ARCHENTI, Nélida. ALBAINE, Laura. o Feminismo Na Política. Paridade e Violência Política de Gênero Na América Latina.

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O Feminismo na política. Paridade e


violência política de gênero na América Latina

Nélida Archenti
L aur a Alb aine

Resumo

■■ A partir de uma abordagem feminista institucional, é possível anali-


sar os avanços das mulheres na política por meio de normas orientadas para
sua promoção nos processos decisórios nos diferentes níveis de governo.
Nos últimos 27 anos, dois tipos de leis foram sancionados com essa orienta-
ção na América Latina: cotas de gênero e paridade de gênero; o segundo su-
perando o primeiro. Ambas as regulamentações mostraram impactos positivos
importantes, mas também encontraram obstáculos importantes em sua aplica-
ção. Estes ocorrem, em particular, em três níveis: a) a concepção da norma em
si, b) a sua aplicação pelos partidos políticos e c) nas decisões da justiça eleitoral.
Juntamente com o desenvolvimento deste tipo de medidas, destaca-se a discri-
minação e a violência de gênero que emergem diante do empoderamento das
mulheres pela aplicação de normas que abrem seu acesso a posições políticas, em
contextos de desigualdade persistente. Este tipo de violência tem sido chamado
de violência política de gênero, denotando sua vinculação com o poder político.
Quando o uso do poder político, de qualquer forma, mesmo em omissões, viola
os direitos políticos das mulheres ou os impede de exercê-los, somos confrontados
com atos de violência política de gênero.

Abstract

■■ From an institutional feminist approach, it is possible to analyze the ad-


vances of women in politics through norms oriented to their promo-
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tion in the decision-making processes at the different levels of government.


In the last 27 years, two types of laws have been sanctioned with this orientation in
Latin America: gender quotas and gender parity; the second surpassing the first. Both
regulations showed important positive impacts, but also encountered significant ob-
stacles in their application. These occur in particular at three levels: a) the conception of
the rule per se, b) its application by political parties, and c) in electoral court decisions.
Along with the development of this type of measures, gender discrimination and
violence that emerge in the face of the empowerment of women is highlighted by
the application of norms that open their access to political positions in contexts
of persistent inequality. This type of violence has been called political gender vio-
lence, denoting its linkage with political power. When the use of political power,
in any form, even in omissions, violates the political rights of women or pre-
vents them from exercising them, we are confronted with acts of political gender
violence.

1. Regulamentação da participação política das mulheres

■■ Nos últimos vinte e sete anos, foram desenvolvidas e implementadas duas


medidas legais destinadas a promover a participação das mulheres como candi-
datas nas eleições nacionais gerais: as leis de cotas por gênero e a paridade polí-
tica. Essas inovações jurídicas permitiram o acesso de mulheres, em especial às
câmaras legislativas, em número superior às taxas históricas na maioria dos países
latino-americanos.
No início da década de 1990, as cotas de gênero foram aprovadas e, embora
em termos gerais tenham sido bem sucedidas, tanto quantitativa quanto qualita-
tivamente, sua aplicação foi confrontada com diversos obstáculos.
Entre os efeitos positivos das leis de cotas, podemos destacar o aprofunda-
mento do processo de democratização no interior dos Parlamentos, o reconheci-
mento, em nível social, político e cultural das diferenças de gênero, a promoção
de um maior contato entre as mulheres que ocupam cargos representativos e as
mulheres organizadas da sociedade civil, o estabelecimento de instâncias ou foros
de intermediação para a representação de gênero, além de importantes impac-
tos nas agendas legislativa e pública por meio da incorporação de novos temas
(Archenti e Tula 2008, p. 13).
Embora a nossa intenção ao defender os direitos das mulheres seja destacar
a importância dos fatores institucionais para promover sua inclusão nos cargos
eletivos em sistemas democráticos, consideramos igualmente relevante questio-
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nar as barreiras e obstáculos enfrentados por essas medidas como consequência


da persistência de condições estruturais de desigualdade e violência de gênero.
Os aspectos negativos devem ser analisados com o intuito de buscar os caminhos
para a sua superação.
Com relação aos obstáculos à aplicação das leis de cotas, em trabalhos ante-
riores destacamos as condições que proporcionam ou prejudicam sua eficácia: a)
certas características patriarcais da cultura política; b) características peculiares do
sistema eleitoral. O estabelecimento de cotas nas listas de candidatos/as se mostrou
mais favorável em distritos com grande magnitude e em listas partidárias fechadas
ou bloqueadas; c) o conteúdo das normas que estabelecem a ação afirmativa. Nas
normas, uma primeira limitação às cotas está vinculada à arbitrariedade com que
o percentual é fixado e com a interpretação minimalista feita pelos partidos po-
líticos, que converte o estabelecido como mínimo em um valor máximo. Outras
condições se referem à inclusão de seu reconhecimento como sendo de ordem
pública, à obrigatoriedade para todos os partidos políticos, ao estabelecimento de
uma ordem para a posição dos candidatos nas listas e de medidas punitivas por
não cumprimento. A combinação desses dispositivos condiciona a aplicação efeti-
va das cotas ao determinar contextos favoráveis ou desfavoráveis em cada distrito
eleitoral e, por último, porém não menos importante, d) o processo de seleção de
candidatos no interior dos partidos políticos (Archenti e Tula, 2008, 2010, 2014).

Tabela 1. Países latino-americanos que aprovaram


normas de cotas e de paridade em nível nacional
País Adoção de cotas Adoção de paridade
Argentina 1991 2017
Bolívia 1997 2009
Costa Rica 1997 2009
Equador 1997 2008
Honduras 2000 2012
México 1996 2014
Nicarágua Não adotou cotas 2010
Panamá 1997 2012*
Venezuela 1998 2005-2015**

* Panamá adotou a paridade política de gênero nas eleições internas e primárias através da Lei Nº 54 (2012).
** Venezuela aplicou a paridade de gênero em nível nacional em duas oportunidades. Em 2005, através
da Resolução Nº 050401-179 e em 2015, mediante a Resolução Nº 150. 625- 147.
Fonte: Elaboração própria com base em dados de Archenti e Tula (2008), do Observatório de gênero da
CEPAL e das páginas na internet dos órgãos eleitorais de cada país.
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A paridade política se assemelha em alguns aspectos às leis de cotas embora


seja mais rígida em suas disposições. Ela se expressa por uma norma que obriga os
partidos políticos a confeccionar listas de candidatos com 50% de integrantes de
cada sexo, ordenados de maneira sequencial e alternada. Assim, o percentual é o
mais alto possível em termos de equidade entre os gêneros e a ordem de posição
alternada (1 a 1) garante a igualdade nas probabilidades de serem eleitos.
Deste modo, as leis de paridade permitem superar muitas das dificuldades
apresentadas pelas leis de cotas, entre elas, o caráter aleatório do percentual mí-
nimo de mulheres, ao fixar o percentual de 50% e a ausência ou a imprecisão
na probabilidade de eleição condicionada à posição do candidato na lista, ao
estabelecer a alternância e ordem sequencial, um a um. No entanto, também en-
frentam barreiras com resultados semelhantes às das cotas. A inclusão equitativa
é limitada no acesso à representação quando os sistemas eleitorais apresentam
listas abertas ou desbloqueadas e/ou distritos de pequena magnitude. O mesmo
ocorre quando as normas não contemplam a equidade juntamente com a ordem
de posição do candidato na lista, incluindo os princípios de alternância e or-
dem sequencial (Archenti e Tula, 2014) ou, em alguns casos, estes são incluídos,
mas não regulamentados devidamente, condicionando os efeitos desses marcos
regulatórios.
Notamos que os obstáculos ao cumprimento das normas de paridade, si-
milarmente ao observado com relação às leis de cotas, ocorrem em três níveis: a)
assim como acontece com as leis de cotas, há obstáculos que nascem no próprio
texto da lei, b) da mesma forma, outros são produzidos durante o processo de
implementação, e c) nas ações da justiça eleitoral.

a) Projeto de norma de paridade

Embora a América Latina tenha avançado em direção à paridade política, a


análise de certas leis de paridade permite detectar deficiências que atentam contra
o próprio objetivo destes marcos regulatórios.
A despeito de as normas de paridade serem claras ao estabelecer que as listas
devem ser compostas por 50% de candidatos de cada sexo, é possível, em certos
casos, detectar a fragilidade ou a ausência do mecanismo de alternância e a or-
dem sequencial de candidatos. Por exemplo, em Honduras, o “Regulamento de
aplicação do princípio de paridade e do mecanismo de alternância na participa-
ção política das mulheres e dos homens nos processos eleitorais” (Reglamento de
aplicación del principio de paridad y del mecanismo de alternancia en la partici-
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pación política de las mujeres y los hombres en los procesos electorales), de 2016,
estabelece como norma geral que nas listas de deputados titulares ao Congresso
Nacional nos Departamentos com três ou mais deputados, a alternância é permi-
tida da primeira à última posição (Art. 7, Inc. 6). Entretanto, dispõe que, para
fins de inscrição, a exigência deste mecanismo vigora a partir da terceira, quarta
ou quinta posição1 (Art. 7, Inc. 7). Isto significa que a aplicação dos mecanismos
de alternância e de ordem sequencial assume caráter mandatório a partir da ter-
ceira posição da lista, enquanto nas posições precedentes, constitui-se como mera
possibilidade sob o critério arbitrário dos partidos políticos.
Considerando a lógica patriarcal que tende a nortear a montagem das listas
eleitorais, existe a possibilidade de que nenhuma mulher seja incluída nas primei-
ras posições, ou que, caso sejam incorporadas, ocupem posições menos vantajosas
de serem eleitas em comparação aos homens. Por exemplo, em um departamento
que elege sete deputados, existe a possibilidade de que as três primeiras posições
da lista sejam ocupadas por homens e que a alternância, em distrito desta magni-
tude, seja exigida apenas a partir da quarta posição.
É oportuno mencionar que em Honduras este marco regulatório funciona
com um sistema eleitoral de voto preferencial que, mediante o desbloqueio da
lista, permite alterar os mecanismos de alternância e de ordem sequencial deter-
minados pela norma de paridade, por meio da preferência dos eleitores. Quando
esse aspecto está associado a um cenário eleitoral fragmentado e à baixa preferên-
cia dos eleitores por eleger candidatas mulheres, as possibilidades de que uma das
mulheres seja eleita é ainda mais escassa, o que restringe ainda mais a eficácia real
da norma de paridade.
Por outro lado, outro aspecto a considerar é a incorporação de disposições
na lei que garantam a aplicabilidade da paridade através de medidas punitivas
quando de seu descumprimento. No caso da Bolívia, por exemplo, a Lei 4021
– Regime Eleitoral Transitório, de 2009, através do Art. 9, “Da Igualdade de
Oportunidades entre Homens e Mulheres” não previa a aplicação de medidas
punitivas para os partidos políticos que não cumprissem com a paridade. Esta
deficiência foi corrigida posteriormente através da Lei 026 – Regime Eleitoral, de
2010, que estabeleceu que as listas que não cumprissem os critérios de paridade e
alternância não seriam aceitas (Art. 107).

1 Nestes casos fica estabelecido que a alternância deve começar com um candidato do sexo
oposto ao do anterior (Art. 7, Inc. 7).
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Em resumo, a concepção das normas de paridade tende a condicionar a sua


eficácia, uma vez que é através suas disposições e/ou omissões que são moldadas as
formas como são adotadas as competências político-eleitoras em termos de sexo.
Neste sentido, a aplicabilidade da lei e sua consequente efetividade para promo-
ver o acesso igualitário aos cargos legislativos depende, principalmente, por um
lado, da interpretação e da ação dos partidos políticos com relação à concepção
das normas de paridade e, por outro, do papel dos órgãos da justiça eleitoral para
garantir que a essência desta lei não seja alterada.

b) Aplicação da norma

A experiência de alguns países da América Latina que aplicaram a norma de


paridade para eleições legislativas em nível nacional revela a persistência de uma
cultura política reticente à incorporação das mulheres nos espaços de tomada de
decisão política. Em face da aplicação das normas de paridade, os partidos polí-
ticos têm apelado para diversas estratégias a fim de manter uma lógica de poder
masculina que tende a restringir os resultados da paridade e, consequentemente,
o desenvolvimento de democracias inclusivas em termos de gênero.
A confecção estratégica das listas de candidatos – que tende a colocar as mu-
lheres em posições com possibilidades menores de se elegerem – revelou as limi-
tações da paridade vertical, fato que impulsionou o debate em direção à inclusão
da dimensão horizontal da paridade política.
Na Costa Rica, a aplicação da paridade e da alternância sequencial pela pri-
meira vez em 2014, levou a uma constrição no acesso das mulheres à Assembleia
Nacional com relação aos valores alcançados em eleições anteriores, nas quais
haviam sido implementadas as cotas, caindo de 38,6% (2013) para 31,6% (2014).
Isso se deveu principalmente 1) à ampla oferta eleitoral nas sete províncias, 2) à
dispersão dos votos entre quatro partidos – PLN, FA, PUSC e PAC – aliada à
combinação de distritos médios e pequenos, que implicou em uma baixa alocação
de assentos para cada força política, 3) à configuração das listas que privilegiou a
liderança masculina – apenas 20% das listas apresentadas foram encabeçadas por
mulheres (Archenti e Tula, 2014; Picado e Brenes, 2014) e, 4) ao sistema de alo-
cação de assentos – listas fechadas e bloqueadas – e à vontade emitida por sufrágio
popular (Picado e Benes, 2014).
A análise dos resultadas da primeira implementação da paridade nesse país
levou à aprovação da Resolução 3603-E8-2016 do Tribunal Superior Eleitoral,
que estabeleceu a necessidade de repensar o alcance da aplicação da paridade no
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encabeçamento das listas de deputados, levando à incorporação da dimensão ho-


rizontal ao estabelecer que “a paridade das listas de candidatos a deputados não ape-
nas obriga os partidos a constituir cada lista de província com 50% de pessoas de cada
sexo (colocados de forma alternada), mas também que essa proporção seja respeitada
nas listas apresentadas por cada coligação”.
Enquanto isso, na Bolívia, a paridade foi aplicada pela primeira vez em 2009
nas eleições para a Câmara dos Deputados e alcançou um valor de 23%, o que
representa aumento de 6% com relação à eleição anterior, em 2005. Nos comícios
de 2009, os partidos políticos, similarmente ao caso da Costa Rica, também ape-
laram à montagem estratégica das listas de candidatos. Das cédulas plurinominais
oficializadas para o cargo de deputado, apenas 23,88% foram encabeçadas por
mulheres enquanto nas representações uninominais, esse valor foi de 19 (35%) e
nas circunscrições especiais, alcançou 9 (35%). Na montagem das listas, os par-
tidos distorceram a informação sobre o sexo de alguns candidatos – assim como
fizeram quando da implementação das cotas, fato que ficou conhecido como o
escândalo dos candidatos travestis – para cumprir com a alternância e sequência
dos sexos conforme disposto pela Lei de Regime Eleitoral Transitório, de 2009
(Archenti e Tula 2014, Albaine 2016).
O aperfeiçoamento da norma de paridade na Bolívia se deu mediante a ado-
ção da paridade em sua dimensão horizontal por meio da “Regulamentação da
Paridade e da Alternância” (Circular TSE-PRESC-SC 007/2014), que estabele-
ceu que as mulheres deveriam encabeçar a lista, tanto para os cargos uninominais
quanto para os cargos plurinominais, nos Departamentos em que o número de
assentos eletivos fosse ímpar. A eficácia deste tipo de medida, juntamente com
outras especificações incluídas por esta norma – tal como a que estabelece que a
paridade nos cargos uninominais deve ser apresentada para titulares e suplentes
e que no total das circunscrições, ao menos 50% dos cargos titulares devam per-
tencer a mulheres2 –; favoreceu, em 2014, que a paridade nas normas – através
de um sistema de lista fechada e bloqueada – se traduzisse em acesso paritário à
Assembleia Legislativa Plurinacional.
A ação dos partidos políticos, do ponto de vista da interpretação que fazem
do marco normativo paritário, coloca em evidência as persistentes resistências as-
sociadas à participação política das mulheres para além da adoção de uma norma
de paridade. Este fato abre o debate sobre a necessidade de aperfeiçoar essas leis

2 Esta disposição foi feita para reafirmar o disposto pela Lei Nº 026 (2010).
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através da inclusão da dimensão horizontal da paridade com o objetivo de que-


brantar a lógica patriarcal que impera na montagem das listas eleitorais.

c) Justiça eleitoral

Embora seja possível afirmar que está sendo construído em nível regional
um novo paradigma jurídico mais favorável ao exercício igualitário dos direitos
políticos entre os sexos, anda é possível detectar a dificuldade gerada em certos
casos, pela ação da justiça eleitoral no avanço em direção a uma democracia pa-
ritária substancial.
A título de exemplo, na Província de Buenos Aires, o distrito eleitoral mais
relevante da Argentina, a alternância e sequência entre os sexos por binômios,
prevista pela norma de paridade subnacional (Lei Nº 14.848) foi violada através
da Resolução Nº 114, de 2017, da Junta Eleitoral, que propôs harmonizar este
mecanismo nas eleições gerais com a vontade popular resultante das eleições
primárias. O resultado disso foi que no processo de formação das listas gerais a
partir de duas ou mais listas que haviam concorrido nas eleições primárias, foi
dada prioridade à ordem de candidatos original das cédulas, anulando a aplica-
ção da alternância e sequência por binômios entre os sexos3 previstos na lei. A
decisão da Junta Eleitoral foi baseada em que a norma de paridade ainda não
havia sido regulamentada, apesar de a Lei Nº 14.848 prever mecanismos para sua
aplicação no Art. 2, e que seria um fato do príncipe modificar a vontade popular
que elegeu uma lista, a fim de respeitar a alternância e sequência de sexos esta-
belecidos pela lei.
Este exemplo demonstra que a interpretação e as ações levadas a cabo pelos
órgãos da justiça eleitoral podem condicionar a eficácia da paridade ao flexibilizar
e/ou distorcer o sentido real da lei, assim como a importância social e política
constituída pelas normas que defendem a igualdade entre os sexos no exercício
dos direitos políticos; fato que atenta não apenas contra os direitos de um grupo
social, mas também contra a qualidade das democracias latino-americanas.

3 A Resolução Nº 114 da Junta Eleitoral da província estabeleceu que“as listas de candidatos para
as eleições gerais de uma mesma coligação política ou aliança integrada por duas ou mais listas que
participaram da EPAOS, deverão ser apresentadas sem alterar a ordem prevista nas listas de pré-
candidatos que participaram das eleições primárias, abertas, obrigatórias e simultâneas no momen-
to da integração”.
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2. Do que estamos falando quando nos referimos


à violência política baseada em gênero?

■■ A aplicação das cotas e da paridade política tende a ser acompanhada por for-
mas de discriminação e violência de gênero que restringem e/ou anulam o exer-
cício dos direitos políticos eleitorais e direitos humanos das mulheres. Este pro-
blema não deve ser pensado apenas como uma consequência do empoderamento
político deste grupo social associado à implementação de ambas as medidas, mas
deve ser associado à complexa realidade de precarização social e econômica pela
qual passam as sociedades latino-americanas (Segato, 2017). Ou seja, não se trata
de questionar a eficácia da paridade política com relação à sua incidência sobre o
exercício da violência de gênero, mas de promover políticas públicas orientadas à
proteção das mulheres no exercício de seus direitos políticos considerando o con-
texto sociopolítico adverso onde opera.
Como afirma Torres García (2017), “a violência é um conceito complexo e de
difícil compreensão, que tem múltiplas abordagens analíticas, assim como um sentido
multifatorial e multidimensional de causas e consequências”. A violência de gênero
no âmbito político é correlacionado e justaposto a certas formas de violência a
que estão sujeitas as mulheres na sociedade civil que, através das regras que regu-
lam a relação entre governantes e governados e que são próprias das democracias
modernas, se manifestam no espaço político-eleitoral. Embora não se trate de
um problema recente, a novidade é que a violência de gênero no âmbito político
ganhou visibilidade, reconhecimento e relevância no século XXI e foi contex-
tualizada pelo impulso por igualdade observado na América Latina, promovido,
principalmente, por meio dos consensos regionais adotados no início deste mi-
lênio (Consenso de Quito 2007, Consenso de Brasília 2010, Consenso de Santo
Domingo, 2013 e a Norma Marco para consolidar a Democracia Paritária 2015).
Em nível regional, a Declaração sobre a Violência e o Assédio Político contra
as Mulheres (OEA/CIM, 2015), primeiro acordo sobre a matéria, e a Lei Modelo
Interamericana sobre Violência Política contra as Mulheres (OEA/CIM, 2017)
constituem os avanços legais que conceituam esta problemática.
De acordo com a Lei Modelo Interamericana sobre Violência Política con-
tra as Mulheres, “A ‘violência política contra as mulheres’ deve ser entendida
como qualquer ação, conduta ou omissão realizada de forma direta ou através
de terceiros que, baseada em seu gênero, cause dano ou sofrimento a uma ou a
várias mulheres e cujo objetivo ou resultado seja prejudicar ou anular o reconhe-
cimento, gozo ou exercício de seus direitos políticos. A violência politica contra
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as mulheres pode incluir, entre outras, violência física, sexual, psicológica, moral,
econômica ou simbólica” (Art. 3, CIM/OEA, 2017).
A especificidade da violência política baseada em gênero se sustenta sobre as
assimetrias das relações de poder entre homens e mulheres (Cerva Cerna, 2014)
que configuram a lógica patriarcal do fazer político. Em termos gerais, é possível
afirmar que o poder político está sustentado principalmente em; 1) capacidade de
obter votos do eleitorado e o acesso a cargos decisórios, 2) capacidade de influen-
ciar a dinâmica interna da organização partidária e adquirir disciplina partidária,
3) possibilidade de influenciar o processo de seleção de candidatos e formação das
listas e, 4) disponibilidade de contar com recursos econômicos, acesso aos meios
de comunicação e uso das redes sociais, sobretudo no desenvolvimento das cam-
panhas eleitorais.
O poder político é constituído de forma diversa em termos de gênero nas
instituições políticas como resultado da expressão da vontade geral através das
regras que regem a competência política e de certos comportamentos político
-partidários que tendem a ser desfavoráveis ao exercício real dos direitos políticos
das mulheres. Em alguns casos, os elementos constitutivos do poder político são
utilizados com o propósito de dificultar o acesso, o desempenho e a permanência
das mulheres na política, impossibilitando o exercício real de seus direitos polí-
ticos. Deste modo, o exercício da violência política baseada em gênero aparece
associado ao poder político e pode ser definido como o uso do poder político com
o objetivo de violar os direitos políticos e direitos humanos das mulheres.
Deste modo, é possível detectar formas de violência política baseada em gê-
nero em: 1) instituições políticas entendidas como regimes de gênero (Connell
1987, 1990), que tendem a institucionalizar a desigualdade estrutural entre os
sexos e, 2) certas regras formais e informais que regulam a competência político
-eleitoral, que privilegiam interesses predominantemente masculinos e favorecem
comportamentos eleitorais adversos à participação política das mulheres. Ou seja,
é possível afirmar que existe uma violência política baseada em gênero instituciona-
lizada que é exercida a partir do poder político e que não respeita o espírito dos
marcos regulatórios de âmbito nacional e internacional que defendem a igualdade
entre os gêneros no âmbito político. Exemplos disso são a configuração das nor-
mas que dificultam o exercício dos direitos políticos e eleitorais das mulheres, a
dinâmica das instituições partidárias e legislativas que são governadas por regras
formais e informais baseadas em estereótipos de gênero e certas decisões em ma-
téria eleitoral contrárias às normas que defendem a igualdade entre os sexos no
exercício dos direitos políticos.
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Nesse sentido, podemos afirmar que existem dois níveis de violência política
baseada em gênero: 1) nível invisível – quase imperceptível, normalizado pela es-
trutura social e política – que emana das instituições políticas e se expressa através
da violência política institucionalizada e, 2) nível visível constituído em certos con-
textos políticos e culturais pela violência física contra as mulheres políticas e que
é promovido pela reprodução de padrões socioculturais adversos à participação
política das mulheres através da dinâmica institucional e certas regras formais e
informais que a regulam.
É fundamental confrontar a violência política institucionalizada uma vez que,
historicamente, essa prática foi naturalizada ou normalizada constituindo uma
forma de reprodução de condições de desigualdade entre homens e mulheres na
arena política que, em certos contextos políticos e culturais pode resultar em femi-
nicídio de mulheres políticas. Um caso emblemático, e que permanece impune,
é o de Juana Quispe Apaza, conselheira do município de Ancoraimes de La Paz,
Bolívia, assassinada em 2012. Segundo testemunhas, antes de ser assassinada, ela
sofreu discriminação e constantes agressões verbais e físicas por parte do prefeito e
dos conselheiros que ela havia denunciado por corrupção, negando-lhe, inclusive,
sua participação nas sessões do conselho4 (Associação de Conselheiros da Bolívia
(ACOBOL)5. O assassinato de Juana Quispe Apaza resultou na aprovação da Lei
Nº 243 contra o assédio e/ou a violência política baseada em gênero no contex-
to da fundação de um novo tipo de Estado de caráter plurinacional (Archenti e
Albaine, 2013).

A título de conclusão

■■ Do ponto de vista da abordagem feminista institucional, é possível analisar os


avanços das mulheres na política através das normas voltadas à sua promoção nos
processos de tomada de decisão nos diferentes níveis de governo.
Nos últimos vinte e sete anos, foram sancionados dois tipos de leis com essa
orientação na América Latina: as cotas de gênero e a paridade de gênero, sendo o

4 Ver nota Tribunal de Mulheres ameaça recorrer à Corte Interamericana de Direitos Humanos.
Agencia de noticia FIDES, 30 de noviembre de 2017. Disponible en https://www.noticiasfi-
des.com/nacional/seguridad/
tribunal-de-las-mujeres-anuncia-que-acudira-a-la-cidh-por-casos-de-acoso-politico-y-femini-
cidio-383905
5 Ver nota Conselheira Juana Quispe Apaza: assassinada. Instituto de Ciencia, Economía, Edu-
cación y Salud, 23 de marzo de 2012. Disponible en http://www.icees.org.bo/2012/03/conce-
jala-juana-quispe-apaza-asesinada/
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segundo tipo mais avançado que o primeiro. Ambas as normas tiveram impactos
positivos, mas também encontraram obstáculos importantes à sua implementa-
ção. Estes, são desenvolvidos, principalmente em três níveis: a) na confecção da
norma em si, b) na sua implementação pelos partidos políticos e, c) nas decisões
da justiça eleitoral.
É importante notar que estas medidas foram sendo aperfeiçoadas em dife-
rentes países ao longo do tempo para tentar superar os obstáculos que iam apare-
cendo. Desta forma, foi incorporada a ordem de posição para evitar que as can-
didatas mulheres fossem incluídas ao final da lista; as medidas foram declaradas
de “ordem pública” a fim de que qualquer cidadão possa denunciar transgressões
à lei; foram estabelecidas medidas punitivas para o não cumprimento de modo
que os partidos políticos assumissem a obrigatoriedade da norma e, recentemen-
te, foi estabelecida a paridade horizontal para evitar o persistente encabeçamento
das listas por candidatos homens. No entanto, algumas dificuldades são de difícil
solução como é o caso das tensões produzidas ao incorporar as normas de gênero
ao sistema eleitoral.
Juntamente com o desenvolvimento deste tipo de medidas, destaca-se a dis-
criminação e a violência baseadas em gênero que surgem ante o empoderamen-
to das mulheres pela implementação de normas que abrem caminho para o seu
acesso aos cargos políticos em contextos de persistente desigualdade. Este tipo de
violência foi denominada violência política baseada em gênero, denotando sua
vinculação com o poder político. Dois elementos são necessários para a constitui-
ção da violência politica baseada em gênero: a) o uso do poder político orientado
à b) violação dos direitos políticos das mulheres. Ou seja, quando o uso do poder
político, de qualquer maneira, mesmo em omissão, viola os direitos políticos das
mulheres ou as impedem de exercer seus direitos políticos, estamos diante de atos
de violência politica baseada em gênero.
A violência política de gênero foi reconhecida em documentos nacionais e
internacionais através de relatórios e leis como um problema grave para a demo-
cracia. No entanto, ainda não existem projetos institucionais eficientes para sua
eliminação. O único país da América Latina que adotou uma norma específica
capaz de abordar esse problema é o Estado Plurinacional da Bolívia, através da lei
No 243, de 2012, que enfrenta dificuldades em sua implementação e na resolução
dos casos.
Em resumo, as normas que defendem a igualdade na participação política
entre os sexos não bastam para o estabelecimento de uma democracia paritária
substancial. A constituição da democracia paritária substancial requer profundas
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mudanças culturais que gerem a transformação de práticas enraizadas na estrutu-


ra político-institucional com o propósito de atuar contra a violência política de
gênero em todos os seus níveis e formas.

Nélida Archenti é socióloga e doutora em ciências sociais pela Universidade de Bue-


nos Aires. É professora titular da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos
Aires. Especializou-se em estudos de gênero e política, área em que tem publicado múltiplos
trabalhos.
Laura Albaine é formada em Ciência Política e doutora em ciências sociais pela Universi-
dade de Buenos Aires. Atualmente trabalha como pesquisadora no Conselho Nacional de Pes-
quisas Científicas e Técnicas (CONICET) e é professora regular do Curso de Ciência Política
da Universidade de Buenos Aires.
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