidamente sobre ele.

Art. 4º - Os mestrados profissionalizantes serão avaliados periodicamente pela


CAPES considerando-se o estabelecido por esta portaria e utilizando critérios pertinentes às
peculiaridades dos cursos que ela disciplina.
§ 2º. Nos procedimentos a que se refere este artigo a produção técnico-
profissional decorrente de atividades de pesquisa, extensão e serviços prestados deverá ser
especialmente valorizada.
[...]

2. Características essenciais da Proposta de Mestrado Profissional


a. expressar associação entre teoria e aplicação, entre conhecimento fundamental e prática
técnico-profissional;
b. ser a demanda pela criação do curso decorrente, preferencialmente, do interesse comum de
setores acadêmicos e dos setores não-acadêmicos a serem beneficiados pelo tipo de
qualificação prevista;
c. constituir-se em iniciativa de instituição que seja qualificada para oferecer curso
profissional que contribua, de forma criativa, para o desenvolvimento ou a indução do
surgimento de campos de atividade profissional;
d. ter sua implantação e desenvolvimento respaldados em esquema eficiente de atividade
comum do programa promotor com setores profissionais não-acadêmicos relacionados com as
áreas do curso.

Item 7 - Dos requisitos básicos da estrutura curricular:

• Prever a exigência de trabalho de conclusão final que demonstre domínio do objeto de estudo
e capacidade de expressão bem estruturada sobre tal objeto, a ser avaliado por banca
devidamente qualificada (De acordo com a natureza da área e os fins do curso, esse trabalho
pode assumir a forma de monografia, dissertação, produção artística definida, projeto técnico
específico, análise de casos, desenvolvimento de instrumentos, equipamentos, protótipos,
patentes, etc.);

CAPES/MEC
Diretoria de Avaliação
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